possibilidade de detecção directa de buracos negros por ......buracos negros. É possível...

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Departamento de Matemática e Engenharias Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por radiação electromagnética José Laurindo de Góis Nóbrega Sobrinho Revisão da Tese submetida para satisfação parcial dos requisitos das Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica para habilitação à Categoria de Assistente

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Page 1: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Departamento de Matemática e Engenharias

Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros

por radiação electromagnética

José Laurindo de Góis Nóbrega Sobrinho

Revisão da Tese submetida para satisfação parcial dos requisitos das Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica para habilitação à Categoria de Assistente

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Abstract

Os buracos negros são objectos previstos pela Teoria da Relatividade

Geral. São conhecidos actualmente vários candidatos a buraco negro, todos

eles identificados a partir de processos indirectos, que vão desde os de

massa estelar (1-102M ) aos supermassivos (106-1010M ). Embora não se

conheça nenhum candidato a buraco negro de massa subestelar (<1M ), nem

nenhum processo capaz de os produzir no Universo actual, é provável que

estes tenham sido produzidos nos primórdios do Universo.

Os buracos negros também emitem radiação própria composta por

fotões, gravitões e, em fases mais avançadas, partículas com massa. Esta

radiação de corpo negro, designada por radiação de Hawking, é, ao que

sabemos, o único processo pelo qual poderemos detectar directamente

buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro

electromagnético um buraco negro podendo assim falar-se em buracos

negros rádio, infravermelhos, visíveis, ultravioletas, de raios X e de raios

gama.

Neste trabalho determinámos a distância máxima, d, à qual se poderá

detectar, dentro dos limites técnicos actuais, a componente electromagnética

da radiação de Hawking. Foram considerados buracos negros com massas

desde as 106M (buraco negro rádio) a 10-38M (buraco negro de raios

gama) onde se incluem buracos negros na fase final da evaporação (tempos

de evaporação inferiores a 1 ano).

Concluímos que os buracos negros rádio, infravermelhos, visíveis e

ultravioletas apenas podem ser detectados em experiências de tipo

laboratorial, quer na Terra, quer no Espaço (d<103km). Os buracos negros

de raios X podem ser detectados até distâncias comparáveis à da Terra-Lua.

Finalmente os buracos negros de raios gama (em fase final de evaporação)

são detectáveis, nos raios gama, a distâncias que podem ir até aos 85 anos

luz.

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Índice

Lista de Figuras vii

Lista de Tabelas ix

Lista de Fórmulas x

Acrónimos xv

Prefácio xvii

Dedicatória xxi

1 Buracos negros 1

1.1 Introdução.................................................................................. 1

1.2 Propriedades.............................................................................. 3

1.2.1 Buracos Negros de Schwarzschild................................. 3

1.2.2 Geodésicas no espaço-tempo de Schwarzschild............ 5

1.2.3 Desvio gravitacional para o vermelho........................... 8

1.2.4 Conversão de massa em energia radiativa..................... 9

1.2.5 Captura de partículas..................................................... 10

1.2.6 Ângulo de captura de fotões.......................................... 12

1.2.7 Outros tipos de buracos negros...................................... 14

1.2.8 Termodinâmica de Buracos Negros............................... 19

1.3 Formação................................................................................... 22

1.3.1 Buracos negros estelares................................................ 22

1.3.2 Buracos negros primordiais........................................... 23

1.3.3 Buracos negros supermassivos...................................... 25

1.3.4 Evolução de um buraco negro....................................... 26

1.4 Processos de detecção indirecta................................................. 27

1.4.1 Acreção esférica de matéria........................................... 27

1.4.2 Buracos Negros em sistemas binários........................... 33

1.4.3 Microlentes gravitacionais............................................. 39

1.4.4 Dinâmica estelar e do gás ionizado............................... 42

1.4.5 Masers............................................................................ 44

2 Radiação de Hawking 45

2.1 Emissão de radiação por buracos negros................................... 45

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2.2 Emissão de radiação de Hawking por buracos negros com

carga eléctrica ou com rotação.................................................. 53

2.3 Emissão de radiação de Hawking por buracos negros

uniformemente acelerados........................................................ 54

2.4 Emissão partículas com massa................................................... 59

2.5 Evaporação de um buraco negro................................................ 60

2.6 Explosões de buracos negros..................................................... 62

2.7 Destino final de um buraco negro.............................................. 65

3 Identificação de objectos candidatos a buraco negro 67

3.1 Buracos negros supermassivos.................................................. 67

3.1.1 Via Láctea...................................................................... 69

3.1.2 M106 (NGC 4258)......................................................... 70

3.1.3 M31 (NGC 224)............................................................. 71

3.1.4 NGC 3115...................................................................... 73

3.1.5 M87 (NGC 4486)........................................................... 73

3.1.6 O contra-exemplo M33.................................................. 74

3.2 Buracos Negros de massa intermédia........................................ 74

3.3 Buracos negros estelares em sistemas binários......................... 75

3.3.1 Cyg X-1......................................................................... 78

3.3.2 A0620-00....................................................................... 79

3.3.3 O contra-exemplo CAL 87............................................ 79

3.4 Buracos negros de massa estelar isolados................................. 80

3.4.1 Radiação emitida na acreção esférica............................ 80

3.4.2 Buracos negros como microlentes................................. 80

3.4.3 Surgimento de buracos negros em supernovas.............. 81

4 A possibilidade de detecção directa de buracos negros 85

4.1 Buracos negros de Schwarzschild............................................. 85

4.2 Buracos negros e o espectro electromagnético.......................... 90

4.3 Possibilidade de detecção directa de buracos negros (teórica).. 94

4.4 Possibilidade de detecção directa de buracos negros (limites

técnicos actuais)......................................................................... 96

4.4.1 Rádio.............................................................................. 96

4.4.2 Infravermelho................................................................ 102

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4.4.3 Visível............................................................................ 105

4.4.4 Ultravioleta.................................................................... 112

4.4.5 Raios X.......................................................................... 113

4.4.6 Raios gama..................................................................... 119

4.4.7 Buracos negros em fase terminal................................... 121

4.4.8 Emissão de partículas com massa e raios gama

secundários.................................................................... 125

4.5 Análise e discussão de resultados.............................................. 128

4.5.1 Dos buracos negros rádio aos buracos negros de raios

gama............................................................................... 128

4.5.2 Distância máxima de detecção versus raio de

Schwarzschild................................................................ 132

4.5.3 Buracos negros terminais............................................... 137

4.5.4 Raios gama secundários................................................. 138

5 Conclusão 141

Referências 145

A Geodésicas na vizinhança de um buraco negro de

Schwarzschild 151

A.1 Geodésicas radiais nulas........................................................... 151

A.2 Geodésicas radiais para partículas com massa......................... 152

A.3 Geodésicas nulas não radiais.................................................... 153

A.4 Geodésicas não radiais para partículas com massa................... 154

B Disco de acreção de matéria geometricamente finos 159

B.1 Formação de um disco de acreção............................................ 159

B.2 Dinâmica geral do disco........................................................... 160

B.3 Viscosidade............................................................................... 162

B.4 Densidade superficial de matéria.............................................. 164

B.5 A altura do disco....................................................................... 166

B.6 Estrutura radial.......................................................................... 168

B.7 Dissipação de energia no disco................................................. 170

B.8 Luminosidade do disco............................................................. 172

B.9 Partição do disco....................................................................... 173

B.10 Estrutura vertical e temperatura.............................................. 175

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B.11 Espectro emitido..................................................................... 177

B.12 Espectro integral da radiação emitida..................................... 179

C Efeito de lente gravitacional 173

D Partículas elementares 189

E Radiação do corpo negro 191

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Lista de Figuras

1.1 Estrutura do buraco negro de Schwarzschild.................................................... 4

1.2 Parâmetro de impacto de uma partícula........................................................... 11

1.3 Ângulo entre a direcção de propagação do fotão e a componente radial da

velocidade........................................................................................................ 12

1.4 Captura de fotões por um buraco negro........................................................... 13

1.5 Estrutura dos buracos negros de Reissner-Nordström..................................... 15

1.6 Estrutura dos buracos negros de Kerr.............................................................. 18

1.7 Os vários tipos de buracos negros................................................................... 19

1.8 Massa e natureza dos restos estelares em função da massa estelar inicial...... 23

1.9 Perturbação de densidade no Universo primordial.......................................... 24

1.10 Diagrama de Rees para a formação de buracos negros supermassivos........... 26

1.11 Espectro emitido na acreção esférica por um buraco negro numa região HII.. 30

1.12 Espectro emitido na acreção esférica por um buraco negro numa região HI.... 30

1.13 Espectro da emissão de radiação de sincotrão resultante da acreção esférica

por um buraco negro numa região HII.............................................................. 32

1.14 Transferência de matéria num sistema binário via ponto de Lagrange L1....... 34

1.15 Transferência de matéria num sistema binário via vento estelar..................... 34

1.16 Ângulo de inclinação de um sistema binário................................................... 38

1.17 Anel de Einstein............................................................................................... 40

1.18 Variação de magnitude provocada por uma lente gravitacional...................... 41

2.1 Formação de pares partícula-antipartícula junto ao horizonte de

acontecimentos................................................................................................. 47

2.2 Espectro de radiação do corpo negro............................................................... 52

2.3 Observador uniformemente acelerado no espaço-tempo de Minkowski......... 55

3.1 Evolução de 6 estrelas no centro da Galáxia................................................... 71

3.2 A região central de NGC 4258........................................................................ 72

3.3 Curvas para a determinação da massa de MACHO-96-BLG-5 e MACHO-

98-BLG-6......................................................................................................... 82

3.4 Curva para a determinação da massa de MACHO-99-BLG-22...................... 82

4.1 Temperatura de buracos negros de Reissner-Nordström e de Kerr................. 86

4.2 Temperatura de buracos negros de Kerr-Newmann........................................ 86

4.3 Horizontes de um buraco negro de Schwarzschild uniformemente acelerado.. 87

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4.4 Temperatura de um buraco negro de Schwarzschild uniformemente

acelerado.......................................................................................................... 88

4.5 Aceleração permitida aos buracos negros de Kerr........................................... 88

4.6 Temperatura de buracos negros de Kerr uniformemente acelerados............... 89

4.7 Espectro electromagnético............................................................................... 91

4.8 Representação de um buraco negro de Schwarzschild em tamanho real.......... 94

4.9 Buracos negros visíveis................................................................................... 94

4.10 Variação da luminosidade por unidade de frequência com o raio de

Schwarzschild.................................................................................................... 99

4.11 Distância máxima para a detecção da radiação de Hawking nos 20m............ 100

4.12 Distância máxima para a detecção da radiação de Hawking nos 4m.............. 101

4.13 Distância máxima para a detecção da radiação de Hawking nos 3.6cm.......... 102

4.14 Distância máxima para a detecção da radiação de Hawking no

infravermelho................................................................................................... 106

4.15 Distância máxima para a detecção da radiação de Hawking no visível.......... 108

4.16 Distância máxima para a detecção da radiação de Hawking a olho nu........... 112

4.17 Distância máxima para a detecção da radiação de Hawking no ultravioleta... 115

4.18 Distância máxima para a detecção da radiação de Hawking nos raios X........ 118

4.19 Distância máxima para a detecção da radiação de Hawking nos raios gama.. 122

4.20 Função f(M) para a evaporação de buracos negros......................................... 123

A.1 Geodésicas radiais para fotões......................................................................... 152

A.2 Tempo próprio e tempo coordenada................................................................ 154

A.3 Função potencial para os fotões....................................................................... 155

A.4 Função potencial para partículas com massa................................................... 156

B.1 Evolução da densidade superficial de matéria num disco de acreção............. 167

B.2 Taxa de dissipação de energia num disco de acreção...................................... 174

B.3 Partição radial de um disco de acreção fino.................................................... 175

B.4 Variação da temperatura do disco na perpendicular........................................ 178

B.5 Espectro de emissão formado na superfície do disco de acreção.................... 179

B.6 Radiação emitida pelo disco de acreção para diferentes taxas de acreção...... 181

C.1 Desvio de um raio de luz por um corpo........................................................... 184

C.2 Buraco negro como lente gravitacional........................................................... 186

C.3 Disco de acreção e o efeito de lente gravitacional........................................... 187

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Lista de Tabelas

3.1 Galáxias com candidatos a buraco negro supermassivo.................................. 68

3.2 Candidatos a buraco negro de massa intermédia............................................. 75

3.3 Os 21 mais fortes candidatos a buraco negro de massa estelar em binários.... 77

4.1 Lista de 50 buracos negros de Schwarzschild (desde os supermassivos aos

de dimensão Planckiana)................................................................................. 92

4.2 Distâncias de detecção de buracos negros no rádio......................................... 97

4.3 Distâncias de detecção de buracos negros no infravermelho.......................... 104

4.4 Sensibilidades dos filtros R, V e B.................................................................. 107

4.5 Distâncias de detecção de buracos negros no óptico....................................... 109

4.6 Magnitude absoluta de buracos negros............................................................ 111

4.7 Distâncias de detecção de buracos negros no ultravioleta............................... 114

4.8 Distâncias de detecção de buracos negros em raios X..................................... 117

4.9 Distâncias de detecção de buracos negros em raios gama............................... 120

4.10 Tempo de evaporação de buracos negros........................................................ 124

4.11 Emissão de neutrinos e leptões por buracos negros......................................... 126

4.12 Distância para a observação de buracos negros a partir da detecção de raios

gama secundários............................................................................................. 127

4.13 Lista dos telescópios considerados.................................................................. 129

4.14 Distâncias máximas para a detecção dos buracos negros da Tabela 4.1 nas

várias bandas do espectro electromagnético.................................................... 133

4.15 Distâncias máximas para a detecção de buracos negros.................................. 134

4.16 Buracos negros detectáveis a pelo menos 10 raios de Schwarzschild de

distância........................................................................................................... 136

4.17 Comparação entre as distâncias para a detecção de raios gama primários e

secundários....................................................................................................... 139

D.1 Leptões e hadrões............................................................................................ 190

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x

Lista de Fórmulas

1.1 Métrica de Schwarzschild............................................................................ 3

1.2 Massa geometrizada..................................................................................... 3

1.3 Raio de Schwarzschild................................................................................. 3

1.4 Tensor métrico na forma covariante............................................................. 4

1.5 Passagem do tensor métrico para a forma contravariante............................ 4

1.6 Tensor métrico na forma contravariante....................................................... 5

1.7 Lagrangeano para o espaço-tempo de Schwarzschild.................................. 5

1.8 Integral do movimento E (energia) ............................................................. 5

1.9 Integral do movimento L (momento angular azimutal) .............................. 5

1.10 Momento radial Pr........................................................................................ 6

1.11 Integral do movimento δ.............................................................................. 6

1.12 Equação radial para o movimento no espaço-tempo de Schwarzschild....... 6

1.13 Função potencial para o movimento no espaço-tempo de Schwarzschild... 6

1.14 Raio da órbita circular instável para partículas materiais no espaço-tempo

de Schwarzschild.......................................................................................... 7

1.15 Raio da órbita circular estável para partículas materiais no espaço-tempo

de Schwarzschild.......................................................................................... 7

1.16 Variação da coordenada radial r com a coordenada angular ϕ no espaço-

tempo de Schwarzschild............................................................................... 7

1.17 Desvio gravitacional para o vermelho.......................................................... 9

1.18 Parâmetro de impacto................................................................................... 10

1.19 Secção de choque para a captura de partículas............................................. 11

1.20 Componente azimutal da velocidade de um fotão........................................ 12

1.21 Equação radial para fotões........................................................................... 12

1.22 Parâmetro de impacto do fotão em função da massa................................... 13

1.23 Ângulo para a captura de fotões por um buraco negro................................. 13

1.24 Métrica de Kerr na forma de Boyer-Lindquist............................................. 15

1.25 Função ρ da métrica de Kerr........................................................................ 16

1.26 As coordenadas cartesianas (x,y,z) e as coordenadas da métrica de Kerr.... 16

1.27 Singularidade de um buraco negro de Kerr.................................................. 16

1.28 Horizonte de acontecimentos exterior num buraco negro de Kerr............... 17

1.29 Horizonte de acontecimentos interior num buraco negro de Kerr............... 17

1.30 Superfície do limite estacionário num buraco negro de Kerr....................... 17

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xi

1.31 Relação entre carga eléctrica e momento angular num buraco negro de

Kerr-Newmann............................................................................................. 18

1.32 Área de um buraco negro de Kerr-Newmann............................................... 20

1.33 Primeira Lei da Termodinâmica para buracos negros.................................. 21

1.34 Massa inicial dos buracos negros primordiais.............................................. 25

1.35 Equação da continuidade.............................................................................. 28

1.36 Equação de Euler.......................................................................................... 28

1.37 Equação da entropia..................................................................................... 28

1.38 Luminosidade emititda na acreção esférica, por um buraco negro, numa

região HII..................................................................................................... 29

1.39 Eficiência da conversão entre massa e energia na acreção de matéria por

um buraco negro........................................................................................... 31

1.40 Luminosidade resultante da emissão de sincotrão na acreção esférica, por

um buraco negro numa região HII............................................................... 31

1.41 Terceira Lei de Kepler.................................................................................. 37

1.42 Terceira Lei de Kepler incluindo o ângulo de inclinação do binário........... 38

1.43 Função de massa de um sistema binário...................................................... 39

1.44 Raio do Anel de Einstein (adaptado a buracos negros)................................ 39

1.45 Tempo de atravessamento do Anel de Einstein............................................ 40

1.46 Ampliação por uma microlente gravitacional.............................................. 40

1.47 Velocidade transversal de uma lente gravitacional...................................... 41

1.48 Massa de uma lente gravitacional................................................................ 42

1.49 Massa de um buraco negro supermassivo a partir da dinâmica estelar........ 42

1.50 Raio de influência de um buraco negro (supermassivo).............................. 44

1.51 Resolução relativa das observações de buracos negros supermassivos....... 44

2.1 Princípio da Incerteza de Heisenberg........................................................... 46

2.2 Integral da energia de um fotão criado num par partícula-antipartícula...... 48

2.3 Tempo para um referencial (partícula) atingir o horizonte de

acontecimentos............................................................................................. 49

2.4 Energia do fotão para um observador local.................................................. 49

2.5 Energia do fotão para um observador local (em função do 4-momento)..... 49

2.6 Energia do fotão ao atingir o infinito........................................................... 50

2.7 Relação entre energia cinética e temperatura............................................... 50

2.8 Temperatura de um buraco negro em unidades geometrizadas.................... 51

2.9 Temperatura de um buraco negro em unidades não geometrizadas............. 51

2.10 Temperatura de um buraco negro em função da massa (massas solares).... 51

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xii

2.11 Lei de Wien.................................................................................................. 52

2.12 Temperatura de um buraco negro em função da gravidade superficial........ 53

2.13 Gravidade superficial de um buraco negro de Kerr-Newmann.................... 53

2.14 Temperatura de um buraco negro de Kerr-Newmann.................................. 53

2.15 Temperatura de um buraco negro de Kerr.................................................... 54

2.16 Temperatura de um buraco negro de Reissner-Nordström........................... 54

2.17 Temperatura registada por um observador de Rindler................................. 54

2.18 Métrica para o espaço-tempo de Rindler...................................................... 55

2.19 Métrica C para um buraco negro com rotação e aceleração uniforme......... 56

2.20 Função ∆ presente na métrica C................................................................... 56

2.21 Horizontes para um buraco negro de Kerr uniformemente acelerado.......... 56

2.22 Horizonte de Rindler de um buraco negro de Schwarzschild

uniformemente acelerado............................................................................. 57

2.23 Horizonte de acontecimentos de um buraco negro de Schwarzschild

uniformemente acelerado............................................................................. 57

2.24 Função Θ (presente nas expressões dos horizontes de um buraco negro de

Schwarzschild uniformemente acelerado).................................................... 58

2.25 Temperatura sobre os horizontes de um buraco negro uniformemente

acelerado....................................................................................................... 58

2.26 Limitações da aceleração de um buraco negro de Schwarzschild................ 58

2.27 Limitações da aceleração de um buraco negro de Kerr................................ 58

2.28 Comprimento de onda de Compton.............................................................. 59

2.29 Massa do buraco negro a partir da qual passam a ser emitidas partículas

com uma determinada massa........................................................................ 60

2.30 Luminosidade do corpo negro...................................................................... 60

2.31 Luminosidade de um buraco negro.............................................................. 60

2.32 Taxa de evaporação de um buraco negro..................................................... 61

2.33 Tempo de evaporação de buracos negros..................................................... 61

2.34 Taxa de emissão de mesões π por um buraco negro.................................... 63

2.35 Taxa de emissão de fotões gama secundários por um buraco negro............ 63

4.1 Densidade de fluxo da radiação emitida por um corpo negro..................... 95

4.2 Relação entre densidade de fluxo e distância............................................... 95

4.3 Densidade de fluxo em função do raio de Schwarzschild............................ 95

4.4 Distância (máxima) para a detecção da radiação de Hawking..................... 96

4.5 Luminosidade por unidade de frequência.................................................... 99

4.6 Relação entre luminosidade e magnitude absoluta....................................... 107

Page 13: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

xiii

4.7 Relação entre luminosidade e fluxo............................................................. 107

4.8 Luminosidade na banda do visível............................................................... 110

4.9 Fluxo na banda do visível............................................................................. 110

4.10 Relação entre magnitude aparente, magnitude absoluta e distância............. 111

A.1 Equação para as geodésicas radiais nulas..................................................... 151

A.2 Variação do tempo coordenada nas geodésicas radiais nulas...................... 151

A.3 Equação para as geodésicas radiais de partículas com massa...................... 152

A.4 Velocidade de queda livre de uma partícula................................................. 152

A.5 Variação do tempo próprio nas geodésicas radiais de partículas com

massa............................................................................................................ 153

A.6 Variação do tempo coordenada nas geodésicas radiais de partículas com

massa............................................................................................................ 153

A.7 Potencial para as geodésicas nulas não radiais............................................. 154

A.8 Potencial para as geodésicas não radiais de partículas com massa.............. 154

B.1 Velocidade angular das partículas no disco................................................. 161

B.2 Componente Trϕ do tensor do stress viscoso................................................ 163

B.3 Componente Trϕ do tensor do stress viscoso em função da velocidade

angular.......................................................................................................... 164

B.4 Torque entre dois anéis do disco adjacentes................................................ 164

B.5 Densidade superficial num disco fino.......................................................... 165

B.6 Equação da continuidade para um disco de acreção.................................... 165

B.7 Equação de Navier-Stokes para um disco de acreção.................................. 165

B.8 Altura do disco de acreção........................................................................... 168

B.9 Taxa de acreção de matéria pelo disco......................................................... 169

B.10 Integração da equação de Navier-Stokes...................................................... 169

B.11 Factor de redução (potencial kepleriano)..................................................... 170

B.12 Relação entre densidade superficial, viscosidade e taxa de acreção............ 170

B.13 Taxa local de dissipação de energia no disco, por unidade de volume, em

função da viscosidade................................................................................... 171

B.14 Taxa local de dissipação de energia no disco, por unidade de volume,

cancelada a dependência da viscosidade...................................................... 171

B.15 Expressão geral para a luminosidade total do disco..................................... 172

B.16 Componente da aceleração gravítica normal ao plano do disco................... 176

B.17 Taxa de dissipação de energia no disco na direcção vertical....................... 176

B.18 Variação da temperatura no disco segundo a direcção vertical.................... 177

B.19 Luminosidade total do disco na banda do visível......................................... 180

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xiv

C.1 Equação radial com a coordenada radial reciproca u=1/r............................ 183

C.2 Solução da equação C.1 quando r>>2m....................................................... 184

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xv

Acrónimos

Constantes físicas

Velocidade da luz no vazio c=2.99792458×108ms-1

Constante de Planck h=6.62620×10-34Js

Carga elementar e=1.602189×10-19C

Número de Avogadro No=6.0221367×1023mol-1

Constante universal dos gases R=8.31441Jmol-1K-1

Constante de Boltzmann k=1.380662×10-23JK-1

Constante de Stefan-Boltzmann σ=5.66956×10-8Wm-2K-4

Constante da gravitação G=6.6742×10-11Nm2kg-2

Massa de Planck mp=5.456×10-8kg

Raio Solar R =6.9599×108m

Massa Solar M =1.989×1030kg

Luminosidade Solar L =3.826×1026W

Distâncias

UA - Unidade Astronómica; 1UA=1.495979×1011m

AL - Ano Luz; 1AL=9.460530×1015m

pc - parsec; 1pc=3.085678×1016m (≈3.26AL)

Distância (média) Terra-Lua ≈ 3.8×108m

Distância (média) Sol-Plutão ≈ 5.9×1012m (≈40UA)

Densidade de Fluxo

Jy (Jansky) 1Jy=10-26Wm-2s

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xvi

Abreviaturas

AGILE - Astro-revilatore Gamma a Immagini LEggero

EROS - Experience pour la Recherche d'Objets Sombres

FUSE - Far Ultraviolet Spectroscopic Explorer

GRB - Gamma Ray Burst

HESS - High Energy Stereoscopic System

HST - Huble Space Telescope

INTEGRAL - INTErnational Gamma-Ray Astrophysics Laboratory

MACHO - MAssive Compact Halo Objects

MASER - Microwave Amplification Stimulated Emission of Radiation

MDO - Massive Dark Object

N-XMM - Newton X-ray Multi-mirror Mission

OGLE - Optical Gravitational Lensing Experiment

PIH - Princípio de Incerteza de Heisenberg

QPO - Quasi Periodic Oscillations

SIRTF - Space InfraRed Telescope Facility

SOFIA - Stratospheric Observatory For Infrared Astronomy

TRG - Teoria da Relatividade Geral

VLA - Very Large Array

VLBI -

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xvii

Prefácio

Todos os candidatos a buraco negro conhecidos actualmente resultam de

evidências observacionais indirectas. A detecção da radiação de Hawking (radiação

própria emitida por um buraco negro) é, ao que sabemos, o único processo de detecção

directa de buracos negros. A motivação deste trabalho consiste em investigar se, dentro

dos limites técnicos actuais, é ou não possível detectar a componente electromagnética

da radiação de Hawking e, em caso afirmativo, a que distância e para que tipo de

buracos negros.

Os primeiros três capítulos são de revisão de literatura, com algumas partes

originais. No Capítulo 1 são introduzidos os buracos negros e descritas algumas das

suas principais propriedades. São resumidos os mecanismos de formação de buracos

negros e os principais processos de detecção indirecta. No Capítulo 2 é descrito o

mecanismo de emissão de radiação por buracos negros. É também discutida a emissão

de partículas com massa na fase final da evaporação de buracos negros. O Capítulo 3 é

dedicado à apresentação dos principais candidatos a buraco negro conhecidos

actualmente. Estes vão desde os buracos supermassivos (nos quais se encontram os

candidatos mais seguros) aos buracos negros estelares presentes em sistemas binários.

O Capítulo 4 é dedicado ao estudo da possibilidade de detecção, dentro dos limites

técnicos actuais, da radiação de Hawking emitida por buracos negros de Schwarzschild.

É considerada a detecção de buracos negros das mais variadas massas em comprimentos

de onda que vão desde o rádio aos raios gama. No Capítulo 5 são apresentadas as

conclusões.

Este trabalho é parte integrante das minhas Provas de Capacidade Científica e

Aptidão Pedagógica para a obtenção da categoria de Assistente no Departamento de

Matemática e Engenharias da Universidade da Madeira.

Sou licenciado em Física (Ramo Científico) pela Universidade da Madeira

(1994/95). Exerço actividade docente desde o ano lectivo de 1994/95, tendo passado

pelo departamento de Física da Universidade da Madeira, Escola Secundária de Jaime

Moniz, Escola Básica e Secundária de Machico e Departamento de Matemática (actual

Departamento de Matemática e Engenharias) da Universidade da Madeira onde estou

actualmente.

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xviii

Participei na conferência "New Trends in Geometrical and Topological Methods"

realizada na Universidade da Madeira (Agosto 1995) com a apresentação de um póster

intitulado "Space-Time Geometry of a Pair of Reissner-Nordström Black Holes" e no

6ºENAA (Encontro Nacional de Astronomia e Astrofísica) realizado na Universidade de

Évora com a apresentação dos pósteres "Geometria do Espaço-Tempo de um Par de

Buracos Negros de Reissner-Nordström" e "Escolha do local para a instalação de um

Observatório na Madeira" este último, integrado no Grupo STORM (Students Taking

Observational Research Measurements), foi eleito, pelos participantes, como o melhor

do encontro. Fui membro da organização do 11ºENAA realizado na Universidade da

Madeira (Julho 2001).

Apresentei nas 3 edições da Semana da Astronomia, realizadas pelo Grupo de

Astronomia da Universidade da Madeira, os cursos: "Buracos Negros" (2001), "A

Nossa Galáxia" (2001), "Os Buracos Negros" (2002) e "O buraco Negro no Centro da

Nossa Galáxia" (2003). Fui o organizador da III Semana da Astronomia (Julho 2003).

Durante o ano lectivo 2002/03 apresentei em várias escolas básicas e secundárias da

região uma palestra intitulada "Nós e o Universo".

Integrado no grupo STORM participei no trabalho de observação do seeing para a

selecção do melhor local da ilha para a instalação de um observatório óptico, em várias

sessões de observação (cometas Hyakutake e Hale-Bopp, Eclipses do Sol,...) e em

várias edições do programa Astronomia no Verão da FCT (Fundação para a Ciência e

Tecnologia).

A concretização desta tese não teria sido possível sem o apoio constante da minha

esposa Elda Sobrinho e dos meus pais, Alexandre Sobrinho e Esperança Gois, a quem

dedico o meu trabalho.

Agradeço ao Professor Doutor José Carmo, na qualidade de Presidente do

Departamento de Matemática e Engenharias (e orientador da componente pedagógica

destas provas) e ao Professor Doutor Pedro Augusto, na qualidade de Presidente do

Grupo de Astronomia da Universidade da Madeira (do qual também faço parte) e

orientador desta tese pela disponibilidade e apoio. Ao Dr. Angelino Gonçalves do

Grupo de Astronomia da Universidade da Madeira, pelas discussões e críticas

construtivas. De uma forma geral estou profundamente grato a todos os familiares,

colegas e amigos que directa ou indirectamente me ajudaram na realização deste

trabalho.

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xix

O texto desta tese foi escrito utilizando o Microsoft Word 2000 e as equações

foram construídas no Microsoft Equation Editor v3.01. Grande parte dos cálculos, bem

como a geração de gráficos, foram efectuados no Mathematica 4.1 (Wolfram Research).

Algumas das imagens foram construídas ou adaptadas com a ajuda do Microsoft Paint.

Foi feita uma consulta, quase permanente, da NASA Astrophysics Data System i e

também da Biblioteca de Astronomia e Astrofísica do Grupo de Astronomia da

Universidade da Madeiraii

José Laurindo de Gois Nóbrega Sobrinho

Outubro 2003

Durante a discussão da tese, que teve lugar 14 de Novembro de 2003 na

Universidade da Madeira, o arguente Professor Doutor José Pizarro de Sande Lemos, a

quem agradeço a disponibilidade e interesse, sugeriu algumas alterações. Após reunião

com o orientador Professor Doutor Pedro Augusto fiz a revisão da tese incluindo

algumas dessas alterações. Nomeadamente, a lista de exemplos de buracos negros que

antes terminava nos de dimensão comparável à do núcleo atómico, foi estendida até aos

buracos negros de dimensão planckiana. Os anexos referentes à acreção esférica por

buracos negros de Schwarzschild, existentes na versão original, foram retirados e serão

publicados em separado.

José Laurindo de Gois Nóbrega Sobrinho

Fevereiro 2004

i http://adswww.harvard.edu ii http://www.uma.pt/Investigacao/Astro/Biblioteca/index.htm

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xx

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xxi

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Buracos Negros 1

1 Buracos Negros

1.1 Introdução

Num artigo enviado em 1783 para a Philosophical Transactions da Royal Society

o reverendo e geólogo britânico John Michell argumentou que corpos com um raio 500

vezes superior ao do Sol e com uma densidade igual ou superior à deste não deixariam,

em virtude da sua atracção gravitacional, os seus próprios raios de luz escaparem sendo

assim invisíveis aos nossos sentidos (e.g. Lynden-Bell 2002)1.

Michell pensou em termos de velocidade de escape que é tanto maior quanto

maior for a massa do corpo (planeta, estrela,...) e tanto maior quanto menor for o

respectivo raio. Embora no caso da Terra o seu valor seja de apenas 11kms-1, numa

estrela de neutrões pode atingir 1.5×105kms-1, ou seja, metade da velocidade da luz.

Jogando com os valores do raio e da massa podemos imaginar (como Michell) uma

estrela cuja velocidade de escape seja superior à da luz. Essa estrela não seria visível por

um observador distante.

Esta foi uma espectacular previsão de uma das propriedades dos buracos negros:

aprisionar a luz e ser invisível. Todavia estas estrelas escuras não correspondem

exactamente à definição actual de buraco negro. Um corpo capaz de aprisionar a sua

própria luz não pode ser descrito pela teoria da gravitação de Newton. Em 1915 Albert

Einstein apresentou uma nova teoria, actualmente designada por Teoria da Relatividade

Geral (TRG), aplicável nessas situações.

Algumas provas experimentais da TRG foram surgindo com o decorrer dos anos.

Um eclipse total do Sol (1919) permitiu confirmar que este desvia os raios de luz

provenientes de estrelas distantes e que, além disso, o ângulo de desvio estava de acordo

com o previsto. O avanço do periélio do planeta Mercúrio é outra prova experimental da

TRG. A descoberta de imagens múltiplas de um quasar (1980) veio validar a previsão

da existência de lentes gravitacionais avançada por Einstein.

Pouco tempo decorrido após a publicação da TRG, Karl Schwarzschild chegou,

1 Numa monografia publicada em 1795, intitulada Systéme du Mond, o astrónomo e matemático francês

Pierre Laplace também descreveu a ideia de estrelas invisíveis recorrendo, embora sem o referir, aos

mesmos argumentos de Michell (e.g. Lynden-Bell 2002).

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Buracos Negros 2

baseando-se na mesma, à solução para o campo gravítico em torno de uma massa

esférica (Secção 1.2.1). Este resultado permitia descrever o campo em torno de estrelas

como o Sol ou ainda em torno de estrelas mais compactas como as anãs brancas e

estrelas de neutrões em relação às quais os efeitos relativistas são mais relevantes. O

que não ficou imediatamente evidente é que essa solução comportava também a

descrição de um objecto bem mais exótico: o buraco negro.

Os buracos negros são objectos previstos pela TRG. No entanto, eram objectos de

tal forma fora do comum que, na falta de qualquer evidência da sua existência, o seu

estudo não foi muito motivador ao longo de muitos anos. Apenas a descoberta de outros

objectos exóticos como os quasares (1963) e as estrelas de neutrões (1967) veio reavivar

o entusiasmo e o interesse pelo estudo dos buracos negros.

Desde então têm sido identificados vários candidatos a buraco negro. Em termos

de massa, estes vão desde os buracos negros estelares 1-102M (Secções 3.3 e 3.4),

espalhados pela nossa galáxia, até aos super buracos negros 106-1010M (Secção 3.1)

presentes nos núcleos de algumas galáxias incluindo a nossa. Toda esta selecção de

candidatos é feita a partir de observações indirectas (Secção 1.4).

No plano teórico conseguiram-se nas últimas décadas grandes desenvolvimentos

sobre as propriedades dos buracos negros e sobre a interacção dos mesmos com o meio

envolvente. Um dos resultados teóricos mais fascinantes aponta para a emissão de

radiação por buracos negros (Secção 2.1). Esta radiação, designada por radiação de

Hawking, inclui ondas electromagnéticas, ondas gravitacionais e, no caso de buracos

negros de menor massa, partículas com massa (Secção 2.4). A emissão de radiação de

Hawking leva à evaporação do buraco negro (Secção 2.5). Na fase final da evaporação

são emitidas grandes quantidades de raios gama num curto intervalo de tempo

assistindo-se, assim, à explosão do buraco negro (Secção 2.6).

A motivação deste trabalho consiste em analisar a possibilidade de detecção

directa de buracos negros (dentro dos limites técnicos actuais) a partir da componente

electromagnética da radiação emitida pelos mesmos. Pretende-se averiguar quais os

buracos negros mais favoráveis para a detecção (em termos de distâncias) e quais as

bandas do espectro mais favoráveis para a observação.

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Buracos Negros 3

1.2 Propriedades

1.2.1 Buracos negros de Schwarzschild

A solução de Schwarzschild resulta da resolução das equações do campo no vácuo

para um espaço-tempo com simetria esférica. Esta solução contém a descrição exacta de

um buraco negro sem carga e sem rotação: buraco negro de Schwarzschild. A métrica

correspondente, também conhecida por métrica de Schwarzschild, é normalmente

escrita, em coordenadas esféricas, como se segue (e.g. d' Inverno 1992):

22222222 dsinrdrdr

r

m21

1dt

r

m21ds ϕθ−θ−

−−

−=

(1.1)

onde t é o tempo-coordenada, s representa um intervalo de espaço-tempo e:

2c

GMm = (1.2)

surge como uma constante de integração das equações do campo. Aqui G é a constante

de gravitação universal, c é a velocidade da luz e M é a massa criadora do campo. É

usual o recurso a unidades geometrizadas onde G=c=1. É importante notar que m tem as

dimensões de uma distância.

A métrica (1.1) apresenta singularidades nos pontos r=0 e r=2m. No caso r=2m é

possível mostrar que a singularidade correspondente não é real, ou seja, não é uma

singularidade física (e.g. d' Inverno 1992). De facto, mediante uma transformação

adequada de coordenadas é possível remover esta singularidade. No caso r=0 não é

possível estabelecer qualquer transformação de coordenadas capaz de remover a

singularidade. Estamos perante uma singularidade real. A superfície r=2m corresponde

ao chamado horizonte de acontecimentos do buraco negro. O raio de um buraco negro

deste tipo, também designado por raio de Schwarzschild, é dado por:

2s c

GM2m2r == (1.3)

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Buracos Negros 4

Figura 1.1 - Estrutura do buraco negro de Schwarzschild

Ao ponto r=0 chamamos singularidade do buraco negro. Se extrapolarmos as

soluções das equações do campo para o interior do buraco negro, verifica-se que elas

acabam por quebrar na singularidade. Uma vez desenvolvida uma teoria quântica da

gravitação, talvez se possa substituir a ocorrência de uma singularidade por um estado

da matéria que agora desconhecemos. Seja como for, no presente estudo, estamos

interessados apenas em processos que ocorrem do lado de fora do horizonte de

acontecimentos e, portanto, longe da singularidade, onde a TRG é válida sem qualquer

restrição. Na Figura 1.1 está representada a estrutura do buraco negro de Schwarzschild.

Com os coeficientes da métrica (1.1) construímos o tensor métrico na forma covariante:

ji ,0g ;sinrg

rg ;r

m21g ;

r

m21g

ij22

33

222

1

1100

≠=−=

−=

−−=−=

(1.4)

onde os índices 0, 1, 2 e 3 correspondem, respectivamente às coordenadas t, r, θ e ϕ. O

tensor métrico na forma contravariante obtém-se a partir da relação:

( ) ij

3

0

ij gg =

=

(1.5)

onde ij representa a função delta de Kronecker. No caso da métrica de Schwarzschild

temos:

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Buracos Negros 5

ji ,0g ;sinr

1

g

1g ;

r

1

g

1g

;r

m21

g

1g ;

r

m21

g

1g

ij22

33

332

22

22

11

111

00

00

≠=−==−==

−−==

−==

(1.6)

1.2.2 Geodésicas no espaço-tempo de Schwarzschild

O trajecto mais curto entre dois pontos do espaço-tempo designa-se por linha

geodésica. As partículas livres deslocam-se sempre seguindo as geodésicas. As

equações das geodésicas podem obter-se a partir do Lagrangeano (e.g. Chandrasekhar

1983):

−=

222

22

2

2

gd

d)(Sinr

d

dr

r

m21

d

dr

d

dt

r

m21

2

1L

(1.7)

onde τ corresponde ao tempo próprio (tempo medido por um observador no referencial

da partícula) e t corresponde ao tempo coordenada (tempo medido por um observador

distante). No caso dos fotões τ deverá ser interpretado como um parâmetro afim.

No espaço-tempo de Schwarzschild as geodésicas são descritas num plano

invariante (e.g. Chandrasekhar 1983). Vamos escolher, por exemplo, o plano θ=90º.

O facto do Lagrangeano (1.7) não depender explicitamente das coordenadas t e ϕ

conduz aos seguintes integrais do movimento:

Ed

dt

r

m21

d

dt

LP g

t =

−=

∂= (1.8)

Ld

dr

d

d

LP 2g ==

∂−=

(1.9)

Podemos interpretar E como sendo a energia da partícula e L como a componente

do momento angular segundo um eixo normal ao plano invariante (tudo por unidade de

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Buracos Negros 6

massa). Considere-se também o momento radial:

d

dr

r

m21

1

d

dr

LP g

r

−=

∂−= (1.10)

O facto do Hamiltoneano coincidir com o Lagrangeano (e.g. Chandrasekhar 1983)

e não depender explicitamente do tempo coordenada conduz a um terceiro integral do

movimento, δ, tal que:

d

drP

d

dL

d

dtE r =−−

(1.11)

O valor de δ pode ser escalonado de forma a ser zero para o movimento de fotões

e igual à unidade para o movimento de partículas materiais (e.g. Chandrasekhar 1983).

Substituindo (1.8), (1.9) e (1.10) em (1.11) obtemos a seguinte equação radial:

+

−−=

2

22

2

r

L

r

m21E

d

dr(1.12)

Se, nesta equação, interpretarmos o membro do lado esquerdo como sendo a

energia cinética da partícula e E2 como a sua energia total, então:

( )

−=

2

22

r

L

r

m21rV (1.13)

será a respectiva energia potencial (tudo por unidade de massa). O movimento só será

permitido quando for E2≥V2. A partir desta condição podemos tirar uma série de

conclusões sobre o tipo de geodésicas permitido, tanto aos fotões como às partículas

materiais, nas imediações de um buraco negro de Schwarzschild.

Consideremos então um fotão que, partindo do infinito, desloca-se em direcção a

um buraco negro de Schwarzschild. Se este seguir uma trajectória radial (Secção A.1)

então, visto não existir qualquer barreira de potencial no seu caminho, acabará sendo

capturado. Se, por outro lado, o seu movimento não for na direcção radial então o fotão

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Buracos Negros 7

segue uma geodésica curvilínea condicionada por uma barreira de potencial (Secção

A.3). Se a energia do fotão for suficiente para vencer a barreira então este avança em

direcção ao horizonte de acontecimentos e é capturado. Caso contrário o fotão é

reflectido pela barreira de potencial, escapando, para longe (Figura A.3).

É também permitida aos fotões uma geodésica circular. Esta, situada em r=3m,

corresponde ao pico da barreira de potencial. A superfície esférica de raio r=3m é

designada por rotosfera. Fotões, provenientes do infinito, cuja energia seja igual ao

potencial em r=3m, descrevem uma geodésica espiral cuja curva tende para o círculo

r=3m. A órbita r=3m é no entanto instável. Um fotão que permaneça durante algum

tempo nessa órbita acabará mais cedo ou mais tarde por ser capturado pelo buraco negro

ou por escapar para o infinito.

No caso das partículas materiais o tipo de geodésicas permitido está condicionado

pelo valor do integral L (Secções A.2 e A.4). O caso mais interessante ocorre quando

12m2<L2. Neste caso o potencial (1.13) apresenta dois extremos relativos

correspondentes aos pontos:

−−=

2

22

max L

m1211

m2

Lr (1.14)

−+=

2

22

min L

m1211

m2

Lr (1.15)

Uma partícula material abandonada do infinito pode, dependendo da sua energia,

acabar sendo capturada pelo buraco negro ou reflectida pela barreira de potencial para

longe. Existe, como acontecia para os fotões, uma geodésica circular instável. O seu

raio, dado por (1.14), oscila, consoante o valor de L, entre os 3m e 6m. Existe ainda uma

geodésica circular estável cujo raio, dado por (1.15), é superior a 6m. São também

permitidas geodésicas elípticas estáveis (Figura A.4).

