saúde informa nº 10

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Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMG Nº 10 - Ano II - Belo Horizonte, maio de 2011 Páginas 4 e 5 A doença falciforme é caracterizada por uma anomalia nos glóbulos vermelhos, que ad- quirem a forma de uma foice. Isso dificulta a circulação sanguínea e leva à anemia crônica, acompanhada de crises de dor. Em Minas, doentes contam com tra- tamento gratuito, avaliações especializadas e acompanhamento por toda vida. Ilustração: Arquivo Nupad Uma doença que precisamos conhecer 3 7 ENSINO Pesquisa revela o desafio dos professores na hora de avaliar os futuros médicos ECONOMIA Estudo compara medicamentos contra a hepatite B usados pelo SUS CENTENÁRIO Medicina organiza eventos científicos que vão movimentar BH em novembro 8

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Page 1: Saúde Informa nº 10

Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMGNº 10 - Ano II - Belo Horizonte, maio de 2011

Páginas 4 e 5

A doença falciforme é caracterizada por uma anomalia nos glóbulos vermelhos, que ad-

quirem a forma de uma foice. Isso dificulta a circulação sanguínea e leva à anemia crônica, acompanhada de crises de dor.

Em Minas, doentes contam com tra-tamento gratuito, avaliações especializadas e acompanhamento por toda vida.

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Uma doença que precisamos conhecer

3 7

ENSINOPesquisa revela o desafio dos professores na hora de avaliar os futuros médicos

ECONOMIAEstudo compara medicamentos contra a hepatite B usados pelo SUS

CENTENÁRIOMedicina organiza eventos científicos que vão movimentar BH em novembro 8

Page 2: Saúde Informa nº 10

Revendo conceitos

A reportagem prin-cipal desta edição, sobre a anemia falciforme, foi pen-sada inicialmente como um modo de chamar a atenção para um problema de saú-de que atinge sobretudo a população negra, no mês em que se comemora a abolição da escravatura no Brasil.

Mas um olhar mais profundo sobre o assunto revelou que não se trata de uma doença racial, e sim geográfica, que surgiu na África e acabou se disse-minando em outros países, como o Brasil, pela misci-genação. A doença falci-forme castiga justamente quem já vive à margem da sociedade e tem mais difi-culdade para ter o direito à saúde garantido.

Esta edição traz ainda uma pesquisa sobre o ensino da Medicina que propõe modificações para a formação de médicos mais autônomos. A tese reafirma a tradição da es-cola que foi pioneira na mudança curricular da dé-cada de 1970 e se prepara para adotar um novo cur-rículo a partir do segundo semestre de 2011.

Neste mesmo ano, em que se comemora o seu Centenário, a institui-ção organiza eventos cien-tíficos que vão trazer para Belo Horizonte médicos, profissionais e gestores da saúde de várias partes do Brasil e do mundo: o 2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG e a 10ª Conferência Interna-cional de Saúde Urbana (ICUH 2011), realizada pela primeira vez na Amé-rica Latina.

Boa leitura!

Editorial Saúde do português

Declaração de ÓbitoA morte não é a falência da Medicina

ou dos médicos. Ela é apenas parte do ciclo da vida. Nesse cenário, uma das principais vítimas é a própria documentação da mor-te, a Declaração de Óbito, como diria o ex-presidente do Conselho Federal de Medicina, Edson Andrade. As causas a serem anotadas na DO são todas as doenças ou as lesões que produziram a morte ou para ela contri-buíram. Além das circunstâncias do acidente ou da violência que produziram essas lesões. Erro crasso, portanto, seria declarar a parada cardíaca de outrem como causa básica de sua morte.

Nós médicos somos treinados para evitar anotações de diagnósticos imprecisos que não esclareçam a principal causa da mor-te. Coisa, assim, como parada cardíaca, para-da respiratória ou parada cardiorrespiratória. Todas filhas da mesma visão. Aliás, sinais e modos de morrer. E não “causas básicas de óbito”, como orienta o Ministério da Saúde.

