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FACULDADES ALFREDO NASSER INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: o desenvolvimento do processo de leitura e escrita Keila Menezes Barbosa APARECIDA DE GOIÂNIA 2010

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FACULDADES ALFREDO NASSER INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: o desenvolvimento do processo de

leitura e escrita

Keila Menezes Barbosa

APARECIDA DE GOIÂNIA 2010

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KEILA MENEZES BARBOSA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: o desenvolvimento do processo de leitura e escrita

Artigo apresentado ao Instituto Superior de Educação da Faculdade Alfredo Nasser, sob a orientação da Profª.Ms. Dorothéia Barbara Santos como parte dos requisitos para conclusão do curso de Pedagogia.

APARECIDA DE GOIÂNIA

2010

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FOLHA DE AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DO TRABALHO

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: o desenvolvimento do processo de leitura e escrita

Aparecida de Goiânia ___ de dezembro de 2010.

EXAMINADORES

Orientadora - Prof.(a) Ms. Dorothéia Barbara Santos - Nota:___ / 70

Primeiro examinador - Prof.(a) Ms. ----- - Nota:___ / 70

Segundo examinador - Prof.(a) ----- - Nota:___ / 70

Média parcial - Avaliação da produção do Trabalho: ___ / 70

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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: o desenvolvimento do processo de leitura e escrita

Keila Menezes Barbosa*

RESUMO: O presente artigo tem por tema Educação de Jovens e Adultos e o desenvolvimento da leitura e escrita. Busca compreender o método de alfabetização segundo Paulo Freire e identificar as práticas pedagógicas através do método freiriano que auxiliam no processo de aquisição de leitura e escrita O resgate da trajetória histórica da Educação de Jovens e Adultos remete-nos a primeira parte desse trabalho, analisar e compreender a situação histórica da EJA, embasado em obras de Vanilda Paiva (1983), em Sônia Feitosa (2008), Werebe (1994), e ainda buscar entender as principais leis que oferecem suporte a essa modalidade de ensino e nas atuais Políticas Públicas Nacionais sendo embasado nas Leis de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9394/96), no Parecer CNE/CEB 11/2000. conclui-se no pensamento de alguns saberes e práticas necessários para os profissionais da EJA.

Palavras-chaves: Método de Paulo Freire. Alfabetização. Aquisição da leitura e escrita. Educação de Jovens e Adultos.

INTRODUÇÃO

O presente artigo vem propor o estudo do Método de Paulo Freire, bem como

seus passos e etapas a serem seguidos diante de uma prática metódica para que

seja alcançada a alfabetização conscientizadora na concepção freiriana. Freire com

sua proposta de um sistema de educação libertadora, fez com que seu método fosse

revolucionário na área da alfabetização, principalmente de jovens e adultos.

A Educação de Jovens e Adultos diante das bases legais visa o acesso

universal às oportunidades sendo elemento essencial para a ação efetiva da

cidadania. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de nº 9394/96

(LDBN), propõe que a Educação de Jovens e adultos passe a buscar três funções,

sendo a função reparadora, equalizadora e qualificadora.

Além disso, este estudo a seguir torneará em prol do objetivo de compreender

o método de alfabetização segundo Paulo Freire e identificar práticas pedagógicas

que auxiliam no processo de aquisição de leitura e escrita, bem como as que

permitem a formação de um cidadão crítico, capaz de intervir na sociedade em que

está inserido.

* Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Alfredo Nasser, sob orientação da professora Ms.

Dorothéia Bárbara Santos.

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A bibliografia pesquisada para desenvolver o presente artigo, se pauta nos

estudos de Paiva (1983), Carneiro (2010), Feitosa (2008), Barcelos (2007) e

sobretudo Paulo Freire (2005 e 2006 ).

MOMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO DE ADULTOS

O entendimento do Método freiriano de acordo com Couto (2008) requer

compreender antes o seu surgimento. No Brasil, na década de 1960 vivia em

grandes transformações, corria em busca de um rápido crescimento econômico, mas

para isso, era necessário acabar com o índice de analfabetismo. O presidente

Jucelino Kubitschek uniu-se com as forças internacionais, em torno da “Alinça para o

progresso” (1958) fez se necessário para a realização de projetos e execução dos

mesmos. Com vistas, acabar com o analfabetismo na América Latina. Porém, não se

pode deixar de ressaltar que tudo isso, também favorecia uma grande parte de

interesses e ideologias políticas dos Estado Unidos, no contexto da Guerra Fria.

Com a má distribuição de renda, o Nordeste era a região mais pobre, diante

de um contexto de colonização que ali ocorria. A economia baseava-se no latifúndio

e na monocultura (um só produto agrícola). Pelas necessidades e desequilíbrios que

o trabalhador estava inserido na época, a solução era infiltrar-se na vida rural de

trabalho, já que não se via nenhuma esperança e possibilidade escolar. Então,

formava-se um grande contigente de excluídos na sociedade, por falta da

oportunidade da escolarização.

De acordo com Paiva (1983), na metade da década de 1960, nos últimos

anos do governo de Kubtischek que iniciava-se o processo da condição de Cultura

Popular, causado pela preocupação dos políticos da época, dos movimentos

estudantis e da política em si. Para que a população em massa tomasse

consciência, dos problemas enfrentados da época. Os primeiros movimentos

voltados para a Educação Popular foi o MEB (Movimento de Educação de Base).

Segundo esta autora, entre 1962 e 1963, nasce, o Centro Popular de

Educação (CPE) neste ano de 1961, com uma forte ligação com a União Nacional

de Estudantes (UNE). A partir do ano de 1963 foram surgindo novos CPEs em todo

o país. O primeiro surgiu no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, em Santo

André, e posteriormente outros no interior. O objetivo do CPC da UNE era o teatro

de rua, uma forma de jornal encenado, seu enfoque era contribuir para as várias

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transformações, envolvia a arte e a política, para que o povo brasileiro se

interessasse mais, e se tornassem conscientes. Para chamar a atenção da

intelectualidade do povo e dos estudantes, nessa mesma época fundou-se também

em Recife o MCP (Movimento de Cultura Popular), ligado à prefeitura, seria uma

forma de acabar com o analfabetismo e elevar o nível cultural do povo em massa,

envolvendo a arte, dança, música popular, etc.

