Área de competências-chave

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Página 1 de 31 Área de Competências-Chave Cultura, Língua e Comunicação RECURSOS DE APOIO À EVIDENCIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS Recursos de apoio ao desenvolvimento do processo de RVCC, nível secundário Núcleo Gerador 4 – GESTÃO E ECONOMIA DR4 – Tema: Usos e Gestão do Tempo

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Área de Competências-Chave

Cultura, Língua e Comunicação

RECURSOS DE APOIO À EVIDENCIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Recursos de apoio ao desenvolvimento do processo de RVCC, nível secundário

Núcleo Gerador 4 – GESTÃO E ECONOMIA

DR4 – Tema: Usos e Gestão do Tempo

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Tema 4: Usos e Gestão do Tempo

COMPETÊNCIA: Identificar os impactos de evoluções técnicas na gestão do tempo

reconhecendo ainda os seus efeitos nos modos de processar e transmitir

informação.

Chegámos ao tempo do trabalho que parece não ter fim. E agora?

Numa economia que funciona sem interrupções e em que o trabalho assume variadas formas,

há uma nova evolução em curso. O grande desafio do século XXI é conciliar as exigências de um

horário quase interminável com o descanso e a justa remuneração dos trabalhadores.

Durante a Grande Depressão, nos anos de 1930, o economista britânico John Keynes previa que

trabalhar seis horas por dia seria uma realidade para a geração

dos seus netos. Ao longo dos últimos 85 anos, a evolução é

inegável, embora a previsão de Keynes continue por

concretizar. E, quando se olha para o futuro, as perspectivas

são pouco animadoras. A globalização da economia, a

precarização das relações laborais e a crise mundial têm levado

os países a adotar novas formas de organização do tempo, que

obrigam a trabalhar mais pelo mesmo ou até por menos

dinheiro.

Portugal não é exceção. A semana de 40 horas está prevista

na lei desde 1996 (e pode até ser mais curta, se houver acordo

na negociação coletiva), mas entre a teoria e a prática a

diferença é assinalável. Os números mais recentes mostram que,

em outubro de 2013, os empregados por conta de outrem

trabalhavam 43,3 horas semanais, enquanto no setor público o

horário semanal aumentou, por lei, de 35 para 40 horas. Fora destas contas fica uma parte da realidade que

passa por trabalho não-pago ou invisível.

“Os últimos 25 anos foram marcados por uma espécie de efeito ondulante. Na linha de uma tendência

europeia dos anos 90, ocorreu uma redução da duração normal de trabalho semanal, a que se seguiu, nos

últimos anos, um aumento efetivo do tempo de

trabalho, tanto no setor privado como no público”, nota

Hermes Costa, investigador do Centro de Estudos Social

(CES) da Universidade de Coimbra. “A perceção que fica,

mais acentuada entre os funcionários públicos, é a de

regressão social e de quebra de expectativas. Tanto

mais que a mais horas trabalhadas não corresponde

retribuição correspondente”, acrescenta o sociólogo.

Entre 2012 (quando foram introduzidos na lei

a redução do pagamento do trabalho suplementar, os

cortes de dias de férias e feriados e os bancos de horas

individuais) e 2013, o CES estima que os trabalhadores

Imagem disponível na Internet: http://www.modelo-curriculum.com/vantagens-do-trabalho-

temporario.html

Imagem disponível na Internet: http://www.blogdogasparetto.com.br/controlando-o-ritmo-de-

trabalho-%E2%80%93-parte-1/

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do setor privado perderam, em média, 2,3% do salário efetivo e deram à empresa uma semana e meia de

trabalho, sem terem sido pagos por isso.

A este diagnóstico, Luís Gonçalves da Silva, professor

de Direito do Trabalho na Universidade de Lisboa,

acrescenta a “grande tolerância, do ponto de vista social,

para com a extensão do tempo de trabalho”.

“Continuamos a trabalhar mais de 40 horas em Portugal. É

quase tácito. Essa tolerância faz com que o tempo de

trabalho pareça um fator, um bem, que tem pouca

relevância”, acrescenta, lembrando que as formas de

flexibilização dos tempos de trabalho que têm sido

adotadas contribuem para “embaratecer” o trabalho.

Também António Monteiro Fernandes, antigo secretário de Estado do Emprego e professor no ISCTE, não

tem dúvidas de que se trabalha mais e por menos: “Há cada vez mais trabalho não-remunerado. É a

contrapartida de um privilégio que consiste em ter emprego”.

Menos horas e mais trabalho para todos?

Os limites ao tempo de trabalho levaram mais

de um século a erguer. É preciso recuar a Maio de

1886 para se assistir àquela que é considerada a

génese da luta pela redução da jornada de

trabalho do mundo e que, mais tarde, deu origem

à comemoração do 1.º de Maio. Milhares de

trabalhadores, que eram obrigados a trabalhar

13, 14 e até 18 horas por dia, manifestaram-se

nas ruas de Chicago pelas oito horas diárias e o

direito ao descanso.

Cinco anos depois, o Papa Leão XIII publicou a encíclica Rerum Novarum, onde defendia limites ao

trabalho diário e o respetivo repouso, evidenciando particulares preocupações com as mulheres e as

crianças. “(...) O número de horas de trabalho diário não deve exceder a força dos trabalhadores, e a

quantidade de repouso deve ser proporcional à

qualidade do trabalho, às circunstâncias do tempo

e do lugar, à compleição e saúde dos operários”,

escreveu.

Anos mais tarde, em 1919, e fazendo eco das

exigências que emergiam dos movimentos sociais,

a recém-criada Organização Internacional do

Trabalho (OIT) publicou a primeira convenção

sobre as horas de trabalho para a indústria. Em

1935, quando pela primeira vez olhou para a

redução da jornada de trabalho como uma forma

de fomentar o emprego, surge a convenção das 40

horas.

Nas décadas de 80 e 90 do século XX, vários

países europeus, como a França ou a Alemanha,

A Persistência da Memória de Salvador Dali. Imagem disponível na Internet:

http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/01/07/903289/conheca-persistencia-da-memoria-salvador-dali.html

Imagem disponível na Internet: https://portal2013br.wordpress.com/2016/03/05/3-sinais-de-que-o-

trabalho-corporativo-e-toxico-para-o-espirito-humano/

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adotaram políticas de redução do trabalho semanal. As chamadas medidas de “partilha de trabalho” tinham

subjacente a ideia de que diminuir tempo de

trabalho poderia induzir um aumento do

emprego.

Seguindo a tendência, Portugal reduziu por

duas vezes a duração máxima do trabalho

semanal. A primeira em 1991 (das 48 para as 44

horas) e a segunda em 1996 (Lei das 40 horas).

Esta “partilha de trabalho” não teve, contudo,

os efeitos esperados. Em tese, diz Monteiro

Fernandes, “parece indiscutível que a redução

da semana de trabalho poderia conduzir a um

aumento do emprego”. Mas em Portugal,

alerta, “a grande variável de ajustamento das

empresas às necessidades de trabalho não é a

criação/destruição de emprego, é o trabalho

extraordinário”.

Um estudo de José Varejão, da Faculdade de Economia do Porto, avaliou o efeito da Lei das 40 horas e

concluiu isso mesmo: as semanas mais curtas traduziram-se num aumento do trabalho extra, em vez de

terem motivado a criação de empregos.

Monteiro Fernandes acredita que traduzir reduções de tempo de trabalho em aumentos de emprego só

seria possível “se se estabelecesse uma limitação eficaz a este recurso”, reduzindo os limites do trabalho

extra ou aumentando o seu preço. As evoluções recentes apontam precisamente no sentido inverso.

Uma fronteira em crise

E no futuro a profecia das seis horas de trabalho diário de Keynes poderá cumprir-se? Cristina

Rodrigues, socióloga que fez a sua tese de doutoramento em torno do tempo de trabalho, receia que

não. Além dos custos salariais, diz, há outros custos a ter em conta, nomeadamente as contribuições para os

sistemas de proteção social, “o que complicaria a operação aritmética de dividir trabalho para criar

empregos e, dessa forma, diminuir desemprego”. Por outro lado, diminuir tempo de trabalho significaria

diminuir salário, “o que, em tempos de erosão de rendimentos, poderia conduzir muitos trabalhadores para

limiares de pobreza e exclusão social”.

Desde meados do século XIX e durante quase

todo o século XX assistiu-se a uma melhoria dos

direitos dos trabalhadores, fruto das suas lutas, da

ação das organizações sindicais, da influência das

organizações internacionais. Mas a questão que

esteve na base desta evolução mantém-se: como

escapar à ditadura do tempo?

Em 1919, a recém-criada Organização

Internacional do Trabalho (OIT) publicou a sua

primeira convenção sobre as horas de trabalho

para a indústria.

A resposta parece difícil. A globalização, a

revolução tecnológica, a economia que funciona

Imagem do filme Tempos Modernos de Charlie Chaplin. Imagem disponível na Internet: http://jlrodrigues.blogspot.pt/2011/11/o-trabalho-

humano.html

Imagem disponível na Internet: https://portal2013br.wordpress.com/2016/03/05/3-sinais-de-que-o-

trabalho-corporativo-e-toxico-para-o-espirito-humano/

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sem interrupção e os novos hábitos de consumo contribuem para formas diferentes de organização do

tempo de trabalho, que ameaçam o tempo de descanso. Defender o descanso é, por isso, um debate tão

atual como há 130 ou 150 anos. Só que agora o sistema é mais complexo.

Monteiro Fernandes alerta que, apesar de continuar a haver quem

trabalhe num registo “das nove às cinco”, é “evidente” que a fronteira

entre tempo de trabalho e tempo de lazer tende a esbater-se.

“Estar disponível” tanto no trabalho como fora dele “tornou-se um

imperativo do dia-a-dia”, nota, por seu lado, Hermes Costa. E lembra que

as alterações ao Código do Trabalho de 2012” vieram “legalizar” a já frágil

fronteira entre trabalho e lazer. “Como que se criaram condições para uma

espécie de institucionalização da invasão da esfera privada. Na verdade, a

subtração do tempo de lazer converteu-se em tempo de trabalho, pois, ao

eliminar quatro feriados, três dias de férias e acabando com o descanso

compensatório pelo trabalho suplementar, a lei introduziu, em termos

médios, um corte entre 21% e 30% do tempo de descanso dos

trabalhadores”, exemplifica o sociólogo de Coimbra.

Os desafios do século XXI são, por isso, mais complexos. “O operário

que trabalhava na fábrica, por conta de outrem, durante a semana, deixou

de ser o exemplo típico, e há uma multiplicidade de situações distintas”, diz

Cristina Rodrigues. “Pessoas que trabalham em horários regulares, parciais,

aos fins de semana, à noite, por turnos, a solicitação quando existe

trabalho, em teletrabalho, por conta de empresas de trabalho temporário,

por sua conta”, exemplifica.

