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Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP) ESPIRITUALIDADE SÉC. XV - XVI Pe. José Carlos A.A. Martins

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ESPIRITUALIDADE SÉC. XV - XVI

Pe. José Carlos A.A. Martins

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TOMÁS MORO (1478-1535)

Em amigável relação com Erasmo, Tomás Moro apresenta uma visão

mais autêntica do Humanismo em sentido cristão. Eleito deputado do

parlamento inglês é nomeado chanceler do reino (1529). Pela sua recusa de

reconhecer a supremacia religiosa do Rei (Henrique VIII) foi condenado à pena

de morte. A Igreja católica declarou-o santo e patrono dos políticos. O seu

conceito de Homem leva-o a reflectir também sobre a ordem social em sentido

cristão, analisando qual poderia ser a óptima constituição social que pode

efectivamente garantir a plena liberdade do Homem. Isto desenvolveu-o no seu

conhecido escrito “Utopia”(1516). Aqui ele faz uma critica à sociedade do seu

tempo, partindo da sociedade inglesa.

Por exemplo, no que diz respeito à delinquência, diz que as punições

não servem muito porque o furto é provocado por uma profunda injustiça que

consente ao rico explorar, e desfrutar do pobre. Segundo a “Utopia”, todos

devem trabalhar, mas não mais de seis horas por dia: três antes do meio dia e

três depois, o resto deve ser tempo livre. A vida das pessoas desenvolve-se

tanto quanto é possível, num ambiente comunitário, e deve ser dirigida para

encontrar um harmónico equilíbrio entre prazer do corpo e do espírito.

A religião na “Utopia” é fundada sobre a crença de uma divindade

inconcebível, eterna, acima de cada sociedade, e cada indivíduo é livre de

adorar esta divindade com o culto que preferir. Estes termos, que hoje são de

todo actuais, mostram a modernidade do humanismo cristão, que o Vaticano II

revelou: a liberdade de consciência, o diálogo inter religioso, a igualdade

fundamental de todas as pessoas, a justiça social,, e assim, construir a

“sociedade do amor”, como antecipação e participação do Reino escatológico,

de verdade, de justiça, amor e paz. Em resumo, na “Utopia” Tomás Moro

apresenta-nos a vida do céu como um modelo para ávida sobre a terra.

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II – De INÁCIO DE LOYOLA A CARLOS BORROMEU

Em 1515 o humanismo renascentista e a Devotio Moderna encontram-se

num movimento chamado “Evangelismo” que se propõe a reforma da vida

cristã através do estudo e do retorno às fontes: O Evangelho e Paulo. O seu

representante mais importante é Le Févre d’Etapes (1455-1536). O Concílio

Latranense V (1512-1517) reforçou a necessidade da reforma da vida cristã, e

se não teve resultados avultados foi porque os seus decretos ficaram letra

morta. Propostas audazes, que pouco depois Lutero colocará em prática, tais

como a de traduzir a Bíblia para as línguas modernas, a reforma do Código de

Direito Canónico, a formação do clero. Pouco depois do seu encerramento, um

leigo de profunda cultura humanista, Pico de Mirandola(1469-1533) faz ouvir a

sua voz, revelando, diante da assembleia conciliar, a exigência de um clero

bem formado, de vida sóbria, atento à cura pastoral; assim era mais fácil estar

atento à luxúria que grassava, à ambição e ao luxo. Isto, dizia o Papa, vale

mais do que qualquer cruzada e exortava ao empenho pessoal nesta tarefa.

Tudo isto permanecerá ineficaz até ao Concílio de Trento (1545). O Papa

Adriano VI escreveu em 1522:”Todos nós prelados e eclesiásticos desviámo-

nos da estrada do justo e são raros os que procedem bem”.

