tratamento e conversÃo de problemas aritmÉticos: experiÊncia com um objeto de aprendizagem
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Trabalho apresentado no XX Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste (EPENN). Para citá-lo: MORAIS, Marcia de Oliveira; SILVA, Silvana Holanda da; SILVA, Maria Auricélia; MAIA, Dennys Leite. Tratamento e conversões de problemas aritméticos: experiência com um objeto de aprendizagem. In: Anais do XX EPENN. Manaus: VALER, 2011.TRANSCRIPT
TRATAMENTO E CONVERSÃO DE PROBLEMAS ARITMÉTICOS:EXPERIÊNCIA COM UM OBJETO DE APRENDIZAGEM
Márcia de Oliveira MORAIS*
Silvana Holanda da SILVA**
Maria Auricélia da SILVA***
Dennys Leite MAIA****
RESUMO
A compreensão das estratégias desenvolvidas pelos alunos durante a resolução de situações-problema e as representações que constroem para a elaboração do seu raciocínio têm sido objeto de estudo de educadores, com vistas à elevação dos níveis de aprendizagem em Matemática. Este trabalho discute a aprendizagem de conceitos matemáticos a partir da utilização do Objeto de Aprendizagem (OA) É o Bicho! e tem como objetivo analisar os tratamentos e conversões efetuados por alunos do 5º ano do Ensino Fundamental na resolução de problemas aritméticos com auxílio de um objeto de aprendizagem. O aporte teórico eleito para a fundamentação contempla a teoria de Raymond Duval quanto ao registro das representações semióticas para a resolução de problemas matemáticos. A experiência foi desenvolvida em uma escola da rede municipal de ensino de Fortaleza, com quatro alunos do 5º ano do Ensino Fundamental escolhidos aleatoriamente. O acompanhamento das atividades foi feito através da observação direta dos alunos no Laboratório de Informática Educativa durante a resolução de situações-problema utilizando o OA É o Bicho!. Observou-se que o referido objeto de aprendizagem constitui recurso favorável à apreensão dos conceitos de adição e subtração.
Palavras-chave: Aritmética - Educação Matemática - Objeto de aprendizagem - Registros de Representação Semiótica.
INTRODUÇÃO
A compreensão dos conceitos de adição e subtração vão-se formando ao longo da
vida, a partir dos primeiros contatos que a criança trava com o mundo ao seu redor. Ainda que
não tenha consciência da presença dos cálculos no cotidiano, a criança é capaz de realizar
diversas operações, porque a Matemática está presente na atividade humana em situações
simples e complexas.
Assim, quando se pensa no porquê de a Matemática fazer parte do currículo
escolar, várias justificativas podem ser apresentadas: a Matemática é utilizada em atividades
práticas, envolve aspectos quantitativos da realidade, desenvolve o raciocínio lógico, dentre
outras. Contudo, essas expectativas nem sempre são atendidas no cotidiano escolar. Toledo e
* Especialista em Tecnologias em Educação. E-mail: [email protected]. EMEIF Professor Jacinto Botelho.
** Mestre em Educação. E-mail: [email protected]. Grupo de Pesquisa Matemática e Ensino (MAES).
***Mestre em Educação. E-mail: [email protected]. Doutorado em Educação Brasileira da Faculdade de Educação (FACED) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
****Pedagogo. E-mail: [email protected]. Curso de Mestrado Acadêmico em Educação (CMAE) da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Integrante do MAES. Bolsista CAPES.
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Toledo (1991, p. 10) apresentam algumas razões desse descompasso com as seguintes
possibilidades: “método de ensino inadequado, falta de uma relação estreita entre a
Matemática que se aprende nas escolas e as necessidades cotidianas; ou defasagem da escola
quanto aos recursos tecnológicos mais recentes”.
