prática pedagógica do professor mediador

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Universidade Candido Mendes Instituto a Vez do Mestre A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR MEDIADOR NA PRESPECTIVA DE VIGOTSKY Elizabeth da Cruz Ribeiro Prof. Orientador Vilson Sergio Rio de Janeiro/ Tijuca 2007

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prática pedagógica do professor mediador

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  • Universidade Candido Mendes

    Instituto a Vez do Mestre

    A PRTICA PEDAGGICA

    DO PROFESSOR MEDIADOR NA

    PRESPECTIVA DE VIGOTSKY

    Elizabeth da Cruz Ribeiro

    Prof. Orientador Vilson Sergio

    Rio de Janeiro/ Tijuca

    2007

  • 2UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    A PRTICA PEDAGGICA

    DO PROFESSOR MEDIADOR NA

    PRESPECTIVA DE VIGOTSKY

    Monografia de concluso do Curso de Ps-Graduao Universidade Candido Mendes - Instituto a Vez do Mestre

    Psicopedagogia

    Elizabeth da Cruz Ribeiro

  • 3

    Agradeo a todos que estiveram, de

    certa forma, envolvidos no processo e

    na realizao deste trabalho, minha

    famlia, amigos e professores.

  • 4

    SUMRIO

    Resumo 5

    Introduo 6

    Captulo I - A PERSPECTIVA SCIO-HISTRICA DO

    CONHECIMENTO 9

    Captulo II - CONCEITO DE MEDIAO 17

    Captulo III - A PRTICA PEDAGGICA DO PROFESSOR MEDIADOR 30

    Consideraes Finais 39

  • 5

    RESUMO

    Este trabalho objetivou discutir e compreender a prtica pedaggica do

    professor mediador no processo de construo do conhecimento da criana,

    baseado na perspectiva scio-histrica de Vygotsky, onde o conceito de

    mediao definido, j que ele o ponto central de sua abordagem. Na

    perpectiva scio-histrica, Vygotsky procurou desenvolver um mtodo que

    permitisse a compreenso do comportamento humano, mas acabou

    sistematizando uma nova abordagem sobre o processo de desenvolvimento do

    pensamento e das funes cognitivas de um sujeito contextualizado e,

    portanto, histrico. Assim, deixou idias sugestivas para a educao, onde a

    definio do papel do professor mediador se caracteriza pelo fato de permitir

    que o aluno seja capaz de pensar, criar, questionar, errar, enfim, seja ativo e

    interativo do processo de construo do conhecimento. Dessa forma, o

    professor no se perde no processo, as acelera possibilitando a aprendizagem,

    respeitando a natureza do indivduo e, principalmente, do processo de

    construo do conhecimento das crianas.

  • 6

    INTRODUO

    O presente tema, foi escolhido devido a minha afinidade e o meu

    interesse maior pelas teorias do conhecimento. Encantei-me com as teorias

    psicolgicas de Skinner, Freud, Piaget, Vygotsky e Wallon, e elas despertaram

    meu interesse em agregar mais informaes sobre o desenvolvimento infantil,

    nos seus diferentes aspectos: cognitivo, afetivo e social.

    O interesse em me aprofundar na teoria de Vygotsky, vem do quanto

    considero importante que a criana construa o seu conhecimento na inter-

    relao com os outros e com o meio em que est inserida. E o quanto

    questo scio-cultural influencia neste processo.

    Partindo do pressuposto de que h uma enorme riqueza e complexidade

    presente nesse processo de desenvolvimento e aprendizagem infantil,

    pretendo neste trabalho articular a teoria de Vygotsky com a prtica

    pedaggica do professor mediador. Nesse sentido, ser necessrio uma breve

    apresentao da perspectiva scio-histrica do conhecimento, a fim de

    fornecer uma viso mais ampla das contribuies de Vygotsky ao processo de

    ensino-aprendizagem. Alm disso, ser conceituada mediao, um dos temas

    centrais da abordagem Vygotskyana, para que se possa entender o papel de

    um professor mediador na construo do conhecimento do indivduo.

    Trata-se de uma pesquisa de carter terico, bibliogrfico, que foi

    realizada a partir de autores referenciais no assunto.

    A anlise do desenvolvimento da criana ter como referencial terico o

    pensamento de Vygotsky (1998). Para ele, desde o nascimento o ser humano

    vive rodeado por seus pares em um ambiente impregnado pela cultura,

    defendeu que o prprio desenvolvimento da inteligncia e o produto dessa

    convivncia. Para ele, na ausncia do outro o homem no se constri homem.

    A premissa de que o homem constitui-se como tal atravs de suas interaes

    sociais, portanto, visto como algum que transforma e transformado nas

    relaes produzidas numa determinada cultura.

  • 7A pesquisa aborda tambm a viso de outros autores como:

    Vasconcellos; Valsiner (1995), que abordam o desenvolvimento como sendo

    resultado das interaes sociais, voltadas para uma perspectiva construtivista

    do desenvolvimento humano, atentos questes educacionais. Segundo

    pensamento dos autores, para Vygotsky o desenvolvimento da criana

    produto de instituies sociais e sistemas educacionais, como famlia, escola,

    igreja, que ajudam a construir seu prprio pensamento e descobrir o significado

    da ao do outro e de sua prpria ao; Matui (1995), alm de discutir como se

    d a construo dos conhecimentos no ser humano, retrata a abordagem

    construtivista scio-histrica aplicada ao ensino; Benjamin (1984), destaca a

    participao ativa da criana e a natureza ldica e prazerosa no qual aprende-

    se brincando; Bertoldo (2000), mostra a importncia do estimulo do outro para

    o desenvolvimento infantil;

    Este estudo enfocar o quanto s crianas podem ser beneficiadas em

    seu desenvolvimento se puderem criar, construir seu conhecimento atravs da

    sua interao com o objeto de conhecimento, a partir da participao do

    professor como mediador no processo de desenvolvimento.

    A educao atualmente no vista como uma cincia isolada e sim

    como um fenmeno complexo e repleto de mltiplas perspectivas e enfoques.

    Assim, os estudos provenientes da Psicologia tm dado contribuies

    bastante relevantes que nos permitem conhecer o desenvolvimento infantil nas

    diferentes reas (sensrio-motora, scio-afetiva, simblica e cognitiva)

    possibilitando a compreenso de como as crianas constroem o seu

    conhecimento. Essas informaes so especialmente importantes, pois delas

    retiraremos subsdios fundamentais para a prtica pedaggica. Nesse sentido,

    a teoria de Vygotsky poderia estar auxiliando com eficcia a compreenso dos

    fenmenos educativos, pois nessa perspectiva construir conhecimentos implica

    numa ao partilhada, j que atravs dos outros que as relaes entre sujeito

    e objeto de conhecimento so estabelecidas.

  • 8Cabe aos profissionais de educao estar atentos s teorias

    psicolgicas do conhecimento e principalmente ao valor das interaes sociais

    no contexto educacional, entendendo como sendo uma condio necessria

    para a produo de conhecimento por parte dos alunos.

  • 9

    CAPTULO I

    A PERSPECTIVA SCIO-HISTRICA DO

    CONHECIMENTO

    O presente trabalho tem como objetivo, compreender a funo do

    professor mediador no processo de aquisio do conhecimento da criana, a

    partir do conceito de mediao presente na perspectiva scio-histrica de

    Vygotsky. Nesse sentido, faz-se necessrio uma breve apresentao dessa

    abordagem, a fim de permitir uma compreenso mais abrangente do processo

    de desenvolvimento do indivduo.

    Alm disso, importante saber quem foi Lev Semyonovitch Vygotsky,

    que nasceu 5 de novembro de 1896, na cidade de Orsha na Bielo-Rssia. Sua

    famlia era de origem judaica. De 1914 a 1917, Vygotsky estudou Direito e

    Literatura, na Universidade de Moscou. Fez cursos na Faculdade de Medicina,

    primeiramente em Moscou e depois em Kharkov. Lecionou literatura e

    psicologia numa escola em Gomel. Tambm criou um laboratrio de psicologia

    no Instituto de Treinamento de Professores, onde dava curso de psicologia.

    Entre 1925 e 1934, reuniu em torno de si um grande grupo de jovens cientistas

    que trabalhavam nas reas da psicologia e no estudo das anormalidades

    fsicas e mentais. Morreu de tuberculose em 11 de junho de 1934 aos 37 anos.

