lindenberg & life edição 39
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Confira na edição 39, da revista Lindenberg, matérias sobre a importância e variedade do brancoTRANSCRIPT
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paz na terra aos homens de boa vontade
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Saudamos o branco na arte, na arquitetura, na fotografia, na qualidade de vida
O ano de 2011 est chegando ao fim. Logo chegam as festas, as frias. A cidade se transveste de verde e vermelho, as cores do Natal. E nos perguntamos por que no ousar, fugir do lugar-comum?
Paz tudo o que se deseja para todos os anos. Paz no mundo, paz de esprito, paz de segu-rana em todos os sentidos. Brancas so a pomba e a bandeira da paz, e a cor que norteou esta edio da revista Lindenberg&Life.
Procuramos as muitas interpretaes do branco. Da arquitetura arte; da qualidade de vida ao turismo. E criamos uma revista que traz uma entrevista com Aurlio Martinez Flores, o arquiteto que nos anos 1970 introduziu o branco total nas casas dos paulistanos e influenciou, com seu estilo minimalista de construir, geraes de novos arquitetos. Con-vidamos o escritor e jornalista Ivan Angelo a usar o branco como tema para um artigo, o resultado um texto exclusivo e saboroso. To saboroso quanto os merengues, manjares e pavs das sobremesas brasileiras, ou os hotis de muitas estrelas em destinos brancos como a neve, a praia e o deserto.
Arte uma de nossas paixes, e para esse nmero trouxemos o perfil de Ernesto Neto, artista brasileiro reconhecido por suas esculturas orgnicas que fazem sucesso pelo mun-do. E convidamos o fotgrafo Roberto Cecato para clicar o ovo, o arroz, o leite, a pluma, a pedra, a concha e retratar o branco na natureza. Vale a pena conferir na pgina 40.
Se o que queremos para o futuro paz, o que ser que o futuro nos reserva? O holands Gert van der Keuken, brao direito de Li Edelkoort, a papisa das tendncias, esteve re-centemente no Pas e fala sobre o que esperamos para os prximos tempos. Entre as dire-es para onde sopram os novos ventos esto a revitalizao dos bairros industriais e sua transformao em reas multiuso, como aconteceu em Nova York, Londres, Moscou e est acontecendo em Osasco.
Adolpho Lindenberg Filho e Flvio Buazar
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08 Notas Novidades, lanamentos, livros16 Cidade O novo perfil dos bairros industriais28 Poticas Urbanas Arquitetura da lembrana30 Urbano Gert van de Kueken e o futuro das cidades38 Primeira pessoa Ivan Angelo, deu branco?40 Um outro olhar Roberto Cecato: a natureza em branco50 Entrevista Aurlio Martinez Flores, o mestre58 Arte Esculturas orgnicas de Ernesto Neto
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Job: whirpoolkitichenaid -- Empresa: DM9 -- Arquivo: 74355-026-KIT-Lindenberg-Life 23x30_pag001.pdfRegistro: 29018 -- Data: 15:00:33 25/05/2011
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66 Cozinha Doura branca70 Personna Como vive Kanduxa Zarvos Pereira78 5 Experincias O litoral brasileiro por Joo Lara Mesquita80 Qualidade de Vida Bandeira branca82 Turismo Destinos em branco: neve, praia ou deserto88 Filantropia Onde andam os bilionrios brasileiros?92 Prmio Dr. Adolpho Lindenberg: 50 anos de histria94 Vendo um Lindenberg 96 Em obras
uma publicao da Construtora Adolpho Lindenberg.
Ano 9, nmero 39, 2011
Conselho Editorial Adolpho Lindenberg Filho,
Flvio Buazar, Ricardo Jardim, Rosilene Fontes, Renata Ikeda
Marketing Renata Ikeda
Direo de arte Lili Tedde
Editora-chefe Mai Mendona
Colaboradores Ale Staut, Dulla, Felipe Reis, Instituto Azzi, Ivan Angelo, Joo Lara Mesquita,
Judite Scholz, Juliana Saad, Maria Eugnia, Marianne Piemonte, Marta
Santos, Patricia Favalle, Regiane Mancine, Roberto Cecato, Rosilene
Fontes, Valentino Fialdini
Revisor Claudio Eduardo Nogueira Ramos
Arte Tatiana Bond
Publicidade Cludia Campos, tel. (11) 3041.2775cel. (11) 9910.4427
Grfica Pancrom
Lindenberg & Life no se responsabiliza pelos conceitos
emitidos nos artigos assinados. As pessoas que no constam do expediente da revista no tm
autorizao para falar em nome de Lindenberg & Life ou retirar qualquer tipo de material para produo de editorial caso no
tenham em seu poder uma carta atualizada e datada, em papel timbrado, assinada por pessoa
que conste do expediente.
Lindenberg & LifeR. Joaquim Floriano, 466, Bloco C,
2 andar, So Paulo, SP, tel. 3041-5620 www.lindenberg.com.br
Jornalista ResponsvelMai Mendona (Mtb 20.225)
A tiragem desta edio de 10.000 exemplares foi auditada por PwC.
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IrreverenteA luminria lembra um imenso cacho de cerejas maduras que pende do teto. Feita de vidro colorido, causa um efeito curioso tanto apagada quanto acesa. A criao da designer eslovena Nika Zupanc, considerada pela imprensa internacional como uma artista de elegncia punk. A luminria chega ao Brasil com exclusividade na La Lampe. La Lampe, www.lalampe.com.br
Nada como um bom banho de imerso depois de um dia de estresse e correria. Se tiver hidromassagem, ento... Essa a ideia da Vetri, que traz uma banheira de acrlico branco, laterais de vidro temperado, reforo de estrutura de ao e fibra de vidro e tem apoiadores de brao de alumnio escovado. Mas no s. Pelo painel de controle remoto voc regula a quantidade de jatos, suas intensidades, faz, at, cromoterapia. Tudo de bom. Interbagno www.interbagno.com.br
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Jovem talentoCom 22 anos Gabriel Nehemy comeou a pintar. Seu sonho era viver de sua arte. Depois de um ano, passado em Londres decidiu entrar de cabea e alma no mundo das artes: frequentou dezenas de cursos ministrados por feras como Srgio Fingermann, Rodrigo Naves e Dudi Maia Rosa, enquanto ousava com cores fortes e traos soltos sobre telas que faziam sucesso. Entre uma venda e outra, exibia seu trabalho em mostras coletivas de vrios atelis em So Paulo, Ribeiro
Preto e Miami e, mais recentemente, na Feira Internacional SP-Arte, quando foi reconhecido como jovem revelao pela revista Bravo. Passados dez anos, depois de ter uma de suas obras adquiridas pela Pinacoteca Municipal Miguel Dutra, Gabriel se sentiu maduro para abrir seu ateli. A inaugurao do Atelier Aberto, com obras da produo de 2011, pinturas em tela, lona e fotografia, ser dia 30 de novembro. Ateli Aberto, Rua Zapar, 94, www.gabrielnehemy.com.br
Reciclado, acredita?Domingos Ttora navega entre a arte e o design, entre o funcional, o belo e a preservao ambiental. Da ter escolhido o papelo reciclado como matria-prima para seus vasos orgnicos, vendidos com exclusividade pela Benedixt. A tcnica, com todos os seus segredos, se resume basicamente na diviso do papelo reciclado em pequenos pedaos que so transformados em polpa, e depois moldados, mo, pelo artista. Lindos!Benedixt, www.benedixt.com.br
Tecido Maille, de Dominique Kieffer, Safira Sedas, www.safirasedas.com.br
Estao de listrasAs listras esto com tudo, seja na moda, seja na decorao. Branco e azul, ento, o must! A coleo Stripes, assinada pela designer americana Kathleen Gordon, foi inspirada nas linhas de um acordeom e dos aerofones do pai msico. Fabricada pela JRJ, aparece em nove opes de padronagem e tm largura dupla, o que ajuda muito na hora de forrar paredes ou poltronas e sofs. JRJ Tecidos, www.jrj.com.br
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As casas do JacarNo alto da encosta do Quadrado de Trancoso, de frente para uma das mais belas vistas daquele plat, e para o nascer da Lua cheia mais lindo que existe fica a Jacar do Brasil Casas, a pousada-casa do empresrio Fernando Droghetti (que foi dono da Jacar do Brasil, a loja de mveis e antiguidades mais descolada da Rua Melo Alves, lembra?). Um misto de hotel (por conta de todos os servios da melhor hotelaria) e de casa, com toda a privacidade e conforto de uma casa equipada com cozinha tev
de plasma, DVD, telefone celular com chip local, e mais governanta e servio de quarto se voc quiser). Ao todo so cinco casas, uma diferente da outra, com decorao assinada por Sig Bergamin e jardim de Gilberto Elkis, a rea externa independente e um deque de madeira se debrua sobre o mar e o cenrio que foi pedido a Deus. Jacar do Brasil Casas, tel. (73) 3668-1470, www.jacaredobrasilcasas.com.br
Desenho inditoDuas colunas cinzentas com bico de metal, elementos de ferro polido, hastes de lato polido, vidro. Esses foram os elementos usados pelo designer Franco Albini, em 1940, na criao da estante Veliero. O desenho dela nunca entrou em produo e s agora, em 2011, foi finalmente fabricada pela italiana Cassina. Poltrona Frau e Cassina, tel. (11) 3087-1234
Vaso Ascidia, de porcelana vidrada, design Holaria. Mix&Match, www.mixandmatch.com.br
Designer carioca, conceituado, Guto Indio da Costa, que comanda ao lado do pai o escritrio Indio da Costa, assina uma poltrona exclusiva para a Saccaro: a Arraia, dona de formas elegantes como as do peixe que a batiza. Uma estrutura de ao inox abriga o tranado de fibra natural que empresta a fluidez dos peixes poltrona.Saccaro, www.saccaro.com.br
Um peixe chamado poltrona
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Os mveis de Jackie Jacqueline Terpins sempre foi nica. Ficou conhecida por suas encantadoras e ousadas artes feitas de vidro. Agora ela se arrisca no universo do mobilirio, com peas como a mesa Besame Mucho ou o banco Centopeia. Merecem ser vistos na Dpot.Dpot, www.dpot.com.br
Tapete Marrocos, feito sob medida pela A Carneiro Home, www.acarneirohome.com.br
Tania Bulhes em livroMineira de Uberaba, Tania Bulhes cresceu cercada por lenis de linho, pratarias e louas de famlia. Dona de um bom gosto a toda prova, veio para So Paulo onde abriu a loja que virou referncia em mveis e presentes. Depois vieram as essncias para casa, as velas perfumadas, os pot-pourris. E l se vo 20 anos desde que tudo comeou. A marca, 100% brasileira, mereceu um livro que rememora essa histria, em texto assinado pelo jornalista Cesar Giobbi, fotos de Tuca Reins e imagens de arquivo. Editado pela Metalivros, o livro chega Livraria da Vila e s lojas Tania Bulhes, nesse ms de novembro. Tel. (11) 3087-0099, www.taniabulhoes.com.br Atacama
chiqueCom sua arquitetura de vanguarda, decor incrvel e servio de primeira, o Tierra Atacama um dos points mais bacanas para se hospedar na aventura de conhecer o altiplano chileno. Localizado a vinte minutos a p da charmosa vila de So Pedro do Atacama, o hotel tem projeto dos arquitetos chilenos Rodrigo Searle e Matias Gonzales e d um show de modernidade e sofisticao, unindo materiais e paleta nos tons locais.Conhecer os arredores programa obrigatrio, o hotel organiza passeios para pequenos grupos com guias locais pela belssima regio, e na volta, uma passadinha no SPA e seu menu variado de servios e a gastronomia top para os aventureiros chiques, obrigatria. POr Z renATO MAiA
Cinquentona na pistaA estao de esqui norte-americana Breckenridge, no Colorado, faz aniversrio. E as comemoraes de seus 50 anos comeam talvez antes de a neve chegar, no Facebook (www.facebook.com/Breckenridge), com a campanha 50 dias de prmios, ou seja: durante 50 dias ser sorteado um prmio por dia, e quanto mais perto da data da abertura da temporada, dia 16 de dezembro, mais valioso o prmio. Mas no s, outras novidades e prmios esto sendo preparados para 2012. www.snowusa.com
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Herana industrial
A fumaa e o apito das fbricas de outros tempos deram espao a bairros com personalidade e elegante arquitetura ao redor do mundo Por Marianne PieMonte
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Tijolos aparentes, amplas janelas e p-direito altssimo soam como msica quando essas caractersticas descrevem um lugar onde se morar. Para que todos esses itens estejam no pacote, fundamental que haja bastante espao. Esse sim, to escasso em cidades como So Paulo que se tornou objeto de desejo de muitos. Pode-se at dizer que nos grandes centros o espao tornou-se artigo de luxo. Eis que a cidade que no para fez mais uma das suas e est transformando antigos bairros industriais em locais para condomnios no estilo de clube ou de alto padro. Esse fenmeno no exatamente novo, outros lugares do mundo passaram por processos semelhantes que deram origem a bairros charmosos e cheios de perso-nalidade como TriBeCa, em Nova York, ou Southwark, onde est localizada a Tate Modern, em Londres. A criao desses condomnios tende a preservar a identidade dos bairros, revitalizam reas degradadas pelo abandono e (o mais bacana) ajudam a guardar a histria da cidade.