Dia desses soube do professor Cid Ve-loso, cardiologista, ex-diretor de nossa unida-de e ex-reitor da UFMG, que o mesmo quase foi levado ao serviço coronariano de urgên-cia após leitura de jornal local dando conta de que seu amigo Célio de Castro havia fa-lecido de “parada cardíaca”. Recentemente, mais uma dor no peito: outro jornal noticiou que um operário caiu do 8º andar do prédio e morreu de parada cardíaca! O orador da tur-ma que completa 50 anos de formatura enca-minha esta colaboração à coluna enfatizando: “é óbvio que ninguém morre com os órgãos funcionando”. É. Faz sentido!

Washington Cançado de AmorimProfessor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia

Contribua para a ‘Saúde do Portu-guês’. Envie sua sugestão ou opinião para [email protected].

Publicações

As mulheres médicas nas entrelinhas do Centenário da Faculdade de Medicina da UFMG

Escrito pelas professoras Anayansi Correa Brenes, do Núcleo de Estudos Mu-lher e Saúde e Ismênia de Lima Martins, da Universidade Federal Fluminense (UFF), o livro revela como se deu a inserção feminina nas instituições médicas mineiras. Destaque para a história de Alzira Reis, primeira mulher graduada na Faculdade de Medicina de Bello Horizonte, que viria a ser a Faculdade de Me-dicina da UFMG. O leitor poderá conhecer ainda a trajetória da primeira professora da instituição, Iracema Baccarine. Ao longo das 76 páginas, as autoras também apresentam estatísticas da atual participação das mulheres no corpo docente e discente da Faculdade. Ed. UFF.

Bogliolo Patologia

A obra, lançada há 40 anos pelo reno-mado médico e cientista Luigi Bogliolo, che-ga à oitava edição, mantendo a proposta de fornecer aos leitores, sobretudo estudantes de Medicina, todo o conteúdo de Patologia Geral e de Patologia Humana, de forma abrangente e atualizada. O organizador é o professor ti-tular de Patologia da Faculdade de Medicina da UFMG, Geraldo Brasileiro Filho, que atua há 35 anos como docente da área. Dezenas de pesquisadores, de várias partes do Bra-sil, colaboraram para a nova edição do livro, que disponibiliza como material suplementar ilustrações em formato de apresentação para docentes previamente cadastrados. Ed. Gua-nabara.

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Avaliação dos estudantes de Medicina deve ter objetivos mais claros

Pesquisa aponta necessidade de um padrão de correção mais eficaz e de instrumentos complementares, como capacitação para a docência

Amanda Jurno

Ensino

Maio de 2011

Avaliar um estudante é uma ação solitária e angustiante para muitos professores, pois não há como pedir ajuda

a profissionais alheios ao processo. Além disso, a convivên-cia diária com os alunos cria laços e relações que podem interferir na avaliação. Com o objetivo de compreender me-lhor esse processo e buscar alternativas para aprimorar o ensino-aprendizagem, o médico Luiz Megale, professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, defendeu tese na qual conclui que há necessidade de preparo pedagógico específico e da adoção de critérios pré-definidos para reduzir a influência de fatores subjetivos na avaliação.

Surpreendentemente, um dos fatores que pode difi-cultar a avaliação é a inserção precoce dos alunos no aten-dimento de pacientes, a partir do quinto período, que é justamente um dos diferenciais do curso de Medicina da UFMG. A chamada “avaliação em serviço”, por meio da observação diária do desem-penho, das atitudes e habilidades clínicas do aluno pelo professor, exige o constante aperfeiçoamento docente. “O sentimento de grande parte dos professores é de que há necessidade de cursos especializa-dos para ajudar a aprimorar os pro-cedimentos em sala de aula”, obser-va Luiz Megale.

Neste caso, a coorientadora da pesquisa, Eliane Gontijo, sugere a melhoria dos cursos e a extensão dos já existentes para os antigos professores. “Hoje existem cursos para os novos docentes. Mas falta um maior enfoque no processo avaliati-vo. E quem, como eu, está na faculdade há vários anos, não foi capacitado para o exercício da docência”, exemplifica. Segundo ela, a elaboração de uma “matriz de competên-cias” essenciais ao exercício profissional favoreceria docen-tes e alunos. “Esse seria o primeiro passo, ao lado de outros instrumentos de avaliação adequados”, destaca.

MétodoA pesquisa foi baseada em respostas de professores,

alunos e profissionais a um questionário sobre as compe-tências médicas, elaborado junto com a Comissão Perma-nente de Avaliação da Faculdade de Medicina da UFMG. Numa escala em que 5 significa “saber fazer sozinho sem a supervisão de um professor” e 4 com supervisão, os alunos obtiveram média de 4,65.

