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EFEITOS DA TOPOGRAFIA E ESCOAMENTO MÉDIO SOBRE AS CIRCULAÇÕES
LOCAIS NAS REGIÕES NORTE-NORDESTE DO BRASIL
Sergio Henrique FranchitoYoshihiro Yamazaki
RESUMO
Um modelo prognóstico é utilizado para estudar as circulaçõeslocais, notadamente as brisas marítimas e terrestre, na regiãodo Norte-Nordeste do Brasll. O modelo é não-linear,bidimensional, de equações primitivas, formulado em diferençasfinitas e integrado no tempo utilizando o esquema de ShumanBrown-Campana. É usada uma função forçante para determinar atemperatura da superfície do continente. O desenvolvimento dacirculação da brisa é analisado considerando diferentescondições de vento e topografia. Ênfase especial é dada para ocaso em que se inclui, simultaneamente, escoamento médio etopografia não-plana.
1. INTRODUÇÃO
A causa fundamental das brisas marítima e terrestre é adiferença de temperatura entre o ar sobre o continente e o arsobre o oceano. Como durante o dia a terra está relativamentemais quente e o oceano relativamente mais frio, as camadas dear sobre elas apresentam um gradiente horizontal detemperatura. Em consequência, ocorre a circulação da brisamarítima, com o vento próximo à superfície dirigindo-se para ocontinente, e, nos níveis mais altos, um escoamento de retorno,mais fraco e profundo. Durante a noite, com o continentemais frio, a situação se inverte ocorrendo, então, acirculação da brisa terrestre.
A brisa foi estudada extensivamente por vários pesquisadorescomo, por exemplo, WEXLER (11), DEFANT (3), NEUMANN e MAHRER(9) e ANTHES (1), proporcionando informações qualitativas equantitativas de grande importância para melhor entender odesenvolvimento desta circulação.
É fato conhecido que a circulação da brisa é modificada pelatopografia e escoamento de grande escala. Com relação aoefeito da topografia, MAH~ER e PIELKE (8), usando um modelo deduas dimensões, notaram que a circulação tornava-se maisintensa quando a brisa interagia com os ventos de vale-montanha.Quanto aos ventos dominantes, sua influência em contribuir paraos fortes movimentos verticais associados à brisa foiverificado por ESTOQUE (5), através de um modelo numérico.KOUSKY (7), que relacionou as variações sazonais do escoamento
Instituto de Pesquisas Espaciais - INPEConselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq
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médio com a circulação da brisa, através da precipitação aelas associada, para a região Norte-Nordeste do Brasil, sugereque podem ser encontradas variações diárias na circulação local,se existirem mudanças diárias nos ventos allsios.
O objetivo deste trabalho consiste em estudar a influência datopografia e do escoamento médio sobre as brisas marltima eterrestre na região Norte-Nordeste do Brasil através de ummodelo numérico que, apesar de sua simplicidade, é capaz desimular realisticamente esses tiDOS de circulações. Esteestudo torna-se relevante, uma vez que a brisa contribuisobremaneira para a precipitação média mensal nesta região,segundo KOUSKY (7). Assim, são analisadas várias situações,utilizando diferentes condições de vento e topografia.
2. O MODELO
2.1. Equações básicas e grade
O modelo utilizado é semelhante ao de FRANCHITO e KOUSKY (6).É um modelo seco, bidimensional, não-linear e de equaçõesprimitivas. As equações do movimento, continuidade,hidrostática e termodinãmica são, respectivamente:
48
d
dt(p*u) =--
dX
d • oRT(p*uu) - - (p*uo) - ------
dO (1+pt/op*)
dP*~-p*
dX~+ FU ,dX
(2 • 1 )
~=dt
d
dX(p*u) _ d (p*õ)
dO(2.2)
= RT , (2.3)
d
dt
onde:
(p*T) =_.L (p*uT)dX dO
(p*ÕT) + RTw------- + FT ,cp(o+Pt/p*)
(2.4)
P-Pto =p*
P* = P - Pt,s
FU = 0* (o+P /p*) 2~ t
dK "I "I2U(~ ~ + K _0_)
dO dO m d0 2(2.5)
FT
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w = a(~Clt
+ U ~)Clx
+ p* a
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A Equação 2.2, integrada na vertical, resulta na equaçao datendência de pressão na superfície:
~=Clt
1 (p*u) da + (p*àl do ] (2.6)
que constitui, juntamente com as Equações ge 2.1 a 2.4, umsistema prognóstico para as variáveis p*, a, T, ~ e u.
