teorias de enfermagem

39
REFLEXÃO ADEQUAÇÃO DE UM MODELO TEÓRICO DE ENFERMAGEM AOS CUIDADOS DE URGÊNCIA Vasco Filipe Pinto Penela Mestrado Enfermagem Médico-Cirúrgica Unidade Curricular de Enfermagem Evolução Histórica e Epistemológica Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Escola Superior de Saúde

Upload: vascopenela

Post on 04-Jul-2015

9.458 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Reflexão sobre a aplicabilidade de um modelo conceptual de enfermagem à urgência

TRANSCRIPT

Page 1: Teorias de enfermagem

REFLEXÃO

ADEQUAÇÃO DE UM MODELO TEÓRICO DE

ENFERMAGEM AOS CUIDADOS DE URGÊNCIA

Vasco Filipe Pinto Penela

Mestrado Enfermagem Médico-Cirúrgica

Unidade Curricular de Enfermagem

Evolução Histórica e Epistemológica

Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Escola Superior de Saúde

Abril 2011

Page 2: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

RESUMO

A urgência, caracteriza-se pela multiplicidade do tipo de doentes que recorrem à

mesma, enquanto muitos necessitarão de cuidados mais focalizados na descompensação

física, outros necessitarão de cuidados mais focados na descompensação psicológica ou

social ou então holisticamente necessitarão de cuidados que englobem abordagem

complexa com abrangência de todos os sistemas. A aplicação dos modelos teóricos de

enfermagem, nestas circunstâncias torna-se uma tarefa complicada, pois não há

adequação de apenas um modelo na sua integridade como sendo o mais acertado, e

também não existe nenhum modelo criado apenas para a adequação à urgência ou

doente crítico. Faz parte da evolução da enfermagem, a criação de modelos teóricos,

pois são estes que guiam a nossa prática na acção, naturalmente criados pela reflexão na

acção e por isso mesmo, quando as teorias deixam de se adequar às práticas, quer pela

evolução das mesmas ou quer por alguma mudança das circunstâncias ou da sociedade,

colocam-se de lado e criam-se outras.

Palavras-chave: Modelo teórico, evolução de enfermagem, reflexão

ABSTRACT

The emergency care unit is characterized for its multiplicity of people

pathologies that appeal to it, while many need focused cares in the physical needs,

others will need cares more focused in the psychological or social needs or then in

a holistic approach they will need cares that embrace a complex boarding with

focus to all the systems. The application of the theoretical models of nursing, in

these circumstances becomes a complicated task, therefore it doesn’t have

adequacy of only one model in its integral way as being the most correct, and also

it does not exist no model made only for the adequacy to the emergency or critical

care. It is part of the nursing evolution, the creation of theoretical models, they are

the guide to the practice, of course created by the reflection in action and

therefore, when the theories are no longer adjusted to the practices, caused either

by its evolution or for some change of the circumstances or of the society, they are

discarded and created others.

Key Words: Nursing theory, nursing evolution, reflection.

2Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 3: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

ÍNDICE

1- INTRODUÇÃO 4

2- CONTEXTUALIZAÇÃO 5

3- CONCEPTUALIZAÇÃO 6

3.1 Breve Abordagem Histórica 6

3.2 Breve Abordagem aos Modelos Teóricos 6

3.2.1 Florence Nightingale 7

3.2.2 Hildegard Peplau 7

3.2.3 Virgínia Henderson 8

3.2.4 Dorothea Orem 8

3.2.5 Dorothy E. Johnson 9

3.2.6 Faye Glenn Abdellah 10

3.2.7 Ida Jean Orlando 11

3.2.8 Imogene M. King 12

3.2.9 Martha Rogers 12

3.2.10 Irmã Callista Roy 14

4- REFLEXÃO 15

4.1 Definição de estratégias de escolha 15

4.2 Caracterizando os cuidados 17

4.3 Adaptação da teoria à prática 19

5- CONCLUSÃO 22

BIBLIOGRAFIA 23

3Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 4: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

1- INTRODUÇÃO

Dia a dia apresentamo-nos no serviço de urgência, no nosso local de trabalho, no

meio da azáfama de doentes e cuidados, é inquestionável o exercício mental ininterrupto

sobre os cuidados de enfermagem que estamos a prestar. No entanto, será reflexão na

acção, reflexão para a acção ou nem um nem outro, será apenas pensar para actuar?

Será que muitos de nós, já parámos realmente para pensar sobre que tipo de

cuidados enfermagem que prestamos aos nossos clientes, que teoria ou modelo

conceptual utilizamos para orientar a nossa prestação de cuidados.

Visto que a evolução da enfermagem, movido pelos contextos socioculturais,

políticos, filosóficos, económicos e tecnológicos, exigiu dos seus profissionais, a

concepção de modelos teóricos que dessem sustentação às suas práticas, na mesma

medida que a criação desses mesmo modelos contribuíram novamente para a evolução,

autonomia e identificação da enfermagem como ciência, como podemos nós agora

sequer ousar não os utilizar, ignorando-os como filhos que ignoram quem os gerou?

Sinceramente eu não, por isso mesmo parto para este trabalho com uma

motivação acrescida, de forma a eliminar a minha ignorância, que me fragiliza enquanto

enfermeiro, que se julgando responsável e competente, desenvolvia os cuidados pelo

que achava que sabia e não pelo que efectivamente deveria saber.

Cabe-nos então, reflectir sobre as nossas práticas, com o objectivo de nos

situarmos como enfermeiros do séc. XXI, adaptando-nos às exigências dos nossos

tempos, dos nossos doentes, pessoas, que não vão exigir mais de nós senão o cuidar.

Citando (Colliére 1989, p. 306) “(…) Cuidar será mobilizar em alguém o que

vive, tudo o que é portador de vida, toda a sua vitalidade, o seu vital poder, como

Florence Nightingale gostava de dizer, isto é, todo o seu potencial de vida, mas também

toda a vida que tem em potência e que pede para se desenvolver como na criança ou

toda a vida que existe em potência até ao limiar da morte, não para prolongara todo o

custo, mas para procurar aquilo que a pessoa ainda dá valor. Com aquele olhar a uma

pessoa querida, aquela mão que ainda deseja tocar.”

4Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 5: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

2- CONTEXTUALIZAÇÃO

O campo de estudo e intervenção é o OBS do Serviço de Urgência do Hospital

de Santa Luzia do ULSAM, que é constituído por uma equipa de 18 elementos na

prestação de cuidados e um chefe. Fisicamente é constituído por uma ala única em

forma de L, com 15 cama individualizadas por cortinas, sendo que 5 camas são

eléctricas e 10 são mecânicas, constituindo um tipo de boxes, dotadas de uma saída de

oxigénio, uma de vácuo, uma de ar e têm 8 tomadas eléctricas por cama.

Na zona central, nas camas 7 a 11, onde se encontram as camas eléctricas, estão

igualmente dotadas de um monitor fixo sobre a cama, tendo a cama 7 a particularidade

de ser usada para a ocupação de doentes com necessidade de ventilação invasiva, por a

ela estar associada o ventilador.

Os turnos têm a dotação de três enfermeiros, independentemente ser noite,

manhã ou tarde, sendo um destacado como enfermeiro responsável do turno, excepto

nos que coincidem com a presença no mesmo da chefia.

Existe na Urgência Geral, um tipo de triagem, feita pelos Enfermeiros para

colocar um doente no OBS, que nos transcende em termos de decisão, opção, escolha,

na compreensão assim como na perspectiva da necessidade de cuidados diferenciados

desses doentes, uma vez que não existem critérios de admissão definidos. Assim é

muito frequente que os doentes admitidos no OBS o sejam não pela necessidade de

maior vigilância, de cuidados diferenciados, de monitorização hemodinâmica, ou de

fluidos, ou de consciência, mas apenas pelo seu grau de dependência.

Esta característica que define o tipo de doente a admitir no OBS, acaba também

por definir o tipo de cuidados prestados, sendo uma unidade destinada à estabilização

do doente crítico, acaba por ser uma unidade em que a maior parte dos doentes tem na

sua maior dependência a necessidade de higiene e conforto.

5Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 6: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

3- CONCEPTUALIZAÇÃO

3.1 Breve Abordagem Histórica

Numa retrospectiva histórica, da origem e evolução da enfermagem, damo-nos

conta da sua existência, em tempos imemoriais, baseando-se na sua essência como

refere Wanda Horta (1979, p. 3)“o Ser-Enfermeiro é gente que cuida de gente”, com o

compromisso puro do desejo, de manter as pessoas saudáveis ou em melhorá-las o mais

possível, proporcionando o maior nível de autonomia possível.

Assim era no tempo das tribos, dos Xamãs por exemplo, mas numa perspectiva

mais simples e básica, também as mães aprendem a “cuidar” dos seus filhos através dos

ensinamentos das suas próprias mães e estas aprenderam por sua vez das suas e assim

foi ao longo dos tempos. Collière (1989) referia que, desde que tinha surgido a vida,

existiam cuidados porque é preciso (tomar conta) da vida para que ela possa

permanecer. Para que fosse garantida o perpetuar da espécie, da vida humana,

comprometida pela sua fragilidade.

Ainda segundo Collière (1999), os cuidados de enfermagem, estavam longe de

ser um ofício, muito menos uma profissão, estes diziam respeito a qualquer pessoa que

ajudava outro de forma a garantir-lhe o que precisava para a sua sobrevivência. Esta

formação inicialmente, seria uma formação na prática, com base na repetição, com uma

fundamentação teórica da prática pela prática, num ritual de passagem de informação

àquele que por vocação seguia as pisadas do seu antecessor.

A formação dos cuidados de saúde em enfermagem, evoluiu até aos nossos dias,

arrastada pela própria evolução da ciência, mas principalmente como fruto da reflexão

sobre si própria, acontecendo um passo decisivo aquando da passagem da vocação para

a profissionalização dos mesmos, contributo de Florence Nightingale, a quem nos

devemos como Enfermeiros como somos hoje, a quem devemos a nossa evolução para

o amanhã.

3.2 Breve Abordagem aos Modelos Teóricos

A formulação de modelos teóricos na Enfermagem reflecte a sua evolução no

sentido da autonomia, da definição e delimitação da abrangência das suas acções e da

fundamentação teórica da prática. Muitos teóricos influenciaram de forma determinante

6Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 7: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

o desenvolvimento da enfermagem como ciência. Abordarei de seguida algumas delas

que acho terem sido as mais pertinentes.

3.2.1 Florence Nightingale

Foi através de Florence Nightingale, que se deram os primeiros passos para a

profissionalização da enfermagem. Basicamente as enfermeiras estavam entre a vocação

e a profissionalização, como consequência os cuidados eram muito básicos,

fundamentalmente faziam aquilo que o médico lhes delegava.

O modelo de Nightingale, baseava-se no pressuposto de que as condições

externas eram capazes de prevenir doenças, suprimi-las ou contribuir para elas.

Algumas das condições que identificou eram a ventilação, o aquecimento, a luz, o ruído,

a limpeza, os esgotos e a nutrição, são exemplos de condições que ao se

desequilibrarem, provocariam alterações na pessoa comprometendo a sua recuperação e

a sua cura. De igual modo, também as condições precárias de higiene na casa das

pessoas e exterior, poderiam afectar a sua saúde. Citando (George, 2000, p. 35) “ Casas

mal construídas fazem com os saudáveis o mesmo que hospitais mal construídos fazem

com os doentes. Assegurando-se o ar estagnado, a doença certamente virá a seguir”.

(Nightingale, 1859/1992)

Apesar de ser muito limitada na sua perspectiva, é simultaneamente muito

generalista na sua aplicabilidade, uma vez que ainda hoje, podemos aplicar este modelo

com relativas melhorias para a saúde dos doentes.

A função do enfermeiro, seria além de equilibrar o meio ambiente, ser capaz de

oferecer as melhores condições possíveis ao doente para a natureza poder agir.

Focalizando o seu objectivo na recuperação mais rápida possível da sua independência.

