espécies invasoras são ameaça v à conservação do cerrado

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Ecologia Ecologia V ocê já ouviu falar sobre espécies in- vasoras? Sabe os impactos que elas podem causar em sistemas naturais? Essa foi a pergunta que norteou o artigo recém- publicado na revista Biological Invasions (20: 3621-3629) desenvolvido por Gabriella Da- masceno, Elizabeth Gorgone-Barbosa, Ales- sandra Fidelis, todas do câmpus Rio Claro da Unesp, por Vânia Pivello e Paula Giroldo, ambas da USP, e por Lara Souza, da Uni- versidade de Oklahoma. O estudo é um dos resultados da disserta- ção de mestrado da primeira autora, Gabriella Damasceno, do programa de Pós-Graduação em Ecologia e Biodiversidade da Unesp Rio Claro, sob a orientação da professora Ales- sandra Fidelis, coordenadora do Laborató- rio de Ecologia da Vegetação. O trabalho investigou qual o impacto de duas espécies de gramíneas invasoras, o capim gordura (Melinis minutiflora ) e a braquiária ( Urochloa brizantha) na vegetação de área de Cerrado que está em regeneração natural há 15 anos. Mas o que são espécies invasoras? São espécies vindas de outros lugares que se dão muito bem nos novos locais onde chegaram e se tornam muito abundantes, podendo causar prejuízos econômicos, doenças, al- terar o ciclo da água e até mesmo promover a extinção das espécies nativas. Além dis- so, elas conseguem se reproduzir tanto que acabam se espalhando até dentro de áreas destinadas à conservação da natureza. Esse é o caso de diversas espécies de gramíne- as africanas que são muito utilizadas para pastagem no Brasil, como o capim-gordura e as braquiárias. Apesar de serem a segunda maior causa de perda de biodiversidade no mundo, atrás apenas da destruição de habitats conserva- dos, é difícil quantificar o efeito destas es- pécies no ambiente. Particularmente para o Cerrado, a savana com mais espécies de plantas do planeta, a presença de gramíne- as invasoras é uma das grandes ameaças à conservação. Além disso, elas dificultam a recuperação de áreas degradadas, porque impedem o crescimento de plantas nativas do Cerrado. Visando entender melhor o impacto que estas espécies causam na vegetação em re- generação, este grupo de seis mulheres pes- quisadoras investigou quanto a presença de capim-gordura e braquiária altera a proporção dos grupos de plantas gramíneas herbáce- as e arbustivas, além da quantidade de solo descoberto e de biomassa morta acumulada. ESTUDO MOSTRA A NECESSIDADE DE CONTROLAR ESPÉCIES INVASORAS NO QUE TANGE À CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE FORMAÇÕES DO BIOMA Espécies invasoras são ameaça à conservação do Cerrado ARTIGO PUBLICADO EM REVISTA ESPECIALIZADA É UM DOS RESULTADOS DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DO PROGRAMA DE PÓS EM ECOLOGIA E BIODIVERSIDADE DA UNESP RIO CLARO 18 GABRIELLA DAMASCENO UNESPCIÊNCIA | DEZEMBRO 2018 19 GABRIELLA DAMASCENO DEZEMBRO 2018 | UNESPCIÊNCIA

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EcologiaEcologia

V ocê já ouviu falar sobre espécies in-vasoras? Sabe os impactos que elas

podem causar em sistemas naturais? Essa foi a pergunta que norteou o artigo recém-publicado na revista Biological Invasions (20: 3621-3629) desenvolvido por Gabriella Da-masceno, Elizabeth Gorgone-Barbosa, Ales-sandra Fidelis, todas do câmpus Rio Claro da Unesp, por Vânia Pivello e Paula Giroldo, ambas da USP, e por Lara Souza, da Uni-versidade de Oklahoma.

O estudo é um dos resultados da disserta-ção de mestrado da primeira autora, Gabriella Damasceno, do programa de Pós-Graduação em Ecologia e Biodiversidade da Unesp Rio Claro, sob a orientação da professora Ales-sandra Fidelis, coordenadora do Laborató-rio de Ecologia da Vegetação. O trabalho

investigou qual o impacto de duas espécies de gramíneas invasoras, o capim gordura (Melinis minutiflora) e a braquiária (Urochloa brizantha) na vegetação de área de Cerrado que está em regeneração natural há 15 anos.