Na zona oeste, a Vila Leopoldina, que foi loteada em 1894 pela E.Richter&Company com um grande piquenique para 500 pessoas, abrigou durante 50 anos o Centro Industrial Miguel Mofarrej e mais dezenas de olarias. Hoje, a perspectiva da sada do Ceagesp da regio e a proximidade de reas como o Parque Villa Lobos, centros de compras (Vila Madalena e Pinheiros) e fcil acesso, tm transformado a regio, antes repleta de galpes degradados e ruas sujas, em um bairro de alamedas verdes com timas opes de apartamentos, charmosos restaurantes e lojas para se frequentar.
Ali pertinho, ao cruzar a ponte do Jaguar, est o municpio de Osasco, lugar que pro-mete abrigar futuros empreendimentos de alto padro. Nas colinas do So Francisco, um de seus bairros nobres, est o So Francisco Golf Club, o primeiro campo de 18 buracos da cidade. Fundado pelo conde Luiz Eduardo Matarazzo, era ali que ele e o modernista Victor Brecheret (1894-1955), autor do Monumento s Bandeiras, costu-mavam dar suas tacadas para acabar com o estresse do dia.
Skyline da cidade de osasco:
o futuro do outro lado do rio
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A histria desse histrico bairro industrial comea no sculo 19. Por volta de 1887, o italiano Antnio Agu convida o baro Dimitri Sensaud De Lavaud para ser seu scio e juntos inauguram a Companhia Cermica Industrial de Vila Osasco. Para alguns historiadores essa foi a primeira indstria da cidade.
Seguindo as margens do Tamanduate, rumo zona leste, esto os bairros que inte-graram a So Paulo Railway. Mooca, Brs e Vila Carro foram o bero de inmeras fbricas, tecelagens e usinas, alm de ter abrigado no passado as casas de seus ope-rrios e a residncia de boa parte da imigrao italiana que chegou a So Paulo.
Nem a fumaa das indstrias nem os apitos das fbricas podem ser mais ouvidos na regio, mas eles deixaram suas marcas: as principais festas tpicas italianas, como a de San Genaro, o Memorial do Imigrante, instalado em um galpo recuperado e preservado da poca, as casas de massas e a renomada (e deliciosa) doceria Di Cunto, com seu indefectvel sfogliatelle, um tradicional doce de massa folhada napo-litano recheado com creme de ricota, frutas cristalizadas e coberto com acar de confeiteiro.
Em 1891, o casal Antnio e Helena Zerrenner fundou na regio a Companhia Antrtica Paulista, outro marco para aquela parte da cidade. Hoje, com a desativa-o das antigas indstrias, fbricas e demais complexos deram lugar a pequenas lojas e imponentes condomnios, transformando a caracterstica do bairro que passou de industrial para de prestao de servios e residencial.
Pelo mundoO que acontece atualmente em So Paulo no novidade ao redor do mundo. O bairro de Southwark, s margens do Tmisa, em Londres, era uma regio de docas degradada at o comeo dos anos 2000. Prostituio e trfico de drogas, con-sequncias diretas do abandono, preocupavam o governo ingls. Era ali que tambm estava o suntuoso prdio da usina eltrica Bankside Power Station, com sua imensa turbina de tijolos aparentes, que funcionou at 1982.
A soluo encontrada para reverter essa situao foi instalar no prdio a Tate Modern, o museu de arte contempornea da famlia Tate. A ex-usina recebeu uma preciosa reforma do escritrio de arquitetura Herzog & de Meuron. Foram cuidadosamente preservadas a estrutura e a rea externa, internamente o imvel recebeu condies para abrigar moderna tecnologia capaz de preservar obras de nomes do expressio-nismo abstrato como Jackson Pollock (1912-1956) e Mark Rothko (1903-1970).
Com a inaugurao do espao em 2002, deu-se incio ao processo de revitalizao da regio, que conta hoje com lofts elegantes, normalmente habitados por jovens que trabalham na City, o centro financeiro da cidade. Nos finais de semana, nas ruas estreitas de paraleleppedos, a escurido e a sujeira deram lugar a um contingente de pessoas coloridas e interessadas em arte.
Restaurantes e hotis de charme e luxo tambm se instalaram na regio, que tem intenso fluxo de pedestres e tornou-se um espao disputado por quem est procura de moradia com estilo.
Southwark, bairro industrial de Londres,
revitalizado no ano 2000 (embaixo e ao
lado). abaixo, a galeria de arte tate Modern
instalada no prdio da antiga usina eltrica
Bankside Power Station
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O renascimento do Triangle Below Canal StreetTriBeCa, o bairro de Manhattan em Nova York, hoje famoso mundialmente por seus restaurantes e festival de cinema, nem sempre foi assim. Em meados do sculo 19 as residncias foram demolidas e no lugar delas construdos galpes que serviram como armazns e sedes de indstrias txteis. No entanto, um bom conjunto de casas de tijolos aparentes e tijolos e madeira ficaram bem conservados e por eles, prximos da Harrison Street, deu-se o incio da revitalizao nos anos 70.
Hoje, o que se v no extinto distrito industrial so os armazns convertidos em lofts e novos negcios que mudaram totalmente o perfil urbano da rea. O bairro considerado por muitos nova-iorquinos um dos melhores lugares para se morar, pelo baixssimo ndice de criminalidade, boas escolas, mais de 800 rvores plantadas em suas alamedas e timos restaurantes. O lendrio Nobu, por exemplo, um dos melhores japoneses do mundo, est em TriBeCa h 15 anos. Atualmente, suas ruas de paraleleppedos foram eleitas pela revista Forbes como o CEP mais charmoso e caro dos Estados Unidos.
triBeCa, em nova York, hoje considerado pela revista Forbes, o bairro mais caro e charmoso da cidade
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Lofts e pop artA histria do Soho nova-iorquino considerada por muitos urbanistas como um exemplo de regenerao do Centro da cidade, uma mudana que envolveu aspectos socioeconmicos, culturais e arquitetnicos.
No incio do sculo 19, o bairro era formado por uma rea de fazendas, colinas e crregos. medida que o Centro da cidade movia-se para o norte, aquele pedao ficava cada vez mais esquecido, um excelente depsito de lixo industrial. Por dca-das o agora elegante distrito teve o apelido de Hells Hundred Acres, ou algo como centenas de acres do inferno, devido quantidade de incndios que aconteciam com o lixo sem tratamento.
Foi nessa poca, entre 1840 e 1880, que se construiu o que viria a ser a charmosa marca do bairro. Nas fachadas eram usadas estruturas de ferro fundido, porque este era um material mais barato do que tijolo ou pedra, os mais usados no perodo. A dureza do ferro fundido permitia altos ps-direitos e elegantes colunas de apoio. Hoje, a coleo de 26 blocos e cerca de 500 edifcios formam o SoHo Cast Iron Historic District, um patrimnio histrico de Nova York, preservado por sua beleza e importncia arquitetnica.
SoHo, em nova York: de Hells Hundred acres a sofisticado distrito histrico, reduto de lofts, lojas bacanas e galerias de arte
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O vasto espao interno desses prdios (at ento abandonados e baratos), os trans-formou em objetos de desejo de artistas plsticos e galeristas nos anos 70. Como resultado dessa mudana de pblico, no incio dos anos 80 o SoHo era o lugar mais trendy da cidade. At hoje, importantes galerias da cena nova-iorquina mantm seus espaos no bairro, entre elas esto a Terrain Gallery (fundada por Eli Siegel, o cria-dor do realismo esttico) e a Pop International Gallery, que abriga obras de Andy Warhol, Keith Haring e Jean-Michel Basquiat.