O estudo também valida o OSCE (Objective Structured

Responderam ao questionário:64 professores da Pediatria

30 médicos pediatras 428 estudantes do último ano do curso

Competências médicas avaliadas: - Respeito às normas de

biossegurança- Adequação no trato com paciente

- Realização de exame físico- Orientação do paciente

Título: Processos avaliati-vos no curso de Medi-cina: desempenho dos estudantes em relação às competências em pediatria e sua significação pelo docente Autor: Prof. Luiz Megale Nível: DoutoradoPrograma: Saúde da Crian-ça e do AdolescenteOrientador: Prof. Joaquim Antônio César MotaDefesa: 21/03/ 2011

Clinical Examination), adotado nos internatos desde 2008 na UFMG. “Trata-se de um instrumento que leva em conta a mobilização de conhecimentos, habilidades clínicas e atitu-des na resolução de um problema apresentado. O fato de haver um padrão de respostas e a devolutiva das questões aos alunos torna o Osce um ótimo instrumento avaliativo, principalmente diante do nosso grande número de alunos”, afirma Eliane Gontijo.

ResultadosPorém, o desempenho no OSCE esteve abaixo do

esperado pelos próprios alunos: 4,23, em média. “Faltou autonomia aos jovens e essa é uma característica do curso de medicina, não só no Brasil”, explica Megale. “A autono-

mia vem com a prática. E a prática da medicina no período estudantil exige a supervisão de um profissio-nal experiente, pois envolve a vida alheia”, pondera o professor.

Para Eliane Gontijo, os do-centes ajudam a desenvolver capa-cidade crítica, criatividade e auto-nomia de seus alunos. Segundo ela, o professor não deve dar respostas rápidas, mas estimular o raciocínio clínico - o aluno deve ser sujeito do próprio aprendizado.

As normas acadêmicas da UFMG estabelecem que o profes-sor aprove o aluno com no mínimo

60% dos pontos distribuídos no semestre. Para a professo-ra, isso é um equívoco. “Ou ele está apto a exercer a profis-são, ou não está. Por isso, é necessário haver mudanças nos critérios de avaliação dos estudantes de medicina”, defende.

No OSCE, o aproveita-mento médio dos 476 alunos foi 81,7%, um pouco abaixo da pro-va escrita e da avaliação em ser-viço, que foi de 86%. Problemas com memorização, nervosismo e ansiedade influenciam o desem-penho dos estudantes. Alguns comportamentos, como o maior interesse pela nota do que com o aprendizado, preocuparam os pesquisadores. Para Megale, isso reforça a necessidade de serem avaliadas as habilidades técnicas, emocionais, morais e intelectuais dos futuros médicos.

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Maio de 2011

Doença Falciforme: uma anomalia grave e pouco conhecida

Falta de reconhecimento expõe mais um fator de exclusão dos afrodescendentes, principais afetados. Mas brasileiros de diferentes cores e raças podem estar sujeitos à doença, em decorrência da miscigenação

Larissa Nunes

Saúde Pública

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Até o século 19, não era possível entender porque uma parte da população africa-

na era imune à malária, doença que até hoje provoca 2 milhões de mortes no continente. A explicação veio em 1910, com a descoberta feita pelo médico norte-americano James B. Herrick: não ter malária, significa, muitas ve-zes, ser portador de um outro mal, que causa crises intensas de dor, úlceras e morte prema-tura – a doença falciforme. A enfermidade, que atualmente pode ser tratada, ainda é um grave problema de saúde pública e reflete a si-tuação de vulnerabilidade social da população afrodescendente no Brasil.

Doença falciforme é o termo genérico para

uma série de desor-dens genéticas ca-racterizadas pela presença de uma hemoglobina anô-mala nas hemácias,

os glóbulos verme-lhos, responsáveis pelo

transporte do oxigênio ao corpo inteiro. Essas células acabam adquirin-do a forma de foice - daí o nome falciforme - o que dificulta a circulação sanguínea e pro-voca anemia crônica.

