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1 Farmacologia da Dor, Opioides Medicina M2 BMF224 e Antagonistas Newton G. de Castro Professor Associado, MD, DSc Lab. de Farmacologia Molecular CCS – sala J1-029 NG Castro abr/18 Dor Definição da IASP* Experiência sensorial e emocional desagradável associada a um dano tecidual real ou potencial, associada a um dano tecidual real ou potencial, ou descrita em termos deste dano. OBJETIVO lesão tecidual ativação de nociceptores SUBJETIVO experiência sensorial experiência emocional com ou sem NG Castro A falta de lesão não nega a dor A incapacidade de verbalização não nega a dor * International Assoc. for the Study of Pain: www.iasp-pain.org Classificação NG Castro Woolf (2010) JCI https://doi.org/10.1172/JCI45178 Classificação NG Castro Woolf (2010) JCI https://doi.org/10.1172/JCI45178

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1

Farmacologia da Dor, Opioides

Medicina M2 BMF224

e Antagonistas

Newton G. de CastroProfessor Associado, MD, DScLab. de Farmacologia Molecular

CCS – sala J1-029

NG

Cas

tro

abr/18

Dor

Definição da IASP*• Experiência sensorial e emocional desagradável

associada a um dano tecidual real ou potencial,associada a um dano tecidual real ou potencial, ou descrita em termos deste dano.

OBJETIVOlesão tecidual

ativação de nociceptores

SUBJETIVOexperiência sensorialexperiência emocional

com ou

sem

NG

Cas

tro

• A falta de lesão não nega a dor• A incapacidade de verbalização não nega a dor

* International Assoc. for the Study of Pain: www.iasp-pain.org

Classificação

NG

Cas

tro

Woolf (2010) JCIhttps://doi.org/10.1172/JCI45178

Classificação

NG

Cas

tro

Woolf (2010) JCIhttps://doi.org/10.1172/JCI45178

2

Fármacos usados para controle da dor

Ações no SNC e periféricas:

Ações periféricas: Anestésicos locais

Antiepilépticos, antidepressivos,

etc

Analgésicos opioides

Analgésicos não-opioides

Analgésicos anti-i fl tó i ã

Outros analgésicos: t l

etc.

NG

Cas

tro

inflamatórios não esteroidais (AINEs)

paracetamoldipirona

Analgésicos esteroidais(corticoides)

Uso de opioides hoje

46

Opioid Painkiller PrescribingJuly 2014

2015

46Each day, 46 people die from an overdose of prescription painkillers* in the US.

259 MHealth care providers wrote 259 million prescriptions for painkillers in 2012, enough for every American adult to have a

NG

Cas

tro

enough for every American adult to have a bottle of pills. [50% na atenção primária]

* "Prescription painkillers" refers to opioid or narcotic pain relievers, including drugs such as Vicodin (hydrocodone+acetaminophen), OxyContin (oxycodone), Opana (oxymorphone), and methadone.

http://www.cdc.gov/vitalsigns/opioid-prescribing/

História - Ópio: “remédio do próprio Deus” ?

• 4000 AC: sumérios cultivavam a papoula na Mesopotâmia

• 1300 AC: egípcios exportavam ópioexportavam ópio

• ~300 AC: ópio introduzido na Pérsia e Índia por Alexandre

• 400 DC: ópio introduzido na China

• Propriedades terapêuticas estabelecidas na medicina

NG

Cas

tro

Paracelso: “Eu possuo um remédio secreto

que é superior a todos os outros remédios

heróicos” – o láudano (1527)

estabelecidas na medicina persa, indiana e chinesa

• Séc. XVI em diante: uso não médico disseminado pelos colonizadores na Ásia

• Séc. XIX: Guerras do Ópio, pandemia de abuso

Papaver somniferum

(e outras espécies)

Opioides naturais, semi-sintéticos e sintéticos

• Morfina: ~10% p.p. no ópio

• Derivados fenantrênicos:– hidromorfona (CTI)( )– diacetilmorfina (heroína - abuso)– codeína (boa absorção oral)– buprenorfina (agonista parcial)

• Opioides sintéticos:– fentanil e petidina/meperidina (dor intensa – via IV)

morfina

NG

Cas

tro

p p ( )– metadona (ação mais prolongada)– etorfina (semelhante à morfina)

• Antagonistas opioides:– naloxona (antídoto)

3

Fisiopatologia da dor: estímulo nociceptivo

D t i ífi

nociceptor

NG

Cas

tro

Descartes: via específica da dor, levando o

estímulo periférico a uma região do cérebro

(ca. 1664)

Julius e Basbaum (2001) Nature 413:203

Localização de receptores opioides na analgesia

• terminais dos nociceptores

• corno dorsal da medula espinhal

• certas regiões subcorticais do cérebro:

– tálamo

– substância cinzenta periaquedutal

– núcleos rostrais e ventrais do tronco cerebral

NG

Cas

tro

AÇÃO SINÉRGICA EM MÚLTIPLOS NÍVEIS

Terminal nociceptor

GERAÇÃO e SENSIBILIZAÇÃO

K+

(+)

NG

Cas

tro

Modif. de Julius e Basbaum (2001) Nature 413:203

opioides(ou canabinoides)

O

Vias nociceptivas (ascendentes)

Córtex somatossensorial

Núcleos talâmicos

(giro pós-central)

Substância cinzenta periaquedutal

(PAG)

Formação reticular

NG

Cas

tro

Neoespinotalâmico Paleoespinotalâmico

Fibras A e C

4

Mecanismos de controle endógeno da dor

TÁLAMO

vias inibitórias descendentes

sistema de comporta

FACILITAÇÃO ou INIBIÇÃO

SG

TÁLAMO

aferentes nociceptivos

(C, A)SPGlu

EnkNA

5-HT

pmedular

medula rostro entral

N. rafe

NG

Cas

tro

Glumecanoceptores

(A)

Fields (2004) doi:10.1038/nrn1431

rostroventral

endorfinas: μ, δ, κNA: α2-AR

serotonina: 5-HT1-3,7GABA: GABAA,B

Glu: NMDAR, AMPARsubst. P: NK1R

RECEPTORES

Locais de ação dos opioides na analgesia

Córtex CerebralHipotálamoTálamo

Substância Cinzenta Periaquedutal

Núcleo Magno da RafeLocus ceruleus

OPIOIDES (++) desinibição

OPIOIDES (+) desinibição

NG

Cas

tro

Medula Corno Dorsal

Periferianociceptores

NA5-HTEncefalina

NúcleoReticular

Paragigantocelular

(-) (-) (-)

OPIOIDES(-) inibição

OPIOIDES(-) inibição

Peptídeos opioides endógenos

NG

Cas

tro

Goodman & Gilman’s 13 ed., Fig. 20-1

Receptores opioides

• (mu, MOR) analgesia espinhal e supra-espinhal, sedação, depressão respiratória, constipação, euforia

d dê i fí i á bili

GPCRs acoplados a ptn. Gi/o - podem dimerizar

e dependência física, náusea, espasmo biliarENDORFINAS > ENCEFALINAS > DINORFINAS

• (delta, DOR) analgesia espinhal / supra-espinhal, / NTs, alterações no comportamento, convulsões

ENCEFALINAS > ENDORFINAS e DINORFINAS

NG

Cas

tro

• (capa, KOR) analgesia espinhal / supra-espinhal, miose, constipação, sedação e disforia/alucinações

DINORFINAS >> ENDORFINAS e ENCEFALINAS

• N/OFQ (ORL-1, opioid receptor-like 1 ou NOP) ??

5

Inibição pré-sináptica

NG

Cas

tro

K+ Ca2+

Como se explica o aumento da atividade das

vias descendentes?

Subtipos de receptores e efeitos em animaisTipo Agonista Antagonista

AnalgesiaSupraespinhal , , Analgésico Sem efeitoEspinhal , , Analgésico Sem efeito

Função respiratória Reduz Sem efeitoTrato gastrointestinal , Reduz trânsito Sem efeitoPsicotomimético Aumenta Sem efeitoAlimentação , , Aumenta ingesta Reduz ingestaSedação , Aumenta Sem efeitoDiurese AumentaRegulação hormonalProlactina Aumenta liberação Reduz liberação

ed.

NG

Cas

tro

Hormônio do crescim. e/ou Aumenta liberação Reduz liberaçãoLiberação neurotransm.Acetilcolina InibeDopamina , Inibe

Órgãos isoladosÍleo de cobaia Reduz contração Sem efeitoVas deferens camund. Reduz contração Sem efeito

G&

G 1

1 e

Tolerância e dependência no uso continuado

• Tolerância dose necessária para analgesia (ou euforia) aumenta com o tempo de uso (MOR é essencial)

• Dependência interrupção causa síndrome de retirada• Fatores farmacológicos + individuais + ambientais abuso e ato es a aco óg cos d dua s a b e ta s abuso e

drogadição

Circuito mesolímbico

Hipótese dopaminérgica

clássica da

NG

Cas

tro

Katzung 13 ed., Fig. 32-2Estriado dorsal, etc.