    A perspectiva Scio-Histrica (ou histrico-cultural) do psiquismo,

    tambm conhecida como abordagem scio-interacionista elaborada por

    Vygotsky, visa

    caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e

    elaborar hipteses de como essas caractersticas se formaram ao

    longo da histria humana e de como se desenvolvem durante a vida

    de um indivduo. (VYGOTSKY, 1984)

  • 10

    Nesta perspectiva, Vygotsky (1998) considera o desenvolvimento da

    complexidade da estrutura humana como um processo de apropriao pelo

    homem da experincia histrica e cultural. Segundo ele, organismo e meio

    exercem influncia recproca, portanto o biolgico e o social no esto

    dissociados. Assim, a premissa de que o homem constitui-se como tal

    atravs de suas interaes sociais, portanto, visto como algum que

    transforma e transformado nas relaes produzidas numa determinada

    cultura, por isso que seu pensamento pode ser chamado de scio-

    interacionista.

    Conforme afirmam Vasconcellos & Valsiner (1995), Vygotsky tentou

    elaborar, em sua breve vida acadmica, uma teoria onde cada indivduo

    aparece como ativo participante de sua prpria existncia, construda na inter-

    relao com outros sociais. Para ele, nos diferentes momentos de

    desenvolvimento, a criana adquire a capacidade com a qual ela pode,

    competentemente, afetar o seu meio social e a si mesma.

    Segundo Cole e Scribner apud Rego (2001), Vygotsky procurou

    desenvolver um mtodo que permitisse a compreenso da natureza do

    comportamento humano, enquanto parte do desenvolvimento histrico geral de

    nossa espcie. Acabou sistematizando uma abordagem nova sobre o processo

    de desenvolvimento do pensamento e das funes cognitivas complexas de um

    sujeito contextualizado e, portanto, histrico. A essncia deste novo mtodo o

    princpio de que todos os fenmenos tm uma histria caracterizada por

    mudanas qualitativas e quantitativas, portanto devem ser estudadas como

    processos em constante transformao.

    Ao admitir a interao do indivduo com o meio como caracterstica

    definidora da constituio humana, Vygotsky (1998) refuta as teses

    antagnicas e radicais que dicotomizavam o inato e o adquirido: as abordagens

    ambientalistas e nativistas. Suas proposies parecem apontar para uma

    superao das oposies consagradas no campo da Psicologia, na medida em

    que indicam novas bases para a compreenso da atividade humana. A

  • 11complexidade da estrutura humana deriva do processo de desenvolvimento

    profundamente enraizado nas relaes entre individual e social.

    Conforme afirma Vygotsky (1998), no processo da constituio humana

    possvel distinguir, duas linhas qualitativamente diferentes de

    desenvolvimento, diferindo quanto sua origem: de um lado, os processos

    elementares (afeto, percepo, reflexo, motricidade), que so de origem

    biolgica; de outro, as funes psicolgicas superiores (memria, pensamento,

    ateno, linguagem), de origem scio-cultural. A histria do comportamento da

    criana nasce do entrelaamento dessas duas linhas.

    Desta forma, Rego (2001) demonstra que estas funes so

    consideradas sofisticadas e superiores, porque se referem a mecanismos

    intencionais, aes conscientemente controladas, processos voluntrios que

    do ao indivduo a possibilidade de independncia em relao s

    caractersticas do momento e espao presente. Assim, estes processos no

    so inatos, eles se originam nas relaes entre indivduos humanos e se

    desenvolvem ao longo do processo de internalizao de formas culturais de

    comportamento.

    Na concepo de Cole apud Rego (2001), o estudo dos processos

    psicolgicos na abordagem scio-histrica tem permitido a definio de

    diversas linhas de pesquisa, tais como: estudo do desenvolvimento de uma

    criana, de um grupo cultural e da dissoluo de processos psicolgicos, uma

    vez que as doenas e traumatismos desfazem aquilo que a evoluo e a

    experincia cultural ajudaram a construir.

    Para Rego (2001.), Vygotsky destaca que as caractersticas tipicamente

    humanas no esto presentes desde o nascimento do indivduo, nem so mero

    resultados das presses do meio externo. Elas resultam da interao dialtica

    do homem e seu meio scio-cultural. Ao mesmo tempo em que o ser humano

    transforma o seu meio para atender suas necessidades bsicas, transforma-se

    a si mesmo. Desta forma, quando o ser humano modifica o ambiente atravs

    de seu prprio comportamento, essa mesma modificao ir influenciar seu

    comportamento futuro.

  • 12Para ela, aquilo que inato, isto as funes psicolgicas elementares

    (afeto, percepo, motricidade, reflexo) no so suficientes para produzir o

    indivduo humano, na ausncia do ambiente social. As caractersticas

    individuais (modo de agir, de pensar, de sentir, valores, conhecimentos, viso

    de mundo etc.) dependem da interao do ser humano com o meio fsico e

    social. Vygotsky chama ateno para a ao recproca existente entre o

    organismo e o meio e atribui especial importncia ao fator humano presente no

    ambiente.

    No entanto, o desenvolvimento mental humano no dado a priori, no

    imutvel e universal, no passivo, nem tampouco independente do

    desenvolvimento histrico e das formas sociais da vida humana. A cultura ,

    portanto, parte constitutiva da natureza humana, j que sua caracterstica

    psicolgica se d atravs da internalizao dos modos historicamente

    determinados e culturalmente organizados de operar com informaes.

    A sua pesquisa traduzia a tentativa de buscar uma abordagem

    alternativa, que superasse as tendncias antagnicas presentes na psicolgica

    de sua poca. Baseado nos princpios do materialismo dialtico, procurou

    construir uma nova psicologia, com o intuito de integrar, numa mesma

    perspectiva, o homem enquanto corpo e mente, enquanto ser biolgico e

    social, enquanto membro da espcie humana e participante de um processo

    histrico.

    Um dos pontos cruciais desses princpios, que todos os fenmenos

    sejam estudados como processos em movimento e em mudana.

    Na concepo de Rego (2001), o objetivo deste projeto ou pesquisa,

    seria responder a trs questes essenciais que, segundo ele, vinham sendo

    tratadas de forma inadequada pelos estudiosos interessados na psicologia

    humana e animal. A primeira se referia tentativa de compreenso da relao

    entre os seres humanos e o seu ambiente fsico e social. A segunda,

    inteno de identificao das novas formas de atividade que fizeram com que o

    trabalho fosse o meio fundamental de relacionar homem e natureza, assim

    como examinar as conseqncias psicolgicas dessas formas de atividade. A

  • 13terceira questo se relacionaria analise da natureza das relaes entre o uso

    de instrumentos e o desenvolvimento da linguagem.

    Para Vasconcellos & Valsiner (1995), de fundamental importncia, a

    participao de Vygotsky e outros tericos soviticos no projeto de

    implementao de uma Psicologia de acordo com os princpios marxista-

    lenistas. Princpios que adotavam as noes de um psiquismo humano

    formado a partir do contexto social, no qual o indivduo se desenvolve, e

    propunham a compreenso de que o conhecimento socialmente construdo e

    culturalmente transmitido, em dilogo com os outros sociais que convivem com

    o sujeito em formao.

    Para Vygotsky (1998), a teoria marxista da sociedade tambm teve um

    papel fundamental em seu pensamento. De acordo com Marx, mudanas

    histricas na sociedade e na vida material produzem mudanas na natureza

    humana (conscincia e comportamento). Elaborou de forma criativa as

    concepes de Engels sobre o trabalho humano e o uso de instrumentos como

    os meios pelos quais o homem transforma a natureza. Portanto, o

    conhecimento envolve sempre um fazer, um atuar do homem.

    Baseado no pensamento de Marx, Vygotsky (1984) defende que no

    a conscincia que determina a vida, mas a vida que determina a conscincia.

    A mente do homem a forma mais elevada de reflexo (como no espelho) da

    realidade scio-histrica.

    necessrio ressaltar que, na abordagem vygotskiana, o que ocorre

    no uma somatria entre fatores inatos e adquiridos e sim uma interao

    dialtica que se d, desde o nascimento, entre o ser humano e o meio social e

    cultural que se insere.

    Rego (2001), cita em sua obra, um caso verdico de duas crianas

    (conhecidas como meninas-lobas) que foram encontradas na ndia, vivendo no

    meio de uma manada de lobos, demonstra-se que para ser humanizado o

    indivduo precisa crescer num ambiente social e interagir com outras pessoas.

    Quando encontradas, praticamente no apresentavam um comportamento

    humano: no conseguiam permanecer em p, andavam com o apoio das

  • 14mos, no falavam, se alimentavam de carne crua ou podre, no sabiam usar

    utenslios (como garfo, copo, etc.) nem pensar de modo lgico. Quando

    isolado, privado do contato com outros sujeitos, entregues apenas a suas

    prprias condies e a favor dos recursos da natureza, o homem fraco e

    insuficiente.