De acordo com os estudos de Paiva (1983), desde 1961 o Movimento de

Educação de Base era financiado pela a CNBB (Conferência Nacional de Bispos do

Brasil), com o intuito de ajudar na formação social e especificamente uma “educação

cristã”, do camponês e promover uma educação de base para acabar com o

analfabetismo, e conscientizar o mesmo em seu conjunto de valores, ético, cívico e

moral.

Segundo Werebe (1994), neste mesmo ano, uma das iniciativas que

promoveu a educação popular foi a campanha “De pé no chão também se aprende a

ler”, que por sua vez obteve grande sucesso, desenvolvido pela prefeitura de Natal,

e seu período de execução foi de 1961 a 1964.

Paiva (1983), relata que foi a Secretária de Educação de Pernambuco junto

com a UNE que realizaram o primeiro Encontro Nacional de Alfabetização, também

promovido pelo o coordenador do MPA (Movimento Popular de Educação), que

através do rádio e dos jornais convocou todos os movimentos que existiam no país,

para participarem desse encontro em 1963. A convocação veio do MEC ( Ministério

da Educação) e o patrocinado pela Secretaria de Educação de Pernambuco e a

MCP (Movimento de Cultura Popular), pelo MEB (Movimento de Educação de Base),

pelo Instituto Popular de Iasás, a Divisão de Cultura da Secretaria do Rio Grande do

Sul e pela UNE. O objetivo desse encontro foi reunir as experiências de todos os

movimentos de alfabetização existentes no país. A maior parte desses movimentos

funcionava, de maneira precária, não existia um apoio oficial, sendo, voluntariado

em pequenos grupos a noite. O método exercido era o da palavração ou

sentenciação com uma cartilha. O método de Freire, por sua vez, mais complexo e

por exigir mais recursos era usado em poucos movimentos existentes.

Nesse 1º Encontro Nacional uma das preocupações a ser discutida, foi o

direito do voto ao analfabeto, sendo ele, negado de exercer tal função, e ser tratado

como um sujeito não capaz de transformar a sociedade que ali constituía. Nas

discussões ocorridas, era também a orientação aos movimentos, a prioridade de

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alfabetização seria dos adolescentes e adultos, não desfazendo da alfabetização de

crianças, mas seria a organização da comunidade adulta, pois, [...] “esta é que iria

atuar a curto prazo no processo de libertação nacional” (PAIVA, 1983, p.248).

De acordo com este autor no dia 15 de Dezembro de 1967, foi criada a

Fundação MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) com o objetivo de

promover a educação a adultos analfabetos, auxiliar com os movimentos das

empresas privadas, financiar e orientar tecnicamente cursos de 9 meses para

analfabetos entre 15 e 30 anos. Porém, o enfoque maior seria para os municípios

com maior chances de desenvolvimento sócio-econômico.

A pretensão do Programa era atingir a 11.400.000 analfabetos entre 1968 e 1971,

para que então começasse a pensar na extinção do analfabetismo, até no ano de

1975.

Segundo Werebe (1994), no ano de 1985 o MOBRAL passou a se chamar

Educar com sua sede em Brasília, pois, antes situava-se no Rio de Janeiro. Saindo

de seu modelo político, o Educar interessou-se em adotar o “método freiriano”.

Tiveram bons resultados, sendo uma porcentagem de 60% a 70% de aprovação.

Mas nem mesmo isso deixou de ser um motivo para que o Educar, fosse extinto, no

início dos anos 1990.

Para estudar a EJA (Educação de Jovens e Adultos) nos dias atuais faz-se

necessário a atenção e análise dos dispositivos legais da EJA para início dos

estudos, sobre a direção do Parecer CNE/CEB 11/2000, que apóia diante das

Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA. O Parecer foi produzido no âmbito do

Conselho Nacional de Educação e da Câmara de Educação Básica, tendo como

relator o conselheiro Jamil Cury.

Conforme determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDBN 9394/96), a Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem por finalidade atender

a camada da população que não teve acesso a educação durante a infância e

adolescência. É concebida como uma modalidade do Ensino Fundamental e do

Ensino Médio, a qual garante aos jovens e adultos precariamente escolarizados

educação que vai além da alfabetização e das séries iniciais do Ensino

Fundamental. Como mostra no artigo seguinte da LDB nº 9394/96:

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Art.37- A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no Ensino Fundamental e Médio na idade própria: §1º- os sistemas de ensino assegurão gratuitamente aos jovens e adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames; § 2º- o Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. (CARNEIRO, 2010, p. 297).

A LDBN 9394/96 determina que os sistemas de ensino devem assegurar

cursos e exames que proporcionem oportunidades educacionais apropriadas aos

interesses, às condições de vida e trabalho de jovens e adultos. Esclarece também

que o Poder Público deve viabilizar e estimular o acesso e a permanência do

trabalhador na escola, mediante ações integradas.

O Parecer CNE/CEB 11/2000 é muito rico em informações e argumentos.

Discute nesse documento a acentuação de alguns aspectos, relevantes. O primeiro

consiste no fato de que as Diretrizes consideraram a EJA como uma modalidade de

ensino específica, relativa à educação básica. O segundo diz respeito às funções

reparadoras, equalizadoras e qualificadoras atribuídas à esse programa.

A função reparadora se constitui da restauração do direito a uma escola de

qualidade que foi negado historicamente aos brasileiros, tendo em vista reparar a

dívida social para com os brasileiros que se viram excluídos deste saber social. A

função equalizadora propõe a possibilidade de distribuição do bem social tendo em

vista a igualdade de oportunidades. Esta função aplica-se àqueles que não tiveram o

acesso e a permanência na escola, os quais deverão receber maiores oportunidades

que outros, a fim de restabelecer sua trajetória escolar e poder participar no jogo

social. Por última, a função qualificadora, que se configura como a viabilidade da

atualização permanente das competências e habilidades dos indivíduos.

