reboco caído nº12 versão digital

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R E B O C O - C A Í D O # 12

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REBOCO -CA ÍDO

# 12

Pag.1

Contatos: [email protected] www.twitter.com/RebocoCaidowww.slideshare.net/ARITANA

Editorial

“São dezenas de entrevistados comperfis e áreas de atuação diferentes, mas comum ponto de encontro: a busca radical pela

expressão sem concessões. O ál-bum, batizado de Quem somos nós?dá conta de mapear a produçãounderground de escritores, músicoscineastas e jornalistas em várioscantos do país.

Com entrevistas rápidas ecriativas, Quem somos nós? servepara aprofundar ou fazer conhecertrabalhos geniais que não chegamao público pelas mídias tradicionais.Destaco aqui as entrevistas dos ir-mãos Lino e Mario Ito Bocchini (siteFalha de São Paulo), Petter Baiestorf(cineasta independente), Canibal(banda Devotos), Glauco Mattoso(poeta), Toni Platão (músico, ex-in-tegrante da Hojerizah), Law Tissot(Fanzinoteca Mutação) e WanderWildner (músico).”

Retirado do blogwww.alexandrelucchese.blogspot.com.brPara ter acesso ao PDFwww.slideshare.net/ARITANA

Eis que chega mais um número do Reboco Caído. Sempretestando novos formatos e diagramações, o Rebocãopersiste na sua empreitada, afrontando as normas e osnormais. Com capa e ilustrações de Solano Gualda, opasseio pelo consciente e inconsciente dos que marchampelo subterrâneo do fazer ganha novas dimensões. Maistestes e experiências nesse caminhar pela livre expressão.A proposta é a verdadeira ruptura, total e sem limites, semcorrentes ou prisões. Então, chega de papo furado e vamosnessa.

REBOCO CAÍDO #12

Agradecimentos a todos aqueles que apoiam e divulgamo Reboco. Valeu, galera.

REBOCO CAÍDO#12 Pag.2

Sob Tempestade

Um bezerro flutua no meio do ci-clone. A massa de ar que o desloca quasearranca a pele do meu pescoço. Caminhodevagar. Um pé depois do outro. Um pé.Outro. Um pé. Outro. O vento tenta meempurrar para fora do acostamento. A águacola fria na roupa e tenta roubar meu calor.Não se preocupe. Um pé. Outro. Um pé.Outro.

O bezerro passa outra vez. Tem osolhos cheios de um amor leitoso. Olho emdireção ao asfalto, um metro a frente. É osuficiente para ver tudo o que há em vol-ta. Um pé depois do outro. Um pé depoisdo outro.

Mortos também trafegam pelo ar.Espectros, pequenas caveiras queesgarçam o tecido da cortina de água e láprocuram abrigo, como uma casca de feri-da que teima em seguir morando na pele.Às vezes, crescem infinitamente e se con-fundem com tudo o que há. Um pé depoisdo outro. Um pé. Outro. De súbito mur-cham, desaparecem. De súbito se dissol-vem na água.

Bem ao meu lado, uma macieira éarrancada do solo desde as raízes.. Elaagora vem colorida e ameaçadora em mi-nha direção. O turbilhão de vento se mo-vimenta em todos os sentidos, estraçalhao caminho, mas a árvore continua a flutu-ar inteira, e nem mesmo vermelho apaixo-nado de seus frutos se agita. Sinto o chei-ro adocicado da terra impregnada nasraízes. Resisto à tentação e não lhe dirijo oolhar. O vento agora é implacável e hámuitos obstáculos pela frente. Um desviode olhar pode ser fatal. Basta respirar fun-do e caminhar devagar. Um pé depois dooutro.

Um porco passa guinchando. Temas orelhas grudadas sobre os olhos. Nãoimagina que está no meio do furacão. Tal-

vez pare no meio do barro, ou em areia move-diça. Talvez no fim de um arco-íris, ao lado dopote de ouro. É inútil pensar a respeito, este-ja onde estiver, ele nada poderá fazer além decheirar e cavoucar a terra.

As gotas de água lavam meus olhosaos poucos. Pode ser que eu já enxergue umpouco melhor que o porco. Pode ser que não.Não esqueço que as miragens aparecem atémesmo para quem mantém os olhos bem aber-tos. Resta seguir. Um pé depois o outro.

