reboco caído nº20 versão digital

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20 Quem impõe essa moral ? Quem diz o que é normal? Quem se resume ao banal?

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Page 1: Reboco caído nº20   versão digital

20

Quem

impõe essa

moral ?

Quem d

iz o

que é

normal?

Quem se

resu

me ao

banal?

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Pag 1 REBOCO CAÍDO #20Editorial Amoras

Por Edu Planchêz

Todos devem arranjar mais tempo para so-nhar,para adorar as flores,para sentar na calçada sem qualquer preo-cupação,saboreando amoras bem maduras…

[email protected]

www.slidesh

are.net/A

RITANA

www.twitte

r.com/R

ebocoCaido Para contatos e números anteriores:caixa postal: 21819, Porto Alegre,RS, cep.: 90050-970

www.rebococaido.tumblr.com/

Na internet:

www.rebococaidozine.blogspot.com.br/

Por Thina CurtisPOR MEDODEIXAMOS A VIDA PASSAR NUASEM TURBILHÕESE MAREMOTOSPARA ENCARARMOS COM MEDO,ROTINA E MESMICES TOLAS

Eu me lembrousava calças curtas e ia ver as paradasradiante de alegria.Depois o tempo passoueu caí em maiomas em setembro tava por aípor esses quartéisonde sempre havia solenidades cívicase o cara que me tinha torturado

horas antes,o cara que me tinha dependuradono pau-de-ararainjetado éter no meu sacome enchido de porradae rodado prazeirosamentea manivela do choquetava lá – o filho da putasegurando uma bandeirae um monte de crianças,emocionado feito o diabocom o hino nacional.

Por Alex Polari (preso e torturado duran-te a ditadura brasileira)

Moral e cívica II

Estou num momento da minha vida desre-grada e sem rumo em que a luta pela sobrevi-vência consome a disposição e que tudoestá difícil... Tudo tem de transpor obstá-culos mil. Ainda vem a falta de tempo, degrana... Mas não é a primeira vez que essaporra de sociedade me espreme com suasnormas, exigências e nojeiras mil. Nem porisso parei ou vou parar. Nada é motivo paradesistir. Daí nasce esse novo Reboco. Onúmero 20 e último de 2013. Contamos comcapa de Henry Jaepelt e pôster, nas páginascentrais, de Maria Jaepelt. Ilustrações deSolano Gualda espalhadas entre os escritos.Ofereço este número a memória de CecíliaFidelli e Lou Reed (Nunca esquecendo asvítimas de guerras e da desigualdade social).

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REBOCO CAÍDO #20 Pag 2

RepressãoNão razãoAgressãoNão razãoAlienaçãoNão razão

Sangue coaguladoGrades a cercarGritos pela noiteQuerem nos agarrar

OpressãoNão razãoViolaçãoNão razão

Por Fabio da Silva BarbosaSem razão – Mundo insano

Procuro a visão de um todoNum todo, foco o incontidoO vazio preenche um cheioNum cheio o intangívelTudo fica solto.Fora de tudo meu realismoRomance: meus olhos deslizamVersos, rimas.Em tudo um fictícioLembro o tempoO tempo passa e nem reparaMeus olhos embaraçadosFoge a lembrançaGuardada na alma

Apenas meu euPor Gustavo Ândrei

Inexorável. Reta. Infalível. Rasga o ar em-purrando as partículas de matéria que inad-vertidamente estão no seu caminho. Umrastro imperceptível de pólvora deixa paratrás. O estampido seco que anunciou suasaída ainda ecoa, mesmo depois de perfu-rada a carne de areia. Ainda é quente otúnel prateado e estreito de onde rompeu,cega, a procura de seu alvo. Mas não tãoquente quanto o que escorre, vivo,embolado, caudaloso, do orifício minús-culo por onde só passaria um filete. Doalto de toda verdade, o gigante despenca.A sarjeta áspera e rugosa é seu amparo.Inebriante oceano carmim, que se espalhae avoluma, inevitavelmente. DestemidoGolias. Abatido pelo cajado da intolerân-cia em forma de minúsculo e categóricocompacto de chumbo. E se vai por terra oque antes parecia tão sólido, tão duradou-ro. E suas pernas não caminham, e suasmãos não gesticulam, e seus olhos, petri-ficados, não choram. Nem seu coração in-siste em bater. Definitivo.

