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Guia de mediação de leituraTRANSCRIPT
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fazendo minha histria
Guia de mediao de leitura
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fazendo minha histria Guia de mediao de leitura
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apresentao O Instituto Fazendo Histria uma organizao no governamental fundada em So Paulo no ano de 2005. Sua misso colaborar com o desenvolvimento de crianas e adolescentes acolhidos em abrigos, trabalhando junto a sua rede de proteo a fim de fortalec-los para que se apropriem e transformem a prpria histria.
O Fazendo Minha Historia, um dos programas do Instituto Fazendo Histria, tem como objetivo proporcionar meios de expresso para que cada criana ou adolescente que est em uma insti-tuio de acolhimento possa entrar em contato e registrar sua histria de vida em um lbum, usando a literatura infanto-juvenil como mediadora neste processo.
atravs do investimento no prazer em ler que o Fazendo Minha Histria desenvolve sua prtica e a mediao de leitura o meio usado para proporcionar uma aproximao e contato gostoso entre as crianas e adolescentes e as histrias.
Os livros levam crianas, adolescentes e adultos a entrarem em contato com culturas, valores, modos de ser e de viver diferentes, alm de estimular o desenvolvimento da imaginao e da criatividade. A partir do contato com as histrias, somos impulsionados a sonhar e recriar a vida, encontrando muitas respostas para nossos questionamentos.
As histrias dos livros tratam de temas universais e tocam as pessoas de formas diferentes. Exis-tem aquelas que gostam de ler romances, outras de biografias e pessoas que preferem suspense. Cada um identifica-se com histrias diferentes de acordo com sua trajetria pessoal e na prtica constante da leitura que cada um vai descobrindo o seu modo de ser leitor.
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Na prtica do Fazendo Minha Histria, percebemos que, para despertar o gosto pela leitura em crian-as e adolescentes, precisamos primeiro ajud-los a estabelecer uma relao prazerosa com os livros. Somente circular entre livros no torna crianas e adolescentes leitores apaixonados, preciso que existam pessoas que os ajudem a encontrar sentido nesta ao. Percebemos tambm que s pode ajudar a despertar o prazer em ler aquele que j desenvolveu esta paixo.
por isso que grande parte das aes do Fazendo Minha Histria est voltada para a sensibilizao e formao de adultos mediadores de leitura. Em seus 10 anos de prtica, em diferentes espaos e instituies, com grupos diversos de educadores, tcnicos e voluntrios, o Programa vem desenvol-vendo formaes e seminrios. Nestes espaos, sesses de mediao de leitura e atividades praze-rosas com os livros ganham papel de destaque, inspirando e motivando adultos que gostam de ler a multiplicarem histrias e adultos que no lem a descobrirem-se leitores. Nunca tarde para se tornar um bom leitor!
Nos ltimos anos de trabalho, percebemos que muito crescemos no desenvolvimento de atividades relacionadas mediao de leitura, mas estas foram pouco sistematizadas. Este Guia de Mediao de Leitura vem se unir aos outros dois j publicados (Guia de ao para colaboradores e Guia de Ao para o trabalho em grupos), buscando sistematizar e multiplicar nossa metodologia cada vez mais.
Esperamos que tenham uma boa leitura, inspiradora e motivadora para muitas outras!
Um grande abrao,Tatiana Barile e Isabel PenteadoCoordenadoras do Programa Fazendo Minha Histria
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A palavra , na nossa histria, na nossa cultura, o que organiza o caos. Com a literatura, a gente comea a dar sentido s coisas. Tudo tem sentido. Porque o mundo um grande livro sem texto e um trabalho nosso, do homem, legendar o mundo. Ns estamos aqui para legendar esse mundo. E na medida que voc comea a legendar as coisas todas voc se torna mais atencioso, mais cuidadoso, menos preconceituoso, mais preocupado com o sentido bonito das coisas. Isso tudo o livro pode fazer. Uma sociedade mais feliz.
Bartolomeu de Campos Queirs
ndiCe
Introduo
A mediao de leitura: sobre a metodologiaMediao com os bebsMediao com os adolescentes
Organizando a biblioteca
Escolha dos ttulos
Sugestes de ttulos
Para pensar... situaes reais
Repertrio de atividades
Formao de mediadores
Referncias bibliogrficas, indicaes deleitura sobre o tema e crditos
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6introduo
Uma parte importante da metodologia do Programa Fazendo Minha Histria se apoia na possibilidade de promover um envolvimento cada vez maior das crianas com os livros, sendo um de seus objetivos que as crianas leiam mais e com prazer.
A literatura uma criao universal que surge a partir da necessidade humana de elaborar, expressar e construir sentidos para aquilo que vivido e experimentado. As crianas e adolescentes encontram nas histrias que os livros contam um lugar seguro e com muitos elementos simblicos para que possam elaborar questes relativas sua prpria vida.
A partir da leitura experimentamos papis, descobrimos possibilidades nunca antes pensadas, refletimos sobre determinadas situaes coletivas e individuais e somos impulsionados a sonhar e recriar a vida. O livro um objeto transformador, que torna possveis aes impossveis; que transporta o leitor para um mundo fict-cio, onde pode encontrar respostas para muitas de suas perguntas do mundo real.
Alm disso, apostamos no estabelecimento do vnculo que se constri a partir do momento em que um adulto l para uma criana. Cria-se a um espao de cumpli-cidade e troca afetiva, onde dois esto juntos compartilhando e sendo afetados, de diferentes maneiras, pela mesma histria.
Como ajudar as crianas e adolescentes a realmente gostarem de ler? Como pro-mover interesse e hbito de leitura entre os adultos? Como sensibiliz-los para que leiam para crianas e adolescentes? a partir dessas perguntas que o Fazendo Minha Histria norteia suas aes para formar bons leitores.
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7 atravs do investimento no prazer em ler que o Fazendo Minha Histria desen-volve grande parte de sua prtica. E pelo mtodo da mediao de leitura que procuramos proporcionar momentos de proximidade e prazer entre adultos, crian-as, adolescentes e as histrias. No encontro com a literatura,
os homens tm a oportunidade de ampliar, transformar ou enriquecer sua prpria existncia de vida em grau e intensidade no igualados a nenhuma outra atividade
Coelho, 2000
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8Durante o estgio em um servio de acolhimento em So Paulo realizado em parceria com o Instituto Fazendo Histria, cuja populao consistia em crianas pequenas, de at 11 anos, a mediao de leitura era a atividade inicial dos encontros.
Chegvamos de manh e ramos recebidos pelas crianas que nos ajudavam a espalhar os livros pelo tapete da sala.Em uma dessas manhs a casa estava cheia de crianas recm acolhidas. Ao todo havia cerca de doze crianas. ramos trs adultos mediadores de leitura. Iniciamos, assim, o ritual de espalhar os livros pelo tapete, e rapidamente as crianas que j conheciam o processo se envolveram com a atividade. Pouco a pouco os novos integrantes do incipiente grupo tambm foram se apropriando do espao.
Trs crianas se aproximaram de mim, uma menina de onze anos veterana na casa e um casal de irmos recm chegados com idade entre 8 e 10 anos e de olhos arregalados, o que parecia uma mistura de medo e fascinao perante o recm apresentado universo fantstico da literatura infanto-juvenil, se que tal nome compatvel com que estava ali presente. A veterana se antecipou e disse: Tio, l esse!. Iniciou-se, assim, a mediao de Pedro est encolhendo.
O livro conta a histria de um menino que convoca a ateno da famlia em seu cotidiano e, ao no ser escutado, comea a encolher e encolher at escorregar pelo ralo da pia e iniciar uma longa viagem pela tubulao de sua casa. Ali encontra Lisa, uma garotinha que tambm havia encolhido, segundo conta a Pedro, por falta de ateno das pessoas ao seu redor. Com o desenrolar da conversa ambos comeam a crescer novamente. Neste momento as trs crianas exclamaram: Eu j me senti assim.
A palavra circulou entre ns, a histria terminou, e ao fim da mediao a garota veterana (denominada por parte dos educadores de mentirosa) exclamou: Tio, acho que estou crescendo de novo! O casal de irmos sorriu pela primeira vez e um deles foi escolher a prxima histria.
Depoimento de Joo Verani, estagirio do Fazendo Minha Histria
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9a mediao de leitura: sobre a metodologia
Na mediao de leitura, ato de ler em voz alta para uma ou mais pessoas, o foco principal dado ao livro e no ao contador. O livro uma obra de arte rica por si s, com textos e ilustraes, e deve ser apresentada ao leitor tal como , sem mu-danas de palavras, sem pular pginas para encurtar ou qualquer outra alterao. Independentemente do impacto que uma obra de arte pode ter no sujeito que a aprecia, alter-la nunca seria uma opo. preciso respeit-la em sua fora de tocar e transformar o outro. Cada um tocado de um modo diferente. Ler o livro tal como ele est escrito garante ainda a permanncia da histria e possibilita a releitura. Vale lembrar que as crianas gostam de escutar vrias vezes o mesmo conto; a repetio d segurana, pois elas conhecem o enredo e o final da trama.
No Fazendo Minha Histria, a mediao de leitura feita por adultos ou adoles-centes de referncia que se renem com uma ou mais crianas e adolescentes para ler e ouvir histrias em um ambiente agradvel e estimulante. Os livros so es-palhados sobre um tapete no cho de forma convidativa e todos ficam livres para explor-los de maneira autnoma, da forma como tiverem vontade. Chamamos este momento de explorao livre. Nesse espao, o mediador de leitura ainda no est realizando uma atividade de leitura, mas j um mediador na medida em que apresenta o livro para as crianas e adolescentes. Ele media e facilita esta relao entre a criana e o adolescente e o livro.
