o sentido do trabalho voluntÁrio e o terceiro … · ficha catalográfica elaborada pelo sibi –...
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Elcio Prado Martins da Costa
O SENTIDO DO TRABALHO VOLUNTRIO E O TERCEIRO SETOR: UM ESTUDO DE CASO
Taubat SP
2005
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Elcio Prado Martins da Costa
O SENTIDO DO TRABALHO VOLUNTRIO E O TERCEIRO SETOR: UM ESTUDO DE CASO
Dissertao apresentada para obteno do Ttulo
de Mestre pelo Curso de Mestrado em Gesto e
Desenvolvimento Regional.
rea de concentrao: Gesto de Recursos
Socioprodutivos e Pessoas
Orientadora: Profa. Dra. Edna Maria Querido de
Oliveira Chamon
Taubat SP
2005
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Ficha catalogrfica elaborada pelo SIBi Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU
C837s Costa, Elcio Prado Martins da O sentido do trabalho e o terceiro setor: um estudo de caso /
Elcio Prado Martins da Costa. - - Taubat: UNITAU, 2004.
168f. : il.
Orientadora: Edna Maria Querido de Oliveira Chamon Dissertao (Mestrado) Universidade de Taubat, Departamento de
Economia, Contabilidade e Administrao, 2004.
1. Sentido do trabalho. 2. Terceiro setor. 3. Administrao Desempenhohumano. 4. Gesto de recursos socioprodutivos Mestrado. I. Universidade deTaubat, Departamento de Economia, Contabilidade e Administrao. II.Chamon, Edna Maria Querido de Oliveira (orient.). III. Ttulo.
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ELCIO PRADO MARTINS DA COSTA
AVALIAO DOS RESULTADOS DO SENTIDO DO TRABALHO
UNIVERSIDADE DE TAUBAT, TAUBAT, SP
Data: ___________________________________________
Resultado: _____________________________________
COMISSO JULGADORA
Prof(a). Dr(a).: Edna Maria Querido de Oliveira Chamon
Assinatura: ______________________________________
Instituio: UNITAU
Prof(a). Dr(a).: Elizabeth Moraes Liberato
Assinatura: _______________________________________
Instituio: UNIVAP
Prof. Dr.: Prof Dr. Marilsa de S Rodrigues Tadeucci
Assinatura: ______________________________________
Instituio: UNITAU
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Dedico este trabalho ao meu pai, Jacyl Martins da Costa que, mesmo
no estando mais neste mundo, foi minha fonte de motivao constante.
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AGRADECIMENTOS
A minha esposa, Samira; aos meus filhos, Pedro, Bruno e Maria Jlia pelo
incentivo, apoio e pacincia.
A Profa. Dra. Edna Maria de Oliveira Chamon pela dedicao e sabedoria com
as quais orientou esse trabalho.
Ao Prof. Dr. Marco Antonio Chamon pelo auxlio na tabulao dos dados.
Ao Marcelo Franoso Mendes de Andrade pelos valorosos conselhos no que
tange a anlise de dados.
A Claudia Hoff pelas orientaes na forma desse trabalho.
Finalmente agradeo ao Batura, particularmente a Maria Aparecida Barros de
Queiroz Accioly (Dona Marici) diretora administrativa, por permitir que fosse
realizado e colaborar com esse trabalho.
Aos entrevistados e aqueles que responderam o questionrio. Enfim, meus
agradecimentos a todos que, direta ou indiretamente, auxiliaram-me na
confeco deste trabalho.
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COSTA, Elcio. O sentido do trabalho voluntrio e o terceiro setor: um estudo de caso. 2005. 170f. Dissertao. Mestrado em Gesto e Desenvolvimento Regional Economia, Contabilidade e Administrao, Universidade de Taubat, Taubat.
RESUMO
O trabalho sempre esteve presente na sociedade. Na Antigidade, era uma ocupao
servil que exclua seu agente da cidadania. No mundo contemporneo no representa
o labor, mas sim uma atividade reconhecida como til e remunerada. Essa
centralidade social do trabalho motivou o grupo Meaning Of Work (MOW, 1998) a
estudar os sentidos que o trabalhador atribui ao seu trabalho. Devido a vrios fatores,
como por exemplo a evoluo tecnolgica, a quantidade de postos de trabalho tem
diminudo, resultando em aumento do auxlio governamental aos desempregados. Os
governos no conseguiram atender a essa demanda e outros entes sociais
apareceram, as organizaes do Terceiro Setor que se utilizam, basicamente, do
trabalho voluntrio. Nesta pesquisa, questiona-se o sentido que o trabalhador
voluntrio atribui ao seu trabalho. A organizao escolhida como objeto deste estudo
chama-se BPR - Batura Projeto Renascer. No Projeto Renascer, atualmente,
trabalham 150 pessoas, dentre elas 6 so remuneradas e as restantes, voluntrias. A
pesquisa foi dividida em fases: 1.fase exploratria construo do projeto de
investigao; 2.trabalho de campo foram realizadas entrevistas com 12
trabalhadores e enviaram-se questionrios aos 150 trabalhadores. Confrontou-se o
encontrado com o modelo adotado pelo grupo MOW. Encontrou-se que o sentidos
atribudos ao trabalho pelos trabalhadores da Pesquisa do MOW foram, em parte,
encontrados nessa pesquisa. Diferenas e semelhanas, principalmente, quanto ao
tema remunerao foram encontrados.
Palavras-chave : sent ido, trabalho, trabalho voluntr io, terceiro setor, administrao.
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COSTA, Elcio. The meaning of voluntary work and third sector: a case study. 2005. 170f. Dissertation. Master in Management and Regional Development. Department of Economics, Accounting and Administration, University of Taubat, Taubat.
ABSTRACT
Work has always been part of our society. In late Antiquity working was considered a
servile occupation which naturally prevented one from its citizenship. In a
contemporary world, it does not represent labor, but represents an activity recognized
as utile and paid. This social centrality of work has motivated the Meaning Of Work
(MOW, 1998) team to study the meaning the workers give to their work. Due to several
issues, technological evolution for instance, the quantity of vacancies has decreased,
implying an increase of governmental help to the unemployed. The government could
not fulfill this demand and therefore other social elements took place, such as the Third
Sector organizations, that basically uses voluntary work. The question that has been
made in this paper is what is the meaning that the voluntary worker gives to his work.
The object of this research was the organization BPR - Batura Projeto Renascer. At
Projeto Renascer, there are 150 people currently working, being 6 paid workers plus
voluntaries. The research was divided into phases: 1. exploratory phase, that means
formulating investigation project; 2. field work consisting of 12 interviews and
questionnaires that were sent to 150 workers. The results have been compared to the
MOW model. In this research, the conclusions reached showed that the meaning that
the workers gave to their work, was very similar to the one expressed by the MOW
model. Mainly differences and similarities regarding remuneration have been pointed
out.
Keywords : meaning, work, voluntary work, third sector, administrat ion.
