dissertacao catarina - turismo ilha lençóis

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E LIMNOLOGIA PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO SUSTENTABILIDADE DE ECOSSISTEMAS PERSPECTIVAS DO ECOTURISMO NA ILHA DOS LENÇÓIS/MA: TENDÊNCIAS E CENÁRIOS DA SUSTENTABILIDADE Catarina Pinheiro Silva DISSERTAÇÃO DE MESTRADO São Luís - MA 2004

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Page 1: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E LIMNOLOGIA

PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

SUSTENTABILIDADE DE ECOSSISTEMAS

PERSPECTIVAS DO ECOTURISMO NA ILHA DOS LENÇÓIS/MA:

TENDÊNCIAS E CENÁRIOS DA SUSTENTABILIDADE

Catarina Pinheiro Silva

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

São Luís - MA

2004

Page 2: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E LIMNOLOGIA

PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

SUSTENTABILIDADE DE ECOSSISTEMAS

PERSPECTIVAS DO ECOTURISMO NA ILHA DOS LENÇÓIS/MA:

TENDÊNCIAS E CENÁRIOS DA SUSTENTABILIDADE

Catarina Pinheiro Silva

Dissertação apresentada ao Programa de

Pesquisa e Pós-graduação em “Sustentabilidade

de Ecossistemas” da Universidade Federal do

Maranhão, como requisito para a obtenção do

grau de Mestre em Sustentabilidade de

Ecossistemas.

Orientador: Prof. Dr. Márcio Costa Fernandes Vaz dos Santos

Co-orientador: Prof. Antônio Carlos Leal de Castro

São Luís - MA

2004

Page 3: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

SILVA, Catarina Pinheiro

Perspectivas do ecoturismo na Ilha dos Lençóis: tendências e

cenários da sustentabilidade/ Catarina Pinheiro Silva. - São Luís,

2004.

118 f.: il.

Dissertação ( Mestrado em Sustentabilidade de Ecossistemas)-

Universidade Federal do Maranhão, 2004.

1.Ecoturismo - Ilha dos Lençóis/MA 2. Potencial 3.

Sustentabilidade 4. Floresta dos Guarás I. Titulo

CDU: 379.85:504 (812.1)

Page 4: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

Para os meus pais, Maria do Carmo Pinheiro Silva e

José Gilney Silva, meus maiores mestres.

Page 5: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

AGRADECIMENTOS

À Deus que tudo torna possível;

Ao povo da Ilha dos Lençóis pela receptividade que tivemos.

Ao Prof. Dr. Cláudio Urbano Pinheiro, coordenador do Mestrado em

Sustentabilidade de Ecossistemas, pela dedicação e orientações recebidas;

Ao Prof. Dr. Márcio Vaz, pelas sugestões, observações e orientações;

Ao Prof. Dr. Antônio Leal de Castro pela serenidade e amizade

dispensada a todos do Mestrado;

Ao Prof. Dr. José Ribamar Trovão, pelo material bibliográfico cedido;

A todos os amigos do Mestrado, pela alegria da estréia e coragem para

vencer os obstáculos encontrados, em especial à Odenilde Martins Santos e a Sônia

Regina.

Aos amigos do Curso de Ciências Aquáticas, em especial a Denilson

Silva, Andréia Meneses, Anderson Gonçalves, Izabel Almeida e Tiago Dias, pela ajuda

nos trabalhos de campo.

A toda equipe do Comandante “Penheca” no invencível “Labohidro II”,

que nos possibilitou chegar à Ilha dos Lençóis.

A todos os professores do Mestrado e funcionários do

LABOHIDRO/UFMA.

À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Maranhão - FAPEM,

financiadora dessa pesquisa.

Page 6: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

RESUMO

Perspectivas do ecoturismo na Ilha dos Lençóis/MA: tendências e cenários da

sustentabilidade, se constitui em uma abordagem sobre os usos tradicionais e os usos

ecoturísticos potenciais dos principais sistemas ambientais da Ilha dos Lençóis. Os

dados obtidos com a pesquisa favorecem a compreensão do cenário atual. A partir daí,

cenários possíveis de ocorrência futura são traçados, bem como matrizes de tendências e

impactos, nas quais identificam-se os conflitos potenciais entre os usos. Os resultados

do trabalho indicam que o diferencial para o ecoturismo na Ilha dos Lençóis está na

otimização dos aspectos culturais da comunidade nativa, considerados indissociáveis do

produto turístico hora estudado. Observa-se também, a ausência de um estudo mais

detalhado, no Plano Maior, sobre as ilhas do polo turístico da Floresta dos Guarás, pois

apesar do forte apelo ambiental, a região é marcada por ricos traços culturais, ainda

pouco estudados. Por fim, se propõe o incremento de roteiros turísticos chamados

“Roteiros de Inclusão”, que distribuirão o fluxo turístico da Ilha dos Lençóis, pelas ilhas

vizinhas, de forma a permitir a circulação de renda, favorecendo a inclusão social, o que

pode ser reaplicado a todo o polo.

Palavras-chave: Ecoturismo, Ilha dos Lençóis/MA, Potencial, Sustentabilidade, Floresta dos Guarás.

Page 7: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

ABSTRACT

Perspectives of the ecotourism in the Island of Lençóis/MA: tendencies and sceneries of

the sustainability, it is constituted in an approach on the traditional uses and the uses

potential ecoturísticos of the main environmental systems of the Island of the Sheets.

The data obtained with the research favor the understanding of the current scenery.

Since then, possible sceneries of future occurrence are drawn, as well as you stencil of

tendencies and impacts, in which identify the potential conflicts among the uses. The

results of the work indicate that the differential for the ecotourism in the Island of the

Sheets is in the optimization of the native community's cultural aspects, considered

indissociáveis of the product tourist hour studied. It is also observed, the absence of a

more detailed study, in the Larger Plan, on the islands of the tourist pole of the Forest of

Guarás, because in spite of the fort environmental appeal, the area is marked by rich

cultural lines, still little studied. Finally, he/she intends the increment of itineraries

tourist calls “Itineraries of Inclusion”, that you/they will distribute the tourist flow of the

Island of the Sheets, for the neighboring islands, in way to allow the circulation of

income, favoring the social inclusion, what can be reapplied her/it the whole pole.

Key words: Ecotourism, Ilha dos Lençóis/MA, Potential, Sustainability, Forest of Guarás.

Page 8: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS LISTA DE QUADRO 1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 13

2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................... 18

2.1 Breve histórico do turismo ................................................................................ 18 2.2 O Panorama mundial e o turismo na atualidade ................................................. 21 2.3 Ecoturismo: um turismo mais consciente ........................................................... 23 2.4 Maranhão e os desafios do século XXI .............................................................. 28

3. METODOLOGIA ................................................................................................... 35

3.1 Área de estudo................................................................................................... 35 3.2 Coleta de dados .................................................... Erro! Indicador não definido.

3.2.1 Trabalho de campo ..................................................................................... 41 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 43

4.1 Floresta dos Guarás ........................................................................................... 35 4.2 Ilha dos Lençóis – Cenário Atual ....................................................................... 47

4.2.1 Considerações Históricas ............................................................................ 47 4.2.2 Caracterização sócio-econômica e cultural dos Informantes ........................ 48 4.2.3. Sistemas Ambientais da Ilha dos Lençóis ................................................... 58

4.2.3.1 Marinho ............................................................................................... 58 4.2.3.1.1 Manguezal .................................................................................... 60 4.2.3.1.2 Praias ............................................................................................ 63 4.2.3.1.3. Sabkhas ........................................................................................ 64

4.2.3.2 Terrestre .............................................................................................. 65 4.2.3.2.1 Dunas ............................................................................................ 69

4.2.3.3 Lacustre ............................................................................................... 71 4.2.4 Caracterização dos Recursos Turísticos da Ilha dos Lençóis ....................... 75

4.2.4.1 Oferta Turística da Ilha dos Lençóis ..................................................... 75 4.2.4.1.1 Hospedagem: ................................................................................ 75 4.2.4.1.2. Transporte .................................................................................... 76 4.2.4.1.3 Atrativos Culturais ........................................................................ 77 4.2.4.1.4 Atrativos Naturais ......................................................................... 79

4.2.5 Percepção da comunidade local em relação ao turismo ............................... 79 4.2.6 Percepção do turista em relação ao ecoturismo, na Ilha dos Lençóis/MA. ... 80

4.2.6.1 Motivação da Viagem à Ilha dos Lençóis ............................................. 81 4.2.6.2 Divulgação da Ilha: ............................................................................. 82 4.2.6.3 Infra-estrutura de Acesso ..................................................................... 82 4.2.6.4 O que desagradou aos turistas ............................................................. 83

4.3 Usos Tradicionais x Usos Ecoturísticos potenciais, das unidades de paisagem da Ilha dos Lençóis. ..................................................................................................... 84

Page 9: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

4.5.1 Cenário Desejado para a Ilha dos Lençóis ....................................................... 90 4.6 Roteiros de Inclusão .......................................................................................... 92

5. CONCLUSÕES ....................................................................................................... 97

6 RECOMENDAÇÕES: ............................................................................................. 99

6.1 Ilha dos Lençóis: ............................................................................................... 99 6.2 Floresta dos Guarás: ........................................................................................ 100

REFERÊNCIAS APÊNDICE ANEXO

Page 10: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 3.1 - Arquipélago de Maiaú – em destaque a Ilha dos Lençóis.................. 35

FIGURA 4.1 - Internato dos Crentes em Cururupu.................................................... 43

FIGURA 4.2 - Embarcações típicas de Cururupu ..................................................... 43

FIGURA 4.3 - Distribuição etária da população amostrada ...................................... 47

FIGURA 4.4 - Elementos de Satisfação, em morar na Ilha dos Lençóis................... 50

FIGURA 4.5 - Casas da Ilha dos Lençóis.................................................................. 52

FIGURA 4.6 - Armação estrutural de residência, na Ilha dos Lençóis, cobertura de

palha de babaçu...........................................................................................................

53

FIGURA 4.7 - Renda mensal familiar dos informantes............................................. 54

FIGURA 4.8 - Detalhe de vala de fossas na Ilha dos Lençóis, escorrendo em

direção à Praia.............................................................................................................

56

FIGURA 4.9 - Apetrechos de pesca, côfos e caldeirão para torrar

camarão.......................................................................................................................

57

FIGURA 4.10 – Usos do Manguezal ........................................................................ 58

FIGURA 4.11 - Cerca de madeira de mangue........................................................... 59

FIGURA 4.12 - Caeira feita com madeira de mangue............................................... 60

FIGURA 4.13 - Praia da Baía de Lençóis.................................................................. 61

FIGURA 4.14 – Especulação Imobiliária de Lençóis ............................................... 62

FIGURA 4.15 - Sabkhas na Ilha dos Lençóis........................................................... 63

FIGURA 4.16 - Canteiro de hortaliças em um quintal da Ilha dos Lençóis .............. 64

FIGURA 4.17 - Resíduos sólidos orgânicos e inorgânicos em área próxima da

praia ..........................................................................................................................

65

FIGURA 4.18 - Poço entancado................................................................................. 66

FIGURA 4.19 - Poço escavado na areia..................................................................... 67

FIGURA 4. 20 - Cordões arenosos da Ilha dos Lençóis............................................ 68

FIGURA 4.21 - Lagoa formada entre dunas ............................................................ 69

FIGURA 4.22 - Ecossistemas da Ilha dos Lençóis ................................................... 72

Page 11: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

FIGURA 4.23 - Pousada Filhos da Lua na Ilha dos Lençóis/MA............................ 73

FIGURA 4.24 - Porto de Apicum-Açu ...................................................................... 74

FIGURA 4.25 - Estrada Cururupu-Palacete que leva ao porto de Pindobal ............. 75

FIGURA 4.26 - Crença no encantamento da Ilha............... ...................................... 76

FIGURA 4.27 - Atrativos que motivaram a viagem à ilha dos Lençóis..................... 80

FIGURA 4.28 - Fatores que desagradaram os turistas, na Ilha dos Lençóis............ 82

FIGURA 4.29 - Roteiros ecoturísticos na Floresta dos Guarás ................................ 95

Page 12: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

LISTA DE QUADROS

QUADRO 2.1 - Demanda turística internacional – 2003........................................ 20

QUADRO 4.1 - Sistemas Ambientais e Unidades de Paisagem da Ilha dos

Lençóis/MA.............................................................................................................

71

QUADRO 4.2 - Características da sazonalidade da Ilha dos Lençóis..................... 83

Quadro 4.3 - Usos Tradicionais x Usos Potenciais das Unidades de Paisagem da

Ilha dos Lençóis/MA...............................................................................................

85

QUADRO 4.4 - Alterações Naturais e Antrópicas da Ilha dos Lençóis.................. 87

QUADRO 4.5 - Tendências para a Ilha dos Lençóis, com a implementação do

ecoturismo...............................................................................................................

88

QUADRO 4.6 - Benefícios potenciais dos “Roteiros Turísticos de Inclusão”....... 94

Page 13: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

1. INTRODUÇÃO

O estresse originado pela conturbada vida urbana, onde a poluição de

todos os gêneros, a violência e os congestionamentos no trânsito, fazendo com que as

pessoas sintam-se desgastadas psicofisicamente, tem contribuído nos últimos anos para

a fuga das cidades e a busca da natureza, movimento esse que impulsiona um dos mais

fortes ramos da economia mundial: o ecoturismo.

Segundo WESTERN (1995) “Ecoturismo é provocar e satisfazer o desejo

que temos de estar em contato com a natureza, é explorar o potencial turístico visando à

conservação e ao desenvolvimento, é evitar o impacto negativo sobre a ecologia, a

cultura e a estética”, ao que SEABRA (2001) acrescenta; o incentivo à geração de

emprego e renda, a ênfase aos critérios no manejo estético-paisagístico da localidade e a

promoção do bem-estar das comunidades de base familiar.

Adota-se para esse estudo, uma conceituação ainda mais ampla, ao

entender ecoturismo, como uma nova Praxis Educacional. Uma nova forma de

percepção ambiental, que estimula o respeito às diferenças culturais e onde o ecoturista,

passa a se sentir incluso e tão responsável pelos lugares visitados, quanto os autóctones.

Desse modo, a atividade ecoturística ganha valores éticos, indispensáveis

a sua sustentabilidade, uma vez que o turismo é antes de tudo, uma atividade

exclusivamente humana.

O Brasil, País de dimensões continentais, de ecossistemas diversificados

e de múltiplas culturas, possui um dos maiores potenciais ecoturísticos de todo o

mundo. E que apesar de possuir vários programas de incentivo, ainda não desenvolve de

modo satisfatório, sua imagem como destino ecoturístico mundial. Principalmente por

não dispor, de um inventário detalhado de todos os recursos naturais e culturais, de suas

diferentes regiões, que proporcione a criação de vários produtos ecoturísticos.

Page 14: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

14

O Maranhão é privilegiado por sua localização geográfica, apresentando

características ambientais e culturais de três regiões brasileiras (Norte, Nordeste e

Centro-Oeste). Atualmente, desponta no cenário nacional, como um destino turístico em

ascensão, sobretudo pela singularidade dos atrativos culturais e naturais, de seus cinco

polos turísticos: São Luís e Alcântara, Chapada das Mesas, Delta das Américas, Lençóis

Maranhenses e Floresta dos Guarás1.

Vários investimentos estão sendo feitos nos Polos Turísticos

Maranhenses, marcados, sobretudo, pelo Plano Maior - Plano Integrado de

Desenvolvimento do Turismo no Maranhão, do Governo do Estado; PRODETUR –

Programa de Desenvolvimento do Turismo II; PDITIS – Plano de Desenvolvimento

Integrado do Turismo Sustentável, com o Ministério do Turismo e o BID-Banco

Interamericano de Desenvolvimento, através do BNB - Banco do Nordeste do Brasil e

PROECOTUR – Programa de Ecoturismo do Ministério do Meio Ambiente.

Nunca o Maranhão expôs tanto suas potencialidades turísticas quanto

agora, nunca investiu tanto em marketing para atrair a atenção mundial. Muito embora,

os destinos turísticos trabalhados, ainda sejam São Luís e Barreirinhas (Polo Turístico

de São Luís e dos Lençóis Maranhenses, respectivamente), é certo que todo o Estado se

fará mostrar, no momento em que os resultados dessas ações se fizerem sentir, com

maior intensidade.

Desta forma, os “Polos Escapes”, para os quais serão redirecionados os

investimentos turísticos e a demanda turística, serão os Polos do Delta das Américas, da

Chapada das Mesas e da Floresta dos Guarás, no qual está localizada a Ilha dos Lençóis,

objeto desse estudo, o que reforça a importância e urgência desse trabalho.

Salienta-se aqui, que o Polo da Floresta dos Guarás é o único do

Maranhão, trabalhado oficialmente pelo Ministério do Meio Ambiente, como Polo de

Ecoturístico Nacional, recebendo atenção especial do PROECOTUR.

1 O Polo Turístico da Floresta dos Guarás é formado pelos municípios: Cururupu, Cedral, Guimarães Mirinzal e Porto Rico do Maranhão (GEPLAN, 2000)

Page 15: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

15

Observa-se que a Ilha dos Lençóis sempre esteve na “mira” da mídia

local e nacional. Muito antes mesmo, que noticiassem a beleza do Parque Nacional dos

Lençóis, litoral oriental do Maranhão, já se ouvia falar da Ilha2 , no extremo litoral

ocidental, um ambiente repleto de dunas e lagoas, morada encantada do “Rei Sebastião”

e de pescadores cuja singularidade estava em ser, naquela época (década de 70), a maior

comunidade de albinos do mundo.

A similaridade de nomes e ecossistemas entre a Ilha dos Lençóis e os

Lençóis Maranhenses, bem como o fato, de está localizada legalmente no Polo Turístico

da Floresta dos Guarás, a tornam um destino ecoturístico em potencial. Entretanto, para

que essa atividade possa contribuir para o seu desenvolvimento, de forma socialmente

justa, ambientalmente correta e economicamente viável, é preciso que seja planejada,

bem implantada e controlada. Afim de que, suas potencialidades possam ser

transformadas em produtos ecoturísticos, competitivos dentro e fora do mercado

nacional.

Na concepção do ecoturismo em ilhas, existe um marketing natural,

favorecido pela idéia do “reencontro com o paraíso perdido” e da oportunidade de

conhecer ambientes ainda pouco explorados.

