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APLICAÇÃO DE ELEMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE EM PRESIDENTE PRUDENTE: UMA NOVA PROPOSTA PARA O PLANEJAMENTO TERRITORIAL. 1 Nathália Karoline de Carvalho Soares [email protected] Aluna do 5º ano de Geografia UNESP Presidente Prudente Dayana A M de Oliveira e-mail: [email protected] Mestranda em Geografia pelo Programa Pós-Graduação Universidade Estadual Paulista UNESP Presidente Pudente Everton Luís de Souza Júnior e-mail: [email protected] Aluno do 5º ano de geografia Universidade Estadual Paulista UNESP Presidente Pudente Rodrigo Carlos de Oliveira e-mail: [email protected] Aluno do 5º ano de geografia Universidade Estadual Paulista UNESP Presidente Pudente Uilber Antônio da Silva e-mail: [email protected] Licenciado em Geografia UNESP Presidente Pudente O município de Presidente Prudente, fundado em 1917 teve a princípio o transporte ferroviário como sua principal forma de acesso. Porém, com o advento automobilístico foram necessárias obras de infra-estrutura para que a cidade pudesse acompanhar o progresso e continuar crescendo. A rodoviária da cidade, desde sua fundação, permanece no mesmo local e com a mesma forma, sendo que a cidade passou e vem passando ainda hoje por grandes modificações. Sua localização atual causa alguns transtornos à cidade, como o difícil acesso em horários de alto movimento, pois se localiza bem no centro da cidade. Diante de tais problemas, é proposta uma nova localização para a rodoviária municipal de Presidente Prudente, enquadrando-a dentro das leis que se referem a este tipo de empreendimento. Os autores respeitaram fielmente o Estatuto da Cidade, bem como os demais instrumentos legais nele contidos e todo um estudo das características naturais e possíveis impactos que podem ser causados na área de implantação da nova rodoviária. PALAVRAS CHAVE: Planejamento; vazio urbano; rodoviária; expansão urbana. INTRODUÇÃO Ao longo da história do transporte no Brasil, houve uma nítida e indiscutível preferência pelo transporte rodoviário em detrimento das outras formas de transporte (ferroviário e aeroviário). Esse processo se concretizou em meados do século XX, com uma política nacional de incentivo à construção de rodovias, veículos automotores e 1 Eixo temático: Geografia Urbana

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Page 1: APLICAÇÃO DE ELEMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE EM … · aplicaÇÃo de elementos do estatuto da cidade em presidente prudente: uma nova proposta para o planejamento territorial.1

APLICAÇÃO DE ELEMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE EM PRESIDENTE PRUDENTE: UMA NOVA PROPOSTA PARA O PLANEJAMENTO TERRITORIAL.1

Nathália Karoline de Carvalho Soares [email protected]

Aluna do 5º ano de Geografia UNESP – Presidente Prudente

Dayana A M de Oliveira

e-mail: [email protected] Mestranda em Geografia pelo Programa Pós-Graduação

Universidade Estadual Paulista – UNESP Presidente Pudente

Everton Luís de Souza Júnior e-mail: [email protected]

Aluno do 5º ano de geografia Universidade Estadual Paulista – UNESP Presidente Pudente

Rodrigo Carlos de Oliveira

e-mail: [email protected] Aluno do 5º ano de geografia

Universidade Estadual Paulista – UNESP Presidente Pudente

Uilber Antônio da Silva e-mail: [email protected]

Licenciado em Geografia UNESP Presidente Pudente

O município de Presidente Prudente, fundado em 1917 teve a princípio o transporte ferroviário como sua principal forma de acesso. Porém, com o advento automobilístico foram necessárias obras de infra-estrutura para que a cidade pudesse acompanhar o progresso e continuar crescendo. A rodoviária da cidade, desde sua fundação, permanece no mesmo local e com a mesma forma, sendo que a cidade passou e vem passando ainda hoje por grandes modificações. Sua localização atual causa alguns transtornos à cidade, como o difícil acesso em horários de alto movimento, pois se localiza bem no centro da cidade. Diante de tais problemas, é proposta uma nova localização para a rodoviária municipal de Presidente Prudente, enquadrando-a dentro das leis que se referem a este tipo de empreendimento. Os autores respeitaram fielmente o Estatuto da Cidade, bem como os demais instrumentos legais nele contidos e todo um estudo das características naturais e possíveis impactos que podem ser causados na área de implantação da nova rodoviária. PALAVRAS – CHAVE: Planejamento; vazio urbano; rodoviária; expansão urbana.