“Compatibilizar esta diversidade de formas de trabalho com as exigências de um horário que permita o

descanso diário, semanal e anual, e a dignidade do trabalho e do trabalhador, aqui está o grande desafio”,

destaca.

Martins, Raquel. in jornal Público. Publicado em 5 de março de 2015

"O tempo é um recurso limitado para todos"

No dia-a-dia há uma forma boa de organizar o nosso tempo? O assunto é vasto. Envolve as atitudes face ao tempo, as metodologias de trabalho, as ferramentas de

suporte e as competências de relacionamento interpessoal e intrapessoal.

As nossas atitudes face ao tempo não são tão

valorizadas quanto deviam?

Na realidade, há as que favorecem e as que dificultam à

gestão eficiente do nosso tempo. Por exemplo, se uma

pessoa não valoriza o tempo enquanto recurso

estratégico, se não respeita o tempo próprio e dos

outros, se não acredita no planeamento, se coloca o

foco dos problemas nos outros em vez de olhar para si

enquanto causa do que lhe acontece, terá muito mais

tendência para demonstrar comportamentos

Imagem disponível na Internet: https://portal2013br.wordpress.com/

2016/03/05/3-sinais-de-que-o-trabalho-corporativo-e-toxico-para-o-

espirito-humano/

Imagem disponível na Internet: http://blog.contratanet.com.br/administracao-do-tempo-nas-

empresas/

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ineficientes. Chegará atrasado a reuniões e

compromissos, terá mais imprevistos e problemas de

última hora, andará a correr contra o relógio por falta

de organização, o seu trabalho terá menos qualidade,

produzirá menos que os colegas e ainda por cima dirá

que é uma vítima de urgências porque o mundo

inteiro não se organiza para lhe solicitar as tarefas de

forma organizada. Há forte desresponsabilização

associada a estas atitudes.

Os métodos de trabalho ajudam a obter ganhos

de eficiência?

Podemos fazer um diagnóstico no sentido de avaliar

se as metodologias de securitização, planeamento,

organização pessoal, gestão de reuniões, gestão de

interrupções, trabalho em open space, gestão de

email, gestão de agenda, entre outras, são as mais

adequadas para que as pessoas sejam produtivas.

Pode-se também ter um uso mais proveitoso das

ferramentas de trabalho disponíveis?

Uma boa conjugação das várias ferramentas

eletrónicas que existem, como softwares adequados e

utilização do papel, é indispensável. A memória

humana foi desenhada num tempo em que as

solicitações eram muito menores. A quantidade de

informação que o leitor tem nas mãos nesta edição do

"Semanário Económico" é muito maior do que teria

recebido em toda a vida, se vivesse na Idade Média.

Por último, diria, competências de relacionamento

são cruciais. A competência mais importante é a

assertividade: permite negociar melhores condições

de trabalho, prazos, recursos, etc. Nas intrapessoais é

a gestão do stresse porque mais tarde ou mais cedo

todos temos picos de trabalho.

Que riscos corremos se houver descontrolo da

nossa agenda?

A consequência imediata é produzir muito menos e

com menos qualidade. Passa uma imagem de falta de

rigor e profissionalismo. Depois vem o stresse

negativo e a fadiga crónica. Dificuldades de

concentração, problemas de sono, ansiedade, tensão

arterial elevada, taquicardia, são alguns sintomas. No

fim da linha está o esgotamento.

Para melhorar a eficiência na gestão do e-mail

- Responda a horas determinadas. Se reservar no seu planeamento horas definidas para a leitura e resposta às mensagens de correio eletrónico, reduzirá o tempo que gasta em cada uma delas,

- Utilize os "furos" do dia. Rentabilize aqueles minutos breves (5' ou 10') entre a realização de diferentes tarefas ou compromissos, para tratar a sua caixa de entrada de correio.

- Comece pelas mensagens mais recentes. Por vezes enviam-se mais do que uma mensagem eletrónica sobre o mesmo tópico. Às vezes acontece por engano, mas frequentemente porque se pretender alterar alguma informação em relação à mensagem original. Se começar pelas mensagens mais recentes, pode não ser preciso responder a algumas mais antigas, entretanto desatualizadas.

- Copie, da mensagem original, apenas o texto necessário. Por norma, não inclua o texto integral da mensagem original. De modo a poupar tempo na sua leitura ao destinatário escreva as suas respostas por baixo das perguntas, utilizando espaçamentos ou cores diferentes Para destacar as respostas.

- Organize o correio por Prioritário o Não Prioritário. Sempre que possível, deve responder a uma de correio imediatamente depois de a ler. Estará a poupar tempo, porque não precisa de a ler outra vez. No entanto, se receber grandes quantidades mensagens, deve dar a prioridade nas Respostas às mesmas com base no seu grau de importância e urgência.

- Avalie o remetente das mensagens. Em certas situações, as mensagens de determinados remetentes devem ser lidas assim que chegam. Se a passagem da mensagem por si constituir um entrave a um determinado processo isto é, se da sua decisão ou fornecimento de informações depender a ação de pessoas a jusante, essas mensagens deverão ser respondidas prontamente.

- Utilize cabeçalhos de assunto descritivos e, ao responder, modifique o cabeçalho. Pense no destinatário utilize cabeçalhos que sejam claros sobre conteúdo da mensagem. Por exemplo, se alguém estiver a organizar uma grande reunião de vendas com muitos participantes, pode dar-se ocaso de 90% das mensagens que essa pessoa enviar ter por tópico "Reunião de vendas",

- Apenas um tópico por mensagem. Para facilitar ao destinatário a tarefa de processar e arquivar o correio, restrinja cada uma das mensagens enviadas a um único tópico. Evita assim que as pessoas incluam assuntos urgentes e não urgentes numa mesma mensagem.

- Referencie claramente a mensagem a que está a responder. Seja específico nos seus comentários, nomeadamente quando a resposta não Incluir o conteúdo da mensagem original à qual está a responder.

- Tenha cuidado com aquilo que envia ou reencaminha. Os avisos de vírus, piadas, informações desnecessárias, etc. servem apenas para aumentar o lixo eletrónico.

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Quais são os "ladrões do tempo" dos executivos?

O maior ladrão do tempo do gestor é ele próprio. Há um problema grave que afeta a eficácia e eficiência de

forma global: a falta de feedback honesto. A maioria dos colaboradores das empresas jamais dirá ao seu

chefe que ele é mau gestor de pessoas, que não dá autonomia

suficiente, não sabe planear, que dá cabo da produtividade da

equipa com a sua desorganização, etc. Isto faz com que vivam

numa falsa autoimagem de produtividade. O segundo problema é

querer fazer o trabalho dos colaboradores em vez do seu: não

delegar e responsabilizar, desenvolver competências e alinhar

atitudes.

Seria possível trabalhar(mos) menos tempo e produzir

mais?

Para todos nós existe um grau de desperdício que pode ser

eliminado, permitindo-nos produzir mais e com melhor qualidade

em menos tempo. E claro que algumas pessoas terão 1% de

desperdício, enquanto outras terão 50% Quando fazemos consultoria de diagnóstico de produtividade

pessoal encontrarmos um valor médio de cerca de 30% de desperdício. Em teoria, com menos 30% de tempo

as pessoas poderiam produzir o mesmo. Isso não é exatamente assim porque há uma margem de

desperdício inerente aos processos de trabalho de cada empresa impossível reduzir.

Há um tempo pessoal "ótimo"de laboração diária?

O limite de tempo ótimo de trabalho é um valor individual. Há pessoas que conseguem trabalhar mesmo

12/13 horas por dia, mas são uma minoria. Na maioria das vezes, quando dizem que trabalham 12 horas

referem-se ao tempo entre a chegada e a saída. As horas efetivas de trabalho são muito menos porque parte

do tempo é gasto em atividades que não produzem resultados: socialização, mudança de espaço entre

reuniões, conversas de corredor... E importante conhecer o nosso limite de horas máximo por dia, mas mais

importante é conhecer o limite de duração da nossa capacidade de concentração. A maioria das pessoas não

consegue estar mais do que hora e meia em concentração total numa tarefa.

Tempo é dinheiro?

Quando o dizemos estamos a pensar na possibilidade

de transformar uma hora do dia em algo que possa ser

vendido. Mas quanto vale uma hora de lazer? Quanto

vale um jantar com amigos, uma hora a brincar com os

filhos, uma hora de qualidade para o casal? Ver o

tempo como dinheiro é sinal de falta de visão. O

dinheiro é um recurso que podemos aumentar se

fizermos as coisas certas. O tempo é um recurso

limitado para todos nós, que não conseguimos

aumentar. Todos temos um tempo limitado de vida. O

nosso tempo é a nossa vida neste sentido é muito mais

importante que o dinheiro.

Vargas Ricardo, In Semanário Económico, publicado 2008. Disponível na Internet em: http://www.consulting-house.eu/fotos/editor2/otempoeumrecursolimitadoparatodos.pdf

Imagem disponível na Internet: https://www.google.pt/search?q=Tempo+trabalho&espv=2&biw=1440&bih=775&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjAit6UjcPLAhUHbxQKHZIuCeIQ_AUIBigB#tbm=isch&q=gestao+do+tempo&i

mgrc=dFFBw2w_tmLuzM%3A

Imagem disponível na Internet: http://www.counselingitalia.it/articoli/4172-gratificarsi-con-il-

tempo

Page 9: Área de Competências-Chave

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Gerir o tempo de forma mais eficaz

A má gestão do tempo pode ser um vilão das boas resoluções de Ano Novo, mas há formas de

organização que permitem entrar em modo de atenção ao essencial, eliminar maus hábitos, reduzir o

stresse, e ser mais produtivo. Usar o tempo

a nosso favor e não contra nós. Uma boa

gestão de tempo é fundamental para se ter

uma (boa) vida para além do trabalho.

É preciso conhecer primeiro os objetivos

e as prioridades. Se os dias estão tão cheios

de atividades e o stresse aumenta com tanto

para fazer, em tão pouco tempo, é altura de

adotarmos medidas para administrar melhor

as nossas horas de trabalho. Recorrer a uma

agenda é o ideal, mas uma folha em branco

também ajuda a dar os primeiros passos na

organização das tarefas.

. Comecemos o dia definindo as tarefas

que pretendemos cumprir. São 10/15 minutos muito bem empregues. A falta de planeamento é um forte

inimigo da produtividade.

. Organizemos os itens por data e prioridade. Os que têm prazos definidos vão para a agenda. Os outros

anotam-se como tarefa.

Fazer a distinção entre tarefas urgentes e tarefas importantes é crucial para uma correta gestão de tempo.

Stephen R. Covey distinguiu-as da seguinte forma no seu livro Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente

Eficazes:

Se é urgente e importante tem prioridade máxima;

Se é urgente mas não é importante deve delegá-la;

Se não é urgente mas é importante pode adiá-la;

Se não é urgente nem importante vai para o fim da lista de tarefas ou, simplesmente, esqueça-a.

