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A Institucionalização da Pessoa Idosa __________________________________________________________________________________________ Universidade da Beira Interior 1 Introdução O envelhecimento foi desde sempre alvo da reflexão do Homem (Paúl, 2005). Numa retrospectiva histórica constata-se a referência a esta temática, por exemplo, já no Antigo Testamento (referência à longevidade humana). O mesmo tópico surge na reflexão de filósofos como Platão (427-347 A.C), que considera que se envelhece na continuidade da vida. O processo de envelhecimento é complexo e multidimensional, tendo sido objecto de estudo de diversas ciências (como a economia, direito, medicina, psicologia, sociologia, política) (Paúl, 2005). Cada ciência aborda o tema direccionando-o para a sua área de saber; contudo para fortalecer o conhecimento há que construir evidência e sistematizar as múltiplas abordagens. Essas abordagens transmitem e apresentam uma relação directa com a cultura e as relações sociais de cada época, reflectindo-se no conceito de envelhecimento e nas atitudes para com os idosos. Squire (2005) enfatiza que o decréscimo da população na Europa, incluindo Portugal, ocorre a par do envelhecimento populacional. Actualmente, um terço da população na Europa tem mais de 50 anos de idade. Contudo, a realidade portuguesa fica aquém da Europeia (DGS, 2004), apesar de manter a tendência dos restantes países. No nosso país, os últimos anos de vida são acompanhados por situações de fragilidade de incapacidade, usualmente relacionadas com situações passíveis de prevenção. De acordo, com o Observatório Português dos Sistemas de Saúde (2002, in Silva, 2007), o desenvolvimento da saúde em Portugal apresenta um atraso considerável face à restante Europa, nomeadamente, na incapacidade de resposta do sistema de saúde: penalização das áreas rurais e mais pobres quanto à necessidade acentuada de recursos humanos; inacessibilidade a cuidados de saúde primários e dificuldade em assegurar cuidados de saúde continuados e domiciliários. Para minimizar as necessidades a Direcção Geral de Saúde pretende estabelecer medidas preventivas que minimizem as situações que potenciem a incapacidade nos idosos. O aumento da população idosa não tem sido acompanhado pela valorização do papel da pessoa idosa na sociedade: os mais velhos não são reconhecidos como um recurso na estrutura social. As atitudes mais comuns face à velhice e aos idosos são negativas e, em parte, responsáveis por uma imagem de não contributo dos mais velhos (Berger, 1995). A preocupação com as repercussões do envelhecimento populacional em termos socioeconómicos e de saúde para a população mundial, levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a implementar políticas e programas de "envelhecimento activo" que procuram potenciar a qualidade de vida e a promoção da saúde da população idosa. Neste momento, o envelhecimento populacional é um dos maiores desafios políticos e económicos do futuro (Squire, 2005). O envelhecimento acarreta múltiplas alterações, em termos físicos, mentais, sociais e económicas, podendo ocorrer a perda de competências e o aparecimento de dependências. Ou seja, simultaneamente às alterações biológicas e psicológicas inerentes ao envelhecimento, existem transformações nos papéis sociais, exigindo capacidade de ajuste e adaptação às novas condições de vida (Figueiredo, 2007). Neste

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A Institucionalização da Pessoa Idosa __________________________________________________________________________________________

Universidade da Beira Interior 1

Introdução O envelhecimento foi desde sempre alvo da reflexão do Homem (Paúl, 2005). Numa retrospectiva histórica

constata-se a referência a esta temática, por exemplo, já no Antigo Testamento (referência à longevidade

humana). O mesmo tópico surge na reflexão de filósofos como Platão (427-347 A.C), que considera que se

envelhece na continuidade da vida.

O processo de envelhecimento é complexo e multidimensional, tendo sido objecto de estudo de diversas

ciências (como a economia, direito, medicina, psicologia, sociologia, política) (Paúl, 2005). Cada ciência

aborda o tema direccionando-o para a sua área de saber; contudo para fortalecer o conhecimento há que

construir evidência e sistematizar as múltiplas abordagens. Essas abordagens transmitem e apresentam

uma relação directa com a cultura e as relações sociais de cada época, reflectindo-se no conceito de

envelhecimento e nas atitudes para com os idosos.

Squire (2005) enfatiza que o decréscimo da população na Europa, incluindo Portugal, ocorre a par do

envelhecimento populacional. Actualmente, um terço da população na Europa tem mais de 50 anos de

idade. Contudo, a realidade portuguesa fica aquém da Europeia (DGS, 2004), apesar de manter a

tendência dos restantes países. No nosso país, os últimos anos de vida são acompanhados por situações de

fragilidade de incapacidade, usualmente relacionadas com situações passíveis de prevenção. De acordo,

com o Observatório Português dos Sistemas de Saúde (2002, in Silva, 2007), o desenvolvimento da saúde

em Portugal apresenta um atraso considerável face à restante Europa, nomeadamente, na incapacidade

de resposta do sistema de saúde: penalização das áreas rurais e mais pobres quanto à necessidade

acentuada de recursos humanos; inacessibilidade a cuidados de saúde primários e dificuldade em

assegurar cuidados de saúde continuados e domiciliários. Para minimizar as necessidades a Direcção Geral

de Saúde pretende estabelecer medidas preventivas que minimizem as situações que potenciem a

incapacidade nos idosos.

O aumento da população idosa não tem sido acompanhado pela valorização do papel da pessoa idosa na

sociedade: os mais velhos não são reconhecidos como um recurso na estrutura social. As atitudes mais

comuns face à velhice e aos idosos são negativas e, em parte, responsáveis por uma imagem de não

contributo dos mais velhos (Berger, 1995). A preocupação com as repercussões do envelhecimento

populacional em termos socioeconómicos e de saúde para a população mundial, levou a Organização

Mundial de Saúde (OMS) a implementar políticas e programas de "envelhecimento activo" que procuram

potenciar a qualidade de vida e a promoção da saúde da população idosa. Neste momento, o

envelhecimento populacional é um dos maiores desafios políticos e económicos do futuro (Squire, 2005).

O envelhecimento acarreta múltiplas alterações, em termos físicos, mentais, sociais e económicas,

podendo ocorrer a perda de competências e o aparecimento de dependências. Ou seja, simultaneamente

às alterações biológicas e psicológicas inerentes ao envelhecimento, existem transformações nos papéis

sociais, exigindo capacidade de ajuste e adaptação às novas condições de vida (Figueiredo, 2007). Neste

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contexto, emerge a necessidade de prestação de cuidados informais e/ou formais. A institucionalização da

pessoa idosa em cuidados de longa duração (lares) constitui uma opção residencial para pessoas que, por

diversos motivos, não encontram na comunidade uma resposta satisfatória às suas necessidades (Cardão,

2009).

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Parte I

Enquadramento Teórico

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Capítulo 1- Envelhecimento e dependência

A definição do início do processo de envelhecimento é em si mesmo paradigmática das dificuldades

enunciadas pois está longe de ser consensual entre os diversos autores. Assim, enquanto há especialistas

que defendem que o envelhecimento começa logo na fase de concepção (ou seja, envelhecer é começar a

viver, seguindo uma evolução geneticamente programada), outros autores sustentam que o processo de

envelhecimento começa entre a segunda e a terceira décadas de vida, e outros ainda defendem que o

envelhecimento ocorre nas fases mais avançadas da existência humana. De qualquer forma não parece

adequado considerar a condição de idoso de uma forma repentina aos 60 ou aos 65 anos, uma vez que o

processo de envelhecimento é um processo gradual, sendo que, de qualquer forma, a definição de uma

categoria específica que inclua as pessoas idosas, resulta sempre de uma construção abstracta e

normativa (Pimentel, 2001).

É absolutamente necessário, contudo, sublinhar que a idade cronológica só parcialmente dá conta do

processo de envelhecimento nas diferentes fases da vida, não se podendo, de forma isolada, a partir deste

critério, afirmar que uma determinada pessoa é jovem adulta ou idosa. O critério cronológico é, pois,

apenas um dos possíveis. Micael Pereira (2002) questiona mesmo se ser idoso terá alguma coisa a ver com

a idade, embora esta ideia possa parecer paradoxal. A verdade é que não é possível estabelecer conceitos

universalmente aceitáveis, e uma terminologia globalmente padronizada para o envelhecimento, até

porque é inevitável que o conceito arraste consigo um conjunto de conotações políticas e ideológicas

dentro de cada sociedade concreta. Por outro lado, como defende Suzana Medeiros (2003), o

envelhecimento não é um evento com data marcada, mas sim um processo que ocorre durante toda a

trajetcória do ser humano.

Purificação Fernandes (2002), a propósito desta dificuldade em definir o processo de envelhecimento com

exactidão, propõe quatro conceitos diferentes a ponderar: idade cronológica, correspondente à idade

oficial determinada pelo calendário, idade biológica, correspondente ao estado orgânico e funcional dos

vários órgãos, aparelhos e sistemas, isto é, à posição do indivíduo no seu ciclo de vida, idade social, que

se refere aos papéis e hábitos do indivíduo em relação ao seu grupo social, podendo ser avaliada através

de padrões de comportamento, como por exemplo, o desempenho de padrões sociais; e idade psicológica,

que não depende da idade nem do estado orgânico, e se refere às capacidades do indivíduo se adaptar ao

meio ambiente. Nesta perspectiva, a análise do envelhecimento, requer uma abordagem holística que

tenha em conta todas as dimensões, biológica, psicológica, sociológica, emocional, espiritual, cultural e

ambiental (Leone, 1996:66).

Apesar da diversidade de critérios relativamente à idade que marca o início da velhice, consideremos

neste trabalho pessoa idosa todo o indivíduo com mais de 65 anos, conforme o critério cronológico seguido

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pela OMS1 (2003).

De facto, uma das primeiras necessidades a ter em conta quando se pretende estudar o fenómeno do

envelhecimento, é de carácter cronológico, sendo pertinente interrogar se será possível estabelecer uma

idade a partir da qual a pessoa se torna idosa, dada a complexidade fisiológica, psicológica e social do

envelhecimento, há no entanto necessidade, por uma questão de clarificação, de adoptar uma das

convenções existentes. Assim, tomamos aqui como critério a proposta cronológica do Gabinete de

Recenseamento dos Estados Unidos da América, que considera as seguintes faixas etárias (Rendas, 2001:

49): idosos jovens – com idade igual ou superior a 65 anos até aos 74; idosos – com idade igual ou superior

a 75 anos até aos 84; muito idosos – com idade igual ou superior a 85 anos.

O aumento da população idosa é um fenómeno que vem ocorrendo há vários séculos, à escala global, pelo

que não se trata de um fenómeno recente, mas que tem vindo a acentuar-se ao longo dos últimos anos no

contexto do progresso mundial, sobretudo devido aos avanços no domínio da medicina. Os países onde a

população idosa tem maior peso percentual são europeus. Tal fato confirma que estamos em presença de

um fenómeno típico dos países mais desenvolvidos do hemisfério norte, onde a população idosa em geral é

tendencialmente mais saudável, beneficiando de um bem estar social crescente.

O regime demográfico tradicional das sociedades era caracterizado por uma forte fecundidade e uma forte

mortalidade – vida curta e população maioritariamente jovem. Na actualidade, esta tendência estende-se

também aos países em vias de desenvolvimento.

O envelhecimento demográfico característico das sociedades modernas, industrializadas e urbanizadas,

surge como consequência da transição demográfica2, ao longo da qual se passou de uma situação de

equilíbrio entre elevadas taxas de mortalidade e natalidade para uma outra na qual, quer a mortalidade

quer a natalidade, apresentam uma fraca intensidade (Fernandes, 1996:16), onde as pessoas idosas

representam uma proporção cada vez mais importante.

Desde o início do século XX, a esperança de vida3, passou de 45/50 anos para 75/80 anos em média

(tomando em consideração os dois sexos). Isto permite-nos afirmar que a “terceira idade” é uma invenção

do século XX, pois embora tenha havido sempre pessoas idosas em todas as épocas, o seu número era

reduzido (Levet, 1998).

No contexto europeu, Portugal tem acompanhado a tendência dos países do Sul (Espanha, Grécia e Itália),

que juntamente com a Alemanha registam populações inferiores de jovens (com menos de 14 anos), quer

nos homens quer nas mulheres, como resultado dos baixos níveis de fecundidade. Em Portugal tem-se

verificado um crescimento exponencial da população, nos últimos 100 anos (passou de 5.446.760 pessoas

em1900 para 10.356.117 pessoas em 2001 e 10.468.922 em 2013).

Quadro 1 – Distribuição da população em Portugal

1 A Organização das Nações Unidas (ONU, 2002), para definir a população idosa adopta os 60 e mais anos, mas 2 Para o INE, a transição demográfica refere-se à passagem de elevados níveis de natalidade e mortalidade para baixos níveis (INE, 2002). 3 Consiste no número médio de anos que restam para viver a uma pessoa que atinja determinada idade, mantendo-se as condições de mortalidade observadas no momento (Pestana, 2003). A esperança de vida à nascença corresponde à duração média de vida.

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Ano 1960 1970 1981 1991 2001 2011

População residente

8 889 392 8 611 125 9 833 014 9 867 147 10 356 117 10 562 178

Até aos 15 anos

2 591 955 2 451 850 2 508 673 1 972 403 1 656 602 1 572 329

15 - 64 anos 5 588 868 5 326 515 6 198 883 6 552 000 7 006 022 6 979 785

65 + anos 708 569 832 760 1 125 458 1 342 744 1 693 493 2 010 064

75 + anos 238 121 272 790 384 812 527 948 701 366 961 925

Fonte: Adaptado de PORDATA (2013)

Pela análise do quadro 1, podemos verificar que o número de pessoas idosas (65 ou + anos) já ultrapassa o

número de jovens. De facto, a população idosa não tem parado de aumentar em valor absoluto e em

importância relativa, estimando-se que em 2021, a proporção de idosos em relação aos jovens com menos

de 14 anos seja de 217,4 para 100. Simultaneamente, assistir-se-á ao aumento da proporção da população

com 75 e mais anos.

Quadro 2 – Previsão da evolução do Índice de Envelhecimento em Portugal

Ano Índice de Envelhecimento

1960 27 Idosos para cada 100 jovens com menos de 14 anos

1972 34 Idosos para cada 100 jovens com menos de 14 anos

1998 90,3 Idosos para cada 100 jovens com menos de 14 anos

2001 102 Idosos para cada 100 jovens com menos de 14 anos

2021 127,4 Idosos para cada 100 jovens com menos de 14 anos

Fonte: Adaptado de Luís Jacob, 2001 e INE, 2013

Como consequência desta evolução até 2001, a forma da pirâmide da estrutura etária da população

portuguesa tem vindo a sofrer alterações, sendo a sua configuração actual semelhante a um cogumelo

(Pestana, 2003), conforme se pode observar na Figura 1. O progresso do envelhecimento, sobretudo pela

base da pirâmide etária, resultante da descida da natalidade, está bem patente no traçado que as

pirâmides etárias de Portugal assumem em 1991 e 2001.

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Figura 1 – Pirâmide Etária, Portugal 1991-2001

Fonte: INE, 2013

A equação demográfica é simples: quanto menor o número de jovens e maior o número de adultos

atingindo a “terceira idade”, mais rápido é o envelhecimento populacional. Este fenómeno é bem patente

nas pirâmides etárias, que têm vindo a assumir novos contornos, e que em Portugal se tem caracterizado

por um duplo envelhecimento: na base da pirâmide, destacado pelo estreitamento que traduz a redução

dos efectivos populacionais jovens (consequência dos baixos níveis de natalidade), e no topo, reflectido

pelo alargamento correspondente ao acréscimo dos efectivos populacionais idosos (resultante do aumento

da esperança de vida).

Além deste dados, Nazareth afirma que:“Não foi apenas o declínio da mortalidade ou a melhoria das

condições gerais de vida (bem como o trabalho de todos os que no terreno procuram dar à população em

geral e à população idosa em particular uma vida mais digna) o principal factor responsável pela

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emergência do processo de envelhecimento das populações. O principal factor natural responsável (…) foi

o declínio da natalidade observado a partir dos anos 70 – altura em que a generalidade dos países

deixaram de renovar as gerações.” (cit in Fernandes, 1997: xiv)

Uma análise atenta da evolução da estrutura etária permite-nos verificar que o envelhecimento é mais

evidente na população feminina, ou seja, a maior longevidade das mulheres em consequência da

sobremortalidade masculina é um fenómeno que está presente na generalidade das sociedades.

Curiosamente, é a primeira vez na história da humanidade que tantas mulheres desafiam os anos. São

mais e vivem mais (maior longevidade) – feminização do envelhecimento. Normalmente, essa

preponderância é maior nos grupos etários mais altos. E uma vez que vivem mais do que os homens, têm

mais tendência a viver sozinhas na terceira idade. Segundo o psiquiatra Renato Veras (2003) em quase

todos os países, o número de viúvas é maior do que o dos viúvos. Paradoxalmente, embora a esperança de

vida dos homens seja inferior à das mulheres, a percentagem de anos que aqueles podem viver sem

incapacidade de qualquer tipo é, geralmente, superior às mulheres.

Tem-se verificado também um aumento do universo dos muitos idosos4, e seu envelhecimento. “…é o fato

dos idosos estarem não apenas a aumentar como também, eles próprios, a envelhecer…” (Pestana,

2003:20), constituindo a parcela da população que maior ritmo de crescimento regista. Na continuidade

da análise deste problema, Nuno Pestana (2003) afirma que a alteração das estruturas etárias ao longo das

últimas décadas veio colocar os índices de dependência dos jovens e dos idosos em “rota de colisão”.

Desta forma, o autor chama a atenção para a análise de alguns indicadores chave na compreensão deste

cenário:

- Índice de dependência de idosos – corresponde à relação entre a população idosa e a população em idade

activa (número de idosos por cada 100 pessoas em idade ativa);

- Índice de dependência de jovens – equivale à relação entre a população jovem e a população em idade

activa (número de jovens por cada 100 pessoas em idade activa);

- Índice de dependência total - diz respeito à relação entre idosos e jovens e a população em idade activa

(número de idosos e jovens por cada 100 pessoas em idade activa), representando a soma dos dois índices

anteriores.

No entanto, o mesmo autor acrescenta que estes indicadores servem essencialmente propósitos

económicos, tendo como função estabelecer num determinado contexto geográfico quantos sãos os

potenciais inactivos, sendo óbvio que quantos mais forem estes últimos, mais esforço será exigido aos

primeiros (Pestana, 2003).

Há também que ter em conta que os índices de dependência dos jovens e dos idosos têm implicações

económicas diferentes, dado que as despesas sociais associadas a cada um dos estratos etários não são da

mesma amplitude. Um aumento muito expressivo deu-se na esperança média de vida à nascença, sendo

que entre 1960 e 2011 passou de 66,4 para 82,4 anos para as mulheres, e de 60,7 para 76,5 anos para os

homens.

Em relação ao futuro, o Eurostat prevê que a população europeia deverá estagnar e começar a decrescer 4 Idosos com 80 e mais anos.

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por volta de 2015, especialmente devido ao défice de nascimentos. Em Portugal, tendo em consideração

as actuais tendências demográficas e a realização do XV Recenseamento Geral da População (Censos

2011), o INE elaborou algumas projecções para a população residente em Portugal até 2050 com vários

cenários de evolução. “Em qualquer dos cenários, é previsível um decréscimo populacional até 2050, bem

como a continuação da tendência de crescimento da importância relativa dos idosos, ao longo de todo o

perído” (Pestana, 2003:38). Segundo Ana Fernandes (1997), por si só, o aumento proporcional das pessoas

idosas poderia não vir a constituir-se um problema social, apesar de a velhice representar a fase da vida

em que as capacidades e as resistências físicas vão gradualmente diminuindo, uma vez que se desenvolve

num contexto desfavorável em que operam um conjunto de outros factores, como a diminuição da taxa de

natalidade, a crescente instabilidade das formas familiares, pouca disponibilidade da família para dar

apoio às pessoas idosas (sobretudo às dependentes), a crise do sistema de proteçcão social, a

despersonalização das relações sociais, estes factores vêm agravar as condições de vida das pessoas

idosas, que ficam numa posição social desfavorável.

1.1. Processo de Envelhecimento: uma abordagem multidimensional

A palavra velho deriva do latim veclu, vetu, vetuludim. O sufixo mento que se acrescenta para formar a

palavra envelhecimento, designa acção. Em qualquer dicionário se pode encontrar a seguinte definição de

velho: adj., muito avançado em idade, avelhentado; antigo, que já não está em uso; fora de moda;

antiquado; muito usado, gasto; ou s. m., homem de idade avançada, ancião5. Estas definições, no

entanto, expressam concepções socialmente codificadas como representações da velhice que importa

desconstruir com recurso às contribuições das diferentes disciplinas científicas. Há, na verdade, uma

grande dificuldade em apresentar uma definição geral de envelhecimento, por se tratar de um conceito

multidimensional, multifactorial e extremamente complexo. A única certeza é de que se trata de um

processo inevitável e irreversível.

Fontaine (2000) faz uma elucidação que nos parece importante: o envelhecimento não é sinónimo de

velhice. A velhice é um estado que caracteriza um grupo de determinada idade, enquanto que o

envelhecimento é um processo. Ladislas Robert (1995:7) defende que: “O envelhecimento é, certamente,

o fenómeno biológico mais equitativamente partilhado pelo reino animal e vegetal, ainda que alguns

seres vivos envelheçam muito depressa, outros de forma muito mais lenta e outros, ainda, pareçam não

sofrer de senescência. O envelhecimento resulta da incapacidade da grande maioria dos organismos para

se manter num estado funcional igual e inalterado que permita a regeneração contínua de todos os

componentes do organismo, à medida que se consomem e degradam.”

Os biólogos definem este processo como um conjunto de alterações experimentadas por um organismo

vivo, do nascimento até à morte6. Os sociólogos e os psicólogos chamam a atenção para o facto de para

5 Texto Editora Universal on line, disponível em http://www.priberam.pt, consultado em 19/03/2013. 6 A partir dos anos 60 começou a desenvolver-se uma nova disciplina que estuda a experiência da morte, da

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além das alterações biológicas, existirem também processos de desenvolvimento social e psicológico que

influenciam este processo. Por outro lado, os problemas que advêm da adaptação do indivíduo a essas

alterações também devem ser alvo de reflexão/estudo (Paschoal, 2002a). Nesta lógica, a velhice não pode

ser definida apenas por critérios cronológicos, mas sim pela análise do conjunto das condições físicas,

funcionais, mentais e de saúde de cada indivíduo, o que significa que podem ser observadas diferentes

idades biológicas e subjectivas, em indivíduos com a mesma idade cronológica. É devido a este argumento

que se afirma que não se podem estabelecer definições que possam ser aceites em qualquer situação,

lugar ou época. É por isso que há mesmo quem sustente que o envelhecimento cronológico é um mito

(Garcia, 2002). Ao analisar o envelhecimento humano é, então, fundamental distinguir o que é

consequência deste processo, daquilo que é secundário e devido a processos patológicos comuns nesta

fase da vida, ou seja, quando as alterações são decorrentes do avançar da idade ou quando são

consequentes de enfermidades associadas ou decorrentes do envelhecimento. Assim, Carvalho Filho (2002)

apresenta como definição de senescência, o conjunto das alterações orgânicas, morfológicas e funcionais

que ocorrem como consequência do processo de envelhecimento; relativamente à senilidade, esta passa

por alterações determinadas pelas afecções patológicas que frequentemente acometem os indivíduos

idosos. Contudo, a diferenciação entre estas duas condições é por vezes extremamente difícil, existindo

situações em que é muito complexo distinguir se uma determinada alteração é manifestação de

senescência ou de senilidade. A imprecisão do estabelecimento desses limites exige por parte dos

profissionais um diagnóstico rigoroso, de forma a distinguir o que é normal do que é patológico e exige

outro tipo de intervenção, como teremos oportunidade de defender mais adiante.

