lidando com as reclamaÇÕes dos consumidores: … · das reclamações dos consumidores,...

145
LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO EM SHOPPING CENTERS DO RIO DE JANEIRO LEONARDO JULIANELLI FERREIRA Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto COPPEAD de Administração Mestrado em Administração Orientadora: Letícia Casotti D.Sc. em Engenharia de Produção (COPPE/UFRJ) Rio de Janeiro 2004

Upload: trinhthien

Post on 30-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

EM SHOPPING CENTERS DO RIO DE JANEIRO

LEONARDO JULIANELLI FERREIRA

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto COPPEAD de Administração

Mestrado em Administração

Orientadora: Letícia Casotti D.Sc. em Engenharia de Produção (COPPE/UFRJ)

Rio de Janeiro 2004

Page 2: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: UM

ESTUDO EXPLORATÓRIO EM SHOPPING CENTERS DO RIO DE JANEIRO

Leonardo Julianelli Ferreira

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-Graduação e

Pesquisa em Administração – COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de

Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de

Mestre em Ciências da Administração.

Aprovada por:

Profa.___________________________________ - Orientadora

Letícia Moreira Casotti, D.Sc. (COPPEAD/UFRJ)

Prof.___________________________________

Kleber Fossati Figueiredo, Ph.D. (COPPEAD/UFRJ)

Profa.___________________________________

Profª. Marie Agnes Chauvel, D.Sc. (IBMEC)

Rio de Janeiro, RJ

2004

Page 3: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

Ferreira, Leonardo Julianelli.

Lidando com as Reclamações dos Consumidores: um estudo exploratório em shopping centers do Rio de Janeiro / Leonardo Julianelli Ferreira. - Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2004.

xi, 134f.; il.

Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Instituto de Pós-Graduação em Administração – COPPEAD, 2004.

Orientadora: Letícia Moreira Casotti

1. Marketing de Relacionamento. 2. Recuperação de Falhas. 3. Tratamento de Reclamações. 4. Shopping Center 5. Administração – Teses. I. Casotti, Letícia Moreira (Orient.). II. Pós-Graduação em Administração. III. Título

Page 4: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

Para Luis Carlos da Silva Ferreira e Marinete Vasques Julianelli Ferreira

Page 5: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

AGRADECIMENTOS À minha orientadora, Professora Letícia Casotti, pelo apoio e confiança,

fundamentais na execução e conclusão deste trabalho.

Ao Professor Kleber Figueiredo, pela sinceridade, pelas críticas valiosas e,

principalmente, pelo exemplo.

À Professora Marie Agnes, pela inspiração de sua tese e pelos comentários

que enriqueceram este estudo.

Aos administradores dos shopping centers, pelo interesse, receptividade e

colaboração, sem os quais este estudo não seria possível.

Aos amigos da Turma 2002 do COPPEAD, pelo companheirismo e pelas boas

lembranças.

À todos os funcionários e professores do COPPEAD, por terem mudado minha

visão de mundo e minhas expectativas. Agradeço em especial ao Professor

Celso Lemme, pelo exemplo dentro e fora de sala de aula.

Aos amigos do Centro de Estudos em Logística, pela amizade e apoio.

Maurício, obrigado pela confiança, apoio e amizade. Maria Fernanda, obrigado

pela paciência, orientação e companheirismo.

Aos meus pais, avós e irmãos, por tudo.

À Eliane, por existir e dar sentido às coisas.

Page 6: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

RESUMO

A busca de um relacionamento duradouro e rentável de uma empresas com

seus consumidores passa pelo gerenciamento adequado dos momentos de

crise. Em relacionamentos humanos ou entre empresas, as crises são

excelentes indicadores do nível de comprometimento das partes com a relação.

Desta forma, é necessário que, quando uma falha ocorra, a empresa esteja

preparada para recuperar o serviço, disponibilizando recursos para ouvir a

reclamação e tratando-a de forma adequada.

Este estudo tem como objetivo avaliar a postura de alguns shopping centers do

Rio de Janeiro frente a reclamações de seus consumidores, isto é,

compreender os procedimentos e estrutura existentes para o recebimento,

tratamento e análise das reclamações, avaliando se a administração destes

empreendimentos adota uma postura pró-ativa ou reativa/defensiva.

As análises das entrevistas e as observações in loco mostraram que os

shopping centers do Rio de Janeiro apresentam níveis diferentes no tratamento

das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura

defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento e tamanho do

shopping não influenciam na estrutura montada para recebimento e tratamento

das reclamações.

Page 7: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

ABSTRACT

The search of a long-term and lucrative relationship with the consumer passes

for the adequate management of the crisis. In human relationships or between

companies, the crises are excellent ways to evaluate the commitment with the

relation. In this way, it is necessary that the company be prepared to recovery

the service, when a failure occurs.

This exploratory study aims to evaluate the position of some shopping centers

front the claims of its consumers, that is, to understand the existing procedures

and structure to receive, treat and analyse the claims, evaluating if the

administration of these enterprises adopt a pro-active or reactive/defensive

position.

Page 8: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 2.1: Modelo Conceitual 46 Tabela 3.1: Perguntas da Pesquisa 51 Tabela 3.2: Perfil dos Shopping Centers 53

Page 9: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1: Evolução do setor de shoppings centers no Brasil 8 Figura 2.1: Fluxo de caixa ao longo do tempo 19 Figura 2.2: Estrutura de reportagem do SAC 42 Figura 4.1: Estrutura Organizacional do Shopping Center A 59 Figura 4.2: Estrutura Organizacional do Shopping Center B 65 Figura 4.3: Estrutura Organizacional do Shopping Center C 70

Figura 4.4: Estrutura Organizacional do Shopping Center D 75

Page 10: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

SUMÁRIO

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO 1

1.1 RELEVÂNCIA DO TEMA E OBJETIVOS DO ESTUDO 1 1.2 SETOR DE SHOPPING CENTERS NO BRASIL 4 1.3 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO 9

CAPITULO II – REFERENCIAL TEÓRICO 11

2.1 PORQUE CRIAR E MANTER UM RELACIONAMENTO COM O CLIENTE?11 2.1.1 Críticas ao Marketing Mix 12 2.1.2 Marketing de Relacionamento 15

2.2 O QUE O CLIENTE BUSCA COM A SUA RECLAMAÇÃO? 22 2.2.1 Reclamação dos Consumidores 23 2.2.2 Dimensões de Justiça 27

2.3 COMO LIDAR COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES? 32 2.3.1 Tratamento e Análise das Reclamações dos Consumidores 32 2.3.2 O Serviço de Atendimento ao Consumidor 37

CAPÍTULO III - METODOLOGIA 48

3.1 T IPO DE PESQUISA 48 3.2 PERGUNTAS DA PESQUISA 50 3.3 SELEÇÃO DAS EMPRESAS PESQUISADAS E DOS ENTREVISTADOS 52 3.4 COLETA DE DADOS 53 3.5 TRATAMENTO DOS DADOS 54 3.6 LIMITAÇÃO DO MÉTODO 55

CAPÍTULO IV - DESCRIÇÃO DOS CASOS 56

4.1 SHOPPING CENTER A 56 4.2 SHOPPING CENTER B 61 4.3 SHOPPING CENTER C 68 4.4 SHOPPING CENTER D 73

CAPÍTULO V – ANÁLISE DOS CASOS 78

Page 11: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

5.1 RECONHECER A IMPORTÂNCIA DO RELACIONAMENTO COM O CONSUMIDOR 78 5.2 INCENTIVAR A RECLAMAÇÃO 82 5.3 DISPONIBILIZAR CANAIS PARA QUE O CLIENTE RECLAME 86 5.4 ORIENTAR O CONSUMIDOR SOBRE OS PROCEDIMENTOS PARA A

REALIZAÇÃO DA RECLAMAÇÃO 88 5.5 TRATAR AS RECLAMAÇÕES 90 5.6 FATORES RELACIONADOS COM O TRATAMENTO DAS RECLAMAÇÕES 94 5.7 RESULTADOS ESPERADOS 97 5.8 ANALISAR AS RECLAMAÇÕES DE FORMA AGREGADA 102

CAPÍTULO VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS 106

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 113

ANEXO I 123

ANEXO II 128

Page 12: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

1

Capítulo I - INTRODUÇÃO

1.1 Relevância do Tema e Objetivos do Estudo

Em um mercado caracterizado pela explosão de ofertas e canais de

distribuição, redução do ciclo de vida dos produtos, intensificação da

competição, globalização e fragmentação das mídias, a conquista da

preferência e da lealdade dos consumidores passa a ser cada vez mais

importante e desafiante (Munger, 1996). Assim, assegurar a fidelidade e

otimizar o rendimento de cada cliente passou a ser visto como um importante

objetivo das empresas em relação ao seu público consumidor (Peppers e

Rogers, 1994).

Nesse sentido, as empresas abandonam os modelos, preconizados por

décadas, do marketing de massa e buscam criar relacionamentos duradouros

com cada um de seus clientes, procurando entender e satisfazer suas

necessidades. Dentro deste panorama de mudanças, um dos vetores

importantes no ambiente competitivo das empresas é a diversidade de tipos de

interação – canais de comunicação – que podem ser estabelecidos com o

consumidor como, por exemplo, a disponibilização de serviços de atendimento

ao consumidor. Os SACs podem representar uma importante ferramenta que

auxilia na identificação do que seriam as partes principais de um

produto/serviço e que pode representar a diferença entre uma oferta de

sucesso e uma mal sucedida (Aksin e Harker, 1999).

Page 13: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

2

Por mais bem estruturado que um processo esteja, nenhuma empresa está

livre da ocorrência de falhas, principalmente no setor de serviços – como é o

caso dos shopping centers – onde a interação com o consumidor é grande. A

falha no serviço/produto pode representar uma grande oportunidade para a

empresa satisfazer e, até mesmo, fidelizar seus clientes. Para isso, no entanto,

é necessário que a empresa disponibilize para seus clientes um canal de

comunicação eficiente e esteja preparada para solucionar o problema.

O consumidor brasileiro torna-se cada vez mais consciente de seus direitos e

de sua importância nas relações comerciais. As empresas também parecem

tomar conhecimento da importância e do valor de seus clientes. Muitos estudos

empíricos realizados nas últimas décadas (Peppers e Rogers, 1994; Grönroos,

1995) indicam a grande importância de as empresas satisfazerem e manterem

seus clientes, sobretudo em ambientes de grande competição.

O setor de shopping centers apresentou um crescimento bastante acentuado

nas décadas de 80 e 90, resultando em uma maior competição no setor. Torna-

se, deste modo, fator crítico de sucesso do empreendimento o atendimento das

necessidades dos clientes e o gerenciamento das falhas do serviço (Colgate e

Norris,2001). Um problema ocorrido no atendimento, quando solucionado de

forma rápida e eficiente, pode se transformar em um ponto positivo para a

empresa (Figueiredo, 1999).

Page 14: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

3

Este estudo tem por objetivo investigar de que forma os shopping centers

recebem e tratam as reclamações de seus clientes, analisando se aqueles se

posicionam de forma reativa ou pró-ativa para solucionar os problemas destes.

Precisamente este é o problema que se pretende investigar nesta dissertação:

Como os shopping centers lidam com as reclamações dos clientes?

É importante definir, neste momento, o que entende-se por Shopping Center e

clientes. Neste trabalho, Shopping Center é a empresa que administra o

condomínio e a locação das lojas, isto é, a empresa responsável por todas as

áreas compartilhadas, tais como estacionamento e corredores, e por todos os

serviços na área física ocupada pelo empreendimento, tais como segurança,

limpeza, obras e manutenção.

O Shopping Center, conforme definido, tem dois tipos de clientes: o lojista, que

aluga o espaço para comercializar seus produtos/serviços, e o consumidor, que

utiliza os recursos e instalações do Shopping Center durante suas compras ou

simplesmente para lazer. Neste trabalho, será considerado como cliente

apenas o consumidor final, uma vez que o lojista pode ter outros tipos de

relacionamento com o Shopping Center e sua decisão de permanecer em um

empreendimento pode estar relacionada com questões financeiras e de

posicionamento, além da satisfação com o serviço e/ou com o processo de

recuperação de falhas.

A coleta de informações foi realizada através de entrevistas em profundidade

com os responsáveis pelo atendimento das reclamações dos consumidores

Page 15: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

4

dos shopping centers analisados, que podem ser o responsável pelo SAC, o

gerente de operações, de marketing ou de segurança, conforme a estrutura

organizacional da empresa. Também foram entrevistados os superintendentes

dos shoppings, o que permitiu verificar de que forma a alta gerência percebe o

processo de reclamação e recuperação de falhas.

Buscou-se informações sobre a natureza das principais reclamações, o

treinamento dos funcionários, a estrutura organizacional, as atividades

desempenhadas e percepções sobre o atendimento aos consumidores.

Desta forma, este estudo poderá ser útil para os gestores de shopping centers

no Brasil, que poderão comparar as práticas do setor. Além disso, outros tipos

de empresas do setor de serviço poderão se utilizar das práticas investigadas

neste trabalho e do modelo conceitual proposto. Justifica-se, assim, tanto em

termos teóricos quanto práticos, a realização do presente estudo.

1.2 Setor de Shopping Centers no Brasil

Os shopping centers surgiram nos Estados Unidos na década de 50 como

resultado de estratégias do comércio visando atrair e atender o crescente

número de consumidores que se expandia para os subúrbios das grandes

cidades. Shopping centers são comumente definidos como empreendimentos

do setor de serviços que agrupam diversos estabelecimentos comerciais,

centralizados arquitetônica e administrativamente. O Brasil e outros países,

inclusive a França, incorporaram aos seus idiomas a expressão inglesa

Page 16: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

5

"shopping center" para traduzir empreendimento planejado de apoio ao

desenvolvimento do comércio varejista e ao desenvolvimento urbano racional,

potencializando interesses privados e sociais. Os indicadores de crescimento e

vendas do setor indicam como o país já adotou e compreendeu a função

destes empreendimentos, devendo ampliar os existentes e estimular a

instalação de novos, pelos muitos aspectos positivos que apresentam (Rique,

1992).

Os fatores resultantes do crescimento urbano, como a necessidade de mais

segurança e maior conforto, e as características climáticas, dentre outros,

incentivaram o crescimento do segmento. A entrada da mulher na força de

trabalho, o desenvolvimento dos transportes facilitando as compras volumosas

e o afluxo de compradores às grandes lojas, como as de departamentos e

supermercados, indicavam a oportunidade da criação de sistemas de compras

mais rápidos e eficazes. O formato dos primeiros shopping centers americanos

se assemelhava aos modelos mais conhecidos no Brasil: projeto de grandes

dimensões, com lojas âncoras e lojas satélites.

No Brasil, o primeiro shopping center, o Iguatemi São Paulo, foi inaugurado em

1966 e está em funcionamento até hoje. Na década de 70, sete novos

empreendimentos foram iniciados, mas, foi a partir da década de 90, que o

setor experimentou um grande crescimento, quando foram construídos um

grande número de shopping centers no país. Desde a inauguração da primeira

unidade, o setor brasileiro de shopping centers apresenta um notável

Page 17: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

6

crescimento: o número de unidades tem dobrado a cada cinco anos

(ABRASCE, 2002).

A Indústria de Shopping Centers conta hoje com 253 empreendimentos, sendo

227 em operação e 26 em construção. Os 253 shoppings totalizam ABL (Área

Bruta Locável) superior a 5.7 milhões de m2, compreendendo mais de 38.489

lojas-satélite e 724 lojas-âncora. As vendas dos shoppings em 2002

representaram 15% do faturamento de todo o varejo nacional, excluídos os

setores automotivo e de derivados de petróleo. Na Europa, este número é de

45% e nos EUA, 50%. A indústria de shopping centers brasileira faturou em

2003 R$ 48 bilhões, contra R$ 41,6 bilhões de 2002, segundo dados da

Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (ALSHOP, 2002). Em termos

reais, o crescimento deve ser de 6%, isso levando-se em conta 40

inaugurações que devem ocorrer ainda neste ano.

O V Censo Brasileiro de Shopping Centers (2002) também detectou que até o

fim de 2004, serão lançados 77 novos shoppings no país, o que requer

investimentos de R$ 4,9 bilhões e deve gerar 130 mil empregos. Até o

momento, 51 shoppings já estão em fase de construção, e outros 26 estão em

projeto. A indústria de shopping centers vem demonstrando grande vitalidade,

contribuindo para o progresso da qualidade de vida no Brasil e

desempenhando importante papel na economia, como geradora de cerca de

441 mil empregos diretos e com expressiva integração com a comunidade.

Page 18: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

7

O conjunto dos shopping centers brasileiros apresenta um nível de qualidade

que se equipara ao dos países desenvolvidos e o Brasil é o décimo país do

mundo em quantidade de shoppings construídos. Contudo, a experiência

acumulada no setor indica que, apesar dos diferentes interesses iniciais, deve-

se ter, como critérios de participação e de risco assumido, uma visão de longo

prazo do projeto de shopping center, o qual deve ser levado adiante por

administradores que conheçam o ramo e a dinâmica varejista e que busquem

um padrão de excelência e adequação permanente de prestação de serviços

ao consumidor final, agente do qual dependem todos os demais. Além disso, o

rápido crescimento do setor faz com que a competição se torne mais acirrada,

devendo os administradores de shopping centers buscar formas de atrair e

manter um afluxo grande de clientes (ABRASCE, 2002).

Page 19: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

8

Figura 1.1

Evolução do setor de shopping centers no Brasil

O segmento de shopping centers apresenta um nível de crescimento elevado

(observar figura 1.1), caracterizado pela multiplicação desses grandes centros

de compras, entretenimento e lazer. Isso faz com que a concorrência cresça,

aumentando, conseqüentemente, a necessidade de fidelizar e satisfazer seus

clientes. Garantir uma grande afluência de clientes é fundamental para atrair

lojistas e aumentar os lucros. Desta forma, é necessário que a administração

dos shoppings centers monte uma estrutura capaz de entender as

necessidades dos consumidores e remediar as falhas no serviço.

Fonte: ABRASCE: Shopping Center: Estatísticas do Setor, 2002

Page 20: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

9

O PROCON/RJ, fundação de direito público vinculada à Secretaria de Justiça e

da Defesa da Cidadania do Governo do Estado do Rio de Janeiro e

responsável pelo atendimento às consultas, reclamações, denúncias e entrega

de material orientativo (cartilhas, folder, panfletos etc.) aos consumidores,

registra as ocorrências contra shopping centers na categoria varejo, o que

impossibilita uma análise detalhada sobre a evolução das reclamações de

consumidores contra shopping centers. Apesar disso, existem indicativos no

próprio PROCON/RJ de que o número de ações judiciais contra

administradoras de shopping centers tem aumentado.

1.3 Organização do Estudo

Este estudo está estruturado da seguinte forma:

• No capítulo II é apresentado o referencial teórico que abrange os

conceitos de marketing de relacionamento, motivadores da reclamação,

tratamento e análise das reclamações, dimensões de justiça e serviço

de atendimento ao cliente. Embora não tenha sido encontrada ampla

literatura sobre os procedimentos de atendimento de reclamações para

o setor de shopping center, tentou-se contornar o problema buscando

literatura específica sobre procedimentos de recuperação e atendimento

de reclamações no setor de serviços. O capítulo termina oferecendo um

modelo conceitual para recebimento, tratamento e análise das

reclamações dos consumidores para uma empresa de serviços;

• O capítulo III traz a metodologia utilizada, justificando-a do ponto de

vista teórico e operacional, as perguntas da pesquisa, a seleção das

Page 21: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

10

empresas pesquisadas e dos entrevistados, coleta e tratamento dos

dados e limitação do método;

• No capítulo IV são descritos os casos de forma narrativa, apresentando

transcrições de partes do discurso dos administradores dos shoppings;

• O capítulo V apresenta as análises dos casos, baseadas no modelo

conceitual;

• No capítulo VI são apresentadas as principais conclusões deste

trabalho, bem como sugestões para pesquisas futuras; e

Page 22: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

11

Capitulo II – REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Porque Criar e Manter um Relacionamento com o Cliente?

Alguns estudos (Reichheld e Sasser, 1990; Grönroos, 1994) indicam que

clientes fiéis são mais rentáveis do que clientes novos, uma vez que os gastos

de divulgação, convencimento e transação com esses clientes tendem a ser

maiores do que com clientes que conhecem o produto/serviço. Em setores e

mercados com elevado nível de competição torna-se, portanto, de fundamental

importância para as empresas conhecer e construir relacionamentos de longo

prazo com os seus clientes, buscando a fidelização e, conseqüentemente, um

aumento em sua lucratividade.

Existem muitas definições para a expressão Marketing de Relacionamento

(Harker, 1999). Uma definição abrangente foi dada por Grönroos (1995, p.264):

“Marketing de Relacionamento deve estabelecer, manter e ressaltar

[normalmente, mas não necessariamente, sempre a longo prazo] os

relacionamentos com clientes e outros parceiros, com lucro, de forma que os

objetivos das partes envolvidas sejam atendidos. Isto é alcançado através de

troca mútua e do cumprimento das promessas”. Com a intenção de ressaltar a

importância de se estabelecer um relacionamento duradouro com o

consumidor, serão apresentadas a seguir algumas críticas ao marketing

tradicional, representado pelo marketing mix, bem como alguns conceitos e

vantagens do marketing baseado em relacionamento, analisando, neste

contexto, o valor do cliente.

Page 23: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

12

2.1.1 Críticas ao Marketing Mix

O paradigma gerencial do marketing mix tem dominado o pensamento, as

pesquisas e práticas de marketing desde a introdução de seu conceito, o que

ocorreu há mais de quarenta anos (Grönroos, 1994). O conceito de Product,

Price, Promotion e Place1 (4 P’s) como os quatro principais elementos

gerenciáveis do marketing foi introduzido por McCarthy em 1960 (Harvey,

Lusch e Cavarkapa, 1996). Esse conceito, que se difundiu rapidamente devido

a seu formato didático e facilidade de ser compreendido, derivava de uma

enumeração mais ampla do marketing mix proposta anteriormente por Neil

Borden, que havia listado 12 elementos. Essa simplificação, apesar das

incontestes vantagens acadêmicas, resultou em perda de consistência e

validade prática (Grönroos, 1990; Gummesson, 1994).