Por ser genética, essa mutação é tam-bém hereditária, e, como teve origem pro-vável na África, tornou-se predominante na população negra. O que não quer dizer que a doença seja “racial”. “Não existe qualquer relação entre cor e doença falciforme. Ela po-deria ter afetado mais os brancos”, enfatiza o professor José Nélio Januário, diretor-geral do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diag-nóstico (Nupad), órgão complementar da Fa-culdade de Medicina da UFMG.

BrasilPor ano, segundo a Organização Mun-

dial de Saúde (OMS), cerca de 300 mil bebês nascem com o problema no planeta. No Bra-

sil, são 3,5 mil crianças, de acordo com o Mi-nistério da Saúde. O tráfico de escravos nos primeiros séculos de colonização motivou um alto índice de portadores da doença falcifor-me no país. A miscinegação contribuiu para que a enfermidade atingisse também pessoas de cor branca, mas ainda assim, segundo a Se-cretaria de Políticas de Promoção da Igualda-de Racial (Seppir), 80% dos doentes brasilei-ros são afrodescendentes e 93% pertencem à população de baixa renda. “A grande maioria recebe Bolsa Família do Governo Federal”, diz Maria Zenó Soares da Silva, presidente da Associação de Pessoas com Doença Falcifor-me e Talassemia de Belo Horizonte e Região Metropolitana (Dreminas).

Para ela, como a pobreza está associada à falta de escolaridade e acesso à informação, os doentes costumam receber o diagnóstico tardiamente. Muitas vezes, sofrem com os sin-tomas por anos, sem saber a quem recorrer. “Em casos mais sérios, podemos entrar na Justiça para garantir o direito ao benefício de um salário mínimo. E muita gente nem sabe disso”, afirma a presidente da Dreminas. A associação dispõe de dois advogados para dar suporte nas ações judiciais.

O subemprego também é uma constan-te na vida dos portadores dessa anomalidade genética. “Nós passamos por várias interna-ções, estamos sempre com atestados médicos. Somos demitidos e, claro, nunca falam que é por esse motivo”, lamenta Zenó, que luta para que a falciforme possa, um dia, ser conside-rada uma doença de alta complexidade pelo Ministério da Saúde.

A mudança em MGUma proposta de 1998 da Secretaria de

Estado de Saúde de Minas Gerais mudou dras-ticamente a situação dos doentes falciformes no Estado. A parceria entre o Nupad e a Fun-dação Hemominas permitiu que praticamente todos os nascidos em Minas passassem pela triagem neonatal - o teste do pezinho, para de-

tecção dessa e de outras doenças genéticas. Aqueles com diagnóstico positivo passaram a ser encaminhados para a Hemominas, res-ponsável pelo tratamento.

“Mais de 4 milhões de crianças fize-ram o teste do pezinho. Sabendo que ela tem a doença, a primeira consulta é marcada. Se ela não aparece, entramos em contato, cor-remos atrás”, informa Nélio Januário. Por intermédio do Centro de Educação e Apoio para Hemoglobinopatias (Cehmob-MG), as crianças, acompanhadas de seus familiares, recebem atenção integral por toda a vida.

“Os recém-nascidos tomam antiobi-óticos até cinco anos de vida. Também fa-zemos o Doppler Transcraniano para evitar acidente vascular cerebral, além de prevenir complicações oftalmológicas e cardiológi-cas”, diz a médica da Hemominas, Ana Ka-rine Vieira. Segundo ela, a Hemominas trata também de adultos diagnosticados tardia-mente. Para as crises de dores, os pacientes recebem orientações sobre a importância da hidratação, o risco de exposição ao frio e o uso de analgésicos.

EsperançaDesde a conquista do diagnóstico pre-

coce e do tratamento ambulatorial na Fun-dação Hemominas, a luta dos portadores e parentes dos doentes falciformes é para um atendimento de urgência e emergência. “Se precisamos de um atendimento rápido, não sabemos aonde ir. Muitas vezes, médicos plantonistas não conhecem a doença”, la-menta Maria Zenó.

A esperança de cura para a doença fal-ciforme pode estar no transplante de medula óssea, procedimento em caráter experimen-tal. “Ainda está começando. É difícil porque precisamos de doador compatível. E muitas vezes, os doentes são da mesma família”, afirma Maria Zenó. O Sistema Único de Saú-de (SUS) não reconhece a anemia falciforme no rol das doenças transplantáveis.