O terceiro aspecto se refere à exigência da formação peculiar do educador da

EJA, sem a qual os pressupostos ético-jurídicos fixados nas Diretrizes pedem em

efetividade. Com efeito, o Parecer em questão destaca a preocupação com a

formação específica e a qualificação do educador de jovens e adultos, rejeitando a

prática voluntária e buscando uma formação sistemática que esse ensino requer. O

educador se prepara e se qualifica para desenvolver ações pedagógicas que

contemplem as necessidades dos educandos, suas experiências sócio-culturais.

Destaca-se ainda no Parecer CNE/CEB 11/2000 que a EJA procura recuperar

avanços definidos na Constituição Federal que declara:

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Quando o Brasil oferecer a esta população reais condições de inclusão na escolaridade e na cidadania os “dois brasis”, ao invés de mostrarem apenas a face perversa e dualista de um passado ainda em curso, poderão efetivar o princípio de igualdade de oportunidades de modo a revelar méritos pessoais e riquezas insuspeitadas de um povo e de um Brasil uno em sua multiplicidade, moderno e democrático. (BRASIL, 2000, p. 67)

É preciso destacar que a Educação de Jovens e Adultos é parte constitutiva

do sistema regular de ensino que propicia a educação básica e deve ser otimizada

em todos os sentidos, envolvendo todos os componentes estruturais por parte das

autoridades competentes e também da população. No que concerne a dimensão

pedagógica da EJA, esta deve voltar-se para a promoção do aluno possibilitando o

desenvolvimento de suas potencialidades numa perspectiva transformadora.

COMPREENDER O MÉTODO DE ALFABETIZAÇÃO SEGUNDO PAULO FREIRE A ESSÊNCIA DO MÉTODO

Durante toda uma história de legado freiriano, destaca-se um intenso e

profundo trabalho de pesquisa em torno de uma determinada classe dentro da

sociedade, e foi através de muitos anos de pesquisa que se obteve resultados

dignos de grandes eventos não somente no Brasil, mas em um extenso campo

internacional.

Romão (2005) ao falar sobre o método freiriano, afirma que para esse

educador a essência da alfabetização está na leitura da palavra que precede a

leitura de mundo e que ambas as funções se completam sendo então, inseparável

essa associação. Acrescenta também na questão do respeito do saber do outro, da

experiência vivida em seu próprio meio social, o conhecimento que o aluno traz de

fora para dentro da sala de aula, serão a base para o processo da alfabetização com

sucesso. A leitura de mundo irá contribuir, para a aquisição da leitura da palavra,

assim, o sujeito irá adquirir conhecimentos com uma visão mais crítica, pois, a leitura

da palavra vem como forma de fazer um reescrito da leitura de mundo. Isso para

Freire é a transformação, a essência da alfabetização.

O método freiriano pressupõe que o educador seja uma pessoa interessado

na vida de seu educando, para tirar suas vivencias acumuladas, ou seja, sua cultura

acumulada, e assim iniciar o processo de alfabetização. O educador tem que ser

capaz de aguçar o interesse do aluno, baseado na sua própria experiência. A partir

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do vocábulo dos alunos, o professor irá incorporar suas vivências, na leitura da

palavra, o que constituirá na leitura de mundo.

O educando, nesse processo, será co-autor da alfabetização e

consequentemente trará suas experiências vividas, seu relacionamento com o

mundo e outras pessoas, sua contribuição terá uma significância de grande

importância na construção dessa metodologia de ensino, para que logo a frente se

aproprie da leitura e escrita.

Segundo este autor, no processo de alfabetização, no âmbito de que o sujeito

parte da leitura de um mundo letrado, o mesmo será capaz de inserir nessa

sociedade e também se tornará capaz de intervir e até mesmo transformá-la. Um

dos fatores essenciais para que haja também esse processo, é a interação e o

diálogo. Faz se necessário também que professores tenham consciência do

compromisso, que irão ter de ter para superar limites e barreiras entre

desigualdades sociais existentes nesse âmbito escolar.

De acordo ainda com Romão (2008), o método de ensinar para Paulo Freire

vai muito além de uma teoria de conhecimento, e de ensinar, percorre em uma teoria

de aprender. Diante disso: “[...] assustam mais aqueles(as), educadores (as) que

estão cheios de verdades do que aqueles (as) que estão carregados de dúvidas”

(BARCELOS, 2007, p. 80). Sendo assim, o professor, com o conhecimento em

mãos, refaz a construção de um saber já adquirido, para assim, o educando, se

apropriar desse conhecimento. No entanto, o educador é o autor desse ato de

ensinar-aprender, pois, ele ensina e ao mesmo tempo aprende, dentro do método

freiriano. Nesta, a prática de ensino é libertadora, uma vez que busca caminhos que

desenvolva formas de pensar criticamente.

O método freiriano segundo os estudos de Feitosa (2008), surgiu na década

de 1960, e com o passar dos anos aumentava cada vez mais a sua procura, porém,

a grande diferença em procurar é saber o que é este método e como aplicá-lo.

Diante disso, iniciava-se então a idéia de que Freire viria a se tornar um patrimônio

do pensamento pedagógico dessa época. Sendo assim, cada vez mais direcionou

uma educação voltada a solucionar problemas daquela época, marcava assim, na

história a educação como o diferencial em sua prática metodológica freiriana.

Ainda de acordo com a autora, Freire conviveu com a sociedade menos

favorecida economicamente do Nordeste. Como seu pensamento baseava-se na

libertação da classe oprimida, desenvolveu-se um trabalho com o povo dessa

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região. Diante disso, Freire aprofundou na identidade de cada alfabetizando levou-os

a discutir suas experiências e a entender a sua importância e posição dentro da

sociedade. Sua intuição, era a conscientização de que o povo por mais humilde que

fosse, poderia ser capaz de intervir na sociedade, a partir de sua consciência crítica,

mas não de uma forma revolucionária, mas sim de uma forma transformadora

através do voto consciente.

O trabalho freiriano pôde ser visto não apenas como um método de

alfabetização, mas como um processo de conscientização, por levar em conta a

natureza política da educação. Para ele, o objetivo da educação deveria ser a

libertação do oprimido, que lhe daria meios de transformar a realidade social e sua

volta mediante "conscientização" (conhecimento crítico do mundo).

De acordo com Feitosa (2008), Freire diz que o homem enquanto sujeito

crítico e transformador de sua própria história, deve ter um pensamento crítico,

sendo capaz de compreender a sociedade admirando-a a desfazer do pensamento

ingênuo e desenvolver uma consciência crítica.