    Outro caso semelhante o filme, O enigma de Kasper Hauser, com

    direo de Werner Herzog. Um personagem real e enigmtico, que desde

    pequeno foi preso numa sala escura, pequena e baixa, to baixa que ele no

    podia ficar em p. Quando encontrado numa cidade conhecida como

    Nuremberg, com supostamente 30 anos, no sabia falar, o seu andar era

    descoordenado, semelhante aos primeiros esforos de uma criana e no se

    comportava como humano. Apresentava dificuldades na percepo e

    representao. At hoje o seu enigma persiste: apesar de muitas hipteses e

    suspeitas, no se descobriu sua origem. Apoiando-me em estudos de

    Vygotsky, que indicam que a percepo depende, sobretudo, da prxis social,

    necessria para gestar o referencial cultural de apreenso da realidade. Pde-

    se observar, como o isolamento social comprometeu o desenvolvimento

    cognitivo de Kaspar Hauser.

    Nesta perspectiva, Matui (1995), afirma que no h essncia humana

    desde o nascimento. Ela se forma pelo relacionamento, ou seja, o homem se

    constri pelas interaes. Assim, o homem, no isolado, mas relacionado com

    o mundo e rico de possibilidades, o sujeito e o agente da histria.

    Devido a essas caractersticas humanas torna-se impossvel considerar

    o desenvolvimento do sujeito como um processo previsvel, universal, linear ou

    gradual. No entanto o desenvolvimento est intimamente associado ao

    contexto scio-cultural em que a pessoa se insere e se processa de forma

    dinmica (e dialtica) atravs de rupturas e desequilbrios provocadores de

    contnuas reorganizaes por parte do indivduo.

    De acordo com Rego (2001), desde o nascimento, o beb est em

    constante interao com os adultos, que no s asseguram sua sobrevivncia

    mas tambm mediam a sua relao com o mundo. Os adultos procuram

  • 15incorporar as crianas a sua cultura, atribuindo significado s condutas e aos

    objetos culturais que se formaram ao longo da histria.

    Inicialmente, sua atividade psicolgica bastante elementar e

    determinada por sua herana biolgica. Vygotsky ressalta que os fatores

    biolgicos tm preponderncia sobre os sociais somente no incio da vida da

    criana. Aos poucos as interaes com seu grupo social e com os objetos de

    sua cultura passam a governar o comportamento e o desenvolvimento de seu

    pensamento.

    Com a ajuda do adulto, as crianas assimilam ativamente aquelas

    habilidades que foram construdas pela histria social ao longo de milnios: ela

    aprende a sentar, a andar, a controlar os esfncteres, a falar, etc., atravs das

    intervenes constantes do adulto (e de crianas mais experientes), assim, os

    processos psicolgicos mais complexos comeam a se formar. Deste modo, a

    escola, o professor como mediador do conhecimento so fundamentais para

    promover a construo do sujeito.

    Vygotsky (1984) rejeita os modelos baseados em pressupostos inatistas,

    que pr-escrevem caractersticas comportamentais universais do ser humano,

    como por exemplo, as definies de comportamento por faixa etria, por

    entender que o homem um sujeito datado, atrelado s determinaes de sua

    estrutura biolgica e de sua conjuntura histrica.

    Discorda tambm da viso ambientalista pois, para ele, o indivduo no

    resultado de um determinismo cultural, isto , no um receptculo vazio, um

    ser passivo, que s reage frente as presses do meio, e sim um sujeito que

    realiza uma atividade organizadora na sua interao com o mundo, capaz de

    renovar a prpria cultura.

    Constata-se, que o desenvolvimento humano compreendido no como

    a decorrncia de fatores isolados que amadurecem, nem tampouco de fatores

    ambientais que agem sobre o organismo controlando seu comportamento, mas

    sim atravs de trocas recprocas, que se estabelecem durante toda a vida,

    entre indivduos e meio, cada aspecto influindo sobre o outro.

  • 16Portanto, a abordagem marxista que orientou os estudos de Vygotsky,

    representou uma mudana significativa na interpretao que at ento vinha se

    dando, nas pesquisas acerca dos fenmenos psquicos e da caracterizao do

    ser humano. O indivduo, agora contextualizado (histrico e social), pode ser

    estudado dialeticamente com relao s leis de sua evoluo biolgica e s leis

    de seu desenvolvimento scio-histrico.

    Embora Vygotsky no tenha elaborado uma pedagogia, deixou idias

    sugestivas para a educao, apresentando uma viso de desenvolvimento

    humano baseado na idia de um organismo ativo cujo pensamento

    constitudo em um ambiente histrico e cultural: a criana reconstri

    internamente uma atividade externa, como resultado de processos interativos

    que se do ao longo do tempo.

    De acordo com Matui (1995), o Construtivismo Scio-histrico postula

    que nada est pronto, acabado, e que o conhecimento no dado em

    nenhuma instncia, como algo terminado. Ele constitudo pela interao do

    indivduo com o meio fsico e social, com o simbolismo humano, com o mundo

    das relaes sociais. No apenas a soma do sujeito e do objeto. O

    conhecimento s acontece na interao dos dois, qualitativamente superior,

    porque tem uma viso de movimento dialtico, de totalidade e de saltos de

    qualidade.

    Ainda na viso do autor, vale ressaltar, que tanto a mente como o

    conhecimento, por serem de origem social e histrica, so socializados e

    construdos na situao social de dialogicidade. Para ele, a historicidade do

    sujeito humano a base do construtivismo scio-histrico.

  • 17

    CAPTULO II

    CONCEITO DE MEDIAO

    Segundo Matui (1995), o processo de formao do conhecimento se d

    atravs das interaes sociais. Todo objeto de conhecimento cultural e est

    presente na rede das relaes sociais por mediao de smbolos e signos

    (palavras). Assim, o conceito de mediao uma contribuio fundamental da

    teoria de Vygotsky, significa a ao que se interpe entre o sujeito e o objeto

    de conhecimento. pela mediao dos recursos sociais que o indivduo

    conhece o mundo e constri sua representao do real.

    Desta forma, o conceito de mediao vem ampliar o conceito de objeto

    como fonte de conhecimentos. (MATUI, 1995)

    Para Vygotsky (1998), a palavra o elemento mais importante do

    pensamento e da cultura humana, isso porque o conceito de palavra (signos)

    est intimamente associado com a idia de mediao. Desta forma, os signos

    e palavras constituem para as crianas, primeiro e acima de tudo um meio de

    contato social com as outras pessoas. As funes cognitivas e comunicativas

    da linguagem tornam-se ento, a base de uma forma nova e superior de

    atividade nas crianas, distinguindo-as dos animais.

    Conforme afirma Oliveira (1995) Mediao o processo de interveno

    de um elemento intermedirio numa relao; a relao deixa ento de ser

    direta e passa a ser mediada por esse elemento. Entende-se por relao

    direta, a relao do sujeito com o objeto real, concreto. ela que fornece a

    experincia fsica e o prprio conhecimento fsico. E relao mediada o

    conhecimento desse objeto de significao atravs dos seus significantes

    simblicos, os signos/palavras. Podero ser mediadores de um determinado

    aluno, alm da funo simblica, os colegas ou professores. Uma situao

    mediada sempre aquela que se interpe entre o sujeito e o objeto.

    Segundo Freitas (1995), Vygotsky acreditava que a possibilidade de

    transformar o mundo material, mediante o emprego de ferramentas,

  • 18estabelecia as condies para a modificao da prpria atividade reflexa e sua

    transformao qualitativa em conscincia. Este processo, porm, se

    completava mediado pela construo de uma classe especial de ferramentas:

    aquelas que permitissem realizar transformaes nos outros, ou no mundo

    material atravs dos outros. Ele chamou essas ferramentas de signos e

    considerava que eram proporcionados pela cultura, pelas pessoas do meio e

    pelos outros. Esses signos, ao interiorizarem-se, transformando-se em meios

    de regulao interna e auto-regulao, iriam modificar dialeticamente a

    estrutura da conduta externa e, essa no seria mais mera expresso de

    reflexos.

    Conforme afirma Matui (1995), a interao social uma forma

    privilegiada de acesso informao ou ao objeto de conhecimento. O ser

    humano, em virtude das funes psicolgicas superiores, no restringe suas

    respostas a comportamentos condicionados; muito ao contrrio, estabelece

    conexes indiretas entre si e o objeto da aprendizagem por meio de vrios elos

    de mediao.

    Nesta perspectiva h dois tipos de mediao:

    -Instrumentais: exercem controle sobre o meio; instrumentos e tcnicas de

    trabalho para transformar a natureza ou a sociedade, bem como tcnicas de

    estudo e amplificadores culturais para dominar o conhecimento. a funo

    indireta de um objeto como meio para se realizar alguma atividade.