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SUMRIO
RESUMO ............................................................................................................5
ABSTRACT.........................................................................................................6
LISTA DE TABELAS...........................................................................................9
LISTA DE QUADROS.......................................................................................11
1 INTRODUO ...........................................................................................12 1.1 A Pesquisa..................................................................................................... 17 1.2 Objetivos ........................................................................................................ 17 1.3 Relevncia ..................................................................................................... 18 1.4 Organizao deste trabalho........................................................................... 19
2 REFERENCIAL TERICO.........................................................................20 2.1 Fases histricas do trabalho .......................................................................... 20 2.1.1 O trabalho ao longo da Histria.................................................................. 20 2.1.2 A Idade Mdia e o Renascimento .............................................................. 23 2.1.3 A Revoluo Industrial................................................................................ 28 2.1.4 A Escola Clssica da Administrao.......................................................... 31 2.1.5 A Escola Burocrtica .................................................................................. 40 2.1.6 Fordismo .................................................................................................... 42 2.1.7 A Escola das Relaes Humanas .............................................................. 43 2.1.8 A Escola Neoclssica da Administrao .................................................... 44 2.2 Terceiro Setor ................................................................................................ 58 2.2.1 O porqu do nome Terceiro Setor.............................................................. 58 2.2.2 O crescimento do Terceiro Setor................................................................ 63 2.2.3 Responsabilidade social e o Terceiro Setor ............................................... 71 2.3 Modelos para os estudos sobre o Sentido do Trabalho................................. 77
3 METODOLOGIA.........................................................................................88 3.1 Tipo de Pesquisa ........................................................................................... 90 3.2 Lcus da Pesquisa......................................................................................... 91 3.3 Entrevista ....................................................................................................... 94 3.4 Questionrio................................................................................................... 98 3.5 Anlise dos dados.......................................................................................... 99
4 ANLISE DOS RESULTADOS ................................................................100 4.1 Entrevistas ................................................................................................... 101 4.1.1 Caractersticas sciodemogrficas........................................................... 101
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4.1.2 Sentido dado ao trabalho: ser moralmente aceitvel ............................... 104 4.1.3 Sentido dado ao trabalho: ser realizado de forma eficiente e levar a um resultado ................................................................................................................. 106 4.1.4 Sentido dado ao trabalho: ser fonte de experincias de relaes humanas satisfatrias............................................................................................................. 107 4.1.5 Sentido dado ao trabalho: por manter o trabalhador ocupado ................. 109 4.1.6 Sentido dado ao trabalho: ser satisfatrio ................................................ 110 4.1.7 Sentido dado ao trabalho: permite segurana e possibilita ser autnomo113 4.2 Questionrios............................................................................................... 116 4.2.1 Moralmente aceitvel ............................................................................... 120 4.2.2 O trabalho feito de maneira eficiente e gerar resultados.......................... 121 4.2.3 Trabalho como fonte de experincias e relaes humanas satisfatrias. 124 4.2.4 O trabalho como forma de ocupao ....................................................... 126 4.2.5 O trabalho como meio de satisfao........................................................ 131 4.2.6 O sentido dado ao trabalho: garantir a segurana e autonomia do trabalhador.............................................................................................................. 131 4.2.7 Cruzando dados da pesquisa................................................................... 133 4.2.7.1. Formao X Gnero ............................................................................. 133 4.2.7.2. Remunerao X Envolvimento com o trabalho..................................... 133 4.2.7.3. Gnero X Envolvimento com o trabalho ............................................... 134 4.2.7.4. Remunerado X Formao..................................................................... 135
5 CONCLUSO...........................................................................................136 5.1 O trabalho ocupa um lugar central na sociedade ........................................ 138 5.2 As caractersticas do trabalho...................................................................... 138 5.3 Formao..................................................................................................... 139 5.4 Remunerao .............................................................................................. 139
REFERNCIAS ..............................................................................................142
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Taxa de desemprego ............................................................ 52
Tabela 2: Taxa de participao ............................................................. 53
Tabela 3: Dados estatsticos do Municpio de Jacare .......................... 93
Tabela 4: Distribuio de voluntrios, assalariados e gnero na
amostra ............................................................................................... 102
Tabela 5: Idade ................................................................................... 103
Tabela 6: Formao escolar ............................................................... 117
Tabela 7: Gnero ................................................................................ 117
Tabela 8: Idade ................................................................................... 118
Tabela 9: Anos de trabalho no Projeto ............................................... 119
Tabela 10: Quantidade de trabalhadores remunerados ..................... 119
Tabela 11: Significado e importncia da organizao para o
trabalhador .......................................................................................... 120
Tabela 12: Quanto contribui com a sociedade o seu trabalho ........... 121
Tabela 13: Capacidade de tomada de deciso no trabalho ............... 122
Tabela 14: Autonomia (voc decide como fazer o seu trabalho) ....... 122
Tabela 15: Um trabalhador deve pensar melhores caminhos
para o seu trabalho ............................................................................. 123
Tabela 16: Um trabalhador deve se envolver
ativamente no desenvolvimento de melhores mtodos e
procedimentos do trabalho .................................................................. 124
Tabela 17: Importncia dos companheiros de trabalho ...................... 125
Tabela 18: Boas relaes interpessoais com os superiores ............... 125
Tabela 19: Percepo do trabalhador sobre serem consultados
sobre mudanas nos mtodos de trabalho ......................................... 126
Tabela 20: Quanto penso no trabalho ................................................. 127
Tabela 21: Importncia da minha ocupao ou profisso .................. 128
Tabela 22: O trabalho deveria ser acessvel a todos que o
desejassem ......................................................................................... 128
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Tabela 23: Mesmo se eu ganhasse uma grande quantidade
de dinheiro eu poderia continuar a
trabalhar ............................................................................................. 129
Tabela 24: Ter um trabalho muito importante para mim .................. 130
Tabela 25: Envolvimento com o trabalho ............................................ 130
Tabela 26: Aprendizagem no trabalho ................................................ 131
Tabela 27: Importncia da remunerao ............................................ 132
Tabela 28: Formao X Gnero ......................................................... 133
Tabela 29: Remunerao X Envolvimento com o trabalho ................ 134
Tabela 30: Gnero X Envolvimento com o trabalho ........................... 134
Tabela 31: Remunerado X Formao ................................................ 135
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Resumo dos sentidos atribudos ao trabalho na pesquisa com
os administradores ................................................................................ 86
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1 INTRODUO
De forma intuitiva, percebemos que o trabalho conserva um lugar central na
sociedade contempornea, porm nem sempre foi assim, ao contrrio, na
Antigidade, era uma ocupao servil que exclua seu agente da cidadania, ou
seja, impedia a sua participao na Cidade.
Hoje, o que se chama trabalho, na verdade, no representa o labor, mas sim
uma atividade reconhecida por outros como til e remunerada. Esse trabalho
est associado a uma existncia e a uma identidade social (GORZ, 2003,
p.21).
Na pesquisa feita por Morin (2002, p. 71) fez-se a seguinte pergunta aos
entrevistados: Se voc tivesse bastante dinheiro para viver, confortavelmente,
sem trabalhar, durante o resto de sua vida, o que faria em relao ao seu
trabalho?
Mais de 80% dos entrevistados responderam que trabalhariam mesmo assim.
As principais razes apontadas para este comportamento foram as seguintes:
a importncia do relacionamento com outras pessoas;
a necessidade de ter um vnculo com um ambiente de trabalho;
a procura de algo para fazer;
a fuga do tdio e a busca de um objetivo para a vida (MORIN, 2002, p.
71).
O trabalho, figura central da vida humana, tem gerado grandes conflitos
sociais, ocasionando mudanas comportamentais tanto no campo como na
cidade. Naquele, h a procura de terras para plantar, nesta, h a necessidade
de buscar o trabalho e discutir sobre o tamanho de sua jornada.
Na dcada de 1970, os pases desenvolvidos e aqueles em processo de
desenvolvimento enfrentaram e continuam enfrentando mudanas em todos os
setores da economia, principalmente no que se refere tecnologia,
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particularmente, empregada no setor industrial e agrcola, que muito
influenciaram no ambiente de trabalho.
A competitividade instalada nesse novo ambiente de trabalho, principalmente
na indstria, determinou, diretamente, mudanas administrativas nas
organizaes para fazer frente aos desafios impostos por um mercado, cada
vez mais exigente, que necessitava de um produto de melhor qualidade, por
um preo menor, e que atendesse s atuais demandas sociais e econmicas.
Dentre as demandas econmicas, est a busca incessante pelo lucro - objetivo
nico do sistema capitalista resultando em um ambiente de trabalho ainda
mais competitivo, principalmente nas organizaes industriais cujas margens
de lucro cada vez menores transformaram parte delas em organizaes
globais.
Essas organizaes, procurando defender seus objetivos, acabam por exigir
cada vez mais de seus trabalhadores que, sentindo-se pressionados pela
necessidade do emprego, aceitam trabalhar mais. A quantidade maior de
trabalho no se traduz, somente, em um acrscimo de horas efetivamente
trabalhadas, mas tambm em um esforo intelectual maior para fazer frente s
demandas do ambiente de trabalho. O novo modelo de trabalho, menos
manual e mais intelectual, obriga o trabalhador a empreender um determinado
ritmo que, mesmo no podendo ser medido em horas, resulta em uma carga de
trabalho efetiva muito maior para ele. (ANTUNES, 2002, p.195-207).
Como conseqncia dessas transformaes no meio fabril, surgiu o chamado
toyotismo, modelo de gesto japons, que trouxe para a indstria novos (para
a poca) sistemas de produo, possibilitando ao trabalhador maior
participao no processo produtivo mas, ao mesmo tempo, tornou a indstria
mais automatizada, causando a diminuio da mo-de-obra (ANTUNES, 2002,
p.195-207).
Nesse contexto, a automatizao parece ser um processo contnuo, portanto
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pode-se pensar que o trabalho est em processo de desaparecimento.
O trabalho, porm, no est restrito somente indstria, ao contrrio, est
presente em todas as formas de expresso de movimento. Exemplificando,
trabalho no se resume somente a atividades desenvolvidas pelos animais,
como o movimento do castor para fazer diques, mas a mudana do estado
natural do material utilizado para fazer os diques, de forma a melhorar a sua
utilidade. A partir desse entendimento mais abrangente de trabalho, pode-se
concluir que o trabalho no desaparecer, mas estar em constante
modificao (BRAVERMAN, 1981, p. 49).
Embora a compra e venda da fora de trabalho tenham origens na Antigidade,
a Revoluo Industrial foi responsvel por profundas mudanas nos
paradigmas de produtividade porque aumentou a classe assalariada, tornando-
a numericamente importante.
Alguns dados confirmam esse fato: nos Estados Unidos da Amrica, at o
incio do sculo XIX, 80% das pessoas trabalhavam por conta prpria; por volta
de 1870, esse nmero atingia apenas 33% deles; em 1940, no havia mais de
20%; e em 1970, eles eram apenas 10% (50% menor que em 1940). Percebe-
se que o capitalismo, rapidamente, converteu as iniciativas individuais em
forma de trabalho assalariado (BRAVERMAN, 1981, p. 55).
Com a evoluo tecnolgica, a indstria passou a viver um processo de
reduo na utilizao de mo-de-obra. Em um perodo histrico de
aproximadamente 100 anos, o capitalismo, ao mesmo tempo em que formava
massas de trabalhadores nas indstrias, as eliminava poucos anos depois. Por
isso, a definio de trabalho, normalmente utilizada para estudos sobre esse
assunto, est baseada nas teorias Marxistas que contrapem o capital ao
trabalho.
Marx (1998, p. 108), em seu texto sobre salrio, preo e lucro, apresentou uma
relao entre eles na qual o valor de uma mercadoria determinado pelo
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tempo de trabalho socialmente encerrado na sua elaborao. Como o
trabalhador no possui os meios de produo (terras, ferramentas etc.), o valor
de sua fora de trabalho, como o de qualquer mercadoria, determinado pelo
valor dos artigos de primeira necessidade exigidos para produzir, desenvolver,
manter e perpetuar a fora de trabalho, ou seja, o total necessrio a sua
subsistncia (MARX, 1998, p. 108).
Assim, o trabalhador no vende diretamente o seu trabalho, mas a sua fora de
trabalho. Partindo-se desse pressuposto, a fora de trabalho teria um valor cuja
representao seria um salrio suficiente apenas para a manuteno bsica do
trabalhador. Isso significa que ele estar trabalhando para si parte do dia de
trabalho, o restante de sua produo diria ser destinado para o patro,
portanto ele compra o dia todo de trabalho, gerando a mais-valia, ou seja, o
lucro do empregador - o dono dos meios de produo, essa seria a
remunerao do capitalista (MARX, 1998, p. 108-111).