. Mantenhamos a agenda atualizada porque é importante para compromissos com data e hora

marcadas. Ter uma agenda online é uma boa ideia, pois pode ser consultada no telemóvel, tablete ou no

computador.

. Indiquemos o que é preciso fazer para cumprir cada tarefa. Se for um telefonema, quais os nomes e os

telefones necessários. Se for uma reunião, quais os assuntos, os documentos e as pessoas a convocar.

. Antes de um telefonema,

conversa ou reunião

paremos cinco minutos para

pensar nos objetivos que

pretendemos atingir. Isso

ajuda-nos a dirigir a nossa

atenção para essa tarefa e a

preparam-nos para conseguir

atingir os resultados que

pretendemos.

Imagem disponível na Internet: http://setesys.com.br/blog/administrar-tempo-google-spreadsheet/

Imagem disponível na Internet: http://www.olheforadacaixa.com/semana-ideial-para-empreendedores/

Page 10: Área de Competências-Chave

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. Mantenhamos o local de trabalho organizado. Garantamos que tem tudo o que precisa e libertem-nos de

papelada desnecessária.

. Não deixemos as tarefas

mais difíceis para o final do

dia. É tentador começar pelas

mais fáceis para sentirmos a

satisfação de riscar tarefas da

lista, mas lembremo-nos de

que a nossa energia e

concentração vão diminuindo

ao longo do dia, tornando

mais difícil lidar com

situações complexas.

. Definamos quais as tarefas

que podemos começar a

realizar de acordo com os

recursos de que já dispomos e identifiquemos os recursos que ainda temos de reunir (nome de pessoas para

contactar, telefones, informações, documentos, etc.) para darmos seguimento a outras. Se necessário

peçamos ajuda. Não caiamos na tentação de querer fazer tudo sozinhos. Normalmente há colegas mais

disponíveis ou colaboradores com a missão de darem apoio à equipa.

. Deleguemos o que for preciso sempre que percebermos que outra pessoa pode executar determinada

tarefa (às vezes até de uma maneira melhor). Peçamos um favor e não nos inibamos de o fazer.

. Comecemos imediatamente. Identifiquemos as distrações e mos para não sermos interrompidos.

. A cada dia revejamos a lista de tarefas, risquemos o que já conseguimos fazer e, se for caso disso,

reorganizemos o que ainda falta fazer.

. No final da semana avaliemos o que ficou feito. Anotemos o que não conseguimos concluir ou que tivemos

de transferir para a semana seguinte. Nem tudo está nas nossas mãos – há tarefas que dependem de outras

pessoas ou acontecimentos.

. Façamos uma nova lista de prioridades para a próxima semana e anotemos as diferenças que

conseguimos na sua vida. De certeza que estaremos mais satisfeitos com o que formos capazes de fazer.

Sugestões para momentos críticos: As interrupções originam incumprimentos de planos e, por isso,

devemos reservar na agenda períodos de tempo só para trabalhar. Sigamos alguns truques para aumentar a

produtividade.

. Trabalhemos de costas para áreas

movimentadas;

. Fechemos a porta do gabinete;

. Não permitamos interrupções;

. Aprendamos a dizer não;

. Mantenhamos o corpo hidratado e

alimentado.

In E executiva. Faria, Helena. Gerir o tempo de forma mais eficaz. Disponível na Internet em: http://executiva.pt/11070-2/ (Adaptado)

Imagem disponível na Internet: https://www.brasiliamarketingschool.com.br/blog/5-dicas-para-organizar-sua-rotina-e-conseguir-mais-tempo-no-fim-do-dia

Imagem disponível na Internet: http://www.sbie.com.br/blog/como-administrar-e-organizar-seu-tempo-para-ficar-menos-estressado/

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Temos mais tempo, mas não sentimos que o temos”

Para Judy Wajcman, professora de sociologia na London School of Economics e autora de Pressed for Time,

está a criar-se uma cultura na qual o tempo de lazer é desvalorizado.

Professora de sociologia na London School of Economics, Judy Wajcman publicou recentemente um livro onde

analisa a relação com as tecnologias

e a forma como sentimos o tempo.

Em Pressed for time – The

acceleration of life in digital

capitalism, sublinha que as pessoas

não são reféns das tecnologias; logo,

que não são estas as culpadas de

sentirmos que andamos sempre a

correr. A obra, que evita o

facilitismo das ideias a “preto e

branco”, evidencia factos como

estarmos a viver uma cultura que

valoriza o estar atarefado e a hiperprodutividade. Muitas vezes, com o devido contexto, levanta mais questões do que dá

respostas. Resumindo: faz pensar, algo que requer tempo.

No seu livro refere que há uma espécie de paradoxo, com as pessoas a culparem os produtos tecnológicos

pela pressão, pela noção de falta de tempo, mas, ao mesmo tempo, é a esses mesmos produtos que se

recorre para tentar aliviar essa pressão. A tecnologia está, de facto, a acelerar as nossas vidas?

A tecnologia que temos reflete a sociedade, não a molda. E isso é argumento contra a ideia de que somos

vítimas da tecnologia. A hiperatividade não existe por causa dela. A tecnologia só existe a partir do momento

em é que é fabricada, e lhe damos um sentido.

Mas acha que não estamos a usar tecnologia da forma mais correta?

Uma questão passa pelo facto de a tecnologia estar a ser concebida, de uma forma geral, em Silicon Valley,

por empresas cujo objetivo é o lucro. Mesmo que digam que estão a querer transformar o mundo num sítio

melhor e que estão a construir estas tecnologia a pensar em nós, o seu objetivo é conceber produtos que dêem

dinheiro. Os cidadãos deviam estar mais envolvidos em todo esse processo de criação e conceção. Isto para

termos diferentes produtos tecnológicos, mais afastados da noção de que mais velocidade é igual a progresso,

que melhores vidas dependem da banda larga mais rápida, de que é isso que queremos, em vez de se pensar, de

facto, em ajudar a termos melhores vidas e

que problemas sociais é que queremos

resolver.

Como é que os cidadãos podem estar mais

envolvidos nesse processo?

Primeiro, há um problema no facto de os

engenheiros que estão em Silicon Valley

serem, de uma forma geral, muito jovens,

predominantemente brancos, embora haja Imagem disponível na Internet: http://www.estudokids.com.br/o-tempo-e-a-

tecnologia-historia-e-avancos/

Vinhetas extraídas da Banda Desenhada Mafalda de “Quino”Imagem disponível na Internet: http://blogforbusinessonline.com/letsgetsomefreedom/viver-para-trabalhar-ou-trabalhar-

para-viver/

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alguns indianos, e do sexo masculino. Se houvesse mais diversidade, é provável que tivéssemos tecnologias

diferentes. Depois, os governos devem ter um papel mais ativo. Devem estar mais envolvidos na conceção dos

produtos tecnológicos e facilitar o tal envolvimento dos

cidadãos, nomeadamente através da educação ligada à área

de ciência e tecnologia. Devia haver mais organismos onde

se discutisse, de forma coletiva, os caminhos da

investigação e desenvolvimento dos produtos. É sabido que

muita da investigação e desenvolvimento usada em Silicon

Valley tem por base tecnologia militar, como os drones, que

podem entregar pizzas. E podia-se estar a pensar em áreas

como a energia, problemas sociais, em vez de pensar: “há

esta tecnologia dos drones, vamos usar de forma

comercial”.

Considera que é errada a ideia de ligar a tecnologia a algo

que tem de ser mais rápido?

Sim, quando se pensa que o melhor motor de pesquisa é o que dá resultados de forma mais veloz, mas um

outro motor de pesquisa, menos rápido, com diferentes algoritmos, pode dar outro tipo de respostas ligadas à

informação que se procura, com outro tipo de conhecimento. As pessoas não se questionam sobre porque é que

um determinado algoritmo resulta num tipo de informação e não noutro. E o segredo mais bem guardado do

mundo é o algoritmo do Google.

Falou do papel das empresas. E em relação ao papel dos consumidores, dos cidadãos? Porque a forma

como utilizamos a tecnologia diz algo sobre nós. Quando as pessoas incorporam essa necessidade de

velocidade, o que é que diz delas próprias?

No meu livro tento fugir à polarização, de que algo é totalmente bom ou totalmente mau. De que o problema

se resolve com uma desintoxicação tecnológica. Numa sociedade que valoriza a velocidade, as pessoas tendem

a usar a tecnologia nesse sentido. Quando se olha para os telemóveis, para smartphones, por exemplo, as

pessoas querem estar em estrito contacto com a família e com os seus amigos. Quando os telemóveis surgiram,

pensei que era mais uma ferramenta de trabalho. Como antiga marxista que sou, imaginei logo que seria uma

forma de intensificar o trabalho. Mas todas as pessoas compraram telemóveis, de uma forma tão rápida, e

verificou-se que querem estar em contacto com a família e amigos quando estão à espera do autocarro, por

exemplo, para saber se é preciso ir ao supermercado ou se as crianças estão bem.

Mas os telemóveis vieram intensificar o trabalho,

certo?

Sim, é verdade. Mas não se pode pensar no problema

do tempo e das pessoas como uma questão individual.

É um problema coletivo, ligado à forma como a

sociedade está organizada: espera-se uma resposta

rápida, que a pessoa esteja disponível, etc. Tem de se

lidar com essas questões de forma coletiva, alterando

as práticas do local de trabalho. Em termos históricos,

os telemóveis são algo muito recente, tal como o

Imagem disponível na Internet: http://pt.dreamstime.com/ilustra%C3%A7%C3%A3o-stock-tempo-%C3%A9-dinheiro-fa%C3%A7a-o-neg%C3%B3cio-da-

gest%C3%A3o-do-dinheiro-e-de-tempo-e-o-conceito-da-tecnologia-image56496761

Imagem disponível na Internet: http://1080.plus/4tlTlDcbIaQ.video

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email, e já usamos o email de forma diferente da que fazíamos há dez anos. Com o tempo as pessoas vão

alterar a forma como utilizam as diferentes tecnologias.

E essa alteração virá

no sentido de

abrandar o ritmo na

forma como se usa os

telemóveis,

desligando mais

vezes ou não

atendendo todas as

chamadas?

Não sei se é uma questão de mais ou menos velocidade, mas antes de usar as tecnologias para ter tempo para

as coisas que queremos fazer. Em muitas famílias, os dois membros do casal trabalham. Face ao passado, a

articulação entre os membros da família é mais complicada. E o telemóvel funciona para organizar e

proporcionar tempo para estar com o seu parceiro ou com os seus filhos. Pode-se chamar tempo de qualidade,

o tempo que se pretende ter.

