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Zine do Fábio da Silva Barbosa. Crônicas, contos, quadrinhos, anarquia.

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Page 1: Reboco Caído 1
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Alexandre

Pag.1

Aperiódico

OUT/2010

Editorial

Um lugar para contos, crônicas, textos, resenhas, artigos,entrevistas, poesias, fotografias, vídeos, músicas... Tudo que

vier na cabeça e o que passar pelo campo dos sentidos,trazendo reflexão e transformação. Um ambiente plural, a

favor da variedade e da diversidade de pensamentos.Liberdade de expressão sempre, em todas as suas formas,

cores e sabores.

www.rebococaido.blogspot.com [email protected] CX POSTAL: 100050, Niterói, RJ, Brasil, CEP 24020-971

Contatos:

Contra toda forma de preconceito

REBOCO CAÍDO

Reciclaré preciso

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Pag.2

Aperiódico

Ao amanhecer, Everton já sabiaquais eram as suas obrigações: Arrumar acama, varrer a casa, cuidar dos irmãos, fazercomida, tomar banho e ir pra escola. O paifoi assassinado em uma emboscada, ar-mada por policiais para prender tra-ficantes. O infeliz, ferido por engano, setornou traficante depois de morto.

Quando estava quase acabando osafazeres, Everton ouviu um barulho notelhado. Colocou a cabeça do lado de fora.Apressado, fechou tudo. Estavam invadin-do o morro. Já era a segunda vez essa sema-na. Mandou os irmãos ficarem quietos noquarto. “Merda”! Zequinha estava na rua.

O barulho de fogos, misturado aode tiros... O caveirão já vinha subindo. De-veria ser rápido em encontrar o irmãocaçula. Ao descer as escadas do barraco,pode avistar de longe a figura franzina deZequinha, segurando uma pipa e correndoem direção a sua casa pelo beco.

Zequinha foi ao chão... A pipasubiu aos céus... Everton viu sua vidamudar.... Nunca mais iria sonhar...

FIM

Um homem, depois de muito cambalear pelocentro de Niterói, caiu perto de uma rampapara deficientes físicos. Ficou por ali a falar

com o céu, até que adormeceu. Qual seunome? Não perguntei. Mas, também,

ninguém perguntou. Foi apenas mais umacena rotineira na cidade grande. Nada de

mais.

Os mass media dirigem-se a um pú-blico heterogêneo, tendo de basearse emmédias de gosto, evitando soluções origi-nais com a difusão do que já foi assimilado,trabalhando opiniões comuns e difundin-do uma cultura de tipo homogêneo. Ca-racterísticas culturais de diversos grupossão destruídas com a hogeneinização dasculturas. Impondo mitos e símbolos de fá-cil universalidade, criam tipos, reduzindoao mínimo a individualidade e o caráterconcreto das experiências e das imagens.

O livro “Apocalípticos e Integra-

dos”, de Umberto Eco, destaca que “os massmedia expõem as emoções já confeccionadasao invés de as sugerirem”. O exemplo dado éa música, que serve mais como estímulos sen-soriais, que uma forma contemplável.

Ao seguir uma lei baseada no consu-mo, sustentada pela ação persuasiva da publi-cidade, os mass media sugerem ao público oque eles devem desejar. Todos os produtossão difundidos, nivelados e condensados afim de não provocarem nenhum esforço porparte do fruidor, resumindo o pensamento emfórmulas e desencorajando a pesquisa denovas experiências. Isso reforça sua utilidadeapenas como entretenimento e lazer, em-penhando apenas o nível superficial de nossaatenção e viciando nossa atitude.

Encorajando uma imensa corrente deinformações, os mass media entorpecem aconsciência. Mesmo ao assumirem modosexteriores de cultura popular, não crescem es-pontaneamente de baixo para cima, mas sãoimpostos de cima para baixo.