FASES DO METÓDO DE PAULO FREIRE

Freire na visão de Feitosa (2008), tenta revelar que sua concepção de

alfabetizar não é algo pronto e acabado. O sujeito está sempre em evolução, e o

mesmo traz consigo uma bagagem de experiências que deve-se levar em conta, por

isso, Freire, citado por este autor ressalta que ninguém sabe e pronto, e sim está em

constante aprendizado. Diante disso, a alfabetização de Freire promove no cidadão

o querer saber mais, e será a partir disso, que facilitará a aquisição da leitura e

escrita acrescentando em sua vida diária.

Este autor relata que quando o cidadão se apropria do mecanismo da leitura e

escrita, além do mesmo passar a ver a realidade com outro olhar, o cidadão também

faz sua própria interpretação, sendo que antes precisaria do outro para interpretar

sua própria realidade.

Um grande diferencial da metodologia freiriana, para com as outras, trata-se,

por exemplo, do aspecto fonético. Veja na frase a seguir: [...] “O bebê baba”; “A babá

é do bebê”; “A ave voa”; “Ivo viu Eva”; “Eva viu a uva”, e outras como estas,

totalmente vazias de sentido para a vida. (FEITOSA, 2008, p.50). É apenas para

aprender a “ler” e não formar o cidadão de forma completa. Na metodologia de

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Freire a frase acima, deveria ser estudada com detalhes, conhecendo o ambiente

em que a “Eva” vive, e onde ela viu a uva. Esse foi um ponto marcante na

metodologia freiriana.

Segundo Feitosa (2008), é notável o método freiriano, pois traz contribuições

de uma nova concepção, o construtivismo. Para Piaget (apud Feitosa), o

conhecimento se constrói a partir do surgimento dos problemas, e resolvendo-os,

concebe-se o conhecimento. E, no método freiriano o homem constrói seu

conhecimento resgatando sua cultura, sendo sujeito do seu próprio conhecimento.

Ambas teorias têm características com o sujeito produtor de seu conhecimento, e

também percebe-se através da observação a presença da leitura no contexto

escolar.

Em seu livro Pedagogia do Oprimido (2010), Freire vem falar da educação

“bancária”, cujo educador é o dono do saber, e o educando é um “recipiente” que se

enche desse saber. Não há dialogo e nem criatividade no ato de ensinar, portanto é

um mecanismo vazio. “Na visão “bancária”, o “saber” é uma doação dos que se

julgam sábios aos que julgam nada saber” (FREIRE, 2005, p.67). Se faz assim, uma

classe dominante oprimindo a classe opressora.

O método freiriano ainda de acordo com Feitosa (2008), tem as

características e contribuições socioconstrutivistas, uma vez que o sujeito constrói

seu conhecimento através de suas experiências no âmbito cultural e social. Mesmo

Freire (2006) tendo utilizado o método silábico para alfabetizar jovens adultos, sua

alfabetização não deixa de ser alfabetização libertadora e conscientizadora. Tendo

em vista o saber do educando com o mundo para o início do processo de

alfabetização e letramento. Segundo Soares (2006);

O sentido ampliado da alfabetização, o letramento, de acordo com Magda, designa práticas de leitura e escrita. A entrada da pessoa no mundo da escrita se dá pela aprendizagem de toda a complexa tecnologia envolvida no aprendizado do ato de ler e escrever. Além disso, o aluno precisa saber fazer uso e envolver-se nas atividades de leitura e escrita. (SOARES, 2003, p.

3)

Dentro dos estudos da autora, Feitosa (2008) irá retratar logo a seguir

resumidamente sobre o método a ser praticado por Freire em sua concepção

libertadora e consciente. Segue alguns pontos primordiais para obter resultados de

alfabetização e letramento dentro do contexto dos educando.

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POLITICIDADE DO ATO EDUCATIVO

Para Freire (2005) a educação não é neutra. A construção do conhecimento é

gerado e transformado a partir de vivências em uma sociedade centrada na política,

sendo assim, o sujeito ao fazer sua própria construção, o leva consigo um política

nata. De acordo com este autor, através das cartilhas e livros didáticos o cidadão

não consegue enxergar a realidade no qual está inserido, pois, esse material não

permite a consciência crítica da construção da sociedade e apenas a observação da

mesma.

Enquanto o educando aprende a palavra “sociedade”, o mesmo é estimulado

a pensar de maneira diferenciada sobre o seu papel de transformá-la. E, referente a

alfabetização diante da palavra “história” na aprendizagem do valor sonoro, o

alfabetizando recria sua história inconscientemente, no momento em que ele o

educando relembra a sua própria história, o mesmo faz uma retrospectiva de sua

realidade, sendo uma imaginação mágica, e passa a ser uma consciência crítica.

Em sua primeira experiência no Brasil sendo intitulada “As 40 horas de

Angicos” e também em outros tantos lugares, suas aulas decorriam em debates

intituladas por Paulo Freire de “Círculos de Cultura”. Naqueles momentos os alunos

passavam a descobrir o mundo de uma maneira significativa, que além de envolver

suas experiências envolvia a aquisição da leitura e escrita, gerando assim a

alfabetização e o letramento.

DIALOGICIDADE DO ATO EDUCATIVO

Como já dito antes por Freire (2005), o ato de educar e ensinar não é

fundamentado no processo da educação “bancária”, sem diálogo e criatividade. “A

atitude dialógica é, antes de tudo uma atitude de amor, humildade e fé nós homens,

no seu poder de fazer e de refazer, de criar e recria” (apud FREIRE, 1987, p. 81). O

diálogo nesse contexto irá acontecer antes mesmo da prática pedagógica formal. O

estudo da vida do educando, a investigação de seu vocábulo e o contexto do

mesmo, são fatores primordiais dentro do aspecto tripé que Freire cita, sendo eles,

educador-educando-objeto, ambos sendo indissociáveis, apoiada em uma relação

democrática e dialógica, proporcionando a conscientização e a libertação.