INTRODUÇÃO

Ao longo da história do transporte no Brasil, houve uma nítida e indiscutível

preferência pelo transporte rodoviário em detrimento das outras formas de transporte

(ferroviário e aeroviário). Esse processo se concretizou em meados do século XX, com

uma política nacional de incentivo à construção de rodovias, veículos automotores e

1 Eixo temático: Geografia Urbana

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toda gama de infraestrutura equipamentos para a viabilização desta forma de

transporte.

A cidade de Presidente Prudente, no Estado de São Paulo, foi fundada

oficialmente em 1917, concretizada as margens da estrada de ferro e, por algumas

décadas, teve esta forma de transporte como principal acesso. A partir do governo de

Juscelino Kubitschek.

A vasta utilização da rodovia para as mais diversas finalidades e a posição

estratégica do município propiciou um crescimento considerável da cidade e a colocou

em destaque na região. Esta configuração criou um conjunto de necessidades para

manutenção do crescimento da cidade e garantia de atendimento à demanda dos

fluxos. Consideramos como uma dessas importantes necessidades repensar o

terminal rodoviário que desde o princípio foi instalado há poucas quadras do centro da

cidade e que permanece na mesma localidade até o presente momento.

Devido ao crescente número de veículos presentes na cidade e intensificação

do trânsito urbano, problema presente em muitas cidades médias e grandes no

território nacional e mundial, o terminal rodoviário hoje, agrava o problema de

circulação urbana, isto torna necessário o seu remanejamento para outra localidade.

Para a mudança da rodoviária para outra área da cidade, consideram-se os

seguintes itens para definir a escolha: localidade, proximidade de vias de acesso

rápido, condição das vias, distanciamento dos trechos de trânsito intenso em horários

de pico, preservação ambiental, articulação com o aeroporto e adequação ao Plano

Diretor do município de Presidente Prudente e o Estatuto da Cidade.

Será desenvolvido no trabalho a ideia de ocupação de uma área considerada

como vazio urbano em Presidente Prudente - com a criação de um Terminal

Rodoviário Municipal - para que se adeque a cumprir sua função social no âmbito

urbano.Para a elaboração do projeto levou-se em conta o Estatuto da Cidade, bem

como os instrumentos nele contido (Estudo de Impactos Ambientais – EIA e o

Relatório de Impactos Ambientais – RIMA, Estudo de Impacto de Vizinhança – EIV e o

Relatório de Impacto de Vizinhança – RIVI); o Plano Diretor de Presidente Prudente; a

Lei Complementar 153/2008, que trata do Zoneamento Urbano de Presidente

Prudente.

O trabalho também apresenta a localização, características gerais com relação

à hidrografia, topografia, uso e ocupação do solo e geologia para um estudo mais

detalhado do local, fornecendo respaldo necessário para tal construção, justificando o

projeto porque além de considerar os aspectos físicos do local, visa a melhoria da área

onde se localiza a antiga rodoviária, propiciando um melhoramento no tráfego de

veículos, devido à inadequação dessa área.

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Quanto ao o antigo prédio do Terminal Rodoviário, situado na Avenida Brasil,

próximo a área central da cidade, acreditamos poder adquirir uma nova função social

no espaço urbano, sendo instalado um shopping popular de comércio variado,

compatível com a localização do prédio e suas particularidades.