Com o passar dos anos, alguns acadêmicos, na tentativa de solucionar os

problemas e limitações do marketing mix, acrescentaram novos P’s aos quatro

tradicionalmente apresentados (Grönroos, 1994; Harvey, Lusch e Cavarkapa,

1996). Judd (1987) propõe a existência de um quinto P, que representaria

pessoas, isto é, clientes e funcionários. Kotler (1986), em seu contexto de

megamarketing, insere poder político e opinião pública2. No final da década de

70, com o crescimento do setor de serviços, as práticas tradicionais do

marketing, baseadas no marketing mix, começaram a ser questionadas pelos

teóricos do marketing de serviços, que encontraram enormes dificuldades para

1 Tradução: Produto, Preço, Promoção e Praça

Page 24: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

13

estruturar e adaptar suas teorias com base nos 4 P’s (Möller e Halinen, 2000).

Esses teóricos também revisaram o marketing mix, adicionando três P’s –

pessoas, processos e evidências físicas3 (Booms e Bitner, 1982; Cowell, 1986).

Para Grönroos (1995), no entanto, o fato de novos P’s serem adicionados ao

composto de marketing não elimina as deficiências do marketing mix, uma vez

que este continua consistindo em uma lista limitada de elementos do marketing

e, portanto, não tem a capacidade de se adaptar a todas as situações. Além

disso, Grönroos (1990) critica a falta de uma definição clara das atividades e

elementos relacionados com as funções do marketing.

A idéia, baseada no marketing mix, de que o profissional de marketing é um

“misturador de ingredientes”, que deve planejar a mistura ideal das várias

atividades de marketing, buscando a otimização dos lucros, traz conseqüências

negativas para a organização estrutural do marketing dentro das empresas

(Grönroos, 1994). Uma das principais implicações práticas do marketing mix e

do desenvolvimento de suas atividades é o isolamento do marketing em um

departamento específico da empresa, restringindo a compreensão do mercado

e a preocupação com os clientes a um pequeno grupo de pessoas dentro da

empresa (Grönroos, 1994).

O modelo do marketing mix e a organização das empresas através dos

departamentos especializados têm incentivado a percepção do marketing como

2 Do inglês Public Opinion 3 Do inglês Physical Evidence

Page 25: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

14

uma função separada, que é desempenhada por um grupo de especialistas

organizados em um departamento exclusivo (Grönroos, 1995; Piercy, 1985).

Desta forma, o resto da organização, com exceção de alguns membros da alta

gerência, não tem responsabilidade pelos clientes e pelo marketing. Segundo

Grönroos (1995), os funcionários de outros departamentos não são recrutados

ou treinados para pensarem na função, nem são supervisionados de forma que

possam sentir qualquer responsabilidade pela imagem da empresa ou pelos

clientes. Essa abordagem faz com que os especialistas do departamento de

marketing sejam as únicas pessoas a terem um impacto sobre a visão que os

clientes possam ter da empresa e sobre o seu comportamento de compra.

Para melhor visualizar as deficiências resultantes da forma de organização

tradicional do marketing nas empresas, baseada no marketing mix, pode-se

utilizar a distinção, feita por Kotler (1973), entre o marketing como uma filosofia

ou uma habilidade. Focalizar-se nas ferramentas e técnicas de marketing é

concentrar-se no marketing como uma habilidade. O marketing como uma

filosofia, ou seja, o conceito de marketing, tem que orientar todas as pessoas,

funções e departamentos. Em empresas com uma organização tradicional, o

marketing tende a ficar restrito a um departamento e consiste nas ferramentas

e técnicas de mercado.

A visão do marketing como um conjunto integrado de técnicas resulta em

ações direcionadas para a transação e não para a criação de relacionamentos

de longo prazo com os clientes (Grönroos, 1990). Os consumidores, nesse

Page 26: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

15

caso, são vistos como números pelos especialistas em marketing, que, em

geral, não conhecem o consumidor real e cujas ações são baseadas em

informações superficiais obtidas em relatórios de pesquisa e estatísticas de

market share (Grönroos, 1994). Nesse contexto, a função do marketing

consistia em facilitar o encontro dos diversos segmentos da oferta e da

demanda, focando na transação em si e não na criação e manutenção de um

relacionamento. Com isso, a abordagem do marketing mix também é

conhecida como marketing orientado para transações (Grönroos, 1991).

2.1.2 Marketing de Relacionamento

Para Parasuraman, Zeithalm e Berry (1985), os principais desafios para os

executivos do marketing são reconhecer que existe a necessidade de

construção de relacionamentos duradouros com os clientes e que a maioria

das funções tradicionais do marketing é na verdade responsabilidade de todos

na organização. Grönroos (1995) destaca que, embora os P’s tenham alguma

validade enquanto variáveis de marketing, o conceito do marketing mix e a

organização do departamento de marketing baseada em seus P’s não se

adequam às necessidades de mercados com elevado nível de competição e

dinamismo. O papel do departamento de marketing nas empresas torna-se,

então, mais o de um setor de apoio, que busca garantir que o negócio esteja

concentrado em seus mercados (Grönroos, 1994).

Tendo em vista todos os aspectos acima apresentados, surge a necessidade

de uma nova abordagem para o marketing, que leve em consideração o

Page 27: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

16

crescimento do setor de serviços, a dificuldade de distinção entre serviço e

produção, o crescimento da competição em nível mundial, que resulta na

necessidade de as empresas manterem e satisfazerem seus clientes, o

reconhecimento da importância de criar e manter relacionamentos duradouros

com os clientes e outros fatores que ratificam a necessidade de uma orientação

do marketing para o cliente e não para a transação. Essa nova abordagem é o

marketing de relacionamento (Grönroos, 1994).

O marketing de relacionamento é focado na criação e manutenção de um

relacionamento duradouro e individualizado com o consumidor (Grönroos,

1995). Para Gordon (1998), o marketing de relacionamento:

• Procura criar valor para o cliente;

• Trata o consumidor de forma individualizada, reconhecendo seu papel

na definição do valor a ser entregue;

• Exige que a empresa, em conseqüência de sua estratégia de marketing

e de seu foco sobre o cliente, planeje e alinhe seus processos de

negócios para manter o valor que o cliente individual deseja;

• Baseia-se em um esforço continuo e colaborativo entre empresa e

consumidor;

• Analisa o valor do consumidor pelo seu período de vida de consumo e

não por uma única transação.

Um relacionamento não é constituído por interações isoladas entre empresa e

consumidor, mas sim por interações contínuas e duradouras com

Page 28: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

17

comprometimento de ambas as partes. Para Colgate e Stewart (1997), devem

existir duas condições fundamentais para que uma situação de troca possa ser

considerada como um relacionamento. A primeira condição é que ambas as

partes percebam o relacionamento, reconhecendo que estão envolvidas no

processo. A segunda condição é que o contato entre empresa e cliente seja

algo mais duradouro do que simples encontros ocasionais.

Desde o início da década de 80 os EUA já falavam em marketing de

relacionamento - um estudo da American Management Association mostra que

conquistar novos clientes custa cinco vezes mais do que conservar clientes já

existentes. Deste modo, a abordagem do marketing de relacionamento deve

ser encorajada em empresas que desejam ter sucesso em ambientes de

grande competição (Gordon et al., 1998 apud Barlow, 1992). As empresas

devem pensar seus clientes não apenas em termos de uma transação

específica, mas, sim, devem considerar os fluxos de caixa e negócios futuros.

Quando um cliente deixa de fazer negócios com a empresa, o fluxo de caixa é

interrompido, o que pode ser mais danoso em ambientes com grande

competição, pois estes fluxos podem passar para empresas concorrentes.

Além disso, a empresa realiza um investimento inicial para atrair o consumidor

que, caso o fluxo de caixa seja interrompido prematuramente, pode não ser

pago, representando prejuízo financeiro para a empresa (Reichheld e Sasser,

1990; Grönroos, 1996).

Page 29: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

18

Reichheld e Sasser (1990) analisam os impactos da perda de um consumidor,

apresentando os resultados de um estudo realizado em uma empresa

operadora de cartões de crédito. Os resultados indicam que, a cada ano que

passa no relacionamento, o consumidor proporciona lucros crescentes para

empresa. Esse aumento nos lucros com o passar do tempo pode ser explicado

pelo fato de que, além de a empresa ter de fazer um investimento inicial em

propaganda, promoção, abertura de conta e outros gastos pontuais que,

mesmo antes do cliente realizar sua primeira compra, representam saída de

caixa para a empresa, na medida em que o consumidor utiliza e fica satisfeito

com o serviço, mais compras ele realiza, aumentando, conseqüentemente, os

fluxos de caixa gerados para a empresa.

Reichheld e Sasser (1990) constataram outras vantagens de se manter um

relacionamento duradouro com os clientes, além do aumento da utilização dos

serviços da empresa. Os autores identificaram a propensão que um cliente fiel

teria de pagar um preço prêmio pelo serviço, pois perceberia um valor superior

gerado pela redução das incertezas relacionadas com a transação (Ravald e

Grönroos, 1996). Outra vantagem seria a propaganda “boca-a-boca” positiva e

as recomendações, que, segundo estudos de Parasuraman, Zeithalm e Berry

(1985) e Engel et al. (1969), favorecem a imagem da empresa e influenciam

nas decisões de compra de novos consumidores. Esta propaganda positiva se

mostra de extrema importância nos serviços, uma vez que estes têm um fator

de intangibilidade muito grande e a recomendação feita por uma pessoa

Page 30: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

19

conhecida pode fornecer a credibilidade necessária para que outras pessoas

experimentem o serviço (Parasuraman, Zeithalm e Berry, 1985).

A figura 2.1 mostra o modelo de fluxos de caixa ao longo do tempo

desenvolvido por Reichheld e Sasser (1990) com base em pesquisas

realizadas em mais de 100 empresas.

Figura 2.1

Fluxo de caixa ao longo do tempo

Fonte: Zero defections: quality comes to services de Reichheld e Sasser (1990).

Outros autores também destacam vantagens do marketing orientado para o

relacionamento. Grönroos (1994) explica que, com o passar do tempo, a

empresa e o cliente incorrem em menores custos de relacionamento, seja

porque os clientes diminuem os custos de troca de fornecedor ou porque as

empresas ganham previsibilidade e diminuem seus custos. Day et al. (1998)

Page 31: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

20

resumem as principais vantagens do marketing de relacionamento em três

categorias: (1) relacionamento mais próximo com o consumidor, (2) melhora na

satisfação do consumidor e (3) benefícios financeiros.

O relacionamento mais próximo com os consumidores permite que a empresa

conheça melhor suas necessidades e crie fortes laços ao longo do tempo.

Quanto mais fortes forem os laços entre a empresa e o cliente, maior será o

custo percebido pelo cliente para trocar de fornecedor (Day et al., 1998).

A manutenção de um relacionamento com os consumidores permite que as

empresas consigam monitorar a satisfação do consumidor. Dessa forma, a

empresa pode verificar se suas ações estão tendo o efeito desejado e se estão

satisfazendo os consumidores (Day et al., 1998). Bettencourt (1997) acrescenta

ainda que o relacionamento pode levar a uma participação do consumidor

como conselheiro da empresa, indicando os problemas a serem corrigidos e

novas oportunidades. Nesse mesmo contexto, Bulger (1999) afirma que o

marketing de relacionamento permite que as empresas antecipem as

necessidades de seus clientes, posicionando sua oferta no momento correto e

gerando a recompra de seus produtos/serviços.

Os benefícios financeiros são decorrentes de fatores já apresentados como,

por exemplo, redução dos custos de relacionamento, preço prêmio pelo

serviço, atração de novos consumidores e aumento da retenção dos

consumidores, sustentando a base de clientes em um mercado de grande

Page 32: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

21

competição (Day et al., 1998). Day (1999) resume em quatro os motivos que

fazem com que clientes fiéis sejam mais lucrativos:

• Aumento do volume de compras: o volume de compras tende a

aumentar conforme o relacionamento entre a empresa e o cliente torna-

se mais próximo;

• Diminuição dos custos na prestação do serviço: os consumidores

aprendem a interagir com a empresa, diminuindo o número de dúvidas e

problemas;

• Menor sensibilidade a preço: clientes antigos dispõem-se a pagar preço

prêmio por produtos/serviços nos quais confiam; e

• Propaganda “boca-a-boca” favorável: consumidores fiéis fazem

propaganda gratuita para a empresa e ajudam a melhorar sua imagem.

As empresas estão descobrindo que investir em um relacionamento duradouro,

baseado no diálogo, aproxima mais o cliente, diminui os custos de

comunicação, contribui de forma efetiva para a concepção e aprimoramento de

produtos e serviços e que clientes podem atrair com muito mais eficiência e

menor custo outros consumidores, que podem contribuir com idéias de grande

valor, ou seja, fidelizar é muito mais rentável que estar sempre em busca de

novos clientes.

Alguns dos momentos mais importantes de um relacionamento são os

momentos e situações de crise, que é quando existe a oportunidade de

constatar se efetivamente o comprometimento e a fidelidade são mútuos e

Page 33: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

22

verdadeiros. Na relação consumidor/empresa não é diferente. Nos momentos

de crise, quando ocorre alguma falha na prestação do serviço, a empresa deve

agir rapidamente, compreendendo os motivos que levaram o consumidor a

reclamar e solucionando o problema, o que sustentará e, muitas vezes,

fortalecerá o relacionamento. A revisão da literatura existente sobre falhas em

serviços leva a crer que o tratamento das reclamações é o fator mais

importante na decisão do consumidor de manter ou não o relacionamento com

a empresa após uma falha no serviço (Colgate e Norris, 2001).

2.2 O que o Cliente Busca com a sua Reclamação?

A reclamação do cliente é uma forma de expressar sua insatisfação com

alguma falha que ocorreu no decorrer da prestação do serviço (Chauvel, 2000;

Lovelock e Wright, 2002). Alguns estudos sobre reclamações dos

consumidores indicam que são dois os principais motivos para a reclamação

(Lovelock e Wright, 2002). O primeiro motivo para a reclamação é a

recuperação de uma perda econômica que o consumidor julga ter sofrido. O

segundo motivo para a reclamação, mas não menos importante que o primeiro,

é o resgate da auto-estima e do senso de justiça (Lovelock e Wright, 2002).

Portanto, o cliente busca, através de sua reclamação, uma compensação,

financeira e moral (como um pedido de desculpas), para o prejuízo que sente

ter sofrido (Chauvel, 2000). Desta forma, a empresa deve estar preparada para

compensar o cliente pelo prejuízo percebido. Em contra-partida, a empresa

pode obter valiosas informações com as reclamações de seus clientes, que

Page 34: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

23

podem permitir a melhoria dos processos e a identificação de novas

oportunidades.

2.2.1 Reclamação dos Consumidores

“Os clientes com que me preocupo são aqueles dos quais nunca ouço falar”. É

desta forma que um gerente de uma grande empresa norte-americana

expressou a importância das reclamações para sua empresa. Segundo

Lovelock e Wright (2002), as reclamações dos consumidores permitem que as

empresas corrijam problemas na prestação de serviços, restabeleçam as

relações com o reclamante e melhorem a qualidade do atendimento. Embora

toda a teoria existente sobre produtividade e qualidade do serviço afirme que é

necessário evitar desperdícios e fazer certo da primeira vez, não se pode

ignorar o fato de que as falhas continuam a ocorrer, muitas vezes por razões

fora do controle da organização (Lovelock e Wright, 2002). Segundo McColl-

Kennedy e Sparks (2001), as falhas em serviço podem ser classificadas em

quatro grupos:

• Problemas com o serviço;

• Problemas associados com o prestador de serviço;

• Problemas fora do controle da empresa; e

• Problemas relacionados com o consumidor.

Em serviços, a possibilidade de uma ruptura em um momento de interação

consumidor/empresa costuma ser maior, o que foi explicitado nas palavras de

Lovelock e Wright (2002): “Características distintivas dos serviços como

desempenho em tempo real, envolvimento do cliente, as pessoas como parte

Page 35: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

24

do produto e a dificuldade de avaliação aumentam muito a chance de

percepção de falhas no serviço”.

Lovelock e Wright (2002) identificaram quatro possibilidades de ações por parte

dos consumidores quando da experimentação de uma falha no serviço, quais

sejam:

• Não fazer nada;

• Reclamar por meio de algum formulário;

• Reclamar por meio de terceiros (organização de defesa do consumidor

ou órgãos regulamentadores);

• Trocar de fornecedores;

• Desencorajar outros consumidores de utilizar o serviço (boca-a-boca

negativo).

As empresas precisam estar conscientes que a perda ou desistência do

consumidor pode ter impactos mais graves do que a perda de receita futura

deste consumidor. Estudos indicam que consumidores insatisfeitos propagam

seu descontentamento com a empresa, desencorajando outros consumidores a

utilizar os serviços. A internet tem agravado esta situação, pois permite a

criação de páginas para publicação de falhas no serviço e a rápida

disseminação dos problemas das empresas, tornando-se fundamental oferecer

um tratamento adequado às reclamações dos consumidores (Lovelock e

Wright, 2002).

Page 36: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

25

No entanto, pesquisas indicam que a maioria dos consumidores não reclama

(Lovelock e Wright, 2002). Segundo o TARP, consumidores insatisfeitos não

reclamam por três razões principais: acham que não será compensador o

tempo e esforços envolvidos no processo de reclamação; concluem que a

empresa não dará a devida atenção e importância para o seu problema; e/ou

não sabem como e onde reclamar, isto é, desconhecem o processo de

reclamação.

Desta forma, as empresas costumam perder esta importante oportunidade, já

que uma das formas de participação dos consumidores nos serviços se dá

através do fornecimento de feedback para a empresa, na forma de sugestões e

reclamações, possibilitando a correção dos erros e permitindo a melhoria dos

serviços (Schneider e Bowen, 1995).

A reclamação demonstra que ocorreu uma falha durante a prestação do

serviço, mas também está relacionada com o envolvimento do consumidor com

o desenvolvimento e melhoria do negócio da empresa (Bettencourt, 1997).

Consumidores habituais de um serviço têm a capacidade de avaliar, identificar

os problemas e novas oportunidades no serviço (Wolstenholme, 1988).

Tax, Brown e Chandrashekaran (1998), baseados em um estudo empírico,

afirmam que as reclamações e sugestões dos consumidores são uma valiosa

fonte de informações para as empresas, possibilitando a melhoria dos serviços

e a identificação de novas oportunidades. No entanto, muitas empresas adotam

Page 37: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

26

uma postura defensiva em relação às reclamações e, além disso, ignoram as

sugestões. A literatura de serviços apresenta um caso clássico de ganhos

oriundos das oportunidades e melhorias desenvolvidas e implementadas com

base nas reclamações e sugestões de consumidores: a Stew Leonard´s, uma

dairy store americana. A Stew Leonard´s incentiva a participação de seus

clientes através de reuniões semanais, onde os clientes que apresentaram as

melhores sugestões são convidados a debater com os gerentes de lojas sobre

como implementar as idéias (Leonard, 1993).

A função do consumidor neste tipo de participação é a de um consultor, que

oferece uma visão externa dos processos, identificando os principais

problemas do serviço e as novas oportunidades (Bettencourt, 1997). Para isso,

no entanto, é necessário que a empresa disponibilize para seus clientes um

canal de comunicação eficiente ou, como colocado por Bies e Shapiro (1987) e

Lind e Tyler (1988), é necessário dar VOZ aos clientes para realizarem suas

reclamações e sugestões.

A empresa deve considerar a reclamação como um problema que ela criou

para o consumidor e desenvolver mecanismos que permitam a rápida

recuperação da falha. Também deve perceber a reclamação como uma

oportunidade que o cliente está oferecendo para que a falha seja corrigida

(Chauvel, 2000), além de buscar formas de aproveitar as informações

fornecidas com as reclamações para aprimorar continuamente seu serviço.

Page 38: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

27

2.2.2 Dimensões de Justiça

Como visto anteriormente, as reclamações são oportunidades que os

consumidores dão para as empresas repararem suas falhas e corrigir e

aprimorar seus serviços. A empresa deve criar a crença de que o consumidor

que reclama será tratado com justiça, incentivando a reclamação e tendo a

oportunidade de recuperar o serviço, pois existe uma forte relação entre falhas

no serviço e a intenção de recompra do consumidor (Buttle e Burton, 2001).

Segundo Lovelock e Wright (2002), apenas uma pequena parte dos

consumidores reclamam e oferecem a empresa esta oportunidade de

recuperação, mas quando o fazem esperam ter seu problema resolvido de

forma rápida e sem maiores desgastes (Blodgett, Hill e Tax, 1997).

Alguns estudos e pesquisas (Bies e Moag,1986; Goodwin e Ross, 1990;

Clemmer e Schneider, 1993; Taylor, 1994) confirmam que a satisfação ou

insatisfação do consumidor não se baseia apenas no resultado final do

processo de recuperação, mas também nos procedimentos até se chegar ao

resultado e nas interações cliente-empresa que ocorrem ao longo desse

caminho. O cliente pode ficar mais insatisfeito com os procedimentos adotados

por uma empresa na resolução de um problema do que com o fato original

causador do problema (Berry e Parasuraman, 1991; Bitner, Booms, and

Tetreault, 1990). Desta forma, não basta que as empresas montem estruturas

focadas no resultado final que irão oferecer aos clientes como compensação

pelo problema causado. Elas devem também ter atenção com os

Page 39: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

28

procedimentos e relacionamentos que serão estabelecidos no decorrer do

processo de obtenção do resultado final.

Os consumidores entram em processos de reclamação com algumas

expectativas de resultados (Oliver, 1997). Essas expectativas se referem a

fatores relacionados tanto ao resultado quanto ao processo de reclamação, tais

como nível de compensação, procedimentos e postura adotada pela empresa,

comportamento do funcionário, velocidade com a qual a reclamação será

processada (Goodwin e Ross, 1990; Tax, Brown e Chandrashekaran, 1998).