Estou montado em um tigre. Ele cami-nha devagar. Um pé depois do outro. A tem-pestade continua, é preciso aprender a seequilibrar aqui em cima. O sol continua a bri-lhar, mesmo encoberto por essas nuvens. Umpé depois do outro.

poeminha que eu fiz hoje

Escrivão

Palavras caidas no chãoCorpo estiradoOhos abertosFecha-os que morto assim tem alucinações.

Sai,Fecha a porta,O detetive entra:É... o policial fez o que fez em legítima defesa.

É? E o bandido, era culpado de quê?--Ah, sei lá--responde o deputado--só nãoescreve aí dizendo que ele sabia demais.

um beijinho gostosouma chupeta lightum carinho na picaque bem que não faz

Por: Rubem Zachis

Por: Ivan Silva

Por: Alexandre Lucchese

ESCOMBROS

Me sinto sófragmento inútilde pó.

Por: Diego EL Khouri

Pag.3 REBOCO CAÍDO #12

fuma garoto a pedrasonha sonhos de menino

a garota do mais tempo no vícionão pode mais sonhar

amigo palavra distantetalvez só mesmo o cachimbo

a toda hora chega gentea toda hora gente vai

para onde estamos indopara onde a gente vai

Por: Fabio da Silva BarbosaCracolândiaDisneylândia

deitado na sarjetasentia o vômito na gargantapareciam gorgulhos epiléticoschicoteando meu espírito

a úlcera se contorcianum bailar de merda e sanguepareciam agulhas e facasmoendo minha carne

o cheiro da podridãojá invadia minhas narinasnão podia mais reagira minha própria chacina

mesmo assim queriamais uma dose assassinasentir os neurônios falecendonão continuar existindo ou sendo

Por: Fabio da Silva BarbosaNo chão

Aceitando mentiras impostasse calouRecusando seu direito a falase enterrou

Por: Fabio da Silva BarbosaPessoas

Cavando sua sepulturase enganouTapando a luz do SolrastejouVivendo de joelhosnunca levantouPor toda a existêncialamentou

Recusando mentiras impostasse rebelouUsando seu direito a falagritouErguendo-se pelo conhecimentovoouSendo seu próprio SolbrilhouVivendo de pélutouPor toda a existênciafestejou

Aceitando tudo como estáse acomodouUsando seu direito a falabostejouVivendo sob a alienaçãonão buscouEstagnado sob o SolestacionouAcreditando estar sobre os demaisse enganouDe toda sua existêncianada ficou

...

Siga verdadese repita o que dizem,mas nunca escute a sua própria razão.

O revolucionário que sonha burguês.Seu estilo de vida é o mesmo que o deles.Mais um otário querendo se dar bem.

Por: Fabio da Silva BarbosaPlacebo

Pag.4REBOCO CAÍDO

Compre a nova necessidade.Mesmo não precisando,você não pode viver sem.

Aquele suco 100% naturalpossui frutas com agrotóxicos que tefazem mal.Siga toda propaganda e verás quantagente te engana.

1o. Ato

...em pleno expediente, partiu tensa rumoao banheiro da firma - escolheu o box paradeficientes físicos, onde podia esticar aspernas.

2o. e 3o Atos

Gozou deliciosamente em silêncio enquan-to sua colega de trabalho escovava a lín-gua na pia.

Voltou pra mesa com músculos doloridos -e uma caimbra nas nádegas. Sorriu e reto-mou a planilha.

Os Três AtosPor: E. Gibson

que liberem as cortinas da vegonhaque seja visto o que deve existir...mas o que é existir???quando meus olhos não estão vendo o quevocê vênão se trata de uma historia de romance,amor ou odiotrata-se de uma parte de vida que pode sercontadaretratando daqueles que também estiverampor pertoe mesmo sem saber fizeram parte desse pe-queno lapsopara onde que se leva a filosofar, se nin-guém esta disposto a entender...ser espiritualmente hedonicodesapegado ao paladar sanguineo...comocães desdentados e famintos...fazendo referencias de finais em plenitudesjuvenisintercalando o colapso com a claridade quese encontra a vulgaridadeaceitação do banal...canibal...genocida...academicista...politico....incognito... perdido em sua captura a esco-lha de ser ou não ser...apenas para se obteruma resposta... que conquista humilhanteao ser humano... obter uma resposta...ou apenas não conseguir o que quer, masse fizer poderá tendo o que é realmente ne-cessário... então para que ler onde se esta

uma que saiu do forno em ebulição mentalorgástica

Por: Murilo Pereira Dias

claro a complicação... existe como um jogoa resposta a ser decifrada e assim se fazemos primeiros lugares de uma espertezainsana e doentia movida a pequelasrelaçoes de poder, potencia, lastimas e tris-tezas... jardins gramados lindos ...cheio depequenas fezes podres...de felizes animaislivres de concepções...racionais!!! nãoconte apenas com o sonho e sim para siproprio que a farça é a maior de nossasaventuras...até dar conta de tanta perda eum retrocesso apagado... de coisas reais ...vistas da forma que devem ser vistas seforem purificadas...assim elas torna-se-ãoinfinitas... o que nos vem como respostaque nossas capacidades apenas serestingem de nossas reais capacidades...eficamos cegos para demais determinaçõe sde breves conclusões elos de infinitas einfinitas certezas....