É suficiente observar que os alunos frequentam o mesmo modelo de Escola do
Século XVIII, tanto sobre o aspecto do espaço físico, quanto das práticas pedagógicas. É
necessário que a escola procure adequar-se ao contexto tecnológico a qual a sociedade está
inserida. No caso da Matemática, diversas pesquisas atestam que os conceitos matemáticos
podem ser melhor introduzidos com auxílio de recursos digitais. Borba e Penteado (2010)
observam que a informática educativa pode proporcionar mudanças significativas na prática
educativa, otimizando as aulas de Matemática.
Para tanto, as práticas educativas devem ser pautados em teorias de aprendizagem
que as fundamentem. Na Educação Matemática, a proposta cognitivista de Raymond Duval
tem ganhado espaços nas discussões sobre a aprendizagem Matemática. Para o teórico para a
compreensão de um conceito é imprescindível uma representação do objeto matemático. A
Matemática só se dá a conhecer através de suas representações semióticas. Este processo é
permeado por três atividades cognitivas, quais sejam: formação, tratamento e conversão.
Considerando que estes processos cognitivos também são contemplados pela
informática educativa, compreende-se que é necessária uma investigação no sentido de
evidenciar como elas ocorrem. Para tanto, neste trabalho, objetiva-se analisar os tratamentos e
conversões efetuados por alunos do 5º ano do Ensino Fundamental na resolução de problemas
aritméticos com auxílio de um objeto de aprendizagem.
REPRESENTAÇÕES SEMIÓTICAS E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
A Teoria dos Registros de Representação Semiótica foi desenvolvida por
Raymond Duval (1995). Nela o autor discute a noção de representação com a finalidade de
analisar a influência do registro dos objetos matemáticos sobre a sua compreensão, o que está
diretamente vinculado aos processos de ensino e de aprendizagem da Matemática. O
funcionamento cognitivo do pensamento considera as mudanças de registros de representação
semiótica, em sua importância, tanto no aprendizado da Matemática quanto da língua materna.
A peculiaridade da aprendizagem da Matemática faz com que as atividades
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cognitivas requeiram o uso de sistemas de expressão e de representação específicos do que os
de língua natural ou imagens.
Os Registros de Representação Semiótica (RRS) utilizam diferentes linguagens ou
sistemas simbólicos para representar o objeto matemático e efetivar a sua compreensão. Essas
representações podem dar-se no registro dos números, da língua materna ou natural, das
gravuras, das figuras geométricas, da álgebra, dos gráficos, das tabelas das linguagens formais
(SOUSA, 2009).
De acordo com Barreto e Sousa (2009, p. 6), as representações semióticas, são
entendidas como
(…) produções constituídas pelo emprego de signos, utilizadas para expressar, objetivar e tratar as representações mentais, isto é, o conjunto de concepções de um indivíduo acerca de um objeto ou situação. Segundo o autor, o objeto matemático somente se dá a conhecer por meio de suas representações, em distintos registros de representação.
Duval (1995) anuncia que para a compreensão do funcionamento cognitivo do
pensamento há que se considerarem dois elementos indispensáveis: a semiósi (representação
do objeto matemático) e a noési (compreensão do objeto matemático). Não existe nóesi sem
semiósi. Assim, para que haja aprendizagem matemática faz-se necessária a articulação entre
as diferentes formas de representação provocando avanços sobre a compreensão do objeto
matemático, por parte do sujeito cognoscente. Duval apresenta ainda três atividades cognitivas
favorecidas pelas representações semióticas: formação, tratamento e conversão.
A primeira atividade, diz respeito à formação de representações num registro
semiótico particular, seja para “exprimir” uma representação mental, seja para “evocar” um
objeto real (DUVAL, 2009). Para formar uma representação é necessário respeitar as regras de
conformidade, característica do registro específico em que se está trabalhando, isto é, “aquelas
que definem um sistema de representação e, por consequência, os tipos de unidades
constitutivas de todas as representações possíveis num registro (DUVAL, 2009, p. 55). Não é
possível, por exemplo, formar um registro fracionário, se não se seguem as regras que
estabelecem as relações entre todo e parte, entre numerador e denominador.
