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Pag 1 REBOCO CAÍDO #20

Editorial

É A MOÇA CAÍDASENTADA NO CHÃOTATEANDO A VIDAARRASTANDO O VÃO

A MORENA PERDIDAQUEM DERA... NÃOUMA MENTE VAZIAUMA PEDRA NA MÃO

JÁ DEITOU NA AVENIDAJÁ VIROU ILUSÃOUMA MÃE NA AGONIAPAI DE PREOCUPAÇÃO

UMA FONTE ESQUECIDAESCORRENDO AFLIÇÃOOU O SOPRO DA VIDABRISA PELO CORDÃO

É A PEDRA O CACHIMBOÉ O CRAQUE. NÃOOOOÉ A SORTE É A MORTEÉ O SONO DO CHÃO

VILA PLANETÁRIO, 02 . 01.2014,04:55 - AO VIVO

Por André Fronckowiak

Contatos com o Reboco:

[email protected]

Caixa postal: 21819Porto Alegre, RScep.: 90050-970

www.twitter.com/RebocoCaido

www.rebococaidozine.blogspot.com.br

www.rebococaido.tumblr.com

Quando Wendell Sacramento enviou odesenho para essa capa, pensei em umainterpretação para ela, depois me veio outrae depois outra. Provavelmente nenhumadelas era a que ele pensou quando estavadesenhando (ou talvez alguma delas fosse).Preferi então deixar para o próprio leitor criarsua ideia sobre. Explicar obras de arte nuncame agradou. Prefiro fazer um trabalho interiorde interpretação, construção, desconstru-ção e reconstrução até que a coisa se esgoteou se estenda ao infinito. Passemos entãoao conteúdo seguinte. Abrimos este númerodo Reboco com um relato poético de AndréFronckowiak. Depois temos uma entrevistacom a ativista e cantora de reggae AndreiaDacal... Pera aí... Porque estou gastandoespaço falando de coisas que podem servistas por vocês? Bem... Então vamos aleitura e espero que curtam mais este númerodo Reboco Caído.Em tempo: Pensei em apagar este editorial eescrever outro sobre a situação mundial ecoisa e tal. Por fim resolvi deixar, poisressalta meus momentos de profundo caos,quando estou mais perdido que... Qual a utili-dade disso? Provavelmente nenhuma. E daí?

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REBOCO CAÍDO #21 Pag 2

Andreia Dacal e os novos caminhosPor Fabio da Silva Barbosa

Já vai longe o tempo em que nos esbarramospelas quebradas e apertamos as mãos. Seureggae continua forte e reflexivo, assim comosuas ideias. Estar sempre em movimento abrenovas portas e mostra paisagens ainda nãovistas. Novas parcerias se firmam e o somcontinua rolando. Andreia Dacal conta sobrenovos caminhos que estão sendopercorridos, lembra da velha estrada econvida todos para participar dessacaminhada.

Comecemos falando sobre sua parceriacom a Chop Chop Productions.Posso dizer que é um divisor de águas naminha caminhada. Um grande presente queeu não poderia imaginar levando em consi-deração as dificuldades do caminho emterras tupiniquins. Depois de um ciclo in-tenso de sete anos entre desafios, desbra-vamentos, perdas e conquistas, confessoque estava feliz artisticamente, grata a to-dos os talentos, experiências e parceirosenvolvidos em cada etapa e ciclo de traba-lho e criação, as realizações também sur-preendentes, como chegar a países distan-tes através de um trabalho todo lançadoe distribuído em plataformas gratuitascolaborativas e fora do circuito da grandeindústria, me sentia também meio perdida,desgastada e sobrecarregada com os bas-tidores da produção musical e artística e aluta incessante para gerenciar dessa forma“engajada” (alguns diriam radical - risos) ,independente e com poucos recursos ma-teriais para perseverar por muito tempo deforma saudável em meio as intempé-ries desse oficio, ou “peregrinação”(risos). Exatamente nesse momento deinsegurança e sensação de estar meio“sem direção”, começando a reavaliarmuitas coisas, que no dia 24 de dezembro

