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1 - INTRODUÇÃO À LÓGICA 1.1) O QUE É - Ciência das leis do pensamento e das condições do conhecimento válido; - A Lógica formal ocupa-se da estrutura do discurso, não do seu conteúdo Operações Operações Estruturas da Lógicas: da razão: linguagem: Definição = [intuição] = palavra Proposição = [juízo] = frase Argumentação = [raciocínio] = parágrafo 1.2) O SURGIMENTO DA LÓGICA RETÓRICA: SOFISTAS - Séc. V AC - Quem eram os sofistas? - A antilogia. Campos da antilogia: a política, o direito - Não há verdade, tudo é opinião - Protágoras: a morte de Epitímio; a disputa com o aluno LÓGICA: ARISTÓTELES - Séc. IV AC - A reação contra os sofistas - A distinção entre verdadeiro e verossímil Argumentar = buscar pelo discurso a adesão do outro Argumentos lógicos = visam justificar um juízo "verdadeiro”. Pretendem demonstrar ou convencer Argumentos retóricos = visam justificar uma opinião quando a demonstração da verdade não é possível. Pretendem persuadir. CONVENCER = usar argumentos estritamente racionais PERSUADIR = argumentos que apelam também à emoção ou imaginação

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Page 1: PROGRAMA DE LÓGICA · Web view7 - FALÁCIAS INFORMAIS E SOFISMAS As falácias são informais quando o problema reside nas premissas, em argumentos que podem ser formalmente válidos

1 - INTRODUÇÃO À LÓGICA

1.1) O QUE É- Ciência das leis do pensamento e das condições do conhecimento válido; - A Lógica formal ocupa-se da estrutura do discurso, não do seu conteúdo

Operações Operações Estruturas daLógicas: da razão: linguagem:

Definição = [intuição] = palavra Proposição = [juízo] = frase Argumentação = [raciocínio] = parágrafo —

1.2) O SURGIMENTO DA LÓGICA

RETÓRICA: SOFISTAS - Séc. V AC- Quem eram os sofistas?- A antilogia. Campos da antilogia: a política, o direito- Não há verdade, tudo é opinião- Protágoras: a morte de Epitímio; a disputa com o aluno

LÓGICA: ARISTÓTELES - Séc. IV AC- A reação contra os sofistas- A distinção entre verdadeiro e verossímil

Argumentar = buscar pelo discurso a adesão do outro Argumentos lógicos = visam justificar um juízo "verdadeiro”. Pretendem demonstrar ou convencerArgumentos retóricos = visam justificar uma opinião quando a demonstração da verdade não é possível. Pretendem persuadir.

CONVENCER = usar argumentos estritamente racionais PERSUADIR = argumentos que apelam também à emoção ou imaginaçãoEXEMPLO: Argumentos de Descartes e Pascal para demonstrar a existência de Deus

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2 - A ATIVIDADE RACIONAL

A INTUIÇÃO- É imediata (instantânea, sem etapas)- Produz um conhecimento global e intransferível- Intuição sensível = concreta, singular, não conceitual- Intuição intelectual = abstrata, universal, conceitual

O RACIOCÍNIO- É mediado (percorre etapas para chegar a uma conclusão)- Pode ser transmitido

2.1) TIPOS DE RACIOCÍNIODEDUÇÃODo geral ao particularÉ necessário ou conclusivoExemplos: na ciência = previsões ou aplicações de leisna filosofia = o cogito: "penso, logo existo" na vida cotidiana = gesso -> braço quebrado

INDUÇÃODo particular ao geralA conclusão não é necessária, mas apenas provável- Problemas da indução = generalização apressada

- Russel e o peru indutivista- Legitimidade da indução = análise de casos limitados

Na ciência = propriedades dos metais; a maior parte das leis naturaisNa filosofia = a existência de Deus Na vida cotidiana = a maioria dos raciocínios do senso comum

2.5) ANALOGIAComparação entre dois fenômenos particularesÉ mais persuasivo do que lógico, pois o que vale para um caso não vale necessariamente para o outro.Exemplos: Na vida cotidiana = argumentos persuasivos, publicidadeNa ciência = aspirina; homeopatiaNa filosofia = argumento do relógio

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3 - DEFINIÇÃO

O que é: delimitar um conceito por sua essênciaO que não é: enumerar, exemplificar, qualificar

3.1) Definição por gênero e diferença - gênero: categoria mais ampla a que o objeto pertence

- diferença: aquilo que distingue o objeto de outros do mesmo gênero

3.2) Definição pelas quatro causas- Formal: o que é- Material: de que é feito- Eficiente: como foi produzido- Final: para que é utilizado

3.3) Definição descritivaDefine o conceito a partir de uma característica marcante ou exclusiva; Menos precisa do que as anteriores, só deve ser utilizada quando delimitar a essência de um conceito é difícil ou impossível.