A segunda atividade cognitiva é a de tratamento. Duval atesta que:
Um tratamento é a transformação de uma representação obtida como um dado inicial em uma representação considerada como terminal em relação a uma questão, a um problema ou a uma necessidade, os quais fornecem o critério de parada na série de transformação de representação interna a um registro de representação ou a um sistema (DUVAL, 2009, p. 56-57).
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Essa atividade consiste, portanto, na realização de transformações que acontecem
internamente a um registro e obedecem a regras de expansão. São regras que permitem a
expansão da informação, favorecendo outra representação, mas ainda no mesmo registro que o
de partida. Por exemplo, a resolução da expressão aritmética 1/2 + 1/4 impõe o conhecimento
de regras próprias, sem as quais não se resolverá a contento a expressão, não chegando à
resposta 3/4. A proposta inicial do problema foi colocada no registro aritmético e a sua resposta
se encontra no mesmo registro, podendo-se falar que houve apenas um tratamento.
A terceira atividade é a conversão. Segundo Duval (2009, p. 58) converter é
“transformar a representação de um objeto, de uma situação ou de uma informação dada num
registro em uma representação desse objeto, dessa mesma situação ou da mesma informação
num outro registro”. A conversão diferentemente do tratamento, acontece externamente em
relação ao registro de partida.
Voltando ao exemplo anterior da soma das frações 1/2 + 1/4, pode-se optar por
converter a escrita fracionária em uma escrita decimal. Assim a expressão se transformaria em
0,5 + 0,25. Entretanto, recorrer à mudança de registro exige conhecer regras de conversão,
sem as quais os elementos trazidos de um registro para o outro serão desvirtuados. A falta de
domínio das regras de conversão pode levar indivíduos a converterem a primeira expressão,
em algo como: 1,2 + 1,4, sem perceber que já não se trata mais dos mesmos objetos
matemáticos registrados originalmente.
A compreensão Matemática está relacionada com a diversificação de registros de
representação. Essa diversidade permite uma compreensão global do objeto matemático e
rompe com o enclausuramento da aprendizagem em um único registro de representação
(monorregistro), possibilitando aos aprendentes fazer associações conceituais e não confundir
o objeto matemático com sua representação. Todavia, Duval (2009, p. 63) assegura que “a
conversão das representações semióticas constitui a atividade cognitiva menos espontânea e
mais difícil de adquirir para a grande maioria dos alunos”. Assim, o autor considera que a
atividade de conversão é tão fundamental quanto às atividades de formação e tratamento, e
que, no entanto, a Escola não lhe dá a devida atenção, por acreditar que ela se dá de forma
espontânea.
O autor reitera que o uso de vários sistemas semióticos de representação é
indispensável para a realização de necessárias atividades cognitivas na construção conceitual
de um objeto matemático. Entretanto, é preciso diferenciar um objeto matemático de sua
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representação. Por exemplo, o número “meio” pode ser representado em forma decimal,
fracionária, língua materna ou desenho. No entanto, compreender efetivamente esse número é
perceber que, em cada uma destas representações está presente o mesmo número, a mesma
ideia. Para Duval (2009), a confusão entre um objeto e sua representação, provoca perda na
sua compreensão.
Diante da relevância das conversões para a aprendizagem da Matemática, é
necessário considerar os problemas específicos ligados a elas: os fenômenos da
congruência/não-congruência. Estes fenômenos estão relacionadas à proximidade ou
distanciamento estabelecidos entre o registro de partida e o registro de chegada.