de 2012 chegou de forma inesperada umconvite especial. E assim ingressei no timemundial de artistas em torno da gestão e orien-tação da Chop Chop Productions, Jamaica,gerida pelo músico, produtor e ativista Rasta-fari jamaicano John Marcus. Além defundador dos estúdios da Chop ChopProductions, ele figura o corpo da fundaçãosócio cultural Judgement Yard , em AugustTown, Kingston, Jamaica, que tem comocabeça fundadora o músico, cantor, compo-sitor e ativista Rastafari Sizzla Kalonji. Eu jáacompanhava com muito respeito, admiraçãoe tendo como grande inspiração a missão daJudgement Yard, a música e representativida-de de Sizzla como artista, poeta, pessoa egrande articulador social e cultural desde ofim dos anos 90. Conheci sua música nas fes-tas de Rap e Reggae do Rio de Janeiro.Estou muito sensibilizada e apaixonada pelasmúsicas que lançamos até aqui, o trabalhoestá sendo semeado e frutificado. Não existefuso horário. (risos) O trabalho é realmentecomo John Marcus gosta de falar: É todo tem-po! 24 horas, música para cima. E essa redecolaborativa mundial se mobiliza em distribuirespontaneamente o catálogo de lançamentosda Chop Chop para que essa encontre seuscaminhos e abra oportunidades de agenda eprojetos promissores a partir do reconhe-

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Pag 3 REBOCO CAÍDO #21cimento da qualidade dos artistas e can-ções representadas por estes. E tudo acon-tece mesmo. A realidade presente fala tudo.

E as apresentações?Estão acontecendo. A maior dificuldadeainda é ampliar a agenda e rota devido aforma como toda essa questão se dá. Forado Brasil tudo está sendo gestionado pelaequipe da Chop Chop com consciência elucidez. Sigo cantando e versando em por-tuguês e isso não se tornou impedimento.As apresentações vêm emocionando bas-tante quem está aberto para ouvir e reco-nhecer o valor do que pode não ter ouvidofalar na grande mídia formal oficial (mesmona grande mídia dita “underground”, queem maioria é tão restrita e comercial quantoa oficial). Mas, mesmo com as dificuldadesiniciais, esses obstáculos hora ou outrase dissipam e chegam os convites,chamadas para artigos, apresentações emprojetos interessantes, etc... Nos momen-tos difíceis procuro recordar as conquis-tas - como chegar a Festivais de respeitoem Macau , França, Bélgica, Marrakesh...

Nos conhecemos quando fui fazer amatéria na Mama África para o Impressodas Comunidades. Você continua emparceria com a ocupação?A vivência na Mama África começouquando fui gravar o clipe de “Peregrina”,em 2008, em parceria com moradores. Naépoca eu estava morando e trabalhandoem uma casa ateliê coletivo, que tinha umaprodutora independente com amigos, vizi-nho a comunidade. Conheci as criançasque vinham até minha janela atraídas pelascores e música da sala que ficava de frentepara rua. Então conheci a Fernanda Carlin-da que já trabalhava com penteados afro evinha ao ateliê com esse fim. Conversandocom ela e ouvindo as urgências que apre-sentava, seus anseios e sonhos para a ocu-

pação, junto a alegria das crianças comaquele universo cultural que elas espiavampela janela, veio a inspiração de que dentrodo roteiro que já havia sido mais ou menostraçado com o diretor Ton Gadioli harmoni-zava também cumprir a função do registropoético daquela realidade, retratando fra-gmentos do cotidiano, paisagens, vidas edetalhes em meio a velocidade da cidade vo-raz, essas existências peregrinas e a belezada resistência desse cotidiano de superação,luta pela vida , pela felicidade, pelo direito adignidade e igualdade de condições . A partirdesse ponto iniciei o trabalho junto a comu-nidade de forma espontânea , voluntária. Lo-go depois mudei para outro bairro, mas seguias visitas. Percebi com um pouco da ex-periência de artista, produtora independentee geógrafa que atuou em áreas de risco so-cial, que aquela comunidade, assim comogrande parte das em mesma situação, tinhamuita vida, beleza, história, raiz e urgências,mas que não tinha ideia do valor de sua lutae representatividade como movimento deresistência no local há 20 anos. Cheguei contribuindo nesse processo deconscientização, capacitação e reconheci-mento das lideranças internas, legitimaçãoda historia, da presença delas ali, dando aulasde reforço para as crianças quando precisa-vam - de cultura geral, geopolítica, história -conversas holísticas infinitas que trouxeramnovas perspectivas para as mulhereslideranças locais. Acredito que o registro mu-sical, uma obra artística audiovisual no local,naquele momento, acabou se tornando ummarco documental da comunidade em um pe-ríodo que um novo fôlego chegou para esti-mular o despertar. E o gigante foi começandoa acordar com essa brisa fresca soprandoem uma época de estagnação, muita deses-perança devido as constantes incertezas quea Ocupação passava resultantes da violênciaurbana que tencionava o local e entorno, apressão politica e os caminhos do modelo