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De acordo com Feitosa (2008), a metodologia de diálogo, na proposta de

Freire parte da cultura que é debatida em forma de diálogo, envolvendo a natureza,

a cultura e o trabalho no qual as pessoas estão inseridas. É um preparo para a

intervenção do cidadão, enquanto tal, para pensarem nos problemas e conflitos

existentes em seu tempo, e assim fazer a intervenção necessária para terem uma

expectativa futura.

INVESTIGAÇÃO TEMÁTICA

De acordo com Feitosa (2008), a expressão utilizada “Método de Paulo

Freire” ou “Método Freiriano”, como foi utilizado no decorrer do texto é uma

referência de sua concepção libertadora e democrática diante da prática educativa

freiriana. E assim, para a compreensão da sequência e da estrutura na qual irá ser

desenvolvido os momento em sua natureza dialética, em uma “inter-trans-

disciplinaridade, ligados entre si”. Para entender melhor essa estruturação e

sequencia, será indicado a metodologia freiriana.

Pesquisa Sociológica

É um estudo da realidade no qual o educando está inserido, seus modos e

culturas de vida. De acordo com Beisiegel (1974,, p. 165 apud FEITOSA, 2008,

p.74), o primeiro critério é a realização da pesquisa da investigação temática do

analfabeto da região escolhida e em seguida a inscrição dos mesmos no Círculo de

Cultura. Dentro do contexto dos analfabetos era realizada uma pesquisa de campo,

levantando palavras que faziam parte daquele contexto social, registravam também

vivências nas esferas familiares, religiosas, políticas, de lazer, de trabalho, etc.

De acordo com esses registros, foram feitos dentro dos contextos sociais a

Secretaria Municipal de Educação, Diretoria de Orientação Técnica de São Paulo

(2008), forneceram algumas sugestões de diagnóstico a serem seguidos dentro da

sala que puderam situar o educador em relação ao que os alunos sabiam sobre a

leitura e a escrita, bem como sobre como se coloca diante de determinados

assuntos ou tema.

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História de vida como seus dados pessoais, nome completo, data de nascimento, cidade onde nasceu; escolaridade: se já foi à escola, quando, por quanto tempo, por que saiu, o que espera do curso; Família: estado civil, com quem mora, filhos; Participação comunitária: frequenta igreja, faz parte de alguma associação, sindicato.O trabalho:Experiências: qual o trabalho atual, que outros trabalhos já teve, o que gostaria de fazer; Aprendizagem profissional: como aprendeu o trabalho que faz atualmente, já fez algum curso ligado ao trabalho, gostaria de fazer algum, qual; Rotina diária: quantas horas trabalha por dia, quais as folgas, qual o tempo gasto nas idas e vindas entre casa e trabalho.Descanso e diversão: O que faz nos momentos de descanso, o que gostaria de fazer; Qual a diversão predileta, que tempo se dedica a ela; Em companhia de quem se diverte, descansa, sai com os filhos, onde vão; Gosta de ver televisão, quais os programas preferidos;Faz trabalhos manuais, artesanato; Vai a festas, quermesses, parque.Contato com a escrita: Se tem jornais, revistas em casa, quais; O que gosta ou gostaria de ler; Se precisa usar a escrita no trabalho; pouco, nunca, muitas vezes; Se já escreveu ou recebeu cartas; Se precisa ir ao banco; Onde sente mais a necessidade de saber ler e escrever bem. (SÃO

PAULO, 2008, p.41-42)

De acordo com Feitosa (2008), a interdisciplinaridade de todo esse contexto

social sairá o tema gerador, a qual está ligada a metodologia freiriana, e desse tema

gerador geral sairá o conhecimento de cada área. A partir disso, percebia-se o

conjunto de palavras que mais utilizava naquela determinada região, no qual se

transformaria nas palavras geradoras, que seriam os temas a serem trabalhados, no

contexto da contração semântica e fonéticas das palavras.

TEMATIZAÇÃO

A tematização segundo Feitosa (2008), é a seleção dos Temas Geradores e

das Palavras Geradoras. Entende-se que “tematizar é transformar o observado em

temas, para que se possa estudar, minuciosamente, seus componentes.” (FEITOSA,

2008, p. 107). No estudar minuciosamente as palavras no qual serão propostas,

essa prática deverá produzir e superar a visão ingênua para a visão crítica.

As palavras geradoras deverão ser acompanhadas por figuras, desenhos,

pinturas, fotografias, etc, para que haja a codificação, ou seja, a representação da

realidade construída pelos próprios alunos. A base da metodologia freiriana é o

saber escolar aliado a investigação da realidade do educando. Com isso, faz se

necessário que ele compreenda o texto num todo que precisa ser decifrado, e não

em fragmentos, mas aos poucos no processo de construção e desconstrução do

texto. Assim, será capaz de compreender a estrutura da língua e da escrita. O

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educando chega na sala de aula com uma forma de escrever, e por mais simples e

errada que seja, será o ponto de partida para a forma convencional da escrita.

PROBLEMATIZAÇÃO

A Problematização, de acordo com os estudos de Feitosa (2008), é utilizar o

método da pergunta, promover a dúvida, os diversos caminhos que se podem

chegar para solucionar o problema. Diante disso, [...] “A pergunta desestabiliza o

óbvio, explora o senso comum e é um importante instrumento para a superação da

consciência ingênua” (FEITOSA, 2008, p.111-110). Os educandos virão para a sala

de aula com bagagem suficiente para levá-los a questionamentos mais detalhados,

pois, os mesmos ao dialogar sobre suas vivências terão oportunidade de expor seus

sofrimentos e dissabores na injusta sociedade que vivem.

A partir do momento que se gera dúvidas, abre novos caminhos de pesquisa

e conhecimentos para a reflexão. Com isso, o educador poderá utilizar de diversas

maneiras para que suas aulas sejam um campo fecundo do conhecimento, em que

incorporem debates diante das problematizações propostas pelos alunos. A

interação sempre com cautela entre o contexto da escrita e cálculos matemáticos,

para que ambos sempre estejam ligados; provocarão o diálogo sempre que possível

e iniciar a aula com uma pergunta. Dessa forma o educador irá perceber o nível de

conhecimento de seus educandos diante do assunto, as aulas dessa maneira

poderão se tornar mais atrativas utilizando exposições com cartazes, jornais,

revistas, ou desenhos feitos pelos próprios educandos.

