estudo bíblico (vol. 01) - visionvox

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I – Estudo Bíblico: Mateus

Toda a leitura que, no meu entendimento, deveria se guardada, fui adicionando a este arquivo para consulta eestudo. Tentei colocar em ordem conforme a divisão do evangelista.

Índice

I – ESTUDO BÍBLICO: MATEUS

ÍNDICE

1-JOSÉ DA GALILEIA MT 1:20

Jesus e o precursor.

Dicionário – definições:

Nazaré:

Montanha de Megido

Gelboé

Tabor

Safed

Peréia:

2-ANÚNCIO DO NASCIMENTO – REVELAÇÃO A JOSÉ MAT. 1:18-25

Lucas 2:1-20

Entendimento Israelita entre Noivado e Casamento

Entendimento de Virgem em Hebraico:

3-VISITA DOS MAGOS MAT. 2:1-12

Belém de Judá:

Reis Magos:

VIAGEM DE JERUSALÉM A BELEM

CASA OU GRUTA?

OURO, INCENSO E MIRRA - SIGNIFICADO.

4-A FUGA PARA O EGITO MAT. 2:13-18

5-RETORNO A NAZARÉ – REGRESSO DO EGITO MAT. 2:19-23

NAZOREU

6-MINISTÉRIO DO PRECURSOR MAT. 3:1-6 MC 1:1-6 LC 3:3-6

Luc. 3:1-6

Marc.1:1-6

7-O ENSINO DE JOÃO BATISTA MAT. 3:7-10 LC 3:7-14

8-DESCRIÇÃO DO CRISTO MAT.3:11-12 MC 1:7-8 LC 3:15-18 JO 1:24-26

9-JOÃO MERGULHA JESUS NO JORDÃO MAT. 3:13-17 MC 1:9-11 LC 3:21-23

10-MISSÃO DOS DOZE (MT 10:1-16; MC 3:13-19; 6:7-13, LC 6:12-16, 9:1-6)

10-A TENTAÇÃO NO DESERTO MAT. 4:1-11 MC 1:12-13 LC 4:1-23

11-INÍCIO DA PROCLAMAÇÃO DO REINO PELA GALILEIA – JESUS SE FIXA EM CAFARNAUM MAT. 4:12-17MC 1:14-15 LC 4:14-15

CIDADES DA GALILÉIACafarnaum:Naftali:Zebulom:Caminho do mar, Peréia, Transjordânia:Cafarnaum:Harã:Tiro:Sidom:Síria:Mesopotâmia:

JESUS PERCORRE A GALILÉIASinagogaBase: Cafarnaum

12-OS PRIMEIROS QUATRO DISCÍPULOS – MAT. 4:18-25 MC 1:16-20 LC 5:1-11

Discípulos do Batista:

Nem todos são chamados

Jesus e Zebedeu (Narração de Humberto de Campos)

Do Mar da Galileia para Cafarnaum

13-O SERMÃO DO MONTE – BEM AVENTURANÇAS MAT. 5:1-12 LC 6:20-26

Diante da multidão

14-MISSÃO DOS DISCÍPULOS - A LUZ DO MUNDO MAT. 5:13-16 LC 11:33-36

15-ALEI: A JUSTIÇA E O REINO MAT. 5:17:20

16- ASSASSINATO. MAT. 5:21-26 LC 6:27-36; 12:54-59

17- O ADULTÉRIO MAT. 5: 27-32 LC 16:18; 12:57-59

18-OS JURAMENTOS MAT. 5: 33-37 LC 6:27-36; 12:57-59

19-NÃO RESISTÊNCIA. MAT. 5: 38-42 LC 6:29-30;

20-AMOR AO PRÓXIMO MAT. 5:43-48. LC 6:27-36.

16 - Na Senda do Cristo

21-“PAI NOSSO” MAT. 6:1-4 LC 11:1-13

Sombra e Luz

22-“PAI NOSSO” MAT. 6:5-18

DA ORAÇÃO DOMINICAL

23–TRÊS PROIBIÇÕES MAT. 6: 19-24 MT 5:15; MC 4:21; LC 8:16, 11:33-36, 12:32-34Eclesiástico ou Sirácida

TRÊS PROIBIÇÕES MAT. 6:25-34

VIDA E POSSE

TRÊS PROIBIÇÕES – CONTINUAÇÃO MAT. 7:1-6 LC 6:37-42

A DISCRIÇÃO – TRÊS PROIBIÇÕES – Explicação

Cães e coisas santas

TRÊS ADVERTÊNCIAS MAT. 7:7-27 LC 6:43-49 13:22-30

TRÊS ADVERTÊNCIAS – Explicação de Mat. 7:13-14:

TRÊS ADVERTÊNCIAS – VIVER OS ENSINAMENTOS Explicação Mat. 7.21-27

JESUS DESCE DO MONTE – REAÇÃO DAS TURBAS MAT. 7:28-29 E 8:1

CURA DE UM LEPROSO MAT. 8:1-4 MC 1:40 LC 5:12-16

Lepra nos tempos apostólicos:

Afastamento do leproso:

Afastamento do leproso em Levítico:

Quando purificado: Ritual

O Leproso não podia entrar na cidade e apela para Jesus:

Motivos das curas:

As doenças e curas:

Alimentação mental perniciosa: Chagas no corpo

Mais de uma encarnação para evacuar a material mental nociva:

Curar e Purificar

Recordando:

CURA DO SERVO DE CENTURIÃO. MAT. 8:5-13 LC 7:1-10 JO 4:43-54

Sinfonia de Feitos (Amélia Rodrigues) Mat.8:1-13 Lc 5:1-9

O mais importante – Amélia Rodrigues Mat. 12:1-8 Lucas 6:6-11

Cura do Paralitico - Albert Vanhoye

CURA DA SOGRA DE PEDRO MAT. 8:14-15 MC 1:29-34 LC 4:38-41

DIVERSAS CURAS MAT. 8:16-17

OS DESAFIOS DO DISCIPULADO MAT. 8:18-22 LC 9:57-62

Amélia Rodrigues:

A TEMPESTADE ACALMADA MAT. 8:23-27 MC 4:35-41 LC 8:22-25

Interpretação do texto evangélico – Atualidade

Tempestade Acalmada – Obras Complementares

A SOLIDIFICAÇÃO DA MATÉRIA

TOCANDO O BARCO

TEMPO DE CONFIANÇA

ENTRE OS CRISTÃOS

E ELE DORMIA – Amélia Rodrigues Mat. 8:23-27

OS ENDAIMONIADOS GADARENOS MAT. 8:28-34, MARCOS 5: 1-20 E LUCAS 8:26-39

CURA DE UM PARALÍTICO MAT. 9:1-8 MC 2:1-12 LC 5:17-16

ASSUME TEU LEITO

O CHAMADO DE MATEUS MAT.9:9 MC 2:13-14 LC 5:27-28

REFEIÇÃO COM PUBLICANOS E PECADORES MAT. 9:10-13 MC 2:15-17 LC 5:29-32

Dicionário:Siquém:Chipre:Méron:Corazim:Hébron:

Zaqueu, O Rico de Humildade. Lc 9:1-10

Bartimeu Marcos 10:46-52 (Um salto no tópico. Próximo Mt 9:14-17)

O QUE É HOLOCAUSTOS E SACRIFÍCIOS?

SACRIFÍCIOS:

OBEDECER É MELHOR DO QUE SACRIFICAR

Qual é a misericórdia que Deus exige?

ACERCA DO JEJUM MAT. 9:14-17 MC 2:18-22 LC 5:33-39

RESSURREIÇÃO DA FILHA DE JAIRO E CURA DA MULHER COM FLUXO DE SANGUE. MAT.9:18-26 MC5:21-43 LC 8:26-39)

A Filha de Jairo

A Mulher com Fluxo de SangueObservemos o que nos ensina esse fato material.Explicação:Desenvolvimento – Haroldo Dutra DiasTópicosComentário:Contexto:47 – O PROBLEMA DE AGRADARDiz Humberto de Campos no Livro Boa Nova:A mulher Hemorroíssa – Amélia Rodrigues

CURA DE DOIS CEGOS MAT. 9:27-31

CURA DE UM ENDAIMONIADO MUDO MAT. 9:32-34

A SITUAÇÃO DA MULTIDÃO MAT. 9:35-38

SERMÃO PARA OS DOZE: MISSÃO DOS DOZE MAT. 10:1-4

SERMÃO PARA OS DOZE: Missão dos doze - Anúncio do Reino: Conclusão

PERSEGUIÇÕES MAT: 10:17-33

MINISTÉRIO DESAFIADOR: DIVISÕES MAT. 10:34-39

RECEPÇÃO MAT. 10:40-42

RECEPÇÃO (FINAL) MAT. 11:1

INDAGAÇÕES DE JOÃO BATISTA E TESTEMUNHO DE JESUS A SEU RESPEITO MAT. 11:2-19 LC 7:18-35 16:14-18

JULGAMENTO DAS CIDADES DO LAGO MAT. 11:20-24 LC 10:13-16

DESCANSO DA ALMA: O REGRESSO DOS 72 MATEUS. 11-25-30 LC 10:21-24

ESPIGAS ARRANCADAS: A QUESTÃO DO SÁBADO

CURA DA MÃO A TROFIADA

O SERVO DO SENHOR

JESUS E BELZEBUL MATEUS. 12:22-32 MT 9:32-34; MC 3:20-30 LC 11:14-23, 12:10

Diz Amélia Rodrigues: Contradições da Verdade. (Mateus 12:22-42)

JESUS E BELZEBUL - Final

A ÁVORE E SEUS FRUTOS MAT. 12:33-37

O SINAL CELESTE (JONAS) MAT. 12:38-42 LC 11:24-26, 29-32 MC 8:12

AÇÃO DE OBSESSORES (JONAS) FINAL

Mateus. 12:43-45

Lucas. 11:24-26

A VERDADEIRA FAMILIA MAT. 12:46-50 MC 3:31-35 LC 8;19-21

DISCURSO EM PARÁBOLAS MAT. 13:1-3 NC 4:1-2 LC 8:4

Ante o Campo da Vida

PARÁBOLA DO SEMEADOR MAT. 13:3-9 LC 8:4-8

EXPLICAÇÃO DA PARÁBOLA DO SEMEADOR MAT. 13:10-23 MC 4:10-20 LC 8:9-15

PARÁBOLA DO TRIGO E DO JOIO MAT. 13:24-30

PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA MAT. 13:31-32 MC 4:30-32 LC 13:18-19

PARÁBOLA DO TRIGO E DO JOIO MAT. 13:33-43 LC 13:20

Mateus 13:33-35

EXPLICAÇÃO DA PARÁBOLA DO TRIGO E DO JÓIO MAT. 13:34-43 MC 4:33-34

PARÁBOLA DO TESOURO E DA PERÓLA MAT. 13:44-46

PARÁBOLA DA REDE MAT. 13:47-52

VISITA A NAZARÉ MAT.13:53-58 MARC. 6:1-6 LC 4:16-30 JOÃO, 4:44Sarepta:Sidom:Naamã:

HERODES MAT. 14:1-12 MC 6:14-29 LC 3:19-20; 9:7-9

PRIMEIRA MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES MAT. 14:13-21 MARC. 6:30-44 LUC. 9:10-17 JOÃO, 6:1-15

Mais algumas referências escriturísticas do número doze:

JESUS CAMINHA SOBRE A ÁGUA MAT. 14:22-33 MARC. 6:45-52 JOÃO, 6:16-21Horário Hebraico Após do domínio Romano

CURA EM GENESARÉ MAT. 14:34-36 MARC. 6:53-56

TRADIÇÃO DOS FARISEUS MAT. 15:1-20 MC 7:1-23

Marcos, 7:1-16Presbíteros (Mais velhos)

16 - ANTE A VIDA MAIOR

O QUE PREJUDICAMateus, 15:12-20Marcos, 7:71-23Lucas, 7:71-23Vícios de provém do coração:

CURA DA FILHA DE UMA CANANÉIA MAT. 15:21-28 MC 7:24-30

Marcos, 7:24-30Cachorrinhos

SAREPTA

CURA JUNTO AO LAGO (NO MAR DA GALILÉIA) MATEUS 15:29-21

SEGUNDA MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES. MAT. 15:32-39 MC 8:1-10Análise entre a primeira e segunda multiplicação

SINAL DO CÉU MAT. 16:1-4 MC 8:1-13 LC 12:54-56

Marcos 8:10

O FERMENTO DOS FARISEUS E SADUCEUS MAT. 16:5-12 MT 10:26-27 MC 4:22, 8:14-21; LC 8:17, 12:1-3

Mateus 16:5-12

Marcos 8: 14-21

João 6:1-9

A REVELAÇÃO DE PEDRO MAT. 16:13-20 MC 8:27-30 LC 9:18-21

O ANÚNCIO DO CALVÁRIO MAT. 16:21-23 MC 8:31-33 LC 9:22-27

REQUISITOS PARA SEGUIR JESUS MAT. 16:24-28 MC 8:34-38 LC 9:23-27

Marcos 8:34-38 e 9:1

Lucas 9:23-27Segundo suas obras ou comportamento?

Marcos 9:2-8

Lucas 9:28-36Tabor ou HermomA TransfiguraçãoTransfiguração: Plano físico ou Espiritual?Transfiguração: Ouviu-se a voz...

A VINDA DE ELIAS MAT. 17:9-13 MC 9:9-13

REENCARNAÇÃOMateus 17:10-13Marcos 9:10-13

O ENDAIMONIADO EPILÉPTICO MAT. 17:14-21 MC 9:14-29 LC 9:37-42

SEGUNDA PREVISÃO DO CALVÁRIO MAT. 17:22-23 MC 9:30-32 LC 9:43-45

Marcos 9:30-32

Lucas. 9:43-45

JESUS E PEDRO PAGAM O TRIBUTO MAT. 17:24-27

PEQUENOS E GRANDES NO REINO DOS CÉUS MAT. 18:1-5 MC 9:33-37 LC 9:46-48

Marcos 9:33-37

Lucas 9:46-48

O ESCÂNDALO MAT. 18:6-11 MC 9:42-50 LC 17:1-2

108 - REENCARNAÇÃO

PARÁBOLA DA OVELHA PERDIDA (VIDE ESTUDO PARÁBOLAS MAT. 18:12-14)

ERRO E PERDÃO MAT. 18:15-22 LC 17:4

PARÁBOLA DO DEVEDOR IMPLACÁVEL MAT. 18:23-35

Luc. 17:3-4

Marc. 10:1

João, 10;40-42

VIAGEM A JERUSALÉM

ENSINO SOBRE OS EUNUCOS MAT. 19:10-12

Mat. 19:3-12

Marcos. 10:2-12

AS CRIANÇAS E O REINO DOS CÉUS MAT. 19:13-15 MC 10:13-16 LC 18:15-17

Marcos. 10:13-16

Lucas. 18:15-17

O JOVEM RICO MAT. 19:16-21 MC 10:17-22 LC 18:18-23

Marcos. 10:17-22

Lucas. 18:18-23

AS POSSES E REINO DOS CÉUS MAT. 19:23-29 MC 10:23-31 LC 18:24-30

Marcos. 10:23-31

Lucas. 18:24-30

14 - RENUNCIAÇÃO

PARABOLAS DOS TRABALHADORES DA VINHA MAT. 20:1-16 VIDE ESTUDO

TERCEIRA PREVISÃO DO CALVÁRIO MAT. 20:17-19 MC 10:32-34 LC 18:31-34

Marc. 10:32-34

Luc. 18:31-34

PEDIDO DA NULHER DE ZEBEDEU MAT. 20:20-28 MC 10:35-40

Marc. 10:35-45

O GRANDE SERVIDOR MAT. 20:24-28 MC 10:41-45 LC 22:24-27

OS DOIS CEGOS DE JERICÓ MAT. 20:29-34 MC 10:46-52 LC 18:35-43 VIDE ESTUDO CURAS

ENTRADA DO MESSIAS EM JERUSALÉM MAT. 21:1-11 MC 11:1-11 LC 19:28-40 JO 12:12-19

EXPULSÃO DOS VENDILHÕES DO TEMPLO MAT. 21:12-17 MC 11:15-19 LC 19:45-48 JO 2:13-22

A MOEDA DE CÉSARMat. 22:15-22Marc. 12:13-17Luc. 20:20-26

A FIGUEIRA ESTÉRIL MAT. 21:18-22 MC 11:12-14, 20-26

Marc. 11:12-14

A AUTORIDADE DE JESUS MAT. 21:23-27 MC 11:27-33 LC 20:1-8

Marc. 11 :27-33

Luc. 20:1-8

PARÁBOLA DOS DOIS FILHOS NA VINHA MAT. 21:28-32 VIDE ESTUDO PARÁBOLA

A RESSURREIÇÃO Comentário da Parabola da Vinha.Marc. 12:18-27Luc. 20:27-39Os Saduceus

PARÁBOLA DOS VINHATEIROS HOMICIDAS MAT. 21:33-46 MC 12:1-12 LC 20:9-19

PARÁBOLA DO GRANDE BANQUETE MAT. 22:1-14 MC 14:15-24

O TRIBUTO A CESAR MAT. 22:15-22 MC 12:13-17 LC 20:20-26

A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS MAT. 22:23-33 MC 12:18-27 LC 20:27-40

O MAIOR MANDAMENTO MAT.MAT. 22:34-40 MC. 12:28-34 LC 10:25-28

Marc. 12:28-34a

Lucas 10:25-29

O MESSIAS, FILHO E SENHOR DE DAVI MAT. 22:41-46 MC 12:35-37 LC 20:41-44

Marc. 12:35-37 e 34b

Luc. 20:41-44 e 40

ENSINO E PRÁTICA - CONDENAÇÃO DO CLERO MAT. 23:1-12 MC 12:38-40 LC 11:37-54, 20:45-47

Marc. 12:38-40

Luc. 20:45-47

Tiago 2:1-8Falactéricos - definição da Web:

OS SETE “AIS” MAT. 23:13-32 LC. 11:42-52

Lucas. 11:42-52Zacarias filho de Joiada ou Baraquias

LAMENTO POR JERUSALÉM MAT. 23:33-39 LC 13:31-35, 19:41-44

QUEIXA DE JERUSALÉMMateus. 23:37-39Lucas. 13:34-35

As Bênçãos da União

O SERMÃO PROFÉTICO MAT. 24:1-31 MC 13:1-27 LC 21:5-28, 12:25-27, 17:20-37

PROFECIAS (Sermão Profético)Mat. 24:3-14Marc. 13:3-13Luc. 21:5-19

DESTRUIÇÃO DO TEMPLOMat. 24:1-2Marc. 13:1-2

PARÁBOLA DA FUGUEIRA MAT. 24:32-36 VIDE ESTUDO PARÁBOLAS

TEMPO DE VIGILÂNCIA MAT. 24:37-44 MC 13:33-37 LC 19:12-13, 12:38-40, 17:20-37

PARÁBOLA DO SERVO INVIGILANTE MAT. 24:45-51 MC 13:35-37 LC 12:35-48

Luc. 12:35-48

PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS MAT. 25:1-13 VIDE ESTUDO PARÁBOLA

PARÁBOLA DOS TALENTOS MAT. 25:14-30 VIDE ESTUDO PARÁBOLA

O ÚTIMO JULGAMENTO MAT. 25:31-46

CONSPIRAÇÃO PARA MATAR JESUS MAT. 26:1-5 MC 14:12 LC 22:1-6 JO 11:45-53

Marc. 14:1-2

Luc. 22:1-2

A UNÇÃO EM BELÉM (BETÂNIA) MAT. 26:6-13 MC 14:3-9 JO 12:1-8

Marc. 14:3-9

João, 12:1-8Nardo:

JUDAS NEGOCIA A ENTREGA DE JESUS MAT. 26:14-16 MC 14:10-11 LC 23:3-6

Marc. 14:10-11

Luc. 22:3-6Interpretação - Judas

OS PREPARATIVOS PARA A PÁSCOA MAT. 26:17-19 MC 14:12-16 LC 22:7-13

Marc. 14:12-16

Luc. 22:7-13

PÁSCOA

Principais Festas

A ÚLTIMA CEIA PASCAL MAT. 26:20-29 MC 14:17-25 LC 22:14-23 JO 13:21-30Marc. 14:17Luc. 22:14

JUDAS É INDICADOMat. 26:21-25Marc. 14:18-21Luc.22:21-23João, 13:21-32

TRANSUBSTANCIAÇÃOMarc. 14:22-25Luc. 22:15-20

PREDIÇÃO DA NEGAÇÃO DE PEDRO MAT. 26:30-35 MC 14:26-31 LC 22:31-34 JO 13:36-38

AVISO A PEDRO

Mat. 26:31-35

Luc. 22:31-34

Marc. 14:27-31

João, 13:36-38

NO GETSÊMANO MAT. 26:26-46 MC 14:32-42 LC 22:39-46

A PRISSÃO DE JESUS MAT. 26:47-56 MC 14:43-52 LC 22:47-53 JO 18:1-11

JESUS DIANTE DO SINÉDRIO MAT. 26:57-68 MC 14:53-65 LC 22:54, 63:71 JO 18:12-27

AS TRÊS NEGAÇÕES DE PEDRO MAT. 26:69-75 MC 14:66-72 LC 22:54-62 JO 18:15-27

CONDUÇÃO DE JESUS AO GOVERNADOR MT. 27:1-2 MC 15:1 LC 23:1-5, 13:1-5 JO 18:28-19-26

MORTE DE JUDAS MT. 27:3-10

JESUS DIANTE DE PILATOS MT 27:11-26 MC 15:1-15 LC 23:1-25, 13:25 JO 18:28-19:16

MINISTÉRIO E CRUCIFICAÇÃO MAT. 27:27-44

SIMÃO CIRENEU

MORTE DE JESUS MAT. 27:45-56 MC 15:33-41 LC 23:44-49 JO 19:28-37

O SEPULTAMENTO MAT. 27:57-61 MC 15:42-47 LC 23:50-56 JO 19:38-42

A GUARDA DO TÚMULO MAT. 27:62-66

A RESSURRREIÇÃO MAT. 28:1-10

O SUBORNO DOS SOLDADOS MAT. 28:11-15

APARIÇÃO DE JESUS NA GALILEIA (SEMEADORES GALILEUS) MAT. 28:16-20 MC 16:9-20 LC 24:13-53 JO20:11-23 AT 1:6-11

1-José da Galileia Mt 1:20

E projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo:

- “José, filho de David, não temas receber a Maria”. Mateus: 1-20

Em geral, quando nos referimos aos vultos masculinos que se movimentam na telagloriosa da missão de Jesus, atendemos para a precariedade dos seus companheiros,fixando, quase sempre, somente os derradeiros quadros de sua passagem no mundo.É preciso, porém, observar que, a par de beneficiários ingratos, de ouvintesindiferentes, de perseguidores cruéis e de discípulos vacilantes, houve um homemintegral que atendeu a Jesus, hipotecando-lhe o coração sem macula e a consciênciapura.

José da Galileia foi um homem tão profundamente espiritual que seu vulto sublimeescapa às análises limitadas de quem não pode prescindir do material humano para umserviço de definições.

Já pensaste no cristianismo sem ele?

Quando se fala excessivamente em falência das criaturas, recordemos que houvetempo em que Maria e o Cristo foram confiados pelas Forças Divinas a um homem.

Entretanto, embora honrado pela solicitação de um anjo, nunca se vangloriou dedádiva tão alta.

Não obstante contemplar a sedução que Jesus exercia sobre os doutores, nuncaabandonou a sua carpintaria.

O mundo não tem outras notícias de suas atividades senão aquelas de atender àsordenações humanas, cumprindo um édito de César e as que no-lo mostram no temploe no lar, entre a adoração e o trabalho.

Sem qualquer situação de evidencia, deu a Jesus tudo quanto podia dar.

A ele deve o cristianismo à porta da primeira hora, mas José passou no mundodentro do divino silêncio de Deus.

(Livro Levantar e Seguir - Emmanuel).

Jesus e o precursor.

Após a famosa apresentação de Jesus aos doutores do Templo de Jerusalém,Maria recebeu a visita de Isabel e de seu filho, em sua casinha pobre de Nazaré.

Depois das saudações habituais, do desdobramento dos assuntos familiares, asduas primas entraram a falar de ambas as crianças, cujo nascimento fora antecipadopor acontecimentos singulares e cercado de estranhas circunstâncias.

Enquanto o patriarca José atendia às últimas necessidades diárias de sua oficinahumilde, entretinham-se as duas em curiosa palestra, trocando carinhosamente asmais ternas confidências maternais.

O que me espanta dizia Isabel com caricioso sorriso é o temperamento de João,dado às mais fundas meditações, apesar da sua pouca idade. Não raro, procuro-oinutilmente em casa, para encontrá-lo, quase sempre, entre as figueiras bravas, oucaminhando ao longo das estradas adustas, como se a pequena fronte estivessedominada por graves pensamentos.

Essas crianças, a meu ver respondeu-lhe Maria, intensificando o brilho suave deseus olhos —, trazem para a Humanidade a luz divina de um caminho novo.

Meu filho também é assim, envolvendo-me o coração numa atmosfera deincessantes cuidados. Por vezes, vou encontrá-lo a sós, junto das águas, e, de outras,em conversação profunda com os viajantes que demandam a Samaria ou as aldeiasmais distantes, nas adjacências do lago. Quase sempre, surpreendo-lhe a palavracaridosa que dirige às lavadeiras, aos transeuntes, aos mendigos sofredores… Fala desua comunhão com Deus com uma eloquência que nunca encontrei nas observaçõesdos nossos doutores e, contentemente, ando a cismar, em relação ao seu destino.

Apesar de todos os valores da crença murmurou Isabel, convicta —, nós, a mãetem sempre o espírito abalado por injustificáveis receios.

Como se deixasse empolgar por amorosos temores, Maria continuou:

Ainda há alguns dias, estivemos em Jerusalém, nas comemorações costumeiras, ea facilidade de argumentação com que Jesus elucidava os problemas, que lhe eramapresentados pelos orientadores do templo, nos deixou a todos receosos e perplexos.Sua ciência não pode ser deste mundo: vem de Deus, que certamente se manifesta porseus lábios amigos da pureza. Notando-lhe as respostas, Eleazar chamou a José, em

particular, e o advertiu de que o menino parece haver nascido para a perdição demuitos poderosos em Israel.

Com a prima a lhe escutar atentamente a palavra, Maria prosseguiu, de olhosúmidos, após ligeira pausa:

Ciente desse aviso procurei Eleazar, a fim de interceder por Jesus, junto de suasvaliosas relações com as autoridades do templo. Pensei na sua infância desprotegida ereceio pelo seu futuro. Eleazar prometeu interessar-se pela sua sorte; todavia, deregresso a Nazaré, experimentei singular multiplicação dos meus temores.

Conversei com José, mais detidamente, acerca do pequeno, preocupada com oseu preparo conveniente para a vida! … Entretanto, no dia que se seguiu às nossasíntimas confabulações, Jesus se aproximou de mim, pela manhã, e me interpelou:

“Mãe, que queres tu de mim? Acaso não tenho testemunhado a minha comunhãocom o Pai que está no Céu! ”

Altamente surpreendida com a sua pergunta, respondi-lhe, hesitante: Tenhocuidado por ti, meu filho! Reconheço que necessitas de um preparo melhor para avida... Mas, como se estivesse em pleno conhecimento do que se passava em meuíntimo, ele ponderou: “Mãe, toda preparação útil e generosa no mundo é preciosa;entretanto, eu já estou com Deus. Meu Pai, porém, deseja de nós toda aexemplificação que seja boa e eu escolherei, desse modo, a escola melhor”.

No mesmo dia, embora soubesse das belas promessas que os doutores do templofizeram na sua presença a seu respeito, Jesus aproximou-se de José e lhe pediu, comhumildade, o admitisse em seus trabalhos. Desde então, como se nos quisesse ensinarque a melhor escola para Deus é a do lar e a do esforço próprio concluiu a palavramaterna com singeleza —, ele aperfeiçoa as madeiras da oficina, empunha o martelo ea enxó, enchendo a casa de ânimo, com a sua doce alegria!

Isabel lhe escutava atenta a narrativa, e, depois de outras pequenasconsiderações materiais, ambas observaram que as primeiras sombras da noitedesciam na paisagem, acinzentando o céu sem nuvens.

A carpintaria já estava fechada e José buscava a serenidade do interior domésticopara o repouso.

As duas mães se entreolharam, inquietas, e perguntavam a si próprias para ondeteriam ido às duas crianças.

*

Seus horizontes são estreitos e sem interesse; contudo, os que subam um poucoalém, até onde se localizam as casinholas mais elevadas, encontrarão para o olharassombrado as mais formosas perspectivas. O céu parece alongar-se, cobrindo oconjunto maravilhoso, numa dilatação infinita.

Maria e Isabel avistaram seus filhos, lado a lado, sobre uma eminência banhadapelos derradeiros raios vespertinos. De longe, afigurou-se lhes que os cabelos deJesus esvoaçavam ao sopro caricioso das brisas do alto. Seu pequeno indicadormostrava a João as paisagens que se multiplicavam a distância, como um grandegeneral que desse a conhecer as minudências dos seus planos a um soldado deconfiança. Ante seus olhos surgiam às montanhas de Sarnaria, o cume de Magedo, aseminências de Gelboé, a figura esbelta do Tabor, onde, mais tarde, ficaria inesquecívelo instante da Transfiguração, o vale do rio sagrado do Cristianismo, os cumes deSafed, o golfo de Khalfa, o elevado cenário do Pereu, num soberbo conjunto demontes e vales, ao lado das águas cristalinas.

Quem poderia saber qual a conversação solitária que se travara entre ambos?

Distanciados no tempo, devemos presumir que fosse, na Terra, a primeiracombinação entre o amor e a verdade, para a conquista do mundo. Sabemos, porém,que, na manhã imediata, em partindo o precursor na carinhosa companhia de sua mãe,perguntou Isabel a Jesus, com gracioso interesse: Não queres vir conosco? Ao que opequeno carpinteiro de Nazaré respondeu, profeticamente, com inflexão de profundabondade: “João partirá primeiro”.

Livro: Boa Nova – Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Humberto de Campos

***

O Seu nascimento foi anunciado por seres angélicos através dos séculos queprecederam à Sua chegada. Os profetas referiram-se ao Seu momento, como o dalibertação e Ele foi esperado como o Eleito. Mas também, depois da Sua morte, ei-loque retorna, confirmando a indestrutibilidade da vida, como igualmente o intercâmbiomediúnico.

Livro: Até o fim dos Tempos, Lição Mediunidade - Vínculo de Luz, AméliaRodrigues.

***

Por sua vez, os amigos distraídos ainda não se haviam dado conta da magnitudeda tarefa que deveriam desempenhar, face às limitações que lhes bloqueavam o

raciocínio, recurso que lhes fora aplicado antes do nascimento, e que seria liberado nomomento próprio, após a crucificação...

Idem, As Bênçãos da União, idem, idem.

Já no primeiro versículo do Evangelho de Mateus, o leitor fica com a impressão deque o AT desempenhará um papel de grande importância no texto: “Livro dagenealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (1.1). A expressão biblosgeneseõs pode ecoar o nome grego do primeiro livro da Bíblia (Gênesis) ou sertraduzida por “genealogia”, servindo de introdução a 1.2-17 e refletindo a práticacomum nas Escrituras de fazer uso do registro dos ancestrais para apresentar alinhagem de alguém (v. a mesma expressão em Gn 2.4 e 5.1, na LXX). Mais provávelainda é que a palavra possa ser traduzida por “origens”, numa referência a todo otrecho compreendido nos capítulos 1 e 2 (cf. Gn 5.1a como introdução a 5.1b—9.29).Dizer que Jesus é o Cristo é uma forma de identificá-lo como o Messias dos judeus, otão esperado salvador de Israel. Até o nome “Jesus” é uma forma helenizada dohebraico “Josué”, remetendo ao sucessor de Moisés e libertador do povo de Deus.Sendo descendente de Davi, Jesus surge como rei israelita (v. esp. 2Sm 7.11b-16; Sl.Sal. 17.21—18.7); sendo descendente de Abraão, abençoará todas as nações da terra(Gn 12.1-3). Veja em Blomberg (1992) e em outros comentários-padrão o tratamentodispensado aos segmentos de Mateus em que o AT não é claramente citado.

A genealogia de Jesus seleciona apenas a quantidade de ancestrais (“gerou” podesignificar “foi o ancestral de”) necessária para criar três séries de catorze nomes,provavelmente fazendo uso de uma gematria (a soma das consoantes hebraicas, devalor numérico, que compõem determinada palavra) baseada no nome (“Davi”), cujasconsoantes, se somadas, resultam no número catorze ("7 = 4, 1 = 6, T = 4). A primeirasérie tem seu ápice em Davi; a segunda, na deportação para a Babilônia, momentocrítico da história de Israel (2Rs 25). Todos os nomes que vão de “Abraão” a“Zorobabel” aparecem no AT. Os patriarcas Abraão, Isaque, Jacó e Judá figuram comdestaque em Gênesis 12—50. Os outros nomes masculinos de 1.2-6a correspondem alCrônicas 2.3-15. Os nomes que vão de “Salomão” a “Josias” (1.6-11) ocorrem emlCrônicas 3.10-14, se considerarmos que Azarias e Uzias eram a mesma pessoa (cf.2Rs 15.1,2 com 2Cr 26.3). “Jeconias” (1.12) é uma forma variante de “Joaquim”,mencionado em lCrônicas 3.17-19 ao lado de Sealtiel e Zorobabel. Os demais nomes(de “Abiúde” a “Jacó”) são desconhecidos. Veja em Masson (1982) um estudo completo

das genealogias dos Evangelhos, que também serve para comprovar sua exatidãohistórica.

As mulheres são alvo de maior interesse que os homens na genealogia de Jesus.Tamar, Raabe, Rute e Bate-Seba (“que havia sido mulher de Urias” [1.6]) eram gentiase também mulheres de reputação duvidosa, justa ou injustamente, suspeitas derelações sexuais ilícitas (v., respectivamente, Gn 38; Js 2; Rt 3; 2Sm 11).

Maria não era gentia, mas teve de suportar o estigma de uma gravidez fora docasamento, envolvida pelas suspeitas dos que não acreditavam na história donascimento virginal (v. mais em Blomberg 1991a).

Livro: Comentário do Uso do Antigo Testamento no Novo Testamento de G. K.Beale e D. A. Carson

Genealogia: Segundo Haroldo Dutra Dias em Pérolas do Evangelho, na época deJesus as pessoas se comunicam através de histórias, de narrativas e as crianças erameducadas através desse método e repassadas de uma geração a outra. Por isso,quando se queria apresentar alguém por razão de sua importância ou da tarefa queessa pessoa ia desempenhar, era comum fazer-se uma genealogia. A função dagenealogia era contar de onde a pessoa veio informando a história de seusantepassados e qual a importância daquela pessoa no presente. Assim a genealogiade Jesus no Evangelho de Mateus, o evangelista pretende ligar a história de Jesus, ahistória e a missão de dezenas de outras pessoas que o precederam, em mostrar que avida de Jesus estava ligada a um processo longo, um processo que teve a condução ea interferência do próprio Deus.

A função da genealogia era mostrar também, os vínculos de Jesus com osobjetivos do passado, ou seja, com a primeira revelação, com a tradição e a fé dospatriarcas. Por isso encontramos uma sucessão de nomes que para nós não temsentido, mas que, para as pessoas daquela época, cada nome da lista, evocava umalembrança, uma emoção, um sentimento de gratidão, ou de admiração, ou até dequestionamento.

Ao citar os nomes, o evangelista chama atenção das pessoas para o retorno paraesses episódios daquelas personagens e principalmente, para o momento da históriaem que cada um viveu.

Essa genealogia é bem eclética: coloca pessoas que foram heróis bíblicos, comotambém aquelas que tiveram quedas, com nenhum modelo de conduta moral. Qual omotivo? Para mostrar que o trabalho de Jesus envolvia a cura dos doentes, tratamento

daquelas que estavam em queda espiritual, ou seja, para mostrar o aspecto damisericórdia da missão de Jesus.

Uma curiosidade. As pessoas que aparecem nessa genealogia de Mateus,algumas foram de Israel, do povo Judeu, outras são do mundo pagão, como porexemplo, Ur na Caldéia, Babilônia. Alguns são homens, outras são mulheres. Algunspoderosos e outros são pobres, oprimidas. Isso nos diz que a tarefa de Jesus seriajunto aos judeus e gentios, envolvendo a todos: sofredores e felizes, abastados epobres, oprimidos e livres. O aspecto da diversidade e da tolerância de Jesus, já estápresente na genealogia de Jesus.

Outra coisa que chama a atenção são alguns nomes importantes da história bíblia,como por exemplo, Abraão, Salomão, Davi, mostrando os vínculos do trabalho deJesus com a primeira revelação: quando o Evangelista repete o nome, não precisacontar a história que consta no Velho Testamento, evocando vários textos, histórias,episódios, tragédias e alegrias, e essas emoções eram novamente vividas pelosouvintes que presenciavam a leitura desse texto.

Dicionário – definições:

Nazaré:

Nazaré, com a sua paisagem, das mais belas de toda a Galileia, é talvez o maisformoso recanto da Palestina. Suas ruas humildes e pedregosas, suas casaspequeninas, suas lojas singulares se agrupam numa ampla concavidade em cima dasmontanhas, ao norte do Esdrelon. (Esdraelom – Mesmo que Jezreel. Aqui é o Valeque ficava perto dessa cidade).

Nazaré, segundo o Médico de homens e de Almas:

Enquanto seu cavalo subia a colina pedregosa, Lucano olhava para trás, para omar, e pensava que só no Paraíso devia existir paz assim, vasta e azul tranquilidade,tão envolvente calma. Então, no topo da montanha, ele olhou para Nazaré, à distância,sobre as colinas ressecadas e escuras, com suas projeções de pedras quebradas. Ascasas de telhados planos eram da cor circulante, brilhando ao sol e rodeadas,espaçadamente, por espessas árvores verdes e ciprestes pontudos, que pareciamsombrios contra o céu ardente. A cidadezinha empoleirava-se ali, como se colocadapela eternidade, para não ser movida de novo, para não ser perdida. Para além dela,as montanhas distantes se iam desdobrando uma após outra, em profunda tonalidadecastanha, como uma barreira. Ondas de calor estremeciam sobre o cenário amplo,dando-lhes aparência sobrenatural. Lucano desceu o monte, para um pequeno valejuncado espessamente de enormes pedras de basalto negro, entre as quais havia relvaesparsa, pálida e crestada à luz do sol. Ali, carneiros pastavam, guardados porpastores sentados nas pedras. Os homens olhavam fixamente para Lucano, seusturbantes abrigando-lhes os rostos queimados de sol. Ele saudou-os, e os homensretribuíram-lhe a saudação, cheios de curiosidade. Olhando para eles, Lucanopensava: Eles O viram, conheceram-No, falaram com Ele e talvez muitos tenhambrincado com Ele, em sua infância.

Uma grande sensação de entusiasmo ergueu-se nele, ao deixar o vale, pondo-se asubir o monte para Nazaré. Nuvens de poeira branca e ardente seguiam-no, rodeavam-no, sufocavam-no, forçando-o a tossir. Ele porém, conservava os olhos em Nazaré eesporeava o cavalo, desejando sombra. As montanhas devolviam o eco do galopar edo tropeçar do cavalo, e do rolar de pedras à sua passagem. Então, finalmente, estavana periferia de Nazaré, nas pequenas e alcantiladas ruas estreitas, onde a poeirarodopiava e onde fervilhavam crianças brincando. As ruas eram margeadas porminúsculas lojas abertas, que vendiam cordeiro e carneiro assados, salsichas, vinhobarato, artigos domésticos, sandálias e tecidos de cor. O ruído foi quase um alívio para

Lucano, depois do silêncio das montanhas e, enquanto cavalgava através de maisruazinhas, espessa e purpúrea sombra era atirada ocasionalmente por um carvalho,uma alfarrobeira, pinheiro alto ou um cipreste, uma acácia, ou um grupo empoeirado detamareiras. No centro de uma praça redonda, pavimentada de pedras lisas, feitas,principalmente, de basalto preto, havia um poço, e moças ali estavam enchendo seusjarros e tagarelando; as cordas rangiam e os baldes deixavam pingar gotas brilhantesao sol. As donzelas olharam Para Lucano e sobressaltaram-se; seus olhos, azuis,cinzentos ou de um castanho claro tornaram-se curiosos sob os véus coloridos. Era umlugar pobre. Não havia casas bonitas, nem jardins ornados de pontes, nem paredesaltas de onde cascateassem flores vermelhas ou rosadas.

Não se viam liteiras, nem bigas, nem homens ou mulheres bem-vestidos.

Atrás de algumas das casas cresciam pequenos retalhos de verduras, ou vinhedosque se apoiavam em estacas. Todas as ruas mostravam-se ruidosas, com cães eburros, estes últimos pacientes e pesadamente carregados com produtos para as lojas.Lucano parou junto à cisterna e perguntou às moças se poderiam indicar-lhe ondeficava a casa de Maria, Mãe de Jesus.

Elas olharam para aquele homem alto e louro, em seu cavalo preto, e o aprumodele tornou-as tímidas e prudentes. Deram risinhos abafados, olharam-se umas àsoutras, e então uma delas, sem dizer palavra, apontou para uma rua que saía da praça.Lucano seguiu, deixando as moças sussurrando alvoroçadamente. Aquela rua aindaera mais pobre do que as outras, e havia poucas casas nela. Eram casasexcessivamente baixas, com escadas curtas que levavam aos terraços planos, onde aspessoas se podiam reunir depois do crepúsculo, em busca de frescor. Através deportas abertas Lucano podia ver os degraus de pedra que desciam, em forte declive,para as frias adegas subterrâneas, onde as famílias passavam as horas quentes do diae faziam suas refeições.

Lucano parou o cavalo e olhou em derredor, hesitante. O animal movia-se,impaciente, e sacudia a cabeça e a cauda para livrar-se da multidão de moscas. Na luzenceguecedora do meio-dia a pequena rua alcantilada tinha ar de infinita desolação, ea poeira ondulava sobre ela. Não havia ninguém por ali. Lucano escolheu a casa maispróxima, apeou, chegou à porta aberta, e olhou para dentro, depois para os degrausque desciam para o aposento abaixo, tipo adega, mas fresco. Havia poucos e pobresartigos de mobiliário no quarto minúsculo, acima dos degraus. Uma ou duas cadeirasfeitas em casa, um banco, uma mesa. As paredes eram caiadas e reluziam com os

reflexos do sol lá fora. Da adega vinha um grugulejar agradável de água. Lucanochamou e, não recebendo resposta, entrou pela porta estreita e olhou para os degraus;pôde ver um pequenino poço no piso da adega, um piso de pedra, algumas panelas deferro, e uma chaminé preta.

Tornou a chamar. Agora, ouviu-se o roçagar de roupas e uma mulher apareceu nofundo, levantando os olhos para ele, silenciosamente.

- Estou procurando Maria, a Mãe de Jesus, senhora disse Lucano. - Fiz uma longaviagem para falar com ela.

Sem responder, ela subiu os degraus, e Lucano viu, pelo reflexo da luz, que erajovem e flexível, vestida com um tecido barato, azul-escuro, e usando véu branco.Enquanto ia subindo os degraus, o rosto levantou-se para o médico, e ele percebeuque a mulher era extremamente bela, de faces lisas e pálidas adelgaçando-se noqueixo onde havia uma covinha. Tinha o nariz delicado, os lábios de um rosa suave eos olhos azuis mais encantadores que o médico já vira. Um caracol de cabelo douradoescapara de seu véu. Seu corpo e sua esbeltez eram os de uma jovenzinha, e seuspés, descalços, muito brancos.

Então, em pé diante dele, cheia de simples dignidade, ela disse:

- Sou eu.

Lucano estava estupefato. Segundo tudo quanto ouvira, Maria devia ter agoraquarenta e oito anos, e ainda assim mostrava o aspecto e a juventude de uma jovemprincesa, gentilmente nobre e infinitamente suave. Não havia rugas marcando-lhe orosto, e ela sorria indagadora, para Lucano, mostrando dentes pequenos, que pareciampérolas perfeitas. Contudo, olhando-a, ele percebeu que ela sofria uma sutilmodificação, tornava-se mais velha, enchia-se de desgosto e tristeza, curvava-se umpouco. Então, de novo, estava misteriosamente jovem e ereta, calma como umaestátua, com a fronte lisa e branca.

Lucano, sem saber por que, começou a tremer. Estava dominado pela reverência epelo amor. Desejava ajoelhar-se diante dela e beijar-lhe as mãos que o trabalhogastara. Entretanto, Maria fixava nele um olhar sem curiosidade, e seus olhos azuispareciam transpassar-lhe a alma.

- Sou Lucano, médico grego, senhora murmurou ele. - Vim de longe para ver-tepois amo e sirvo teu Filho, embora nunca O tenha visto, a não ser em meus sonhos.

Ela não se mostrou surpreendida. Sorriu-lhe ternamente, e falou, com voz

sussurrante como a de uma harpa que fosse suavemente tangida:

- Sentemo-nos atrás da casa, na sombra, Lucano.

Retirado do Livro: Médico de Homens e de Almas de taylor caldwell

***

Montanha de Megido

– Um campo de batalha profético, onde os reis da terra se reunirão para umabatalha no grande dia do Deus Todo-poderoso (Ap 16.16).

Cidade localizada perto dos vales de SAROM e de JEZREEL, onde cruzavam duasimportantes rotas comerciais. A cidade foi fortificada por Salomão (1Rs 9:15) e tornou-se cenário de grandes batalhas (Jz 5.19-21; 2Rs 23.29).

Gelboé

- (monte ou montanha) Montanhas de Gelboé, que o orvalho e a chuva não caiamsobre vocês e nunca mais haja campos férteis, pois o escudo dos valentes foidesonrado. O escudo de Saul não foi ungido com óleo. 2 Samuel 1:21 (Católica)

Tabor

Monte situado no Sul da Galileia (Jz 4.6-16; 8.18-21)

Safed

(Hebreu Tzfat) é uma cidade do distrito Norte, na província da Galileia, em Israel.Situada a uma altitude de 800 metros acima do nível do mar, Safed é a cidade maisalta da Galileia. Em 2007 a população era de 28.500 habitantes. Praticamente toda apopulação da cidade é judia e uma grande porcentagem dela é religiosa. Safed é bemconhecida pela sua importância na mística judaica chamada Cabala.

Peréia:

Região que ficava “além do Jordão”, isto é, do lado leste desse rio (Jo 3.26). Essenome não aparece na Bíblia.

2-ANÚNCIO DO NASCIMENTO – REVELAÇÃO A JOSÉ Mat. 1:18-25

18. Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, prometida emcasamento a José, antes que coabitarem concebeu pelo Espírito Santo.

19. José, seu esposo, sendo justo e não querendo difamá-la resolveu repudiá-laem segredo.

20. Após ter cogitado estas coisas, eis que em sonho apareceu-lhe um anjo doSenhor dizendo: José, filho de David, não temas receber Maria, tua mulher, pois o quenela foi gerado vem do espírito Santo;

21. Ela dará à luz um filho, e o chamarás pelo nome de JESUS, pois ele salvará oseu povo dos seus pecados.

22. Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que dito pelo Senhor através doprofeta, que diz:

23. “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho e ele será chamarãoEmmanuel”, que traduzido é “Deus conosco”. (Isaías 7:14)

24. Ao despertar do sono, José agiu conforme lhe ordenara o anjo do Senhor, erecebeu sua mulher.

25. Mas não a conheceu até ela dar à luz um filho, a quem chamou pelo nome deJESUS. (Tradução Haroldo Dutra Dias)

Lucas 2:1-20

1 E sucedeu que, naqueles dias, expediu-se um decreto de César Augusto, paraque todo a terra habitada se registrasse

2 Este censo foi anterior ao que ocorreu quando Quirino governava a Síria. 3 E

todos iam registrar-se, cada um à sua própria cidade. 4 José também subiu de Nazaré,na Galileia, à cidade de Davi, que se chama Belém, na Judeia, por ser da casa e pátria

de Davi 5 A fim de registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida.

6 Enquanto estavam lá, completaram-se os dias para o parto. 7 E deu à luz seufilho primogênito, enfaixou-o, deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para

eles na sala de hóspedes. 8 Na mesma região havia pastores que pernoitavam nocampo, e realizavam a vigília noturna, do seu rebanho.

9 E se aproximou um anjo do Senhor, a glória do Senhor iluminou ao redor deles,e encheram-se de grande temor.

10 Disse-lhe, porém, o anjo: Não tenhais medo!, Eis vos trago boas novas de

grande alegria, que será para todo o povo: 11 Porque nasceu para vós, hoje, umSalvador, que é Cristo Senhor, na cidade de Davi

12 E isto é o sinal para vós: encontrareis um recém-nascido enfaixado e deitado

numa manjedoura. 13 E de repente, juntou-se ao anjo uma multidão dos exércitos do

céu, louvando a Deus, e dizendo: 14 Glória a Deus nas alturas, Paz sobre a terra, boa

vontade para com os homens. 15 Ora, quando os anjos se afastaram deles, em direçãoao céu, os pastores disseram entre si: percorramos até Belém, e vejamos esteacontecimento que o Senhor nos deu a conhecer.

16 E foram, apressados, e finalmente encontraram não só Maria, mas também

José, e o recém-nascido, deitado na manjedoura. 17 Após terem visto, divulgaram oque lhes fora dito a respeito da criança;

18 E todos os que a ouviram admiraram-se com o que lhes disseram os pastores.19 Maria, contudo, guardava todas estas coisas, refletindo em seu coração. 20 E ospastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo tinham ouvido e visto,conforme lhes fora dito. (idem, Haroldo Dutra Dias).

Comentários:

Duas narrativas acima a respeito do mesmo fato, em Mateus (1:18-25) e em Lucas(2:1-20).

Após a genealogia, Mateus inicia, dizendo: “ora, a concepção de Jesus CristoOcorreu desta maneira”. E passa a narrar. Sendo Maria noiva (prometida emcasamento de José), antes que se ajuntassem se achou grávida de um espírito santo.

Entendimento Israelita entre Noivado e Casamento

Os judeus distinguiam nitidamente o noivado e o casamento (Deut. 20:7), que ooriginal grego distingue também com os verbos noivar ou comprometer-se e receberem sua casa, o que tinha como resultado o “coabitar, morar juntos”:

E qual é o homem que está desposado com alguma mulher e ainda não arecebeu? Vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algumoutro homem a receba. Dt 20:7

Durante o noivado, José verificou a gravidez. O fato só pode ter ocorrido depoisque Maria regressou da casa de Isabel Ai’n-Karim, para sua aldeia de Nazaré.

Mateus silencia a esse respeito, fazendo que o leitor suponha que elesnormalmente habitavam em Belém.

“Maria parte para visitar sua parenta, movida não pela curiosidade de verificar aspalavras de Gabriel (o que estaria em contradição com a fé que nelas depositaraespontaneamente), mas por espírito de humanidade: ir em sua ajuda. Qual a cidade deJudá? Diz uma tradição do século V que foi Ai’n-Karim, a sete quilômetros deJerusalém. A viagem de Nazaré a Ai’n-Karim levava de quatro a cinco dias. Como teriafeito a viagem? Sozinha? Nada é revelado. Após a saudação natural da visitante, Isabelsente que o filho em seu ventre dá saltos de alegria. Rebeca (Gên. 25: 22) interpretoucomo mau presságio a luta dos gêmeos em seu ventre”.

(http://cbconsultores.blogspot.com.br/2013/12/isabel-fica-cheia-de-um-espirito-santo.html)

Tanto que, mais tarde (Mt 2:21-23) diz que, quando José regressava do Egito parasua casa (Belém), ao saber que Arquelau (Herodes Arquelau, 23 a.C. — 18), filho deHerodes, é que lá reinou, “governou a Judeia. Ele foi filho e sucessor de Herodes. Omenos estimado dos filhos de Herodes, foi cruel e despótico. As queixas dos judeuscontra ele finalmente o levaram ao exílio. Na bíblia é citado apenas uma vez, emMateus, após a morte de seu pai, Herodes, o Grande” resolveu ir morar na Galileia, aconselho do anjo, na cidade de Nazaré, “para que o menino pudesse realizar aprofecia e ser chamado nazareno”.

Portanto, para Mateus, Nazaré era um lugar ainda desconhecido de José e deMaria, ao passo que, par Lucas, Nazaré era a residência normal dos dois.

Mateus não fala da viagem de Maria. Mas José só podia “descobrir” a gravidez

quando desta aparecessem sinais externos, o que só ocorre no 4º ou 5º mês, isto é,exatamente quando do regresso de Maria da casa de Isabel.

Os direitos dos noivos eram equiparados aos dos já casados, tanto que:

a) a noiva infiel devia ser apedrejada, como se já fora esposa. (Det. 22:20-27)

b) a noiva podia ser despedida com uma “carta de divórcio”;

c) a criança nascida na época do noivado era considerada legítima;

d) se o noivo morria, ela era tratada como viúva, devendo, pela lei do “levirato”coabitar com o irmão do noivo, para que tivesse filhos dele.

Diz Mateus que José, na dúvida entre acusá-la perante o Sinédrio, difamando-a, ourepudiá-la com uma “carta de divórcio”, optou pela segunda hipótese, pois para issobastava uma carta assinada por ele diante de duas testemunhas, o que não provocavaescândalo.

Tendo meditado nessas coisas e tomado sua resolução, deitou-se para dormir.Foi quando, em sonhos, recebeu a visita de um “anjo do Senhor” ou, na linguagemmoderna, um “espírito bom”.

Aparece aqui a mediunidade “onírica” ou de sonhos, confirmada como existente emJosé, logo a seguir, em mais quatro passos (2:12, 13, 19 e 22).

Parece que José só possuía esse tipo de sensibilidade psíquica.

Mateus não revela o nome do espírito, em nenhum dos cinco trechos.

Ao aceitar Maria sua noiva, embora já grávida de vários meses, como sua esposa,José assumia automaticamente a paternidade legal o nascituro.

O espírito que fala a José, no sonho, repete-lhe as palavras que Gabriel dissera aMaria, quanto ao menino, impondo-lhe o mesmo nome.

E Mateus traz, em apoio, uma citação do profeta Isaías (7:14):

Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nomeEmanuel. Is 7:14

A formula empregada por Mateus: “o que disse o Senhor pelo profeta”, ou seja, “oque falou o espírito pelo órgão” do profeta vem confirmar a tese da mediunidade,demonstrando que o “profeta”, como intermediário ou médium, apenas serve deaparelho ou órgão de um espírito.

A profecia de Isaías afirma que “uma virgem conceberá e dará à luz um filho”.

O termo “virgem” merece estudado.

Entendimento de Virgem em Hebraico:

Em hebraico há duas palavras:

1) betulân, que especificava a virgindade como certa; e

2) almâh que exprimia uma oposição, sem garanti-la.

Ora, Isaías escreve exatamente almáh. E verificamos que, em Dt. 22:23, a noiva, emesmo a esposa recém-casada era chamada ne’arah betulâh.

Em grego a palavra exprime o mesmo: virgem, mas em sentido genérico tanto queas moças noivas e também as recém-casadas eram assim chamadas, e isso na própriaBíblia (cfr. Dt. 22:23; 1 Reis 1:2; Ester 2:3).

Em todas essas passagens, a palavra virgem designa a moça que e dada aalguém para deitar-se com ele, supondo-se que se trata de uma virgem, isto é, demoça ainda não ligada pelo casamento a um homem.

A mesma designação é atribuída a Maria, demonstrando que, ao lhe ser dadacomo noiva, era virgem, o que é natural e normal.

No entanto, em nenhum local dos Evangelhos se diz, nem se supõe que Mariacontinuou Virgem depois. Ela era virgem quando concebeu. O que de modo geralocorre com todas as moças.

Esses nossos esclarecimentos não visam a diminuir o respeito e a veneração quetodos temos pela Mãe Santíssima de Jesus, pois o fato da virgindade nenhumaimportância apresenta diante da espiritualidade.

A IMPOSIÇÃO DIVINA do uso do sexo para manutenção e multiplicação de Suacriação, nos diversos estágios evolutivos (plantas, animais e homens) vem provar que osexo é SANTO.

Não podemos admitir que Deus, Sábio e Bom, tivesse imposto obrigatoriamente asSuas criaturas uma condição que, ao cumpri-la, as tornasse imperfeitas. Se no atosexual houvesse uma leve imperfeição sequer, ou um sinal de atraso espiritual, esseDeus seria monstruosamente mau, pois teria obrigado Sua criação a ser imperfeita eatrasada, a fim de manter e multiplicar Suas obras.

Na profecia de Isaías, o menino seria chamado Himmanu-El, que significa “Deusconosco”, exprimindo a grande verdade de que Deus ESTA REALMENTE DENTRO DENÓS, está CONOSCO.

“Havendo nascido o Mestre de Nazaré entre 6 e 8 de abril, segundo os mais

precisos cálculos dos estudiosos do Cristianismo contemporâneo, o alto significado daocorrência, pensavam então, teria força suficiente para apagar as lembranças dosabusos praticados até aquela ocasião”. (Livro: Espiritismo e Vida – Capítulo 26“Inversão de Valores” Divaldo Franco e Vianna de Carvalho).

3-VISITA DOS MAGOS Mat. 2:1-12

1. Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, vieram dooriente alguns magos a Jerusalém,

2. Perguntando: “onde está o recém-nascido Rei dos Judeus? Porque vimos seuastro no oriente e viemos adorá-lo”.

3. O rei Herodes, ouvindo isto, perturbou-se, e com ele toda Jerusalém.

4. E convocando todos os principais sacerdotes, os escribas (e os anciãos) dopovo, perguntava-lhes onde havia de nascer o Cristo.

(Ao que indica, pode ter ocorrido a omissão da palavra “anciões” uma vez quesoa estranho dizer “escribas do povo”.. Parece mais natural fazer referência aos“escribas e anciões do povo”, por se tratar de dois grupos distintos da sociedadejudaica da época. Haroldo Dutra)

5. E eles lhe disseram: em Belém da Judeia, porque assim está escrito peloprofeta:

6. “E tu Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre asgovernanças Judá, porque de ti sairá um guia que apascentará meu povo, Israel”.(Miqueias 5:2)

7. Então Herodes chamou secretamente os magos e deles indagou com precisão otempo em que o astro havia aparecido.

8. E enviando-os a Belém disse-lhes: “Ide informar-vos, cuidadosamente acerca domenino, e quando o tiverdes encontrado, avisai-me para que eu também vá adorá-lo”.

9. Os magos, depois de ouvirem o rei, partiram; e que o astro que viram no orienteos guiou até que vindo, parou sobre o lugar onde estava o menino.

10. Ao avistarem o astro, ficaram grandemente alegres.

11. E entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe; e prostrando-se oadoraram; e abrindo se cofres, fizeram-lhe ofertas de ouro, incenso e mirra

12. E recebendo (eles) a resposta no sono, que não voltassem a Herodes,seguiram por outro caminho para sua terra.

Para Mateus, Jesus nasceu em Belém e aí ficou até posterior “fuga” para o Egito.Tanto que a ligação é direta. Não houve a viagem Jesus com seus pais a Jerusalémpara apresentação ao templo, de acordo com a lei mosaica.

Jesus nasceu “no tempo do rei Herodes”, o qual faleceu no inicio do ano 4 a.C.Então, o nascimento ocorreu, no mínimo, no ano 5 a.C. (749 de Roma).

Belém de Judá:

Jesus nasceu em Belém (beith-léhem = a casa do pão), cidade já citada desde aépoca de Josué, localizada entre Thecua, Etam, Karem, Baither (Josué 15:59). Cidadede Judá, também chamada de Efrata, situada cerca de oito km a sudoeste deJerusalém. Davi e Jesus nasceram ali (1Sm 17.12; Lc 2:4-7). situada no território deZebulom, a noroeste de Nazaré (Js 19:15).

Era bastante conhecida popularmente por causa do idílio entre Ruth e Booz, epelo nascimento de David que lá ocorreram. Chamada Belém “de Judá” para distingui-la de Belém “da Galiléia”, na tribo de Zábulon (Js. 19:15) e que ainda hoje existe.

Reis Magos:

A seguir vem à notícia dos magos, que a tradição popular elevou à categoria de“reis”. Dividamos o estudo em itens:

1 – QUEM ERAM. Os historiadores gregos Herodoto e Xenofonte dizem-nos queos “magos” constituíam uma casta sacerdotal muito conceituada entre Medos e Persas,ocupando-se, sobretudo de medicina, astronomia (astrologia) e ciências divinatórias.

Por intermédio de Jeremias (39:13) sabemos que Nabuzardan, oficial superior deNabucodonozor, era rab magh, isto é, chefe dos magos. São citados em Daniel (1:20;2:2, 10, 17 etc.).

Nos Atos dos Apóstolos há dois magos: Simão (8:9) e Elymas (13:8), que maisparece terem sido “mágicos”.

Mateus deixa entrever neles personagens estrangeiras de importância, comosábios a quem honrava o título de magos. Interessante notar que nas pinturas cristãsdos primeiros séculos (Santa Priscila, em Roma, 2.º século, e o mosaico frontal daBasílica de Belém, 4.º século) os magos são representados com bonés frígios, quaissacerdotes persas.

2 – DONDE VIERAM. O fato do serem “magos” os sacerdotes persas faz suporque tenham vindo da Pérsia. Mas, por serem astrólogos, supõe-se que eram daCaldeia. No entanto, para a Palestina, o Oriente era a Arábia, ao passo que aMesopotâmia (Pérsia e Caldeia) ficava antes ao norte.

Tanto que em Joel (2:20) o inimigo tradicional assírio era chamado “o nortista”.

Mas removerei para longe de vós o exército do norte (Mesopotâmia: Pérsia eCaldeia), e lançá-lo-ei em uma terra seca e deserta; a sua frente para o mar oriental, e

a sua retaguarda para o mar ocidental; e subirá o seu mau cheiro, e subirá a suapodridão; porque fez grandes coisas. Joel 2:20

Os presentes trazidos também falam a favor da Arábia: Isaías (10:10) cita o ouro eo incenso de Sabá; Jeremias (6:20) do incenso da Arábia; a rainha de Sabá traz ouroem quantidade (1 Reis, 10:2) os navios de Salomão trazem ouro de Ofir (1 Reis, 9:28).A mitra, isto é, a resina do Balsamodendron, provinha da Arábia. De lá os supunhamJustino, Orígenes e Epifânio, que viveram na Palestina, embora outros pais da igrejadigam terem eles vindo da Pérsia.

3 – NOMES E NÚMERO. São desconhecidos. Beda (escritor inglês nascido em673 e desencarnado em 735) é que os batizou de Gaspar, Melchior e Baltazar.Também não sabemos quantos eram: a tradição da igreja latina os limita a três, porcausa dos presentes; mas nas igrejas sírias e armênias julga-se que eram doze. Tudono terreno das conjecturas.

4 – ÉPOCA DA CHEGADA. Também é incerta. A pergunta a respeito de um“recém-nascido” faz supor que se trata de menos de um ano a partir do nascimento deJesus. O mesmo se deduz da ordem de Herodes, mandando sacrificar todas ascrianças de dois anos para baixo (aumentando o limite da idade, para estar certo deque apanharia na rede a criança visada).

5 – O ASTRO. Os magos dirigiram-se a Jerusalém para indagar do nascimento doMessias, por causa do “astro” que haviam visto no “oriente”. Que espécie de “astro”?Supõem alguns ter-se tratado de um cometa. Improvável, porque os cometas nãodesaparecem para aparecer mais tarde.

Em 1603, o grande astrônomo Kepler observou uma conjunção de Júpiter eSaturno no mês de dezembro.

Na primavera seguinte, Marte aproximou-se desses dois planetas e, no outono,surgiu entre os três uma “estrela nova” de grande brilho. Kepler supôs que assim deviater ocorrido na época do nascimento de Jesus. Fez os cálculos matemáticos e concluiuque no ano 747 de Roma (7 a.C.) Júpiter e Saturno se reuniram na constelação dePeixes.

(lembremo-nos de que, nessa época, a Terra estava a sair da constelação de Ariespara entrar na de Peixes, tal como agora sai da de Peixes para entrar na de Aquário,recuando sempre de um signo a cada dois mil anos. Recordemos ainda que o símboloda época de Abraão a Jesus era o CORDEIRO, e, na época de Jesus começou a ser opeixe, utilizado pelos cristãos como emblema para identificar-se).

Na constelação de Peixes, a Júpiter e Saturno uniu-se Marte na primavera de 748de Roma (6 A.C.).

Para um estudo mais minucioso, veja-se: Kepler, Opera Omnia, Frankfurt, 1858,tomo 4, pág. 346 e seguintes.

Ora, os caldeus eram bons astrônomos e sobre eles escreveu Cícero DeDivinatione, I, 19:

“Os caldeus observam os sinais do céu, anotam os cursos das estrelas com seus

números e movimentos… e possuem em seus registros observações seguidas durante470.000 (é isso mesmo: quatrocentos e setenta mil) anos”. E Diodoro de Sicília (II)atesta que esses registros tinham 473.000 anos seguidos.

Daí deverem saber os magos que essa conjunção revelava, segundo as prediçõesproféticas, a primeira vinda do Messias, não lhes sendo difícil localizar seu nascimentona Palestina, porque Peixes era o signo peculiar desse país.

Ao saber da notícia da chegada a Jerusalém dos magos orientais, em busca denovo rei dos judeus, Herodes, o velho idumeu, perturbou-se: não queria concorrênciaao trono.

Já assassinara muitos competidores e ainda cinco dias antes de sua mortemandou executar seu próprio filho Antípater, por temer que lhe roubasse o título.Convocou, então, às pressas as autoridades e os sábios, isto é, o SINÉDRIO, parasaber onde deveria nascer o Messias de acordo com os textos bíblicos.

Diz assim Humberto de Campos, referente à data do nascimento de Jesus:

(...) Avizinhando-se o Natal, havia também no Céu um rebuliço de alegrias suaves.Os Anjos acendiam estrelas nos cômoros de neblinas douradas e vibravam no ar asharmonias misteriosas que encheram um dia de encantadora suavidade a noite deBelém. Os pastores do paraíso cantavam e, enquanto as harpas divinas tangiam suascordas sob o esforço caricioso dos zéfiros da imensidade, o Senhor chamou oDiscípulo Bem-Amado ao seu trono de jasmins matizados de estrelas.

O vidente de Patmos não trazia o estigma da decrepitude como nos seus últimosdias entre as Espórades (arquipélago ao longo da costa oeste da Grécia). Na suafisionomia pairava aquela mesma candura adolescente que o caracterizava no princípiodo seu apostolado.

- João – disse-lhe o Mestre – lembras-te do meu aparecimento na Terra?

- Recordo-me, Senhor. Foi no ano 749 da era romana, apesar da arbitrariedade defrei Dionísios, que colocou erradamente o vosso natalício em 754, calculando no séculoVI da era cristã. (...)

A Ordem do Mestre. Crônicas de Além-Túmulo – Francisco Cândido Xavier, peloEspírito Humberto de Campos.

O Sinédrio de Jerusalém ou Consistório (também chamado Conselho) era aautoridade mais alta, tanto civil quanto religiosamente. Compunha-se de 71 membros,

ou seja, um presidente (NASI) geralmente sumo sacerdote, e setenta conselheirosassim divididos:

a) os principais (grandes) sacerdotes que eram o próprio sumo sacerdote e os ex-ocupantes do cargo, bem como os chefes das 24 classes sacerdotais;

b) os escribas ou doutores da lei (sopherim), a classe mais culta, que passavaseus dias a transcrever a Torah, a ensinar, dissertar e discutir;

c) os anciãos do povo (isto é, presbíteros) que eram os leigos notáveis, escolhidosentre as principais famílias.

A convocação do Sinédrio foi total, havendo no texto a omissão de uma palavra,por “salto” do copista: em vez de escribas do povo, cargo que não existia, deve ler-se:escribas e anciãos do povo.

O Sinédrio respondeu prontamente, sem hesitação, citando o versículo deMiqueias (5:1):

“E tu, Belém de Efrata, pequena quanto à tua situação entre os clãs de Judá, de tivirá um que será soberano em Israel e suas origens serão antigas, do longínquo

passado”.

Mateus cita apenas o sentido, modificando o texto, coisa habitual entre osevangelistas.

De posse do fato e do local, Herodes interroga sobre a época do aparecimento doastro, dizendo-lhes que continuassem a pesquisa, porque “também ele” desejavaadorar o novo Messias. Cuidava ser-lhe fácil suprimir no berço o recém-nascido, semprovocar protestos.

VIAGEM DE JERUSALÉM A BELEM

A viagem de Jerusalém a Belém podia consumir mais ou menos duas horas, nadireção sul. Sua localização não foi descoberta até hoje nas buscasarqueológicas.

Tem trazido discussões a frase: “o astro os guiou” que geralmente é traduzido“caminhou à frente deles”, com o sentido dado ao emprego intransitivo. Mas aqui estáempregado transitivamente. A ideia de que os astros “guiam” os navegantes é antiga ecomum.

No entanto, ninguém jamais supôs que os astros, para guiarem os navegantes,precisavam “caminhar à frente deles”.

Ao chegarem à porta de Jerusalém, viram novamente a conjunção no lado sul, ecompreenderam que estavam certos.

Naturalmente, por mais que caminhassem jamais o “astro” lhes ficaria ao norte. Sealguém caminha na direção da lua, esta parecerá também avançar à frente na mesmadireção, como que “guiando”.

Mas quando a criatura para, o astro também. E foi o que ocorreu ao encontrarem acasa em que Jesus estava.

CASA OU GRUTA?

Há muita discussão a respeito da “casa” ou “gruta” em que se acharia Jesus, navisita dos magos. O texto fala explicitamente em “casa”. Lógico que, mesmo admitindo-se a ideia do nascimento na gruta, José não deixaria a esposa e o filho em local tãoimpróprio, e providenciaria acomodações. José não é citado nesse passo.

Segundo o hábito oriental, a saudação aos soberanos era feita mediante o prostrar-se até o chão. Foi o que eles fizeram diante do menino.

Após a homenagem das pessoas, a oferta dos bens materiais: abrindo seus cofres,deram-lhe ouro, incenso e mirra.

OURO, INCENSO E MIRRA - SIGNIFICADO.

De acordo com a interpretação usual, o ouro exprime a confissão, reconhecimentoda realeza de Jesus, o incenso de sua divindade e a mirra de sua humanidade.

Terminada a cerimônia, recolheram-se e consultaram os oráculos (em linguagemmoderna, realizaram uma sessão mediúnica). É o que se depreende dos vers. 12: “erecebendo a resposta” do espírito a quem haviam interrogado, no sono ou no transepara não voltar a Herodes.

Resolveram, então, regressar à sua terra por outro caminho.

A vinda a Jerusalém deve ter sido o normal das caravanas: de Ma’an e Petra,atingindo, pela plataforma de Moab o vale do Jordão, e subindo de Jericó a Jerusalém.

O regresso “por outro caminho” supõe as escalas Hebron, Ziph e Maon, o uádiZueira, o djeb-el Usdum ou então, com maior segurança, a pista vizinha do deserto porThecua, Bir Allah, a garganta de Engadi e a margem ocidental do Mar Morto, atéchegar aos altiplanos de Moab e as seguras estradas da Arábia.

O estudo deste trecho é bastante fértil para nosso aprendizado.

No vers. 1, lemos que Jesus nasceu em Belém.

Já sabemos que em Belém, a duas horas de Jerusalém.

No vers. 6 fala-se no “povo de Israel”.

O nome foi imposto a Jacob pelo anjo que com ele lutou (Gên. 32:28). Jacobsignifica “sagaz”. Após a luta com um espírito materializado, já pela madrugada, o“anjo” não conseguia libertar-se das mãos de Jacob.

Tocou-o então no tendão femural (que o fez ficar coxo) e deu-lhe o nome de“Israel”, formado do verbo shrebet que significa “surrar, introduzindo duasmodificações: no início um iod, e no fim a palavra El, completando a ideia: “o homem”(ish) “que luta” (shra) “com Deus (el)”.

Segundo o entendimento mais profundo, o ouro representa a Luz, e, portanto, aSabedoria; o incenso é a devoção, que espalha o “bom odor” do espírito às criaturas; ea mirra é o consumir-se para beneficiar.

4-A FUGA PARA O EGITO Mat. 2:13-18

13 Depois que os magos partiram, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a José, elhe disse: "Levante-se, pegue o menino e a mãe dele, e fuja para o Egito! Fique lá atéque eu avise. Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo."

14 José levantou-se de noite, pegou o menino e a mãe dele, e partiu para o Egito.

15 Aí ficou até a morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia dito pormeio do profeta: "Do Egito chamei o meu filho." (Quando Israel era menino, eu o amei.Do Egito chamei o meu filho. Os 11:1)

16 Quando Herodes percebeu que os magos o haviam enganado, ficou furioso.Mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território ao redor, de dois anospara baixo, calculando a idade pelo que tinha averiguado dos magos.

17 Então se cumpriu o que fora dito pelo profeta Jeremias:

18 Ouviu-se um grito em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seusfilhos, e não quer ser consolada, porque eles não existem mais. Jr 31:15

Irritado, por não poder por suas mãos em Jesus, Herodes manda degolar todos osmeninos de menos de dois anos. Não se limitou a Belém, mas foi a todo o territórioadjacente, embora não seja provável que tivesse atingido a outras aldeiascircunvizinhas.

Quantas crianças? Os melhores cálculos estatísticos asseguram que não devemter sido muito mais do que 20 (vinte) crianças.

Que era isso, para quem já mandara assassinar seu genro, seus filhos Alexandre eAristóbulo, sua esposa Mariana, e que, pouco depois, mandaria matar o outro filhoAntipater, tendo ordenado que, à sua morte, fossem assassinados no anfiteatro deJericó os homens notáveis da cidade, a fim de que houvesse lágrimas em seusfunerais.

Esses meninos, segundo revelações espirituais modernas, seriam a reencarnaçãodos homens que, sob as ordens de Elias (o futuro João Batista, que também morreria àespada) haviam degolado os 450 sacerdotes de Baal junto à torre de Kishon (1 Reis,18:40 e 19:1).

Então disse Elias ao povo: Só eu fiquei por profeta do SENHOR, e os profetas deBaal são quatrocentos e cinquenta homens. 1 Rs 18:22

E Elias lhes disse: Lançai mão dos profetas de Baal, que nenhum deles escape. Elançaram mão deles; e Elias os fez descer ao ribeiro de Kishon, e ali os matou. 1 Rs18:40

E ACABE fez saber a Jezabel tudo quanto Elias havia feito, e como totalmentematara todos os profetas à espada. 1 Rs 19:1

Elias, o responsável, morreria adulto, para sentir o peso de seu erro, ao passo queos que lhe obedeceram pereceram também à espada, mas ainda crianças, sem teremconsciência “atual” do que estava a ocorrer e, portanto, com sofrimento muito menor. ALei de Causa e Efeito é de funcionamento rigoroso e justiceiro, conforme a descreveMoisés:

“vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadurapor queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe” (Ex. 21:23-25).

A frase de Jeremias (31:15) constitui uma figura de retórica (prosopopeia), em queo profeta evoca a lembrança de Raquel, mãe de José e de Benjamin, a chorar quandoos israelitas, séculos depois, estavam prisioneiros de Nabucodonosor, na cidade deRamá, (da tribo de Benjamin) a cerca de 10 quilômetros ao norte de Jerusalém.

Jeremias a imagina a chorar pelos filhos, tendo em vista que a tradição colocava alio túmulo de Raquel.

O fato nada tem que ver com o massacre dos pequenos betlemitas, não sendopropriamente uma profecia. Simples coincidência que ele aproveita, pela semelhançados fatos.

A matança das crianças de menos de dois anos pode demonstrar-nos que, quandoo espírito não se encontra suficientemente fortalecido, pode sucumbir diante dastentações e perseguições da matéria (Herodes). Muitos dos que ingressaramentusiasticamente na senda evolutiva, são tentados pelo mundo ilusório de mayá eperdem o rumo ou se demoram nos portais da espiritualidade em busca decuriosidades que lhes retêm os passos e lhes cortam a caminhada.

5-RETORNO A NAZARÉ – REGRESSO DO EGITO Mat. 2:19-23

19. Mas, tendo morrido Herodes, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhosa José, no Egito,

20. Dizendo: “Levanta-te, toma contigo o menino e sua mãe e vai para a terra deIsrael, pois já morreram os que procuravam tirar a vida do menino”.

21. Levantando-se tomou o menino e sua mãe e voltou para a terra de Israel.

22. Tendo ouvido, porém que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de seu paiHerodes, temeu ir para lá; e avisado em sonhos, retirou-se para os lados da Galileia,

23. E foi morar numa cidade chamada Nazaré, para cumprir o que foi dito pelosprofetas: “ele será chamado nazoreu”.

Após a morte de Herodes, novamente funciona a mediunidade onírica de José: emsonhos um “anjo” manda-o regressar à “terra de Israel”, como ainda hoje se diz: Joséobedeceu de imediato e (segundo Mateus) dispunha-se a regressar a Belém, quando“ouve dizer” que lá governava Arquelau, filho de Herodes. Instala-se nele o medo.

Realmente, à morte de Herodes (4 a. C. ) Arquelau tinha 18 anos; mas como osjudeus se opuseram a seu reinado, revoltando-se por não ter sido deposto o sumosacerdote Joasar, ele mandou matar 3.000 judeus (Josefo, Ant. Jud. XVII, 9, 1).

Mas à noite, outro sonho esclarece-o, indicando-lhe que se dirija à Galileia, “a umacidade chamada Nazaré”. Como estamos vendo, essa cidade constituía paraMateus uma “novidade” absoluta.

Parece que José e Maria nem a conheciam. Como conciliar com as palavras deLucas, de que eles eram da cidade de Nazaré, isto é, que lá tinham nascido e residiamnormalmente? (Lucas recebeu as anotações de Paulo e foi pessoalmente conversarcom Maria e outros, conforme narrado em Paulo e Estevão).

Teria sido mais fácil dizer que do Egito regressaram à sua cidade de Nazaré... Poislá eles possuíam casa, a oficina de carpinteiro de José, os parentes e amigos.

Entretanto, Mateus desconhece tudo isso, mostra-o desejoso de ir para Belém(fazer o quê?) e só o aviso “em sonho” o faz dirigir-se para Nazaré, como se fora umlocal que eles pisassem pela primeira vez. E ainda explica: “para que se cumprisse aprofecia, que o chama NAZOREU”. Nem é “nazareno”…

NAZOREU

Esse gentílico (Referente a adjetivos pátrios) é usado quatro vezes por Marcos eduas vezes por Lucas. Mas o próprio Mateus emprega duas vezes nazoreu, que éutilizado uma vez por Lucas, três vezes por João, e sete vezes por Atos.

Eram assim chamados (nazoreus) os cristãos por volta do ano 60 (At. 24:5). OTalmud denomina Jesus o NOZRI, e chama os cristãos NOZRIM.

Notemos que não há profecia alguma que diga dever o Messias ser chamado“nazareno” nem “nazoreu”.

A única frase que poderia ser aplicada seria a de Isaías (11:1) quando diz que “dotronco de Jessé sairá um rebento, e de suas raízes sairá um renovo (= nezêr) quefrutificará. E o Espírito de Javé se deterá nele”.

Tendo Mateus apresentado Jesus como o último rebento (o renovo) nagenealogia, pode ter feito mentalmente uma aproximação, embora forçada.

Sobre Nazoreu, Haroldo Dutra pede par consultar a Bíblia de Jerusalém, nota “d”,página 1706. Consultei a internet e vejo que há muitas controvérsias sobre esse nome,e resolvi não acrescentar nada, somente o seguinte tópico: (30 de agosto de 2014)

“Nazoreu com toda probabilidade, equivale, equivale a Nazareno e indica Jesusoriginário de Nazaré”.

Em Comentário do Uso do Antigo Testamento no Novo Testamento de G. K. Bealee D. A. Carson, diz:

O versículo 2 de Isaías 53, texto que os cristãos passaram a associar com Jesusem seu papel de Servo sofredor, pois fala de alguém que cresceu como um pequenobroto, mas não tinha beleza nem majestade para torná-lo humanamente belo, poderiaestar relacionado com a ideia de que os nazarenos eram “caipiras” ou “matutos” (v.France 1985, p. 88-9). Terceira: talvez Mateus esteja fazendo alusão a Juizes 13.7,quando Deus diz à mãe de Sansão que seu filho seria um nazireu.

“porém disse-me: Eis que tu conceberás e terás um filho. Agora pois, não bebasvinho nem bebida forte, e não comas coisa impura; porque o menino será nazireu deDeus, desde o ventre de sua mãe até o dia da sua morte. Jz 13:7

6-MINISTÉRIO DO PRECURSOR Mat. 3:1-6 Mc 1:1-6 Lc 3:3-6

1. Naqueles dias apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia:

2. “Reformai vosso pensamento, porque se aproxima de vós o reino dos céus”.

3. Porque é a João que se refere o que foi dito pelo profeta Isaías: “Voz do queclama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas”. (Eis a vozdo que clama: Preparai no deserto o caminho do Senhor; endireitai no ermo umaestrada para o nosso Deus. (Is 40:3.)

4. Ora, o mesmo João usava uma veste de pelo de camelo e uma correia em voltada cintura; e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.

5. Então ia ter com ele o povo de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda acircunvizinhança do Jordão.

6. E eram por ele mergulhados no rio Jordão.

Luc. 3:1-6

1. No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatosgovernador da Judéia. Herodes tetrarca da Galiléia, seu irmão Felipe tetrarca da regiãoda Ituréia e Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene, 2. Sendo sumos sacerdotesAnãs e Caifás, veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto. 3. E elepercorreu toda a circunvizinhança do Jordão, pregando o mergulho da reforma mentalpara a rejeição dos erros, 4. Como está escrito no livro das palavras de Isaías: “Voz doque clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas I veredas; 5. todoo vale será aterrado e todo monte e cuteiro será arrasado, os caminhos tortos far-se-ãodireitos e os escabrosos, planos, 6. e todo homem verá a salvação de Deus”.

Marc.1:1-6

1. Princípio da Boa Nova de Jesus Cristo. 2. Conforme está escrito no profetaIsaías: “Eis aí envio meu anjo ante a tua face, que há de preparar o teu caminho; 3. Vozdo que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas”, 4.apareceu João Batista no deserto, pregando o mergulho da reforma mental para arejeição dos erros. 5. E saíam a ter com ele toda a terra da Judéia e todos osmoradores de Jerusalém. E eram por ele mergulhados no rio Jordão, confessando seuserros. 6. Ora João usava uma veste de pelo de camelo e uma correia em volta. dacintura, e comia gafanhotos e mel silvestre.

A palavra “batismo” significa realmente “mergulho”, e o verbo “batizar” tem osentido exato de “mergulhar”. Não é possível outra interpretação, da letra que ébastante clara.

O termo vulgarmente traduzido por “arrependimento” (metánoia) tem o sentidopreciso de “reforma mental” (metá e noús).

Não é, pois, um arrependimento no sentido de “chorar o mal que praticou”, mas sima modificação radical dos pensamentos, da mente, e do comportamento: a reformamental.

O texto é de Isaías (40:3), extraído da Septuaginta, e em Lucas aparece maiscompleto (40:3-5).

Uma voz grita: "Abram no deserto um caminho para Javé; na região da terra seca,aplainem uma estrada para o nosso Deus. Is 40:3

Vejam! Estou mandando o meu mensageiro para preparar o caminho à minhafrente. De repente, vai chegar ao seu Templo o Senhor que vocês procuram, o

mensageiro da Aliança que vocês desejam. Olhem! Ele vem! - diz Javé dos exércitos.Malaquias 3:1

(Conforme orientação de Haroldo Dutra Dias, a Palavra Shevuoth pode sertraduzida por Exército ou Estralas e a opção mais adequada é estrelas. “Olha agorapara os céus, e conta às estrelas, se as podes contar” Gn 15:15)

Os apóstolos não estavam preocupados com a exatidão nas citações dostextos bíblicos. Levavam em conta a essência:

1) Isaías referia-se literalmente à intervenção de Ciro, com seu edito de 538A.C., considerado um messias, por haver salvo os israelitas do cativeiro da Babilônia.

2) Mas Lucas emite a primeira parte do versículo 5, que, completo, diz: “e aGlória de Adonai se manifestará e toda carne (todo homem) juntamente o verá”.

3) Marcos, sob o nome de Isaías cita no versículo 2 o texto de Malaquias(3:1), com o qual emenda a citação de Isaías.

O que diz Malaquias confirma que João Batista é a reencarnação de Elias. E aspalavras de Isaías referem o que se costumava fazer para preparar o caminho dos reisque iam visitar as cidades de seu reino: tornar mais retas as veredas, aterrar os vales,aplainar os montes e outeiros, tirar as pedras do caminho, etc.

Todo vale será levantado, e será abatido todo monte e todo outeiro; e o terrenoacidentado será nivelado, e o que é escabroso, aplanado. Isaias 40:4

Tudo isso pode ser interpretado moralmente, no sentido de preparar os homenspara receber as verdades a que Jesus viria pregar.

Mateus e Marcos dão-nos a descrição física do arauto. Usava uma veste de “pelode camelo”.

A palavra veste compreende as duas peças principais: a túnica e o manto. Atúnica era presa aos rins por um cinto de couro.

Esse era exatamente o trajo de Elias, que trazia um cinto de couro para prender atúnica de pelo de camelo (2.º Reis, 1:7-8).

Ocozias perguntou: "Como era o homem que foi ao encontro de vocês e lhes disseessas coisas?" Eles responderam: "Ele estava vestido com roupa de pelos e usava um

cinto de couro". O rei disse: "É Elias, o tesbita!" 2 Rs 1:7-8

Mateus afirma que muitos eram mergulhados, “confessando seus erros”, coisa quese explica pela exaltação religiosa, não rara em movimentos de alto teor místico.

O estudo do simbolismo leva-nos a várias conclusões.

Em primeiro lugar verificamos que as anotações de datas e cronologias são dadasem relação a João, e não a Jesus.

Com efeito, João representa a personalidade, que ainda está sujeita a tempo e

espaço, ao passo que Jesus, a individualidade, transcende tudo isso e vive naeternidade sem datas e sem pontos de referência.

No livro “Nicodemos” de D. José Amigó y Pellícer, diz:

“Em cumprimento das profecias, e para preparar a abolição de uma práticarepugnante da lei e predispor os ânimos á aceitação da moral evangélica, apareceu,antes de Jesus, João, filho de Zacarias, batizando com a água e pregando oarrependimento ao povo. Havia, assim, de deixar sem efeito a antiga lei em todosaqueles preceitos filhos da grosseria e da ignorância dos tempos, e João mostrava comeste propósito os caminhos, apagando suavemente com a água do Jordão a manchada circuncisão, que era, por assim dizer, a igreja de Moisés. O mesmo Jesus,deixando-se batizar, autorizou a nova cerimônia e desde aquele instante a imoralcircuncisão ficou abolida e reconhecido o batismo como o selo próprio da Igreja quevinha estabelecer-se sobre o alicerce dos ensinamentos de Cristo.

Porém o batismo da água do Precursor não era senão uma figura do batismode redenção, resumo do Evangelho.

"Eu em verdade batizo com a água, dizia João; mas outro virá que o fará noEspírito Santo e com fogo", isto é, em virtude e em amor. (1) João, com o batismo docorpo por meio da água, abolia uma prática vergonhosa; e Jesus, com o batismoespiritual, vinha substituir as exterioridades do culto mosaico com o verdadeiro culto docoração, com a adoração íntima do espírito, despida totalmente da vaidade e dahipocrisia. Já era tempo: todos os custos da Terra tinham a tendência de mistificar aconsciência e a moral, a fim de perpetuar a ignorância, embrutecer a humanidade,matar o escasso sentimento religioso que germinava lentamente nos corações dospovos. Urgia abolir as cerimônias e realçar a religião; destruir o fanatismo e dar umabase firme às crenças; apagar os gestos exteriores que materializavam a adoração, eensinar às gentes que não é a ostentação cheia de aparatos a homenagem grata aoCriador, mas sim o exercido constante da virtude e da prática do bem. Eis porque nãoveremos Jesus pregando o culto mosaico, nem estabelecendo outro novo: cuidavapouco das fórmulas externas, e se às vezes delas lançava mão era para fazer ressaltara sua insuficiência e a necessidade da religião verdadeiramente espiritual. Ouçamo-lono admirável Sermão da Montanha, que foi como a semeadura de todas as suasposteriores prédicas, e teremos confirmado esta verdade. (1) Mateus III, 2.

(Nicodemos - D. José Amigó y Pellícer)

7-O ENSINO DE JOÃO BATISTA Mat. 3:7-10 Lc 3:7-14

7 Quando viu muitos fariseus e saduceus vindo para o batismo, João disse-lhes:"Raça de cobras venenosas, quem lhes ensinou a fugir da ira que vai chegar?

8 Façam coisas que provem que vocês se converteram.

9 Não pensem que basta dizer: “Abraão é nosso pai”. Porque eu lhes digo: atédestas pedras Deus pode fazer nascer filhos de Abraão.

10 O machado já está posto na raiz das árvores. E toda árvore que não der bomfruto, será cortada e jogada no fogo.

8-DESCRIÇÃO DO CRISTO Mat.3:11-12 Mc 1:7-8 Lc 3:15-18 Jo 1:24-26

11 Eu batizo vocês com água para a conversão. Mas aquele que vem depois demim é mais forte do que eu. E eu não sou digno nem de tirar-lhe as sandálias. Ele équem batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo.

12 “Ele terá na mão uma pá: vai limpar sua eira, e recolher seu trigo no celeiro;mas a palha ele vai queimar no fogo que não se apaga."

9-JOÃO MERGULHA JESUS NO JORDÃO Mat. 3:13-17 Mc 1:9-11 Lc 3:21-23

13 Jesus foi da Galileia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João, e serbatizado por ele.

14 Mas João procurava impedi-lo, dizendo: “Sou eu que devo ser batizado por ti, etu vens a mim?”

15 Jesus, porém, lhe respondeu: "Por enquanto deixe como está! Porque devemoscumprir toda a justiça." E João concordou.

16 Depois de ser batizado, Jesus logo saiu da água. Então o céu se abriu, e Jesusviu o Espírito de Deus, descendo como pomba e pousando sobre ele.

17 E do céu veio uma voz, dizendo: “Este é o meu Filho amado, que muito mecomprazo”.

10-Missão dos Doze (Mt 10:1-16; Mc 3:13-19; 6:7-13, Lc 6:12-16, 9:1-6)

Jesus envia os doze discípulos

Convocando seus doze discípulos, deu-lhes autoridade (sobre) espíritosimpuros, a fim de expulsá-los, e curar toda a doença e toda enfermidade.

Os nomes dos doze apóstolos são estes: O primeiro, Simão, chamado Pedro, eAndré, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu;Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Lebeu, apelidado Tadeu; Simão,o Cananita, e Judas Iscariotes, aquele que o traiu.

Jesus enviou estes doze, e lhes ordenou, dizendo: Não ireis pelo caminho dosgentios, nem entrareis em cidade de samaritanos; Mas ide antes às ovelhas perdidasda casa de Israel; E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Curai osenfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graçarecebestes, de graça dai. Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossoscintos, Nem alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem alparcas, nem bordões;porque digno é o operário do seu alimento.

E, em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai saber quem nela sejadigno, e hospedai-vos aí, até que vos retireis. E, quando entrardes nalguma casa,saudai-a; E, se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não fordigna, torne para vós a vossa paz. E, se ninguém vos receber, nem escutar asvossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Emverdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para o país de Sodoma eGomorra do que para aquela cidade.

Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentescomo as serpentes e inofensivos como as pombas.

“O pó das sandálias é a preocupação doentia de recebermos o incenso dasconsiderações sociais, a tristeza improdutiva, diante da calúnia ou da perversidade, adilaceração inútil perante a ignorância dos outros, o anseio por resultados das nossasações mais elogiáveis, no campo imediatista da vida, a revolta contraproducente juntoàs sombras do mal, a indisciplina, ante as ordenações transitórias do mundo, odesânimo à frente das dificuldades, o desalento entre os obstáculos naturais docaminho, a exigência de compreensão alheia, no capítulo de nossas manifestaçõespessoais, os melindres da suposta superioridade em que, muitas vezes, nosenganamos no próprio íntimo, a desistência da boa luta ou a deserção perante a dor”.

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Semelhantes estados espirituais simbolizam o pó das sandálias que nos cabealijar, sem delonga, nos mínimos desequilíbrios entre a vida e nós outros.

Esqueçamos tudo o que nos incline ao resvaladouro da inutilidade e marchemospara diante.

Grande é o campo da Terra e até que a ventania e a tempestade possam removeros tropeços de muita paisagem empedrada e escura na gleba do Planeta, prossigamossemeando o bem, cultivando-o e defendendo-o, em todos os setores de nossa tarefa,convictos de que a plantação da luz produzirá os resultados da felicidade e daperfeição para a Vida Imortal. (O Pó das Sandálias” Livro “Perante Jesus – Emmanuel)

10-A TENTAÇÃO NO DESERTO Mat. 4:1-11 Mc 1:12-13 Lc 4:1-23

1 Então o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo.2 Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, sentiu fome.

3 Então, o tentador se aproximou e disse a Jesus: “Se tu és Filho de Deus, mandaque essas pedras se tornem pães!”

4 Mas Jesus respondeu: “A Escritura diz: Não só de pão vive o homem, mas detoda palavra que sai da boca de Deus.”

5 Então o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o na parte mais alta do Templo.

6 E lhe disse: "Se tu és Filho de Deus, joga-te para baixo! Porque a Escritura diz:“Deus ordenará aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para quenão tropeces em nenhuma pedra.' "

7 Jesus respondeu-lhe: "A Escritura também diz: Não tente o Senhor seu Deus.' "

8 O diabo tornou a levar Jesus, agora para um monte muito alto. Mostrou-lhe todosos reinos do mundo e suas riquezas.

9 E lhe disse: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para meadorar.”

10Jesus disse-lhe: “Vá embora, Satanás, porque a Escritura diz: Você adorará aoSenhor seu Deus e somente a ele servirá.”

11 Então o diabo o deixou. E os anjos de Deus se aproximaram e serviram aJesus.

Comentário rápido: O povo israelita, após a saída do Egito, passou quarenta anosperegrinando no deserto. As reclamações eram constantes e Moisés sempre secolocava como intermediário entre o povo e Deus (mundo espiritual). Vieram ascordonizes, águas e o próprio Maná, dando a sustentação e reanimando o ânimo dosvelhos, pois somente a juventude entrou na terra prometida.

Temos um simbolismo na passagem, mostrando que, com Jesus, tudo agora serealizaria a contento. Com a fome de Jesus, vemos a “tentação” na necessidade deaplacar as necessidades físicas (simbolismo), com uma intervenção divina.

Jesus manteve-se confiante em todo o processo, e “os anjos de Deus se

aproximaram e serviram a Jesus”. Jesus inaugura uma nova fase, onde os filhos deDeus – todos nós – temos que tomar posse das riquezas do Pai, entrando (na terraprometida) para a maturidade espiritual, pois o Senhor do Universo, também tem outrosfilhos, e não devemos provar Deus, querendo nos atirar do alto dos templos, pois nãosabemos se Deus vai aceitar ou não nossa imaturidade. Os anjos de Deus são seusintermediários e estarão, agora, servindo a humanidade, como exemplificou Jesus. Emais tarde, O Mestre dirá que enviará o Consolador Prometido, que já está na Terra.(Baseado na narrativa de Haroldo Dutra Dias)

11-INÍCIO DA PROCLAMAÇÃO DO REINO PELA GALILEIA – JESUS SE FIXAEM CAFARNAUM Mat. 4:12-17 Mc 1:14-15 Lc 4:14-15

Ao ouvir que João fora entregue (à prisão), retirou-se para a Galileia.

13. Assim, deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum, situada à beira-mar, noterritório de Zabulon e Neftali,

14. Para que se cumprisse o que foi dito através do profeta Isaías:

15. Terra de Zabulon e Terra de Neftali, caminho do mar, do outro lado do Jordão,Galileia das nações! (Is 9:1)

16. “O povo que está sentado na treva viu uma grande luz; e aos que estãosentados na região da sombra da morte uma luz raiou”. (Is 9:2)

Deste então, Jesus começou a proclamar e a, dizer: “Arrependei-vos, pois estápróximo o Reino do Céu.” (Tradução Haroldo Dutra Dias)

Beira-mar: referência ao Lago de Genesaré, também conhecido como “Mar daGalileia”.

Território: Nas fronteiras – Expressão utilizada para indicar região, território.

Nações: O Plural “nações”, frequentemente se refere às nações pagãs, aosgentios, ou seja, não judeus.

Três pequenas cidades podem orgulhar-se de haver hospedado Jesus por ocasiãode Sua estada no corpo físico: Belém, Nazaré e Cafarnaum.

Está última (tal como Nazaré) jamais aparece citada no Antigo Testamento. Mastemos a satisfação de vê-la em Flávio Josefo.

Aparece também no Talmud (Midrash Koheleth, 7,20).

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CIDADES DA GALILÉIA

No mapa temos na Galileia: Belém, Corazim, Nazaré, Cafarnaum, Magdala eNaim.

Obs.: Jesus nasceu em Belém da Judeia ou Zebulon. Diz que Maria viajoumontada num burro, de Nazaré na Galileia, até Belém, onde Jesus nasceu. Algunshistoriadores falam que Jesus nasceu em Belém mais ao norte (Galileia), bem perto deNazaré, onde Jesus passou sua infância, ou seja, em Belém da Galileia e não emBelém da Judéia (ou Zebulom), passeados na distância de 100 km, pois Belém daGalileia fica mais perto, apenas 7 km de Nazaré.

Cafarnaum:

[Aldeia de Naum] Cidade que ficava junto ao mar da Galileia.

Foi o centro das atividades de Jesus durante o seu ministério na Galileia (Mt 4.13;8.5-17; 9.1-26). No Evangelho, é chamada até, quando se fala de Jesus “sua própriacidade”, conforme diz Mateus:

E, ENTRANDO no barco, passou para o outro lado, e chegou à sua cidade.Mateus 9:1

A noroeste do Lago de Tiberíades, situava-se no território atribuído à tribo deNaftali. Era limítrofe do da tribo de Zebulom.

Naftali:

(Luta) era Sexto filho de Jacó – Gn 30.8.e uma das 12 TRIBOS do povo de Israel,formada pelos descendentes de NAFTALI 1, Nm 1.43; Js 19.32-39).

Zebulom:

[Habitação] Filho de Leia e de Jacó (Gn 30.19-20). Uma das 12 TRIBOS de Israel(Nm 1.31) e o seu território (Mt 4.13-16).

Mateus aproveita-se disso para aplicar a Jesus o trecho de Isaías (9:1-2). Diz ooriginal:

“No passado, o Senhor humilhou a terra de Zabulon e a terra de Neftali; no futuroglorificará o caminho do mar, a outra margem do Jordão e a Galileia dos gentios: opovo que caminhava nas trevas viu grande luz; sobre os habitantes da terra dassombras uma luz brilhou”.

Caminho do mar, Peréia, Transjordânia:

O “caminho do mar” ia de Damasco ao Carmelo, através do Jordão (tambémchamada “Peréia”, do grego péran, que significa “além”, e que hoje é denominada“Transjordânia”).

Transjordânia:

Grande planície situada a leste do rio Jordão. Hoje é ocupada pela Jordânia; nostempos do NT compreendia a Peréia e Decápolis; nos tempos do AT compreendiaBasã, Gileade, Amom e Moabe.

A Galileia dos gentios, em hebraico Ghelil hagguim. Ghelil que deu Galileia quesignifica “jardim”, “região”, “distrito”.

Cafarnaum:

“A cidade cosmopolita de Cafarnaum, com grande mistura de judeus e gregos,constituía forte entreposto comercial, com ligações por terra e mar com os distritoscircunvizinhos e que demandavam Harã, Tiro, Sidon, Síria e Egito”. Cidade que ficavajunto ao mar da Galiléia. Foi o centro das atividades de Jesus durante o seu ministériona Galiléia

Paulo em Cafarnaum

Quando chegou a Cafarnaum, um crepúsculo de ouro entornava maravilhas de luzna bucólica paisagem. O ex-rabino desceu religiosamente às margens do lago.Embebeu-se na contemplação das águas marulhosas. Pensando em Jesus, no poderdo seu amor, chorou, dominado por singular emoção. Queria ter sido pescador humildepara captar os ensinamentos sublimes na fonte de suas palavras generosas e imortais.

Por dois dias ali permaneceu em suave embevecimento. Sem revelar-se, procurouLevi, que o recebeu de boa-vontade. Mostrou-lhe sua dedicação e conhecimento doEvangelho, falou da oportunidade de suas anotações. O filho de Alfeu alegrou-se aocontágio daquela palavra inteligente e confortadora. Saulo viveu em Cafarnaum horasdeliciosas para o seu espírito emotivo. Fora o local das pregações do Mestre; maisadiante, a casinha de Simão Pedro; além, a coletoria onde o Mestre fora chamar Levipara o desempenho de importante papel entre os apóstolos. Abraçou homens fortes, dalocalidade, que tinham sido cegos e leprosos, curados pelas mãos misericordiosas doMessias; foi a Dalmanuta, onde conheceu Madalena. Enriqueceu o mundo impresalvode suas observações colhendo informes inéditos.

(Livro: Paulo e Estevão, Francisco Cândido Xavier e Emmanuel)

Harã:

[Montanhês] Irmão de Abraão e pai de Ló (Gn 11.26-28).

Cidade que ficava ao norte da MESOPOTÂMIA, às margens do rio Balique, umafluente do Eufrates.

Tera, pai de Abraão, emigrou com sua família para Harã (Gn 11.31).

Naor, irmão de Abraão, ficou em Harã, mas Abraão foi para Canaã (Gn 12.4). EmHarã Eliezer encontrou esposa para Isaque (Gn 24), e aí Jacó se casou com Leia ecom Raquel (Gn 29.1-30).

Tiro:

Porto da Fenícia situado numa ilha ao norte do Carmelo e ao sul de Sidom (1Rs9.10-14; Is 23; Ez 26—28; Mc 7.24-31; At 21.3-7).

Sidom:

Cidade situada numa ilha entre Beirute e Tiro, na Fenícia, atual Líbano. Era umcentro de fabricação de objetos de vidro, e o seu povo era dado à idolatria (Jz 10.6;1Rs 11.5; Is 23.2-4; Ez 28.20-23). Jesus mencionou Sidom (Mt 11.21) e teve contatocom os sidônios (Mc 3.8; Lc 6.17).

Síria:

(Arã): Filho de Sem (Gn 10.22), antepassado dos sírios. A Síria, que se estendiadesde o nordeste da Palestina até os vales dos rios Tigre e Eufrates (Nm 23.7). V.MESOPOTÂMIA.

Mesopotâmia:

[Entre rios] A região localizada entre os rios Tigre e Eufrates, também chamada deArã e Padã Arã (Gn 24.10; At 2.9). Os antepassados dos hebreus vieram do nortedessa região (Gn 11; At 7.2).

Daí serem tidos os cafarnaítas, pelos ortodoxos da Judeia, como “livres-pensadores” e como “heréticos sincretistas”. Mas, justamente por isso, o terreno eraferaz para a pregação de Jesus, com almas sinceras, sem hipocrisia, podendomanifestar livremente suas crenças.

A fixação da residência de Jesus em Cafarnaum (cidade do Consolador), naGalileia (jardim fechado), dá-nos a chave da atuação da individualidade enquantoencarnada num corpo físico: manter-se em permanente recolhimento interno, mas fazertudo o que lhe seja possível para socorrer os demais espíritos em suas aflições, nopapel de consolador; embora não tirando as dores carmicas, dá a todos a forçanecessária para suportá-las, aproveitando-lhes todo o fruto de amadurecimento quelhes trazem ao espírito, não só purificando-o, como também o fortalecendo e elevando-o a novos planos. Vamos acompanhar Jesus pela Galileia, e como diz Mateus, saindode Nazaré para Carfarnaum.

JESUS PERCORRE A GALILÉIA

Galileia: Uma das PROVÍNCIAS da terra de Israel. Sua parte norte era chamadade “Galileia dos gentios” porque ali moravam muitos estrangeiros (Is 9.1). Jesus erachamado de “o Galileu” (Mt 26.69) por ter sido criado na Galileia e por ter ali ensinadoas suas doutrinas e escolhido os primeiros apóstolos (Mt 4.18-22). Os galileus tinhamfama de culturalmente atrasados. No tempo de Cristo era HERODES Antipas quemgovernava a Galileia.

LAGO DA GALILÉIA (Quinerete e tiberíades)

Lago que fica no Norte da terra de Israel. É formado pelo rio Jordão. Mede 21 kmde norte a sul, e a sua largura é de 13 km.

Tinha peixe em abundância e estava sujeito a tempestades violentas. Erachamado também de lago de Quinerete (Nm 34.11), de Genesaré (Lc 5.1) e deTiberíades (Jo 6.1).

Quinerete: E este limite descerá desde Sefã até Ribla, para o lado do oriente deAim; depois descerá este termo, e irá ao longo da borda do mar de Quinerete para olado do oriente. (Números 34:11)

Diz Mateus que ao ouvir que João fora entregue, inicia seu ministério, saindo deNazaré para a Galileia, fixando em Cafarnaum, dizendo:

"Reformai vossa mente, porque se aproximou o reino dos céus” e “PerambulavaJesus por toda a Galileia, ensinando nas sinagogas deles, ensinando a Boa Nova doreino e curando todas as enfermidades e doenças entre o povo”.

Marcos confirma o acontecimento: “Depois que João foi aprisionado, Jesus foipara a Galileia” “anunciando a Boa Nova e dizendo: O tempo completou-se e o reino deDeus aproximou-se: reformai Vossa mente e confiai na Boa Nova”. E foi por toda aGalileia pregando nas sinagogas deles e expelindo os desencarnados (obsessores).

Lucas informa que “E ele ensinava nas sinagogas deles, sendo elogiado por todos”e “pregava nas sinagogas da Judeia”.

Encontramos neste ponto um resumo das atividades de Jesus com o cerne de sua

pregação.

Em Marcos, afirma o Mestre que “o tempo se completou”, como se dissesse“esgotou-se o prazo” ou então “chegou à época” (Kairós).

A seguir esclarece que o “reino dos céus (Mat.) ou de Deus (Marc.) se aproximou”,palavras que já haviam sido ditas pelo Batista.

Devemos entender “REINO” no mesmo sentido que usamos reinos: mineral,vegetal, animal, hominal e, prosseguindo na escala, reino celestial ou reino divino.

A terceira proposição pede a reforma mental, a modificação do modo de pensar, aelevação da mente acima das coisas materiais, ilusórias e passageiras.

A quarta assertiva é uma ordem, também no imperativo como a anterior: “confiai naBoa Nova”. O verbo grego pisteúô seguido da preposição "en", exprime rigorosamenterepousar a mente em (algo ou alguém), isto é, CONFIAR. Neste ponto Jesus pede queos homens confiem na Boa Notícia que lhes traz.

Mais tarde (João, 14:1) pedirá que confiem em Sua pessoa. Com esta quartaparte, Jesus dá um passo além da pregação do Batista, que não falou na BoaNova.

Essa é a síntese do que Jesus dizia aos sábados nas sinagogas de toda a Galileia.Uma das características do desempenho de Sua missão, como seria mais tarde a dosapóstolos, foi à pregação nas sinagogas.

Sinagoga

O termo grego sunagôgé significa propriamente “reunião” (em hebraico keneseth)que foi aplicado, ainda, ao local onde elas se realizavam.

Base: Cafarnaum

Seguindo Mateus verificamos que Jesus estabeleceu como centro de fixaçãoa cidade de Cafarnaum, irradiando de lá pelas zonas circunstantes, por onde,literalmente circulava. Mateus e Marcos assinalam, ainda, que curava todas asenfermidades e expulsava os obsessores.

A obrigação da individualidade para com as outras criaturas é bem clara:esclarecer a humanidade, sem forçá-la, anunciando-lhe o reino celestial, isto é, apossibilidade de a criatura humana atingir, ainda nesta Terra, sua máxima expressão

espiritual, que já está ao alcance.

Proveniente dos reinos inferiores da natureza, o “espírito” que atingiu o reinohominal ainda tem em si muito do reino animal. Mas chegou a um ponto evolutivo,chegou à época, em que ele já se acha capacitado a sair do animalismointelectualizado (hominal) para alcançar o estado de homem espiritual (reino celeste),penetrando com seu “espírito” no reino superior ao atual, o reino divino ou espiritual.

Não é absolutamente fora da matéria, após a desencarnação, em estado de“espírito desencarnado” ou no astral, que isso poderá ser conseguido. Só enquantomergulhado na carne ou sepultado no corpo denso, é que terá essa possibilidade (“seo grão de trigo não cair na terra “encarnar” e morrer, não produzirá frutos”, João,12:24).

O reino celestial é conseguido enquanto encarnado o “espírito”, não podendo sê-lofora da matéria, onde apenas o “espírito” fixa no subconsciente aquilo que conseguiuaprender como encarnado. Deverá, pois, aguardar novo nascimento para progredirmais um passo. (Joanna de Ângelis diz que “Os seus feitos aguardarão o seu retorno”)

Houvera a possibilidade de evoluir fora da matéria, e seria dispensável, inútil e atéprejudicial o mergulho na carne, que nos embota a mente e causa tantos atrasos eerros. Constituiria uma excrescência da Natureza (de Deus) forçar a criatura a fazeresse estágio desnecessário, quando lhe seria possível evoluir muito mais rápida efacilmente enquanto consciente no mundo espiritual. Ora, se todos passam e sãoobrigados a passar pela encarnação, isto significa que a encarnação é uma portaindispensável à evolução do “espírito”, porque a Natureza não dá passos inúteis.

Aprendemos, pois, que o reino celestial já se aproxima da humanidade, no sentidode que a humanidade já se aproximou, em sua lenta evolução, do reino celestial. Jáatingiu o ponto, já cumpriu seu tempo, já está na hora de pensar seriamente em suaespiritualização. Esse foi o grande aviso, a inenarrável Boa Nova que Jesus veio trazera todos nós, e que todos temos obrigação de dizer a todas as criaturas.

(Evolui-se também na erraticidade e toda a conquista é necessária coloca-la emprova no mundo físico, para que seja uma aquisição definitiva para o Espirito em suacaminhada evolutiva, como diz Zacarias 13:9 “E farei passar esta terceira parte pelofogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a provarei, como se prova o ouro. Elainvocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo; e ela dirá: O SENHOR é o meuDeus”.

Paulo em Romanos 5:8 diz: “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que

Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”.

12-OS PRIMEIROS QUATRO DISCÍPULOS – Mat. 4:18-25 Mc 1:16-20 Lc 5:1-11

18. E passeando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos, Simão, tambémchamado Pedro, e André seu irmão, lançando a rede ao mar, pois eram pescadores.

19. E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens.

20. Imediatamente deixaram eles as redes e o seguiram.

21. Jesus, seguindo adiante viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, eJoão seu irmão, que estavam na barca com seu pai Zebedeu, consertando as redes,chamou.

22. Deixando imediatamente a barca e seu pai, eles o seguiram.

23. Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando aBoa Notícia do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo.

24. E a fama de Jesus espalhou-se por toda a Síria. Levaram-lhe todos os doentesatingidos por diversos males e tormentos: endemoninhados, epiléticos e paralíticos. EJesus os curou.

25. Numerosas multidões da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e dooutro lado do rio Jordão começaram a seguir Jesus.

Marc.1:16-21

16. E passeando ao longo do mar da Galileia, viu a Simão e a André, irmão deSimão, lançando a rede ao mar, pois eram pescadores.

17. Disse-lhes Jesus: “Vinde após mim e eu vos farei pescadores de homens”.

18. E imediatamente deixando as redes, o seguiram.

19. Passando um pouco adiante viu a Tiago, filho de Zebedeu, e João seu irmão,que estavam na barca consertando as redes.

20. No mesmo instante os chamou. Tendo deixado na barca Zebedeu, seu pai,com os empregados, eles foram após Jesus.

21. E entraram em Cafarnaum. (…)

Luc. 4:31ª

31. Então, desceu a Cafarnaum, cidade da Galileia. (…)

Jesus tranquilamente passeava pelas margens risonhas do Lago de Tiberíades.

Lago pequeno, que mede nos pontos extremos 21 km de comprimento por 12 kmde largura. Aparece ora como “lago” ora como “mar”, recebendo a denominação deGenesaré ou de Tiberíades, depois que em sua margem Herodes Antipas construiu acidade desse nome em homenagem ao Imperador Tibério.

Bastante rico em peixe, essa indústria prosperava, escoando-se com facilidadee remunerando bem os que a ela se dedicavam.

O lucro devia favorecer a companhia, chefiada por Pedro (que não era pobre, poispossuía bens, que alegou ter abandonado para seguir a Jesus, cfr. Mat. 19:27).

A companhia de pesca era constituída de vários sócios: Pedro, seu irmão André,e Zebedeu, que agregara como sócios também seus dois filhos Tiago e João, além deoutros empregados, que prosseguiram no trabalho depois que os quatro sócios seretiraram, para garantir-lhes o rendimento financeiro.

Ao transitar em seu passeio, Jesus surpreende os pescadores em sua faina a"lançar as redes", expressão técnica do ramo da pesca.

Discípulos do Batista:

Os dois irmãos Pedro e André, assim como João, já eram conhecidos por Jesus,que os recebera ao saírem eles do grupo do Batista, que O acompanharam na viagema Jerusalém e no regresso à Galileia, passando por Samaria.

Tiago é nomeado pela primeira vez, como irmão de João, ambos, filhos deZebedeu (Zabdai) e de Salomé (Marc.15:40). Seria Salomé uma das “irmãs” de Jesus?Nesse caso, João e Tiago seriam seus sobrinhos, e isso talvez explique a maiorintimidade deles com o Mestre, acompanhando-O de perto nas ocasiões maisimportantes de Sua vida terrena.

Tiago irmão de João é conhecido com o cognome de “o maior que foi martirizado,depois de Estevão”. Cognominado o mais velho, para distingui-lo do outro Tiago(menor que fica na casa do caminho, quem hábitos enraizados no judaísmo), “irmão”de Jesus, denominado “o menor”, ou seja, o mais moço. (Vide Atua atualização)

A cena do chamamento é de grande simplicidade. Os dois primeiros estavam apescar, “lançando as redes”, enquanto os segundos estavam “na outra barca, aconsertar as redes”.

Jesus aproveita o fato de estarem a pescar, para demonstrar-lhes, numa frase, oapostolado a que Ele os destinava: “pescadores de homens”. Todas quatro largamimediatamente seus afazeres e acompanham o Mestre.

Não tinham realmente necessidade de seu trabalho manual para seu sustento, jáque os empregados continuariam a tarefa, sob a direção de Zebedeu, provendo-lhes aoganha-pão.

Anota Marcos, de fato, que Zebedeu ali permaneceu com os empregados, tendocompreendido o alcance da tarefa espiritual que lhes estava reservada.

Por isso também vimos Pedro, André e João, sem maiores preocupaçõesfinanceiras, permanecerem algum tempo na Judeia, como discípulos do Batista; edepois viajarem acompanhando Jesus, como gente que sabe ter seu sustentogarantido e não precisa regressar em dia marcado, para não perder o emprego.

Neste episódio consideramos não mais um discipulado, ou seja, a aceitação, porparte da personalidade, das doutrinas da individualidade; mas sim a renúncia à própriapersonalidade, para ir à busca da individualidade. E isso é feito com a renúncia total detudo: pais, haveres e profissão.

A um simples chamado, já preparados, eles obedecem imediatamente, sem nada

perguntar, sem qualquer preocupação: é a adesão integral.

Daí por diante atrairão a si não mais peixes (corpos materiais) capturadoscom redes, aprisionados à violência e dominados com despotismo tirânico; masantes criaturas humanas, atraídas por amor de modo a se chegaremespontaneamente e a permanecerem com a liberdade individual.

Nem todos são chamados

Aprendemos, ainda, que nem todos são chamados: Zebedeu continuou em seulabor material, porque sua evolução lhe não permitia aderir à individualidade.Permaneceu, pois, com “os empregados” (veículos inferiores) a cuidar das coisasfísicas.

***

Jesus e Zebedeu (Narração de Humberto de Campos)

Ao entardecer, cessado o labor do dia, Zebedeu acompanhado pelos dois filhosprocurou o Mestre em casa de Simão. Jesus lhes recebeu a visita com extremocarinho, enquanto o velho galileu expunha as suas razões, humilde e respeitoso.

Zebedeu respondeu-lhe Jesus —, tu, que conheces a lei e lhe guardas os preceitosno coração, sabes de algum profeta de Deus que, no seu tempo, fosse amado peloshomens do mundo?

Não, Senhor.

Que fizeram de Moisés, de Jeremias, de Jonas?

Todos os emissários da verdade divina foram maltratados e trucidados, ou banidosdo berço em que nasceram. Na Terra, o preço do amor e da verdade tem sido omartírio e a morte.

O pai de Tiago e de João ouvia-o humilde e repetia: Sim, Senhor.

E Jesus, como se aproveitasse o momento para esclarecer todos os pontos emdúvida, continuou: O reino de Deus tem de ser fundado no coração das criaturas; otrabalho árduo é o meu gozo; o sofrimento o meu cálice; mas, o meu Espírito se iluminada sagrada certeza da vitória.

Então, Senhor exclamou Zebedeu, respeitoso —, o vosso reino é o da paz eda resignação que os crentes de Elias esperavam!

Jesus com um sorriso de benignidade acrescentou: A paz da consciência pura e aresignação suprema à vontade de meu Pai são do meu reino; mas os homenscostumam falar de uma paz que é ociosidade de espírito e de uma resignação que évício do sentimento. Trago comigo as armas para que o homem combata os inimigosque lhe subjugam o coração e não descansarei enquanto não tocarmos o porto davitória. Eis por que o meu cálice, agora, tem de transbordar de fel, que são os esforçosingentes que a obra reclama.

E, como se quisesse pormenorizar os esclarecimentos, prosseguiu: Há homenspoderosos no mundo que morrem comodamente em seus palácios, sem nenhuma pazno coração, transpondo em desespero e com a noite na consciência os umbrais daeternidade; há lutadores que morrem na batalha de todos os momentos, muita vezvencidos e humilhados, guardando, porém, completa serenidade de espírito, porque,em todo o bom combate, repousaram o pensamento no seio amoroso de Deus. Outroshá que aplaudem o mal, numa falsa atitude de tolerância, para lhe sofrer amanhã os

efeitos destruidores. Os verdadeiros discípulos das verdades do céu, esses nãoaprovam o erro, nem exterminam os que os sustentam. Trabalham pelo bem, porquesabem que Deus também está trabalhando. O Pai não tolera o mal e o combate, pormuito amar a seus filhos. Vê, pois, Zebedeu, que o nosso reino é de trabalhoperseverante pelo bem real da Humanidade inteira.

Enquanto os dois apóstolos fitavam em Jesus os olhos calmos e venturosos,Zebedeu o contemplava como se tivesse à sua frente o maior profeta do seu povo.

Grande reino! Exclamou o velho pescador e, dando expansão ao entusiasmo quelhe enchia o coração, disse, ditoso: Senhor! Senhor! Trabalharemos convosco,pregaremos o vosso Evangelho, aumentaremos o número dos vossos seguidores!...

Ouvindo estas últimas palavras, o Mestre elucidou, pondo ênfase nas suasexpressões:

Ouve Zebedeu! Nossa causa não é a do número; é a da verdade e do bem. É certoque ela será um dia a causa do mundo inteiro, mas, até lá, precisamos esmagar aserpente do mal sob os nossos pés. Por enquanto, o número pertence aos movimentosda iniquidade. A mentira e a tirania exigem exércitos e monarcas, espadas e riquezasimensas para dominarem as criaturas. O amor, porém, essência de toda a glória e detoda a vida, pede um coração e sabe ser feliz. A impostura reclama interminável fileirade defensores, para espalhar a destruição; basta, no entanto, um homem bom paraensinar a verdade de Deus e exaltar lhe as glórias eternas, confortando a infinita legiãode seus filhos. Quem será maior perante Deus? A multidão que se congrega paraentronizar a tirania, esmagando os pequeninos, ou um homem sozinho e bemintencionado que com um simples sinal salva uma barca cheia de pescadores?

Empolgado pela sabedoria daquelas considerações, Zebedeu perguntou: Senhor,então o Evangelho não será bom para todos?

Em verdade replicou o Mestre —, a mensagem da Boa Nova é excelente paratodos; contudo, nem todos os homens são ainda bons e justos para com ela. É por issoque o Evangelho traz consigo o fermento da renovação e é ainda por isso quedeixarei o júbilo e a energia como as melhores armas aos meus discípulos.

Exterminando o mal e cultivando o bem, a Terra será para nós um glorioso campode batalha. Se um companheiro cair na luta, foi o mal que tombou, nunca o irmãoque, para nós outros, estará sempre de pé. Não repousaremos até ao dia da vitóriafinal. Não nos deteremos numa falsa contemplação de Deus, à margem do caminho,porque o Pai nos falará através de todas as criaturas trazidas à boa estrada; estaremos

juntos na tempestade, porque aí a sua voz se manifesta com mais retumbância.

Alegrar-nos-emos nos instantes transitórios da dor e da derrota, porque aí o seucoração amoroso nos dirá: “Vem, filho meu, estou nos teus sofrimentos com a luz dosmeus ensinos!”.

Combateremos os deuses dos triunfos fáceis, porque sabemos que a obra domundo pertence a Deus, compreendendo que a sua sabedoria nos convoca paracompletá-la, edificando o seu reino de venturas sem fim no íntimo dos corações.

Jesus guardou silêncio por instantes. João e Tiago se lhe aproximaram,magnetizados pelo seu olhar enérgico e carinhoso. Zebedeu, como se não pudesseresistir à própria emotividade, fechara os olhos, com o peito oprimido de júbilo. Diantede si, num vasto futuro espiritual, via o reino de Jesus desdobrar-se ao infinito. Pareciaouvir a voz de Abraão e o eco grandioso de sua posteridade numerosa. Todosabençoavam o Mestre num hino glorificador.

Até ali, seu velho coração conhecera a lei rígida e temera Jeová com a sua voz detrovão sobre as sarças de fogo; Jesus lhe revelara o Pai carinhoso e amigo de seusfilhos, que acolhe os velhos, os humildes e os derrotados da sorte, com uma expressãode bondade sempre nova. O velho pescador de Cafarnaum soltou as lágrimas que lherebentavam do peito e ajoelhou-se. Adiantando-se lhe, Jesus exclamou: Levanta-te,Zebedeu! Os filhos de Deus vivem de pé para o bom combate!

Avançando, então, dentro da pequena sala, o pai dos apóstolos tomou a destra doMestre e a umedeceu com suas lágrimas de felicidade e de reconhecimentomurmurando: Senhor, meus filhos são vossos.

Jesus, atraindo-o docemente ao coração, lhe afagou Os cabelos brancos, dizendo:Chora Zebedeu! Porque as tuas lágrimas de hoje são formosas e benditas!.. .

Temias a Deus; agora o amas; estavas perdido nos raciocínios humanos sobre alei; agora , tens no coração a fonte da fé viva!

Livro: Boa Nova – Francisco Cândido Xavier e Humberto de Campos

***

Do Mar da Galileia para Cafarnaum

O grupo de cinco partiu das margens do lago e penetrou a “cidade do Consolador”(Cafarnaum), prontos todos a iniciar a tarefa de levar conforto aos que sofriam, deenxugar as lágrimas dos que choravam, de reavivar a luz dos que estavam nas trevas,de abrir os ouvidos dos que nada percebiam espiritualmente, de servir de muletas aosque coxeavam no caminho do progresso, de limpar os densos fluídos dos leprososmorais: ministério de Consolação e magistério de espírito, calor para os corações, luzpara as mentes.

13-O SERMÃO DO MONTE – Bem Aventuranças Mat. 5:1-12 Lc 6:20-26

1 Vendo as turbas, subiu ao monte. Após assentar-se, (Era a postura apropriadados Sábios Hebreus, quando desejavam transmitir ensinamentos aos seus discípulos)aproximaram-se dele os seus discípulos,

2 e, abrindo a boca (expressão idiomática semítica, utilizada para introduzir algumdiscurso formal, para indicar comunicação solene ou confidencial, conforme Is 53:7 “Elefoi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca”, Ez 3:27 e Sl 78:2 “Abrirei a minhaboca numa parábola; falarei enigmas da antiguidade“), os ensinava, dizendo:

3 Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu.

4 Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados.

5 Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.

6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serãosaciados.

7 Bem-aventurados os que são misericordiosos, porque eles receberãomisericórdia.

8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.

9 Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. 10 Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino doCéu. 11 Bem-aventurados sós vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e (mentindo)disserem todo mal contra vós, por causa de mim. 12 Alegrai-vos e regozijai-vos, porqueé a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas anteriores a vós.

(Tradução Haroldo Dutra Dias)

Vendo Jesus a multidão, subiu ao monte; e depois de sentar-se, aproximaram-sedele seus discípulos, e, abrindo a boca, ele lhes ensinava, dizendo:

Felizes os Pobres de Espírito, porque deles é o reino dos céus; felizes os quechoram, porque serão consolados; felizes os mansos, porque eles herdarão a Terra;felizes os famintos e sequiosos de perfeição, porque eles serão satisfeitos; felizes osmisericordiosos, porque eles obterão misericórdia; felizes os limpos de coração,porque eles verão Deus; felizes os pacificadores, porque eles serão chamados Filhos

de Deus.

Felizes os que forem perseguidos por causa da perfeição em Jesus, porque delesé o reino dos céus.

Felizes sois quando vos injuriarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo omal contra vós minha causa; alegrai-vos e exultai, porque é grande vosso prêmio noscéus, pois assim perseguiram aos profetas que existiram antes de vós.

Lucas 6:20-26

E, levantando os olhos para seus discípulos, dizia:

Bem-aventurados os pobres, porque vosso é o reino de Deus.

Bem-aventurados vós que tendes fome agora, porque sereis saciados.

Bem-aventurados vós que chorais agora, porque rireis.

Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos excluírem,vos injuriarem e repelirem o vosso nome como mau, por causa do Filho do Homem.

Alegrai-vos naquele dia e saltai (de alegria), pois - eis que – (é) grande a vossarecompensa nos céus; pois dessa forma os pais deles faziam aos profetas.

Todavia, ai de vós, os ricos, porque estais recebendo a vossa consolação.

Ai de vós os que estais fartos, porque tereis fome.

Ai de vós, os que estão rindo agora, porque estareis aflito e chorareis.

Ai de vós, quando todos os homens falarem bem de vós, pois dessa forma os paisdeles faziam aos falsos profetas.

Tradução Haroldo Dutra Dias

Diz-nos Mateus que Jesus "subiu ao monte" e lá falou: é a tradição de Jerusalém.Lucas, tradição de Antióquia, afirma que Jesus "desceu da montanha a um lugarplano" e aí ensinou. Contradição apenas aparente.

Lucas dá-nos os pormenores, que Mateus resume.

E absolutamente não se diz, no 3.º Evangelho, que Jesus desceu à planície, masapenas a "um lugar plano", provavelmente na encosta do monte ainda, onde deparou amultidão que o esperava. Atendeu-a, e depois falou.

O sentido profundo justifica plenamente as duas escrituras. Em Mateus, onde todoo discurso é dado seguidamente, Jesus fala no monte, elevadamente, para asindividualidades, ao Espírito. Em Lucas, dirige-se Jesus às personalidades, facilitaSeu ensino, DESCE a "um lugar plano".

Observamos que as bem-aventuranças em Lucas se referem ao plano físico: ospobres, os que choram, os que têm fome, que sentem essas angústias na carne, nocorpo denso, e o Mestre se refere exatamente à pobreza de dinheiro, às lágrimas dasdores, à fome de comida. E logo a seguir, condena os ricos, os que estão fartos, os queriem.

Tudo na parte material, coisa que não vemos em Mateus.

Este dá-nos a parte espiritual, com elevação (monte) extraterrena: cada uminterpreta o ensinamento segundo seu diferente ponto de vista: Mateus, segundo oEspírito, segundo a individualidade; Lucas segundo o corpo, a personalidade.

Daí ter escrito que Jesus DESCEU a um lugar plano.

Bastaria essa observação atenta, para convencer-nos, mesmo se não houvesseoutras provas, que a linguagem dos Evangelhos tem profundo sentido simbólico emístico, embora os fatos narrados tenham realmente ocorrido no mundo físico; masalém da letra (que mata) temos que entender o Espírito (que vivifica).

Interpretemos primeiro, o trecho de Lucas, subindo, em seguida, ao de Mateus.

LUCAS

Lucas apresenta-nos quatro bem-aventuranças e quatro condenações em paralelo,visando unicamente à personalidade humana em suas vidas sucessivas. Sabemos,com efeito, que, de modo geral, as encarnações oferecem alternância de situações: osricos renascem pobres, e vice-versa (cfr. 1 Sam. 2:7-8), os caluniados renascemlouvados e vice-versa. Essa ideia foi bem apreendida por Lucas, quando transcreveuem seu Evangelho o Cântico de Maria (Lc. 1:52-53).