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Pag 4REBOCO CAÍDO #21de desenvolvimento da cidade que deixa-vam clara a vulnerabilidade em relação aopróprio direito de moradia reconhecido. Aameaça eminente de remoção assombrava acomunidade. Senti que qualquer contribui-ção poderia estimular positivas mudanças,mesmo que fossem pelo menos para ofere-cer dias mais inspiradores e despertar so-nhos para que, com o tempo e amadure-cimento, todas se tornassem cada vez maisautônomas também em relação a conquistade direitos e respeito junto a sociedade local.Busquei incentivar atividades de autogestão e auto confiança no potencial inter-no daquele coletivo. A comunidade vinhade um processo doloroso de desprezo e pre-conceito, herança do Brasil que não conse-guiu sanar as profundas feridas do períodocolonial e o processo ilusório e inacabadode libertação dos afro descendentes. Forammuitos conflitos e perigos superados emconjunto. Acompanhando de perto e estan-do presente, mesmo quando distante emtemporadas de trabalho por outros estados,estive conectada em diálogo com a “co-munidade do 48”. Estimulei também o usoda linguagem multimídia para contribuircomo mais um canal aberto entre a comuni-dade e o mundo. Com esse trabalho conse-guimos chamar atenção para Ocupação. Foiassim que a “Ocupação do 48” entrou noquadro de comunidades reconhecidas porentidades de luta social que hoje a defendejudicialmente, como a FIST (Frente Interna-cionalista dos Sem Teto), apoiada pelo Sin-dicato dos Petroleiros do Estado do Rio deJaneiro. Hoje a Ocupação é conhecida e autolegitimada como Ocupação “Mama África”.Com esse movimento inicial intenso deorganização, capacitação e conscientizaçãodo valor da comunidade junto às mulherese crianças, com o suporte jurídico imprescin-dível da Fist, a dedicação das liderançaslocais (como Fernanda Carlinda, SimoneSilva, Nadia Carmo, Sr. Francisco) e demais

moradores as vitórias em várias etapas daquestão fundiária vieram. Continuando otrabalho, estimulei a prática do mutirão ar-tístico para que o espaço também servissecomo uma grande tela de mensagem e canalde diálogo e comunicação entre os morado-res e a comunidade em torno da Ocupação.Essa vivência revelou e incentivou maisainda os talentos vivos para as artes plásti-cas e trabalhos manuais dentro da comuni-dade. Com a atração da fachada representa-tiva e criativa, outros voluntários começa-ram a chegar. Até mesmo estudantes, queantes passavam com indiferença em frentea Ocupação, hoje visitam com curiosidade,interesse, respeito e admiração. No fim de 2012, com esses mutirões, frutodo esforço de todos, conseguimos fundara biblioteca comunitária que atende ascrianças e é salinha de estudo e brincadei-ra. Mesmo com uma estrutura modesta,mas cuidadosa, lúdica e rica em conteúdo ,vem trazendo bons resultados para o de-sempenho escolar e estimulando a leitura. O mais importante do trabalho que realizeilá, a meu ver, é vê-las totalmente segurasde si, levando adiante tudo que foi cons-truído nessa caminhada coletiva, seguindocom os projetos, com a expansão de seustalentos e ferramentas adquiridas de formaconfiante e independente, com maturidadee fluidez na gestão comunitária. Se nãohouver essa independência total, inclusiveda minha presença, para que tudo siga sen-do cada vez mais próspero para todos, eunão sentiria que realizei o que me propus,porque é importante saberem se responsa-bilizar e levar adiante a gestão de todasessas vitórias e principalmente de suaspróprias vidas.Hoje fico feliz em acompanhar de forma nãopresencial esse amadurecimento e segui-mos em comunicação, é claro. Agora voudar atenção integral, por um período, a mi-nha vida pessoal e profissional que estava