A equação que relaciona as coordenadas r e ϕ pode escrever-se, introduzindo

(1.9) em (1.12), na forma:

( ) mr2rL

mr2

L

rE

d

dr 22

3

2

42

2

+−δ+δ−=

ϕ(1.16)

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Buracos Negros 8

1.2.3 Desvio gravitacional para o vermelho

Consideremos um buraco negro de Schwarzschild de massa m e uma partícula

material de coordenada radial r1>2m. Vamos supor que essa partícula emite luz de um

dado comprimento de onda e que alguns desses raios de luz são captados por um

observador distante de coordenada radial r2>r1. O período de emissão em termos de

tempo próprio, que designaremos por dτ1, relaciona-se com o período de emissão em

termos de tempo-coordenada, que designaremos por dt1, através da seguinte relação (e.

g. Berman & Gomide 1987):

11

1 dtr

m21d −=τ

De modo análogo, o período de recepção, em termos de tempo próprio, que

designaremos por dτ2, relaciona-se com o período de recepção em termos de tempo-

coordenada, que designaremos por dt2, através da seguinte relação:

22

2 dtr

m21d −=τ

Como o espaço-tempo de Schwarzschild é estático (os elementos do tensor métrico

(1.4) não dependem explicitamente do tempo) fica dt1=dt2 (e.g. d'Inverno 1992).

Relacionando as duas expressões anteriores obtemos:

1

2

1

2

1

2

r

m21

r

m21

cd

cd

==

onde λ1 e λ2 são os comprimentos de onda registados no momento da emissão e da

recepção respectivamente. Se supusermos que r2>>r1 então o numerador do lado direito

desta expressão pode ser substituído pela unidade ficando:

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Buracos Negros 9

1

12

r

m21−

λ=λ

(1.17)

À medida que a partícula se aproxima do buraco negro, o valor de λ2 vai

aumentando progressivamente. O observador distante regista assim um desvio para o

vermelho no comprimento de onda da luz emitida pela partícula. Esse desvio vai ficando

cada vez mais acentuado tornando-se infinito sobre o horizonte de acontecimentos. Diz-

se que r=2m é uma superfície de desvio para o vermelho infinito. Por seu turno λ1

permanece sempre constante pois corresponde ao comprimento de onda, de emissão,

medido no referencial da partícula.

1.2.4 Conversão de massa em energia radiativa

Resolvendo (1.15) em ordem a L2 e substituindo o resultado na equação radial

(1.12) obtemos, no caso das geodésicas circulares para partículas com massa, a seguinte

expressão para o integral da energia:

r

m31

r

m21

E

2

2

=

No caso da última órbita circular estável (r=6m) esta expressão toma o valor:

9

8E m6 =

pelo que a energia de ligação, por unidade de massa, para uma partícula nessa órbita é:

%.7259

81EEE m6lig ≈−=−= ∞

Esta é a fracção de energia da partícula libertada quando esta, inicialmente em

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Buracos Negros 10

repouso no infinito (V=E=1), descreve um movimento espiral em direcção a um buraco

negro de Schwarzschild, até à órbita circular estável mais interior (caindo depois em

direcção ao horizonte de acontecimentos). Esta taxa de conversão de massa em outras

formas de energia é muito superior à das reacções nucleares no seio das estrelas, a qual

ronda apenas os 0.9% (no máximo), quando se dá a conversão H→Fe (e.g. Shapiro &

Teukolsky 1983).

1.2.5 Captura de partículas

A secção de choque para a captura de uma partícula material proveniente do

infinito, por um buraco negro, é dada por (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983):

2cap b max=

onde bmax é o valor máximo que o parâmetro de impacto, b, pode ter para que a

partícula seja capturada. Se o parâmetro de impacto for nulo, temos uma captura frontal,

e se for superior a bmax, não ocorre captura. O parâmetro de impacto é determinado,

como se depreende da Figura 1.2, pela expressão:

( ) rrb r ≈= ∞→ sinlim (1.18)

Quando r→∞ podemos desprezar os termos de ordem inferior a r4 na equação

(1.16) ficando:

( )2

42

2

L

r1E

d

dr−=

ϕ

Introduzindo nesta equação o resultado (1.18) vem:

2

2

2 L

1E

b

1 −=

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Buracos Negros 11

Figura 1.2 - Parâmetro de impacto b para uma partícula com uma trajectória r=r(ϕ) na vizinhança de um

buraco negro de massa M (adaptado de Shapiro & Teukolsky 1983).

Quando r→∞ a função potencial, dada pela expressão (1.13), tende para a

unidade. Podemos, assim, interpretar E2-1 como a energia cinética da partícula no

infinito. Considerando que a velocidade da partícula no infinito é v∞ temos a relação:

∞= bvL

Se for v∞<<1 (partícula não relativista) então temos E≈1. Nesse caso para haver

captura o valor máximo da barreira de potencial, Vmax, terá de ser inferior à unidade.

Como Vmax=1 para L=4m (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983) temos que qualquer

partícula com L<4m será capturada pelo buraco negro, pois, para essa partícula, não

existe barreira de potencial que a reflicta. Conciliando este facto com a expressão

anterior resulta:

=v

m4bmax

o que nos permite escrever, para a secção de choque, a expressão:

( )2

2s

2

2

cap v

r4

v

m24

∞∞

== (1.19)

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Buracos Negros 12

Figura 1.3 - Ângulo entre a direcção de propagação de um fotão e a direcção de vr, num dado ponto P

(adaptado de Shapiro & Teukolsky 1983).

1.2.6 Ângulo de captura de fotões

Seja ψ o ângulo entre a direcção de propagação de um fotão e a direcção radial,

num dado ponto P, como se mostra na Figura 1.3. Atendendo a que, em unidades

geometrizadas a velocidade da luz é igual à unidade, as componentes da velocidade,

num referencial local, podem ser escritas como:

( )( )

=

=

radial) e(component v

azimutal) e(component vr

cos

sin

Por outro lado, do ponto de vista de um observador local, a componente azimutal

da velocidade é dada por (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983):

( )21

r

m21

r

fsinv

/

−== (1.20)

onde estamos a considerar f=L/E. A equação (1.12) pode escrever-se, para o caso dos

fotões, do seguinte modo:

2

2

2

22f2

22

r

L

r

m21

f

LV

f

L

d

dr

−−=−=

(1.21)

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Buracos Negros 13

Figura 1.4 - Captura de fotões por um buraco negro de Schwarzschild do ponto de vista de um

observador local. Os fotões emitidos de cada ponto (abcissa r) para o interior da região a cinzento são

capturados (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983)

onde é um parâmetro afim e Vf é dado por (1.13) com δ=0.

O potencial efectivo Vf é máximo quando r=3m, ou seja, no ponto, correspondente

à única geodésica circular permitida aos fotões (Secção 1.2.2). Fazendo na equação

(1.21) r=3m resulta:

3m)(r m33f == (1.22)

Um fotão, proveniente do infinito, será capturado se f for inferior ao valor anterior

e será reflectido se f for superior a esse valor. O parâmetro f é claramente um parâmetro

de impacto.

Assim, conjugando (1.20) com (1.22), resulta que do ponto de vista de um

observador local, um fotão, deslocando-se em direcção ao buraco negro (r decrescente),

pode escapar à captura apenas se se verificar a condição:

( )2/1

r

m21

r

m33sin

−>ψ (1.23)

Em r=6m um fotão, deslocando-se em direcção ao buraco negro, pode escapar

apenas quando ψ>45º (Figura 1.4) e em r=4m quando ψ>67º. Em r=3m já é ψ>90º pelo

que o fotão já não pode escapar. Isto significa que 50% da luz radiada por um emissor

isotrópico situado sobre a rotosfera (Secção 1.2.2) é irremediavelmente capturada.

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Buracos Negros 14

1.2.7 Outros tipos de buracos negros

Quando se dá a formação de um buraco negro, seja por que processo for, é apenas

retida informação acerca da massa, carga eléctrica e momento angular. Qualquer outra

informação relativa ao corpo que originou o buraco negro (e.g. forma geométrica, tipo

de matéria, campo magnético) é completamente radiada para longe ou simplesmente

engolida2. No caso de a carga eléctrica e o momento angular serem nulos temos um

buraco negro caracterizado apenas pelo valor da sua massa. Estes buracos negros, ditos

de Schwarzschild, já foram discutidos na Secção1.2.1.

Caso exista, para além da massa, uma quantidade não nula de carga eléctrica então

dizemos que temos um buraco negro de Reissner-Nordström. A métrica para este tipo

de buracos negros escreve-se, em coordenadas esféricas, na forma (e.g. d' Inverno

1992):

222222

2

22

2

22 dsinrdrdr

rr

m21

1dt

rr

m21ds ϕθ−θ−

ε+−

ε+−=

onde m continua a ser, como na solução de Schwarzschild, a massa geometrizada e ε é a

carga eléctrica escrita também em unidades geometrizadas. Note-se que quando ε=0 o

elemento de linha anterior reduz-se à métrica de Schwarzschild (1.1). A solução de

Reissner-Nordström apresenta uma única singularidade real para r=0. A singularidade

associada a g11=0 é apenas aparente podendo ser removida mediante uma escolha

conveniente de coordenadas (e.g. d' Inverno 1992). O horizonte de acontecimentos para

este tipo de buraco negro é determinado resolvendo a equação (e.g. d' Inverno 1992):

0r

r

m21

g

1g

2

2

11

11 =+−==

(onde g11 é determinado com a ajuda da expressão 1.5). A equação tem duas soluções:

2 Este facto levou o físico teórico John Wheeler a proferir a célebre frase "Black holes have no hair" (e.g. Novikov 1995)

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Buracos Negros 15

Figura 1.5 - Estrutura interna de alguns buracos negros de Reissner-Nordström. Em cada caso foram

indicados os dois horizontes de acontecimentos, r+ e r-, e a singularidade s. O buraco negro da esquerda

tem carga nula (ε=0) e por isso é na realidade um buraco negro de Schwarzschild. Por sua vez o buraco

negro da direita tem a carga máxima permitida (ε=m) e por isso diz-se que é um buraco negro de

Reissner-Nordström extremo.

22mmr ε−+=+

22mmr ε−−=−

Num buraco negro de Reissner-Nordström existem dois horizontes de

acontecimentos (r+ e r-). O horizonte de raio r+, mais exterior, é semelhante ao dos

buracos negros de Schwarzschild. Quando ε=0, r- é nulo e r+=2m. Por ouro lado quando

ε=m os dois horizontes coincidem (são iguais a m) e dizemos, nesse caso, que temos um

buraco negro de Reissner-Nordström extremo. Na Figura 1.5 estão representadas as

estruturas de alguns buracos negros de Reissner-Nordström.

Se, para além da respectiva massa, o buraco negro tiver movimento de rotação e

for electricamente neutro temos um buraco negro de Kerr3. A métrica correspondente,

também designada por métrica de Kerr, é muitas vezes escrita na forma de Boyer-

Lindquist (e.g. d' Inverno 1992):

( )

( ) ( ) ( )[ ]

dsinaaR

sin

dtdsin

amR4d dR

dt

mR21ds

222222

2

22

2222

22

2

−+−

+−−

−=

(1.24)

3 O nome foi atribuído em homenagem ao neozelandês Roy Kerr que em 1963 descobriu a solução das equações do campo para um corpo em rotação.

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Buracos Negros 16

com:

( )aR 2222 cos+= (1.25)

22 amR2R +−=

onde o parâmetro a traduz o momento angular do buraco negro por unidade de massa.

Note-se que quando a=0, ou seja, quando o buraco negro não tem rotação é recuperada a

métrica de Schwarzschild (1.1). As coordenadas (R,θ,ϕ) estão relacionadas com as

coordenadas cartesianas (x,y,z) do seguinte modo:

( ) ( ) ( ) ( )( ) ( ) ( ) ( )( )

=

−=

+=

Rz

aRy

aRx

cos

cossinsinsin

sinsincossin

(1.26)

A coordenada R não corresponde à coordenada radial usual. A coordenada radial

usual, r, é dada por:

( )aRzyxr 2222222 sin+=++=

sendo, no entanto, R≈r quando ar >> ou quando 0a ≈ . A métrica de Kerr depende de

θ e por isso não é simetricamente esférica. No entanto, como não depende de ϕ

concluímos que é axialmente simétrica. O eixo de simetria, que coincide com o eixo de

rotação do buraco negro, é, por convenção, o eixo ZZ'. A métrica de Kerr apresenta uma

única singularidade real correspondente a ρ=0 (e.g. d' Inverno 1992). A partir de (1.25)

e (1.26), com ρ=0 e a≠0, tiramos que:

=

=

0z

ar 22

(1.27)

Isto significa que, para um buraco negro em rotação, a singularidade consiste num

anel assente no plano equatorial. Quanto maior a velocidade de rotação, maior o raio da

singularidade. Quando a=0 temos um buraco negro de Schwarzschild com a sua

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Buracos Negros 17

singularidade pontual. O horizonte de acontecimentos para um buraco negro de Kerr é

determinado a partir de g11=0. A partir da expressão (1.5) pode verificar-se que

g11=1/g11, ou seja, g11=-∆/ρ2. Resolvendo então a equação ∆=0 obtêm-se as soluções:

( ) ( )22222 ammar −++=+ sin (1.28)

( ) ( )22222 ammar −−+=− sin (1.29)

Num buraco negro de Kerr existe um horizonte de acontecimentos mais interior r-

e outro mais exterior r+. A partir das expressões (1.28) e (1.29) verifica-se que a

velocidade angular do buraco negro não pode exceder m. Quando a=m fica r-=r+ e

dizemos que temos um buraco negro de Kerr máximo.

Num buraco negro de Schwarzschild o horizonte de acontecimentos é

simultaneamente uma superfície de desvio para o vermelho infinito (Secção 1.2.3). No

caso de um buraco negro com rotação não acontece o mesmo. A superfície de desvio

para o vermelho infinito pode ser determinada avaliando g00=0 (e.g. d' Inverno 1992),

resultando:

( ) ( )( )222222 ammas cossin −++=+

( ) ( )( )222222 ammas cossin −−+=−(1.30)

A superfície s+ é exterior a r+, tocando este apenas sobre os pólos. s+ é também

conhecida por superfície do limite estacionário uma vez que, embora ainda seja possível

a uma partícula escapar do seu interior, entre esta e r+ não é permitido o repouso. Tudo é

arrastado no sentido da rotação do buraco negro. Na Figura 1.6 está representada a

estrutura no plano equatorial (θ=90º) e segundo um plano meridiano de buracos negros

de Kerr com a=0.8m e a=m (foi representada também a estrutura do buraco negro de

Schwarzschild para efeitos de comparação).

Por último vamos referir os buracos negros de Kerr-Newmann. Estes

caracterizam-se por possuírem massa, carga eléctrica e momento angular (e.g.

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Buracos Negros 18

aaaaaaaaa

Figura 1.6 - (A) Estrutura de um buraco negro de Schwarzschild (buraco negro de Kerr com a=0). (B)

Estrutura de um buraco negro de Kerr com a=0.8m segundo um plano meridiano (à esquerda) e segundo o

plano equatorial (θ=90º; à direita). (C) Estrutura de um buraco negro de Kerr máximo (a=m) segundo um

plano meridiano (à esquerda) e segundo o plano equatorial (à direita).

Demianski 1985). Num buraco negro de Kerr-Newmann a carga eléctrica e o momento

angular por unidade de massa devem respeitar a relação (e.g. Davies 1978):

222 ma ≤+ (1.31)

Quando se verifica a igualdade, na expressão anterior, diz-se que temos um

buraco negro de Kerr-Newmann extremo. Este é o caso limite de um objecto que ainda

possui um horizonte de acontecimentos. No diagrama da Figura 1.7 estão incluídos

todos os tipos de buracos negros descritos anteriormente.

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Buracos Negros 19

Figura 1.7 - Cada ponto da circunferência representa um buraco negro de Kerr-Newman extremo. Todos

os outros buracos negros são representados por pontos interiores à circunferência. Ao buraco negro de

Schwarzschild corresponde a origem dos eixos. Os buracos negros de Reissner-Nordström são

representados pelos pontos do eixo ε (carga eléctrica) e os buracos negros de Kerr pelos pontos do eixo a

(momento angular).

1.2.8 Termodinâmica de buracos negros

A fronteira de um buraco negro é dada pelo respectivo horizonte de

acontecimentos. Sobre o horizonte residem as trajectórias espaço-temporais dos raios

luminosos emitidos no momento da formação do mesmo. Estas trajectórias são sempre

não convergentes (e.g. Hawking 1994). Com base neste facto Stephen Hawking provou

um importante teorema sobre buracos negros (e.g. Hawking & Ellis 1973), designado

por Teorema da Área, que indicamos a seguir:

Teorema da área - Em qualquer interacção a área da superfície, A,

de um buraco negro nunca pode decrescer ( 0A ≥ ).

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Buracos Negros 20

Este comportamento, da área da superfície do buraco negro sugere uma forte

analogia com a quantidade termodinâmica entropia. A desordem (entropia) de um

sistema aumenta sempre ou, quanto muito, permanece constante. Podemos colocar uma

certa ordem numa parte do sistema, mas sempre à custa de um aumento da desordem de

outra parte do sistema. Globalmente, "a entropia nunca decresce" (Segunda Lei da

Termodinâmica; e.g. Holman 1988).

A Segunda Lei da Termodinâmica é diferente de outras leis físicas no sentido em

que podem ocorrer violações da mesma. Essas violações são muito pouco prováveis. No

entanto, se lançarmos alguma matéria com elevado grau de entropia para o interior de

um buraco negro teríamos aparentemente um decréscimo da entropia relativa à matéria

exterior ao buraco negro. Note-se que qualquer entropia existente no interior do buraco

negro não pode ser contabilizada por um observador externo. Estamos assim perante

uma violação da Segunda Lei da Termodinâmica. Para tornear este problema foi então

sugerido que a área do horizonte de acontecimentos do buraco negro era uma medida da

sua entropia. Assim, quando um buraco negro absorve matéria, a sua área, ou seja a sua

entropia, aumenta. A soma da entropia da matéria exterior com a entropia do buraco

negro é sempre crescente no tempo. O Teorema da área pode assim ser visto como uma

Segunda Lei da Termodinâmica para Buracos Negros.

A Primeira Lei da Termodinâmica, que traduz a conservação da energia de um

sistema que troca energia com a sua vizinhança na forma de calor ou trabalho, pode

escrever-se como (e.g. Holman 1988):

dWdQdU +=

onde U representa a energia interna do sistema (que depende apenas do estado do

mesmo), Q representa o calor transferido entre o sistema e a sua vizinhança e W o

trabalho realizado pelo sistema sobre a sua vizinhança. É possível escrever uma

expressão equivalente para buracos negros.

A área total da superfície do horizonte de acontecimentos de um buraco negro de

Kerr-Newmann é dada por (e.g Davies 1978):

−−+−=

2

2

2

2222

m

a

m

1m2m24A (1.32)

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Buracos Negros 21

com ε2<m2 e a2<m2. Resolvendo esta equação em ordem a m vem:

2

4222

a64A16

16A8Am

++=

Se interpretarmos m como a energia interna do buraco negro então a Primeira Lei da

Termodinâmica para Buracos Negros será dada pelo diferencial total de m que

escreveremos na forma (Davies 1978):

dWdaWdA8

dm L ++= (1.33)

onde κ/(8π)≡∂m/∂A, WL≡∂m/∂a e Wε≡∂m/∂ε. Os termos WLda e Wεdε correspondem,

respectivamente, ao trabalho efectuado na alteração do momento angular e da carga

eléctrica do buraco negro. Se A desempenha o papel da entropia então κ desempenha o

papel da temperatura (dQ∝TdS; Segunda Lei da Termodinâmica).

A Lei Zero da Termodinâmica afirma que "num sistema em equilíbrio

termodinâmico as diferentes partes são caracterizadas por uma temperatura comum"

(e.g. Holman 1988). É possível mostrar que o parâmetro de temperatura κ, também

designado por gravidade superficial, é constante ao longo de toda a superfície do

horizonte de acontecimentos. Este resultado traduz a Lei Zero da Termodinâmica para

Buracos Negros (e.g. Davies 1978).

A Terceira Lei da Termodinâmica afirma que "a entropia de qualquer substância

pura tende para zero à medida que a respectiva temperatura absoluta se aproxima do

zero" (e.g. Holman 1988). A gravidade superficial, κ, tende para zero quando é

satisfeita a igualdade na relação (1.31). Embora a entropia do buraco negro tenda para

um valor finito, diferente de zero, podemos tomar:

222 ma =+

como sendo a expressão para a Terceira Lei da Termodinâmica de buracos negros (e.g.

Davies 1978).

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Buracos Negros 22

1.3 Formação

1.3.1 Buracos negros estelares

O destino final de uma estrela depende da respectiva massa inicial. Uma estrela

com uma massa inicial de 0.8-8M acabará como uma anã branca de massa 0.5-1.4M .

Se a massa inicial da estrela for 8-60M então o produto final será provavelmente uma

estrela de neutrões de ≈1.4M . Se a massa inicial da estrela se situar entre as 60-90M

então o produto final será um buraco negro de massa superior a 1.4M . Estrelas cuja

massa inicial seja superior a 90M são estruturalmente instáveis sabendo-se pouco

acerca da respectiva evolução. É provável que também se formem buracos negros (e não

estrelas de neutrões) a partir de estrelas com massas iniciais de 40-60M . Esses buracos

negros teriam massas muitos próximas de 1.4M (e.g. Unsöld & Baschek 2002;

Padmanabhan 2001; Binney & Merrifield 1998).

Na Figura 1.8 está representada a massa dos restos estelares em função da massa

estelar inicial. Os valores apresentados têm um caracter meramente indicativo uma vez

que os mesmos não são conhecidos com exactidão.

Existe um limite superior para a massa de uma estrela de neutrões. O valor desse

limite não é bem conhecido. Unsöld & Baschek (2002) falam em 1.8M mas, por

exemplo, Padmanabhan (2001) considera 3-5M . De qualquer forma restos estelares

cuja massa seja superior ao permitido para uma estrela de neutrões representam

configurações de matéria para as quais não existe um estado de equilíbrio. Nesses casos

ocorre o colapso gravitacional da estrela (e.g. Padmanabhan 2001; Demianski 1985;

Hawking & Ellis 1973)

Para um observador distante o raio da estrela diminui progressivamente

aproximando-se do respectivo raio de Schwarzschild (Secção 1.2.1). Esse ponto será

atingido apenas assimptoticamente, ou seja, ao fim de um intervalo de tempo infinito.

No entanto a radiação electromagnética emitida pela estrela sofre um desvio para o

vermelho (Secção 1.2.3) cada vez mais intenso, acabando o respectivo comprimento de

onda por ser indetectável. A estrela torna-se então invisível para o observador distante.

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Buracos Negros 23

Figura 1.8 - Massa dos restos estelares (Mf) e respectiva natureza em função da massa estelar inicial (Mi)

Do ponto de vista de um observador local, solidário com a superfície da estrela,

tudo se passa de uma forma diferente. Para este o raio de Schwarzschild não só é

atingido num tempo finito, como o processo de contracção continua a partir desse

ponto. A estrela tende para um volume nulo, ou seja, para uma densidade infinita.

No processo libertam-se enormes quantidades de energia que, a exemplo do que

acontece numa supernova, são transferidas para o envelope da estrela podendo fazer

com que este seja violentamente expulso. Se for esse o caso, o observador distante

registará uma explosão catastrófica que não saberá distinguir de outras não relacionadas

com a formação de buracos negros (e.g. Demianski 1985).

Podemos ter também outros cenários para a formação de buracos negros de massa

estelar. Por exemplo, uma estrela de neutrões, pertencente a um sistema binário, pode,

ao acretar matéria da sua companheira, atingir uma massa acima do nível permitido. Se

isso acontecer então ocorre o colapso da estrela dando origem a um buraco negro (e.g.

Luminet 1998).

1.3.2 Buracos negros primordiais

É possível que no Universo Primordial, nos instantes seguintes ao Big Bang,

tenham estado reunidas as condições para que se formassem buracos negros de pequena

massa (Hawking 1971).

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Buracos Negros 24

Figura 1.9 - Representação de uma perturbação de densidade no Universo primordial. A perturbação

propriamente dita cinge-se à região de raio R1. Existe uma zona de transição de espessura ∆R de cujo

valor depende a formação ou não de um buraco negro (adaptado de Novikov et al. 1979).

Sabemos que nesses primórdios devem ter ocorrido algumas irregularidades pois

se assim não fosse hoje o Universo seria perfeitamente uniforme e não existiriam

estruturas, como por exemplo, as galáxias (e.g. Carr & Hawking 1974).

Essas irregularidades consistiam em perturbações de densidade nas mais variadas

escalas de comprimento. Uma dessas perturbações está esquematicamente representada

na Figura 1.9. A perturbação propriamente dita está encerrada numa região de raio R1.

A transição entre a região perturbada e a região não perturbada faz-se gradualmente

através de um anel de espessura ∆R=R2-R1 (cf. Figura 1.9). A formação de buracos

negros depende fortemente da espessura desta região de transição. Se ∆R for

suficientemente pequeno, isto é, se R1/R2≈1, surgem gradientes de pressão bastante

elevados e as perturbações de densidade crescem violentamente. No interior do volume

de raio R1 a energia potencial gravítica passa a dominar sobre a energia cinética da

expansão. Esta região deixa assim de se expandir com o resto do Universo e colapsa

dando origem a um buraco negro (Novikov et al. 1979).

Os buracos negros formados nos instantes iniciais dizem-se primordiais. A massa

inicial de um buraco negro primordial está relacionada com a densidade do Universo,

ρU (kgm-3), e com a idade do Universo, tU (s), no momento da formação através da

expressão (e.g. Kiefer 2002; Eardley & Press 1975):

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Buracos Negros 25

(kg) t10G

cM U

353

U

6

bnp ≈≈ (1.34)

De acordo com esta expressão devem ter-se formado primeiro os buracos negros

de menor massa. Os primeiros buracos negros podem ter-se formado quando a idade do

Universo era da ordem do tempo de Planck (≈10-43s) com massas da ordem da massa de

Planck (≈10-8kg). Quando a idade do Universo era próxima dos 10-23s podem ter-se

formado buracos negros com massas da ordem dos 1012kg. Quando o Universo tinha

10-5s podem ter surgido buracos negros de 1M e aos 10s buracos negros de 106M .

1.3.3 Buracos negros supermassivos

Existem evidências observacionais que apontam para a presença de objectos

compactos de grande massa (>106M ), eventualmente buracos negros supermassivos, no

centro de algumas galáxias (Secção 3.1).

São vários os caminhos que podem levar à formação de um buraco negro

supermassivo no centro de uma galáxia (Figura 1.10). Uma nuvem de gás presente na

zona central de uma galáxia pode originar, por contracção, um objecto supermassivo

que poderá colapsar originando um buraco negro supermassivo. Pode também acontecer

que se forme um enxame estelar a partir dessa nuvem de gás.

Em resultado das colisões as estrelas do enxame podem trocar energia entre si.

Uma estrela ao ganhar energia desloca-se mais para o exterior podendo mesmo ser

expulsa do enxame. Por sua vez uma estrela ao perder energia desloca-se mais para o

interior tornando a zona central ainda mais densa e, portanto, as interacções entre

estrelas mais frequentes. Pode acabar por formar-se no centro do enxame um objecto

compacto (>106M ) que acabará por colapsar dando provavelmente origem a um buraco

negro supermassivo (e.g. Misner et al. 1999).

Outra possibilidade é que em virtude das colisões se formem estrelas de massas

superiores a 8M . Estas estrelas deixariam como restos da sua evolução estrelas de

neutrões e buracos negros de massa estelar (Figura 1.8). Poderia formar-se assim um

enxame de objectos compactos que acabaria por colapsar dando origem a um buraco

negro supermassivo (e.g. Shapiro & Teukolsky 1985).

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Buracos Negros 26

Figura 1.10 - Diagrama de Rees para a formação de buracos negros supermassivos (Rees 1978).

1.3.4 Evolução de um buraco negro

Uma vez formado um buraco negro, primordial ou não, este irá experimentar uma

evolução que depende do tipo de condições presentes no meio em que se encontra.

Independentemente de o meio ser mais ou menos denso haverá sempre acreção esférica

de matéria e radiação pelo buraco negro. Nesse processo cresce a massa do buraco

negro e, portanto, aumenta também o respectivo raio (Secção 1.4.1).

Um buraco negro pode acabar por alojar-se no núcleo de uma estrela. Este cenário

é bastante aceitável se atendermos ao facto de que o raio de Schwarzschild de um

buraco negro (expressão 1.3), mesmo estelar, é muito inferior ao raio de qualquer

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Buracos Negros 27

estrela4. Não é assim de excluir a existência de buracos negros, de massas estelares ou

inferiores, no núcleo de algumas estrelas. Numa situação dessas a matéria da estrela

seria progressivamente acretada pelo buraco negro que desse modo cresceria (e.g.

Eardley & Press 1975; Seok-Jae 1990).

Um buraco negro não se pode bifurcar por forma a originar dois buracos negros.

Se dois buracos negros colidirem um com o outro fundem-se dando origem a um único

buraco negro de massa igual ou superior à soma das massas dos dois buracos negros

iniciais (e.g. Hawking & Ellis 1973).

Em todas as situações descritas anteriormente temos sempre como resultado um

aumento da massa do buraco negro. Contudo os buracos negros também podem perder

massa através da chamada radiação de Hawking (Secção 2.5) que será tanto mais

eficiente quanto menor for a massa do buraco negro. É assim de admitir que alguns

buracos negros primordiais, de massa relativamente pequena, em vez de terem crescido,

tenham perdido parte da sua massa.

1.4 Processos de detecção indirecta

1.4.1 Acreção esférica de matéria

i) Campo magnético quase desprezável

Um buraco negro mergulhado numa nuvem de gás, mais ou menos densa, acaba

sempre por acretar alguma matéria. Se o buraco negro estiver isolado e o gás não

possuir uma quantidade de momento angular significativa então o processo de acreção

tem simetria esférica.

Numa primeira abordagem à acreção esférica é comum considerar-se um gás sem

colisões. No entanto a natureza do gás do meio interestelar e da matéria trocada entre

estrelas em sistemas binários levam a crer que a acreção de matéria por objectos

compactos (buracos negros, estrelas de neutrões e anãs brancas) seja hidrodinâmica (e.g.

Shapiro & Teukolsky 1983). A taxa de acreção esférica hidrodinâmica em regime

4 Por exemplo, o raio do Sol é cerca de 2.4×105 superior ao respectivo raio de Schwarzschild.

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Buracos Negros 28

adiabático (Bondi 1952), embora relativamente baixa, é cerca de 109 vezes superior à

verificada no caso do gás sem colisões.

O estudo relativista da acreção esférica hidrodinâmica adiabática (e.g. Shapiro &

Teukolsky 1983) revela que esta ocorre necessariamente em regime trans-sónico. Neste

regime a velocidade do gás começa por ser inferior à velocidade local do som. Com a

aproximação ao buraco negro a velocidade cresce, acabando por ultrapassar a

velocidade local do som. Por outro lado, verifica-se que a taxa de acreção é máxima

justamente no regime trans-sónico (Bondi 1952).

Na acreção esférica, o gás que circunda o buraco negro, maioritariamente

constituído por hidrogénio, vai caindo radialmente sob a influência do campo gravítico.

Nesse processo o gás é comprimido à medida que energia gravitacional vai sendo

convertida em energia cinética. Quando as partículas de gás colidem inelasticamente,

parte dessa energia é libertada escapando sob a forma de radiação. O cálculo do

montante de radiação emitido não é, no caso geral, trivial. Devem ser resolvidas as

equações hidrodinâmicas para o movimento do gás, juntamente com as equações da

transferência radiativa (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983).

Vamos considerar o espectro emergente da acreção esférica, não adiabática, por

um buraco negro de Schwarzschild (e.g. Shapiro 1973a). Para isso é preciso resolver

numericamente as equações do problema. Uma das equações chave é a equação da

continuidade a qual, na forma relativista, considerando a métrica de Schwarzschild

(1.1), se pode escrever como (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983):

0r

2

dr

du

u

1

dr

dn

n

1=++ (1.35)

onde u é a componente radial da velocidade dirigida para dentro e n é a densidade

bariónica. Outra equação chave do problema é a equação de Euler a qual, na forma

relativista, se pode escrever como (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983):

22

r

m

r

m2u1

r

p

p

1

dr

duu −

−+

+−= (1.36)

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Buracos Negros 29

onde p é a pressão do gás, ρ é a densidade massa-energia interna do gás e m é a massa

geometrizada do buraco negro (expressão 1.2). Temos ainda a equação da entropia que

se pode escrever como (Shapiro 1973a):

( ) ( )u

TT

dr

dn

n

p

dr

dn

n

dr

d −=−− (1.37)

onde Λ(T) e Γ(T) correspondem respectivamente às taxas de arrefecimento e de

aquecimento do gás por unidade de tempo e de volume. Estas funções da temperatura

dependem, naturalmente, do tipo de região considerado.

As condições de fronteira podem ser extraídas a partir dos resultados obtidos para

o estudo não relativista (Bondi 1952). Consideraremos então a equação de estado

politrópica:

Kp =

onde K e γ são constantes. A constante γ é o chamado índice politrópico do gás e deve

ser tal que 3/51 ≤γ≤ . Consideremos também a taxa de acreção (e.g. Shapiro &

Teukolsky 1983):

∞∞

= a

a

GM4

dt

dM2

2

onde λ é o chamado parâmetro adimensional para a acreção, a∞ é a velocidade do som

no infinito e ρ∞ é a densidade massa-energia no infinito.

Dados n(r), T(r) e u(r), a partir da integração numérica das equações (1.35), (1.36)

e (1.37), a computação da luminosidade observada, ∞νL , é imediata (Shapiro 1973a).

No caso de uma região HII o espectro emitido (situado na banda dos raios X e raios

gama) tem uma curva característica de bremsstrahlung com T≈1011K (Figura 1.11) e

uma luminosidade total dada por (Shapiro 1973b):

( )W cm

n

M

M

K01

T102L

2

3

33

414

f

×≈

−∞

r

(1.38)

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Buracos Negros 30

onde T∞ e n∞ correspondem respectivamente à temperatura e à densidade de partículas

em pontos distantes do buraco negro.

Para uma região HI o espectro emitido tem também uma curva característica de

bremsstrahlung (Figura 1.12), neste caso com T≈109K e uma luminosidade total cerca

xxx

Figura 1.11 - Espectro continuo emitido na acreção esférica, numa região HII, com um buraco negro de

Schwarzschild de 1M . Alem da luminosidade total são indicadas as luminosidades parciais devidas aos

processos da recombinação radiativa (curva RR), bremsstrahlung electrão-electrão (curva e-e) e

bremsstrahlung electrão-protão (curva e-p) (adaptado de Shapiro 1973a).

Fígura 1.12 - Espectro continuo emitido, na acreção esférica, numa região HI com um buraco negro de

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Buracos Negros 31

Schwarzschild de 1M . Alem da luminosidade total são indicadas as luminosidades parciais devidas aos

processos da recombinação radiativa (curva RR), bremsstrahlung electrão-electrão (curva e-e) e

bremsstrahlung electrão-protão (curva e-p) (adaptado de Shapiro 1973a).

de quatro ordens de grandeza superior à determinada para a região HII (Shapiro 1973a).

A eficiência da conversão entre massa e energia, que pode exprimir-se através da

relação (Shapiro & Teukolsky 1983):

dt

dMc

L

2f =

(1.39)

é neste modelo, para a acreção por um buraco negro de 1M , da ordem de 10-11 para a

região HII e da ordem de 10-7 para a região HI (Shapiro & Teukolsky 1983).

No caso de um buraco negro de Kerr a luminosidade aumenta com o aumento do

momento angular. A acreção esférica por um buraco negro de Kerr máximo, numa

região HII típica, resulta numa luminosidade ≈15% superior à de um buraco negro de

Schwarzschild da mesma massa e nas mesmas condições (Shapiro 1974).

ii) Campo magnético não desprezável

A abordagem ao problema da acreção esférica pressupõe, em geral, a presença de

um campo magnético capaz de juntar as partículas de gás mas suficientemente fraco

para que se possam ignorar outros efeitos do mesmo (Shapiro 1973b).

Consideremos agora um buraco negro de Schwarzschild mergulhado numa região

HII onde existe um campo magnético não desprezável. O plasma desliza livremente

pelas linhas de campo radiais sendo apenas restringido pelas linhas de campo

transversais. O fluxo dinâmico de gás em acreção, numa região HII típica (T∞=104K,

n∞=1cm-3), não é substancialmente alterado pela presença de um campo magnético

(Shapiro 1973b).

Com a aproximação ao buraco negro os electrões tornam-se ultra-relativistas. É

assim de esperar que uma fracção da luminosidade total corresponda à radiação de

sincotrão emitida por esses electrões. O espectro correspondente incide sobretudo na

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Buracos Negros 32

região do infravermelho (Figura 1.13), sendo a luminosidade de sincotrão dada por

(Shapiro 1973b):

( )W cm

n

M

M

K01

T105L

2

3

33

418

s

×≈

−∞

r

(1.40)

Figura 1.13 - Espectro continuo da emissão de radiação de sincotrão resultante da acreção de gás para um

buraco negro de Schwarzschild de 1M mergulhado numa região HII. O valor indicado sob cada uma das

linhas corresponde a n∞ em cm-3 (adaptado de Shapiro 1973b).

onde T∞ e n∞ correspondem respectivamente à temperatura e à densidade de partículas

em pontos distantes do buraco negro. Neste caso a eficiência da conversão entre massa e

energia (expressão 1.39) é, para a acreção por um buraco negro de 1M , da ordem de

10-6.

Ao longo dos últimos anos têm sido desenvolvidos modelos, para a acreção

esférica, onde se procuram atingir valores de eficiência superiores (cf. Chakrabarti

1996).

Ipser & Price (1982) considerando o aquecimento do gás pela dissipação de

energia magnética construíram modelos onde a eficiência da conversão entre massa e

energia pode atingir, no caso de um buraco negro de 10M , valores da ordem de 10-2.

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Buracos Negros 33

Maraschi et al. (1982) considerando a dispersão de Compton como o mecanismo

de arrefecimento dominante construíram um modelo no qual um buraco negro de 10M ,

com uma taxa de acreção de 1.6×10-9M ano-1, teria uma eficiência de ≈0.38.

Colpi et al. (1984) consideram um modelo de um plasma de duas temperaturas

(uma para os electrões e outra para os protões) sendo a eficiência, no caso de um buraco

negro de 10M , da ordem de 10-3.

1.4.2 Buracos negros em sistemas binários

i) Discos de acreção de matéria

Mais de 50% das estrelas da Nossa Galáxia pertencem a sistemas binários. Se uma

dessas estrelas tiver massa suficiente então pode evoluir para o estado de buraco negro

(Secção 1.3.1), sem que seja destruído o binário. Estima-se assim a existência de um

grande número de sistemas binários compostos por uma estrela (normal) e por um

buraco negro (e.g. Shakura & Sunyaev 1973).

Os ventos estelares constituem um dos principais mecanismos de perda de massa

por parte das estrelas. No caso dos sistemas binários existe um segundo processo de

perda de massa bastante mais eficiente. Quando uma estrela abandona a sua fase de

sequência principal, o seu volume expande e a estrela passa para a fase de gigante

vermelha. Se nessa expansão for preenchido todo o volume do lóbulo de Roche então a

estrela expele parte da sua matéria para o exterior, principalmente pelo ponto de

Lagrange L1 (Figura 1.14) Se o par da estrela, no sistema binário, for um buraco negro,

então alguma da matéria expelida pode cair na esfera de influência do campo

gravitacional deste último. Existem, assim, dois cenários a considerar (Shakura &

Sunyaev 1973):

A: a estrela normal enche todo o lóbulo de Roche e nesse caso a transferência de

matéria ocorre sobretudo via ponto de Lagrange L1 (Figura 1.14). Devido à presença de

momento angular nessa matéria acaba por se formar um disco de acreção de matéria em

torno do buraco negro.

B: a estrela normal permanece sempre muito mais pequena do que o lóbulo de Roche e

nesse caso a transferência de matéria ocorre apenas sob a forma de vento estelar (Figura

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Buracos Negros 34

1.15). Neste cenário temos o caso da acreção esférica por um buraco negro em

movimento num meio uniforme (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983).

O objectivo de qualquer modelo teórico para discos de acreção consiste em

explicar de forma satisfatória os dados observacionais recolhidos e, se possível, prever

outras características que se possam vir a observar. Um dos primeiros modelos

propostos

Figura 1.14 - Transferência de matéria via ponto de Lagrange L1 num sistema binário composto por uma

estrela e um buraco negro Esta situação ocorre quando a estrela, ao expandir-se, acaba por encher todo o

lóbulo de Roche. Forma-se um disco de acreção em torno do buraco negro (adaptado de Shakura &

Sunyaev 1973).

Figura 1.15 - Transferência de matéria via vento estelar num sistema binário composto por uma estrela e

um buraco negro Esta situação ocorre quando a estrela, mesmo depois de se expandir, apresenta um

tamanho inferior ao lóbulo de Roche (adaptado de Shakura & Sunyaev 1973).

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Buracos Negros 35

propostos foi o do disco fino (Shakura & Sunyaev 1973). No Anexo B é feita uma

introdução com maior detalhe a este modelo de disco. Aqui vamos apresentar apenas

um breve resumo do mesmo.

As partículas do disco perdem momento angular, devido à fricção entre camadas

adjacentes, sendo assim obrigadas a descrever um movimento espiral em direcção ao

buraco negro. Durante esse movimento parte da energia gravítica libertada irá aumentar

a energia cinética da rotação do disco e parte é transformada em energia térmica que é

radiada para fora da superfície do disco. O espectro de emissão, relativo a essa radiação,

pode obter-se a partir da resolução das equações da conservação da massa, da energia e

do momento angular (axial e vertical). Deve ser também especificada uma lei da

viscosidade capaz de explicar o transporte eficiente de momento angular para o exterior

e, consequentemente, da queda de matéria para o interior (ver discussão sobre a

viscosidade em Pringle 1981, Chakrabarti 1996 ou no Anexo B).

A luminosidade total emitida pelo disco é muito sensível à taxa de acreção de

matéria pelo buraco negro (admitindo que a eficiência no transporte de momento

angular para o exterior é constante ao longo de todo o disco). Existe uma taxa de

acreção crítica (≈3×10-8M ano-1) à qual corresponde a luminosidade de Eddington5,

LE≈1031M/M (W). Por exemplo, para uma taxa de acreção de 10-12M ano-1, temos,

para um buraco negro de 1M , uma luminosidade de 1027W (Shakura & Sunyaev 1973).

Na Figura B.5 (Anexo B) são apresentadas as curvas espectrais dos vários

processos responsáveis pela emissão de radiação no disco. Na Figura B.6 é apresentada

a curva do espectro de emissão integral para vários valores da taxa de acreção e para

diferentes valores da eficiência na remoção do momento angular. A emissão incide

sobretudo entre o infravermelho e os raios X (Shakura & Sunyaev 1973).

O modelo de disco geometricamente fino de Shakura e Sunyaev (1973) não é o

mais apropriado para descrever a emissão de raios X registada em alguns sistemas

binários, como por exemplo, Cyg X1 (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983; Secção 3.3.1).

Tornou-se então necessário o desenvolvimento de outros modelos de discos de

acreção (cf. Chakrabarti 1996). Uma escala fundamental no que respeita a discos de

acreção é a taxa de acreção de Eddington que pode ser escrita como (e.g. Abramowicz

et al. 1988):

5 Luminosidade acima da qual a força devida à pressão da radiação emitida excede a força gravítica (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983).

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Buracos Negros 36

1142EE kgs

M

M107.1

c

L

dt

dM −

×≈=

r

Nos discos geometricamente finos, como o de Shakura e Sunyaev, a taxa de

acreção é sempre inferior à taxa de acreção de Eddington. Ainda neste domínio temos,

por exemplo, o modelo de disco de duas temperaturas (White & Lightman 1989) cuja

luminosidade pode atingir os 0.1LE.

Abramowicz et al. (1988) consideram um modelo de disco com dM/dt≈dME/dt

para o qual a luminosidade atinge valores da ordem de LE/16.

Quando a acreção ocorre em regime supercrítico (taxa de acreção superior à taxa

de acreção de Eddington) a radiação emitida exerce uma forte pressão sobre a matéria

do disco fazendo com que este se torne espesso (altura≈raio). Para este caso foram

também desenvolvidos uma série de modelos (cf. Chakrabarti 1996) para os quais a

luminosidade é ∼4LE.

ii) Oscilações quase periódicas

Um dos aspectos observados em alguns binários de raios X, onde se julga existir

um buraco negro com um disco de acreção à sua volta, são as oscilações quase-

periódicas (QPO's - quasi periodic oscillations) (cf. Tabela 3.3).