Diz que não podemos olhar para o tempo apenas como as 24 horas do relógio, mas também como espaço,

e que há uma dessincronização entre as pessoas. Por exemplo, entre o pai e a mãe, que estão cada um no

seu trabalho, e o filho, que está na escola. Isto contribui para a sensação de estarmos sempre com pressa?

Uma das coisas de que se fala muito é de as fronteiras entre lazer e trabalho estarem a mudar e julgo que isso é

verdade. A discussão tem sido sobre como a tecnologia levou o tempo de trabalho a colonizar o tempo em casa

e o tempo de lazer. Mas, por outro lado, a tecnologia permite que as pessoas, quando estão no trabalho,

estejam em contacto com a família e amigos. É um resultado do capitalismo industrial termos uma separação

rigorosa entre trabalho e lazer. Mas talvez dentro de 50 anos seja mais normal não haver esta separação, poder

passar algum tempo no trabalho a fazer compras ou outras coisas na Internet, e compensar isso com trabalho à

noite. Há um conceito de flexibilidade - que é a flexibilidade dos empregadores - que é estarmos sempre

disponíveis para trabalhar. E há a flexibilidade que nós queremos, que é termos mais controlo para organizar

os diferentes aspetos das nossas vidas.

A tecnologia pode tornar esse tipo de flexibilidade possível na generalidade dos países?

Depende do que forem as condições de trabalho e essas não são resultado de smartphones e gadgets. A questão

tem muito mais a ver com a desregulação dos

mercados de trabalho.

A grande intensidade do multitasking no local

de trabalho ajuda à sensação de estarmos

pressionados pelo tempo?

O multitasking é um mito. Os estudos mostram

que as pessoas fazem as coisas numa sequência

rápida, em vez de estarem literalmente a fazer

várias coisas ao mesmo tempo. É mais fácil

Imagem disponível na Internet: http://www.istoe.com.br/reportagens/5602_TEMPO+E+DINHEIRO+CARREIRA+FAMILIA+LAZER+AMIGOS

Imagem disponível na Internet: http://www.clickgratis.com.br/saude/dicas-para-organizar-seu-tempo-e-evitar-o-estresse/

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queixarmo-nos de que temos a caixa de correio cheia do que falar dos outros problemas de trabalho. Sou cética

em relação à justificação das interrupções

causadas pela tecnologia.

No livro diz que é possível comprar tempo. A que

ponto há uma desigualdade de tempo provocada

por uma desigualdade de riqueza?

Há uma grande desigualdade. E, mais uma vez,

não poria a tecnologia no centro disso…

Sim, é possível comprar serviços, comprar o

trabalho de outros…

Em termos de poupar tempo, o que as pessoas

ricas fazem é comprar muito trabalho dos outros. Uma das coisas de que vale a pena falar é de como o futuro

com que Silicon Valley sonha para todos nós é um mundo com muitos assistentes pessoais nos telemóveis,

como se todos vivêssemos em classes altas com escravos, mas com os escravos a serem máquinas. É uma

fantasia antiga. Mas a maioria dos robôs estão em fábricas de carros, estão a pintar a spray, o que está a ser

automatizado não são os serviços prestados por humanos. A promessa antiga da inteligência artificial e da

robótica é que haverá mais inteligência e não teremos de fazer várias coisas, como cuidar dos mais velhos.

Mas a inteligência artificial não está sequer perto disso. Que tipo de fantasia é esta de querer ter escravos

automáticos? Não é um desejo que eu tenha…

Estamos hoje a trabalhar mais horas, apesar de haver muitas tarefas automatizadas. Mas houve coisas,

como a máquina de lavar, que nos trouxeram mais tempo. Temos mais tempo de lazer do que há 100 anos.

O que precisamos é de um equilíbrio?

Com tecnologias como a máquina de lavar, o que acontece é que os padrões se alteram quando elas aparecem.

Hoje lavamos mais vezes a roupa. Temos mais tempo, mas não sentimos que o temos. Acho que esse é o

paradoxo. Em parte, tem a ver com uma cultura que valoriza o estar atarefado e a hiperprodutividade. Os

heróis de hoje são o Steve Jobs, o Ted Turner (magnata dos media americano), os heróis empreendedores... Li

o perfil do Jony Ive (vice-presidente da Apple) na New Yorker. Falam sempre de ser obsessivos, maníacos, de

trabalhar 24 horas por dia…

Há 100 ou 200 anos, ter tempo para lazer era ter estatuto. Esse estatuto foi substituído por estar

atarefado?

Penso cada vez mais nisso, e julgo que sim. Um

colega disse-me: “Imagina que eu digo que não

tenho assim tanto email e que não tenho assim tanto

para fazer. Toda a gente dirá que sou um falhado.” É

uma americanização do estilo de vida. Está a criar-se

uma cultura em que isso é valorizado e em que o

tempo de lazer é desvalorizado.

Imagem disponível na Internet: http://navebook.com/o-uso-da-tecnologia-para-a-organizacao-do-tempo-na-vida-e-no-trabalho/

Imagem disponível na Internet: http://executiva.pt/11070-2/

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Consegue determinar o ponto em que começámos a desvalorizar o lazer e talvez a sobrevalorizar o

trabalho?

Um colega escreveu um trabalho sobre a antiga aristocracia, que se orgulhava de ter uma vida de lazer,

dedicando-se à música, à caça… Tem a

ver com o capitalismo industrial. As

pessoas interiorizaram que o trabalho é

uma coisa boa em si. O Ive, o tipo da

Apple, disse que mesmo quando era novo,

estava sempre a trabalhar! Os

desempregados hoje são vistos apenas

como indolentes, preguiçosos.

Na sua opinião, o trabalho é uma coisa

boa em si mesma?

Tenho de dizer que estou a repensar isso.

Sempre alinhei com a ideia de que não

havia nada mais criativo e mais definidor

de identidade. Talvez nos estejamos a

focar demasiado no trabalho e haja mais coisas para fazer com o nosso tempo. Saber se podemos trabalhar

menos, consumir menos e ter uma vida diferente é uma discussão que ainda não estamos a ter. A chave para

isso é a redistribuição do trabalho, de forma a não haver uma sociedade em que há profissionais a trabalharem

imensas horas, e muitas pessoas desempregadas e sem trabalho que chegue.

Escreveu que pode ser que muitos de nós tenhamos mais tempo, mas não o tipo certo de tempo. O que

quer dizer com isto?

Estou a referir-me a tempo com outras pessoas. Há um estudo interessante que diz que tanto desempregados

como empregados se sentem melhor quando o fim de semana está a chegar, e que se sentem pior na segunda-

feira de manhã. Isto acontece porque o tempo de socialização é aos fins de semana. Mesmo os desempregados

sentem isto, porque o fim de semana é a altura em que têm tempo livre ao mesmo tempo que os outros. É uma

questão de ter tempo social, não apenas tempo em abstrato.

Pereira, João Pedro e Villalobos, Luís , in Público. Publicado em 5 de março de 2015

Rumo à cidade em tempo real

"Um mundo feito de redes desafia, em muitas frentes, as categorizações tradicionais e as estruturas

intelectuais. Questiona as velhas conceções de espaço, tempo e poder. Enquanto as antigas economias de

mercado se formaram a partir de ordenações espaciais e temporais da vida das cidades, as economias de

hoje baseiam-se numa ordenação lógica ou “virtual” da comunicação eletrónica, numa nova geografia de

conexões e sistemas, de centros de processamento e controlo (...) Redes de computadores, cabos e

comunicações via rádio governam (agora) o destino das coisas, como elas são remuneradas, e quem tem

acesso a quê. As manifestações físicas de poder - paredes, fronteiras, autoestradas e cidades - foram

sobrepostas por um mundo “virtual” de sistemas de informação, bases de dados e redes. As edificações estão

Imagem disponível na Internet em: http://blog.blognasajon.com.br/2013/03/07/como-conciliar-empreendedorismo-e-

lazer/

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a ser redefinidas em função das suas posições nas redes à medida que “casas inteligentes” se juntam a

escritórios eletrónicos e a fábricas automatizadas."

Geoff Mulgan, Communication and Control (1991;3)

À medida que o mundo está a ficar cada vez mais urbanizado, computadores de última geração e sistemas

telemáticos digitais vão penetrando em

todas as áreas da vida urbana. Podemos

afirmar que as duas características que

definem a civilização contemporânea,

embora questionáveis, são os avanços

paralelos rumo a um planeta mais

urbanizado e a uma sociedade cada vez

mais baseada na rapidez dos fluxos

eletrónicos de informação.

A maioria das mudanças contemporâneas

nas economias, na cultura e na vida social

das cidades parecem estar relacionadas com

a aplicação de novas infraestruturas de

telecomunicações e serviços, ligadas a computadores ou a equipamentos computadorizados, visando a

formação de redes “telemáticas”. Tudo isso transcende, quase que instantaneamente, as barreiras espaciais,

de forma a reordenar as limitações de tempo e de espaço entre e dentro das cidades. Pequenos pontos e

lugares, totalmente separados, estão a ser interligados por todo o mundo urbano, com um mínimo de

tempo diferido - ou seja, quase que aproximando-se do “tempo real”. Fluxos globais de voz, correio

eletrónico, dados, vídeo, fax e sons estão a aumentar exponencialmente, fazendo com que as cidades fiquem

cada vez mais atadas a extensas redes de comunicação humana, a fluxos de serviços e meios de

comunicação, a fluxos de forças de trabalho baseados no ‘teletrabalho”, e aos fluxos de dinheiro eletrónico.

Como parte dessa transformação, tanto as cidades do "Norte", quanto, de forma crescente, as do "Sul",

estão a cobrir-se com aquilo a que podemos denominar "uma teia gigantesca e invisível" de fibras óticas,

cabos de cobre, ondas de rádio e redes de comunicação via satélite. Os corredores que interligam as cidades,

seja na terra, nos oceanos ou no espaço, estão agora a configurar-se como uma imensa cobertura de "teias",

feitas de ligações de telecomunicações avançadas, ligando os sistemas urbanos a redes eletrónicas. São estas

redes que circundam o planeta e constituem a base tecnológica para a aceleração dos fluxos do tráfego

mundial de telecomunicações: fluxos de voz, fax, fluxos de dados, fluxos de imagens, sinais de TV e vídeo. Os

fluxos eletrónicos instantâneos explodem, hoje, no

espaço físico das cidades e dos edifícios, e parecem

sustentar e inter-relacionar todos os elementos da vida

urbana.