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Pag 5 REBOCO CAÍDO #21precisando de mim concentrada e focadae agora é esse tempo. Mas sei que asmeninas estão em um caminho prósperoe com todo suporte necessário paraseguirem expandindo tudo quefoi construído. Gosto de ressaltar que o trabalho quedesenvolvi lá não foi uma tese, umapesquisa, um projeto profissional comfomento. Foi uma iniciativa motivadapelos meus anseios como humanapensante e espírito aflito com a realidadesocial do lugar onde nasci e a certeza deque compartilhando um pouco dosconhecimentos que adquiri e me foramoferecidos, experiência, energia, umpequeno % da arrecadação do meupróprio trabalho, não importando se nãoé lá essas coisas (risos), e acreditando atodo momento, desde o início, mesmo nototal escuro, que algo poderia realmente

ser despertado. Como o foi, para muito alémdas expectativas, atraindo o que eranecessário, inclusive instituições oficiais queestão podendo realizar grandes movimentoscontando com fomentos, depois de quase 20anos de certa estagnação e indiferença para arepresentatividade do lugar. Tudo isso vemsendo um grande despertar.A ênfase nesse detalhe é para que as pessoasreflitam através desse relato que mesmopequenos movimentos, com as ferramentasque temos, seja um pouco de conhecimento,carinho, dedicação, tempo, ou investindo deforma solidária um pouco do que se ganha,mesmo sendo pouco, podemos contribuir paramudanças incríveis não só de uma co-munidade como de nossas próprias pers-pectivas e visões, já que essas experiênciasse tornam também uma grande escola deconhecimentos variados e vivências reais paraquem as aplica.

Por Igor Vitorino da Silva

A criança corre pela ruaA mãe se esguelaOuve-se passos firmesÉ a polícia na Favela

Corre-corre, gritaria e protestosTiros, violências e lamentosO povo resisteNão arreda o pé do seu lar

A imprensa à distânciaO polícia não tem tolerânciaO povo impõe toda resistênciaFrente a tanta ignorância

Remover vidas e históriasTudo para mais empreendimentosQue enchem a cidade de monumentosEm nome de lucros e mega-eventos

A remoção

Por Ivan Silva

Um minuto vai passandoe muita coisa aconteceCoisas que eu nem imaginomas ouço, procuro e sinto

São gritos de revoltadenuncia e indignaçãoManifestantes perseguidospor grandes empresas

calculadoras de morteAdiante as coisas piorame eu não sei o que fazer…

Mas não quero ficar caladomuito menos de braços cruzadosenquanto outro minuto se vai.

Minuto

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Pag 6REBOCO CAÍDO #21Tijolo Seis Furos e o som da fúria

Por Fabio da Silva Barbosa

De onde surgiu o nome da banda e como sedefiniu o som a ser tocado?Por ter uma universidade pública e inúmerosquartéis, Santa Maria – terra onde nasceu aTSF – tem uma população flutuante bemnumerosa. Todos os anos muita gente chegae vai embora da cidade. Isso faz com que osetor de construção civil seja bem ativo. Aoperceber isso, e ao notar que a maioria dostrabalhadores que atuam nas obras erampessoas mais humildes, os fundadores dabanda – Alexsandro (guitarra/voz) e o Clóvis(ex-vocalista) – resolveram homenagearesses profissionais. Pra isso, batizaram ogrupo de Tijolo Seis Furos – um itemnecessário na maioria das construções.O lance do som, acho que foi uma conjunçãode fatores, algo meio natural. Galera mora naperifa, começa a ouvir rock paulêra, descobreque existe um gênero que não precisa sabertocar pra ter banda e que vomitainsatisfações, pronto: também quer catar unsinstrumentos para fazer som e colocar prafora toda a rebeldia.

Qual a temática das letras?Bicho, as letras, em geral, expressamsituações que a gente vivencia e

Os caras fizeram um showde abertura e confesso quegostei mais da aberturaque do prato principal. Elesroubaram acena. Quemdeixou paraentrar nahora daatração tidacomo re-levante, per-deu o melhor dafesta. Quem eraa tal atração?

Não importa. Vamosfalar dos caras quefizeram a noite valer a

pena. O somé uma des-carga deenergia e apresença de

palco é dasmelhores. Quem nuncafoi ao show doTSF não sabe oque está per-dendo.

descontentamentos,sejam elespessoais, sociais,políticos ouculturais. Temainda algumasmúsicas comtemáticas maiszoeiras e outrasinspiradas nacultura do terror(filmes, séries,livros...).