As frequências das QPO's observadas vão desde os 0.05Hz aos 450Hz (e.g.

Remillard et al. 2002). Não existe ainda uma explicação satisfatória para a natureza das

QPO's (e.g. Chakrabarti 1996). O modelo mais simples (e.g. McClintock 1998)

relaciona a frequência observada com a frequência do movimento do gás na órbita

estável mais interior (Secção 1.2.2). Outros modelos referem, por exemplo, a

competição entre as várias escalas temporais presentes no processo de acreção (e.g.

Chakrabarti 1998) ou a oscilação de ondas de choque junto ao buraco negro (e.g.

Chakrabarti 1996).

iii) Piscar rápido

O piscar rápido (flickering) observado no espectro de muitos dos candidatos a

buraco negro (Tabela 3.3) consiste em oscilações aperiódicas bastante rápidas (e.g. Yu

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Buracos Negros 37

& Li 1999). No caso de Cyg X1 (Secção 3.3.1) essas oscilações apresentam períodos de

∼1s e, por exemplo, no caso de GX339-4 de ∼10-4s (e.g. Cowley 1992).

iv) Linhas de ferro

Foram detectadas linhas de emissão e de absorção no espectro de raios X de

alguns sistemas binários candidatos a alojar um buraco negro (Tabela 3.3). Essas linhas,

que aparecem entre os 6KeV e os 8KeV, são atribuídas a processos de emissão ou

absorção de electrões do Ferro da camada K (e.g. Cui et al. 2002).

Quando um electrão, num átomo de ferro, transita da camada L para a camada K

liberta um fotão de 6.4KeV (e.g. Fabian et al. 2000). A linha espectral correspondente,

designada por linha Kα, é desviada para o vermelho pelo campo gravítico do buraco

negro (Secção 1.2.3) sofrendo também o desvio causado pelo efeito de Doppler (que

tanto poderá ser na direcção do azul como na do vermelho consoante o disco se

aproxime ou se afaste).

v) Função de massa

Num sistema binário as estrelas orbitam em torno de um centro de massa comum.

Nalguns casos é detectável apenas uma das estrelas. No entanto sabe-se que outra

estrela deve estar lá em virtude das oscilações regulares registadas para o movimento da

estrela observável. Esta companheira "invisível" pode ser uma anã branca, uma estrela

de neutrões, uma estrela pouco luminosa ou um buraco negro.

Consideremos então um sistema binário cujas estrelas têm massas M1 e M2.

Vamos convencionar que a estrela de massa M1 é a componente visível e que a estrela

de massa M2 é o candidato a buraco negro. A terceira Lei de Kepler para o sistema pode

escrever-se como (e.g. Motz & Duveen 1966):

( )2orb

321

2

21 T

rr

G

4MM

+=+ (1.41)

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Buracos Negros 38

onde r1 e r2 são as distâncias entre cada uma das estrelas e o centro de massa do sistema

e Torb é o período orbital do binário. Atendendo a que, no referencial do centro de

massa, é 2211 rMrM = podemos escrever a equação (1.41) como:

( ) 2orb

31

2

221

32

T

r

G

4

MM

M=

+

Figura 1.16 - Ângulo de inclinação, i, do sistema binário em relação ao observador. Quando i=90º o

observador está sobre o plano orbital do binário. Quando i=0º o observador está sobre a perpendicular ao

plano orbital do binário que passa por M2.

A velocidade orbital da estrela de massa M1 pode escrever-se na forma

v1=(2π/Torb)r1. Substituindo esta velocidade na expressão anterior, por forma a eliminar

r1, resulta:

( ) G2

Tv

MM

M orb31

221

32 =

+

Este resultado estabelece a relação entre as massas das duas componentes do

binário com o respectivo período orbital e a velocidade de translação da estrela visível.

Na prática o que podemos medir é a componente radial (segundo a linha de visão do

observador) de v1 com a ajuda do efeito de Doppler. Assim na expressão anterior deve

figurar o ângulo de inclinação do sistema em relação ao observador. Vamos definir esse

ângulo de inclinação, que designaremos por i, como sendo o ângulo entre a linha de

visão e a perpendicular ao plano orbital do sistema (Figura 1.16). Sendo assim a

expressão anterior adquire a forma:

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Buracos Negros 39

( )( )( ) G2

Tv

MM

iSinM 31

221

32 =+

(1.42)

O lado esquerdo de (1.42) define a chamada Função de Massa (e.g. Cowley 1992)

do sistema binário a qual designaremos por f(M):

( )( )( )2

21

32

MM

iSinM)M(f

+= (1.43)

O valor de f(M) pode ser determinado avaliando o lado direito de (1.42). Fazendo

M1=0 e i=90º o valor de f(M) traduz o limite inferior para o valor da massa M2, ou seja,

da massa do candidato a buraco negro (e.g. Cowley 1992).

1.4.3 Microlentes gravitacionais

Quando um raio de luz atravessa o campo gravítico criado por uma determinada

massa sofre um certo desvio na direcção da respectiva trajectória. Este resultado surge

como uma consequência directa da TRG e já foi testado com êxito durante eclipses

solares (e.g. Kenyon 1991). Quando, por exemplo, a luz proveniente de um enxame de

galáxias distantes é desviada por um outro, mais próximo de nós, fornam-se imagens

múltiplas do primeiro. A este fenómeno chamamos efeito de lente gravitacional e ao

corpo responsável pelo desvio da luz chamamos lente gravitacional (Anexo C). Se a

lente estiver alinhada com a fonte de luz distante então a imagem formada adquire a

forma de um anel (Figura 1.17) usualmente designado por Anel de Einstein. O raio do

Anel de Einstein é dado pela expressão6 (e.g. Mao & Paczynski 1996):

( )f

lflsE D

DDDr2R

−= (1.44)

6 A expressão (1.44) já está adaptada para buracos negros.

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Buracos Negros 40

onde rs é o raio de Schwarzschild da lente dado por (1.3), Dl é a distância entre o

observador e a lente e Df é a distância entre o observador e a fonte luminosa de fundo

(Figura 1.17).

No caso de um corpo de massa estelar podem ser produzidas várias microimagens,

ou seja, imagens separadas por apenas alguns microsegundos de arco. Estas imagens

não podem ser resolvidas, presentemente, por nenhum telescópio. Existe, no entanto,

outro fenómeno que ocorre simultaneamente. Este, ao qual se deu o nome de efeito de

aaaaaa

Figura 1.17 - Se a fonte S, a lente L e o observador O estiverem alinhados então este último regista uma

imagem em forma de anel designada por Anel de Einstein. Df é a distância entre o observador e a fonte e

Dl a distância entre o observador e a lente.

microlente, consiste na ampliação da luz proveniente das fontes de fundo (e.g.

Schneider et al. 1992).

A escala de tempo característica para uma microlente é dada pelo tempo de

atravessamento, tE, do anel de Einstein (e.g. Bennett et al. 2002a):

( )f

lflEE D

DDDGM

cv

4

v

R2t

−==

⊥⊥

(1.45)

onde RE é o raio do anel de Einstein (1.44), v⊥ é a velocidade transversal da lente e M a

respectiva massa. Note-se que quanto maior for a massa da lente e quanto menor for a

respectiva velocidade transversal maior será o tempo de atravessamento.

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Buracos Negros 41

Para grande parte dos eventos as massas determinadas, tendo em conta o

parâmetro tE, são, em regra geral, grosseiras. Não é possível distinguir entre um buraco

negro de 7M e uma estrela pouco luminosa de 0.5M (e.g. Bennett et al. 2002a).

A ampliação por uma microlente é dada pela expressão (e.g. Bennett et al.

2002a):

( ) ( ) ( )2

E

0

2

E2

2

t

tt2

R

btu com

4uu

2utA

−+

=

+

+= (1.46)

Figura 1.18 - Variação da magnitude da fonte de fundo com o tempo para várias distâncias de

aproximação (p=b/RE) da lente à linha de visão do observador (Paczynski 1996).

onde t0 corresponde ao instante de maior aproximação angular entre a fonte e a lente e b

é a distância de maior aproximação da lente à linha de visão do observador. No gráfico

da Figura 1.18 está representada a variação da ampliação da magnitude da fonte com o

tempo para vários valores de p=b/RE.

Para os eventos mais demorados, normalmente devidos a lentes de maior massa, é

possível medir, para além de tE, o desvio na curva de luz da microlente provocado pela

paralaxe. Tipicamente um evento dura entre um a dois meses o que é pouco para que se

possa medir a paralaxe (Bennett et al. 2002a). Se o movimento orbital de uma fonte

binária imitar o movimento orbital da Terra então a curva de luz observada poderá ser

confundida com a de uma microlente (Bennett et al. 2002a). Podemos designar este

efeito, que é o reverso da paralaxe, por "exalarap".

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Buracos Negros 42

No caso de existir paralaxe u(t), na equação (1.46), deve ser substituído por uma

expressão mais complexa onde entram algumas coordenadas e parâmetros orbitais da

Terra (e.g. Bennett et al. 2002a).

Existindo paralaxe mensurável é possível medir, a partir de A(t), a projecção,

segundo a posição do Sol, da velocidade transversal da lente. Esta é dada por (e.g.

Bennett et al. 2002b):

lf

f

DD

Dvv~

−= ⊥ (1.47)

Dispomos assim de duas medições (tE e v~ ) para três incógnitas (M, v⊥ e Dl) o que

nos permite escrever a massa M em função da distância Dl. Assim a partir de (1.45) e

(1.47) obtemos:

lf

lf22

E2

DD

DD

G16

ctv~M

−= (1.48)

Nos projectos em curso (e.g. OGLE (Udalski et al. 1992); MACHO (Alcock et al.

1993); EROS (Aubourg et al. 1993)) as estrelas de fundo pertencem normalmente ou ao

bolbo galáctico ou às Nuvens de Magalhães pelo que a distância Df pode tomar-se como

um valor conhecido. Por exemplo, no caso de estrelas do bolbo galáctico, o valor típico

de Df é de 8kpc (e.g. Bennet et al. 2002b).

1.4.4 Dinâmica estelar e do gás ionizado

Durante as últimas décadas cresceram as suspeitas, baseadas em evidências

observacionais, de que muitas galáxias alojam na sua região central objectos compactos

de grande massa (MDO's - Massive Dark Objects). Esses MDO's poderão ser buracos

negros supermassivos.

A pesquisa de buracos negros supermassivos, no centro de galáxias, faz-se, por

exemplo, a partir da observação da dinâmica estelar ou do gás ionizado em regiões

próximas do centro dessas galáxias. Atendendo a que a cinemática do gás é facilmente

alterada por forças de carácter não gravítico (campos magnéticos, pressão da radiação,

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Buracos Negros 43

vento estelar, etc) as observações efectuadas a partir da dinâmica estelar são, em geral,

mais seguras (e.g. Kormendy & Richstone 1995).

A técnica de pesquisa, baseada na dinâmica estelar, é melhor descrita no caso ideal

da simetria esférica. Nesse caso a massa encerrada no interior de um raio r é dada, a

partir da equação de Boltzmann para um gás sem colisões, por (e.g. Kormendy &

Richstone 1995):

( )

−−

−−−−+=

2r

2

2r

2

2r

2r

2rot

1

1

rlnd

lnd

rlnd

lnd

G

r

G

rvrM (1.49)

onde G é a constante de gravitação universal; vrot é a velocidade de rotação do sistema;

σr, σθ e σϕ são as componentes, num sistema de coordenadas esféricas, da velocidade de

dispersão e ν é a densidade de massa da população em relação à qual medimos a

cinemática.

O valor de ν(r) é estimado a partir do brilho observado. Os brilhos, velocidade de

rotação e velocidade de dispersão observados correspondem naturalmente a valores

projectados. Por sua vez as quantidades presentes na equação (1.49) não estão

projectadas. Para podermos aplicar esta equação torna-se então necessário derivar

quantidades não projectadas que estejam de acordo com os valores observados (e.g.

Kormendy & Richstone 1995).

Bons indicadores da presença de um MDO são um rápido aumento da relação

massa/luminosidade (M/Lv) em direcção ao centro. No caso de uma população estelar

velha o valor M/Lv situa-se entre 1 e 10 (e.g. Kormendy & Richstone 1995). Se o valor

de M/Lv, aumentar em direcção ao centro atingindo valores muito superiores a 10 então

estamos perante um MDO. Esse MDO poderá ser um buraco negro supermassivo mas

também um enxame de estrelas com massas pequenas, anãs castanhas, restos de estrelas

ou matéria escura.

Em modelos com distribuições de velocidades anisotrópicas é muito mais difícil

provar a existência de um MDO central pois, nesse caso, são inúmeras as distribuições

de massa que podem explicar os dados observados. Maximizando a anisotropia

podemos minimizar o valor da massa central. No entanto, se mesmo assim M/Lv

continuar a aumentar em direcção ao centro então temos quase de certeza um MDO

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Buracos Negros 44

(e.g. Kormendy & Richstone 1995). O passo seguinte consiste então em confirmar ou

excluir a hipótese buraco negro.

Provar que um MDO é um buraco negro supermassivo implica medir velocidades

relativistas em órbitas de apenas alguns raios de Schwarzschild. No entanto, dadas as

enormes distâncias a que se encontram os candidatos a buraco negro supermassivo

(Tabela 3.1), incluindo o do núcleo da Nossa Galáxia (Secção 3.1.1), isso não é (ainda)

possível. A alternativa mais provável ao buraco negro é o enxame de restos de estrelas.

Se conseguirmos excluir esta hipótese então teremos dado um grande passo com vista à

confirmação da existência de um buraco negro (e.g. Kormendy & Richstone 1995).

Define-se raio de influência do buraco negro por (Kormendy & Gebhardt 2001):

2inf

GMr = (1.50)

onde σ é a velocidade de dispersão na região central e M a massa encerrada nessa zona.

Um indicador da resolução relativa com que são feitas as observações é dado pela

relação (Kormendy & Gebhardt 2001):

*

infr

rS = (1.51)

onde σ* é a resolução espacial com que foi possível observar o candidato. Em geral σ*

corresponde ao raio mais interior utilizado para a determinação dinâmica da massa

(Kormendy 2003).

1.4.5 MASERs

A amplificação de microondas por emissão estimulada de radiação, normalmente

designada por MASER (Microwave Amplification Stimulated Emission of Radiation),

constitui um dos processos mais seguros na detecção de buracos negros supermassivos.

A emissão estimulada acontece quando um átomo ou molécula num estado

excitado ao ser submetido a um fotão de comprimento de onda adequado desce para um

nível energético inferior, emitindo um fotão que se junta ao primeiro (que serviu apenas

para estimular a emissão). Se este fenómeno for mais importante que a absorção, o que

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Buracos Negros 45

acontece se o meio tiver mais átomos excitados do que no nível normal, o meio

comporta-se como um amplificador emitindo uma risca bastante intensa (e.g. Lequeux

1997).

Se na região central de uma galáxia for produzida energia suficiente para excitar

as moléculas de água das nuvens moleculares que eventualmente existam nas

imediações então teremos uma emissão estimulada bastante forte. O estudo destes

masers pode ser feito com grande resolução a partir da interferometria rádio. Se o

movimento de rotação dos masers respeitar as Leis de Kepler então podemos determinar

de forma bastante segura o valor da massa central (e.g. Ferrarese & Merritt 2002). É o

que acontece no caso de NGC 4258 (Secção 3.1.2).

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Radiação de Hawking 45

2 Radiação de Hawking

2.1 Emissão de radiação por buracos negros

Como já foi referido (Secção 1.2.8) existe uma forte analogia entre as Leis da

Termodinâmica e a mecânica dos buracos negros. Nessa analogia é possível atribuir ao

buraco negro uma temperatura proporcional à gravidade superficial do mesmo. Na

Relatividade Geral Clássica a temperatura de um buraco negro corresponde ao zero

absoluto não havendo qualquer relação física entre esta e a gravidade superficial. Por

essa razão a analogia entre as referidas leis era inicialmente vista como uma mera

curiosidade matemática despida de qualquer significado físico (e.g. Wald 1997).

Esta visão mudou dramaticamente quando Hawking (1974, 1975) provou que os

buracos negros não são realmente negros. Eles radiam energia continuamente em todos

os comprimentos de onda. Esta revelação é baseada na hipótese de que o campo

gravítico do buraco negro cria partículas emitindo-as para o infinito à mesma razão que

um corpo negro emitiria se tivesse uma temperatura igual à determinada pela gravidade

superficial do primeiro.

O espaço "vazio" não pode ser completamente vazio. Se uma dada região do

espaço fosse efectivamente vazia isso significaria que nessa região os campos, como por

exemplo o gravítico e o electromagnético, teriam de ser exactamente zero. Nesse caso

tanto o valor do campo, como a respectiva variação seriam conhecidos de forma exacta.

Esta situação contraria claramente o Princípio da Incerteza de Heisenberg (PIH; e.g.

Cohen-Tanoudji et al. 1977). Tem assim de existir uma quantidade mínima de incerteza

associada ao campo em qualquer ponto do espaço (e.g. Hawking 1994).

Podemos pensar nessa incerteza como flutuações de pares de partículas de luz ou

gravitação que, aparecendo juntas num dado momento, afastam-se e depois voltam a

juntar-se num momento posterior aniquilando-se mutuamente. Estas partículas não

podem ser observadas directamente através de qualquer detector e, por isso, dizem-se

virtuais. O PIH também prevê a formação de pares virtuais de partículas com massa

como, por exemplo, electrões. Neste caso o par será do tipo partícula-antipartícula. As

antipartículas de luz e de gravitação correspondem às respectivas partículas (e.g.

Hawking 1994).

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Radiação de Hawking 46

Para obtenção dos seus resultados Hawking recorreu às técnicas da Teoria

Quântica do Campo. Podemos no entanto atingir o essencial dos mesmos a partir de

uma série de considerações mais elementares. Vamos então, nesta ordem de ideias,

seguir uma abordagem proposta por Schutz (1985). Essa abordagem visa apenas

apresentar os argumentos e ideias que estão por detrás dos resultados de Hawking, não

consistindo, de forma alguma, numa discussão rigorosa dos mesmos.

O PIH pode ser escrito na forma:

=∆∆ tE (2.1)

onde ∆E é a incerteza associada à energia de uma partícula que fica num dado estado

quântico durante um intervalo de tempo ∆t.

Note-se que a criação de um par partícula-antipartícula viola a conservação da

energia. No entanto, se o tempo de vida do par for inferior ao intervalo ∆t dado por (2.1)

então não ocorre a violação de qualquer Lei Física. Podemos dizer que, ao passo que em

larga escala o Princípio da Conservação da Energia é sempre verificado, em pequena

escala o mesmo pode ser violado.

O espaço existente junto ao exterior do horizonte de acontecimentos de um buraco

negro é espaço ordinário e localmente plano. Assim, a formação de pares partícula-

antipartícula deve ocorrer também nessa região.

Considere-se então a formação de um par de fotões de energias +E e -E. No

espaço-tempo plano o fotão de energia negativa não se pode propagar livremente pelo

que terá de se reencontrar forçosamente com o seu companheiro de energia positiva por

forma a aniquilarem-se mutuamente. No entanto, se o par for produzido suficientemente

perto do horizonte de acontecimentos então o fotão de energia negativa tem uma

segunda alternativa a qual consiste na possibilidade de atravessar para a região interior

ao horizonte de acontecimentos antes que ocorra o aniquilamento (Figura 2.1).

Na métrica de Schwarzschild as órbitas exteriores ao horizonte e com energias

negativas correspondem a partículas deslocando-se no sentido do passado e por isso são

excluídas. O mesmo não acontece no interior do horizonte onde são também permitidas

órbitas com energias negativas. Quer isto dizer que, uma vez ultrapassado o horizonte

de acontecimentos o fotão de energia negativa pode propagar-se livremente como

qualquer outro fotão real.

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Radiação de Hawking 47

Figura 2.1 - Formação de pares partícula-antipartícula junto ao horizonte de acontecimentos. A- o par

forma-se e desaparece sem atravessar o horizonte. B- o par forma-se do lado de fora e ambas as partículas

atravessam o horizonte. C- o par forma-se do lado de fora mas apenas a partícula de energia negativa

atravessa o horizonte.

Para entendermos o comportamento de um fotão no interior do horizonte de

acontecimentos é necessário considerar um observador local. Qualquer partícula livre,

no interior do horizonte de acontecimentos, está necessariamente em movimento no

sentido de r decrescente. Consideremos então que a 4-velocidade do nosso observador é,

por simplicidade, da forma:

( )0,0,U,0U r=

Aplicando a condição de normalização:

1gUUU.U rrrr ==

com grr=g11 dado por (1.4), resulta:

2m)(r 1r

m2U r <−−=

onde o sinal negativo indica que o movimento decorre no sentido de r decrescente.

Podemos agora então considerar o movimento de um fotão no interior do buraco negro.

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Radiação de Hawking 48

A energia do fotão, para o observador local, que designaremos por E*, é dada por:

2/1r

rrrr* 1

r

m2PgUPU.PE

−−===

onde o momento radial Pr é dado por dr/dτ (expressão 1.10 escrita na forma

contravariante). Deve ser E*>0 pois só nessas condições é que a geodésica é permitida.

Desde que o fotão se desloque no sentido de r decrescente (Pr<0), como de resto

estamos a considerar, o resultado anterior conduz de facto a um valor positivo. Além

disso não são impostas quaisquer restrições ao sinal de E. Concluímos assim que os

fotões podem viajar no interior do horizonte de acontecimentos, quer tenham E>0 ou

E<0, desde que se desloquem para dentro (Pr<0). Este fenómeno surge como uma

consequência directa da inversão de papeis entre espaço e tempo quando é cruzado o

horizonte de acontecimentos.

No caso de o fotão de energia negativa escapar para o buraco negro então o seu

companheiro, de energia positiva, fica livre. Este fotão pode seguir o mesmo destino do

seu companheiro mas também tem a possibilidade de escapar para o infinito como uma

partícula de luz real. Esta segunda hipótese é particularmente interessante.

Com vista a determinar uma expressão para a energia deste fotão (E>0) vamos

analisar as flutuações quânticas a partir de um referencial em queda livre no exterior do

buraco negro. Neste tipo de referencial, onde o espaço-tempo é localmente plano, as

flutuações comportam-se como se não existisse curvatura. Consideremos então que o

nosso referencial, que pode ser encarado como uma partícula de matéria, é abandonado

a partir do repouso num ponto exterior ao horizonte de acontecimentos caracterizado

por r=2m+∆m (com ∆m<<2m). O referencial irá seguir uma geodésica radial que pode

ser descrita pela equação (1.12) com L=0 e δ=1. O integral da energia que aparece nesta

equação, que aqui será designado por E' (por forma a evitar qualquer confusão entre este

valor e a energia E do fotão), sendo uma constante, pode ser determinado em qualquer

ponto, particularmente em r=2m+∆m. Temos então:

m2

m

mm2

m21'E ≈

+−= (2.2)

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Radiação de Hawking 49

O referencial (partícula) atinge o horizonte de acontecimentos num tempo próprio

finito dado, a partir da equação (1.12), por:

+

+−

−=m2

mm2

mm2

m2

r

m2

dr

Integrando e considerando a aproximação até a primeira ordem em ∆m vem:

mm22 = (2.3)

Se interpretarmos este intervalo de tempo como correspondendo a uma flutuação

quântica do campo, podemos, substituindo (2.3) em (2.1), estimar o valor da energia do

fotão segundo o observador no referencial local. Essa energia é então dada por:

mm22

== (2.4)

Esta energia pode ainda ser escrita em termos do 4-momento, P

, e da 4-

velocidade do observador local, ( )0,0,0,UU t=

, como se mostra a seguir:

tttt gUPU.P ==

(2.5)

Nesta expressão o momento Pt corresponde ao integral do movimento (do fotão)

dado pela expressão (1.8). O seu valor E, constante ao longo de toda a trajectória,

corresponde à energia atribuída ao fotão por um observador no infinito. Os valores de Ut

e de gtt podem ser avaliados no ponto de partida do fotão, ou seja, em r=2m+∆m. No

caso de gtt vem:

m

m2

r

m21

1

g

1g

mm2r

tt

tt ≈

−==

+=

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Radiação de Hawking 50

Para Ut que é, por definição, igual a dt/dτ, temos com a ajuda de (1.8) e de (2.2):

2/1

mm2r

t

m2

m

r

m21

'EU

+=

−=

Fica então:

m2

mgUU tt

tt ≈=

Face às considerações anteriores podemos escrever, a partir de (2.5), a expressão

que relaciona a energia do fotão no referencial local, ξ, com a energia do fotão no

infinito, E, na forma:

m2

mE =

Este último resultado pode ser combinado com (2.4) obtendo-se a seguinte

expressão para a energia do fotão ao atingir o infinito:

m8

h

m4E

π==

(2.6)

É importante notar que a energia do fotão no infinito depende apenas da massa do

buraco negro e que quanto menor for essa massa mais energético será o fotão. O

resultado não apresenta qualquer dependência do ponto onde é originado o par de

fotões.

A temperatura de um gás de partículas clássicas pode relacionar-se com a energia

cinética de cada uma das partículas através da expressão:

kT2Ec = (2.7)

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Radiação de Hawking 51

onde k é a constante de Boltzmann e a constante de proporcionalidade 2π foi

introduzida por conveniência. Considerando que os fotões são emitidos termicamente

vamos igualar a respectiva energia, dada por (2.6), à expressão (2.7). Fica então:

km8T

= (2.8)

Esta expressão, para a temperatura de um buraco negro de massa m, corresponde

ao resultado exacto encontrado por Hawking ao considerar o buraco negro como um

corpo negro. Na abordagem seguida anteriormente (Schutz 1985) não é possível mostrar

que assim é, de facto. No entanto, é facilmente aceitável que um buraco negro é, na sua

essência, um corpo negro, visto absorver toda a radiação incidente e emitir radiação

própria com origem em flutuações aleatórias.

A expressão (2.8) pode escrever-se em unidades não geometrizadas, substituindo

m por (1.2) e multiplicando tudo pela velocidade da luz. Obtemos então:

kGM8

cT

3

= (2.9)

onde a temperatura T é dada em graus Kelvin. Esta expressão pode ainda escrever-se de

uma forma mais sugestiva se substituirmos as constantes físicas pelos respectivos

valores e introduzirmos a massa solar M . Temos assim (e.g. Demianski 1985):

( )K M

M102.6T 8 r−×≈ (2.10)

Verifica-se que a temperatura de um buraco negro será tanto menor quanto maior

for a sua massa. Um buraco negro de 1M apresenta uma temperatura de apenas 6.2×10-

8 K.

Se um buraco negro emite radiação como um corpo negro então deve apresentar

um espectro de emissão contínuo com uma curva semelhante à que se representa na

Figura 2.2. A emissão ocorre para todos os comprimentos de onda, mas não com a

mesma intensidade. Para uma dada temperatura T existe um comprimento de onda λmax

para o qual a intensidade de emissão é máxima.

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Radiação de Hawking 52

Figura 2.2 - Espectro da radiação do corpo negro em função do comprimento de onda, para várias

temperaturas. Note-se que, para cada temperatura existe um comprimento de onda máximo (λmax) para o

qual a curva tem um máximo. O valor de λmax, decresce com o aumento da temperatura e quanto maior o

valor desta mais alto é o pico da curva (Eisberg & Resnick 1985)

A temperatura T e o comprimento de onda λmax relacionam-se entre si, segundo a Lei de

Wien (e.g. Eisberg & Resnick 1985), pela expressão:

(Km) 10898.2T 3max

−×= (2.11)

É assim possível associar a cada buraco negro um comprimento de onda

(máximo). A um buraco negro de Schwarzschild com 1.5M , por exemplo, corresponde

uma temperatura de 4.1×10-8K e um comprimento de onda λmax≈70.6km. Trata-se

portanto de um buraco negro rádio-VLF (Figura 4.7).

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Radiação de Hawking 53

2.2 Emissão de radiação de Hawking por buracos negros com carga eléctrica ou com rotação

A radiação de Hawking foi introduzida (na secção anterior), por simplicidade,

tendo por base o buraco negro de Schwarzschild. Assim, as expressões (2.8), (2.9) e

(2.10) são válidas apenas para buracos negros de Schwarzschild. Uma expressão mais

geral para a temperatura de buracos negros pode escrever-se, em unidades

geometrizadas, como (e.g. Wald 1984):

k2

T

= (2.12)

onde κ∼(∂m/∂A) é a gravidade superficial do buraco negro (Secção 1.2.8). No caso de

um buraco negro de Kerr-Newmann a gravidade superficial é dada por (e.g. Wald

1984):

2222

222

]amm[m2

am

−−−+

−−= (2.13)

Substituindo (2.13) em (2.12) obtemos a expressão para a temperatura dos buracos

negros de Kerr-Newmann:

2/1

2

222

m

a1

m

2

111

2

km8k2

T

+−

−+

==

(2.14)

A partir daqui podemos tirar imediatamente as expressões para a temperatura de

buracos negros de Kerr e buracos negros de Reissner-Nordström. Por exemplo, para um

buraco negro de Kerr (a≠0, ε=0) temos:

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Radiação de Hawking 54

2/12

m

a11

2

km8T

−+

=

(2.15)

e para um buraco negro de Reissner-Nordström (a=0, ε≠0):

2/122

m

1

m

2

111

2

km8T

−+

=

(2.16)

No caso de um buraco negro de Schwarzschild a fracção mais à direita em cada

uma das expressões anteriores é igual à unidade pelo que recuperamos naturalmente a

expressão (2.8).

2.3 Emissão de radiação de Hawking por buracos negros uniformemente acelerados

O efeito de Unruh, consiste na "experiência pensada" da detecção de partículas por

um detector uniformemente acelerado no espaço-tempo de Minkowski (Unruh 1976).

Um observador uniformemente acelerado, também designado por observador de

Rindler, regista um banho térmico de partículas provenientes de um determinado

horizonte à sua volta. A temperatura associada a esse banho de partículas é dada pela

expressão (e.g. Wald 1984):

(K) A104T r25−×≈ (2.17)

onde Ar é a aceleração. Essas partículas são reais para observadores em aceleração não

existindo, contudo, para os restantes observadores. Um sistema uniformemente

acelerado pode ser visto como uma versão simplificada de um sistema em repouso no

exterior de um buraco negro. Estas considerações ilustram a ambiguidade existente na

definição de partícula no espaço-tempo curvo (e.g. Wald 1984, Ohnishi & Takagi

1992).

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Radiação de Hawking 55

Figura 2.3 - Observador uniformemente acelerado no espaço-tempo de Minkowski. O ramo de hipérbole

χ=const. representa a linha do universo desse observador. Tanto no passado como no futuro do

observador existe um horizonte que não pode ser transposto. Esse horizonte, designado por horizonte de

aceleração, não encerra qualquer singularidade (adaptado de Kiefer 2002).

Considere-se um observador uniformemente acelerado ao longo do eixo XX' do

espaço-tempo de Minkowski. A linha do universo deste observador é uma hipérbole

como se mostra na Figura 2.3. Verifica-se que o observador encontra, no seu futuro, um

horizonte que não pode transpor. Esse horizonte que, ao contrário do horizonte de

acontecimentos de um buraco negro, não encerra qualquer singularidade, é designado

por horizonte de aceleração.

A região I, representada na Figura 2.3, é também designada por espaço-tempo de

Rindler. A métrica correspondente a este espaço-tempo, também designada por métrica

de Rindler, pode escrever-se, com duas das coordenadas espaciais suprimidas, como

(e.g. Kiefer 2002):

2222r

222 ddAdxdtds −=−= (2.18)

onde as coordenadas (ζ,χ) relacionam-se com (t,x) pela transformação:

=

)Acosh(

)Asinh(

x

t

r

r

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Radiação de Hawking 56

Um buraco negro em rotação e a deslocar-se com movimento uniformemente

acelerado pode ser descrito pela denominada métrica C, a qual se pode escrever na

forma (e.g. Yu 1995):

( )( )

( ) ( ) ]dzaradt[

xG

]dzx1adt[

dx

xG

dr

f

1ds

222

22222

+−−

−−+−−=

(2.19)

onde:

( )2rrxA1f += , 222 xar +=

41

2r1

222 rAamr2r −+−= (2.20)

( ) 41

2r

23r

221 xAaxmA2xxG −−−=

2r

21 Aa1

1

+= ,

2r

2

2r

2

2 Aa1

Aa1

+

−=

Aqui m, a e Ar são parâmetros que correspondem respectivamente à massa,

rotação e aceleração do buraco negro. Quando Ar=0 a métrica C reduz-se à métrica de

Kerr na forma de Boyer-Lindquist (1.24). Por outro lado considerando m=a=0 a métrica

C reduz-se ao elemento de linha de Rindler (2.18).

Os horizontes para um buraco negro com rotação uniformemente acelerado

obtêm-se igualando (2.20) a zero. Esta equação tem, no caso geral, quatro raízes. Uma

dessas raízes é sempre negativa e, por isso, não tem significado físico. As restantes

podem escrever-se na forma (Yu 1995):

REDr 1h ++−= ; REDr 2h +−= ; REDr 3h −+= (2.21)

onde:

Page 79: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Radiação de Hawking 57

−−=

3

1

3

1Cos 1

A6

1D

r

+−=

3

1

3

1Cos 1

A6

1E

r

+=

3

1Cos 1

A6

1R

r

e:

4r

42r

2 AaAa141 +−=

0 com

ArcCos

3<<

−=

( )22r

22r

26r

64r

42r

2 Aa1Am54AaAa33Aa331 +−−−+=

Quando a aceleração Ar tende para zero temos um buraco negro de Kerr. Nesse

caso rh1 diverge enquanto que rh2 e rh3 coincidem, respectivamente, com (1.28) e (1.29).

Quando a tende para zero estamos perante um buraco negro de Schwarzschild

uniformemente acelerado. Nesse limite os horizontes podem escrever-se na forma (Yu

1995):

3

1Cos

A3

2r

r

1h (2.22)

+→

3

1

3

1Cos

A3

2r

r

2h (2.23)

0r 3h →

Page 80: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Radiação de Hawking 58

onde:

( )rmA33ArcCos −= (2.24)

Se considerarmos ainda m a tender para zero obtemos, nesse limite, o seguinte:

r1h A

1r → , 0r 2h → e 0r 3h →

A análise dos resultados anteriores permite constatar que rh1 corresponde ao

horizonte de Rindler, rh2 ao horizonte exterior do buraco negro e rh3 ao respectivo

horizonte interior.

Podemos avaliar a temperatura sobre qualquer um dos três horizontes, dados por

(2.21), através da expressão (Yu 1995):

( )22hi

rrii ar

dr

d

k4k2

T hi

+==

= (2.25)

onde k é a contante de Boltzmann, κ é a gravidade superficial, a é a velocidade de

rotação do buraco negro e ∆ é dado pela expressão (2.20).

A aceleração de um buraco negro de Schwarzschild não pode assumir qualquer

valor. De facto a partir de (2.24) tiramos que deve ser:

m33

1A r ≤ (2.26)

No caso de um buraco negro de Kerr uniformemente acelerado o valor de Ar deve

respeitar a condição (Yu 1995):

( )( ) 0maAama33ma54ma27A

a2m27ma33Aam266

r62442444

r

44222r

22

>−+++−

−−+−(2.27)

Page 81: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Radiação de Hawking 59

2.4 Emissão de partículas com massa

Na radiação de Hawking também podem ser emitidas partículas com massa. Estas

resultam, como no caso dos fotões, da separação de pares partícula-antipartícula

originados pelas flutuações do campo. Neste caso, para que a separação se concretize, é

necessário que as forças de maré originadas pelo campo gravítico do buraco negro

provoquem um afastamento entre ambas as partículas da ordem do respectivo

comprimento de onda de Compton, λc (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983). Este

comprimento de onda, característico para cada partícula com massa, é dado pela

expressão (e.g. Eisberg & Resnick 1985):

cm

h

0c = (2.28)

onde m0 é a massa da partícula.

No caso de um buraco negro de massa M, a força de maré, ao longo da distância

λc, é da ordem de (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983):

c30

r

MGm

Para obter a ordem de grandeza do trabalho efectuado podemos multiplicar a

expressão anterior por λc. Por outro lado esse trabalho deve ser equivalente à energia

necessária para criar as duas partículas. Sendo assim podemos escrever:

20

2c3

0 cm2r

MGm≈

Considerando que a separação ocorre muito próximo do horizonte de

acontecimentos, onde o campo gravítico é mais forte, vamos substituir r pelo raio de

Schwarzschild (1.3). Substituindo também λc por (2.28) tiramos que:

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Radiação de Hawking 60

0

2p

0 m

mM

Gm

chM ≤⇔≤ (2.29)

onde mp é a massa de Planck. Esta expressão indica a ordem de grandeza da massa que

o buraco negro deverá ter para que possam ser emitidas, via radiação de Hawking,

partículas de massa m0.

2.5 Evaporação de um buraco negro

A luminosidade da radiação emitida por um corpo negro esférico é, segundo a Lei

de Stefan-Boltzmann, dada pela seguinte expressão (e.g. Harwit 1998):

42 Tr4L σπ= (2.30)

onde σ é a constante de Stefan-Boltzmann, r é o raio da superfície emissora e T a

respectiva temperatura. No caso do corpo negro ser um buraco negro de Schwarzschild

a superfície emissora corresponde ao horizonte de acontecimentos. Assim, r é dado pelo

raio de Schwarzschild (1.3) e T corresponde à temperatura de Hawking dada pela

expressão (2.9). Substituindo (1.3) e (2.9) em (2.30) vem:

( )W M

106.3

k4

c

MG

L

2

3242

223BN

×≈

=

(2.31)

Esta é a expressão para a luminosidade de um buraco negro de Schwarzschild

segundo um observador no infinito. Verifica-se que a energia responsável pela

luminosidade do buraco negro tem origem única e exclusivamente na respectiva massa.

A emissão de radiação por um buraco negro é, portanto, acompanhada por um

decréscimo da massa do mesmo.

Este decréscimo em massa pode entender-se como uma consequência do fluxo de

energia negativa que entra no buraco negro. De facto um fotão com uma energia

negativa tem a si associada uma massa também ela negativa (E=mc2). Assim, quando

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Radiação de Hawking 61

um desses fotões penetra no buraco negro, a sua massa associada soma-se

algebricamente à massa (positiva) do buraco negro.

A expressão para a taxa da perda de massa pelo buraco negro pode ser escrita

como (e.g. Maki et al. 1996):

( ) ( )1-2

16

kgs M

Mf1034.5

dt

dM ×−= (2.32)

onde f é uma função que varia muito lentamente com a massa M do buraco negro. Para

M>>1014kg é f(M)≈1 (e.g. Maki et al. 1996) e para M<<108kg é f(M)≈15.4 (e.g.

Semikoz 1994).

O processo de perda de massa por um buraco negro é normalmente designado por

evaporação. O tempo de evaporação, para um buraco negro isolado, obtém-se a partir da

integração de (2.32). Tendo em conta que f varia muito lentamente com M (e.g. He &

Fang 2002) podemos considerar:

( )( )s

Mf106.1

MMt

17

3f

3i

evap×

−≈ (2.33)

que corresponde ao intervalo de tempo necessário para que a massa do buraco negro

passe do valor inicial Mi para o valor final Mf.

Consideremos, como exemplo, o intervalo de tempo necessário para que um

buraco negro de 2M , isolado, evapore reduzindo a sua massa para 1M . Substituindo

estas massas em (2.33) e fazendo f(M)=1 obtemos tevap ≈ 3.4×1074s ≈ 1.1×1067 anos.

Acontece que este valor é muito superior à idade estimada para o Universo, a qual é da

ordem dos 1010 anos (e.g. Unsöld & Baschek 2002), o que significa que os buracos

negros de massa estelar e superior praticamente não são afectados pela evaporação.

O conceito de evaporação torna-se, contudo, particularmente útil e interessante

quando aplicado a buracos negros de massa subestelar. Esses buracos negros podem ter-

se formado nos primórdios do Universo (Secção 1.3.2). Uma vez formados podem ter

evoluído evaporando e/ou aumentando as respectivas massas através da acreção de

matéria (Secção1.4.1). Muitos deles podem já ter evaporado completamente enquanto

que outros podem estar em fases mais ou menos avançadas do processo de evaporação.

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Radiação de Hawking 62

Um buraco negro primordial com uma massa inicial de 1012kg estaria agora (admitindo

a idade do Universo igual a 1010 anos) na fase final da evaporação.

Acabamos de ver que durante o processo de evaporação o buraco negro perde

massa o que implica que a sua área, e portanto a sua entropia, diminua. Estamos perante

uma violação do Teorema da Área (Secção 1.2.8) ou, se quisermos, da Segunda Lei da

Termodinâmica para buracos negros. O Teorema da Área deve então ser substituído

pela (Bekenstein 1974):

Segunda Lei da Termodinâmica generalizada - Em qualquer

interacção, a soma das entropias de todos os buracos negros com a

entropia da matéria existente fora do buraco negro nunca decresce.

Um buraco negro estelar capta muito mais matéria, por acreção esférica (Secção

1.4.1), do que aquela que perde por evaporação. Por exemplo, um buraco negro de 1M

tem, de acordo com (2.32), uma taxa de evaporação da ordem de 10-43kgs-1. O mesmo

buraco negro, mergulhado numa região HII, apresenta uma taxa de acreção de matéria

(em regime adiabático) da ordem de 107kgs-1 (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983). Nestes

casos continua a ser perfeitamente aplicável o Teorema da Área (Secção 1.2.8). Apenas

para buracos negros mais pequenos (Secção 4.2), para os quais a evaporação é mais

rápida, podemos ter a situação contrária.

2.6 Explosões de buracos negros

Na emissão de fotões, neutrinos, gravitões e leptões, por um buraco negro,

podemos assumir que essas partículas se comportam como se fossem pontuais. O

mesmo não se pode dizer dos hadrões (Page & Hawking 1976) pois quando estes

começam a ser emitidos a ordem de grandeza da dimensão do buraco negro é igual ou

inferior à do alcance da força nuclear forte (10-15m). Os mesões π0 (Anexo D), por

exemplo, passam a ser emitidos, de acordo com (2.29), quando a massa do buraco negro

é de ≈4.2×1011kg, ou seja, quando o respectivo raio, dado por (1.3), é de ≈6.2×10-16m.

Para explicar a emissão de hadrões é então necessário recorrer a modelos baseados

na Teoria da Cromodinâmica Quântica (quantum chromodynamics - QCD) (e.g. Cline

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Radiação de Hawking 63

& Hong 1992; Semikoz 1994; Belyanin et. al. 1996). Esta teoria, desenvolvida com o

objectivo de quantificar as interacções fortes entre quarks e gluões, permite explicar a

produção de jactos de matéria hadrónica emitidos na fase final da evaporação de um

buraco negro.

A escala energética associada à teoria QCD, habitualmente designada por ΛQCD, é

da ordem de 0.3GeV (e.g. Semikoz 1994) ao que corresponde uma temperatura da

ordem de 1012K.

Quando a temperatura do buraco negro excede este valor passam a ser emitidos

quarks e gluões em vez de partículas compostas. Nos jactos, compostos por quarks e

gluões, acabam por formar-se hadrões com especial predominância para os mesões π.

Alguns bariões (exceptuando protões e neutrões) e mesões K desintegram-se pouco

depois fornecendo mais mesões π (Anexo D). A ordem de grandeza do fluxo de mesões

π, formados a partir dos jactos de quarks e gluões, pode estimar-se através da expressão

(Belyanin et al. 1996):

)(s T107.2dt

dN 1-5.16 ×≈ (2.34)

Todos os três tipos de mesões π surgem no jacto com igual probabilidade. Os

mesões π+ e π- acabam desintegrando-se em partículas como electrões, positrões e

neutrinos. Porventura mais interessante, do ponto de vista observacional, é a

desintegração dos mesões πo. Estes decaem em dois fotões gama cada qual

transportando metade da energia da partícula inicial (Semikoz 1994). Assim, podemos

escrever o fluxo de fotões gama, resultantes da decomposição de mesões π0, na forma:

dt

dN

3

2

dt

dN = (2.35)

Mesmo depois de ultrapassado o limite a partir do qual as interacções fortes se

tornam importantes, o buraco negro continua a emitir directamente fotões gama

(Semikoz 1994). Designaremos por primários os raios gama emitidos directamente pelo

buraco negro e, por secundários os raios gama resultantes da desintegração dos mesões

πo.

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Radiação de Hawking 64

Os raios gama secundários têm energias próximas dos 70MeV (metade da massa

do mesão π0) sendo este valor pouco dependente da temperatura do buraco negro

(Belyanin et al. 1996). Por seu turno os raios gama primários têm energias que serão

tanto maiores quanto mais avançada for a fase de evaporação do buraco negro (Secção

2.1).