O SENHOR empobrece e enriquece; abaixa [e] também exalta. Levanta o pobre do pó,[e] desde o monturo exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes,para o fazer herdar o trono de glória; porque do SENHOR [são] os alicerces da terra, eassentou sobre eles o mundo. 1 Sam.2:7-8

O Cântico de Maria (Lc 1:46-56)

46 Então Maria disse: "Minha alma proclama a grandeza do Senhor,

47 meu espírito se alegra em Deus, meu salvador, 48 porque olhou para a humilhação de sua serva. Doravante todas as gerações mefelicitarão, 49 porque o Todo-poderoso realizou grandes obras em meu favor: seu nome ésanto, 50 e sua misericórdia chega aos que o temem, de geração em geração. 51 Ele realiza proezas com seu braço: dispersa os soberbos de coração, 52 derruba do trono os poderosos e eleva os humildes; 53 aos famintos enche de bens, e despede os ricos de mãos vazias. 54 Socorre Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55 conforme prometera aos nossos pais - em favor de Abraão e de suadescendência, para sempre." 56 Maria ficou três meses com Isabel; e depois voltou para casa.

***

Que não se referia a esta mesma vida de um só transcurso está claro, porque emuma mesma existência não se dão, absolutamente, tais transformações. E também nãopodia referir-se à vida "celestial" de um paraíso ou "céu" de espíritos, porque, uma vezlá, ninguém pensará em fartar-se de iguarias para vingar-se da fome que aqui passou;e mesmo que aqui se tenha fartado, não ligará a menor importância à falta de alimentosfísicos, desnecessários ao espírito.

Logo, a única conclusão lógica aceitável racionalmente é a recompensa ou“castigo” (causa e efeito) que nos virão NESTA MESMA TERRA, numa vida posterior,com um corpo novo.

E o ambiente antioqueno, todo ele reencarnacionista, compreenderia bem essasrealidades.

Antioquia:

1) Cidade da SÍRIA, localizada ao sul do Orontes, onde Paulo e Barnabétrabalharam, e os seguidores de Jesus pela primeira vez foram chamados de “cristãos”

(At 11.19-26).

2) Cidade da PISÍDIA, evangelizada por Paulo e Barnabé (At 13.14-52; 14.21).

As quatro oposições são as seguintes:

1) Felizes vós os pobres, porque vosso é o reino de Deus. Ai de vós os ricos,porque já fostes consolados.

2) Felizes vós que tendes fome sereis fartos. Ai de vós os fartos, porque tereisfome.

3) Felizes vós que chorais, porque rireis. Ai de vós que rides, porque chorareis.

4) Felizes quando fordes perseguidos, porque assim fizeram aos profetas. Ai devós quando vos louvarem porque assim fizeram aos falsos-profetas.

Se não entendêramos o sentido real da reencarnação, teríamos nesse resumo umatirada demagógica, para conquistar simpatizantes e adeptos, pois são declaradosfelizes exatamente os da massa explorada e escravizada, enaltecendo-se comocoisas ótimas a pobreza, a fome, a dor (doença) e a rejeição dos homens. E asameaças atingem precisamente os elementos exploradores e gozadores: os ricos, osde mesa farta, os alegres (sadios) e os famosos.

De qualquer maneira, é uma versão personalística expressada para aqueles queainda se apegam a seu eu pequenino e passageiro, julgando-o seu Eu real. É umaconsolação interesseira, para aqueles que ainda dão valor ao que é externo a simesmo: o consolo dos outros, a posse dos bens materiais ou não, uma boa mesa, e oselogios dos homens.

Para Lucas, neste passo, Deus é a Lei Justiceira que premia e pune que dá e tira,tal como O concebem as personalidades presas ao transitório irreal de um mundopassageiro, do qual eles se acreditam "partes integrantes".

Personalidades que ainda não se libertaram do apego a Terra, às condiçõesexteriores de bem-estar financeiro, físico, emocional ou de apoio das outras criaturas.

Acredite ou não na reencarnação, a massa humana se encontra nesse estágio ebuscam ansiosamente essas mesmas coisas, por todos os meios, materiais eespirituais. Nada interessa ao rebanho senão, em primeiro lugar a saúde, depois odinheiro para viver, a seguir a tranquilidade emocional (amores) e enfim a "boa

cotação" na opinião pública. Esses são os pedidos mais frequentes e angustiosos,feitos nas preces dos crentes de todas as religiões.

MATEUS

Muito diferentes as palavras de Mateus.

Transcrevendo os ensinamentos profundos de Jesus, relativos à individualidade -que não dá a menor importância à coisa alguma que venha de fora -, que seja externoquem presta a mínima atenção ao que dizem "os outros".

Os exegetas e hermeneutas buscam o número 7 nas bem-aventuranças, nãoconseguindo reduzi-las a esse número, nem mesmo reunindo duas em uma.

Mas, realmente, as bem-aventuranças são apenas sete, já que as duas últimasvezes em que aparece a palavra "bem-aventurados" (felizes) estão fora da série, tratamde coisas externas, que não dependem da evolução interna da criatura.

As sete primeiras referem-se à evolução do homem, as duas últimas são acidentesque podem ocorrer e que também podem não ocorrer, o que nada tira nem acrescentaà evolução do indivíduo: representam elas provações exteriores, que experimentam eprovam a legitimidade da evolução genuína.

PRIMEIRA - Uma variedade imensa de traduções tem sido dada às palavras deMateus ptôchoi tôi pnéumati. Vamos analisá-las.

O primeiro elemento, ptôchos, significa exatamente "aquele que caminha humilde amendigar". Sua construção normal com acusativo de relação poderia significar o quecostumam dar as traduções correntes: "mendigos (pobres, humildes) no (quanto ao)espírito".

Acontece, porém, que aí aparece construído com dativo, à semelhança detapeinous tôi pnéumati (Salmo 34:18), "submissos ao Espírito"; ou zéôn tôi pneúmati(At. 18:25), "fervorosos para com Espírito"; ou hagía kai tôi sômati kai tôi pnéumati (1Cor. 7:34), "santos tanto para o corpo, como para com o espírito".

Após havermos considerado numerosas traduções, aceitamos a que propôs Joséde Oiticica. MENDIGOS DE ESPÍRITO, por ser mais conforme ao original grego, e porser a mais lógica e racional; pois realmente são felizes aqueles que mendigam oEspírito; aqueles que, algemados ainda no cárcere da carne, buscam espiritualizar-se

por todos os meios ao seu alcance, pedem, imploram, mendigam esse Espírito queneles reside, mas que tão oculto se acha.

(Lembrando que o escrito é de Pastorino. Em nota a tradução feita pelo Haroldo,diz assim, em relação a “pobre”: Lit. “mendicante, pedinte, oprimido”. Expressa asituação de extrema penúria. Vocábulo derivado do verbo “mendigar; ser ou tornar-sepobre”).

SEGUNDA - Felizes os que choram ansiosos em obter esse Espírito, emborapresos às sensações. E choram porque sentem a dificuldade de libertar-se dasprovações e tentações a que os sentidos os arrastam.

Não se trata de chorar por chorar, que isso de nada adiantaria à evolução. Foraassim, os que vivem a lamentar-se da vida seriam os mais perfeitos... São aqueles quecriam doenças e males imaginários, levados pela autocompaixão, para sobre siatraírem alheias atenções, palavras de conforto, estariam como elevados na linhaevolutiva...

Nada disso: as lágrimas enchem os olhos e, sobretudo, o coração diante do próprioatraso, diante da verificação de quanto ainda somos involuídos. E isso nos trará aconsolação de ver-nos finalmente libertados.

Não podemos admitir más interpretações em textos de tão alta espiritualidade, quetrazem incontestável clareza na exposição de seu pensamento.

TERCEIRA - Salienta-se, a seguir, a mansidão ou humildade, a paciência oudoçura (pralís); e aos que assim forem é prometida, como herança, a Terra.

Já dizia Davi (Salmo 37:11) "os mansos herdarão a Terra e se deleitarão naabundância da paz". E mais tarde Isaías (65:9) "meus escolhidos herdarão a Terra emeus servos nela habitarão". Também nos Provérbios (2:21-22) se diz: "porque oshomens retos habitarão a Terra e os íntegros nela permanecerão; mas os ímpiosserão suprimidos da Terra e os pérfidos dela serão arrancados".

Há, pois, uma constante no pensamento do Antigo e do Novo Testamento, nessesentido: a Terra será o prêmio dos justos, que aí encontrarão a paz perfeita. Não sefala em herdar o "céu", no sentido moderno, mas A TERRA (tên gên), sem a menorpossibilidade de interpretações malabaristas.

Que prêmio será esse? Será o apego à personalidade? Ao corpo físico e às coisas

físicas? Cremos que não.

Não é, evidentemente, nesta nossa vida atual, em pleno polo negativo; mas numrenascimento futuro ou, como disse Jesus textualmente, na reencarnação - en têipaliggenesía -, quando o Filho do Homem se sentar em seu trono de glória (Mat. 19-28).

A Terra, este mesmo planeta, transformado em planeta de paz (depois que deletiverem sido expulsos todos os que buscam e causam guerras), conservará como seushabitantes, na evolução, aqueles que, com ela, tiverem também evoluído por meio damansidão, da paciência, da doçura e da humildade.

QUARTA - Nesta bem-aventurança fala-se dos famintos e sequiosos de perfeição.Geralmente dikaiosúnê é traduzido por "justiça". Essa palavra, entretanto, permite umaincompreensão que falsearia o sentido original: como podem ser louvados os queexigem justiça, se logo após são ditos felizes os misericordiosos? Uma coisa exclui aoutra: ou justiça, ou misericórdia! Como teria podido Jesus contradizer-se a tão curtointervalo? Há de haver algum engano.

Ora, realmente o termo grego dikaiosúnê é derivado de dikaios, que exprimeprecisamente “o observador da regra, o justo, o reto, o honesto, ou, numa expressãomais exata ainda “o que se adapta às regras e conveniências”, pois o termo primitivodikê, donde todos os outros derivaram, significa REGRA”.

Compreendemos, então, que o sentido (para coadunar-se com a bem-aventurançaseguinte) só pode referir-se aos que aspiram ardente e sequiosamente à PERFEIÇÃO,ao AJUSTAMENTO de si mesmos às Leis divinas. Então é justiça no sentido deJUSTEZA (tal como o francês justice, no sentido de JUSTESSE).

Esses que são famintos desse ajustamento hão de ser saciados em suasaspirações ardentes.

QUINTA - Nesta quinta, fala Jesus dos misericordiosos, daqueles que, segundoPaulo (Col. 3:12) "se revestem das entranhas da misericórdia". É o oposto da "justiça".É o SERVIÇO no sentido mais amplo.

O serviço de quem se compadece daquele que erra, porque nele não vê maldade:vê apenas ignorância e infantilidade.

Esses obterão misericórdia, porque sabem distribuir servindo sempre, sem jamais

cogitar de merecimentos ou prêmios. É a misericórdia que tudo entrega à Vontade doPai, e vai distribuindo bênção a mancheias sobre todos, indistintamente,incondicionalmente, ilimitadamente, amorosamente.

SEXTA - Fala-nos esta da limpeza do coração. Muitos a interpretam como limpezaou pureza no sentido de castidade, de não contato sexual, atribuindo, a um acidentesecundário, uma condição fundamental.

Não é isso: são pureza e limpeza no sentido de renúncia, de ausência total deapego, de nudez, porque nada possuímos de nosso: tudo pertence ao Pai, e nos éconcedido por empréstimo temporário ("nada trouxemos para este mundo, e nadapoderemos dele levar", 1 Tim. 6:7); estamos limpos, estamos livres, estamos nus deposses, de apegos, e até mesmo de desejos, desligados, inclusive, de nossa própriapersonalidade.

A palavra Katharós tem um significado bem claro em grego: é tudo aquilo que épuro por não ter mistura que é isento, desembaraçado, livre, limpo de qualqueragregação.

A expressão Katharoí têi Kardíai já aparece no Salmo 24:4 (que também traz oadjunto em dativo) e aí aparece no seguinte sentido: "quem subirá ao monte de Senhore quem estará no santo lugar"? Ou seja, "quem obterá a realização elevada doencontro com o Cristo"? E a resposta diz: "aquele que é inocente (sem culpa) nas mãos(nos atos) e LIMPO DE CORAÇÃO", isto é, que em seus atos (mãos) e pensamentos(coração) não tem apego nem culpa que não trai o amor de Deus (individualidades),desviando-o para amar as personalidades externas, passageiras e enganosas.

Essa mesma expressão é usada por Platão, no diálogo Crátilo (405 b), de quetraduziremos o texto:

"a purgação e a limpeza, seja da medicina seja da mediunidade, as fumigações deenxofre, seja por drogas medicinais ou por mediunismo, e também os banhos dessetipo e as aspersões, tudo isso tem um só e único poder: tornar o homem limpo querseja do corpo, quer seja de alma (Katharós katà sôma tò kai katà tên psuchén)... Assim,esse espírito é o limpador, o lavador e libertador de semelhantes sujeiras (ouagregações que enfeiam)".

Nada se acena à castidade nem ao sexo, cuja união é uma ordem taxativa de Deuse da Natureza, sem o qual a obra divina não sobreviveria; logo é um ato SANTO e

PURO.

Esses, que se libertaram até do eu pequenino, verão Deus (futuro de horáô), que éVER não só física, mas, sobretudo espiritualmente: sentir, experimentar.

SÉTIMA - Ensina-nos a respeito dos pacificadores, ou, literalmente, dos "fazedoresde paz", eirênopoiós (substantivo que é um hapax na Bíblia); trata-se daquele que nãosomente TEM a paz, como também a distribui com suas vibrações de amor.

Serão chamados, porque realmente o são, Filhos de Deus, desse "Deus de Paz"de que nos fala Paulo (2 Cor.13:11), isto é, atingiram não apenas o encontro com oCristo, mas a unificação permanente com Deus.

Quanto ao mais, irmãos, regozijai-vos, sede perfeitos, sede consolados, sede deum mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz será convosco. 2 Cr13:11

Vamos verificar que as sete bem-aventuranças dão os sete passos essenciais daevolução íntima de todas as criaturas, para atingir aquilo que Paulo afirma que TODOSDEVERÃO alcançar "até que todos cheguemos à unidade da convicção e do plenoconhecimento (pela vivência) do Filho de Deus, ao estado de Homem Perfeito, àmedida da estatura da plenitude de Cristo (Ef. 4:13), ou seja, até que consigamos que oCristo viva plenamente em nós, e nossa vida seja UNIFICADA à Dele.

Encerrando, mensagem de Emmanuel:

Diante da multidão

“Vendo as turbas, subiu a um monte...” – (Mateus, 5:1.)

O procedimento dos homens cultos para com o povo experimentará elevaçãocrescente à medida que o Evangelho se estenda nos corações.

Infelizmente, até agora, raramente a multidão tem encontrado, por parte dasgrandes personalidades humanas, o tratamento a que faz jus.

Muitos sobem ao monte da autoridade e da fortuna, da inteligência e do poder, massimplesmente para humilhá-la ou esquecê-la depois.

Sacerdotes inúmeros enriquecem-se de saber e buscam subjugá-la a seu talante.

Políticos astuciosos exploram-lhe as paixões em proveito próprio.

Tiranos disfarçados em condutores envenenam-lhe a alma e arrojam-na aodespenhadeiro da destruição, à maneira dos algozes de rebanho que apartam as resespara o matadouro.

Juízes menos preparados para a dignidade das funções que exercem, confundem-lhe o raciocínio.

Administradores menos escrupulosos arregimentam-lhe as expressões numéricaspara a criação de efeitos contrários ao progresso.

Em todos os tempos, vemos o trabalho dos legítimos missionários do bemprejudicado pela ignorância que estabelece perturbações e espantalhos para a massapopular.

Entretanto, para a comunidade dos aprendizes do Evangelho, em qualquer climada fé, o padrão de Jesus brilha soberano.

Vendo a multidão, o Mestre sobe a um monte e começa a ensinar...

É imprescindível empenhar as nossas energias, a serviço da educação.

Ajudemos o povo a pensar, a crescer e a aprimorar-se.

Auxiliar a todos para que todos se beneficiem e se elevem, tanto quanto nósdesejamos melhoria e prosperidade para nós mesmos, constitui para nós a felicidadereal e indiscutível.

Ao leste e ao oeste, ao norte e ao sul da nossa individualidade, movimentam-semilhares de criaturas, em posição inferior à nossa.

Estendamos os braços, alonguemos o coração e irradiemos entendimento,

fraternidade e simpatia, ajudando-as sem condições.

Quando o cristão pronuncia as sagradas palavras “Pai Nosso”, está reconhecendonão somente a Paternidade de Deus, mas aceitando também por sua família aHumanidade inteira.

(Fonte Viva. Cap. 104)

14-Missão dos Discípulos - A LUZ DO MUNDO Mat. 5:13-16 Lc 11:33-36

13. Vós sois o sal da terra. Se, porém, o sal tornar-se insosso, com que sesalgará? Para mais nada presta, senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens.Não se pode ocultar uma cidade situada sobre um monte;

14. Vós sois a luz do mundo. Não se pode ocultar uma cidade situada sobre ummonte

15. Nem se acende uma candeia colocando-a debaixo do módio, mas sobre ocandeeiro; assim ilumina a todos que estão na casa.

16. Da mesma forma, brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles vejamvossas boas obras e glorifiquem vosso Pai, que está nos céus. (Tradução HaroldoDutra Dias)

Módio – Moeda romana para coisas secas (aproximadamente 35 litros). Ovocábulo também designava o vasilhame utilizado para guardar o azeite, cujacapacidade, em litros, era aproximadamente igual à da unidade de medida, ou seja, 35litros. Na palestina era costume guardar a candeia pagada debaixo dessa vasilha.(Nota Haroldo)

Lucas 11:33-36

33. Ninguém, depois de acender uma lâmpada a coloca num subterrâneo, nemdebaixo de um balde, mas sobre o castiçal, a fim de que os que entram vejam a luz.

34. A lâmpada do corpo é o olho. Quando o olho é simples todo o teu corpo éluminoso; mas quando for doente, todo o teu corpo fica trevoso.

35. Vê, pois, se a luz que há em ti não sejam trevas.

36. Pois se todo o teu corpo for luminoso, sem ter parte alguma em trevas, seráinteiramente luminoso, como quando uma lâmpada te iluminar com o seu fulgor.

Para chegar a ser Luz, só há um meio: é mergulhar na Luz Cósmica do Cristo, quedeclarou categoricamente: “Eu sou a Luz do Mundo” (João, 8:12).

Mas aqui, também em tom solene, afirma: “vós sois a Luz do mundo”. Dondeverificamos, ainda uma vez, que Jesus não se apresenta como uma exceção da

humanidade, mas simplesmente como o modelo de todos nós. Desde que, como Ele,consigamos unificar-nos com o Cristo Cósmico, com o Divino Logos, também seremosa Luz do mundo.

Afora isso, enquanto confundidos com o corpo físico, crendo que a personalidade éo verdadeiro eu, só podemos ser trevas. Quando nos libertarmos dos entraves dapersonalidade, rejeitando-a, ficaremos iluminados, porque veremos a luz,mergulharemos na luz, nos tornaremos LUZ.

Essa luz interna expande-se em círculos concêntricos atingindo a todos; e mesmosem que algo se diga, todos a percebem e a recebem.

Os primeiros a usufruí-la, - “todos os da casa são iluminados” - são nossascélulas e ossos órgãos.

Pelos “olhos” é que a criatura se ilumina: comparação perfeita, já que osatingidos pela cegueira física permanecem nas trevas. Entretanto, há um matiz maisprofundo: é pelos olhos intelectuais (e Jesus usa o singular: “pelo olho”) que penetrana criatura a Luz da Mente que nos ilumina.

E aqui talvez se pudesse vislumbrar uma referência ao “olho de Siva”, (glândulaspituitária e pineal), que constituem o olho que nos possibilita a visão espiritual.

A ignorância são as trevas que envolvem o “espírito” (personalidade) levando-o aoerro à maldade.

Por isso, quando os “olhos” intelectuais são enfermos (ou fracos), todo o serpermanece em trevas.

Mas quando os “olhos” intelectuais são simples (sem a malícia da vaidade queobumbra, do orgulho que incha, da dúvida que vacila) tudo é visto com clareza eprecisão.

Cada criatura humana, portanto, que se unifica ao Cristo, é a LUZ DO MUNDO,que ilumina por si mesma, refletindo a Luz do Cristo Cósmico que nela habita, e queconsegue expandir-se através do cristal purificado de uma personalidade que se anuloua si mesma, para que apenas o Cristo vivesse nela.

Canais limpos de todo apego, espelhos tersos de qualquer jaça, tornar-nos-emostransparentes, e ninguém mais verá em nós a personalidade, mas encontrará o CristoEterno falando por nossa boca, agindo por nossas mãos, iluminando a todos com onosso amor que é o amor Dele a expandir-se por nosso intermédio. (Sabedoria doEvangelho)

15-ALEI: A JUSTIÇA E O REINO Mat. 5:17:20

17 Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhespleno cumprimento.

18 Eu garanto a vocês: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem sequeruma letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo aconteça.

19 Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor queseja, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será considerado o menor no Reino do Céu.Por outro lado, quem os praticar e ensinar, será considerado grande no Reino do Céu.

20 “Com efeito, eu lhes garanto: se a justiça de vocês não superar a dos doutoresda Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do Céu".

Cumprimento da Lei

"Não vim destruir a Lei, mas dar-lhe cumprimento".

Companheiros inúmeros, em rememorando semelhantes palavras do Cristo,decerto, guardarão a ideia fixada simplesmente na confirmação doutrinal do MestreDivino, ante o ensinamento de Moisés.

A lição, todavia, é mais profunda.

Sem dúvida, para consolidar a excelência da lei mosaica do ponto de vista daopinião, Jesus poderia invocar a ciência e a filosofia, a religião e a história, a política ea ética social, mobilizando a cultura de seu tempo para garfar novos tratados derevelação superior, empunhando o buril da razão ou o azorrague da crítica para chamaros contemporâneos ao cumprimento dos próprios deveres, mas, compreendendo que oamor rege a justiça na Criação Universal, preferiu testemunhar a Lei vigente,plasmando-lhe a grandeza e a exatidão do próprio ser, através da ação renovadoracom que marcou a própria rota, na expansão da própria luz.

É por isso que, da Manjedoura simples à Cruz da morte, vemo-Lo no serviço

infatigável do bem, empregando a compaixão genuína por ingrediente inalienável daprópria mensagem transformadora, fosse subtraindo a Madalena à fúria dospreconceitos de sua época para soerguê-la à dignidade feminina, ou desculpandoSimão Pedro, o amigo timorato que abdicava da lealdade à última hora, fosseesquecendo o gesto impensado de Judas, o discípulo enganado, ou buscando Saulode Tarso, o adversário confesso, para induzir-lhe a sinceridade a mais amplo e seguroaproveitamento da vida.

E é ainda aí, fundamentado nesse programa de ação-predicação, com o serviço aopróximo valorizando-lhe o verbo revelador que a Doutrina Espírita, sem molhar apalavra no fel do pessimismo ou da rebeldia, satisfará corretamente aos princípiosestabelecidos, dando de si sem cogitar do próprio interesse, transformando a caridadeem mera obrigação para que a justiça não se faça arrogância entre os homens, eelegendo no sacrifício individual pelo bem comum a norma de felicidade legítima parasolucionar na melhoria de cada um de nós, o problema de regeneração da Humanidadeinteira.

Livro: Abrigo. Ed. IDE. Cap. 16)

16- Assassinato. Mat. 5:21-26 Lc 6:27-36; 12:54-59

21. Ouvistes o que foi dito aos antigos: “não matarás” e “quem matar, estará sujeitoao julgamento”.

22. Mas eu vos digo que todo o que se magoa contra seu irmão, estará sujeito ajulgamento; e quem chamar seu irmão “tolo”, estará sujeito ao tribunal; e quemchamá-lo “louco”, estará sujeito ao vale dos gemidos de fogo.

23. Se estiveres, pois, apresentando tua oferta no altar e aí te lembrarás de que teuirmão tem alguma coisa contra ti,

24. Deixa ali tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão edepois vem apresentar tua oferta.

25. Sê benevolente depressa com teu adversário, enquanto estás no caminho comele; para que não suceda que o adversário te entregue ao juiz, o juiz ao oficial dejustiça, e sejas recolhido à prisão;

26. Em verdade te digo, que não sairás dali até pagares o último centavo.

Luc. 12: 54-59

54. Disse também à multidão: quando vedes aparecer uma nuvem no poente, logodizeis que vem chuva, e assim acontece;

55. e quando vedes soprar o vento sul, dizes que haverá calor, e assim ocorre.

56. Hipócritas, sabeis distinguir o aspecto da terra e do céu; como então nãodistinguis esta época?

57. Por que não discernis também por vós mesmos o que é justo?

58. Quando, pois vais com teu adversário ao magistrado, fazei o possível para, nocaminho, te livrares dele; para que não suceda que ele te arraste ao juiz, e o juiz teentregue ao oficial, e o oficial te lançará na prisão.

59. Digo-te que não sairás dali até pagares o último centavo.

A partir deste ponto, encontramos a confirmação prática do sentido do versículo 17deste capítulo, em que Jesus afirma “ter vindo para aperfeiçoar a lei”.

São cinco oposições entre as palavras da Torah e os ensinamentos maiselevados e rigorosos de Jesus.

Onde, por exemplo, a lei proíbe apenas "matar", supondo-se digno de castigo só ainterrupção da vida física, Jesus esclarece que o homicídio moral é tão ou mais gravedo que aquele, e, portanto, passível de resgate doloroso.

Não matarás. Êxodo 29:13

Para melhor esclarecimento do assunto, é feita uma divisão em três graus,caminhando-se do menor ao maior até o clímax, pois Jesus nem admite, sequer, ahipótese de homicídio físico.

1.º o desgosto ou mágoa, que é simples movimento íntimo de ressentimento, semrepercussão nenhuma exterior;

2.º o aborrecimento que se exterioriza numa injúria, embora leve, chamando-se acriatura de “tola” (em hebraico “raca”, isto é reiga, ou reigah, que significa “cabeça

oca”), numa demonstração de desprezo;

3.º a zanga que se exterioriza com uma ofensa grave e caluniosa, em que seclassifica a pessoa de “louca” (hebraico "moreh", grego môrós), com isso causandoprejuízos morais graves, pelo desprestígio de irresponsabilidade a ela atribuídasem base na verdade dos fatos.

A cada uma dessas gradações corresponde um tipo diferente de condenação:

1.º – sujeito a julgamento simples;

2.º – sujeito a julgamento do Sinédrio (da autoridade);

3.º – sujeito ao “vale dos gemidos”, para ser purificado pelo fogo.

Quanto à palavra “geena”, que traduzimos por “vale dos gemidos”, nós aexplicaremos no fim deste capítulo.

(Geena: Lugar de castigo para os mortos. V. HINOM, SHEOL e HADES).

Compreendemos assim que:

1.º – quem se magoa, permanecendo ressentido sem perdoar (sem esquecer aofensa), embora fique calado, perde a sintonia interna com Deus que é Amor; como,porém, o movimenta é puramente íntimo, ele é culpado perante sua consciênciaapenas, estando sujeito ao resgate de um carma estritamente pessoal;

2.º – quem se ofende com algo e se destempera, dando ao adversário epíteto(cognome) de desprezo (tolo, cabeça oca), fica inculpado perante o tribunal dacomunidade (sinédrio), porque adquiriu carma grupal, já que sua ação feriu outrapessoa;

3.º – quem se ofende e, exteriorizando sua ira, atribui ao adversário epítetocalunioso (louco, maluco), se torna culpado perante o tribunal geral (Casa dasaudiências judiciais), porque a calúnia espalhada não mais pode ser desfeita, e oprejuízo causado não consegue ser remediado; foi, pois, adquirido carma coletivo,sendo ele o responsável pelo que disse, pelos prejuízos que causou, e por todos os

julgamentos errôneos daqueles que o ouviram e nele acreditaram. Esse carmacoletivo, para ser resgatado, tem que passar pelo fogo permanente das dores, quejamais se apaga no “vale dos gemidos” (o planeta Terra, também chamado “vale delágrimas”).

Os versículos seguintes contêm uma hipérbole para demonstrar a superioridade doamor. Figura Jesus estar já alguém no altar, a oferecer sua oblata, quando se recordade que seu irmão tem uma queixa contra ele. Para salientar quanto o amor é superioraos sacrifícios (cfr. Os. 6: 6), diz Jesus que deixe ali sua oferta e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão.

Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus,mais do que os holocaustos. Oseias 6:6

Mostra-nos isso que a adoração e mesmo a oração não têm efeito, se não estamosvibrando na frequência do amor.

Por isso continua ensinando-nos que jamais devemos levar nossas questõesdiante dos tribunais, para reclamar nossos direitos (“onde começa o direito, acaba oamor”, escreveu Pietro Ubaldi). Nem devemos permitir que alguém vá aos tribunaiscontra nós: reconciliemo-nos, ainda que perdendo aparentemente, pois o lucroespiritual será demais compensador. Se alguém tem queixa, vamos a ele e cedamostudo, contanto que mantenhamos nossa paz na sintonia do amor.

Observação: Essa reconciliação é quando infligimos a Lei. Quando percebemosque cometemos um deslize. E mesmos quando não cometemos, aparentemente, sehouver motivo, apresentemos nossa “oferta” da reconciliação, e deixando a “batataquente” nas mãos daquele que não recebeu a oferta do “sacrifício”: o pedido dedesculpas. Vemos Jesus apresentar o amor e muitos estavam contra Ele.

Olhando sob o ponto de vista espiritual, é melhor reconciliar-nos “enquantoestamos no caminho com ele”. A expressão “no caminho” exprime claramente o quehoje diríamos “enquanto estamos reencarnados com ele na Terra”. Baste confrontar:

“Sabemos que se a nossa casa terrestre desta tenda de viagem for desfeita temosde Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (2 Cor. 5:1);

“Andai com sabedoria com os que estão de fora, remindo o tempo” (Col. 4:5);

“exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama hoje”

(Heb. 3:13);

“se invocais como Pai Aquele que, sem se deixar levar de respeitos humanos, julgasegundo a obra de cada um, vivei sem temor durante o tempo de vossa peregrinação”

(1 Pe. 1:17);

“tenho por justo, enquanto estou nesta tenda de viagem, despertar-vos comrecordações, sabendo que brevemente hei de deixar esta tenda de viagem” (2 Pe.

1:13-14);

Embora mais veladamente 2 Cor. 3:12-18 e 6:1-3; Heb. 4:1-3; 8:7; 12:11-13; 1 Pe.5:9.

Além disso, a própria denominação da comunidade dos cristãos nos primeirostempos (os mais legítimos porque mais próximos à fonte) confirma esta interpretação,pois eles se classificavam como “os do Caminho”, conforme Atos 9:2

E (Paulo) pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, casoencontrasse alguns do Caminho, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a

Jerusalém. At 9:2

Só mais tarde, em Antioquia, passaram a ser conhecidos como “cristãos”, isto é,seguidores de Cristo. No livro Paulo e Estevão, narra que Paulo, que nesta cidade deAntioquia, conheceu o médico amigo Lucas e também “ali conheceu Trófimo, que lheseria companheiro fiel em muitos transes difíceis; ali abraçou Tito, pela primeira vez,quando esse abnegado colaborador mal saía da infância”. E Lucas propõe a Paulo,conforme narrado no livro:

“Entretanto, pondero a necessidade de imprimirmos a melhor expressão deunidade às suas manifestações. Quero referir-me aos títulos que nos identificam acomunidade. Não vejo na palavra “caminho” uma designação perfeita, que traduza onosso esforço, Os discípulos do Cristo são chamados viajores”, “peregrinos”,“caminheiros”. Mas há viandantes e estiadas de todos os matizes, O mal tem,igualmente, os seus caminhos, Não seria mais justo chamarmo-nos — cristãos — unsaos outros? Este título nos recordará a presença do Mestre, nos dará energia em seunome e caracterizará, de modo perfeito, as nossas atividades em concordância com osseus ensinos.

A sugestão de Lucas foi aprovada com geral alegria. O próprio Barnabé abraçou-o,enternecidamente, agradecendo o acertado alvitre, que vinha satisfazer a certas

aspirações da comunidade inteira. Saulo consolidou suas impressões excelentes, arespeito daquela vocação superior que começava a exteriorizar-se”.

Livro: “Paulo e Estevão”. Francisco Cândido Xavier e Emmanuel, segunda parte,capítulo 4 – “Primeiros labores apostólicos”.

***

Tudo isso – vem à advertência muito séria e severa – para que não sejamosentregues ao juiz (nossa consciência liberta, nosso Eu profundo) que nos manterá “naprisão”, ou seja, no corpo (nas sucessivas encarnações), das quais não noslibertaremos enquanto não tivermos pagado o último centavo. Enquanto não forresgatado todo o carma, não sairemos da roda das reencarnações, a que os hebreuschamava gilgal e os hindus samsara.

Gilgal: Primeiro acampamento dos israelitas a oeste do Jordão (Josué 4.19-24).Onde Saul fez holocausto (oferenda) em lugar de Samuel. Desobedeceu a Deus e, porisso, foi rejeitado por ele (1Sm 13; 15).

O texto de Lucas aparece em outro contexto, mas o ensinamento é o mesmo. Oexemplo é tirado da facilidade que tem o povo de conhecer com antecedência o tempoque haverá. A nuvem no poente denota chuva e o vento do sul (realmente dosudoeste, o siroco, em grego notos traz o calor do norte-africano).

“Disse também à multidão: quando vedes aparecer uma nuvem no poente, logodizeis que vem chuva, e assim acontece; e quando vedes soprar o vento sul, dizes que

haverá calor, e assim ocorre. Hipócritas, sabeis distinguir o aspecto da terra e do céu;como então não distinguis esta época?” Lucas.

No entanto, não sabem conhecer a vida espiritual. Vem depois a mesmaadvertência que em Mateus, a respeito da reconciliação com os adversários, enquantoencarnados com eles. Sabemos que os adversários reencarnam, quase sempre, comoparentes próximos, afim de que a reconciliação seja mais fácil pelas ligaçõessanguíneas.

A aproximação dos adversários na reencarnação, como pais, filhos, irmãos éautomática: o ódio une tanto quanto o amor, porque o pensamento de quem odeiacomo o de quem ama, se fixa morbidamente nos seres amados ou odiados; esabemos que o pensamento é força que une sintonicamente. Disso se prevalece aLei para provocar as reconciliações, enquanto os seres estão com o véu doesquecimento a recobrir as causas desse ódio passado.

A individualidade esclarece bem as personalidades, de que o estado atual em quese encontram é um simples e ilusório percurso de viagem, e que não convém brigardurante esse caminho transitório.

Muito ao contrário: deve ser aproveitada essa caminhada rápida para umareconciliação plena com todos os adversários, enquanto o olvido das causas nosamortece a dor dos efeitos.

Quem não souber valer-se desse ensejo e, ao revés, continuar a alimentarseparações e contendas, aumentando os débitos, permanecerá na prisão até resgatarseu carma de modo integral.

Então, avisa a individualidade às criaturas: sejam inteligentes, espertas. Aprendama conhecer o resultado das ações, assim como já perceberam a constância dos sinaisque precedem as chuvas e o calor.

No trecho, aprendemos, outrossim, que o ciclo reencarnatório é, como diziaPlatão, um “ciclo fatal” (kyklos ananke) que nos prende como em cadeias, até sercobrado o último centavo. A Lei é inflexível e não há preces nem devoções que odiminuam.

A Lei de Misericórdia antecede a Lei de Justiça. Vemos antes do “Não mataras, oamar a Deus sobre todas as coisas”.

Como disse Chico Xavier: "Toda vez que a Justiça Divina nos procura para acertode contas, se nos encontra trabalhando em benefício dos outros, manda a MisericórdiaDivina que a cobrança seja suspensa por tempo indeterminado".

Ou seja, a “Misericórdia” manifesta-se dando-nos oportunidades novas e repetidas,de realizarmos pagamentos, isto é, concedendo-nos novas encarnações.

O único meio de resgatarmos mais depressa é dedicar-nos ao serviço, por amor aopróximo. Daí a pregação intensa que é feita do valor da “caridade” (“Fora da caridadenão há salvação”, escreveu Kardec).

O que é GEENA:

A palavra geena que aparece nas traduções vulgares do Evangelho, e quetraduzimos por “vale dos gemidos”.

É, empregada sete (7) vezes em Mateus (5:22, 29, 30; 10:28: 18:9; 23:15, 33); três(3) vezes em Marcos (9:43,45,47); uma vez em Lucas (12:5) e uma vez em Tiago (3:6).

Nunca a encontramos em João nem em Paulo.

Nome antiquíssimo, já aparece no Velho Testamento desde Josué.

São três as formas de empregá-lo:

a) Gê Ben Hinom (vale do filho de Hinom) em Josué 15: 8a: 18. 16a: 2.º Crôn.28:3; 33:6; Jer. 7:31, 32: 19:2, 6; e 32 :35.

b) Gê Benê Hinom (vale dos filhos de Hinom) em 2.° Sam. 23: 10.

c) Gé Hinom (vale de Hinom) em Josué 15.8b; 18.16b e Neemias 11:30.

Era tão conhecido, que Jeremias se limita, em 2:23, a chamá-lo “o vale” (haggê).

Tratava-se de um vale verdejante e ameno, sempre verde mesmo quando em voltatodas as árvores ressecavam pelo calor.

Vale situado a sudoeste de Jerusalém, entre a estrada que vai para Belém e emdireção ao mar Morto.

Estava na divisa entre Judá e Benjamim (Js 15.8). Ali se queimavam crianças noculto a MOLOQUE (2Rs 23.10).

Mais tarde era lugar onde se queimava lixo. Geena é a forma grega do hebraicoge-hinom, que quer dizer “vale de Hinom”.

Também profanou a Tofete, que [está] no vale dos filhos de Hinom, para queninguém fizesse passar a seu filho, ou sua filha, pelo fogo a Moloque. 2 Reis 23:10

Aí estava construído o “altar” de Moloch (ou Melek), onde eram queimadas vivas ascrianças, para aplacar essa terrível “divindade” (espírito atrasado).

Os próprios reis hebreus Manassés e seu filho Acaz aí queimaram seus própriosfilhos. 2.º Sam. 21:6.

De seus filhos se nos deem sete homens, para que os enforquemos ao SENHORem Gibeá de Saul, o eleito do SENHOR. E disse o rei: Eu [os] darei. 2 Samuel 21:6

Contra esse costume desumano, Jeremiais protesta revoltado. O rei Josiasdestruiu o local do culto, fazendo dele depósito de lixo de Jerusalém e monturo ondese lançavam os cadáveres de animais, sendo tudo queimado para não empestear asredondezas.

Mas logo após a morte de Josias, o culto foi restabelecido no mesmo vale (2.ºSam. 23:29, 30, 32, 37 e Jer. 11:9, 10).

Também Ezequiel (20:30-31) ameaça os israelitas por essas crueldadesinomináveis. Os apócrifos atribuem a esse vale o símbolo do castigo dos maus.

A ideia tomou corpo, passando o “vale dos gemidos” a simbolizar “o castigoque purifica os pecadores”.

A escola de Chammai admitia a “geena” como purificação através do fogo, dondesairiam os espíritos para juntar-se aos justos, como lemos numa baraítha do TratadoRosch Haschana (16b,34). Hillel tende mais para a misericórdia, pois na mesmabaraítha se lê: “os discípulos de Hillel dizem que O que é grande em misericórdiainclina a balança para a misericórdia, isto é, introduz os medíocres na vida do mundofuturo” (ou seja, fá-los reencarnar).

Essa a tradição rabínica (e provavelmente popular) na época de Jesus, e daí tê-lao Mestre aproveitado para dar a seus discípulos a ideia da purificação dos erroscometidos através “do fogo do vale dos gemidos”, no mesmo sentido: o “fogo” da leique desgasta as impurezas nas dores porque a humanidade passa, enquanto “nocaminho” através deste “vale dos gemidos”.

LEI E VIDA

"Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, vim paracumprir" JESUS. (Mateus, 5:17.).

"Não matarás", diz a lei.

O texto não se refere, porém, unicamente, à vida dos semelhantes.

Não frustrarás a tarefa dos outros, porque a suponhas inadequada, de vez quetoda tarefa promove quem a executa, sempre que nobremente cumprida.

Não dilapidarás a esperança de ninguém, porquanto a felicidade, no fundo, não éa mesma na experiência de cada um.

Não destruirás a coragem daqueles que sonham ou trabalham em teu caminho,considerando que, de criatura para criatura, difere a face do êxito.

Não aniquilarás com inutilidades o tempo de teus irmãos, porque toda hora éagente sagrado nos valores da Criação.

Não extinguirás a afeição na alma alheia, porquanto ignoramos, todos nós, comque instrumento de amor a Sabedoria Divina pretende mover os corações que nospartilham a marcha.

Não exterminarás a fé no espírito dos companheiros que renteiam contigo,observando-se que as estradas para Deus obedecem a estruturas e direções quevariam ao infinito.

Reflitamos no bem do próximo, respeitando-lhe a forma e a vida. A lei não traçaespecificações ou condições dentro do assunto; preceitua, simplesmente: "nãomatarás".

(Livro: Ceifa de Luz, Editora. FEB, Cap. 25)

17- O Adultério Mat. 5: 27-32 Lc 16:18; 12:57-59

Mat. 5:27-32

27. Ouvistes o que foi dito: “não adulterarás”

28. Eu, porém vos digo, que todo o que olha uma mulher casada, cobiçando-a, jáadulterou com ela em seu coração.

29. Se, pois teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois teconvém mais que se perca um de teus membros, do que todo o teu corpo seja lançadono vale dos gemidos.

30. Se tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém maisque se perca um de teus membros, do que todo o teu corpo seja lançado no vale dosgemidos.

31. Também foi dito: “quem repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio”.

32. Eu, porém vos digo, que todo o que repudia sua mulher, a não ser por causa deinfidelidade, a faz ser adúltera; e qualquer que se casar com a repudiada, cometeadultério.

Luc. 16:18

18. Todo aquele que repudia sua mulher e casa Com outra, comete adultério; equem casa com a mulher repudiada pelo marido, comete adultério.

Neste passo, Jesus esclarece as relações entre os dois sexos, tocando em doispontos essenciais: o adultério e o divórcio.

Quanto ao primeiro, é ele tratado claramente no decálogo de Moisés (Ex. 20:14 eDeut. 5:18), constituindo o sétimo mandamento. Já a tradição rabínica ensinava que osimples olhar de desejo (o movimento do corpo de emoções) constituía de per si oadultério.

Jesus confirma essa opinião, dando a entender que não é o contato dos corposdensos que provoca ligações cármicas entre duas pessoas (como ainda o julga ahumanidade de hoje, convicta de que o “homem é o corpo físico”), Se assim fora, os

homens que, em seu estado de solteiro, frequentam criaturas livres, por vezes comvárias dezenas ou centenas de variações, arcariam com responsabilidades cármicasintermináveis com todas elas, o que não se dá.

Com efeito, sendo o corpo denso uma “casca” externa, o veículo visível básicopara movimentação na crosta terrestre, ou seja, o suporte pesado do “espírito”, não sãoseus contatos físicos que ocasionam carmas. Só as ações espirituais, no domínioespiritual, é que provocam ligações reais, e por isso o pensamento é que realmenteproduz vibrações capazes de “marcar” o intelecto e o corpo emocional de talforma, que só resgates futuros possam cancelar.

Dai o aviso sério e oportuno do Mestre a seus discípulos e seguidores, comrespeito ao pensamento. De fato, o ato material, de que só participam os veículosinferiores, sem coparticipação espiritual, só traria consequências cármicas seproduzisse prejuízos de ordem material ou moral aos atores da peça.

Não havendo prejuízo, nada acarretará de nocivo, pois não deixa marcas. Omesmo, todavia, não pode dizer-se do pensamento.

Todavia, est modus in rebus: não é qualquer pensamento que cria carma, comonão é qualquer semente que cai ao solo que produz árvore. O simples olhar queadmira a beleza, julgando-a uma criatura vistosa, bonita, etc., não criará carmas; o quecausará vínculos fortes, e, portanto carecentes de resgate, é o olhar insistente, queprovoca movimentos internos emocionais intensos, chegando por vezes até assensações, o que demonstra ter atingido a ligação fluídica entre os dois seres (mesmoque um deles o ignore, e por isso fique isento de culpa).

Essa força mental em ação tem seu ponto de partida no Espírito, e por isso neleimpregna suas consequências, que se imprimem para futuro cancelamento peloresgate.

O Adultério na lei mosáica

Analisemos, agora, o que se entendia por “adultério” na lei mosaica: era ainfidelidade da esposa ou da noiva ao seu senhor.

Perante a lei, portanto, só a mulher casada e a noiva podiam cometer adultério. Ohomem tinha plena liberdade de ação: se tivesse relações sexuais com moçassolteiras, nada de mal havia; no máximo, se fosse colhido em flagrante, pagava umamulta de 500 ciclos de prata ao pai da moça e a levava como uma esposa, ou seja,uma esposa para juntarem-se as outras esposas que já possuía:

Se um homem achar uma moça virgem não desposada e, pegando nela, deitar-secom ela, e forem apanhados, o homem que se deitou com a moça dará ao pai dela

cinquenta siclos de prata, e porquanto a humilhou, ela ficará sendo sua mulher; não apoderá repudiar por todos os seus dias. Dt 22:28-29.

Podendo assim ampliar à vontade o seu harém, desde que pudesse sustentá-lastodas. Simplesmente, pois, “comprava mais uma propriedade, ao pai, antigo “dono” dadonzela”.

A mulher é que, se casada, não podia entregar-se a outro homem, pois esse fatoconstituía um roubo ao marido dela, já que ela era propriedade dele.

Por isso o adultério era uma infidelidade ao seu senhor. A lei mosaicamandava que, se eles fossem surpreendidos em flagrante, fossem mortos a pedradasambos, caso a mulher tivesse marido ou noivo (Lev.20:10 e Deut.22:23); a ela, porquefora infiel a seu dono; a ele, porque lesara uma propriedade alheia.

Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulterado coma mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera. Lv 20:10

Jesus não aprova essa barbaridade: prefere o perdão, como vemos em João 8:1-11.

A seguir vêm dois exemplos, em belas hipérboles literárias. A determinação deolho direito e mão direita é uma concessão à maioria da humanidade, constituída dedestros e, além disso, uma minúcia que agrada ao povo.

Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando. E na lei nos mandouMoisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? João 8:4-5

O Repudio

Depois, ligado ainda a esse assunto, vem à questão do repúdio da esposa (jamaiso inverso se podia dar!) permitido por lei (Deut. 24:1), mesmo que o motivo fosseunicamente “não achar graça em seus olhos ou encontrar nela alguma coisa que fossefeia”…

QUANDO um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, senão achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta

de repúdio, e lhe dará na sua mão, e a despedirá da sua casa. Dt 24:1

Jesus continua a autorizar o repúdio da mulher (ou divórcio) e o repete em Mat.19:9-10, mas restringe essa atitude ao único caso em que a esposa tenha tidorelações sexuais com outro homem (infidelidade).

Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causade fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada

[também] comete adultério. Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição dohomem relativamente à mulher, não convém casar. Mt 19:9-10.

Nesse caso, o libelo de repúdio a deixaria livre, podendo unir-se ao outro.

Entretanto, se o repúdio não for por causa de infidelidade da esposa, então omarido, pondo-a para fora de casa, a empurraria para o adultério; e quem a acolhessetambém cometeria adultério porque, de fato, ela não estaria divorciada, isto é, osvínculos matrimoniais não estariam dissolvidos. Assim também o entende a igrejagrega ortodoxa, que afirma: a infidelidade conjugal, por parte da esposa, dissolve osvínculos matrimoniais.

Lucas não cita a exceção: reproduz apenas a regra, que proíbe o repúdio.

Nada se fala, entretanto, do caso de uma separação espontânea e voluntária dosdois cônjuges, quando agissem de comum acordo. A prescrição é clara e taxativa: queo homem não cometa a injustiça de repudiar a esposa, depois que viveu com ela;dando quase a entender tratar-se do caso em que ela não quer, e ele a põe pela portaafora. A própria exceção apontada como lícita (quando ela mesma, a esposa, preferesair de casa para unir-se a outro homem) parece confirmar que, quando o afastamentoé voluntário de ambos os lados, nada existe que os impeça de reconquistar a liberdade.

Vamos entrar em considerações mais profundas, como sempre ocorre. No entanto,logo no pórtico, queremos dar um aviso que nos parece de suma importância. Leiamcom atenção.

Somos forçados a apresentar o que nos é ditado, mas CUIDADO: não nosresponsabilizamos pelos erros de interpretação que cada um faça por sua conta,julgando estar movido pelo Espírito, quando na realidade são apenas as emoções queo movem. Pedimos encarecidamente muito cuidado e prudência, pois é facílimo oequívoco nestes casos, e não queremos que ninguém adquira carmas, pretendendoposteriormente desculpar-se com o que aqui tiver lido. Cuidado, pois, muito cuidado enada de ilusões!

Subamos inicialmente a planos mais elevados: Paulo maiora canamus.

A individualidade (Jesus) avisa à nossa personalidade que não podemos tornar-nos adúlteros, isto é, infiéis ao nosso único dono e senhor, que é o Eu Profundo, oCristo Interno, o Deus Abscónditus; não podemos abandonar a REALIDADE, paraidolatrar as formas exteriores de nosso eu pequenino e vaidoso.

Com efeito, no Velho Testamento já Adonai dizia, por intermédio dos profetas(médiuns) essas verdades e empregava o termo "adultério" no sentido preciso deabandonar o culto a Adonai para seguir outros espíritos. Pela boca de Jeremias (9:2)diz Adonai:

“oxalá tivesse eu no deserto um albergue de viandantes, para poder deixar meupovo, e afastar-me deles, porque todos eles são adúlteros, uma assembleia de

prevaricadores”. Jr 9:2.

Com o mesmo sentido vemos a palavra usada por Isaías (57:3-9) e por Ezequiel(16:35-38).

Aí se compreende a afirmativa de Jesus: “o que Deus uniu (a individualidade àpersonalidade) o homem não separe” (Mat.19:6), para prender-se a outros amores,como o dinheiro, a fama, a glória, a política, o intelectualismo, etc. Una-se o homem aoCristo Interno, que é o verdadeiro esposo da alma, que é UM conosco “formando um sóespírito e uma só carne” (Mat.19:6). E termina essa lição com a frase enigmática: “e háoutros que se fizeram eunucos por causa do reino dos céus: quem puder compreenderque compreenda” (Mat.19:12).

E mais adiante: "todo o que deixar casas, irmãos, irmãs, pai, mãe e terras porcausa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida imanente” (Mat. 19-

29). Perguntamos: não fosse o sentido que atribuímos a essas palavras, que adiantariaabandonar tudo, para tornar a receber tudo de volta e multiplicado? Trata-se,evidentemente, de frases simbólicas, confirmadas pela outra frase: “procurai emprimeiro lugar o reino de Deus e sua perfeição, e tudo o mais vos será acrescentado”(Mat. 6:33).

* * *

No entanto, não é só nesse plano – mais real porque espiritual – que vige a lei doadultério. Também a infidelidade pode repercutir no plano da personalidade, poisatravés dela é que se manifesta a individualidade, isto é, o Espírito.

Precisamos, então, considerar, sob das uniões amorosas.

Logo de início assinalemos que a individualidade condena in totum os movimentosprovenientes da pura concupiscência animal, motivada pela atração das formas físicasexteriores e expressa no texto evangélico como o desejo carnal.

Para quem já vive na individualidade, no reino do Espírito, ou reino dos céus (e sãopouquíssimos!), essa parte, foi de há muito, superada.

De modo geral a humanidade não sabe e não pode ainda fazê-lo: mas há quedistinguir entre o Amor que nasce do Eu Profundo e o desejo emocional, que provémdos sintomas animais do corpo astral.

E a confusão é fácil, porque o Amor que vem do Eu Interno (geralmente com raízesmilenares) também se manifesta através dos outros veículos, que lhe são a expressãoúnica possível neste plano terráqueo. Mas o Amor do Espírito é sempre puro, induzindoà união dos Espíritos, independendo das emoções animalizadas.

Também neste plano se aplica o ensino de Jesus (Mat.19:6): “o que Deus uniu ohomem não separe”.

Com efeito, o Pai, que em cada um se manifesta na Centelha Divina, tende a unir-se pelo amor a todas as demais Centelhas Divinas (“que eles sejam aperfeiçoados naunificação”, João, 17:23); mas, ao encontrar sintonia vibratória mais harmônica comoutra Centelha que vibra através de outra personalidade (mormente se já vêm as duashá séculos ou milênios numa só caminhada, acompanhando a evolução do Espírito),pode dar-se uma atração irresistível, uma nota uníssona que ressoa num só tom.Quando isto se dá, a unificação das duas Centelhas, mesmo através daspersonalidades e de seus veículos, é fatal, sobretudo se as vibrações se manifestamem polos opostos (que se atraem).

(Dependendo a evolução e da compreensão da missão, mesmo essa atração podeser sublimada. Foi o caso de Francisco e Clara. Aquele amor que atraia os dois foicanalizado para o amor sublime e contam-se, quando dava-se o encontro dos dois,principalmente nas visitas que Francisco fazia a Clara, a comunidade via luzesresplandecendo de dentro da capelinha que abrigava as duas almas nobres.Acrescentei)

Neste caso, embora raríssimo, todos os empeços humanos são superados, pois ohomem, seja juiz ou sacerdote, não pode nem deve separar (com suas leis, seuscontratos, suas convenções ou preconceitos) o que Deus uniu. A união divina ésuperior a todos e a tudo, nem está sujeita a quaisquer leis criadas pelos homens.

O grande perigo reside em não saber distinguir-se se o movimento que provém doEu Profundo ou se é ocasionado por uma atração do físico. E como a maioria dahumanidade ainda vibra no plano emocional (animal) há necessidade de regras e freiosque contenham os abusos.

18-Os Juramentos Mat. 5: 33-37 Lc 6:27-36; 12:57-59

Mat. 5:33-37

33. Outra vez, ouvistes o que foi dito aos antigos: “não perjurarás” e “pagarás aosenhor, teus juramentos”.

34. Eu, porém, para não jurar de modo algum, nem pelo céu porque é o trono deDeus,

35. Nem pela terra, porque é o estrado dos seus pés, nem por Jerusalém, porque éuma cidade do grande rei,

36. Nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar branco ou preto nem umfio de cabelo.

37. Seja, porém, a vossa palavra sim, sim; não, não; o que excede disso é o mal.

(tradução Haroldo Dutra Dias)

O texto reproduz o terceiro mandamento do decálogo (Êx. 20:7 e Deut. 5:11) e aordem de cumprir os juramentos se deduz de Núm. 30:3.

Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão; porque o SENHOR não terá porinocente o que tomar o seu nome em vão. Ex. 20:7.

Não pronuncie em vão o nome de Javé seu Deus, porque Javé não deixará sempunição aquele que pronunciar o seu nome em vão. Dt 5:11.

Quando um homem fizer um voto a Javé ou se comprometer com alguma coisasob juramento, não deverá faltar à palavra. Cumpra o que prometeu. Nm 30:3.

Os israelitas tinham fórmulas estereotipadas de juramento que eram muitofrequentes; juravam por Deus (hâ-Elohim), pelo céu (hasshamâim), pelo templo(nêikelâ), etc.

Jesus proíbe totalmente os juramentos, de qualquer forma, sob qualquer aspecto.O cristão está proibido de jurar, mesmo “seriamente”, mesmo “judicialmente”, etc.,sob pena de desobedecer à ordem taxativa de Jesus.

Os cristãos reais vivem e agem com tanta lealdade que basta um “sim” ou um“não”, para garantir a veracidade da palavra empenhada. E entre cristãos a franqueza ea verdade devem ser totais e absolutas.

Os juramentos comuns, entre os israelitas daquela época, são analisados peloMestre, e apresentadas às razões que O levaram a proibi-los: o céu, que é o “trono deDeus” (Mt. 5:34) - e essa frase provocou ou confirmou certas crenças antropomórficasa respeito da Divindade. No entanto, compreendamos o espírito da frase: estando Deusem toda parte, os “céus” são a atmosfera impregnada de fluido vital divino, e, portanto,um dos locais em que a Divindade se encontra “assentada”; e, dentro da mesma ideia,a terra “onde se apoia” a atmosfera, é imaginada como sendo “o escabelo de Seuspés”; assim a concentração fluídica na cidade de Jerusalém, que é citada como“uma das cidades (em grego sem artigo) do Grande Rei”.

Depois Jesus desce aos exemplos do próprio homem, pois nem sequer é a criaturacapaz de mudar a pigmentação de seus cabelos, o que prova que não é dono deles.

Quando afirma que nossa palavra deve ser simplesmente sim e não ensina que“tudo o que for, além disso,” provém do mal, isto é, do mergulho do “espírito.

A lição é preciosa para o Espírito, que deve sempre ser verdadeiro e jamais proferiruma mentira.

Disse grande amiga nossa que “podemos por vezes não dizer a verdade, calando-a, mas jamais devemos falar uma mentira”.

O juramento foi criado pelo vício da personalidade, que quer sempre enganar comastúcias para tirar vantagens terrenas. Foram então inventadas fórmulas quepudessem "garantir" a lealdade das palavras.

No entanto, até mesmo isso foi e é desvirtuado pela falsidade. Daí o aviso lógico e

certo de Jesus: tudo o que não é lealdade e veracidade provém do mal, isto é,exatamente da matéria que prende o Espírito na personalidade transitória.

19-Não Resistência. Mat. 5: 38-42 Lc 6:29-30;

Mat. 5:38-42

38. Ouvistes o que foi dito: "olho por olho e dente por dente”.

39. Eu, porém vos digo: não opor ao malvado, pelo contrário, ao que te bater naface direita, volta-lhe também a outra;

40. Ao que deseja levar-te a juízo, para tomar-te a túnica, deixa-lhe também omanto;

41. E quem te compelir a caminhar uma milha, vai com ele duas.

42. Dá ao que te pede e não dês as costas ao que deseja tomar-te um empréstimo.

Tradução Haroldo Dutra Dias

Túnica – Peça do vestuário interno, utilizada junto ao corpo, logo acima da pelo,sobre a qual era costume colocar outra peça ou manto. Trata-se de uma espécie deveste interna, íntima.

Manto – Veste externa, peça do vestuário utilizada sobre a peça interna. Pode serutilizada como sinônimo do vestuário completo de uma pessoa.

Notas da Tradução do Novo Testamento de Haroldo Dutra Dias.

Luc. 6:29-30

29. Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te tira a capa,não lhe negues a túnica.

30. Dá a todo o que te pede; e ao que tira o que é teu, não lho peças de volta.

Neste trecho, Jesus cita primeiro a “lei do talião” (Ex. 21:23-25; Lev.24:17-24 e

Deut.19:21), abolindo-a completamente.

Contudo, se houver dano grave, então pagará vida por vida, olho por olho, dentepor dente, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe.

Ex. 21:23-25

Quem matar um homem, torna-se réu de morte. Quem matar um animal, deverádar uma compensação: vida por vida. Se alguém ferir o seu próximo, deverá ser feito

para ele aquilo que ele fez para o outro: fratura por fratura, olho por olho, dente pordente. A pessoa sofrerá o mesmo dano que tiver causado a outro: quem matar um

animal, deverá dar uma compensação por ele; e quem matar um homem, deverámorrer. A sentença será sempre a mesma, quer se trate de nativo, quer de imigrante,

pois eu sou Javé, o Deus de vocês' ."Depois que Moisés falou aos filhos de Israel, tiraram do acampamento aquele que

havia blasfemado e o apedrejaram. Fizeram o que Javé havia mandado a Moisés. Lv24:17-24

Não tenha piedade: vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pépor pé. Dt 19:21

Ordena a não resistência (opor-se, melhor tradução) diante dos homensperversos, preceito que Ele mesmo iria mais tarde ratificar com Seu exemplo,deixando-se prender e assassinar “como um cordeiro diante de quem o tosquia” (Is.53:7 e At. 8:32) sem resistir nem às autoridades nem aos esbirros.

Foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; tal como cordeiro, ele foi levadopara o matadouro; como ovelha muda diante do tosquiador, ele não abriu a boca. Is

53:7

A passagem da Escritura que o eunuco estava lendo era esta: "Ele foi levado comoovelha ao matadouro. E como um cordeiro perante o seu tosquiador, ele ficava mudo e

não abria a boca. At 8:32

Vai muito além da "ahimsa" dos orientais. Mas os cristãos ainda nãocompreenderam toda a extensão desses ensinamentos de Jesus e não no põem emprática. Com efeito, nenhuma resistência (opor-se) deve ser oposta pelos discípulos deJesus aos exploradores desonestos que abusam de nossa boa-fé. E, para confirmar oensino, são citados vários Exemplos típicos e populares, de fácil compreensão, paraque não paire nenhuma dúvida a respeito do que preceituou.

AHIMSA vem do verbo sânscrito hims, que significa machucar, ferir ou causardano. Ahimsa, que significa não-violência ou não-ofensa, reflete meu desejoinerente de viver livre de machucados, dor ou ameaças de quaisquer tipos. SwamiDayananda. (http://bemzen.uol.com.br/noticias/ver/2013/06/10/509-ahimsa-)

O primeiro é o da “bofetada na face direita”. Nota os comentadores que são citadosa face direita porque o povo gosta dessas particularizações; pois, de modo geral, aprimeira bofetada, aplicada com a mão direita, fere a face esquerda de quem lhe está àfrente.

“o rabino satisfazia a todas as exigências para esse cargo quando, esbofeteado naface esquerda, apresentava, ao ofensor, à direita”.

A hipérbole exprime claramente o PERDÃO que não revida na mesma moeda,como exemplificou Jesus ao ser esbofeteado pelo oficial (João, 18: 22-23).

Quando Jesus falou isso, um dos guardas que estavam aí deu uma bofetada emJesus e disse:

"É assim que respondes ao sumo sacerdote?" Responde-lhe Jesus: "Se falei mal,testemunha a respeito do mal; se falei bem, por que me açoitas?" Jo 18:22-23

(Tradução Haroldo Dutra Dias.

Testemunha: Expressão idiomática semítica, provavelmente, empregada emcontexto jurídico com a ideia de “diga a razão”, “diga o motivo”.

Açoites: Lit. “esfolar, tirar a pele, castigar, maltratar, bater, açoitar”.

Notas da Tradução Novo Testamento de Haroldo Dutra Dias.

Lucas cita o preceito sem dar o pormenor de face direita ou esquerda.

O segundo exemplo é o do processo judiciário diante de um tribunal, quando ocontendor queira tirar-nos a túnica (chitõn, do hebraico kuttonéth, aramaico kittuná),que era a peça principal do vestuário dos israelitas. Diz Jesus que deve dar-setambém o manto (himátion. Hebraico simlâ), que era a outra peça, menosimportante, lançada sobre os ombros.

Em Lucas agrada-nos mais a lógica a enumeração: se o contendor tirar o manto (osupérfluo) deve o coagido entregar também a túnica (até o essencial), contanto quenão lute, a fim de não perder sua paz espiritual. É o PERDÃO-GENEROSO, em que secede mais do que nos é exigido.

O terceiro exemplo refere-se aos pedidos, tão comuns entre amigos, de favores(que tantas vezes nos aborrecem!) e que nos custam, com frequência, sacrifíciospessoais que correspondem a caminhar uma milha (em latim milium, que passou aogrego mílion e valia cerca de um quilômetro e meio). Ensina Jesus que devemossempre atender de boa-vontade, fazendo sempre mais do que nos é pedido: é aGENEROSIDADE pura em seu mais belo aspecto, com DOAÇÃO DE SI MESMO até osacrifício.

O quarto exemplo é o do DESAPEGO. Se alguém pede, deve dar-se, semdistinções; como conservou Lucas: “dá a quem te pede”; ou seja, jamais recusarqualquer pedido. Esclarece-se esse preceito com outras frases: “não virar as costas aquem solicita empréstimo (coisa nem sempre fácil por causa do apego que temos às”nossas coisas”…). Lucas tem mais força ainda: “se alguém tirar o que é nosso, nãodevemos ir reclamá-lo de volta”; deixe-se ir tudo, contanto que o irmão esteja satisfeito,

e nós permaneçamos na inalterável paz espiritual.

A lição de Jesus vai muito além do ahimsa (não resistência) - já o dissemos – e éuma das mais preciosas para a individualidade. É, sobretudo, para esta que vale.

Estando a personalidade mergulhada no polo negativo (“antissistema”) essa leidificilmente poderá ser posta em prática de maneira total. Com efeito, ao seguirliteralmente o preceito, a personalidade seria destruída pelo animalismo, com a perdade seu veículo físico, como ocorreu a Jesus. Daí escrever Lobsailg Rampa que “mesmoos grandes espíritos, na Terra sempre apresentam algum defeito, para poderempermanecer na crosta, entre os mortais imperfeitos” ("Usted y la Eternidad", pág.113).

Por mais adiantada ou evoluída que seja a individualidade, enquanto convive nestepolo negativo há que pensar em defender-se para sobreviver. Se puser em prática namatéria, sem distinções, esses preceitos, ver-se-á despojada de tudo, privados seusfilhos do essencial, e isso sem vantagem para os aproveitadores, porque os nãocontentariam. Então, materialmente, no polo negativo, a individualidade deve agir com“a simplicidade das pombas, mas com a prudência das serpentes” (Mat.10:16) para nãoprejudicar a própria evolução e a daqueles que querem apropriar-se de tudo.

Então, não é a matéria em si que interessa, mas o desprendimento das coisas edas pessoas.

Entendamos, todos, esses preceitos espiritualmente, no campo da individualidade:jamais revidar um mal com outro mal; ao contrário, quando se receber uma ofensamoral ou mesmo material, temos que retribuir com um benefício, nem que seja umaprece em favor dos que ainda estão ignorantes, que não sabem que “quem faz o mal asi mesmo o faz”. Daí o simbolismo de “oferecer a outra face”, isto é, de generosamenteoferecer um favor a quem nos magoou, como um bem a fazer a quem nos causou ummalefício.

Entretanto, não apenas as ofensas pessoais referidas neste exemplo, mas tambémquando o prejuízo é causado aos haveres, que foram emprestados à personalidadepara sua viagem, durante a permanência no planeta. Por isso, melhor que aborrecer-seem contendas judiciárias, é ceder o que nos exigem e, se possível, alguma coisa

mais, contanto que não criemos desarmonias e inimizades com as manifestaçõesdivinas que são as demais criaturas: “harmoniza-te depressa com o adversário,enquanto estás no caminho com ele (Mat. 5:25).

Assim também o exemplo de generosidade: jamais recusar a doação de si mesmopara atender às solicitações que de nós requerem sacrifícios pessoais. Nosso EuProfundo deve dirigir nosso eu pequeno de forma a que este se sacrifique, casonecessário, para satisfazer às precisões dos companheiros de viagem, às suasexigências, a fim de cada vez mais ir preparando a harmonização e a união dosespíritos.

(Lembrando que Jesus recomendou o “sim” e o “não”. É claro que se alguémpretende precipitar-se num abismo, não podemos aceitar o convite, pois precisamospreservar a vida, a nossa, e quem sabe, o nosso “não” poderá salvar a outra, conformeo exemplo abaixo dado pelo auto. Acrescentei).

Finalmente, dar sempre e emprestar sempre a quem nos pede no campo espiritual.Porque, no domínio da matéria, não podemos dar uma arma a quem pretenda suicidar-se, nem fornecer dinheiro (talvez indispensável a nós) para que outrem o desperdice namesa de jogo. Mas podemos dar sempre no mundo espiritual da individualidade, ajudarsempre, com palavras e ações, com a força do pensamento e da prece.

A frase que em Lucas vemos: “ao que tira o que é teu, não lhe peças de volta”,contém em si um dos maiores ensinamentos para o Espírito. Que temos nós na Terraque seja propriedade nossa, a não serem os dons espirituais (morais e intelectuais)? Oresto é tão ou mais transitório que nosso corpo denso: são tudo empréstimos que nosfacilitam a viagem pela crosta, mas aqui deixaremos, porque “nada para cátrouxemos, e daqui nada levaremos”. 1 Tm. 6:7.

Diz Humberto de Campos:

“Ainda há poucos dias, enquanto a Avenida fervilhava de movimento, vi às suas

portas (Federação Espírita Brasileira. Humberto narra o acontecimento na vidaespiritual) uma figura singela e simpática de velhinho, pronto para esclarecer eabençoar com as suas experiências.

– Conhece-o? – disse-me alguém rente aos ouvidos.

– Pedro Richard...

Nesse ínterim passa um companheiro da humanidade, cheio de instintosperversos que a morte não conseguiu converter à piedade e ao amor fraterno.

E Pedro Richard abre os seus braços paternais para a entidade cruel. – Irmão, nãoqueres a bênção de Jesus? Entra comigo ao seu banquete!...

Por quê? – replica-lhe o infeliz, transbordando perversidade e zombaria – eu souladrão e bandido, não pertenço à sociedade do teu Mestre.

– Mas não sabes que Jesus salvou Dimas, apesar de suas atrocidades, levandoem consideração o arrependimento de suas culpas? – diz-lhe o velhinho com umsorriso fraterno.

– Eu sou o mau ladrão, Pedro Richard. Para mim não há perdão nem paraíso...

Mas o irmão dos infelizes abraça em plena rua movimentada o leproso moral e lhediz suavemente aos ouvidos:

– Jesus salvou o bom ladrão e Maria salvou o outro...

E o que eu vi foi uma lágrima suave e clara rolando na face do pecadorarrependido”.

(Crônicas de Além-Túmulo – Francisco Cândido Xavier e Humberto de Campos –Cap. “A Casa de Ismael”).

***

Compreendemos, pois, que não devemos aborrecer-nos nem entristecer-nos sealguém nos tira ou furta alguma coisa material: ocorreu, simplesmente, que o“empréstimo” mudou de mãos.

E se algo nos foi subtraído, é porque alguém mais precisa ou mais merece do quenós. Elevemos um pensamento ao Pai, numa prece sincera, para que esse ou essesobjetos sejam mais úteis a essa pessoa do que o foram enquanto estavam conosco. E

a lição do desprendimento está aí contida. Não resistir a quem nos fere. Não contenderem litígios judiciários, mas ceder: de qualquer forma, teremos um dia que deixar tudo,então desapeguemo-nos logo. Não recusar um sacrifício pessoal: todo o bem quefizermos a qualquer pessoa, é a nós mesmos, em primeiro lugar, que o fazemos: antesde atingir a criatura favorecida, atinge a nós mesmos, porque modifica nossa aura e aharmoniza; e, ao elevar nossas vibrações internas, faz-nos aproximar da sintonia doPai que é Amor-Doação.

Lembremo-nos de que Deus se doa a todos, santos e criminosos, evoluídos eatrasados, fornecendo a todos a própria vida Sua divina, para que seja utilizada portodos livremente. O exemplo divino: “sede perfeitos como é perfeito vosso Paicelestial”, Mat. 5:48 é a maior lição dada à nossa individualidade, e temos que seguiresse exemplo, se quisermos atingir o Pai que habita dentro de nós, unificando-nos aEle. (Perfeição relativa, pois perfeito somente Deus o É. Acrescentei).

Mais se avançará ainda, nesse mesmo teor, na lição que veremos a seguir.

Qual a significação da lei de talião “olho por olho, dente por dente”, em faceda necessidade da redenção de todos os espíritos pelas reencarnaçõessucessivas?

- A lei de talião prevalece para todos os espíritos que não edificaram ainda osantuário do amor nas orações, e que representam a quase totalidade dos sereshumanos.

Presos, ainda, aos milênios do pretérito, não cogitaram de aceitar e aplicar oEvangelho a si próprios, permanecendo encarcerados em círculos viciosos dedolorosas reencarnações expiatórias e purificadoras.

Moisés proclamou a Lei antiga; muitos séculos antes do Senhor. Como já dito, oprofeta hebraico apresentava a Revelação com a face divina da Justiça; mas, comJesus, o homem do mundo recebeu o código perfeito do Amor. Se Moisés ensinava o“olho por olho, dente por dente”, Jesus Cristo esclarecia que o “amor cobre a multidãodos pecados”.

Daí a verdade de que as criaturas humanas se redimirão pelo amor e se elevarão a

Deus por ele, anulando com o bem; todas as forças que lhes possam encarcerar ocoração nos sofrimentos do mundo. O Consolador – Questão 272. Francisco CândidoXavier, pelo Espírito Emmanuel.

20-Amor ao Próximo Mat. 5:43-48. Lc 6:27-36.

Mat.: 5:43-48

43. Ouvistes o que foi dito: “amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo”.

44. Eu porém vos digo: amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem,

45. Para que vos torneis filhos de vosso Pai que está nos céus, porque ele fazlevantar-se seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos.

46. Porque se amardes aos que vos amam, que recompensa tendes? Os coletoresfiscais também não fazem o mesmo?

47. E se saudardes somente a vossos irmãos, que fazeis de especial? Não fazemos gentios também o mesmo?

48. Sede vós, portanto, perfeitos, assim como é perfeito vosso Pai celestial.

Luc. 6:27-28 e 32-36

27. Digo, porém a vós que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei bem aos quevos odeiam,

28. Abençoai os que vos amaldiçoam, orai pelos que vos difamam.

32. Se amais aqueles que vos amam, que gratidão mereceis? Pois também os“pecadores” amam aos que os amam.

33. Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, que gratidão mereceis? Até os“pecadores” fazem isso.

34. E se emprestardes àqueles de quem esperas receber, que gratidão mereceis?Até os “pecadores” emprestam aos “pecadores” para receberem outro tanto.

35. Amai porém os vossos inimigos, fazei o bem, e emprestai, sem esperarressarcimento; e será grande vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, porqueele é bom para com os ingratos e maus.

36. sede misericordiosos, assim como é misericordioso vosso Pai.

Vem agora o aperfeiçoamento da lei do amor, levada ao máximo. Moisés ordenara:“ama teu próximo como a ti mesmo” (Lev. 19:18) e “ama o estrangeiro e peregrinocomo a ti mesmo” (Lev. 19:34 e Deut. 10:19).

No entanto, em diversos trechos dizia-se que deviam ser olhados como inimigos osamonitas e moabitas (Deut. 23:6), os amalecitas (Êx. 17:14 e Deut. 25:19), o que faziasupor que esses povos deviam ser aborrecidos.

Embora em Provérbios (26:21-22) já estivesse escrito: “Se teu inimigo tiver fome,dá-lhe de comer e se tiver sede, dá-lhe de beber, porque lhe amontoarás brasas vivassobre a cabeça e Adonai te recompensará”, não era esse o hábito entre os israelitas.

(Cfr. ainda Prov. 20:22, onde se reprime a vingança. Também em Deut o 32:35,Adonai reserva para si a vingança e a recompensa, declarando explicitamente a lei docarma e o choque de retorno).

Nunca diga: "Você vai me pagar esse mal". Confie em Javé, e ele defenderá você.Pv 20:22

A mim pertencem a vingança e a represália no dia em que o pé deles escorregar,porque o dia da ruína deles já vem chegando, e o seu destino futuro se aproxima. Dt

32:35

Jesus chega ao clímax de Suas instruções, ordenando que os inimigos devam seramados, e não apenas perdoados; que se deve fazer bem a quem nos faça o mal(Luc.); que se devem abençoar os que nos amaldiçoam (Luc.) e orar pelos que nosdifamam (Luc.) ou perseguem (Mat.), e isto, para seguir o exemplo do Pai, que é PAIDE TODOS e sobre bons e maus faz surgir o sol e vir o benefício das chuvas.

Com esse comportamento, tornar-nos-emos “filhos de Deus”, ou seja, DIVINOS, nosentido dado a essa expressão entre os escritores judeus da época.

Depois vem a comparação com o modo de agir dos indivíduos que, perante os

israelitas, eram desclassificados de todo: os publicamos e os pecadores. Todasessas classes, assim como os "pagãos" (isto é, os não judeus) tem uma atuaçãohumana normal: amam a seus amigos, saúdam seus irmãos, prestam benefícios aosque os ajudam, emprestam quando tem certeza de que receberão ressarcimento… Serigual a eles, não é vantagem. O cristão tem que ser-lhes superior, mais perfeito, combondade e misericórdia suprema.

Então vem o fecho de Lucas: “sede misericordiosos como o Pai celestial”, e ooutro, ainda mais rigoroso, de Mateus: “sede PERFEITOS, como perfeito é o Paicelestial”.

Aqui o ensinamento de Jesus atinge o ápice da perfeição, superando tudo o que osantigos tinham podido ensinar. A lição prossegue no mesmo tom da anterior, mas asverdades são mais explicitamente ensinadas. Trata-se mesmo de amar os inimigos,que são, na realidade, nossos maiores benfeitores, pois nos ajudam a evoluir maisrápida e seguramente, limando nossas arestas, quebrando nossos espinhos, limpando-nos de nossos defeitos.

Está claramente dito que, para ser cristão não basta “fazer como os outros”,retribuindo com bondade e gratidão aos benefícios recebidos com alegria para nós;mas retribuindo com a mesma bondade e gratidão aos “benefícios” que recebemoscom lágrimas, porque nos fazem sofrer. Indispensável atingir a perfeição absoluta.(Vide Capítulo XII Evangelho Segundo o Espiritismo: Pagar o mal com o bem).

E ninguém fica isento de aperfeiçoar se: a exigência abarca todos os cristãos.

Neste trecho, um dos mais sublimes dos Evangelhos, Jesus ensina-nos a superara perfeição humana, e dá-nos como modelo a imitar a perfeição divina.

O Pai celestial constitui a vida de todas as criaturas, boas e más, justas e injustas,santas e criminosas, sábias e ignorantes; e a todos, igualmente, sem distinções, dá osol e a chuva, o ar para respirar e a Terra para habitar, deixando plena liberdade atodos para que escolham seu próprio caminho. Se a estrada escolhida é errada, não háintervenção divina, nem castigo: o próprio espírito encontrará pela frente a parede daLei, onde baterá a cabeça e sofrerá a dor, até que aprenda a descobrir onde está a

porta que lhe permitirá sair do embaraço.

Nesta Lei do Amor Total sem restrições, baseia-se a evolução, que visa à sintoniaperfeita com o Amor Integral, em atos, palavras e pensamentos. E só a atingiremos,quando tivermos superado todas as emoções, de tal forma que, se ofendidos, nãosintamos nenhum movimento de mágoa.

Certa que, quanto mais evoluído o ser, mais sentimento possui. Mas não seconfunda sentimento com emoção: o primeiro é do Espírito (individualidade) e jamaisse ofende nem mágoa, porque é inatingível; o segundo é do “espírito”, do corpo astral(animal) e vibra na personalidade. Então, todas as desculpas de “brio”, de “amor-próprio”, de “honra” ou “honorabilidade”, de títulos e posições hierárquicas enobiarquicas, são ilusões que precisamos abolir totalmente, superar integralmente, enem sequer senti-las. (Emoções são da cintura para baixo, e os sentimentos são dacintura para cima. Emoções precisam se educadas para se expressaram de modosuperior. Acrescentei).

Enquanto experimentarmos qualquer movimento íntimo nesse sentido, é porquenão saímos da personalidade, não estamos “no ponto”: lutemos para conseguirdominar essas emoções, que são sempre inferiores.

Traçado está, pois, o caminho que leva à perfeição: amar os inimigos, mas amá-losrealmente, e não apenas de boca; fazer bem aos que nos odeiam, mas beneficiá-los defato, com preces sinceras; abençoar os que nos amaldiçoam, mas abençoar do fundodo coração, reconhecendo o bem que nos fazem, quando nos causam sofrimento e,portanto, quando nos ajudam a queimar e resgatar nossos carmas; orar pelos que nosdifamam, pedindo ao Pai que lhes proporcione paz e felicidade, em quantidade eintensidade maiores que a que nos forem doadas pessoalmente a nós mesmos. Eassim, com ilimitada generosidade, emprestar, se o pudermos, embora sabendo quenão receberemos ressarcimento; saudando a todos cortesmente, ainda que nãorecebamos resposta, ou mesmo ouçamos desaforos.

Mas continuar delicadamente saudando a todos com respeito e humildade.

Só assim, diz Lucas, seremos “filhos do Altíssimo”, isto é, nos assemelharemos ao

Pai, pela bondade e pela misericórdia.

A conclusão “sede misericordiosos como o Pai” explica a frase “sedes perfeitoscomo o Pai”; de fato, a perfeição do Pai, que podemos imitar, reside apenas em suasqualidades que estão ao nosso alcance: O AMOR-MISERICÓRDIA e também aHUMILDADE. Essas, podemos vivê-las com perfeição, quando soubermos renunciar ànossa personalidade, negar nosso eu pequeno, e viver de modo absoluto naindividualidade, no Espírito, unificados com a Centelha Divina, que é nosso EU real eprofundo.

16 - Na Senda do Cristo

“Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.”

– Jesus. (Mateus. 5:44).

O caminho de Jesus é de vitória da luz sobre as trevas e, por isso mesmo, repletode obstáculos a vencer.

Senda de espinhos gerando flores, calvário e cruz indicando ressurreição...

O próprio Mestre, desde o início do apostolado, desvenda às criaturas o retiro daelevação pelo sacrifício.

Sofre, renunciando ao divino esplendor do Céu, para acomodar-se à sombraterrestre na estrebaria.

Experimenta a incompreensão de sua época.

Auxilia sem paga.

Serve sem recompensa.

Padece a desconfiança dos mais amados.

Depois de oferecer sublime espetáculo de abnegação e grandeza, é içado aomadeiro por malfeitor comum.

Ainda assim, perdoa aos verdugos, olvida as ofensas e volta do túmulo paraajudar.

Todos os seus companheiros de ministério, restaurados na confiança,testemunharam a Boa Nova, atravessando dificuldade e luta, martírio e flagelação.

Inúteis, desse modo, nos círculos de nossa fé, os petitórios de protecionismo evantagens inferiores.

Ressurgindo no Espiritismo, o Evangelho faz-nos sentir que tornamos à carne pararegenerar e reaprender.

Com o corpo físico, retomamos nossos débitos, nossas deficiências, nossasfraquezas e nossas aversões...

E não superaremos os entraves da própria liberação, providenciando ajusteinadequado com os nossos desejos inconsequentes.

Acusar, reclamar, queixar-se, não são verbos conjugáveis no campo de nossosprincípios.

Disse-nos o Senhor -"Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.”

Isso não quer dizer que devamos ajoelhar em pranto de penitência pé de nossosadversários, mas sim que nos compete viver de tal modo que eles se sintam auxiliadospor nossa atitude e por nosso exemplo, renovando-se para a o bem, de vez que,enquanto houver crime e sofrimento, ignorância e miséria no mundo, não podemosencontrar sobre a Terra a luz do Reino do Céu.

(Livro: Palavras de Vida Eterna, capítulo 16 – Na Senda do Cristo)

21-“PAI NOSSO” Mat. 6:1-4 Lc 11:1-13

1. Prestai atenção: não façais vossas boas obras diante dos homens, para serdesvistos por eles; senão não tereis recompensa junto de vosso Pai que está nos céus.

2. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar a trombeta diante de ti, COMOfazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem honrados pelos homens; emverdade vos digo: já receberam sua recompensa.

3. Tu, porém, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz tuadireita,

4. para que tua esmola fique no secreto, e teu Pai, que vê no secreto, te retribuirá.

Vem a seguir a orientação a respeito da modéstia, da humildade, instruindo-nos oMestre a agir sem propaganda, sem alarde de nossos atos, mas antes, a manterocultas as boas obras, de tal maneira que nem os mais íntimos delas tomemconhecimento: “não saiba a mão esquerda o que faz a direita” - lindíssima imagemliterária, totalmente original.

Receber a recompensa é, segundo o verbo empregado, ter em mãos o “recibo”.

Parece haver certa discordância entre este ensinamento e o dado acima (Mat.5:16): “brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras eglorifiquem vosso Pai celestial”.

Mas é bem fácil compreender-se: façam-se as boas obras sem cogitar depropaganda; por si mesmas elas brilharão.

Não é possível esconder uma luz. Silenciosamente, levanta-se o sol todos os dias,sem que precise fazer autopropaganda todos os veem. Assim devem agir os cristãos:não mostrar-se nem propalar o que fazem; mas FAZER, porque assim a luz brilhará porsi mesma.

A esmola, que exprime a compaixão, deve ser sigilosamente manifestada,conhecida apenas do Pai que habita em nosso íntimo mais secreto, no coração dohomem. A esmola é escolhida como exemplo típico, porque publicar um benefícioprestado a alguém que esteja necessitado é envergonhá-lo; e não temos o direito de

diminuir moralmente nosso irmão.

Mais profunda é a lição para a individualidade. Tudo o que fizermos, deve serrealizado internamente, e não na personalidade, para que outras personalidadestomem conhecimento e elogiem.

De fato, o eu pequeno, vaidoso e egoísta, está sempre suspirando por aplausos elouvores, o que lhe alimenta o convencimento e o incha de vento, embora, nacostumeira falsa modéstia se recuse e negue os elogios “com a boca”; mas o corpoemocional (animal) vibra de felicidade.

Quem vive no Espírito não busca esses aplausos que nada valem; e os elogiosprocurados pelo eu pequeno e vaidoso já lhe constitui a recompensa: tanto a ação,quanto seus resultados morrem no âmbito da personalidade, não alcançando aprofundidade do Espírito, e, portanto, não constituindo degraus para a subida.

Não resta dúvida de que, na Terra, a individualidade só pode agir através dapersonalidade. Mas tudo é feito com simplicidade, de modo natural e espontâneo. Nadacom movimentos estudados nem calculados, para que tenham testemunhas. E o quese faz aqui, não se conta mais além numa propaganda sub-reptícia, com a costumeiraintrodução: “não é para se gabar, mas…”.

Todavia, não se trata apenas da parte externa. Também intimamente o serevoluído SABE que a personalidade de per si NADA PODE, e tudo o que realizaprovém do Cristo Interno, que o vivifica e sustenta, e que é a fonte inesgotável de todoo bem.

Então, tudo é feito com REAL e não com aparente modéstia.

Na última frase está à chave que explica tudo isso: que nossas ações fiquem “noSECRETO”, isto é, no coração, no Espírito, na Individualidade. Depois é citada a razão,o motivo, a explicação que confirma todas as nossas afirmativas até aqui apresentadasdesde o início de nossos comentários evangélicos:

“O Pai que vê no secreto”, fórmula que mais tarde (Mat. 6:6 e 18) é dita maisexplicitamente: “o Pai que ESTÁ no secreto”.

Ora, é exatamente isto que vimos dizendo desde o início: o Pai reside no secretode nossos corações, está DENTRO DE NÓS, dentro de todos, dentro de tudo, comomuito bem o compreendeu Paulo (cfr. Ef. 4:6 e 1 Co. 15:28).

Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós.

Ef 4:6

E quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, então o próprio Filho sesubmeterá àquele que tudo lhe submeteu, para que Deus seja tudo em todos.

1 Co 15:28

A Centelha divina, o Cristo interno, o Pai (Verbo), que se tornou Filho, tem Suapartícula dentro de nós, e é a Fonte Inesgotável da Vida, da Harmonia, da Beleza e doAmor: o PAI ESTÁ NO SECRETO, e por isso vê tudo e sabe de tudo, “sabe o de quenecessitamos antes de Lhe pedirmos”, e por isso, quando oramos, devemos “entrar emnosso quarto”, isto é, em nosso secreto, em nosso coração, onde está o Pai, e aíconversar com Ele.

Sombra e Luz

Nenhum espírito da comunidade terrestre possui tanta luz que não admita em sicerta nesga de sombra, nem existe criatura com tanta sombra que não guarde consigocerta faixa de luz.

Aprende a fixar o próximo com a claridade que há em ti.

Não creias, porém, que semelhante trabalho se filie ao menos esforço, porque,pelo peso das trevas que ainda imperam no mundo, a sombra que ainda nos envolvena Terra, a cada instante, insinuar-se-nos-á no próprio entendimento, perturbando-nosas interpretações.

Se te demoras na obscuridade, não enxergarás senão os defeitos e as cicatrizes,as feridas e as nódoas que caracterizam a fisionomia do irmão infortunado,constrangendo-te ao medo e à usura, à incompreensão e à aspereza. E sabemos quequantos se detêm no cipoal ou no charco não encontram outros elementos, além dalama ou do espinho, para oferecer.

Alça a lâmpada acesa do conhecimento superior e avança para frente, e, então, aignorância e a delinquência surgir-nos-ão aos olhos por enfermidades da alma, que épreciso extirpar, a benefício da felicidade comum.

“Não saiba a vossa mão esquerda o que deu a direita” – ensina-nos o Evangelho –e ousamos acrescentar: “não saiba a nossa sombra o que faz a nossa luz”, porque,dessa forma, avançando, acima das tentações da vaidade e do desânimo, a chispahumilde de nossa fé no Bem Infinito poderá transformar-se em chama viva e redentorapara o caminho de todos os que nos cercam.

(Livro: “Cura”. Ed. GEEM Capítulo Sobra e Luz)

22-“PAI NOSSO” Mat. 6:5-18

5 Quando vocês rezarem, não sejam como os hipócritas, que gostam de rezar empé nas sinagogas e nas esquinas, para serem vistos pelos homens. Eu garanto avocês: eles já receberam a recompensa.

6 Ao contrário, quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze aoseu Pai ocultamente; e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você."

7 Quando vocês rezarem, não usem muitas palavras, como fazem os pagãos. Elespensam que serão ouvidos por causa do seu palavreado.

8 Não sejam como eles, pois o Pai de vocês sabe do que é que vocês precisam,ainda antes que vocês façam o pedido.

9 Vocês devem rezar assim: Pai nosso, que estás no céu, santificado seja o teunome;

10 venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.

11 Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia.

12 Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores

13 E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.

14 De fato, se vocês perdoarem aos homens os males que eles fizeram, o Pai devocês que está no céu também perdoará a vocês.

15 Mas, se vocês não perdoarem aos homens, o Pai de vocês também nãoperdoará os males que vocês tiverem feito."

16 Quando vocês jejuarem, não fiquem de rosto triste, como os hipócritas. Elesdesfiguram o rosto para que os homens vejam que estão jejuando. Eu garanto a vocês:eles já receberam a recompensa.

17 Quando você jejuar, perfume a cabeça e lave o rosto,

18 para que os homens não vejam que você está jejuando, mas somente seu Pai,que vê o escondido; e seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.

DA ORAÇÃO DOMINICAL

Nosso Pai que estás em toda parte.

Santificado seja o teu nome, no louvor de todas as criaturas;

Venha a nós o teu reino de amor e sabedoria;

Seja feita a tua vontade, acima dos nossos desejos;

Tanto na Terra, quanto nos círculos espirituais;

O pão nosso do corpo e da mente dá-nos hoje;

Perdoa as nossas dívidas, ensinando-nos a perdoar aos nossos devedores comesquecimento de todo o mal;

Não permitas que venhamos a cair sob os golpes da tentação de nossa própriainferioridade;

Livra-nos do mal que ainda reside em nós mesmos:

Porque só em Ti brilha a luz eterna do reino e do poder, da glória e da paz, dajustiça e do amor para sempre.

(Livro: Nosso Livro, Editora GEEM, capítulo 17-Oração Dominica)

23–TRÊS PROIBIÇÕES Mat. 6: 19-24 Mt 5:15; Mc 4:21; Lc 8:16, 11:33-36, 12:32-34

19. Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem osconsomem e onde os ladrões penetram e roubam,

20. Mas ajuntai para vós tesouros no céu onde nem a traça nem a ferrugem osconsomem, e onde os ladrões não penetram nem roubam,

21. Porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.

22. A lâmpada do corpo são os olhos; se pois estes forem sãos, todo o teu corposerá luminoso,

23. Mas se teus olhos forem doentes, todo o teu corpo será tenebroso. Se, pois, aluz que há em ti são trevas, quão grandes são essas trevas!

24. Ninguém pode servir a dois senhores, pois ou há de aborrecer a um e amar ooutro, ou há de unir-se a um e desprezar o outro: não podeis servir a Deus e àsriquezas.

Luc. 12:32-34

31. Não temas pequeno rebanho, porque é do agrado de vosso Pai dar-vos o reino.

32. Vendei o que possuis, e dai esmolas; fazei para vós bolsas que nãoenvelheçam, um tesouro inexaurível nos céus, onde o ladrão não chega e a traça nãorói,

33. Porque onde está vosso tesouro, também estará vosso coração.

O essencial não é NÃO TER, e sim NÃO APEGAR-SE, não prender o pensamento(cuja sede reside no coração) a essas coisas externas e transitórias.

Depois aparece um ensinamento em forma de comparação. Na realidade, sóconseguimos ter luz se os olhos forem sadios. Então parece, e nos vemos todosluminosos, pois distinguimos os objetos, suas formas e cores.

Mas se os olhos adoecerem, isto é, cegarem, todo o corpo parece nadar emdensas trevas, que custamos a romper, tateando com as mãos à frente. E termina comum enigma: “se a luz que há em ti são trevas, quão grandes são essas trevas”. Comopode a luz ser trevas?

As frases referem-se ao ensinamento anterior e o comentam, deixando-se ao leitora tarefa de compreendê-las. Realmente, o coração (o pensamento) pode apegar-se ariquezas materiais ou aos bens espirituais, tal como ocorre com os olhos, cujoprimordial papel é servir de lâmpada para o corpo. Se os olhos forem sadios, isto é,sem defeito, simples, sem crostas e “sem apegos” nem cobiças, então sua tarefa deiluminar desenvolve-se perfeitamente. Mas se esses olhos, que “são a luz do corpo”começam a criar agregações externas (quase películas de catarata), pela ambiçãoe cobiça, eles começam a ficar velados e, portanto, doentes ou maus (ponêrós) eentão enxergam tudo torto, as perspectivas ficam distorcidas e falsas. Daícompreender-se que o olho “mau” ou doente prejudica todo o ser.

Essa interpretação leva-nos um passo adiante: é pelos olhos que nasce,geralmente, o sentimento baixo e indigno da inveja, que lança raios mortíferos sobre ascoisas e sobre as criaturas que as possuem.

Essa má qualidade envenena o espírito de quem a sente, e, sobretudo de quem aalimenta; e os fluídos lançados pelos olhos (“mau olhado”) fazem definhar tudo o quefoi atingido; mas, em primeiro lugar, faz definhar a própria criatura que os lançou,porque, antes de atingir a aura dos outros os fluídos atingem a própria aura da pessoaque os lança.

E Jesus termina declarando peremptoriamente que “ninguém pode servir a doissenhores”: a Deus, dedicando-se ao espiritualismo, e às riquezas.

A palavra usada, e bastante conhecida, mamon (grego mamônas, proveniente doaramaico mamônâ) pertence ao hebraico mais recente do Eclesiástico (31-8) e doTalmud. Deriva do verbo âman, que significa “confiar” ou “depositar”.

Eclesiástico ou Sirácida

É um dos livros deuterocanônicos (apócrifos) da Bíblia, de composição atribuída aJesus filho de Sirach (Jesus Ben Sirac ou Ben Sirá, ou, em grego Sirácida).

O livro, formado por reflexões pessoais do autor, era comumente lido em temploscristãos, aliás, o nome Eclesiástico (Livro da Igreja ou da Assembleia) provém do usooficial que a Igreja faz desse livro, em contraposição à Sinagoga judaica, que não oaceita como Palavra de Deus, tal designação vem desde a época de São Cipriano deCartago. O livro foi originalmente escrito em hebraico, entre 190 e 124 AC, possui 51capítulos e, posteriormente, foi traduzido para o grego por um neto de Jesus filho deSirach, em 123 AC .

O Eclesiástico é tido como sagrado pelas Igrejas: Católica e Igreja OrtodoxaEtíope. O Eclesiástico é reconhecido no judaismo pelo seu valor histórico; porém, não éparte do Tanakh, o compêndio de livros sagrados da religião. Por esta razão, gruposprotestantes não o incluem em seu cânone.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Eclesi%C3%A1stico

***

Realmente, o espiritualismo olha as posses como ilusões transitórias, ao passo queo materialismo as considera como as únicas realidades objetivas e palpáveis. Então,não há conciliação possível entre os dois: ou a criatura se apega a um, ou ao outro,pois os dois polos se repelem mutuamente. O que não impede que o espiritualistaconserve seus bens materiais e os administre desde que os considere como são defato: empréstimos temporários que lhe foram confiados para gerir, mas sem que seucoração se lhes apegue.

Em Lucas aparecem dois conceitos novos: um, assegurando ao “pequenorebanho” - frase de grande poesia e de profundo carinho – que o Pai tem prazer, e atéquer de boa vontade (eudókêsen, de eu, “bem” e déchomai, “querer”) dar-lhes o “reinodos céus”, ou seja, o “Encontro Consigo”.

Temos, então, o conselho de vender o que possuímos (tà hupárchonta, dehupárchô, “existo”, “sou”) e dar esmolas, ou fazer misericórdia, no sentido de ter taldesapego, que nos não incomodemos em desfazer-nos do que é nosso, casos outrosnecessitem; é a generosidade e a liberalidade com tudo o que temos, inclusive com os

nossos veículos inferiores, com sacrifício de nossa personalidade.

Esses conceitos de Lucas serão repisados em outros passos, fixando edeterminando a doutrina de Jesus quanto ao desprendimento.

TRÊS PROIBIÇÕES Mat. 6:25-34

25 Por isso é que eu lhes digo: não fiquem preocupados com a vida, com o quecomer; nem com o corpo, com o que vestir. Afinal, a vida não vale mais do que acomida? E o corpo não vale mais do que a roupa?26 Olhem os pássaros do céu: elesnão semeiam, não colhem, nem ajuntam em armazéns. No entanto, o Pai que está nocéu os alimenta. Será que vocês não valem mais do que os pássaros?27 Quem devocês pode crescer um só centímetro, à custa de se preocupar com isso?28 E por quevocês ficam preocupados com a roupa? Olhem como crescem os lírios do campo: elesnão trabalham nem fiam.29 Eu, porém, lhes digo: nem o rei Salomão, em toda a suaglória, jamais se vestiu como um deles. 30 Ora, se Deus assim veste a erva do campo,que hoje existe e amanhã é queimada no forno, muito mais ele fará por vocês, gente depouca fé! 31 Portanto, não fiquem preocupados, dizendo: O que vamos comer? O quevamos beber? O que vamos vestir? 32 Pois esta coisas os gentios buscam. O Pai devocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de tudo isso.33 Pelo contrário, emprimeiro lugar busquem o Reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, emacréscimo, todas essas coisas. 34 Portanto, não se preocupem com o dia de amanhã,pois o dia de amanhã terá suas preocupações. “Basta a cada dia a própria dificuldade."

VIDA E POSSE

"Não é a vida mais que o alimento?" – Jesus – (Mateus, 6:25).

Aconselha-te com a prudência para que teu passo não ceda à loucura.

Há milhares de pessoas que efetuam a ramagem carnal, amontoando possesexteriores, a gana de ilusória evidência.

Senhoreiam terras que não cultivam.

Acumulam ouro sem proveito.

Guardam larga cópia de vestimenta sem qualquer utilidade.

Retém grandes arcas de pão que os vermes devoram.

Disputam remunerações e vantagens de que não necessitam.

E imobilizam-se no medo ou no tédio, no capricho maligno ou nas doençasimaginárias, até que a morte lhes reclama a devolução do próprio corpo.

Não olvides, assim, a tua condição de usufrutuário do mundo, e aprende aconservar no próprio íntimo os valores da grande vida.

Vale-te dos bens passageiros para estender o bem eterno.

Aproveita os obstáculos para incorporar a riqueza da experiência Nãoretenhas recursos externos de que não careças.

Não desprezes lição alguma.

Começa a luta de cada dia, com o deslumbramento de quem observa a beleza pelaprimeira vez e agradece a paz da noite como quem se despede do mundo paratransferir-se de residência.

Ama pela glória de amar.

Serve sem prender-te.

Lembra-te de que amanhã restituirás à vida o que a vida te emprestou, em nomede DEUS, e que os tesouros de teu espírito serão apenas aqueles que houveresamealhado em ti próprio, no campo da educação e das boas obras.

Livro “Palavras de Vida Eterna” – Cap. 8.

TRÊS PROIBIÇÕES – Continuação Mat. 7:1-6 Lc 6:37-42

1 Não julguem, e vocês não serão julgados. 2 De fato, vocês serão julgados com omesmo julgamento com que vocês julgarem, e serão medidos com a mesma medidacom que vocês medirem.3 Por que você fica olhando o cisco no olho do seu irmão, enão presta atenção à trave que está no seu próprio olho?4 Ou, como você se atreve adizer ao irmão: deixe-me tirar o cisco do seu olho, quando você mesmo tem uma traveno seu? 5 Hipócrita, tire primeiro a trave do seu próprio olho, e então você enxergarábem para tirar o cisco do olho do seu irmão." 6 Não deem aos cães o que é santo, nematirem pérolas aos porcos; eles poderiam pisá-las com os pés e, virando-se,despedaçar vocês.

A DISCRIÇÃO – TRÊS PROIBIÇÕES – Explicação

Mat. 7:6

6. Não deis o que é santo aos cães, nem lanceis vossas pérolas diante dosporcos, para que não venham a *pisá-las com os pés e, voltando-se, vos despedacem.

*Pisá-las: trata-se de semitismo, utilizado para reforçar a ideia do verbo. HaroldoD. Dias

Um versículo apenas, com singelo aviso de prudência em nossas atitudes emrelação às demais criaturas.

A frase, em forma de provérbio, tem o andamento próprio das frases sentenciosas(mâchál) dos livros de sabedoria, com o ritmo binário: isto é, repete-se o mesmopensamento duas vezes, em conceitos sinônimos.

O ensinamento, portanto, resulta bastante claro: antes de revelar-se a verdade arespeito da doutrina, verifique-se o grau de adiantamento de quem vai recebê-lo, poispoderá suceder que ainda sejamos perseguidos e mortos pelos que não estão em graude entender o ensino. E isso de fato ocorreu a milhares de criaturas que pretenderamdivulgar fatos e conhecimentos, para os quais a humanidade – mesmo representadapela nata de seus dirigentes espirituais – ainda não estava preparada.

Recordemo-nos dos “mártires” dos primeiros séculos entre os pagãos; dos arianosassassinados pelos cristãos romanos no século 4.º dos numerosos profetas (médiuns)que surgiram através dos séculos em toda a idade média, e que foram sacrificados nasfogueiras pelos próprios cristãos; e mais de Galileu, de Savonarola, de Giordano Bruno,de João Huss, de Joana d’Arc, e de tantos milhares que nem podemos enumerar.

Daí a necessidade de prudência na divulgação das realidades espirituais, que sódevem ser reveladas aos que estão aptos a compreendê-las e, assimilando-as, vivê-las.

A admoestação taxativa vem esclarecer-nos, como de outras feitas. Ainda veremosa razão que levou Jesus (a individualidade) a falar e a agir sempre por metáforas, porexemplos vivos que são verdadeiros símbolos, utilizando-se de alegorias, de

parábolas, de comparações, sem jamais dizer claramente qual o segredo de seuensinamento.

Daí constituírem os Evangelhos uma obra realmente iniciática, revelando sabedoriaprofunda, jamais podendo dizer-se que se trata de trabalho escrito por homenscomuns.

É, de fato, uma revelação do mais alto teor, inspirados intuitivamente, através dosaparelhos mediúnicos altamente sensíveis que foram os evangelistas, cada umcaptando a mesma inspiração de acordo com o seu próprio grau de evolução espiritual.

Essa a razão de ser João – o místico – o de mais altos e largos voos, e também acausa de que muitos outros “médiuns”, nessa ocasião, tenham captado a mesmainspiração, mas, por serem pouco evoluídos, tenham escritos textos fracos, hojecatalogados como apócrifos. Só mesmo os quatro de maior sensibilidade psíquicaconseguiram atingir a noúre mais elevada, que naquela época constituía a noosferado planeta, em virtude da aproximação psíquica de Jesus.

Dessa forma, os Evangelhos podem ser compreendidos e interpretados em váriosplanos:

1.º o literal, como o lê a maioria da massa humana que dura há séculos,grandemente aproveitando as palavras sábias e os exemplos maravilhosos;

2.º o moral, que se eleva um pouco mais, verificando as consequências reais queali aparecem em todas as frases, belas e cheias de sabedoria;

3.º o alegórico, que já entrevê ensinos mais profundos, lidos nas entrelinhas,quando se percebe que as palavras são representações de outros planos mais altos,exprimindo coisas diferentes do que exprimem textualmente as palavras;

4.º o metafórico, que dá um passo mais adiante, e que já muitos comentadoresperceberam plenamente, divulgando seus conhecimentos.

Essas quatro interpretações referem-se todas à personalidade, em seus quatroplanos.

Mas outras três existem compreendidos pela individualidade; o

5.º, ou simbólico, que se vem manifestando aos poucos, de acordo com aevolução da humanidade que caminha sempre mais à frente; o

6.º, ou místico, que estamos tentando penetrar, apesar de nosso atraso, masgrandemente ajudados pelas Forças do Alto; e o

7.º o espiritual ou divino, que ainda não atingimos, em virtude de nossadeficiência evolutiva.

Na época atual, onde numerosos já são os elementos capazes de perceber esseaprofundamento, tornou-se possível penetrar e até mesmo divulgar, como estamosfazendo, essas interpretações, sem que nos arrisquemos a sermos perseguidos eassassinados, como no passado. Mas, não obstante, grande número de irmãos deideal ainda não consegue aceitar o que dizemos e, por isso, recebemos a perseguiçãomoral de diversos tipos de acusação; estas nos alegram, pois sabemos – disse-o Jesus– que seus discípulos seriam conhecidos pelas perseguições e acusações quesofressem, já que o discípulo não é mais que o mestre, nem o servo mais que seusenhor; e se o Senhor e Mestre foi acusado de “endemoninhado, seus discípulostambém o seriam” (Mat. 10:24-25). Daí o medo que sentiríamos, se fossemoselogiados: não estaríamos mais figurando entre os discípulos de Jesus.

Voltando ao texto, encontramos a sabedoria do ensino: nem a todos os querevelam desejo de saber, pode dizer-se a realidade total; nem tudo o que se percebepode revelar-se, senão a alguns. Quando escrevemos, porém, sabemos que os quenão podem compreender totalmente, não o compreendem mesmo, por mais claro quetenha sido explicado. Por isso não hesitamos em publicar as ideias que os são trazidas,a respeito de aspectos menos divulgados do Evangelho, porque tudo o que dizemos jáfoi sabido e vivido por milhares de criaturas, no oriente e no ocidente.

Cães e coisas santas

“Não deis aos cães as coisas santas.” - Jesus. (Mateus, 7:6.)

Certo, o cristão sincero nunca se lembrará de transformar um cão em partícipe doserviço evangélico, mas, de nenhum modo, se reportava Jesus à feição literal dasentença.

O Mestre, em lançando o apelo, buscava preservar amigos e companheiros dofuturo contra os perigos da imprevidência.

O Evangelho não é somente um escrínio celestial de sublimes palavras. Étambém o tesouro de dádivas da Vida Eterna.

Se é reprovável o desperdício de recursos materiais, que não dizer dairresponsabilidade na aplicação das riquezas sagradas?

O aprendiz inquieto na comunicação de dons da fé às criaturas de projeção social,pode ser generoso, mas não deixa de ser imprudente. Porque um homem esteja bemtrajado ou possua larga expressão de dinheiro, porque se mostre revestido deautoridade temporária ou se destaque nas posições representativas da luta terrestre,isto não demonstra a habilitação dele para o banquete do Cristo.

Recomendou o Senhor seja o Evangelho pregado a todas as criaturas; entretanto,com semelhante advertência não espera que os seguidores se convertam emdemagogos contumazes e, sim, em mananciais ativos do bem a todos os seres,através de ações e ensinamentos, cada qual na posição que lhe é devida.

Ninguém se confie à aflição para impor os princípios evangélicos, nesse ounaquele setor da experiência que lhe diga respeito. Muitas vezes, o que parece amornão passa de simples capricho, e em conseqüência dessa leviandade é queencontramos verdadeiras maltas de cães avançando em coisas santas.

Livro “Vinha de Luz”, Cap. 93.

TRÊS ADVERTÊNCIAS Mat. 7:7-27 Lc 6:43-49 13:22-30

7 Peçam, e lhes será dado! Procurem, e encontrarão! Batam, e abrirão a porta paravocês! 8 Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, aporta será aberta. 9 Quem de vocês dá ao filho uma pedra, quando ele pede um pão?10 Ou lhe dá uma cobra, quando ele pede um peixe? 11 “Se vocês, que são maus,sabem dar coisas boas a seus filhos, quanto mais o Pai de vocês que está no céu darácoisas boas aos que lhe pedirem."

12 Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês tambéma eles. Pois nisso consistem a Lei e os Profetas.

13 Entrem pela porta estreita, porque é larga a porta e espaçoso o caminho quelevam para a perdição, e são muitos os que entram por ela! 14 Como é estreita a portae apertado o caminho que levam para a vida, e são poucos os que a encontram!"

15 Cuidado com os falsos profetas: eles vêm a vocês vestidos com peles deovelha, mas por dentro são lobos ferozes. 16 Vocês os conhecerão pelos frutos deles:por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas? 17 Assim, toda árvoreboa produz bons frutos, e toda árvore má produz maus frutos. 18 Uma árvore boa nãopode dar frutos maus, e uma árvore má não pode dar bons frutos. 19 Toda árvore quenão der bons frutos, será cortada e jogada no fogo. 20 Pelos frutos deles é que vocêsos conhecerão."

21 Nem todo aquele que me diz 'senhor, Senhor’, entrará no Reino do Céu. Sóentrará aquele que põe em prática a vontade do meu Pai, que está no céu. 22 Naqueledia muitos me dirão: 'Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foiem teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantosmilagres?' 23 Então, eu vou declarar a eles: Jamais conheci vocês. Afastem-se de mim,malfeitores!"

24 Portanto, quem ouve essas minhas palavras e as põe em prática, é como ohomem prudente que construiu sua casa sobre a rocha. 25 Caiu a chuva, vieram asenxurradas, os ventos sopraram com força contra a casa, mas a casa não caiu, porquefora construída sobre a rocha. 26 Por outro lado, quem ouve essas minhas palavras enão as põe em prática, é como o homem sem juízo, que construiu sua casa sobre aareia. 27Caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com força contra acasa, e a casa caiu, e a sua ruína foi completa!"

TRÊS ADVERTÊNCIAS – Explicação de Mat. 7:13-14:

O texto é de suma clareza: o caminho do aperfeiçoamento é difícil e é misteresforçar-se, “forcejar” (agônízesthe) para passar pela porta estreita. Já a permanênciano mesmo nível evolutivo, ou o retrocesso, são fáceis: tal como subir ou descer árduamontanha.

Em Lucas, Jesus não responde à pergunta a respeito do número dos que “sesalvam”; apenas adverte que não adiantam a fé e a devoção: indispensável o esforço"com luta pessoal. Também de nada vale a procedência (a raça), nem tampouco orótulo doutrinário e religioso. Os “salvos” chegarão de todas as partes e raças. E muitosdos que “parecem” últimos, são os primeiros, e vice-versa. Falando aos sacerdotes edoutores, disse Jesus: “em verdade vos digo que os pecadores e as meretrizesentrarão primeiro que vós no reino dos céus” (Mat. 21:31).

A elucidação das dificuldades, que o “espírito” encontra na subida evolutiva,corresponde a uma realidade palpável, que todos experimentamos. De fato, poucossão os que se esforçam por subir. A grande massa da humanidade ainda vive nocomodismo da matéria, nos interesses imediatos, na “estrada da perdição”, não nosentido de “inferno” nem de perdição “eterna”, mas no de desvio do caminho certo:estão “perdidos” no matagal das ilusões, nas florestas dos enganos.

Já os que acertam com a porta (e poucos são os que acertam, pois alguns pensamque se trata de devoção piedosa. Outros de estudos cerebrais de vocábulos, outros deações taumatúrgicas e milagreiras. Outros de puro mediunismo mecânico, outros deconversas com desencarnados, e tantas outras ilusões posições de corpo, exercíciosde yoga, etc. etc.), esses que acertam com a porta da evolução real, sabem que ocaminho é “para dentro”.

Então, Jesus não responde à ideia errada, de haver, no final, um grupo de salvos eoutro de perdidos eternamente. A ideia é falsa, não merece respondida: masesclarecimento, sim. Isso faz o Mestre, advertindo que não bastam os atos externos,sejam de religião e devoção, sejam de convivência com Ele (“comemos e bebemoscontigo”), nem o acolhimento que Dele tenham feito (“falaste em nossas praças”). Háuma só coisa essencial: EVOLUIR, e fazê-lo de dentro para fora.

E não julguemos pelas aparências (já o vimos ao falar do julgamento"), pois muitosque parecem pecadores, são mais santos, do que aqueles que se apresentam comovirtuosos.

Não percamos de vista, outrossim, que muitos que procuram entrar no “reino” (tero Encontro Sublime), não no conseguem: falta de evolução. Não se trata de falta demerecimento, já que não é este que determina a possibilidade do Encontro e doMergulho, e sim o grau evolutivo de cada um: não é o fato de o cálice ser de ouro, queo fará ter maior capacidade de conteúdo do que uma jarra de barro ordinário.

TRÊS ADVERTÊNCIAS – VIVER OS ENSINAMENTOS Explicação Mat. 7.21-27

21. Nem todo o que me diz: “Senhor, Senhor”, entrará no reino dos céus, masaquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.

22. Naquele dia muitos hão de dizer-me: “Senhor, Senhor, não profetizamos emteu nome e em teu nome não fizemos muitas coisas notáveis”?

23. Então lhes declararei: “nunca vos conheci: apartai-vos de mim os que praticaisa ilegalidade”.

24. Todo aquele, pois, que ouve estas Palavras, eu o comparo a um homemprudente, que edificou sua casa sobre a pedra;

25. e caiu a chuva, vieram os torrentes, sopraram os ventos e bateram com forçacontra aquela casa, e ela não caiu, pois estava edificada sobre a pedra.

26. Mas todo aquele que ouve estas minhas Palavras e não as pratica, serácomparado a um homem tolo, que edificou sua casa sobre a areia;

27. e caiu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos e bateram com forçacontra aquela casa, e ela caiu; e foi grande sua ruína.

Jesus insiste no tema anterior, demonstrando agora com exemplos mais vivos, quenão é a religião seguida que salva ninguém, nem mesmo a devoção, nem a oração,nem o mediunismo, nem qualquer coisa externa; mas apenas a vivência interior.Enquanto não vivermos integral e intimamente os preceitos, as obras exteriores serãopura casca, puro verniz que de nada servirão.

Assim a casa solidamente construída, com alicerces profundos, resiste àsintempéries; ao passo que as devoções e obras fundamentadas na vaidade e naesperança de “troca" (do trabalho pelo reino dos céus), ruirão ao menor sopro daadversidade. A fé, baseada nos homens, esboroa-se quando esses homens cometemum deslize; mas se alicerçada em Cristo, podem todos os homens falir, que Cristopermanece inabalável fundamento do bem por toda a eternidade.

A individualidade, o Espírito, sabe que nada valem as preces, as devoções, asações taumatúrgicas, o mediunismo curador ou qualquer outro, se não forem baseadasno cumprimento integral da Vontade do Pai, na obediência espontânea e alegre, naturale Jubilosa a todos os ensinamentos e preceitos, se não forem fundamentados no Amore na Humildade.

Quem assim não vive, constrói sua evolução sobre a areia, isto é, sobre os átomosda matéria transitória, sobre a personalidade passageira, e, em sobrevindo a "morte",tudo está perdido, porque fica na matéria.

Mas a construção é perene, se for alicerçada na Rocha do coração unido ao CristoInterno que em nós habita, que é nosso Eu real.

Só a construção fundamentada no Cristo Interno será sólida e eterna.

Nada a abalará.

Com efeito, tudo o que possa ocorrer-nos de fora, só atinge nossa personalidade,quer no intelecto, quer nas emoções, quer nas sensações, quer na matéria. Mas o Euprofundo é INATINGÍVEL. Nada de fora o atinge, nem fere, nem magoa, nem diminui.

Daí a impassibilidade exterior de todos os que conseguiram o EncontroPermanente e Divino: casa construída sobre a Rocha, que é o Cristo.

Todas as vezes que sofremos quando algo acontece, com isso demonstramos queainda vivemos na personalidade. Se alguém nos bate, fere ou mata, é apenas atingidoum veículo que nos foi temporariamente emprestado: nosso EU jamais é alcançado;quando nos magoam, ofendem ou caluniam, é apenas alcançado um veículo que nosfoi temporariamente emprestado: nosso EU jamais é atingido.

O verdadeiro EU é inatingível por qualquer ação externa, mesmo que a açãoprovenha de nossa própria personalidade. Por isso, o Homem que consegue a União éIMPASSÍVEL.

JESUS DESCE DO MONTE – REAÇÃO DAS TURBAS Mat. 7:28-29 e 8:1

28. E aconteceu que, tendo Jesus terminado essas Palavras, a multidão estavaadmirada do ensino dele,

29. porque ele as ensinava como quem tinha autoridade, e não como quem tinhaautoridade, e não como os escribas.

1. Quando Jesus desceu do monte, acompanhavam-no grandes multidões.

A admiração do povo provinha da autoridade pessoal com que Jesus ensinava. Osrabinos repetiam Moisés, mas Jesus modificava os preceitos básicos. Embora muitasdas expressões usadas fossem correntes à Sua época, todavia, muita coisa novaaparece no chamado “Sermão do Monte”. São flores e frutos maravilhosos, queresumem tudo o que deve praticar o Homem que realmente queira evoluir.

Terminado o ensino da Palavra (Logos), Jesus reentra em Cafarnaum, a fim deprosseguir no ministério do serviço e no magistério da palavra e ao exemplo.

A distinção assinalada por Mateus é exatamente a diferença existente entre oensino dado pela personalidade transitória (repetição do que os mestres ensinaram) e oensino ministrado pela individualidade, que é feito com a autoridade de quem bebediretamente da Fonte Divina, no Encontro Místico, as Palavras que profere,sublinhando-as com seu exemplo vivo e com sua vida perfeita de amor e de humildade.

CURA DE UM LEPROSO Mat. 8:1-4 Mc 1:40 Lc 5:12-16

1 Depois que desceu do monte, muitas turbas o seguiram. 2 Eis que um leproso,aproximou-se, o reverenciava dizendo: “Senhor, se quiseres podes purificar-me.” 3Estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: “Quero, seja purificado.” E imediatamente sualepra foi purificado. 4 Disse-lhe Jesus: Olha, não digas a ninguém, mas vai mostrar-teao sacerdote e apresenta a oferta que Moisés ordenou, em testemunho para eles."(Tradução Haroldo Dutra Dias)

Turba: A expressão grega está no plural, razão pela qual se optou pelo termo“turba”, já que o substantivo coletivo “multidão” não admite flexão de número.

Sua lepra: “foi limpada dele a lepra”.

Ação de Jesus:

Um dos fatos mais impressionantes da narrativa evangélica é a purificação desseleproso, que se entrega totalmente ao arbítrio de Jesus, demonstrando a confiançamais ilimitada, e deixando toda a ação ao critério do Mestre: “se queres”… Nada pede:apresenta o fato e confessa sua convicção íntima de que sua limpeza dependeexclusivamente da vontade de Jesus. No dizer de Marcos, Jesus se comove com essaexpressão de simplicidade e confiança, e responde também laconicamente, masunindo a ação às palavras: “quero”. Sem temer as prescrições legais que o proíbem,toca o leproso com sua mão, e em vez de tornar-se impuro legalmente, purifica-oda lepra: “fica limpo”.

Lepra nos tempos apostólicos:

A lepra era um dos grandes flagelos da Palestina a essa época, sobretudo a queeles chamavam “lepra branca”, por causa das manchas brancas que se focalizavam napele, transformando-se posteriormente em inchações, acabando por caírem osmembros aos pedaços. Hoje é mais conhecida como “leonina”, em vista dasdeformações faciais.

Afastamento do leproso:

O leproso era afastado do convívio dos centros habitados, sendo expulsos paralugares desertos. Era obrigado a gritar, à aproximação de gente: “tamê, tamê"(impuro, impuro). Realmente, a lepra era considerada mais uma impureza queuma doença (cfr. Lev. cap.13 e 14), tanto que o leproso pede que Jesus opurifique, e não que o cure.

Lepra: Doença caracterizada pela brancura (Êx 4.6) e por inchações, tumores oumanchas que desfiguram a pele. Sua descrição no Livro de Levítico (Lv 13 e 14)provavelmente incluía outras doenças da pele, além da lepra conhecida hoje. Um tipode mofo era chamado de lepra (Lv 13.47-59; 14.33-57). Os leprosos eram forçados amorar longe das outras pessoas e, quando se aproximassem delas, deviam gritar:“Imundo, imundo!” Jesus curou leprosos (Mt 8.2-4; Lc 17.11-19). Dic. Almeida

Afastamento do leproso em Levítico:

13 Então o sacerdote examinará, e eis que, se a lepra tem coberto toda a suacarne, então declarará o que tem a praga por limpo; todo se tornou branco; limpo está.14 Mas no dia em que aparecer nela carne viva será imundo. 15 Vendo, pois, osacerdote a carne viva, declara-lo-á por imundo; a carne é imunda; é lepra. Lv 13:13-15

Observo: Um detalhe na brancura da lepra que ainda poderá ser limpa. Quandochega a carne viva, declara-se “imundo” pois os sacerdotes tinham limites, como écompreensível, para a época, acrescentei.

Quando purificado: Ritual

Embora considerada incurável, Moisés estabelece um ritual para esse caso(Lev.14:2 a 32): ao ficar purificado, deveria oferecer em sacrifício, se fosse rico, umaovelha e dois cordeiros e, se pobre, um cordeiro e duas rolinhas. Verificada apurificação pelos sacerdotes, o ex-leproso retomava sua posição na sociedade.

O Leproso não podia entrar na cidade e apela para Jesus:

Não podendo entrar na cidade, o leproso aguarda Jesus na estrada e, ao vê-lopassar, lança seu apelo sincero e patético, humildemente prostrado com o rosto emterra.

Logo após a cura, Jesus adverte-o “severamente” que nada conte a ninguém doque ocorreu, e manda-o fazer a oferta ritual e apresentar-se aos sacerdotes paraverificação da cura. Afirmam os exegetas que esses constantes apelos de Jesus denada dizerem os beneficiados, prende-se ao “segredo messiânico”; no entanto, vemosnisso apenas a natural modéstia dos Espíritos Superiores, que não proclamam, nemgostam que os outros o façam, sua superioridade sobre as demais criaturas.

Lucas mais uma vez anota que Jesus se retirou para orar.

Motivos das curas:

Essas curas, narradas com pormenores pelos evangelistas, parece terem sidoescolhidas com intuito de esclarecer ensinamentos preciosos, relativos ao modo de agircom aqueles que se encontram nos diversos graus evolutivos, resgatando erros dopassado ou fixados nos vícios do presente.

As doenças e curas:

Mas de qualquer forma anotemos que as curas assim salientadas se referem a:cegueira, surdez, atrofia, corcunda, hidropisia, hemorragia, paralisia e lepra.Algumas correspondem a males do duplo etérico (nervos) como a corcunda (desvio dosossos), a atrofia (ressecamento dos músculos) e a paralisia (afrouxamento dos nervos).

Outras dizem respeito ao corpo astral, quais a hidropisia (excesso de água), ahemorragia (perda de sangue) e a lepra (apodrecimento dos tecidos).

E duas referem-se ao intelecto: a surdez (incapacidade de receber, causada peloorgulho que incha e nada recebe de fora) e a cegueira (incapacidade compreender,causada pela vaidade que obumbra o raciocínio).

Todas elas se refletem no corpo físico, o veículo mais externo e mais denso dapersonalidade, moldado pela mente de cada um, segundo sua própria capacidademodeladora.

Neste caso particular, encontramos uma personalidade que, diante do sofrimentoagudo e prolongado, conquistou a humildade e reconheceu-se “imundo”. Verificou quese achava carregado de fluídos pesados que se exteriorizavam no corpo físico, e entãovolta-se para a individualidade, para o Espírito, e confessa que, se ele, o Espírito, oquiser, poderá limpá-lo.

A técnica da purificação do corpo astral obedece à mesma técnica da purificaçãodo corpo físico denso.

Alimentação mental perniciosa: Chagas no corpo

Pela alimentação agregamos a nós fluídos alimentícios. Destes, o que éaproveitável, é assimilado ao corpo, como músculos, ossos, sangue, etc. Mas todos osdetritos são expelidos através dos órgãos excretores. Assim, quando o corpo astral se“alimentou” de pensamentos (palavras ou ações), tudo o que neles houver de bom éassimilado como experiência e aprendizado; mas todos os fluídos mentais pesados enocivos são expelidos pelo órgão excretor do astral, que é exatamente suacondensação na matéria, o corpo físico. Então, os fluídos pesados são evacuadosatravés de chagas, pústulas, furúnculos, úlceras, cânceres, lepra, etc.

Verificamos, pois, que qualquer dessas modalidades que, no dizer do povo,“purificam o sangue”, também, na realidade, purificam o corpo astral (que anima ocorpo justamente através da circulação sanguínea: daí serem chamados “animais”aqueles que já possuem o corpo astral desenvolvido, e, portanto, já utilizam um sistemacirculatório eficiente e tanto mais completo, quanto mais desenvolvida for sua alma (oucorpo astral).

Mais de uma encarnação para evacuar a material mental nociva:

A evacuação dos fluídos pesados é feita através do corpo denso e sobretudoatravés dos tecidos epiteliais, externos ou internos. Então compreendemos que essas“doenças” são necessárias para nossa limpeza, e indispensáveis ao nosso progresso,sendo, por conseguinte, de suma utilidade para nossa evolução. Quando a limpezaestá terminada, a doença cessa. Mas, por vezes, a quantidade de matéria fecalastral é tão grande, que mais de uma existência terrena é consumida em suaevacuação.

Curar e Purificar

Daí o grave engano dos que pedem a cura, quando deviam pedir a purificação, pormais dolorosa que fosse, tal como nos ensina a lição evangélica do leproso deCafarnaum.

Quando, pois, a personalidade atinge esse grau de compreensão e recorre aoCristo Interno, este toma a iniciativa de limpar a personalidade do resultado cármicodos vícios do passado delituoso. No entanto, não é “de graça”: há mister trabalhar emsetores estabelecidos para cada um, de acordo com seus casos particulares.

No caso deste leproso (desta personalidade que havia esgotado o resgate cármico)a ordem é apresentar-se ao sacerdote e cumprir o ritual, ou seja, seguir ainda a trilhade uma religião ritualística, indispensável por enquanto a ele para evolução do próprio“espírito”. Não lhe seria possível passar do estado em que se encontrava, para umascetismo avançado, porque a evolução não dá saltos. Sabedoria do Evangelho

Recordando:

Após a morte do Batista, Jesus vai para Cafarnaum, depois de proclamar as Bem-aventuranças e chegando a cidade, encontra o leproso, que não poderia está ali e simno vale, fora do contato com o povo. Os impuros não podiam entrar no templo eleprosos deviam ficar bem longe, conforme os preceitos judaicos da questão daimpureza. Jesus, o Sumo Sacerdote do Altíssimo, após mandar avisar João por seusdiscípulos que vieram indagar se ele era o Messias ou deveriam esperar outro, dizendoao Batista que todos os que estavam longe da cidade e os que não podiam entrar notemplo devido a impureza, agora, com Ele, que era (é) o novo templo, a nova Torah,podiam se aproximar e receber alento: Vinde a mim todos vós que estais aflitos esobrecarregados.

Jesus percorre toda Torah, reavivando a mente de todos nós:

O Batista representa todos os profetas do Velho testamento que viram preparar ocaminho, que João resume na total dedicação ao preparar o caminho. Com a tentaçãono deserto, Jesus mostra a superação. Enquanto os israelitas, ao saírem do Egito, emdireção à terra prometida, estavam cheios de reclamações, de desobediência, vindodos “céus” o maná, as cordonizes, às águas de Mará, água das rochas, com Jesus e aobediência, e com ele, uma nova clareza, que a ajuda, o caminhar vem através dos“irmãos” de caminhar, pois o maná agora chega através do reconforto dos anjos, dosEspíritos que já atravessaram o deserto e conseguiram chegar a Jerusalém Celestial,como diz Hebreus.