Influências

sonoras:A rapaziada ouve vários tipos de som.Acho que cada um acrescenta algo do queestá mais ouvindo no momento quandorola o processo de composição. Asinfluências passeiam do punk/hardcore oldschool ao grind, passando pelo crust, HCmelódico, thrash e death metal, new wave,pós-punk, trash 80’s e rap. Talvez algunsdesses estilos não fiquem evidentes nosom da TSF, mas são referências de algumamaneira. Como exemplos, eu citariaRamones, Extreme Noise Terror, Disrupt,Napalm Death, Ratos de Porão, Olho Seco,The Stooges, Cólera, Pixies, Motörhead,Bad Religion, Black Flag, Circle Jerks, DeadKennedys, Discharge, Misfits, Brujeria,Racionais MC’s, Defecation, Nasum, TheSmiths, Carcass, Disfear, GDE, From AshesRise, Ministry, Genocide SS, SocialDisortion, Atari Teenage Riot, Slayer,Exodus, Condutores de Cadáver, Sepulturae mais uma pá de bandas.

Copa do mundo, eleições, protestos... 2014promete ser um ano bem agitado no camposocial. Como a banda encara tudo o quevem acontecendo e o que está por vir?

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Pag 7 REBOCO CAÍDO #21Cara, acho que, assim como qualquer cidadãoque se preze, a gente não crê nessa falsademocracia na qual querem que acreditemos.É uma retórica clichê, mas fica cada vez maisclaro que a sociedade é organizada de maneiraem que um pequeno número de pessoas tenhacondições de controlar o restante. Esse papode igualdade é bonito na teoria, no entanto,na prática ele parece não existir. Quem possuidinheiro e poder sempre terá vantagens sobreos que não têm e vai fazer de tudo para queas coisas continuem assim. A copa é umexemplo: estão alterando leis e criandosituações para favorecer quem já lucra – e vailucrar ainda mais – com o futebol. Foda-se oque for necessário para isso, patrola tudo emanda brasa. As eleições são apenas um jeitode fingir que existe democracia, umaferramenta para fazer o povo acreditar quetem participação na política do país. É umprocesso em que, no máximo, vai se trocarseis por meia-dúzia. A gente não se vêrepresentado pelos políticos, pois écomplicado acreditar no discurso demagogode toda a classe, seja situação ou oposição.Sobre os protestos, acreditamos que sejamválidos. Este ano, o kissuco vai ferver, pois opovo quer se manifestar na rua e o governojá sinalizou que vai reprimir. Ir às ruas foi o

jeito que a população achou para mostrarsua insatisfação e isso é bacana. O tristeé que existe muita manipulação, muitaspessoas usando as manifestaçõespopulares em proveito próprio.Sinceramente, torcemos para que issogere mudanças. Mas, no fundo, temospoucas esperanças.

Falando em está por vir, o que o pessoalque curte o som da banda pode esperarpara esse ano?A gente é enrolado, faz vários planos eexecuta quase nada. Pra completar, amaioria dos integrantes já não é mais guri:tem compromissos com trampo e família.Fica difícil ser tio-jovem-roqueiro-doidoa uma certa altura da vida. Apesar disso,tentamos, do nosso jeito, manter a bandasempre ativa. A gente tá compondomúsicas novas que pretendemos gravar elançar o mais rápido possível, depreferência em formato físico. Queremostocar mais também, circular por aí fazendoshows, pois é no palco que a genterealmente se sente bem. Não existe nadamais legal do que fazer um som, conhecergente nova, aprender costumes diferentese interagir com a rapaziada.

A PM brasileira.PorPanda Reis – [email protected]

Rua Augusta e a Polícia Militar sobe com seus cassetetes e escudos, protegidos por seuscapacetes reforçados, com muito ódio escapando pela viseira e espumando uma vontadesádica em espancar e agredir qualquer um que estivesse no “campo de batalha”, o cheirode gás lacrimogêneo e gás pimenta se mistura em um odor único, a Tropa de Choque (quetambém é PM) invade um hotel aonde alguns manifestantes armados com ideologias seescondiam. Foram caçados como animais. Perto dali uma garota está na calçada tentandose recuperar de uma agressão covarde de homens da PM e ainda é atropelada por outropolicial de moto. Grupos se organizam para proteger ruas e bairros nobres... Ligaçõesoriundas de determinados bairros são respondidas com muito mais rapidez que em outros,algumas casas (como a do Paulo Salim Maluf , que é um dos políticos mais ricos do Brasil)tem contato direto com a Polícia Militar. Qualquer manifestação popular em qualquerperiferia, seja por moradia, seja contrária a reintegração de posse, é repelida com umaurgência absurda pela PM.