O objetivo central é a ocupação de uma área não edificada considerada como

vazio urbano no município de Presidente Prudente, dentro do perímetro urbano,

levando em conta a legislação vigente – Estatuto da Cidade, Plano Diretor do

município e outras leis que respaldem o trabalho – com o intuito de dotá-la de uma

função social, tendo este uso e ocupação do solo para determinado fim.

Para que então cumpra sua função social no ambiente urbano, criou-se a

hipótese de instalação na área de um Terminal Rodoviário Municipal com o objetivo de

que a circulação de veículos e pessoas na localidade da atual rodoviária se dê de

forma mais eficiente.

Assim, o prédio da antiga Rodoviária será reutilizado, abrigando o comércio de

produtos variados, denominado de shopping popular.

APLICAÇÃO DE ELEMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE EM

PRESIDENTE PRUDENTE

A área escolhida para este trabalho localiza-se na Rodoviária Júlio Budiski,

entre o Conjunto Habitacional Ana Jacinta e o Parque Residencial Damha II e o

Aeroporto de Presidente Prudente. É uma área considerada rural no plano jurídico, no

entanto, por estar entre áreas edificadas, é potencialmente urbana, sendo então

definida como vazio urbano. A Área pretendida está inserida entre as coordenadas

UTM, apresentadas sobre o datum planimétrico Córrego Alegre: N = 7548912.3970, E

= 455889.8829 , N = 7549120.4778, E = 456076.6447 , N = 7549290.4758, E =

455890.5146, N =754901.6098, E = 455685.1934.

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Figura 1: Imagem da área e de suas principais vias de acesso FONTE: Google earth (2009).

A formação dos vazios urbanos está relacionada ao processo de urbanização e

as contradições inerentes ao mesmo. A expansão urbana pode ocorrer, segundo Silva

(1993, apud LIMA, 1998), como conseqüência de dois processos: baixas densidades

em zonas residenciais resultantes de grandes lotes individuais; e descontinuidade na

ocupação do uso do solo, onde parcelas ficam, inicialmente, sem uso, aguardando

valorização para serem ocupadas em momento posterior. Assim, considera-se que

“no Brasil, o espalhamento se deve basicamente ao segundo processo, ou seja, a formação de grandes vazios urbanos. A especulação (entendida aqui como ganho sem investimento, a não ser o investimento inicial da compra da terra) é sem dúvida a principal causa do espalhamento urbano, expulsando os pobres para a periferia, tanto nos grandes centros como nas médias e pequenas cidades “(LIMA, 1998, p.6).

O desenvolvimento dos vazios ocorre porque novos loteamentos são

implantados em áreas não contíguas aos loteamentos existentes, servindo, muitas

vezes, para a especulação imobiliária. Desta forma, áreas de terras desocupadas são

mantidas entre os antigos bairros e os novos, as quais adquirem valorização.

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Esses vazios urbanos contribuem para aumentar o ônus que recai sobre a população de baixa renda, na medida em que esses vazios mantêm em ociosidade uma infra-estrutura que teve os custos socializados, porque foram financiados pelos recursos públicos, em grande parte provenientes dos pagamentos de tributos (LIMA, 1998, p.7).

O investimento nos vazios urbanos torna-se necessário à medida que a

ocupação destes espaços evita um gasto maior com infra-estrutura em áreas não

urbanizadas. Segundo Anastassakis (2004),

A existência desses vazios inaproveitados não constitui somente um problema social, de mau aproveitamento do capital investido e de desprezo do patrimônio construído. Constitui um crime ambiental, já que esses deixam de usar uma infra-estrutura projetada e calculada para sua plena utilização, fazendo a cidade buscar novos terrenos, novos territórios para crescer, territórios para urbanizar (construir redes de água, de esgotamento sanitário, de energia elétrica, sistema viário, equipamentos sociais, comércio etc.) (ANASTASSAKIS, 2004).

O local apresenta características relevantes no que tange aos aspectos físicos

e ambientais.