O tempo de vida de um buraco negro na fase terminal da evaporação pode

determinar-se a partir da equação (2.33). Verifica-se que, por exemplo, um buraco negro

com uma massa de 107kg, evapora em cerca de 7 minutos. Quando a massa for 106kg o

tempo de evaporação será de apenas 0.4 segundos. Como são libertadas grandes

quantidades de fotões gama (cerca de 1030 no último caso) num curto intervalo de

tempo, ocorre uma espécie de explosão de raios gama (e.g. Semikoz 1994).

Desde os anos 70 que se observam na natureza explosões de raios gama (e.g.

Fishman & Meegan 1995) habitualmente designadas por GRBs (Gamma Ray Bursts).

Os GRBs observados têm durações que vão desde os 10-3s aos 103s sendo o

grosso da energia emitido entre 0.1MeV e 1.0MeV (e.g. Galama & Sari 2002). A

hipótese de que alguns dos GRBs observados estejam relacionados com a explosão de

buracos negros primordiais foi por diversas vezes equacionada (e.g. Page & Hawking

1976, Semikoz 1994, Belyanin et al. 1996).

Com o lançamento do satélite BeppoSAX (em 1996) tornou-se possível identificar

a posição dos GRBs de maior duração (>2s) com um erro de ≈3' (e.g. Vreeswijk et al.

2000). Foi então possível observar a emissão associada a esses GRBs noutras bandas do

espectro (rádio, óptico e raios X). A análise dos resultados veio revelar que estas

explosões ocorrem a distâncias da ordem dos Gpc (e.g. Galama & Sari 2002) não

podendo por isso ser atribuidas a explosões de buracos negros que seriam detectáveis

apenas a distâncias inferiores a 100AL (Secção 4.4.8).

Os GRBs de curta duração (<2s) nunca foram localizados com precisão suficiente

para que se possam efectuar observações dos mesmos noutras bandas do espectro pelo

que não são conhecidas as distâncias a que ocorrem (e.g. Galama & Sari 2002). Alguns

destes GRBs são consistentes com a explosão de buracos negros primordiais (e.g. Cline

et al. 1999).

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Radiação de Hawking 65

2.7 Destino final de um buraco negro

A descoberta da emissão de radiação por buracos negros veio mostrar que estes

não podem ser, como se poderia pensar, o produto final estável do colapso gravitacional

de um corpo celeste. Hawking (1974) considerou o espaço-tempo de Schwarzschild

como um cenário fixo onde se propagavam os campos quânticos. Neste modelo

semiclássico um buraco negro de Schwarzschild isolado evapora continuamente

acabando por explodir (Secção 2.6). O produto final seria, neste caso, uma singularidade

nua, ou seja, um singularidade sem um horizonte de acontecimentos à sua volta.

A existência de uma singularidade nua levanta o problema da entrada de

informação não previsível no nosso Universo uma vez que nesse ponto deixariam de ser

aplicáveis as Leis da Física tal como as conhecemos (e.g. Page 1986). A ocorrência de

uma singularidade nua é de tal forma problemática que foi introduzida, por Roger

Penrose, a ideia da existência de um Censor Cósmico que as proíbe (e.g. d'Inverno

1992).

A emissão da radiação de Hawking é, como vimos (Secção 2.5), acompanhada por

um decréscimo da massa do buraco negro. Isto significa que o espaço-tempo de um

buraco negro em evaporação não é estático. A radiação de Hawking, emitida pelo

buraco negro, deve ter algum efeito sobre a geometria do espaço-tempo (e.g. Balbinot

1984). Esse efeito, habitualmente designado por contra-reacção (backreaction), não foi

considerado de inicio por Hawking (1974).

A inclusão da contra-reacção poderá revelar qual o destino final de um buraco

negro em evaporação (e.g. evapora completamente, deixa uma singularidade nua, deixa

um resto de massa macroscópica, deixa um resto de massa Planckiana...). Embora

tenham sido efectuados nos últimos anos vários estudos sobre esta matéria (e.g.

Balbinot & Barletta 1989, Brout et al. 1995, Diba & Lowe 2002, Chen 2003) não

existem resultados concludentes.

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Candidatos a buraco negro 67

3 Identificação de objectos candidatos a Buraco Negro

3.1 Buracos negros supermassivos

Durante as últimas décadas cresceram as suspeitas, baseadas em evidências

observacionais, de que muitas galáxias alojam na sua região central buracos negros

supermassivos. As observações baseiam-se sobretudo em estudos da dinâmica estelar e

do gás ionizado (Secção 1.4.4) ou dos maser's (Secção 1.4.5).

Com observações de maior resolução efectuadas a partir do espaço,

nomeadamente pelo Huble Space Telescope (HST), alguns desses candidatos a buraco

negro viram o seu caso muito reforçado. Para além disso o HST permitiu descobrir

muitos mais candidatos (e.g. Kormendy & Gebhardt 2001).

Importa, no entanto, realçar que, apesar da evolução a nível de resolução, estamos

ainda a observar a vários raios de Schwarzschild do centro. Por exemplo, à distância do

centro da Galáxia (≈8×103pc), onde se presume existir um buraco negro de 3.7×106M

(Secção 3.1.1), uma resolução de 5×10-5'' (resolução máxima do VLBI - Very Long

Baseline Interferometry; e.g. Melia & Falcke 2001) corresponde a 2×10-6pc (≈0.4UA) o

que, neste caso, equivale a cerca de 6 raios de Schwarzschild.

Na Tabela 3.1 indicam-se as 37 galáxias em cujo núcleo se julga existir um buraco

negro supermassivo (e.g. Kormendy 2003). Alguns dos candidatos são mais seguros que

outros. Se tomarmos como indicador de segurança o valor de Sr (Secção 1.4.4) então

destacam-se claramente, da Tabela 3.1, cinco candidatos. São eles (por ordem

decrescente de segurança): Via Láctea, NGC4258, M31, NGC3115 e M87. Descrevem-

se em seguida, de forma muito resumida, algumas das características destes cinco

candidatos. Como contra-exemplo é indicado o caso da galáxia M33 em cujo centro se

provou não existir um buraco negro supermassivo (Secção 3.1.6).

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Candidatos a buraco negro 68

Tabela 3.1 - Galáxias com candidatos a Buracos Negros Supermassivos. Na coluna 1 são indicadas as

37 galáxias em cujo centro se julga existir um buraco negro supermassivo (e.g. Kormendy 2003). Na

coluna 2 é indicado o tipo de evidência dinâmica (estelar, gás ou maser) que levou à identificação do

candidato a buraco negro. Na coluna 3 é indicado o tipo de galáxia e na coluna 4 a respectiva distância em

Mpc. Na coluna 5 é indicada a velocidade de dispersão, σ, medida fora da esfera de influência do buraco

negro. Na coluna 6 é indicada a massa do buraco negro e o respectivo erro. Por exemplo, dizer que a

massa de M32 é 2.9 (2.3-3.5)×106M significa que o valor da massa de M32 situa-se entre 2.3×106M e

3.5×106M sendo o seu valor mais provável igual a 2.9×106M . Na coluna 7 é indicado o raio de

influência do buraco negro (rinf) medido em arcos de segundo e na coluna 8 a resolução espacial, σ*, com

que os candidatados foram observados. Na coluna 9 é indicado o valor da relação Sr=rinf/σ*. Os dados da

tabela foram retirados de Kormendy (2003).

Galáxia Dinâmica TipoDistância

(Mpc) σσσσ

(km/s)Massa (M )

rinf

('') σσσσ* ('') Sr

Via Láctea Estelar Sbc 0.008 103 3.7 (3.3-4.1)×106 38.8 0.0159 2438

M 32 NGC 221

Estelar E2 0.81 75 2.9 (2.3-3.5)×106 0.56 0.052 10.83

M 31 NGC 224

Estelar Sb 0.76 160 7.0 (3.0-20.0)×107 3.20 0.039 81

NGC 821 Estelar E4 24.1 209 3.7 (2.9-6.1)×107 0.031 0.052 0.60

NGC 1023 Estelar S0 11.4 205 4.4 (3.9-4.8)×107 0.081 0.068 1.18

M 77 NGC 1068

Maser Sb 15 151 1.5×107 0.039 0.008 4.8

NGC 2778 Estelar E2 22.9 175 1.4 (0.5-2.2)×107 0.018 0.052 0.34

NGC 2787 Gás SB0 7.5 140 4.1 (3.6-4.5)×107 0.248 0.068 3.63

M 81 NGC 3031

Estelar Sb 3.9 143 6.8 (5.5-7.5)×107 0.76 0.068 11.08

NGC 3115 Estelar S0 9.7 182 1.0 (0.4-2.0)×109 2.77 0.047 59

NGC 3245 Gás S0 20.9 205 2.1 (1.6-2.6)×108 0.213 0.068 3.11

NGC 3377 Estelar E5 11.2 145 1.0 (0.9-1.9)×108 0.38 0.111 3.4

M 105 NGC 3379

Estelar E1 10.6 206 1.0 (0.6-2.0)×108 0.201 0.111 1.81

NGC 3384 Estelar S0 11.6 143 1.6 (1.4-1.7)×107 0.060 0.052 1.15

NGC 3608 Estelar E2 22.9 182 1.9 (1.3-2.9)×108 0.223 0.052 4.3

NGC 4291 Estelar E2 26.2 242 3.1 (0.8-3.9)×108 0.180 0.052 3.45

M 106 NGC 4258

Maser Sbc 7.2 105 3.9 (3.8-4.0)×107 0.44 0.0047 93

NGC 4261 Gás E2 31.6 315 5.2 (4.1-6.2)×108 0.146 0.058 2.54

NGC 4342 Estelar S0 15.3 225 3.1 (2.0-4.8)×108 0.351 0.135 2.60

M 84 NGC 4374

Gás E1 18.4 296 1.6 (0.4-2.8)×109 0.89 0.068 13.1

(continua)

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Candidatos a buraco negro 69

Tabela 3.1 - Galáxias com candidatos a Buracos Negros Supermassivos (continuação)

Galáxia Dinâmica TipoDistância

(Mpc) σσσσ

(km/s)Massa (M )

rinf

('') σσσσ* ('') Sr

NGC 4459 Gás SA0 16.1 186 7.0 (5.7-8.3)×107 0.112 0.068 1.63

NGC 4473 Estelar E5 15.7 190 1.1 (0.3-1.5)×108 0.173 0.052 3.31

NGC 4486B Estelar E1 16.1 185 6.0 (4.0-9.0)×108 0.97 0.258 3.75

M87 NGC 4486

Gás E0 16.1 375 3.4 (2.5-4.4)×109 1.35 0.043 31.3

NGC 4564 Estelar E3 15.0 162 5.6 (4.8-5.9)×107 0.127 0.052 2.43

NGC 4596 Gás SB0 16.8 152 7.8 (4.5-11.6)×107 0.179 0.068 2.61

M 104 NGC 4594

Estelar Sa 9.8 240 1.1 (0.3-3.4)×109 1.73 0.111 15.61

M 60 NGC 4649

Estelar E1 16.8 385 2.0 (1.4-2.4)×109 0.71 0.052 13.71

NGC 4697 Estelar E4 11.7 177 1.7 (1.6-1.9)×108 0.41 0.052 7.9

NGC 4742 Estelar E4 15.5 90 1.4 (0.9-1.8)×107 0.099 0.068 1.45

NGC 4945 Maser Scd 3.7 - 1.4×106 - - -

NGC 5128 Gás S0 4.2 150 2.4 (0.7-6.0)×108 2.26 0.205 11.03

NGC 5845 Estelar E 25.9 234 2.4 (1.0-2.8)×108 0.150 0.111 1.36

NGC 6251 Gás E2 93 290 5.3 (3.7-6.8)×108 0.060 0.050 1.21

NGC 7052 Gás E4 58.7 266 3.3 (2.0-5.6)×108 0.071 0.135 0.52

NGC 7457 Estelar S0 13.2 67 3.5 (2.1-4.6)×106 0.053 0.052 1.01

IC 1459 Estelar S0 29.2 340 2.5 (2.1-3.0)×109 0.661 0.052 12.69

3.1.1 Via Láctea

O centro da Nossa Galáxia, embora bastante complexo (se calhar típico de

qualquer galáxia), é também bastante estudado em virtude da sua proximidade. Para

uma introdução às condições físicas, dinâmicas e distribuição de massa no centro da

Galáxia ver, por exemplo, Genzel & Townes (1987), de Zeeuw (1993) ou Melia &

Falcke (2001).

A velocidade de rotação do gás entre 2pc e 4pc do centro é constante, sendo o seu

valor 110kms-1 (Genzel & Townes 1987). Este valor implica a existência de uma massa

da ordem de 106M dentro do parsec central desde que o movimento do gás seja circular

(Kormendy & Richstone 1995).

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Candidatos a buraco negro 70

Imagens obtidas no infravermelho próximo revelaram a existência de um enxame

de estrelas em torno de Sgr A* (fonte rádio no centro da Galáxia). Enxames compostos

por anãs brancas, estrelas de neutrões, buracos negros de massa estelar ou outros corpos

de massa subestelar que tenham uma massa e uma densidade comparáveis às observadas

no centro da Nossa Galáxia não são estáveis por períodos superiores a 107 anos.

Acontece que as estrelas presentes no centro da Galáxia têm idades superiores a 108 ou

109 anos. Este argumento permite concluir que o MDO presente no centro da Nossa

Galáxia não pode consistir apenas num enxame compacto de estrelas pouco luminosas

(Eckart & Genzel 1999).

Genzel et al. (1996) determinaram as velocidades radiais de 223 das estrelas do

enxame central situadas entre 22.7'' e 1.1''. O valor mais alto registado foi de 452kms-1

para a estrela IRS 16SE (a 2.0'' de Sgr A*). Desde 1995 que se têm vindo a observar

estrelas cada vez mais próximas do centro. Actualmente são estudadas 22 estrelas que se

aproximam a menos de 0.4'' de Sgr A* (Ghez et al. 2003). Na Figura 3.1 estão indicadas

as posições (entre 1995 e 2003) e órbitas de seis dessas estrelas, para as quais foi

possível determinar o vector aceleração.

Das 6 estrelas representadas na Figura 3.1 as que mais se aproximam do centro

são S0-2, S0-16 e S0-19. O valor da massa central pode ser estimado com uma maior

precisão a partir da análise do movimento orbital destas estrelas (Ghez 2003).

Assim, no ano 2000, quando a estrela S0-16 passou a cerca de 60UA do centro a

uma velocidade de 9000kms-1 foi possível estimar o valor da massa central em

3.7×106M (Ghez 2003).

3.1.2 M106 (NGC 4258)

Esta é uma galáxia espiral com um núcleo activo onde se descobriram masers de

água (Claussen et al. 1984). Essa descoberta veio dar uma grande contribuição na

pesquisa de um buraco negro supermassivo na região central.

São conhecidos vários masers a menos de 0.3pc do centro (Figura 3.2) com

velocidades de rotação Keplerianas e trajectórias praticamente circulares. Os masers

mais interiores rodam a aproximadamente 1000kms-1 (e.g. Kormendy 2003).

As observações apontam para uma massa central de 3.9×107M (e.g. Kormendy

2003). O facto de esta massa ser conhecida com grande precisão (Tabela 3.1) e estar

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Candidatos a buraco negro 71

xxx

Figura 3.1 - Evolução das posições (entre 1995 e 2003) de seis das estrelas que mais se aproximam de

Sgr A*. São também indicadas as respectivas trajectórias (Ghez 2003). Para o centro da Galáxia a 8kpc de

distância, 1'' corresponde a 0.04pc. Assim cada divisão da escala da figura corresponde a

0.05''≈0.002pc≈414UA

encerrada num volume tão pequeno (r<0.1pc) faz de NGC 4258 um dos mais fortes

candidatos a alojar um buraco negro supermassivo.

3.1.3 M31 (NGC 224)

A galáxia M31 constitui um dos exemplos onde a dinâmica do enxame estelar

nuclear é bem distinta da dinâmica do bolbo circundante. O núcleo de M31 roda com

grande velocidade (≈250kms-1 a 0.3'' (≈1.1pc) do centro; Statler et al. 1999) e apresenta

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Candidatos a buraco negro 72

xxx

Figura 3.2 - A região central de NGC 4258. Os pontos sobre o disco indicam a localização dos masers de

água (Bragg et al. 2000). O buraco negro, situado sobre o ponto de intersecção dos eixos, tem uma massa

de 3.9×107M a que corresponde um raio de Schwarzschild de aproximadamente 3.7×10-6pc não

podendo por isso ser representado nesta escala.

também elevadas velocidades de dispersão (≈250kms-1) a cerca de 1pc do centro. Além

disso a relação M/Lv aumenta fortemente com a aproximação ao centro sendo o seu

valor ≈100 para r=1'' (≈3.7pc) (Kormendy & Richstone 1995).

O facto de M31 ter um núcleo duplo requer que sejam construídos modelos mais

detalhados antes de se poder concluir, com segurança, que esse MDO pode ser de facto

um buraco negro. Foi sugerido que o núcleo duplo poderá dever-se ao facto de M31 ter

digerido em tempos uma galáxia compacta como a sua satélite M32. Outra hipótese

poderá ser a presença de um buraco negro binário no núcleo (e.g. Lauer et al. 1993;

Peng 2002).

Bacon et al. (2001) apresentam resultados, obtidos a partir das observações do

HST, consistentes com a presença de um buraco negro de 3.5-8.5×107M no centro de

M31. Kormendy (2003) confirma a detecção de um buraco negro no centro de M31 e

considera como massa mais provável 7.0×107M .

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Candidatos a buraco negro 73

3.1.4 NGC 3115

É uma galáxia do tipo S0 cujo núcleo apresenta uma velocidade de rotação de

325kms-1 a 100'' (≈4700pc) do centro (Illingworth & Schechter 1982). Observações

efectuadas com o Canada-France-Hawaii Telescope (CFHT) e com o HST revelaram

um núcleo brilhante com uma velocidade de dispersão próxima dos 600kms-1 (e.g.

Kormendy et al. 1996).

O valor de M/Lv passa de 5 a 4'' (188pc) do centro para valores superiores a 50 a

cerca de 0.5'' (23pc) do centro (e.g. Kormendy & Richstone 1995) o que é muito

superior aos verificados para populações estelares velhas (Secção 1.4.4).

A densidade estelar na região nuclear de NGC 3115 é semelhante à de uma

galáxia que não tenha um MDO no seu centro (Kormendy & Richstone 1995). No

entanto, se não existisse um MDO no centro de NGC 3115 o valor da respectiva

velocidade de escape seria ≈352kms-1 o que é muito inferior ao observado para a

velocidade de dispersão das estrelas (Kormendy et al. 1996).

Baseados em observações efectuadas pelo HST Kormendy et al. (1996) concluem

que esse MDO é um buraco negro de 2.0×109M .

3.1.5 M87 (NGC 4486)

Esta galáxia elíptica gigante, com um jacto predominante, é uma das mais bem

estudadas a partir da dinâmica do gás ionizado (e.g. Kormendy & Richstone 1995). A

sua velocidade de dispersão aumenta de 278 kms-1, em r=9.6'' (750pc), para 350 kms-1,

em r=1.5'' (117pc). Se admitirmos que movimento do gás é circular então estes valores

estão de acordo com a presença de um MDO de massa ∼109M (Sargent et al. 1978).

O gás ionizado forma um disco perpendicular ao jacto com um dos lados do disco

aproximando-se a 500kms-1 e o lado oposto a afastar-se com velocidade do mesmo

valor (Ford et al. 1994). Atendendo a que o disco apresenta uma inclinação de 52º

(Marconi et al. 1997) a sua velocidade de rotação é ≈630kms-1. Por forma a explicar a

curva de rotação observada é necessária uma massa de 3.2×109M nos 3.5pc centrais de

M87 (Marconi et al. 1997).

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Candidatos a buraco negro 74

O valor de M/L é de ≈110 a 3.5pc do centro (Marconi et al. 1997) o que é muito

superior ao normal para uma população estelar velha (Secção 1.4.4).

Se o gás não descrever órbitas circulares então a sua dinâmica não pode ser

utilizada para determinar o valor da massa central (Kormendy & Richstone 1995) o que,

por si só, faz de M87 um candidato mais fraco do que os descritos anteriormente.

Macchetto et al. (1997), admitindo que a rotação do disco é Kepleriana, concluem

que existe uma massa de 3.9×109M , encerrada nos 3.5pc centrais e que a mesma deve

consistir num buraco negro. Os dados obtidos pelo HST forneceram fortes evidências de

que o núcleo activo de M87 é alimentado pela acreção (Secção 1.4.1) para um buraco

negro supermassivo (Corbin et al. 2002).

3.1.6 O contra-exemplo M33

M33 é uma galáxia do tipo Sc sem bolbo e cujo núcleo se assemelha a um enxame

de estrelas gigante (e.g. Kormendy & Richstone 1995). O brilho do núcleo corresponde

a cerca de 70% do brilho da galáxia o que faz deste a fonte de raios X mais intensa no

Grupo Local (La Parola et al. 2002). A velocidade de dispersão central é de

aproximadamente 21kms-1 e M/Lv <0.4. Isto significa que a massa da região central não

pode exceder as 5×104M , o que permite excluir a presença de um buraco negro

supermassivo no centro de M33 (Kormendy & McClure 1993).

M33 é um bom exemplo para mostrar que um núcleo galáctico pequeno e denso

não é por si só uma evidência clara da presença de um buraco negro supermassivo

(Kormendy & Richstone 1995).

3.2 Buracos negros de massa intermédia

Entre os buracos negros supermassivos (M>106M ) e os buracos negros estelares

(M<102M ) ficam os buracos negros de massa intermédia (M≈103-105M ). A formação

de um buraco negro de massa intermédia poderá dever-se à fusão sucessiva de buracos

negros de massa estelar (e.g. Mouri & Taniguchi 2002).

Existem evidências observacionais de que algumas galáxias e enxames fechados

podem alojar buracos negros de massa intermédia nos respectivos núcleos.

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Candidatos a buraco negro 75

Tabela 3.2 - Candidatos a buracos negros de massa intermédia: Nas colunas 1 e 2 indicam-se as

galáxias ou enxames fechados em cujos centros há evidência de que possa existir um buraco negro de

massa intermédia. Na coluna 3 é indicado o tipo de evidência que levou à identificação do candidato a

buraco negro. Na coluna 4 é indicada a distância em kpc. Na coluna 5 é indicada, de acordo com os dados

disponíveis, a massa de cada buraco negro. No caso de M15 e G1 são também indicados os limites

superior e inferior da massa. Por exemplo, dizer que a massa de M15 é 3.9(2.7-6.1)×103M significa que

o valor da massa de M15 situa-se entre 2.7×103M e 6.1×103M sendo o seu valor mais provável igual a

3.9×103M . A referência indicada na coluna 6 corresponde aquela de onde se retirou o valor da massa do

buraco negro. (1) A galáxia NGC 253 apresenta uma fonte de raios X no seu centro que ioniza o gás

circundante. Essa fonte pode ter origem em redor de um buraco negro de massa intermédia ou de um

buraco negro supermassivo pouco activo (Weaver et al. 2002).

Designação Tipo Evidência D(kpc) M(M ) Referências

M110 NGC 205

Galáxia E6Dinâmica estelar 8.9×102 < 9×104 Jones et al. 1996

NGC 253 Galáxia Sc Raios X 3.1×103 ---(1) ---

M82 NGC 3034

Galáxia irregular

Raios X 3.7×103 >103 Mouri & Taniguchi 2002

M15 NGC 7078

Enxame fechado

Dinâmica estelar

10 3.9 (2.7-6.1) ×103 Gerssen et al. 2002

G1 (em M31)

Enxame fechado

Dinâmica estelar 8.9×102 2.0 (1.2-3.4)×104 Gebhardt et al. 2002

Na Tabela 3.2 são indicados alguns desses casos. Importa, no entanto, realçar que

essas evidências, baseadas sobretudo em estudos da dinâmica estelar ou do espectro de

raios X resultante da acreção de matéria (Secções 1.4.1 e 1.4.2), são menos seguras do

que as verificadas para o caso dos buracos negros supermassivos.

3.3 Buracos Negros estelares em sistemas binários

Com as observações de raios X efectuadas pelo satélite UHURU em 1972

verificou-se que existe um grande número de sistemas binários cujas componentes

interactuam. A maior parte desses sistemas era constituída por uma supergigante e uma

estrela de neutrões a rodar muito rapidamente (e.g. Cowley 1992). De todos os binários

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Candidatos a buraco negro 76

de raios X descobertos nessa época apenas Cyg X-1 (Secção 3.3.1) parece conter um

buraco negro e não uma estrela de neutrões.

Ao longo das últimas décadas muitas outros binários de raios X foram descobertos

e alguns identificados como candidatos a alojar um buraco negro. Tipicamente, estes

são escolhidos por apresentarem comportamentos, tanto no óptico como nos raios X,

semelhantes a Cyg X-1. Embora essas semelhanças não sejam suficientes para concluir

acerca da presença de um buraco negro são, sem dúvida, um bom indicador de que o

sistema merece uma investigação mais profunda.

As fontes de raios X podem ser de natureza persistente (como Cyg X-1) ou

transiente. Nesta segunda categoria também se incluem candidatos a buraco negro,

nomeadamente A0620-00 (Secção 3.3.2) que é apontado como um candidato seguro

(e.g. Cowley 1992). Fontes de raios X transientes cujo comportamento no óptico e nos

raios X se assemelhe, pelo menos em parte, com o de A0620-00 são normalmente

incluídas nas listas de candidatos a buraco negro.

Outro critério de selecção de candidatos a buraco negro em sistemas binários

consiste na determinação da respectiva função de massa (Secção 1.4.2). Se esta indicar a

presença de um objecto compacto com um raio inferior a 100km (o que é muito inferior

ao raio de uma estrela normal) e com uma massa superior a 3M então estamos acima

do limite permitido às estrelas de neutrões (cf. Figura 1.8) e temos, portanto, um

candidato a buraco negro (e.g. Orosz 2002).

Há, na literatura, várias compilações de candidatos a buracos negros de massa

estelar em sistemas binários (e.g. Cowley 1992; McConnell 1994; Tanaka 2001; Orosz

2002). Na Tabela 3.3 indicam-se os 21 candidatos apontados como mais seguros em tais

compilações.

Muitos dos binários candidatos a alojar um buraco negro são eleitos por

apresentarem características espectrais comuns a Cyg X-1 (no caso persistente) ou a

A0620-00 (no caso transiente) (e.g. Cowley 1992). Assim, vamos descrever em maior

detalhe estes dois candidatos (Secções 3.3.1 e 3.3.2).

É também apresentada, a título de contra-exemplo, a fonte de raios X CAL 87 que,

embora fosse inicialmente apontada como um candidato a buraco negro (e.g. Cowley

1992), pode ser modelada recorrendo a um binário de anãs brancas.

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Candidatos a buraco negro 77

Tabela 3.3 – Os 21 mais fortes candidatos a buraco negro de massa estelar em sistemas binários.

Colunas: (1) nome da fonte de raios X candidata a alojar um buraco negro de massa estelar. (2) natureza

da fonte de raios X (P-persistente , T-transiente). (3) período orbital do binário. (4) função de massa

(equação 1.43). (5) ângulo de inclinação do sistema (Figura 1.16). (6) massa estimada para o buraco

negro. (7) É assinalado se a fonte apresenta QPO’s (Secção 1.4.2ii). (8) É assinalado se a fonte apresenta

piscar rápido (Secção 1.4.2iii). (9) É assinalado se foram observadas linhas Kα do ferro (Secção 1.4.2iv).

Os dados não referenciados foram retirados de Cowley (1992) ou de Orosz (2002). As referências

numeradas são: (1) van der Hooft et al. 1999; (2) Nowak 1995; (3) Cui et al. 2002; (4) Wood et al. 2000;

(5) Takizawa et al. 1997; (6) Fabian et al. 1989; (7) Remillard et al. 2002; (8) Markoff et al. 2002; (9)

Feng et al. 2001; (10) Ueda et al. 1998; (11) Wijnands & van der Klis 2000; (12) Rose 1995; (13) Zwitter

& Calvani 1989; (14) Oosterbroek et al. 1996.

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9)

Fonte de

Raios X Nat. T (dias) f(M) (M ) i (º) Mbn (M ) QPO Piscar Fe

GRO

J0422+32 T 0.2121600(2) 1.19±0.02 44±2 3.66-4.97 ♦1 ♦2 -

LMC X-3 P 1.70479(4) 2.29±0.32 67±3 5.94-9.17 - - ♦3

LMC X-1 P 4.2288(6) 0.14±0.05 ≈63? 4.0-10.0? ♦ - ♦3

A0620-00 T 0.3230160(5) 2.72±0.06 40.8±3.0 8.70-12.86 - - -

GRS 1009-45 T 0.285206(2) 3.17±0.12 67? 3.64-4.74? - - -

XTE

J1118+480 T 0.169930(4) 6.1±0.3 81±2 6.48-7.19 ♦4 - -

GRS 1124-683 T 0.432606(3) 3.01±0.15 54±2 6.47-8.18 ♦5 - -

4U 1543-47 T 1.116407(3) 0.25±0.01 20.7±1.5 8.45-10.39 - - ♦6

XTE 1550-564 T 1.5435(5) 6.86±0.71 72±5 8.36-10.76 ♦7 - -

4U 1630-47 T - - - - ♦7 ♦ ♦3

GX 339-4 P 0.62 - - 5? (8) ♦ ♦ ♦9

GRO J1655-

40 T 2.6219(2) 2.73±0.09 70.2±1.2 6.03-6.57 ♦7 - ♦10

H 1705-250 T 0.521(1) 4.86±0.13 >60 5.64-8.30 - - -

GRS 1758-258 P (3) - - - - - - -

SAX J1819.3-

258 T 2.81730(1) 3.13±0.13 75±2 6.82-7.42 - ♦11 -

XTE

J1859+226 T 0.382(3) 7.4±1.1 - 7.6-12.0? ♦7 - -

SS 433 P 13 (12) 10.6 (13) ≈78 (13) ≈10 (13) - - -

GRS

1915+105 T 34(2) 9.5±3.0 70±2? 10.0-18.0? ♦7 - -

Cyg X-1 P 5.59983(2) 0.244±0.005 35±5 6.85-13.25 - ♦ ♦3

GS 2000+250 T 0.3440915(9) 5.01±0.12 64.0±1.3 7.15-7.78 - ♦ -

GS 2023+338 T 6.4714(1) 6.08±0.06 56±4 10.06-13.38 - ♦ ♦14

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Candidatos a buraco negro 78

3.3.1 Cyg X-1

Cygnus X-1 foi uma das primeiras fontes de raios X a ser identificada. Na mesma

região veio a ser identificada uma fonte rádio que mais tarde foi associada a uma

supergigante azul de magnitude aparente 9 designada por HDE 226868. A supergigante,

que designaremos por estrela secundária, e a fonte de raios X, que designaremos por

estrela primária, formam um sistema binário (e.g. Cowley 1992).

Se a estrela HDE 226868 for normal, tendo em conta a luminosidade e tipo

espectral observados, então a estrela primária tem uma massa muito maior que a de uma

estrela de neutrões (>>1.4M ; cf. Figura 1.8). É possível que a estrela primária seja um

buraco negro e que os raios X sejam devidos à acreção de matéria (Secção 1.4.2),

proveniente da estrela secundária (e.g. Cowley 1992).

Como não se observam eclipses no sistema então o respectivo ângulo de

inclinação, i (Figura 1.16), deve ser inferior a 60º (Bolton 1975). A partir de modelos

que têm conta que o movimento de rotação da HDE 226868 deve estar sincronizado

com o respectivo movimento orbital, Gies & Bolton (1986), considerando i≈33º,

fixaram o valor minímo da massa da estrela primária em 7M .

Durante cerca de 90% das observações, Cyg X-1 apresentou-se, do ponto de vista

energético, no estado baixo. Este estado é caracterizado por um fluxo não térmico de

intensidade moderada e altamente variável (e.g. Nowak 1995). Por vezes Cyg X-1

transita para o estado energético alto (fluxo quase-térmico bastante intenso e pouco

variável). Foi o que aconteceu em Maio de 1996 tendo Cyg X-1 permanecido aí durante

cerca de 3 meses (Dotani 1998).

Quando no estado baixo Cyg X-1 apresenta QPO’s (Secção 1.4.2ii) cuja

frequência oscila entre os 0.04Hz e os 0.07Hz (e.g. Nowak 1995). Estas oscilações

podem ser interpretadas como o resultado de instabilidades térmicas experimentadas

pelo fluxo de matéria no disco de acreção. Por outro lado o ruído de baixa frequência

observado é visto como uma das principais propriedades da acreção de matéria por

buracos negros no estado baixo (Grebenev et al. 1993).

Foram detectadas, no espectro de raios X de Cyg X-1, linhas nos 6.2KeV, 6.4KeV

e 6.6KeV (e.g. Schulz et al. 2002). Estas linhas são atribuidas a processos de transições

electrónicas envolvendo a camada K do ferro (Secção 1.4.2iv). A observação das linhas

de emissão Kα do ferro constituem um dos meios mais úteis para sondar o forte campo

gravítico nas vizinhanças de um buraco negro. A detecção de uma linha distorcida pelo

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Candidatos a buraco negro 79

campo gravítico seria uma grande evidência a favor da existência de um buraco negro.

Embora uma linha desse tipo já tenha sido detectada na galáxia MCG-6-30-15 nunca se

detectou nenhuma em Cyg X-1 (Schulz et al. 2002).

3.3.2 A0620-00

A fonte de raios X transiente A0620-00, descoberta em 1975, foi identificada

opticamente com uma estrela que passou de magnitude 17.5 para magnitude 12. Esta

veio ainda a ser classificada como uma Nova Recorrente pois essa variação de

magnitude já havia sido registada em 1917 (e.g. Cowley 1992).

Quando a luminosidade é máxima o espectro é dominado pelo disco de acreção.

Com o decréscimo da luminosidade é opticamente observável uma estrela anã do tipo

K5/K7. A função de massa do sistema (equação 1.43) é f(M)=2.72M (cf. Tabela 3.3).

Atendendo a que as estrelas de neutrões têm massas de ≈1.4M (Figura 1.8) e que f(M)

traduz o limite inferior da massa do corpo candidato a buraco negro (Secção 1.4.2)

podemos classificar A0620-00 como um candidato.

Gelino et al. (2001) verificaram que o ângulo de inclinação, i, para o sistema é de

≈41º. Tendo em conta este valor e o de f(M) determinaram para a estrela visível (que se

apurou ser uma anã K4 da sequência principal) a massa de 0.68M . Sendo assim, a

massa do candidato a buraco negro será ≈11M .

3.3.3 O contra-exemplo CAL 87

A fonte de raios X CAL 87 faz parte de um binário eclipsante situado na direcção

da Grande Nuvem de Magalhães. A componente visível do par é uma estrela variável de

magnitude aparente 19-20. Tem um espectro de raios X suave (≈0.1KeV). O seu

espectro óptico é dominado por um disco de acreção (Secção 1.4.2). Inicialmente CAL

87 foi incluído na lista de potenciais candidatos a alojar um buraco negro (e.g. Cowley

1992).

Schandl et al. (1997) modelaram com êxito a curva óptica de CAL 87 assumindo

uma anã branca de 0.75M e uma companheira de 1.5M . É, assim, possível interpretar

o espectro observado em CAL 87 sem recorrer à presença de um buraco negro ou

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Candidatos a buraco negro 80

mesmo de uma estrela de neutrões (Asai et al. 1998).

Grande parte das fontes de raios X suaves, como CAL 87, podem ser atribuídas a

sistemas binários compostos por duas anãs brancas caracterizados por elevadas taxas de

acreção. Nesse caso a emissão de raios X seria devida à combustão nuclear na superfície

dessas anãs (Ebisawa et al. 2001).

3.4 Buracos negros de massa estelar isolados

3.4.1 Radiação emitida na acreção esférica

Uma vez que existem evidências da presença de buracos negros em sistemas

binários (Secção 3.3) é de esperar que também exista um grande número de buracos

negros de massa estelar isolados. Estes buracos negros capturam matéria do meio

interestelar seguindo um processo de acreção esférica (Secção 1.4.1).

O espectro da radiação emitida durante o processo situa-se na banda dos raios X

(Figura 1.11) e também, no caso da existência de um campo magnético, na banda do

infravermelho (Figura 1.13).

A luminosidade resultante da acreção esférica, por um buraco negro de 1M , numa

região HII, com um campo magnético não desprezável, é da ordem de 1018W

(Secção1.4.1), ou seja, ≈10-8L , ou ainda, ≈109 vezes inferior à luminosidade de um

disco de acreção, geometricamente fino, em torno de um buraco negro de 1M quando a

taxa de acreção é de 10-12M ano-1 (Secção 1.4.2).

No entanto se o buraco negro estiver mergulhado num meio mais denso como, por

exemplo, uma nuvem molecular e a sua velocidade em relação ao gás circundante for

baixa (<20kms-1) então a luminosidade, na banda dos raios X, será ∼1022W (Fujita et al.

1998).

3.4.2 Buracos negros como microlentes

Existem três fortes candidatos a buraco negro detectados a partir do efeito de

microlente (Secção 1.4.3). Em qualquer um desses candidatos foi medida a paralaxe, o

que permite impor limites mais apertados nos valores atribuídos à massa das lentes.

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Candidatos a buraco negro 81

Dois dos candidatos, MACHO-96-BLG-5 e MACHO-98-BLG-6, foram

identificados pelo projecto MACHO (MAssive Compact Halo Objects). Os MACHO's

podem ser detectados ao actuarem como microlentes em relação à luz proveniente de

estrelas mais distantes. Este eventos são, no entanto, muito raros pelo que devem ser

observadas milhões de estrelas ao longo de vários anos. Desde 1992 que foram

observadas milhões de estrelas tanto na direcção da Grande Nuvem de Magalhães como

na direcção do bolbo da Nossa Galáxia.

O outro candidato a buraco negro foi identificado de forma independente pelos

projectos MACHO e OGLE (Optical Gravitational Lensing Experiment) sendo

habitualmente designado por MACHO-99-BLG-22 ou OGLE-1999-BUL-32.

Qualquer um dos três candidatos situa-se na direcção do bolbo galáctico e ao que

tudo indica a estrela que funciona como fonte luminosa de fundo localiza-se no bolbo.

Conhecemos assim, com algum rigor, a distância Df (Figura 1.17).

Nos gráficos da Figura 3.3 estão representadas as curvas da função M(Dl)

(equação 1.48) para as microlentes MACHO-96-BLG-5 e MACHO-98-BLG-6. As

massas que melhor se adaptam a cada uma das lentes, com uma confiança de 50%, são

1036+

− M para MACHO-96-BLG-5 e 736+

− M para MACHO-98-BLG-6 (Bennett et al.

2002a).

O evento MACHO-99-BLG-22 (OGLE-1999-BUL-32) é um dos mais demorados

(1120 dias) descoberto até a data (Bennett et al. 2002b). Aos eventos MACHO-96-

BLG-5 e MACHO-98-BLG-6 correspondem durações de 970 e 490 dias

respectivamente (Bennett et al. 2002a).

O candidato MACHO-99-BLG-22 tanto pode estar no disco galáctico perto de nós

(<1kpc) ou então no bolbo (>5kpc) (Figura 3.4). Se estiver próximo então a sua massa

será de 100M . Se estiver no bolbo então poderá não ter muito mais do que 4M . Neste

último caso existe uma pequena probabilidade de que a lente seja uma estrela de

neutrões e não um buraco negro (Bennett et al. 2002b).

3.4.3 Surgimento de buracos negros em supernovas

SN1997D é uma supernova do tipo II e foi classificada, desde a sua descoberta em

Janeiro de 1997 (de Mello et al. 1997), como sendo peculiar. É a supernova menos

luminosa e menos energética descoberta até a data (Benetti et al. 2001).

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Candidatos a buraco negro 82

Figura 3.3 - Curvas das funções M(Dl) e de verosimilhança (que nos dá a localização mais provável da

lente) para os eventos MACHO-96-BLG-5 e MACHO-98-BLG-6. A curva a tracejado que aparece em

baixo de cada um dos gráficos traduz a probabilidade de cada uma das lentes ser uma estrela da sequência

principal (Bennett et al. 2002a).

Figura 3.4 - Curvas das funções M(Dl) e de verosimilhança (que nos dá a localização mais provável da

lente) para o evento MACHO-99-BLG-22 (OGLE-1999-BUL-32). A curva a tracejado que aparece em

baixo, e que apenas tem algum significado a partir dos 7kpc, traduz a probabilidade da lente ser uma

estrela da sequência principal (Bennett et al. 2002b).

Turatto et al. (1998) apontam para uma estrela progenitora de 25-40M (massa

antes da explosão). Nesse caso poderá ter-se formado um buraco negro. A luminosidade

devida à acreção esférica de matéria por esse buraco negro deveria sobrepor-se à

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Candidatos a buraco negro 83

luminosidade devida ao decaimento radioactivo ao fim de aproximadamente 3 anos

(Zampieri et al. 1998). Decorrido esse período de tempo a luminosidade do sistema

situava-se nos limites de detectabilidade do HST pelo que não foi possível observar o

surgimento da radiação devida à acreção (Balberg & Shapiro 2001).

Outra supernova recente que também poderá ter originado um buraco negro é a

SN1987A. No entanto, neste caso, estima-se que a luminosidade devida à acreção só

possa surgir daqui a cerca de 900 anos (e.g. Benetti et al. 2001).

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Detecção directa de buracos negros 85

4 A possibilidade de detecção directa de buracos negros

4.1 Buracos negros de Schwarzschild

A temperatura de Hawking para buracos negros de Kerr-Newmann, de Kerr e de

Reissner-Nordström (Secção 1.2.7) é dada, respectivamente, pelas equações (2.14),

(2.15) e (2.16).

No gráfico da Figura 4.1 estão representadas as curvas para a temperatura de um

buraco negro de Reissner-Nordström de massa m, com a respectiva carga a variar entre

0 e m, e para um buraco negro de Kerr de massa m, com o respectivo momento angular

por unidade de massa a variar também entre 0 e m. Verifica-se que essas temperaturas

são sempre inferiores à temperatura de um buraco negro de Schwarzschild (equação

2.8) com a mesma massa. A temperatura do buraco negro de Reissner-Nordström decai

bruscamente quando este se aproxima do caso extremo (ε=m) atingindo o zero nesse

ponto. O mesmo acontece com o buraco negro de Kerr. À medida que a sua velocidade

de rotação aumenta a respectiva temperatura diminui atingindo o zero quando o buraco

negro se torna máximo (a=m). Temos, assim, que a buracos negros de Reissner-

Nordström extremos e a buracos negros de Kerr máximos correspondem temperaturas

nulas. Estes não emitem radiação de Hawking.

No gráfico da Figura 4.2 está representada a temperatura de um buraco negro de

Kerr-Newmann (ε≠0, a≠0), de massa m, com a respectiva carga eléctrica e momento

angular por unidade de massa a variarem entre 0 e m. Qualquer aumento num destes

parâmetros, com m mantido constante, leva a um decréscimo da temperatura. A

temperatura atinge zero para os pontos tais que ε2+a2=m2 sobre os quais o buraco negro

se torna extremo (Secção 1.2.7).

Consideremos agora um buraco negro de Schwarzschild (Secção 1.2.1)

uniformemente acelerado (Secção 2.3). Devido à aceleração, Ar, temos, para além de

um horizonte de acontecimentos rh2 (equação 2.23), um horizonte de Rindler rh1

(equação 2.22).

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Detecção directa de buracos negros 86

Figura 4.1 - (a) Temperatura (T0) de um buraco negro de Schwarzschild de massa m. (b) Variação da

temperatura de um buraco negro de Reissner-Nordström, de massa m, quando a respectiva carga eléctrica,

ε, varia entre 0 e m. (c) Variação da temperatura de um buraco negro de Kerr, de massa m, quando o

respectivo momento angular por unidade de massa, a, varia entre 0 e m.

Figura 4.2 - Variação da temperatura de um buraco negro de Kerr-Newmann, de massa m, quando a

respectiva carga eléctrica, ε, e momento angular por unidade de massa, a, variam entre 0 e m. O valor T0

corresponde à temperatura de um buraco negro de Schwarzschild de massa m.