CategoricamentePor Elke Gibson

papo vai papo vem:"você tem feici?"não, não tenho a porra de feici não"qual é seu signo?"não, não tenho menor interesse em astrolo-gia não"nossa! como você é chato!!"sim, isso pode ser sim

na noite

RegressãoNão razão

Pânico orquestradoCanos a dispararFacas afiadasQuerem nos parar

RepressãoNão razãoOpressãoNão razãoAgressãoNão razão

fonte: www.cancropolis.blogspot.com.br

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Pag 3 REBOCO CAÍDO #20Merda

Para quem curte uma barulheira daquelas, a banda Merda é a dica certa. Embora digamque nasceram na Terra, há quem jure que são uma forma de vida alienígena ou algoainda não identificado. Por mim, tanto faz. Desde que continuem infernizando osouvidos mais sensíveis, já está de bom tamanho. O myspace dos caras é https://

myspace.com/merdarock. Então é só clicar lá e mergulhar na Merda.

Que Merda é essa? Alex Vieira: Conjunto de Música Folclórica Jovem MerdaJapa: Uma banda de rock satânico.

O nome teria alguma referência ao atual estado de um mundo sitiado pelas sociedadeshumanas?Alex Vieira: Merda é merda!Japa: Sim, o mundo é uma grande merda.

Queria saber um pouco sobre outros projetos e bandas dos integrantes.Alex Vieira: Além do Merda, edito a Revista Prego, toco no Morto Pela Escola eparticipo de outros projetos na área de artes visuais (quadrinhos, ilustração, pintura,video...).Japa: Mozine toca no Mukeka di Rato, Os Pedreros e faz shows de stand up falidos;Alex toca no Morto Pela Escola e faz a Revista Prego; Eu (Japa), no momento, toco nummonte de bandas, mas não toco em nenhuma.

Um som eterno:Alex Vieira: Histeria: CóleraJapa: Despertador.

Um som recente que merece destaque:Alex Vieira: Pedra portuguesa na sua cabeça - Os EstudantesJapa: Os novos sons do Human Trash são foda. http://humantrash.bandcamp.com/album/novo-single-pr-lan-amento-do-lbum-addicted-to-trash-do-human-trash

O futuro planetário:Alex Vieira: Guerras por conta de água e recursos naturais, tipo Mad Max; Ditadurasdas piores possíveis; Controle total sobre a internet e meios de comunicação;Japa: No future.

Um espaço para gritar a vontade:Alex Vieira: Ah! pra puta que pariu!Japa: Ahhhhhhhhh !!!

Por Fabio da Silva Barbosa

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Pag 4REBOCO CAÍDO #20

CarrosPor Fabio da Silva Barbosa

Não quero maisPor Fabio da Silva Barbosa

Registros desiguaisPor Fabio da Silva Barbosa

Não quero ser engrenagem do seusistemapois não vejo nada que valha a penaComo pode mente tão pequenaNão quero fazer parte do problema

Cerveja quente tá mais baratoMe amarro no meu gatoPrefiro sem comida no pratoque ficar doente ao seu lado

Prefiro ir ao teatroque um televisor bem baratoNem quero fazer parte do sistemaNão quero cumprir essa pena

a cabeça pelo mundoos olhos registraras pessoas a choraras pessoas a andaras pessoas a sofreras pessoas a viver

a minoria velejandopelo mundo desigualenquanto pra uns é pauleirapara outros carnavalsofrimento sem limitesalegria banal

é bebida de granfinoé cerveja e cachaçaé bolacha no caféé bolacha na carcaçaenquanto muitos vertem lágrimasalguns acham graça

Carros, Carros, CarrosMotos, Motos, MotosÔnibus, Ônibus, ÔnibusPor onde quer que olhesó carros a passarO sinal diz que posso passarMas onde quer que olhe,só carros a passarSigo apressado entre carros,caminhões e autofalantesAtinjo o outro ladopara só carros passarCarros, Carros, CarrosMotos, Motos, MotosÔnibus, Ônibus, ÔnibusPor onde quer que olhesó carros a passar

De líriosPor Alexandre Pedro

Em teu jardim de lírios vejo coisase tenho medo de que as coisasem delírios,me vejam.