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Pag 8REBOCO CAÍDO #21Mas a PM faz exatamente o que foi criada e treinada para fazer desde sua criação, criaçãoessa que remete a chegada de Dom João VI no Brasil, se mantendo militar desde o inícioaté o apogeu com a ditadura militar, quando se torna extremamente anti população etotalmente avessa a movimentação, agrupamento ou questionamento e pensamentos,agindo sempre com força , e com o aval do Estado que lhe deu total poder até mesmo sobrea vida e a morte de qualquer brasileiro que não tivesse a sorte de pertencer à elite ouaceitar tudo como cordeirinho. Sim, a PM foi criada para proteger a propriedade privada,para proteger e guardar a burguesia e a classe dominante, nada mais são que “osmosqueteiros” do Estado, cães ferozes e ideologicamente comprometidos com a missãodada desde D. João VI até a máquina de matar conhecida como a Rota. A PM não protegeos manifestantes, a PM não protege pessoas comuns que andam e moram em nosso país.A falsa ideia que passa, com a patrulha e sua presença, é apenas a patrulha e proteção daclasse burguesa, deles que como um feudalismo atrasado torna a Rota, o Bope (no RJ) , osnovos Cruzados, que a exemplos de seus pares de séculos atrás, massacram os nãoCristãos no Oriente Médio e região... A periferia é o campo de batalha dessa Cruzada, oOriente Médio, pois basta um Shopping ou uma joalheria ser assalta que eles invademaqui humilhando e agredindo a todos, em uma caça desumana. Basta um PM morrer queeles vêm ao “Oriente Médio de S.Paulo” e massacram quem estiver nas ruas.Pessoas normais cobram justiça e respeito, mas a PM está fazendo exatamente o que foramfeitos pra fazer !!! Enquanto a PM existir ela será uma arma “pseudo feudal” do sistemamais agressivo. Seria necessária a desmilitarização, transfornar todos os soldados, cabos,sargentos, capitães e tenentes em cidadãos comuns.Karl Marx tinha razão na luta de classes e essa luta de classes se multiplicou até mesmoentre os que são explorados, mas isso é outro assunto...

Batata manda o recadoPor Fabio da Silva Barbosa

Responsável pelo zine BATATA SEM

UMBIGO, esse cara já tá um tempo na es-

trada. Para quem ainda não conhece, esse

é o mano Batata e para adquirir seu material

é só entrar em contato pelo e-mail

[email protected].

Seu trabalho:Sou cartunista desde 2008, apesar de nuncater parado de desenhar desde criança.

Comecei minha trajetória em jornaisestudantis, de movimentos sociais eatravés do Coletivo Miséria (http://miseriahq.blogspot.com.br/), no qual, juntocom João da Silva e Ricardo Flóqui, foiresponsável por 5 edições da RevistaMiséria e de várias oficinas de quadrinhos.Tudo isso em Campinas. Em 2011 comeceia trabalhar na Fábrica Ocupada Flaskô(http://www.fabricasocupadas.org.br/site/), a única fábrica ocupada com gestão dospróprios trabalhadores no Brasil. Ela ficaem Sumaré, do lado de Campinas. Lá eu eraresponsável por organizar a parte de culturada Fábrica, assim como as publicações doCentro de Memória Operária e Popular(CEMOP), com várias publicações sobre otema da gestão operária e também da arte.Neste período lancei pelo CEMOP meu

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Pag 9 REBOCO CAÍDO #21primeiro livro de HQs, o Refluxo. NaFlaskô também participei de várias lutasimportantes, para a fábrica e demaismovimentos, como MST e MTST, umaexperiência riquíssima de compreensãosobre a necessidade das lutas. Atualmen-te estou tentando a vida na cidade de SãoPaulo, principalmente com quadrinhos earte em geral, mas nunca deixando de a-companhar as lutas dos movimentossociais e populares, assim como “man-guear” pela rua para tirar um troco.

