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HorizontesdeEsperana
EDUCAO MORALE RELIGIOSA CATLICA
ManualdoAluno
Apoio na Internet em www.emrcdigital.com
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Horizontes de EsperanaManual do Aluno 9. ano
Educao Moral e Religiosa Catlica
SUPERVISO E APROVAOCOMISSO EPISCOPAL DA EDUCAO CRIST
D. Tomaz Pedro Barbosa Silva Nunes (Presidente)
D. Antnio Francisco dos Santos
D. Anacleto Cordeiro Gonalves Oliveira
D. Antnio Baltasar Marcelino
Mons. Augusto Manuel Arruda Cabral (Secretrio)
COORDENAO E REVISO GERALJorge Augusto Paulo Pereira
EQUIPA DE REDAOFernando Augusto Teixeira Moita (Coordenao de Ciclo)
Antnio Jos Melo Cordeiro
Jos Lus Pinto Dias
Maria Margarida Antunes Santos Portugal
REVISO GRFICAMaria Helena Calado Pereira
GESTO EXECUTIVA DO PROJETO E DIREO DE ARTEID Books I-Zone Interactive Media
Ricardo Santos
TIRAGEM
ISBN978-972-8690-55-7
DEPSITO LEGAL
EDIO E PROPRIEDADEFundao Secretariado Nacional da Educao Crist Lisboa, 2011
Quinta do Cabeo, Porta D 1885-076 Moscavide
Tel.: 218 851 285; Fax: 218 851 355; E-mail: [email protected]
Todos os direitos reservados FSNEC
IMPRESSO
Grca Almondina
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Apresentao
Aos alunos e s alunas de Educao Moral e Religiosa Catlica
Um livro o resultado de muito trabalho de quem o produziu: um ou maisautores. Por isso, deve ser acolhido com respeito e tratado com cuidado.Qualquer que seja o seu estilo, contm uma mensagem, interpela o leitor edesperta a sua imaginao.
Um livro escolar um instrumento para a aprendizagem dos alunos. sempreeducativo. Transmite informaes ligadas aos contedos dos programasde ensino, contm interrogaes e propostas de trabalho, e convida aoestudo. para se usar na aula e fora dela. um companheiro de viagem parao percurso anual de cada um na escola. S assim, tornando-se um objetofamiliar, que se utiliza com frequncia, o livro escolar facilita o progresso naaquisio e desenvolvimento de competncias.
Os manuais de Educao Moral e Religiosa Catlica, quer se revistam daforma de um volume por ano de escolaridade quer se apresentem comoconjuntos de fascculos, tm todas estas caratersticas.
Convido os alunos e as alunas a receberem-nos com interesse e entusiasmo,mas, sobretudo, a utilizarem-nos para proveito do seu crescimento humanoe espiritual. Deste modo, e com a ajuda indispensvel dos vossos professoresou professoras de Educao Moral e Religiosa Catlica, podeis melhor fazeras vossas opes e elaborar um projeto de vida slido e com sentido.
Que Deus vos ilumine e ajude na caminhada de ano escolar que ides iniciar.
Bom trabalho!
D. Tomaz Pedro Barbosa Silva NunesBispo Auxiliar de Lisboa
Presidente da Comisso Episcopal da Educao Crist
Horizontes de Esperana
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O incio da vida humana
A vida humana Um valor a defender
Atentados vida e sua dignidadeValorizar a vida
Dar a prpria vida pelo outro
10
14
2235
45
Unidade 1 A dignidade da vida humana
ndice
Unidade 2 Deus, o grande mistrioA questo da existncia de Deus
Representaes da divindade no politesmo
Deus na Bblia
Representaes de Deus na arte
Deus: o oceano sem margens
Solidariedade e fraternidade
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67
72
78
82
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A religiosidade
Hindusmo
Budismo
Tauismo
Confucionismo
Valores ticos comuns s grandes tradies religiosas
Dilogo inter-religioso
95
99
108
114
119
127
135
Unidade 3 As religies orientais
Projetar o futuro
Projeto de vida e vocao
A felicidade como projeto
A construo de uma sociedade justa e solidria onde
todos possam ser felizesA felicidade na relao com os outros: assumir valores
ticos fundamentais
A vocao de Abrao e a descoberta do Deus nico
O projeto de Paulo: a descoberta de Cristo como eixo
orientador da vida
144
150
158
162
166
175
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Unidade 4Projeto de vida
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Nesta unidade vamos refletir sobre:
O incio da vida humana
A vida humana, um valor a defender
Alguns atentados vida e sua dignidade
A valorizao da vida: tornar-se prximo de quem precisa
A promoo da dignidade humana: dar a vida pelo outro
UNIDADE LETIVA 1
A dignidade da vida humana
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unidade 1
Ol!
Com certeza j ouviste falar de mim. Sabes que tenho um carinho especial
pelo teu pas, que visitei cinco vezes.
Chamo-me Karol Jzef Wojtya e quando fui eleito papa, a 16 de outubro de
1978, escolhi o nome Joo Paulo II.
Nasci em Wadowice, uma pequena cidade perto de Cracvia (Polnia), a 18 de
maio de 1920. Era o mais novo de trs lhos. Os meus pais chamavam-se Karol
Wojtya e Emilia Kaczorowska. A minha me faleceu em 1929, tinha eu nove
anos; o meu irmo mais velho Edmund em 1932 e o meu pai em 1941. A
minha irm Olga morreu ainda antes de eu ter nascido.
Fui batizado logo em criana e aos nove anos z a primeira comunho. Aos
dezoito, recebi a conrmao e matriculei-me na Universidade de Cracvia e
numa escola de teatro uma das minhas grandes paixes.
Quando as foras de ocupao nazi fecharam a Universidade, em 1939, tive de
ir trabalhar numa fbrica de produtos qumicos, de modo a evitar a deportao
para a Alemanha.Por volta dos meus vinte e dois anos, senti vocao para o sacerdcio e
ingressei no seminrio de Cracvia. Fui ordenado presbtero no dia 1 de novembro
de 1946, j a guerra havia terminado. Nos anos que se seguiram, continuei a
estudar e tambm fui professor. Em 1958, recebi a ordenao episcopal. Como
bispo, participei nos trabalhos do Conclio Vaticano II (1962-1965).
Escolheram-me para apresentar esta unidade letiva sobre a dignidade da
vida humanapor ter sido a temtica que mais me preocupou e que mais me fez
reetir, escrever, falar e viajar ao longo de toda a vida.
Sempre que tinha oportunidade alertava as pessoas com quem me encontrava
para o inestimvel valor da vida humana, a riqueza que cada ser humano nico
e irrepetvel signica para o outro e para o mundo.
Desejo sinceramente que a reexo que vais fazer ao longo desta unidade
letiva te ajude a reconhecer o bem e a beleza de cada pessoa.
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Joo Paulo II exerceu a sua ao como papa de forma incansvel; dedicou todasas suas energias a percorrer o mundo, revelando o seu amor por toda a humanidade.Efetuou cento e quatro viagens apostlicas a cento e vinte e nove pases. Visitouhospitais, prises, bairros pobres, leprosarias chamando a ateno para a beleza davida e da pessoa humana.
O seu amor aos jovens impulsionou-o a iniciar, em 1985, as Jornadas Mundiaisda Juventude. E a sua ateno para com a famlia deu origem aos encontros mundiaisdas famlias, iniciados em 1994.
Realizou numerosas beatificaes e canonizaes para dar a conhecer diversosexemplos de santidade que servissem de estmulo s pessoas do nosso tempo,valorizando aqueles que souberam dar a vida pelos outros.
Escreveu e publicou inmeros documentos oficiais, como, por exemplo, asencclicas.
Nos ltimos dias da sua vida, j muito debilitado, foi aconselhado pelos mdicosa ir para o hospital. Sabendo que ia falecer, preferiu morrer em casa.
Faleceu no dia 2 de abril de 2005. Desde essa noite at ao dia 8 de abril, momento
em que se celebraram as exquias, deslocaram-se mais de trs milhes de peregrinos baslica de So Pedro para lhe prestar homenagem.
Doc. 1O valor incomparvel da pessoa humanaA Igreja sabe que o Evangelho da vida, recebido do seu Senhor, encontra
um eco profundo e persuasivo no corao de cada pessoa, crente e at nocrente.
Mesmo por entre diculdades e incertezas, todo o ser humanosinceramente aberto verdade e ao bem pode chegar a reconhecer o valorsagrado da vida humana desde o seu incio at ao seu termo e armar odireito que todo o ser humano tem de ver plenamente respeitado esteseu bem primrio. Sobre o reconhecimento de tal direito que se funda aconvivncia humana e a prpria comunidade poltica.
Joo Paulo II, O Evangelho da Vida
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metade do nmero de cromossomas de um ser humano. Estas clulas so denominadasgmetas: o ovcito e o espermatozoide. Fenmenos semelhantes esto na origem detodos os mamferos e de outros seres vivos pertencentes a outras espcies. Quando osdois gmetas se aproximam, envolvidos por um ambiente biolgico caraterstico decada espcie, aps uma fase de reconhecimento, segue-se a penetrao do material
gentico do espermatozoide no ovcito e a formao imediata de uma barreira namembrana celular que bloqueia a penetrao de novos espermatozoides. A partirdesse momento, o zigoto tem todas as caratersticas genticas de um ser humano.
A fuso dos dois gmetas inicia o ciclo vital de um novo ser humano. O seu
corpo ter um desenvolvimento autnomo, contnuo e progressivo a partir dasfases mais primordiais, seguindo um percurso que est inscrito nos seus genes.A realizao deste programa est sujeita s condies que so caratersticas de cadaser vivo: dependncia estrita das condies do ambiente em que vive, de uma nutrioadequada e de fatores como a doena ou a exposio a agresses.
O zigoto , sem dvida nenhuma, um ser vivo com caratersticas genticashumanas. Mas no consensual que seja uma vida humana. De facto, o momentoa partir do qual se inicia avida humanaainda est sujeito a debate. As posies somuito dspares. Vamos descrever apenas as principais perspetivas.
Para alguns, a vida humana tem o seu incio quando ocorre a nidao, porque,nos estdios anteriores, as clulas que vo constituir o ser humano ainda nose diferenciaram; para outros, a vida humana s se inicia quando comea aatividade cerebral, por analogia com a morte, que determinada pela paragem dofuncionamento do crebro. Outros defendem que o incio da vida humana ocorrequando a atividade cerebral emite ondas tipicamente humanas, porque este aspetoque distingue o ser humano dos outros animais. Outros, ainda, s esto dispostos areconhecer o ser humano a partir do momento do parto, porque o feto s assumepersonalidade jurdica quando nasce para a sociedade.
Muitos, no entanto, defendem que a vida humana tem incio no momento dafecundao, porque o desenvolvimento de um ser humano um processo contnuoque no permite identificar com preciso saltos de qualidade. tambm esta a
posio da Igreja Catlica.