Com efeito, "...o envelhecimento é caracterizado pela incapacidade progressiva do organismo para se

adaptar às condições variáveis do seu ambiente. Os mecanismos implicados apresentam todas as

características seguintes: são progressivos, nocivos, irreversíveis e, geralmente, comuns a inúmeros

organismos" (Robert, 1995:17). É pois, neste sentido, que se pode afirmar que a velhice acontece quando

a harmonia do organismo humano, ou seja, a homeostasia e o equilíbrio metabólico deixam de funcionar.

Como vimos, o envelhecimento é um fenómeno natural, universal e necessário (Levet, 1998). No entanto,

não nos podemos limitar aos aspectos fisiológicos para estudar o envelhecimento humano, sendo

absolutamente necessário integrar nessa reflexão todas as alterações que não são de origem biológica e

que vão ocorrendo ao longo do tempo. Trata-se de factores que dão um carácter absolutamente individual

ao processo de envelhecimento, pois como afirma Levet, "todos os acontecimentos de uma vida, quer

sejam históricos, políticos, económicos ou tecnológicos, influenciarão e orientarão o seu desenrolar".

(Levet, 1998:25).

Outro aspecto importante, é que o declínio das funções orgânicas varia de indivíduo para indivíduo, o que

nos pode levar a ponderar a importância dos factores extrínsecos ao processo de envelhecimento normal,

como por exemplo, os cuidados com a alimentação, meio ambiente, aspectos psicossociais, enfim, o estilo

de vida, na disparidade de efeitos sobre o envelhecimento. Tal significa que, no processo de

envelhecimento, não interferem apenas factores intrínsecos, mas este também é influenciado pelos

agonia e do processo de luto - a tanatologia.

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extrínsecos, ou seja, pelo meio externo. É precisamente por isto que se pode afirmar que o

envelhecimento é diferencial, ou seja, cada indivíduo envelhece de um modo particular, diferente de

outro, conforme os estilos de vida, a profissão, os acontecimentos traumáticos, bem como outros factores

de ordem social, como a escolaridade e a condição social, com reflexos designadamente nos hábitos de

higiene, alimentação, factores que influenciam o processo de envelhecimento, tais como a obesidade,

hábitos tóxicos (álcool, tabaco, droga), a alimentação, o exercício físico, e claro, a incidência de doenças

(Fernandes, 2002). Na linha da argumentação que vem sendo apresentada, podemos afirmar que não só

existe um só envelhecimento, mas diferentes processos de envelhecimento - de género, etnia, de classe

social, de cultura, determinados socialmente pela desigualdade de condições de vida e de trabalho a que

os indivíduos estiveram expostos. O mesmo é dizer que o envelhecimento é influenciado por factores

externos ou ambientais7, sócio económicos e profissionais, e não apenas por factores pessoais8. É nesta

linha de pensamento que Levet (1998) afirma que há diferentes formas de o envelhecimento se

apresentar: segundo a cultura; segundo o sexo e a classe social a que se pertence, segundo a geografia;

segundo a situação económica do país, entre outros.

1.2 Abordagem biofisiológica do envelhecimento

Embora uma abordagem dos aspectos biofisiológicos do envelhecimento fuja claramente ao objectivo

deste trabalho, considera-se de utilidade, em termos gerais e de enquadramento, apresentar uma visão

sucinta e abrangente desta dimensão de análise da problemática do envelhecimento. O organismo

humano, desde a sua concepção até à morte, passa por diversas fases: desenvolvimento, puberdade,

maturidade ou estabilização e envelhecimento (Netto e Ponte, 2005). Embora nenhuma das definições

actuais de envelhecimento biológico esteja cientificamente comprovada e aceite, Mailloux-Poirier

(1995:99) avança com a seguinte definição "...é um fenómeno multidimensional resultante da acção de

vários mecanismos: disfunção do sistema imunológico, programação genética, lesões celulares,

modificações ao nível da molécula do ADN e controlo neuro endócrino da actividade genética." Por outro

lado, Netto e Borgonovi (2002:44) definem-no como um "…processo dinâmico e progressivo, no qual há

modificações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, que determinam perda progressiva da

capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior

incidência de processos patológicos, que terminam por levá-lo à morte."

Segundo Ladislas Robert (1995), não existe ainda uma visão de conjunto ou uma teoria detalhada que

explique o envelhecimento do organismo e das populações a todos os níveis de estudo. O que podemos,

7 Segundo a CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - OMS), os factores ambientais constituem o ambiente físico, social e atitudinal em que as pessoas vivem e conduzem a sua vida. Estes factores são externos aos indivíduos e podem ter uma influência positiva ou negativa sobre o seu desempenho, enquanto membros da sociedade, sobre a capacidade do indivíduo para executar acções ou tarefas (OMS, 2003). 8 Os factores pessoais, segundo a CIF, são o histórico particular do estilo de vida de uma pessoa e englobam as suas características que não são parte de uma condição ou de um estado de saúde (por exemplo: sexo, idade, condição física, estilo de vida, hábitos, educação, antecedentes sociais, profissão, entre outros) (OMS, 2003).

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contudo, verificar é que as teorias explicativas das causas do envelhecimento dividem-se essencialmente

em dois grandes grupos: as Teorias Estocásticas9 e as Teorias Deterministas10. As Teorias Estocásticas

defendem que o envelhecimento é uma consequência de lesões sucessivas que conduzirão ao desgaste e à

morte. No que diz respeito às Teorias Deterministas, estas defendem que o envelhecimento é uma

consequência directa de um programa genético, sendo o genoma uma espécie de relógio molecular,

biológico (Pinto, 2001). A razão da existência de tantas teorias deve-se provavelmente ao fato de

nenhuma conseguir explicar sozinha o processo de envelhecimento. Tal como o envelhecimento a outros

níveis, a nível biológico, a evolução é variável, sendo que, de um modo geral, os tecidos perdem alguma

flexibilidade e os órgãos e os sistemas reduzem a qualidade e a agilidade das suas funções. É neste sentido

que se afirma que o envelhecimento humano biológico ocorre ao nível dos órgãos, dos tecidos e das

células, e que as alterações verificadas nos vários aparelhos e sistemas não têm a mesma velocidade de

declínio, e o padrão de declínio é bastante heterogéneo entre os diversos órgãos.

O envelhecimento biológico passa por uma série de alterações a vários níveis: ao nível do paladar e do

olfacto; ao nível da visão, da audição, alterações do sono; alterações da temperatura; do peso e do

metabolismo; alterações das necessidades energéticas e ao nível da sexualidade. No entanto, "a

senescência toca essencialmente três modalidades: o equilíbrio, a audição e a visão" (Fontaine, 2000: 77).

Mas o mais importante a acentuar é que os défices sensoriais de natureza auditiva e visual são

considerados como causas importantes do declínio geral no funcionamento das actividades intelectuais. Ao

nível do sistema nervoso central, as modificações descritas na literatura, são as seguintes: atrofia do

cérebro (perda de peso e diminuição de volume); aparecimento de placas senis; degenerência nérofibrilar;

diminuição da neuroplasticidade; mortalidade neuronal, rarefacção e enriquecimento dendríticos

(Fontaine, 2000). Do envelhecimento decorrem diversas alterações nos aparelhos: respiratório (afecções

mais comuns: pneumonia, enfisema, tuberculose), cardiovascular (afecções mais comuns: enfarte do

miocárdio, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, angina, anemia), musculo esquelético (afecções

mais comuns: osteoporose, osteoartrose, artrite reumatóide, fracturas), nervoso (doenças vasculares

cerebrais, doença de Parkinson11, urinário (afecções mais comuns: incontinência urinária, infecções,

hipertrofia benigna da próstata), endócrino (afecções mais comuns: colecistite, obstipação) (Carroll e

Brue, 1991). De qualquer forma, para Garcia (2002), não podemos negar que envelhecer conduz a uma

diminuição do rendimento por parte dos órgãos, daí que o risco de doença aumente. Na realidade, a

9 Estas, por sua vez, podem-se dividir em diversas outras teorias: Teoria da Lesão/Reparação do ADN, Teoria das Radiações, Teoria do Erro Catastrófico, Teoria do "Crosslinking" e Teoria do "Desgaste e Ruptura". O que há de comum entre estas teorias é considerarem o envelhecimento e a morte como consequência do desgaste e da exaustão. 10 As teorias deterministas podem dividir-se em: Teoria Somática, Teoria Imunológica, Teoria das Telomerases e Teoria Genética. 11 A doença de Parkinson é uma doença degenerativa do sistema nervoso central, de evolução lenta e progressiva, na qual se perdem os mensageiros químicos produzidos no cérebro que são responsáveis pelo controlo de movimentos, tais como, andar, falar, vestir, escrever, entre outros, daí ser classificada como uma "doença do movimento". Atinge sobretudo pessoas idosas, mas pode surgir muito antes dos 50 anos. Caracteriza-se pela destruição de determinadas células nervosas, que produzem uma substância chamada dopanima, essencial à coordenação motora. Os primeiros sintomas são rigidez muscular, tremor, ausência de mímica facial, diminuição do piscar, olhar fixo e movimentos lentos (http.//www.gsk.pt,).

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prevalência de doenças crónico degenerativas é bastante expressiva entre as pessoas idosas, e, em virtude

deste fato, Veras (2003), afirma que envelhecer sem nenhuma doença crónica se constitui mais como uma

excepção do que como uma regra. Há no entanto quem defenda que considerar que uma pessoa idosa

possa ser saudável, não é uma ideia falsa, sendo mesmo um dos princípios da Medicina Geriátrica, pois

segundo afirma Landerfeld et al. (2004), o declínio gradual da reserva homeostática não deve causar

sintomas nem obriga a restrições nas AVD´s. Tal argumento não significa ignorar que quando as pessoas

envelhecem, têm maiores probabilidades de sofrer doenças ou incapacidades. Podemos afirmar que as

principais doenças metabólicas são a diabetes mellitus e o hipertiróidismo, e ao nível das doenças da pele,

as escaras de decúbito e as úlceras de estase. As alterações fisiológicas também têm consequências ao

nível da sexualidade, sendo que a idade tem alguma influência sobre o desempenho sexual. Tal não

significa que essas alterações sejam inibitórias da sexualidade, ao contrário do que socialmente se crê. De

fato, como defendem diversos autores, a actividade e o interesse sexual mantêm-se, bem como a

necessidade de afecto e companheirismo.

Existem outras perturbações de saúde mais habituais na idade avançada, sendo elas: a hipotensão e

hipertensão arterial, problemas do ritmo cardíaco, tremores, quedas, perturbações ósseas e musculares,

incontinência (urinária e fecal), alterações da pele, depressão, senilidade, demência12, doença de

Alzheimer, acidente vascular cerebral (AVC)13 e perturbações do foro psiquiátrico. Parece-nos importante

referir que a doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência nas pessoas idosas. Trata-se de

uma doença degenerativa do sistema nervoso central, é evolutiva e incurável, uma vez que está associada

a lesões cerebrais irreversíveis, apesar dos evidentes progressos farmacológicos. Caracteriza-se por graves

perturbações da memória, da linguagem, da orientação e das faculdades intelectuais como um todo e

atinge, predominantemente, pessoas muito idosas, embora também possa aparecer por volta dos 50 anos.

Os sintomas são variados e incluem a desorientação espácio temporal e a incapacidade de realizar as

tarefas do quotidiano. No início, a única manifestação desta doença pode ser o comprometimento da

memória. Em estágios mais avançados, as mudanças na personalidade e os distúrbios comportamentais

como a deambulação e a agressividade são acompanhados de acentuado declínio cognitivo, levando o

indivíduo à total dependência (Yuaso e Sguizzatto, 2002).

Efectivamente, existe um conjunto de factores que podem conduzir uma pessoa idosa à cama e não

apenas os motivos físicos que advêm de alterações neurológicas, osteoarticulares e cardiovasculares que

derivam em incapacidades de vária ordem14. Os factores psicológicos, como o medo de cair, situações de

12 Síndrome clínica, na qual ocorre um decréscimo adquirido da função cognitiva, manifestando-se com défice de memória e de outras funções, como a linguagem, o julgamento, entre outras (Luders e Storani, 2002). Segundo a OMS, a demência é uma alteração progressiva da memória e da ideação, suficientemente grave para limitar as AVD e está associada à perturbação de pelo menos uma das seguintes funções: linguagem, cálculo, julgamento, alteração do pensamento abstracto, praxia, gnosia ou modificação da personalidade. 13 O AVC é uma perturbação focal da função cerebral relacionada com a obstrução ou hemorragia de uma artéria que irriga áreas dos hemisférios cerebrais ou tronco central. As manifestações clínicas variam desde uma diminuição passageira da força muscular num membro ou perturbações visuais (acidente isquémito transitório), até à paralisia unilateral permanente com perturbações sensoriais graves e ao coma profundo e à depressão dos centros vitais do tronco cerebral (Hall et al., 1997). 14 Que podem ser atenuados se houver um correcto acompanhamento destas situações, por exemplo, através da utilização de ajudas técnicas (cadeiras de rodas, andarilhos, canadianas, etc) e através da implementação de

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depressão, de desmotivação para viver ou factores ambientais, como a falta de estímulos, também podem

levar a pessoa idosa a restringir a sua qualidade de vida. Esta situação pode ter efeitos muito negativos

para o estado geral da pessoa idosa, conduzindo muitas vezes a estados degenerativos se não forem

devidamente acompanhados (úlceras de pressão, fraqueza e atrofia musculares, diminuição da ventilação

pulmonar favorecendo a aparecimento de problemas respiratórios, entre outros efeitos colaterais).

Em suma, podemos constatar em muitos casos que a diminuição das capacidades físicas e sensoriais

(audição e visão), para além das mentais, potencia um decréscimo do bem estar e aumenta o sentimento

de vulnerabilidade, determinando a condição psicológica e social das pessoas idosas15.

A velhice é uma fase da vida, onde surgem grandes transformações a nível social (família, comunidade,

trabalho e lazer) onde se desenrolam novas vivências. A velhice é entendida como a última fase do ciclo

vital, encerrando um processo de envelhecimento normal ou patológico (Cardão, 2009).

1.3 Abordagem psicológica do envelhecimento

Uma abordagem multidimensional do envelhecimento e da dependência exige, até pelas expressões que

este fenómeno assume na actualidade, que se tenham em consideração as contribuições dos estudos da

psicologia do envelhecimento e outras abordagens disciplinares no âmbito da psicologia. De uma forma

sucinta mobilizam-se, na construção do referencial teórico deste trabalho, algumas contribuições nesta

óptica de análise.

Apesar dos resultados de alguns estudos nesta área apontarem para o fato de ser possível conservar as

capacidades cognitivas até ao final da vida, a maior parte da literatura diz-nos que o declínio das funções

cognitivas ocorre em consequência do processo de envelhecimento, sendo este fenómeno de ocorrência

universal. Às condições responsáveis por essas mudanças dá-se o nome de "distúrbios cognitivos adquiridos"

(Lurdes e Storani, 2002). Nas pessoas idosas os distúrbios psíquicos de maior incidência são as síndromes

depressivas e demenciais. Segundo Stuart-Hamilton (2002), a depressão é uma condição que quase todos

os indivíduos vivenciam de forma relativamente branda em determinados momentos da vida. Neste

sentido, o que importa averiguar é se o sentimento melancólico é uma reacção a um acontecimento

específico (dissipando-se em poucos dias) ou se realmente interfere no funcionamento normal do

indivíduo. É por isso que se deve proceder a uma avaliação global que permita perceber se a pessoa

apenas se sente "triste" ou se essa "tristeza" é responsável pela sua incapacitação sem energia mental e

física em grau extremo, se tem sentimentos irracionais de desvalorização e/ou culpa, chegando mesmo a

pensar em querer morrer ou suicidar-se. Na velhice, as causas de depressão são frequentemente

atribuídas a acontecimentos traumáticos e negativos, como por exemplo, a morte de um ente querido. No

entanto, a depressão é subestimada, quer pelo indivíduo que vivencia, quer pela família e, mesmo pelos

medidas de fisioterapia preventiva, como por exemplo, as mobilizações, mudanças periódicas de decúbito, exercícios, posicionamento correcto na cama para evitar deformidades. 15 Conforme confirma um estudo realizado por Paúl et al. (2001) - Excelsa - Estudo piloto sobre envelhecimento humano em Portugal.

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profissionais, justificando-se como fazendo parte do processo de envelhecimento. Ora, tal concepção está

errada, uma vez que a depressão deve ser considerada uma doença em qualquer fase da vida, pois se

assim não fosse estariam justificadas medidas existentes a nível terapêutico, visando o seu

desaparecimento. "A importância do seu reconhecimento é que, ao estabelecer-se a terapia indicada,

devolvemos ao indivíduo a capacidade de amar, pensar, interagir e cuidar de pessoas, trabalhar e sentir-

se gratificado e assumir responsabilidades" (Carvalho e Fernandez, 2002:160).

Também a nível psicológico, há uma quebra da capacidade de adaptação nesta fase da vida, que se pode

manifestar pela incapacidade de aceitar ou administrar uma situação de choque, como por exemplo, a

viuvez, ou pela total incapacidade adaptativa mesmo em situações simples como sair de casa para dar um

passeio. O declínio da capacidade de adaptação social pode manifestar-se pela dificuldade de aceitação

da mudança de ambientes, desde uma casa diferente até uma simples mudança dos móveis do quarto. A

par desta diminuição junta-se o aumento da dependência do ambiente familiar, caracterizado como um

local de estabilidade e de protecção (Leme e Silva, 2002). Ao longo da vida, a personalidade do indivíduo

está submetida a uma série de perturbações, uma vez que o seu próprio meio externo sofre também

profundas modificações. Tal justifica, desde já avançar com a perspectiva de P. Fernandes (2002) que nos

refere que, nas pessoas idosas, a maioria dos problemas ligados ao envelhecimento não são causados pela

diminuição das funções cognitivas. São sobretudo problemas como a perda de papéis, as diversas situações

de stress, a doença, o cansaço, o desenraizamento e outros traumatismos que vão dificultar a adaptação

das pessoas idosas. Para ultrapassar estas situações, o indivíduo terá de reequacionar os seus objectivos

pessoais, de forma a adaptar-se, conservando a sua auto estima, para continuar a viver com a melhor

qualidade de vida possível. A velhice é, sem dúvida, uma etapa especialmente intensa de perdas afectivas

(Garcia, 2002), ou seja, de perda de papéis ao longo dos anos de forma progressiva, mas inelutável (filhos

que saem de casa, reforma, viuvez, etc). "O indivíduo que era competente, bem sucedido e

independente, pode tornar-se dependente e impotente para enfrentar a relação quer com a família, quer

com a sociedade em que se encontra inserido". (P. Fernandes, 2002:26). Tal exige uma mobilização de

energia com vista ao ajustamento ao novo universo de sociabilidades (Levet, 1998). Por outro lado,

também se dá a perda de pessoas significativas, como o cônjuge, amigos, familiares ou vizinhos, ou seja,

de pessoas importantes no meio afectivo e de relação, que podem provocar stress à pessoa idosa por

diversos motivos, entre os quais a previsão da sua própria morte que se avizinha (P. Fernandes, 2002).

Segundo Gatto (2002:110) "...é mais provável que não se sinta os efeitos do preconceito e do isolamento

se tiver amigos e familiares que o respeitem; é mais provável que não sinta a perda da juventude como

algo destruidor, se tiver assimilado outros valores e interesses ao longo da vida; é mais provável que não

sinta a proximidade da morte de forma tão ameaçadora se teve uma vida mais satisfatória".

Outro fato de extrema importância é que, quando uma pessoa idosa precisa de deixar a sua própria casa,

para ir viver com os filhos ou para uma instituição, este acontecimento é quase sempre traumático (em

maior grau). "O deixar uma cadeira favorita, um objecto decorativo, a própria cama; separá-lo disto é

como se perdesse parte da sua identidade." (P. Fernandes, 2002:26). Por outro lado, a velhice é, como já

foi visto, caracterizada por uma diminuição das capacidades físicas, psicológicas e sociais, e se não for

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acompanhada por um estímulo afectivo às capacidades da pessoa idosa, mantendo o seu papel social como

pessoa capaz, com vista à manutenção das suas possibilidades de desenvolvimento, conduzirá a um ciclo

de vida negativo, levando o indivíduo a adoptar um papel de doente e dependente, papel este assumido

por uma elevada percentagem desta população. Hall et al (1997) apresentam esta ideia

esquematicamente, de forma bastante explícita, e que nos pode ajudar a reflectir melhor sobre esta

questão:

Figura 2 - O ciclo de vida negativo: um ciclo vicioso de doença no idoso

1. Diminuição das capacidades

físicas, mentais ou sociais

4. Auto reconhecimento de doença 2. Rótulo de incapacidade por instituições

ou incapacidade

3. Desenvolvimento do papel de

doente ou dependente;

negligência de capacidades

Fonte: Hall et al., (1997)

Figura 3 - O ciclo de vida positivo

1. Manutenção de uma

vida confortável

4. Manutenção das possibilidades 2. Segurança emocional

de desenvolvimento e suporte

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3. Manutenção dos papéis sociais -

definido como "capaz"

Fonte: Hall et al., (1997)

É óbvio que não podemos generalizar este encadeamento, pois este é influenciado pela história de cada

indivíduo e pelo seu meio sócio cultural. Tal significa, numa análise mais aprofundada, que a

"engrenagem" negativa é evitável e a positiva desejável (Levet, 1998). Purificação Fernandes (2002),

também defende que os idosos que consideram a velhice como um fenómeno natural, dão mais sentido à

vida, sendo mais felizes e implicando-se mais no seu meio e na sociedade. Tal passa pelo auto

reconhecimento de aspectos positivos (tais como um sistema de valores estável, sensatez, etc.) e de

determinadas vantagens (diminuição da responsabilidade e do trabalho, abertura de espírito, etc.) "Se o

indivíduo não conseguir mobilizar energia suficiente para ultrapassar as suas deficiências físicas, ir-se-á

refugiar na doença e em maleitas de toda a natureza." (Levet, 1998.40). Também Purificação Fernandes,

afirma que se corre o risco de que as pessoas idosas se tornem "incapazes", não apreciando e assumindo os

valores positivos da velhice, se não se alterar esta imagem dominante que as sociedades cultivam. "A

sociedade tem de compreender que a integração social dos idosos é o caminho para lhes reduzir a

dependência, preservar a auto confiança e contribuir de forma positiva para a prosperidade da mesma."