Por: Fabio da Silva BarbosaAPOCALÍPTICOS

VIDAS MORTASPor: Evandro Santos Pinheiroe Fabio da Silva Barbosa

Por: Fabio da Silva Barbosa

INDIFERENÇAMais uma cena rotineira da cidade grande

REBOCO CAÍDO

N° 1

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Pag.3 OUT/2010

Por: Fabio da Silva Barbosa

Sem apoio e sem espaço

Niterói (RJ) há muito tempo éconhecido por ter grande expressãoartística. Nomes consagrados, como Babydo Brasil e Bia Bedran, nasceram na cidadee con-seguiram conquistar o país. Masesse território tem se mostrado mais fértildo que se pensa. Nos diversos campos daarte, encontram-se pessoas empenhadasem fazer sua criatividade ultrapassar todasas barreiras, se transformando em umverdadeiro hino de resistência. Resistênciaa falta de espaço, de apoio e de tudo oque se possa precisar para um movimentocultural florescer.

Paulo Roberto Chumbinho, mo-rador de Niterói há quinze anos e exintegrante da banda Vitória Régia, definebem a situação: “São tantas as di-ficuldades que fica até difícil saber poronde começar. Espaço legal para tocar éuma dificuldade. Quando tem espaço, ocachê é inexpressivo. Às vezes a casa nãotem equipamento e gera outro problema,que é o transporte para o equipamento.Eu não tenho carro. Aí tenho de alugar umtáxi ou uma kombi. Por aí vai.”

Outro exemplo desta resistência éCris Saman. Escultor, dono de uma técnicaúnica de dar forma ao barro, expõeatualmente suas obras no Bar Cobreloa,no Centro de Niterói, onde trabalha.Saman explica que a falta de espaço paraexposição é apenas uma das inúmerasdificuldades que encontra para fazer seutrabalho caminhar. De acordo com ele, ocerto seria levar suas esculturas a um fornoespecífico para o material que trabalha.Como não tem acesso a isso, elas acabamquebrando quando há necessidade detransportá-las. Saman está fazendo partede um vídeo chamado “Vida de Escultor”,

que pode ser encontrado no youtube e foirealizado por iniciativa de estudantes decomunicação social.

Um nome de peso, que também vembuscando sobreviver no meio, é o Ministrodo Baião Zé de Mohura. Com muita luta eajuda de Amigos, como Severino, ele pro-move eventos que buscam fortalecer acultura nordestina na cidade. Durante o anode 2007 e 2008 promoveu animadas “Do-mingueiras” no Bar do Paulinho, em SantaRosa e em comunidades carentes da região.Nesses eventos, além do tradicional Caféda Manhã Nordestino, o sanfoneiro, Ciganodo Forró, animava o final de semana dos queapreciam essa cultura. Seu livro de literaturade cordel, “Aquarela do Nordeste” já estána segunda edição e é distribuído peloPróprio Mohura em seus eventos.

Falando em literatura, nãopoderíamos deixar de destacar WinterBastos, autor de vários contos e textos, queteve seu primeiro livro publicado pela EditoraAchiamé. “Malandragem, Revolta eAnarquia”, conta a história de três grandesnomes da literatura nacional que não securvaram a formatos pré-estabelecidos e porisso foram jogados a marginalidade. Eleacredita que Niterói poderia valorizar maisseus artistas, mas argumenta que apesar detodo obstáculo, vale a pena escrever.

No cinema, um nome que não podeser deixado de lado é o de Francisco Bra-gança, que produziu e lançou seu primeirofilme, “Beber, conversar e se der cantar”, deforma completamente independente. Quan-do perguntado sobre apoio e espaço paraarte, a resposta é direta: “Você pode meresponder quantos anos a Prefeitura e aSecretaria de Cultura passou sem lançar umedital de fomento para o audiovisual, para oteatro, para as artes visuais e plásticas?

REBOCO CAÍDO Aperiódico

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Pag.4Alexandre Mendes é outro que sofre

com a falta de uma base sólida que apóie osartistas. Desenhista, Chargista e Cartunista,busca veículos alternativos e inde-pendentes para expor seu trabalho. Jáproduziu alguns projetos culturais, mas oexcesso de burocracia torna inviável a

Dia desses, estava comentando comum amigo sobre aquela crônica do Luiz Fer-nando Veríssimo, chamada “O Nariz”. A es-tória é ótima e demonstra muito bem o quevivemos. Falta de personalidade e um cultoao “igual”. Nada pode deixar de estar pa-dronizado. Quem não conhece vale a penacorrer atrás e conhecer, pois o que irei fazernão é uma resenha. Esse papo que estavatendo, foi apenas o início.