Em seguida, o mediador inicia a leitura dos livros solicitados, e por vezes tambm, escolhe ttulos que quer apresentar para seus ouvintes. Ele os conduz histria do
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livro, ao mundo da imaginao e est sempre preparado para escutar como o livro toca cada um, ouvir suas associaes, seus comentrios e perguntas. Ao ouvir uma histria, a criana ou o adolescente pode querer se expressar, compartilhar o que pensou e sentiu, e importante acolher a sua participao, assim como respeitar o seu silncio.
A ideia fazer do contato com os livros um momento prazeroso. Esse no um espao de ensino e aprendizagem, onde o adulto aquele que detm um saber e ir pass-lo criana ou adolescente. Muitas crianas e adolescentes j tm em suas vidas a marca de uma relao pedaggica com os livros: precisam ler para aprender, ler em voz alta para treinar, ler para dizer o que compreenderam. Obrigar uma criana a ler torna a leitura apenas mais uma atividade a ser cumprida, sem graa ou sentido.
Neste momento no h cobranas por interpretaes ou perguntas. H apenas a dis-posio do mediador para apresentar criana e ao adolescente uma nova histria, uma histria que ele tenha o desejo de conhecer, de mergulhar. Uma histria que possa emocion-lo, fazer com que se identifique com um ou outro personagem. Ou no. A mediao de leitura um ato de generosidade e, simultaneamente, um ato livre de expectativas. Leio sem esperar um resultado ou outro. Leio porque quero, porque queremos, porque bom.
Claro, a partir dos livros h sim trocas de experincias, sentimentos e afetos. Por vezes isso ocorre mais intensamente e de forma aberta, com a criana ou o adolescente se expressando. Por vezes, o movimento interno. O livro toca o outro de um jeito que nunca conseguiremos saber exatamente. E nem precisamos deste saber. Apenas oferecemos a experincia do encontro com novas histrias, a percepo de novas formas de estar e participar do mundo.
Tropeavas nos astros desastrada Quase no tnhamos livros em casa E a cidade no tinha livraria Mas os livros que em nossa vida entraram So como a radiao de um corpo negro Apontando pra a expanso do Universo Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso (E, sem dvida, sobretudo o verso) o que pode lanar mundos no mundo
Caetano Veloso, 1997
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A diversidade provavelmente o critrio mais importante na composio de acer-vo, assim como ela tem seu valor no mundo. Se eu tenho um acervo diverso, parto da premissa que as pessoas todas so diferentes e, portanto, vo se identificar, gostar, se encantar por livros diferentes. Assim, utilizamos livros com e sem ilus-trao, livros grandes e pequenos (na forma), com uma s histria ou com muitas pequenas histrias, livros coloridos, livros tristes, livros engraados, livros simples, livros mais complexos... O importante ter livros para todos os gostos.
Acreditamos que o prazer pela leitura acaba se construindo como efeito da reali-zao da proposta da mediao de leitura. Entendemos que a disponibilidade, o posicionamento e o envolvimento do(s) adulto(s) referncia(s) frente a essa me-todologia um aspecto fundamental na efetivao desse objetivo. importante lembrar que crianas e adolescentes percebem quando um adulto tem ou no prazer no que faz. Adultos so modelos para as crianas e adolescentes. No adian-ta mand-los ler, se o prprio adulto no l; no adianta dizer que ler importante, se realmente no se considera isso importante. Assim, para aqueles adultos que j adoram os livros, possvel compartilhar esse gosto com suas crianas e ajud-las na descoberta deste prazer de forma muito simples e genuna. Para aqueles que ainda no sentem prazer com um livro, fica aqui o convite: escolha um livro simples e bom, reserve um tempo em sua rotina, escolha um espao gostoso e aproveite. Sempre tempo para se tornar um leitor. E s algum que tenha mesmo o gosto pela leitura poder se tornar um bom mediador.
Voc comea a contar histria para um e vai chegando mais um, depois outro e, quando voc v, j tem meia dzia para ouvir aquela histria. Hoje, vejo que eles sentem prazer na leitura. At os pequenininhos, que no sabem ler, so mais interessados pelas figuras e cores, j pedem os livros. Eles vm logo dizer: Chegou livro novo! Vamos ler este aqui?
Depoimento de Jailma Gomes de Arajo, profissional do Educandrio Dom Duarte
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mediao de leitura Com os bebs por Fernanda Nogueira
O beb conhece o mundo atravs dos objetos, sons, cores, texturas e sensaes que lhes so apresentados pelos adultos, desde antes da aquisio formal da linguagem. Esta apresentao inicial do mundo fundamental para que o beb possa se tornar, no futuro, um sujeito independente e seguro. Os livros so um veculo de apreenso e explorao deste mundo. Aos poucos, o beb passa a ex-plorar este veculo atravs de um contato fsico e sensorial, colocando-o na boca, explorando suas texturas, cores e sons, brincando e se divertindo.
As crianas comeam a desenvolver sua capacidade de comunicao desde o momento que nascem. Os recm-nascidos rapidamente comeam a reconhecer sons significativos do ambiente, como a voz de seus pais. A medida que crescem, os bebs comeam a reconhecer os sons que iro constituir a linguagem, como o funcionamento das slabas, palavras e sentenas.
Diversos estudos revelam que os trs primeiros anos da vida de uma criana so os mais crticos do ponto de vista da aquisio de linguagem porque o crebro est mais apto para absorver a linguagem durante este perodo. Por isso a importncia de falar, escutar, ler, cantar e brincar com os bebs e ajudar a ensinar habilidades para a linguagem que iro durar a vida inteira.
A apresentao dos livros para os bebs pode ser feita atravs da mediao de leitura. A comunicao com um beb, que ainda est se inserindo no universo da linguagem, passa por outros canais que no apenas as palavras. Ao ler uma histria para os bebs, o adulto pode apresentar mudanas em seu tom de voz,
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expresso facial e atitude corporal. Este contato imprime um registro sensvel para o beb e o ajuda a compreender o outro. Esta uma das grandes diferenas entre o trabalho de mediao de leitura para bebs ou para crianas maiores e adultos: aqui, o mediador vai atuar mais, vai ter maior importncia.
Cada beb manifesta reaes peculiares diante da apresentao de imagens e da narrao de histrias. A observao destas manifestaes pode ajudar a com-preender o beb. Se o adulto pode reconhecer as manifestaes do beb e acolh-las, este ganha confiana e segurana nos prprios sentimentos.
A cultura o ambiente onde o beb est inserido, o mundo que lhe ser apre-sentado. A literatura faz parte desta cultura e deve ser introduzida o mais cedo possvel como um estmulo ao gosto pela leitura e escrita, que sero formalizadas quando a criana tiver maturidade para isto.
Atravs da leitura, o vnculo entre o beb e o adulto pode ser fortalecido e o de-senvolvimento das crianas estimulado. importante levar em considerao as preferncias do beb por determinadas histrias e a maneira como ele se com-porta diante dos livros. Para isto, o adulto deve estar atento as suas manifestaes.
Normalmente, para os bebs, no o enredo que faz com que um livro seja mais ou menos interessante, mas simoutros aspectos como a sonoridade, a melodia, como ele ressoa em seus ouvidos. Por isso, livros que tem um ritmo constante, rimas e poesias costumam encant-los. Outro aspecto que demonstra encantar os bebs o tamanho dos livros. Para alguns, livros gigantes so maravilhosos, para outros, a maioria, livros pequenos, que caibam em suas mos so foco de interesse.
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Os livros para bebs devem ser coloridos, macios, resistentes e interessantes. O beb pode ganhar autonomia ao explorar livremente estes objetos. Os livros que contm narrativas mais elaboradas tambm podem ser utilizados, mas devem ser escolhidos com cuidado pelos adultos, a partir de temas relevantes e acessveis ao mundo dos bebs. Nestes casos, sero apresentados atravs da mediao de leitura. Os livros que contm imagens grandes e que saltam das pginas tambm costumam encantar aos bebs, mas devem ser manipulados pelos adultos, pois estes livros rasgam facialmente, o que pode gerar frustrao e deixar os livros com um aspecto negativo. A criana no nasce sabendo como cuidar dos livros. O adulto deve ensinar a cuidar, ser uma referncia e mediar o contato dos bebs com os livros quando necessrio.
mediao de leitura Com os adolesCentespor Mahyra Costivelli
Propor mediao de leitura para adolescentes um desafio! Frases do tipo eles no se interessam pelos livros ou nem adianta oferecer uma leitura para eles so muito comuns quando conversamos com adultos que lidam cotidianamente com os jovens.
E, de fato, muitas vezes quando o assunto a leitura, em especial para jovens com extenso histrico de fracasso escolar, logo de cara surgem reaes negativas e olhares de reprovao.
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Alguns adultos ficam apenas com essa primeira reao que, por vezes, no fcil ser enfrentada concluem impossvel fazer mediao com adolescentes! e param por a. Outros adultos topam encarar o desafio, se aventurar na desconstruo desta situao ou, ao menos, na tentativa de compreend-la... Sigo minhas reflexes, alimentada por construes realizadas junto a estes adultos que, como eu, enca-raram o desafio.
