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A6 O ECO LENÇÓIS PAULISTA, SÁBADO, 23 DE OUTUBRO DE 2010 E NTREVISTA THIAGO TRECENTI CONCEIÇÃO GIGLIOLI CARPANEZI E CAROL FERREIRA Tecnologia e um investimen- to de R$ 230 milhões vão fazer da Lwart Lubrificantes a primei- ra empresa brasileira a produzir óleo básico do Grupo II. O pro- duto é matéria-prima para os lubrificantes e atualmente não é produzido no Brasil, nem do pe- tróleo “Nem a Petrobras produz o produto que nós vamos produ- zir. Nem do primeiro refino. Ho- je é 100% importado. Então nós vamos conseguir ter um produto bem diferente no mercado”, diz Thiago Trecenti, diretor da em- presa. A modernização no pro- cesso de rerrefino, denominada de Projeto H, vai garantir que a empresa produza o óleo básico com menos enxofre e traga para a região uma planta que vai pro- duzir hidrogênio, elemento usa- do também em indústrias de ali- mentação, dentre outras. É o hi- drogênio que vai possibilitar esse ganho de qualidade na produção de óleo básico. Mais que isso, o hidrogênio será produzido em Lençóis Paulista pela empresa americana Chemical Enginee- ring Partners – CEP, a partir do gás natural. A previsão é de que a nova fábrica da Lwart, que já co- meçou a ser erguida nas margens da rodovia Marechal Rondon, inicie o processo de produção em novembro de 2011. Já o gás natural deve chegar ao Municí- pio em meados de 2012. Tanto o hidrogênio como o gás natural devem marcar um novo ciclo na economia de Lençóis Paulista e região. Confira na íntegra a en- trevista com Thiago Trecenti. O ECO – Como funciona este novo processo de rerrefi- no do óleo? Thiago Trecenti – O dife- rencial desse projeto em rela- ção à produção de óleo básico rerrefinado é o tratamento com hidrogênio. Então o hidrogênio é como se desse um acabamen- to para o óleo usado, para o óleo rerrefinado... Ele tira alguns con- taminantes, ele faz uma melhor equalização das moléculas que estão presentes nos hidrocarbo- netos, sendo bem técnico. O ECO – Deixa mais vis- coso? Thiago Trecenti – Na verda- de, a viscosidade não está relacio- nada ao processo de acabamento, ou seja, ela não está relacionada ao hidrogênio. O hidrogênio, o que ele faz é dar melhor resistên- cia, por exemplo, a oxidação. O que é oxidação? Quando a gente produz um óleo lubrificante bá- sico, se ele tiver contato com o oxigênio, com o ar que seja, ele oxida – então ele começa ficar mais escuro, começa degradar. O hidrogênio faz com que esta oxi- dação seja mais difícil, é o que a gente chama de resistência à oxi- dação, ele também retira um nú- mero maior de contaminantes, ele tem uma cor diferenciada, ele fica mais clarinho, parece água. Sendo que hoje, se você olhar ne- le ele é mais amarelado, ele é um pouco mais escuro. Então a gente vai conseguir ter uma cor melhor, ou seja, a gente vai retirar um nú- mero maior de contaminantes. O ECO – Isso sempre do óleo usado? Thiago Trecenti – Sempre do óleo usado. A nossa matéria- prima é o óleo usado. Por isso, nós temos o nome de óleo rerre- finado. O primeiro refino, que a Petrobras faz – na verdade o óleo básico vem do petróleo – ele é usado como matéria-prima para a produção de lubrificantes. No lubrificante, 90% da matéria- Projeto Lwart investe para produzir óleo básico de qualidade; hoje produto é 100% importado mar ele num produto nobre, isso tem um valor incrível. O ECO – E quando esta planta deve ficar pronta? Thiago Trecenti – Hoje, a nossa intenção é começar o fun- cionamento dela a partir de no- vembro de 2011. O ECO – E o investimento de R$ 230 milhões é somente da Lwart? Thiago Trecenti – Tem BNDES. Tem uma fração do BNDES. Aproximadamente, 60% do investimento está vin- do do BNDES. O ECO – A planta daqui vai exigir uma mão de obra com uma qualificação muito diferente do que se tem no mercado hoje? Thiago Trecenti – Sim. Um pouco diferente. Na ver- dade, essa é uma fábrica que ela é mais automatizada, ela tem uma tecnologia superior embarcada nela, então mão de obra é mais qualificada. O ECO – Mais qualificada em quê? Seriam engenheiros, técnicos... Thiago Trecenti – Lógico, tem também, tem todas essas opções, tem todas essas pesso- as, mas a gente tem desde enge- nheiros até operadores, até au- xiliares de operação, mas estes operadores já têm que ter um