Pag. 5 REBOCO CAÍDO #12A Menstruação Anarquika

Por: Fabio da Silva Barbosa

Pra começar, uma geral por todo esse tempo de estrada da M.A.. Vale a pena?Vale a pena sim. Apesar das dificuldades de ser banda independente, a banda é um meioexpor nossa revolta, nossas ideias e sentimentos.

Por que existem tão poucas bandas formadas unicamente por mulheres?Acredito que, às vezes, por não achar as pessoas certas para uma banda. É realmente umapena que não existam tantas bandas formadas unicamente por mulheres. Nós mesmas,agora, estamos com a formação só de mulheres, mas já passaram homens pela bandadevido a falta de mulheres que toquem. Vejo que isso, aos poucos, vai mudando. Cada vezmais vejo meninas curtindo um som, querendo aprender a tocar instrumentos e isso émuito importante para a cena.

Um show que nunca será esquecido e por quê?Teve um som onde aconteceu a morte de um punk. Isso foi brutal e triste. Uma vida foitirada por motivo banal. Infelizmente, isso jamais será esquecido. A banda fez uma músicaem homenagem a ele. Se chama “Violência”.

Como anda o circuito underground?Hoje o circuito underground está bem amplo. Vejo bandas surgindo, pessoas cada vezmais jovens interessadas, novos movimentos... e isso é ótimo. Tem espaço para todos.

Os próximos passos:O próximo passo será gravar o novo cd. Já estamos trampando em novas músicas. Acreditoque lá por novembro ou dezembro já estará saindo material novo.

Valeu, Fabio. Agradecemos a presença no seu zine.

Formada em 1993, no ABC Paulista(SP), a Menstruação Anarquikavem fazendo do som uma forma

de divulgar suas ideias e deprotestar contra as injustiçassociais. Já tendo passadopor diversas formações, abanda conta hoje comEdwiges (Guitarra & Vox),Miriam (Guitarra), Shicka(Vox), Cínthia (Baixo &Vox) e Larys (Bateria).Troquei uma ideia comCíntia (atual baixista) sobrea banda.

Pag. 6REBOCO CAÍDO #12Preconceito Linguístico

Preconceito Linguístico é um livro de Marcos Bagno que consegue combater não só osmitos, como todo o processo que constrói e fortalece tal preconceito. Uma relação entreeste e o preconceito social também é estabelecida e comprovada. Tudo escrito de formaagradável e sem o engorduramento típico dos ditos especialistas. As informações fluemcom a naturalidade que a verdadeira língua possui. Uma obra que vale a pena ser lida e sepossível guardada para futuras consultas.Argumentos sólidos desconstroem a intolerância da ditadura gramatical. A língua é tratadacomo criação do povo e não como camisa de força, desagradável e totalmente alienígena.O autor ainda oferece alternativas para o combate a esse engessamento gramatical esugere métodos para os professores que quiserem participar dessa batalha pela devoluçãoda língua aos seus verdadeiros donos.Fica aí uma boa sugestão de leitura para os que curtem novos desafios. Mas se você édaqueles que se orgulham de falar uma língua difícil e que foge a compreensão dos quedeveriam ter intimidade com ela, leia assim mesmo. Talvez você saia com outra visão dascoisas.*Após ler meu texto “Língua rica ou confusa?”, uma guerreira me emprestou o livro“Preconceito Linguístico”, de Marcos Bagno. Ela realmente não se enganou ao me dizerque eu precisava ler aquilo. Foi muito importante o contato com tal obra.