3.4) Critérios da boa definição- deve visar o essencial- deve ser mais clara que o termo a ser definido- não pode incluir o termo a ser definido- deve ser positiva, não negativa- pode ser invertida que continuará válida:

3.5) Aspectos argumentativos da definiçãoAs definições não são neutras, mas refletem já uma interpretação da realidade. Ex: normal Aborto Inteligência

3.6) Nem tudo pode ser definidoO universal = ser, causa, tempoO singular = um indivíduo concreto, um sentimento que alguém singular experimentaO que é experimentado por intuição sensível = (cor, sabor...)

3.7) Extensão e compreensãoExtensão = conjunto de todos os seres incluídos no termo (homem : todos os homens)Compreensão = conjunto de propriedades que definem o termo (homem = mamífero, bípede, racional, etc)Quanto maior a extensão, menor a compreensão e vice-versa. Sócrates = extensão mínima, compreensão máxima

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Ser = extensão máxima, compreensão mínima

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4 - A PROPOSIÇÃO CATEGÓRICA

- O que é: uma relação entre dois termos ou categorias (um sujeito e um predicado) unidos pelo verbo ser: S é P- Tem valor de verdade (é verdadeira ou falsa)- Nem toda frase é uma proposição- Nas proposições categóricas, os termos são classes ou categorias

4.1) CLASSIFICAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES

Qualidade = afirmativa: S é PNegativa: S não é P

Quantidade = Universal: O predicado se aplica ao sujeito em toda sua extensão:

Todos os homens são mortais

Particular: O predicado se aplica a uma extensão parcial do sujeito. Alguns homens são mortais

Singular: O predicado se aplica a um indivíduo Sócrates é mortal

A ausência de quantificador equivale ao uso de todos. (salvo se o sujeito for um indivíduo). Assim, quando digo que "o átomo é composto de prótons, elétrons e neutrons" , isso se aplica a "todos os átomos".

4.4) REPRESENTAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES POR DIAGRAMASPara analisar a relação entre sujeito e predicado, podemos recorrer a diagramas que expressam graficamente a proposição.

Todos os surfistas são felizes

Alguns surfistas são felizes

Alguns surfistas não são felizes

Nenhum surfista é feliz

4.3) OUTROS TIPOS DE PROPOSIÇÃO

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Hipotéticas = Se S, então P. -> Se fizer sol, vou à praiaDisjuntivas = Ou S ou P. -> Ou fico rico, ou serei infeliz

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5 - RACIOCÍNIO e ARGUMENTAÇÃO

O QUE É: demonstração composta por pelos menos duas premissas e uma conclusão (Na vida cotidiana, freqüentemente uma premissa está oculta)

CONCLUSÃO = aquilo que se pretende provarPREMISSAS = aquilo que vai sustentar ou fundamentar a conclusão

Uma proposição tomada isoladamente não constitui premissa nem conclusão: estes são termos relativos, que dependem da função que ocupam em um argumento. Uma mesma proposição pode ser a premissa de um argumento e a conclusão de outro.

"Estou sentindo cheiro de terra molhada, logo está chovendo""Está chovendo, logo o nível do rio vai se elevar"

5.1) RECONHECIMENTO DE ARGUMENTOS- Indicadores de premissas: uma vez que, visto que, já que- Indicadores de conclusão: logo, portanto, desta forma, assim, então- Nem sempre esses indicadores estão presentes:

"A proibição do suicídio pelo Código Penal é ridícula: que penalidade pode assustar alguém que não teme a morte?"