conhecimento mais específico: instrumentação, automação, uma coisa que a gente chama de SDCD, que são controle de painel... é uma fábrica mais au- tomatizada e menos manual, então requer sim... mas não são só engenheiros não, tem ope- radores, mas esses operadores também tem que ter um conhe- cimento maior em automação. O ECO – O hidrogênio vai vir igual o nitrogênio, em tanques? Thiago Trecenti – Não. Nós vamos ter uma planta pro- duzindo hidrogênio aqui. O ECO – Como se produz o hidrogênio? Thiago Trecenti – O hidrogê- nio, você tem algumas formas de produzir. As duas mais conheci- das hoje no mercado são hidróli- se, que você produz hidrogênio a partir da água, água mais energia elétrica. E uma outra, é reforma de vapor, que aí você produz is- so a partir do gás natural. Então, você pega o gás natural e passa ele por um leito catalítico, que a gente chama de catalizadores, que você consegue, através deles, separar o hidrogênio e aí você ter como subprodutos CO2 e água. O ECO – E a Lwart vai usar qual? Thiago Trecenti – Nós va- mos usar esta última opção. O ECO – E o senhor acha que vai chegar esse gás? Thiago Trecenti – Chega, com certeza... prima é o óleo básico e 10% são aditivos. O ECO – E qual é o uso do lubrificante? O que seria Gru- po I e Grupo II? Thiago Trecenti – Na verda- de, o que a gente está falando aí são os óleos básicos. Os óleos bá- sicos são uma fração do petróleo. Ele é utilizado como matéria- prima para produção dos óleos lubrificantes que você usa em veículos, na indústria, em máqui- nas, e pode até usar na agricultu- ra e outras aplicações... O ECO – Precisa ser ma- nipulado? Thiago Trecenti – Exata- mente. Então, o óleo lubrifican- te que está aqui, ele é composto 90% de óleo básico mais 10% de aditivo. Aí sim você pode colocar no seu carro. O que são aditivos? É anticorrosão, é deter- gente, para fazer uma limpeza, é antidesgaste, então tem todo um pacote aqui que você pode colo- car no carro para que ele possa ser considerado lubrificante. O ECO – E isso é o que a Lwart tira hoje do rerrefino? Thiago Trecenti – Não. Nós produzimos óleos básicos. É que a Lwart é chamada de Lwart Lubrificantes, mas na verdade a gente não produz lubrificante, nós produzimos matéria-prima pra produzir lubrificantes. De cada três litros de óleo lubri- ficante usado que chegam na fábrica, dois voltam como óleo básico para o mercado e um li- tro vira subproduto, que a gente extrai, faz a limpeza e redirecio- na. Então, do óleo lubrificante usado você extrai a base mine- ral. Ela está ali, intacta. O que você faz? Você extrai os aditivos que estão ali degredados, então volta a base mineral para o mer- cado, porque a base mineral permanece intacta. Então, aí que está a nobreza da atividade. O ECO – É este óleo ba- se que a Lwart vende nova- mente para quem produz lubrificante? Thiago Trecenti – Exata- mente. Para quem produz o lu- brificante acabado. O ECO – Isso é o Grupo I? Thiago Trecenti – Os óle- os básicos são divididos em três grupos: Grupo I, Grupo II e Grupo III. O Grupo I tem uma qualidade inferior, conforme vai aumentando o grau, ele vai ter uma qualidade melhor. Por exemplo, tem um contaminan- te presente no óleo básico, que é o enxofre, todo mundo fala quanto menos enxofre menos poluição e tudo mais. Quanto maior o grau aqui – maior o grupo –, menor a quantidade de enxofre presente, maior a pureza. Quanto maior o grupo, melhor a cor do óleo, quanto maior o grupo, maior a resis- tência dele à degradações. O ECO – E hoje a produ- ção está no Grupo I indo pa- ra o Grupo II? Thiago Trecenti – Estamos no Grupo I e nós iremos para o Grupo II, que hoje é o que tem o maior volume produzido. A gente não pode chegar no Grupo III hoje, o Grupo II já é o melhor grau possível. O Grupo III ainda é muito novo, ele é produzido, para vocês terem uma ideia, só na Malásia, em fábricas muito específicas, que produzem volu- mes muito pequenos. Então, o volume grande hoje é o Grupo II, são os óleos básicos do Grupo II. O ECO – E é aquele inves- H gente comprou deles, fomos nos EUA buscar. E agora, estamos tentando produzir o maior nú- mero de equipamentos aqui no Brasil, 80% dos equipamentos que vão fazer parte desse novo investimento são fabricados no Brasil e 20% são equipamentos específicos que nós tivemos que buscar na