(2002:32) Tal não significa escamotear o facto de que o envelhecimento pode acarretar situações de

fragilidade e dependência, mesmo em pessoas que têm uma atitude positiva em relação à sua vida. O que

queremos ressalvar é, que um indivíduo mesmo portador de uma doença, poderá sentir-se saudável, desde

que seja capaz de desempenhar funções e actividades, capaz de alcançar expectativas e desejos, ter

projectos, enfim, de se manter vivo no seu meio, ou seja, ter alguma função social que lhe proporcione

uma boa qualidade de vida, argumento que é, aliás, partilhado por Paschoal (2002b). Embora já

anteriormente tenhamos apontado a demência como uma das perturbações de saúde mais habituais,

decorrentes do processo de envelhecimento, parece-nos importante destacar que, embora se trate

maioritariamente de doenças do foro neurológico, elas acarretam uma série de consequências psicológicas

e sociais. Tal deve-se ao fato de gerarem um quadro de diminuição progressiva da função cognitiva, isto é,

perda de memória, da capacidade de abstracção e juízo, com consequências de alteração da

personalidade e da estrutura psicológica. As consequências sociais são maioritariamente advindas das

incapacidades para as AVD's geradas por estas doenças e, por outro lado, pelas repercussões sócio

familiares que gera. No entanto, é importante acrescentar que, na perspectiva de alguns autores, entre

eles, Suart-Hamilton (2002), é errado perceber a demência como uma doença somente da velhice, como

se fosse uma consequência inevitável do processo de envelhecimento. Na verdade, todas as demências

podem começar antes da chamada terceira idade e, algumas, raramente são encontradas depois dos 65

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anos.

1.4 Abordagem social do envelhecimento

Como temos sublinhado, os estudos sobre o envelhecimento têm tido um maior enfoque sob o ponto de

vista biológico e psicológico. Foi apenas devido à pressão do envelhecimento demográfico que a dimensão

social começou a ter maior importância na compreensão da velhice como problema social.

Em termos sócio políticos e, tomando em consideração a realidade portuguesa, assistimos a uma histórica

distanciação dos indivíduos perante o estado, ausência do exercício de cidadania e um olhar atomizado

para os seus interesses, desencadeando mecanismos de estagnação e aceitação das baixas condições de

vida. Esta ideia é reforçada se atentarmos nos valores das pensões de reforma da actual população

portuguesa e respectivas carreiras contributivas.16. Pensões de reforma que, em grande parte dos casos

(especialmente em meio rural dada a actividade que desenvolveram ao longo da vida estar ligada à

agricultura), são insuficientes para assegurar as necessidades básicas e garantir uma subsistência digna -

em suma, os rendimentos deste grupo social provêm de magras reformas estabelecidas em grande parte

pelas baixas qualificações destes idosos na vida activa. É neste sentido que a reforma favorece o

isolamento social, a inactividade e a depressão, uma vez que a retirada do mundo do trabalho,

independentemente da sua vontade, gera no indivíduo um sentimento de perda de importância, utilidade

e auto estima, sobretudo numa sociedade onde o estatuto da pessoa idosa está ligado ao trabalho e à

rentabilidade (Fonseca, 2000; P. Fernandes, 2002). Há autores que chegam a afirmar que a reforma

estimula a consciência do envelhecimento. Como se não bastasse, ela ocorre num ponto do ciclo de vida

em que a capacidade adaptativa está mais limitada. Por outro lado, a imposição da reforma, sem

alternativa de ocupação útil, uma vez que esta não é devidamente preparada, leva frequentemente à

inactividade que, por sua vez, gera dependência e limitação funcional, sendo a falta de comunicação, o

desamparo e a solidão as maiores causas de sofrimento da pessoa idosa, fazendo-a cair no vazio e na

depressão. Esta reforma requer, como condição de admissão, a retirada do indivíduo da sua actividade

profissional, originando a formação de um grupo que é afastado do mercado de trabalho e sujeito à

respectiva desvalorização do seu estatuto social. Isto significa que a sociedade atribui aos reformados um

papel "dependente" induzido pela situação objectiva de "inactividade". Micael Pereira (2002) afirma

mesmo que somos responsáveis pela construção de "falsos idosos", ao compactuarmos com esta visão

distorcida destes indivíduos. De salientar que, cada indivíduo é uma realidade, sendo que a idade da

reforma (entendida no sentido de "deixar de trabalhar", tem repercussões diferentes em cada um; o que

quer dizer que, se por um lado existem idosos que após a reforma continuam a ter uma vida social activa,

16 É importante lembrar que muitas pessoas idosas não estiveram ligadas ao sistema de previdência durante a sua fase produtiva, ou por se encontrarem em actividades informais (caso de muitos homens), ou por terem desenvolvido tarefas domésticas (caso das mulheres), estando actualmente sujeitos a intervenções do Estado (Boutique e Santos, 2002). Tal não significa dizer que as pessoas idosas que estão dependentes do sistema da Segurança Social para o qual efectuaram contribuições, tenham uma realidade mais agradável.

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por outro lado, a realidade mostra-nos que a maioria acaba por "cair" na inactividade e na apatia.

Efectivamente, a maioria das pessoas tem uma fraca participação17 na sua comunidade, o que gera

sentimentos de solidão e desvalorização, com repercussões quer ao nível da integração sócio familiar quer

do nível da saúde física e psíquica. De facto, segundo afirma Vaz (2001), as fracas condições de vida em

que a maioria da população portuguesa vive, induzem-na a uma fraca mobilidade e a um consumo passivo

de serviços que lhes são oferecidos sem alternativas de escolha. A mesma autora diz mesmo que a pessoa

idosa é frequentemente dissuadida da actividade e persuadida à inércia quase vegetativa, sendo-lhe assim

vedado o acesso à participação e intervenção nas decisões que lhe dizem respeito como membros activos

da sociedade. Outrora, trabalhava-se a vida toda e morria-se, era essa a lei habitual da vida. Com o

aumento da longevidade, pode-se prever que uma pessoa na pré-reforma passará um terço da sua vida

sem exercer qualquer actividade profissional. Há, contudo, formas positivas de as pessoas idosas viverem

o tempo pós-reforma, mantendo uma auto imagem positiva e cultivando novas e velhas relações sociais,

para que consigam manter-se activas o maior tempo possível (Mirada e Valls-Llobet, 1996). A dedicação do

tempo a actividades de lazer, de desporto, de criatividade faz também parte do projecto de vida que se

pode ter para esta fase da existência, favorecendo novos espaços de socialização e de participação na

vida social, política, económica e cultural (Ferrari, 2002). Na verdade, trata-se de um apelo à

mobilização, ao continuar a fazer, a criar, a descobrir, enfim, a viver. Tal pressuposto passa por encarar o

envelhecimento como um processo natural. A velhice, essa sim, é uma categoria construída socialmente

pela modernidade ocidental nos últimos 30 ou 40 anos, que depende dos contextos sociais, culturais e

históricos18.

"O envelhecimento transforma-se em objecto científico e coloca em jogo múltiplas dimensões, como o

desgaste fisiológico, o prolongamento da vida, o desequilíbrio demográfico e o custo financeiro das

respostas sociais. Além do que contribui para definir a última etapa da vida como uma categoria

autónoma, com propriedades específicas, dadas naturalmente pelo avanço da idade, que exigem

tratamentos especializados. Numa luta contra o determinismo biológico - velhice que cientistas sociais,

gerontólogos e assistentes sociais afirmam que a velhice é uma construção social" (Veras, 2002:13).

Esta velhice social encerraria em si, então, dois marcos principais. a entrada na reforma e os 65 anos. É

como se os 65 anos fossem uma idade "...mágica e 'emblemática' que define a passagem sem dor para a

categoria das 'pessoas de idade'..." (Levet, 1998:18). Mas, se antes a idade da reforma (65 anos) era um

marco, artificial, mas seguro, do início da velhice, actualmente verifica-se que as pessoas se reformam

cada vez mais precocemente, por motivos que não se prendem com a idade (desemprego, incapacidade,

reforma antecipada), tornando mais complicado definir quem é ou não idoso (Pimentel, 2001). Levet

(1998) afirma, mesmo, que a noção de idade não tem grande sentido, sendo mesmo desapropriado afirmar

que determinada pessoa é velha devido à sua data de nascimento. De fato, a idade em si apenas indica a 17 "A participação social, neste caso, será uma participação mais ou menos pronunciada na vida económica, nas distracções, na cultura, nas responsabilidades cívicas e políticas, etc." (Birou, 1982:295) 18 Se a velhice é uma construção imposta pela sociedade, qualquer processo de inclusão é responsabilidade colectiva da sociedade, que em grande parte pode empreender as mudanças de atitude necessárias à plena participação em todas as áreas da vida. "Portanto, é uma questão atitudinal ou ideológica que requer mudanças sociais que, a nível político, se transformam numa questão de direitos humanos." (OMS, 2003:21).

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passagem do tempo, e em si mesma não produz mudanças. Se por um lado temos como certo que a idade

da velhice é incerta e flutuante segundo os indivíduos, por outro, verificamos que a sociedade e as suas

instituições inscrevem e balizam por idades o "compasso" de cada um de maneira uniforme, e tal acontece

ao longo de toda a vida: a idade para entrar para a escola, a idade da maioridade, a idade da reforma,

etc., isso acontece obviamente por imperativos de ordem social, política e económica, mas não tem em

consideração a pessoa no seu processo de desenvolvimento, nem as suas capacidades. É por isto que

Cabrillo e Cachafeiro (1990) defendem que do ponto de vista económico um trabalhador é considerado

velho quando deixa de ser produtivo. Aliás, a própria estrutura de política social de cada país, altera

completamente as realidades de velhice para os indivíduos e para a sociedade como um todo. A reforma

é, pois, considerada como um evento socialmente construído, típico das sociedades capitalistas (Pestana,

2003). Também os aspectos sócio económicos merecem um olhar mais pormenorizado. É inequívoco

considerar que as condições sócio económicas do indivíduo condicionam o processo de envelhecimento a

vários níveis. Vários autores afirmam mesmo que o baixo status social implica uma redução das

possibilidades de participação e de resolução dos problemas. Alguns afirmam mesmo que a maioria dos

problemas que afectam as pessoas idosas, se devem à pobreza e a privações económico sociais (P.

Fernandes, 2002:45). Hall et al.(1997) afirmam que na base destas situações de pobreza está também,

muitas vezes, o desconhecimento dos benefícios sociais disponíveis. A verdade é que, actualmente, o

envelhecimento pode ser considerado um factor de exclusão. Trata-se, segundo a categorização de Bruto

da Costa (1998:22), de uma exclusão de tipo social - aquela em que a própria causa de exclusão se situa

no domínio dos laços socais. "É uma situação de privação de tipo relacional, caracterizada pelo

isolamento, e por vezes associada à falta de auto-suficiência e autonomia pessoal." Este autor dá o

exemplo das pessoas idosas como caso paradigmático deste tipo de exclusão, sobretudo aquelas que vivem

situações de solidão e de doença e que necessitam de cuidados que lhes são negados (não

necessariamente por falta de recursos). Mas não podemos negar que existem, de fato, muitas pessoas

idosas em situação de pobreza real, aqui entendida como uma situação de privação resultante de falta de

recursos. Muitas vezes esta privação é múltipla, atingindo diversos domínios das necessidades básicas

(alimentação, condições habitacionais, saúde, privação, etc.). O INE comprova19 que as pessoas idosas são

um grupo particularmente afectado pela pobreza, mostrando que as taxas de incidência de pobreza neste

grupo populacional são superiores às médias nacionais para ambos os sexos e para todos os tipos de

pobreza. Esta situação é ainda mais notória em pessoas idosas a viverem sós, e sobretudo em homens

idosos. No entanto, apesar da relevância das dimensões sociais objectivas reportadas, numa abordagem

social da velhice, importa igualmente ter em consideração a componente simbólica, aqui considerada

através da análise da imagem social da velhice. Para Luísa Pimentel (2001), ser idoso, por si só, não

deveria ser um fato negativo e preocupante. Ao longo da história da humanidade, o status das pessoas

idosas foi alvo de diversas concepções, por vezes extremas: desde a gerontocracia à eliminação ou auto-

eliminação, ou seja, desde o prestígio e poder à inutilidade e carga social (Garcia, 2002:21). Actualmente,

ainda prevalece a visão tradicional da pessoa idosa como alguém inútil, isolado, em declínio biológico e 19 No seu estudo Sobre Mulheres e Homens em Portugal nos anos 90, publicado em 2002.

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mental, marcado por um tempo linear, com problemas de saúde e, na maioria das vezes, dependente

física e economicamente de alguém - imagem estigmatizante de "espera pela morte": "...imagem negativa

e pejorativa associada a velho/velhice. Velho é traste, problema, ónus (sic), inutilidade; velhice é

doença, incapacidade, dependência, perda, impotência. Velho é uma pessoa que atrapalha as outras,

alguém que perdeu o direito à dignidade, à sobrevivência, à cidadania. A imagem (...) é a de uma pessoa

encurvada, de bengala, quase cega, surda e gagá." (Paschoal, 2002a:41). No cenário actual, a maior parte

dos sinónimos da palavra "velho" carregam uma conotação depreciativa. O "velho" é normalmente

considerado como ultrapassado, antigo, primitivo, senil, etc., condição que contribui para a manutenção

de estereótipos, mitos e ideias pré-concebidas relativamente à velhice (P. Fernandes, 2002), sobretudo

numa sociedade que exalta os valores da juventude. E esta cadeia de representações negativas conduz ao

que Micael Pereira designa de retorno à situação de "...menino incapaz de decidir por si. Incapaz não

necessariamente pelo estado das suas faculdades, mas incapaz porque lhe foi retirada a legitimidade

social para o fazer." (Pereira, 2002a:8). Esta imagem desonrosa vem contrariar a atribuição de sabedoria

que era atribuída ao idoso nas sociedades mais antigas, e ainda em muitos países considerados do Terceiro

Mundo. Importa não esquecer a afirmação de Paúl (2000:56): "A mudança de discurso e de atitudes face

aos idosos é um aspecto fundamental para uma sociedade mais solidária, em que as gerações encontrem

novas formas de convivência, retirem prazer da relação e se interajudem, partilhando tarefas e afecto."

De fato, habituámo-nos de tal forma a encarar o envelhecimento sob uma perspectiva de inactividade, de

inutilidade social, de dependência, que temos dificuldade em pensá-lo com base em outros referenciais

que não aqueles ligados a "perdas" ou "deficits". Também Pereira (2002a: 8) problematiza esta visão

negativa, afirmando: "Ser idoso acaba por ser uma designação de posição social, sinal de que assume um

leque determinado de papéis, todos eles de dependência, sem autonomia, sem orientação da acção, sem

capacidade de fazer o que entende, de tomar iniciativas." Os mitos e estereótipos, ou seja, a visão

preconceituosa e negativa que prevalece na nossa sociedade, estão muitas vezes associados ao

desconhecimento do processo de envelhecimento e são reproduzidos frequentemente, sobretudo nos

meios de comunicação social, o que conduz a um reforço constante de que envelhecer é por si só um

problema. "A sociedade está a fornecer aos idosos um 'filtro negro' que lhes inibe a percepção de aspectos

positivos e assim a velhice torna-se num período traumatizante e negativo." (P. Fernandes, 2002:32). É

neste sentido que é absolutamente necessário o "...resgate da dignidade e da cidadania do idoso,

derrubando o preconceito que marginaliza o velho, restabelecendo os seus direitos de cidadão e

reintegrando-o na comunidade e família." (Netto e Ponte, 2002:9). Na mesma linha de pensamento, Ester

Vaz (1998), considera que a concepção dominante identifica a velhice com a imagem de "muita idade" e

de inactividade. No entanto, afirma que existem casos que contradizem esta imagem estereotipada, pois

nem sempre o facto de ter muita idade corresponde realmente a inactividade, havendo muitos idosos que

continuam a exercer diversas actividades. Há pois a necessidade e a urgência de uma desmistificação do

conceito de velhice. De fato, as sociedades de consumo em que vivemos insistem frequentemente em

declarar os velhos como inúteis, presidindo a ideia de que quem é novo e produtivo, é útil, e quem é velho

e não produtivo, é inútil. Na verdade, é como se a experiência de cada indivíduo na resolução dos

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problemas e no impacto afectivo atribuído às soluções de sucesso/insucesso, deixasse de se realizar

apenas pelo fato de chegar à terceira idade. No parecer de Simone de Beauvoir (1970), a sociedade

destina às pessoas idosas, segundo seu lugar e papel, não levando em conta a sua idiossincrasia individual,

a sua experiência, e reciprocamente, o indivíduo é condicionado pela atitude prática e ideológica da

sociedade em relação a ele. Ainda hoje esta perspectiva está muito presente socialmente, aos mais

diversos níveis.

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Capítulo 2 - A problemática da dependência No contexto das questões do envelhecimento, a problemática da dependência tem vindo a ocupar

progressivamente um lugar de destaque. Tal centralidade deve-se precisamente ao fato de se verificar um

crescimento exponencial das situações incapacitantes nas pessoas muito idosas, sobretudo estados

demenciais que conduzem a elevados défices ou mesmo perda de autonomia (Quaresma, 2004). Como

pudemos verificar anteriormente, há uma série de causas de incapacidades das pessoas idosas, desde os

AVC's, às doenças pulmonares, de Parkinson, osteoarticulares, às demências de vária ordem, até às quedas

ou acidentes de natureza diversificada. De fato, "maiores probabilidades de sobrevivência (...) têm

consequências ao nível das relações sociais e das biografias individuais não só pelo fato de as trajectórias

serem agora mais longas como pelas perturbações que vão ocorrendo ao longo das idades da vida."

(Fernandes, 1999:19), não obstante o progresso da ciência (Diniz, 2004).

Assim, para podermos aprofundar o conceito de dependência20, parece-nos relevante analisarmos também

os conceitos de autonomia e independência. Contudo, indicamos desde já que se trata de conceitos

complexos e difíceis de operacionalizar, embora tenham já merecido alguma reflexão por parte de vários

investigadores. Mas o que entendemos por dependência? Quaresma (2004:38), por exemplo, diz-nos que "

a definição de dependência exige uma definição de autonomia e de perda de autonomia, que possibilite a

medida das perdas, em função de parâmetros e com objectivos precisos...". No entanto, na perspectiva

desta autora, a articulação entre os conceitos de autonomia e de dependência não resulta

necessariamente de uma relação dicotómica. Assim, a autonomia pode ser entendida como a capacidade

de decisão e de comando e independência como capacidade de realizar algo com os seus próprios meios

(Netto e Ponte, 2002). As alterações funcionais, que decorrem do processo de envelhecimento, associadas

à maior prevalência de doenças crónicas, podem efectivamente conduzir à deterioração da habilidade de

manutenção da independência. É este o motivo apontado para que as pessoas idosas, em número e

intensidade, sejam proporcionalmente mais dependentes do que as jovens. Ainda Netto e Ponte (2002)

afirmam que a manutenção da qualidade de vida está intimamente ligada à autonomia e independência.

Já Paschoal (2002a:26) problematiza esta questão, afirmando: "a longevidade é intensamente desejada

pela maioria dos indivíduos, desde que sob certas condições, como a de não ficar dependente e, de

preferência, não ficar velho. Desejo contraditório e paradoxal. Como se possível fosse viver cada vez mais

sem envelhecer. Impossível." Segundo Albarede (cit. in P. Fernandes, 2002), a autonomia é a capacidade

e/ou direito que um indivíduo tem de ele próprio escolher os actos e os riscos que pode correr. Em

relação à perda de autonomia, esta será precisamente o contrário de autonomia, isto é, a incapacidade

e/ou interdição de o indivíduo escolher ele próprio as regras da sua conduta, bem como a orientação dos

seus actos e os riscos que pode correr. Trata-se de um comportamento do indivíduo em relação a si

mesmo, como autor responsável pelas suas leis e pelo sistema de valores que presidem às suas atitudes.

20 Etimologicamente, a palavra dependência vem do latim "estar suspenso a".

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Utilizamos, aqui, outro conceito, que merece alguma atenção: o de incapacidade que, segundo Faro

(2004), é a restrição na execução de uma actividade da vida diária. Mas, e ainda no entender desta

autora, deve registar-se que a incapacidade pode ser compensada com o uso de artefactos ou adaptações,

conforme o grau funcional do indivíduo. Tal parte do pressuposto de que a incapacidade não é um "rótulo",

ela deve ser modulada e dentro de um espaço de tempo ser temporária ou definitiva, progressiva,

estabilizada, regressiva ou compensada. Na perspectiva de P. Fernandes (2002), a perda de autonomia é

um dos principais fenómenos que influencia a qualidade de vida das pessoas idosas, sobretudo quando esta

ocorre a nível psicológico. É frequente encontrar também na bibliografia o termo independência que,

segundo a mesma autora, significa alcançar um nível aceitável de satisfação das necessidades, através de

acções adequadas que o indivíduo efectua por si mesmo, sem a ajuda de outra pessoa. No que diz respeito

à dependência, esta é definida por Phaneuf (cit in P. Fernandes, 2002), como a incapacidade do indivíduo

para adoptar comportamentos ou executar por si mesmo, sem a ajuda de terceiros, acções que lhe

permitam alcançar um nível aceitável de satisfação das suas necessidades. Ser dependente, por ser idoso

ou por outros motivos, passa pelo fato de o indivíduo não poder realizar sem ajuda as principais

actividades da vida diária, quer sejam físicas, psicológicas, económicas ou sociais. A definição de

dependência apresentada pelo Ministério da Segurança Social e do Trabalho (2002:16), é: "...um estado

em que se encontram as pessoas que, por razões ligadas à falta ou perda de autonomia física, psíquica ou

intelectual, têm necessidade de assistência e/ou de ajudas importantes a fim de realizar os actos

correntes da vida ou A.V.D.'s". Importa ainda acrescentar que a dependência pode ser total ou parcial,

temporária ou permanente. Existem três conceitos comummente associados à noção de dependência:

deficiência, incapacidade, desvantagem ou handicap. Em sentido restrito, a dependência traduz-se pela

necessidade de assistência nas actividades quotidianas, habitualmente efectuadas sem ajuda. Trata-se

portanto, de apoio aos papéis de sobrevivência (lavar-se, vestir-se, alimentar-se, etc.).

A Sociedade Espanhola de Geriatria e Gerontologia (1997), também apresenta uma classificação relativa a

estes conceitos, podendo-se considerar que uma pessoa é autónoma quando decide e conduz a sua vida

por si mesmo, ou seja, actua com liberdade. De forma mais aprofundada, podemos dizer que autonomia é

a capacidade e/ou direito de uma pessoa escolher por si mesma as regras da sua conduta, a orientação

dos seus actos e os riscos que se encontra disposta a assumir. Efectivamente, o que aqui importa acentuar

é que mesmo que uma pessoa idosa seja dependente (a não ser que a dependência seja total), não deve

por isso deixar de ser autónoma.