Bem... Aí, quando comentei sobre “ONariz”, ele quis saber mais. Expliquei queera sobre um cara comum, que vê sua vidavirar um inferno apenas por gostar de umnariz de borracha (uma daquelas máscarasque vem uns óculos, nariz e bigode junto)que viu em uma loja. Desse momento emdiante, resolveu usar o adereço todo otempo. Meu amigo não entendeu e achouque o cara estava querendo ser escroto.Disse que isso era ridículo. Perguntou,ainda, o que o personagem poderia esperar.Tentei explicar e sugeri que talvez fossemelhor que ele lesse o texto, mas ele nãoquis saber. Achou simplesmente impossívelalguém gostar de usar um nariz de borrachasó porque ele não conhecia ninguém que,se quer, achasse a idéia simpática.

Larguei-o mergulhado em suascertezas. Daquelas certezas que fazem partede um mundo sem horizontes. Onde só oque existe é pobreza (interior) e repetição.Como ele poderia ter acabado assim? Domesmo modo que as pessoas que rodeavam

o cara descrito por Luiz Fernando. Depoisde muito pensar, cheguei à conclusão deque não era culpa dele. Na verdade, foraenganado. Desde criança, nossos pais nosenganam. Tudo começa com Papai Noel eCoelhinho da Páscoa. Eles dizem ser impor-tante esse tipo de fantasia. A maioria aceitaisso e repete para seus filhos e seus filhospara seus netos... Uma corrente de mentirasque é justificada por ser importantealimentar essas fantasias, que um dia, nósmesmos desmentiremos. Para que inventarcoisas? Só para depois dizer que é mentira?

Com o crescimento, as mentiras vãose tornando um estilo de vida norteada porregras, criadas pelos mesmos que inven-taram Noés e Coelhinhos. Todos estão seesforçando para se enquadrar. As coisastêm de ser assim porque é assim que osoutros fazem. Até os que se dizem diferen-tes, pertencem a um diferente padronizado.Nada mais pode fugir a regra escrita ou dita(não se sabe por quem). Essa é a regra mor.Criam-se religiões para lançar os infiéis aoinferno e modas para lançar quem preferealgo mais criativo ao ridículo. “Vamos vercomo os outros fizeram para fazermostambém e ver como eles se vestem para nosvestir do mesmo modo”

Certa vez, uma parenta estava felizda vida com um paninho sobre a mesa, atéchegar uma amiga, “pessoa de muito bomgosto”: “Usando esse tipo de paninho emcima desse tipo de mesa?” O paninho nãoteve chance. Sumiu e nunca mais foi visto.

POR: FABIO DA SILVA BARBOSA

concretização destes. Em meio a tantasdificuldades, ele reflete sobre o papel desuas ilustrações neste cenário: “O desenhoé pensado na forma de um livro aberto,buscando conscientizar as pessoas de pa-râmetros aceitos por nós desde a infância.Esses nem sempre são corretos ou justos”.

ESTÃO ENGANANDO VOCÊS

REBOCO CAÍDO

N° 1

Aperiódico

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Pag. 5 OUT/2010

Diego EL

REBOCO CAÍDO

“Meu nome é Diego El Khouri. Nasci em21/03/ 1986. Descendente de libanês, filhoda exclusão. Antes mesmo de andar, jáesboçava vários desenhos e passei minhavida sonhando e respirando arte. Uma cri-ança excluída na infância e pré adolescênciatanto na escola, quanto por alguns pa-rentes de “dinheiro”. Apanhava direto naescola por ser um moleque instrospectivo.Nos meus desenhos e textos me vingavados carrascos. Eu era o palhaço sem graça,que tinha taras estranhas e as escondia comum temor grande. Volta e meia as revelavana minha arte. Meu primeiro livro (nãopublicado) foi aos 8 anos de idade. Um livrode 100 páginas chamado REI VERGONHA,onde revelo meu ego, minhas inquietaçõese revoltas, além do desejo de amor e pazreinando em todo planeta. Uma visão idílicada sociedade.” Diego EL Khouri

Vamos começar por um assunto crítico:Guerra. Fale sobre o Líbano, a região deonde originou sua família.Meu avô, Jamil Hanna El Khouri, teve queabandonar seu país de origem, pois seuirmão mais velho, o então ministro doLíbano, Ibrahim Hanna El Khouri, quelutava pela unificação dos países árabes,foi considerado pelo partido de oposiçãocomo facista. Meu avô, depois de rodar omundo todo, foi parar na cidade deOrizona (Goiás), em 1951. Se apaixonoupor Zélia de Castro e se casaram. Tiveoutros parentes que também fugiram daguerra e vieram parar no Brasil. A culturaárabe é rica e digna. Respira arte e ale-gria, apesar de tudo. A guerra é apenasum lixo político que ainda sustenta suasparedes. Sempre vi a guerra como um lixo.Ela tolhe os membros e destrói a beleza.