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unidade 12
FECUNDAO
O gmeta masculino (espermatozoide) e o gmetafeminino (ovcito) unem-se formando o zigoto(embrio unicelular). o incio de uma nova vida.
Trs a quatro dias aps a fecundao, o blastcito,resultante das divises do zigoto, implanta-se naparede do tero e d origem ao embrio.
BLASTCITO A CAMINHO DO TERO
DUAS SEMANAS
As primeiras clulas do crebro esto completamenteformadas. Comeam a constituir-se as estruturasprecursoras das membranas fetais e da placenta.
QUATRO SEMANAS
O embrio tem cerca de 5 milmetros. O corao jcomeou a bater. Cabea, boca, fgado e intestinoscomeam a tomar forma.
A VIDA HUMANA NO TERO
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SEIS SEMANAS
O crebro coordena movimentos de msculos e dergos; possvel medir a atividade cerebral atravsde eletroencefalograma. Todos os vinte dentesde leite esto presentes. Os olhos ainda esto naparte lateral da cabea e a face apresenta fendascerradas onde surgiro a boca e o nariz. Mede trezemilmetros.
Adaptado de http://vida.aaldeia.net/desenvolvimentoembrionario.htme de Embryo and Fetus in http://www.wprc.org/fetal.phtml
DEZ SEMANAS
Todas as partes do corpo do feto so sensveisao toque. Se a palma da mo for tocada, afasta-adecididamente. O feto brinca e chupa no dedo.A face tem feies marcadamente humanas. Medecerca de quatro centmetros.
DOZE SEMANAS
Os msculos comeam a desenvolver-se e os rgossexuais a formar-se. Comeam tambm a constituir--se as estruturas sseas e as plpebras. Podem serobservados movimentos espontneos e mostrauma personalidade especca. Mede cerca de setecentmetros.
VINTE SEMANAS
Distingue-se o rosto de um feto do de outro.As glndulas sudorferas desenvolvem-se e a peleexterior passa de transparente a opaca.Msica muito alta leva o beb a tapar os ouvidose uma luz muito forte colocada sobre o abdmen dame leva-o a tapar os olhos.
VINTE E OITO SEMANAS
Ainda estar mais oito a doze semanas no ventrematerno a crescer, mas j capaz de nascer(prematuro) e sobreviver fora do tero.
OITO SEMANAS
Todos os rgos esto formados e a funcionar,exceto os pulmes. As impresses digitais esto aaparecer. As palmas das mos so sensveis ao toque.Traos faciais, membros, mos, ps, dedose unhas so visveis. O feto mostra resposta reexaa estmulos. Mede vinte e cinco milmetros.
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A vida humana Um valor a defender
De entre todos os valores, a vida humana ovalor primordial, sendo este o pontode partida de todos os direitos da pessoa. Como poderamos, por exemplo, exigir quese fizesse justia a algum se lhe negssemos o direito de existir? Se a vida humanano estiver assegurada, simplesmente impossvel a realizao dos outros valores.A solidariedade, a verdade e a bondade s tm razo de ser se estiverem relacionadascom a defesa da vida humana. por isso que a vida o valor primordial, sem o qualno poderiam existir os restantes valores.
Uma vez que o ser humano em variadas situaes agredido, negado eviolentado, ficando a vida humana seriamente comprometida, a humanidadeelaborou cdigos que tm como objetivo defender expressamente a vida humanae a sua dignidade.
Age de tal modo que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na dooutro, sempre e ao mesmo tempo, como um fim e nunca simplesmente comoum meio.
Immanuel Kant, filsofo do sculo XVIII
A dignidade da vida humana um valor partilhado pelas vrias civilizaes, que, deuma ou de outra forma, a entendem como um dom a respeitar e a preservar. Emboraos registos histricos e culturais documentem vrios acontecimentos sangrentos edesumanos, muitos foram aqueles que entregaram a sua existncia pessoal defesado valor inalienvel da vida humana.
O juramento de Hipcrates foi adaptado na Declarao de Genebrada AssociaoMdica Mundial (1948), texto que tem sido utilizado em vrios pases na solenidadede receo dos mdicos recm-formados e contm os princpios deontolgicos da
prtica da medicina.
pcratesnasceu noculo V a.C., na Grcia.edicou-se ao estudo e
atividade da medicina,mpreendendo a suao como um serviovida. considerado oai da medicina. O seuramento prossionalarcou toda a histria daedicina no Ocidente.
Saber +
Immanuel Kant
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Asaph Judaeusfoium mdico judeu que
viveu provavelmenteentre os sculos VI eVII, na Mesopotmia,tendo realizado os seusestudos em Alexandria.Defendia que a prticada medicina se destinavaaos que tinham elevadasqualidades tanto a nvelintelectual como a nvelde carter.
Saber +Doc. 2
Juramento de HipcratesJuro por Apolo mdico, por Esculpio, Higia e Penacena, e ponho por
testemunho todos os deuses e todas as deusas, cumprir segundo as minhaspossibilidades e razo o seguinte juramento: aplicarei os medicamentos parabem dos doentes segundo o meu saber e nunca para seu mal. No darei umremdio mortal ou um conselho que leve sua morte. To pouco darei auma mulher uma poo que possa destruir a vida do feto. Conservarei puraa minha vida e a minha arte.
Juramento de AsaphCuidem de no matar nenhum homem com a seiva de uma raiz. No
deem poo alguma a mulher grvida por adultrio para que possa abortar.
No aceitem o suborno para fazer mal ou para matar. No ajudem o malvadonem derramem sangue inocente. To pouco confecionaro veneno paramatar.
Esperana Pina,A Responsabilidade dos Mdicos
Doc. 3Associao Mdica Declarao de GenebraNo momento de ser admitido entre os membros da prosso mdica, tomo
o compromisso solene de consagrar a minha vida ao servio da humanidade.Guardarei respeito absoluto pela vida humana desde a conceo; mesmoperante ameaas no admitirei fazer uso dos meus conhecimentos mdicoscontra as leis da humanidade. Fao solenemente estas promessas, livremente,sob palavra de honra.
Esperana Pina,A Responsabilidade dos Mdicos
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A finalidade da Declarao Universal dos Direitos Humanos defender adignidade humana. Quando nesta se referem os direitos, liberdades e garantias doser humano, apresenta-se a vida como um valor primordial inviolvel.
A pessoa desenvolve-se num contnuo processo de autorrealizao pessoal esocial, mas esse facto no altera nem diminui a sua constante dignidade. A noo de
dignidade humana a base dos textos fundamentais sobre Direitos Humanos.
Este documento foi proclamado a 10 de dezembro de 1948, aps a Segunda GuerraMundial um conflito internacional no qual a dignidade humana foi severamentehumilhada , e continua a exprimir o grito humano de libertao de todas as formasde opresso. No humanismo dos seus artigos, manifesta-se o sonho de uma sociedadeonde todos possam ser felizes, qualquer que seja a sua condio. Esta chama temiluminado o mundo inteiro, incluindo o processo de construo europeia.
A Constituio da Repblica Portuguesa, a lei fundamental de Portugal,reconhece a dignidade da pessoa humana, da qual decorrem os outros direitos(cf. artigo 1.), e afirma que a vida humana inviolvel, proibindo a pena de morte
(artigo 24.).
Doc. 4Declarao Universal dos Direitos HumanosO reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da famlia
humana e dos seus direitos iguais e inalienveis constitui o fundamento daliberdade, da justia e da paz no mundo.
Artigo 1.: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidadee em direitos. Dotados de razo e conscincia, devem agir uns para com osoutros em esprito de fraternidade.
Artigo 2.: Todos os seres humanos podem invocar os direitos e asliberdades proclamados na presente Declarao, sem distino alguma,nomeadamente de raa, de cor, de sexo, de lngua, de religio, de opiniopoltica ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento,ou de qualquer outra situao.
Artigo 3.: Todo o indivduo tem direito vida, liberdade e seguranapessoal.
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A Carta dos DireitosFundamentais da UnioEuropeiafoi proclamadasolenemente peloParlamento europeu,pelo Conselho europeu epela Comisso europeia.Formalmente adotada emNice, a 7 de dezembro de2000, a Carta representaum compromisso poltico,sem efeitos jurdicosobrigatrios.
No Tratado de Lisboa,a Carta investida defora obrigatria atravsda introduo de umameno que lhe reconhecevalor jurdico idnticoao dos Tratados. Parao efeito, a Carta foiproclamada pela segundavez em dezembro de 2007.
Saber +Doc. 5
Carta dos Direitos Fundamentais da Unio EuropeiaPrembuloOs povos da Europa, estabelecendo entre si uma unio cada vez mais
estreita, decidiram partilhar um futuro de paz, assente em valores comuns.Consciente do seu patrimnio espiritual e moral, a Unio baseia-se nos
valores indivisveis e universais da dignidade do ser humano, da liberdade, daigualdade e da solidariedade.
Artigo 1.A dignidade do ser humano inviolvel. Deve ser respeitada e protegida.
Artigo 2.1. Todas as pessoas tm direito vida.2. Ningum pode ser condenado pena de morte, nem executado.
Artigo 3.1. Todas as pessoas tm direito ao respeito pela sua integridade fsica e
mental.2. No domnio da medicina e da biologia, devem ser respeitadas,
designadamente:
a proibio das prticas eugnicas, nomeadamente das que tm por
nalidade a seleo das pessoas; a proibio de transformar o corpo humano ou as suas partes,
enquanto tais, numa fonte de lucro.
Artigo 4.Ningum pode ser submetido a tortura, nem a tratos ou penas desumanos
ou degradantes.
http://eur-lex.europa.eu/pt/treaties/index.htm
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unidade 18
Tu s especial
No incio de uma conferncia, um famoso orador mostrou uma nota de vinte
euros, e perguntou:
Quem deseja esta nota?A maior parte da assembleia ergueu as mos.
O conferencista amarrotou-a e voltou a perguntar, enquanto a exibia:
Quem est ainda interessado nela?
A maior parte da assembleia voltou a erguer as mos.
Ento, deixou-a cair no cho e pisou-a violentamente. Depois, pegou nela,
suja e amarrotada, e perguntou de novo:
E agora? Ainda h algum que a queira?
E mais uma vez as mos se ergueram.
Meus amigos continuou o conferencista , seja o que for que eu faa com
esta nota, a maior parte das pessoas permanecer interessada nela, porque,
apesar do seu aspeto, no perde valor. Limpa ou suja, amarrotada ou no, valer
sempre vinte euros. Mas, como podem calcular, no vim aqui para vos falar
de questes nanceiras. Acontece muitas vezes, na vida pessoal, que somos
amarrotados, humilhados e conspurcados por decises que tomamos ou por
circunstncias que no dependem da nossa vontade. Quando tal sucede, sentimo-
-nos profundamente desvalorizados ou mesmo insignicantes. Mas, acontea
o que acontecer, seja qual for a forma como nos sentimos, nunca perderemos
objetivamente o nosso valor nem a nossa dignidade. Quer estejamos sujos ou
limpos, diminudos ou inteiros, nada nos pode roubar o que verdadeiramente
somos. que o valor das nossas vidas no reside fundamentalmente no que
fazemos ou sabemos, reside sobretudo no que somos. E todos somos especiais,
porque nicos e irrepetveis. No meio das adversidades da vida, no nos
esqueamos disto!