Com os conhecimentos científicos que temos hoje, não seria coerente atribuir a

recuperação de uma doença, directamente aos factores ambientais, como sendo a

melhoria das condições de higiene, a iluminação, a nutrição adequada, o arejamento da

enfermaria, etc., mas ao pensarmos bem, tem algo de fundamental para o bem-estar dos

doentes e favorecedor à sua recuperação.

3.2.2 Hildegard Peplau

Por sua vez Hildegard Peplau, construi um modelo, que pelas suas

características, revela a sua vivência como enfermeira em Psiquiatria. Esta teoria

assente nos fundamentos do crescimento e do desenvolvimento, tem por base a relação

entre o enfermeiro e o doente, daí chamar-se teoria das relações interpessoais, que como

7Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 8: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

é referido em George (2000), a enfermagem pode ser encarada como sendo uma relação

interpessoal, uma vez que envolve a relação de duas ou mais pessoas, visando uma meta

comum. Era este o meio pelo qual se atingia a cura para os doentes, através da discussão

e do reconhecimento dos problemas, com estabelecimento de metas por acordo mútuo

até a resolução dos mesmos. Relação esta que se desenvolvia, especificamente com o

doente, ignorando o seu ambiente, meio social comunidade ou família, como referido

em George (2000).

3.2.3 Virgínia Henderson

A definição de Virgínia Henderson (1955) da enfermagem citada por (George,

2000, p. 62) “ A enfermagem, basicamente, é o auxílio ao indivíduo (enfermo ou em

boas condições) na realização daquelas actividades que favorecem a saúde ou a sua

recuperação (ou morte tranquila), que ele faria sozinho, caso tivesse força, a vontade

ou o conhecimento necessário. É, da mesma forma, singular contribuição da

enfermagem, a de auxiliar a pessoa a tornar-se independente desse auxílio o mais breve

possível” contém a essência pelo que a enfermagem é conhecida hoje. Constituída por

14 necessidades essenciais.

Na reflexão sobre as necessidades, conseguimos perceber que, o enfermeiro

apenas vai centrar a sua atenção sobre a necessidade afectada, substituindo a pessoa

nessa actividade, até que se torne independente. Baseados em aspectos físicos e

emocionais do indivíduo, segundo George (2000), reconhece uma falha importante na

concepção desta teoria, como sendo a falta de articulação entre as necessidades

agrupadas nestes dois grupos dos aspectos fisiológicos e as características humanas.

Fica portanto por apresentar um conceito holístico, sendo vago a forma como

Henderson articula entre si estas necessidades e por sua vez com o cuidado de

enfermagem.

Sabemos no entanto, que ainda hoje são usadas as 14 necessidades básicas para

fazer o levantamento dos diagnósticos de enfermagem, contribuindo para um cuidado

de qualidade, tanto na promoção, prevenção ou recuperação da saúde.

3.2.4 Dorothea Orem

A teoria de Dorothea Orem do autocuidado, segundo Meleis (2007) é a que tem

sido mais discutida e usada em Enfermagem. Segundo George (2000), nesta teoria o

enfermeiro providencia a assistência necessária à pessoa, quando esta é incapaz de

desenvolver o autocuidado, fazendo uma excepção adaptada às crianças, em que os

8Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 9: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

cuidados de enfermagem se tornam necessários quando os pais ou responsáveis não são

capazes de proporcionar a quantidade ou qualidade de cuidados necessários.

A sua teoria geral é composta por três teorias inter-relacionadas:

a teoria do autocuidado

teoria do deficit de autocuidado

teoria dos sistemas de enfermagem

A teoria do autocuidado inclui a capacidade humana em se cuidar, os factores

condicionantes básicos, a totalidade de acções de autocuidado necessárias e as três

categorias de requisitos de autocuidado: universal, desenvolvimentista e de desvio da

saúde.

A necessidade da enfermagem, fica definida na sua teoria do deficit do

autocuidado, que é segundo George (2000) o núcleo da teoria geral de enfermagem de

Orem.

Começamos a compreender que, por muito simples esta teoria pudesse parecer à

primeira vista, ela vai-se tornando mais complicada e intrincada, à medida que se vai

aprofundando. Segundo George (2000), embora seja uma teoria abrangente, extensa, a

interligação entre os conceitos propostos por Orem é facilmente compreensível, uma

vez que o conceito base de auto- cuidado tem uma aplicação universal e que é

facilmente transportado para a prática da Enfermagem.

Meleis (2007), refere que a teoria do autocuidado, potencia o envolvimento da

pessoa no processo do seu cuidar, pese embora que seja de uma forma dependente, pois

o processo e as metas são definidas pelo enfermeiro, espera-se no entanto que o doente

se envolva de modo a potenciar a suas capacidades de autocuidado e autonomia. Se por

outro lado o doente não quiser, preferindo que outros cuidem dele, ter-se-á que ajudar

ao mesmo a desenvolver o conceito da necessidade em ser um agente no seu cuidar.

3.2.5 Dorothy E. Johnson

Modelo de sistema comportamental em que se reconhecem sete subsistemas

como sendo a ligação e afiliação, dependência, ingestão, eliminação, sexualidade,

agressão e realização.

A teoria criada por Johnson, é de certa forma uma criação conjugada com a sua

aluna, Sister Calister Roy e Betty Neuman. Segundo Meleis (2007), Johnson definiu em

todas as suas publicações de metateorias e teorias que, o que diferencia a enfermagem

da medicina e de todas as ciências da saúde, é a perspectiva por parte da enfermagem do

9Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 10: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

doente como sendo um sistema comportamental. Assim sendo, define-se que a medicina

tem o seu enfoque na parte biológica do doente enquanto que a enfermagem apenas se

concentra na parte comportamental.

Apoia de certa forma as suas ideias nas concepções de Nightingale, notando-se à

semelhança desta o distanciamento directo da doença, no entanto enquanto Nightingale

se focava nas questões ambientais, Johnson referia-se ao comportamento como factor

controlador da doença. George (2000) refere que, a actuação da enfermeira recai sobre o

comportamento da pessoa, promovendo uma conduta eficiente e eficaz de modo a

prevenir a doença, apoiando-se também na Medicina e no modelo do sistema biológico,

enfoca a doença em si mesmo.