Como é seu processo de produção?Sinceramente, pra mim, fazer HQs semprefoi um processo de auto-reflexão. É atra-vés da linguagem dos quadrinhos queconsigo sintetizar boa parte das minhasideias e colocar pra fora aquelas coisasque vemos no dia-a-dia e que nos fazempensar. É uma relação muito parecida comum vômito. Sendo assim, por conta daminha vivência, os problemas sociaissempre estiveram muito presentes naminha produção e a melhor forma de es-cancará-los, na minha opinião, é atravésda crítica deste cotidiano avassalador quenos persegue, o cotidiano de trabalho-consumo-mercadoria-separação... Porexemplo: Consegui um bico aqui em SãoPaulo e trabalhei nele apenas 3 dias. Nes-tes dias eu pegava o metrô no horário depico tanto para ir como para voltar. Não édifícil perceber como as coisas andam tãodesumanas nesse mundo... Tá na cara daspessoas, aqueles rostos tristes e cansa-dos no metrô lotado... Quando vejo essetipo de coisa me dá uma coisa no peito,uma vontade de gritar, mas eu não grito,chego em casa, acendo um cigarro e tentocolocar no papel aquilo que tô sentindo...Para fazer quadrinhos não é necessáriosaber desenhar, é preciso saber contaruma história através daquela linguagemsequencial. Com a prática, a técnica

melhora e assim vai... Creio que consegui expli-car mais ou menos o processo... Desculpemse fui confuso, mas geralmente sou assim.

Podemos acreditar no voto como ummecanismo transformador?Não acredito nas eleições como mecanismotransformador. Acho que apenas legitima acontinuidade de uma forma democrática quesó existe na aparência. Talvez seja durante operíodo das eleições que o “couro deva fer-ver”, pois é nela que a simbologia desse siste-ma que vivemos se personifica.

Agora uns tópicos para você comentar:

a) ação direta: A ação direta é necessária, poisela torna material, palpável, aquilo que secoloca no discurso.

b) capitalismo: O capitalismo é a máquina quecomprime a humanidade das pessoas e as tor-nam vazias de sentido. Separadas em suas ca-sas/celas/prisões. Trabalhando para consumiro próprio trabalho.

c) movimentos sociais: Os movimentos sociaissão extremamente importantes no cenário a-tual. Mesmo que boa parte esteja muito quieta,acredito que é através deles que podemos a-prender novas formas de organização e so-ciabilidade. É claro que não podemos colocaros movimentos sociais em uma torre de marfime fazer deles utopias. Pelo contrário, eles estãoe fazem parte desse sistema, mas tentam trazersempre novas perspectivas críticas ao modelovigente. É nos movimentos sociais que po-demos encontrar as contradições mais im-portantes para superar o sistema.

d) ocupar: Ocupe para morar, ocupe para tra-balhar, ocupe pra plantar e criar, ocupe a escola,ocupe a terra e o prédio abandonado, ocupeos pontos turísticos e os aeroportos, ocupetudo e todos. Ocupando se ocupa a vida.

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REBOCO CAÍDO #21 Pag 10Papeando com Paulo Dionísio

Por Fabio da Silva Barbosa

Cerveja gelada namesa e oArmazém daSilvinha recheadode amigos. Essefoi o cenário dopapo que baticom o grandePaulo Dionísio,figura única,vocalista dabanda de reggaeProduto Nacional.

Sua aproximação com a música:Na real, é uma coisa de casa. Lição de casa.Morava na vila Bom Jesus, zona leste. Amãe ia lavar roupa, a vizinhança toda, oucom o rádio ligado ou cantando. No tempoda boa música. E a gente vai se acostuman-do e acaba achando que pode fazer tam-bém. Sempre tive mania de ficar cantando.Aí vai nos lugares e conhece as pessoas.Vai ficando mais sério quando vãopedindo para você cantar.

Você nasceu na Vila Bom Jesus?Nasci na Auxiliadora, fui para Bom Jesus edepois para Belém Velho.

A identificação com reggae e a escolhadeste como forma de expressãoQuem me apresentou o reggae foi Neizi-nho, do IAPI – bairro da zona norte. Eletava com o disco Kaia, do Bob Marley.“Tem de escutar!” Vi aquele negão cheiode trança e pensei “Que porra é essa?”Daí fui entendendo todo o funcionamentosociopolítico.

Produto nacional:Nasceu da vontade de alguns companhei-ros tocarem a própria música. Não se con-tentavam em tocar cover em baile.