O interesse em estudar o potencial da Ilha dos Lençóis para o

desenvolvimento do ecoturismo decorre da observação de que, apesar da Ilha, está

inserida no Polo Turístico da Floresta dos Guarás e de certa forma já incorporada à

cultura maranhense, a sua comunidade nada, ou muito pouco, tem lucrado com isso,

pois a prática da atividade é insignificante e os problemas sociais e ambientais, causados

pela visitação excursionista desordenada, põem em risco a sua integridade.

Os estudos feitos até então, propiciaram apenas uma visão macro da

região. Não havendo levantamentos específicos sobre a Ilha dos Lençóis, que

norteassem a formulação e a implementação de projetos, otimizando os recursos

2 A palavra “Ilha” ou simplesmente “Lençóis”, é uma forma mais direta de referência à Ilha dos Lençóis, adotada nesse trabalho.

Page 16: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

16

ecoturísticos existentes. Contribuindo assim, para a melhoria da qualidade de vida da

população, a manutenção da cultura local e a conservação da fauna e da flora de uma

das regiões mais belas do Estado do Maranhão.

A hipótese dessa pesquisa baseia-se na possibilidade do ecoturismo ser

uma atividade que venha a contribuir para o desenvolvimento sustentável da Ilha dos

Lençóis. Há que se considerar para tanto, o ambiente e os processos histórico-culturais,

fundamentais no estudo da dinâmica insular de Lençóis, cuja área vem sendo

transformada, ao longo de sua existência através da ação antrópica e da natureza.

Objetiva-se com esse documento, a avaliar a sustentabilidade do

potencial da Ilha dos Lençóis para o desenvolvimento do ecoturismo. Para tanto, faz-se

uma caracterização sócio-cultural e ambiental da área em estudo, expondo-se as suas

potencialidades. Identifica-se a percepção do autóctone e do turista sobre o ecoturismo

na Ilha, analisam-se os usos tradicionais e ecoturísticos dos sistemas ambientais de

Lençóis, traçam-se matrizes de tendências e conflitos potenciais desses usos, bem como

do avanço da atividade, monta-se o cenário atual e a partir daí estabelecem-se cenários

possíveis de ocorrência frente atividade ecoturística. Elabora-se um mapa das unidades

de paisagens da Ilha dos Lençóis, com o qual identifica-se o total da área de estudo, bem

como a distribuição dos seus ecossistemas. Avalia-se ainda, a participação da sede do

município de Cururupu como ponto de partida dos turistas; propõe-se roteiros

ecoturísticos integrados e discute-se a ausência no Plano Maior de um diagnóstico

turístico detalhado para, a área insular da Floresta dos Guarás.

Esse documento é fruto da compilação de várias visões: de autores já

consagrados, da pesquisadora, da comunidade autóctone e dos próprios turistas. Espera-

se abrir caminhos para que outros estudos possam ser desenvolvidos no Polo Turístico

da Floresta dos Guarás, favorecendo a implementação de ações sustentáveis de

desenvolvimento e conservação. Para um maior entendimento, esse trabalho é composto

de cinco partes, devidamente seqüenciadas:

Page 17: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

17

A primeira parte traz uma revisão bibliográfica, que faz um breve resgate

histórico do turismo, seguido da contextualização da atividade no mundo, no Brasil e no

Maranhão. Abordando também, aspectos intrínsecos ao ecoturismo.

A Segunda parte é reservada para a apresentação da metodologia usada

na formulação desse trabalho, partindo-se da descrição da área de estudo e dos métodos

e materiais empregados.

Na parte seguinte, apresentam-se os resultados obtidos com a pesquisa,

aos quais soma-se a discussão. Caracteriza-se a oferta turística do município de

Cururupu, atendo-se a seus principais atrativos. Seguindo-se com a caracterização da

área de acordo com os dados obtidos junto aos informantes. Apresenta-se o mapa da

Ilha, caracterizado seus ecossistemas. Enfocam-se ainda, temas fundamentais para o

ecoturismo em Lençóis, tais como: diversidade de uso dos sistemas ambientais e

possibilidade de conflitos, montando assim, o cenário atual da Ilha e projetando cenários

futuros passíveis de ocorrência.

A Quarta parte é destinada às conclusões. Encerrado-se esse trabalho,

com várias recomendações, esperando contribuir para que as intenções de um turismo

sustentável na Ilha dos Lençóis e na Floresta dos Guarás sejam transformadas em atos,

que minimizem impactos e conflitos, mantendo a integridade da comunidade local e da

natureza, bem como proporcionando uma experiência de qualidade aos turistas.

Page 18: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

18

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Breve histórico do turismo

Com raízes na Antiga Grécia (século VIII a.C.) e no Império Romano

(entre os séculos II a.C. e II d.C.), fundamentadas segundo SEABRA (2001), no ócio e

no consumo, o turismo é aprimorado com a Revolução Industrial, que permitiu

melhorias significativas dos transportes e maior tempo de lazer aos trabalhadores.

O turismo é considerado, a maior atividade econômica do mundo, se

analisado o efeito multiplicador - produzido segundo BARRETO (1995) pela sucessão

de despesas que tem origem no gasto do turista e que beneficia os setores ligados

diretamente e indiretamente ao fenômeno turístico - apresentando um crescimento de

260% entre os anos de 1970 e 1990 (OMT: 1990).

Segundo PELLEGRINI (2000), turismo é um “complexo de atividades

centralizadas em viagem, ou seja, na movimentação horizontal do ser humano,

entendendo-se que ele permaneça fora do seu domicílio habitual por mais de 24 horas e

retorne àquele”.

A permanência mais que 24 horas no local visitado, é fundamental para

distinguir o turismo do excursionismo, no qual a visitação do destino turístico se dá em

um tempo inferior. Entender a diferença entre as duas atividades é de suma importância

para que se possa, a partir de então, compreender as conseqüências dessas duas

atividades para a Ilha dos Lençóis, objeto desse estudo.

Uma outra visão sugere WEARING & NEIL (2001) ao dizerem que

turismo significa “viajar para longe de nossa origem, dos nossos lares, para moradas que

não são as nossas, mas que foram construídas especificamente para nós, turistas; para

lugares onde pisamos o sustento de vida de “outros”, tantos humanos quanto não-

humanos...”

Page 19: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

19

Nessa concepção, fica evidente a cadeia ampla e complexa de atividades

econômicas, sociais, culturais, ambientais e políticas que integram o fenômeno do

turismo, havendo intervenções significativas nos polos emissores e receptores de

turistas.

Dentro da infinidade tipológica, na qual dividi-se a atividade turística,

não existe rigidez e exclusividade de termos. Sendo comum vários tipos de turismo

expressos em uma modalidade, como o ecoturismo, que pode contemplar o turismo de

aventura, o de lazer, o cultural, dentre tantos outros, simultaneamente.

A atividade do turismo no Brasil é relativamente recente, sendo conforme

SEABRA (2001), marcada oficialmente com a publicação do Guia Turístico, em 1964.

Desde então, através de equivocadas campanhas de propaganda, o País foi “vendido” 3

no exterior, principalmente durante as décadas de 1960, 1970 e parte de 1980, como

terra exótica de “carnaval-samba-mulata”, se transformando em um paraíso para o

“turismo sexual”.

Nos anos 80 e 90, grandes foram os esforços para o aumento do fluxo

turístico doméstico (“Passaporte Brasil”) e do fluxo internacional (“dólar turismo”).

Porém, as expectativas de crescimento foram frustadas, pela recessão econômica

americana e de alguns países europeus e por abalos na imagem do “Destino Brasil”.

Favorecidas pela divulgação na mídia internacional, da alta criminalidade no Rio de

Janeiro (principal produto turístico do País, ainda hoje) e dos surtos de doenças

epidêmicas como a dengue, o cólera e a AIDS; pelas condições precárias da infra-

estrutura turística; pelos elevados preços praticados pelo turismo nacional frente a

destinos como a Flórida-EUA, o México e o Caribe e pela redução dos investimentos

em marketing em todos os âmbitos governamentais.

Com erros e acertos, ao longo do tempo, vem sendo aprimorada a

fórmula ideal para o turismo brasileiro, construindo-se uma nova imagem para o País,

3 Termo freqüentemente usado na comercialização de um produto turístico ou destino turístico.

Page 20: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

20

de ambientes e culturas múltiplas, que pode e deve fazer do ecoturismo um dos

caminhos para alcançar o desenvolvimento sustentável, até então, utópico.

No século XXI, mais forçosamente do que nos séculos anteriores, existe

a necessidade da sustentabilidade turística. Uma vez que essa deixou de ser emergente e

foi consolidada como uma das maiores atividades econômicas mundiais, apresentando

anualmente, segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) uma receita

bruta em torno de 3,5 trilhões de dólares, ofertando dois empregos em cada dez criados,

em todo mundo.

Em 2003, segundo o Estudo da Demanda Internacional, pesquisa feita

pelo Ministério do Turismo e EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo), o turista

que visitou o Brasil é caracterizado da seguinte forma:

QUADRO 2.1 - Demanda turística internacional – 2003

Características Turistas

Idade Entre 28 e 45 anos

Escolaridade Grau Superior Completo

Tempo de Permanência Em média 2 semanas

Gasto médio diário/pessoa US$ 87,99, aproximadamente R$ 260,00 (1 salário

mínimo)

Motivação p/ viagem 53,9% - Lazer

Influência p/ escolha do Brasil 61,9% - foram influenciados a viajar para o Brasil,

por amigos e familiares.

Intenção de voltar ao Brasil 97,2% dos entrevistados

Hábito de viajar 45,1% viajam com a família

Fonte: Ministério do Turismo e EMBRATUR/2004

Page 21: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

21

Os dados da pesquisa da EMBRATUR revelam que 4,1 milhões de

turistas estrangeiros visitaram o Brasil em 2003, gerando uma receita cambial de US$

3,4 bilhões, apresentando um acréscimo sobre o ano de 2002 em torno de 8,52%.

A Pesquisa de Demanda evidencia ainda, que a maior influência na hora

de viajar, se dá através da propaganda “boca a boca”, onde o índice de satisfação com

determinado destino turístico tem o poder de “alavancá-lo” ou reduzi-lo “às cinzas”. Há

dados na demanda turística que revelam que 1 turista satisfeito influencia 3 amigos,

enquanto que 1 turista insatisfeito influencia negativamente 11 amigos.

Segundo dados da INFRAERO (empresa que administra os aeroportos no

País), de janeiro a junho de 2004 desembarcaram cerca de 2.700.714 estrangeiros em

vôos regulares e 151.287 estrangeiros em vôos charters4 gastando, segundo informações

do Banco Central, US$ 1.625.000.

O Boletim de Desempenho Econômico do Turismo5 indica para o 20

semestre de 2004, otimismo para os empresários do turismo brasileiro prevendo o

crescimento do faturamento, em torno de 20%. Sendo, que 45% dos empresários do

setor, pretendem investir na melhoria da qualidade dos serviços. O que evidencia a

necessidade da atualização, para permanência e expansão dos negócios do turismo.

2.2 O Panorama mundial e o turismo na atualidade

A globalização da economia, os avanços tecnológicos e um maior tempo

reservado ao descanso têm contribuído para que o Turismo seja de fato, a atividade mais

marcante desse novo milênio.

Porém, os conflitos da atualidade marcados, sobretudo, pela guerra

incessante do Iraque, têm provocado abalos consideráveis na demanda turística norte-

4 Vôos realizados em aeronaves fretadas geralmente para várias operadoras de turismo 5 É uma publicação do Núcleo de Estudos Avançados em Turismo e Hotelaria - NEATH/EBAPE-FGV.

Page 22: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

22

americana e européia. Desestabilizando destinos já consagrados como Paris (França) e

Londres (Inglaterra) e insuflando ataques terroristas.

Em contrapartida, favorece aos países tropicais como o Brasil, um

crescimento significativo da atividade turística. Aquecendo o turismo internacional e

reacendendo o turismo doméstico (turismo interno ou nacional), incentivando, por

conseguinte, o crescimento do ecoturismo.

Isso se dá, em virtude de que ninguém, gozando de perfeito ordenamento

mental, submeterá a si próprio e a sua família, aos riscos que a violência dos ataques

terroristas provocam, adiando as viagens ao exterior e redescobrindo o seu próprio País.

“O turismo é uma indústria, que, se por um lado ajuda a promover a

paz, por outro, só se desenvolve em tempos e lugares onde há paz”.

Firmim Antônio6

A guerra muda o foco do turismo e como sugere Firmim Antônio (2003),

o Brasil tem que estar na mente do viajante internacional como alternativa segura,

atrativa e barata. E também precisa estar na mente do próprio brasileiro, que se constitui

em um nicho do mercado em expansão, sendo necessário para isso campanhas de

marketing eficazes.

“ É investindo na crise , que se colhe os melhores resultados !”

Firmim Antônio

É bem verdade, que a divulgação internacional da violência urbana no

Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, provoca abalos consideráveis na sua imagem

(Anexo - I). Desfavorecendo o “Destino Brasil” como um todo, uma vez que se queira

ou não, o Rio ainda é o maior sinônimo do País, no estrangeiro.

6 Presidente da rede ACCOR de hotéis.

Page 23: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

23

Mas, embora a violência das ruas brasileiras seja um entrave ao turismo

receptivo internacional, as grandes metrópoles do País ainda são menos violentas que

muitas cidades americanas e européias e até agora, a salvo dos grandes atentados.

Um outro aspecto é observado, pois se a demanda internacional cai nas

principais capitais e o brasileiro já não se aventura tanto ao exterior, surge uma

demanda crescente nas cidades mais tranqüilas do interior, fazendo crescer assim, o

ecoturismo e o turismo rural.

E, se aumentam o turismo doméstico e o internacional, aumentam

também, as demandas por serviços e instalações com maior qualidade, sendo urgente

programas de qualificação profissional e investimentos em infra-estrutura.

O perfil do turista, agora denominado ecoturista brasileiro - possui idade

entre 25 e 35 anos, a maioria é solteira e possui nível superior, 75% são mulheres

(FURLAN in LEMOS: 1996) - aquele que deixou de ir a Europa e aos Estados Unidos,

passando a viajar dentro do seu próprio País, é semelhante ao dos estrangeiros, com uma

diferença significante, ele permanece mais tempo nos destinos turísticos e gasta mais,

embora seja tão exigente quanto os outros.

Para atender a essa demanda crescente, é necessário que sejam adotadas

estratégias de planejamento e gestão do ecoturismo, voltadas para a conservação

cultural e ambiental dos destinos visitados, de forma a atingir a sustentabilidade da

atividade.

2.3 Ecoturismo: um turismo mais consciente

Os últimos anos têm sido marcados pelo desgaste do turismo

convencional (massificado e impessoal), que apresenta taxa de crescimento anual de

7,5% contra os 25 % de crescimento do ecoturismo, que aparece como um tipo de

turismo alternativo, que oferece ao turista, a possibilidade de vivenciar experiências na

Page 24: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

24

natureza, colaborando com a conservação ambiental de áreas remotas e interagindo com

culturas diferentes.

Aproveitando-se do momento atual, já que “O turismo contemporâneo é

um grande consumidor da natureza...” como afirma RUSCHMANN (1997), o Brasil

investe em campanhas de marketing nos principais centros emissores; Estados Unidos,

Inglaterra, Alemanha, Espanha, França e Itália7, com o objetivo de conquistar e manter-

se nesse mercado promissor, que é o ecoturismo.

As origens do ecoturismo estão ligadas a uma filosofia de vida herdada

de movimentos conservacionistas e ambientalistas, que marcaram a década de 60, sendo

descrito por WEARING & NEIL (2001) como “um turismo interpretativo, de mínimo

impacto, discreto, em que se busca a conservação, o entendimento e a apreciação do

meio ambiente e das culturas visitadas”.

SEABRA (2001) menciona que, o clima, os rios piscosos, um enorme

litoral, a fauna e flora exuberantes, cachoeiras, águas cristalinas e uma população

hospitaleira, invariavelmente humilde e servil, são fatores determinantes para o

desenvolvimento do ecoturismo no Brasil. Embora, não se possa concordar que a

sustentabilidade da atividade turística, de alguma forma, seja construída na servidão

entre as pessoas e sim, no respeito mútuo e na valorização das diferenças culturais.

O Ministério da Indústria, Comércio e Turismo e o Ministério do Meio

Ambiente elaboraram em 1994, o documento “Diretrizes para uma Política Nacional de

Ecoturismo”. No qual o ecoturismo é definido como:

“Um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o

patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma

consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-

estar das populações envolvidas”.

7 Fonte: EMBRATUR-Instituto Brasileiro de Turismo. Estudo da Demanda Turística Internacional: 2001

Page 25: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

25

Após dez anos, vê-se que muitas das orientações da Política Nacional de

Ecoturismo não foram implementadas, por falta de conhecimento por parte dos destinos

turísticos envolvidos, descaso do trade8 turístico e principalmente pelo descaso do poder

público.

No ecoturismo, o viajante chama para si a responsabilidade da

manutenção dos lugares visitados, ele é mais consciente do seu papel enquanto

consumidor, preocupando-se com a conservação ambiental e cultural das comunidades

visitadas. Adotando uma postura, impulsionada pela crescente adoção do “marketing

verde” , do “ambientalmente correto” e do “socialmente justo”.

Há que se observar, como descreve o Papa João Paulo II (Anexo II) que o

turismo é sim, uma atividade que permite a aproximação dos povos em clima de paz,

embora que em muitos casos, haja a opulência do “turista rico”, sobre as comunidades

receptoras e extremamente pobres. O que contribui, onde não há planejamento, para

reforçar as diferenças e aumentar o abismo cultural entre visitante e visitado,

favorecendo a baixa estima dos autóctones.

Para KRIPPENDORF (1989) “a liberdade e o prazer de um são o fardo e

o trabalho do outro. O ambiente de férias se choca com o ambiente de trabalho e a

necessidade de repouso com as necessidades da existência. O dinheiro de um é o ganha

pão do outro”.

Afim de amenizar esse quadro, o ecoturismo tem que ser uma atividade

fomentada no respeito mútuo entre os povos e nas limitações dos recursos, uma vez que,

segundo WEARING & NEIL (2001), as oportunidades para sua prática se perderão, se

o poder de recuperação e a capacidade de suas comunidades de absorver os impactos,

forem superados, ou ainda, se a biodiversidade e a paisagem forem desconfiguradas

significativamente.

8 Grupo de empresários de determinado setor

Page 26: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

26

Ao observar a oferta turística de toda a América Latina, BARRETO

(1991) comenta “ vemos que muitas vezes com as palavras pitoresco ou folclórico

justifica-se muita pobreza e muita injustiça. Se há setores, dentro das próprias nações,

que para manter o seu bem-estar precisam que essa pobreza continue dessa maneira, de

modo algum pode o turismo também ser cúmplice desse estado de coisas.”