5.2) DIFERENÇA ENTRE EXPLICAR E ARGUMENTAR

A explicação dá o motivo de determinado fato, ao passo que um argumento dá as premissas de uma conclusão. A explicação apenas justifica algo que já se sabe, mas o argumento deve demonstrar algo que ainda não foi estabelecido. "Maria matou o marido porque não suportava mais uma vida de humilhação e violência" = explicação. "Foi Maria quem matou o marido, pois além de ter o motivo, suas impressões digitais estão na arma do crime" = argumento No primeiro caso, a afirmação de que Maria matou o marido não está em questão, ao passo que no segundo ela deve ser provada.

"A inflacao subiu devido ao aumento do consumo" = explicação: sei que a inflação subiu, busco suas causas. "A inflação subiu, porque os produtos e serviços estão muito mais caros" argumento: parto da premissa do aumento dos preços para fundamentar minha conclusão. .

5.3) VERDADE E VALIDADE

- Verdade: adequação entre o discurso e a realidade (apenas uma proposição pode ser Verdadeira ou Falsa)

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- Validade: relação lógica necessária entre as premissas e a conclusão (apenas um argumento pode ser válido ou inválido - ou seja, falacioso) - A validade de um argumento não é suficiente para garantir sua verdade. Um argumento com premissas e conclusão falsas pode ser válido:Todos os peixes têm asas; todos os homens são peixes; logo, todos os homens têm asas.

Podemos desenvolver argumentos igualmente válidos para sustentar pontos de vista rigorosamente opostos:

A vida humana é um bem soberano que ninguém tem o direito de retirar; Um feto é um ser humano que ainda não nasceu; Logo, ninguém tem direito de realizar um aborto

Uma vida sem um mínimo de condições materiais e emocionais não vale a pena ser vivida; uma mulher que considere não poder dar ao filho um mínimo de condições materiais e emocionais tem o direito de não lhe dar a vida; logo, essa mulher tem o direito de realizar um aborto

5.4) IMPLICAÇÃO LÓGICAAlém do que é explicitamente dito, uma proposição ou argumento têm aspectos implícitos que podem ser logicamente deduzidos.

"Pessoas com problemas hormonais têm tendência a engordar" (indica que todas as pessoas com problemas hormonais têm tendência a engordar, mas nada informa sobre as que não têm esses problemas)

"Só pessoas com problemas hormonais têm tendência a engordar" (afirma que quem não pertence à primeira classe não terá tendência a engordar, mas não implica que quem pertence venha necessariamente a ter)

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6 - O SILOGISMO

- É um argumento padrão, composto por duas premissas e uma conclusão. É um artifício para reduzir um argumento à sua estrutura mínima, permitindo investigar a sua validade. Do mesmo modo que a proposição, o silogismo pode ser expresso por meio de diagramas.

PREMISSA MAIOR: Todos os homens são mortaisPREMISSA MENOR: Sócrates é homemCONCLUSÃO: Sócrates é mortal

Sócrates e mortal são extremos, homem é o termo médio. Se quero provar que Sócrates é mortal recorro a um termo que faz a ligação entre uma premissa verdadeira (ou aceita pelo interlocutor) e a conclusão a que quero chegar.

FALÁCIAS FORMAISA partir de uma dada premissa, podemos elaborar silogismos válidos e falaciosos. Falácias são raciocínios inválidos, que freqüentemente parecem válidos. O termo deriva do latim fallere, que significa enganar. As falácias são formais quando as premissas não conduzem necessariamente à conclusão. O recurso aos diagramas nos ajuda a verificar se um silogismo é válido ou falacioso:

Todos os surfistas são felizesJoão é surfistaJoão é feliz

Válido: Como o conjunto dos surfistas está incluído no conjunto das pessoas felizes, se João pertence ao primeiro está necessariamente incluído no segundo.

Todos os surfistas são felizesJoão não é felizJoão não é surfista

Válido: Como o conjunto dos surfistas está incluído no conjunto das pessoas felizes, se João está excluído do segundo está necessariamente excluído do primeiro.

Todos os surfistas são felizesJoão não é surfistaJoão não é feliz

Inválido: o fato de que todos os sufistas são felizes não implica que apenas eles o sejam. Nada impede João, mesmo não sendo surfista, de pertencer ao segundo conjunto.