Autor desconhecido
A vida ddiva de Deus
Na perspetiva judaico-crist e islmica, Deus a origem da vida. nele que seencontra a plenitude da vida, em toda a sua perfeio, a qual no conhece incio nemter ocaso. O ser humano um ser vivente porque recebeu de Deus a vida como um dom
inestimvel. A vida , pois, o primeiro dom de Deus. Todo o crente sente que tem paracom ele uma enorme dvida de gratido. Nada fez para merecer existir e, contudo, Deusquis que existisse. Por isso, atravs da orao, agradece a Deus esta ddiva fundamental.Mas a melhor maneira de a agradecer cultiv-la e respeit-la, como quem cuida damaior prenda que alguma vez lhe tenha sido oferecida. por isso que o respeito pelavida faz parte do Declogo, a lei fundamental da Bblia: No matars.
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Doc. 6Dignidade humana
A histria da humanidade testemunha de como o ser humano abusou, eabusa ainda, do poder e das capacidades que lhe foram conadas por Deus,dando lugar a diversas formas de discriminao injusta e de opresso paracom os mais fracos e os mais indefesos. Os atentados quotidianos contraa vida humana; a existncia de grandes reas de pobreza, onde as pessoasmorrem de fome e de doena, excludas dos recursos cognitivos e prticos,que muitos pases possuem em abundncia; um progresso tecnolgico eindustrial que cria o risco concreto de uma queda do ecossistema; o usodas investigaes cientcas no mbito da fsica, da qumica e da biologiapara ns blicos; as numerosas guerras que ainda hoje dividem povos eculturas infelizmente so apenas alguns sinais eloquentes de como o serhumano pode fazer mau uso das suas capacidades e tornar-se o pior inimigode si mesmo, perdendo a conscincia da sua alta e especca vocao decolaborador da obra criadora de Deus.
Paralelamente, a histria da humanidade manifesta um real progresso nacompreenso e no reconhecimento do valor e da dignidade de cada pessoa.Assim, por exemplo, as proibies, jurdico-polticas, e no apenas ticas,das diversas formas de racismo e de escravido, das injustas discriminaese marginalizaes das mulheres e crianas e das pessoas doentes ou comgrave decincia so testemunhos evidentes do reconhecimento do valorinalienvel e da intrnseca dignidade de cada ser humano e sinal de um
progresso autntico.A Igreja sente o dever de, com coragem, dar voz a quem a no tem. O seu
sempre o grito evanglico em defesa dos pobres do mundo, de quantosso ameaados, desprezados e oprimidos nos seus direitos humanos.
Congregao para a Doutrina da F, Dignitas Personae
Bhagavad-Gitaconhecido comoCanodo Senhor. Reverenciadopor budistas e hindus, um dos pilares daliteratura sagrada mundial.Compreende duzentos ecinquenta mil versculosque descrevem a grandeguerra entre o Bem e oMal.
Saber +Doc. 7
O valor da vida humana no HindusmoEu no desejo matar os meus professores, tios, lhos, avs, sogros, netos,
cunhados e outros parentes que esto prestes a matar-nos, Krishna. Senhor Krishna, que prazer h em matar os nossos primos? Por matar
os nossos semelhantes ns iremos incorrer num crime e, consequentemente,num pecado. Portanto, ns no mataremos os nossos primos. Como podealgum ser feliz depois de matar os seus parentes, Krishna?
De qualquer modo, eles esto cegos pela ambio e no veem maldadena destruio da famlia ou pecado por trarem os seus amigos.
Bhagavad-Gita
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Doc. 8A vida humana no Alcoro
vs que credes, sede rmes na distribuio da justia, mesmo contravs mesmos, vossos pais e vossos parentes, trate-se de ricos ou indigentes.Deus vela sobre todos. (4, 135)
Quem matar uma pessoa sem que esta tenha matado outra ou tenhaespalhado a corrupo sobre a Terra seja julgado como se houvesse matadotoda a humanidade e quem a ressuscitar seja recompensado como se tivesseressuscitado toda a humanidade. (5, 32)
Dai o que justo ao prximo, ao pobre e ao viajante. (17, 26)
No mateis os vossos lhos por temor da misria. O seu assassnio umagrande falta. (17, 31)
Deus compassivo, misericordioso para com os homens. ele quem vosd a vida, depois vos faz morrer e depois vos restituir vida. (22, 65-66)
Recorda-te de quando o teu Senhor disse aos anjos: Eu vou criar um serhumano de barro. Quando o tiver modelado e lhe tiver insuado parte domeu Esprito, ca perante ele, prostrados!. (38, 71-72)
Todos os crentes so irmos. Fazei a paz entre os vossos irmos e temei aDeus. Talvez recebais misericrdia. (49, 10)
DEFESA DA VIDA HUMANA UM PERCURSO
Mandamento
do Amor (Jesus)Sc. I
Juramento deHipcrates
Sc. V a. C.
Preceitos de
BudaSc. V a. C.Declogo
Sc. XIII a. C.
Bhagavad-GitaSc. IV a. C.
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unidade 1 21
Esttua de Buda
Mircea Eliade
Jean Delumeau
D. U. D. H.1948
Constituioda RepblicaPortuguesa
1976
Carta dos DireitosFundamentais daUnio Europeia
2000
AlcoroSc. VII
Doc. 9Vida no Budismo
Tudo o que existe no mundo possui uma alma, no s o ser humanoe os animais, como tambm as plantas, as pedras, as gotas de gua, etc.O respeito pela vida o primeiro (e o mais importante) mandamento budista.Por essa razo que, ao andar, deve o monge varrer diante de si para nocorrer o risco de matar algum animal pequeno. A doutrina budista proclamao respeito absoluto pela vida humana.
Mircea Eliade, Histria das Ideias e Crenas Religiosas
O crente budista, para conseguir a salvao, tem cinco mandamentosa cumprir: no matar, no roubar, no mentir, no cometer adultrio e nosaborear bebidas inebriantes.
Histria Universal Comparada(Resomnia Editores)
Para o Budismo no existem fronteiras: as ideias de ptria, de nao,de cor, de pureza da raa, etc. so consideradas ilusrias, j que segundo adoutrina do ciclo dos renascimentos no se renasce todas as vezes no mesmopas ou na mesma cor de pele. Se todos os seres humanos so migrantes noh qualquer razo para se baterem por causas passageiras. Ainda por cima,o primeiro preceito do Budismo consiste em abster-se de matar seres vivos.
Jean Delumeau,As Grandes Religies do Mundo
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unidade 12
Atentados vida e sua dignidade
O aborto
A vida um bem inestimvel. Mas a histria da humanidade est repleta de
contnuos atentados vida humana e de brutais violncias contra o ser humano.
Tal acontece porque cada pessoa , em si mesma, um ser dividido. No seu corao
habitam o bem e o mal. Por imperativos egostas ou por condicionalismos sociais,
aprisiona, por vezes, a liberdade e a dignidade dos outros.
Se verdade que a medida do amor amar sem medida princpio que tem
sido testemunhado por muitas pessoas de bem , tambm verdade que muitos
no se deixaram transformar pela beleza da vida. E o preo a pagar tem sido
excessivo.
palavra aborto o nascido provmlatim abortus, quenica privao (ab)nascimento (ortus).ortus, derivadoaboriri, designa
mbm crepsculo,saparecimento e morte.
Saber +O aborto consiste na expulso voluntria ou involuntria de um embrio ou
de um feto quando o mesmo no tem condies de vida fora do tero.O aborto pode ser espontneo (involuntrio) ou induzido (provocado volun-
tariamente).So vrios os fatores que podem originar um aborto espontneo. O desenvolvi-
mento anormal do embrio ou do feto, problemas no tero, diabetes sem controlo ealteraes hormonais so alguns dos fatores possveis. Tambm o consumo excessivode tabaco, lcool e drogas, como a cocana, pode ocasionar o aborto espontneo.
A expresso eufemstica Interrupo Voluntria da Gravidez (IVG) designa
oficialmente o aborto induzido.
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TIPOS DE ABORTO
ABORTO
ESPONTNEOINDUZIDO
(qumico ou cirrgico)
VOLUNTRIO
Violao
Me adolescente
Falta de condies econmicas
Beb no desejado
TERAPUTICO
Malformaes congnitas
Perigo de vida da me
Se aceitarmos que a vida humana tem o seu incio no momento da fecundao,torna-se evidente que realizar uma interrupo voluntria da gravidez atentarcontra a vida de um ser humano.
O aborto induzido pode ser realizado atravs de medicamentos abortoqumico ou atravs de tcnicas cirrgicas aborto cirrgico como a suco,a dilatao ou a curetagem.
O aborto qumico realizvel apenas durante as primeiras doze semanas degravidez. Consiste na administrao de medicamentos que provocam a expulsodo embrio. Nos casos em que o aborto qumico no se revela eficaz, recorre-se atcnicas cirrgicas.
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Consequncias do abortoEmbora o aborto realizado adequadamente no implique graves riscos para a
sade da mulher at s dez semanas, o perigo aumenta progressivamente para almdesse tempo.
Entre as possveis complicaes fisiolgicas do aborto destacam-se as hemor-ragias, as infees, as laceraes cervicais, as perfuraes uterinas, o aumento dapossibilidade de uma nova gravidez terminar em aborto espontneo ou em partoprematuro e a esterilidade. Estas consequncias surgem com maior frequncia noaborto mais tardio.
Entre os eventuais efeitos psicolgicos sobressaem sentimentos de culpa, baixaautoestima, impulsos suicidas, hostilidade, frigidez, frustrao e depresso.
At 1984, o aborto era legalmente proibido em Portugal.A Lei n. 6/84, de 11 de maio, veio permitir a realizao da interrupo voluntria
da gravidez at s doze semanas nos casos de perigo de morte ou de grave perigo paraa sade fsica ou psquica da mulher e nos casos de gravidez resultante de violao; eat s dezasseis semanas nos casos de doena grave ou malformao fetal.
A Lei n. 90/97 alargou os prazos de permisso do aborto at s vinte e quatrosemanas nos casos de malformao ou de perigo de doena incurvel do nascituro;e at s dezasseis semanas nos casos de crime contra a liberdade e autodeterminaosexual (violao).
A Lei n 16/2007 introduziu, nas primeiras dez semanas de gestao, a legalizaoda interrupo voluntria da gravidez por opo da mulher, ou seja, sem a necessidade
de apresentar qualquer outra justificao.