As grades utilizadas são alternadas tanto na horizontal cornona vertical. Na horizontal, os valores de u estão definidosnos pontos xi = (i-1)6x e as outras variáveis, nos pontosintermediários. Na vertical, as variáveis T, ~ e u estãodefinidas nos níveis intermediários entre os níveis onde estãoos valores de a.
2.2. Condições iniciais, condições de contorno e função forçante
No início da integração, em t = to, as temperaturas dassuperfícies do oceano (TSO) e do continente (TSC) sãoconsideradas iguais. Os valores destas temperaturas são para omês de novembro (Salvador, Bahia) e foram obtidos de dados doInstituto Nacional de Meteorologia e da Diretoria deHidrografia e Navegação-DHN (4). Estes valores são válidospara toda costa leste brasileira (da Bahia até o Rio Grande doNorte) devido ao semelhante contraste térmico continente-oceanoencontrado nesta região, segundo KOUSKY (7). Durante aintegração, a TSO é mantida constante, o que é perfeitamentejustificado pelo grande valor do calor específico da água,enquanto a TSC é determinada através de urna função térmicaforçante, aplicada ã superfície do continente, dada por:
27ftf(t) = 5 sen(---)T [
47f(t-T
7200) ]+ 1, 7 sen (2.7)
onde t é o tempo no modelo e T é o período de um dia, emsegundos.
As condições de contorno na vertical sao:
u = U o; em 0=1 e a = O (2.8)
e as condições de contorno laterais são:
(p*, T, ~, u) = O ,Clx
(2. 9)
.sendo a calculado nos contornos laterais através da Equação2 . 2 .
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---~-----~
50
2.3 - Camada limite
Os processos de difusão de calor e quantidade de movimento saoparametrizados através de diferentes coeficientes para asestratificações estávele instável, dada por:
-.5Lea
(2.10)
ae ] 1/2> 5m2s-1 para ae < O (instável),az az
onde:
para ae ::: Oaz
(estável ou neutro)
~ = comprimento de mistura (=50m),
a = KH/Km = 1,
e temperatura potencial da superficie do oceano.a
2.4 - Aspectos numéricos
O esquema de integração no tempo utilizado é o de SHUMAN (10)e generalizado por BROWN e CAMPANA (2), o qual permite que opasso de tempo seja idealmente duas vezes maior que o doesquema convencional de diferenças finitas centradas. Nesteesquema, os valores de p* e ~ são computados no passo de tempo(n+1) antes de computar u. Então, são feitas médias de p* e ;usando os valores dos passos (n+1), n e (n-1), no cálculo daforça gradiente de pressão, na Equação 2.1. Estas médias sãoda forma:
(1-2E,;)n
n (2.11)
onde n = p* ou ~.
Este esquema é estável para E,; $ 0,25. No modelo é usado o valorde 0,2495, segundo ANTHES (1).
Maiores detalhes a respeito do modelo encontram-se em FRANCHITO·e KOUSKY (6}.
'f.~'
3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Estudam-se vários casos analizando em separado e simultaneamentea influência do vento médio e da topografia na circulação dabrisa marItima. Os resultados apresentados referem-se ao tempode 6 horas de integração do modelo, que correspondeaproximadamente à 16:30h no horário local.A Figura 1 mostra a circulação da brisa maritima para asituação de vento médio nulo e topografia plana (caso 1)Observe-se a penetração da brisa até aproximadamente 30kmcontinente a dentro, com os ventos mais fortes de -4,5 m S-l. Acirculação chega a atingir cerca de 750m de altura e acimadisto há um escoamento de retorno, que é mais fraco, porém maisprofundo. Com a inclusão da topografia não-plana (caso 2), os
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efeitos do vento do vale somam-se a brisa marítima causando umacirculação mais intensa (ventos maiores que -4,5 m S-l) eprofunda (1km de altura), como mostra a Figura 2. Também apenetração da brisa marítima torna-se maior, alcançando cercade 50km continente a dentro.
O efeito do escoamento médio sobre a brisa pode ser observadoatravés da Figura 3, que mostra a situação do vento médio de-5 m S_l e da topografia plana (caso 3). Embora os ventos maisfortes sejam também da ordem de -4,5 m S-l, nota-se que nestecaso as isolinhas de velocidade têm as extensões horizontal evertical ligeiramente menores que as do caso 1. Isto é causadopela advecção de ar marítimo sobre a região continental, peloescoamento médio, a qual torna menor o aumento da temperaturadas camadas de ar sobre o continente e, consequentemente, maisfraca a brisa marítima. Contudo, devido à esta advecção, o armarítimo penetra mais sobre o continente (cerca de 35km).