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Detecção directa de buracos negros 87

Figura 4.3 - Variação do raio do horizonte de Rindler (rh1) e do horizonte de acontecimentos (rh2) de um

buraco negro de Schwarzschild em função da respectiva aceleração uniforme Ar. Quanto maior a

aceleração maior será rh2 e menor será rh1. Quando Ar atinge o seu valor máximo os dois horizontes

coincidem sendo o respectivo raio dado por 3m.

Quando Ar→0, rh1 diverge e rh2→2m como seria de esperar (equação 1.3). À

medida que Ar aumenta rh1 vai decrescendo e rh2 vai-se tornando maior até que, quando

Ar atinge o seu valor máximo (expressão 2.26), temos rh1=rh2=3m. Este comportamento

está ilustrado no gráfico da Figura 4.3.

As temperatura T1 e T2 associadas, respectivamente, aos horizontes rh1 e rh2 podem

ser determinadas a partir da equação (2.25). No gráfico da Figura 4.4 está representada a

variação destas temperaturas com a aceleração do buraco negro. Quando Ar=0 temos

T1=0 e T2 a coincidir, naturalmente, com o valor dado pela equação (2.8). À medida que

Ar aumenta, a temperatura do horizonte de acontecimentos, T2, diminui e a temperatura

do horizonte de Rindler, T1, embora comece por aumentar, acaba também por decrescer.

Em r=3m as duas temperaturas anulam-se, deixando assim de ser emitida radiação de

Hawking.

Consideremos agora um buraco negro de Kerr uniformemente acelerado. Como

acontecia com o buraco negro de Schwarzschild a aceleração, Ar, não pode assumir

qualquer valor. Os valores permitidos são aqueles que verificam a desigualdade (2.27).

No gráfico da Figura 4.5 está representada a variação da aceleração uniforme máxima

permitida em função do momento angular por unidade de massa, a, para um buraco

negro de massa m (sem carga eléctrica).

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Detecção directa de buracos negros 88

Figura 4.4 - Variação da temperatura do horizonte de Rindler (T1) e da temperatura do horizonte de

acontecimentos (T2) de um buraco negro de Schwarzschild em função da respectiva aceleração uniforme

Ar (em valor absoluto).

Figura 4.5 - Variação da aceleração uniforme máxima, Ar, permitida em função do momento angular por

unidade de massa, a, para um buraco negro de massa m e sem carga eléctrica. A região colorida

corresponde à zona permitida aos buracos negros. O eixo horizontal corresponde ao buraco negro de

Schwarzschild uniformemente acelerado e o eixo vertical ao buraco negro de Kerr sem aceleração. As

corresponde à aceleração máxima permitida a um buraco negro de Schwarzschild (ver expressão 2.26).

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Detecção directa de buracos negros 89

Figura 4.6 - Variação da temperatura do horizonte de Rindler (T1) e do horizonte de acontecimentos (T2)

para um buraco negro com rotação, em função da respectiva aceleração uniforme Ar. Foram considerados

os casos a=0.5m e a=0.8m. A linha horizontal corresponde à temperatura de um buraco negro de Kerr

com iguais valores de m e a mas sem aceleração. No eixo vertical T=T0 corresponde à temperatura de um

buraco negro de Schwarzschild de igual massa.

Consideremos a variação das temperaturas dos horizontes rh1 e rh2 (que podem ser

determinadas a partir de 2.25) com a aceleração, Ar, de um buraco negro de Kerr com

momento angular por unidade de massa, a, fixo. Nos gráficos da Figura 4.6 estão

representados os casos a=0.5m e a=0.8m. Verifica-se que quanto maior o valor de Ar,

mais a temperatura do horizonte de acontecimentos, T2, se torna inferior à temperatura

de um buraco negro de Kerr com iguais valores de m e a mas sem aceleração.

Acabamos de constatar que buracos negros de Reissner-Nordström, Kerr, Kerr-

Newmann ou uniformemente acelerados têm sempre temperaturas inferiores às de um

buraco negro de Schwarzschild de igual massa. Vamos então considerar, ao longo deste

capítulo, dedicado à possibilidade de detecção directa de buracos negros (a partir da

radiação electromagnética emitida pelos mesmos), apenas buracos negros de

Schwarzschild uma vez que serão os que terão melhores possibilidades de detecção.

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Detecção directa de buracos negros 90

4.2 Buracos negros e o espectro electromagnético

Os buracos negros são na sua essência objectos bastante simples. Um buraco

negro fica completamente determinado por três parâmetros: massa, carga eléctrica e

momento angular (Secção 1.2.7).

Consideremos um buraco negro de Schwarzschild (Secção 1.2.1). Este é

completamente caracterizado pela sua massa M. Todos os outros valores referentes ao

buraco negro podem ser expressos em termos de M. É o que acontece, por exemplo,

com λmax (Secção 2.1) correspondente ao comprimento de onda para o qual a emissão

de radiação de Hawking electromagnética é mais intensa. Saber M é equivalente a saber

λmax. Quanto maior a massa de um buraco negro maior é o seu valor de λmax e menor é a

sua temperatura (equações 2.10 e 2.11). A buracos negros de massas iguais

correspondem iguais valores de λmax.

Podemos, deste modo, associar a cada comprimento de onda do espectro

electromagnético (Figura 4.7) um (e só um) buraco negro de Schwarzschild. Uma

travessia de todo o espectro, desde o rádio longínquo, até aos raios gama mais

energéticos, leva-nos dos buracos negros supermassivos presentes no centro de algumas

galáxias (Secção 3.1), até aos buracos negros de dimensões microscópicas.

Falaremos então em buracos negros rádio, infravermelhos, visíveis, ultravioleta,

de raios X e de raios gama. Note-se que dizer que um buraco negro é, por exemplo,

infravermelho não significa que este apenas emite raios infravermelhos de um dado

comprimento de onda. Significa, isso sim, que apesar de emitir fotões de todos os

comprimentos de onda, a emissão é mais intensa para um determinado comprimento de

onda (λmax) situado na região do infravermelho.

Na Tabela 4.1 é indicada uma lista de 50 buracos negros de Schwarzschild,

devidamente numerados, que serão referidos como exemplos ao longo das secções

seguintes. Foram considerados desde os buracos negros supermassivos (emissão mais

intensa em rádio) até aos de dimensão planckiana (emissão em raios gama). Para além

de λmax foram indicados, em cada caso, o valor da temperatura (equação 2.11), da

massa (equação 2.10), o raio de Schwarzschild (equação 1.3) e a luminosidade total do

buraco negro (equação 2.31).

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Detecção directa de buracos negros 91

λλλλ (m) νννν (Hz) E (eV)

ELF - Extremely Low Frequency 106 3×102

VF - Voice Frequency 105 3×103

VLF - Very Low Frequency 104 3×104

LF - Low Frequency 103 3×105

MF - Medium Frequency 102 3×106

HF - High Frequency 10 3×107

VHF - Very High Frequency 1 3×108

UHF - Ultra High Frequency 10-1 3×109

SHF - Super High Frequency 10-2 3×1010

Rádio

EHF - Extremely High Frequency 10-3 3×1011

Submilimétrico 3×10-4 1012

IV longínquo 3×10-5 1013

IV médio 5×10-6 6×1013

Infravermelho

IV Próximo 7×10-7 4.3×1014

Visível 4×10-7 7.5×1014 3.1 eV

UV próximo

3×10-7 1015 4.1 eV

UV médio

2×10-7 1.5×1015 6.2 eV

UV distante

10-7 3×1015 12.4 eV

Ultravioleta

UV extremo

10-8 3×1016 124 eV

RX Suaves

1.2×10-9 2.4×1017 1 KeV

RX Médios

1.2×10-10 2.4×1018 10 Kev

Raios X

RX Fortes

2×10-12 1.2×1020 0.5 MeV

Rγ Suaves

1.2×10-13 2.4×1021 10 MeV

Rγ Médios 1.2×10-17 2.4×1025 105 MeV

Raios Gama

Rγ Fortes

Figura 4.7 - Espectro electromagnético

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Detecção directa de buracos negros 92

Tabela 4.1 - Lista de 50 buracos negros de Schwarzschild. Em cada caso são indicados os

valores do comprimento de onda máximo (λmax), da temperatura (T), da massa (M), do raio de

Schwarzschild (rs) e da luminosidade (L).

n λλλλmax (m) T (K) M (M ) rs (m) L (W)

1 1012 2.9×10-15 2.1×107 6.3×1010 2.0×10-43

2 1011 2.9×10-14 2.1×106 6.3×109 2.0×10-41

3 1010 2.9×10-13 2.1×105 6.3×108 2.0×10-39

4 109 2.9×10-12 2.1×104 6.3×107 2.0×10-37

5 108 2.9×10-11 2.1×103 6.3×106 2.0×10-35

6 107 2.9×10-10 2.1×102 6.3×105 2.0×10-33

7 106 2.9×10-9 2.1×101 6.3×104 2.0×10-31

8 105 2.9×10-8 2.1×100 6.3×103 2.0×10-29

9 104 2.9×10-7 2.1×10-1 6.3×102 2.0×10-27

10 103 2.9×10-6 2.1×10-2 6.3×101 2.0×10-25

11 102 2.9×10-5 2.1×10-3 6.3×100 2.0×10-23

12 101 2.9×10-4 2.1×10-4 6.3×10-1 2.0×10-21

13 100 2.9×10-3 2.1×10-5 6.3×10-2 2.0×10-19

14 10-1 2.9×10-2 2.1×10-6 6.3×10-3 2.0×10-17

15

Rádio

10-2 2.9×10-1 2.1×10-7 6.3×10-4 2.0×10-15

16 10-3 2.9×100 2.1×10-8 6.3×10-5 2.0×10-13

17 10-4 2.9×101 2.1×10-9 6.3×10-6 2.0×10-11

18 10-5 2.9×102 2.1×10-10 6.3×10-7 2.0×10-9

19

Raios IV

10-6 2.9×103 2.1×10-11 6.3×10-8 2.0×10-7

20 7.0×10-7 4.1×103 1.5×10-11 4.4×10-8 4.1×10-7

21 6.0×10-7 4.8×103 1.3×10-11 3.8×10-8 5.6×10-7

22 5.0×10-7 5.8×103 1.1×10-11 3.2×10-8 8.0×10-7

23

Visível

4.0×10-7 7.2×103 8.6×10-12 2.5×10-8 1.3×10-7

24 10-7 2.9×104 2.1×10-12 6.3×10-9 2.0×10-5

25 Raios UV

10-8 2.9×105 2.1×10-13 6.3×10-10 2.0×10-3

26 10-9 2.9×106 2.1×10-14 6.3×10-11 2.0×10-1

27 Raios X

10-10 2.9×107 2.1×10-15 6.3×10-12 2.0×101

(continua)

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Detecção directa de buracos negros 93

Tabela 4.1 - Lista de 50 buracos negros de Schwarzschild (continuação).

n λλλλmax (m) T (K) M (M ) rs (m) L (W)

28 10-11 2.9×108 2.1×10-16 6.3×10-13 2.0×103

29 10-12 2.9×109 2.1×10-17 6.3×10-14 2.0×105

30 10-13 2.9×1010 2.1×10-18 6.3×10-15 2.0×107

31 10-14 2.9×1011 2.1×10-19 6.3×10-16 2.0×109

32 10-15 2.9×1012 2.1×10-20 6.3×10-17 2.0×1011

33 10-16 2.9×1013 2.1×10-21 6.3×10-18 2.0×1013

34 10-17 2.9×1014 2.1×10-22 6.3×10-19 2.0×1015

35 10-18 2.9×1015 2.1×10-23 6.3×10-20 2.0×1017

36 10-19 2.9×1016 2.1×10-24 6.3×10-21 2.0×1019

37 10-20 2.9×1017 2.1×10-25 6.3×10-22 2.0×1021

38 10-21 2.9×1018 2.1×10-26 6.3×10-23 2.0×1023

39 10-22 2.9×1019 2.1×10-27 6.3×10-24 2.0×1025

40 10-23 2.9×1020 2.1×10-28 6.3×10-25 2.0×1027

41 10-24 2.9×1021 2.1×10-29 6.3×10-26 2.0×1029

42 10-25 2.9×1022 2.1×10-30 6.3×10-27 2.0×1031

43 10-26 2.9×1023 2.1×10-31 6.3×10-28 2.0×1033

44 10-27 2.9×1024 2.1×10-32 6.3×10-29 2.0×1035

45 10-28 2.9×1025 2.1×10-33 6.3×10-30 2.0×1037

46 10-29 2.9×1026 2.1×10-34 6.3×10-31 2.0×1039

47 10-30 2.9×1027 2.1×10-35 6.3×10-32 2.0×1041

48 10-31 2.9×1028 2.1×10-36 6.3×10-33 2.0×1043

49 10-32 2.9×1029 2.1×10-37 6.3×10-34 2.0×1045

50

Raios Gama

10-33 2.9×1030 2.1×10-38 6.3×10-35 2.0×1047

Verifica-se, a partir da análise da Tabela 4.1, que as temperaturas só começam a

ter valores mensuráveis do espaço (>1K) a partir dos buracos negros infravermelhos

(em laboratório podemos ir até aos 10-5K). Como era de esperar pela equação (2.31)

temos que os buracos negros mais pequenos (menor massa) são também os mais

luminosos. Por exemplo, o buraco negro nº19, cuja massa é de 2.1×10-11M , tem uma

luminosidade de 2.0×10-7W. Por sua vez o buraco negro nº28 cuja massa é de

2.1×10-16M tem uma luminosidade de 2.0×103W (ver mais exemplos nas Figuras 4.8 e

4.9).

Page 114: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Detecção directa de buracos negros 94

Figura 4.8 - Representação em tamanho real de um buraco negro de Schwarzschild com ≈10-5M (rs=3.1

cm) do ponto de vista de um observador distante.

Figura 4.9 - Representação de quatro buracos negros visíveis: vermellho, amarelo, azul esverdeado e

violeta (nºs 20 a 23 da Tabela 4.1). Os quatro objectos estão representados segundo uma escala comum a

qual corresponde a uma ampliação de cerca de 750 000 vezes.

4.3 Possibilidade de detecção directa de buracos negros (teórica)

Vamos começar por determinar a distância máxima a que se pode estar de um

buraco negro para que a radiação de Hawking (a única forma de emissão

electromagnética que se conhece: Secção 2.1) emitida pelo mesmo seja detectável num

determinado comprimento de onda.

O espectro de emissão de um buraco negro é igual ao de um corpo negro à mesma

temperatura (Secção 2.1). A densidade de fluxo7 da radiação de Hawking emitida por

um buraco negro de Schwarzschild é então dada por (Anexo E):

7 A densidade de fluxo traduz a energia emitida por unidade de área, de tempo e de frequência, ou seja, é o fluxo por unidade de frequência.

Page 115: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Detecção directa de buracos negros 95

( )sWm 1e

1

c

h2S 2-

kT/h2

3

= (4.1)

Esta expressão traduz a quantidade de energia emitida pelo buraco negro por

unidade de área, de tempo e de frequência. Seja sν a densidade de fluxo incidente sobre

um detector à distância d do centro do buraco negro. Consideraremos sempre d>>rs por

forma a que se possam desprezar os efeitos da relatividade geral junto ao detector. Os

valores de Sν, sν, e d relacionam-se através da expressão (e.g. Lang 1999):

2

s

r

d

s

S

= (4.2)

onde rs é o raio de Schwarzschild do buraco negro (expressão 1.3).

Este resultado permite-nos relacionar as densidades de fluxo da radiação emitida e

a medida com a distância ao buraco negro emissor. Como estamos particularmente

interessados em saber a distância máxima de detectabilidade da radiação de Hawking

emitida pelo buraco negro, para um determinado comprimento de onda, vamos tomar a

densidade de fluxo sν igual à sensibilidade do telescópio para esse comprimento de

onda. A distância máxima será então dada pelo valor de d.

Conciliando a expressão do raio de Schwarzschild (1.3) com a da temperatura do

buraco negro (2.9) obtemos:

skr4

cT

=

Substituindo este último resultado na densidade de fluxo (4.1) vem:

( )sWm 1e

1

c

h2S 2-

c/r82

3

s

2

−= (4.3)

Resolvendo (4.2) em ordem à distância d e substituindo Sν por (4.3) obtemos:

Page 116: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Detecção directa de buracos negros 96

1e

1

cs

h2rd

c/r82

3

ss

2

−= (4.4)

Se a densidade de fluxo sν traduzir a sensibilidade do telescópio então a expressão

anterior diz-nos qual a distância máxima à qual se poderá detectar, com esse telescópio,

a radiação de Hawking emitida no comprimento de onda, λ=c/ν, por um buraco negro

de raio rs.

4.4 Possibilidade de detecção directa de buracos negros (limites técnicos actuais)

4.4.1 Rádio

Nem todas as ondas de rádio, provenientes do espaço exterior, conseguem penetrar

na atmosfera da Terra. A janela do rádio situa-se aproximadamente entre os

comprimentos de onda de 1cm e 10m. O limite inferior depende da composição

atmosférica e o limite superior da densidade electrónica da ionosfera (e.g. Kraus 1986).

Existem actualmente vários rádio-telescópios, e respectivas redes

interferométricas, operando desde as ondas milimétricas até as métricas. A sensibilidade

varia consoante o telescópio e, para cada um, consoante o comprimento de onda de

trabalho. O VLA (Very Large Array), por exemplo, apresenta uma sensibilidade de

0.045mJy nos 3.6cm e de 15mJy nos 4m (http://www.vla.nrao.edu).

Vamos considerar a possibilidade de detecção da radiação de Hawking dos 50

buracos negros da Tabela 4.1 nos 4m e 3.6cm considerando as sensibilidades indicadas

anteriormente. Vamos considerar também a detecção nos 20m (embora não exista

actualmente qualquer rádio-telescópio a operar neste comprimento de onda) para uma

sensibilidade de 15mJy (a mesma do VLA nos 4m).

As distâncias máximas de detecção, determinadas a partir da equação (4.4), para

os buracos negros 13 a 50 da Tabela 4.1, estão indicadas na Tabela 4.2. Na tabela são

também indicadas as densidades de fluxo emitidas por cada buraco negro em cada caso.

Page 117: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Detecção directa de buracos negros 97

Tabela 4.2 - Distâncias máximas para a detecção no rádio. São indicados, para os buracos

negros nºs 13 a 50 da Tabela 4.1 a densidade de fluxo emitida e a distância máxima à qual

podem ser detectados nos comprimentos de onda de 20m (sν=15mJy), 4m (sν=15mJy) e 3.6cm

(sν=0.045mJy). Os buracos negros nºs 1 a 12 não foram incluídos pois para esses é sempre d<rs.

Situação idêntica ocorre para o buraco negro nº13 quando observado nos 3.6cm. Os casos

assinalados com fundo cinzento correspondem a distâncias de detecção inferiores a 10rs.

λλλλ=20m λλλλ=4m λλλλ=3.6cm n rs (m)

S (Jy) d (m) S (Jy) d (m) S (Jy) d (m)

13 6.3×10-2 5.5×10-2 1.2×10-1 7.9×10-1 4.6×10-1 - <rs

14 6.3×10-3 6.2×10-1 4.1×10-2 15 2.0×10-1 2.7 1.6

15 6.3×10-4 6.3 1.3×10-2 1.6×102 6.4×10-2 9.0×105 89

16 6.3×10-5 63 4.1×10-3 1.6×103 2.0×10-2 1.8×107 40

17 6.3×10-6 6.3×102 1.3×10-3 1.6×104 6.5×10-3 1.9×108 13

18 6.3×10-7 6.3×103 4.1×10-4 1.6×105 2.0×10-3 1.9×109 4.1

19 6.3×10-8 6.3×104 1.3×10-4 1.6×106 6.5×10-4 1.9×1010 1.3

20 4.4×10-8 9.0×104 1.1×10-4 2.2×106 5.4×10-4 2.8×1010 1.1

21 3.8×10-8 1.0×105 1.0×10-4 2.6×106 5.0×10-4 3.2×1010 1.0

22 3.2×10-8 1.3×105 9.1×10-5 3.1×106 4.6×10-4 3.9×1010 9.3×10-1

23 2.5×10-8 1.6×105 8.2×10-5 3.9×106 4.1×10-4 4.8×1010 8.3×10-1

24 6.3×10-9 6.3×105 4.1×10-5 1.6×107 2.0×10-4 1.9×1011 4.1×10-1

25 6.3×10-10 6.3×106 1.3×10-5 1.6×108 6.5×10-5 1.9×1012 1.3×10-1

26 6.3×10-11 6.3×107 4.1×10-6 1.6×109 2.0×10-5 1.9×1013 4.1×10-2

27 6.3×10-12 6.3×108 1.3×10-6 1.6×1010 6.5×10-6 1.9×1014 1.3×10-2

28 6.3×10-13 6.3×109 4.1×10-7 1.6×1011 2.0×10-6 1.9×1015 4.1×10-3

29 6.3×10-14 6.3×1010 1.3×10-7 1.6×1012 6.5×10-7 1.9×1016 1.3×10-3

30 6.3×10-15 6.3×1011 4.1×10-8 1.6×1013 2.0×10-7 1.9×1017 4.1×10-4

31 6.3×10-16 6.3×1012 1.3×10-8 1.6×1014 6.5×10-8 1.9×1018 1.3×10-4

32 6.3×10-17 6.3×1013 4.1×10-9 1.6×1015 2.0×10-8 1.9×1019 4.1×10-5

33 6.3×10-18 6.3×1014 1.3×10-9 1.6×1016 6.5×10-9 1.9×1020 1.3×10-5

34 6.3×10-19 6.3×1015 4.1×10-10 1.6×1017 2.0×10-9 1.9×1021 4.1×10-6

35 6.3×10-20 6.3×1016 1.3×10-10 1.6×1018 6.5×10-10 1.9×1022 1.3×10-6

36 6.3×10-21 6.3×1017 4.1×10-11 1.6×1019 2.0×10-10 1.9×1023 4.1×10-7

37 6.3×10-22 6.3×1018 1.3×10-11 1.6×1020 6.5×10-11 1.9×1024 1.3×10-7

38 6.3×10-23 6.3×1019 4.1×10-12 1.6×1021 2.0×10-11 1.9×1025 4.1×10-8

39 6.3×10-24 6.3×1020 1.3×10-12 1.6×1022 6.5×10-12 1.9×1026 1.3×10-8

(continua)

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Detecção directa de buracos negros 98

Tabela 4.2 - Distâncias máximas para a detecção no rádio (continuação).

λλλλ=20m λλλλ=4m λλλλ=3.6cm n rs (m)

S (Jy) d (m) S (Jy) d (m) S (Jy) d (m)

40 6.3×10-25 6.3×1021 4.1×10-13 1.6×1023 2.0×10-12 1.9×1027 4.1×10-9

41 6.3×10-26 6.3×1022 1.3×10-13 1.6×1024 6.5×10-13 1.9×1028 1.3×10-9

42 6.3×10-27 6.3×1023 4.1×10-14 1.6×1025 2.0×10-13 1.9×1029 4.1×10-10

43 6.3×10-28 6.3×1024 1.3×10-14 1.6×1026 6.5×10-14 1.9×1030 1.3×10-10

44 6.3×10-29 6.3×1025 4.1×10-15 1.6×1027 2.0×10-14 1.9×1031 4.1×10-11

45 6.3×10-30 6.3×1026 1.3×10-15 1.6×1028 6.5×10-15 1.9×1032 1.3×10-11

46 6.3×10-31 6.3×1027 4.1×10-16 1.6×1029 2.0×10-15 1.9×1033 4.1×10-12

47 6.3×10-32 6.3×1028 1.3×10-16 1.6×1030 6.5×10-16 1.9×1034 1.3×10-12

48 6.3×10-33 6.3×1029 4.1×10-17 1.6×1031 2.0×10-16 1.9×1035 4.1×10-13

49 6.3×10-34 6.3×1030 1.3×10-17 1.6×1032 6.5×10-17 1.9×1036 1.3×10-13

50 6.3×10-35 6.3×1031 4.1×10-18 1.6×1033 2.0×10-17 1.9×1037 4.1×10-14

Os buracos negros 1 a 12 não foram incluídos pois para esses a distância de

detecção, dada pela expressão (4.4) é, para qualquer dos comprimentos de onda

considerados, sempre inferior aos respectivos raios de Schwarzschild o que significa

que a detecção é impossível. Situação idêntica ocorre com o buraco negro nº13 para um

comprimento de onda de observação de 3.6cm.

No caso λ=20m os buracos negros nº13 e nº14 são detectáveis a distâncias

equivalentes a 1.9rs e 6.4rs respectivamente. No caso λ=4m o buraco negro nº13 é

detectável à distância de 7.3rs. Como estamos a considerar d>>rs (queremos distâncias

superiores a, pelo menos, 10rs) estas três situações foram assinaladas na Tabela 4.2 com

fundo cinzento.

De acordo com os valores da Tabela 4.2, a distância de detecção máxima é tanto

menor quanto maior for o comprimento de onda de observação. Vejamos o que

acontece, por exemplo, com o buraco negro nº15. Para λ=3.6cm este é detectável até

uma distância de 89m. No entanto, para λ=4m a distância máxima para a detecção fica-

se pelos 6.4cm e para λ=20m pelos 1.3cm.

A densidade de fluxo (equação 4.3) cresce, obedecendo a uma lei exponencial,

com o decrescimento de rs. Assim, quanto maior a massa do buraco negro menor será a

xxx

Page 119: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Detecção directa de buracos negros 99

Figura 4.10 - Variação da luminosidade por unidade de frequência com o raio de Schwarzschild para um

comprimento de onda de observação λ=4m. O pico do gráfico corresponde a Lν≈4.1×10-28Ws para um

buraco negro com rs≈0.08m.

densidade de fluxo emitida. Por exemplo, o buraco negro nº11 (2.1×10-3M ), apresenta,

para um comprimento de onda de observação de λ=4m, uma densidade de fluxo da

ordem de 10-54Jy. Já o buraco negro nº32 (2.1×10-20M ) apresenta, para o mesmo

comprimento de onda de observação, uma densidade de fluxo de 1.5×1015Jy.

A luminosidade por unidade de frequência, Lν, obtém-se integrando a densidade

de fluxo (4.3) sobre toda a área do horizonte de acontecimentos do buraco negro:

==

2sSr4dASL (4.5)

Embora os buracos negros de dimensões subatómicas apresentem densidades de

fluxo bastante elevadas (Tabela 4.2) as respectivas luminosidades por unidade de

frequência (equação 4.5) são, dadas as reduzidas dimensões dos mesmos, bastante

baixas. Continuando com λ=4m temos, para o buraco negro nº11, Lν≈1.1×10-77Ws, e,

para o buraco negro nº32 Lν≈7.5×10-43Ws.

No gráfico da Figura 4.10 está representada a variação de Lν com rs (equação 4.5)

para um comprimento de onda λ=4m. Verifica-se que o valor máximo de Lν é de

≈4.1×10-28Ws, para um buraco negro com rs≈0.08m (≈2.7×10-5M ). Considerando, por

exemplo, uma largura de banda de 1.5MHz o valor anterior equivale a uma

luminosidade de ≈6.2×10-22W.

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Detecção directa de buracos negros 100

Figura 4.11- Distância para a detecção da radiação de Hawking em função do raio do buraco negro para

o comprimento de onda λ=20m e uma sensibilidade de 15mJy: (a) A parte cinzenta corresponde aos

valores de rs para os quais d>10rs. O ponto de intersecção (d=10rs) corresponde a um buraco negro com

rs≈2.6×10-3m e M≈8.8×10-7M . (b) A parte cinzenta corresponde aos valores de rs para os quais é d>rs. O

ponto de intersecção (d=rs) corresponde a um buraco negro com rs≈0.18m e M≈6.1×10-5M .

Consideremos agora a função d(rs) dada pela equação (4.4). Vamos utilizar de

novo os comprimentos de onda de 20m, 4m e 3.6cm (mantendo também os mesmos

valores paras as sensibilidades do detector).

No caso λ=20m apenas buracos negros com raio inferior a ≈2.6×10-3m

(M<8.8×10-7M ) podem ser detectados a uma distância d>10rs (Figura 4.11a). Incluem-

se neste caso os buracos negros nºs 15 a 50 da Tabela 4.1. O facto de ter de ser d>rs

implica que, para λ=20m, apenas sejam detectáveis buracos negros cujos raios sejam

inferiores a ≈0.18m (M<6.1×10-5M ) (Figura 4.11b). Incluem-se neste caso os buracos

negros nºs 13 a 50 da Tabela 4.1.

Quando λ=4m podem ser detectados, a uma distância d>10rs, buracos negros cujo

raio seja inferior a ≈0.04m (M<1.4×10-5M ) (Figura 4.12a). Incluem-se neste caso os

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Detecção directa de buracos negros 101

xxx

Figura 4.12 - Distância para a detecção da radiação de Hawking em função do raio do buraco negro para

o comprimento de onda λ=4m e uma sensibilidade de 15mJy: (a) A parte cinzenta corresponde aos

valores de rs para os quais d>10rs. O ponto de intersecção (d=10rs) corresponde a um buraco negro com

rs≈0.04m e M≈1.4×10-5M . (b) A parte cinzenta corresponde aos pontos para os quais é d>rs. O ponto de

intersecção (d=rs) corresponde a um buraco negro com rs≈0.25m e M≈8.5×10-5M . O pico da curva d(rs)

ocorre para rs≈0.08m (M≈2.7×10-5M ) sendo nesse caso d≈0.5m

buracos negros nºs 14 a 50 da Tabela 4.1. A condição d>rs implica que, para λ=4m,

apenas sejam detectáveis buracos negros cujos raios sejam inferiores a ≈0.25m

(M<8.5×10-5M ) (Figura 4.12b). Incluem-se nesta categoria os buracos negros nºs 13 a

50 da Tabela 4.1.

O pico da curva d(rs) ocorre para rs≈0.08m (M≈2.7×10-5M ) sendo nesse caso

d≈0.5m≈6.3rs (Figura 4.12b). Note-se que para λ=20m o pico da curva d(rs) ocorre para

um ponto onde a detecção já não é possível (situa-se fora na região d<rs; Figura 4.11b).

No gráfico da Figura 4.13a está representada a função d(rs) para λ=3.6cm. A

distância de detecção máxima, correspondente ao pico do gráfico, é de 90m

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Detecção directa de buracos negros 102

xxxxxxxxxx

Figura 4.13 - Distância para a detecção da radiação de Hawking em função do raio do buraco negro para

o comprimento de onda λ=3.6m e uma sensibilidade de 0.045mJy. (a) O pico da curva corresponde a

rs≈7.3×10-4m, M≈2.5×10-7M , d≈90m. (b) O ponto de intersecção (d=10rs) corresponde a um buraco

negro com rs≈9.2×10-3m (M≈3.1×10-6M ).

correspondente a um buraco negro com rs=7.3×10-4m (2.5×10-7M ). O ponto de

intersecção d=10rs, representado na Figura 4.13b, ocorre para rs≈9.2×10-3m

(M≈3.1×10-6M ). São, assim, detectáveis nos 3.6cm, a distâncias superiores a 10rs,

buracos negros com rs<9.2×10-3m. Incluem-se neste caso os buracos negros nºs 14 a 50

da Tabela 4.1.

4.4.2 Infravermelho

O vapor de água, o dióxido de carbono e o ozono atmosféricos absorvem grande

parte da radiação infravermelha proveniente do espaço fazendo com que a observação,

nesta banda do espectro, a partir do solo, seja possível apenas para algumas janelas.

Os observatórios de infravermelho terrestres devem ser montados em zonas altas e

secas. É, por exemplo, o caso do JMCT (James Clerk Maxwell Telescope) instalado no

monte Mauna Kea (Ilhas Hawai) 4092m acima do nível do mar.

Alguns programas de observação recorrem também à montagem de telescópios em

aviões os quais voando a altitudes superiores a 12km evitam grande parte do vapor de

água atmosférico. Como exemplo temos o SOFIA (Stratospheric Observatory For

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Detecção directa de buracos negros 103

Infrared Astronomy) que estará operacional em 2004 e vem substituir o KAO (Kuiper

Airborne Observatory) da NASA o qual esteve operacional entre 1975 e 1995. O

SOFIA poderá operar em toda a banda do infravermelho.

Em Agosto de 2003 foi lançado o telescópio espacial SIRTF (Space InfraRed

Telescope Facility) que irá operar nos comprimentos de onda de λ=1µm (infravermelho

próximo) a λ=180µm (infravermelho longínquo).

Vamos considerar a possibilidade de detecção da radiação de Hawking dos 50

buracos negros da Tabela 4.1 nos 800µm (ondas submilimétricas), 20µm (infravermelho

médio - Filtro Q ) e nos 3.4µm (infravermelho próximo - Filtro L). Nos 800µm vamos

considerar a sensibilidade de 10mJy (correspondente ao SOFIA). Nos 20µm e 3.4µm

consideraremos sensibilidades de 10-2mJy e 10-3mJy (correspondentes ao SIRTF).

As distâncias máximas de detecção, determinadas a partir da equação (4.4), para

os buracos negros 16 a 50 da Tabela 4.1, estão indicadas na Tabela 4.3. Na tabela são

também indicadas as densidades de fluxo emitidas por cada buraco negro em cada caso.

Verifica-se que, nos 3.4µm, os buracos negros nºs 19 a 23 seriam detectáveis a

distâncias da ordem dos 104m (cerca de 1011rs). No caso dos 20µm o melhor resultado,

em termos de distância, corresponde ao buraco negro nº18 com d=1.4×103m (2.2×109rs).

Nos 800µm o melhor resultado corresponde ao buraco negro nº 17 com d=31m

(4.9×106rs).

Nos gráficos da Figura 4.14 estão representadas as curvas da função d(rs) para os

mesmos comprimentos de onda da Tabela 4.3. Foram também consideradas as mesmas

sensibilidades.

No caso dos 800µm (Figura 4.14a) verifica-se, pelo pico do gráfico, que seria

possível detectar um buraco negro com rs=1.6×10-5m (5.4×10-9M ) a 40m de distância.

A condição d=10rs ocorre quando rs≈2.6×10-4m (este ponto não está representado no

gráfico). São, assim, detectáveis nos 800µm todos os buracos negros com rs<2.6×10-4m

onde se incluem os buracos negros nºs 16 a 50 da Tabela 4.1.

Nos 20µm (Figura 4.14b) verifica-se que seria possível detectar um buraco negro

com rs=4.0×10-7m (1.4×10-10M ) a 8.0×103m de distância. A condição d=10rs ocorre

quando rs≈1.2×10-5m (este ponto não está representado no gráfico). São, assim

detectáveis nos 20µm buracos negros com rs<1.2×10-5m onde se incluem os buracos

negros nºs 17 a 50 da Tabela 4.1.

Page 124: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Detecção directa de buracos negros 104

Tabela 4.3 - Distâncias máximas para a detecção no infravermelho. São indicados, para os

buracos negros nºs 16 a 50 da Tabela 4.1 a densidade de fluxo emitida e a distância máxima à

qual podem ser detectados nos comprimentos de onda de 800µm (sν=10mJy), 20µm

(sν=0.01mJy) e 3.4µm (sν=0.001mJy). Os buracos negros nºs 1 a 15 não foram incluídos pois

para esses é sempre d<rs. Situação idêntica ocorre para o buraco negro nº16 nos 20µm e 3.4µm

e para o buraco negro nº17 nos 3.4µm.

λλλλ=800µµµµm λλλλ=20µµµµm λλλλ=3.4µµµµm n rs (m)

S (Jy) d (m) S (Jy) d (m) S (Jy) d (m)

16 6.3×10-5 4.9×108 13

17 6.3×10-6 2.8×1011 31 2.6×105 1.8×10-1

18 6.3×10-7 3.8×1012 11 1.4×1015 1.4×103 1.4×1012 2.4×102

19 6.3×10-8 3.9×1013 3.6 5.5×1016 8.6×102 9.6×1017 2.0×104

20 4.4×10-8 5.6×1013 3.0 8.2×1016 7.3×102 1.8×1018 1.9×104

21 3.8×10-8 6.5×1013 2.8 9.7×1016 6.8×102 2.3×1018 1.8×104

22 3.2×10-8 7.8×1013 2.6 1.2×1017 6.3×102 3.0×1018 1.7×104

23 2.5×10-8 9.8×1013 2.3 1.5×1017 5.6×102 4.0×1018 1.6×104

24 6.3×10-9 3.9×1014 1.1 6.2×1017 2.9×102 2.0×1018 9.0×103

25 6.3×10-10 3.9×1015 3.6×10-1 6.3×1018 91 2.2×1020 2.9×103

26 6.3×10-11 3.9×1016 1.1×10-1 6.3×1019 29 2.2×1021 9.3×102

27 6.3×10-12 3.9×1017 3.6×10-2 6.3×1020 9.1 2.2×1022 2.9×102

28 6.3×10-13 3.9×1018 1.1×10-2 6.3×1021 2.9 2.2×1023 93

29 6.3×10-14 3.9×1019 3.6×10-3 6.3×1022 9.1×10-1 2.2×1024 30

30 6.3×10-15 3.9×1020 1.1×10-3 6.3×1023 2.9×10-1 2.2×1025 9.3

31 6.3×10-16 3.9×1021 3.6×10-4 6.3×1024 9.1×10-2 2.2×1026 2.9

32 6.3×10-17 3.9×1022 1.1×10-4 6.3×1025 2.9×10-2 2.2×1027 9.3×10-1

33 6.3×10-18 3.9×1023 3.6×10-5 6.3×1026 9.1×10-3 2.2×1028 2.9×10-1

34 6.3×10-19 3.9×1024 1.1×10-5 6.3×1027 2.9×10-3 2.2×1029 9.3×10-2

35 6.3×10-20 3.9×1025 3.6×10-6 6.3×1028 9.1×10-4 2.2×1030 2.9×10-2

36 6.3×10-21 3.9×1026 1.1×10-6 6.3×1029 2.9×10-4 2.2×1031 9.3×10-3

37 6.3×10-22 3.9×1027 3.6×10-7 6.3×1030 9.1×10-5 2.2×1032 2.9×10-3

38 6.3×10-23 3.9×1028 1.1×10-7 6.3×1031 2.9×10-5 2.2×1033 9.3×10-4

39 6.3×10-24 3.9×1029 3.6×10-8 6.3×1032 9.1×10-6 2.2×1034 2.9×10-4

40 6.3×10-25 3.9×1030 1.1×10-8 6.3×1033 2.9×10-6 2.2×1035 9.3×10-5

41 6.3×10-26 3.9×1031 3.6×10-9 6.3×1034 9.1×10-7 2.2×1036 2.9×10-5

(continua)

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Detecção directa de buracos negros 105

Tabela 4.3 - Distâncias máximas para a detecção no infravermelho (continuação).

λλλλ=800µµµµm λλλλ=20µµµµm λλλλ=3.4µµµµm n rs (m)

S (Jy) d (m) S (Jy) d (m) S (Jy) d (m)

42 6.3×10-27 3.9×1032 1.1×10-9 6.3×1035 2.9×10-7 2.2×1037 9.3×10-6

43 6.3×10-28 3.9×1033 3.6×10-10 6.3×1036 9.1×10-8 2.2×1038 2.9×10-6

44 6.3×10-29 3.9×1034 1.1×10-10 6.3×1037 2.9×10-8 2.2×1039 9.3×10-7

45 6.3×10-30 3.9×1035 3.6×10-11 6.3×1038 9.1×10-9 2.2×1040 2.9×10-7

46 6.3×10-31 3.9×1036 1.1×10-11 6.3×1039 2.9×10-9 2.2×1041 9.3×10-8

47 6.3×10-32 3.9×1037 3.6×10-12 6.3×1040 9.1×10-10 2.2×1042 2.9×10-8

48 6.3×10-33 3.9×1038 1.1×10-12 6.3×1041 2.9×10-10 2.2×1043 9.3×10-9

49 6.3×10-34 3.9×1039 3.6×10-13 6.3×1042 9.1×10-11 2.2×1044 2.9×10-9

50 6.3×10-35 3.9×1040 1.1×10-13 6.3×1043 2.9×10-11 2.2×1045 9.3×10-10

Finalmente, nos 3.4µm (Figura 4.14c) verifica-se que seria possível detectar um

buraco negro com rs=6.9×10-8m (2.3×10-11M ) a 6.2×104m de distância. A condição

d=10rs ocorre para rs≈2.3×10-6m (este ponto não está representado no gráfico). São,

assim, detectáveis nos 3.4µm todos os buracos negros com rs<2.3×10-6m onde se

incluem os buracos negros nºs 18 a 50 da Tabela 4.1.

4.4.3 Visível

Embora a transição entre a luz visível e as bandas adjacentes não seja abrupta,

vamos considerar que a mesma se situa entre os 0.7µm e os 0.4µm8. A atmosfera

terrestre deixa-se atravessar pela luz visível pelo que existem inúmeros observatórios

ópticos terrestres. No espaço está, desde 1990, o HST que também efectua observações

no óptico.

A sensibilidade dos detectores ópticos mede-se normalmente em termos de

magnitudes aparentes. O olho humano é sensível até a magnitude 6. Os melhores

detectores ópticos conseguem captar, actualmente, o brilho de objectos de magnitude

aparente 30.

8 Estes são os valores indicados pelo Institute for Telecommunications Sciences dos Estados Unidos (http://its.bldrdoc.gov).

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Detecção directa de buracos negros 106

Figura 4.14 - Distância máxima para a detecção da radiação de Hawking em função do raio do buraco

negro. Foram considerados os comprimentos de onda 800µm (ondas submilimétricas), 20µm

(infravermelho médio - Filtro Q ) e 3.4µm (infravermelho próximo - Filtro L). Os valores

correspondentes a cada um dos picos dos gráficos são: (a) rs=1.6×10-5m, d=40.3m, M=5.4×10-9M ; (b)

rs=4.0×10-7m, d=8.0×103m, M=1.4×10-10M ; (c) rs=6.9×10-8m, d=6.2×104m M=2.3×10-11M .

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Detecção directa de buracos negros 107

Tabela 4.4 - Sensibilidades dos filtros R, V e B. Para cada um dos filtros é apresentado o

respectivo comprimento de onda (em µm), a largura de banda (em Hz) e a densidade de fluxo

(em µJy) para uma fonte cuja magnitude aparente é m=30.

Filtro λλλλ (µµµµm) ∆∆∆∆νννν (××××1014

Hz) s (µµµµJy)

R 0.70 1.3 0.022

V 0.55 0.8 0.034

B 0.44 1.6 0.017

Vamos considerar a possibilidade de detecção da radiação de Hawking dos 50

buracos negros da Tabela 4.1 nos 0.7µm (Filtro R), 0.55µm (Filtro V) e 0.44µm (Filtro

B). Em qualquer dos casos vamos considerar, como sensibilidade limite, a magnitude

aparente m=30. Para podermos continuar a aplicar, no cálculo da distância, a expressão

(4.4) é preciso exprimir esta magnitude em termos de densidade de fluxo.

A luminosidade, L, de um corpo celeste, relaciona-se com a respectiva magnitude

absoluta, MA, através da expressão (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983):

( )AA10 MM5.2

1

L

Llog −=

r

r

(4.6)

onde L =3.826×1026W é a luminosidade do Sol e MA =4.83 é a respectiva magnitude

absoluta. A Luminosidade por sua vez pode relacionar-se com o fluxo, F, através da

expressão:

Fd4L 2= (4.7)

onde d é a distância entre o detector e a fonte emissora. Se esta estiver a uma distância

de 10pc (≈32.6AL) então a sua magnitude absoluta é igual (por definição) à respectiva

magnitude aparente. Fazendo então, em (4.6), MA=30 e substituindo a luminosidade

obtida em (4.7), com d=32.6AL, obtemos o fluxo F≈2.7×10-20Wm-2. Se dividirmos este

fluxo pela largura de banda associada a cada um dos comprimentos de onda de

observação obtemos a densidade de fluxo, ou seja, a sensibilidade, em cada caso. Os

resultados são os apresentados na Tabela 4.4.

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Detecção directa de buracos negros 108

Figura 4.15 - Distância máxima para a detecção da radiação de Hawking no óptico em função do raio do

buraco negro. Foram considerados os comprimentos de onda 0.70µm (Filtro R), 0.55µm (Filtro V) e

0.44µm (Filtro B). Os valores correspondentes aos picos das três curvas são: (R) rs=1.4×10-8m,

d=9.2×105m, M=4.7×10-12M ; (V) rs=1.1×10-8m, d=8.3×105m, M=3.7×10-12M ; (B) rs=8.9×10-9m,

d=1.3×106m, M=3.0×10-12M .