Numa situação de congruência há uma correspondência semântica e não existe a
presença de palavras que levariam à confusão na interpretação da situação e consequente
resolução da mesma. A correspondência do enunciado com desenho facilita a obtenção da
resposta. Por sua vez, uma situação de não-congruência pode levar à compreensão errônea do
problema, já que não promove uma relação direta do enunciado com a organização de solução
da situação.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa foi realizada numa escola pública da rede municipal de Fortaleza,
tendo como sujeitos da investigação quatro alunos do 5º ano do Ensino Fundamental
escolhidos aleatoriamente.
A aplicação do OA É o Bicho! aconteceu no Laboratório de Informática Educativa
da referida escola. O aplicador explicou para cada aluno o funcionamento do OA e propôs as
situações-problema, que foram resolvidas individualmente. À medida que os alunos iam
resolvendo as atividades, as telas eram capturadas através do Print Screen para posterior
análise. Vale salientar que os alunos não apresentaram dificuldades na manipulação do OA e
demonstraram bom nível de leitura.
O objeto de aprendizagem utilizado foi desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa e
Produção de Ambientes Interativos e Objetos de Aprendizagem (PROATIVA) da
Universidade Federal do Ceará. O grupo desenvolve objetos de aprendizagem (atividades
multimídia, interativas, na forma de animações e simulações) e realiza pesquisas sobre a
utilização desses objetos na escola1.
1 Informações disponíveis em: <http://www.proativa.vdl.ufc.br>. Acesso em 13jun2011.
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O objeto de aprendizagem É o Bicho! tem como objetivos: interpretar e refletir
sobre os resultados das situações-problema; relacionar as atividades de adição e subtração
como algo indissociável; comparar as relações entre tabelas e gráficos; ler e interpretar dados
(tabelas e gráficos); estimular contagem um a um e contagem por agrupamento; representar
quantidades (com símbolos arbitrários e convencionais); registrar quantidades usando os
símbolos numéricos; quantificar: mais, menos, igual, total; trabalhar com ideias de
classificação, ordenação e seriação; estabelecer relações entre número e quantidade.
O É o Bicho!2 utiliza representação numérica, figural e escrita na língua materna.
Tem como tema os animais da fauna brasileira em extinção e se divide em quatro atividades,
denominadas da seguinte forma: peixe-boi, tamanduá bandeira, onça pintada e macaco
barrigudo. Na atividade do peixe-boi, o aluno classifica os animais de acordo com sua
espécie; em seguida compara e faz a união dos elementos, trabalhando com soma e subtração;
na atividade do tamanduá bandeira, o aluno utiliza setas para levar o tamanduá até o
formigueiro e, em seguida, conta quantas vezes andou para baixo, para cima, para a esquerda
e para a direita; na atividade da onça pintada o aluno ajuda a limpar o rio para que a onça
pintada possa beber água. Para isso, pega os objetos que estão no rio e os separa em uma
tabela que se encontra à esquerda da tela. Após separar todo o material, responde alguns
desafios sobre essa atividade; finalmente, a atividade do macaco barrigudo possui duas etapas
com o objetivo de trabalhar com adição e subtração das partes. Na primeira etapa, o aluno
precisa equilibrar um dos lados da árvore, montando a estrutura da adição e, na segunda, para
equilibrar os galhos, ele monta uma estrutura de subtração.
ANÁLISE DOS RESULTADOS
A análise dos dados discutidos, neste artigo, considerou os conceitos apresentados
por Duval (1995) no tocante às transformações de tratamento e conversão, bem como aos
níveis de congruência apresentados nos problemas apresentados aos alunos. Na realização da
atividade de conversão, é necessário atender, inicialmente, os níveis de congruência existentes
entre o problema inicial de partida (no registro escrito) e o registro de chegada (registro
numérico).
Os alunos registraram suas respostas no próprio objeto de aprendizagem
2 Informações disponíveis em: <http://www.proativa.vdl.ufc.br/oa/ehobicho/guia_ehobicho.pdf> Acesso em 13jun2011.
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escolhido, É o Bicho!, fazendo uso das ferramentas funcionais presentes no recurso. Em todas
as situações, os registros escolhidos pelos alunos analisados para tratar os problemas, ou seja,
para o qual eles os converteram, foi apenas o aritmético.