Um aspecto que considero fundamental no momento de propor uma mediao de leitura, em especial para jovens, ter ttulos bastante variados, incluindo os que, a princpio, so considerados para crianas pequenas e bebs, interativos e cheios de ilustraes. J me surpreendi, muitas vezes, com as escolhas que eles fizeram sobre os livros que desejavam ler e conhecer. Alm dos ttulos infantis, essencial ter livros que abordem temas mais prximos ao universo deles, como, por exemplo, sexualidade e projeto de vida, bem como ttulos com projetos grfi-cos e formatos mais adultos.
Para compreender diversas reaes dos jovens, importante que os adultos se recordem de como eles eram na adolescncia. Um tanto do desafio de propor me-diao de leitura para essa faixa etria provem de caractersticas inerentes a esta fase da vida! Adolescentes raramente aceitam com facilidade propostas que vm dos adultos. Eles se opem, mostrando que tm personalidade, que sabem o que bom para eles e que no so mais crianas. Todo esse movimento, comum na adolescncia, vem misturado com uma boa quantidade de tdio que contamina as atividades rotineiras. E na hora da mediao de leitura no diferente.
Muitas vezes, inclu no momento da mediao outros elementos como, por exem-plo, guias culturais ou de profisses que estimularam conversas interessantes sobre
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a apropriao da cidade, a autonomia e projetos futuros. Materiais variados (jornal, revista, livro) sobre signos e significado dos nomes tambm foram interessantes mobilizadores de conversas a respeito da identidade e modo de ser de cada um. Biografias de personagens de interesse dos jovens eles j me solicitaram diversas biografias: Malcon X, Pel, Mano Brown... podem ser lidas num encontro de medi-ao de leitura, alm de poemas, histrias em quadrinhos e mangs. Enfim, abertura por parte dos adultos s questes dos jovens presentes fator importante quando se quer atingir o objetivo de fazer da leitura um momento de prazer.
Escrito por um adolescente acolhido em instituio, o livro Solta a Voz, Rafael, com sua narrativa um tanto confusa (do ponto de vista do adulto), misturando o tempo passado com o presente, letras de msica e poesia, um exemplo de ttulo que, em virtude de sua forma e contedo dinmico, gera bastante interesse nos jovens acolhidos. A partir da experincia da mediao deste livro, fica clara a im-portncia da abertura do adulto a elementos do universo jovem no favorecimento da leitura e de trocas (conversas, afetos, etc).
Recentemente, conversando com Lcia uma adolescente que, h trs anos, participou de grupos de mediao que eu oferecia a crianas e adolescentes que moravam em um determinado abrigo fiquei sabendo que Pamela, sua amiga e companheira de quarto que odiava ler e que nunca se envolvia com a mediao (e que me fazia quebrar a cabea para propor diferentes estratgias na tentativa de favorecer a aproximao dela com as histrias) pedia secretamente a Lcia que lesse histrias para ela noite. Pamela no gostava de mostrar interesse pelos livros que considerava infantis, mas ao anoitecer pedia Lucia que mediasse as histrias lidas nos encontros durante o dia.
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Casos como os de Pamela, que demonstrava no gostar da mediao, so fre-quentes em grupos de adolescentes! No fcil saber exatamente quais so as repercusses das propostas dos adultos, mas preciso acreditar que algo se constri neste encontro com os jovens. Se no fosse essa conversa que tive com Lcia, anos depois, eu nunca iria descobrir que Pamela, naquela poca, havia comeado uma relao prazerosa com a leitura... Este exemplo bacana para deixar alguns adultos mais tranquilos com as rejeies e, consequentemente, mais confiantes de que suas propostas de mediao fazem sentido - mesmo que, algumas vezes, parea que no.
Por fim, gostaria de ressaltar a importncia dos jovens se sentirem potentes e ca-pazes de oferecer algo bom comunidade em que vivem, especialmente os que moram em instituies de acolhimento e que so acostumados, apenas, a rece-ber coisas. Atravs da mediao de leitura, atribuindo-lhes o papel de mediador para crianas menores, adolescentes tm a oportunidade de assumir uma funo significativa e valorizada na casa. Lucia, a garota citada acima, me relatou que quando ela lia para as crianas fazia algo que era muito bom para ela, algo que a fazia se sentir bem. Lucia disse que gostaria que houvesse na sua trajetria de vida algum que tivesse lido histrias. Como no teve comeou a enxergar o poder de cura das narrativas medida que comeou a ler livros infanto-juvenis paras as crianas e bebs da casa.
Todas as crianas pequenas foram dormir, mas uma delas estava muito agitada e no conseguia pegar no sono. A educadora chegou e falou para uma das crianas: Michele, voc quer me ajudar? Eu quero tia. Ento vamos l no quarto. O que voc quer fazer? Vou contar uma histria para eles dormirem. Ela foi para a cama do irmo, comeou a passar a mo na cabea dele e falou: Era uma vez... E, quando a educadora voltou, estavam todos dormindo.
Depoimento de Mirian Cristina da Conceio, profissional do Educandrio Dom Duarte
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organizando a biblioteCa nos servios de aColhimento
Nos servios de acolhimento, a biblioteca pode ser organizada em diferentes espaos da casa. O importante que favorea a interao das crianas e adolescentes com os livros, propondo um ambiente tranquilo e aconchegante para a leitura. Tambm importante que os livros fiquem acessveis para que cada um tenha liberdade e sinta-se vontade para explor-los no momento em que desejar, se for possvel den-tro da rotina da casa. Dessa forma, a criana e o adolescente podem descobrir que tm condies de buscar conhecimento e momentos de prazer de forma autnoma, independente da presena e do controle de um adulto.
O sentido maior da biblioteca seu uso constante. A melhor maneira de cuidar desse espao mant-lo vivo, com todos da casa interessados e utilizando os livros. Cabe aos adultos da instituio assumir a biblioteca, garantir a preservao das obras, ensinar a todos como se cuida dos livros; e tambm pensar em alternativas de uso como, por exemplo, leitura antes da hora de dormir, ou como parte de uma atividade com as crianas/adolescentes.
Como dissemos, apenas circular no meio dos livros no desenvolve o gosto por ler. As crianas e adolescentes precisam conviver com pessoas que se envolvam com os livros de forma entusiasmada, conferindo a eles um novo e bom significado. muito importante que as crianas e adolescentes se sintam donos do acervo. S assim, os livros sero verdadeiramente cuidados: no por meras regras e procedi-mentos, mas porque faz sentido, os livros so importantes e preciosos para o grupo.
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Havia nove crianas inscritas no programa de erradicao do trabalho infantil, com idades que variavam entre 5 e 8 anos. Nossa proposta, naquela fase do projeto, era de estimular a leitura. Compramos livros atraentes. Com formas, cores, tamanhos e contedos que julgvamos ser de qualidade e apropriados. Chegamos cedo, antes das crianas. Preparamos com cuidado a sala que era pouco espaosa. Colocamos os livros no cho e num pequeno sof, de forma que ficassem convidativos e atraentes. Antes das crianas entrarem na casa dissemos que havamos preparado uma surpresa para elas.
Abrimos as portas. Num primeiro momento as crianas ficaram muito surpresas e maravilhadas. No momento seguinte, ns que ficamos surpresos. Foi como soltar uma manada de elefantes em uma loja de louas. As crianas comearam a explorar os livros sem o menor cuidado. Surgiram disputas que terminaram com livros partidos ao meio. Pginas viradas sem o menor cuidado amassando as folhas, livros rasgados, livros pisoteados, livros mordidos. Um verdadeiro massacre. Tudo muito rpido. Ficamos to estarrecidos e paralisados com a reao das crianas que nem tivemos tempo de reagir. Nossa brilhante ideia e narcisismo foram por gua abaixo em poucos segundos. Fiquei consternado diante da pilha de escombros de livros que sobraram e com raiva das crianas que os haviam estragado. Naquela hora julguei-os como um bando de animais. Minha vontade era de enforcar aqueles pequenos vndalos.
Triste, peguei um dos livros sobreviventes e me pus a ler solitariamente para me acalmar. De repente sinto um puxo na manga da camisa. Era
uma pequena menina com dois grandes olhos cor de jabuticaba:
Hei tio que c ta fazendo? Respondi meio rspido T lendo. No sei se ela havia percebido a minha cara de decepo e tristeza, ou se estava realmente curiosa O que voc est lendo? Um livro, disse laconicamente, para que nosso papo terminasse ali e ela me deixasse em paz L pra mim? Acho melhor no L vai?Diante da insistncia, inicialmente a contragosto, comecei a ler a histria em voz alta, mas fui me empolgando.
Quando dei por mim, me vi cercado de crianas semi boquiabertas, completamente atentas como se estivessem em transe hipntico. Durante a histria formamos uma sintonia perfeita. Ficavam espantados com a minha voz de rei malvado. Respondiam excitados a cada pergunta que era feita durante a narrativa. Mergulharam em cheiros e sons, procurando adivinhar qual seriam os prximos passos do nosso heri. Meus olhos marejaram. Estvamos reconciliados.
Aps a nossa iniciativa frustrada veio a reflexo. Percebemos uma srie de erros de estratgia. A importncia em certos contextos de apresentar o que pode ser um livro e os cuidados para manuse-lo.
Depoimento de Milton Fiks, psiclogo
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Alimentar a biblioteca oferecendo novidades fundamental para o sucesso do trabalho. A partir do momento em que as crianas e adolescentes comeam a se interessar pelos livros, querem mais e os adultos devem atender e estimular esse interesse. Por essa razo, quando o Fazendo Minha Histria inicia a parceria com um abrigo, a implementao da biblioteca feita de forma gradual, ou seja, as obras no so todas entregues de uma s vez. Fora isso, cada instituio pode criar estratgias de aquisio de novos ttulos e de reposio, pois, com o manuseio e o tempo, os livros se deterioram.