Margaritta Barreto, provoca uma reflexão sobre a percepção do

ecoturismo pelo autóctone (o viajado) e pelo ecoturista (o viajante). O nativo que habita

as mais remotas regiões “ainda preservadas”, nas quais a beleza paisagística e a fartura

do alimento (peixes e caças) são abundantes, possui inúmeras carências que retardam o

seu desenvolvimento, tais como: saúde, comunicação, transporte e educação. Estes são

condenados a viver marginalizados, em nome dos outros, daqueles que “amam a

natureza e o natural”, mas voltam para suas casas onde o conforto da tecnologia e o

acesso aos bens de consumo lhe garantem a dignidade humana.

Longe de se fazer aqui, tratados antropológicos, mas essa realidade é

verificada em muitos destinos turísticos e ecoturísticos, onde foram implantadas tais

atividades, sem que fosse levado em conta, os anseios das comunidades locais.

Por isso, para alcançar a sustentabilidade da atividade é necessário que

haja responsabilidade de todos: do trade turístico, do governo, de organizações não-

governamentais, de ambientalistas, das comunidades receptoras e principalmente do

próprio ecoturista que passa a ser compreendido como co-gestor, do ecoturismo.

No Brasil, vários destinos ecoturísticos já foram consagrados pela

demanda ecoturística, principalmente internacional, são os casos de Bonito, no Mato

Grosso do Sul; Pantanal Matogrossense, no Mato Grosso; Chapada Diamantina na

Bahia e tantos outros lugares da Amazônia Brasileira.

Em Bonito, no Mato Grosso do Sul e no Pantanal Matogrossense em

Poconé, no Mato Grosso, que são considerados modelos ecoturísticos no País, observa-

se que a atividade nasceu como necessidade de diversificação da economia local, até

Page 27: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

27

então baseada na pecuária bovina e na extração de calcário, contribuindo hoje, de forma

significativa para a sustentabilidade ambiental, social e econômica da região.

Em Bonito (MS), houve uma preocupação em preparar uma estrutura de

qualidade para receber turistas cada vez mais exigentes, sendo incentivado a capacitação

profissional, a melhoria das instalações físicas dos atrativos e principalmente a união do

trade turístico no COMTUR – o mais atuante do País. O acesso a todos os atrativos de

Bonito se dão por meio de “voucher” único.

Já no Pantanal, apesar da beleza dos atrativos naturais, principalmente da

fauna, apreciada na Transpantaneira - estrada-parque, a estrutura turística ainda deixa

muito a desejar, em termos de qualidade de serviços, embora seja um turismo voltado

quase que exclusivamente para o mercado externo.

No Maranhão, o destino atual mais comentado, Barreirinhas, apresenta

inúmeras deficiências estruturais, além da ausência de capacitação profissional para o

turismo. A explosão da atividade acarretou a ilusão de que, sempre haverão turistas na

cidade, o que não se tem observado nos últimos meses, uma vez que a maioria dos

hotéis de luxo, passa a maior parte do tempo com suas instalações ociosas.

Pode-se considerar no Maranhão, a Ilha do Caju, como um destino

ecoturístico dos mais respeitados. Sendo sua área legalizada como RPPN - Reserva

Particular do Patrimônio Natural, apresentando uma demanda selecionada de ecoturistas

de alto nível, uma vez que seus produtos, são bastante caros para o mercado nacional.

O ecoturismo é uma oportunidade para lugares de beleza e cultura

privilegiadas como as do Maranhão, cabe observar que esta se estabelece na medida em

que há planejamento e políticas públicas, voltadas a atender as necessidades de cada

lugar.

Dentre os impactos positivos sobre o ambiente e a comunidade local,

observados pela FAO/PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente)

Page 28: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

28

(1993) e OMT/Unep (1992) apud KINKER (2002), destacam-se: a geração de emprego

e renda para a população direta ou indiretamente, diversificação e estímulo à economia

local, melhoria da infra-estrutura básica, possibilidade do turista vivenciar o mundo

natural, estímulo à conservação ambiental, estímulo à criação de áreas protegidas e

RUSCHMANN (1997) acrescenta: a valorização da herança cultural, desenvolvimento

do orgulho étnico, interação cultural e aumento da compreensão entre os povos, além de

favorecer à recuperação psicofísica dos indivíduos viajantes.

O ecoturismo deixa de ser oportunidade e passa a ser ameaça quando os

impactos negativos superam os positivos, RUSCHMANN (1997) e KINKER (2002)

citam alguns: a descaracterização cultural; a vulgarização das manifestações

tradicionais; a arrogância cultural; a destruição do patrimônio natural e cultural; a

poluição; o acúmulo de lixo; a contaminação dos mananciais por esgotos; a poluição

sonora e ambiental (motores de barcos, geradores de eletricidade); a coleta e destruição

da vegetação; os ruídos que assustam animais (Anexo III), provocando fuga dos ninhos;

a especulação imobiliária; a perda do poder aquisitivo da população residente; o

aumento da inflação; o aumento da população residente, com pessoas em busca de

oportunidades.

2.4 Maranhão e os desafios do século XXI

O Estado do Maranhão iniciou o século XXI, com enormes desafios,

dentre os quais se destaca, a reversão dos quadros de miséria e abandono a que são

relegados boa parte de seus habitantes.

A situação econômica estadual é desafiadora, pois se por um lado passou

a configurar no cenário nacional como o lugar ideal para a implantação de mega

projetos internacionais, como a Siderúrgica em São Luís, por outro, ainda aparece como

um dos locais de menor índice de desenvolvimento humano do País.

Page 29: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

29

Questiona-se então, como pode ser possível tão pouco desenvolvimento

se são tantas as potencialidades ? Se são tantos os ecossistemas, se existe abundância de

rios perenes, se o período das chuvas é regular, se existe tanto chão, tanta gente e tanta

beleza ? Como pode o Maranhão ser ainda tão pobre, sendo tão rico?

A questão é muito complexa e não cabe aqui, ousar-se respondê-la.

Apenas observa-se, que o desconhecimento do verdadeiro potencial do Estado e das

formas adequadas de manejo, bem como, a baixa formação do capital humano, a má

administração dos bens públicos, a pouca implementação de políticas direcionadas a

redistribuição de renda, a grande concentração de terras, dentre outros, contribuem para

o enorme atraso do Maranhão, diante de outros estados brasileiros.

O Estado, ainda não dispõe de documentos sobre a totalidade de seu

potencial natural e cultural, que subsidie planos de gestão adequados a suprir suas

enormes carências. Além disso, as ações governamentais são relativamente lentas,

variando com o grau de interesse dos governantes na política de implementação.

Dessa forma, a atividade turística, ainda hoje, é relegada a um segundo

plano, pois pré-conceitos, desconhecimento da atividade e principalmente,

desconhecimento da real potencialidade do Estado, dificultam e atrapalham, o que pode

ser o maior impulsionador econômico de todos os tempos.

O Maranhão até a década de 80 tinha apenas dois produtos turísticos no

mercado: São Luís e Alcântara, ambas cidades históricas, hoje já tombadas pela

UNESCO como Patrimônio da Humanidade. Todo o fluxo turístico do Maranhão,

passível de medição, com análise da taxa de ocupação de hotéis – BOH9 - e número de

desembarque, era direcionado ao turismo cultural, uma vez que os atrativos turísticos

trabalhados eram sobretudo, a arquitetura dos casarios coloniais, esquecendo-se todas as

potencialidades turísticas naturais que privilegiam a Ilha de São Luís e Alcântara.

9 BOH - Boletim de Ocupação Hoteleira

Page 30: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

30

No final da década de 90, o governo estadual da época, elaborou o

primeiro plano de desenvolvimento do turismo – o PLANO MAIOR – Plano de

Desenvolvimento Integral do Turismo – sendo concebido levando em consideração que,

a condição básica para o crescimento turístico no Estado, está no desenvolvimento

integrado dos aspectos sociais, econômicos, urbanos e na preservação dos recursos

naturais.( MARANHÃO,2000)

O Plano Maior estabeleceu a regionalização do Maranhão em cinco Polos

de Interesse Turístico, considerando a homogeneidade e a proximidade dos atrativos

turísticos, são eles:

Polo da Floresta dos Guarás: localizado no litoral ocidental do

Maranhão, na Área de Proteção Ambiental das Reentrâncias Maranhenses, área de

destaque entre as Zonas Úmidas de Importância Internacional pela Convenção

RAMSAR e área de Reserva de Migração para aves Límicolas. Parte desse Polo

Turístico (município de Cururupu) também pertence à Reserva Extrativista Marinha de

Cururupu. Esse polo abrange os municípios de Cururupu, Guimarães, Cedral, Porto

Rico, (Mirinzal e Alcântara), segundo MARANHÃO (2000). Outros municípios são

citados no Zoneamento Ecológico e Econômico da Floresta dos Guarás entre eles:

Serrano do Maranhão e Apicum-Açú.

Polo dos Lençóis Maranhenses: localizado no extremo litoral oriental

do Estado, área do Parque Nacional dos Lençóis, sendo caracterizado por um dos

fenômenos geológicos mais raros do mundo, um deserto cheio de lagoas de águas

cristalinas, formadas por chuvas intensas. Abrange os municípios de Barreirinhas,

Humberto de Campos, Primeira Cruz, Santo Amaro do Maranhão e Morros.

Polo do Delta das Américas: localizado na Área de Proteção Ambiental

dos Pequenos Lençóis, desde Paulino Neves até a divisa com o estado do Piauí.

Abrange os municípios de Paulino Neves, Tutóia e Araioses.

Page 31: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

31

Polo de São Luís: abrange os municípios São Luís, Raposa, São José de

Ribamar e Paço do Lumiar e Alcântara. É caracterizado pelo turismo cultural (São Luís,

Alcântara), Raposa e pelo turismo religioso (São José de Ribamar).

Polo da Chapada das Mesas: é caracterizado por ser a área de maior

preservação de cerrados da América do Sul, 10 milhões de hectares, possuindo

cachoeiras, serras e morros de beleza ímpar. Abrange os municípios de Carolina,

Riachão e Imperatriz.

O PLANO MAIOR destaca a importância do turismo para a economia do

Estado, contemplando ações de fomento de geração de emprego e renda para a melhoria

da qualidade de vida da população e a preservação dos ecossistemas na exploração

sustentável dos recursos naturais.

As metas do Plano Maior para o turismo no Maranhão, são de atingir o

número de 1.500.000 turistas circulando/ano, nos cinco polos turísticos até 2010, dos

quais 300.000 seriam turistas estrangeiros, alcançando-se uma receita direta de R$ 620

milhões /ano e gerando na fase de implantação 130.700 empregos e na fase operacional

10.300 empregos.

O que na verdade têm-se observado, é que os polos dos Lençóis

Maranhenses e São Luís, têm detido a maior parte dos investimentos econômicos, por

questões meramente políticas ou em virtude da singularidade do polo dos Lençóis. E

como São Luís é, por sua estrutura, o portão de entrada do Estado, atrai também tais

investimentos.

No diagnóstico do Plano Maior, foi detectado que o Estado era

desconhecido dos mercados turísticos internacional e doméstico, o que foi marcante

para o lançamento da campanha de marketing “ Maranhão – o segredo do Brasil”, sendo

direcionada aos profissionais do trade turístico, para os turistas, para a imprensa e para

os investidores.

Hoje, 4 anos passados do lançamento oficial do Plano Maior, o Estado

vive a consolidação da campanha de marketing, agora sob o slogan “Maranhão - a

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32

grande descoberta” sendo trabalhada junto aos principais veículos de comunicação e

culminando com aparições nas telenovelas da Rede Globo.

As novelas “O Clone” (2002) e “Da Cor do Pecado” (2004), ganharam

locações em São Luís, Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (Barreirinhas e Santo

Amaro) e Alcântara. Estas novelas impulsionaram o fluxo turístico para o Estado,

mostrando parte da cultura maranhense e cometendo “gafes” imperdoáveis para os

ludovicenses, como a inexpressividade da má falada língua, dos atores globais e a

substituição de nomes da culinária maranhense, beijú por tapioca, por exemplo, além de

desconsiderar as distâncias geográficas entre as localidades com Barreirinhas, Alcântara

e São Luís.

Além da propaganda, como observa LOPES JÚNIOR (1999:228), as

novelas Globais contribuem, para a redefinição do imaginário nacional sobre o Nordeste

brasileiro, no qual as belezas do litoral, das dunas e do mar de águas mornas, apagam a

imagem do Nordeste de profundo atraso, das secas e de um povo miserável.

Paralelo a isso, veiculações esporádicas nos tele-jornais nacionais e em

revistas, além da internet, adoçam a curiosidade de milhões de brasileiros e

estrangeiros, contribuindo para que o produto “Maranhão” seja o “objeto de desejo”

desses turistas, que muitas das vezes só não realizam seus sonhos de viagem, em virtude

dos altos preços, ainda praticados. O que pode ser considerado numa visão imediatista

algo ruim, mas que representa a seletividade da atividade turística, expressa aqui, na

qualidade dos turistas e não na quantidade.

A Ilha dos Lençóis costuma ser visitada freqüentemente por jornalistas

que abordam em suas reportagens as belezas naturais e as singularidades culturais da

comunidade, bem como, as dificuldades em chegar à Ilha. As últimas reportagens foram

exibidas no Jornal Hoje da Rede Globo e na Rede Bandeirantes. Essas reportagens, na

maioria das vezes, recebem apoio do Estado servindo como um marketing da Ilha e da

Floresta dos Guarás.

Page 33: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

33

As ações de capacitação profissional para o turismo, têm permitido a

inclusão de muitas pessoas no mercado de trabalho, através de cursos subsidiados por

recursos estaduais e federais, implementados por órgãos como o SEBRAE – Serviço

Brasileiro de Apoio a pequena e micro-empresa e o SENAC – Serviço Nacional do

Comércio. A maioria dos polos já foi, ou está sendo, contemplada com essas ações. Para

o Polo da Floresta dos Guarás as ações se iniciaram com levantamentos no 20 semestre

de 2004.

O ano de 2004 tem sido marcado por grandes passos no setor turístico

maranhense, sendo implantada em janeiro, a Câmara Governamental do Turismo e

criado o Fórum de Turismo do Estado do Maranhão, que conta com a participação do

trade turístico e de órgãos públicos, objetivando contribuir para a formulação e

implementação da Política de Turismo do Estado, fomentando a regionalização.

A regionalização do turismo no Maranhão vem contribuir para o

fortalecimento dos polos turísticos, promovendo ações de turismo integrado de forma a

contemplar todos os municípios envolvidos.

O Programa de Municipalização do Turismo no Maranhão, através dos

COMTURs - Conselhos Municipais de Turismo, busca trazer para o âmbito municipal,

a responsabilidade das ações do turismo. É composto de integrantes do poder público

municipal e do trade turístico. Ainda são bastante incipientes não atingindo a totalidade

dos municípios turísticos do Estado.

Em Cururupu, apesar de já ter acontecido a 3a Oficina de

Municipalização do Turismo (mecanismo preparatório para que se instale o COMTUR),

em 2003, ainda hoje o Conselho não é uma realidade. A ausência de representantes das

Ilhas mais importantes para o ecoturismo do Polo da Floresta dos Guarás, suscita uma

desconexão entre objetivos e ações desse Conselho.

No que se refere aos avanços na infra-estrutura, merece destaque a

internacionalização do aeroporto Marechal Cunha Machado, em São Luís, que

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34

certamente contribuirá para o crescimento do turismo internacional, uma vez que facilita

a operacionalização de vôos charters10. (Anexo IV)

10 Vôos fretados por uma, ou mais de uma operadora de turismo

Page 35: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

35

3. METODOLOGIA

3.1 Área de estudo

3.1.1 Floresta dos Guarás

O Polo Turístico da Floresta dos Guarás compreende uma área de 1.804,4

Km² e está estabelecido sobre cinco unidades de conservação: a Área de Proteção

Ambiental da Baixada Ocidental Maranhense - Ilha dos Caranguejos, a Reserva

Extrativista do Quilombo do Frechal, Área de Proteção Ambiental das Reentrâncias

Maranhenses, Parque Estadual Marinho do Parcel de Manoel Luiz e Reserva

Extrativista Marinha de Cururupu.

O Plano de Desenvolvimento Integral do Turismo do Maranhão – Plano

Maior elegeu, como prioridade para o Polo da Floresta dos Guarás, as ações de

educação ambiental, antes mesmo da consolidação da área como um destino

ecoturístico. Para isso, foi realizada em março de 2000, numa ação conjunta dos

Governos Estadual (Gerência de Planejamento - Subgerência de Turismo) e Federal

(Ministério do Meio Ambiente – Secretaria da Amazônia Legal), uma Oficina de

Planejamento Participativo, contando com representantes dos municípios de Cururupu,

Mirinzal, Cedral e Guimarães. Entretanto, apesar de terem sido elencados no Plano de

Ação (Anexo V), vários resultados a serem atingidos, observa-se que as ações sofreram

um enorme retardo.

Além disso, nota-se que o diagnóstico feito da parte insular do polo, não

levou em consideração as particularidades culturais de cada ilha, homogeneizando o

ambiente e a cultura da região.

Tudo parece muito igual de longe, mas ao se aproximar a escala,

descobre-se o quanto o isolamento geográfico favorece as singularidades culturais nas

ilhas das Reentrâncias Maranhenses, como é o caso da Ilha dos Lençóis.

Page 36: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

36

Os momentos de transição governamental em todos os âmbitos no Brasil

geram paralisações e/ou engavetamento dos planos existentes, assim os municípios

envolvidos ficam no “stand by”, e a população invariavelmente ressente-se com isso.

No polo turístico da Floresta dos Guarás, o atraso nas ações de

implementação criou uma ansiedade e, conseqüente, descrebilidade ao Plano Maior e às

ações do Proecotur. Por alguma razão, nem as campanhas de educação ambiental,

previstas no Plano, foram executadas, apesar do amplo material criado tais como,

cartilhas e vídeos, sendo usados “para aproveitar”, em outros polos turísticos.

O que se presume que tenha havido é a espera do governo estadual, por

implementações e recursos diretos do Ministério do Meio Ambiente, uma vez que o

polo da Floresta dos Guarás é considerado polo ecoturístico nacional.