A teoria de Marx para a mais-valia apresenta uma relao capital trabalho para
o trabalho assalariado. Nessa pesquisa buscou-se ampliar o conceito de
trabalho para abranger trabalho voluntrio.
Andr Gorz afirma que a definio de trabalho, como conhecida por todos,
uma inveno da modernidade (GORZ, 2003, p. 21).
Sartre apud Kanaane (1995, p.14) refora a amplitude do conceito de trabalho
dizendo: Por meio do trabalho dominamos o meio. H dispndio de energia,
ao sobre a natureza, produo, destruio e, portanto, trabalho. Kanaane
ainda ressalta que o prprio Karl Marx afirmou ser o trabalho um processo
entre o homem e a prpria natureza e, com isso, ele chegou a uma definio
muito mais abrangente para trabalho que aquela encontrada em ambiente
industrial (KANAANE, 1995, p. 13-27).
Para Marx (1998, p.102) o trabalho parte integrante de uma mercadoria, para
produzir uma mercadoria, no s se tem de criar um artigo que satisfaa a uma
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necessidade social qualquer, como tambm o trabalho nele incorporado dever
representar uma parte integrante da soma global de trabalho investido pela
sociedade.
Baseando-se nesses vrios conceitos, conclui-se que trabalho pode ser
encontrado em diversas atividades da vida cotidiana e no somente no
ambiente industrial.
O fato de a automatizao industrial reduzir a mo-de-obra assalariada em
contraponto com outros conceitos de trabalho, que consideram qualquer
dispndio de energia como trabalho, leva concluso de que o trabalho
continuar sempre presente na sociedade, no necessariamente na indstria.
A partir da, surge a possibilidade de se estudar as organizaes do chamado
Terceiro Setor. Cada vez mais presentes na sociedade, ao contrrio da
indstria, elas esto absorvendo uma grande quantidade de trabalhadores cuja
mo-de-obra pode ser assalariada ou no.
A descoberta do sentido dado ao trabalho influencia na identificao das
necessidades do trabalhador que, por sua vez, implica a motivao que,
conseqentemente, altera o desempenho. Portanto, serve de parmetro para
que os administradores avaliem o efeito esperado de suas decises e/ou
orientaes nas organizaes (MORIN, 2001, p. 9).
Nesse novo ambiente de diminuio do emprego industrial, o Terceiro Setor
surge como uma opo de trabalho, mesmo sem remunerao. Essas
organizaes tambm tm interesse em medir o desempenho dos
trabalhadores, portanto, busca-se entender qual o sentido do trabalho para
essas pessoas.
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1.1 A Pesquisa
Neste estudo, procura-se entender o profissional contemporneo e sua relao
com o trabalho em uma organizao do Terceiro Setor porque nem sempre
esse tipo de instituio remunera seus funcionrios e sabe-se que, dentro do
modelo de sentido do trabalho, a remunerao um dos fatores que lhe d
sentido (MORIN, 2001, p. 8-19)
Busca-se, dessa forma, identificar o sentido do trabalho para os trabalhadores
voluntrios de um determinado grupo social.
Espera-se que esta pesquisa possibilite a compreenso dos contextos sociais
que motivam os sentidos dados ao trabalho, uma vez que as organizaes
fazem parte da sociedade, influenciando-a e, ao mesmo tempo, sendo objeto
de sua influncia.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
O objetivo geral desse estudo identificar os sentidos atribudos ao trabalho
em uma organizao do Terceiro Setor, analisando a reao do trabalhador
nessa atividade voluntria.
1.2.2 Objetivos Especficos
Fazer um levantamento histrico sobre as mudanas ocorridas no
trabalho desde a Revoluo Industrial at o incio do sculo XXI.
Identificar o sentido dado ao trabalho pelo trabalhador voluntrio.
Identificar as diferenas e as semelhanas entre os sentidos
atribudos ao trabalho pelo trabalhador voluntrio e o no voluntrio,
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comparando os dados da pesquisa com o modelo do Meaning Of
Work (MOW, 1998).
1.3 Relevncia
O ambiente de trabalho modifica-se conforme a evoluo da sociedade. Assim,
estudar como os trabalhadores percebem sua relao com o trabalho interessa
s pessoas responsveis pelos processos de transformao dentro das
organizaes, isto porque o trabalho est intimamente ligado ao indivduo, uma
vez que assume posio central na sociedade contempornea (Morin, 2001,
p.9).
O trabalho representa um valor importante, exerce uma influncia
considervel sobre a motivao dos trabalhadores e tambm sobre
sua satisfao. Vale a pena, ento, tentar compreender o sentido do
trabalho hoje e determinar as caractersticas que ele deveria
apresentar a fim de que tenha um sentido para aqueles que o
realizam (MORIN, 2002, p. 71).
O sentido do trabalho j foi estudado em diversos pases por pesquisadores do
grupo MOW (1987) e os resultados mostraram que ele pode assumir desde
uma condio de neutralidade at de centralidade na identidade pessoal e
social. Particularmente, observou-se que o trabalho essencial na vida das
pessoas e, aqueles que o executam procuram dar utilidade para suas
atividades dentro das organizaes e na sociedade. Alm disso, conforme j
apontado por outros estudiosos, os dados tambm indicaram que valores como
variedade na natureza das tarefas, aprendizagem, autonomia, reconhecimento,
bem como a funo de garantir a sobrevivncia e segurana, so fundamentais
para que o trabalho tenha sentido para as pessoas (MORIN, TONELLI e
PLIOPLAS, 2004, p. 1).
No caso particular deste trabalho, ao estudar uma organizao do Terceiro
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Setor, alm do interesse de descobrir os sentidos atribudos ao trabalho por
esse determinado grupo de trabalhadores, o resultado encontrado poder ser
comparado com aquele de organizaes onde a totalidade dos trabalhadores
so remunerados, para verificar possveis diferenas e semelhanas.
1.4 Organizao deste trabalho
Esta pesquisa foi estruturada em cinco captulos, dentre os quais essa
Introduo o primeiro deles.
O segundo captulo apresenta a evoluo do trabalho durante a histria e, a
partir de reviso da literatura, o referencial terico dos sentidos do trabalho que
foi utilizado para comparao com os resultados encontrados.
No captulo terceiro encontra-se a metodologia empregada para se realizar
esse trabalho.
O quarto captulo apresenta os resultados e sua anlise.
Ao final, no captulo sexto, encontram-se as concluses obtidas por essa
pesquisa, destacando-se remunerao como sentido do trabalho para o
trabalhador voluntrio.
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2 REFERENCIAL TERICO
2.1 Fases histricas do trabalho
2.1.1 O trabalho ao longo da Histria
Segundo o dicionrio (FERREIRA, 1998, p. 642), trabalho significa: aplicao
das foras e faculdades humanas para alcanar um determinado fim. O
mesmo dicionrio, tambm, apresenta-o como atividade coordenada, de
carter fsico e/ou intelectual, necessria realizao de qualquer tarefa,
servio ou empreendimento. O exerccio dessa atividade como ocupao,
ofcio, profisso, tambm trabalho.
No livro Dimensions of Work (HALL, 1986, p. 11, traduo nossa) encontra-se a
seguinte definio para trabalho: ... uma atividade que produz alguma coisa de
valor para outras pessoas.
Hall (1986), porm, no se contenta com esta definio apresentada por
entender que poderia estar ligada ao emprego formal ou ao grupo social que
trabalha em uma determinada organizao. Por no consider-la geral, em seu
texto, procura construir um conceito de trabalho que seja abrangente. Para Hall
(1986), o ato dele, em casa, ao ler um jornal e encontrar um artigo relacionado
com sua atividade de professor e resolver recort-lo, j um trabalho. Este
exemplo destaca o fato de que o ato gerador de valor foi produzido fora do
ambiente de trabalho.
Hall conclui que trabalho um fenmeno social construdo como tambm
uma atividade objetiva. Baseado nesta idia, ele constri uma nova definio
de trabalho que seria: trabalho o esforo ou atividade de um indivduo
realizada com a inteno de gerar produtos ou servios de valor para outros,
tambm considerado como ser trabalho pelo indivduo nele envolvido (HALL,
1986, p. 11-14, traduo nossa).
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21
Braverman (1981, p. 49 55), tambm buscando uma definio para trabalho,
inicia definindo-o como as atividades desenvolvidas pelos animais para
modificar o estado natural de materiais encontrados na natureza para melhorar
sua utilidade, porm ressalta que o trabalho humano consciente e proposital,
ao passo que o trabalho dos outros animais instintivo.
Assim, o trabalho humano como atividade proposital, orientado pela
inteligncia, produto especial da espcie humana. Mas esta, por
sua vez, produto especial desta forma de trabalho. Ao agir assim
sobre o mundo externo e transform-lo, ele ao mesmo tempo modifica
sua prpria natureza (MARX apud BRAVERMAN, 1981, p. 52).
Hall (1986), Ferreira (1998) e Braverman (1981) definiram trabalho como
movimento, atividade no necessariamente vinculados a uma organizao ou a
um emprego formal.
Gorz (2003, p. 161), utilizando-se da abrangncia desse conceito, discute o
trabalho domstico e entende que, com a escassez do emprego formal, os
homens tendem a invadir o espao da mulher nas atividades domsticas,
mesmo que dissimulado, apresentando a reivindicao de um salrio o que
poder levar a sociedade a remunerar esse tipo de trabalho, como j acontece
em alguns pases desenvolvidos.