Legislao portuguesa sobre o aborto
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Todos os cdigos penaisdas civilizaes antigaspuniam severamente aprtica abortiva.O primeiro Estado domundo a liberalizaro aborto foi a UnioSovitica de VladimirLenine, em 1926; osegundo foi a Alemanhade Adolf Hitler, em 1935.Ainda na dcada de 30, oaborto foi legalizado naIslndia, na Dinamarca ena Sucia. Aps a Segunda
Guerra Mundial foilegitimado em quase todoo mundo.Atualmente, desde aIrlanda, que probe oaborto, a alguns Estadosnorte-americanos, que opermitem at aos novemeses e a simples pedidoda mulher, existemlegislaes de toda aespcie, revelando que
na base destas leis noesto critrios cientcosnem critrios moraisuniversalmente aceites.Enquanto alguns pasesalargam o mbito doaborto, verica-se tambmuma inverso legislativa:a Polnia tornou a proibiro aborto e alguns Estadosnorte-americanos reetemsobre a urgncia de orestringir.
Saber +Argumentos a favor e contra o abortoQuase ningum a favor do aborto. A maior parte das pessoas consideram-no
um mal a evitar. A polmica situa-se sobretudo no combate ao aborto clandestino.Realizado sem quaisquer condies de salubridade, tem provocado inmeras mortese graves problemas de sade s mulheres que a ele recorrem. Alguns consideramque a nica maneira de erradicar esta calamidade liberalizar o aborto voluntrioem unidades de sade com condies mdicas adequadas. Outros pensam que estano pode ser a soluo e advogam maior controlo e fiscalizao com vista a erradicaro aborto clandestino. Mas o problema no se coloca s a este nvel. Para alguns, oaborto simplesmente uma opo da mulher, no uso da sua liberdade, que deve serreconhecida legalmente.
Os defensores do aborto, favorveis livre escolha da mulher, baseiam-se nosseguintes argumentos:
A defesa da dignidade da mulher exige que se lhe reconhea o direito a tomar asdecises que entender a respeito do seu prprio corpo.
Nenhuma mulher deve ser obrigada a levar por diante uma gravidez indesejada.Caso contrrio, as crianas nascidas contra a vontade das mes poderiam noser suficientemente amadas nem tratadas com o respeito que lhes devido.
H situaes que exigem uma interveno mdica com consequncias abortivaspara que a sade fsica e psquica da mulher seja salvaguardada.
O aborto clandestino humilha a mulher e tem efeitos sobre a sua sade e a suavida.
No h evidncia de que o embrio ou o feto sejam uma vida humana, emsentido pleno, e mesmo que o fossem a dignidade da mulher deve prevalecer.
Por outro lado, os objetores do aborto, normalmente designados por pr--vida, avanam com os seguintes argumentos:
A vida humana um valor inalienvel e primordial. O aborto um atentadocontra a vida humana. Logo, inaceitvel.
Todos os seres humanos tm igual dignidade, independentemente da idade, dograu de desenvolvimento fsico ou mental, da sade, da etnia Abortar porqueum feto sofre de malformaes ou por outro motivo qualquer considerarmenos dignas determinadas pessoas.
H solues alternativas, eticamente aceitveis, para o caso de uma gravidez
indesejada: por exemplo, a adoo.
Mesmo para os que rejeitam a prtica abortiva, aceitvel que se intervenhamedicamente quando a vida da mulher corre srios riscos, ainda que da resulte amorte do feto, porque nestes casos no h inteno de matar um ser humano, mas desalvaguardar a vida da mulher.
Para que o aborto seja excludo ou reduzido ao mnimo, todos defendem apromoo do planeamento familiar e a adoo de medidas socioeconmicas de apoios famlias e s mes solteiras, bem como a educao sexual dos jovens.
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O ABORTO EM DEBATE
A FAVOR CONTRA
A mulher tem direito a tomar as decisesque entender a respeito do seu prpriocorpo.
O embrio e o feto no so um ser humano.
humilhante para a mulher ser levadaa tribunal por abortar. Passa a serduplamente vtima.
No se podem desprezar as diculdadeseconmicas e sociais de educar um lhono desejado.
A despenalizao necessria para resolvero problema do aborto clandestino.
As mulheres tm direito de abortar emcondies de segurana. O aborto s perigoso quando feito sem condiesde higiene e por pessoal incompetente.
O primeiro direito da criana ser desejada.
A penalizao do aborto no eliminao aborto.
E nos casos dramticos em que o beb deciente, em que h perigo para a sadepsquica da me, em que a gravidez decorreude uma violao, ou nos casos em quea famlia demasiado pobre?
O embrio um ser distinto do corpomaterno. A mulher no tem o direitode tomar decises sobre a vida do lho.
O embrio um ser humano, pois noh pessoa que no passe pelas fasesembrionria e fetal.
H solues jurdicas em que o abortocontinua a ser proibido, mas a mulher,mesmo que o cometa, no penalizada.Pelo contrrio, as clnicas clandestinas e ostcnicos envolvidos devero ser penalizados.
Os problemas sociais e econmicosresolvem-se com apoios adequadose no com o aborto.
A lei no deve permitir o que esteticamente errado s porque o Estado noconsegue ou no quer resolver os problemas,usando os meios adequados. Legalizar o queest mal no elimina o mal: torna-o bom aosolhos das pessoas.Alm disso, o aborto clandestino continuara existir, se no houver scalizao por partedo Estado.
O aborto no pode ser um direito, porqueest em causa o valor da vida de outrem.Devem ser criadas condies para que todospossam ter lhos com dignidade.
O primeiro direito da criana o direito vida.
Isso verdade, mas no razo sucientepara o legalizar. A lei serve para regularo comportamento das pessoas em sociedadee para defender os seus direitos.
No se resolve uma diculdade, fazendouso de qualquer meio. Os meios usadostm de ser eticamente corretos.O valor da vida humana superior a outrosvalores, como a situao econmica,a integridade mental ou fsica da crianae a sade psquica da mulher.
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Doc. 10Trs razes mdicas para ser a favor da vida intrauterina1 Uma mulher normal, com uma gravidez normal e com um feto em
desenvolvimento, normal, no uma pessoa doente. Por isso, ao mdicoapenas cabe uma interveno de vigilncia que, em muitos pases, feitapor enfermeiras especializadas e o mdico s chamado a intervir quandoh risco de doena e a gravidez passa a ser classicada como gravidez derisco. Portanto, destruir um feto em desenvolvimento no um ato mdico,porque a gravidez no uma doena. Nenhum mdico o pode praticar emcircunstncia nenhuma.
2 E se a mulher grvida pedir o abortamento ao mdico, invocandomotivos sociais ou econmicos e declarando que no pode suportar maiso estado de gravidez? O mdico ter de lhe responder que no pode dar
satisfao ao seu pedido porque a funo que lhe cabe desempenharcomo mdico e a sua competncia especca s podem estar ao servio dodiagnstico e tratamento de doentes.
Se a causa do pedido de abortamento no uma doena mas umacarncia nanceira ou um abandono e marginalizao social, s estruturasde proteo e segurana social e familiar que compete eliminar as causas dopedido de abortamento. Se o mdico acolhesse o pedido e praticasse o crimedo abortamento, ofendendo as disposies do seu cdigo de deontologia,no iria resolver nada; os ditos motivos sociais ou econmicos cariam namesma ou piores do que estavam antes do abortamento. Este teria sido
um crime intil e deixava a porta aberta para novo pedido de abortamentoalgum tempo depois.
3 O mdico no pode praticar o abortamento no s por estas duasrazes, mas ainda por outras de natureza mdica. O mdico sabe que estainterveno abortiva sobre o corpo da mulher grvida, alm de provocar,obviamente, a morte do feto, tem riscos importantes para a me, tanto noato de fazer o abortamento como no futuro, no que se refere sua sadegeral e sua sade sexual. Mesmo o chamado abortamento seguro podecomplicar-se com infeo uterina e das trompas, com septicemia, comesterilidade ps-abortamento, com depresso moderada ou grave; em casos
raros at com suicdio da me.Cabe ao mdico, contudo, acolher as mulheres que se zeram abortar,sem qualquer discriminao, tratar as alteraes patolgicas de que sofram,fsicas ou psicolgicas, e promover a informao necessria para que aquelapessoa no volte a encontrar-se na situao que a levou a fazer-se abortar.
Daniel Serro, http://aborto.aaldeia.net/(09/12/2009)
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Proteger a vida
A Igreja catlica afirma que o direito vida inviolvel e que a vida humana deveser respeitada e protegida desde o momento da conceo; por isso, rejeita as prticasabortivas. Porm, tal como Jesus condenava o pecado mas absolvia o pecador, tambm
a Igreja condena o aborto mas manifesta enorme compreenso pelas mulheres queo praticaram. So inmeras as instituies catlicas de apoio s mulheres e vida.
Doc. 11Vida humana um bem a protegerA vida humana deve ser respeitada e protegida, de modo absoluto, a partir
do momento da conceo. Desde o primeiro momento da sua existncia,
devem ser reconhecidos a todo o ser humano os direitos da pessoa, entre osquais o direito inviolvel de todo o ser inocente vida.
Antes de te formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que sassesdo seio da tua me, Eu te consagrei (Jr 1, 5). Tu conhecias j a minha alma enada do meu ser Te era oculto, quando secretamente era formado, modeladonas profundidades da Terra (Sl 139, 15).
A Igreja armou sempre o erro moral de todo o aborto provocado.O aborto e o infanticdio so crimes abominveis.
A colaborao formal num aborto constitui falta grave. A Igreja punecom a pena cannica da excomunho este delito contra a vida humana. No
pretende, deste modo, restringir o campo da misericrdia. Simplesmente,manifesta a gravidade do crime cometido, o prejuzo irreparvel causado aoinocente que foi morto, aos seus pais e a toda a sociedade.
Catecismo da Igreja Catlica, 2270-2272
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Doc. 12Democracia e abortoQuando a lei, votada segundo as chamadas regras democrticas, permite
o aborto, o ideal democrtico, que s tal verdadeiramente quando reco-nhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana, atraioado nas suasprprias bases: Como possvel falar ainda de dignidade de toda a pessoahumana, quando se permite matar a mais dbil e a mais inocente? Emnome de qual justia se realiza a mais injusta das discriminaes entre aspessoas, declarando algumas dignas de ser defendidas, enquanto a outrasesta dignidade negada? Deste modo e para descrdito das suas regras, ademocracia caminha pela estrada de um substancial totalitarismo. O Estadodeixa de ser a casa comum, onde todos podem viver segundo princpiosde substancial igualdade e transforma-se num Estado tirano, que presume
poder dispor da vida dos mais dbeis e indefesos, como a criana ainda nonascida, em nome de uma utilidade pblica que, na realidade, no seno ointeresse de alguns.