Mateus diz que Jesus ao ouvir que João fora entregue a prisão, inicia o projeto doEvangelho, retirando-se para a Galileia, deixando Nazaré e dirige-se para Cafarnaum.Ali encontra Pedro e André, João e Tiago. Jesus e os quatro percorriam toda Galileia,ensinando nas sinagogas, e a fama espalhou-se e começaram a aparecer os doentesdo corpo e espírito. Dita o Sermão do Monte, o primeiro poema de amor para entendero Pai, através do amor, pois o amor é pacifico, não invejo e nem suspeita mal. Emseguida ensina os discípulos dizendo a eles que são o sal da terra, e fala da candeia,essa luz da compreensão que teve iluminar a todos e não ficar presa ao egoísmo,como era prática dos Judeus, considerando irmãos somente aqueles que eram da raça,onde a luz deve brilhar para que todos vejam. Diz também que não veio destruir a lei enem os profetas, e sim cumpri-los e fazer surgir “a letra propositalmente” escondida por

trás das palavras, pois era chegando aos tempos de tudo ser digo as claras, não maisem oculto e diz que será grande nos reinos dos céus aquele que não violar e praticaresses ensinos. Depois diz que ouviram o que foi dito, mais agora, porém, diz de outramaneira, conforme narra Mateus 5:21-48, o resumo de todos os preceitos lidoequivocadamente, como a oferta, do divórcio, da lei do olho por olho, dá-lhes novainterpretação. Após falar do orgulho das obras praticadas diante dos homens, ensina opai nosso. Em seguida pede para acumularmos tesouros nos céus, pois os daqui osladrões roubam e as traças consomem, e pede para confiar trabalhando na justiça,conforme está no 6:19-34. Dá-nos três proibições, realçando a questão do julgamento,não dar o que é santo aos cães e nem lançar as pérolas aos porcos, mostrando-nosque aquele que acha o tesouro, escondeu-o, vende tudo o que tem e compra o campoe toma posse do tesouro. Perolas aos porcos é igual ao médico que vai tratar a doençae toma todos os cuidados para não contrair sua doença. Quando se acha um tesourono campo alheio, pois era costume enterrar os pertences valiosos, e alguns morriam, ecom isso, a caça era feita. Ao encontrar o tesouro devemos nos munir deentendimento, juntando tudo que temos para sua aquisição, com as renúncias etc. Enão jogar pérolas aos porcos e entendo que existem níveis diferentes de compreensãoe temos que baixar nossa “vibração” ou falar na mesma língua de entendimentodaqueles que preferem está alimentando-se com os porcos por opção, como naParábola do filho pródico. Depois diz que devemos pedir e receberemos conformenossas necessidades, dizendo para fazer aos homens aquilo que queremos que elesnos façam. E após esses esclarecimentos, as turbas estavam maravilhadas, poisensinava como quem tem autoridade. Nas portas de Cafarnaum, encontra o leproso e ocura, conforme diz Mateus 8;1-4. Eis o resumo. (Set/2014). Depois de curar o leprosona entrada da cidade, Jesus ao entrar em Cafarnaum, portanto, dentro da cidade,encontra o centurião. (disse eu, escrevi)

CURA DO SERVO DE CENTURIÃO. Mat. 8:5-13 Lc 7:1-10 Jo 4:43-54

5 Entrando em Cafarnaum, aproximou-se dele um centurião, suplicando-lhe: 6 edizendo: Senhor, meu servo está deitado em casa, paralítico, terrivelmente afligido pordores 7 Disse-lhe (Jesus): “Eu, indo, o curarei.” 8 Respondendo, disse o centurião:"Senhor, não sou digno de que entres sob p meu teto, mas somente te expresses porpalavra, e meu servo será curado. 9 Pois também eu sou um homem sob autoridade,tendo abaixo de mim soldados; e digo a este: vá, e ele vai; e a outro: vem, e ele vem; edigo ao meu servo: faze isto, e ele o faz." 10 Quando (isso), maravilhou-se Jesus edisse aos que o seguiam: "Amém vós digo, com ninguém em Israel encontrei tamanhafé 11 Eu vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente, e se reclinarão (à mesa)com Abraão, Isaac e Jacó no Reino dos Céus. 12 Os filhos do Reino, porém, serãoexpelidos para a treva exterior. Ali haverá o pranto e o ranger de dentes." 13 E Jesusdisse ao centurião: “Vai!, Como creste seja feito a ti, e o seu servo foi curado naquelahora. (Tradução Haroldo Dutra Dias)

Sinfonia de Feitos (Amélia Rodrigues) Mat.8:1-13 Lc 5:1-9

Os caminhos são longos e difíceis de ser vencidos. As multidões se revezam e ostumultos não cessam.

Em menos de três anos Ele percorreu aqueles sítios áridos, passando pela Galileiavárias vezes, de um a outro ponto; depois visitou a Jerusalém despótica por diversasocasiões, especialmente para ver o lugar onde deveria ser executado; alongou os Seuspassos pelas longínquas regiões de Tiro e Sidom, na fronteiriça Fenícia; nas barcasenfunadas atravessou o lago de mais de dez quilômetros de largura e alcançou aDecápole, a Batanéia, conseguindo levar a voz e o exemplo à Cesareia de Felipe.

Pausa: Tiro – Porto da Fenícia situado numa ilha ao norte do Carmelo e ao sul deSidom (1Rs 9.10-14; Is 23; Ez 26—28; Mc 7.24-31; At 21.3-7).

Nunca repousava. O tempo, que urgia, voava ao Seu lado, que o ultrapassava ematividades ininterruptas.

As batalhas são cruéis e as armas que usavam os Seus inimigos gratuitos – ospermanentes adversários da Humanidade – são a traição e a infâmia, o suborno dossentimentos e a mentira, que se espalham como rastilhos de pólvora e são do agradode todos quantos as aceitam.

A Sua fama precede-O e Ele não tem o direito a pouso de paz nem o repouso darecuperação, senão nos grandes silêncios com Deus.

Estando em Caná, após o fenômeno da transformação da água em vinho, a pedidoda Sua Mãe, um régulo (Rei de pequeno território. Chefe de tribo bárbara, pai defamília) O alcançou, e porque o filhinho estivesse vitimado por enfermidade mortal, emestado desesperador, suplicou-lhe: (Aqui Amélia diz que o pedido aconteceu em Canána Galileia e o pai pede que desça a Cafarnaum)

– Senhor, desce o mais depressa possível, antes que meu filho morra.

Penetrando o abismo da consciência humana com a Sua acuidade incomum, Elepercebe o amor desse pai angustiado e perscruta da enfermidade do filho, a fim denão infringir a Lei de Causa e Efeito, e diz-lhe com misericórdia:

– Vai, O teu filho vive.

Uma explosão de júbilo, dança na alma do genitor aflito que corre de retorno ao lar,para conferir a bênção de que foram objeto, ele e a sua família.

E porque seguisse na direção de Cafarnaum, à entrada da cidade, um leproso emdesespero reconhece-O e grita em prantos:

– Se queres, podes limpar-me!

É mais um desafio. Os que o seguem se detêm observando. É sempre a mesmasociedade que quer ver sem cessar, até a exaustão, sempre insatisfeita e duvidosa.

Um sentimento de profunda misericórdia domina o Mestre, e Ele, tocando oenfermo responde, complacente:

– Quero.

Num átimo, como se um raio fendesse a claridade do dia alcançando o enfermo,curou-o.

Sem poder dominar-se o homem canta e exalta-O, no que vai repreendido,silenciando, para prosseguir narrando o feito, logo que se encontra distante do SeuAutor.

Cafarnaum estava esplendente de luz e movimentação.

A chegada do Rabi provoca alteração expressiva no seu lufa-lufa cotidiano.

Embora Ele tentasse passar discreto, isso era impossível ali, como se daria emoutros lugares.

Desse modo, como era do Seu hábito, ao amanhecer, pôs-se a pregar para amultidão na proa do barco de Pedro.

Encerrando o discurso iluminativo, disse ao Filho de Jonas:

– Faze-te ao largo e lança as redes (*) Lucas 5:4

O hábil pescador, que conhecia profundamente o seu ofício, e percebendo aimpropriedade da proposta, redargui:

– Senhor, havendo trabalhado toda a noite, não apanhamos um só peixe, porqueas circunstâncias são adversas à pescaria, face ao aspecto das águas, às condiçõesatmosféricas pesadas.

Ele, porém, insiste:

– Faze-te ao largo.

Não há outra alternativa, senão obedecer. Entretanto, esclarece:

– Sob Tua palavra, tentarei Mestre, conquanto todos saibam que vou praticarum ato incompreensível a qualquer pescador.

Pedro remou com desconfiança e rebeldia, e atirou as redes às águasencrespadas.

Imediatamente começou a gritar, solicitando auxílio aos amigos que seencontravam em outro barco e correram na direção, deslizando rapidamente sobre asondas.

Reunidos, notaram ao peso das redes, que mal podiam puxar, conseguindorepletar ambos os barcos com peixes.

Chegando à praia, ainda em aturdimento, Simão gritou, atemorizado:

– Senhor, ausenta-te de mim, que sou um pescador. (Amélia usa “ausenta-te” emvez de “afasta-te”)

Mas, Ele, porém, misericordioso e sábio, elucidou:

– Não temas, Simão; de agora em diante, serás pescador de homens!

Agora, nada mais poderá deter a marcha da evolução. Ele não mais evitará quesejam anunciados os Seus feitos, nem comentadas as Suas ações.

A luz veio para clarear o mundo em sombras. Era a Luz que resplandece atravésdos milênios e não O souberam aceitar. Mas a Luz permaneceu e ressurge sempreesbatendo as sombras interiores e anunciando o Grande e Maravilhoso Dia dafelicidade geral.

Os déspotas, os perversos, os ignóbeis, os bajuladores e os subservientes, osexploradores e aproveitadores do povo ignorante, os dominadores de um diapassaram, foram substituídos, odiados e esquecidos, enquanto Ele, perseguido emalsinado, obstinadamente rejeitado, prossegue chamando os homens e as mulheresà renovação.

A partir daqueles momentos, nunca mais permanecerá muito tempo em algumlugar, estará sempre mudando de caminho e praias, aportando junto aos destroçadoscorações.

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(*) Mateus: 8:1-13; Lucas: 5 – 1 a 9

Até o Fim dos Tempos – Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Amélia Rodrigues

O mais importante – Amélia Rodrigues Mat. 12:1-8 Lucas 6:6-11

Em outro sábado, Jesus entrou na sinagoga, e começou a ensinar. Aí havia umhomem com a mão direita seca. Os doutores e os fariseus espiavam, para ver se Jesusiria curá-lo durante o sábado, e assim encontrarem motivo para acusá-lo.

Mas Jesus sabia o que eles estavam pensando, e disse ao homem da mão seca:“Levante-se, e fique no meio.” Ele se levantou, e ficou de pé. Jesus disse aos outros:“Eu pergunto a vocês: a Lei permite no sábado fazer o bem ou fazer o mal, salvar umavida ou deixar que se perca?”

Então Jesus olhou para todos os que estavam ao seu redor, e disse ao homem:“Estenda a mão.” O homem assim o fez, e sua mão ficou boa.

Eles ficaram com muita raiva, e começaram a conversar sobre o que poderiamfazer contra Jesus. Lucas 6:6-11)

O partido dos fariseus, desde o momento da helenização da cultura judaicainsurgiu da forma violenta contra os inovadores. A intolerância acirrava os ódios e,várias vezes, levantaram-se os mais exaltados, que foram vencidos em guerrascruentas quão sanguinárias.

Judas de Sarifeu ou Mateus de Margalot, vencidos pelos adversários, foramqueimados vivos, acabando-se as ambições do predomínio das suas ideiasapaixonadas.

De pequena monta aconteceram sedições periódicas, tentando reconquistar osespaços perdidos, sendo que ficara célebre pela tragédia a encabeçada por Gamalaque, às margens do Tiberíades, desfraldava a bandeira que tinha como lábaro: Aliberdade vale mais que a vida.

O farisaísmo pretendia restabelecer a pureza e a prática exagerada da Lei, vivendode forma subterrânea, que não fosse detestado pelos governantes, exigindo, porém,subserviência e entrega total ao prescrito, mesmo que de forma hipócrita, na qual aaparência se fazia mais importante do que a realidade.

Exigia o cumprimento dos mínimos comportamentos estabelecidos, desde onúmero de passos que se podia dar em um Sábado, até o tamanho e peso de qualquervolume a ser conduzida: a forma de preservar a água para as abluções, os alimentos e

o vestuário, imprimindo a marca odienta da fiscalização contra os erros alheios,cerrando os olhos às próprias indignidades que se permitiam aos seus membros.

Implacável, encontrava-se por toda a parte, como praga destruidora em seara deesperanças, espalhando desde as mais remotas aldeias da Judeia até as longínquasparagens da Galileia.

A ambição da governança não lhe era desprezada, tudo fazendo para conseguiratemorizar aqueles que se lhes opunham, urdindo intrigas vis e espalhando mentirasardilosas, quão infames.

Jesus não se pôde furtar à sua presença peçonhenta, e onde se anunciava, lá seencontravam os esbirros sofistas do partido infame.

Os céus resplandeceram ante as claridades abençoadas da Primavera e Jesustransitava pelas paisagens luminosas da Galileia, descendo pela estrada de Naim,mergulhando nos campos dourados de trigo em fogo.

Os discípulos seguem-no.

É um Sábado, e a marcha se fará extensa. Deverão chegar ao lago onde amultidão os aguarda.

O próprio Mestre exulta. Uma alegria domina-O e Ele sente que o reino seespraiará como os grãos daquela seara que somente após triturados alimentam e dãovida. Então será necessário que Ele também experimente o martírio, sejam trituradosos Seus ossos, para que o Seu sangue prepare as carnes amassadas, o pão da luzque sustentará a humanidade por todos os dias do futuro.

A Natureza em festa prepara-se para se transformar na pauta musical em que Elecantará a Sinfonia do eterno amor.

Ao cair da tarde chegam a Cafarnaum e seguem diretamente para a casa deSimão Pedro.

Os comentários antecederam-nos e alguns murmúrios chegaram aos ouvidos dosfariseus: Tanto Jesus como os Seus comeram alguns grãos de trigo na viagem,dominados pela fome, e isso era proibido no dia de Sábado – colher e alimentar-se.

Os covardes, porém, sem maiores argumentos silenciaram e aguardaram.

Uma semana depois, no próximo Sábado, ei-lo na sinagoga de Cafarnaum, ondedeverá falar.

O Seu verbo se ergue e as interpretações das Escrituras passam a terdiferenciadas musicalidade – são os anúncios do reino de Deus.

Estimulados por algum malicioso, que desejava provocar um escândalo esurpreender o Rabi em desrespeito para com a Lei, alguém sugere a um enfermo quetem uma das mãos mirradas, para que lhe peça a bênção de cura, o que era proibidoatender-se naquele dia.

Seria grave ofensa à Lei, em plena sinagoga, no dia da proibição, reservado aorepouso, atrever-se a operar, diante dos representantes sacerdotes e deles mesmos,dos funcionários, do povo e dos próprios réprobos, que eram os fariseus, o milagresolicitado, mesmo que sob a ajuda de Deus.

Percebendo toda a trama, que se exteriorizava dos escusos abismos do carátervenal (venal: que se vende) dos Seus inimigos, o Mestre, sentindo-se desafiado, e jádisposto a enfrentar a tempestade política, antegozando o sacrifício a que sesubmeteria, propôs ao enfermo:

– Levanta-te, e fica de pé no meio da sala.

O enfermo, que não se dera conta da ocorrência maldosa, pôs-se em pé, aturdido,e o Mestre, sereno e nobre, voltou-se para a massa que acompanhava o desenrolar doacontecimento, e interrogou:

– Quero que me respondais a uma pergunta. É lícito, nos sábados, fazer bem oufazer o mal? Salvar uma vida ou matar?. (Vide Mateus 12:1-8)

Houve uma perturbação feral, em forma de perplexidade ou receio. Os inimigoscompreenderam onde Ele desejava chegar. Pusilânimes, possuíam mente ágil esabiam antecipar ocorrências, porquanto era essa a sua habilidade maior paraconfundir os opositores. Não tendo outra alternativa, porém silenciaram.

O Mestre prosseguiu impertérrito:

– Estende a tua mão!

Os olhos tranquilos do Senhor irradiaram estranha claridade. Ele distendeu a mãogenerosa na direção do doente, e enquanto tremia, tinha-se a impressão de que amassa de carne, ossos, vasos e veias movimentavam-se dentro de um molde, de umaforma invisível e recuperava a normalidade.

O espanto tomou conta de todos e o deficiente pôs-se a gritar. Havia recuperado a

mão enferma, que movimentava saudável e ágil.

Ante o silêncio que se fez natural, espontâneo, surpreendente, o Rabi concluiu,impondo respeito aos inimigos:

– O Sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do Sábado.

Sem conceder-lhes qualquer outra oportunidade, deu-lhes as costas e saiu.

Será sempre assim que Ele agirá. A criatura é maior que as circunstâncias; oBem prevalecerá sempre, e porque vem de Deus, é expressão do Pai. As aparências esuperficialidade do pensamento humano, suas paixões e apetites desenfreados cedemlugar ao que é legítimo e transcendente, que é a vida em si mesma.

As leis terrenas foram elaboradas para coibir o abuso, desrespeito aos direitos dosoutros, a exaltação dos instintos servis, a inferioridade, nunca para se transformaremem uma adaga ameaçadora, oscilante no alto, em débil fio, prestes a cair e decepar acabeça de qualquer criatura inadvertida.

Mesmo o Estado tem limites sobre a vida e toda vez que os extrapola perde orespeito por si mesmo e os seus administradores se transformam em títeres, emverdugos soberbos, aves de rapina que triunfam sobre os cadáveres nos quais sebanqueteiam.

Jesus cresce como o Dia que avança saindo da Noite.

Os Seus inimigos se multiplicavam, dominados pela inveja, pela própriainferioridade, pela morbidez das suas mesquinharias.

Todos os homens e mulheres de bem, idealistas, voltados para as causasenobrecedoras da Humanidade os sofrerão. Eles permanecem na Terra comoobstáculos ao progresso. Incapazes de amar, de servir e de tornar-se modelos, odeiama todos aqueles que o são. Levantam-se sempre para anatematizar, discutir e apontarerros.

Jesus nunca lhes deu importância. O mesmo deve fazer aqueles que estejamiluminados pelos convites do Evangelho e da Vida.

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(*) Lucas 6:6-11.

Nota da autora espiritual. (*) Mateus: 8-1 a 13; Lucas: 5 – 1 a 9

Até o Fim dos Tempos – Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Amélia Rodrigues

Cura do Paralitico - Albert Vanhoye

Olha, não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote o oferece-lhepela tua limpeza (purificação) o que Moisés ordenou (determinou), para lhes servir detestemunho. Mc 1:44

Mas, no dia em que aparecer nela carne viva, será imundo. Lv 13:14

Jesus leva, assim, o leproso a cumprir a lei judaica, que encarregava os sacerdotesdo controle sanitário dos leprosos (Lv 13:14). Tal atribuição, que hoje nos é estranha,fundamentava-se na ideia que tinha então da lepra: era considerada mais como umaimpureza do que uma enfermidade. Por isso não se falava de cura, mas de“purificação” (1). Por serem impuros, os leprosos não podiam participar nascelebrações religiosas, para as quais se requeria pureza ritual. Encarregado decelebrar o culto, o sacerdote deveria certificar-se da pureza ritual dos participantes econtrolar, em particular, a eventual cura dos leprosos.

No episódio evangélico, Jesus reconhece essa competência do sacerdote judeu elhe concede seu lugar nas ofertas rituais prescritas pela lei, ofertas que passavampelas mãos do sacerdote. No entanto, a atitude de Jesus infringiu exteriormente a lei dapureza que proibi tal contato, porém, ao mesmo tempo, cumpriu a intenção desta leiporque, com este gesto, devolveu a pureza ao leproso. Com isso, Jesus mostra-sesuperior à lei, que era incapaz de curar a lepra e superior ao sacerdote, cujo papel selimitava a constatar o estado do leproso.

(1) Onde o texto grego afirma “purificar-se”, “sejas purificado” e “purificação”,algumas traduções modernas põem “curar-me”, “seja curado” e “cura”, impedindoassim, o leitor de descobrir a lógica interna da narrativa.

Do Livro Sacerdotes Antigos e Sacerdote Novo – Albert Vanhoye

CURA DA SOGRA DE PEDRO Mat. 8:14-15 Mc 1:29-34 Lc 4:38-41

14 Jesus foi para a casa de Pedro, e viu a sogra de Pedro deitada, com febre. 15Então Jesus tocou a mão dela, e a febre a deixou. Ela se levantou, e começou a servi-los.

DIVERSAS CURAS Mat. 8:16-17

16 À tarde, levaram a Jesus muitas pessoas que estavam possuídas pelo demônio.Jesus, com a sua palavra, expulsou os espíritos e curou todos os doentes, 17 para quese cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías: "Ele tomou as nossas enfermidades ecarregou as nossas doenças."

OS DESAFIOS DO DISCIPULADO Mat. 8:18-22 Lc 9:57-62

18 Vendo grandes multidões ao seu redor, Jesus mandou passar para a outramargem.19 Então um doutor da Lei se aproximou e disse: “Mestre, eu te seguirei aonde querque fores” 20 Mas Jesus lhe respondeu: “As raposas têm tocas e as aves do céu têmninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça.” 21 Outro, que eradiscípulo, disse a Jesus: “Senhor, deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai.”22 MasJesus lhe respondeu: “Siga-me, e deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos.”

Nesta lição, privativa de Mateus e Lucas, podemos aprender o modo comodevemos encarar a relação entre Mestre e discípulos.

O primeiro caso é de alguém (Mateus esclarece tratar-se de um escriba, profissãorecrutada entre os fariseus), que espontaneamente se propõe a seguir Jesus, paraonde quer que ele vá (Mt.18)

Qual seria sua intenção profunda? Duas hipóteses apresentam-se plausíveis; ouele pretendia realmente ser discípulo para progredir (e neste caso a resposta de Jesusnão o desanimaria); ou seu desejo era o seguir para escrever as lições que ele dava,quer para seu uso, quer para cedê-las a quem as desejasse, quer para levá-las aosfariseus, quer para “empregar-se”, mediante pagamento, para exercer sua profissão.

Jesus limita-se a uma resposta que, no fundo, constitui uma recusa: ele não tempousada fixa, não dispõe de um leito. Como empenhar-se em despesas com alguém?Não tendo conforto para si, não podia dispensá-lo a outrem. E o caso encerrou-se aí.

Mas o final desconhecemos. Teria ele aceito as condições e acompanhado Jesus?Teria desanimado e se retirado? Tratar-se-ia de um dos doze, por exemplo, JudasIscariotes, cujo chamamento não aparece nos Evangelhos, e cujo ingresso no ColégioApostólico talvez tenha sido por espontânea vontade?

O fato de só mais tarde aparecer o caso, depois de ter sido ele citado comodiscípulo nada importa. Pode o evangelista só havê-lo recordado mais tarde e,desejando que não fosse esquecida a resposta do Mestre, tê-la registrado mesmo fora

da ordem cronológica.

O segundo caso é diferente: trata-se de um chamado positivo de Jesus: “segue-me"! O discípulo convocado ao serviço solicita um adiamento: “deixa-me primeiroenterrar meu pai”. Que significado pode ter essa frase? Podia tratar-se de um pai idoso,e o discípulo, querendo obedecer ao mandamento “honrar pai e mãe”, pede paraatender ao pai, aguardando que ele passe para o outro lado da vida: sentir-se-ia entãolivre para seguir o Mestre. Podia tratar-se, ainda, de um caso real, de morte realmenteocorrida, e á espera para o sepultamento seria coisa de um a dois dias. Entretanto,pela resposta de Jesus, parece mais viável a primeira hipótese; “deixa que os mortos(encarnados) enterrem (cuidem) de seus mortos (encarnados); tu, porém, entrega-te àpregação do reino de Deus”. Teria ele ido? Ou teria preferido ficar com o pai? Tambémaqui os evangelistas não esclarecem, deixando livre campo às especulações. Cirilo deAlexandria (Patrol. Graeca- v- 8. c.1129) diz tratar-se do diácono Filipe (At. 6:5). Masnenhuma prova aduz dessa opinião, que talvez fosse resultante de uma tradiçãocorrente no Egito. Ora, Filipe foi o mistagogo do ministro da rainha Candace, da Etiópia(A-l8:27), país limítrofe do Egito.

E o anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o lado do sul, aocaminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserta. E levantou-se, e foi; eeis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, oqual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém paraadoração. At 18:26-27

O terceiro caso, apresentado apenas por Lucas, também parece ter sido aresposta a um chamado do Mestre. Ele aceita a tarefa, mas quer despedir-se dos seus.A resposta é dura: “se queres vir já, estás apto ao discipulato; mas se voltares os olhospara trás, não serves” (cfr. Gên. 19:26). A comparação com o lavrador procede: sequem guia o arado olha para trás, o sulco sai torto (cfr. Filp. 3:13-14).

E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal. Gn 19:26

Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é

que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estãodiante de mim, 14 Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus emCristo Jesus. Fp 3:13-14

Através de Jesus, o Cristo já manifestara as condições por Ele exigidas, para aaceitação de Seus discípulos amados. Esse ensino é agora exemplificado com trêscasos específicos, a fim de demonstrar a superioridade da união crística sobre trêssituações distintas e que, de modo geral, são as mais aduzidas para recusar-se opasso decisivo: e isso porque são três situações em que o homem tem a impressão deque se trata de três deveres fundamentais: o dever para consigo mesmo, o dever paracom os genitores e o dever para com os familiares.

Cristo anula os três: o dever máximo diz respeito ao Espírito eterno, não à matériatransitória.

Por conseguinte, o ensino é dirigido para esclarecer que nem as obrigações paracom o próprio corpo, nem para com os pais, nem para com esposa e filhos devemafastar o candidato do caminho espiritual.

O exemplo dado é o vivido pela personagem humana Jesus, que não tinha “umapedra sequer para repousar a cabeça”. E a lição prossegue com duas regras básicas:os vivos no Espírito não devem preocupar-se com os mortos na carne, isto é, os quevivem na individualidade, não podem prender-se a laços puramente carnais esanguíneos (corpo físico e duplo etérico), mas à família espiritual divina (Ef. 2:19). Diráainda que é mister amá-lo mais que ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos (cfr. Luc.14:26 ou Mat. 10:37, vol. 3.º) para ser digno de dizer-se Seu discípulo.

Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos,e da família de Deus. Ef 2:19

Amélia Rodrigues:

Enquanto iam andando, alguém no caminho disse a Jesus: “Eu te seguirei paraonde quer que fores.” Mas Jesus lhe respondeu: “As raposas têm tocas e os pássarostêm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça.” Jesus disse aoutro: “Siga-me.” Esse respondeu: “Deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai.” 60Jesus respondeu: “Deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos; mas você, váanunciar o Reino de Deus.” Outro ainda lhe disse: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixaprimeiro que eu vá me despedir do pessoal de minha casa.”Mas Jesus lhe respondeu:“Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus.” Lucas9:57-62

Caminhavam, e havia música leve no ar, ciciada pela ramagem do arvoredosuavemente sacudido pelo vento passante.

— Mestre, — disse um deles, e a voz se embargou pela emoção que lhe estrugiano peito — eu seguirei contigo aonde quer que fores… (*)

Houve um “stacato”.

O envolvente olhar do Senhor caiu-lhe, enquanto respondia, e ele se fez aindamais comovido.

— “As raposas têm covis e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho doHomem não tem onde reclinar a cabeça…”

O silêncio se fez espontâneo.

Seguir Jesus…

Bandoleiros dormem em palácios e meretrizes se prostram sobre leitos de marfim emogno, acolchoados de veludos e sedas…

Saltimbancos se fazem onzenários e mentirosos triunfam na abastança.

Homicidas amparados pela habilidade de juízes e advogados infiéis à Justiçaerguem opulentos apartamentos para o repouso, e “cabos de guerra” condecoradospelo sangue dos irmãos conseguem monumentais residências para viver.

A astúcia consegue o poder e a impiedade produz a dominação…

… O Filho do Homem não tem uma pedra para reclinar a cabeça.

Sua é a Casa Universal: ilimitada, não dimensional.

Segui-Lo é renunciar às vãs ambições da posse, das quiméricas aquisições quenão transpõem o túmulo. Permutar os limites do que se toca pelo horizonte sem-fim dasrealizações espirituais.

É ter sem deter.

Possuindo sem dominar.

Ter os céus como teto, num zimbório brochado de estrelas como gemasengastadas num dossel de insuperável beleza.

Não ter nada e tudo possuir. Sem amanhã, num perene hoje a perder-se naverticalidade do amor.

— “Seguir-te-ei onde quer que fores”, — dissera o discípulo.

Ignorava, porém, que o termo terreno para Ele era uma cruz de hediondo horror,que se transformaria depois em florescente caminho de esperanças para oscaminhantes do futuro.

Como a jornada se aureolava de sol e o cântico da Natureza enchia demodulações o dia, um outro acercou-se do Mestre e tomado de singular entusiasmo,após o silêncio extenuante que se fizera, abordou:

— Sim, seguirei contigo, — sorriu algo encabulado e ao mesmo tempo jubiloso. —Mas, deixa-me primeiro sepultar o meu pai, que está morto.

Morte e vida.

Morrer é começar a viver e não raro viver é mergulhar nas sombras da morte...

Havia um cadáver à sua espera e a vida o chamava à ação.

O corpo querido que fora progênie do seu corpo, agora em jornada dedesagregação molecular e aquele espírito igualmente amado, que o convocava para aperene imortalidade.

O Mestre estugou o passo e fitou-o.

O olhar transparente, desnudando o neófito, reconfortava-o. Um oceano de paz emduas bagas de visão clarificadora.

— “Deixa aos mortos — falou Ele com nobre energia — o cuidado de enterrar os

seus mortos”.

Começou a reflexionar enquanto O seguia. Muitos se afadigam pelas coisasmortas.

Os corpos estão vibrando, mas são a morte, pois que passam. Carga para amarcha da evolução, projetam sombra e ensejam luz enquanto avançam. Depois... Hátantos agregados às sombras, aos interesses escusos: que estes sepultem os mortos!

Vivos para a Verdade. Mortos para a Vida.

Para viver era-lhe necessário trocar a pesada canga da ambição e da limitação docorpo para fruir as legítimas aspirações do ser.

— Deixai aos mortos…

* * *

A cidade está à vista.

O grupo exulta de raro contentamento.

Novas experiências e novas lições são prenunciadas.

O Mestre exultante avança e outro, quase tímido, fala, resfolegante:

— Também eu seguirei contigo. Permite-me, porém, que me vá despedir dos meusfamiliares.

Foi repentino. As palavras bordavam os lábios do Senhor como flores sublimesdesabrochando em gleba rica e risonha.

— “Aquele que toma da charrua — Ele falou docemente — e olha para trás não édigno do Reino dos Céus...”

O campo aí está eriçado de abrolhos e rico de dificuldades esperando osinstrumentos que lhe revolvam os empeços e os afastem.

A terra dos corações se apresenta vencida pela erva daninha da má vontade e dopessimismo.

O agricultor que sulca o solo e o deixa, fita-lo-á mais tarde infelicitado pela invasãode maior quantidade de plantas perniciosas. Os sulcos ressecam ao sol ou setransformam em pântano sob chuva, ao abandono…

Tomar a charrua e avançar.

Indecisão é insegurança.

Medo significa ignorância.

Timidez representa experiência em começo.

Dubiedade traduz pusilanimidade.

Decisão firme e marcha segura no bem é manifestação de espírito que seencontrou a si mesmo e sabe o que deseja, como quer e para que quer: não olha paratrás!

— Seguirei contigo Mestre — disseram todos.

Apresentavam, porém, condicionais, justificavam indecisões.

Até hoje, há os que pretendem seguir Jesus.

Avancemos, porém, seguindo além do pretender. Sigamos já.

__________________

(*) Mateus: 8-19 a 22 Lucas: 9-57 a 62 Notas da Autora espiritual.

Luz do Mundo – Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Amélia Rodrigues

A TEMPESTADE ACALMADA Mat. 8:23-27 Mc 4:35-41 Lc 8:22-25

23E, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram; 24 E eis que no mar selevantou uma tempestade, tão grande que o barco era coberto pelas ondas; ele, porém,estava dormindo. 25 E os seus discípulos, aproximando-se, o despertaram, dizendo:Senhor, salva-nos! Que perecemos. 26 E ele disse-lhes: Por que temeis, homens depouca fé? Então, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar, e seguiu-se umagrande bonança. 27 E aqueles homens se maravilharam, dizendo: Que homem é este,que até os ventos e o mar lhe obedecem?

Ao cair da tarde, já tendo terminado o ensino, Jesus ordena que se passe “para ooutro lado”. A frase era suficiente, num país como a Palestina, dividido ao meio denorte a sul pelo rio Jordão e seu lagos (Mar Morto e Lago de Genesaré, o qual, nodomínio romano, passara a denominar-se Mar de Tiberíades), formando a faixaocidental (Cisjordânia) e a oriental (Transjordânia).

· Transjordânia: Grande planície situada a leste do rio Jordão. Hoje é ocupadapela Jordânia; nos tempos do NT compreendia a Peréia e Decápolis; nos tempos do ATcompreendia Basã, Gileade, Amom e Moabe.

O evangelista Marcos (4:36) anota o pormenor de que Jesus foi “assim comoestava”, ou seja, não desceu a terra para apanhar o manto, recomendável numatravessia do lago durante o frio da noite, a 200 metros abaixo do nível do mar, onde asvariações climáticas são bruscas.

O lugar de honra situava-se na popa, perto do leme, e o passageiro sentava-segeralmente num tapete velho, apoiando-se num travesseiro de couro. Recostando-se, cansado – embora a elevação espiritual extraordinária, possuía um corpo físico, e,portanto, estava sujeito ao cansaço - adormeceu para refazer as células fatigadaspelo trabalho exaustivo dos últimos dias, sobretudo pelo magnetismo gasto nas curas.

Note-se que esta é a única vez em que os Evangelhos nos apontam Jesus adormir.

O barco seguia normalmente sua rota para a margem oriental, quer impelidapelos remos, quer, mais possivelmente, pela vela que aliviava os braços dos discípulos.

A agitação violenta das águas do Tiberíades, provocada por correntes de ar quedescem pelo vale do Jordão, são, ainda hoje, tão repentinas, que é difícil prevê-las.

Marcos e Lucas a chamam lailaps, isto é, um “turbilhão de vento”.

Os barcos aprumam-se na crista das vagas de até dois metros, abatendo-se aseguir nos sorvedouros, enquanto os vagalhões passam por cima do barco, “cobrindo-o” literalmente e perigosamente adernando-o. Não é incomum, porém, terminar comocomeçou: rapidamente. Pelas palavras dos três evangelistas, é disso que se trata, enão propriamente de “tempestade” com chuvas e trovoadas. Era, pois, um vendavalmais violento que os comuns, de modo a assustar os pescadores, tão acostumadosao seu lago, que lhes dava o sustento.

Segurando-se nos bancos, chegaram até Jesus e o despertaram do sono, bastantepesado, a ponto de não ter sentido a ventania. Após pequena repreensão aosdiscípulos pela falta de confiança manifestada, usando um termo que era corrente entreos rabinos e no linguajar de Jesus (oligópistoi – pequena fé), Jesus ergue-se ecomanda aos ventos, em primeiro lugar, por serem a causa; e em seguida ao mar; eimediatamente fez-se acalmaria (em grego foi usado o termo técnico, galéné).

As ordens, citadas só por Marcos, são curtas. Ao vento: cala-te; ao mar, ficaamordaçado. É difícil traduzir exatamente o termo grego pephimôso, que é oimperativo perfeito passivo de phimôo, tempo que não possuímos nas línguasromânticas, nem mesmo havia em latim.

Mesmos habituados a uma bonança relativamente rápida, o inesperado da cenaataranta os discípulos; embora familiarizados com as curas e as desobsessões(também praticadas em larga escala pelos essênios terapeutas), não sabem explicar opoder de uma criatura humana sobre os elementos desencadeados em fúria,amainando-os de súbito. E vem-lhes a dúvida: “quem será, afinal, esse carpinteiro?”Era bom e compassivo, dominava as enfermidades e os espíritos, mas… comandarassim a natureza? Isso superava lhes a capacidade de compreensão.

Quando nosso Espírito se vê envolvido pelo vendaval das paixões, originadas emnossos veículos inferiores; quando percebe, por exemplo, que as violentas emoções deuma paixão ilógica o envolvem prestes a fazê-lo soçobrar, nenhum auxílio melhor podeser-nos trazido: o recurso ao Pai que em nós habita é o único que consegue acalmaras ondas de desejo desenfreado, trazendo bonança aos veículos etérico, astral eintelectual. O ensino é de profundo alcance e mostra-nos o caminho certo: “ligação como Cristo Interno, fazendo-O despertar” em nós, para que Ele, com Sua palavraautoritária, faça cessar os desordenados e perturbadores ímpetos do tufão borrascosoque esses corpos provocam, arriscando matar espiritualmente nosso “espírito”, porfazê-lo afogar-se em terríveis convulsões de longos e penosos carmas. (Patorino)

Podemos interpretar o ocorrido de duas maneiras: ação direta de Jesus sobre ofenômeno atmosférico “repreendendo o vento” ou por intermédio dos Espíritos ligados àNatureza que, ouvindo-o, atenderam à sua solicitação.

De qualquer forma, porém, sabemos que não ocorreu um milagre, por mais insólitoque o fato pareça.

Deixa […] de ser milagre um fato, desde que possa explicar-se e que se acheligado a uma causa conhecida. Desse modo foi que as descobertas da Ciênciacolocaram no domínio do natural, muitos efeitos que eram qualificados de prodígios,enquanto se lhes desconheciam as causas. Mais tarde, o conhecimento do princípioespiritual, da ação dos fluidos sobre a economia geral, do mundo invisível dentro doqual vivemos das faculdades da alma, da existência e das propriedades do perispírito,facultou a explicação dos fenômenos de ordem psíquica, provando que essesfenômenos não constituem, mais do que os outros, derrogações das leis da Natureza,que, ao contrário, decorrem quase sempre de aplicações destas leis. […]

A possibilidade da maioria dos fatos que o Evangelho cita como operados porJesus se acha hoje demonstrada pelo Magnetismo e pelo Espiritismo, como fenômenosnaturais. Pois que eles se produzem às nossas vistas, quer espontaneamente, querquando provocados, nada há de anormal em que Jesus possuísse faculdades idênticasàs dos nossos magnetizadores, curadores, sonâmbulos, videntes, médiuns, etc. Domomento em que essas mesmas faculdades se encontram, em diferentes graus, numamultidão de indivíduos que nada têm de divino, até em heréticos e idólatras, elas nãoimplicam, de maneira alguma, a existência de uma natureza sobre-humana. 7

A intervenção de Espíritos nos fenômenos da natureza acontece de formaintencional ou executando ordens superiores, como consta em O livro dos espíritos. 5

Falanges de Espíritos em evolução trabalham ativamente, zelando pelamanutenção dos reinos da natureza: o mineral, o vegetal e o animal. Os fenômenosatmosféricos também são presididos por plêiades de Espíritos, sob orientação superior,encarregados de manterem o equilíbrio planetário. Nem sempre compreendemos oporquê dos fenômenos, que muitas vezes causam verdadeiras calamidades emdeterminadas regiões do mundo. Mas o Espiritismo nos ensina que não há efeito semcausa. Por conseguinte, os fenômenos tais como: tempestades, terremotos,maremotos, inundações, são orientados por entidades espirituais, em obediência adesígnios divinos, visando o apressamento da evolução não só do Planeta, comotambém nas populações atingidas. Jesus aqui não fez milagre ao apaziguar atempestade. Usou apenas de seu conhecimento das forças que regem o Universo e desua superioridade moral para ordenar aos orientadores invisíveis da atmosfera, quefizessem cessar a tempestade.

Interpretação do texto evangélico – Atualidade

E, naquele dia, sendo já tarde, disse-lhes: Passemos para a outra margem.

E eles, deixando a multidão, o levaram consigo, assim como estava, no barco; ehavia também com ele outros barquinhos. E levantou-se grande temporal de vento, esubiam as ondas por cima do barco, de maneira que já se enchia de água. E ele estavana popa dormindo sobre uma almofada; e despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não teimporta que pereçamos?

(Marcos 4:35-38)

A pessoa que se engaja consciente no processo de melhoria atende ao adequar-secom firmeza e perseverança às convocações do Plano Maior, pela correta utilização dolivre-arbítrio.

“Passemos para a outra banda” é uma expressão que, além de literalmentesignificar sair de um lado para outro, indica mudança de comportamento, sob o amparodo Cristo. Envolve a percepção de que soou a hora da necessária transformaçãoespiritual. Independentemente dos desafios que a pessoa possa enfrentar, sente-se amparada por Jesus que lhe direciona a existência. A mudança decomportamento exige cuidados, assim como o processo de travessia implica riscos,ainda quando se navega em águas tranquilas.

A vontade imprime, neste sentido, papel relevante, permitindo que a criaturaopere os mecanismos de progresso de forma consciente. Dessa forma, énecessário deixar a “multidão” de erros e equívocos para trás e levar junto a si, no“barco” da vida, o próprio Jesus. Medida que lhe será útil, sobretudo quando a travessiade um estado evolutivo para outro se revele mais difícil.

O período atual por que passa a Humanidade terrestre é marcado por uma épocade significativa transição moral. Sendo assim, é de fundamental importânciatrazermos o Cristo na mente e no coração, a fim de que não venhamos a sucumbirsob o peso dos temporais e das ventanias morais que nos assaltam a existência.

A alma humana, nestes vinte séculos de Cristianismo, é uma consciência

esclarecida pela razão, em plena batalha pela conquista dos valores iluminativos.O campo de luta permanece situado em nossa vida íntima. Animalidade versusespiritualidade. Milênios de sombras cristalizadas contra a luz nascente. E o homem,pouco a pouco, entre as alternativas de vida e morte, renascimento no corpo e retornoà atividade espiritual, vai plasmando em si mesmo as qualidades sublimes,indispensáveis à ascensão, e que, no fundo, constituem as virtudes do Cristo,progressivas em cada um de nós. Daí a razão de a graça divina ocupar a existênciahumana ou crescer dentro dela, à medida que os dons de Jesus, incipientes, reduzidos,regulares ou enormes nela se possam expressar. 10

O registro de Marcos assevera que “havia também com ele outros barquinhos”.

Quer dizer que a travessia espiritual de uma pessoa afeta, necessariamente,os que se encontram em sua órbita. Revela, igualmente, que todos os Espíritos sãoconvocados a participar da grande transição, mesmo aqueles que possuem reduzidosrecursos morais ou intelectuais.

A Humanidade inteira é convocada ao crescimento espiritual. O chamamento édestinado, indiscriminadamente a todos os habitantes do Planeta, independentementedo plano de vida em que se situem, porque, esclarecem os Espíritos superiores, são“[…] chegados os tempos, dizem-nos de todas as partes, marcados por Deus, emque grandes acontecimentos se vão dar para a regeneração da Humanidade”. 1

Registra também o evangelista que durante a travessia, Jesus e os apóstolosforam surpreendidos por um “grande temporal de vento, e subiam as ondas por cima dobarco, de maneira que já se enchia de água.” Todos os navegantes estão sujeitos aesse tipo de risco, exigindo dos condutores conhecimento especializado.

Da mesma forma, diante das mudanças previstas para a melhoria da Humanidade,somos atingidos por convulsões sociais e por reações inferiores de muitos,provocadores de revoltas, vinganças, mágoas etc. São formas de resistência erguidaspelos Espíritos não sintonizados com a paz, por lhes serem escassos osconhecimentos espirituais.

As reações violentas dos indivíduos, somadas às situações de calamidadesocorridas na Natureza — simbolizadas na frase “e subiam as ondas por cima do barco,

de maneira que já se enchia de água” — fazem parte do quadro de provações queassolam o nosso planeta. É importante compreender que a Humanidade passa,atualmente, por significativo processo de transição moral, caracterizado porprovas coletivas e individuais.

O versículo 38 do texto em estudo, entretanto, informa que, a despeito do temporale da forte ventania, Jesus dormia na popa do barco, sobre uma almofada. Para osdesavisados, pode parecer desinteresse, ou alheamento total de Jesus às dificuldadesvivenciadas pelos discípulos. Sendo inconcebível tal atitude no Cristo, o fato expressaalgo de maior alcance. Na verdade, sendo o Senhor o Mestre por excelência, nãoretirou dos apóstolos a oportunidade educativa de ensinar com acerto. O sono deJesus é um exemplo de como devemos agir perante as situações calamitosas da vida:com calma, “dormindo” na certeza da fé em Deus, que nos agasalha, protegendo-nosdas intempéries.

Dormir, no significado expresso no texto, não deve ter a conotação de invigilânciaou de descuido.

A falta ou escassez de fé tem colocado muitos “barcos” humanos à deriva.

Entretanto, ainda que pareça paradoxal, são muitas vezes as situaçõespericlitantes que despertam as pessoas para as realidades do Evangelho, clamandopor Jesus (“E, despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não te importa que pereçamos?”).

E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te.

E o vento se aquietou, e houve grande bonança. E disse-lhes: Por que sois tãotímidos? Ainda não tendes fé? E sentiram um grande temor e diziam uns aos outros:Mas quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem? (Marcos 4: 39-41)

A trama existente no texto evangélico nos faz supor que Jesus conduziu osapóstolos para uma situação desafiante, tendo em vista a necessidade de conhecer-lhes a capacidade de resolução de problemas, numa situação difícil, e aferir-lhes adimensão da fé que possuíam.

No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que

ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio emestado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da suavontade.

[…] A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas faculdades àsatisfação das necessidades terrenas, ou das suas aspirações celestiais e futuras. Ohomem de gênio, que se lança à realização de algum grande empreendimento, triunfase tem fé, porque sente em si que pode e há de chegar ao fim colimado, certeza quelhe faculta imensa força. O homem de bem que, crente em seu futuro celeste, desejaencher de belas e nobres ações a sua existência, haure na sua fé, na certeza dafelicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se operam milagres de caridade,de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendores que se nãochegue a vencer. 4

Destaca-se, nesta mensagem, existente em O evangelho segundo o espiritismo,que a fé, tendo como instrumento a vontade, pode ser aperfeiçoada pela aquisição deconhecimentos e pelo desenvolvimento de valores morais.

A pessoa fortalecida pela fé imprime postura positiva no comportamento, servindode exemplo a todos que lhe compartilham a existência.

A fé sincera e verdadeira é sempre calma; faculta a paciência que sabe esperar,porque, tendo seu ponto de apoio na inteligência e na compreensão das coisas,tem a certeza de chegar ao objetivo visado. A fé vacilante sente a sua própriafraqueza; quando a estimula o interesse, torna-se furibunda e julga suprir, com aviolência, a força que lhe falece. A calma na luta é sempre um sinal de força e deconfiança; a violência, ao contrário, denota fraqueza e dúvida de si mesmo. 2

A fé não deve, porém, ser entendida fora do seu verdadeiro sentido, alerta-nos,em boa hora, Allan Kardec.

Cumpre não confundir a fé com a presunção. A verdadeira fé se conjuga ahumildade; aquele que a possui deposita mais confiança em Deus do que em sipróprio, por saber que, simples instrumento da vontade divina, nada pode sem Deus.Por essa razão é que os bons Espíritos lhe vêm em auxílio. A presunção é menos fé do

que orgulho, e o orgulho é sempre castigado, cedo ou tarde, pela decepção e pelosmalogros que lhe são infligidos. 3

Relata-nos o texto de Marcos que Jesus foi despertado pelos apóstolos e que oMestre “repreendeu o vento e disse ao mar: cala-te, aquieta-te. E o vento se aquietou ehouve grande bonança.” O primeiro ponto que se destaca nessa citação evangélica é apoderosa personalidade de Jesus que, agindo diretamente sobre os elementos daNatureza, ou por intermédio dos Espíritos que os presidem, fez cessar a tempestade ea forte ventania. Subjetivamente, há outro ensinamento. Trata-se de buscar Jesus, emtodas as ocasiões, sobretudo nos momentos mais desafiantes da vida, por ser ele oguia e modelo da Humanidade. 6

É comum que o “barco” da nossa existência seja, em diferentes instantes, açoitadopelas provações, simbolizado pelos ventos e tempestades que nos relata o evangelista.Em tais momentos é importante estejamos preparados, armando-nos da couraça da fé,cientes da proteção do Senhor, a fim de que possamos responder às indagações deJesus: “Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?”.

Perante as provações previstas no nosso quadro existencial, devemos nos manterfirmes na fé, alimentando as forças morais e intelectuais que possuímos,erguendo barreiras morais que concedam segurança à existência.

Pela fé, o aprendiz do Evangelho é chamado, como Abraão, à sublime herança quelhe é destinada. A conscrição atinge a todos. O grande patriarca hebreu saiu semsaber para onde ia... E nós, por nossa vez, devemos erguer o coração e partirigualmente. Ignoramos as estações de contato na romagem enorme, mas estamosinformados de que o nosso objetivo é Cristo Jesus. Quantas vezes seremosconstrangidos a pisar sobre espinheiros da calúnia? Quantas vezes transitaremospelo trilho escabroso da incompreensão? Quantos aguaceiros de lágrimas nosalcançarão o espírito? Quantas nuvens estarão interpostas, entre o nosso pensamentoe o Céu, em largos trechos da senda?

Insolúvel a resposta.

Importa, contudo, marchar sempre, no caminho interior da própria redenção, semesmorecimento. Hoje, é o suor intensivo; amanhã, é a responsabilidade; depois, é osofrimento e, em seguida, é a solidão...

Ainda assim, é indispensável seguir sem desânimo. Quando não seja possívelavançar dois passos por dia, desloquemo-nos para diante, pelo menos, algunsmilímetros. Abre-se a vanguarda em horizontes novos de entendimento e bondade,iluminação espiritual e progresso na virtude. 9

Referências:

1. KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 48. ed. Rio de

Janeiro: FEB, 2005. Cap.18, item 1, p. 401.

2. ______. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro.

124.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 19, item 3, p.300.

3. ______. Item 4, p. 300.

4. ______. Item 12 (mensagem de um espírito protetor), p. 306-307.

5. ______. O livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 85. ed. Rio de

janeiro: FEB, 2005, questão 538, p. 273.

6. ______. Questão 625, p. 308.

7. ______. Obras póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. 38. ed. Rio de janeiro:

FEB, 2005. Primeira parte, Item: Estudos sobre a natureza do Cristo. Cap. 2

(Os milagres provam a divindade do Cristo?), p.125-126.

8. RIGONATTI, Eliseu. O evangelho dos humildes.16. ed. São Paulo: Pensamento,

2004. Cap. 8. Item: Jesus apazigua a tempestade, p.69-70.

9. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 33. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 3 (Na grande romagem), p. 19-20

10. ______. Cap. 25 (Nos dons do Cristo), p. 67-68.

EADE – Roteiro 3 – A tempestade acalmada

Tempestade Acalmada – Obras Complementares

Pastor benevolente e sábio revela-nos o aprisco do bem! Conheces os caminhosque ignoramos; acendes a tocha da verdade quando as trevas da mentira se espalhamem torno; sabes onde se ocultam as armadilhas perigosas das margens; identificas delonge a presença da tempestade; tens o verbo que desperta o estímulo sadio; ensinasonde se localizam os raios do farol que conduz e as chamas do incêndio que destrói;curas nossas chagas sem panaceias de fantasia; repreendes amando; esclareces semferir; não desprezas as ovelhas quebrantadas, nem abandonadas as que ouviram oconvite sedutor dos lobos escondidos na sombra!…

Antologia Mediúnica do Natal, lição 67 – Oração ante a Manjedoura, FranciscoCândido Xavier pelo Espírito: IRMÃO X.

Dirigiu-nos Alfredo significativo olhar e falou:

– Não me sinto com o direito de alterar lhes o plano de serviço, mas seriaconveniente pernoitarem aqui. Nossos aparelhos assinalam aproximação de grandetempestade magnética, ainda para hoje. Sangrentas batalhas estão sendo travadasna superfície do globo. Os que não se encontram nas linhas de fogo permanecem naslinhas da palavra e do pensamento. Quem não luta nas ações bélicas está no combatedas ideias, comentando a situação.

Reduzido número de homens e mulheres continuam cultivando a espiritualidadesuperior. É natural, portanto, que se intensifiquem, ao longo da Crosta, espessasnuvens de resíduos mentais dos encarnados invigilantes, multiplicando as tormentasdestruidoras.

Os Mensageiros – Francisco Cândido Xavier pelo Espírito André Luís

Todavia, devemos esclarecer que, no capítulo da indiferença para com a sorte dosanimais, da qual participamos no quadro das atividades humanas, nenhum de nóspoderia, em sã consciência, atirar a primeira pedra. Os seres inferiores e necessitadosdo Planeta não nos encaram como superiores generosos e inteligentes, mas comoverdugos cruéis. Confiam na tempestade furiosa que perturba as forças da Natureza,mas fogem desesperados, à aproximação do homem de qualquer condição,excetuando-se os animais domésticos que, por confiar em nossas palavras e atitudes,

aceitam o cutelo no matadouro, quase sempre com lágrimas de aflição, incapazes dediscernir com o raciocínio embrionário onde começa a nossa perversidade e ondetermina a nossa compreensão.

Se não protegemos nem educamos aqueles que o Pai nos confiou, como germensfrágeis de racionalidade nos pesados vasos do instinto; se abusarmos largamente desua incapacidade de defesa e conservação, como exigir o amparo de superioresbenevolentes e sábios, cujas instruções mais simples são para nós difíceis de suportar,pela nossa lastimável condição de infratores da lei de auxílios mútuos?

Missionários da Luz – Francisco Cândido Xavier pelo Espírito André Luiz

– O infortunado amigo será portador de uma nevrose cardíaca por dois a trêsmeses, aproximadamente. Debalde usará a valeriana e outras substânciasmedicamentosas. Em vão apelará para anestésicos e desintoxicantes. No curso dealgumas semanas conhecerá intraduzível mal-estar, de modo a restabelecer aharmonia do cosmo psíquico. Experimentará indizível angústia, submeter-se-á amedicações e regimes, que lhe diminuirão a tendência de esquecer as obrigaçõessagradas da hora e lhe acordarão os sentimentos, devagarinho, para a nobreza do atode viver.

Notando-me a estranheza, o Assistente concluiu:

– Que fazer meu amigo? As mesmas Forças Divinas que concedem ao homem abrisa cariciosa, infligem lhe a tempestade devastadora... Uma e outra, porém, sãoelementos indispensáveis à glória da vida.

No Mundo Maior – Francisco Cândido Xavier pelo Espírito André Luiz

Quem utilizou as mãos em sementeiras de malícia, discórdia, inveja, ciúme eperturbação deliberada, organize resistência para a colheita de espinhos.

Quem centralizou os sentidos no abuso de faculdades sagradas espere, doravante,necessidades enlouquecedoras, porque as paixões envilecentes, mantidas pela almano corpo físico, explodem aqui, dolorosas e arrasadoras. A represa por longo tempoguarda micróbios e monstros, segregados a distância do curso tranquilo das águas;todavia, chega um momento em que a tempestade ou a decadência surpreendem aobra vigorosa de alvenaria e as formas repelentes, libertadas, se espalham e crescemem toda a extensão da corrente.

“Seguidores do vício e do crime, tremei”!

Libertação – Francisco Cândido Xavier pelo Espírito André Luiz

A SOLIDIFICAÇÃO DA MATÉRIA

Na grande oficina surge, então, a diferenciação da matéria ponderável, dandoorigem ao hidrogênio.

As vastidões atmosféricas são amplo repositório de energias elétricas e de vaporesque trabalham as substâncias torturadas no orbe terrestre. O frio dos espaços atua,porém, sobre esse laboratório de energias incandescentes e a condensação dos metaisverifica-se com a leve formação da crosta solidificada.

É o primeiro descanso das tumultuosas comoções geológicas do globo. Formam-se os primitivos oceanos, onde a água tépida sofre pressão difícil de descrever-se. Aatmosfera está carregada de vapores aquosos e as grandes tempestades varrem, emtodas as direções, a superfície do planeta, mas sobre a Terra o caos fica dominadocomo por encanto. As paisagens aclaram-se, fixando a luz solar que se projeta nessenovo teatro de evolução e vida.

As mãos de Jesus haviam descansado, após o longo período de confusão doselementos físicos da organização planetária.

A Caminho da Luz Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel

Hoje, como ontem, Jesus prescinde das nossas guerrilhas de palavras, das nossastempestades de opinião, do nosso fanatismo sectário e do nosso exibicionismo nasobras de casca sedutora e miolo enfermiço.

Ave Cristo Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel

Comparemos a nossa tarefa a um navio lançado ao mar. Tempestades sobrevême rochedos surgem, obrigando-nos, muitas vezes, a mudanças de rumo; no entanto, secada um de nós se mantém fiel no posto de trabalho a que foi conduzido, comaplicação sincera ao próprio dever, nenhum perigo nos impelirá a desastre, porque, seo homem coopera, Deus opera, e se nós – a Humanidade – somos a equipagem naembarcação enorme do mundo, é preciso jamais esquecer que Deus está no leme.

Encontro Marcado – lição “Renovações” - Francisco Cândido Xavier pelo EspíritoEmmanuel

TOCANDO O BARCO

Ninguém nega que todos nós, os espíritos em evolução, vinculados a Terra,estamos na condição de viajores, no imenso rio da vida, na pauta da expressãopopular: “Tocando o Barco”.

Há quem siga em navios confortáveis, em iates de renome, em transportes amotor, em rendes, canoas mantidas a remo, em pirogas e jangadas simples.

A existência, significando viagem, seguirá atendendo a circunstâncias da vida decada viajor, motivo pelo qual todos os companheiros trocam impressões entre si, naspequenas paradas de refazimento que se fazem indispensáveis.

Todos, porém, atravessam os mesmos riscos, varam os mesmos perigos,contemplam as belezas das mesmas regiões e conhecem o rigor das ventanias etempestades, quando se mostram desencadeadas, por força dos climas ou do tempoque influenciam determinadas fases da viagem.

Tocando o Barco Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel

TEMPO DE CONFIANÇA

“E disse-lhes: Onde está a vossa fé?” — (LUCAS, capítulo 8,versículo 25).

A tempestade estabelecera a perturbação no ânimo dos discípulos mais fortes.Desorientados, ante a fúria dos elementos, socorrem-se de Jesus, em altos brados.

Atende-os o Mestre, mas pergunta depois:

— Onde está a vossa fé?

O quadro sugere ponderações de vasto alcance. A interrogação de Jesus indicaclaramente a necessidade de manutenção da confiança, quando tudo parece obscuro eperdido. Em tais circunstâncias, surge a ocasião da fé, no tempo que lhe é próprio.

Se há ensejo para trabalho e descanso, plantio e colheita, revelar-se-á igualmentea confiança na hora adequada.

Ninguém exercitará otimismo, quando todas as situações se conjugam para o bem-estar. É difícil demonstrar-se amizade nos momentos felizes.

Aguardem os discípulos, naturalmente, oportunidades de luta maior, em quenecessitarão aplicar mais extensa e intensivamente os ensinos do Senhor.

Sem isso, seria impossível aferir valores.

Na atualidade dolorosa, inúmeros companheiros invocam a cooperação direta doCristo. E o socorro vem sempre, porque é infinita a misericórdia celestial, mas, vencidaa dificuldade, esperem a indagação:

— Onde está a vossa fé?

E outros obstáculos sobrevirão, até que o discípulo aprenda a dominar-se, aeducar-se e a vencer, serenamente, com as lições recebidas.

Caminho, Verdade e Vida, Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel

ENTRE OS CRISTÃOS

“Mas entre vós não será assim.” — Jesus. (MARCOS, capítulo10,versículo 43.)

Desde as eras mais remotas, trabalham os agrupamentos religiosos pela obtençãodos favores celestes.

Nos tempos mais antigos, recordava-se da Providência tão-só nas ocasiõesdolorosas e graves. Os crentes ofereciam sacrifícios pela felicidade doméstica, quandoa enfermidade lhes invadia a casa; as multidões edificavam templos, em surgindocalamidades públicas.

Deus era compreendido apenas através dos dias felizes.

A tempestade purificadora pertencia aos gênios perversos.

Cristo, porém, inaugurou uma nova época. A humildade foi o seu caminho, o amore o trabalho o seu exemplo, o martírio a sua palma de vitória. Deixou a compreensãode que, entre os seus discípulos, o princípio de fé jamais será o da conquista fácilde favores do céu, mas o de esforço ativo pela iluminação própria e pela execuçãodos desígnios de Deus, através das horas calmas ou tempestuosas da vida.

A maior lição do Mestre dos Mestres é a de que em vez de formularmos votos esacrifícios convencionais, promessas e ações mecânicas, como a escapar dos deveresque nos competem, constitui-nos obrigação primária entregarmo-nos, humildes, aossábios imperativos da Providência, submetendo-nos à vontade justa e misericordiosade Deus, para que sejamos aprimorados em suas mãos.

Caminho, Verdade e Vida, Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel.

E ELE DORMIA – Amélia Rodrigues Mat. 8:23-27

Duas vezes por ano, janeiro-fevereiro e março-abril, sobre as águas do margeneroso da Galileia cintilam mais cedo as estrelas. (*) (horário de verão)

Antes que o poente de ouro desapareça de todo perpassam os suaves favôniosenquanto coruscam os astros no firmamento.

(…) Nas águas plácidas e nas areias encharcadas, estavam sempre ao alcance osbarcos para as jornadas às outras terras, ou para poder evadir-se, quando a insaciávelavidez do povo teimava por tocá-Lo, na ânsia incontida de recolher mais auxílios eincessantes socorros…

* * *

Nos meses de Tisri e Nisan (Setembro – outubro, março – abril.) aquelas águasnormalmente serenas, quase sempre mar espelho, agitam-se de inopino, crescendosuas vagas a alturas desmedidas, sacudidas por ventos inesperados, tormentosos.

Nesses períodos os pescadores cuidam de não se adentrar pelas águas traiçoeirasentre o meio-dia e a meia-noite a fim de se pouparem às surpresas das arremetidastempestuosas.

A mensagem alcançara as fronteiras não dimensionais das almas, alastrando-sepelos países dos homens. De toda parte acorriam os necessitados de todo jaez abuscarem o Seu concurso.

À hora undécima o céu apresenta-se fulgurante e as águas tranquilas balouçamsuavemente tocadas por ventos leves e cantantes.

— Saiamos daqui — diz Jesus. — Os barcos estão prontos?

— Sim, Rabi. — Retruca Simão.

— Devemos atingir a outra margem antes da alvorada, — elucida o Amigo Divino.

— Mas neste período — relata o velho pescador— as tempestades sopram desurpresa e colhem os incautos imprevistamente, ameaçando-lhes as vidas.

— Não temamos as coisas que promanam de Nosso Pai — esclarece Jesus. —Estou extenuado. Saiamos daqui.

Os barcos deslizam sobre as cristas das ondas eriçadas a arrebentar-se em rendade espumas.

O Rabi toma de um travesseiro, e na popa da barca em que seguem os irmãosBoanerges — João e Tiago — procura repouso.

A brisa amena e o ar transparente parecem confraternizar com os astros em festade prata salpicante no alto.

Ao longe ficam as praias e Cafarnaum tem os olhos acesos, em candeiasvermelhas e lâmpadas de barro fumegando…

As montanhas se recortam nas sombras em redor das águas no outro lado,desenhando múltiplas imagens grotescas.

As cidadezinhas da orla das águas rebrilham distantes com as suas luzes festivas,e de longe chegam canções trazidas pelas vagas…

O Mestre dorme em plácida serenidade.

Os vultos dos companheiros aparecem e se recortam na noite, próximos, nosoutros barcos.

Os remos cantam nas águas e os lemes estão seguros com vigor.

Há uma inocente alegria conquanto algumas mesclas de preocupação.

Judas exclama:

Não será uma temeridade esta viagem?

O Rabi está conosco, portanto, não há problema, — redargui João.

Simão, porém, sabe dos perigos, neste período — investe o Iscariotes.

De fato, se formos colhidos por um vendaval — obtempera Simão — nossas vidasestarão ameaçadas.

Mas Jesus está conosco — insiste André.

No entanto, dorme, — chasquina Judas — enquanto deveria vigiar; isto, para serfiel às Suas próprias palavras…

(Com essa afirmativa de Judas, vemos que ainda precisava ser esclarecido apalavra vigiar)

Não temamos. Confiemos. — Conclama João. — A noite está serena e o Pai velapor nós.

— Contudo, é perigoso — retruca, mais uma vez, a inquietação de Judas.

— Rememos — propõe Pedro, na condição de timoneiro.

As terras da Decápole estão à vista, desenhadas nas sombras à frente.

— O dia fora exaustivo. — Relaciona o jovem Boanerges. — O Mestre atendeu agentes de várias partes que levarão, agora, as notícias.

Seus olhos fulguram de alegria.

Eu vi um cego abrir os olhos — relata com palavras medidas, Simão bar Jonas — eas lágrimas cristalinas diziam da emoção incomparável daquele beneficiado.

E o leproso? — interroga Tiago — Nauseante, estava recurvado e exsudavaputrefação. Cambaleando e rouquenho, acercou-se do Mestre. O olhar que o Rabidepositou sobre ele, comoveu-me. Vi a palidez no Seu rosto e uma indescritível tristezase Lhe desenhou na face. Tocou-o e logo as carnes começaram a agitar-se, atransformar-se todo ele ante a minha admiração… Quando o homem saiu exultante,interroguei o Mestre: — “Por que, Senhor?”

“Por ser enfermo o seu espírito calceta e leviano — respondeu, acrescentando: quelhe não aconteça nada pior!”

"Pior do que a lepra? — indaguei.

“Sim, redarguiu, — a perda da vida espiritual”… e seguiu adiante.

— Olhem as nuvens — gritou Judas, deixando transparecer um assomo de pavor.

Repentinamente as estrelas desaparecem sob nuvens escuras, borrascosas.

Sopraram ventos inesperados de várias direções e o pânico tomou vulto.

Os barcos oscilam nas águas a crescerem. Trovões espocam após relâmpagosligeiros.

No célere clarão pode-se ver o medo estampado nos homens receosos…

— E Ele dorme! — exclama André.

— Dorme enquanto perecemos! — grita Judas.

— Confiemos! — insiste João.

— O barco não suportará a borrasca — relata Simão.

Cai a tempestade. As forças em desgoverno sacodem o mar e o tumulto domina apaisagem.

Sombras e desgraça em algaravia de horror. Lutam os titãs da Natureza.

Adernam as embarcações e os viajantes se aparvalham.

— O Mestre dorme. Deus meu, e nós… — desespera-se Judas. — Acordem-nO!

— Mestre, Mestre! — chama João, receoso e trêmulo — pereceremos, se não nossalvares.

— Se não nos salvares? — repete, temeroso e revoltado, Judas. — Terá que nossalvar. A ideia da viagem perigosa foi Ele quem a teve.

Brame o mar e ululam os ventos.

Que tendes? — indaga sereno, o Rabi.

— Perecemos Amigo! — explica tímido, o amado…

Ele se ergue, abre os braços. O relâmpago veste-O de claridade de prata e ouro,emoldurando-O, num átimo.

— Calai! Emudecei!

A voz supera a gargalhada das forças desconexas da Natureza.

— Aquietai!

O brado arrebenta-se nos longes das praias. Os ventos amainam e as águasdesencrespam-se.

As estrelas olham com lampejos argênteos e a serenidade bonançosa vestenovamente a paisagem.

Os sorrisos bailam nos lábios de todos e nova tranquilidade povoa as barcas, quedeslizam cantando, ao cortarem as águas, agora calmas.

A tentação dissera há pouco por aquelas bocas:

— Não te importas que pereçamos? — quando indagara Simão, traduzindo asdúvidas gerais.

No entanto, Ele ali estava.

O tormento interior começou a crescer naqueles espíritos tímidos. E seinterrogavam: — “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” e todavia,viviam com Ele, mas não O conheciam…

Pelo amanhecer os barcos alcançaram as praias e as encostas de Gerasa, naDecápole.

* * *

Recordando a tempestade do mar da Galileia, merece que examinemos o mar danossa alma e Á tormenta das paixões que nos açoitam com frequência inesperada,intempestivamente, enquanto o Cristo, que deveríamos trazer internamente, jazadormecido sem que as nossas ações o despertem.

Era o mês de Tisri, à hora undécima, e no mar calmo; de repente espoucou atempestade enquanto, plácido, Jesus dormia…

(*) Mateus 8:23 a 27 Marcos 4:35 a 41 Lucas 8:22 a 25

(1) Setembro – outubro, março – abril.

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Outros historiadores informam que a tempestade ocorreu no mês de dezembro.

Preferimos situá-la em outubro de 28.

Nota da Autora espiritual.

Luz do Mundo – Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Amélia Rodrigues

OS ENDAIMONIADOS GADARENOS Mat. 8:28-34, Marcos 5: 1-20 e Lucas 8:26-39

Sepulcros: Memorial, monumento, sepulcro, túmulo.

Daimones: “deus pagão”, divindade; gênio, espírito; mau espírito, demônio.

Gadareno: Natural de Gadara, uma das cidades da DECÁPOLIS, onde Jesuscurou dois endemoninhados (Mt 8.28). Em Mc 5.1, RA, e Lc 8.26, RA, aparece o termo“gerasenos” (de Gerasa). E há outros nomes em vários manuscritos gregos.Provavelmente Gerasa era uma vila e Gadara era a cidade mais importante da região.

A iniciativa da ação pertence ao obsidiado, que Mateus, que tanto aprecia onúmero par, diz terem sido dois. Realmente, podiam ter sido dois, embora um fosse ofamoso louco violento, e o outro apenas uma sombra que o acompanhava e, comopessoa apagada, não tenha chamado a atenção, não sendo computado pelos outrosevangelistas.

Marcos, como sempre, apresenta mais pormenores, descrevendocircunstanciadamente, segundo ouvira da pregação de Pedro, a cena; compras-se emanotar que ele era tão forte, que até rompia cadeias (nas mãos) e grilhões (nos pés) e

28 Depois de ter ido para o outro lado para a região dos gadarenos, doisendaimoniados, saídos dos sepulcros, muitos violentos, a ponto de ninguém poderpassar por aquele caminho, vieram ao encontro dele. 29 Eis que gritaram, dizendo: Oque queres de nós, filho de Deus? Vieste aqui, antes do tempo, atormentar-nos? 30Ora, uma vara de muitos porcos era apascentada distante deles. 31 Os daimonesrogaram-lhe, dizendo: Se nos expulsas, envia-nos à vara de porcos. 32 Disse-lhes: Ide.Os que saíram foram para os porcos. E eis que toda a vara (de porcos) precipitou-sedespenhadeiro abaixo, para o mar, e morreram nas águas. 33 Os que apascentavam(porcos) fugiram, e partindo para a cidade relataram tudo, inclusive o (que aconteceu)com os endaimoniados. 34 Eis que toda a cidade saiu ao encontro de Jesus; e vendo-o, rogaram-lhe que se retirasse do território deles.

(Tradução Haroldo Dutra Dias).

Endaimoniados: Trata-se dos obsedados, pessoas sujeitas à influência perniciosade espíritos sem esclarecimento, magoados ou malévolos, razão pela qual se optoupela transliteração do termo grego.

atacava os transeuntes.

Ao vê-lo vir a si, Jesus ordena categoricamente o abandono da presa, chamando-o“espírito não purificado” (pneuma akátharton), ou seja, inferior, involuído. O obsessorreclama a intervenção, embora reconhecendo, talvez pelo esplendor da aura e pelaluminosidade própria, que ali estava um “filho do Deus Altíssimo” (expressão muitousada pelos israelitas, para distinguir o deus deles, dos outros adorados pelos pagãos).Segundo Marcos, o obsessor a Ele se dirige chamando-O pelo nome. Pergunta, então,que importa aos dois o sofrimento do obsidiado (quanto ao sentido da pergunta).Indaga “por que o atormenta antes do prazo”, talvez se referindo ao resgaste do carma.Mas que saberia o obsessor mais do que Jesus?

Em Marcos O Mestre pergunta-lhe o nome, ao que o espírito responde “legião”,que corresponde ao que hoje chamamos uma falange de espíritos. Não significa essaresposta que eles eram exatamente do mesmo número que uma legião do exércitoromano, como pretendem alguns comentadores; mas apenas, como o explica o próprioobsessor, então incorporado, “porque somos muitos”. O nome, pois, é um símbolo, quese exagera para valorizar. Tão comum é, por exemplo, ao referirmo-nos a um grupo depessoas: “veio um batalhão para almoçar em nossa casa”, no entanto trata-se de 5 ou10 pessoas.

Ainda segundo Marcos, o obsessor pede que não seja mandada a falange parafora do “território”, e, segundo Lucas, que não a mande “para o abismo”. E solicita lhesdê autorização para “passar” para uma vara de porcos que fossava na encosta domorro. Há suposições várias manifestadas pelos comentaristas, sempre do ponto devista teológico romano. Parece-nos, todavia, que para aqueles que lidam praticamentecom os fenômenos obsessivos e conhecem os trabalhos espiritistas, a explicação não édifícil. Essas falanges de espíritos inferiores, involuídos, sobretudo os que habitam oscemitérios (como é expressamente o caso deste obsidiado) dedicam-se ao vampirismo,sugando a vitalidade da vítima. Ora, sabiam eles que jamais lhes seria permitido porJesus que passassem para outras criaturas humanas, e encontram uma oportunidadena vara de porcos (que Marcos diz ser constituída de 2.000 animais) e solicitaminsistentemente que lhes permita continuar o vampirismo pelo menos nos porcos.

A expressão “entrar neles” de Marcos pode ser efeito da ignorância dessesfenômenos por parte do obsessor, coisa que ainda hoje persiste inclusive nos meiosespíritas, quando se fala em “incorporação”, dando quase a ideia de que o espírito“entra no corpo do médium”. E muito médium julga que é isso mesmo que se dá… EmMateus e Lucas aparece uma palavra melhor: “passar para”, que exprime umatransferência de operação vampiresca.

A expressão “sair do território” talvez exprimisse uma facilidade maior de encontrarpresas entre os pagãos, do que entre os israelitas; ou talvez “território” fosse apenasum eufemismo para designar o corpo do obsidiado, por eles explorado. Quando pedemque os não mande “para o abismo”, referem-se à zona de trevas em baixo do umbral,onde sofreriam horrores sem o alimento da vitalidade a que estavam habituados. O quenão contavam, era com o desfecho causadas pelo pânico da invasão de entidadesgrosseiras e muito materializadas nos animais, fazendo-os despenhar-se ladeira abaixoem desabalada carreira, tão violenta que não conseguiram parar, e caíram no lago,afogando-se.

(Vide: Libertação total – Amélia Rodrigues)

Pergunta-se a razão de ser de tantos porcos, animal considerado “impuro” eproibido entre os israelitas? Entretanto, estamos em território não judeu, onde ocomércio de carne suína devia ser bastante rendoso.

Também se pergunte se a permissão dada por Jesus, com o consequenteafogamento dos porcos, não constituiu uma “perversidade” contra os pobres animais,que nada tinham que ver com o caso. Em primeiro lugar, como podemos ignorantesainda, querer julgar atos que fogem à nossa alçada? Além disso, um bem maior podejustificar, por vezes, um mal menor, sobretudo se é obtido um bem espiritual através deuma perda material. A maioria dos homens acha normal e natural que se mate e comaum porco apenas para satisfação do paladar, mas se insurge contra a morte do animalpara libertar um obsidiado…

Além do mais, consideremos que apenas ocorreu aos porcos uma destruição docorpo físico, fenômeno que teria fatalmente que ocorrer mais dia menos dia, e nada

mais, pois seus princípios vitais (nephesh) voltariam a reencarnar logo de imediato.Supõem, ainda, alguns comentaristas que se teria tratado de uma “lição” aosproprietários, já que, sendo um comércio ilícito o da carne de porco, não era sequerlícito criá-los com esse intuito. Realmente assim seria se se tratasse de criadoresisraelitas, mas não podemos saber se era essa a realidade. O fato é que osevangelistas não se preocuparam em justificar o modo de agir de Jesus.

Pergunta-se por que os porcos “se suicidaram”, ou por que a falange se precipitouno lago. De fato, não ocorreu nem uma coisa nem outra: simplesmente os porcos, aose sentirem atacados de inopino (e os animais possuem percepção do astral inferior,que é o plano deles) entraram em pânico e correram para fugir. Evidentemente, ocaminho mais fácil é a descida, e não a subida. O próprio impulso da fuga levou-os adescer automaticamente, às carreiras. Também os obsessores não deviam terimaginado esse fim, decepcionante sobretudo para eles.

A observação que se nos apresenta de imediato é que Jesus não sepreocupou em “doutrinar” essa falange (como aliás nenhum dos outrosobsessores que foram por Ele afastados), quer porque entidades do plano astral seencarregavam disso, quer porque eram eles tão involuídos ainda, que não adiantavadoutrinação, mas apenas se devia aguardar um pouco mais de evolução para quepudessem compreender a necessidade de corrigir-se.

Os obsessores deste caso estavam naquele estágio em que se satisfazer commodificação de situações materiais, para abandonar sua presa. Esse processo deoferecer coisas materiais para conseguir a libertação do obsidiado usado neste casopor Jesus, é ainda hoje bastante usual nos terreiros de Umbanda.

Após o acontecimento, trágico para os guardas porcos responsáveis pela vara,estes correm à cidade, que ficava a cerca de 2 km, para contar aos proprietários o quehavia ocorrido sem culpa deles. Os moradores se alvoroçaram e a notícia corria célere,não muito acreditada, até que, por proposta de um mais incrédulo, a massa semovimentou para fora da cidade, chegando em cerca de vinte minutos ao local em quese achava Jesus com seus discípulos. Os cadáveres dos suínos juncavam a praia dolago, alguns ainda nas contrações finais e, sentado aos pés de Jesus, vestido, risonho,feliz, perfeito em seu juízo, aquele homem que tanto pânico vivia a causar na região eque por todos era muito bem conhecido.

A prova da veracidade da narrativa dos guardas porcos evidenciava-se, tudocoincidia plenamente.

Mas, enquanto o louco apenas se limitava a assustar os transeuntes ou a atacar osincautos que se aventuravam naquelas regiões, a cura dele lhes causara sériosprejuízos, destruindo lhes a riqueza. Havia curado um homem, o que nenhum lucro lhestrazia, mas doutro lado lhes matara a enorme vara de porcos, o que representavasubstancial perda econômica. Não havia alternativa: melhor o homem, embora louco,do que Jesus. Então, afoitamente vão a Ele e pedem que se vá dali, que “se afaste doterritório deles” - o que representava o pedido oposto ao que lhe fizera o obsessor: queEle não o afastasse daquele território. Os habitantes da região concordavam com oobsessor, com ele sintonizavam, preferiam-no: como se libertariam dele?

Jesus nada retruca não se defende, não protesta, não argumenta, não procurademonstrar os benefícios que proviriam de Sua permanência alguns dias entre eles,por levar-lhes saúde física e espiritual: calado, volta-se para reembarcar, e entra nobarco.

Ao verificar que seu benfeitor vai partir, o ex-obsidiado – talvez chocada por vê-Loassim maltratado e enxotado – resolve solicitar-Lhe um lugar de discípulo, paraacompanhá-Lo sempre. Sem dar os motivos,

Jesus recusa mantê-lo a Seu lado, mas nem por isso deixa de confiar-lhe tarefa dealta responsabilidade: a pregação, sobretudo pelo exemplo, do que recebera daDivindade. Humildemente o ex-obsidiado aceita a tarefa, e os evangelistas testam querealmente ele passou a perlustrar a região da Decápole, falando dos maravilhosospoderes de Jesus.

Do fato material podemos deduzir interessante lição: a da dificuldade queencontram os “filhos do homem” ao “chegar à outra margem” (à Terra), onde deparamespíritos humanos na loucura da delinquência, preferindo os porcos ao Cristo esuplicando que Este se afaste deles, para que não sofram os prejuízos materiais daperda dos porcos.

A atuação é descrita com pormenores. A humanidade atrasada não conseguetranquilizar-se nem ter paz, embora se tente discipliná-la: rompe todos os laços e só secompraz “entre os túmulos”, junto às criaturas cadaverizadas no mal e no materialismomais grosseiro. Ao deparar com um Missionário do Plano Superior, não compreendemo benefício que possam usufruir e ainda pedem satisfações: “que te importa nossoestado”? Rebeldes até o fim, não aceitam nenhum jugo, quebrando todos os grilhõesque pretendam discipliná-los e elevá-los. Não se trata de um só indivíduo, tomadocomo símbolo, mas de uma .legião", da maioria, da massa involuída ainda.

CURA DE UM PARALÍTICO Mat. 9:1-8 Mc 2:1-12 Lc 5:17-16

1 Jesus subiu numa barca, passou para a outra margem e chegou à sua cidade. 2Nisso, levaram a ele um paralítico deitado numa cama. Vendo a fé que eles tinham,Jesus disse ao paralítico: "Coragem, filho! Os seus pecados estão perdoados." 3 Entãoalguns doutores da Lei pensaram: “Esse homem está blasfemando!”4 Mas Jesus,conhecendo os pensamentos deles, disse: "Por que é que vocês pensam coisas más?5 O que é mais fácil dizer: Os seus pecados estão perdoados; ou dizer: Levante-se eande? 6 Pois bem, para que vocês saibam que o Filho do Homem tem poder na terrapara perdoar pecados – então disse Jesus ao paralítico: Levante-se, pegue a sua camae vá para a sua casa." 7 O paralítico então se levantou, e foi para a sua casa. 8 Vendoisso, a multidão ficou com medo e louvou a Deus, por ter dado tal poder aos homens.

Assume teu Leito

"A ti te digo: Levanta-te e anda, toma o teu leito e vai para tua casa” (Marcos, 2:11.)(MT 9:6) (Jo 5:8)

Submetido ao leito de provas, o paralítico chega àquela enfermaria da vida para oencontro sublime com o Médico do Amor.

Depois de ter restaurada a saúde, recebe a magna orientação do Senhor: "Tomao teu leito", adquirindo definitivamente o controle sobre as dores a que se ajustava.

Ele carregaria a cama, e não o contrário.

A cura do corpo, porém, não o libertava do leito provacional que carregavaintimamente. Ele regressaria à origem de suas lutas: "vai para tua casa". Foi no grupofamiliar que nasceu sua paralisia.

Ante o exemplo do doente de Cafarnaum, procura assumir teu leito detestemunhos. Busca a nascente de tuas dores e cure-a.

Cultiva a resignação produtiva, investe no saber libertador, dinamiza teussentimentos pelo próximo, empenha-te na disciplina e no sacrifício aos deveres, servesem condições, ama indistintamente, ora perante tua fragilidade.

Prossegue confiante rumo ao futuro, assim terás ensejo de assumir teu leito e, porfim, te livrares da exaustiva jornada de estagnação e dependência.

Prazer de Viver - Ermance Dufaux,

O CHAMADO DE MATEUS Mat.9:9 Mc 2:13-14 Lc 5:27-28

9:9 Passando diante dali, Jesus viu um homem, chamado Mateus, sentado nacoletoria, e diz-lhe: “Segue-me!” Após levantar-se, ele o seguiu. (Tradução HaroldoDutra Dias)

REFEIÇÃO COM PUBLICANOS E PECADORES Mat. 9:10-13 Mc 2:15-17 Lc 5:29-32

Estando Jesus à mesa em casa de Mateus, muitos cobradores de impostos epecadores foram e sentaram-se à mesa com Jesus e seus discípulos. Alguns fariseusviram isso, e perguntaram aos discípulos: “Por que o mestre de vocês come com oscobradores de impostos e os pecadores?”

Jesus ouviu a pergunta e respondeu: "As pessoas que têm saúde não precisam demédico, mas só as que estão doentes. Aprendam, pois, o que significa: Eu quero amisericórdia e não o sacrifício. Porque eu não vim para chamar justos, e simpecadores." Mateus 9:9-13

Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus,mais do que os holocaustos. Os 6:6

O deserto da Judeia é uma área imensa de basalto calcinado pelo Sol ardente oude rocha calcária em tonalidades pérola e marrom, onde a vida não frondeja, nemqualquer espécie de alegria permanece. Tudo são aridez e vazio, periodicamentevarrido por ventos mornos e violentos, portadores da patética do desespero e da morte.

Antes de iniciar o Seu ministério Jesus o buscou, a fim de mergulhar no silêncioque a muitos aterroriza, mas que, para Ele, era pauta para que aparecesse notasmelodiosas do Pensamento Divino, na ausência de ruídos, exceto o piar triste dealguma ave de rapina em voo longínquo, perscrutando algum despojo cadavérico, ou osibilar do vento ligeiro.

No mais, é solidão profunda, é a visão das corcovas do dromedário de pedraslascadas que se superpõem, milenarmente cansadas do repouso a que foramdestinadas.

Pela orla, à entrada onde começavam a escassear a vegetação e da vida, passamcaravana que se beneficiam da sombra amiga de alguns sicômoros vetustos, defigueiras retorcidas pela idade, de tamareiras farfalhantes, de tamarindeiros em cujosramos os pássaros gorjeiam e as flores miúdas desabrocham perfumes…

Uma fonte aqui e a terra levemente úmida mais adiante onde passou fraco oregato, vão cedendo lugar ao tormento do solo sem vida, às gramíneas escassas ecrestadas sinalizando o ermo que se inicia até perder-se nos confins do mar morto.

Nada respira, nem se move, exceto nos infaustos momentos de tempestades deareia, eu arrancam do solo gemidos e gritaria infrene.

O deserto é sempre elegido pelos homens que necessitam de Deus, que seapartam momentaneamente dos outros homens, a fim de adquirirem forças parasuportá-los.

Sem o encontro com Deus, não é possível conviver com aqueles para quem têm amensagem de amor e de vida.

Jesus buscou o deserto para inebriar-se da Vida, e adaptado ao silêncio daspedras suportar o vozerio da ignorância humana vestida de vaidade cultural epresunção da exegese religiosa.

Mui provavelmente Jesus subira à região de Abara e Pela, onde se multiplicam asáreas desérticas em planaltos adustos e sucessivos, tombando para as regiões de Jacóe ampliando-se pelas montanhas de Peréia, aureoladas pelos elevados picos doGalaad.

Ali somente os espinhos pontiagudos oferecem pouso para os pés entre areias eseixos calcinados e tórridos.

Jesus refugiou-se em uma concha natural de pedra elevada e espraiou os olhospela imensidão vazia assinalada pelas chapadas mortas e deixou-se perder em simesmo.

Ficaram para trás Nazaré, os interesses da família, os hábitos que foram mantidospor quase três décadas, a simplicidade do lar e a singeleza dos Seus contemporâneos.Tudo isso se tornou passado. A complexidade do compromisso humano cedeu lugar aoimenso mergulho no oceano da humanidade. Servir a Deus em toda a extensão dapalavra, abandonando os labores dos homens, a fim de envolvê-los na Mensagem delibertação.

As construções até aquele momento foram realizadas na areia transitória davacuidade terrestre, mas a partir de então serão realizadas na rocha perene da verdadepara todos os tempos, e a solidão é que estabelece os primeiros alicerces,escavados no basalto duro dos corações, para que sobrevivam aos tempos…

A partir daquele momento, não terá lar, nem alforje, nem parentes, senão aquelesque estejam dispostos a associar-se à Sua empresa, a do reino dos Céus.

Embora as raposas possuam o seu covil e as aves dos céus tenham os seusninhos, o Filho do Homem, porém, não possuirá nada que o aprisione, que limite,porque todas as noites imensas, o dossel de estrelas, as nuvens carregadas, os diassem fim, os corações confiantes, e andará de porta em porta, por caminhos tortuosos,chamando e clamando até que se dê o triunfo do Amor.

Por isso tudo, o deserto é importante para a meditação, a busca interior, oEncontro…

Depois de vários dias Ele desceu e iniciou a maratona da fraternidade apoiada nospassos da compaixão pelos homens.

Chamou a alguns homens que haviam sido escolhidos antes de serem, e deu-lhesas primeiras instruções.

Um deles, Mateus Levi, o Filho de Alfeu, que era detestado, porque cobravaimpostos, vira-o à porta da alfândega, na manhã de Sábado, muito próximo à sua porta.Não saberia se explicar porque, naquele horário fora até lá, onde lhe era habitual estar,menos nesse horário, nessa circunstância. Pôde ver o magote que se aproximava,tendo o Estranho que vinha à frente. À medida que se acercavam aqueles homens,Levi passou a sentir-se diferente, comovido, especialmente após sentir-lhe o relâmpagodo olhar. Nunca mais O esqueceria, passando a segui-Lo, anotando os Seus ditos, osSeus feitos, Sua beleza…

Naquela mesma tarde, como de hábito, compareceu à Sinagoga e O ouviu, numtimbre que o revigorava interiormente, trazendo indefiníveis ressonâncias ao seucoração tristonho, face ao desprezo que sofria do seu povo, por ser escrevente dacoletoria…

Quando a multidão O acompanhou após o ofício religioso, ele se manteve a uma

regular e prudente distância, a que se adaptara, embora anelasse por convivênciassaudáveis, sorrisos joviais, confiança, amizade, tão pouco e tanto de que necessitava.

Passava as horas com ansiedade e adormeceu sob lânguido torpor que olevara a estranho sono, no qual via-se carregando os livros da alfândega, mas, nosquais, além da inexistência de moedas, sestércios, denários e dracmas, apresentavamoutros apontamentos sobre vidas e alegrias em promessas de luz.

No dia seguinte voltou à repartição e entregou-se sem estímulo ao trabalhorotineiro, escravizador, deixando que o pensamento voasse em busca daquele Homempeculiar.

Horas depois, ao erguer os olhos que atravessavam o retângulo da portaensolarada, entre o céu turquesa e as águas levemente eriçadas do mar, fulgurando deestranha beleza está Jesus, que o convida:

– Levi, filho de Alfeu, segue-me!

Era mais do que um convite, tratava-se de uma ordem, uma convocação, doce eforte.

O cobrador não teve dúvidas, levantou e O seguiu.

As cidadezinhas da margem do lago de Cafarnaum esplendem ao Sol dourado, osseus muros estão carregados de trepadeiras de flores miúdas que colocam variação decores, enquanto as borboletas bailam entre os festões e as folhas rasgadas daspalmeiras ondulantes.

“Cafarnaum, situada nas fronteiras do domínio de Herodes Antipas com o de Filipe,tinha um posto aduaneiro que era importante, porque ficava no entroncamento dasestradas que ligavam Damasco ao Mediterrâneo e ao Egito”. Pastorino.

Há uma estranha festa, uma diferente alegria no ar, nos caules verdejantes dasplantas, no estalido dos galhos secos a se arrebentarem no chão sob os pésandarilhos, como se fossem o pulsar do coração da Natureza em sorrisos de

esperanças.

As caravanas se movimentam no rumo das terras, o vozerio dos pescadores semistura à gritaria da infância, à exuberância do Dia.

Levi, o antigo publicano (cobrador de impostos) exulta, tendo saído do inverno dospreconceitos ao qual o haviam atirado para os júbilos do verão que passava aexperimentar. Estava renascido e desejava demonstrá-lo. Sentia-se impulsionado arealizar algo diferente, que sensibilizasse a cidade, o povo, os conhecidos, osinimigos…

Já não se sentava no telônio, recuperara a cidadania. Estava quase feliz.

Telônio – Agência onde se fazia o câmbio de moedas entre os judeus, no tempode Jesus.

Publicanos - “agentes do tesouro púbico” e os gregos telônes, palavra compostade télos (imposto) e ônéomai (comprar), constituíam classe detestável, vivendo sobchuvas de ódio e sarcasmos. Adquiriram por cinco anos, em hasta publica o direito dearrecadarem os impostos das mãos dos dominadores romanos, pagandoantecipadamente, de seu bolso, a importância orçada pelo Tesouro, e ficando a seurisco ser reembolsado pelos particulares. Paga a soma total ao governo, o coletordistribuía seus agentes para cobrar taxas de pedágios, de trânsito de mercadorias, decaravanas, do comércio, de alfândegas, etc., de todo o distrito que lhe estava afeto. Oque conseguisse cobrar era seu, inclusive se havia (e havia sempre) superavit. Alguns,mais afortunados, compravam os impostos de uma província inteira, sendo então“chefe de publicanos”, como era o caso de Zaqueu (Lucas 19: 3). Como o povo eraoprimido por eles, que buscavam reaver seu dinheiro com lucro, o povo os odiava,inclusive porque o empréstimo antecipado lhes valia uma autorização oficial de“cobradores da dívida pública”. E toda a classe era desprezada e comparada aos“pecadores”. E eram malvistos porque, em geral, cobravam mais do que deviam, paraaumentar seus rendimentos (Lucas 3:12-13). No mundo profano havia o mesmopensamento e Cícero os chama “os mais vis dos homens”. Os judeus consideravam“traidores e apóstatas”, tanto que o Talmud os proibia de servir de juízes ou detestemunhas nos processos: e consideravam-nos “legalmente impuros”, por seu

contato constante com os não judeus.

Zaqueu também era publicano. Eram divididos em três ramos distintos:

Decumani (arrecadavam dízimos). Partiores (encarregavam-se das alfândegas) ePecuarii (recebiam as taxas sobre o solo e pastagens). Eram dirigidos pelo adquirentedos direitos da cobrança a quem prestavam obediência e a quem se uniam, pordesconsiderados pelos compatriotas. Tidos como ignóbeis por se ligarem aoestrangeiro dominador e por infringirem Moisés e a Lei, eram, por outro lado,detestados pelos invasores que os subestimavam e os humilhavam com reproches.

(Primícias dos Reino – Amélia Rodrigues e Pastorino)

Convidou o Rabi a um banquete no seu lar, onde cuidadosamente preparou amesa, repletando-a com bons vinhos, de Siquém, de Chipre, o precioso falerno emtons rubi, peixes assados e fritos, maçãs de Méron, romãs de Corazim, azeite e melpreciosos de Hébron. A toalha de linho branco mal comportava a abundância de taças,pratos, baixelas…

Dicionário:

Siquém:

hoje chamada de Nablus, situada na SAMARIA, entre os montes Gerizim e Ebal,64 km ao norte de Jerusalém.

Chipre:

Ilha do mar Mediterrâneo. Foi campo missionário em que trabalharam Paulo,Barnabé e João Marcos (At 13.4-13). Chamada também de QUITIM (Is 23.1,12, RC).

Méron:

Riacho e pequeno lago, também chamado de lago Hulé, pelo qual passa o rioJordão. Está situado entre o monte Hermom e o lago da Galileia (Js 11.5-7).

Corazim:

Cidade que ficava três km ao norte de Cafarnaum (Mt 11.21).

Hébron:

Cidade muito antiga, situada 30 km ao sul de Jerusalém. Antes de ter esse nome,chamava-se Quiriate-Arba. Abraão, Isaque e Jacó apreciavam Hebrom, e ali ficava asepultura da família (Gn 23.2,19; 35.27). Hebrom foi dada a Calebe (Js 14.6-15) e setornou uma CIDADE DE REFÚGIO. Por 7 anos e meio foi sede do governo de Davi(2Sm 2.11). Em Hebrom se produzem excelentes uvas e azeitonas.

A porta da entrada, serviçais sustentavam vasilhames com água pura para asabluções. Tudo estava preparado e o povo tomado de curiosidade se aglomerou napraia.

Subitamente, dentre os barcos que têm as velas enfumaçadas, destaca-se o deSimão Pedro e, à proa, com túnica brilhante e os cabelos do tom de mel emoldurando-lhe a face, surge Jesus.

Levi tem vontade de gritar, estourar o peito em uma sinfonia de felicidade dantesjamais sentida.

Os seus amigos estão ali, todos aguardam o acontecimento com ansiedade edesconfiança.

Quando Jesus e grupo se aproximam, Mateus avança, curva-se e esfuziante dejúbilo, abre os braços e envolve o nobre visitante.

Sorrindo, o Senhor lhe diz:

– Mateus és realmente muito feliz, porque hoje a felicidade se adentra pelo teu lar.

O banquete transcorre ao som de pífanos e flautas, pandeiros e delicados sinos,enquanto que o ar balsâmico da tarde está carregado de perfumes de madeiraspreciosas que ardem em pequeninas piras fumegantes em volta da mesa farta.

Jesus fez a refeição ao entardecer com os convidados do seu convocado,publicanos como ele, da mesma alfândega, que se interessavam pelo reino que Eletraz. Esclarece uns e orienta outros, explica-lhes qual a estratégia e desenvolver, paraque se implante o reino especial, e toda uma conversação afetuosa se estabeleceu.

"Reclinar-se à mesa (katakeisthai) porque o alimento era tomado enquanto oconviva ficava recostado, quase deitado, num leito mais baixo, com a cabeça apoiadano braço esquerdo, ficando o direito livre para servir-se nos pratos à mesa, algo maisalta. Esse o costume dos banquetes de luxo: provinha da Assíria, tendo penetrado emIsrael (Amós, 6:4), na Grécia e em Roma”. (Pastorino)

Ao terminar o banquete, Jesus se preparava para sair, entre sorrisos e gratidões,quando alguns não convidados da vizinhança, dentre os quais diversos fariseus que seacotovelavam, picados pela inveja e pelos ciúmes, amargos e censores, interrogaramcínicos, a Mateus, tentando humilhá-lo:

– Por que razão vosso Mestre se senta à mesa e come com os publicanos e ospecadores?

Notemos que o termo “pecadores” (hamartolós) tem um sentido próprio em grego:

os “transviados”, isto é, “os que estão fora do caminho certo”.

Para os fariseus e saduceus ortodoxos, todos os não-judeus (gentios) eram“pecadores”, porque não trilhavam a estrada traçada por Moisés. E também eramchamados “pecadores” todos os judeus que mantinham contato com os gentios, comoos agentes fiscais. Fique bem claro, que o termo “pecadores” tem esse sentidoespecial: não eram criminosos, nem delinquentes, mas apenas não seguiam a rigidezlegal, tida como ortodoxia. O banquete que Mateus ofereceu a Jesus era, então,verdadeiro “banquete de pecadores”.

Participar de uma refeição na casa de alguém era fazer-lhe grande honra,mormente para esses homens ricos, mas desprezados; ver Jesus entre eles deve terconstituído imensa alegria, sinal inequívoco de estima e amizade. Mas os judeus, queeram obrigados a recitar as “bênçãos”, jamais admitiam ladear-se com os gentiosnesse ato quase religioso.

Vinte anos após a morte de Jesus, os cristãos que provinham do judaísmorecusavam alimentar-se ao lado dos cristãos provenientes do paganismo (Gál.2:11-14).

11 E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. 12Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios;mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eramda circuncisão. 13 E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira queaté Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação. 14 Mas, quando vi que nãoandavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro napresença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, porque obrigas os gentios a viverem como judeus? Gl 2:11-14

Ao ver, pois, essa promiscuidade, os fariseus escandalizam-se, mas não ousaminvestigar o Mestre: vão aos discípulos para investigar a razão dessa manifestação dedesrespeito aos preceitos mosaicos.

Jesus intervém pessoalmente, para tirar os discípulos de embaraço e fá-lo com fina

ironia, concedendo aos fariseus o título de “justos” e de “sadios” de espírito (santos).Pastorino

A presunção egocêntrica faz que pensem estar isentos de pecados, somenteporque são formais, pusilânimes – o que já é um pecado – e conservadores desuperadas e vazias tradições.

Imperturbável, por conhecê-los interiormente, Jesus, redarguiu:

– Não necessitam de médicos os sãos, mas sim os doentes.

A resposta verdadeira surpreende-os, desmascara-os, porque se sabem enfermostambém, mas o desmedido orgulho os impedem de buscarem medicação. Assim sãoas criaturas humanas, presunçosas das suas pobres prerrogativas. Estão próximas daluz e evitam-na; sentem a presença da paz e recusam-na; experimentam o perfume dafelicidade, mas impedem-se a harmonia…

Doentes que também, eram no seu farisaísmo os inquisidores, Jesus deixou-osaturdidos e foi-se, tranquilo, na direção da noite formosa.

Mateus Levi mudara de atividade, encontrando sua real vocação – anotar almaspara o banquete do reino de Deus.

A expressão “ide aprender o que significa” é fórmula rabínica usada nascontrovérsias. Cita então Oseias (6:6), dizendo que a misericórdia vale muito mais quequalquer sacrifício religioso, e depois cita um aforisma corrente: “não são os sadios queprecisam de médico”. E confirma: não vim chamar, (no sentido de convidar) os justos,mas os “pecadores”. Mais tarde dirá novamente que os “pecadores” e as meretrizesconseguirão o “reino de Deus” antes que os “justos” fariseus e os sacerdotesconvencidos (Mat. 21:31).

A esses era muito mais fácil pregar a Boa Nova, que aos que se julgavam“virtuosos” e “conhecedores”, quase que “donos da verdade”… Pastorino

(*) Mateus 9:9 a 13.

Nota da autora espiritual.

Até o Fim dos Tempos – Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Amélia Rodrigues

Zaqueu, O Rico de Humildade. Lc 9:1-10

Zaqueu adquirira, com a vitória em haste pública, o direito à arrecadação deimpostos, em Jericó, e com eles a herança amaldiçoada que os acompanhava.

Residindo em suntuoso palacete, amealhava alto cabedal de moedas, adornara oreduto doméstico com obras de arte vindas de muitos países e se cercara de luxo, demodo a encher de bens externos o vazio do coração, por saber-se detestado por toda acidade.

De índole afável, no entanto, justificava o ofício com a explicação de que não erampoucos os filhos de Israel que o disputavam diante dos emissários de César.

Quando possível procurava dissipar as nuvens carregadas de malquerença eanimosidade que lhe sombreavam os dias.

De estatura baixa, o que lhe somava mais aflição às angústias, e gordo, Zaqueuera o espécime vivo característico da idiossincrasia da cidade.

Quando possuísse muitos bens e pudesse abandonar a ignóbil tarefa, deixaria acidade, recomeçaria vida nova, longe de Jericó, muito longe...

Zaqueu ouvira falar de Jesus.

Também sentia sede de amor. Ansiava por afeições, amigos... Faziam-lhe falta asorquestrações sonoras da amizade, os largos sorrisos do entendimento e dacompreensão.

A informação que ele comia com pecadores e até palestrava com publicanos, fê-lochorar interiormente. E as lágrimas aljofraram mais fortes, quando seus auxiliares, naalfândega, disseram, com segurança, que entre os que O seguiam com ardor, umhavia, publicano, também, que Ele arrancara de uma Coletoria… (1)

Era um homem rico, porém detestado, vivendo sob altas cargas de ódio que lheatiravam os inimigos, que eram muitos.

Condenavam-no, no entanto, ele adquirira dos romanos esse direito em hastepública e aqueles que mais impiedosa campanha lhe moviam, eram os perdedores quelhe disputavam a função e não a lograram.

A inveja é a arma de efeito mortífero que usam os débeis morais, os fracassados.

Elogiavam-no em presença e perseguiam-no a distância.

Acreditavam que por ser rico deveria cultivar avareza, pelo que seria punido porAbraão.

Zaqueu, todavia, encontrava-se no oficio exercido, um meio que considerava nobrepara viver e dignificar a família (2)

Bartimeu, o cego, vivia em Jericó desde quando Zaqueu podia recordar. Com aescudela miserável, mendigava pelas ruas e nas estradas.

Na Alfândega, com frequência, Zaqueu o socorria. Gostava de atender a miséria,amenizar a dor, ele que sabia o travo da soledade. Esses, os sofredores, não lhenegaram a moeda amiga, que os puritanos e zelosos da Lei recusavam oferta,guardando no semblante de falsa pureza a expressão constante de asco…

Bartimeu, cego e desprezado, tinha algo em comum com ele, Zaqueu: a soledadeem que caminhavam ambos, no meio do povo.

No entanto, àquela tarde, o movimento era inusitado.

Falavam que o Rabi arrancara Bartimeu à cegueira e que o antigo infeliz seadentrara pela cidade, após vencida a Porta, entoando hosanas e exibindo os clarosolhos banhados de indefinível luz.

Eis que o Rabi Galileu se aproxima e logo mais chegará à cidade!

Houve uma explosão emocional na alma de Zaqueu. Mal se podia conter.

O esperado chagara!

Este era o seu momento; o mais precioso momento da vida.

Necessitava fitá-lO.

Não ousaria lhe falar é certo, no entanto…

Se perdesse a ocasião, nunca mais, oh! Certamente, teria outra!

Sôfrego, com o suor álgido a escorrer em bagas pôs-se a correr, - perdendo até apostura de dignidade que a si mesmo se impunha, - seguiu correndo na direção daporta da cidade. (1)

Quando o silêncio desceu sobre a residência do nababo, após a ceia lauta,marcada pelos gestos de ternura, Zaqueu, emocionado, agradeceu ao Mestre e, nãopodendo sopitar o que lhe encontrava estrangulado na garganta, expôs:

– Todos ou quase todos me odeiam…

Havia indecisão na voz e embargamento da emoção.

Aquele era, no entanto, o momento mais significativo da sua vida. Estimulado pelaradiosa expressão do Rabi, prosseguiu:

– A ninguém nunca prejudiquei e procuro ser justo. Sem embargo, me caluniam eagridem com palavras ásperas e olhares de reserva. Que fazer Senhor, dizes-me, Tuque tudo sabes!

– Zaqueu, o dinheiro e a fortuna não são bons nem maus. O uso que deles se faz,a direção que se lhes dá é que os torna nobres ou desventurados...

… Posteriormente, o cobrador de impostos, depois de cumprida a tarefa familiar edistribuindo os recursos, foi viver e pregar o Evangelho noutras terras, recordando oprimeiro encontro do alto do sicômoro e o “inesquecível dialogo” na intimidade do seular, que lhe deu vida. (2)

– Primícias do Reino – Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Amélia Rodrigues. (1)

– Pelos Caminhos de Jesus – Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito AméliaRodrigues (2)

Bartimeu Marcos 10:46-52 (Um salto no tópico. Próximo Mt 9:14-17)

Jericó é considerada uma das cidades mais antigas da Terra, conhecida em árabepor Arihã, na Jordânia, é um verdadeiro oásis entre regiões áridas em que se situa.(Vide estudo com o título: Jericó)

Suas fontes jorram cantantes e transparentes, enquanto os leques de tamareirasoscilam aos ventos brandos do entardecer, contratando com as laranjeiras luxuriantes equase sempre em flor.

Surgida no período neolítico, aproximadamente no sétimo milênio a.C, era cercadade muralhas fortes, que, não obstante, foram reconstruídas cerca de dezesseis vezesapenas no terceiro milênio a.C.

Centro comercial e agrícola próspero, era passagem quase obrigatória entre aGaliléia e Jerusalém.

Havia em Jericó, um conhecido mendigo, filho de Timeu, por isso chamadoBartimeu, que era cego.

Sentado a margem da estrada, carpia a treva em que se encontrava mergulhado,rogando esmolas… Quando escutou a multidão pronunciar o nome de Jesus deNazaré.

Todo ele se comoveu.

Aquela era a sua oportunidade, a última. Ouvira falar dEle e acreditara, na imensadescrença em que se aturdia, na Sua força restauradora.

Rompeu o silêncio, e a voz do desespero gritou pela sua boca:

“- Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!”

Em vez de provocar a compaixão dos que passavam, o egoísmo deles repreendeu-o, pedindo-lhe quietação.

Tinham o Mestre e queiram-nO para si, sem facultar a mesma bênção aos demais.

O infeliz, todavia, sem temer, com a coragem dos desesperados, prosseguiu,rogando:

“- Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!”

O Senhor, sentindo-lhe a ansiedade e a fé, compadeceu-se dele e pediu que ochamassem, trazendo-o à Sua presença.

Mudara-se a paisagem emocional.

Os acompanhantes, estimulando o cego, já lhe acenavam esperança, afirmando:

“- Coragem, levanta-te, que Ele te chama”.

Desejavam mais um fato, sempre um fato novo.

O diálogo foi de encantamento.

“- Que queres que te faça?” – inquiriu Jesus.

“- Raboni, que eu veja!” – respondeu-Lhe o cego.

Naquele rápido minuto, que sintetizava toda a vida nas sombras, ele quis gritar,mas se deteve paralisado.

“- Vai – impôs-lhe o Mestre – a tua fé te salvou!”

Bartimeu não teve tempo sequer para reflexionar, pois a voz, vibrante e rica deharmonias, penetrando-lhe a acústica da alma, fez que lhe explodisse a claridade nosolhos apagados e ele enxergou.

A luz dourada do Sol, o verde d vida, as cores variadas da festa do dia e do sorrisodos homens dominaram-no, impondo-lhe a sinfonia das lágrimas.

À dor do momento inusitado, fizeram-se a adaptação e a alegria da visão em festade beleza.

Quando ele quis agradecer, o Mestre se havia afastado.

Nunca Ele recebia o reconhecimento dos benefícios do Ser Amor.

Bartimeu é o símbolo dos cegos espiritualmente, em todos os tempos

Pelos Caminhos de Jesus – Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito AméliaRodrigues

O QUE É HOLOCAUSTOS E SACRIFÍCIOS?

– A palavra Holocausto, que em grego significa uma oferenda sacrificialcompletamente (holos) queimada (kaustos). Sacrifício em que a vítima era queimadaem sinal de que o ofertante se dedicava completamente a Deus (ÊXODO 29:18). Enfim,sacrificar-se; dar a vida por uma causa.

“Assim queimarás todo o carneiro sobre o altar; é um holocausto para o SENHOR,cheiro suave; uma oferta queimada ao SENHOR” (ÊXODO 29:18).

SACRIFÍCIOS:

– Dádiva ou oferta a DEUS -"… Este é o sacrifício da páscoa (Pessah - Pular) doSenhor, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios, elivrou as nossas casas. Então o povo inclinou-se e adorou" (ÊXODO 12:27).

Algo oferecido a DEUS em expiação pelo pecado. JESUS é o derradeiro edefinitivo sacrifício que aplaca a ira de DEUS contra a espécie humana -“Nisto está oamor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, eenviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (I JOÃO 4:10).

Os crentes devem levar a vida oferecendo-se ao Senhor como sacrifício vivo. -“Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corposcomo um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”(ROMANOS 12:1).

Basicamente sacrifício, tinha de haver o animal, a lenha, o fogo, o cutelo (faca);

O interessante é que o primeiro holocausto que deveria acontecer na bíblia, quenão aconteceu, foi quando Abraão, seguindo a voz de Deus, subiu ao monte paraoferecer seu filho Isaque, claro que antes disso, já tinham sido feitos outros comanimais, mais o importante é que um sacrifício em holocausto o animal era imoladoderramando-se seu sangue e em seguida era queimado e a sua fumaça era o querepresentava o incenso de louvor a Deus.

OBEDECER É MELHOR DO QUE SACRIFICAR

Deus não requer sacrifício de tolo. Não adianta sacrificar-se, se não tivermosconstante obediência, enfim, primeiramente Deus exige que tenhamos amor eobedeçamos.

Levando para os nossos dias, pois Cristo foi nosso sacrifício vivo, que por uma só veznos remiu* e hoje somos santificados e salvos por Ele.

"Pelo que, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas um corpome preparaste; não te deleitaste em holocaustos e oblações pelo pecado. Então eudisse: Eis-me aqui (no rol do livro está escrito de mim) para fazer, ó Deus, a tuavontade. Tendo dito acima: Sacrifício e ofertas e holocaustos e oblações pelo pecadonão quiseste, nem neles te deleitaste (os quais se oferecem segundo a lei); agoradisse: Eis-me aqui para fazer a tua vontade. Ele tira o primeiro, para estabelecer osegundo. É nessa vontade dele que temos sido santificados pela oferta do corpo deJesus Cristo, feita uma vez para sempre" (HEBREUS 10:5-10);

Cerimônias religiosas ou rituais são vazios, a menos que apresentados comatitude de amor e obediência.

Pois o sacrifício era um ritual que demonstrava a comunhão entre o homem eDeus.

“Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou umavez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção” (HEBREUS 9:12).

Davi disse: “Sacrifício e oferta não quiseste; os meus ouvidos abriste; holocausto eexpiação pelo pecado não reclamaste” (Salmos 40:6). Cria que Deus cuidava dele,desde que fosse constante no serviço da obra de Deus em sujeição.

"Mas eu sou pobre e necessitado; contudo o Senhor cuida de mim. Tu és o meuauxílio e o meu libertador; não te detenhas, ó meu Deus" (SALMOS 40:17).

Deus havia estabelecido um sistema de sacrifícios para encorajar Israel aobedecer-lhe alegremente. Ele exigiu que o povo fizesse esses sacrifícios não porqueos sacrifícios o agradavam, mas porque faziam o povo reconhecer seus pecados e

voltar-se para Deus.

Depois de algum tempo, os israelitas continuaram a oferecer fielmente ossacrifícios, mas se esqueceram da razão pela qual o faziam, e passaram adesobedecer a Deus. Consequentemente, os israelitas pagariam o preço por suadesobediência e pensar que seus sacrifícios eram suficientes, com isto foram cativos,por serem rebeldes.

“Ouvi esta palavra, que levanto como uma lamentação sobre vós, ó casa deIsrael…” (AMÓS 5:1).

"Ouve tu, ó terra! Eis que eu trarei mal sobre este povo, o próprio fruto dos seuspensamentos; porque não estão atentos às minhas palavras, e rejeitam a minha lei.Para que, pois, me vem o incenso de Sabá e a melhor cana aromática de terrasremotas? Vossos holocaustos não me agradam, nem me são suaves os vossossacrifícios" (JEREMIAS 6:19-20).

“Pois sei que são muitas as vossas transgressões, e graves os vossos pecados;afligis o justo, aceitais peitas, e na porta negais o direito aos necessitados” (AMÓS5:12).

“Buscai o bem, e não o mal, para que vivais; e assim o Senhor, o Deus dos exércitos,estará convosco, como dizeis” (AMÓS 5:14).

"Odeio, desprezo as vossas festas, e as vossas assembleias solenes não meexalarão bom cheiro. E ainda que me ofereçais holocaustos, ofertas de alimentos,não me agradarei delas; nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animaisgordos. Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodiasdas tuas violas. Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiroimpetuoso. Oferecestes-me vós sacrifícios e oblações no deserto por quarenta anos, ócasa de Israel? Antes levastes a tenda de vosso Moloque, e a estátua das vossasimagens, a estrela do vosso deus, que fizestes para vós mesmos. Portanto vos levareicativos, para além de Damasco, diz o SENHOR, cujo nome é o Deus dos Exércitos"(AMÓS 5:21-27).

"Com que me apresentarei diante do Senhor, e me prostrarei perante o Deusexcelso? Apresentar-me-ei diante dele com holocausto, com bezerros de um ano?Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de miríades de ribeiros de azeite?Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto das minhas entranhas pelopecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que oSenhor requer de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benevolência, e andeshumildemente com o teu Deus?" (MIQUÉIA 6:6-8).

“Esta é a aliança que farei com eles Depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei asminhas leis em seus corações, E as escreverei em seus entendimentos; acrescenta: Ejamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades” (HEBREUS 10:16-17).

(1)

Jeremias: - “Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra doEgito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios” ( Jr 7:22 );

O Senhor Jesus ordenou aos fariseus e escribas que aprendessem o significado daordem: - ‘Misericórdia quero, e não sacrifício’ “Ide, porém, e aprendei o que significa:Misericórdia quero, e não sacrifício” (Mt 9:13), certamente porque aqueles homensdoutos da religião judaica desconheciam o significado da ordem divina.

Os escribas e fariseus eram homens versados na lei mosaica e estudavam ossalmos e os profetas. Inclusive consideravam o povo como malditos porque nadaconheciam da lei (Jo 7:49). Mas, a despeito de todo conhecimento que julgavam ter,Jesus mandou que fossem e aprendessem o significado da Escritura que diz:‘Misericórdia quero, e não sacrifícios’ (Os 6:6).

Se os doutores à época desconheciam o verdadeiro significado do exigido porDeus, será que o homem do nosso tempo conseguiu aprender o que Jesus ordenou?

Qual é a misericórdia que Deus exige?

É suficiente ir aos dicionários e pesquisar o sentido do termo ‘misericórdia’? O quedizem os dicionários?

É comum ouvir que ‘misericórdia’ diz de uma virtude, ou um sentimento que leva oshomens a se compadecerem da miséria alheia. Termos como: piedade, compaixão,amor, caridade, etc., são traduzidos por misericórdia e comumente utilizados para fazerreferencia ao sentimento despertado diante da infelicidade do outro.

O significado bíblico de misericórdia encontra-se no evento em que Samuelrepreende o rei Saul, portanto se faz necessário rever todas as nuances da história quenarra o extermínio dos amalequitas.

Quando o povo de Israel foi tirado do Egito, os Amalequitas saíram ao campo debatalha contra Israel, e Deus fez o seguinte juramento:

“Escreve isto para memória num livro, e relata-o aos ouvidos de Josué; que eutotalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus” (Ex 17:14).

Passado muitos anos, o povo de Israel pediu um rei (1Sm 10:19), e Saul foiaclamado rei (1Sm 10:24). Ao cabo de dias, veio a palavra do Senhor a Samuelincumbindo Saul com a missão de exterminar completamente os amalequitas:

“ENTÃO disse Samuel a Saul: Enviou-me o SENHOR a ungir-te rei sobre o seupovo, sobre Israel; ouve, pois, agora a voz das palavras do SENHOR. Assim diz oSENHOR dos Exércitos: Eu me recordei do que fez Amaleque a Israel; como se lheopôs no caminho, quando subia do Egito. Vai, pois, agora e fere a Amaleque; e destróitotalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até amulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até as ovelhas, e desde oscamelos até aos jumentos”

(1Sm 15: 1-3).

Saul convocou o povo para a batalha e emboscou a cidade de Amaleque. Como nacidade estavam os queneus, Saul deu ordem aos queneus que deixassem a cidadepara que não fossem destruídos com os amalequitas (1Sm 15:6). Esta determinação

se deu pelo fato de os queneus terem sido ‘misericordiosos’, pelo que Deus ospreservou em vida (1Sm 15:6).

Ora, em primeira Samuel 15, verso 6, o termo ‘misericórdia’ é empregadosegundo o que consta nos dicionários, pois os queneus tiveram piedade dos filhos deIsrael quando no deserto.

A bíblia descreve que após os queneus se retirarem do meio dos amalequita, Saulpromoveu segundo o que Deus lhe ordenara uma carnificina, pois foram mortoscrianças, mulheres, velhos, homens, etc.: ‘feriu Saul aos amalequitas desde Havilá atéchegar a Sur, que está defronte do Egito’(1Sm 15:7).

Mas, da matança empreendida, Saul e o povo acharam por bem preservar a vidade Agague, o rei dos amalequitas e o melhor das ovelhas e vacas (1Sm 15:8 -9). Saule o povo não quiseram destruir totalmente os amalequitas, contrariando uma ordemexpressa de Deus, consequentemente, o juramento que Deus fez a Moisés não secumpriu ( Ex. 17:14 ).

Sob a ótica humana, o que Saul fez foi usar de ‘misericórdia’ para com Agague,pois poupou a vida de Agague. Mas, e a ordem de Deus?

Em seguida veio à palavra de Deus ao profeta Samuel, dizendo: “Arrependo-me dehaver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir, e não cumpriu as minhaspalavras” (1Sm 15:11).

Saul entendia que havia cumprindo a ordem de Deus ( 1Sm 15:13 ), porém, estafoi a palavra de Deus: “Porventura, sendo tu pequeno aos teus olhos, não foste porcabeça das tribos de Israel? E o SENHOR te ungiu rei sobre Israel. E enviou-te oSENHOR a este caminho, e disse: Vai, e destrói totalmente a estes pecadores, osamalequitas, e peleja contra eles, até que os aniquiles. Por que, pois, não destesouvidos à voz do SENHOR, antes te lançaste ao despojo, e fizeste o que parecia mauaos olhos do SENHOR?” (1Sm 15:17 -19).

Diante do exposto por Deus, aniquilar os amalequitas aos olhos de Deus era o

‘bem’, e preservar uma única alma com vida o ‘mau’! Mas, Saul ainda não havia sedado conta do que fizera e contra argumenta: “Antes dei ouvidos à voz do SENHOR, ecaminhei no caminho pelo qual o SENHOR me enviou; e trouxe a Agague, rei deAmaleque, e os amalequitas destruí totalmente; Mas o povo tomou do despojo ovelhase vacas, o melhor do interdito, para oferecer ao SENHOR teu Deus em Gilgal”

( 1Sm 15:20 -21).

Neste evento a lição da misericórdia está sendo ensinada por Deus, mas osescribas e fariseus, apesar de examinadores das Escrituras, ainda não haviamaprendido: “Porém Samuel disse: Tem porventura o SENHOR tanto prazer emholocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que oobedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura decarneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é comoiniquidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também terejeitou a ti, para que não sejas rei” ( 1Sm 15:22 -23).

O prazer de Deus está em que o homem obedeça a sua palavra, e não emsacrifícios. Esta é uma verdade que ecoa por toda a Escritura, a mesma Escritura queos escribas e fariseus manuseavam:

“Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos”(Sl 51:16);

“Fazer justiça e juízo é mais aceitável ao SENHOR do que sacrifício” (Pv 21:3);

"De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o SENHOR? Jáestou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem meagrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes" (Is 1:11);

“Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nemlhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios” (Jr 7:22);

“Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus,mais do que os holocaustos” (Os 6:6).

Deus não estava interessado em sacrifícios de bois e carneiros, antes na‘misericórdia’ “Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento deDeus, mais do que os holocaustos” ( Os 6:6 ).

Deus exige do homem ‘misericórdia’, mas que tipo de misericórdia? Para Saul,misericórdia significava destruir completamente os amalequitas. Enquanto Saul estavamatando velhos, crianças, moças, mulheres, homens, etc., estava sendo‘misericordioso’, mas quando decidiu preservar Agague, Saul deixou de ser‘misericordioso’.

Qual o significado de ‘misericórdia’ que é exigida por Deus através de Oseias?Qual o conceito de ‘mau’ empregado por Deus ao falar a Saul por intermédio deSamuel?

Ora, através do que foi analisado até o momento, verifica-se que o conceito de‘misericórdia‘ exigido por Deus destoa do significado que consta nos dicionários: A‘misericórdia’ que Deus exige do homem significa obediência à Sua palavra.

Este significado que a bíblia apresenta acerca da ‘misericórdia’ decorre dosadágios, enigmas, parábolas e símiles existentes nas Escrituras que Deus apresentoupor intermédio dos seus profetas (Mt 13:35). É em função desta peculiaridade que osignificado de misericórdia na bíblia possui uma tradução variável, sendo traduzido porvezes por: amor, caridade, compaixão, etc., porém, o conceito que emerge do termoé ‘obediência’. Compare:

“Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício” (Os 6:6 );

“Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar” (1Sm 15:22).

Quando enviou Saul para destruir os amalequitas, Deus estava velando paracumprir a sua palavra, e Saul que se dizia servo de Deus não teve compromisso com aordenança de Deus.

Por não cumprir cabalmente o ordenado por Deus, Saul foi rejeitado. Aodesobedecer a palavra de Deus Saul tornou-se abominável a Deus, comparável a umidolatra ou feiticeiro.

Deus não queria nada do interdito, antes cumprir o seu juramento que fizera aMoisés, de modo que a vontade de Deus era que Saul obedecesse a sua palavra.

Ora, enquanto Saul exterminava os amalequitas, estava obedecendo, estavatributando a Deus a ‘misericórdia’ exigida. Como Saul não foi ‘benigno’ matando todosos amalequitas, antes fez o que era mau aos olhos de Deus, Deus mostrou-seindomável a Saul “Com o benigno te mostrarás benigno; e com o homem sincero temostrarás sincero; Com o puro te mostrarás puro; e com o perverso te mostrarásindomável” (Sl 18:25-26).

O benigno, o sincero, o puro, o misericordioso é aquele que obedece a palavra doSenhor. A palavra proferida por Deus “E faço misericórdia a milhares dos que meamam e aos que guardam os meus mandamentos” (Ex 20:6), é Deus apresentando oprincípio da misericórdia ao povo lá no Êxodo, esta palavra não sofreu variação, nãomudou ao longo dos tempos.

Quando Jesus diz: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarãomisericórdia” (Mt 5:7), estava demonstrando que somente alcançam misericórdiaaqueles que guardam o mandamento de Deus. Os que ‘obedecem’ a ordenança deDeus são os ‘misericordiosos’, ou os que ‘amam’ a Deus, por conseguinte, são aquelesde quem Deus tem misericórdia.

Deus apresentou seu princípio da misericórdia que Ele mesmo exige na Lei, e nãodeixou de apresentá-la nos profetas. O protesto de Deus através de Oseias demonstraque a misericórdia exigida é o amor, a obediência:

“Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa benignidade é comoa nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa” (Os 6:4). O

termo ‘benignidade’ é traduzido também por ‘amor’, ‘misericórdia’ e ‘obediência’.

Neste ponto é possível compreender a fala de Deus a Moisés: “Pois diz a Moisés:Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tivermisericórdia” (Rm 9:15).

Ora, Deus estabeleceu que terá misericórdia dos ‘misericordiosos’, ou seja,daqueles que deixam os seus pensamentos e que se convertem ao Senhor “Deixe oímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta aoSENHOR, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é emperdoar” (Is 55:7).

Quando Samuel ordenou que trouxesse a Agage, o rei amalequita, e odespedaçou, cumpriu o mandamento de Deus e, consequentemente, a palavra queDeus havia prometido a Moisés cumpriu-se cabalmente (1Sm 15:33). Naquelemomento Samuel exerceu a ‘misericórdia’ exigida por Deus. Samuel realizou o que erabom aos olhos de Deus, pois na condição de servo do Senhor levou a cabo a promessaque Deus fizera a Moisés.

Somente compreendendo que a ‘misericórdia’ exigida por Deus é obediência à suapalavra, é possível interpretar o alerta: "Ide, porém, e aprendei o que significa:Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas ospecadores, ao arrependimento" ( Mt 9:13 ).

A importância desta fala de Jesus destaca-se pelo fato dos três evangelistaregistrarem a convocação de Levi para ser discípulo: Mateus, Marcos e Lucas ( Mt 9:9-13 ; Mc 2:13 -17; Lc 5:27 -32).

Os elementos para analisarmos a misericórdia e compreendermos a citação queJesus faz do profeta Oseias possuía como plano de fundo a história da vocação deMateus. Jesus passou pela recebedoria e convidou o cobrador de impostos a tornar-sediscípulo, e em resposta Mateus não fez caso do serviço que desempenhava junto aos

Romanos, pois deixou tudo e seguiu a Jesus.

Em seguida, conforme narra o evangelista Lucas, Mateus fez um grande banquetee muitos publicanos e pecadores reuniram-se em sua casa para comerem (Lc 5:29).

Aquela profusão de pecadores e publicanos assentados com Jesus à mesa paracomer fez os escribas e fariseus murmurarem e perguntarem aos discípulos de Jesus: -“Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?”.

A resposta de Jesus ecoou no recinto em tom de reprimenda à murmuração dosescribas e fariseus:

“Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim,os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício.Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento” (Mt 9:12-13).

Ao demonstrar que os que precisam de médico são os doentes, e não os sãos,Jesus enfatizou qual era a sua missão. Não há registro de que naquele banquete Jesustenha realizado algum sinal miraculoso, o que dá a entender que a missão precípua deJesus refere-se a salvar a humanidade do pecado, visto que Ele veio chamar ospecadores a uma mudança de concepção (metanoia).

O profeta Isaías descreveu o Messias como aquele que levaria sobre si as ‘nossasenfermidades’, e o termo ‘enfermidade’ é uma figura utilizada para retratar o pecadoda humanidade. Ao assentar-se com os pecadores para banquetear-se, Jesus estavaem busca dos perdidos, dos pecadores, dos enfermos, pois Ele veio para levar sobre sias enfermidades “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e asnossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido”( Is 53:4 ).

Este é um dos aspectos da profecia: através de figuras representa a realidade.

Através de enigmas, parábolas, símiles, etc., têm-se elementos distintos queevidenciam uma ideia por similaridade, comparação “Falei aos profetas, e multipliquei avisão; e pelo ministério dos profetas propus símiles” (Os 12:10 ).

Atualmente é comum entender que as ‘enfermidades’ que Jesus levou sobre sireferem-se às enfermidades físicas em virtude das ações miraculosas que Cristooperou em meio ao povo, porém, as ‘enfermidades’ e as ‘dores’ que Jesus levou sobresi, na verdade, referem-se às transgressões, às iniquidades, ou seja, ao pecado dahumanidade:

“Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa dasnossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suaspisaduras fomos sarados” ( Is 53:5).

A propositura de símiles através dos profetas visava trazer à compreensão dohomem que o pecado se assemelhava a uma enfermidade. Jesus não levou ao calváriocegueira, lepra, paralisia, epilepsia, etc., antes ele foi moído pelo pecado dahumanidade. A enfermidade que pesava sobre a humanidade diz da morte, daseparação, da inimizade que se estabeleceu entre Deus e os homens em função daofensa de Adão.

É em razão de todos os homens se desviarem e juntamente se tornarem imundosque foi do agrado do Pai fazer o Cristo enfermar (moê-Lo) ao colocá-Lo por expiaçãodo pecado:

“Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua almase puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e obom prazer do SENHOR prosperará na sua mão” (Is 53:10);

“Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem,não, nem sequer um” (Sl 53:4).