Segundo Nunes, (2005), alguns tipos de solos são encontrados mais

comumente em determinadas feições do relevo. Nas áreas de topos são encontrados

os Latossolos, nas vertentes há a predominância de Argissolos e Neossolos, e nas

áreas ocupadas pelas planícies e alvéolos encontram-se os Gleissolos e Planossolos.

Devido à característica plana e suavemente ondulada dos topos desta região,

que possuem como agente cimentante a Formação Adamatina, historicamente tem

sido o compartimento do relevo mais utilizado para a ocupação humana, explicitando

assim sua adequada utilização para os fins pretendidos.

Quanto às vertentes, são encontradas vertentes côncavas, convexas, e em

alguns pontos, vertentes retilíneas. As vertentes côncavas são relacionadas com as

áreas de cabeceira de drenagem em forma de anfiteatro, onde foram encontradas

ravinas, constituindo-se, assim, uma das áreas que merecem maior atenção, tanto

pela erosão quanto pela possibilidade de existência de nascentes, sendo que com o

necessário cuidado é possível realizar um empreendimento de tal porte neste local.

Com a relação à hidrografia, encontram-se as nascentes do córrego do

Botafogo2, que é um dos cursos d’água que deságua na Represa da SABESP

(Companhia se saneamento básico do estado de São Paulo) localizada no Conjunto

Habitacional Ana Jacinta. Toda esta área pertence à Bacia do Santo Anastácio.

No que tange à cobertura vegetal, apresenta-se degrada, com alguns poucos

pontos preservados principalmente nas proximidades dos córregos, que se

denominam de Áreas de Preservação Permanente – APP.

2 Na área existem também outros dois córregos importantes que são o Córrego do Cedro e do

Cedrinho.

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Porém, apenas os aspectos naturais não bastam para que uma obra de

tamanho porte seja instalada em determinado local. Os aspectos socioeconômicos são

também de suma relevância para a realização de tal projeto.

Com o crescimento populacional das cidades, sua expansão horizontal e

vertical foi adquirindo grandes extensões. Muitos bairros foram criados em

descontínuo à malha urbana, criando grandes espaços sem edificação que foram

denominados de “vazios urbanos”. Esses vazios urbanos estão à espera de

valorização – pela iniciativa privada – que os utiliza para especulação imobiliária.

Dessa forma, segundo o Estatuto da Cidade, os vazios urbanos não estão cumprindo

sua função social na cidade. O artigo 2º menciona em seu caput o seguinte: “A política

urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da

cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais”, tendo em

seu inciso VI a orientação sobre o de ordenamento e controle de uso do solo, a fim de

evitar, dentre coisas, a utilização inadequada dos imóveis urbanos.

No Plano Diretor do município de Presidente Prudente há a preocupação no

cumprimento da função social da propriedade urbana. Em seu Capítulo III – Da

Função Social da Propriedade Urbana – especialmente em artigo 4º, que trata do

ordenamento urbano, o aproveitamento e utilização da propriedade urbana assegura

no inciso III “o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade”.

Os vazios urbanos geram um adensamento maior de pessoas em

determinados pontos da cidade e, com isso, uma maior circulação de veículos e

pessoas. Essa circulação quando em demasia, acarreta um grande tráfego de veículos

o que gera congestionamento.

Com a finalidade de descongestionar o fluxo de veículos da Avenida Brasil,

onde está localizada a atual rodoviária, propõe-se a construção de um novo Terminal

Rodoviário Municipal na área do vazio urbano, entre a Rodovia Raposo Tavares e a

Avenida Julio Budiski, próximo ao aeroporto da cidade de Presidente Prudente. Sua

localização propicia um rápido e facilitado acesso – já que é cortada por uma rodovia e

uma avenida que são importantes eixos de acesso para a cidade de Presidente

Prudente – tendo, portanto, uma grande circulação de veículos.

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Figura 2: Imagem em destaque das rodovias Raposo Tavares e Julio Budiski

Fonte: Google earth (2010).