Toda estas transformações significam que, à medida

que avançamos, as velhas ideias e premissas sobre o

planeamento, o desenvolvimento e o nascimento das

modernas cidades industriais - estejam elas nos

chamados "Norte" ou "Sul" - pareçam ser cada vez

menos úteis. Todas as noções geralmente aceites sobre

a natureza do espaço, do tempo, da distância e dos

processos da vida urbana são, igualmente,

questionáveis. A vida urbana parece mais volátil e Imagem disponível na Internet em:

http://br.pixersize.com/adesivos/codigo-fluxos-binarios-22626525

Imagem disponível na Internet em: http://www.paradiplomacia.org/noticias.php?lang=po&seccion=3&nota=58

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acelerada, mais incerta, mais fragmentada e mais difícil de entender hoje do que em qualquer outro

momento desde o final do século passado.

Então, fica claro que as cidades

contemporâneas não são apenas densas

aglomerações físicas de edifícios, de

entroncamentos de redes de transporte, ou

centros da vida económica, social e cultural.

Deve-se considerar, também, as cidades

como sistemas eletrónicos compostos por

redes de telecomunicação e telemática. As

áreas urbanas são os centros dominantes de

procura das telecomunicações e os centros

nervosos de irradiação das redes eletrónicas.

De facto, parece existir uma conexão forte

entre as cidades e estas novas infraestruturas

de redes. As cidades - o maior artefacto físico construído pela civilização industrial - são hoje verdadeiras

"casas de força" das comunicações, cujo tráfego flui pela rede global de telecomunicações - o

maior sistema tecnológico até hoje concebido pelo homem.

Mas, quais são as implicações destas transformações? O que será das cidades numa era dominada por

redes e fluxos eletrónicos? Qual será o destino de nossas áreas urbanas num mundo onde imperam as

chamadas "corporações virtuais", as "comunidades virtuais", tudo fluindo por "territórios eletrónicos do

ciberespaço", baseados fundamentalmente no uso da telemática como espaço e tecnologia transcendental?

O uso crescente e a significância das telecomunicações geram diversas questões profundas e

fundamentais, que estão no cerne dos atuais debates sobre as cidades e a vida urbana de hoje e do futuro.

Quatro destas questões são particularmente críticas:

* Primeiro, como poderemos entender as cidades e a vida urbana num mundo onde a proliferação de

redes eletrónicas flui por todas as formas de vida e por todas as escalas geográficas?

* Segundo, o que acontecerá com as cidades ao passarem de uma economia internacional, baseada na

produção e circulação de bens materiais, para uma outra assente cada vez mais em circulação e

consumo de bens simbólicos e "informacionais" a uma escala global? Como se sustentarão

economicamente as cidades dado que, de uma forma crescente, as tradicionais vantagens económicas

estarão acessíveis, "on-line", a partir de qualquer localização virtual?

* Terceiro, como a transição, pelo menos para as elites sociais, de uma vizinhança física e local, para

comunidades segmentadas, sustentadas por

redes eletrónicas - como a comunidade

Internet - afetará a vida social das cidades?

Como serão as relações sociais de poder e os

tradicionais conflitos sociais refletidos nas

cidades dessa nova era das

telecomunicações?

* E, por último, como é que todas estas

mudanças influenciarão as formas como as

cidades serão planeadas, administradas e

governadas?

A cidade contemporânea é, mais do que nunca,

uma amálgama através da qual os aspetos rígidos

Imagem disponível na Internet em: http://redecidadedigital.com.br/noticias.php?id=534&fb_comment_id=6189

54554889883_619862598132412

Imagem disponível na Internet em: http://ipnews.com.br/nordeste-tecnologico-conheca-tres-iniciativas-que-mostram-o-investimento-na-

regiao/

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e tangíveis da vida urbana quotidiana interagem continuamente com os intangíveis "espaços eletrónicos"

construídos a partir e por sistemas de telemática e de meios de comunicação digitais. Para a compreensão

dos papéis complementares entre as cidades e a telemática será útil considerarmos que ambas facilitam a

comunicação económica, social e cultural, embora

de formas diferentes.

De um lado, as cidades podem ser

consideradas como concentrações físicas que

auxiliam na superação das restrições de tempo

pela minimização das limitações de espaço. Por

último, e principalmente, concentração nas

cidades significa que a proximidade física

possibilita a operação de mercados de serviços,

propriedade, trabalho e produção já que os

elementos de uma cidade podem ser acedidos e

integrados sem grandes perdas de tempo. As

cidades permitem que os trabalhadores se

desloquem para o trabalho; as pessoas podem obter uma ampla variedade de bens e serviços; e a vida social

e cultural das cidades ocorre através de contactos face a face.

As telecomunicações produzem, por outro lado, efeitos opostos. Elas superam as restrições de espaço

pela minimização das limitações de tempo, interligando pontos distantes através de fluxos de fotões e

eletrões à velocidade da luz. Então, para compreendermos a cidade em tempo real será interessante

caracterizarmos os diferentes atributos do espaço urbano e do espaço eletrónico.

O ponto-chave é que a vida urbana moderna assenta no desenvolvimento interligados do espaço urbano

e do espaço eletrónico. Existem muitos exemplos nos diversos aspetos da vida urbana nos quais foram

construídos sistemas sobrepostos que combinam a presença de espaços urbanos com interações em espaços

eletrónicos. Vejamos, por exemplo:

* os mercados financeiros globalizados, que interligam as bolsas de valores de cidades como Londres,

Nova York e Tóquio através de robustos sistemas eletrónicos que suportam, diariamente, fluxos de

triliões de dólares aplicados em ações, câmbio, mercados futuros, etc.;

* as redes de infraestrutura de escritórios, onde serviços rotineiros como o processamento de dados,

serviços de rádio, apoio a softwares disponibilizados "on-line", a partir de longas distâncias, para os

principais mercados;

* os fluxos globais dos meios de

comunicação, especialmente a TV

via satélite, que transmitem para as

cidades novos tipos de produtos

culturais, a partir de pontos

distantes;

* os debates sobre "edifícios

inteligentes", "cidades inteligentes",

"casas inteligentes" e "cibercafés",

onde a avançadas tecnologias da

informação configuram fábricas de

cidades e edifícios;

* os circuitos fechados de TV e as

redes telemáticas de

Imagem disponível na Internet em: http://www.dbiz.com.br/

Imagem disponível na Internet em: http://itf365.com.br/blogs/post/113677/huawei-ajudando-a-viabilizar-as-cidades-digitais

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rastreamento, onde as cidades, escritórios, prédios e casas são monitorados, na maioria das vezes a

longa distância;

* as interações complexas entre os fluxos de

telecomunicações e transporte, por exemplo,

com o uso da telemóvel e dos computadores

para reduzir os congestionamentos de trânsito

nas grandes cidades;

* as comunidades "virtuais" que operam via

Internet, complementando as interações das

pessoas nas cidades e seus arredores;

* os "espaços eletrónicos cívicos" lançados na

World Wide Web por instituições de todo o

mundo, visando o fomento do

desenvolvimento dos espaços urbanos através

da construção de espaços eletrónicos.

Assim, construções permanentes em espaços e edifícios urbanos, ligadas a redes e "espaços" eletrónicos

poderão constituir-se na definição daquilo a que poderemos denominar urbanismo contemporâneo. Juntos,

esses espaços eletrónicos levam a um universo escondido e paralelo de movimentadas redes eletrónicas.

Completamente livres das restrições de tempo e espaço, elas interagem e influenciam a dinâmica tangível e

conhecida da vida urbana, 24 horas por dia e em qualquer escala geográfica. Assim, viagens de carro,

comboio, avião ou autocarro e os fluxos físicos das águas, dos produtos manufaturados e da energia são

suportados por um "mundo de redes" (networld) paralelo e eletrónico. Elas monitoram, formatam e

controlam os fluxos físicos numa base de tempo real. Um congestionamento de trânsito transforma-se,

agora, na plataforma de lançamento para incontáveis conversações eletrónicas e interações através do

telemóvel e dos computadores.

O mundo aparentemente sem vida de um conjunto de escritórios esconde "edifícios inteligentes" - um

sistema dentro de um universo eletrónico por onde fluem, 24 horas por dia, fluxos de capitais, serviços e

força de trabalho via redes corporativas telemáticas.

Em muitas cidades, a rotina diária dos moradores urbanos dá-se através de um conjunto contínuo de

"imagens digitais" captadas por um amplo sistema de rastreamento - câmaras de circuito fechado de TV,

sistemas de transação eletrónica, informática para o transporte rodoviário, entre outras. Arredores ricos e

encastelados nas grandes cidades como Los Angelos e São Paulo dependem de portas e altos muros,

interligados a sofisticados sistemas eletrónicos

de vigilância. O mais modesto dos subúrbios de

muitas cidades configura-se, agora, num

sistema dentro da crescente cacofonia

eletrónica dos fluxos globais de imagens e

meios, além dos seus moradores assumirem

um papel participativo nas comunidades

virtuais, quase que sempre numa escala global.

Esse nebuloso mundo de espaços eletrónicos

concretiza-se através dos fluxos instantâneos

de fotões e eletrões que circulam dentro das

cidades e através das redes metropolitanas

planetárias. Tais fluxos são a base virtual de

tudo aquilo que vemos e experimentamos no

Imagem disponível na Internet em: http://www.dreamstime.com/royalty-free-stock-images-social-media-

connecting-people-concept-image22829649

Imagem disponível na Internet em: http://www.electronicproducts.com/Computer_Peripherals/Storage/Think_that_factory_reset_wiped_everything_from_your_phone_Think_again.aspx?id=10

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nosso quotidiano. (...)

Assim, as cidades podem, cada vez mais, serem vistas como centros de cruzamento e interconexão de

redes sociais, institucionais e tecnológicas. Ao mesmo tempo em que se estabelecem algumas destas

interconexões e sobreposições pelo espaço urbano físico, formando nós na rede, não existem,

necessariamente, correlações entre proximidade física e relações significativas, como era frequentemente

assumido pelas antigas ideias sobre cidades. Assim, as cidades estão a tornar-se mais fragmentadas física,

económica, social e culturalmente. São, então, mais adequadas as combinações complexas da proximidade

eletrónica através dos espaços eletrónicos do "reino do não-espaço urbano", onde as proximidades baseadas

no lugar físico deverão ser consideradas em paralelo. As pessoas têm ligações sociais mais íntimas com

outras que estão do outro lado do mundo, através de grupos de discussão na Internet, mas não sabem o

nome de seu vizinho. Uma região de escritórios em Lisboa provavelmente negocia diariamente bilhões de

dólares por dia com mercados financeiros eletrónicos em Londres, Nova Iorque e Tóquio, mas não

estabelece conexões com as pessoas que estão à sua volta e nas vizinhanças. E a vida cultural das cidades

talvez seja mais influenciada pela MTV, captada via satélite de longa distância, do que pela tradicional visão

modernista de interação de grupos sociais nos espaços públicos dos centros das cidades.