?

clássica da adição

Dessensibilização, internalização e tolerância

Receptor ActivationVesicular Endocytosis

NG

Cas

tro

Martini e Whistler (2007)

6

Seletividade funcional

NG

Cas

tro

Cell (2017) doi.org/10.1016/j.cell.2017.10.035

Opioides relacionados à morfina

morfinaantagonistas

µ (MOR)

NG

Cas

tro

*Os números 3, 6, e 17 referem-se às posições na molécula da morfina. Outras alterações: (1) Ligação simples ao invés de dupla entre C7 e C8;(2) OH adicionada ao C14;(3) Sem oxigênio entre C4 e C5;(4) Ponte endoeteno entre C6 e C14; 1-hidroxi-1,2,2-trimetilpropil substituído no C7.

Opioides sintéticos fenilpiperidínicos e metadona

O CH3

O

Piperidina:

NCH3

Meperidina Metadona

NG

Cas

tro

Fentanila Loperamida

Farmacocinética dos opioides

• Substâncias lipossolúveis

• Principais locais de absorçãoabsorção: vias subcutânea, transdérmica, intramuscular, mucosas nasal e oral e TGI;transdérmica, intramuscular, mucosas nasal e oral e TGI; inalatória (ópio fumado)

• Biodisponibilidade oral: morfina: 25%, com metabólitosativos; codeína: ~50%, mas biotransformada em morfina)

• Dose oral > parenteral

• Comprimidos disponíveis em duas formas de

NG

Cas

tro

• Comprimidos disponíveis em duas formas de apresentação:

• liberação imediata

• liberação lenta ou programada

7

Vias de administração

fentanila e buprenorfinatransdérmica

NG

Cas

tro

Distribuição

• Alta ligação a proteínas plasmáticas: albumina e -1 glicoproteína ácida

• Distribuição em tecidos altamente vascularizados: pulmõesDistribuição em tecidos altamente vascularizados: pulmões, fígado, baço e rim

• Reservatório: tecido muscular (menor concentração, maior volume)

• Distribuição ao SNC limitada por transportadores tipo PGP

• Heroína e codeína atravessam mais facilmente a barreira

NG

Cas

tro

Heroína e codeína atravessam mais facilmente a barreira hematoencefálica

• Neonatos: riscos de depressão e abstinência

Vias usadas por aditos e biotransformação

analgésico

NG

Cas

tro

neuro-excitatório

Fenilpiperidínicos: oxidação por CYPs(fentanil, meperi-

dina, etc.)

Padrões de concentração plasmática

t½: 2 h

NG

Cas

tro

8

Potência e seletividade dos opioides

µBuprenorfina

µ

NG

Cas

tro

Nalbufina

• Agonistas (plenos e parciais)• Agonistas-antagonistas• Antagonistas

Diferenças entre opioides• potência e eficácia• seletividade entre receptores• seletividade funcional: ativação ptn. Gi/o vs. β-arrestina• farmacocinética

tolerânciatolerância cruzada parcial

NG

Cas

tro

rotação de opioidesDrewes et al. (2012) Brit. J. Clin. PharmacolDOI:10.1111/j.1365-2125.2012.04317.x

Efeitos dos opioides

Sistema Nervoso CentralAfinidade por receptores :

A l i l d d d d• Analgesia - alteração da percepção da dor e da reação do paciente a esta dor.

• Euforia - sensação agradável de flutuar e estar livre da ansiedade e do desconforto.

• Sedação - sonolência e turvação da consciência

NG

Cas

tro

• Depressão respiratória - inibição dos mecanismos do tronco cerebral

Efeitos dos opioides

Sistema Nervoso Central

S ã d d í d f• Supressão da tosse – codeína, dextrometorfano• Miose – parassimpático (n. Edinger-Westphal)• Rigidez no tronco - aumento do tônus nos grandes

músculos do tronco, interferindo na ventilação• Náuseas e vômitos - ativação da zona

NG

Cas

tro

desencadeante quimiorreceptora do tronco cerebral

9

Efeitos dos opioides

Periféricos• Trato gastrointestinal

– efeitos constipantes: da motilidade do estômago p ge aumento do tônus, produção de secreção gástrica

– aumento do tônus do intestino delgado e espasmos periódicos

– aumento do tônus do intestino grosso e das

NG

Cas

tro

aumento do tônus do intestino grosso e das ondas propulsivas constipação

• Trato biliar - contração do músculo liso biliar, pode ocasionar cólicas biliares

Efeitos dos opioides

Periféricos• Trato genitourinário - depressão da função renal

( do fluxo plasmático renal); do tônus do ( p )esfíncter uretral pode levar à retenção urinária

• Útero - pode haver prolongamento do trabalho de parto

• Neuroendócrinos - estimulação da liberação do hormônio antidiurético, prolactina e somatotropina;

NG

Cas

tro

, p p ;redução da liberação de esteroides sexuais

• Prurido – face e tronco– liberação de histamina mastocitária (morfina)– neurogênico: opioide espinhal ou epidural (> 80%)

Usos dos opioides

• O tratamento da dor é essencial para a prática médica

• Há inúmeras situações em que é necessário proporcionar analgesia antes do diagnóstico definitivo

• Alguns questionamentos...– É necessária a analgesia?– O analgésico opioide vai obscurecer os sinais e

i ?