ProgramaPor Tom Tosco

de tv: Blábláblá (risadas gravadas) Blábláblá(aplausos combinados)Blábláblá Boa noitede rádio: Blábláblá O novo sucessoBlábláblá Levanta a mãozinha Blábláblápolítico: Blábláblá Eu prometoBlábláblá Eufarei Blábláblá No meu governo BláblábláConto com vocêreligioso: Blábláblá Aleluia Blábláblá Por-que Jesus Blábláblá nossa conta é

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Pag 5 REBOCO CAÍDO #20

REBOCO CAÍDO #20 Pag 6

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Pag 7 REBOCO CAÍDO #20

Falar da Rússia sempre foi missão, no mínimo, dualista. Passando pelo início Imperial,no século XIV, quando derrotam os Tártaros, indo à tirania Czariana, à revolução “popular”de 1917, à Guerra Civil Russa... Rebeliões em Julho de 1918, a formação da União Soviética,sua decadência inicial com a Perestroika... Temos a Federação Russa, momento históricocom a figura central Boris Yeltsin, a queda do Muro e o fim da URSS. Então surge VladimirPutin, ainda no distante ano de 1999. Nesse período histórico tivemos momentos detirania extrema, tirania disfarçada e ditadura e censura extrema... Porém, é em pleno séculoXXI que a população russa questiona, sai as ruas e que, para os olhos do mundo,caminhava para se achar no meio de tantos séculos de tentativas de comunismo, capitalismo... tentativa de se tornarem não uma nação ocidental democraticamente neo-liberal, mas atentativa de se tornar a primeira nação realmente comunal... mas é decepcionante perceberque, desde o começo, as tentativas voltam para, se não o mesmo, um novo modelo decontrole do povo e das ideias desse povo. A liberdade não chegou com a queda doImpério Russo, nem com a queda da Monarquia do Czar e muito menos ainda com arevolução de 1917 que depois se mostrou um golpe a liberdade e uma traição Bolcheviteaos demais revolucionários do País e até estrangeiros que lutaram juntos por uma utopiaque parecia ter se tornado real, mas que se mostrou tão maléfica ou pior nas mãos deStalin. A liberdade não chegou com a queda do muro, com a “dita abertura russa” e muitomenos com um novo líder (14 anos no poder não me parecem nada diferente das demaisditaduras que o país já teve e de países da mesma região), muito pelo contrário, pois, nessenovo século, as notícias vindas do Leste não são nada animadoras para quem luta pelaliberdade. Basta lembrarmos o caso das garotas da banda Pussy Riot, que fizeram uma“oração punk” contra Putin e foram sumariamente condenadas a prisão (e vocês sabemcomo são as prisões na Rússia), sem levar em consideração o direito universal de seexpressar. Não bastasse esse caso que teve mais repercussão (dezenas de outros parecidosacontecem e não ficamos sabendo), seria interessante falar das atuais tensões étnicasentre imigrantes e russos.

