crise financeira mundial e a américa latina luz fernando paula

23
Crise financeira mundial e a América Latina Luiz Fernando de Paula Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Presidente da Associação Keynesiana Brasileira

Upload: luisnassif

Post on 07-Jul-2015

1.909 views

Category:

Business


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Crise financeira mundial e a América Latina

Luiz Fernando de PaulaProfessor da Universidade do Estado

do Rio de Janeiro (UERJ) e Presidente da Associação Keynesiana Brasileira

Page 2: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Objetivos• Analisar os impactos da crise na América

Latina, com ênfase nas grandes economias da região (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Venezuela).

• Avaliar as respostas de política frente a crise.

• Perspectivas para a América Latina frente a crise.

Page 3: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Marco analítico: políticas keynesianas

• “Implicações de política surgem da percepção do papel da demanda agregada em estabelecer o nível da atividade econômica e de que há faltas de forças automáticas que conduzem uma economia de mercado ao pleno emprego” (Arestis e Sawyer, 1998).

• Assim, economias capitalistas exibem elementos de instabilidade e não criam demanda agregada consistente com o pleno emprego.

• Como “estabilidade é instabilizante” (Minsky) hánecessidade de regulamentação, e políticas econômicas têm um papel estabilizador na economia!

• Estabilidade macroeconômica e não simples estabilidade de preços deve ser o objetivo de política.

• Contudo, políticas keynesianas não são apenas adequadas para uma “economia da depressão”, mas igualmente para uma “economia da prosperidade”!

Page 4: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Fluxograma: Transmissão da crise para países emergentes

Economias emergentes

Fatores globais

Fatores específicos do país

Contração do crédito externo Saída de capitais externos Crescimento econômico global Preços das commodities

Vulnerabilidades e características econômicas Relações financeiras Relações de comércio

Economias avançadas

Crise financeira

Page 5: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Impactos da crise sobre países emergentes –World Economic Outlook, Abril 2009

• No 4º trimestre de 2008, muitas economias emergentes sentiram o impacto da crise financeira internacional, com pressão sobre mercado de ações, reservas cambiais e câmbio.

• Tem havido um forte sincronização entre períodos de stress e normalidade entre economias avançadas e emergentes, ainda que com algum hiato temporal (“globalização financeira”).

• Rápida desalavancagem das instituições financeiras nas economias avançadas e deterioração da economia global impôs constrangimentos de liquidez para países emergentes.

• Contágios tem um forte componente exógeno; mesmo países emergentes com baixo déficit em c/c (ou mesmo superávit) e com certo equilíbrio fiscal foram atingidos pela crise.

• Boa situação macro permite melhor reação a crise e restabelecimento da estabilidade financeira.

• Países com maior abertura da conta k tiveram maior nível de contágio; abertura comercial reduz efeitos da crise.

Page 6: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Taxa de crescimento do PIB (%)

-6,0

-4,0

-2,0

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

2004 2005 2006 2007 2008 2009*

Economias avançadas Area do Euro

EUA Euro central e do leste

Países asiáticos em desenv. América Latina

Page 7: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Reservas cambiais (tx variação %): fluxo líquido ks + superávits c/c

-6,00

-4,00

-2,00

0,00

2,00

4,00

6,00

jan/07

fev/07

mar/07

abr/0

7mai/0

7jun/07jul/0

7ago

/07se

t/07

out/0

7nov

/07dez

/07jan/0

8fev/0

8mar

/08abr

/08mai/0

8jun

/08jul

/08ago/0

8se

t/08

out/08

nov/08

dez/08

jan/09

fev/09

mar/09

Países avançados

Países em desenvolv im ento asiático

Países em ergentes Europa Central-Leste

Am érica Latina

Page 8: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Preços de commodities: deterioração dos termos intercâmbio

50

70

90

110

130

150

170

190

210

230

2003

Q1

2003

Q2

2003

Q3

2003

Q4

2004

Q1

2004

Q2

2004

Q3

2004

Q4

2005

Q1

2005

Q2

2005

Q3

2005

Q4

2006

Q1

2006

Q2

2006

Q3

2006

Q4

2007

Q1

2007

Q2

2007

Q3

2007

Q4

2008

Q1

2008

Q2

2008

Q3

2008

Q4

2009

Q1

Commodities primárias totais Comida Bebidas Matérias primas agrícolas Metais Energia

Page 9: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Contágio de crise na AL• Região é afetada tanto diretamente (fluxos de ks) quanto

indiretamente (comércio externo -> financiamento e recessão mundial) a partir do 4º trim/2008.