Mas a cadeia do mundo ocidental feremuito mais e é essa que eu vivo e que nãotem mais cura.Minha essência estácompletamente ligada a exclusão, desde aminha infância, quando esboçava osprimeiros desenhos. Minha vida é umacadeia de loucos.Minha família sempre foiunida e desunida ao mesmo tempo. Ela é

um dos alicerces deminha arte; a minhador, minha raiva,minha revolta.

Quando você escreveuma mensagem, emalgum momento pensano receptor?Escrevo apenas paralavar minha alma,exorcizar minha dor edizer que respiro.Apesar de tudo, aindarespiro.

A verdade existe?Hoje, pra mim, o queexiste é a busca peloequilíbrio que a vida e alguns astros ne-gros me impedem de alcançar.

A vida tem sentido?“As convicções são cárceres” como diziao filósofo do martelo, grande Nietzsche,meu guru espiritual. Vivo sem os braços epernas, totalmente mutilado. Anjo desnudotragando a morte. Como um profetabêbado, bebo vinho e saboreio o nada.Prefiro ser esse ser pedante e demodé,totalmente sem graça. Às vezes caio numase me vem um desespero brutal e cuspo navida o pior que há em mim, minha vã

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EL KhouriN° 1

Aperiódico

melancolia. Se a existência é sem sentidoou uma causa perdida, não me interessamais. Prefiro dançar e abandonar correntesque me impossibilitam de caminhar.

Uma solução final.Uma noite de extrema volúpia e poesia...

O sofrimento passadofoi importante?Importante para ter aclara noção que tudopassa rápido e temosque buscar aquilo queos gregos sonhavam:Transformar a vidanuma obra de arte.Mesmo sendo ummilagre vivo da ciên-cia, vi a Morte de per-to e ouvi dos médicos“fim de linha”. Vi norosto de familiares oprazer de me ver fra-quejar. Mesmo assim,me sinto em ação. Ador me leva à poesia e

a arte, e eu a abraço sem medo. Sentindo asvezes repulsa e desespero, mas entre umsonho e uma punheta, tudo continua emtotal harmonia com os clowns do universo,os deuses de barbas e metralhadoras nosdentes.

A poesia para você:A única capaz de não me levar ao suicídio.

Fale sobre sua pintura.É uma continuação de minha poesia. Gostode encarar a arte como uma espécie delaboratório. Experimento tudo. Todas as

técnicas. Até desenho com sangue própriojá fiz. Este, inclusive, expus no TeatroBasileu, França, nesse ano. O resultado,às vezes, soa estranho... Às vezes indiges-to... Bebi na fonte de mestres comoModigliani e Frida Kahlo as cores de mi-nha própria carecterística.Tambémencaro a pintura com uma salvação.

Os fanzines:Uma noite de bebedeira e pronto. Criei ofanzine chamado Vertigem, com algusamigos. Empolgado e com a ajuda dainternet, divulguei no Brasil todo. Mas,percebi o descaso dos membos. Queriamque o negócio rendesse, mas não corriamatrás. Depois de um tempo, saí do projetoe sem mim ele morreu. Entrei em outro.Uma bosta! E nada! Foi um longo perío-do. Entrei em projetos de pintura que nãorenderam nada. Aprendi a trabalhar só.Como sou leigo em computador, dependiados outros. Passaram os dias e fui dese-nhando, escrevendo e tal. Chegou um mo-mento que resolvi comprar, no susto, umcomputador e lancei o zine CAMA SURTA,o “folhetim coprofágico filosófico desim-portante” como costumo dizer. Foi numperíodo de críticas e reflexão. É um zineque pretende combater a arte extrema-mente racional dos dias atuais. Uma voltaà um certo parnasianismo. Um parna-sianismo corcunda e sem graça.

Projetos:Continuar editando meu zine e publicarmeu primeiro livro de poesias em 2011.