Joo Paulo II, O Evangelho da Vida
Combater o aborto pela adoo
Ns estamos aqui hoje porque fomos amados por Deus, que nos criou, e pelos
nossos pais, que nos aceitaram e gostaram sucientemente de ns para nos
darem a vida. A vida o maior dom de Deus, que criou um mundo sucientemente
grande para todas as vidas que ele deseja que nasam. S os nossos coraes
que no so sucientemente grandes para as desejar e aceitar. Como seria
bonito se todo o dinheiro utilizado para encontrar formas de matar pessoas fosse
utilizado, em vez disso, para as alimentar, acolher e educar!
Temos demasiadas vezes receio dos sacrifcios que devemos fazer. Mas onde
h amor, h sempre sacrifcio, e quando amamos at nos fazer doer, h sempre
alegria e paz. Com o aborto, est a dizer-se ao pai que ele no precisa de assumirqualquer responsabilidade pelo lho que trouxe ao mundo. E muito provvel
que esse mesmo pai possa colocar outras mulheres perante a mesma situao
difcil. Assim, o aborto conduz a mais abortos.
Estamos a combater o aborto pela adoo cuidando da me e adotando a
criana. Salvmos milhares de vidas. Por favor, no matem os bebs. Entreguem-
-mos. Estou disposta a receber qualquer beb que pretendam fazer abortar e a
entreg-lo a um casal que o amar e ser amado por ele. S na nossa casa de
Calcut salvmos mais de trs mil crianas de abortos. Estas crianas trouxeram
muito amor e alegria aos seus pais adotivos e, por sua vez, cresceram no meio do
amor e da alegria. Para mim, as naes que legalizaram o aborto so as naes
mais pobres.
Teresa de Calcut, Discurso na Conferncia Internacional
sobre Populao e Desenvolvimento
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Doc. 13Cano Inocente
Menino: queres ser meu mestre? Contigo tinha tanto que aprender!
A ser casto, sem querer;a ser bom, sem o saber;
a ser alegre, sem termotivos para o ser.
Menino: queres ser meu mestre? Deixa o teu arco a. Vem-me ensinar
a sorrir e a conar;a ter esperana e a perdoar;a esquecer e a chorar
Menino que brincas no jardim: Tu sim,podias ser um mestre para mim!
Carlos Queiroz, Boletim Cultural, Na Rota das Palavras
O preconceitoO preconceito funda-se num juzo preconcebido, injustificado e irracional.
Manifesta-se geralmente em atitudes discriminatrias relativamente a determinadas
pessoas, lugares ou tradies que, pelo simples facto de serem diferentes, soconsiderados destitudos de valor. Indica, portanto, desconhecimento e ignornciarelativamente ao outro que desconsiderado. Em geral, a ignorncia produz o medodo que se desconhece e conduz adoo de comportamentos defensivos que podemmanifestar-se desde a simples indiferena at violncia explcita. O outro cujaverdadeira natureza se ignora entendido como uma ameaa, como um potencialinimigo que deve, por conseguinte, ser combatido ou mesmo eliminado.
O ponto de partida do preconceito uma generalizao injustificada, chamadaesteretipo. Por exemplo: todos os ciganos so ladres, todos os brancos soarrogantes, os espanhis no so de fiar
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O preconceito sempre uma atitude errada e imoral, porque no se baseiaem nenhuma justificao racional, mas na ignorncia e no medo que essedesconhecimento provoca em ns. O preconceito conduz ao autoritarismo, discriminao, marginalizao e violncia.
possvel identificar preconceitos de ordem religiosa, econmica, poltica, cul-
tural, tnica, racial Os Egpcios, por exemplo, mantiveram os Hebreus naescravido durante mais de quatro sculos. Os Persas, no tempo do apogeu do seuimprio, consideravam-se superiores ao resto da humanidade. Tambm os Romanos,os povos germnicos ou os Normandos, entre outros, tinham o mesmo conceito desi prprios. Os Gregos consideravam brbaros todos os povos que no falassem oidioma grego; para os Romanos eram brbaros todos os povos que no falavam latim.Para os Europeus, os Africanos e os ndios das Amricas eram selvagens e pagos.
De uma forma geral, ao longo da histria da humanidade, os estrangeirosforamsendo desconsiderados, identificados com o inimigo e submetidos fria do dio,apenas pelo simples facto de pertencerem a um grupo tnico ou cultural diferente. Edesse esteretipo decorreram as guerras, a violncia entre povos e a morte de muitos
seres humanos, vtimas do preconceito dos mais fortes.
O racismo
O racismo uma forma de pensar (uma ideologia) e de agir fundada numpreconceito. Acredita-se que alguns indivduos ou grupos, pelo simples facto depossurem determinadas caratersticas fsicas hereditrias, bem como certo tipode manifestaes culturais, soseres inferiores. O racismo baseia-se em opiniespreconcebidas e injustificadas segundo as quais as diferenas biolgicas entre osseres humanos lhes atribuem um estatuto superior ou inferior. De acordo com estaideologia, os seres humanos no tm todos o mesmo valor nem so todos dotadosda mesma dignidade. O valor depende da sua pertena a determinados gruposraciais. O racismo pretende justificar a escravido, a opresso, o domnio de unspovos sobre outros, o genocdio contra um grupo, uma etnia
O racismo afirma a necessidade de um grupo social dominante, seja emtermos econmicos seja numricos, se distanciar de outros grupos que, por razeshistricas, possuem tradies ou comportamentos diferentes. O grupo dominanteconstri um mito (um esteretipo) sobre os outros grupos e com base nessa ideiapreconcebida nega-lhes a liberdade ou mesmo o direito existncia.
Ser racista desprezar o outro em nome da sua pertena a um grupo que se
distingue pela cor da pele ou por outras caratersticas fsicas, normalmenteassociadas ao uso de uma lngua prpria, prtica de uma religio diferente,etc. Os racistas utilizam sempre argumentos de ordem irracional para justificar ahierarquizao entre as pessoas.
Ccero, lsofo romano, j dizia que os homens diferem pelo saber, mas soiguais na sua aptido para o saber. As diferenas entre as pessoas ou os gruposhumanos no justificam que se lhes atribua um valor diferente. Ser pobre ou rico,pertencer a um pas ou a outro ou ter determinada cor de pele no retira nemacrescenta dignidade e valor s pessoas.
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m pleno sculo XX,partir de 1948, narica do Sul, o regime
o apartheidmantevepopulao africanab o domnio de
m povo de origemropeia. Este regime
oltico racista chegouseu termo quando,
or presso mundialaps a libertao deelson Mandela, foramnvocadas as primeiras
eies para um governo
ultirracial de transio,m abril de 1994.
Saber +Doc. 14
Identifcao com a espcie humana
Na nossa histria mais remota, os indivduos mantinham obedinciaem relao ao seu grupo tribal direto, todos ligados por consanguinidade. medida que o tempo foi passando, a necessidade de comportamentocooperativo na caa de animais corpulentos ou de grandes manadas,na agricultura e no desenvolvimento das cidades agregou os sereshumanos em grupos cada vez maiores.
Hoje, um instante particular na histria de quatro mil milhes e meio deanos da Terra e na histria de vrios milhares de anos da espcie humana,a maioria dos seres humanos tem a sua principal delidade para com anao-estado.
Muitos dirigentes visionrios idealizaram uma poca em que a
delidade de um ser humano individual no ser para com a sua nao--estado particular, raa ou grupo econmico, mas para com a espciehumana como um todo, quando o bem-estar de um ser humano de outrosexo, raa, religio ou crena poltica a dez mil milhas de ns nos for tovalioso como o de um nosso irmo ou vizinho. A tendncia nesta direo,mas angustiantemente lenta.
Adaptado de Carl Sagan,As Ligaes Csmicas
O nazismo
A seguir Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Alemanha foi obrigada aassinar, em 1919, o Tratado de Versalhes, que lhe impunha pesadas obrigaes por serresponsvel pelo conflito blico. Esta situao, acompanhada da crise econmica quegerou, em poucos anos, vrios milhes de desempregados, conduziu a conflitos sociais.Surgiram, neste cenrio poltico e econmico, partidos ultranacionalistas. Um dessespartidos chamava-se Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemes (PartidoNazi) e era liderado por Adolf Hitler.
Milhes de desempregados e grupos dominantes descontentes passaram a acreditarnas promessas de Hitler de transformar a Alemanha num pas rico e poderoso. Naseleies de 1932, o Partido Nazi conseguiu obter a maioria dos votos. O fhrer(lder,chefe) iniciou uma propaganda alienante, recorrendo violncia policial para implantaruma cruel ditadura.
O povo alemo, como todos os outros, era bastante miscigenado (mistura de vriasraas e etnias) e, portanto, no havia propriamente uma raa pura cujos traos fsicosfossem inteiramente distintos do resto da humanidade. Mas a propaganda nazi defendiaa pureza racialdo povo alemo e a sua superioridade em relao a todos os povosexistentes face da Terra. Um sentimento de hostilidade e averso dirigido a pessoas,culturas e religies no dominantes fez-se sentir de forma violenta. Defensores daxenofobia (medo e hostilidade aos estrangeiros) e da ideologia racista, implementaram
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formas de discriminao com vista a purificar o povo alemo de todo o contgio quepudesse tornar-se um obstculo manuteno da raa pura ariana.
A sede de poder de Hitler no tinha limites. Invadiu e anexou vrios paseseuropeus, dando origem Segunda Guerra Mundial. Contudo, de entre todos os povos,alguns foram vtimas de um dio especial: osjudeus. O grande objetivo de Hitler era
a extino do povo judeu (a soluo final). Por isso, confinou a populao judaicaa guetos, sujeitou-a deportao em massa e isolou-a em campos de concentrao,onde, para alm de ser sujeita a trabalhos forados, vivia em condies degradantes edesumanas, era permanentemente torturada e utilizada como cobaia em experinciascientficas. Estas experincias tinham por objetivo melhorar artificial e cientificamentea qualidade da populao alem. Estima-se que cerca de seis milhes de judeus foramvtimas do nazismo. A este genocdiochama-se geralmente holocausto.
Mas o dio de Hitler no se confinava apenas ao povo judeu. Inclua tambmos militantes comunistas, os homossexuais, os ciganos, os deficientes motores, osdeficientes mentais, os ativistas polticos, as Testemunhas de Jeov, crentes de Igrejascrists que se lhe opuseram, sindicalistas, doentes psiquitricos, etc. Enfim, no se
circunscrevia apenas queles que pertenciam a etnias consideradas pelo nazismo comoindignas de existir, abrangendo igualmente todos os que se opuseram sanguinriaideologia nazi.
Entre muitos outros exemplos de oposio corajosa ao nazismo, podemos destacarDietrich Bonhoeffer, pastor da Igreja luterana; Alfred Delp, padre jesuta; NikolausGross, beaticado por Joo Paulo II; o padre Augustinus Rsch, provincial da Bavierae o conde Peter Yorck. Rejeitaram formalmente o culto nazi a Hitler assinando aDeclarao de Bremen, em 1934, onde se arma que Jesus Cristo, e no homem algumou Estado, o nosso nico Salvador. Auxiliaram vrios judeus a fugir da perseguioe combateram ativamente o regime de Hitler. Todos eles foram detidos e assassinados.