Na Tabela 4.5 são indicadas as distâncias máximas para a detecção, no óptico, dos

buracos negro nºs 19 a 50 da Tabela 4.1. A sensibilidade do detector para cada

comprimento de onda de observação é a indicada na Tabela 4.4. Na Tabela 4.5 são

também indicadas as densidades de fluxo emitidas por cada buraco negro em cada caso.

Verifica-se que os buracos negros nºs 20 a 25 são detectáveis até distâncias da

ordem dos 105m. Em particular o buraco negro nº24 é detectável, nos 0.44µm, à

distância de 1.3×106m. Note-se que os buracos negros nºs 24 e 25 têm o respectivo λmax

na banda do ultravioleta (Tabela 4.1) e não na banda do visível como acontece com os

buracos negros nºs 20 a 23.

No gráfico da Figura 4.15 estão representadas as curvas da função d(rs) para os

comprimentos de onda considerados anteriormente (Tabela 4.5). Foram também

consideradas as mesmas sensibilidades.

Verifica-se que um telescópio capaz de observar até a magnitude 30 seria capaz de

detectar um buraco negro com rs=8.9×10-9m (3.0×10-12M ) à distância de 1.3×106m. O

ponto d=10rs (que não está representado na figura) ocorre quando rs é da ordem dos

10-7m (5.5×10-7m para o filtro R, 4.3×10-7m para o filtro V, 3.5×10-7m para o filtro B).

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Detecção directa de buracos negros 109

Tabela 4.5 - Distâncias máximas para a detecção no visível. São indicados, para os buracos

negros nºs 19 a 50 da Tabela 4.1 a densidade de fluxo emitida e a distância máxima à qual

podem ser detectados para os comprimentos de onda de 0.70µm (sν=0.022µJy), 0.55µm

(sν=0.034µJy) e 0.44µm (sν=0.017µJy). Os buracos negros nºs 1 a 18 não foram incluídos pois

para esses é sempre d<rs.

λλλλ=0.70µµµµm λλλλ=0.55µµµµm λλλλ=0.44µµµµm n rs (m)

S (Jy) d (m) S (Jy) d (m) S (Jy) d (m)

19 6.3×10-8 3.0×1017 2.4×105 9.0×1016 1.0×105 1.8×1016 6.6×104

20 4.4×10-8 2.6×1018 4.8×105 1.4×1018 2.8×105 5.4×1017 2.5×105

21 3.8×10-8 5.2×1018 5.9×105 3.3×1018 3.8×105 1.7×1018 3.8×105

22 3.2×10-8 1.1×1019 7.1×105 8.3×1018 4.9×105 5.2×1018 5.5×105

23 2.5×10-8 2.3×1019 8.2×105 2.1×1019 6.3×105 1.6×1019 7.8×105

24 6.3×10-9 3.5×1020 8.1×105 5.1×1020 7.8×105 7.0×1020 1.3×106

25 6.3×10-10 4.9×1021 3.0×105 7.9×1021 3.1×105 1.2×1022 5.4×105

26 6.3×10-11 5.1×1022 9.7×104 8.3×1022 9.9×104 1.3×1023 1.7×105

27 6.3×10-12 5.1×1023 3.1×104 8.3×1023 3.1×104 1.3×1024 5.5×104

28 6.3×10-13 5.1×1024 9.8×103 8.3×1024 9.9×103 1.3×1025 1.7×104

29 6.3×10-14 5.1×1025 3.1×103 8.3×1025 3.1×103 1.3×1026 5.5×103

30 6.3×10-15 5.1×1026 9.8×102 8.3×1026 9.9×102 1.3×1027 1.7×103

31 6.3×10-16 5.1×1027 3.1×102 8.3×1027 3.1×102 1.3×1028 5.5×102

32 6.3×10-17 5.1×1028 98 8.3×1028 99 1.3×1029 1.7×102

33 6.3×10-18 5.1×1029 31 8.3×1029 31 1.3×1030 55

34 6.3×10-19 5.1×1030 9.8 8.3×1030 9.9 1.3×1031 17

35 6.3×10-20 5.1×1031 3.1 8.3×1031 3.1 1.3×1032 5.5

36 6.3×10-21 5.1×1032 9.8×10-1 8.3×1032 9.9×10-1 1.3×1033 1.7

37 6.3×10-22 5.1×1033 3.1×10-1 8.3×1033 3.1×10-1 1.3×1034 5.5×10-1

38 6.3×10-23 5.1×1034 9.8×10-2 8.3×1034 9.9×10-2 1.3×1035 1.7×10-1

39 6.3×10-24 5.1×1035 3.1×10-2 8.3×1035 3.1×10-2 1.3×1036 5.5×10-2

40 6.3×10-25 5.1×1036 9.8×10-3 8.3×1036 9.9×10-3 1.3×1037 1.7×10-2

41 6.3×10-26 5.1×1037 3.1×10-3 8.3×1037 3.1×10-3 1.3×1038 5.5×10-3

42 6.3×10-27 5.1×1038 9.8×10-4 8.3×1038 9.9×10-4 1.3×1039 1.7×10-3

43 6.3×10-28 5.1×1039 3.1×10-4 8.3×1039 3.1×10-4 1.3×1040 5.5×10-4

44 6.3×10-29 5.1×1040 9.8×10-5 8.3×1040 9.9×10-5 1.3×1041 1.7×10-4

45 6.3×10-30 5.1×1041 3.1×10-5 8.3×1041 3.1×10-5 1.3×1042 5.5×10-5

46 6.3×10-31 5.1×1042 9.8×10-6 8.3×1042 9.9×10-6 1.3×1043 1.7×10-5

(continua)

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Detecção directa de buracos negros 110

Tabela 4.5 - Distâncias máximas para a detecção no visível (continuação).

λλλλ=0.70µµµµm λλλλ=0.55µµµµm λλλλ=0.44µµµµm n rs (m)

S (Jy) d (m) S (Jy) d (m) S (Jy) d (m)

47 6.3×10-32 5.1×1043 3.1×10-6 8.3×1043 3.1×10-6 1.3×1044 5.5×10-6

48 6.3×10-33 5.1×1044 9.8×10-7 8.3×1044 9.9×10-7 1.3×1045 1.7×10-6

49 6.3×10-34 5.1×1045 3.1×10-7 8.3×1045 3.1×10-7 1.3×1046 5.5×10-7

50 6.3×10-35 5.1×1046 9.8×10-8 8.3×1046 9.9×10-8 1.3×1047 1.7×10-7

Buracos negros cujos raios sejam inferiores aos indicados podem ser detectados no

óptico. Estão neste caso os buracos negros nºs 19 a 50 da Tabela 4.1 como já foi

indicado na Tabela 4.5.

Verifica-se, ainda pelo gráfico da Figura 4.15, que a observação com o filtro B

tem vantagem, em termos de distância, para buracos negros cujo raio seja inferior a

≈2.5×10-8m (onde se incluem os buracos negros nºs 23 a 50 da Tabela 4.1). Para valores

de rs superiores é já o filtro R que permite observar a maiores distâncias (estão neste

caso os buracos negros nºs 19 a 22 da Tabela 4.1).

A magnitude absoluta de um buraco negro na banda do óptico pode determinar-se

a partir de (4.6) com a luminosidade L substituída pela luminosidade do buraco negro na

banda do visível (a qual designaremos por Lvis). O valor de Lvis é dado por :

vis2svis Fr4L = (4.8)

onde rs é dado pela equação (1.3) e Fvis corresponde ao fluxo da radiação emitida por

um determinado buraco negro na banda do visível. O valor de Fvis é obtido integrando a

expressão (4.3) ao longo de toda a banda do visível (0.7µm>λ>0.4µm):

( )2-m4.0/c

m7.0/cc/r82

3m4.0/c

m7.0/c

vis Wm d1e

1

c

h2dSF

s2

−== (4.9)

Na Tabela 4.6 são indicados para os buracos negros nºs 19 a 30 da Tabela 4.1 os

correspondentes valores de Fvis (equação 4.9), Lvis (equação 4.8) e magnitude absoluta

na banda do visível, MA, (equação 4.6). Verifica-se que o buraco negro mais brilhante

(magnitude absoluta menor) é o nº 24 com MA=86.4.

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Detecção directa de buracos negros 111

Tabela 4.6 - Magnitude absoluta na banda do visível. São indicados para os buracos negros

nºs 19 a 30 da Tabela 4.1 os respectivos fluxos e luminosidades na banda do visível bem como

as correspondentes magnitude absolutas.

n rs (m) Fvis (Wm-2

) Lvis (W) MA

19 6.3×10-8 2.7×105 1.3×10-8 91.0

20 4.4×10-8 3.6×106 9.0×10-8 88.9

21 3.8×10-8 9.0×106 1.6×10-7 88.3

22 3.2×10-8 2.3×107 2.9×10-7 87.6

23 2.5×10-8 6.0×107 4.8×10-7 87.1

24 6.3×10-9 1.8×109 9.2×10-7 86.4

25 6.3×10-10 3.0×1010 1.5×10-7 88.3

26 6.3×10-11 3.2×1011 1.6×10-8 90.8

27 6.3×10-12 3.2×1012 1.6×10-9 93.3

28 6.3×10-13 3.2×1013 1.6×10-10 95.8

29 6.3×10-14 3.2×1014 1.6×10-11 98.3

30 6.3×10-15 3.2×1015 1.6×10-12 100.8

Consideremos a observação de buracos negros a olho nu. O olho humano

consegue detectar objectos até a magnitude aparente 6. A expressão que relaciona

magnitude aparente (ma), magnitude absoluta (MA) e distância (d) pode escrever-se

como (e.g. Harwit 1998)9:

dlog55mM 10aA −+= (4.10)

com a distância d expressa em pc. Fazendo ma=6 em (4.10) e recorrendo às equações

(4.6), (4.8) e (4.9) para determinar MA podemos calcular a distância máxima à qual se

podem detectar buracos negros a olho nu. A curva d(rs) correspondente está

representada no gráfico da Figura 4.16.

Verifica-se que o olho humano seria capaz de detectar um buraco negro com um

raio de 1.0×10-8m a cerca de 27.2m de distância. Buracos negros com raios maiores ou

menores seriam detectáveis a distâncias inferiores. Por exemplo, a 10cm de distância,

xxx

9 Não vamos considerar a parcela correspondente à extinção interestelar uma vez que para as distâncias em causa (ver Figura 4.16) a mesma poder considerar-se nula

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Detecção directa de buracos negros 112

Figura 4.16 - Distância máxima para a detecção a olho nu da radiação de Hawking emitida por buracos

negros. Ao pico do gráfico correspondem os valores rs≈1.0×10-8m, d≈27.2m e M≈3.4×10-12M .

seria detectável um buraco negro com rs≈1.3×10-7m (λmax no infravermelho; Tabela 4.1)

ou um buraco negro com rs≈5.0×10-14m (λmax nos raios gama; Tabela 4.1).

4.4.4 Ultravioleta

A radiação ultravioleta proveniente do exterior da Terra é bloqueada pela camada

de ozono pelo que a observação nesta banda do espectro (Figura 4.7) tem de ser feita a

partir do espaço (e.g. Smith 1995).

Os instrumentos do HST conseguem detectar no ultravioleta médio

(165nm<λ<310nm) objectos de magnitude aparente ma≈25 ao que corresponde uma

sensibilidade sν≈0.32µJy10

O satélite FUSE (Far Ultraviolet Spectroscopic Explorer), lançado em 1999,

permite efectuar observações entre os 90nm e 120nm (ultravioleta distante - ultravioleta

longínquo) com uma sensibilidade limite sν≈3.3×10-7Jy11.

10 Os dados foram retirados do "Hubble Space Telescope, Primer for Cycle 11" - Secção 4.1.

(http://www.stsci.edu/proposer/cy11/documents/online) 11 Os dados foram retirados do "The Fuse Observers Guide" Versão 5.0, Julho 2003

(http://fuse.pha.edu/suport/guide/guide.html)

Page 133: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Detecção directa de buracos negros 113

Vamos considerar a possibilidade de detecção da radiação de Hawking, emitida

pelos 50 buracos negros da Tabela 4.1, nos 237nm (ultravioleta médio) e nos 105nm

(ultravioleta distante). Nos 237nm vamos considerar sν=3.2×10-7Jy (HST) e nos 105nm

sν=3.3×10-7Jy (FUSE).

As distâncias máximas de detecção, determinadas a partir da equação (4.4), para

os buracos negros 19 a 50 da Tabela 4.1, estão indicadas na Tabela 4.7. Na tabela são

também indicadas as densidades de fluxo emitidas por cada buraco negro em cada caso.

Verifica-se que os buracos negros 24 e 25 são detectáveis, para os comprimentos de

onda considerados, a distâncias da ordem dos 105m.

Nos gráficos da Figura 4.17 estão representadas as curvas da função d(rs) para os

mesmos comprimentos de onda da Tabela 4.7. Foram também consideradas as mesmas

sensibilidades.

No caso dos 237nm (Figura 4.17a) verifica-se, pelo pico do gráfico, que seria

possível detectar um buraco negro com rs=4.8×10-9m (M=1.6×10-12M ) a 4.1×105m de

distância. A condição d=10rs ocorre quando rs≈2.6×10-7m (este ponto não está

representado no gráfico). São, assim, detectáveis nos 237nm todos os buracos negros

com rs<2.6×10-7m onde se incluem os buracos negros nºs 19 a 50 da Tabela 4.1.

No caso dos 105nm (Figura 4.17b) verifica-se, pelo pico do gráfico, que seria

possível detectar um buraco negro com rs=2.1×10-9m (M=7.1×10-13M ) a 6.1×105m de

distância. A condição d=10rs ocorre quando rs≈8.4×10-8m (este ponto não está

representado no gráfico). São, assim, detectáveis nos 105nm todos os buracos negros

com rs<8.4×10-8m onde se incluem os buracos negros nºs 19 a 50 da Tabela 4.1.

4.4.5 Raios X

Os raios X interagem fortemente com a matéria por meio do processo de absorção

fotoelectrónica. O livre percurso médio dos raios X no ar é, por essa razão, limitado a

alguns centímetros (e.g. Smith 1995) pelo que a astronomia de raios X tem de ser

efectuada a partir do espaço.

Ao longo dos últimos anos foram colocados em órbita vários telescópios de raios

X. Um dos mais sensíveis, actualmente em operação, é o Newton-XMM. Apresenta, por

exemplo (http://heasarc.gsfc.nasa.gov/docs/xmm/), sensibilidade sν=3.3×10-10Jy nos

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Detecção directa de buracos negros 114

xxxxx

Tabela 4.7 – Distâncias máximas para a detecção no ultravioleta. São indicados, para os

buracos negros nºs 19 a 50 da Tabela 4.1 a densidade de fluxo emitida e a distância máxima à

qual podem ser detectados nos comprimentos de onda de 237nm (sν=3.2×10-7Jy) e 105nm

(sν=3.3×10-7Jy). Os buracos negros nºs 1 a 18 não foram incluídos pois para esses é sempre d<rs.

λλλλ=237nm λλλλ=105nm n rs (m)

S (Jy) d (m) S (Jy) d (m)

19 6.3×10-8 7.7×1012 3.1×102 3.1×102 1.9×10-3

20 4.4×10-8 4.1×1015 5.0×103 4.5×108 1.6

21 3.8×10-8 3.3×1016 1.2×104 5.1×1010 15

22 3.2×10-8 2.7×1017 2.9×104 5.8×1012 1.3×102

23 2.5×10-8 2.2×1018 6.6×104 6.5×1014 1.1×103

24 6.3×10-9 1.3×1021 4.0×105 9.6×1020 3.4×105

25 6.3×10-10 4.0×1022 2.2×105 1.8×1023 4.6×105

26 6.3×10-11 4.4×1023 7.4×104 2.2×1024 1.6×105

27 6.3×10-12 4.5×1024 2.4×104 2.3×1025 5.2×104

28 6.3×10-13 4.5×1025 7.5×103 2.3×1026 1.7×104

29 6.3×10-14 4.5×1026 2.4×103 2.3×1027 5.2×103

30 6.3×10-15 4.5×1027 7.5×102 2.3×1028 1.7×103

31 6.3×10-16 4.5×1028 2.4×102 2.3×1029 5.2×102

32 6.3×10-17 4.5×1029 75 2.3×1030 1.7×102

33 6.3×10-18 4.5×1030 24 2.3×1031 52

34 6.3×10-19 4.5×1031 7.5 2.3×1032 17

35 6.3×10-20 4.5×1032 2.4 2.3×1033 5.2

36 6.3×10-21 4.5×1033 7.5×10-1 2.3×1034 1.7

37 6.3×10-22 4.5×1034 2.4×10-1 2.3×1035 5.2×10-1

38 6.3×10-23 4.5×1035 7.5×10-2 2.3×1036 1.7×10-1

39 6.3×10-24 4.5×1036 2.4×10-2 2.3×1037 5.2×10-2

40 6.3×10-25 4.5×1037 7.5×10-3 2.3×1038 1.7×10-2

41 6.3×10-26 4.5×1038 2.4×10-3 2.3×1039 5.2×10-3

42 6.3×10-27 4.5×1039 7.5×10-4 2.3×1040 1.7×10-3

43 6.3×10-28 4.5×1040 2.4×10-4 2.3×1041 5.2×10-4

44 6.3×10-29 4.5×1041 7.5×10-5 2.3×1042 1.7×10-4

45 6.3×10-30 4.5×1042 2.4×10-5 2.3×1043 5.2×10-5

46 6.3×10-31 4.5×1043 7.5×10-6 2.3×1044 1.7×10-5

(continua)

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Detecção directa de buracos negros 115

Tabela 4.7 – Distâncias máximas para a detecção no ultravioleta (continuação).

λλλλ=237nm λλλλ=105nm n rs (m)

S (Jy) d (m) S (Jy) d (m)

47 6.3×10-32 4.5×1044 2.4×10-6 2.3×1045 5.2×10-6

48 6.3×10-33 4.5×1045 7.5×10-7 2.3×1046 1.7×10-6

49 6.3×10-34 4.5×1046 2.4×10-7 2.3×1047 5.2×10-7

50 6.3×10-35 4.5×1047 7.5×10-8 2.3×1048 1.7×10-7

Figura 4.17 - Distância máxima para a detecção da radiação de Hawking em função do raio do buraco

negro. Foram considerados os comprimentos de onda 237nm (ultravioleta médio) e 105nm (ultravioleta

extremo). Os valores correspondentes a cada um dos picos dos gráficos são: (a) rs=4.8×10-9m,

d=4.1×105m, M=1.6×10-12M ; (b) rs=2.1×10-9m, d=6.1×105m, M=7.1×10-13M .

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Detecção directa de buracos negros 116

0.2-0.5KeV (6.2nm>λ>2.5nm - raios X suaves), sν=8.6×10-11Jy nos 0.5-2.0KeV

(2.5nm>λ>0.6nm - raios X suaves e médios) e sν=2.0×10-10Jy nos 5-10KeV

(0.25nm>λ>0.13nm - raios X médios)

Vamos considerar a possibilidade de detecção da radiação de Hawking, emitida

pelos 50 buracos negros da Tabela 4.1, nos 3.5nm (sν=3.3×10-10Jy), 1nm

(sν=8.6×10-11Jy) e 0.167nm (sν=2.0×10-10Jy). As distâncias máximas para a detecção

dos buracos negros nºs 25 a 50, obtidas a partir da equação (4.4), bem como a densidade

de fluxo emitida por cada buraco negro em cada caso, estão indicadas na Tabela 4.8.

Verifica-se que alguns dos buracos negros são detectáveis a distâncias da ordem

dos 108m, ou seja, a distâncias comparáveis à distância Terra-Lua. Por exemplo, o

buraco negro nº27 é detectável nos 0.167nm até à distância de 5.4×108m e para 1nm até

à distância de 3.0×108m. O buraco negro nº28 é detectável nos 0.167nm até à distância

de 3.9×108m e para 1nm à distância máxima de 1.3×108m.

Nos gráficos da Figura 4.18 estão representadas as curvas da função d(rs) para os

mesmos comprimentos de onda da Tabela 4.8. Foram também consideradas as mesmas

sensibilidades.

No caso dos 3.5nm (Figura 4.18a) verifica-se, pelo pico do gráfico, que seria

possível detectar um buraco negro com rs=7.1×10-11m (M=2.4×10-14M ) a 1.1×108m de

distância (≈1/3 da distância Terra-Lua). A condição d=10rs ocorre quando rs≈3.6×10-9m

(este ponto não está representado no gráfico). São, assim, detectáveis nos 3.5nm todos

os buracos negros com rs<3.6×10-9m onde se incluem os buracos negros nºs 25 a 50 da

Tabela 4.1.

Para o comprimento de onda de 1nm (Figura 4.18b) verifica-se, pelo pico do

gráfico, que seria possível detectar um buraco negro com rs=2.0×10-11m

(M=6.8×10-15M ) a 3.9×108m de distância (aproximadamente à distância Terra-Lua). A

condição d=10rs ocorre quando rs≈1.0×10-9m (este ponto não está representado no

gráfico). São, assim, detectáveis no comprimento de onda de 1nm todos os buracos

negros com rs<1.0×10-9m onde se incluem os buracos negros nºs 25 a 50 da Tabela 4.1.

Por fim, no caso dos 0.167nm (Figura 4.18c) verifica-se, pelo pico do gráfico, que

seria possível detectar um buraco negro com rs=3.4×10-12m (M=1.2×10-15M ) a

6.2×108m de distância (≈1.6 vezes superiores à distância Terra-Lua). A condição d=10rs

xxx

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Detecção directa de buracos negros 117

Tabela 4.8 – Distâncias máximas para a detecção nos raios X. São indicados, para os

buracos negros nºs 25 a 50 da Tabela 4.1 a densidade de fluxo emitida e a distância máxima à

qual podem ser detectados para os comprimentos de onda de 3.5nm (sν=3.3×10-10Jy), 1nm

(sν=8.6×10-11Jy) e 0.167nm (sν=2.0×10-10Jy). Os buracos negros nºs 1 a 24 não foram incluídos

pois para esses é sempre d<rs.

λλλλ=3.5nm λλλλ=1nm λλλλ=0.167nm n rs (m)

S (Jy) d (m) S (Jy) d (m) S (Jy) d (m)

25 6.3×10-10 2.3×1021 1.7×106 3.2×107 3.8×10-1

26 6.3×10-11 9.1×1026 1.0×108 8.7×1026 2.0×108 3.2×1018 8.0×103

27 6.3×10-12 1.9×1028 4.7×107 1.9×1029 3.0×108 1.4×1030 5.4×108

28 6.3×10-13 2.0×1029 1.5×107 2.5×1030 1.1×108 7.7×1031 3.9×108

29 6.3×10-14 2.0×1030 4.9×106 2.5×1031 3.4×107 8.9×1032 1.3×108

30 6.3×10-15 2.0×1031 1.5×106 2.5×1032 1.1×107 9.0×1033 4.2×107

31 6.3×10-16 2.0×1032 4.9×105 2.5×1033 3.4×106 9.0×1034 1.3×107

32 6.3×10-17 2.0×1033 1.5×105 2.5×1034 1.1×106 9.0×1035 4.2×106

33 6.3×10-18 2.0×1034 4.9×104 2.5×1035 3.4×105 9.0×1036 1.3×106

34 6.3×10-19 2.0×1035 1.5×104 2.5×1036 1.1×105 9.0×1037 4.2×105

35 6.3×10-20 2.0×1036 4.9×103 2.5×1037 3.4×104 9.0×1038 1.3×105

36 6.3×10-21 2.0×1037 1.5×103 2.5×1038 1.1×104 9.0×1039 4.2×104

37 6.3×10-22 2.0×1038 4.9×102 2.5×1039 3.4×103 9.0×1040 1.3×104

38 6.3×10-23 2.0×1039 1.5×102 2.5×1040 1.1×103 9.0×1041 4.2×103

39 6.3×10-24 2.0×1040 49 2.5×1041 3.4×102 9.0×1042 1.3×103

40 6.3×10-25 2.0×1041 15 2.5×1042 1.1×102 9.0×1043 4.2×102

41 6.3×10-26 2.0×1042 4.9 2.5×1043 34 9.0×1044 1.3×102

42 6.3×10-27 2.0×1043 1.5 2.5×1044 11 9.0×1045 42

43 6.3×10-28 2.0×1044 4.9×10-1 2.5×1045 3.4 9.0×1046 13

44 6.3×10-29 2.0×1045 1.5×10-1 2.5×1046 1.1 9.0×1047 4.2

45 6.3×10-30 2.0×1046 4.9×10-2 2.5×1047 3.4×10-1 9.0×1048 1.3

46 6.3×10-31 2.0×1047 1.5×10-2 2.5×1048 1.1×10-1 9.0×1049 4.2×10-1

47 6.3×10-32 2.0×1048 4.9×10-3 2.5×1049 3.4×10-2 9.0×1050 1.3×10-1

48 6.3×10-33 2.0×1049 1.5×10-3 2.5×1050 1.1×10-2 9.0×1051 4.2×10-2

49 6.3×10-34 2.0×1050 4.9×10-4 2.5×1051 3.4×10-3 9.0×1052 1.3×10-2

50 6.3×10-35 2.0×1051 1.5×10-4 2.5×1052 1.1×10-3 9.0×1053 4.2×10-3

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Detecção directa de buracos negros 118

Figura 4.18 - Distância máxima para a detecção da radiação de Hawking em função do raio do buraco

negro. Foram considerados os comprimentos de onda 3.5nm (raios X suaves), 1nm (raios X médios) e

0.167nm (raios X fortes). Os valores correspondentes a cada um dos picos dos gráficos são: (a)

rs=7.1×10-11m, d=1.1×108m, M=2.4×10-14M ; (b) rs=2.0×10-11m, d=3.9×108m, M=6.8×10-15M ; (c)

rs=3.4×10-12m, d=6.2×108m, M=1.2×10-15M .

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Detecção directa de buracos negros 119

ocorre quando rs≈1.9×10-10m (este ponto não está representado no gráfico). São, assim,

detectáveis nos 0.167nm todos os buracos negros com rs<1.9×10-10m onde se incluem os

buracos negros nºs 26 a 50 da Tabela 4.1.

4.4.6 Raios gama

Tal como os raios X, os raios gama interagem fortemente com a matéria pelo que

a astronomia de raios gama tem de ser feita a partir do espaço. Exceptuam-se aqui os

raios gama fortes com energias superiores a 100GeV que conseguem penetrar a

atmosfera e atingir o solo (e.g. Morselli 2002).

No domínio dos raios gama suaves está actualmente operacional o INTEGRAL

(INTErnational Gamma-Ray Astrophysics Laboratory). Os instrumentos deste

permitem a observação entre os 15KeV (λ=8.3×10-11m; ainda nos raios X fortes) até aos

10MeV (λ=1.2×10-13m; raios gama suaves) com uma sensibilidade próxima dos

6.6×10-11Jy (e.g. Winkler 2000).

Para a observação a nível dos raios gama médios será lançado brevemente o

AGILE (Astro-revilatore Gamma a Immagini LEggero). Os instrumentos do AGILE

permitirão efectuar observações nos 0.1-30GeV (1.2×10-14m>λ>4.1×10-17m; raios gama

médios) com uma sensibilidade próxima dos 6.7×10-13Jy (e.g. Morselli 2002).

Quanto aos raios gama fortes está a ser construído na Namíbia o HESS (High

Energy Stereoscopic System). Este terá uma sensibilidade próxima dos 1.7×10-17Jy na

banda dos 0.1-10TeV (1.2×10-17m>λ>1.2×10-19m; raios gama fortes) (e.g. Morselli

2002).

Vamos considerar a possibilidade de detecção da radiação de Hawking, emitida

pelos 50 buracos negros da Tabela 4.1, nos 2.5×10-13m (sν=6.6×10-11Jy), nos 8.3×10-17m

(sν=6.7×10-13Jy) e nos 2.5×10-19m (sν=1.7×10-17Jy). As distâncias máximas para a

detecção dos buracos negros nºs 29 a 50, obtidas a partir da equação (4.4), bem como a

densidade de fluxo emitida por cada buraco negro em cada caso, estão indicadas na

Tabela 4.9. Os buracos negros 1 a 28, no caso λ=2.5×10-13m, 1 a 31, no caso

λ=8.3×10-17m, e 1 a 34, no caso λ=2.5×10-19m, não foram considerados pois para esses

é d<rs.

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Detecção directa de buracos negros 120

Tabela 4.9 – Distâncias máximas para a detecção nos raios gama. São indicados, para os

buracos negros nºs 29 a 50 da Tabela 4.1 a densidade de fluxo emitida e a distância máxima à

qual podem ser detectados para os comprimentos de onda de 2.5×10-13m (sν=6.6×10-11Jy),

8.3×10-17m (sν=6.7×10-13Jy) e 2.5×10-19m (sν=1.7×10-17Jy). Os buracos negros nºs 1 a 28 no caso

λ=2.5×10-13m, nºs 1 a 31 no caso λ=8.3×10-17m e nºs 1 a 34 no caso λ=2.5×10-19m não foram

incluídos pois para esses é sempre d<rs.

λλλλ=2.5××××10-13

m λλλλ=8.3××××10-17

m λλλλ=2.5××××10-19

m n rs (m)

S (Jy) d (m) S (Jy) d (m) S (Jy) d (m)

29 6.3×10-14 1.9×1031 3.3×107

30 6.3×10-15 1.3×1039 2.8×1010

31 6.3×10-16 3.6×1040 1.5×1010

32 6.3×10-17 4.0×1041 4.9×109 2.2×1024 1.2×102

33 6.3×10-18 4.0×1042 1.6×109 5.5×1047 5.7×1012

34 6.3×10-19 4.0×1043 4.9×108 2.7×1050 1.3×1013

35 6.3×10-20 4.0×1044 1.6×108 3.5×1051 4.6×1012 1.9×1049 6.7×1013

36 6.3×10-21 4.0×1045 4.9×107 3.6×1052 1.5×1012 1.3×1057 5.5×1016

37 6.3×10-22 4.0×1046 1.6×107 3.6×1053 4.7×1011 3.6×1058 3.0×1016

38 6.3×10-23 4.0×1047 4.9×106 3.6×1054 1.5×1011 4.0×1059 9.8×1015

39 6.3×10-24 4.0×1048 1.6×106 3.6×1055 4.7×1010 4.0×1060 3.1×1015

40 6.3×10-25 4.0×1049 4.9×105 3.6×1056 1.5×1010 4.0×1061 9.9×1014

41 6.3×10-26 4.0×1050 1.6×105 3.6×1057 4.7×109 4.0×1062 3.1×1014

42 6.3×10-27 4.0×1051 4.9×104 3.6×1058 1.5×109 4.0×1063 9.9×1013

43 6.3×10-28 4.0×1052 1.6×104 3.6×1059 4.7×108 4.0×1064 3.1×1013

44 6.3×10-29 4.0×1053 4.9×103 3.6×1060 1.5×108 4.0×1065 9.9×1012

45 6.3×10-30 4.0×1054 1.6×103 3.6×1061 4.7×107 4.0×1066 3.1×1012

46 6.3×10-31 4.0×1055 4.9×102 3.6×1062 1.5×107 4.0×1067 9.9×1011

47 6.3×10-32 4.0×1056 1.6×102 3.6×1063 4.7×106 4.0×1068 3.1×1011

48 6.3×10-33 4.0×1057 49 3.6×1064 1.5×106 4.0×1069 9.9×1010

49 6.3×10-34 4.0×1058 16 3.6×1065 4.7×105 4.0×1070 3.1×1010

50 6.3×10-35 4.0×1059 4.9 3.6×1066 1.5×105 4.0×1071 9.9×109

O buraco negro nº30 é detectável nos 2.5×10-13m a uma distância de 2.8×1010m ou

seja a 0.18UA (cerca de 73 vezes a distância Terra-Lua). O buraco negro nº34 é

detectável nos 8.3×10-17m a uma distância de 1.3×1013m (cerca de duas vezes a

distância Sol-Plutão). No caso da observação nos 2.5×10-19m temos que o buraco negro

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Detecção directa de buracos negros 121

nº 36 é detectável a 5.5×1016m o que equivale a cerca de 5.8AL.

Nos gráficos da Figura 4.19 estão representadas as curvas da função d(rs) para os

mesmos comprimentos de onda da Tabela 4.9. Foram também consideradas as mesmas

sensibilidades.

Para o comprimento de onda de 2.5×10-13m (Figura 4.19a) verifica-se, pelo pico

do gráfico, que seria possível detectar um buraco negro com rs=5.0×10-15m

(M=1.7×10-18M ) a 2.8×1010m de distância (≈73 vezes a distância Terra-Lua ou

≈0.19UA). A condição d=10rs ocorre quando rs≈3.5×10-13m (este ponto não está

representado no gráfico). São, assim, detectáveis no comprimento de onda de

2.5×10-13m todos os buracos negros com rs<3.5×10-13m onde se incluem os buracos

negros nºs 29 a 50 da Tabela 4.1.

No caso dos 8.7×10-17m (Figura 4.19b) verifica-se, pelo pico do gráfico, que seria

possível detectar um buraco negro com rs=1.7×10-18m (M=5.8×10-22M ) a 1.5×1013m de

distância (≈100UA, ≈14 horas luz ou ≈2.5 a distância máxima de Plutão ao Sol). A

condição d=10rs ocorre quando rs≈1.5×10-16m (este ponto não está representado no

gráfico). São, assim, detectáveis no comprimento de onda de 8.7×10-17m todos os

buracos negros com rs<1.5×10-16m onde se incluem os buracos negros nºs 32 a 50 da

Tabela 4.1.

No caso dos 2.5×10-19m (Figura 4.19c) verifica-se, pelo pico do gráfico, que seria

possível detectar um buraco negro com rs=5.0×10-21m (M=1.7×10-24M ) a 5.5×1016m de

distância (≈5.8AL). A condição d=10rs ocorre quando rs≈5.3×10-19m (este ponto não

está representado no gráfico). São, assim, detectáveis no comprimento de onda de

2.5×10-19m todos os buracos negros com rs<5.3×10-19m onde se incluem os buracos

negros nºs 35 a 50 da Tabela 4.1.

4.4.7 Buracos negros em fase terminal

Para estimar o tempo de evaporação de um buraco negro podemos recorrer à

equação (2.33). A função f(M) presente nas equações (2.32) e (2.33) varia muito

lentamente com a massa. O seu valor é de 15.4 para M<<108kg e de 1 para M>>1014kg.

Vamos supor, por simplicidade que f(M)=15.4, para M<108kg, que f(M)=1, para

xxxxxxx

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Detecção directa de buracos negros 122

Figura 4.19 - Distância máxima para a detecção da radiação de Hawking em função do raio do buraco

negro. Foram considerados os comprimentos de onda 2.5×10-13m (raios gama suaves), 8.3×10-17m

(raios gama médios) e 2.5×10-19m (raios gama fortes). Os valores correspondentes a cada um dos picos

dos gráficos são: (a) rs=5.0×10-15m, d=2.8×1010m, M=1.7×10-18M ; (b) rs=1.7×10-18m, d=1.5×1013m,

M=5.8×10-22M ; (c) rs=5.0×10-21m, d=5.5×1016m, M=1.7×10-24M

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Detecção directa de buracos negros 123

Figura 4.20 - Função f(M) para a evaporação de buracos negros (cf. equações 2.32 e 2.33).

M>1014kg e que f(M) apresenta um comportamento linear entre estes dois pontos

(Figura 4.20). Na Tabela 4.10 são apresentados os tempos de evaporação para os

buracos negros 30 a 50 da Tabela 4.1.

A idade estimada para o Universo é da ordem dos 1010anos (e.g. Unsöld &

Bascheck 2002). Isto significa que os buracos negros primordiais, como o buraco negro

nº30 da Tabela 4.1 (tempo de evaporação da ordem dos 1012anos), ainda não tiveram

tempo para se evaporar completamente. Os buracos negros nºs 1 a 29 da Tabela 4.1

apresentam, por terem massas superiores, tempos de evaporação superiores (cf. equação

2.33).

O buraco negro nº34 tem um tempo de evaporação aproximadamente igual a 1

ano. Consideraremos como buracos negros terminais todos aqueles cujo tempo de

evaporação seja igual ou inferior a 1 ano onde se incluem os buracos negros nºs 34 a 50

da Tabela 4.1. Note-se que todos estes buracos negros têm o seu λmax na banda dos raios

gama fortes (cf. Figura 4.7).

As distâncias máximas para a detecção da radiação de Hawking emitida por

buracos negros terminais foram determinadas anteriormente (Tabelas 4.2, 4.3, 4.5, 4.7,

4.8 e 4.9). Os melhores resultados ocorrem para a observação nos 2.5×10-19m (Tabela

4.9). Neste comprimento de onda o buraco negro nº36 (rs=6.3×10-21m, T=2.9×1016K,

M=4.3×106kg) é detectável a uma distância de 5.5×1016m (≈5.8AL). O mesmo buraco

negro é detectável nos 8.3×10-17m (raios gama médios) a cerca de 1.5×1012m (≈10UA) e

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Detecção directa de buracos negros 124

Tabela 4.10 - Tempo de evaporação de buracos negros de Schwarzschild. São indicados

para os buracos negros de Schwarzschild nºs 30 a 50, da Tabela 4.1, os respectivos tempos de

evaporação de acordo com a equação (2.33).

n rs (m) M (kg) tevap

30 6.3×10-15 4.3×1012 1012 anos

31 6.3×10-16 4.3×1011 109 anos

32 6.3×10-17 4.3×1010 106 anos

33 6.3×10-18 4.3×109 103 anos

34 6.3×10-19 4.3×108 1 ano

35 6.3×10-20 4.3×107 8.7 horas

36 6.3×10-21 4.3×106 31s

37 6.3×10-22 4.3×105 3.1×10-2s

38 6.3×10-23 4.3×104 3.1×10-5s

39 6.3×10-24 4.3×103 3.1×10-8s

40 6.3×10-25 4.3×102 3.1×10-11s

41 6.3×10-26 43 3.1×10-14s

42 6.3×10-27 4.3 3.1×10-17s

43 6.3×10-28 4.3×10-1 3.1×10-20s

44 6.3×10-29 4.3×10-2 3.1×10-23s

45 6.3×10-30 4.3×10-3 3.1×10-26s

46 6.3×10-31 4.3×10-4 3.1×10-29s

47 6.3×10-32 4.3×10-5 3.1×10-32s

48 6.3×10-33 4.3×10-6 3.1×10-35s

49 6.3×10-34 4.3×10-7 3.1×10-38s

50 6.3×10-35 4.3×10-8 3.1×10-41s

nos 2.5×10-13m (raios gama suaves) a cerca de 4.9×107m. Nos raios X médios

(λ=0.167nm) a distância de detecção é de 4.2×104m, no visível (λ=0.44µm) de 1.7m, no

infravermelho próximo (λ=3.4µm) de 9.3×10-3m e no rádio SHF (λ=3.6cm) de

4.1×10-7m.

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Detecção directa de buracos negros 125

4.4.8 Emissão de partículas com massa e raios gama secundários

Para além de fotões e gravitões os buracos negros também emitem, via radiação de

Hawking, partículas com massa (Secção 2.4). Na Tabela 4.11 é indicada a ordem de

grandeza da massa do buraco negro (equação 2.29) a partir da qual passam a ser

emitidos leptões e neutrinos (Anexo D). Considerou-se a massa dos vários tipos

neutrinos igual ao respectivo limite superior (Hagiwara et al. 2002).

Verifica-se que os neutrinos νe (que são os mais leves) passam a ser emitidos

quando a massa do buraco negro for da ordem de 1019kg ou inferior. Estão neste caso os

buracos negros nºs 19 (λmax no infravermelho) a 50 da Tabela 4.1. Os neutrinos νµ são

emitidos pelos buracos negros nºs 28 a 50 da Tabela 4.1 e os neutrinos ντ (os mais

pesados) pelos buracos negros nºs 30 a 50 da Tabela 4.1.

De acordo com os resultados da Tabela 4.11 os buracos negros nºs 31 a 50 da

Tabela 4.1 emitem leptões µ, os buracos negros nºs 32 a 50 leptões τ e os buracos

negros nºs 28 a 50 electrões e positrões.

Os mesões π0 (Anexo D), que são os hadrões mais leves, passam a ser emitidos, de

acordo com a equação (2.29), quando a massa do buraco negro for da ordem de 1011kg,

ou seja, quando o raio de Schwarzschild for ≈10-16m. Estão nesta situação os buracos

negros nºs 31 a 50 da Tabela 4.1.

Como o raio do buraco negro emissor é inferior ao alcance da força nuclear forte,

em vez de serem emitidos mesões π0, são emitidos quarks e gluões. O mesmo acontece

para os restantes hadrões (Secção 2.6).

A ordem de grandeza do fluxo de mesões π, formados nos jactos de quarks e

gluões emitidos pelo buraco negro, pode estimar-se através da expressão (2.34) e o

fluxo de fotões gama, resultantes da decomposição de mesões π0, a partir da expressão

(2.35). Podemos exprimir o fluxo em termos energéticos multiplicando dNγ/dt pela

energia correspondente a um fotão (≈70MeV) e dividindo tudo pela área do horizonte

de acontecimentos do buraco negro (πrs2).

Vamos considerar a possibilidade de detecção desses raios gama ditos secundários

por não serem emitidos directamente pelo buraco negro. A detecção dos raios gama

primários já foi considerada anteriormente (Secção 4.4.6).

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Detecção directa de buracos negros 126

Tabela 4.11 - Emissão de neutrinos e leptões por buracos negros. É indicado para cada

partícula a respectiva massa m0, a ordem de grandeza da massa do buraco negro abaixo da qual

passa a ser emitida essa partícula (equação 2.29) e o raio de Schwarzschild correspondente

(equação 1.3).

Partícula m0 (MeV) M (kg) rs (m)

neutrino νe <3×10-6 1019 10-8

neutrino νµ <0.19 1014 10-13

electrão 0.511 1014 10-13

neutrino ντ <18.2 1012 10-15

leptão µ 105.659 1011 10-16

leptão τ 1784 1010 10-17

Na Tabela 4.12 indicam-se para os buracos negros nºs 31 a 46, da Tabela 4.1, o

fluxo de fotões gama emitido (equação 2.35), o fluxo de energia correspondente e uma

estimativa da distância à qual esse fluxo poderia ser detectável (equação 4.2) por um

sensor com a sensibilidade sν=6.7×10-13Jy (igual à do AGILE nos 0.1-30GEV; Secção

4.4.6).

O AGILE poderá detectar variações de sinal da ordem de 1µs (e.g. Tavani et al.

2001). O buraco negro nº38, com um tempo de evaporação de31 µs (Tabela 4.10), pode

ser detectado, dentro dos limites técnicos do AGILE a 8.1×1017m (≈85.5AL) de

distância (Tabela 4.12). Os buracos negros de dimensão inferior apresentam tempos de

evaporação inferiores a 1µs (Tabela 4.10) pelo que os respectivos raios gama

secundários não poderão ser detectados pelo AGILE a distâncias superiores a ≈85.5AL.

Assim as distâncias máximas para a detecção de raios gama secundários variam,

dentro dos limites técnicos actuais, entre 4.5×1012m (≈30UA) para o buraco negro nº31

e 8.1×1017m (≈85.5AL) para o buraco negro nº38 e outros mais pequenos.

Por outro lado, há que ter em conta que a equação (4.4), que estamos a utilizar

para calcular a distância máxima de detecção, é válida para um Universo Euclidiano. O

nosso Universo é aproximadamente Euclidiano num raio de ≈109AL (Weinberg 1972)

pelo que não podemos aplicar a equação (4.4) para averiguar a distância máxima de

detecção dos buracos negros nºs 47 a 50 uma vez que a mesma conduziria a valores de

ordem igual ou superior a 109AL.

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Detecção directa de buracos negros 127

Tabela 4.12 - Distância para a observação de buracos negros a partir da detecção de raios

gama secundários. São indicados para os buracos negros nºs 31 a 46 (Tabela 4.1) o fluxo de

fotões gama secundários emitidos, o fluxo de energia correspondente e a distância máxima à

qual se poderá detectar o mesmo com um detector de sensibilidade sν=6.7×10-13Jy.