    -Signos e palavras: lembranas ou memrias, palavras e valores simblicos

    que atuam internamente no sujeito, experincia da experincia, ao sobre a

    conscincia, auto-regulao, controle interno do indivduo.

    Neste aspecto, Rego (2001), traz em sua obra uma interessante

    comparao feita por Vygotsky, entre a criao e a utilizao de instrumentos

    como auxilio nas aes concretas e os signos, que ele chama de instrumentos

    psicolgicos, com a funo de auxiliar o homem nas suas atividades

    psquicas, portanto, internas ao indivduo:

  • 19

    a Inveno e o uso de signos auxiliares para solucionar um dado

    problema psicolgico (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher,

    etc.) anloga inveno e uso de instrumentos, s que agora no

    campo psicolgico. O signo age como um instrumento da atividade

    psicolgica de maneira anloga ao papel de um instrumento no

    trabalho (VYGOTSKY, 1984)

    Segundo Vygotsky (1998), a funo do instrumento servir como um

    condutor da influncia humana sobre o objeto da atividade; ele orientado

    externamente. O signo, por outro lado no modifica em nada o objeto da

    operao psicolgica; orientado internamente. Essas atividades so muito

    diferentes uma da outra, que a natureza dos meios por elas utilizados no pode

    ser a mesma.

    Alm disso, Vygotsky argumentou que o efeito do uso de instrumentos

    sobre os homens fundamental no apenas porque os ajuda a se relacionar

    mais eficazmente com seu ambiente, como tambm devido aos importantes

    efeitos que o uso de instrumentos tem sobre as relaes internas e funcionais

    no interior do crebro humano.

    Com o auxilio dos signos, o homem pode controlar voluntariamente sua

    atividade psicolgica e ainda ampliar sua capacidade de memria e acmulo

    de informaes, como por exemplo, pode se utilizar de um barbante no dedo

    para no esquecer um encontro, escrever um dirio para no esquecer

    detalhes vividos, etc.

    Conforme pesquisas realizadas, pode-se observar que as operaes

    com signos aparecem como o resultado de um processo prolongado e

    complexo, sujeito a todas as leis bsicas da evoluo psicolgica. Isso significa

    que a atividade de utilizao dos signos nas crianas no inventada e

    tampouco ensinada pelos adultos; ao invs disso, ela surge de algo que

    originalmente no uma operao com signos, tornando-se uma operao

    desse tipo somente aps uma srie de transformaes qualitativas.

  • 20 Rego (2001), entende que, a relao do homem com o mundo no

    uma relao direta, pois mediada por meios, que se constituem nas

    ferramentas auxiliares`da atividade humana. A capacidade de criar essas

    ferramentas exclusiva da espcie humana. O pressuposto da mediao

    fundamental na perspectiva scio-histrica justamente porque atravs dos

    instrumentos e signos que os processos de funcionamento psicolgico so

    fornecidos pela cultura. por isso que Vygotsky confere linguagem um papel

    de destaque no processo de pensamentos.

    No entanto, a cultura e a sociedade oferecem no simplesmente

    interaes sociais, mas uma teia de relaes muito ricas com os objetos de

    aprendizagem. Essa teia de relaes pela qual as pessoas tm interesse o

    prprio mundo ou a realidade fsica e social: o lugar comum de interesse que

    interliga os indivduos, servindo de autntica mediao.

    Segundo Freire apud Matui (1995), ai que ocorre o dilogo entre as

    pessoas: o encontro dos homens mediatizados pelo mundo, para pronunci-lo.

    No se esgotando na relao eu-tu.

    Nessa teia de relaes sociais, a linguagem ou a fala tem dois usos

    importantes para o conceito de mediao: serve para indicar ou mostrar o

    objeto (funo indexical): isso acontece em relao a um objeto especfico, e

    na sua presena; e tambm representar o objeto (funo simblica): na

    ausncia do objeto, a palavra o seu representante. Assim, a mediao tem no

    centro a palavra.

    Matui, (1995) resgata a idia de mediao em Hegel, se Vygotsky

    aplicou-a na psicologia, foi Hegel quem a definiu filosoficamente:

    Para Hegel, o conceito de mediao era visto como um aspecto caracterstico

    da razo humana.

  • 21A razo to engenhosa quanto poderosa. A sua engenhosidade

    consiste principalmente em sua atividade mediadora, a qual, fazendo

    com que os objetos ajam e reajam uns sobre os outros, respeitando a

    sua prpria natureza e, assim, sem qualquer interferncia direta no

    processo, realiza as intenes da razo.

    (VYGOTSKY, 1998)

    Os sistemas simblicos (entendidos como sistemas de representao da

    realidade), especialmente a linguagem, funcionam como elementos

    mediadores que possibilita a comunicao entre os indivduos, o

    estabelecimento de significados compartilhados por determinado grupo cultural,

    a percepo e interpretao dos objetos, eventos e situaes do mundo

    circundante. por essa razo que Vygotsky afirma, que os processos de

    funcionamento mental do homem so fornecidos pela cultura, atravs da

    mediao simblica.

    Neste parecer Oliveira (2001) afirma que,

    primeiramente o indivduo realiza aes externas, que sero

    interpretadas pelas pessoas a seu redor, de acordo com os

    significados culturalmente estabelecidos. A partir dessa interpretao

    que ser possvel para o individuo atribuir significados a suas

    prprias aes e desenvolver processos psicolgicos internos que

    podem ser interpretados por ele prprio a partir dos mecanismos

    estabelecidos pelo grupo cultural e compreendidos por meio dos

    cdigos compartilhados pelos membros desse grupo.

    A aprendizagem, o conhecimento, socializada e s ocorre na situao

    de dialogicidade.

    Para Vygotsky, como ressalta Matui (1995), a idia de aprendizado inclui

    a interdependncia dos indivduos envolvidos no processo. Nesse sentido, a

    figura do professor como mediador fundamental, pois ele um elo entre o

    aluno e o conhecimento.

  • 22Ao se falar em mediao, no se pode deixar de mencionar outro

    conceito de destaque na teoria de Vygotsky, a Zona de Desenvolvimento

    Proximal.

    Conforme afirma Oliveira (2001), a questo da relao entre os

    processos de desenvolvimento e de aprendizagem central no pensamento de

    Vygotsky. Assim, do mesmo modo que o desenvolvimento no um processo

    espontneo de maturao, a aprendizagem no fruto apenas de uma

    interao entre individuo e o meio. A relao que se d na aprendizagem

    essencial para a prpria definio desse processo, que nunca ocorre no

    indivduo isolado.

    Segundo Vygotsky (1998), o ponto de partida para a discusso deste

    tema o fato de que o aprendizado das crianas comea muito antes delas

    freqentarem a escola. Qualquer situao de aprendizado com a qual a criana

    se defronta na escola tem sempre uma histria prvia. Pode-se dizer que

    aprendizado e desenvolvimento esto inter-relacionados desde o primeiro dia

    de vida da criana.

    Matui (1995), aborda que para Vygotsky a aprendizagem deve ser

    coerente com o nvel de desenvolvimento da criana. No qual, existe uma

    relao entre determinado nvel de desenvolvimento e a capacidade potencial

    de aprendizagem.

    Ainda na viso do autor, justamente pela nfase de Vygotsky, nos

    processos scio-histricos, a idia de aprendizado inclui a interdependncia

    dos indivduos envolvidos no processo. O termo que ele utiliza em russo

    (obuchenie) significa algo como processo de ensino-aprendizagem, incluindo sempre aquele que aprende, aquele que ensina e a relao entre essas

    pessoas. No entanto, o autor opta pelo uso da palavra aprendizado, menos

    comum que aprendizagem, para lembrar-nos que o conceito em Vygotsky tem

    um significado mais abrangente, sempre envolvendo interao social.

    Koffka apud Vygotsky (1998), admite que a diferena entre o

    aprendizado pr-escolar e o escolar est no fato de o primeiro ser um

    aprendizado no sistematizado e o ltimo um aprendizado sistematizado. Mas

  • 23essa sistematizao, no o nico fator; h inclusive o fato de que o

    aprendizado escolar produz algo fundamentalmente novo no desenvolvimento

    infantil.

    Conforme afirma Vygotsky (1998), no podemos limitar-nos

    determinao de nveis de desenvolvimento, se o que queremos descobrir as

    relaes reais entre o processo de desenvolvimento e a capacidade de

    aprendizado.

    O nvel de desenvolvimento real ou efetivo, o nvel das funes

    mentais da criana que se determinaram como resultado de certos ciclos de

    desenvolvimento j completados.