Diante dessas ideias, Feitosa (2008) comenta que a alfabetização para Freire

é um procedimento que aliena o código da escrita com as vivências do dia a dia para

assim, ambos serem ampliados, tanto no âmbito pessoal quanto no contexto

coletivo. Porém, esse procedimento consiste em um novo tempo, em que o

educador terá que desenvolver saberes com propostas pedagógicas mais amplas do

que estão nas cartilhas.

EXECUÇÃO DO MÉTODO EM CINCO FASES

A primeira fase de acordo com Feitosa (2008), consiste no levantamento do

universo vocabular do grupo com quem irá se trabalhar. Será a partir desse

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momento que o educador terá oportunidade de se relacionar com o educando de

maneira mais aproximada, uma relação mais informal, em que os educandos com

suas falas irão trazer suas emoções e sentimentos, com isso, o educador terá o

cuidado de perceber a linguagem daquele grupo e suas maneiras de se

expressarem.

No segundo momento será realizada a escolha das palavras geradoras,

selecionadas do próprio vocabular dos educandos. Porém, é constituída sob alguns

critérios como:

[...] riqueza fonética (as palavras escolhidas devem responder às dificuldades fonéticas da língua, colocadas na sequencia que vá gradativamente das menores para as maiores); a pluralidade de engajamento da palavra numa dada realidade social, cultural e política, etc. (FREIRE, 2000, p. 122).

A terceira fase consiste na criação de situações existenciais típicas do grupo

com quem se vai trabalhar. Serão momentos com desafios discutidos pelo grupo,

mas com a mediação do educador, que abrirá perspectivas para o estudo de

problemas regionais e nacionais.

Na quarta etapa, os coordenadores irão construir as fichas-roteiros, que irão

subsidiá-los no trabalho de debate a ser desenvolvido, mas não deverá ser um

roteiro rígido que deva ser seguido minuciosamente.

Na quinta fase é a leitura de fichas com a decomposição fonêmicas

correspondentes aos vocábulos geradores, neste momento poderá ser

confeccionado cartazes para a exposição das fichas.

A PRÁTICA DO EDUCADOR NO PROCESSO DA AQUISIÇÃO DE LEITURA E ESCRITA NA METODOLOGIA FREIRIANA

Diante de alguns estudos que Feitosa (2008) realizou, a mesma expõe uma

simulação da prática em sala, imaginando que já passaram os dois primeiros

passos, e chegou-se ao tema gerador. De acordo com o tema gerador geral

abordado (desemprego), faz-se necessário algumas problemáticas a serem

questionadas, com isso encaminhará o educando em sua consciência crítica sendo:

[...] “como se entende o desemprego nas grandes cidades urbanas? As tecnologias

avançadas irão interferir na ação do homem dentro das empresas? O homem

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necessita do trabalho para garantir sua dignidade e sobrevivência?”. (FEITOSA,

2008, p. 80)

Esses poderão ser alguns pontos levantados para mostrar aos educandos,

as inúmeras possibilidades de problemas a serem resolvidos e discutidos.

Logo em seguida poderá mostrar uma determinada ilustração referente ao

tema, como:

[...] onde trabalhadores estão parados na frente de uma fábrica, lendo uma placa na qual está escrito “não há vagas”, diante disso, o educador levanta algumas questões a serem debatidas sendo: “o que estão vendo neste cartaz? O que essas pessoas estão fazendo aí? Esse cartaz diz que “Não há vagas”. Nós temos vividos situações como esta no nosso dia a dia? (FEITOSA, 2008, p. 80)

O processo relatado consiste na “decodificação”, no qual realiza a leitura e

análise da realidade apresentada por meio da ilustração.

Depois de toda uma problemática a ser levantada, para iniciar o processo da

decodificação do código escrito, escolhe-se uma palavra, palavra essa que foi

levantada na problematização de preferência que seja com sílaba simples como a

palavra “dívida”, diante desta palavra outros procedimentos serão realizados para

iniciar o processo da aquisição da leitura e da escrita.

No primeiro passo, dispõe-se de um cartaz com uma ilustração de acordo

com a palavra (DÍVIDA), escrita em forma bastão. O alfabetizador explora o contexto

da palavra com algumas questões, perguntas, explorando o cartaz até que todos

participem.

Em seguida, no segundo passo faz a leitura em pausas ( silabicamente)

várias vezes e logo após realiza a leitura num todo. Nesse momento, o alfabetizador

enfoca a leitura para a palavra escrita.

Nesse terceiro passo, insere-se em um novo cartaz a palavra inteira, e em

seguida divide a palavra em sílabas. O alfabetizador explica aos educandos que

todas as palavras são constituídas por “pedaços” que se nomeiam em “sílabas” ou

“fonemas”. De acordo com Mazzarotto (2001):

Fonemas, são elementos sonoros mais simples das palavras. É a mínima unidade de som capaz de estabelecer diferenciação entre um vocábulo e outro. [...] “ Sílaba é uma fonema ou grupo de fonemas emitidos num só impulso de voz. Assim, na palavra ajeitar há três sílabas (a-jeiP-tar)” (p.1 - 12).

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Poderá apresentar o cartaz da seguinte sequencia: [...] “DÍVIDA/ DÍ-VI-DA/

DA-DE-DI-DO-DU/ VA-VE-VI-VO-VU.” (FEITOSA, 2008, p. 83). Após a leitura das

palavras e o estudo das mesmas, pelo educador, os educandos repetem a leitura

para que se familiarizem com os sons de cada fonema. A repetição não pode se

tornar algo massacrante e nem mecânico, mas deve ser levada em conta uma

aproximação do objeto a ser estudado. Referente as vogais, o educador explica que

toda sílaba precisa de um componente no qual seu nome é vogal, e sempre mudará

o valor sonoro da palavra, a primeira letra não muda, mas a mudança é na segunda

letra, em seu valor sonoro do fonema.

A seguir, o alfabetizador articula as sílabas das duas famílias apresentadas,

as quais serão possíveis onde será possível formar diferentes palavras ex: DADO,

VIDA, VIVO, DAVI, etc. Em síntese das sílabas a partir da ficha de descoberta para

a composição de novas palavras (os alunos juntam as sílabas e compõem as

palavras na lousa, realizam a sua leitura e as copiam no caderno).