1UA≈1.5×1011m 1AL≈9.5×1015m

n rs (m) dNγγγγ/dt (s-1

) F (Wm-2

) d (m)

31 6.3×10-16 2.8×1023 2.5×1042 4.5×1012

32 6.3×10-17 8.9×1024 7.9×1045 2.6×1013

33 6.3×10-18 2.8×1026 2.5×1049 1.4×1014

34 6.3×10-19 8.9×1027 7.9×1052 8.1×1014

35 6.3×10-20 2.8×1029 2.5×1056 4.5×1015

36 6.3×10-21 8.9×1030 7.9×1059 2.6×1016

37 6.3×10-22 2.8×1032 2.5×1063 1.4×1017

38 6.3×10-23 8.9×1033 7.9×1066 8.1×1017

39 6.3×10-24 2.8×1035 2.5×1070 4.5×1018

40 6.3×10-25 8.9×1036 7.9×1073 2.6×1019

41 6.3×10-26 2.8×1038 2.5×1077 1.4×1020

42 6.3×10-27 8.9×1039 7.9×1080 8.1×1020

43 6.3×10-28 2.8×1041 2.5×1084 4.5×1021

44 6.3×10-29 8.9×1042 7.9×1087 2.6×1022

45 6.3×10-30 2.8×1044 2.5×1091 1.4×1023

46 6.3×10-31 8.9×1045 7.9×1094 8.1×1023

4.5 Análise e discussão de resultados

4.5.1 Dos buracos negros rádio aos buracos negros de raios gama

Nas Secções 4.4.1 a 4.4.6 foi investigada a possibilidade de detecção da radiação de

Hawking emitida por buracos negros tendo em conta os limites técnicos actuais. Para

isso, procurou-se considerar a observação com telescópios cujas sensibilidades, sν,

fossem semelhantes aos melhores existentes na actualidade. Na Tabela 4.13 São

apresentados, em resumo, os telescópios considerados, as respectivas sensibilidades e

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Detecção directa de buracos negros 128

xx

Tabela 4.13 - Lista dos telescópios considerados. É indicado, para cada banda do espectro o

telescópio considerado, a respectiva largura de banda, o comprimento de onda central relativo à

largura de banda, <λ>, e a sensibilidade do detector, sν. O caso λ=20m foi introduzido apenas

como exemplo e não corresponde à observação com qualquer telescópio existente.

Banda

espectral <λλλλ> (m) sνννν (Jy)

Largura de

banda Telescópio

20m 1.5×10-2 0.5MHz -

4m 1.5×10-2 1.5MHz VLA Rádio

3.6cm 4.5×10-5 0.7GHz VLA

800µm 10-2 160µm SOFIA

20µm 10-5 5.5µm SIRTF Infravermelho

3.4µm 10-6 0.6µm SIRTF

0.70µm 2.2×10-8 0.21µm HST

0.55µm 3.4×10-8 0.08µm HST Visível

0.44µm 1.7×10-8 0.1µm HST

237nm 3.2×10-7 145nm HST Ultravioleta

105nm 3.3×10-7 30nm FUSE

3.5nm 3.3×10-10 0.3KeV N-XMM

1nm 8.6×10-11 1.5KeV N-XMM Raios X

0.167nm 2.0×10-10 5KeV N-XMM

2.5×10-13m 6.6×10-11 10MeV INTEGRAL

8.3×10-17m 6.7×10-13 30GeV AGILE Raios gama

2.5×10-19m 1.7×10-17 10TeV HESS

larguras de banda associadas aos comprimentos de onda de observação utilizados.

Para cada comprimento de onda foi calculada a distância máxima (equação 4.4) à

qual se poderão detectar os 50 buracos negros introduzidos na Tabela 4.1. Os resultados

obtidos são os apresentados nas Tabelas 4.2 (observação no rádio), 4.3 (observação no

infravermelho), 4.5 (observação no visível), 4.7 (observação no ultravioleta), 4.8

(observação em raios X) e 4.9 (observação em raios gama).

De uma forma geral, verifica-se que as distâncias máximas para a detecção

atingem valores superiores quando o comprimento de onda de observação, λ, é da

mesma ordem de grandeza do comprimento de onda característico do buraco negro,

λmax, uma vez que este corresponde ao comprimento de onda para o qual a emissão de

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Detecção directa de buracos negros 129

radiação de Hawking é mais intensa (Figura 2.2). Por exemplo, o buraco negro nº 20,

com λmax=0.7µm, é detectável a 4.8×105m quando observado nos 0.7µm (Tabela 4.5).

Já para os comprimentos de onda λ=0.55µm e λ=3.4µm, o mesmo buraco negro, é

detectável a 2.8×105m (Tabela 4.5) e 1.9×104m (Tabela 4.3) respectivamente.

Em todas as situações de observação consideradas existem sempre alguns buracos

negros que não podem ser detectados pois para esses a distância de detecção (4.4) é

inferior ao respectivo raio de Schwarzschild (d<rs). Estão neste caso, por exemplo, os

buracos negros nºs 1 a 13 quando é considerada a observação nos 3.6cm (Tabela 4.2).

Esta situação, d<rs, ocorre devido à densidade de fluxo da radiação emitida pelo

buraco negro, Sν (equação 4.3), ser inferior à densidade de fluxo correspondente à

sensibilidade do detector, sν, como se constata pela equação (4.2). Consideremos, como

exemplo, a detecção, nos 3.6cm (sν=4.5×10-5Jy), da radiação de Hawking emitida pelos

buracos negros nºs 13 e 14. No caso do buraco negro nº14 temos rs=6.3×10-3m,

Sν=2.7Jy (>>sν) e d=1.6m. Isto significa que o buraco nº14 pode ser detectado a uma

distância cerca de 250 vezes superior ao respectivo raio. No caso do buraco negro nº13

temos rs=6.3×10-2m, Sν=3.2×10-54Jy (<<sν) e d=1.7×10-26m (<<rs).

À medida que avançamos para a observação em comprimentos de onda menores a

distância máxima de detecção atinge valores cada vez maiores. Por exemplo, no caso da

observação nos 3.6cm é possível detectar o buraco negro nº15 até 89m de distância

(Tabela 4.2). Já nos 3.5nm, por exemplo, é possível detectar o buraco negro nº26 a

1.0×108m (Tabela 4.8). Este comportamento é interrompido quando se trata da

observação no ultravioleta (Tabela 4.7) pelo facto de os valores de sν relativos aos

detectores considerados serem superiores (menor sensibilidade) aos do visível (Tabela

4.13).

Os buracos negros nºs 1 a 12 não se podem detectar em nenhuma das situações

consideradas. As distâncias de detecção, dadas pela equação (4.4), são sempre inferiores

ao respectivo raio de Schwarzschild (equação 1.3). Estão neste caso os buracos negros

com massas superiores a 10-4M o que inclui os buracos negros de massa estelar (1-

102M ; Secções 3.3. e 3.4), de massa intermédia (103-105M ; Secção 3.2) e

supermassivos (106-1010M ; Secção 3.1), ou seja, todos os buracos negros até hoje

detectados indirectamente.

De entre todos os buracos negros, da Tabela 4.1, o maior que é detectável é o nº13

(λmax=1m, T=2.9×10-3K, M=2.1×10-5M , rs=6.3cm). A distância máxima de detecção é

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Detecção directa de buracos negros 130

de 12cm, para λ=20m, e de 46cm, para λ=4m (Tabela 4.2). A detecção não é possível

nos outros comprimentos de onda considerados.

O buraco negro rádio detectável a maior distância é o nº15 (o buraco negro rádio

mais pequeno daqueles que estão na Tabela 4.1). A radiação de Hawking emitida por

este pode ser detectada até 89m de distância (Tabela 4.2). De uma forma geral, a

radiação de Hawking emitida por buracos negros rádio (buracos negros com o λmax na

região do rádio) pode ser detectada apenas até algumas dezenas de metros. A detecção

directa deste tipo de buracos negros é, assim, uma questão laboratorial.

De entre os buracos negros infravermelhos (nºs 16 a 19 da Tabela 4.1) vamos

destacar o nº 19 não só por ser aquele cuja radiação de Hawking pode detectar-se a

maior distância (2.4×105m) mas também por ser aquele cuja observação pode ser

efectuada desde o rádio ao ultravioleta. Nos 3.4µm (infravermelho próximo) este buraco

negro pode ser detectado a 2.0×104m (Tabela 4.3) e nos 0.7µm (Filtro R do visível) a

2.4×105m (Tabela 4.5). Embora tratando-se de um buraco negro infravermelho a

distância máxima obtida para a detecção é maior no caso da observação no visível (filtro

R). Isso acontece porque para este buraco negro é λmax=1µm (Tabela 4.1) o que está

muito mais próximo de 0.7µm do que de 3.4µm.

Os buracos negros visíveis (nºs 20 a 23 da Tabela 4.1) são detectáveis desde o

rádio (λ=20m) até ao ultravioleta (λ=105nm). Verifica-se que as maiores distâncias para

a detecção são da ordem dos 105m referentes à utilização dos filtros R, V e B do visível

(Tabela 4.5). Considerando um telescópio capaz de detectar objectos com magnitude

aparente de grandeza 30, o filtro R, permite atingir as maiores distâncias. Por exemplo,

o buraco negro nº22 poderia ser detectado a 7.1×105m utilizando o filtro R. Embora esta

distância pareça pequena devemos ter em conta que a mesma é cerca de 2.2×103rs. As

distâncias para a detecção dos buracos negros visíveis noutros comprimentos de onda

(rádio, infravermelho e ultravioleta) são, naturalmente, inferiores. Atendendo às

dimensões dos buracos negros visíveis (rs da ordem de 10-8m; Figura 4.9) e aos valores

obtidos para a distância resulta que a detecção da radiação de Hawking emitida por

buracos negros visíveis é uma questão laboratorial.

As sensibilidades existentes no ultravioleta são inferiores às consideradas para a

observação no visível (Tabela 4.13). Assim, o buraco negro ultravioleta nº24 (Tabela

4.1) é detectável a maior distância no visível (λ=0.44µm, Filtro B; Tabela 4.5) e o

buraco negro ultravioleta nº25 (Tabela 4.1) é detectável a maior distância nos raios X

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Detecção directa de buracos negros 131

(λ=3.5nm; Tabela 4.8). Ambos são detectáveis a distâncias da ordem de 106m. No

ultravioleta as distâncias máximas para a detecção são da ordem de 105m (λ=105nm;

Tabela 4.7).

Ambos os buracos negros de raios X da Tabela 4.1 são detectáveis a distâncias da

ordem dos 108m (ordem de grandeza da distância Terra-Lua). O buraco negro nº26 é

detectável, para λ=1nm, a 2.0×108m e o buraco negro nº27, para λ=0.167nm, a

5.4×108m (Tabela 4.8). Ambos os buracos negros são detectáveis para todos os

comprimentos de onda considerados à excepção dos raios gama. No entanto a ordem de

grandeza do valor da distância de detecção depende muito do comprimento de onda

considerado. Se, por exemplo, para λ=0.167nm, o buraco nº27 é detectável a uma

distância da ordem dos 108m, para λ=20µm, a distância desce para 9.1m (Tabela 4.3) e,

para λ=20m, a distância é de apenas 1.3×10-6m (Tabela 4.2).

Todos os buracos negros com valores de λmax inferiores a 2×10-12m são buracos

negros de raios gama (cf. Figura 4.7). Estão nesta situação os buracos negros nºs 28 a 50

da Tabela 4.1.

O buraco negro nº28 é detectável, nos raios X médios (λ=0.167nm; Tabela 4.8) a

3.9×108m (≈ distância Terra-Lua). Embora seja um buraco negro de raios gama não é

detectável nos comprimentos de onda de raios gama considerados (Tabela 4.9) pelo

facto de o seu λmax, que é 10-11m (Tabela 4.1), estar muito mais próximo dos 0.167nm

do que dos comprimentos de onda de raios gama considerados.

O buraco negro nº29 é o primeiro da lista a poder ser detectado em raios gama. Ele

é detectável a 3.3×107m para λ=2.5×10-13m (Tabela 4.9). Este buraco é no entanto

detectável a distâncias superiores nos raios X (pela mesma razão exposta para o nº28).

Assim, para λ=0.167nm, o buraco negro nº29 é detectável a 1.3×108m, e, para λ=1nm, a

3.4×107m (Tabela 4.8).

De todos os buracos negros da Tabela 4.1 o que se pode detectar a maior distância,

em termos de raios gama primários, é o nº 36. Este pode ser detectado a 5.5×1016m

(≈5.8AL) quando λ=2.5×10-19m, a 1.5×1012m (≈9.8UA) quando λ=8.3×10-17m e a

4.9×107m (≈0.13 vezes a distância Terra-Lua) quando λ=2.5×10-13m (Tabela 4.9). Este

buraco negro é detectável também para todos os outros comprimentos de onda

superiores a 2.5×10-13m. Porém à medida que o comprimento de onda aumenta as

distâncias tornam-se cada vez menores (Tabelas 4.8, 4.7, 4.5, 4.3 e 4.2) e o problema da

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Detecção directa de buracos negros 132

detecção acaba por transformar-se numa questão laboratorial.

Na Tabela 4.14 são indicados para cada tipo de buraco negro (rádio,

infravermelho, visível, ...) aquele que é detectável a uma maior distância quando é

considerada a observação numa determinada banda do espectro. Por exemplo, para os

buracos negros rádio (buracos negros nºs 1 a 15 da Tabela 4.1) e para os comprimentos

de onda de observação rádio considerados (λ=20m, λ=4m, λ=3.6cm), a distância de

detecção maior é de 89m relativa ao buraco negro nº15 quando observado nos 3.6cm.

Pela Tabela 4.14 verifica-se que o problema da detecção da radiação de Hawking

emitida por buracos negros assume contornos laboratoriais principalmente quando se

considera a observação em ultravioleta, visível, infravermelho e rádio.

4.5.2 Distância máxima de detecção versus raio de Schwarzschild

A equação (4.4) permite determinar a distância máxima à qual se poderá detectar a

radiação de Hawking emitida por um buraco negro de raio rs (equação 1.3) num dado

comprimento de onda, λ, com um detector de sensibilidade sν.

Para cada λ e sν considerados (Tabela 4.13) traçou-se a curva d(rs). Esta curva

apresenta um pico (e.g. Figura 4.19) que corresponde ao buraco negro para o qual a

distância máxima de detecção é maior. Os resultados referentes aos picos das curvas

estão compilados na Tabela 4.15. Note-se que no caso λ=20m o pico do gráfico fica na

região d<rs (Figura 4.11b) pelo que o valor indicado na Tabela 4.15 corresponde

aproximadamente ao ponto para o qual d(rs)-rs é máximo

Verifica-se que quanto menor o comprimento de onda de observação, λ, mais alto é o

pico do gráfico (distância) e menor o raio do buraco negro. Por exemplo, nos 20µm,

podemos detectar um buraco negro de raio 4.0×10-7m à distância máxima de 8.0×103m

(Figura 4.14b) e nos 8.3×10-17m podemos detectar um buraco negro de raio 1.7×10-18m

à distância de 1.5×1013m (Figura 4.19b). As distâncias mais elevadas são atingidas, para

buracos negros mais pequenos, quando observados em comprimentos de onda mais

pequenos. Há uma excepção relativa à observação no ultravioleta devido ao facto de os

detectores considerados terem sensibilidades inferiores (valores de sν superiores aos do

visível; Tabela 4.13).

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Detecção directa de buracos negros 133

Tabela 4.14 - Distâncias máximas para a detecção dos buracos negros da Tabela 4.1 nas

várias bandas do espectro electromagnético. Para cada família de buracos negros,

caracterizada pelo valor de λmax, são indicados os melhores resultados para a detecção da

radiação de Hawking considerando a observação nas várias bandas do espectro

electromagnético. Em cada célula é indicado o número do buraco negro (entre parêntesis), a

distância máxima para a detecção em metros e o comprimento de onda de observação, λ. As

células vazias correspondem a situações para as quais a detecção não é possível.

λλλλ (comprimento de onda de observação) λλλλmax

Rádio IV Visível UV Raios X Raios Gama

Rádio

(15) 89 λ=3.6cm

- - - - -

IV

(16) 40 λ=3.6cm

(19) 2.0×104

λ=3.4µm

(19) 2.4×105

λ=0.70µm

(19) 3.1×102

λ=237nm - -

Visível

(20) 1.1 λ=3.6cm

(20) 1.9×104

λ=3.4µm

(23) 8.2×105

λ=0.70µm

(23) 6.6×104

λ=237nm - -

UV

(24) 4.1×10-1

λ=3.6cm

(24) 9.0×103

λ=3.4µm

(24) 1.3×106

λ=0.44µm

(25) 4.6×105

λ=105nm

(25) 1.7×106

λ=3.5nm -

Raios X

(26) 4.1×10-2

λ=3.6cm

(26) 9.3×102

λ=3.4µm

(26) 1.7×105

λ=0.44µm

(26) 1.6×105

λ=105nm

(27) 5.4×108

λ=0.167nm-

Raios

Gama

(28) 4.1×10-3

λ=3.6cm

(28) 93 λ=3.4µm

(28) 1.7×104

λ=0.44µm

(28) 1.7×104

λ=105nm

(28) 3.9×108

λ=0.167nm

(36) 5.5×1016

λ=2.5×10-19m

O máximo da curva d(rs) para λ=2.5×10-19m (Figura 4.19c) corresponde a um

buraco negro com rs=5.0×10-21m (Tabela 4.15). O tempo de evaporação (equação 2.33)

deste buraco negro é de ≈16s pelo que se trata de um buraco negro em fase terminal

(Secção 4.4.7). A distância máxima à qual poderá ser detectado, no comprimento de

onda em questão, é de 5.5×1016m (≈5.8AL).

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Detecção directa de buracos negros 134

Tabela 4.15 - Distâncias máximas para a detecção de buracos negros. Para cada

comprimento de onda de observação, λ, é indicado o raio, rs, e massa, M, do buraco negro para

o qual a distância máxima, d, à qual se poderá detectar a radiação de Hawking atinge o seu

máximo. A sensibilidade do detector, em cada caso, é dada por sν. É indicado também o número

da figura onde está representado o gráfico correspondente a cada uma das situações.

λλλλ sνννν (Jy) rs (m) M (M ) d (m) Figura

20m 1.5×10-2 5.0×10-2 1.7×10-5 1.1×10-1 4.11b

4m 1.5×10-2 8.0×10-2 2.7×10-5 5.0×10-1 4.12b

3.6cm 4.5×10-5 7.3×10-4 2.5×10-7 90 4.13

800µm 10-2 1.6×10-5 5.4×10-9 40 4.14a

20µm 10-5 4.0×10-7 1.4×10-10 8.0×103 4.14b

3.4µm 10-6 6.9×10-8 2.3×10-11 6.2×104 4.14c

0.70µm 2.2×10-8 1.4×10-8 4.7×10-12 9.2×105 4.15

0.55µm 3.4×10-8 1.1×10-8 3.7×10-12 8.3×105 4.15

0.44µm 1.7×10-8 8.9×10-9 3.0×10-12 1.3×106 4.15

237nm 3.2×10-7 4.8×10-9 1.6×10-12 4.1×105 4.17a

105nm 3.3×10-7 2.1×10-9 7.1×10-13

Laboratóriona

Terra ou no

Espaço

6.1×105 4.17b

3.5nm 3.3×10-10 7.1×10-11 2.4×10-14 1.1×108 4.18a

1nm 8.6×10-11 2.0×10-11 6.8×10-15 3.9×108 4.18b

0.167nm 2.0×10-10 3.4×10-12 1.2×10-15 6.2×108 4.18c

2.5×10-13m 6.6×10-11 5.0×10-15 1.7×10-18 2.8×1010 4.19a

8.3×10-17m 6.7×10-13 1.7×10-18 5.8×10-22 1.5×1013 4.19b

2.5×10-19m 1.7×10-17 5.0×10-21 1.7×10-24

Telescópiona

Terra ou no

Espaço

5.5×1016 4.19c

O máximo da curva d(rs) para λ=8.3×10-17m (Figura 4.19b) corresponde a um

buraco negro com rs=1.7×10-18m (Tabela 4.15). O tempo de evaporação (equação 2.33)

deste buraco negro é de ≈20 anos. A distância máxima à qual poderá ser detectado, no

comprimento de onda em questão, é de 1.5×1013m (≈100UA).

Para λ=2.5×10-13m é possível detectar um buraco negro com rs=5.0×10-15m

(buraco negro de raios gama situado entre os buracos negros nºs 30 e 31 da Tabela 4.1)

à distância de 2.8×1010m (≈80 vezes a distância Terra-Lua).

A observação nos raios X, para os comprimentos de onda considerados, pode ser

feita até distâncias da ordem dos 108m. Por, exemplo, nos 3.5nm podemos detectar um

buraco negro com rs=7.1×10-11m à distância de 1.1×108m (≈1/3 da distância Terra-Lua)

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Detecção directa de buracos negros 135

e nos 0.167nm podemos detectar um buraco negro com rs=3.4×10-12m à distância de

6.2×108m (≈1.8 vezes a distância Terra-Lua).

Para comprimentos de onda superiores (ultravioleta, visível, infravermelho e

rádio) os picos dos gráficos indicam distâncias máximas para a detecção muito

inferiores às verificadas no caso dos raios gama e raios X (Tabela 4.15). A detecção da

radiação de Hawking, nessas bandas do espectro é, actualmente, uma questão

laboratorial.

Considerou-se também o gráfico d(rs) para o caso da detecção de buracos negros a

olho nu (Figura 4.16), verificando-se que a distância máxima para a detecção é de

27.2m para um buraco negro com rs≈1.0×10-8m. A distâncias máximas de 5-10m seriam

visíveis buracos negros como os nºs 20 a 23 da Tabela 4.1.

A distância de detecção máxima para a detecção de um buraco negro (equação

4.4) é determinada a partir da respectiva temperatura (equação 2.9). A temperatura por

sua vez foi determinada do ponto de vista de um observador no infinito (Secção 2.1).

Por essa razão considerou-se, sempre que possível, distâncias superiores a 10rs. Na

Tabela 4.16 indicam-se os pontos de intersecção d(rs)=10rs para as várias curvas d(rs)

consideradas (Tabela 4.15).

Para cada comprimento de onda de observação, λ, a Tabela 4.16 indica-nos o raio

de Schwarzschild, rs, do buraco negro, para o qual a distância máxima de detecção

(equação 4.4) é justamente igual a 10rs. Por exemplo, quando λ=3.6cm, podemos

detectar um buraco negro com rs=9.2×10-3m à distância de 9.2×10-2m (Figura 4.13b).

Todos os buracos negros com raio inferior a 9.2×10-3m são detectáveis, neste

comprimento de onda, a distâncias superiores a 10 vezes o respectivo raio (incluem-se

aqui os buracos negros nºs 14 a 50 da Tabela 4.1). Por outro lado, buracos negros com

raio superior a 9.2×10-3m, caso sejam detectáveis, são-no a distâncias inferiores a 10

vezes o respectivo raio.

4.5.3 Buracos negros terminais

Os buracos terminais (tempo de evaporação igual ou inferior a 1 ano; buracos

negros nºs 34 a 50 da Tabela 4.1) são detectáveis, nos comprimentos de onda de raios

gama considerados, a distâncias cuja ordem de grandeza é, no caso dos buracos negros

nºs 34 a 44, igual ou superior ao raio da órbita de Plutão (5.9×1012m ≈ 40UA). Os

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Detecção directa de buracos negros 136

xxxxx

Tabela 4.16 - Buracos negros detectáveis a pelo menos 10 raios de Schwarzschild de

distância. Para cada comprimento de onda de observação, λ, é indicado o raio de Schwarzschild

do buraco negro cuja distância máxima de detecção é 10 vezes superior (d=10rs). É também

indicada a massa correspondente a esse buraco negro. Na coluna mais à direita são indicados os

buracos negros da Tabela 4.1 que se enquadram em cada caso.

λλλλ (m) M (M ) rs (m) d (m) Buracos negros

20m 8.8×10-7 2.6×10-3 2.6×10-2 15 - 50

4m 1.4×10-5 4.0×10-2 4.0×10-1 14 - 50

3.6cm 3.1×10-6 9.2×10-3 9.2×10-2 14 - 50

800µm 8.8×10-8 2.6×10-4 2.6×10-3 16 - 50

20µm 4.1×10-9 1.2×10-5 1.2×10-4 17 - 50

3.4µm 7.8×10-10 2.3×10-6 2.3×10-5 18 - 50

0.70µm 1.9×10-10 5.5×10-7 5.5×10-6 19 - 50

0.55µm 1.5×10-10 4.3×10-7 4.3×10-6 19 - 50

0.44µm 1.2×10-10 3.5×10-7 3.5×10-6 19 - 50

237nm 8.8×10-11 2.6×10-7 2.6×10-6 19 - 50

105nm 2.8×10-11 8.4×10-8 8.4×10-7 19 - 50

3.5nm 1.2×10-12 3.6×10-9 3.6×10-8 25 - 50

1nm 3.4×10-13 1.0×10-9 1.0×10-8 25 - 50

0.167nm 6.4×10-14 1.9×10-10 1.9×10-9 26 - 50

2.5×10-13m 1.2×10-16 3.5×10-13 3.5×10-12 29 - 50

8.3×10-17m 5.1×10-20 1.5×10-16 1.5×10-15 32 - 50

2.5×10-19m 1.7×10-24 5.0×10-21 5.0×10-20 37 - 50

buracos negros nºs 36 a 38 são detectáveis, para λ=2.5×10-19m, a distâncias superiores a

1AL. O buraco negro nº36 (tevap=31s) é detectável a 5.8AL (Tabela 4.9).

Considerando a observação noutras bandas do espectro verifica-se que as

distâncias são muito inferiores. Por exemplo a detecção nos raios X médios

(λ=0.167nm) pode ser feita, no caso do buraco negro nº34, à distância de 4.2×105m

(Tabela 4.8). Para os restantes buracos negros (nºs 35 a 50) as distâncias são inferiores

uma vez que para esses o valor de λmax é também mais pequeno (Tabela 4.1) e, portanto,

mais distante do comprimento de onda de observação (neste caso 0.167nm).

Page 157: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Detecção directa de buracos negros 137

No caso do visível as distâncias de detecção dos buracos negros terminais (Tabela

4.5) são inferiores a 17m (distância correspondente ao buraco negro nº34). No

ultravioleta as distâncias são análogas às verificadas para o visível (Tabela 4.7).

Considerando a observação dos buracos negros terminais no infravermelho e no

rádio as distâncias tornam-se ainda mais pequenas (Tabelas 4.2 e 4.3). Por exemplo, o

buraco negro nº34 é detectável a 9.3×10-2m, para λ=3.4µm (infravermelho), e o buraco

negro nº 36 é detectável a 2.0×10-10m, para λ=4m (rádio). Estas distâncias, embora

pareçam pequenas, são várias ordens de grandeza superiores ao valor do raio do buraco

negro emissor. Por exemplo, no caso do buraco negro nº36 (rs=6.3×10-21m) temos que

2.0×10-10m ≈ 3.2×1010rs.

De uma forma geral temos que o problema da detecção da radiação de Hawking

emitida por buracos negros terminais pode ser considerado a uma escala astronómica

para a observação em raios gama (fortes) mas torna-se numa questão laboratorial

quando é considerada a observação em comprimentos de onda de raios X e superiores o

que, no contexto da identificação inequívoca de um buraco negro pela sua curva de

corpo negro, se traduz num trabalho essencialmente laboratorial.

4.5.4 Raios gama secundários

Os buracos negros nºs 31 a 50 (Tabela 4.1) emitem raios gama secundários

(Secção 4.4.8). Na Tabela 4.17 é feita a comparação entre as distâncias máximas para a

detecção dos raios gama secundários (Tabela 4.12) e as distâncias obtidas para a

detecção de raios gama primários (Tabela 4.9).

Verifica-se que para os comprimentos de onda e sensibilidades considerados as

distâncias máximas para a detecção de raios gama secundários são sempre superiores às

verificadas para a detecção de raios gama primários. A excepção que ocorre para o

buraco negro nº36 resulta do facto de o comprimento de onda de observação, λ, ser

nesse caso da mesma ordem de grandeza (10-19m) do comprimento de onda para o qual

a emissão de Hawking é máxima, λmax (Tabela 4.1).

Os buracos negros nºs 33 a 44 são detectáveis, tanto a nível dos raios gama

primários como dos raios gama secundários, a distâncias superiores ao raio da órbita de

Plutão (5.9×1012m ≈ 40UA). O buraco negro nº34, por exemplo, é detectável a

Page 158: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Detecção directa de buracos negros 138

xxxxxxxx

Tabela 4.17 - Comparação entre as distâncias máximas para a detecção de raios gama

primários e secundários. São indicadas, para os buracos negros nºs 31 a 46 (Tabela 4.1) as

distâncias máximas à qual os raios gama primários e secundários podem ser detectados. No caso

dos raios gama secundários foi considerado um detector com sν=6.7×10-13Jy. No caso dos raios

gama primários é indicado o comprimento de onda de observação, λ, para o qual a detecção

pode fazer-se a maior distância. A sensibilidade do detector, sν, é nesses casos igual à

considerada anteriormente (cf. Tabela 4.13).

Raios gama primários Raios gama

secundários n rs (m)

λλλλ (m) d (m) d (m)

31 6.3×10-16 2.5×10-13 1.5×1010 4.5×1012

32 6.3×10-17 2.5×10-13 4.9×109 2.6×1013

33 6.3×10-18 8.3×10-17 5.7×1012 1.4×1014

34 6.3×10-19 8.3×10-17 1.3×1013 8.1×1014

35 6.3×10-20 2.5×10-19 6.7×1013 4.5×1015

36 6.3×10-21 2.5×10-19 5.5×1016 2.6×1016

37 6.3×10-22 2.5×10-19 3.0×1016 1.4×1017

38 6.3×10-23 2.5×10-19 9.8×1015 8.1×1017

39 6.3×10-24 2.5×10-19 3.1×1015 4.5×1018

40 6.3×10-25 2.5×10-19 9.9×1014 2.6×1019

41 6.3×10-26 2.5×10-19 3.1×1014 1.4×1020

42 6.3×10-27 2.5×10-19 9.9×1013 8.1×1020

43 6.3×10-28 2.5×10-19 3.1×1013 4.5×1021

44 6.3×10-29 2.5×10-19 9.9×1012 2.6×1022

45 6.3×10-30 2.5×10-19 3.1×1012 1.4×1023

46 6.3×10-31 2.5×10-19 9.9×1011 8.1×1023

1.3×1013m (≈87UA) para os raios gama primários e a 8.1×1014m (≈5400UA) para os

raios gama secundários.

Quanto mais o buraco negro se aproxima da fase final da evaporação maior é a

distância à qual se poderão detectar os raios gama secundários. O mesmo se poderá

dizer em relação à detecção dos raios gama primários desde que a observação seja feita

num comprimento de onda da mesma grandeza do λmax do buraco negro.

Page 159: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Detecção directa de buracos negros 139

Os melhores resultados para a distância de detecção, dentro dos limites técnicos

actuais, apontam para os 5.8AL no caso dos raios gama primários (Secção 4.4.6) e

85.5AL no caso raios gama secundários (Secção 4.4.8). No entanto as distâncias da

ordem dos anos luz são atingidas, tanto para os raios gama primários como para os

secundários, por buracos negros terminais com tempos de evaporação inferiores a 60s.

Page 160: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Conclusão 141

5 Conclusão

Os buracos negros são objectos previstos pela Física. O mais simples é o de

Schwarzschild (Secção 1.2.1) caracterizado apenas pela respectiva massa. Os buracos

negros podem classificar-se quanto à massa em estelares (1-102M ), intermédios (103-

105M ) e supermassivos (106-1010M ). Todos os candidatos a buraco negro conhecidos

actualmente, detectados por processos indirectos, incluem-se nestas três categorias.

Podemos falar também em buracos negros de massa subestelar (<1M ). Embora não se

conheça actualmente qualquer candidato a buraco negro nesta categoria, nem qualquer

processo que leve à sua formação no Universo actual, estes podem ter-se formado nos

primórdios do Universo (buracos negros primordiais) com massas que vão desde a

massa de Planck (≈10-8kg) até, por exemplo, as 106M . Os buracos negros primordiais

podem ter evoluído aumentando a sua massa ou evaporando consoante o meio

envolvente (Secção 1.3.4) pelo que é provável que existam no Universo actual buracos

negros das mais variadas massas.

Se um buraco negro tem uma temperatura, que é tanto maior quanto menor for a

sua massa, então deve emitir radiação. Tendo em conta as flutuações quânticas do

campo, junto ao horizonte de acontecimentos de um buraco negro, é possível mostrar

que estes de facto emitem radiação própria, e que têm, consequentemente, uma

temperatura associada (Secção 2.1). Essa radiação, designada por radiação de Hawking,

é essencialmente constituída por fotões e gravitões e resulta da separação de pares

partícula-antipartícula virtuais pelo campo gravítico do buraco negro (Figura 2.1). A

radiação de Hawking é, ao que sabemos, o único processo pelo qual podemos detectar

directamente buracos negros. O espectro de emissão de um buraco negro é igual ao de

um corpo negro de igual temperatura pelo que apresenta um máximo característico da

temperatura. Tendo por base esse máximo, podemos associar a cada comprimento de

onda do espectro electromagnético um buraco negro de Schwarzschild podendo então

falar-se em buracos negros rádio, infravermelhos, visíveis, ultravioleta, de raios X e de

raios gama (Secção 4.2).

Nesta tese, determinámos as distâncias máximas para a detecção da componente

electromagnética da radiação de Hawking emitida por 50 buracos negros, que cobrem o

espectro electromagnético, dentro dos limites técnicos e sensibilidades actuais. Para a

Page 161: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Conclusão 142

observação no rádio (λ=3.6cm) a distância máxima de detecção é igual a 89m (buraco

negro de 2.1×10-7M ). No infravermelho (λ=3.4µm) a maior distância possível é de

2.0×104m (buraco negro de 2.1×10-11M ). No visível e ultravioleta é da ordem dos

105-6m (buracos negros de massa da ordem de 10-12 M ). A olho nu, podemos visualizar

um buraco negro, de cor azul, até 27m.

Contrariamente aos casos anteriores (rádio, infravermelho, visível e ultravioleta)

as distâncias começam a ser astronómicas nos raios X. Por exemplo, nos 0.167nm,

podemos vê-los até a 5.4×108m (≈1.4 vezes a distância Terra-Lua) para buracos negros

de ≈2.1×10-15M . Nos raios gama (2.5×10-10nm), podemos detectá-los até aos

5.5×1016m (≈5.8AL).

A emissão de radiação por um buraco negro é acompanhada por um decréscimo da

massa do mesmo. O processo é designado por evaporação (Secção 2.5). O tempo de

evaporação para um buraco negro de 1M é da ordem dos 1067anos (muito superior à

idade do Universo). Quanto mais pequeno o buraco negro menor é o respectivo tempo

de evaporação. Foi considerada a possibilidade de detecção de buracos negros em fase

terminal (tempos de evaporação inferiores a 1 ano).

Verificou-se que a detecção de buracos negros terminais é possível para distâncias

que vão desde algumas vezes a distância de Plutão ao Sol até acerca de 6AL quando a

observação é feita na banda dos raios gama. A detecção dos mesmos buracos negros

noutros comprimentos de onda (Tabelas 4.2, 4.3, 4.5, 4.7 e 4.8) só pode ser feita a

distâncias muito inferiores às verificadas para a observação com raios gama. Assim,

embora a detecção de buracos negros terminais em raios gama possa ser feita a

distâncias de alguns AL (Tabela 4.9), a detecção dos mesmos, por exemplo, no

infravermelho (Tabela 4.3) só pode ser efectuada a nível de laboratório.

Na radiação de Hawking não são emitidos apenas fotões e gravitões mas também

partículas com massa (Secção 2.4). Para massas da ordem dos 1011kg o buraco negro

emite quarks e gluões que formam predominantemente mesões π0 que decaem

libertando fotões gama. Estes fotões gama dizem-se secundários enquanto que os fotões

gama emitidos directamente pelo buraco negro, como atrás, dizem-se primários.

Estudou-se a detecção dos raios gama secundários emitidos por buracos negros tendo

para distâncias máximas de detecção desde as 30UA aos 85.5AL.

Dentro dos limites técnicos actuais, não é possível detectar a radiação de Hawking

emitida por buracos negros de massa superior a ≈10-4M onde se incluem os buracos

Page 162: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Conclusão 143

negros de massa estelar e superior (isto é, todos os identificados por processos

indirectos, até hoje). A detecção de buracos negros de massa inferior a 10-5M , do rádio

ao ultravioleta, é possível mas apenas a nível de laboratório. A detecção de buracos

negros de raios X e raios gama é possível a distâncias astronómicas (distâncias iguais ou

superiores à distância Terra-Lua) se a observação for feita nos raios X ou gama. Os

buracos negros em fase terminal, que são também buracos negros de raios gama, podem

detectar-se a distâncias da ordem dos AL, se observados nos raios gama, e a nível de

laboratório se observados noutros comprimentos de onda.

Os buracos negros de raios gama, de raios X, ultravioletas e mesmo os visíveis são

de tal forma minúsculos (rs<10-7m) que o seu estudo provavelmente se enquadra mais

no âmbito da Física Atómica ou da Física de Partículas. A ordem de grandeza das

distâncias máximas para a detecção obtidas, na maioria dos casos, acaba por reforçar

esta ideia. No entanto quando um buraco negro, ao evaporar, se aproxima da explosão

de raios gama final temos um evento de dimensões astronómicas observável a alguns

AL de distância.

O potencial do caminho de trabalho futuro, aberto por esta tese, é imenso, já que

nos permite detectar directamente buracos negros a partir da sua emissão de corpo

negro.

Por exemplo, a pesquisa de candidatos a buraco negro de massa subestelar

passaria pela revisão dos processos de formação de buracos negros primordiais e

respectiva evolução donde poderíamos estimar a distribuição de buracos negros de

massa subestelar no Universo actual, tanto a nível espacial como a nível de massa, e

estudar os comprimentos de onda mais interessantes de pesquisar. Poderiam também ser

pesquisados os vastos arquivos astronómicos e, eventualmente, de Física de Partículas,

na busca de eventuais candidatos a buraco negro.

Page 163: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Referências 145

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Geodésicas 151

ANEXO A

Geodésicas na vizinhança de um buraco negro de Schwarzschild

A.1 Geodésicas radiais nulas

No caso do movimento radial de um fotão os integrais δ (expressão 1.11) e L

(expressão 1.9) são ambos nulos, pelo que, a equação radial (1.12) toma a forma:

E d

dr±= (A.1)

onde o sinal (-) corresponde à aproximação do fotão ao buraco negro e o sinal (+) ao

afastamento. Com a ajuda do momento Pt (equação 1.8) podemos escrever (A.1) na

forma:

−±=

r

m21

dt

dr

Integrando obtemos:

( ) 'Km2rlnm2rt +−×+±= (A.2)

onde K' é uma constante de integração. No gráfico da Figura A.1 estão representadas

algumas das geodésicas nulas descritas por (A.2). Note-se que, do ponto de vista de um

observador distante, o fotão nunca atinge o horizonte de acontecimentos.

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Geodésicas 152

Figura A.1 - Geodésicas para fotões que se aproximam ou afastam radialmente de um buraco negro de

Schwarzschild. A vertical r=2m representa o horizonte de acontecimentos e a vertical r=0 a singularidade

(d' Inverno 1992).

A.2 Geodésicas radiais para partículas com massa

No caso do movimento radial de uma partícula com massa é L=0 e δ=1. A

equação radial (1.12) toma então a forma:

−−=

r

m21E

d

dr 22

(A.3)

Considerando que a partícula parte do infinito temos E=1 (cf. expressão 1.8) e a

equação (A.3) escreve-se como:

r

m2

d

dr−=

τ(A.4)

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Geodésicas 153

onde o sinal (-) reflecte justamente o facto de estarmos a considerar o movimento em

direcção ao buraco negro. Note-se que este resultado corresponde à velocidade de queda

livre da partícula. Integrando a equação vem:

( )2/32/300 rr

m23

2−=τ−τ (A.5)

onde r0 é a posição da partícula quando o seu tempo próprio é τ0. O tempo próprio τ,

descrito pelo resultado anterior, é aquele que um observador solidário com a partícula

registaria. Um observador distante registaria, para um mesmo evento, o tempo

coordenada t. Conciliando (1.8) com (A.4) e tomando de novo E=1 resulta:

−−=

r

m21

r

m2

dt

dr

Integrando obtemos:

( )

( )( )( )( )m2rm2r

m2rm2rlnm2

rm6rm6rrm23

2tt

0

0

02/3

02/3

0

−+

−+×+

−+−−=−

(A.6)

onde r0 é a posição da partícula quando o tempo coordenada é t0. No gráfico da Figura

A.2 são apresentadas as curvas características para as funções (A.5) e (A.6). Note-se

que, embora para o observador distante a partícula leve um tempo infinito para atingir o

horizonte de acontecimentos, do ponto de vista da partícula tudo decorre num tempo

finito.

A.3 Geodésicas nulas não radiais

O estudo qualitativo das geodésicas não radiais, permitidas aos fotões na vizinhança

de um buraco negro de Schwarzschild, pode fazer-se a partir da função potencial (1.13).

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Geodésicas 154

Figura A.2 - Linha do universo de uma partícula caindo radialmente, em direcção a um buraco negro de

Schwarzschild, em termos de tempo próprio e tempo coordenada (d' Inverno 1992).

Notando que neste caso é δ=0 e L≠0 temos:

−=

r

m21

r

LV

2

22f (A.7)

O gráfico desta função, que atinge o seu valor máximo em r=3m, está

representado na Figura A.3 onde estão também representados alguns dos tipos de

geodésicas nulas não radiais permitidos.

A.4 Geodésicas não radiais para partículas com massa

Vamos proceder ao estudo qualitativo das geodésicas não radiais, para partículas

com massa, na vizinhança de um buraco negro de Schwarzschild. O estudo será feito a

partir da função potencial (1.13) que, neste caso, atendendo a que δ=1 e L≠0, se

escreve:

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Geodésicas 155

+=

r

m21

r

L1V

2

22m (A.8)

Figura A.3 - Potencial efectivo imposto por um buraco negro de Schwarzschild ao movimento geodésico

(não radial) dos fotões. Os números indicam alguns dos tipos de geodésicas permitidos: (1) O fotão

descreve uma geodésica circular de raio 3m. Trata-se da única trajectória circular permitida aos fotões.

Esta é no entanto instável. Qualquer perturbação é susceptível de atirar com o fotão para o infinito ou

então em direcção ao buraco negro. A superfície r=3m chama-se Rotosfera. (2) O fotão descreve uma

trajectória curvilínea, não ligada, que o leva a escapar para infinito ou então a penetrar o horizonte de

acontecimentos. Tudo depende da direcção inicial do seu movimento. (3) O fotão descreve uma

trajectória curvilínea, não ligada, que o leva a escapar sempre para infinito independentemente do sentido

radial inicial do seu movimento. (4) O fotão acaba sempre por cair para o buraco negro mesmo que

inicialmente se desloque no sentido de r crescente.

Caso seja 12m2<L2 a função potencial anterior tem dois extremos relativos dados

por:

−−=

2

22

max L

m1211

m2

Lr

−+=

2

22

min L

m1211

m2

Lr

Quando 12m2=L2 temos apenas um extremo relativo e quando 12m2>L2 não

existe qualquer extremo relativo. Os gráficos correspondentes a estas três situações

estão representados nas Figura A.4 onde estão também representados alguns dos tipos

de geodésicas não radiais permitidos às partículas com massa.

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Geodésicas 156

Fígura A.4 - Potencial efectivo imposto por um buraco negro de Schwarzschild ao movimento geodésico

(não radial) de partículas com massa, quando: (a) 12m2>L2, (b) 12m2=L2 e (c) 12m2<L2. Os números

indicam alguns dos tipos de geodésicas permitidos: (1) A partícula descreve uma trajectória curvilínea,

não ligada, que a leva a escapar para infinito ou então a penetrar para o interior do horizonte de

acontecimentos. Tudo depende da direcção inicial do seu movimento. (2) A partícula acaba sempre por

penetrar na região r<2m. Mesmo que o seu movimento inicial a afaste dessa região, será sempre

irremediavelmente reflectida pela barreira de potencial. (3) A partícula descreve um geodésica circular

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Geodésicas 157

estável. Este tipo de geodésica só é permitido quando 12m2<=L2. No caso limite, 12m2=L2, a geodésica

tem raio 6m. Este é o limite inferior para as geodésicas circulares estáveis. (4) A partícula descreve uma

geodésica circular, neste caso, instável. Qualquer perturbação é susceptível de alterar o tipo de trajectória

da partícula. O raio desta órbita situa-se entre 6m e 3m. (5) A partícula descreve uma trajectória

curvilínea, não ligada, que a leva a escapar sempre para infinito. Mesmo que inicialmente viaje no

sentido de r decrescente, dado que a sua energia E não é suficiente para vencer a barreira de potencial

imposta pelo buraco negro, acaba por ser reflectida. (6) A partícula descreve uma geodésica elíptica

circunscrita entre os raios ra e rb. Este tipo de geodésica só é permitido para o caso 12m2<L2.