Em Espanha, por seu lado, crescia e intensificava-se o esforço por uma

vida cristã mais autêntica. O Cardeal Francisco Jimenez de Cisneros,(1436-

1515), animado e apoiado pela Rainha Isabel de Castela, reforçou uma reforma

estrutural e espiritual da Igreja em Espanha: reforma do episcopado, do clero

secular e regular. Tal reforma começava com coisas muito concretas, entre as

quais a celebração anual do sínodo diocesano, a obrigação de cada sacerdote

em ter um confessor; cada pároco devia explicar a doutrina cristã ao menos

uma vez por semana.

Ordenar e proibir não chegam para uma reforma eficaz, era necessário

formar clérigos e leigos de modo a melhorar e para aprofundar as questões do

momento.

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Assim, Cisneros projectou e organizou diversas casas de formação; a

intervenção cultural mais importante foi a fundação da Universidade de Alcalà

(perto de Madrid). Fez vir óptimos professores humanistas (Erasmo) e fez

publicar a “Bíblia Poliglota Complutensis”: uma obra monumental, que mostra

bem como o desejo de voltar às fontes da Revelação não pertencia só à

vontade de Lutero ou de Erasmo. Voltar à origem da fé cristã era uma vontade

muito cara a todos aqueles que procuravam reformas, ainda que de formas e

maneiras diferentes.

A Universidade de Salamanca, Francisco de Vitória, dominicano, tentou

dar uma resposta teológica ao problema da descoberta da América, levando a

sério os protestos dos missionários, como Las Casas, contra a brutalidade da

conquista. Na Abadia Beneditina de Monssserat (Barcelona) o Abade, Garcia

de Cisneros (+1510) introduzirá a Devotio. Este clima de renovação originou

uma “primavera” religiosa, teológica, literária e artística, que faz do séc. XVI

uma época de grande esplendor espiritual e cultural em Espanha, chamado

“Século de Ouro”. De particular importância é o complexo movimento dos

“Alumbrados”, nascido nos anos (1507-1512) com grande vontade de

perfeição, aberto à doutrina da “Devotio moderna” e ao “cristianismo interior” de

Erasmo, mas que progressivamente cai em alguns excessos de misticismo

iluminístico.

Detenhamo-nos agora em algumas figuras espirituais relevantes deste período.

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JOÃO D´ÁVILA

S. João d’Ávila estuda em Alcalà e Salamanca e torna-se sacerdote.

Depois da morte dos seus pais, vende as suas ricas posses para ir como

missionário para a América, mas por diversas causas é impedido de realizar o

seu desejo. O arcebispo de Sevilha pede-lhe para trabalhar na diocese, na

reforma da vida cristã e particularmente na reforma do clero. O seu modelo de

vida espiritual e apostólica era S. Paulo. S. João organiza a catequese para as

crianças e adultos, cria missões populares e a ajuda aos enfermos.

Foi acusado de heresia e foi processado pela Inquisição e metido na

cadeia(1531-1533), onde escreveu a sua obra principal “Audi Figlia”. Com

outros sacerdotes forma um grupo de oração, de estudo e de ascese, que dá

origem à chamada “Escola sacerdotal S. João de Ávila”. Renunciou a dois

episcopados e ao cardinalato. O seu grande magistério espiritual e teológico é

chamado “Mestre d´Ávila”. Relacionou-se com Sto Inácio e S. Francisco de

Bórgia e com Sta Teresa e foi canonizado por Paulo VI em 31 de Maio de

1970.

Os temas fundamentais da sua obra são:

1) O mistério de Cristo: Cristo é a Palavra de Deus, o esposo, que dá

significado à perfeição cristã;

2) A Igreja como esposa de Cristo;

3) A vida em Cristo é marcada pela fé, esperança e caridade. Na “Audi

Figlia” utiliza o colóquio entre Cristo e o crente para descrever como se

vive a união com Cristo. Para começar, o cristão deve tornar-se

consciente da sua situação; assim, exercita a própria consciência como

ponto de partida. Para este fim é necessário fazer silêncio, exterior e

interior.