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Doença Falciforme: uma anomalia grave e pouco conhecida

Falta de reconhecimento expõe mais um fator de exclusão dos afrodescendentes, principais afetados. Mas brasileiros de diferentes cores e raças podem estar sujeitos à doença, em decorrência da miscigenação

Larissa Nunes

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tecção dessa e de outras doenças genéticas. Aqueles com diagnóstico positivo passaram a ser encaminhados para a Hemominas, res-ponsável pelo tratamento.

“Mais de 4 milhões de crianças fize-ram o teste do pezinho. Sabendo que ela tem a doença, a primeira consulta é marcada. Se ela não aparece, entramos em contato, cor-remos atrás”, informa Nélio Januário. Por intermédio do Centro de Educação e Apoio para Hemoglobinopatias (Cehmob-MG), as crianças, acompanhadas de seus familiares, recebem atenção integral por toda a vida.

“Os recém-nascidos tomam antiobi-óticos até cinco anos de vida. Também fa-zemos o Doppler Transcraniano para evitar acidente vascular cerebral, além de prevenir complicações oftalmológicas e cardiológi-cas”, diz a médica da Hemominas, Ana Ka-rine Vieira. Segundo ela, a Hemominas trata também de adultos diagnosticados tardia-mente. Para as crises de dores, os pacientes recebem orientações sobre a importância da hidratação, o risco de exposição ao frio e o uso de analgésicos.

EsperançaDesde a conquista do diagnóstico pre-

coce e do tratamento ambulatorial na Fun-dação Hemominas, a luta dos portadores e parentes dos doentes falciformes é para um atendimento de urgência e emergência. “Se precisamos de um atendimento rápido, não sabemos aonde ir. Muitas vezes, médicos plantonistas não conhecem a doença”, la-menta Maria Zenó.

A esperança de cura para a doença fal-ciforme pode estar no transplante de medula óssea, procedimento em caráter experimen-tal. “Ainda está começando. É difícil porque precisamos de doador compatível. E muitas vezes, os doentes são da mesma família”, afirma Maria Zenó. O Sistema Único de Saú-de (SUS) não reconhece a anemia falciforme no rol das doenças transplantáveis.

Oncologia e Hematologia são temas de simpósio

Lucianna Furtado

Combate ao tabagismo, doenças hematológicas e trata-mento do câncer serão alguns dos temas abordados no

I Simpósio de Oncologia e Hematologia da UFMG, entre os dias 31 de maio e 2 de junho, no Salão Nobre da Facul-dade de Medicina da UFMG.

O evento, incluído na programação das comemora-ções do Centenário da Faculdade de Medicina, é uma re-alização da Liga Acadêmica de Oncologia e Hematologia (LAOH). O grupo de estudantes promove reuniões cientí-ficas, palestras e discussões de casos médicos, além de aten-der pacientes no Ambulatório de Oncologia do Hospital das Clínicas da UFMG, sob supervisão de especialistas. O simpósio foi organizado com a proposta de promover a formação qualificada dos profissionais da saúde, além de estimular e divulgar trabalhos científicos da área, por meio da exposição de pôsteres.

Com início no Dia Mundial sem Tabaco, o simpósio chamará atenção para os malefícios do cigarro, paralela-mente às discussões sobre o câncer de pulmão. Outro as-sunto a ser discutido é a importância do Registro Hospita-lar de Câncer, banco de dados do Ministério da Saúde que permite uma visão geral das estatísticas relativas à doença e possibilita o planejamento de ações de tratamento, preven-ção e controle dos fatores de risco.

Câncer de próstataOs tipos de câncer com alta incidência na população

terão destaque nos debates, a exemplo do câncer de prósta-ta, o segundo mais fatal entre os homens, que será aborda-do pelo subcoordenador da LAOH, professor Munir Mu-rad Junior, oncologista do Hospital das Clínicas da UFMG. “É uma doença relacionada à idade e ao envelhecimento da população e estima-se um aumento na sua incidência”, afirma o médico. Segundo ele, no Brasil são aproximada-mente 52 mil novos casos por ano, dos quais 5 mil ocor-rem Minas Gerais. “Na palestra, serão discutidas melhores estratégias para o diagnóstico precoce e novas abordagens terapêuticas”, acrescenta.