Graham, Stephen In Rumo à Cidade em Tempo Real - Desenvolvimento Urbano numa Sociedade Globalizada e Telemediática. Disponível na Internet em : http://www.wisetel.com.br/espaco_de_futuros/vcidade.htm

Informação… em tempo real

Nos tempos atuais, confrontamo-nos diariamente com informação obtida instantaneamente, ou seja em

tempo real, através de equipamentos móveis, portáteis ou de computadores ligados à internet. Um pedido

efetuado através da internet, uma transação com cartão débito/crédito ou um acesso à rede GPS são

exemplos de transações em tempo real.

Contudo, há cerca de 30 anos, este privilégio era limitado apenas aos utilizadores de informática que se

localizavam junto dos computadores centrais

existentes na altura. De facto, a maior parte da

informação era fornecida em tempo diferido (batch),

ou seja, os pedidos eram enviados para o centro de

informática em formato de papel ou cartões e o

computador tratava essa informação nos dias

seguintes, de acordo com as prioridades definidas

pelos operadores desse centro.

A diferença entre informação em tempo diferido

e em tempo real resulta da gigantesca e

surpreendente evolução tecnológica que ocorreu nos

últimos anos, cujas diferenças enumeramos aqui:

- Um computador central processa atualmente

várias dezenas de milhares de vezes mais informação que um grande computador (mainframe) da altura,

tem uma dimensão centenas de vezes inferior e pode custar apenas 0.01 %;

- Os atuais equipamentos móveis processam informação à velocidade de milhões de instruções por

segundo e têm memórias de biliões de carateres quando os terminais antigos apenas transferiam os dados

introduzidos a velocidades reduzidas, para além do seu peso ser equivalente ao das antigas televisões;

Imagem disponível na Internet em: http://www.adweek.com/socialtimes/report-only-4-of-marketers-

can-respond-to-breaking-news-and-trends-in-real-time/621423

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Esta evolução tecnológica suportada por

mecanismos de integração entre os equipamentos

móveis dos utilizadores, a rede de comunicações da

internet e os computadores remotos que processam a

informação, fazem as delícias de todos os que hoje já

não conseguem viver sem a informação em tempo

real.

Contudo para que esta informação esteja sempre

disponível é preciso que este sistema integrado

(computadores, rede e equipamentos móveis) nunca

falhe. Um exemplo limite é o sistema desenvolvido

pela Atos para os Jogos Olímpicos de Londres em que

toda a informação vai ser gerada, processada e

distribuída para mais de 8 mil milhões de equipamentos móveis espalhados pelo Mundo e com tempos de

resposta inferiores a meio segundo.

In SAPOTEK. Por João Lopes, Diretor-Geral da Atos Portugal. Disponível na Internet e: http://tek.sapo.pt/opiniao/artigo/opiniao_informacao_em_tempo_real-1255108tek.html

Políticos ou a pressão de existir

Cada vez mais vigiados e escrutinados por cidadãos e media, com dificuldades em seguir uma agenda

própria e quase sem espaço temporal de decisão, os políticos vivem no eterno pânico de se perderem nos

circuitos do timing.

Depois do esplendor da Belle Époque proporcionado por quatro décadas de paz, há 100 anos a Europa

vivia mergulhada no horror da I Guerra Mundial. Para além da disputa entre blocos de poder e dos

alinhamentos geoestratégicos entre as grandes potências — a Alemanha (a que se juntou o império Austro-

Húngaro), contra França e a Inglaterra (depois apoiadas pela Rússia) — o que se decidia nas trincheiras era o

destino de dois mundos. De um lado, estruturas de poder arcaicas fundadas em grandes impérios, na

expansão colonial, na exploração de fluxos comerciais, na enorme concentração da riqueza e na miséria das

populações. Do outro, a modernização dos sistemas políticos, o avanço da técnica e da ciência, o

fortalecimento do movimento operário e dos sindicatos, as novas ideias. Nessa altura, as ideologias faziam

mover o mundo e nunca tanta gente aceitara catalogar-se atrás

de siglas ou tantos decidiram organizar-se em partidos políticos.

Sociais-democratas, liberais, socialistas, comunistas, anarquistas

com múltiplas declinações.

Tudo isto mudou. Por toda a parte nascem agora partidos ou

movimentos sem grandes balizas ideológicas e cujos nomes não

refletem à partida qualquer preocupação política. Em

“Podemos”, “Ciudadanos”, “Livre/Tempo de Avançar”, “Os

Finlandeses” ou mesmo no UKIP britânico, entre outros, lê-se

mais um sentido de urgência, de convocatória e de ação do que

outra coisa qualquer. Ora a ação é tempo em movimento e a

profunda crise de identidade da social-democracia europeia, a

amnésia histórica do centro-direita relativamente ao seu papel na

criação do Estado social e a desorientação isolacionista à

Imagem disponível na Internet em: https://gigaom.com/2014/05/16/grasswire-founder-austen-allred-

is-trying-to-build-a-wikipedia-style-platform-for-real-time-news/

Imagem disponível na Internet em: http://www.pstu.org.br/node/16969

Page 22: Área de Competências-Chave

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esquerda estão a travar a resolução dos problemas. O que se verifica, à direita e à esquerda, é o nascimento

de novas formas de organização de forças que se

libertam do arcaísmo das fórmulas tradicionais,

incapazes de se reinventarem e de perceberem os

sinais. Como há cem anos, olha-se à nossa volta e

distingue-se bem esse mundo que nasce do caos

aparente que só o tempo há-de decifrar. Como agora,

então tudo era novo e empolgante. Da teoria da

relatividade ao inconsciente de Freud, da eletricidade à

distorção das formas nas meninas de Picasso, do cinema

aos primeiros automóveis. Um século depois não se

aprendeu nada. Também hoje “tudo é novo, tudo é

experimental”, segundo o ex-ministro Luís Amado e

como bem provam os programas de ajustamento

testados pela primeira vez nos povos do Sul, com as

consequências que se conhecem. Afinal, até que ponto o tempo é importante em política?

A importância do tempo

Há muitas variáveis para se determinar a relevância

do tempo em política. Por exemplo, a posição em que

se está. (...) Numa crise o tempo acelera. Agora,

imagine-se um corte de estrada ou uma manifestação

de rua — uma ordem desfasada das circunstâncias em

que a ação decorre pode ser fatal. “Já nas crises

externas e em toda a área da política externa, o tempo

tem uma modelação diferente”, diz o ex-governante.

Porquê? “Resulta da perceção que o decisor tem da sua

margem de manobra” e, depois, “há problemas que

não têm solução”. Exemplo? “O problema palestiniano. Terá solução um dia, mas não na focagem do meu

tempo de governo”. Entre a tentação de afunilar as respostas para os ritmos mais curtos, relegando para

segundo plano tudo o que tem a ver com o longo prazo como as políticas sobre as alterações climáticas; ou

valorizando a agenda doméstica em detrimento da procura de soluções globais para problemas globais, os

políticos vivem numa tensão permanente entre as várias agendas, sejam de cariz mediático e de lóbis

cruzados, ou a sua própria. Mas será que os políticos

ainda têm agenda?

Quando não havia Internet, telemóveis ou redes

sociais e os canais de televisão eram do Estado.

Quando não existiam meios para difundir, escrutinar e

comentar a atividade de quem manda no espaço de

minutos em qualquer lugar do planeta, três políticos

podiam sentar-se na sala de um palácio na Crimeia e

dividir o mundo. Foi isso que fizeram Churchill,

Estaline e Roosevelt, em Ialta, no final da II Guerra

Mundial. A proposta que fez com que a Grécia ficasse

do lado ocidental foi desenhada pelo político britânico

Imagem disponível na Internet em: http://tranversaldotempo.blogspot.pt/2012/08/a-politica-e-

esquerda-que-direita-gosta.html

Imagem disponível na Internet em: http://www.nytimes.com/2015/09/17/us/politics/candidates-use-

second-gop-debate-to-taunt-trump.html?_r=0

Imagem disponível na Internet emhttp://www.forbes.com/forbes/welcome/

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num pequeno mapa, que colocou em cima da mesa para os outros verem. O russo olhou e abanou a cabeça

em sinal de aceitação e assim ficou. Está nas atas.

Hoje, isto não seria possível. Mas é possível

que num país longínquo da África ocidental como

é o Burkina Faso, cuja população tem tão parcos

recursos e níveis de bem-estar tão desiguais face

aos das democracias europeias, um presidente

tenha sido obrigado a demitir-se por força de

manifestações gigantescas organizadas através

das redes sociais. Aconteceu no final de Outubro

do ano passado, com Blaise Compaoré que

governava o país há 27 anos e que achou possível

manter-se no poder à custa de uma alteração

constitucional. O povo trocou-lhe as voltas e, de repente, um milhão de pessoas nas ruas não lhe deixou

grandes alternativas. Ou mandava os tanques dizimar os manifestantes, ou saía de cena. Optou pela segunda

hipótese, livrando-se do julgamento no Tribunal Penal Internacional.

Hoje, não se podem desligar as agendas do impacto brutal da mudança nas formas de comunicação. E isso

coloca outros problemas. Passou-se de uma fase em que a política se ancorava numa ideologia, imutável

ou muito pouco permeável, e em que ao líder bastava ficar na trincheira e resistir, para uma espécie de

extremos em que “a política se faz 24 sobre 24 horas com basicamente as frases do dia”, como diz Rui

Tavares. O perigo, segundo o historiador, é o “excesso de taticismo”, que cria “mais um fator de

desligamento das pessoas em relação aos partidos”. Para Marques Mendes, advogado e ex-líder do PSD, o

controlo da agenda por parte dos políticos tem outras condicionantes para além da pressão mediática. Por

um lado, há a incerteza das conjunturas económicas e financeiras; por outro, o facto de a gestão das crises já

não estar exclusivamente em mãos nacionais. Esta gestão possibilitava o controlo dos ciclos, enquadrando-os

nos mandatos, que António Barreto qualifica como um dos “condimentos” da democracia. “Hoje não é o

mandato que conta, é o tempo real. Ao tomar decisões, o político está a pensar nos noticiários das 20h, no

online ou nas sondagens. Isto não é democracia!”

Para evitar a deriva e o risco real de decisões cada vez mais erráticas e perigosas, Luís Amado propõe o

“sentido do compromisso” assente em “acordos de regime mais ou menos prolongados no tempo”, capazes

de focar as propostas que dêem conteúdo a uma legislatura. Chegará? A realidade é que os cidadãos exigem

respostas permanentes e se quem os representa não as

dá, a tendência será substituírem as velhas formas de

representação. Com a experiência que hoje temos, seria

possível a adesão ao euro sem a participação ativa dos

cidadãos nessa tomada de decisão? Não parece. Assim

como é certo e sabido que qualquer matéria europeia

está hoje muito mais sujeita a todo o tipo de escrutínio.

Rui Tavares fala em “dar mais e melhores ferramentas à

democracia”, mas quem fica à espera do tempo dos

políticos? (...)