Apesar de tudo isso, seguramente a Floresta dos Guarás será o novo foco

de investimentos públicos e privados do turismo no Maranhão e uma vez que, não se

pode retroceder no tempo para recuperá-lo, tem-se que urgentemente otimizar todos os

recursos disponíveis, dando prioridade à capacitação profissional e melhoria de infra-

estrutura básica nos municípios envolvidos.

3.1.1.1 Observadores de Aves

O Polo Turístico da Floresta dos Guarás foi concebido com esse nome

devido a abundância da ave guará na região. Buscava-se com isso, atingir o seleto

mercado dos observadores de aves, que totalizam no mundo cerca de 60 milhões de

pessoas.

Dentre as 9.700 espécies de aves existentes no planeta, 32% são

encontradas na América do Sul, sendo que 17% destas, ou seja, 1.661 são encontradas

no Brasil, que ocupa o terceiro lugar entre os países de maior diversidade em avifauna.

Entretanto, o Brasil não otimiza esse recurso natural como atrativo ecoturístico,

Page 37: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

37

perdendo com isso um mercado promissor, junto a países como a Inglaterra que possui

mais de 1 milhão de observadores de aves, os Estados Unidos, a África do Sul,

Alemanha, Austrália, Dinamarca, Espanha, França, Japão e Holanda.

Os altos custos que envolvem a atividade mostram quão seleta ela é e

quanto representa em termos de captação de divisas para os principais destinos.

Segundo MOURÃO (2000), um observador de aves gasta em média U$ 300/dia na

Antártica e Ilhas Falkland, U$ 190/dia na Austrália, U$ 185/dia no Quênia e U$ 130/dia

no Equador.

A região Noroeste do Maranhão apresenta cerca de 42% das espécies da

avifauna registradas no Estado. Entre as baías de Cumã e Turiaçú foram encontradas 79.

Além do guará, outras aves como o maçarico-real - Numenius phaeopus e a garça

branca Egretta thula, podem ser observadas (MARANHÃO, 2001).

A Ilha dos Lençóis é um desses lugares privilegiados que pode receber

observadores de aves e fazer desse ramo do ecoturismo uma grande oportunidade de

desenvolvimento.

Chama-se atenção, para que a implementação do Polo da Floresta dos

Guarás, não se dê exclusivamente baseada na observação das aves, pois se estaria

correndo o risco de criar nos pretensos ecoturistas, a expectativa de fácil avistamento,

que pode ocasionar frustrações devido a sazonalidade da presença de algumas espécies

na região, bem como pela dificuldade de deslocamento até os locais de maior

concentração, geralmente remotos e distantes dos povoados.

O marketing que em um primeiro momento seria altamente eficaz,

poderá se transformar em um anti-marketing que atingirá a estrutura do polo como

destino ecoturístico, ao frustrar as expectativas dos birdwatchers ou birders, como são

chamados os observadores de aves.

Por isso, para otimizar os recursos avifaunísticos da região e atingir o

mercado dos observadores de aves, vários investimentos públicos e privados têm que

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38

ser implementados na área, uma vez que estes clientes são altamente exigentes, com a

segurança e o conforto da atividade.

3.1.2 Ilha dos Lençóis

A Ilha dos Lençóis localiza-se na porção leste do Arquipélago de

Maiaú11, Figura 3.1, município de Cururupu (1º 45’ de latitude S e 44º 46’21” de

Longitude W), no Estado do Maranhão. Possui uma população de 412 pessoas (RESEX

Marinha de Cururupu/2003). Dista cerca de 53 Km (em linha reta) da sede do

município e 160 Km de São Luís (capital do Estado). Pertence à Microrregião do Litoral

Ocidental Maranhense, estando legalmente, sob Decreto Estadual nº 11901/91 na APA

– Área de Proteção Ambiental das Reentrâncias Maranhenses, unidade de conservação

que permite o uso sustentável dos recursos. Também se encontra em área da Rede

Hemisférica de Defesa das Aves Limícolas, Convenção para Proteção das Áreas

Úmidas Internacionalmente Importantes (Sítio RAMSAR), Reserva Extrativista

Marinha de Cururupu (em implantação) e Polo Turístico da Floresta dos Guarás.

A Ilha dos Lençóis possui uma área de 566,25 ha, dentre os quais 301,63

ha são de cordões arenosos (caracterizados por dunas e paleo-dunas), 156,64 ha de

manguezal, 45,40 ha de lâmina d’água (lagoas) e uma margem pequena de sabkhas. A

área da Ilha “própria” para construção de casas é bem restrita, situando-se

principalmente na parte noroeste e centro-norte. A distância entre os pontos extremos ao

Norte e ao Sul da Ilha, é em torno de 5,00Km, o perímetro totaliza cerca de 14 Km,

dentre os quais um terço é marcado por manguezais e o restante pelas praias da Baía de

Lençóis e pela praia de mar aberto.

O clima na Ilha dos Lençóis caracteriza-se como quente semi-úmido

tropical de zona equatorial (MINER: 1979 apud MARANHÃO, 2002). A temperatura

média observada, gira em torno dos 28ºC.

Page 39: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

39

O período chuvoso é mais intenso de fevereiro a maio e o período seco

varia de setembro a novembro. Segundo dados do Zoneamento Ecológico e

Econômico do Polo Turístico da Floresta dos Guarás, na região da APA das

Reentrâncias a pluviosidade apresenta uma variação marcante proveniente da complexa

dinâmica da circulação atmosférica, além dos fatores de latitude e maritimidade. A

umidade relativa do ar funciona como um regulador térmico, considerando que a região

recebe forte influência da massa de ar oceânica. Os valores higrométricos registrados

na Ilha dos Lençóis, durante o período seco (outubro) apontavam 76%.

3.2 Coleta de dados

Para a realização desse trabalho, foram levantados dados primários e

secundários, abrangendo os seguintes aspectos: Climatologia, Geomorfologia,

Vegetação, Sócio-economia, Uso da Terra, Cultura e População, utilizando-se para

tanto: Carta Planimétrica do IBGE, folha SA.23-A-C (MI-87), escala 1:250.000,

formato Geotiff, disponível em http//www.zee.ma.gov.br; Carta Planimétrica do IBGE,

folha SA-23-V-O (MI-86), escala 1:250.000, formato Geotiff, disponível em

http//www.zee.ma.gov.br; Carta Imagem Landsat, folha SA-23-X-C (MI-87), escala

1:250.000, formato Geotiff, disponível em http//www.zee.ma.gov.br; Dados do Censo

2000 (IBGE); Dados da Fundação Nacional de Saúde; Relatório do Zoneamento

Costeiro do Maranhão; Relatório do Zoneamento Ecológico e Econômico da Floresta

dos Guarás, Relatório da Oficina de Municipalização do Turismo em Cururupu,

Relatório da RESEX Marinha de Cururupu-2002, trabalhos científicos desenvolvidos na

área em estudo, bem como revistas, jornais e dados obtidos na Internet.

11 Formado pelas ilhas de Maiaú, Porto do Meio, Aracajá, Retiro, Mulata, Parida, Iguará, Jaboroca, Urumarú, Cajualzinho e Lençóis.

Page 40: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

40

FIGURA 3.1- Arquipélago de Maiaú – em destaque a Ilha dos Lençóis

Page 41: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

41

3.2.1 Trabalho de campo

O trabalho de campo foi realizado em várias etapas: na sede do

município de Cururupu e na Ilha dos Lençóis. Na sede, foram identificados os principais

atrativos e as potencialidades desta como porta de entrada para o ecoturismo da Floresta

dos Guarás e como “re-emissor” de turistas para a Ilha dos Lençóis.

Dois roteiros de viagem foram testados até a Ilha dos Lençóis: no 10

partiu-se de Apicum-Açú, para o levantamento do potencial ecoturístico no qual se

inseriu, o ambiente físico e a tradição da comunidade e no 20, partiu-se da sede de

Cururupu objetivando a análise do potencial de praias e ilhas, para inclusão em roteiro

turístico a ser proposto nesse trabalho.

Desenvolveram-se duas pesquisas com a comunidade da Ilha dos

Lençóis, realizada nos meses de maio e outubro de 2003, que serviram para identificar

suas particularidades, necessidades e opiniões frente ao desenvolvimento do ecoturismo.

Usando-se questionários semi-estruturados, foram entrevistadas 110 pessoas, com idade

compreendida entre 16 e 76 anos. Outras informações foram adquiridas através de

entrevistas informais e através da observação.

Entre a 2ª quinzena de julho e a 1ª quinzena de agosto último,

entrevistou-se 17 turistas que visitaram a Ilha, obtendo dados importantes para o

confronto de opiniões e discursos entre os “de dentro” e os “de fora”.

A análise de dados foi feita a partir da distribuição de freqüência com o

emprego do software estatístico JMP versão 3.2.6 (SAS, 1995).

Baseada no roteiro metodológico para a gestão de Área de Proteção

Ambiental (IBAMA, 2001), é construída uma matriz de tendência para o ecoturismo na

Ilha dos Lençóis

Page 42: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

42

Utilizando-se parcialmente da técnica de projeção de cenários12, descrita

por TSUJI (2002), estabelece-se 3 cenários da Ilha dos Lençóis: o primeiro baseado nas

condições atuais; o segundo o mais desejado e o terceiro, um cenário indesejado para a

Ilha dos Lençóis frente ao ecoturismo.

12 Cenários, são quadros descritivos de ambientes futuros possíveis, cujas caracterizações, coerentes internamente a cada quadro, decorrem de processos de causa-ação dos fenômenos sociais

Page 43: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

43

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Perfil Turístico do município de Cururupu

Cururupu é o município da bacia hidrográfica secundária do rio Turiaçu,

que apresenta a maior taxa de alfabetização 81,7 %, em contrapartida aos baixos

indicadores sociais e econômicos como: Índice de Desenvolvimento Humano - IDH

0,623; Percentagem de pessoas abaixo da Linha de Pobreza - PO 70,1%; Mortalidade

Infantil até o Primeiro Ano de Idade-M/1, 66,05% (IBGE, 2003).

A caracterização da Oferta Turística de Cururupu é feita com base na

infra-estrutura básica, infra-estrutura turística e nos atrativos turísticos, levantados na 3ª

Oficina de Municipalização do Turismo de Cururupu, em 2003, realizada pela Agência

de desenvolvimento do Turismo - ADETUR.

A infra-estrutura básica de Cururupu é bastante deficiente, não atendendo

a totalidade da população urbana, que chega a ser 63,52% da população total do

município (33.686 habitantes). Há falta de água tratada, a coleta de lixo não atende a

totalidade da população, falta saneamento básico e, também, falta de conservação de

ruas e avenidas, portos, aeroportos, mercados e praças, o que causa grande

descontentamento aos cururupuenses.

O transporte rodoviário até Cururupu é realizado por meio das rodovias

MA-106 e 006, existindo linhas regulares e diárias de ônibus: São Luís - Cururupu

(Empresas Sideral e Serv-Porto); transporte alternativo: Vans e caminhonetes que

transportam pessoas e mercadorias para São Luís e municípios vizinhos. O transporte

urbano de pessoas se dá através de automóveis, motocicletas, bicicletas e

invariavelmente, animais à tração, principalmente de carros de boi. Esse transporte é

tradicionalmente feito por moradores da periferia de Cururupu, que costumam deslocar-

se diariamente para as áreas de roças, localizadas fora do perímetro urbano.

Page 44: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

44

O transporte Aéreo é feito através de vôos fretados em aviões mono e

bimotores que aterrizam no Aeroporto Liège – em planos de reconstrução. Embora seja

proibido pelo DAC-Departamento de Aviação Civil, ainda é comum aterrissagens

também nas praias das ilhas.

O transporte fluvio-marítimo é servido por 36 embarcações que

transportam pessoas e cargas entre a sede do município e às ilhas.

A Infra-estrutura turística é marcada por uma rede hoteleira que atende,

principalmente, pessoas em viagens de negócios que a turistas, propriamente dito. Ao

todo oferece 140 leitos, distribuídos entre os seguintes estabelecimentos: Hotel Glória -

25 Hotel Kelma - 25, Pousada São José - 23, Pousada Través´Cia -15, Pousada Nathalia

- 15 leitos , Pousada Vieira - 22 leitos, Pousada Primavera -15 leitos.

No tocante à alimentação, Cururupu possui: 10 bares e restaurantes, 04

padarias, 02 pizzarias, 04 sorveterias e várias lanchonetes.

A população local se diverte através de festas realizadas nas “casas de

festas” (Cabaça, Chaves de Ouro, Mangueirão, Palácio das Festas e Nelson Mandela),

onde, em geral, a música predominante é o reggae. A Cultura Negra se expressa, ainda,

em 2 grupos de danças: o Abaiomy e o Omnirá.

Os atrativos culturais são marcados pela singularidade do casario

colonial, da Igreja Matriz, do Internato dos Crentes (Figura 4.1), da Fazenda Aliança

(antigo engenho de cana-de-açúcar), do Farol de São João (na Ilha de São João), das

danças folclóricas como bumba-meu-boi (nos sotaques de zabumba e costa-de-mão),

tambor de crioula, roda de São Benedito, das Festas Religiosas de São Benedito, São

Jorge, São João e Pastor, da arte naval (Figura 4.2), dos carros-de-boi, das casas de

farinha, das regatas de barcos tradicionais, do carnaval. Soma-se a isso, a culinária

regional (arroz de toucinho, peixe frito, torta de sururu e de camarão, juçara, farinha de

côco, bolo de tapioca, pamonha de milho, canjica, buriti – doce e suco, peixada com

caju, caranguejada, manuê, feito de fubá de milho).

Page 45: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

45

FIGURA 4.1 – “Internato dos Crentes” em Cururupu

FIGURA 4.2 – Embarcações típicas de Cururupu

Page 46: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

46

As religiões afro (umbandismo) e ameríndia (pajelança), unem-se à

católica criando rituais próprios de fé, expressos nas comemorações sagradas e

profanas, como a Festa de São Benedito. Atualmente tem-se observado uma evolução

negativa dos rituais festivos religiosos. A festa de São Benedito, por exemplo, virou

uma grande feira, nas quais vendedores ambulantes, vindo de outros lugares,

amontoam-se em barracas distribuídas ao longo das ruas. O tambor de São Benedito,

parte do antigo ritual da festa, já quase não se apresenta, pois os jovens não querem

mais “dançar”, preferem o reggae e os shows de forró.

Observa-se que a “evolução cultural” ou a “descaracterização cultural”, é

algo já existente e em ritmo acelerado. O resgate desses bens culturais que identificam

um povo e são ao mesmo tempo um diferencial e um atrativo, é fundamental para o

estabelecimento da atividade turística, principalmente o ecoturismo, onde a busca pelo

“autêntico” é mais intensa.

O carnaval é o acontecimento mais marcante do ano, para o qual os

participantes das quatro escolas de Samba (Águia do Samba, Fuzileiros do Samba,

Aspirante do Samba e Flor do Samba) e dos Blocos (Kakiado, Galerosa, Fabulha, CIT,

Levada Louca, Bate Lata e Penetras), se preparam o ano inteiro e é a época de retorno

dos filhos da terra e de maior visitação.

O artesanato é marcado pela confecção de produtos em palha de babaçu

(instrumentos utilitários: abanos, côfos, portas, janelas), em fibra de tucum e sementes,

pelas indumentárias do bumba-meu-boi e pelos carros de boi com rodas de madeira.

Os atrativos naturais são representados pelo conjunto paisagístico e

ecológico oferecido pelos rios Liconde e Cururupu, na Baía Cabelo de Velha, onde é

possível apreciar no manguezal espécies da fauna, como guarás e garças. E também

pelas belas praias das Ilhas: Caçacueira, Guajerutíua, Lençóis, São Lucas e Perus,

Maracujatíua, Retiro, Iguará, Prainha, Mangunça, Farol, Caoca e pelos “furos” que

ligam bacias e enseadas.

Page 47: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

47

O Parcel de Manoel Luís se constitui em um dos mais nobres atrativos de

Cururupu, é o maior banco de corais da América Latina e um dos maiores viveiros de

peixes. É o primeiro Parque Estadual Marinho do Brasil, localizando-se em alto mar, a

45 milhas da costa maranhense, é o maior cemitério de embarcações da América do Sul.

Apesar das belezas do Parcel estarem reservadas para pouquíssimos turistas

aventureiros, devido às condições do mar, à precariedade de recursos de mergulho, bem

como, de empresas de ecoturismo e mão-de-obra especializada.

Cururupu também possui vários lagos como os de: Santo Antônio,

Açude, Jamari, Carioca, D’Ana, com grande beleza paisagística, embora ainda

desconhecidos dos turistas.

A identificação e análise da oferta turística da cidade de Cururupu

mostram que a sede do município ainda não oferece condições satisfatórias para o

recebimento de turistas e/ou ecoturistas, uma vez que a infra-estrutura básica e a

turística ainda são bastante deficientes, contrapondo-se aos atrativos culturais e naturais

existentes, não podendo por isso ser considerada “ainda” o portal do polo e reconhecida

como re-emissora do fluxo turístico para a Ilha dos Lençóis.

4.2 Ilha dos Lençóis – Cenário Atual

4.2.1 Considerações Históricas

Segundo ALENCAR (1991), o povoamento da Ilha dos Lençóis ocorreu

no final do século XIX, quando pescadores de ilhas vizinhas, abrigados em ranchos

rústicos cobertos de palhas de coqueiro se estabeleciam na região, com o objetivo de

realizar a “salga” do pescado capturado. A princípio, esses acampamentos demoravam

em torno de 15 dias, mas com o passar do tempo, favorecidos pela presença de água

doce, oito famílias resolveram de fato morar na Ilha.

Page 48: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

48

Na área, existiam barcos geleiras de ilhas vizinhas que compravam o

pescado “in natura” ou salgado e, ao mesmo tempo, permitiam aos moradores da Ilha, o

acesso a produtos industrializados como o café, açúcar e o querosene.

Ainda segundo ALENCAR (1991), comerciantes também foram se

estabelecendo na Ilha, passando a intermediar a venda do pescado para os pescadores,

relação ainda vigente atualmente.

Com o passar dos anos, a Ilha deixou de ser apenas um lugar privilegiado

para a pesca do camarão, se tornando conhecida mundialmente por ter um grande

número de albinos que representavam a maior comunidade de albinos do mundo.

A Ilha foi ganhando destaque em noticiários e chamando cada vez mais a

atenção dos curiosos. Paralelo a isso era também divulgada a lenda do “Rei Sebastião”,

fidalgo português que perdera a vida em batalha contra os mouros em Alcácer Quibir e

que de algum modo encantara-se em Lençóis, na forma de um touro negro que traz

consigo na testa uma estrela, que quem tiver coragem de atingi-la, verá a capital do

Estado, desaparecer e Lençóis se transformará em um reino esplendoroso.