NG

Cas

tro

sintomas?– Os analgésicos opioides podem agravar a situação do

paciente?– Há possibilidade de interações medicamentosas

significativas?

Usos dos opioides

• Analgesia– dor intensa e constante, p. ex., associada ao câncer e

outras doenças terminais– administração a intervalos fixos é mais eficaz do que aadministração a intervalos fixos é mais eficaz do que a

sob demanda, mas ...– PCA (patient-controlled analgesia) pode reduzir

consumo total de opioide– utilização em obstetrícia: opioides atravessam a BHE

do feto, podendo provocar depressão respiratória• Morfina no edema agudo de pulmão

NG

Cas

tro

Morfina no edema agudo de pulmão– eficácia e segurança questionáveis– da ansiedade e da dispneia subjetiva– supostos: da pré-carga (redução do tônus venoso), da pós-carga (diminuição da resistência periférica)

– maior risco de insuficiência respiratória

10

Usos dos opioides

• Tosse– antitussígenos sintéticos que não causam dependência– dextrometorfano*, codeína, levopropoxifeno

• * mecanismos adicionais não-opioides

Di i• Diarreia– elixir paregórico (tintura de ópio)– loperamida, difenoxilato

• Anestesia– medicação pré anestésica - propriedades sedativas,

ansiolíticas e analgésicasé á ( f )

NG

Cas

tro

– podem ser usados como anestésicos primários ( fentanil )– analgésicos regionais ( ação direta sobre a medula )

administração epidural ou intratecal ( espinhal )• reversão com naloxona

• Dependência de opioide– metadona, buprenorfina

Substituição de opioide de ação rápida em aditos

• Metadona: agonista pleno, t1/2 55 h

• Buprenorfina:Buprenorfina: agonista parcial MOR

• Quais as vantagens da substituição?

• O que ocorre:

NG

Cas

tro

Goodman & Gilman’s 12 ed.

• na suspensão abrupta?

• na redução gradual?

Efeitos adversos

• constipação (15-50%)• náusea e vômitos (10-40%)• tontura ou vertigem• sonolência• prurido (1% v. sistêmica, 8-46% epidural/espinhal)• retenção urinária• confusão mental e alucinações• disforia ã d t

NG

Cas

tro

• disforia• mioclonias (3-87%)• depressão respiratória• imunodepressão (significado incerto)

• supressão da tosse• miose (colateral)

IMPORTANTE NO DIAGNÓSTICO

Efeitos adversos – tratamento e controle• Antagonistas opioides de ação central:

– naloxona (G, Narcan©), naltrexona, nalmefeno

• Antagonistas opioides de ação periférica:– metilnaltrexona (Relistor©), alvimopan

• Sintomáticos:– metoclopramida (colinérgico)

– ondansetrona (antagonista 5-HT3)

i ti l t i ti i éti

NG

Cas

tro

– psicoestimulantes simpaticomiméticos

• Tolerância:– rotação de opioides– em estudo: quetamina, anfetaminas

11

Outros analgésicos com ação opioide

Tramadol• agonista MOR fraco (6000x menos que morfina)• ação medular pelo mecanismo modulatório descendente

(fraco)

5-HT NA

NG

Cas

tro

Tapentadol• agonista MOR (50x menos que morfina)• inibe NET ( noradrenalina)

Manejo farmacológico da dor no câncer

Escada terapêutica OMS

NG

Cas

tro

Guidelines CDC 2016

NG

Cas

tro

Guidelines CDC 2016

NG

Cas

tro

12

Guidelines CDC 2016

NG

Cas

tro

Guidelines CDC 2016

NG

Cas

tro

Manejo farmacológico da dor no câncer

MEDICAMENTO DOSE DOSE máx.dia

Paracetamol 500-1.000 mg 4-6 h 4.000 mg

Diclofenaco 50 mg 8-8 h 150 mg

Codeína 30-60 mg 4-6h 360 mg

Tramadol 50-100 mg 6-8 h 400 mg

Morfina (imediata) A partir de 10 mg 4-4 h Não há

NG

Cas

tro

Morfina (imediata) A partir de 10 mg 4 4 h Não há

Morfina (cronometrada) A partir de 30 mg 12-12 h Não há

Metadona A partir de 5 mg 8-12 h Não há