Também haverá discussões sobre o processo cirúr-gico e a quimioterapia usados no tratamento oncológico; câncer pediátrico; tumores do sistema nervoso central; transplante de medula óssea; doenças hematológicas, den-tre outros assuntos. O número de vagas para o Simpósio é limitado.

Para atendimento e dúvidas sobre a doença falciforme:

Cehmob-MG - 0800 722 65 00 (24 horas)

Fundação Hemominas - (31) 3280-7440 e 3280-7455

Nupad - (31)3409 8900.

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Mais informações:

[email protected].

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Campanha incentiva separação correta do lixoFernanda Campos

“Celebrar e construir um encontro novo” Fernando Maximiano

Qualidade de vida

Administrativas

Maio de 2011

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A Faculdade de Medicina, por iniciativa da Seção de In-fraestrutura Operacional, quer conscientizar todos so-

bre a importância da separação do lixo reciclável. Com esse objetivo, deu início à pesagem dos resíduos produzidos nos prédios da Faculdade, do Nupad, do DAAB e da Biblioteca. Além de quantificar o lixo, a intenção é analisar o tipo de resíduo produzido. O próximo passo será uma campanha educativa, prevista para começar na segunda quinzena de maio.

Quem lida diariamente com os resíduos produzidos no campus percebe que as orientações de descarte seletivo geralmente são desrespeitadas. A faxineira Neuza Moura conta que as pessoas costumam misturar sobras descartá-veis e não descartáveis. “Elas jogam restos orgânicos, luvas plásticas e todo o tipo de resíduo não reciclável nas lixeiras dos banheiros, embora existam lixeiras específicas para cada tipo de material. A dificuldade é grande para separarmos e muito tempo é despendido nesta tarefa”, diz.

O chefe da Seção de Infraestrutura, Sérgio Eduardo Rocha Correa, ressalta que isso também afeta o meio am-biente e a saúde de quem trabalha ou estuda no campus. “É comum encontrarmos copos com resto de água nos jardins.

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Além de prejudicar o aspecto visual destes ambientes, pode ser extremamente perigoso, porque cria condições para o desenvolvimento de larvas do mosquito da dengue”, alerta.

Outra preocupação é com o destino do lixo tóxi-co, especialmente de materiais aparentemente inofensivos, como pilhas e baterias. A Faculdade conta com lixeiras pró-prias para descarte desses objetos, que são encaminhados a aterros especiais. Já os resíduos químicos e hospitalares são acondicionados em recipientes próprios e posteriormente incinerados, em cumprimento à legislação nacional vigente.

Nos dias 16 e 23 de maio, os funcionários da Faculda-de de Medicina sairão da rotina para participar do IV

Encontro Institucional, promovido pela Seção de Recursos Humanos. Com o tema “Celebrar e construir um encontro novo”, a proposta é incentivar a interação entre funcioná-rios, docentes e estagiários, e construir um ambiente de tra-balho cada vez melhor.

A equipe de RH, em parceria com consultoras con-tratadas, promete desenvolver dinâmicas inéditas e guarda em segredo outras novidades que só serão reveladas nas datas marcadas.

Durante o encontro, haverá expediente normal na Faculdade de Medicina. Segundo a organização, ficará a cri-tério dos coordenadores de cada setor dividir suas equipes, definindo os dias em que cada grupo irá participar.

No ano passado, o encontro reuniu mais de 120 funcionários, para uma reflexão sobre os valores e obje-tivos de vida. Dentro do tema: “De bem comigo, de bem com a vida, de bem com o trabalho”, foram propostas ati-vidades para se conhecer melhor a instituição e reforçar a motivação e o comprometimento entre os grupos.

A chefe da Seção de Recursos Humanos, Cleuza Maria dos Santos, atribui algumas conquistas dos últi-mos anos ao Encontro Institucional. “A campanha para uso obrigatório do crachá teve início na segunda edição. O aumento das bolsas para participar de atividades físicas no Laboratório do Movimento também foi resultado do encontro”, conta. “A aquisição de equipamentos de audio-visual para as salas foi outra conquista obtida por meio dos encontros”, relembra Cleuza.