Hoje, já no século XXI, vê-se que muitos fatos permanecem os mesmos,

a comunidade ainda é formada por pescadores que ainda acreditam na lenda e as

relações comerciais ainda são quase as mesmas, entretanto a Ilha se depara com uma

nova perspectiva para o seu futuro a implementação do ecoturismo no polo turístico da

Floresta dos Guarás.

4.2.2 Caracterização sócio-econômica e cultural dos Informantes

A caracterização sócio-econômica e cultural da amostra da população da

Ilha dos Lençóis foi feita com base nas informações obtidas por meio de aplicação de

110 questionários, bem como através de conversas informais.

Page 49: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

49

Houve um equilíbrio na relação homem: mulher amostrada; 58,18% dos

informantes foram do sexo feminino e 41,82 % do sexo masculino.

Em relação à faixa etária, a amostra abrange desde adolescentes

(dezesseis anos) até indivíduos da terceira idade (setenta e seis anos); desta forma,

foram estabelecidas 8 (oito) faixas etárias correspondentes a todas as pessoas

entrevistadas durante os procedimentos de campo, conforme figura 4.3.

22,73% 23,64%

14,55%

10,91%

15,45%

5,45% 6,36%

0,91%

FIGURA 4.3 - Distribuição etária da população amostrada

Assim, tem-se que, a maior parte da amostra é formada de indivíduos

com idade até 40 anos, que perfazem aproximadamente 70% do total dos informantes.

Na população amostrada, foram identificados 4 (quatro) grupos raciais,

sendo estes: moreno, branco, albino e negro; com os respectivos percentuais de 56,36%,

38,18%, 3,64% e 1,82%, Verifica-se com o exposto, que o grupo de maior relevância

(*) – As faixas são distribuídas de oito em oito anos, desta forma: 1 – corresponde de 16 a 24; 2 – de 24 a 32; 3 – de 32 a 40; 4 – dos 40 a 48; 5 – dos 48 aos 56; 6 – dos 56 aos 64; 7 – dos 64 aos 72 e 8 – dos 72 aos 80 anos.

Page 50: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

50

dentro da amostra é o moreno, com mais da metade do valor total calculado e em

segundo lugar, encontram-se as pessoas brancas com 38,18%.

Cabe mencionar, que a amostra define como moreno, os indivíduos de

pele de tons bronzeados, o que pode incorrer que indivíduos brancos com alta exposição

ao sol - principalmente pescadores - possam ter sido observados como morenos, embora

sejam brancos, o que ratifica o estudo de TROVÃO in MARANHÃO (2001) que

identificou, na área rural pesqueira de Cururupu, uma predominância de indivíduos

brancos.

A amostra constata ainda, a alta incidência do albinismo na Ilha dos

Lençóis, como já havia estudado PEREIRA (2000), ao registrar que o índice de

albinismo chega a 3% da população, valor superior à freqüência normal que é de

0,0005%, da população mundial.

Ao que a Dr ª Eleidi A. Chautard Freire-Maia8, acrescenta:

“... na Ilha dos Lençóis (Maranhão) ocorre

freqüência relativamente alta do alelo determinante do albinismo

(falta de pigmentação da pele, dos cabelos, da íris etc) pelo efeito

da deriva genética. Em populações grandes, a freqüência de

pessoas com este distúrbio genético é de cerca de uma pessoa em

20.000. Na Ilha dos Lençóis, Newton Freire-Maia e

colaboradores relatam a ocorrência de um caso de albinismo em

cada 17 pessoas. Este exemplo ilustra a ação do acaso durante a

ocupação da ilha por poucos “fundadores”, sendo um tipo

especial de deriva genética, conhecido pelo nome de efeito do

fundador”.

Com relação ao estado civil dos entrevistados, foi encontrada a seguinte

situação: a maior parte dos entrevistados (41,82%) relatou ser apenas “amigado”, o que

8 www.cienciaefe.org.br/jornal/arquivo/newton/evolução.htm

Page 51: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

51

apesar da falta de registros religiosos e legais, constitui uma forma de convivência

amparada pelas leis, uma vez que, garante a ambos os cônjuges, em caso de separação

ou falecimento, resguardado o tempo de convívio necessário, o direito sobre os bens do

outro.

Na Ilha dos Lençóis, PEREIRA (2000), observa que o sobrenome dos

filhos é matronímico em virtude da falta de casamentos civis, os filhos são registrados

apenas com o sobrenome das mães. O percentual de pessoas casadas, na amostra, foi de

23,64%, de pessoas solteiras 30,91% e de pessoas viúvas, menos de 1%.

Foi identificado que 70,91% dos informantes sabem ler e assinar o

próprio nome, enquanto que 25,45% não sabem e 3,64% não responderam. Na Ilha dos

Lençóis, a educação básica é desenvolvida no Jardim de Infância e na Escola Municipal

de Ensino Fundamental, ambos sediados em uma das únicas construções de alvenaria da

Ilha.

A falta de escola de Ensino Médio faz com que muitos jovens partam em

busca de estudo em outras localidades ou mesmo na sede do município e a maioria deles

não volta a morar na Ilha. Informalmente, perguntou-se às mães desses jovens, se elas

gostariam que seus filhos voltassem, ao que responderam, que apesar da saudade sabem

que onde os filhos estão, estarão em melhores condições do que na Ilha, devido à falta

de empregos e oportunidades.

Verifica-se na Ilha dos Lençóis, assim como em todas as Ilhas da Região

das Reentrâncias Maranhenses, que a população local desenvolve um mecanismo

próprio e involuntário de controle da quantidade de moradores. Havendo grande

mobilidade de pessoas entre as ilhas.

É importante refletir sobre esse êxodo voluntário ou não, dos moradores

de Lençóis, pois o mesmo, acaba por manter quase que constante os valores

populacionais da Ilha. Assim, tem-se um certo equilíbrio entre o número de pessoas que

Page 52: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

52

saem, o número de pessoas que nascem e o número de pessoas que vêm de outras

regiões.

Dentre as pessoas entrevistadas, 79,09% nasceram na própria Ilha dos

Lençóis e as outras (20.91%) nasceram em outras localidades como: São Luís, Belém,

Turiaçú, ilhas circunvizinhas e outros povoados.

Nota-se que, 76,36% dos informantes nativos de Lençóis e 20,00% dos

que não nasceram na Ilha, mostram-se satisfeitos em morar lá. Esta satisfação está

diretamente relacionada a diversos fatores assim identificados: o primeiro, é

caracterizado pela tranqüilidade existente na Ilha, com um relato de 47,27%; o segundo,

é em relação a atividade de pesca (fartura do pescado na região) com um valor de

19,09%; o terceiro, é representado por um conjunto de vários outros fatores,

considerados menores, mas que somados, representam um certo peso para a amostra

(com uma porcentagem da ordem de 15,45%) estes em síntese são: praias, manguezal,

dunas, dentre outros e o quarto e último, diz respeito a presença das lagoas (quando

estão cheias) apresentando uma porcentagem igual a 14,55%. Dentro da população

amostrada, apenas uma parcela de 3,64 % equivalente a 4 pessoas não responderam,

conforme figura 4.4.

3,64%

14,55%

15,45%

19,09%

47,27%

*Não respondeu

FIGURA 4.4 - Elementos de Satisfação, em morar na Ilha dos Lençóis.

Page 53: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

53

Sem dúvidas, o percentual da atividade de pesca, é um reflexo da sua

importância para a vida das pessoas, pois foi a única atividade econômica inferida com

aspectos subjetivos.

A tranqüilidade é o fator mais marcante no gosto em viver na Ilha dos

Lençóis. O que pode ser o indício de uma eventual preocupação, por parte da população

residente, com o desenvolvimento do ecoturismo e o possível descontrole da atividade.

Até então, nota-se que na comunidade da Ilha dos Lençóis, todo visitante

é confundido com o turista. E esse visitante, que na verdade é um excursionista, dos

povoados e ilhas próximas, costuma agredir a tranqüilidade e o ambiente da ilha,

fazendo “pic-nics”, próximo às lagoas e deixando uma enorme quantidade de lixo.

A pesquisa procurou identificar o grau de satisfação dos informantes com

a profissão exercida, para isso foram estabelecidos 3 (três) grupos funcionais (como

conseqüência de se destacarem na amostra) são eles: pescadores (45,45%), donas de

casa (do lar) 36,36% e o último, faz menção a um grupo de atividades que se encontra

em menor quantidade, mas que juntas possuem uma porcentagem da ordem de 17,27%,

são: catador de caranguejo, cortador de mangue, aposentado, comerciante, auxiliar de

serviços gerais, agente ambiental, pai de santo, agente de saúde, diretor de escola, dentre

outras.

Apesar da maioria das mulheres da Ilha praticar a pesca, fato observado

no estudo de ALENCAR (1991), que revelou ser a Ilha dos Lençóis, reconhecida pelas

comunidades pesqueiras próximas, como um lugar de maior “visibilidade” de mulheres

na pesca, verificou-se que essas mulheres, não se identificaram como pescadoras, em

virtude, talvez, de não considerarem a pesca uma profissão, ou seja, uma obrigação,

tanto quanto os trabalhos domésticos.

Outro aspecto muito relevante é que as mulheres são co-provedoras dos

seus lares, seja através da pesca ou da fabricação do carvão. São também as mulheres,

as maiores responsáveis pela educação dos filhos, que desde cedo começam a ajudá-las

nas tarefas de casa.

Page 54: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

54

Com referência a moradia dos informantes, foi constatado que 92,73%

residem em casas próprias e apenas 7,27% residem em moradias cedidas (por amigos

e/ou familiares). As residências são em grande parte cobertas por palhas de babaçu,

cerca de 50%, cobertura natural que vem de lugarejos distantes, uma vez que na Ilha dos

Lençóis não existe babaçu.

A maior parte das casas, é construída com tábuas de madeira (53,64%)

(Figura 4.5) sendo muito comum, apresentarem caibros e amarrações estruturais, enfim

todo o “esqueleto da casa” é feito em madeira de mangue (Figura 4.6). Em cada casa

moram em média cinco pessoas, dentre as quais, duas (no mínimo) exercem a atividade

da pesca.

FIGURA 4.5 - Casas da Ilha dos Lençóis

Page 55: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

55

FIGURA 4.6 - Armação estrutural de residência, na Ilha dos Lençóis, cobertura de

palha de babaçu.

Para a análise da renda mensal dos entrevistados, tomou-se por base o

salário mínimo vigente no País, de R$ 260,00 (duzentos e sessenta reais). Classificando-

se as respostas em 4 faixas salariais, conforme Figura 4.7. Conclui-se com isso, que a

maioria das famílias dos informantes da Ilha dos Lençóis (61,81%), sobrevive

mensalmente com menos de um salário mínimo. Revelando a extrema pobreza em que

vivem.

Levando em consideração o número médio de pessoas por família da

amostra, contata-se que aproximadamente 68 famílias da Ilha dos Lençóis sobrevivem

com menos de um salário mínimo, o que multiplicado por 5, atinge o total de 340

pessoas com alto índice de pobreza. Embora se possa afirmar, que a pobreza na Ilha,

não está diretamente relacionada a falta de alimentos, uma vez que a fartura de pescado

supre parcialmente a ausência protéica dos ilhéus.

Page 56: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

56

61,81%29,09%

6,37% 2,73%

*NR = não respondeu

FIGURA 4.7 - Renda mensal familiar dos informantes

Quanto à saúde, verificou-se várias condições e atos insalubres para a

população da Ilha, dentre os quais destacam-se: crianças brincando na areia, muitas das

vezes desde bebês (nus e engatinhando) expostas aos dejetos principalmente de gatos e

cachorros, que podem ser vetores de muitas doenças, a falta de cuidado com os poços de

abastecimento de água e animais criados soltos.

A doença mais comum na Ilha é a verminose, devido à falta de higiene,

ao consumo de alimentos e da própria água contaminados já que na maioria das casas

não há o tratamento adequado da água, não sendo filtrada ou fervida, sendo somente

depositada nos potes6, ou apenas coada.

Outra doença encontrada, é a hipertensão e alguns casos de câncer de

pele, devido à ingestão diária de alimentação salgada e à sobrexposição ao sol,

respectivamente.

6 Vasilhame de cerâmica comumente usado no Maranhão, para armazenar a água de beber nas residências menos abastadas.

Page 57: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

57

A Ilha possui um Posto Médico, embora seja rara a visita de algum

médico, salvo as “benditas pesquisas” dos estudantes de medicina e a presença dos

incansáveis agentes de saúde que insistem em reeducar a população.

O uso do solo da Ilha dos Lençóis, como local de depósito de

excrementos humanos a céu aberto, se constitui em uma forma potencial de

contaminação. Na análise dos questionários foi constatado que cerca de 87,27% dos

informantes não possuem banheiros em suas residências, utilizando para suas

necessidades fisiológicas as dunas cobertas com cajueiros, localizada no entorno da vila.

Apenas uma faixa de 11,82% possuem (referindo-se a casinhas nos fundos dos quintais)

e uma única pessoa, deixou de informar - 0.91%.

Quando interrogados da existência ou não de banheiros, os informantes

apontavam o afloramento do lençól freático da Ilha, como um obstáculo à construção e

manutenção das fossas, conforme mostram as Figuras 4.8.

FIGURA 4.8 - Detalhe de vala de fossas na Ilha dos Lençóis, escorrendo em

direção à Praia.

Page 58: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

58

Verificou-se que o uso de medicamentos naturais é freqüente, produzidos

a partir de ervas e plantas medicinais. Dentre as citadas, merecem destaque: a jardineira,

manjericão, jacama (graviola), salsa, casca de mangue branco e eucalipto.

O pai-de-santo Zé Mário, antigo pescador, vive hoje de ajudar as pessoas

curando-as dos males físicos e espirituais, através de chás, banhos e benzições. Costuma

cobrar entre R$ 15,00 e R$ 20,00 por consulta e sua clientela ultrapassa os limites da

Ilha. Os valores cobrados são revertidos para custear as despesas com o tambor de

Mina-Nagô, velas, óleo e ajudantes, por ocasião das festividades de São Sebastião,

realizada em janeiro.

Na ilha foram instalados três geradores de energia (movidos a óleo

diesel) e um orelhão que complementam a sua infra-estrutura básica.

4.2.3. Sistemas Ambientais da Ilha dos Lençóis

4.2.3.1 Marinho

A base econômica da Ilha dos Lençóis é sem dúvida a atividade

pesqueira. Dentre as espécies de peixe mais citadas, destacam-se: uriacica – Arius

bonillai, uritinga – Arius proops, bagre bandeirado – Bagre bagre, tainha – Mugil

trichodon, camurim – Centropomus parallelus, peixe pedra - Genyatremus luteus,

corvina – Cynoscion microlepidotus, gó – Macrodon ancylodon, cururuca –

Micropogonias furnieri, camarão branco Penaeus (Farfantepengeus) schimitti e o

camarão rosa Penaeus subitieis. Alguns apetrechos que são utilizados na pesca são

observados na Figura 4.9.

Page 59: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

59

FIGURA 4.9 - Apetrechos de pesca, côfos e caldeirão para torrar camarão.

Segundo ALENCAR (1991), a atividade da pesca é sazonal. No período

de estiagem é mais intensa, com pescarias realizadas, principalmente, ao longo do dia já

que favorece a maior captura dos peixes, enquanto que no período chuvoso, as águas

ficam mais “sujas” e é o momento propício para a pesca do camarão, sendo a atividade

mais descontínua e realizada durante as noites.

A produção pesqueira da Ilha dos Lençóis é destinada aos mercados de

Belém, São Luís e até de Fortaleza. Ainda hoje, é comum o escambo com mercadorias

manufaturadas. Os pescadores para suprirem as suas necessidades e da família mantêm

com os comerciantes da Ilha, uma relação de submissão. Toda produção é entregue ao

comerciante, que geralmente estabelece o preço do produto. Isto continua a acontecer,

Page 60: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

60

devido à falta de articulação comunitária em torno de uma associação de pescadores, ou

algo semelhante, que possa reunir a produção de boa parte dos pescadores da Ilha e

negociar diretamente com os compradores.

4.2.3.1.1 Manguezal

O manguezal da Ilha dos Lençóis se estende na parte sul, sudoeste,

noroeste e pequenas manchas à leste, totalizando cerca de 156,64 hectares. Na Figura

4.10 são observados os resultados da pesquisa, identificando o manguezal como uma

fonte de renda, principalmente, para os catadores de caranguejo, além de ser o provedor

de madeira para construção de casas e fabricação de carvão.

Em relatos informais dos moradores, verificou-se que a maior parte da

madeira de mangue usada para as casas, não é retirada em Lençóis e sim nas ilhas do

entorno, o que explicam por acreditarem que também o manguezal da Ilha, é um local

de encantamento.

0,91

65,45

10,916,36 9,09 AVES

CARANGUEJOMADEIRAPEIXESSURURU

FIGURA 4.10 – Usos do Manguezal (%)

Page 61: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

61

Os informantes relacionaram, de acordo com a figura 4.10, os recursos

mais usados por eles. Privilegiou-se para a análise, a primeira resposta dos mesmos.

Relataram que o caranguejo não é pescado sempre, sendo sua captura intensificada na

época da “andada”, que relacionam ao período do carnaval. A pesca do caranguejo, fora

da época já mencionada, se dá quase que exclusivamente, por meio de encomendas.

Pois ninguém pesca para arriscar a venda, somente se já existir o cliente certo.

Diante dos fatos, nota-se que a pesca do caranguejo é maior justamente

na época de acasalamento, o que pode significar que a população da Ilha desconhece a

importância de tal período, para a manutenção da espécie.

Os usos da madeira de mangue abrangem desde cercas figura 4.11,

carvão figura 4.12 até a construção de casas. Tal fato ganha maior significância, ao se

comparar com o percentual de casas construídas com madeira (53,64%). Com certeza a

exigüidade de outra madeira na Ilha e nas redondezas, obriga a população a usar (apesar

de sabedora da proibição) o mangue.