Europa e nos EUA. O ECO – Em média, quanto o senhor acha que vai aumen- tar a produção? Thiago Trecenti – Nós esta- mos colocando 25% de aumento na unidade de Lençóis Paulista. Nós temos duas unidades: uma unidade em Lençóis e uma uni- dade em Feira de Santana (BA). Essa unidade aqui, a capacidade dela vai ser ampliada em 25%. Lá em Feira de Santana a tecnologia não vai, só fica aqui. O ECO – E este produto será vendido com preço su- perior? Thiago Trecenti – Isso nós ainda não sabemos. A expectati- va é que sim. É que nosso preço é regulamentado pela Petrobras, então depende muito de como o mercado estiver no ano do lan- çamento desse produto. Mas a nossa ideia é ter um produto de melhor qualidade, porque hoje o nosso produto tem limitações de aplicações no mercado. E, o nosso negócio é regulamentado por uma legislação aqui no iní- cio da cadeia. Porque, pela legis- lação, que é Conama 362, nós somos obrigados a coletar todo óleo usado disponível no merca- do. Todo óleo usado disponível, ele obrigatoriamente tem que ser rerrefinado, mas não tem ne- nhuma lei que fala que todo óleo que é rerrefinado tem que ser co- mercializado, ou seja, que obri- ga as pessoas a comprarem esse óleo. Depois, lá na frente, é a lei do mercado. Então, não adianta nada ter uma legislação que faça com que eu tenha que coletar, se eu não tiver venda, vai chegar uma hora que eu tenho que parar de coletar. Então, para que isso não aconteça, nós estamos pro- curando fazer um produto me- lhor para que a gente não tenha limitações de aplicações. A gente consiga concorrer livremente no mercado de óleo básico. O ECO – Até então, óleo básico dessa qualidade só se viesse do petróleo? Não ti- nha do rerrefino? Thiago Trecenti – No Bra- sil, nem do petróleo. Nem a Pe- trobras produz o produto que nós vamos produzir. Nem do primeiro refino. Hoje é 100% importado. Então nós vamos conseguir ter um produto bem diferente no mercado. O ECO – E aliado a isso, mais uma questão de meio ambiente. A Lwart já tem essa bandeira, porque ela tira esse óleo usado e agora vocês vão ficar produzindo um óleo com menos enxofre... Thiago Trecenti – Exata- mente. O enxofre é um dos pon- tos positivos. Agora, a beleza des- te negócio está em: nós estamos fazendo um resíduo perigoso, que é o óleo usado, virar um pro- duto extremamente nobre lá no final da cadeia. A beleza está ai. Ou seja, a gente deixa de ter um resíduo que tem um enorme po- tencial contaminante, acho que este discurso está até meio balela, mas todo mundo fala: 1 litro de óleo usado contamina 1 milhão de litros de água, dependendo de onde ele é jogado, mesmo no solo, na água, tem um potencial contaminante muito grande. Pe- gar um resíduo desse e transfor- timento que nós vemos na rodovia? Thiago Trecenti – Exata- mente. Ali nós vamos fazer a modernização, é a mobilização da planta nova. É o Projeto H. É uma modernização. E isso vai fazer com que a gente produza uma quantidade, ela não é muito maior porque nós temos limita- ção em relação ao óleo usado. O ECO – E a empresa vai conseguir captar mais óleo usado? Thiago Trecenti – Nós esta- mos investindo para isso. Parte deste investimento de R$ 230 milhões é para coleta. Então, nós também vamos investir na coleta. O que é investimento na coleta? Aquisição de novos cami- nhões – vamos adquirir 60 novos caminhões –, vamos construir quatro novos centros de coleta, no Nordeste, no Sudeste, e pes- soas, contratação de pessoas: um aumento de 10% no quadro de pessoal, que representa, mais ou menos, umas 70 pessoas. O ECO – E esta tecnolo- gia do hidrogênio, como vocês descobriram, é uma coisa nova... Thiago Trecenti – Na ver- dade, ela não é nova na produ- ção de petróleo, do óleo básico a partir do petróleo. Nos países da Europa e nos Estados Unidos ela já é usada há algum tempo no rerrefino. Então, desde 2008, nós estamos fazendo visitas em empresas da Europa, dos Estados Unidos, saímos visitar, conhecer e vimos que é possível fazer essa tecnologia aqui. Nós compra- mos essa tecnologia de uma em- presa americana. Toda a enge- nharia básica que a gente chama – eles nos fornecem a tecnologia mais a engenharia básica – a Perfil NOME: Thiago Trecenti IDADE: 33 anos FORMAÇÃO: Engenheiro de Produção CARGO: Diretor da Lwart Lubrificantes Cristiano Paccola/O ECO