Fui!!!Tenho problema terrível com o fim. Sempre

me corta a alma. Melhor abrir uma cerveja

e ver no que vai dar.

cidez seme

erso semocâncerseabundounda derana’iego EL

Khouri)

udo tudoorto -

uinado - um anjoio sem

cado.Umdeusalterno esem

ho.Homemto torto eriagado”iego ELhouri)

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OUT/2010 Pag 7

Severino acordou cedo. Depois detanto tempo desempregado, conseguiu umquebra galho para comprar o leite das crianças.O primo do amigo que conhece o candidatoX, arrumou para ele ficar carregando uma pla-ca com a foto do candidato pela cidade. Che-gou na hora marcada e pegou a placa.

O dia passava enjoado. A esquina, on-de devia ficar, não era das melhores. Nenhumamarquise ou proteção. Apenas o Sol na cabeçae aquela placa a lhe olhar. Era uma cara di-ferente da sua. Uma cara bem tratada, com to-dos os dentes na boca... Parecia outro bicho.Até a camisa era bonita... Dava para ver só agola e o botão de cima. Do que será que eleria? Severino deu a volta na placa.

- Tá rindo di que? É di mim?A cara continuava olhando. Sorriso

matreiro, cabelo delicadamente esculpido...- Ta rindo di que? Mi responde! Sô

sujeito homi! Mi respeita!Severino percebeu que aquele olhar,

aparentemente amigo, escondia certo ar desuperioridade. Coçou a cara magra e barbuda,olhando a pele lisa. O filho da puta não tinhauma marca ou cicatriz. Como ele fazia paradeixar o rosto tão lisinho? E se a carranca eraassim, imagina a mão...

- Você nunca pegô em cabo de inchada,né, o vagabundo? Nunca levô sova di varanas pernas quando criança... Nunca levô sovada polícia depois di homi.. O pé deve se amerma merda. Tudo fininho. Nunca andou dis-calço em rua di chão, pulando vala pra chegarem casa. E lumbriga? Nunca deve te tido tam-bém. Se teve, nunca contô pra ninguém, né?

Tinha alguma coisa naquele sorrisoque estava irritando Severino. Ele não paravade rodear a placa.

- Para di ri, filho da égua! Para di ri!!!Não percebeu as pessoas que

paravam para apreciar a cena, nem os

Mais um dia de campanhaPor: Fabio da Silva Barbosa motoristas que passavam de vagar, olhan-

do. Tirou a faca que levou para descascarlaranja durante a descida do morro.

- Vô ensiná a não caçoá dum homi.Severino avançou com toda a raiva

que tinha daquele monstro caçoador, queficava rindo não só dele, mas de todosque acordavam cedo e não tinham horapara dormir. De todos que mais traba-lhavam e menos tinham direitos.

- Toma...Gritava descendo a faca, chu-

tando, socando e espatifando tudo.- Calma...Gritou um pedestre, tentando

segurar Severino.- Mi solta.Babou Severino passando a faca

na mão do pedestre.- O filho da puta me cortou.- Chama a polícia....- Ele deve estar bêbado...- Ele tá é drogado...Severino girava, olhando para

aquele mar de gente. Ele estava bêbado,mas era de raiva. Não era de álcool, não.

- Ninguém encosta em mim!!!Um cara grandão, que estava atrás

dele, pulou em suas costas, conseguindocontrolar a fera. Os demais aproveitarame partiram para cima.

- Pega...- Bate...- Mata...- O que tá acontecendo aí? Que

merda é essa?O policial chegou empurrando todo

mundo. Quando alcançou Severino, viuapenas o corpo no chão, a faca na barrigae os dedos mexendo bem devagar. Um levesorriso despontava no rosto de Severino.Ao menos ensinara uma boa lição aosafado. Podia ir em paz.

REBOCO CAÍDO Aperiódico

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Como Nasrudimcriou a verdadeContos Sufi de Nasrudin

.

“Estas leis não tornam melhores aspessoas”, disse Nasrudin ao Rei; “elasdevem praticar certas coisas de forma asintonizarem-se com a verdade interior, quese assemelha apenas levemente à verdadeaparente.”