FIGURA 4.11 - Cerca de madeira de mangue

Page 62: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

62

FIGURA 4.12 Caeira feita com madeira de mangue

Segundo o Zoneamento Ecológico e Econômico da Floresta dos Guarás

(2001), o manguezal mais exuberante está localizado no Nordeste e Sudeste da Ilha. A

espécie dominante é Rhizophora mangle que tem alcança elevado porte, as árvores têm

em torno de 25m de altura. Nesta área o manguezal está sendo soterrado por dunas,

verificando-se também a ação de corte. Já ao Norte e Noroeste da Ilha, a área de

mangue é bastante dinâmica, devido à intensidade dos ventos e às correntes de marés,

que favorecem o surgimento de novas áreas e o desaparecimento de outras. Ocorrem

neste trecho as espécies Rhizophora mangle, Avicennia germinans e Laguncularia

racemosa. Entretanto, os mangues são mais jovens e menos desenvolvidos com um

porte aproximado de 8m.

O manguezal da Ilha dos Lençóis se constitui em um dos maiores

atrativos da área, podendo ser utilizado para o ecoturismo através de trilhas

interpretativas, que poderão ser trabalhadas através da visitação controlada de pequenos

grupos, devidamente acompanhados de condutores locais.

Page 63: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

63

A apreciação da fauna e da flora do manguezal requer uma capacitação

específica para esses condutores, de modo a permitir a utilização de seu conhecimento

tradicional aliado ao conhecimento científico.

A observação de aves, principalmente, requer um manejo adequado, para

que não haja perturbação das mesmas e conseqüente, mudanças de ninhais.

4.2.3.1.2 Praias

As praias na Ilha dos Lençóis representam aproximadamente 60% do

perímetro da Ilha, entretanto, apresentam características de uso diferenciadas,

localizadas na Baía de Lençóis e na parte Leste, já em mar aberto.

A praia da Baía é a mais freqüentada por pescadores e visitantes. É nela

que é feito todo o embarque / desembarque de pescado e de pessoas. É também, a mais

impactada com o lixo e com os efluentes domésticos. Figura 4.13

FIGURA 4.13 - Praia da Baía de Lençóis

Page 64: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

64

Nessa praia é possível observar a grande especulação imobiliária que

silenciosamente vai redefinindo o perfil da orla marítima de Lençóis.

O medo de perder a praia não impede a venda de terrenos que são, na

maioria das vezes, destituídos de qualquer construção, possuindo apenas com um ou

dois coqueiros plantados propositadamente para “valorizar” o lugar, figura 4.14.

A Praia do mar aberto é pouco movimentada, devido às condições do

próprio mar, que daquele lado sofre ação intensa dos ventos, ocasionando ondas com

maior amplitude.

FIGURA 4.14 – Especulação Imobiliária de Lençóis

4.2.3.1.3. Sabkhas

Sabkhas são planícies de sal, encontradas em ambientes costeiros nos

quais ocorrem evaporitos, são áreas essencialmente de baixo aporte de sedimentos

clásticos e altas taxas de evaporação.

Page 65: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

65

SANTOS (2003), analisa sabkhas como unidades de paisagens raras no

Brasil, se constituindo em área na borda da praia que possui um nível elevado em

relação ao mar, embora que nas grandes marés, seja inundada. Possui alta salinidade,

não permitindo o desenvolvimento de vegetação.

As sabkhas da Ilha dos Lençóis situam-se no lado leste da Ilha, nas

proximidades da praia de mar aberto. A comunidade desconhece o uso dessa unidade de

paisagem. As sabkhas se bem estudadas, podem se constituir em mais uma das

singularidades da Ilha dos Lençóis. Figura 4.15

FIGURA 4.15 – 1 -Sabkhas, 2- dunas primárias, 3- dunas secundárias

4.2.3.2 Terrestre

A pesquisa identificou que o solo da Ilha é usado para a construção de

residências, para o plantio de árvores frutíferas, verduras e criação de animais que

servem como alimento para a população.

1

2

3

Page 66: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

66

Com relação à criação de animais destinados ao consumo humano,

observa-se que apenas 50% dos informantes criam. Dentre os que criam, a criação de

galinhas com um percentual de 32,73% da amostra, é dominante e o restante dos

entrevistados criam outros animais (vacas, cabras, patos) totalizando 17,27%.

Na Ilha, 80 % dos animais domésticos, para consumo, são criados soltos.

Soma-se a isso, o fato de que cães e gatos também desconhecem os limites das casas e

quintais de seus donos, andando livremente entre as alamedas das casas onde depositam

seus dejetos.

Mais de um terço (37,27%) da população amostrada cultiva o côco como

principal espécie, um segundo grupo de pessoas (29,09%) cultiva hortaliças (pimenta,

pimentão, tomate, cheiro verde, cebolinha, etc) (Figura 4.16) e o terceiro (33,64%), não

cultiva nenhuma espécie de planta. Esta situação evidencia a grande dependência da

população com os recursos vegetais vindos de outras regiões, devido, principalmente, às

limitações do ambiente da Ilha, à produção agrícola.

FIGURA 4.16 - Canteiro de hortaliças em um quintal da Ilha dos Lençóis

Page 67: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

67

O solo extremamente arenoso é impróprio para o cultivo da mandioca,

tão comum na região continental de Cururupu e principal acompanhamento das

refeições dos ilhéus. A farinha de mandioca consumida vem de lugares como Cururupu

e Apicum-Açú.

Outro uso do solo observado, é referente à destinação dos resíduos

sólidos gerados na Ilha; cerca de 95,75% da população queima e/ou enterra; 2,13%

corresponde aos que não relataram o destino dado ao lixo e, finalmente, 2,13%

relataram que jogam o lixo nas dunas.

Geralmente a população queima o lixo na época da seca e enterra na

época das chuvas. O interessante é que pela ação intensa dos ventos e pela

superficialidade das valas cavadas para enterrar o lixo, este acaba sendo desenterrado

no “verão” e se espalhando por boa parte da Ilha. Figura 4.17.

FIGURA 4.17 - Resíduos sólidos orgânicos e inorgânicos em área próxima da praia

Page 68: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

68

A água doce é um outro recurso disponível na Ilha, onde se verificou que

100% dos entrevistados consomem apenas água de origem de poços.

Os poços utilizados diferenciam-se em 2 (dois) grandes grupos que são:

do tipo entancado (Figura 4.18) e do tipo cacimba (Figura 4.19). O poço cacimba, mais

usado na Ilha, geralmente é escavado próximo aos pés das dunas e todos os dias antes

de se abastecer com água, as pessoas têm que esgotá-lo, a fim de adquirir uma água

cristalina; raramente ganham proteção de alvenaria ao seu redor e geralmente são rasos.

Já os poços entancados são mais perenes, ganhando proteção lateral de tábuas que

escoram suas paredes. A água do poço entancado é usada para os trabalhos domésticos,

enquanto que a água do poço escavado é usada para o consumo direto e preparo de

alimentos, por acreditarem ser mais limpa e pura.

FIGURA 4.18 - Poço entancado

O manejo dos poços utilizados para o abastecimento de água na Ilha,

esconde um grande risco para a saúde da população, por ficarem a céu aberto ou por

estarem expostos à contaminação por dejetos humanos e de animais.

Page 69: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

69

Outro dado preocupante é o fato da água para consumo humano não

receber tratamento adequado, como mostra os índices da pesquisa: 40,00% dos

entrevistados filtram; 38,18% só depositam nos potes; 16,36% apenas coam; 4,55%

fervem e 0,91% não respondeu. Logo, o percentual de pessoas que não tratam a água é

de 54,54%, ficando evidente que não a identificam, como veículo de doenças, por

acreditar na “pureza” e cristalinidade da água.

FIGURA 4.19 - Poço escavado na areia

4.2.3.2.1 Dunas

A Ilha dos Lençóis é assim chamada, pela presença de dunas

entremeadas de lagoas no período chuvoso, lembrando um enorme lençol branco

balançando ao sabor do vento.

A dinâmica da Ilha dos Lençóis é diretamente o resultado da incidência

dos ventos alísios de nordeste, que dominam durante a estação chuvosa, enquanto que,

os alísios de sudeste dominam na estação seca (Miner, 1980 apud MARANHÃO, 2002).

Page 70: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

70

Na Ilha, a velocidade do vento chega a atingir valores superiores a

5,2m/s, principalmente a partir do mês de agosto, favorecendo o transporte dos grãos de

areia, reconfigurando o perfil das dunas. Nesses meses a pesca é prejudicada, em virtude

da formação de grandes ondas. A força dos ventos é um elemento que poderá ser

identificado como controlador do fluxo turístico, uma vez que neste período as viagens

marítimas são mais perigosas, além de ser o período em que as lagoas estão secas,

embora seja a melhor época para a observação dos guarás (Eudocinus ruber).

A área do cordão arenoso da Ilha dos Lençóis corresponde a mais da

metade de toda Ilha, sendo em torno de 301,63 ha. Com grande concentração na parte

centro-norte, com dunas que chegam a atingir cerca de 50m de altura, Figura 4.20.

FIGURA 4. 20 - Cordões arenosos da Ilha dos Lençóis.

A presença de dunas entremeada de lagoas recria na Ilha, a beleza dos

“Lençóis Maranhenses”, se constituindo em um grande atrativo turístico para todo o

Polo da Floresta dos Guarás. A parte Nordeste da Ilha é caracterizada pela presença de

paleo-dunas vegetadas por cajueiros.

Page 71: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

71

4.2.3.3 Lacustre

Na Ilha dos Lençóis, não existem rios, somente lagoas, que se formam

nas depressões entre as dunas (slacks) e são usadas pela população local para tomar

banho, lavar roupa e matar a sede dos animais.

As lagoas (Figura 4.21) ficam cheias durante o período chuvoso e na

estiagem cedem lugar para gramíneas, que servem de pasto para o gado bovino e

caprino da Ilha.

FIGURA 4.21 - Lagoa formada entre dunas

As lagoas também são usadas pela comunidade e pelos visitantes para

fins recreativos. No período do “inverno” como chamam, quando as lagoas estão cheias,

aparece mais gente “de fora”, segundo os informantes.

Foi relatado que quando as lagoas estão cheias costumam aparecer

peixinhos (não relataram nomes) e um tipo de camarão chamado na Ilha de camarão

Page 72: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

72

pitu. Segundo informações dos nativos, desde 2002 as lagoas da Ilha secam

completamente no período de estiagem (chamado de verão), até mesmo a Lagoa do Jeju

e a da enseada, que costumavam conservar água de “um inverno para o outro”. Com a

seca das lagoas, os donos do rebanho bovino da Ilha, cavam pequenos poços nas

proximidades das dunas, para que o gado possa beber água. Nessa época o trabalho das

mulheres de Lençóis se intensifica, pois elas têm que lavar roupas retirando água dos

poços.

O quadro 4.1 relaciona as diferentes unidades de paisagens dos sistemas

ambientais da Ilha dos Lençóis, ilustrados na figura 4.22.

Page 73: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

73

QUADRO 4.1 – Sistemas Ambientais e Unidades de Paisagem da Ilha dos

Lençóis/MA

Sistemas

Ambientais

*Unidades de

Paisagem

Tipologia Vegetal Uso Tradicional, da

UP*

Marinho

Manguezal

Rhizophora mangle

(mangue vermelho),

Avicennia germinans

(siriba) e Laguncularia

racemosa (mangue

branco).

Madeira para

construção de casas,

cercas e carvão.

Retirada de

caranguejos, sururu.

Sabkhas Sem vegetação, alta

salinidade

nenhum

Praias

Praia da Baía de Lençóis

Praia de mar aberto

Porto de pesca,

Embarque e

desembarque de

pessoas e diversão

Marisma Espartina - capim

navalha

Nenhum

Lacustre

Lagoas

Macrófitas Aquáticas

Lavar roupa, tomar

banho, animais

beberem e diversão.

Terrestre

Dunas (terra firme do

quaternário) e Paleo-

dunas, restingas.

guajiru, murici,

vassourinha, capim

cajueiro

Frutos servem de

alimento

Page 74: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

74

FIGURA 4.22 – Ecossistemas da Ilha dos Lençóis

Page 75: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

75

4.2.4 Caracterização dos Recursos Turísticos da Ilha dos Lençóis

4.2.4.1 Oferta Turística da Ilha dos Lençóis

4.2.4.1.1 Hospedagem:

Na Ilha dos Lençóis existe apenas uma pousada, a “Filhos da Lua”, um

sobrado simples construído em madeira, com acomodações simples e confortáveis, que

oferecem a R$ 50,00, pensão completa (pernoite, café da manhã, almoço e jantar). As

refeições principais são a base de frutos do mar. Figura 4.23

FIGURA 4.23 - Pousada Filhos da Lua na Ilha dos Lençóis/MA

A Pousada também oferece serviços adicionais, como o

acompanhamento de turistas a passeios, na própria Ilha, ou passeios de barco às Ilhas da

Baía dos Lençóis, com condutores nativos.

Page 76: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

76

4.2.4.1.2. Transporte

Com acesso via mar, partindo de Apicum-Açú (figura 4.24), o trajeto até

a Ilha dos Lençóis, de cerca de 30 Km em linha reta, é feito em duas horas e meia. E,

partindo da sede de Cururupu, o percurso de 53 Km (contornando pontas e atravessando

canais) é feito em aproximadamente seis horas, pois depende diretamente da variação

das marés. É comum nessa região, barcos pesqueiros funcionarem como transporte de

passageiros.

FIGURA 4.24 - Porto de Apicum-Açú

Outro acesso é possível, partindo-se do Porto de Pindobal (município de

Serrano do Maranhão) o mais rápido deles, em torno de duas horas. Esse trajeto se

constitui no ideal para os turistas, tendo em vista as condições da estrada (Figura 4.25)

que leva ao porto, embora não exista ainda, nenhuma estrutura no que chamam de porto.

Page 77: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

77

FIGURA 4.25 - Estrada Cururupu - Porto de Pindobal

O transporte turístico para a Ilha está em fase experimental, constituindo-

se em embarcação simples que parte às segundas e sextas-feiras de Pindobal e retorna

da Ilha, aos domingos e às quintas-feiras. O preço da passagem é R$ 10,00 por pessoa,

como informou o Sr. Agnaldo Lopez, proprietário da pousada e do barco de passageiros

da Ilha.

4.2.4.1.3 Atrativos Culturais

Segundo CORIOLANO (1996), “o polo turístico tem que ser preparado

para a atividade de modo que o turismo passe a ser uma ação integrante da vida da

comunidade receptora. O modus vivendi, os usos, os costumes, o folclore, a arte local, o

modo de vida devem ser transmitidos e não transformados pelo convívio com os

visitantes”.

Todo o conjunto de costumes da vila de pescadores da Ilha dos Lençóis,

a sua forma de interagir e sobreviver da natureza se constitui em atrativo cultural

Page 78: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

78

importante, porém o traço mais forte e marcante é o Sebastianismo, devoção a Dom

Sebastião, em torno do qual giram as principais lendas da Ilha dos Lençóis e as

principais religiões, a católica e a umbanda, existindo uma capela e um terreiro de

umbanda.

Lençóis é uma Ilha mística, importante reduto de fé, mitologia e

religiosidade. O ilhéu é muito supersticioso, com base na amostra, cerca de 78,72% dos

entrevistados acreditam que a Ilha é encantada e está sob influência de certas

divindades, enquanto que 19,15% não acreditam e 2,13% não responderam.

Para os nativos, tudo que existe pelas praias da Ilha, são jóias que

pertencem ao tesouro encantado do “Rei Sebastião” e por isso sagrado, nenhum

visitante deve levá-las consigo, pois corre o risco de no retorno, a embarcação naufragar

e nenhum morador pode guardar para si, qualquer objeto achado na praia, pois poderá

ser punido, com doenças. Essa crença tem permitido a Lençóis resguardar parte de seus

recursos naturais e culturais.

Segundo a figura 4.26, tem-se idéia do quanto as lendas ainda estão

presentes na vida e no cotidiano dos nativos da Ilha dos Lençóis.

78,72%

19,15%2,13%

FIGURA 4.26 - Crença no encantamento da Ilha

Page 79: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

79

Duas grandes festas religiosas acontecem na Ilha dos Lençóis, a de São

Sebastião e a de São Benedito, porém por serem geralmente financiadas por pagadores

de promessas a data de realização das mesmas atualmente varia, segundo revelou o Sr.

Zé Mário, pai-de-santo.

Estas festas costumam ligar o caráter religioso ao profano, ao mesmo

tempo em que conectam também o catolicismo e o umbandismo, apresentando rituais de

ambas religiões e se constituindo em um dos momentos que a Ilha, recebe mais

visitantes.

Investigados sobre o que fazem para se divertir, a comunidade respondeu

que freqüenta festas em outros povoados, principalmente em Bate-Vento (onde a

influência do “brega” vindo do Pará é sentida) e na própria Ilha, na época do carnaval e

em julho “festa das férias”. As festas geralmente são realizadas em um barracão,

coberto de palhas e o “som vem de fora”7.

4.2.4.1.4 Atrativos Naturais

São representados pela grande extensão de praias, pelas dunas – que

chegam a uma altura de 50 m, pelas lagoas, pelo manguezal, bem como por todo o

conjunto fauna e flora dos ecossistemas da Ilha.

4.2.5 Percepção da comunidade local em relação ao turismo

De uma forma geral, baseando-se nos estudos de outros destinos

turísticos, nos quais o ecoturismo foi planejado e é monitorado, é possível afirmar que o

incremento da atividade ecoturística pode contribuir significativamente para a melhoria

7 Expressão usada pela comunidade de Lençóis para designar equipamentos musicais vindos de outros lugares

Page 80: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

80

de vida da população, gerando empregos, diversificando a economia e permitindo a

inclusão social.

Na Ilha dos Lençóis, a atividade ecoturística vem surgindo como forma

de incremento da economia, baseada até agora na pesca artesanal. Como ainda é

embrionária, há tempo para a profissionalização das pessoas e o preparo da infra-

estrutura básica e específica. Embora, já exista um fluxo de visitantes na Ilha,

principalmente de excursionistas de feriados e fins de semana, que abusam de seus maus

hábitos e invadem a privacidade da comunidade, abalando sua tranqüilidade, já

mencionada anteriormente, como sendo o que mais gostam.

Mesmo assim, observadas as diferenças entre turistas e excursionistas, a

maior parte dos informantes é a favor do incremento do turismo sustentável na Ilha,

como demonstram os dados da pesquisa onde, apenas um pequeno percentual de

13,64% relatou não gostar de receber turistas e tão pouco gostariam que essa atividade

aumentasse na Ilha. Em contrapartida, cerca de 71,82% relataram justamente o oposto.

Perguntou-se aos informantes o que atrai os turistas até a Ilha dos

Lençóis, ao que responderam: 40,87% disseram serem as dunas que chamam a atenção,

18,90% as praias, 13,86% as lagoas, 14,6% os albinos, 9,65% as lendas e 2,12 % se

referiram ao manguezal, aos guarás e ao camarão. Nota-se com isso, que a comunidade

de Lençóis ainda não despertou para a sua singularidade cultural, pois não identificam

como atrativo a sua própria cultura.