A partir desse conceito de trabalho, pode-se afirmar que a sua origem remonta
aos primrdios do prprio homem, uma vez que trabalho no est ligado a uma
certa organizao formal, a um horrio ou a uma remunerao, mas sim a uma
atividade.
Os trabalhos domsticos, a caa, as artes plsticas - como os desenhos
encontrados nas paredes de cavernas ou em reas habitadas pelos primeiros
seres humanos - tambm so manifestaes de trabalho. Conclui-se que,
desde sempre, o homem, como ente social, precisou do trabalho para a
organizao da sociedade.
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22
O trabalho e a prpria existncia do homem se confundem. Assim, a
administrao ou a gerncia desse trabalho assumiu papel social importante
muito antes do aparecimento de Taylor e Fayol.
Por volta de 5.000 a.C. os sumrios j utilizavam organizaes governamentais
complexas que, alm do trabalho, exigiam administrao (CHIAVENATO, 1999,
p. 32). Sem gerncia, no existiriam as Pirmides, a Muralha da China, as
extensas redes de estrada, aquedutos, canais de irrigao, os grandes
edifcios, arenas, monumentos, catedrais etc. Encontra-se, tambm, uma
diviso elementar de trabalho nas oficinas que produziam armas para os
exrcitos romanos (BRAVERMAN, 1981, p. 65).
verdade que o trabalho nem sempre teve o sentido que adquiriu
nas sociedades do trabalho. Em particular, ele nem sempre foi uma
atividade realizada, em vista de sua troca mercantil, na esfera pblica.
No foi sempre fonte de cidadania para os trabalhadores. Na Grcia
antiga, ao contrrio, era tido como incompatvel com a cidadania.
que, ali, a maior parte da produo do necessrio era realizada na
esfera domstica privada (no oikos) (GORZ, 2003, p. 152).
Trabalho e administrao sempre estiveram muito ligados. Se trabalho
atividade, administrar o processo de realizar aes para alcanar algum
objetivo (MAXIMIANO, 2000, p. 25); ou para Chiavenato (1999, p. 6), a
administrao constitui a maneira de utilizar os diversos recursos
organizacionais humanos, materiais, financeiros, de informao e tecnologia
para alcanar objetivos e atingir elevado desempenho.
Partindo dessa ligao entre trabalho e administrao, pode-se observar, ao
longo da Histria, que as mudanas ocorridas nos mtodos administrativos
geraram, por sua vez, alteraes nas relaes de trabalho.
Dessa forma, ao se estudar as organizaes e as mudanas administrativas
pelas quais estas passaram, est se estudando as transformaes ocorridas no
trabalho ao longo da histria.
-
23
A Igreja Catlica, os exrcitos e outras grandes organizaes, assim como as
civilizaes romana e egpcia, necessitaram de administrao tanto quanto as
modernas administraes pblicas, civis e militares (MAXIMIANO, 2000, p. 53).
As mudanas no trabalho e, conseqentemente, na administrao ocorreram
devido evoluo social. Nas sociedades antigas, baseadas em estruturas
militares estratificadas, e composta por cidados escravos e livres, o trabalho
era considerado algo de pouco valor, logo, quem o administrasse ou exercesse
outros afazeres considerados dirios, provavelmente, no merecia destaque.
Essa seria uma das possveis razes para a falta de relatos sobre
administrao na Antigidade.
A idia contempornea do trabalho s surge com o capitalismo manufatureiro.
Antes, o trabalho era indigno do cidado livre no porque fosse tarefa para os
escravos ou para as mulheres, mas por ser considerado uma necessidade de
sobrevivncia, e um homem livre capaz de conduta moral no poderia sujeitar-
se necessidade do corpo, ou seja, ao trabalho. Somente o sujeito livre das
necessidades do corpo seria capaz de conduta moral (GORZ, 2003. p. 22
24).
2.1.2 A Idade Mdia e o Renascimento
Na Europa Ocidental, durante a Idade Mdia, as organizaes humanas eram
conhecidas como feudos. Trabalhadores exerciam basicamente atividades
relacionadas lavoura e pecuria. Essas aldeias ou feudos possuam terra
arvel a sua volta e, na orla mais externa, prados, florestas, bosques e pastos.
Os prados e pastos eram compartilhados por todos, mas a rea arvel era
dividida entre uma parte que pertencia ao senhor proprietrio do feudo e
outra que ficava em poder dos arrendatrios. Os senhores podiam ter muitos
arrendatrios, dependendo do tamanho do feudo ou at muitos feudos. Alm
-
24
da diviso da terra, o feudo tambm se caracterizava pelo fato de o trabalhador
- o arrendatrio - ter que trabalhar a terra do senhor como forma de pagamento
pela sua utilizao, ou seja, pelo arrendamento; portanto, a quitao da dvida
era realizada com o trabalho e no por meio dos resultados conseguidos com o
uso da terra como se faz atualmente (HUBERMAN, 1974, p.11-25).
Este fato gerava uma relao particular entre os senhores e os trabalhadores,
estes chamados de servos, artesos, agricultores ou camponeses porque,
alm de trabalhar na sua prpria terra, precisavam trabalhar a terra do senhor
qual deveria ser dada prioridade. Da mesma forma deveriam agir com a
colheita e com a venda da produo. Quando o trabalhador necessitava moer o
seu trigo ou esmagar as suas uvas, precisava pagar pela utilizao do moinho
ou da prensa, os quais, via de regra, pertenciam ao senhor (HUBERMAN,
1974, p.11-25).
Estas eram as normas mais utilizadas, porque naquela poca, no havia um
governo, forte o bastante, para impor as mesmas leis para todos, portanto as
normas e os costumes entre trabalhadores e senhores feudais eram distintos.
(HUBERMAN, 1974, p.11-25).
A relao entre os trabalhadores e os senhores chegava a tal ponto de
submisso que, em vrios feudos, as mulheres precisavam da permisso do
senhor para se casar. Apesar disso tudo, na sociedade medieval, eles no
eram considerados escravos. (HUBERMAN, 1974, p.11-25).
Da Antigidade at a poca medieval, a relao de trabalho mudou. Naquela
havia o homem livre e o escravo; e nesta, o senhor feudal e o servo. Apesar da
mudana na relao de trabalho persistiram em ambos os perodos uma classe
que no se orgulha do trabalho, e uma outra que realiza as tarefas do dia-a-dia
(KWASNICKA, 1995, p. 24).
No feudalismo, a riqueza e o capital eram estticos, ou seja, no se moviam
entre os mercados buscando lucros. Ficavam nos cofres dos senhores feudais
-
25
ou da Igreja porque a maioria dos bens necessrios vida cotidiana era
produzida localmente, dentro dos prprios feudos. Talvez necessitassem
comprar apenas um pouco de sal e algum ferro. (HUBERMAN, 1974, p. 25-35).
O senhor feudal era detentor dos meios de produo. Toda riqueza da poca
era baseada na terra, pois ela provia todas as necessidades do senhor.
Contudo, ele precisava dos servos tanto para os trabalhos como para a guerra;
ento recrutava todos aqueles que aceitassem ser guerreiros e fazer da luta
uma forma de pagamento pelo uso da terra (HUBERMAN, 1974, p. 25-35).
O aparecimento das cruzadas fez o comrcio entre oriente e ocidente crescer,
levou religio crist aos infiis muulmanos e, alm disso, incitou muitos
senhores feudais a viajar em busca de mais terra ou riqueza (HUBERMAN,
1974, p. 25-35).
Quando os senhores feudais, ou cruzados, retornavam dessas viagens traziam
gostos e hbitos das terras do Oriente. Vrias cidades Europias, na Idade
Mdia, participaram dessas inovaes, principalmente, as cidades italianas de
Veneza, Gnova e Pisa que, devido sua posio geogrfica e a seus
cidados, excelentes comerciantes, souberam aproveitar-se da geografia e da
situao poltica para fazer fortuna (HUBERMAN, 1974, p. 25-35).
Com esses novos acontecimentos, o mundo passa a se interligar via as rotas
martimas, principalmente as do Mediterrneo. O Mar do Norte passa tambm
a fazer parte do mundo comercial.
Nas cidades por onde passavam os comerciantes, surgiam feiras que, em
determinadas pocas do ano, geravam grande movimento de pessoas e
mercadorias. Esse aumento de feiras tambm promoveu o crescimento das
cidades que as abrigavam que, normalmente, localizavam-se no centro dos
feudos.
A populao das cidades que abrigavam as feiras aumentava, pois os
-
26
trabalhadores, que permaneciam ligados aos senhores feudais, buscavam mais
liberdade, e uma das formas de consegui-la era migrar para as cidades que
precisavam de mo-de-obra. L, talvez, houvesse a chance de trabalhar em
uma oficina de um mestre como aprendiz.
Os comerciantes e os mestres passavam a ter mais poder na sociedade e,
fortalecidos pelo aumento do comrcio e pela gerao de lucros, logo
perceberam que se fundassem associaes seus negcios poderiam melhorar.
Em um primeiro momento, as associaes eram para o pagamento de escolta
em viagens por terra e mar. Logo depois, elas passaram a pedir iseno de
certos impostos aos senhores feudais e proteo para que outros
comerciantes estrangeiros no entrassem em seus mercados. Com a evoluo
dos negcios, elas j tinham a funo de controlar o novo mercado que, aos
poucos, passou de artesanal para industrial.
As mercadorias no eram mais feitas para uso domstico, mas sim para serem
vendidas. Importante notar que, nessa poca, os artesos profissionais eram
trabalhadores e donos dos meios de produo, ou seja, das ferramentas e
insumos.
A sociedade que estava ligada terra, cuja posse indicava riqueza, passou a
apresentar outro modelo, no qual os detentores do dinheiro eram considerados
ricos e poderosos. A partir da, surgiu um novo tipo de trabalhador, ou seja,
aquele que empresta dinheiro para as atividades comerciais (HUBERMAN,
1974, p. 25-35).