O clima racial na Rússia está cada vez pior. A tensão ente a minoria étnica e amaioria russa chegou ao seu ápice com o confronto da população que “caçava” umimigrante cáucaso acusado de assassinar um jovem russo. Isso foi o estopim para que oódio racial existente na Rússia se fizesse presente com declarações extremamente racistascomo “temos medo de sair à rua com as crianças...” e a repressão policial das festividadestradicionais da população muçulmana e policiamento nas mesquitas. Não bastasse aignorância das ruas, vemos maior ignorância e intolerância étnica entre os deputados quedefendem enrijecer as políticas migratórias que o governo de Putin já vinha realizando,assim como reduzir o número de trabalhadores estrangeiros em favor dos russos. O racismoe xenofobia vem não só do governo, como da Igreja oficial do País, a Igreja OrtodoxaRussa, onde declararam que a situação migratória no País é “insustentável”, chegando achamar de “esgotos clandestinos”. O lema “Rússia para os russos” deixa claro que qualquertentativa de coexistência por lá é praticamente impossível. Não bastasse tamanho absurdo,acontecem ainda as chamadas “passeatas russas” que contam com a permissão dasautoridades governamentais e são realizadas, já de maneira tradicional, no Dia da Unidade

A Rússia de ontem e de hoje

Por: Panda Reis - [email protected]

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do Povo. Seu lema e exigência principal éexpulsão de todos os imigrantes “ilegais”do país.

Não parando no quesito étnico eracial, na Rússia existem leis que proíbemos homossexuais de se manifestarem empúblico. Alguns foram presos no final deOutubro (2013) por protestarem, abriremcartazes e se manifestarem por seus direitosem frente aos edifícios do parlamento e daprefeitura. Não bastasse a repressãoPolicial, eles sofreram agressões de gruposde extrema direita.

O lugar que encheu o mundo deesperanças em 1917 com o que o Mundoimaginou ser a Revolução do Povo, masque depois se mostrou apenas mais umgolpe elitista, definha com repressão aosdireitos que são lógicos e mostra que apopulação é tão reacionária, precon-ceituosa e racista como quem os dirige. Umapesquisa feita esse ano no país registra ahomofobia, pois apenas 1% dos russossente respeito pelos homossexuais,enquanto 66% (71% dos homens e 61% dasmulheres) sentem repulsa em relação aoshomossexuais homens e 60% para com aslésbicas.

Acho que a Revolução Russa nãoconseguiu acabar com a ignorância maiorexistente no capitalismo...

...nem deu a liberdadedesejada.

Sujeito ocultoPor Cleber Araújo

AO PATRÃO, COM CARINHOPor: Alexandre Mendes

Como vai, velho canalha!Por muitos anos, dia após dia,enchi teu bolso de alegriana minha carteira, quase nadasuor pingando; garganta secatrabalhei duro; sol escaldantee você lá no restaurante,tacinha de uísque sobre a mesa

Como vai, velho safado!Por muitos dias, ano após ano,me usou bastante e deu o canoLamentei desamparadomão com bolha a calejar,pé descalço e rachadoe você lá no Corcovadocom sua prole a passear

Como vai, seu velho fútil!Depois de anos e alguns diasme sugando as energiastransformou-me em um inútil

quando pensei em parar,vi que não contribuía,negada aposentadoriacontinuou a me explorar

Como vai, velho imundo!Vai como, velho picareta!Espero um dia te encontrar sentadono colo em brasas do capeta!

Pelas ruas caminhavaSem sequer ser percebidoO seu nome não importavaMuito menos seu destino.

Suas forças se esgotavamNo trabalho conseguidoOs seus sonhos se frustravamNo seu tempo consumido. C

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Pag 9 REBOCO CAÍDO #20

Em 1995 nascia o Negative Control - São Bernardo doCampo (SP). Tocando um hardcore de primeira, estão emestúdio gravando o terceiro cd. Troquei uma ideia comCláudia (vocal) sobre as manifestações ocorridas duranteo ano no Brasil e sobre a banda. Passo a bola então paraessa guerreira despejar sua opinião e seu trabalho.

Por Fabio da

Silva Barbosa

Em uma época em que o ativismo está intenso pelo país, como o Negative Control vê osúltimos levantes?Somos uma banda com 18 anos de estrada e nosso enfoque sempre foi a música de protesto.Ficamos muito satisfeitos por ver nosso país se manifestando, mas gostaríamos que estasmanifestações se estendessem às urnas, pois só assim vamos conseguir fazer a revoluçãode verdade. Enquanto estas mesmas pessoas nos governarem, continuaremos nesta mesmasituação. Fazer a mesma coisa e esperar resultado diferente é sinal de insanidade!