Estudos mostram que, ao julgar a qualidade de serviços e produtos,

consumidores são mais sensíveis a resultados extremos do que a resultados

médios (Taylor, 1994). Desta forma, respostas inadequadas às reclamações

dos consumidores podem agravar o problema e criar situações de extrema

insatisfação, encorajando, no futuro, alguns segmentos de consumidores a

iniciar processos legais (Singh, 1988). O ato de responder a essas ações legais

pode ser consideravelmente custoso, além de resultar na deterioração da

imagem da marca (Cohen, 1984).

De acordo com Tax, Brown e Chandrashekaran (1998), apesar da importância

de corrigir as falhas no serviço para satisfazer o consumidor, muitas empresas

têm realizado de forma inadequada o atendimento das reclamações dos

clientes, aumentando seu nível de insatisfação. Os autores fazem uma

proposta de atendimento das necessidades do consumidor que reclama

através do conceito de justiça. A justiça está relacionada ao desenvolvimento

Page 40: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

29

do encontro de serviço, que constitui-se em uma série de eventos onde uma

falha gera um procedimento que produz interações sociais e econômicas entre

o cliente e a organização. A partir destas interações, um resultado é obtido pelo

consumidor. A satisfação do cliente com a recuperação do serviço será

influenciada pela percepção do cliente em relação às três dimensões de justiça

– distributiva, procedimento e interacional (Smith e Bolton, 1998; Smith, Bolton

e Wagner, 1999). Para Austin (1979), a justiça não é meramente o

ressarcimento do prejuízo, pois engloba, também, a maneira como este

ressarcimento é realizado.

Justiça Distributiva

A justiça distributiva se refere à percepção de equidade e restituição da parte

tangível do objeto envolvido em disputa, negociação ou discussão entre duas

ou mais partes (Blodgett, Hill e Tax, 1997). A teoria da justiça distributiva está

focada na alocação dos benefícios e custos (Deutsch, 1985). Quando o cliente

faz uma reclamação, ele espera que o resultado seja a correção do erro,

ressarcimento, reparo, crédito e/ou pedido de desculpas (Kelley, Hoffman and

Davis, 1993). É importante reconhecer que a percepção de justiça distributiva

varia de acordo com a reclamação do consumidor e reflete suas impressões

sobre o valor do prejuízo causado pela empresa (Blodgett, Hill e Tax, 1997).

Para Suarez, Ferreira e Casotti (2003), quanto maior o valor monetário do

prejuízo percebido pelo cliente, maior será a importância e atenção atribuídas a

justiça distributiva. Logo, conforme colocado por Tax, Brown e

Chandrashekaran (1998), a justiça distributiva estaria relacionada a: eqüidade,

que é a idéia de um ressarcimento proporcional ao valor do prejuízo estimado

Page 41: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

30

pelo consumidor; igualdade, que está relacionada com a obtenção de

resultados iguais aos obtidos por outros clientes numa mesma situação; e a

necessidade, que é o resultado baseado nas exigências dos clientes,

independente do valor do prejuízo efetivo.

Justiça de Procedimento

A justiça de procedimento está relacionada com as políticas, procedimentos e

critérios que a empresa adota no decorrer do processo de reclamação (Lind e

Tyler, 1988; Blodgett, Hill e Tax, 1997). A empresa busca, através da justiça de

procedimento, resolver conflitos de forma a encorajar a continuação do

relacionamento entre o cliente e a empresa, mesmo quando o resultado

material da reclamação é insatisfatório para uma ou ambas as partes

(Greenberg, 1990). Em seu estudo sobre incidentes no encontro de serviço,

Clemmer (1993) identificou que a flexibilidade, o tempo de resposta e a

eficiência são importantes dimensões da justiça de procedimento. Segundo

Tax, Brown e Chandrashekaran (1998), a justiça de procedimento estaria

relacionada a: controle de processo, que é a liberdade para comunicar seus

pontos de vista durante o processo de decisão (da empresa) em relação a uma

reclamação; controle da decisão, que é a possibilidade de aceitar ou rejeitar

uma solução proposta pela empresa; acessibilidade, que é a existência de um

canal de comunicação de fácil acesso; tempo/velocidade, que é o tempo

percebido para solucionar o problema; e flexibilidade, que consiste na

adaptação da empresa às necessidades especiais de cada reclamação.

Justiça Interacional

Page 42: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

31

A justiça interacional se refere ao tratamento interpessoal recebido durante o

processo de reclamação (Bies e Moag, 1986; Bies e Shapiro, 1987). A inclusão

dos fatores interacionais ajuda a explicar porque algumas pessoas se sentem

injustiçadas mesmo quando são ressarcidas (Bies e Shapiro, 1987). De acordo

com Tax, Brown e Chandrashekaran (1998), a justiça interacional está

relacionada a: explicação, a empresa deve fornecer explicações sobre o motivo

da falha; honestidade, que é referente a veracidade percebida das informações

prestadas; educação, explicitada pelo tratamento cortês dispensado ao

consumidor no processo de reclamação; esforço para resolver o problema, que

é a energia e empenho despendido pela empresa na resolução da reclamação;

e empatia, que pode ser medido pelo cuidado e atenção individual dispensados

no atendimento da reclamação.

O não atendimento dessas três dimensões de justiça em um processo de

reclamação pode levar os consumidores a altos níveis de insatisfação com a

empresa. Experiências extremas são mais possíveis de influenciar os

julgamentos, a memória e o comportamento futuro do consumidor. Examinar

situações caracterizadas por níveis excepcionais de satisfação ou insatisfação

– que pode-se chamar de encantamento ou desapontamento, respectivamente

– é especialmente importante porque essas experiências extremas podem ter

profundos efeitos nos próximos julgamentos e comportamentos do consumidor,

incluindo compra, boca a boca e deserção (Taylor, 1994).

Page 43: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

32

2.3 Como Lidar com as Reclamações dos Consumidores?

A empresa deve tratar as reclamações dos consumidores em dois níveis:

individualmente e de forma agregada. O tratamento individual das reclamações

dos consumidores visa recuperar o serviço, buscando trazer o nível de

satisfação do cliente para o patamar de antes da ocorrência da falha no

serviço, e evitar ações legais contra a empresa. Já a análise agregada das

reclamações tem como principal utilidade identificar as falhas mais comuns,

permitindo a correção das causas, bem como identificando novas

oportunidades de atuação. Como ressaltam Schibrowsky e Lapidus (1994),

resolver uma reclamação individual é importante, mas ataca os sintomas ao

invés das causas. O objetivo da análise agregada é identificar e eliminar as

causas.

2.3.1 Tratamento e Análise das Reclamações dos Consumidores

No caso do prestador de serviço ser notificado da falha, um programa de

recuperação do serviço e tratamento da reclamação deve ser posto em prática

(Figueiredo, 1999; Colgate e Norris, 2001). O interesse no tratamento das

reclamações dos consumidores, do ponto de vista operacional, está

relacionado com os procedimentos adotados para a recuperação do serviço

(Johnston, 2001). O desenho, planejamento, controle e execução das

atividades relacionadas com o tratamento das reclamações são de extrema

importância para a recuperação dos consumidores. Alguns autores (Johnston,

2001; Boshoff, 1997) identificaram determinados fatores que estão

Page 44: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

33

relacionados com o tratamento adequado das reclamações dos consumidores,

quais sejam:

• Procedimentos claros e transparentes;

• Apresentar uma resposta rápida para as reclamações;

• Consistência e confiabilidade no tratamento das reclamações;

• Ter um canal exclusivo e especializado para receber e tratar as

reclamações;

• Disponibilizar canais de fácil acesso para os consumidores reclamarem;

• Fazer com que o processo de reclamação seja simples para os

consumidores;

• Manter os consumidores informados sobre o andamento do processo da

reclamação;

• Ter uma equipe que compreenda o processo de reclamação;

• Dar grande importância para qualquer tipo de reclamação;

• Treinar os funcionários e dar autoridade para que resolvam

adequadamente as reclamações (“empowerment”).

O comprometimento da alta gerência é um pré-requisito essencial para que a

empresa obtenha sucesso na resolução das reclamações de seus

consumidores, fornecendo suporte para os profissionais que estarão

solucionando os problemas. Isso, contudo, não é suficiente para garantir a

solução satisfatória das reclamações. A empresa deve estabelecer, escrever e,

principalmente, comunicar uma política realista de resolução de reclamações,

garantindo que todos os envolvidos no processo estejam cientes dos

Page 45: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

34

procedimentos a serem seguidos. O consumidor também deve ser informado

sobre como proceder para efetuar uma reclamação (Mitchell, 1993).

O mesmo autor defende ainda que as políticas de reclamação devem ser

amplas e estar de acordo com os regulamentos, atitudes e políticas existentes

na empresa. A continuidade, a existência e a redução de ambigüidade são

algumas das vantagens que podem ser alcançadas com políticas pré-

estabelecidas e comunicadas. No entanto, as empresas devem tomar cuidado

para não ficarem muito “engessadas” e burocratizadas. A empresa deve

sempre utilizar o bom senso para analisar cada reclamação.

O tratamento de uma reclamação pode ser visto como uma seqüência de

eventos na qual um procedimento, que se inicia com o consumidor relatando a

reclamação, gera um processo de interações através das quais ocorre uma

decisão e um resultado (Tax, Brown e Chandrashekaran, 1998). Conforme

apresentado anteriormente, Tax, Brown e Chandrashekaran (1998) elaboraram

um modelo no qual o consumidor utiliza três dimensões de justiça – distributiva,

de procedimentos e interativa – como critério de avaliação do processo de

reclamação.

Baseados em seus estudos empíricos, os autores sugerem de que forma as

empresas devem tratar as reclamações dos consumidores. A primeira

recomendação é dar poder aos empregados que tratam diretamente com os

clientes. O empowerment pode melhorar atributos críticos como rapidez,

conveniência, acessibilidade e flexibilidade nos procedimentos de reclamação

Page 46: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

35

(justiça de procedimentos). Garantias de serviço também podem ser utilizadas

para ajudar a processar reclamações de forma consistente e eficiente.

Tax, Brown e Chandrashekaran (1998) afirmam que para fornecer

resultados/recompensas justos (justiça distributiva), as empresas devem

analisar os custos totais incorridos pelo consumidor, ou seja, os custos

resultantes da falha no serviço mais os custos do processo de reclamação.

Com relação à justiça interativa, os autores ressaltam a necessidade de

treinamento dos empregados para que estes interajam com os consumidores

de forma educada e com empatia.

As interações entre as dimensões de justiça também devem ser consideradas

e analisadas pelos gerentes. Caso uma empresa ofereça uma boa recompensa

para um cliente insatisfeito por meio de procedimentos inadequados ou

empregados rudes, não atingirá seu objetivo de satisfazer e reconquistar o

cliente. Desta forma, interações e procedimentos justos podem diminuir o custo

da reclamação, reduzindo, portanto, a compensação necessária para atingir a

justiça distributiva.

Além de tratar as reclamações individuais, buscando satisfazer o consumidor e

evitando ações legais, a empresa deve analisar as informações de forma

agregada, visando identificar as causas das reclamações e utilizando essas

informações para formular estratégias gerenciais que tenham como objetivo

Page 47: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

36

evitar que novas reclamações sejam feitas no futuro (Schibrowsky e Lapidus,

1994).

Analisar as informações de forma agregada não significa simplesmente contá-

las, como muitas empresas o fazem. O processo requer um planejamento

cuidadoso para que os dados possam ser utilizados e sejam minimamente

confiáveis, isto é, não ocorram muitas distorções causadas por falsas

interpretações (Schibrowsky e Lapidus, 1994).

Uma questão importante é quem deve analisar as reclamações dos

consumidores. Schibrowsky e Lapidus (1994) apresentam duas opções: os

próprios funcionários da empresa (abordagem interna) ou uma empresa

externa (abordagem externa). Existem três benefícios em se realizar a análise

internamente: custo baixo; deslocamento rápido na curva de aprendizado; e

continuidade do processo de análise das reclamações. Entretanto, os autores

afirmam que existem desvantagens na análise interna, tais como o

desconhecimento das técnicas de coleta e análise das reclamações por parte

dos funcionários ou a criação de um viés de comunicação interna. A utilização

de uma empresa externa para a coleta e análise das reclamações tem um

custo mais elevado, mas, em geral, as informações são mais acuradas e

aceitáveis.

Saber que informações coletar das reclamações também é uma decisão

importante. Os autores sugerem que se considere: a data das reclamações;

Page 48: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

37

para quem a reclamação foi enviada; se a compra foi ou não realizada; a

natureza da reclamação e a resolução da reclamação.

Segundo Mitchell (1993), além das decisões sobre quem irá fazer a análise,

onde obter os dados e que informações coletar, outra questão muito importante

a ser considerada é a presença da informática. Já existem ferramentas

computacionais que permitem a realização tanto das reclamações individuais,

quanto da análise agregada dessas reclamações. A utilização de

computadores permite que mais informações sejam gerenciadas em menos

tempo e com maior precisão. No entanto, vale destacar que a interpretação

dessas informações deve ser realizada por especialistas da empresa.

Nos últimos anos, tem crescido a utilização por parte das empresas de

departamentos ou áreas especializadas em receber e tratar das reclamações

dos consumidores. Essas áreas são, em geral, denominadas serviço de

atendimento ao cliente (SAC) e funcionam na recepção, tratamento e análise

das reclamações dos clientes.

2.3.2 O Serviço de Atendimento ao Consumidor

O marketing de relacionamento que, de acordo com Kotler (1994), é a tarefa de

criar forte lealdade dos consumidores, envolve a utilização de um conjunto de

técnicas e processos de marketing, vendas, comunicação e cuidados com o

cliente, visando a identificá-los de forma individualizada e nominal, criar

Page 49: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

38

relacionamentos duradouros e administrá-los para o benefício mútuo (Stone e

Woodcock, 1998).

Desta forma, dentro deste panorama de mudanças no ambiente externo e

interno das empresas, um dos vetores importantes no ambiente competitivo

são os diferentes tipos de interação – canais de comunicação – que podem ser

estabelecidos com o consumidor como, por exemplo, a disponibilização de

Serviços de Atendimento aos Clientes (SAC’s). Para Aksin e Harker (1999), os

serviços de atendimento ao consumidor podem representar uma importante

ferramenta que auxilia na identificação de detalhes que podem representar a

diferença entre uma oferta de sucesso e uma mal sucedida. Na visão de

Prahabkar, Sheehan e Coppett (1997), O SAC deveria ser utilizado pela

empresa para construir, manter e gerenciar o relacionamento com os clientes

através da solução dos problemas e reclamações de forma rápida,

disponibilizando informações, respondendo a solicitações e estando disponível

24 horas por dia, 365 dias por ano.

O Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) é um canal de comunicação

aberto pela empresa através do qual os consumidores podem expressar suas

reclamações, dúvidas, pedidos, sugestões e elogios (Mitchell, 1993). Araújo

(1999) considera o SAC como um dos principais instrumentos do marketing de

relacionamento, ajudando as empresas a estabelecerem relações duradouras

com seus clientes, conhecendo-os melhor.

Page 50: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

39

O SAC, enquanto estrutura formal dentro de uma empresa, permite a

centralização da coleta e análise das reclamações dos consumidores,

permitindo a identificação das falhas no serviço e novas oportunidades de

atuação. Parasuraman, Zeithalm e Berry (1985) identificaram em seu trabalho

diferenças entre as percepções dos gerentes e dos consumidores sobre o

serviço. Muitas vezes o que os gerentes acreditavam ser os atributos

importantes para o consumidor, não eram o que estes realmente valorizavam.

Além disso, os gerentes podem imaginar que a empresa está prestando um

serviço adequado, mas os consumidores estão insatisfeitos. Berry e

Parasuraman (1991) afirmam que a empresa deve criar um canal para escutar

sistematicamente seus clientes, objetivando a redução das diferenças na

percepção do serviço.

O SAC também permite uma rápida resolução dos problemas, evitando gastos

desnecessários, sejam estes financeiros ou para a imagem da empresa.

Quando se dirige ao SAC, o consumidor está oferecendo a oportunidade para a

empresa resolver de forma rápida e objetiva seu problema, poupando-a de um

processo legal e um prejuízo financeiro maior. Além disso, o consumidor pode

ser surpreendido com a recuperação da falha, tornando-se satisfeito

novamente (Zülzke, 1991).

A literatura relata outras vantagens da existência do SAC em uma empresa.

Mitchell (1993) ressalta como outras vantagens do SAC: a facilidade de

reclamação; evitar propaganda boca-a-boca negativa; marketing interno,

Page 51: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

40

envolvendo os funcionários com os problemas da empresa; e evidência

tangível da preocupação da empresa com seus clientes e orientação para o

mercado. Além disso, o autor afirma que a existência do SAC na estrutura da

empresa permite que as reclamações e informações sobre os consumidores

cheguem até departamentos que têm pouco contato com eles, ajudando na

tarefa estratégica de tornar toda a empresa mais pró-ativa no atendimento das

necessidades dos consumidores.

Para que se possa entender os aspectos organizacionais dos departamentos

de atendimento ao consumidor é necessário que, inicialmente, conheçamos as

funções desempenhadas por estes departamentos e, para isso, devemos saber

qual a definição de serviço ao cliente utilizada pela empresa.

Lancioni (1995), em seu estudo sobre a estrutura organizacional do SAC de

empresas americanas, apresenta diversas definições diferentes para serviço ao

cliente, tais como: o cliente é rei; todas as atividades necessárias para fazer o

cliente feliz; o relacionamento total que uma empresa tem com seus clientes; o

consumidor está sempre correto; zero defeitos; comprometimento com a

qualidade; exceder as expectativas dos consumidores; satisfação total; e

manter os clientes felizes. Cada uma dessas definições carrega um forte

componente simbólico, tendo suas próprias dimensões e direcionando a forma

de agir da empresa (Lancioni, 1995). Por exemplo, a ênfase em “zero defeitos”

coloca a função serviço ao cliente relacionada com as atividades de

manufatura e produção. Já a definição “o cliente é rei” pressupõe a existência

Page 52: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

41

de uma estrutura organizacional voltada para a prevenção e resolução dos

problemas dos consumidores.

Em seu estudo, Lancioni (1995) classifica os SAC’s em informais ou formais e

afirma que o tamanho, a estrutura e as funções realizadas pelos SAC’s podem

variar tanto quanto as definições para o conceito de serviços ao consumidor.

Lancioni (1995) pesquisou quais seriam as principais atribuições do

departamento de serviço ao cliente (DSC). O resultado da pesquisa mostra que

a função mais freqüente é realmente lidar com as reclamações dos

consumidores, sendo esta seguida por fornecer suporte às vendas, receber

pedidos, serviço de campo, cobrança, crédito e garantias de venda.

Lancioni (1995) investigou também a estrutura de reportagem gerencial dos

serviços de atendimento ao consumidor, isto é, analisou o posicionamento do

SAC dentro do organograma da empresa e as implicações deste

posicionamento nas atividades desempenhadas pelos departamentos de

serviço ao cliente e na atitude da empresa frente as reclamações dos

consumidores. Como o atendimento ao consumidor é, devido às atividades

desempenhadas, uma área gerencial híbrida, as empresas não costumam ter

certeza de onde colocá-lo, surgindo, desta forma, diferentes estruturas de

reportagem gerencial dos SAC's.

O autor classifica as estruturas de reportagem em direta, que consiste na

subordinação do SAC diretamente a alta gerência da empresa, ou sub-

Page 53: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

42

reportagem, que consiste na subordinação do SAC a um outro departamento

da empresa, conforme apresentado na figura 2.2.

Figura 2.2

Estruturas de Reportagem

Fonte: Baseada na figura 2 de Lancioni (1995), p.22.

Segundo Lancioni (1995), a reportagem direta apresenta algumas vantagens

em relação a reportagem indireta (sub-reportagem), quais sejam:

• Fluxo livre de informações entre o serviço ao cliente e os principais

tomadores de decisão da empresa;

• Os gerentes do departamento de serviço ao consumidor podem

disponibilizar os recursos necessários para a implementação de uma

estratégia de atendimento ao cliente sem a interferência ou resistência de

outros grupos gerenciais; e

Presidência

SAC

ProduçãoMarketingFinanças

Presidência

SAC ProduçãoMarketingFinanças

Estrutura de Sub-Reportagem

Estrutura de Reportagem Direta

Presidência

SAC

ProduçãoMarketingFinanças

Presidência

SAC ProduçãoMarketingFinanças

Estrutura de Sub-Reportagem

Estrutura de Reportagem Direta

Page 54: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

43

• O SAC tem a autoridade necessária para resolver rapidamente os

problemas dos consumidores, possibilitando um aumento nos níveis de

satisfação.

A estrutura de sub-reportagem é geralmente encontrada em empresas grandes

e que tenham muitas divisões e departamentos, mas que não contam com uma

função serviço ao cliente centralizada (Lancioni, 1995). Este tipo de estrutura

apresenta algumas limitações no que se refere ao comprometimento da

empresa com a resolução dos problemas e reclamações dos consumidores.

Isto ocorre porque, em primeiro lugar, o serviço ao cliente está sob a

responsabilidade de uma gerência média, que, além do baixo poder de

decisão, freqüentemente considera o serviço ao cliente como uma atividade

secundária e de menor importância. Além disso, o SAC estará sujeito as ações

do departamento ao qual se reporta, o que, em geral, representa uma maior

dificuldade de obtenção de recursos e orçamento limitado (Lancioni, 1995).

O trabalho de Lancioni (1995) indica que, na estrutura de sub-reportagem, a

configuração mais freqüente é a subordinação do SAC ao departamento de

vendas, funcionando como uma ferramenta de vendas, o que é uma das

melhores opções neste tipo de estrutura, pois possibilita um aumento das

vendas da empresa. A segunda forma mais freqüente de sub-reportagem é a

subordinação do SAC ao departamento de marketing da empresa, que é

considerada pelo autor como a melhor estrutura deste tipo de reportagem

indireta, pois o departamento de marketing tende a ter uma visão de longo

Page 55: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

44

prazo do mercado, preocupando-se com o estabelecimento de um

relacionamento duradouro com os consumidores. Para Lancioni (1995), esta

relação direta entre SAC e marketing demonstra a preocupação da empresa

com seus consumidores. O departamento de produção é o terceiro mais

freqüente departamento ao qual o serviço ao cliente está subordinado. Isto

indica uma preocupação da empresa com a qualidade, que seria uma das

responsabilidades do serviço ao cliente. Apenas 5% das empresas americanas

indicaram que o departamento de serviço ao cliente está diretamente

subordinado ao presidente da empresa (estrutura de reportagem direta), que,

como dito anteriormente, seria a melhor forma de estrutura organizacional.