A melhoria nas condições do tráfego, circulação de veículos, controle da

poluição do ar e sonora, sistema operacional e segurança no trânsito está prevista no

Plano Diretor do município, que em seus artigos 38 (incisos I e VII) e 40 (incisos II e III)

trata dos objetivos básicos para a política do sistema viário.

Além de todas as potencialidades da área no âmbito jurídico, para que se

confirme a viabilidade da construção no local é necessária a realização de um laudo

técnico composto por instrumentos que comprovem a viabilidade desta área, previsto

no artigo 10, parágrafo 1º: “O Parecer Técnico de que trata o artigo deverá enfocar as

vantagens e desvantagens sob os aspectos sociais, econômicos, urbanísticos e

ambientais”.

Como a nova área está localizada fora do centro urbano será preciso criar

algumas linhas de ônibus urbano para a nova rodoviária, sendo que um intervalo ideal

entre cada linha seria de 30 em 30 minutos. Isto deve ser possibilitado pelo fato que a

maioria das linhas de ônibus das cidades da região convergem para os terminais

urbano e rodoviário. Por isso que devem ser criadas linhas de ônibus entre o terminal

urbano e o novo terminal rodoviário para facilitar o acesso e a circulação de uma

maneira geral.

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Além das linhas alternativas, rumo à rodoviária, será necessário a criação de

um posto policial a fim de reforçar a segurança no local.

Figura 3: Construção do novo terminal rodoviário Fonte: Silva, 2009

Outro procedimento necessário é a elaboração de um EIA/RIMA. O EIA/RIMA é

um dos instrumentos da política nacional do meio ambiente e foi instituído pela

RESOLUÇÃO CONAMA N° 001/86, de 23 de janeiro de 1986. O estudo de impacto

ambiental e o Relatório permeiam todo o Estatuto da Cidade e o Plano Diretor

Municipal, já que as obras realizadas no município não podem ocorrer sem que haja o

laudo técnico e o estudo prévio relacionado ao meio ambiente.

O ordenamento e o cumprimento da função social da cidade (que norteia todas

as leis acerca do urbano), previsto no artigo 2º do Estatuto da Cidade em seu inciso

XII, trata da proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e

construído.

No Plano Diretor de Presidente Prudente, existe também, a preocupação com

relação às questões ambientais. No capítulo V, que trata Das Leis Específicas e

Complementares, em seu artigo 6º, menciona as leis específicas e complementares do

Plano Diretor, sendo o primeiro inciso, “proteger e preservar o meio ambiente”,

portanto, de grande importância. A área escolhida para instalação da nova rodoviária

será sujeita ao EIA/RIMA, por ser considerado de significativo potencial de

degradação, já que possui os seguintes córregos: Botafogo, Cedro e Cedrinho. Os

córregos mencionados encontram-se em processo de degradação devido ao

desmatamento das matas ciliares, acarretando seu assoreamento. Porém, mesmo

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com esses problemas, se todas as etapas do projeto forem cumpridas fielmente, os

problemas poderão ser resolvidos e a área estará apta a receber a rodoviária.

De acordo com o CÓDIGO FLORESTAL ESTADUAL, é proibida a supressão

parcial ou total das matas ciliares e das vegetações de preservação permanente

definida em lei e reserva florestal do artigo 9º desta Lei, salvo quando necessário à

execução de obras, planos ou projetos de utilidade pública ou interesse social,

mediante a elaboração prévia do EIA-RIMA e licenciamento do órgão competente e

Lei própria. A Lei Complementar nº 153/2008, que rege o zoneamento urbano no

município de Presidente Prudente, estabelece os limites para as Zonas de

Preservação e Proteção Ambiental – ZPPA, que tem como finalidade a

(...) preservação e proteção de mananciais, fundos de vales, nascentes, córregos, ribeirões, matas e vegetações nativas. Quaisquer obras nestas zonas restringem-se a correções de escoamento de águas pluviais, saneamento, combate à erosão ou de infra-estrutura, e equipamentos de suporte às atividades de lazer e recreação (artigo 23).