A participação punk, anarquista... underground de uma maneira geral, tem se feito notar.Como as bandas têm participado desse processo de construção?Acreditamos que as bandas, com suas letras, influenciam muito. Mas estas letras devemser acompanhadas de atitude. Como já diziam por ai, não pode haver distância entre o quevocê diz e o que você faz!

Como as letras do Negative Control transitam pelo cotidiano, tudo isso deve se refletir dealguma forma no som da banda.Com certeza influencia. Nosso novo disco, que ainda esta em andamento e criação, temmúsicas falando, por exemplo, sobre o preço do progresso, sobre a violência, sobre caráterde pessoas falsas, também da realização de andar lado a lado com quem é verdadeiro, emfim, escrevemos sobre o que vivemos e o que vemos ao nosso redor!

E os shows, como estão?Os shows estão cada vez melhores. Sentimos que as pessoas estão entendendo nossamensagem. Só agora, próximo do final do ano, que estamos na criação do 3º CD, paramosum pouco para focar mais nesse novo trabalho.

O que está por vir?Estamos terminando a pré-produção do nosso novo álbum, ainda sem nome definido, mascom lançamento previsto para o 1º bimestre de 2014. Estamos acabando de fechar o repertó-rio que deve contar com mais ou menos 14 faixas e estudando algumas opções de produto-res. Pretendemos gravar este novo disco “no rolo”, como era feito antigamente, de formamais analógica possível, e também pretendemos lançar este álbum nos formatos LP e Cas-sete, além do CD! É um trabalho composto com muito cuidado e paixão. Estamos ansiosospara apresentar a vocês! Nos shows já tocamos algumas músicas. Apareçam e confiram!!!

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REBOCO CAÍDO #20 Pag 10Ludi Um

Por Fabio da Silva Barbosa

Fazendo um som inconfundível e libertador, Ludi é figura presente em coletivos,manifestações e atividades culturais. Conheci seu trabalho quando morávamos em Niterói,Rio de Janeiro. Hoje já não estamos na mesma cidade. Saímos em busca de novos projetose ideias, mas continuamos o contato e acompanhando o trabalho um do outro. Por essa epor outras trago esse cara até essas páginas. É isso aí. Falaí, mano

Como você definiria sua música?Como Música Barraco. A Música Barracoé a mistura de todas as influências visuais,olfativas, sonoras, é tudo que está ao meuredor. Sem amarras, sem nada pré-estabelecido. É música divergente.

A música como instrumento demodificação social e pessoal:Adoraria que toda a música produzida nomundo carregasse como objetivo principaleste ideal, pois a música pode sim e deveriamudar as pessoas e seu entorno. Masenquanto estivermos pensando em músicaapenas como entretenimento e até mesmocomo produto, não modificaremossocialmente e pessoalmente ninguém. Estepoder da música se esvai quando o nossoobjetivo é apenas o mercado. Por isso façoMúsica Divergente.

Falando nisso, em mudanças e tal, comovocê vê os últimos acontecimentosrelacionados aos movimentos sociais?Vejo como um Grito de Liberdade, de umavontade gigantesca de dar resposta a estapolítica canhestra, vil e elitista que não sepreocupa com a sociedade e quer apenassaciar a volúpia de poder e status quo. Asociedade não aguenta mais ficar calada,vendo seus filhos recebendo uma péssimaeducação, tentando uma saúde caótica euma política de segurança pública de péna porta, de capitãs do mato, de assas-sinato de negros e pobres a sangue frio eàs dúzias. A rua grita e isto vai mudar muitacoisa daqui pra frente. Estamos, aos pou-cos, deixando de ser este povo bovino.