Meleis (2007) abordando a teoria de johnson, refere que o doente é então

reconhecido como um sistema comportamental, com múltiplos subsistemas, sendo

imperativo por parte da enfermagem, reconhecer aqueles que possam estar

dequilibrados podendo potêncialmente provocar uma doença ou a hospitalização.

Segundo ainda o mesmo autor (2007), a teoria de Johnson fornece uma definição muito

útil de pessoa, saúde, problemas de enfermagem, tratamentos de enfermagem, mas não

dá nenhum tipo de definição de processo de enfermagem, interacção ou ambiente.

Denota-se portanto que nesta teoria, existe um senão que se prende com o facto

de que a enfermagem apenas actua perante o reconhecimento de instabilidade, isto é,

apenas no processo de doença e não num estado de saúde para a promoção da mesma,

não tendo sequer em conta a parte fisiológica da pessoa.

3.2.6 Faye Glenn Abdellah

Conhecida pelos vinte e um problemas de enfermagem, desenvolveu o seu

trabalho com o objectivo em promover um cuidado abrangente e centralizado no doente.

Citando (George, 2000, p. 119) “…a enfermagem é baseada na arte e na ciência

moldada nas atitudes, na competência intelectual e nas habilidades técnicas individuais

da enfermeira, visando o desejo e a capacidade de ajudar pessoas, doentes ou sadias, a

enfrentarem as suas necessidades de saúde.”

Segundo Tomey & Alligood (2006), Abdellah pegou nas catorze actividades de

vida de Virginia Henderson e através da investigação em enfermagem, estabeleceu a

classificação dos problemas de enfermagem. No entanto difere de Henderson pelo facto

de estes problemas estarem focalizados nos cuidados de enfermagem, os quais são

usados para determinar as necessidades do doente.

10

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 11: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

Citando (George, 2000, p. 125) “Se a enfermeira ajudar o cliente a atingir todas

as metas declaradas nos problemas de enfermagem, ele será encaminhado à saúde.”

Através da reflexão sobre a teoria de Abdellah, depressa se chega a uma das

limitações do mesmo, que se prende com o facto de ao ser totalmente centrado na

enfermagem, deixa um pouco indefinido aquilo que o doente pretende para si ou os

objectivos em saúde a atingir. Outra limitação está no facto de se limitar à resolução de

problemas, e ao desintegrá-los do seu contexto, perde a noção de holismo, podendo daí

advir limitações no tratamento do doente.

3.2.7 Ida Jean Orlando

A teoria de enfermagem definida por Orlando, define-se como sendo de inter-

relação entre Enfermeiro e o paciente. Centrando-se no paciente como um indivíduo,

pessoa com características individuais, reagindo para situações similares e doenças

similares de maneira diferente. Meleis (2007) refere que o enfoque da teoria de Orlando

está na identificação e clarificação do processo de interacção durante o processo saúde

ou doença.

A actuação do enfermeiro é despoletada, pela observação do comportamento do

paciente, na sua expressão verbal e não verbal. Nesta última fazem parte as

manifestações fisiológicas como os sinais vitais, a sudorese, a eliminação, o edema, etc.,

sendo que estas podem ser influenciadas pela percepção, pelos pensamentos e

sentimentos em relação à conduta do doente, actuação esta que pode ser automática ou

profissional disciplinada.

Referente ao cuidado disciplinado, citando (George, 2000, p. 134) “apenas a

última leva ao cuidado de saúde efectivo, isto é, ao alívio do sentimento de desamparo

do doente”. Sendo que a primeira a automática, é desenvolvida sem tomar em conta as

necessidades efectivas do doente, como sendo por exemplo as prescrições médicas.

Assim, conseguimos chegar à conclusão que, o resultado esperado para a

intervenção da enfermagem, será a melhoria no comportamento do doente. Em que o

processo de enfermagem é despoletado pelo comportamento do mesmo. Segundo

Meleis (2007, p. 347) “quando um paciente não consegue lidar com as suas

necessidades sem ajuda, eles tornam-se stressados com sentimentos de impotência.”

(Orlando 1961)

Esta intervenção, caracteriza-se por ser num momento preciso e não prolongada

no tempo, foca-se em demasia à resolução do problema imediato, descurando aqueles

11

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 12: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

que pela sua complexidade se prolongam, assim como refere George (2000). Uma das

características mais importantes na teoria de Orlando, como refere ainda este autor, é

que raramente os diagnósticos elaborados pela enfermagem estão errados, pois as

intervenções e a clarificação do comportamento do doente são continuamente

reavaliadas e ajustadas até à resolução do problema.

3.2.8 Imogene M. King

Segundo George (2000), King assentou o seu modelo conceptual, numa estrutura

de sistemas abertos. Este modelo que se baseia em quatro conceitos entre eles, os

sistemas sociais, a percepção, as relações interpessoais, a saúde como um processo

interactivo, irá servir de base para o desenvolvimento da teoria da obtenção de metas.

Os conceitos dos sistemas pessoais são a percepção, o ser, a imagem corporal, o

crescimento e o desenvolvimento, o tempo, o aprendido e o espaço. Os conceitos dos

sistemas interpessoais são o papel, a interacção, a comunicação, a transacção e o stress.

Os conceitos dos sistemas sociais são a organização, o poder, a autoridade, o status, a

tomada de decisão, o controle e o papel.

Esta teoria centra-se no sistema interpessoal e nas interacções que têm lugar

entre indivíduos, particularmente na relação enfermeira-doente. No processo de

enfermagem,cada membro da díade percebe o outro, faz juízos e toma atitudes. Em

conjunto essas actividades culminam em reacção. Daí, resulta a interacção e, se houver

congruência perceptual e as perturbações forem conquistadas, ocorrem as transacções.

O sistema é aberto para permitir o feedback, porque cada fase da actividade influencia

potencialmente a percepção.