    Na concepo de Rego (2001), este nvel pode ser entendido como

    quelas conquistas j efetivadas, que j esto consolidadas na criana,

    aquelas funes que ela j aprendeu e domina, pois j capaz de realizar

    sozinha, sem assistncia de algum mais experiente da cultura (pai, me,

    criana mais velha etc.). Por exemplo, quando digo que uma criana j sabe

    amarrar o sapato sozinha, andar de bicicleta, resolver determinado problema

    matemtico sem necessitar da ajuda de outras pessoas.

    Quando determinamos a idade mental de uma criana utilizando testes,

    estamos quase sempre tratando do nvel de desenvolvimento real. Nos estudos

    de desenvolvimento mental das crianas, geralmente admite-se que s

    indicativo da capacidade mental das crianas aquilo que elas conseguem fazer

    por si mesmas. Por mais de uma dcada, mesmo os pensadores mais sagazes

    nunca questionaram esse fato; nunca consideraram a noo de que aquilo que

    a criana consegue fazer com ajuda dos outros poderia ser muito mais

    indicativo de seu desenvolvimento mental do que aquilo que consegue fazer

    sozinha.

    Matui (1995), afirma que para descobrir a relao entre o processo de

    desenvolvimento e a capacidade de aprendizagem no basta determinar o

    nvel de desenvolvimento real; necessrio tambm descobrir o nvel de

    desenvolvimento potencial.

  • 24O nvel de desenvolvimento potencial, refere-se ao ponto que a

    criana pode alcanar em matria de aprendizagem, com auxilio do professor

    ou de outras pessoas. o ponto at onde o aluno pode chegar, determinado

    por intermdio da soluo de problemas sob a mediao do professor e dos

    colegas. a capacidade do aluno desempenhar tarefas com a ajuda de outros.

    Para Rego (2001), nesse caso, a criana realiza tarefas e soluciona

    problemas atravs do dilogo, da colaborao, da imitao, da experincia

    compartilhada e das pistas que lhes so fornecidas. Como por exemplo, uma

    criana de cinco anos pode no conseguir, numa primeira vez, montar sozinha

    um quebra-cabea que tenha muitas peas, mas com a assistncia de seu

    irmo mais velho ou mesmo de uma criana de sua idade mas que j tenha

    experincia neste jogo, pode realizar a tarefa.

    Vygotsky toma a idade mental como ponto de partida e quer saber at

    onde o aluno pode chegar. O que ele encontra uma variabilidade muito

    grande entre as crianas.

    Neste aspecto, Vygotsky apud Matui (1995) aponta um exemplo que

    melhor explicar esta idia: Estamos perante duas crianas com uma idade

    mental de 7 anos, mas uma, com um pouco de auxilio, pode alcanar testes at

    um nvel mental de 9 anos, e a outra, apenas um nvel mental de 7 anos.

    Ambas tm o mesmo nvel de desenvolvimento real, mas diferentes nveis de

    desenvolvimento potencial. Portanto, o ponto at onde o aluno pode chegar

    varia de um para outro,depende de como o conhecimento foi mediado.

    Portanto, a zona de desenvolvimento proximal,

    a distancia entre o nvel de desenvolvimento real, que se costuma

    determinar atravs da soluo independente de problemas, e o nvel

    de desenvolvimento potencial, determinado atravs da soluo de

    problemas sob a orientao de um adulto ou em colaborao com

    companheiros mais capazes. (VYGOTSKY, 1998)

  • 25 Esse conceito elucida bem a viso vygotskiana de desenvolvimento: que

    atravs da mediao ocorre a apropriao e internalizao de instrumentos

    proporcionados por agentes culturais de interao, que levam elaborao de

    funes psicolgicas que estavam prximas de se completar e que, se

    completando, propiciam novas aprendizagens.

    Na concepo de Vygotsky (1998), pode-se dizer que a zona de

    desenvolvimento proximal define aquelas funes que ainda no

    amadureceram, mas que esto em processo de maturao, funes que

    amadurecero, mas que ainda esto em estado embrionrio.

    nesse sentido que Oliveira (2001), destaca que o olhar prospectivo de

    Vygotsky torna-se digno de meno e especialmente relevante para a

    educao: to essencial ao prprio conceito de educao, ganha particular

    destaque em uma concepo que enfatiza o interesse em compreender, no

    curso de desenvolvimento, a emergncia daquilo que novo na trajetria do

    individuo, os brotos ou flores do desenvolvimento, ao invs de frutos do

    desenvolvimento.

    Assim, a ZDP permite-nos delinear o futuro imediato das crianas e seu

    estado dinmico de desenvolvimento, propiciando o acesso no somente ao

    que j foi alcanado, como tambm aquilo que est em processo de

    maturao.

    Vasconcellos & Valsiner (1995), apresentam o significado da palavra

    russa blizahaishego que o superlativo de junto, prximo. Na proposta de

    Vygotsky, o conceito de zona de desenvolvimento proximal, de se trabalhar

    sempre com uma estimativa das potencialidades da criana, visando ao

    desenvolvimento futuro. Vygotsky apresenta esse conceito como sendo

    possvel tambm, fora de situao de interao social imediata, levando-o para

    o mundo mediado por objetos.

    Na concepo de Oliveira (2001), a zona de desenvolvimento proximal

    , portanto, o domnio da constante transformao. Em termos de atuao

    pedaggica, essa postulao traz consigo a idia de que o papel explcito do

    professor de provocar nos alunos avanos que no ocorreriam

  • 26espontaneamente, consiste perfeitamente em uma interferncia na zona de

    desenvolvimento proximal dos alunos. Para Vygotsky, o nico bom ensino

    aquele que se adianta ao desenvolvimento. (p.60). Nota-se aqui, a relevncia

    do papel do professor mediador no processo de desenvolvimento e

    aprendizagem do aluno. Portanto, a mediao impulsiona a aprendizagem.

    Neste sentido, Vygotsky (1998) afirma:

    aquilo que a zona de desenvolvimento proximal hoje, ser o nvel de

    desenvolvimento real amanh ou seja, aquilo que uma criana pode

    fazer com assistncia hoje, ela ser capaz de fazer sozinha amanh.

    Prope tambm, que um aspecto essencial do aprendizado o fato de

    ele criar a zona de desenvolvimento proximal; isto , o aprendizado desperta

    vrios processos internos de desenvolvimento, que so capazes de operar

    somente quando a criana interage com pessoas em seu ambiente. Uma vez

    internalizados, esses processos tornam-se parte das construes do

    desenvolvimento independente da criana.

    Nessa perspectiva, aprendizado no desenvolvimento; portanto, o

    aprendizado organizado resulta em desenvolvimento mental colocando em

    movimento diversos processos de desenvolvimento que, de outra forma seriam

    impossveis de acontecer. Assim, o aprendizado um aspecto necessrio e

    universal do processo de desenvolvimento das funes psicolgicas

    culturalmente organizadas e especificamente humanas. (VYGOTSKY, 1998)

    Sintetizando, o processo de desenvolvimento caminha de forma mais

    lenta e atrs do processo de aprendizado, desta seqenciao resultam as

    zonas de desenvolvimento proximal.

    Cabe ressaltar, que o estado de desenvolvimento mental de uma criana

    somente poder ser determinado se forem revelados os seus dois nveis: o

    nvel real de desenvolvimento e a zona de desenvolvimento proximal.

    Conforme pesquisas realizadas, a zona de desenvolvimento proximal

    pode, portanto tornar-se um conceito poderoso nas pesquisas do

    desenvolvimento, conceito este que pode aumentar de forma eficaz a utilizao

  • 27de mtodos diagnsticos do desenvolvimento mental a problemas

    educacionais.

    Cabe mencionar ainda, a questo da brincadeira e da imitao como

    outra forma de mediao, e sua relevncia no processo de construo dos

    conhecimentos das crianas.

    Pde-se observar, que principalmente na fase da Educao Infantil,

    que a criana deve ter acesso h meios que a ajudem a se desenvolver e a

    construir o seu conhecimento, onde o ldico, a imitao, contribui ainda mais

    no processo de ensino-aprendizagem.

    Nesta abordagem Rego (2001), afirma que a brincadeira tem uma

    funo significativa no processo de desenvolvimento infantil. Ela responsvel

    por criar uma zona de desenvolvimento proximal, porque atravs da imitao

    realizada na brincadeira, a criana consegue internalizar regras de conduta,

    valores, modos de agir e pensar de seu grupo social, passando a orientar o seu

    prprio comportamento e desenvolvimento cognitivo.