• Déficit em transações correntes de 0,6% contra superávit de 0,5% do PIB em 2007.

• Desaceleração do crédito doméstico, que vinha crescendo desde 2003 nos principais economias da região.

• Contudo, grau de exposição externa do SF da região érelativamente pequena, tornando crédito doméstico menos sensível as condições externas.

• Algumas novas fontes de vulnerabilidade surgiram, associadas a inovações financeiros (derivativos com câmbio, no Brasil e México).

• Reação a crise: redução no nível de endividamento externo, em particular do setor público, política de acumulação de reservas, melhoria na composição da dívida pública (aumento dívidas em moeda doméstica), situação fiscal sob controle, etc. proporcionaram algum espaço para governos terem papel estabilizador nos mercados privados.

• Crise externa não resulta em crise fiscal!!!

Page 10: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Saldo de conta capital e financeira da América Latina

-20000

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

2006 2007 2008

Argentina Brasil

México AL e Caribe

Page 11: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Colocação de títulos soberanos e corporativos no exterior (US$ b)

5,52

1,69

0,63

0 0,06 0 0

2

4,6

3

1,86

2,652,45

0

1

2

3

4

5

6

2008 M5 2008 M6 2008 M7 2008 M8 2008 M9 2008M10

2008M11

2008M12

2009 M1 2009 M2 2009 M3 2009 M4 2009 M5

Page 12: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Taxa de crescimento do PIB (%): consumo, investimento e exportações líquidas

-8,0

-6,0

-4,0

-2,0

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

2004 2005 2006 2007 2008 2009*

Argentina Brasil Chile

Colombia México Perú

América Latina

Page 13: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Taxa de desemprego na América Latina

9,2

8,9

9,1

8,1

8,9

8,4

8,2

7,2

7,9

7,5 7,5

7,1

8,5

6

6,5

7

7,5

8

8,5

9

9,5

2006 T1 2006 T2 2006 T3 2006 T4 2007 T1 2007 T2 2007 T3 2007 T4 2008 T1 2008 T2 2008 T3 2008 T4 2009 T1

Page 14: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Taxa de inflação

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

14,0

jan/

07

fev/

07

mar

/07

abr/0

7

mai

/07

jun/

07

jul/0

7

ago/

07

set/0

7

out/0

7

nov/

07

dez/

07

jan/

08

fev/

08

mar

/08

abr/0

8

mai

/08

jun/

08

jul/0

8

ago/

08

set/0

8

out/0

8

nov/

08

dez/

08

jan/

09

fev/

09

mar

/09

abr/0

9

Países avançados Países asiáticos em desenvolvimento

Países emergentes da Europa Central e do Leste América Latina

Page 15: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Reservas cambiais 1Reservas cam biais (m ilhões de SDRs)

-

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

2007M

1200

7M2

2007M

3200

7M4

2007M

5200

7M6

2007M

7200

7M8

2007M

9200

7M10

2007M

11200

7M12

2008M

1200

8M2

2008M

3200

8M4

2008M

5200

8M6

2008M

7200

8M8

2008M

9200

8M10

2008M

11200

8M12

2009M

1200

9M2

2009M

3200

9M4

Argentina Brasil

Chile Colom bia

Mexico Venezuela

Page 16: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Reservas cambiais 2

-6,00

-4,00

-2,00

0,00

2,00

4,00

6,00

jan/07fev/0

7mar/0

7abr/0

7mai/0

7jun/07jul/0

7ago/07se

t/07

out/07

nov/07

dez/07

jan/08fev/0

8mar/0

8abr/0

8mai/0

8jun/08jul/0

8ago/08se

t/08

out/08

nov/08

dez/08

jan/09fev/0

9mar/0

9

Países av ançados

Países em desenv olv im ento asiático

Países em ergentes Europa Central-Leste

Am érica Latina

Page 17: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Dívida externa brutaDívida externa bruta ((US$ bilhões)

0

50

100

150

200

250

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Argentina Brasil

Chile Colom bia

M exico Venezuela

Page 18: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Reservas cambiais/dívida externa CP