Resumindo: a perda de autonomia é a incapacidade (ou a proibição) de uma pessoa decidir sobre a sua

vida; a dependência verifica-se quando uma pessoa não realiza sem ajuda (porque não pode ou porque

não quer) as principais actividades da vida diária e a independência ocorre quando uma pessoa realiza por

si mesma e sem ajuda as actividades básicas quotidianas. Com efeito, pode acontecer, numa dada

situação, uma pessoa idosa gozar de independência e no entanto carecer de autonomia, isto é, não

precisar de ajuda para as actividades normais da vida diária, mas a sua família decidir sobre a sua vida

sem a consultar. Da mesma forma, pode acontecer que uma pessoa idosa seja dependente para algumas

actividades para as quais precisa de ajuda e, no entanto, continuar a ser autónoma para decidir sobre

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aspectos que dizem respeito à sua vida (por exemplo, ir ou não para um Lar, participar na programação

dos serviços que lhe são prestados, escolher sobre a roupa que há-de vestir, onde passar as férias, etc.). É

possível encontrar nestas definições aspectos comuns: que a dependência começa precisamente quando

começam a diminuir de forma acentuada algumas capacidades no desempenho de tarefas diárias; que nas

pessoas idosas, a dependência assume alguns contornos particulares, uma vez que esta resulta de factores

como a redução das capacidades físicas ou psicológicas, insegurança económica, isolamento, solidão,

dependência de familiares e/ou de outro tipo de suporte social, como já tivemos a oportunidade de

analisar anteriormente. Nesta linha de pensamento, abordar a situação de dependência, implica analisar o

contexto situacional no qual ela ocorre, ou seja, perceber se se trata de uma pessoa em situação de

isolamento e solidão, com ou sem suporte social, entre outros factores que provocam ansiedade e stress

no indivíduo, resultando de uma conjuntura de desequilíbrio. Neste contexto, podemos verificar, pela

literatura existente, que na génese do conceito de dependência está a noção de incapacidade (conceito

das ciências médicas), e também a noção de risco de perda de autonomia, "...associando ambas à velhice,

no que pode ser entendido como uma relação implícita, mas não provada, de causalidade." (Quaresma,

2004:38). Deste modo, ao falarmos aqui de dependência, importa salientar que a operacionalização do

conceito de dependência não está isenta de ambiguidades conceptuais, nem apresenta contornos nítidos.

Contudo, é do conhecimento geral que com o passar dos anos ocorre um aumento exponencial da

mortalidade e que esta é precedida por uma maior prevalência de entidades patológicas. Esta maior

prevalência de doenças21 nesta fase da vida, vem aumentar as probabilidades de dependência por parte

das pessoas idosas, embora mais uma vez se sublinhe que tal varie de indivíduo para indivíduo (Netto e

Ponte, 2002). Tal não significa, considerar logo à partida, que a pessoa idosa não possa gerir a sua própria

vida e ser independente no seu dia a dia, pois como afirma Renato Veras (2003:13), "...a grande maioria

dos idosos é, na verdade, absolutamente capaz de decidir sobre os seus interesses e organizar-se sem

nenhuma necessidade de ajuda, de quem quer que seja." Este autor afirma mesmo que, no quadro dos

mais modernos conceitos gerontológicos, pode dizer-se que essas pessoas idosas que conservam a sua

autodeterminação, prescindindo de qualquer ajuda ou supervisão para viver o dia a dia, devem ser

consideradas pessoas saudáveis, muito embora possam ter uma ou mais doenças crónicas. É devido às

alterações inevitáveis que se dão com o avançar da idade, que se considera muitas vezes o

envelhecimento como doença. Existem, de fato, muitas doenças cuja frequência aumenta com a idade,

porém, não se pode afirmar que o envelhecimento é uma doença. A verdade é que, como já vimos, as

doenças crónicas conduzem a uma prevalência de incapacidades. Simultaneamente, o próprio processo

natural do envelhecimento diminui a capacidade funcional22 do organismo. A esta combinação dá-se o

nome de envelhecimento funcional, que é mais relevante do que o envelhecimento cronológico que,

contudo, é o mais valorizado socialmente. Para Paschoal (2002b), o processo de envelhecimento ocorre

desde o nascimento onde as pessoas vão desenvolvendo as suas capacidades até aos 20/30 anos, quando se

21 As doenças crónicas afectam cerca de dois terços dos idosos. 22 J. Martins Correia (2003:255) entende por capacidade funcional "...a autonomia na execução de tarefas correntes, necessárias a qualquer indivíduo, as quais podem ser alteradas como consequência de situações patológicas ou do envelhecimento."

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atinge o auge da capacidade funcional. A partir daí, o desempenho funcional do ser humano vai-se

deteriorando pouco a pouco, consequência do processo natural de envelhecimento. É, pois, um processo

lento, mas inevitável e universal. Como vimos, a trajectória deste declínio pode ser afectada por uma

série de factores endógenos (como por exemplo, a constituição genética) e exógenos (meio ambiente,

hábitos e estilos de vida, contextos sócio económicos, etc.). Uma inclinação mais brusca desta linha de

declínio funcional, pode dar-se em situações de crise, como por exemplo, uma doença ou um acidente. É

neste sentido que Paschoal afirma que num determinado nível se situa o limiar da incapacidade23, ou seja,

acima desse limiar as pessoas vivem de forma independente e abaixo dele vivem dependentes. Por outro

lado, as pessoas podem adiantar ou atrasar a chegada a esse limiar. Quando esta é atrasada, a morte pode

ocorrer antes que a incapacidade aconteça. Não obstante, envelhecer sem incapacidade, preservando a

autonomia, é um factor indispensável para a manutenção da qualidade de vida. Paschoal (2002b) reforça a

ideia da singularidade do processo de envelhecimento, que varia em função de um conjunto de factores.

Também Veras (2003) partilha desta perspectiva e diz-nos que a evolução da epidemilogia e a

determinação de vários factores de risco, permitem actualmente ao indivíduo optar, por assim dizer,

entre viver até perto do limite biológico ou morrer precocemente. Esta perspectiva significa que se o

indivíduo tiver em consideração os factores de risco que podem aumentar ou diminuir o tempo de vida,

tem todas as condições necessárias para viver até ao limite biológico da vida. É importante, contudo,

apelar à reflexão proposta por Fontaine (2000:150): "...as relações existentes entre a idade, a

hereditariedade, os estilos de vida e os riscos de doença devem ser concebidos de forma dinâmica e não

mecânica." É nesta lógica que Levet (1998:85) afirma que: "Para o indivíduo, bem envelhecer, é

envelhecer sem sofrer os malefícios da idade. Trata-se portanto de exercitar o espírito; de conservar o

uso das pernas, dos olhos, etc.; de estar rodeado pelos seus; de estar alegre, de ter o moral elevado, de

investir em si; de ter recursos suficientes; e, enfim, de poder ficar em sua casa até ao fim. Programa

ambicioso e que arrisca muito a ser utópico se se pensar em poder beneficiar de todas estas vantagens."

Tal afirmação leva-nos a uma primeira consideração: as expectativas relativamente ao envelhecimento

são influenciadas pela condição da manutenção da autonomia e da independência. Segundo Anabela Pinto

(2001), envelhecer com sucesso é uma alternativa possível à perspectiva determinista do envelhecimento

associado à dependência, à doença, à incapacidade, à depressão. Um conjunto de esforços articulados

entre as diversas áreas do saber, permitirão uma associação entre o aumento da esperança e uma boa

qualidade dessa mesma vida, com autonomia e integração / participação na sociedade e na família,

aproveitando as capacidades individuais das pessoas idosas. Ao abordarmos neste capítulo o problema da

dependência, não pretendemos traçar um perfil eminentemente negativo do processo de envelhecimento,

mas sim mostrar que esta fase da vida é marcada por mudanças profundas que culminam, por vezes em

situações que necessitam de determinado tipo de intervenção, como a institucionalização. Contudo, a

23 A OMS no CIF afirma que tecnicamente, o termo "pessoas com incapacidades" está actualmente desactualizado e tem vindo a ser substituído por "pessoas com actividade limitada". As pessoas com actividade limitada são definidas no CIF como aquelas que estão impossibilitadas de executar, independentemente e sem ajuda, actividades humanas básicas ou tarefas resultantes da sua condição de saúde ou deficiência física, mental, cognitiva, psicológica, de natureza permanente ou temporária, podendo estas ser de qualquer idade.

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verdade é que desde a antiguidade que a velhice tem sido associada à dependência e à perda de controlo

da pessoa sobre a sua própria vida. Tal não significa negar a constatação de que os estados de

dependência, em maior ou menor grau, estão presentes ao longo de todo o ciclo de vida, não sendo um

atributo exclusivo da pessoa idosa. É por isso que Pavarini e Neri (2000) afirmam que a dependência tem

muitas faces e diferentes etiologias. Ao longo deste capítulo ensaiámos uma caracterização global sobre o

processo de envelhecimento, partilhando da opinião de Netto (2002) que, defende que a velhice e o

envelhecimento vistos e aceites apenas pelo prisma biofisiológico se constituem como uma meia verdade.

De fato, para se entender globalmente o envelhecimento como um constructo, há que ter em

consideração os factores ambientais, sociais, económicos e culturais que participam e influenciam este

processo. Dada a natureza deste trabalho foram, precisamente, esses os aspectos que procuramos

enfatizar. Além das mudanças cognitivas e físicas, com as quais muitos idosos se deparam, as perdas

económicas, sociais, mentais e físicas podem também infligir um temor emotivo, mágoa ou depressão,

raiva, dependência, abandono, sensação de fracasso, humilhação e vergonha. Essas perdas, tanto

previstas como imprevistas, são em geral múltiplas: a perda de vigor e saúde; a perda de capacidades

funcionais ou sentidos; a perda do cônjuge, filhos, amigos; a perda de elos sociais importantes; a perda de

emprego devido à reforma ou doença; a perda do papel na família; a perda do lar; e a perda de atracção,

sexualidade ou expressão sexual. Todas estas dimensões têm de ser consideradas de forma cuidada e

rigorosa como a única via para a compreensão dinâmica do envelhecimento e das suas repercussões na

vida das pessoas.

2.1 Família e outros cuidados informais

Ao abordar a temática da prestação de cuidados a idosos torna-se necessário referir a sua integração

social, definida pela participação organizacional, em actividades sociais, redes sociais, integração

residencial e padrões de amizade (Paúl, 1997). Neste sentido, as redes de apoio informal visam a ajuda

concreta às pessoas idosas, sendo normalmente constituídas pelo cônjuge, familiares (filhos, netos,

primos, sobrinhos...), amigos e vizinhos, que tendem a possibilitar a permanência do idoso na sua casa ou

em ambiente familiar (Mailloux-Poirier, 1995, in Berger e Mailloux-Poirier, 1995).

Silva (2006) considera a família como a primeira unidade social onde o indivíduo se insere, que contribui

para o seu desenvolvimento, socialização e formação da personalidade. Parafraseando Glezer (1995, cit in

Sousa et al, 2004) para além da família ser vista como a natural cuidadora dos idosos, por vezes, esta

acaba por ocupar, de modo involuntário, o papel de principal cuidador dos seus idosos, devido à

insuficiente existência de estruturas e equipamentos de apoio à população. As pessoas com redes mais

alargadas obtêm mais apoio nos momentos de doença, daí que o tamanho da rede deva ser alimentado ao

longo da vida (Antonucci, 2001, cit in Figueiredo, 2007). No entanto, o tamanho das redes sociais e das

trocas de apoio social diminuem com a idade. Neste contexto, Figueiredo (2007) refere que para grande

parte dos idosos a família representa a rede social, sendo esses vínculos principalmente estabelecidos por

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familiares multigeracionais, que constituem os prestadores de cuidados. Existem ainda idosos cuja rede

social é mais diversificada, onde os familiares coexistem com outro tipo de vínculo.

Cultural e tradicionalmente, o papel de cuidar é assumido pelas mulheres, contudo este tendência tem

sofrido alterações, principalmente devido ao aumento das mulheres no mercado de trabalho (Arber e

Ginn, 1990, in Squire, 2005). Ou seja, a evolução da sociedade, levou a família a mudar os seus hábitos,

pois a exigência da actividade profissional, reduz o tempo e a disponibilidade para dedicar ao idoso. A

assunção do papel de cuidador associa-se também à personalidade, valores e parentesco com o idoso. Das

relações que se estabelecem entre os membros de uma família, surgem expectativas e os familiares

deparam-se com a dicotomia entre obrigação e vontade de cuidar (Warnes e Ford, in Sousa et al., 2004).

A prestação de cuidados pela família caracterizam-se pela diversidade, pois as actividades abrangem um

conjunto de necessidades que contribuem para a melhoria da saúde e bem estar dos idosos (Paúl et al.,

2005): suporte psicológico, emocional, financeiro, cuidados e assistência nas actividades básicas e

instrumentais da vida diária.

A prestação de cuidados tem consequências positivas e negativas. Kane e Penrod (1995, cit in Sousa et al.,

2004) evidenciam como aspectos positivos: sentimento de realização, prazer em ver os seus familiares

bem cuidados e sentimento de dever cumprido. Como aspectos negativos realçam repercussões em termos

de saúde (menor disponibilidade para se auto cuidar), vida social (diminuição das relações sociais, com

agravamento de acordo com o grau de dependência do idoso), tempos livres (preocupação permanente) e

relações familiares (pouco investimento por falta de tempo e disponibilidade que potencia conflitos

devido a contextos stressantes). Em suma, traduz uma alteração no quotidiano do cuidador. No entanto, a

prática social dos cuidados familiares não tem por base o sentimento de dever, mas a qualidade das

relações interpessoais que foram estabelecidas entre cuidador e idoso. Em Portugal, a família continua

como principal fonte de apoio nos cuidados, apoio psicológico e contactos sociais à pessoa idosa

dependente (Paúl, 1997; Pimentel, 2001).

Para Wenger (1990, in Paúl, 1997), a relação estabelecida com os amigos e vizinhos é distinta da mantida

com familiares, pois resulta de escolhas estruturadas, feitas na base de opções dentro do próprio meio

social. As escolhas de amigos são mais fluidas e livres do que as de vizinhos, que apesar de tudo se

baseiam mais na relação de proximidade e instrumental. Amigos e vizinhos fornecem tipos de apoio e

assistência importantes, que contribuem fortemente para o bem estar e independência dos idosos. No

entanto, por vezes a não existência de cuidadores informais ou a sua incapacidade de resposta efectiva

aos idosos, levam à procura de serviços formais.

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Capítulo 3 - Respostas sociais

Desde o século XV que existem equipamentos para os idosos designados por asilos. A partir dos anos de 50

e 60, a sociedade e o Estado deram um novo nome aos asilos substituindo-os por lares de idosos. É nas

instituições tradicionais, desde a acção das misericórdias até às mais variadas organizações, que se forma

e desenvolve a gestão pública da velhice.

Segundo Fernandes (1997), é só a partir da década de setenta que as instituições criadas são orientadas

pelos princípios da prevenção e da integração das pessoas idosas na comunidade.

Em Portugal, a Segurança Social (Ministério do Trabalho e da Solidariedade) é a instituição oficial da

protecção social na sociedade. Aos Centros Regionais de Segurança Social compete assegurar a nível

regional, a concessão de prestações da Segurança Social e a presença de modalidades de cação social

previstas na lei e nos regulamentos.

A protecção social das pessoas idosas, prestada pela Segurança Social, refere-se às reformas por velhice

ou doença, pensões sociais, complemento por dependência e/ou complemento solidário para idosos. Para

além destas prestações, a Segurança Social, através do sistema de acção social, financia equipamentos de

serviços sociais, as denominadas IPSS's (Instituições Particulares de Solidariedade Social), Santas Casas da

Misericórdia, Lares, Residências Comunitárias, Unidades de Cuidados Continuados, Acolhimento familiar,

entre outras.

As respostas sociais mais comuns direccionadas para os idosos em IPSS apoiadas pela Segurança Social,

conforme os Guiões Técnicos da Direcção Geral de Acção Social, são as seguintes:

- Centro de Convívio - resposta social, desenvolvida em equipamento de apoio a actividades sócio

recreativas e culturais organizadas e dinamizadas pelos idosos ou instituição ou uma comunidade. Os

serviços que prestam incluem actividades lúdicas e culturais de acordo com as necessidades e interesses

da população. Os centros de convívio normalmente funcionam de 2ª a 6ª feira.

- Centro de Dia - Resposta social, desenvolvida em equipamento que consiste na prestação de um conjunto

de serviços que contribuem para a manutenção dos idosos no seu meio sócio familiar. Os serviços que

prestam englobam refeições, cuidados de higiene pessoal e roupa, actividades ocupacionais,

acompanhamento médico, com o objectivo de melhorar a qualidade de vida ao nível das necessidades

básicas. Funciona, normalmente, de segunda a domingo.

- Serviço de Apoio Domiciliário - resposta social que consiste na prestação de cuidados individualizados e

personalizados no domicílio, a indivíduos e famílias quando, por motivo de doença, deficiência ou outro

impedimento, não possam assegurar temporária ou permanentemente a satisfação das suas necessidades

básicas e/ou actividades de vida diária. Os serviços prestados incluem cuidados de higiene pessoal e

doméstica, tratamento de roupa, fornecimento de refeições, acompanhamento ao exterior, aquisição de

bens e serviços, actividades culturais, entre outras. Os objectivos desta valência são permitir a

continuidade das pessoas no seu domicílio retardando a institucionalização e contribuir para a melhoria

das condições de vida. Funciona, normalmente. de domingo a segunda feira.

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Lar Residencial - resposta social desenvolvida em alojamento colectivo de utilização temporária ou

permanente para idosos em situação de maior risco de perda de independência e/ou autonomia,

prestando todos os serviços básicos de saúde e de animação sócio cultural. Os objectivos desta resposta

social são acolher pessoas idosas cujos problemas de saúde e problemas sociais não sejam passíveis de

melhorar com outro tipo de resposta social; responder de forma adequada às necessidades manifestadas

pelos clientes; proporcionar serviços para que o processo de envelhecimento decorra com o mínimo de

degradação possível; contribuir para a preservação e o desenvolvimento das relações familiares. Os lares

funcionam permanentemente.

- Centro de Noite - resposta social, desenvolvida em equipamento, que tem por finalidade o acolhimento

nocturno, prioritariamente para pessoas idosas com autonomia que, por vivenciarem situações de solidão,

isolamento ou insegurança necessitam de suporte de acompanhamento durante a noite.

- Acolhimento Familiar para Pessoas Idosas - resposta social que consiste em integrar, temporária ou

permanentemente, em famílias consideradas idóneas, pessoas idosas quando, por ausência ou falta de

condições de familiares e/ou inexistência ou insuficiência de respostas sociais, não possam permanecer no

seu domicílio.

- Residência para Idosos - resposta social, desenvolvida em equipamento, constituída por um conjunto de

apartamentos com espaços e/ou serviços de utilização comum, para pessoas idosas, ou outras, com

autonomia total ou parcial.

- Colónia de Férias - são prestações sociais em equipamentos ou não, que comportam um conjunto de

actividades que pretendem satisfazer as necessidades de lazer, proporcionando ao idoso um bem estar

físico e psíquico.

Todos os equipamentos sociais são obrigados a ter um regulamento interno, onde devem constar as regras

de funcionamento, os critérios de admissão, direitos e deveres do clientes e familiares. Horários de

funcionamento, de visitas, quadro de pessoal, sistema de comparticipações, entre outros.

O crescimento da resposta social Serviço de Apoio Domiciliário tem-se verificado, nos últimos anos, devido

à política desenvolvida pelo Estado ao dar maior relevância, ao nomear esta valência como alternativa e

de acordo com as necessidades biopsicossociais do idoso e, desta forma, retardando a institucionalização.

3.1 Vivências em Lares de Idosos

A OMS (Organização Mundial de Saúde) lançou a proposta do envelhecimento activo, entendido como um

processo que se inicia cedo e acompanha as pessoas ao longo da vida, compreendendo essencialmente a

optimização das condições de saúde, participação e segurança.

É de implementar a ideia de envelhecimento activo e saudável, como factor da possibilidade de a pessoa

idosa permanecer autónoma e capaz de se bastar a si própria, no seu meio natural de vida, ainda que com

recurso a pequenas ajudas, como a resposta de serviço de apoio domiciliário que, tem crescido

favoravelmente e tem sido apoiada pelo Estado, com o objectivo de retardar a institucionalização.

No entanto, a realidade mostra que há um número considerável de pessoas idosas em condições de

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acentuada dependência, em situações de isolamento/solidão, com problemas financeiros, que residem em

péssimas condições de habitabilidade, sem apoio familiar e não encontram resposta capaz no meio em que

vivem para os seus problemas. Assim, torna-se frequente a necessidade do recurso a respostas sociais, em

que se inclui o alojamento em estruturas residencial, a título temporário ou permanente.

O progressivo envelhecimento da população, aliado a condições como a alteração na estrutura familiar, a

mobilidade geográfica, a degradação das condições de habitação, a desadaptação das casas às

necessidades dos idosos, a degradação das condições de saúde destes, têm provocado um aumento da

procura dos lares de 3ª idade". (Pimentel, 2001:71).

As pessoas idosas, quando se encontram nestas situações acima referidas, necessitam de apoio, de

respostas sociais com qualidade. No entanto, Pimentel (2001:76) afirma que "a grande maioria dos

equipamentos não está preparada para proporcionar aos seus utentes serviços individualizados que

respeitem a personalidade, a privacidade e modos de vida diversificados".

Cardão (2009) concluiu que, no internato colectivo, o modelo de cuidados prestado pelos cuidadores é

mais centrado nas tarefas de cuidar do que nas necessidades da pessoa idosa, não encorajam a autonomia,

não perdem tempo a escutar, não respeitem o ritmo de cada idoso e estes fatos prendem-se com a

escassez de recursos humanos. Esta falta de cuidadores formais "tem como consequência uma maior

mecanização e impessoalidade dos cuidados, desenvolvidos de forma rápida, a fim de chegar a todos".

(Cardão, 2009:70)

Osório (2007) afirma que os serviços prestados pela maior parte dos lares continuam a ser exclusivamente

serviços de assistencialismo e segregados da sociedade. "Um centro afastado da vida quotidiana do bairro

ou da localidade, desvinculado da sociedade que o mantém, desenraizado da cultura dos utentes, que não

tem em conta os acontecimentos e as manifestações cívicas, será forçosamente um centro segregado e

marginalizador que não potencializará, de todo, a participação ou a integração" (Osório, 2007:234).

Também Fonseca (2008:188) manifesta a sua opinião quanto à criação de lares só para idosos, levantando

a questão da discriminação, "combater a segregação, mas igualmente a «conservação» dos idosos em sítios

«bons para eles» mas afastados do resto da sociedade". Estas respostas sociais devem ser desenvolvidas na

perspectiva do reconhecimento do direito das pessoas idosas à plena cidadania, à igualdade de

oportunidades, à participação no processo de desenvolvimento económico, social e cultural. Implicam o

acesso aos cuidados necessários, ao bem estar, e à qualidade de vida da pessoa idosa.

Independentemente das razões que levam o idoso à institucionalização, analisar a sua integração

compreendesse que, no mínimo, lhe é exigido o abandono do seu espaço, obrigando-o a reaprender e a

integrar-se num meio que lhe é limitativo e que, em muitos casos, assume o controlo de muitos aspectos

da sua vida.

Considerando o direito a opções na escolha de residências, Paúl (1997) refere que, para a maioria dos

idosos portugueses, o factor escolha de um novo local para residir foi extremamente limitado, devido à

escassez generalizada de equipamentos e aos seus baixos recursos económicos, tornando-se esta forma de

institucionalização num misto de voluntária e obrigatória.