O caso mais realístico que envolve simultaneamente a presençado escoamento médio e da topografia não-plana é apresentadonas Figuras 4 e 5 para as situações de vento médio de -5 m S-l
(caso 4) e de -10 m S-l (caso 5), respectivamente. Comparandoos casos 3 e 4, nota-se que, na presença do mesmo escoamentomédio (-5 m S-l), a circulação é mais intensa e profunda, epenetra mais sobre o continente para o caso que inclui atopografia não-plana, resultado este já observado através deanálise dos casos 1 e 2. O efeito do escoamento médio pode serobservado através dos casos 2, 4 e 5. Como já foi visto, paraa situação de escoamento médio nulo (caso 2), a circulaçãoestende-se até aproximadamente 50km sobre o continente. Com apresença de vento médio no sentido do continente, o ar marítimoé advectado por este vento sobre a terra e penetra mais que nocaso 2, atingindo cerca de 65km (caso 4) e 75km (caso 5).Portanto, quanto maior a intensidade do vento médio, maior apenetração da brisa marítima. Todavia, a circulação torna-semais fraca na Dresença do escoamento médio, fato esteevidenciado at~avés da comparação entre os casos 2 (ventosmais fortes de -4,5 'm S-l) e 5 (ventos mais fortes de -3,7 ms-I).Quanto à profundidade da circulação, os casos 2, 4 e 5apresentam-se semelhantes, com a brisa marítima atingindo aaltura de aproximadamente 1km.
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VENTO U (M/S)- V.MEDIO-O,O COM TOPOGRAFIA KKT=600
52
3450
3000
O2500
:E2000
<t 8a:::::::l 1500.--J<t
1000
500
O
o o o O
CONTINENTE OCEANO
Figura 2 - Caso do vento médio nulo e to~ografia não-plana.Secção vertical do vento u às 16:3üh.
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3000
VENTO U (M/S) - V. MEDIO -5,0 SEM TOPOGRAFIA KKT:600
3450 ---.--------------~;::___;;_------------____,
rI'
53
)
2500
~
2000
e:ta::::;)
1500I-...Je:t
1000
500
o
o
-200 -160 -120 -80 -40 o 40 80 120 160 200
CONTINENTE OCEANO
Figura 3 - Caso do vento médio de -5 m S-l e topografia plana.Secção vertical do vento u às 16:3üh.
,VENTO U (M/S) - V. MEDI O -5,0 COM TOPOGRAFIA KKT:600
3450
3000
2500
~2000
e:ta::::;) 1500I-...Je:t
1000
500
o
-40
CONTINENTE
o 40
OCEANO
80 120 160 200
Figura 4 - Caso do vento médio de -5 m S-l e topografia não-plana.Secção vertical do vento u ãs 16:3üh.
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,VENTO U (M/S) - V. MEDIO - 10.0 COM TOPOGRAFIA KKT: 600
3450 ---rrT---r-------.....:;:-----i0'--------------------,
3000
-----lO
~2000
<l:a::::::>I- 1500-l<l:
1000
500
O
54
-200 -160 -120 -60 -40 O 40 ao 120 160 200
CONTI NENTE OCEANO
Figura 5 - Caso do vento médio de -1 Ü m S-l e topografia não-plana.Secção vertical do vento u às 16:3üh.
4. CONCLUSÕES
Através de um modelo bidimensional, que utiliza dados detemperatura das superfícies do continente e do oceano, válidospara a costa leste brasileira (da Bahia até Rio Grande doNorte), estudaram-se as características de brisa marítimanaquela região. Atentou-se para as interações da brisamarítima com o escoamento médio e a topografia, dando énfasepara o caso em que os dois efeitos estão presentes. Notou-seque a topografia não-plana exerce um papel de intensificaçãoda circulação, contribuindo para o aumento de sua profundidadee penetração, comparada com o caso plano. A presença do ventomédio, dirigido para o continente, provoca uma advecção de armarítimo sobre a terra, causando uma maior penetração da brisamarítima, comparado ao caso de escoamento médio nulo. Quandoos dois efeitos estão presentes, o ar marítimo atinge maioresdistâncias horizontais sobre a terra, Dois ambos contribuempara uma maior penetração da brisa marltima. Todavia, à medidaque aumenta o vento médio, a circulação torna-se mais fracadevido ã diminuição do contraste térmico continente-oceanocausado pela advecção de ar marítimo sobre a terra.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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