Os adultos que fazem parte da organizao podem e devem levar livros para casa. essencial que possam conhecer e utilizar cada vez mais o acervo. Para isso, vale organizar um procedimento simples de emprstimo, como criar uma lista, afixada ao lado da biblioteca, para registro das retiradas e devolues. O limite de dois livros por vez ajuda a no desfalcar o acervo. Abaixo desenvolvemos uma tabela que pode ser utilizada como referncia para o procedimento dos emprstimos:
Nome do Livro Nome do Retirante Data da retirada Data da devoluo
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esColha dos ttulos
Aps entender como fazer a mediao de leitura e como organizar um ambiente acolhedor para a biblioteca, surgem as perguntas: quais livros devemos ter em nossa biblioteca? Como escolher os ttulos?
No h resposta certa para este questionamento, mas podemos nos utilizar de alguns critrios para a formao do acervo. Um deles, e o mais importante, a qualidade dos livros que vo compor a biblioteca. O que um bom livro infanto-juvenil? Eis outra pergunta difcil! Podemos nos ater a alguns aspectos:
Tema que aborda: um tema universal, com o qual os leitores podem se identi-ficar? Ou um tema especfico, pelo qual apenas uma pequena parcela de leitores ir se interessar?
Trama: H incio, meio e fim nesta histria? O leitor consegue compreender o que aconteceu?
Texto: O livro bem escrito? H qualidade nas frases e nas palavras utilizadas?
Ilustraes e projeto grfico: so bem feitas, criativas? Chamam a ateno do leitor? Conversam com o texto?
Emoes: o livro desperta emoes?
Curiosidade: o livro convida o leitor a l-lo? Desperta curiosidade?
Alm da qualidade, h muitos outros critrios que podem nortear a escolha dos ttu-los para a biblioteca. Um deles a editora que publicou o livro; quando conhecemos
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um livro bom de certa editora, podemos procurar outras publicaes desta mesma editora. Da mesma forma, podemos procurar por autor.
Outro importante critrio para a escolha dos ttulos o interesse do grupo de leitores. Quando o interesse por um determinado tema est claro neste grupo, pode-se buscar outros livros relacionados a esta mesma temtica. Um grupo de crianas que gostou do livro De onde viemos?, por exemplo, pode tambm se interessar pelo Mame botou um ovo!, uma vez que ambos abordam a temtica da sexualidade.
H dois critrios principais para a escolha dos ttulos: diversidade e quantidade. Em relao diversidade priorizamos que as pessoas possam ter contato com uma variedade de obras literrias, que podem ser formadas por romances, contos, fbulas, poesias, parlendas, etc. So importantes tambm diversidades de proje-tos grficos, tamanho, cor, tipos de ilustrao, autores, editoras, etc. Em relao quantidade, a proporo mnima de um por participante, lembrando que quanto mais livros por pessoa melhor ser seu espao de pesquisa em relao aos livros. Ser interessante dizer as diferenas de um tipo e de outro, mostrando exemplos no acervo.
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sugestes de ttulos
TTULO AUTOR EDITORA TEMA
A arca de No Vinicius de Moraes Companhia das Letrinhas Trocadilho / poesia
A rvore generosa Fernando Sabino Record Amizade / Crescimento
A rvore Vermelha Shaun Tan SM Sentimento
A bruxinha atrapalhada Eva Furnari Global Editora Sem palavras / Divertido
A casa dos beijinhos Claudia Bielinsky Companhia das Letrinhas Divertido / Bebe
A casa sonolenta Audrey Wood tica Divertido / Repetio
A cicatriz Ilan Brenman Companhia das Letras Machucados / Marcas
A Droga da Obedincia Pedro Bandeira Moderna Juvenil
A fada que tinha idias Fernanda Lopes de Almeida tica Divertido
A festa no cu Angela Lago Melhoramentos Divertido
A flor do lado de l Roger Mello Global Desejo
A floresta Claire A. Nivola Martins Fontes Sentimento
A grande questo Wolf Erlbruch Cosac Naify Sentido da vida
A Menor Ilha do Mundo Tatiana Filinto Gro Editora Segredo / Solido / Amizade
A palavra feia de Alberto Audrey Wood Atica Palavro / Raiva
A Princesinha Medrosa Odilon Moraes Cosac Naify Medo
A Promessa do Girino Tony Ross e Jeanne Willis Atica Relacionamentos / Transformao
A terra dos meninos pelados Graciliano Ramos Record Juvenil
A velhinha que dava nome as coisas Cynthia Rylant Brinque-Book Sentimento
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A verdadeira histria dos trs porquinhos
Jon Scieszka Companhia das Letrinhas Divertido
Achados e Perdidos Oliver Jeffers Salamandra Amizade / Solido
Agora no Bernardo David McKee Martins Fontes Famlia / Solido
Ana e Ana Clia Godoy Difuso Cultural do Livro Famlia / Identidade / Singularidade
Ana, Guto e o gato danarino Stephe Michael King Brinque-book Amizade
As 14 prolas da ndia Ilan Brenman e Ionit Zilberman Brinque-Book Conto
As aventuras de Bambolina Michele Iacoca tica Abandono / Solido / Amizade
As memrias da bruxa Onilda E Larreula/ R. Capdevila Scipione Divertido
As tranas de Bintou Sylviane Diouf Cosac&Naify Auto-estima
Assim assado Eva Furnari Moderna Trocadilho / Rima / Poesia
At as princesas soltam pum Ilan Brenman e Ionit Zilberman Brinque-Book Divertido
Av Guto Lins Globo Famlia / Singularidade
Barulho. Barulhinho. Barulho Arthur Nestrovski Cosac & Naify Divertido
Belinda Bailarina Amy Young tica Auto-estima / Corpo / Diversidade
Bem-te-vi Lalau e Laurabeatriz Companhia das Letrinhas Poesia
Bililico Eva Furnari Formato Amizade / Divertido
Bisa Bia, Bisa Bel Ana Maria Machado Salamandra Juvenil
Boa Noite, Marcos Marie Louise Gay Brinque-Book Divertido
Bolinha vai ao circo Eric Hill Martins Fontes Divertido / Bebe
Bolinho de Chuva e outras miudezas Paulo Netho Peirpolis Poesia
Bom dia , todas as cores Ruth Rocha Quinteto Editorial Divertido / Singularidade
TTULO AUTOR EDITORA TEMA
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Bonita, assim que vov me chama Barbara Joosse Brinque-Book Famlia
Branca de Neve e os sete anes (GRIM) Tatiana Belinky Martins Fontes Conto de fadas
Bruxa Onilda vai festa E Larreula/ R. Capdevila Scipione Divertido
Bruxa, Bruxa venha minha festa Arden Druce Brinque-Book Medo / Repetio / Divertido
Cabelinhos nuns lugares engraados Babette Cole tica Puberdade / Adolescncia / Mudanas
Cabumm Heninz Janich e Helga Bansch Companhia das Letrinhas Divertido
Capites de Areia Jorge Amado Record Juvenil
Chapeuzinho Amarelo Chico Buarque Jos Olympo Editora Medo
Chapeuzinho vermelho Emmanuele de Lesseps Scipione Conto de fadas
Chuva de Manga James Rumford Brinque-Book Diversidade
Cinderela Coleo pom-pom Caramelo Conto de fadas
Clara Ilan Brenman e Silvana Rando Brinque-Book Divertido / Crescimento
Coc no trono Benoit Charlot Companhia das Letrinhas Divertido / Bebe
Como comea? Silvana Tavano Callis Novidade / Comear
Como que eu era quando eu era beb?
Jeanne Willis e Tiny Ross Brinque-Book Famlia / Identidade
Como os dinossauros dizem boa noite
Jane Yolen e Mark Teague Globo Divertido
Conta de Novo Jamie Lee Curtis Salamandra Adoo
Contos de Fadas Clssicos Helen Cresswell Martins Fontes Conto de Fadas
Crepsculo Stephene Meyer Instrnseca Vampiros / Amor / Mistrio
TTULO AUTOR EDITORA TEMA
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Da pequena toupeira que queria saber quem ...