O Rei decidiu que poderia fazer queas pessoas observassem a verdade – e ofaria. Ele poderia fazê-las praticar aautenticidade. O acesso a sua cidade erafeito por uma ponte, sobre a qual o Reiordenou que fosse construída uma forca.Quando os portões foram abertos aoalvorecer do dia seguinte, o Capitão daGuarda estava postado à frente de umpelotão para averiguar todos os que alientrassem. Um édito foi proclamado:“Todos serão interrogados. Aquele quefalar a verdade terá seu ingresso permitido.Se mentir, será enforcado.”

Nasrudin deu um passo à frente.“Aonde vai?”“Estou a caminho da forca”,

respondeu Nasrudin calmamente.“Não acreditamos em você!”“Muito bem, se estiver mentindo,

enforquem-me!”“Mas se o enforcarmos por mentir,

faremos com que aquilo que disse sejaverdade!”

”Isso mesmo: agora sabem o que éa verdade: a sua verdade!”

BALADAESSA LETRA É PARA SE OUVIRACOMPANHADA DE UMA VOZ ÉBRIAE UMA VIOLA DESAFINADA.

Por: Fabio da Silva Barbosa

Escuto sons estridentesParece um terremotoMe agito pensando que é um novo somunderground,mas são só bombas lançadas pelo império

.A vida vai passando através dessavitrineRodando nas calotas dos carrosQuero apenas resistirpor mais alguns segundos.

As cidades estão decadentesNo campo a violência explodeEstou apenas caminhandoObservando alguns corpos sem vida.

A vida vai passando através dessa vitrineRodando nas calotas dos carrosQuero apenas resistirpor mais alguns segundos.

O ser humano parasitando o planetaParecem vírus devastadoresNão me resta mais nada a fazer,além de repetir esse refrão.

A vida vai passando através dessa vitrineRodando nas calotas dos carrosQuero apenas resistirpor mais alguns segundos

REBOCO CAÍDO

N° 1

Aperiódico

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Pag 9 OUT/2010

Por: Fabio da Silva BarbosaRabiscando

A gramática se tornou mais uma formade controle. Quem não escreve segundoseus mandamentos, está fora do circulodos inteligentes. Lembrando que a línguaserve para se comunicar e o povo nãoprecisa da gramática para tal, então deixoa gramática de lado, escrevo como bementender e uso a língua para fazer careta(careta de colocar língua para fora, porquea arte de careta, no sentido de caretice,deixo para os inteligentes).

Gente tida como inteligente meparece cada vez mais sacal elimitada. Tenho preferido ainteligência dos tidos comoignorantes.

A hierarquia é a base da desordem. Afinal, ela dificulta

quem está em baixo criticar quem está em cima.

Logicamente, então, quem está em cima fará o que

quiser sem se preocupar tanto.

A lógica social e deconvivência me

impulsiona cada vezmais em direção a falta

de sentido. O semsentido tem sido muito

mais compreensível quetoda essa organização

desorganizada.

A política partidária tem se infiltrado em todos os meios, sufocandoa verdadeira política, até conseguir matá-la de asfixia. Precisamosde jardineiros, com urgência, para eliminar essa erva daninha.

A moda é a prova cabal de que asociedade manipula o individuo, roubandodele toda característica que pode serchamada de própria. O Ser deixa o camposubjetivo para se tornar mais um produtona prateleira, ao ponto de os que estão nacontramão seguirem a moda apropriadapara os da contramão.

REBOCO CAÍDO Aperiódico

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Por: Fabio da Silva Barbosa

- Políticos Partidários:Com profundos conhecimentos de ilusio-nismo e teatralidade eles conseguem tudoo que querem. Provam que 2+2=5, que águaé sólido, que a política partidária é a formamais eficaz de política e que Deus estásempre do lado de quem vai vencer.Doutrina: “Faço só o que me der voto!”Vida em grupo: Se reúnem em partidos.De acordo com a conveniência fazempactos com outros partidos, mesmo nãosendo compatíveis com o que dizem pen-sar. Existem tipos migratórios neste grupo.

- Alienados:Esse grupo humano pode ser identificadoprincipalmente por usar seu cérebro ape-nas como recheio do crânio. Pensar é sem-pre algo doloroso. Qualquer forma de ra-ciocínio se compara ao sofrimento eterno.São presas fáceis para os Políticos Partidá-rios e outros grupos que não serão trata-dos nesse trabalho, como os Publicitáriose os Apresentadores de Televisão. Pode-mos dizer que vieram ao mundo e perde-ram viagem. Costumam ser chatos ecansativos.Doutrina: “DdddddãããããããããããããããããããVida em grupo: Passam os dias entre aperda de tempo e a conversa fiada.