Mas o que são espécies invasoras? São espécies vindas de outros lugares que se dão muito bem nos novos locais onde chegaram e se tornam muito abundantes, podendo causar prejuízos econômicos, doenças, al-terar o ciclo da água e até mesmo promover a extinção das espécies nativas. Além dis-so, elas conseguem se reproduzir tanto que acabam se espalhando até dentro de áreas destinadas à conservação da natureza. Esse é o caso de diversas espécies de gramíne-as africanas que são muito utilizadas para pastagem no Brasil, como o capim-gordura e as braquiárias.

Apesar de serem a segunda maior causa de perda de biodiversidade no mundo, atrás

apenas da destruição de habitats conserva-dos, é difícil quantificar o efeito destas es-pécies no ambiente. Particularmente para o Cerrado, a savana com mais espécies de plantas do planeta, a presença de gramíne-as invasoras é uma das grandes ameaças à conservação. Além disso, elas dificultam a recuperação de áreas degradadas, porque impedem o crescimento de plantas nativas do Cerrado.

Visando entender melhor o impacto que estas espécies causam na vegetação em re-generação, este grupo de seis mulheres pes-quisadoras investigou quanto a presença de capim-gordura e braquiária altera a proporção dos grupos de plantas gramíneas herbáce-as e arbustivas, além da quantidade de solo descoberto e de biomassa morta acumulada.

Estudo mostra a nEcEssidadE dE controlar EspéciEs inVasoras no quE tangE à consErVação E rEstauração dE formaçõEs do bioma

Espécies invasoras são ameaça à conservação do Cerrado

artigo publicado Em rEVista EspEcializada é um dos rEsultados dE dissErtação dE mEstrado do programa dE pós Em Ecologia E biodiVErsidadE da unEsp rio claro

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Além disso, elas também investigaram de que forma esse impacto varia ao longo do ano, já que o Cerrado passa por duas esta-ções muito distintas: uma chuvosa na qual as plantas produzem muitas estruturas no-vas e uma seca na qual as partes vivas das plantas, principalmente as folhas, secam e se acumulam.

O trabalho de campo foi feito na Estação Ecológica de Itirapina, interior de São Pau-lo, em uma área até o ano de 1998 utilizada para plantação de Pinus caribaea. Após a remoção das árvores, o local foi deixado em regeneração natural, sem a ocorrência de queimadas e sem a presença de gado. Para avaliar o impacto das gramíneas africanas, as pesquisadoras montaram 120 parcelas de 1m² nas quais elas estimaram a porcen-tagem presente de cada tipo de vegetação (gramíneas, herbáceas e arbustos) bem como a quantidade de solo nu e biomassa morta acumulada quatro vezes ao longo de um ciclo sazonal, de maio de 2014 a fevereiro de 2015.

Como era esperado, as duas espécies in-vasoras impactaram negativamente a vegeta-ção do Cerrado, especialmente as gramíneas nativas. Além disso, reduziram a quantidade de solo descoberto e aumentaram a biomassa morta acumulada. O capim-gordura teve um impacto mais pronunciado do que a braquiária devido à sua grande produção de biomassa.

Temporalmente, o impacto causado pe-las duas espécies invasoras pouco variou ao longo do ciclo sazonal. Apenas o impacto negativo do capim-gordura nas gramíneas nativas foi intensificado no meio da esta-ção seca e o impacto negativo da braquiá-ria sobre a cobertura de solo descoberto na estação chuvosa.

Em função dos impactos negativos que exercem, as espécies invasoras causaram a diferenciação estrutural e funcional das comunidades de plantas, evidenciando a transformação que promovem nos sistemas invadidos e a necessidade de controlar estas espécies invasoras no que tange à conservação e restauração de formações de Cerrado.

O impacto dessas duas espécies invasoras de gramíneas, o capim gordura (Melinis minutiflora) e a braquiária (Urochloa brizantha) na vegetação de área de Cerrado.

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Gabriella Damasceno é doutoranda em Ecologia e Biodiversidade. Fez sua dissertação de mestrado sobre o tema deste artigo no programa de Pós-Graduação em Ecologia e Biodiversidade. Ambos na Unesp de Rio Claro.