A espiritualidade sacerdotal é centrada, segundo S. João de Ávila, na pregação

e na Eucaristia, no orientar os crentes para o seguimento de Cristo, com uma

vida de oração e de penitência; não procurando cargos ou lugares importantes,

mas revelando o sentir com a Igreja, a direcção espiritual, por outras palavras:

a conformação a Cristo esposo e pastor dá a razão de ser ao ministério

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sacerdotal. Assim aparece uma clara semelhança com a Exortação Apostólica

pós sinodal “Pastores Dabo Vobis” (1992).

INÁCIO DE LOYOLA (1491-1556)

A opinião geral é a de que o santo de Loyola era soldado de profissão.

Mas isto não é bem assim. A sua formação antes de se ter convertido era antes

de mais administrativa como cortesão e cavaleiro. O cavaleiro, sobretudo no

Renascimento, é muito diferente de um militar sobretudo no sentido actual.

Próprio do ambiente cortesão renascentista, no qual o jovem Inácio cresceu era

normal um forte desejo que se vivia por um estilo de vida alegre e livre. A auto

afirmação do eu, o orgulho desmesurado a vontade de fama e de honras, eram

valores fundamentais daquela sociedade renascentista.

A este ambiente faz referência a sua biografia quando ele mesmo

afirma:” Até aos 26 anos fui um homem do mundo, absorvido pela vaidade.

Amava sobretudo exercitar-me no uso das armas, atraído por uma imensa

vontade de conquistar honras vãs”.

A ferida de Pamplona, isto é o desabar de projectos importantes e o

facto de ter estado próximo da morte levou-o a fazer uma longa reflexão. A

leitura de livros espirituais (A vida de Cristo e a vida dos santos) leva-o a mudar

de vida:” E se também eu fizesse o que fizeram Francisco e Domingos”?

Inácio encontra-se numa situação de escolha, na qual a sua liberdade de

decisão é posta à prova. Sente-se interiormente dividido, inseguro. Contudo

havia uma diferença: pensando nas coisas do mundo isso dava-lhe muito

prazer, mas quando por cansaço as abandonava sentia-se desiludido e vazio;

enquanto pensava em viver como os santos fazendo penitências permanecia

alegre. O ideal de perfeição segundo a vida de Cristo e dos santos colocava-o

em confronto com a sua vida antiga.

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Um profundo sentido de culpa e de pecado apareciam na sua

consciência. Depois de tomar consciência da infinita misericórdia de Deus

encontra a iluminação mística, e torna-se um conhecedor experimentado da

vida espiritual. (Ter em conta sobretudo os “Exercícios Espirituais”- um mês...)

Mais à frente se houver tempo falaremos do esquema completo das quatro

semanas!

Em resumo, a espiritualidade inaciana é trinitária, porque se insere na

história da salvação; é cristocêntrica porque leva o crente ao seguimento de

Cristo; é pneumática porque se realiza como discernimento no Espírito e

segundo o Espírito; é eclesial porque se sente em comunhão particularmente

com o vigário de Cristo e ao seu serviço (quarto voto dos jesuítas); é apostólica

porque se santifica santificando os outros.

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TERESA DE JESUS (1515-1582)

Entre as diversas formas de espiritualidade feminina, a de Santa Teresa

teve um relevo particular. Seguindo os seus escritos auto-biográficos, em

particular o “Livro da Vida”, constata-se que na sua infância teve uma formação

cristã recebida dos seus pais. A jovem Teresa, lia a vida dos santos,

provavelmente o “Flos Santorum”. Aos oito anos, fervorosa a partir dos

exemplos heróicos de santidade, vai juntamente com o seu irmão para a “terra

dos mouros” para se tornar mártir. Depois da morte da mãe,(1528), Teresa

confia-se à Virgem da Caridade. Nos anos seguintes lê apaixonadamente livros

sobre romances cavaleirescos, alimenta amizades precoces com seus primos e

dedica-se a vida pouco recomendada.