0

50

100

150

200

250

300

350

400

2007 2008 2009*

Argentina Brasil Chile Colombia Mexico Perú

Page 19: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Dívida do setor público (% PIB)

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

120,0

140,0

160,0

180,0

200,0

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

América Latina Argentina

Brasil Chile

Colombia Mexico

Venezuela

Page 20: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Políticas dos governos• BCs procuram prover liquidez em moeda estrangeira para setor privado,

para evitar colapso no financiamento externo. Alguns BCs reduzem excaixecompulsório (Br, Colômbia e Peru), introduzem linhas especiais de redesconto, etc. para atenuar contração da liquidez e do crédito doméstico. Contudo, redução da tx de juros em geral só ocorre no final do ano (preocupação com pressões inflacionárias).

• Em alguns países, bancos públicos (Brasil e México) atuam de forma contra-cíclica no mercado de crédito.

• Intervenção no mercado cambial no mercado a vista ou no mercado de swap (Brasil e Chile); intervenções foram não-discricionárias, evitando uma meta com um nível para tx câmbio.

• Provisão de recursos externos: (i) arranjos recíprocos entre BCs do Br e México e FED (30b cada); (ii) Linha de crédito flexível (FCL) de 1 ano do FMI para México ($40b) e Colombia ($10,5).

• Países com alto percentual de recursos não-tributários oriundos de recursos naturais, com baixa carga tributária e/ou maior abertura comercial sofreram maior contrações nas receitas fiscais. Ex: México e Equador. Brasil e Argentina tem menor exposição (CEPAL, 2009).

• Planos de estímulo fiscais: programa de investimento público em infra-estrutura econômica e social – Brasil; plano de obras públicas (Argentina); programa de apoio a economia familiar e emprego (México). Brasil e Chile são os países que mais utilizaram medidas de diminuição e impostos e benefícios tributários.

Page 21: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Taxa de juros do mercado monetário

0

2

4

6

8

10

12

14

16

jan/

07

fev/

07

mar

/07

abr/0

7

mai

/07

jun/

07

jul/0

7

ago/

07

set/0

7

out/0

7

nov/

07

dez/

07

jan/

08

fev/

08

mar

/08

abr/0

8

mai

/08

jun/

08

jul/0

8

ago/

08

set/0

8

out/0

8

nov/

08

dez/

08

jan/

09

fev/

09

mar

/09

Area do Euro EUA Argentina Brasil Chile Colombia Mexico

Page 22: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Conclusões• Esforço prévio de redução da vulnerabilidade econômica num

cenário internacional benigno fortaleceu habilidade de responder a crise.

• Deflação mundial permitiu reação dos BCs (provisão de liquidez, compulsório, e depois do juros), mesmo em países que adotam regime de metas de inflação.

• Reação das políticas, de modo geral, evitou uma deterioração de expectativas mais profunda nas economias latino-americanas, ainda que variando de país a país.

• Países mais dependentes do comércio exterior (como Chile e México) sofrem mais.

• Assim, o mix de política monetária-creditícia e fiscal pode contribuir para atenuar os efeitos da crise, ainda que a reação da política de juros tenha sido lenta e poderia ter sido mais eficaz para evitar desaceleração do crédito.

• Brasil foi um dos países que mais utilizou (e mais pôde utilizar) instrumentos anti-cíclicos e, por isso, tem tido uma boa reação a crise.

Page 23: Crise Financeira Mundial E A AméRica Latina Luz Fernando Paula

Perspectivas• Dada a forte integração econômica mundial, uma recuperação mais

robusta a crise depende do comportamento das economias avançadas e da China, importante em particular no que se refere ao comércio internacional.

• De qualquer modo, países cujo motor de crescimento é o mercado doméstico (e logo menos dependentes do comércio externo) podem ser favorecidos na recuperação econômica.

• Como “crise é oportunidade” é momento de repensar os paradigmas econômicos e os próprios modelos de política econômica, até então dominados pela ortodoxia-liberal.

• Necessidade de desenvolvimento de mercados de capitais domésticos como alternativa ao financiamento externo (estimular liquidez e diversificação do investidor); cuidado com a regulamentação!

• Na AL recuperação econômica e uma certa retomada no fluxo de ksrecoloca velhas questões: conseqüências sobre o aparato produtivo de uma sobreapreciação da taxa de câmbio; como reverter a tendência a primarização da pauta exportadora?