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A6 O ECO LENÇÓIS PAULISTA, SÁBADO, 23 DE OUTUBRO DE 2010ENTREVISTA

THIAGO TRECENT ICONCEIÇÃO GIGLIOLI CARPANEZI

E CAROL FERREIRA

Tecnologia e um investimen-to de R$ 230 milhões vão fazer da Lwart Lubrificantes a primei-ra empresa brasileira a produzir óleo básico do Grupo II. O pro-duto é matéria-prima para os lubrificantes e atualmente não é produzido no Brasil, nem do pe-tróleo “Nem a Petrobras produz o produto que nós vamos produ-zir. Nem do primeiro refino. Ho-je é 100% importado. Então nós vamos conseguir ter um produto bem diferente no mercado”, diz Thiago Trecenti, diretor da em-presa. A modernização no pro-cesso de rerrefino, denominada de Projeto H, vai garantir que a empresa produza o óleo básico com menos enxofre e traga para a região uma planta que vai pro-duzir hidrogênio, elemento usa-do também em indústrias de ali-mentação, dentre outras. É o hi-drogênio que vai possibilitar esse ganho de qualidade na produção de óleo básico. Mais que isso, o hidrogênio será produzido em Lençóis Paulista pela empresa americana Chemical Enginee-ring Partners – CEP, a partir do gás natural. A previsão é de que a nova fábrica da Lwart, que já co-meçou a ser erguida nas margens da rodovia Marechal Rondon, inicie o processo de produção em novembro de 2011. Já o gás natural deve chegar ao Municí-pio em meados de 2012. Tanto o hidrogênio como o gás natural devem marcar um novo ciclo na economia de Lençóis Paulista e região. Confira na íntegra a en-trevista com Thiago Trecenti.

O ECO – Como funciona este novo processo de rerrefi-no do óleo?

Thiago Trecenti – O dife-rencial desse projeto em rela-ção à produção de óleo básico rerrefinado é o tratamento com hidrogênio. Então o hidrogênio é como se desse um acabamen-to para o óleo usado, para o óleo rerrefinado... Ele tira alguns con-taminantes, ele faz uma melhor equalização das moléculas que estão presentes nos hidrocarbo-netos, sendo bem técnico.