O recurso á institucionalização, na falta de outra alternativa, é cada vez mais comum, tal como se

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constata pela enorme procura e pelas longas listas de espera destes equipamentos. A imagem de uma

velhice solitária (institucionalizada ou não), carenciada e incapaz, são cada vez mais evidentes. Por um

lado, temos uma ausência da família (inexistente ou fisicamente distante); por outro lado, a acção social

que tenta resolver essa mesma ausência; originando um discurso de velhice problemática como legítima e,

ao mesmo tempo, aumenta o número de instituições de resposta.

O processo da institucionalização é longo, pressupondo todo um conjunto de etapas e, por norma, difícil

para o idoso. A saída de casa para um lar põe em causa a questão da integridade, privacidade e

independência do idoso, bem como a sua ligação entre o passado e o presente. Além disso, altera todo um

conjunto de rotinas e interacções que modificam o estilo de vida do próprio idoso.

Como é explicado por Liliana Sousa et al. (2006), a institucionalização acarreta algumas situações de

stress quer para o idoso, quer para a família e até para a instituição, tal como a rotulação do idoso a

alguns estereótipos (doente, incapaz, inútil ou abandonado) condiciona, por conseguinte, a acomodação

dos próprios idosos a esses rótulos.

Ao mesmo tempo, a institucionalização pode acarretar, dependentemente das suas causas, integração do

idoso e redes de apoio social, uma melhoria de satisfação do bem estar do idoso, não só a nível da

prestação de serviços e cuidados básicos, como ao nível das interacções: do aumento das redes sociais de

apoio, do sentido de pertença, da promoção de actividade física e psicológica, da criação de projectos e

novos objectivos de vida. "Apesar da institucionalização ser um momento angustiante por representar um

corte simbólico ou real com a sociedade envolvente, os idosos em causa consideram que é uma alternativa

que lhes garante alguma estabilidade, pois sabem que têm apoio em qualquer circunstância, sentindo-se

mais seguros e protegidos a esse nível" (Pimentel, 2001:206). Alguns estudos referem que a

institucionalização influencia positivamente a auto estima e é uma oportunidade de interacção e aquisição

de papeis sociais ajustados aos idosos (Fernandes, 2000).

Para além da vulnerabilidade acrescida do idoso, devido às limitações físicas, a capacidade que ele tem

em lidar com situações de stress e adoptar estratégias de confronto, enquanto utente numa instituição

tende a ser menor com a idade do idoso. Esta redução do confronto está associada a uma redução

adaptativa ou mal adaptativa dos idosos. Torna-se necessário desenvolver respostas sociais existentes e

criar novos equipamentos mais maleáveis, adequados às realidades e especificidades locais, com

envolvimento e participação dos diversos agentes sociais e especificidades dos destinatários, a nível de

concepção, execução e avaliação dessas mesmas respostas. Como refere Pimentel (2001:234), "se houver a

preocupação de criar equipamentos estruturados de acordo com as necessidades dos seus utentes, que

respeitem a sua forma de estar na vida, a sua personalidade e individualidade e lhe proporcionarem

espaços de realização pessoal, talvez, a institucionalização se torne menos penosa e angustiante".

Destacam-se vários estudos, quer em Portugal, quer no estrangeiro, que referem que os quadros

depressivos em idosos institucionalizados resultam mais de factores psicossociais do que médicos. Perante

o desafio que o envelhecimento da sociedade trava consigo, mesmo na adequação de respostas, a carga

negativa desta fase da vida pode ser minimizada ou prevenida se, ao idoso, estiverem vinculadas redes de

apoio social informal e de modo a contribuir para uma maior satisfação dos seus dias. As escolhas dos

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amigos, a integração numa rede de apoio, a socialização, a tomada de decisões quanto aos défices

sensoriais são medidas válidas para controlar o ambiente e manter um óptimo estado de saúde (Berger,

1995 cit in Fernandes, 2000). As principais perdas vividas pelas pessoas idosas dizem respeito aos papéis,

expectativas e referências ao grupo social. O internamento, por exemplo, pode implicar um certo número

de perdas: a perda da intimidade, da privacidade, da autonomia, entre outras. Segundo Minois (1999), as

perdas suscitam, nas pessoas idosas, depressão, ansiedade, reacções psicossomáticas, afastamento e

descompromisso. Muitas adaptações que os idosos têm que experimentar representam verdadeiras crises.

Estas crises perturbam o seu estilo de vida e representam agressões à sua integridade física e psicológica.

Os idosos, muitas vezes, têm dificuldades em adaptar-se devido aos problemas psicológicos que passaram

como, as perdas, as situações de stress, a doença, a fadiga e/ou o desenraizamento.

3.2 A integração do idoso numa estrutura residencial

Decidir entrar para uma estrutura residencial é uma grande mudança na vida de uma pessoa idosa. É uma

mudança que origina, muitas vezes, a separação com o meio familiar, uma ruptura em relação à vida e aos

hábitos e uma adaptação a um novo ambiente, gerando um forte impacto emocional.

Na fase do acolhimento, a estrutura residencial deve estar preparada para acompanhar o idoso a integrar-

se. Normalmente, o impacto emocional é muito forte para a própria e demais família, devido às profundas

modificações na integração. Assim, a estrutura residencial deve estar preparada, conhecer a história de

vida, a personalidade, o relacionamento com os familiares e comunidade, os seus hábitos e gostos, as suas

angústias e dificuldades. Isto, com o objectivo de minimizar os riscos como a perda de vínculos afectivo,

desenraizamento, receio da mudança e a rejeição da integração (Manual de Boas Práticas, 2005).

Contudo, Pimentel (2001), afirma que a maioria dos equipamentos destinados a idosos não têm em

consideração os desejos e motivações dos utentes, limitam-se a dar resposta às necessidades fisiológicas e

esquecem e/ou reprimem as do nível social, afectivo e sexual. Os cuidadores têm falta de sensibilidade

para a especificidade da experiência de cada indivíduo e não proporcionam serviços individualizados,

obrigando os utentes a viverem de acordo com as normas impostas pelo equipamento. Também, Sousa

(2006) confirma que quando o idoso vai para um lar, os seus desejos, os seus direitos à autonomia são

desvalorizados, o que é importante para os cuidadores formais da instituição é manter, assegurar as

necessidades físicas da pessoa, assumir a responsabilidade pelo bem estar dos utentes, gerir a vida da

pessoa idosa, rotulando-a como socialmente dependente. Como refere Paul (1997:112), "a existência de

redes sociais de apoio só um aspecto crucial da vida dos idosos, numa relação directa de apoio, preventivo

da institucionalização ou, num contexto institucional, como decisivas no sentimento de bem estar físico e

psicológico dos indivíduos. Mais do que a quantidade de pessoas de uma rede social de apoio, a qualidade

relacional é um factor importante".

A institucionalização tem os seus riscos e perigos que podem intervir de uma forma negativa na vivência

do idoso num lar. Como refere Fernandes (2000), são vários os factores que contribuem para esse impacto

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negativo, como sejam, a falta de privacidade (despersonalização), o tratamento massificado e de forma

igualitária para todos, a perda de responsabilidade por decisões pessoais, as rotinas rígidas, a

desvinculação do núcleo familiar e da comunidade, a ausência de estimulação intelectual e a realização

de actividades físicas. Todos estes factores podem contribuir para uma baixa auto estima, falta de

interesse por si e pelos outros, causando uma regressão e desintegração social, respostas emocionais

diminuídas, dependência excessiva dos cuidadores para a realização das suas actividades básicas e

instrumentais da vida diária, entre outros.

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Parte II

Investigação empírica

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Capítulo 4 - Aspectos metodológicos

Este capítulo apresenta as duas investigações realizadas, a primeira é um estudo sobre as vivências dos

idosos residentes em lares e a segunda é um estudo que recai sobre os cuidadores formais que

desempenham funções de acompanhamento e cuidados a idosos em lares.

A manifestação em estudar a população idosa deriva do contacto diário com os idosos, da observação e

participação das vivências em lares de idosos. Para além destas razões, o aprofundar conhecimentos sobre

o processo de envelhecimento e desenvolver competências de intervenção adequadas aos contextos em

que estamos inseridos foram os objectivos gerais que delineamos para esta investigação.

Conforme a revisão da literatura apresentada, o envelhecimento é um fenómeno complexo que difere de

indivíduo para indivíduo "(...) o que torna a velhice um fenómeno heterogéneo (...)" (Palmeirão, 2002:21).

No ciclo vital, os idosos são o grupo mais diferente, pois cada idoso tem uma história de vida, uma

personalidade, experiências para relatar, vivências, que os fazem distinguir uns dos outros. O processo de

envelhecimento por mais natural que ocorra traz sempre mudanças influenciadas por factores biológicos,

sociais, económicos e ambientais. Estas mudanças que ocorrem, nem sempre são aceites de uma forma

natural por parte do idoso e, por vezes, esta resignação da fase da velhice leva a consequências nefastas

no idoso.

Uma das mudanças que podem surgir na fase da velhice é a integração de um idoso num lar e,

possivelmente, esta mudança acarreta imensas alterações na vida do idoso, prejudicando ou não o

envelhecimento.

A nossa questão de partida recaiu, precisamente, sobre a integração de um idoso no lar como uma

mudança que pode acelerar o processo de envelhecimento. Para tal, no primeiro estudo que realizamos

entrevistamos 18 idosos integrados numa instituição que nos relataram as razões da integração, os

momentos de adaptação ao lar, as vivências nos lares com todos os intervenientes (família, colegas,

cuidadores, sociedade). No segundo, entrevistamos os cuidadores formais que desempenham funções no

mesmo lar com o objectivo de conhecermos as suas opiniões face à velhice e o seu papel de cuidador.

4.1 Objectivos da investigação

Como objectivo específicos dos dois estudos temos os seguintes:

- Estudar as razões que levam o idoso à integração num lar - é essencial para a investigação conhecermos

os motivos que levam um idoso a procurar um lar.

- Analisar as expectativas e projectos de vida no idoso institucionalizado - após a integração no lar, é

importante conhecermos os desejos dos idosos face à sua vida, aos seus pares e aos serviços prestados

pelo lar.

- Verificar se os lares satisfazem as necessidades e potenciam os interesses dos idosos - para alcançar este

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objectivo temos que, inicialmente, conhecer quais as necessidades dos idosos, a nível biopsicossocial e

que serviços oferecem os lares para satisfazerem essas necessidades.

- Conhecer as opiniões dos cuidadores formais sobre o envelhecimento - os cuidadores formais nos lares de

idosos são as pessoas que têm a oportunidade de contactar diariamente com os idosos e explorar o que

pensam e sabem estes profissionais sobre a fase da velhice é determinante para o estudo.

- Investigar as opiniões dos cuidadores formais face à integração dos idosos nos lares - como referimos os

cuidadores conhecem as histórias de vida dos idosos e deparam-se com muitas situações, sabem quais as

razões da integração e a oferta dos serviços prestados pelos lares.

- Identificar o perfil do cuidador formal num lar de idosos - este objectivo tem como finalidade conhecer

quem cuida dos idosos, que formação técnica possui, como encara a velhice, que género de cuidados

presta.

4.2 Modelo de análise e opções metodológicas

Depois de explorarmos as diferentes perspectivas que estão relacionadas com o nosso objecto de

investigação, passamos, no presente ponto, à construção do modelo de análise. Pretendemos apresentar

uma selecção de perspectivas mais adequadas para o alcance dos nossos objectivos de investigação. Esta

fase assume-se de grande relevância para a recolha e análise dos dados que será a etapa seguinte da

investigação.

De acordo com Quivy e Campenhoudt (2003:150), "o modelo de análise é o prolongamento natural da

problemática, articulando de forma operacional os marcos e pistas que serão finalmente retidos para

orientar o trabalho de observação e de análise. É composto por conceitos e hipóteses estreitamente

articulados entre si para, em conjunto, formarem um quadro de análise coerente".Trata-se, portanto, de

um processo de conceptualização, ou seja de construção dos conceitos que visam dar conta do real. São

conceitos chave que já foram abordados ao longo do nosso enquadramento teórico. Procedemos à

realização de um exercício de decomposição dos conceitos que irá resultar em dimensões e indicadores

que servirão de suporte à preparação dos instrumentos de recolha da informação. Estes indicadores são

"(...) manifestações objectivamente observáveis e mensuráveis das dimensões do conceito" (Quivy &

Campenhoudt, 2003:122). Também neste ponto, evidenciamos as relações que acreditamos que existem

entre os vários conceitos em análise e as hipóteses que construímos e que resultam dessas relações. O

nosso objectivo é tornar essa relação, entre os principais conceitos, a base do trabalho de pesquisa no

terreno. Todavia, é importante salientar que não remetemos a totalidade dos conceitos, mas somente

aqueles que considerados os mais importantes dessa realidade.

A temática do envelhecimento é central no nosso trabalho e por isso, falar em idosos ou em velho é falar

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de um indivíduo que, antes de mais, está inserido num contexto sócio cultural, isto é, um contexto social

e cultural, tornando-se pertinente começar pela abordagem desse conceito.

A Comissão Europeia24 define o contexto social da seguinte forma: "o contexto social de uma pessoa é

determinado pelas condições de vida e de trabalho, pelo nível de rendimentos e pelo nível de

escolarização, bem como pelas comunidades em que se integra". No entanto, desta definição, não

tomaremos em linha de consideração o nível de rendimentos, já que não se trata de um indicador de

análise pertinente para a nossa pesquisa. Por outro lado, desta definição podemos perceber que um

indivíduo se insere numa determinada comunidade que está, por sua vez, inserida num contexto cultural

específico. Podemos então afirmar que o indivíduo está não só inserido num contexto social, como está

integrado num contexto cultural, numa cultura específica que influenciam a forma como se constroem as

suas trajectórias e aquilo que é.

O envelhecimento é determinado por factores ambientais, culturais e históricos, dependendo da

trajectória de vida do idoso e das suas experiências, a sua idade e a sua cultura. Trata-se de compreender

que "(...) o processo de envelhecimento está inscrito num contexto social. É marcado por circunstâncias

históricas e socioculturais concretas que convém analisar (...)" (Osório, 2007:8).

O contexto sócio cultural de um indivíduo é, portanto, constituído por diversas dimensões que estão

intimamente relacionadas entre si, nomeadamente, a caracterização social e demográfica, a escolaridade

e o trabalho, a família e a conjugalidade.

No que diz respeito à caracterização social e demográfica, esta é constituída por indicadores como a

idade, o género e o estado civil do idoso.

Em relação à dimensão da escolaridade e do trabalho identificamos indicadores como o grau de

escolaridade, a situação perante o trabalho e as principais actividades profissionais que teve ao longo da

vida activa.

Finalmente, no âmbito da dimensão da família e da conjugalidade é possível associá-la a indicadores como

a existência de filhos, o número de filhos, o seu estado civil e as suas qualificações, a situação

habitacional anterior do idoso, as relações familiares e, no caso do idoso ser viúvo, a manutenção de uma

relação amorosa.

Analisamos que o número de pessoas idosas e com mais de 80 anos está a aumentar, aumentando também

a possibilidade de diminuição das suas capacidades funcionais e cognitivas, o que pode levar à necessidade

de cuidados mais atentos e prolongados. Esta situação aliada à diminuição ou indisponibilidade da sua

rede de relações - para a prestação de cuidados - coloca o idoso numa posição de maior fragilidade em

termos de manutenção das suas actividades de vida diária. Este cenário leva muitas vezes a que o idoso,

ou a própria família, decida pela necessidade de recorrer ao apoio formal, nomeadamente à

institucionalização num Lar para idosos.

Perante uma situação de perda de autonomia "(...) são essencialmente duas as vias de apoio a que os

idosos poderão recorrer: cuidadores informais (família, amigos e vizinhos) e cuidadores formais

(instituições de saúde e instituições sociais"). (Lopes, 2009:47). Contudo, como referimos, a 24 Portal da Saúde da União Europeia, disponível em http://ec.europa.eu/health-eu/index_pt.htm.

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indisponibilidade dos cuidadores informais em alguns casos leva à procura do segundo tipo de cuidados,

nos quais nos debruçaremos com mais precisão.

Entendemos por Lar de Idosos uma resposta social que é desenvolvida num equipamento e que promove

alojamento colectivo, que pode ser de utilização temporária ou permanente, cuidados alimentares,

cuidados de saúde e higiene e que desenvolve também actividades de ocupação de tempos livres e de

convívio entre os utentes25. Os idosos estão institucionalizados quando passam 24 horas por dia ao cuidado

de uma instituição social e não da sua família.

Abordando o conceito de institucionalização, podemos afirmar que este corresponde a um processo

mediante o qual um conjunto de normas de comportamento, com regulamentação jurídica formal, orienta

uma actividade social considerada importante. A institucionalização subentende um processo de

cristalização de procedimentos, de comportamentos, de normas, de significados, de valores e

conhecimentos.

A institucionalização do idoso em Lar de Idosos é o resultado de um conjunto de dinâmicas que cruzam

dois agentes principais: a instituição e o idoso.

Neste sentido, quando referimos o conceito de institucionalização podemos considerar as seguintes

dimensões: a dimensão pessoal, a dimensão relacional e os serviços prestados.

No âmbito da dimensão pessoal consideramos componentes como as dinâmicas individuais e institucionais.

Para tal, encontramos indicadores como o processo de entrada e integração na instituição, as

condições/limitações de acesso, a aceitação de diferentes tipos de dependência, o grau de (in)capacidade

do idoso e os motivos da institucionalização.

A dimensão relacional da institucionalização prende-se com as redes de relações que o idoso mantém,

quer ao nível interno, da instituição, quer ao nível externo, fora da instituição, pelo que encontramos

indicadores como a relação com os profissionais, a relação com os restantes utentes da instituição e as

relações sociais e de amizade mantidas no exterior da instituição.

Finalmente, reportando-nos para a dimensão dos serviços prestados, podemos afirmar que uma instituição

social, nomeadamente um Lar de Idosos, promove um conjunto de serviços que já referimos. São serviços

sociais especializados (Osório, 2007) que se destinam a uma camada da população que requer peculiar

atenção, como é o caso dos idosos. Deste modo, de acordo com Arca (2007:276), "os serviços

institucionais, deviam, por isso, reunir pelo menos duas condições: 1. profissionalismo e qualidade. 2.

Diversidade na oferta". Os indicadores de análise desta dimensão prendem-se com a diversidade dos

serviços, a qualificação dos serviços e a qualificação dos seus profissionais, pois entendemos que a

prestação de cuidados e serviços a idosos deve primar, não só pela qualidade dos serviços, mas

essencialmente dos seus profissionais, pois são eles os principais agentes de interacção diária.

Se reflectirmos sobre a institucionalização do idoso, a vivência do idoso em meio institucional e a

prestação de cuidados formais num equipamento social devemos, pois, abordar o conceito de Qualidade

de Vida. Trata-se de um conceito multidimensional e complexo não permitindo uma definição consensual

(Tamer & Petriz, 2007). 25 Consultar site da Carta Social - conceitos; Pimentel, 2005.

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Quando nos referimos a qualidade de vida em contexto institucional, importa reter que consideramos o

modo como os últimos anos da velhice são vividos, com vista a que os idosos os vivam da melhor maneira

possível. De acordo com Martin e Pastor (1990), entende-se que "(...) a qualidade de vida de um indivíduo

poderá ser concebida como a relação global que ele estabelece entre os estímulos positivos (favoráveis,

agradáveis, etc) e os estímulos negativos (adversos, desagradáveis, etc) no decurso da sua vida pessoal"

(cit. in Tamer e Petriz, 2007:197). A qualidade de vida é o conjunto daquilo que nos rodeia - objectivo e

concreto - e da nossa reacção subjectiva que é no fundo o valor que lhe atribuímos.

É necessário pensar no conceito de qualidade de vida, não só como num conceito rígido mas, antes de

mais, como um "estado" que é dinâmico, como um processo social, económico, cultural e psicológico, em

que produzimos valores e percepcionamos socialmente valores. Todavia, não devemos confundir este

conceito com os conceitos de nível de vida ou desenvolvimento económico social (Tamer & Petriz, 2007).

Segundo as mesmas autoras, o que condiciona a qualidade de vida é a satisfação das necessidades da

espécie humana. Desta forma, a satisfação é perspectivada como sendo a conformidade entre aquilo que é

realmente e a percepção que temos daquilo que é.

Face ao exposto, podemos considerar a satisfação, a participação, a individualidade e a segurança as

quatro dimensões que identificamos para este conceito.

A dimensão da satisfação remete-nos para indicadores como a satisfação com o lar, os serviços que nele

são prestados e a satisfação com os seus profissionais. Acreditamos que a satisfação do idoso é decisiva na

promoção da sua qualidade de vida.

No enquadramento teórico, vimos que a barreira da idade é extremamente importante quando nos

referimos à participação social, sendo que os 65 anos marcam através da reforma, um limite mínimo de

idade onde se pensa que começa a velhice. Este marco produz segregação a o afastamento dos idosos do

seu meio e dos seus papéis sociais. Ainda que forçosamente, passam a ser atribuídos aos idosos outros

papéis, outras rotinas e outras actividades. Também o processo de institucionalização permanente em Lar

de idosos tem como consequência, na maioria dos casos, uma ruptura com determinadas rotinas diárias e

actividades, pelo que é imperativo que o idoso institucionalizado mantenha uma postura de participação

nas dinâmicas do lar onde reside.

A dimensão da participação é materializada em indicadores como o contacto com a comunidade, a

participação em actividades de lazer e a ocupação de tempos livres e correspondente avaliação, as suas

rotinas e actividades de vida diária, assim como as da instituição, não esquecendo a importância de o

idoso participar num processo avaliativo com vista ao melhoramento do lar. Consideramos que, sendo os

idosos os principais agentes da instituição, é importante ouvir as suas opiniões quanto ao que poderia ser

melhorado ou até mesmo modificado na instituição.

Em suma, a dimensão da participação é um direito do idoso, já que segundo o que é defendido pela

Assembleia Geral das Nações Unidas, Resolução 46/91, "(...) as pessoas idosas deverão permanecer

integradas na sociedade, participar activamente na formulação e implementação de políticas que afectem

o seu bem estar" (cit. in Arca, 2007:280).

No âmbito da dimensão da individualidade, é possível afirmar que todos os idosos, como seres individuais,

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possuem as suas características, o seu espaço, as suas crenças, os seus valores, e os seus sentimentos pelo

que, o fato de residir numa instituição não deve obrigar a que o idoso renegue a sua individualidade. Pelo

contrário, a instituição deve promover o sentido da individualidade dos seus idosos, sendo que a mesma

deve ser respeitada por qualquer profissional e utente26. Trata-se de um processo complexo uma vez que a

vivência nestas instituições é fechada e fortemente administrada (Fernandes, 1997). Nesta dimensão,

encontramos indicadores como a autonomia/liberdade, a privacidade e a intimidade.

Acreditamos que o modo como o idoso vivencia a institucionalização se reflecte na sua qualidade de vida.