Nas ruas de paraleleppedos, principalmente na rea norte, ao longo das ruas Broadway, Prince e Spring, esto os principais quarteires de compras com suas butiques high-end (entre elas Miu Miu, Chanel e a famosa loja de departamentos Bloomingdales), alm de cafs e restaurantes que no vero costumam colocar suas mesinhas na calada. Uma mudana que no deixou vestgios dos tempos de aban-dono e escurido.
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At tu, companheira RssiaDepois da desintegrao da Unio Sovitica, alguns bairros em Moscou deixaram para trs seu passado de chamins fumegantes. A poucos quilmetros de distncia do Centro, entre uma floresta de abetos, rvores robustas que podem medir at 50 metros, est Rublyovka. O bairro ficou famoso em 1910, quando Josef Stalin, um dos lderes do partido comunista construiu sua datcha (uma verso da nossa casa de campo, usada principalmente na primavera e no vero) por l. Mas foi apenas depois do 1991, com o final da URSS, que o distrito passou a receber condomnios que entraram para a histria como o lugar onde hoje esto as cinco propriedades mais caras do mundo, segundo a revista Forbes.
Naquela regio, onde esto pelo menos dois shoppings de luxo, quem compra uma casa ganha um helicptero. Moram por l o presidente da Rssia, Dmitri Medvedev, Mikhail Gorbachev, oligarcas e celebridades moscovitas.
Arquitetos do mundo inteiro so convidados para construir casas dignas de Hollywood Hills, no entanto, como no acontece na Califrnia, voc ainda corre o risco de ficar preso no congestionamento (de no mnimo trs horas) quando Vladimir Putin, ex--chefe da KGB, ex-presidente e o atual primeiro-ministro do pas, e um dos ilustres moradores da regio, sai para fazer sua corrida matinal. Por ali, a polcia para todo o trnsito por uma questo de segurana nacional. Algumas heranas podem at demo-rar a serem modificadas, mas que esse processo no tem mais volta, isso no tem.
Depois da desintegrao da UrSS, rublyovka, o bairro onde Stalin cronstruiu sua datcha, hoje abriga as casas mais caras do mundo
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Visitei uma exposio de arte contempornea onde havia uma grande sala com a fotografia de um rosto de uma nica criana, imagem repetida cem vezes.
A obra chamava-se Cem vezes Nguyen.
Era uma espcie de lbum de recordaes da visita do artista plstico Alfredo Jaar a um campo de refugia-dos vietnamitas. O rosto da pequena Nguyen no era apenas uma identidade, mas comunicava a histria de todas as crianas nascidas nos campos. O museu per-mitia ao artista fazer o seu comunicado por meio da arte. O artista era um mediador entre a menina viet-namita e o visitante, e aquela revelao subjetiva nos levava a pensar em um mundo mais justo.
Lembrei-me de uma arquiteta chamada Maya Lin que, aos 21 anos, e ainda estudante de arquitetura, concorreu com 1.400 profissionais entre arquitetos e artistas experientes, e ganhou o concurso para dese-nhar o memorial aos mortos na guerra do Vietn. O seu projeto representava um corte na terra tendo encra-vada uma parede feita de granito preto polido listando o nome de 58 mil mortos e desaparecidos em combate. Para ela essa obra simbolizava uma ferida que deixou uma enorme cicatriz na histria da nao.
Diante de um monumento como este, que muitos diriam ser uma escultura, porque cham-lo de arquite-tura? Mas, o que arquitetura?
H inmeras definies para arquitetura, mas no con-texto acima escolho a definio do filsofo e terico Nelson Brissac:
Arquitetura tudo. As cidades e os objetos, o grande e o pequeno, cenrios histricos e cenas ntimas. Todas as coisas em torno, rearticuladas em novos contextos segundo a experincia, o imaginrio e a memria.
Neste caso, sendo uma arquitetura que se destina a transmitir ou a perpetuar para a posteridade a lem-brana de um acontecimento, ela , portanto, um monumento. a arquitetura levada para alm de si prpria, que deixa de ser um abrigo, um lugar para morar ou trabalhar, para ser um lugar de trnsito, de passagem, e de milhes de visitas, o que resulta em experincias coletivas diversas: memrias, sensaes, conhecimento, conscientizao, at mesmo experin-cias que se transformam em fotografias, cinema, arte.
No dia 11 de setembro de 2011, no espao em que as tor-res gmeas ficavam, foram inauguradas duas enormes fontes de 4 mil metros quadrados, com quedas dgua de 9 metros rodeadas por um parque. Os parapeitos das cascatas apresentam os nomes das 2.983 vtimas dos ataques. Para o arquiteto Michael Arad, que con-cebeu o projeto, o objetivo transmitir o desespero, a tristeza e o medo daquele dia e transform-los em compaixo, resoluo e determinao. A arquitetura servindo a um acontecimento, constituindo ela pr-pria um evento.
Quando estamos diante de uma arquitetura como esta, mesmo que no saibamos o que aconteceu, ela con-segue transmitir uma emoo, a arquitetura mais intensa, mais pura porque se identifica com o aconteci-mento, como diz o arquiteto Aldo Rossi.
uma arquitetura que transmite a paz, porque uma lembrana. a arquitetura dramatizando o aconteci-mento em poesia.
Cabe a ns, leitores das paisagens urbanas, sermos capazes de entender, de guardar, de honrar e no esquecer que aquela bela arquitetura, smbolo de algo triste, representa uma nova vida, uma nova era.
Arquitetura da lembrana
Seria um monumento uma escultura ou, mais do que isso, o abrigo de um acontecimento? Por rosiLene Fontes | iLustrAo MAriA eugeniA
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Li Edelkoort pode ser chamada de a guru das tendncias. Seu brao direito, Gert van der Keuken esteve no Brasil, fez palestra para a LDI, para os alunos da Escola So Paulo, e conversou com a revista Lindenberg & LifePor Mai Mendona | Fotos FeLiPe reis e trendUnion
Previso do futuro
Conexo a palavra. Banco design Felhing & Pelz
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Em sua rpida passagem por So Paulo, o diretor artstico da TrendUnion Gert van der Keuken, brao direito de Li Edelkoort, conversou com a equipe da LDI e alguns convidados. O tema no pode-ria ser outro: tendncias, modo de viver, arquitetura e urbanismo.
Reconhecida como um orculo de tendncias mun-diais, seja na moda, na decorao, na arquitetura, no comportamento, e at mesmo na indstria automobi-lstica, entre inmeras atividades, Li Edelkoort e seus colaboradores tm o dom de prever o que vem por a. No se trata de adivinhao, mas da anlise profunda do comportamento humano no presente, e de suas ver-dadeiras necessidades e desejos para o futuro, explica o holands Gert van der Keuken, resumindo as mlti-plas atividades e o modo de trabalhar da TrendUnion, um escritrio enxuto, com algumas poucas cabeas pensantes e superantenadas.
Em sua breve palestra, Gert traduziu em imagens o que a TrendUnion prev para o futuro. E em uma conversa pelo skype com a revista Lindenberg & Life foi categrico: o mundo pede mudanas. E essas mudanas se traduzem em um novo tudo. Um novo jeito de viver, de morar, de participar, de pensar, de resolver problemas, de se relacionar. O mundo, e aqui leia-se as pessoas, quer dar um basta ao medo, corrupo, aos desmandos polticos e econmi-cos, s diferenas sociais, ao desrespeito ambiental. O mundo precisa reinventar seu futuro.
E como a TrendUnion constatou essa necessidade? Pela simples observao do que anda acontecendo hoje, pelos movimentos espontneos que esto nas ruas, pelo prmio Nobel que foi concedido a trs mulheres que lutam pela paz e igualdade em seus pa-ses, pelas atitudes em relao ao meio ambiente, pelo pensamento dos jovens, explica.
Gert van de Keuken em palestra
para a Ldi
ao lado Parasite, Marina Faust,
produzida para a exposio talking textile, curadoria
por Li edelkoort, no espao Gianfranco
Ferre, em Milo
ESTamOS TODOS
cONEcTaDOS DE aLGUma
maNEIRa, E SOmOS
afETaDOS POR ESSa cONExO,
SEja ELa BOa OU NO.
Viso de um futuro mais orgnico: evolution, pea de nacho Carbonell para a exposio curadoria por Li edelkooort,
Moscow design week 2011
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Traduzindo essa constatao em tendncia, existe algo de muito novo e fresco no ar. mesmo que o caminho parea dizer o contrrio e aponte para uma volta ao ninho, ao prazer de sentir-se protegido e aconchegado em um mundo to violento quanto o atual. Esse movi-mento no significa introspeco, alienao, mas a redescoberta de valores como famlia, amigos, quali-dade de vida em todos os sentidos. Quer dizer coletivo em vez de individual, juntos e no cada um por si.
Existem movimentos como a Bauhaus, por exem-plo, acontecendo? a novidade no ar est no coletivo. muitos escritrios de arquitetura, por exemplo, so identificados por letras que representam a abrevia-tura do nome dos scios, que podem estar em qual-quer parte do mundo, e se comunicam virtualmente. antes o comando estava na mo de uma estrela que brilhava sozinha. j no mais assim. O que brilha a obra, o resultado final, o bem maior, e a equipe por trs daquele projeto, analisa Gert van der Keuken, quando a pergunta se refere a globalizao.
1. Livro de tendncia de arquitetura
2. Cadeira Cow dugn, de Karin Frankenstein,
para a exposio organic dwellign, sediada na
semana de design de Moscou
na pgina ao lado, o mundo precisa ser
mais macio: almofadas e tecidos de Mohair, da
frica do sul
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1. Cadeira irmos Campana
2. alho-por fotografado para o editorial da revista Bloom, produzida pela trend Union
3. algodo natural fotografado para o editorial da revista Bloom, farm of the future produzida pela trend Union
na pgina ao lado, bancos de madeira de Lenneke Langenhuijsen para a exposio em Milo
Estamos todos conectados de alguma maneira, e somos afetados por essa conexo, seja ela boa ou no.