A palavra Holocausto(em grego antigo:, [todo]+ [queimado])tem origens remotasem sacrifcios e rituaisreligiosos da Antigui-dade, em que plantas eanimais (e at mesmoseres humanos) eramoferecidos s divindades,sendo completamentequeimados durante oritual. Assim, holocaustoquer dizer cremao dos
corpos.
Dietrich Bonhoeffer nasceu a 4 de fevereiro de 1906, em Breslau (Alemanha), no seio deuma famlia muito conceituada (o pai era um distinto neuropsiquiatra). Estudou Teologia naUniversidade de Tubinga e mais tarde na Universidade de Berlim. Desempenhou a funode pastor luterano na comunidade evanglica alem em Barcelona e, em 1930, partiu paraNova Iorque para ensinar no Union Theological Seminary. Em 1931 iniciou a sua carreiracomo professor de Teologia na Universidade de Berlim, tendo sido ordenado ministro daIgreja luterana. A 1 de fevereiro de 1933, dois dias aps a nomeao de Hitler como
chanceler, foi interrompida a emisso radiofnica de Bonhoeffer no momento em quedenunciava o totalitarismo. Em 1934, ajudou a organizar a Igreja confessante, que constituiuuma resposta crtica ao nazismo e restante Igreja luterana que se sujeitara a Hitler.Em 1936 foi proibido de ensinar na Universidade de Berlim e a Gestapo encerrou o seminrioda Igreja confessante. Em 1938 iniciou os contactos com os adversrios de Hitler. Em 1939deslocou-se a Inglaterra e aos Estados Unidos para partilhar os seus receios a respeito donazismo. Contra a vontade dos seus amigos, regressou Alemanha porque No tereio direito de participar na reconstruo da vida crist na Alemanha depois da guerra, seno viver com o meu povo as provaes do tempo presente. Em 1940 acusou a Igrejade se manter calada quando deveria gritar porque o sangue inocente brada aos cus.Em 1943 foi encarcerado na priso berlinense de Tegel, acusado de auxiliar judeus ede participar na resistncia ao nazismo. Em 1944 foi transferido para o crcere daGestapo em Berlim. Aps um julgamento sumrio, foi executado em Flossenburg(Alemanha), a 9 de abril de 1945.
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Dietrich Bonhoeffer
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Alfred Delp nasceu a 15 de setembro de 1907, em Mannheim (Alemanha), lho de paiprotestante e me catlica. Em 1926 ingressou na Companhia de Jesus e em 1937 foiordenado padre catlico. Em 1941 foi designado reitor de uma igreja em Munique. Para almde anunciar o Evangelho, auxiliou judeus a escaparem perseguio nazi. A oposio demuitos jesutas ao nazismo levou alguns priso e limitou o seu campo de ao. O superior
provincial da Companhia de Jesus na Baviera, padre Augustinus Rsch, e o padre AlfredDelp integraram o movimento de resistncia antinazi, na linha do que Delp proclamava:se houver um pouco mais de verdade e luz no mundo pela ao de um ser humano,a sua vida j ganhou sentido. A partir de 1942 reuniam-se regularmente com o grupoclandestino para desenvolver o modelo de uma nova ordem social aps a queda do nazismo.Depois de terem falhado o golpe contra a vida de Hitler a 20 de julho de 1944, uma comissoespecial da Gestapo prendeu todos os conhecidos membros da resistncia. Delp foiencarcerado em Munique, a 28 de julho de 1944, embora no estivesse diretamente envolvidono golpe. Foi transferido para a priso de Tegel, em Berlim, julgado, em conjunto com outrosmembros da resistncia, e condenado morte por alta traio, uma vez que tinha participadono movimento de resistncia antinazi. A pena foi executada a 2 de fevereiro de 1945.
Nikolaus Grossnasceu a 30 de setembro de 1898, na Alemanha, e foi mineiro, como o seupai. Prosseguiu os seus estudos noite at se tornar secretrio da juventude da AssociaoCatlica dos Trabalhadores Mineiros. Em 1926 tornou-se editor de um jornal dirio, rgoocial do movimento catlico dos trabalhadores. A desenvolveu a sua atividade crtica aonazismo. Depois de ter sido suspenso, o jornal foi denitivamente encerrado pelo regimenazi. Gross assumiu a liderana do movimento catlico dos trabalhadores em Dusseldorf, oque lhe permitiu realizar muitas viagens e programar atividades de resistncia ao nazismo,discutindo com outros companheiros alternativas ao regime nazi. Na sequncia do ataquefalhado vida de Hitler (20 de julho de 1944), Gross foi feito prisioneiro a 12 de agosto de1944. Em 15 de janeiro de 1945 foi condenado morte e a 23 de janeiro do mesmo ano foidecapitado em Berlim.
Alfred Delp
Nikolaus Gross
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unidade 1 35
A obra monumental da histria da humanidade tem sido conseguir que acooperao entre as pessoas se sobreponha competio e sobretudo ao dio. A ticahoje dominante nas sociedades democrticas exige o respeito pela pessoa e pelos seus
direitos, garantindo o exerccio da liberdade e o reconhecimento fundamental dosvalores da igualdade e da fraternidade, que excluem quaisquer discriminaes.Mas h situaes que, pela sua complexidade, levantam dvidas quanto maneira
correta de atuar.
Valorizar a vida
Doc. 15Cuidar da vida at morte
A revelao bblica mostra-nos a existncia humana como resultado dabondade divina, isto , como um dom que suscita em ns gratido e no nosdispensa da responsabilidade de cuidar dele. Para o crente, a vida no est inteira disposio de quem quer que seja, no arbitrariamente disponvel,mas tem de ser respeitada como a condio bsica de realizao pessoal.A vida humana prvia a qualquer projeto pessoal, por isso ningum senhorabsoluto da sua prpria vida e muito menos senhor da vida dos outros.
A convico de que s Deus o Senhor da vida no retira ao ser humanoa sua responsabilidade de procurar as melhores opes para cuidar da vidaque tem diante de si. Cada pessoa deve ser respeitada como sujeito da suaprpria existncia e nunca simplesmente como objeto do qual se possa
dispor arbitrariamente.
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unidade 16
Outras situaes de agresso vida, no levantando dvidas, persistem nassociedades modernas, constituindo um apelo conscincia de todas as pessoas.
Tornou-se dominante uma conceo de autonomia em que a liberdadeindividual elevada a direito absoluto. O ser humano atual quer no s serprotagonista da sua prpria histria, mas ter nas mos todos os processosda sua vida. neste sentido que parece aliciante poder antecipar a morte ou
prolongar o processo de morrer, de acordo com o que no momento for tidocomo mais vantajoso.
As novas possibilidades que nos so oferecidas pela medicina tambmtornam mais complexas as situaes com que nos deparamos no mbito doscuidados de sade e do acompanhamento a doentes terminais.
A estes fatores circunstanciais acresce o facto de o prprio processo demorrer se ter transformado. Na maior parte das vezes morre-se em hospitaisou centros clnicos, nos ambientes annimos e frios das instituies.O sofrimento associado a longas doenas terminais causa uma inseguranaadicional e diversos fatores contribuem para que os moribundos vivam uma
solido preocupante.A obrigao moral de garantir vida humana uma especial proteo est
testemunhada em preceitos primordiais da humanidade, com expressesdiversas em todas as culturas, e codicada no mandamento bblico doDeclogo: No matars (Dt 5,17). O respeito por este imperativo certamente incompatvel com qualquer forma de agresso direta vidahumana, sempre que ela no ponha em causa a existncia de outras pessoas.
Nota pastoral da Conferncia Episcopal Portuguesa
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unidade 1 37
Doc. 16Idosos vtimas de crime
Nos ltimos anos aumentaram as queixas de violncia contra idosos. O au-mento da esperana mdia de vida, a par com o enfraquecimento dos sistemas deproteo social, coloca-os numa situao de grande fragilidade. urgente mudarmentalidades e recuperar o respeito pelo saber de experincia feito.
Com o aumento da esperana de vida prev-se que o nmero de pessoascom mais de sessenta anos duplique at 2015, passando de 542 milhes em 1995para 1200 milhes nessa data. A Organizao Mundial de Sade (OMS) receiaque este aumento, associado a uma certa quebra de laos entre geraes e aoenfraquecimento dos sistemas de proteo social, venha a agravar as situaes deviolncia.
Dados da Associao Portuguesa de Apoio Vtima (APAV) revelam que,
nos ltimos anos, se vericou um aumento de 20,4% do total de pessoas idosasvtimas de crime.
Por defeito tendemos a associar imediatamente o termo violncia a maustratos fsicos, no entanto, o mbito da violncia contra os idosos assume muitosoutros contornos to ou mais graves do que a agresso fsica, tais como agressespsicolgicas, privao de cuidados adequados, abandono, desvalorizao dasua personalidade e experincia, usurpao e administrao indevida dos seusprprios bens.
Igualmente associados problemtica dos idosos, a APAV tem recebidovrios pedidos de apoio, por parte de prossionais de sade, no sentido
de minimizar as consequncias das situaes dos idosos abandonados emhospitais e desenvolver estratgias para que essas situaes aconteammenos frequentemente. Familiares que acompanham os seus doentes idososfornecem contactos errados ao hospital. Chegada a hora da alta, quando ohospital tenta entrar em contacto com eles, no consegue porque os dados sofalsos. Estas situaes no so pontuais, acontecem muito frequentemente ereetem a inteno ntida de abandonar os idosos, alerta Helena Sampaio.
A sociedade atual tem vindo a tratar muito mal os idosos, desvalorizando--os constantemente. Os ritmos de vida, as exigncias prossionais e a falta demedidas especcas para o desenvolvimento de recursos para integrao e
proteo dos idosos acabam por potenciar uma cultura em que os mais velhosso postos de parte por no corresponderem aos padres sociais de beleza,dinheiro e consumo.
preciso recuperar a importncia do papel do idosopara a comunidade eassegurar ou reforar a formao dos tcnicos que trabalham diretamente comeles em casas de repouso e lares.
Se antigamente os mais velhos eram respeitados, tidos como fonte desabedoria, hoje a permanente falta de tempo e a busca incessante pela novidadeignora a sua experincia de vida. Esta uma atitude que nos cabe alterar e queespelha tambm a nossa fuga perante o inevitvel envelhecimento.
Vnia Machado, Famlia Crist, fevereiro de 2009
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unidade 18
Doc. 18Aumenta o nmero de dadores de rgosO ano de 2008 registou um aumento signicativo de dadores de rgos
inscritos nos hospitais do Servio Nacional de Sade. Este acrscimotraduziu-se num aumento de 12,5% em relao ao ano anterior. Portugal
passou de uma taxa de 23,9 para 26,7 dadores por milho de habitantes.Se temos um familiar ou amigo que precisa de um rgo para viver ou
melhorar a sua qualidade de vida e ns temos dois e podemos dispor de um,porque no?
