oficina literaria

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Contos infantis podem servir de apoio produo de textos JANANA SILVA DARS Licenciada em Letras. Professora do Ensino Fundamental. Cachoeiro de Itapemirim/ES. E-mail: [email protected] de Walter Ono em O Reizinho Mando

Oficina literria

O trabalho com literatura pode entrar na rotina dos alunos por diferentes portas. A reflexo sobre a diversidade possvel do planejamento com tal contedo deve passar pela anlise da literatura oferecida s crianas atravs dos tempos, e a proposta de uma oficina literria pode sugerir a interdisciplinaridade como instrumento de deleite e aprendizagem. Constitui-se objetivo geral da oficina literria a promoo lato sensu da leitura entre o pblico estudantil, vinculando o aspecto ldico da atividade leitura de mundo inerente ao ato da leitura em si, por meio das interferncias que este ato comporta. Como objetivos especficos, destacamos: Oportunizar ao educando o desenvolvimento do amor pela leitura, de modo que ele possa descobrir nela uma forma de elaborar suas emoes, seus sentimentos, sua subjetividade. Proporcionar, ao educando, situaes de prazer, descobertas, emoes, cultura e ampliao da viso de mundo. Originariamente, os livros infantis tinham inteno pedaggica, isto , as histrias infantis eram um meio para o ensino didtico ou vinham impregnadas de valores morais a serem incutidos nas crianas. A partir da dcada de 70, a Literatura Infantil sofre uma virada temtica e passa a se sustentar em novos dogmas da educao: a valorizao da criatividade, da independncia e da emoo infantil, o chamado pensamento crti-

co e, segundo Silveira, com nfase criana ativa, participante, no-conformista. So vrios os conceitos que se tem de Literatura Infantil, dentre eles, o referido por Cunha de que Literatura Infantil so os livros que tm a capacidade de provocar a emoo, o prazer, o entretenimento, a fantasia, a identificao e o interesse da crianada. Abramovich ressalta a importncia de ouvir histrias para a formao de qualquer criana. Escutlas o incio da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreenso do mundo. Podemos, assim, comear a compreender a importncia da Literatura Infantil no desenvolvimento cognitivo das crianas. Ser leitor o meio para conhecer os diferentes tipos de texto, de vocabulrio. uma forma de ampliar o

universo lingstico. Para o contador de histrias, cabe o prazer de interagir com a leitura, ao mesmo tempo em que oportuniza este prazer para os seus ouvintes. Como reafirma Aroeira, contar histrias uma experincia de grande significado para quem conta e para quem ouve. Ao observarmos a origem dos chamados clssicos da Literatura Infantil, os Contos de Fada, veremos que eles surgiram de histrias da tradio oral. So histrias contadas e recontadas oralmente que fazem parte da cultura e que so depois registradas na forma escrita. Coelho nos informa que a funo pedaggica dos Contos de Fadas, quase como regra, era afastar os pequenos dos perigos... alm disso, encontra-se em muitos desses contos a defesa de valores como a virtude, o trabalho e a

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esperteza. Para Bettelheim, o conto de fadas a cartilha onde a criana aprende a ler sua mente na linguagem das imagens, a nica linguagem que permite a compreenso antes de conseguirmos a maturidade intelectual. Assim, cada criana particularmente, procurar no conto de fadas um significado diferente, de acordo com as suas necessidades e interesses em cada fase de sua vida. Os contos de fadas falam de medos (Chapeuzinho Vermelho); de amor (A Pequena Sereia); da dificuldade de ser criana (Peter Pan); de carncias (Joozinho e Maria); de autodescobertas (O Patinho Feio) e de perdas e buscas (O Gato de Botas). Na histria, a criana se projeta momentaneamente nos personagens e penetra no mundo da fantasia, vivenciando um contato mais estreito com seus sentimentos e elaborando seus conflitos e emoes. Desta maneira, ela cresce e se desenvolve. A histria funciona como uma ponte entre o real e o imaginrio. Como bem o explica Aroeira, por meio da histria, a criana observa diferentes pontos de vista, vrios discursos e registros da lngua. Amplia sua percepo de tempo e espao e o seu vocabulrio. Ela desenvolve a reflexo e o esprito crtico, pois a partir da leitura () ela pode pensar, duvidar, se perguntar, questionar..., completa Abramovich. Assim sendo, a Literatura Infantil fonte inesgotvel de assuntos para melhor compreender a si mesmo e ao mundo. Para tanto, Sawulski observa: Faz-se necessrio que o professor introduza na sua prtica pedaggica a literatura de cunho formativo, que contribui para o crescimento e a identificao pessoal da criana, propiciando ao aluno a percepo de diferen-

tes resolues de problemas, despertando a criatividade, a autonomia e a criticidade, que so elementos necessrios na formao da criana em nossa sociedade atual. A Literatura Infantil nas escolas deve despertar o gosto pela leitura, pois, como postula o autor, a literatura pode proporcionar fruio, alegria e encanto, quando trabalhada de forma significativa pelo aluno. Alm disso, ela pode oportunizar o desenvolvimento da imaginao, dos sentimentos, da emoo, da expresso e do movimento por meio de uma aprendizagem prazerosa.