No estudo de Lancioni (1995) apareceram outras formas de reportagem

indireta, tais como ao departamento de contabilidade, ao departamento

financeiro, ao departamento de recursos humanos, ao departamento de

segurança, ao departamento de operações e outros. Cada uma destas

estruturas de sub-reportagem indicam uma interpretação diferente para serviço

ao cliente e uma forma diferente de se relacionar e tratar as reclamações dos

consumidores.

Nas conclusões de seu trabalho, Lancioni (1995) indica cinco implicações

gerenciais resultantes da estrutura organizacional dos SAC's, quais sejam:

1. As empresas que pretendem criar e manter um relacionamento de longo

prazo com seus consumidores devem estender e aprimorar seus programas

de atendimento ao consumidor;

Page 56: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

45

2. A posição do SAC no organograma da empresa influi no tempo de resposta

às reclamações dos consumidores, bem como na efetividade da resolução

do problema;

3. O preço influi na exigência do nível de serviço prestado. Produtos e serviços

mais caros devem vir acompanhados de um nível de serviço maior;

4. A forma como a empresa define serviço ao cliente influi no posicionamento

do SAC na estrutura organizacional da empresa, bem como na postura

frente as reclamações dos consumidores; e

5. O comprometimento da alta gerência é fundamental para o sucesso de um

serviço de atendimento ao consumidor.

Modelo Conceitual

O modelo conceitual tem como objetivo apresentar, graficamente ou através de

narrativa, os principais conceitos abordados no referencial teórico e as relações

existentes entre eles. Existe uma forte inter-relação entre o modelo conceitual e

as perguntas da pesquisa, que buscam verificar até que ponto o objeto da

pesquisa se encaixa no modelo conceitual proposto.

Baseado no referencial teórico apresentado acima, propõe-se um modelo

conceitual para o recebimento e tratamento das reclamações dos

consumidores em empresas de serviço e, mais especificamente, em shopping

centers. Este modelo está estruturado em etapas de preparação, incentivo,

recebimento, tratamento e análise das reclamações, indicando as ações a

Page 57: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

46

serem seguidas pela empresa para ter uma postura pró-ativa e obter sucesso

na recuperação da falha e retenção do consumidor.

Tabela 2.1

Modelo Conceitual

Etapas Tópicos importantes1

Reconhecer a importância do

relacionamento com o consumidor

- Os principais desafios para os executivos do marketing são reconhecer queexiste a necessidade de construção de relacionamentos duradouros com osclientes (Parasuraman, Zeithalm e Berry, 1985).

2

- A empresa deve perceber a reclamação como uma oportunidade que o clienteestá oferecendo para que a falha seja corrigida (Chauvel, 2000).

- As empresas devem incentivar a reclamação de seus clientes (Lovelock e Wright,2002).

2.1

- Disponibilizar canais de fácil acesso para os consumidores reclamarem (Boshoff,1997; Tax, Brown e Chandrashekaran, 1998; Johnston, 2001).

- É necessário dar VOZ aos clientes para que façam suas reclamações esugestões (Bies e Shapiro, 1987; Lind e Tyler, 1988).

2.2

- Procedimentos claros e transparentes (Boshoff, 1997; Johnston, 2001).

- O consumidor deve ser informado sobre como proceder para efetuar umareclamação (Mitchell, 1993).

3

Tratar as reclamações- As reclamações dos consumidores devem ser tratadas em dois níveis:

individualmente e de forma agregada (Schibrowsky e Lapidus, 1994).

3.1

Fatores relacionados com o tratamento das

reclamações

- Fatores que estão relacionados com o tratamento adequado das reclamaçõesdos consumidores: · Procedimentos claros e transparentes; · Apresentar uma resposta rápida para as reclamações; · Ter um canal exclusivo e especializado para receber e tratar as reclamações;

· Manter os consumidores informados sobre o andamento do processo dareclamação;

· Treinar os funcionários e dar autoridade para que resolvam adequadamente asreclamações (“empowerment”). (Boshoff, 1997; Johnston, 2001)

Incentivar a reclamação

Disponibilizar canais para que o cliente

reclame

Orientar o consumidor sobre os

procedimentos para a realização da reclamação

Page 58: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

47

3.2

- A satisfação ou insatisfação do consumidor não se baseia apenas no resultadofinal do processo de recuperação, mas também nos procedimentos até se chegarao resultado e nas interações cliente-empresa que ocorrem ao longo dessecaminho (Austin, 1979; Bies e Moag,1986; Goodwin e Ross, 1990; Clemmer eSchneider, 1993; Taylor, 1994).

- Não basta que as empresas montem estruturas focadas no resultado final queirão oferecer aos clientes como compensação pelo problema causado. Elas devemtambém ter atenção com os procedimentos e relacionamentos que serãoestabelecidos no decorrer do processo de obtenção do resultado final (Bitner,Booms, and Tetreault, 1990; Berry e Parasuraman, 1991).

- A satisfação do cliente com a recuperação do serviço será influenciada pelapercepção do cliente em relação às três dimensões de justiça – distributiva,procedimento e interacional (Smith e Bolton, 1998; Tax, Brown eChandrashekaran, 1998).

- A justiça distributiva se refere à percepção de equidade e restituição da partetangível do objeto envolvido em disputa, negociação ou discussão entre duas oumais partes (Blodgett, Hill e Tax, 1997).

- A justiça de procedimento está relacionada com as políticas, procedimentos ecritérios que a empresa adota no decorrer do processo de reclamação (Lind eTyler, 1988; Blodgett, Hill e Tax, 1997).

- A justiça interacional se refere ao tratamento interpessoal recebido durante oprocesso de reclamação (Bies e Moag, 1986; Bies e Shapiro, 1987).

4

Analisar as reclamações de forma

agregada

- A empresa deve analisar as informações de forma agregada, visando identificaras causas das reclamações e utilizando essas informações para formularestratégias gerenciais que tenham como objetivo evitar que novas reclamaçõessejam feitas no futuro (Schibrowsky e Lapidus, 1994)."

Resultados esperados

Page 59: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

48

Capítulo III - METODOLOGIA

3.1 Tipo de Pesquisa

Vergara (1997) apresenta dois critérios de classificação para pesquisas: quanto

aos fins e quanto aos meios. Com relação aos fins, o presente estudo é

exploratório. Quando existe pouco conhecimento acumulado e sistematizado

sobre determinado assunto, a pesquisa exploratória pode ser indicada e

realizada (Vergara, 1997; Sekaran, 1992). Assim, como a literatura sobre como

os shopping centers tratam das reclamações de seus consumidores é escassa,

principalmente no Brasil, uma pesquisa com esse caráter se justifica.

Quanto aos meios, esta pesquisa utiliza a metodologia qualitativa de estudo de

casos em campo, isto é, o estudo analisou casos de empresas administradoras

de shopping centers. Apesar da flexibilidade do planejamento da pesquisa

exploratória ser grande, ela, muitas vezes, assume a forma de pesquisa

bibliográfica ou de estudo de caso (Gil, 1988).

O estudo de caso consiste, segundo Tull (1976), na análise intensiva de uma

situação em particular, onde é possível identificar variáveis e suas inter-

relações que, de outra forma, poderiam não ser percebidas. Segundo Creswell

(1998, p.61), “o estudo de caso é uma exploração de um sistema delimitado ou

um caso (ou vários casos) ao longo do tempo através de uma coleta de dados

detalhados e em profundidade, envolvendo fontes múltiplas de informações

ricas em contexto”.

Page 60: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

49

Gil (1988) ressalta que a profundidade e o detalhamento de informações

obtidas pelo estudo de caso são praticamente impossíveis de serem

alcançados através de outro método de pesquisa. O estudo de caso apresenta

uma habilidade grande para lidar com uma grande variedade de evidências,

como documentos, artefatos, entrevistas e observações (Yin, 1994).

Segundo Yin (1994), existem cinco estratégias de pesquisa – experimento,

survey, análise de arquivo, história e estudo de caso. A decisão da estratégia a

ser adotada deve estar baseada na análise de três questões, quais sejam:

1. Tipo de questão de pesquisa colocada;

2. Grau de controle que o pesquisador tem sobre o comportamento dos

eventos; e

3. Se o foco está em um evento histórico ou contemporâneo.

Com relação ao tipo de questão de pesquisa, se a questão colocada for

“QUAL”, a pesquisa exploratória pode ser utilizada, onde qualquer uma das

cinco estratégias podem ser escolhidas. Se a questão de pesquisa for “COMO”

ou “POR QUE”, as estratégias possíveis para um estudo exploratório são o

estudo de caso, experimento ou história. O estudo de caso será indicado se o

grau de controle do pesquisador sobre os eventos for baixo e os eventos forem

contemporâneos. Desta forma, a metodologia adotada justifica-se também pelo

escopo e questão pesquisada pelo presente trabalho (Como os shoppings

centers lidam com as reclamações dos clientes?). A impossibilidade de

Page 61: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

50

controlar eventos, o fato do objeto de estudo ser recente e a maneira através

da qual a pergunta tentará ser respondida, com entrevistas e observações,

também justificam a escolha desse método.

Além disso, a tentativa de utilizar um questionário de respostas fechadas e,

conseqüentemente, realizar uma pesquisa quantitativa seria frustrada devido

ao tamanho restrito do universo investigado. O número de shopping centers na

cidade do Rio de Janeiro, quarenta (ABRASCE, 2002), dificilmente permitiria a

obtenção de uma amostra representativa, dado que o percentual de

questionários respondidos corretamente neste tipo de pesquisa costuma ser

inferior a 10% (Creswell, 1998). Desta forma tería-se um número de

questionários muito pequeno para poder fazer análises estatísticas e

extrapolações. O método do caso é, pois, mais indicado para se aprofundar o

estudo.

3.2 Perguntas da Pesquisa

Este estudo tem como objetivo tentar responder a uma pergunta ampla e

principal que é: Como os shopping centers lidam com as reclamações dos

consumidores?.

Esta pergunta se desdobra em uma série de questões secundárias, que foram

preparadas com base na revisão de literatura e abordam os seguintes

assuntos:

Page 62: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

51

Tabela 3.1

Perguntas da Pesquisa

Etapas Perguntas1

Como é visto pela empresa a construção do relacionamento com o cliente?

Como é feito o acompanhamento do atendimento das reclamações?

2

Incentivar a reclamação

Como a empresa "enxerga" as reclamações dos consumidores no processo derelacionamento com o cliente?

2.1

Por quais meios os consumidores podem reclamar ?

Que outros canais poderiam ser utilizados?

2.2

Orientar o consumidor sobre os

procedimentos para a realização da reclamação

Como os consumidores são informados sobre os procedimentos para realizar umareclamação?

3

Como é feito o tratamento de uma reclamação?

Existe um departamento específico responsável pelo tratamento das reclamações?

Como este departamento está localizado na estrutura organizacional da empresa?

3.1Em geral, em quanto tempo as reclamações são solucionadas?Existem procedimentos para o tratamento específico de cada uma das principaisreclamações ?

Os consumidores são informados sobre o andamento do processo da reclamação ?

Como é a equipe que trabalha no atendimento ao consumidor ? Eles recebem quetipo de treinamento ?

3.2O que você acha que o consumidor espera quando ele decide fazer umareclamação?Quais os tipos de reclamações mais freqüentes ?Os consumidores, em geral, sugerem alguma forma de resolver o problema ou sóreclamam?Caso o consumidor não aceite a decisão do shopping, esta pode ser alterada? Oque é feito nestes casos?

4As reclamações são armazenadas e analisadas por algum sistema? Elas têmmudado ao longo do tempo?Que tipo de informações são armazenadas no sistema?

Reconhecer a importância do

relacionamento com o consumidor

Disponibilizar canais para que o cliente

reclame

Analisar as reclamações de forma

agregada

Tratar as reclamações

Fatores relacionados com o tratamento das

reclamações

Resultados esperados

Page 63: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

52

3.3 Seleção das Empresas Pesquisadas e dos Entrevistados

Inicialmente, foram definidos cinco shopping centers na cidade do Rio de

Janeiro para a realização do estudo de casos. As entrevistas foram realizadas

com duas pessoas de cada empresa: uma pessoa da alta gerência e a pessoa

responsável pelo tratamento das reclamações dos clientes.

A expectativa era de que os shopping centers escolhidos teriam porte e

orientações diferentes, possibilitando a visualização de diferentes tipos de

tratamento dispensados a resolução das reclamações dos consumidores e uma

melhor comparação com a teoria existente. Um dos shoppings analisados, no

entanto, não disponibilizou dados que permitissem uma análise mais profunda.

Neste caso, apesar da gerência operacional citar alguns casos de reclamação

contra o shopping, a alta gerência afirmou que os casos eram muito raros e,

por isso, não representativos, sendo tratados individualmente, sem a existência

de procedimentos ou de uma estrutura própria para isso.

Desta forma, dos cinco casos escolhidos inicialmente, quatro foram

selecionados por representar shopping centers com porte e orientações

diferentes (tabela 3.2) e permitir, ao mesmo tempo, uma análise aprofundada e

a comparação com os modelos teóricos propostos na literatura.

Page 64: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

53

Tabela 3.2

Perfil dos Shopping Centers

3.4 Coleta de Dados

A coleta de informações foi realizada através de visitas in loco em cada um dos

shopping centers e entrevistas em profundidade com a alta gerência e a

pessoa responsável pelo tratamento das reclamações dos clientes. Durante as

entrevistas buscou-se materiais internos, tanto gerais como específicos sobre

os procedimentos de resolução das reclamações e o SAC. O roteiro das

entrevistas (ANEXO I) foi construído de forma semi-estruturada, com perguntas

abertas, onde o principal objetivo foi o de conduzir a entrevista de uma maneira

aberta, direcionando-a para os aspectos considerados mais relevantes do

estudo, uma vez que este tipo de roteiro proporciona uma ampla variedade de

respostas, pois o respondente pode expressar sua opinião livremente (Gil,

1988). As entrevistas tiveram duração média de noventa minutos, chegando,

em alguns casos, a cento e cinqüenta minutos.

Alta gerênciaResponsável pelo atendimento das

reclamações

Shopping Center A 75 mi l A e B S u p e r i n t e n d e n t e Superv isor de Marke t ing

Shopping Center B 40 mi l A , B e C S u p e r i n t e n d e n t e C o o r d e n a d o r d o S A C

Shopping Center C 35 mi l B e C Admin is t radoraC o o r d e n a d o r a d e

Atend imento

Shopping Center D 95 mi l B e C S u p e r i n t e n d e n t e C o o r d e n a d o r a d o S A C

EntrevistadoClasse econômica

predominanteVisitantes/diaEmpresa

Page 65: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

54

Apesar de inúmeras tentativas de se obter dados estatísticos e informações

sobre reclamações em shopping centers junto a Associação Brasileira de

Shopping Centers (ABRASCE) e o PROCON – RJ, as respostas sempre foram

negativas. No primeiro caso, pela ABRASCE considerar as informações

estratégicas para os shoppings. Em relação ao PROCON – RJ, apesar de

existirem reclamações de consumidores contra a administração dos shoppings,

não existe uma categoria de registros de reclamações exclusiva para shopping

center, sendo estes casos registrados como varejo, o que impossibilita o filtro e

análise destas informações.

3.5 Tratamento dos dados

Após a realização das entrevistas, estas foram transcritas e o resultado foi

separado em categorias, com base na revisão de literatura, para que a análise

fosse realizada. Além da separação em categorias, as entrevistas são

apresentadas por empresas, descrevendo cada caso separadamente. Stake

(1995) chama essa agregação de dados por categorias de agregação

categórica, que é uma das formas de se analisar e interpretar os dados em

uma pesquisa de estudo de casos.

Em um momento seguinte, foi realizada uma comparação entre as entrevistas

e destas com o que foi encontrado na revisão de literatura. Após essa análise

surgiram algumas hipóteses (Vergara, 1997) e propostas para estudos futuros.

Page 66: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

55

3.6 Limitação do Método

Segundo Gil (1988), a principal limitação do método do caso é a dificuldade de

generalização dos resultados obtidos. A unidade escolhida para investigação

pode ser anormal em relação às outras de sua espécie, fazendo com que a

generalização se torne um equívoco. O viés do pesquisador e a necessidade

de cooperação por parte dos entrevistados são outras limitações que também

devem ser consideradas. Além disso, os resultados do estudo ficam muito

atrelados ao discurso dos entrevistados, isto é, ao que eles querem dizer.

Neste estudo, a cooperação dos entrevistados foi de grande importância para a

obtenção de informações relevantes, que puderam ser utilizadas nas análises.

No entanto, a escolha dos casos pode não retratar o universo de todos os

shopping centers do Rio de Janeiro, não permitindo a generalização dos

resultados.

Page 67: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

56

Capítulo IV - DESCRIÇÃO DOS CASOS

Neste capítulo são descritos os casos de quatro shopping centers, localizados

na região do Grande Rio. Para melhor contextualizar e descrever as

informações obtidas, cada caso será apresentado de forma narrativa. Também

serão introduzidas no decorrer das narrativas dos casos algumas transcrições

de partes do discurso da alta administração dos shoppings, o que auxiliará na

compreensão da postura do shopping em relação às reclamações dos

consumidores. A descrição do processo de atendimento das reclamações foi

feita com base no depoimento dos responsáveis pelo atendimento ao

consumidor, na alta gerência dos shoppings e na observação in loco dos

procedimentos adotados para atendimento das reclamações. Os casos são

apresentados na ordem em que foram feitas as entrevistas e visitas técnicas.

4.1 Shopping Center A

Perfil do Shopping

O Shopping Center A foi inaugurado no início da década de 80, copiando o

modelo dos shoppings americanos inaugurados na década de 60. A área de

influência primária do Shopping Center A é composta pelos bairros do Leme,

Copacabana, Botafogo e Urca. A área secundária abrange os demais bairros

da Zona Sul. Segundo o superintendente do shopping, existe uma área

terciária de influência que abrangeria os bairros da Tijuca e Ilha do Governador,

bem como a cidade de Niterói. Segundo dados do IBGE, as áreas primária e

secundária têm mais de um milhão de habitantes, cada uma.

Page 68: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

57

O perfil sócio-econômico dos consumidores do Shopping Center A, segundo

Critério Brasil de Classificação Sócio-Econômica4, corresponde às classes A e

B. A média de visitantes diária está em torno de 75 mil pessoas/dia. Está média

ultrapassa os 100 mil visitantes/dia nos dias que antecedem datas

comemorativas, tais como Natal e o Dia das Mães.

O Shopping Center A busca, através de algumas ações de publicidade e

marketing, criar uma identificação com o consumidor, fazendo com que este se

reconheça como “consumidor do Shopping Center A”. Também demonstra

preocupação com a satisfação de seus clientes e a qualidade dos serviços

prestados, tendo sido um dos primeiros shopping centers da cidade a receber a

certificação ISO 9001. Segundo o Superintendente do shopping:

“A certificação ISO 9001, além de ter organizado e padronizado

os processos administrativos e operacionais do shopping, serve

como diferencial e garantia de qualidade para os clientes do

shopping, isto é, tanto para os lojistas quanto para os

consumidores”. – Superintendente do Shopping Center A

Tratamento e Análise das Reclamações

Pode-se observar por este pequeno trecho do discurso do superintendente do

shopping que a administração identifica duas classes de clientes: o lojista e o

consumidor final. O Superintendente reconhece, também, que é necessário

manter um bom relacionamento com ambos os clientes:

4 Vide Anexo II

Page 69: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

58

“Nós somos dependentes dos nossos dois clientes: o lojista e o

consumidor final...Devemos atender bem a um e a outro, pois o

empreendimento depende do fluxo de caixa dos lojistas e estes

do fluxo de consumidores no shopping”. – Superintendente do

Shopping Center A

Como foi dito na introdução deste trabalho, considerar-se-á para efeito de

análise apenas os consumidores finais, isto é, aqueles que utilizam as

instalações comuns do shopping para lazer e/ou realizar compras nas lojas.

O Shopping Center A não possui um departamento de atendimento ao

consumidor formalizado, isto é, não existe um departamento exclusivamente

estruturado para atender e tratar as reclamações dos consumidores. A área

responsável pelo atendimento ao cliente é a Supervisão de Varejo e Marketing,

que está subordinada à Gerência Comercial do shopping, e que também é

responsável por todo relacionamento comercial com os lojistas. Observe, na

figura 4.1, a estrutura organizacional do Shopping Center A.

Page 70: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

59

Figura 4.1

Estrutura Organizacional do Shopping Center A

A Supervisão de Varejo e Marketing é composta por quatro funcionários: o

supervisor, um assessor e dois estagiários. Todas as reclamações dos

consumidores são tratadas e analisadas por este departamento. As

reclamações dos consumidores são recebidas por qualquer funcionário do

shopping, porém só são registradas e tratadas quando o consumidor preenche

um formulário que se encontra nos balcões de informação (existem dois no

interior do shopping), no ponto de encontro do shopping, na recepção da

administração ou no departamento de controle e fiscalização (segurança).

Outro canal de comunicação para a realização de reclamações é através de e-

mails.