Essa oligarquia comercial passou a convergir esforos para modificar o sistema
feudal. Decidiu apoiar os reis, que j no eram to poderosos, com a inteno
de unir feudos de regies com afinidades, mas logo perceberam que o maior
senhor feudal era a Igreja, e ela, tambm, precisaria ser combatida porque
impedia o avano comercial (HUBERMAN, 1974, p. 25-35).
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27
Com o apoio dos comerciantes, os reis adquiriram financiamentos e novas
idias para ampliar domnios e fortalecer seu poder.
Os reis e comerciantes, sentindo-se fortalecidos lanaram-se ao mar para
buscar alternativas aos meios de transporte conhecidos das mercadorias desde
os mercados produtores no oriente at os mercados consumidores na Europa.
Ao procurar rotas alternativas, encontraram novas terras e outras riquezas.
Assim, ocorreram as descobertas das minas de prata no Peru; de ouro, no
Mxico, na Colmbia e no Brasil, tornando Portugal e Espanha potncias ricas.
medida que as terras eram conquistadas, a sua populao passava a
trabalhar no extrativismo, nas plantaes de tabaco e acar e no comrcio de
escravos negros vindos da frica.
A expanso dos mercados para as colnias fez aumentar ainda mais as
companhias de comrcio e, como conseqncia, as empresas familiares e
domsticas de artesos. Essas companhias que, at ento, dispunham de
pequena estrutura, foram se modificando devido grande demanda, fartura
de dinheiro (ouro e prata das colnias) e disponibilidade de mo-de-obra
(migrao do homem do campo para as cidades).
Para o trabalhador, apesar de ser um momento de oferta de emprego, no
significou, necessariamente, boa remunerao, nem boas condies de
trabalho. Os pequenos artesos no possuam mais os meios de produo -
suas ferramentas e o capital para adquirir os insumos e no conseguiam
competir com as associaes devido ao monoplio de produo. Foram
obrigados a mudar da posio de servos dos feudos e passaram a ser
vendedores de sua mo-de-obra para os artesos (HUBERMAN, 1974, p. 121-
122).
Esse processo acelerou o surgimento do Renascimento, dando apoio
mudana da sociedade da Idade Mdia, at ento baseada no misticismo e na
tradio, para uma valorizao do trabalho.
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28
2.1.3 A Revoluo Industrial
A Revoluo Industrial surge entre o final do sculo XVIII e incio do sculo
XIX, apresentando ao homem a organizao industrial e o seu complexo
ambiente. A produo deixa de ser puramente artesanal e comea, ao utilizar
mquinas, a se tornar manufatureira (KWASNICKA, 1995, p. 24-25).
Smith apud Braverman (1981, p. 75) demonstra bem este fato ao exemplificar,
assim, a fabricao de alfinetes:
Um homem estica o arame, outro o retifica e um terceiro o corta; um
quarto faz a ponta e um quinto prepara o topo para receber a cabea;
a cabea exige duas ou trs operaes distintas: coloc-la uma
funo peculiar, branquear os alfinetes outra e at alinh-los num
papel uma coisa separada; e o importante na fabricao de um
alfinete deste modo dividido em cerca de dezoito operaes que,
em algumas fbricas, so executadas por mos diferentes, embora
em outras o mesmo homem s vezes execute duas ou trs delas
(SMITH apud BRAVERMAN, 1981, p. 75).
Esse processo muito diferente daquele utilizado at pouco antes, por
exemplo, por um funileiro que, para fazer um funil, desenhava o traado na
folha de metal, cortava-o e, depois, enrolava a chapa, soldava e dava
acabamento (BRAVERMAN, 1981, p. 74).
O homem que havia migrado do campo para a cidade, devido ao aumento do
preo do arrendamento da terra, principalmente na Inglaterra, passou da
posio de arrendatrio a operrio nas novas fbricas surgidas para atender a
demanda gerada pelas guerras, pela expanso das colnias e pelo aumento da
populao.
O trabalho no campo mudou com a introduo de mquinas na agricultura, ou
seja, o processo produtivo agrcola tambm se transformou.
-
29
A migrao do homem do campo para a cidade, devido disperso dos
dependentes feudais, dissoluo dos mosteiros e ao fechamento da terra
para ovinocultura, causou um grande aumento na busca pelo trabalho
assalariado para padres da poca. No final do sculo XV, dizia-se haver
80.000 mendigos s em Paris. No incio do sculo XVII, calculava-se que um
quarto da populao de Paris era composta por pessoas como se diria
atualmente abaixo da linha da pobreza (DOBB, 1965, p. 274-276).
A Revoluo Francesa, com os conceitos de Liberdade, Igualdade e
Fraternidade, marca a entrada da burguesia cujo enriquecimento ocorreu
devido ao mercantilismo na era do capitalismo. Os burgueses foram os que
mais se beneficiaram com a Revoluo Francesa porque conseguiram manter
os privilgios adquiridos e eliminar a ameaa da monarquia.
Nas cidades, comearam aparecer as indstrias e, com elas, o fortalecimento
do capitalismo que se tornaram base do sistema produtivo (CHIAVENATO,
1999, p. 32). Isso foi possvel em decorrncia do acmulo de capital
conseguido com a extrao do ouro e da prata das Amricas e da venda de
africanos como escravos nas Amricas.
Dobb (1965, p. 256) demonstra o quanto era o excedente de capital gerado
pelo comrcio ao afirmar que a Companhia das ndias Orientais Francesas
comprou mercadorias, em 1691, por 487.000 libras, e as vendeu na Frana,
por 1.700.000 libras.
Para ilustrar a dimenso da mudana que estava em curso, um panfleto, do
sculo XVII, sobre o comrcio de l, afirmava que existiam, na Inglaterra, 5.000
fabricantes de roupa, cada um com 250 trabalhadores, atingindo um total de
mais de um milho deles (DOBB, 1965, p. 179).
Isso ocasionou uma mudana nas relaes de poder porque os antigos
senhores feudais, que chegaram ao sculo XVIII como reis e rainhas, passam
a dividir o poder com os novos detentores do capital, a burguesia.
-
30
O proletariado, apesar do seu aumento, no se apresentava como importante
para a poca. Por exemplo, na segunda dcada do sculo XVII, em certas
regies da Inglaterra, na indstria de l, foi registrado que os salrios no
haviam sido reajustados nos ltimos quarenta anos apesar de os preos dos
produtos terem quase dobrado. Havia legislao para impedir o aumento do
salrio, e acordos entre os trabalhadores no eram permitidos. A punio para
greves era brutal: aoitamento, priso e deportao. (DOBB, 1965, p. 282-287).
Na poca da Revoluo Francesa, percebe-se, claramente, o domnio do
capital sobre os meios de produo. Assim sendo, os capitalistas passaram a
lutar por maiores mercados e mo-de-obra mais barata.
Desde aquela poca, j existiam os conflitos entre os pases exportadores e
importadores de mercadorias; aqueles geradores de tecnologia e os
fornecedores de mo-de-obra.
Como as unidades industriais cresceram muito, tornando-se mais complexas,
houve a necessidade de uma organizao gerencial ou organizao do
trabalho.
No livro A Riqueza das Naes, de 1776, Adam Smith, j apresenta esse novo
ambiente social ao enfatizar que a diviso do trabalho poderia gerar uma
produo muito maior, como o exemplo da produo dos alfinetes
(MAXIMIANO, 2000, p. 53).
Nesse ponto, houve a necessidade de aumentar a produtividade do trabalho.
Autores como Grew ou Postlethwayt sugeriram que a riqueza estava em
invenes que causassem uma economia no trabalho dos homens (DOBB,
1965, p. 270).
Em meados do sculo XVIII, havia uma urbanizao crescente em Londres, e a
tonelagem de navios sados dessa cidade era o dobro do que fora no incio do
sculo. Mas, a grande indstria da poca foi a ferrovia. Em 1860, 10.000 milhas
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31
de ferrovia haviam sido construdas na Gr-Bretanha e na Irlanda, dando
emprego a 300.000 trabalhadores (DOBB, 1965, p. 358-362).
A expanso do mercado foi conseqncia do conjunto formado pela maior
diviso do trabalho, o aumento da produtividade, as novas invenes e o
crescimento demogrfico. Esse ltimo foi gerado mais pela diminuio da taxa
de mortalidade, devido a avanos na medicina, do que pelo aumento na taxa
de natalidade (DOBB, 1965, p. 315).
No possvel localizar a Revoluo Industrial entre fronteiras ou em um
perodo determinado, de duas ou trs dcadas, devido s desigualdades de
desenvolvimento dos pases da poca. Pode-se afirmar que a grande
revoluo se deu com a mudana no carter de produo com a introduo de
mquinas movidas por energia no-humana. Uma mquina toma o lugar de um
implemento. Com isso, o acionamento de um mecanismo executa, com suas
ferramentas, o mesmo trabalho antes exercido pelo trabalhador com
ferramentas semelhantes. Essa mudana transformou o trabalho, tornando
necessria a concentrao dos trabalhadores em um local, na fbrica, alm de
impor um carter coletivo ao processo de produo (DOBB, 1965, p. 316-317).
Os primeiros pesquisadores sobre o assunto emergem da necessidade de
organizao do trabalho e, com eles, as diversas correntes da administrao
que caracterizam cada fase da moderna evoluo do trabalho.
2.1.4 A Escola Clssica da Administrao
O novo momento histrico marcado por guerras cuja tecnologia resultou em
uma devastao jamais vista; pela migrao do homem para as cidades; e,
acmulo de capital; acelerou o desenvolvimento da indstria (CHIAVENATO,
1999, p. 33).