Todos os surfistas são felizesJoão é feliz

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João é surfista

Inválido: o fato de que todos os surfistas são felizes não implica que o inverso seja verdadeiro; saber que João pertence ao segundo conjunto não basta para sabermos se pertence ao primeiro.===============OUTROS EXEMPLOS DE FALÁCIAS FORMAIS:

Todos os homens são mortaisTodos os insetos são mortaisTodos os insetos são homens

Inválido: o fato de todos os insetos pertencerem à classe dos mortais nada nos informa sobre sua relação com a classe dos homens

Todos os corruptos são mausAlguns políticos são corruptosTodos os políticos são maus

Inválido. Para ser válido, o silogismo deveria concluir apenas que alguns políticos são maus, a saber, os mesmos que fossem corruptos.

Todos os filósofos são sábiosTodos os sábios são homensTodos os homens são sábios

Inválido: A única conclusão válida nesse caso seria "todos os filósofos são homens".

Os cariocas são brasileirosAlguns brasileiros são analfabetosAlguns cariocas são analfabetos

Inválido: não se pode saber qual a relação entre a classe dos brasileiros que são analfabetos e a classe dos cariocas.

Alguns carros que circulam no Brasil são importadosAlguns objetos importados são tailandesesAlguns carros que circulam no Brasil são tailandeses

Inválido: embora essa conclusão possa ser verdadeira do ponto de vista material (alguns carros podem de fato ser tailandeses), o silogismo não é válido do ponto de vista formal: não se pode saber qual a relação entre a classe dos carros e a dos objetos tailandeses .

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7 - FALÁCIAS INFORMAIS E SOFISMAS

As falácias são informais quando o problema reside nas premissas, em argumentos que podem ser formalmente válidos. Quando utilizadas intencionalmente, com o objetivo de confundir o interlocutor, chamam-se sofismas. A distinção entre falácias e sofismas corresponde assim à distinção entre erro (involuntário) e mentira (voluntária).

FALSA CAUSA (POST HOC)Atribui erroneamente a um fenômeno a causa de outro. A simples correlação entre dois fenômenos é insuficiente para caracterizar uma relação de causalidade, pois pode se tratar de uma coincidência ou ambos podem ter uma causa comum. Diante de um quadro de sarampo, pode-se acreditar que a febre provocou a erupção cutânea, mas são ambos efeito do sarampo. Todas as superstições, sonhos premonitórios etc. Ocorre também na publicidade: “pessoas bem sucedidas se vestem bem. Logo, se eu me vestir bem, serei bem sucedido.”Está presente também na anedota do marido que, descobrindo que sua mulher o traía com o amante no sofá da sala, tira imediatamente o sofá.

AD HOMINEMSignifica literalmente "contra o homem". Desqualifica um argumento criticando a pessoa que o formulou. Muitas afirmações preconceituosas têm esta característica.:

"Esse pacote econômico não pode ser boa coisa, vindo de quem veio"; "Não li o seu texto, mas deve ser péssimo como os demais" . O argumento ad hominem pode ser menos evidente, quando em lugar de censurar abertamente o interlocutor, procura-se associá-lo a pessoas facilmente criticáveis. "Você acha que devemos combater a igreja? Hitler e Stalin teriam concordado com você"."Claro que você é contra o feminismo. É bem típico de um homem machista".

FALSA ANALOGIAA conclusão é válida para o exemplo original, mas não necessariamente para o caso em questão. Ao contrário da analogia legítima, ocorre quando as semelhanças são irrelevantes para a questão.

"A filha de fulano não pode ser bom caráter. Goiabeira dá goiaba, mangueira dá manga""Você compraria uma escova de dentes recondicionada? Um amortecedor recondicionado é mais perigoso ainda" (propaganda da COFAP)"Você pediria pizza num restaurante japonês? Então, por que aprender espanhol num curso de Inglês?""A prostituição não tem nada de mais, já que as pessoas pagam para comer, que também é uma função vital" Todo recuso à natureza para fundamentar conclusões sobre o comportamento humano constitui uma falsa analogia, pois o homem é um animal social e cultural.