Werner Holzwarth/Wolf Erlbruch Companhia das Letrinhas Divertido
De onde viemos Peter Mayle/Arthur Robins/Paul Walter
Nobel Sexualidade
Devagar, devagar, bem devagar Eric Carle Brinque-Book Singularidade
Divina Albertina Christine Davenier Brinque-Book Relacionamentos / Vaidade
s gostar Isabella Barbosa Difuso Cultural do Livro Famlia
Em casa Heinz Janisch e Helga Bansch Brinque-Book Sentimento
Em cima embaixo Janet Stevens tica Divertido
Ento voc chegou Anette Hildebrandt Companhia das Letrinhas Adoo
Esfregue e cheire / Festa Coleo Salamandra Salamandra Bebs
Esta Silvia Jeanne Willis/Tony Ross Salamandra Diversidade
Eu tenho um pequeno problema disse o urso
Heinz Janisch Salamandra Amizade / Escuta
Feliz por obrigao Chris Wormell Atica Tristeza / Sentimentos
Filho Guto Lins Brinque-Book Famlia
Fita verde no cabelo Joo Guimares Rosa Nova Fronteira Morte
Fome de Urso Heinz Janisch Brinque-book Fantasia
Frida Jonah Winter Cosac & Naify Diversidade
Guilherme Augusto Arajo Fernandes Mem Fox Brinque-Book Amizade
Halibut Jackson David Lucas Martins Fontes Sentimento
Harry Potter e a Pedra Filosofal J. K. Rowling Rocco Orfandade / Magia
Joo e Maria Tatiana Belinky Martins Fontes Conto de fadas
TTULO AUTOR EDITORA TEMA
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Ledazeda Mahyra Costivelli Gro Editora Encontro / Vnculo
Lo e Albertina Christine Davenier Brinque-Book Amizade
Leonardo Da Vinci Tony Hart e Susan Hellard Callis Arte
Lils, uma menina diferente Mary Whitcomb Cosac&Naify Singularidade
Lcia j vou indo Maria Helosa Penteado tica Singularidade
Macaco danado Julia Donaldson e Axel Scheffler Brinque-Book Divertido
Mame botou um ovo Babette Cole tica Sexualidade
Mame grande como uma torre Brigitte Schar/ Jacky Gleich Cosac & Naify Famlia
Mame, voc me ama? Brbara M. Joosse Brinque-Book Famlia
Mania de Explicao Adriana Falco Salamandra Sentimento
Marcelino Pedregulho Jean Jacques Sempe Cosac Naify Amizade
Marcelo, Marmelo, Martelo Ruth Rocha Salamandra Juvenil
Maril Eva Furnari Martins Fontes Trocadinho / Divertido
Menina bonita do lao de fita Ana Maria Machado Atica Diversidade
Menina Nina Ziraldo Melhoramentos Famlia / Sentimentos
Menino do Rio Doce Ziraldo Companhia das Letrinhas Juvenil
Meu av Apolinrio Daniel Munduruku Studio Nobel Famlia
Meu Grande Livro de Pano - Animais Francesca Ferri Ciranda Cultural Bebs / Animais
Meu Penico Leslie Patricelli Panda Books Bebs / Penico
Minha me um problema Babette Cole Companhia das Letrinhas Famlia / Singularidade
TTULO AUTOR EDITORA TEMA
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No confunda Eva Furnari Moderna Trocadilho
Ningum gosta de mim Raoul Krischanitz Brinque-Book Sentimento
Ninoca vai escola Lucy Ciysubs tica Divertido
Ns Eva Furnari Global Amizade / Diversidade
O anjo da guarda do vov Jutta Bauer Cosac & Naify Famlia / Morte / Crescimento
O beijo Valrie DHeur Brinque-Book Sentimento / Carinho / Me
O Caso do Bolinho Tatiana Belinky Moderna Divertido
O catador de pensamentos Monika Feth e Antoni Boratynski Brinque-Book Singularidade
O colecionador de segredos Andre Neves e Maria Cristina Silva
Brinque-Book Sonhos
O dia em que eu fiquei sabendo Bel Linhares e Alcy Salamandra Adoo
O Fantstico mistrio de feiurinha Pedro Bandeira Moderna Juvenil
O filho do Grfalo Julia Donaldson e Axel Scheffler Brinque-Book Divertido
O gato de botas Tatiana Belinky Martins Fontes Conto de Fadas
O giz vermelho Iris Van der Heide e Marije Tol-man
Martins Fontes Amizade
O grande rabanete Tatiana Belinky Moderna Divertidos / Famlia
O Grfalo Jlia Donaldson Brinque-Book Divertido
O Homem que amava caixas Stephen Michael King Brinque-Book Famlia
O Homem que Roubava Horas Daniel Munduruku Brinque-Book Tempo
O Imperdvel menino que perdia tudo
Marcelo Pires Record Perdas
TTULO AUTOR EDITORA TEMA
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O jardim da Bruxa Lidia Postma tica Divertido
O Limpador de placas Monika Feth Brinque-Book Conhecimento
O livro da famlia Todd Parr Panda Books Famlia
O Livro das Descobertas - Animais de Estimao
Coleo Publifolha Publifolha Bebs / Animais
O Livro das Descobertas - Hora do Banho
Coleo Publifolha Publifolha Bebs / Banho
O livro do papai Todd Parr Panda Books Famlia
O livro dos medos Diversos Autores Companhia das Letrinhas Sentimento
O Livro Negro das Cores Menena Cottin e Rosana Fara Pallas Braile / Cores
O macaco pensador Jeanne Willis e Tony Ross Brinque-Book Sentimento
O menino do dedo verde Maurice Druon Jos Olympo Editora Juvenil
O menino maluquinho Ziraldo Melhoramentos Juvenil
O meu p de laranja lima Jos Mauro de Vasconcelos Melhoramentos Juvenil
O Mistrio do Tempo Silvana Tavano Callis Tempo
O movimento da vida Carlos Alberto de Mattos Ferreira Brinque-Book Diversidade
O nabo gigante Aleksei Tolstoi e Niamh Sharkey GirafinhaGFi Girafinha Divertido
O Patinho feio Tatiana Belinky Martins Fontes Conto de fadas
O pequeno papa sonhos Michael Ende/ Annegert Fuschuber tica Divertido
O pequeno prncipe Antoine de Saint-Exupry Agir Juvenil
O ponto Peter H. Reynolds Martins Fontes Singularidade
O pote vazio Demi Martins Fontes Sentimento
TTULO AUTOR EDITORA TEMA
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O que cabe num livro? Ilan Brenman e Fernando Vilela Difuso Cultural do Livro Divertido
O Que est acontecendo comigo? Peter Mayle/Arthur Robins/Paul Walter
Nobel Adolescncia/ Puberdade
O Ratinho, o Morango Vermelho Maduro e o Grande Urso Esfomeado
Don e Audrey Wood Brinque-book Divertido / Amizade
O rei bigodeira e sua banheira Audrey Wood tica Divertido
O sapo bocarro Keith Faulkner Companhia das Letrinhas Divertido
O stio do Pica-pau amarelo Monteiro Lobato Brasiliense Famlia / Amizade / Sentimento
O trem da amizade Wolfgang Slawski Brinque-Book Amizade
O triste fim do pequeno menino ostra e outras histrias
Tim Burton Girafinha Terror/ Juvenil
O urso que queria ser pai Wolf Erlbruch Companhia das Letrinhas Famlia
Oh! Josse Goffin Martins Fontes Divertido
Olemac e Mel Fernando Vilela Companhia das Letrinhas Encontro / Diversidade
Olhos brilhantes Jane Cabrera MINC Divertido
Olivia Anne Schwartz Book Globo Divertido
Orelha de Limo Katja Reider Brinque-Book Diversidade
Orelhas de mariposa Luisa Aguilar e Andre Neves Callis Diversidade
os msicos de Bremem Jacob e Wilhelm Grim Martins Fontes Amizade
Os sapatinhos vermelhos Imme Dros & Harrie Geelen tica Sentimento
Os tesouros de Monifa Sonia Rosa e Rosinha Brinque-Book Histria de vida/ Famlia
Os trs lobinhos e o porco mau Eugene Trivizas Brinque-Book Contos de fada/ Diferentes verses
TTULO AUTOR EDITORA TEMA
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Ou isto ou aquilo Ceclia Meireles Nova Fronteira Poesia
Pai, todos os animais soltam pum? Ilan Brenman Brinque-Book Divertido
Para que serve um livro? Chlo Legeay Pulo do Gato Leitura
Para quem o mundo? Tom Pow Martins Fontes Acolhimento
Patrcia Stephen Michael King Brinque-Book Amizade
Pedro e Tina Stephen Michael King Brinque-Book Amizade
Pedro est encolhendo Miriam Latimer Girafinha Famlia / Sentimento
Pequeno Azul e Pequeno amarelo Leo Lionni Berlendis e Vertecchia Editores
Amizade
Pequeno manual de monstros caseiros
Stanisiav Marijanovic Companhia das Letrinhas Divertido
Picasso Tony Hart e Susan Hellard Callis Arte
Pinquio Tatiana Belinky Martins Fontes Conto de Fadas
Pippi Meialonga Astrid Lindgreen Companhia das Letrinhas Orfandade
Por favor, Eleonor! Frieda Wishinsky Brinque-Book Irmos
Portinari Nadine gtrzmielina e Angelo Bonito
Callis Arte
Primo Guto Lins Brinque-Book Famlia
Quando as cores foram proibidas Monica Feth Brinque-Book Sentimento
Quando mame virou um monstro Joanna Harrison Brinque-Book Famlia
Quem canta seus males espanta 2 Theodora Maria Mendes de Almeida
Caramelo Trocadilho
Quem mora... Na casa Coleo Quem mora... Abcpress Beb
TTULO AUTOR EDITORA TEMA
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Quem soltou o pum? Blandina Franco e Jos Carolos Lollo
Companhia das Letrinhas Divertido
Quem tem medo de qu? Ruth Rocha Global Medo
Quero ser grande - Charlie e Lola Lauren Chlid Atica Irmos
Rpido como um gafanhoto Audrey Wood Brinque-Book Diversidade
Reinaes de Narizinho Monteiro Lobato Globinho Juvenil
Rodolfo, o carneiro Rob Scotton Rocco Divertido
Selma Jutta Bauer CosacNaify Felicidade
Sete histrias para sacudir o es-queleto
Angela Lago Companhia das Letrinhas Medo
Solta a voz, Rafael! Rafael Thiago dos Santos e Mahyra Costivelli
Instituto Fazendo Histria Adolescncia / Sonhos
Tanto tanto Trish Cooke e Helen Oxenbury tica Famlia / Amor/ Vnculo
Tenho medo mas dou um jeito Ruth Rocha/Dora Lorch tica Sentimento
Tudo bem ser diferente Todd Parr Panda Books Diversidade
Um monstro debaixo da cama Angelika Glitz/Imke Sonnichsen Martins Fontes Medo
Um papai sob medida Davide Cali e Anna Laura Can-tone
Cosac & Naity Famlia/ Pai
Um porco vem morar aqui Claudia Fries Brinque-Book Amizade / Mudana
Vacas no voam David Milgrim Brinque-Book Fantasia
Vai embora, grande monstro verde Ed Emberley Brinque-Book Bebs
Vira Lata Stephen Michael King Brinque-Book Sentimento
TTULO AUTOR EDITORA TEMA
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Vizinho, Vizinha Graa Lima. Mariana Massarani e Roger Mello
Companhia das Letrinhas Diversidade
V Nana Margaret Wild Brinque-Book Morte
Voc no consegue dormir Ursinho? Martin Wadd e Barbara Firth Brinque-Book Medo
Voc troca? Eva Furnari Moderna Trocadilho
Winnie, a feiticeira Korky Paul e Valerie Thomas Martins Fontes Divertido
Zoom Istvan Banyai Brinque-Book Divertido
TTULO AUTOR EDITORA TEMA
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para pensar...situaes reais
As cenas a seguir so situaes que, de uma forma ou de outra, se repetem no cotidiano de um mediador de leitura. Nas capacitaes realizadas pelo Fazendo Minha Histria, as situaes so entregues sem as respostas para que os media-dores em formao possam refletir sobre cada uma delas. Esta atividade costuma ser realizada dividindo o grupo todo em subgrupos de 3 ou 4 participantes, onde cada subgrupo discute e depois debate com o grupo sobre suas reflexes. A resposta abaixo um apanhado de orientaes sobre uma boa maneira de lidar com cada uma dessas situaes.