Ler no decifrar palavras. A leitura, segundo os Parmetros Curriculares Nacionais de Lngua Portuguesa, um processo em que o leitor realiza um trabalho ativo de construo do significado do texto, apoiando-se em diferentes estratgias, como seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor e em tudo o que sabe sobre a linguagem escrita e o gnero em questo. Os PCN sugerem que os professores devero organizar a sua prtica de forma a promover em seus alunos: o interesse pela leitura de histrias; a familiaridade com a escrita por meio da par-

Poema da 1 pgina de O Reizinho Mando, de Ruth Rocha Ilustrao: Walter Ono

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ticipao em situaes de contato cotidiano com livros, revistas, histrias em quadrinhos; o escutar textos lidos, apreciando a leitura feita pelo professor; o escolher os livros para ler e apreciar. Isto se far possvel trabalhando contedos que privilegiem a participao dos alunos em situaes de leitura de diferentes gneros feita pelos adultos, como contos, poemas, parlendas, trava-lnguas, etc., e propiciar momentos de reconto de histrias conhecidas com aproximao s caractersticas da histria original no que se refere descrio de personagens, cenrios e objetos, com ou sem a ajuda do professor. Atualmente, com os avanos da psicologia do desenvolvimento infantil, sabe-se que preciso entender que a criana tambm cheia de conflitos, medos, dvidas e contradies, no por desconhecer a realidade, mas por trazer em si a imagem projetada do adulto. Portanto, como afirma Alves, quanto ao desenvolvimento cognitivo, a nfase no pode ser naquilo que a criana ainda no d conta, mas sim naquilo que s ela capaz de fazer. Assim, o texto literrio deve levar em conta as habilidades cognitivas da criana qual se destina, oferecendo um produto de qualidade, que possibilite um avano no seu desenvolvimento biopsicossocial, que ocorrer, conforme o explica Frantz: Por meio do processo de identificao, o leitor infantil vive intensamente essas situaes na pele das personagens e com elas sofre, luta, se alegra e se sai vitorioso no final. Com esse exerccio, ele aprende a reconhecer as suas prprias dificuldades e como lidar com elas tambm. Ele est aprendendo a se reconhecer melhor e tambm a conhecer o

mundo que o cerca. A Literatura Infantil importante sob vrios aspectos. Quanto ao desenvolvimento cognitivo, ela proporciona s crianas meios para desenvolver habilidades que agem como facilitadores dos processos de aprendizagem. Estas habilidades podem ser observadas no aumento do vocabulrio, nas referncias textuais, na interpretao de textos, na ampliao do repertrio lingstico, na reflexo, na criticidade e na criatividade. Estas habilidades propiciariam, no momento de novas leituras, a possibilidade do leitor fazer inferncias e novas leituras, agindo, assim, como facilitadores do processo ensino-aprendizagem no s da Lngua Portuguesa, mas tambm das outras reas do currculo.Realizando uma oficina O Reizinho Mando, de Ruth Rocha, foi a obra escolhida para desenvolver este trabalho que engloba diferentes momentos, como sugerimos a seguir. O professor, certamente, planejar

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Ilustrao de Walter Ono em O Reizinho Mando

esta atividade escolhendo o livro que melhor se adapte a sua turma. 10 momento Iniciar a aula distribuindo o poema encontrado na 1a pgina do livro e apresentado neste texto. Propor a realizao de uma interpretao oral e depois registrar no caderno as respostas s seguintes questes:

Orientar a elaborao de ficha de registro de dados referentes obra e o preenchimento adequado da mesma. Pedir que os alunos abram o livro na pgina 6 e leiam somente essa pgina. Propor o estabelecimento de relao entre o ttulo da obra e o incio do livro, com perguntas, tais como: Pelo ttulo podemos imaginar como ser a histria? Sobre o que falar? 30 momento Pedir aos alunos que leiam o livro em casa para ser trabalhado posteriormente. 40 momento Aps a leitura do livro, desencadear uma discusso sobre o mesmo: Como era o jeito do Reizinho Mando? Depois que o Reizinho subiu ao trono ele se modificou? Como se comportou? Que coisas absurdas ele fazia? Por que no fim da histria ele virou sapo? Voc conhece algum, na vida real, que seja parecido com o Reizinho Mando? Fazer, com os alunos, uma seleo de palavras que expressem o tema central da obra. Exemplo: poder, autoritarismo, egosmo... Explorar, com eles, o significado e o emprego das palavras selecionadas. poema. Apresentar o livro e falar que ser feita uma oficina literria com ele.Referncia bibliogrfica Ttulo: Autor: Ilustrador: Editora: Data: Local:

a) Quando que o cantador vai se calar? b) As coisas descritas no poema tm possibilidades de acontecer um dia? c) Relacione outras coisas que nunca iro acontecer. 20 momento Perguntar se algum aluno sabe de onde o professor tirou aquele

50 momento Orientar os alunos para a produo textual, dividindo a turma em grupos e distribuir os comandos: Imagine que voc o Reizinho Mando e crie uma lei bem maluca. Imagine-se um lder popular que quisesse mobilizar o povo para ir at o Reizinho e reclamar das leis malucas que ele inven24-28, jan./mar. 2005