Tratamento e Análise das reclamações dos

consumidores

Empreendedor

Superintendência

Gerência de Marketing – Publicidade –

Associação de Lojistas

Gerência Financeira

Gerência Técnico-

Operacional

Gerência Comercial

Gerência Jurídica

Supervisão de Varejo e Marketing

Supervisão de Administração de Contratos

Page 71: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

60

Os e-mails e formulários preenchidos são encaminhados para a Supervisão de

Varejo e Marketing, onde são analisados para identificação da gerência

responsável por resolver o problema. Segundo informações do Supervisor da

área, a maioria das reclamações recebidas pela administração, cerca de 85%,

não é contra o shopping, mas contra as lojas. Nestes casos, a Supervisão de

Varejo e Marketing notifica o lojista, com uma carta-padrão, acusando o

recebimento da reclamação e solicitando providências. Em alguns casos

especiais, que são muito raros, a Supervisão de Varejo e Marketing intervém

para tentar resolver a crise entre lojista e consumidor. Em geral, a

administração não tem nenhuma ingerência sobre os lojistas, não podendo

interferir em seus processos administrativos e operacionais.

Caso a reclamação seja contra o mall (cerca de 15% dos casos), a Supervisão

de Varejo e Marketing identificará e notificará a área responsável pelo

problema. Os principais problemas relatados pelos consumidores são

referentes à limpeza do mall e dos banheiros, ar condicionado com defeito,

falta de vagas no estacionamento e furtos no interior do shopping. Em alguns

casos, o consumidor solicita uma reparação material, isto é, exige uma

indenização pelo prejuízo que sofreu. Quando ocorre um pedido de

indenização por parte do consumidor, a Supervisão de Varejo e Marketing

analisa o ocorrido para verificar se a responsabilidade pelo prejuízo causado ao

consumidor é do shopping. Quando fica comprovado que o shopping é

responsável pelo problema, a Supervisão de Varejo e Marketing verifica se é

possível consertar o item danificado. Caso não seja possível, o Supervisor da

Page 72: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

61

área entra em contato com o consumidor e solicita que ele compre um produto

exatamente igual ao danificado, entregando ao shopping, para efetuação do

ressarcimento, o produto danificado e a nota fiscal da compra do produto novo.

Em todos os caso de reclamação, a Supervisão de Varejo e Marketing envia

uma carta ao consumidor lamentando o ocorrido.

Apesar de existirem procedimentos formalizados para o consumidor reclamar,

não existe divulgação de como o consumidor deve proceder para realizar sua

reclamação. Os funcionários das lojas, pelo contato mais estreito e cotidiano

com a administração do shopping, conhecem os procedimentos para realizar

uma reclamação. Já o consumidor final precisa solicitar informações de como

proceder uma reclamação, o que pode vir a ser um fator de reclamações.

4.2 Shopping Center B

Perfil do Shopping

O shopping center B, que entrou em funcionamento no meio da década de 90,

está localizado em um dos bairros mais tradicionais do Rio de Janeiro, onde

sempre predominou o comércio de rua, com uma grande variedade de lojas e

serviços. O primeiro desafio da administração do shopping foi exatamente este:

atrair um público com considerável poder aquisitivo e que estava acostumado a

ter muitas opções de lojas e serviços nas ruas do bairro. Para isto, a

administração buscou atrair e promover eventos no interior do mall, bem como

procurou montar um mix de lojas e serviços que agregasse valor para o

consumidor. Os problemas de segurança na região do shopping também

Page 73: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

62

favoreceram a consolidação e fortalecimento do empreendimento, uma vez que

os consumidores se sentiam mais seguros no shopping do que na rua.

A área de influência primária do shopping center B é composta pelos bairros da

Tijuca, Maracanã, Andaraí e parte de Vila Isabel. A área secundária abrange os

bairros de São Cristóvão, São Francisco Xavier, Usina e Alto da Boa Vista.

Segundo dados do IBGE, as áreas primária e secundária somam mais de 1,5

milhão de habitantes.

O perfil sócio-econômico dos consumidores do shopping center B, segundo

Critério Brasil de Classificação Sócio-Econômica, corresponde às classes A, B

e C, sendo 23% da classe A, 54% da classe B e 23% da classe C. A média de

visitantes diária está em torno de 40 mil pessoas/dia.

O shopping center B procura criar uma empatia com os moradores do bairro,

oferecendo serviços, promoções e eventos que incentivem a visita e

permanência das pessoas no interior do mall. A preocupação com a satisfação

dos clientes pode ser retratada pelas palavras do Superintendente do

shopping:

“Eu devo prestar atenção ao que o lojista fala e quer, pois é ele

quem paga os salários da administração e, em última instância,

devo atender bem e prestar um serviço de qualidade para o

Page 74: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

63

consumidor do shopping, pois é ele quem paga o lojista”. –

Superintendente do Shopping Center B

Pode-se constatar pelo discurso da Superintendência do shopping que a

administração distingue dois clientes: o lojista e o consumidor final. Neste

pequeno trecho, o entrevistado fala em “prestar atenção” e oferecer um

“serviço de qualidade” para seus clientes, o que indica a preocupação em

manter um bom relacionamento com lojistas e consumidores, relacionando a

satisfação destes com a lucratividade do empreendimento.

Tratamento e Análise das Reclamações

Para cuidar dos momentos de crise no relacionamento entre cliente/shopping, o

shopping center B criou, há cerca de dois anos, um departamento (SAC) para

atender e tratar as reclamações. Esse departamento, intitulado SAC (Serviço

de Atendimento ao Consumidor) pela administração, é formado por quatro

atendentes, que se revezam em turnos com duas atendentes, e um

coordenador. O SAC é responsável por receber e tratar as reclamações e

sugestões dos consumidores e lojistas, fornecer informações sobre o shopping

e serve também como seção de achados e perdidos (todos os objetos

encontrados no interior do shopping são encaminhados para o SAC).

A estrutura física deste departamento consiste em uma sala localizada em um

dos corredores do mall, onde as atendentes recebem e registram as

reclamações em um sistema computacional. O Coordenador do SAC tem uma

Page 75: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

64

sala na administração. O SAC está subordinado ao Departamento de

Marketing, o que, segundo o coordenador de atendimento, fortalece o caráter

de relacionamento do SAC e reforça os programas de fidelização e atração de

clientes.

“Existem SAC’s que se reportam a superintendência, existem

SAC’s que se reportam a diretoria...existem SAC’s mais

voltados para a área comercial e existem SAC’s voltados para o

relacionamento. No caso do shopping center B, o SAC é um

braço do departamento de marketing, porque visa basicamente

o relacionamento com o cliente”. – Coordenador do SAC do

Shopping Center B

Observe, na figura 4.2, a estrutura organizacional do shopping center B.

Page 76: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

65

Figura 4.2

Estrutura Organizacional do Shopping Center B

O SAC recebe as reclamações dos consumidores, que podem ser

encaminhadas através de e-mail, telefone ou pessoalmente. As reclamações

são registradas no sistema por uma das atendentes, que informa ao

consumidor os trâmites que serão seguidos para resolução do problema. O

sistema envia, então, um e-mail para a sala do Coordenador informando a

ocorrência. O Coordenador procura a atendente responsável pelo registro da

reclamação para verificar a real gravidade da situação.

“É aquele caso: o papel é um negócio frio, que nem sempre

traduz claramente a gravidade do ocorrido. Por exemplo, as

vezes eu leio um e-mail (enviado pelo sistema de reclamações

Tratamento e Análise das reclamações dos

consumidores

Empreendedor

Superintendência

Gerência Administrativo

/ Financeira

Gerência Operacional

Gerência de Marketing

Gerência de Auditoria e

Estacionamento

Serviço de Atendimento ao

Consumidor

Page 77: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

66

do SAC) e penso que o caso é sério e muito complicado, mas

quando falo com a atendente que fez o registro vejo que a

situação é outra. Em outras vezes, penso que o caso é simples,

porém, quando vou ao SAC saber o que aconteceu, percebo

que o caso é grave e o consumidor está muito irritado”. –

Coordenador do SAC do Shopping Center B

Após verificar os motivos da reclamação, o Coordenador do SAC entra em

contato com a área responsável pelo problema – estacionamento, operacional

ou marketing – a fim de comunicar o fato e pedir providências. As principais

reclamações são contra o preço do estacionamento, mal atendimento de algum

funcionário, limpeza dos banheiros e problemas com o ar-condicionado. Todos

os clientes recebem uma notificação das medidas tomadas e um pedido de

desculpas formal da administração do shopping lamentando o ocorrido. Caso o

consumidor julgue que teve um prejuízo material e solicite um ressarcimento ao

shopping, o Coordenador do SAC informa imediatamente ao cliente que o

prejuízo será ressarcido. Depois, solicita que o cliente leve o item danificado

junto com a nota fiscal da compra de um novo para que possa debitar o

reembolso no centro de custos da gerência causadora do problema. Em geral

este procedimento leva em torno de um dia. Quando questionado sobre os

casos de reclamações fraudulentas, o Coordenador do SAC respondeu que

este tipo de caso é raro e, quando ocorre, é facilmente “desmascarado”, não

podendo ser tomado como regra.

Page 78: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

67

A maioria das reclamações dos consumidores, no entanto, não ocorre por

problemas no shopping, mas, sim, por problemas de atendimento nas lojas. Na

maioria dos casos, o Coordenador do SAC tenta intervir junto ao lojista para

que o problema seja solucionado ao contento do consumidor, pois a

administração do shopping entende que quando o consumidor faz uma

reclamação no SAC, mesmo que em razão do atendimento em uma loja

específica, o problema passa a ser do shopping.

“Quando o consumidor reclama de uma loja X, não é da loja X

que tem dezenas de unidades espalhados pela cidade, mas a

loja X DO SHOPPING CENTER B”. – Coordenador do SAC do

Shopping Center B

A principal providência que a administração toma para prevenir e reduzir as

reclamações em relação aos lojistas do shopping é oferecer treinamento

gratuito, algumas vezes por ano, para todos os atendentes de lojas. Nestes

treinamentos são enfatizados os aspectos e as razões pelas quais o bom

atendimento é muito importante para o desempenho comercial da loja e do

shopping.

O sistema computacional que é utilizado pelas atendentes para registrar as

reclamações armazena todas as informações referentes aos procedimentos e

status da reclamação, sendo, também, utilizado pelo Coordenador do SAC

para gerar os relatórios de análise e acompanhamento. As informações dos

Page 79: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

68

relatórios são analisadas mensalmente pelo Coordenador do SAC, que busca

padrões e ocorrências cíclicas que possam indicar um problema recorrente

com a prestação de serviço do shopping center B.

4.3 Shopping Center C

Perfil do Shopping

O Shopping Center C está localizado no centro da cidade de Nova Iguaçu, na

Baixada Fluminense. Nova Iguaçu é a principal cidade da Baixada Fluminense,

a maior e mais populosa. Por sua importância, é conhecida como a "Capital

Comercial da Baixada Fluminense". A área de influência primária do Shopping

Center C abrange, além da cidade de Nova Iguaçu, as cidades de Belford Roxo

e Duque de Caxias. A área secundária é constituída pelas demais localidades

da Baixada Fluminense, bem como pelos bairros da Pavuna e Ricardo de

Albuquerque da cidade do Rio de Janeiro. Segundos dados do IBGE, as áreas

primária e secundária têm mais de três milhões de habitantes e um potencial

de consumo da ordem de US$ 1,8 bilhão/ano.

O perfil sócio-econômico dos consumidores do Shopping Center C é

abrangente e diversificado, sendo composto, segundo Critério Brasil de

Classificação Sócio-Econômica, por indivíduos das classes A, B, C e D, sendo

10% da classe A, 47% da classe B, 35% da classe C e 7% da classe D. O mix

de lojas do shopping foi montado para atender as necessidades dessa

diversidade de consumidores, sendo constituído por lojas de grandes redes

nacionais, bem como lojas de atuação local.

Page 80: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

69

A direção da administradora do Shopping Center C entende que deve atender

a necessidade de dois clientes: o lojista e o consumidor final, o que se traduz

nas palavras de uma das entrevistadas:

“O Shopping Center C tem dois clientes: o consumidor final e o

lojista...ambos devem ter suas necessidades atendidas”. –

Administradora do Shopping Center C

Tratamento e Análise das Reclamações

Com o objetivo de criar um canal de comunicação com o consumidor, o

Shopping Center C criou, no interior do mall, um balcão de atendimento, onde o

consumidor pode tirar dúvidas e pedir informações, bem como realizar uma

reclamação. Este Setor de Atendimento está subordinado à Gerência de

Marketing, sendo composto por quatro atendentes, que se revezam em dois

turnos, e uma coordenadora. Observe na figura 4.3 a posição do setor de

atendimento ao cliente no organograma do shopping:

Page 81: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

70

Figura 4.3

Estrutura Organizacional do Shopping Center C

Os funcionários de segurança, limpeza e operação são instruídos para

encaminhar todas as reclamações dos consumidores do shopping para o

balcão de atendimento, onde serão registradas em um formulário por uma das

atendentes. As reclamações também podem ser feitas através do website do

shopping, no entanto, nunca foram recebidas reclamações por este canal. Após

serem registradas, as reclamações são entregues para a Coordenadora de

Atendimento, que analisa os motivos da reclamação. Os principais motivos das

reclamações dos consumidores são: problemas de atendimento nas lojas,

tratamento inadequado por parte de algum segurança e limpeza dos banheiros.

No caso de reclamações realizadas por problemas de atendimento em uma

das lojas, a Coordenadora de Atendimento entra em contato com a gerência da

Tratamento e Análise das reclamações dos

consumidores

Empreendedor

Superintendência

Gerência Administrativo

/ Financeira

Gerência Operacional

Gerência de Marketing

terceirizados

Atendimento ao Consumidor

Page 82: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

71

loja e busca uma forma de solução para o problema do consumidor, pois,

segundo a Coordenadora de Atendimento, se o setor de atendimento apenas

notificar o lojista da ocorrência da reclamação, na maioria dos casos, o

consumidor não receberá nenhuma resposta da loja.

No caso de a reclamação ser motivada por um problema operacional do próprio

mall, a Coordenadora de Atendimento repassa o formulário com a reclamação

para o responsável da área associada a esta, que deverá avaliar os motivos da

reclamação, tomar as medidas cabíveis e devolver o formulário para a

Coordenadora de Atendimento, dizendo quais foram as providências tomadas,

para que esta possa dar um retorno para o consumidor. Todos os

consumidores recebem, do Setor de Atendimento, um retorno para suas

reclamações, sejam estas em relação ao mall ou à uma loja específica.

Segundo a Coordenadora de Atendimento, este procedimento de retorno é de

extrema importância para a satisfação do consumidor do Shopping Center C:

“Os consumidores ficam felizes só em receber um retorno. Eles

falam: ‘Muito obrigado por você ter se preocupado com o meu

problema’”. – Coordenadora de Atendimento do Shopping

Center C

Desde a inauguração do Shopping Center C houve apenas um caso de

consumidor solicitando ressarcimento. Uma senhora escorregou dentro do mall

e machucou a perna. A administração pagou o táxi, o médico e os remédios da

Page 83: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

72

consumidora, mas não acatou a solicitação de reembolso de óculos novos,

pois, segundo a Coordenadora de Atendimento, não havia como comprovar

que os óculos tinham sido quebrados com a queda da consumidora no interior

do mall.

A Coordenadora de Atendimento realiza mensalmente a análise de todas as

reclamações registradas no balcão de atendimento. Através dessas análises

puderam ser solucionados alguns problemas que eram freqüentes, como por

exemplo a falta de cadeiras na praça de alimentação. Outra revelação

constatada pela análise das reclamações é de que os motivos das reclamações

têm mudado com o tempo. Na época de implantação do balcão de

atendimento, as reclamações eram sobretudo provocadas por problemas com

o mall. Com o decorrer do tempo, a maioria das reclamações passou a ser

motivada por problemas de atendimento nas lojas. Segundo a Coordenadora

de Atendimento, essa mudança foi motivada por um esforço do shopping em

melhorar seu atendimento, o que não foi acompanhado pelo lojista. Com o

intuito de amenizar este problema, o Departamento de Marketing promove

treinamentos para os lojistas, buscando conscientizá-los da importância de

atender bem o consumidor.

Há poucos meses, o balcão de atendimento foi realocado dentro do mall,

passando a se localizar na porta principal de entrada do Shopping Center C.

No entanto, não existe divulgação de como o consumidor deve proceder para

Page 84: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

73

realizar uma reclamação. O lojista, por estar inserido mais diretamente nas

operações do shopping, conhece os procedimentos para reclamar.

4.4Shopping Center D

Perfil do Shopping

O Shopping Center D é o maior shopping da Zona Norte, sendo o segundo

maior da cidade do Rio de Janeiro e o de maior faturamento por metro

quadrado da cidade. A área de influência primária do Shopping Center D

compreende os bairros de Del Castilho, Méier e Cachambi. A área secundária

compreende os bairros da Abolição, Campinho e outros bairros da Zona Norte.

O número médio de visitantes diários é de 95 mil consumidores.

O perfil sócio-econômico dos consumidores do Shopping Center D reflete a

área que o rodeia o shopping, sendo, por isso, bastante diversificado. O perfil

dos consumidores é composto, segundo Critério Brasil de Classificação Sócio-

Econômica, por indivíduos das classes A, B, C e D. Desde sua inauguração em

1986 até sua primeira grande expansão em 96, o mix de lojas do shopping foi

estruturado para oferecer uma grande variedade de produtos e serviços.

A gerência do shopping acredita ser de fundamental importância atender os

interesses do consumidor final, bem como do lojista. Segundo o

Superintendente do shopping:

Page 85: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

74

“Não é possível atender as necessidades de um grupo, sem

atender as necessidades do outro. O shopping precisa das lojas

e as lojas precisam dos consumidores. Desta forma, temos que

gerenciar, da melhor forma possível, todas as possíveis causas

de insatisfação no interior do shopping”. – Superintendente do

Shopping Center D

Tratamento e Análise das Reclamações

O Shopping Center D possui um departamento específico para atendimento de

críticas, reclamações e sugestões de consumidores. Segundo a Coordenadora

de atendimento ao cliente, a função deste departamento seria mais abrangente

e estaria relacionada com a construção de um relacionamento duradouro entre

o shopping e os consumidores. Para isso, além das funções tradicionais

relativas ao atendimento e tratamento das reclamações dos consumidores, o

SAC é responsável pela promoção de eventos no interior do mall e pela

execução de programas de fidelização. Nas palavras da Coordenadora do

SAC:

“Nosso departamento tem um escopo mais abrangente do que

simplesmente atender reclamações. Nós somos responsáveis

por todo o relacionamento com os consumidores. Tratamos de

eventos promocionais e do programa de fidelização, que foi

criado no ano passado...Devido a todas estas atividades, somos

um departamento independente e estamos subordinados

Page 86: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

75

diretamente a superintendência”. – Coordenadora do SAC do

Shopping Center D

Pode-se constatar por este discurso que o Shopping Center D possui uma

estrutura de reportagem direta para seu departamento de atendimento ao

cliente. Este departamento é composto por uma coordenadora, um analista e

três atendentes que se revezam em dois turnos diários. Observe na figura

abaixo a posição do setor de atendimento ao cliente no organograma do

shopping:

Figura 4.4

Estrutura Organizacional do Shopping Center D

A coordenadora e o analista ficam em uma sala na administração do shopping.

As atendentes estão posicionadas em um balcão localizado em um dos

corredores do mall. As reclamações podem ser realizadas por e-mail, telefone

ou pessoalmente no balcão de atendimento. Todos os funcionários do

Tratamento e Análise das reclamações dos

consumidores

Empreendedor

Superintendência

Gerência Administrativo

/ Financeira

Gerência Operacional/Segurança

Gerência de Marketing

Atendimento ao Consumidor

Tratamento e Análise das reclamações dos

consumidores

Empreendedor

Superintendência

Gerência Administrativo

/ Financeira

Gerência Operacional/Segurança

Gerência de Marketing

Atendimento ao Consumidor

Page 87: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

76

shopping e das lojas são orientados a encaminhar qualquer consumidor que

deseje fazer uma crítica ou reclamação para o balcão do SAC. Desta forma,

todos os problemas e reclamações que acontecem dentro do shopping são

encaminhados para o SAC, onde são registrados e tratados.

A reclamação é registrada por uma das atendentes no balcão do SAC, que

decide, então, para que área encaminhar uma solicitação de atendimento. O

registro e o encaminhamento das reclamações é feito por um sistema próprio,

que permite que a Coordenadora de Atendimento acompanhe todo o processo

de seu computador. Em algumas situações, é necessário uma intervenção da

coordenação para modificar o departamento que será responsável pelo

tratamento da reclamação.

A maioria das reclamações se refere a problemas operacionais e de segurança

no interior do shopping e do estacionamento. Entre os principais problemas

estão limpeza dos banheiros, defeitos no ar-condicionado, falta de informações

sobre a localização de lojas e pequenos furtos. As reclamações contra lojistas

que são registradas no SAC representam cerca de 25% do total de

reclamações. Nestes casos, a coordenação de atendimento ao cliente notifica o

lojista sobre a reclamação, buscando uma forma de entendimento entre as

partes.

No caso das reclamações por problemas no mall (maioria dos casos), a

reclamação é encaminhada para o departamento específico, que se encarrega

de resolver o problema e, então, notificar o SAC para que este entre em

Page 88: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

77

contato com o cliente. No caso de pedido de ressarcimento, o departamento de

atendimento ao consumidor realiza, em conjunto com o departamento

responsável pelo problema, uma análise para verificar de quem é a

responsabilidade. Caso a responsabilidade seja do Shopping Center D, o

cliente deve comprar um produto semelhante e levar a nota fiscal para ser

reembolsado.

Apesar de existirem procedimentos claros para o recebimento e tratamento das

reclamações, estes procedimentos não são divulgados. No interior do

shopping, existem pequenos cartazes indicando a existência de um SAC, mas

sua localização e função não são divulgadas.

Page 89: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

78

Capítulo V – ANÁLISE DOS CASOS

Neste capítulo serão apresentadas as análises dos casos sob a luz do modelo

conceitual (p.46) apresentado com base na revisão de literatura. Estas análises

foram feitas com base em depoimentos e observações in loco. Alguns trechos

dos discursos dos entrevistados e situações presenciadas serão narradas para

melhor ilustrar as análises.