E arquitetonicamente falando? O futuro aponta para uma nova postura em relao s construes, sejam elas casas, edifcios, escritrios, shoppings e etc. a tecnolo-gia se somar s tcnicas ancestrais, materiais ecologi-camente corretos sero cada vez mais utilizados, assim como crescer a preocupao com o impacto ambien-tal. moradia, trabalho e lazer em um nico espao sero a bola da vez. as formas estaro cada vez mais limpas, os espaos e mobilirio mais aconchegante, e no haver regras e modismos a serem seguidos: cada
um viver como quiser. a casa ganha o status de ninho, de porto seguro para famlia e amigos, um espao de lazer. Enquanto o consumo desenfreado ser substi-tudo pelo consumo consciente e inteligente. tudo muito novo, muito fresco, e ainda no podemos dizer como essas mudanas acontecero. mas tenho certeza de que ser interessante passar por essas mudanas.
Para o Brasil o senhor tem algum conselho? acreditar mais em seu potencial em vez de tentar copiar o modelo americano. O Brasil um pas maravilhoso, rico em possibilidades, e deveria aproveitar o momento que est vivendo para operar internamente mudanas essenciais.
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VOLTAS EM VOLTA DO BRANCO
TexTo Ivan angeLo | ILusTrao MarIa eugenIa
especial para a revista Lindenberg
Branco o papel antes da ideia, a tela do computador antes do poema, do romance, da carta, do desenho, da sentena! o ponto de partida, desafio.Que coisa o branco? O branco vrio que se imprimiu na retina de cada um, que diz a cada um uma coisa, e que a Fsica insuficiente para explicar que coisa para voc?Branco o lenol antes da noiva. o bilhete de loteria de quem no teve sorte.Branco o quadro abstrato do pintor russo Kasimir Malevitch, Branco sobre branco, a provar que sempre existe um branco mais branco que outro branco e existe outro menos branco, e ento como que fica, meu branco?Branca era a Grcia antes de Roma acrpole de mrmore ao sol, barcos brancos riscando o azul, casas clareadas pela cal, mulheres de tnicas brancas espera de qualquer tragdia.Branca a bandeira da trgua, a pomba da paz. a tela antes da lambida do pincel, a toalha da mesa antes do molho, a falha da fala ou do falo: deu branco!Branco o envelope antes do endereo, o roupo de banho do hotel cinco estrelas, o avental do mdico antes do corte!O leite, o arroz, o ovo, o acar, o sal, a farinha, cada qual tem seu branco particular e distintivo, o branco aprisionado do leite no copo, o aconchegado do arroz fumegante, a enganosa vestimenta do ovo, o reluzente Swarovski do acar cristal, o confundvel branco do sal, o domingueiro da farinha, brancos s at a chegada da fome, que negra, e os consome.H coisas cujo branco nos marcou, e onde esto? a roupa ntima, cuja brancura foi destronada pelo arco-ris; o terno branco tropical, coitado, relegado a figurino; a banda externa dos pneus de luxo; a lua cheia urbana, amarelecida pela poluio; o hbito das freiras, que j no um hbito, me perdoem o trocadilho; a luva pop de Michael Jackson; a camisa branca dos escritrios, de perdida unanimidade; os muros e as paredes vitimados pelos pichadores, pois os brancos so preferidos, onde mais ressalta a sua insnia.
H smbolos de dignidade esmaecidos, como os cabelos brancos, pois temos visto tantos velhinhos marotos... H boas-vindas perturbadoras nos dentes brancos de um sorriso... h brancas surpresas guardadas nos escondidos do corpo de certas mulheres que desvelamos... h brancos de calma silenciosa a coroar a eloquncia do gozo...Ns nos habituamos simbologia cerimonial do branco: paz, castidade, pureza, f, iniciao; a pomba, o vestido da noiva, a camisolinha dos anjinhos mortos, as toalhas dos altares, as vestes do batismo, da primeira comunho, do candombl. Mas h representaes mais estridentes, como o cavalo branco dos heris, que simboliza majestade e beleza vitoriosa, desde o alado Pgaso mitolgico ao vistoso cavalo do mocinho dos bangue-bangues do cinema, passando pelo fogoso corcel do quadro Napoleo cruzando os Alpes, pintado por Jacques-Louis David, empinando-se glorioso no alto da montanha nevada. (Quando meninos nos perguntavam: Qual a cor do cavalo branco de Napoleo? Se dizamos branco levvamos vaia, o certo era branca, a cor.)Branca de Neve no s uma historinha que chegou at ns vinda do folclore medieval do norte da Europa, compilada junto com outras histrias pelos alemes irmos Grimm. Folclore sempre um emaranhado de smbolos. A menina-moa branca como a neve, adormecida por uma ma envenenada como se morta estivesse, e guardada num caixo de vidro, vestida de branco dos ps cabea, smbolo da pureza feminina que se guarda para a iniciao. Entrada na adolescncia, Branca de Neve hiberna (a neve...), espera adormecida chegar o seu momento de desabrochar, aguarda o prncipe que a far despertar com um beijo, para ser mulher.Ah, faltou falar do leno branco do adeus. Est falado.
Ivan Angelo mineiro, jornalista, cronista e romancista, autor de A festa,
romance premiado com Jabuti de 1967 e a Casa de vidro, entre outros.
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Ciclista na Praa Roosevelt
Natureza em branco Existe um branco mais branco? Qual o verdadeiro branco?
O que branco? Fotos RobeRto CeCato
Uma superfcie branca quando reflete a luz e as cores do espectro solar, deduziu Isaac Newton em 1669. J os fsicos da atualidade no o reconhecem como cor e sim como a ausncia dela. Mas o olho humano sensvel a dezenas de tonalidades e matizes de branco, que, por exemplo, no passado na ndia eram sete e para os japoneses, seis. E para ns seria o branco puro aquele do algodo que cresce nos campos, ou da l dos carneiros que pastam solenes? Seria a nuvem que corre no cu ou a espuma da onda que quebra na praia? O ovo, a concha, a pluma, a flor, o pelo do coelho...
Convidamos o fotgrafo Roberto Cecato, recm-chegado ao Brasil depois de longa temporada vivendo em Milo, para retratar o branco na natureza e suas sutis diferenas. O resultado um exclusivo ensaio fotogrfico surpreendente.
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Simplese contundente
Os passos cadenciados porm precisos de Aurlio Martinez Flores revelam a trajetria de um homem que ainda hoje capaz de surpreender pelo pioneirismo Por Patrcia FavaLLe Fotos FeLiPe reis e arquivo PessoaL
Enquanto os edifcios do lado de c do Equador se curvavam aos enredos de Oscar Niemeyer, o mexicano com sangue basco e alma brasileira Aurlio Martinez Flores preferia validar as linhas delineadas pelo conterrneo Luis Barragn, cuja inspirao soma a racionalidade da Escola de Bauhaus profuso dos regionalismos latinos. Foi com essa equao que o expert, nascido na cidade de Puebla, numa tradicional famlia de fazendeiros e bacharis de Direito, abandonou a faculdade de Medicina ainda no primeiro ano para seguir os desgnios da arte. Arqui-teto precisa nascer arquiteto; um talento nato, avisa.
Mas muito antes de se aventurar pelas pranchetas de um escritrio de verdade, ele desfilou a aptido pela vizinhana local. Aos 16 anos se ps a arrumar a vitrine da loja que ficava na parte inferior da construo que tambm abrigava a sua residn-cia. O resultado foi to encorajador que os proprietrios o escalaram para assinar a concepo do novo endereo um sobrado de dois pavimentos, que o rapaz tratou de repaginar com a remoo das janelas e aposta em um visual clean, caracterstica que o acompanharia por toda a vida. Li que a iluminao natural no era importante para o comrcio. O que valia era a luz artificial, pois fazendo sol ou fazendo chuva a atmosfera seria a mesma.foto
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Maquete de residncia em So Paulo Fachada do restaurante Gero, em so Paulo Residncia Martinez Freyssinier
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Apaixonado pelos contornos puros e f confesso de Mies van der Rohe, durante os estudos acadmicos escolheu ser orientado por Jorge Gonzales Reyna, que fora aluno de Richard Neutra, nos Estados Unidos. Suas habili-dades foram aprimoradas entre 1957 e 1964, perodo em que encampou diversos planos at ser convidado a trabalhar na Knoll, uma representao que detinha a licena para reproduzir cones de Le Corbusier, Eero Saarinen, Harry Bertoia, entre outros. Essa foi a razo de ter aceitado o desafio, justifica.
Sangue latinoTempos depois, ele se transformou no responsvel pela montagem da linha de produo em solo nacio-nal. Existiam duas propostas para fabricar os itens da Knoll; uma delas, a que venceu, era da Forma, e por causa da lngua portuguesa ser mais parecida com o espanhol (os norte-americanos acreditam que o idioma o mesmo!), acharam que eu teria mais faci-lidade para tocar o negcio. Essa a histria de como vim parar no Brasil, de incio, para uma temporada de apenas trs meses.
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Com um pedao do arame entrelaado da Bertoia a tiracolo, Aurlio precisou encontrar cada pea para montar o engenhoso quebra-cabea que se descorti-nava no horizonte. O mobilirio levava at um ms para ficar pronto, no havia tecnologia ou gente espe-cializada, era um processo manual que s deu certo por causa da indstria automobilstica que chegava ao Pas naquele mesmo momento. at engraado, mas a coisa s saiu do papel por razo desse detalhe.
Contudo, nem as dificuldades iniciais foram capa-zes de apagar o sorriso do seu rosto. Na verdade, os ares tropicais impulsionaram tambm outras frentes, e logo ele inaugurou a InterDesign em parceria com dois scios, o publisher Luis Carta e o escultor grego Nicolas Vlavianos.
Preferido pelo banqueiro e diplomata Walter Moreira Salles, o arquiteto foi escalado para repaginar suas moradas em So Paulo, Rio de Janeiro e Nova York, alm de ter idealizado as sedes do Instituto Moreira Salles, em Poos de Caldas, e da Companhia Brasileira
de Metalurgia e Minerao, um sutil retngulo ladeado por painis de vidro e pontuado por rvores nativas, em plena Avenida Juscelino Kubitschek, na capital pau-lista. Gosto de criar sem amarras, o pensamento no permite limitaes, avisa. Questionado sobre a insta-lao feita sua revelia do heliponto ancorado no topo do prdio, ele no esconde a insatisfao: O direito autoral tem que ser respeitado.