Mas, se Deus prometeu enviar o Messias para expiar o pecado do povo, é obvio

que com esta ação Deus estava demonstrando que o povo era pecador (Mq 1:5).

Seria um contra senso Deus colocar o seu Filho Unigênito por expiação do seupovo, se o povo não fosse pecador ( Mt 1:21 ).

Como Deus pôs a alma do Messias por expiação do pecado, certamente o povotinha que reconhecer-se pecador. Como veio salvar os ‘enfermos’, neste caso, Jesusnão seria de proveito algum para os que presumiam que não estavam enfermos;

“Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas doreslevou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido” ( Is 53:4 ).

É necessário a qualquer que deseja a salvação reconhecer seu estado deperdição, assim como era necessário aos escribas e fariseus reconhecerem queestavam perdidos como ovelhas desgarradas, pois o Cristo foi enviado aos perdidos,enfermos “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviavapelo seu caminho; mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos” ( Is53:6 ).

Jesus anunciou ter sido enviado as ovelhas perdidas da casa de Israel quando osdiscípulos rogaram que despedisse a mulher Cananéia: - “Senhor, Filho de Davi, temde misericórdia de mim, que a minha filha esta miseravelmente endemoniada” ( Mt15:22 ); “E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas dacasa de Israel” ( Mt 15:24 ).

Embora não quisessem enxergar a verdade, através desta parábola Jesusdemonstra que os israelitas estavam fatalmente perdidos, enfermos “E aqueles dosfariseus, que estavam com ele, ouvindo isto, disseram-lhe: Também nós somos cegos?Disse-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis:Vemos; por isso o vosso pecado permanece” ( Jo 9:40-41).

Os escribas e fariseus entendiam que não eram como os demais homens,pecadores, e chegavam ao ponto de acreditarem que observavam a lei cabalmente.Eles não se sentiam necessitados, órfãos, pobres, tristes, oprimidos, antes acreditavam

que tinham Abraão por pai, portanto, se consideram abastados, salvos ( Mt 23:28 ).

Um enfermo reclama de suas dores e um pecador, por sua vez, dos seus pecados,mas dos judeus ouvia-se somente que nunca foram escravos de ninguém. Sob estaótica, se não estavam perdidos, porque esperavam um salvador? Eles desejavam umredentor nacional, mas Deus havia providenciado redenção do pecado. Daí a fala doapóstolo Paulo: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis detodos os homens” ( 1Co 15:19 ).

A fala dos judeus frente a mensagem de Cristo era como se não necessitassem daintervenção divina para serem salvos. Com provérbio “Os sãos não necessitam demédico”, Jesus demonstrou que fora enviado aos perdidos, ou seja, a todos oshomens, porém, os judeus estavam apegados à lei, à circuncisão e à descendência deAbraão para serem salvos.

Os escribas e fariseus precisavam reconhecer que estavam enfermos para serembeneficiados com a vinda do Messias. Mas, os dizeres dos escribas e fariseus eramcomo a de uma ovelha gorda e forte “A perdida buscarei, e a desgarrada tornarei atrazer, e a quebrada ligarei, e a enferma fortalecerei; mas a gorda e a forte destruirei;apascentá-las-ei com juízo” (Ez 34:16 ).

Diante da mensagem do evangelho alguns pareciam dar credito, visto que muitosvieram ao batismo de João, e outros até creram em Cristo, porém, quando eram postosà prova, tais judeus apresentavam a argumentação de que nunca foram escravos deninguém, que eram filhos de Abraão, etc. (Jo 8:31 e Mt 3:9).

Jesus não veio convocar os livres, porém os seus interlocutores alegavam nuncaterem sido escravos de ninguém (Jo 8:33). Jesus veio buscar os perdidos, os doentes,os necessitados, os tristes, etc., porém, os filhos de Jacó consideravam nunca teremtransgredido a aliança de Deus “E saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele,disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento,e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos” (Lc 15:29).

Neste diapasão, muitos dos filhos de Jacó achavam ter uma condição diferenciadadiante de Deus por não se comportarem conforme os demais homens: “O fariseu,estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não soucomo os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como estepublicano” ( Lc 18:11 ; Lc 13:1 -2).

Os escribas e fariseus presumiam de si mesmos que tinham por pai Abraão ( Mt3:9 ), pelo fato de serem descendente da carne de Abraão, entretanto, somente os quepertencem a Cristo são filhos de Deus “E, se sois de Cristo, então sois descendênciade Abraão, e herdeiros conforme a promessa”

( Gl 3:29 ).

Por se acharem justos é que Jesus conta a parábola das cem ovelhas,demonstrando que a ‘ovelha perdida’ são aqueles que reconhecem a sua real condiçãoe, por isso, Jesus veio em busca delas, e as ‘noventa e nove ovelhas no deserto’referem-se àqueles que são justos aos seus próprios olhos, pois presumem que nãoestão perdidas e que não necessitam de arrependimento “Digo-vos que assim haveráalegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e novejustos que não necessitam de arrependimento” (Lc 15:7).

Para aprenderem o que significa ‘misericórdia quero’, os escribas e fariseus teriamque ler Oseias 6, onde vem expresso o convite para se converterem ao Senhor, pois foiDeus quem os despedaçou e feriu, mas caso arrependessem, Deus haveria de sará-los“VINDE, e tornemos ao SENHOR, porque ele despedaçou, e nos sarará; feriu, e nosatará a ferida. Depois de dois dias nos dará a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, eviveremos diante dele” (Os 6:1 ; Dt 28:63).

Se Deus prometia dar vida aos filhos de Israel, ressuscitando-os, significa queestavam mortos perante o Senhor. Somente após obterem a vida proveniente d’Ele, osarrependidos poderiam conhecê-Lo e prosseguir em conhecê-Lo.

O profeta Oseias compara a vinda do Senhor como a aurora. A mesma certeza quese tem que o sol virá, é a certeza quanto à vinda do Senhor, e a sua vinda seria como a

chuva serôdia, pois trará vida a toda erva do campo (Os 6:1 ; Sl 72:6).

Mas, diante da rebeldia de Efraim e de Judá Deus pergunta: - ‘Que te farei, óEfraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa benignidade é como a nuvem da manhãe como o orvalho da madrugada, que cedo passa’(Os 6:4). O termo ‘benignidade’ aquiapresentado possui o mesmo valor de amor, misericórdia e obediência.

Como os da casa de Jacó não obedeciam a Deus segundo a sua palavra, Deusapresenta o motivo pelo qual os abateu através dos profetas. Moisés foi um dosprofetas que previu que os filhos de Jacó deixaria o caminho do Senhor e cada umseguiria os seus próprios conceitos, e por isso seriam castigados ( Os 6:5 ).

Enquanto não fizessem esta oração do salmista, não seriam atendidos: “Venhaperante a tua face o gemido dos presos; segundo a grandeza do teu braço preservaaqueles que estão sentenciados à morte” (Sl 79:11), pois foi isto que Deus ordenou porintermédio de Moisés: “Porque introduzirei o meu povo na terra que jurei a seus pais,que mana leite e mel; e comerá, e se fartará, e se engordará; então se tornará a outrosdeuses, e os servirá, e me irritarão, e anularão a minha aliança. E será que, quando oalcançarem muitos males e angústias, então este cântico responderá contra ele portestemunha, pois não será esquecido da boca de sua descendência; porquantoconheço a sua boa imaginação, o que ele faz hoje, antes que o introduza na terra quetenho jurado” (Dt 31:20-21).

Dai o apelo: - “Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimentode Deus, mais do que os holocaustos”. Israel não reconhecia que transgredira a aliançaem Adão, o que os tornava aleivosos “Mas eles transgrediram a aliança, como Adão;eles se portaram aleivosamente contra mim” (Os 6:7). Adão, o primeiro pai dahumanidade havia pecado, e todos pecaram, inclusive os filhos de Jacó (Is 43:27),porém, achavam que por serem descendentes da carne de Abraão eram filhos deAbraão. Prevaricaram na interpretação.

Por causa da multidão de sacrifícios que traziam ao templo, o povo de Israelentendia que era aceito por Deus, mas o que era importante negligenciavam: a

obediência "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, oendro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé;deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas" (Mt 23:23).

O que desprezavam? Que o juízo de Deus será sem misericórdia para comaqueles que não usaram de misericórdia! “Porque o juízo será sem misericórdia sobreaquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo” (Tg 2:13). Ora, aovelha gorda é a que não fez misericórdia, será apascentada com juízo “A perdidabuscarei, e a desgarrada tornarei a trazer, e a quebrada ligarei, e a enfermafortalecerei; mas a gorda e a forte destruirei; apascentá-las-ei com juízo” (Ez 34:16).

Quando os filhos de Jacó não se lembraram de fazer misericórdia? Quando o aflitode Deus veio ao mundo para levar sobre si as enfermidades dos filhos do seu povo,não creram n’Ele, antes perseguiram o homem aflito de Deus – Jesus (Is 53:7). Nãoatenderam o convite do homem que era humilde e manso de coração “Porquanto nãose lembrou de fazer misericórdia; antes perseguiu ao homem aflito e ao necessitado,para que pudesse até matar o quebrantado de coração” (Sl 109:16 ; Mt 11:29).

Deveriam obedecer da lei os estatutos que versavam sobre a ‘misericórdia’ e a ‘fé’,em lugar de se lançarem aos sacrifícios ( Is 1:11 ).

Apesar do privilégio de manusearem as Escrituras constantemente, os lideres deIsrael, rejeitavam a palavra de Deus. Não lançavam mão da recomendação do profetaOséias, pois em lugar de sacrifícios, os escribas e fariseus deveriam tomar consigopalavras: “Tomai convosco palavras, e convertei-vos ao SENHOR; dizei-lhe: Tira toda ainiquidade, e aceita o que é bom; e ofereceremos como novilhos os sacrifícios dosnossos lábios” ( Os 14:2 ), o que demonstraria que reconheciam que haviam caído comtoda a humanidade e necessitavam de Deus “CONVERTE-TE, ó Israel, ao SENHORteu Deus; porque pelos teus pecados tens caído” (Os 14:1); “Porque Deus encerrou atodos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia” ( Rm 11:32 ).

Mas, porque Deus exige palavras em lugar dos sacrifícios? Porque as palavrasevidenciam o que há no coração. Se o homem reconhece que é pecador e admite que

Jesus é o Filho de Deus, demonstra que verdadeiramente arrependeu-se dos seusconceitos e que verdadeiramente crê em Cristo.

Mas, se com a boca continuam a confessar conforme os escribas e fariseusalegando ter por pai Abraão, demonstram que não se arrependeram e que confessam oque há em seus corações perversos "Raça de víboras, como podeis vós dizer boascoisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca" (Mt12:34); “Cada um se fartará do fruto da sua boca, e da obra das suas mãos o homemreceberá a recompensa” (Pv 12 : 14); “Do fruto da boca de cada um se fartará o seuventre; dos renovos dos seus lábios ficará satisfeito” (Pv 18:20).

Se obedecessem a mensagem do evangelho, os escribas e fariseus seapresentariam com as seguintes palavras: “Pai, pequei contra o céu e perante ti, e jánão sou digno de ser chamado teu filho” (Lc 15:21), e Deus os receberia por filhos. Esteseria o sacrifício verdadeiro segundo o que diz o salmista: “Os sacrifícios para Deussão o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, óDeus” (Sl 51:17); “Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra doEgito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios” (Jr 7:22).

Jesus veio chamar os pecadores a uma mudança de concepção (arrependimento),enquanto os justos aos seus próprios olhos permanecem apegados a sua própriaconcepção. Os que creem em Cristo passam a oferecer o sacrifício dos lábios,confessando a Cristo como salvador ( Hb 13:15 ).

Dai o alerta do pregador: “Há uma geração que é pura aos seus próprios olhos,mas que nunca foi lavada da sua imundícia” (Pv 30:12), pois os justos aos seuspróprios olhos não se deixam lavar da imundícia oriunda da ofensa de Adão.

Quando disse que ‘não veio chamar os justos, mas os pecadores, aoarrependimento’, Jesus está alertando os seus ouvintes segundo o previsto nasEscrituras, de que o Cristo seria enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel, mas osseus não o receberam (Mt 15:24 ; Jo 1:11).

O publicano Mateus não fez caso do cargo que exercia quando foi chamado narecebedoria, pois largou tudo e seguiu após Jesus, assim como Simão, João e Tiago(Lc 5:11 e 28). Agiram como o crente Abraão quando saiu do meio da sua parenteladiante da ordem divina.

Diante do chamado de Cristo, o cobrador de impostos não o negou diante doshomens “Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessareidiante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens,eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus. Não cuideis que vim trazera paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; Porque eu vim pôr em dissensão ohomem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; E assim osinimigos do homem serão os seus familiares. Quem ama o pai ou a mãe mais do que amim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é dignode mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.Quem achar a sua vida pendê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, acha-la-á. Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aqueleque me enviou” (Mt 10:32 -40).

Diante da oposição dos escribas e fariseus, Levi não se fez de rogado, antes amouo Cristo.

Muitos dos principais não fizeram o mesmo que Levi por estarem interessados naglória dos homens “Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele; mas não oconfessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga. Porqueamavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus” ( Jo 12:42 -43).

Os escribas e fariseus portavam-se como Saul que, diante do povo, buscava seraclamado, e por duas vezes rejeitou a ordem de Deus “Como podeis vós crer,recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem só de Deus?” (Jo5:44).

Saul buscava somente ser honrado diante do povo, e tornou-se indigno diante deDeus. No segundo ano do seu reinado, Saul travou batalha contra os filisteus. Os

homens de Israel foram postos em aperto no campo de batalha e fugiram e seesconderam. Samuel havia determinado que viria a Saul em sete dias, porém, comoSamuel não chegou e o povo estava se dispersando, Saul lançou mão dos holocaustose das ofertas pacificas e ofereceu holocausto ( 1Sm 13:9 ).

Quando interpelado por Samuel, Saul argumentou: “Disse Saul: Porquanto via queo povo se espalhava de mim, e tu não vinhas nos dias aprazados, e os filisteus já setinham ajuntado em Micmás, Eu disse: Agora descerão os filisteus sobre mim a Gilgal,e ainda à face do SENHOR não orei; e constrangi-me, e ofereci holocausto” ( 1Sm13:11 -12).

Saul pensou que a benevolência de Deus decorria da oferta de sacrifícios, etomou uma decisão com base em seus sentimentos, pois sentiu-se constrangidoa sacrificar.

Ao guiar-se pelo que pensava e sentia, Saul não guardou o mandamento de Deus,procedendo como um louco (1Sm 13:13).

Mas, apesar do aviso de que procedera nesciamente, Saul não se socorreu da leipara instrui-se, e diante de uma ordem expressa de Deus, temeu o povo e violou omandamento de Deus (1Sm 15:24). Quando confessou que havia pecado, o interesseera de que Samuel o honrasse diante dos anciões de Israel ( 1Sm 15:30 ).

Saul estava em busca da glória de homens, e não se sujeitou a Deus. É impossívelconciliar obedecer a Deus e ser louvado pelos homens. Para agradar a multidão amoeda é o sacrifício, pois através dos sacrifícios é possível aos homens mensurar adevoção dos religiosos.

Na plenitude dos tempos não é através da lei que se serve a Deus, antes énecessário fazer como Mateus: dispor de tudo que possuía, tomar a sua cruz e seguirapós Cristo “E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai,vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a

cruz, e segue-me. Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuíamuitas propriedades” (Mc 10:21 -22).

Hoje, para o homem cumprir o mandamento de Deus basta crer em Cristo como oFilho do Deus vivo que nasceu na casa de Davi, que foi morto e ressurgiu ao terceirodia segundo as Escrituras “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seuFilho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” (1Jo3:23 ; Rm 1:2 -4).

Deus não requer sacrifícios, antes que se obedeça a sua palavra. Ora, os termosmisericórdia, honra, caridade e amor são utilizados nas Escrituras para fazer alusão aobediência a Deus, de modo que aquele que obedece a Deus é o que o ama “Aqueleque tem os meus mandamentos e os guardasse é o que me ama” (Jo 14:21).

Estes termos não se referem a um sentimento do servo para com o seu senhor,antes se refere à resignação do servo em obedecer a ordem do seu Senhor.

A recompensa de um servo está em cumprir o mando do seu senhor. Se fizer comoSaul que visou lucrar glória para si a partir do mandamento do Senhor, servirá aMamon e não a Deus. Visar o lucro com o mandamento de Deus é o mesmo quefeitiçaria, e porfiar neste caminho o mesmo que idolatria.

Daí o alerta de Cristo: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há deodiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir aDeus e a Mamom (Mt 6:24 ). O amor de um servo diz do seu serviço e da suadedicação, de modo que é impossível servir a Deus e ao mesmo tempo receber glóriados homens “Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele; mas não oconfessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga. Porqueamavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus” ( Jo 12:42 -43); “Comopodeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem sóde Deus?” ( Jo 5:44 ).

Os homens de torpe ganância conclamam sacrifício sobre sacrifício, pois dossacrifícios provém o lucro e através deles constroem uma aparência de piedade, já amisericórdia exigida por Deus não é fonte de lucro, antes de salvação “Contendas dehomens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedadeseja causa de ganho; aparta-te dos tais” ( 1Tm 6:5 ); "Tendo aparência de piedade,mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te" ( 2Tm 3:5 ).

Mas, o mistério da misericórdia de Deus, ou seja, da piedade, é Deus manifesto emcarne sendo Ele mesmo a causa de salvação para todos que o obedecem “E, semdúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foijustificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebidoacima na glória” (1Tm 3:16); “E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eternasalvação para todos os que lhe obedecem” (Hb 5:9).

Ser ‘misericordioso’, ‘perfeito’, é a condição exigida para ser filho do Pai celeste“Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso” (Lc 6:36 );“Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:48).Ora, todos os que creem em Cristo tornam-se misericordiosos, obedientes, portanto,lhes é dado poder de serem feitos filhos de Deus (Jo 1:12-13).

Deus é um Deus zeloso, fiel, de modo que aqueles que não o servem (odeiam)será visitada a sua iniquidade, mas aos que são misericordiosos, ou seja, queobedecem a sua palavra, Deus faz misericórdia “Não te encurvarás a elas, nem asservirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dospais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E façomisericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos” ( Dt 5:9-10); “Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; Sesofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; Seformos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo”

(2Tm 2:11 -13).

http://www.casadosenhor.com.br/estudo/?id=341 (1)

http://www.estudobiblico.org/licoes-biblicas/analise-biblica/parabola/750-o-significado-

biblico-de-misericordia-quero-e-nao-sacrificio (2)

ACERCA DO JEJUM Mat. 9:14-17 Mc 2:18-22 Lc 5:33-39

14. Depois foram a ele os discípulos de João, dizendo: “por que é que nós e osfariseus jejuamos, mas teus discípulos não jejuam”?

15. Respondeu-lhes Jesus: “Podem acaso estar tristes os convidados docasamento, enquanto o esposo está com eles?” Mas dias virão em que lhes será tiradoo esposo, e nesses dias jejuarão.

16. Ninguém põe remendo de pano novo em manto velho, porque o remendo, epuxa parte do manto e fica maior o rasgão.

17. Nem se põe vinho novo em odres velhos; senão arrebentam os odres, ederrama-se o vinho e estragam-se os odres; mas vinho novo é posto em odres novos, eambos se conservam.

Marcos 2:18-22

18. Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando.

E eles vieram perguntar-lhe: “por que jejuam os discípulos de João e os dosfariseus, mas os teus discípulos não jejuam”?

19. Respondeu-lhes Jesus: “Podem acaso jejuar os convidados do casamento,enquanto o esposo está com eles?” Durante o tempo em que têm consigo o esposo,não podem jejuar.

20. Dias virão, porém, em que lhes será tirado o esposo, e então nesses diasjejuarão.

21. Ninguém cose remendo de pano novo em manto velho: senão o remendo novorepuxa parte do velho, e torna-se maior o rasgão.

22. “E ninguém põe vinho novo em odres velhos; senão o vinho fará arrebentar osodres e derramar-se-á o vinho e também perder-se-ão os odres; ao invés, vinho novo éposto em odres novos”.

Lucas. 5:33-39

33. Disseram-lhe eles: “os discípulos de João jejuam frequentemente e fazemorações, assim como os dos fariseus; mas os teus comem e bebem”.

34. Mas Jesus disse-lhes: “Podeis fazer jejuar os convidados do casamento,enquanto o esposo está com eles?”.

35. Dias, porém, virão em que lhes será tirado o esposo, então nesses diasjejuarão.

36. Propôs-lhes também uma parábola: “Ninguém tira remendo de manto novo eopõe em manto velho; senão rasgará o novo, e o remendo do novo não combinará como velho”.

37. E ninguém põe vinho novo em odres velhos; senão o vinho novo arrebentará osodres, e ele se derramará, e estragar-se-ão os odres:

38. Ao invés, vinho novo deve ser posto em odres novos.

39. Ninguém que já bebeu o vinho velho, ao ver o novo, pois diz: “o velho émelhor”.

Ainda durante o banquete é apresentada a Jesus outra objeção, desta feitaritualística. Os joanitas (discípulos de João Batista) observam que, num dia de jejum(conforme notícia Marcos), Jesus se banqueteia com seus discípulos. A anotação deMarcos de que os fariseus e joanitas “estavam jejuando” assinala o contraste entre aalegria do banquete e a tristeza “formal” dos que jejuavam.

Não é crível, todavia, que Jesus estivesse afrontando, logo no início de seuministério, um jejum prescrito por lei (como, por exemplo, o “da expiação”, a 10 de tishrisetembro e outubro). Mas havia outras datas, já citadas por Zacarias (8:19) e que,segundo esse profeta deveriam ser abolidas; não obstante, continuavam a serrigorosamente observadas pelos ortodoxos rigoristas.

Assim diz o SENHOR dos Exércitos: O jejum do quarto, e o jejum do quinto, e ojejum do sétimo, e o jejum do décimo [mês] será para a casa de Judá gozo, alegria, efestividades solenes; amai, pois, a verdade e a paz. Zacarias 8:19

Jesus responde com uma comparação: os “filhos da câmara nupcial” expressam os“convidados”, que não podem manifestar luto e tristeza na presença do esposo. Essacomparação é dirigida especialmente aos joanitas, que deviam bem lembrar-se daspalavras do Batista, quando comparou Jesus ao “esposo” e ele mesmo ao “amigo do

esposo” (João, 3:29). E, ainda mais, vem ligar Jesus ao Antigo Testamento, onde seafirma que o esposo por excelência do povo judaico era Adonai (Jer. 2:2; Os. 1:3). Noentanto, breve chegará o tempo em que o esposo "será arrebatado (aparthê), conformetambém escreveu Isaías (53:8), ou seja, será arrebatada da Terra a vida dela.

Vá e grite aos ouvidos de Jerusalém: Assim diz Javé: Eu me lembro do seu afetode jovem, do seu amor de noiva, quando você me acompanhava pelo deserto, numaterra sem plantação. Jr 2:2

Então Oseias foi e tomou Gomer, filha de Deblaim. Ela ficou grávida e lhe deu umfilho.

Os 1:3

Foi preso, julgado injustamente; e quem se preocupou com a vida dele? Pois foicortado da terra dos vivos e ferido de morte por causa da revolta do meu povo. Is 53:8

Vem depois uma frase sentenciosa, em forma de aforismo: “ninguém sobrepõeremendo de pano novo, literalmente” “não molhado”, que portanto encolherá muito aoser lavado, em roupa velha, pois a peça repuxará, e o rasgão ficará maior. Acomparação é nova e bela. Lucas, porém, a apresenta de forma algo diferente:“ninguém arranca um pedaço da roupa nova para remendar outra velha”, pois as duasficariam inutilizadas.

Segue-se outra comparação do mesmo teor, a respeito do vinho. O odre (aindahoje usado no oriente) consiste numa pele de animal, sobretudo bode, devidamentemacerada, cosida nas extremidades e fechada na boca com uma fivela de osso,conservando mais ou menos a forma do animal. Nesses odres eram transportadoslíquidos (água, leite, vinho, óleo ou leben, isto é, leite coalhado). Ora, o vinho novo, aofermentar, arrebentaria a pele já velha e desgastada de ser carregada às costas de umlado para outro, e tanto o vinho se derramaria, como a pele se perderia.

Aqui Lucas acrescenta, também, um versículo novo: quem bebe o vinho velho, nãoquer saber do novo, pois o velho é melhor (em outros manuscritos, “é bom”, sem ocomparativo).

Os exegetas interpretam essas comparações, como a impossibilidade de adaptar-se a “Boa Nova” às velhas doutrinas israelitas, portanto, como afirmação de que a novadoutrina deverá arrebanhar homens libertos de preconceitos e dogmas.

No entanto, pela última frase de Lucas, quem já experimentou o vinho (a doutrinaisraelita) nem quererá saber da nova (o Evangelho), porque julgará sempre que oantigo é o melhor.

Daí concluem que o candidato à nova doutrina de Jesus deverá abandonartotalmente, delas fazendo tabula rasa, todas as suas crenças antigas, sem o quejamais poderá compreender todo o alcance do que Jesus ensinou. (?)

Outras lições vamos aprendendo, aprofundando assim o conhecimento do ensinode Jesus.

Se os fariseus caracterizam, os tipos hipócritas (atores) que representam umacena sem que os sentimentos expressados correspondam ao que lhes vai noíntimo, os joanitas já são exemplo de outra categoria: os rigoristas sinceros, quejulgam residir a perfeição no rígido cumprimento dos preceitos morais: éintelectualismo, ainda, já um pouco esclarecido, embora não bem equilibrado.

Preocupam-se, então, com o lado exterior da vida, dando importância ao jejum,isto é, à ausência da alegria. Porque o jejum, mais do que a abstenção do alimento,valia pela expressão facial de tristeza, pelo óleo que derramavam no cabelo, deixandoque escorresse pela barba, pela cinza com que pulverizavam a cabeça e as roupas,velhas e sujas, a fim de dar aos outros (embora não a si mesmos) a impressão degrandes penitentes.

Ora, enquanto o “esposo” (o CRISTO INTERNO) está unido à sua criatura, estafatalmente terá que demonstrar alegria. Todos os grandes místicos, que realizaram aunificação, ou, pelo menos, quando conseguem a união, sempre foram alegres,bastando-nos recordar o exemplo de Teresa de Ávila.

Entretanto, quando a união se desfaz, nos “intervalos de separação”, a tristeza égrande, e a criatura chega a perder o apetite e o sono, jejuando entãoespontaneamente; essa fase é denominada período de secura ou de trevas, como a“noite sem estrelas”.

(Cá com meus botões: intuições. O Luto seria um jejum? Um saco para o corpoque morre e se cobre de cinzas e aparenta uma face sem vida, triste, as vezes, pois ocorpo vai ser enterrado, encher-se de terra, de pó. Após este jejum do aprendizado, ojejum da prova, voltará novamente, usando nova roupa, pois não poderá colocarremendo, e nem desejará trocar a nova pela velha ou velho corpo, que já não existe.Nova Vida dar-se-á então. Acrescentei.)

Os ensinamentos feitos sob forma de parábolas são profundos.

A interpretação dada por todos os exegetas é de que o Evangelho não podeadaptar-se às crenças judaicas; a Boa Nova se perderia, caso pretendesse brotar eproduzir no terreno já cultivado por outra crença. Esta é, com efeito, a interpretaçãopersonalista que joga, quase sempre, com fatos exteriores, a fim de não precisar tocarem seu próprio íntimo, “reformando sua mente”, e modificando seus hábitos e suacrença.

Mas a interpretação real é mais profunda.

O “homem novo” não pode ser sobreposto ao “homem velho”, senão ambos seestragam. A individualidade não pode aplicar-se sobre a personalidade, porque senão,quando a individualidade se encolhe na humildade verdadeira, para ficar de seutamanho próprio, a personalidade, que a não pode acompanhar, se rebela e o rasgão(em grego, o “cisma") entre as duas se torna maior.

E ainda, não há possibilidade de a individualidade que cresce por dentro (fermenta)não poder adaptar-se à personalidade mesquinha: o fermento desse crescimento aoinfinito arrebentaria a pequenez da pessoa, e teríamos total estrago. De fato, quandocertas pessoas penetram, apenas intelectualmente, nessa compreensão, mas semconseguir a vivência, observa-se que representam uma coisa que não são; tornam-seextremamente vaidosas, sob a capa da humildade exterior; não admitem ninguém

superior a elas, porque se julgam plenos de sapiência, conhecedores únicos da“verdade”; olham a todos “de cima”, como seres superiores que se sentem: perdeu-se ovinho e arrebentou o odre.

Então, a adaptação tem que ser perfeita: primeiramente é mister que a criatura setorne “homem novo”, libertando-se de preconceitos e dogmatismos, com a mente livrede teorias escravizantes, para então poder receber o vinho novo, ou seja, realizar aunião com o Cristo Interno.

Mas tudo isso é difícil, porque, quem experimentou o vinho velho, recusa o novo.Quem, durante séculos, plasmou sua mente em moldes preestabelecidos e a eles seadaptou plenamente, recusa abandonar TUDO (cfr. Luc. 14:16 e 33) para tornar-senovamente criança (cfr. Luc. 18: 17) e então “entrar no reino dos céus”, isto é, naConsciência Cósmica, encontrando o CRISTO INTERNO". Pastorino

RESSURREIÇÃO DA FILHA DE JAIRO E CURA DA MULHER COM FLUXO DESANGUE. Mat.9:18-26 Mc 5:21-43 Lc 8:26-39)

Enquanto Jesus dizia essas coisas para eles, um chefe se aproximou, ajoelhou-sediante de Jesus, e disse: “Minha filha acaba de morrer; mas vem, põe tua mão sobreela, e ela viverá.” 19 Jesus levantou-se e o seguiu, junto com seus discípulos. 20 Nessemomento, chegou uma mulher que fazia doze anos vinha sofrendo de hemorragia. Elafoi por trás, e tocou a barra da roupa de Jesus, 21 porque pensava: “Ainda que eutoque só na roupa dele, ficarei curada.” 22 Jesus virou-se, e, ao vê-la, disse:"Coragem, filha! Sua fé curou você." E, desde esse momento, a mulher ficou curada. 23Chegando à casa do chefe, Jesus viu os tocadores de flauta e uma multidão fazendobarulho. Então disse: 24 Retirem-se, porque a menina não morreu. Ela está apenasdormindo. 25 Quando a multidão foi afastada, Jesus entrou, e tomou a menina pelamão. Então a menina se levantou. 26 E essa notícia espalhou-se por toda aquelaregião.

A Filha de Jairo

Mateus assinala apenas que era um “chefe” (árchôn eis), enquanto Marcos diz ser“um dos arquisinagogos” e Lucas o chefe da sinagoga.

Os dois últimos citam lhe o nome, “Jairo” helenização do hebraico Jair (Yâ’yr, queencontramos em Núm, 32:41, Juízes, 10:3 e Ester, 2:5).

Marcos – 5:21-24

21. Tendo Jesus regressado no barco para o outro lado, afluiu para ele grandemultidão; e ele estava à beira-mar. 22. Chegou-se a ele um dos chefes da sinagoga,chamado Jairo, e, vendo-o, lançou-se a seus pés. 23. E rogou-lhe com insistência,dizendo: “Minha filhinha está a expirar; suplico-te que venhas pôr as mãos sobre ela,para que sare e viva”.

24. Jesus foi com ele. E grande multidão, acompanhando-o, o comprimia.

E a família de Jair, filho de Manassés, conquistou muitas cidades pequenas deGileade e mudou o nome da região para Havote-Jair. Números 32:41

E a vaga foi ocupada por Jair, de Gileade. Os serviços de Jair como juiz de Israelduraram vinte e dois anos. Juízes 10:3

Cada sinagoga possuía somente um chefe. Entretanto, os que o assistiam eramtambém denominados “chefes”, como título de respeito, pois eles dirigiam a leitura aossábados.

Entre Mateus e os outros há uma contradição in términis, já que o primeiro colocana boca do pai aflito a notícia de que a filha acabava de falecer e o pedido explícito da“ressurreição” (zésetai); os outros fazem-no dizer que “a filha está à morte”;acrescentando Lucas que era “filha única” e que “tinha doze anos”. Parece, pois, queMateus se satisfez em dar o resumo da história, suprimindo os pormenores. Jesusatende de imediato, acompanhando-o.

Era hábito antigo entre os israelitas contratar tocadores de flauta (hebr.: halilim,grego; aulêta í) e carpideiras (hebr.; meqôneneth - Mulher paga para chorar em funeralJr. 9.17), para velar o morto e acompanhar os funerais; por mais pobre que fosse afamília, esses elementos não faltavam.

Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Considerai, e chamai carpideiras que venham;e mandai procurar mulheres hábeis, para que venham. Jr 9:17

E quanto mais podia despender mais "barulho" era necessário, para exprimir uma"dor maior". Um chefe de sinagoga que perdia sua "filha única" de doze anos deviahaver contratado bom número deles. Daí os evangelistas falarem em "multidão emalvoroço".

"O Senhor do Universo diz: Chamem depressa as carpideiras! Vamos, mulheres,chorem bastante! Ensinem esse povo a ficar triste por seus pecados! Já se pode ouviro choro de Jerusalém: Pobres de nós perderam tudo! Que desgraça horrível! Perdemosnossa terra e o inimigo destruiu nossas casas! “Vocês, mulheres que estão chorando,ouçam a palavra do Senhor”! Ensinem suas filhas a chorar; ensinem suas vizinhas alamentar. Diga a eles, manda o Senhor: corpos serão espalhados no campo comoadubo, como folhas caídas depois de cortadas, e não vai haver ninguém para sepultá-los. Jeremias 9:17-22

Quando Jesus chegou à casa do chefe (da sinagoga), ao ver os tocadores deflauta e a multidão em alvoroço, disse: "Retirai-vos, pois a menina não está morta, massim dormindo". E caçoavam dele. Mas, retirada à multidão, entrou Jesus, tomou amenina pela mão e ela se levantou. E a fama desse fato correu por toda aquela terra.Mateus 9:23-26

Marcos e Lucas anotam que alguém veio avisar ao pai que a menina falecera: inútilincomodar o Mestre: diante da morte, quem teria poder? Mas Jesus reanima a

esperança do pai e escolhe três discípulos mais íntimos (Pedro, Tiago e João) paraentrar com ele na casa, deixando de fora todos os que O acompanhavam.

Enquanto ele ainda falava, veio alguém da casa do chefe da sinagoga, dizendo aeste: "Tua filha morreu, não incomodes mais o Mestre". Ouvindo isso, respondeu-lheJesus: "Não temas, apenas confia e ela será salva". Tendo chegado a casa, nãopermitiu que ninguém entrasse com ele, a não ser Pedro, João e Tiago, e o pai e a mãeda menina.

Todos choravam e a pranteavam, mas ele disse: "Não choreis: ela não está morta,mas dorme".

E caçoavam dele, porque sabiam que ela estava morta.

Porém ele, tomando-a pela mão, disse em voz alta: "Menina, levanta-te"!

E seu espírito voltou e ela se levantou imediatamente, e ele mandou que dessem aela de comer. Seus pais ficaram atônitos, mas ele advertiu-os de que a ninguémdissessem o que havia ocorrido.

Lucas 8:49-56

Ao entrar, manda que se retirem todos os que estavam no quarto da menina,permitindo a permanência apenas dos pais e dos três discípulos. Parece quereresconder seu trabalho... Ao passar pela multidão de choradores, avisa que parem como barulho, pois a menina não morreu, mas apenas "estava dormindo" (grego:katheúdei, composto de eudô, dormir e da preposição katá, que exprime movimento decima para baixo; daí, o sentido preciso do verbo usado ser: está deitada para dormir,ficar inerte). Uma afirmação dessas parecia zombaria, e o povo começa logo a rir ecaçoar Dele.

Apesar da demora dos preparativos, Jesus espera que todos saiam o que deve terlevado algum tempo.

E, tomando-a pela mão, disse-lhe: "Talithá koúmi", que se traduz, "Menina, (eute digo), levanta-te". Marcos 5:41

A sós, no quarto, com os pais e os três discípulos, com toda a simplicidade, Jesussegura a mão da menina, usando termos próprios exatamente para despertar quemdorme: "menina, levanta-te"! (Talita koúmi! Frase em Aramaico).

A alegria dos pais foi grande, cuidando de regozijar-se. Mas o Mestre chama-lhes aatenção para a alimentação, pois devia a menina estar fraca de fome, em vista dotempo em que ficara em jejum pela doença.

Finalmente a recomendação comum, de que não se divulgue o ocorrido, o quepodia trazer prejuízo à missão espiritual de Jesus, com centenas de pedidos de todosos que tivessem mortos na família, e que desejariam que Ele os ressuscitasse, mesmoquando o "carma" não admitisse tal gesto; e isso viria trazer o descrédito e a mávontade para com Sua tarefa, fazendo inimigos gratuitos.

Observação:

Antes de tudo, o primeiro passo do Cristo é verificar que o resgate já foracompletado pelo auto-sacrifício, inclusive com derramamento de sangue. Faz entãocessar o fluxo sanguíneo, que duraram DOZE anos. E isso explica a razão de os trêsevangelistas haverem colocado a cura da hemorragia exatamente antes de seratendido o pedido do pai, Jairo.

Vide estudo: A mulher com o fluxo de sangue.

A Mulher com Fluxo de Sangue

Interessante observar que os três sinópticos mantiveram a ordem dos fatos,colocando a cura da hemorragia no percurso entre o local do pedido de Jairo e a casadele.

Ela consultara numerosos médico, sem obter resultado. Marcos acrescenta que“muito sofrera, gastando seus haveres e piorando cada vez mais”, confirmando o quese lê na Mischna (tratado Qidduchin, 4:4) que “o melhor dos médicos é digno daGeena”… Mas Lucas, que também era médico, desculpa seus colegas, dizendoapenas “que não obtivera a cura”.

O catamênio era considerado impureza legal (Levit. 15:15) e contaminava todosos que tocassem a enferma ou que fossem por ela tocados. Por isso a pobre mulhermantinha secreta sua enfermidade.

Seu pensamento intuitivo dizia-lhe que “se tocasse nem que fosse a borla(kráspedon) de seu manto (imátion), ela ficaria curada”.

Número 15:37-41 e Deuteronômio. 22:12 que nos cantos do manto, os israelitasdeviam pendurar bordas de fios de lã branca, com um fio azul cada uma, a fim derecordarem os mandamentos e os observarem. Sendo esvoaçante, o manto era maisfácil de ser tocado que a túnica presa à cintura e mais aderente ao corpo. E a enfermaresolutamente abre passagem entre o povo que comprimia Jesus e toca-lhe o manto.

· Túnica: Peça de roupa, parecida com uma camisola, que os judeus usavam porcima da pele e por baixo da capa (Jo 19.23).

· Manto: Peça de roupa que reis, autoridades civis e religiosas e pessoas ricasvestiam por cima das outras roupas (1Sm 24.4; Lc 23.11, RA). V. CAPA.

· Capa: Roupa comprida, usada por cima das outras roupas (Js 7.21; Mt 5.40).

A essa mulher a Acta Pilati ou “Evangelho de Nicodemos” (cap.7) dá o nome deBeronike e os textos latinos “Verônica”. A lenda apoderou-se dessa figura e fez que

ela, no percurso de Jesus para o calvário, lhe enxugasse o rosto suado e ferido, ficandoSua Face gravada no lenço (sudário) que mais tarde operou numerosas curas.

Observemos o que nos ensina esse fato material.

Em primeiro lugar, notemos que os três evangelistas o colocam na mesmaposição: no percurso para a casa de Jairo, entre o pedido do pai e a cura da filha.

Além disso, os três assinalaram que a mulher sofria de seu catamênio haviaDOZE anos; e também que a menina curada tinha exatamente DOZE anos.

Outros pormenores: o nome hebráico Yâ’yr (Jair, helenizado em Jairo) significa “osexto”. Ora, já vimos que o número doze, no plano humano, exprime “o holocaustode si mesmo”.

O simbolismo é intensificado pelo tipo da enfermidade: “a perda de sangue, éa expiação da alma” (17:11).

Realmente, o Levítico afirma, nesse local, que “a alma de toda carne é seu sangue”(vers. 11); e repete a mesma frase por duas vezes no versículo 14, numa das quais hápequena modificação, para que não paire dúvida: “porque (quanto) à alma de todacarne, o sangue é por sua alma”.

Porque o sangue é a vida da carne, e esse sangue eu lhes dou para fazer o rito deexpiação sobre o altar, pela vida de vocês; pois é o sangue que faz a expiação pelavida. Lv 17:11

O sangue é a vida de todo ser vivo; foi por isso que eu disse aos filhos de Israel:Não comam o sangue de nenhuma espécie de ser vivo, pois o sangue é a vida de todoser vivo e quem o comer será exterminado. Lv 17:14

Explicação:

Nós sabemos, com efeito, que o sangue passa constantemente pelo coração, emcujo nó de Kait-Flake e His está fixo, embora em outra dimensão, a Centelha Divina ouMônada; aí o sangue capta as vibrações da Vida Divina, que leva a todos os mínimosrecantos do corpo para vivificá-lo: se impedirmos a circulação sanguínea de qualquermembro, este se necrosa, porque onde não há sangue não há vida, pois não há alma.

Além de buscar vida no coração, o sangue vai apanhar nos pulmões o prana(nitrogênio), para com ele alimentar as células, por mais microscópicas que sejam.Alimento importantíssimo e vital (embora não único), bastando lembrar que, enquantoas células podem viver até dias sem comer nem beber, não conseguem manterem-sevivas senão alguns minutos, se parar a respiração, que as alimenta de prana.

Mas, como tudo em a Natureza é aproveitado, o sangue serve de veículo para,enquanto fornece alimento, recolher as impurezas, levando-as ao forno crematório dospulmões, onde o oxigênio se encarrega de queimá-las na hematose. Veículo do prana(nitrogênio) parece que são os leucócitos (segundo o biologista Dr. Jorge Andréa) que,além disso, tem a tarefa de combater os micróbios por meio a fagocitose.

Então verificamos que os dois principais elementos sanguíneos têm suas funçõesbem definidas: enquanto os leucócitos alimentam as células, lhes carreiam asimpurezas e as defendem contra os invasores prejudiciais, as hemácias transportam osfluidos vitais, produzindo vida no corpo físico que, sem ele, se reduziria a simplescadáver.

Tendo, pois, o sangue essa importância vital, o máximo sacrifício que pode umacriatura fazer é derramá-lo para defender uma causa; e esse sacrifício serve de“expiação para a alma” (resgata os carmas dos erros do “espírito”). Daí o grande valordas “primeiras testemunhas (mártires) do cristianismo, cujo sangue, cristãos” no dizerde Tertuliano, era “a semente de novos cristãos”. (Patorino)

Desenvolvimento – Haroldo Dutra Dias

“E certa mulher”, que tinha uma hemorragia (fluxo de sangue) havia doze anos egastara com os médicos todos os seus haveres e por ninguém (nenhum deles) puderaser curada, chegando-se por detrás, tocou-lhe a orla do manto (da sua veste), eimediatamente (logo) cessou (estancou) a sua hemorragia (fluxo de sangue).

Perguntou (E disse) Jesus: Quem é que me tocou? Como todos negassem, disse-lhe Pedro: Mestre, as multidões te apertam e te oprimem. Mas disse Jesus: Alguém metocou; pois percebi que de mim saiu poder. (Bem conheci que de mim saiu virtude)

Então, vendo a mulher que não passara (podia ocultar-se) despercebida,

aproximou-se tremendo e, prostrando-se diante dele, declarou-lhe perante todo o povoa causa por que lhe havia tocado, e como fora imediatamente curada. Disse-lhe ele:Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz.

(Lucas 8:43-48)

Tópicos

A mulher Hemorroíssa – Nasceu em Cesareia de Filipe, na Decápole, desiludida,marcada pelo estigma humilhante. Sem mais esperanças, resolveu buscar a prosperaCafarnaum na vã tentativa de conseguir um remédio. Naquele dia Jairo buscava o Rabidesde cedo, procurando-o em todo lugar. Recorreu à casa de Simão, procurara naresidência dos filhos de Zebedeu e, por fim, fora buscá-lO na praia, após a viagem quefizera ao outro lado do mar. Com Jairo uma grande e curiosa multidão O seguiu. Eleestava com essa multidão. Faltava-lhe coragem, pois a conheciam. Vencida pelaanemia, descarnada, até mesmo diante dos médicos sentia constrangimento que lheimpunha a doença. Àquela hora, no entanto, se a perdesse, perderia o precioso minuto,o mais importante da vida.

– Primícias do Reino – Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Amélia Rodrigues(Parte da Mensagem)

Era uma mulher sírio-fenícia, uma estrangeira detestada por ser gentia:

-Senhor, na casa dos ricos a comida é abundante, caindo migalhas que os cãescomem. Não desejo sentar-me a mesa. Vim para comer as migalhas do chão, pelomenos...

-Mulher, a tua fé te salvou. Ainda não encontrei em Israel – ente os eleitos – uma fétão nobre quanto a tua. Vai em paz, minha filha; estás curada.

Um Encontro com Jesus – Divaldo Pereira Franco, copilado por Délcio CarlosCarvalho

Comentário:

Na cultura do povo hebreu, durante o ciclo menstrual da mulher ela eraconsiderada impura. Nesse período de sangramento, nenhuma pessoa podia tercontato com ela, pois o contato com o sangue de animal ou de ser humano era sinal deimpureza. Quem tivesse contato, era preciso passar pelo ritual de purificação, conformeLevítico que diz:

“Mas a mulher, quando tiver fluxo, e o fluxo na sua carne for sangue, ficará na suaimpureza por sete dias, e qualquer que nela tocar será imundo até à tarde. E tudoaquilo sobre o que ela se deitar durante a sua impureza, será imundo; e tudo sobre oque se sentar, será imundo. Também qualquer que tocar na sua cama, lavará as suasvestes, e se banhará em água, e será imundo até a tarde. E quem tocar em algumacoisa, sobre o que ela se tiver sentado, lavará as suas vestes, e se banhará em água, eserá imundo até a tarde. Se o sangue estiver sobre a cama, ou sobre alguma coisa emque ela se sentar, quando alguém tocar nele, será imundo até a tarde. E se, com efeito,qualquer homem se deitar com ela, e a sua imundícia ficar sobre ele, imundo será porsete dias; também toda cama, sobre que ele se deitar, será imunda.

Se uma mulher tiver um fluxo de sangue por muitos dias fora do tempo da suaimpureza, ou quando tiver fluxo de sangue por mais tempo do que a sua impureza, portodos os dias do fluxo da sua imundícia será como nos dias da sua impureza; imundaserá. Toda cama sobre que ela se deitar durante todos os dias do seu fluxo ser-lhe-ácomo a cama da sua impureza; e toda coisa sobre que se sentar será imunda,conforme a imundícia da sua impureza. E qualquer que tocar nessas coisas seráimundo; portanto lavará as suas vestes, e se banhará em água, e será imundo até atarde. (Levítico 15:19-30)

Quem tivesse contato com essa mulher, deveria apresentar-se ao sacerdote efazer um ritual de purificação. Qual era o ritual de Purificação?

“E, quando forem cumpridos os dias da sua purificação, seja por filho ou por filha,trará um cordeiro de um ano para holocausto, e um pombinho ou uma rola para ofertapelo pecado, à porta da tenda da revelação, ao sacerdote”. "Mas se os recursos damulher forem poucos, não podendo oferecer um cordeiro, poderá trazer doispombinhos ou duas rolas. Uma das aves será para oferta queimada; a outra será para

a oferta pelo pecado. Deste modo, o sacerdote fará expiação pela mulher, e ela estarácerimonialmente limpa”.

(Levítico 12:6 e 8)

Ou seja, pegavam-se dois passarinhos e o sacerdote matava-os e o sangue eracolocado numa bacia e era feito o ritual. Depois do ritual a pessoa estava purificada.

A mulher que tocou Jesus estava com doze anos com essa hemorragia. Imagine oseu sofrimento! Ninguém podia tocá-la. Era considerada uma pessoa imunda. Era umasolidão. Sente-se considerada uma das maiores pecadoras do mundo, e, mesmo assimfoi até Jesus. Teve coragem de tocar Jesus. Deveria ser punida, conforme a cultura dopovo hebreu.

Quando Pedro diz a Jesus que não sabia quem o tocou, podemos deduzir duassituações: Não sabia realmente conforme diz o texto, ou estava evitando o choque coma tradição, pois Jesus teria mais um desafio quanto ao ritual para se purificar, poisestaria impuro. (acrescentei)

Contexto:

O preconceito religioso e cultural estava marcando essa mulher, pois gastara todosos seus recursos com os médicos.

Quando ela toca Jesus, não é um toque qualquer. Ela toca Jesus na orla dovestido, na beirada do vestido.

Segundo a tradição o homem em sua túnica deveria ter bordados, e esse bordadoera chamado de orla. O bordado era feito com uma linha azul, conforme Números:

Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes que façam para si franjas nas bordas (orlas)das suas vestes, pelas suas gerações; e que ponham nas franjas das bordas um

cordão azul. Tê-lo-eis nas franjas, para que o vejais, e vos lembreis de todos osmandamentos do Senhor, e os observeis; e para que não vos deixeis arrastar àinfidelidade pelo vosso coração ou pela vossa vista, como antes o fazíeis; para que voslembreis de todos os meus mandamentos, e os observeis, e sejais santos para com ovosso Deus. Eu sou o senhor vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito para ser ovosso Deus. Eu sou o Senhor vosso Deus. ”(Números 15:38-41)

Então a pessoa que vise aquele bordado deveria se lembrar da Lei Deus, dosmandamentos da Lei e das necessidades de cumprir esses mandamentos.

Por que ela toca exatamente na franja? O cumprimento da Lei de Deus dá vida. Esegundo Levítico, a Lei está no sangue. O Texto está dizendo que a mulher estavaperdendo vida. Ela precisava recuperar a vida.

Como recuperar a vida segundo a tradição? Cumprir os mandamentos. Ela tocaexatamente na franja que lembra as criaturas que a Lei divina deve se cumprida.

Evidentemente, a cura que Jesus fez foi uma cura física. Mais qual o sentido paranós hoje?

“eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João 10:10)

Livro dos Espíritos diz: “a causa de todos os vossos males e devido o abandono daLei Divina”.

Isso gera certa morte Espiritual. A sensação que está morrendo.

O que ela fez para a busca da cura?

Quando ela toca na orla, Jesus diz assim: “Quem é que me tocou?” Alguém metocou; pois percebi que de mim saiu poder. (Bem conheci que de mim saiu virtude).

Toda criatura que procura a Lei Divina encontra virtude. Diz Jesus: Filha, a tua féte salvou; vai-te em paz.

Ela venceu inúmeras resistências, acreditou em algo que ninguém acreditava,

venceu inúmeros preconceitos, é um ato enorme de coragem que foi tocar em Jesus.

Primeira lição: nossa fé tem que ser ativa. Fé operante que vença a resistência damultidão. No Livro Missionários da Luz diz:

Mas quem deverá romper as algemas, senão eles mesmos?

Nunca lhes faltou o auxílio exterior de nossa amizade permanente; no entanto, elespróprios alimentam-se uns aos outros, no terreno das sensações sutis, absolutamenteimponderáveis para os que lhes não possam sondar o mecanismo íntimo. É inegávelque procuram, agora, os elementos de libertação. Aproximam-se da fonte deesclarecimento elevado, sentem-se cansados da situação e experimentam,efetivamente, o desejo de vida nova; contudo, esse desejo é mais dos lábios que docoração, por constituir aspiração muito vaga, quase nula. Se, de fato, cultivassem aresolução positiva, transformariam suas forças pessoais, tornando-as determinantes,no domínio da ação regeneradora. Esperam, porém, por milagres inadmissíveis erenunciam às energias próprias, únicas alavancas da realização.

– Missionários da Luz – Francisco Cândido Xavier pelo Espirito André Luiz.

Vemos que fé é muito mais que desejo.

Conto: Uma pessoa foi abastecer o carro e viu um cachorro uivando, chorando. Foiao banheiro e, ao voltar, observando que o cachorro continuava chorando. Perguntouao frentista: Por que esse cachorro está chorando?

– Ele tá chorando por que está deitado em cima de um prego.

– Por que ele não levanta?

– E que tá doendo o suficiente para ele chore, mais não para levantar.

No caso da mulher do texto, foram necessários doze anos para ela tomar umaatitude radical. Movimentou forças interiores de confiança, de determinação, de crençaque a providencia divina faria algo, a ponto de Jesus dizer: A tua fé te salvou.

E esta fé que faz agir. Fé é uma atitude que se destaca da multidão.

Emmanuel fala assim em Pão Nosso:

47 – O PROBLEMA DE AGRADAR

“Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo do Cristo”.

— Paulo. (GÁLATAS, CAPÍTULO 1, VERSÍCULO 10).

Os sinceros discípulos do Evangelho devem estar muito preocupados com osdeveres próprios e com a aprovação isolada e tranquila da consciência, nos trabalhosque foram chamados a executar, cada dia, aprendendo a prescindir das opiniõesdesarrazoadas do mundo.

A multidão não saberá dispensar carinho e admiração senão àqueles que lhesatisfazem as exigências e caprichos; nos conflitos que lhe assinalam a marcha, oaprendiz fiel de Jesus será um trabalhador diferente que, em seus impulsos instintivos,ela não poderá compreender.

Muita inexperiência e vigilância revelará o mensageiro da Boa Nova que manifesteinquietude, com relação aos pareceres do mundo a seu respeito; quando se encontrena prosperidade material, em que o Mestre lhe confere mais rigorosa mordomia, muitosvizinhos lhe perguntarão maliciosos, pela causa dos êxitos sucessivos em que seenvolve, e, quando penetra o campo da pobreza e da dificuldade, o povo lhe atribui àsexperiências difíceis a supostas defecções ante as sublimes ideias esposadas.

É indispensável trabalhar para os homens, como quem sabe que a obra integralpertence a Jesus Cristo. O mundo compreenderá o esforço do servidor sincero, mas,em outra oportunidade, quando lhe permita a ascensão evolutiva.

Em muitas ocasiões, os pareceres populares equivalem à gritaria das assembleiasinfantis, que não toleram os educadores mais altamente inspirados, nas linhas deordem e elevação, trabalho e aproveitamento.

Que o sincero trabalhador do Cristo, portanto, saiba operar sem a preocupaçãocom os juízos errôneos das criaturas. Jesus o conhece e isto basta.

— Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel

A mulher venceu a rotina, o lugar-comum, onde criaturas dormem para as questõesespirituais.

No Livro O Consolador, temos:

135 – Se o determinismo divino é o do bem, quem criou o mal?

-O determinismo divino se constitui de uma só lei, que é a do amor para acomunidade universal. Todavia, confiando em si mesmo, mais do que em Deus, ohomem transforma a sua fragilidade em foco de ações contrárias a essa mesma lei,efetuando, desse modo, uma intervenção indébita na harmonia divina.

Eis o mal.

Urge recompor os elos sagrados dessa harmonia sublime.

Eis o resgate.

Vede, pois, que o mal, essencialmente considerado, não pode existir para Deus,em virtude de representar um desvio do homem, sendo zero na Sabedoria e naProvidência Divinas.

—Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel.

Por exemplo, você entra no ônibus por que tem fé que o motorista vai levá-lo comsegurança. Nossa vida é um ato continuo de fé. A questão é onde depositar a fé: Naprovidencia divina ou em você mesmo. Quando confia mais em você que em Deus.Egocêntrico tira deus do centro. Neste caso cria-se lei para si mesmo, e se tá bem paramim o outro que se dane. Egoísmo.

A Lei Divina tem como finalidade o bem de todos. (L.E. Lei Divina ou Natural)

Quando construímos nossa felicidade em cima da felicidade do semelhante, diz oChico, que estamos amontoando brasas sobre nossas cabeças. (Gera sofrimento)

“Urge recompor os elos sagrados dessa harmonia sublime. Eis o resgate”.

Há um laço eterno e sagrado entre a criatura e Deus fincados no Amor e respeito.Nós que rompemos o laço quando acreditamos mais em nós que em Deus.

Estamos trocando o ótimo com um mais ou menos.

Quando a mulher do texto toca na orla do Vestido de Jesus, ela está reatando oslaços com Deus. O resultado é vida.

É um carro andando a 120 por hora com o tanque cheio. Mais uma hora vai parar,por que não tem reposição. A fonte de todos os bens é Deus.

Para que se alguma coisa se concretize: Esforço e trabalho.

O agricultor ara a terra com todo cuidado, com toda ciência, com toda técnica,escolhe bem a semente, aduba a terra, semeia de forma correta, irriga o campo...

A colheita depende somente desses fatores? A colheita pode dar errado. Fatoresnaturais.

Não dependendo somente do esforço humano, pois tem a ação da providenciadivina.

Não pode haver falha por falta de esforço nosso. Depois aguardar a providênciadivina. Por isso Paulo disse:

“Eu plantei; Apolo regou; mas Deus deu o crescimento”. - (1 Coríntios 3:16)

Só que Deus fala de dois modos, de duas maneiras:

Depois de todo o cuidado para a plantação que e a nossa parte, temos:

Deus diz sim: você vai colher. Tudo dá certo: sol, chuva, tudo na medida certa.Quando Deus diz sim, está nos ensinando a lição do esforço próprio. Estou te treinadoa realização.

Deus diz não: Fez tudo certo e não aconteceu. Quando Deus diz não estáensinando uma lição dura, ele está construindo dentro de nós. Vou te preparar melhor.Quando ele opera por dentro, e quando estamos na cama doente, reverso financeiro.Tudo que imobiliza. É uma sensação de abandono. Nesta hora muitas pessoas seafastam de Deus.

Em 1 Reis 19:1-21, fala da depressão de Elias após decapitar os Sacerdotes deBaal. Jezabel:

Ora, Acabe fez saber a Jezabel tudo quanto Elias havia feito, e como matara aespada todos os profetas. Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias, a dizer-lhe:Assim me façam os deuses, e outro tanto, se até amanhã a estas horas eu não fizer atua vida como a de um deles.

Quando ele viu isto, levantou-se e, para escapar com vida, se foi. E chegando aBerseba, que pertence a Judá, deixou ali o seu moço.

Berseba [Poço das Sete] Nome de um poço que Abraão cavou no deserto e ondeele e ABIMELEQUE fizeram um acordo de amizade. Como sinal desse trato, Abraãodeu a Abimeleque sete cordeiras; daí o nome do lugar (Gn 21.22-34).

Ele, porém, entrou pelo deserto caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de umzimbro (Arbusto); e pediu para si a morte, dizendo: Já basta, ó Senhor; toma agora aminha vida, pois não sou melhor do que meus pais.

E deitando-se debaixo do zimbro, dormiu; e eis que um anjo o tocou, e lhe disse:Levanta-te e come. Ele olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre

as brasas, e uma botija de água. Tendo comido e bebido, tornou a deitar-se.(deprimido)

O anjo do Senhor veio segunda vez, tocou-o, e lhe disse: Levanta-te e come,porque demasiado longa te será a viagem. Levantou-se, pois, e comeu e bebeu; e coma força desse alimento caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe(Sinai), o monte de Deus.

Ali entrou numa caverna, onde passou a noite. E eis que lhe veio à palavra doSenhor, dizendo: Que fazes aqui, Elias?

Respondeu ele: Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos exércitos; porqueos filhos de Israel deixaram o teu pacto, derrubaram os teus altares, e mataram os teusprofetas à espada; e eu, somente eu, fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem.

Ao que Deus lhe disse: Vem cá fora, e põe-te no monte perante o Senhor. E eisque o Senhor passou; e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava aspenhas diante do Senhor, porém o Senhor não estava no vento; e depois do vento umterremoto, porém o Senhor não estava no terremoto; e depois do terremoto um fogo,porém o Senhor não estava no fogo; e ainda depois do fogo uma voz mansa edelicada. E ao ouvi-la, Elias cobriu o rosto com a capa e, saindo, pôs-se à entrada dacaverna. E eis que lhe veio uma voz, que dizia: Que fazes aqui, Elias?

Respondeu ele: Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos exércitos; porqueos filhos de Israel deixaram o teu pacto, derrubaram os teus altares, e mataram os teusprofetas à espada; e eu, somente eu, fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem.

(Abaixo, quando Deus destitui Elias. É quando Deus trabalha em silêncio e nãoaguentamos e tentamos desistir).

Então o Senhor lhe disse: Vai, volta pelo teu caminho para o deserto de Damasco;quando lá chegares, ungirás a Hazael para ser rei sobre a Síria. E a Jeú, filho de Ninsi,ungirás para ser rei sobre Israel; bem como a Eliseu, filho de Safate de Abel-Meolá,

ungirás para ser profeta em teu lugar. E há de ser que o que escapar da espada deHazael, matá-lo-á Jeú; e o que escapar da espada de Jeú, matá-lo-á Eliseu. Todaviadeixarei em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda bocaque não o beijou.

(Ou seja, tinha muita gente para substituir Elias. E quando Deus diz não. Eletrabalha em silêncio, e não percebemos. Quando Deus vem com ventania, comrelâmpago é que percebemos Deus. Mais Deus tem uma voz mansa e delicada).

Partiu, pois, Elias dali e achou Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando comdoze juntas de bois adiante dele, estando ele com a duodécima; chegando-se Elias aEliseu, lançou a sua capa sobre ele. Então, deixando este os bois, correu após Elias, edisse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e então te seguirei. Respondeu-lheElias: Vai, volta; pois, que te fiz eu? Voltou, pois, de o seguir, tomou a junta de bois, eos matou, e com os aparelhos dos bois cozeu a carne, e a deu ao povo, e comeram.Então se levantou e seguiu a Elias, e o servia.

Às vezes um grande problema que estamos passando, a solução está sendoprepara sem que percebamos.

Diz Humberto de Campos no Livro Boa Nova:

Deus opera em silêncio e não concorre com as criaturas.

Deus não trava contendas com as suas criaturas e trabalha em silêncio, por toda aCriação.

– Livro Boa Nova lição 15- Joana de Cusa.

Estas palavras: conhecendo em si mesmo a virtude que dele saíra, sãosignificativas². Exprimem o movimento fluídico que se operava de Jesus para a doente;ambos experimentam a ação que acabara de se produzir. É de notar-se que o efeitonão foi provocado por nenhum ato da vontade de Jesus; não houve magnetização, nem

imposição das mãos. Bastou a irradiação fluídica normal para realizar-se a cura.

Mas, por que essa irradiação se dirigiu para aquela mulher e não para outraspessoas, uma vez que Jesus não pensava nela e tinha a cercá-lo a multidão?

È bem simples a razão. Considerado como matéria terapêutica, o fluido temque atingir a matéria orgânica, a fim de repará-la; pode então ser dirigido sobre o malpela vontade do curador, ou atraído pelo desejo ardente, pela confiança, numa palavra:pela fé do doente. Com relação à corrente fluídica, o primeiro age como uma bombacalcante e o segundo como uma bomba aspirante. Algumas vezes, é necessária asimultaneidade das duas ações; doutras, basta uma só. O segundo caso foi o queocorreu na circunstância de que tratamos.

Razão, pois, tinha Jesus para dizer: “Tua fé te salvou.” Compreende-se quea fé a que ele se referia não é uma virtude mística, qual a entendem muitas pessoas,mas uma verdadeira força atrativa, de sorte que aquele que não a possui opõe àcorrente fluídica uma força repulsiva, ou, pelo menos, uma força de inercia, queparalisa a ação. Assim sendo, também se compreende que, apresentando-se aocurador dois doentes da mesma enfermidade, possa um ser curado e outro não. “Éeste um dos mais importantes princípios da mediunidade curadora e que explica certasanomalias aparentes, apontando-lhes uma causa muito natural.” (A Gênese cap. XV,itens 10 e 11)

A mulher Hemorroíssa – Amélia Rodrigues

A noite fora difícil de vencida. Expectativa incomparável assaltara-a desde quesoubera dos lamentáveis acontecimentos no Horto (Jardim João 18.1).

Ela O amava, sim! Subitamente Ele escorregou e caiu. Não se conteve: tomou deuma toalha que trazia, alvinitente e lisa, e correu-Lhe ao encontro. Não tiveram tempode fazê-la retroceder.

Aquele semblante ensanguentado e dorido, amargurava-a. Envolveu a face no

linho branco e enxugou-a carinhosamente.

Houve uma exclamação de estupor, quando retirou a toalha: nela se estampava orosto dEle, tingido pelo sangue.

Gritou, então:

– Vede! Vós que passais, atendei-me!

O pranto lhe embargava a voz.

Ele no entanto, olha-a demoradamente, naquele átimo de minuto. Os lábiosentreabertos nada dizem. Ela ouve, porém, no imo Sua voz, como antes:

– Vai em paz! Lembrar-me-ei de ti...

Desceu o monte (após a crucificação) e saiu a servi-lO, acompanhando os que oamavam.

Primícias do Reino – Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Amélia Rodrigues(Parte da Mensagem)

Naquela circunstância aflitiva, Verônica, uma delas, com um pedaço de linhoenxugou-Lhe o suor em sangue. (Um Encontro com Jesus – Divaldo Pereira Franco,copilado por Délcio Carlos Carvalho)

Entre as mulheres que estavam presentes no monte:

Maria Marcos (Irmã de Barnabé que acompanhou Paulo em suas viagens. Mãe deJoão Marcos)

Maria de Betânia, irmã de Lazaro

Maria de Magdala

Maria de Nazaré (Sua mãe)

Joana esposa de Cusa (Funcionário de destaque junto ao tetrarca da Galileia)

Os discípulos atemorizados – após a crucificação – foram recolher-se na casa deMaria Marcos, de Jerusalém, onde realizaram as primeiras reuniões, para que fossemdebatidos os acontecimentos inesperados.

*Divaldo não menciona Verônica, que possivelmente estava lá também, suponho.

Um Encontro com Jesus – Divaldo Pereira Franco, copilado por Délcio CarlosCarvalho

E seguia-o grande multidão de povo e de mulheres, as quais batiam nos peitos, e olamentavam. Porém Jesus, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim,chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos.

Porque eis que hão de vir dias em que dirão: Bem-aventuradas as estéreis, e osventres que não geraram, e os peitos que não amamentaram!

Então começarão a dizer aos montes: Caí sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos. Porque, se ao madeiro verde fazem isto, que se fará ao seco? (Lucas 23:27-31

CURA DE DOIS CEGOS Mat. 9:27-31

27 Quando Jesus saiu dali, dois cegos o seguiram, gritando: "Tem piedade de nós,filho de Davi." 28 Jesus chegou em casa, e os cegos se aproximaram dele. EntãoJesus perguntou: "Vocês acreditam que eu posso fazer isso?" Eles responderam: "Sim,Senhor." 29 Então Jesus tocou os olhos deles, dizendo: "Que aconteça conforme vocêsacreditaram." E os olhos deles se abriram. 30 Então Jesus lhes ordenou: "Tomemcuidado para que ninguém fique sabendo." 31 Mas eles saíram, e espalharam a notíciapor toda aquela região.

CURA DE UM ENDAIMONIADO MUDO Mat. 9:32-34

32 Quando já tinham saído os dois cegos, levaram a Jesus um mudo que estavapossuído pelo demônio. 33 Quando o demônio foi expulso, o mudo falou, e asmultidões ficaram admiradas, e diziam: "Nunca se viu uma coisa assim em Israel." 34Mas os fariseus diziam: "É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios."

A SITUAÇÃO DA MULTIDÃO Mat. 9:35-38

35 Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas,pregando a Boa Notícia do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade.

36 Vendo as multidões, Jesus teve compaixão, porque estavam cansadas eabatidas, como ovelhas que não têm pastor. 37 Então Jesus disse a seus discípulos: "Acolheita é grande, mas os trabalhadores são poucos! 38 Por isso, peçam ao dono dacolheita que mande trabalhadores para a colheita."

SERMÃO PARA OS DOZE: Missão dos doze Mat. 10:1-4

Então Jesus chamou seus discípulos e deu-lhes poder para expulsar os espíritosmaus, e para curar qualquer tipo de doença e enfermidade. São estes os nomes dosDoze Apóstolos: primeiro Simão, chamado Pedro, e seu irmão André; Tiago e seuirmão João, filhos de Zebedeu; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador deimpostos; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Cananeu, e Judas Iscariotes, que foio traidor de Jesus. Mateus 10:1-4

As anêmonas marchetavam a orla dos caminhos com verdadeiras explosões dedelicadas e volumosas flores de tons variegados.

As folhas de tabaco verdejantes compunham as paisagens exuberantes, na qual asárvores frutíferas apresentavam os seus frutos abundantes aguardando a colheita.

A Primavera entoava hinos de luz e cor em toda parte, enquanto o casario àmargem noroeste do lago de Tiberíades em pequenos e volumosos aglomerados, quese estendiam por quase vinte quilômetros, falavam sem palavras da expansão humana,política e social na região.

A sinagoga de Cafarnaum, erguida aproximadamente um século antes de Jesus,era o referencial para o culto religioso, estudos e resoluções administrativas da cidade.

Tiberíades, logo adiante, com as características helênicas, esplendia com as suasmajestosas construções em homenagem ao imperador Tibério César.

Mas entre as cidades grandiosas, os povoados, os aglomerados de casebre deagricultores, pescadores e vinhateiros, salpicavam os caminhos movimentados à beira-mar ou entre sebes oscilantes ao vento.

O Mestre dera início ao ministério e atraía multidões que se avolumavam ao seulado, com curiosidade, interesses pessoais, necessidade de todo tipo.

Ele a todos atendia, ampliando, porém, os Seus ensinamentos, a fim de que os

indivíduos se libertassem da miséria mais grave, a ignorância sobre si mesmos, averdade e a vida.

Por isso, as lições se assemelhavam a pérolas que fossem sendo distendidas portodos os lugares a fim de que, em momento próprio, pudessem ser enfeixadas em umgrande colar que unisse todos os indivíduos em um tesouro de amor.

Inicialmente, porque as obsessões fossem cruéis e inumeráveis, em intercâmbio deimpiedade que resultava da ignorância, o Mestre convidou os discípulos e deu-lhespoder de expulsar os Espíritos impuros, assim como a energia curativa para os malesdo corpo e da alma de todos quantos viessem até eles martirizados pelas doenças.

A seguir, enviou-os a diferentes partes para que pudessem preparar os alicercesdo reino que viria a ser implantado nos corações.

Recomendou-lhes prudência e coragem, generosidade e inteireza moral, a fim deque não se imiscuíssem em questiúnculas descabidas, nem se perturbassem com osgentios, com os discutidores inúteis, mas que fizessem todo o bem possível, curandoas doenças, afastando as perturbações, mas anunciando a Era que logo mais seiniciaria.

Era como a apoteótica Abertura de uma Sinfonia de incomparável beleza,anteriormente jamais ouvida.

- Eu vos envio - disse Ele - como ovelhas para o meio dos lobos; sede prudentescomo as serpentes e simples como as pombas. Tende cuidado com os homens: hão deentregar-vos aos tribunais... Mas não os temais, porque o Pai falará por vossas bocas.

Os amigos partiram emocionados, cantando esperanças no coração, sem ter ideiade como reagiriam às criaturas à nova proposta.

Ensinaram pelos caminhos e veredas, detiveram-se nas praças e nas praias,narraram o que haviam visto e ouvido, expuseram o pensamento do Rabi, mas nãoforam tomados em consideração.

Somente quando as palavras foram coroadas pelos feitos, arrancando das travesinvisíveis das doenças, aqueles que as padeciam, é que lhes concediam algumaatenção, dando-lhes as costas de imediato e sugerindo que viesse pessoalmente oMessias...para que o vissem e pudessem testificá-lo.

Por sua vez, Jesus foi também pregar em outras cidades, especialmente a respeitode João, o Batista, causando espanto a sua coragem, em razão do filho de Zebedeu eIsabel encontrar-se prisioneiro na Peréia por ordem de Herodes, insuflado por suamulher e cunhada Herodíades, com quem vivia em concubinato.

Os ventos generosos da estação perfumada levaram a Mensagem de boca-a-boca,disseminando-a por toda a parte até os confins das fronteiras no além Jordão.

Uma grande calmaria emocional passou a viger nas almas em expectativa. Oscomentários se faziam frequentes e as interrogações levantavam-se nos grupos que sereuniam nos diferentes lugares.

A música do Seu verbo iria inflamar os corações e provocar incêndios nossentimentos e nas mentes apaixonadas, que não estavam preparadas para a mudançaradical de comportamento que Ele propunha.

Já agora não era mais possível deter a odisseia em pleno desenvolvimento.

Quando os discípulos retornaram e relataram os acontecimentos que tiveram lugarà sua volta, o Mestre definiu que aquele era o momento de dar curso ao messianato.

Ergueu-se como um gigante e se expôs por amor, arrostando todas asconsequências dos Seus severos sermões, Suas graves admoestações, Suasgenerosas concessões.

Esclareceu que o reino de Deus se encontrava dentro da criatura humana, quedeverá alcançá-lo com muito empenho e arrojada decisão, negociando tudo que étransitório para a aquisição eterna.

(Como se negocia algo transitório? Como dizia um amigo, separar o que e urgente

do que é importante. O urgente pode esperar, mais o importante, tem que se dáprioridade. Urgente era o desejo de cura dos doentes, mais o importante era levar amensagem, fincando a bandeira no solo dos corações)

Abrindo os braços às multidões que sempre o cercariam, naquela oportunidadeabençoou o mundo e os seus habitantes, compondo a mais notável sinfonia de todosos tempos, musicada pelas Suas palavras e atos ao compasso do inefável amor.

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(*) Mateus : 10 - 1 e seguintes Nota da autora espiritual

Até o Fim dos Tempos – Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Amélia Rodrigues

SERMÃO PARA OS DOZE: Missão dos doze - Anúncio do Reino: Conclusão

4 Simão, o Cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor de Jesus.

5 Jesus enviou os Doze com estas recomendações: "Não tomem o caminho dospagãos, e não entrem nas cidades dos samaritanos. 6 Vão primeiro às ovelhasperdidas da casa de Israel. 7 Vão e anunciem: 'O Reino do Céu está próximo'. 8 Curemos doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios.Vocês receberam de graça, deem também de graça! 9 Não levem nos cintos moedasde ouro, de prata ou de cobre; 10 nem sacola para o caminho, nem duas túnicas, nemcalçados, nem bastão, porque o operário tem direito ao seu alimento. 11 Em qualquercidade ou povoado onde vocês entrarem, informem-se para saber se há alguém que édigno. E aí permaneçam até vocês se retirarem. 12 Ao entrarem na casa, façam asaudação. 13 Se a casa for digna, desça sobre ela a paz de vocês; se ela não fordigna, que a paz volte para vocês. 14 Se alguém não os receber bem, e não escutar apalavra de vocês, ao sair dessa casa e dessa cidade, sacudam a poeira dos pés. 15 Eugaranto a vocês: no dia do julgamento as cidades de Sodoma e Gomorra serãotratadas com menos rigor do que essa cidade."

16 Eis que eu envio vocês como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejamprudentes como as serpentes e simples como as pombas.

PERSEGUIÇÕES Mat: 10:17-33

17 Tenham cuidado com os homens, porque eles entregarão vocês aos tribunais eaçoitarão vocês nas sinagogas deles. 18 Vocês vão ser levados diante degovernadores e reis, por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para asnações. 19 Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquiloque vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devemdizer. 20 Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês équem falará através de vocês. 21 O irmão entregará à morte o próprio irmão; o paientregará o filho; os filhos se levantarão contra seus pais, e os matarão. 22 Vocêsserão odiados de todos, por causa do meu nome. Mas, aquele que perseverar até ofim, esse será salvo. 23 Quando perseguirem vocês numa cidade, fujam para outra. Eugaranto que vocês não acabarão de percorrer as cidades de Israel, antes que venha oFilho do Homem. 24 O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seusenhor. 25 Para o discípulo basta ser como o seu mestre, e para o servo ser como oseu senhor. Se chamaram de Belzebu o dono da casa, quanto mais os que são dacasa dele!"26 Não tenham medo deles, pois não há nada de escondido que não venha a serrevelado, e não existe nada de oculto que não venha a ser conhecido. 27 O que digo avocês na escuridão, repitam à luz do dia, e o que vocês escutam em segredo,proclamem sobre os telhados.

28 Não tenham medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma.Pelo contrário, tenham medo daquele que pode arruinar a alma e o corpo no inferno! 29Não se vendem dois pardais por alguns trocados? No entanto, nenhum deles cai nochão sem o consentimento do Pai de vocês. 30 Quanto a vocês, até os cabelos dacabeça estão todos contados. 31 Não tenham medo! Vocês valem mais do que muitospardais.

32 Portanto, todo aquele que der testemunho de mim diante dos homens, tambémeu darei testemunho dele diante do meu Pai que está no céu. 33 Aquele, porém, queme renegar diante dos homens, eu também o renegarei diante do meu Pai que está nocéu."

Ministério Desafiador: Divisões Mat. 10:34-39

Não pensem que eu vim trazer paz a terra; eu não vim trazer a paz, e sim aespada. De fato, eu vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de suasogra. E os inimigos do homem serão os seus próprios familiares. Quem ama seu paiou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho ou sua filha maisdo que a mim, não é digno de mim. Quem não toma a sua cruz e não me segue, não édigno de mim. Quem procura conservar a própria vida, vai perdê-la. E quem perde asua vida por causa de mim, vai encontrá-la. – Mateus 10:34-39

Somente um processo histórico com todas as suas implicações resulta eminstalação profunda na consciência humana de uma Doutrina transformadora como ade Jesus.

Antes dele haviam passado pela Terra homens incomuns, estabelecendo diretrizese propondo comportamentos revolucionários em relação aos hábitos e condutasvigentes então. Sofreram apodos, perseguições sem conto, desaparecendo uns navoragem dos preconceitos mórbidos e outros sucumbindo ao peso das ideias quesustentavam. Raros conseguiram implantar as bases do pensamento dignificante,capaz de alterar a linha de atividades dos seres, direcionando-a para as novasexperiências iluminativas.

Todos, sem dúvida, foram os pioneiros audaciosos que se ofereceram parapreparar o advento do Evangelho com seu conteúdo libertador de paixões e lutascriminosas.

Em chegando o momento da presença física de Jesus na Terra, era natural que selevantassem barreiras de aparente intransponibilidade, muito do agrado dos queesfalfavam nos gozos e amesquinhavam os ideais da humanidade com o seu podertransitório, desfilando nos carros soberbos da ignorância e da ilusão.

Exemplo máximo da Imortalidade, Jesus veio e os enfrentou, porém sabia dasdificuldades que seriam experimentadas pelo pósteros que lhes desejassem ser fiéis,levando adiante os postulados por Ele preconizados e vividos.

Bailavam nas mentes e nos corações dos discípulos convidados para o apostoladoda Boa Nova as melodias das palavras com que Ele emoldurara a convocação.

Zéfiros perpassavam pela Natureza, enquanto Sua voz altissonante permanecia

repetindo as advertências, a fim de que não se iludissem, nem se permitissem sonharcom as facilidades, que nunca se apresentavam diante dos desafios transformadoresdos costumes e das paixões amesquinhantes.

Dias de tumultos e de sofrimentos, aqueles eram também os que precediam à Erado Amor, que não se implantada senão através de sacrifícios e martírios.

Os homens estavam acostumados ao engodo das bajulações e da hipocrisia, ojogo perverso dos interesses lucrativos, mesmo que a prejuízo da dignidade e do bem.

Naquela oportunidade o Mestre os havia preparado para o combate incessante quehaveria de travar, a princípio no mundo íntimo, adquirindo forças para novosconhecimentos, aqueles que teriam lugar nos enfrentamentos com as demais criaturas,especialmente os fariseus de todas as épocas, que se comprazem em viver asexpensas do labor alheio, discutidores inveterados, mediante cujo ardil, enganam eexploram os inadvertidos.

Sem dúvida, fazia-se mister predispor-se à renúncia aos bens terrenos, aquelesque enferrujam, que são transferidos de mãos e causam perturbação.

O indispensável seria a harmonia interior, vinculada à irrestrita confiança em Deus,porquanto, no momento da eleição daquilo que deveriam preferir, nenhum apego osvinculasse aos haveres transitórios, que são acumulados e logo se tornam pesoinsuportável sobre os ombros frágeis das criaturas que perecem na sombra do corpopara ressurgirem na luz inapagável da imortalidade.

Ninguém pode ambicionar o reino de Deus disputando os valores terrestres queacumula com avidez insaciável, nem consegue harmonizar-se no ideal da fraternidade,se não realiza o equilíbrio interior para vitalizar os ideais soberanos da vida.

Somente quem se afeiçoa ao verdadeiro bem é capaz de transpor os obstáculoscolocados pelo egoísmo, sentindo a lídima solidariedade apossar-se dos sentimentos eespraiar-se como aroma de esperança em favor de todos.

A vivência evangélica, pois, é uma incursão aos domínios do deus interno, de ondese emerge no rumo glorioso de Deus.

É natural que as criaturas, mergulhadas no corpo denso, sonhem e busquem oprazer, a alegria que resulta da posse, da comunhão afetiva. No entanto, viver emfunção de tais anelos, é arriscado empreendimento que dificulta o despertamento paraas realidades mais significativas da vida real.

Enquanto se permanece em estado de infância moral as coisas se apresentam

como de fundamental importância, perdendo o significado vagarosamente, à medidaem que se adquire maturidade psicológica, evolução espiritual.

Conhecendo em profundidade os Espíritos que houvera convidado para oministério, Jesus esclareceu-os, dizendo:

- Não penseis que vim trazer a paz; não vim trazer a paz, mas a espada. Porquevim separar o filho da sua mãe e a nora da sogra, de tal modo que os inimigos dohomem serão os seus familiares.

Naqueles rostos curtidos de Sol e naqueles corações ingênuos o desafio soaracomo um estranho vaticínio de guerra sangrenta, de batalhas dilaceradoras, decombates insistentes contra os familiares e de todos com quem convivessem.

No entanto, fitando o Mestre que os envolvia em dúlcida vibrações de ternura,compreenderam que a Mensagem iria separá-los dos afetos mais queridos, gerandodificuldades nos relacionamentos, porque seria necessário investir no futuro do Espírito,mesmo que a prejuízo das alegrias presentes.

Quem, no lar, poderia compreender a doação de alguém na família com maiorintensidade a Deus do que ao clã? Qual o afeto que estaria disposto a repartir a ternuraque devotasse a outrem, ante um competidor que exigisse entrega total?

Seria crível ser aceito aquele que renunciasse ao poder terrestre, perseguindo ogáudio metafísico da Espiritualidade?

A proposta de Jesus, realmente era como o fio da espada que separa, nunca paradestruir, porém para voltar a unir mais tarde.

Naquele tempo, e por muito tempo, não poderiam caminhar dois interesses tãoantagônicos como os prazeres que exaurem os sentimentos e aqueles que desgastamo corpo e as paixões convencionais para a vivência da plenitude.

Seria, sem dúvida, uma opção terrível aquela que eles, os convidados, deveriamfazer: prosseguir como até então ou alterar os ideais até as cumeadas da conquista deDeus.

Os homens e as mulheres do mundo estão acostumados às respostas imediatasdos investimentos emocionais e físicos, de tudo quanto redunde em projeção e poder,da exaltação das vaidades e do domínio da força, destacando-se aqueles que lhesconstituem a família.

A nova ordem se inspira em uma família universal, em sentimentos desolidariedade, em atitudes de pacificação.

Num mundo de combates armados e ferozes estão excluídos os pacificadores e osgeradores de esperança, porque eles dificultam o processo guerreiro de predominânciados temerários combatentes.

Mas esses - pacificadores e geradores de esperança - são perenemente osconstrutores da sociedade feliz, os alicerces das edificações nobres do Espírito, sem osquais a vida volveria ao primarismo do começo.

Ainda hoje, sem as excruciantes dores dos testemunhos que assinalaram osmártires da fé, no começo do Cristianismo, permanecem as palavras de Jesus comoespada que separa as ligações enganosas do conúbio carnal, trabalhando sentimentoshumanos, para que entendam a necessidade de integração nos postulados de saboreterno.

As aragens dos Seus ensinos permanecem diminuindo a ardência das canículasdos desequilíbrios e das consequências na sociedade atormentada e inquieta destesdias insanos.

Amar em profundidade, saber selecionar interesses que devem e merecem maiorsoma de atenção, entregar-se à renovação íntima, a fim de suportar o testemunho quese derivam das incompreensões geradas no círculo das mais caras afeições, eis oinício do ministério desafiador a que Jesus nos entregou a todos.

Suas palavras permanecem ecoando e o mundo não as tem ouvido, resultando nahediondez e no crime, na desenfreada correria por nada e na autoentrega aos estadosde depressão e de dor nos quais grandes grupos da sociedade hodierna se consomem.

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(*) Mateus 10:34 e 35

Nota da Autora espiritual

Até o Fim dos Tempos – Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Amélia Rodrigues

RECEPÇÃO Mat. 10:40-42

40 Quem recebe a vocês recebem a mim; e quem me recebe, recebe aquele queme enviou. 41 Quem recebe um profeta, por ser profeta, receberá a recompensa deprofeta. E quem recebe um justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo. 42“Quem der ainda que seja apenas um copo de água fria a um desses pequeninos, porser meu discípulo, eu garanto a vocês: não perderá a sua recompensa."

RECEPÇÃO (Final) Mat. 11:1

1 Quando Jesus terminou de dar essas instruções aos seus doze discípulos, partiudaí, a fim de ensinar e pregar nas cidades deles.

Marc. 6:12-13

12. E tendo eles saído, pregaram para que modificassem a mente.

13. E expeliam muitos espíritos desencarnados, ungiam com óleo muitos enfermose os curavam.

Luc. 9:6

6. Tendo eles partido, caminharam através das aldeias, anunciando as boas-novase fazendo curas em toda parte.

Os emissários põem em prática os ensinos de Jesus, saindo pelas aldeias a pregara modificação mental.

É a execução sob a supervisão do Mestre, como exercício de aprendizado, quemais tarde terá que ser realizado por conta própria. Indispensável, portanto, uma"prévia", na qual pudessem ser desfeitas todas as dúvidas e corrigidos todos osenganos.

Uma observação de Marcos (que o irmão de Jesus, Tiago, apoiará em suaepístola, 5:14-15) diz que os discípulos "ungiam com óleo muitos enfermos e oscuravam". Da observação genérica do modo de agir de todos, deduz-se ter havidoalguma instrução particular nesse sentido por parte de Jesus. Com efeito, era hábitoutilizar-se o óleo para aliviar as feridas (cfr. Luc. 10:34).

Não basta ter recebido as instruções da individualidade: mister pô-las em prática,exercitando-se na oração, na meditação e na ação. Só assim conseguirá apersonalidade subir alguns degraus evolutivos, plasmando o "espírito" pelo hábito(condicionamento espiritual) que, uma vez arraigado, se tornar á instinto. Só então,depois de solidificados os hábitos se poderão pensar num passo à frente, porque aevolução não dá saltos. Sem base, não pode haver construção. E quanto mais alto oedifício, mais profundos e sólidos precisam ser os alicerces.

Então, não basta a teoria: indispensável a prática constante e ininterrupta, longa epersistente.

Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele,ungindo-o com azeite em nome do SENHOR; E a oração da fé salvará o doente, e oSENHOR o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Tiago5:14-15

(Particularmente, considero Paulo aquele que absorveu mais amplamente osentido espiritual da mensagem de Jesus. Foi Paulo que chamou atenção para obatismo, que percebeu que o sentido era outro, e diz que lembra ter batizado alguns,mais que logo deixou está prática, ao perceber que o verdadeiro batismo era com fogo,como diz João. Tiago menor, na igreja de Jerusalém, mantinha os ritos do judaísmo, eno tocante a circuncisão, foi travada uma verdadeira guerra, onde Pedro para acamaros ânimos foi a favor de Tiago, e esclarecendo a Paulo que precisava manter oequilíbrio dentro da instituição nascente, circuncidando Tito. É claro que mais tarde,Paulo compreendeu a atitude de Tiago, quando este sugere alguns ritos para o livraremdo ódio dos fariseus, quando o buscavam prendê-lo. Assim, vejo a mensagem deJesus, como a entendo hoje, diante da terceira revelação: sem os ritos, sem os desviosda atenção e sim a concentração no maior objetivo da encarnação: a conquista do paísespiritual interior, o verdadeiro batismo. Acrescentei. Vide obra Paulo e Estevão).

INDAGAÇÕES DE JOÃO BATISTA E TESTEMUNHO DE JESUS A SEURESPEITO Mat. 11:2-19 Lc 7:18-35 16:14-18

2 João estava na prisão. Quando ouviu falar das obras do Messias, enviou a elealguns discípulos 3 para lhe perguntarem: "És tu aquele que há de vir, ou devemosesperar outro?" 4 Jesus respondeu: "Voltem e contem a João o que vocês estãoouvindo e vendo: 5 os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos sãopurificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a BoaNotícia. 6 E feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!"7 Os discípulos de João partiram, e Jesus começou a falar às multidões a respeito deJoão: "O que é que vocês foram ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8 Oque vocês foram ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas aqueles que vestemroupas finas moram em palácios de reis. 9 Então, o que é que vocês foram ver? Umprofeta? Eu lhes afirmo que sim: alguém que é mais do que um profeta. 10 É de Joãoque a Escritura diz: 'Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar oteu caminho diante de ti'. 11 Eu garanto a vocês: de todos os homens que já nasceram,nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino do Céu é maior doque ele 12 Desde os dias de João Batista até agora, o Reino do Céu sofre violência, esão os violentos que procuram tomá-lo. 13 De fato, todos os Profetas e a Leiprofetizaram até João. 14 E se vocês o quiserem aceitar, João é Elias que devia vir. 15Quem tem ouvidos, ouça."

16 Com quem eu vou comparar esta geração? São como crianças sentadas naspraças, que se dirigem aos colegas, e dizem: 17 Tocamos flauta e vocês nãodançaram, cantamos uma música triste e vocês não bateram no peito'. 18 Veio João,que não come nem bebe, e disseram: 'Ele está com um demônio'. 19 Veio o Filho doHomem, que come e bebe, e dizem: 'Ele é um comilão e beberrão, amigo doscobradores de impostos e dos pecadores'. “Mas, a sabedoria foi justificada por suasobras."

JULGAMENTO DAS CIDADES DO LAGO Mat. 11:20-24 Lc 10:13-16

20 Então Jesus começou a falar contra as cidades onde havia realizado a maiorparte de seus milagres, porque elas não tinham se convertido. 21 Ele dizia: "Ai de você,Corazin! Ai de você, Betsaida! Porque, se em Tiro e Sidônia tivessem sido realizadosos milagres que foram feitos no meio de vocês, há muito tempo elas teriam feitopenitência, vestindo-se de cilício e cobrindo-se de cinzas. 22 Pois bem! Eu digo avocês: no dia do julgamento, Tiro e Sidônia terão uma sentença menos dura que vocês.23 E você, Cafarnaum! Será erguida até o céu? Será jogada é no inferno, isso sim!Porque, se em Sodoma tivessem acontecido os milagres que foram realizados no meiode você, ela existiria até o dia de hoje! 24 Eu lhe digo: no dia do julgamento, Sodomaterá uma sentença menos dura que você!"

DESCANSO DA ALMA: O REGRESSO DOS 72 Mateus. 11-25-30 LC 10:21-24

25. Naquele tempo, Jesus, respondendo disse: Eu te louvo, Pai, Senhor do céu eda Terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios inteligentes, e as revelaste aosinfantes.

26. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado.

27. Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o Filhosenão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho quiserrevelar.

28. Vinde a mim todos os cansados e sobrecarregados, e eu vos darei descanso.

29. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou brando e humildede coração e encontrareis descanso para vossas almas,

30. Porque meu jugo é suave e meu fardo é leve. (Tradução Haroldo Dutra Dias)

Mateus. 13:16-17

16. Mas felizes são vossos ouvidos porque ouvem.

17. Pois em verdade vos digo, que muitos profetas e justos desejaram ver o quevedes e não viram; e ouvis, e não ouviram.

Lucas. 10:17-24

17. Voltaram os setenta e dois com alegria, dizendo: "Senhor, até os espíritos senos submetem em teu nome".

18. Respondeu-lhes Jesus: Eu via o adversário cair, como relâmpago do céu.

19. Atenção: dei-vos poder para pisardes sobre serpentes e escorpiões e sobretoda a força do inimigo, e nada, de modo algum, vos fará mal.

20. “Mas não vos alegreis de que os espíritos se vos submetam: alegrai-vos antesque vossos nomes estão inscritos nos céus".

21. Nessa hora Jesus alegrou-se em espírito e disse: Abençoo-te, Pai, senhor do

céu e da Terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios intelectuais e as revelaste aospequeninos. Sim, Pai, pois assim se torna bom diante de ti.

22. “Tudo me foi transmitido por meu Pai, e ninguém tem a gnose do Filho, senão oPai, e ninguém têm a gnose do Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho querrevelar".

23. E voltando-se para seus discípulos, disse: Felizes os olhos que veem o quevedes,

24. Pois vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não viram,e ouvir o que ouvis, e não ouviram.

Não nos foi esclarecido quanto tempo demorou o trabalho da segunda leva, dossetenta e dois Emissários.

Nem se sabe se todos chegaram ao mesmo dia, por ter sido antecipadamentemarcado um término a essa excursão, ou se foram regressando aos poucos. O fatocomprovado pelas anotações de Lucas, é que chegaram "alegres", por haveremrealizado com êxito a tarefa missionária recebida.

A impressão causada é que, todos reunidos, foi estabelecida uma assembléia("igreja", ekklêsia), tendo o evangelista resumido, numa frase, a impressão e o relatóriodeles, salientando a surpresa de terem conseguido "até" dominar os Espíritosdesencarnados obsessores.

Jesus responde com uma frase para nós enigmática: ethéôroum tòn satanãs hôsastrapên ek toú ouranoú pesónta, cuja tradução pode ser dupla, conforme prendamosek toú ouranoú a astrapén (l.ª) ou a pesónta (2.ª):

1.ª - eu via o adversário caindo, como relâmpago do céu;

2.ª - eu via o adversário caindo do céu, como relâmpago.

Alguns autores, aceitando a segunda, veem na frase uma alusão à "queda dosanjos" (cfr. Apoc. 10:7-9). Nada, porém, justifica tal afirmação. Dizem outros que Jesus"via" as vitórias de Seus discípulos, como derrota e queda dos espíritos atrasados.

Observamos claramente repetido que o "poder" (exousía) dado aos setenta e dois

foi o mesmo que aos primeiros doze, embora lá não se tenha acenado a esse poder:"de caminhar sobre serpentes e escorpiões e sobre a força (dynamis) inimiga".

Sabemos que, de fato (cfr. Marc. 16:18) segundo palavras do Mestre, os quecrerem expulsarão espíritos, falarão línguas novas (que não conheçam por outras vias),pegarão em serpentes, nenhum veneno mortal lhes causará danos e, com a simplesimposição das mãos curarão enfermos. Os verdadeiros enviados não são atingidos pormales externos.

(Lembrei de Paulo: Atos dos Apóstolos 28:3 (ACF2007) E, havendo Pauloajuntado uma quantidade de vides, e pondo-as no fogo, uma víbora, fugindo do calor,lhe acometeu a mão. Em Paulo e Estevão o assunto é pormenorizado. Acredito quePaulo conhecia a persona do animal e sabia de antemão, que nada lhe aconteceria.Acrescentei)

O Mestre afirma que o domínio sobre espíritos obsessores pode causar a alegriada vitória do bem.

Mas a alegria profunda e íntima deve ser proporcionada, quando sabemos quetemos os "nomes inscritos nos céus". Esta é uma expressão antiga entre os israelitas.Deparamo-la pela primeira vez, proferida por Moisés, quando diz a Adonai: "perdoa-lhes o erro, ou senão risca-me do livro que escreveste" (Ex. 32:32-33).

E aparece ainda em Is. 4:3; Dan. 12:1; Salmo 68:29; Filp. 4:3 e Apo. 20:15. Aexpressão "ter o nome escrito ou inscrito nos céus" ou "no livro da Vida", significa "estarsalvo".

(Dia do Perdão onde se realizava a festa do Yom Kippur. Caso as ofertas fossemaceitas por Deus, o nome era escrito no livro da vida, e ganhava-se mais um ano depermanência na terra. Quanto Salvar, como diz Emmanuel, é levantar, soerguer,ensinar. Acrescentei. Vide estudo Levítico)

Logo após, Jesus dirige-se ao Pai, numa oração de "ação de graças” (eucharistía)em termos que merecem análise.

"Naquela hora alegrou-se (Luc. 1:47, vol. 1) em espírito".

Alguns manuscritos acrescentam "santo", que suprimimo-lo, porque o sentido nãoo pede, já que a alegria é do próprio Espírito da criatura, e o de Jesus (cfr. Luc. 1:35)era um Espírito Santo. Nessa suprema alegria espiritual, fala Jesus: abençoo-te, Pai,senhor do céu e da Terra, porque ocultaste estas coisas dos sábios intelectuais e asdesvelaste aos pequeninos.

Preferimos considerar “sábios intelectuais", ao invés de "sábios e inteligentes", ou"sábios e hábeis". Com efeito, a dificuldade de aceitar a revelação, reside nos sábiosdo intelecto, que só atribuem valor aos raciocínios horizontais, recusando a intuição ainspiração, as revelações e o mergulho interno. Os “pequeninos" traduz nêpíois, queliteralmente significa "infantes", isto é, as criancinhas que ainda não falam: são oshumildes que aceitam as coisas espirituais sem pretender falar por si mesmos nemquerendo expender suas próprias opiniões personalistas. E continua: "Sim, ó Pai,porque assim se torna agradável diante de ti. É a conformação plena e explícita com avontade do Pai, que se manifesta sempre através dos acontecimentos que nosocorrem, independentemente de nossa atuação voluntária. E prossegue: tudo me foitransmitido por meu Pai numa declaração explícita de iniciação natural e divina (cfr.João, 3:35). E depois a frase mais reveladora: "e ninguém tem a quem é o Filho senãoo Pai, e quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho quer revelar . O vertousado por Mateus é mais forte: “reconhecer" ou melhor, "aprender a conhecer", o quesupõe "ter a gnose", o conhecimento pleno ou a plenitude do conhecimento (cfr. João,6:46). Esse trecho foi classificado como "a revelação do mistério essencial da fé cristã",por Cirilo de Jerusalém.

Voltando-se, depois, para Seus discípulos em particular (os 12 mais os 72),continua a manifestação de alegria plena, numa frase em que os felicita pela imensaventura de ali conviverem com Ele, na intimidade da vida diária: "felizes vossos olhospor verem o que vedes, que tão ansiosamente foi desejado por profetas e reis, quequiseram ver e ouvir e não no conseguiram". Essa frase acha-se, em Mateus, em outrolocal, mas trouxemo-la para cá pelo indiscutível paralelismo com Lucas.

A seguir aparecem mais alguns conceitos, só em Mateus. E seguem-se osexemplos: "E agora, meus filhos, escutai-me: felizes os que guardam meus caminhos"(Prov. 8:32); "Vinde a mim, vós que me desejais, e saciai-vos de meus frutos" (Ecli.24:18); "Aproximai-vos de mim, ignorantes, e estabelecei vossa morada em minhaescola" (Ecli. 51:23); e sobretudo: "Dobrai vosso pescoço sob o jugo e que vossa almareceba a instrução. Vede com vossos olhos que, com pouco trabalho, conquisteigrande repouso" (Ecli. 51:34 e 35).

Mas as frases de Jesus são mais belas que essas e que todas as posteriores quelemos no Talmud:

"Efraim, nosso justo messias, possa teu espírito encontrar repouso, pois otrouxeste ao espírito do Criador e ao nosso" (Pesiq, 163a); Bendita a hora em quenasceu o Messias! Feliz a geração que o viu!

Felizes os olhos julgados dignos de contemplá-lo! Pois seus lábios abrem-se embênçãos e paz e suas palavras são repouso ao espírito (Pesiq, 140a); "Possa teuespírito repousar, pois repousaste o meu" (Sabbat, 152b).

A expressão "jugo" era comum. No sema (oração diária), o israelita dizia, duasvezes por dia, o "jugo do reino dos céus" e ainda falava no "jugo da Torah", no “jugodos Mandamentos", no "jugo do Santo" ou do "céu", no "jugo da carne e do sangue" (aencarnação), etc. Assim também quanto à palavra "fardo": o "fardo da Lei" (cfr. Mat.23:4). Por aí vemos como Jesus se servia de palavras e expressões já conhecidas ecorrentes, mas apresentando-as em conceitos novos e originais. Por isso, todoscompreendiam seu ensino externo, mas de tal forma era nova a maneira de dizer, queafirmavam: "ninguém jamais falou como esse homem" (João, 7:46).

Vejamos, pois, os maravilhosos conceitos do Mestre: "Vinde a mim todos osfatigados e sobrecarregados e eu vos repousarei. Tomai sobre vós o meu jugo eaprendei de mim (no sentido de "tornai-vos meus discípulos"), porque sou doce emodesto de coração e achareis repouso para vossas almas. Porque meu jugo ébenéfico e meu fardo é leve.

A tradução que fizemos, conforme acatamos de demonstrar, é a que mais se

aproxima do texto original, palavra por palavra, embora diferindo das traduçõescorrentes.

Muito temos que aprender neste trecho. Acompanhemos seu desenvolvimento.

Inicialmente o regresso da segunda leva dos novos iniciados, que voltam da suaprimeira missão. A comprovação de que se tratava de verdadeiros iniciados, emboraainda no primeiro plano e de que o processo criado por Jesus continuou em expansão,tanto em número quanto em ascensão, são os numerosíssimos "mártires”(testemunhas) que, nos primeiros séculos inundaram com seu sangue a superfície daTerra, tendo sido "o sangue deles, no dizer de Tertuliano, a semente de novoscristãos".

A felicidade dos que iniciaram o "Caminho" (nome da Escola iniciática cristã) sob aorientação de Jesus, é imensa e extravasa de seus corações: verificaram querealmente possuíam os "poderes" externos, que a verdadeira iniciação propícianaturalmente: domínio da matéria na cura das enfermidades, domínio dos espíritos nalibertação dos obsidiados. (Vide o Livro Paulo e Estevão).

A frase de Jesus é uma afirmativa de alcance e profundidade incomensuráveis: "euvia o adversário cair, como o relâmpago do céu", ou seja, eu via a vitória do espírito,como emissão fúlgida de luz, provocando a queda e o aniquilamento das personagens(adversárias da individualidade). O Espírito iluminado brilha com fulgor invulgar, aosexperimentados olhos do Mestre Vidente, que percebe as mais abscônditas reações deSeus discípulos. A manifestação crística luminosa abafa todos os veículos físicosinferiores, derrubando-os inexoravelmente: caem por terra definitivamente derrotados econsumidos na fulgurante e enceguecedora luz espiritual do Cristo que em todoshabita. Nesse sentido, percebemos o significado real e profundo dessas palavras"enigmáticas". A meta a atingir é a união com o Cristo Interno. Nessa união, dá se ailuminação do espírito (da individualidade). Essa luz "queima" e ajuda a aniquilar osveículos da personagem (o "adversário"). Ora, diz Jesus, enquanto vocês agiam, eu viao adversário cair (as personagens serem anuladas, cfr. "negue-se a si mesmo"),superadas pela luz interna do Cristo, que se expandia "como um relâmpago do céu".

Logo após, entretanto, chega o aviso, com a instrução correspondente: "Atenção!

(idou) Dei-vos o poder (exousía) para caminhar sobre serpentes e escorpiões e paravencer a força (dynamis) dos inimigos, nada de mal podendo atingir-vos. MAS não vosalegreis por isso: são coisas secundárias e transitórias; não é o domínio da matérianem dos espíritos que significa evolução nem libertação do plano terreno: é ter o nomeinscrito nos céus".

Mistagogo - Era um sacerdote grego, que servia o propósito da iniciação nosmistérios da religião, ensinando as cerimônias e os ritos...

Aristoclês (a melhor chave) que recebeu, mais tarde, o apelido de Platão (o"largo”) pela larga e vasta amplitude de seus conhecimentos (interessante observar queos autores profanos dizem que o apelido lhe foi imposto "por ter ombros largos...”),Aristóteles (o melhor fim); Pitágoras (o anunciador da revelação); Sócrates (senhorseguro, ou infalível); Demóstenes (a força do povo); Demócrito (escolhido pelo povo);Isócrates (senhor equânime); Anaxágoras (poderoso em público); Epicuro (osocorro); Arquimedes (primeiro inventor), etc. etc.

Esse mesmo fato de passar a pertencer à "família do Deus" é assinalado por João(1:12) "aos que O receberam, deu o poder de tornar-se filho de Deus", por Paulo(Rom. 8:16) "somos filhos de Deus; se filhos, herdeiros", e por Pedro (2.ª Pe. 1:3)"participamos da natureza divina."

Fica bem claro, portanto que os "poderes" (siddhis) de pouco valem, sejam eles deque natureza forem: domínio de animais traiçoeiros ou venenosos, de espíritosignorantes ou rebeldes, do próprio corpo e das sensações, das emoções, e até dointelecto vaidoso. Tudo isso é apenas a limpeza do terreno, a desbravarão da mata, adesinfecção do ambiente, indispensáveis a uma caminhada tranquila.

Mas não exprime, ainda, a caminhada em si. Mister aprontar todos os preparativospara a viagem, sem o que esta não poderá ser feita; mas, efetuada a total preparação,nem por isso começou a jornada: só tem ela início quando nos pomos a caminho. E sóà chegada, no final da estrada, poderemos ter a garantia de estar nosso nome "inscritono livro da Vida", no registro dos viajantes que chegaram a bom termo, sabendo que

Alguém nos espera no pórtico da entrada da cidade.

Em oração de louvor e ação de graças (no mistério augusto da "eucaristia"),alegra-se por ver cumprir-se a vontade do Pai, que oculta os mistérios do reino (cfr.13:11) aos "sábios intelectuais" das personagens vaidosas, e os revela ou "desvela"(apokálypsai) aos que são pequeninos no mundo (nêpíois = infantes) e nem sequersabem "falar" a linguagem do mundo. Esse é o modo agradável ao Pai: "seja feita Suavontade"!

Passa, então, ao ensino, ao mistério propriamente dito. Confessa, antes, que foi opróprio Pai (o Verbo Divino, o Som Incriado e Criador) que diretamente transmitiu(parédothê) a Ele (Cristo Interno) todas as coisas, todos os ensinos e revelações.Nenhum ser humano Lhe serviu de Mistagogo nem de mestre. E revela: Ninguém tem agnose (o conhecimento pleno e experimental) do Filho (do Cristo) senão o Pai (oVerbo): e vice-versa, só o Cristo Interno, em cada um, pode ter a gnose (a plenitudeexperimental do conhecimento) de quem é o Pai. E só o Cristo Interno tem acapacidade, ou poder (exousía), a força (dynamis) e a energia (érgon) de revelá-Lo, aquem Ele julga apto a receber essa gnose do mistério.

Portanto, conforme vemos, nenhum mestre humano, nem mesmo Jesus, podepropiciar-nos, de fora, esse contato divino, essa gnose, essa plenitude: só nósmesmos, em nossos próprios corações, unidos ao Cristo Interno, poderemos, atravésDele, encontrar e unir-nos ao Pai. A união ou fusão (que produz a transubstanciação) éque lhes dará o pleno conhecimento experimental (gnose), que só chegaprecisamente por meio da experiência vivida (páthein). "Conhecer" é unir-se e fundir-se.

Daí a expressão bíblica, usando o verbo conhecer para exprimir a união sexual. Sóquando se une intimamente ao ser amado é que realmente o Amante o "conhece", evice-versa. Só quem se unifica com o Pai, com Ele fundindo-se e transubstanciando-seNele, é que verdadeiramente o conhece. E a união só pode realizar-se entre Pai eFilho, entre o Verbo e o Cristo, entre o Amante e o Amado. Nessa união, incendiando-se e iluminando, é que se manifesta a Luz Incriada, o Deus-Amor-Concreto, que cria e

sustenta todas as coisas com seu aspecto de Pai ou Verbo Criador, e que impregna epermeia tudo com seu aspecto de Filho ou Cristo.

Após essa revelação beatifica os novos promovidos com o título de "Felizes" (Bem-Aventurados) e declara que muitos profetas (os iniciantes da escala, na evoluçãoconsciente, quando ainda permanecem no uso dos poderes); muitos justos (aquelesque iniciaram o exercício real da própria espiritualização, conquistando mais algunspassos); e muitos reis, tinham desejado ver e ouvir esse mistério último, mas não nohaviam conseguido.

ESPIGAS ARRANCADAS: A QUESTÃO DO SÁBADO

Mateus. 12:1-8

1. Naquela ocasião, num sábado, passou Jesus pelas searas; e tendo fome, seusdiscípulos começaram a colher espigas e a comer.

2. Vendo isto os fariseus disseram-lhe: "Teus discípulos estão fazendo o que não élícito aos sábados”.

3. Mas ele disse-lhes: "não lestes o que fez Davi, quando ele e seus companheirostiveram fome”?

4. Como entrou na casa de Deus e comeram os pães da "proposição", que não lheera lícito comer, nem a seus companheiros, mas somente aos sacerdotes?

5. Ou não lestes na lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábadoe ficam sem culpa?

6. Digo-vos, porém: aqui está o que é maior que o templo.

7. Mas se tivésseis sabido o que significa "misericórdia quero e não um sacrifício",não teríeis condenado os inocentes,

8. porque o Filho do Homem é senhor do sábado".

Marcos. 2:23-28

23. E aconteceu que caminhando Jesus pelas searas num sábado, seus discípulosao passarem, começaram a colher espigas.

24. E os fariseus lhe perguntaram: "olha, por que fazem eles no Sábado o que nãoé lícito”?

25. Respondeu-lhes ele: “Nunca lestes o que fez Davi, quando teve necessidade efome, ele e seus companheiros”?

26. Como entrou na casa de Deus, sendo Abiatar sumo sacerdote, e comeu ospães "proposição", os quais só aos sacerdotes eram lícitos comer, e ainda os deu aseus companheiros?

27. E acrescentou: “o Sábado foi feito por causa não do homem, e não o homempor causa do Sábado”.

28. “Assim o Filho do Homem é senhor também do Sábado”.

Lucas. 6:1-5

1. Aconteceu num sábado passar Jesus pelas searas e seus discípulos colhiamespigas e debulhando-as com as mãos, as comiam.

2. Perguntaram alguns dos fariseus: "por que fazeis o que não é lícito nossábados"?

3. Respondeu-lhes Jesus: "Nem ao menos lestes o que fez Davi, quando tevefome, ele e seus companheiros?”.

4. Como entrou de Deus, tomou e comeu os pães da "proposição", que somenteaos sacerdotes era lícito comer, e os deu também aos que com ele estavam?

5. E acrescentou: "O Filho do Homem é senhor também do sábado".

O fato de poder "respigar" (colher espigas já maduras), assegura-nos que estamosno início do verão (segunda quinzena de maio; nesse ano, podia tratar-se do dia 22 demaio, que caiu num sábado). Jesus atravessava um campo de trigo com seusdiscípulos, e eles tinham fome.

Era permitido pela lei mosaica (Deut. 23:26) que o viandante que atravessasse umcampo cultivado, e tivesse fome, pudesse colher de seus frutos para alimentar-se.

“Quando entrares na seara do teu próximo, com a tua mão arrancarás as espigas;porém não porás a foice na seara do teu próximo”. Deuteronômio 23:25

Mas acontece que estávamos num sábado, e nesse dia era proibido "ceifar" (Ex.34:21). Ora, para o rigorismo exagerado dos fariseus, "respigar" e "ceifar" não sedistinguiam...

Seis dias trabalharás, mas ao sétimo dia descansarás: na aradura e na segadescansarás. Ex 34:21

· Respigar: Apanhar as espigas que ficaram no campo depois da ceifa. 2. Tr. dir.Colher aqui e além; coligir, compilar.

Traz Jesus à baila o exemplo de Davi e de seus companheiros, quando fugiam daperseguição de Saul (1 Sam. 21:1-6), e chegando a Nob, onde se achava o sumosacerdote Achimelec (Aimeleque), comeram os pães da "proposição". Assim eramchamados os 12 pães que, cada Sábado, eram colocados em duas pilhas de seis,sobre uma mesa (ou altar) de ouro (1.º Reis.7:48), e só dali eram retirados no sábadoseguinte.

1 ENTÃO veio Davi a Nobe, (Cidade BENJAMITA de sacerdotes, localizada aonorte de Jerusalém. No tempo de Saul o TABERNÁCULO estava em Nobe. Saul adestruiu completamente por ter abrigado Davi ) ao sacerdote Aimeleque; e Aimeleque,tremendo, saiu ao encontro de Davi, e disse-lhe: Por que vens só, e ninguém contigo?2 E disse Davi ao sacerdote Aimeleque: O rei me encomendou um negócio, e me disse:Ninguém saiba deste negócio, pelo qual eu te enviei, e o qual te ordenei; quanto aosmoços, apontei-lhes tal e tal lugar. 3 Agora, pois, que tens à mão? Dá-me cinco pãesna minha mão, ou o que se achar.4 E, respondendo o sacerdote a Davi, disse: Não tenho pão comum à mão; há,porém, pão sagrado, se ao menos os moços se abstiveram das mulheres.5 E respondeu Davi ao sacerdote, e lhe disse: As mulheres, na verdade, se nosvedaram desde ontem e anteontem; quando eu saí, os vasos dos moços eram santos;e de algum modo é pão comum, sendo que hoje santifica-se outro no vaso.6 Então o sacerdote lhe deu o pão sagrado, porquanto não havia ali outro pão senão ospães da proposição, que se tiraram de diante do SENHOR, para se pôr ali pão quenteno dia em que aquele se tirasse. 1 Sm 21:1-6

Desses pães, após terem sido retirados "da presença de Adonai", somente os

sacerdotes podiam comer (Lev. 24:5-9).

5 Também tomarás da flor de farinha, e dela cozerás doze pães; cada pão será deduas dízimas de um efa (Medida de capacidade para secos). 5 E os porás em duasfileiras, seis em cada fileira, sobre a mesa pura, perante o SENHOR. 7 E sobre cadafileira porás incenso puro, para que seja, para o pão, por oferta memorial; ofertaqueimada é ao SENHOR. 8 Em cada dia de sábado, isto se porá em ordem perante oSENHOR continuamente, pelos filhos de Israel, por aliança perpétua. 9 E será de Arãoe de seus filhos, os quais o comerão no lugar santo, porque uma coisa santíssima épara eles, das ofertas queimadas ao SENHOR, por estatuto perpétuo. Lv 24:5-9

Note-se que, em Marcos, Jesus fala do sumo-sacerdote Abiathar, quando narealidade não o era ainda.

Os fatos passaram-se assim: fugia Davi, quando passou rela casa de Achimelech(Aimeleque) e pediu pão para si e para seus companheiros. Não os tendo em casa,Achimelech levou a todos ao santuário de Adonai, apanhou os pães da “proposição” edeu-os. Pouco após, denunciado pelo edomita Doeg, Saul mandou assassiná-lo e atoda a sua família ( 1 Sam. 22:6-23), por terem dado hospitalidade a Davi.

· Doegue: [Tímido] EDOMITA, pastor-chefe de Saul (1Sm 21.7—22.23; Sl 52,título).

· Então respondeu Doegue, o edomeu, que também estava com os criados deSaul, e disse: Vi o filho de Jessé chegar a Nobe, a Aimeleque, filho de Aitube, O qualconsultou por ele ao SENHOR, e lhe deu mantimento, e lhe deu [também] a espada deGolias, o filisteu. (1 Samuel 22:9-10)

Mas o filho de Achimelech, de nome Abiathar (Abiatar), conseguiu escapar,reunindo-se ao bando fugitivo de Davi; este ao ser coroado rei de Israel fê-lo sumosacerdote, cargo que ocupou praticamente durante todo o reinado de Davi. Não sepode dizer que há erro de “copista", porque todos os manuscritos e códices sãounânimes em colocar “Abiathar”. Mas pode Ter havido um engano da parte doevangelista, que não era “infalível”.

Com isso, Jesus demonstrava que a necessidade “abolia” o Sábado.

Mas outro exemplo é trazido: os sacerdotes, no templo, não violam o sábado aoimolar as vítimas, porque o sacrifício ordenado pela Torah é superior à observânciasabática.

Aparece então uma afirmativa solene: “aqui está algo (no neutro) que é maior queo templo". Repete, então, a frase de Oséias (6:6) já anteriormente citada: “amisericórdia é superior a um sacrifício”, e termina com a assertiva: "o Filho do Homemé o senhor do Sábado”, não só porque ele, Jesus, era o próprio Adonai que o haviainstituído, como também porque todos os filhos dos homens são superiores e senhoresde quaisquer ordenações, quando estas vêm prejudicar suas necessidades vitais.Porque “o sábado foi feito por causa do homem, e não o homem feito por causa dosábado".

· Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus,mais do que os holocaustos Oséias 6:6

A lição anterior podia escandalizar muitos discípulos sinceros, embora dementalidade estreita, que haviam seguido rigorosa e conscientemente os preceitos, quejulgavam "divinos", de suas próprias igrejas (não só os discípulos daquela época, masos de todos os tempos, inclusive os atuais, tenham que denominação tiverem:israelitas, muçulmanos, católicos - romanos ou reformados -, espíritas, hindus, etc.)

A este é dada outra lição sublime, simbolizada na crença mais firme e arraigadanaquela população: o sábado.

Jesus ensina, claramente, que todo e qualquer preceito por mais "divino" que sejatido, é dado em benefício do homem. Logo, o homem é superior aos preceitos,sejam eles quais forem, e podem resolver, quando em união com Deus, o que melhorlhes convenha.

Logicamente está claro: quando a personalidade ainda domina, os preceitos lhesão dados para controlar os abusos: são os trilhos e os fios elétricos, aos quais seprende o trem. Mas quando a individualidade assume o comando, não mais necessita

disso: é o avião, que tem para locomover-se a amplidão dos céus, só sendo obrigado asujeitar-se às regras terrenas, quando está em contato próximo com a terra, com apersonalidade. (Bom exemplo! Seria um contrassenso querer prender o avião noscabos que conduzem e alimentam o trem. Acrescentei).

O exemplo do que fez Davi é típico. Mas a frase do ensinamento esclarece melhor:o sábado (os preceitos religiosos) foi feito para (ajudar) o homem; e não absolutamenteo homem foi feito por causa do sábado (dos preceitos); então, é certo: aqui está umacoisa (um ensinamento, pois em grego aparece o neutro) que é maior que o templo: umensinamento que é superior a todas as igrejas.

Os exegetas interpretam que o neutro foi colocado para "não chocar”, e que Jesusse dizia Deus, confessando-se maior que o templo. Mas teria Jesus esse escrúpulo aofalar, quando o masculino e o neutro tem a mesma pronúncia? Cremos que o sentido émesmo o do neutro, que o evangelista entendeu e escreveu: "aqui está umensinamento que é maior que qualquer templo" ou igreja. “Muito maior é a misericórdia,a bondade, a caridade, o amor, do qualquer sacrifício que se realiza nos templos".

E por isso, "não deveis condenar inocentes". Aqueles que, no decorrer dosséculos, condenaram ao suplício, à fogueira, à morte moral e material tantos inocentes,faziam isso em nome de Jesus, para "dar-Lhe glória", julgando-se seus únicosdiscípulos legítimos... Como é difícil, às personalidades vaidosas, penetrar o sentidoexato dos ensinamentos de Jesus! Os judeus condenaram verbalmente os discípulosde Jesus, e o Mestre imediatamente protestou; que terá Ele feito, quando Seus própriosdiscípulos (ou que "se diziam" tais), se esmeraram em condenar a sofrimentosindizíveis, durante séculos, tantos milhões de criaturas, cujo único "crime" era nãopensar como eles?

O Filho do Homem (isto é, todo aquele que já vive na Individualidade, mesmocomo encarnado na Terra) é o senhor do sábado. Quer dizer que, quem tenhaconseguido viver na Consciência Cósmica, na perfeita união com o CRISTO INTERNO,esse é senhor de qualquer de seus atos, superior aos preceitos, por mais importantesque pareçam às pequenas personalidades temporárias e ignorantes dos mistériosprofundos das riquezas da sabedoria e da ciência de Deus (cfr. Rom. 11:33).

“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quãoinsondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” Romanos

11:33. Pastorino

CURA DA MÃO A TROFIADA

Mat.12:9-14

9. Tendo Jesus partido daquele lugar, entrou na sinagoga deles.

10. E achava-se ali um homem que tinha a mão atrofiada; e para que oacusassem.

Perguntaram-lhe: "é lícito curar aos sábados”?

11. Respondeu-lhes ele: “qual é o homem dentre vós que, tendo uma ovelha, seela ao sábado cair numa cova, não a apanha e tira?”.

12. Ora, quanto é superior um homem a uma ovelha! “Logo é lícito fazer o bem aossábados".

13. Então disse ao homem: "Estende tua mão" Ele a estendeu, e a mão lhe foireconstituída sã como a outra.

14. Mas, saindo dali, os fariseus reuniram-se em conselho, para resolver como odestruiriam.

Marc. 3:1-6

1. Entrou Jesus outra vez na sinagoga, e aí se achava um homem que tinha umadas mãos atrofiada.

2. E observavam-no para ver se o curaria no Sábado, a fim de o acusarem.

3. Disse Jesus ao homem que tinha a mão atrofiada: “Levanta-te e vem para omeio de nós".

4. Então lhes perguntou: “É lícito, aos sábados, fazer o bem ou o mal, salvar a vidaou tirá-la?” Mas eles ficaram silenciosos.

5. E olhando em redor com desgosto, entristecido pela insensibilidade de seuscorações, disse ao homem: "Estende tua mão". Ele a estendeu e a mão lhe foireconstituída.

6. Saindo dali, os fariseus entraram logo em conselho com os herodianos contraele, para ver como o destruiriam.

Luc. 6:6-11

6. Aconteceu em outro sábado entrar na sinagoga e ensinar; ora, achava-se aí umhomem que tinha a mão direita atrofiada,

7. e os escribas e fariseus observavam-no para ver se ele o curava no Sábado, afim de acharem acusação contra ele.

8. Mas conhecendo-lhes ele os pensamentos, disse ao homem que tinha a mãoatrofiada: "Levanta-te e fica em pé no meio de nós". E ele levantou-se e ficou de pé.

9. Disse-lhes Jesus: "Pergunto-vos: é lícito no Sábado fazer o bem ou o mal, salvara vida ou tirá-la"? 10. E olhando para todos os que o rodeavam, disse ao homem:"Estende tua mão". Ele a estendeu, e a mão lhe foi reconstituída.

11. Mas eles encheram-se de raiva e discutiam uns com os outros, para ver o quefariam a Jesus.

Outra cena passa-se ainda na sinagoga "deles", também num sábado(provavelmente a 29 de maio).

Aqui, os fariseus não esperam o fato para depois criticá-lo: tomam à dianteira,como que para avisá-lo de que não transgrida a lei mosaica. A pergunta que lhedirigem é capciosa (Que leva, ou pretende levar, ao erro). Tinham eles a certeza docomportamento de Jesus, pois já o haviam testemunhado com frequência: à vista daenfermidade, ficava condoído e curava, não resistindo à compaixão que Lhe causava osofrimento alheio. Todavia, eles buscavam situações em que pudessem acusá-lo.

A “mão atrofiada" (em grego zêrê, “sêca" - só Marcos emprega o particípio, dandoa ideia de que não era congênito o mal, mas fora paralisada e ficara descarnada poracidente), era, segundo Lucas, a “mão direita".

Jerônimo escreve: “No Evangelho usado pelos nazareus e pelos ebionitas (éapócrifo), e que geralmente é tido como o original de Mateus, está dito que essehomem, cuja mão se atrofiara, era pedreiro, e implorava o socorro com estas palavras:sou pedreiro e ganho a vida com o trabalho das mãos: peço-te, Jesus. dá-me saúde,para que não passe vergonha de ter que mendigar para viver”.

A resposta de Jesus obedece ao tipo de casuística rabínica, argumentando, do

menos ao mais. Se pode salvar-se uma ovelha de afogar-se, num Sábado, quanto maisum homem, de muito superior. A conclusão é clara: "é lícito curar num Sábado”. Eimediatamente passa à ação.

Num comportamento que demostra uma ostentação deliberada, Jesus manda queo doente fique de pé, no meio da assembleia, para que todos o vejam e se condoam,verificando, ao mesmo tempo, a cura sensacional.

E então pergunta: “é lícito fazer o bem ou o mal"? Essa pergunta emudece osfariseus, atrapalhados em sua má-fé. Não poderiam dizer que não era lícito fazer obem, pois seriam condenados por todos. E se dissessem que fazer o bem eralícito, apoiariam plenamente à ação de Jesus.

Diante do embaraço deles, Jesus olha em redor (periblepsámenos, expressão quevolta em Marcos 3:34: 5:32: 9:8; 10:23 e 11: 11) com desgosto. O sentido de orgê:insatisfação, desgosto, paixão, mas nem ira, nem raiva. E, além disso, sentiu profundatristeza e compaixão que se revelaram em Sua expressão facial. Não podiacompreender a insensibilidade (o "endurecimento": o termo grego pórôsis exprime oendurecimento de algo que normalmente é mole) de seus corações.

E então, sem um gesto sequer, mas com simples palavras, realiza a cura. Nãoviolara o repouso do sábado, pois em lugar algum se dizia que era proibido falar. E elesficaram com raiva deles mesmos, diante de sua impotência de opor-se a Jesus. Semcogitar de "impurezas legais", vão unir-se aos herodianos: era indispensável levar aguerra àquele homem até o extermínio, pois ele os desprestigiava e humilhava seuorgulho. (A confusão, o nó que ficou na cabeça dos fariseus foi tremenda, poisachavam-se detentores de todos os conhecimentos e não imaginavam que um humildecarpinteiro, principalmente vindo da Galileia que, como dizemos hoje, “atropelam oPortuguês”, não procuravam pronunciar a língua corretamente, como hoje acontece emvárias regiões, com seu jeito próprio de pronúncia. Acrescentei).

E foi tomada a decisão (sumboúlion edídoun) de eliminá-lo.

Depois dos ensinamentos teóricos, um exemplo prático.

O homem atrofiara sua mão, e dela precisava para seu serviço. Jesus cura-o,

arrostando com isso o ódio dos "donos da religião", aliados, como sempre, ao "podertemporal", que bajulam para não perder os favores transitórios da Terra.

Mas essa é a lição "externa".

Internamente, vemos que a individualidade deve despreocupar-se de tudo o quepossam dizer ou fazer os outros, e agir sempre no interesse do aperfeiçoamento de suapersonalidade.

Se nossa personalidade está atrofiada em sua mão direita, ou seja, se não agimoscom devêramos, por qualquer motivo, a individualidade deve colocar-nos, comoexemplo, no meio da multidão e modificar de público nossa atuação, sem temor dosjulgamentos apressados que nos condenarão à morte.

O que desgosta e entristece Jesus (a individualidade) é verificar a má-fé, aincapacidade de compreender, daqueles que, estando revestidos de autoridade, têm oscorações insensíveis, as mentes obturadas, e não veem, porque não querem ver:endureceram a mente, cadaverizaram o pensamento, enrijeceram o raciocínio emmoldes imutáveis e, sem piedade, colocam os preceitos (que eles mesmos ou seusantecessores estabeleceram) acima das criaturas.

Jesus ensina e exemplifica uma coisa, mas muitos pensam "provar" que são Seusdiscípulos, quando fazem exatamente o contrário do que Jesus disse e praticou!Realmente, corações incapazes de compreensão, de maleabilidade, de misericórdia!

Mas Ele mesmo nos ensinará o que devemos fazer nesses casos.

O SERVO DO SENHOR

Mat. 12:15-21

15. Sabendo disso, Jesus retirou-se daquele lugar. E muitos o acompanharam, eele curou todos,

16. advertindo-os de que não o dessem a conhecer, 17. para cumprir-se o que foidito através do profeta Isaías: 18. "Eis meu servo que escolhi, meu amado, em quemminha alma se deleita; sobre ele porei meu espírito, e ele anunciará o certo às nações;19. não discutirá nem gritará, e ninguém ouvirá sua voz nas praças. 20. Não esmagaraa cana rachada, nem apagará o pavio que fumega, até que faça triunfar o certo. 21. Eem seu nome esperarão as nações".

Mat. 4:24-25

24. Sua fama correu por toda a Síria; trouxeram-lhe todos os enfermos, acometidosde várias doenças e sofrimentos, obsedados, epilépticos e paralíticos, e ele os curou.

25. Muita gente o seguiu da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judéia ed'além Jordão.

Marc. 3:7-12

7. Jesus retirou-se com seus discípulos para o lado do mar: e da Galileia o seguiugrande multidão.

8. Também da Judéia, de Jerusalém, da Iduméia, d'além Jordão e dascircunvizinhanças de Tiro e de Sidon, sabendo o povo quantas coisas fazia Jesus, foiter com ele em grande número.