    Na viso de Rego (2001), toda situao imaginria contm regras de

    comportamento condizentes com aquilo que est sendo representado. Por

    exemplo, ao brincar de lojinha e desempenhar o papel da vendedora ou de

    cliente, a criana buscar agir de modo bastante prximo quele que ela

    observou nos vendedores e clientes no contexto real. Desta forma, o esforo

    em desempenhar com fidelidade aquilo que observa em sua realidade faz com

    que ela atue num nvel bastante superior ao que na verdade se encontra, na

    imitao ou brincadeira a criana sempre se comporta alm do comportamento

    habitual de sua idade.

    Para Vygotsky (1998), a imitao oferece a oportunidade de

    reconstruo (interna) daquilo que o indivduo observa externamente, ou seja,

    uma das formas do indivduo internalizar o conhecimento externo.

    principalmente atravs dos jogos e brincadeiras que a criana comea

    a se desenvolver socialmente e culturalmente.

  • 28Deste modo, Benjamin (1984), destaca o quanto a participao ativa da

    criana e a natureza ldica, prazerosa, inerentes a diferentes tipos de

    brincadeiras tm servido de argumento para fortalecer a concepo segundo a

    qual aprende-se brincando.

    Em uma palestra no Leningrad Pedagogigal Institute, em maio de 1933,

    devotado ao brincar, Vygotsky reivindica a tal atividade do repertrio infantil, e

    explicitamente argumenta que brincar cria zonas de desenvolvimento proximal.

    Para ele, a brincadeira tambm cria necessidade de um domnio mais geral da

    situao representada, que se explicita nas mudanas que se encontram por

    trs da prpria forma de brincar.

    Segundo Vygotsky apud Vasconcellos & Valsiner (1995),

    A ao da criana no campo imaginrio, a situao imaginada, a

    construo de inteno involuntria, a formao do plano de vida, a

    fora de vontade, tudo isto emerge na brincadeira e... a torna zona

    privilegiada de desenvolvimento, na idade pr-escolar.

    A psicologia animal e Kohler, retrataram bem esta questo da imitao,

    para eles, os primatas podem aprender bastante atravs do treinamento, mas

    no podem ser ensinados atravs da imitao. No se pode faz-lo mais

    inteligente, pelo fato de no possurem zona de desenvolvimento proximal. Por

    isso, os animais so incapazes de aprendizado no sentido humano do termo; o

    aprendizado humano pressupe uma natureza social especfica e um processo

    atravs do qual as crianas penetram na vida intelectual daquelas que as

    cercam. (VYGOTSKY, 1998)

    Conforme Vasconcellos & Valsiner (1995) afirmaram, apenas a criana

    humana capaz de imitar os outros, sendo exatamente a capacidade de

    imitao que torna possvel o surgimento da zona de desenvolvimento

    proximal. Desta forma, Vygotsky percebeu a imitao como o primeiro

    mecanismo presente na ontognese, propiciador do desenvolvimento da

    criana.

  • 29Para Vygotsky (1998), as crianas podem imitar uma variedade de

    aes que vo muito alm dos limites de suas prprias capacidades. Numa

    atividade coletiva ou sob a orientao de adultos, utilizando a imitao, as

    crianas so capazes de fazer muito mais coisas. Esse fato, de extrema

    importncia na medida que demanda uma alterao radical de toda a doutrina

    que trata da relao entre aprendizado e desenvolvimento em crianas.

  • 30

    CAPTULO III

    A PRTICA PEDAGGICA DO PROFESSOR

    MEDIADOR

    Nas ltimas dcadas, tem se tornado cada vez mais evidente a

    importncia da educao na construo de uma sociedade democrtica. Nesse

    sentido, a escola passa a fazer parte de um cenrio onde a educao, pode ser

    compreendida como um instrumento crucial para o enfrentamento dos

    impasses e incertezas do nosso tempo. Assim, a escola vista tendo uma

    funo social (pois compartilha com as famlias a educao das crianas), uma

    funo poltica (porque contribui para a formao de cidados) e uma funo

    pedaggica (na medida em que o local privilegiado para a transmisso e

    construo de conhecimentos relevantes e de formas de operar

    intelectualmente segundo padres deste contexto social e cultural).

    Desta forma, o processo de construo do conhecimento constitui um

    quadro epistmico para dar conta da produo dos conhecimentos. Nesse

    quadro, adiciona-se, aos plos sujeito/objeto, a mediao do outro, do grupo,

    da teia de relaes sociais, que apresenta a aprendizagem num crculo bem

    mais amplo. Assim, Vygotsky, ressalta o conceito de mediao, que contribui

    intensamente para o construtivismo scio-histrico.

    Para Matui (1995), o que importa o estabelecimento de relao do

    aluno com o objeto de aprendizagem, pois sem essa interao sujeito / objeto

    no ocorre experincia. Este relacionamento pode acontecer direta ou

    indiretamente. Acontecer diretamente na relao imediata do sujeito com o

    objeto da aprendizagem. E indireto, nos casos em que o aluno se relaciona

    com o objeto pela mediao de outros (como professor e colegas), smbolos e

    signos sociais, ou ainda, por mediao que se d atravs de memrias,

    recordaes de relaes anteriores do prprio sujeito com o objeto.

    Vimos que, para Vygotsky, a palavra o termo celular da explicao do

    comportamento humano, e que, o conceito (palavra/signo) o termo celular de

  • 31aplicao ao ensino. Os conceitos se expressam atravs das palavras e

    representam generalizaes de objetos, acontecimentos e fenmenos.

    Na concepo de Rego (2001), Vygotsky apresenta duas linhas de

    formao de conceitos: a dos conceitos espontneos ou cotidianos e a dos

    conceitos cientficos. Os conceitos espontneos so adquiridos pela criana

    fora do contexto escolar ou de qualquer instruo formal e deliberada; so

    aqueles formados no curso da atividade prtica e nas relaes comunicativas

    travadas em seu dia-a-dia. Pode-se dizer que, eles abrem caminhos para os

    conhecimentos cientficos, os quais so desenvolvidos no processo de

    construo de conhecimentos comunicados sistematicamente criana

    durante o ensino escolar.

    Neste sentido, a construo dos conceitos cientficos pela mediao da

    escola e dos professores desempenha papel decisivo na conscientizao da

    criana a respeito dos seus prprios processos mentais.

    A contribuio de Vygotsky aplicar a experincia no contexto scio-

    histrico. Para ele, todos os objetos, mesmo os da natureza, so culturais.

    Apresentam nomes, j foram classificados, as suas caractersticas e

    propriedades so conhecidas. Portanto, conhecer um objeto, para uma criana,

    significa descobrir o que a humanidade j sabe dele.

    Assim, os signos/palavras que representam os objetos so os autnticos

    mediadores do conhecimento. Os mediadores so elos entre o sujeito e o

    objeto, funcionam como uma espcie de filtro atravs do qual o sujeito capaz

    de ver o mundo e operar sobre ele.

    Na viso de Matui (1995), Vygotsky defende que a interao social o

    grande palco onde ocorre a experincia do aluno com o objeto da

    aprendizagem. O aluno interage com as matrias de aprendizagens nas

    atividades de participao e cooperao com outras pessoas, isto , nas

    atividades interpessoais. E nas interaes com outras pessoas que o aluno

    participa e coopera nas questes de leitura e escrita, de matemtica, de artes,

    de esporte, etc.

  • 32No qualquer didtica que consegue assimilar as ricas contribuies

    do construtivismo. Assim, a didtica fundamental, multidimensional e crtica,

    tem recursos para resgatar e alinhar a vasta contribuio do construtivismo

    scio-histrico, tendo em vista a sua aplicao ao ensino.

    Conforme o pensamento de Moretto (2000), o ensino adquire, assim,

    uma nova conotao: ele deixa de ser uma transmisso de conhecimentos

    (verdades prontas), para ser um processo de elaborao de situaes didtico-

    pedaggicas que facilitem a aprendizagem, isto , no sentido de favorecerem a

    construo de relaes significativas entre componentes de um universo

    simblico.

    Segundo Matui (1995), o construtivismo trabalha o ambiente sob novos

    princpios. Na pedagogia tradicional e tecnicista, a escola e a sala de aula

    apresentam uma organizao linear, de cima para baixo, baseada no

    autoritarismo. No construtivismo, a escola e a sala de aula devem ter uma

    organizao fundamentada na reciprocidade, na cooperao e na

    reversibilidade motora e cognitiva, onde a sala de aula passa a funcionar como

    grupo ou equipe.

    Outra importante funo mediadora que o professor desempenha

    trabalhar com o ambiente e a experincia dos alunos, conseguir que os alunos

    cheguem construo de conhecimentos atravs da interferncia no ambiente,

    dispondo elementos e atividades.

    muito importante criar ambientes e situaes que gerem

    conhecimentos, a fim de, manter um clima democrtico, para que se possa agir

    dentro dele. A rigidez e a disciplina imposta cedem lugar para a naturalidade e

    a criatividade. Neste ambiente multidimensional, as atividades devem ser

    contextualizadas, partir da realidade do aluno e de uma problematizao.