Na dobradinha entre o eixo Rio-So Paulo, assinou os ambientes do badalado Gero, restaurante do Grupo Fasano, conservando a estrutura clssica e o dcor atemporal. Em outras empreitadas, fez as peas de design do primeiro ap de Washington Olivetto e o layout inteiro da cobertura que o publicitrio arrema-tou. Nas pausas entre as investidas, se lanou na odis-seia de planejar mveis.
mexicanaEmbora ativo, a rotina na ltima dcada mudou por orientao mdica, Aurlio j no d expediente todos os dias no escritrio; vai duas ou trs vezes por semana, sempre depois das 15 horas, quando o trajeto entre a Granja Viana e os Jardins pode ser percorrido em menos de trinta minutos.
Depois de passar pela pesada porta na lateral do antigo predinho e subir os degraus enviesados, o humor sagaz e inteligente do dono do pedao se faz presente tanto no pano de cho, matreiramente a postos, coberto por monogramas LV Lus Vito como na tirada rpida que no d chance de controlar o tom da gargalhada.
Num caminho labirntico, os diferentes recintos se abrem com amontoados de livros, revistas, croquis,
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casa Jos Zaragoza, so Paulo
Casa Jos Zaragoza, Guaruj
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quadros, gravuras, maquetes e objetos de arte. No fim do corredor, o espao principal se alinha harmo-nicamente a partir da sala de reunies, que tem mesa Saarinen com tampo redondo de mrmore branco, sal-teada por cadeiras Brno, esquematizadas por Mies, em 1929, e paredes revestidas de linho cru. Ao fundo, o retrato do bisav materno, Sr. Aguirres, emoldurado por folhas robustas de jacarand, d a nota discreta ao cantinho priv.
Aurlio faz questo de manter a simpatia e a elegn-cia. Faz gestos moderados, fala pausadamente com sotaque carregado de erres e tem memria invej-vel; cita pessoas, lugares, datas e fatos com a rapidez de um menino. Da o gosto pela arquitetura coisa de infncia, sacado da lembrana com os pormenores ainda frescos: Eu era fascinado pelos aeromodelos de madeira, que vinham com projetos desenhados e uma pequena explicao para a montagem. Devia ter uns dez anos, eu acho... Mas certamente foi isso que me ensinou a ler plantas.
residncia Martinez Freyssinier e companhia Brasileira de Metalurgia e Minerao, em so Paulo
ao lado, casa de cultura de Poos de caldas e apartamento no rio de Janeiro
que nem sequer sei desenhar janelas e portas. Na con-tramo da modstia, a casa Zaragoza, no Guaruj, listada como uma das mais importantes do movimento contemporneo. Tudo por conta da perfeita composio de volumes simtricos intercalados, do ptio interno vigoroso e da fachada retilnea. A esttica se define pela lgica, resume o autor.
Aurlio Martinez parece realizado. O discurso coe-rente, agradecido de alguns, entristecido de outros (mas isso ele no comenta). Pensa antes de expor opi-nies desfavorveis; detesta polmicas. Mas eu insisto. Peo um nome para ilustrar a arquitetura do sculo 20. Ele reluta, em seguida mergulha num instante de silncio e revela: Alberto Campo Baeza. De pronto, a resposta quase esperada, j que a singularidade do espanhol, que aplica tecnologias inovadoras s construes minimals, lembra (e muito) o portflio do prprio interlocutor. Todavia, o quase tem aqui uma particularidade enquanto Baeza tece conjuntos escultricos, Flores experimenta a vanguarda inerente ao seu pensamento. Enfim, no h esforo para ser mestre, h esforo para ser aprendiz.
Adepto do desenho franciscano, que ele define como a ausncia dos colonialismos e das ostentaes, e abso-luto no uso do branco sim, a cor permite intercesses incisivas, Aurlio norte para muitos bambas do mer-cado, dos quais os ex-alunos Isay Weinfeld e Marcio Kogan. No entanto, ele se apressa em dizer que mesmo lisonjeado, no se sente o tal. Creio que servir de referncia um termo de reconhecimento, entretanto, o mrito dessa gerao brilhantismo que pertence a ela, no a mim. (...) Por sinal, fao caixas cegas por foto
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ADEPTO DO DESENHO MINIMAL, DO BRANCO, AURLIO MARTINEZ FLORES O REVERSO DA OSTENTAO
Aurlio Martinez Flores foi mesmo generoso e nos deixou vontade para desvendar segredos e refazer o caminho que o trouxe at aqui. Nas entrelinhas, o mexicano radicado no Brasil desde meados dos anos 60 contou detalhes sobre a sua chegada aos trpicos, o cenrio que encontrou e os projetos que lhe rende-ram um dos portflios mais importantes da arquite-tura contempornea. E no parou por a; depois de resgatar algumas boas memrias, ainda falou sobre os prximos captulos que devem abrilhantar a sua obra.
o senhor descende de uma famlia de advogados... No houve presso para que seguisse a profisso?
Num primeiro momento sim, at porque era inadmissvel para o meu pai que algum pudesse viver da arte. Mas com o passar do tempo, acredito que ele tenha entendido qual era a minha verdadeira vocao.
quando realmente se deu conta de que o seu futuro estava na arquitetura?
Nasci com essa ideia obsessiva de ser artista (risos). L pelos 14 ou 15 anos, comecei a trabalhar numa loja montando as vitrines e os ambientes internos. E muito antes de me formar na faculdade, j assinava projetos residenciais para alguns familiares.
quais so as suas referncias na arquitetura? Tenho ascendncia basca, ento, gosto de traos
vigorosos, ptios internos e layouts que causem surpresa. Nesse sentido, me identifico com [Luis] Barragn e [Ricardo] Legorreta, que tambm tm origem basca. Contudo, na arquitetura, gosto de Mies van der Rohe e de outros representantes da Bauhaus.
o Mxico produziu arquitetos incrveis no ltimo sculo. como o senhor avalia o trabalho de conterrneos como Barragn e Legorreta?
como lhe disse, a minha ligao com os trabalhos de Barragn e Legorreta s se mantm por causa da herana basca, que nos deixou como legado, as suas construes fortes e, ao mesmo tempo, acolhedoras.
se pudesse eleger o maior gnio da arquitetura do sculo 20, quem seria?
Pergunta complexa... Mas se tenho que responder, eu diria que o Alberto Campo Baeza.
o seu trabalho em especial pelo uso do branco absoluto pode ser definido pelos preceitos da escola Bauhaus?
O branco acabou se tornando a cor do modernismo, que rompeu com os padres estticos
superornamentados para enfatizar a forma bruta. Uso o branco por questes meramente estilsticas, ou seja, a tonalidade permite ousar e ainda assim manter a elegncia.
No Brasil, dentro da safra que temos hoje no mercado, quem chama a sua ateno?
Isay Weinfeld e Arthur Casas.
Por sinal, como o senhor chegou ao Brasil? e porque resolveu ficar?
Vim para montar e coordenar a linha de produo da Forma, que havia conseguido a licena para reproduzir os mveis da Knoll. No processo todo de instalao e de seleo da mo de obra, a empresa percebeu que ter um arquiteto alinhado ao mercado seria um excelente investimento, e foi ento que me convidaram a ficar.
De todos os seus projetos feitos por aqui, quais destaca pelo pioneirismo?
A Casa Zaragoza e o prdio da Companhia Brasileira de Metalurgia e Minerao.
o senhor j declarou publicamente que faz caixas cegas porque no sabe desenhar janelas. alguma vez imaginou que essa pequena falha se transformaria nas bases para chancelar o movimento arquitetnico contemporneo?
No ntimo, todo artista quer dar uma contribuio humanidade, mas acredito que as caixas cegas sejam apenas parte de um montante entretanto, vale dizer que eu no as inventei; como sempre acontece na histria, vivemos em constante adaptao: No mundo nada se cria, tudo se copia.
o senhor chegou a desenhar uma linha de mveis inspirada em grandes clssicos do design, caso da chaise de Mies van der rohe. H outras investidas nesse segmento?
Sim, assinei uma linha de mveis feita de lona de caminho usada, que faz parte do catlogo da Conceito: FirmaCasa.
No que est trabalhando atualmente? Estou envolvido na elaborao de um projeto
residencial para um grande colecionador. Tambm penso em atualizar o livro Aurlio Martinez Flores: Arquitetura (Bei Editora), que foi organizado e escrito h dez anos.
conversa com o eterno aprendizfo
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Mesa Beba com moderao; poltrona sP 270 e cadeira MF
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Com formas que desafiam a gravidade, as imensas esculturas e instalaes do carioca ganharam o mundo Por Marianne PieMonte
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Ele tem um jeito todo carioca de ser. Parece aque-les amigos com quem voc vai ficar horas bebe-ricando na mesa do bar. Aos 47 anos, quando Ernesto Neto trabalha, ele parece brincar com formas e cores como poucos escultores de sua gerao. Talvez seja isso, a descontrao, que o diferencie. Segundo um crtico do jornal ingls The Guardian, para brincar como ele faz preciso ser artisticamente bastante adulto. E ele . Suas obras ganharam reconhecimento internacio-nal e exibies individuais nos mais importantes cen-tros de arte do mundo, como o MoMA, de Nova York, o Pompidou, em Paris, o Museo Nacional de arte Rai-nha Sofia, em Madri, duas bienais de Veneza e duas de So Paulo. Entre os dias 8 de dezembro a primeiro de abril de 2012, uma grande retrospectiva dedicada a ele, chamada La Lengua de Ernesto, que contar com 50 trabalhos, ser mostrada no Museu de Arte Contempo-rnea de Monterrey, o MARCO, na Cidade do Mxico.foto
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Neto nasceu e cresceu no Rio. Queria ser astr-nomo, mas em meados dos anos 80 desistiu da ideia e inscreveu-se na Escola de Artes Visuais do Parque Laje, o belssimo instituto que fica aos ps do morro do Corcovado. considerado pelos crticos de arte como parte do movimento neoconcreto brasileiro, que teve como antecessores os concretistas Lygia Clark e Hlio Oiticica.
Seu trabalho, que normalmente so esculturas espa-ciais imensas, tem formas que podem sugerir partes do corpo humano. No so masculinas nem femininas e lanam mo de materiais como algodo, lycra, espuma e at especiarias. Neles ele prope relao orgnica entre natureza, arte e geometria. Obras que so espon-taneamente sem estticas, como a festejada Leviathan Thot (2006) que tomou conta do Pantheon, em Paris. Imagine gigantescos sacos de lycra, aquele material da trivial meia-cala feminina, em branco, pendurados no teto e repletos de lavanda, gros de caf, aafro e outros condimentos. Os cheiros dessas especiarias so, segundo o autor, aromas que evocam a memria afe-tiva e encorajam integrao humana. Pense em gotas disformes que resistem em cair. Na poca, o crtico do jornal ingls The Independent descreveu a experincia de ver essa obra como um passeio pelo cenrio do cls-sico da fico cientfica Viagem Fantstica (1966), com Raquel Welch.