9. E ele recomendou a seus discípulos que tivessem um barquinho sempre à suadisposição, por causa da multidão, a fim de que não o apertasse,

10. porque curou muitos, de modo que todos os que padeciam qualquer doença, searrojavam a ele, para que os tocasse,

11. e os espíritos atrasados, quando o viam, prostravam-se diante dele e

clamavam: "Tu és o Filho de Deus".

12. E muitas vezes os advertiu que não o dessem a conhecer.

Sabendo o que se passava, Jesus resolve retirar-se, afastando-se daquelelugar. E Mateus, segundo seu hábito, aproveita o fato para citar Isaías, (42.1-4),embora algo modificado. Eis o texto do profeta na íntegra:

Eis meu servo, que eu sustento, meu escolhido, em quem minha alma se alegra.Nele coloquei meu espírito. Ele exporá o certo às nações. Não o ouvirão gritar nemfalar alto, nem elevar a voz nas praças; não quebrará a cana rachada nem apagará opavio que fumega. Exporá fielmente o certo, não se cansará, nem fatigará, até quetenha estabelecido o certo na Terra, e as ilhas esperarão sua doutrina.

1 EIS aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu eleito, [em quem] se apraz aminha alma; pus o meu espírito sobre ele; ele trará justiça aos gentios. 2 Não clamará,não se exaltará, nem fará ouvir a sua voz na praça. 3 A cana trilhada não quebrará,nem apagará o pavio que fumega; com verdade trará justiça. 4 Não faltará, nem seráquebrantado, até que ponha na terra a justiça; e as ilhas aguardarão a sua lei. ACF2007

O termo grego krísis, geralmente traduzido como “juízo" ou "julgamento”, temprecisamente o sentido de triagem, isto é, separação do certo e do errado do bem e domal, e, por extensão, “escolha" daquilo que é direito ou certo. Realmente a escolha,numa triagem, supõe um julgamento. Mas muito melhor se compreenderá o sentidotraduzindo, aqui, como "o certo" do que se o fizéssemos com a palavra “julgamento”: oEmissário Divino ensinará “O CERTO”, e não ensinará o julgamento, coisa que nãofaria sentido. Não se cansará até que O CERTO chegue à vitória, e não até que ojulgamento chegue à vitória.

Sua fama se espalha com rapidez pela Síria (de fácil comunicação com aPalestina) e de lá também chegam doentes físicos e espirituais, e a todos Jesus cura.Com a má vontade dos fariseus, contrasta o entusiasmo do povo que o procura eacompanha de diversas partes. A Decápole era uma confederação de dez cidades

(segundo Plínio, Hist. Nat. 5,18,74, eram: Damasco, Filadélfia (Aman), Rafana,Citópolis (Beisan), Gadara, Hipos, Dion, Pela, Gelasa (Gerasa) e Canata). Todas,exceto Citópolis, ficavam além Jordão. Segundo Marcos, vinha gente de Jerusalém eda Judéia, da Iduméia (território que ia de Jerusalém até Betsur, chegando além doHebron, e que era a terra dos Herodes). O além Jordão, segundo Josefo (Bel. Jud.3.2.3) era a Peréia, território entre o Jabok e o Arnon, indo de Maquérus, a este do MarMorto, até Pela. Mas também chegava gente do nordeste, da região de Tiro e de Sidon.

Realmente, as ruas estreitas de Cafarnaum não ofereciam segurança: muitomelhor era pregar nos campos abertos, nas praias do lago, onde poderia falarabertamente, sem ser obrigado a discutir seus atos com os fariseus. De agora emdiante, vemos que Jesus se afasta cada vez mais das sinagogas.

E quanto mais o clero oficial o persegue, mais o povo o procura, e a maiorsatisfação de Jesus é, sem dúvida, descer aos pequeninos, abandonando os grandes esábios que Lhe recusam ouvir os ensinamentos, cheios que estão de sua própriavaidade de "sabedores" de suas Escrituras e de "seguros" em suas tradições secularese milenares. "Quem provou o vinho velho, não quer saber do novo".

E sustentarei os teus opressores com a sua própria carne, e com o seu própriosangue se embriagarão, como com mosto; e toda a carne saberá que eu sou oSENHOR, o teu Salvador, e o teu Redentor, o Forte de Jacó. Is 49:26 (Acrescentei)

Todos os reformadores sempre tiveram que apoiar-se no povo menor, e sempresofreram a perseguição das "autoridades" que jamais desejam perder seu prestígio demando e sua "cotação" de senhores da situação e de "donos de Deus". Ainda hoje éassim.

Ao ver a impossibilidade de conseguir compreensão daqueles a quem falava eensinava, ilustrando seu ensino com exemplos, a individualidade retira-se. É aaplicação da parábola "da vinha" (Mateus 21:33-46). Se aquelas personalidades serecusam a ouvi-Lo, Ele irá a outros mais acessíveis. (vide porta do ângulo que está

incompleto ainda)

O texto de Isaias, aplicado por Mateus, diz claro que a misericórdia daIndividualidade sabe aproveitar todos os menores indícios de possibilidade deaperfeiçoamento. Que, embora a cana já esteja rachada, a Individualidade não aacabará de partir. Que embora o pavio já esteja apenas fumegando, ela não o apagaráde todo. Não. A individualidade, em união com o Cristo Interno, aproveita as mínimaspossibilidades para "salvar", para levar ao bom caminho.

E só estará satisfeita e feliz, quando a personalidade tiver feito sua escolhadefinitiva, ainda que, para isso, tenha que esperar múltiplas encarnações, durantemuitos séculos.

Claro que, com esse modo de agir, a individualidade atrairá a si multidões desofredores, de todas as partes. Mas, para não deixar-se envolver pela multidão, terásempre à mão, à sua disposição, um “barquinho”, um meio de fuga, onde possarefugiar-se em prece, todas as vezes que se sentir "apertado”, acossado pelasarremetidas das personalidades insatisfeitas.

E, não obstante desconhecido pelos encarnados, os desencarnados, que veemsua aura, dirão sem pejo que ali está um Filho de Deus. Mas a individualidade, pelahumildade e modéstia inerentes ao seu próprio adiantamento, sempre há de pedirsilêncio em torno de si.

Essa a razão pela qual, os que tiveram o Encontro Real, jamais o dizem; pois osque o dizem, pensam que encontraram o Cristo Interno, mas apenas realizaram oencontro com seu próprio eu ilusório e pequenino. E os primeiros, nem mesmopermitem que o digam aqueles que o sabem. A lição também é aproveitável para assessões mediúnicas: cuidado com os espíritos que elogiam: não são elevados, sãobajuladores: façamo-los calar-se!

JESUS E BELZEBUL Mateus. 12:22-32 Mt 9:32-34; Mc 3:20-30 Lc 11:14-23, 12:10

22. Então foi-lhe trazido um obsidiado cego e mudo, e curou-o de modo que o cegoe mudo tanto falava quanto via.

23. E admirou-se toda a multidão e dizia: "Não é este o Filho de David"?

24. Ouvindo-o, os fariseus disseram: "Este não expele os espíritos (obsessores)senão por Beelzebul, chefe dos espíritos".

25. Conhecendo, porém, Jesus as reflexões deles, disse-lhes: Todo o reino divididocontra si mesmo será desolado, e toda cidade ou casa, dividida contra si mesma, nãosubsistirá.

26. Se o adversário expulsa o adversário, está dividido contra si mesmo; comoentão subsistirá seu reino?

27. E se eu expulso os espíritos (obsessores) por Beelzebul, por quem os expelemvossos filhos? Por isso eles mesmos serão vossos julgadores.

28. Mas se por um espírito de Deus eu expulso os espíritos (obsessores), então jáchegou o reino de Deus sobre vós.

29. Ou como pode alguém entrar na casa do homem forte e roubar-lhe os bens,sem primeiro amarrá-lo? E então lhe saqueará a casa.

30.”Quem não está comigo, é contra mim, e quem comigo não ajunta, espalha".

31 É por isso que eu digo a vocês: todo pecado e blasfêmia será perdoado aoshomens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada.

32 Quem disser alguma coisa contra o Filho do Homem, será perdoado. Mas quemdisser algo contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, nem neste mundo, nem nomundo que há de vir."

Marcos. 3:20-30

22. E os escribas que tinham descido de Jerusalém, disseram: “ele tem Beelzebul”,e "porque pelo chefe dos espíritos (obsessores) ele expulsa os espíritos (obsessores)".

23. Tendo-os então chamado, disse-lhes em parábolas: Como pode o adversário

(Vide resposta do Livro:O Consolador, abaixo)

expulsar um adversário?

24. E se um reino se dividir contra si mesmo, esse reino não pode subsistir.

25. Se uma casa se dividir contra si mesma, essa casa não pode permanecer.

26. E se o adversário se levantou contra si mesmo e se dividiu, ele não podesubsistir, mas tem fim.

27. pois ninguém pode entrar na casa do (homem) forte e roubar-lhe os bens, semantes amarrá-lo; e então lhe saqueará a casa".

Eu garanto a vocês: tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados comoas blasfêmias que tiverem dito.

Mas, quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, pois aculpa desse pecado dura para sempre."

Jesus falou isso porque estavam dizendo: "Ele está possuído por um espírito mau."

Lucas. 11:14-23

14. Estava Jesus expulsando um espírito (obsessor) e este era mudo; e aconteceuque, tendo saído o espírito (obsessor), falou o mudo e maravilhou-se a multidão.

15. Mas alguns deles disseram: "É por Beelzebul, príncipe dos espíritos(obsessores) que ele expele os espíritos ("obsessores").

16. Outros, para experimentá-lo, pediam-lhe um sinal celeste.

17. Conhecendo-lhes, porém, os pensamentos, disse-lhes: Todo reino divididocontra si mesmo se esvaziará e cairá casa sobre casa.

18. Também se o adversário se dividir contra si mesmo, como subsistirá seu reino?dizeis que eu expulso os espírito (obsessores) por Beelzebul.

19. Se eu expulso os espíritos (obsessores) por Beelzebul, por quem os expelemvossos filhos? Por isso serão eles mesmos vossos julgadores.

20. Mas se pelo dedo de Deus eu expulso os espíritos (obsessores) então chegoua vós o reino de Deus.

21. Quando o (homem) forte, bem armado, guarda sua casa, seus bens estão empaz.

22. Mas quando sobrevier outro mais forte que ele e o vencer, tira-lhe toda a

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armadura em que confiava e reparte seus despojos.

23. “Quem não está comigo, é contra mim, e quem comigo não ajunta, espalha".

Mateus e Lucas expõem o fato que provocou a discussão entre Jesus e osfariseus, escribas e doutores da lei, discussão que se estenderá violenta ainda poralguns capítulos.

Foi-lhe trazido um obsidiado, cujo perseguidor espiritual o mantinha cego e mudo(Lucas diz apenas "mudo"). Não é esclarecida a origem do caso; mas para atribuir-se amudez e a cegueira à ação do espírito, deve ter ocorrido após o nascimento, já sehavendo comprovado a possibilidade física de a vítima ter, naturalmente, a capacidadede ver e falar. Jesus atende ao caso e parece que o desligamento foi instantâneo: o ex-obsidiado passa logo a falar e enxergar. Ora, isso constitui um espetáculo inédito paraos presentes, de tal forma maravilhando-os, que alguns desconfiam seriamente tratar-se do Messias ("Filho de David").

Outro episódio semelhante é narrado em Mat. 9:33-34, mas as circunstânciasvariam.

Neste ponto começam os fariseus e "escribas provenientes de Jerusalém" (notade Marcos) a lançar sua campanha de descrédito contra o taumaturgo, com aacusação mais insensata que possa ser imaginada nesses casos. Havia, nassinagogas, os exorcistas oficiais que obtinham êxito por meio da prece (sema) ou darecitação do Salmo 92, ou servindo-se de jejuns e outros ritos. Jesus, ao contrário, denada se utiliza, ordena, e a libertação é feita. Donde lhe vinha tal poder? O povo vêcerto intuitivamente: "de Deus". Mas as que temem a concorrência, e não queremperder o prestígio, levantam maldosa e conscientemente a hipótese absurda einsensata, que até hoje permanece válida nas religiões organizadas. Com isso,pretendem assustar as criaturas simples e tímidas, fazendo-lhes crer que só eles estãocom Deus... E a frase parte, mentirosa e cheia de veneno (e repetida até hoje pelosdescendentes dos fariseus): "é por Beelzebul que ele expulsa os espíritos obsessores"!

BEELZEBUL está em todos os códices unanimemente e significa “senhor dofumeiro”. A Vulgata modificou o termo para Beelzebub, "senhor das moscas", para

identificá-lo com o Baal de Accaron (Ekron), consultado por Ocozias (2.º Reis, 1:2, 3, 6e 16).

Perguntam os hermeneutas por que Beelzebub se transformou em Beelzebul.Lembremos que também o filho de Saul, Ishbaal "homem de Baal" (cfr. 1.º Crôn. 8:29-40 e 9:35-44) teve seu nome mudado para Ishboseth “filho da vergonha" (cfr. 2.º Sam.2:28, etc).

Alguns supõem que isso visava a ridicularizar o nome do deus (espírito-guia) dopovo filisteu, que era rival do deus (espírito-guia) do povo israelita.

Sacrificar ao deus de Israel é zâbáh; ora, o sacrifício era feito com fogo. Por ironia,talvez, a fim de dizer que os holocaustos aos outros deuses só produziam fumaça, foiempregada a palavra zâbal, que significa "'fumeiro". Daí o sacrifício “idolátrico" ser ditozebel e a oferta zibbul. Ora, Beel-zibbul pode ter-se abrandado em Beelzebul, quepassou a designar o “chefe do fumeiro", ou seja, qualquer espírito-guia diferente deAdonai.

Segundo Marcos, Jesus chama os discípulos para perto de si e lhes expõe aresposta à objeção frágil e insensata. Começa afirmando que um "reino" ou uma casadividida contra si mesma, não poderão subsistir. Qualquer luta intestina é sumamenteprejudicial ao crescimento e progresso; antes, leva facilmente ao desfazimento e àruína. Este é um princípio tão evidente que se torna argumento irretorquível.

Daí é deduzida a ilação: satanás não pode lutar contra satanás, senão seu reinocai em ruína.

Aqui temos um dos passos que comprovam que “satanás" não é a personificaçãode um ser, como pretendem certas teologias, mas a generalização de um princípio.

Além desta resposta racional e sensata, vem o argumento ad hominem: se assimfosse, por quem os expulsariam os “vossos filhos"? Os exorcistas das sinagogas bemsabem que a força divina é a única eficiente nesses casos. Eles, que têm prática, serãoos julgadores autorizados dos fariseus, nessa questão.

E prossegue a argumentação, apertando os contendores em círculos férreos. Se alibertação do obsidiado não é pela força adversária do próprio chefe, logicamente sópode sê-lo por “um espírito de Deus" (em grego não há artigo). E se assim é, então

estamos em pleno “reino de Deus", que já chegou à humanidade, já chegou "sobre vós.Observe-se que pela primeira vez aparece aqui a expressão “pelo dedo de Deus"reproduzindo Ez. 8:19; 31:18; Deut. 9:10; Salmo 8:4.

E o SENHOR me deu as duas tábuas de pedra, escritas com o dedo de Deus; enelas estava escrito conforme a todas aquelas palavras que o SENHOR tinha faladoconvosco no monte, do meio do fogo, no dia da assembleia. Dt 9:10

O Mestre apresenta, então, uma parábola, no gênero mâchâh, tão usada desde oV.T. (cfr. 2.º Sam 12:1-15, sobre o homem rico e a ovelha; e Is. 5:1-17, sobre a vinha),ou seja, uma comparação desenvolvida, diferindo da alegoria, que é uma série demetáforas.

Para saquear-se a casa do homem forte, é mister primeiro segurá-lo e amarrá-loSem o que, impossível será roubar-lhe os bens. Ora para pilhar-lhe a casa, só umhomem mais forte o conseguiria. Parece haver aqui uma alusão a Henoque (10:13 e54:4) que afirma que, nos tempos messiânicos, os obsessores seriam amarrados.

Henoc andou com Deus e desapareceu, porque Deus o arrebatou. Gn 5:24

Também Henoc, o sétimo depois de Adão, profetizou sobre esses indivíduos,quando disse: "Eis que o Senhor veio com seus exércitos de anjos. Judas 14

O mesmo é declarado no “Testamento de Levi" (sectio 18.º).

Esses são os argumentos que os espiritistas têm às mãos, para responder aosataques das igrejas organizadas, lembrando aos acusadores que o próprio Jesus jáhavia previsto essa espécie de desleal combate, quando advertiu: "se chamaramBeelzebul ao dono da casa, quando mais o farão a seus familiares" (Mat 10:25).

Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Sechamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos? Mt 10:25

Com isso comprova-se que os espiritistas são, realmente, os “familiares de Jesus",pois neles se realiza a advertência profética do Mestre: as mesmas acusaçõesinfundadas e maldosas.

O caso finaliza com uma sentença: "quem não está comigo, é contra mim; quemcomigo não ajunta, espalha". Strack & Billerbeck, em seu comentário a este passo,trazem vários exemplos de ditos judeus do Talmud, donde se conclui que havia umaexpressão “Juntar”, que significava “não fazer”: "Juntar os pés”, queria dizer "nãoandar"; assim espalhar exprimia “fazer": "espalhar os pés”, significava “andar”.

Então, a segunda parte da sentença seria uma confirmação, em paralelo, daprimeira: quem não junta (se reúne) comigo, espalha (isto é, faz um caminho inútil,perdendo seu tempo).

A lição para a individualidade não apresenta segredos: está clara no texto.

Observemos o modo de agir de Jesus, já salientada uma vez, Jesus não perdetempo em doutrinar o obsessor: cura o obsidiado. O Mestre tinha capacidade para VERde quem era a culpa, coisa que ainda não podemos fazer. E como sabemos que, emmuitos casos, o obsessor é o menos culpado, já que é o encarnado que o obsidia, nãopodemos discernir culpas nem culpados; então, para não corrermos o risco de serinjustos, atendemos aos dois concomitantemente, doutrinando o obsidiado e oobsessor. A diferença de ação depende da nossa incapacidade de distinguir os casos,de saber se o carma já se completou ou não; ignoramos qual o responsável, quais ascausas, quem tem razão, etc.

Enfrentamos, pois o problema em seu conjunto.

Outro ponto a salientar é a parábola do "homem forte". Alude isso à força querealmente possuem os espíritos obsessores, sobretudo se reunidos nas assembleiasorganizadas no plano astral, com o fito de arrastar os encarnados para suainferioridade, por espírito de vingança e em vista da intimidade que com eles tiveramem outras vidas. E também, em certos casos, por verificarem que algumas criaturas,que aparentam e fazem questão de demonstrar virtudes e qualidades e, no entanto,secretamente agem de modo totalmente oposto.

Entretanto, ensina-se taxativamente que, embora fortes, sempre o bem é mais forteque o mal, sempre a luz espanta as trevas.

A última lição é uma advertência séria para todos nós: "quem não está comigo écontra mim”. Plenamente real. Todo aquele que ainda não esteja unido ao Cristo, estáligado ipso facto à personagem, o "satanás" opositor do espírito. Está, pois, contra Ele,E assim a segunda parte: "quem comigo não ajunta, espalha". Qualquer colheita quefaçamos no campo da personagem é um desperdício que de nada serve. Para haverrealmente lucro, mister colher no Espírito, unidos ao Cristo, não importando que sejapor meio da personagem, mas desde que não seja só na, e para a personagem.

Desliguemo-nos da matéria, do transitório, das sensações, das emoções, dointelectualismo, dos ritualismos, pomposos e ocos: tudo isso é um "espalhar" deenergias, inútil e prejudicial até, porque daí nada de concreto espiritualmente levaremospara a união com o Cristo Interno. Mas se, ao invés, nos unificarmos com Ele tudo issonos virá espontaneamente, por acréscimo. Fundidos no Todo, teremos o Todo,seremos o Todo. Desligados Dele, o vazio é nossa herança.

SABEDORIA DO EVANGELHO

Diz Amélia Rodrigues: Contradições da Verdade. (Mateus 12:22-42)

Nesse momento trouxeram-Lhe um homem, a quem um Espírito impunha cegueira,surdez e mudez.

Encarcerado na explanação dolorosa vagava nas sombras; impedido de registraros sons e emiti-los, era alguém emparedado nos limites da própria desdita. No intimoele anelava pela libertação, pela bênção da recuperação.

Já não recordava da fulgurante claridade do dia, nem mais percebia na acústicamental, o poema das músicas que cantam em a Natureza, que estrugem em todas asgargantas.

Gostaria de falar, de expressar-se, de louvar a vida. No entanto, o tormento se lheafigurava irreversível. Desanimado, entregara-se à situação, aceitando-a sem maisexcogitar sobre suas causas ou suas terapias.

Empurrado na direção do Mestre, ele tropeçou e sentiu o estranho toque daquelamão especial.

Uma corrente de energia poderosa percorreu lhe o corpo. Ele fremiu, e,automaticamente, abriu os olhos...

Defrontou as duas fulgurantes estrelas na face do estranho, sendo tomado deincontida emoção, que o levou a exclamar: - Rabi!

Concomitantemente, ouviu a própria voz, clara e musical.

Estava liberto. Haviam-se-lhe aberto as algemas: romperam-se as tenazes fortes.

Dias Venturosos – Divaldo P. Franco, pelo Espírito Amélia Rodriguez

JESUS E BELZEBUL - Final

Mat. 12:31-32

31 É por isso que eu digo a vocês: todo pecado e blasfêmia será perdoado aoshomens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. 32 Quem disser algumacoisa contra o Filho do Homem será perdoado. Mas quem disser algo contra o EspíritoSanto, nunca será perdoado, nem neste mundo, nem no mundo que há de vir. 33 Sevocês plantarem uma árvore boa, o fruto dela será bom; mas se vocês plantarem umaárvore má, também o fruto dela será mau, porque é pelo fruto que se conhece a árvore.34 Raça de cobras venenosas! Se vocês são maus, como podem dizer coisas boas?Pois a boca fala aquilo de que o coração está cheio. 35 O homem bom tira coisas boasdo seu bom tesouro, e o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro. 36 Eu digo avocês: no dia do julgamento, todos devem prestar contas de cada palavra inútil quetiverem falado. 37 “Porque você será justificado por suas próprias palavras, e serácondenado por suas próprias palavras."

A ÁVORE E SEUS FRUTOS Mat. 12:33-37

Se vocês plantarem uma árvore boa, o fruto dela será bom; mas se vocêsplantarem uma árvore má, também o fruto dela será mau, porque é pelo fruto que seconhece a árvore. Raça de cobras venenosas! Se vocês são maus, como podemdizer coisas boas? Pois a boca fala aquilo de que o coração está cheio. O homembom tira coisas boas do seu bom tesouro, e o homem mau tira coisas más do seu mautesouro. Eu digo a vocês: no dia do julgamento, todos devem prestar contas de cadapalavra inútil que tiverem falado. Porque você será justificado por suas própriaspalavras, e será condenado por suas próprias palavras."

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O SINAL CELESTE (Jonas) Mat. 12:38-42 Lc 11:24-26, 29-32 Mc 8:12

38. Então alguns dos escribas e fariseus disseram: "Mestre, queremos ver algumsinal (feito por ti)".

39. Ele, porém, respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; masnenhum sinal se lhe dará, senão o sinal do profeta Jonas.

40. Porque assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do peixe,assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra.

41. Os homens ninivitas se levantarão no julgamento com esta geração e acondenarão: pois modificaram sua mente com a pregação de Jonas; eis um maior queJonas aqui.

42. A rainha do sul despertará no juízo com esta geração e a condenará: pois veiodos confins da Terra para ouvir a sabedoria de Salomão; e eis um maior que Salomãoaqui.

Marcos. 8:11-13

11. Saíram os fariseus e começaram a discutir com ele, procurando dele obter umsinal celeste experimentando-o.

12. Ele, suspirando em seu Espírito, disse: "Por que esta geração pede um sinal?em verdade vos digo que a esta geração nenhum sinal será dado".

13. E deixando-os, tornou a embarcar e foi para o outro lado.

Mateus. 16:1-4

1. Chegaram os fariseus e saduceus e, para experimentá-lo pediram que lhesmostrasse um sinal celeste.

2. Mas ele respondendo-lhes, disse: Chegando a tarde, dizeis: Bom tempo, porqueo céu está vermelho;

3. e pela manhã: Hoje (teremos) tempestade, porque o céu (está) vermelho e

carregado. Hipócritas, sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu, e não podeis(discernir) os sinais dos tempos?

4. “Uma geração má e adúltera pede um sinal, e nenhum sinal se lhes dará senãode Jonas".

E deixando-os, retirou-se.

Lucas. 11:29-32

29. Como afluíssem as multidões, começou a dizer: Esta é uma geração má: pedeum sinal e nenhum sinal se lhe dará, senão o sinal de Jonas.

30. Pois assim como Jonas se tornou um sinal para os ninivitas, assim também oFilho do Homem o será para esta geração.

31. A rainha do sul despertará no juízo com os homens desta geração e oscondenará; pois veio dos confins da Terra para ouvir a sabedoria de Salomão; e eis ummaior que Salomão aqui.

32. “Os homens ninivitas se levantarão no julgamento com esta geração e acondenarão, porque modificaram sua mente com a pregação de Jonas; e eis um maiorque Jonas aqui".

O fato de aparecer duas vezes em Mateus, pode significar que realmente a cenase repetiu.

De qualquer forma, não havendo segurança, resolvemos englobar tudo num sócomentário, pois os termos são quase idênticos.

Os fariseus, escribas e saduceus pedem que, como comprovação de seuministério, Jesus lhes forneça um "sinal celeste". É como podemos entender sinalproveniente do céu (hebraico: min hachâmaim). Não bastam as palavras e as curas,fenômenos terrenos: querem algo supernatural, tal como faz exatamente a igrejacatólica romana, quando exige dos candidatos à canonização, sinais extraordinários(milagres!). Se Jesus voltasse a Terra, novamente teria que submeter-se às mesmasexigências, e talvez desse literalmente as mesmas respostas... Os homens eram e sãojulgados não pelo que SÃO, mas pelo que FAZEM.

Habituados à leitura do Antigo Testamento, conheciam eles os sinais “celestes"

realizados como demonstração da autoridade divina: o maná caído do céu (Êx.16:12ss); Josué que fez “parar o sol" (Js. 10:12, 13); Elias que faz descer fogo do céuexpressamente para provar a legitimidade de sua intervenção, ou faz chover (1.º Reis17:1; 18:38, 45; 2° Reis 1:10-12); Isaias que fez recuar a sombra no quadrante de Acaz(Is. 38:7-8).

Tenho ouvido as murmurações dos filhos de Israel. Fala-lhes, dizendo: Entre asduas tardes comereis carne, e pela manhã vos fartareis de pão; e sabereis que eu souo SENHOR vosso Deus. E aconteceu que à tarde subiram codornizes, e cobriram oarraial; e pela manhã jazia o orvalho ao redor do arraial. Ex 16:12-13

Então Josué falou ao SENHOR, no dia em que o SENHOR deu os amorreus nas mãosdos filhos de Israel, e disse na presença dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeom, e tu,lua, no vale de Ajalom. E o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou deseus inimigos. Isto não está escrito no livro de Jasher? Js 10:12-14

ENTÃO Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade, disse a Acabe: Vive o SENHORDeus de Israel, perante cuja face estou, que nestes anos nem orvalho nem chuvahaverá, senão segundo a minha palavra. 1 Rs 17:1

Então caiu fogo do SENHOR, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e o pó,e ainda lambeu a água que estava no rego. 1 Rs 18:38

Isaías ordenou: "Tragam um emplastro de figos e o coloquem sobre a ferida, paraque ele recupere a saúde". Ezequias disse: "Qual é o sinal de que subirei ao Templo deJavé?" Isaías respondeu: "O sinal de que Javé vai cumprir o que prometeu, é este: Norelógio de sol de Acaz farei com que a sombra volte para trás os dez degraus queavançou". E o sol voltou os dez degraus que já tinha avançado no relógio. Is 38:7-10

Ora, jamais se deixou Jesus arrastar, pelo que conhecemos das Escrituras ede Sua formação psicológica.

A realizar atos espetaculares, embora, segundo Suas próprias palavraspudessem fazê-lo. (Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele

não me daria mais de doze legiões de anjos? Mat. 26:53).

Seus poderes eram usados apenas para beneficiar outras criaturas necessitadas,ou como base de ensinamento para Seus discípulos.

Jesus recusa o sinal, invectivando aquela “geração", termo que pode referir-se aSeus contemporâneos em geral, ou particularmente ao clero hierosolimitano, que ocondenou à morte e que estava ali presente, por seus representantes credenciados.Qualquer que seja o sentido, a "geração" é acusada de "adúltera e má".

O qualificativo “adúltera" (moichális) é aplicado no sentido bíblico é o afastamentode Deus que se uniu a seu povo como em matrimônio, é chamado adultério, no AntigoTestamento.

Entretanto, Jesus abre uma exceção: eles presenciarão novamente o “sinal deJonas" (E OROU Jonas ao SENHOR, seu Deus, das entranhas do peixe. Jonas, 2:1),só que, em lugar de ficar “no ventre do peixe", Jesus permanecerá no "coração daterra" (morto e enterrado) três dias e três noites. Na realidade, sepultado numa sexta-feira à tarde (antes das 18 horas), levantou-se no domingo pela manhã, tendopermanecido, pois, parte de sexta-feira, todo o sábado, e parte do Domingo; e duasnoites: a de sexta para sábado e a de sábado para domingo. (Morto tradição do sabat,minha interpretação. Carlos)

No entanto, "um dia e uma noite fazem um 'iona (24 horas), mas um 'ionacomeçado, vale um 'iona inteiro".

A citação de Jonas evoca Nínive, cidade “pagã", mas que atendeu à pregação doprofeta e modificou seu modo de agir. E ali, perante o clero de Jerusalém, estavaalguém maior (pleion) que Jonas.

Hoje sabemos que se trata de uma parábola de Jonas, conforme diz Emmanuel.Jonas recebeu um pedido de Deus para alertar o povo de Nínive que se eles searrependessem, Deus não destruiria a cidade. Eles se arrependeram e Jonas ficouamuado. Ficou no sol e Deus fez crescer uma árvore para servir de sombra. Mesmoassim estava ofendida pela não destruição da cidade inimiga. Deus disse a ela que secondoía pela morte da pequena árvore, quanto mais à morte de vários filhos queestavam na cidade. Acrescentei.

Outra lembrança é trazida: a rainha de Sabá saiu de sua Terra, empreendendolonga viagem para ouvir a sabedoria de Salomão (1.º Reis 10:1ss). No entanto, apesarde maior que Salomão, Jesus não trepidou em vir pessoalmente ao encontro dosisraelitas, para trazer-lhes a sabedoria de Deus: e não O queriam ouvir! Por isso, osninivitas e a rainha do Sul, são testemunhas contra aquela "geração" incrédula eorgulhosa, no dia do discernimento.

No segundo trecho de Mateus há outro pormenor: Jesus compara os sinaismeteorológicos da aparência do céu, que tinham sido observados por eles, com ossinais da época messiânica, predita pelos profetas.

Se eles sabiam dizer, ao chegar a tarde "Bom tempo, céu vermelho", e pelamanhã: "Temporal, céu vermelho e carregado", como não tinham capacidade deperceber as palavras dos profetas, que haviam falado a respeito do Messias?

O único sinal é o de Jonas, quer dizer se houver arrependimento, toda cidade, opovo israelita serão salvos, como aconteceu à cidade de Nínive. Acrescentei.

Os "mestres" legítimos, os que realmente trazem mandato dos planos superiores,fazem como Salomão (Sab. 7:13) "aprendi sem hipocrisia, transmito sem inveja". Nãoprocuram agradar nem lhes interessam aplausos, nem aumento quantitativo dediscípulos, nem se envaidecem porque conquistam sequazes nas altas esferas sociais,políticas, intelectuais ou financeiras: visam apenas à qualidade, à evolução íntima,preferindo, por vezes, pescadores e publicanos humildes, a doutores da lei e escribas.

Cristo deu-nos a lição, com Seu exemplo e com Suas palavras, como sempre:"nenhum sinal lhes será dado" a esse amontoado de vaidades, a esses que julgam queuma doutrina só pode vencer se tiver a aprovação, o beneplácito e a adesão deles! ...Mas eles passam, e a doutrina, se for boa, se for legítima, permanece durante séculosiluminando as criaturas.

Sinal celeste? Mas "eles" só têm altitude para compreender o "céu" meteorológico,que prenuncia tempo bom ou borrascoso. Mas o "céu" da alma, o "reino dos céus" docoração, lhes está totalmente fora do alcance evolutivo. Por isso pedem sinaisexteriores, já que não sabem ouvir a voz silenciosa do Cristo Interno.

Mas só lhes será dado o "sinal de Jonas". As palavras relembram a tradição, talcomo ficou registrada no livro, embora sentidos outros possam surgir.

Jonas (cujo nome Iona significa "pombo") recebe de YHWH a incumbência dedirigir-se à cidade de Nínive, capital da Assíria, para anunciar que dentro de 40 dias elaserá destruída. Fugindo da ordem, o vidente vai a Társis, cidade do sul da Espanha, oextremo oposto... O navio é sacudido por forte temporal, com risco de naufragar. Jonasapresenta-se como "responsável" daquilo e pede para ser lançado ao mar, o que éfeito. Um "peixe" o engole e três dias depois o lança na praia, perto de Nínive, onde eleanuncia a destruição da cidade. Todos nele acreditam e, do rei ao último dos cidadãos,modificam sua conduta, sendo então poupada a cidade, que não é destruída, o quemuito decepciona Jonas, que teme passar por mentiroso.

Evidentes a alegoria e o simbolismo, que transparecem de todos os pormenores.

Ao receber ordem de desempenhar sua tarefa, o Espírito pode rebelar-se epretender fugir: tem o seu livre-arbítrio. Mas as borrascas que surgem no planeta(barco) são tão pavorosas que ele – que invigilante e irresponsável dormia no porão:desperta e acusa-se culpado, solicitando dos senhores do carma a pena merecida. Éentão lançado no vórtice do plano astral, até que seja "engolido" por um peixe, em cujoventre passa três dias e três noites, ou seja, até que novamente mergulhe no liquidoamniótico, qual peixe n'água e, no ventre materno viva o número exato de dias e noites(simbolizado no número perfeito três) e depois é "vomitado", vendo a luz na regiãocerta em que deve cumprir sua tarefa, depois de "renascido" ou "ressuscitado". Ora,mutatis mutandis, é precisamente isso que ocorrerá com Jesus, que ficará no "coraçãoda terra" o tempo necessário, para depois reerguer-se e continuar Sua trajetória noplano que Lhe é próprio.

Podemos alargar os horizontes e verificar que o Mestre ficará oculto durante osigno de "piscis" (até o ano 2.000, mais ou menos), no "coração (ou interior) da terra",voltando a aparecer na era do Aquário.

Outra interpretação, no setor dos mistérios iniciáticos, nos esclareceria que o únicosinal que o ser evoluído pode dar, é submeter-se pessoalmente à experiência (páthein)ou paixão, com uma morte, mesmo violenta, mas aparente, podendo dali sair,superando-a e arrebentando-lhe os grilhões. Esse passo deve ser vivido no últimoplano: supremamente difícil e arriscado, são poucos os que, mesmo "iniciados", podemtentar vencê-lo. Jesus conquistou o seu, e com vitória notável, demonstrando o domínio

pleno e o comando seguro dos veículos inferiores: depois de passar o temponecessário no "inferno" (parte baixa geograficamente, o "coração da terra", ou centro),volveu à vida, como se nada Lhe houvesse acontecido, triunfante e glorioso,conquistando com justiça o título e o posto de "Sumo Sacerdote" (Hebr. 6:20) ou "Rei".

Esse seria o único sinal que Ele daria a "esta geração", ou seja, a "quem tivesseolhos de ver": sua vitória total no setor espiritual, conquistada exatamente, através daderrota do plano material.

O simbolismo místico também está suficientemente claro: para conquista do triunfoespiritual, é mister inicialmente "mergulhar" no coração da terra (no corpo), onde seesconde o Cristo Interno pujante de vida; de beleza. Depois desse encontro sublime, éque virá a superação de todos os óbices e a derrota da morte e das fraquezas. E aquicompreendemos as palavras do Mestre: "eis aqui alguém maior que Jonas, maior queSalomão". A rainha do sul (Sabá) foi buscar longe a sabedoria de um homem, deSalomão.

Pois o Cristo, maior que Salomão, está em nosso âmago, esperando por nós, paramanifestar-se.

Por que não ir a Ele, não ouvir-Lhe a voz? A alusão ao monarca antigo ajuda estainterpretação, pois as obras que escreveu ("Sabedoria" e sobretudo "Cântico dosCânticos") são, sem sombra de dúvida, tratados místicos que ensinam a busca doCristo Interno, para quem sabe entendê-las.

SABEDORIA DO EVANGELHO

AÇÃO DE OBSESSORES (Jonas) Final

Mateus. 12:43-45

43. Mas quando o espírito não purificado tiver saído do homem perambula porlugares áridos, buscando repouso, e não o acha.

44. Então diz: "Voltarei para minha casa donde saí". E ao chegar, encontra-adesocupada, varrida e arrumada.

45. Vai, então, e leva consigo, sete outros espíritos piores que ele, e ali entram ehabitam, e a condição posterior desse homem torna-se pior que a anterior. “Assimacontecerá também a esta geração má".

Lucas. 11:24-26

24. Quando o espírito não purificado tiver saído do homem, perambula por lugaresáridos, procurando repouso; e não o achando, diz: Voltarei para minha casa donde saí.

25. E, ao chegar, acho-o varrida e arrumada.

26. ”Depois vai, e levo consigo outros sete espíritos piores que ele, e, tendoentrado, aí habitam; e a condição posterior desse homem torna-se pior que o anterior".

Como Mateus a coloca depois do episódio do “pedido de um sinal celeste”, e Lucasa situa antes, preferimos não estabelecer nenhuma ligação lógica entre esse fato e oensino aqui dado, deixando-o como lição autônoma.

Na interpretação vulgar, entendemos a advertência como relativa às obsessões,devendo ter sido dada em conexão com algumas das libertações de obsessores,executada por Jesus, e talvez a mais recente, a do cego-mudo.

O Mestre firma doutrina a respeito da técnica obsessiva por parte dosdesencarnados. Perfeito conhecedor do assunto pode revelar-nos com segurança, hádois mil anos, uma coisa que o ocidente só ficou sabendo, por experiência direta, háum século, com os estudos do Espiritismo de Allan Kardec e seus seguidores.

O obsessor - espírito não purificado e, por conseguinte, não esclarecido (mas nãose use o termo contundente e descaridoso "imundo”: afinal é um "espírito" filho deDeus, como nós!) - liga-se a uma criatura por quem sente ódio e sede de vingança.Ora, o ódio é o desequilíbrio de um amor, frustrado por qualquer motivo: e quanto maioro amor, mais fundo o ódio. Uma vez ligado fluidicamente à criatura – ou, na linguagemevangélica, "tendo entrado nele" - o obsessor passa a usufruir de todas as sensações eemoções da vítima, ao mesmo tempo em que lhe injeta todas as suas própriassensações, emoções e pensamentos.

Estabelecendo-se, assim, tenebroso intercâmbio de vibrações barônticas, muitodesagradáveis para o encarnado, embora aprazíveis para o perseguidor.

Ocorre que, quando, por ação externa, é ele desligado de sua vítima, se vê

coagido a permanecer pervagando no plano astral que, mutável como é, apresenta acada entidade o aspecto condizente com sua evolução. Em se tratando, pois, deentidades não evoluídas, a ambiência astral manifesta-se como a exteriorização daimaginação de cada um: região ainda inóspita, árida. ("sem água'" = anhydrôn),cansativa porque sem postos fixos de referência, já que é instável, onde o "espírito"não encontra repouso, porque sua desorganização mental faz que ai os sítios semodifiquem, a cada alteração do pensamento.

O repouso (ou paz) só poderia provir de seu próprio âmago, de seu coração; ejustamente aí reside a insatisfação frustrada e a rebeldia inconformada, que seprojetam no intelecto, o qual, ao pensar, plasma os ambientes pavorosos em seu redor.

Quando, porém, se vê desligado da vítima e aliviado das pressões fluídicas que oexpulsaram daquele posto avançado da luta em que vivia empenhado, se sentedescontrolado e confuso e tenta voltar. Ao chegar, novamente atraído pela sintoniavibratória - alguns ex-obsidiados registram sensações desagradáveis pela ausência dopeso do perseguidor a que estavam habituadas, e este "vazio” faz quesubconscientemente de novo o atraiam para junto de si percebe que há dificuldade eminfluência a antiga vítima: a "casa" está "desocupada, varrida e arrumada". Significaisso que a personagem visada já se corrigiu de alguns defeitos, colocou em ordemsuas emoções, reequilibrando sua aura e se libertou das falsas imagens sugeridas peloperseguidor espiritual.

Talvez, até, tente injetar-lhe novos quadros astrais inferiores, sem encontrarressonância: perdeu a antiga ascendência.

Regressa, então, descoroçoado, mas não desanima de seus objetivos. Consegue,nas rodas de entidades semelhantes a si, outros sete "piores que ele”. A decepção coma evolução de quem ele considera seu inimigo, faz nele crescer proporcionalmente araiva e o desejo insano de derrubá-lo do ponto atingido, e não aceita obstáculos a seuódio implacável. Ao lado dos sete novos "amigos”, e já a eles subjugado porquedevedor de um obséquio que será cobrado até o último centavo e mais os “juros” -embora eles só aceitem a empreitada quando vêem possibilidades de auferir boasvantagens de baixo teor - o ataque é renovado. E a condição última torna-se pior que aanterior.

Jesus termina prevendo e predizendo que assim aconteceria àquela geração má -ou melhor, “enferma” (ponerá) - que não está assimilando a profundidade de Seuensino.

A lição desdobra-se em profundidade maior que a aparente. A escala de valores,como sempre, aplica-se a diversos graus, segundo a interpretação que pode ser dada.

Em primeira plana aparece, sem dúvida, a lição literal, que vimos acima. Trata-sedo que realmente ocorre nos casos de obsessão e possessão, por parte de espíritosdesencarnados. O texto é claro: é o exemplo da vida diária. Fatos corriqueiros.

Há outra interpretação: após a "conversão" de uma criatura, do materialismo ou dadescrença, à espiritualidade, verificamos que foi dela expulso um "espírito atrasado": oda dúvida. Mas logo depois, com a "casa vazia, limpa e arrumada", surgem outros seteespíritos piores, que são: a vaidade de ter alcançado aquela compreensão: oconvencimento de sua capacidade pessoal em melhorar; o orgulho de haver galgadoum passo a mais na evolução: a auto satisfação da crença de que realmente é umeleito; a pretensa superioridade que o faz acreditar-se melhor que "os outros"; aarrogância que descaridosamente despreza os outros pecadores; e o pior de todos: ainvigilância que se supõe infalível em suas opiniões, em seus julgamentos, em suascondenações.

Esses sete espíritos piores - muito piores - que o materialismo e a descrença,passam a morar naquele indivíduo, cujo estado se tornou muito mais grave do queantes. Huberto Rohden tem uma frase que descreve bem esse caso tão típico e,infelizmente, tão comum nos espiritualistas de qualquer religião:

"Livre-me Deus de minhas virtudes, que de meus vícios eu me livrarei".

No entanto, a última frase profética de Jesus, relatada por Mateus, e que amplia oconceito do indivíduo para a coletividade, abre-nos o horizonte para uma terceirainterpretação. Diz: "e assim acontecerá a esta geração".

Essa profecia é facilmente verificável, agora, após vinte séculos, em sua realização

comprovada.

Aqueles homens que ingressaram no cristianismo, embora o cristianismo nãotivesse ingressado neles, e que, portanto, não perceberam o âmago, a base, aprofundidade do ensino de Cristo, foram exatamente os que se apoderaram do poder,imbuídos da convicção de se haverem libertado do "espírito" do paganismo e dojudaísmo. Expulso aquele espírito, todavia, outros sete piores vieram neles habitar.

Convenceram-se de que eram os melhores. Quiçá os únicos que realmentecompreendiam e interpretaram a verdadeira religião cristã, numa vaidade semlimitações: incharam de convencimento a ponto de se intitularem, eles mesmos, oslegítimos e indiscutíveis representantes de Deus na Terra, herdeiros dos "Apóstolos",fundamentando-se, para isso, no lugar geográfico em que se encontravam, e não noespírito que possuíam,. encheram-se de orgulho, certos de que eram "donos de Deus"e chegaram ao cúmulo de se julgarem por Ele obedecidos, podendo determinar "pordecreto", aqueles que deviam habitar o céu (e mesmo, durante certa época o fizeram,até o lugar do céu que deveriam ocupar ...); dormiram sobre os louros das conquistasde seus postos, com a auto-satisfação de que eram “escolhidos”, os “eleitos de Deus”,os privilegiados" do planeta: felicitaram-se com a pretensa superioridade de que, quemos não seguisse, estaria condenado, e desprezaram, perseguiram, e espezinharamoutros povos, destruindo documentos e monumentos que - por não provirem deles -eram julgados "diabólicos"; cresceram em sua arrogância desmesurada, torturando,queimando, e assassinando, em "nome de Deus" e como delegados Seus, todosaqueles que se lhes não queriam submeter; e finalmente caíram na pior dasinvigilâncias, solenemente decretando-se a si mesmos como sendo infalíveis, pois oque diziam era o próprio Deus que falava por sua boca. A profecia de Jesus cumpria-sead litteram: "nem um iota" ... (Hoje neste novo século, certamente o autor do livro terianova visão, pois vemos a mudança dessas atitudes por novos credos e quem sabe, atémesmo as velhas individualidades, que em outros corpos, continuam apregoando essafalsa doutrina do Cristo, esquecidos que Jesus, fez-se escravo de todos)

No capítulo 17 do Apocalipse há outros pormenores proféticos a respeito da"Babilônia a grande" (v. 5), "instalada sobre sete colinas" (v. 9) e que está "embriagada(satisfeita, feliz em sua irresponsabilidade) com o sangue dos mártires (testemunhas)de Jesus", tanto que o vidente "ficou estupefato ao vê-la”.

A VERDADEIRA FAMILIA Mat. 12:46-50 Mc 3:31-35 Lc 8;19-21

Jesus ainda estava falando às multidões. Sua mãe e seus irmãos ficaram dolado de fora, procurando falar com ele. Alguém disse a Jesus: "Olha! Tua mãe eteus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo."

Jesus perguntou àquele que tinha falado: "Quem é minha mãe e quem são meusirmãos?" E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: "Aqui estão minhamãe e meus irmãos, pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai que está nocéu, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe."

Capítulo 13 Parábola: Vide estudo a parte. Colocarei apenas algumas notas emtodo a capítulo 13.

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DISCURSO EM PARÁBOLAS Mat. 13:1-3 Nc 4:1-2 Lc 8:4

1. Naquele dia, saindo Jesus de casa, estava assentado junto ao mar,

2. E muitas turbas reuniram-se perto dele, de modo que entrou no barco para seassentar, e toda a turba permanecera de pé na praia.

3. E lhes falou muitas (coisas) em parábolas, dizendo: (Tradução de Haroldo Dutradias).

Ante o Campo da Vida

Emmanuel

O semeador saiu a semear. (Mt 13:3)

A palavra do Cristo é demasiadamente clara.

O semeador não aguardou requisições. Saiu da própria comodidade aoencontro da terra. Ainda assim, não estabeleceu condições para doar-lhe as sementesque trazia, entregando-as sem cogitar-lhe das possibilidades e recursos. E amparounão somente o solo fértil e as aves famintas, mas também socorreu terrenos outros queespinheiros e pedras desfiguravam.

***

A notícia evangélica não diz que as sementes caídas entre calhaus e sarçasfossem destruídas.

Explica que foram simplesmente abafadas, o que não lhes invalida apotencialidade para a germinação em momento oportuno.

Assim igualmente é o amparo espiritual a quantos dele necessitem nomundo.

Os corações humanos assemelham-se a glebas de plantios.

Muitos estão habilitados à recepção da verdade, à maneira do solotratorizado pelas experiências da vida; outros, porém, se nos revelam por valesaprazíveis, mas incultos, inçados de escalracho e pedregulho contundente.

Todos, no entanto, carecem de auxílio, apoio, entendimento, atenção.

O ensinamento do Cristo não mostra qualquer traço de impaciência ou deirritação na imagem do semeador que saiu a semear. Ele auxiliou a terra, prestigiando-a com semente válida, sem se deter para censurar-lhe as deficiências.

E naturalmente entregou o próprio trabalho à força do tempo, ou melhor, àsleis de Deus que nos governam a vida.

***

Reflitamos na lição e distribuamos, em benefício do próximo, a esperança e a fé, oconhecimento e a compreensão de que já sejamos detentores e instrumentos. Sempretensão e sem exigência. Sem anotar os defeitos alheios e sem reclamar resultadosimediatos.

Imaginemos o tempo que todos gastamos para acolher os escassos raios daverdade que atualmente nos clareiam a estrada, na direção do progresso, para aaquisição de mais luz. E aprendamos que não apenas nós, mas igualmente os outrostodos os outros filhos da Terra se encontram abençoados e sustentados pelo amoronipresente de Deus.

(Do Livro: Chico Xavier Pede Licença)

PARÁBOLA DO SEMEADOR Mat. 13:3-9 Lc 8:4-8

EXPLICAÇÃO DA PARÁBOLA DO SEMEADOR Mat. 13:10-23 Mc 4:10-20 Lc 8:9-15

PARÁBOLA DO TRIGO E DO JOIO Mat. 13:24-30

PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA Mat. 13:31-32 Mc 4:30-32 Lc 13:18-19

PARÁBOLA DO TRIGO E DO JOIO Mat. 13:33-43 Lc 13:20

Mateus 13:33-35

33 E contou-lhes ainda outra parábola: "O Reino dos céus é como o fermento queuma mulher tomou e misturou com uma grande quantidade de farinha, e toda a massaficou fermentada".

34 Jesus falou todas estas coisas à multidão por parábolas. Nada lhes dizia semusar alguma parábola,

35 cumprindo-se, assim, o que fora dito pelo profeta: "Abrirei minha boca emparábolas, Proclamarei coisas ocultas Desde a criação do mundo".

Em parábolas abrirei a minha boca, proferirei enigmas do passado.

Salmos 78:2

Mas alguém em certo lugar testemunhou, dizendo: Que é o homem, para que comele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes?

Hebreus 2:6

Salmos 41

Como é feliz aquele que se interessa pelo pobre! O Senhor o livra em tempos deadversidade. O Senhor o protegerá e preservará a sua vida; ele o fará feliz na terra enão o entregará ao desejo dos seus inimigos. O Senhor o susterá em seu leito deenfermidade, e da doença o restaurará. Eu disse: Misericórdia, Senhor, cura-me, poispequei contra ti. Os meus inimigos dizem maldosamente a meu respeito: "Quando elevai morrer? Quando vai desaparecer o seu nome? " Sempre que alguém vem visitar-me, fala com falsidade, enche o coração de calúnias e depois sai espalhando-as.Todos os que me odeiam juntam-se e cochicham contra mim, imaginando que o piorme acontecerá: "Uma praga terrível o derrubou; está de cama, e jamais se levantará".Até o meu melhor amigo, em quem eu confiava e que partilhava do meu pão, voltou-secontra mim. Mas, tu, Senhor, tem misericórdia de mim; levanta-me, para que eu lhesretribua. Sei que me queres bem, pois o meu inimigo não triunfa sobre mim. Por causada minha integridade me susténs e me pões na tua presença para sempre. Louvado

seja o Senhor, o Deus de Israel, de eternidade a eternidade! Amém e amém!

EXPLICAÇÃO DA PARÁBOLA DO TRIGO E DO JÓIO Mat. 13:34-43 Mc 4:33-34

PARÁBOLA DO TESOURO E DA PERÓLA Mat. 13:44-46

Seguem-se mais três parábolas rápidas, próprias de Mateus, em que Jesus tentafazer compreender o que é o "reino dos céus", sem defini-lo (por ser indefinível denatureza).

1.º símile - Um homem descobre um tesouro num campo que lhe não pertence.Era comum esconderem-se os tesouros em moedas de ouro, prata ou bronze, afim de evitar furtos. E quando ocorria o falecimento do dono, ali ficava enterradoaté que um acaso feliz o fazia passar a outras mãos.

Diz Flávio Josefo informa que Tito descobriu numerosos desses tesouros,após a tomada de Jerusalém. E naquela época muitos tinham a "mania" deprocurar tesouros enterrados.

O homem que descobre o tesouro tem, inicialmente, uma alegria irreprimível, que ofaz sair apressado para vender tudo o que possui: móveis, alfaias, roupas, pratos, etc.e, com o apurado, vai comprar o terreno. Uma vez proprietário (a lei israelitareconhecia ao dono do campo a propriedade do solo e do subsolo) pode apanharlegalmente o tesouro para si.

Discutem os exegetas a moralidade do ato, que não chega a ser um roubo aoantigo dono do terreno, mas de qualquer forma, não parece muito honesto.

Todavia, não é esse aspecto que interessa à lição da parábola. A lição situa-se nofato de haver alguém descoberto algo tão precioso, que compensa o desfazer-se detudo o que possui, para adquirir com qualquer sacrifício, o tesouro descoberto.

A interpretação comum é de que o tesouro representa o conhecimento da doutrinacristã, e o "reino dos céus” é o "céu" do "outro mundo", aquele "céu" em que as almasficam o resto da eternidade a tocar harpa em cima das nuvens.

2.º símile - Trata-se de um comerciante de pérolas que procura, viajando, belosespécimes. Encontrando um de alto valor, vende tudo o que possui para adquiri-la.

3.º símile - A rede de pescar. A palavra grega é sagênê, que corresponde ao que

denominamos "rede de arrastão". Consiste numa faixa, cujo comprimento varia de 4 a50 metros, e a largura tem 2 a 3 metros, tendo chumbo de um lado e cortiça do outro.Uma ponta fica presa na praia, e sai um barco até o final da corda, e aí começa alançar a rede em semi-círculo. Terminado o lançamento, a rede fica vertical, pelo jogoda cortiça e do chumbo, e o barco volta à praia com a outra ponta da corda. Aí ospescadores começam, em grupo, a puxar lenta e seguramente as cordas, semsolavancos, trazendo a rede, nesse arrastão, todas as espécies de peixe, bons e maus,grandes e pequenos. Ao chegar à rede à praia, trazendo, naturalmente, grandequantidade de peixes, os pescadores sentam-se na areia, colocando os bons no ággê,que é um vaso com água, de modo que o peixe permanece vivo. Os maus sãorestituídos ao mar.

Vem a seguir a comparação com o fim de ciclo (en têi sunteleíai tou aiônos)quando os mensageiros (anjos) separarão os maus dos justos, aqueles para a fornalhade fogo purificador do sofrimento, e estes... não é dito para onde irão.

O movimento do homem para descobrir o tesouro e para pescar a pérola é omesmo: é a penetração em profundidade; só que esse movimento deverá verificar-separa dentro de si mesmo. Mas uma vez encontrada a "riqueza" que se buscava, logo sereconhece o valor incomparável dessa descoberta.

Tomado então de grande alegria, vai vender tudo o que possui, para entrar naposse definitiva do tesouro ou da pérola.

Entretanto, pode ocorrer o perigo de "tomar-se a nuvem por Juno", e de julgar-seque se encontrou a Verdade, quando apenas se trata de mais uma ilusão. Daí anecessidade de mais uma parábola, a fim de esclarecer que é indispensável umatriagem e uma escolha criteriosa, guardando-se o que é bom e lançando fora o que nãopresta.

Assim o terceiro símile compara o reino dos céus a uma rede que apanha todaespécie de peixes. De fato, o homem que busca a verdade, lança seus tentáculos paratudo o que lhe parece dourado. Mas "nem tudo o que reluz é ouro"; então hánecessidade de discernir o bom do mau, o pior do melhor.

Como conclusão do trecho, encontramos uma frase algo enigmática para o sentidocomum, mas perfeitamente clara para a interpretação que vem sendo dada: e por issotodo estudante experimentado (com experiência pessoal) no reino dos céus (comopoderia tratar-se de algo que viesse após a morte?) é semelhante a um pai de família(a um adulto de mentalidade amadurecida, por causa dos filhos que produziu, isto é,das obras que realizou) que tira de seu tesouro (de seu conhecimento) coisas novas evelhas (a sabedoria atual e a antiga).

O homem que vive unificado com o Cristo Cósmico tem pleno e total conhecimentoexperimental de tudo o que já foi dito ontem e de tudo o que está sendo dito agora eque o será no futuro; e essa sabedoria é seu tesouro inalienável e incorruptível, porquese tornou a própria essência do espírito.

A dúvida da Bartolomeu

“E sem parábola nunca lhes falava; porém, tudo declarava em particular aos seusdiscípulos”. - Marcos (4:34)

Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo queum homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compraaquele campo.

- Mateus 13:44

Humberto de Campos, na introdução do Livro Boa Nova diz que: “Meu problemaatual não é o de escrever para agradar, mas o de escrever com proveito”. “Nas esferasmais próximas da Terra, os nossos labores por afeiçoar sentimentos, a exemplo doCristo, são também minuciosos e intensos”. “Escolas numerosas se multiplicam, paraos espíritos desencarnados”. “Todas as expressões evangélicas têm, entre nós, a suahistória viva. Nenhuma delas é símbolo perficial. Inumeráveis observações sobre oMestre e seus continuadores palpitam nos corações estudiosos e sinceros”. “Hoje, nãomais cogito de crer, porque sei”. E faz uma referência a Bartolomeu:

“Ele ampara os meus pensamentos com a sua bondade sem limites. A gangaterrena ainda abafa, em meu coração, o ouro que me deu da sua misericórdia; mas,como Bartolomeu, já possuo o bom ânimo para enfrentar os inimigos de minha paz,

que se abrigam em mim mesmo. Tenho a alegria do Evangelho, porque reconheço queo seu amor não me desampara. Confiado nessa proteção amiga e generosa, meuEspírito trabalha e descansa”.

Bartolomeu nascera de uma família laboriosa de Canã da Galiléia.

“Bartolomeu - Mencionado em Mateus, 10:3; Marcos, 3:18; Lucas, 6:14; Atos dosApóstolos, 1:13. É possível que Bartolomeu tenha nascido na cidade de Caná daGalileia. 21, 27 «Se Bartolomeu quer dizer filho de Ptolomeu (Bar-Ptolomeu), temospelo menos presumível filiação [...]. Não se comprova nitidamente que o apóstolo sechamasse Natanael Bartolomeu. O nome de Natanael aparece em João semindicações (1:45 a 51) e como “discípulo”, originário de “Caná da Galileia” (21:2)10.» Aorigem familiar de Bartolomeu permanece, entretanto, obscura.

Alguns escritores cristãos primitivos informam que o apóstolo seria descendente dafamília Naftali, embora outros autores, como São Jerônimo, acreditem que ele sejadescendente dos Talmai, rei de Gesur. (2, Salomão, 3:3)

“Como a maior parte dos discípulos, Bartolomeu parece ter sido um homemprofundamente sintonizado com as expectativas messiânicas de sua época. O notáveltestemunho de Jesus a seu respeito (João, 1:47) deixa transparecer o perfil de alguémque serviu a Lei e aos profetas não apenas para orientar suas esperanças na gloria deIsrael, mas também para desenvolver em seu íntimo uma espiritualidade frutífera,determinada pelas diretrizes da sabedoria divina, sobre o qual comenta o apóstoloTiago. 1 (Tiago, 3:7)”

-Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita EADE - Roteiro 5 - Os apóstolos deJesus. A missão dos doze apóstolos

BOM ÂNIMO

O apóstolo Bartolomeu foi um dos mais dedicados discípulos do Cristo, desde os

primeiros tempos de suas pregações, junto ao Tiberíades. Todas as suaspossibilidades eram empregadas em acompanhar o Mestre, na sua tarefa divina.

Entretanto, Bartolomeu era triste e, vezes inúmeras, o Senhor o surpreendia emmeditações profundas e dolorosas.

Foi, talvez, por isso que, uma noite, enquanto Simão Pedro e sua família seentregavam a inadiáveis afazeres domésticos, Jesus aproveitou alguns instantes paralhe falar mais demoradamente ao coração.

Após uma interrogativa afetuosa e fraternal, Bartolomeu deixou falasse o seuespírito sensível.

Mestre exclamou, timidamente —, não saberia nunca explicar-vos o porquê deminhas tristezas amargurosas. Só sei dizer que o vosso Evangelho me enche deesperanças para o reino de luz que nos espera os corações, além, nas alturas...

Quando esclarecestes que o vosso reino não é deste mundo, experimentei umanova coragem para atravessar as misérias do caminho da Terra, pois, aqui, o selo domal parece obscurecer as coisas mais puras!... Por toda parte, é a vitória do crime, ojogo das ambições, a colheita dos desenganos!...

A voz do apóstolo se tornara quase abafada pelas lágrimas. Todavia, Jesus fitou-obrandamente e lhe falou, com serenidade:

A nossa doutrina, entretanto, é a do Evangelho ou da Boa Nova e já visteBartolomeu, uma boa notícia não produzir alegria? Fazes bem, conservando a tuaesperança em face dos novos ensinamentos; mas, não quero senão acender o bomânimo no espírito dos meus discípulos. Se já tive ocasião de ensinar que o meu reinoainda não é deste mundo, isso não quer dizer que eu desdenhe o trabalho de estendê-lo, um dia, aos corações que mourejam na Terra. Achas, então, que eu teria vindo aeste mundo, sem essa certeza confortadora? O Evangelho terá de florescer,primeiramente, na alma das criaturas, antes de frutificar para o espírito dos povos. Mas,venho de meu Pai, cheio de fortaleza e confiança, e a minha mensagem há deproporcionar grande júbilo aos quantos a receberem de coração.

Depois de uma pausa, em que o discípulo o contemplava silencioso, o Mestrecontinuou:

A vida terrestre é uma estrada pedregosa, que conduz aos braços amorosos deDeus. O trabalho é a marcha. A luta comum é a caminhada de cada dia. Os instantesdeliciosos da manhã e as horas noturnas de serenidade são os pontos de repouso;mas, ouve-me bem: Na atividade ou no descanso físico, a oportunidade de uma hora,de uma leve ação, de uma palavra humilde, é o convite de Nosso Pai para quesemeemos as suas bênçãos sacrossantas.

Em geral, os homens abusam desse ensejo precioso para anteporem a suavontade imperfeita aos desígnios superiores, perturbando a própria marcha. Daí resultaas mais ásperas jornadas obrigatórias para retificação das faltas cometidas e muitasvezes infrutíferos labores. Em vista destas razões observamos que os viajores da Terraestão sempre desalentados. Na obcecação de sua vontade própria, ferem a fronte naspedras da estrada, cerram os ouvidos à realidade espiritual, vendam os olhos com asombra da rebeldia e passam em lágrimas, em desesperadas imprecações eamargurados gemidos, sem enxergarem a fonte cristalina, a estrela caridosa do céu, operfume da flor, a palavra de um amigo, a claridade das experiências que Deusespalhou, para a sua jornada, em todos os aspectos do caminho.

Houve um pequeno intervalo nas considerações afetuosas, depois do que, semmesmo perceber inteiramente o alcance de suas palavras, Bartolomeu interrogou:

Mestre, os vossos esclarecimentos dissipam os meus pesares; mas o Evangelhoexige de nós a fortaleza permanente?

A verdade não exige: transforma. O Evangelho não poderia reclamar estadosespeciais de seus discípulos; porém, é preciso considerar que a alegria, a coragem e aesperança devem ser traços constantes de suas atividades em cada dia. Por que nosfirmarmos no pesadelo de uma hora, se conhecemos a realidade gloriosa da eternidadecom o Nosso Pai?

E quando os negócios do mundo nos são adversos? E quando tudo parece em lutacontra nós? Perguntou o pescador, de olhar inquieto.

Jesus, todavia, como se percebesse, inteiramente, a finalidade de suas perguntas,esclareceu com bondade:

Qual o melhor negócio do mundo, Bartolomeu? Será a aventura que se efetua

a peso de ouro, muita vez amordaçando-se o coração e a consciência, para aumentaras preocupações da vida material, ou a iluminação definitiva da alma para Deus, que serealiza tão-só pela boa-vontade do homem, que deseje marchar para o seu amor, porentre as urzes do caminho? Não será a adversidade nos negócios do mundo umconvite amigo para a criatura semear com mais amor, um apelo indireto que a arranqueàs ilusões da Terra para as verdades do reino de Deus?

Bartolomeu guardou aquela resposta no coração, não, todavia, sem experimentarcerta estranheza. E logo, lembrando-se de que sua genitora partira, havia pouco tempo,para a sombra do túmulo, interpelou ainda, ansioso:

Mestre: não será justificável a tristeza quando perdemos um ente amado?

Mas, quem estará perdido, se Deus é o Pai de todos nós?... Se os que estãosepultados no lodo dos crimes hão de vislumbrar, um dia, a alvorada da redenção, porque lamentarmos, em desespero, o amigo que partiu ao chamado do Todo-Poderoso?A morte do corpo abre as portas de um mundo novo para a alma.

Ninguém fica verdadeiramente órfão sobre a Terra, como nenhum ser estáabandonado, porque tudo é de Deus e todos somos seus filhos. Eis por que tododiscípulo do Evangelho tem de ser um semeador de paz e de alegria!...

Jesus entrou em silêncio, como se houvera terminado a sua exposição judiciosa eserena.

E, pois que a hora já ia adiantada, Bartolomeu se despediu. O olhar do Mestreoferecia ao seu, naquela noite, uma luz mais doce e mais brilhante; suas mãos lhetocaram os ombros, levemente, deixando-lhe uma sensação salutar e desconhecida.

*

Embora nascido em Caná da Galiléia, Bartolomeu residia, então, emDalmanuta, para onde se dirigiu, meditando gravemente nas lições que havia recebido.A noite pareceu-lhe formosa como nunca. No alto, as estrelas se lhe afiguravam asluzes gloriosas do palácio de Deus à espera das suas criaturas, com hinos de alegria.

As águas do Genesaré, aos seus olhos, estavam mais plácidas e felizes. Os ventosbrandos lhe sussurravam ao entendimento cariciosas inspirações, como um correio

delicado que chegasse do céu.

Bartolomeu começou a recordar as razões de suas tristezas intraduzíveis, mas,com surpresa, não mais as encontrou no coração. Lembrava-se de haver perdido aafetuosa genitora; refletiu, porém, com mais amplitude, quanto aos desígnios daProvidência Divina. Deus não lhe era pai e mãe nos céus? Recordou os contratemposda vida e ponderou que seus irmãos pelo sangue o aborreciam e caluniavam.Entretanto, Jesus não lhe era um irmão generoso e sincero? Passou em revista osinsucessos materiais. Contudo, que eram as suas pescarias ou a avareza dosnegociantes de Betsaida e de Cafarnaum, comparados à luz do reino de Deus, que eletrabalhava por edificar no coração?

Chegou a casa pela madrugada. Ao longe, os primeiros clarões do Sol lhepareciam mensageiros ao conforto celestial. O canto das aves ecoava em seu espíritocomo notas harmoniosas de profunda alegria. O próprio mugido dos bois apresentavanova tonalidade aos seus ouvidos. Sua alma estava agora clara; o coração, aliviado efeliz.

Ao ranger os gonzos da porta, seus irmãos dirigiram-lhe impropérios,acusando-o de mau filho, de vagabundo e traidor da lei.

Bartolomeu, porém, recordou o Evangelho e sentiu que só ele tinha bastantealegria para dar a seus irmãos. Em vez de reagir asperamente, como de outras vezes,sorriu-lhes com a bondade das explicações amigas. Seu velho pai o acusou,igualmente, escorraçando-o. O apóstolo, no entanto, achou natural. Seu pai nãoconhecia a Jesus e ele o conhecia. Não conseguindo esclarecê-los, guardou os bensdo silêncio e achou-se na posse de uma alegria nova.

Depois de repousar alguns momentos, tomou as suas redes velhas e demandousua barca. Teve para todos os companheiros de serviço uma frase consoladora eamiga. O lago como que estava mais acolhedor e mais belo; seus camaradas detrabalho, mais delicados e acessíveis. De tarde, não questionou com os comerciantes,enchendo-lhes, aliás, o espírito de boas palavras e de atitudes cativantes e educativas.

Bartolomeu havia convertido todos os desalentos num cântico de alegria, ao sopro

regenerador dos ensinamentos do Cristo; todos o observaram com admiração, excetoJesus, que conhecia, com júbilo, a nova atitude mental de seu discípulo.

*

No sábado seguinte, o Mestre demandou as margens do lago, cercado de seusnumerosos seguidores. Ali, aglomeravam-se homens e mulheres do povo, judeus efuncionários de Ântipas, a par de grande número de soldados romanos.

Jesus começou a pregar a Boa Nova e, a certa altura, contou, conforme a narrativade Mateus, que “o reino dos céus é semelhante a um tesouro que, oculto num campo,foi achado e escondido por um homem que, movido de gozo, vendeu tudo o quepossuía e comprou aquele campo”.

Nesse instante, o olhar do Mestre pousou sobre Bartolomeu que o contemplava,embevecido; a luz branda de seus olhos generosos penetrou fundo no íntimo doapóstolo, pela ternura que evidenciava, e o pescador humilde compreendeu a delicadaalusão do ensinamento, experimentando a alma leve e satisfeita, depois de haveralijado todas as vaidades de que ainda se não desfizera, para adquirir o tesouro divino,no campo infinito da vida.

Enviando a Jesus um olhar de amor e reconhecimento, Bartolomeu limpou umalágrima. Era a primeira vez que chorava de alegria. O pescador de Dalmanuta aderira,para sempre, aos eternos júbilos do Evangelho do Reino.

Boa Nova – Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel

PARÁBOLA DA REDE Mat. 13:47-52

VISITA A NAZARÉ Mat.13:53-58 Marc. 6:1-6 Lc 4:16-30 João, 4:44

53 Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, saiu desse lugar,54 e voltou para a sua terra. Ensinava as pessoas na sinagoga, de modo que ficavamadmiradas. Diziam: "De onde vêm essa sabedoria e esses milagres? 55 Esse homemnão é o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não sãoTiago, José, Simão e Judas? 56 E suas irmãs, não moram conosco? Então, de ondevem tudo isso?" 57 E ficaram escandalizados por causa de Jesus. Mas Jesus disse:"Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família." 58 E Jesus nãofez muitos milagres aí, por causa da falta de fé deles.

Em Marcos encontramos a sequência cronológica. De lá, sai Jesus para "suaaldeia nativa", Nazaré, aonde deve ter chegado o fim do ano 29. Com Ele seguem seusdiscípulos e comitiva, pois não foi para visitar parentes, mas para divulgar a Boa-Nova.

Nazaré fica a cerca de 50 quilômetros de Cafarnaum, e Jesus já passara por lá aodirigir-se para fixar residência numa cidade mais importante, em maio/junho dessemesmo ano.

Quando Jesus ouviu dizer que João tinha sido preso, deixou a Judéia e voltou(para sua casa) a Nazaré, na Galileia; mas logo mudou-se para Cafarnaum, na margemdo lago da Galileia, perto de Zebulom e Naftali. Mateus 4:12-13 vide Lucas 4:16-22

16 Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se havia criado. Conforme seu costume, nosábado entrou na sinagoga, e levantou-se para fazer a leitura. 17 Deram-lhe o livro doprofeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus encontrou a passagem onde está escrito: 18 OEspírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, paraanunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos eaos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, 19 e para proclamar umano de graça do Senhor." 20 Em seguida Jesus fechou o livro, o entregou na mão do

ajudante, e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.21 Então Jesus começou a dizer-lhes: "Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura,que vocês acabam de ouvir." 22 Todos aprovavam Jesus, admirados com as palavrascheias de encanto que saíam da sua boca. E diziam: "Este não é o filho de José?" Lc4:16-22

Neste trecho, Lucas se afasta de Mateus e Marcos.

Todos os que se achavam ali falavam bem d´Ele e estavam admirados com aspalavras bonitas que saiam dos seus lábios. "Como pode ser isto?" perguntavam eles."Este não é o filho de José? Então Ele disse: "Provavelmente vocês citarão para Mimaquele provérbio: Médico cure-se a si mesmo - significando: Por que Você não operaaqui, na sua própria cidade, milagres iguais àqueles que fez em Cafarnaum? Lucas4:22-23

Repetindo o que fizera na primeira visita, aguarda o sábado para, na sinagogalocal, falar ao povo.

Nesta segunda visita não estamos informados do texto comentado por Jesus.A verdade é que Suas palavras e os fatos prodigiosos que Dele se narravam, operadosem Cafarnaum por Ele, suscitavam uma série de indagações. Os nazarenos sabiamque Ele era de condição modesta (Marcos, "carpinteiro”, Mateus, "filho decarpinteiro"). Sabiam que "sua mãe se chama Maria" (com o verbo no presente doindicativo, indicando que ela ainda se achava encarnada entre eles).

Sabiam que tinha quatro irmãos, cujos nomes são citados: Tiago (o menor-Alfeu)considerado "uma das colunas da comunidade de discípulos", autor de uma epístola,chefe do grupo de Jerusalém até sua morte em 62 (Que tinha hábitos enraizados nojudaísmo); José; Judas (denominado "Tadeu", outro dos discípulos) e Simão (que nãosabemos se terá sido o chamado 'Zelotes, também discípulo de Jesus).

Das irmãs não são citados os nomes, mas deviam ser várias, por causa do adjetivoempregado: "todas as suas irmãs”. (Vide estudo PodSer tópico: Os Discípulos)

Dado esse conhecimento de Sua origem, de Sua família e de Sua educação, osnazarenos se perguntaram como teria Ele conseguido tamanha cultura e de quemodo teria obtido os poderes de dominar a natureza? Diante do conhecimento, nãopodia ser o Messias, cuja origem deveria ser desconhecida (cfr. João 7:27). Então aprópria figura de Jesus fê-los "tropeçar" na incredulidade e desconfiança.

27 Mas como pode ser Ele? Pois nós sabemos onde esse Homem nasceu; quandoo Cristo vier, Ele simplesmente aparecerá, e ninguém saberá de onde vem. 28 Por issoJesus, num sermão no templo, disse: "Sim, vocês Me conhecem e sabem onde Eunasci e Me criei, mas Eu fui enviado por Alguém que vocês não conhecem, e Ele é aVerdade. João 7:27-28

Jesus cita um provérbio, aproveitando o ensejo para demonstrar a seus discípulos,contemporâneos e posteriores, que jamais pensassem em conquistar para sua crençaos familiares e conterrâneos: "o profeta só não recebe honra em sua cidade, entre seusparentes e em sua família". Sêneca tem a mesma opinião: "o que está no lar é julgadovil".

QUE É A FÉ? É a convicção segura de que alguma coisa que nós queremos vaiacontecer. É a certeza de que o que nós esperamos está nos aguardando, ainda que onão possamos ver adiante de nós. Hebreus 11:1

Dessa maneira, a não ser alguns enfermos a quem curou com Seus passes(imposição das mãos), nada mais PODE fazer, por falta de fé dos compatriotas.

Sem a receptividade indispensável da fé, "que é a substância da coisa desejada”(Hebr. 11:1) e, portanto forma o "vácuo" que atrai os fluidos magnéticos, qualquerirradiação se perde no ar, não adere, escorrega pela superfície sem conseguir penetrarna criatura, qual ocorre com a água numa superfície impermeabilizada.

Marcos é explícito, quando afirma que Jesus NÃO CONSEGUIU; o que para nós éde suma importância para ensinar-nos a não desanimar quando também não

conseguimos realizar determinados efeitos benéficos em certas pessoas. Umaadvertência para admoestar-nos: nem tente!

5 E não podia realizar ali nenhum prodígio, a não ser uns poucos enfermos quecurou. 6 E admirava-se por causa da falta de fé deles. E percorria as aldeias ao redor,ensinando.

- Marcos 6:5 (Tradução Haroldo Dutra Dias)

Nota ainda Marcos que Jesus "se admirou" da falta da fé, da incredulidadedeles, dos quais provavelmente esperava (como todos nós esperamos dos familiares)maior compreensão e mais fé, provocada exatamente pelo velho conhecimento e pelaantiga amizade de companheiros de infância, aos quais mais do que a ninguém,desejamos ajudar a fazer subir.

Inegavelmente a lição é profunda e eficaz.

Lucas relata essa visita em termos diferentes, talvez porque, longe dosacontecimentos e sem ligação pessoal com os nazarenos, não tenha tido receio derelatar fatos mais graves.

14 Jesus então voltou para a Galiléia, cheio do poder do Espírito Santo. Ele ficoulogo bem conhecido em toda aquela região. 15 Por causa dos seus sermões nassinagogas, todo mundo O elogiava.

16 Estando na aldeia de Nazaré, terra da sua infância, como de costume Ele foi àsinagoga no sábado, e Se levantou para ler as Escrituras. 17 Entregaram-Lhe o livro doprofeta Isaías, que Ele abriu no lugar onde diz: 18 "O Espírito do Senhor está sobreMim; Ele Me nomeou para pregar a Boa Nova aos pobres; mandou-Me anunciar queos presos serão libertados e os cegos verão; Que os oprimidos serão Libertadosde seus opressores, e Que Deus está pronto a abençoar todos aqueles Que vêma Ele. 19 Verso incluído no anterior 20 Jesus fechou o livro, devolveu-o ao assistente, esentou-se, enquanto todo mundo, na sinagoga olhava atentamente para Ele. 21 Então

acrescentou: "Estas Escrituras cumpriram-se hoje!".

22. Todos os que se achavam ali falavam bem d´Ele e estavam admirados com aspalavras bonitas que saiam dos seus lábios. Como pode ser isto? E perguntaram: "nãoé este o filho de José?

23. E ele lhes disse: "Certamente aplicareis a mim este provérbio: "Médico, cura-tea ti mesmo", o que ouvistes ter sido feito em Cafarnaum, faze-o também aqui, em tuaterra".

24. Disse mais: "Em verdade vos digo, que nenhum profeta é aceito em sua terra";

25. Mas, sem dúvida, digo-vos que muitas viúvas havia nos dias de Elias em Israel,quando o céu se fechou por três anos e seis meses, de forma que houve grande fomeem toda a região;

26. Mas Elias não foi enviado a nenhuma delas, a não ser a uma moça viúva, emSarepta de Sidon;

27. E muitos leprosos havia no tempo de Eliseu, o profeta, em Israel, mas nenhumdeles foi limpo, a não ser Naaman, o sírio.

28. Tendo ouvido essas coisas, eles ficaram cheios de raiva na sinagoga.

29. E, levantando-se, o expulsaram para fora e o levaram até um precipício namontanha em que estava construída a cidade deles, para lançá-lo abaixo.

30. Ele, porém, passando pelo meio deles, foi embora. Lucas 4:14-30

Levanta-te, e vai a Sarepta, que é de Sídon, e habita ali; eis que eu ordenei ali auma mulher viúva que te sustente. Então, ele se levantou e se foi a Sarepta; e,chegando à porta da cidade, eis que estava ali uma mulher viúva apanhando lenha; eele a chamou e lhe disse: Traz-me, peço-te, numa vasilha um pouco de água que beba.1 Reis 17:9-10

Sarepta: Cidade fenícia situada 13 km ao norte de Sidom (1Rs 17.9-10; Lc 4.26).

Sidom: Cidade situada numa ilha entre Beirute e Tiro, na Fenícia, atual Líbano.Era um centro de fabricação de objetos de vidro, e o seu povo era dado à idolatria (Jz10.6; 1Rs 11.5; Is 23.2-4; Ez 28.20-23). Jesus mencionou Sidom (Mt 11.21) e tevecontato com os sidônios (Mc 3.8; Lc 6.17).

Naamã: Comandante do exército da Síria. Ele era leproso, mas foi curado pormilagre (2Rs 5).

Começa salientando que o próprio Jesus percebe a descrença deles e lê opensamento que eles não haviam ousado proferir em voz alta: "Certamente me direis:médico, cura-te a ti mesmo, e faze aqui o que fizeste em favor de Cafarnaum (eis tênKapharnaoum)".

Dito isto, responde com outro provérbio: "nenhum profeta é aceito em sua pátria”. Epara confirmá-lo cita dois exemplos extraídos da própria Escritura. Refere-se o primeiroa Elias que, (cfr. 1.º Reis, 17: 8 e seguintes) perseguido pelos seus na grande fomeque durou três anos (Lucas: três anos e seis meses), não pode atender a ninguém,mas renovou a provisão de azeite e farinha de uma viúva de Sarepta, ao sul de Sidon.O outro se refere a Eliseu, quando curou de lepra o sírio Naaman (2.º Reis, 5:1 eseguintes), embora não tenha curado nenhum leproso na Samaria.

12 Porém ela disse: Vive o SENHOR, teu Deus, que nem um bolo tenho, senãosomente um punhado de farinha numa panela e um pouco de azeite numa botija; e, vêsaqui, apanhei dois cavacos e vou prepará-lo para mim e para o meu filho, para que ocomamos e morramos. 13 E Elias lhes disse: Não temas; vai e faz conforme a tuapalavra; porém faz disso primeiro para mim um bolo pequeno e traz-mo para fora;depois, farás para ti e para teu filho. 14 Porque assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Afarinha da panela não se acabará, e o azeite da botija não faltará, até ao dia em que oSENHOR dê chuva sobre a terra. 15 E foi ela e fez conforme a palavra de Elias; eassim comeu ela, e ele, e a sua casa muitos dias. 16 Da panela a farinha se nãoacabou, e da botija o azeite não faltou, conforme a palavra do SENHOR, que falarapelo ministério de Elias.

17 E, depois destas coisas, sucedeu que adoeceu o filho desta mulher, da dona dacasa; e a sua doença se agravou muito, até que nele nenhum fôlego ficou. 18Então, eladisse a Elias: Que tenho eu contigo, homem de Deus? Vieste tu a mim para trazeres àmemória a minha iniquidade e matares meu filho?

1 Reis 17:12:17.

Essas palavras causam tumulto na sinagoga, provocado pelo despeito que se tornaraiva contra o insolente que, além de nada fazer, diz que só beneficiará outrascidades.

Levantou-se a multidão e expulsou-o aos empurrões da sinagoga, levando-O para"um precipício na montanha em que estava construída a cidade". Não é necessáriosupor, como diz a tradição, que se tratava do rochedo de Esdrelon, que fica a 3 km deNazaré. Não. Qualquer altitude de 3 a 4 metros dava para, após jogá-lo em baixo,poder liquidá-lo pela lapidação.

Esdraelom: Forma grega de JEZREEL.

JEZREEL:Cidade que ficava no território de ISSACAR 2, entre Megido e Bete-Seã,perto do monte Gilboa (1Rs 4.12; 21.23; 2Rs 9.30-35).

2) Vale que ficava perto dessa cidade (Os 1.5).

Entretanto, a calma de Jesus em Sua tranquila dignidade fez que Ele se voltassesereno, passasse no meio deles, sem que eles conseguissem mover um dedo contraEle: num silêncio constrangedor, eles O veem retirar-se. Para quem tivesse boa-vontade, o simples fato de haver Jesus passado pelo meio deles, silenciando amultidão enfurecida, bastaria para demonstrar o "sinal" que eles haviam desejado.

A quem lê o evangelho de Lucas, não deve estranhar o fato de que ele tenhareunido numa só narrativa as duas visitas de Jesus a Nazaré. Na primeira, Ele sedeclara categoricamente o Messias, tendo reservado para seus conterrâneos aprimeira revelação explícita, e com isso conquista-lhes a benevolência.

Cerca de quatro meses após, Jesus vai colher o resultado de Sua declaraçãoanterior; mas o ciúme causado pelo ministério realizado fora da pequenina aldeiasuscita-lhes a má vontade, que chega ao despeito e à raiva. Lucas, de modo geral,

gosta de terminar uma narrativa no mesmo local, mesmo que para isso tenha que unirdois pormenores afastados no tempo.

Todas as vezes que uma criatura dá o salto da personalidade para aindividualidade, ela se vê a braços com sérios problemas em seu círculo deparentesco e de amizades. Dai a quase necessidade de o indivíduo afastar-se decasa, para poder dar cumprimento às tarefas que lhe competem.

Em casa não é recebido: "veio para o que era seu, e os seus não O receberam"; noentanto os de fora da casa consanguínea, "todos os que O recebem e creem em Seunome, a esses Ele dá o direito de se tornarem filhos de Deus", embora "não tenhamnascido do sangue, nem da vontade da carne, sem da vontade do homem", porque"nasceram de Deus" João, 1:11-13

11Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. 12 Mas, a todos quantos oreceberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que creem no seunome; 13 Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem davontade do varão, mas de Deus. João 1:11-13

Os mais afins a nós espiritualmente, sempre os encontramos fora do círculodoméstico.

Lição que precisamos ter sempre diante dos olhos, para não desanimarmos ao verque, exatamente os que mais são ligados a nós pela convivência, esses é que maisnos repelem, e até muitas vezes nos perseguem e caluniam, “porque damos maisatenção aos outros" do que a eles...

São trazidos argumentos de "direitos adquiridos" pelos laços do sangue, pelaafeição mais antiga, e todos tropeçam naquele que pode elevá-los na evolução, masque "não no consegue" pela falta de fé da parte deles.

O próprio Jesus "se admira da incredulidade deles", dizendo-nos com isso que omesmo há de ocorrer com todos os que seguissem Seu exemplo. Os franceses dizem,com razão, trazendo para o cotidiano o que dissera Jesus: "Só na própria terra o

profeta não é honrado.".

Num e noutro caso, aquele que souber vencer os percalços e óbices, amando oCristo mais que sua personalidade (Mat. 10:37) e que souber perseverar até o fim (Mat.10:22), esse obterá a vida imanente. Mas caso "e deixe envolver por esses laçosasfixiantes que escravizam a criatura, não obter á a liberdade gloriosa dos filhos deDeus (Rom. 8:21).

Fomos avisados com clareza, sem ambages; cabe a nós agora a decisão...

Na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão dacorrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Romanos 8:21

HERODES Mat. 14:1-12 Mc 6:14-29 Lc 3:19-20; 9:7-9

1 Naquele tempo, Herodes, governador da Galiléia, ouviu falar da fama de Jesus. 2Disse então a seus oficiais: "Ele é João Batista, que ressuscitou dos mortos. É por issoque os poderes agem nesse homem."3 De fato, Herodes tinha mandado prender João, amarrá-lo e colocá-lo na prisão. Fezisso por causa de Herodíades, a mulher do seu irmão. 4 Porque João dizia a Herodes:"Não é permitido você se casar com ela." 5 Herodes queria matar João, mas tinhamedo da multidão, porque esta considerava João um profeta. 6 Quando chegou oaniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou diante de todos, e agradou aHerodes. 7 Então Herodes prometeu com juramento que lhe daria tudo o que elapedisse. 8 Pressionada pela mãe, ela disse: "Dê-me aqui, num prato, a cabeça deJoão Batista." 9 O rei ficou triste, mas por causa do juramento na frente dosconvidados, ordenou que atendessem o pedido dela, 10 e mandou cortar a cabeça deJoão na prisão. 11 Depois a cabeça foi levada num prato, foi entregue à moça, e esta alevou para a sua mãe. 12 Os discípulos de João foram buscar o cadáver, e oenterraram. Depois foram contar a Jesus o que tinha acontecido.

PRIMEIRA MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES Mat. 14:13-21 Marc. 6:30-44 Luc. 9:10-17 João, 6:1-15

13 Quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu, e foi de barca para umlugar deserto e afastado. Mas, quando as multidões ficaram sabendo disso, saíram dascidades, e o seguiram a pé.14 Ao sair da barca, Jesus viu grande multidão. Tevecompaixão deles, e curou os que estavam doentes. 15 Ao entardecer, os discípuloschegaram perto de Jesus, e disseram: "Este lugar é deserto, e a hora já vai adiantada.Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar alguma coisa paracomer." 16. Mas Jesus lhes disse: "Eles não precisam ir embora. Vocês é que têm delhes dar de comer." 17. Os discípulos responderam: "Só temos aqui cinco pães e doispeixes." 18. Jesus disse: "Tragam isso aqui." 19. Jesus mandou que as multidões sesentassem na grama. Depois pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhospara o céu, pronunciou a bênção, partiu os pães, e os deu aos discípulos; os discípulosdistribuíram às multidões. 20 Todos comeram, ficaram satisfeitos, e ainda recolheramdoze cestos cheios de pedaços que sobraram. 21 O número dos que comeram eramais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.

CINCO, no plano divino, é a Providência ou Vontade Divina que governa a vidauniversal, alimentando-a e sustentando-a.

Temos, pois, nos CINCO pães, um simbolismo perfeito da Mônada Divinamergulhada na carne, formando O HOMEM. Veremos, que Jesus explica tudo empormenores; esta multiplicação dos pães serviu de experiência prática, para que osdiscípulos pudessem compreender, mais tarde, a explicação teórica.

Restam-nos ainda, ver os DOIS peixinhos. O arcano DOIS exprime, no planodivino, a segunda manifestação da Divindade; no plano humano, a receptividadefeminina; no plano da natureza, os planetas fecundados.

Aí temos, pois, a lição superiormente dada para quem possa entendê-la. Ointelecto diz que apenas possui, para dar como alimento à multidão de células, o Ser-Humano vivificado pela Divindade e a receptividade passiva (total) da mulher, que estápronta para acolher em si mesma a semente da Verdade, fazendo-a frutificar em si.

A individualidade diz que basta isto. Nada mais é necessário para alimentar a

multidão, além do ser disposto a receber o ensino. E em vista de tudo estar preparado,ergue os olhos ao céu (eleva suas vibrações), parte o pão (separa o espírito damatéria) e, agradecendo a ótima disposição de tudo, distribui a verdade para todos:cada grupo de células reunido em seu conjunto de órgãos ("em grupos de cinquenta ecem") e todos comem e se fartam.

Vem então a ordem de recolher os fragmentos que sobraram (as verdades quepossam ser reveladas à grande massa profana) para não se perderem. E ficamrepletos DOZE cestos (os DOZE emissários).

No plano divino, doze é o arcano do Messias; no plano humano, exprime oholocausto de si mesmo: é o sacrifício do indivíduo em benefício da coletividade, eisso feito no plano físico, ou a esfera de ação do Messias.

Portanto, com a escolha dos doze emissários, Jesus (a individualidade) deixa claro,para "quem tem olhos de ver", que iniciou oficialmente, nesse instante, o ciclosacrificial de sua própria pessoa para benefício da humanidade.

Então, as verdades recolhidas nos DOZE cestos servirão para o ensino dos "queestão de fora" e que não podem ainda receber a Verdade Total ("muita coisa aindatenho a dizer-vos, mas não podeis suportar agora", João, 16:12).

Assim é que temos, nos Evangelhos sob o véu da letra material (os cestos) osfragmentos das verdades que foram reveladas, e que só puderam chegar até nós emfragmentos e sob formas de alegorias e metáforas, a fim de que a Verdade nãofosse desvirtuada por quem não na compreendesse.

Anotam os evangelistas que estavam presentes a esse banquete sobre a relvaverde (em a natureza virgem e fecunda há um tempo), CINCO MIL homens; osCINCO conserva a mesma representação simbólica supracitada; o MIL dá ideia do"sem-limite". (Na realidade, refere-se isto à humanidade: CINCO é o HOMEM)englobadamente considerada em seu número ilimitado (MIL) de milhares e milharesde criaturas, e representada - em cada um de nossos corpos físicos - pelas célulasorganizadas em órgãos, tal como a humanidade está organizada em raças e nações.

Capítulo importante como vemos, do qual ainda muitos ensinamentos ainda podemser extraídos, e que será mais bem compreendido depois de lida e estudada a lição

intitulada "O Pão da Vida".

Mais algumas referências escriturísticas do número doze:

No Antigo Testamento, eram 12 os filhos de Jacó (Gên. 35:22) que deram origemàs 12 tribos de Israel (49:28). Os altares erguidos por Moisés (Éx.24:4), por Josué (Jos.4:20) e por Elias (1.º Reis 18:31) tinham 12 pedras. São 12 os projetas (Ecli.49:12) e osmeses do ano (Dan. 4:26); 12 eram os pães da proposição (Lev. 24:5) as pedras dourim do Sumo Sacerdote (Éx. 28:17-21); os israelitas encontram 12 fontes em Elim (Éx.15:22). Salomão nomeia 12 prefeitos para Israel (1.º Reis 4:7) e faz esculpir 12 leõesno templo (1.º Reis 7:25).

Em o Novo Testamento, além dos 12 emissários, temos que a hemorroíssa sofriade seu mal há 12 anos (Mat. 9:20 ); a filha de Jairo ressuscitada por Jesus tinha 12anos (Mrc. 5:42); os tronos dos julgadores de Israel serão 12 (Luc. 22:30). Na 1.ªmultiplicação dos pães são recolhidos 12 cestos de restos (Mat. 14:20; Mrc. 6:43,. Luc.9:17 e João, 6:13); 12 são as horas do dia, diz Jesus (Joço, 11:9).

E no Apocalipse, a "Mulher" é coroada por 12 estrelas (Ap. 12:1), a nova Jerusalémtem 12 portas, com 12 anjos, e os nomes das 12 tribos de Israel (Ap. 21:12) e 12pedras fundamentais com os nomes dos 12 "apóstolos" (Ap. 21:14). A árvore da vidatem 12 frutos, um para cada um dos 12 meses (Ap.22:2) e seus habitantes são 144.000= 12 x 12.000 (Ap. 7:4). Citamos apenas alguns dos trechos.

Há, portanto, razões ocultas em tudo isso. Jesus SABIA o que fazia. Pudéssemosnós compreender todas as Suas lições!

JESUS CAMINHA SOBRE A ÁGUA Mat. 14:22-33 Marc. 6:45-52 João, 6:16-21

22 Logo em seguida, Jesus obrigou os discípulos a entrar na barca, e ir na frente,para o outro lado do mar, enquanto ele despedia as multidões. 23 Logo depois dedespedir as multidões, Jesus subiu sozinho ao monte, para rezar. Ao anoitecer, Jesuscontinuava aí sozinho.24 A barca, porém, já longe da terra, era batida pelas ondas, porque o vento eracontrário. 25. Entre as três e as seis da madrugada, Jesus foi até os discípulos,andando sobre o mar. 26 Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar,ficaram apavorados, e disseram: "É um fantasma!" E gritaram de medo. 27 Jesus,porém, logo lhes disse: "Coragem! Sou eu. Não tenham medo."28 Então Pedro lhe disse: "Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhandosobre a água." 29 Jesus respondeu: "Venha." Pedro desceu da barca, e começou aandar sobre a água, em direção a Jesus. 30 Mas ficou com medo quando sentiu ovento e, começando a afundar, gritou: "Senhor, salva-me." 31 Jesus logo estendeu amão, segurou Pedro, e lhe disse: "Homem fraco na fé, por que você duvidou?"32 Então eles subiram na barca. E o vento parou. 33 Os que estavam na barca seajoelharam diante de Jesus, dizendo: "De fato, tu és o Filho de Deus."

16 De tardinha, os discípulos de Jesus desceram até o lago. 17 Subiram numbarco e começaram a atravessar o lago na direção da cidade de Cafarnaum. Quando jáestava escuro, Jesus ainda não tinha vindo se encontrar com eles. 18 De repente, umvento forte começou a soprar e a levantar as ondas 19 Os discípulos já tinham remadouns cinco ou seis quilômetros, quando viram Jesus andando em cima da água echegando perto do barco. E ficaram com muito medo.20 Mas Jesus disse: —Não tenham medo, sou eu! 21 Então eles o receberam comprazer no barco e logo chegaram ao lugar para onde estavam indo. Jo 6:16-21

Pelo texto de João, compreendemos que os discípulos desceram à praia epermaneceram perto do barco, onde ficaram esperançosos de que Jesus viessealcançá-los. Entretanto, "já se tornara escuro e Ele não viera". Resolveram, então,partir.

Uma vez embarcados, os discípulos encontram vento contrário bastante forte, oque era comum no lago, tanto que não haviam chegado à outra margem "na quartavigília da noite", isto é, entre 3 e 6 h da manhã.

Horário Hebraico Após do domínio Romano

Após o domínio romano na Palestina, os israelitas passaram a dividir a noite (de18 as 6 h) em quatro vigílias (em vez de três como era tradicional entre eles), vigíliasessas iguais no comprimento, sendo mais longas no inverno quando as noites erammaiores, e bem menores no verão. A primeira (das 18 às 21 h), à noite; a segunda(das 21 às 24 h), a noite fechada; a terceira (das 24 às 3 h) o cantar do galo; e aquarta (das 3 às 6 h) a alvorada ou manhã.

Ora, à "noitinha" (opsías), do montículo onde se achava Jesus já vira os discípulosa lutar contra o vento; e a travessia, mesmo na parte mais larga do lago (12 km) erafeita, no máximo, em 2 a 3 horas.

E ali eles não estavam na parte mais larga. Mas, às 03 ou 04 horas da manhã elessó haviam avançado "25 a 30 estádios" (segundo João), anotação que parece ter sidointroduzida em Mateus posteriormente, pois só aparece em alguns manuscritos ("amuitos estádios da terra"). O estádio media cerca de 185 metros; portanto, eles só sehaviam adiantada cerca de 5 km da margem.

Continuava a luta contra o vento, e os discípulos remavam esforçadamente, paraalcançarem, rápido a outra margem, talvez imaginando que o Mestre seguiria a pé e láchegaria antes deles, para esperá-los.

Repentinamente percebem assustadíssimo, um vulto branco a caminharcalmamente sobre o mar encapelado pelo vento... O que seria? Quem seria? Olhammelhor: é uma forma humana... Aproxima-se... Só pode ser um fantasma! E osfantasmas eram considerados de mau agouro (cfr. Sab. 17:4, 14-15; Josefo, Ant.Jud. 13, 12, 1 e 17, 13, 3-5). O medo foi crescendo, eriçando os cabelos, arrepiando apele, e aqueles pescadores rudes, homens fortes e barbados, não tiveram outroremédio senão... Gritar "valentemente”!

...

Penalizado, mas bem provavelmente a sorrir do susto que pregou em seusdiscípulos, Jesus os acalma, recomendando-lhes "coragem" que elesdemonstraram evidentemente não possuir...

João, cujo Evangelho (e Epístolas) foram escritos com a finalidade senão

primordial, pelo menos bastante clara, de combater os "docetas" (que afirmavam ser"fluídico" o corpo físico de Jesus que, segundo eles não era homem, mas umagênere), não acena à impressão que os discípulos tiveram de que se tratava de umfantasma, já que o fantasma é, exatamente, um agênere.

O velho pescador saltou do barco, sob o olhar horrorizado dos companheiros, sempesar as consequências, e lá foi cambaleante, a equilibrar-se sobre os vagalhõesferozes; mas quando, ao chegar já perto do Mestre Querido, se dá conta do ventoviolento, fica com medo. Ora, o medo é justamente a falta de fé, a perda daconfiança. E sem fé, nada é possível construir nem realizar: ele começa a afundar egrita apavorado por "socorro"! Jesus repreende-o suavemente (mais uma vez Oentrevemos a sorrir...): "ó pequena fé, por que duvidaste"? E segurou-o pela mão.

Voltaram os dois a caminhar sobre as águas, e os demais discípulos quiseram queJesus entrasse no barco, em vez de continuar a caminhar pelo lago até a margem.

(Caminhar sobre as águas pode representar a caminhada sobre as paixõeshumanas. Mais se houver dúvidas, é possível, se levado pela correnteza e oconseguinte afundamento mediante o medo, que paralisa e atrofia os mais belos ideais.Lembrando que o corpo humano em sua maior parte é composto por água.Observamos também que, ao encontrar Jesus, o medo cessa e entramos novamentena tranquilidade de nosso barco da vida. Acrescentei.)

Entraram ambos, e o vento cessou. Os discípulos estavam atônitos, sem poderexplicar tantas coisas estranhas que haviam acontecido naquele dia, pois nem sequertinham compreendido a "multiplicação dos pães" ali, entre as mãos deles... Entãochegam a uma conclusão irrefutável: "verdadeiramente és um filho de Deus"!

O texto grego está sem artigo. Não é, pois, uma confissão da Divindade de Jesus,como pretendem alguns. Temos que compreender a mentalidade e a psicologia dosisraelitas, sobretudo naquela época: rigidamente monoteístas, não podiam jamaiscogitar de outro Deus além do único Deus, a quem Jesus chamava "O PAI", repetindoexaustivamente que era "o único Deus”.

Entretanto, eles sabiam que havia os "filhos de mulher" (homens sujeitos ao"kyklos anánke" ou ciclo fatal das encarnações por meio da mulher) e os "filhos dohomem” (criaturas que já se haviam libertado da evolução na etapa humana), mashavia também os "filhos de Deus" (seres excepcionais acima de qualquerclassificação que não fosse à comparação de ligados à Divindade, os seres quehoje chamaríamos "avatares") em que Se manifesta a Divindade, os Cristos ouBuddhas.

Como já se achavam perto da praia, chegaram "logo" à planície de Genesaré(hoje denominada el-Ghoueir) que mede 6 km de comprimento por 3 de largura, namargem ocidental, exatamente entre Ain-Tabgha e el-Medjdel (onde devia estar situadaa aldeia de Betsaida da Galiléia, bem perto de Cafarnaum.

Daí a aparente contradição dos textos: Betsaida (Marc. 6:45) Genesaré (Mat. 14:34e Marc. 6:53) e Cafarnaum (João, 6:17). Referem-se todos eles à mesma região,uma área reduzida, com pequenas aldeolas e cidades. Uns falam genericamente(Cafarnaum), outros dão maior precisão (Genesaré, para dizer que nãodesembarcaram na cidade de Cafarnaum) mas Jesus quando lhes antecipa o local dedesembarque, dá ainda maior exatidão (Betsaida).

Ocorre, muitas vezes, que a individualidade percebe a luta titânica e inglória dosveículos, no oceano do mundo, açoitados pelo vento borrascoso das emoçõesdescontroladas. Mas não atende logo, porque sabe que é necessário aprender adominá-las por si mesmos. No momento oportuno, vai aproximando-se levemente, porcima das vagas altas e violentas, inatingido pelas ondas e pelo furacão, tranquilo emsua serenidade infinita.

Quando, após esse período de secura espiritual, vemos aproximar-se a figuraimaterial do Cristo Interno, assustamo-nos horrorizados, temendo seja mais uma ilusão(fantasma) de nossa mente, alguma criação mental nossa que não venha desviar dameta tão arduamente perseguida. E gritamos apavorados, encolhendo-nos no maisrecôndito desvão de nós mesmos.

A felicidade só começa a fazer-se sentir, quando identificamos a voz suave e

inconfundível do Amado de nossa alma.

CURA EM GENESARÉ Mat. 14:34-36 Marc. 6:53-56

34. Jesus e os discípulos atravessaram o lago e chegaram à região de Genesaré.35 Ali o povo reconheceu Jesus e avisou todos os doentes das regiões vizinhas. Entãomuitas pessoas levaram doentes a ele, 36 pedindo que deixasse que os doentes pelomenos tocassem na barra da sua roupa. E todos os que tocavam nela ficavam curados.

Cafarnaum. Já falamos desse local que, segundo Josefo (Bell Jud. 3, 10, 8) era desuma fertilidade, produzindo flores e frutos o ano inteiro.

Tocando em terra, Jesus toma a estrada que vai a Cafarnaum, e pelo caminhoatravessará diversas aldeias e vilarejos, pequenas cidades e campos cultivados. AnotaMarcos que, ao chegar a terra, "logo o reconheceram". Por essas palavras percebemosque Jesus ainda não estivera nessa região; mas sendo ela tão próxima a Cafarnaum,muitos de seus moradores já deviam tê-Lo conhecido, ao vê-Lo na cidade.

Dessa forma, a notícia espalhou-se, e todos os que tinham enfermos os levaramem macas para as localidades que, se sabia, Ele atravessaria, e os colocavam quernas praças, quer em locais amplos, para que ao passar, os doentes tocassem as borlasde seu manto esvoaçante (Núm. 15:38). E pediam que Ele lhes permitisse tocar nelas,para conseguir a cura. E obtinham-na. E todos "se salvaram" das enfermidades, dizemas duas testemunhas. Interessante observar, aqui, o sentido do verbo "salvar-se".

(Fico com a definição de Emmanuel: Salvar é educar, soerguer, levantar, ensinar.Além das curas dos corpos, possivelmente, Jesus dava lições para a cura da alma, poisera esse o propósito, é por isso, salvava a todos, pois o homem passa a levantar-se.Acrescentei).

Enquanto isso, Jesus continuava o trajeto para seu objetivo, ao mesmo tempo emque se afastava de Tiberíades, onde então estava residindo Herodes Antipas. E "poronde Ele passava, ia beneficiando e curando" (Cfr. Atos, 10:38).

Aqui temos um exemplo da bondade dos seres evoluídos. Jesus podia ter

desembarcado diretamente em Cafarnaum. Mas preferiu aproveitar a oportunidade edescer a terra mais ao sul, a fim de percorrer uma região que não visitara antes e, naviagem, distribuir benefícios a todos os enfermos. É um modo de agir que pode e deveser imitado por todos os que atingiram o quinto plano evolutivo, do Serviço. Por ondequer que perambulemos, há sempre numerosas criaturas que necessitam de auxílio,seja moral ou material, para sua saúde, seu trabalho, seu conforto, sua compreensãodas verdades; e iremos enxugando as lágrimas dos que choram, reajustando osdesequilíbrios emocionais, iluminando as inteligências, numa palavra: beneficiando.

Também em relação a seus próprios veículos, há necessidade, vez por outra, de aindividualidade ocupar-se com eles, "percorrendo-os" a fim de verificar suasdeficiências e atendê-las. Essa "viagem de inspeção" é feita com o que se costumachamar "exame de consciência", em que passamos em revista nossos atos, nossospensamentos, nossos desejos, nossas emoções, verificando os pontos fracos a seremfortificados e os excessos a serem controlados. Reequilibrando o nervosismo,acertando rumos, firmando resoluções, estaremos beneficiando nossos veículos, paraque melhormente cumpram suas obrigações.

Comum é que vivamos tão absorventemente preocupados com as coisasexteriores, que esquecemos nossas próprias necessidades íntimas. Aprendamos, pois,a permanecer vigilantes, observando tudo o que se passa em nós mesmos, a fim deprevenir ou remediar a tempo qualquer dificuldade que surja.

TRADIÇÃO DOS FARISEUS Mat. 15:1-20 Mc 7:1-23

1 ENTÃO chegaram ao pé de Jesus uns escribas e fariseus de Jerusalém,dizendo:

2 Porque transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam asmãos quando comem pão.

3 Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Porque transgredis vós também omandamento de Deus pela vossa tradição?

4 Porque Deus ordenou, dizendo: Honra a teu pai e a tua mãe; e quem maldisserao pai ou à mãe, morra de morte. (Ex: 20-12, Lv 19:3-32, 1 Rs 2:19)

5 Mas vós dizeis: Qualquer que disser ao pai ou à mãe: É oferta ao SENHOR oque poderias aproveitar de mim; esse não precisa honrar nem a seu pai nem a suamãe.

6 E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus.

7 Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo:

8 Este povo honra-me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim.

9 Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens.

10 E, chamando a si a multidão, disse-lhes: Ouvi, e entendei;

11 O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca,isso é o que contamina o homem. 12 Então os discípulos se aproximaram, e disserama Jesus: "Sabes que os fariseus ficaram escandalizados com o que disseste?” 13 Jesus respondeu: "Toda planta que não foi plantada pelo meu Pai celeste seráarrancada. 14 Não se preocupem com eles. São cegos guiando cegos. Ora, se umcego guia outro cego, os dois cairão num buraco." 15 Então Pedro disse a Jesus:"Explica-nos a parábola." 16 Jesus respondeu: "Será que vocês ainda não entendem? 17 Vocês nãocompreendem que tudo o que entra na boca passa pelo estômago e acaba indo para aprivada? 18 Ao contrário, as coisas que saem da boca vêm do coração e essas é quetornam o homem impuro. 19 Pois é do coração que vêm as más intenções: crimes,adultério, imoralidade, roubos, falsos testemunhos, calúnias. 20 Essas coisas é quetornam o homem impuro; mas comer sem lavar as mãos não torna o homem impuro."

Marcos, 7:1-16

E AJUNTARAM-SE a eles os fariseus, e alguns dos escribas que tinham vindo deJerusalém.

E, vendo que alguns dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, istoé, por lavar, os repreendiam.

Porque os fariseus, e todos os judeus, conservando a tradição dos antigos, nãocomem sem lavar as mãos muitas vezes;

E, quando voltam do mercado, se não se lavarem, não comem. E muitas outrascoisas há que receberam para observar, como lavar os copos, e os jarros, e os vasosde metal e as camas,

Depois perguntaram-lhe os fariseus e os escribas: Porque não andam os teusdiscípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem o pão com as mãos por lavar?

E ele, respondendo, disse-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas,como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longede mim.

Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos dehomens:

Porque; deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens;como o lavar dos jarros e dos copos; e fazeis muitas outras coisas semelhantes aestas.

E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes avossa tradição.

Porque Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe; e quem maldisser, ou o paiou a mãe, morrerá de morte:

Porém vós dizeis: Se um homem disser ao pai ou à mãe: Aquilo que poderiasaproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta ao SENHOR;

Nada mais lhe deixais fazer por seu pai ou por sua mãe,

Invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes.E muitas coisas fazeis semelhantes a estas.

E, chamando outra vez a multidão, disse-lhes: Ouvi-me vós todos, e

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compreendei.

Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que saidele isso é que contamina o homem.

Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.

Depois da exposição realizada em Jerusalém, e que provocara a perseguição aJesus, com o intuito de matá-Lo de volta a Cafarnaum (onde também o pequenosinédrio o julgara digno de morte por causa da lição sobre o Pão da Vida), o Mestrese vê cercado pelos fariseus locais, cujo grupo fora reforçado por alguns escribasvindos de Jerusalém. A impressão que temos, é que se formara uma comissão de"doutores da Lei", para sindicar a respeito das atividades desse operário-carpinteiroafoito, que dava tanto que falar. E Jesus vai sublinhar com ênfase o que dissera: "nãorecebo doutrinas de homens" (João, 5:41).

Logo à chegada, eles verificaram uma falta grave: os discípulos de Jesustomavam sua refeição sem lavar as mãos. Constituía isso imperdoável crime, porqueviolava os preceitos dos "mais velhos" (presbyteros, no comparativo de presbys,"velho"); referiam-se às ordenações orais (hálaga) que chegavam por meio datradição. Esta era considerada superior até a própria lei mosaica e transgredi-laimportava em heresia punível com a morte.

Conforme esclarece Marcos, a lavagem das mãos antes de comer era prescriçãorigorosa, sujeita a longa série de complicadas regras. Tinham que ser lavadas pygmêi(até os punhos), com dois derramamentos de água sobre elas: o primeiro parapurificar (e a água saía contaminada) e o segundo para tirar as gotas"contaminadas" da primeira ablução, que porventura tivessem ficado aderidas à pele;tinham que ser lavadas com as mãos vazias (sem segurar nada); se a água nãochegasse até os punhos, não purificava as mãos; na ablução, os dedos tinham quepermanecer no alto e os pulsos para baixo, e assim permanecerem até que as mãossecassem por si, etc. (cfr. Strack e BilJerbeck, o. c. t. 1, pág. 698 a 705).

Quanto ao termo "contaminadas" é a tradução do grego koinos ("comum") e do

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verbo koinéô ("tornar comum"). Esse adjetivo e o verbo que dele deriva qualificam ascoisas que pertencem ao uso ordinário e vulgar de todas as criaturas (como, porexemplo, a língua utilizada nos domínios romanos do oriente, como a Palestina, eraconhecida como "grego koinê", isto é, a língua familiar a todos, falada pelo povotodo, não o grego clássico, privativo dos literatos).

Então, na época de Jesus, esse adjetivo e esse verbo era empregado com osentido “comum” ou “vulgar”, e, portanto contaminado pela multidão, pelo contatocom as criaturas não legalmente purificadas.

Quando Marcos aqui se refere a "judeus", com isso designa a nação judaica, nãotendo a palavra o sentido que vimos utilizado por João.

A prescrição da lavagem das mãos era mais severa quando se voltava "da rua"(no original, apò agorá, ou seja, do mercado, das lojas, da praça pública, que nóshoje englobamos na expressão "chegar da rua"). E continuando diz que tambémcopos, jarros e vasilhas de metal deviam todos ser lavados e purificados antes deneles serem servidos os alimentos e bebidas.

Todas essas prescrições foram posteriormente reunidas na Mishna e depois noTalmud.

Presbíteros (Mais velhos)

Outro termo que convém analisar é presbyteros, "os mais velhos", geralmentetransliterado por "presbíteros" ou traduzido por "sacerdotes", "padres", etc. Nadadisso exprime esse termo.

Segundo a legislação mosaica, em cada comunidade judaica deviam os homensmais idosos, "os mais velhos", assumir uma espécie de direção da comunidade,solucionando os casos, resolvendo as questões, decidindo litígios, quase um "conselhopatriarcal". A esses "mais velhos" a Vulgata dá o nome de maiores natu, ou então deseniores, traduzindo exatamente presbyteroi e o hebraico zeqênim.

A constituição oficial dos mais velhos (cfr. Núm. 11:16 e seguintes; Lev. 9:1 eDeut. 27:1) também foi praxe em Roma, na organização inicial do "senatus", palavraderivada de sénis, "velho".

E disse o SENHOR a Moisés: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, dequem sabes que são anciãos do povo e seus oficiais; e os trarás perante a tenda dacongregação, e ali se porão contigo. Numeros 11:16

Dirigindo-se, pois, ao Mestre, responsável moral pelos atos de seus discípulos,indagam do motivo por que não obedecem estes aos preceitos dos "mais velhos".Interessante observar que foi empregado o verbo peripatéô, "caminhar", no sentidofigurado: "caminhar pelos preceitos", isto é, seguir os preceitos, significadoignorado no grego clássico, mas usado no Antigo Testamento na versão dos LXX(cfr. 2.º Reis 20:3, Prov. 8:20) e também por Paulo (cfr. Rom. 8:4 e 14:15, 2.º Cor. 10:2e 3, Ef. 2:2) e por João (cfr. 8:12, 12:35 e I Jo. 1:6).

Ao invés de responder diretamente à pergunta, Jesus contra-ataca,justificando sua maneira de ver as coisas e mostrando à evidência que asexageradas exigências dos "mais velhos" não só careciam de importância como,muitas vezes, ludibriavam e anulavam a própria lei mosaica.

Diante do argumento ad hominem, calam-se contrafeitos os emissários deJerusalém, engolindo o pesado epíteto de "hipócritas" (atores) que lhes aplica o Mestre.

As palavras são todas de tom acre e acusatório, revelando a energia máscula quejamais faltou ao Mestre, que não se intimidava perante qualquer ataque. A meiguice erausada com os pobres e enfermos desvalidos, em cujo trato transparecia uma bondadedelicada, até quase feminina. Mas perante as "autoridades constituídas", contra os"grandes" da política ou da religião, revelava indômita energia e autoridade moral,ensinando-nos que a humildade não consiste em abaixar-se covardemente nemsilenciar perante adversários poderosos.

O argumento lançado em face dos escribas, de que eles colocavam as tradiçõesacima da lei, anulando-a, é fundamentada com o exemplo de Korban (Sacrifícios.

Acrescentei). Quando um filho não desejava ajudar a seus pais, bastava-lhe afirmarque tudo o que poderia dar-lhes "era qorban". Essa palavra designava os objetosconsagrados (ou pseudo-consagrados) ao Templo, como oferta particular; e odoador da oferta podia dispor deles para qualquer finalidade, menos para seus pais,abuso baseado em Lev. 27:1-34. O rigor nesse sentido chegava ao absurdo. Wakefielddiz que extraiu do Talmud o caso de um israelita de Beth Horon, que consagrara seusbens como qorban. Mas ao casar um filho quis convidar seu pai. Para isso, vendeu aum amigo o quarto em que se realizaria a festa, "com a condição de que convidasseseu pai".

A transação foi julgada ilegal, só por causa dessa cláusula...

Por isso não admira a energia de Jesus ao protestar contra esse costume bárbaro.

A frase grega é uma tradução literal do aramaico (qônâm sheâttâh neheneh lakh) epor isso sua forma não apresenta maleabilidade. Mas o sentido é este: "tudo o quetenho e que poderia ser-te útil, é qorban (oferta ao Templo)".

Com isso estava realmente anulado o quinto mandamento, "honrarás teu paie tua mãe" (Êx. 20: 12 e Deut. 5: 16) e ainda outro texto: "quem fala mal de seu pai oude sua mãe será punido com a morte" (Lev. 21:17). Ora, quem condenava seus pais asofrerem todas as necessidades, sem socorrê-los, agia pior que se falasse mal deles.

Mais uma vez Jesus ataca com veemência a impertinência costumeira dosdirigentes religiosos, que antepõem suas prescrições rituais aos mandamentos simplese naturais da Grande Lei do Amor, "anulando a ordem divina, para manter a tradiçãocriada pelos homens".

E, classificando-os de hipócritas, atribui a eles a palavra do profeta Isaías (29:13),segundo a versão grega dos LXX, já que o texto hebraico reza: "pois esse povo seaproxima com palavras e me honra com os lábios, enquanto mantém afastado de mimseu coração, e o culto que me rende é um preceito aprendido de homens".

Dando então as costas aos acusadores, que se mantinham retraídos, silenciosos evencidos, volta-se Jesus para o povo, exclamando: "ouvi e compreendei"! Estavaconsciente de que a frase que ia proclamar era de difícil compreensão, mas de

qualquer forma é ela dita de forma axiomática, de que Marcos parece conservar-nos otexto original mais completo: "Nada, vindo de fora, pode, ao entrar no homem,contaminá-lo; mas as coisas que procedem dele, essas contaminam o homem".

A seguir, para mais uma vez chamar a atenção dos ouvintes, repete a conhecidaexpressão "quem tem ouvidos de ouvir, ouça". Realmente, a sentença é de difícilcompreensão. Para os israelitas, que tinham uma série de "alimentos impuros"proibidos (cfr. Lev. cap. 11 e Deut. cap. 14) equivalia a uma ab-rogação da lei mosaica.Mas a segunda parte corria o risco de ser interpretada à letra, isto é, significando quesó contaminava o homem o que saía dele (em Mateus: "da boca"), ou seja, asexcreções, a saliva, etc.

Mais adiante o Mestre explicará aos discípulos o sentido que deu a essas palavras.

A lição para a individualidade é válida em todos os seus pontos.

O que constitui evolução são as vibrações internas e a adesão total à Lei Natural, àLei de Deus, de nada valendo as prescrições humanas. A honra a ser dada aos pais,como a todas as criaturas, é manifestada com o respeito e a assistência nos momentosde necessidade, sem estar a fazer conta do que se dá, sem lançar ao rosto dosbeneficiados os benefícios prestados, sem exigir retribuição e nem mesmo gratidão,porque a ajuda a quem está necessitado constitui obrigação, e não caridade.

Em segundo lugar, a lição importantíssima da energia na defesa da verdade. Háquem pense que espiritualizar-se e ser humilde é ceder e abaixar (quase escrevemosrebaixar-se) deixando que todos o dominem e lhe imponham suas vontades.

De modo algum pode ser aceito tal modo de proceder. Humildade, já o vimos, é anaturalidade espontânea, é ser o que se é. Ceder externamente com revolta no íntimo,é hipocrisia, e não humildade.

Mesmo o mais humilde tem obrigação de falar para fazer valer a verdade contra oerro, embora para isso seja mister alterar-se, mesmo usando termos violentos. Ahipocrisia, a mentira, as aleivosias têm que ser combatidas a peito aberto, semtemores, pois muitas vezes sob capa de humildade temos legítima covardia.

Não queremos dizer que logo na primeira fala deva alguém ser violento: pode-seser enérgico sem perder a linha com palavras pesadas. Mas há casos em que até

essas palavras são indispensáveis para que se seja ouvido e respeitado.

Se humildade não é covardia, mansidão não é temor. Não podemos nem devemosatemorizar-nos diante dos poderosos e grandes, mas ao contrário: temos que enfrentarcomo homens e fazer como Paulo fez diante de Pedro: in faciem ei réstiti, isto é,"resisti-lhe na cara" (Gál. 2:11). Firmeza, energia, coragem são virtudes, e virtudesmásculas, que Jesus possuía em alto grau.

Chegamos, depois, à sentença (que comentaremos no próximo capítulo) “não é oque entra no homem, mas o que dele sai, que o contamina".

16 - Ante a Vida Maior

Quem encontra a Paternidade Divina, no mundo, respeita as injunções daconsanguinidade, mas não se agarra ao cativeiro da parentela.

Honra pai e mãe, realmente; todavia, sabe considerar que o amor pode auxiliar,fazer, aprender e sublimar-se sem prender-se.

O espírito que penetrou semelhante domínio da compreensão reconhece porfamília maior, a Humanidade inteira, encontrando o Lar em toda parte, as surpresas davida em todos os ângulos do caminho, o interesse iluminativo em todas as facetas dajornada, o serviço em todas as linhas de atividade, o dever em todas as partículas dotempo, a bênção do Céu em todos os caminhos da Terra, o amor em todos os seres, aalegria de auxiliarem todos os instantes da luta e segue existência afora, de almaaberta ao trabalho santificante, respirando a independência construtiva, livre, aindamesmo quando o corpo se lhe cubra de chagas sanguinolentas, e, sereno, aindamesmo quando a tempestade o convoque ao terror e à perturbação...

E que, quando a alma descobre a Paternidade Celeste, embora ligada aosimpositivos da carne, sabe sofrer e agir, crescer e elevar-se, operando nas zonasinferiores do Planeta, mas de sentimento centralizado no Alto, a repetir invariavelmentecom Jesus Cristo: -" Pai Nosso que estás nos Céus..."

Simplifiquemos...

Há homens inteligentes tão obcecados pelas maneiras de expressão que chegama olvidar a lavoura de luz que lhes cabe atender, tanto quanto, há pessoas de ambienterústico, tão atormentadas pelas ideias de inferioridade intelectuais que passam ashoras, entre a revolta e o desespero, alheias às preciosas oportunidades de cultura eaprimoramento que lhes enobrecem a estrada.

Livro: “Perante Jesus – Emmanuel)

O QUE PREJUDICA

Mateus, 15:12-20

Então, acercando-se dele os seus discípulos, disseram-lhe: Sabes que osfariseus, ouvindo essas palavras, se escandalizaram?

Ele, porém, respondendo, disse: Toda a planta, que meu Pai celestial nãoplantou, será arrancada.

Deixai-os: são condutores cegos: ora, se um cego guiar outro cego, amboscairão na cova.

E Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: Explica-nos essa parábola.

Jesus, porém, disse: Até vós mesmos estais ainda sem entender?

Ainda não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre, eé lançado fora?

Mas o que sai da boca procede do coração, e isso contamina o homem.

Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios,prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.

São estas coisas que contaminam o homem; mas comer sem lavar as mãos,isso não contamina o homem.

Marcos, 7:71-23

Depois, quando deixou a multidão, e entrou em casa, os seus discípulos ointerrogavam acerca desta parábola.

E ele disse-lhes: Assim também vós estais sem entendimento? Nãocompreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar,

Porque não entra no seu coração, mas no ventre, e é lançado fora, ficandopuras todas as comidas?

E dizia: O que sai do homem isso contamina o homem.

Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, osadultérios, as prostituições, os homicídios,

Os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a

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blasfémia, a soberba, a loucura.

Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.

Lucas, 7:71-23

E dizia-lhes uma parábola: Pode porventura o cego guiar o cego? Não cairãoambos na cova?

Marcos completa Mateus, dando o pormenor de que Jesus se afastou da multidãoe entrou em casa. E aí, no aconchego dos íntimos, os discípulos aproximam-se paraconversar.

O primeiro assunto é salientado só por Mateus. Revela-nos a sofreguidão com queos discípulos vão ao Mestre, contando que "os fariseus se escandalizaram com oensino dado".

Apesar de haver-lhes voltado às costas para dirigir-se à multidão, os escribas deJerusalém e os fariseus ficaram alertas para ouvir o que dizia o rabbi.

E o que Ele disse causou-lhes arrepios de espanto: nada menos do que umaab-rogação total não apenas dos preceitos, mas da mesma lei mosaica, anulandotodo o extenso e complicado capítulo dos alimentos impuros! Ora, isto lhesserviria às maravilhas, para reforçar a acusação contra aquele jovem de trinta e trêsanos, que pretendia sobrepor-se aos "mais velhos", às autoridades, e até a lei deMoisés... E isso sem ser nem mesmo rabino diplomado nas escolas oficiais! Quem eraele para agir assim? Perguntavam-se os emissários do Sinédrio.

Jesus, porém, afasta qualquer temor dos discípulos com uma sentença: "todaplanta não plantada por meu Pai será erradicada". Alguns exegetas veem nessasentença uma referência direta àqueles fariseus e escribas. Acreditamos mais lógicoaplicá-la aos ensinos deles, às exigências humanas. Sendo "preceitos de homens"(isto é, do intelecto personalístico), tendem a desaparecer, sendo erradicadas dahumanidade, porque não foram "plantadas pelo Pai" no coração os homens(individualidade), como o são as leis naturais, que jamais desaparecerão da face da

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Terra.

Aos fariseus e escribas, pessoalmente, refere-se à segunda sentença: "deixai-os, pois são cegos (que nada conhecem porque não enxergam) a guiar outroscegos". Que sucederá? "Cairão no barranco", isto sim, acerta em cheio nas criaturaspretensiosas que, em sua ignorância enfatuada, se julgam donas da verdade,ensinando, julgando e condenando, segundo bem lhes parece.

Depois desta resposta, em que o Mestre reduz às suas proporções reais ospreceitos humanos rigoristas e as autoridades que os exigem de seus fiéis, adianta-sePedro para pedir que Jesus lhes explique o sentido "da parábola" que havia proferido,escandalizando os emissários de Jerusalém. Na verdade, trata-se de uma sentençaenigmática, e não de uma parábola.

Inicialmente, Jesus sublinha sua estranheza por ver que seus discípulos maischegados, após cerca de um ano de íntima convivência com Ele, ainda nãoalcançaram o hábito de entender suas palavras. Emprega o termo asúnetos, quesignifica "sem conhecimento interior", sem "inteligência (súnesis) para compreender, jáque o sentido literal e etimológico desse vocábulo exprime a junção (sun-esis) de duascoisas em uma só, isto é, da coisa apresentada com a inteligência.

Depois lhes explica que tudo o que de fora entra no homem (qualquer espécie dealimentação) desce ao ventre e, depois de digerido, são os excrementos lançados aovaso sanitário. Logo, moralmente não podem contaminar-lhes o espírito, pois sótransitam pela matéria, pelo corpo físico.

A frase "purificando os alimentos todos" precisa, em nossa língua, de umesclarecimento, o que fizemos acrescentando em grifo: "disse isto". A razão é que, emgrego, não há ambiguidade, já que o particípio presente katharízôn se encontra nonominativo singular masculino, só podendo referir-se, portanto, ao sujeito da oração"ele, Jesus"; de forma alguma poderia referir-se, nem lógica nem gramaticalmente, aoaphedrôna (vaso sanitário), que é acusativo singular neutro. Se não acrescentássemoso esclarecimento, na tradução portuguesa, o leitor teria a impressão de que o vasosanitário é que purificaria todos os alimentos.

E continua, dizendo que "o que sai do homem é que pode contaminá-lo", poisprovém exatamente do CORAÇÃO, isto é, da Mente, do Espírito (individualidade) quetem sede no coração (enquanto o "espírito", personalidade ou personagem, tem sedeno intelecto, no cérebro). Mais uma vez Jesus afirma essa verdade incontestável; e nãopodemos dizer que Ele ignorava a verdade real, sob pena de anularmos, sob essapecha, todos os sublimes ensinamentos que nos revelou. Nem é admissível se digaque pactuava com a ignorância da época. Podia utilizar imagens e palavras quefacilitassem a compreensão dos homens de então, mas afirmar uma mentira, umairrealidade, uma falsidade, só para conformar-se com a ignorância, não é coisa que umMestre admita em seus ensinamentos.

Vícios de provém do coração:

A seguir são dados exemplos, enumerando alguns vícios que provêm do coração.

Em Mateus são classificados:

a) pensamentos: raciocínios maldosos (dialogísmoi ponêroí)

b) ações: homicídios (phônoi), adultérios (moicheía); prostituições (porneíai) efurtos (klópai)

c) palavras: falsos testemunhos (pseudomarturíai) calúnias (blasphêmíai).