É curioso que hoje já só há heróis anónimos. Quem

vive sob os holofotes não resiste à função predadora

das luzes da ribalta. E o mais certo é que nem Churchill, um dos mais admirados políticos do século XX,

resistiria à voracidade do escrutínio público.

Sampaio, Áurea. Publicado no Jornal Publico em 3 de março de 2015

Em 2014, protestos organizados nas redes sociais conduziram à queda do

então Presidente do Burkina Faso

Imagem disponível na Internet em:

http://www.techguru.com.br/85-dos-usuarios-veem-as-redes-sociais-como-meio-de-discussao-politica/

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A responsabilidades dos media enquanto prestadores de serviço público: emissão em tempo real e em tempo diferido

O conhecimento de como funciona a produção de informação em geral e da televisão em particular é

fundamental para o público em geral, uma vez esta representa um

poderoso mediador social. Ao lado dos agentes de socialização

tradicionais, a Televisão desempenha um papel relevante como

interveniente do sistema social.

Para muitas pessoas a Televisão constitui a única fonte de

informação, o que aumenta a sua responsabilidade social face às

opções dos seus conteúdos e do seu largo consumo pelo público. Ela

confere um vínculo social entre aqueles que a veem em simultâneo,

constituindo uma das raras instâncias onde a própria sociedade se

revê, o que inevitavelmente amplifica as suas responsabilidades

perante a própria sociedade e os seus cidadãos. A forte influência

deste meio de comunicação social, que marcou a era eletrónica da

comunicação de massas, relativamente aos outros agentes

socializadoras, deve-se precisamente à sua ampla visibilidade e à sua

extensa audiência.

Ao nível da informação, a responsabilidade da televisão torna-se ainda maior, visto que, apesar de já se

ter ultrapassado o mito da neutralidade e da objetividade absolutas no tratamento noticioso, o facto de a

imagem mostrar as imagens com sons, transmite a impressão da realidade e não apenas a sua representação

simbólica. É, neste sentido, que os media, em geral, mas particularmente a televisão determinam as formas

de orientação da atenção pública, a agenda de temas dominantes que reclamam essa atenção e a sua

posterior atenção pública, a hierarquização da relevância dos temas e a capacidade de descriminação

temática que os indivíduos manifestam. Os alinhamentos informativos constituem a disposição da

tematização no noticiário televisivo. Através deles, há material noticioso que ganha mais notabilidade, quer

pelo tempo disponibilizado, quer pela sua posição hierárquica nos serviços noticiosos. A disposição dos

setores temáticos tem uma relativa mobilidade, sendo os factos mais mediáticos colocados à frente,

podendo mais tarde ser retomados com maior desenvolvimento.

Todos estes aspetos levam a que a agenda dos públicos seja condicionada pela agenda dos media. Por

outro lado, a elaboração do alinhamento noticioso estimula um certo número de características às diferentes

notícias, o que concede aos media, e mais concretamente à televisão, um papel relevante na construção /

desconstrução / reconstrução da realidade social, que não raro conduz a situações de estereotipia. (...) Os

meios de comunicação social, em geral, e a

televisão, em particular, enquanto importantes

instâncias socializadoras da contemporaneidade,

ajudam a uniformizar de uma forma globalizada

essa estereotipização. As imagens e representações

do mundo veiculadas através do ecrã possuem já,

em si, a ideia de consenso, de partilha por uma

vasta comunidade, facilitando a adesão

conformista. Por outro lado, o caráter técnico

formal da televisão permite fazer corresponder a

cada palavra um rosto, a cada conceito ou ideia

Imagem disponível na Internet em:

https://www.esec.pt/noticia.php?id=433

Imagem disponível na Internet em: https://aventar.eu/2014/03/19/

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uma imagem, fazendo com que o mundo seja percebido como um conjunto de rostos, imagens e símbolos,

nos quais se inscrevem as ideias mais abstratas, conferindo-lhes a materialidade de que necessitam para

viver, reproduzir-se e tornar-se “realidade”. (...)

Um reflexão necessária a fazer quando abordamos o

papel dos media e particularmente da televisão e mais

recentemente da internet, tem a ver com a forma como

a informação é transmitida, isto é se em tempo real se

em tempo diferido. A rádio foi o primeiro media a

transmitir em tempo real. Mas foi a televisão que

aliando a imagem ao som, veio dar outra força ao

direto, à transmissão dos factos em tempo real, e que

hoje é graças aos avanços da tecnologia da transmissão

de dados como o streaming, passou a ser banal em

muitas plataformas disponíveis na Internet acedida por

computadores, telemóveis e outros equipamentos de comunicação.

A informação em “primeira-mão”, em tempo real, acaba por ser vista como mais objetiva, genuína do

que a transmitida em diferido, considerada mais subjetiva devido ao facto de ter sofrido tratamento

prévio, pois passou por um processo valorativo aquando da edição.

Por outro lado, a emissão em tempo real induz o espetador a dar maior importância aos

acontecimentos, uma vez que a atualidade é um dos critérios mais valiosos dos meios de informação. A

atualidade máxima é a captação do acontecimento no instante da sua ocorrência. Contudo, podemos

antecipar que na maior parte das vezes é no direto que são cometidas as maiores distorções pela falta de

preparação por parte dos repórteres. Geralmente é um formato mais utilizados para transmitir factos com

forte carga emocional.

A Televisão – pelo uso da imagem – acaba por exercer maior influência e, como tal, deter maior

responsabilidade junto dos seus telespetadores. A televisão, pela riqueza dos seus canais discursivos, tem

tudo para ser o media mais habilitado: a disponibilizar uma visão global e contextualizada dos factos, a

procurar o contraste das fontes diversificadas; a fazer uma rigorosa depuração dos dados, a promover o

aprofundamento das consequências sociais, políticas e económicas; a debater-se por um equilíbrio na

cobertura territorial, social e cultural; a introduzir um enfoque pluralista e imparcial nas opiniões veiculadas,

enfim a integrar os princípios estruturantes do serviço público, que

não poderá estar adstrito exclusivamente à TV estatal, mas a todos

os meios conscientes que fazem, diariamente, uma construção

social da realidade.

Contudo, tal, tendo em conta os moldes de produção audiovisual

contemporânea, não nos parece tarefa fácil. Pelo contrário,

tememos que a estereotipização aliada a todos os componentes da

informação audiovisual moderna – dificuldades de financiamento,

desafios das novas tecnologias, fragmentação, dramatização,

institucionalização, centralização, parcialidade – focada na

concorrência pelas audiências, façam culminar numa comunicação

autocrática do “mundo”, baseada num etnocentrismo cultural cada

vez mais difícil de contornar.

Cruz, Carla Isabel Simões dos Santos. A Desconstrução do Jornal. Uma análise metodológica para a desmontagem dos

noticiários televisivos. Disponível na internet em: http://www.aps.pt/vicongresso/pdfs/490.pdf (adaptado)

Imagem disponível na Internet em: http://fantastictvsite.blogspot.pt/2013/01/mudancas-tambem-

na-rtp2-conheca-as.html

Imagem disponível na Internet em: http://www.cfp.pt/prespubint/entrevista-do-vice-presidente-do-cfp-jurgen-von-hagen-ao-

jornal-publico/

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O serviço público de televisão versus interesse económico

Nos últimos anos, o serviço público que inclui as áreas da saúde, educação e televisão, está em Portugal

e na generalidade dos países a ser objecto de uma profunda reflexão. Por um lado estão aqueles que

defendem uma forte diminuição do serviço

público. Estes argumentam que o serviço público

tem sido uma espécie de buffet, onde cada um

tem consumido à discrição e à custa do erário

público. Por outro lado estão os que defendem

um renovado compromisso com o serviço

público em que se combatam os abusos do

passado. Estes alegam que um serviço público de

qualidade é essencial para garantir a

universalidade de acesso aos bens públicos e

deste modo à igualdade de oportunidades na

sociedade, que é trave mestra da democracia.

A este propósito a BBC (televisão pública do

Reino Unido) publicou em 2013 um estudo sobre

a relação entre o serviço público e o serviço

privado de televisão: “Public and private broadcasters across the world – The race to the top”. Este estudo

analisa se a existência do serviço público de televisão é positivo para os concorrentes privados e para o

público. Duas questões são colocadas: quais os efeitos do serviço público de televisão no investimento em

programas e na qualidade do serviço privado de televisão; quais os efeitos do serviço público de televisão na

diversidade de opiniões na comunicação social, a chamada pluralidade dos media.

Nos últimos tempos tem ganhado preponderância a ideia de que os serviços públicos diminuem as

oportunidades de negócio para os serviços privados, o chamado crowd-out. O relatório da BBC contradiz esta

posição no que diz respeito ao setor da televisão. O estudo demonstra que os países com um maior

financiamento estatal do serviço público de televisão (países Nórdicos, Austrália e Reino Unido) têm um

setor televisivo privado com maior qualidade, mais diversificado em termos de conteúdos, mais plural e com

maiores receitas. O contrário acontece nos países com um serviço público de televisão mais fraco em termos

de financiamento estatal, como é o caso de Portugal e de Itália.

Como explicar estes resultados? A visão do crowd-out tem duas limitações. Em primeiro lugar tem uma

visão estática da economia. Em segundo lugar não reconhece a existência de falhas de mercado, ou seja,

situações em que não é lucrativo para um ator privado fornecer um bem ou serviço.

Uma visão estática do mercado significa

entre outras coisas que este não cresce. Neste

contexto, a presença de um ator público tira

sempre o lugar a atores privados. Ora se os

atores privados forem mais eficientes que os

atores públicos, então estes últimos reduzem a

produtividade da economia. No mundo real, no

entanto, os mercados são dinâmicos. Por

exemplo, o investimento realizado pelas

empresas pode não só aumentar o tamanho

dos mercados como criar novos mercados.

Dirão agora que as empresas privadas

Imagem disponível na Internet em: https://www.youtube.com/watch?v=hJEDce-7dCQ

Imagem disponível na Internet em: https://viagemdasletras.wordpress.com/2015/01/13/literatura-agora-rtp2/

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também fazem investimentos, e como tal não há necessidade de empresas públicas. O problema é que

empresas privadas nem sempre o fazem, principalmente no que diz respeito aos serviços públicos, porque

o fornecimento destes nem sempre é lucrativo para elas. De facto, como se sabe, o objetivo das empresas

privadas é maximizar os lucros, não o bem-estar

social. No caso dos media, é por exemplo razoável

assumir que as empresas privadas não estarão

especialmente interessadas em programas

culturais, educacionais ou direcionados às minorias

e a grupos sociais mais desfavorecidos, porque

estes têm menores audiências. De facto muitos

analistas dos media consideram que em Portugal a

introdução dos canais privados não conduziu a um

aumento da qualidade nem da pluralidade na

televisão portuguesa.