Enfim, pode realizar atividades didáticas, de leitura e escrita das palavras

compostas na síntese das sílabas; ditado de palavras e frases; caça-palavras;

palavras cruzadas; transposição oral e escrita da linguagem de origem do aluno para

a linguagem padrão; interpretação, produção de frases e textos com significado e

produção de pequenos textos em grupo.

Esse processo de acordo com Feitosa (2008), pode ser feito no mesmo

procedimento, a partir do surgimento de novas palavras, sem definir assim, um

planejamento pronto e acabado. E, sempre no decorrer dos estudos surgiam novas

palavras com um teor fonético e ortográfico mais complexos, o que era necessário a

utilização da norma culta, assim o alfabetizando inseria-se no mundo letrado.

A metodologia apresentada por Freire, segundo Feitosa (2008), constituía-se

em uma alfabetização não mecânica, cujo educando se posicionava frente aos

problemas em que ali viviam, sendo de formação ideológica, e não fragmentações.

O método freiriano destacou-se por desenvolver o valor humanístico no educando,

valorizando seu contexto social, sua maneira de falar e se expressar. Diante da

inovação na educação de jovens e adultos o método freiriano foi um dos inovadores

na utilização de tecnologia visual, como a utilização de slides, gravuras e diversos

materiais audiovisuais.

Ainda de acordo com a autora, a metodologia freiriana, desde os anos de

1960 até os dias atuais, vem sendo discutidas, em debates, mesas redondas, teses,

20

artigos, etc. O que traz fontes de pesquisas e estudos e de intervenções na

alfabetização de jovens e adultos e em várias partes do país e do mundo.

O ATO DE ENSINAR E SABERES NECESSÁRIOS DO PROFESSOR DA EJA

Diante do trabalho educativo na educação de jovens e adultos, não se pode

desconsiderar as questões históricas, políticas e sociais, pois será a partir desses

pressupostos que os educandos tanto jovens como adultos se envolverão no

processo da alfabetização.

Para Freire (2006) ensinar é um ato humano, e sendo docente com esse ato

em mãos, consequentemente está ligado a segurança, a autoridade docente

democrática. Quando o mesmo fala da segurança, da autoridade, o docente é

possuidor de uma indispensável sabedoria, capaz de respeitar as liberdades dos

alunos e suas posições. Sendo assim, o professor tem que valorizar sua formação,

buscar saberes que compete a sua função enquanto educador, gerar um esforço em

prol de seu exercício, para ganhar o respeito em sua própria classe. Com isso,

Freire, quer dizer que, “Isto não significa, porém, que a opção e a prática

democrática do professor ou da professora sejam determinadas por sua

competência científica”. (FREIRE, 2006, p.92). Existem educadores competentes

cientificamente, mas autoritários. Porém, será a incompetência do professor que

desqualificará sua autoridade.

Barcelos (2007), compartilha alguns saberes necessários que o professor da

EJA precisa seguir para desenvolver a prática educativa diante da educação de

jovens e adultos, especificamente no que se refere alfabetização. Sendo eles: [...] “ a

atenção; a felicidade; a humildade; a busca; a dedicação; a escuta; a ludicidade; a

mudança; a participação; o reiventar e por último o zelo”. (BARCELOS, 2007, p.83).

A atenção dos educadores da EJA deve ser voltada para a longa experiência

que os educandos carregam em sua história. No processo de avaliação esta

atenção deve ser especial, diante deste público, sendo uma auto-avaliação do

educador, para que não corra o risco de perder o que poderá ser a última tentativa

do educando em busca da escola.

A felicidade proposto por Barcelos (2007) relata que essas e outras palavras

foram excluídas do vocábulo escolar. Sobre esta, faz uma relação ao ato de ensinar

21

e na ação de aprender, pois ambas, ensinar/aprender, são indissociáveis fazendo

parte da formação humana, de um ser inacabado que somos.

Na relação do educador e educando, a humildade possibilitará na abertura do

relacionamento entre ambos, a partir desse pressuposto será derrubada barreiras

construídas historicamente, entre os que “sabem” e os que “não sabem”. Sendo

assim, a humildade consiste em um ato decisivo na prática pedagógica, sendo ela

uma condição para que o educador perceba o ritmo de cada educando no processo

da aprendizagem. A humildade também encaminhará o educador na percepção dos

diferentes processos existentes em sala de aula, na quebra de barreiras como a

timidez e a insegurança, diante de um novo que lhes é proposto no contexto escolar.

A busca, de acordo com Barcelos (2007), se faz na prática educativa da EJA,

é nessa busca que o educador realiza o diálogo com os educandos, possibilitando o

ato solidário, no processo ensino/aprendizagem, para a conquista ou reconquista,

das vozes silenciadas existentes no público da EJA, que possivelmente está

presente na exclusão escolar.

A dedicação está presente no ato educativo em geral e na EJA em especial

se faz presente com maior cuidado. Na educação de jovens e adultos a dedicação

permeia no ato afetivo e efetivo. Barcelos (2007) deixa claro que há deficiências e

carências na formação básica dos educadores em geral e isso dificulta o trabalho

diante do público da EJA, porém será nessa troca de dificuldades de educador e

educando, que resultará no processo afetivo e efetivo do fazer educativo freiriano.

Diante da escuta dos alunos da EJA, uma ação de pausa e atenção,

disponibiliza o ato do diálogo um com o outro. Sendo assim, a escuta consistem

colocar em prática um dos mais ricos sentidos. E, no ato educativo perante o público

de jovens e adultos os educadores, tornam-se imaginações, o professo, será capaz

de entender a permanência destes na escola.

A ludicidade, de acordo com Barcelos (2007), é bastante desenvolvida na

educação infantil e nos anos iniciais, pois, desenvolve a imaginação das crianças,

porém, de acordo com este autor, eles serão capazes de imaginar, criar fantasias

não somente na infância, mas durante toda a vida. O trabalho com jovens e adultos

não impede de desenvolver a ludicidade e a afetividade, uma vez que seja, em favor

de um mundo social mais justo e com paz.