Citando (George, 2000, p. 178) “A enfermagem é definida como um processo de

acção, reacção e interacção pelo qual a enfermeira e o cliente compartilham

informações sobre as suas percepções na situação de enfermagem” (King, 1981)

Os cuidados de enfermagem, pressupõem sempre uma intecâmbio relacional

com o doente, pelo que se apresenta como uma limitação, a qual é reconhecida por

King, como referem Tomey & Alligood (2006) quando dizem que a teoria tem sido

criticada por não se poder aplicar-se em áreas de enfermagem em que os pacientes são

incapazes de interactuar devidamente com a enfermeira.

3.2.9 Martha Rogers

Teoria humanista que considera o ser humano unitário.

12

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 13: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

Segundo Meleis (2007), para Rogers o ser Humano e o ambiente são unos,

considerando que nem um nem outro podem ser discutidos, considerados ou entendidos

isoladamente, são inter-relacionados de um modo irredutível, indivisível,

pandimensionais e identificados por padrão, beneficiam-se da enfermagem que participa

em harmonia com seu processo de mudança.

Segundo George (2007), no trabalho de Rogers, relativamente aos seres

humanos, existem cinco pressupostos.

Primeiro que é um todo unificado possuindo uma integridade individual e

manifestando características que são mais e diferentes que a soma das partes. Segundo,

presume que o indivíduo e o ambiente estão em constante interacção, trocando matéria e

energia entre si. Terceiro, a vida decorre numa única direcção, nunca podendo voltar

atrás para algo que previamente fora, tornando o ser humano a expressão da totalidade

de eventos. Quarto, prende-se com os padrões de vida como reflexo da sua totalidade

inovadora e da sua identificação. O quinto pressuposto é a caracterização do ser humano

como único ser com capacidades de pensamento consciente, linguagem, sensação e

emoção, que percebem e ponderam sobre a vastidão do cosmos.

Citando (George, 2000, p. 187), “O indivíduo é o receptor dos serviços de

enfermagem, os processos de vida da humanidade são o núcleo em torno do qual gira a

enfermagem.”

Baseado nos princípios da hemodinâmica da integralidade que se define como o

processo de interacção contínuo, mútuo e simultâneo entre os campos humanos/

ambientais, constitui-se pela helicidade que engloba os conceitos de mudança rítmica,

influência evolutiva e campos humano/ambientais unitários e pela ressonância que é a

identificação do campo humano e ambiental através de ondas de curtas.

Segundo George (2000), revela que a dificuldade na compreensão dos

princípios, assim como a falta de definições operacionais e os instrumentos inadequados

para a mensuração são as principais limitações ao uso efectivo da teoria.

Meleis (2007), por sua vez reconhece em Martha Rogers como sendo a pioneira

no estabelecimento da relação entre enfermagem e física e que providenciou a visão

optimista da saúde que confere poder ao indivíduo assim como ao enfermeiro.

13

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 14: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

3.2.10 Irmã Callista Roy

Modelo de adaptação de Roy, é realizado com por base na teoria geral dos

sistemas de Von Bertalanffy (1968) e na teoria da adaptação de Helson (1964).

Define como sendo o receptor dos cuidados, a pessoa, a família, podendo ser

uma comunidade ou uma sociedade, cada um sendo considerado como um sistema

adaptativo holístico. Tomey & Alligood (2006) referem-se à teoria de Roy, como

considerando as pessoas sistemas holísticos de adaptação e o centro de atenção da

enfermagem, em que as pessoas estão em constante interacção com o seu meio, sendo

por ele afectadas e simultâneamente afectando-o.

Tendo em mente um sistema, este caracteriza-se por entradas e saídas, controles

e retroalimentação, este tipo de teoria, aplica-se na perfeição ao corpo humano, no

percurso de vida, em que monitorizamos o que comemos e bebemos, o que gastamos

nas nossas actividades, as nossas relações afectivas e sociais e os seus impactos em cada

ser humano com consequentes e no seu ser, a relação que tem com o meio ambiente

como sendo a poluição, o frio e o calor, o bem ou o mal que se sente.

A capacidade de cada indivíduo, em responder de forma positiva aos estímulos

ambientais, é o que define a sua capacidade de adaptação, consequentemente a

adaptação fomenta a sobrevivência, o crescimento, a reprodução, o dominio e as

transformações das pessoas e do seu meio. Segundo George (2000), estas respostas

podem ser adaptativas ou ineficientes, as quais derivam de mecanismos reguladores e

cognatos, como por exemplo o nosso sistema de defesa, no entanto, outros são

aprendidos, como o uso de antisépticos para limpar uma ferida, respectivamente.

Citando (Tomey & Alligood, 2006, p. 373), “Roy define a saúde como um

estado em que um ser humano se torna completo e integrado.”

14

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 15: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

4- REFLEXÃO

4.1 Definição de estratégias de escolha

Após ter feito o levantamento das teorias que achei serem as mais pertinentes,

cabe-me agora a difícil tarefa de as interpretar de forma a encontrar a mais adequada à

minha prática. Na verdade, o que acabei de dizer torna-se uma incongruência, uma vez

que para existirem cuidados de qualidade é necessário estes se adequarem ou apoiarem

num modelo conceptual. No entanto não reconheço que os cuidados de enfermagem

prestados no meu serviço sejam parcos em qualidade.

Se por um lado, não existe um modelo explícito, existe com toda a certeza um

modelo implícito que vou tentar escrutinar.

Segundo Meleis (2007), a escolha de uma teoria para a sua prática por parte dos

enfermeiros, está relacionada com alguns factores, como sendo:

Motivos pessoais, motivos que se prendem com o uso pessoal de critérios com

os quais se sentem confortáveis em usar, e a congruência da teoria relativamente

com a sua filosofia de vida.

Mentor, em que há aqueles que usam uma teoria por terem sido dirigidos para

ela por um teorista, ou expostos ao ensino da teoria que lhes tenha marcado e

influenciado profundamente e transformado a sua perspectiva de vida.

Teorista, outros escolhem uma teoria, baseado na imagem do teorista na

sociedade, o seu status, respeito, contacto pessoal.