5.1 Reconhecer a importância do relacionamento com o

consumidor

A orientação das ações da empresa para a criação e manutenção de um

relacionamento com os clientes pode ser extremamente vantajosa do ponto de

vista operacional e financeiro, na medida em que a empresa consegue fidelizar

os consumidores, obtendo: redução dos custos de relacionamento, preço

prêmio pelo serviço, atração de novos consumidores e aumento da retenção

dos consumidores, sustentando a base de clientes em um mercado de grande

competição (Day et al., 1998).

Em ambientes com grande competição (e com competição crescente), como no

caso do mercado de shopping centers, a preocupação com o relacionamento

com os consumidores deve ser maior, uma vez que a perda de um consumidor

pode significar o fortalecimento de um concorrente (Gordon et al., 1998 apud

Barlow, 1992). No entanto, a maioria dos shopping centers analisados neste

trabalho não utiliza, de forma plena, seus recursos para a criação e

manutenção de relacionamentos duradouros com seus consumidores, apesar

Page 90: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

79

de seus administradores conhecerem a teoria e suas implicações, como pode

ser verificado pelos discursos abaixo:

"O consumidor é nosso patrimônio mais importante, pois, em

última instância, ele é o responsável por fazer funcionar a

cadeia de valor do empreendimento" – Superintendente do

Shopping Center A

"É importante cuidarmos dos nossos clientes, tanto os clientes

externos quanto nossos clientes internos, pois são meus

funcionários que me representam junto aos consumidores"

Superintendente do Shopping Center B

"O consumidor tem todo o direito de reclamar...ele é o motivo

pelo qual o empreendimento é realizado" – Administradora do

Shopping Center C

"Temos que encontrar formas de satisfazer e reter estes

consumidores...o shopping existe para atender as necessidades

e os interesses do lojista e do consumidor" – Superintendente

do Shopping Center D

No discurso de todos os superintendentes dos shopping centers analisados

aparece a preocupação com o consumidor. Esta preocupação, no entanto, não

Page 91: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

80

está, em geral, relacionada com a criação e manutenção de um

relacionamento, mas sim com a qualidade do serviço prestado.

Tome-se o caso do Shopping Center A onde apesar de a alta administração

afirmar em seu discurso que o consumidor é muito importante para o sucesso

do empreendimento, fato que é destacado em uma série de cartazes fixados na

administração do shopping, as ações sugerem uma orientação mais para a

prestação de um serviço de qualidade do que para a criação de laços com o

consumidor, o que pode ser observado a partir da declaração do

Superintendente do Shopping Center A:

“Devemos estar focados em prestar um serviço de

qualidade...devemos evitar falhas”. – Superintendente do

Shopping Center A

Vale lembrar que a prestação de um serviço, mesmo que de extrema

qualidade, pode ser copiada por outros shopping centers e não garante a

fidelidade do consumidor (Grönroos, 1994). Já um relacionamento, baseado na

criação e manutenção de laços de comprometimento, pode assegurar a

fidelidade do consumidor (Grönroos, 1994).

Apenas os Shopping Centers A e D disseram ter uma base de informações

sobre os consumidores, porém somente o Shopping Center D utiliza estas

informações com o objetivo de criar e manter um relacionamento com o

Page 92: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

81

consumidor. O Shopping Center A declara possuir uma base de informações

sobre seus consumidores, porém não a utiliza de forma a criar um

relacionamento com os consumidores. O Supervisor de Varejo e Marketing do

Shopping Center A afirmou que está fazendo um estudo e que, em breve, esta

base de dados estará preparada para ações individualizadas que incentivem a

visita do consumidor ao shopping.

“Estamos realizando um estudo e nossa expectativa é que

iniciemos, em abril do próximo ano (2004), um programa de

envio mensal de correspondência com promoções e

informações para os clientes cadastrados”. – Supervisor de

Varejo e Marketing do Shopping Center A

Os Shopping Centers B e C, apesar de possuírem uma estrutura para tratar e

analisar as reclamações dos consumidores, não possuem mecanismos para

criar relacionamentos individualizados com os consumidores. Segundo o

Coordenador do SAC do Shopping Center B, o principal problema do SAC do

shopping é o fato de não ser utilizado para criar e gerenciar relacionamentos

com o consumidor.

“O nosso departamento não foi estruturado pensando em

gerenciar relacionamentos, mas em corrigir possíveis falhas no

serviço e evitar a insatisfação do consumidor”. – Coordenador

do SAC do Shopping Center B

Page 93: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

82

O Shopping Center D é o único shopping, dentre os analisados neste trabalho,

que tem um programa estruturado de fidelidade e relacionamento com o

consumidor. Os membros deste programa têm algumas vantagens, tais como o

não pagamento de estacionamento e desconto em algumas lojas, e recebem

periodicamente comunicados e informações sobre promoções e eventos no

shopping.

Analisando de forma geral como os shopping centers tratam da questão do

relacionamento e do valor do cliente no tempo, pode-se constatar que a

administração dos shopping centers percebem que estão em um ambiente de

competição crescente e estão conscientes da importância da retenção dos

consumidores e lojistas, conforme observado no discurso dos

superintendentes, porém poucas são as ações práticas no sentido de estreitar

os laços com os consumidores. Além disso, os administradores dos shoppings

não entendem o processo de tratamento das reclamações como parte do

relacionamento com os consumidores e não se envolvem diretamente nele.

5.2 Incentivar a reclamação

Conforme colocado por Lovelock e Wright (2002), a maioria dos clientes não

reclama quando acontece algum problema na prestação do serviço. Outros

estudos empíricos (Hart, Heskett e Sasser, 1990) anteriores já indicavam que o

percentual de clientes que reclamam dificilmente passa de 10%. São três as

principais razões pelas quais consumidores insatisfeitos não reclamam: não

Page 94: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

83

acham que não será compensador o tempo e esforços envolvidos no processo

de reclamação; concluem que a empresa não dará a devida atenção e

importância para o seu problema; e/ou não sabem como e onde reclamar, isto

é, desconhecem o processo de reclamação (Chauvel, 2000).

Chauvel (2000) coloca, então, que não basta esperar que o cliente reclame,

para que a empresa tenha oportunidade de recuperar o serviço e aprimorá-lo, é

necessário incentivar a reclamação. Este incentivo deve ser realizado

disponibilizando canais para que o cliente reclame e orientando o consumidor

sobre os procedimentos para a realização da reclamação. Isto, no entanto, não

parece ser de entendimento claro para a alta administração dos shopping

centers. Mesmo aqueles que têm um departamento responsável por receber e

tratar a reclamação do consumidor criam barreiras e dificuldades para a

realização das reclamações.

Nos shopping centers analisados parece predominar a visão de que a

reclamação é algo ruim e que deve ser evitada. Os superintendentes

entrevistados ficam um pouco defensivos, sobretudo no que se refere a

reclamações com pedido de ressarcimento de algum prejuízo material que por

ventura tenha ocorrido. Esta percepção negativa sobre a reclamação pode ser

identificada em seus discursos:

“Desde que assumi a Supervisão de Varejo e Marketing, o

número de reclamações contra o shopping diminuiu...Nossa

Page 95: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

84

meta é reduzir ainda mais este número de reclamações”. –

Supervisor de Varejo e Marketing do Shopping Center A

“Os consumidores, muitas vezes, reclamam sem razão”. –

Superintendente do Shopping Center B

“Temos feito várias reuniões com os funcionários dos shopping

e das lojas para tentar diminuir as reclamações...até porque

algumas situações podem ser resolvidas sem a necessidade do

consumidor reclamar”. – Administradora do Shopping Center C

“Felizmente, as reclamações contra o shopping (e não contra as

lojas) estão diminuindo”. – Coordenadora do SAC do Shopping

Center D

Desta forma, pode-se perceber que, apesar da literatura e de estudos

empíricos indicarem a importância de incentivar as reclamações como forma de

recuperar o serviço e coletar dados para aprimorá-lo (Figueiredo, 1999;

Lovelock e Wright, 2002), a cultura predominante encontrada nas entrevistas é

de que as reclamações são um indicador de problemas no serviço e devem ser

desestimuladas. Além dos discursos apresentados acima, pode-se constatar

que, em todos os shopping centers que possuem estrutura para receber e

tratar reclamações de consumidores insatisfeitos, os balcões de atendimento

estão localizados em corredores pouco movimentados do shopping, indicando

Page 96: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

85

uma posição defensiva em relação às reclamações. Apesar de o Shopping

Center C ter mudado a posição do balcão de atendimento para a entrada do

shopping, a Administradora está pensando em rever sua posição, pois segundo

ela:

“O balcão do SAC fica na entrada principal do shopping, mas

estamos pensando em transferir para um corredor no terceiro

andar...não achamos legal colocar o balcão na porta de entrada

do shopping porque as pessoas se exaltam fazendo as

reclamações e isso, além de incentivar outras

reclamações...prejudica a imagem do shopping”. –

Administradora do Shopping Center C

As descrições dos consumidores que reclamam, em geral, trazem palavras

como “exigente”, “encrenqueiro”, “mal-humorado” e “esperto”, o que mostra a

forma negativa como a reclamação é vista pela administração dos shoppings.

Não há, em nenhum dos shopping centers analisados, informativos sobre os

direitos dos consumidores ou incentivos para a realização de sugestões e/ou

reclamações, o que pode sugerir que as administrações percebem o

tratamento das reclamações de forma defensiva ou como uma maneira de

evitar ações judiciais contra a empresa.

Page 97: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

86

5.3 Disponibilizar canais para que o cliente reclame

Disponibilizar canais para que o cliente reclame significa dizer, nas palavras de

Bies e Shapiro (1987), “dar VOZ aos clientes”. Seguindo a idéia de que é

necessário incentivar a reclamação do consumidor insatisfeito, vários autores

(Bies e Shapiro, 1987 e Goodwin e Ross, 1990) afirmam que as empresas

devem disponibilizar diversos canais diferentes de forma a tornar mais fácil o

processo de reclamação para o consumidor. Estes canais devem estar

disponíveis para os consumidores e não devem ser um fator de

constrangimento ou dificultador.

O Shopping Center A é o que mais difere do modelo conceitual neste aspecto.

Enquanto os demais shopping centers analisados neste estudo disponibilizam

diversos canais para registro e atendimento das reclamações, tais como e-mail,

telefone, balcão de atendimento e/ou fax, o Shopping Center A, para registrar e

tratar de uma reclamação, exige que o consumidor preencha um formulário ou

envie um e-mail. Um exemplo do tipo de problema que pode ser ocasionado

por este procedimento foi presenciado durante uma das entrevistas: uma

mulher jovem que tinha tido um problema com uma das máquinas de

refrigerante do shopping solicitava o ressarcimento de R$ 1,00. O analista da

área de Supervisão de Varejo e Marketing tentava explicar que o problema só

poderia ser resolvido caso um formulário fosse preenchido, o que irritava ainda

mais a consumidora insatisfeita. Ao final de dez minutos de discussão, a

consumidora saiu sem preencher o formulário e prometendo nunca mais voltar

ao shopping. Cerca de quinze pessoas presenciaram esta cena.

Page 98: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

87

O Shopping Center B e o Shopping Center D apresentam canais de contato

com o consumidor mais estruturados, possuindo atendentes e sistemas

especializados para receber e registrar as reclamações. As administrações

destes dois shopping centers acreditam que quando o consumidor decide

reclamar, ele não deve ter nenhuma dificuldade, pois já está bastante irritado.

Nas palavras dos administradores destes shoppings:

“Quando o consumidor reclama é porque realmente está muito

irritado e não devemos aumentar sua irritação”. – Coordenador

do SAC do Shopping Center B

“Não somos nós que devemos dizer como o consumidor vai

reclamar...nós temos é que deixar o consumidor reclamar como

ele quiser, se não o problema pode piorar”. – Coordenadora do

SAC do Shopping Center D

As declarações sugerem, no entanto, uma postura defensiva e não poderiam

ser consideradas como alinhadas com a crença de que as reclamações podem

promover o relacionamento.

O Shopping Center C, apesar de disponibilizar os mesmos canais de

atendimento dos Shopping Centers B e D, não possui uma estrutura tão

robusta. As reclamações são registradas manualmente por uma atendente e,

Page 99: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

88

posteriormente, encaminhadas para a Coordenadora de Atendimento ao

Consumidor. Isto, no entanto, não parece comprometer o recebimento de

reclamações como no caso do Shopping Center A com o preenchimento do

formulário. Um procedimento que parece funcionar melhor é colocar um

atendente para registrar o ocorrido segundo a narração do consumidor

insatisfeito, que parece se acalmar enquanto narra os fatos. Isto também pode

oferecer maior credibilidade, pois o que ficará registrado é a perspectiva do

consumidor.

Desta forma, com relação à disponibilidade de canais de atendimento das

reclamações, pode-se verificar que os shoppings analisados estão em níveis

diferentes. A principal constatação é de que mais importante do que o número

de canais disponibilizados ou sistemas utilizados é facilitar o processo de

reclamação, diminuindo o desgaste do consumidor em reclamar.

5.4 Orientar o consumidor sobre os procedimentos para a

realização da reclamação

Nesta tentativa de facilitar o processo de reclamação, tão importante quanto

criar canais para que o consumidor possa reclamar é orientá-los sobre os

procedimentos para a realização da reclamação (Johnston, 2001 e Boshoff,

1997). Isto significa dizer que, para incentivar as reclamações dos

consumidores, não basta criar canais de atendimento, é necessário orientar e

ensinar os procedimento para os consumidores.

Page 100: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

89

No entanto, isto não é prática comum nos shopping centers analisados. Os

responsáveis pelo atendimento das reclamações dos consumidores acreditam

que não é necessário orientar o consumidor para que este reclame:

“O consumidor quando quer reclamar, ele procura qualquer

funcionário do shopping: limpeza, segurança...ele já sabe o que

tem de fazer”. – Supervisor de Varejo e Marketing do Shopping

Center A

“Quando acontece algum problema, o consumidor é

encaminhado ao SAC”. – Coodenador do SAC do Shopping

Center B

“O consumidor conhece os procedimentos...quando começa

alguma confusão dentro do shopping, a segurança encaminha

os consumidores para o balcão de atendimento”. –

Coordenadora de Atendimento do Shopping Center C

“Todos os problemas ocorridos no interior do shopping são

levados para o SAC...quando o consumidor chega ao SAC, os

procedimentos são explicados”. – Coordenadora do SAC do

Shopping Center D

Page 101: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

90

Os discursos indicam que os administradores dos shopping centers analisados

não consideram ações mais pró-ativas que orientam o consumidor ou mesmo

incentivam a sua reclamação. Em todos os shoppings pesquisados, a

orientação ao consumidor consiste em encaminhá-lo ao local de atendimento,

sem nenhuma instrução de como proceder ou que ações devem ser tomadas.

Desta forma, há uma dicotomia entre o que é proposto no modelo conceitual e

o que é verificado na prática. Fazendo uma análise interpretativa desta

dicotomia, podemos dizer que o modelo conceitual propõe uma ação pró-ativa

de incentivar as reclamações, contudo as práticas verificadas nos shopping

centers do Rio de Janeiro analisados sugerem posturas reativas e defensivas

em relação às reclamações dos consumidores.

5.5 Tratar as reclamações

O tratamento das reclamações, como dito por Schibrowsky e Lapidus (1994),

deve acontecer de forma individual e agregada. O tratamento individual das

reclamações dos consumidores visa recuperar o serviço e evitar ações legais

contra a empresa. Já a análise agregada das reclamações tem como principal

finalidade identificar falhas que se repetem, permitindo a correção das causas,

bem como identificando novas oportunidades de atuação.

Todos os shopping centers analisados neste estudo se preparam de alguma

forma para tratar as reclamações dos consumidores. A forma de tratamento,

bem como a estrutura montada para isto, variam de um empreendimento para

outro.

Page 102: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

91

Os Shopping Centers B, C e D criaram departamentos específicos para receber

e tratar as reclamações dos consumidores (SAC`s). No entanto, a posição

destes departamentos na estrutura organizacional e as funções

desempenhadas por estes são diferentes. Nos Shopping Centers B e C, o SAC

é subordinado à Gerência de Marketing e cumpre as funções de fornecer

informações para os consumidores e tratar as reclamações.

“Eu sei que em outros shoppings o SAC pode estar subordinado

ao departamento de segurança ou operações, mas para nós o

SAC é o meio de ligação entre a administração e o consumidor

e, por isso, está subordinado a Gerência de Marketing...não

servimos apenas para tratar reclamações, mas também para

auxiliar e fornecer informações para o cliente”. – Coordenador

do SAC do Shopping Center B

“A Gerência de Marketing de nossa empresa se relaciona com

todos os outros departamentos...assim, fica mais fácil colocar o

atendimento ao cliente dentro desta área”. – Coordenadora de

Atendimento do Shopping Center C

Já no Shopping Center D, o SAC parece cumprir uma função um pouco mais

ampla, estando responsável por todo o relacionamento com os consumidores.

O SAC do Shopping Center D está subordinado diretamente à

Page 103: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

92

Superintendência, representando um exemplo de estrutura direta de

reportagem (Lancioni, 1995).

“Nosso departamento funciona para trazer o cliente o máximo

possível para o shopping...Claro que é nosso papel cuidar dos

consumidores que estão insatisfeitos, mas nosso papel é mais

amplo, pois temos que buscar formas de trazer o consumidor

para o shopping. Para isso, temos o programa de fidelidade e

nossa mala direta”. – Coordenadora do Sac do Shopping Center

D

No Shopping Center A, a Supervisão de Varejo e Marketing é a responsável

por receber e tratar as reclamações dos consumidores. Pela declaração do

Supervisor pode-se perceber que o tratamento das reclamações é considerado

simplesmente como uma das atividades operacionais da área:

“Não podemos deixar que a insatisfação de um cliente se torne

um problema maior para o shopping...Como a área operacional

tem muitas atividades, o recebimento das reclamações ficou por

conta da nossa área”. – Supervisor de Varejo e Marketing do

Shopping Center A

A necessidade de um departamento específico para receber e tratar as

reclamações dos consumidores foi descrita em uma série de artigos teóricos e

Page 104: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

93

pesquisas empíricas (Prahabkar, Sheehan e Coppett, 1997; Mitchel, 1993;

Lancioni, 1995). Para Mitchell (1993), a existência do SAC na estrutura da

empresa permite que os consumidores tenham contato com departamentos

operacionais, ajudando na tarefa estratégica de tornar toda a empresa mais

pró-ativa no atendimento das necessidades dos consumidores.

Outro aspecto interessante diz respeito ao posicionamento dos SAC’s dentro

das estruturas organizacionais das empresas. Nos Shopping Centers B e C, o

SAC está subordinado a Gerência de Marketing, enquanto no Shopping Center

D, o SAC está diretamente subordinado a Superintendência. Isto representa

um alinhamento com o modelo conceitual, que preconiza estas duas estruturas

de reportagem como as mais efetivas para manutenção de um relacionamento

com o consumidor. A principal vantagem da estrutura direta de reportagem,

que subordina o SAC diretamente a Superintendência, é proporcionar

autonomia na resolução das reclamações e igualdade hierárquica com outros

departamentos. No entanto, na prática, isto não se verifica no Shopping Center

D.

“Apesar de estarmos subordinados ao Superintendente, eu não

tenho o mesmo nível hierárquico do Gerente de Marketing ou do

Gerente de Segurança...tanto é que meu cargo é de

coordenadora”. – Coordenadora do SAC do Shopping Center D

Page 105: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

94

No que se refere aos procedimentos adotados, não existem diferenças

significativas entre os Shopping Centers B e C, que têm o SAC subordinado a

Gerência de Marketing, e o Shopping Center A, em que a Supervisão de Varejo

e Marketing trata diretamente as reclamações dos consumidores. A principal

diferença parece estar na filosofia e postura da empresa em relação as

reclamações. O Shopping Center D apresenta processos mais ágeis, uma vez

que seu SAC está diretamente relacionado com a Superintendência e declara

ter autonomia para cobrar a solução do problema de outros departamentos.

5.6 Fatores relacionados com o tratamento das reclamações

Procedimentos

O tratamento adequado das reclamações passa pela criação de procedimentos

claros e objetivos. Estes procedimentos devem ser de conhecimento de todos

os funcionários da empresa e divulgados para todos os consumidores (Boshoff,

1997).

Todos os shoppings afirmaram ter e descreveram seus procedimentos para

atendimento das reclamações dos consumidores. No entanto, apenas no

Shopping Center B, estes procedimentos são divulgados para os consumidores

no momento da reclamação, o que é um dos fatores apontado por Johnston

(2001) e Boshoff (1997) para o sucesso do tratamento da reclamação. Nos

Shopping Centers A e C, os processos descritos pela alta administração dos

shoppings divergiam da descrição feita pelos responsáveis pelo atendimento

dos consumidores, o que pode ser um indício de falta de conhecimento da alta

gerência com o processo de tratamento das reclamações.

Page 106: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

95

Os responsáveis pelo atendimento das reclamações dos consumidores

afirmaram que, em situações especiais, os procedimentos podem ser alterados

para uma melhor solução do problema, o que indica que apesar de existirem

procedimentos determinados, há flexibilidade de adaptação para casos

especiais.

Tempo de resposta

O tempo de resolução de uma reclamação parece ser fundamental para a

satisfação do consumidor. Quanto menor o tempo de resposta, maiores as

chances de recuperação do serviço (Figueiredo, 1999; Johnston, 2001). O

consumidor espera, ao fazer uma reclamação, ser prontamente atendido. Caso

esta expectativa seja desconfirmada, o nível de insatisfação pode se tornar

ainda maior (Tax, Brown e Chandrashekaran, 1998).

Os shopping centers analisados neste estudo não registram o tempo

despendido para tratar uma reclamação, o que indica uma falta de

preocupação com este fator. Outro indicativo desta afirmação é o fato de que

os shoppings fazem uma avaliação prévia sobre a responsabilidade do

problema, o que aumenta bastante o tempo de resposta para o consumidor.

Informação ao Consumidor

Vários autores (Tax, Brown e Chandrashekaran, 1998; Johnston, 2001;

Boshoff, 1997) relacionaram o sucesso do processo de reclamação com a

Page 107: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

96

necessidade de manter o consumidor informado sobre cada etapa do

tratamento. Esta transparência aumenta a percepção de justiça e

confiabilidade, envolvendo o consumidor no processo.