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Discos de acreção finos 159

ANEXO B

Discos de acreção de matéria geometricamente finos

B.1 Formação de um disco de acreção

Consideremos um sistema binário formado por uma estrela normal e um buraco

negro. Se a distância entre ambos for relativamente pequena então estamos perante

aquilo a que chamamos um binário próximo. Alguma matéria da estrela pode transitar

para a esfera de influência do buraco negro, principalmente se esta tiver atingido a sua

fase de gigante vermelha.

A matéria que flui da estrela normal para o buraco negro tem um considerável

momento angular, o que previne a queda livre dessa matéria em direcção ao horizonte

de acontecimentos, e portanto não deverá ocorrer acreção esférica. Este argumento é

particularmente válido quando o momento angular por unidade de massa excede rIc,

onde rI é a órbita circular estável mais interior (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983). Nestas

circunstâncias a força centrifuga é comparável à força gravítica e a matéria é obrigada a

efectuar órbitas em torno do buraco negro.

Ao descreverem essas órbitas as partículas colidem entre si libertando energia

cinética e energia interna. Como o momento angular é retido as partículas acabam por

descrever órbitas circulares pois estas são as órbitas de menor energia para um dado

valor de momento angular. Por outro lado as partículas acabam por cair para um plano

orbital comum pois órbitas circulares com diversas inclinações fomentam as colisões

entre partículas. Forma-se assim um disco de acreção de matéria em torno do buraco

negro.

Se colocarmos uma partícula numa órbita circular em torno de um corpo

gravitante ela ficará nessa órbita. A extracção de energia e momento angular dessa

partícula requer um movimento radial descendente.

A energia radiada por unidade de massa desde a periferia do disco até ao horizonte

de acontecimentos é igual à energia de ligação gravitacional, por unidade de massa, da

Page 177: Possibilidade de detecção directa de Buracos Negros por ......buracos negros. É possível associar a cada comprimento de onda do espectro electromagnético um buraco negro podendo

Discos de acreção finos 160

órbita circular estável mais interior. No caso de um buraco negro de Schwarzschild a

energia radiada corresponde a 5.72% da massa da partícula (Secção 1.2.4). No caso de

um buraco negro de Kerr a eficiência do processo é superior, podendo ir até aos 42% se

o buraco negro for extremo e o disco rodar no mesmo sentido. Estamos a supor que

pouca ou nenhuma energia é radiada entre rI, onde se situa o limite interior do disco, e o

horizonte de acontecimentos.

Os valores apresentados anteriormente revelam a acreção de matéria por um

buraco negro como um processo muito eficiente de converter massa em radiação. No

entanto esta conversão só é possível se existirem paralelamente mecanismos,

igualmente eficientes, que transportem o momento angular da partícula para o exterior.

Em meios gasosos, como são os discos de acreção, esses mecanismos assentam numa

redistribuição de momento angular entre partículas, possibilitando a queda de algumas

delas em direcção ao interior à custa de outras que se deslocam mais para o exterior. A

identificação e descrição detalhada desses mecanismos de redistribuição está longe de

ser trivial. As hipóteses mais plausíveis assentam na viscosidade turbulenta e na

presença de campos magnéticos.

B.2 Dinâmica geral do disco

Vamos considerar apenas discos Keplerianos, ou seja, discos cuja massa não

contribui significativamente para o campo gravítico (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983). A

velocidade orbital das partículas de gás no disco é dada por:

dr

d

r

v2

−=

onde Φ é o potencial gravítico Newtoniano devido à massa M do buraco negro. Temos

então:

r

GMv =

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Discos de acreção finos 161

ao que corresponde a velocidade angular:

3r

GM = (B.1)

Uma vez que ( )r = concluímos que a rotação do disco deve ser diferencial

(com as partes mais interiores a rodarem mais depressa) e que deverá existir uma taxa

de shearing A não nula (Pringle 1981):

dr

drA =

A fricção entre partículas de gás pertencentes a anéis adjacentes resulta na

dissipação de energia, do movimento do fluído, sob a forma de calor que é depois

radiado para longe. Como a única fonte de energia responsável pelo movimento é o

potencial gravitacional, da massa central, então o gás deverá cair sucessivamente para

dentro do poço de potencial. Além desta viscosidade molecular existem outros

mecanismos que conduzem ao mesmo resultado de uma forma mais eficiente.

Embora o movimento das partículas de gás no disco seja predominantemente

circular, existe também uma componente na direcção radial. As partículas descrevem

espirais bastante apertadas à medida que se aproximam do limite interior do disco.

O maior tempo que o gás permanece do lado de fora do horizonte de

acontecimentos e o aquecimento a que está sujeito fazem da acreção por disco um

processo muito mais energético do que a acreção esférica.

A maior parte da radiação emitida por um disco de acreção é proveniente das

zonas mais interiores. A reposição de matéria ocorre nas zonas mais exteriores pelo

ponto de Lagrange L1 (Figura 1.14). Algum deste gás pode abandonar o binário pelo

ponto de Lagrangre L2 ou mesmo voltar à estrela normal via L1. O resto fica sob a

influência do buraco negro passando a fazer parte integrante do disco.

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Discos de acreção finos 162

B.3 Viscosidade

Um dos principais problemas na elaboração de uma teoria dos discos de acreção

reside na descrição da viscosidade responsável pelo torque que remove o momento

angular para o exterior. A viscosidade governa a estrutura local do disco bem como a

escala do tempo no qual o disco evolui. Dada uma viscosidade e um processo radiactivo

podemos construir um modelo de disco de acreção. A incerteza está na natureza e

magnitude dessa viscosidade. Muitas vezes supõe-se que o torque é produzido por

viscosidade local de caracter não especificado e cuja magnitude é avaliada por meras

análises dimensionais.

O tipo de viscosidade mais simples consiste na fricção entre partículas adjacentes

do fluído que se movem com velocidades distintas. Sabemos que este tipo de

viscosidade está presente nos discos de acreção pois os mesmos apresentam uma

rotação diferencial. É a chamada viscosidade atómica ou molecular.

Se pensarmos que a escala de qualquer stress hidrodinâmico é a pressão p, então

faz sentido considerar que o stress viscoso é da forma pα , onde α é o chamado

parâmetro adimensional para a viscosidade e cujo valor pode ir até a ordem da unidade

(e.g. Shakura & Sunyaev 1973). No caso da viscosidade molecular o valor de α é

pequeno o que significa que este tipo de viscosidade não é suficientemente forte para

que se produzam resultados significativos (e.g. Pringle 1981).

Uma forma de α assumir um valor razoável reside na existência de turbulência no

disco. Um fluído turbulento é caracterizado pela formação de remoinhos que podem ser

grandes ou pequenos (e.g. Landau & Lifshitz 1987). Os remoinhos grandes constituem a

estrutura fundamental da turbulência. Neles a viscosidade é praticamente nula. Por seu

turno os remoinhos pequenos são autênticos dissipadores da energia que recebem dos

grandes. Nestes a viscosidade é alta. Assim, no caso de um fluído turbulento teríamos,

para a viscosidade, a expressão:

turbturbturb lv≈ν

onde turbv é a velocidade característica dos remoinhos turbulentos e turbl o tamanho

característico dos remoinhos maiores. Atendendo a que a turbulência supersónica

desaparece rapidamente à medida que a sua energia é dissipada em choques, então

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Discos de acreção finos 163

esperamos que turbv seja uma velocidade subsónica. Por outro lado turbl deve ser inferior

à altura do disco. Podemos então escrever:

ah turb ≅

onde a é a velocidade local do som e h a meia altura do disco. Daqui por diante

utilizaremos apenas ν , com o significado de turbν .

Embora a hipótese do disco turbulento venha resolver o problema da magnitude da

viscosidade, introduz um novo problema. De facto não existe nenhuma razão óbvia

segundo a qual o disco deva ser turbulento. O critério de estabilidade de Rayleigh para

discos de acreção (e.g. Pringle 1981):

( ) 0rdr

d 2 >

é amplamente satisfeito por muitos potenciais, incluindo o Kepleriano.

As partículas de gás num disco de acreção estão sujeitas a movimentos verticais,

radiais e circulares. No caso de um disco fino, como estamos a considerar, o movimento

vertical das partículas é praticamente inexistente se comparado com o respectivo

movimento radial e este por sua vez é muito pouco significativo se comparado com o

movimento circular. Isto significa, em termos de componentes da velocidade, que:

φ<<<< vvv rz

Temos assim que a única componente essencial da velocidade é ϕv e que a única

componente não desprezável do tensor do stress viscoso é Tr, que neste caso fica (e.g.

Shapiro & Teukolsky 1983):

3

rr r

GM

2

3

r

v

r

vTT −=

∂== (B.2)

ou ainda:

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Discos de acreção finos 164

ηω−=φ 2

3Tr (B.3)

onde η é o coeficiente da viscosidade dinâmica. O elemento Tr traduz o transporte da

componente r do momento angular por unidade de tempo através da área unitária cujo

vector normal fica na direcção ϕ .

O torque entre dois anéis do disco adjacentes é dado por (e.g. Krolik 1999):

r

r2dzrTrdG 3

r∂

∂== (B.4)

onde estamos a considerar para ν e para a densidade superficial de matéria Σ os

respectivos valores médios azimutais e verticais. Se 0r <∂∂ então 0< (pois é

sempre 0r3 > ) o que significa que o momento angular está a ser transferido para o

exterior.

Além da viscosidade usual, foram sugeridos outros mecanismos capazes de

explicar o torque, nomeadamente mecanismos baseados em campos magnéticos. A

existência de campos magnéticos nos discos de acreção é muito plausível, pois, como

estes existem nas estrelas, então também devem existir na matéria acretada. Estão neste

caso mecanismos baseados no stress electromagnético, em ventos magnetizados e na

chamada instabilidade de Velikhov-Chandrasekhar-Balbus-Hawley (e.g. Krolik 1999).

B.4 Densidade superficial de matéria

A distribuição de matéria num disco de acreção pode ser descrita, como é usual,

pela densidade volúmica )z,,r( . Se o disco for geometricamente fino e

azimutalmente simétrico a distribuição de matéria é apenas função da coordenada radial

r. Podemos substituir a densidade volúmica ρ pela densidade superficial Σ definida

como se segue (e.g. Shapiro & Teukolsky 1983):

( ) ( )−

=h

h

dzz,rr

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Discos de acreção finos 165

onde h é a meia-altura do disco. No caso de um disco fino, onde ρ praticamente não

varia com z, podemos escrever:

( ) h2r = (B.5)

A equação da continuidade para um disco, onde não existem fontes ou sumidouros

de matéria no seu interior, pode ser escrita como se segue (e.g. Krolik 1999):

( ) 0vrrr

1

t

r =

∂+

∂(B.6)

onde rv é a velocidade radial ( 0vr < para movimentos dirigidos para o centro).

Existe também uma equação da continuidade para a componente axial do

momento angular. Esta equação, que é o análogo da equação de Navier-Stokes, tem a

forma (e.g. Krolik 1999):

( ) ( )r

G

r2

1vr

rr

1r

t r32

∂=

∂+

∂(B.7)

onde G é o momento da força entre anéis adjacentes. Se não existir transferência de

momento angular entre anéis adjacentes então G=0 e temos conservação de momento

angular no anel.

O passo seguinte será determinar a dependência temporal de Σ . Para isso temos

de escolher um processo responsável pelo torque. Vamos escolher, por exemplo, a

viscosidade turbulenta pelo que G será dado por (B.4). Substituindo G em (B.7) e

tomando também a equação da continuidade (B.6), podemos determinar a velocidade

radial (e.g. Krolik 1999):

( )rr

r

r

r

rv

2

3

r

=

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Discos de acreção finos 166

Utilizando esta expressão para rv podemos combinar as equações da conservação

da massa (B.6) e da conservação do momento angular (B.7) numa única equação.

Substituindo, nessa equação, a velocidade angular ω por (B.1) resulta (e.g. Pringle

1981):

( )

∂=

∂r

rr

rr

3

t

A solução para Σ depende muito da forma de ν . A solução geral para um disco

que se estende desde a origem até ao infinito e com torque nulo na origem é (e.g.

Pringle 1981):

( ) ( ) ( ) d3

r

3

rJefr12t,r

4/1

4/1t

0

4/34/1 2

= −

∞−

onde ( )λf é uma função arbitrária que depende das condições iniciais e J1/4 é a função

ordinária de Bessel de ordem 1/4. Embora não seja exactamente este o cenário para um

disco de acreção em torno de um buraco negro podemos tirar algumas conclusões. Na

Figura B.1 estão representadas as curvas típicas da função Σ para vários instantes.

Verifica-se que a viscosidade tende a espalhar o gás contido no disco. Grande

parte da matéria move-se para o interior perdendo energia e momento angular. Alguma

matéria move-se para o exterior de forma a tomar o momento angular perdido pela

primeira. Numa situação extrema toda a massa do disco acabaria na origem e todo o

momento angular no infinito.

B.5 A altura do disco

Um disco de acreção diz-se fino, quando a respectiva (meia) altura h é sempre

muito inferior ao raio de qualquer parte do disco. Se rI for o raio do limite interior do

disco, que corresponde à última órbita circular estável, então, num disco fino, é sempre

h<<rI. No caso geral é h=h(r). No entanto se a dependência de r não for muito

xxxxxxxxx

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Discos de acreção finos 167

Figura B.1 - Evolução no tempo da densidade superficial de matéria, de um disco de acreção, em função

de x=r/rI (adaptado de Pringle 1981).

acentuada podemos considerar que h é constante. Num disco fino a temperatura do

mesmo é relativamente baixa. O calor produzido pelo stress viscoso não é armazenado

no disco mas sim radiado com grande eficiência. A acreção por disco fino deverá assim

ser altamente não adiabática.

Se a luminosidade do disco for da ordem do limite crítico de Eddington, LE, então

a força de pressão de radiação é comparável à gravidade e nesse caso a altura do disco

poderá não ser desprezável. Quando a luminosidade do disco é muito inferior a LE então

a pressão de radiação não consegue suportar a matéria muito acima do plano do disco.

Temos nesse caso um disco fino.

Consideremos um referencial que acompanhe a velocidade orbital do disco, vorb,

para um dado raio r. Nesse referencial os átomos de gás têm velocidades aleatórias, da

ordem da velocidade do som no meio a. Se atendermos a que a componente vertical da

aceleração gravítica é, no caso de um disco fino, dada por (e.g. Shapiro & Teukolsky

1983):

rz com r

z

r

GMa

2z <<=

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Discos de acreção finos 168

podemos inferir que a altura típica que um átomo pode atingir acima do plano do disco,

que é um valor indicativo da altura do disco, é da forma (e.g. Krolik 1999):

orbv

arh ∝ (B.8)

Temos assim que, a relação entre a altura do disco h e o raio r é, grosso modo,

igual à relação entre a velocidade do som no gás e a respectiva velocidade orbital. O

critério a impor à temperatura para que o disco seja fino é o seguinte (e.g. Krolik 1999):

1r

r

c

kT

s2

<<

onde µ é a massa média por partícula de gás. Se T não satisfizer esta relação então

existe a tendência para a expansão do disco em altura, deixando assim de ser fino. Note-

se que (B.8) permite-nos escrever o stress viscoso (B.2) como se segue:

s

t2sr v

vvT ρ−∝ϕ

B.6 Estrutura radial

Admitindo que existe qualquer coisa responsável pelo torque, capaz de remover

de forma eficiente o momento angular, vamos centrar a nossa atenção no caso dos

discos não dependentes do tempo.

Como acontece em qualquer sistema dinâmico, a estrutura de um disco de acreção

é determinada pelas equações de conservação da massa, momento e energia. No caso

não dependente do tempo estas adquirem uma forma relativamente simples. Como

estamos a considerar discos azimutalmente simétricos, cujas propriedades são

verticalmente integráveis, a única variação espacial de interesse é na direcção radial e a

única componente do momento com interesse é aquela que corresponde à direcção

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Discos de acreção finos 169

vertical. A conservação de energia pode ser escrita numa equação separada desde que se

assuma que qualquer calor gerado por dissipação é radiado localmente.

Como estamos a considerar um regime não dependente do tempo a integração da

equação da continuidade (B.6) é imediata, conduzindo a uma constante:

rvrC = (B.9)

Verifica-se que esta constante tem as dimensões kgs-1, ou seja, corresponde a uma

taxa de acreção. Podemos então escrever (e.g. Krolik 1999):

rvr2dt

dM=

O valor de dM/dt corresponde à massa que atravessa, por unidade de tempo, um

anel (cilindro) de raio r no disco de acreção. Este valor não depende explicitamente de r

como fica patente pela equação da continuidade. Substituindo (B.9) na equação da

conservação do momento angular (B.7) e integrando resulta (e.g. Krolik 1999):

( )dzW

r2

C

2

r

dt

dMr2 −=+ (B.10)

onde Wrϕ representa o stress total no disco (soma do stress viscoso com o stress

electromagnético). A constante de integração C é avaliada para um raio onde o stress no

disco seja nulo. No caso de um buraco negro esse raio é rI. De facto o stress é nulo para

rI, pois é a partir desse raio que o material cai para o interior, afastando-se do disco.

Temos então para C a expressão (e.g. Krolik 1999):

( )dt

dMrrC I

2I−=

Verifica-se que C corresponde ao fluxo constante de momento angular no disco. O

sinal negativo indica que o momento é extraído ao disco. Podemos escrever (B.10) na

forma (e.g. Krolik 1999):

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Discos de acreção finos 170

( ) ( ) dzWrX2

r

dt

dMr−=

onde o factor de redução X(r) é dado por:

( ) ( )( )r

r

r

r1rX I

2

I

−=

o que no caso de um potencial kepleriano fica:

( )r

r1rX I−= (B.11)

É importante notar que o factor de redução é máximo para r=rI.

No caso de um stress puramente viscoso ( ϕϕ = rr TW ) resulta, com a ajuda de (B.2),

a seguinte relação (e.g. Pringle 1981):

( )rXdt

dM

3

1 = (B.12)

B.7 Dissipação de energia no disco

Se assumirmos que o torque responsável pela remoção do momento angular é

essencialmente viscoso, então a taxa local de dissipação de energia por unidade de

volume é proporcional ao shear local (e.g. Krolik 1999) podendo ser escrita como:

2

V 2

3Q

ω−ρν=

Tendo ainda em conta a aproximação do disco fino, podemos integrar a equação

anterior na vertical. Na prática isso equivale a multiplicar ambos os membros por 2h.

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Discos de acreção finos 171

Se, além disso, substituirmos VhQ2 por Q, onde Q é a taxa de dissipação de energia por

unidade de área (incluindo as duas faces do disco), vem:

2

2

3h2Q

ω−ρν=

Tendo em conta (B.5) vem:

2

2

3Q

ω−νΣ= (B.13)

Se atendermos ainda a que, no caso de um potencial kepleriano, o shear é dado

por:

2

3

r

rA −=

∂=

vem que:

2AQ νΣ=

Este último resultado ilustra a dependência da taxa de dissipação relativamente ao

shear no caso de um torque essencialmente viscoso. Substituindo (B.12) e (B.1) em

(B.13) vem (e.g. Krolik 1999):

( )rXdt

dM

r4

GM3Q

3= (B.14)

Este resultado ilustra a simplicidade dos discos de acreção não dependentes do

tempo. A fonte de maior incerteza, a viscosidade, desapareceu. No entanto isso resulta

do facto de estarmos a considerar que é a viscosidade a responsável pelo fluxo de

matéria.

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Discos de acreção finos 172

A taxa de dissipação é máxima quando a primeira derivada de Q, com respeito a r,

se anula. Isso acontece para:

II r36.1r36

49r ≈=

A taxa de dissipação é, portanto, máxima ainda antes de ser atingido o limite

interior do disco. De facto ao atingir rI a dissipação deve cair para zero pois nesse ponto

o shear torna-se nulo.

B.8 Luminosidade do disco

Se assumirmos que todo o calor dissipado é radiado (o que nem sempre se

verifica) então a luminosidade total do disco é dada por:

=E

I

r

r

rdr2QL (B.15)

Note-se que a luminosidade de apenas uma das faces do disco corresponde à

metade do valor dado por esta expressão. Vamos avaliar (B.15) para uma secção anelar

do disco, compreendida entre r1 e r2, com I12 rrr >>> (de modo a ser ( ) 1rX ≈ ).

Obtemos (e.g. Krolik 1999):

( )

−=

2121 r

1

r

1

dt

dM

2

GM3r,rL

Verifica-se que a energia radiada nesta região é 3 vezes superior à energia

potencial gravítica perdida pela matéria em acreção nessa mesma região. De onde vem

essa energia extra? A resposta é simples: trata-se de alguma energia potencial gravítica

libertada em secções mais interiores do disco e que é transportada para o exterior,

acompanhando a transferência de momento angular. Como já foi referido anteriormente,

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Discos de acreção finos 173

a remoção de momento angular, permitindo a queda de algumas partículas para o

interior, implica um alargamento do disco.

Não existe contudo qualquer problema quando integramos (B.15) para todo o

disco. Assim, tendo em conta (B.11) obtemos (e.g. Krolik 1999):

dt

dM

r

GM

2

1L

I

=

Este último resultado levanta uma segunda questão. Porque é que a perda total de

calor pelo disco é inferior (é metade) à perda total de energia potencial gravítica?

Acontece que quando a matéria cai definitivamente em direcção ao centro, deixando

para trás o limite interior do disco, leva consigo alguma energia cinética. Esta energia é

justamente igual à metade da energia do potencial Kepleriano que fica assim

indisponível para radiação. No entanto, no caso de um disco de acreção para um buraco

negro, 1/2 não é o factor correcto. Há que entrar com correcções relativistas.

O raio para o qual a luminosidade é máxima corresponde ao máximo da função

Qr2 e tem o valor:

IIL r25.2r4

9r

max==

Verifica-se que a parte mais luminosa do disco, embora se situe na zona mais

interior do mesmo, fica aquém de rI. No gráfico da Figura B.2 estão representadas as

funções Q(r) e L(r). São também indicadas as contribuições de algumas regiões para a

luminosidade total do disco.

B.9 Partição do disco

Um disco de acreção pode ser dividido em várias zonas anelares, cada qual com

características bem distintas. De acordo com Shakura & Sunyaev (1973) temos as

regiões:

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Discos de acreção finos 174

Figura B.2 - Taxa de dissipação de energia Q(r), no disco, por unidade de área e luminosidade Q(r)r2. As

percentagens ilustram as contribuições de cada uma das regiões demarcadas para a luminosidade integral

do disco (adaptado Shakura & Sunyaev 1973).

a- A pressão da radiação é dominante. Na interacção matéria-radiação é

dominante a dispersão de electrões livres.

b- A pressão do gás é dominante. Na interacção matéria-radiação a dispersão

electrónica também desempenha aqui o papel principal.

c- A opacidade aqui é determinada pela absorção livre-livre e outros

mecanismos menos relevantes.

Num disco de acreção existem duas regiões c. Uma região cI, bastante estreita,

junto ao limite interior do disco, e outra cE, bastante extensa, junto ao limite exterior do

disco. Na região cI a pressão da radiação é dominante e na região cE é a pressão do gás

que domina. Duas regiões do tipo b fazem a interface entre as regiões c e a região a.

Esta partição do disco está esquematizada na Figura B.3.

Expressões para a densidade média de energia, densidade superficial de matéria,

densidade bariónica, velocidade radial, campo magnético e temperatura para cada uma

das diferentes regiões podem encontrar-se em Shakura & Sunyaev (1973). Analisando

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Discos de acreção finos 175

xxxx

Figura B.3 - Partição radial do disco de acreção (note-se que a figura é apenas ilustrativa e não respeita

qualquer escala)

essas expressões é notória, para qualquer uma das regiões, uma fraca dependência da

espessura do disco em relação à eficiência α do mecanismo de remoção de momento

angular. Quando α decresce, a densidade superficial do disco aumenta rapidamente e a

velocidade radial do movimento das partículas decai, aumentando a espessura do disco

como α-1/10. No entanto se α decrescer para valores da ordem de:

215

dt

dM10

≈ −

a espessura do disco será comparável ao raio do mesmo. Nesse caso deixaríamos de ter

um disco de acreção para termos simplesmente acreção esférica.

B.10 Estrutura vertical e temperatura

Existem dois processos que determinam a estrutura vertical do disco: difusão de

calor e balanço entre a força de gravidade e a pressão da radiação e/ou do gás.

Atendendo a que estamos a considerar que o movimento vertical das partículas de gás é

muito pouco significativo, se comparado com os respectivos movimentos radial e

orbital, vamos admitir a existência de equilíbrio hidrostático na direcção vertical. Isto

significa que na direcção do eixo z o gradiente de pressão deve ser completamente

equilibrado pela componente da aceleração gravítica normal ao plano do disco, zg . A

equação que traduz tal equilíbrio é (Shakura & Sunyaev 1973):

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Discos de acreção finos 176

3z r

GMzg

dz

dp1−==

ρ(B.16)

A equação que nos dá a taxa dissipação de energia no disco por unidade de área,

ao longo da direcção vertical, q(z), pode ser escrita como (Shakura & Sunyaev 1973):

Σ=

ρ

Q

dz

dq1(B.17)

onde Q, dado por (B.14), corresponde à taxa de dissipação (total) de energia por

unidade de área no disco. Integrando resulta:

( ) ( )Σ

=zu

Qzq

onde:

( ) ( )dzzzuz

0ρ=

A função q(z) dá a taxa de dissipação de energia por unidade de área entre o plano

do disco (z=0) e o ponto z<h, contabilizando para isso as duas faces do disco. Note-se

que para hz = temos Qq = .

Se às equações (B.16) e (B.17) juntarmos a equação da transferência radiativa

(Shakura & Sunyaev 1973):

)z(qdz

d

3

c r −=

onde εr é a densidade de energia, σ é a opacidade e ρ a densidade de matéria; então

temos um sistema fechado de equações , cuja solução determina a distribuição vertical

das várias quantidades físicas no disco.

Nas regiões a e b, a opacidade é dominada pela dispersão electrónica. Nesse caso

o estado termodinâmico do gás pode ser descrito, em qualquer ponto e em qualquer

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Discos de acreção finos 177

instante, por apenas dois parâmetros: temperatura e densidade. Vamos supor também

que o disco é bastante opaco e que, portanto, a sua temperatura central Tc é muito

superior à sua temperatura superficial Ts. No cenário criado por estas duas suposições é

possível derivar a seguinte expressão para a temperatura (Shakura & Sunyaev 1973):

( )4/12

c

u41TuT

Σ−= (B.18)

A curva característica para a variação da temperatura descrita por (B.18) está

representada na Figura B.4. Note-se que a temperatura não varia muito quando Σ<<u2 .

A estrutura do disco pode assim ser caracterizada por uma temperatura central Tc que

depende apenas da coordenada radial r, sendo a dependência de z ignorada. Contudo, se

o objectivo for o estudo do espectro de radiação emitido, a partir da superfície do disco,

então não se pode desprezar a dependência de z, pois o espectro é fortemente

dependente da distribuição vertical da densidade e da temperatura.

B.11 Espectro emitido

A maior parte da energia é radiada principalmente perto do plano central do disco.

Esta radiação não é acessível em termos de observação directa. O espectro de radiação

observável forma-se na superfície do disco. Este espectro depende da distância ao

buraco negro e da distribuição de matéria segundo a perpendicular ao plano do disco. O

tipo de espectro emitido depende também da zona do disco.

Nas regiões mais exteriores, onde os processos livre-livre e livre-ligado (e.g.

Shapiro & Teukolsky 1983) são os principais responsáveis pela opacidade, forma-se um

espectro Planckiano (Shakura & Sunyaev 1973):

( )kT

h xcom

1e

x

h

kT

c

h2xF

x

33

s2

=−

=

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Discos de acreção finos 178

Figura B.4 - Variação da temperatura do disco ao longo da vertical em função do integral da densidade u.

Quando u=0 estamos sobre o plano central do disco (z=0) e T=Tc.

A este espectro corresponde um fluxo de energia dado por (Shakura & Sunyaev

1973):

( ) == )s cm (erg bT4

cdxxFQ 1-2-4

s

onde b é a constante da densidade de radiação.

Na região intermédia do disco, onde a dispersão de Thomson (e.g. Shapiro &

Teukolsky 1983) domina a opacidade, o espectro emitido obedece, no caso de o disco

poder ser considerado como um meio homogéneo com uma fronteira abrupta, à seguinte

distribuição (Shakura & Sunyaev 1973):

( )x

x2/34/5

se1

exTnconstxF

−=

onde n corresponde à densidade bariónica local. O fluxo de energia é, neste caso, dado

por:

)s cm (erg Tn108.1Q -1-225.2s

4−×=

Na região mais interior do disco o processo de Comptonização (e.g. Shapiro &

Teukolsky 1983) afecta fortemente a forma do espectro emitido. Este obedece a uma

distribuição de Wien com (Shakura & Sunyaev 1973):

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Discos de acreção finos 179

Figura B.5 - Espectro local formado na superfície de um disco de acreção de matéria para um buraco

negro: a) espectro Planckiano (Q=const×T4); b) espectro de radiação de um meio homogéneo cuja maior

contribuição vem da dispersão electrónica (Q=const×n1/2T2.25); c) igual ao caso b mas com o meio

consistindo numa atmosfera isotérmica exponencial (Q=const×T2.5) e d) espectro resultante da

Comptonização (Q≈const×T4). As intensidades estão normalizadas por forma a que Q seja o mesmo nos

quatro casos apresentados (adaptado de Shakura & Sunyaev 1973).

( ) x3e xconstxF −=

e:

bd(r) com T4

)r(cdQ 4

s <<=

Na Figura B.5 indicam-se as curvas correspondentes aos vários espectros referidos

anteriormente.

B.12 Espectro integral da radiação emitida

A distribuição espectral da radiação emitida na totalidade pelo disco obtém-se

integrando o espectro local ao longo de toda a superfície do disco (Shakura & Sunyaev

1973):

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Discos de acreção finos 180

( )[ ]rdrrTF4I s

r

r

E

I

=

onde Ts(r) é uma função que nos dá a temperatura superficial do disco em função do

raio. Os valores rE e rI correspondem aos limites interior e exterior do disco. Ao

considerar o integral anterior devemos ter em mente que Fν varia consoante a região do

disco e que Ts(r) depende da taxa de acreção e do parâmetro α (Shakura & Sunyaev

1973).

Na Figura B.6 estão representadas algumas curvas de Iν em função de x(=hν/(kT)).

Cada curva corresponde a uma dada taxa de acreção e a um valor do parâmetro α. São

apresentadas curvas para taxas de acreção críticas e subcríticas. A taxa de acreção de

matéria diz-se crítica quando a perda total de energia pelo disco iguala a Luminosidade

de Eddington:

( )W M

M103.1L 31

Er

×=

Na banda do óptico temos, para uma vasta gama de condições iniciais, um

espectro da forma (Shakura & Sunyaev 1973):

3/13/8

I2

2I

2

h

kT

c

hr16I

=

A luminosidade óptica do disco é então dada por:

)(W dt

dMM10dIL

3/23/428

óptico

opt

≈= (B.19)

Para um buraco negro de 10M é de esperar uma luminosidade semelhante à do

Sol mesmo que a taxa de acreção seja tão baixa quanto 10-11M ano-1. No entanto, nesse

caso, não seria fácil fazer a distinção entre o buraco negro e uma estrela normal. A

luminosidade óptica deverá, regra geral, ser superior ao valor dado por (B.19) em

xxxxxx

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Discos de acreção finos 181

Figura B.6 - A radiação integral do disco para diferentes valores da taxa de acreção e do parâmetro α

(adaptado de Shakura & Sunyaev 1973).

virtude da reemissão, na banda do visível, por parte das regiões mais periféricas do

disco das radiações mais energéticas provenientes das zonas mais interiores do disco

(Shakura & Sunyaev 1973).

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Lentes gravitacionais 183

ANEXO C

Efeito de lente gravitacional

Consideremos uma estrela, um observador distante e um corpo de massa m

localizado entre ambos. Vamos mostrar que os raios de luz provenientes da estrela que

passem junto ao corpo de massa m são deflectidos proporcionando ao observador uma

imagem aparente da estrela. O corpo de massa m, que poderá ser um buraco negro, será

designado por corpo deflector. Esta situação está esquematizada na Figura C.1.

Vamos recorrer à equação radial (1.12) para as geodésicas no espaço-tempo de

Schwarzschild. Antes porém, notemos que pelas equações (1.9) e (1.10), temos (e.g.

d'Inverno 1992):

2r

L

d

dr

d

d

d

dr

d

dr

==

Considerando esta substituição na equação radial e introduzindo a coordenada

radial reciproca u=1/r vem (e.g. d'Inverno 1992):

( ) 222

umu21L

E

d

du−−

=

ϕ

Diferenciando esta última equação com respeito a ϕ obtemos:

22

2

mu3ud

ud=+

ϕ(C.1)

Consideremos, por simplicidade, que o raio de luz passa sempre bastante distante

do raio de Schwarzschild do corpo deflector. Nesse caso é sempre r>>2m pelo que o

termo do lado direito da equação anterior é muito pequeno. Se o desprezarmos então

temos como solução da equação:

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Lentes gravitacionais 184

Figura C.1 - Desvio de um raio de luz proveniente de uma estrela distante por um corpo de massa m. O

observador regista uma imagem aparente da estrela.

( )b

cosu

α+ϕ= (C.2)

onde b e α são constantes de integração. A constante α pode ser eliminada rodando o

eixo que define ϕ=0. A constante b corresponde à distância de menor aproximação entre

o raio de luz e o corpo deflector e é por vezes designado por parâmetro de impacto.

Substituindo então (C.2), com α=0, no lado direito de (C.1) vem:

( )2

2

2

2

b

cosm3u

d

ud ϕ=+

ϕ

Esta equação tem o integral particular (e.g. d'Inverno 1992):

( )2

2

b

cos2mu

ϕ−=

e a sua solução geral é:

( ) ( )2

2

b

cos2m

b

cosu

ϕ−+

ϕ=

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Lentes gravitacionais 185

Para pontos bastante distantes do corpo deflector podemos considerar que u e

cos2(ϕ) são praticamente nulos. Nesse caso fica:

( )b

m2cos

−=ϕ

Temos assim os seguintes valores assimptóticos para o ângulo ϕ:

b

m2

22 2estrela +π

=ε+π

b

m2

22 1observador −π

−=ε−π

−=ϕ

A deflexão total, experimentada pelo raio de luz, será então dada por:

b

m4=ϕ∆

Os raios de luz provenientes de uma estrela podem ser desviados das suas

trajectórias normais por um corpo massivo. Esses raios de luz devem então intersectar-

se num dado ponto. Um observador colocado nesse ponto registará não uma mas sim

duas ou mais imagens dessa estrela. Esta situação está esquematizada na Figura C.2.

Este efeito, de obtenção de imagens múltiplas, designa-se por efeito de lente

gravitacional. Ao conjunto dos pontos de convergência dos raios de luz damos o nome

de zona focal.

Uma vez identificadas várias imagens de um mesmo objecto podemos retirar

alguma informação acerca do corpo deflector, também chamado de lente, e verificar se

este é ou não um buraco negro. Em geral este procedimento reveste-se de contornos

muito complexos e não dispensa outro tipo de observações.

Outro caso particularmente interessante é aquele em que temos um buraco negro

rodeado por um disco de acreção de matéria. Os raios de luz emitidos pelo disco,

principalmente aqueles provenientes do lado mais distante, sofrem um certo desvio.

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Lentes gravitacionais 186

Figura C.2 - A estrela emite radiação electromagnética em todas as direcções, em particular, nas

direcções (1) e (2). O raio de luz (1) chega ao observador de forma directa. Por sua vez o raio (2) chega

ao observador depois de ter sido desviado, da sua trajectória normal, por um buraco negro. O observador

regista duas imagens da estrela, sendo uma delas real e outra aparente.

Um observador distante, situado ligeiramente fora do plano do disco, verá uma

imagem semelhante à da Figura C.3. Da parte mais distante do disco o observador

recebe duas imagens, ambas aparentes sendo uma delas directa e outra indirecta.

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Lentes gravitacionais 187

Figura C.3 - (A): Disco de acreção de matéria em torno de um buraco negro (são indicadas as dimensões

típicas). Supõe-se a existência de um observador distante, do lado direito da imagem, localizado cerca de

10º acima do plano do disco. (B): Imagem registada pelo observador. A radiação emitida pelo disco do

lado do observador atinge este, sem que seja muito afectada pelo campo gravítico do buraco negro

proporcionando assim uma imagem directa e real . Por sua vez a radiação emitida pelo lado mais distante

do disco só pode atingir o observador depois de ser desviada pelo buraco negro. Neste caso o observador

capta duas imagens aparentes; uma directa, que corresponde à parte superior do disco, e outra indirecta

que corresponde à parte inferior do disco (adaptado de Luminet 1997).

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Partículas elementares 189

ANEXO D

Partículas elementares

As partículas elementares estão divididas em duas grandes classes: leptões e

hadrões. Na Tabela D.1 são indicadas algumas destas partículas, bem como as

respectivas antipartículas, spin, massa, tempo de vida médio e reacção de decaimento

mais provável.

Os leptões são partículas que não estão sujeitas à interacção nuclear forte e que

não mostram sinais de terem qualquer estrutura interna. Conhecem-se três tipos de

leptões: electrões, muões e tauões.

Associado a cada leptão existe um tipo de neutrino. Embora a massa dos neutrinos

não seja conhecida foi possível, nos últimos anos, estabelecer limites superiores para a

massa dos mesmos (Fukuda et al. 1998; Hagiwara et al. 2002).

Os hadrões são partículas sujeitas à interacção forte. Subdividem-se em bariões e

mesões. Os hadrões são internamente constituídos por quarks: os bariões por três quarks

e os mesões por um quark e um antiquark (e.g. Segré 1982). Conhecem-se actualmente

seis sabores de quarks. Cada quark tem spin 1/2 e pode ter uma de três cargas

habitualmente designadas por "cores".

As partículas também podem ser classificadas quanto ao Spin em fermiões e

bosões. Os fermiões são partículas com Spin não inteiro e sujeitas ao Princípio de

Exclusão de Pauli (não podem existir dois fermiões no mesmo estado quântico). Por seu

turno, os bosões são partículas com spin inteiro que não respeitam o Princípio de

Exclusão de Pauli (pode existir um número indeterminado de bosões no mesmo estado

quântico).

Existe uma partícula responsável por cada força. No caso da força

electromagnática é o fotão e no caso da força gravítica o gravitão. A força forte entre

quarks é da responsabilidade dos gluões. Fotões, gluões e gravitões têm massa em

repouso nula. As partículas responsáveis pela interacção fraca são as W+, W- e Zo. Estas

três partículas têm massas bastante elevadas sendo o seu valor da ordem dos 80GeV.

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Partículas elementares 190

Tabela D.1 - Leptões e Hadrões. São indicados alguns dos leptões e hadrões conhecidos. Para cada

um deles é indicado o Spin, a vida média em segundos (caso não sejam estáveis) e a reacção (ou as

reacções) de decaimento mais provável (prováveis). (e.g. Wichmann 1971; Segré 1982; Shapiro &

Teukolsky 1983; Duquesne 1986). No caso dos neutrinos os limites superiores para as massas foram

retirados de Hagiwara et al. (2002).

Classificação p p Spin m(MeV) vm(s) Decaimento

Electrões e+ e- 1/2 0.511 estável -

Muões µ+ µ- 1/2 105.659 2.20×10-6

e

e

e

e

++→

++→

−−

++

Tauões τ+ τ- 1/2 1784 5×10-3

e

e

e

e

++→

++→−−

++

νe e 1/2 < 3×10-6 estável -

νµ 1/2 < 0.19 estável -

Leptões

Neutrinos

ντ 1/2 < 18.2 estável - Protões p p 1/2 938.256 estável -

Neutrões n n 1/2 939.550 1.01×103eepn ++→ −

Σ+ + 1/2 1189.47 0.81×10-10 po +→+

n +→ ++

Σ- − 1/2 1197.44 1.65×10-10 n +→ −−Sigma

Σo o 1/2 1192.46 <1.0×10-14 oo +→

Ξo o 1/2 1314.7 3.0×10-10 ooo +→

Qui

Ξ- − 1/2 1321.2 1.74×10-10 −− +→ o

Lambda ∆o o 1/2 1115.58 2.51×10-10−+→ p

o

oon +→

Bariões

Hiperões

Omega Ω- − 3/2 1674 1.5×10-10 (?)

K+ K- 0 493.8 1.235×10-8

oK +→ ++

oK +→ −−

Kaões

Ko oK 0 497.9 K1 0.87×10-10

K2 5.68×10-08

−+ +→ K1

ooo2 K ++→

π+ π- 0 139.58 2.608×10-8 +→ ++

+→ −−

Hadrões

Mesões

Piões

πo o 0 134.98 0.89×10-16

o +→

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Radiação do corpo negro 191

ANEXO E

Radiação do corpo negro

Todos os corpos, com temperaturas acima do zero absoluto, radiam energia sob a

forma de ondas electromagnéticas. Os corpos também podem absorver e/ou reflectir as

ondas electromagnéticas que incidam sobre eles. A um corpo que absorva integralmente

toda a radiação que incida sobre ele chama-se corpo negro. De acordo com a Lei de

Kirchoff, para a radiação electromagnética, que diz que um bom receptor é também um

bom emissor, o corpo negro, sendo um receptor perfeito, é também um emissor perfeito

de radiação (e.g. Eisberg & Resnick 1985).

Um corpo negro pode ser simulado, de forma aproximada, em laboratório, por um

corpo oco onde existe um pequeno orifício. A radiação electromagnética proveniente do

exterior pode penetrar pelo orifício e ser reflectida ou absorvida pelas paredes interiores.

Se a área correspondente ao orifício for muito inferior à área da superfície interior então

não deve sair praticamente nenhuma da radiação capturada. O orifício comporta-se

assim como um receptor de radiação perfeito. Por outro lado, estando as paredes

interiores aquecidas uniformemente até uma certa temperatura devem emitir radiação.

Parte dessa radiação irá sair pelo orifício que assim tem um comportamento semelhante

ao da superfície do corpo negro. O espectro dessa radiação emergente é designado por

espectro do corpo negro.

Todos os corpos negros, com a mesma temperatura, têm o mesmo espectro de

emissão contínuo. A forma específica da curva do espectro não pode ser deduzida a

partir de argumentos clássicos. Há que considerar a quantização da energia das ondas

electromagnéticas. No gráfico da Figura 2.2 estão representadas as curvas do espectro

do corpo negro, em função do comprimento de onda, para várias temperaturas. Note-se

que para cada temperatura existe um comprimento de onda ,λmax, para o qual a emissão

é máxima. Com o decréscimo da temperatura este máximo, além de baixar, é deslocado

no sentido dos comprimentos de onda maiores.

A densidade de fluxo para a radiação emitida por um corpo negro é dada pela

expressão (e.g. Eisberg & Resnick 1985):

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Radiação do corpo negro 192

)s(Wm 1e

1

c

h2S 2-

kT/h2

3

−=

onde T é a temperatura do corpo negro.

O fluxo de energia emitido no intervalo de frequências [ν1,ν2] é dado por:

[ ] ν

ν

ννν ν−

νπ=

2

1

21d

1ec

h2S

kT/h

3

2,

Na resolução deste integral é usual considerar a transformação x=hν/kT ficando:

[ ]( )

π=νν

2

1

21

x

xx

3

32

4

, dx1e

x

hc

kT2S

onde x1=hν1/(kT) e x2=hν2/(kT). Quando consideramos a integração sobre todo o

espectro, x1=0 e x2=∞, o integral é igual a π4/15 pelo que resulta (e.g. Eisberg &

Resnick 1985):

[ ]4

32

45

,0 Thc15

k2S

π=∞

Substituindo as diversas constantes pelos respectivos valores obtemos:

[ ]48

,0 T1067.5S −∞ ×=

que é a Lei de Stefan. Note-se que o factor 5.6×10-8 corresponde com grande

aproximação à constante de Stefan-Boltzmann.

Determinando o máximo da curva do espectro do corpo negro obtém-se a relação

entre a temperatura T e o comprimento de onda λmax (e.g. Eisberg & Resnick 1985):

k

hc2014.0T .max ×=

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Radiação do corpo negro 193

Substituindo as constantes pelos respectivos valores obtemos:

)mK(10898.2T3

max−×=

que é a Lei de Wien.