Suporte bibliográfico, outros escolhem uma teoria, porque tiveram a

oportunidade e disponibilidade de ler e escrever extensivamente sobre uma

teoria, que lhes deram a segurança e reconhecimento do nível de significado da

teoria e do seu status

Congruência sociopolítica, outro motivo de escolha pode ser relacionada coma

situação económica e social, com as suas limitações e tendências, assim como a

imposição institucional.

Utilidade, a facilidade com que uma teoria é entendida e aplicada, é um dos

factores principais que dirigem a escolha.

Meleis (2007), refere uma coisa curiosa que se prende com, o facto de se

proceder uma escolha de uma teoria da forma mais objectiva possível, tentando eliminar

15

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 16: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

ao máximo da subjectividade, poderá resultar na utilização de uma teoria que não seja

tão verdadeira às premissas e proposições da mesma e o contrário é igualmente verdade.

Assim, na escolha de um modelo tórico de assistência, devemos obter

informações básicas, que permitam prever o grau de envolvimento do doente no seu

tratamento, algumas estratégias que possam ser mais úteis para este e o grau de

articulação com outros profissionais que a situação possa necessitar. Esta fase

preliminar auxilia direccionar e a estabelecer prioridades na colheita de dados e definir

qual modelo poderá ser mais congruente às condições do cliente.

A análise de selecção do modelo leva também em consideração que alguns são

mais aplicáveis a indivíduos, outros à família e outros à comunidade, alguns

pressupõem as acções centradas no enfermeiro, enquanto outros favorecem o

autocuidado e outros centram os cuidados no doente.

Faz-me então sentido fazer inicialmente uma divisão das teorias de enfermagem,

segundo os paradigmas criados por Kérouac (2007), de categorização, integração e

transformação, simultaneamente nas escolas de pensamento a eles associados para

posteriormente estreitar a selecção para as teorias integradas em cada um deles. Assim:

O paradigma da categorização não tem escola de pensamento associada, uma

vez que se tomava o problema de forma isolada, descontextualizando-a do

doente como um todo, tomando como foco de atenção apenas a parte.

O paradigma da integração, caracteriza-se pela orientação dos cuidados de

enfermagem para a pessoa  tomando-o como um todo em inter-relação consigo e

com o ambiente que o rodeia. Compreende as escolas das necessidades, dos

efeitos desejados, da interacção e da promoção da saúde

Paradigma da transformação, que compreende as escolas do ser humano unitário

e a escola do cuidar, dentro desta óptica a pessoa é considerada como

um ser único cujas múltiplas dimensões formam uma unidade, este ser íntegro e

único é indissociável do seu universo. A pessoa está relacionada com o

seu interior e com o seu exterior.

Tendo feito esta divisão, para continuar vou ter que responder às perguntas

chave:

Que fazem os enfermeiros?

Como fazem os enfermeiros?

Porque fazem os enfermeiros?

16

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 17: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

A quem se dirigem os cuidados de enfermagem?

Como é que os enfermeiros participam no processo de cura?

Como é que os enfermeiros participam na promoção da saúde?

4.2 Caracterizando os cuidados

Respondendo às perguntas formuladas anteriormente, os cuidados de

enfermagem, prestados num serviço de urgência, nomeadamente no serviço de OBS,

caracterizam-se cuidados a doentes em situação crítica e não crítica em doentes com

patologias agudas ou crónicas agudizadas mas com algum grau de estabilidade.

Em todos os níveis de intensidade de prestação de cuidados, situação crítica ou

não, reconheço-os (cuidados) como estímulos que damos aos doentes, esperando da

parte dos mesmos algum tipo de reacção, sabendo que qualquer indivíduo é diferente do

seu semelhante, é realmente necessário uma vigilância de forma a avaliar os resultados

que estabelecemos como metas, pois o mais provável é que será ligeiramente diferente

do esperado. Cabendo-nos aí adaptarmos os cuidados, reavaliando e reformulando os

mesmos, de forma que se obtenham melhores resultados do sistema fisiológico ou

psicológico do doente.

Como refere Macphail (2001) os enfermeiros de urgência, ao contrário de

outros, afirmam-se pela diversidade de conhecimentos: de doentes e de processos

fisiopatológicos de doença, de inovações tecnológicas mais recentes de equipamento de

monitorização e de tratamento.

Os cuidados de enfermagem ao doente crítico, são caracterizados por muitos

autores, como sendo despersonalizados, com uma vertente focalizada na técnica,

descurando o ser humano como pessoa única e irrepetível na sua necessidade, condição

e nas suas fragilidades. Como referem Vaz e Catita (2000) no seu artigo, em que o

serviço de urgência pelas suas características intrínsecas, a intensidade de trabalho físico

e mental, o stress, o desgaste psicológico, a responsabilidade profissional, a

confrontação continua com a morte e as ameaças constantes de perda e de fracasso, é

indutor de despersonalização e desumanização dos cuidados prestados.

Realmente esta característica dos cuidados de urgência, pode parecer à primeira

vista, ao observador ocasional, que não está inserido na equipa de cuidados, na azáfama

e confusão aparente que transparece durante a prestação de cuidados ao doente crítico,

no entanto, mesmo durante esses momentos, os cuidados de enfermagem são prestados

atendendo ao doente como pessoa, definida como único com necessidades

17

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 18: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

individualizadas que são avaliadas numa perspectiva holística, adequando os cuidados

de enfermagem aos mesmos. Durante este processo, torna-se imprescindível fazê-lo

através da monitorização e utilização de tecnologias que se ache necessário para

optimizar os cuidados, não sendo por isso que se descure os cuidados humanizados,

estabelecendo uma relação de ajuda, valorizando as necessidades, vontade e autonomia

da decisão do doente, porque embora seja nas grandes coisas, que a visualização da

concretização seja mais evidente, é nas pequenas coisas, pormenor que a enfermagem

faz a diferença para a qualidade.