Entendemos que se a escolha da institucionalização não foi livre e espontânea, mas sim tomada por

terceiros, isso irá reflectir-se, por exemplo, nos seus níveis de satisfação. A relação entre o modo como é

vivida a institucionalização e a promoção da qualidade de vida é de influência bilateral. Queremos com

isto dizer que a qualidade de vida é promovida pela instituição, dependendo das suas características, pode

também conduzir a modos diferentes de viver a institucionalização no lar.

A forma como uma instituição - e as pessoas que nela trabalham - se organiza e perspectiva a velhice é

assente num conjunto de representações sociais. De acordo com Lopes (2009:48-49), o conceito de

representações sociais "(...) pode ser entendido como formas de conhecimento ou teorias, que

construímos ao longo da nossa trajectória social e que funcionam como códigos de leitura da realidade.

(...) Facilitam a compreensão da realidade, fornecendo explicações sobre os fenómenos e os objectos

sociais (...) funcionam também como padrões orientadores das nossas acções (...)". Por outro lado, não

falamos das representações sociais face à velhice, mas também o carácter negativista com que ainda é

perspectivada a institucionalização, permanecendo uma imagem do asilo que contamina a percepção

simbólica que se tem sobre os Lares de Terceira Idade.

O conceito de representações sociais pode assumir, assim, duas dimensões, sendo elas, a dimensão teórico

ideológica e a dimensão prática.

No que respeita à primeira dimensão, esta materializa-se em indicadores como as representações sociais e

atitudes face à velhice, tanto por parte dos idosos como dos profissionais da instituição. A dimensão da

prática corresponde a um único indicador, isto é, a análise dos comportamentos dos profissionais face ao

idoso, verificando se é promovido um tipo de práticas assente em atitudes de proteccionismo ou

infantilização do próprio idoso.

Pretendemos com as investigações efectuadas a estas duas populações (idosos e cuidadores formais)

corroborar ou não as hipóteses por nós supostas na satisfação dos idosos institucionalizados. Tendo por

base a bibliografia consultada no primeiro capítulo e a experiência profissional elaboramos as seguintes

hipóteses:

Hipótese básica - Alguns lares não reúnem as condições necessárias para um envelhecimento bem

sucedido.

Hipótese 1 - Os idosos procuram a resposta social de lar, quando não possuem outras alternativas. 26 Consultar Manual de Boas Práticas, 2005.

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Hipótese 2 - Os lares de idosos não desenvolvem programas de acolhimento, integração e lazer nos quais

os idosos sejam o centro de toda a actuação, respeitando a individualidade de cada pessoa.

Hipótese 3 - Os idosos interiorizam a institucionalização como o último local onde permanecem até ao

final da sua vida.

Hipótese 4 - A intervenção dos cuidadores formais é determinante no modo como o idoso percepciona a

velhice.

No fim deste capítulo as hipóteses serão analisadas e verificadas.

Chega o momento de apresentar a estratégia metodológica da presente investigação que tem como função

essencial orientar o investigador na escolha dos métodos que se revelam mais adequados para,

criticamente, abordar o real social.

Para Hill e Hill (2005:21) a "(...) investigação é uma viagem de ida e volta na medida em que começa no

«País Teórico», chega ao «País Prático» e termina mais uma vez no «País Teórico»". Como qualquer outra

viagem, devemos fazer-nos acompanhar de uma bagagem que suporte as nossas necessidades e, na

investigação, essa bagagem assume a figura dos métodos e das técnicas necessárias para a concretização

dos objectivos da investigação.

De acordo com a tipologia de Grenwood (1965, cit in Almeida & Pinto, 1995), o campo da metodologia é

constituído por três métodos distintos sendo eles, o Método de Análise Extensiva, o Método de Análise

Intensiva e o Método Experimental.

Neste sentido, entendemos que o método de análise intensiva demonstra ser o mais adequado. Este

método insere-se no âmbito do programa interpretativo (Lessard-Hébert, Goyette, Boutin, 1994). Este

paradigma tem as suas bases em Weber e na procura do sentido da acção. Guerra (2006:17) afirma que "do

ponto de vista qualitativo, considera-se que os sujeitos interpretam as situações, concebem estratégias e

mobilizam os recursos e agem em função dessas interpretações". Tal pressupõe uma participação activa

dos sujeitos e uma atitude compreensiva e interpretativa das suas acções.

Sendo mais flexíveis, os métodos qualitativos promovem uma aproximação entre o investigador e o

objecto, minimizando a distância que caracteriza os métodos quantitativos. Permite, ainda, obter uma

grande quantidade de informação, tão rica quanto heterogénea, ao contrário do que acontece com os

métodos quantitativos.

Ao recorrer ao estudo de caso, o investigador emerge num estudo aprofundado de casos particulares.

Desse modo, privilegiamos uma análise intensiva, desenvolvendo dois estudos de caso sobre a

institucionalização do idoso em lar. Procuramos obter um conjunto de informações que nos possibilitem

produzir conhecimento científico sobre uma realidade específica e que, por outro lado, permitam fazer

um diagnóstico das dinâmicas subjacentes ao fenómeno da institucionalização. Esse diagnóstico terá como

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principal objectivo reflectir sobre algumas recomendações importantes no que respeita à

institucionalização do idoso.

Como público alvo da presente investigação privilegiamos a população idosa institucionalizada num Lar de

Idosos no concelho do Fundão (no qual prestamos serviços), para além de alguns elementos que

constituem a equipa de trabalho da instituição, aos quais nos referimos como informantes privilegiados.

À metodologia qualitativa corresponde um conjunto de técnicas. Estas são "(...) conjuntos de

procedimentos bem definidos e transmissíveis, destinados a produzir certos resultados na recolha e

tratamento da informação requerida pela actividade de pesquisa" (Almeida & Pinto, 1995:85), sendo que

optamos por aquelas que melhor respondem às necessidades desta pesquisa, nomeadamente, a observação

directa e a entrevista individual semi directiva ou semi estruturada.

No que concerne às entrevistas individuais, estas foram aplicadas tanto à população idosa assim como a

alguns profissionais que trabalham diariamente com os idosos na instituição. Almeida e Pinto (1995)

afirmam que quanto maior liberdade e iniciativa proporcionarmos ao entrevistado, mais rica e profunda

será a informação recolhida. Contudo, incorremos o risco desta informação ser dificilmente generalizável

no que respeita à dimensão explicativa, uma vez que é o tipo de informação focada no indivíduo, neste

caso, do entrevistado. Todavia, salvaguardamos que não é nosso propósito construir uma análise que seja

passível de ser generalizada. Pretendemos, sim, produzir conhecimento científico que dê conta da

realidade de uma forma intensiva.

Ressalvamos que se trata de um tipo de entrevista semi estruturada (Quivy & Campenhoudt, 2003) de

forma a conceder ao entrevistado alguma liberdade na construção das suas respostas. Simultaneamente,

este tipo de entrevista possibilita ao entrevistador controlar as questões chave que definiu inicialmente e

orientar a conversa em função dos seus objectivos.

De forma a dar conta da realização das entrevistas, construímos dois guiões de entrevistas distintos, um

para para os utentes27 e outro para os informantes privilegiados28 da instituição. Estes guiões serviram-nos

de orientação durante a realização das entrevistas sem impor, necessariamente, uma estrutura rígida.

Procedemos à realização de um total de 18 entrevistas no Lar de idosos. Entendendo que a

institucionalização cruza dois agentes distintos, idoso e instituição, realizamos as entrevistas a ambos os

públicos.

Após uma análise da equipa de profissionais que trabalha com os idosos, na instituição, podemos dividi-la

em dois grupos: os Técnicos Qualificados e as Auxiliares de Acção Directa. Desses grupos destacavam-se os

profissionais que estavam continuamente em contacto com os idosos. Por um lado, as Ajudantes de Lar e,

por outro lado, a Directora Técnica.

Desta forma, realizamos quatro entrevistas a informantes privilegiados na instituição, nomeadamente uma

entrevista à Directora Técnica, três entrevistas a Ajudantes de Lar - com mais e com menos tempo de

função.

No que concerne às entrevistas realizadas da instituição, foram realizadas, no total 18 entrevistas (3 do

27 Ver Anexo 1. 28 Ver Anexo 2.

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sexo masculino e 15 do sexo feminino). No que respeita à amostra, construímos uma amostra qualitativa

baseada em critérios como o sexo (masculino e feminino) e a idade (intervalo de idades entre os 65 e os

100 anos). Isto porque, sabíamos que estávamos perante uma população bastante envelhecida e

heterogénea, cuja idade não corresponderia directamente à sua disponibilidade cognitiva. Isto é,

poderíamos ter idosos "mais jovens" mas sem capacidades cognitivas para efectuar uma entrevista, como

poderíamos encontrar idosos com idades mais avançadas mas, que se apresentavam plenamente

conscientes e capazes de responder com corência às questões do nosso guião.

Atendendo à proposta de Almeida & Pinto (1995:119) no que concerne aos diferentes tipos de

amostragem, consideramos que o tipo de amostragem não probabilística como o mais adequado,

designadamente a amostra intencional. Segundo os autores, " o pressuposto básico da amostragem

intencional é o que, com «boa» intuição e uma estratégia adequada, é possível seleccionar os elementos

que devem ser incluídos na amostra (...)".

Convém salientar aqui que é importante manter o anonimato dos intervenientes, dado que o tipo de

informação recolhida, em alguns casos informação grave e delicada, passível de colocar os sujeitos em

situações melindrosas. Por isso, "é dever dos sociólogos procurar evitar que da recolha, utilização e

divulgação de informação decorram prejuízos para quem a presta ou para aqueles acerca de quem a

informação é prestada. Devem, nomeadamente, salvaguardar o direito das pessoas à privacidade e ao

anonimato, bem como respeitar a confidencialidade de informações e resultados, em todas as

informações em que ela tenha sido acordada" (Associação Portuguesa de Sociologia, Código Deontológico),

pelo que foi nossa principal preocupação acordar com todos os entrevistados que a prestação de

informações era confidencial, sendo que também por isso, preferimos manter a privacidade dos mesmos.

As entrevistas foram sujeitas a uma análise de conteúdo, particularmente uma análise categorial. De

acordo com Guerra (2006:62), "é um pressuposto que a análise de conteúdo é uma técnica e não um

método, utilizando (...) o confronto entre um quadro de referência do investigador e o material empírico

recolhido (...). Tem uma dimensão descritiva que visa dar conta do que nos foi narrado e uma dimensão

interpretativa que decorre as interrogações do analista face ao objecto de estudo (...)". A análise

categorial é um tipo de análise temática e geralmente descritiva que consiste na identificação de um

conjunto de variáveis explicativas pertinentes que influenciam um determinado fenómeno.

Atendendo aos princípios supra citados, as categorias de análise temática foram construídas tendo em

consideração os objectivos da pesquisa e as próprias características do material empírico recolhido. Neste

sentido, foram construídas duas grelhas de análise categorial, uma correspondente aos discursos dos

utentes e outra relativa aos discursos dos informantes privilegiados.

Finalmente, submetemos as nossas entrevistas a uma transcrição, facilitando a sua leitura, compreensão e

exercício de análise.

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Capítulo 5 - Apresentação e discussão dos resultados

No presente capítulo procedemos à apresentação e interpretação dos dados recolhidos no Lar de Idosos

que constituiu o nosso objecto de estudo. Procedemos a uma análise não só descritiva, mas também de

articulação com as perspectivas teóricas abordadas anteriormente e com o modelo de análise orientador

do trabalho de recolha de informação.

1 Contexto Sócio Cultural do Idoso

Neste ponto, procuramos caracterizar a população constituída pelos idosos institucionalizados na

instituição, tendo em conta aspectos sociais e demográficos. Também nos pronunciaremos sobre a

situação familiar e habitacional do idoso institucionalizado.

1.1 Caracterização social e demográfica

Enquanto sujeitos existimos integrados social e culturalmente e esse contexto reflecte-se de forma

diferente em todos os indivíduos, dado que estes são dotados de uma identidade singular que os distingue

dos outros.

A população em estudo apresenta características heterogéneas, sendo que consideramos de grande

importância tal particularidade, pois assim obtivemos um conjunto de informações diversas e dotadas de

diferentes significados.

Dos dados recolhidos percebemos que os idosos entrevistados apresentam uma média de idades de 80

anos. São sobretudo idades superiores a 75 anos, alcançando até cerca dos 90 anos, o que consideramos de

idosos velhos ou de quarta idade, uma vez que pertencem a uma classe etária bastante envelhecida,

típica das sociedades modernas. Tal característica reflecte o que constatamos anteriormente: o aumento

da longevidade.

“Setenta e cinco (…)” (Amélia)

“(…) tenho oitenta e oito anos (…)” (Emília R.)

“(…) fiz oitenta e quatro anos em Agosto.” (José)

“(…) setenta e sete anos.” (Maria José)

“Eu tenho setenta e cinco anos.” (Manuel)

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Na generalidade, os idosos entrevistados apresentam um baixo nível de qualificações. São idosos que não

sabem ler nem escrever mas sabem assinar pelo menos o seu nome, não concluíram o ensino primário ou

apenas possuem a chamada antiga quarta classe. Tal acontece, em grande parte dos casos, porque os

idosos entrevistados tiveram de deixar os estudos para trabalhar dadas as carências económicas

familiares.

“Quarta classe porque na altura não havia mais nada. Havia sim mas era para quem tinha dinheiro.”

(Maria José)

“Não sei escrever, não tenho nada (…) fui trabalhar tinha 10 anos (…)” (Emília G.)

“Sei… leio um bocadinho. Se for de jornal. Se for à mão já me atrapalho. Hum, escrever, escrevo o meu

nome. E se for outras coisas, ou levará letras de mais ou de menos! (…) não andei na escola (…) fiquei

sem pai muito novo e tive que me agarrar à enxada. Para ganhar (…) para comer.” (Manuel)

“Sei ler…ler, leio as letras grandes que só tenho a primeira classe da escola de quando era garota. (…) É.

Só a primeira classe, mais nada.” (Glória)

“Estudei não. (…) Assinava o meu nome…” (Maria da Soledade)

Em termos profissionais, os idosos são sobretudo provenientes de actividades profissionais ligadas à

agricultura, minério e serviços.

“Eu antigamente saía de casa ao nascer do sol, com o farnel, e só voltava ao pôr do sol (…) trabalhava-se

de sol a sol na fazenda.” (Emília R.)

“Era mineiro… trabalhava nas Minas da Panasqueira.” (Acácio)

“Eu, desde que me casei, fiquei com a tasca do meu sogro (…) era a única cá.” (José)

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“O nosso trabalho era tratar da terra e dos animais…” (Maria)

1.2 A situação familiar e habitacional do idoso institucionalizado

A rede social e familiar de um indivíduo reveste-se de extrema importância. Essa rede está intimamente

relacionada com a rede de apoio social que assegura ao indivíduo um conjunto de necessidades como

vimos anteriormente. Na velhice, a rede de relações familiares é, por norma, mais reduzida. Parte-se do

pressuposto que o idoso já passou pela experiência do luto e, por isso, pela perda de entes queridos.

Vimos como são importantes as relações familiares na velhice, uma vez que elas representam, muitas

vezes, a rede de suporte – e de apoio informal – que o idoso necessita, sobretudo se carecer de cuidados.

A institucionalização não marca necessariamente uma ruptura na relação entre o idoso e a sua família.

Mas é, precisamente isso, que pretendemos analisar. É possível afirmarmos que muitos destes idosos já

são viúvos e não mantêm qualquer relacionamento amoroso actualmente, demonstrando repúdio até, em

alguns casos quando questionados sobre tal situação.

“Sou viúva.” (Maria da Soledade)

“Sou viúva já (…) há vinte e três anos. (…) [E: Hum…Uma vez que é viúva, neste momento tem algum

relacionamento com outra pessoa?] e: Não! Deus me livre! Homem, só tive um! (Emília G.)

“Viúva.” (Glória)

“Sabe, nunca casei… Para tudo é preciso vocação e eu nunca tive vocação para casar. Nunca quis.” (Emília

R.)

“Estou viúvo há quatro anos. Nunca pensei em ter outra mulher, mas às vezes, sinto falta de ter uma

companhia.” (José)

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“Sou solteira, nunca casei… não aconteceu… (…)” (Maria)

No que diz respeito à existência de filhos, os entrevistados, geralmente, têm mais do que um filho. Nos

casos em que os idosos têm filhos, estes são, normalmente, pouco qualificados e casados. As suas idades,

em alguns casos, alcançam já o patamar dos sessenta anos. Isto é, pais idosos com filhos quase idosos

também, reflectindo as transformações demográficas ocorridas nas sociedades actuais em que, devido à

longevidade, há uma maior possibilidade de pais e filhos se aproximarem em termos de idade cronológica.

“Eu tive nove filhos! Cinco rapazes e quatro raparigas. Estão todos vivos!” (Maria da Soledade)

“Eu só tenho um. (…). O meu filhos já fez cinquenta e seis anos (…)” (Maria José)

“Tive dois filhos, mas o mais novo morreu ainda novo… ainda não tinha trinta anos (…) teve um acidente

(…) o meu filho mais velho, tem uns sessenta anos, penso eu…” (José)

“Filhas, só tive duas… não calhou mais.” (Emília G.)

Ao nível da existência de outros familiares é possível afirmar que alguns idosos ainda têm outros

familiares, além daqueles que estão intimamente relacionados com os filhos, apesar de o contacto com

estes não ser tão frequente. As razões apontadas para este afastamento prendem-se com o facto de os

indivíduos manterem a sua vida individual. Para alguns idosos, a ausência da família é uma forte

motivação para a existência de sentimentos de tristeza e solidão.

“Ainda tenho família, mas uns estão para Castelo Branco, outros para Lisboa, outros para o Algarve…

Sabe como é, eles têm a vida deles (…)” (Maria da Soledade)

“Tenho muita família! Mas a família não vem cá… (…) é como não tenha.” (Manuel)

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“O meu irmão morreu o ano passado, só tenho um afilhado. (…) é muito triste, é muito triste (…) De não

ter família.” (Emília R.)

“O meu filho está no Fundão… só me visita no Natal e no Ano Novo, mas liga-me todos os dias. Não há

assim tantas possibilidades de a gente se encontrar e eles têm a vida deles (…) (Maria José)

Questionados quanto à relação que é mantida com os seus filhos, no geral, os nossos entrevistados

afirmam que é boa, apesar de existirem casos de idosos que já mantinham alguma desavença com um dos

filhos. A razão para tal situação e, sobretudo, o facto de os filhos terem uma vida individual e laboral que

não lhes permite visitas frequentes que fomentem a manutenção da relação entre pais e filhos. As festas

da família, como o Natal por exemplo, são em muitos casos o único momento do ano em que os idosos

institucionalizados contam com a presença da família e, principalmente, dos filhos, demonstrando alguma

tristeza por tal situação.

“Eu diria mais que tipo de relação é que os parentes mantêm com os idosos. (risos) Óptima! Estariam

sempre na casa dos filhos, etc (…) temos aqui famílias que, como já lhe disse, são famílias que

acompanham a mãe ou o pai diariamente. Ou sobrinhos (…) Mas também temos (…) utentes que não têm

qualquer família. (…) Nem filhos, nem sobrinhos, nem ninguém. (…) (Directora Técnica)

“As relações são poucas…Olhe, sabe porquê? Porque eles têm esta vida de trabalhar muito e de se

cansarem e assim, chega ao domingo…chega ao domingo e vem às vezes…vem cinco minutos. (…) só pelo

Natal é que a gente se junta… É só no Natal. No Ano Novo já não vou. Sinto muita tristeza por isso.”

(Amélia)

“Menos mal. Tenho uma filha que está na França, essa só no verão é que a vejo. A outra está em Castelo

Branco e vem cá todas as semanas.” (Emília G.)

“Têm mais ligação. Têm mais visitas…alguns idosos. Mas há aqueles idosos que também têm família e que

não têm ligação quase… Não ligam.” (Directora Técnica)

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Observa-se aquele filho que vem visitar a mãe. E dá mais carinho, mais atenção… e puxa conversa. Já

aqueles que chegam, sentam-se calados e saem calados. Você vê que não há nenhuma relação. (…) Se

fosse eu a mãe, eu preferia que nem me viesse visitar. (…) Os idosos contentam-se com pouco. Com a

presença. Não importa como seja.” (Ajudante de Lar)

Por outro lado, existem idosos que admitem ter uma relação mais próxima com um dos filhos, em

particular o mais novo. Essa relação é, em alguns casos, veiculada institucionalmente como, por exemplo,

através do pagamento das despesas relativas à institucionalização. Nestes casos, a própria instituição

assume a importância na manutenção das relações familiares do idoso.

“A minha filha mais nova é muito minha amiga. Vem todos os domingos, todos os domingos…” (Acácio)

Para alguns idosos, o sentido da família não está relacionado com o grau de parentesco, isto é, para estes

idosos a família é aquela que é construída no seio institucional, nomeadamente, os utentes e os

profissionais. Sobretudo para os idosos cuja relação com os familiares é muito residual.

“Isso é triste, sabe? É triste, porque há muito poucos, aqui, que realmente são visitados pelos familiares.

A maior parte deixaram-nos aqui, vêm, se for preciso, de ano a ano, ou coisa do género… (…) temos cá

alguns que, realmente, vêm cá todas as semanas. Mas há alguns que… também a família, pronto. É

famílias pobres e assim, sabe? É o que eles dizem, a nossa família são vocês, mas gostavam sempre que

viesse cá um familiar. (…) Ficam com tristeza quando vêem os outros a terem visitas.” (Encarregada de

Lar)

Apesar de terem família, os idosos entrevistados vivem sobretudo sozinhos. Alguns dos entrevistados

afirmam ter-se desfeito da sua habitação por iniciativa própria ou dos filhos. Estes últimos muitas vezes

apossam-se dos bens dos pais deliberadamente.

“Morava numa casinha que era minha. Mas os meus filhos quiseram vender… eu vendi.” (Amélia)

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“Antes de eu vir para o lar eu estava sozinha. Vivi sempre sozinha na casa que era dos meus pais.” (Maria)

“Vivia sozinho, desde a morte do meu pai…” (Manuel)

“Vivia sozinha desde que o meu marido morreu…” (Maria José)

Em suma, encontramos idosos com idades acima dos 75 anos, fazendo-nos reflectir que, com efeito,

quanto mais elevada for a idade, mais se torna necessário que o idoso possua meios de fazer face às

necessidades que surgem com a velhice, nomeadamente a perda de capacidades cognitivas e, sobretudo,

funcionais. Ao mesmo tempo, ressalvamos que a população é flagrantemente feminina e viúva. Salvo,

obviamente, alguns casos de idosos que são solteiros. Esta situação, aliada à cada vez maior longevidade

dos sujeitos, claramente mais favorável para as mulheres – esperança média de vida superior a 80 anos –

leva-nos a reflectir que, dada a menor esperança média de vida dos homens, as mulheres passam pela

experiência do luto mais cedo, emergindo a possibilidade de surgir situações de solidão, sobretudo nos

casos onde as relações familiares são mais frágeis. O facto de as mulheres viverem mais anos,

conjuntamente com a perda de capacidades e necessidades de cuidados, levam a que tenham maior

representatividade nos lares.