Em Marcos verificamos que a divisão é diferente. Inicialmente são citados:

a) seis vícios no plural, referindo-se a pensamentos ou atos sucessivos,classificados como: "raciocínios maus" (dialogísmoi kakoí); são eles:

As prostituições (porneíai),

Os furtos (klópai),

Os homicídios (phónoi),

Os adultérios (moicheíai),

As cobiças (pleonecsíai)

E as malícias (ponêríai)

b) seis no singular, manifestando mais exatamente seis tendências viciosasinatas, do caráter da criatura; são elas:

O engano (dólos),

A insolência (grosseria, asélgeia),

O olho mau (inveja, ophthalmósponêrós),

A calúnia (blasphêmía),

O orgulho desdenhador (huperêphanía)

E a loucura (aphrosúnê).

Digno de notar-se: a palavra blasfêmia significa propriamente "palavras de mauagouro, proferidas durante o sacrifício", ou "injúrias contra Deus" (cfr. nos Evangelhos:Mat. 12:31 e 26:65; Marc. 3:28 e 14:64; Luc. 5:21 e João 10:33) assim também o verbo"blasfemar". (Mat. 9:3, 23:65 e 27:39; Marc. 2:7, 3:28-29 e 15:29; Luc. 12:10, 22:65 e23:39; João 10:36 e Atos 13:45, 18:6 e 19:37).

Somente neste local, em Mateus e Marcos, apresentam mais logicamente osentido de "calúnias".

Neste trecho encontramos duas respostas do Mestre.

A primeira refere-se ao "escândalo farisaico", que o Cristo manda não levar emconsideração, por duas razões:

1) Toda doutrina (planta) não inspirada (plantada) pelo Pai (Mente), mas apenasfruto dos intelectos personalísticos, será cortada pela raiz e totalmente destruída.Constantes exemplos disso encontramos na História, ao verificar as numerosas seitase religiões que nascem, vivem certo período (que pode ser de um, vinte ou cinquentaséculos) e depois desaparecem, mortas pela falta de raízes espirituais. Todas as"doutrinas" que vêm de Deus (cfr. João, 5:44) permanecem: são plantas cujas

sementes foram lançadas pelo Pai e germinam, crescem, florescem e frutificam nocoração dos homens por toda a eternidade.

“Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honraque vem só de Deus?” Jo 5:44

2) E também porque os homens, que criaram ou dirigem essas organizaçõeshumanas são, de fato, cegos espirituais, que não penetram a verdadeira luz e nadaveem, a não ser a matéria e as coisas espirituais (cfr. Mat.16:23 e Marc. 8:32). Ora,todos esses, mesmo se conduzirem milhões de criaturas, mesmo que tenham boa-fé econvicção absoluta, "caem no barranco" com os seus guiados, ou seja, voltam areencarnar.

A diferença entre o ensino do Cristo e o dos homens é que o Mestre não fala emcondenação ao inferno, sem possibilidade de libertação posterior: de um "barranco", acriatura poderá sair, ainda que machucada ...

Vem agora a explicação da sentença enigmática: "não é o que vem de fora e entrano homem que o contamina".

O esclarecimento é dado de forma clara: nada do que vem de fora entra nocoração, onde reside o Eu profundo. Não podia ser mais explícito, mais claro. E essa é,realmente, nossa interpretação.

O que vem de fora, - esclarece o Mestre, vai ao ventre e é lançado no vasosanitário. Isto, literalmente, referindo-se aos alimentos físicos. Mas a lição é extensivaao sentido moral: todas as vibrações que vêm de fora são expelidas pelas vias normais,não passando dos veículos físicos da personagem. Mas não chegam ao coração.

Entretanto, o que sai do coração, isso contamina o homem. Todo pensamentocriado pelo espírito, antes de atingir o alvo atravessa a aura de quem pensa e nelaimprime suas vibrações. Logo, sendo coisa de baixa frequência vibratória, abaixa asvibrações da aura, prejudicando a criatura seriamente.

Portanto, as coisas ruins que saem do coração, o contaminam.

A citação dos exemplos é uma enumeração lógica de erros, que podem ser tantoos erros cometidos em ações (atos materiais), como em palavras (criações de

vibrações sonoras), como em pensamentos (criações mentais).

A enumeração de Mateus apresenta essas três divisões, mas a de Marcos, emborasem uma ordem lógica, é mais completa.

Os pensamentos ("raciocínios maldosos ou maliciosos") cheguem a serexecutados em atos físicos ou palavras, ou permaneçam simplesmente comopensamentos, referem-se a:

1 - adultérios ou desejo sexual (com ato material realizado ou não), em relação auma pessoa comprometida com outra;

2 - prostituições ou desejos e atos sexuais que não estejam fundamentados noamor, mas apenas no interesse, sejam ou não oficializados em atos civis ou cerimôniasreligiosas;

3 - homicídios em pensamentos, desejos ou atos, que prejudiquem a vida física,seja de outra criatura, seja da própria pessoa;

4 - furtos, de qualquer espécie: físicos ou intelectuais (de idéias de outrem,fazendo-as passar por suas);

5 - cobiças sejam elas de bens materiais, de posições sociais, de famaimerecida, quando a criatura não apresenta capacidade para conquistá-la;

6 - maldades ou malícias, seja pensando mal, seja falando mal dos outros (ou desi mesmo), prejudicando-os com atos e palavras malevolentes.

Na segunda lista, são enumerados os caracteres das pessoas que, aindainvoluídas, apresentam como base da personalidade (tônica vibratória) os seguintestipos:

1 - astúcia, típica dos que pretendem viver maquiavelicamente, enganando a todospara auferir vantagens materiais, morais, intelectuais e até espirituais, contando"enganar a Deus";

2 - insolência ou grosseria, típica dos que não conseguiram refinar-se com aeducação e o domínio das próprias emoções, e se exaltam, explodindo em mausmodos contra outrem;

3 - olho mau ou inveja, típica daqueles que sempre olham com rancor, despeito eraiva para todos os que tenham mais que eles mesmos, seja em bens materiais, emcultura, em bondade ou bens morais e espirituais;

4 - calúnia, típica daqueles que passam suas horas a falar mal dos outros,aumentando os defeitos verdadeiros ou inventando mentiras, e espalhando aos quatroventos os defeitos alheios;

5 - orgulho desdenhoso, típico dos que, montados em posições de falazautoridade (que não estão à altura de desempenhar) pisoteiam os pequenos e osdesprezam, não perdendo vasa de achincalhá-los, sobretudo diante de terceiros;

6 - demência ou loucura, típica dos que perderam o equilíbrio de julgamento, eportanto se tornaram fanáticos, na religião, na política, nos esportes, no amor, isto é,exagerados em tudo, sem ponderação nem raciocínio, apaixonados sem medida,dominados totalmente pelas emoções violentas.

Conforme vemos, todos os vícios enumerados são faltas contra o Amor, e, portantoretardam terrivelmente a evolução espiritual da criatura, já que a levam para oAntissistema ou polo negativo.

Ora, tudo isso - resume o Mestre, numa figura retórica chamada inclúsio - procededo íntimo do "espírito", e, portanto contamina o homem.

Perfeita e esclarecedora, como vemos, a lição dada para a individualidade,demonstrando o caminho a seguir e os obstáculos a vencer, na estrada do progressoespiritual. Pastorino

CURA DA FILHA DE UMA CANANÉIA Mat. 15:21-28 MC 7:24-30

21. Partindo dali, Jesus retirou-se para os lados de Tiro e de Sidon.

22. E uma mulher cananéia, que tinha vindo daquelas regiões, gritava-lhe:"Compadece-te de mim, senhor Filho de David! Minha filha está terrivelmenteobsidiada"!

23. Mas ele não respondeu palavra. E chegando seus discípulos, rogaram-lhedizendo: "Despede-a, porque vem gritando atrás de nós".

24. Mas Jesus, respondendo, disse: "Não fui enviado senão às ovelhas perdidasda casa de Israel".

25. Contudo, aproximando-se prostrou-se diante dele, dizendo: “Senhor corre-me"!

26. Ele respondeu, dizendo: "Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aoscachorrinhos".

27. Ela, porém, disse: "Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem as migalhasque caem da mesa de seus donos".

28. Então, respondendo, disse-lhe Jesus: "ó mulher, é grande tua confiança! Faça-se contigo como queres". E desde àquela hora, sua filha ficou curada.

Marcos, 7:24-30

24. Levantando-se, saiu dali para as fronteiras de Tiro e de Sidon. E entrando nacasa, quis que ninguém o soubesse, e não pode ocultar-se.

25. Ouvindo, pois, (falar) a respeito dele, uma mulher cuja filhinha era obsidiadapor um espírito atrasado, veio e prostrou-se a seus pés;

26. mas a mulher era grega, nativa da Sirofenícia; e rogava-lhe que expulsasse desua filha o espírito.

27. Mas Jesus lhe disse: "Deixa primeiro que se fartem os filhos; porque não é bomtomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos".

28. Ela, porém, respondeu e disse-lhe: "Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos,debaixo da mesa comem as migalhas das crianças".

29. Então ele lhe disse: "Por esta palavra, vai-te: o espírito já saiu de tua filha"

30. E tendo entrado em sua casa, ela achou a menina deitada na cama, tendo(dela) saído o espírito.

Neste episódio, observamos que Jesus se dirige para noroeste, penetrando oterritório da Fenícia, país não israelita, na região de Tiro e Sidon. Mateus emprega otermo mere (uma parte) e Marcos usa horia, fronteira de um estado, município oudistrito.

A fama de Jesus já atingira essa região, tanto que se diz (cfr. Marc. 3:8) queperegrinos dessas duas cidades O foram ouvir à margem do lago.

A ida de Jesus não se prende à pregação da Boa-Nova, tanto que seu desejo erapermanecer incógnito na casa de algum amigo, para conversar com seus discípulos naintimidade, longe do apelo das multidões. Parece tê-lo conseguido, pois só émencionado esse fato da mãe aflita que obtém a cura da filha.

Essa mulher é dita "cananéia" por Mateus, tendo em vista que nesse território foiestabelecida a primeira colônia de cananeus (cfr. Gên. 10:15).

· E Canaã gerou a Sídon, seu primogénito, e a Hete. Gênesis 10:15

· Sidom: Cidade situada numa ilha entre Beirute e Tiro, na Fenícia, atual Líbano.Era um centro de fabricação de objetos de vidro, e o seu povo era dado à idolatria (Jz10.6; 1Rs 11.5; Is 23.2-4; Ez 28.20-23). Jesus mencionou Sidom (Mt 11.21) e tevecontato com os sidônios (Mc 3.8; Lc 6.17).

· Hete: [Terrível] Filho de CANAÃ, antepassado dos HETEUS (Gn 10.15).

Marcos qualifica-a tecnicamente de siro-fenícia, ou seja, fenícia da Síria(distinguindo-a dos fenícios da Líbia). Realmente, desde a conquista de Pompeu, aantiga Fenícia fora englobada na província romana da Síria. Marcos, que escreviapara os romanos, entra em maiores minúcias étnicas e geográficas, coisa supérfluapara Mateus que, escrevendo para os israelitas, se satisfaz denominando-a"cananéia". Não obstante, como poderia tratar-se de uma israelita, emboranascida em país "pagão", o segundo evangelista especifica que ela era hellenís,isto é, "de fala grega".

Com esse termo, a essa época, distinguiam-se os não israelitas, já que, para osisraelitas, o mundo se dividia em duas partes: judeus e não judeus (pagãos ou gentios).

Temos, portanto, o caso de uma criatura de religião diferente da que Jesusprofessava oficialmente (tal como o centurião romano). Nem por isso o Mestre aconvida, sequer, a filiar-se ao judaísmo: para Ele, todos são filhos do mesmo Pai.

Mateus reproduz o primeiro apelo. Inicia a mulher suplicando compaixão para ela,já que a filha talvez fosse inconsciente do que com ela se passava: a mãe é quemais sofria com o caso. Compreende-se o título de "Senhor", mas é estranhável oepíteto de "Filho de David", na boca de uma pagã, mesmo que Sua fama tivesse jáatravessado as fronteiras com esse apelativo.

Logo após é citado o motivo do pedido de socorro: achava-se sua filha (não érevelada a idade, embora Marcos use o diminutivo: thygátrion, "filhinha"), sofrendo deforte obsessão (talvez mesmo possessão total) e ela suplica ao rabbi que a cure. Àsemelhança do centurião (cfr. Mat. 8:5-13, Luc. 7:1-10), ela solicita uma cura adistância, revelando um adiantamento evolutivo bem grande, que virá a sercomprovado pela continuação, com suas palavras de humildade sincera.

Agostinho faz a mesma observação, concluindo: "as duas curas milagrosas que

Jesus realizou, nessa menina e no servo do centurião, sem entrar em suas casas, sãoa figura de que as nações (os gentios) seriam salvos por força de sua palavra, semserem honrados, como os judeus, com sua visita".

Jesus, que lá fora para descansar, apresenta um comportamento estranho, sóexplicável pelo desejo que tinha de demonstrar aos circunstantes, e deixar exemplo aosporvindouros, de como deve alguém comportar-se diante do não atendimento de umpedido (de uma prece).

Então, nada responde: continua impertérrito a caminhada, não tendo a mínimaconsideração ou, como diz o povo, "não dando confiança". (Vide interpretação HaroldoDutra Dias, quando Jesus pretende ensinar os discípulos a lição de humildade...).

A primeira reação da pedinte é insistir na solicitação (cfr. Luc. 11:5-8), sem julgar-se diminuída nem ofendida com o silêncio, que parece depreciativo.

Aí ocorre a intervenção dos discípulos, que sugerem ao Mestre mandá-laembora, atendida ou não; e isso, não por amor a ela, mas para não seremincomodados. O princípio da "intercessão" está bem claramente estabelecido, aquicomo em outros passos, embora apresente sempre esse ar de enfado, e o pedidointercessório seja sempre para mandar embora o importuno, ou de fazê-lo calar-se...Observe-se, de fato, o pormenor de jamais encontrarmos nos Evangelhos qualquerdiscípulo solicitando ao Mestre a realização de um fato extraordinário em benefício dequem quer que fosse (nem deles mesmos).

Ao contrário, quando qualquer ocasião se apresentava de situação difícil, ou elessugeriam uma solução normal, ou declaravam não ser possível resolvê-la, deixando oMestre isento de compromisso.

Jesus continuava ignorando a pedinte, e responde-lhe apenas indiretamente,falando a seus discípulos, como se ela ali não estivesse: "fui enviado somente paraas ovelhas perdidas da casa de Israel".

Resistindo ao silêncio, superando a primeira negativa com humildade, ela insiste:"socorre-me, Senhor"!

A confiança permanecia vívida, firme, sólida e inabalável. É então que Jesus,levando até o fim a experiência, desfere o terceiro golpe, forte bastante para

descoroçoar qualquer esperança, bastante fundo para arrasar os últimos resquícios doorgulho: "Não é bom tomar o pão dos filhos, para dá-lo aos cachorrinhos”...

Vencendo a terceira negativa, numa demonstração de humildade sem hipocrisia,revelando de todo sua evolução, a estrangeira retruca com belíssima imagem,brilhante e literária, talvez com leve e alegre sorriso de esperança a bailar-lhe noslábios: "mas os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as criançasdeixam cair”...

Impossível resistir-lhe mais! A humildade sincera vencera segundo o princípioenunciado 600 anos antes pelo "Velho Mestre" (Lao Tse) no Tao Te King: "A doçuratriunfa da dureza, a fraqueza triunfa da força" (n.º 36).

Realmente, a Força é vencida pela fraqueza, cede o Poder diante da impotência,curva-se o Super-Homem diante da fragilidade feminina: a mãe é atendida,beneficiando-se a filha da amplitude ilimitada do amor materno.

Cachorrinhos

Resta-nos, apenas, analisar o epíteto de "cachorrinhos" (kynária) aplicado porJesus à mãe cananéia.

Deduzimos de todo o andamento é do diminutivo "cachorrinhos", é que a frase foidita com benevolente sorriso, como que a desculpar-se, mas desejando ser vencido,como o foi, para atendê-la. Além disso, não é uma depreciação, como se a comparassea um "vira-lata" da rua. Antes, estabelece paralelo com os cachorrinhoscarinhosamente tratados dentro de casa, ao lado dos filhos ("das criancinhas", comodiz ela) e que comem da mesma comida dos filhos, apenas um pouco mais tarde. Daí abeleza da resposta: "mas antes da ração maior que lhes cabe, os cachorrinhosaproveitam as migalhas que caem da mesa dos filhos".

Tudo estava contra essa mulher: Primeiro, sua religião e sua raça, depois aatitude pouco animadora dos apóstolos, o silêncio e afinal a recusa de Jesus.“Não obstante, pode dizer-se, ela esperou contra toda a esperança, e Sua precefoi ouvida".

Canaã exprime "negócio, comércio" ou, segundo Philon de Alexandria (“OsSacrifícios de Abel e de Caim", n.º 90), "terra de agitação".

Tiro e Sidon significam respectivamente "força" e “caçada".

Síria e Fenícia têm o sentido de "elevado" e de “púrpura".

Tiro e de Sidon. Na realidade essas duas cidades ficavam bem distantes uma daoutra (cerca de quarenta quilômetros). A união das duas, quando entre elas haviaainda, a meio caminho, a cidade de Sarepta, não deixa de ser estranha.

Sarepta

É o nome de uma antiga cidade costeira, fora dos limites de Israel pertencente àSidônia, na costa mediterrânea do Líbano. Atualmente o sítio de Sarepta localiza-se nodistrito libanês de Sarafand. No relato bíblico, Deus enviou o profeta Elias para a casade uma viúva desta cidade, onde ele hospedou-se, descansou, fez o milagre da botija(multiplicando a farinha e o azeite da viúva) e ressuscitou lhe o filho, dos mortos.

1 Reis 17:8-24

Pela humildade verdadeira e sincera, o homem sintoniza perfeitamente com aDivindade, e a criatura identifica-se ao Criador, o Filho une-se ao Pai, o ser unifica-se àessência da Vida.

O Cristo manifesta-se, então, plenamente ao coração desse ser humilde:preparado, inteligente, ardoroso, cheio de fé e de amor; e nesse mesmo momento daunificação, "a filha é curada em sua casa", isto é, as emoções são controladas dentrode seu corpo físico.

Em todos os passos evangélicos o ensino é o mesmo: claro e cristalino límpido esem discrepâncias.

Não é possível ocultar-se a verdade que transparece tão nítida, através de umsimbolismo maravilhoso e diáfano.

CURA JUNTO AO LAGO (NO MAR DA GALILÉIA) Mateus 15:29-21

29. Tendo deixado esses lugares, Jesus voltou para as margens do Mar daGalileia, e, subindo ao monte, sentou-se aí.

30. E veio a ele grande multidão, trazendo consigo coxos, estropiados das mãos,cegos e surdos, e deitaram-nos aos pés de Jesus e ele os curou,

31. de modo que a multidão se maravilhou ao ver mudos a falar, estropiadoscurados, coxos a andar e cegos a ver, e glorificou o Deus de Israel.

A primeira metade do vers. 29 já nos foi mais minuciosamente relatada por Marcos(capítulo anterior - O surdo gago).

Sobe "à montanha". Qual? Não nos é dito, mas apenas determinado o local peloartigo. O fato é que mais uma vez a multidão se reúne a Seus pés.

As curas efetuadas, ao que parecem, todas instantâneas, compreendem quatrotipos de enfermidades:

"coxo"; "aleijado das mãos"; "cego"; e, "surdos" ou "mudos".

O sentido preciso de kôphós é "embotado", "silencioso", podendo expressar tanto o"surdo", quanto "mudo" talvez, até, possa exprimir "surdo-mudo", que qualifica dekôphós um dos filhos de Creso, especificando que "não falava", e também que "nãoouvia".

(Interessante à história desse rei que foi visitado por Sólon e, queria saber do sábiose ele era rico, através de suas insinuações pelos tesouros de seus palácio e Sólon citaexemplos e um desses e de dois jovens que cuidaram de seus pais na velhice e apóssua morte, foram defender Atenas. Quando a Lídia foi atacada por Ciro o rei Cresolembrou-se de Sólon e o conquistador ao ouvir a palavra na boca do conquistado,interrogou o motivo, pois era apaixonado pelo sábio. Teve misericórdia do reinovencido. Quando o ataque estava acontecendo a cidade, e um soldado movido comuma lança ia atingir o rei pelas costas, seu filho surdo-mudo, que estava por traz deuma cortina disse: Não o mate, ele é o rei!. Vide palestra de Divaldo Franco.Acrescentei)

Essas curas causavam profunda admiração no povo e a notícia se espalhavacélere por todas as localidades vizinhas. Observam alguns comentaristas que essasenfermidades não são de reincidência (como seriam febres, resfriados, etc.), mascrônicas; e que, uma vez curadas, não voltavam. E perguntam como poderia havertantos desses enfermos numa população relativamente escassa, para justificar todosos passos dos evangelistas. Em vista do simbolismo de que se reveste todo o textoevangélico, não vemos dificuldades em aceitar as anotações que até nós chegaram.

A frase final "e glorificaram o Deus de Israel" é bem característica do povo que,tendo seus "deuses" (santos ou espíritos protetores), não deixam de reconhecer que osanto ou protetor (Deus) do povo de Israel (ou seja, o especial amigo do taumaturgo) édigno de louvores, pelo extraordinário poder que revela quando se manifesta.

Todas as vezes que a Individualidade chega às margens do Mar da Galileia (aságuas tranquilas do "Jardim Fechado"), tem ocasião de "subir ao monte", isto é, deelevar suas vibrações (que importa o "nome" do monte?) e lá, aproveitando ambienteharmônico, vai curando as mazelas de seus veículos inferiores. E que isso ocorre defato, nós o verificamos porque hoje até a medicina profana já descobriu o valor datalassoterapia. (Trata-se de tratamento pela água do Mar e elementos marinhos).

A Individualidade identifica os veículos que custam a caminhar (coxos) nãoconseguindo acompanha: o ritmo das aspirações do Espírito, aqueles que agemdesajeitadamente (estropiados das mãos), fazendo o que não devem, ou omitindo oque deveriam fazer; aqueles que não vislumbraram ainda a estrada da realidade(cegos) e também os que não respondem (mudos) aos apelos da Voz Profunda daConsciência, porque não chegam sequer a ouvi-la (surdos). Já se fixaram, então, nomaterialismo, que os tomou "embotados" em relação ao Espírito.

A Individualidade, nesses casos, exerce ação terapêutica, despertando os veículose curando-os de suas fraquezas e enfermidades, a fim de prepará-los para que ajudema evolução do Espírito, que já perlustra consciente a jornada evolutiva do mundo real.

SEGUNDA MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES. Mat. 15:32-39 Mc 8:1-10

Jesus chamou seus discípulos, e disse: "Tenho compaixão dessa multidão,porque já faz três dias que está comigo, e não tem nada para comer. Não queromandá-los embora sem comer, para que não desmaiem pelo caminho."

Os discípulos disseram: "Onde vamos buscar, nesse deserto, tantos pães paramatar a fome de tão grande multidão?"

Jesus perguntou: "Quantos pães vocês têm?" Eles responderam: "Sete, e algunspeixinhos."

Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão.

Depois pegou os sete pães e os peixes, agradeceu, partiu-os, e ia dando aosdiscípulos, e os discípulos para as multidões.

Todos comeram, e ficaram satisfeitos. E encheram sete cestos com os pedaçosque sobraram.

Os que tinham comido eram quatro mil homens, sem contar mulheres ecrianças.

Tendo despedido as multidões, Jesus subiu na barca, e foi para o território deMagadã.

Marcos 8:1-9

17. Naqueles dias, sendo muito grande a multidão e não tendo nada que comer,Jesus chamou os discípulos e disse-lhes:

18. Tenho compaixão deste povo, porque já há três dias permanece comigo e nãotem nada que comer;

19. e se eu os mandar para suas casas famintos, desfalecerão no caminho, poisalguns há que vieram de grande distância".

20. E responderam-lhe seus discípulos: "Como poderá alguém satisfazê-los de pãoaqui no deserto"?

21. E perguntou-lhes: Quantos pães tendes? Responderam eles: "Sete".

22. E ordenou ao povo que se reclinasse no chão; e tomando os sete pães, dandograças, partiu-os e entregou a seus discípulos para que os distribuíssem; e eles osdistribuíram à multidão.

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23. Tinham também alguns peixinhos; e abençoando-os disse: "Distribuí tambémestes".

24. Todos comeram e se saciaram e apanharam dos fragmentos sobrados setecestas.

25. Eram os que comeram quatro mil homens. E os despediu.

Alguns críticos pretendem que esta seja simples repetição da primeiramultiplicação dos pães. No entanto, não apenas Mateus (16:9-10) como Marcos (8:19-20) colocam na boca de Jesus a citação expressa das duas multiplicações como doisfatos distintos.

Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens,e de quantas alcofas levantastes? Nem dos sete pães para quatro mil, e de quantoscestos levantastes? Mateus 16:9-10

Se alguns pormenores se repetem, pela semelhança das situações, outros diferemfrontalmente.

Lá os discípulos têm a iniciativa, dando como causa o avançado da hora; aqui éJesus que lhes chama a atenção para o fato de que a multidão O acompanhava haviatrês dias, não obstante não ter o que comer.

Análise entre a primeira e segunda multiplicação

Na primeira havia cinco pães e dois peixinhos, neste há sete pães e "alguns"peixinhos; na outra eram cinco mil pessoas, nesta são quatro mil; a anteriorrealizou-se no território de Filipe, tendo vindo à multidão de Cafarnaum e arredores;a última ocorreu na Decápole, com o povo do local; lá foram recolhidos doze cestos(kophínos), aqui sete cestas (spurídas), ou seja, recipiente de maior capacidade,segundo atesta João Crisóstomo (Patrol Graeca, vol. 58, col. 527), sendo mesmocitada em Atos (9:25) como tendo servido a Paulo para descer dos muros de Damasco;na primeira o povo recosta-se na relva", denotando a primavera, mas na segundaacomoda-se "por terra", sinal de que estamos no verão, com o solo ressequido.

A pergunta dos discípulos revela a impossibilidade material de encontrar alimento:póthen tanto pode ser "onde", quanto "como" (lugar ou modo), mas qualquer dos doisexprime falta total de meios para consecução do objetivo desejado. Essa pergunta écitada como falta de confiança naqueles que, pouco antes, haviam presenciadosituação semelhante com solução prodigiosa, dada pelo Mestre. Por que não suporgesto semelhante e inculcar-lhes? Serve-nos de lição observar que jamais osdiscípulos sugeriram meios insólitos para auferir vantagens: não requisitaramatravessar o lago a pé, mesmo depois de testemunharem essa possibilidade por partede Jesus e de Pedro; não pediram outras "pescarias inesperadas" para facilitar-lhes otrabalho e poupar-lhes as energias; não esperam aqui outra multiplicação de pães; epor vezes até procuram afastar os pedintes, queixando-se da amolação que trazem aogrupo, sem nunca supor que serão atendidos por vias extraordinárias.

Limita-se o Mestre a ordenar, como na vez anterior, que o povo se senteorganizadamente e, dando graças (aqui Mateus e Marcos usam o verbo eucharistêsas- empregado por João na primeira cena – ao invés de eulógêsen que haviam escrito),partiu os pães e fê-los distribuir juntamente com os peixinhos.

Os evangelistas anotam terem sido quatro mil os convivas, esclarecendo Mateus"sem contar mulheres e crianças". Esse número também comprova a duplicidade deações; fora criação ou acréscimo, o natural seria vermos a proporção aumentada: 5pães para 5.000 pessoas - 7 pães para 7.000 pessoas. O contrário é que se verifica:aumenta o número de pães e decresce o de convivas.

Tendo-se realizado o prodígio entre não judeus, observamos que não houvenenhum movimento para colocar uma coroa real na cabeça do taumaturgo.

Mateus e Marcos, que não registraram a aula consequente à primeira multiplicaçãodos pães - só narrada por João, cap. 16 - apresentam, sob forma de novo simbolismo,o avanço necessário. Observamos, então, que os números variam: sete, em lugar decinco.

SETE, nos arcanos, significa vitória, exprimindo a "afirmação da Divindade, doEspírito, sobre a matéria; da lei do Ternário sobre o Quaternário a lei do domínio sobre

o mundo das causalidades. No plano humano é o caminho bem escolhido, ou seja, otriunfo sobre as provações. No plano físico é o êxito realizador, a vitória sobre osobstáculos criados pela inércia da matéria".

É nesse arcano SETE que está construído o planeta Terra e tudo o que nelehabita, porque é neste planeta Terra que a humanidade terá que conquistar a vitóriafinal do Espírito sobre a matéria; aqui vencerá a Divindade. Daí ser esse númeroconsiderado cabalístico desde a mais remota antiguidade, com forte vibração epotencialidade insuperável.

Na primeira lição, tivemos CINCO pães para CINCO mil pessoas: é a Vontadeou Providência divina a governar o mundo, sustentando-o e alimentando-o; nestasegunda aparecem SETE pães para QUATRO mil pessoas, ou seja, é a vitória doEspírito (tríade superior) sobre a matéria (quaternário inferior). Na outra, os discípulos(Espírito) pedem ao Mestre a alimentação; nesta, a iniciativa de dar parte do Mestre, daIndividualidade: é que a primeira exprime o primeiro movimento do livre-arbítrio do eupequeno (personalidade ou personagem) que busca a espiritualização; nesta aparece àresposta espontânea em que o Espírito atende à solicitação anterior.

Outro ponto a considerar é que na primeira são recolhidos DOZE cestos: materialque seria distribuído através dos DOZE emissários às multidões famintas (profanos);mas na segunda o sobejo é recolhido em SETE cestas; não é mais para distribuição domaterial aos profanos: é o lucro obtido com a vitória do Espírito sobre a matéria. Daí aminúcia da modificação da palavra empregada, de kophínos para spurídas, isto é, decestos para cestas, de um recipiente menor (menos valia) para um maior (mais valia).

Sob o ponto de vista espiritual, a lição é evidente e fácil: aqueles que aspiram aoSupremo Encontro têm que passar pela via - purgativa (a fome ou jejum de três dias);depois pela via contemplativa (prece ou meditação, sentados na terra nua.); efinalmente pela via unitiva (a assimilação do alimento espiritual), obtendo-se, por fim, ofruto dessa união (as sete cestas). Em poucas linhas simbólicas, os evangelistasMateus e Marcos resumiram a lição dada, por extenso, pelo evangelista João.

SINAL DO CÉU Mat. 16:1-4 Mc 8:1-13 Lc 12:54-56

Os fariseus e saduceus se aproximaram de Jesus e, para tentá-lo, pediram quemostrasse para eles um sinal do céu.

Jesus, porém, respondeu: "Ao pôr-do-sol vocês dizem: 'Vai fazer bom tempo, porqueo céu está vermelho'.

E de manhã: 'Hoje vai chover, porque o céu está vermelho-escuro'. Olhando océu, vocês sabem prever o tempo, mas não são capazes de interpretar os sinais dostempos.

Uma geração má e adúltera busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, anão ser o sinal de Jonas." Então Jesus os deixou, e foi embora.

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Marcos 8:10

26. E entrando imediatamente na barca com seus discípulos, dirigiu-se para oterritório de Dalmanuta.

· Magdala: Povoado situado na margem ocidental do lago da Galiléia (Mt 15.39,RC). É também chamado de Dalmanuta (Mc 8.10).

Obs.: Hoje Magdã e Dalmanuta, é a mesma Magdala. Deixei o texto abaixo,somente para fonte de conhecimento.

Após despedir o povo, na margem oriental (Decápole), Jesus toma o barco edirige-se a Magadan (Mateus) ou Dalmanuta (Marcos).

Temos duas questões a resolver: qual o nome da localidade e onde estava situada.

Trazem Magadan (Magedan) os códices aleph, E, D, aversão siríaca sinaítica,Taciano e Eusébio, além de outros minúsculos.

Apresentam Magdala, o Theta e muitos cursivos ( 1, 13, 69, 118, 209,230,271,274,347 e 604).

Dalmanuta está em Marcos apenas, em todos os unciais (exceto D), algunsmanuscritos da Vetus Latina, a Vulgata, as versões coptas e armênias. No entanto,segundo a opinião de R. Harris (Codex Bezae, pág. 178), de Nestle (Philologia Sacra,pág. 17) de Lagrange ("Évangile selon S. Marc", pág. 205), a palavra Dalmanuta seriauma reunião de três palavras aramaicas, (D)almanuta, que seria a expressão grega eistà mérê (para a costa); essa expressão teria sido introduzida no texto como substituiçãoa Magadan, de localização desconhecida.

Magadan, realmente, não aparece em outros textos. Mas os códices que seguemOrígenes (que não tinha dúvidas em corrigir) apresentam Magdala, com apoio de SãoJerônimo. Ora Mag(e)dan apresenta-se como fácil corruptela de Magdala, a conhecidael-Medjdel, a 4,5 km do Tiberiades, à entrada da planície de Genesar.

A localização na margem oriental, atestada por Eusébio, (Onom. 134, 18),Knabenbauer (In Marcum, pág. 208) e outros, não é aceitável. Jesus operara namargem oriental (Decápole) e, se toma o barco, é lógico se dirija à margem ocidental.Tanto que logo após discute com os fariseus, que jamais iriam à margem oriental entrepagãos; e a seguir (Mat. 16:5 e Marc. 8:13) vai "para a outra margem", a oriental, naregião de Cesaréia de Filipe, perto das fontes do Jordão. E qualquer dúvidadesaparece quando Marcos (8:22) diz que desembarcam em Bertsaida-Júlias,dirigindo-se para Cesaréia de Filipe .

Portanto, Magadan deve situar-se, mesmo, na margem ocidental, e bemprovavelmente deve tratar-se de Magdala.

A única observação a fazer é que após a segunda multiplicação dos pães (resumoda orientação para o Encontro Místico), a individualidade entra em Magdala, palavraque significa "magnificência", denotando-se, com isso, a grandiosidade do êxito obtidocom esse passo decisivo do Espírito.

O FERMENTO DOS FARISEUS E SADUCEUS Mat. 16:5-12 Mt 10:26-27 Mc 4:22,8:14-21; Lc 8:17, 12:1-3

Mateus 16:5-12

5. Indo seus discípulos para o outro lado, esqueceram-se de levar pão.

6. Disse-lhes Jesus: "Olhai: guardai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus".

7. Eles, porém, dialogavam entre si dizendo: "É porque não trouxemos pão".

8. Percebendo-o Jesus, prosseguiu: Por que estais discorrendo entre vós, homensde pequena fé, por não terdes pão?

9. Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco milhomens e quantos cestos apanhastes?

10. Nem dos sete pães para quatro mil, e quantas cestas recolhestes?

11. Como não compreendeis que não vos falei a respeito de pão, mas: Guardai-vosdo fermento dos fariseus e dos saduceus?

12. Então entenderam que lhes não dissera que se guardassem do fermento dopão, mas do ensinamento dos fariseus e dos saduceus.

Marcos 8: 14-21

14. E esqueceram-se os discípulos de levar pão; e não tinham consigo no barcosenão um só pão.

15. E preceituava lhes, dizendo: "Olhai: guardai-vos do fermento dos fariseus e dofermento de Herodes".

16. Eles racionavam entre si, dizendo: "É porque não temos pão".

17. Percebendo-o Jesus, lhes perguntou: Por que discorreis por não terdes pão?Não compreendeis ainda, nem entendeis? Tendes vosso coração endurecido?

18. Tendo olhos, não vedes? e tendo ouvidos, não ouvis? e não vos lembrais de

19. Quando parti os cinco pães para cinco mil, quantos cestos cheios de pedaçosapanhastes"?

Disseram-lhe: "Doze".

20. "E quando parti os sete para quatro mil, quantas cestas cheias de fragmentosrecolhestes"? Disseram: "Sete".

21. E disse-lhes: "Ainda não entendeis"?

O episódio que se desenrola, todo natural e cheio de vivacidade, é um instantâneoda vida, com seus esquecimentos inevitáveis e suas confusões.

Ao embarcar, os discípulos se esqueceram de prevenir-se com provisões de boca.Lembra-se Marcos de que tinham apenas um pão, pois Pedro lhe frisara bem esseponto. E isso talvez preocupasse os discípulos desde o início da travessia.

Ora, de seu travesseiro de couro, à popa, o Mestre ergue a voz máscula, emborarepassada de doçura, para dar-lhes um aviso, precedido de uma interjeição: "Olhai!Cuidado com o fermento dos fariseus e saduceus" (em Marcos: "dos fariseus e deHerodes").

Diante disso, eles extravasam a angústia represada: "Pronto! é porqueesquecemos os pães"! ... E quem sabe principia urna discussão entre eles, buscandoqual o "culpado”...

Mas Jesus interrompe-os com entonação de tristeza e desilusão na voz. Mais umavez fora mal interpretado: seu ensino era espiritual, não material. Que importava o pãofísico? Então já haviam esquecido as duas multiplicações? E aqui vem a comprovação

da realidade de ambas, citadas separadamente, com os pormenores salientados, numavivacidade natural: Quantos cestos apanhastes quando cinco mil foram saciadoscom cinco pães? E quantas cestas, quando quatro mil o tornam com sete?

A expressão "ter olhos e não ver”... É bíblica (cfr Jer. 5:21; Ex. 12:2; Salmo 115:5 e135:16), salientando a decepção causada ao Mestre pelos próprios discípulos, que comEle conviviam há bastante tempo, e que não percebiam ainda o sentido oculto.

Ouvi, agora, isto, ó povo louco e sem coração, que tendes olhos e não vedes, quetendes ouvidos e não ouvis. Jeremias 5:21

Era uma desilusão forte, após a outra sofrida na aula dada na sinagoga deCafarnaum João, 6:66.

João 6:1-9

DEPOIS disto partiu Jesus para a outra banda do mar da Galileia, que é o deTiberíades,

E grande multidão o seguia; porque via os sinais que operava sobre os enfermos.

E Jesus subiu ao monte, e assentou-se ali com os seus discípulos.

E a páscoa, a festa dos judeus, estava próxima.

Então Jesus, levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão vinha tercom ele, disse a Filipe: Onde compraremos pão, para estes comerem?

Mas. dizia isto para o experimentar; porque ele bem sabia o que havia de fazer.

Filipe respondeu-lhe: Duzentos dinheiros de pão não lhes bastarão, para quecada um deles tome um pouco.

E um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro, disse-lhe:

Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos: mas que éisto para tantos?

Parece então que foi percebido, como anota Mateus: o fermento, elementocorruptor (tanto que era proibido colocá-lo no pão utilizado na Páscoa e no das oblatas.Lv. 2:11) era a hipocrisia (Lc. 12:2) e outros graves defeitos citados em vários pontosdo Evangelho, mas sobretudo em Mt. 23:1-7.

Nenhuma oferta de alimentos, que oferecerdes ao SENHOR, se fará com fermento;porque de nenhum fermento, nem de mel algum, oferecereis oferta queimada aoSENHOR. Lv 2:11

A lição da individualidade chega-nos com frequência à personalidade física. Masesta, envolvida pela materialidade que a circunda, não entende os sussurrossilenciosos de advertência que lhe são feitos, e quase sempre os interpretaviciosamente, atribuindo aos avisos espirituais sentido material. Por vezes, mesmo, háamigos desencarnados que se encarregam de advertir-nos. No entanto, queixamo-nos

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de que "não são claros nem objetivos", porque não os ouvimos com os ouvidosespirituais, mas apenas com os materiais... Eles querem facilitar-nos a compreensão,mas temos os olhos da mente vedados!

As palavras do Espírito só podem tratar de aspectos espirituais.

Todavia, o aviso é oportuno: cuidado com os fariseus (os hipócritas intelectuais),com os saduceus (os materialistas agnósticos) e os herodianos (os que se prendemaos gozos dos sentidos), porque eles, que de todos os lados nos cercam, acabampermeando-nos com suas doutrinas e agindo como o fermento: fazendo-nos inchartoda a massa, corrompendo-a.

O sentido espiritual se deduz da letra, única que pode chegar até nós através dointelecto. E que o sentido da palavra deva ser percebido em todas as minúcias, vemo-lonum pormenor que parece insignificante: ao relembrar as duas multiplicações, o Mestresublinha os termos utilizados em cada uma, distinguindo que, na primeira, osfragmentos foram recolhidos em cestos (kophínos) e na segunda em cestas (spurídas),recipientes maiores. Não há confusão possível.

O espiritualista está cercado de doutrinas exóticas e facilmente deixa-se penetrarpor elas sem sentir.

Quando abrir os olhos, verificará que saiu da senda reta despercebidamente.Cuidado! O pão sobressubstancial é simples, sem fermentos de grandezas, semexterioridades, sem misturas: é sincero (no sentido etimológico, "sem mistura"), nãohipócrita, não fariseu; é espiritual, sem materialidade nem agnosticismo, não-saduceu; e não busca prazeres físicos dos sentidos, é não herodiano.

A REVELAÇÃO DE PEDRO Mat. 16:13-20 Mc 8:27-30 Lc 9:18-21

Jesus chegou à região de Cesaréia de Filipe, e perguntou aos seus discípulos:"Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?"

(Vesaréia de Felipe: Cidade situada ao pé do monte HERMOM. O Monte Hermomestá localizado no extremo norte de Israel, perto de Casaréia de Felipe, tambémchamado Senir, pelos amorreus e de SIRIOM pelos sidônios. Seu topo fica a três milmetros de altitude, estando sempre coberto de neve. A transfiguração de Jesus se deu,provavelmente, ao pé desse monte. Sl 133.3: “Como o orvalho de Hermom, e como oque desce sobre os montes de Sião, porque ali o SENHOR ordena a bênção e a vidapara sempre.“).

Eles responderam: Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outrosainda, que é Jeremias, ou algum dos profetas.15 Jesus perguntou-lhes: E vocês, quem dizem que eu sou?

Simão Pedro, respondeu: "Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo".Jesus disse: Você é feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que

lhe revelou isso, mas o meu Pai que está no céu.

18 Por isso eu lhe digo: você é Pedro, e sobre essa pedra construirei a minhaIgreja, e o poder da morte nunca poderá vencê-la.

19 Eu lhe darei as chaves do Reino do Céu, e o que você ligar na terra será ligadono céu, e o que você desligar na terra será desligado no céu.

Jesus, então, ordenou aos discípulos que não dissessem a ninguém que ele erao Messias.

Aqui, pela primeira vez, após o reconhecimento oficial de Seu messianato por partedos discípulos, Jesus lhes expõe com clareza e sem circunlóquios (Marcos diz: “oensino foi dado abertamente") o fim trágico que Lhe está reservado exteriormente,diante dos homens. E é interessante salientar que, embora alguns manuscritos tragam"Jesus Cristo", outros omitem a qualidade divina, aí deixando apenas o nome humanode "Jesus". Realmente, quem teria que submeter-se à terrível prova de dor-amor era ohomem Jesus, já que o Cristo divino, que "habita corporalmente" em todos nós, éINATINGÍVEL a qualquer dor ou sofrimento, seja de natureza moral ou física.

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Os avisos que começa a dar, a respeito de Suas dores futuras, têm por escopoprevenir Seus discípulos que abandonassem a crença vulgar do Messias-Rei, e sefamiliarizassem com a ideia realística do Messias-Servo, sofredor e incompreendido(cfr. Isaías, 52:13 a 53:12 e Salmo 22).

O sofrimento e a glória do Servo

13 Eis que o meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e muisublime. 14 Como pasmaram muitos à vista dele, pois o seu parecer estava tãodesfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua figura mais do que a dos outrosfilhos dos homens. 15 Assim borrifará muitas nações, e os reis fecharão as suas bocaspor causa dele; porque aquilo que não lhes foi anunciado verão, e aquilo que eles nãoouviram entenderão. Is 52-13-15

1 QUEM deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço doSENHOR? 2 Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terraseca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boaaparência nele, para que o desejássemos. 3 Era desprezado, e o mais rejeitado entreos homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem oshomens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. 4Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levousobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.5 Mas ele foi feridopor causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; ocastigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. 6Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seucaminho; mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.7 Ele foioprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado aomatadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu asua boca. 8 Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida?Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foiatingido. 9 E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte; aindaque nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca. 10 Todavia, aoSENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser porexpiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazerdo SENHOR prosperará na sua mão. 11Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e

ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos;porque as iniqüidades deles levará sobre si. 12 Por isso lhe darei a parte de muitos, ecom os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma na morte, efoi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, eintercedeu pelos transgressores. Is 53:13-12

DEUS meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meuauxílio e das palavras do meu bramido? Sl 22 (Salmo do Messias).

Esse aviso é dado sistematizadamente em quatro etapas:

1.ª - que Ele deverá sair do "Jardim" risonho e florido da Galileia, para subir àárdua, agreste e íngreme montanha de Jerusalém;

2.ª - que terá que padecer muitas coisas às mãos do Sinédrio hierosolimitano,citado por seus componentes: os mais velhos (presbyte oi) que constituíam a nobrezado povo; os sacerdotes mais importantes (principais) e os doutores da lei: escribas,intérpretes autorizados das Escrituras; ou seja, será rejeitado pelo mundo oficial daIgreja israelita;

3.ª - que terminará Sua carreira sendo assassinado de modo violento;

4.ª - mas que ao terceiro dia será DESPERTADO (em Mateus e Lucas: egerthênai,infinito aoristo passivo) ou SE LEVANTARÁ (em Marcos: anastênai, infinito aoristosegundo ativo).

Há pequena discordância entre Mateus e Lucas, que assinalam "no terceiro dia"(têi tritêi hêmera) e Marcos que escreve "após três dias" (metà treís hêmerás). Ora, aexpressão que correspondeu aos fatos é a de Mateus e Lucas, repetida em Atos 10:40e em Paulo (2.ª Cor. 15:4). A locução de Marcos colocaria a chamada "ressurreição" na2.ª feira, quando ela se deu no domingo (repare-se: 1.º dia, 6.ª feira, 2.º dia, sábado, 3.ºdia, domingo). Em Oséias (6:3) a expressão "após dois dias" é usada como igual a "noterceiro dia”.

Essa revelação abrupta causa em Pedro violento choque emocional e,temperamental como sempre, parece-lhe que tudo vai realizar-se ali mesmo, naquelemomento, diante de todos. Então, extrovertido e generoso "corre a protegê-Lo" (sentidoliteral de proslabómenos, particípio presente ativo de proslambánomai).

Parece que o vemos, com gestos largos, quase se interpondo entre Jesus e a

estrada de Jerusalém, a bradar vermelho:

- Deus te ajude Senhor! De modo algum te acontecerá isso!

A fórmula grega aqui usada, hileôs soi (proveniente de hílaos, "alegre", donde vêmnossos vocábulos "hílare" e "hilaridade"), omitia sempre o nome de Deus, traduzindo-seliteralmente: "favoravelmente a ti", e correspondendo às nossas expressões correntes"Deus te ajude", "Deus te favoreça" ou “boa sorte".

O amor humano de Pedro não pode compreender nem aceitar que o seu Rabbi,tão jovem e tão bom, tivesse fim tão trágico: bastar-lhe-ia não mais ir a Jerusalém! Maso Mestre, virando-se e fixando seus olhos límpidos e expressivos, repreende-o emtermos severos, com as mesmas palavras que usara ao repelir a "terceira tentação":

- Vai para trás de mim, adversário!

"Adversário", em grego satanã (transcrição do hebraico satan), porque, tal como daoutra vez, havia manifesta oposição à missão messiânica que Ele viera cumprir,pretendendo-se incutir-Lhe a vaidade, o orgulho e a ambição, caminhos opostos àhumildade, à renúncia e à submissão necessárias para levar a termo o auto-sacrifíciopor amor.

Logo depois é dada explicação do motivo por que o chama de adversário. Quasenum jogo de imagens, ao mesmo a quem chamara "a pedra" (Pedro), diz, agora, ser"pedra de tropeço", pois pretende fazê-Lo tropeçar e cair no caminho da evolução. Aquio sentido literal de skándalon pode ser dado em toda a sua plenitude.

Mas a explicação prossegue com profundo sentido didático: o discípulo precisacompreender totalmente as razões de uma repreensão: "não pensas (ou phroneís) nascoisas de Deus, mas nas dos homens", isto é, olhas tudo do ângulo material e humano,e não do espiritual e divino.

Lucas limita-se a transcrever o aviso que Jesus deu do que O aguardava, semaduzir o incidente do protesto de Pedro.

(1) A palavra portuguesa "paixão" vem do latim passione (m), (verbo patior) muitosemelhante ao grego páthos (verbo patheín). O sentido de patheín é realmente

"experimentar" ou "sofrer uma experiência".

Empregava-se esse verbo no sentido de que os "iniciados" teriam que"experimentar" ao vivo os ensinamentos aprendidos, conforme, aliás, consta de umfragmento de Aristóteles (em "Sinésio", Dion

10): "O místico deve não apenas aprender (mathein) mas experimentar (patheín)".Na interpretação iniciática consistiu exatamente nisso a "paixão" de Jesus.

O ANÚNCIO DO CALVÁRIO Mat. 16:21-23 Mc 8:31-33 Lc 9:22-27

E Jesus começou a mostrar aos seus discípulos que devia ir a Jerusalém, esofrer muito da parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos doutores da Lei, eque devia ser morto e ressuscitar ao terceiro dia.

Então Pedro levou Jesus para um lado, e o repreendeu, dizendo: "Deus não permitatal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!"

Jesus, porém, voltou-se para Pedro, e disse: "Fique longe de mim, Satanás! Você éuma pedra de tropeço para mim, porque não pensa as coisas de Deus, mas as coisasdos homens!"

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REQUISITOS PARA SEGUIR JESUS Mat. 16:24-28 Mc 8:34-38 Lc 9:23-27

24. Jesus disse então aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-sea si mesmo, tome sua cruz e siga-me.

25. Porque aquele que quiser preservar sua alma, a perderá; e quem perder suaalma por minha causa, a achará.

26. Pois que aproveitará ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?Ou que dará o homem em troca de sua alma?

27. Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com seusmensageiros, e então retribuirá a cada um segundo seu comportamento. (segundo assuas obras)

28. Em verdade vos digo que alguns dos aqui presentes absolutamenteexperimentarão a morte até que o Filho do Homem venha em seu reino.

Marcos 8:34-38 e 9:1

34. E chamando a si a multidão, junto com seus discípulos disse-lhes: Se alguémquer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.

35. Porque quem quiser preservar sua alma, a perderá; e quem perder sua almapor amor de mim e da Boa-Nova, a preservará.

36. Pois que adianta a um homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?

37. E que daria um homem em troca de sua alma?

38. Porque se alguém nesta geração adúltera e errada se envergonhar de mim ede minhas doutrinas, também dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier naglória de seu Pai com seus santos mensageiros.

9:1 E disse-lhes: "Em verdade em verdade vos digo que há alguns dos aquipresentes, os quais absolutamente experimentarão a morte, até que vejam o reino deDeus já chegado em força".

Lucas 9:23-27

23. Dizia, então, a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo,tome cada dia sua cruz e siga-me.

24. Pois quem quiser preservar sua alma, a perderá; mas quem perder sua almapor amor de mim, esse a preservará.

25. De fato, que aproveita a um homem se ganhar o mundo inteiro, mas arruinar-seou causar dano a si mesmo?

26. Porque aquele que se envergonhar de mim e de minhas doutrinas, dele seenvergonhará

o Filho do Homem, quando vier na sua glória, na do Pai e na dos santosmensageiros.

27. Mas eu vos digo verdadeiramente, há alguns dos aqui presentes que nãoexperimentarão a morte até que tenham visto o reino de Deus.

Depois do episódio narrado no último capítulo, novamente Jesus apresenta umalição teórica, embora bem mais curta que as do Evangelho de João.

Segundo Mateus, a conversa foi mantida com Seus discípulos. Marcos, entretanto,revela que Jesus "chamou a multidão" para ouvi-la, como que salientando que a aulaera "para todos"; palavras, aliás, textuais em Lucas.

Achava-se a comitiva no território não israelita ("pagão") de Cesaréia de Filipe(Cidade situada ao pé do monte HERMOM), e certamente os moradores locais haviamobservado aqueles homens e mulheres que perambulavam em grupo homogêneo.

Natural que ficassem curiosos, a "espiar" por perto. A esses, Jesus convida que seaproximem para ouvir os ensinamentos e as exigências impostas a todos os queambicionavam o DISCIPULATO, o grau mais elevado dos três citados pelo Mestre:justos (bons), profetas (médiuns) e discípulos.

As exigências são apenas três, bem distintas entre si, e citadas em sequênciagradativa da menor à maior. Observamos que nenhuma delas se prende, a saber, nema dizer, nem a crer, nem a fazer, mas todas se baseiam em SER. O que vale é aevolução interna, sem necessidade de exteriorizações, nem de confissões, nem de

ritos.

No entanto, é bem frisada a vontade livre: "se alguém quiser"; ninguém é obrigado;a espontaneidade deve ser absoluta, sem qualquer coação física nem moral.Analisemos.

Vimos, no episódio anterior, o Mestre ordenar a Pedro que "se colocasse atrásDele". Agora esclarece:

"se alguém QUER ser SEU discípulo, siga atrás Dele". E se tem vontade firme einabalável, se o QUER, realize estas três condições:

1.ª - negue-se a si mesmo

2.ª - tome (carregue) sua cruz (Lc. "cada dia");

3.ª - e siga-me (akoloutheítô moi).

Se excetuarmos a negação de si mesmo, já ouvíramos essas palavras em Mat.10:38 .

O verbo "negar-se" ou "renunciar-se" (aparnéomai) é empregado por Isaías (31:7)para descrever o gesto dos israelitas infiéis que, esclarecidos pela derrota dos assírios,rejeitaram ou negaram ou renunciaram a seus ídolos. E essa é a atitude pedida peloMestre aos que QUEREM ser Seus discípulos: rejeitar o ídolo de carne que é o própriocorpo físico, com sua sequela de sensações, emoções e intelectualismo, o que tudoconstitui a personagem transitória a pervagar alguns segundos na crosta do planeta.

Quanto ao "carregar a própria cruz", já vimos o que significava. E os habitantesda Palestina deviam estar habituados a assistir à cena degradante que se vinharepetindo desde o domínio romano, com muita frequência. Para só nos reportarmos aFlávio Josefo, ele cita-nos quatro casos em que as crucificações foram em massa:

Varus que fez crucificar 2.000 judeus, por ocasião da morte, em 4 A.C., de Herodeso Grande (Ant. Jud. 17.10-4-10); Quadratus, que mandou crucificar todos os judeus quese haviam rebelado (48-52 A.D.) e que tinham sido aprisionados por Cumarus (Bell.Jud. 2. 12.6); em 66 A.D. até personagens ilustres foram crucificadas por GessiusFlorus (Bell. Jud. 2.14.9); e Tito que, no assédio de Jerusalém, fez crucificar todos osprisioneiros, tantos que não havia mais nem madeira para as cruzes, nem lugar paraplantá-las (Bell. Jud. 5.11.1).

Por aí se calcula quantos milhares de crucificações foram feitas antes; e o

espetáculo do condenado que carregava às costas o instrumento do próprio suplícioera corriqueiro. Não se tratava, portanto, de uma comparação vazia de sentido, emboraconstituindo uma metáfora. E que o era, Lucas encarrega-se de esclarecê-lo, aoacrescentar "carregue cada dia a própria cruz".

Vemos a exigência da estrada de sacrifícios heroicamente suportados na luta dodia-a-dia, contra os próprios pendores ruins e vícios.

A terceira condição, "segui-Lo", revela-nos a chave final ao discipulato de talMestre, que não alicia discípulos prometendo-lhes facilidades nem privilégios: aocontrário. Não basta estudar-Lhe a doutrina, aprofundar-Lhe a teologia, decorar-Lhe aspalavras, pregar-Lhe os ensinamentos: é mister SEGUILO, acompanhando-O passo apasso, colocando os pés nas pegadas sangrentas que o Rabi foi deixando ao caminharpelas ásperas veredas de Sua peregrinação terrena. Ele é nosso exemplo e tambémnosso modelo vivo, para ser seguido até o topo do calvário.

Aqui chegamos a compreender a significação plena da frase dirigida a Pedro:"ainda és meu adversário (porque caminhas na direção oposta a mim, e tentas impedir-me a senda dolorosa e sacrificial): vai para trás de mim e segue-me; se queres ser meudiscípulo, terás que renunciar a ti mesmo (não mais pensando nas coisas humanas);que carregar também tua cruz sem que me percas de vista na dura, laboriosa e doridaascensão ao Reino". Mas isto, "se o QUERES"... Valerá a pena trilhar esse ásperocaminho cheio de pedras e espinheiros?

O versículo seguinte (repetição, com pequena variante de Mat. 10:39) responde aessa pergunta.

As palavras dessa lição são praticamente idênticas nos três sinópticos,demonstrando a impressão que devem ter causado nos discípulos.

Sim, porque quem quiser preservar sua alma a perderá. Ainda aqui encontramos overbo sôzô, cuja tradução "salvar" dá margem a tanta ambiguidade atualmente. Nestepasso, a palavra portuguesa "preservar" (conservar, resguardar) corresponde melhorao sentido do contexto. O verbo apolesô "perder", só poderia ser dado também com asinonímia de "arruinar" ou "degradar" (no sentido etimológico de "diminuir o grau").

E o inverso é salientado: "mas quem a perder por minha causa” - e Marcosacrescenta "e da Boa Nova" (kaì toú euaggelíou) - esse a preservará, em Marcos e

Lucas ou a achará em Mateus.

A seguir pergunta, como que explicando a antinomia verbal anterior: que utilidadeterá o homem se lucrar todo o mundo físico (kósmos), mas perder - isto é, não evoluir -sua alma? E qual o tesouro da Terra que poderia ser oferecido em troca (antállagma)da evolução espiritual da criatura?.

Bens espirituais não podem ser comprados nem trocados por quantias materiais. Amatemática possui o axioma válido também aqui: quantidades heterogêneas nãopodem somar-se.

O versículo seguinte apresenta variantes.

MATEUS traz a afirmação de que o Filho do Homem virá com a glória de seu Pai,em companhia de Seus Mensageiros (anjos), para retribuir, a cada um segundo seusatos. Traduzimos aqui dóxa por "glória", porque é o melhor sentido dentro do contexto.E entendemos essa glória como sinônimo perfeito da "sintonia vibratória" ou afrequência da tônica do Pai (Verbo, Som). A atribuição a cada um “segundo seus atos"(tên práxin autoú) ou talvez, bem melhor, de acordo com seu comportamento, com a"prática" da vida diária. Não são realmente os atos, sobretudo isolados (mesmo osheroicos) que atestarão a Evolução de uma criatura, mas seu comportamentoconstante e diuturno.

MARCOS diz que se alguém, desta geração "adúltera", isto é, que se tornou "infiel"a Deus, traindo-O por amar mais a matéria que o espírito, e "errada" na compreensãodas grandes verdades, "se envergonhar" ("desafinar", não sintonizar), também o Filhodo Homem se envergonhará dele, quando vier com a glória do Pai, em companhia deSeus mensageiros (anjos).

LUCAS repete as palavras de Marcos (menos a referência à Boa Nova),salientando, porém, que o Filho do Homem virá com Sua própria glória, com a glória doPai, e com a glória dos santos mensageiros (anjos).

E finalmente o último versículo, em que só Mateus difere dos outros dois, osquais, no entanto, nos parecem mais conformes às palavras originais.

Afirma o Mestre "alguns dos aqui presentes" (eisin tines tõn hõde hestótõn), osquais não experimentarão (literalmente: "não saborearão, ou mê geúsôntai) a morte,até que vejam o reino de Deus chegar com poder.

Mateus em vez de "o reino de Deus", diz "o Filho do Homem", o que deu margem àexpectativa da parusia, ainda para os indivíduos daquela geração.

Parusia: Segunda vinda de Cristo, Segundo Advento ou Parúsia é termousualmente empregado com a significação religiosa de "volta gloriosa de Jesus Cristo,no fim dos tempos, para presidir o Juízo Final", conforme crêem as várias religiõescristãs e muçulmanas, inclusive sincréticas e esotéricas. (Definições da web em14/09/2014)

Entretanto, não se trata aqui, de modo algum, de uma parusia escatológica (Pauloavisa aos tessalonicenses que não o aguardem "como se já estivesse perto"; cfr. 1.ªTess. 2:lss), mas da descoberta e conquista do "reino de Deus DENTRO de cada um"(cfr. Luc. 17:21), prometido para alguns "dos ali presentes" para essa mesmaencarnação.

Escatologia é uma parte da teologia e filosofia que trata dos últimos eventos nahistória do mundo ou do destino final do gênero humano, comumente denominadocomo fim do mundo. Em muitas religiões, o fim do mundo é um evento futuroprofetizado no texto sagrado ou no folclore. (idem).

A má interpretação provocou confusões. Os gnósticos (como Teodósio), JoãoCrisóstomo, Teofilacto e outros - e modernamente o cardeal Billot, S.J. (cfr. "LaParousie", pág. 187), interpretam a “vinda na glória do Filho do Homem" como umprenúncio da Transfiguração. Cajetan diz ser a Ressurreição; Godet acha que foiPentecostes; todavia, os próprios discípulos de Jesus, contemporâneos dos fatos, nãointerpretaram assim, já que após a tudo terem assistido, inclusive ao Pentecostes,continuaram esperando, para aqueles próximos anos, essa vinda espetacular. Outrosrecuaram mais um pouco no tempo, e viram essa "vinda gloriosa" na destruição deJerusalém, como "vingança" do Filho do Homem; isso, porém, desdiz o perdão que Ele

mesmo pedira ao Pai pela ignorância de Seus algozes (D. Calmet, Knabenbauer,Schanz, Fillion, Prat, Huby, Lagrange); e outros a interpretaram como sendo a difusãodo cristianismo entre os pagãos (Gregório Magno, Beda, Jansênio, Lamy).

(Mantive o texto acima, para conhecimento do pensamento na época que o autorescreveu. Acrescentei)

Penetremos mais a fundo o sentido.

Na vida literária e artística, em geral, distinguimos nitidamente o "aluno" do"discípulo". Aluno é quem aprende com um professor; discípulo é quem segue a trilhaantes perlustrada por um mestre. Só denominamos "discípulo" aquele que reproduz emsuas obras a técnica, a "escola", o estilo, a interpretação, a vivência do mestre.

Aristóteles foi aluno de Platão, mas não seu discípulo. Mas Platão, além de ter sidoaluno de Sócrates, foi também seu discípulo. Essa distinção já era feita por Jesus hávinte séculos; ser Seu discípulo é segui-Lo, e não apenas "aprender" Suas lições.

Aqui podemos desdobrar os requisitos em quatro, para melhor explicação.

Primeiro: é necessário QUERER. Sem que o livre-arbítrio espontaneamenteescolha e decida, não pode haver discipulato. Daí a importância que assume, noprogresso espiritual, o aprendizado e o estudo, que não podem limitar-se a ouvirrápidas palavras, mas precisam ser sérios, contínuos e profundos.

Pois, na realidade, embora seja a intuição que ilumina o intelecto, se este nãoestiver preparado por meio do conhecimento e da compreensão, não poderá esclarecera vontade, para que esta escolha e resolva pró ou contra.

Segundo: é NEGAR-SE a si mesmo. Hoje, com a distinção que conhecemos entreo Espírito (individualidade) e a personagem terrena transitória (personalidade), a frasemais compreensível será: "negar a personagem", ou seja, renunciar aos desejosterrenos, conforme ensinou Sidarta Gotama, o Buddha.

Cientificamente poderíamos dizer: superar ou abafar a consciência atual, paradeixar que prevaleça a superconsciência.

Essa linguagem, entretanto, seria incompreensível àquela época. Todavia, aspalavras proferidas pelo Mestre são de meridiana clareza: "renunciar a si mesmo".Observando-se que, pelo atraso da humanidade, se acredita que o verdadeiro eu é apersonagem, e que a consciência atual é a única, negar essa personagem e essaconsciência exprime, no fundo, negar-se "a si mesmo". Diz, portanto, o Mestre: "esseeu, que vocês julgam ser o verdadeiro eu, precisa ser negado". Nada mais esclarece, jáque não teria sido entendido pela humanidade de então. No entanto, aqueles queseguissem fielmente Sua lição, negando seu eu pequeno e transitório, descobririam,por si mesmos, automaticamente, em pouco tempo, o outro Eu, o verdadeiro, coisa quede fato ocorreu com muitos cristãos.

Talvez no início possa parecer, ao experimentado: desavisado, que esse Euverdadeiro seja algo "externo".

Mas quando, por meio da evolução, for atingido o "Encontro Místico", e o CristoInterno assumir a supremacia e o comando, ele verificará que esse Divino Amigo não éum TU desconhecido, mas antes constitui o EU REAL. Além disso, o Mestre não sesatisfez com a explanação teórica verbal: exemplificou, negando o eu personalístico de"Jesus", até deixá-lo ser perseguido, preso, caluniado, torturado e assassinado. QueLhe importava o eu pequeno? O Cristo era o verdadeiro Eu Profundo de Jesus (comode todos nós) e o Cristo, com a renúncia e negação do eu de Jesus, pode expandir-see assumir totalmente o comando da personagem humana de Jesus, sendo, às vezes,difícil distinguir quando falava e agia "Jesus" e quando agia e falava "o Cristo". Por issoem vez de Jesus, temos nele O CRISTO, e a história o reconhece como "Jesus", “OCRISTO", considerando-o como homem (Jesus) e Deus (Cristo).

Essa anulação do eu pequeno fez que a própria personagem fosse glorificada pelahumildade, e o nome humano negado totalmente se elevasse acima de tudo, de talforma que "ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na Terra e debaixo daterra" (Filp. 2:10).

Tudo isso provocou intermináveis discussões durante séculos, por parte dos quenão conseguiram penetrar a realidade dos acontecimentos, caracterizados, então, de"mistério": são duas naturezas ou uma? Como se realizou a união hipostática? Teria aDivindade absorvido a humanidade?

União hipostática: doutrina clássica da cristologia que afirma ter Jesus Cristo duas

naturezas, sendo homem e Deus ao mesmo tempo. (idem)

Por que será que uma coisa tão clara terá ficado incompreendida por tantosluminares que trataram deste assunto? O Eu Profundo de todas as criaturas é o DeusInterno, que se manifestará em cada um exatamente na proporção em que esterenunciar ao eu pequeno (personagem), para deixar campo livre à expressão do CristoInterno Divino. Todos somos deuses (cfr. Salmo 81:6 e João, 10:34) se negarmostotalmente nosso eu pequeno (personagem humana), deixando livre expansão àmanifestação do Cristo que em todos habita. Isso fez Jesus. Se a negação for absolutae completa, poderemos dizer com Paulo que, nessa criatura, "habita a plenitude daDivindade" (Col. 2:9). “E a todos os que o fizerem, ser-lhes-á exaltado o nome acima detoda criação" (cfr. Filp. 2:5-11).

Quando isto tiver sido conseguido, a criatura "tomará sua cruz cada dia" (cada vezque ela se apresentar) e a sustentará galhardamente - quase diríamos triunfalmente -pois não mais será ela fonte de abatimentos e desânimos, mas constituirá o sofrimento-por-amor, a dor-alegria, já que é a "porta estreita" (Mat. 7:14) que conduzirá à felicidadetotal e infindável (cfr. Pietro Ubaldi, "Grande Síntese, cap. 81).

No entanto, dado o estágio atual da humanidade, a cruz que temos que carregarainda é uma preparação para o "negar-se". São as dores físicas, as incompreensõesmorais, as torturas do resgate de carmas negativos mais ou menos pesados, em vistado emaranhado de situações aflitivas, das "montanhas" de dificuldades que se erguem,atravancando nossos caminhos, do sem-número de moléstias e percalços, do cortejode calúnias e martírios inomináveis e inenarráveis.

Tudo terá que ser suportado - em qualquer plano - sem malsinar a sorte, semdesesperos, sem angústias, sem desfalecimentos nem revoltas, mas com aceitaçãoplena e resignação ativa, e até com alegria no coração, com a mais sólida, viva einabalável confiança no Cristo-que-é-nosso-Eu, no Deus-Imanente, na Força-Universal-Inteligente e Boa, que nos vivifica e prepara, de dentro de nosso âmago mais profundo,a nossa ascensão real, até atingirmos TODOS, a "plena evolução crística" (Ef. 4:13).

A quarta condição do discipulato é também clara, não permitindo ambiguidade:SEGUI-LO. Observe-se a palavra escolhida com precisão. Poderia ter sido dito “imitá-Lo". Seria muito mais fraco. A imitação pode ser apenas parcial ou, pior ainda, sersimples macaqueação externa (usar cabelos compridos, barbas respeitáveis, vestestalares, gestos estudados), sem nenhuma ressonância interna.

Não. Não é imitá-Lo apenas, é SEGUI-LO. SEGUI-LO no AMOR, na DEDICAÇÃO,no SERVIÇO, no AUTO-SACRIFÍCIO, na HUMILDADE, na RENÚNCIA, para que denós se possa afirmar como Dele foi feito: "fez bem todas as coisas" (Marc.7.37) e:"passou pela Terra fazendo o bem e curando" (At. 10:38).

Como Mestre de boa didática, não apresenta exigências sem dar as razões. Osversículos seguintes satisfazem a essa condição.

Aqui, como sempre, são empregados os termos filosóficos com absoluta precisãovocabular (elegantia), não deixando margem a qualquer dúvida. A palavra usada épsychê, e não pneuma; é alma e não "espírito”. (Alma é o espírito encarnado.Acrescentei).

A alma (psychê) é a personagem humana em seu conjunto de intelecto-emoções,excluído o corpo denso e as sensações do duplo etérico.

Daí a definição da resposta 134 do "Livro dos Espíritos": "alma é o espíritoencarnado", isto é, a personagem humana que habita no corpo denso.

Aí está, pois, a chave para a interpretação do "negue-se a si mesmo": esse eu, aalma, é a personagem que precisa ser negada, porque, quem não quiser fazê-lo, quempretender preservar esse eu, essa alma, vai acabar perdendo-a, já que, aodesencarnar, estará com "as mãos vazias". Mas aquele que - por causa do CristoInterno - renunciar e perder essa personagem transitória, esse a “encontrarámelhorada” (Mateus), esse a preservará da ruína (Marcos e Lucas).

E prossegue: que adiantará acumular todas as riquezas materiais do mundo, se apersonalidade vai cair no vazio? Nada de material pode ser-lhe comparado. No entanto,se for negada, será exaltada sobre todas as coisas (cfr. o texto acima citado, Fp. 2:5-11).

Todas e qualquer evolução do Espírito é feita exclusivamente durante seumergulho na carne (veja atrás). Só através das personagens humanas haveráascensão espiritual, por meio do "ajustamento sintônico". Então, necessidade absolutade consegui-lo, não "se envergonhando", isto é, não desafinando da tônica do Pai(Som) que tudo cria, governa e mantém. Enfrentar o mundo sem receio, sem "respeitos

humanos", e saber recusá-lo também, para poder obter o Encontro Místico com oCristo Interno. Se a criatura "se envergonha" e se retrai, (não sintoniza) não é possívelconseguir o Contato Divino, e o Filho do Homem também a evitará ("se envergonhará"dessa criatura). Só poderá haver a "descida da graça" ou a unificação com o Cristo, "naglória (tônica) do Pai (Som-Verbo), na glória (tônica) do próprio Cristo (Eu Interno), naglória de todos os santos mensageiros", se houver a coragem inquebrantável deromper com tudo o que é material e terreno, apagando as sensações, liquidando asemoções, calando o intelecto, suplantando o próprio "espírito" encarnado, isto é,PERDENDO SUA ALMA: só então “a achará”, unificada que estará com o Cristo, Nelemergulhada (batismo),

“como a gota no oceano" (Bahá'u'lláh). Realmente, a gota se perde no oceano,mas inegavelmente, ao deixar de ser gota microscópica, ela se infinitiva e se eternizatornando-se oceano...

Segundo suas obras ou comportamento?

Em Mateus é-nos dado outro aviso: ao entrar em contato com a criatura, esta“receberá de acordo com seu comportamento" (pláxin). De modo geral lemos nastraduções correntes “de acordo com suas obras". Mas isso daria muito fortemente aideia de que o importante seria o que o homem FAZ, quando, na realidade, o queimporta é o que o homem É: e a palavra comportamento exprime-o melhor que obras;ora, a palavra do original práxis tem um e outro sentido.

Evidentemente, cada ser só poderá receber de acordo com sua capacidade,embora todos devam ser cheios, replenos, com “medida sacudida e recalcada” (cfr. Lc.5:38).

Mas há diferença de capacidade entre o cálice, o copo, a garrafa, o litro, o barril, otonel... De acordo com a própria capacidade, com o nível evolutivo, com ocomportamento de cada um, ser-lhe-á dado em abundância, além de toda medida.

Figuremos uma corrente imensa, que jorra permanentemente luz e força, energia ecalor. O convite é-nos feito para aproximar-nos e recolher quanto quisermos.

Acontece, porém, que cada um só recolherá conforme o tamanho do vasilhameque levar consigo.

Assim o Cristo Imanente (eu existe sempre) o Verbo Criador e Conservador SEDERRAMAM infinitamente. Mas nós, criaturas finitas, só recolheremos segundo nossocomportamento, segundo a medida de nossa capacidade.

Não há fórmulas mágicas, não há segredos iniciáticos, não peregrinações nembênçãos de "mestres", não há sacramentos nem sacramentais, que adiantem nesteterreno. Poderão, quando muito, servir como incentivo, como animação a progredir,mas por si, nada resolvem, já que não agem ex opere operantis nem ex opereoperatus, mas sim ex opere recipientis: a quantidade de recebimento estará de acordocom a capacidade de quem recebe, não com a grandeza de quem dá, nem com o atode doação.

E pode obter-se o cálculo de capacidade de cada um, isto é, o degrau evolutivo emque se encontra no discipulato de Cristo, segundo as várias estimativas das condiçõesexigidas:

a) pela profundidade e sinceridade na renúncia ao eu personalístico, quando tudo éfeito sem cogitar de firmar o próprio nome, sem atribuir qualquer êxito ao própriomerecimento (não com palavras, mas interiormente), colaborando com todos os"concorrentes", que estejam em idêntica senda evolutiva, embora nos contrariem asideias pessoais, mas desde que sigam os ensinos de Cristo;

b) pela resignação sem queixas, numa aceitação ativa, de todas as cruzes, queexprimam atos e palavras contra nós, maledicências e calúnias, sem respostas nemdefesas, nem claras nem veladas (já nem queremos acenar a contra-ataques evinganças).

c) pelo acompanhar silencioso dos passos espirituais no caminho do auto-sacrifíciopor amor aos outros, pela dedicação integral e sem condições; no caminho dahumildade real, sem convencimentos nem exterioridades; no caminho do serviço, semexigências nem distinções; no caminho do amor, sem preferências nem limitações. Ograu dessas qualidades, todas juntas, dará uma ideia do grau evolutivo da criatura.

Assim entendemos essas condições: ou tudo, à perfeição; ou pouco a pouco,conquistando uma de cada vez. Mas parado, ninguém ficará. Se não quiser ir

espontaneamente, a dor o aguilhoará, empurrando-o para frente de qualquer forma.

No entanto, uma promessa relativa à possibilidade desse caminho é feitaclaramente: "alguns dos que aqui estão presentes não experimentarão a morte atéconseguirem isso". A promessa tanto vale para aquelas personagens de lá, naquelavida física, quanto para os Espíritos ali presentes, garantindo-se lhes que não sofreriamqueda espiritual (morte), mas que ascenderiam em linha reta, até atingir a meta final: oEncontro Sublime, na União mística absoluta e total.

Interessante à anotação de Marcos quando acrescenta: O "reino de Deus chegadoem poder". Durante séculos se pensou no poder externo a espetacularidade. Mas apalavra "en dynámei" expressa muito mais a força interna, o "dinamismo" do Espírito, apotencialidade crística a dinamizar a criatura em todos os planos.

A TRANSFIGURAÇÃO Mat. 17:1-8 Mc 9:2-8 Lc 9:28-36

1. Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, Tiago e João seu irmão, eelevou-os à parte a um alto monte.

2. E foi transfigurado diante deles: seu rosto resplandeceu como o sol, e suasvestes tornaram-se brancas como a luz.

3. E eis que foram vistos Moisés e Elias conversando com ele.

4. Então Pedro disse a Jesus: "Senhor, é bom estarmos aqui; se queres, farei aquitrês tendas; para ti uma, para Moisés uma e uma para Elias!".

5. Falava ele ainda, quando uma nuvem de luz os envolveu e da nuvem saiu umavoz dizendo: "Este é meu Filho, o Amado, que me satisfaz: ouvi-o".

6. Ouvindo-a, os discípulos caíram com a face por terra e tiveram muito medo.

7. Aproximando-se Jesus, tocou neles e disse: "levantai-vos e não temais".

8. Erguendo eles os olhos a ninguém mais viram, senão só a Jesus.

9. Enquanto desciam do monte, ordenou-lhes Jesus dizendo:

"A ninguém conteis esta visão, até que o Filho do Homem se tenha levantado dosmortos".

Marcos 9:2-8

2. Seis dias depois tomou Jesus consigo a Pedro, Tiago e João e elevou-os àparte, a sós, a um alto monte. E foi transfigurado diante deles.

3. E seu manto tornou-se resplandecente e extremamente branco, como neve, qualnenhum lavandeiro na terra poderia alvejar.

4. E foram vistos Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus.

5. Então Pedro disse a Jesus: "Rabi, é bom estarmos aqui: façamos três tendas,uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias".

6. porque não sabia o que havia de dizer, pois tinham ficado aterrorizados.

7. E surgiu uma nuvem envolvendo-os, e da nuvem veio uma voz: "Este é meuFilho, o Amado: ouvi-o".

8. E eles, olhando de repente em redor, não viram mais ninguém, senão só Jesuscom eles.

9. Enquanto desciam do monte, ordenou-lhes que não contassem a ninguém o quetinham visto, senão quando o Filho do Homem se tivesse levantado dentre os mortos.

Lucas 9:28-36

28. E aconteceu que cerca de oito dias depois desses ensinos, tende tomadoconsigo Pedro, João e Tiago. Subiu para orar.

29. E aconteceu na que oração, a forma de seu rosto ficou diferente e as roupasdele brancas e relampejantes.

30. E eis que dois homens conversavam com ele, os quais eram Moisés e Elias,

31. que apareceram em substância e discutiam sobre sua saída, que ele estavapara realizar em Jerusalém.

32. Pedra e seus companheiros estavam oprimidos de sono, mas conservando-sedespertos, viram sua substância e os dois homens ao lado dele.

33. Ao afastarem-se estes de Jesus, disse-lhe Pedro: "Mestre, é bom estarmosaqui. Façamos três tendas, uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias", nãosabendo o que dizia.

34. Enquanto assim falava, surgiu uma nuvem que os envolvia, e aterrorizaram-sequando entraram na nuvem.

35. E da nuvem saiu uma voz, dizendo: “Este é meu Filho, o Amado, ouvi-o".

36. Tendo cessado a voz, foi achado Jesus só. Eles se calaram e, naqueles dias, aninguém contaram coisa alguma do que haviam visto.

Interessante observar o cuidado dos três evangelistas, em relacionar o episódio dachamada "Transfiguração" com a "Confissão de Pedro" ou, talvez melhor, com osensinos a respeito do Discipulato (cfr. Lucas).

Mateus e Marcos precisam a data, assinalando que o fato ocorreu exatamenteSEIS DIAS depois, ao passo que Lucas diz mais displicentemente, "cerca de oito dias".Como nenhum dos narradores demonstra preocupações cronológicas em seusEvangelhos, chama nossa atenção esse pormenor. Como também somos alerta pelofato estranho de João, testemunha ocular do invulgar acontecimento, tê-lo silenciadototalmente em suas obras, embora nos tenha ficado o testemunho de Pedro (2.ª Pe.1:17-19).

A narrativa dos três é bastante semelhante, embora Lucas seja o único a tocar emtrês pontos: a oração de Jesus, o sono dos discípulos, e o assunto conversado comos desencarnados.

Começa a narrativa dos três, dizendo que Jesus leva ou "toma consigo” Pedro,Tiago e João, e os leva "à parte". Essa expressão é de cunho clássico.

Os três discípulos que acompanharam Jesus, foram por Ele escolhidos em váriascircunstâncias (cfr. Mat. 26:37; Marc. 5:37; 14:33; Luc. 8:51), tendo sido citados porPaulo (Gál. 2:9) como "as colunas da comunidade". Pedro havia revelado aindividualidade de Jesus pouco antes, e fora o primeiro discípulo que com João seafastara do Batista para seguir Jesus; João, o "discípulo a quem Jesus amava" (cfr.João, 13:23; 19:26; 21:20) e talvez mesmo sobrinho carnal de Jesus, Tiago irmão deJoão, foi decapitado em Jerusalém no ano 44 (At. 12:2), tendo sido o primeiro dosdiscípulos, escolhidos como emissários, que testemunhou com seu sangue a Verdadedos ensinos de Jesus.

Tabor ou Hermom

Com os três Jesus "subiu ao monte", com artigo definido (Lucas), ou "os ELEVOUa um alto monte".

Mas não se identifica qual o monte. Surgiu, então, a dúvida entre os exegetas: seráo Hermon ou o Tabor? (Tabor no sul da Galileia. Hermon extremo Norte de Israel, pertode Cesaréia de Filipe)

O Salmo diz "que o Tabor e o Hermon se alegram em Teu Nome" (89:12) ...

Alguns opinam pelo Hermon, a 2.793 m de altura, perto do local da "confissão dePedro", Cesaréia de Filipe. Objeta-se, todavia, que é recoberto de neve perpétua e que,situado em região pagã, dificilmente seria encontrada, no dia seguinte, no sopé, amultidão a esperá-lo, enquanto discutia com os demais discípulos, que haviam

permanecido na planície, sobre a dificuldade que tinham de curar o jovem epiléptico.

Outros preferem o Tabor. Além dessas razões, alegam: que "seis dias" são temposuficiente para chegar com calma de volta à Galileia. O Tabor é um tronco de cone,com um platô no alto de cerca de 1 km de circuito; fica a sudeste de Nazaré situado nofinal do planalto de Esdrelon, que ele domina a 320 m de altura (562 m acima do níveldo mar e 800 m acima do Lago de Tiberíades). Tem a seu favor a tradição desde o 4.ºséculo, isto é, "subia ao monte Tabor, onde o Senhor se transfigurou".

Objetam alguns que lá devia haver um forte, de que fala Flávio Josefo (Bel1. Jud.2-.20.6 e 4.1.1.8), mas isso só ocorreu 36 anos depois, na guerra contra Vespasiano.

Do alto do Tabor, fértil em árvores odoríferas, contempla-se todo o campo doministério de Jesus: Caná, Naim, Cafamaum, uma parte do Lego de Tiberíades, e, 8 kma noroeste, Nazaré.

A Transfiguração

Chegam ao cume, Jesus se põe a orar (Lucas) e, durante a prece, "se transfigura".Mateus e Marcos não temem usar metemorphôthê, "metamorfoseou-se", que exprimeuma transformação com mudança de forma exterior. Lucas evita esse verbo, preferindometaschêmatízein ("revestir outra forma"), talvez para que os pagãos, a quem sedirigia, não supusessem uma das metamorfoses da mitologia.

Essa transformação se operou no rosto, que tomou "outra forma"; embora não sediga qual, a informação de Mateus é que "resplandecia como o sol". Também as vestesse tornaram "brancas como a luz" (Mat.) ou "brancas qual nenhum lavandeira seriacapaz de alvejar” (Marc.) ou "brancas e relampejantes" (Lucas).

Mateus e Marcos falam em "visão" (ôphthê, aoristo passivo singular, "foi visto"),enquanto Lucas apenas anota que "dois homens", que eram Moisés e Elias,conversavam com Ele.

Moisés, o libertador e legislador dos israelitas, servo obediente e fiel, e Elias, omais valoroso e adiantado intérprete, em sua mediunidade privilegiada. Agora vinhamambos encontrar, aniquilado sob as vestes da carne, aquele mesmo Adonai, o "seuDEUS", com o simbólico nome de JESUS: traziam-Lhe a garantia da amizade e afidelidade de seus serviços, sobretudo nos momentos difíceis: dos grandes sofrimentos

que se aproximavam.

Lucas esclarece que a conversa girou exatamente em torno do "êxodo", ou seja,da saída de Jesus do mundo físico, que se realizaria em Jerusalém dentro de poucotempo, através da porta estreita de incalculáveis dores morais e físicas. Emboradesencarnados, continuavam servos fiéis de "seu Deus".

Digno de nota o emprego desse mesmo termo "êxodo" por parte de Pedro (2.ª Pe.1:15), quando se refere à sua próxima desencarnação. E talvez se recordando dessapalavra, Lucas usa o vocábulo oposto (eísodos) "entrada" (At.13:34) ao referir-se àchegada de Jesus no planeta em corpo físico.

Como também está escrito no salmo segundo: Meu Filho és tu, hoje te gerei. E queo ressuscitaria dentre os mortos, para nunca mais tornar à corrupção, disse-o assim: Assantas e fiéis bênçãos de Davi vos darei. At 13:33-34

Os corpos humanos são por natureza corruptíveis. É por isso que 1 Coríntios15:42-44 usa a palavra “corrupção” numa construção paralela com “corpo físico”. Jesusnunca mais terá tal corpo.

Como vemos, trata se de verdadeira e legítima "sessão espírita", realizada porJesus em plena natureza, a céu aberto, confirmando que as proibições, formuladaspelo próprio Moisés ali presente, não se referiam a esse tipo de sessões, mas apenas a"consultar" os espíritos dos mortos sobre problemas materiais (cfr. Lev. 19:31 e Deut.18:11), em situações em que só se manifestam espíritos de pouca ou nenhumaevolução. Tanto assim que era condenado o médium "presunçoso" que pretendessefalar em nome de Adonai, sem ser verdade (mistificação) e o que servisse deinstrumento a "outros" espíritos (Deut. 18:20). Mas conversar com entidades evoluídas,jamais poderia ter sido condenado por Moisés que assiduamente conversava comAdonai e que, agora mesmo, o estava fazendo, embora em posição invertida.

Quanto à presença de Elias, que Jesus afirmou categoricamente haverreencarnado na pessoa de João Batista, (cfr. Mat. 11:14) observemos que o episódioda "transfiguração" se passa após a decapitação do Batista (cfr.Mat. 14:10 e Marc.6:27; vol. 3). Por que, então, teria o precursor tomado à forma de uma encarnação

anterior? Que isso é possível, não há dúvida. Mas qual a razão e qual o objetivo? Sóentrevemos uma resposta: recordar o tempo em que, sob as vestes carnais de Elias,esse Espírito fiel e ardoroso servira de médium e intérprete ao próprio Jesus, que entãorespondia ao nome de Adonai.

Outra indagação faz os hermeneutas: como teriam os discípulos reconhecidosMoisés, que viveu 1500 anos antes e Elias que viveu 900 anos antes, se não havianenhum retrato deles coisa terminantemente proibida (cfr.Êx. 20:4; Lev. 26:1; Deut.4:16, 23 e 5:8)?

Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há emcima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Ex. 20:4

No entanto, ninguém afirmou que os discípulos os "reconheceram". Lucas, em suafrase informativa, diz que "viram dois homens"; depois esclarece por conta própria:"que eram Moisés e Elias". Pode perfeitamente deduzir-se daí que o souberam porinformação de Jesus (que os conhecia muito bem). Essa dedução tanto pode serverídica que, logo depois, ao descerem do monte, os quatro, a conversa girouprecisamente sobre a vinda de Elias antes do ministério de Jesus. Como poderia virse ainda estava "no espaço"? E o Mestre lhes explica o processo da reencarnação.

Transfiguração: Plano físico ou Espiritual?

Também em Lucas encontramos outra indicação preciosa, que talvez lance novaluz sobre o episódio.

Diz ele que "os discípulos estavam oprimidos pelo sono, mas conservando-seplenamente despertos" (tradução de diagrêgorêsantes, particípio aoristo dediagrêgoréô, que é um verbo derivado de egrêgora, do verbo egeírô, "despertar").Quiçá explique isso que o episódio se passou no plano espiritual (astral, ou talvezmental). Eles estavam em sono, ou seja, fisicamente em transe hipnótico(mediúnico), com o corpo adormecido; mas se mantinham plenamente despertos,isto é, perfeitamente conscientes nos planos menos densos (astral ou mental); então, oque de fato eles viram, não foi o corpo físico de Jesus modificado, mas sim a

forma espiritual do Mestre e, a seu lado, as formas espirituais de Moisés e Elias.Inegavelmente a frase de Lucas sugere pelo menos a possibilidade dessainterpretação. Mais tarde, na agonia, é também Lucas que chama a atenção sobre osono desses mesmos três discípulos (Luc. 22:45).

Jesus ora no Monte das Oliveiras

E, saindo, foi, como costumava, para o Monte das Oliveiras; e também os seusdiscípulos o seguiram. E quando chegou àquele lugar, disse-lhes: Orai, para que nãoentreis em tentação. E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se dejoelhos, orava, Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se façaa minha vontade, mas a tua. E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia. E, postoem agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se como grandes gotas desangue, que corriam até ao chão. E, levantando-se da oração, veio para os seusdiscípulos, e achou-os dormindo de tristeza. E disse-lhes: Por que estais dormindo?Levantai-vos, e orai, para que não entreis em tentação. Lc 22:39-46

Mateus e Marcos parecem indicar que Pedro fala ainda na presença de Moisés eElias, mas Lucas esclarece que ele só se manifestou depois que eles desapareceram.Impulsivo e extrovertido como era, não conseguiu ficar calado. E sem saber o quedizer, propõe construir três tendas uma para cada um dos visitantes e uma para Jesus.

Interessante observar que em Marcos encontramos o vocábulo que deve ter sidousado por Pedro "Rabbi", enquanto Mateus o traduz para "Senhor" (kyrie) e Lucas para"Mestre" (epistata).

Pergunta-se qual a razão das tendas. Talvez porque já era noite? Mas quantasvezes dormira Jesus ao relento, sem que Pedro se preocupasse... Alguns hermeneutasindagam se a expressão "construir tendas" não terá, por eufemismo, significado apenas"permanecer lá", isto é, não mais voltar à planície. E a hipótese é bastante lógica eforte, digna de ser aceita.

Pedro não obteve resposta. Estava ainda a falar quando os envolveu (literalmente"cobriu") a todos uma nuvem (Mat.: de luz), e os três jogaram-se de rosto ao chão,aterrorizados. Na escritura, a nuvem era um sinal da presença de Adonai (cfr. Êx.16:10; 19:9,16; 24:15,16; 33:9-11; Lev.16:2; Núm.11:25, etc.).

Daí pode surgir outra interpretação, que contradiz a primeira hipótese, de haver-sepassado a cena no plano espiritual. A nuvem poderia ser o ectoplasma que tivesseservido para materialização dos espíritos e que, ao desfazer-se a forma, tomavaaspecto de nuvem difusa, até o ectoplasma ser absorvido pelo ar.

O mesmo fenômeno, aliás, também atestado por Lucas apenas (At. 1:9. E, quandodizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o aseus olhos.) se observou ao dispersar-se o ectoplasma utilizado para a materializaçãodo corpo astral de Jesus após a ressurreição; nessa circunstância, dois outros espíritosaproveitaram o ectoplasma para materializar-se e dizer aos discípulos boquiabertos,que fossem para seus afazeres; e logo após desaparecerem. Também aqui parececoincidir o aparecimento da nuvem com o desaparecimento dos dois espíritos.

Transfiguração: Ouviu-se a voz...

Quando a nuvem os cobriu, foi ouvida uma voz (fenômeno comum nas sessões dematerialização, e conhecido com o nome de "voz direta"), que proferiu as mesmaspalavras ouvidas por ocasião do "Mergulho de Jesus" (Mat.13:17; Marc. 1:11; Luc.3:22; vol. 1): "este é meu filho, o Amado, que me alegra"; e os três evangelistasacrescentam unanimemente: "ouvi-o". No entanto, Pedro, testemunha ocular do fato,repete a frase sem o imperativo final: "recebendo de Deus Pai honra e glória, uma vozassim veio a Ele da magnífica glória: este é meu Filho, o Amado, que me satisfaz. Eessa voz que veio do céu, nós a ouvimos, quando estávamos com Ele no monte santo"(2.ª Pe.1:17-18).

Após a frase que Marcos, com um hápax (exápina) diz "ter cessado", tudo voltou ànormalidade. Mas, segundo Mateus, eles permaneceram amedrontados. Foi quandoJesus, tocando-os, mandou-os levantar-se, dizendo que não tivessem medo.Levantando-se, eles viram apenas Jesus, já em seu estado físico normal.

Termina Lucas informando que tal impressão causou o fato, que os três nadadisseram a ninguém "por aqueles dias". Esse silêncio aparece como uma ordem dadapor Jesus aos três, "ao começarem a descer o monte", fixando-se o prazo: "até que oFilho do Homem se levante dentre os mortos" (ou "seja ressuscitado").

Procuremos penetrar, agora, o sentido profundo do episódio narrado pelos três

sinópticos.

Esclareçamos de início, que as instruções de João o evangelista, quanto àiniciação ao adeptado e sua conquista, seguem caminho diferente dos três outrosevangelistas, e por isso essa passagem foi substituída por outra: as bodas de Caná.Daí não haver tocado no assunto. Mas outras razões podem ser dadas: tendoexperimentado esse esponsalício pessoalmente, não quis divulgá-lo por discrição. Outambém: tendo sido narrado pelos três, inútil seria revivê-lo depois que estavadivulgado havia pelo menos 30 anos.

Examinemos rapidamente os dados fornecidos pelos textos.

Mateus e Marcos assinalam com precisão que a cena se deu SEIS dias depois.Não nos interessa saber depois "de que"; e sim assinalar que o fato se passou noSÉTIMO dia. Alertados, pois, para isso (que Lucas, mais intelectualizado por formação,interpretou como pura indicação cronológica e registrou com imprecisão: cerca deoito dias), imediatamente compreendemos que se tratam mais uma vez, do últimopasso sério de uma iniciação esotérica. Daí a necessidade de prestar toda aatenção aos pormenores, ao que está escrito, ou ao que está sugerido, embora nãodito, às ilações silenciosas de um texto que, evidentemente, tinha que aparecerdisfarçado, indicando apenas, despretensiosamente, uma ocorrência no mundo físico.

Observemos o episódio que Jesus passara, em sua peregrinação terrena, pelostrês primeiros graus:

O MERGULHO nas águas profundas do coração, a CONFIRMAÇÃO, obtida com aVoz ouvida logo após o mergulho, completando assim os mistérios menores. Erecebera bem a "prova" do terceiro grau, as "tentações", vencendo-as em tempocurto e de maneira brilhante. Nem mesmo necessitara propriamente de uma metánoia("modificação mental" ou, como prefere H. Rohden, "transmentação"): sua mente jáestava firmada no Bem havia milênios; submeteu-se às provas por espontânea vontade(tal como ocorrera com o "mergulho" diante do Batista, Mat. 3:14-15), para exemplificar,deixando-nos o modelo vivo, que temos que seguir.

Superadas, pois, as tentações (3.° grau) - e portanto vencida e domada totalmentea personagem transitória com sua ignorância divisionista, transbordante de egoísmo,vaidade e ambição - podia pretender o ingresso no 4.° grau iniciativo, nos mistérios

maiores.

A cerimônia, realizada diante da Força Divina, conscientemente sentida dentro decada um, mas também transcendente em a Natureza. Dividia-se em duas partes.

A primeira partia do candidato (termo que significa "vestido de branco”; cfr.Marcos: "branco qual nenhum lavandeira na Terra é capaz de alvejar"); consistia na"Ação de Graças" (em grego eucharistía).

O homem eleva suas vibrações ao máximo que lhe é possível, a fim de,sintonizando com Deus, agradecer o suprimento de Força (dynamis) e de Energia(érgon) que recebeu. Com isso, seu Espírito caminha ao encontro do Pai.

A essa Ação de Graças comparecem os "padrinhos" do novo ser que "inicia" aestrada longa e árdua do adeptado: dois "iniciados maiores", que se responsabilizampor ele, tornando-se fiadores de que realmente ele é digno de receber a Luz do Alto, ede que está APTO ao passo de suma gravidade que pretende dar. Ninguém melhorque Moisés e Elias para apresentarem-se fiadores da pureza e santidade, o Rei daJustiça e da Paz, MELQUISEDEC!

E lá estão eles, revestidos de luz, embora suas luzes fossem ainda inferiores àsdaquele que, para eles, fora "o seu Deus"!

Nesse encontro magnífico, o entretenimento permanecia na mesma elevaçãoespiritual, e os assuntos tratados referiam-se exatamente aos passos seguintes: oquinto e as dores e a paixão indispensáveis para o sexto; conversavam a respeito dapróxima "saída" que, dentro em pouco, se realizaria em Jerusalém.

Nesse alto nível de frequências vibratórias, puramente espirituais, em que ocandidato aceita, de pleno grado e com alegria, tudo o que os "padrinhos" lheapresentam como necessário à promoção aguardava-se a aprovação do Alto, apoderosa manifestação (em grego epiphanía) que devia chegar do VERBO, através dapalavra autorizada do Hierofante Máximo, declarando o candidato aceito no quartograu, que lhe garantia o título oficial de "Iniciado". E Melquisedec mais uma vez fazsoar SUA VOZ: "este é meu Filho, o Amado". Através do Sumo Sacerdote do DeusAltíssimo (Heb.7:1) soava o SOM divino, e ao mesmo tempo vinha a autorização plenae total, para que pudesse ENSINAR os grandes mistérios àqueles que deles fossemdignos: OUVI-O!

Melquisedec era rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo. Ele foi ao encontrode Abraão, quando este voltava vitorioso da batalha contra os reis. Ele abençoouAbraão, e Abraão lhe deu a décima parte de tudo. Traduzido, o nome Melquisedecsignifica "rei de justiça"; além disso, ele é rei de Salém, isto é, "rei de paz". Hebrreus7:1-2 Pastorino

A VINDA DE ELIAS Mat. 17:9-13 Mc 9:9-13

Ao descerem da montanha, Jesus ordenou-lhes: "Não contem a ninguém essa visão,até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos."

Os discípulos de Jesus lhe perguntaram: "O que querem dizer os doutores da Lei,quando falam que Elias deve vir antes?"

Jesus respondeu: "Elias vem para colocar tudo em ordem. Mas eu digo a vocês:Elias já veio, e eles não o reconheceram. Fizeram com ele tudo o que quiseram. E oFilho do Homem será maltratado por eles do mesmo modo."

Então os discípulos compreenderam que Jesus falava de João Batista.

9

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11 12

13

REENCARNAÇÃO

Mateus 17:10-13

10. Perguntaram-lhe os discípulos dizendo: "Por que então dizem os escribas queElias deve vir primeiro"?

11. Respondendo, Jesus disse: Sem dúvida Elias vem primeiro e restaurará todasas coisas;

12. Mas eu vos digo que Elias já veio e não o conheceram, antes fizeram com eletudo o que quiseram; assim também o Filho do Homem há de padecer por parte deles.

13. Então os discípulos entenderam que lhes falara a respeito de João Batista.

Marcos 9:10-13

10. E guardaram essa palavra, discutindo entre si o que seria ter sido levantadodentre os mortos.

11. Então lhe perguntaram dizendo: "Como é que os escribas dizem que Elias deveter vindo primeiro"?

12. Respondendo, disse-lhes: Elias, tendo vindo primeiro, restauraria todas ascoisas e (como está escrito do Filho do Homem) padeceria muitas coisas e seriarejeitado;

13. Mas digo-vos que (tal como está escrito a respeito dele) também Elias veio efizeram a ele tudo o que queriam.

Em Marcos, encontramos a causa que provocou a pergunta. Tinham os discípulos,gravado na memória a proibição de Jesus e, a esse respeito, vinha sendo mantidaacesa discussão a propósito da frase: ter-se levantado dentre os mortos (veja-se oestudo "levantar-se").

Apesar da discussão, não se fez a luz e não chegaram eles a uma conclusão

satisfatória.

Com efeito, havia muitos dados que pareciam contraditórios entre si. Malaquiasprevira o retorno de Elias a Terra, antes do Messias, na qualidade de Seu precursor.

Vejam! Estou mandando o meu mensageiro para preparar o caminho à minhafrente. De repente, vai chegar ao seu Templo o Senhor que vocês procuram, omensageiro da Aliança que vocês desejam. Olhem! Ele vem! - diz Javé dos exércitos. Malaquias 3:1

Jesus declarara (Mat. 11:14) a respeito de João Batista, então encarnado: "e sequereis aceitá-lo, ele mesmo (João) é o Elias que tinha que vir". Mas, logo após, JoãoBatista fora retirado da cena, decapitado.

Agora, mais uma complicação surgira: eles acabavam de ver e ouvir Elias, com aforma de Espírito. Como explicar-se ali a presença de Elias? Elias não havia renascidona pessoa de João Batista? E então, por que apareceu Elias, e não o Batista? E haviamais: se estava previsto que a missão de Jesus chegava ao fim (assunto tratadodurante a visão, confirmando as palavras anteriores de Jesus), não haveria temposuficiente para que Elias reencarnasse e viesse "preparar o caminho para o Senhor".

De fato, a confusão era procedente e eles resolveram interpelar o Mestre,expondo-Lhe suas dúvidas numa pergunta que as englobasse: "como dizem osescribas que Elias deve vir primeiro"?

Jesus aceita e ratifica o ensino dos escribas baseado nas Escrituras: não há dúvidade que Elias vem antes. Eis as respostas com suas variantes nos dois Evangelhos:

Mateus: Sem dúvida Elias vem e restaurará todas as coisas. Mas eu vos digo queELIAS JÁ VEIO e não o conheceram, mas fizeram com ele tudo o que quiseram: assimtambém o Filho do Homem há de padecer da parte deles .

Marcos: Com efeito, tendo vindo primeiro, Elias restauraria todas as coisas e(como também está escrito do Filho do Homem) padeceria muitas coisas e seriarejeitado. Mas digo-vos que (tal como está escrito a respeito dele) também ELIAS VEIOe fizeram-lhe tudo o que queriam.

Mesmo assim confuso, o sentido do texto de Marcos concorda com o sentido do deMateus em suas linhas básicas: ELIAS JÁ VEIO e, não tendo sido reconhecido, foiassassinado, Mas Elias JÁ VEIO.

Após essa resposta incisiva, os raciocínios se aclararam: eles haviam degolado"Elias", quando degolaram João Batista, e por isso Elias apareceu em espírito. De fato,o Espírito não morre. Só morre a personalidade terrena, única que recebe um nome. Aconclusão é óbvia: o Espírito (individualidade) é um só, que vivifica sucessivamentevárias personagens. O mesmo Espírito, pois, vivificara Elias e, novecentos anos depois,vivificara a personagem João Batista. Assim sendo, o Espírito era o mesmo, e podiaapresentar-se com qualquer das duas formas, a seu gosto: ou Elias, ou João Batista.

Tudo se esclarecia definitivamente e "os discípulos entenderam finalmente que,quando Jesus lhes falara de Elias, Ele se referira a João Batista, nova encarnação deElias".

E foi assim que o compreendeu Gregório Magno que vamos repetir "Em outropasso o Senhor, interrogado pelos discípulos sobre a vinda de Elias, respondeu: Eliasjá veio (Mat. 17:12: Marc. 9:12) e, se quereis aceitá-lo, é João que é Elias (Mat. 11:14).João, interrogado, diz o contrário: eu não sou Elias (João, 1:21). É que João era Eliaspelo Espírito (individualidade) que o animava, mas não era Elias em pessoa(personagem).

Eles perguntaram: "Então, quem é você? Elias?" João disse: "Não sou." Elesperguntaram: "Você é o Profeta?" Ele respondeu: "Não." Então perguntaram: Quem évocê? Temos que levar uma resposta para aqueles que nos enviaram. Quem você dizque é? João declarou: "Eu sou uma voz gritando no deserto: 'Aplainem o caminho doSenhor', como disse o profeta Isaías." João 1:21-23

(Deixei o texto para constar a ideia do autor. Hoje temos vasta literaturaconfirmando a encarnação de Elias como João Batista. Acrescentei).

O ENDAIMONIADO EPILÉPTICO Mat. 17:14-21 Mc 9:14-29 Lc 9:37-42

14 Eles foram em direção à multidão. Um homem aproximou-se de Jesus,ajoelhou-se, 15 e disse: "Senhor, tem piedade do meu filho. Ele é epilético, e temataques tão fortes que muitas vezes cai no fogo ou na água. 16 Eu o levei aos teusdiscípulos, mas eles não conseguiram curá-lo!"17 Jesus respondeu: "Gente sem fé e pervertida! Até quando deverei ficar com vocês?Até quando terei que suportá-los? Tragam o menino aqui." 18 Então Jesus ordenou, eo demônio saiu. E na mesma hora o menino ficou curado.19 Os discípulos se aproximaram de Jesus, e lhe perguntaram em particular: "Por quenós não conseguimos expulsar o demônio?"20 Jesus respondeu: "É porque vocês não têm bastante fé. Eu garanto a vocês: sevocês tiverem fé do tamanho de uma semente de mostarda, podem dizer a estamontanha: 'Vá daqui para lá', e ela irá. E nada será impossível para vocês. 21 Somenteoração e jejum podem expulsar esse tipo de demônio."

SEGUNDA PREVISÃO DO CALVÁRIO Mat. 17:22-23 Mc 9:30-32 Lc 9:43-45

22. Enquanto eles atravessavam a Galileia, disse-lhes Jesus: "O Filho do Homemestá para ser entregue às mãos dos homens”,

23. E eles o matarão, e ao terceiro dia ele despertar. E (eles) entristeceram-segrandemente.

Marcos 9:30-32

30. E partindo daí, passou através da Galiléia e não queria que ninguém (o)soubesse

31. pois ensinou a seus discípulos e disse: "o Filho do Homem é entregue às mãosdos homens e eles o matarão; e, tendo morrido, ao terceiro dia ele se levantará"'.

32. Eles não compreenderam essa palavra, mas receavam interrogá-lo.

Lucas. 9:43-45

43. ... Admirando-se todos sobre tudo o que Jesus fazia disse a seus discípulos:

44. "Colocai estas palavras em vossos ouvidos: pois o Filho do Homem está paraser entregue às mãos dos homens".

45. Eles porém não entenderam essa palavra e foi velada para eles, para que nãoa percebessem; e eles receavam perguntar-lhe a respeito dessa palavra.

Quando Jesus se retira do Tabor, após a cura do obsidiado, "atravessa a Galileia",procurando manter-se incógnito durante a viagem, a fim de completar ensinamentos aSeus discípulos. Aproximava-se a hora da experiência máxima, o momento supremo depôr em prática os maiores ensinamentos que ministrara a respeito da personalidade.Queria que ficasse bem impresso em suas mentes que, aos discípulos, não bastavaaprender, mas era imprescindível experimentar pessoalmente.

Isso era dito em tom de ensinamento (edidasken tous mathêtãs autou).

E entre as lições menos minuciosas que a anterior, é acrescentado que o Filho doHomem será "entregue nas mãos dos homens". O verbo paradídotai é o mesmoempregado quando se fala que "Judas o entregou".

O fato de "ser entregue nas mãos dos homens" era considerado o maior suplícioimaginável, e já David preferira a peste: "caiamos nas mãos de Adonai, pois suasmisericórdias são grandes, mas que eu não caia nas mãos dos homens" (2.º Sam.24:14). E também o Eclesiástico (2:18) repete: "cairemos nas mãos do Senhor, não nasmãos dos homens". E isto porque os homens não sabem perdoar.

Lucas, que não refere às circunstâncias em que foi feita esta segunda predição dapaixão, liga-a a cura do epiléptico e à admiração das multidões.

Os discípulos ouvem a recomendação do Mestre de "guardar estes ensinos" masnão alcançam a profundidade dos mesmos. Só sabem, por enquanto, observar o ladoexterno: se Ele é o Messias, como poderá ser sacrificado? Não há dúvida que logo seacrescenta que "será despertado" (Mat.) ou "se levantará" (Marc.) ao terceiro dia. Masde qualquer forma, fica a impressão de que eles não querem entender a coisatotalmente.

Novamente insiste a individualidade (Jesus), ensinando à personagem o que elatem que fazer para poder sublimar-se, sublimando o Espírito que a construiu. Mas apersonagem faz-se de desentendida; entrevê a coisa, mas não na percebe plenamente,e tem medo de penetrar mais a fundo: receia compreender totalmente o assunto,assumindo, com essa compreensão, a responsabilidade de agir, obrigando-se aobedecer à voz interna que a quer chamar à realidade. De outro lado, jamais o Espíritorevela com clareza meridiana o que está para ocorrer: as indicações são "veladas",para que a personagem não se assuste demasiadamente, fugindo à iniciação dolorosa.

O "Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, que o matarão, mas elese levantará ao terceiro dia". A revelação é espantosa e os atemoriza, pois não podemfixar-se no final "despertamento", após permanecer três dias no "Coração da Terra"(Mat. 12:40). O que apavora a personagem é a dor, o sofrimento físico e, sobretudo amorte: o espectro terrível com poderes discricionários e irresistíveis para aniquilar o seratual, para destruir a personagem transitória, para reduzir a zero o "filho único tãoquerido", o nome que tanto prezamos.

Jesus recebeu, durante a "transfiguração", as instruções relativas às provas queprecisava sofrer (páthein) em Jerusalém. Pelo relato de Lucas, temos a impressão deque os três discípulos Pedro, Tiago e João tinham ouvido a conversa, e, portantoestavam a par do que iria ocorrer. Tanto que Pedro, que tamanho escândalo fizeraquando da primeira vez Jesus acenara a isso, desta vez, depois do episódio do monteTabor, nada diz.

No entanto, havia necessidade de prevenir aos outros nove discípulos, e àspessoas que o acompanhavam, (e que nada sabiam a respeito do ocorrido com Moisése Elias porque os três assistentes, por proibição de Jesus, nada haviam narrado), queJesus teria que submeter-se a sofrimentos atrozes.

Aproveitando, pois, a conversa informal que surgira na pequena viagem a péatravés da Galileia o Mestre notifica-lhes a ocorrência violenta que está por vir, a fim deque, quando acontecesse, não os apanhasse desprevenidos.

O aviso é dado por completo: o abandono às mãos dos algozes, a morte porassassinato, e também o resto: que Ele novamente se levantaria vivo. Tratava-se,

portanto de uma morte aparente, ou seja, apenas morreria o veículo físico-denso, jáque, na realidade, Ele permaneceria vivo, tanto que, ao terceiro dia, tornaria a erguer-se.

Os discípulos, que não estavam a par dos ritos da iniciação, não entenderam bemdo que se tratava, mas não tiveram coragem de interrogá-lo. Limitaram-se a "ficartristes", pois pressentiam que iriam perder a companhia física de um Mestre que eles jáse haviam habituado a amar.

JESUS E PEDRO PAGAM O TRIBUTO Mat. 17:24-27

24. Tendo chegado a Cafarnaum, dirigiram-se a Pedro os que cobravam as duasdracmas e perguntaram: “Vosso Mestre não paga as duas dracmas"?

25. Respondeu-lhes ele: "Paga". E quando Pedro entrou em casa, antecipou-seJesus, dizendo; "Que te parece, Simão: de quem recebem os reis da Terra tributo ouimposto? de seus filhos ou dos estranhos"?

26. Respondeu Pedro; "Dos estranhos". Jesus disse: "Então os filhos estãoisentos...”.

27. Mas para que os não escandalizemos, “vai ao mar, lança o anzol, e o primeiropeixe que subir, tira-o; e abrindo-lhe a boca, encontrarás um "estáter"; apanha-o eentrega-lhes por mim e por ti".

· Estáter: Moeda de prata que valia quatro DENÁRIOS (Mt 17.27).

Depois de percorrer a planície de Genesaré, proveniente de Betsaida-Júlias, chegafinalmente a comitiva a Cafarnaum, recolhendo-se cada um a seu lar.

Pouco após a chegada, batem à porta os “cobradores do imposto do Templo”.Jesus residia com Pedro e é a este, o dono-da-casa, a quem se dirigem os cobradores,perguntando-lhe “se o Mestre não pagava o imposto de dracmas".

· Denário: Moeda romana de prata, que era o pagamento por um dia de trabalho(Mt 20.2, RA; RC, dinheiro). Tinha o mesmo valor da DRACMA 2.

A origem do “imposto do Templo” se prende a Moisés (Ex.30:11-13), quandoAdonai ordena que, ao serem contados os israelitas, de cada um fosse cobrado umtributo de “meio siclo", que correspondia a vinte geras. Na época da restauração,Neemias (10:32) baixou a tarifa para um terço de siclo, especificando ao mesmo tempoa finalidade do imposto: a manutenção do Templo e dos serviços religiosos.

Siclo:

1) Medida de peso igual a 11,424 g (Gn 24.22). É igual a 2 BECAS ou a 20

GERAS.

2) Peça de ouro ou prata usada como dinheiro (2Sm 24.24).

11 Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo: 12 Quando tomares a soma dosfilhos de Israel, conforme a sua conta, cada um deles dará ao SENHOR o resgate dasua alma, quando os contares; para que não haja entre eles praga alguma, quando oscontares. 13 Isto dará todo aquele que passar ao arrolamento: a metade de um siclo,segundo o siclo do santuário (este siclo é de vinte geras); a metade de um siclo é aoferta ao SENHOR. Ex 30:11-13

32 Também sobre nós pusemos preceitos, impondo-nos cada ano a terça parte deum siclo, para o ministério da Casa do nosso Deus. Neemias 10:32

Na época de Jesus, já voltara a ser meio-siclo. O siclo de prata tinha o valor dequatro dólares atuais.

Sua equivalência nas moedas contemporâneas era de quatro denários (moedaromana) e de quatro dracma (moeda grega). Então, o imposto de meio siclocorrespondia a duas dracmas (a que chamavam didracma). Para duas pessoas,havia necessidade de quatro dracmas, que perfaziam um "estáter".

Mateus chama aos coletores desse imposto, os recebedores de didracmas.

A coleta começava: em Jerusalém no dia 25 de Adar e fora da capital a 15 deAdar, que era o nome do mês que precedia o de Nisan, no qual era celebrada aPáscoa.

· Adar (Ed 6.15), fevereiro-março. Destes, apenas tamuz (junho-julho) e abe (julho-agosto) não são mencionados na Bíblia. V. ANO.

· Abibe (Êx 13.4) ou Nisã (Ne 2.1), de meados de março a meados de abril;

Deveria terminar a coleta e ser recolhido o resultado até o dia l.º de Nisan, na Salado Tesouro do Templo, para ser usado com as despesas da Páscoa. Nas regiões maisdistantes o resultado da coleta devia ser enviada a Jerusalém até 15 dias antes dePentecostes; e as do exterior deviam chegar até 15 dias antes da Festa dosTabernáculos, quando afluíam a Jerusalém os israe1itas da Diáspora. O montante eralevado pelos próprios peregrinos de confiança.

Estavam obrigados ao imposto os israelitas maiores de 20 anos, inclusive oslevitas, os prosélitos e os libertos; eram isentos os menores daquela idade, osescravos, as mulheres e os sacerdotes (sobre o que muito se discutia). Em vista dacrescente fama de Jesus como Messias, os cobradores ficam na dúvida se Ele nãopretendia valer-se da isenção, e interrogam Pedro. Observe-se que a casa éapresentada como moradia de Jesus (tal como em 13:1 e 36), e não maisessencialmente como casa de Pedro, como em 9:14).

Por esse pormenor verificamos que estávamos a um mês da Páscoa, o queconfirma o afirmado em João 6:4.

Pedro responde aos cobradores, sem hesitar: “Paga”! E ao entrar em casa, Jesus“se antecipa" a Ele, perguntando de quem recebem impostos os reis: dos filhos ou dosestranhos?. A resposta é óbvia. E lógica a conclusão de Jesus que conscientemente,se sabia filho de Deus, porque Nele já agia o Cristo Interno em sua plenitude, e não apersonalidade filha da carne.

Não obstante, julga dever ser evitado qualquer mal-entendido, ou, como se diz,“escândalo". E resolve, para satisfazer ao pagamento, dizer que Pedro chegue até apraia e lance o anzol, avisando-lhe que na boca do primeiro peixe encontrará um"estáter”. Com esse "estáter", diz Jesus, seria pago seu tributo e, num gesto dedelicada cortesia para com o amigo, acrescenta: "e o teu".

Pergunta-se:

1.º) como teria sido obtido que essa moeda estivesse na boca de um peixe; 2.º)como teria Jesus tido conhecimento de que lá havia uma moeda; e 3.º) como sabia queesse seria o primeiro peixe a morder a isca lançada por Pedro.

Logicamente, não estamos em condições de dar resposta certa e definitiva, comcabal garantia do que houve realmente. Apenas poderemos formular hipóteses. E aúnica que nos parece viáve1 e aceitável, é a de que não havia lá nenhuma moeda: masJesus, por meio dos espíritos que o rodeavam "e o serviam” (Mat. 4:11), providencioupara que, na boca do primeiro peixe que mordesse a isca lançada por Pedro, fossematerializada (ou para lá "transportada") a moeda. O "transporte" é coisa que pode ser

realizada, desde que haja capacidade por parte do agente. (Vide o Livro No País dasSobras d´Esperance. Acrescentei).

Outra lição para todos os espiritualistas. De modo geral, ao atingir certo grauevolutivo que julgam ter, os espiritualistas começam a sentir desapego das coisasmateriais e procuram evitar quaisquer pagamentos.

Acham que tudo merecem "de graça", pois estão isentos das obrigações terrenas.Realmente a sensação é justa. Mas para que e por que, ensina o Mestre,escandalizar e suscitar aborrecimentos?

Quem está na Terra, utilizando o corpo físico-denso cujas células todas são tiradasdo material do planeta, e servindo-se diariamente das coisas que o cercam, devetambém contribuir para o aprimoramento e a melhoria física do ambiente em que vivemeles mesmos e os outros irmãos seus.

Seres evoluídos não são apenas os Santos e Místicos, nem somente os Gênios eArtistas: também os inventores, os construtores, os industriais, os comerciantes, todosenfim que colaboram no progresso do planeta para conforto e beleza da casa que o Paifornece gratuitamente para nossa habitação temporária, todos esses são colaboradoresvaliosos da Obra do Pai, missionários do Alto.

Como seria triste e difícil a Terra sem eles! Que desequilíbrio terrível se verificaria,se os Espíritos atualmente muito evoluídos, tivessem que habitar um planeta aindacaótico e selvagem, como era este na era quaternária! O conforto material e oprogresso físico também ajudam a evoluir, proporcionando satisfação espiritual eambiente mental para aquisição de cultura.

Por isso devemos sujeitar-nos aos impostos que nos são solicitados pelasautoridades, a fim de, por esse meio, compensar a hospedagem que recebem nossoscorpos durante nossa estada gratuita neste imenso e belíssimo albergue que o Paicolocou à nossa disposição.

Mas há outro ponto de vista. É a relação existente entre a individualidade e oscorpos físicos. Muitas vezes a personalidade pede "pagamento" de tributos ao Espírito.São horas de sono para refazimento das energias dos órgãos; são distrações pararepouso dos neurônios cerebrais; são passeios nas montanhas e no mar para revigoraro sangue com oxigênio novo e puro; é a alimentação para sustentar as células; sãoperíodos de lassidão (cansaço, fadiga) para contrabalançar as distensões musculares;são enfim tantas pequenas exigências de nossos veículos, que PRECISAM seratendidas.

Tudo isso pode ser comparado ao "imposto do Templo", já que, na realidade,"nosso corpo é o templo de Deus vivo" (2 Cor.6:16) e como tal tem que ser bemcuidado. É o veículo que tomamos ao nascer e que terá que levar-nos ao termo daviagem sem acidentes provocados por nosso descuido. Muito viríamos a sofrer seperdêssemos o veículo no meio da viagem por culpa nossa: o que faltasse da estradateria que ser feito a pé!

PEQUENOS E GRANDES NO REINO DOS CÉUS Mat. 18:1-5 Mc 9:33-37 Lc 9:46-48

1. Naquela hora chegaram-se os discípulos a Jesus perguntando: "Quem é, então,o maior no reino dos céus"?

2. E tendo chamado Jesus uma criancinha, colocou-a no meio deles,

3. E disse: Em verdade vos digo que se não vos modificardes e não vos tornardescomo as criancinhas: não podeis entrar no reino dos céus.

4. Quem, portanto, se diminua como esta criancinha, esse é o maior no reino doscéus,

5. E quem receba uma criancinha assim em meu nome, me recebe".

Marcos 9:33-37

33. E chegaram a Cafarnaum; e estando ele em casa perguntou-lhes: "Sobre quepensáveis no caminho"?

34. Mas eles calaram-se, porque pelo caminho haviam conversado entre si qual(deles era) maior.

35. E sentando-se, chamou os doze e disse-lhes: "Se alguém quer ser o primeiro,seja o último de todos e o servidor de todos".

36. E tomando uma criancinha, colocou-a no meio deles e, abraçando-a, disse-lhes:

37. "Quem quer que receba uma criancinha assim em meu nome, a mim merecebe; e quem quer que me receba, não recebe a mim, mas aquele que me enviou".

Lucas 9:46-48

46. Surgiu um pensamento neles, sobre qual deles seria o maior.

47. Mas Jesus vendo o pensamento de seus corações, tomou uma criancinha ecolocou-a junto de si e disse-lhes:

48. "Quem quer que receba esta criancinha em meu nome, a mim me recebe; equem quer que me receba, recebe aquele que me enviou”.

Pois aquele que for menor dentre todos vós, esse será grande.

Como se dá com frequência, embora sendo o mais curto no cômputo total, oEvangelho de Marcos é o que apresenta mais pormenores e maior vivacidade; nestetrecho, em poucas palavras ele situa a cena, esclarecendo que realmente "residia" emCafarnaum; e, após citar o nome dessa que Mateus chamou "a sua cidade” (cfr. Mat.9:1), acrescenta: estando em sua casa.

Mateus inverteu a ordem dos outros dois, e atribui a iniciativa da conversa aosdiscípulos, que se teriam dirigido ao Mestre com uma indagação teórica; parece, comisso, querer desculpar a ambição do grupo, do qual ele mesmo fazia parte. Apresenta,pois, o colegiado acercar Jesus, e a perguntar inocentemente, como ávidos deconhecimento: "então, quem é o maior no reino dos céus"? Observemos que, pelo tom,não se trata deles, pessoalmente, mas é uma questão de tese. A resposta do Rabbi, noentanto, é fielmente transcrita, concordando com a dos outros dois intérpretes.

Marcos, ao invés, dá a iniciativa a Jesus, que lhes pergunta maliciosamente (talcomo em Lucas) "em que pensavam eles no caminho...” E Lucas explica a seusleitores que o Mestre "lera o pensamento" que neles surgira.

Antes de prosseguir, seja-nos lícito estranhar que, nas traduções deste trecho,aparece em Lucas "surgiu uma DISCUSSÃO entre eles... e Jesus lendo oPENSAMENTO deles...” Ora, no original, a mesma palavra dialogismos aparece nosdois versículos seguidos. Por que razão é ela traduzida de dois modos diferentes (e tãodiferentes!), a primeira como discussão e a segunda como pensamento, à distância deduas linhas e no mesmo episódio? Não conseguimos perceber o móvel dessas"nuanças sutis".

Também em Marcos a pergunta é feita com o verbo dialogízein (no textodielogízesthe, "pensáveis"). Mas logo a seguir aparece o verbo dieléchthêsan (aoristodepoente de dialégomai) pròsallêlous, que se traduz: "conversavam uns com osoutros". Mas de uma conversa em pequenos grupos, que entre si sussurravam umdescontentamento, deduzir-se que se tratava de uma DISCUSSÃO, a distância égrande...

O descontentamento já vinha grassando há tempos entre eles, como sempreocorre entre discípulos, que se julgam mais competentes ou pelo menos mais"espertos" que o mestre, para "ver" as coisas e resolvê-las com acerto. Apesar deJesus lhes haver ensinado que "o discípulo não é maior que seu mestre" (cfr. Mat.10:24; Luc. 6:40; vol. 3), eles eram humanos e achavam, talvez, que a escolha deJesus e a "autoridade" que conferira a Pedro, não estava cem por cento perfeita: outrosmelhores havia.

E eram relembrados "fatos": Jesus se hospedara em casa de Pedro (que moravacom seu irmão André, as esposas de um e de outro, e os filhos; cfr Marc. 1:29) quandopodia ter escolhido uma casa mais tranquila, maior, mais cômoda. ... Quando chegou aépoca de pagar a didracma (Mat. 17:27) Jesus recorre a um expediente "fora donormal" para pagar por si e por Pedro, sem pensar em fazê-lo pelos "outros", nemmesmo por André ... Havia desagradado o encargo de cada um dos outros pagar por simesmo, embora o gesto elegante de Jesus se justificasse plenamente, em relação aodiscípulo que o hospedava em seu próprio lar, naturalmente arcando com todas asdespesas de alimentação, vestuário, etc. Sem dúvida, Pedro podia fazê-lo com folga, jáque não devia ser pequena a receita que percebia da "companhia de pesca", de queele e André tinham sociedade com Zebedeu.

Mas havia mais: o Mestre tinha até mudado o nome dele para Kêphas (Pedro),sendo-lhe conferidas prerrogativas de chefe sobre os outros. Ora, tudo isso, e talvezoutras coisas que desconheçamos, tinham deflagrado uma crise de ciúmes e ambiçõesocultas, algumas mal disfarça das (como veremos mais tarde a de Judas Iscariotesque, julgando não ter o próprio Jesus capacidade e dinamismo suficientes para suatarefa messiânica, entrou em entendimentos com o Sinédrio para que assumisse adireção da obra, ficando Jesus apenas com o encargo de dar ensinamentos espirituaise fazer "milagres").

Então, quem REALMENTE seria o CHEFE, após o tão anunciado assassinato doMestre? Pedro podia ser o mais velho, mas seria o mais sábio? Seria o administradormais competente? Seria o mais fiel intérprete das ideias? Seria o mais culto? O maisprudente? Prudente?... Não fora Pedro repreendido por Jesus, que o chamara"antagonista"? Não fracassara na tentativa imprudente de pretender imitar o Mestreandando sobre as águas? Com esse seu temperamento vivo e emotivo, não estavasempre a intervir inoportunamente, nos momentos mais impróprios?... Tudo porqueJesus ainda não dera a "chave" para resolver a questão, que só foi revelada após suapaixão, quando, por três vezes seguidas perguntou a Pedro "se O amava" (cfr. João,21:15-17). O AMOR VERDADEIRO do discípulo pelo Mestre é o que realmente decidesobre a escolha do sucessor.

Cada um dos outros se julgava com alguma qualidade superior a Pedro,pretendendo que essa qualidade o predispunha melhor ao posto de chefe... "afinal,quem era DE FATO o maior entre eles"?

Uma solução direta e radical do caso poderia provocar mágoas em Seusescolhidos. Com a sabedoria profunda e delicada de sempre, Jesus resolve apresentaraos doze uma parábola em ação, de compreensão mais pronta e fixação maisduradoura que as de simples narrativa.

Chama uma "criancinha". Quem era? Curiosidade ociosa. Jesus acha-se "emcasa", ou seja, na casa de Pedro, com quem morava também André. Qual a criancinhaque lá havia para ser chamada? A resposta mais pronta é que deveria tratar-se de umdos filhos ou filhas de Pedro ou de André. Que Pedro tinha filhos parece não haverdúvidas, pois a tradição o diz e mesmo alguns "Pais da igreja" o atestam. Mas qualprova teríamos da criancinha? Os outros discípulos também deviam ter filhos, podendotratar-se de algum deles (segundo a tradição, o único discípulo que não contraiumatrimônio foi o evangelista João, que, à época da morte de Jesus devia contar entre20 e 21 anos). Mas havia também o grupo das discípulas que acompanhavam o Mestre(Marc. 15:41). É verdade que as narrativas evangélicas calam sistematicamente o fatode estar alguém casado; a não ser o aceno à sogra de Pedro (Mat. 8;14; Marc. 1;30;Luc. 4:38;), não se fala em nenhum casamento, nem do Mestre, nem dos discípulos. Sóalgumas figuras a aparecem como formando casais.

No século 9.º afirmaram que a criancinha teria sido Inácio de Antióquia, mas semqualquer prova (teria sido revelação mediúnica?). De qualquer forma, não importaquem tenha sido o garotinho; o que conta é o fato (Confirmado por Divaldo Franco,acrescentei). Vamos a ele.

Jesus chama uma Criancinha e a "carrega ao colo" ou "a abraça". O particípioenagkalisámenos, do verbo enagkalízomai, é composto de en + agkálê, que exprime"nos braços recurvados", podendo exprimir uma ou outra das traduções. Entre todosaqueles homens, a ternura de Jesus pela criança é emocionante.

E Ele a apresenta como modelo a ser imitado, numa lição que nos foi transmitidaem duas variantes.

MATEUS: se não nos modificardes e vos tornardes (eàn mê straphête kaígenêsthê, ou seja, "voltardes a ser") crianças, NÃO PODEIS entrar no reino dos céus".

E continua: "quem se diminuir será o maior". O verbo tapeinôsei exprimeexatamente "diminuir-se" ou "tornar-se pequeno"; diríamos, em linguagem moderna,"miniaturizar-se". Não é, pois, da humildade que aqui se trata, já que a criança não éhumilde: é pequena. A oposição, na parábola, é salientada entre a pequenez, asimplicidade e a sinceridade (Sinceridade no sentido etimológico: "isento, puro, semmistura"). Tanto que os antigos faziam derivar a palavra da expressão "sinecera".