Tendo em mente uma situação, como sendo a paragem cardio-respiratória, em

que o enfermeiro inicia de imediato toda a cadeia de sobrevivência, não é por esta ser

praticamente uma actuação automática e generalizada, que durante o seu

desencadeamento não se vá adequando os cuidados de forma dirigida e

individualizados, à condição do doente e à pessoa. Não é por ele estar inconsciente, que

não se respeita como ser humano, integrante de num meio social e familiar, os quais

serão informados e integrados no processo de cuidar, mais que não seja através das

informações que nos possam disponibilizar durante a fase de avaliação e colheita de

dados, quer pela informação que nós ou o médico lhes podemos facultar.

Todos os cuidados são prestados em articulação contínua com os restantes

profissionais de saúde, seja o médico, a assistente operacional, seja a assistente social ou

outro qualquer profissional que quer pela necessidade do doente ou da equipa seja

solicitado para integrar a equipa de cuidados.

Segundo refere Macphail (2001) relativamente à complementaridade entre a

equipa de saúde num serviço de urgência, considera que em nenhuma outra vertente dos

cuidados de saúde é tão essencial o trabalho em equipa e o respeito mútuo.

O doente, quer tenha alta ou seja transferido para outro serviço intra ou extra-

hospitalar, é sempre garantida a continuidade de cuidados, através das notas de

enfermagem, ou de carta de alta. A avaliação do conhecimento da sua própria condição

é sistematicamente avaliada, tentando-se dentro da nossa competência, colmatar as

necessidades de conhecimentos adequadas à situação, sempre que seja necessário, na

perspectiva do enfermeiro ou de outro elemento da equipa de saúde, chama-se o

familiar/cuidador ou cuidador informal, de forma a fornecer os conhecimentos e ensinos

que se achem pertinentes para a continuidade de cuidados/promoção da saúde.

18

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 19: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

Julgo que realmente conseguimos prestar cuidados numa perspectiva holística,

conseguindo articular os nossos conhecimentos na prática, emanando um espírito de

confiança tanto para o doente como para a restante equipa, aplicando competências

técnicas e científicas adequadas, assim como relacionais e de comunicação, visando a

optimização dos cuidados, numa clara evidência da necessidade dos enfermeiros em

fornecer cuidados de qualidade e realmente holísticos.

Segundo Mcphail (2001), o resultado adquirido por intermédio dos cuidados

prestados no serviço de urgência poderá ser determinantemente influenciado, pelo

esforço da equipa no terreno, durante a estabilização inicial, a transferência e pela

comunicação continua.

4.3 Adaptação da teoria à prática

Tendo reflectido imenso, sobre tudo aquilo que me debrucei, tanto em revisão

bibliográfica, como em produção reflexiva sobre teoria dessa mesma revisão como

sobre as minhas práticas e dos meus colegas no serviço de OBS da Urgência, devo

determinantemente dizer que numa primeira abordagem, repelo veemente, as práticas de

cuidados minimamente agregada ao paradigma de categorização. Com a mesma

convicção, incluo os cuidados praticados, tanto na urgência geral como no OBS no

paradigma da integração. Estreitando progressivamente a escolha, situo os cuidados na

escola de pensamento dos efeitos desejados, na qual se integra o modelo de adaptação

de Sister Callista Roy pelo qual admito afinidade e consigo relacionar com os cuidados

de enfermagem prestados neste serviço.

Aprofundando este modelo, pareceu-me quase de imediato, aquele que melhor

se aplica aos cuidados de urgência. Pela sua definição de cuidados de enfermagem que

se baseiam, segundo George (2000) promover a saúde, potenciando as respostas

adaptativas das pessoas. Como dito atrás, na descrição da teoria, face aos estímulos

externos e internos, será o nível de adaptação aos mesmos que determinará se haverá ou

não uma resposta positiva. Neste sentido, a enfermagem terá sobre seu cuidado, a

diminuição das respostas ineficientes, promovendo as respostas adaptativas. O mesmo

autor resume então que o enfermeiro, promove a saúde em todos os processos da vida,

incluindo o morrer com dignidade. (Roy & Andrews, 1991)

Neste modelo, inserido no sistema adaptativo, existem quatro modos adaptativos

que se designam por:

Modo fisiológico, que representa as respostas fisiológicas aos estímulos

19

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 20: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

Modo de autoconceito, que se relaciona com a necessidade básica de integridade

psíquica

Modo de função papel, que identifica os padrões de interacção social da pessoa

em relação aos outros.

Modo de interdependência, é onde as necessidades afectivas são preenchidas,

como o valor humano, afeição, amor e afirmação.

Tomando como referência o modo fisiológico, com o objectivo de fazer uma

diferenciação para a escola das necessidades, na minha perspectiva baseando-me na

reflexão na acção, não se interpreta a dispneia por exemplo, como uma descompensação

da respiração per si a ser compensada, sabemos de imediato, que a dispneia surge como

consequência de algo, sendo esta uma adaptação do organismo como consequência de

um outro evento ou estímulo que poderá ser externo ou interno, como sendo numa asma

um alergéneo ou uma descompensação de uma Insuficiência cardíaca, respectivamente

aos estímulos referidos.

Como enfermeiros compete-nos abordar o doente de forma holística e numa

aplicação do processo de enfermagem de forma sequencial, rápida e sistemática,

conforme o modelo de Roy, investigamos os comportamentos do doente, seguidamente

averiguamos que estímulos estão a provocar esses comportamentos. Em terceiro lugar, o

enfermeiro faz os diagnósticos de enfermagem do seu estado e capacidades de

adaptação, de seguida estabelece metas para promover a adaptação e finalmente como

última etapa o enfermeiro promove e potencia a interacção da pessoa com o seu

ambiente, promovendo assim a sua saúde.

Operacionalizando isto com um exemplo adaptado à prática, podemos por

exemplo ter um doente com um choque séptico, reconhecemos que esta situação é uma

resposta ineficaz do organismo para combater um estímulo que neste caso é a infecção,

desenvolvendo um conjunto de sinais e sintomas que são a manifestação dessa

incapacidade adaptativa, isto é, respostas do organismo ou comportamentos neste caso

fisiológicos. Cabe então ao enfermeiro, reconhecer os comportamentos do doente e

tentar descobrir qual é o estímulo interno ou externo que está os está a provocar.