-
32
Esse ambiente, apesar de parecer pouco provvel, gerou um perodo
empresarial estvel e previsvel o que favoreceu o aparecimento das primeiras
teorias sobre Administrao (CHIAVENATO, 1999, p. 33).
Criou-se a Administrao Cientfica, cujo objetivo era estudar as tarefas do
operrio; surgiram tambm a Teoria Clssica e o Modelo Burocrtico que
abordavam as tarefas dos vrios nveis gerenciais e, a Teoria das Relaes
Humanas cujo foco principal era o papel das pessoas no ambiente de trabalho
(CHIAVENATO, 1999, p. 33).
Em 1906, nos Estados Unidos da Amrica, Frederick Winslow Taylor (1856-
1915), ento presidente da American Association of Mechanical Engineers,
torna-se um dos pioneiros no estudo da administrao. Em 1911, publica o livro
que se consagra como um marco na Era Industrial Clssica: Princpios da
Administrao Cientfica (CHIAVENATO, 1999, p. 33).
Taylor ocupava-se dos fundamentos da organizao dos processos
de trabalho e do controle sobre ele. As escolas posteriores de Hugo
Mnsterberg, Elton Mayo e outros, ocupavam-se sobretudo com o
ajustamento do trabalhador ao processo de produo em curso, na
medida em que o processo era projetado pelo engenheiro industrial
(BRAVERMAN, 1981, p. 74).
Taylor (1995), ao tratar da procura de homens eficientes para o trabalho,
enfatiza a necessidade de treinamento e formao, negando a tese, at ento
defendida, de que as pessoas certas deveriam ser encontradas para os lugares
certos.
A meno a treinamento representa uma mudana na relao de trabalho na
poca, pois, no incio da Revoluo Industrial, trabalhava-se at quinze horas
por dia, mas apesar desse ritmo, existiam necessidades de treinamento que
deveriam ser supridas (TAYLOR, 1995, p. 22).
O trabalhador procurado por todos era o homem eficiente, j formado: o
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33
homem vindo preparado por outras empresas. Taylor (1995) enfatizava que
esse procedimento no seria adequado. O caminho correto para a eficincia
nacional, seria despertar nos administradores o interesse em cooperar,
sistematicamente, no treinamento e formao dessas pessoas, em vez de tir-
las de outras firmas que tiveram o cuidado de prepar-las para determinada
funo.
No passado, a idia predominante sobre a eficincia do trabalhador era
expressa nesta frase: Os chefes das indstrias nascem, no se fazem. Da
surge a teoria de que, tendo sido encontrado o homem adequado para o lugar,
os mtodos deviam ser, a ele, incondicionalmente confiados. No futuro,
prevalecer a idia de que nossos lderes devem ser to bem treinados quanto
bem nascidos (TAYLOR,1995, p. 22, grifo nosso).
Alm da preocupao com o treinamento, Taylor (1995, p.23), quando
escreveu sobre os sistemas de organizao disse: No passado, o homem
estava em primeiro lugar; no futuro, o sistema ter a primazia. Isso, entretanto,
no significa, absolutamente, que os homens competentes no sejam
necessrios.
Taylor usou o termo administrao cientfica em seus escritos porque, para ele,
a administrao deveria ser estudada cientificamente (CHIAVENATO, 1999, p.
38).
Primeiro Para indicar, por meio duma srie de exemplos, a enorme
perda que o pas vem sofrendo com a ineficincia de quase todos os
nossos atos dirios. Segundo Para tentar convencer o leitor de que
o remdio para esta ineficincia est antes na administrao que na
procura do homem excepcional ou extraordinrio. Terceiro Para
provar que a melhor administrao uma verdadeira cincia, regida
por normas, princpios e leis claramente definidos, tal como uma
instituio. Alm disso, para mostrar que os princpios fundamentais
da administrao cientfica so aplicveis a todas as espcies de
atividades humanas, desde nossos atos mais simples at o trabalho
nas grandes companhias, que reclamava a cooperao mais
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34
apurada. E, em resumo, para convencer o leitor, por meio de uma
srie de argumentos, de que corretamente aplicados estes princpios,
os resultados obtidos sero verdadeiramente assombrosos (TAYLOR,
1995, p.23).
Daft (1999, p.25) cita Taylor o qual preconizava que as decises baseadas em
regras de lealdade e tradio deveriam ser substitudas por procedimentos
desenvolvidos aps estudos sobre os processos do trabalho.
Taylor tambm trabalhou com outros pesquisadores que, como ele,
procuravam entender os processos da diviso do trabalho. Entre eles: Henry
Gantt, Frank B. e Lillian M. Gilbreth. Frank Gilbreth tornou-se conhecido por
sua procura por one best way (o melhor caminho, traduo nossa) (DAFT,
1999, p.25).
O estudo de Gilbreth sobre pedreiros foi utilizado por Taylor no seu livro -
Principles of Scientific Management - para esclarecer que o aumento da
produo no pode ser obtido somente pela administrao por iniciativa e
incentivo. Esse tipo de procedimento consistia em abandonar a soluo do
problema de administrao das tarefas dirias do operrio, remunerando
melhor aquele que conseguisse o melhor resultado. Taylor (1995, p.31) afirma
que a soluo estaria no uso dos quatro elementos que constituem a essncia
da administrao cientfica que so:
Primeiro O desenvolvimento (pela direo e no pelo operrio) da
cincia de assentar tijolos, com normas rgidas para o movimento de
cada homem, aperfeioamento e padronizao de todas as
ferramentas e condies de trabalho. Segundo A seleo cuidadosa
e subseqente treinamento dos pedreiros entre os trabalhadores de
primeira ordem, com a eliminao de todos os homens que se
recusam a adotar os novos mtodos, ou so incapazes de segui-los.
Terceiro Adaptao dos pedreiros de primeira ordem cincia de
assentar tijolos, pela constante ajuda e vigilncia da direo, que
pagar, a cada homem, bonificaes dirias pelo trabalho de fazer
depressa e de acordo com as instrues. Quatro Diviso eqitativa
-
35
do trabalho e responsabilidades entre os operrios e a direo...
No se deve esquecer de que acima de toda essa organizao deve
estar um chefe otimista, enrgico e esforado que saiba to
pacientemente esperar quanto trabalhar.
Estes princpios esto apoiados na teoria de que o trabalhador conhece e
desenvolve melhores tcnicas de trabalho, mas elas no seriam utilizadas se
no fossem percebidas por ele mesmo como benefcio. O trabalhador
guardaria esses conhecimentos para si e no desenvolveria uma cincia para
transmitir a outros sua experincia de forma a torn-la propriedade pblica.
Esse seria mais um argumento para reforar a necessidade da gerncia e do
estudo dos processos de modo a assegurar o controle e o barateamento dos
trabalhos. Ao capitalista no bastava ser proprietrio do capital, ele queria
tornar-se proprietrio do trabalho (BRAVERMAN, 1981, p. 106 107).
Daft (1999, p.26) resume os quatro princpios de Taylor para a implementao
da administrao cientfica como: padronizao do trabalho; seleo de
trabalhadores com habilidades para cada atividade; treinamento dos
trabalhadores nos mtodos padronizados; apoio de planejadores ao trabalho
buscando eliminar interrupes e incentivos salariais pelo aumento da
produo.
Taylor (1995), porm, no reconheceu as diferenas individuais, porque de
modo geral, considerava os trabalhadores desinformados, com idias e
sugestes desconsiderveis, como tambm no deu importncia ao contexto
social do trabalho.
A adoo generalizada da administrao cientfica poder, no futuro,
prontamente dobrar a produtividade do homem mdio, empregado no
trabalho industrial. Avalie-se o que isso significa para todos: aumento
das coisas necessrias e de luxo, seu uso em todo o pas,
encurtamento do perodo de trabalho quando isto for desejvel,
crescentes oportunidades de educao, cultura e recreao que tal
movimento implica. Enquanto todo o mundo aproveita com este
aumento de produo, o industrial e o operrio vero crescer seus
-
36
benefcios. A administrao cientfica significar, para os patres e
operrios que a adotarem e particularmente para aqueles que a
implantaram, em primeiro lugar a eliminao de todas as causas de
disputa e desentendimento entre si (TAYLOR, 1995, p.102).
Na Frana, o contemporneo de Taylor, Henri Fayol (1841-1925) tambm
buscava a eficincia das organizaes, porm, com outro enfoque. Fayol
pensava a organizao como um todo e considerava que as sees e
departamentos possuam pessoas como ocupantes de cargos (CHIAVENATO,
1999, p. 41).
Enquanto na administrao cientfica de Taylor, o objetivo era a produtividade
do trabalhador, controlando os mtodos e processos, nos princpios
administrativos de Fayol, o objetivo era a organizao. Isto est claramente
demonstrado pela forma como ele se preocupa em definir as necessidades
administrativas em todos os nveis hierrquicos de uma organizao.
Fayol desde o comeo de sua carreira na Socit Anonyme de Commentry-
Four-chambault et Decazeville, empresa que dirigiu entre 1888 a 1918,
interessava-se por organizar o pessoal, de forma racional. Ele tomava notas
dirias dos fatos que chamavam a sua ateno, notas essas que se tornaram,
mais tarde, o livro Administrao Industrial e Geral.
Com particular cuidado, Fayol definiu a funo direcional, compreendendo a
necessidade de bons chefes. Com o advento da Primeira Grande Guerra, a
teoria de Fayol encontrou campo frtil e se popularizou, recebendo o nome de
fayolismo.