Esse mesmo termo foi empregado por Paulo (Filip. 2:8), testificando que, Jesus "sediminuiu (apequenou-se, etapeínôsen), tornando-se obediente até a morte".

MARCOS acrescenta uma frase: "quem quiser ser o primeiro, seja o último detodos", lição que volta á na parábola do banquete (cfr. Luc.14:7-11), e além disso: "oservidor de todos. Essas ideias voltam em Mat.20:26-27 e Marc. 10:43-44; e tambémde si mesmo disse o próprio Jesus (Mat. 20:28): "o Filho do Homem veio para SERVIR,e não para SER SERVIDO".

O mesmo conceito aparece sob outra forma em Lucas: "o que dentre vos for omenor de todos, esse será grande".

Terminada a lição do "apequenamento" e do "serviço", os três sinópticosconcordam na conclusão, que se resume numa garantia para o futuro: "quem recebeuma criancinha assim EM MEU NOME ("por minha causa") é a mim que recebe".

Trata-se, portanto, de uma delegação ampla de credenciais, feita em caráter gerala todas as crianças em todos os tempos, para representá-Lo como embaixadoresperante todos os adultos da humanidade.

E essa delegação vai ampliada mais ainda, quando confessadamente declara oMestre que Ele apenas subdelega, pois "quem O recebe, recebe Aquele que O enviou".Marcos utiliza um hebraísmo típico genuíno e, confessamo-lo, saborosíssimo: "e quemme recebe, não é a mim (propriamente) que recebe, mas Aquele que me enviou".

O ESCÂNDALO Mat. 18:6-11 Mc 9:42-50 Lc 17:1-2

6 Quem escandalizar um desses pequeninos que acreditam em mim, melhor seriapara ele pendurar uma pedra de moinho no pescoço, e ser jogado no fundo do mar. 7Ai do mundo por causa dos escândalos! É inevitável que aconteçam escândalos, masai do homem que causa escândalo! 8 Se a sua mão ou o seu pé é ocasião deescândalo para você, corte-o e jogue-o para longe de você. É melhor para você entrarpara a vida sem uma das mãos, ou sem um dos pés, do que ter as duas mãos ou osdois pés, e ser lançado no fogo eterno. 9 E se o seu olho é ocasião de escândalo paravocê, arranque-o e jogue-o para longe de você. É melhor para você entrar para a vidacom um olho só, do que ter os dois olhos, e ser jogado no inferno de fogo." 10 Cuidadopara não desprezar nenhum desses pequeninos, pois eu digo a vocês: os anjos delesno céu estão sempre na presença do meu Pai que está no céu. 11 O Filho do Homemveio para salvar o que estava perdido.

108 - REENCARNAÇÃO

“Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o e atira-o paralonge de ti; melhor te é entrar na vida, coxo ou aleijado, do que, tendo duas mãosou dois pés, seres lançado no fogo eterno.”

— Jesus. (MATEUS, capítulo 18, versículo 8.)

Unicamente a reencarnação esclarece as questões do ser, do sofrimento e dodestino. Em muitas ocasiões, falou-nos Jesus de seus belos e sábios princípios.

Esta passagem de Mateus é sumamente expressiva.

É indispensável considerar que o Mestre se dirigia a uma sociedade estagnada,quase morta.

No concerto das lições divinas que recebe, o cristão, a rigor, apenas conhece, defato, um gênero de morte, a que sobrevém à consciência culpada pelo desvio da Lei; eos contemporâneos do Cristo, na maioria, eram criaturas sem atividade espiritualedificante, de alma endurecida e coração paralítico. A expressão “melhor te é entrarna vida” representa solução fundamental. Acaso, não eram os ouvintes pessoashumanas? Referia-se, porém, o Senhor à existência contínua, à vida de sempre, dentroda qual todo espírito despertará para a sua gloriosa destinação de eternidade.

Na elevada simbologia de suas palavras, apresenta-nos Jesus o motivodeterminante dos renascimentos dolorosos, em que observamos aleijados, cegos eparalíticos de berço, que pedem semelhantes provas como períodos de refazimento eregeneração indispensáveis à felicidade porvindoura.

Quanto à imagem do “fogo eterno”, inserta nas letras evangélicas, é recurso muitoadequado à lição, porque, enquanto não se dispuser a criatura a viver com o Cristo,será impelida a fazê-lo, através de mil meios diferentes; se a rebeldia perdurar porinfinidade de séculos, os processos purificadores permanecerão igualmente como ofogo material, que existirá na Terra enquanto seu concurso perdurar no tempo, comoutilidade indispensável à vida física.

Caminho, Verdade e Vida - Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel

PARÁBOLA DA OVELHA PERDIDA (VIDE ESTUDO PARÁBOLAS Mat. 18:12-14)

ERRO E PERDÃO Mat. 18:15-22 Lc 17:4

15. Se teu irmão errar (contra ti), vai avisá-lo entre ti e ele sozinho. Se te ouvir,terás ganho teu irmão.

16. Mas se não ouvir, toma contigo ainda um ou dois, para que por boca de duasou três testemunhas se resolva toda a questão.

17. Se, porém, não lhes atender, dize à comunidade; se também não atender àcomunidade, seja-te como o estrangeiro e o cobrador de impostos.

18. Em verdade vos digo, tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu; etudo o que liberardes sobre a terra, será liberado no céu.

19. Novamente vos digo, que se dois de vós, sobre a terra, concordarem sobrequalquer coisa que pedirem, ser-lhes-á feita por meu Pai que está nos céus.

20. Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou no meiodeles.

21. Então, aproximando-se Pedro, disse-lhe: "Senhor quantas vezes errará meuirmão contra mim e o relevarei? até sete vezes"?

22. Disse-lhe Jesus: "Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.

PARÁBOLA DO DEVEDOR IMPLACÁVEL Mat. 18:23-35

23. Por isso, foi assemelhado o reino dos céus a um homem rei, que quis ajustarcontas com seus servos.

24. Tendo começado a ajustá-las, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos.

25. Como não tivesse, porém, com que pagar, mandou-o o Senhor ser vendido, etambém a esposa e os filhos e tudo o que tinha, para pagar.

26. Prostrando-se, então, o servo, instava dizendo: "Senhor, tem paciência comigoe tudo te pagarei".

27. Compadecendo-se o Senhor daquele servo, liberou-o e relevou-lhe a dívida.

28. Tendo, porém, saído aquele servo, encontrou um de seus companheiros, quelhe devia cem denários, e segurando-o o sufocava dizendo: "paga o que me deves".

29. Caindo-lhe, então aos pés, seu companheiro o implorava dizendo: "tempaciência comigo,

e te pagarei".

30. Ele, porém não quis e, indo embora, lançou-o no cárcere até que pagasse adívida.

31. Vendo, pois, os companheiros dele o ocorrido, entristeceram-se muito e, indo,narraram (com pormenores) tudo o que aconteceu a seu Senhor.

32. Então chamando-o, o Senhor disse-lhe: "Servo mau, relevei-te toda aqueladívida, porque me pediste;

33. não devias também tu compadecer-te de teu companheiro, como eu mecompadeci de ti"?

34. E, indignando-se, seu Senhor entregou-o aos verdugos, até que pagasse todaa dívida.

35. “Assim também meu Pai celestial fará convosco, se cada um não relevar a seuirmão do imo do coração".

Luc. 17:3-4

3. Cuidai-vos de vós. Se teu irmão errar, repreende-o, e se mudar a mente, libera-o,

4. e se sete vezes no dia errar contra ti, e sete vezes no dia voltar a ti dizendo:"mudo a mente", liberá-lo-ás".

Grande lição aqui se apresenta a nós, esclarecendo a regra pela qual devemospautar nossa vida prática em relação a nossos companheiros de jornada.

Poderiam ser mantidas por dois motivos:

1.º o texto fala de erros "contra ti" (cfr . vers. 21);

2.º se a ação do irmão não diz respeito a nós, nada teríamos com isso.

]

No entanto, parece melhor suprimi-las, porque o trecho se refere mesmo àcorreção fraterna. Se algum irmão errar, mesmo que não seja contra nós, devemosbuscar corrigi-lo. Lógico que deve tratar-se de erro grave, que afete a evolução dele ouo bom nome da instituição a que pertence.

A lei mosaica (Lev. 19:17-18) já estipulava; "Não aborrecerás teu irmão em teucoração; não deixarás de repreender teu próximo, e não levarás sobre ti um erro porcausa dele. Não te vingarás nem guardar ás ressentimento contra os filhos de teu povo,mas amarás a teu próximo como a ti mesmo: eu sou Adonai".

E os bons israelitas obedeciam a esse preceito; "Se tens companheiros que terepreendem e outros que te louvam, ama o que te repreende e despreza o que telouva; pois o que te repreende te conduz à vida do mundo futuro, e o que te louva, televa fora desse mundo".

Se o irmão atende, tê-lo-emos conquistado para o caminho certo, como afirmaJerônimo: "se em verdade nos ouvir, lucraremos a alma dele e, pela salvação do outro,adquire-se também a salvação para nós".

Se não atender à nossa admoestação, convoquemos testemunhas, depoislevemos o caso à comunidade e depois, se nada disso adianta, coloquemo-lo de lado,tratando-o com toda a consideração e amor, como devemos fazer ao estrangeiro, masnão com a intimidade do "irmão".

A razão de tudo isso é dada: tudo o que ligamos a nós neste plano, permaneceráligado no mundo astral, antes e depois do desencarne; e de tudo o que nos liberarmosneste plano terráqueo, permaneceremos desligados e liberados no plano astral. Ora, éde todo interesse que se não constituam liames entre nós e pessoas erradas, quepoderão envolver-nos em seu carma negativo por complacência culposa de nossaparte.

Rabbi Acha bar Chanina dizia: que se são ouvidas as preces feitas na sinagoga, nomomento em que a comunidade ora, isso decorre do midrasch de Job (36:5): "Deusnão despreza a multidão", e do Salmo (55:19): "Ele libertará em paz minha alma docombate que me é feito, porque a multidão (da comunidade em prece) estava em tornode mim".

O fato de o Cristo de Deus afirmar que onde há criaturas reunidas em Seu nome,Ele está no meio delas, tem precedente na crença judaica da presença da Chekinah,que “permanecia entre aqueles que falam sobre a Torah". Como dizia Rabi Chanina barTeradjon. E acrescentava: "Deus é dito máqôm (O lugar) porque está em todos oslugares".

Depois desse desvio, que confirma que o perdão deve ser dado (cfr. Mat. 6:14-15),vem o ensino exemplificado com uma parábola, desenvolvida por ocasião de umapergunta de esclarecimento feita por Pedro: quantas vezes perdoar?

Simão Pedro, acostumado ao sistema de seu povo de perdoar até três vezes,julga-se extremamente generoso propondo fazê-lo até SETE vezes. Mas Jesus, semimpressionar-se, calmamente estende para setenta vezes sete, NO MESMO DIA: "paraque tantas vezes se perdoe ao irmão que erre num dia, quantas ele nem possa errar”.

Quanto à parábola, anotemos que o ensino principal, que é uma ilustração nos

vers. 14 e 15 do cap. 6 de Mateus: se não perdoarmos aos nossos companheiros daTerra, não obteremos o perdão.

Quanto aos dados. O servo devia 10.000 talentos. Um talento equivalia a 6.000dracmas (ou 6.000 denários). Então, 10.000 talentos são 60.000.000 de dracmas,quantia realmente elevada, em comparação com os 100 denários (100 dracmas).Lembremos que a dracma (ou o denário, moedas equivalentes, a primeira grega, asegunda latina) era o preço normal de um dia de salário de um trabalhador braçal.

Chamado para prestar contas e condenado por insolvência confessada prostra-seaos pés do credor (o rei) e pede paciência. O resultado é o perdão da dívida, aanulação do débito. Mas ao defrontar-se com um colega de serviço (syndoúlos) que lhedeve a quantia de cem denários, perde o controle, avança sobre ele, tenta sufocá-lo ede nada adianta ouvir do companheiro as mesmas palavras que ele mesmo haviaproferido diante do rei: impiedosamente o condena à prisão.

Os outros servos não se conformam com essa atitude e vão contar acena triste"com pormenores" ao rei. Este se aborrece e vê que o perdão dado foi errado e oentrega não a simples carcereiros, mas aos carrascos (basanístais =experimentadores).

A lei mosaica (Ex. 22:3) só permitia que fosse vendido o ladrão insolvável (nãotinha como pagar), ou então (Lev. 25:39) permitia aceitar a escravidão voluntária de umisraelita extremamente pobre, mas que deveria ser tratado com humanidade, e serlibertado no primeiro ano de jubileu.

Se o sol houver saído sobre ele, o agressor será culpado do sangue; o ladrão farárestituição total; e se não tiver com que pagar, será vendido por seu furto. Lv 22:3

Quando também teu irmão empobrecer, estando ele contigo, e vender-se a ti, nãoo farás servir como escravo Lv 25:39

Mas há outros ensinos mais profundos a deduzir deste trecho. Para estudá-los,dividamos os dois assuntos principais.

CORREÇÃO FRATERNA - Não percamos de vista que Jesus deu essasinstruções aos discípulos (Mat. 18:1 e Luc. 17:1). Ora, os discípulos eram os filiados à"Assembleia do Caminho", já em graus mais elevados, pois davam, entre si, otratamento de "irmão". Todo o trecho, pois, assim como a parábola que se segue,refere-se estritamente aos membros da Fraternidade Iniciática entre si, e nadaabsolutamente tem que ver com os que se acham fora.

O primeiro ensino, pois, é que o irmão tem a obrigação de chamar a atenção doirmão que erra. Não é deixado livre de fazê-lo ou não: "se errar... vai avisá-lo". Masesse primeiro passo deve manter-se secreto, e jamais será divulgado. Se ouvir nossoaviso, e mudar sua forma de agir, é um irmão que ganhamos em nosso convívio, poisnão terá que deixar a fraternidade.

Mas pode dar-se o caso de não sermos atendidos. Chamemos, então, otestemunho de mais um ou dois (que somados a nós farão duas ou três testemunhas) afim de solucionar o caso. Trata-se, portanto, não de uma ofensa feita a nós, mas de umerro que acarreta consequências danosas ao próprio ou à comunidade. Caso persista oerro, deve-se avisar a comunidade, a corporação ou ekklêsía a que ambos pertencem.

Far-se-á, já neste ponto, uma admoestação oficial, buscando reconquistar aqueleque se está transviando do caminho (hamartolós).

São, pois, três advertências. Se após as três persistir o desvio da conduta, deveentão esse "irmão" ser considerado alienígena ou estrangeiro, ou “publicano", isto é,novamente profano, saindo da comunidade a que pertencia a fim de não trazerprejuízos a todo o conjunto.

Mas nem por isso deve ser maltratado nem desprezado: antes, como preceitua alei, o estrangeiro deve ser tratado com delicadeza e consideração. Apenas nãoparticipará dos mistérios.

Verificamos, então, que há dois comportamentos: ligar ou soltar, amarrar oudesprender. E qualquer dos dois atos é realizado não apenas na Terra, mas também"no céu", ou seja, no mundo espiritual, em todos os planos: astral, mental e espiritual.

O ensino é de importância capital, pois ficamos sabendo que as ações do mundofísico têm repercussão bem maior do que poderia supor-se. Uma ligação com

determinada criatura reflete-se no mundo espiritual e perdura além do plano terrestre-denso. E o mesmo ocorre se houver um desligamento.

O ensinamento (que verificamos tratar-se de uma repetição: "Novamente vosdigo”...) traz uma consequência de sumo interesse: se houver ligação e sintoniavibratória perfeitas entre duas criaturas, a força daí resultante é tão poderosa que écapaz de atrair tudo o que for pedido. O Pai reside em cada um de seus filhos. Mas sehouver união plena entre dois, concordância total, sintonia absoluta, em qualquerassunto não importa qual, a obtenção é garantida por parte do Pai "que está nos céus".Não há dúvida de que duas mentalizações são mais eficientes que uma só. E as duasnotas emitidas em uníssono movimentam as forças que modificam o curso dosacontecimentos.

Confortadora promessa, perigosa: porque também a mentalização do erro surtiráefeito...

A razão disso é dada pelo Cristo Divino, que se vinha manifestando em Suaqualidade de Mestre único: "onde duas ou três pessoas estão reunidas em meu nome,aí estou no meio deles". E a razão científica do fato prende-se a que, embora apresença crística seja constante e integral em todos os lugares e situações, inclusivedentro de cada pessoa, no entanto, se houver uma ligação entre duas ou três pessoas,forma-se uma corrente mais fortalecida, que poderá movimentar forças magnéticasambientes mais poderosas com repercussões nos diversos pianos espirituais; damesma forma que uma bateria é muito mais forte que uma pilha isolada. Dessamaneira a presença é mais sentida e essa própria conscientização aumenta a força decada um. Isso mesmo já era ensinado nas Escolas Judaicas (Kábbalah), que dava onome de Chekinah a esse acréscimo perceptível da presença real do FOHAT divinoentre as criaturas. Diziam, então, que era a "presença de Deus".

PERDÃO - Entra Pedro (o símbolo das "emoções") com a pergunta de quantasvezes terá que perdoar ao "irmão" que faz algo contra ele. Não se trata mais de erro(desvio da rota certa) no sentido evolutivo, mas de algo pessoal entre os membros dacorporação.

Isso, diz o Cristo de Deus, não apresenta a menor importância. São criancices. E o

número de sete vezes (num dia!) é julgado pouco pelo Mestre, que o amplia parasetenta vezes mais o que significa sempre. O Espírito que já entrou na linha evolutivaconscientemente, não pode estar perdendo tempo com essas questiúnculas daspersonagens. Não dá relevo a picuinhas e a pirraças.

Para ele não importam ofensas nem calúnias: segue em frente, sempre para o alto,e tudo o que possa ocorrer "contra ele", isto é, contra a personagem, bate de raspão eperde-se no espaço, sem deixar sequer mossa nem arranhão por mais leve que seja.Então, PERDOE SEMPRE, sem nem contar às vezes. Seja sempre a rocha que não seabala pelo choque das ondas. Deixe que os profanos sejam como a areia, que vai evem com as ondas do mar.

A parábola fala de um débito de 10.000 talentos, imagem de uma dívidaevidentemente espiritual, e não material. A comparação das conquistas espirituais com"talentos" foi feita, também, em outra parábola (cfr. Mat. 25:14-30; Luc. 19:11-27).

Encontramos, pois, que a interpretação nos revela que o Rei ensinara os mistériosem sua maior profundidade a esse servo, dando-lhe conhecimentos vastos. Masquando lhe foi "pedir contas" do que lhe devia como lição "passada para estudo",verificou que ainda não aprendera, e continuava devendo.

Julgou-o incapaz, e sua vontade inicial foi "prendê-lo a ele, à mulher e aos filhos",isto é, colocá-lo, com todos os seus veículos, novamente na prisão do mundo profano,afastando-o do convívio dos demais "irmãos" seus conservos. Não apenas a ele (ouseja ao Espírito) se referia a restrição que as condições impunham, mas a todosaqueles que formavam o ser e que atrapalhavam sua evolução.

No entanto, em vista de sua humildade, resolveu esperar mais, "perdoando-lhe adívida" naquele momento, para que mais tarde verificasse se realmente tinhaconseguido aprender.

Ao sair dali, entretanto, esse mesmo servo encontra outro a quem havia dadonoções (100 denários, quase nada) de espiritualismo. Pede as contas, e verifica queseu companheiro não havia aproveitado.

Nesse ponto, perde o controle emocional, agarra-o e procura sufocá-lo,naturalmente com palavras violentas, e manda que vá para a prisão do mundo. Por aí,vê-se que realmente tinha autoridade dentro da fraternidade, confirmando que o débito

alto se referia a aprendizado mais profundo.

Os companheiros estranham o fato e - verificando a inutilidade do aviso emparticular e com testemunhas - levam logo o ocorrido ao conhecimento do hierofante.Comprova, então, o rei que realmente o primeiro não havia compreendido, nem mesmoaprendido a lição. Resolve, pois, entregá-lo aos "experimentadores" (basanístais), ouseja, às provações cármicas do mundo, que terão que experimentá-lo normalmente, atéque a custa própria e por experiência vivida, aprenda que "deve fazer aos outros, o quequer que os outros lhe façam" (Mat. 7:12).

ENSINO SOBRE O DIVÓRCIO - VOLTA A TRANSJORDÂNIA Mat.19:1-9 Mc10:1-12

1 Quando Jesus acabou de dizer essas palavras, ele partiu da Galileia, e foi para oterritório da Judéia, no outro lado do rio Jordão. 2 Numerosas multidões o seguiram, eJesus aí as curou.3 Alguns fariseus se aproximaram de Jesus, e perguntaram, para o tentar: "É permitidoao homem divorciar-se de sua mulher por qualquer motivo?"4 Jesus respondeu: "Vocês nunca leram que o Criador, desde o início, os fez homem emulher? 5 E que ele disse: 'Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, e se unirá àsua mulher, e os dois serão uma só carne'? 6 Portanto, eles já não são dois, mas umasó carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar."7 Os fariseus perguntaram: "Então, como é que Moisés mandou dar certidão dedivórcio ao despedir a mulher?"8 Jesus respondeu: "Moisés permitiu o divórcio, porque vocês são duros de coração.Mas não foi assim desde o início. 9 Eu, por isso, digo a vocês: quem se divorciar desua mulher, a não ser em caso de fornicação, e casar-se com outra, comete adultério."

Marc. 10:1

1. E levantando-se daí, veio para as fronteiras da Judéia e além do Jordão, enovamente o acompanhavam as multidões e, como costumava, de novo as ensinava.

João, 10;40-42

40. Retirou-se outra vez para além do Jordão, para o lugar onde João estavamergulhando no princípio, e ali permaneceu.

41. “E muitos vieram a ele e diziam: João, na verdade, não fez sinal algum, mastudo quanto deste disse João, era verdade".

42. E ali muitos creram nele.

Em Mateus cap. 19, toda a viagem da Galileia a Jerusalém para a festa dosTabernáculos, é descrita no vers. 1, que também se refere à partida dessa cidade paraa Transjordânia depois da festa da dedicação.

A expressão de Marcos lembra o mesmo em 7:24. Era um modismo hebraicocomum (cfr. Gên. 22:3 e Núm. 22:14, 21, etc.) indicando o início de uma viagem.

O fato de que temos aqui notícia é que Jesus, tendo saído de Jerusalém, retira-separa além Jordão, nos arredores de Betânia, no local em que o Batista costumavamergulhar nas margens do Jordão (João. 1:28), antes de transferir-se para Enon, pertode Salim (João, 3:23)

2). Exatamente aí Jesus iniciara Sua "vida pública" (João, 4:23) e aí convocaraseus primeiros discípulos (João 1:35-43). Os moradores locais ainda se recordavambem de João, “que não dera sinais exteriores", mas que falara certo quando se referiu aJesus, recém-chegado, dizendo que era o Esperado. Essa fé valeu de muito, poisforam curados “todos" os que a Ele recorreram.

Daí por diante, Jesus permanece naquela região, indo a Efraim ou Efrém naSamaria, nos arredores e regressando a Jericó, donde se dirigirá a Jerusalém, ondeserá crucificado na páscoa do ano 31.

A Peréia (Transjordânia) era uma região que se estendia por uns 100 km nasmargens orientais do Jordão, entre o lado de Tiberíades ao norte e o mar Morto ao sul.O rio limitava-a a oeste e Filadélfia a leste, Péla ao norte e Maquérus ao sul. Suacapital, antes denominada Betharamphtha, fora cognominada Lívias por Herodes, o

grande, em homenagem à esposa de Augusto, e engrandecida por Herodes Antipasque, porém, preferia residir em Maquérus. Lívias ficava defronte de Jericó, na outramargem do Jordão que, nesse ponto, tinha vários vaus permitindo travessia fácil.

A lição que nos dá essa notícia é a comparação entre a personagem, mesmosantificada (João) e a individualidade (Jesus). Embora a primeira, mesmo com ointelecto iluminado, nada consiga fazer por si mesma, no entanto o testemunho que dáa respeito da individualidade é verdadeiro.

O papel da individualidade é plenamente realizado: ensina e cura, isto é, ilumina ecorrige, acaba com a enfermidade do espírito (ignorância) e com a enfermidade docorpo.

Exemplo de como devemos agir, mesmo nos retiros forçados: jamais "parar". Aindarepousando, ainda revendo lugares passados, o trabalho prossegue ininterrupto, firme,sem esmorecimento.

VIAGEM A JERUSALÉM

Mateus 19:1

1. E aconteceu, quando Jesus acabou esses ensinos, partiu da Galileia e veio paraa fronteiras da Judéia, além do Jordão.

Lucas 9:51

51. Em se completando, porém, os dias de sua elevação, aconteceu que elefortaleceu sua personagem para ir a Jerusalém.

João, 7: 10

10. Mas quando seus irmãos já tinham ido à festa, então ele também foi, nãoabertamente, mas às ocultas.

Os três dizem a mesma coisa, mas cada um revela um pormenor significativo.

Em Mateus é a primeira vez que Jesus vai à Judéia, onde só estivera (segundoele) duas vezes: no nascimento (2:1) e no mergulho do Batista (3:1-13). É que esseevangelista organizou sua narrativa de forma a dar todos os acontecimentos daGalileia, para depois fazer o Messias seguir para Jerusalém definitivamente, lá ficandoaté ser crucificado. Sabemos que não havia preocupação cronológica nem histórica:estavam sendo escritos livros de ensinamentos para iniciação dos que desejavamaprofundar-se na Escola de Jesus.

Entretanto, anote-se que em Mateus é dito que Jesus foi "para além Jordão" (aPeréia ou Transjordânia), pois atravessou o Jordão, que é o limite leste extremo daJudéia.

Peréia: Região que ficava “além do Jordão”, isto é, do lado leste desse rio (Jo3.26). Esse nome não aparece na Bíblia.

Transjordânia: Grande planície situada a leste do rio Jordão. Hoje é ocupada pelaJordânia; nos tempos do NT compreendia a Peréia e Decápolis; nos tempos do ATcompreendia Basã, Gileade, Amom e Moabe.

Depois desta viagem, Jesus ainda volta à Galileia, subindo a Jerusalém mais duasvezes (a 1.ª dada em Lucas, 13:22 e João 7:1 a 10:39: a segunda em Lucas, 17: 11 eJoão, 11: 8), até que segue definitivamente (Lucas. 18:31 e João 11:55). Mateus,porém, além da aqui citada, só relata a viagem definitiva (20:18).

Em João, é afirmado que Jesus vai a Jerusalém (está escrito na festa, mas, comovamos verificar só compareceu para ensinar no Templo). E sua viagem é feita àsocultas, isto é, em particular, não em caravana.

Lucas é que apresenta aqui a frase reveladora que, por ser bastante clara, trouxesempre aos hermeneutas dificuldades de tradução. Observemos.

A primeira frase: "quando se completaram (literalmente: ao se completarem") osdias de sua elevação traz discussões quanto à palavra analépsis (ou analémpsis).Usado apenas aqui, no N.T., embora apareça o perfeito passivo anelémphthê deanalambánô em At, l:2 e 22: e o particípio aoristo passivo analemphtheis (em Art. 1:11)com os sentidos respectivamente de "foi elevado", referindo-se à chamada "ascensão".Esse termo, entretanto, é usado no Antigo Testamento, quando fala da subida de Elias(2.º Reis, 2:11), na de Moisés (1.º Mac. 2:58 e Eccli. 48:9) e na de Enoch (Eccli. 49:14).Realmente analêpsis exprime "elevação promoção, suspensão".

A segunda frase: "e fortaleceu sua personagem para ir a Jerusalém" é geralmentetraduzida por "firmou seu rosto" ou "manifestou a firme resolução". No entanto,prósôpon, que literalmente significa "face", "rosto", corresponde o latim "pessoa" ou"máscara" (persona) e, portanto especifica a personagem encarnada, designando otodo pela parte, numa figura de sinédoque. Jesus sabia que iria começar a fase final desua paixão, e logicamente a coragem da parte humana precisava ser fortalecida peloEspírito, para que se animasse a enfrentar o cenário dos sofrimentos físicos atrozes.

A revelação que obtemos na frase simples e despretensiosa de Lucas é de moldea tornar claro o sentido oculto: "tirando o véu" da letra, descobrimos o que realmentehouve. Há necessidade de penetrar pela meditação o sentido, mas a Luz se fará e tudo

será visto.

Enquanto Mateus e João se limitam a citar o fato da ida de Jesus a Jerusalém,Lucas, talvez esclarecido por Paulo, revela o motivo exato da partida de Jesus do"Jardim fechado" de sua vivenda espiritual, para penetrar no ambiente estreito efanatizado dos religiosos ortodoxos.

A frase de Lucas, embora incompreensível aos profanos, é clara para os que jáviveram essas fases.

ENSINO SOBRE OS EUNUCOS Mat. 19:10-12

10 Os discípulos disseram a Jesus: "Se a situação do homem com a mulher é assim,então é melhor não se casar."11 Jesus respondeu: "Nem todos entendem isso, a não ser aqueles a quem éconcedido. 12 De fato, há homens castrados, porque nasceram assim; outros, porqueos homens os fizeram assim; outros, ainda, se castraram por causa do Reino do Céu.Quem puder entender, entenda."

Mat. 19:3-12

3. E vieram a ele (alguns) fariseus, tentando-o e dizendo: É lícito a um homemrepudiar sua mulher por qualquer motivo?

4. Respondendo, disse: Não sabeis que o Criador, de início, macho e fêmea os fez,

5. e disse: por isso, um homem deixará o pai e a mãe e se aglutinará à mulher eserão os dois uma só carne?

6. Por isso, já não são dois, mas uma só carne. “O que Deus juntou, portanto, umhomem não separe".

7. Disseram-lhe: Por que então Moisés ordenou dar carta de divórcio e repudiar?

8. Disse-lhes: Moisés, por causa da vossa dureza de coração, vos permitiurepudiar vossas mulheres, mas no início não foi assim.

9. “Digo-vos, porém, que quem repudiar sua mulher, a não ser por infidelidade, ecasar com outra, adultera".

10. Disseram-lhe seus discípulos: Se é essa a condição do homem com a mulher,não convém casar.

11. Mas disse-lhes: Nem todos compreendem esta doutrina, mas a quem é dado:

12. porque há eunucos, os quais desde o ventre materno foram gerados assim; ehá eunucos os quais foram castrados pelos homens; e há eunucos os quais secastraram a si mesmas, por causa do reino dos céus. “Quem pode compreender,compreenda".

Marcos. 10:2-12

2. E chegando (alguns) fariseus, perguntaram-lhe, tentando-o, se era lícito a umhomem repudiar sua mulher.

3. Respondendo, disse-lhes: "Que vos ordenou Moisés"?

4. Eles disseram: Moisés permitiu dar carta de divórcio e repudiar.

5. Jesus então disse-lhes: "Pela dureza de vosso coração vos escreveu essepreceito.

6. Mas no início da criação fê-los macho e fêmea, por essa razão, um homemdeixará seu pai e sua mãe e se aglutinará à sua mulher,

7. e serão os dois uma só carne; assim já não são dois, mas uma só carne.

8. “Então, o que Deus juntou, um homem não separe".

9. E em casa, os discípulos de novo o interrogaram sobre isso

10. e disse-lhes: "o que repudiar sua mulher e casar com outra, adultera contra aprimeira; e se ela repudiar o homem dela e casar com outro, adultera".

Este trecho tem suscitado discussões teológicas e éticas, e não seremos nós quepretenderemos dizer a última palavra. Trata-se da indissolubilidade ou não domatrimônio e da laicidade (laico - quem ou que não pertence ao clero; secular, leigo,sem confissão; que não é influenciado pela Igreja; leigo) de novas núpcias após odivórcio. (vide Mateus 5:27-32 e Luc. 16:18).

Aqui o assunto é tratado com mais pormenores, provocado por uma pergunta de"alguns" (o grego não traz artigo, deixando indeterminado o sujeito no texto).

Na época de Jesus havia duas escolas bastante influentes: a de Hillel, maishumana e tolerante e a de Chammai, rigorosa e exigente. Vejamos, então, o discutidotexto do Deuteronômlo (24:1-4):

"Se um homem toma uma mulher e coabita com ela, assim será se não acharbenevolência diante dele porque descobriu nela um costume inconveniente, escreverácarta de repúdio, dar-lha-á nas mãos dela e a despedirá de sua casa. E, saindo, ela se

torna de outro homem: o segundo homem, se não gostar dela e escrever-lhe carta derepúdio e lhe der nas mãos dela e a despedir de sua casa; e se morrer o segundohomem que a tomou para sua mulher, não poderá o primeiro homem que a despediu,voltando atrás, tomá-la como sua mulher, depois de suja, porque isso é abominaçãodiante do Senhor teu Deus: e não sujarás a terra que o Senhor teu Deus te deu empartilha".

Segundo Hillel, bastaria que o homem se desgostasse ou descobrisse qualquerdefeito nela (até se queimasse um prato de comida), para que fosse lícito repudiá-la.Chammai, porém, era inflexível: só se houvesse realmente um "costumeinconveniente", isto é, se a mulher lhe fosse infiel entregando-se a outro homem, é quese lhe poderia dar carta de repúdio.

A mulher podia casar-se, depois disso, com outro homem.

O caso da mulher é o único previsto, porque o homem tinha plena liberdade defazer o que quisesse com seu corpo, do qual era dono absoluto, ao passo que o corpoda mulher pertencia ao homem que o "comprara". O homem não precisava repudiar amulher para ter outra, ou outras esposas, desde que tivesse meios para pagar os 50siclos (1) poderia comprar quantas virgens quisesse e coabitar com todas há umtempo. Na época de Moisés não havia "casamento" no sentido em que hoje oentendemos (civil e religioso ou contrato e "sacramento"): o homem era polígamo (e osmais evoluídos seres, os patriarcas, reis e sacerdotes, os homens de bem, conviviammaritalmente com várias mulheres).

A regulamentação, pois, foi escrita por Moisés quanto ao repúdio, que nada temque ver com a monogamia nem com a indissolubilidade de um vínculo que só surgiuposteriormente, com a evolução da humanidade e das leis sociais.

Não havia, mesmo na época de Jesus, cerimônia religiosa para o casamento, masapenas, nas famílias, uma festa, em que, numa procissão, a noiva era levada por seuspais, que já haviam recebido o dinheiro (o célebre “dote") à casa do noivo, mesmo queesse já possuísse uma, dez ou vinte outras mulheres como esposas. Só era adúltera amulher, porque o fato de entregar seu corpo a outro homem constituía um "roubo" aseu dono, que lhe havia comprado exatamente o corpo.

Na época de Jesus, embora menos ampla, a poligamia ainda proliferava, permitidapor lei. Para esses hábitos Jesus falou, e não para o costume que mais tarde seimplantou (em grande parte por obra da legislação romaria e da influência docristianismo) da monogamia.

O que Jesus afirmou foi que, uma vez que o homem houvesse adquirido umaesposa (ou várias delas) não a deveria jamais repudiar, a não ser por motivo deinfidelidade, isto é, a não ser que ela se entregasse a outro homem, caso em quepoderia libertá-la para que fosse viver com seu novo amor.

"O que Deus juntou um homem não separe", pois "os dois se tornaram uma sócarne": isto é, uma vez unidos, não deve haver repúdio, não deve ser expulsa de casaa mulher com que se coabitou, pois isso seria um atentado contra o mandamento de"amar ao próximo tanto quanto a si mesmo". Depois de conviver com a mulher, écriminoso pô-la para fora de casa, a não ser que ela quisesse ir por sua espontâneavontade, para aderir a outro. Quem o fizer, a leva a talvez adulterar (roubar o marido deoutra); e se o fizer e colocar outra no lugar dela, está adulterando com a primeira, istoé, está sendo infiel àquela à qual se uniu numa só carne; e quem receber a repudiada eunir-se a ela, igualmente adultera, porque se está unindo à que pertence a outrohomem.

Então, vemos taxativamente condenado o repúdio, a expulsão de casa, quandoainda existe o laço de amor, pelo menos de um lado. Quando, todavia, esse laço foirompido de fato, porque ela se entregou a outro por amor, aí o motivo mais forte existe:a ligação feita por Deus o foi com outra pessoa: dê-se-lhe a liberdade de escolher seucaminho.

A pergunta dos fariseus prende-se, precisamente, à causa do repúdio; se é lícitorepudiar "por qualquer motivo". E Jesus utiliza-se da mais perfeita técnica rabínica pararesponder, reportando-se ao texto do Pentateuco e citando suas palavras ipsis lítteris,segundo a versão dos LXX, como era de seu hábito, e não no original hebraico:

"Não sabeis que o criador desde o princípio macho e fêmea os fez"?

Está citado 1:27 do Gênesis, que se lê:

"Elohim fez o homem à sua imagem, à imagem de elohim o fez, macho e fêmea osfez".

"E o deus fez o homem, segundo a imagem do deus o fez, macho e fêmea os fez".

Notemos que "macho e fêmea" no grego estão no gênero neutro (ársen e thêlu); eno hebraico, os termos zakâr e n'qebâh exprimem macho e fêmea tendo em vista osórgãos sexuais, isto é, literalmente, pênis e vagina.

Logo a seguir, emendando as frases com uma simples vírgula, prossegue citando overs. 24 do cap. 2.º do Gênesis: e disse:

"Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe e será ligado com sua mulher eserão uma carne".

Daí tira a conclusão: "O que Deus juntou, um homem não separe".

Até aqui, nada existe a respeito da monogamia: apenas é salientado que não sedeve repudiar a mulher com quem se coabita, porque, unindo-se, ambos passaram aconstituir um só corpo físico; e o repúdio representaria quase a amputação de umametade do todo.

Na realidade, lemos no vers. 2 do cap. 5.º do Gênesis:

"Macho e fêmea os fez e abençoou-os e fez o nome dele homem (adám) no dia emque o fez".

"Macho e fêmea fê-los e abençoou-os e chamou o nome dele adám no dia em queos fez".

Portanto, há uma só unidade macho e fêmea, e seu nome é um só, adám("homem"), englobando o ser completo, o duplo macho-fêmea.

Tudo isso, a nosso ver, refere-se à constituição do Espírito, que não possuidistinção sexual, mas engloba em si a dupla possibilidade masculina e feminina.

Quando se trata da plasmação dos veículos físicos, é que a característica dominanteprevalece sobre a outra, então se dá a encarnação como homem (varão) ou comomulher. Tanto que, no próprio Gênesis, logo no cap. 2.º (após haver dito que foi feitoadám macho e fêmea, com a ordem de multiplicar-se na terra), volta o texto a dizer: "enão existia o homem (adám) para trabalhar a terra" (Gên. 2:5). Como assim? Então oElohim, resolve formar (o verbo hebraico não é mais baráh, criar, mas itsér, formar) ohomem "do pó da terra", isto é, revesti-lo de matéria física densa. Aí, nessa situação deencarnado, é que o sexo dominante prevalece.

Então, resolve o "Elohim" dar-lhe uma companheira do sexo feminino, "que lhe sejaa contraparte" literalmente: "E disse Elohim, não é bom ser o homem separado, fareipara ele uma auxiliar, sua contraparte".

Temos, portanto, dois tempos distintos: a constituição (ou "criação") do Espírito bi-sexual, e a formação do corpo físico no qual só se desenvolve uma das duascaracterísticas. Ora, a união de dois corpos carnais de polos opostos recompleta oEspírito bivalente: é um só Espírito em dois corpos. E quando estes se unem, por meiodo ato sexual, as duas tendências, que se encontravam separadas, tornam a unificar-se.

A objeção dos fariseus é feita em tom de defesa da própria ideia. Sente-se que aprimeira pergunta foi colocada por um discípulo de Chammai: "será que qualquermotivo é suficiente para repudiar a mulher, como diz Hillel"? Agora entra um dosdiscípulos de Hillel: "mas Moisés ordenou o repúdio”... E Jesus, imediatamente, corrige:Moisés PERMITIU o repúdio, o que é bem diferente...

Mas por que permitiu? Pela dureza de coração que não se sensibiliza peladesgraça alheia e, egoisticamente, resolve as coisas de acordo com sua comodidade eseu prazer: se não gosta mais da mulher, manda-a embora, sem pensar nos males quelhe podem advir, ao invés de suportá-la e tratá-la bem até o fim, mesmo que seja aolado de outras mulheres.

“De início, porém, não foi assim". Realmente, só é conhecido o caso do repúdio deAbraão contra Hagar, por exigência de Sarah (cfr. Gên. 21.9-14), embora tivesse esseato "parecido bem duro aos olhos de Abraão, por causa de seu filho" (Ismael).

Repete-se, então, o ensino dado em Mat. 5:32, com as mesmas palavras: "Digo-vos, porém, que quem repudia sua mulher, a não ser por infidelidade, e casa comoutra, adultera; igualmente, também, quem casa com a repudiada, adultera"

Além disso, aparece em outros bons códices.

O último versículo de Marcos creem alguns ter sido acrescentado pelo evangelista,porque escreveu para os cristãos romanos, e nessa cidade era permitido a mulherrepudiar o marido, coisa que a legislação israelita jamais admitiria.

Lembremo-nos, todavia, que em 25 A.C. a irmã de Herodes o Grande, Salomé,repudiou seu marido Costobar "apesar das leis judaicas" diz Flávio Josefo e tambémHerodíades deixara seu tio e marido Herodes Filipe, para casar com Herodes Ântipas;por verberar isso, o Batista foi decapitado. E talvez a situação do momento, em queesse mesmo Ântipas repudiara a filha de Nabateu 4.º, houvesse dado margem àsperguntas dos fariseus.

Aqui entra Marcos, esclarecendo que o diálogo com os fariseus parou aí. O restofoi dito aos "discípulos", em particular, "em casa" onde os ensinos podiam seraprofundados espiritualmente.

Vem então a objeção dos discípulos: "Se essa é a condição do homem em relaçãoà mulher, não convém casar". Seria arriscado trazer para casa a mulher e depois terque sofrê-la o resto da vida, por pior que ela fosse. Ainda aqui não se fala demonogamia, que só mais tarde Paulo exigiria daqueles que pretendessem o cargo deinspetores ("bispos"): "Se alguém aspira a ser inspetor, deseja belo trabalho; deve, poiso inspetor ser irrepreensível, homem de uma só mulher",... (l.ª Tim. 3:1-2).

No entanto, esse mesmo Paulo permite que a mulher cristã, abandonada pelomarido incrédulo, se case novamente, e vice-versa (l.ª Cor. 7:15); é o chamado"privilégio paulino". Mas recomenda a monogamia: "Bom é que o homem não toquemulher, mas, por causa das fornicações, cada um tenha sua mulher e cada uma seuhomem" ( l.ª Cor, 7:1-2).

Aos discípulos em particular foi dado o ensino elevadíssimo, do qual apenas asexpressões enigmáticas foram escritas e publicadas, com o aviso bem claro, duas

vezes sublinhado, anteposto e posposto:

"Nem todos compreendem esta doutrina, mas a quem é dado", e no fim: "Quempode compreender, compreenda". As duas advertências salientam a dificuldade deinterpretar-se a doutrina tão resumida e enigmaticamente exposta.

Tornemos a ler as três asserções:

a) há eunucos que foram gerados assim desde o ventre materno;

b) há eunucos que foram castrados pelos homens;

c) há eunucos que se castraram a si mesmos por causa do reino dos céus.

Como entender? Literal e materialmente? Ou espiritualmente?

Se as duas primeiras forem interpretadas carnalmente, a terceira também deverásê-lo (e foi o que compreendeu e executou em si mesmo Orígenes), e não como querJerônimo "o sentido dos dois (primeiros) é carnal, do terceiro é espiritual".

Os rabinos dividiam os eunucos em duas categorias:

a) os de nascimento ou "do céu" ou do sol, do calor.

b) os dos homens.

O terceiro grupo foi introduzido por Jesus e proliferou de forma estupenda nosséculos que se lhe seguiram até hoje. Daí nasceu pelo menos doutrinariamente, senãona prática, apoiada desde o início, por todos os "pais da igreja":

a) a monogamia para ambos os sexos;

b) a indissolubilidade do vínculo matrimonial (1), sem exceções na igreja ocidental,e com a exceção da infidelidade na igreja oriental-grega, que diz que "o adultério rompeos laços matrimoniais";

c) o culto do celibato masculino, sobretudo monacal e sacerdotal;

d) a exaltação da virgindade feminina.

(1) O matrimônio foi citado na igreja cristã como "sacramento”, pela primeira vez,por Hugo de Saint-Victor (+ 1142) e logo a seguir Pedro Lombardo (c. 1150) Só noConcílio de Florença (1439) essa lista foi proclamada "dogma".

Tudo o que escrevemos nessas páginas é mantido integralmente aqui, em vista dainterpretação que dá o apóstolo Paulo das palavras aqui focalizadas: "Assim, tambémdevem os maridos amar a suas mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama asua mulher, ama-se a si mesmo, pois ninguém jamais aborreceu a própria carne, mas anutre e dela cuida, como também o Cristo o faz à ekklêsía, porque somos membros deseu corpo. Por esta razão o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulhere os dois serão uma só carne. Este mistério é grande, mas eu falo em relação a Cristoe à ekklêsía" (Ef. 5:28-32).

Tudo o que expendemos no primeiro comentário é válido para a personagemhumana, que situa sua consciência nos veículos interiores materiais.

Mas Paulo, como iniciado graduado na "Assembleia do Caminho", penetrou o"mistério" (a explicação proibida aos profanos) do ensino dado aos "discípulos" emparticular, e que apenas vimos acenados nos dois últimos versículos do trecho queanalisamos.

Eunuco é palavra grega composta de eunê ("leito") e échô ("guardo"), e exprime ocargo do homem de maior confiança: o que vigiava o leito e o quarto de dormir de seusenhor. Por extensão passou a designar os grandes do reino (ainda hoje, um título degrande honra na igreja católica é a de "Camareira do Papa", isto é, guarda do quarto“câmara” em que dorme o Pontífice), os homens de absoluta confiança do governo,encarregados dos negócios secretos, titulares de responsabilidade, embaixadores elegados de assuntos particulares. Com o tempo, os eunucos passaram a ser vigias dosharéns dos soberanos, para cuidar de suas concubinas, a carga mais preciosa dopalácio. E, para tal mister, era-lhe imposta a operação da extirpação das glândulassexuais. Daí o sentido derivado que tomou a palavra, de "castrados", que sepopularizou, tornando-se termo depreciativo de "homem impotente e sem capacidadepara procriar e para realizar".

Até hoje se tem interpretado as palavras do Cristo como designativas de

"mantenedor de castidade", ou seja, criatura afastada dos prazeres sexuais.

Parece-nos evidente que Jesus, o Cristo, não podia ter tomado como modelo dosque aspiravam ao reino dos céus aqueles homens que se tornavam impotentes edeficientes, quando sabemos que a produção hormonial das glândulas sexuais éexcepcional alimento das atividades intelectuais e, por esse intermédio, do vigorespiritual. Não se trata, pois, do segundo sentido derivado e depreciativo de "castrado",mas simplesmente do significado moral que possa exprimir.

Mas há outra interpretação dos dois primeiros casos, que reputamos muito maislógica e coerente com a doutrina do Cristo: os "eunucos" desde o ventre materno sãoos que já nascem com a elevação espiritual conquistada em vidas anteriores, e desdepequenos se revelam totalmente fortes e superiores às emoções sensoriais do sexovivendo uma vida casta e isenta de sensações fortes, como tantos exemplos de santose místicos que a história registra, e que se tornaram modelos para a humanidade.

Os "eunucos" que foram castrados pelos homens são os que se veem obrigados aobservar o celibato ou a virgindade por decretos humanos, mesmo que sofram, e muito,com isso, como os membros masculinos e femininos das ordens e congregaçõesreligiosas, os sacerdotes e monges, a isso coagido pelas leis eclesiásticas. E tambémos que, pelas circunstâncias e situações da vida, se sentem forçados a manterem-secelibatários e castos, o que ocorre, sobretudo com as mulheres.

Os "eunucos" que se castraram a si mesmos por causa do reino dos céus sãoaqueles que, mesmo podendo e tendo todas as capacidades, resolvemespontaneamente manter a castidade, a fim de aperfeiçoar-se mais depressa. Nãonasceram isentos das emoções amorosas. Não são obrigados pelos homens, porquenão entraram para monastérios. Mas combatem para que - julgam - possam assimalcançar mais evolução e maior perfeição. Pelo trecho do Padre Teilhard de Chardin,que citamos no vol. 2, não é isso o que ele pensa: "o homem encontra Deus através doamor à mulher, e vice-versa", pode resumir-se seu pensamento. E para sintonizar coma Divindade, havemos de ter o amor que se doa, e não o amor-egoísmo, que busca aprópria perfeição sem doar-se.

Mas são nuanças muito pessoais, sobre que não é lícito legislar. Cada um tem seuponto de vista e deve seguir sua consciência.

* * *

Quanto às Escolas Iniciáticas, já que o ensino foi dado especialmente para elas,temos algumas considerações que fazer.

Já aqui olharemos toda a lição do ponto de vista da Individualidade, isto é, doEspírito, ao qual não afetam as ações puramente materiais da personagem transitória,pois todas elas são também transitórias e morrem com a morte da personagem. AoEspírito só afetam as ações que partem do Espírito, envolvendo-o profundamente ebaixando suas vibrações para o plano das emoções desordenadas.

Olhando sob esse prisma, sabemos que o Espírito possui uma contraparte emalgum plano de vibração (cfr. Gên. 2:18; que reproduzimos mais abaixo), encarnada oudesencarnada, neste ou em outro planeta, mas sua complementação inata. Quando foicriado o homem (adám) isto é, quando a psique animal adquiriu a capacidade racionalatravés do intelecto, foi feita a bipolaridade do Espírito, taxativamente declarada: fezadám macho e fêmea.

AS CRIANÇAS E O REINO DOS CÉUS Mat. 19:13-15 Mc 10:13-16 Lc 18:15-17

13. Depois, trouxeram-lhe (algumas) crianças para que impusesse as mãos sobreelas e orasse; os discípulos, porém, as repreendiam.

14. Mas Jesus disse: "Deixai as crianças e não proibais que venham a mim, porquedestas é o reino dos céus".

15. E depois que lhes impôs as mãos, partiu dali.

Marcos. 10:13-16

13. E lhe trouxeram crianças para que as tocasse; os discípulos, porém, asrepreendiam.

14. Vendo isto, Jesus zangou-se e disse-lhes: Deixai virem a mim as crianças, nãoo proibais, porque destas é o reino de Deus.

15. “Em verdade vos digo, quem não receber o reino de Deus como uma criança,de modo do algum entrará nele".

16. E abraçando-as, as abençoava, pondo as mãos sobre elas.

Lucas. 18:15-17

15. Traziam-lhe também as criancinhas para que as tocasse; vendo-o, osdiscípulos os repreendiam.

16. Mas Jesus, chamando-os, disse: Deixai virem a mim as crianças e nãoproibais, pois destas é o reino de Deus.

17. “Em verdade vos digo, quem não receber o reino de Deus como uma criança,de modo do algum entrará nele".

Temos a impressão de que a chegada das crianças, acompanhadas das mães,veio interromper os ensinos que eram dados aos discípulos. Daí sua impaciência e ogesto, aliado à voz, para impedir a aproximação bulhenta e irrequieta.

Foram trazidas, como é hábito no oriente, para que o Mestre, já conhecido comotaumaturgo, as abençoasse, colocando-lhes a mão sobre a cabeça e orando por eles.

As bênçãos eram muito comuns entre os israelitas, por parte dos mais velhos, paraaugurar pelo futuro dos mais moços. O Antigo Testamento traz vários exemplos dessasbênçãos, sendo célebres as de Jacob aos seus doze filhos (Gên. 49:1-28) e a deMoisés às doze tribos (Dt. 33:1-29). Também o toque das mãos, com a emissão domagnetismo do taumaturgo, era tida como segura base e garantia de felicidadepresente e futura.

Quando Jesus observou a cena da invasão e o esforço que faziam Seus discípulospara manter à distância as crianças e suas mães, "zangou-se". Aliás, já dera provas deapreciar os pequeninos (cfr. Mat. 18:1-5; Marc. 9:33-37; Luc. 9:46-48; vol. 4), e detomá-los como modelos, em vista de seu modo de agir.

A frase Deixai virem a mim as crianças. tornou-se uma das mais citadas e queridasdos cristãos. E Jesus conclui: "delas é o reino de Deus".

E abraçava e punha-lhes a mão sobre a cabeça, em passes que lhes deviam trazergrandes benefícios materiais, morais e espirituais.

E a lição foi dada: "em Deus como uma criança, de verdade vos digo, quem nãoreceber o reino de modo algum entrará nele".

Dizem os exegetas que o reino de Deus é aqui apresentado como um DOM (que

pode ser recebido) e como um LUGAR (aonde se pode entrar). Essa é a compreensãomais comum e difundida: o reino de Deus ou dos céus, é o "céu", aquele dos anjostocando harpas sobre as nuvens, no qual os "lugares" são conquistados ainda nestavida, e às vezes até "vendidos".

Quantos erros fatais trouxeram essa interpretação durante tantos séculos!

Nem dom, nem lugar, mas CONQUISTA: um estado de consciência em que "seentra" ou se penetra, "recebendo-o" quando se atinge determinado estágio evolutivo deelevadíssima freqüência vibratória espiritual.

O reino dos céus tem que ser recebido como uma criança recebe o que lhe damos:com interesse e participação alegre de todo o ser. E nele só se penetra quando nostornamos crianças, isto é, com a naturalidade e humildade normais à infância, queconfia e ama, sem distinções nem exigências: por mais que a mãe seja nervosa erigorosa com seu filho pequenino e o castigue e nele bata, ele só sabe refugiar-se,mesmo depois das pancadas, no colo dessa mesma mãe, para chorar sua dor, e parareconquistar o mais depressa possível o amor daquela que é tudo para ele: é o amorintegra! Confiante, ilimitado e sem rancores, pleno e fiel.

O JOVEM RICO Mat. 19:16-21 Mc 10:17-22 Lc 18:18-23

16. E eis, vindo a ele, alguém disse: “Mestre, que de bom farei para que conquistea vida imanente"?

17. Ele disse-lhe: Por que me perguntas sobre o bem?

Um é o bom. Se queres, porém, entrar na vida, obedece aos mandamentos".

18. Disse-lhe: "De que modo”? Respondeu, pois, Jesus: Não matarás, nãoadulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho,

19. honra o pai e a mãe e amarás teu próximo como a ti mesmo".

20. Disse-lhe o jovem: "Tudo isso observo desde minha mocidade; que me faltaainda"?

21. Disse-lhe Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens e dá aosmendigos e terás um tesouro nos céus; e vem, segue-me”.

22. Ouvindo, porém, o jovem esse ensino, saiu entristecido, pois tinha muitasposses

Marcos. 10:17-22

17. E saindo ele para o caminho, acorreu alguém e, ajoelhando-se lhe diante,perguntou-lhe: “Bom mestre, que farei para que participe da vida imanente"?

18. Jesus disse-lhe: Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um Só,Deus.

19. “Sabes os mandamentos: não matarás, não adulterarás, não furtarás, nãodarás testemunho falso, não defraudarás, honra a pai e a mãe".

20. Ele disse-lhe: "Mestre, tudo isso observo desde minha juventude".

21. Contemplando-o, Jesus a amou e disse-lhe: "Uma coisa te falta: vai, vendetudo o que tens e dá aos mendigos e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me".

22. Ele, preocupado com esse ensino, saiu triste, porque tinha muitas riquezas.

Lucas. 18:18-23

18. E interrogou-o certo príncipe, dizendo: "Bom mestre, que farei para participarda vida imanente"?

19. Disse-lhe Jesus: "Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, Deus.

20. “Sabes os mandamentos: não adulterarás, não matarás, não furtarás, nãotestemunharás em falso, honra o pai e a mãe".

21. Ele disse-lhe: "Tudo isso observo desde minha juventude".

22. Ouvindo isso, Jesus disse-lhe: "Ainda te falta uma coisa: vende tudo o que tense distribui aos mendigos e terás um tesouro nos céus; e vem, segue-me".

23. Ao ouvir isso, ficou triste, porque era muito rico.

Sobre este tópico, temos atualizações vindas da Espiritualidade, principalmentepelo Espírito Amélia Rodrigues, e psicografia de Divaldo Franco. Mais mantive asexplicações do autor)

Quem era esse moço, na época, não se chega a saber pelas vias normais dahistória. Mateus e Marcos dizem "alguém", enquanto Lucas afirma tratar-se de "certopotentado" (archôn, principal, chefe, príncipe). (Hoje, novembro de 2013 sabemos.Amélia Rodrigues fala dessa jovem que perdeu a vida em um corrida de biga logo apósesse diálogo com Jesus)

Passado o episódio, desaparece totalmente eclipsado.

Outro pormenor de Lucas é que o moço, embora muito rico, se apresenta humilde,pois se ajoelha para falar com Jesus.

Marcos e Lucas anotam o diálogo que parece ter sido o original: "Bom mestre, quefarei para ter em partilha a vida imanente" Mateus torce a frase "Mestre, que farei debom"?

Jesus rejeita o título de "bom", que só deve ser atribuído a Deus, demonstrandomais uma vez (cfr. Mat. 23:9; João 14:28 e 17:13) não julgar-se Deus, mas simpleshomem. Aceita, porém, o epíteto de mestre (didáskalos, mestre no sentido de

"professor") porque realmente o era.

Lemos em Mateus: "se queres entrar na vida, segue os mandamentos". Ao que omoço indaga, pois, "de que modo"? As traduções correntes trazem "quais"; mas paraessa indagação, teria que ser usado o interrogativo tiná.

Em Marcos e Lucas, Jesus responde logo: "segue os mandamentos" e os cita.

Há divergência aqui também. São comuns aos três sinópticos os quatro negativos:

1- não matarás;

2- não adulterarás

3- não furtarás

4- não dirás falso testemunho.

Marcos acrescenta: "não defraudarás", ou seja, não negarás a quem quer que sejao que lhe for devido, bastante sintomático para quem era rico e podia, portanto,explorar os semelhantes.

Dos positivos, os três citam: honrarás pai e mãe; mas Mateus aduz ainda: "ama teupróximo como a ti mesmo" (Lev. 19:18).

Ao todo, então, temos sete preceitos julgados básicos para a personagem, a fim depermitir que o Espírito "entre na vida":

1- não matar, não causar prejuízo físico ao corpo, próprio ou alheio, dispensando aesse veículo os cuidados necessários à sua manutenção;

2- não adulterar, afastando-se dos preceitos religiosos dos guias espirituais, parabuscar emoções em outros cultos;

3- não furtar, causando prejuízos materiais, nem a si mesmo (desperdício) nem aoutros;

4- não dizer falsos testemunhos, afim de não causar prejuízos morais, por meio dementiras e calúnias, contra si e contra outros;

5- não defraudar, pagando ou dando menos que o justo e o contratado; nemcontratar por preços menores que os exigidos pela justiça e pela humanidade,abusando das necessidades e da fome alheias;

6- honrar pai e mãe no serviço prestado com amor filial, atendendo àsnecessidades deles como eles atenderam às nossas, em nossa primeira infância;

7- amar o próximo, tanto quanto amamos a nós mesmos, no serviço humanoprestado à humanidade, sem distinção de pessoas, de credos, de raças, de idades, decondições sociais, de laços sanguíneos.

Conforme vemos, regras práticas e eficientes para a vida diária. Nada de altosvoos místicos e ascéticos: preceitos para o comum dos homens normais e aindamaterializados e apegados às personagens terrenas.

Ao ouvir as condições, o jovem retruca com simplicidade: "tudo isso tenho feito ouobservado (ephylaxa, perfeito de duração) desde minha mocidade". Essas últimaspalavras faltam em alguns códices, mas possuem todas as características deautenticidade: é comum aos jovens falar de sua mocidade como de algo distante nopassado.

Depois dessas palavras, Jesus olha para ele e o ama, anotação privativa deMarcos, talvez por informação de Pedro que assistiu à cena. Voltando-se, então, para ojovem, Jesus convida-o a participar de Sua Escola, tornando-se Seu "discípulo".

Mas para isso era indispensável aspirar à perfeição e, portanto, renunciar a todosos bens terrenos: vai, vende tudo o que tens e distribui entre os mendigos (diadós, "darem todas as direções", bem mais forte que o simples dós, usado o primeiro por Lucas).

O choque foi violento demais e o rapaz ficou triste (Luc. perílypos), com osobrecenho carregado (Marcos: stygnasas) e afastou-se. Nunca mais dele se fala noNovo Testamento, como se tivesse desencarnado.

A primeira observação a fazer é que, no episódio, narrado com simplicidade, omoço se afasta triste e macambúzio, e, no entanto Jesus não manifestou tristeza:apenas aproveitou a cena para tecer comentários e dar ensinos aos discípulos comreferência às riquezas, sobre que já falara (cfr. Mat. 6:24, vol. 2 e Luc. 16:13, vol. 6).

A atitude do jovem foi normal e humana, e Jesus não o repreende. Apenasassinala que a perfeição requer renúncia efetiva e total. Isso denota que não existeperfeição no modo de agir do moço, embora não esteja, por isso, condenado: pode teracesso à vida.

Nesse terreno, muitos exemplos encontramos de criaturas que se elevaramespiritualmente, isto é, que evoluíram, em tarefas outras, também indispensáveis à

humanidade, ainda que não constituam "perfeição" espiritual. Assim os grandesindustriais, comerciantes, artistas de todos os matizes podem firmar-se no bem, sendofiéis aos preceitos básicos requeridos na citação de Jesus.

Observemos que a perfeição é de alguns poucos, no sentido religioso. Se todos oshomens se dedicassem à perfeição religiosa e à espiritualidade, a evolução planetáriaficaria paralisada.

Há missionários que vêm com tarefas espirituais e missionárias que vêm comtarefas materiais, cuidando da parte econômica e financeira; os que plantam os quecolhem os que armazenam para a revenda; os que desenham os que constroem osque decoram os edifícios; os que fabricam, estocam e distribuem as mercadorias, emtroca do dinheiro que lhes possibilite prosseguir na produção de benesses; os queestudam, pesquisam e aplicam o resultado de sua ciência para proveito das criaturashumanas e dos animais e plantas; os que captam a inspiração para compor, os queorquestram e os que executam para deleite dos homens; os que legislam, julgam egovernam cidades e povos na manutenção da ordem; os que defendem acusados, osque curam doentes, os que assistem nos templos, todos sem exceção, todas asprofissões e trabalhos que apresentam SERVIÇO, dos mais elevados aos maishumildes, podem ser levados à Vida, embora nem todos alcancem a perfeição.

A resposta estava no mesmo nível da pergunta: para entrar na vida, sãoindispensáveis, mas bastam, os preceitos citados.

Todavia, se alguém busca a PERFEIÇÃO, há que primeiro desvencilhar-se de todacarga externa, de tudo o que está agregado de fora, de todas as posses (grandes oupequenas) que tragam apego e vontade de defendê-las contra assaltos epreocupações de que não sejam roubadas, e cuidados para que se não estraguem. Daía necessidade de vender TUDO e de distribuí-lo aos mendigos, aos que ainda desejamposses materiais.

Para conseguir a perfeição, a caminhada é longa e árdua, e qualquer carga impedeque se entre através do “buraco da agulha", a “porta estreita" de que fala o Mestre (cfr.Mat. 7:13).

Entretanto, temos que buscar interpretação mais profunda do texto. Para entrar na

Escola Iniciática, deve o candidato desfazer-se de tudo, não em benefício da própriaEscola (costume adotado através dos séculos pelos que ingressam nas ordensreligiosas masculinas e, sobretudo femininas), mas para distribuir aos mendigos. Noscapítulos seguintes veremos algo mais a respeito desse tema.

Não se pode, mesmo, misturar espírito com matéria, e a Escola terá que prover,pelo trabalho, ao próprio sustento e ao sustento de seus membros.

O episódio do "moço rico" ensina-nos ainda a luta que se trava dentro de nósmesmos quando, chamados pelo Cristo Interno a maior perfeição, temos pena deatender, porque os benefícios materiais e o conforto que desfrutamos nos acenam comprazeres maiores e mais imediatos, que esse atendimento a Voz silenciosa nos forçariaa largá-los. Como deixar de gozar a comodidade de um apartamento novo, o deleite deficar conversando, em poltrona anatômica, diante da televisão, à noite, para sacrificar-nos a estudar, a frequentar uma reunião, a escrever um artigo? Desculpamo-nos com a"indispensável assistência à família", embora o motivo principal nós o empurremos parao porão do subconsciente e nem dele tomemos conhecimento. Deixar de ir a umcinema? Ora, trata-se de uma higiene mental necessária a quem luta a semana inteira.Estudar aos domingos? Ah! Esses pertencem à família!

E o chamado do Cristo para que nos dediquemos mais e mais, vai ficandopostergado, não respondido... Vem então a solução "sábia", que pensamos desculpar-nos integralmente: "Pessoalmente não posso, mas arranjo meio, dinheiro, vantagens...faço minha parte... quando me aposentar"... Então, deixamos para o Cristo os ossosreumáticos da velhice, e isso mesmo, porque na velhice já não temos mais esperançade arranjar novos empregos que nos proporcionem lucros ainda maiores.

Bem tipicamente escolhido o exemplo do moço rico. Porque na mocidade é querealmente se torna difícil o abandono do que se tem e do que se sonha, se aspira e seespera ter, para mergulhar numa vida de renúncia. Ricos "velhos" são mais facilmenteencontrados com disposição de sacrificar uma parte, embora mínima, de seus bens("sabe, tenho meus filhos, não posso prejudicá-los: a própria lei me proíbe fazerdoações com o dinheiro que lhes constituirá a herança"!). No entanto, procuram doaralguma coisa para "comprar" um post mortem menos angustiado, pois lhes dói aconsciência, ao recordar-se das maneiras pouco legítimas ou totalmente ilegítimas comque, por meia da exploração ignóbil dos semelhantes, conquistaram aqueles bens.Então, quando sentem o peso dos anos e, olhando para o chão, já recurvados sob oguante do tempo, veem o retângulo da sepultura a lentamente abrir-se, amedrontam-se

e se tornam generosos, a isso compelido pelos gritos dissonantes do remorso.

É o que diz o velho adágio: "o diabo, depois de velho, fez-se ermitão(eremita=solitário)".

Quem ama, procura doar-se o mais cedo possível. Qual o noivo que diz à noivaquerida: "vou enriquecer primeiro; quando me aposentar, casarei contigo"? Assim,porém, fazem os jovens com o Cristo Interno que os convoca ao Amor.

AS POSSES E REINO DOS CÉUS Mat. 19:23-29 Mc 10:23-31 Lc 18:24-30

Mateus. 19:23-30

23. Jesus, pois, disse a seus discípulos: Em verdade vos digo que um rico entrarácom dificuldade no reino dos céus.

24. “Novamente vos digo: mais fácil é um camelo passar pelo buraco de umaagulha, que um rico entrar no reino de Deus".

25. Ouvindo isso, os discípulos muito se chocaram e perguntaram: "quem pode,então, salvar-se"?

26. Olhando-os, porém, Jesus disse-lhes: "Aos homens isso é impossível, mas aDeus tudo é possível".

27. Respondendo, então, Pedro disse-lhe: "Eis que nós abandonamos tudo e teseguimos; que, pois, será para nós"?

28. Mas Jesus disse-lhes: "Em verdade vos digo, que vós, que me seguistes nareencarnação, cada vez que o Filho do Homem se sentar no trono de sua glóriasentareis também vós sobre doze tronos, discriminando as doze tribos de Israel.

29. E todo que tenha abandonado casas ou irmãos ou irmãs ou pai ou mãe ouesposa ou filhos ou campos por causa do meu nome, receberá o cêntuplo e participaráda vida imanente.

30. “Muitos primeiros, porém, serão últimos, e últimos serão primeiros".

Marcos. 10:23-31

23. Olhando em torno, disse Jesus a seus discípulos: "Como entrarão comdificuldade no reino dos céus os que têm riquezas"!

24. Os discípulos, porém se horrorizaram com as palavras dele.

Mas respondendo Jesus disse-lhes: Filhos, como é difícil entrar no reino de Deus!

25. “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, que um rico entrarno reino de Deus".

26. Eles se chocaram terrivelmente, dizendo uns aos outros: "E quem poderásalvar-se”?

27. Olhando-os, Jesus disse: "Aos homens isso é impossível, mas não a Deus,pois tudo é possível a Deus".

28. Começou Pedro a dizer-lhe: "Eis que nós deixamos tudo e te seguimos".

29. Disse Jesus: Em verdade vos digo ninguém que tenha deixado casa ou irmãosou irmãs ou mãe ou pai ou filhos ou terras, por minha causa e por causa da Boa Nova,

30. que não receba agora, nesta oportunidade, o cêntuplo de casas e irmãos eirmãs e mães e filhos e campos, com perseguições, e no eon vindouro a vida imanente.

31. “Muitos primeiros, porém, serão últimos, e últimos serão primeiros".

Lucas. 18:24-30

24. Vendo, então, Jesus que ele se tornara triste, disse: Como dificilmente os quetêm riquezas entrarão no reino de Deus!

25. “Pois é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, que um ricoentrar no rei no de Deus".

26. Disseram, então, os ouvintes: "E quem pode salvar-se"?

27. Ele disse: "O impossível entre os homens é possível para Deus".

28. Disse Pedro, então: "Eis que deixamos nossas coisas e te seguimos...”

29. Então ele disse-lhes: Em verdade vos digo que ninguém há que abandone casaou esposa ou irmãos ou pais ou filhos por causa do reino de Deus,

30. que não receba muito mais nesta oportunidade e a vida imanente no eonvindouro".

Neste trecho, temos os primeiros comentários feitos por Jesus, enquanto seafastava o jovem rico, triste e preocupado (stygnasas, "de sobrecenho carregado") coma luta íntima que nele se travara entre a vontade incontrolável de seguir o Mestre, e oapego descontrolado a seus bens, entre o amor ao Espírito e o amor à matéria.

Marcos anota que Jesus "olhou em torno de si" (periblepsámenos), observandocom penetração psicológica o efeito que nos discípulos causara a cena, e o queproduziriam suas palavras. E disse: "Como os ricos entram com dificuldade no reinodos céus!" O advérbio dyskólôs, "dificilmente", é usado apenas aqui nos três sinópticos.

A impressão recolhida no semblante dos discípulos foi de horror. Justamente elespensavam que os ricos entrariam muito mais facilmente: que não consegue um homemcom dinheiro? Então Jesus resolve aprofundar o espanto e chocá-los, para que jamaisesqueçam a lição, e faz uma comparação que os deixa boquiabertos: "é mais fácil umcamelo passar pelo buraco de uma agulha, que um rico entrar no reino dos céus".

Ora, na época de Jesus os camelos eram comuns à vida cotidiana, ao passo queos elefantes constituíam recordações vagas de séculos atrás, por ocasião das guerrasmacedônicas. E o mesmo Jesus utiliza outra comparação com o camelo: "vós, quecoais um mosquito e engolis um camelo" (Mat. 23: 24).

A exclamação cheia de ternura, com que Jesus se dirige a seus discípulos,chamando-os "meus filhos" (tékna) parece querer abrandar o choque traumático quelhes causara. Na expressão "os que têm riquezas", o substantivo empregado échrêmata, que engloba bens móveis e imóveis, ao passo que ktêmata exprime apenasos imóveis.

No vers. 24 alguns códices trazem "Filhos, como é difícil aos que confiam nasriquezas entrar no reino dos céus". Esse adendo, na opinião dos hermeneutas, é glosaantiga, para justificar os ricos que não queriam desfazer-se de suas riquezas, mas cujaamizade interessava ao clero.

Outra interpretação que dura há séculos refere-se à "renovação do mundo",confundida com a parusia, ou seja, a segunda vinda de Jesus ao planeta para julgá-lo.

14 - Renunciação

Abandonar pai e mãe, a fim de nos confiarmos à perfeita integração com o Cristo,não será, de modo algum, a negação de nossos deveres domésticos, o esquecimentodo nosso débito para com os progenitores e nem o deliberado abandono das nossasobrigações em família, para nos entregarmos ao desvario da delinquência.

A verdadeira renúncia não é desistência da luta edificante e, sim, o trabalhosilencioso no auxílio àqueles que nos propomos auxiliar ou salvar.

Quem renuncia com Jesus não se ausenta da paisagem de serviço onde a vida lheimpõe dificuldades amargas e problemas difíceis, mas permanece fiel ao Mestre, noquadro de provações em que lhe cabe exercitar a humildade e a paciência, aprendendoa apagar-se na esfera do próprio "eu" para o justo soerguimento daqueles que ocercam.

Quem sinceramente abandona os pontos de vista inferiores, desvencilhando-sedas pesadas algemas do egoísmo inquietante, sob a inspiração do Evangelho, guardaos ensinamentos recebidos e auxilia aos parentes e amigos, afeiçoados e conhecidos,com desvelo e segurança.

O Apóstolo, aliás, nos adverte: "Se não sabemos amar ao irmão que se encontramais próximo de nós, como poderemos amar a Deus que se encontra distante?"

Se não amparamos ao companheiro que vemos, como conseguiremos auxiliar aosanjos que ainda não podemos ver?

Em matéria de renunciação não nos esqueçamos do exemplo do Senhor.Vilipendiado, escarnecido, dilacerado e crucificado, Jesus renuncia ao contentamentode permanecer em seu Divino Apostolado na Galileia, aceitando o extremo sacrifício,mas, ao terceiro dia, depois do transe da morte, sob a Eterna Claridade daRessurreição, ei-lo que volta aos beneficiários indiferentes e aos discípulosenfraquecidos, revelando a qualidade do seu Amor Excelso e Sublime pelaHumanidade inteira.

Abandonar os que convivem conosco, portanto, por amor ao Evangelho, é calar ospruridos de nossa personalidade exclusivista e gritante, para ser-lhes mais úteis, no

anonimato da compreensão e da caridade.

Para seguirmos ao Cristo não basta esquecer o mal e sim plantar sobre aignorância e sobre a penúria que o produzem, a lavoura divina do verdadeiro bem.

Livro: Perante Jesus - Emmanuel

PARABOLAS DOS TRABALHADORES DA VINHA Mat. 20:1-16 Vide estudo

TERCEIRA PREVISÃO DO CALVÁRIO Mat. 20:17-19 Mc 10:32-34 Lc 18:31-34

17. E, subindo Jesus para Jerusalém, tomou os doze discípulos a sós e nocaminho lhes disse:

18. Olhem, subimos a Jerusalém, e o filho do homem será entregue aos principaissacerdotes e escribas, e o condenarão à morte,

19. e o entregarão aos gentios para escarnecer, flagelar e crucificar, e no terceirodia será despertado".

Marc. 10:32-34

32. Estavam, pois, na estrada, subindo para Jerusalém, e Jesus os estavaprecedendo e os seguiam se espantavam e temiam. E tomando de novo os dozecomeçou a dizer-lhes o que estava para acontecer-lhe:

33. Olhem, subimos para Jerusalém, e o filho do homem será entregue aosprincipais sacerdotes e aos escribas e o condenarão à morte e o entregarão aosgentios,

34. e o escarnecerão e cuspirão nele e o flagelarão e matarão, e no decurso detrês dias se levantará".

Luc. 18:31-34

31. Tomando, pois, os doze, disse-lhes: olhem, subimos para Jerusalém e serealizará tudo o que foi escrito por meio dos profetas sobre o filho do homem;

32. pois será entregue aos gentios, escarnecido, injuriado e cuspido,

33. e, flagelando-o, o matarão, e no terceiro dia se levantará".

34. E eles nada disso entenderam, e era essa palavra oculta para eles, e nãotiveram a gnose do que lhes dizia.

Encontramos aqui mais uma advertência de Jesus a respeito do que se passariaem Jerusalém. É o terceiro aviso em Mateus (cfr. 16:21 e 17:22-23); o terceiro emMarcos (cfr. 8:31 e 9.30); e o quarto em Lucas (cfr. 9:22 e 44; e 17:25). Interessanteobservar que Lucas, o não israelita, é o único a referir-se às profecias.

"Subir a Jerusalém" era a expressão corrente, consagrada pelo uso (cfr. 2.º Reis16:5; Mat. 20:17, 18; Marc. 10:33; Luc. 2:42; 18:31; 19:28; João, 3:12; 5:1; 7:8; 11:55).

Então subiu Rezim, rei da Síria, com Peca, filho de Remalias, rei de Israel, aJerusalém, para pelejar; e cercaram a Acaz, porém não o puderam vencer. 2 Rs 16:5

Mateus e Marcos avisam que será entregue primeiro aos principais sacerdotes eescribas que "o condenarão à morte", entregando-o aos gentios para a execução(técnica muito usada, também na igreja romana, onde condena e entrega "ao braçocivil", para que seja executada a sentença por ela proferida).

Lucas, entretanto, nada diz dos principais sacerdotes e dos escribas: avisa queserá entregue (por quem?) diretamente aos gentios. Será que, não sendo judeu, nãoquis magoá-los, procurando desculpá-los do crime, deixando velada a ação anterior dosinédrio, de que também não fala?

Na descrição do que ocorrerá, cada narrador acrescenta um pormenor: Mateus:para ser escarnecido, flagelado e crucificado; Marcos: será escarnecido, cuspido,

flagelado e assassinado.

Lucas: será escarnecido, injuriado, cuspido, e, flagelado o matarão.

No entanto todos concordam que não será o fim. Mateus assevera que "no terceirodia será despertado"; Marcos que no transcurso de três dias se levantará e Lucas. Aexpressão de Marcos é geralmente traduzida como "após três dias", o que nãocorresponde à verdade dos fatos.

Observe-se que, desta vez, não houve protesto por parte dos discípulos, comoocorrera no primeiro anúncio dos sofrimentos.

Na caminhada para Jerusalém, Jesus segue à frente (ên proágôn autóus), compasso firme, qual Chefe intrépido. Os discípulos e as mulheres (cfr. Mat. 20:20 e Marc.15:41) se acham espantados, e até apavorados..

Apesar de palavras tão claras, os discípulos não compreenderam. Tão fortes eramos preconceitos, em relação ao Messias, que julgavam fosse tudo simbólico: comopoderia o "vencedor dos romanos" ser assassinado, se ele reinaria soberano sobreIsrael?

A todo aquele que se acha na Senda, é pedido o sacrifício árduo de uma subidaíngreme e difícil. Ninguém jamais evoluiu.

Nem todos os sofrimentos e dores são provocados pelos resultados (carmas) deações passadas: muitas vezes (e proporcionalmente tanto mais, quanto maior é aevolução da criatura) a dor é causada pelo espasmo do empuxo para cima, ao seremarrancadas as raízes do psiquismo animal, do 'terreno árido e pedregoso do polonegativo, para que o homem se transforme no super-homem.

Muito é conseguido daqueles que estão atrasados, após mais de cem mil anos deexercícios no estágio hominal. Mas de outro lado, confortadoramente, há alguns queconhecem os segredos das coisas, e que aprendem a reagir positivamente.

É a esse sacrifício doloroso que nos referimos acima, pelo qual passam todos osque pretendem progredir espiritualmente. Cada passo dado na Senda da iniciaçãocorresponde a um conjunto específico de dores físicas, morais e espirituais, sem asquais não é possível renascer na escala imediatamente superior. A própria natureza

nos ensina isso com múltiplos exemplos. Basta abrir os olhos da mente: para nascerum ponto acima de onde se achava, a criança passa nove meses no sepulcro de umacaverna sombria, mergulhada na água e comprimida, e para sair de lá, tem queatravessar uma "porta estreita", que a aperta dolorosamente, forçando-a a chorar logoque atinge a luz: a dor foi muito grande! O homem, para dar um passo além, precisaratravessar o pórtico da chamada "morte", em que o corpo astral é arrancado do físico,causando sensações dolorosas e angustiantes. Os mesmos passos são exigidos noreino animal e até mesmo no vegetal: a semente sentir-se-á esmagada sob a terra fria,úmida e escura, experimentando uma espécie de apodrecimento, em que se rompe,para que de dentro surja a árvore frondosa, o arbusto modesto ou a ervinha humilde.Tudo poderá ser denominado a dor da expansão, o sacrifício do crescimento, osofrimento da ascensão. Mas isso constitui uma exigência da natureza em qualquercampo, sem exceção.

PEDIDO DA NULHER DE ZEBEDEU Mat. 20:20-28 Mc 10:35-40

20. Então veio a ele a mãe (Salomé) dos filhos de Zebedeu (Tiago Maior “maisvelho” e João, eram discípulos do Batista. Irmãos Boanerges: filhos do trovão), com osfilhos dela, prostrando-se e rogando algo.

21. Ele disse-lhe, pois: "Que queres"? Respondeu-lhe: "Dize que estes meus doisfilhos se sentem um à tua direita e outro à tua esquerda em teu reino”

22. Retrucando, Jesus disse: "Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice queestou para beber"? Disseram-lhe: "Podemos"!

23. Disse-lhes: "Sem dúvida bebereis o meu cálice; mas sentar à minha direita ouesquerda, não me compete concedê-lo, mas àquele para quem foi preparado por meuPai".

24. E ouvindo os dez, indignaram-se contra os dois irmãos.

25. Chamando-os, porém, Jesus disse: Sabeis que os governadores dos povos ostiranizam e os grandes os dominam.

26. Assim não será convosco; mas quem quiser dentre vós tornar-se grande, serávosso servidor,

27. e quem quiser dentre vós ser o primeiro, será vosso servo,

28. assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e darsua alma como meio de libertação para muitos".

Marc. 10:35-45

35. E aproximaram-se dele Tiago e João os filhos de Zebedeu, dizendo-lhe:"Mestre, queremos que, se te pedirmos, nos faças".

36. Ele disse-lhes: "Que quereis que vos faça"?

37. Responderam-lhe eles: "Dá-nos que nos sentemos um à tua direita e outro àtua esquerda na tua glória".

38. Mas Jesus disse-lhes: "Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que eubebo, ou ser mergulhados no mergulho (Batismo) em que sou mergulhado"?

39. Eles retrucaram-lhe: "Podemos"! Então Jesus disse-lhes: "O cálice que eubebo, bebereis, e sereis mergulhados no mergulho em que sou mergulhado”,

40. mas o sentar à minha direita ou esquerda, não me cabe concedê-lo, mas aquem foi dado".

41. E ouvindo isso, os dez começaram a indignar-se contra Tiago e João.

42. E chamando-os, disse-lhes Jesus: "Sabeis que os reconhecidos comogovernadores dos povos os tiranizam e seus grandes os dominam”.

43. Não é assim, todavia, convosco: mas o que quiser tornar-se grande dentre vós,será vosso servidor,

44. e o que quiser dentre vós ser o primeiro, será servo de todos.

45. “Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar suaalma como meio de libertação para muitos”.

Lucas (18:34) salientara que os discípulos "nada haviam entendido e as palavrasde Jesus permaneciam ocultas para eles, que não tiveram a gnose do que lhes dizia".Mateus e Marcos trazem, logo depois, a prova concreta da verdade dessa assertiva.

Mateus apresenta o episódio como provocado pela mãe de Tiago e de João, comuma circunlocução típica oriental, que designa a mãe pelos filhos: "veio a mãe dosfilhos de Zebedeu com os filhos dela", ao invés do estilo direto: "veio a esposa deZebedeu com seus filhos". Trata-se de Salomé, como sabemos por Marcos (15:40)confrontado com Mateus (27:56). Salomé irmã de Maria mãe de Jesus, portanto sua tia.

Sendo seus primos, o sangue lhe dava o direito de primazia. Em nossa hipótese

(vol. 3), demos Salomé como filha de Joana de Cuza,(não confirmado até a data dehoje, 2014, vide abaixo o que temos, em Atualização) esta sim, irmã de Maria. EntãoSalomé seria sobrinha de Maria e prima em 1.º grau de Jesus (sua "irmã"), sendo Tiagoe João "sobrinhos de Jesus", como filhos de sua "irmã" Salomé. Então, sendo seussobrinhos, a razão da consangüinidade continuava valendo. Além disso, Salomé comosua irmã, tinha essa liberdade, e se achava no direito de pedir, pois dera a Jesus seusdois filhos e ainda subvencionava com seu dinheiro as necessidades de Jesus e doColégio apostólico (cfr. Luc, 8:3 e Marc. 15:41).

Atualização: Levi (Mateus), Tadeu e Tiago, filhos de Alfeu e sua esposa Cleofas,parenta de Maria, eram nazarenos, e amavam a Jesus desde a infância, sendo muitasvezes chamados “os irmãos do Senhor”, à vista de suas profundas afinidades afetivas.

(Tiago, o Moço, Judas Tadeu, seu irmão e Mateus Levi, o ex-publicano, eram filhosde Alfeu e Maria de Cleofas, parenta de Maria, Sua mãe, nazarenos todos, eramprimos afetuosos e passavam como "seus irmãos" – Amélia Rodrigues – livro: Luz doMundo). Tiago menor é aquele que fica na casa do caminho e que tinhas os hábitosenraizados judaicos.

Como na resposta Jesus se dirige frontalmente aos dois, Marcos suprimiu aintervenção materna: realmente eles estavam de pleno acordo com o pedido, tanto que,a seu lado, aguardavam ansiosos a palavra de Jesus. A interferência materna foiapenas o "pistolão" para algo que eles esperavam obter.

Como pescadores eram humildes; mas elevados à categoria de discípulos eemissários da Boa-Nova, acende-se neles o fogo da ambição, que era justa, segundoeles, pois gozavam da maior intimidade de Jesus, que sempre os distinguia,destacando-os, juntamente com Pedro, dos demais companheiros, nos momentos maissolenes (cfr. Mat, 9:1; 17:1; Marc. 1:29; 5:37; 9:12; 14:33; Luc. 8:51). Tinham sido,também, açulados pela promessa de se sentarem todos nos doze "tronos", julgandoIsrael (Mat. 19:28), então queriam, como todo ser humano, ocupar os primeiros lugares(Mat. 23:6 e Luc. 14:8-10).

A cena é descrita com pormenores. Embora parente de Jesus, Salomé lhereconhece o valor intrínseco e a grandeza, e prostra-se a Seus pés, permanecendosilenciosa e aguardando que o Mestre lhe dirija a palavra em primeiro lugar: "quequeres"?

Em Marcos a resposta é dos dois: "Queremos" (thélomen) o que exprime umpedido categórico, não havendo qualquer dúvida nem hesitação quanto à obtençãodaquilo que se pede: não é admitida sequer a hipótese de recusa: "queremos"!

Jesus não os condena, não os expulsa da Escola, não os apresenta à execraçãopública, não os excomunga; estabelece um diálogo amigável, em que lhes mostra oabsurdo espiritual do pedido, valendo-se do episódio para mais uma lição.Delicadamente, porém, é taxativo na recusa. Sabe dizer um NÃO sem magoar, dandoas razões da negativa, explicando o porquê é obrigado a não atender ao pedido: nãodepende dele. Mas não titubeia nem engana nem deixa no ar uma esperança inane.

Pelas expressões de Jesus, sente-se nas entrelinhas a tristeza de quem percebenão estar sendo entendido: "não sabeis o que pedis" Essa resposta lembra muitoaquela frase proferida mais tarde, em outras circunstâncias: "Não sabem o que fazem"!(Luc. 23:34).

Indaga então diretamente: "podeis beber o cálice que estou para beber ou sermergulhado no mergulho em que sou mergulhado"? A resposta demonstra toda apresunção dos que não sabem, toda a pretensão dos que ignoram: "podemos"!

Jesus deve ter sorrido complacente diante dessa mescla de amor e de ambição, dedisposição ao sacrifício como meio de conquistar uma posição de relevo! Bem iguais anós, esses privilegiados que seguiram Jesus: entusiasmo puro, apesar de nossaincapacidade!

Cálice (em grego potêrion, em hebraico kôs pode exprimir no Antigo Testamento,por vezes, a alegria (cfr. Salmo 23:5; 116:13; Lament 4:21); mas quase sempre é figurade sofrimento (cfr. Salmo 75:8; 1s. 51:17,22; Ezeq. 23:31-33).

Baptízein é um verbo que precisa ser bem estudado; as traduções correntesinsistem em transliterar a palavra grega, falando em batismo e batizar, que assumenovo significado pela evolução semântica, no decorrer dos séculos por influência dosritos eclesiásticos e da linguagem litúrgica. Batismo tomou um sentido todo especial,atribuído ao Novo Testamento, apesar de ignorado em toda a literatura anterior e

contemporânea dos apóstolos. Temos que interpretar o texto segundo a semântica daépoca, e não pelo sentido que a palavra veio a assumir séculos depois, por influênciasexternas.

O GRANDE SERVIDOR Mat. 20:24-28 Mc 10:41-45 Lc 22:24-27

24 Quando os outros dez discípulos ouviram isso, ficaram com raiva dos dois irmãos.25 Mas Jesus chamou-os, e disse: "Vocês sabem: os governadores das nações têmpoder sobre elas, e os grandes têm autoridade sobre elas. 26 Entre vocês não deveráser assim: quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês; 27 equem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se servo de vocês. 28 Pois, o Filhodo Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir, e para dar a sua vida comoresgate em favor de muitos."

OS DOIS CEGOS DE JERICÓ Mat. 20:29-34 Mc 10:46-52 Lc 18:35-43 Vide estudoCuras

29 Quando estavam saindo de Jericó, uma grande multidão seguiu Jesus. 30 Doiscegos estavam sentados à beira do caminho. Ouvindo dizer que Jesus estavapassando, começaram a gritar: "Senhor, filho de Davi, tem piedade de nós!" 31 Amultidão os repreendeu, e mandou que ficassem quietos. Mas eles gritaram mais forteainda: "Senhor, filho de Davi, tem piedade de nós!"32 Então Jesus parou, chamou os dois cegos, e disse: "O que vocês querem que eufaça por vocês?"33 Eles responderam: "Senhor, queremos que nossos olhos se abram."34 Cheio de compaixão, Jesus tocou os olhos deles, e eles imediatamente começarama ver. E seguiram a Jesus.

ENTRADA DO MESSIAS EM JERUSALÉM Mat. 21:1-11 Mc 11:1-11 Lc 19:28-40Jo 12:12-19

Mat. 21:1-9

1. E quando se aproximavam de Jerusalém e chegaram a Betfagé (Povoado queficava a noroeste de Betânia), ao monte das Oliveiras, então Jesus enviou doisdiscípulos,

2. dizendo-lhes: "Ide à aldeia que está diante de vós, e logo achareis uma jumentapresa e o jumentinho com ela; soltando(-os) trazei(-os) a mim.

3. “E se alguém vos disser alguma coisa, dizei-lhe que o Senhor tem necessidadedeles; mas os devolverá logo".

4. Isso aconteceu para que se cumprisse o dito por meio do profeta, que disse:

5. "Dizei à filha de Sião, eis que vem a ti teu rei manso e montado num jumento,num jumentinho, filho de jumenta". (Zacarias 9:9)

6. Indo, pois, os discípulos e fazendo como lhes ordenara Jesus,

7. trouxeram a jumenta e o jumentinho e colocaram sobre eles as mantos efizeram(-no) sentar sobre eles (sobre os mantos).

8. A grande multidão estendeu seus mantos na estrada, outros arrancavam ramosdas árvores e os espalharam no caminho.

9. As turbas que o precediam e as que o seguiam gritavam, dizendo: "Hosana!Bendito o que vem em nome do Senhor, hosana nas alturas"!

Marc. 11:1-10

1. E quando se aproximavam de Jerusalém, de Betfagé e de Betânia, perto domonte das Oliveiras, envia dois de seus discípulos

2. e diz-lhes: "Ide à aldeia que está diante de vós, e logo que entrardes nelaachareis um jumentinho preso, sobre o qual nenhum homem jamais montou; soltai-o etrazei(-o).

3. E se alguém vos disser: "Por que fazeis isso"? Dizei: "O Senhor temnecessidade dele, e logo o devolve de novo para cá".

4. E foram e acharam o jumentinho preso à porta, do lado de fora, na rua, e osoltaram.

5. E alguns que lá estavam disseram-lhes: "que fazeis, soltando o jumentinho"?

6. Eles falaram como lhes disse Jesus, e os deixaram.

7. E trazem o jumentinho a Jesus e colocam sobre ele seus mantos e o fizerammontar.

8. E muitos estenderam na estrada seus mantos, e outros, ramagens colhidas noscampos.

9. E os que precediam e os que seguiam gritavam: "Hosana!, Bendito o que vemem nome do Senhor!

10. Bendito o reino que vem de nosso pai David! Hosana nas alturas máximas!

Luc. 19:29-40

29. E aconteceu, como se aproximasse de Betfagé e de Betânia, perto do montechamado Olival, enviou dois de seus discípulos,

30. dizendo: "Ide à aldeia em frente, entrando na qual achareis um jumentinhoamarrado, sobre o qual nunca nenhum homem montou e soltando-o, trazei(-o).

31. E se alguém vos perguntar: "Por que o soltais"? Assim respondereis, que

32. "O Senhor tem necessidade dele". Partindo os enviados, acharam como lhesdissera.

33. Soltando eles o jumentinho, disseram-lhe seus donos: "Por que soltais ojumentinho"?

34. Responderam que "O Senhor tem necessidade dele".

35. E trouxeram-no a Jesus e colocando sobre ele seus mantos, fizeram Jesusmontar sobre o jumentinho.

36. Caminhando ele, estendiam seus mantos na estrada.

37. Aproximando-se ele já da descida do monte das Oliveiras, começou toda a

multidão dos discípulos a louvar jubilosa a Deus em alta voz, a respeito de toda a forçaque viram,

38. dizendo: "Bendito o rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nasalturas máximas"!

39. E alguns dos fariseus dentre a turba disseram-lhe: "Mestre, modera teusdiscípulos".

40. E respondendo, falou: "Digo-vos que, se estes silenciarem, as pedras gritarão".

João 12:12-19

12. No dia seguinte, a grande multidão vinda para a festa, ouvindo que Jesus vema Jerusalém,

13. apanhou ramos de palmeira e saiu a seu encontro e gritava: "Hosana! Benditoo que vem em nome do Senhor e o rei de Israel"!.

14. Tendo Jesus achado um jumentinho, montou nele como está escrito:

15. "Não temas, filha de Sião, eis que vem teu rei montado num filho de jumenta".

16. Isso não entenderam a princípio seus discípulos, mas quando Jesus setransubstanciou, então se lembraram de que isso estava escrito sobre ele e, doque haviam feito.

17. Então a multidão que estava com ele, quando chamara Lázaro do túmuloe o despertara dos mortos, testemunhava.

18. Por isso também saiu-lhe ao encontro a multidão, porque soubera ter elefeito o sinal.

19. Os fariseus, então, disseram entre si: "Vede, não conseguis nada! Eistodo o mundo foi atrás dele"!

Quando Jesus e Seus discípulos se aproximavam de Jerusalém, após a longaviagem em que atravessaram a Galileia, a Peréia, passando por Jericó, subindo omaciço da Judéia, atingindo Betânia, Betfagé e o Monte das Oliveiras, dá-se a cenaque acabamos de ler.

Dicionário:

Peréia: Região que ficava “além do Jordão”, isto é, do lado leste desse rio.

Interessante notar que a palavra Betfagé significa "casa dos figos verdes"; éderivada de Beith pa'gê (por Beith Pa'gin, já que paggâh, paggim quer dizer "figo não-maduro"). A cidade de Betfagé é unanimemente identificada hoje com a aldeia de Et-Tour. (Povoado que ficava a noroeste de Betânia Mc 11.1. Dic. Almeida).

Betfagé (que significa "Casa de Figos") era um lugar no antigo Israel, mencionadocomo o local em que Jesus enviou os discípulos para encontrarem um jumento, sobre oqual ele iria montar em Jerusalém.

Acredita-se ter sido localizado no Monte das Oliveiras, na estrada de Jerusaléma Jericó (Evangelho de Mateus 21:01, Evangelho de Marcos 11:01; Evangelho deLucas 19:29), e muito perto de Betânia. Era o limite da jornada de um dia de sábado deJerusalém, isto é, 2.000 côvados. Existe a igreja franciscana de Betfagé em tal provávellocal.

O santuário de Betfagé está situado no lado leste do Monte das Oliveiras, sobre aantiga estrada que conduzia a Betânia. Aqui se comemora o encontro de Jesus comMarta e Maria antes de ressuscitar Lázaro, e a entrada de Jesus em Jerusalém emmeio à alegria dos discípulos e da multidão que bradava hosanas.

Jesus envia dois de Seus discípulos, sem especificar quais, sabendo porantecedência o que encontrarão e o que lhes será objetado.

Mateus anota que a cena é a realização da profecia que ele cita. A primeira frase:

"Dizei à filha de Sião" é de Isaías (62:11), que João transforma em "Não temas,filha de Sião", traído pela memória, mas repetindo uma fórmula muito encontradiça noAntigo Testamento. O resto é tirado de Zacarias (9:9) que escreveu: "eis que teu reivem a ti; ele é justo e vitorioso, humilde e montado num jumento, num jumentinho filho

de jumentas". Mateus não se expressou bem em grego, não reproduzindocorretamente o paralelismo poético do hebraico, e dá a impressão de que Jesusmontou na jumenta, da qual os outros dois sinópticos nada falam.

A anotação de Marcos e Lucas de que no jumento ninguém havia montado, erapara significar que esse animal estava apto a participar de uma cerimônia religiosainiciática.

Essa crença de que o animal, para ser utilizado, não devia ter sido aindasubjugado, era comum aos hebreus (1) e aos romanos (2).

(1) "Fala aos filhos de Israel que te tragam uma novilha vermelha, perfeita, em quenão haja defeito e que ainda não tenha levado jugo" (Nm 19:2); "Os anciãos tomarãoda manada uma novilha que ainda não tenha trabalhado nem tenha puxado com ojugo" (Deut. 21:3); "Tomai duas vacas paridas sobre as quais não tenha sido posto ojugo" (1.º Sam. 6:7).

(2) "escolhe também outras tantas novilhas intactos de jugo". "O triunfo! farásesperar os carros de ouro e, as novilhas virgens de jugo"? . "uma novilha, diz Febo, sete apresentará nos campos solitários, que não sofreu nenhum jugo e imune do curvoarada" (Ovid., Met. 3,10).

Realmente acharam o jumentinho logo à entrada da aldeia (Betfagé) amarrado dolado de fora da porta, na rua e, sem mais aquela, começaram a soltá-lo. Protestoserguem-se, naturalmente, da parte dos donos.

Mas a frase típica: "O Mestre tem necessidade deles e logo os restituirá",tranqüiliza-os. A cena supõe conhecimento do Mestre por parte dos donos do jumento,coisa viável em lugar pequeno; não há necessidade de recorrer-se a "milagre".

A frase "os discípulos colocaram seus mantos sobre eles" exprime que realmenteisso pode ter sido feito, cobrindo-se os dois animais; mas o resto: "e fizeram Jesusmontar sobre eles", não se refere aos dois animais, mas aos mantos colocados sobre ojumentinho.

Esse fato descreve hábito comum no oriente, quando o animal não está selado: o

manto amaciava a dureza da espinha do animal. Também o fato de estender pelo chãoda estrada os mantos já é citado em 2.º Reis (9:12-13), após a unção de Jeú como rei.

Jeú: Décimo rei de Israel, que reinou 28 anos (841-814 a.C). Matou Jorão e reinouno lugar dele. Matou adoradores de BAAL e também Jezabel e Acazias, rei de Judá, eos descendentes de Acabe (2Rs 9 e 10).

Os discípulos não entenderam bem o que se passava. Só mais tarde ligaram osfatos à cena a que assistiam, diz João.

Mas não deixaram de entusiasmar-se e dar "vivas", juntamente com a pequenamultidão que se formou.

Hosana é uma exclamação de alegria, correspondendo exatamente ao nosso"viva!” Já aparece no Salmo 119:25, recitado por ocasião da festa da páscoa e em todaa oitava da festa dos Tabernáculos.

O sétimo dia dessa festa era dito "dia dos hosanas" (hosanna rabba).

A frase "Bendito o que vem em nome do Senhor” é do Salmo 118:26, que faz partedo hallel (salmos recitados durante a páscoa).

Hosana: Palavra que em hebraico são duas (hoshiah na), que querem dizer “salva,pedimos” (Sl 118.25; v. HALEL). Com o tempo essa oração se tornou uma exclamaçãode louvor (Mt 21.9). Dic. Almeida

O halel é composto por seis Salmos (113-118), que são ditos como uma unidade,em ocasiões festivas. Em ambas as ocasiões, o halel geralmente é cantado em voz altacomo parte do Shacharit (o serviço de oração da manhã), após o Shemoneh Esreh doShacharit ("Os dezoito", a oração principal). Também é recitado durante as orações danoite da primeira noite da Páscoa, exceto por judeus lituanos e alemães, e por todas ascomunidades após a graça após as refeições no serviço de Seder de Pessach. Os 2primeiros salmos 113 e 114 são cantados antes da refeição e os 4 restantes sãocantadas depois da refeição.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hallel

Assim discípulos e peregrinos constituíam pequeno coro jubiloso, ladeando Jesus,que seguia montado no jumentinho.

Começa a grande jornada, descrita com pormenores, da iniciação a que Sesubmeteu Jesus.

João, com sua agudeza crítica, começa a levantar o véu de tudo o que se vaipassar, com aquela frase simples, mas profundamente reveladora: "a princípio Seusdiscípulos não entenderam isso; mas quando Jesus se transubstanciou (doxázâ), entãose lembraram de que isso estava escrito sobre ele e do que havia sido feito". Ora, oevangelista não diz "nesse momento eles não entenderam", mas sim "a princípio", oque denota que só bastante tempo depois, e "quando Jesus se transubstanciou" é queconseguiram compreender. As traduções correntes trazem: "quando foi glorificado".Mas quando é que Jesus foi glorificado na Terra? A transubstanciação, sim. Houveapós a ressurreição e a chamada "ascensão", que estudaremos a seu tempo. Masfixemos que só então os discípulos compreenderam o sentido dessa entrada emJerusalém montado num jumentinho que jamais recebera jugo.

Hoje, após a transubstanciação, é fácil deduzir as razões do fato.

O Espírito (Jesus, a Individualidade) vai submeter-se à iniciação maior na cidade-santa. O Sacerdote-Vítima caminha para o altar do holocausto, onde será imolado qual"cordeiro pascal", sem mancha, sem defeito. Mas só a parte animal de seu Ser poderásubmeter-se ao sacrifício. Preciso é, pois, que haja um símbolo, demonstrando queessa parte animal (Seus veículos físicos, que sofrerão o holocausto), estava intacta,imune do jugo de qualquer imperfeição. O símbolo foi o jumentinho, sobre que nenhumser humano tivera domínio.

Além disso, releva notar o simbolismo esotérico (conhecimentos não podem ounão devem ser "vulgarizados") do ato em si. Tinha que ficar patenteado por um atoexterno, que a criatura só pode pretender submeter-se às provas do quinto grauiniciático, quando tiver dominado TOTAL-mente a personalidade animal. E o símboloescolhido é perfeito: Jesus monta sobre o jumento, dominando-o e subjugando-ototalmente, e recebendo por isso a consagração e as "palmas" da vitória.

Espiar: Olhar, observar. Expiação: reparação.

Esta é a única vez que lemos ter Jesus montado num animal: no momentosupremo em que Se dirigia ao Santuário para imolar-Se, conquistando o grau de "SumoSacerdote segundo a Ordem de Melquisedec", conforme lemos: "Ele, nos dias de suacarne (durante Sua vida física) tendo oferecido preces e súplicas com forte clamor elágrimas ao Que podia libertá-lo da morte, e tendo sido ouvido por Sua reverência,aprendeu, embora fosse Filho, a obediência, por meio das coisas que sofreu (martíriose crucificação) e, por se ter aperfeiçoado (recebendo o grau da iniciação maior), tornou-se autor da libertação para este eon de todos os que a Ele obedecem, sendo por issochamado por Deus SUMO SACERDOTE DA ORDEM DE MELQUISEDEC" (Hebr. 5:7-10).

Toda a alegria e festa popular não penetraram no imo do coração do Mestre, quecontinuava triste, chegando a chorar pelo que antevia dever suceder a Jerusalém (vê-lo-emos dentro em pouco). Sabia que todos endeusavam a personagem transitória, eque os gritos de alegria eram apenas exterioridades emotivas: aqueles mesmosgritariam, dias mais tarde, "mata-o, crucifica-o"!

Assim, qualquer criatura que tiver em torno de si multidões ululantes de alegria,endeusadores contumazes a bater palmas, feche seus olhos e mergulhe dentro de simesma. As demonstrações de entusiasmo provocam a queda daqueles que vivemainda voltados para fora, a procurar com os olhos a aprovação dos homens e a buscaro maior número de seguidores. Trata-se de uma das provações mais árduas e difíceisde vencer. Os elogios embriagam mais que o vinho, dar mais vertigens que as alturas ejogam no abismo mais rápido que as avalanchas. E isso porque, na realidade, oselogios emotivos trazem ondas torrentosas de fluidos pesados, que derrubam noprecipício da vaidade todos aqueles que os recebem com o mesmo sintoma deemotividade satisfeita. Quantos vimos cair, ruindo por causa dos elogios!

Jesus, o modelo da Individualidade, já estava imune aos gritos louvaminheiros.Não obstante, não os impede, não os proíbe; não repreende a multidão, como queriamque o fizesse os fariseus: "modera-os"!

Não adiantaria! Responde Jesus tranquilo e frio: “as próprias pedras gritariam"!

Como? E por quê? Hipérbole, não há dúvida, bem no estilo oriental. Todavia, o

plano astral naquela região e naqueles dias devia estar vibrante de expectativa. Esendo o povo judeu, como sempre ficou demonstrado através dos séculos, altamentesensitivo, com a mediunidade à flor da pele, não há dúvida de que a manifestação dosdesencarnados deve ter influído fortemente os encarnados. Para o Mestre, quepercebia o plano astral e sua vibração e agitações inusitadas devia ter-se afiguradoque, se os seres animados fossem impedidos de manifestar os desencarnados e oselementais, os próprios seres inanimados saltariam rumorosamente de alegria.

Mas o exemplo é precioso para todos nós, sobretudo em certas fases de nossavida, quando um grupo de criaturas, voluntariamente ou não, com consciência do queestão fazendo ou não, se reúne em redor de nós com a intenção de derrubar-nos. Epara consegui-lo mais fácil e rapidamente, usa o melhor instrumento de sapa que podeexistir na Terra: o elogio.

É mister compreender que a personagem transitória nada vale, porque passaapenas alguns minutos na Terra. Só o Espírito eterno é que conta. E ele não é afetadopor esse gênero de encômios barulhentos: o único aplauso que aceita é o da própriaconsciência, segura de que está cumprindo seu dever.

EXPULSÃO DOS VENDILHÕES DO TEMPLO Mat. 21:12-17 Mc 11:15-19 Lc19:45-48 Jo 2:13-22

12 Jesus entrou no Templo, e expulsou todos os que vendiam e compravam noTemplo. Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos vendedores de pombas.13 E disse: "Está nas Escrituras: 'Minha casa será chamada casa de oração'. Noentanto, vocês fizeram dela uma toca de ladrões."14 Os cegos e aleijados chegaram perto de Jesus no Templo, e ele os curou.15 Os chefes dos sacerdotes e doutores da Lei ficaram indignados, quando viram asmaravilhas que Jesus fazia, e as crianças gritando no Templo: "Hosana ao filho deDavi!" 16 Então eles disseram a Jesus: "Estás ouvindo o que dizem?" Jesusrespondeu: "Estou. Vocês nunca leram na Escritura: 'Da boca das crianças e dos quemamam tiraste um louvor'?"17 Jesus então os deixou, saiu da cidade e foi para Betânia, onde passou a noite.

A MOEDA DE CÉSAR

Mat. 22:15-22

15. Indo, então, os fariseus, tomaram conselho como o embaraçariam numadoutrina.

16. E enviaram os discípulos deles com os herodianos, dizendo: Mestre, sabemosque és verdadeiro e ensinas o caminho de Deus em verdade, e não te importas deninguém, pois não olhas os rostos dos homens.

17. Dize-nos, então, que te parece: é lícito dar o tributo a César ou não?

18. Conhecendo, porém, Jesus, a malícia deles, disse: "Por que me tentais,hipócritas?

19. Mostrai-me a moeda do tributo". Eles trouxeram-lhe um denário.

20. E disse-lhes: "De quem é a imagem e a inscrição"?

21. Disseram-lhe: "De César"; Então disse-lhes: "Devolvei, pois, o de César, aCésar, e o de Deus, a Deus".

22. E ouvindo, admiraram-se e, deixando-o, retiraram-se.

Marc. 12:13-17

13. E enviaram a ele alguns dos fariseus e dos herodianos, para que oembaraçassem numa doutrina.

14. E vindo, disseram-lhe: "Mestre, sabemos que és verdadeiro e não te importasde ninguém, pois não olhas os rostos dos homens, mas ensinos o caminho de Deus emverdade; é lícito dar o tributo a César ou não? Damos, ou não damos?"

15. Vendo ele, porém, a hipocrisia deles, disse-lhes: "Por que me tentais? Trazei-me um denário para que (o) veja".

16. Eles trouxeram. E disse-lhes: "De quem é esta imagem a inscrição"? Elesdisseram-lhe: De César.

17. Então Jesus disse-lhes: "O de César, devolvei a César, e o de Deus, a Deus".

E admiraram-se dele.

Luc. 20:20-26

20. E observando, enviaram (pessoas) desleais, que fingiam ser justos, paraembaraçá-lo em doutrina dele, de forma que pudessem entregá-lo ao governo e aopoder do procurador.

21. E interrogaram-no, dizendo: "Mestre, sabemos que falas certo e ensinas, e nãoobservas o rosto, mas ensinas em verdade o caminho de Deus:

22. é-nos lícito dar o tributo a César, ou não?

23. Subentendendo, porém a astúcia deles, disse-lhes:

24. "Mostrai-me um denário. De quem tem a imagem e a inscrição"? Elesdisseram: De César.

25. Ele disse-lhes: "Então devolvei o de César a César, e o de Deus a Deus".

26. E não puderam apanha na palavra dele diante do povo; e admirados pelaresposta dele, calaram-se.

Tal como já lemos em Mateus (12:14), o Sinédrio reuniu-se em Conselho(symbólyon élabon), para estudar o melhor modo de embaraçar Jesus, obrigando-O apronunciar-Se de tal forma, que pudesse ser apanhado em armadilha, para sercondenado. A embaixada oficial do Sinédrio (fariseus, escribas e anciãos) fora postafora de combate, com a resposta a respeito do poder de Jesus e, logo a seguir, com aalusão clara à perda do cetro religioso por parte dos judeus. Reúnem-se, então, eresolvem pegá-Lo numa emboscada que lhes pareça infalível. Mas eles mesmos nãopodiam voltar, porque já eram conhecidos de Jesus e do povo. Que fazer?

Resolveram mandar pessoas desconhecidas. Escolheram discípulos seus (talmidêhakhâmim), que seriam acompanhados por herodianos, que poderiam acusar logo quefosse proferida qualquer palavra ofensiva aos dominadores romanos. Eram chamados"discípulos dos fariseus" os que cursavam a Escola Rabínica, antes de obter o títulofinal de "Rabino" (ou Rabbi). Os herodianos eram judeus fiéis a Herodes, que muitaquestão faziam de unir-se aos romanos, aplaudindo-os, embora os não suportassem,

só para não perderem as posições conquistadas. Os fariseus eram inimigos dosherodianos, que eles desprezavam, mas decidiram unir-se a eles, para teremtestemunhas insuspeitas perante as autoridades romanas.

Com efeito, a reunião chegara a esse resultado: era necessário preparar-Lhe umaarmadilha tal, que O apanhassem de qualquer forma. Os verbos empregadospagideúsôsin (Mateus e Lucas) e agreúsôsin (Marcos) pertencem ao vocabulário decaça: "apanhar em armadilha ou laço" (pagís). Para isso, era mister que Jesus firmasseuma doutrina (lógos) que O comprometesse perante o procurador romano (hêgemôn,como em Mat. 27:2 e At. 23:24, 26), ou perante Seus seguidores.

A pergunta foi escolhida com cuidado e os emissários bem treinados.

Apresentaram-se respeitosos e dirigiram-se a Jesus dando-Lhe o título de Mestre,no sentido de "professor" (didáskale). Fazendo um preâmbulo bem preparado, em queelogiavam exatamente Sua franqueza e honestidade doutrinária, Sua coragem edesassombro diante de todos, não "olhando os rostos", isto é, não tendo "respeitoshumanos", sem ligar à posição social, aos cargos, à riqueza, etc.; de tudo isso sobejasprovas havia.

Embora todos os judeus pagassem os impostos e tributos aos romanos, faziam-noa contragosto. Judas o Gaulanita já pregara abertamente contra os tributos exigidos porQuirinius (cfr. Flávio Josefo, Ant. Jud. 18, 1, 1 e Bell. Jud. 2, 8, 1 e 17, 8) dizendo queisso constituía crime de lesa-majestade contra a soberania única de Deus. Não deviamos judeus pagar tributos aos homens, mas apenas o Templo tinha direito de cobrá-los,porque era a representação de Deus.

A questão, portanto, foi sobre a liceidade do pagamento do tributo. Que eramobrigados a pagar, não havia dúvida. Mas diante da consciência, era lícito? Dizer SIMincompatibilizaria Jesus com todos os judeus, que o desacreditariam como o messias.Dizer NÃO era a condenação certa como revoltoso contra Roma, e lá estavam osherodianos para testemunhar contra Ele.

A pergunta foi feita de forma a só poder ter duas respostas: sim ou não. Impossívelescapar: "é-nos lícito dar o tributo a César, ou não? “Damos ou não damos"?

Jesus percebe a malícia e o declara: "por que me tentais hipócritas"?

Começa, então, a preparar a resposta, numa dialética perfeita. Pede uma prova

concreta: quer ver a moeda do tributo (e aqui se percebe a ironia).

As "regras do jogo" exigiam que, mesmo se Ele a tivesse consigo, devia pedir quea prova fosse trazida pelos adversários. Trouxeram-na.

Vem a segunda investida. Jesus estava farto de saber que a imagem ou efígie(eikôn) era de César, assim como a inscrição (epigraphê). Mas ainda aqui era precisoque eles o dissessem. E disseram: "é de César". Jesus os tinha na mão: oadversário confessava que a moeda do tributo (o denário) era romana.

Tudo estava pronto para a resposta. E Jesus calmamente conclui:

- Então devolvei o que é de César a César, e o que é de Deus, a Deus!

Traduzimos apódote por "devolver", sentido real, sem dúvida muito melhor que odai das traduções correntes.

Com essa resposta, que nenhum deles esperava, Jesus estabeleceu a doutrinado respeito à autoridade civil legitimamente constituída, tema que seriadesenvolvido mais tarde por Paulo, na carta aos romanos (13:1-8).

Anotemos que a palavra alêthês ("verdade") é empregada, nos sinópticos, apenasneste trecho, embora João a use com larga freqüência. Também o termo de Marcos(agreúsôsin) é hápax neotestamentário.

Diante dessa resposta, os emissários "murcharam" e não mais puderam abrir aboca. Mas intimamente admiraram Sua sabedoria. E retiraram-se, olhando uns para osoutros...

Só tinham mais um recurso: era confiar a missão aos saduceus, que tentariam verse O confundiam.

Vê-lo-emos no próximo capítulo.

Perfeitas todas essas deduções. Procuremos meditar.

A "moeda do tributo", cunhada no metal, representa o corpo humano, moldado emcélulas de matéria orgânica. Tem, pois, a efígie de seu possuidor, e seu nome emepígrafe. Ora, se o corpo possui gravada a imagem da personalidade, é porquepertence a ela, e a esse corpo devem ser prestados os serviços de que ele carece.Nada do que lhe pertence deve ser-lhe negado.

No entanto, o Espírito, "partícula" divina, tem sua parte. E não será lícito prejudicarum em benefício do outro. Nem tirar de César (do corpo) para dar ao Espírito, nem tirar

de Deus (o Espírito) para dar ao corpo.

A divisão é nítida: devolver ao corpo tudo o que este nos tiver dado de experiênciase lições, e tratá-lo com o cuidado de que necessitar. Mas sem lesar a parte devida aoEspírito.

Daí o equilíbrio indispensável em nosso comportamento, sem exageros nem paraum lado nem para o outro. Porque, no final das contas, o Espírito é que se condensouno corpo: a autoridade divina é que se manifesta em César.

Outra lição que podemos aprender refere-se aos grupos. Muito comum que semisturem negócios de César nos setores divinos. Em outros termos, que as instituiçõesespiritualistas se fundamentem no reinado de César.

Lógico que, estando num planeta material, cujo valor de troca é a moeda de César,as organizações espiritualistas necessitem dessa parte para atuar no mundo. Maspensamos- salvo erro - que essa parte deva ser conquistada "com o suor do rosto", enão constituída apenas pelo resultado de apelos e doações. Daí acharmos que todasas agremiações que tratam do Espírito deveriam possuir a látere uma indústriapuramente comercial que sustentasse a obra, onde trabalhariam dando seu tempo eseu esforço os dirigentes da obra, mas sem mistura de uma em outra (1).

(1) Pondo em prática esse pensamento, dirigimos, para sustentar nossaspublicações, a revista, etc., uma Agência de Publicidade, cujo lucro reverte para cobriro déficit das edições. O mesmo ocorre, por exemplo, com o "Lar Fabiano de Cristo",que sustenta milhares de crianças através da CAPEMI (Caixa de Pecúlio dos Militares-Beneficente), onde os diretores de ambas trabalham sem perceber nenhum salário.

A ideia de "fazer caridade" na dependência da "caridade" dos outros, pode sercômoda e até pode estar certa. Mas não "sentimos" assim, por acharmos que, damesma forma que, com nosso trabalho provemos a alimentação física de nossos filhos,também com nosso trabalho devemos prover a alimentação espiritual de nossosirmãos.

A FIGUEIRA ESTÉRIL Mat. 21:18-22 Mc 11:12-14, 20-26

18. De manhã, voltando à cidade, teve fome.

19. E vendo uma figueira à beira da estrada, foi a ela e não achou nela senãosomente folhas e disse-lhe: "Nunca de ti nasça fruto no eon (era ou força vital)". Einstantaneamente secou a figueira.

20 Vendo isso, os discípulos ficaram espantados, e disseram: "Como é que secoutão depressa?"21 Jesus respondeu: "Eu lhes garanto: se vocês tiverem fé, e não duvidarem, vocêsfarão não só o que eu fiz com a figueira, mas também poderão dizer a essa montanha:'Levante-se, e jogue-se no mar', e isso acontecerá. 22 E tudo o que vocês na oraçãopedirem com fé, vocês receberão."

Marc. 11:12-14

12. No dia seguinte, saindo eles de Betânia, teve fome.

13. E vendo ao longe uma figueira que tinha folhas, foi (ver) se acaso achava nela(algo) e, aproximando-se dela, nada achou senão folhas, pois não era tempo de figos.

14. E respondendo, disse-lhe: "Nunca neste eon de ti ninguém coma fruto". Eouviram(-no) seus discípulos.

Os geólogos se referem a um Éon como a maior subdivisão de tempo na escala detempo geológico.

O episódio é narrado por Mateus e Marcos que coincidem em alguns pormenores,diferindo em outros.

Analisemos.

1 - Dizem ambos que, "saindo de manhã de Betânia para voltar à cidade, Jesusteve fome".

Há várias objeções muito sérias. Teria Marta, tão completa dona-de-casa que seupróprio nome tem esse significado, teria ela permitido que o Mestre saísse de sua casaonde se hospedava sem tomar o de jejum? O ar matinal provocou a fome? Mas porandar distância tão pequena, logo ao sair de Betânia, diante de Betfagé? Nãoconvence...

2 - Jesus viu "à beira da estrada uma figueira". Só tinha folhas. Jesus "foi ver seachava algo para comer".

Mas como poderia fazê-lo, se em abril não era época de figos, como bem anotaMarcos? Será que Jesus ignorava o que todos sabiam, até as crianças?

3 - Jesus afinal, decepcionado, amaldiçoa a figueira. Mateus adianta o final doepisódio (que Marcos deixa em suspenso para o dia seguinte) e faz que a figueira"seque instantaneamente".

Algumas considerações.

Os figos-flor começam a aparecer na Palestina, em fins de fevereiro, antes dasfolhas, mas só amadurecem em fins de junho. No entanto, na figueira selvagem("figueira braba") apesar de brotarem normalmente as flores, elas secam e caem antesde amadurecer. Vemos, então, claramente, que não era "culpa" da figueira o fato denão ter frutos...

Vejamos alguns comentaristas o que dizem.

Jerônimo (Patrol. Lat. vol. 26, col. 153) diz que "o Senhor, que ia sofrer aos olhosde todos e carregar o escândalo de Sua cruz, precisava fortalecer o ânimo de Seusdiscípulos com Este sinal antecipado".

Outros dizem que não queria figos, mas dar uma lição aos discípulos. Outros quese trata de uma "parábola de ação", bastante comum entre os profetas.

Isaías durante três anos andou nu e descalço para profetizar o cativeiro assírio (Is.23:1-6);

Jeremias enterra seu cinto e o desenterra já podre (Jer. 13:1-11); ele mesmoquebra uma botija de barro (Jer. 19:1, 2, 10) e pendura brochas e canzis ao pescoço(Jer. 27:1-11 );

Ezequiel desenha a cidade de Jerusalém num tijolo e constrói fortificações emtorno dele (Tz. 4:1-8); corta a barba e o cabelo e queima-os (Ez. 5:1-3); depois se mudacom todos os seus móveis, para que todos vejam que vão ter que sair de casa (Ez.12:3-7).

Quando as contradições ou os absurdos são evidentes, trata-se de símbolos e não,realmente, de fatos.

Ponderemos com lógica. Causaria boa impressão aos discípulos uma injustiçaflagrante do Mestre, ao condenar, por não ter frutos, uma figueira que não podia terfrutos? A demonstração de poder não teria sido, ao mesmo tempo, um exemplo deatrabiliário despotismo, além de injusto, desequilibrado e infantil? Que lucro adviria para

Jesus e para os discípulos, por meio de uma ação intempestiva e de tamanho ridículo?

Não, não é possível aceitar o fato como ocorrido. Houve, realmente, uma lição. Epor que foi escolhido o símbolo da figueira sem figos, ou com figos ainda verdes,porque estavam em abril?

Observemos que, ao sair de Betânia para Jerusalém, a primeira aldeia que "tinhamà frente;" era BETFAGÉ, que significa, precisamente, "CASA DOS FIGOS NÃOMADUROS"! ...

Ora, ao sair de Betânia, a conversa do caminho girou em torno do poder daqueleque mantém fidelidade absoluta e inalterável ao Pai, a Deus, ao Espírito. Daí a liçãodestacar a capacidade de a criatura dominar os elementos da natureza com o podermental. E o exemplo é apresentado ao vivo: se, quiserem, poderão fazer secar até asraízes, ou fazer crescer rapidamente, uma árvore, e poderão até mesmo erradicarmontanhas, como veremos pouco adiante. Se fora apenas para "demonstrar poder",seria muito mais didático e lógico que Jesus fizesse a figueira sem frutos frutificar eproduzir de imediato figos maduros! ...

Há, pois, evidentemente, profunda ligação entre a figueira sem figos e o nome daaldeia de Betfagé, o que vem explicar-nos a "motivação" da aula.

* * *

Quanto ao ensinamento em si que poderemos entender dessas poucas linhas que resumem, como conclusão, uma conversa que se estendeu por dois quilômetros emeio? Trata-se, é claro, de uma conclusão, e dela teremos que partir para deduzir pelomenos os pontos essenciais da mesma.

Façamos algumas tentativas.

Quando o Espírito necessita colher experiências por meio de uma personagem queesteja sendo vivificada ou animada por ele, e essa personagem não corresponde emabsoluto, não produzindo os frutos, mas apenas as folhas inúteis das aparências, oúnico remédio que resta ao Espírito, para que não perca seu tempo, é secar ou cortar aligação, avisando, desde logo que, naquele eon, naquela "vida", ninguém maisaproveitará dela qualquer resultado positivo.

Cabe à personalidade aceitar os estímulos do Espírito e produzir frutos, seja ounão "época" de fazê-los.

O Espírito precisa avançar, e temos por obrigação corresponder à sua expectativa,sem exigir épocas especiais. Daí como o médico deixa a refeição sobre a mesa ou sai

do aconchego do leito a qualquer hora e com qualquer tempo para atender a chamadosurgentes, assim o cristão tem que passar por cima de tudo; abandonando conforto,amores, amizades, comodismos, riquezas, vantagens, para obedecer incontinenti aosapelos do Espírito, que não obriga, mas convida e pede e solicita "com gemidosinenarráveis" (Rom. 8:26). Se o não fizermos, não desencarnaremos instantaneamente,mas secaremos até as raízes as ligações com a Espiritualidade Superior, que verificanão poder contar conosco nessa existência pelo menos. Mais à frente veremos umaparábola, a dos dois filhos, que vem ilustrar o que acabamos de afirmar. Comentá-la-emos há seu tempo.

Assim compreendemos algumas das expressões empregadas na conclusão dalição evangélica e que, no sentido literal, são incompreensíveis, por absurdas. Jesus"teve fome", ou seja, quando a Individualidade manifesta alguma necessidade vital; "vêuma figueira com folhas", isto é, uma personagem com possibilidades; "vai ver seencontra frutos", vai verificar se pode aproveitá-la para o serviço.

Nada encontra, porque a desculpa é exatamente "não tenho tempo”... "não é minhahora”... "não está ainda na época - preciso gozar a mocidade, aposentar-me, esperarenviuvar... mais tarde"! ...

O que falta, em realidade, é amor e boa-vontade, porque não há "horas" paraevoluir. O progresso é obrigação de todos os minutos-segundos, e não se condiciona a"estações" nem "épocas". Lógico que, diante da falta de disposição, tem que vir acondenação. Não é, propriamente, a "maldição". Trata-se do verbo kataráomai,depoente, composto de katá, "para baixo" e aráomai, "orar", já que ará é "oração".

Essa condenação ou execração é introduzida pelo advérbio mêkéti, que exprimeapenas "não mais". Não é, pois, uma proibição para a eternidade, mas uma verificação,tanto que o tempo empregado é o subjuntivo, e não o imperativo nem o optativo.Portanto, o Espírito diz, em outros termos: "de agora em diante, percam-se asesperanças de obter fruto de ti nesta encarnação".

A lição, portanto é lógica e oportuna. Abramos os olhos enquanto é tempo!

A AUTORIDADE DE JESUS Mat. 21:23-27 Mc 11:27-33 Lc 20:1-8

23. E entrando ele no templo, aproximaram-se dele, que ensinava, os principaissacerdotes e os anciãos do povo, dizendo: com que poder fazer estas coisas? E quemte deu esse poder?

24. Respondendo, Jesus disse-lhes: "Perguntar-vos-ei também eu uma palavra,que, se me responderdes, também vos responderei com que poder faço essas coisas.

25. Donde era o mergulho de João? “Do céu ou dos homens”?

Eles, porém, raciocinavam entre si dizendo: se dissermos "do céu", dirnos-á: "porque não acreditastes nele"?

26. Mas se dissermos "dos homens" tememos a multidão, pois todos têm Joãocomo profeta.

27. E respondendo a Jesus, disseram: "Não sabemos"! Disse-lhes também ele:"Nem eu vos digo com que poder faço essas coisas".

Marc. 11 :27-33

27. E vieram de novo a Jerusalém. E perambulando Jesus pelo templo, vieram aeles os principais sacerdotes e escribas e os anciãos,

28. e disseram-lhe: com que poder fazes essas coisas? Ou quem te deu essepoder para fazeres essas coisas?

29. Jesus porém disse-lhes: Perguntar-vos-ei uma palavra e me respondereis, evos direi com que poder faço essas coisas:

30. o mergulho de João era do céu ou dos homens? “respondei-me"!

31. E raciocinavam entre si, dizendo: se dissermos "do céu", dirá: por que nãoacreditastes nele?

32. Mas se dissermos "dos homens" ...temiam o povo, pois todos consideravamque João fora realmente profeta.

33. E respondendo a Jesus, disseram: não sabemos. E Jesus disse-lhes: "Nem euvos digo com que poder faço essas coisas".

Luc. 20:1-8

1. E aconteceu em um dos dias em que Jesus ensinava ao povo no templo eanunciava coisas alegres, chegaram os principais sacerdotes e os escribas junto comos anciãos,

2. e falaram dizendo-lhe: dize-nos com que poder fazer essas coisas, ou quem éque te deu esse poder?

3. Respondendo-lhes, disse: "Perguntar-vos-ei também eu uma palavra; respondei-me:

4. o mergulho de João era do céu ou dos homens"?