A mudança como um dos pontos dos saberes proposto por Barcelos consiste

em um conjunto de fatores que abrange desde a prática do educador, em mudar sua

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rotina em sala; dentre a mudança do calendário escolar em favor daqueles que

querem permanecer na escola, mas as dificuldades do trabalho atrapalham; as

questões de deslocamento, quando o educando não pode ir a escola, mas a escola

precisa chegar até ele; os currículos e planejamentos precisam ser mudados; a

mudança também deve ocorrer na formação dos educadores e por última a

mudança mais importante e a mais possível se ver naqueles que já voltaram para o

campo da escola.

Diante da demanda que está sendo trabalhada, a participação é um fator que

deve ser observado com carinho, deve ser analisado a proposta dos conteúdos a

serem ministrados e suas formas de exposição, o diálogo tem que ser oferecido

mediante as atividades apresentadas, em que se terá maior chance da participação

e interação entre o grupo. Quanto mais o educador mediar, acompanhar, elogiar, a

participação e a interação dos educandos, o processo ensino/aprendizagem se dará

de maneira prazerosa e haverá uma maior confiança dos educandos em sala de

aula.

O reiventar perante o ato educativo se faz em todos os momentos da prática

do educador, sendo, suas práticas metodológicas, didáticas, e sua atuação “corpo a

corpo” em sala com os alunos. E, o que é mais importante nessa temática, é a

reinvenção de valores, costumes e sem deixar de falar ascender a esperança de que

sempre pode se aprender.

Para finalizar sobre os saberes docentes na EJA o autor concluir afirmando,

que é necessário que o educador da EJA, tome o cuidado de não levar para a sala

de aula receitas, fórmulas, prontas e acabadas. Sendo assim Freire (2006) diz:

[...] é preciso, sublinho, que, permanecendo e amorosamente cumprindo o seu dever, não deixe de lutar politicamente, por seus direitos e pelo respeito à dignidade de sua tarefa, assim como pelo zelo devido ao espaço pedagógico em que atua com seus alunos. (p.142)

A trajetória do professor da EJA é uma estrada de desafios, mas com

inúmeras alegrias. Barcelos (2007), diz que há de saber que muitos professores e

professoras em sua prática docente, reacendeu e reavivou seu gosto da docência

em classes da EJA, em experiências e trocas de saberes únicos dentro de uma sala

de aula.

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Diante do pensamento de Freire (2006), a prática docente com a ação

discente não se separam, ambas, se constituem por natureza em harmonia. E nega-

se a acreditar que a alegria é inimiga da rigoridade. O autor diz que, “[...] quanto

mais, metodicamente rigoroso me torno em minha busca e na minha docência, tanto

mais alegre me sinto e esperançoso também” (FREIRE, 2006, p. 142). Sendo assim,

a alegria que o autor relata consiste no processo da busca, no que se refere ao

processo de ensino/aprendizagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O interesse pelo tema em questão primeiramente surgiu a partir do contato

com a disciplina Educação de Jovens e Adultos, no Curso de Pedagogia, com isso

acendeu a preocupação da prática docente nos dias atuais e a situação do processo

ensino aprendizagem na questão da aquisição de leitura e escrita do público da EJA.

Durante essa pesquisa e estudos realizados, o trabalho proposto veio para

contribuir nos métodos e práticas educativas a serem aplicadas na EJA. A

alfabetização de Jovens e Adultos tem uma importante contribuição para a

sociedade, pois as pessoas analfabetas se sentiam excluídas da sociedade, e que

após o contato com a leitura e escrita adquiriram a consciência de estar fazer parte

da sociedade em que eles estão inseridos.

Faz-se necessário destacar três pressupostos nos quais foram estudados no

decorrer do texto, que são: o método freiriano; as fases do método e os saberes

necessários do professor da EJA.

Diante da essência do método freiriano, cujo objetivo maior da educação é

conscientizar o aluno, é importante o procedimento da leitura da palavra que

precede a leitura de mundo, que consiste na apropriação da alfabetização e do

letramento, sendo assim, faz-se necessário e importante seguir a sequencias que

aqui é proposto para um melhor desenvolvimento no processo de alfabetização de

acordo com o método freiriano. Diante dessa problemática é fundamental a atuação

do educador acerca dos saberes propostos, pois, assim encaminhará o mesmo às

práticas necessárias na execução do método freiriano. Porém, infelizmente os

educadores atuais da EJA, em sua grande maioria, não são preparados para

trabalharem com as especificidades da clientela em questão e na maioria das vezes

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não ocorre, a prática metódica, do método freiriano em sala de aula o que poderá

afetar na aprendizagem significativa dos educandos atualmente.

Abstract: This present article hás vith theme young and aduts „Education and the learning and writing development. Tries to understand the literacy „method according to Paulo Freire and to identify the Pedagogic practices throw freiriano „s method that helps the acquisition „process of reading and writing. The historical rescue of young and adults „ Education mokes part of the first part of this work, to analyse and understand the historical situation of Eja based on Vanilda Paiva (1983), Sônia Feitosa (2008), Werebe (1994), and tries to understand the main lows that offer support to this kind of teaching. And the Nation Public Polititions modern based on Leis de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9394/96), and the Parecer CNE/EEB 11/2000 and finally the thinkin of knows and necessary Practicing to the EJA‟s Professionals. Keywords: Paulo Freire‟s Method. Literacy. Reading and Learning Acquisition. Young and Aderll‟s Education.

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PAIVA, Vanilda Pereira. Educação popular e educação de adultos. São Paulo: Loyola, 1983. ROMÃO, José E. Compromissos do educador de jovens e adultos In: GADOTTI, Moacir; Romão, José E. Educação de Jovens e Adultos: teoria, prática e proposta. São Paulo: Cortez, 2005. SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Orientações didáticas: alfabetização e letramento - EJA e MOVA / Secretaria Municipal de Educação. São Paulo: SME / DOT, 2008. SOARES, Magda. O que é Letramento. Agosto. 2003. Disponível em: http://www.verzeri.org.br/artigos/003.pdf. Acesso em: 13 de set.. 2010. WEREBE, Maria José Garcia. 30 Anos Depois - Grandezas e Misérias do Ensino no Brasil. São Paulo: Ática, 1994.