Page 7: Saúde Informa nº 10

Divulgação Científica

7Maio de 2011

Pesquisa indica melhor alternativa de medicamento contra Hepatite B para o SUS

Três drogas foram analisadas: lamivudina, interferon e interferon peguilado, também conhecido como peginterferon

Victor Rodrigues

A hepatite crônica B é uma das doenças infecciosas mais frequentes no mundo e gera altos gastos para o Sis-

tema Único de Saúde brasileiro. Assim, a determinação de quais medicamentos serão oferecidos para o tratamento pelo SUS é fundamental. A comparação entre os medi-camentos utilizados no tratamento da hepatite crônica B foi o foco da tese de doutorado defendida junto ao Pro-grama de Pós-Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG, por Ales-sandra Maciel Almeida. Foram analisados dados relativos à lamivudina, ao interferon e ao interferon peguilado (ou peginterferon), uma forma po-tencializada do interferon.

A lamivudina e o interferon já estavam no protoco-lo de tratamento para hepatites do SUS desde 2002, sen-do os mais utilizados atualmente. O interferon peguilado era uma alternativa a ser considerada na nova versão do protocolo, de 2009, mas acabou sendo descartada. “Apesar disso, é importante sua comparação com os outros remé-dios”, afirma Alessandra Almeida. “É uma forma de ofe-recer argumentos numa futura decisão sobre a inclusão do interferon peguilado no sistema de saúde do Brasil”, diz a pesquisadora.

ComparaçãoCada medicamento apresenta pontos positivos e ne-

gativos: os interferons (convencional e peguilado), aplica-dos com injeção, têm como vantagem o período determi-nado de tratamento, a resposta duradoura nos pacientes e a ausência de resistência. Contudo, os custos são elevados, os efeitos adversos são muitos e sua utilização é limitada em pacientes com doenças hepática avançada ou descom-pensada. No aspecto econômico, o interferon convencio-nal se destacou. Utilizando os parâmetros adotados no

Foto: Marcus Vinicius dos Santos | Ilustração: Ana Cláudia Ferreira

Título: :Alternativas de tratamento para hepatite viral crônica B: análise de custo-efetividade Autora: Alessandra Maciel Almeida Nível: DoutoradoPrograma: Saúde PúblicaOrientador: Francisco de Assis AcúrcioDefesa: 17/02/2011

Brasil, ele mostrou ser a alternativa com a melhor relação custo-efetividade. Ou seja, os efeitos alcançados justificam o valor gasto com o medicamento.

A lamivudina, por sua vez, é bem tolerada, de ad-ministração oral (comprimido), não apresenta efeitos co-laterais importantes e tem baixo custo. Mas seu uso em longo prazo é restrito pelo desenvolvimento de resistência,

superior a 70% dos casos após 5 anos de tratamento.

O peginterferon, no en-tanto, apesar de apresentar van-tagens quando comparado aos outros, não teve eficácia suficien-

temente superior que justificasse sua inclusão no Proto-colo Clínico do SUS. O lado econômico pesou, e o maior custo levou o medicamento a ultrapassar o limite aceitável para gastos com drogas de alto custo no sistema público.

Total de pacientes avaliados: 1570

350 milhões de pessoas têm hepatite B no

mundo, segundo a OMS

* O preço adotado na análise foi baseado na tabela de preços de medicamentos da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) em 13/11/2009. Utilizou-se a média do preço de fábrica (PF), com ICMS de 0% e foi aplicado o Coeficiente de Adequação de Preços (CAP) de 24,92%, que é um desconto mínimo obrigatório incidente sobre o PF de alguns medicamentos nas compras realizadas pelos órgãos públicos.

Medicamento Preço Médio*

Interferon(2 vezes por semana)

R$ 137,07

R$ 902,75Interferon Peguilado(1 vez por semana)

R$ 2,17Lamivudina(diária)

O orientador Francisco Acúrcio e a pesquisadora Alessandra Almeida

Page 8: Saúde Informa nº 10

Centenário Acontece

Medicina realiza congresso de saúde e conferência internacionalEventos fazem parte das comemorações pelos cem anos da Faculdade

Larissa Nunes

Maio de 20118

Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – Diretor: Professor Francisco José Penna – Vice-Diretor: Professor Tarcizo Afonso Nunes – Coordenador da Assessoria de Comunicação Social: Gilberto Boaventura – Editora: Alessandra Ribeiro (Reg. Prof. 9945/JP) – Redação: Jornalistas: Larissa Nunes, Léo Rodrigues e Marcus Vinicius dos Santos – Estagiários: Amanda Jurno, Fernanda Campos, Fernando Maximiano, Lucianna Furtado, Victor Rodrigues. Projeto Gráfico: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira e Leonardo Lopes Braga. Diagramação: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira - Atendimento Publicitário: Janaina Carvalho – Impressão: Imprensa Universitária – Tiragem: 1.500 exemplares – Circulação mensal – Endereço: Assessoria de Comunicação Social, Faculdade de Medicina da UFMG, Av. Prof. Alfredo Balena, 190 / sala 5 - térreo, CEP 30.130-100, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefone: (31) 3409-9651 – Internet: www.medicina.ufmg.br; www.twitter.com/medicinaufmg e [email protected]. É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.