Já dizia o velho ditado: “Maluco atraimaluco”. Desde minha chegada a PortoAlegre, tenho conhecido seus loucosmaravilhosos e suas delícias delirantes. Oprimeiro que encontrei e com quem logofortaleci uma grande amizade foi BrancoOliveira. Entre uma cerveja e um trago fuiconhecendo cada vez mais a caminhadadeste ser, cuja história musical começou nostempos de infância. Nascido na cidade deTapera – RS - Branco, ainda criança,acompanhava seu pai (que era acordeonista)pelos bailes do interior tocando pandeiro.Mais tarde mudou para Porto Alegre, de ondeteve de sair aos 18 anos para se afastar dasperseguições que passava durante aditadura. Rodou por aí e foi parar em Juazeiro,na Bahia, onde sofreu grande influência dosritmos locais. Voltando a Porto Alegre, noinício dos anos 80, continuou sua trajetóriamusical tocando pela noite da cidade e dasredondezas. Nos anos 90 foi mestre debateria do bloco carnavalesco Unissax, que

Por: Fabio da Silva Barbosa

Por: Fabio da Silva Barbosa recebeu diversas premiações locais, e ficoua frente de um programa de rádio. Seusshows então já eram conhecidos dopessoal que curte um som diferenciado ecomeçou a se expandir por outros estadosbrasileiros e países vizinhos. Em 94 gravouo clássico Reggae do Bom Fim na coletâneaHits 94. Mais tarde lançou o cd Praia doRosa. Por essa época, seu som, repleto deum estilo próprio, já era referência namúsica alternativa. Atualmente ele estápreparando seu novo cd. Enquanto nasceessa verdadeira pérola, sugiro que curtamo trabalho desse mano no youtube, ondepodemos encontrar as músicas Reggae doBom fim, Não me pire, Soltaram a Maria,além do novo vídeo (Alto na Cidade Baixa)com vários nomes da música local.

Falando sobre Branco Oliveira

Pag 7

Estava eu vagando pelas ruas de Porto Alegrequando me deparei com este verdadeiroespetáculo. O Homem Banda cantava, tocavae dançava pela calçada. Fiquei apreciando poralgum tempo. Esse é o ser humano. Enquantouns se dedicam a construção de bombas eartefatos de destruição em massa, outrosconstroem coisas mais belas.

Como trabalhar com tantas coisas ao mesmotempo?Não acredito que seja algo tão complexoassim. Hoje em dia é natural se trabalhar comdiversidade. Da mesma forma que um traba-lhador necessita de diversas ferramentas etambém exerce diversas funções em seutrabalho ou da forma que uma dona de casaleva sua vida... O fundamental é trabalhar coma simplicidade. Não domino, nem sou“expert”, em nada do que faço, mas pego umpouco de tudo para no final somar e ter força.

Como foi sua trajetória até chegar nesseponto da multiplicidade?Na verdade, ser “Homem-Banda” é uma ideiaantiga, desde quando comecei a tocar bateriaaos 14 anos. Mas foi na Suiça, em 2006, quecomecei a juntar acordeom, chocalho no pédireito e Kazu (pode se dizer saxofone de bo-ca). Neste mesmo ano, na Bahia, conheci um“Homem-Banda” Alemão, Bernard Snider, queme inspirou bastante. Ali pude verque era super possível eu ser um “Homem-Banda” também. No dia seguinte coloquei umbumbo nas costas e daí para a frente só fuiacrescentando instrumentos, até chegar noque se tornou a base de tudo em 2008, com 20instrumentos, uma garrafinha de água e umlançador de confetes.

Existem pessoas que desenvolvem trabalhossemelhantes em outras partes do mundo.Existe alguma forma de contato?Existem vários e de diversas formas. Cada um

Maurolauropaulo, o Homem BandaPor: Fabio da Silva

REBOCO CAÍDO #12

Barbosa

tem a sua maneira e sua personalidade. De todos os que conhe ço,mantenho contato com poucos... Mas, aprincípio, acredito que os Homens Banda,por si próprios, são solitários eindividualistas. Não é mesmo? hahah!

Artistas de rua existem desde a idademédia, onde se observavam trovadores,contorcionistas... Podemos até citarexemplos anteriores. Mesmo sem apoioou incentivo, essas atividades resistem.A arte, desde o seu princípio, é um ato dedoação. Você se entrega e recebe em trocaas condições de continuar com seu tra-balho. No Brasil, a arte de rua começa aser mais bem vista. Em países vizinhos,como Argentina e Chile, se ganha melhore na Europa mais ainda. Posso afirmar que,aqui em Porto Alegre, não tenho o quereclamar do meu chapéu.

E Maurolauropaulo?Nome artístico e mais democrático. Vocêpode escolher qual deles acha melhor.