Para um dos córregos presentes na área selecionada – Córrego do Cedro –

qualquer construção deve manter trinta metros do leito do córrego e de seus efluentes.

Dessa forma, a construção da rodoviária seria estabelecida de acordo com este limite,

respeitando o laudo técnico apresentado, a fim de preservar os cursos d’água

presentes nessa área. No que tange as matas ciliares, estas também seriam

preservadas, levando-se em conta as Áreas de Preservação Permanente, firmando

para isto, uma parceria junto à prefeitura municipal a fim de conscientizar a população

acerca da importância da preservação do meio ambiente, por meio da educação

ambiental, de acordo com o Plano Diretor de Presidente Prudente, em seu artigo 35,

trata da política ambiental, tendo com um de seus objetivos o

(...) desenvolvimento de atividades educativas, junto à comunidade... (formando ainda), uma consciência pública sobre a necessidade de preservação e manutenção da qualidade ambiental e equilíbrio ecológico. (incisos V e VI).

Todos os estudos de impacto ambiental também estão respaldados pela

política do sistema viário de trânsito – contidas no Plano Diretor – no artigo 40, que em

seu inciso VII, menciona que a política do sistema viário e do trânsito será

compatibilizada com a política de uso e ocupação do solo e ambiental.

O Estudo de Impacto de Vizinhança assim como o Estudo de Impacto

Ambiental são estudos prévios que podem ser aplicadas na área escolhida para que

nela possam ser construídas edificações correspondentes as características do

entorno do local, principalmente no que diz respeito à qualidade de vida da população

residente nas proximidades, levando em conta os efeitos positivos e negativos do

empreendimento.

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Este estudo é previsto no Estatuto da Cidade, nos artigos 36 e 37, sendo que

este em seus incisos coloca a análise de alguns quesitos com relação às variáveis

presentes no EIV/RIV, são elas: adensamento populacional; equipamentos urbanos e

comunitários; uso e ocupação do solo; valorização imobiliária; geração de trafego e

demanda por transporte público; ventilação e iluminação e, paisagem urbana e

patrimônio natural e cultural.

O local escolhido é classificado segundo o zoneamento urbano municipal como

ZR1 - Zona Residencial de Baixa Densidade Populacional, de ocupação horizontal, por

isso, não terá grandes impactos com relação à vizinhança, já que as residências

existentes são distantes umas das outras. Além disso, o local escolhido para a

instalação do terminal rodoviário municipal fica em uma área mais distante tanto das

residências como do aeroporto, obedecendo a normas estabelecidas pelo Ministério

da Aeronáutica e pelo poder municipal.

Figura 5: Mapa do zoneamento da área de construção da nova rodoviária FONTE: Silva, 2009

Devido à construção do novo terminal rodoviário municipal, o antigo prédio terá

uma nova função, já que, segundo o Estatuto da Cidade e o Plano Diretor de

Presidente Prudente, todo imóvel urbano deve cumprir sua função social.

A nova finalidade atribuída ao local diz respeito à instalação do “shopping

popular”, que tem como característica o comércio variado de mercadorias. Esta

proposta está de acordo com o que prevê a Lei Complementar nº 153/ 2008, que trata

do zoneamento municipal, já que a área é caracterizada como Zona de Comércio e

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Serviço Central, de ocupação vertical, a qual é denominada ZCS1, cuja definição está

exposta no parágrafo único do artigo 21:

(...) as atividades características de centro urbano principal da cidade. Visa a maior variedade possível de ofertas de comércio varejista, serviços, pontos de encontro e convívio social, bem como o uso residencial multifamiliar vertical e horizontal. É uma zona de alta densidade, tanto fixa quanto flutuante.