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tava.Redija o discurso. Pense no que o povo poderia ter feito logo que o Reizinho comeou a inventar as leis malucas. Crie um plano para que o povo se livrasse logo desse rei. Pense em como poderia ser um outro final para essa histria. Redija este final. Os conselheiros tentavam dar conselhos a ele, mas ele nunca ouvia. Imagine-se o conselheiro do Reizinho e escreva uma carta aconselhando-o. Lembre-se de usar o pronome de tratamento correto Vossa Alteza ou Vossa Majestade. O sbio falou que o Reizinho Mando precisava encontrar uma criana que soubesse falar. Ajude o Reizinho, redigindo um cartaz para ser colocado no reino. 60 momento Propor aos alunos um estudo de palavras do texto e a realizao de teste mnemnico: sero selecionadas vinte palavras da obra e escritas em cartazes. No primeiro cartaz aparecero todas as palavras. O professor estipular um tempo para os alunos tentarem memorizar as palavras. Aps esse tempo, o cartaz ser retirado e ser mostrado um segundo cartaz com apenas dezoito das palavras antes apresentadas e os alunos devero indicar quais palavras foram retiradas. Assim a atividade seguir at terem terminado todas as palavras. Cada palavra dever ser estudada nos seus aspectos semnticos, sintticos e gramaticais. 7 momento Orientar os alunos para o estudo sobre o livro e suas referncias. Alm da leitura da histria, podemos desvendar outras leituras que o livro nos possibilita. A partir de uma conversa informal, o professor pode levantar os seguintes0

questionamentos: Quem o autor desse livro? H alguma informao sobre o autor? Onde se encontra essa informao? Que editora publicou essa histria? Ele pertence a alguma coleo? Quando essa histria foi escrita? Quem o pblico-alvo a que se destina essa histria? O livro possui gravuras? Quem as fez? Como se chama a pessoa que faz os desenhos em um livro? Esse livro j ganhou alguns prmios. Que prmios foram esses? Onde se encontra essa informao? Propor o registro, no caderno, das informaes que esto presentes na capa e no final do livro. Orientar os alunos para a pesquisa, na aula de informtica, dos dados bibliogrficos, a seguir. 1- Nome completo da autora 2- Onde nasceu 3- Quando 4- Outros dados Colar, no caderno, uma cpia de foto de Ruth Rocha. 8 momento Propor aos alunos a busca de informaes sobre o que Monarquia e a identificao de trs pases que ainda tm essa forma de governo, localizando-os no mapa-mndi.0

100 momento Discutir, com os alunos, a questo da liberdade de expresso e mostrar a Declarao Universal dos Direitos Humanos (artigo XIX). Questionar se o Reizinho Mando e a ditadura militar respeitavam esse direito. Orientar os alunos para o registro das concluses no caderno. 110 momento Realizar, com os alunos, a avaliao da oficina literria, aps ter estabelecido com eles tanto os critrios como as formas e os instrumentos que sero utilizados para esse fim.A Revista do Professor foi devidamente autorizada a utilizar texto de Ruth Rocha e ilustraes de Walter Ono do livro citado neste artigo. O Reizinho Mando Ruth Rocha Servios Editoriais Ltda., representada por AMS Agenciamento Artstico, Cultural e Literrio Ltda. Rio de Janeiro.

REFERNCIAS ABRAMOVICH, F. Literatura Infantil: Gostosuras e Bobices. So Paulo: Scipione, 1997. ALVES, V. O Conceito de Literatura Infantil: o Leitor, Concepo de Infncia, o Carter Literrio na Literatura Infantil. Disponvel em: < http:/www.sitedelitera tu ra .com/index.htm> . Acesso em: abr. 2003. AROEIRA, M.; SOARES, M.; MENDES, R. Didtica de Pr-escola: Vida e Criana: Brincar e Aprender. So Paulo: FTD, 1996. BETTELHEIM, B. A Psicanlise dos Contos de Fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. BRASIL. Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais: Lngua Portuguesa, 1a a 4 a Sries. Braslia, 1997. CAGNETI, S. Livro que te Quero Livro. Rio de Janeiro: Nrdica, 1996. COELHO, N. Literatura: Arte, Conhecimento e Vida. So Paulo: Petrpolis, 2000. LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. Literatura Infantil Brasileira: Histria e Histrias. 2. ed. So Paulo: tica, 1985. ROCHA, Ruth. O Reizinho Mando. So Paulo: Quinteto Editorial, 1997. Coleo Camaleo. SAWULSKI, V. Fruio e/ou Aprendizagem atravs da Literatura Infantil na Escola. Disponvel em: . Acesso em: abr. 2003.

90 momento Analisar, com os alunos, a liberdade de expresso em diferentes povos e pases. Incentivar os alunos a expressarem suas opinies. Sugerir aos alunos uma viagem ao passado, mais exatamente ao Brasil de 1964. Cada aluno dever fazer uma pesquisa sobre o que acontecia com as pessoas que expusessem uma opinio contrria ao regime vigente.

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