Na introdução ao uso do objeto de aprendizagem É o Bicho!, existem quatro
animais a serem escolhidos e conhecidos pelo usuário do recurso (Figura 01). De acordo com
a opção escolhida, são apresentadas, além de curiosidades sobre os animais, situações-
problema de Matemática para serem respondidas. Sobre essas questões propostas é que
repousam as análises deste trabalho.
Figura 01: Tela inicial do OA É o Bicho!
Iniciando pelo peixe-boi, a proposta da atividade é que os alunos arrastem os
filhotes de animais para junto de suas respectivas mães, salvando-os das redes de pescadores.
Todos os alunos realizaram com êxito essa primeira ação (Figura 02). Em seguida, foi
solicitado aos participantes que quantificassem cada espécie de filhote. Nesse caso, também, o
sucesso dos alunos foi unânime. Somente a partir da proposição de problemas envolvendo
esses dados, é que foi possível perceber dificuldades em encontrar a solução.
Figura 02: Atividade com o peixe-boi.
Nessa situação, o conhecimento das relações de ordem temporal indicadas nos
enunciados foi identificado como necessário à conversão do registro escrito para o numérico
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no tratamento aditivo. A análise da atividade revelou que os sujeitos não tiveram dificuldade
de entender o conceito envolvido na operação de adição, mas esbarraram no baixo nível de
congruência do enunciado.
Nas questões em que se indagava: “qual o total?”, “ao todo quantos?”,
“quantos...?”, não houve nenhum obstáculo de resolução por parte dos alunos. No entanto,
quando as perguntas usavam a expressão: “quanto a mais que...?” todos os alunos envolvidos
confundiram-se e realizaram uma soma, quando deveriam ter feito a operação inversa da
adição, a subtração.
Em outro momento dessa mesma atividade, o OA permitiu que os alunos
analisassem suas respostas e consertassem o erro. O recurso dos desenhos auxiliou os alunos
na análise comparativa que envolvia a questão. Assim, após analisarem o erro cometido, os
alunos A1 e A4 conseguiram chegar ao resultado, o que não aconteceu com os alunos A2 e
A3.
Na atividade envolvendo o tamanduá, os alunos deveriam ajudar o animal a
chegar ao formigueiro, indicando o caminho mais curto (Figura 03).
Figura 03: Atividade do tamanduá.
O tamanduá se locomove através dos comandos das setas do teclado e, durante seu
movimento, a cada passo dado aparece um quadrado marcando o caminho realizado. Após a
chegada ao formigueiro, são lançadas três perguntas: “Quantos passos o tamanduá deu para
cima? Para baixo? Para a direita?” Para registrar suas respostas, os alunos têm um espaço no
canto superior esquerdo da tela, como fez A1 (Figura 04).
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Figura 04: Resposta de A1 para a atividade do tamanduá.
Nessa atividade, os tratamentos efetuados pelos alunos consistiam em conferir na
figura as setas, relacionando-as com a posição para, em seguida, realizar a operação de adição.
Os alunos A1 e A2 obtiveram êxito em todas as respostas. Os dois não tiveram dificuldade em
entender os comandos apresentado em registro escrito e em utilizar as informações gravadas
pelo OA durante o registro do caminho percorrido pelo tamanduá. Tampouco encontraram
obstáculos para efetuar as somas, demonstrando, assim, compreender bem a noção de adição.
Nota-se nessa situação que a alta congruência dos enunciados das questões é auxiliada ainda
pelo registro do desenho presente no OA. Por outro lado, os alunos A3 e A4 não obtiveram
êxito em suas respostas.