2. A institucionalização

Neste ponto, procuramos conhecer as dinâmicas subjacentes à institucionalização do idoso,

nomeadamente questões relacionadas com os serviços e seus profissionais. Também pretendemos reflectir

sobre aspectos relativos às razões e reacções da institucionalização, o processo de integração do idoso.

Por fim queremos identificar as relações que são mantidas pelo idoso institucionalizado no seio do lar.

2.1 Motivos da institucionalização

São de diversa ordem os motivos que estão subjacentes à institucionalização do idoso. O envelhecimento

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biológico acarreta um conjunto de perdas ao nível funcional e cognitivo que vão deteriorando o estado de

saúde do idoso e que pode conduzir a diferentes situações de dependência e, consequentemente, à

necessidade de prestação de cuidados de longa duração. É possível afirmar que, em termos globais, os

idosos entrevistados apresentam problemas de saúde que exigem cuidados médicos e de higiene mais

atentos e permanentes. Sendo também idosos que se encontram em situação de dependência ou

mobilidade reduzida. Neste contexto, podemos fazer referência à questão do aumento da longevidade que

pode influenciar o desenvolvimento de um envelhecimento patológico. Envelhecimento esse em que há

uma maior probabilidade de surgimento de inúmeras doenças crónicas e que determinem a incapacidade

ou redução das capacidades do idoso.

Os motivos subjacentes à institucionalização prendem-se sobretudo com questões relativas à perda de

capacidades ou a necessidade de maior vigilância. A esta situação junta-se a indisponibilidade – voluntária

ou involuntária – da família, amigos ou vizinhos para a prestação de cuidados aos idosos, a chamada falta

de retaguarda familiar. Esta indisponibilidade está intimamente relacionada com o desempenho diário de

diversos papéis em simultâneo. O desempenho de uma actividade profissional a tempo inteiro, as tarefas

domésticas e o cuidado dos filhos preenchem o dia a dia de um indivíduo não sendo possível a prestação

de cuidados a idosos no seio da família. Por outro lado, existe ainda o problema da escassez de

conhecimento prático específico no que concerne à prestação de cuidados a idosos por parte destes

agentes e a impossibilidade de pagar a um prestador de cuidados particular levando á procura de um

serviço qualificado.

“Primeiro lugar, muitos destes idosos que aqui temos não têm retaguarda familiar. (…) Não quer dizer

que não tenham família. Eles têm. (…) eles não têm a capacidade para poder cuidar deles. Ou por

questões habitacionais ou por questões profissionais e pessoais. (…) nós temos aqui situações de idosos

que estavam numa situação de habitação degradável, sem qualquer retaguarda. (…) Depois também há

um ou outro que realmente vem pela situação de a família não conseguir tomar conta deles. (…) a pessoa

trabalha durante muitas horas (…) e não têm possibilidade de ter alguém até porque fica dispendioso ter

uma pessoa particular para tomar conta.” (Directora Técnica)

Da auscultação que realizamos aos idosos destacamos, efectivamente, os factores referidos anteriormente

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como principais motivações da institucionalização: a perda de autonomia e a capacidade física, o

desenvolvimento de várias doenças, a falta de retaguarda familiar – voluntária ou involuntária – a solidão e

o medo de estar sozinho.

“ (…) deu-me um enfarte, fui operada ao coração (…) e a asma, que eu tenho asma, tenho falta de ar. (…)

Por grande necessidade. E por não ter ninguém para olhar por mim. A minha filha, sai de manhã e vem à

noite (…) O meu filho a mesma coisa (…) De maneira nenhuma tinha hipótese de estar com eles.” (Glória)

“Olhe, eu estou toda deformada, tenho a coluna toda torta. (…) Nunca quis ser operada e depois com

tantas quedas… estava sempre a cair no meio da rua… E via-me assim sozinha! (…) A Doutora (…) disse-me

se eu não queria um quartinho.” (Maria José)

A decisão pela institucionalização também pode ocorrer quando o idoso tem consciência das limitações

provocadas pelo seu estado de saúde, não conseguindo manter as AVD’s, optando pela institucionalização.

Depreendemos, através das citações transcritas, que os idosos institucionalizados atribuem à família o

papel de principal cuidador. No entanto, compreendem que a falta de retaguarda familiar se deve às

exigências que são actualmente colocadas às famílias numa sociedade onde se difunde a competitividade

e o individualismo. Perante tais situações, entendem que a família não possui condições para prestar

apoio e cuidados a um idoso. Assim sendo, os idosos percepcionam que a institucionalização é um recurso

quando não existem familiares e vizinhos ou quando esses não estão disponíveis para a prestação de

cuidados, recorrendo-se às instituições sociais como forma de colmatar esse handicap. As questões

habitacionais também podem apresentar-se como um forte motivo para a escolha da institucionalização. A

ausência de condições, que prejudica a saúde do idoso, pode ser resolvida com o recurso à

institucionalização.

“Ou por questões habitacionais (…) nós aqui temos situações de idosos que estavam numa situação de

habitação degradável, sem retaguarda também (…) (Directora Técnica)

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2.2 Reacções à institucionalização

Ao referirmos os motivos da institucionalização, devemos também abordar as reacções dos idosos à

mesma. Cremos que as reacções à institucionalização estão intimamente ligadas com o modo como foi

decidida e vivida a institucionalização pelo idoso. A decisão da institucionalização em lar nem sempre é

tomada em conformidade com o idoso ou, simplesmente, não é aceite na totalidade, pelo que podemos

dizer que existem diversos tipos de reacções à institucionalização.

Globalmente, os idosos entrevistados fazem muitas vezes referência à sua casa, independentemente dos

motivos da sua institucionalização e mesmo em casos em que eles próprios tomaram essa decisão.

“Os que estão conscientes não encaram muito bem (…) o que eu vou vendo ao longo do tempo é que eles

não aceitam muito bem e continuam a referir que em casa estariam melhor. E muitos deles porque têm

aquela sensação de perda e estão sempre a referir que tinham as coisas em casa, tinham tudo direitinho…

(…) porque temos muitos idosos que ainda estão relativamente autónomos. E então como eles vão tendo

alguma autonomia acham que estariam melhor em casa (…)” (Directora Técnica)

A casa do idoso está associada à sua identidade enquanto ser individual, pelo que, afastado da mesma, o

idoso sente que perdeu algo, ficando sempre ligado às memórias do seu lar, onde construiu a sua família.

Observam-se casos em que os idosos reagem negativamente à institucionalização, demonstrando revolta e

declarando que preferiam estar na sua própria casa. Esta situação em nada é conducente com a promoção

da qualidade de vida do idoso na instituição, tornando difícil a vivência da institucionalização. A vontade

de estar em casa surge bastante associada à disponibilidade de ter alguém que pudesse prestar vigilância

e cuidados aos idosos.

“Custa-me muito estar aqui (…) Porque queria estar na minha casinha. Porque eu na minha casa estava à

minha vontade, mexia no que era meu. (…) Preferia, preferia… sim, acho que não há ninguém que não

diga a mesma coisa. Que remédio filha! (…) mas tem que ser. “ (Amélia)

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“ (…) vinha com muita tristeza. Porque eu não queria vir para aqui, mas a minha casa era pequena (…)

Fui eu, fui eu, fui. É muito triste uma pessoa não ter amor, não ter carinho… (…) sinto muita tristeza por

ter vindo para o lar. (…) Porque o lar não é como a casa da gente.” (Maria)

Contudo, existem casos em que os idosos reagem bem à institucionalização e concordam que foi uma

excelente opção para a sua situação de vida.

“Precisamente a questão de… não estar sozinha em casa.” (Emília R.)

“Olhe, eu perdi a minha mãe quando tinha 10 anos e o meu pai aos 18. (…) Passei sempre a minha vida

sozinho (…) aqui, sempre tenho companhia… “ (Manuel)

Dado o estudo se centrar na institucionalização da pessoa idosa, tem todo o sentido fazer uma referência

às razões que levam o idoso à vivência num lar. Como verificámos, os idosos apontam sempre mais do que

um motivo para a sua institucionalização. Mas, a principal razão que indicam é a pressão por parte da

família, são os familiares que apontam o lar como a melhor alternativa para o idoso. Associado a este

motivo, está a solidão, que por sua vez, está ligada à viuvez, à doença e às más condições de habitação.

Também a vontade de residir no lar advém do medo, das consequências, da antecipação e prevenção a

nível da saúde e da segurança. Cada vez mais, a população idosa, juntamente com os seus familiares,

procura a resposta social lar como alternativa para as suas vulnerabilidades e limitações, como, a doença,

a dependência, o isolamento, que podem surgir na fase da velhice.

Os idosos mostraram algumas dificuldades em identificar situações ou momentos positivos que marcaram a

sua integração. Alguns idosos não referiram nenhum momento positivo. Outros ficaram satisfeitos com o

facto das suas necessidades básicas terem sido suprimidas, como, a segurança, a companhia e a saúde. De

acordo com Pimentel (2001), a institucionalização é uma situação difícil, mas, no entanto, os idosos

consideram que é o melhor para satisfazer as suas necessidades básicas. Realçamos a valorização pessoal,

o reconhecimento por parte dos cuidadores em relação aos idosos, pois são momentos marcantes que

aumentam a auto estima, o bem estar, factos que contribuem para uma melhor adaptação.

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Em relação aos momentos negativos, as respostas foram unânimes, as saudades de casa, das raízes que

construíram e dos vizinhos que deixaram. Nesta questão, os idosos revelaram sentimentos de tristeza, de

arrependimento, de desilusão com os serviços, com o acolhimento e com a integração.

“Eu estava melhor na minha casa, não tinha o que tenho aqui, mas, estava melhor do que estou aqui."

(Amélia)

"Estou arrependida, tenho saudades da minha casa e de tudo, não sei o que me deu para vir (...)" (Glória)

Concluímos que os momentos negativos, na fase da integração, são superiores aos positivos. Situação que

não nos surpreendeu pois, conforme a revisão da literatura de Paúl (1997), Fernandes (2000), Pimentel

(2001) e Cardão (2009), concluíram que a vivência num lar é um momento muito difícil, o abandonar a

sua casa, ir para um espaço limitativo e desconhecido, causa situações de stress, de mal adaptação, de

perdas pessoais, sociais e físicas.

2.3 Os serviços prestados e os seus profissionais

É importante que os profissionais que trabalham diariamente com os idosos, em muitos casos dependentes

e que exigem cuidados específicos, possuam um conjunto de conhecimentos teóricos e práticos que lhes

permitam desenvolver um bom trabalho assente na qualidade. Pois, consideramos que mais qualificações

são sinónimo de um melhor tratamento e desempenho de funções e, por conseguinte, de melhor qualidade

de vida do idoso. No que diz respeito aos profissionais que trabalham no lar verificamos que estão

divididos pelo apoio directo aos idosos – as ajudantes de lar – e pelos profissionais técnicos – Directora

Técnica e Enfermeira. Quanto às ajudantes de lar, estas não possuem, no geral, qualificações específicas

e adaptadas à população idosa. Os conhecimentos que adquiriram são conseguidos através do contacto

diário com o idoso e com as colegas de trabalho.

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“Ainda há uma carência de formação, porque muitas delas, também, vieram sem formação nenhuma (…)

E o que vão fazendo é o que… ou vêem pelas outras colegas ou pela experiência que vão adquirindo. Mas

ainda (…) precisariam de alguma formação que faz sempre falta. (…) quando eles começam a ficar mais

debilitados e que têm que ter mais cuidados específicos, aí notamos mais falhas (…)” (Directora Técnica)

“Olhe, eu acho que para isto, o melhor é estarmos dentro do assunto. (…) Eu acho que isto é a nossa

escola. E o acompanhamento aqui é diário, para mim é o essencial para ajudarmos as pessoas. (…) É a

prática, sem dúvida alguma! Não tenho dúvidas disso. (…) ( Encarregada de Lar)

“Para mim foi novo. Tive que aprender tudo. (…) Aprendi aqui. Com a ajuda das colegas. [E:Exacto. Mas

nunca fez nenhuma formação?] e: Eu gostava de ter! (…) Sem dúvida! Não tive oportunidade!” (Ajudante

de Lar)

A entrevistada, cujo testemunho se apresenta abaixo, refere que não teve formação específica, mas sim a

experiência anterior em cuidados a idosos, sendo que também teve a oportunidade de prestar cuidados a

familiares. São experiências que considera terem sido muito importantes para o desempenho da sua

função actual.

“Não. Fui aprendendo mas… quer dizer, tive uma pessoa também que me ensinou num lar antes deste…

(…) eu estive (…) a passar fins de semana em casa de pessoas que necessitavam. (…) Além de ter em casa

o meu falecido pai, a minha falecida mãe e o meu irmão que precisavam desses cuidados e eu é que

tratei deles. (…) [E: E considera que esses trabalhos que teve são uma mais valia e são importantes

para o desempenho da sua função?] e: Ai sim, sem dúvida alguma.” (Encarregada de Lar)

Associada à formação surge, a um nível mais simbólico, a chamada vocação. Para algumas entrevistadas,

mais importante que possuir um curso superior ou uma qualificação específica na área do envelhecimento

é ter vocação, isto é, existir por parte dos profissionais uma predisposição para trabalhar com os idosos e

sentir-se satisfeito com a sua função.

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“Eu tirei o curso de geriatria para ter mais conhecimentos sobre isto. (…) foi bom. Embora as pessoas têm

de ter uma vocação para isto. Eu acho que a vocação é muito importante.” (Ajudante de Lar)

“Foi logo aí que eu, com o tempo, fui descobrindo que, de facto, é mesmo esta área. Até já pensei em

me especializar nesta área.” (Ajudante de Lar)

Sabemos como é importante que o idoso mantenha um conjunto de actividades que promovam algum

dinamismo e retardem os efeitos do sedentarismo que prejudicam o seu bem estar. Deste modo, torna-se

importante conhecer que actividades as instituições têm para oferecer aos seus utentes no que

corresponde à ocupação de tempos livres. Sabemos que, os lares não dão especial atenção às actividades

que os idosos desenvolveram antes da institucionalização, não promovendo, deste modo, a continuação

destas actividades, ou seja, de acordo com os interesses dos idosos.

“Não faço nada, vejo televisão…” (Emília G.)

“Não faço nada, converso um pouco com eles (idosos) … “ (José)

“Nenhuma, gosto de estar sozinha, a rezar…” (Emília R.)

“Não faço trabalhos manuais, porque não vejo bem, quando é para ler têm de aumentar a letra.”

(Amélia)

“Não gosto do ambiente da sala…vou para o jardim.” (Manuel)

“Ocupo sempre o tempo a fazer qualquer coisa para mim, ou melhor, para dar…faço renda, costura…”

(Maria José)

Depois da entrada para o lar, observamos que alguns idosos não têm actividades de ocupação, deixaram

de fazer algumas coisas das que faziam e outros vão fazendo trabalhos tradicionais, como os bordados.

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Verificámos que os idosos do estudo não têm muita oferta em termos de actividades socioculturais.

Contudo, é possível analisar que quando são realizadas algumas actividades, a adesão dos idosos é muito

reduzida, apontando alguma falta de motivação por parte dos idosos e, por outro lado, o facto de muitos

idosos serem dependentes o que dificulta o desempenho das actividades. O que nos leva a indagar e,

conforme a revisão da literatura, que é notória a preocupação em ocupar o idoso, com actividades

lúdicas, culturais, de estimulação física e cognitiva, actividades estas que contribuem para o bem estar

psicossocial do idoso. Os lares elaboram os programas de animação para seniores, mas não respeitam a

individualidade, os gostos e interesses de cada um. Quando um idoso decide residir num lar é necessário

perguntar-lhe como ocupa o tempo, o que gosta de fazer, o que gostaria de fazer e não fez, para que os

técnicos façam planos individuais e elaborem actividades adequadas, conforme as necessidades e os

interesses expressos pelos idosos. Associado a isto temos uma imagem de (in)capacidade do idoso.

Verificamos que alguns idosos reproduzem de si mesmos uma imagem de incapacidade para a realização

de actividades de lazer, socorrendo-se do seu estado de saúde como principal factor de constrangimento.

Neste sentido, as principais actividades dos idosos prendem-se com a visualização da televisão, actividade

que promove o sedentarismo e não favorece uma prática de envelhecimento activo.

“(…) eles de dia para dia vão… perdendo algumas das capacidades e nós notamos muito, quanto mais

imobilizados ficarem pior vai ser ao nível da marcha e da rigidez muscular. Muitos deles ainda são

pessoas que andam e se fossem estimuladas, se calhar (…) fariam algumas actividades. (…) como não há

actividades, eles acabam por cair naquela rotina de fazer sempre o mesmo. Saem das refeições, vêm para

a sala, sentam-se no mesmo lugar. Todos os dias a fazer as mesmas coisas. (…) Deviam ser mais

estimulados, que é para não perderem as capacidades, quer físicas, quer de marcha. (…) mesmo a nível

psicológico, para os manter um bocadinho activos.” (Directora Técnica)

No âmbito das actividades desenvolvidas na instituição interessamo-nos em saber se o lar mantinha a

preocupação de proporcionar ao idoso o contacto com a comunidade. A institucionalização significa, por

vezes, uma ruptura com o meio social e cultural do idoso, pelo que as actividades desenvolvidas pelas

instituições podem representar um instrumento muito importante de ligação entre o idoso e a comunidade

em que está inserido, bem como os restantes indivíduos que dela fazem parte, nomeadamente, o contacto

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com pessoas de outras faixas etárias fomentando e reforçando as relações intergeracionais. Este contacto

pode também ser um excelente ponto de partida para a desmistificação de estereótipos, preconceitos e

mitos face à velhice, aos idosos e à vivência numa instituição.

“Costumamos fazer um passeio anual a Fátima e já fizemos uma ou outra visita fora, no dia do idoso. (…)

Que a Câmara manda-nos propostas e vamos. Mas poucas visitas fora nós fazemos. (…) Se calhar devíamos

fazer mais uma ou outra actividade exterior, (…) poderia ser uma mais valia para o idoso.” (Directora

Técnica)

3. A satisfação com a Instituição

É de grande importância compreendermos se os idosos estão satisfeitos com o lar que os acolheram, os

serviços usufruídos e os seus profissionais, para percebermos também como ela condiciona a vivência da

institucionalização e da qualidade de vida em contexto institucional. Quanto ao relacionamento com os

cuidadores, os idosos mostraram-se contentes, satisfeitos com o profissionalismo, a atenção e simpatia dos

cuidadores.

"(...) são uma simpatia, às vezes chego a ter pena delas." (Acácio)

"Fazem o que é preciso, são boas pessoas (...)" (Maria)

"Às vezes querem-me dar banho, mas eu digo, desculpe, mas eu sei tomar banho sozinha... (...)" (Maria da

Soledade)

"(...) não tenho nada a dizer das funcionárias, embora eu não precise delas para tomar banho e é o que

me vai custar um dia. (...)" (José)

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Ao analisarmos as respostas dos idosos, concluímos que o relacionamento entre idoso e cuidador é

demonstrado por sentimentos de dependência e de submissão face ao cuidador e não tanto em

sentimentos de afecto, como a amizade ou o carinho. Verificamos que os idosos são de opinião de que os

colaboradores são bons profissionais, mas receiam o momento de necessitarem dos cuidados básicos,

essencialmente, de higiene. Este momento de dependência dos cuidadores é vivenciado pelos idosos com

receio e sentimento de perda de autonomia e de privacidade.

"Estou satisfeito, dão-me banho, dão-me roupa... (...)" (Manuel)

"(...) o que sinto falta aqui é de distracção, não sair, estar sempre aqui metida ... (...)" (Amélia)

"Gosto de cá estar, habituei-me, mas ao princípio custou-me muito, foi difícil." (Maria José)

"Quando estamos doentes, há sempre alguém de noite. Tocámos à campainha e socorrem-nos." (Emília R.)

"(...) tenho que estar satisfeita." (Glória)

"Daqui, só para o cemitério!" (Emília G.)

Quanto à satisfação dos serviços, podemos concluir que as respostas dos idosos centraram-se na prestação

de cuidados básicos ao nível da higiene, saúde e segurança. Verificamos que alguns idosos não estão

descontentes com os serviços que são prestados, mas pelo modo como são realizados ou pela ausência de

mais serviços de acordo com os seus interesses. Este facto prende-se com as rotinas instaladas para a

realização dos serviços, a mecanização das tarefas de forma a chegar a todos, não respeitando a

individualidade de cada um. Para além deste desagrado, com as rotinas e regras dos serviços, os idosos

identificam a vivência no lar como um ambiente pesado, referindo situações de doença e de dependência

que presenciam diariamente.

"Isto ás vezes parece um quartel... há regras para tudo..." (Manuel)

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"Gostava de ter saúde para não precisar delas (funcionárias), eu sei que elas são amigas, mas no dia que

eu precisar... nós somos muitas e elas não podem fazer o que a gente quer, nem a nossa vontade, nem às

horas que queremos." (Maria da Soledade)

De acordo com a literatura, (Pimentel, 2001), os idosos identificam o lar como o último local de vida e

associam-lhe sentimentos negativos, como a tristeza e a separação. Contudo, existem outros idosos que

sentem que a integração no lar foi uma oportunidade para satisfazerem as suas necessidades e encontram-

se satisfeitos com a realização das mesmas. Nas respostas obtidas pelos idosos, verificámos que, após a

integrção no lar, as expectativas face ao mesmo baseiam-se na continuação da satisfação das próprias

necessidades e que o lar continue a proporcioná-las com serviços adequados.

Por sua vez, as funcionárias da isntituição acreditam que desempenham um bom papel, fazendo tudo

aquilo que lhes é possível para o conforto de todos os utentes do lar e isso contribui para a sua satisfação:

"Tratar deles o melhor possível. (...) Acho que isso é que é o principal.(...) olhe, eu acho que aqui que

não... que está tudo praticamente como deve ser... (...) fazemos tudo o que é bom e aquilos que eles

precisam. (...)" (Encarregada de Lar)

"A gente vai suprimindo, na medida, do possível, as necessidades deles. (...) A gente trabalha para lhes

dar mais conforto, fazemos o que achamos melhor (...)" (Ajudante de Lar)

A questão da avaliação remete-nos para a questão da participação do idoso nas dinâmicas avaliativas com

vista ao melhoramento da própria instituição. O idoso está integrado numa dada instituição e usufrui de

um conjunto de serviços e cuidados profissionais que devem ser submetidos a uma constante avaliação. O

melhoramento da instituição e a participação do idoso, neste processo, fomenta a sua integração na

instituição e produz mais e melhor qualidade de vida aos idosos. Todavia, atendendo ás informações

recolhidas através dos discursos dos entrevistados, as instituições não promovem um processo avaliativo

por parte do idoso que, tenha como objectivo central a avaliação dos serviços e dos profissionais, com

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vista ao melhoramento do desempenho organizacional.

"Não existe. (...) isso não acontece. Era importante para eles e para a instituição." (Directora Técnica)

O capítulo que aqui termina teve como enfoque a análise e reflexão das informações que foram recolhidas

sobre o nosso objecto de estudo dividida em vários pontos que consideramos essenciais. Começamos pela

caracterização do contexto sócio cultural do idoso institucionalizado passando, posteriormente, para a

análise e reflexão sobre a institucionalização do idoso e dinâmicas subjacentes. Terminamos a análise com

uma reflexão sobre os serviços que são prestados na instituição, os profissionais que nela trabalham e,

finalmente, sobre a satisfação dos idosos com a instituição onde residem.