A vaidade e o demonstrar publicamente a sua feminilidade que espicaça

neste tempo, impedem-na de levar uma vida cristã sadia, para grande

desagrado do pai, que para a proteger a leva ao mosteiro das Agostinianas em

Ávila. Ali conhece uma monja que a ajuda a descobrir a profundidade do

Evangelho. Durante todo este tempo amadurece a sua vocação à vida

religiosa.

Em Novembro de 1535 foge de casa para se refugiar no mosteiro

carmelita da Encarnação em Ávila, onde apesar de tudo é admitida como

postulante. Em 3 de Novembro de 1537 faz a sua profissão religiosa, mas

depressa teve que deixar o convento por causa duma doença; é conduzida a

casa de um tio. Neste período lê o “terceiro Abecedário” de Francisco Osuna,

um livro que a ajuda muito na sua meditação. Em Julho deste mesmo ano, e

porque as anteriores doenças são mal curadas, Teresa é conduzida,

gravemente doente, a casa de seu pai. Permanece três dias em estado de

coma, a ponto de a darem como morta. Volta quase curada ao convento da

Encarnação.

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Não obstante a sua precária saúde, durante quase três anos, confia-se

em tudo a S. José, ao qual atribui a sua cura. Em 1543 morre o pai. De 1544-

54 Teresa sofre uma penosa crise espiritual. Debate-se entre as suas amigas,

os relacionamentos humanos e as exigências da vida consagrada. Durante

este período sente-se só, árida, dividida, infiel ao Senhor.

Na Quaresma de 1544 sente um chamamento especial diante da

estátua do “Hecce Homo”: cai de joelhos chorando e suplica ao Senhor que a

ajude a não o ofender mais.

Em seguida lê as “Confissões” de Sto. Agostinho e que lhe responderam

a muitas das suas questões. No fim deste período começa a experimentar

numerosas graças místicas. Teresa coloca em dúvida a origem destas

experiências, que culminam na visão de Cristo ressuscitado. Tranquilizada pelo

franciscano P. D’Alcântara no que diz respeito à visão do inferno e encorajada

por algumas irmãs da Encarnação, decide fundar um novo mosteiro com base

na oração e no silêncio; um mosteiro pobre, pequeno a que porá o nome de S.

José. Em 1567 encontra João da Cruz, que ganha para a reforma do Carmelo,

ainda que ele pensasse entrar na Cartuxa. Em Novembro de 1568 Teresa de

visita a Duruelo, fica contente pelo que fez João da Cruz. Em 14 de Maio de

1569 santa Teresa funda um outro mosteiro em Toledo.

O P. Geral pede-lhe para acabar a fundação e para se retirar para o

mosteiro de Toledo; isto também por causa de uma acusação junto do tribunal

da Inquisição. Na sua defesa, ou para sua defesa escreve a quarta “relação”

onde se vê a sua fidelidade à Igreja. No meio destas peripécias, encontra

pessoas que são para ela de grande conforto como J. Grazian, amigo fiel de

toda a sua vida. Em 1573, por ordem do P. Risalda, começa a escrever as

“Fundações”. Leva a termo a segunda redacção do comentário ao “Cântico dos

Cânticos”.

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Por volta do fim de 1575 no capítulo geral carmelita é preso S. João da

Cruz e seus novos companheiros. Teresa é forçada a retirar-se para um

convento de Castela. Em Junho de 1576 Teresa chega a Toledo onde redige o

“Modo de visitar os conventos dos carmelitas descalços” e inicia o “Castelo

interior”, obra prima dos seus escritos espirituaias. Entretanto continuam as

perseguições contra a reforma Teresiana. S. João da Cruz foge da cadeia de

Toledo. No mesmo ano de 1578 o P. Grazian é preso. Graças às mediações do

rei de Espanha (Filipe II) obtém-se a aprovação pontifícia.