No entanto, a prática comum entre os shopping centers analisados é informar

apenas o resultado final do processo de análise da reclamação, o que, muitas

vezes, pode aumentar a insatisfação do consumidor. Mesmo quando existe

vontade de resolver o problema e recuperar o serviço, o não envolvimento do

consumidor não permite que o shopping compreenda melhor as suas

expectativas. Quando o consumidor é informado sobre as etapas e

procedimentos adotados durante o processo de tratamento da reclamação, ele

pode informar o que está de acordo e o que é contrário a suas expectativas,

permitindo que o shopping altere os procedimentos e recupere efetivamente o

serviço, o que parece não acontecer de acordo com a declaração abaixo:

“Nós fazemos tudo para resolver o problema do cliente, mas

várias vezes (não é uma, nem duas) ele não se satisfaz e fica

mais irritado”. – Administradora do Shopping Center C

Treinamento dos Funcionários

Muitos autores de serviços expuseram, através de pesquisas e estudos

empíricos, a necessidade de treinar e prover os funcionários que mantém

contato com os clientes de autonomia (“empowerment”) para resolver eventuais

problemas. Entendendo o recebimento e tratamento das reclamações dos

Page 108: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

97

consumidores como um serviço, alguns autores (Boshoff, 1997; Johnston,

2001) ampliaram este conceito para a teoria de recuperação de falhas.

Apesar de o modelo conceitual destacar a importância deste fator para o

correto tratamento das reclamações dos consumidores, os funcionários dos

shopping centers recebem muito pouco treinamento e têm, em geral, pouca

autonomia para resolver os problemas dos consumidores, devendo apenas

encaminhá-los à gerência responsável.

Os Shopping Centers B, C e D iniciaram recentemente programas periódicos

de treinamento para funcionários do shopping e lojistas com o intuito de

melhorar a qualidade do atendimento e conscientizá-los da importância do

consumidor. Essa preocupação, no entanto, parece ter o foco em melhorar o

atendimento com o objetivo de alavancar as vendas e não com o objetivo de

melhorar o atendimento das reclamações ou construir um relacionamento com

o cliente.

5.7 Resultados esperados

Os shopping centers analisados sugerem duas categorias de reclamações,

segundo a fonte geradora do problema:

• Atendimento nas lojas;

• Problemas operacionais no mall.

Page 109: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

98

O gerenciamento destas categorias de reclamações, em geral, é feito de forma

distinta, uma vez que os shopping centers analisados têm visões diferentes

sobre a gerência de cada um desses tipos de reclamação.

As reclamações realizadas por problemas de atendimento nas lojas são, em

geral, causadas por problemas no tratamento interpessoal com vendedores ou

dificuldades na troca de produtos. As reclamações resultantes de problemas

nas lojas representam, para os Shopping Centers A, B e C, a maioria das

reclamações que chegam até a administração destes shopping centers. Já a

responsável pelo SAC do Shopping Center D afirmou que este tipo de

reclamação é minoria dentre as registradas pelo shopping.

O Shopping Center A declara que não trata as reclamações motivadas por

problemas com as lojas como sendo de responsabilidade do shopping. A

administração deste shopping center entende que, por não terem ingerência

sobre a administração das lojas, não tem como interferir no processo,

limitando-se a comunicar a reclamação para a gerência da loja. Este

procedimento é retratado pelo discurso do Superintendente do Shopping

Center A:

“O consumidor reclama com o shopping porque desconhece os

procedimentos e operações...Eu não posso interferir nos

procedimentos da administração das lojas do mesmo modo que

Page 110: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

99

as lojas não podem interferir na administração do shopping”. –

Superintendente do Shopping Center A

Este depoimento sugere a existência de problemas no relacionamento entre a

administração do shopping e os lojistas. Parece razoável imaginar que a

relação entre ambos os lados deva ser de parceria e não estritamente

comercial, uma vez que os objetivos são comuns.

Já os Shopping Centers B, C e D, apesar de não interferirem nos

procedimentos administrativos das lojas, procuram meios para diminuir a

insatisfação dos consumidores. Na visão do Coordenador do SAC do Shopping

Center B, quando o consumidor reclama no SAC do shopping, o problema

deixa de ser somente da loja:

“Quando o consumidor reclama de uma loja X, não é da loja X

que tem dezenas de unidades espalhados pela cidade, mas a

loja X DO SHOPPING CENTER B” – Coordenador do SAC do

Shopping Center B

A Coordenadora de Atendimento do Shopping Center C reconhece que o

consumidor, independente do resultado de sua reclamação, fica satisfeito com

a atenção recebida:

Page 111: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

100

“Os consumidores ficam felizes só em receber um retorno. Eles

falam: ‘Muito obrigado por você ter se preocupado com o meu

problema’” – Coordenadora de Atendimento do Shopping Center

C.

Esta declaração sugere a importância do processo de resolução da reclamação

e do tratamento dispensado ao consumidor. Os Shopping Centers B, C e D,

não podendo interferir no resultado final do processo de reclamação (justiça

distributiva), procuram minimizar outras fontes de insatisfação no processo de

reclamação e no tratamento dispensado ao consumidor (justiças de

procedimento e interacional). Segundo Tax, Brown e Chandrashekaran (1998),

em muitas casos, é mais importante o processo e o tratamento dispensado ao

consumidor do que a resolução do problema em si.

As reclamações realizadas pelos consumidores por problemas no mall são, em

geral, de origem operacional e estão relacionadas com o conforto do

consumidor. As reclamações mais recorrentes são em relação a problemas

com o ar-condicionado, banheiros sujos ou problemas de segurança. O

consumidor quer um pedido de desculpas e a promessa de que o problema

será solucionado. Este tipo de participação do consumidor na prestação do

serviço é de grande importância para que o shopping consiga aprimorar seus

serviços (Schneider e Bowen, 1995).

Page 112: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

101

Os shopping centers, em geral, estão preparados para tratar a insatisfação do

consumidor no que se refere aos aspectos da justiça interacional, tratando o

consumidor de forma polida e educada. No entanto, nas justiças distributiva e

de procedimento, a atitude parece mais defensiva e reativa, buscando se

precaver contra possíveis fraudes. Esta filosofia fica clara no discurso do

Superintendente do Shopping Center B:

“Se não adotarmos estes procedimentos, vai ter gente vindo

aqui sem o rádio no carro e falando que foi roubado no

estacionamento só para ganhar um rádio...temos que tratar com

educação, mas não podemos deixar de avaliar cada caso”. –

Superintendente do Shopping Center B

Quando o resultado do tratamento da reclamação não é o esperado pelo

consumidor, principalmente quando envolve pedido de ressarcimento, o

descontentamento é muito grande e muitas vezes ocorrem ações judiciais

contra a administração dos shoppings. Os Shopping Centers A., B e D

relataram problemas judiciais ocasionados por insatisfação do consumidor com

o resultado final da reclamação.

“Nosso jurídico tem tido algum trabalho por conta de

reclamações...o consumidor não quer saber: ou tem o problema

resolvido da sua maneira ou vai para a justiça”. –

Superintendente do Shopping Center B

Page 113: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

102

5.8 Analisar as reclamações de forma agregada

Para Schibrowsky e Lapidus (1994), tão importante quanto o tratamento

individual das reclamações é a análise agregada destas reclamações. Esta

análise agregada serve para identificar eventuais problemas e formular

estratégias gerenciais que tenham como objetivo evitar que novas reclamações

sejam feitas no futuro.

O primeiro passo para o tratamento agregado das reclamações é possuir um

sistema de registro e armazenamento das informações. Este registro é, em

geral, feito por todos os shopping centers. No entanto, o nível de utilização

destas informações difere bastante entre os shoppings. O pior caso é o do

Shopping Center A, que não utiliza sua base de dados para identificar

possíveis problemas operacionais e/ou melhorias. Segundo o Supervisor de

Varejo e Marketing, a identificação de possíveis melhorias operacionais

acontece durante o próprio processo de tratamento individual.

“Quando um formulário de reclamação chega para análise, eu

procuro verificar se podemos evitar que ela (a reclamação)

aconteça novamente. Uma vez tivemos uma reclamação sobre

a porta do banheiro feminino e verificamos que, realmente, a

posição do gancho de pendurar as bolsas facilitava o

roubo...mudamos a posição dos ganchos e nunca mais

Page 114: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

103

recebemos uma reclamação de furto no banheiro feminino”. –

Supervisor de Varejo e Marketing do Shopping Center A

O Shopping Center B possui um sistema informatizado para registrar as

informações. Este sistema permite que diversos relatórios sejam elaborados

pelo Coordenador do SAC e pelo Gerente de Marketing do shopping.

Mensalmente, relatórios sobre tipos de reclamação são gerados e analisados.

No entanto, o Coordenador do SAC teve dificuldades para exemplificar que tipo

de ações são tomadas com base nestes relatórios. Os relatórios parecem servir

como um controle da alta gerência do shopping sobre o número de

reclamações.

“Todo mês eu tiro um relatório para apresentar na

Superintendência...com ele (o relatório) podemos acompanhar o

número de reclamações contra o shopping e contra as lojas”. –

Coordenador do SAC do Shopping Center B

No Shopping Center C, as reclamações são registradas em uma planilha

eletrônica do Microsoft Excel©, que é utilizada para fazer análises e relatórios.

Apesar de não ter um sistema informatizado próprio, a Coordenadora de

Atendimento do shopping afirma que este procedimento é suficiente para o

acompanhamento das reclamações. Ainda segundo ela, foi possível, através

destes relatórios, constatar que o perfil das reclamações tem mudado com o

tempo. Inicialmente, a maioria das reclamações eram originadas por problemas

Page 115: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

104

operacionais no mall, porém com os investimentos feitos em infra-estrutura e

capacitação dos funcionários, a maioria das reclamações passou a ser

provocada por problemas nas lojas.

“Constatamos recentemente que nossos investimentos e

esforços têm dado resultado...agora, vamos procurar fazer

palestras para os funcionários das lojas”. – Coordenadora de

Atendimento do Shopping Center C

A Coordenadora do SAC do Shopping Center D utiliza um sistema

informatizado para registrar, encaminhar e analisar as reclamações. Este

sistema permite algumas análises sofisticadas para identificar problemas ou

preferências de algum tipo específico de consumidor, cruzando dados pessoais

com tipos de reclamação. Também são feitas análises mais simples como, por

exemplo, a identificação de problemas recorrentes.

“Posso, por exemplo, quando do lançamento de uma nova loja,

identificar quais os consumidores que reclamaram por o

shopping não ter este tipo de loja e convidá-los a visitar a nova

loja, sem ter que pagar estacionamento”. – Coordenadora do

SAC do Shopping Center D

Os shopping centers analisados apresentam níveis diferentes de sofisticação

na análise agregada das reclamações, porém esta diferença não parece ser

Page 116: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

105

resultado do porte do empreendimento ou tipo de consumidor. As indicações

parecem levar a crer que a diferença está na forma como os shoppings

encaram as reclamações dos consumidores.

Mesmo com níveis diferentes de atuação, os exemplos de melhoria citados

pelos administradores dos shoppings reforçam as colocações de Schibrowsky

e Lapidus (1994) sobre a importância de se analisar sistematicamente as

reclamações dos consumidores de forma agregada.

Page 117: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

106

Capítulo VI – Considerações Finais e Sugestões para

Pesquisas Futuras

Nas considerações finais deste trabalho, buscar-se-á discutir algumas das

perguntas da pesquisa, propostas no capítulo referente à metodologia (página

51).

Como é visto pelo Shopping Center a construção do relacionamento com

o cliente?

As entrevistas realizadas sugerem que as administrações dos shopping centers

reconhecem a importância de reter e atrair clientes para o mall. No entanto, a

forma de fazer isso ainda é baseada predominantemente na propaganda de

massa, através dos meios de comunicação de maior audiência como jornais,

revistas, outdoors, rádio e televisão. Programas de relacionamento e

divulgação individualizada só são realizados por um dos shoppings analisados.

Mesmo assim, este relacionamento se baseia em uma mala direta única, isto é,

o conteúdo da comunicação não é personalizado.

Como o Shopping Center “enxerga” as reclamações dos consumidores

no processo de relacionamento com o cliente?

Outra importante constatação foi que, mesmo para administradores com

grande experiência na área de marketing, as reclamações tendem a ser vistas

como algo negativo. Este paradigma gerencial parece ser de difícil

desmistificação. Apesar de inúmeros estudos empíricos (Chauvel, 2000;

Lovelock e Wright, 2002) sobre a importância de incentivar a

Page 118: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

107

reclamação/sugestão do consumidor. Essa prática parece não fazer eco na

percepção dos administradores dos shoppings. Alguns casos práticos poderiam

ser citados para exemplificar os benefícios de utilizar o consumidor como

conselheiro/consultor da empresa, como o mencionado Stew Leonard’s (página

26). Esta percepção não parece, no entanto, ser a dos shopping centers

entrevistados neste estudo. Em São Paulo, um shopping contratou uma

senhora aposentada, conhecida por passar suas manhãs no shopping e fazer

diversas reclamações sobre problemas operacionais, para ser uma espécie de

consultora, antecipando as reclamações dos consumidores e melhorando o

nível de serviço.

Por quais meios os consumidores podem reclamar?

As informações levantadas por essa pesquisa sugerem que mais importante do

que o número de meios disponibilizados para o consumidor reclamar, é a

facilidade com que estes meios são acessados pelo consumidor. Em geral, os

shopping centers entrevistados disponibilizam e-mail, balcão de atendimento,

FAX e telefone. No entanto, caso estes meios representem um impecílio ou

barreira para a reclamação, como no caso do Shopping Center A, o

consumidor poderá ficar ainda mais insatisfeito. As empresas devem, pois,

compreender que cada canal de comunicação disponibilizado deve facilitar o

processo de reclamação para o consumidor e não criar algum tipo de situação

que iniba a reclamação ou sugestão.

Page 119: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

108

Como os consumidores são informados sobre os procedimentos para

realizar uma reclamação?

Os administradores dos shopping centers entrevistados parecem entender as

reclamações como indicadores negativos do serviço, ou seja, não

compreendem a necessidade de orientar o consumidor sobre os procedimentos

para a realização da reclamação. A reclamação, deste modo, não é vista como

uma participação voluntária do consumidor no serviço, permitindo o

aprimoramento do mesmo.

Existe um departamento específico responsável pelo tratamento das

reclamações?

Todos os casos analisados possuem um departamento que lida com as

reclamações dos consumidores. No que se refere à estruturação de um

departamento específico para recebimento e tratamento das reclamações, no

entanto, existe um indicativo, dado pelas entrevistas e observações, de que o

principal diferencial de se ter um SAC estruturado está na facilitação do

processo de reclamação para o consumidor, que se sente mais confortável

para reclamar em um local específico para isso, e no aprendizado

proporcionado com as reclamações, que se mostrou maior nos shopping

centers que possuem SAC estruturado.

Como é a equipe que trabalha no atendimento ao consumidor?

Alguns exemplos deste estudo indicam que um dos principais problemas no

tratamento das reclamações dos consumidores pode estar na falta de

Page 120: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

109

autonomia que funcionários, mesmo os de alta administração, têm para

liberarem recursos para a recuperação do serviço e ressarcimento do

consumidor. Esses funcionários, em geral, estão subordinados aos acionistas

do empreendimento, que utilizam indicadores de redução de custo, e não nível

de serviço, para avaliar o desempenho da administração do shopping.

Verificou-se que, como em muitas empresas, os indicadores de redução de

custos são mais utilizados do que os indicadores de nível de serviço, o que

pode estar levando a uma dificuldade de construção de relacionamento com os

consumidores.

O que o consumidor espera quando ele decide fazer uma reclamação?

O conceito de atender bem ao consumidor que reclama é, em geral,

interpretado de maneira simplista como sendo tratá-lo com educação e

cortesia. Desta forma, as entrevistas sugerem que os shopping centers se

preparam para satisfazer o consumidor no que se refere à justiça interacional,

porém os aspectos de justiça de procedimento e distributiva não recebem a

mesma atenção. Com relação a casos de ressarcimento (justiça distributiva),

os shoppings adotam uma postura defensiva e reativa, tratando os

consumidores com desconfiança, o que não é uma boa abordagem.

As reclamações são armazenadas e analisadas por algum sistema?

Os shopping centers analisados neste estudo encontram-se em níveis

diferentes em relação ao armazenamento e utilização das informações geradas

com as reclamações. Além da importância da análise agregada das

Page 121: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

110

informações, outra constatação foi a necessidade de se registrar estas

informações, o que possibilita um acompanhamento no tempo do tipo e

freqüência das reclamações, mesmo que o funcionário responsável saia da

empresa.

Respondendo, pois, a pergunta desta pesquisa (“Como os shopping centers

lidam com as reclamações dos consumidores? “), pode-se dizer que os

shopping centers possuem níveis diferentes de atendimento das reclamações,

o que retrata as diferentes percepções das administrações quanto a este

problema. Nenhum dos shoppings analisados, no entanto, está totalmente

adequado ao modelo conceitual proposto no referencial teórico. Os Shopping

Centers B e D são os que possuem melhor estrutura de atendimento para seus

consumidores. O Shopping Center A, que recebe o dobro de consumidores/dia

do Shopping Center B e tem um público predominantemente da classe A,

possui o atendimento menos estruturado dentre os shoppings analisados. Com

isso, não se pode inferir sobre qualquer tipo de relação entre o porte do

shopping, o perfil do consumidor e a estrutura de atendimento existente.

Talvez a mais interessante constatação deste trabalho não esteja nas análises

e comparação das práticas dos shopping centers com o modelo conceitual,

mas na dicotomia constatada entre o discurso dos administradores dos

shoppings e os procedimentos adotados para o recebimento e tratamento das

reclamações dos consumidores.

Page 122: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

111

O discurso dos administradores entrevistados, principalmente da alta gerência,

está coerente com o modelo conceitual apresentado e, de modo mais

abrangente, com modernos conceitos da área de marketing de serviços. Já os

procedimentos adotados e a estrutura montada para receber e tratar as

reclamações dos consumidores, muitas vezes, são incoerentes com o modelo

conceitual proposto. Isto sugere que os conceitos são conhecidos, mas colocá-

los em prática parece exigir um esforço maior por parte dos profissionais da

área.

Durante a realização deste trabalho surgiu uma série de questões

interessantes que podem vir a ser estudadas. Isto viria a enriquecer o

conhecimento sobre os procedimentos de tratamento de reclamações e

recuperação de serviços. Para pesquisas futuras, sugere-se:

• uma investigação sobre a complexa relação entre os lojistas e as

administradoras de shopping centers, analisando como são tratadas as

reclamações dos lojistas para o shopping;

• replicar o estudo, verificando como é o tratamento das reclamações

realizado pelas lojas;

• avaliar como os lojistas percebem os SAC dos shopping centers;

• comparar a óptica dos consumidores que já utilizaram o Sac com a

daqueles que não utilizaram (como percebem, o que sabem);

• este estudo, por ser exploratório, permite a estruturação de

questionários que comprovem ou não as hipóteses levantadas,

permitindo trabalhar com amostras maiores e generalizar as conclusões;

e

Page 123: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

112

• replicar o modelo em outros setores prestadores de serviço, tais como

hospitais e hotéis.

Page 124: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

113

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Aksin, O.Z.; Harker, P.T. To sell or not to sell: determining trade-offs between

services and sales in retail banking phone centers, Journal of Service

Research, v.2, n.1, p.19-33, 1999.

Alderson, W. Marketing behavior and executive action: a functionalist

approach to marketing theory, Homewood, Illinois: Irwin, 1957.

Araújo, P. F. Relacionamento com clientes: um estudo em shopping centers

do Rio de Janeiro. 1999. 164p. Dissertação (Mestrado em Administração) –

Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

Associação Brasileira de shopping Centers. V Censo Brasileiro de Shopping

Centers. São Paulo: ABRASCE, 2002.

. Estatísticas do setor. ABRASCE,

São Paulo, 20 dez. 2002. Disponível em http://www.abrasce.org.br . Acesso

em: 20 dez. 2002.

Austin, W.G. Justice, freedom and self-interest in intergroup relations. In: The

Social Psychology of Intergroup Relations, Willian G. Austin and S. Worchel,

eds. Belmont, CA: Brooks/Cole, p.20-37, 1979.

Berry, Leonard L.; Parasuraman, A. Marketing services: competing through

quality, New York: The Free Press, 1991.

Bettencourt, Lance A. Customer voluntary performance: customers as partner

in service delivery. Journal of Retailing, v.73, n.3, p.383-406, 1997.

Page 125: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

114

Bies, R.J.; Debra L. Shapiro. Interactional fairness judgments: the influence of

causal accounts. Social Justice Research, 1, p.199-218, 1987.

; Joseph S. Moag. Interactional justice: communication criteria of

fairness. In: Research on Negotiation in Organizations, v.1, CT: JAI Press,

p.43-55, 1986.

Bitner, Mary Jo; Bernard H. Booms; Mary Stanfield Tetreault. The Service

encounter: diagnosing favorable and unfavorable incidents, Journal of

Marketing, v.54, p.71-84, 1990.

Blodgett, J.G.; Hill, D.J.; Tax, S.S. The Effects of Distributive, Procedural, and

Interactional Justice on Postcomplaint Behavior. Journal of Retailing, v.73(2),

p.185-210, 1997.

Booms, B.H.; Bitner, M.J. Marketing Strategies and Organizational Structure for

Service Firms Em Donnelly, J.H. e George, W.R., orgs., Marketing of

Services. Chicago, I11.: American Marketing Association, 1982.

Boshoff, C.R. An experimental study of service recovery options. International

Journal of Service Industry Management, v.8, n.2, p.110-130, 1997.

Boshoff, C. e Staude, G. Satisfaction with Service Recovery: Its Measurement

and Its Outcomes, Journal of Business Management, V.34(3), p. 9-17, June,

2003.

Bulger, D. The evolution of relationship marketing: reaching an audience of one.

Direct Marketing, p.54-59, 1999.