Expediente

IMP

RES

SO

FestivelhasO projeto Manuelzão apresenta nos dias 4 e 5 de junho, no campus Pampulha da UFMG, o FestiVelhas Manuelzão 2011 – Arte e Transfor-mação, em comemo-ração ao Dia Mundial do Meio Ambiente. Um dos objetivos é propor a reflexão sobre o papel de cada um no planeta.

Vinhos e SaúdeO médico e enólogo Jú-lio Anselmo de Sousa Neto ministrará curso na Faculdade de Me-dicina sobre história, princípios básicos de degustação e bene-fícios do vinho para a saúde. As aulas serão de 29 de junho a 1º de julho. Inscrições até 20 de junho pelo www.medicina.ufmg.br/ce-nex. Informações: (31) 3409-9644.

Festival CulturalO DAAB anunciou o adiamento do Festival Cultural, que estava agendado para o dia 14 de maio. A nova data do evento está prevista para o segundo semes-tre e ainda não foi de-finida.

Belo Horizonte receberá estudantes, pro-fissionais e gestores da saúde de várias

partes do mundo, no próximo mês de novem-bro. A Faculdade de Medicina da UFMG pro-move o 2º Congresso Nacional de Saúde, com o tema “Políticas de Promoção da Saúde”. Dentro de um dos eixos do congresso, “Po-líticas Urbanas de Promoção da Saúde”, será realizada a 10ª Conferência Internacional de Saúde Urbana (ICUH 2011), sediada pela pri-meira vez na América Latina. Os dois eventos, simultâneos, serão no Minascentro.

Por meio de palestras, workshops e até atividades culturais, além de discussões sobre mídia, o 2º Congresso Nacional de Saúde tem a proposta de promover um debate amplo so-bre a humanização. “Os médicos atualmente já nem dizem bom dia, boa tarde, vão exami-nando os pacientes. Precisamos entender que, antes de tudo, estamos lidando com gente, e não com doenças”, defende a professora Ma-ria Isabel Correia, coordenadora executiva Congresso.

Seguindo a mesma lógica da busca de bem-estar e qualidade de vida, e não o mero tratamento para as doenças, a ICUH terá como tema “Ações da saúde urbana direcionadas à equidade”. Segundo a professora Waleska Caiaffa, presidente da ICUH 2011, a proposta é abordar a chamada “desigualdade injusta”. “No mesmo lugar em Belo Horizonte, temos, por exemplo, espaços parecidos com a Suécia e Bangladesh. São essas diferenças que preci-sam ser minimizadas”, afirma. Os participan-

tes terão a oportunidade de conhecer de perto algumas das ações que ajudam a reduzir essas iniquidades na capital mineira, como a sede do programa Vila Viva, no Aglomerado da Serra.

Nos próximos meses, os interessados em apresentar trabalhos poderão submeter os resumos pela internet. As inscrições para par-ticipar do Congresso e da Conferência tam-bém serão feitas eletronicamente. Nos sites, estão ainda os preços das inscrições, orienta-ções sobre hospedagem, alimentação e pontos turísticos de Belo Horizonte. Os eventos co-muns entre o Congresso de Saúde e a ICUH estão discriminados na programação online.

2º Congresso Nacional de Saúde2 a 5 de novembro

Tema: “Políticas de Promoção da Saúde”Local: MinascentroInscrição para participar e sub-missão de trabalhos: www.me-dicina.ufmg.br/congressosaude

10ª Conferência Internacional de Saúde Urbana

1 a 5 de novembro

Tema: “Ações da saúde urbana direcionadas à equidade”.Local: MinascentroInscrição para participar e sub-missão de trabalhos: www.icuh2011.org