A noite de 20 de Setembro, depois de diversas viagens extenuantes,

Teresa chega fatigada a Alba de Tormes (entre Ávila e Salamanca). Em 4 de

Outubro de 2582 morre dizendo:”Enfim, Senhor, morro filha da Igreja”.

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JOÃO DA CRUZ (1542-1591)

S. João da Cruz nasceu em Fontiveros, perto de Ávila. Cedo fica órfão

de pai e vive na miséria com a mãe e os seus três irmãos; desde muito jovem

que se interessa pelos doentes, trabalhando num hospital ate aos 21 anos em

Medina del Campo, onde frequenta também o colégio dos jesuítas, estudando

os clássicos latinos. Entra depois no noviciado carmelita desta cidade. Depois

da profissão e dos votos (1564), dirige-se à Universidade de Salamanca, onde

estuda filosofia e teologia. Aqui ensinava o grande biblista e literato Fr. Luís de

Leon, que era Agostiniano.

O desejo de perfeição evangélica leva-o a entrar na Cartuxa. Um

encontro casual com Teresa (1567), que também procurava a reforma do

Carmelo, fá-lo descobrir a direcção definitiva da sua vida, empenhando-se na

reforma dos Carmelitas. Isto levá-lo-á a não poucas tensões e conflitos. A

actividade exterior de João na reforma do carmelo não esteve no primeiro

plano, mas a interna essa sim foi de primeiríssimo plano. Ele foi o plasmador e

o moderador do espírito do carmelo reformado, sobretudo através da direcção

espiritual, que se desenvolve principalmente entre os religiosos e as religiosas

carmelitas, mas estende-se também aos sacerdotes e leigos.

A parte melhor da sua obra é escrita em poesia, obra prima da literatura

lírica em espanhol. Só depois de muitas insistências decide explicar alguns

versos. A exposição da sua experiência e doutrina torna-se mais clara na “

Subida ao monte Carmelo”, que com a “Noite escura” constitui uma doutrina

bem articulada. Muitos factos diz João no Prólogo da Subida, acontecem na

subida àqueles que a percorrem: alegrias, penas, desejos, dores que possa,

proceder do espírito perfeito e também do imperfeito. João quer ajudar o

religioso para que “possa conhecer o caminho que segue e aquele que lhe

convém escolher, se tem como intenção chegar ao cimo do monte”.

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O principiante começa um caminho de purificação de todos os aspectos

sensitivos e busca as coisas exteriores, Chamada “noite dos sentidos”, activa e

passiva. “noite” designa o caminho que se deve percorrer para chegar à

libertação total da união com Deus.

Este caminho é feito sobretudo de privações, porque, “como a noite não

é outra coisa que a privação da luz e, por consequência, leva a que

conheçamos todos os objectos que mediante a luz se vêem, o mesmo se pode

dizer da mortificação dos apetites, noite para a alma: quando esta se priva do

gosto e do apetite em cada situação, permanece na escuridão e privado de

tudo”.

O apetite que olha para o seu objecto só para o engolir, para o devorar;

um desejo que fecha o homem em si mesmo, confinando-o à sua própria

esfera, fazendo-o escravo de si mesmo. Para subir ao “Monte da Perfeição”,

para se dar ao eterno convencido do amor divino, para juntar ao “Tudo” da

liberdade infinita que é Deus, é necessário ainda descer à “noite do espírito”,

activa e passiva, purificando a memória, o intelecto e a vontade; a vida é

sempre um “nada”. Ou seja e em súmula: para chegar à purificação é preciso

passar pela “noite”, pela experiência da Kenosis a fim de se chegar à Luz, à

Plenitude; ser “Nada” para ser “Tudo”.

O objectivo é sempre: a união plena com Deus que tem como

consequência a paz e a tranquilidade, um conhecimento mais profundo do

homem e de Deus.