O shopping popular será composto por trabalhadores informais, que serão

regularizados pela prefeitura municipal, os quais estão localizados atualmente na

“Praça da Bandeira”, Avenida Brasil – Centro de Presidente Prudente. O prédio foi

escolhido por ter uma estrutura adequada para esse tipo de comércio, devido às

repartições internas que são a base dos futuros boxes (locais de trabalho dos

camelôs), diminuindo os custos na adequação do local para a nova finalidade

atribuída.

Além disso, o prédio possui um grande pátio, que hoje é utilizado para o

embarque e desembarque dos passageiros, que será aproveitado como

estacionamento para os clientes do “shopping popular”.

Com a transferência do “shopping popular” para o prédio da antiga rodoviária, a

Praça da Bandeira (praça esta onde se localiza a rodoviária atual de Presidente

Prudente) ficaria livre, cumprindo sua função social que corresponde ao lazer, que

deverá ser revitalizada. Afinal, segundo o Plano Diretor de Presidente Prudente, no

artigo 6º, inciso IV, há uma incompatibilidade no uso do solo, pois esta área é

estabelecida como área de lazer e não comercial, que segundo o zoneamento urbano

do município é estabelecida como área de recreação e lazer, dentro da chamada Zona

Especial – ZE.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O atual terminal rodoviário de Presidente Prudente, por estar localizado em

uma área há poucas quadras do centro, causa alguns transtornos no trânsito, por isso

a melhor solução seria deslocá-lo para uma área de mais fácil localização, que não

dificultasse o acesso a este local.

Para o vazio urbano selecionado, estipulou-se a finalidade da construção do

novo terminal rodoviário para que dentre as demais justificativas apresentadas neste

trabalho, cumpra sua função social, tornando-se mais que um instrumento para a

especulação imobiliária, tendo de fato, uma função na cidade, a fim de melhorá-la, o

que nesta proposta ocorrerá com o trânsito da cidade.

O prédio da rodoviária, adquirindo nova função, possibilitará a aproximação do

comércio variado já existente, onde parte já foi deslocada para o antigo bingo da

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cidade que fica próximo à rodoviária. Esse deslocamento do comércio, além de

garantir a função social, possibilitará gasto reduzido de despesas do município em

readequar o prédio da rodoviária, já que este é propício para esta atividade.

Enfim, o foco principal na elaboração de um projeto deve ser que a função

social dos espaços da cidade seja cumprida para que esta funcione de maneira

eficiente para todos os habitantes que nela residem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANASTASSAKIS, D. Sustentabilidade das cidades. In: Revista do CONFEA, n. 20,

2004.

CALSING, Eliseu F. Planejamento Econômico-Social e Trópico – Biblioteca Virtual de

Tropicologia, In: Seminário de Tropicologia: Questões da Atualidade Brasileira.

Anais da Fundaj, Massangana-1986.

Constituição Federal de 1988. Lei nº 10.257/2001 – Estatuto da Cidade. Brasil, 2001.

LIMA, R. da S. Expansão urbana e acessibilidade – o caso das cidades médias

brasileiras. Dissertação de Mestrado, 1998, São Carlos.

NUNES, João Osvaldo Rodrigues; SAMIZAVA, Tiago Matsuo; KAIDA, Rodrigo Hiroshi.

Estudo da dinâmica da paisagem em uma área do município de Presidente Prudente –

SP: uma proposta de Zoneamento Ambiental Urbano. Anais do XI Simpósio

Brasileiro de Geografia Física Aplicada. Setembro de 2005.

Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Lei Complementar nº 151/2008 dispõe

sobre a Lei do Plano Diretor do Município de Presidente Prudente. Presidente

Prudente, 2008.

Prefeitura Municipal de Presidente Prudente. Lei Complementar nº 153/2008 dispõe

sobre a Lei de Zoneamento do Uso e Ocupação do Solo da Área Urbana do

Município de Presidente Prudente. Presidente Prudente, 2008.

SOARES, Ubiratan P. Procedimentos para localização de Terminais Rodoviários

Interurbanos, Interestaduais de Passageiros. Dissertação de Mestrado, Rio de

Janeiro, 2006.