Uma solução para este tipo de falhas de mercado

seria a regulação, como por exemplo quotas para música nacional que existe na Rádio em países como

Portugal e França. No entanto, a regulação pode também envolver os seus problemas. Primeiro, a regulação

nem sempre é possível implementar, como quando por exemplo esta tem a oposição de grupos de interesse

poderosos. Segundo, o Estado por vezes não tem a capacidade ou o poder suficiente para fazer uma

regulação competente (ver o caso do sector financeiro). Terceiro, nalguns setores a regulação pode ir contra

princípios basilares da sociedade, como a liberdade de expressão nos media. Veja-se o escândalo das escutas

do News of the World no Reino Unido em que, apesar dos graves factos imputados a este jornal, os media

ingleses mesmo assim recusaram qualquer tipo de regulação por parte do Estado, em nome da

independência dos media face ao governo.

Existe no entanto uma alternativa à regulação: a presença no mercado de uma empresa pública que tem

como função maximizar o bem-estar social, ou seja os lucros das empresas em conjunto com a qualidade

deste serviço. Esta solução é chamada na teoria económica por “regulação por participação”. Neste caso, a

função do serviço público de televisão teria que ser no sentido de aumentar as expectativas das audiências

de forma a pressionar os atores privados a investir igualmente na diversidade de conteúdos e na qualidade

dos programas. Ou seja uma race to the top.

No entanto, para que a race to the top aconteça é preciso que o serviço público de televisão seja

independente do poder político. Estudos demonstram que em países onde os media são independentes do

poder político (mais uma vez os países Nórdicos, Austrália e Reino Unido), o serviço público de televisão

contribui positivamente para a pluralidade dos

media. O contrário acontece nos países onde os

media são controlados pelo Estado, tal como

acontece na Rússia e na Itália.

Assim, para que a “regulação por

participação” por parte do serviço público

funcione é necessário que este tenha como

objectivo maximizar o bem-estar social e que

este seja independente do poder político. Por

outro lado, um serviço público de qualidade não

pode sobreviver sem audiências que exijam

qualidade e diversidade. De facto, sendo os

media um negócio, são as audiências que ditam a

Imagem disponível na Internet em: http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/detalhe/sic_e_tvi_consid

eram_abusiva_entrada_de_mais_da_rtp_na_tdt.html

Imagem disponível na Internet em: https://www.publico.pt/politica/noticia/sic-e-tvi-rejeitam-contrato-de-

concessao-para-a-rtp-que-distorce-o-mercado-1611808

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escolha da programação. É nestes três aspectos que o sector público, a sociedade civil e a democracia em

Portugal são mais débeis, e como tal onde mais tem que evoluir. Sem eles dificilmente poderemos ter um

sector dos media com qualidade e plural.

Pires, Armando José Garcia. Publicado no Jornal Jornal Público em 6 de novembro de 2014

A comunicação rádio: tempo real versus tempo diferido.

O século XIX assistiu ao alvorecer de uma nova conceção de escrita. A fotografia, o cinema e o fonógrafo,

propunham uma nova forma de registo das

manifestações da natureza e das culturas humanas,

capazes de captar de maneira simultânea e

automática uma grande variedade de nuances e tons

(de luz ou de som). No plano da linguagem, estas

formas de registo mecânico (depois aperfeiçoadas

pela eletrónica) permitiram conservar e reproduzir

em qualquer tempo e lugar os componentes

analógicos que anteriormente eram prisioneiros da

realidade subjacente.

Mas o discurso da rádio não se limitava a uma

nova escrita feita pela composição de sons. O

discurso do rádio é isso e algo mais, e este algo mais é

dado pela sua enunciação em tempo real. A

radiodifusão distingue-se da imprensa pela sua

condição ao vivo, e é percebida como tal, o que

provoca um forte efeito de realidade e, através dele, a

empatia do público. Porém, a simultaneidade a que esta condição idealmente se refere, no caso do rádio

jornalismo, ocupa apenas uma parcela do tempo do fluxo. Esta parcela é geralmente menor do que

aparenta, uma vez que a condição fonográfica de um enunciado raramente é explicitada, enquanto os

momentos de transmissão direta têm sempre esta condição enfatizada e, não raramente, simulada. (…)

O vivo que caracteriza a rádio torna-se mais intenso conforme a forma de produção do enunciado. Um

texto escrito, memorizado ou planeado antecipadamente para ser interpretado na rádio, embora não

caracterize ainda a dupla simultaneidade da transmissão direta, agrega à primeira simultaneidade do

discurso mais um elemento ao vivo - a interpretação do locutor. Por isso, o discurso produzido pela

apresentação de um texto ao microfone, embora mantenha as características de um conteúdo produzido

antecipadamente, pode ser considerado um vivo em segundo grau.

Em termos da composição do discurso da rádio informativo, os avanços tecnológicos tornaram possível a

enunciação diferida em toda a sua potencialidade. O diferido libertou a expressão sonora da tirania do

presente extratextual, permitindo ao discurso do radiojornalismo reassumir totalmente o domínio sobre a

definição dos limites da atualidade.

Quando um enunciado diferido é incluído no fluxo radiofónico (uma declaração, uma reportagem, uma

música), sofre uma mudança qualitativa. Cumpre uma função comunicativa diversa pela mudança do

contexto. De enunciado autónomo, passa a fazer parte de um enunciado maior (um programa, uma

programação) que tem outro autor, outra intenção, outra leitura, outra relação com a realidade.

Imagem disponível na Internet em: http://radiocritica.blogspot.pt/2015/02/dia-mundial-da-

radio.html

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A transmissão ao vivo possibilitada pela tecnologia eletrónica incluiu o momento presente no campo da

noticiabilidade. O rádio foi o primeiro meio de comunicação de massa a operar em tempo real, e esta

característica estritamente electrónica de

combinar a transmissão direta com a diferida

é que distingue a sua linguagem em relação à

da gravação. (…)

A rádio pode criar imagens, conduzir a

imaginação do ouvinte. A diferença é que

essas imagens interiores, produzidas na

mente, não podem ser confundidas com as

imagens que se vêem num ecrã. São imagens

muito mais ricas - podem comportar três

dimensões, e também incluir sensações

táteis, olfativas, auditivas - e também muito

mais económicas: muitas vezes são dispensadas sem que isso prejudique a comunicação. Ao ouvir-se um

noticiário, por exemplo, ninguém fica imaginando o rosto do locutor ou o estúdio de onde fala, porque isso

não é importante para a mensagem.

Para distinguir a linguagem da rádio tanto do disco como do cinema (estas concebidas na era mecânica,

embora aperfeiçoadas depois pela eletrónica), é preciso defini-la como uma composição sonora invisível de

palavra, música, ruído e silêncio, enunciada em tempo real. Esta definição comporta não apenas a rádio

tradicional, difundido por diversas faixas de ondas de radiofrequência (AM, FM, OC, etc.), mas também as

possibilidades que se abrem através sua difusão e transmissão por cabo, por satélite ou pela Internet. A

identidade da rádio na era eletrónica não radica mais na forma como é difundida, mas na especificidade do

seu discurso sonoro, invisível, enunciado por diversos meios, em tempo real.

Meditsch, Eduardo, 1997. Disponível na Internet em: http://bocc.ubi.pt/pag/meditsch-eduardo-discurso-

radiojornalismo.html

Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança: Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança: Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria, E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto, Que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões Para ouvir poema cantado por José Mário Branco carregue aqui.

Vive sem Horas Vive sem horas. Quanto mede pesa, E quanto pensas mede. Num fluido incerto nexo, como o rio Cujas ondas são ele, Assim teus dias vê, e se te vires Passar, como a outrem, cala. Ricardo Reis, in "Odes" Heterónimo de Fernando Pessoa

Imagem disponível na Internet em: http://www.rtp.pt/antena1/

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Aproveitar o Tempo

Aproveitar o tempo! Mas o que é o tempo, que eu o aproveite? Aproveitar o tempo! Nenhum dia sem linha... O trabalho honesto e superior... O trabalho à Virgílio, à Mílton... Mas é tão difícil ser honesto ou superior! É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio! Aproveitar o tempo! Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos - Para com eles juntar os cubos ajustados Que fazem gravuras certas na história (E estão certas também do lado de baixo que se não vê)... Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões, E os pensamentos em dominó, igual contra igual, E a vontade em carambola difícil. Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos - Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida. Verbalismo... Sim, verbalismo... Aproveitar o tempo! Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça... Não ter um ato indefinido nem factício... Não ter um movimento desconforme com propósitos... Boas maneiras da alma... Elegância de persistir... Aproveitar o tempo! Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro. Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto. Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste. Aproveitar o tempo! Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos. Aproveitei-os ou não? Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!

(Passageira que viajaras tantas vezes no

mesmo compartimento comigo

No comboio suburbano,

Chegaste a interessar-te por mim?

Aproveitei o tempo olhando para ti?

Qual foi o ritmo do nosso sossego no

comboio andante?

Qual foi o entendimento que não chegámos

a ter?

Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto

a vida?)

Aproveitar o tempo!

Ah, deixem-me não aproveitar nada! Nem

tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou

de ser!...

Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada

por brisa,

A poeira de uma estrada involuntária e

sozinha,

O vinco deixado na estrada pelas rodas

enquanto não vêm outras,

O pião do garoto, que vai a parar,

E oscila, no mesmo movimento que o da

alma,

E cai, como caem os deuses, no chão do

Destino.

Álvaro de Campos, in "Poemas"

Heterónimo de Fernando Pessoa

E por Vezes

E por vezes as noites duram meses

E por vezes os meses oceanos

E por vezes os braços que apertamos

nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses

o que a noite nos fez em muitos anos

E por vezes fingimos que lembramos

E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos

só o sarro das noites não dos meses

lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos

E por vezes por vezes ah por vezes

num segundo se evolam tantos anos

David Mourão-Ferreira

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Tempo Tempo — definição da angústia.

Pudesse ao menos eu agrilhoar-te

Ao coração pulsátil dum poema!

Era o devir eterno em harmonia.

Mas foges das vogais, como a frescura

Da tinta com que escrevo.

Fica apenas a tua negra sombra:

— O passado,

Amargura maior, fotografada.

Tempo...

E não haver nada,

Ninguém,

Uma alma penada

Que estrangule a ampulheta duma vez!

Que realize o crime e a perfeição

De cortar aquele fio movediço

De areia

Que nenhum tecelão

É capaz de tecer na sua teia!

Miguel Torga

Tempo de Poesia

Todo o tempo é de poesia

Desde a névoa da manhã

à névoa do outo dia.

Desde a quentura do ventre

à frigidez da agonia

Todo o tempo é de poesia

Entre bombas que deflagram.

Corolas que se desdobram.

Corpos que em sangue soçobram.

Vidas qua amar se consagram.

Sob a cúpula sombria

das mãos que pedem vingança.

Sob o arco da aliança

da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação ao caos

à confusão da harmonia.

António Gedeão