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"A monogamia não é natural; os animais não se mantêm fiéis a um único parceiro ao longo da vida""O mundo natural se caracteriza por uma luta pela sobrevivência a qualquer preço; o capitalismo, com sua luta de classes, é inteiramente natural"

AD VERECUNDIAM (AUTORIDADE FORA DA ÁREA EM QUESTÃO)Caracteriza-se pelo recurso a uma autoridade que não tem competência no assunto em questão. A publicidade recorre muito a essa falácia. Pelé: “Tome Vitasay” "Einstein era um gênio e acreditava em deus"É preciso lembrar que o argumento de autoridade, quando utilizado adequadamente, não é uma falácia. Assim, citar a "opinião" de um físico sobre buracos negros para fundamentar uma teoria é inteiramente legítimo.

APELO À PIEDADE (AD MISERICORDIAM)Diante da ausência de argumentos, apela-se à piedade do interlocutor:"Meu relatório não pode estar ruim porque passei noites em claro para prepará-lo""Você não pode me demitir porque tenho 3 filhos para sustentar""Professor, você não pode me reprovar porque tenho que me formar no fim do ano"

ARGUMENTO DE FORÇA (AD BACULUM )Na ausência de um argumento racional, recorre-se à ameaça, à pressão ou à chantagem: "Vá ao cinema se quiser, mas depois não reclame se seu pai puser você de castigo". "Eu decido quem vai jogar no meu time porque a bola é minha"Churchil na guerra, ao saber que o Papa era contra o desembarque na Normandia: "quantas divisões tem o Papa para combater?"

PERGUNTA COMPLEXACria um falso vínculo entre duas questões, associando uma controvertida a outra aparentemente óbvia: “Você é favorável a interromper o sofrimento humano, aprovando a lei da eutanásia?” Você bateria em uma criança com um tijolo?" "Você foi com seu amante ao cinema?"

Se respondemos apenas "sim" ou "não" (à segunda pergunta), parecemos estar admitindo implicitamente a primeira. Para evitar a falácia, a pessoa que responde deve desmembrar as perguntas

AD POPULUM (APELO AO POVO)Argumento que invoca a maioria ou totalidade das pessoas como prova. A cultura de massa de modo geral, e a publicidade em especial, incorrem freqüentemente nesse tipo de falácia.

"9 entre 10 estrelas de cinema usam Lux" "Você não vai ser o último a ter um celular, vai?" "Todo mundo sabe que Coca é melhor do que Pepsi" ; OMO é o sabão em pó preferido pelas donas de casa"

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O fato de que "todo mundo faz" ou "todo mundo sabe" é incapaz de justificar o que quer que seja, pois todos podem "saber" ou fazer coisas erradas.

DICTO DIMPLICITER Toma uma exceção como se fosse a regra. A menina de 15 anos que diz, depois da primeira decepção amorosa "todos os homens são iguais" incorre nessa falácia. Outros exemplos:Comi pipoca e tive dor de barriga, logo pipoca dá dor de barriga (é também falsa causa)Pssaei de ano em Matemática sem estudar nada, logo não é preciso estudar para passar de ano.

GENERALIZAÇÃO APRESSADA Generaliza a partir de um certo número de casos sem admitir que haja exceções. Muitas afirmações preconceituosas têm essa característica. "Todo americano é racista""Fulano entrou para a seita X e ficou fanático. Você não deve deixar sua filha freqüentar as reuniões dessa seita."

IGNORÂNCIA DA QUESTÃO Afirma alguma conclusão como verdadeira (ou falsa) invocando a ausência de provas. É decorrente de uma indução ilegítima: “Não existe vida em outros planetas porque até hoje ninguém conseguiu descobrir provas disso”. "Deus não existe porque nunca ninguém provou sua existência". "Você não vai conseguir esse emprego porque você nunca foi aprovado em entrevistas de trabalho"No direito, a ignorância da questão não é considerada uma falácia devido ao princípio de presunção da inocência: todos são inocentes até prova em contrário. Não cabe ao réu provar que é inocente, mas à justiça provar que é culpado.