Mesmo no conhecendo Taylor, Fayol (1994, p. 91, p.94), discute suas idias
dessa forma:
Isto no fcil: para alguns a direo do trabalho dos operrios
baseada no estudo atento e minucioso do tempo e dos movimentos;
para outros, o processo de corte rpido do ao, so os mtodos de
-
37
contabilidade e o de remunerao etc. Provavelmente um pouco de
tudo isso; mas parece-me que sobretudo o que Taylor chamou a
organizao cientfica ou administrativa... ...Tal o sistema de
organizao preconizado por Taylor para a direo das oficinas de
uma grande empresa de construo mecnica. Ele se baseia nas
duas idias seguintes: a necessidade de fortalecer os chefes de
oficina e os contramestres por um estado-maior; a negao do
princpio da unidade de comando. Assim como a primeira me parece
boa, parece-me falsa e perigosa a segunda.
No incio do sculo XX, Fayol (1994, p.65-130) estabeleceu princpios que so
utilizados, atualmente, tais como: unidade de comando - cada subordinado
deve receber ordem somente de uma pessoa, se dois ou mais chefes tm
autoridade sobre o mesmo subordinado, cria-se uma situao de mal-estar;
unidade de direo - as atividades correlacionadas devem ser agrupadas sob a
responsabilidade de um gerente, no se deve confundir unidade de direo
com unidade de comando. Na unidade de direo h um s chefe e somente
uma direo a ser seguida para todas as atividades correlatas; na unidade de
comando, existe um s chefe; diviso do trabalho - prega que o gerenciamento
de tcnicas de trabalho deve ser funo de especialistas porque ao adquirir
maior conhecimento do trabalho, tendem a faz-lo melhor; hierarquia - escala
dos chefes dentro da organizao, desde aqueles de menor poder de deciso
at os de maior escalo. Neste item, Fayol pede respeito hierarquia e
ressalta que a necessidade de realizar tarefas dirias, com rapidez e eficincia,
no impede o cumprimento dessa norma.
Ao contrrio do enfoque adotado por Taylor, que estudou a gerncia de cho
de fbrica, os escritos de Fayol adotam a mdia e a alta gerncia como
principais objetos de estudo, uma vez que retira os problemas do executor e os
leva para um nvel superior. A este procedimento Fayol deu o nome de
Administrao Clssica.
Fayol (1994) concentrava sua ateno na direo da organizao, ou seja, nos
problemas de interesse geral, enquanto Taylor se preocupava com solues
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tcnicas para o trabalho, mas ambos, de forma distinta, buscavam solues
para a fora de trabalho.
O objetivo principal do estudo de Fayol (1994) sustentar sua tese de que as
escolas do incio do sculo XX deveriam dar mais nfase administrao.
Aps conceituar administrao, ele apresenta um mtodo de reflexo para
demonstrar o quanto ela importante nos vrios nveis hierrquicos de uma
organizao.
De acordo com Fayol, os nveis hierrquicos mais baixos exigem maior
conhecimento tcnico, e quanto mais se chega ao topo da pirmide
hierrquica, necessita-se de mais conhecimentos administrativos do que
tcnicos (FAYOL, 1994, p.27).
Fayol lutou para demonstrar a necessidade do estudo de administrao em
uma poca onde ela nem figurava no currculo das escolas de engenharia.
Escreveu:
necessrio, pois, esforar-se para inculcar as noes
administrativas em todas as classes sociais. A escola desempenhar,
evidentemente, papel considervel nesse ensino. O dia em que a
administrao constituir parte do ensino, os professores das escolas
superiores sabero, naturalmente, organizar de modo adequado o
plano desse curso (FAYOL, 1994, p.39).
Fayol (1994) trouxe um questionamento para discusso: Ser que a
capacidade administrativa somente se consegue com a prtica?
muito interessante perceber que mesmo vivendo em diferentes continentes,
tanto Taylor quanto Fayol identificaram a necessidade de treinamento e
educao para a evoluo da administrao e, conseqentemente, do trabalho.
As mudanas no trabalho so evidentes na obra de Fayol quando, por
exemplo, na segunda parte de seu livro, descreve os princpios da
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administrao: Prever, Organizar, Comandar, Coordenar e Controlar. Como o
objetivo de Fayol era formar o chefe, ele sugere que todo agente que se torne
incapaz de exercer bem a sua funo deve ser excludo e, mais adiante, ele
indica que o bom exemplo do chefe em pontualidade e coragem influenciar os
subordinados a incorporar estas virtudes.
Braverman, discutindo as mudanas introduzidas no trabalho por Taylor, entre
elas, a diviso do trabalho e a definio de um timo dia de trabalho, afirma
que os capitalistas queriam tornar o trabalho parte do capital, e ao dividi-lo e
definir uma carga horria para o trabalhador, a extremos quase desumanos,
tornaram-no mais barato, embora isso acarretasse danos sade dele
(BRAVERMAN, 1981, p. 78 121).
Esses fatos causaram uma reao dos trabalhadores que foi expressa pelos
sindicatos da poca dessa forma:
A destruio dos ofcios durante o perodo de surgimento da gerncia
cientfica no passou desapercebida aos trabalhadores. Na verdade,
via de regra os trabalhadores ficam muito mais cnscios de tal perda
quando ela se d do que depois que aconteceu e que as novas
condies de produo se tornaram generalizadas. O taylorismo
desencadeou uma tempestade de oposio entre os sindicatos
durante os primeiros anos deste sculo; o que mais digno de nota
sobre esta primeira oposio que ela se concentrava no nos
acessrios do sistema de Taylor, como a cronometragem e estudo do
movimento, mas no seu esforo essencial para destituir os
trabalhadores do conhecimento do ofcio, do controle autnomo, e
imposio a eles de um processo de trabalho acerebral no qual sua
funo a de parafusos e alavancas (BRAVERMAN, 1981, p. 121).
Alm de Taylor, com os mtodos para aumento de produo, e de Fayol, com
seus ensinamentos para aqueles que recebem a funo de administrar dentro
das organizaes, Daft (1999, p.25) cita que Weber introduziu a maior parte
dos conceitos das organizaes burocrticas. Com a teoria de Weber, a
burocracia passa a ser vista como instrumento da administrao, pois ele
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acreditava que a organizao apoiada na autoridade racional seria mais
eficiente e adaptvel. Tambm a organizao racional seria baseada em regras
e padres pr-estabelecidos e na impessoalidade, conceitos estes da chamada
Teoria da Burocracia da administrao.
2.1.5 A Escola Burocrtica
Oliveira (1999a, p. 38-49) utiliza as consideraes empricas e tericas de
Weber para descrever os elementos da estrutura burocrtica das organizaes.
A burocracia, ao mesmo tempo em que serve para otimizar o dia-a-dia do
trabalho, ao normatizar as tarefas, ao criar a hierarquia organizacional, ao
eliminar o posicionamento pessoal das chefias, descrevendo o papel de cada
funo, tambm reconhece que a rigidez de comportamento impede a
criatividade e a iniciativa.
A burocracia e sua anlise funcional apresentam o modo como cada indivduo,
dentro da organizao, contribui para atingir os objetivos organizacionais.
Porm, dentro da organizao burocrata, h perturbaes sociais dissimuladas
que podem apresentar uma integrao que, na verdade, inexistente, ao no
apresentar os conflitos. A falta da neutralidade dos executivos outra
perturbao das organizaes produtivas (OLIVEIRA, 1999a, p. 38-49).
De forma diversa de Fayol e Taylor que, particularmente, estavam
preocupados em descrever e melhorar os processos na indstria, Weber, como
socilogo, ao conceber seu modelo, pensou nas organizaes de forma geral.
Para ele, a burocracia a organizao racional e eficiente (KWASNICKA,
1995, p. 31).
Weber (1991, p. 128) no discute a indstria e sim a dominao legtima, ou
seja, a probabilidade de encontrar obedincia a um determinado mandato que
pode fundar-se: no puro afeto, no mero costume ou pode residir em
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interesses por parte daquele que obedece. A esse tipo de dominao, baseada
em interesses, Weber chama de legal, porque estaria vinculada a um
estatuto, por isso seria burocrtico.
Obedece-se no a pessoa em virtude de seu direito prprio, mas
regra estatuda, que estabelece ao mesmo tempo a quem e em que
medida se deve obedecer. Tambm quem ordena obedece, ao emitir
uma ordem, a uma regra: lei ou regulamento de uma norma
formalmente abstrata. O tipo daquele que ordena o superior, cujo
direito de mando est legitimado por uma regra estatuda, no mbito
de uma competncia concreta, cuja delimitao e especializao se
baseiam na utilidade objetiva e nas exigncias profissionais
estipuladas para a atividade do funcionrio (WEBER, 1991, p. 129).
Para Weber, a burocracia apresentava seis dimenses:
1. diviso do trabalho: sistemtica diviso do trabalho para permitir
especializao;
2. hierarquia do trabalho: organizao e remunerao dos cargos de
acordo com uma hierarquia;
3. regulamentao: normas e regras escritas permitiriam
coordenao e uniformidade dos procedimentos;
4. comunicaes formalizadas: todas as comunicaes deveriam ser
escritas;
5. impessoalidade: nfase colocada nos cargos e no em seus
ocupantes;
6. competncia profissional: a carreira deveria ser baseada na
competncia, a qual poderia ser avaliada atravs de provas
(CHIAVENATO, 1999, p. 44).
Tanto Kwasnicka (1995, p. 31) como Chiavenato (1999, p. 44) identificam que,
novamente, a evoluo dos tempos e o desenvolvimento do ambiente do
trabalho tomaram o lugar da burocracia na administrao. A falta de
flexibilidade e a impessoalidade da burocracia no sobreviveram moderna
economia instvel que, ao contrrio desta teoria, exige dinamismo, inovao,
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flexibilidade e criatividade dos seus administradores.