Os estudos realizados comprovam que no seguimento da doao noh problemas para a sade do dador e que, por ter maior acompanhamentomdico, vive at mais anos do que o no dador.
Adaptado de http://www.asst.min-saude.pt/Paginas/asst.aspx
Autoridade para osServios de Sangue e da
Transplantao
Doc. 17Doao de rgos
A doao de rgos uma forma peculiar de testemunho da caridade.Numa poca como a nossa, com frequncia marcada por diversas formas deegosmo, torna-se cada vez mais urgente compreender quanto determinantepara uma correta conceo da vida entrar na lgica da gratuidade.
De facto, existe uma responsabilidade do amor e da caridade quecompromete a fazer da prpria vida uma doao aos outros, se quisermosverdadeiramente realizar-nos a ns prprios. Como nos ensinou o SenhorJesus, s aquele que doa a vida a poder salvar.
Bento XVI, novembro de 2008
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Doc. 19Quando um Homem Quiser
Tu que dormes noite na calada do relentoNuma cama de chuva com lenis feitos de ventoTu que tens o Natal da solido, do sofrimentos meu irmo amigos meu irmo.
E tu que dormes s no pesadelo do cimeNuma cama de raiva com lenis feitos de lumeE sofres o Natal da solido sem um queixumes meu irmo amigos meu irmo.
Natal em dezembroMas em maio pode ser.Natal em setembro quando um homem quiser.Natal quando nasce uma vida a amanhecerNatal sempre o fruto que h no ventre da mulher.
Tu que inventas ternura e brinquedos para darTu que inventas bonecas e comboios de luar
E mentes ao teu lho por no os poderes comprars meu irmo amigos meu irmo.
E tu que vs na montra a tua fome que eu no seiFatias de tristeza em cada alegre bolo-reiPes um sabor amargo em cada doce que eu compreis meu irmo amigos meu irmo.
Jos Carlos Ary dos Santos,As Palavras das Canes
Vitral da Natividade
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unidade 10
Parbola do bom samaritano
Um certo doutor da Lei, que queria experimentar Jesus, levantou--se e fez-lhe esta pergunta: Mestre, que devo eu fazer para ter direito vida eterna?26Jesus respondeu:
Que diz a Escritura acerca disso e como a entendes tu?27E ele disse:
Ama o Senhor teu Deus com todo o teu corao, com toda a alma,
com todas as foras e com todo o entendimento. E ama o teu prximo
como a ti mesmo.28Jesus comentou:
Respondeste bem. Faz isso e ters direito vida.29Mas o doutor da Lei, querendo justificar-se, disse a Jesus:
E quem o meu prximo?30Ento Jesus respondeu:
Ia um homem a descer de Jerusalm para Jeric. Caram sobre ele
uns ladres, que lhe roubaram roupa e tudo, espancaram-no e foram-se
embora deixando-o quase morto.31Por casualidade, descia um sacerdote
por aquele caminho. Quando viu o homem, afastou-se para o outro lado.32Tambm por l passou igualmente um levita que, ao v-lo, se afastou
tambm. 33Entretanto, um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele
e ao v-lo teve pena. 34Aproximou-se, tratou-lhe os ferimentos com azeite
e vinho e ps-lhe ligaduras. Depois, colocou-o em cima do seu jumento,levou-o para uma penso e tratou dele. 35No outro dia, deu duas moedas
de prata ao dono da penso e disse-lhe: Cuida deste homem e, quando eu
voltar, pago-te tudo o que gastares a mais com ele.36Jesus perguntou ento ao doutor da Lei:
Qual dos trs te parece que foi o prximo do homem assaltado pelos
ladres?37E ele respondeu:
O que foi bom para ele.
Jesus concluiu:
Ento vai e faz o mesmo.
Lc 10, 25-37
25
Na histria do bom samaritano, Jesus afirma a dignidade da vida humana,qualquer que seja a sua provenincia, e revela a natureza de uma religio autntica,que consiste no apenas na adeso a determinadas crenas ou na prtica de algunsrituais, mas fundamentalmente numa vida orientada pelo princpio do amor aoprximo.
Chegada do Bom Samaritano,por Gustave Dore
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unidade 1 41
Um doutor da Lei interroga Jesus sobre o que deve fazer para alcanar a vidaeterna. a questo central da vida humana: Como alcanar a plenitude da vida,a felicidade sem limites? Mas, na boca do doutor da Lei, tambm uma perguntaarmadilhada, porque pretendia apanhar Jesus em falso e conseguir matria para ocondenar.
Jesus, porm, devolve-lhe a pergunta, conduzindo-o Lei de Moiss, e o escribarecita o preceito do amor a Deus e ao prximo, tal como estava formulado emDt 6, 4 e Lv 19, 18. Vendo a sua sntese aprovada, o doutor da Lei acrescenta outraquesto muito discutida: E quem o meu prximo? No tempo de Jesus, no haviaconsenso entre os mestres a respeito desta questo: o prximo ser apenas o quepertence ao meu grupo tnico, religio onde me insiro, ao grupo social de que faoparte? Jesus, no entanto, tinha uma perspetiva muito diferente da que era geralmentedefendida. precisamente para explicar a sua interpretao que conta a parbolado bom samaritano.
Para uma melhor compreenso desta parbola convm ter presente que Judeus
e Samaritanos eram dois povos que viviam separados por razes histricas. Arelao que estabeleciam era extremamente conflituosa. Os Judeus desprezavamos Samaritanos, por serem o resultado da miscigenao entre Israelitas e outrospovos estrangeiros e, para alm disso, consideravam-nos hereges (partidrios deuma religio semelhante dos Judeus mas com algumas diferenas consideradasessenciais). Por outro lado, os Samaritanos retribuam aos Judeus o mesmo desprezo.
A parbola situa-nos na estrada de cerca de trinta quilmetros que desce dacidade santa de Jerusalm para a cidade de Jeric. Era um itinerrio perigoso, cheiode contracurvas e ravinas, onde facilmente se escondiam salteadores.
Ora um homem no identificado (pelo contexto, depreende-se que um judeu,pois veio de Jerusalm) foi assaltado por bandidos e deixado cado na berma da estrada.
Trata-se, portanto, de um homem ferido, abandonado, a reclamar ajuda urgente.
O Bom Samaritano, por Uptton Clive
A Parbola um recursoliterrio muito utilizadopor Jesus. Trata-se deuma narrativa ctciaconstruda a partir deambientes reais, como objetivo de iluminarum ensinamento ticoou religioso e provocaruma transformao de
comportamentos.
Os doutores da Lei ouescribas eram peritos nainterpretao da Lei deMoiss, cujo cumprimentoprocuravam impor aopovo.
Os sacerdotes, no tempode Jesus, eram ministrossagrados encarregues
de oferecer diariamentesacrifcios no Templode Jerusalm. Alm dastarefas cultuais, competia--lhes a instruo do povoem assuntos religiosos e aadministrao dos bens doTemplo.
Os levitaseramauxiliares dos sacerdotes,constituindo uma espciede baixo clero.
Saber +
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unidade 12
Pela estrada passaram sucessivamente um sacerdotee um levitaque o ignoraram.Nada se diz a respeito das razes que levaram estes homens a no prestar ajuda aomoribundo. Talvez o medo de serem tambm eles assaltados, ou a preocupao coma pureza legal (que proibia que tocassem num cadver), ou a pressa, ou a simplesindiferena diante do sofrimento alheio. Apesar dos seus conhecimentos religiosos,no se sentem animados por qualquer espcie de sentimento de misericrdia! Elessabem tudo sobre Deus, lidam diariamente com o culto divino, mas, afinal, nadasabem a respeito da sua verdadeira natureza: o amor e a vida em plenitude. A suareligio resume-se a um conjunto de ritos estreis, cerimnias faustosas e solenes,
contudo sem a densidade espiritual que s o amor pode oferecer.Pela estrada passou, finalmente, um samaritano. Um estrangeiro, um inimigode Israel e da sua religio, um infiel s tradies judaicas antigas, um homem quevivia, sob a tica dos Judeus, longe da salvao e do amor de Deus. No entanto, foiele quem parou sem medo de correr riscos ou de adiar os seus interesses pessoais para cuidar do homem estendido na berma da estrada. O samaritano poder-se-iater deixado conduzir pelo dio entre os dois povos. Porm, a sua atitude marcou adiferena. Cheio de compaixo, aproximou-se do homem cado, desinfetou-lhe asferidas com vinho, atenuou-lhe as dores com azeite, levou-o para a estalagem e aindapagou para cuidarem dele. Apesar de ser um estrangeiro e de pertencer a outro gruporeligioso, deixou-se guiar pela ateno ao outro, independentemente do seu grupo de
pertena, por um corao repleto de amor e, portanto, cheio de Deus.
A PALESTINA
NO TEMPO DE JESUS
MAR
ME
DI
TERR
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Sarepta
Tiro
Ptolomaida
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TRACONTIDE
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(Samaria) Monte Ebal
Monte Garizim
Monte Carmelo
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km
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- Territrio sob a dependncia do Procurador romano
- Tetrarquia de Herodes Antipas
- Tetrarquia de Filipe
- Provncia romana da Sria
- Decpole
- Territrios independentes
O Bom Samaritano,por autor annimo
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unidade 1 43
Ao eleger como modelo um samaritano, Jesus ultrapassa as expetativas do doutorda Lei, dado que o heri da histria no quem seria de esperar, mas, pelo contrrio,algum que despertava os piores sentimentos: um excludo, um estrangeiro, um sermenor.
Toda a parbola se centra na ideia de que o amor no tem qualquer espcie de
limite, universal, estende-se a todas as pessoas, porque todas so portadoras damesma dignidade. E sobretudo aquele que precisa do nosso auxlio que constituio nosso prximo. O critrio do amor concreto no a pertena tnica, religiosa ououtra, mas a necessidade das pessoas que se cruzam connosco no percurso da vida.
Com este desao vai e faz o mesmo Jesus desloca totalmente o centro daquesto. No se trata de saber quem o nosso prximo, porque toda a criatura humanao ; trata-se, isso sim, de saber como nos tornamos prximos do outro. A narrativainverte os papis e coloca o prximo no do lado daquele que deve ser amado, masdaquele que deve amar. O doutor da Lei esperava um esclarecimento terico, pormfoi remetido para a sua responsabilidade de praticar os mandamentos. O amor aoprximo no assunto de debates tericos, de definies abstratas e de discusses
sem fim, na preocupao de delimitar as fronteiras do campo do amor, identificandoo prximo a incluir ou a excluir. O amor ao prximo sinnimo de disponibilidadepara ajudar qualquer pessoa que precise, seja amiga ou inimiga, conhecida oudesconhecida, da mesma etnia ou de qualquer outra; significa reconhecer em todos eem cada um a dignidade de ser pessoa.