    Nessa perspectiva, um mero contato ou experincia com os objetos sinnimo

    de aprendizagem.

    Padilha (2002) defende a construo do projeto poltico-pedaggico da

    escola alicerado na relao pedaggica, que se estabelece desde a sala de

    aula, fundamentada na dialogicidade sensvel, crtica, conflitiva, reflexiva,

  • 33criativa, permanentemente poltica e transdisciplinar. Dessa forma,

    possibilitamos aos alunos espaos de convivncia e de descoberta dos

    caminhos a serem trilhados, para que aprendam no s a conhecer, a fazer, a

    viver juntos e a ser.

    Baseado nos princpios de Vygotsky, Rego (2001), defende uma escola

    em que as pessoas possam dialogar, duvidar, discutir, experimentar,

    questionar e compartilhar saberes. Onde h espao para transformaes, para

    as diferenas, para o erro, para as contradies, para a colaborao mtua e

    para a criatividade. Uma escola em que professores e alunos tenham

    autonomia, possam pensar, refletir sobre o seu prprio processo de construo

    de conhecimentos e ter acesso a novas informaes. Uma escola em que o

    conhecimento j sistematizado no tratado de forma dogmtica e esvaziado

    de significado. Para isso a idia de mediao social perfeita.

    O ato de mediar pressupe a existncia de algo que est em

    processo. No construtivismo, o que est em processo o pensamento

    que se movimenta da ao para a conceituao, de conceitos

    espontneos para conceitos cientficos; a mediao o elo entre o

    aluno e a matria, o que confirma o papel do professor. (MATUI,

    1995)

    Neste sentido, Bertoldo; Rushel (2000), destaca o papel do professor no

    processo de construo do conhecimento. Ele responsvel por criar

    condies, para que os alunos se tornem cidados, que pensem e atuem por si

    mesmos e que consigam ter a capacidade de pensar e examinar criticamente

    as idias que lhes so apresentadas e a realidade social que partilham.

    Portanto, preciso estimular a criana a operar com idias, a analisar os fatos

    e a discuti-los.

    O professor desempenha o papel de servir como elo entre o aluno e a

    matria de aprendizagem, tornando-se assim, um autntico mediador.

    Como prope Chau apud Matui (1995):

  • 34O dilogo do aluno se d com o pensamento, com a cultura

    corporificada nas obras e prticas sociais transmitidas pela linguagem

    e pelos gestos do professor, simples mediador.

    Matui (1995) acredita que o papel de mediao atribudo ao professor

    vem resgatar a figura desse profissional, atualmente desgastada na sociedade.

    Com o movimento das escolas novas, a ao do tecnicismo no ensino, o

    burocratismo sistmico e o behaviorismo/ associacionista, o professor estava

    perdendo sua funo. O construtivismo resgata esse professor, dando-lhe um

    papel mediador especfico.

    Para ele, o construtivismo ainda no um mtodo, mas uma postura

    pedaggica, a definio do papel do professor muito importante. Assim, o

    papel do professor promover a interao aluno/objeto de conhecimento. O

    que quer que o professor faa nas atividades pedaggicas, se no resultar na

    interao do aluno com o objeto de aprendizagem e vice-versa, nada

    acontecer de ao construtivista.

    Conforme afirma Wachowicz apud Matui (1995):

    O confronto que se passa na sala de aula no se passa entre algum

    que sabe um contedo (o professor) e algum que no sabe (o

    aluno), mas entre pessoas e o prprio contedo, na busca de sua

    apropriao.

    Cabe ao professor sistematizar essa rica interao, relacionando os

    contedos de sua matria com a prtica social, pautados na dialogicidade.

    Conforme afirma Matui (1995), necessrio, que o dilogo acontea

    num clima de liberdade e cooperao, no em um ambiente de dominao, de

    um professor que faz questo do autoritarismo dentro da sala de aula. O

    dilogo s acontece, moralmente, num ambiente de autonomia e de

    cooperao, de respeito e, politicamente falando num ambiente social de

    liberdade e democracia.

  • 35Foi para superar a situao sufocante da educao tradicional que Freire

    apud Matui (1995), definiu a situao de dialogicidade e a aplicou educao

    libertadora. Sendo uma comunicao, ou melhor, uma intercomunicao, a

    educao autntica, repitamos, no se faz de A para B ou de A sobre B, mas

    de A com B mediatizados pelo mundo. Completando o que Freire diz, no h

    relao pedaggica sem dilogo amoroso e conflitivo, da mesma forma que

    no h relao amorosa que resista a falta de dilogo e ausncia do conflito.

    Na viso de Moura apud Matui (1995), o pensamento de Freire referente

    ao dilogo implica uma relao do tipo horizontal, que exige um respeito mtuo

    dos interlocutores e uma atitude de busca constante. Portanto, no h mais

    lugar para a dominao, o dogmatismo, o fanatismo, o fatalismo. Assim, os

    homens em conjunto procuram e tentam encontrar-se uns com os outros e

    consigo prprios. A cooperao substitui, ento, a dominao.

    Segundo Matui (1995), absolutamente relevante no construtivismo

    identificar o pensamento do aluno e acompanh-lo. No o aluno que

    acompanha o raciocnio do professor, o professor que acompanha o

    raciocnio do aluno.

    Na concepo de Moretto (2000), primeiramente preciso que o

    professor conhea as caractersticas psicossociais e cognitivas de seus alunos

    para que seu ensino seja eficaz. Para ele, no basta conhecer matemtica,

    portugus, cincias, histria, geografia, etc. ou dominar conceitos e contedos.

    necessrio tambm, que o professor conhea as tecnologias disponveis

    para o apoio pedaggico e a melhor forma de interveno, de modo a criar uma

    aprendizagem significativa.

    Na viso de Rego (2001), o professor deve ser capaz de desenvolver

    nos alunos capacidades intelectuais que lhes permitam assimilar plenamente

    os conhecimentos acumulados. Isto quer dizer, que ele no deve restringir

    transmisso de contedos, mas, principalmente, ensinar o aluno a pensar,

    ensinar formas de acesso e apropriao do conhecimento elaborado, de modo,

    que ele possa pratic-las autonomamente ao longo de sua vida.

  • 36Sendo assim, Freire acreditava que em vez do professor transferir os

    conhecimentos ou conceitos, era necessrio convidar a conscincia a assumir

    uma atitude ativa sem a qual impossvel criar o conhecimento.

    impossvel abordar corretamente a conscientizao como se fosse um

    passatempo intelectual ou a construo de uma racionalidade desvinculada do

    concreto. Conforme o pensamento de Freire apud Nvoa (1979), no qual

    aborda:

    a conscientizao, que se identifica com a ao cultural para a

    liberdade, e o processo mediante o qual se adquire, na relao

    sujeito-objeto, a capacidade de captar criticamente a unidade dialtica

    entre o eu e o objeto. Por isso, necessrio insistir que a

    conscientizao impossvel fora da prxis, fora da teoria e prtica,

    fora da unidade reflexo-ao.

    Na concepo de Rego (2001), necessrio que, no cotidiano, o

    professor estabelea uma relao de dilogo com as crianas, e ainda crie

    situaes que elas possam expressar aquilo que j sabem. Enfim, o professor

    deve ouvir atentamente os alunos notando as manifestaes infantis.

    O professor, por ser o elemento central e nico detentor do saber,

    quem corrige, avalia e julga as produes e comportamentos dos alunos,

    principalmente seus erros e dificuldades, detendo-se quase que

    exclusivamente no produto da aprendizagem, naquilo que a criana j

    consegue fazer sozinha. Assim, as possibilidades de sucesso do professor

    esto relacionadas a sua competncia de promover situaes propcias para

    que se processem associaes entre estmulos e respostas corretas, pois o

    erro deve ser eliminado.

    Pode-se dizer que no h erro no pensamento quando ele espontneo

    e genuno. O erro est em no pensar, ou nas respostas emitidas sem pensar.

    Embora, os alunos no possam ser condenados quando do respostas sem

    pensar, pois quase sempre as atividades ou questes formuladas pelos

  • 37professores no estimulam o raciocnio. Isto significa que, o professor deve

    montar situaes mais desafiadoras.

    Segundo Matui (1995), o erro aqui colocado numa posio de

    destaque, no para ser condenado, mas para ser utilizado como importante

    mediador de aprendizagem. Para comear ningum aprende sem errar.