Quem é Maurolauropaulo quando não é oHomem Banda?Mauro Bruzza

Voltando aos artistas de rua, o que serianecessário para fortalecer a atividade?Mais artistas de rua!

Um recado para os que estão começando:Sigam!

Pag. 8

ebulição mental orgásticaPor: Murilo Pereira Dias

a razão da inconsciência persegue até oúltimo momento

estará na espreita dentre um sono e umdespertar

sente o campo muito vasto...como jamaispretendia estar

como antes não fazia pela fantasia adiferença...

hoje sendo sério o quer que sejacondução

mais uma vez um perdão assim comoforem adequados

de quem é a razão?? de quem a tem comodireito

ou a quem espera para ter posse porsempre que seja a verdade

do sentimento... mesmo que sem razão...ou sem entender mais o que se passa...quando se perde a razão.... ou se essa épassada para o outro... por um simplesfato... um jogo de troca e de fixação... arazão quer fugir e quer ser livre de todosnós... ela não mais nos aguenta... poisninguém poderá tê-la... ela jamais sepermitira de estar com alguém... pois essaé a razão da razão existir...

REBOCO CAÍDO#12

Na ponta de uma faca cega se equilibrava o palhaço Do auto de um edifício ele se fez em pedaços Não pule disse a menina carregando o filho nos braços Fique na faca cega faça do jeito que eu faço.

Por: Rafael Freitas (Cara de Pau)

Na internet

www.observareabsorver.blogspot.com.brwww.recantomarginal.blogspot.com.brwww.molholivre.blogspot.com.brwww.alinegauchita.blogspot.com.brwww.partesforadotodo.blogspot.com.brwww.atunalgun.blogspot.com.brwww.coletivozine.blogspot.com.brwww.msgibson-eg.blogspot.com.brwww.expressaoliberta.blogspot.com.brwww.peresteca.blogspot.com.brwww.mondelingegeskiedenis.blogspot.comwww.miseriahq.blogspot.com.brwww.cafofodakatita.blogspot.com.brwww.fanzinada.com.brwww.ugrapress.wordpress.comwww.amarleinformes.blogspot.com.brwww.horamacabraniteroi.blogspot.com.brwww.rascunho100rumo.blogspot.com.brwww.issocerteza.blogspot.com.brwww.imprensaalternativanoabc.blogspot.com.brwww.fotolog.com/aviso_finalwww.myspace.com/cativeirowww.glaucomattoso.sites.uol.com.brwww.ceciliafidelli.blogspot.com.brwww.myspace.com/dacalbrwww.integradaemarginal.blogspot.com.brwww.resistenciacarioca.blogspot.com.br

Pag 9 REBOCO CAÍDO#12Sno e os Fanzineiros

Por: Fabio da Silva Barbosa.

A história do submundo é feita assim (ou assado). Uma diversidade de pessoas, comestilos de vida diversos, produzindo, documentando e viabilizando novos conceitos epontos de vistas. O respeito ao indivíduo vai se expandindo até se tornar grupo. Grupoplural, sem uniforme (sem forma única). Não existe forma. Cada um é sua própria forma.Aprendendo com a vida. A vida a ser vivida.

Do fanzine para o cinema: Como foi essatransição?Não diria que foi uma transição. Achoque foram fases da minha vida. O últimozine que editei foi o “Arreia!”, de 2006.No ano seguinte, lancei a cartilha“Fanzines de Papel”. Nesse período,estava fazendo faculdade de Jornalismo.Em 2007, estava produzindo o que seriao “INGs” (documentário que também foinosso trabalho de conclusão de curso)com meu amigo Fi Rocha.Confesso que, antes de pensarmos nesseformato, eu não gostava de produzir emaudiovisual, pois sempre me virei sozinhoem tudo que fiz. Como não dominavaedição de vídeo, tinha certo repúdio aoformato. Porém, no decorrer da produção,peguei gosto pela coisa e, junto com meuparceiro, arquitetamos projetos. Ele,inclusive, adquiriu um monte deequipamentos, porém a parceria não maisse repetiu. Por enquanto. Quando tive aideia de produzir o “Fanzineiros”, eleprontamente deixou os equipamentos emminhas mãos, me ensinou o básico e deunisso tudo que está acontecendo. “Fanzineiros do Século Passado”: Asegunda parte foi mesmo o final ou vemmais alguma surpresa por aí?Essa série de documentários, na verdade,era para ser um material único e pontofinal. Mas surgiu a oportunidade de exibiruma prévia no “1º Ugra Zine Fest” egostei tanto que acabou virando oprimeiro capítulo. Resolvi fechar em uma

trilogia. Cada capítulo tratando dedeterminados assuntos. Para o próximo anodeve sair a derradeira parte do doc e algunsdos assuntos tratados serão o fanzine na salade aula e o futuro da publicação impressa.