PETIÇÃO DE PRINCÍPIO (tautologia, argumento circular) Aquilo que se pretende provar na conclusão já é posto como premissa, com outras palavras: “Os assassinos merecem a pena de morte porque pessoas assim não merecem viver”. Ora, o que está em questão na pena de morte é justamente se certos criminosos não merecem viver. Usar esta afirmação como premissa é tomá-la como já aceita, quando é isso que se deve provar.Do mesmo modo, as seguintes frases: "O Professor não foi justo na correção, porque eu tirei 7 e merecia 10 ". "Não se sabe se há de vida em outros planetas, porque a existência de vida em outros planetas é duvidosa". "Dinheiro não traz felicidade porque a felicidade não se compra"

ÊNFASE A ênfase pode ocorrer na enunciação: "não devemos falar mal de nossos amigos".

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No caso da imprensa, pode decorrer do destaque gráfico ou visual; uma manchete de jornal que anuncia em letras garrafais "Maluf é ladrão" - e em letras bem menores - "afirma Leonel Brizola", incorre nesta falacia. Uma loja que anuncia Tudo a partir de 1,99 incorre nesta falácia, porque pode haver apenas um objeto por este preço e os demais serem caros

HIPÓTESE CONTRÁRIA AO FATOOcorre geralmente para demonstrar que as conseqüências seriam outras se determinado fato não tivesse ocorrido. É uma falácia porque outros fatores poderiam ter interferido no resultado: - "Se Ronaldinho não tivesse passado mal na final da Copa, o Brasil teria sido campeão".- Se o Brasil tivesse sido colonizado pelos holandeses, estaríamos muito melhor hoje"- "Se não tivesse havido o "impeachment" do Collor, Lula não seria hoje presidente"

No caso de um fenômeno que tenha causa necessária e suficiente, não se trata de uma falácia. "se meu pai e minha mãe não tivessem se encontrado, eu não teria nascido" - é um argumento válido porque o nascimento de alguém depende necessariamente dessa causa.

FALÁCIA DO EUFEMISMOAfasta um sentido indesejável de uma proposição substituindo o termo por um outro aparentemente inócuo. É uma falácia porque atenua ou esconde o sentido verdadeiro, tornando aceitável uma conclusão que de outro modo não seria aceita.Importador da economia informal = contrabandistaProfissional do sexo = prostituta1, 99 = 2,00

FALSO DILEMA Apresenta duas alternativas quando de fato há outras, ou uma gradação entre ambas: “Se um aluno gosta de estudar, não precisa de estímulo; se não gosta, o estímulo é inútil. Mas um aluno ou gosta ou não gosta de estudar. Logo, o estímulo ou é inútil ou desnecessário” - "Se trabalho, ganho dinheiro; se não trabalho, me divirto. Ou trabalho, ou não trabalho. Logo, ou ganho dinheiro ou me divirto"

O debate sobre questões éticas freqüentemente recai em falsos dilemas: aborto; cobaias animais; clonagem humana

Se a maioria dos países mantêm a paz, a ONU é desnecessária; se a maioria dos países faz guerra, a ONU é impotente; ou a maioria dos países está em paz ou em guerra; logo, a ONU é inútil ou impotente.

FALACIA DE COMPOSIÇÃO

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Confunde as partes com o todo, tomando uma propriedade das partes como propriedade do todo; confunde o uso coletivo com o distributivo: o que é verdade para um conjunto tomado distributivamente não é necessariamente válido para o mesmo conjunto tomado coletivamente.

- Se um ônibus gasta mais gasolina que um automóvel, o conjunto dos ônibus gasta mais gasolina do que o conjunto dos automóveis

O trator é composto por peças. Todas as peças são leves, logo o trator é leve

Os acidentes de carro estão aumentando; Os Fiats brancos são carros; logo, os acidentes com Fiats brancos estão aumentando

FALÁCIA DE DIVISÃOÉ o mesmo princípio da falácia de composição, no percurso inverso. Algo que é verdadeiro para o todo não é necessariamente verdadeiro para cada uma das partes.

O mico-leão dourado está desaparecendo; Este animal é um mico-leão dourado; Este animal está desaparecendo

O queijo suíço tem buracos; Quanto mais queijo, mais buracos (coletivo)Quanto mais buracos, menos queijo (individual)Quanto mais queijo, menos queijo

"Paris é a cidade mais bela do mundo; minha rua é a mais bela de Paris; minha casa é a mais bela da rua; sou o homem mais belo da minha casa. Logo, sou o homem mais belo do mundo".