A obra chamou a ateno de toda a Europa e teve visi-tao extraordinria. No entanto, enquanto fazia uma escultura para o Instituto de Arte Contempornea de Inhotim, em Minas Gerais, ele contou, brincando, que durante a produo sabia todas as cores e tamanhos de meias-calas que havia na orla carioca. esse tom de brincadeira e de aconchego que predomina nas obras de Neto. Meu objetivo envolver as pessoas, tomar conta delas como se fossem bebs. Os meus espaos so reas de compreenso do mundo fsico, da textura, do peso, da cor e da alegria ou tristeza. So espaos de relao afetiva com o mundo.
Tamanha a afetividade impressa em seus trabalhos que, em 2000, ele se casou praticamente dentro de uma de suas esculturas brancas transparentes, a estrutura que recebeu o nome de tero Capilla, ou capela tero.
Ernesto Neto passou os ltimos veres montando e expondo em espaos como a Hayward Gallery, que fica no complexo do SouthBank, s margens do Tmisa, em Londres. Em 2007, sua Navedenga (1998), outra imensa estrutura de tecido elstico branco, com esp-cies de sacos dependurados, foi comprada pelo Museu de Arte Moderna da Nova York, o MoMA. Parece que o artista ainda tem mais repercusso fora do Brasil, mas ele diz acreditar que suas obras so universais. Claro que tambm somos cultura, mas todos ns temos que ir ao banheiro e comer. Estou realmente interessado no que temos em comum, disse em uma entrevista. Simplificando ainda mais, de maneira que s mesmo os cariocas conseguem, ele falou sobre o prprio trabalho: Escultura qualquer coisa que fique em p, j arte o que acontece entre voc e aquilo ali.
No incrvel? Por essa razo, essa a relao que ele acredita que deva haver entre a obra e quem est diante dela. Os admiradores de Neto nunca so passivos, ou meros observadores posicionados a alguns passos da linha amarela (aquela que define o espao regulamen-tar de proximidade nos museus). Eles so convidados a participar, a sentir, em alguns casos at vestir as escul-turas. Como na srie de esculturas Phitohumanoids (2007), em que ele propunha que a escultura fosse um prolongamento do corpo humano.
Anthropodino em dois momentos:
completa e detalhe
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Da abstrao romena ao cocoA inspirao para a obra de Neto pode estar em todo lugar. Suas referncias clssicas so o escultor romeno, pioneiro na abstrao, Constantin Brncusi, o italiano Giovanni Anselmo e o moderno americano Richard Serra. No Brasil, os concretistas cariocas so sua turma, mas seu olhar pode estar em qualquer lugar. No ano passado, Neto fez um manifesto contra a tentativa de embalar o coco verde, aquele vendido nas barraqui-nhas de Copacabana. O manifesto uma espcie de rap, cantado por ele, que invadiu o Youtube. A letra diz eu quero coco natural, cortado na machadinha a gente v se est legal. Para ele, a fruta encontrada com far-tura na nossa orla , por si s, uma escultura. Me inte-resso pela inteligncia popular. O povo brasileiro to inventivo que impossvel seguir as regras aqui. Por isso, preciso mostrar a beleza de nossa sociedade que con-segue se construir alm das instituies e do Estado.
Assim segue Ernesto, um carioca internacional, que est revolucionando a escultura com suas formas que brincam com a gravidade e que encontra tempo para fazer rap protestando contra a possibilidade de embala-gens para o coco verde. Humanides
ao lado, Antes que eu te engula
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Doura BrancaPrimeiro doce alimento que se guarda na lembrana, o leite ingrediente fundamental em grande parte das receitas das sobremesas brasileiras. ele que traz a cremosidade, que d o ponto, e empresta sua cor aos manjares, s cocadas, aos merengues ou glacs. Uma mesa toda branca a nossa sugesto para as festas de fim de ano (ou no). Como sobremesa, releituras de tradicionais doces brasileiros elaborados pela chef Caroline Melo, para momentos de paz, de amor e de confraternizao. Fotos Dulla | ProDuo regiane Mancini | assistente De ProDuo alison liMontt
Mesa Saarinen, Clami Design, jogos americanos de croch, jarra e bailarina de ferro pintado, Divino Espao, pratos (ao fundo), Roberto Simes, pratos retangulares, xcaras e pires Alessi, Benedixt
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INGREDIENTES 1 lata de leite condensado 2 colheres (sopa) de coco ralado fresco 1 colher (sopa) de manteiga Coco ralado fino seco (para salpicar no docinhos)
MODO DE PREPAROColoque numa panela o leite condensado, o coco fresco e a manteiga. Leve ao fogo at ponto de brigadeiro para enrolar (descolar do fundo da panela).Deixe esfriar.Faa bolinhas de 15g e passe no coco ralado fino seco.
RENDIMENTO25 docinhos
INGREDIENTES 500 ml de creme de leite fresco 5 colheres (sopa) de glacar 1 colher (caf) de essncia de baunilha 1 vidro de geleia de rom 1 pacote de suspiro pequenos Sementes de rom para decorar
MODO DE PREPAROPrepare o chantilly da seguinte forma: numa batedeira coloque o creme de leite fresco bem gelado (pode deixar 5 minutos no freezer), o glacar e a essncia de baunilha. Bata at formar picos firmes. Para montagem do merengue, separe oito refratrios pequenos (do tamanho de uma xcara de ch). No fundo coloque um pouco de suspiro picado, logo em seguida um pouco de chantilly e salpique a geleia de rom. Faa novamente esse processo e termine com o chantilly. Decore com um pedacinho de suspiro e sementes de rom.
RENDIMENTO 8 pores pequenas
Pav rstico
Merengue de rom
Crespinho de coco
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INGREDIENTES 1 lata de leite condensado 2 e da medida de lata de leite 1 garrafinha de leite de coco xcara (ch) de maisena 4 colheres (sopa) de coco ralado fino
MODO DE PREPAROMisture bem o leite condensado, o leite, o leite de coco, a maisena e o coco ralado.Leve ao fogo, mexendo sempre at obter um creme grosso. Retire do fogo e despeje nas forminhas untadas com leo.Leve geladeira por cerca de 5 horas.
CaldaINGREDIENTES
1 xcara (ch) de acar 150 g de ameixa preta sem caroo 1 pedao de canela em pau 2 cravos-da-ndia
MODO DE PREPAROMisture todos os ingredientes e leve ao fogo por cerca de 10 minutos aps iniciar fervura. Deixe esfriar para colocar sobre o manjar.
RENDIMENTO20 forminhas de 5 cm de dimetro ou 1 forma de furo com 19 cm de dimetro
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Manjar branco
La ptissireCaroline Melo formada em gastronomia e foi pupila de
Fabrice Le Nud, da Ptisserie Douce France. H cinco
anos abriu a Carol Melo Doces, que assina grande parte
das sobremesas de festas e eventos estrelados da
cidade. www.clamidesign.com.br
Creme de clarasINGREDIENTES
3 claras 6 colheres (sopa) de acar 1 lata de creme de leite sem soro
MODO DE PREPAROBata as claras em neve. Quando estiverem bem firmes, acrescente uma a uma as colheres de acar. Retire da batedeira e misture o creme de leite vagarosamente. Leve para gelar.
Calda INGREDIENTES
1 xcara (ch) de gua 2/3 xcara (ch) de acar xcara (ch) de licor de nozes
MODO DE PREPAROColoque numa panela a gua e o acar. Leve para ferver. Aps levantar fervura conte mais 5 minutos em fogo baixo. Retire do fogo e acrescente o licor de nozes. Deixe esfriar.
MontagemINGREDIENTES
1 bolo de massa branca pronto (po de l) cortado em rodelas finas 1 pote de geleia de damasco 1 xcara de nozes picada 1 xcara de damasco picado Creme de claras Calda
Separe seis copos ou taas para a montagem. No fundo coloque um pouco do creme, depois uma rodelinha de po de l umedecida na calda, um pouco de geleia de damasco, mais uma camada de creme e salpique as nozes e os damascos picados. Repita essa operao mais uma vez e decore com nozes e damascos.
clami Design www.clamidesign.com.brDivino espao www.divinoespaco.com.brroberto simes www.robertosimoes.com.br Benedixt www.benedixt.com.brcarol Melo Doces www.carolmelo.com.br
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A empresria Kanduxa Zarvos Pereira transformou os 156 metros quadrados de seu Lindenberg em um quarto e sala. E que quarto e sala.... TexTo Mai Mendona | FoTos VaLenTino FiaLdini
ntimo e pessoal
Sobre o sof do living, tapearia Aubusson sculo 18, bureau plat sculo 19, par de abajures de Murano, potiche chins e cadeira medalho, herana de famlia
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Quem acompanha a revista Lindenberg&Life deve ter visto (e lido), a mat-ria sobre o Lindenberg anos 1970, estilo Mediterrneo, do jornalista Cesar Giobbi, publicado na edio passada. Nesta edio, fotografamos um outro apartamento, no mesmo edifcio, mas em outro bloco. Por qu? Voc deve estar se perguntando. Para mostrar outra soluo de reforma, e as muitas possibilidades que um Lindenberg permite, pela flexibilidade de sua planta original.
H 30 anos a empresria Kanduxa Zarvos Pereira, proprietria da Pessoas, empresa especializada em recrutamento e treinamento de pessoas, ganhou do pai o aparta-mento para ser uma fonte de renda. H 15 anos, ela decidiu mudar-se para l e h seis adaptou a planta de 156 metros quadrados para suas necessidades: um dormit-rio com closet, banheiro, e uma grande sala ntima alm de living, jantar e cozinha.
acima, a sala ntima com as paredes forradas de
madeira, par de mesinhas com abajures Murano
e tela de Gustavo Rosa sobre a lareira. Kanduxa e a
generosa vista do terrao.
no fim do corredor que leva at o quarto, cmoda, espelho e tapete oriental,
heranas de famlia
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Enquanto Cesar manteve os trs quartos originais e fez as maiores alteraes na rea ntima, Kanduxa praticamente colocou o apartamento abaixo. Foi uma longa e minuciosa reforma, rebaixei o piso, derrubei e enrretei (foi ela quem deu esse con-selho para o jornalista) paredes, mas valeu a pena, explica ela que teve superviso da designer de interiores Celia Whitaker.