Quando você assiste a primeira e a segundaparte: O que passa por sua cabeça?É como se estivesse contando uma parte daminha vida. Estou envolvido nesse meio há19 anos e tudo ali, mesmo dito por diversaspessoas diferentes, representa bem o que eupenso e faço. É como se cada um contassefragmentos de minha vida.Isso é uma coisa, a outra é que percebo aimportância desse documento para a escritada produção independente no país. A formacomo as pessoas reagem também é algo quemostra que tudo valeu a pena.

Fazer um filme de forma independente: Comose dá esse processo?Quando se tem o material necessário em mãos,não tem mistério: é colocar a mão na massa efazer. Sempre que faço algo que está fora deminhas obrigações de funcionário e pai defamília, faço de corpo e alma, sem ficarcontando com ajuda de fulano ou cicrano. Porisso a frase “Se ninguém faz, façamos!” É muitocômodo para as pessoas perceberem que nãohá registro de determinado assunto e ficareternamente reclamando e esperando que acoisa venha de cima para suprir todas as suasnecessidades. Sempre foi assim e sempre fuicontra isso. Percebendo que havia um buraconessa história, resolvi fazer. Simples assim.Tá... não tão simples assim. Tenho que abrir

mão do meu tempo livre (que se tornou“tempo ocupado”), dos meus passeioscom minha família, de descansar e colocaresse projeto documentário como um dosgrandes projetos da minha vida. Percomuita coisa nesseperíodo de produção,mas o retorno é muitorecompensador.

INGS: Fale sobreesse outro ótimodocumentário queleva sua assinatura.Na verdade, é um pro-jeto também com aassinatura do meucompanheiro Fi Ro-cha e do nosso orien-tador, André Muniz.Foi nosso TCC nafaculdade de Jornalis-mo e extrapolou asfronteiras acadêmicascom exibições emdiversos locais. Atéhoje consegue atingiras pessoas.

Esse doc conta a história de dois catadoresde papel que tiveram atitudes inusitadaspara promover cultura: Severino Manoelde Souza, junto com sua esposa RobertaConceição, construiu uma biblioteca emum prédio ocupado no centro de SãoPaulo. José Luiz Zagati, realizando umsonho de infância, montou um cinema nalaje de sua casa. Foi promovido um debateindireto permeado pela questão: “o queleva pessoas nessas condições a promo-ver cultura sem ter um retorno financeiro?”Participaram dessa discussão o então pre-sidente da Funarte, Celso Frateschi, osociólogo Reinaldo Pacheco, o saudosogeógrafo humanista Aziz Ab’ Saber e o mú-sico Tom Zé. Esse documentário pode servisto em meu canal no Vimeo, assim como

outras produções: vimeo.com/marciosno

Sua produção de zines: Ainda virá maisalgum material xerocado por aí?Vontade não falta! Já até ameacei lançar um

zine autobiográfico, mas,com a correria que o docme proporcionou, acabouficando no estacionamen-to. No final do ano passa-do fiz um fanzine em ho-menagem ao Redson Pozzie, recentemente, fiz o zineque acompanha o docu-mentário. Mas tenho von-tade de retomar a produ-ção do “Arreia!” (podeser baixado em issuu.com/marciosno) que foi ozine com que mais meidentifiquei. Mas isso éideia para um dia que nãosei quando será. Esperoque seja em breve.

Olhando para toda aestrada e vendo o que seproduziu: Valeu?

REBOCO CAÍDO #12 Pag 10

Olha, mais da metade de minha vida foidedicada aos fanzines de forma direta eindireta, ou seja: essa coisa tem umainfluência absurda em minha vida e já nãome vejo afastado desse meio. Durante todoesse tempo, conheci pessoas maravilhosase aprendi muito. Continuo aprendendo. Co-mo disse, todo trabalho independente, ape-sar de prazeroso, te “toma” muita coisa. Massempre foi muito gratificante.Sim, várias vezes pensei em me afastar, jogartudo fora e seguir uma vida normal, principal-mente por causa das pessoas que ficamcobrando isso ou aquilo. Enche o saco. Masé algo mais forte que eu. Não sei explicar oque pode ser. É algo que está muito além daminha razão, do meu inconsciente.Sim, ainda vale muito a pena.