O aluno A3 demonstrou imaturidade para relacionar todas as informações contidas
na questão. Primeiro, não compreendeu as informações pelo registro de partida (escrito) nas
quais deveriam contabilizar as setas e realizar a soma. Suas respostas indicaram que realizou a
soma pelo número de vezes em que visualizava cada seta no desenho e não pelo número que
indicava quantas vezes caminhou em cada direção.
Por sua vez, o aluno A4 falhou em uma única questão na qual totalizou os passos
dados pela direita. Possivelmente, esse aluno confundiu-se com o número de parcelas
utilizadas no cálculo total: “3 + 3 + 2 + 2 + 2”, já que efetuou o cálculo mentalmente,
podendo ter deixado escapar uma unidade, ocasionando a sua resposta 11 ao invés de 12, que
seria a quantidade correta.
Em outra atividade proposta pelo OA, os alunos tinham a onça como animal a ser
explorado. Nessa situação, foi proposto que cada aluno limpasse o rio, retirando o material
que o poluía (latas, garrafas e pneus) para ajudar a onça a beber água (Figura 05). Nessa
primeira etapa, todos obtiveram sucesso, arrastando o lixo para seu devido lugar e
contabilizando o material coletado.
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Figura 04: Atividade da onça.
Na etapa seguinte dessa mesma atividade, os alunos deparam-se novamente com
uma situação de alta congruência do enunciado, como na atividade do peixe-boi. No entanto,
nessa situação, os alunos não tiveram dificuldade em responder, e todos acertaram as
respostas. Nesse caso, é possível que as várias tentativas de achar a resposta na atividade 1
tenham auxiliado os alunos a superarem a dificuldade presente no enunciado quando utiliza a
palavra “mais” para perguntar e os alunos deveriam diminuir para acertar.
Na última atividade proposta, o animal apresentado foi o macaco barrigudo. Nessa
situação, os alunos deveriam auxiliar os macacos a se deslocarem na árvore, descobrindo
quantos macacos faltavam para que os galhos ficassem com a mesma quantidade (Figura 05).
Figura 05: Atividade macaco barrigudo
Nessa situação, os alunos realizaram várias somas com o apoio do recurso dos
desenhos. Foi proposto que cada um realizasse até cinco somas antes de avançar para a
próxima fase na qual eles realizariam subtrações. Juntamente com o suporte dos desenhos, os
alunos contavam ainda com uma expressão numérica, com mostrou a Figura 05. Nessa
situação, os alunos deveriam escolher quais números completavam a sentença e equilibravam
os galhos.
Apesar de todos os alunos terem acertado as proposições, eles necessitaram de
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explicação para iniciar a atividade, não conseguindo efetuar a resolução a partir das
informações presentes no discurso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de resolução de situações-problema utilizando o OA É o Bicho!
demonstrou que os alunos ainda estão presos ao registro aritmético, mesmo quando têm a
possibilidade de fazer uso das representações figurais, como no uso do referido OA. Essa
situação pode estar relacionada ao trabalho realizado na escola, em que o algoritmo tem
privilégio sobre os demais tipos de representação.
O nível de congruência das situações propostas interfere diretamente no êxito dos
alunos quando de sua resolução. Muitas vezes os alunos compreendem os conceitos
envolvidos, mas a alta congruência do problema desvia o aluno da resposta correta. Contudo,
as representações figurais e a língua materna presentes no OA É o Bicho! favorecem a solução
das situações-problema pelos alunos.
Além dos aspectos citados, esse objeto de aprendizagem favorece a retomada das
situações mediante o refazimento dos problemas, oportunidade em que o aluno repensa as
soluções e faz novas tentativas, mediante os vários tipos de representação presentes no OA.
Diante disso, percebe-se que o tratamento e a conversão de problemas aritméticos
pode ser favorecida pelo uso de objetos de aprendizagem, especialmente o OA É o Bicho!, a
partir das situações propostas e da apresentação de diversos tipos de representação presentes
nesse recurso.
REFERÊNCIAS
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