Comecei os encontros com Gabriel, 8 anos. Tudo vai bem, estou muito animada, o nico problema que ele no gosta de histrias. Quando proponho uma leitura ele diz logo que no gosta. O que fao?Muitas vezes, a leitura est associada escola, ao dever, obrigao. Desconstruir esta relao e criar um vnculo prazeroso com os livros demanda tempo. im-portante seguir convidando a criana e o adolescente a escolher livros e ouvir histrias. Uma boa forma de lev-los a se encantarem com as leituras encon-trar temas pelos quais se interessem. Alm disso, essencial criar um ambiente gostoso e aconchegante, com tapetes, almofadas e livros espalhados pelo cho. Brincar com os livros tambm ajuda bastante.
Chegaram livros novos no abrigo! Mas Clara, de 5 anos, quer de novo ouvir a mesma histria de sempre!Quando uma criana pede para continuar ouvindo a mesma histria bem pos-svel que ela esteja identificada com o tema e que o enredo esteja auxiliando-a
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a elaborar algum conflito prprio. preciso respeitar esses pedidos sem deixar de oferecer novos livros. Paralelamente, o simples fato de ter controle sobre a histria, saber exatamente o comeo, meio e fim do livro algo prazeroso para a criana, que muitas vezes sente no ter controle sobre as experincias que vive.
Gosto de ler para Ricardo, 7 anos. No entanto, sempre que estou lendo uma histria ele me interrompe muitas vezes fazendo perguntas, sem esperar eu ter-minar o livro!A mediao de leitura dentro do FMH tem como objetivo permitir s crianas e adolescentes entrarem em contato com seus prprios sentimentos e experincias, alm de oferecer recursos para elaborarem e encontrarem novas solues para os conflitos que vivenciam. Quando uma criana interrompe a leitura, algo da histria a mobilizou e acolher sua colocao mostra que o que ela tem a dizer a seu respeito tem muito valor. As interrupes e associaes so, portanto, parte importante do processo de mediao de leitura. Em grupo, preciso tomar cuidado para que muitas interrupes de algum par-ticipante no faam com que o restante do grupo perca interesse pelo fato de no chegarem ao fim da histria. Nesses casos, importante perceber se faz sentido para a maior parte do grupo conversar sobre as associaes que surgem ou se melhor esperar o fim da leitura para compartilh-las.
Mariana tem 12 anos e no sabe ainda ler muito bem. Apesar disso, sempre que proponho uma histria ela quem quer ler o livro pra mim, mesmo que consiga ler com dificuldade e bem devagar. Adquirir autonomia para entrar em contato com o mgico universo da literatura muito prazeroso. Mariana est caminhando neste sentido e importante valoriz-la e incentiv-la! Em grupo, uma leitura lenta e pouco fluente pode desinteressar os
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outros participantes e Mariana pode ficar exposta a uma situao de constrangi-mento. Neste momento, importante a mediao de leitura ficar centrada no adulto para que seja uma atividade divertida para todos.
Carolina tem 7 anos, est no abrigo h dois e no tem nenhum contato com sua famlia. Ser que posso ler alguma histria que fale de me ou de pai?O receio de se falar sobre famlia ou sobre passado, na maioria das vezes, maior no adulto do que na criana em situao de acolhimento institucional. A dor sentida no momento da separao da famlia de origem fez uma marca que no pode ser evitada pela atitude de no se falar a respeito.Pelo contrrio, ler uma histria com este tema d oportunidade criana de compar-tilhar seus sentimentos e sentir-se autorizada a fazer perguntas, a encontrar novos sentidos para o que ocorreu.Ao mesmo tempo, ler um livro sobre me ou pai pode , ao contrrio do que se ima-gina num primeiro momento, suscitar lembranas positivas de experincias afetivas e alegres vividas com a famlia. De qualquer forma, preciso estar atento s reaes das crianas e adolescentes com a leitura, pois elas indicaro quais histrias querem ou no querem ouvir. Se a criana nos mostrar que no quer abordar esses temas, precisamos respeitar seu desejo.
Sempre que estou lendo um livro para Rodrigo de 6 anos, ele comea a mexer em brinquedos ou em outras coisas. Sinto que ele no gosta muito das histrias...A mediao de leitura deve ser um momento prazeroso e descontrado. Nesse sen-tido, no necessrio que cada criana esteja compenetrada na leitura feita pelo adulto. Enquanto o mediador l, alguns participantes podem estar folheando outros livros em silncio ou mexendo em brinquedos e, eventualmente, criando brincadei-ras que foram suscitadas pela prpria histria do livro.
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Na dvida se a criana est interessada pela leitura, se prefere outra histria ou se este enredo lhe angustia, basta perguntar e ouvir a sua resposta.
Vou fazer o projeto com uma adolescente que j tem 16 anos. Ser que ela no vai achar esses livros muito infantis?A biblioteca do Fazendo Minha Histria dispe de ttulos especficos para adoles-centes. Entretanto, percebemos que todos podem se interessar pelos livros que consideramos mais infantis: adultos, adolescentes, crianas e bebs. Isso porque os livros falam de temas universais como amor, separao, amizade, morte, entre outros. Assim, o que pode acontecer que, de acordo com a faixa etria, cada um se sinta atrado por um aspecto diferente do livro, sejam as ilustraes, os personagens ou o enredo da histria. Incentivar a leitura autnoma de livros maiores ou l-los para o adolescente, um captulo de cada vez, tambm so excelentes caminhos.
Beatriz de 12 anos nova no abrigo e est tendo dificuldades em se adaptar. Encon-trei um livro que fala exatamente deste tema, no entanto quando li a histria, ela ficou em silencio, no disse absolutamente nada. comum o adulto criar a expectativa de que a criana ou adolescente comente sobre o livro ou diga o que entendeu aps a sua leitura. No Fazendo Minha Histria no h expectativas neste sentido e os comentrios e associaes devem ser acolhidos na medida em que so verbalizados espontaneamente pela criana ou adolescente.Com o silncio de Beatriz, podemos pensar que ela no gostou do livro ou que no entendeu a sua mensagem. Mas, ao contrrio, ela pode ter ficado to mobilizada diante da leitura que est pensando no que ouviu e no quis falar nada. Respeitar o silncio uma atitude to significativa quanto acolher comentrios espontneos.
Fao lbum com um beb de apenas 1 ano que ainda no fala. Devo ler histrias para ele?
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Da mesma forma que conversamos com os bebs, vale lermos histrias para eles, pois ainda que no saibamos exatamente como, h alguma percepo do que est sendo falado ou lido. Ler uma forma de estimular o beb a adentrar o universo da linguagem, alm de ser uma oportunidade de ter um momento agradvel e fortalecer o vnculo com ele. O contato dos bebs com os livros at os 3 anos importantssimo na formao de sua relao futura com a literatura. Estudos apon-tam que crianas que tiveram uma boa experincia com os livros quando bebs tm maiores chances de se tornarem vorazes leitores.
Gosto muito de um livro da biblioteca do abrigo, mas acho que ele tem palavras um pouco difceis. Talvez eu possa mudar um pouco o texto, substituindo essas palavras.Quando contamos uma histria importante lermos exatamente como est no livro, pois assim garantimos que a criana oua sempre a mesma histria independente-mente de quem a conte. Muitas vezes as crianas buscam a garantia de que a histria seja a mesma e encontram segurana ao ouvi-la da mesma forma. Entretanto, se considerarmos que o livro contm algumas palavras difceis, podemos explicar seus significados ou propor descobri-los junto com a criana, dando a ela a oportunidade de ampliar seu vocabulrio.