Buttle, F. e Burton, J. Does Service Failure Influence Customer Loyalty?,

Journal of Consumer Behaviour, V.1(3), p. 217-227, July, 2001.

Page 126: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

115

Colgate, M.; Norris, M. Developing a Comprehensive Picture of Service Failure,

International Journal of Service Industry Management, V.12 (3/4), p. 215-

234, January, 2001.

Colgate, M.; Stewart, K. The challenge of relationship in services – a New

Zealand study. International Journal of Service Industry Management, v.9,

n.5, p.454-468, 1997.

Chauvel, M. A. Consumidores Insatisfeitos: uma oportunidade para as

empresas. Rio de Janeiro: MAUAD, 2000, 215p.

Clemmer, E.C.; Schneider, B. Managing customer dissatisfaction with waiting:

applying social-psychological theory in a service setting. In: Advances in

Services Marketing and Management, v.2, Teresa A. Swartz, David E. Bowen

e Stephen W. Brown, eds. Greenwich, CT: JAI Press, p.213-29, 1993.

Cohen, D. Reactions are mixed to nontraditional punishments for marketing

infractions. Marketing News, 18 (5), p.18, 1984.

Cowell, D. The Marketing of Services, London: Heinemann, 1986, 340p.

Creswell, J. W. Quantitative inquiry and research design: choosing among

five traditions. Thousand Oaks: Sage, 1998.

Day, J. et al. Relationship marketing: its key role in entrepreneurship, Long

Range Planning, Oxford, v.31, n.6, p.828-837, 1998.

Deutsch, M. Distributive justice: a social-psychological perspective. CT:

Yale University Press, 1985.

Engel, J.; Kegerreis, R.; Blackwell, R. Word-of-mouth communication by the

innovator. Journal of Marketing, v.33, p.15-19, 1969.

Page 127: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

116

Figueiredo, K. A Recuperação do Serviço Logístico: Como as empresas devem

agir quando cometem erros e como podem modificar o comportamento de

clientes insatisfeitos de modo a conseguir mantê-los. Revista Tecnologística,

Ano IV, n. 42, maio, p.16-23, 1999.

Gil, A. C. Como elaborar projetos de pesquisas. São Paulo: Editora Atlas,

1988. cap.4, p.45-62.

Goodwin, C.; Ross, I. Consumer evaluations of responses to complaints: what´s

fair and why. Journal of Services Marketing, v.4, summer, p.53-61, 1990.

Gordon, Ian Marketing de Relacionamento: estratégias, técnicas e

tecnologias para conquistar clientes e mantê-los para sempre, São Paulo:

Futura, 1998, 349p.

Gordon, M.E.; McKeage, K.; Fox, M.A. Relationship marketing: the role of

involviment, Psychology & Marketing, v.15, p.443-459, August, 1998.

Greenberg, Jerald. Looking Fair versus Being Fair: managing impressions of

organizational justice. In: Researche in Organizational Behavior, v.12, CT:

JAI Press, 111-57, 1990.

Grönroos, C. Services management and marketing, Massachusetts:

Lexington Books, 1990, 298p.

The marketing continuum: towards a marketing concept for the

1990s, Management Decision, West Yorkshire, v.29, n.1, p.7-13, 1991.

From marketing mix to relationship marketing: toward a paradigm

shift in marketing, Management Decision, West Yorkshire, v.32, n.2, p.4-20,

1994.

Page 128: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

117

Marketing: gerenciamento e serviços, Rio de Janeiro: Campus,

1995, 380p.

Relationship Marketing: strategic and tactical implications,

Management Decision, West Yorkshire, v.34, n.3, p.5-14, 1996.

Gummesson, E. The new marketing – developing long-term interactive

relationships, Long Range Planning Oxford, v.20, n.4, p.10-20, 1987.

Service management: an evaluation and the future,

International Journal of Service Industry Management, Bradford, v.5, n.1,

p.77-96, 1994.

Harker, M.J. Relationship marketing defined? An examination of current

relationship marketing definitions, Marketing Intelligence & Planning,

Nottingham, p.13-20, January, 1999.

Hart, Christopher W.L., Heskett, James L. e Sasser, W. E. The Profitable Art of

Service Recovery, Harvard Business Review, V.68 (4), p. 148-156, Jul/Aug,

1990.

Harvey, M.G.; Lusch, R.F.; Cavarkapa, B. A Marketing Mix for the 21st Century,

Journal of Marketing Theory and Practice, Fall, 1996.

Johnston, R. Linking complaint management to profit, International Journal of

Service Industry Management, v.12, n.1, p.60-69, 2001.

Judd, V.C. Differentiate with the 5th P: People, Industrial Marketing

Management, novembro, 1987.

Kelley, Scott W.; K. Douglas Hoffman; Mark A. Davis A typology of retails

failures and recoveries. Journal of Retailing, 69 (4), 429-52, 1993.

Page 129: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

118

Kotler, P. Magamarketing, Harvard Business Review, mar/apr, 1986.

Administração de Marketing: análise, planejamento,

implementação e controle. São Paulo: Atlas, 1994, 676p.

Lancioni, D. The reporting relationship of customer service: where does it

belong in na industrial company?. Industrial Marketing Management, New

York, v.24, p.19-26, 1995.

Leonard, Stew Jr. Leaders Listen!. P.195-204 in The Service Quality

Handbook, edited by Eberhard E. Scheuing e William F. Christopher. New

York: American Management Association, 1993.

Lind, E.A.; Tom R. Tyler The social psychology of procedural justice, New

York: Plenum Press, 1988.

Lovelock, C.H.; Wright, L. Serviços: Marketing e Gestão, São Paulo: Saraiva,

2002, 416p.

McColl-Kennedy, J.R. e Sparks, B.A. Application of Fairness Theory to Service

Failures and Service Recovery, Journal of Service Research, V.5 (3), p. 251-

266, February, 2003.

Mitchell, V. W. Handling consumer complaint information: why and how?.

Management Decision, West Yorkshire, v.31, n.3, p.21-28, 1993.

Möller, K.; Halinen, A. Relationship Marketing Theory: Its Roots and Direction.

Journal of Marketing Management, 16, p.29-54, 2000.

Munger, S. Leveraging new technology to build brand loyalty, Direct

Marketing, v.59, no 8, p.58-60, December, 1996.

Page 130: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

119

Oliver, R.L. Satisfaction: a Behavioral Perspective on the Consumer,

McGraw-Hill, 1997.

Parasuraman, A.; Valarie A. Zeithaml; Leonard L. Berry. A conceptual model of

service quality and its implications for future research. Journal of Marketing,

vol 49, p41-50, outono 1985.

Peppers, D. e Rogers, M. Marketing um a um: marketing individualizado na

era do cliente, Rio de Janeiro: Campus, 1994, 394p.

Piercy, N. Marketing Organization. An Analysis of Information Processing,

Power and Politics, George Allen & Unwin, London, 1985.

Prahabkar, P.R.; Sheehan, M.J.; Coppett, J.I. The power of technology in

business selling: call centers. Journal of Business and Industrial Marketing,

v.12, p.222-35, 1997.

Priluck, R. Relationship Marketing can Mitigate Product and Service Failures,

The Journal of Services Marketing, V.17(1), p. 37-50, 2003.

Ranaweera, C. e Prabhu, J. On the Relative Importance of Customer

Satisfaction and Trust as Determinants of Customer Retention and Positive

Word of Mouth, Journal of Targeting, Measurement and Analysis for

Marketing, V.12(1), p. 82-91, Setembro, 2003.

Ravald, A. e Grönroos, C. The value concept and relationship marketing,

European Journal of Marketing, v.30, n.2, pp.19-30, 1996.

Reichheld, F.F. e Sasser, W.E. Zero defections: quality comes to services,

Harvard Business Review, Boston, v.68, n.5, p.105-111, sep./oct., 1990.

Page 131: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

120

Rique, N.V. Shopping Centers no Brasil. In: . Shopping center e

desenvolvimento econômico e social. Brasil: Associação Brasileira de

Shopping centers, 1992. Cap.1, p.4-6.

Schibrowsky, J. A.; Lapidus, R. S. Gaining a competitive advantage by

analyzing aggregate complaints. Journal of Consumer Marketing, v.11, n.1,

p.15-26, 1994.

Schneider, Benjamin and David E. Bowen. Winning the Service Game.

Boston, MA: Harvard Business School Press, 1995.

Sekaran, U. Research Methods for Business. New York: J. Wiley, 1992.

cap.4, p.92-113.

Singh, J. Consumer complaint intentions and behavior: definitional and

taxonomical issues. Journal of Marketing, 52 (janeiro), p.93-107, 1988.

Smith, A.K.; Bolton, R.N. An experimental investigation of customer reaction to

services failure and recovery encounters. Journal of Service Research, 1

(agosto), p.65-81, 1998.

Smith, A.K.; Bolton, R.N. e Wagner, J. A Model of Customer Satisfaction with

Service Encounters Involving Failure and Recovery, Journal of Marketing

Research, V.36(3), p. 356-372, August, 1999.

Page 132: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

121

Stake, R. The art of case study research. Thousand Oaks: Sage, 1995.

Stone, M.; Woodcock, N. Marketing de relacionamento. São Paulo: Littera

Mundi, 1998.

Tax, Stephen S.; Stephen W. Brown; Murali Chandrashekaran. Customer

evaluations of service complaint experiences: implications for relationship

marketing. Journal of Marketing, v.62, p.60-76, April, 1998.

Taylor, S. Waiting for service: the relationship between delays and evaluations

of service. Journal of Marketing, 58 (Abril), p.56-69, 1994.

Tull, D.S. Marketing research meaning, measurement and method: a text

with cases. New York: MacMillan, 1976. 736p.

Van Waterschhot, W. e Van De Bulte, C. The 4 P classification of marketing mix

revisited, Journal of Marketing, Chicago, v.56, p.89-93, oct., 1992.

Vergara, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São

Paulo: Editora Atlas, 1997. 90p.

Verma, H.V. Service Failure and Recovery in Select Industries, Journal of

Management Research, v.1(2), p. 69-78, Jan/Apr 2001.

Page 133: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

122

Widmier, S. e Jackson, D.W. Examining the Effects of Service Failure,

Customer Compensation, and Fault on Customer Satisfaction with Salespeople,

Journal of Marketing: Theory and Practice, p. 63-74, Winter, 2002.

Wolstenholme, S.M. The Consultant Customer-A New Use for the Customer in

Service Operations. Pp. 195-203 in The Management of Service Operations:

Proceedings of the Operations Management Association, edited by Robert

Johnston. Berlin: IFS Publications, 1988.

Yin, C.K.; Gu, F.F.; Chan, K.W. e Tse, D.K. Justice-Based Service Recovery

Expectations: Measurement and Antecedents, Journal of Customer

Satisfaction, Dissatisfaction and Complaining Behavior, V.16, p. 36-52,

2003.

Yin, R. K. Applications of case study research. Newbury Park: Sage, 1994.

p.1-17.

Zülzke, M. L. Abrindo a empresa para o consumidor: a importância de um

canal de atendimento. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 1991. 156p.

Page 134: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

123

ANEXO I

Roteiro de Entrevista

Parte I

Explicar para o entrevistado sobre o que trata este estudo e as motivações

para realizá-lo.

Parte II

Solicitar as informações descritivas do shopping center, tais como:

• Ano de fundação;

• Tipo de empreendimento;

• Áreas de influência;

• Perfil econômico dos consumidores;

• Número de lojas;

• Área total do shopping;

• Número de visitantes/dia.

Parte III

Perguntas abertas

1) Quem é o responsável por receber as reclamações dos

consumidores?

Page 135: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

124

2) Como é visto pela empresa a construção do relacionamento com

o cliente?

3) Você acompanha regularmente o atendimento das reclamações?

4) Quais são as ações no sentido de atrair o consumidor para o

shopping ?

5) Como a empresa "enxerga" as reclamações dos consumidores no

processo de relacionamento com o cliente?

6) Existem informativos sobre os direitos dos consumidores no

shopping ?

7) Que tipo de cliente reclama ?

8) Por quais meios os consumidores podem reclamar ?

9) Você acredita que poderia ser utilizado algum outro canal de

reclamação?

10) Quais os principais problemas que vocês verificam nos canais

existentes ?

Page 136: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

125

11) Os consumidores são informados sobre os procedimentos para

realizar uma reclamação? Como é feita esta informação ?

12) Como é feito o tratamento de uma reclamação, isto é, qual o

procedimento adotado quando o consumidor chega reclamando?

13) Existe um departamento específico responsável pelo tratamento

das reclamações?

14) Como você localiza este departamento na estrutura

organizacional da empresa? Como os problemas são resolvidos

dentro desta estrutura organizacional?

15) Em casos especiais, os procedimentos de atendimento podem

ser modificados?

16) Em geral, em quanto tempo as reclamações são solucionadas?

17) Existem procedimentos para o tratamento específico de cada

uma das principais reclamações ?

18) Os consumidores são informados sobre o andamento do

processo da reclamação ?

Page 137: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

126

19) Como é a equipe que trabalha no atendimento ao consumidor ?

Eles recebem que tipo de treinamento ?

20) O que você acha que o consumidor espera quando ele decide

fazer uma reclamação?

21) Quais os tipos de reclamações mais freqüentes ?

22) Ocorrem muitos pedidos de ressarcimento?

23) Os consumidores, em geral, sugerem alguma forma de resolver o

problema ou só reclamam?

24) Caso o consumidor não aceite a decisão do shopping, esta pode

ser alterada? O que é feito nestes casos?

25) A empresa procura explicar os motivos da falha para o

consumidor? De que forma é feito isto?

26) As reclamações são armazenadas e analisadas por algum

sistema? Elas têm mudado ao longo do tempo?

27) Que tipo de informações são armazenadas no sistema?

Page 138: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

127

28) Como são feitas as análises destas informações? Quem é o

responsável por esta análise?

29) Quais os sistemas utilizados para realizar estas análises?

30) Qual é, na sua opinião, a principal função do SAC? Você acha

que o SAC do shopping está cumprindo a sua função?

31) O que você mudaria no SAC? E o que não mudaria?

Page 139: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

128

ANEXO II

CRITÉRIO DE CLASSIFICAÇÃO ECONÔMICA BRASIL A adoção do mercado a um Critério de Classificação Econômica comum,

restabelece a unicidade dos mecanismos de avaliação do potencial de compra

dos consumidores, após alguns anos de existência de dois critérios.

O novo sistema, batizado de Critério de Classificação Econômica Brasil,

enfatiza sua função de estimar o poder de compra das pessoas e famílias

urbanas, abandonando a pretensão de classificar a população em termos de

“classes sociais”. A divisão de mercado definida pelas entidades é,

exclusivamente de classes econômicas.

SISTEMA DE PONTOS Posse de itens

TEM Não TEM 1 2 3 4 ou +

Televisão em cores 0 2 3 4 5 Rádio 0 1 2 3 4 Banheiro 0 2 3 4 4 Automóvel 0 2 4 5 5 Empregada mensalista 0 2 4 4 4 Aspirador de pó 0 1 1 1 1 Máquina de lavar 0 1 1 1 1 Videocassete e/ou DVD 0 2 2 2 2 Geladeira 0 2 2 2 2 Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex)

0 1 1 1 1

Grau de Instrução do chefe de família Analfabeto / Primário incompleto 0 Primário completo / Ginasial incompleto 1 Ginasial completo / Colegial incompleto 2 Colegial completo / Superior incompleto 3 Superior completo 5

Page 140: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

129

CORTES DO CRITÉRIO BRASIL

Classe PONTOS TOTAL BRASIL (%) A1 30-34 1 A2 25-29 5 B1 21-24 9 B2 17-20 14 C 11-16 36 D 6-10 31 E 0-5 4

PROCEDIMENTO NA COLETA DOS ITENS É importante e necessário que o critério seja aplicado de forma uniforme e

precisa. Para tanto, é fundamental atender integralmente as definições e

procedimentos citados a seguir.

Para aparelhos domésticos em geral devemos:

Considerar os seguintes casos

Bem alugado em caráter permanente

Bem emprestado de outro domicílio há mais de 6 meses

Bem quebrado há menos de 6 meses

Não considerar os seguintes casos

Bem emprestado para outro domicílio há mais de 6 meses

Bem quebrado há mais de 6 meses

Bem alugado em caráter eventual

Bem de propriedade de empregados ou pensionistas

Televisores

Page 141: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

130

Considerar apenas os televisores em cores. Televisores de uso de empregados

domésticos (declaração espontânea) só devem ser considerados caso

tenha(m) sido adquirido(s) pela família empregadora.

Rádio

Considerar qualquer tipo de rádio no domicílio, mesmo que esteja incorporado

a outro equipamento de som ou televisor. Rádios tipo walkman, conjunto 3 em

1 ou microsystems devem ser considerados, desde que possam sintonizar as

emissoras de rádio convencionais. Não pode ser considerado o rádio de

automóvel.

Banheiro

O que define o banheiro é a existência de vaso sanitário. Considerar todos os

banheiros e lavabos com vaso sanitário, incluindo os de empregada, os

localizados fora de casa e os da(s) suite(s). Para ser considerado, o banheiro

tem que ser privativo do domicílio. Banheiros coletivos (que servem a mais de

uma habitação) não devem ser considerados.

Automóvel

Não considerar táxis, vans ou pick-ups usados para fretes, ou qualquer veículo

usado para atividades profissionais. Veículos de uso misto (lazer e profissional)

não devem ser considerados.

Empregada doméstica

Page 142: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

131

Considerar apenas os empregados mensalistas, isto é, aqueles que trabalham

pelo menos 5 dias por semana, durmam ou não no emprego. Não esquecer de

incluir babás, motoristas, cozinheiras, copeiras, arrumadeiras, considerando

sempre os mensalistas.

Aspirador de Pó

Considerar mesmo que seja portátil e também máquina de limpar a vapor

(Vaporetto).

Máquina de Lavar

Perguntar sobre máquina de lavar roupa, mas quando mencionado

espontaneamente o tanquinho deve ser considerado.

Videocassete e/ou DVD

Verificar presença de qualquer tipo de vídeo cassete ou aparelho de DVD.

Geladeira e Freezer

No quadro de pontuação há duas linhas independentes para assinalar a posse

de geladeira e freezer respectivamente. A pontuação entretanto, não é

totalmente independente, pois uma geladeira duplex (de duas portas), vale

tantos pontos quanto uma geladeira simples (uma porta) mais um freezer.

As possibilidades são:

Page 143: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

132

Não possui geladeira nem freezer 0 ponto Possui geladeira simples (não duplex) e não possui freezer

2 pontos

Possui geladeira de duas portas e não possui freezer 3 pontos Possui geladeira de duas portas e freezer 3 pontos Possui freezer mas não geladeira (caso raro mas aceitável) 1 ponto

Observações Importantes

Este critério foi construído para definir grandes classes que atendam às

necessidades de segmentação (por poder aquisitivo) da grande maioria das

empresas. Não pode, entretanto, como qualquer outro critério, satisfazer todos

os usuários em todas as circunstâncias. Certamente há muitos casos em que o

universo a ser pesquisado é de pessoas, digamos, com renda pessoal mensal

acima de US$ 50.000. Em casos como esse, o pesquisador deve procurar

outros critérios de seleção que não o CCEB.

A outra observação é que o CCEB, como os seus antecessores, foi construído

com a utilização de técnicas estatísticas que, como se sabe, sempre se

baseiam em coletivos. Em uma determinada amostra, de determinado

tamanho, temos uma determinada probabilidade de classificação correta, (que,

esperamos, seja alta) e uma probabilidade de erro de classificação (que,

esperamos, seja baixa). O que esperamos é que os casos incorretamente

classificados sejam pouco numerosos, de modo a não distorcer

significativamente os resultados de nossa investigação.

Nenhum critério, entretanto, tem validade sob uma análise individual.

Afirmações freqüentes do tipo “... conheço um sujeito que é obviamente classe

Page 144: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

133

D, mas pelo critério é classe B...” não invalidam o critério que é feito para

funcionar estatisticamente. Servem, porém, para nos alertar, quando

trabalhamos na análise individual, ou quase individual, de comportamentos e

atitudes (entrevistas em profundidade e discussões em grupo

respectivamente). Numa discussão em grupo um único caso de má

classificação pode pôr a perder todo o grupo. No caso de entrevista em

profundidade os prejuízos são ainda mais óbvios. Além disso, numa pesquisa

qualitativa, raramente uma definição de classe exclusivamente econômica será

satisfatória.

Portanto, é de fundamental importância que todo o mercado tenha ciência de

que o CCEB, ou qualquer outro critério econômico, não é suficiente para uma

boa classificação em pesquisas qualitativas. Nesses casos deve-se obter além

do CCEB, o máximo de informações (possível, viável, razoável) sobre os

respondentes, incluindo então seus comportamentos de compra, preferências e

interesses, lazer e hobbies e até características de personalidade.

Uma comprovação adicional da conveniência do Critério de Classificação

Econômica Brasil é sua discriminação efetiva do poder de compra entre as

diversas regiões brasileiras, revelando importantes diferenças entre elas.

Distribuição da população por região metropolitanas

CLASSE TOTAL GDE FORT

GDE REC

GDE SALV

GDE BH

GDE RJ

GDE SP

GDE CUR

GDE POA

DF

A1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 3 A2 5 4 4 4 5 4 6 5 5 9

Page 145: LIDANDO COM AS RECLAMAÇÕES DOS CONSUMIDORES: … · das reclamações dos consumidores, assumindo, muitas vezes, uma postura defensiva. Outra constatação é de que o posicionamento

134

B1 9 5 5 6 8 9 10 10 7 9 B2 14 7 8 11 13 14 16 16 17 12 C 36 21 27 29 38 39 38 36 38 34 D 31 45 42 38 32 31 26 28 28 28 E 4 17 14 10 4 3 2 5 5 4 Renda familiar por classes

Classe Pontos Renda média familiar (R$)

A1 30 a 34 7.793 A2 25 a 29 4.648 B1 21 a 24 2.804 B2 17 a 20 1.669 C 11 a 16 927 D 6 a 10 424 E 0 a 5 207