Do contigente de informantes 58,18 % relataram que acreditam que a

qualidade de vida na Ilha dos Lençóis melhore com a atividade turística e apenas

13,64%, acham que o incremento do turismo pode causar uma certa depreciação na vida

local. Os 28,18% restantes são pessoas que não souberam responder ou não relataram

sua opinião em relação ao assunto.

4.2.6 Percepção do turista em relação ao ecoturismo, na Ilha dos Lençóis/MA.

Page 81: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

81

Apesar de não ser objeto desse estudo, uma análise de demanda turística

na Ilha dos Lençóis mas, considerando-se que a opinião de turistas pudesse somar na

realização desse trabalho, foi empreendido entre os meses de julho e agosto de 2004,

uma pesquisa com aqueles que se utilizaram de equipamentos turísticos em sua visita à

Ilha. Diante da dificuldade em mensurar a amostra ideal, optou-se em entrevistar

aqueles que se hospedaram na pousada “Filhos da Lua”, no período já citado.

4.2.6.1 Motivação da Viagem à Ilha dos Lençóis

A pesquisa identificou como motivação da viagem à Ilha dos Lençóis os

seguintes atrativos, descritos na figura 4.27.

64,71%

23,53%

5,88%

5,88%

FIGURA 4.27 – Atrativos que motivaram a viagem à ilha dos Lençóis

Dentre os atrativos considerados belezas naturais, são citados: floresta

dos guarás, mangues, dunas e praias. Já o acervo cultural engloba os seguintes atrativos:

lendas, as pessoas da Ilha, religião, receptividade, culinária; a pesquisa biológica fica

por conta do estudo de aves residentes e migratórias.

Page 82: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

82

Um fato marcante foi que os turistas que viajam, via agência de viagem,

costumam associar a Ilha à Floresta dos Guarás, sendo isso um dos maiores apelos para

chamar a atenção dos clientes.

4.2.6.2 Divulgação da Ilha:

Normalmente as pessoas ficam sabendo da existência da Ilha por

indicação de amigos (53,0%), confirmando os dados da Pesquisa de Demanda Turística

Nacional e Internacional, onde a propaganda “boca a boca” é (como já mencionada no

capítulo 2) o principal influenciador na escolha de um destino turístico. Um total de

47,0% dos informantes citaram, propagandas realizadas por agências, reportagens de

televisão e revistas, além do Guia 4 Rodas.

A divulgação “formal” das belezas da Ilha dos Lençóis, através de

revistas, jornais, sites e televisão, ainda está começando. Com certeza o ano de 2004

marcou grandes avanços neste campo, como se pode ver em documentos anexos.

A hospitalidade dos ilhéus de Lençóis foi identificada como um dos

grandes elementos de satisfação turística, na Ilha.

4.2.6.3 Infra-estrutura de Acesso

Com relação a infra-estrutura de acesso, os pontos de partida utilizados

pelos informantes (turistas) foram: o Porto de Pindobal (tendo em vista a viagem ter

sido realizada via Agência Vitória do Lopez - proprietária da única Pousada da Ilha dos

Lençóis- a Filhos da Lua) e Apicum-Açú, sendo que 82,35% das pessoas entrevistadas

partiram do Porto de Pindobal e o restante 17,65% partiram de Apicum-Açú.

Entretanto, pode-se dizer que os dados obtidos com essa amostra não

expressam a realidade, pois a maioria dos turistas (ou ecoturistas) que chegam à Ilha dos

Lençóis, ainda o fazem partindo de Apicum-Açú, devido a estrutura do porto ser maior,

Page 83: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

83

enquanto que o Porto de Pindobal em Serrano do Maranhão, ainda espera a construção

do cais.

4.2.6.4 O que desagradou aos turistas

Perguntou-se aos informantes o que não havia agradado na viagem até a

Ilha dos Lençóis, as respostas geradas foram: o gado com 30,77 % das respostas, o lixo

também com 30,77%, a dificuldade no acesso a Ilha com 23,08% da amostra e a falta de

comunicação e custos elevados com 7,69% cada, conforme é mostrado na figura 4.28.

30,77%

30,77%

23,08%

7,69%

7,69%

FIGURA 4.28 - Fatores que desagradaram os turistas, na Ilha dos Lençóis.

A presença de muito lixo na Ilha dos Lençóis é em parte resultado da

forma incorreta de manejo dos resíduos sólidos, comumente utilizadas pela própria

comunidade (já descritas anteriormente) e também é o resultado da falta de educação

ambiental dos excursionistas que a Ilha recebe.

Page 84: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

84

A Limpeza Pública, segundo dados da EMBRATUR (2002), é um dos

ítens de maior insatisfação do turista estrangeiro no Brasil, empatado tecnicamente com

a falta de segurança.

A dificuldade de acesso aqui mencionada, não se restringe às condições

físicas dos portos, mas sobretudo às condições das estradas que levam a Cururupu e a

Apicum-Açú, bem como dos serviços de apoio ao longo destas.

Mas se por um lado, o acesso é algo que desagrada aos turistas, por outro

ele funciona “ainda” como um controlador natural do fluxo turístico de Lençóis.

Levando em consideração as lendas do Rei Sebastião, correntes na Ilha, somente os

“escolhidos” podem chegar até lá. E, enquanto não se dispõe de políticas públicas de

manejo turístico na Ilha dos Lençóis, esse ainda é, um ótimo elemento de controle.

Ressalta-se, que investimentos na recuperação da pista de pouso da Ilha

de Bate-Vento (em frente da Ilha de Lençóis), estão sendo feitos e os pacotes turísticos

já estão lançados na internet, visando atingir uma classe seleta de “ecoturistas”.

Outro aspecto que desagradou aos turistas informantes foi a presença de

gado na Ilha (30,77% - fizeram menção a isso), principalmente pelo rastro de fezes

espalhados nas dunas e pelo fato do gado ser um predador de ninhadas de maçaricos,

nas proximidades da praia.

4.3 Usos Tradicionais x Usos Ecoturísticos potenciais, das unidades de paisagem da

Ilha dos Lençóis.

Os usos tradicionais e ecoturísticos potenciais das unidades de paisagem

da Ilha dos Lençóis variam devido ao alto dinamismo ambiental e à sazonalidade, que

contribuem para que existam cenários distintos, entre os períodos chuvoso e estiagem,

cada qual com atrativos que podem ser trabalhados para o ecoturismo de formas

diferentes. Quadro 4.2.

Page 85: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

85

Um potencial conflito reside na criação de gado bovino, que para os

cinco pequenos criadores da Ilha (rebanho com menos de 30 cabeças no total),

representa uma “poupança”, uma forma de investimento ou ainda uma garantia para o

futuro dos filhos, porém na procura de pastagem o gado está comendo os ovos dos

maçaricos, que se utilizam da Ilha em sua rota de migração

QUADRO 4.2 – Características da sazonalidade da Ilha dos Lençóis

Período Chuvoso Período de Estiagem

Lagoas Vegetação rasteira

Ventos mais brandos Ventos mais fortes

Condições de vôo reduzidas Condições de vôo razoáveis

Mar calmo – Melhores pescarias de

camarão

Grande formação de ondas –

pescarias reduzidas

Quantidade de sol / dia, reduzida

a cerca de 1/3

12 horas de sol / dia

Poucas aves podem ser observadas Época favorável à observação das

espécies da avifauna

Esse potencial conflito, tem uma forma de minimizar-se à proporção que

o pequeno criador sentir que através do ecoturismo e principalmente dos “observadores

de aves”, pode conseguir lucrar mais, do que com a incipiente criação de gado.

Para que se possa ter uma idéia geral dos diferentes usos e possibilidades

de conflito, montou-se o quadro 4.3, no qual se atribui uma escala de valores, assim

estabelecida: quanto maior for o uso da unidade de paisagem pelos autóctones, maior

será a probabilidade de conflito com o turista. Graus estabelecidos: grande, médio e

pequeno. Considera-se também a inexistência de conflito.

Page 86: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

86

QUADRO 4.3- Usos Tradicionais x Usos Potenciais das Unidades de Paisagem da

Ilha dos Lençóis/MA

UNIDADES DE

PAISAGEM

USO TRADICIONAL

(PESCADOR)

USO POTENCIAL

(ECOTURISTA)

POTENCIAL DE

CONFLITOS8

PRAIAS *

Porto de barcos pesqueiros;

Local de negociar o pescado

Lugar de manifestação de lendas

Embarque e desembarque

Lazer/ banhos/esportes

Médio

LAGOAS

Tomar banho e lavar roupas,

Saciar a sede dos animais

Diversão e banhos

Grande

MANGUEZAL

Pesca do caranguejo

Retirada da madeira p/construção

civil;

Madeira para carvão

Sururu

Caminhadas para

observação da fauna e da

flora

Médio

DUNAS

Retirada de água nos poços aos pés da

“morraria”

Diversão

Caminhadas

Observação da paisagem

Médio (dunas)

Grande (poços)

MAR

Pesca

Passeios de barco,

transporte de turistas

entre ilhas, jet ski

Pequeno, se não

coincidir com a zona

de pesca

Grande se coincidir

com área de pesca

RESTINGA

Coleta de Pequenos frutos: murici e

guajiru

Pastoreio de gado bovino e caprino

Apreciação dos

ecossistemas e de aves

Apreciação de frutos

exóticos

Médio, pois o

pisoteio da vegetação

poderá danificá-la

SABKHAS

Aparentemente sem uso Apreciação de um

ecossistema raro

Não há

* Observa-se aqui, que existem lugares que são considerados sagrados para a população da Ilha de Lençóis, como é o

caso da Praia, onde se faz manifestar o “Rei Sebastião”, nas noites de lua cheia, encantado em um “touro negro”.

8 O Potencial de conflitos, entre o uso tradicional das unidades de paisagem e o uso ecoturístico, é avaliado em: GRANDE, MÈDIO e PEQUENO

Page 87: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

87

4.5- Subsídios para a formulação de cenários prováveis da Ilha dos Lençóis, frente

a implementação do ecoturismo

A questão da sustentabilidade da atividade turística na Ilha dos Lençóis,

se baseia em como conciliar o uso tradicional, ao uso ecoturístico dos sistemas

ambientais da área e em como permitir, o usufruto desses mesmos sistemas às gerações

futuras, tendo em vista que no cenário atual, são muitas as carências da população e

inúmeras as incertezas sobre o processo de desenvolvimento pretendido para região,

com a implementação do ecoturismo.

Do ponto de vista ambiental , os ecossitemas da Ilha são limitados pela

própria geografia da área e condicionados a processos ecológicos específicos, sendo

ambientes sujeitos à degradação, se mal manejados. A ausência de solo agrícola, impõe

uma carga maior, aos poucos recursos extrativos, aliviados pela existência do mar que

fornece alimento para a comunidade local.

Do ponto de vista sócio-cultural, a atividade só pode ser considerada

sustentável com a inclusão dos autóctones no processo. A inclusão pode acontecer, se a

comunidade estiver unida, articulada sob uma liderança local, que tenha voz nas

decisões sobre o destino da Ilha. Se estiver capacitada, de formas a empreender em

comunidade, equipamentos de hospedagem e de alimentação, tendo ainda que estar

preparada para ocupar os espaços que o ecoturismo vier a oferecer como: condutores de

ecoturismo, camareiras, cozinheiras, barqueiros, etc.

Quantos aos aspectos culturais principalmente relativos à tradição

sebastianista na Ilha, a atividade pode levar ao fortalecimento- marcado pelo orgulho e

reforço da auto-estima, ou a transformações que farão com que as lendas e crenças

deixem de existir.

Do ponto de vista econômico, os investimentos em uma infra-estrutura

correta para a Ilha, poderão ser considerados muito onerosos, porque estariam

Page 88: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

88

trabalhando com tecnologias modernas e “limpas” ( as chamadas tecnologias

ambientalmente corretas). Por outro lado, o espaço da Ilha já limita certas instalações,

uma vez que dunas e manguezal são áreas de preservação permanente.

Os cenários prováveis da Ilha dos Lençóis frente ao ecoturismo, são

montados a partir da observação de que a área, já vem sendo alterada naturalmente ao

longo do tempo. Observa-se que os valores culturais também são transformados,

ganham novas feições sem perder entretanto, suas raízes originais. (Quadros 4.4 e 4.5)

QUADRO 4.4 - Alterações Naturais e Antrópicas da Ilha dos Lençóis.

Alterações naturais Alterações Antrópicas

- Ação constante do vento Nordeste sobre as dunas, aterrando casas e o manguezal.

- Ação das correntes marítimas, na praia

da Baía dos Lençóis, destruindo casas e coqueirais, obrigando a comunidade a recuar a sua moradia.

- Ação das correntes marítimas sobre o

canal que liga a Ilha dos Lençóis à Ilha de Maiaú, reconfigurando a paisagem, uma vez que em marés baixas, já é possível atravessar de uma ilha para outra a pé.

- Gado bovino se alimentando de ovos

de maçaricos. - Grande período de estiagem, fazendo

desaparecer sazonalmente todas as lagoas da Ilha.

- Contaminação do lençól freático da Ilha com a deposição de resíduos sólidos, dejetos de animais e do próprio homem, a céu aberto e através de fossas mal instaladas.

- Contaminação da Praia da Baía dos

Lençóis, com esgoto. - Resíduos sólidos dispostos

aleatoriamente pela Ilha, principalmente nas áreas das dunas e lagoas.

- Especulação Imobiliária, loteamento de

terrenos muito próximo da cadeia de dunas.

- Exploração da madeira de mangue. - Festas com “som de fora”, ritmo brega

de Belém/PA. - Lenda do “Rei Sebastião”, ganhando

novas feições.

Page 89: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

89

Quadro 4.5 - Tendências para a Ilha dos Lençóis, com a implementação do

ecoturismo

Fatores Tendências Grau de Incerteza Impacto Possível

Pesca artesanal

Aumento da demanda de peixes, mariscos e crustáceos, na própria Ilha.

Baixo

Alto Aumento dos preços Redirecionamento de mercado Surgimento de pontos comerciais exclusivos p/ venda de pescado.

Infra-estrutura turística (Bares, Restaurantes e

Pousadas)

Surgimento e incremento de bares restaurantes e pousadas, principalmente na orla litorânea da Ilha

Baixo

Alto Surgimento de empregos, geração de renda Mudanças culturais Geração de efluentes Geração de resíduos sólidos

Saneamento Ambiental: água, esgoto e resíduos

sólidos.

Pressão ambiental crescente, aumento do consumo de produtos industrializados. Aumento das construções civis

Baixo

Alto Lençól freático contaminado, Aumento do lixo orgânico e inorgânico (sem destinação eficaz)

Crescimento do povoado

Imigração de investidores para a Ilha Volta dos filhos da terra Emigração dos nativos

Baixo

Alto Especulação Imobiliária, avanço do povoado para próximo das áreas de duna, povoamento da praia do mar aberto Afastamento de nativos da Ilha, Aumento da pressão sobre os ecossistemas da Ilha

Cultura / Educação

Fortalecimento das lendas Aumento dos índices de alfabetização e profissionalização para o ecoturismo.

Médio

Alto Reconfiguração do imaginário popular, Inclusão Social, Melhoria de qualidade de vida, Conservação Ambiental

Fonte: Baseado em IBAMA (2001)

Page 90: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

90

4.5.1 Cenário Desejado para a Ilha dos Lençóis

• A Ilha dos Lençóis com uma comunidade fortemente articulada, se fazendo

ouvir nas decisões sobre o destino da Ilha;

• Lençóis “segura”, através de mecanismo de proteção cultural de bens imateriais,

salvaguardando a memória das lendas do Rei Sebastião.

• Programas de capacitação, funcionando e permitindo a inclusão da população na

atividade turística;

• Bares, restaurantes e pousadas administrados pela própria comunidade, a

exemplo das reservas extrativistas de seringa na Amazônia, praticando preços

justos e compatíveis com a atividade, certificados pelo Programa de Alimentos

Seguros, PAS;

• Crianças na escola, recebendo incentivos governamentais como bolsa escola,

auxílio gás, bolsa família, que garantam ocupação integral aos menores etc;

• A entrada de visitantes controlada com sistema de voucher, taxa de visitação e

taxa de permanência na Ilha;

• Sistema de telecomunicação ampliado.

• Guias de turismo nativos, capacitados a guiar principalmente observadores de

aves;

• Estabelecimento de trilhas interpretativas ao longo dos ecossistemas da Ilha.

• Passeios turísticos em barcos tradicionais nas ilhas do arquipélago de Maiaú;

• Nativos com a auto-estima elevada;

• Melhores condições de vida dos nativos, casas construídas em madeira, cobertas

de telhas e acesso a bens industrializados. Pessoas nativas vivendo com maior

conforto;

• Intensificação de medidas preventivas de saúde e pronto-socorro;

• Sistema regular de transporte de passageiros para Lençóis;

• Pessoas de Lençóis trabalhando em suas atividades tradicionais e em novas,

trazidas com o ecoturismo;

• Escola ampliada, proporcionando ensino aos adultos;

Page 91: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

91

• Luz elétrica para todos, todas as horas;

• Sistema de abastecimento de água tratada;

• Resíduos sólidos com tratamento adequado;

• Construção de fossas sépticas ecologicamente corretas;

• Centro de Ecoturismo da Ilha dos Lençóis, passagem obrigatória de todo turista

ao chegar na ilha, com cobrança de taxa para sua manutenção, exibição de vídeo

e fotos, alerta aos turistas - como devem se comportar na ilha - Código de

conduta turística na Ilha;

• Fortalecimento da imagem de Lençóis – como ilha encantada do Rei Sebastião;

• Fortalecimento dos conhecimentos tradicionais que envolvem a cultura de

Lençóis;

• Fundo de Desenvolvimento Sustentável da Ilha dos Lençóis, administrando

valores arrecadados com taxas, na Ilha. Direcionamento da verba a campanhas

de qualificação profissional de jovens nativos;

• Campanhas de educação ambiental constante para ilhéus e ecoturistas;

• Intensificação de ações de marketing para atrair ecoturistas com o perfil

adequado à Ilha

4.5.2 Cenário desfavorável para a Ilha dos Lençóis

• Aumento do número de pousadas na praia da Ilha dos Lençóis;

• Água imprópria para o consumo e lençól freático contaminado por muitas

fossas;

• Grande movimento de barcos na praia;

• A comunidade de Lençóis, reduzida a pouquíssimas pessoas nativas;

• Pessoas de “fora”, principalmente de outros estados, proprietários de

restaurantes e pousadas instalados em Lençóis;

• Albinos, reduzidos a uma ínfima minoria, cada vez mais marginalizada;

• Lixo e mal cheiro espalhados no povoado;

• Lagoas poluídas;

Page 92: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

92

• Campo de pastagem e áreas de restinga reduzidos em virtude do pisoteio dos

visitantes;

• Manguezal da Ilha destruído, fauna e flora comprometidas;

• Aumento do preço do pescado e perda do poder aquisitivo da população;

• Aumento da prostituição e do consumo de drogas;

• Crianças mendigando e fora da escola;

• Homens e Mulheres recebendo e tratando mal as pessoas de fora;

• Casas de veraneio construídas em alvenaria e pré-moldadas;

• Tradições esquecidas;

• Comunidade reprimida, com vergonha de praticar a sua religião e expressar suas

crenças;

• Fim do Ecoturismo e apogeu do turismo de massa.