2.1.6 Fordismo
Contemporneo de Taylor, Henry Ford (1863-1947) utilizou suas teorias na
indstria. Enquanto Taylor focou seus estudos no trabalho humano, Ford, como
empresrio, preocupou-se com a economia de tempo e material, com a diviso
de trabalho e pesquisou a teoria de Adam Smith.
Antunes (2000, p. 2146) entende a participao de Ford no trabalho da
seguinte forma:
Iniciamos, reiterando que entendemos o fordismo fundamentalmente
como a forma pela qual a indstria e o processo de trabalho
consolidaram-se ao longo deste sculo, cujos elementos constitutivos
bsicos eram dados pela produo em massa, atravs da linha de
montagem e de produtos mais homogneos; atravs do controle dos
tempos e dos movimentos pelo cronmetro taylorista e da produo
em srie fordista; pela existncia do trabalho parcelar e pela
fragmentao das funes; pela separao entre elaborao e
execuo no processo de trabalho; pela existncia de unidades fabris
concentradas e verticalizadas e pela constituio/consolidao do
operrio-massa, do trabalhador coletivo fabril, entre outras dimenses
(ANTUNES, 2000, p. 25)
O fordismo possibilitou grandes mudanas no processo de trabalho como: o
trabalho em srie, o consumo em massa e o aumento real dos salrios
mediante o incremento da produo (MARQUES, 1997, p. 22-88).
Ao mesmo tempo em que o taylorismo/fordismo parecia beneficiar o
trabalhador, ele o destitua de qualquer participao na organizao do
processo produtivo, limitando-o a uma atividade repetitiva e sem sentido
(ANTUNES, 2002, p. 205).
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Moreira (2000, p. 1) entende assim o taylorismo:
O trabalhador, seja sob que circunstncia se encontre, mesmo que
tenha vivido sob o jugo de uma administrao desptica, nunca
totalmente extirpado de seu poder criador. Os macetes do ofcio,
passados de gerao para gerao de trabalhadores, so uma prova
disto. Atravs deles pode-se prever o que as mquinas no podem
antecipar. o saber advindo do cotidiano, do concreto, do vivido que
marca a trajetria histrica da luta dos trabalhadores contra o
aniquilamento da natureza humana. esse tambm o diferencial que
faz com que o trabalho mecanizado, repetitivo possa ser suportado.
2.1.7 A Escola das Relaes Humanas
A Teoria das Relaes Humanas surgiu no cenrio industrial porque se tornou
evidente que a administrao e o trabalho no se desenvolveriam se no
passassem a considerar o homem como um todo e no, apenas, como pea
humana (MAXIMIANO, 2000, p. 65).
Essa abordagem surgiu com a experincia de Hawthorne, realizada na
Companhia Western Electric entre 1930 e 1940. Dois grupos de trabalhadores
foram selecionados para experimentar o efeito da iluminao na produtividade.
Em um grupo, chamado de controle, mantiveram o ambiente com uma
iluminao invarivel; no outro, a iluminao foi aumentada. Como os
pesquisadores esperavam, o grupo em cujo ambiente a iluminao foi
intensificada, houve um aumento de produtividade, porm o mesmo resultado
ocorreu com o grupo de controle. Diminuiu-se, ento, a iluminao do grupo de
teste, e a produo, novamente, aumentou, ocorrendo o mesmo efeito com o
grupo de controle onde a iluminao no havia variado (OLIVEIRA, 1999a, p.
50 57).
Como a pesquisa no apresentou concluso alguma, contrataram outro
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pesquisador, Elton Mayo, de Harvard. Mudaram o grupo e o mtodo de
pesquisa para tentar chegar a alguma concluso. Novamente, nada foi
observado no ambiente de trabalho que relacionasse condies fsicas e a
produtividade. Com isso, passou-se a perceber que o psicolgico e o
sociolgico do trabalhador, como a influncia do grupo social no qual ele est
inserido, so decisivos na produtividade (OLIVEIRA, 1999a, p. 50 57).
Oliveira (1999a, p. 54) assim resume as concluses tiradas desta pesquisa:
O Inqurito de Hawthorne permitiu pela primeira vez um
conhecimento mais profundo sobre a organizao do trabalho
superando o taylorismo, ao mostrar que as relaes que ligam a
indstria s suas atividades de trabalho envolvem uma complexa
relao social. Os estudos feitos em Harvard demonstraram que a
eficincia no trabalho est condicionada pelos setores de natureza
no apenas econmica, mas tambm por questes de ordem poltica,
moral, social e de qualidade de vida no trabalho.
O mundo do trabalho percorreu um caminho evolutivo cuja responsabilidade se
deve soma de diversas teorias que se iniciaram com a linha de produo de
Ford, seguindo com a aplicao dos conceitos de Taylor, acrescidos com a
percepo da necessidade de boas relaes humanas no ambiente de
trabalho, at chegar ao modelo japons ou toyotismo que possui como foco
principal a participao dos trabalhadores nos processos da organizao.
2.1.8 A Escola Neoclssica da Administrao
Novamente, o mundo do trabalho se transforma a partir das mudanas
administrativas tais como: as relaes humanas, a anlise das crticas
burocracia, o desenvolvimento tecnolgico e os estudos do envolvimento do
ambiente nas organizaes.
Foram responsveis por essas transformaes: a Teoria Estruturalista - trouxe
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a contribuio da sociologia, estudando a organizao formal e, tambm,
passou a incorporar a organizao informal; a Teoria Neoclssica- trabalhou
com a descentralizao.
O principal conceito trazido por essas teorias foi a chamada administrao por
objetivos que aproveitou todas as contribuies das teorias anteriores
(CHIAVENATO 1999, p. 48-62).
Outra contribuio importante desse perodo tem suas razes na psicologia: a
Teoria Comportamental ou Behaviorismo.
A Teoria Comportamental indica uma forte influncia da psicologia
organizacional sobre a teoria administrativa. Ela trouxe novos conceitos sobre
motivao, liderana, dinmica de grupo, processo decisrio, comportamento
organizacional entre outros, dando novos rumos teoria administrativa.
Da Teoria Comportamental surgiu o Desenvolvimento Organizacional (DO),
que focaliza a mudana cultural como base para a mudana organizacional
(CHIAVENATO 1999, p. 48-62, p.185).
A Teoria de Sistemas demonstra que nenhuma organizao tem uma vida
independente, ao contrrio, ela necessita de outras das quais recebe insumos
e os transforma em produtos, colocando-os no mercado. J a Teoria da
Contingncia demonstrou que as organizaes bem-sucedidas eram aquelas
que conseguiam adaptar-se e ajustar-se, continuamente, s novas demandas
(CHIAVENATO 1999, p. 48-62).
O Modelo Japons ou Toyotismo incorporou todas essas teorias, tornando-se
referncia para o mundo do trabalho.
O Japo, ps-Segunda Guerra Mundial, estava arrasado. Apenas Kyoto tinha
escapado da devastao e sua indstria estava em runas. Nesse contexto, em
1947, o Comando Supremo das Potncias Aliadas resolveu recrutar um
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cientista americano, o Sr. W. Edwards Deming1, para ajudar a preparar o censo
japons de 1951.
O Dr. Deming, aproveitando esse seu perodo no Japo, passou a freqentar a
Unio dos Cientistas e Engenheiros Japoneses, um grupo formado por
engenheiros e cientistas responsveis pela reconstruo do pas.
As idias de Deming sobre administrao e estatstica serviram como base
para a mudana na qualidade dos produtos japoneses cuja reputao era
deplorvel. Naquela poca, ter gravado MADE IN JAPAN em algum produto
significava que ele era de m qualidade. Mais tarde, Deming denominou esse
fato de patrimnio lquido negativo.
A importncia de Deming, no Japo, foi de tal tamanho que, em 1951, foi
institudo o Prmio Deming. Em 1985, ele foi concedido pela 35 vez, com a
cerimnia de entrega televisionada (WALTON, 1989, p. 9-22).
Nesse ambiente japons ps-Segunda Guerra Mundial, o engenheiro Taiichi
Ohno, na Toyota, desenvolveu o toyotismo com o objetivo de atingir um novo
mercado consumidor formado no perodo ps-guerra que, embora fosse menor,
era mais exigente. Pretendia-se fornecer apenas a quantidade que o mercado
consumia, e no produzir grandes quantidades, estoc-las e depois vend-las
como era o modelo taylorista/fordista (OHNO, 1997, p. 87-119).
O toyotismo fundamenta-se no trabalho em equipe e multifuncional, ao invs do
trabalho individual e nico do modelo Taylor/Ford, na automao e no just-in-
time (OHNO, 1997, p. 91-94). Segundo Ohno, a idia desse modelo foi
inspirada nos supermercados norte-americanos, onde os clientes procuravam o 1 William Edwards Deming, nascido em 14/10/1900. Formou-se na Universidade de Wyoming.
Fez mestrado de fsica e matemtica na Universidade do Colorado e Ph.D. em fsica em Yale.
Trabalhou no Ministrio da Agricultura dos Estados Unidos, onde criou tcnicas de
amostragem. Durante a Segunda Guerra Mundial ensinou mtodos de Controle Estatstico de
Qualidade (CEQ).
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produto desejado no momento da necessidade e quase que imediatamente
esse produto era reposto (OHNO, 1997, p. 44-45).
Desta idia bsica, criaram-se o just-in-time2 e o kanban3, sistemas que
possibilitam produzir o que o cliente comprou no tempo da compra.
Sobre o just-in-time, o Dr. Deming afirma que: muitos fabricantes americanos
esto tentando comear a adotar a produo just-in-time, sem saber que este
processo demora anos. o resultado final, antes de mais nada, de coisas
feitas corretamente (WALTON, 1989, p.80).
O toyotismo, ao contrrio das empresas verticalizadas do fordismo, adota
empresas horizontalizadas, ou seja, empresas terceiras que produzem o que
no especialidade da empresa p