O ECO – Deixa mais vis-coso?

Thiago Trecenti – Na verda-de, a viscosidade não está relacio-nada ao processo de acabamento, ou seja, ela não está relacionada ao hidrogênio. O hidrogênio, o que ele faz é dar melhor resistên-cia, por exemplo, a oxidação. O que é oxidação? Quando a gente produz um óleo lubrificante bá-sico, se ele tiver contato com o oxigênio, com o ar que seja, ele oxida – então ele começa ficar mais escuro, começa degradar. O hidrogênio faz com que esta oxi-dação seja mais difícil, é o que a gente chama de resistência à oxi-dação, ele também retira um nú-mero maior de contaminantes, ele tem uma cor diferenciada, ele fica mais clarinho, parece água. Sendo que hoje, se você olhar ne-le ele é mais amarelado, ele é um pouco mais escuro. Então a gente vai conseguir ter uma cor melhor, ou seja, a gente vai retirar um nú-mero maior de contaminantes.

O ECO – Isso sempre do óleo usado?

Thiago Trecenti – Sempre do óleo usado. A nossa matéria-prima é o óleo usado. Por isso, nós temos o nome de óleo rerre-finado. O primeiro refino, que a Petrobras faz – na verdade o óleo básico vem do petróleo – ele é usado como matéria-prima para a produção de lubrificantes. No lubrificante, 90% da matéria-

Projeto

Lwart investe para produzir óleo básico de

qualidade; hoje produto é 100% importado

mar ele num produto nobre, isso tem um valor incrível.

O ECO – E quando esta planta deve ficar pronta?

Thiago Trecenti – Hoje, a nossa intenção é começar o fun-cionamento dela a partir de no-vembro de 2011.

O ECO – E o investimento de R$ 230 milhões é somente da Lwart?

Thiago Trecenti – Tem BNDES. Tem uma fração do BNDES. Aproximadamente, 60% do investimento está vin-do do BNDES.

O ECO – A planta daqui vai exigir uma mão de obra com uma qualificação muito diferente do que se tem no mercado hoje?

Thiago Trecenti – Sim. Um pouco diferente. Na ver-dade, essa é uma fábrica que ela é mais automatizada, ela tem uma tecnologia superior embarcada nela, então mão de obra é mais qualificada.

O ECO – Mais qualificada em quê? Seriam engenheiros, técnicos...

Thiago Trecenti – Lógico, tem também, tem todas essas opções, tem todas essas pesso-as, mas a gente tem desde enge-nheiros até operadores, até au-xiliares de operação, mas estes operadores já têm que ter um conhecimento mais específico: instrumentação, automação, uma coisa que a gente chama de SDCD, que são controle de painel... é uma fábrica mais au-tomatizada e menos manual, então requer sim... mas não são só engenheiros não, tem ope-radores, mas esses operadores também tem que ter um conhe-cimento maior em automação.

O ECO – O hidrogênio vai vir igual o nitrogênio, em tanques?

Thiago Trecenti – Não. Nós vamos ter uma planta pro-duzindo hidrogênio aqui.

O ECO – Como se produz o hidrogênio?

Thiago Trecenti – O hidrogê-nio, você tem algumas formas de produzir. As duas mais conheci-das hoje no mercado são hidróli-se, que você produz hidrogênio a partir da água, água mais energia elétrica. E uma outra, é reforma de vapor, que aí você produz is-so a partir do gás natural. Então, você pega o gás natural e passa ele por um leito catalítico, que a gente chama de catalizadores, que você consegue, através deles, separar o hidrogênio e aí você ter como subprodutos CO2 e água.

O ECO – E a Lwart vai usar qual?

Thiago Trecenti – Nós va-mos usar esta última opção.

O ECO – E o senhor acha que vai chegar esse gás?

Thiago Trecenti – Chega, com certeza...

prima é o óleo básico e 10% são aditivos.

O ECO – E qual é o uso do lubrificante? O que seria Gru-po I e Grupo II?