- Fanáticos:Existem diversos tipos de fanáticos.

A BIZARRA FAUNA HUMANA

Dos animais mais bizarros encontrados na fauna de nosso planeta, com certeza, o de maiordestaque é o ser humano. Ele se divide em vários grupos e subgrupos. Veremos aquialguns exemplos desse ser para termos uma visão geral de como se comporta tal criatura.

Talvez seja o grupo que apresente maioresvariações. As duas maiores variações defanáticos são os Religiosos e os Ideológicos.De acordo com o grau de fanatismo do grupoeles podem se tornar extremamente violentose até letais. Uma coisa é certa: Se você verum fanático, saia de perto, pois mesmo osamistosos conseguem ser mais chatos ecansativos que os Alienados.Doutrina: “Eu estou certo”Vida em grupo: Vivem exclusivamente paraseu grupo. O horizonte nunca vai além dele.

- Competidores:Compete com tudo e com todos. Quer sempreser o melhor. Se existe algo que não possafazer, mostra o desdém para justificar suaausência no primeiro lugar.Doutrina: “Eu sei! Eu tenho! Eu sou omelhor!”Vida em grupo: Loucura total. Muito difícilconviver com essa espécie.

- Acumulador:Esse tipo tem como principal característicaacumular tudo que puder. Ele precisa ter. Teré o ato mais importante de sua existência. Aprópria razão da vida. Ter ao máximo de tudoque possa existir.Doutrina: “Existe... Logo... Quero ter!”Vida em grupo: Ele quer sempre ter tantoquanto, ou mais que, seus companheiros.É um subgrupo derivado dos competidores.

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Aperiódico

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Este livro é o registro da produçãoanual do fanzine O Berro, fruto do esforçocomum de três amigos que acreditaram nummeio de comunicação inovador, plural,crítico e participativo. Surgido em Niterói(RJ), o veículo alcançou diversas partes dopaís via correio, mostrando a vitalidade damídia impressa underground, mesmo numaépoca de aparente onipotência da internet.Ao longo do ano, a publicação continuouindependente e mensal, apesar de todas asdificuldades de se manter um meio decomunicação alternativo. Continuouproduzida por Fabio da Silva Barbosa,Alexandre Mendes e Winter Bastos, masteve como colaboradores: Aline Naue, AnitaRink, Eduardo Marinho, FranciscoBragança, Renata Machado Seti Rodriguese Tânia Ribeiro Roxo. E, graças a todos,continua firme e forte.

Nas 264 páginas, o leitor encontracharges, crônicas, entrevistas exclusivas,contos e poesias que visam expressaridéias da cultura alternativa. Com par-ticipações inéditas de personalidades damúsica, do cinema e da literatuta nasentrevistas (como o cantor Kid Vinil, ocartunista Latuff, o cineasta Cacá Diegues,o escritor Glauco Matoso, as bandas deRock Os Replicantes, Cólera, etc), o fanzineO Berro se destacou pela irreverência eoriginalidade.

Foram 12 números de revolta, arte,crítica, poesia, política, cinema, literatura,vida: 365 dias de furor, fibra e fúria, agorareunidos em um livro com acabamentoprimoroso da Editora Independente(Brasília/DF) num lançamento ousado,repleto de experimentalismo e perso-nalidade.Um ano de Berro é cultura alternativa porescrito, ao alcance de todos que o desejam

conhecer. Portanto abram as páginas des-ses 365 dias de fúria, assim como as portase as possibilidades de sua mente. Estranhoé apenas aquilo que você ainda desconhece.

Para adquirir o seu exemplar,basta acessar o site da EditoraIndependente:www.editoraindependente.com.br

Autor: BARBOSA, Fabio da Silva;VASCONCELLOS, Alexandre Mendes de;GUEDES JÚNIOR, Winter Bastos.Editora: Editora IndependenteISBN: 9788590967132Ano da Edição: 2010Edição: 1ªFormato: 14 x 21Páginas: 264Acabamento: Brochura Costurada

UM ANO DE BERRO - 365 dias de fúria