Fao lbum com Luiza, de apenas 2 anos. Ela gosta dos livros, mas no deixo que pegue-os na mo, pois ela pode rasgar ou rabiscar.Uma criana pequena ainda no sabe como manusear um livro e importante que um adulto lhe ensine a faz-lo. Para isso, vale sentarem-se juntos e lerem os livros de modo que o adulto mostre e explique como ele cuida deste material, deixando que ela tambm experimente o contato com o universo literrio. Tendo o adulto como modelo, aos poucos a criana vai aprendendo como cuidar dos livros at que no precise mais do auxlio do adulto e os utilize sozinha.
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repertrio de atividades
Brincar com o acervo uma forma de propiciar o contato prazeroso da criana e do adolescente com o livro, incentivando que se aproximem da biblioteca aos poucos e possam ir se apropriando dos livros de outra forma.
A seguir, temos algumas brincadeiras e atividades que podem ser feitas atravs do acervo. A partir dos exemplos, certamente voc lembrar outras brincadeiras que podem ser desenvolvidas. Use a criatividade para adapt-las aos livros e ouse brincar!
1. BRINCADEIRA DA PENEIRA (fonte: Rodas e Brincadeiras Cantadas)
Material: livros de poesias, versos e rimas; peneira (pode ser substituda por cesta ou caixa); letra da msica.
Peneira (Jacqueline Baumgratz e Celso Pan)Passa a peneira meninaMenino vem peneirarDiga um verso com rimaQuando a peneira parar
Peneira, peneira, peneira a passarPeneira, peneira, quando a peneira parar (refro)
Sugesto de como brincar: todos, em roda, cantam a msica e, ao mesmo tempo, vo passando uma peneira cheia de versos. Quando a msica parar, a pes-soa coloca a peneira na cabea e recita um verso; se no souber pode pegar um verso de dentro da peneira. Aps recitar a brincadeira prossegue. Os demais que esto na roda marcam a msica na palma da mo.
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Nota 1: o facilitador ou mediador que conduz a brincadeira determina o momento de parar a cano, ou seja, ele decide quantas vezes o refro ser repetido e quem ficar com a peneira na mo.
Nota 2: uma variao desta brincadeira a batata-quente. A batata um livro de poesia e quando queimar a pessoa dever ler um verso do livro.
2. IMAGEM E AO DE LIVROS
Material necessrio: lpis; papel; cronometro; acervo de livros.
Sugesto de como brincar: dividir o grupo em duas equipes. Cada pessoa tem dois minutos para desenhar para seu time o nome de um livro do acervo. proibido falar, escrever letras e nmeros, fazer gestos ou mmicas. Os nicos instrumentos que o jogador ter a disposio so um lpis e um papel para desenhar.
Nota: a escolha do nome do livro pode ser feita atravs de sorteio ou determinada por algum da equipe adversria.
3. MMICA
Material necessrio: acervo de livros.
Sugesto de como brincar: dividir o grupo em duas equipes. Cada pessoa tem dois minutos para, atravs de mmicas, levar seu time a descobrir o nome de um livro do acervo. proibido falar ou escrever. preciso fazer gestos ou mmicas.
Nota: a escolha do nome do livro pode ser feita atravs de sorteio ou determinada pela equipe adversria.
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4. ESCONDE-ESCONDE DE LIVROS
Material: acervo de livros.
Sugesto de como brincar: cada criana pega seu livro preferido e entrega nas mos do educador. A regra da brincadeira cada um achar seu livro favorito que ser escondido pelo educador em um determinado espao do abrigo.
Nota 1: o educador pode, no final da brincadeira, fazer a mediao do livro que foi achado primeiro.
Nota 2: uma variao desta brincadeira o grupo ser dividido em duas equipes e cada equipe esconder os livros escolhidos pela equipe adversria.
5. MEMRIA
Material: acervo de livros
Sugesto de como brincar: aps ouvir a mediao pedir que cada um, sem dizer em voz alta, lembre de uma palavra que veio cabea durante a leitura (no tem palavra certa ou errada!). Um de cada vez ir contar ao grupo sua palavra, mas antes disso deve repetir em ordem as palavras ditas anteriormente pelos colegas.
Nota: o primeiro participante apenas conta sua palavra. O segundo repete a pa-lavra do primeiro e acrescenta uma palavra. O terceiro repete a do primeiro e a do segundo e diz a sua. Assim por diante. O ltimo ir repetir todas as palavras e, finalmente, contar a sua.
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6. VAMOS ACHAR uM LIVRO QuE...
Sugesto de como brincar: espalhe todos os livros do acervo sobre um tapete. As crianas devem ficar circulando pela sala e ao comando do educador vamos achar um livro que... elas devem procurar um livro que corresponda ao pedido. Os comandos podem ser variados, como por exemplo: vamos achar um livro que fale de amizade, vamos achar um livro que se chama Histria de Pedro, vamos achar um livro em que o monstro come o menino, vamos achar um livro que tem uma bruxa como personagem...
Nota: importante que o educador tenha conhecimento sobre o acervo para con-seguir dar os comandos.
7. QuE LIVRO SuMIu?
Sugesto de como brincar: Coloque dez livros enfileirados na frente do grupo de crianas e pea para que prestem ateno em todos eles. Pea para que virem de costas, retirem um e deixe que descubram qual livro sumiu. Pode se repetir por trs ou quatro vezes.
8. CAA AOS TESOuROS LITERRIOS
Sugesto de como brincar: Crie 5 pistas que levem as crianas de um livro para outro, escondendo-as sempre na primeira pgina do livro. Os livros j devem ser conhecidos para que as crianas possam decifrar as pistas. Somente o ltimo livro, que o tesouro, ainda desconhecido. Trata-se de uma maneira bastante ldica de introduzir novos livros.
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Pistas sugeridas: Ummeninoeumameninasomelhoresamigos.Somuitodiferentesetam-
bm contentes. Casas em rvores sabem fazer, e assim crescer (Pedro e Tina). Humahistriafamosa,comumgrandevilo.Masficamaisgostosa,comuma
nova verso. A verdadeira??? ( A Verdadeira Histria dos 3 Porquinhos). Segredossoguardadoseassimpodemficar.Massesomuitopesados,podem
at nos afundar. Tem uma Ilha que descobriu isso e pode assim nadar... (A Menor Ilha do Mundo)
Nota: deixe a sua imaginao criar novas pistas! Os adolescentes so timos para nos ajudar nesta tarefa.
9. ESCRAVOS DE J COM OS LIVROS
Sugesto de como brincar: Forma-se uma roda e cada pessoa tem um livro em suas mos. Todos cantam a cano, e para cada verso, h um comando:
Escravos de J jogavam caxang. (passando o livro para a pessoa direita)Escravos de J jogavam caxang. (passando o livro para a pessoa direita)Tira. (levanta o livro com as mos, tirando-o da roda)Pe. (volta o livro para dentro da roda, colocando-o no cho com as mos)Deixa ficar... (tira as mos, deixando o livro ficar no cho)Guerreiros com guerreiros fazem zigue-zigue-z. (balana o livro, para os dois lados)Guerreiros com guerreiros fazem zigue-zigue-z. (balana o livro para os dois lados)
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formando mediadores de leituraQualquer pessoa pode ser um mediador de leitura, basta ter in-teresse e vontade. No h como forar uma pessoa que no gosta de livros e de leitura a ser um mediador. Neste caso, o primeiro passo encantar os adultos com o universo da literatura. Assim no s voluntrios, mas tambm todos aqueles que trabalham no abrigo podem se interessar pelo papel de colaborador do projeto, sentindo-se preparados para se envolverem em aes que ajudem a incorporar momentos de leitura na rotina da casa.
O Fazendo Minha Histria sistematizou uma srie de atividades que visam a sensibilizar e a capacitar as pessoas para exercer essa funo de mediador de leitura. Entendemos como fundamental, sensibilizar os adultos a terem uma relao de prazer com o livro. Em seguida, compartilhamos nosso cardpio de atividades de for-mao, que pode e deve ser adaptado e ampliado, de acordo com a realidade de cada grupo. Estas, entre outras tantas aes, ajudam o adulto a se aproximar do universo literrio de forma prazerosa.
atividades de formao de
mediadores de leitura
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DESCOBERTA DE MEDIADORES
Vamos l? A partir de um grupo, formam-se pequenos grupos e a seguinte
proposta feita: Pense em uma pessoa que foi responsvel pelo falto
de voc aprender e gostar de algo. Algo que voc tenha aprendido de
forma prazerosa atravs de algum. Pense nas qualidades que aquela
pessoa tinha que faziam com que os encontros fossem prazerosos, inde-
pendentemente da atividade realizada. Conte no pequeno grupo sobre
sua experincia.
Emseguida,cadagrupinhoescolheumahistriaparacompartilharno
grupo.
Nogrupo,adiscussopodecaminharatravsdasseguintesperguntas:
O que um mediador? Como se faz a ponte, apresenta, facilita, aproxima,
incentiva, atrai uma pessoa para determinado tema? Em que medida os
afetos esto envolvidos na relao do mediador com a criana/adoles-
cente/adulto?
Sabe por qu?Por que a vivncia da experincia o melhor caminho para apresentar o con-
ceito de mediao. medida que as pessoas podem perceber que houve pes-
soas importantes que mediaram seu contato com algum tema, elas podem
entender o que ser um mediador e quais so as qualidades necessrias para
tornar-se um mediador. Geralmente, h um vnculo especial entre a pessoa e
o mediador, seja de admirao, carinho, respeito, etc.