Thiago Trecenti – Na verda-de, o que a gente está falando aí são os óleos básicos. Os óleos bá-sicos são uma fração do petróleo. Ele é utilizado como matéria-prima para produção dos óleos lubrificantes que você usa em veículos, na indústria, em máqui-nas, e pode até usar na agricultu-ra e outras aplicações...

O ECO – Precisa ser ma-nipulado?

Thiago Trecenti – Exata-mente. Então, o óleo lubrifican-te que está aqui, ele é composto 90% de óleo básico mais 10% de aditivo. Aí sim você pode colocar no seu carro. O que são aditivos? É anticorrosão, é deter-gente, para fazer uma limpeza, é antidesgaste, então tem todo um pacote aqui que você pode colo-car no carro para que ele possa ser considerado lubrificante.

O ECO – E isso é o que a Lwart tira hoje do rerrefino?

Thiago Trecenti – Não. Nós produzimos óleos básicos. É que a Lwart é chamada de Lwart Lubrificantes, mas na verdade a gente não produz lubrificante, nós produzimos matéria-prima pra produzir lubrificantes. De cada três litros de óleo lubri-ficante usado que chegam na fábrica, dois voltam como óleo básico para o mercado e um li-tro vira subproduto, que a gente extrai, faz a limpeza e redirecio-na. Então, do óleo lubrificante usado você extrai a base mine-ral. Ela está ali, intacta. O que você faz? Você extrai os aditivos que estão ali degredados, então volta a base mineral para o mer-cado, porque a base mineral permanece intacta. Então, aí que está a nobreza da atividade.

O ECO – É este óleo ba-se que a Lwart vende nova-mente para quem produz lubrificante?

Thiago Trecenti – Exata-mente. Para quem produz o lu-brificante acabado.

O ECO – Isso é o Grupo I?Thiago Trecenti – Os óle-

os básicos são divididos em três grupos: Grupo I, Grupo II e Grupo III. O Grupo I tem uma qualidade inferior, conforme vai aumentando o grau, ele vai ter uma qualidade melhor. Por exemplo, tem um contaminan-te presente no óleo básico, que é o enxofre, todo mundo fala quanto menos enxofre menos poluição e tudo mais. Quanto maior o grau aqui – maior o grupo –, menor a quantidade de enxofre presente, maior a pureza. Quanto maior o grupo, melhor a cor do óleo, quanto maior o grupo, maior a resis-tência dele à degradações.

O ECO – E hoje a produ-ção está no Grupo I indo pa-ra o Grupo II?

Thiago Trecenti – Estamos no Grupo I e nós iremos para o Grupo II, que hoje é o que tem o maior volume produzido. A gente não pode chegar no Grupo III hoje, o Grupo II já é o melhor grau possível. O Grupo III ainda é muito novo, ele é produzido, para vocês terem uma ideia, só na Malásia, em fábricas muito específicas, que produzem volu-mes muito pequenos. Então, o volume grande hoje é o Grupo II, são os óleos básicos do Grupo II.

O ECO – E é aquele inves-

Hgente comprou deles, fomos nos EUA buscar. E agora, estamos tentando produzir o maior nú-mero de equipamentos aqui no Brasil, 80% dos equipamentos que vão fazer parte desse novo investimento são fabricados no Brasil e 20% são equipamentos específicos que nós tivemos que buscar na Europa e nos EUA.

O ECO – Em média, quanto o senhor acha que vai aumen-tar a produção?

Thiago Trecenti – Nós esta-mos colocando 25% de aumento na unidade de Lençóis Paulista. Nós temos duas unidades: uma unidade em Lençóis e uma uni-dade em Feira de Santana (BA). Essa unidade aqui, a capacidade dela vai ser ampliada em 25%. Lá em Feira de Santana a tecnologia não vai, só fica aqui.

O ECO – E este produto será vendido com preço su-perior?