A pergunta inicial era: Que fazer para ter direito vida eterna? A concluso bvia: para alcanar a felicidade preciso amar a Deus e tornarmo-nos prximos dosque necessitam da nossa ajuda. Trata-se, portanto, de fazer com que o amor percorraas duas coordenadas fundamentais da existncia: a vertical (relao com Deus) e ahorizontal (relao com os outros).
O Bom Samaritano,por Van Gogh
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unidade 14
O Bom Samaritano,por autor annimo
Doc. 20Estrada de Jeric
Na longa estrada de JericUm homem sofre e eu vou passar
Vou apressado, vou em missoMas bate triste meu corao
Se eu penso em mim, tu fcas s
Se eu penso em ti, seremos ns
A tua dor vai acabarE eu mais seguro vou caminhar
Seremos dois a enfrentarA longa estrada de JericNo temerei, no temersOs salteadores que espreitam l
Se eu penso em mim...
E na cidade de JericVamos jantar amor e poE quem nos vir, h de pensarVale sempre a pena estender a mo
Fernando Fonseca
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Ao longo da histria, encontramos vrios testemunhos de pessoas que, com todaa dignidade, foram capazes de entregar a sua prpria vida em prol dos outros. GianaBeretta Molla um exemplo radical de sacrifcio da prpria vida em benefcio da vidade outrem.
Dar a prpria vida pelo outro
Doc. 21Me de FamliaGianna Beretta Molla (1922-1962), mdica italiana, casada e me de
quatro lhos, foi proclamada santa pela Igreja catlica.Fruto do seu matrimnio com Pietro Molla nasceram quatro crianas:
Pierluigi, Mariolina, Laura e Gianna Emanuela. Na ltima gestao, aos 39anos, descobriu que tinha um broma no tero. Foram-lhe apresentadas trsopes: retirar o tero doente, o que ocasionaria a morte da criana, abortaro feto ou, a mais arriscada, submeter-se a uma cirurgia de risco e preservar agravidez. No hesitou! Disse: Salvem a criana, pois tem o direito de viver eser feliz! Submeteu-se cirurgia no dia 6 de setembro de 1961.
Gianna Beretta
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unidade 16
Alguns dias antes do parto, sempre com grande conana em Deus,disponibilizou-se para sacricar a sua vida se essa fosse a condio parasalvar a do lho: Se tiverem de decidir entre mim e o meu lho, nenhumahesitao: exijo que escolham a criana. Salvem-na. Deu entrada, para oparto, no hospital de Monza, na Sexta-feira Santa de 1962. No dia seguinte,21 de abril de 1962, nasceu Gianna Emanuela. Gianna Beretta morreu no dia28 de abril seguinte.
Foi beaticada no dia 24 de abril de 1994, no Ano Internacional da Famlia,e canonizada no dia 16 de maio de 2004, recebendo do papa Joo Paulo IIo sugestivo ttulo de Me de Famlia. Na cerimnia estiveram presentes oseu marido, as lhas Gianna Emanuela e Laura e o lho Pierluigi.
Adaptado de http://www.vatican.va/ (14/12/2009)
Trs Idades da Mulher, por Gustav Klimt
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unidade 1 47
Perspetivas de futuro
A prtica dos valores ticos como o respeito, a tolerncia, a pacincia,
a solidariedade, o carinho, a dedicao, o dilogo, a justia essencial aoreconhecimento efetivo da dignidade da vida humana.
Numa sociedade marcada pelosvalores econmicos, que atribui maior impor-tncia ao ter do que ao ser, em muitas situaes parece prevalecer a importncia daaquisio e manuteno de bens materiais em detrimento da defesa do valor essencialque a pessoa humana. Todos os dias vemos, ouvimos e lemos notcias em que seatenta contra a dignidade da vida humana por razes insignificantes: uma discussomotivada pela simples e natural diferena de opinies ou a disputa acerca de umapropriedade. E a violncia gera sempre mais violncia.
Num processo de desculpabilizao, encontramos atenuantes que pretendemexplicar os nossos desvarios em momentos de mau humor: a desestruturaofamiliar, a pobreza, o desemprego, o deficiente acesso educao ou sade, ausnciade perspetivas de futuro, incapacidade para sonhar ou para nos empenharmosfortemente na realizao dos nossos sonhos. E apesar de no constiturem justificaespara os nossos comportamentos desumanos, so motivos que nos pem merc dosnossos piores instintos. , pois, essencial ter um projeto de vida que nos abra as portasao futuro, mudana, ao crescimento interior, realizao pessoal, profissional efamiliar. E simultaneamente acreditar que somos capazes de construir e concretizaresses projetos, enquanto nos esforamos por faz-lo.
Cada pessoa vale por si mesma. No porque algum a ama e lhe quer bem, ou
porque reconhecida pelos demais ou pelo Estado (embora, por ser pessoa, mereaser amada e respeitada por todos). por causa do valor inalienvel de cada pessoa quetodos tm direito a ser reconhecidos e valorizados, sobretudo os mais vulnerveis, osque se sentem excludos e aqueles cuja voz no escutada pela sociedade.
Onde no h reconhecimento da dignidade, no h humanidade. Da que adignidade humana exija a responsabilidade de cada um pelo seu prximo.
No pode haver paz verdadeira sem respeito pela vida.
Joo Paulo II
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unidade 28
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unidade 2 49
Nesta unidade vamos refletir sobre:
A questo da existncia de Deus
O atesmo, o agnosticismo e a adeso confiante
As razes para acreditar na existncia de Deus
A f como acolhimento e confiana no sentido da vida
As representaes da divindade no Antigo Egito e no
politesmo greco-romano Deus no Antigo e no Novo Testamentos
Deus na arte
A bondade e imensido infinita de Deus
Solidariedade e fraternidade: testemunhos de vidascom sentido
UNIDADE LETIVA 2
Deus, o grande mistrio
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unidade 20
Ol!
O meu nome Teresa. Sou conhecida por Teresa de Lisieux e por Teresinha
do Menino Jesus.
Nasci em 1873 no norte de Frana. A minha me, Zlia, partiu para o cu
quando eu tinha quatro anos; estabeleci ento uma forte ligao minha irm
Pauline, que se tornou a minha segunda me. Depois, mudmo-nos o meu pai,
Lus, eu e as minhas trs irms para Lisieux.
Os meus pais eram profundamente religiosos. Todos os dias rezavam e tudo
era feito para que se cumprisse a vontade de Deus. As minhas irms entraram
no Carmelo (convento das irms carmelitas) e eu senti, ainda adolescente, um
amor profundo por Deus. Tornar-me freira foi o caminho que escolhi para viver
esse amor.
Com 16 anos entrei no convento. Na vida rotineira e tranquila que inclua
momentos de orao e trabalhos domsticos, descobri a pequena via, a via
do amor que se revela nas pequenas coisas do dia a dia. Deixei que Deus me
envolvesse com o seu amor intenso e apaixonante, ele que a origem do amor,que o prprio Amor. Simplesmente deixei-me conduzir por Deus. Entregava-
-me a todas as atividades com generosidade, como se fosse o prprio Deus a
pedir-me que o fzesse. Era a ele que eu servia. Esta descoberta trouxe-me uma
felicidade imensa, que pensei no existisse. Desejava que todos experimentassem
esse amor.
Sei que vives num tempo e numa poca onde o amor de Deus muito
necessrio. Nesta unidade ousa fazer a descoberta radical de Deus, do Amor que
existe no teu corao e no abrao dos que precisam de ti.
Teresa de Lisieux morreu na noite de 30 de setembro de 1897, com apenas 24anos.
Em 1920, foi declarada santa e mais tarde doutora da Igreja por causa dos seusbelssimos escritos, sobretudo a Histria de uma Alma, onde descreve o seu percursoespiritual de encontro com Deus.
Por causa do seu amor universal e do desejo profundo de que todos os sereshumanos encontrem Deus, foi proclamada padroeira dos missionrios, aqueles queanunciam Deus e partilham com os mais pobres uma vida simples. A festa de SantaTeresinha do Menino Jesus celebra-se a 1 de outubro.
Compreendi que s o amor faz agir os membros da Igreja. Compreendique o amor encerra todas as vocaes e que o amor tudo, abraa todos ostempos e todos os lugares Numa palavra, o amor eterno encontrei aminha vocao: o Amor!
Teresa de Lisieux
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unidade 2 51
A questo da existncia de Deus
A questo de Deus uma questo humanafundamental. De uma forma ou deoutra, todas as pessoas, questionando-se sobre si mesmas, sobre o sentido das suas
vidas, acabam por levantar a questo de Deus.A procura do Transcendente, da Divindade, do Sagrado, uma realidade humana
e universal. Sujeitas s mais variadas situaes existenciais, como a experincia dosofrimento, da finitude, da ausncia de sentido, ou, pelo contrrio, a experinciado encontro, da verdade, da felicidade, as pessoas acabam por se interrogar sobre aexistncia de Deus.
O ser humano um ser religioso. Desde sempre todos os povos procuram respostass questes profundas da existncia humana: Qual a origem de todas as coisas? Qualo destino ltimo de toda a realidade? Far sentido a vida humana perante a morte?Poderemos esperar o triunfo do bem sobre o mal?
Perante interrogaes como estas, Deus surge como a origem primeirae o fimltimo, no qual se encontra a bondade sem limites e a esperana de uma felicidadesem ocaso.
Deus Pai, por Artus Quellinus
POSIES FACE EXISTNCIA DE DEUS
Os ateus armamque no
Os agnsticosdeclaram que no
sabemOs crentes
acreditam que sim
Deus existe?
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8/11/2019 Manual Aluno 9.pdf
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unidade 22
O atesmoAtesmo uma palavra de origem grega composta por dois elementos: a(negao)
+ theos(deus), e significa literalmente sem deus. uma posio filosfica que negacategoricamente a existncia de Deus ou de qualquer divindade.
H vrios tipos de atesmo: desde o atesmo terico, que consiste na afirmaocategrica da no existncia de Deus, at ao atesmo prtico.
Mesmo o atesmo terico tem muitas variantes. De um modo geral, radicanuma conceo materialistada realidade (nada h para alm daquilo que se podeobservar, ou seja, do mundo material). Alguns consideram que o sofrimento humano insupervel e a existncia de Deus incompatvel com o facto de haver sofrimento.Tm uma conceo pessimista da vida (Schopenhauer). Para outros, a vida toabsurda, por causa do sofrimento e sobretudo da morte, que Deus no pode existir(Sartre). Outros ainda, consideram que Deus uma projeo dos desejos humanos(Freud) ou um instrumento de fuga diante da tragdia da vida (Nietzsche). H ainda
outros que, no conseguindo provas para a existncia de Deus (pelo menos, provascientficas), no esto dispostos a aceitar a sua existncia. Para estes, o mtodocientfico o nico que nos pode aproximar da verdade.
O atesmo prtico a atitude das pessoas q