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Capítulo 6 - Análise e verificação das hipóteses

Hipótese básica - Alguns lares não reúnem as condições necessárias para um envelhecimento bem sucedido

No estudo que realizamos, cuja amostra foi composta por 18 idosos, realçamos que a amostra foi

constituída essencialmente por mulheres, a maioria de estatuto social e poder económico baixo, com

habilitações académicas iguais ou inferiores ao ensino básico, tiveram profissões ligadas à agricultura e

vida doméstica, ou seja, idosos que ao longo da vida, nem sempre obtiveram a satisfação das suas

necessidades básicas. Verificamos nestes idosos, com estas características, que a integração no lar

resolveu os seus problemas, as suas necessidades básicas, como pudemos constatar no quadro 3 -

institucionalização - motivos da integração. No entanto, reparamos que estes idosos não se encontravam

totalmente satisfeitos com os serviços prestados pelos lares, conforme analisamos no quadro 5 - opinião

em relação aos serviços prestados pelos lares. Estes idosos quando entram para os lares, os seus objectivos

não se reduziam simplesmente à realização das suas necessidades básicas, mas para satisfazer os

projectos de vida que delinearam, ou seja, possuírem um envelhecimento bem sucedido.

Conforme a literatura pesquisada, um envelhecimento para ser bem sucedido deriva de vários factores,

intrínsecos e extrínsecos, do idoso. Quando um idoso entra num lar é necessário conhecê-lo tendo em

conta, os factores intrínsecos: ao seu grau de autonomia, o poder de decisão, a forma como encara a

velhice, como gere as perdas, a satisfação e a realização com a vida que teve; e factores extrínsecos: o

meio e ambiente em que viveu, o estatuto social, o relacionamento familiar e social. Todos estes factores

influenciam e condicionam a fase da velhice.

Quando referimos na Hipótese Básica que alguns lares não reúnem as condições necessárias para um

envelhecimento bem sucedido, pudemos afirmar que este lar não possuía algumas dessas condições. Pois,

este lar oferece e proporciona os serviços de alojamento, cuidados pessoais, de imagem e de saúde,

actividades de ocupação de igual forma para todos os idosos, independentemente das necessidades e

expectativas dos mesmos.

Verificámos que este lar não considerava a individualidade de cada idoso, as suas expectativas, os seus

projectos de vida, não proporcionava actividades de ocupação, conforme os gostos e desejos dos idosos,

conforme quadro 2.1 - Ocupação do tempo - actividades no lar.

Nenhum idoso do estudo mencionou que dinamizava ou tomava decisões em relação à vida na instituição,

tudo lhe era imposto, não existia envolvimento do idoso, nos projectos, na dinâmica da instituição. Um

envelhecimento bem sucedido pressupõe a interacção, a continuação do apoio familiar, da rede de

amigos, dos vizinhos, realidades transmitidas pelos idosos do estudo com sentimentos de perda, de

saudades, referindo-se essencialmente aos amigos e vizinhos.

Hipótese 1 - Os idosos procuram a resposta social de lar quando não possuem outras alternativas Esta

hipóstese foi confirmada neste estudo, como pudemos verificar pelo quadro 3 - motivos de integração -

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que os idosos optaram pelo lar, ou melhor, alguns foram coagidos pela família e quando pelas diversas

razões apresentadas não conseguiram obter soluções para as satisfazer. Alguns idosos, antes da entrada no

lar, procuraram outras soluções, para poderem continuar no seio da família, como a resposta do serviço de

apoio domiciliário, os centros de convívio, centros de dia, prestadoras de serviços no domicílio,

averiguamos que são as soluções preferidas pelos idosos e, só quando, estas respostas não são suficientes,

o lar surge como alternativa.

Os idosos apresentam mais do que um motivo para a integração, mesmo, quando referiram que foi por

opção de escolha, associaram mais razões. A decisão pela integração no lar foi uma situação vivida com

muito receio, surgiram muitas dúvidas, complicações, mas concluímos que os idosos que já frequentaram

a resposta social centro de dia, conviviam com os idosos do lar, a decisão de residir no lar surgiu mais

rápido como alternativa.

Hipótese 2 - Os lares de idosos não desenvolvem programas de acolhimento, integração e lazer nos quais

os idosos sejam o centro de toda a actuação, respeitando a individualidade de cada pessoa.

Esta hipótese foi confirmada por nós, conforme quadro 3.1 e 3.2 - institucionalização - momentos

significativos positivos / negativos, verificamos que os idosos não referiram nenhum momento especial de

integração, os sentimentos de tristeza, de desilusão, de inadaptação, sobressaltaram nas respostas, para

alguns idosos, este momento foi diligenciado por familiares e directores da instituição e não contaram

com a sua presença.

Em relação aos programas de lazer, na realidade o lar desenvolve actividades socioculturais, como

apuramos nas respostas dos idosos, no quadro 2.1 - Ocupação do tempo - Actividades no lar - que

pronunciam uma panóplia de actividades. No entanto, estas actividades de lazer não foram ao encontro

das actividades que os idosos já realizavam antes da entrada para o lar. As actividades preferidas pelos

idosos são actividades de ocupação, contudo não são elaboradas tendo em atenção os gostos e aspirações

de cada idoso.

Hipótese 3 - Os idosos interiorizam a vivência no lar como o último local onde permanecem até aos fins da

sua vida

Esta hipótese foi confirmada por nós, quando questionamos os idosos face às expectativas em relação ao

lar (quadro 5.1). Nesta questão, obtivemos por parte dos idosos respostas concisas, como, "já nada

esperavam a não ser a morte", não possuíam desejos, nem esperanças e, mesmo insatisfeitos com os

serviços do lar, não tinham a força necessária para procurarem outra alternativa.

Hipótese 4 - A intervenção dos cuidadores formais é determinante no modo como o idoso percepciona a

velhice.

Esta hipótese foi confirmada, pois os cuidadores formais são determinantes na adaptação dos idosos nos

lares, a intervenção, o desempenho, a atitude face à velhice, por parte dos cuidadores condiciona

positivamente ou negativamente o envelhecimento bem sucedido.

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Verificamos que os idosos possuíam uma atitude de submissão face aos cuidadores, ou seja, eles valorizam

e reconhecem que os cuidadores são imprescindíveis para o funcionamento do lar. A relação estabelecida

entre idoso e cuidador não é tanto uma relação de afectividade, mas, sim, de cariz técnico.

Outro facto observado e pronunciado, pelos idosos, que confirmou a nossa hipótese, é a valorização, o

reconhecimento, o elogio, que os cuidadores nas diversas situações fizeram aos idosos, proporcionando-

lhes bem estar e elevada auto estima.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho é o resultado de um longo período de estudo, pesquisa, análise, reflexão e construção

de conhecimento científico sociológico, que se desenvolveu tentando dar resposta a uma pergunta de

partida. "A integração de um idoso no lar acelera o processo de envelhecimento?", eis o que nos propomos

responder.

Importa referir, antes de mais, que o processo de envelhecimento dos indivíduos assume um carácter

heterogéneo traduzindo-se em trajectórias distintas. Embora seja verdade que todos os indivíduos passam

por um processo de envelhecimento biopsicossocial, o grupo etário dos idosos é heterogéneo e constituído

por indivíduos com diferentes histórias de vida, de diversos contextos sócio culturais e com valores e

interesses vários.

O contexto sócio cultural do idoso define aquilo que ele é, enquanto ser individual e dotado de

características singulares que o distinguem dos outros e enquanto agente do real social. Verificamos que

há uma maior predisposição para a institucionalização de idosos muito idosos, ao que chamamos de quarta

idade, e principalmente de mulheres. Os efeitos da longevidade permitem, em primeiro lugar, que os

indivíduos vivam mais tempo. Por outro lado, a mulher tem uma maior esperança média de vida que lhe

possibilita viver mais anos que os homens. Contudo, viver não significa, necessariamente, viver melhor.

Viver mais, traduz-se também numa maior probabilidade de aparecimento de doenças que agravam o

processo de envelhecimento do idoso.

Este agravamento exige, na generalidade, a prestação de cuidados mais prolongados e específicos. Até ao

momento, a família assumia o papel de principal agente prestador de cuidados - cuidador informal - e

apoio social. Porém, as dinâmicas da industrialização e da modernização trouxeram alterações familiares

importantes na constituição da família e no desempenho de papéis. Colocando, muitas vezes, a família em

segundo plano. Se antes os pais investiam nos filhos com o objectivo de estes, mais tarde, investirem no

cuidado dos pais, actualmente, essa relação de troca intergeracional não é assim tão linear. As alterações

sociais ocorridas, essencialmente, no universo da mulher - principal cuidadora - marcadas pela conquista

da sua independência e pelo ingresso no mercado de trabalho, por um lado, e o reforço da individualidade

e da competitividade, por outro, colocam a prestação de cuidados a idosos e a conjugação das actividade

profissionais e domésticas a um nível muito complexo. A mulher ocupa agora o lugar de mãe, dona de

casa, esposa, profissional e filha, sendo que a manutenção de todos estes papéis em simultâneo torna-se

difícil. Estas alterações originam conflitos intergeracionais que muitas vezes provocam a ruptura das

relações entre pais e filhos. Por outro lado, dada a sobrecarga de papéis sociais, dá-se a impossibilidade

de os familiares prestarem cuidados aos seus membros idosos. A tudo isto acresce o facto de a prestação

de cuidados a idosos exigir um nível de conhecimentos e competências específicos, sobretudo nos casos de

patologias mais graves que requerem atenção constante e especializada. A prestação de cuidados pelo

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apoio formal, nomeadamente, pelas instituições sociais, assume-se como a melhor solução.

Noutros casos, a institucionalização ocorre quando, no caso de um casal de idosos, apenas um dos

cônjuges apresenta algum tipo de dependência que o outro não pode suportar. Desta forma, a decisão

pela institucionalização num Lar de Idosos decorre, na generalidade, devido a problemas de saúde que

requerem cuidados específicos, devido à ausência de retaguarda familiar ou, ainda, dada a situação

habitacional do idoso que, apresentando sérias debilidades, pode agravar o seu estado de saúde ou a sua

condição física.

Vimos que as principais razões que levam à institucionalização do idoso se prendem com questões de

saúde, habitacionais ou pela ausência de retaguarda familiar. Verificamos que, efectivamente, a

prestação de cuidados continua a ser fortemente associada à família. Contudo, a escolha da

institucionalização nem sempre parte do idoso. Geralmente é uma decisão directamente tomada pela

família ou, por outro lado, indirectamente, no caso de não haver retaguarda familiar, o idoso vê-se

obrigado a recorrer ao apoio institucionalizado em Lar de Idosos.

Por seu turno, as reacções à institucionalização estão intimamente ligadas ao processo de decisão, escolha

e integração no lar. Verificamos que são sobretudo os idosos viúvos, sem retaguarda familiar - mas que

ainda possui familiares - e que ainda mantêm alguma autonomia, aqueles que pior reagem à

institucionalização, reforçando o valor simbólico da casa e da vontade de estar na mesma. Existem

também idosos que aceitam bem a institucionalização e, que são idosos ou casados ou viúvos e que têm

plena consciência das limitações por que passam, quer seja em termos de saúde, habitação ou retaguarda

familiar. São idosos que, na generalidade, optam voluntariamente pela institucionalização. Por fim,

podemos construir um último perfil constituído pelos idosos, casados ou viúvos, que apesar de terem

optado voluntariamente pela institucionalização num lar dadas as dificuldades por que passam,

prefeririam manter-se na sua habitação e terem alguém que lhes pudesse prestar cuidados, ou familiares

ou um prestador de cuidados particulares.

Verificamos que os idosos que reagem de forma negativa à institucionalização e, por isso, vivem algo

contrariados no lar, não se sentem bem sendo que essa situação agrava a forma como percepciona e vive a

instituição. Por outro lado, face a situações de reacção negativa à institucionalização, as instituições não

promovem estratégias que tenham como principal enfoque central a vontade do idoso, colocando em

prática diálogos que têm como principal objectivo tentar persuadir o idoso a aceitar a institucionalização.

Falar em institucionalização é falar num conjunto de relações que são construídas no seio do lar e que tem

como principais agentes os idosos e os profissionais que trabalham nas instituições. Verificamos, a este

nível, que neste lar se desenvolvem relações saudáveis e sustentáveis que promovem o bem estar e

apoiam o desenvolvimento da qualidade de vida institucional. À institucionalização e à velhice estão

também associadas um conjunto de representações socais. Verificamos que, actualmente, a visão

associada aos lares está ainda muito focada na imagem do asilo e do hospício, cujos beneficiários eram

sobretudo os doentes, os indigentes e os mendigos, remetendo-nos para uma perspectiva sobre a

institucionalização muito assente no abandono, no isolamento e na solidão. Percebemos também através

dos dados recolhidos que, tanto profissionais como os idosos, de ambas as instituições atribuem à velhice

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e à institucionalização uma imagem de dependência, solidão e tristeza. Por sua vez, estas imagens

conduzem a formas de ver a velhice e a institucionalização que, mais tarde, são materializadas num

conjunto de práticas que reproduzem essas mesmas imagens, contribuindo para a definição de um ciclo de

vida negativo, que promove a dependência e o preconceito e não reforça a individualidade do idoso. Estas

imagens são recorrentemente associadas a palavras como "tristeza" e "coitadinho".

Mas também a forma como o idoso percepciona e vive a institucionalização reforça as representações face

à velhice e à institucionalização, ainda que de forma indirecta. Os idosos, cuja vivência é positiva e cujas

expectativas sejam promissoras face à institucionalização reforçam o pressuposto de declínio, sendo uma

fase da vida que é passível de produzir projectos de futuro.

Por outro lado, os casos de idosos que reagem mal à vivência num lar promovem uma imagem negativista

e deprimemente face à institucionalização e à velhice, como sendo uma etapa da vida que apenas deixa

lugar ao isolamento e ao declínio das funções cognitivas e funcionais. Assim sendo, as representações dos

idosos também reforçam as próprias práticas institucionais.

Ter ou não ter qualidade de vida numa instituição, designadamente um Lar para idosos, está dependente

de práticas, de modos de vida e de perspectivas que, consoante a sua tendência, orientam as instituições

num determinado caminho. Este caminho não é perfeito, mas pode ser sempre melhorado com vista a uma

maior satisfação dos idosos e a um melhor e mais sustentável desempenho organizacional. A

institucionalização é então um processo que é vivido de diferentes modos pelos idosos e está, em larga

medida, condicionado pelo contexto sócio cultural do idoso e pelas representações sociais em seu torno e

em torno da velhice. Por outro lado, a forma como se processa a institucionalização do idoso define, de

forma muito importante, a promoção da qualidade de vida nas instituições.

Desta forma, entendemos que a instituição tem aspectos a melhorar no que refere ao processo de

institucionalização e à promoção da qualidade de vida dos seus idosos, tornando-se, efectivamente,

necessário um compromisso das instituições com os seus residentes, sobretudo os que exigem mais

cuidados.

Face ao exposto, consideramos aqui alguns aspectos mais importantes a ponderar pela gestão da

instituição com vista à promoção de melhorias significativas dos seus serviços e, consequentemente, para

a qualidade de vida na instituição:

• A instituição deve fomentar um processo de institucionalização e integração do idoso assente na

transparência e direccionado para a capacidade de escolha individual;

• Promoção de um processo avaliativo formal da instituição, serviços e seus profissionais, que tenha

como parte activa e integrante o idoso;

• Aposta cada vez maior e melhor na qualificação dos seus profissionais e serviços prestados que

seja capaz de desmistificar estereótipos e preconceitos associados à velhice e à

institucionalização;

• Melhoria do espaço físico e que este não constitua uma ruptura com o acolhimento da "casa de

família" do idoso, mantendo a acessibilidade e a mobilidade;

• Desenvolvimento de actividades que estejam em concordância com as necessidades do idoso e,

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simultaneamente, as suas preferências privilegiando o contacto com a comunidade envolvente e o

envelhecimento activo;

• Constituição de estratégias de reforço da individualidade, da autonomia, da privacidade e da

intimidade do idoso.

Compreendemos que estas recomendações são importantes mas que a sua aplicação pode não ser

totalmente exequível na instituição. No entanto, cremos que a maioria é possível de desenvolver e aplicar

com vista a uma vivência da institucionalização feliz, sustentável, saudável e promotora de qualidade de

vida com o reconhecimento de que a velhice é apenas uma fase do ciclo da vida e que o envelhecimento

começa desde o dia em que nascemos.

Assim, em resposta à questão de partida, concluímos que a integração da pessoa idosa no lar depende de

vários factores mas, sobretudo, das características intrínsecas de cada idoso e das dinâmicas de actuação

por parte dos cuidadores formais nos lares. Podemos, então concluir que, o lar oferece serviços idênticos

para todos os idosos, mas cada idoso vive, usufrui, sente e envelhece de diversas formas. Se para alguns

idosos a integração no lar é sentida como perda e acelera o seu envelhecimento, para outros, a integração

trouxe ganhos e rejuvenescimento que não possuíam.

Esperamos que as conclusões da nossa investigação sejam uma porta aberta para novas investigações.

Acreditamos, que o presente estudo seja um benefício e uma consciencialização para os cuidadores e

responsáveis pelos lares de idosos para que, quando receberem um idoso o saibam acolher, integrar no lar

e no meio envolvente, respeitando e valorizando sempre as suas necessidades, as suas motivações e a sua

autonomia.

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75, Cortez.

Zimerman, G.I. (2005). Velhice - aspectos biopsicossociais. Porto Alegre: Artmed Editora.

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ANEXOS

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A Institucionalização da Pessoa Idosa __________________________________________________________________________________________

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ANEXO I

Entrevista Utentes

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A Institucionalização da Pessoa Idosa __________________________________________________________________________________________

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Guião da Entrevista para os Utentes da Instituição

Investigadora: Ana Paula Leite Pereira de Carvalho

Curso: Sociologia

Ciclo de Estudos: Mestrado

Instituição: Universidade da Beira Interior

Área Temática: Envelhecimento

Título da Dissertação: A Institucionalização da Pessoa Idosa

1. Caracterização social e demográfica

1.1 Como se chama?

1.2 Que idade tem?

1.3 Qual o seu estado civil?

2. Escolaridade e trabalho

2.1 Qual o seu grau de escolaridade?

2.2 Em que é que trabalhava antes de se reformar?

2.3 Qual a sua situação perante o trabalho?

2.4 Qual a sua condição perante o trabalho?

3. Conjugalidade

3.1 Que profissão tem/tinha o seu marido/a sua mulher?

3.2 (No caso de ser viúvo/a) Neste momento, tem algum relacionamento com outra pessoa?

4. Família

4.1 Tem filhos?

4.2 No caso de existirem filhos:

4.2.1 Quantos?

4.2.2 Que idades têm?

4.2.3 São casados?

4.2.4 Que qualificações têm os seus filhos?

4.2.5 Como é que caracteriza a sua relação com os seus filhos?

4.3 Tem contacto com a sua família?

4.4 A sua família costuma visitá-lo/a?

4.5.Normalmente, vêm visitá-lo/a quando (em que alturas do ano) e a que horas?

5. Institucionalização

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5.1 Antes de vir pra o lar, onde vivia?

5.2 Quais foram os motivos que o/a trouxeram para o lar?

5.3 Considera importante a existência de lares para idosos?

6. Satisfação com a instituição, profissionais e serviços

6.1 Está satisfeito/a com o lar?

6.2 Está satisfeito/a com os serviços que ususfrui aqui?

6.3 Está satisfeito/a com o tratamento que recebe de todos os profissionais que trabalham aqui no

lar?

6.4 Gostaria de usufruir de algum serviço que o lar não possua?

6.5 Existe alguma coisa que gostaria que melhorasse aqui no lar?

7. Actividades praticadas (antes e depois da institucionalização)

7.1 Antes de vir para o lar, quais eram as suas actividades de lazer e tempos livres?

7.2 Agora que vive no lar, pode continuar a fazê-las?

7.3 Que tipo de actividades pratica aqui no lar?

7.4 Está satisfeito/a com as actividades propostas?

7.5 Gostaria de fazer alguma coisa que não faz aqui no lar?

8. Intimidade, privacidade e autonomia

8.1 Considera que tem direito à sua privacidade no lar?

8.2 Considera-se uma pessoa autónoma?

8.3 (No caso de ter algum relacionamento) No que respeita ao seu relacionamento, tem o direito à

privacidade e à intimidade no lar?

8.4 Se não, gostaria de ter? Isso faz-lhe diferença?

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Anexo II

Entrevista Informantes Privilegiados

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A Institucionalização da Pessoa Idosa __________________________________________________________________________________________

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Guião da Entrevista para os Informantes Privilegiados

Investigadora: Ana Paula Leite Pereira de Carvalho

Curso: Sociologia

Ciclo de Estudos: Mestrado

Instituição: Universidade da Beira Interior

Área Temática: Envelhecimento

Título da Dissertação: A Institucionalização da Pessoa Idosa

1. Caracterização social e demográfica

1.1 Como se chama?

1.2 Que idade tem'

1.3 Estado civil

2. Função desempenhada na instituição / Satisfação com a instituição

2.1 Que função desempenha no lar?

2.2 Sente-se satisfeito/a com as funções que desempenha?

2.3 Considera importante o trabalho que desenvolve aqui no lar com os utentes?

2.4 Teve uma profissão diferente antes de trabalhar neste lar? Qual?

3. Escolaridade

3.1 Qual o seu grau de escolaridade?

3.2 Possui algum tipo de qualificação para o desempenho da função referida?

3.3 Considera que essas qualificações são importantes para o desempenho dessa função? Porquê?

4. Perspectiva sobre a instituição em geral ?

4.1 No seu entender, de que forma é que o lar contribui para a qualidade de vida destes idosos?

4.2 De que forma é que o lar e os profissionais que aqui trabalham estimulam a prática do

envelhecimento activo?

4.3 No seu entender, existe alguma coisa que deveria melhorar no lar?

5. Actividades realizadas na instituição

5.1 Que tipo de actividades e momentos de lazer o lar proporciona aos seus idosos?

5.2 Quem são os responsáveis pela preparação dessas actividades?

5.3 Essas actividades promovem o contacto directo com a comunidade?

6. Serviços prestados pela instituição

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6.1 No que respeita aos serviços, que tipo de serviços o lar presta aos utentes

6.2 Os profissionais responsáveis por esses serviços são qualificados para os mesmos?

6.3 A instituição promove algum tipo de processo acaliativo, por parte dos utentes, no que

respeita à qualidade dos serviços e dos seus profissionais?

6.4 Se sim, é encarada como uma forma de melhorar a própria instituição?

7. Os idosos e os profissionais do lar

7.1 Como é que percepciona a relação dos idosos com os profissionais que trabalham no lar?

7.2 De um modo geral, com que tipo de profissionais costuma haver mais empatia por parte dos

idosos?

8. Os idosos e a família

8.1 Que tipo de relação é que os idosos têm com os familiares?

8.2 Apercebse-se da existência de conflitos entre os familiares e os idosos? De que tipo é que são

esses conflitos?

8.3 De um modo geral, quando é que os familiares costumam visitar os idosos?