Falando mais especificamente do Rio deJaneiro, o Governador e a polícia vem semostrando brutalmente autoritários e mesmoassim o pessoal continua indo pra rua eexigindo seus direitos. Embora sempre tenhaexistido aquela galera que estava na luta, onúmero de pessoas que saíram da inércia éexpressivo. A que se deve essa mudança decomportamento e quais devem ser, em suaopinião, os próximos passos da galera?Se deve ao fato de chegarmos ao limite, sabe,de dar uma resposta a altura de anos de umaplutocracia transvestida de democracia. Nãoaguentamos mais a mentira, a manipulação eos ricos ficando mais ricos e os pobresalimentando com sangue, suor e lágrima asbenesses do andar de cima. O próximo passoé movimentos artísticos e sociais estaremjuntos e se articulando e preparando quemnão tem acesso a informação e a formaçãopara que possamos fazer uma mudança nabase e darmos uma resposta a altura aospolíticos nas próximas eleições, pra elesverem que o tempo do saquinho de leite e decimento vai acabar e que é necessário discutircom a sociedade estando ela emcondomínios de luxo ou em barraco de zinco.

E Niterói? Como as coisas vêm acontecendopela cidade?Bem, não sou mais morador de Niterói.Apenas mantenho o laço com a cidadeatravés do coletivo que participo, o ColetivoSolto, e dos amigos que fiz lá. Olhando poresta perspectiva as coisas não vão bem, aspequenas casas de shows estão fechando,os espaços para as bandas de médio portesão inexistentes. Deveriam ter mais

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incentivos e festivais para a músicaindependente. Existem várias bandas,vários artistas, a cidade fervilha cul-turalmente, mas vive a síndrome de serapenas a vizinha da Cidade Maravilhosa. Émais fácil ver um niteroiense tocando e/oucurtindo um show aqui no Rio do que lá. Acidade foi transformada em um grande pologastronômico, ou você come ou você bebe.

E o Ludi? Como anda seu trabalho? Vai viralgum projeto novo por aí?Vou bem, vivendo um momento único, nãosó como músico, como agente cultural,como artista visual, mas também exercendominha posição divergente. No momentoestou gravando o “MelancólicoSamba”, umdisco feito com carinho, cuidado, amor detodos envolvidos e principalmente pelomeu grande irmão Felipe Castro, que alémde produtor é também baixista do Ludi Ume Os Únicos e articulamos este coletivo deprodução sonora e iniciativas musicais, queé o Coletivo Solto, juntos com o DjMohamed Malok, Tata Ogan, Nuquepi eLanzé. E ainda tem o Ocupa Lapa que é umcoletivo artístico de pensamento, ação ereflexão. E projetos é que não faltam. Embreve estaremos anunciando.Agradeço a oportunidade de conceder estaentrevista e dizer que sempre estarei prontopara atender a mídia que realmente vale apena, como este zine. Mídia Livre sempre!!!

Poema de 22 de marçoPor Alex Polari - preso torturado na dita-dura brasileira - Para Gerson e Maurício

Ele caiu no asfaltonão pode reagirfaltou o pente sobressalentefaltou a coberturafaltou a sortefaltou o ar.

Ele foi levado ainda com vidadentro de um porta-malasa camisa rasgadaa calça Lee suja de sangue.

Era preciso avisar Teresaera preciso fingir serenidade no espelhoera preciso comer rápido o sanduíche dequeijoera preciso cobrir os pontosera preciso esvaziar o aparelhoera necessário escravizar o medoe domesticar o ódio

Quando cheguei em casa era noitevi as portas abertasas lâmpadas acesasas mariposas alertasas certezas cobertas de poeiraa chave na janelaos cartazes que nos punham a cabeça à prê-mioe a chuva que caía no telhadocomo os passos de pássarosesparsos

E saí por aí, sozinho,com as mãos nos bolsospensando no impasse da luta nas cidadespensando no isolamento políticopensando na nossa situaçãoe no nosso despreparo,me dividindo entre o esforçode analisar as coisas com friezae a ânsia de encher de tiroso primeiro camburão que passasse.

Adiei as reflexões maioresadiei as conclusões mais penosasvisto que o cerco se fechava em meu redore um bom guerrilheirorespeita sua própria paranóiapor uma questão de sobrevivência,por uma questão de instinto.

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