O resultado bastante interessante. Kanda (apelido para os amigos) manteve o living original, transformou o terceiro quarto em sala de jantar, trocou as tbuas largas do piso por tacos de perobinha, e colocou piso e rodap de mrmore no corredor de entrada.
As grandes mudanas aconteceram na cozinha e nos quartos. O corredor e o hall redondo e original que levava para os quartos, o segundo dormitrio e um dos banhei-ros foram abaixo; os armrios da cozinha idem e assim, roubando espao daqui e dali, ela fez uma sala ntima com lareira, home theater, uma bancada que serve de escritrio, forrou as paredes com madeira e mobiliou com mveis confortveis. Essa sala prive separada do resto do apartamento por uma porta. Uma segunda porta
sala de jantar com tela de santuza andrade; papeleira
sculo 19 e barmetro presente do pai. no hall de
entrada, tela de ivald Granato, a primeira obra de arte que
comprou e detalhe da cozinha
ao lado, aparador do sculo 18 que foi da av e tela de
Thomaz ianelli, costureira de madeira sculo 19 e pssaro
comprado em nova York
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cria a diviso entre o private room e o quarto, banheiro e closet da empresria. Eu precisava de um closet, e foi assim que o segundo banheiro virou um belo armrio, com portas espelhadas, e superorganizado, o que no poderia ser diferente, j que esse um dos trabalhos de Kanduxa, que adora seu pied--terre paulistano, mesmo que ela passe de quinta a domingo na casa de Indaiatuba cercada por 14 cachorros.
A cozinha um caso parte. Cesar Giobbi roubou um pedao dela para fazer sua sala de jantar, Kanduxa juntou cozinha, rea de servio e o quarto da empregada, e fez um ambiente que rene fogo, geladeira, mquinas de lavar e de secar, tbua de passar... tudo muito prtico e funcional.
A decorao um misto de mveis de famlia, peas que ela trouxe de viagens e quadros de artistas que hoje so famosos, que foi comprando no decorrer dos anos. Amiga de Gustavo Rosa, tem vrias obras do artista penduradas em suas paredes, algumas delas feitas especialmente para ela, uma delas com seu nome. Mas essa est em Indaiatuba.
na sute, as paredes foram
forradas de tecido
ao lado, mesinha com nossa senhora
barroca e aquarela de Carlos Leo
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Exemplo paraibanoUm pouco mais abaixo, no Nordeste, h um
exemplo a ser seguido por todos os estados costeiros: a Constituio Estadual da Paraba. Ela domou a
especulao imobiliria e a presso das construtoras no litoral ao proibir prdios com mais de trs
andares (mximo de 12,8m), e nunca antes de quinhentos metros para o interior das praias. Ao longo dos programas eu insistia que era possvel
ocupar sem estragar, preservando a paisagem que levou eras para se formar. Ela um bem
que pertence a todos. Temos responsabilidade. Recebemos a zona costeira quase intacta das
geraes anteriores. Acredito que um dever lutar para que nossos netos, e os netos deles, possam
desfrutar essa beleza. A Paraba sabe como.
Continente geladoAo terminar a srie da costa brasileira, preparei-me para um desafio muito maior. E gelado. A Antrtida. Eu iria trabalhar para a Rede Bandeirantes. Produzi e apresentei cinco documentrios mostrando a viagem de meu barco, agora um trawler (espcie de traineira adaptada), desde o Rio Grande at quase o crculo polar. Partimos em outubro de 2009. Em janeiro de 2010 chegvamos ao ponto extremo, as Ilhas Argentinas, no paralelo 65 e 14 minutos de latitude Sul. O Mar Sem Fim foi o primeiro barco a motor brasileiro, e o menor entre todos do mundo, a atingir essa latitude. No acho adjetivos suficientemente fortes que possam descrever a emoo que senti, ou a beleza do continente gelado.Quem tiver a oportunidade no titubeie: v!
Debret em Oiapoque Logo no incio o municpio de Oiapoque, fronteira Norte
do Brasil, escancarou as muitas faces deste Pas desigual. A cidade catica. No h regras quanto ocupao. O local atrai garimpeiros pela riqueza do subsolo. Ruas de terra batida, zero de saneamento bsico, prdios de alvenaria em blocos que misturam um hotel, um aougue e uma loja de compra de ouro. Ali assisti a
cenas no comrcio que me fizeram lembrar Debret. Por obra de D. Joo VI, em 1816, veio ao Brasil um grupo de artistas conhecido como a Misso Francesa. Entre eles estava Debret que, em suas
aquarelas, pintou um pas recm-aberto aos estrangeiros. Foi uma surpresa descobrir que no sculo 21 essas cenas ainda fazem parte
do cotidiano de quem mora em Oiapoque.
Botes, bianas, canoasAs embarcaes so outra riqueza. Felizmente elas ainda navegam mantendo viva uma tradio nica. No h pas que rena tamanha diversidade de tipos e modelos de barcos como o nosso, fruto da miscigenao entre tcnicas europeias com a tradio africana e a dos primeiros habitantes de Vera Cruz. Geralmente nos lembramos das jangadas e, talvez, os saveiros imortalizados por Jorge Amado. Mas muito mais: h os botes bastardos, jangadas e canoas de risco, do Nordeste; os iates, bianas, canoas costeiras e botes de proa de risco, do Maranho; as canoas sergipanas, e de tolda, do So Francisco; e centenas de tipos de canoas de pau, entre elas as magnficas canoas de voga, de Ilhabela, litoral Norte paulista. Fiquei to impressionado que dediquei um livro ao tema: Embarcaes tpicas da costa brasileira, da Editora Terceiro Nome.
Patagnia, Mar Sem Fim e geleiraQuando retornei da Antrtida, ousei. Deixei meu barco em Ushuaia, Argentina, s margens do Canal de Beagle, onde est at hoje. De l partem, e para onde voltam, todos os barcos privados que vo para
a Antrtida. Os maiores navegadores polares esto ali todos os veres. Voc tropea com mitos da vela mundial.
A regio de uma beleza superlativa. Para quem gosta de natureza em estado puro, selvagem, este o endereo. Queria levar brasileiros que
amam o meio ambiente para conhecer a rea que encantou Darwin pela beleza. Deu certo. Ano passado foram cinco grupos.
Para este j tenho trs reservas.
Experimente, vale a pena. Mais informaes: www.marsemfim.com.br.
Das ondas do rdio para o marTexTo e foTos Joo Lara MesquiTa
Depois de 20 anos como diretor da Rdio Eldo-rado, do Grupo Estado, em 2003 chegou a hora de minha sada. No incio no sabia o que fazer. A nica certeza era manter o foco em comuni-caes. Mirei a televiso. At aquele momento era a nica mdia para a qual eu nunca trabalhara.
Comecei a ver televiso com outros olhos. Rodava os canais procura de inspirao. No demorei para per-ceber que documentrios eram o caminho. Poucos meses depois estava com um projeto pronto, acolhido pela TV Cultura. Ele misturava meio ambiente, polti-cas pblicas, ocupao da zona costeira, desrespeito ao Cdigo Florestal, e meu maior prazer: navegar.
Nasceu o Projeto Mar Sem Fim, uma srie de docu-mentrios para mostrar as riquezas e as mazelas da costa brasileira. Contratei um cinegrafista e uma pro-dutora que, junto comigo e um marinheiro, formaram a tripulao. Levei meu veleiro at o Rio Oiapoque. E desci, investigando a costa, at o Chu. Foram dois anos maravilhosos, cheios de aventuras e descobertas.
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Tradio no casamento e no batizado, tendncia na decorao, mania no rveillon, o branco, cheio de significados, abre as portas para o reincio Por Judite Scholz | iluStrao Maria eugnia
Bandeira branca
brilho em ambientes Yang (sala, cozinha). E alertam que o estilo clean, embora to aclamado por arqui-tetos renomados, pode ser um erro, porque o uso exagerado do branco pode causar uma sensao de infinito, vazio e frieza, nos deixando pouco vontade no ambiente. Nesse caso, crucial incluir acessrios coloridos e objetos de metal. Mas vale lembrar que paredes e tetos brancos so capazes de tornar mais amplos os pequenos espaos.
Na moda, alm de ser a cara do vero, usado como curinga, j que combina com todas as cores. A tal blu-sinha branca pea bsica em qualquer guarda-roupa feminino. A cor absoluta, que no permitia variaes, encontrou na moda uma sada: o off-white, presente em todas as colees de vero. Afinal, as roupas bran-cas so mais frescas na estao mais quente do ano porque refletem os raios solares.
Faber Birren, autor de vrios livros e artigos sobre a teo-ria da cor, acreditava que a cor a principal ferramenta de comunicao, expresso e auto identificao. Ligou a percepo humana da cor com a resposta emocional que evoca no espectador. Ele explica, no livro Creative Color: An Approach for Artists and Designers, de 1961, que as pessoas associam cores com outros sentidos.
Para o publicitrio Fabrcio Alves, da Fcraft, as cores influenciam psicologicamente os seres humanos de vrias maneiras e so mais ligadas emoo do que pro-priamente forma. Se vrias figuras coloridas forem mostradas a um grupo de pessoas, essas pessoas se lembraro mais facilmente das cores do que das formas dessas figuras. interessante verificar como a psicologia das cores utilizada atualmente pelas grandes empresas. Marcas conhecidas fazem uso constante deste conheci-mento para chamar a ateno, ou vender mais seus pro-dutos. O branco sugere pureza, cria uma impresso de vazio e infinito; evoca frescor e limpeza, principalmente quando combinado com o azul.
Por associao, ligamos o branco imediatamente paz, cuja bandeira expressa o que mais desejamos em tem-pos to violentos.
Vibrante e estimulante por ser a unio de todas as cores, definido como a luz isenta de cor, o branco reflete todos os raios luminosos, no absorvendo nenhum e, por isso, aparece como cla-reza mxima.
O renomado pintor russo Kandinsky, para quem o pro-blema das cores ultrapassava o problema da esttica, resumiu: O branco, que muitas vezes considerado como no cor, como o smbolo de um mundo onde todas as cores, em sua qualidade de propriedades de substncias materiais, se tenham desvanecido... O branco produz sobre nossa alma o mesmo efeito do silncio absoluto. Esse silncio no est morto, pois transborda de possibilidades vivas. um nada, pleno de alegria juvenil, ou melhor, um nada anterior a todo nascimento, anterior a todo comeo. A terra, branca e fria, talvez tenha soado assim nos tempos da era glaci-ria. Seria impossvel descrever melhor, sem dizer-lhe o nome, a alvorada.