Thiago Trecenti – Isso nós ainda não sabemos. A expectati-va é que sim. É que nosso preço é regulamentado pela Petrobras, então depende muito de como o mercado estiver no ano do lan-çamento desse produto. Mas a nossa ideia é ter um produto de melhor qualidade, porque hoje o nosso produto tem limitações de aplicações no mercado. E, o nosso negócio é regulamentado por uma legislação aqui no iní-cio da cadeia. Porque, pela legis-lação, que é Conama 362, nós somos obrigados a coletar todo óleo usado disponível no merca-do. Todo óleo usado disponível, ele obrigatoriamente tem que ser rerrefinado, mas não tem ne-nhuma lei que fala que todo óleo que é rerrefinado tem que ser co-mercializado, ou seja, que obri-ga as pessoas a comprarem esse óleo. Depois, lá na frente, é a lei do mercado. Então, não adianta nada ter uma legislação que faça com que eu tenha que coletar, se eu não tiver venda, vai chegar uma hora que eu tenho que parar de coletar. Então, para que isso não aconteça, nós estamos pro-curando fazer um produto me-lhor para que a gente não tenha limitações de aplicações. A gente consiga concorrer livremente no mercado de óleo básico.

O ECO – Até então, óleo básico dessa qualidade só se viesse do petróleo? Não ti-nha do rerrefino?

Thiago Trecenti – No Bra-sil, nem do petróleo. Nem a Pe-trobras produz o produto que nós vamos produzir. Nem do primeiro refino. Hoje é 100% importado. Então nós vamos conseguir ter um produto bem diferente no mercado.

O ECO – E aliado a isso, mais uma questão de meio ambiente. A Lwart já tem essa bandeira, porque ela tira esse óleo usado e agora vocês vão ficar produzindo um óleo com menos enxofre...

Thiago Trecenti – Exata-mente. O enxofre é um dos pon-tos positivos. Agora, a beleza des-te negócio está em: nós estamos fazendo um resíduo perigoso, que é o óleo usado, virar um pro-duto extremamente nobre lá no final da cadeia. A beleza está ai. Ou seja, a gente deixa de ter um resíduo que tem um enorme po-tencial contaminante, acho que este discurso está até meio balela, mas todo mundo fala: 1 litro de óleo usado contamina 1 milhão de litros de água, dependendo de onde ele é jogado, mesmo no solo, na água, tem um potencial contaminante muito grande. Pe-gar um resíduo desse e transfor-

timento que nós vemos na rodovia?

Thiago Trecenti – Exata-mente. Ali nós vamos fazer a modernização, é a mobilização da planta nova. É o Projeto H. É uma modernização. E isso vai fazer com que a gente produza uma quantidade, ela não é muito maior porque nós temos limita-ção em relação ao óleo usado.

O ECO – E a empresa vai conseguir captar mais óleo usado?

Thiago Trecenti – Nós esta-mos investindo para isso. Parte deste investimento de R$ 230 milhões é para coleta. Então, nós também vamos investir na coleta. O que é investimento na coleta? Aquisição de novos cami-nhões – vamos adquirir 60 novos caminhões –, vamos construir quatro novos centros de coleta, no Nordeste, no Sudeste, e pes-

soas, contratação de pessoas: um aumento de 10% no quadro de pessoal, que representa, mais ou menos, umas 70 pessoas.

O ECO – E esta tecnolo-gia do hidrogênio, como vocês descobriram, é uma coisa nova...

Thiago Trecenti – Na ver-dade, ela não é nova na produ-ção de petróleo, do óleo básico a partir do petróleo. Nos países da Europa e nos Estados Unidos ela já é usada há algum tempo no rerrefino. Então, desde 2008, nós estamos fazendo visitas em empresas da Europa, dos Estados Unidos, saímos visitar, conhecer e vimos que é possível fazer essa tecnologia aqui. Nós compra-mos essa tecnologia de uma em-presa americana. Toda a enge-nharia básica que a gente chama – eles nos fornecem a tecnologia mais a engenharia básica – a

Perfil

NOME:Thiago Trecenti

IDADE:33 anos

FORMAÇÃO:Engenheiro de Produção

CARGO:Diretor da Lwart Lubrificantes

Cristiano Paccola/O ECO