Através da colheita de dados, dos antecedentes, dos sintomas, isto é, da história

do doente, vai tentar saber, entre outras informações, quais são os seus comportamentos

ou respostas habituais aos estímulos, como sendo a sua tensão arterial habitual ou pulso,

os seus hábitos de vida, por exemplo de está num lar ou em casa, uma vez que num lar

20

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 21: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

estaria mais sujeito a estímulos externos como sendo agentes infecciosos, ou se está

acamado, etc.

Seguidamente ou simultaneamente levanta diagnósticos de enfermagem,

relacionados com os sinais e sintomas como por exemplo hipotensão e anúria em

consequência com choque séptico, com atingimento multiorgânico, intervindo-se

através da administração de fluidos e vasoconstritores, o que se traduz em estímulos que

estimulam uma resposta adaptativa. De imediato estipulam-se metas de aumento da

tensão arterial para os estímulos fornecidos e caso as respostas adaptativas não sejam as

adequadas, reavalia-se toda a situação adaptando os estímulos à nova situação. As

avaliações são sistemáticas e continuadas com o objectivo de verificar a eficácia das

acções de enfermagem implementadas.

Este exemplo, foi um exercício para mim próprio, de forma a validar a

aplicabilidade do modelo de Roy, que me parece ajustada à realidade.

21

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 22: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

5- CONCLUSÃO

A realização deste trabalho foi uma experiência realmente muito enriquecedora,

para a minha formação profissional, assim como pessoal, adicionando-me competências

que já há muito devia ser portador.

Esta minha reacção surge como reflexo do quanto necessitava deste estímulo,

para regressar às origens da evolução da enfermagem, para também eu evoluir como

enfermeiro.

Como pretendi argumentar neste trabalho, os modelos teóricos, têm um papel de

destaque nos cuidados de enfermagem, norteando a nossa prática rumo aos cuidados de

excelência. Os cuidados de enfermagem de urgência, embora se envolvam por

circunstâncias especiais de actuação, carecem da mesma forma de um processo de

enfermagem, de forma a proceder a uma avaliação inicial, levantamento de

diagnósticos, planeamento, implementação e avaliação de cuidados de forma organizada

e precisa.

Citando (Sheehy, 2001, p. 9) “A utilização proficiente do processo de

enfermagem proporciona a base para cuidados eficientes e abrangentes em todas as

áreas da prática de enfermagem”

A mesma autora referindo-se ao ambiente de urgência refere que pelo ritmo

acelerado por que se caracteriza a urgência, o enfermeiro tem que ser especialista

clínico e de diagnóstico, para conseguir assimilar dados essenciais para elaborar o plano

de cuidados junto do doente.

Os cuidados de enfermagem devem ser sempre individualizados, adequados a

cada doente, sendo assim o processo de enfermagem também o tem que ser, para que

seja o mais eficaz possível, pois para além de cada pessoa ser diferente do seu

semelhante, também cada caso patológico o é.

Depreendo daqui também, a necessidade e a importância de uma adequação

perfeita de uma teoria ou modelo conceptual de enfermagem, que transpareça e que

permita a prestação de cuidados de qualidade promovendo a saúde, que julgo ter

conseguido.

22

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 23: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

BIBLIOGRAFIA

Alarcão, I., & Tavares, J. (2003). Supervisão da Prática Pedagógica: Uma

perspectiva de desenvolvimento e aprendizagem. Coimbra: Livraria Almedina.

Bogdan, R., & Knopp, B. S. (1994). Investigação Qualitativa em Educação –

uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora.

Chiavenato, I. (1989). Iniciação a administração geral. São Paulo: McGraw-

Hill.

Colliére, M.-F. (1999). Promovel a vida - Da prática das mulheres de virtude

aos cuidados de enfermagem. Lisboa: Lidel.

Colliére, M.-F. (1989). Promover a vida: da prática das mulheres de virtude aos

cuidados de enfermagem. Lisboa: Tradução de: Maria Leonor Braga Abecasis.

Fonseca, M. J. (2006). Supervisão em ensinos clínicos de enfermagem.

Perspectiva do docente. Coimbra: FORMASAU.

Fowler, J. (23 de Março de 1996). The organization of clinical supervision

within the nursing profession: a review of the literature. Journal of Advanced Nursing ,

pp. 471-478.

George, J. B. (2000). Teorias de Enfermagem - Os Fundamentos à Prática

Profissional. Porto Alegre: Artmed.

Hesbeen, W. (2000). Cuidar no hospital: enquadrar os cuidados de enfermagem

numa perspectiva de cuidar. s. ed.. Loures: Lusociência.

Horta, W. A. (1979). Processo de Enfermagem. São Paulo: Editora Pedagógica e

Universitária, Lda.

Kérouac, S. e. (2007). El Pensamiento Enfermero. Barcelona: Elsevier Masson.

Macphail, E. (2001). Panorâmica da Enfermagem de urgência. In S. SHEELY,

Enfermagem de Urgência: da Teoria à Prática (pp. 5-7). Loures: Lusociência.

Meleis, A. I. (2007). Theoretical Nursing: Development and Progress, 4ª

Edição. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins.

Sheehy, S. (2001). Enfermagem de Urgência da Teoria à Prática. Loures:

Lusociência.

Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos ©2008-2011 ALERT Life

Sciences Computing, S.A. (2008-2011). WWW.SPCI.pt. Obtido em 25 de Março de

23

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica

Page 24: Teorias de enfermagem

Reflexão – modelos conceptuais e ideológicos de enfermagem em urgência

2011, de Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos:

http://www.spci.pt/documentos/?imr=11&imc=11n&fmo=ver&id=17

Sousa, L. F. (2004). Envelhecer em família, Os cuidados familiares na velhice.

Porto: Âmbar.

Tomey, A. M., & Alligood, M. R. (2006). Nursing Theorists and Their Work, 6ª

Edição. USA-Missouri: Mosby Elsevier.

Vaz, C. &. (Setembro de 2000). Cuidar no Serviço de Urgência. Nursing , pp.

14-17.

24

Mestrado em Enfermagem Médico – Cirúrgica