Alvorada ou renascimento, o fenmeno inicitico que pode explicar o fato de vestirmos branco a cada incio de ano. A reunio de todas as cores a cor ideal para se purificar de energias antigas e comear coisas novas. O mesmo branco presente na roupa do beb que bati-zado, no ritual do cristianismo, consagrando um novo cristo. E ainda o mesmo que perpetua a mais antiga das tradies: o vestido de casamento mais uma vez, o reincio, agora de uma nova fase da vida.
O simbolismo da cor branca, no entanto, varia de acordo com a cultura. Na Europa, o branco est associado a casamento, hospital, mdico, paz; no Japo ao luto; na China morte e ao luto; na ndia, infelicidade. No pensamento simblico, a morte precede a vida, pois todo nascimento um renascimento. Por isso, o branco primitivamente a cor da morte e do luto. E isso ainda acontece em todo o Oriente, tal como ocorreu, durante muito tempo na Europa e, em especial, na corte dos reis da Frana.
Acredita-se que, da mesma forma como a energia solar, outras energias no penetram no branco. E da que roupas brancas em funerais e enterros no permitem que espritos de mortos se fixem nos vivos, aceitando que a morte a partida do mundo fsico para um plano espiritual mais puro o reincio, de novo.
por isso tambm que to utilizado nas vestimentas dos rituais de vrias religies: repele energias negativas e eleva as vibraes, inspira o despertar da espirituali-dade e gerencia o equilbrio interior.
No Feng Shui, a cor o principal instrumento uti-lizado na busca de equilbrio e harmonia em um ambiente. Cada cor relacionada a um dos cinco ele-mentos gua, madeira, fogo, terra e metal, e propor-ciona sentimentos e emoes diferentes. E elas podem ter significados positivos ou negativos, dependendo da intensidade, local e forma com que so aplicadas nos ambientes. O branco pode ser utilizado na casa toda, externa ou internamente. Alguns estudiosos do Feng Shui recomendam que se deve usar a cor branca sem brilho em ambientes Yin (quarto, banheiros) e com
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Cenrios idlicos geram o impulso de mergulhar em aventuras por destinos inusitados. Explorar dunas e andar de camelo em terras exticas; deslizar sob as montanhas e relaxar em frente lareira com uma taa de conha-que ou de vinho na mo, vendo as labaredas danar; imergir em guas salgadas e depois largar o corpo suavemente sobre a areia. Ter mordomos disposio por 24 horas, comer bem, dormir em sutes nicas; usufruir de massagens e trata-mentos em spas com vistas incrveis. Ser embalado com o som das ondas e a leve brisa soprando ou o silncio macio da neve caindo... prazer, sublime prazer.
Alguns dos recnditos mais exticos do planeta ilustram as nossas pginas. Eles foram escolhidos para transportar voc diretamente a esses parasos terrestres.
Colar de prolasMarco Polo a chamou de A Flor das ndias. As Maldivas so um conjunto de 1.200 ilhas situadas ao Sul da ndia e a Oeste do Sri Lanka, formando um colar de prolas na imensido do Oceano ndico. Com exuberantes palmeiras, praias reluzentes, lagoas azuis-turquesas e recifes de corais repletos de peixes de cores brilhantes. um dos poucos lugares da Terra que ainda conservam o seu estado natural.
Destinos em Branco
Praias com guas cristalinas, desertos exticos e a elegncia das montanhas esto sua espera Por Juliana Saad
para escrever cartes-postais do paraso
Shangri-la Villingili resort Spa, ilhas Maldivas foto
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Ali, bem ao sul do Equador, na Ilha de Villingili ponta mais austral do Atol Addu , encontra-se o Villingili Resort e Spa, da rede Shangri-La. De cabanas privativas fincadas no oceano a casas na rvore com vista panormica, o resort oferece sete estilos diferentes de acomodaes de luxo. Piscinas privativas, deques panormicos e muito conforto traduzem o requinte de forma simples e orgnica.
Os restaurantes e bares do Shangri-La Villingili propiciam um verdadeiro tour gas-tronmico com cores e ingredientes regionais, as atividades aquticas incluem surfe, mergulho, caiaque, esqui aqutico, vela, pesca em alto-mar ou um cruzeiro ao pr do sol em um belo iate. Seja qual for a sua opo de diverso, uma coisa certa: entre um mergulho e uma soneca em sua cabana nas Maldivas voc ir acreditar que a perfeio pode existir.
servio de mordomo 24 horas, o hotel destino dos mais romnticos, com surpresas como jantares a dois beira-mar e programas de mergulho, passeios e tratamentos de beleza personalizados para os apaixonados. E os restaurantes do The Residence oferecem uma combinao da culinria local com influncias orientais regada a pei-xes e frutos do mar. Para definitivamente entregar-se aos prazeres da vida al mare e curtir cada detalhe desse carto-postal.
Desertos legendrios Destinos exticos, os desertos so tambm cenrios de hotis de alto luxo e atraem aventureiros globe-trotters que buscam experincias nicas e incomparveis.
Escondido entre as antigas dunas do deserto de Liwa, em Abu Dhabi, nos Emirados rabes, o Qasr Al Sarab Desert Resort, da rede Anantara, proporciona uma jornada inesquecvel autntica Arbia. O resort um osis a 200 quilmetros de Abu Dhabi, no meio do Liwa, que faz parte do Empty Quarter, a maior extenso de areia virgem do mundo.
Os quartos e sutes esbanjam vista espetacular das dunas, enquanto as vilas lem-bram que voc est nos Emirados rabes, um lugar que no tem acanhamento em mostrar seu luxo. Um dos pontos altos o jantar na tenda beduna. Indo muito alm dos domnios de um jantar habitual, oferece uma experincia de imerso multiface-tada sobre o patrimnio local, onde jantar e entretenimento so uma arte. O reno-mado spa do Anantara faz bem o seu papel, assim como a piscina. Isolado do mundo exterior, o Abu Dhabi Desert Resort traz o misticismo local para uma memorvel aventura no deserto.
O Al Maha Desert Resort & Spa, em Dubai, reproduz o modo de vida dos
bedunos do deserto
Ao lado, vila de frente para o deserto e as
dunas de Liwa do Qasr Al Sarab Desert Resort,em Abu Dhabi
Mistura finaUm dos mais belos arquiplagos do Oceano ndico, ao sudeste da frica, as Ilhas Maurcio so cingidas por forma-es rochosas, bancos de areias e recifes de corais, coqueiros e plantaes de cana--de-acar. A diversidade do pas, fruto da mistura das culturas indiana, afri-cana, europeia e chinesa deixa tudo mais interessante.
Ali encontra-se um dos mais sofistica-dos resorts da regio, The Residence Mauritius, na costa nordeste, em frente impecvel Praia de Belle Mare. Com arquitetura colonial praiana, sutes com sacadas e ptios privativos com vista para os jardins ou para o mar e impecvel
Piscina de uma das cabanas do Shangri-La Villingili Resort Spa, nas Ilhas Maldivas
Acima, terrao privativo de uma das sutes do The Residence Mauritius, na praia de Belle Mare, nas Ilhas Maurcio
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Beleza dramtica Situado em meio s dunas de areia em uma reserva nacional de 225 quilmetros quadra-dos em Dubai, o Al Maha Desert Resort & Spa um tributo vida tradicional no deserto. Construdo ao estilo dos antigos assentamen-tos bedunos, ostenta um delicado equilbrio entre o conforto da tecnologia e a natureza into-cada. Lugar certo para usufruir dos costumes, fauna e beleza dramtica do deserto da Arbia. As sutes em tons neutros so mobiliadas com colees exclusivas e raras de obras de arte regio-nais e antiguidades, com piscinas privativas em temperatura controlada e vistas panormicas para as dunas. Includas no preo do Al Maha esto ati-vidades locais dirias, da exibio da tradicional arte da falcoaria, trilhas em camelos, passeios a cavalo, passeios em 4x4, caminhada ecolgica com guia e safri (rix, gazela e raposa so apenas uma amostra dos animais selvagens que podem ser vis-lumbrados). Diverso e sustentabilidade em um programa que entrar para a sua histria particular de Mil e uma Noites.
Privacidade e elegnciaCom panoramas de tirar o flego e pistas que fazem a delcia dos que curtem a adrenalina dos esportes radicais de inverno, os hotis/resorts buscam exceder seu menu de servios, com spas e alta gastronomia, alm de acomodaes e aprs ski superexclusivos. Entre os destaques, Vail, nas montanhas do estado norte-ameri-cano do Colorado, e Courchevel, nos Alpes franceses.
No entroncamento dos Alpes, no muito longe do Mont Blanc, o pico mais alto da Europa Ocidental, Courchevel 1850 uma das estaes mais apreciadas por esquiadores, de iniciantes a experientes. Situado a duas horas dos aeroportos de Lyon, Frana, e de Genebra, Sua, encontra-se o Cheval Blanc, projetado como um refgio fora de srie, aninhado no corao do Jardim Alpino e dos Trs Vales a mais extensa rea contnua de esqui do mundo. A propriedade pertence a Bernard Arnault, CEO da Louis Vuitton Moet Hennessy (LVMH) e a encarnao do apuro em uma atmosfera de privacidade e elegncia.
O hotel possui 34 sutes espalhadas ao longo de cinco andares. A gastronomia do restaurante 1.9.4.7 by Yannick Allno (que acumula trs estrelas Michelin), deve seu nome mtica safra do vinho Cheval Blanc, de Bordeaux. E uma cave recheada de presunto espanhol, porco preto do Alentejo, linguias e salsichas da Savoia lugar para aperitivos em frente ao fogo.
No spa com assinatura Givenchy, tratamentos de beleza com produtos formulados para as grandes altitudes, massagens relaxantes, alm de tratamentos especiais para esportes de inverno, saunas e piscina com borda infinita. Outras atraes: o Cigar Lounge Yurt (uma cabana arredondada tpica dos povos mongis e turcos na sia Central), lojas Louis Vuitton e Dior, jantares de gala, exposies de moda doces lembranas das razes haute couture do Cheval Blanc.
Radicais flocos de neve Encravada nas Montanhas Rochosas do Colorado, Vail conhecida como uma das maravilhas do inverno para os aventureiros, entusiastas esportivos ou aqueles que sonham com um White Christmas.
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