Queríamos tocar o que a genteacreditava. O Produto Nacionalera uma mistura de samba,bossa, reggae, jazz... Acaboupendendo para o reggae.

Como esses músicos seconheceram?Eram músicos que frequenta-vam a noite em alguns lugares eacabavam se encontrando.

E vocês imaginavam que a

banda ia se tornar uma referência?Nada (risos). Mas eu fico muito feliz com isso.

É uma responsabilidadeGosto sempre de dar uns toques durante oshow. Dia desses um cara me reconheceu noônibus e disse que um dia saiu de casa cheiode problemas, brigou com a família... e quandochegou no show, antes de tocarmos a música,eu falei umas coisas. Ele disse que pareciaque eu tava falando para ele.

Como é a escolha dos temas das músicas?Só se fala do que se conhece, do que vive.Aí passa e vê a mãe trabalhando para susten-tar a casa e já dá uma música. Às vezes aspessoas complicam e dificultam, mas estamosfalando apenas do nosso dia. Fazemos mú-sica simples, mas de conteúdo.

Algo a mais que poderíamos falar?A Produto é uma banda que se dedica a pro-curar e abrir espaço para os artistas, como oGeda, que fez a música esperança. Todo artis-ta que acredita no seu trabalho, não desvie ocaminho. O que interessa é a felicidade. Vocênão precisa de dinheiro para dar um sorriso,para abraçar um amigo. Tem uma frase queuso para tudo: Saúde e felicidade é a base,sempre, para qualquer pessoa.

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.

Como Amarildo, quase 40 mil desapareceram

no Rio desde 2007reprim

idos

População foi impedida de entrar na câma-

ra dos vereadores para participar da audi-

ência "pública" que debatia a licitação do

transporte coletivo em Porto Alegre.

Governo de São Paulo gastará R$ 35 milhões

com blindados antiprotesto"...o período aberto é,

portanto, de resistênciacom viés combativo."

moradores se levantam contra a UPP

mortoseferid

osnosp

rotestos

A C

opa se aproxima e as rem

oções aumentam

Movimentos popularesorganizam grande atoantifascista

Polícia reprime com violên-cia manifestação contra aCopa do Mundo

Mais provas que o ato seguia pacífico

COMO TRANSFORMAR

MANIFESTANTES EM TER-

RORISTAS

Quero entender em que Lei este fardado

tem o direito de chutar um cidadão imobili-

zado ?

Reflita !

Manifesto contra a criminalização de advogadas e advogados queatuam em defesa de manifestantes

viemos a público manifestar nossa preocupação em rela-ção aos crescentes movimentos de criminalização

É precisolembrar oc a m e l ôque, fugin-do dasb o m b a sda políciafoi atrope-lado emorto nom e s m odia

TARDE MULTICULTURAL - SEM FRONTEIRAS

CARTA DE REPÚDIO

RESISTÊNCIA DA ALDEIA MARACANÃ

DENUNCIAR

mal sabem eles que oblack block não tem lí-der

é muito maior que isso

Livro: ESCRITOS MALDITOS DE UMAREALIDADE INSANA

Um cenário de guerra. Mulheres grá-vidas, crianças e trabalhadores desar-mados contra 150 policiais da Tropade Choque. Resultado: 376 famíliaspobres violentamente despejadas deuma comunidade carente

ai5 padrão fifa

Aniversário do levante Zapatista

hchsd hhhahc jjccjpoa oajojoa jhpaof ofopfpuohfojpef ojfofpwujf k olko ffmv

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Resíduos de produtos de higie-ne podem contaminar meio am-biente e prejudicar saúde

Carnaval também tem precon-ceitos e maus tratos a animais

Segundo especialista, EUA gera vio-lência na Venezuela e a mediação que

propõe é "falsa

Movimentos sociais pedem a desmilitarização dapolícia

apoio

"esvaziaram a garrafa, colocaram umpano na ponta e me levaram p/ a dele-gacia dizendo q era coquetel molotov”

S ELIGA

NovaOcupação

Mais um despejoem cidade-sede da

Copa!

Moradores tentam salvar os pertences que conse guem, mas os tratores passam

por cima de tudo.

Venha aos atos e tire suas conclusões

acusações

A barbárie

“Foi humi-lhante”, dizativista que

denuncia

revista “vexatória”