    Nesse sentido, o professor deve saber que, sem a mediao dos erros,

    os processos de ao-reflexo-ao ou do movimento de passagem da ao

    para a conceituao, isto , das atividades interpessoais para as atividades

    intrapessoais no aconteceriam ou no teriam sentido.

    Assim, como deixa o aluno falar e pensar, o professor construtivista

    deixa errar. Errar um direito do aluno, mas compete ao professor fazer com

    que ele tome conscincia dos erros cometidos.

    Nesta postura pedaggica o papel do professor encorajar o aluno

    atravs de atividades que lhe causem desequilbrio ou o coloquem em ao.

    Afinal o aluno que est construindo o conhecimento, mas o professor entra

    como mediador dessa construo, no somente apresentando atividades, mas

    questionando, interrogando, fazendo o aluno pensar.

    Nesta perspectiva, Weisz apud Matui (1995), entende que o professor

    mediador da aprendizagem do aluno. Para o exerccio dessa mediao, o

    professor precisa ter instrumentos para detectar com clareza o que os alunos j

    sabem e o que eles ainda no sabem..

    A presena de uma avaliao contnua, como afirma Matui (1995), tem

    como objetivo detectar dados sobre desenvolvimento do aluno, nvel real,

    potencial e rea de desenvolvimento proximal, buscando uma interpretao

    rigorosa dos dados coletados, a fim de, auxiliar o aluno no seu

    desenvolvimento e aprendizagem.

    Nesta concepo, a avaliao para ser construtivista, tem de ser

    mediadora. Assim, Jussara Hoffmann foi a primeira pesquisadora a conseguir

    fazer uma avaliao realmente construtivista. Trata-se de um acompanhamento

    permanente por parte do professor; uma prtica que desafia o aluno para

  • 38novas questes a partir de respostas formuladas; uma busca incessante de

    compreenso das dificuldades do educando; compreenso do processo de

    cognio: pensar como o aluno e entender por que ele pensa dessa maneira.

    Vale dizer: onde ocorre a aprendizagem por mediao, ocorre tambm a

    avaliao mediadora. preciso apenas tomar conscincia disso e usar as

    situaes de mediao como situaes de avaliao.

    Segundo Matui (1995) como mediador, o professor no se perde no

    processo, mas acelera possibilitando a aprendizagem, respeitando a natureza

    do sujeito e do objeto e, principalmente, do processo de construo de

    conhecimentos.

    de uma enorme complexidade ser professor hoje em dia, alm de ser o

    mediador do processo de ensino-aprendizagem, existem ainda, algumas

    competncias necessrias para que a prtica docente seja eficaz. Dentre elas

    as que mais se destacam segundo Nvoa (1992) so, a compreenso do

    conhecimento por parte do professor, pois no basta deter o conhecimento

    para o saber transmitir a algum, necessrio compreender o conhecimento,

    ser capaz de o reorganizar, de o reelaborar e de transp-lo em situao

    didtica em sala de aula. E a outra, o professor reflexivo, ou seja, aquele que

    reflete sobre a sua prtica, que pensa, que elabora em cima dessa prtica.

  • 39

    CONSIDERAES FINAIS

    Pude constatar atravs deste trabalho, que embora Vygotsky no tenha

    elaborado uma pedagogia, deixou idias sugestivas para a educao,

    apresentando uma viso de desenvolvimento humano baseado na idia de um

    organismo ativo cujo pensamento constitudo em um ambiente histrico e

    cultural, no qual a criana reconstri internamente uma atividade externa, como

    resultado de processos interativos que se do ao longo do tempo.

    Neste aspecto, o conhecimento socialmente construdo e

    culturalmente transmitido, em dilogo com os outros sociais que convivem com

    o sujeito em formao. nfase ao fator humano presente no ambiente.

    Sua abordagem tambm conhecida como scio-interacionista, mostra

    que as caractersticas tipicamente humanas no esto presentes desde o

    nascimento do indivduo, elas resultam da interao dialtica do homem e seu

    meio scio-cultural. O conhecimento s acontece na interao do sujeito com o

    objeto.

    Na verdade, essa abordagem v a construo do conhecimento como

    uma construo social, que resulta da apropriao de sujeito, dos

    conhecimentos e das produes culturais da sociedade em que vive, por

    intermdio da mediao da prpria sociedade. Assim, entende-se por

    mediao a ao que se interpe entre o sujeito e o objeto de conhecimento.

    Vygotsky tambm confere linguagem um papel de destaque no

    processo de pensamentos. Pois, ela funciona como elemento mediador, que

    possibilita a comunicao entre os indivduos. Assim, na teia das relaes

    sociais, a linguagem ou a fala pode ser usada para indicar ou mostrar um

    objeto, tanto na sua presena quanto ausncia.

    Deste modo a escola, o professor como mediador do conhecimento so

    fundamentais para promover a construo do sujeito. No entanto,

    imprescindvel destacar o papel do professor no processo de construo do

    conhecimento, pois ele um elo entre o aluno e o conhecimento. Nesse

  • 40sentido, o professor o mediador do processo de ensino-aprendizagem,

    portanto, atua na zona de desenvolvimento proximal, onde sua interveno

    direta e sistematizada, pois ele deve auxiliar a criana a avanar.

    Cabe ressaltar ainda, que o professor deve conhecer as caractersticas

    psicossociais e cognitivas de seus alunos, criar ambientes e situaes que

    gerem conhecimentos e ainda, propor atividades contextualizadas, partir da

    realidade do aluno, de experincias vivenciadas e de uma problematizao.

    essencial, que o professor conhea as tecnologias disponveis para o apoio

    pedaggico e a forma mais adequada de interveno, de modo a criar uma

    aprendizagem significativa.

    Conclu-se ento, que o trabalho do professor encorajar o aluno

    atravs de atividades que lhe causem desequilbrios, afinal o professor o

    mediador do processo de construo dos conhecimentos, no somente

    apresentando as atividades, mas questionando, interrogando, fazendo o aluno

    pensar.

    Como pude observar Vygotsky defende uma escola democrtica, onde

    as pessoas possam dialogar, duvidar, discutir, questionar e compartilhar

    saberes. Onde h espao para transformaes, para as diferenas, para o erro,

    para as contradies, para a colaborao mtua e para a criatividade. Uma

    escola em que professores e alunos tenham autonomia, possam pensar, refletir

    sobre o seu prprio processo de construo de conhecimentos e ter acesso a

    novas informaes.

    Penso que a escola um espao privilegiado para que a criana se

    aproprie dos conhecimentos sistematizados. Nesse caso a aprendizagem no

    mobiliza apenas a dimenso cognitiva, mas tambm afetos, emoes e

    relaes interpessoais presentes neste contexto. Portanto, a funo do

    professor mediador levar o aluno adiante, pois quanto mais ele aprende, mais

    se desenvolve mentalmente. Para tanto se deve fazer uso dos melhores

    recursos que a psicologia nos oferece.

  • 41

    Atravs desta pesquisa, pude compreender melhor e refletir sobre a

    funo do professor mediador, a fim de, possibilitar a construo de uma

    escola viva, composta por cidados crticos, participativos, autnomos e

    criativos.

  • 42

    REFERNCIAS

    BENJAMIN, Walter. Reflexes: a criana, o brinquedo, a educao. So Paulo: Sumus, 1984. FREITAS, Maria Teresa de Assuno. Vygotsky e Bakhtin: psicologia e Educao. So Paulo: Editora tica, 1995. MATUI, Jiron. Construtivismo: teoria construtivista scio-histrica aplicada ao ensino. So Paulo: Moderna, 1995. MORETTO, Vasco Pedro. Construtivismo: a produo do conhecimento em aula. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2000.

    NVOA, Antnio. Os professores e a sua formao. Lisboa: Dom Quixote, 1992. NVOA, Carlos Alberto Torres. Dilogo com Paulo Freire. So Paulo: Loyola, 1979.

    OLIVEIRA, Marta Kohl de et al. Piaget Vygotsky: novas contribuies para o debate. 6.ed. So Paulo: Editora tica, 2001.

    PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento Didtico: como construir o Projeto Poltico-Pedaggico da escola. So Paulo: Cortez, 2002. PIATTELLI-PALMARINI, Massimo, org. Teorias da linguagem, teorias da aprendizagem. So Paulo: Editora Cultrix, 1983.

    REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histrico-cultural da educao. 11.ed. Petrpolis: Editora Vozes, 2001.

    VASCONCELLOS, Vera M. R. de; VALSINER, Jaan. Perspectiva Co-construtivista na psicologia e na educao. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1995. VYGOTSKY, L. S. A formao social da mente. So Paulo: Martins Fontes, 1984. VYGOTSKY, L. S. A formao social da mente. 6.ed. So Paulo: Martins Fontes, 1998.