RODA DE HISTRIA
Vamos l? Disporoacervodeformaacessvelparatodosedeixaraproximada-
mente 20 minutos para a explorao: orientar aos participantes que
este o momento para explorarem o acervo e conhecerem os livros
que o compem, ou seja, para olhar, folhear, ler, etc.;
Pedirquecadaumescolhaumlivroquedesejalereorganizarrodas
de histrias com 3 a 4 participantes;
Pedirparaquecadaumconteumahistria.
Em seguida, os grupos comentam quais os tipos de histrias que
foram contadas, de qual cada um mais gostou e porqu.
Nogrupo,cadagrupopodecontarumpoucodesuaexperincia.A
discusso pode caminhar atravs das seguintes perguntas: o que faz
algum gostar de um livro? De que forma o mediador incentiva o in-
teresse de algum por determinado livro? gostoso ouvir histrias?
Como? gostoso ler histrias para os outros?
Sabe por qu?Porque todos ns gostamos de histrias, uma vez que todas falam da con-
dio humana. Cada livro toca uma pessoa em um ponto diferente, e isso que
o mais interessante de se ler em grupos. Uma pessoa pode gostar de um
personagem, outra da ilustrao, e uma outra pode se encantar com a forma
pela qual esta histria foi contada. agradvel contar e ouvir histrias. Gos-
tamos desta possibilidade de relao e precisamos favorec-la. Os livros so
os mais antigos portadores de histrias e atravs deles podemos visitar outros
lugares, revisitar a nossa histria e imaginar outras realidades.
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MEu AV APOLINRIO
Vamos l? Reunirogrupoepedirqueescutemahistriaqueofacilitadorircontar:
leitura da introduo do livro Meu av Apolinrio.
Entregarumafolhasulfiteeumlpisacadaparticipante,pedindoque
escrevam lembranas da sua prpria vida que emergiram a partir do
texto lido;
Os participantes so convidados a compartilhar tais lembranas e
promove-se uma reflexo sobre o que surgiu, e o que mais chamou a
ateno, atravs das perguntas: H afeto envolvido quando se conta e se
ouve histrias? Como as pessoas se sentem quando algum lhes conta
uma histria? Os livros e as histrias puxam outras histrias e lembran-
as? Geralmente, h algum em especial que contava histrias para
as pessoas na infncia? Quais sentimentos costumam ser recordados
destes momentos?
Sabe por qu?Esta histria possibilita que as pessoas falem de pessoas significativas na sua
vida. Os exemplos dos participantes e o modo como so descritas podero
auxiliar para relacionarmos com o papel do mediador. As histrias so car-
regadas de afetos e, geralmente, a pessoa que nos conta a histria de nossa
famlia tem um lugar especial em nossa memria. Os livros tambm podem
ser um meio para aproximar pessoas. pelo envolvimento do que significa-
tivo que as pessoas podem se interessar pelas narrativas literrias e, aos pou-
cos, se envolver e desejar ter novas experincias.
"Gosto muito de contar histrias. Histrias moram dentro da gente, l no fundo do corao. Elas ficam quietinhas num canto. Parecem um pouco com areia no fundo do rio: esto l, bem tranqilas, e s deixam sua tranqilidade quando algum as revolve. A elas se mostram.Tem estrias que a gente inventa e cria na cabea, fruto da imaginao ou da inspirao de algum esprito que quer que a gente as oferea s outras pessoas. Podem ser estrias engraadas, romnticas ou tristes. Estrias ajudam as pessoas que as lem, de alguma forma que eu ainda no descobri. Apenas sei que elas tocam l no fundo e por isso que as pessoas gostam delas.E tem histrias estas, sim, escritas com H que aconteceram de verdade e que fazem parte da gente, so a vida da gente. Acontecimentos que fizeram a gente saber sobre ns mesmos, ou fatos que fizeram a gente rir, ou chorar, ou s pensar. Mas so sempre fortes porque marcam a nossa personalidade, nosso modo de ser e agir no mundo.A histria que vou contar no sobre a minha pessoa. Ou melhor; sobre a minha pessoa, mas no a que sou hoje porque j no sou o mesmo que fui ontem e sim a pessoa que fui me tornando ao longo dos poucos anos de convivncia que tive com meu av, um velho ndio que se sentava de ccoras para nos contar as histrias dos espritos ancestrais a quem ele chamava carinhosamente de avs e guardies.Na verdade no sei muita coisa sobre meu av porque o via muito pouco. No en-tanto, esse pouco de convivncia marcou profundamente minha vida, formou minha memria, meu corao e meu corpo de ndio. Acho at que falar dele me faz resgatar a histria de meu povo e me d mais entusiasmo e aceitao da condio que no pedi a Deus, mas que recebi Dele por algum motivo. isto que quero neste pequeno livro: partilhar um pouco da minha histria, da histria do meu povo e do meu av ancestral que me levou a compreender a sabedoria que est em todas as coisas e me fez descobrir que no nascemos para estar o tempo todo no cho. Nascemos com asas para voar em muitas direes, s vezes sem sair do lugar."
Meu Av ApolinrioDaniel MundurukuIlustraes de Rogrio BorgesEditora Studio Nobel
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LIVROS ESTRANGEIROS
Vamos l? Dividir os participantes empequenos grupos, de 3 a 5 pessoas, e para
cada grupo dar um livro em lngua estrangeira e dar a seguinte instruo:
Estamos distribuindo alguns livros para vocs lerem o que est escrito. Por
favor, faam a leitura para depois lerem para os outros grupos as descober-
tas que realizaram. (Provavelmente, ocorrer um estranhamento dos par-
ticipantes: como ler, se no dominamos esta lngua? Nestes momentos,
mantenha a instruo e deixe que o prprio grupo faa suas descobertas).
Voltaraogrupoepedirquecadagruporelateoqueleunolivro.Adis-
cusso pode caminhar atravs das seguintes perguntas: O que significa
ler? Precisamos entender o que est escrito para entender certos aspec-
tos do livro e da histria? Ao no poder ler, nos atentamos mais a outros
aspectos geralmente deixados de lado? Quais as sensaes que o livro
promoveu nos leitores? Como os participantes sentiram-se no podendo
ler as palavras?
Sabe por qu?Ler um livro muito mais do que decifrar as palavras que esto escritas. As
ilustraes, a capa, a contra capa, a textura das pginas, a estrutura de apresen-
tao do texto, entre outros diversos aspectos podem nos contar uma histria
assim como a narrativa o faz. Um livro geralmente promove sensaes atravs
das ilustraes, que nem sempre o texto capaz de causar. Por isso, ficamos
muito atentos, ao mediar a leitura, de garantir que todos estejam tendo acesso
s ilustraes do livro, garantindo ainda que os participantes possam tocar e
interagir com este material.
PARA PENSAR: SITuAES REAIS
Vamos l? Dividirosparticipantesemduplasoutrios,edistribuirumafilipetacom
uma situao, pedindo para que o grupo leia a situao e discuta o que
pensa a respeito.
Apsadiscusso,volta-seaogrupoecadaduplaoutriolsuasituao,
contando de forma suscinta o que foi discutido a respeito. Os outros
participantes podem dar suas opinies.
Obs.: Para a coordenao desta atividade, importante ler o captulo 5
deste guia: Para pensar... situaes reais.
Sabe por qu?Os dilemas que as situaes vividas apresentam podem ser antecipados por estes
relatos, de forma que os futuros mediadores prevejam, discutam e elaborem em
grupo as solues. Este um exerccio de reflexo e que permite uma grande
mobilizao para a prtica; muitas vezes, ao ler as situaes, as pessoas se im-
aginam neste lugar e encontram, em si prprios, os recursos e argumentos que
sustentariam a sua prtica.
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refernCias bibliogrfiCasCOELHO, N. N. Literatura infantil: teoria, anlise, didtica. So Paulo: Moderna, 2000. 287 p.
PETIT, M. A arte de ler: ou como resistir adversidade. So Paulo: Ed. 34, 2009.
indiCaes de leitura sobre o temaA arte de ler, ou como resistir adversidadeAutor: Michle Petit | Editora: Editora 34
A importncia do ato de lerAutor: Paulo Freire | Editora: Cortez
Os jovens e a leitura uma nova perspectivaAutor: Michle Petit | Editora: Editora 34
A psicanlise nos contos de fadasAutor: Bruno Bettelheim | Editora: Paz e Terra
Fadas no DivAutor: Diana e Mario Corso | Editora: Artmed
A Psicanlise na Terra do NuncaAutor: Diana e Mario Cordo | Editora: Penso Artmed
A casa imaginria: leitura e literatura na primeira infnciaAutor: Yolanda Reyes | Editora: Global, 2010
CrditosRealizao Instituto Fazendo Histria
Coordenao geral Claudia Vidigal
Coordenao do Isabel PenteadoFazendo Minha Histria Tatiana Barile
Produo de contedo Claudia Vidigal Debora Vigevani Fernanda Nogueira Isabel Penteado Manuela Fagundes Mnica Vidiz Mahyra Costivelli Tasa Martinelli Tatiana Barile
Reviso Mayra Karvelis
Fotos Acervo Instituto Fazendo Histria
Projeto grfico e diagramao Luciana Sion(com ilustraes de Luciana Sion e Stella Sion Fernandes)
Apoio Fundao Banco do Brasil