4.6 Roteiros de Inclusão

As atividades de turismo sustentável, só são possíveis se além de

otimizarem os recursos turísticos existentes, permitirem a melhoria da qualidade de vida

das comunidades receptoras, proporcionando ao mesmo tempo, experiências de

responsabilidade para todos os atores envolvidos, de modo a favorecer a conservação

dos recursos para as gerações futuras.

No início desse Século, tem sido intensificado a implementação de

Roteiros Turísticos Integrados, seguindo a concepção dos clusters- arranjos produtivos

locais - no agrupamento de municípios cujos atrativos turísticos reunidos, possam

fortalecer, o desenvolvimento de uma dada região. Muitas vezes esses municípios são

vizinhos, outras não, embora façam parte de um mesmo conjunto turístico, que é

“vendido” como um único produto.

Com os roteiros integrados, os municípios saem ganhando, pois os

recursos para investimentos em infra-estrutura e capacitação são otimizados e rateados.

Page 93: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

93

As ações de marketing se tornam mais eficazes junto ao público-alvo,

pois reforçam uma permanência maior no destino e a oportunidade de conhecer vários

lugares numa única viagem.

Dentre os Roteiros Integrados mais famosos do Brasil estão a “Estrada

Real” , que envolve os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, incluindo cidades

como, Parati (RJ), Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, Congonhas do Campo, dentre

outras; Roteiros dos Campos Gerais- rota dos Tropeiros no Paraná. Esses roteiros

trabalham simultaneamente com uma grande variedade de atrativos, fortalecendo o

turismo rural, o ecoturismo, o turismo cultural, o turismo religioso e outros.

No Maranhão, o Roteiro Integrado em andamento é trabalhado junto com

o Piauí e o Ceará. Envolve os municípios de Barreirinhas, Paulino Neves, Araioses e

Tutóia –no Maranhão, Parnaiba, Luís Corrêia, Ilha Grande e Cajueiro da Praia – no

Piauí e Camocim, Barroquinha, Chaval, Jijoca de Jericoacoara – Ceará.

Seguindo a forma concebida para os roteiros integrados lança-se os

“Roteiros de Inclusão” (quadro 4.6/figura 4.29) que sinalizam para a sustentabilidade do

destino turístico “Floresta dos Guarás”, ao proporcionarem a distribuição do fluxo

turístico nas Ilhas do Arquipélago de Maiaú, aliviando a possível sobrecarga da Ilha dos

Lençóis e permitindo a circulação de capital, geração de ocupação e renda e melhoria de

vida.

A essência desses roteiros é perfeitamente reaplicável a outros lugares,

servindo sobretudo para a integração dos vários municípios de um mesmo polo turístico,

bem como de polos com atrativos semelhantes.

Como exemplo dos “Roteiros de Inclusão”, apresentam-se três rotas de

viagem para a Ilha dos Lençóis, a primeira, a mais longa, parte do porto de Cururupu na

Baía Cabelo de Velha, o percurso total é de cerca de 96 km, a segunda opção é partir do

Page 94: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

94

porto de Pindobal, em Serrano do Maranhão, com distância aproximada de 36 Km e a

terceira, saindo do porto de Apicum-Açú, com distância de 30 Km.

Todos os trajetos para Lençóis nos “Roteiros de Inclusão”, contemplam

paradas estratégicas, em outras ilhas. Ao longo da viagem, o ecoturista terá uma chance

maior de avistamento de aves, observação da flora e da cultura dos povos das

Reentrâncias Maranhenses, expressa principalmente nas formas de usos dos recursos

naturais.

Nos roteiros turísticos para Lençóis, é indispensável visitas programadas

a Ilha de Maiaú, na qual poderão ser feitos passeios em trilhas interpretativas de fauna e

flora, bem como permitir aos ecoturistas, um contato maior com os pescadores de

camarão que arrancham-se nas praias para fazer a “salga”.

Obrigatoriamente todos os passeios na Ilha dos Lençóis e nas outras ilhas

têm que ser acompanhados de guias (condutores) nativos preparados para transmitir ao

ecoturista uma experiência única, para isso é necessário capacitação profissional com

variada grade curricular, desde relações humanas, conhecimentos técnicos dos

ecossistemas (fauna e flora), primeiros socorros, dentre outros, tudo em uma linguagem

acessível. O condutor de ecoturismo será, acima de tudo, um educador ambiental junto

aos turistas e na sua própria comunidade.

Cabe lembrar, que para implementar os “Roteiros de Inclusão” serão

necessários estudos semelhantes a este, sobre a Ilha dos Lençóis, em todas as ilhas que

forem consideradas atrativas para o ecoturismo, ações de capacitação profissional para o

turismo, ações de resgate das manifestações culturais, além de infra-estrutura básica e

turística.

Os “Roteiros de Inclusão”, podem ainda ser extensivos aos municípios de

Alcântara – no qual poderiam ser trabalhados os atrativos naturais (próprios da região

das Reentrâncias Maranhenses – A Ilha do Cajual, a Ilha do Livramento, etc) e os

atrativos culturais sobretudo da cultura afro, aqui expressa nas comunidades

quilombolas como Itamatatíua, Santa Maria, dentre outras.

Page 95: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

95

Quadro 4.6 - Benefícios potenciais dos “Roteiros Turísticos de Inclusão”

Autóctones (Eco)Turistas Polo Floresta dos Guarás

- Inclusão social

- Geração de

ocupação e renda

- Diversificação das

profissões

- Melhoria da

qualidade de vida

- Melhoria da Infra-

estrutura básica

- Valorização dos

traços culturais da

comunidade

- Estímulo à

conservação

ambiental

- Incremento de

atividades culturais,

como culinária

típica e artesanato.

- Surgimento de

outros mercados

- Interação com culturas

diferentes

- Aumento do respeito às

culturas tradicionais

- Estímulo à conservação

ambiental

- Aumento da

permanência na região

- Incremento do passeio

turístico

- Aumento da

perspectiva de aventura

na “Floresta dos

Guarás”

- Aumento do grau de

satisfação

- Distribuição do fluxo turístico

(principalmente o

ecoturístico)

- Notoriedade junto aos

principais destinos

ecoturísticos do Estado e do

País.

- Acesso às ações de melhoria

de infra-estrutura

- Migração de investimentos

para setores básicos como

educação e saúde

- Melhoria do sistema de

transportes e comunicação

- Aumento do IDH

Page 96: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

96

FIGURA. 4.29 – Roteiros ecoturísticos na Floresta dos Guarás

Page 97: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

97

5. CONCLUSÕES

A análise das perspectivas do ecoturismo na Ilha dos Lençóis/MA:

tendências e cenários da sustentabilidade, favoreceu as seguintes conclusões:

• A Ilha dos Lençóis possui um grande potencial para o ecoturismo, marcado por

seus diversos ecossistemas, entretanto o seu maior diferencial é a cultura.

• As potencialidades culturais da Ilha, não estão sendo aproveitadas para o

incremento ecoturístico.

• O ecoturismo na Ilha dos Lençóis, ainda está em fase embrionária. Até agora, a

demanda maior na Ilha, tem sido de excursionistas de áreas próximas, que se

utilizam da Ilha para a sua diversão e em troca abandonam lá, muito lixo.

• Os principais ecossistemas da Ilha, não suportarão uma pressão contínua, maior

ao que se tem observado.

• A comunidade é extremamente desarticulada, não comungando da mesma voz,

que garanta a liderança e imponha a decisão comunitária no destino da Ilha.

• É grande a especulação imobiliária da Ilha, embora a comunidade esteja

consciente que assim poderá perdê-la .

• A infra-estrutura básica é deficiente e refletida nas condições de saúde da

população.

• A sede do município de Cururupu, não é considerada até então, como portal da

Floresta dos Guarás, por apresentar péssimas condições de infra-estrutura básica (das

ruas, do abastecimento de água, da iluminação pública), que causam um enorme

descontentamento da população, que involuntariamente passa isso para o visitante e

logo, se a cidade não é boa para quem mora nela, não será boa para os turistas.

Page 98: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

98

Como atividade social, cultural, ambiental, econômica e, sobretudo

humana, o ecoturismo pode representar a chance da Ilha dos Lençóis e de muitas outras

comunidades, alcançarem a qualidade de vida, proporcionada pela valorização de sua

cultura, geração de ocupação e renda e melhoria da infra-estrutura básica. Sendo por

isso intolerável, a ausência do poder público nesses destinos ecoturísticos, uma vez que

estará em jogo a vida das comunidades tradicionais e a qualidade da experiência para os

viajantes.

Conclui-se por fim, que a sustentabilidade do turismo na Ilha dos Lençóis

é um processo que deve se estabelecer e nunca mais ter fim. É um caminho, uma busca

constante que exige acompanhamento e vigilância sempre. Porque não depende de um

único fator, mas de vários, inter e multidisciplinares, vulneráveis a qualquer intervenção

interna ou externa.

O modelo de ecoturismo pretendido para Lençóis, terá que levar em

conta todas as dimensões da sustentabilidade, devendo ser simples o bastante para ser

economicamente viável, participativo o suficiente, para ser socialmente justo e

indispensavelmente consciente, para ser ambientalmente correto.

Page 99: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

99

6. RECOMENDAÇÕES:

6.1 Ilha dos Lençóis:

• Incentivo ao fortalecimento comunitário através de estímulos à criação de

associações;

• Ações imediatas de capacitação e profissionalização para atividades

ecoturísticas;

• Incremento de “Roteiros Turísticos de Inclusão” que possam permitir o fluxo de

turistas entre as Ilhas vizinhas a Lençóis e entre todos os municípios do Polo da

Floresta dos Guarás e com isso, maior circulação de renda, maior

profissionalização, melhoria de infra-estrutura, dentre outros;

• Estabelecimento de taxas de visitação para a Ilha e de taxas diárias de

permanência;

• Formação de Núcleo Gestor da Ilha dos Lençóis (formado por pescadores,

donas de casa, e trade turístico), que estabeleceria os limites aceitáveis de

mudança para a Ilha, através da seleção de indicadores observados em sua

percepção como nativos e configuraria um código de conduta para ecoturistas da

Ilha dos Lençóis.

• Criação do Fundo de Gestão da Ilha dos Lençóis (a ser administrado pelo núcleo

gestor, direcionando verbas para o conforto e educação dos nativos);

• Incremento da Saúde e educação na Ilha;

• Estabelecimento de Capacidade de Carga diária de Turistas na Ilha, a ser

cumprida na íntegra;

Page 100: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

100

• Implementação de Programas de Educação Ambiental e de Higiene, na Ilha;

• Otimização dos recursos culturais e Tombamento Cultural da Lenda do “Rei

Sebastião”, favorecendo o reforço da auto-estima dos autóctones.

• Criação do Centro de Visitantes da Ilha dos Lençóis, local de passagem

obrigatória de todos os visitantes, no qual estariam recebendo informações da

área e repasses de condutas ecologicamente aceitáveis.

• Incremento da infra-estrutura básica;

6.2 Floresta dos Guarás:

• Incremento de ações de capacitação profissional para o ecoturismo;

• Criação de roteiros integrados constando todos os municípios do Polo;

• Otimização dos recursos culturais dos municípios envolvidos;

• Incremento da infra-estrutura básica;

• Melhoramento da Infra-estrutura turística dos municípios;

• Investimentos em marketing

Page 101: Dissertacao Catarina - Turismo Ilha Lençóis

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APÊNDICE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E LIMNOLOGIA

MESTRADO EM SUSTENTABILIDADE DE ECOSSISTEMAS

Pesquisa na Ilha dos Lençóis 01- Nome:...............................................................Sexo:................. 02- Idade:......................................Casa de:..................................... 03- Etnia: ( ) Branco ( ) Negro ( ) Albino ( ) Pardo 04- Estado Civil: ( ) casado ( ) solteiro ( ) Viúvo ( ) Amigado 05-Sabe ler e escrever o próprio nome ? ( ) Sim ( ) Não 06-Onde você nasceu? ( ) Ilha dos Lençóis ( ) Outro, Qual? ................................................................................. 07-Você gosta de morar aqui, em Lençóis? ( ) Sim ( ) Não 08-O que você gosta mais na Ilha dos Lençóis ? ( ) Tranqüilidade ( ) lagoas ( ) pessoas ( ) mar ( ) lendas ( ) Praias ( ) dunas ( ) fartura de peixes ( ) manguezal 09-O que você faz para se divertir? ........................................................................................................ 10- Quais são as festas e/ou comemorações que costumam acontecer na Ilha ? ........................................................................................................ 11-Profissão: ( ) Pescador ( ) Catador de caranguejos ( ) Outros............................ 12-Você gosta do que faz ? ( ) Sim ( ) Não 13-A sua produção é a mesma no verão e no inverno ( ) Sim ( ) Não Porquê?............................................................................................... 14-Você costuma fazer algum tipo de artesanato ( de palha, madeira, bordados, crochê, instrumentos de pesca) ? ........................................................................................................ 15- Você cria animais em seu quintal? QUAIS ? ........................................................................................................ 16- Os animais são criados: ( ) soltos ( ) presos 17– Você planta alguma coisa? O que e onde? ........................................................................................................

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(CONTINUA) 18-Onde é comercializada a produção? ( incluindo peixes ) ........................................................................................................ 19- O quê você usa do manguezal e considera importante para você e para a sua família? Listar por ordem de citação ( ) caranguejo ( ) sururu ( ) ovos de guarás ( ) aves ( ) peixes ( ) madeira p/casa ( ) carvão 20-Qual a renda mensal de sua família? ( ) menos de 1 salário ( ) 1 salário ( ) 2 ou mais de salários 21-Na sua casa existe algum aposentado? ( ) Sim ( ) Não 22-Quantas pessoas vivem em sua casa?................... 23-Quantas trabalham na pesca e quantas trabalham em outra atividade ? ........................................................................................................ 24- O que pesca ? ( ) camarão ( ) peixe, quais?................................................................................................. 25- Existe alguma associação na Ilha? ( ) Sim ( ) Não 26- Como é o abastecimento de água na sua casa ? ( ) Poço cacimba ( ) Poço entancado 27- A água consumida pela família é ? ( ) Filtrada ( ) fervida ( ) Só depositada em potes ( ) Coada antes de beber ( ) Outros 28- Sua casa possui banheiro ? ( ) Sim ( ) Não, onde são feitas as necessidades? ............................................................. 29- O que é feito com o lixo gerado por sua família? ( ) enterra , onde ? ........................................ ( ) queima 30- Quais os eletrodomésticos que a família possui? ( ) ferro elétrico ( ) rádio ( ) geladeira ( ) liqüidificador ( ) fogão a gás ( ) televisão ( ) ventilador 31- As crianças da família estão na escola? ( ) Sim ( ) Não 32- Para alguém vir morar na Ilha é necessário fazer o quê ? Existem terras disponíveis para estas pessoas ? ........................................................................................................

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(CONTINUA) 33- Você sabe o que é Turismo? ( ) Sim ( ) Não 34- Você sabe o que é turista ? ( ) Sim ( ) Não 35- Na sua opinião o que mais atrai os turistas à Ilha dos Lençóis ? ( ) Praias ( ) Dunas ( ) Lagoas ( ) Lendas ( ) Albinos ( ) manguezal ( ) Outros, quais?................................................................................................. 36- Qual a época em que a ilha é mais visitada por turistas? ........................................................................................................ 37- Existe algum lugar da ilha que não deveria ser visitado pelos turistas? Qual ? Porquê?............................................................................................... 38- Você gosta de receber turistas na Ilha dos Lençóis? ( ) Sim ( )Não Porquê ?......................................................................................... 39-Você gostaria que o turismo, aumentasse na Ilha? ( ) Sim ( ) Não Porquê ?.......................................................................................... 40-Na sua opinião a presença dos turistas na Ilha interfere nas condições de vida da comunidade? ( ) melhora ( ) piora ( ) Não Sei 41- Você acredita que a Ilha dos Lençóis seja encantada? ( ) Sim ( ) Não 42-Você já presenciou algum fato sobrenatural ? ( ) Sim ( ) Não

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E LIMNOLOGIA

MESTRADO EM SUSTENTABILIDADE DE ECOSSISTEMAS

PESQUISA DA DEMANDA TURÍSTICA DA ILHA DOS LENÇÓIS 1-Nome:.......................................................................................................................... 2-Idade:...............................; Nacionalidade :..................................................................... 3-Profissão:.......................................................................... 4-Cidade onde reside :...................................................................... 5-Qual a sua principal motivação para visitar a Ilha dos Lençóis ? (por em ordem de citação) ( ) Dunas ( ) Lagoas ( ) Lendas ( ) Albinos ( ) Praias Outras:....................................................................................................................................... 6-Como você tomou conhecimento da existência da Ilha dos Lençóis ? ( ) Reportagens em TV, quais ? ............................................................................ ( ) Reportagem em jornais, quais ? ....................................................................... ( ) Reportagem em revistas , quais ? .................................................................... ( ) Agências de Turismo, quais ? ........................................................................... ( ) Indicação de amigos Outros ..................................................................................................................... 7- O que mais lhe agradou em sua visita à Ilha dos Lençóis ? ................................................................................................................................................... 8- O que não lhe agradou em sua visita à Ilha dos Lençóis ? ................................................................................................................................................... 9- Qual o seu ponto de partida para vir à Ilha dos Lençóis ? ( ) Porto de Cururupu ( ) Porto de Apicum –Açu ( ) Porto de Pindobal 10- Você voltaria à Ilha e indicaria o passeio a seus amigos ? ( ) SIM ( ) NÃO

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ANEXOS