5. Consultaram-se entre si, dizendo: se dissermos "do céu" dirá: por que nãoacreditastes nele?

6. Mas se dissermos "dos homens", o povo todo nos apedrejará, pois está certo deJoão ser profeta.

7. E responderam que não sabiam donde (era).

8. Jesus disse-lhe: "Nem eu vos digo com que poder faço essas coisas".

Diariamente Jesus ensinava no templo. Numa dessas ocasiões, chegam a Ele ossacerdotes principais, ou seja, os que pertenciam ao Sinédrio, em companhia de seuscolegas os anciãos do povo e os escribas, para interpelá-Lo.

Observavam aquele galileu, de condição social inferior, que jamais lhes haviaseguido os cursos acadêmicos e que, não obstante, demonstrava sabedoria profundaem Suas palavras, poder mágico em Suas ações, irresistível força de liderança popular,movimentando as massas como em tempo algum haviam eles conseguido.

Lembravam-se vivamente da cena de dois anos atrás, quando expulsara oscomerciantes do templo; das curas instantâneas que efetuara; das respostasirretorquíveis que lhes dera, muitas vezes, obrigando-os a retirar-se cabisbaixos esilenciosos, embora remordendo-se de despeito; das peças que lhes havia pregado emvárias circunstâncias, como no episódio da "adúltera"; do que ouviam contar Dele,trazido por testemunhas oculares da Galileia; da tão falada ressurreição de Lázarohavia alguns dias apenas; e de tantas outras "façanhas" que, realmente, homens comoeles, cultos e de alta categoria social e religiosa, não só não podiam realizar, como nem

compreender.

Animam-se, pois, e vão perguntar-Lhe, talvez movidos por íntima sensação deestar diante de algum profeta:

- Com que poder oculto fazes todas essas coisas? Quem te deu esse poder(exousía é o poder baseado em dynamis, "força", de realizar érgon "trabalho ouação").

Quiçá tinham a esperança de ser-lhes revelado o segredo espiritual, que eles,como autoridade pretendiam ter o direito de saber, e que os animasse a estudar ocaso, aceitando-o, se convencidos da proveniência divina, ou rejeitando-o se não fosseprovada essa origem com plena nitidez.

Haviam perguntado duas coisas e ansiosamente aguardavam a resposta. Jesusutiliza o processo rabínico, de responder com outra pergunta, mas salienta que, em vezde duas, lhes fará uma só:

- Respondei-me: o mergulho de João era do céu ou dos homens? Se moresponderdes, direi donde me vem esse poder...

Pronto! Outra peça pregada... Cochicham entre si e verificam que, qualquer quefosse a resposta, estavam presos pelo pé. O texto é claro e apresenta-nos a angustiosadúvida da embaixada. O melhor era declarar a ignorância a respeito, como se lhescoubesse ignorar, a eles, a autoridade religiosa mais alta de Israel!

- Não sabemos!

O Mestre retorque-lhes altaneiro, declarando que tampouco lhes diria donde lhevinha Seu poder.

Sabe-o, mas não dirá.

Lição preciosa!

Quase todos os espiritualistas que proliferam atualmente, tais se julgam, fazemquestão de apresentar e apregoar títulos que receberam de homens, ou que elesmesmos inventaram. Citam Centros frequentados, Ordens, Associações eFraternidades a que pertencem "há tantos e tantos anos"; honrarias conquistadas (àsvezes compradas...), milagres realizados, nomes "iniciáticos" precedidos de "sri" ouseguidos de "ananda" que alguém lhes deu ou que se atribuíram, e mais medalhas, ecargos de "Mestres” (ou "gurus”, que é mais bonito e impressiona mais ...), e fitas de"veneráveis", e "crachats" de valor internacional, etc. etc. Muitas vezes tambémenumeram as amizades que tem com grandes homens, os contatos com personagens

importantes, como se isso valesse algo ... Não se lembram de que os motoristas,copeiros e cozinheiros dessas criaturas têm contato muito mais íntimo!

Jesus ensina-nos como devemos agir: nada temos que dizer. Mas também não hánecessidade de manifestar nem de internamente envaidecer-nos pelo fato de nadadizer. SIMPLICIDADE, acima de tudo: nada vale nossa personalidade temporária, quehoje é a amanhã fenece como erva do campo; trata-se apenas de um "veículo" quetransporta nosso EU verdadeiro e que, uma vez envelhecido e imprestável, éabandonado à margem do caminho; e nosso EU verdadeiro, o Espírito, é idêntico ao detodas as demais criaturas: que razão nos sobra de envaidecer-nos?

Portanto, há uma só coisa que fazer: TRABALHAR e SERVIR.

Qual a fonte de origem de nossos atos, de nossos conhecimentos? Não interessa.O que importa é se falamos e agimos CERTO: pela árvore se conhece o fruto.

Por que inflar-nos de orgulho se, como médiuns, se manifestam por nossointermédio nomes de seres respeitados pela humanidade? Teria direito de orgulhar-sea caneta, por ser usada por um sábio?

Que faz ela mais que a caneta, que presta idêntico serviço na mão de uma criançaque aprende a escrever?

A função é a mesma, o resultado - escrever - o mesmo.

Certa vez, conversando com Francisco Cândido Xavier, ele citou-nos o nome deum espírito "graúdo" na Espiritualidade que estava a nosso lado. Retrucamos que nãopodíamos acreditar, pela nossa pequenez.

Mas, talvez observando uma vibração de vaidade em nós, apesar das palavras,Chico logo advertiu:

- Não se envaideça não, porque quanto mais errada a criatura, mais necessidadetem de um ajudante forte!

E pensamos: realmente, quanto mais recalcitrante o animal, mais hábil tem que sero peão!

A vaidade é dos piores vícios. Mas se tornam muito mais graves, quando ataca osespiritualistas, sobretudo aqueles que, por circunstâncias diversas, se encontram àfrente de instituições. Já vimos (vol. 6) que "é preferível o suicídio a ensinar errado".Ora, a vaidade oblitera a inspiração, porque dissintoniza e corta as intuições; e oresultado é fatal: passamos a ensinar segundo nosso ponto de vista, e não segundo aVERDADE. Ensinemos sempre que os ouvintes devem usar a razão para analisar

nossos ensino" (leia-se por exemplo, Allan Kardec, "Livro dos Médiuns", números 261 a267), pois ninguém na Terra possui autoridade absoluta e infalível; todos estamosestudando e aprendendo, e apenas passamos adiante aquilo que vamos conquistandocom esforço, pela grande dificuldade do assunto espiritual.

Portanto, não citemos "a fonte", já que não sabemos qual seja...

PARÁBOLA DOS DOIS FILHOS NA VINHA Mat. 21:28-32 Vide estudo Parábola

A RESSURREIÇÃO Comentário da Parabola da Vinha.

Mat. 22:23-33

23. Naquele dia chegaram a ele uns saduceus, dizendo não haver ressurreição, eperguntaram-lhe,

24. dizendo: Mestre, Moisés disse: Se alguém morrer, não tendo filhos, o irmãodele casará com a mulher dele e ressuscitará a semente de seu irmão.

25. Ora, havia sete irmãos, entre nós, e o primeiro, casado, morreu, não tendosemente, e deixou a mulher dele a seu irmão.

26. Igualmente o segundo e o terceiro, até o sétimo.

27. Depois de todos, morreu a mulher.

28. Na ressurreição, pois, de qual dos sete será a mulher? Pois todos a tiveram.

29. Respondendo, porém, Jesus disse-lhes: "Enganai-vos, não sabendo asEscrituras nem a força de Deus,

30. pois na ressurreição nem se casam nem se dão em casamento, mas sãocomo os anjos no céu.

31. Quanto, porém, à ressurreição dos mortos, não lestes o dito pelo Deus a vós,dizendo:

32. Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaac, e o Deus de Jacó? “Não é oDeus de mortos, mas de vivos".

33. E ouvindo, as multidões maravilhavam-se acerca do ensino dele.

Marc. 12:18-27

18. E chegaram uns saduceus a ele, os quais dizem não haver ressurreição, eperguntaram-lhe, dizendo:

19. Mestre, Moisés escreveu-nos que se algum irmão morrer e deixar mulher e nãodeixar filho, que o irmão dele tome a mulher e suscite uma semente para seu irmão.

20. Havia sete irmãos; e o primeiro tomou mulher e, morrendo, não deixousemente.

21. E o segundo tomou-a e morreu e não deixou semente; e o terceiro igualmente.

22. E os sete não deixaram semente. Por último de todos também a mulhermorreu.

23. Na ressurreição, de qual deles será a mulher? Pois os sete a tiveram comomulher.

24. Disse-lhes Jesus: "Não é por isso que vos enganais, não sabendo as Escriturasnem a força de Deus?

25. Pois quando ressuscitarem dos mortos, nem se casarão nem se darão emcasamento, mas são como anjos nos céus.

26. Mas quanto aos mortos que se reerguem, não lestes no livro de Moisés, nasarça, como lhe disse Deus: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus deJacó?

27. “Não é um Deus de mortos, mas de vivos: muito vos enganais”.

Luc. 20:27-39

27. Chegando, porém, alguns dos saduceus, que negavam haver ressurreição,perguntaram-lhe,

28. dizendo: Mestre, Moisés nos escreveu: se algum irmão morrer tendo mulher eesse seja sem filho, que o irmão dele tome a mulher e suscite a semente a seu irmão.

29. Havia, pois, sete irmãos, e o primeiro tomou mulher e morreu sem filho,

30. e o segundo

31. e o terceiro tomaram-na, e igualmente os sete não deixaram filhos e morreram.

32. Por último também a mulher morreu.

33. Na ressurreição, pois, a mulher de qual deles se tornará esposa? Pois os setea tiveram como mulher.

34. E disse-lhe Jesus: "Os filhos deste eon casam-se e dão-se em casamento,

35. mas os dignos de participar daquele eon e da ressurreição dos mortos, nem se

casam nem se dão em casamento, 36. pois já nem podem morrer, pois são quais anjose são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição.

37. Que os mortos se reerguem, também Moisés revelou na sarça, como disse: Osenhor Deus de Abraão, e Deus de Isaac, e Deus de Jacó.

38. Deus, contudo, não é de mortos, mas de vivos, pois, para ele, todos vivem".

39. Respondendo, porém, alguns dos escribas disseram: Mestre, falaste bem!

Os Saduceus

Chegou à vez dos saduceus. Salomão (cfr. 1.º Reis, 2:35) constituiu Sadoc (Zadok)sacerdote. Era da tribo de Levi. E seus descendentes assim ainda se mantiveram,como atesta Ezequiel (40:46) fiéis a Adonai, para servi-lo. Quando foram condenadosoutros elementos e famílias levitas, Adonai abriu uma exceção para os saduceus: "masos sacerdotes levitas, filhos de Sadoc, que cumpriram as funções prescritas de meusantuário, quando os filhos de Israel se desviaram de mim, esses se chegarão a mimpara servir-me" (Ez. 44:15). Já no tempo de Jesus estava bem firmado o partidopolítico-religioso dos saduceus, que constituíam a aristocracia sacerdotal entre osjudeus, dificilmente "descendo" a discutir com a plebe: os doutores, fariseus e anciãosé que agitadamente tomavam a si essa tarefa.

A questão proposta ao Rabi Nazareno era, provavelmente, velha objeção jamaissolucionada, e argumento irrespondível, quando apresentado aos fariseus e doutorespara combater a "ressurreição".

Strack e Billerbeck (o.c. t.3, pág. 650) cita o Tratado Jebannoth (4, 6b, 35) que trazum desses "casos":

Eram treze irmãos, sendo doze casados, mas todos estes morrem sem filhos; odécimo terceiro recebe as doze viúvas e fica, com cada uma, um mês do ano; após trêsanos, está com trinta e seis filhos. Eram "casos" que visavam a demonstrar o "absurdo"da ressurreição.

Os casos citados prendem-se à chamada "Lei do Levirato" (Núm.25:1-10): "Se

irmãos moram juntos e um deles morrer e não tiver filhos, a mulher do defunto não secasará com gente estranha, de fora; mas o irmão de seu marido estará com ela,recebê-la-á como mulher fará a obrigação de um cunhado, com ela".

Chamamos a atenção do leitor para o que escrevemos atrás (vol. 6): o adultério sóexistia para as mulheres.

A questão foi proposta, e a resposta aguardada ansiosamente.

Sem alterar-se, diz-lhes Jesus que "não conhecem as Escrituras, pois quando osespíritos se erguem (ressurgem) abandonando os corpos cadaverizados, são COMOos anjos do céu: nem (os homens) se casam, nem (as mulheres) se dão emcasamento".

Essa resposta, porém, constituía uma afirmativa teórica, que podia ser aceita ourecusada de plano.

Sabendo disso, Jesus traz um argumento irrespondível, citando exatamente umafrase do Êxodo (3:6), pois os saduceus só aceitavam o Pentateuco como divinamenteinspirado. Aí se encontra a palavra de Adonai: "Eu sou o deus de Abraão, o deus deIsaac, o deus de Jacob" (Vai, e ajunta os anciãos de Israel e dize-lhes: O SENHORDeus de vossos pais, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, me apareceu, dizendo:Certamente vos tenho visitado e visto o que vos é feito no Egito. Ex 3:16).

Ora, os três já haviam morrido, para a Terra. No entanto, - afirma Jesus de acordocom a crença dos fariseus - não é um deus de mortos, mas de vivos.

A resposta foi tão inesperada e tão fantasticamente irretrucável, que os própriosescribas não puderam conter-se e elogiaram de público o adversário: “Mestre, falastebem"!

Em Lucas há dois pormenores que chamam a atenção: "os filhos deste eon(mundo) casam-se... mas os dignos de participar daquele eon e da ressurreição dosmortos, não; pois nem mais podem morrer, sendo QUAIS anjos, filhos de Deus, já que

são filhos da ressurreição".

O outro: "Não é Deus de mortos, mas de vivos, pois para ele, todos vivem".

Aprofundemos o estudo dentro do possível.

Aprendamos, primeiramente, a lição que nos é dada a respeito do reerguimento doespírito, após abandonar a terra seu corpo imprestável, na chamada "ressurreição dosmortos".

Note-se, de passagem, que jamais fala o Novo Testamento em ressurreição DACARNE invenção muito posterior; só fala em ressurreição "dos mortos", valendo esseDOS como ponto de partida, ablativo (em inglês from).

Quando Moisés, no Sinai, ouve a voz de seu espírito-guia, YHWH, (naquela épocao espírito-guia era chamado "Deus"), ele deseja saber de quem se trata. E YHWH, semzangar-se, identifica-se como sendo o mesmo espírito-guia "de teu pai (Amram), deAbraão, de Isaac e de Jacob". Não diz: "FUI o deus de"... Mas diz: "SOU o deusde"...

A diferença é sutil, mas filosoficamente importante: YHWH continua sendo oespírito-guia ou deus de Amram, de Abraão, de Isaac, e de Jacob. Então, elescontinuam vivos! Quem se daria ao trabalho de querer guiar algo que deixou de existir(morreu)?

E o acréscimo de Lucas traz um impacto de grandiosidade magnificente econfortadora, numa das mais sublimes lições, que o Cristo jamais deu aos homens:"para Deus, todos vivem".

Vejamos o original: pántes gàr autôi zôsin. Podemos interpretá-la de quatromaneiras diferentes:

a) "pois para ele (Deus) todos vivem (são vivos);

b) "pois todos vivem para ele (Deus)";

c) "pois todos vivem por ele (Deus)" - considerando-se o autôi como dativo deagente; embora só seja este usado, em geral, com verbos na voz passiva no perfeitoou no mais que perfeito ou com adjetivos.

d) "pois todos vivem nele (em Deus)" - caso em que teria que subentender-se apreposição en.

Os dois primeiros significados são traduções literais, rigorosamente dentro daexpressão original, sem nenhum desvio interpretativo; e como procuramos mantersempre o máximo de fidelidade ao original, usamos em nossa tradução o primeirosentido, que é o mais fiel ao texto, inclusive quanto à ordem das palavras.

Há que penetrar, portanto, o significado do texto tal como chegou até nós. E, sem amenor dúvida, para Deus, que é a Vida substante a todas as coisas e a todos os seres,tudo o que existe partilha de Sua Vida, e logicamente vive. A morte seria oaniquilamento, isto é, a não existência, o nada. E sendo Deus TUDO, o nada não podecoexistir onde o Tudo impera: teríamos que imaginar "buracos vazios" no Todo.

Então, o ensino é perfeito: "para Deus, todos vivem", não importa se revestidos dematéria pesada ou dela libertos em planos superiores de vibração. Este o sentido REALda frase.

Mas esse mesmo sentido REAL é consentâneo com o ensino que se oculta nessaideia:

"todos vivem EM Deus". Se Deus é a substância última de tudo o que existe (poissó Ele É), concluímos licitamente que tudo existe NELE. Daí a exatidão da frasepaulina: "pois todos vivemos nele”, embora aí Paulo empregue a preposição: en autôigàr zômen (At. 17:28), a fim de que o sentido de sua frase não ficasse dúbio, comoficou no texto de Lucas (autor, aliás, tanto do Evangelho quanto dos Atos. Por que,num, teria usado a preposição e no outro a teria omitido?).

Terminada a exposição, procuremos penetrar SENTINDO a sublimidade do ensino,

que deve ser sempre repetido, para não correr o risco de ser olvidado e para queaprofundemos dia a dia o alcance ilimitado de sua expressão.

Aprendamos que nossa vida, que se manifesta de fora, é a exteriorização da VIDAinterna, que constitui, simplesmente, a expressão do Deus imanente em nós. Anotemosentrementes que não somos privilegiados, nós os humanos. Se a vida é comprovadapelo movimento intrínseco, tudo o que vive, move-se por força intrínseca (a forçadivina); e o corolário brilha legítimo aos nossos olhos: tudo o que se move por impulsoíntimo, tem vida.

Se outrora, por ignorância científica, nossos ancestrais negavam movimentointrínseco (e portanto vida) às matérias inorgânicas (ferro, ouro, pedra, cobre, etc.),verificamos hoje que a classificação deixou de ter perfeita exatidão, pois desde osátomos, tudo está em celeríssima movimentação por impulso intrínseco; então, ospróprios átomos do ferro, do ouro, da pedra, do cobre, etc., têm vida.

Vida própria? Não: vida cósmica, isto é, vida divina, porque a Divindade lhes é asubstância última.

Mas também os seres orgânicos, animais e homens inclusive, não possuem vidaprópria, pois "todos vivem NELE", todos usufruem a manifestação da vida de Deus.

Essa VIDA é a Divindade, o Espírito (-Santo), que se manifesta em Som (Palavra,Verbo, Logos, isto é VERDADE), o qual, por sua vez, se manifesta em movimentointrínseco, que cria e sustenta tudo, ao qual denominamos o CRISTO Cósmico: é omovimento "Permeado" ou "Ungido" (Cristo) pela VIDA VERDADEIRA.

Isso não é criação nossa: o próprio Cristo, manifestado em Jesus, o ensinouquando disse: "EU (o Cristo) sou o CAMINHO DA VERDADE (da Palavra ou Logos) eDA VIDA (Espírito)" (João, 14:6).

É assim que, iluminada pela Luz, a humanidade pode entrever a grandeREALIDADE e descobrir o rumo, estabelecer a rota, demarcar o roteiro, e seguiradiante, até atingir a meta: luzes ofuscantes que nos apresenta a Beleza Divina!

C. TORRES PASTORINO

O GRANDE MANDAMENTO

PARÁBOLA DOS VINHATEIROS HOMICIDAS Mat. 21:33-46 Mc 12:1-12 Lc 20:9-19

PARÁBOLA DO GRANDE BANQUETE Mat. 22:1-14 Mc 14:15-24

O TRIBUTO A CESAR Mat. 22:15-22 Mc 12:13-17 Lc 20:20-26

15 Então os fariseus se retiraram, e fizeram um plano para apanhar Jesus emalguma palavra. 16 Mandaram os seus discípulos, junto com alguns partidários deHerodes, para dizerem a Jesus: "Mestre, sabemos que tu és verdadeiro, e que ensinasde fato o caminho de Deus. Tu não dás preferência a ninguém, porque não levas emconta as aparências. 17 Dize-nos, então, o que pensas: É lícito ou não é, pagarimposto a César?"18 moeda do imposto." Levaram então a ele a moeda. 20 E Jesus perguntou: "Dequem é a figura e inscrição nesta moeda?" 21 Eles responderam: "É de César." EntãoJesus disse: "Pois deem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus."22 Ouvindo isso, eles ficaram admirados. Deixaram Jesus, e foram embora.

A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS Mat. 22:23-33 Mc 12:18-27 Lc 20:27-40

23 Os saduceus afirmam que não existe ressurreição. Alguns deles seaproximaram de Jesus, e lhe propuseram este caso: 24 Mestre, Moisés disse: 'Sealguém morrer sem ter filhos, o irmão desse homem deve casar-se com a viúva, a fimde que possam ter filhos em nome do irmão que morreu'. 25 Pois bem, havia entre nóssete irmãos. O primeiro casou-se, e morreu sem ter filhos, deixando a mulher para seuirmão. 26 Do mesmo modo aconteceu com o segundo e o terceiro, e assim com ossete. 27 Depois de todos eles, morreu também a mulher. 28 Na ressurreição, de qualdos sete ela será mulher? De fato, todos a tiveram."29 Jesus respondeu: "Vocês estão enganados, porque não conhecem as Escrituras,nem o poder de Deus. 30 De fato, na ressurreição, os homens e as mulheres não secasarão, pois serão como os anjos do céu. 31 E, quanto à ressurreição, será que nãoleram o que Deus disse a vocês: 32 Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e oDeus de Jacó'? Ora, ele não é Deus dos mortos, mas dos vivos."33 Ouvindo isso, as multidões ficaram impressionadas com o ensinamento de Jesus.

O MAIOR MANDAMENTO Mat.Mat. 22:34-40 Mc. 12:28-34 Lc 10:25-28

34. Mas os fariseus, ouvindo que silenciara os saduceus, reuniram-se em grupo

35. e, experimentando-o, um deles, doutor da lei, perguntou:

36. Mestre, qual o grande mandamento da lei?

37. Ele disse-lhe: "Amarás o senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda atua alma

e com toda a tua inteligência; (Dt 6:4)

38. este é o grande e primeiro mandamento.

39. Mas o segundo é semelhante a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.

(Lv 19:18)

40. Nestes dois mandamentos, toda a lei e os profetas estão suspensos.

Marc. 12:28-34a

28. e chegando um dos escribas, tendo ouvido a discussão deles, e vendo quebelamente lhes respondera, perguntou-lhe: Qual o primeiro mandamento de todos?

29. Respondeu Jesus: "O primeiro é: Ouve, Israel, um Senhor é nosso Deus, oSenhor é um,

30. e amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, e com toda a tua alma, ecom todo

o teu intelecto, e com toda a tua força.

31. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. “Não há outromandamento maior que estes".

32. e disse-lhe o escriba: Bem disseste, Mestre, na verdade, que Um é, e não háoutro além dele,

33. e o amá-lo com todo o coração e com toda a inteligência, e com toda a força, eo amar ao próximo como a si mesmo, é maior que todos os holocaustos e sacrifício".

34a E vendo Jesus que inteligentemente respondera, disse-lhe: "Não estás longedo Reino de Deus".

Lucas 10:25-29

E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, quefarei para herdar a vida eterna?

E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de

toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento (Dt 6:4), e aoteu próximo como a ti mesmo. (Lv 19:18)

E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu

próximo?

Já haviam todas as classes feito o interrogatório: fariseus, seus discípulos,herodianos, escribas e saduceus.

Todos haviam ficado inibidos diante da prontidão das respostas e da Sabedoriaque revelavam.

Adianta-se, então, um doutor da lei, onde Mateus classifica como nomikós (únicavez que nele aparece esse título, embora Lucas o empregue seis vezes), que exprimiauma classe diferente e mais elevada que os simples escribas (grammateús). Osnomikói eram quase juristas, exegetas, ou mesmo "doutores" no sentido legítimo daespecialidade das leis.

Pelo que lemos em Marcos, estava admirado da Sabedoria de Jesus (talvez fosseum dos que O haviam elogiado abertamente: "falaste bem” (Luc. 20:39). Quer"experimentá-Lo (peirázôn), aqui mais no sentido de "senti-Lo". E pergunta qual ogrande mandamento (Mat.) ou o primeiro (Marc.), que antecede os demais.

Ora, os "mandamentos" eram exatamente 613, sendo dois "yahwistas" querezavam: "Eu sou o Senhor teu Deus", e "Não adorarás outro Deus além de mim". Emais 611 "mosaicos".

Observe-se que a palavra que exprime "lei" é TORAH (Hoje, segundo um

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rabino=Ensinamentos), e como os números, em hebraico, são expressos com as letrasdo alfabeto (veja "Sabedoria" número 57, de setembro de 1968), temos exatamenteque TORAH dá a soma 611, ou seja: thau = 600; vau = 6; resh = 200 e hê = 5 (600 - 6+ 200 + 5 = 611). Desses 613 mandamentos, 248 eram positivos ("faze" miswôth 'aséh)e 365 negativos ("não faças" miswôth lô ta 'aséh).

Jesus cita as palavras de Deuteronômio (6:4), - apenas substituindo forças, dooriginal, por "inteligência" - que são as primeiras do Shêma. O shêma (é a primeirapalavra do trecho que significa "escuta") era constituído dos seguintes textos: Deut. 6:4-9; 11:13-21; Núm. 15:34-41.

4 Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR. 5 Amarás, pois, oSENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuasforças. 6 E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; 7 E asensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelocaminho, e deitando-te e levantando-te. 8 Também as atarás por sinal na tua mão, e teserão por frontais entre os teus olhos. 9 E as escreverás nos umbrais de tua casa, enas tuas portas.

E será que, se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vosordeno, de amar ao SENHOR vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração e detoda a vossa alma, 14 Então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e aserôdia, para que recolhais o vosso grão, e o vosso mosto e o vosso azeite. 15 E dareierva no teu campo aos teus animais, e comerás, e fartar-te-ás.

Nos manuscritos e nas Bíblias em hebraico, a letra 'ayn, da palavra shêma("escuta") e o dálet da palavra 'ehâd ("um") são escritas em tamanho maior, a fim dedestacar a importância do versículo; essas duas consoantes unidas compõem ovocábulo 'êd ("testemunha") porque Israel deve ser a testemunha de YHWH diante dospovos.

Todo israelita deve recitar esses textos duas vezes por dia, de manhã, ao nascerdo sol, e à tarde, ao sol-pôr. Por isso, escreviam-nos em pergaminho, que colocavamem caixetas, presas a correias. Estas eram amarradas em torno do antebraçoesquerdo, na altura do coração, e na testa, entre os olhos: é o chamado tephillin("orações") em aramaico, totaphôt em hebraico e phylacterion ("amuleto") em grego.

O hábito de pendurar o philactérion vem da interpretação literal do Deuteronômio(6:8) quando, ao falar dos mandamentos, lá se acha escrito: "amarrá-los-ás em tuamão para te servir de sinal e serão como um frontal entre teus olhos" (cfr. Êx. 13:9).

Jerônimo, já na 4.º século anota (Patrol. Lat. vol. 26, col. 168) que essas palavrassão metafóricas, e não devem ser interpretadas à letra, como faziam as "beatas" deseu tempo (superstitiosae muliérculae), que carregavam ao peito, cruzes, livretos,"breves", etc.

As palavras citadas por Jesus eram sabidas de memória por qualquerisraelita. No entanto, por sua conta, sem ser interrogado, acrescenta o "segundo"mandamento, o amor ao próximo, prescrito por Moisés (Lev. 19:18). E sublinha, comênfase, que, "pendurados" (krématai) nestes dois mandamentos estão toda a lei e osprofetas, pois não há outro mandamento que seja maior que estes.

O doutor da lei rendeu-se de corpo e alma, como bem anotou Victor de Antióquiano 5.º século: abriu-se seu espírito para receber o impacto do fluxo crístico, e elogia oNazareno diante de todos os seus colegas: "Mestre, disseste bem, na verdade, que UMé". Como bom israelita, não podia proferir o nome sagrado (Deus). (Vide estudoHaroldo Dutra)

E conclui: "Amar a Deus e ao próximo vale mais que todos os holocaustos esacrifícios". E aqui demonstra concordar com o que disseram os profetas (cfr. 1.º Sam.15:22; Prov. 21:3; Jer. 7:21-23; Os. 6:6).

Jesus penetra-o com olhar profundo e atesta: "Não estás longe do Reino de Deus"!

Diante dessa lição categórica deveriam terminar - se os homens tivessem real

evolução - todas as discussões e distinções religiosas. Que importa se alguém prestahomenagem a Deus de modo diferente do que eu faço? O que importa é amá-lo acimade tudo, com todo o coração (Kardía, Espírito), com toda a alma (psychê, sentimento) ecom toda a inteligência; (diánoia, racionalidade). São as três divisões clássicas: ocoração que representa a Centelha Divina, que se individualiza em pneuma (Espírito); aalma que exprime a vida que o espírito fornece à personagem, e a inteligência comosímbolo dessa mesma personagem incarnada, na qualidade de sua faculdade maiselevada e dirigente do corpo físico (sôma).

O ensino joga em profundidade, recomendando a fidelidade absoluta e o amor totalao nosso deus: ama o TEU DEUS. Onde e quando não havia possibilidade deaprofundamentos teológicos a respeito da Divindade (o Absoluto Imanifestado), misterse tornava uma representação palpável e sensível, na pessoa do Espírito-Guia da raça:YHWH. Toda Revelação tem que ser feita proporcionalmente à capacidade daquelesque a recebem, senão se perde. Não pode ensinar-se cálculo integral nem teoria dos"quanta" a quem ainda se esforça por decorar a tabuada de multiplicar . Não hácabimento em teorizar com argumentos metafísicos diante de espíritos primários. Oaprofundamento era reservado aos discípulos da Assembléia do Caminho. Ejustamente porque o "doutor da lei" deu mostra de haver penetrado o âmago do ensino,diz-lhe o Mestre que "não se acha longe do Reino de Deus".

A seqüência dada por Jesus aos dois mandamentos é de molde a fazer, noscompreender que a ligação é íntima entre eles. O "nosso" Deus habita em cada um denós. Cada criatura, pois, é a manifestação de "nosso" Deus. E como ainda nãoconseguimos amar sem conhecer (nihil vólitum quin cógnitum), e como é impossível anós, seres finitos, "conhecer" o infinito. Temos que amar o "nosso" Deus com todonosso Espírito, nossa Alma e nossa inteligência, POR MEIO DO AMOR A NOSSOPRÓXIMO, que é também a exteriorização do "nosso" Deus.

Qualquer outro preceito é secundário, e nada vale, se este não for vivido a cadaminuto-segundo de nossa vida.

Ações externas - holocaustos e sacrifícios, preces e reuniões mediúnicas, missas ecultos, pregações e esmolas - nada valem, se não estiverem "penduradas" (como éexpressivo o termo krématai!) nesse mandamento maior, primeiro e básico. O amor ésuperior à oração: "se estiveres no altar... e te lembrares que teu irmão tem alguma

queixa contra ti, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão, e depois vem orar" (Mat.5:23-25). Leia-se, também, 1.ª Coríntios, capítulo 13.

O discípulo que SABE isso e que já consegue VIVER esses preceitos, desconheceraivas, despeitos, ofensas, desprezos, vaidade, mágoas, ressentimentos, numapalavra, todas essas infantilidades, tão próprias do homem do mundo, cujapersonalidade cresce em prejuízo do Espírito. O discípulo deve amar a Deus acima detudo, tudo perdoando, tudo relevando, tudo compreendendo, porque seu amor a Deusé superior a qualquer contingência. Por isso, não trairá jamais a tarefa que lhe foiconfiada, não a abandonará e não a desviará de sua meta, ainda que tenha quecarregar sozinho sua cruz, morrendo para o mundo: renascerá para a plena vida doamor espiritual!

A humanidade precisa compreender o que é "amar a Deus", o que é entregar-se decorpo e alma, por amor ao serviço prestado aos semelhantes, distribuindo de si mesmoa seiva do conhecimento e da própria vida.

O Mestre ensinou e praticou. Deu o preceito e o exemplo. Explicou a lição e viveu-a: abandonado, perdoou a todos os que o abandonaram (mas que voltaram depois das"dores") e até a quem pretendia tornar política Sua missão espiritual e mudar os rumosdos acontecimentos que haviam sido predeterminados pelas Forças Superiores. SeuAmor tudo superou, porque Seu amor se dirigia, em primeiro lugar, ao Pai, "acima detudo", e em segundo lugar "ao próximo; esse amor ao próximo que perdoa, releva,desculpa e esquece, mas nem por isso se deixa envolver para trair as ordens recebidasdo Alto.

O testemunho de Jesus para o doutor, é de que "não estava longe do Reino deDeus": realmente a compreensão é o primeiro passo para conduzir-nos à ação. E umavez liberadas as forças ativas do progresso, a própria lei de inércia não nos deixa maisparar a meio do caminho.

Ensino de alta relevância para as Escolas iniciáticas: a meta está acima de tudo, eTUDO o que atrapalhar a caminhada deve ser sacrificado, tem que ser dominado,vencido e esquecido.

O MESSIAS, FILHO E SENHOR DE DAVI Mat. 22:41-46 Mc 12:35-37 Lc 20:41-44

41. Estando reunidos os fariseus, perguntou-lhes Jesus,

42. dizendo: "Que vos parece a respeito do Cristo? De quem é filho"? Disseram-lhe: De David.

43. Disse-lhes: "como então David, em espírito, chamou-o Senhor, dizendo:

44. Disse o Senhor à meu Senhor, senta à minha direita, até que ponha teusinimigos sob teus pés? (Sl 110:1)

45. “Se, pois, David chama-o Senhor, como é filho dele"?

46. E ninguém pode responder-lhe uma palavra, nem ninguém ousou maisinterrogá-lo desde esse dia.

Marc. 12:35-37 e 34b

35. E respondendo, Jesus disse, ao ensinar no templo: "Como dizem os escribasque o Cristo é filho de David?

36. O próprio David falou no espírito, o Santo: Disse o Senhor ao meu Senhor,senta à minha direita, até que ponha teus inimigos sob teus pés.

37. O próprio David di-lo Senhor, donde pois, é filho, dele"? Grande multidão ouvia-o com satisfação.

34b E ninguém ousava mais interrogá-lo.

Luc. 20:41-44 e 40

41. Disse-lhes: "Como dizem ser o Cristo filho de David?

42. Pois o próprio David, no livro dos Salmos, diz: Disse o Senhor ao meu Senhor,senta à minha direita,

43. até que ponha teus inimigos escabelo de teus pés.

44. “David, pois, chama-o Senhor como então é filho dele"?

40. E não ousavam mais perguntar-lhe nada.

Depois de ter sido posto à prova, como se tivesse sido "examinado" a respeito deSeus conhecimentos, tendo-Se saído bem de todos os quesitos que Lhe forampropostos, volta-se agora o Mestre e lança uma só pergunta, dirigida ao grupo defariseus ali na expectativa. E de tal sutileza foi, que nada puderam responder, nemmesmo conseguiram sair do embaraço com um sofisma! Só o silêncio. Emudeceram.

E depois disso, "ninguém ousou mais fazer-lhe perguntas": o Mestre estava muitoacima de todos eles, reconheciam-no, e nada adiantava terçar armas de inteligência ede conhecimento. Só poderiam vencê-lo, como queriam, com as armas da violência. E,como todos os involuídos do Anti-Sistema, apelaram para a violência, cuidando destruí-Lo, sem sequer desconfiar que essa mesma violência por eles praticada representavaum imperativo histórico, e provocou para Ele a conquista de mais um passo evolutivo ea vitória total sobre a "morte".

Isso ocorre com frequência entre as criaturas do pólo negativo: pensando quedestroem, provocam evolução; crendo deter, impulsionam maior velocidade; julgandoque derrubam, elevam; pretendendo matar, dão vida mais abundante.

Jesus pede as opiniões deles a respeito do Cristo (no sentido de "messias"). "Dequem é filho"? A resposta poderia ter sido dada por qualquer pessoa, qualquer criançaisraelita: filho de David. A referência é dos protetas: Is. 11:1; Jer. 23:5; 30:9; 33:15; Ez.34:23; 37:24; Os. 3:5; Amós, 9:11.

Isaías o diz "saído do tronco de Jessé" (l.c.); denomina-o Immanu-ei' ("Deusconosco"); e qualifica-o de "maravilhoso conselheiro, poderoso Deus, eterno pai,

príncipe da paz" (Is. 9:6), que os LXX traduzem como "Anjo do Grande Conselho".Miquéias (5:2) diz que "as saídas do messias são desde os tempos antigos, desde aeternidade", e Daniel afirma que o Filho do Homem tem origem celestial e se apresentadiante do "Ancião dos Dias" (Dan. 7:13). Também os apócrifos dizem o mesmo (cfr. 4.ºEsdras e Henoch, 37:71).

A exegese bíblica era o "forte" dos fariseus e escribas. Todos os textos eramestudados e perquiridos (embora, na prática, apenas intelectualmente), mas muitostrechos resultavam obscuros, inexplicáveis, incompreendidos. É um desses trechos queJesus sorteia como ponto de exame, embora sabendo que todos eles "cristalizariam"diante do enunciado da pergunta.

O Salmo (110:1) é citado pelo texto dos LXX: "disse o Senhor ao meu Senhor",pois o texto hebraico massorético está: "disse YHWH ao meu Senhor".

E a pergunta sibilina: se é filho dele, como o chama Senhor?

Os comentaristas das teologias ortodoxas escapam da dificuldade dizendosimplesmente que em Jesus há duas naturezas, a humana, descendente de David, e adivina, como segunda pessoa da Trindade.

Entreviram a realidade, mas não na compreenderam in toto, por faltar-lhes dadosconcretos de um conhecimento que foi perdido através das gerações, que se voltarampara as exterioridades, perdendo contato com as lições-mestras das iniciações antigas.

Provém a confusão da má interpretação dos textos escriturísticos, tomados à letrae moldados segundo teorias pré-fabricadas, ao invés de serem olhados no sentido emque foram escritos. Daí confundir-se causa com efeito, atribuindo ao Cristo o segundolugar ao invés do terceiro, na expressão da Divindade, esquecendo-se, ao mesmotempo, a imanência, e só se considerando a transcendência. Daí o conceito distorcido eo privilégio incompreensível, da Divindade imanente só em Jesus, ao passo que emtodas as outras criaturas estava imanente o Diabo, de cujas mãos o messias teria vindoarrancar a humanidade...

Essa concepção teológica, basicamente distorcida, foi causa de muitos outroserros consequentes.

Voltando, porém, ao verdadeiro conceito da Trindade considerada em Seus três

ASPECTOS (não três "pessoas" - embora nos primeiros tempos, a palavra "pessoa"em latim e "prósôpon" em grego, significassem realmente "aspectos", "aparências"), ecolocando a sequência na ordem certa:

(1) Espírito Santo; (2) Palavra Criadora, Som; (3) Cristo (Filho Unigênito), comorepresentação de tudo o que existe espiritual e material (efeito do SOM que é a causa,e resultado da condensação da LUZ e do SOM incriados) - tudo se esclarece e explicacom lógica irrespondível, de acordo com a verdade (isto é, com a verdade que pode seratingida por nós atualmente, da mesma forma que a explicação dada e que criticamos,era a única verdade possível de ser captada pela evolução dos estudiosos daquelaépoca).

Atualmente, pelo contato refeito com as doutrinas iniciáticas antigas (sobretudoatravés do Espiritismo, da Rosacruz e da Teosofia) torna-se clara e evidente a perguntade Jesus, que distingue categoricamente o CRISTO, de JESUS (como o fará maistaxativamente ainda no próximo capitulo Mat.23:10). Baseado na ignorância dosfariseus e escribas não iniciados, coloca-os diante de uma pergunta que jamaispoderiam responder.

Hoje é compreensível o ensino, pois já foi revelado, não obstante possibilite, ainda,duas interpretações:

ENSINO E PRÁTICA - CONDENAÇÃO DO CLERO Mat. 23:1-12 Mc 12:38-40 Lc11:37-54, 20:45-47

1. Então Jesus falou ao povo e aos discípulos,

2. dizendo: Nas cadeiras de Moisés sentaram-se os escribas e os fariseus.

3. Tudo, pois, quantos vos disserem, fazei e observai; mas não façais segundosuas obras, pois dizem e não fazem.

4. Amarram fardos pesados e insuportáveis e impõem sobre os ombros doshomens, mas eles não querem movê-los com o dedo deles.

5. Fazem todas as obras deles para serem vistos pelos homens; alargam osfilactérios delas e alongam as túnicas,

6. e gostam do primeiro lugar nos banquetes e das primeiras cadeiras nassinagogas,

7. e das saudações nas praças, e de serem chamados mestres pelos homens.

8. Mas vós não vos chameis mestres, pois um só é vosso mestre, e todos vós soisirmãos.

9. E não chameis ninguém vosso pai sobre a terra, pois um só é vosso pai, ocelestial.

10. Nem vos chameis mentores, porque vosso mentor é um só, o Cristo.

11. O maior de vós será vosso servidor.

12. “Quem se exaltar será apequenado, e quem se apequenar será exaltado”.

Marc. 12:38-40

38. E no seu ensino dizia: Cuidado com os escribas, que gostam de andar comvestes compridas e das saudações nas praças, 39. e das primeiras cadeiras nassinagogas e dos primeiros lugares nos banquetes,

40. e dilapidam as casas das viúvas e fazem como desculpa, longas orações: estesreceberão maior condenação".

Luc. 20:45-47

45. Ouvindo todo o povo, disse a seus discípulos:

46. “Atentai aos escribas, que querem andar com vestes compridas e gostam dassaudações nas praças, das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos primeiros lugaresnos banquetes;

47. eles dilapidam as casas das viúvas e, como desculpa, fazem longas orações:estes receberão maior condenação”.

Queridos irmãos, não misturem com certos favoritismos pessoais a fé que vocêstêm em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória. Por exemplo: entra na reunião devocês uma pessoa com anéis de ouro e vestida com elegância; e entra também umapessoa pobre, vestida com roupas velhas. Suponhamos que vocês deem atenção àpessoa que está vestida com elegância e lhe dizem: "sente-se aqui, neste lugarconfortável"; mas dizem à pessoa pobre: "fique aí em pé"; ou então: "sente-se aí nochão, perto do estrado dos meus pés." Nesse caso, vocês estão fazendo diferençaentre vocês mesmos e julgando os outros com péssimos critérios.

Ouçam, meus queridos irmãos: não foi Deus quem escolheu os que são pobresaos olhos do mundo, para torná-los ricos na fé e herdeiros do Reino que ele prometeuàqueles que o amam? E, no entanto, vocês desprezaram o pobre! Ora, não são osricos que oprimem a vocês e os arrastam perante os tribunais? Não são eles quedifamam o nome sublime que foi invocado sobre vocês? Se cumprirem a lei maisimportante da Escritura: "Ame o seu próximo como a si mesmo", vocês estarão agindobem.

Tiago 2:1-8

Lição pública, fora dos muros da Assembleia do Caminho; ao lado dos discípulosestavam fariseus, saduceus, escribas, anciãos e a massa do povo fiel. Jesus inicia umdiscurso, em que focaliza a posição do clero de Sua época e de todas as épocas, ossacerdotes de Sua religião e de todas as religiões, as autoridades eclesiásticas de Seupaís e de todos os países: a raça humana é a mesma, ainda hoje, e onde entra oelemento humano, com ele entram a vaidade, a cobiça e a hipocrisia - os três víciosfocalizados nesta lição.

De início, salienta que "se sentaram" (ekáthisan), por iniciativa própria, os escribase fariseus. Não foram aí colocados por ordem superior, mas assaltaram as cadeiras eos púlpitos, de onde pregam - MAS NÃO PRATICAM - a doutrina de Moisés.

O assalto é consumado, por vezes, por via diplomática ou política, por influência deelementos de projeção intelectual ou social; mas doutras vezes é assalto à mãoarmada, como ocorreu no século 4.º, quando, por exemplo, o cristianismo setransformou em "catolicismo".

Amarram (desmeúousin, isto é, unem os fardos entre si) fardos pesados einsuportáveis (baréa kaì adysbastakta) e os colocam sobre os ombros dos fiéis, emboraeles mesmos não queiram movê-los nem com um só dedo (dáktylô).

Jesus passa a enumerar outros atos errados: tudo o que fazem, é para seremvistos e aplaudidos pelos homens, em triste vaidade exibicionista. Para isso, "alargamseus filactérios", ou seja, colocam em lugares bem visíveis, símbolos religiosos, comovimos no capítulo anterior.

Falactéricos - definição da Web:

Tefilin (em hebraico תפילין, com raiz na palavra tefilá, significando "prece") é onome dado a duas caixinhas de couro, cada qual presa a uma tira de couro de animalkasher, dentro das quais está contido um pergaminho com os quatro trechos da Torá

em que se baseia o uso dos filactérios (Shemá Israel, Vehaiá Im Shamoa, Cadêsh Li eVehayá Ki Yeviachá).Também é conhecido em português como filactério, vindo dotermo grego phylaktérion, que significa basicamente "posto avançado", "fortificação" ou"proteção", o que explica a utilização destes objetos como proteção ou amuleto.

Hoje, as cruzes chamadas episcopais são bem grandes, douradas ou de ouro ecom pedrarias preciosas, pendentes de correntes de ouro; e mais: "alongam suastúnicas", em batas ou batinas pretas, brancas, roxas, púrpuras; e mais: "gostam dosprimeiros lugares nos banquetes e das primeiras cadeiras nas sinagogas". Bastarátrocar "sinagogas" por igrejas, onde o clero tem especiais regras para acomodar-sehierarquicamente. Também os fiéis adquirem o direito de possuir "genuflexórios"próprios, nas primeiras filas, de acordo com a importância de seu donativo à sua igreja,e conforme os títulos que possuam: as "autoridades" e os benfeitores têm direito àsprimeiras filas (contrariamente ao que nos deixou escrito Tiago em sua epístola, 2:1-8;vale à pena reler). E mais ainda: "gostam das saudações nas praças", esperando quetodos beijem suas mãos ou seus anéis de ouro, quando não seus pés, revestidos desandálias bordadas a ouro.

Não para aí: "gostam de ser chamados mestres". Mas logo vem o conselhopositivo: "vós - meus discípulos - não vos chameis mestres: todos sois irmãos". O"mestre", em hebraico RAB (ou RABBI, "meu mestre", ou RABBAN, "nosso mestre")era o título usual e corrente dado pelo povo aos homens letrados, escribas e fariseus -coisa que Jesus adverte jamais dever ser praticada pelos que O seguem. Aadvertência, porém, continua sendo letra morta...

Mais ainda: "a ninguém na terra chameis vosso pai". Os hebreus, inicialmente, sódavam o título de "Pai" (AB) a Abraão, Isaac e Jacob (e o nome de "Mãe" só a Sara,Rebeca, Lia e Raquel). Mas os escribas mais em evidência gostavam de seremchamado “pai” - havendo até um livro com esse título: Pirqê Abhôth, "Sentenças dosPais" - Ainda hoje, os sacerdotes católicos, desobedecendo frontalmente à ordemtaxativa e indiscutível de Jesus (a Quem chamam seu "Deus"!) fazem chamar-se eassinam-se PAl ou PADRE, ou PÈRE, ou FATHER etc., em qualquer língua.

Os primeiros escritores são chamados os "Pais da Igreja". E chegam até aomáximo de denominar SANTO PAI (ou PADRE) o seu chefe.

Interessante observar que a vaidade inominável não está circunscrita aosencarnados: acompanha a personagem para além da sepultura, e vemos os "pretosvelhos" da Umbanda (e muitos kardecistas) com o mesmo prazer, querendo ouvir-sechamar "pai"...

Em Mateus, nas traduções vulgares, parece haver uma repetição, onde se lê: "nãovos chameis mestres, porque vosso mestre é um só, o Cristo". O termo aquiempregado não é didáskalos, como acima, mas kathêgêtês, hápax neotestamentário,que significa: "guia que vai à frente e ensina o caminho", ou "diretor espiritual", ou"mentor".

A razão é dada: um só é vosso mentor: o Cristo!

Em Mateus, segue-se a lição de humildade, mais uma vez repisada: "o maior devós, será vosso servidor", mas não apenas dizendo-se "servo dos servos de Deus", ecolocando-se num trono dourado, para que todos lhe beijem os pés ("dizem, mas nãofazem"!). E ainda a frase repetida: "quem se exaltar será apequenado, e quem seapequenar, será exaltado".

Marcos e Lucas trazem mais uma frase violenta: “dilapidam as casas das viúvas,e fazem como desculpa longas orações". Ainda hoje (1968). A pretexto de ofícios emissas e "gregorianas", conseguem, com a promessa de libertar as almas dos maridosfalecidos, fartas "esmolas" das viúvas, para que obtenham "indulgências". MonsenhorL. Pirot (o.c., vol. 9.º, pág. 555), ao comentar este trecho, deixa escapar uma frase querevela bastante prática do assunto; citamos textualmente: "Luc (20:47) Estes, dizJesus, "receberão maior condenação".

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* *

Encontramos, pois, avisos oportunos para que os discípulos de Jesus não imitem oclero judaico da época do Mestre. Inutilmente foi dada a lição, porque os homens,imperfeitos ainda, vaidosos e cúpidos, fazem exatamente o inverso do que lhes foiordenado. Com isso provam que perderam totalmente sua ligação com o Cristo,preferindo ligar-se a seus adversários, por Ele condenados.

Resumamos, para maior fixação mnemônica, os itens:

1. Intitulam-se sucessores do Mestre, tendo-se sentado nas cadeiras dos apóstolospara comandar;

2. Dizem-se "servos", mas agem como senhores;

3. Impõem obrigações, que eles mesmos não cumprem;

4. Procuram aparecer, exibindo roupas compridas (diferentes das dos outroshomens) e grandes símbolos religiosos, em material precioso;

5. Reservam para si os primeiros lugares nas igrejas e nos banquetes;

6. Fazem tudo para serem saudados e homenageados nas praças, dando a beijarsuas mãos;

7. Requisitam "esmolas" das viúvas, em troca da promessa de missas e longasorações; (Hoje temos as igrejas reformadas assumindo esse papel. Acrescentei em2013)

8. Julgam-se e dizem-se "mestres";

9. Fazem-se chamar PAIS (ou PADRES, que é o mesmo) por todos;

10. Inculcam-se como guias e "diretores espirituais" das almas.

Qualquer semelhança será mera coincidência? Inegavelmente Jesus eraPROFETA, com

OS SETE “AIS” Mat. 23:13-32 Lc. 11:42-52

13. "Mas ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Porque fechais diante doshomens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar os que estão entrando.

15. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Porque rodeais o mar e a terra parafazerdes um prosélito; e quando feito, o tornais filho da Geena o dobro de vós.

16. Ai de vós, guias cegos! que dizeis: quem jurar pelo templo, nada é; mas quemjurar pelo ouro do templo, fica obrigado.

17. Néscios e cegos! Pois qual é o maior, o ouro ou o templo que santifica o ouro?

18. E quem jurar pelo altar nada é; mas quem jurar pela oferta que está sobre ele,fica obrigado.

19. Tolos e cegos! Pois qual é o maior, a oferta ou o altar que santifica a oferta?

20. Quem, pois, jura pelo altar, jura por ele e por tudo o que está sobre ele.

21. Quem jura pelo templo, jura por ele e por quem nele habita.

22. E quem jura pelo céu, jura pelo trono de Deus e por quem nele se senta.

23. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Porque dizimais a hortelã, o endro(Pequena planta, cujos ramos, folhas e sementes são usados como tempero ‘Mt 23.23’)e o cominho, e negligenciais os preceitos mais importantes da lei, que são odiscernimento, a misericórdia e a fidelidade; estas coisas, porém, devíeis fazer, semomitirdes aquelas.

24. Guias cegos! que coais mosquito e engolis um camelo.

25. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Porque limpas o exterior do corpo e doprato, mas por dentro estais cheios de rapina e injustiça

26. Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que tambémseu exterior se purifique.

Lucas. 11:42-52

42. "Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o dízimo da hortelã, da arruda e de todasas hortaliças, e desprezais o discernimento e o amor de Deus: estas coisas, porém,devíeis fazer, sem omitirdes aquelas.

43. Ai de vós! fariseus! Porque gostais das primeiras cadeiras nas sinagogas e dassaudações nas praças.

44. Ai de vós! “Porque sois semelhantes aos túmulos invisíveis, sobre os quaispasseiam os homens sem o saberem".

45. Então lhe disse um dos doutores da lei: "Mestre, falando assim, a nós tambéminsultas".

46. Respondeu ele: "Ai de vós, também, doutores da lei! Porque carregais oshomens com fardos opressivos e vós, nem com um dedo vosso, os tocais.

47. Ai de vós! Porque construís os túmulos dos profetas que vossos pais mataram.

48. e assim testificais e consentis nas obras de vossos pais, porque eles, semdúvida, os mataram, e vós lhes construís os túmulos.

49. Por isso também disse a sabedoria de Deus: enviar-lhes-ei profetas eemissários, e a alguns eles matarão, a outros perseguirão.

50. para que a esta geração se peça o sangue de todos os profetas derramadodesde a fundação do mundo.

51. desde o sangue de Abel, até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar ea casa; sim, eu vos digo, que se pedirá a esta geração.

52. Ai de vós, doutores da lei! “Porque tirastes a chave da gnose; vós mesmos nãoentrais, e impedistes aos que entravam".

27. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Porque vos assemelhais a sepulcrosbranqueados que, por fora, parecem realmente vistosos, mais por dentro estão cheiosde ossos de mortos e de todas as impurezas

28. Assim também vós, exteriormente pareceis justos aos homens, mas por dentroestais cheios de hipocrisia e de ilegalidade

29. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Porque construís os sepulcros dosprofetas e adornais os túmulos dos justos e dizeis:

30. Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido seuscúmplices no sangue dos profetas

31. Assim testificais a vós mesmos que sois filhos dos assassinos dos profetas:

32. enchei, pois, a de vossos pais!

33. Serpentes, filhos de víboras! Como escapareis da discriminação da geena?

34. Por isso é que vos envio profetas, sábios e escribas: a uns matareis, ecrucificareis; a outros, açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade emcidade,

35. de tal forma que venha sobre vós todo o sangue justo que se derrama sobre aTerra, desde o sangue de Abel o Justo, até o sangue de Zacarias, a quem matastesentre o santuário e o altar.

36. “Em verdade vos digo, que tudo isto virá sobre esta geração".

Antes de começarmos a análise, impõem-se algumas considerações genéricaspara comparação dos dois textos.

Evidente, à primeira vista, que se trata do mesmo episódio, mas cada narrador oapresenta à sua maneira.

Mateus entra ex abrupto na matéria ("falando à multidão e aos discípulos", 23:1) eenumera SETE ais seguidos, todos assestados contra "escribas e fariseus”, tachadossempre de "hipócritas”.

Lucas, ao contrário, ambienta a cena com o almoço oferecido pelo fariseu, e ostrês primeiros ais (do total da SEIS) verberam apenas os fariseus. Quando um “doutorda lei" - que eram os diretores espirituais do povo toma as dores, protestando quetambém eles são insultados, o Mestre se volta para ele acrescentando outros três aiscontra os doutores.

Dos sete ais de Mateus, Lucas cita quatro: o 1.º, o 4.º, o 6.º e o 7.º, que ele colocacomo, respectivamente, 6.º, 1.º, 3.º e 5.º. Os restantes aparecem em Mateus, mas semo anátema do “ai de vós”.

Ao todo, portanto, somando os “ais” de ambos os evangelistas encontramos NOVEcondenações diretas e taxativas, da maneira de agir dos escribas, fariseus e doutoresda lei.

Digna de nota a coragem carismática do Mestre, em verberar o comportamentoerrado de cara, de corpo presente, sem subterfúgios, sem "mandar recados”, não com"indiretas”, nem com amaciamentos, mas categoricamente; e isso, é bom assinalar, nacasa de um deles, sentado à mesa dele, num almoço em que era o convidado dehonra. Em tal situação, difícil se tornaria a um homem comum tomar essa atitude,reveladora de coragem, de segurança dos próprios atos e da justiça de suas palavras:a posição incômoda de "convidado", sentado à mesa do almoço, talvez nos fizesse pelomenos adiar a reprimenda, numa falsa ideia de gentileza e cortesia, pois nosso espíritofora "comprado" por um gesto de generosidade da parte do transgressor da lei. Outalvez usássemos de outro expediente: não aceitar o convite, para não comprometer-nos. Jesus age de modo diverso: convidado aceitou. Mas nem por isso escondeu averdade: disse claramente o que sabia, condenou o erro, verberou a hipocrisia, definiuas posições, impôs sua autoridade.

* * *

Passemos à análise do texto, começando pelo vers. 14 de Mateus: "Ai de vós,escribas e fariseus hipócritas!

“Porque devorais as casas das viúvas sob pretextos de longas orações: por issorecebereis mais pesada condenação".

Vejamos agora, os "ais", conforme aparecem, Também nós o omitimos no texto.

* * *

1.º de Mateus, 6.º de Lucas: condena a hipocrisia de modo genérico. "Há dezpartes de hipocrisia no mundo: nove em Jerusalém, e uma no resto do universo". EmLucas se assinala com mais precisão o sentido: os doutores se julgam os únicoscapazes de interpretar as Escrituras, "tem a chave do santuário", onde se guardam oslivros, e, portanto o conhecimento, a gnose. Mas, interpretando mal, não "entram" nemdeixam que os outros entrem.

2.º de Mateus: Embora não haja, no Talmud, notícia de atividades proselitistas,sabemos por Josefo (Ant . Jud. 20, 2, 4) que o judeu Eleazar fez o rei Izate e sua cortede Adiabene, circuncidar-se. E nas viagens de Paulo encontramos acenos aosprosélitos pagãos, que ingressavam no judaísmo. A expressão "mar e terra"(literalmente: "mar e sólido": tên thálassan kaì tên xêrán). "Filho da geena" (hebraico:benê gêhinnom) era a filiação metafórica que exprimia dependência ou natureza

comum.

3.º de Mateus: Não é repetida a fórmula "escribas e fariseus hipócritas", que vemsubstituída por "guias cegos" (hodêgoí typhloí) ou seja, diretores espirituaisincompetentes. Realmente Jesus proibira qualquer espécie de juramento (Mat. 5:33-37;vol. 2). Mas os fariseus desobrigavam do juramento pelo templo e pelo altar, masexigiam seu cumprimento se fosse pelo ouro do templo ou pela oferta que estava sobreo altar. Volta a invectiva: môroí kaì typhloí, tolos e cegos, que vale mais (que é maior,meízon)? O ouro é santificado por estar no templo e a oferta por estar sobre o altar, enão o contrário. Ora, o que mais vale é o que tem o poder de santificar.

4.º de Mateus, 1.º de Lucas: Exemplo concreto de hipocrisia, que faz questão depreceitos leves, como o dízimo das plantas comestíveis e vulgares, desprezando ospreceitos graves e importantes. A menta (hortelã, hêdyosmon) porque aromatiza osalimentos e servia de remédio para as taquicardias (eram comidos três ovos: um commenta, um com cominho e o terceiro com sésamo); o endro (ánéthon), comestívelmuito usado; e o cominho (kyminon) também empregado como tempero e remédio. Noentanto, negligenciavam o discernimento (krísis), a misericórdia (éleos) e a fidelidade(pístis). E é acrescentada a fórmula: "devíeis fazer estas coisas, sem omitir aquelas",ou seja, não é que a primeira esteja errada: é que deve ser mantida em sua posiçãoreal, em segundo lugar.

Em Lucas são citadas: a hortelã a arruda (péganon) planta aromática e ashortaliças em geral (láchanon), e, como negligenciadas, o discernimento e o amor deDeus (agápén tou theoú).

No final de Mateus há uma daquelas ironias próprias de Jesus e originais: "guiascegos' coais um mosquito e engolis um camelo" (hoi díulízontes ton kônôpa, tên dèkámêlon katapínontes). Figura metafórica das mais felizes, para sublinhar oensinamento dado.

5.º de Mateus: Neste se condena o zelo de limpar o exterior do copo e do prato,embora eles por dentro estejam cheios de (gémousin ex) rapina e injustiça (akrasía). O

sentido é alegórico, já o vimos no estudo do capítulo precedente, ao comentarmos estacondenação em Lucas 11:39-41, onde desenvolvemos o assunto. A sequênciaconfirma-o: limpa primeiro (kathársin prôton) o interior, o Espírito, e todos os atosmateriais que este realizar serão puros por si mesmos. Não são os ritos, as cerimônias,as observâncias, a aparência de santidade que dão pureza ao Espírito. É exatamente oinverso: se o Espírito for puro, "todas as coisas são lícitas, embora nem todasconvenham" porque "nem todas dão o bom exemplo" (l.ª Cor, 6:12 e 10:23).

6.º de Mateus, 3.º de Lucas: São comparados os fariseus e escribas aossepulcros “caiados de branco".

Refere-se ao costume da época. Desde o dia 15 de Adar (um mês antes do 15 deNisan, quando se comemorava a páscoa), os sepulcros eram caiados de branco, paraque ninguém, por descuido, tivesse contato com um túmulo, já que a lei (Núm. 19:16)atribuía impureza legal a esse contato.

Branqueados, todos os viam e evitavam. Mas por dentro, continuavam cheios deossos (gémousin ostéôn) de cadáveres e impurezas de toda espécie. Continua osentido metafórico, mas já agora explicitamente traduzido:

“assim vós pareceis justos aos homens, mas internamente estais cheios dehipocrisia e ilegalidade (anomías). Em Lucas, a comparação toma sentido mais forteainda: "sois semelhantes aos túmulos que não são percebidos, e sobre os quais oshomens andam sem perceber", ou seja, a aproximação com os fariseus constitui sérioperigo para os homens desprevenidos que julgam estar lidando com homens justos, eno entanto internamente estão cheios de podridão.

7.º de Mateus, 5.º de Lucas: Aqui aparecem duas divisões: profetas e justos, cujostúmulos e monumentos são erigidos e ornamentados. A argumentação de Jesus é delógica cerrada e irrespondível.

Com a costumeira hipocrisia, dizem os fariseus: “se tivéssemos vivido no tempo denossos pais, não teríamos concordado com o assassínio deles”. Ora, isso é umaconfissão de que eles são os “Filhos dos assassinos", e não os filhos dos profetas ejustos. A estirpe deles se prende aos inimigos dos bons não aos bons. Houve quemtivesse visto aí um aceno à reencarnação: hoje, mais evoluídos, não teriam feito o quefizeram outrora: e isso é uma confissão de arrependimento de um ato realizado em vida

anterior, na condição em que estavam de ascendentes da geração atual.

Antes de passar à invectiva final, examinemos rapidamente, as duas condenaçõesrestantes de Lucas:

8.º (2.º de Lucas): Salienta o orgulho e convencimento desmedidos dos fariseus,que fazem questão dos primeiros lugares nas sinagogas e de serem saudados portodos; essa condenação aparece em Mat. 23:6, texto que no Evangelho, aparece logoantes do que comentamos, mas que, na realidade, foi proferido cronologicamente emépoca posterior.

9.º (4.º de Lucas): Acusa-os de sobrecarregar a humanidade com fardosopressivos e obrigações insuportáveis, embora não queiram para si nenhum trabalho;também aparece a mesma condenação em Mat. 23:4.

Como final vem uma apóstrofe violenta: “enchei a medida de vossos pais”,fazendo-as transbordar.

Rabbi Hamnuna escreveu: “Deus não castiga o homem antes que sua medidaesteja cheia. Quando se enche, vem sobre ele a necessidade”.

Volta aqui a expressão “serpentes filhos de víboras", numa exclamaçãoinflamada de justa indignação pela falsidade que clama aos céus. E a pergunta: “comoescapareis da discriminação da geena”? (cfr. em Mat. 3:7 as palavras do Batista).

Contudo, o Cristo ainda envia profetas (médiuns que falando sob ditado); sábios(sophoús, hebr.hakkâmim) que falam por sua própria sabedoria, e escribas(grammatéis) intérpretes que explicam os textos de uns e de outros. Nada, porémadianta: continuarão as matanças iníquas “em nome e para maior glória de Deus",sendo todos perseguidos de cidade em cidade. Nunca, talvez, uma profecia se tenhacumprido tão à risca e durante tantos séculos seguidos!... A metáfora, na visão plena,inespacial e atemporal do Cristo, engloba os fariseus de todas as religiões, em todas asépocas, de todas as raças.

20 E o Espírito de Deus revestiu a Zacarias, filho do sacerdote Joiada, o qual sepôs em pé acima do povo, e lhes disse: Assim diz Deus: Por que transgredis os

mandamentos do SENHOR, de modo que não possais prosperar? Porque deixastes aoSENHOR, também ele vos deixará. 21 E eles conspiraram contra ele, e o apedrejarampor mandado do rei, no pátio da casa do SENHOR. 2 Cr 24:20-21

2 Crônicas 24:20-21

Depois considera os presentes: vós! “sobre vós é que recairá (élthê, sem apartícula duplicativa) o sangue inocente (haíma dikaíon), expressão muito usadamesmo em hebraico (dâm nâqi) que se derrama (em grego ekchynnómenon, particípiopresente) sobre a terra (epì tês gês, não sobre o kósmou, mas sobre o chão). Estafrase retoma a hipótese da reencarnação, acima aventada: esses fariseus aí presenteseram, realmente, a reencarnação dos antigos assassinos, tanto que eles (vós!) eram osresponsáveis por todos os crimes, desde o sangue de Abel (narrado em Gên. 4:8) até ode Zacarias. Eles, aí presentes, eram os assassinos; eles, aí presentes, responderampor todos esses crimes: “tudo isto virá sobre ESTA geração". E ai deles, quecontinuaram reencarnando séculos afora, e continuaram assassinados, já agora “emnome” desse Cristo que os advertira tão claramente!

Quem era esse Zacarias, que Jesus diz ser o filho de Baraquias, morto entre osantuário e o altar?

Esse fato é narrado em 2.º Crôn. 24.20-22. O livro das crônicas é o último livrohistórico da Bíblia Judaica, e Jesus demonstra aceitar a historicidade bíblica desde oGenesis até Crônicas, deixando de fora os livros de Macabeus. Portanto, anotemos, oslivros dos Macabeus, considerados canônicos pela igreja de Roma, e recusada pelosjudeus e pelos protestantes, também não foram ratificados por Jesus.

Realmente, Jesus poderia ter citado os assassinatos dos irmãos Macabeus,exemplares de fidelidade e de coragem. Mas, para salientar "todos os crimes narradosnas Escrituras", limita-se a citar "do Gênesis ao livro das Crônicas". Digno de registro.

Zacarias filho de Joiada ou Baraquias

Acontece que Zacarias, segundo o livro das Crônicas, é filho de Joiadas, e foi

assassinado pelo rei Joas 2.º; não era filho de Baraquias. Jerônimo diz: “no Evangelhousado pelos nazarenos, encontramos filho de Joiada, em lugar de filho de Baraquias".O mesmo Jerônimo e João Crisóstomo pensam que talvez se tratasse de dois nomes(diónymos), conforme glosa de um manuscrito.

Alguns críticos consideram a frase “filho de Baraquias” como uma glosa posteriorao Evangelho de Mateus, já que não existe no códice sinaítico nem no trechocorrespondente de Lucas. Realmente, quem era filho de Baraquias era o profetaZacarias, que nada tem que ver com este aqui citado por Jesus. Mas algum escriba,que já tinha no ouvido o nome do profeta Zacarias, filho de Baraquias, achou por bemacrescentar esse esclarecimento ao texto de Mateus, o que é qualificado de “glosaantiga" e "glosa errada".

Que significa exatamente a expressão final “tudo isso (tauta panta) virá sobre estageração"?

A lição é ainda uma vez, preciosa: o discípulo, que segue o Mestre, que é dirigidopela individualidade, não pode ser covarde. Deve enfrentar com a Verdade ospoderosos da Terra que estejam errados.

Qualquer acomodação com o erro é cumplicidade. A verdade precisa ser ditacorajosamente, mesmo à custa da vida física - já que a do Espírito ninguém na podetirar: é eterna. E a verdade participa da eternidade do Espírito. Calar é consentir; omitir-se é concordar; deixar fazer é participar da injustiça.

Nada disso faz parte da humildade. Humildade não é passividade: é ação justa, nomomento justo.

Humildade e coragem não se repelem não se opõem não se anulam; ao invésdisso, uma corrobora a outra. Quem tem o conhecimento, tem a obrigação de ensiná-lo; quem possui a chave, tem que abrir a porta; quem está com a verdade é coagido ademonstrá-la.

O conceito de que a humildade se esconde e sofre calada, só vale para os casospessoais, que não afetem a comunidade. O discípulo tem que ser corajoso e enfrentaras feras do circo, quando se trata de testificar a verdade de suas convicções; tem quecrescer diante das autoridades, quando estas se encontram no caminho errado; emresumo, tem que revestir-se da couraça do herói e brandir a espada candente daverdade, para verberar os erros que a desfigurem, zurzindo a hipocrisia e a falsidade, o

orgulho e a vaidade, a mentira e a injustiça.

O exemplo de Jesus é valioso para todas as épocas, em todos os climas. E desdeentão até hoje os imitadores do Mestre não têm faltado. A História registra casos semconta de discípulos dignos, que pagaram com perseguições e com a vida a coragem dearrostar a ira dos poderosos.

Também a linguagem forte serve de modelo. A verdade não precisa nem deve sermascarada nem edulcorada com a desculpa de uma caridade mal interpretada. Dizemque a verdade fere; absolutamente.

O que fere é a injustiça, é a calúnia, é a mentira.

Os artistas representam a verdade nua, embora alguns defendam que deve serrecoberta "com o manto diáfano da fantasia". Mas isso pode referir-se aosensinamentos que não devem ser dados aos profanos; a estes se fala em parábolas,"para que vendo, não vejam, e ouvindo não ouçam" (cfr. Mat. 13:15; Marc. 4:12; At.28:27; Rom. 11:8), a fim de "não serem dadas coisas santas aos cães" (Mat. 7:6). Masquando se trata de restaurar a pureza do ensino, a nudez forte da verdade deveaparecer em toda a sua pujança, com os termos próprios, com o sentido exato, semtemores nem subterfúgios.

No entanto, podemos entender as invectivas de Jesus, como símbolo que é daindividualidade nossas quais advertências e reprimendas dirigidas à personagem.

Muito comum, em todos nós, é que a personagem encarnada, com seu intelectomaroto, crie numerosas desculpas para escapar ao controle do Espírito. Enquanto estequer levar uma vida correta e dirigir-se diretamente à meta prefixada por sua linhaevolutiva, a personagem inventa situações, forja plano, imagina fugas, envereda pordesvios, tudo para sobrepor-se e aparecer, para brilhar e resplandecer, para ofuscar eembair os incautos.

Mergulhada na matéria densa, tendo perdido o contato com o Eu Profundo, volta-se para as exterioridades, onde busca o reconforto dos aplausos externos, dasbajulações, das posições elevadas, dos elogios e das falsidades. Não possuindo forçainterna, não SENDO, procura "aparentar" o que não é, por atos, palavras, posições,afirmativas vazias que não concordam com o âmago. O exterior torna se brilhante eofusca a vista dos que só veem a superfície, enquanto o interior é podridão corrupta.

Para sanar esses males, a Individualidade não deve agir com subterfúgios, mascombater diretamente, empunhando as armas mais eficazes. O Bhagavad-Gita já oensinara, quando Arjuna demonstra receio de combater "seus próprios familiares" eKrishna, o "cocheiro" (o Eu interno que guia o carro da personagem), o incita a nãotemer; esses familiares são exatamente os vícios da personagem. A personagem é o"filho único" da individualidade, mas precisa ser corrigido com rigor, para não desviar-se da rota certa. Se acaso se desvia, precisa ser de novo trazido ao caminho certo,embora mediante severidades drásticas.

O simbolismo do trecho ora analisado confirma plenamente a tese do BhatJavad-Gita. Aqui Jesus, a Individualidade, verbera corajosa e veementemente aspersonalidades cheias de falsidade e hipocrisia.

Diz abertamente todos os defeitos e vícios, põe a nu todos os enganos e mentiras,desvela todas as manhas e artimanhas, e revela que "sobre essa geração" (ou seja,nessa mesma personagem, encarnada ou desencarnada) virão todas asconsequências dos atos praticados. Diz à psychê e ao pneuma que eles são osresponsáveis de todas as ações anteriores, desta e de outras vidas passadas, e detodas as ações erradas colherão os resultados amargos, pela Lei de Causa e Efeito.

Isto porque toda criatura humana é, inegavelmente, um "fariseu e escribahipócrita", e só depois de muita violência contra a personagem é que conseguirá anulá-la, para que brilhe a luz pura do Eu Profundo.

Esse exame sincero e honesto é indispensável seja feito antes de qualquerpromoção nos graus iniciáticos.

E se o resultado for negativo, está garantida a permanência no mesmo ponto... Sóse já houver vitórias expressivas, poderá haver promoção. Enquanto a personagemtiver esses defeitos atribuídos aos "fariseus e escribas hipócritas", não há acesso agraus superiores da iniciação. Que isto seja bem meditado por todos aqueles que,impensadamente, recebem títulos e rótulos de mãos incompetentes, sem que tenham,no profundo de si mesmos, a maturidade indispensável obtida com a anulação dospersonalismos. Nesses casos, os títulos se tornarão um agravante de farisaísmo, e nãouma realidade evolutiva.

O Mestre que tem por encargo "iniciar" os candidatos, em cujas mãos seencontram a responsabilidade pesada e intransferível de verificar a possibilidade decada um, não pode ser medroso nem tímido: precisa dizer tudo com a franqueza maisrude, a fim de "provar" ou "experimentar" as reações emotivas dos que lhe forementregues. Jesus ensinou, na prática, como temos que agir, e como têm que agirconosco os encarregados de nossa evolução.

A "caridade" e a "humildade", geralmente interpretadas como emprego apenas depalavras e fórmulas dulçurosas, consistem, ao contrário, em saber agir com firmeza edesassombro, verberando-se os erros de frente e sem subterfúgios, revelando-se osdefeitos e deficiências com segurança e até mesmo com certa rispidez, para que sesinta a gravidade dos mesmos. Se não é "com vinagre que se pegam moscas, mascom mel", não é todavia com mel que se corrigem espíritos inveterados nos erros domundo: "quem ama o filho, não lhe poupa a vara" (cfr. Prov. 13:24). Se referirmos essaverdade em relação à Individualidade diante da personagem, ao Espírito (pneuma)diante do "espírito” (psychê), teremos compreendido toda a tese desenvolvida noBhagavad-Gita e também aqui, nos "ais" dirigidos por Jesus, o Mestre, a nós todos.

LAMENTO POR JERUSALÉM Mat. 23:33-39 Lc 13:31-35, 19:41-44

33 Serpentes, raça de cobras venenosas! Como é que vocês poderiam escapar dacondenação do inferno?34 É por isso que eu envio a vocês profetas, sábios e doutores: a uns vocês matarão ecrucificarão, a outros torturarão nas sinagogas de vocês, e os perseguirão de cidadeem cidade. 35 Desse modo, virá sobre vocês todo o sangue justo derramado sobre aterra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias,que vocês assassinaram entre o santuário e o altar. 36 Eu garanto a vocês: tudo issoacontecerá a essa geração. 37 Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e apedrejaos que foram enviados a você! Quantas vezes eu quis reunir seus filhos, como agalinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas você não quis! 38 Vejam! a casa devocês ficará deserta. 39 De fato, eu lhes digo que, daqui em diante, vocês não meverão mais, até que digam: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor!"

QUEIXA DE JERUSALÉM

Mateus. 23:37-39

37. 'Jerusalém, Jerusalém, a matadora dos profetas e apedrejadora dos que lhesão enviados!

Quantas vezes eu quis ajuntar teus filhos, como uma galinha aconchega seuspintinhos sob suas asas, e não quiseste!

38. Eis que vos é deixada deserta vossa casa.

39. “Digo-vos, pois, que desde agora não me vereis mais, até que digais: Bendito oque vem em nome do senhor".

Lucas. 13:34-35

34. 'Jerusalém, Jerusalém, a matadora dos profetas e apedrejadora dos que lhesão enviados!

Quantas vezes eu quis ajuntar teus filhos como uma galinha aconchego seu ninhosob as asas, e não quiseste!

35. Eis que vos é deixada vossa casa. E digo-vos que não me vereis até quedigais: Bendito o que vem em nome do Senhor.

O mesmo trecho foi colocado em dois contextos diferentes. Mateus o narra emsequência aos "ais" lançados contra os fariseus, portanto, como tendo sidopronunciado na própria Jerusalém, depois do “domingo de ramos”. Lucas o liga aoaviso a respeito das intenções assassinas de Herodes, por conseguinte, como proferidona Peréia. Esta segunda colocação responde muito melhor à crítica interna, além doque, Lucas é mais cuidadoso que Mateus na sequência cronológica.

Outra observação é a forma hebraica, reproduzida nos códices gregos: Ierousalém(ao invés de Ierosólyma, como era dito em grego). Em Mateus esta é a única vez queaparece a forma hebraica, pois nos outros lugares (11 vezes) está a forma grega. Já

em Lucas, é mais frequente a forma hebraica que a grega, o que não deixa de serestranho, sendo Mateus israelita e Lucas grego.

Traduzimos como adjetivos ativos “matadora" e "apedrejadora”, os particípiospresentes ativos femininos, por falta de correspondência em português dessas formasverbais.

Chamamos a atenção, ainda, para o "lhe" (prós autên) na terceira pessoa, no meiode uma apóstrofe vocativa. Conservamo-lo em português, preferindo pequenosolecismo, a quebrar a beleza do original em sua singela simplicidade, pois a frasenada perde em clareza.

Os hermeneutas veem no texto uma alusão à perspectiva da morte próxima, masnão aceitam que o final "não me vereis até que digais bendito o que vem em nome doSenhor" (cfr. Salmo 118:26) possa referir-se à "entrada triunfal” em Jerusalém, nodomingo antes da paixão. A alegação é que Mateus coloca o episódio depois desse dia(o que não convence, pois sabemos que foi proferida a invectiva antes). Mas há outrarazão: o período entre a apóstrofe e a entrada seguinte em Jerusalém (dizem eles) émuito curto (três meses, no máximo) para justificar uma profecia em forma de ameaçatão solene. A opinião mais generalizada é que o dito se refere a uma vinda triunfal "nofinal dos tempos". Mas aí teríamos um erro na predição, já que a ida a Jerusalém daí atrês meses - e com essa mesma frase cantada pele povo - desmentiria a profecia.Pensamos se refira exatamente a essa "entrada” conforme (Mat. 21:1-11; Marc. 11:10;Luc. 19:38).

A imagem da "galinha que aconchega seus pintinhos" ou “seu ninho" é bela,delicada, original.

A “casa deserta" parece referir-se às palavras de Adonai a Salomão (1.º Reis. 9:7-9), “exterminarei Israel da Terra que lhe dei e expulsarei de minha visão o templo queconsagrei a meu nome, e Israel será motejo e riso de todos os povos. E por mais altoque seja este templo, quem quer que passe diante dele assobiará de pasmo e dirá: Porque Adonai fez isto a este templo e a este país?

E responderão: Porque abandonaram Adonai, seu elohim, que tirou seus pais doEgito, e ligaram-se a outros elohim, diante deles se prostraram e os adoraram; eisporque Adonai fez vir sobre eles todos esses males". Sabendo, como sabemos, que

Jesus é a encarnação de Adonai (troquei a palavra Yhave, por Adonai. Aqui o autor serefere ao Espírito que guiava o povo – Jesus. Acrescentei), compreendemosplenamente tudo o que ocorreu. E a previsão feita refere-se, evidentemente àdestruição de Jerusalém em 70 A.D. e à consequente dispersão dos israelitas poroutros países perdendo o domínio da Palestina, só reconquistado recentemente, nofinal do ciclo, "pois YHWH se compadecerá de Jacob, ainda recolherá Israel e os porána própria terra deles" (Is. 14:1).

A triste frustração dos grandes instrutores e Manifestantes divinos, ao verificar arebeldia dos homens, é aqui expressa com todo o sentimento de dor. Quantos grandesIniciados e Adeptos da Fraternidade Branca desçam entre os homens, tantos sãosacrificados, perseguidos, assassinados. E isso, não apenas na antiguidade,classificada pelos historiadores atuais como "bárbara", mas, ainda hoje, em plenasegunda metade do século XX, por homens e em países que se dizem civilizados nomais alto grau. Por mais que esses Emissários, com delicadeza e amor, tentem "ajuntaros homens", como a galinha faz com seus pintinhos, aconchegando-os sob suas asas,eles se rebelam, não aceitam, vão para uma oposição injusta e incompreensível, evoltam contra Eles sua inferioridade negativa típica do Anti-Sistema. Como evitar que aLei os venha defender, e sua casa se torne vazia?

"Eis que YHWH devasta a Terra e a torna deserta, sua superfície revolta e seushabitantes dispersos... A terra será totalmente devastada, inteiramente pilhada... A terraestá em desolação, quebrada, o mundo enfraquece e murcha: os chefes transgrediramas leis, violaram as regras, romperam a aliança eterna. Por isso a maldição devora aterra e seus habitantes recebem seu carma; os habitantes da terra são queimados, e sópequenos números de homens sobrevivem... O pavor, a cova e a rede vão apanhar-te,habitantes da terra. Quem correr para escapar ao pavor, cairá na cova; quem sair dacova será pego na rede, porque as represas do Alto se abrirão e os fundamentos daterra tremerão. A terra é feita em pedaços, a terra estala e se fende, a terra é sacudida,a terra cambaleia como um bêbedo e balança como uma rede de dormir" Isaías. 24:1,3, 4, 6, 17-20.

Nada disso, porém, pode classificar-se como vingança nem "retribuição do mal" porparte desses seres superiores. Trata-se de simples efeito da Lei. Aquele que atira

pedras para o Alto, em vertical, as recebe sobre sua cabeça, em virtude da própria leida gravidade. Assim os povos que sacrificam os avatares, ou mesmo Adeptos eIniciados, não demoram em receber o choque de retorno, pelo efeito da própria Lei,sem nenhuma interferência dos atingidos que, em muitos casos, pedem ao "Pai que osperdoe, porque não sabem o que fazem" (Luc. 23.34). De qualquer forma, porém, issonão evita o resultado da Lei, que é inflexível e age automaticamente como a gravidade,que atrai príncipes e mendigos, santos e criminosos, sem distinção. Assim a LEI quedestrói homens, nações e planetas, quando estes jogam suas pedras para o Alto,derrubando, por qualquer meio, os Enviados que vêm salvar o planeta: "A Lei trataigualmente, seja uma nação, seja um homem" (Job. 34:29).

As Bênçãos da União

Mateus - 23:39

Naqueles tumultuados dias, a presença de Jesus era um refrigério para as almas.

Suave-doce, o Seu verbo não se compadecia dos erros e das defecções,advertindo com energia e orientando com segurança todos aqueles que se dispunhamem segui-Lo.

A longa ausência da disciplina moral e emocional dos companheiros, que haviamvivido longe das severas condutas que ora se deviam impor, gerava dificuldadescomportamentais compreensíveis, que o Amigo sereno corrigia apresentando aexcelência do bem proceder em favor do próprio indivíduo.

Nos intervalos das pregações não se descuidava de orientar os que deveriam ficarcom a incumbência de levar às futuras gerações os Seus ensinamentos, na condiçãode Educador vigilante que percebe os perigos do caminho e norteia com sabedoria.

Amava-os, e por essa razão, entendia quanto lhes seria exigido, talvez, sem que seapresentassem equipados com os instrumentos hábeis para os enfrentamentos cruéis.

Por sua vez, os amigos distraídos ainda não se haviam dado conta da magnitudeda tarefa que deveriam desempenhar, face às limitações que lhes bloqueavam oraciocínio, recurso que lhes fora aplicado antes do nascimento, e que seria liberado nomomento próprio, após a crucificação...

Por enquanto, eram homens comuns, lutando contra as deficiências carnais nojogo ilusório do corpo. Espíritos dignificados alguns, estavam preparados para asatividades dilaceradoras, mesmo sem dar-se conta do significado da adesão aospostulados da Boa Nova.

Momentaneamente jaziam esquecidos os compromissos assumidos e a gravidadedo empreendimento que aceitaram desenvolver pelos dias do futuro.

O amor, que os alimentava, serviria de base de sustentação para o sofrimento queexperimentariam, funcionando como buril lapidador das arestas espirituais, a fim defacilitar o despertamento das responsabilidades internas, que assumiriam com omagnífico desempenho, quando chamados ao confronto do mundo.

Naquela ocasião inicial, entretanto, agiam como os demais, sofriam as pressõescom tormentos infantis, não percebendo a magnitude do significado de se encontraremao lado do Mestre nesse ministério transformador da Humanidade. (Daí o significado dobatista=nascer)

Agastavam-se, uns aos outros, disputavam mesquinharias, invejavam-se emrelação à afetividade do Amigo, cuja presença diluía as incompreensões com um olharde compaixão ou uma palavra de esclarecimento.

Ninguém igual a Jesus no trânsito multimilenário da História.

Sua conduta, Seu amor e misericórdia ainda permanecem como o zênite e o Nadirdas mais elevadas aspirações da criatura humana.

Ele realmente passou e jamais deixará de estar presente entre aqueles queaspiram ao triunfo imortal.

Após as fadigas dos dias cálidos de primavera ou ardentes de verão, terminadasas jornadas e as pregações para as multidões, o Mestre se utilizava do relaxamentodas tensões dos companheiros, a fim de norteá-los em relação aos compromissos doporvir.

Reunia-os, à sua volta, como Benfeitor incansável e dialogava com eles emdulcíssimo convívio, descendo até às suas necessidades.

Já não lhe falava através de parábolas, mas com a linguagem franca edesvestida de símbolos, a fim de que se identificassem com seu conteúdo profundo,condutor dos passos nas conjunturas futuras.

Foi numa dessas ocasiões, ante o piscoso mar da Galileia que, tomado de infinitacompreensão, advertiu os discípulos.

A noite respirava perfumes de rosas silvestres enquanto que as estrelas piscavamluzes no zimbório veludoso.

Ouviam-se as ânsias e onomatopeias da Natureza ao ritmo das ondas suaves quese espreguiçavam nas areias brancas e repousadas da praia.

- Há pouco, vos disse a todos que me escutastes: Não mais me vereis até quedigais: Bendito o que vem em nome do Senhor. (*)

"Possivelmente não me entendestes, porquanto me referia a separação física quehaverá entre nós, quando o Cordeiro for imolado e pendurado a um madeiro de infâmiaa balouçar como um trapo ao vento..."

"Passados esses terríveis dias, o mundo, que não está preparado para aMensagem, se voltará contra vós. O ódio urdirá infâmias e perversidades jamais vistasantes, a fim de desanimar-vos; a inveja semeará cardos e abrirá abismos pelo vossocaminho, tentando impedir-vos o avanço; as paixões se levantarão açoitando os vossossentimentos mais nobres e provocando vossas emoções mais belas, de forma que vossintais esmagados ao peso da crueldade, tentados a desistir...”.

"Tende, porém, bom ânimo, e lembrai-vos de mim, que conquistei o mundo deinteresses mesquinhos, mas venci o mundo que esgrimiu suas armas covardes contramim."

Calou-se por um pouco, permitindo que fossem ouvidas as vozes inarticuladas danoite festiva, para logo prosseguir:

"- A doutrina de amor, que o Pai me deferiu para apresentar ao mundo, é como opunhal que fere fundo o mal e extirpa-o, ou como um raio de luz que cinde a noite e sederrama em claridade inapagável, vencendo a escuridão. Chamará a atenção eencontrará adversários hábeis que estão ocultos na consciência humana, à qual deveatingir, alterando-lhe o campo do discernimento. Assim, ainda que o denso primarismo,erguerá a clava destruidora para silenciar as vossas vozes e interromper os vossos

passos."

"Não temais, porém. O que vier de fora servirá de combustível para o vosso labor.No entanto, haverá inimigos mais perigosos, que se levantarão contra o vossoministério: aqueles que dormem no íntimo dos companheiros invigilantes quesintonizarão com o Mal, atraindo-o das suas furnas para o combate inglório."

"Dormem ou se agitam nas regiões do Hades muitos que fracassaram no mundo enão despertaram para Deus, contra Ele se levantando em alucinadas competições...”.

"Impossibilitados de enfrentar o Supremo Pai, vigiar-vos-ão, inspirando-vosdissenções e controvérsias, ironizando-vos a pureza e simplicidade, anatematizando-vos nas realizações edificantes, combatendo-vos, oculta ou publicamente, a fim dedestruírem além de vós a Obra do Senhor...”.

"Não duvideis da interferência desses seres infelizes e perversos, nossos irmãosinfortunados que se acreditam deuses e por um tempo dominaram o panteão mitológicode muitos povos, que exigiam sacrifícios humanos, a fim de saciarem a sua fome devolúpia."

"Retidos os dolorosos sítios onde se homiziam, acompanham o processo delibertação da Terra entre odientos e desditosos."

"Orai sempre e servi com abnegação desmedidas, não vos deixando atingir poreles e por aqueles de quem se utilizem, mesmo sendo corações afetuosos a quemamais..."

"Lutai, para preservardes a união, evitando separar-vos, porque a vara é fácil deser quebrada, duas ainda podem ser arrebentadas, no entanto, todo um feixeharmônico opõe grande resistência e nem sempre é despedaçado..."

"Assim sucederá convosco, se permanecerdes identificados pela união depropósitos em nome do Senhor."

"O Senhor é a Vida, que merece total dedicação."

Os companheiros entreolharam-se surpresos. Muitas vezes tinham a sensação deque outras mentes pensavam nas suas mentes, utilizando suas vozes e ações contra aprópria vontade, em cujos momentos nasciam agressões e susceptibilidades que oDivino Terapeuta diluía.

Davam-se conta das injunções penosas que lhes surgiriam, dificultando oentendimento fraterno, gerando perturbações e desordem emocional, ira e queixa...

Compreendiam, por fim, a interferência de outros seres infelizes nos seuscampeonatos de insensatezes.

Alguns deixaram-se comover, e lágrimas, de profundo sentimento, escorriam-lhesnas faces crestadas pelo Sol.

O Mestre, porém, prosseguiu:

- Eu vos escolhi a vós, não fostes vós quem me escolhestes. Eu vos chamei,porque vos conheço, embora ainda não me conheçais, como seria de desejar. Por isso,tende coragem e não desanimeis nunca.

"Não é importante como ajam os outros, mas como vos conduzais. A vós, voscabe semear, servir e passar."

"O Pai é o Grande Ceifeiro (trabalha na colheita), e Ele saberá quem foi osemeador e quem descuidou da seara, permitindo que a erva má igualmente medrassejunto ao trigo bom."

"Fica em paz, e não vos atemorizeis nunca. Jamais o mal venceu o bem, ou asombra predominou ante o impacto da luz."

"Eu me irei, mas nunca vos deixarei... Seguirei somente um pouco antes, a fim depreparar um lugar. Permanecei confiantes e felizes, porque fostes escolhidos...”.

Os discípulos, habitualmente barulhentos e interrogativos, nesse momentorecolheram-se em reflexão e permaneceram silenciosos, deixando-os penetrar pelasorientações que deveriam assinalar os dias do futuro de todos os tempos.

Aquelas diretrizes significavam os roteiros a seguir nas situações embaraçosas eperturbadoras pelas quais teriam que passar.

A implantação de novas condutas enfrenta as situações lamentáveis das antigasconvicções em que se comprazem os ociosos e desfrutadores.

Toda renovação se dá através de revoluções, de mudanças, de combates aosvelhos costumes para a instalação das novas realizações.

Assim tendo sido, e, por muito tempo, ainda assim será.

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(*) Mateus - 23:39 Nota da Autora Espiritual

Até o Fim dos Tempos – Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Amélia Rodrigues

O SERMÃO PROFÉTICO Mat. 24:1-31 Mc 13:1-27 Lc 21:5-28, 12:25-27, 17:20-37

1 Jesus saiu do Templo, e ia embora, quando os discípulos se aproximaram delepara lhe mostrar as construções do Templo.2 Jesus respondeu: "Vocês estão vendo tudo isso? Eu garanto a vocês: aqui não ficarápedra sobre pedra; tudo será destruído."

3 Jesus estava sentado no monte das Oliveiras. Seus discípulos se aproximaramdele em particular, e disseram: "Dize-nos quando vai acontecer isso, e qual será o sinalda tua vinda e do fim do mundo."4 Jesus respondeu: "Cuidado, para que ninguém engane vocês.5 Porque muitos virãoem meu nome, dizendo: 'Eu sou o Messias'. E enganarão muita gente.6 Vocês vãoouvir falar de guerras e rumores de guerra. Prestem atenção, e não fiquem assustados,pois essas coisas devem acontecer, mas ainda não é o fim.7 De fato, uma naçãolutará contra outra, e um reino contra outro reino. Haverá fome e terremotos em várioslugares. 8 Mas tudo isso é o começo das dores."9 Então os homens vão entregar vocês à tribulação e matá-los. Vocês serão odiadospor todas as nações por causa do meu nome. 10 Muitos ficarão escandalizados, trairãoe odiarão uns aos outros.11 Vão surgir muitos falsos profetas, que enganarão muitagente. 12 A maldade se espalhará tanto, que o amor de muitos se resfriará. 13 Mas,quem perseverar até o fim, será salvo.14 E esta Boa Notícia sobre o Reino será anunciada pelo mundo inteiro, como umtestemunho para todas as nações. Então chegará o fim."

15 Quando vocês virem a abominação da desolação, da qual falou o profetaDaniel, estabelecida no lugar onde não deveria estar, - que o leitor entenda! 16 então,os que estiverem na Judéia fujam para as montanhas. 17 Quem estiver no terraço, nãodesça para apanhar os bens de sua casa. 18 Quem estiver no campo, não volte parapegar o manto. 19 Infelizes as mulheres grávidas, e aquelas que estiveremamamentando nesses dias! 20 Rezem para que a fuga de vocês não aconteça noinverno, nem num dia de sábado. 21 Pois, nessa hora haverá uma grande tribulação,como nunca houve outra igual. 22 Se esses dias não fossem abreviados, ninguémconseguiria salvar-se. Mas esses dias serão abreviados por causa dos eleitos.23 Se alguém disser a vocês: 'Aqui está o Messias', ou: 'Ele está ali', não acreditem. 24Porque vão aparecer falsos messias e falsos profetas, que farão grandes sinais e

prodígios, a ponto de enganar até mesmo os eleitos, se fosse possível. 25 Vejam queeu estou falando isso para vocês, antes que aconteça. 26 Se disserem a vocês: 'O

Messias está no deserto', não saiam; 'Ele está aqui no esconderijo', não acreditem. 27Porque a vinda do Filho do Homem será como o relâmpago que sai do oriente e brilhaaté o ocidente. 28 Onde estiver o cadáver, aí se reunirão os urubus.

29 Logo depois da tribulação daqueles dias, o sol vai ficar escuro, a lua nãobrilhará mais, e as estrelas cairão do céu, e os poderes do espaço ficarão abalados. 30Então aparecerá o sinal do Filho do Homem no céu; todas as tribos da terra baterão nopeito, e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu com poder e grandeglória. 31 Ele enviará seus anjos que tocarão bem alto a trombeta, e que reunirão oseleitos dele, desde os quatro cantos da terra, de um extremo do céu até o outro.

PROFECIAS (Sermão Profético)

Mat. 24:3-14

3. Estando ele sentado no monte das Oliveira, chegaram a ele os discípulos emparticular, dizendo: Dize-nos quando serão essas coisas e qual o sinal de tua vinda edo término do eon (mundo).

4. E respondendo, disse-lhes Jesus: "Vede que ninguém vos desvie (do caminhocerto),

5. porque muitos virão (apoiados) sobre meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, edesviarão muitos.

6. Haveis de ouvir guerras e boatos de guerras; cuidado, não vos assusteis, pois émister que isso ocorra, mas ainda não é o fim,

7. porque se levantarão povos contra povos e reino contra reino, e haverá fome eterremotos em cada lugar.

8. Tudo isso, porém, é um princípio das dores de parto.

9. Então vos entregarão à opressão e vos matarão e sereis odiados de todos ospovos por causa do meu nome.

10. E então muitos serão derrubados e mutuamente se entregarão e se odiarãomutuamente,

11. e muitos falsos profetas se levantarão e desviarão muitos;

12. e, por crescer a ilegalidade, se resfriará o amor de muitos;

13. Mas o que perseverar até o fim, esse será salvo.

14. “E será pregada esta Boa Nova do Reino em toda a terra habitada, emtestemunho a todos os povos, e então virá o fim".

Marc. 13:3-13

3. Estando ele sentado no monte das Oliveiras, defronte do templo, perguntaram-lhe em particular Pedro, e Tiago, e João e André;

4. Dize-nos quando ocorrerá isso e qual o sinal quando tudo isso está paraconsumar-se.

5. Jesus, porém, começou a dizer-lhes; Vede que ninguém vos desvie (do caminhocerto).

6. Muitos virão (apoiados) sobre meu nome, dizendo que sou eu, e desviarãomuitos.

7. Todas as vezes, porém, que ouvirdes guerras e boatos de guerras, não vosassusteis: isso deve acontecer, mas ainda não é o fim,

8. pois se levantará povo contra povo e reino contra reino, haverá terremotos emcada lugar, haverá fome; isso é um princípio das dores de parto.

9. Cuidai de vós mesmos: entregar-vos-ão aos tribunais e nas sinagogas sereisaçoitados e comparecereis diante de governadores e reis por minha causa, emtestemunho para eles.

10. E a todo povo, primeiro, deve ser pregada a Boa Nova.

11. E todas as vezes que vos levarem para entregar, não vos preocupeis do quedireis, mas o que vos for ensinado naquela hora, dizei, pois não sereis vós que falais,mas o Espírito Santo.

12. E um irmão entregará o irmão à morte, e um pai o filho, e se levantarão osfilhos contra os pais e os matarão.

13. “E sereis odiados de todos por causa de meu nome. O que perseverar até ofim, esse será salvo".

Luc. 21:5-19

5. Falando alguns a respeito do templo, porque era ornado de belas pedras edonativos, disse:

6. "Isso que vedes, dias virão em que não será deixada pedra sobre pedra que nãoseja arrasada".

7. Perguntaram-lhe, pois, dizendo: Mestre, quando, então, será isso? E qual o sinalquando estiver para acontecer?

8. Ele disse: Vede que não sejais desviados (do caminho certo), pois muitos virão

(apoiados) sobre meu nome, dizendo: "Eu sou", e: "o tempo chegou"; não sigais atrásdeles.

9. “Todas as vezes que ouvirdes guerras e revoluções, não vos assusteis, pois énecessário que primeiro ocorram essas coisas, mas não (será) imediatamente o fim".

10. Então disse-lhes: "Levantar-se-á povo contra povo e reino contra reino;

11. haverá grandes terremotos em cada lugar, fome e peste, haverá terrorestambém e grandes sinais do céu.

12. Antes de tudo isso, porém, lançarão suas mãos sobre vós e perseguirão,entregando-vos às sinagogas e prisões, conduzindo-vos aos reis e governadores, porcausa de meu nome.

13. Sairá (isto) para vós como testemunho.

14. Ponde, então, em vossos corações não premeditar como defender-vos,

15. pois eu vos darei eloquência e sabedoria, às quais não poderão resistir nemresponder todos os vossos opositores.

16. Sereis entregues até por pais e irmãos e parentes e amigos, e matarão algunsde vós.

17. E sereis odiados de todos por causa de meu nome,

18. mas um cabelo de vossa cabeça não se perderá:

19. em vossa perseverança, adquirireis vossas almas".

Na opinião unânime dos comentadores, este trecho é reputado um dos maisdifíceis dos Evangelhos.

Sabemos pela narrativa de Marcos que os quatro discípulos, que foram osprimeiros a ser admitidos na Escola (João, 1:14-20) - Pedro e André (irmãos) Tiago eJoão (irmãos) - fizeram a Jesus a pergunta de esclarecimento a respeito da previsão dadestruição do templo; em Mateus, porém, a indagação tem duas fases:

a) quais os sinais que precederão a destruição do templo;

b) quais os que assinalarão o término do eon ou ciclo (que as traduções vulgaresinterpretam como "fim do mundo").

Observemos que no original não está escrito télos toú kósmou (fim do mundo), massynteleía toú aiônos (término do eon ou ciclo). Os israelitas opunham ôlâm hazzêh("este eon") a ólâm habbâ ("o outro ou o próximo eon").

Entre as primeiras comunidades ("centros") cristãs, teve muita voga a crença deque a mudança de eon se daria muito breve, com a "chegada" (parusia) de Jesus.

A palavra parusia (grego parousía) tem o sentido preciso de "presença" ou“chegada”. Já desde três séculos antes de Cristo designava as visitas triunfais de reis eimperadores às cidades de seus domínios ou não: "chegavam" tornando-se"presentes". Os cristãos aplicavam o termo ao retorno de Jesus a Terra, que eraaguardado para aquela época tanto que a demora desanimou a muitos que, por isso,abandonaram o cristianismo.

Analisemos o trecho, dentro da interpretação generalizada, respigando algunstópicos:

Vers. 5 - "Muitos virão (apoiados) sobre meu nome", e não apenas “muitos virãoem meu nome". Não se refere somente aos que se apresentam como representantesdo Cristo, "em nome dele", mas daqueles que falam dizendo-se "O Cristo",fundamentados na autoridade desse nome. O grego não diz en onómatí, masclaramente epi tôí onómati mou.

Todo esse aparato de horrores não denota, entretanto, o fim: é apenas "o princípiodas dores de parto" (no original: archê ôdínôn), não simples "dores". O termo é técnico,exprimindo uma dor que tem, como resultado, um evento feliz: uma dor que provocaum avanço, uma criação física ou mental.

As acusações entre cristãos são atestadas por Tácito (2).

(2) Também aqui Tácito (Annales, XV, 44, 4-6) nos esclarece com as seguintespalavras após descrever o incêndio de Roma: "Assim para abolir os boatos, Nero supôsculpados e infligiu tormentos refinados àqueles que, odiados por suas ações, o povochamava Cristãos. O autor desse nome, Cristo, fora supliciado pelo procurador PôncioPilatos no império de Tibério. Reprimida no presente, a detestável superstiçãonovamente irrompia, não só na Judéia, onde nascera, mas pela própria Roma, aondechegam de todas as partes e são celebrados os cultos mais horrorosos e vergonhosos.

Foram primeiro presos os que confessavam, depois, por indicação deles, enormemultidão, acusados não tanto pelo crime do incêndio, como de ódio pelo gênerohumano".

Quanto à divulgação da Boa Nova, Paulo escreveu (Rom. 10:18): "Sua vozespalhou-se por toda a Terra e suas palavras às extremidades do mundo habitado".Realmente, no texto não é dito que o Evangelho será pregado "em todo o mundo"(hólôi tôi kósmôi) mas em "toda a Terra habitada" (hólêi têi oikouménêi). Essa palavra(donde deriva "ecumênico") era usada entre os gregos para exprimir o território deles,em oposição ao dos bárbaros; entre os romanos, era o império romano, em oposiçãoaos demais povos.

Nessa mesma época, entre 30 e 70, temos notícias de tremores de terra na Ásiamenor, na Assíria, na Macedônia, em Creta, na Itália: em 61 e 62 na Laodicéia,Colosso e Hierápolis; em 63, com a erupção do Vesúvio, em Nápoles, Herculanum emais três cidades menores; o incêndio de Roma em 64 (cfr. Tácito, Annales, 14,16;Sêneca, Quaestiones Naturales, 6, 1; Fl. Josefo, Bell. Jud. 4.4.5). A fome, sob Cláudio,assolou Roma e Palestina (cfr. At 11:28 e Ant. Jud. 20.5.2).

O comparecimento ante os tribunais também é abundantemente citada não sópelos autores profanos, como no Novo Testamento: discípulos presos (At. 4:3 e 5:18-40); citados perante o Sinédrio (At. 8:1-3; 9:1, 2, 21; 26:10; 28:22; Rom. 15:30-31);Tiago é condenado e decapitado (At. 12:2); Pedro é preso e condenado (At. 12:3-17);Paulo é apedrejado em Listra (At. 14:18), é açoitado e preso em Filipos (At. 16:22-24);fica preso quatro anos em Jerusalém (At. 21:33) em Cesaréia (At. 24:27) em Roma (At.28:23, 30-31); é levado diante do pro cônsul Gálio (At. 18:14), do Sinédrio de Jerusalém(At. 23), de Félix (At. 24:25), de Festus (At. 25:9) do rei Agripa (At. 26) e de Nero (2.ªTim. 4:17-19).

Aí temos, pois, um apanhado que justifica a interpretação corrente do trecho, deque os acontecimentos previstos se referem ao mundo exterior da personagem, àsações que vêm de fora.

O segundo comentário ainda é bem mais difícil. Que sentido REAL está oculto, sob

essas palavras enigmáticas?

O aviso inicial é de uma clareza ofuscante: "Vede que ninguém vos desvie docaminho certo" (1). O comentarista sente-se perplexo e assustado, temeroso deincorrer nesse aviso prévio de cuidar-se, para não se deixar levar por fantasias.

(1) Não podemos considerar errada a tradução que fazem as versões vulgares doverbo planáô, por "enganar"; mas o sentido preciso desse verbo, "desviar do caminhocerto" é muito mais expressivo e corresponde bem melhor ao que se diz no contexto.

DESTRUIÇÃO DO TEMPLO

Mat. 24:1-2

1. Tendo Jesus saído do templo, retirava-se, e chegaram-se os discípulos dele,mostrando-lhe as edificações do templo.

2. Ele, porém, respondendo disse-lhes: "Não vedes tudo isso? Em verdade vosdigo, não será deixada aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada".

Marc. 13:1-2

1. E saindo ele do templo, disse-lhe um de seus discípulos: Mestre, olha quepedras e que edificações!

2. E Jesus disse-lhe: "Vês essas grandes edificações? Não será deixada aquipedra sobre pedra que não seja derrubada".

Neste trecho, há discordância entre os narradores. Enquanto Mateus nos mostraJesus já fora do templo a retirar-se, Marcos coloca o episódio no momento mesmo dasaída, e Lucas (21:6) não nos diz o local: apenas, pelo aceno aos "donativos", fazsupor que estivessem ainda no templo, embora nada impeça que a referência a elestenha sido feita fora do ambiente.

Pela sequência, vemos que Jesus saiu pela porta de leste, descendo pelo declivedo Cedron para, logo após, subir a rampa do monte das Oliveiras. Desse local a vistaera maravilhosa, podendo contemplar-se toda a magnificência do templo. Flávio Josefo(Bellum Judaicum, 5, 5, 6) assim no-lo descreve:

"Tudo o que havia no exterior do templo alegrava os olhos, enchia de admiração efascinava o espírito: era todo coberto de lâminas de ouro tão espessas que, desde oalvorecer, se ficava tão ofuscado quanto pelos próprios raios solares. Dos lados emque não havia ouro, tão brancas eram as pedras que essa massa soberba parecia, delonge, aos estrangeiros que o não conheciam, uma montanha coberta de neve".

Toda essa riqueza fora aí colocada por Herodes o Idumeu, que ampliara o templo

de Zorobabel: o pórtico de Salomão, uma cobertura sobre colunas, corria a leste; opórtico real dominava o Tiropeu. Os recintos internos e o tesouro assombravam osvisitantes e constituíam o orgulho dos israelitas.

Ora, os discípulos de Jesus participavam desse ufanismo, e por isso um deleslembra-se de chamar a atenção do Mestre para a maravilhosa construção. A respostade Jesus constituiu uma ducha de água gelada sobre o calor do entusiasmo deles."Não ficará aqui pedra sobre pedra".

A profecia cumpriu-se à risca no dia 9 de âb (agosto) no ano 70. Flávio Josefo(Bell. Jud. 5.5.1-2 e Ant. Jud. 15.11-3) anota que Tito Lívio fez tudo para salvar otemplo da destruição. Mas, depois que uma tocha, lançada por um soldado, iniciou oincêndio "que se propagou como um relâmpago" (são palavras dele, Bell. Jud. 6.4.3-6),Tito ordenou que não só a cidade, mas o próprio templo fossem totalmente arrasados.

Aqui temos a motivação de um fato, a fim de permitir sua posterior explicação e aexplanação do ponto a desenvolver. Para conseguir a oportunidade de documentar aslições a respeito da "destruição do templo" e do "término do eon", os evangelistaspartiram de uma pergunta que interessaria profundamente a todos. E as prediçõescomo toda linguagem profética, apresentam temática confusa, de forma a não elucidarsenão aos que tenham consigo a "chave", que não devia ser divulgada ao grandepúblico, a fim de evitar pânico, precipitações e erros prejudiciais.

A verdadeira lição será dada nos próximos capítulos.

PARÁBOLA DA FUGUEIRA Mat. 24:32-36 Vide Estudo Parábolas

TEMPO DE VIGILÂNCIA Mat. 24:37-44 Mc 13:33-37 Lc 19:12-13, 12:38-40, 17:20-37

37 A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. 38 Porque, nos diasantes do dilúvio todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até odia em que Noé entrou na arca. 39 E eles nada perceberam, até que veio o dilúvio, earrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem. 40 Doishomens estarão trabalhando no campo: um será levado, e o outro será deixado. 41Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada, a outra será deixada.42 Portanto, fiquem vigiando! Porque vocês não sabem em que dia virá o Senhor devocês. 43 Compreendam bem isto: se o dono da casa soubesse a que horas viria oladrão, certamente ficaria vigiando, e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. 44Por isso, também vocês estejam preparados. Porque o Filho do Homem virá na horaem que vocês menos esperarem.

PARÁBOLA DO SERVO INVIGILANTE Mat. 24:45-51 Mc 13:35-37 Lc 12:35-48

45. Quem, pois, é o servo fiel e inteligente, que o Senhor constitui sobre suacriadagem, para dar-lhe alimento nas horas certas?

46. Feliz aquele servo que, vindo seu Senhor, encontrar fazendo assim.

47. Em Verdade, digo-vos que o constituirá sobre todos os seus bens.

48. Se, porém, sendo mau, aquele servo disser em seu coração: meu Senhordemora,

49. e começa a bater em seus companheiros, a comer e beber com ébrios,

50. virá o Senhor desse servo no dia em que não espera e na hora que não sabe,

51. e o cortará pelo meio e porá a parte dele com os hipócritas; aí haverá o choro eo frêmito dos dentes".

Luc. 12:35-48

35. Estejam cingidos vossos quadris e acesas vossas lâmpadas,

36. e vós, semelhantes a homens que vão receber seu Senhor, quando se libertardos esponsórios, para que, vindo e batendo, imediatamente lhe abram a porta.

(E sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houverde voltar das bodas, para que, quando vier, e bater, logo possam abrir-lhe. ACF 2007)

37. Felizes aqueles servos que, vindo o senhor, achar acordados; em verdadedigo-vos que se cingirá e os reclinará e, chegando-se, os servirá.

38. E se chegar na segunda ou na terceira vigília e os achar assim, felizes ele;serão.

39. Isto sabei, que se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, não odeixaria arrombar sua casa.

40. Também vós estai preparados, porque na hora que não sabeis virá o Filho doHomem".

41. Disse Pedro: Senhor, dizes essa parábola para nós, ou também para todos?

42. E disse o Senhor: Quem, pois, é o ecônomo fiel e inteligente, que o Senhorconstitui sobre sua criadagem, para dar-lhe, no tempo certo, o alimento?

43. Feliz aquele servo que, vindo o Senhor dele, encontrar fazendo assim.

44. Verdadeiramente digo-vos o constituirá sobre todos os seus bens.

45. Mas se aquele servo disser em seu coração: meu Senhor demora a chegar, ecomeçar a bater nos criados e criadas, e começar a comer e beber e embriagar-se,

46. virá o Senhor daquele servo, no dia em que não aguarda e na hora que nãosabe, e o cortará ao meio e porá a parte dele com os infiéis.

47. Mas aquele servo que soube a vontade de seu Senhor e não se preparou nemfez segundo sua vontade, será castigado com muitos açoites.

48. Mas quem não o soube e fez coisas dignas de açoites, será castigado compoucos (açoites). A todo aquele a quem foi dado muito, muito será pedido dele, e aquem muito é confiado, muito mais lhe será pedido".

Em Mateus, a parábola é introduzida com uma interrogação, como vimos em 7:9-10 e 12:11, enquanto em Lucas apenas com uma frase de conselho, vindo a seguir acomparação.

Era comum, na ausência do chefe das grandes casas, que um servo ficasseencarregado do resto da criadagem, com uma espécie de mordomia. Desse exemplovale-se Jesus para opor dois comportamentos extremos: o bom servo que agecorretamente, e o mau que, içado ao poder, trata violentamente seus antigoscompanheiros, para demonstrar a forca da posição que lhe foi atribuída.

O prêmio ao bom é constituí-lo intendente sobre todos os seus bens, enquanto omau “será cortado ao meio" (dichotomêsei). Já ensinava Jerônimo, Patrol. Lat. vol. 26.col. 183, que "isso não quer dizer que o cortará em dois com uma espada, massomente que o separará da sociedade dos santos e o relegará com os hipócritas”. Noentanto, como o verbo empregado por Lucas é o mesmo, insistindo na mesma idéia, ainterpretação de Jerônimo parece-nos boa, sobretudo porque é acrescentado: "Porá aparte dele com os hipócritas", isto é, colocá-lo-á no rol dos fingidos. Recordemos quehypócrités significa “ator”, aquele que é uma coisa e representa outra.

Em Lucas, o conselho de manter “cingidos os quadris e acesas as lâmpadas",exprime o estado de “vigília", pois para dormir soltavam-se os cintos e apagavam-se ascandeias.

O prêmio do servo bom é inesperado e desusado: o próprio Senhor porá o aventalpara servi-lo à mesa, conforme é dito mais adiante (Luc. 22:27): "quem é o maior o queestá à mesa ou o que serve? Não é quem está à mesa? “Mas eu estou no meio de vóscomo quem serve”.

De passagem, aparece o exemplo do dono da casa, que não sabe a hora em quevirá o ladrão. Aqui, o Filho do Homem é comparado ao ladrão que arromba a casa paraentrar, tal como o Homem Novo que penetra inopinadamente e à sorrelfa, roubando dohomem velho todos os seus bens perecíveis, inclusive “matando-o” definitivamente.Bem o compreendeu Pedro (2.ª Pe. 3:10) e bem o interpretou Paulo (1.ª Tess. 5:2).

A cada novo passo que temos diante dos olhos, compreendemos que ainterpretação que vimos dando plenamente se confirma.

A criatura deve permanecer espiritualmente desperta, "com os quadris cingidos e a

lâmpada acesa”, embora até mesmo a parte material do corpo físico possa adormecerno sono noturno, refocilando-se das lides diárias. Mas o Espírito, não: esse devemanter-se acordado, em oração, mesmo nas horas de repouso corporal.

Esponsórios: mesmo que esponsais. Esponsais - plural de esponsal; contrato decasamento; noivado, esponsal; solenidade em que se firma esse contrato; cerimôniaque precede o casamento; (Diacronismo: obsoleto) promessa recíproca de casamento,formalizada por escritura pública firmada pelos noivos ou por seus pais, em que seinscreviam pactos...

Lucas fala do regresso do Senhor quando se libertar dos esponsórios (póteanalysêi ek tôn gámôn), que as traduções correntes vertem por "ao voltar das bodas".De qualquer forma, a ideia fundamental é a mesma, embora "anâlysis" exprima"libertação", mais que regresso. Mas que sentido profundo terá essa expressão? CarlJung relaciona as núpcias com a união total e interna da parte "feminina" do homemcom seu Espírito, ou seja, à unificação do eu personalístico com o Eu individualístico ouprofundo. Ao regressar dessas núpcias, devem estar preparados os veículos todospara receber o Senhor, o Pai, cuja vinda já está "às portas", fazendo manifestar-se oCristo interno.

Sempre preferiram os místicos a figura do esponsalício, como a maisrepresentativa da realização da vida; a alma rende-se ao chamado do Bem-Amado efinalmente abraça o Perfeito Amor.

Se, porém a criatura adormecer, descuidando-se do espírito e passar àperseguição dos companheiros de jornada, considerando apenas a parte material davida, procurando vencer pela força, pelo poder ou pela astúcia e tiranizando ossemelhantes, o Senhor "o cortará ao meio" e "porá sua parte com os hipócritas".

Aqui também a interpretação precisa ser cuidadosa. A opinião de Jerônimo, citadaacima, é interessante para não assustar a personalidade, acreditando que seu corponão será aberto à espada. Mas o verbo grego dichotomízô não dá margem a essainterpretação: não é "separar" um homem de um grupo. Também não se trata de"morte", pois o servo continuará vivo, sendo colocado no bloco dos hipócritas. Que

será?

Na epístola aos hebreus (4:12) está escrito: "Vivo, pois, é o Lógos de Deus eenergético e mais cortante que qualquer espada de dois gumes, penetrando até adivisa da alma e do espírito, das conexões e da medula, e discriminador dospensamentos e das razões do coração"

PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS Mat. 25:1-13 Vide Estudo Parábola

PARÁBOLA DOS TALENTOS Mat. 25:14-30 Vide Estudo Parábola

O ÚTIMO JULGAMENTO Mat. 25:31-46

31. "Todas as vezes que vier o Filho do Homem em sua substância e todos osmensageiros com ele, então sentará sobre o trono de sua decisão”.

32. E serão reunidos em torno dele todos os povos e separará uns dos outros,como o pastor separa as ovelha dos bodes,

33. e porá as ovelhas à sua direita e os bodes à esquerda.

34. Então dirá o rei aos de sua direita: Vinde, escolhidos de meu Pai, participai doreino para vós preparado desde, a constituição do mundo;

35. pois tive fome e me alimentastes, sede e me fizestes beber, era estrangeiro eme recebestes, 36. estava nu e me vestistes, doente e me visitastes, estava preso eme viestes ver.

37. Então lhe perguntarão os justos, dizendo: Senhor, quando te vimos faminto e tealimentamos, ou sedento e te demos de beber?

38. quando te vimos estrangeiro e te recebemos ou nu e te vestimos?

39. E quando te vimos doente ou na prisão e te visitamos?

40. E respondendo, o rei lhes dirá: Em verdade vos digo, quanto fizestes a umdestes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes.

41. Então dirá também aos da esquerda: Afastai-vos de mim, infelizes, para o fogodo eon, destinado ao adversário e seus mensageiros,

42. pois tive fome e não me alimentastes, tive sede e não me destes de beber ,

43. era estrangeiro e não me recebestes, estava nu e não me vestistes, doente epreso e não

me visitastes.

44. Então perguntarão também eles, dizendo: Senhor, quando te vimos faminto, ousedento, ou estrangeiro, ou nu, ou doente, ou preso e não te servimos?

45. Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo, quanto não fizestes aum destes

mais pequeninos, nem a mim fizestes.

46. “E irão estes para o castigo do eon, mas os justos para a vida imanente".

Ainda prosseguem as previsões para o fim do ciclo. Anuncia o Mestre que "o Filhodo Homem virá em sua substância". Neste versículo, o grego dóxa é traduzido como"glória" duas vezes nos textos vulgares.

Analisando-se o contexto, todavia, verificamos que poderia ser dado esse sentidoapenas lato sensu (em sentido amplo); mas que ideia faríamos daquele que encarnouo Amor mais sublime com a maior humildade, se ao invés de chegar com asimplicidade característica dos Grandes Espíritos, pretendesse impor-se pelo aparatopomposo de uma glória ostentatória, para esmagar as pobres criaturas com suapresença? Os seres inferiores podem impressionar-se com isso - as fêmeas dosirracionais deixam-se levar pela beleza "gloriosa" ou pela bela voz dos machos - masrepugna-nos admitir que um Espírito superior e divino aderisse a esse critério tãoanimalesco, tentando ofuscar pela emoção da forma majestosa. Daí termos traduzidodóxa por "SUBSTÂNCIA" neste passo.

Mas no mesmo versículo há pela segunda vez a mesma palavra, na expressão "elese sentará sobre o trono de sua glória" (grego dóxa, hebraico, kissê hakkabôd). Ora, seno primeiro caso preferimos aquele sentido: "em sua substância", isto é, EM PESSOA,ELE MESMO, e não mais seus emissários e mensageiros (COM os quais seapresentará, metà aggélôn autoú), neste segundo passo, devendo ele presidir àseparação de bons e maus, o sentido mais consentâneo é "trono de sua decisão",legítimo significado de dóxa. Ao assentar-se no "trono de sua decisão" (veremos osentido mais profundo adiante), todos os povos (pánta tà éthnê) se Lhe reunirão emtorno, conforme foi escrito também em Joel (3:14) e Zacarias (14:2).

Utilizará, então, o método empregado pelos pastores ("fará COMO"), o que oferecesignificado especial que procuraremos estudar, a fim de "separar uns dos outros"(aphorísei autoús ap'allêlois).

Vem a seguir o discurso dirigido aos da direita, em que é salientado o grande, oinestimável, o único valor que conta: a misericórdia em relação aos desgraçados dequalquer espécie: "felizes os misericordiosos porque eles obterão misericórdia" (Mat.5:7).

E as "obras de misericórdia" são enumeradas uma a uma: alimentar os famintos,

abeberar os sedentos, vestir os nus, assistir os enfermos e visitar os presos.

Conforme comprovamos, referem-se todas à matéria física, ao corpo e ao confortomoral; nenhuma se dirige à parte espiritual, reservada apenas aos "discípulos" daEscola. Trata-se de verdadeiro resumo dos objetivos da "Assistência Social" ou daCaridade.

A misericórdia, no ambiente israelita era, sobretudo, moral e corporal e vem citadacomo necessária em diversos passos (Gên. 21:23; Jos. 2:14 e 11:20; 2.º Sam. 10:2; 3:8e 9:1; Job 31:18; Ecli. 18:12; Zac. 7:9, etc.); a misericórdia dá honra a quem na recebe(Prov. 14:31); mas deve ser acompanhada de constância e justiça (Jos. 2:14; Prov. 3:3;14:22; 16:6 e 20:28). Numa frase citada por Jesus (Mat. 9:13 e 12:7) é dito que amisericórdia tem mais valor que os sacrifícios (Oséas, 6:6; Ecli. 35:4; cfr. ainda: Mat.15:5, 6 e Marc. 7:10-13). As parábolas do "bom samaritano" (Luc. 10:30-37) e doperdão (Mat. 18:23-35) são exemplos de misericórdia e da ausência dela. Paulo deTarso e João recomendam que os cristãos tenham "vísceras de misericórdia" (Flp. 2:1;Col. 3:12 e 1.ª João 3:17).

Os que praticaram e viveram essas "obras de misericórdia" são os chamados,porque "escolhidos pelo Pai" para tomar parte no reino "preparado desde a constituiçãodo mundo". Admirados, perguntarão quando tiveram oportunidade de fazer tudo isso,se jamais O encontraram na Terra. E a resposta é que

"tudo o que se faz a um desses meus irmãos pequeninos necessitados, é feito aEle mesmo". Lição magnífica e oportuna.

Já aos "da esquerda", são eles convidados a afastarem-se, infelizes que são, "parao fogo do eon, destinado ao adversário e seus mensageiros". Sentido algo enigmático,que tentaremos analisar. O que os tornou "infelizes" foi, exatamente, o contrário dasobras de misericórdia:

A avareza que não reparte de sua mesa com os famintos;

O egoísmo que, rodeado de bebidas finas, não pensa na sede dos desgraçados;

O orgulho mal entendido, que não abre sua porta a estranhos;

A vaidade que exige para si trajos luxuosos, deixando sem roupa os mendigos;

O comodismo que não sai de seu conforto para estender a mão e abrir seu coraçãoaos enfermos; e

A dureza de coração que não se apiada dos que sofrem nos cárceres, castigadospor descontroles emocionais.

A resposta é o reverso da medalha da que foi dada aos primeiros.

E vemos sempre a referência "a estes meus irmãos (IRMÃOS!) mais pequeninos.Repete-se, como um refrão, que os homens, por menores que sejam, por maisdesgraçados, por mais atrasados, são SEUS IRMÃOS: "quem faz a vontade do Pai émeu irmão, minha irmã, minha mãe" (Mat. 12:50 e Marc. 3:35); "são meus irmãos osque fazem a vontade do Pai" (Luc. 8:21); "ide avisar a meus irmãos" (Mat. 28:10) e oshumildes são seus irmãos pequeninos, Dele que "é o primogênito entre muitos irmãos"(Rom. 8:29); e mais: "quem vos recebe, me recebe" (Marc. 10:40); "quem recebe a umadestas criancinhas em meu nome é a mim mesmo que recebe" (Mat. 18:5).

Não vimos aí, em absoluto, um DEUS EM SUA GLÓRIA, como quiseram fazer-noscrer durante dois milênios, mas um irmão mais velho, cheio de carinho e ternura, decuidados verdadeiramente maternais para com os IRMÃOZINHOS mais pequeninos!Vemos um amor aconchegante, que se preocupa com os sofrimentos até do físico esente em si mesmo os efeitos dos benefícios recebidos por eles e a amargura dasportas que se fecham diante deles; lembramo-nos do anexim popular: "quem meu filhobeija, minha boca adoça". Mas o Mestre nem fala de filhos ("um só é vosso Pai, aninguém na Terra chameis de Pai", Mat. 23:9) e sim, igualando-se a eles, em irmãosmenores, ainda pequeninos, dignos de toda atenção e amor.

Os que desprezam "seus irmãos mais pequeninos" são ditos katêraménoi, isto é,"infelizes"; mas observamos que, enquanto os misericordiosos são "abençoados peloPAI", os duros de coração se desgraçam a si mesmos. A estes está reservado o "fogodo eon" (tò pyr aiônion), que é a labareda do sofrimento no percurso lento e dolorosode mais um eon ou ciclo de evolução. Trata-se do fogo purificador, que faz a catarsedos espíritos, aquele "fogo inextinguível que queimará a palha" das imperfeições (Mat.3:12) e que atinge a todos os que são "lançados na fornalha de fogo" (Mat. 13:42) dasreencarnações cármicas dolorosas.

Esse fogo foi preparado para o adversário (diábolos) e seus mensageiros desde acriação do mundo, pois desde aí começou o funcionamento da grande lei de causa eefeito.

A consequência final é que os misericordiosos irão participar da "vida imanente"(eis zôên aiônion) enquanto os endurecidos irão para o "sofrimento imanente" (eiskólasin aiônion) em segura oposição de resultados. Também poder-se-iam traduzir asexpressões por: "vida do eon" e "sofrimento do eon".

Muito temos que aprender nas sábias e profundas lições do Evangelho. Vejamosinicialmente as previsões exteriores.

Todas as vezes que o Filho do Homem aparece em Sua própria substância, e nãoatravés de intermediários, essa presença assinalará fundamental modificação na tônicavibratória do planeta: é como se Ele sentasse em seu "trono da decisão", para firmar otom de seu diapasão na energia sonora (o Som, a Palavra criadora ou Verbo ou Logosdo Pai), pelo qual será testada a sintoma intrínseca dos seres.

O fenômeno da separação "à direita e à esquerda" - como costumam fazer ospastores ao separar os bodes das ovelhas, nas épocas em que não deve haverprocriação - não é religioso, nem místico, nem teológico: é CIENTÍFICO.

Desde que a chegada do Filho do Homem em Sua substância faça que o planetaevolua, elevando sua tônica vibratória, automaticamente ocorrerá que os espíritos quesintonizarem com esse diapasão elevado, nela permanecerão, enquanto os quetiverem tons mais baixos serão atraídos para planetas de tônica vibratória mais baixa,ou seja, de menor evolução, sendo, portanto, "deportados" da Terra (cfr. Prov. 2:21-22"pois os justos habitarão a Terra e os perfeitos permanecerão nela, mas os semmisericórdia serão suprimidos da Terra e os perversos serão arrancados dela"; e maisadiante Prov. 10:30 "o justo não será removido no eon, mas o sem misericórdia nãohabitará a Terra").

Como vemos, o julgamento ou "juízo" no final do ciclo (ou separação dos bons dosmaus) será uma ação automaticamente científica, de acordo com a lei física dassintonias vibratórias intrínsecas de cada ser não havendo, pois, nenhuma possibilidadede enganos, nem de privilégios, nem de valorizações por estar rotulado nesta ou

naquela religião, com este ou aquele cargo.

Exemplificando grosseiramente: a Terra tem atualmente (suponhamos!) umavibração de número 30, tal como grande parte (dois terços, segundo Zacarias 13:8) deseus moradores. Ao elevar-se a vibração da Terra para o número 50, só conseguirãopermanecer nela aqueles espíritos cuja vibração intrínseca seja de número 50 (que sãoos que hoje se sentem tão mal neste ambiente de falsidades, ódios, guerras eviolências); e todos os que tiverem vibração número 30, serão automaticamenteatraídos por outro planeta que também tenha vibração número 30. Exatamente issoocorreu quando para a Terra vieram tantos espíritos, ao ser vibratoriamente elevadoseu planeta de origem na Constelação do Cocheiro (cfr. Francisco Cândido Xavier "ACaminho da Luz", FEB, 1941, 2.ª ed. pág. 27).

CONSPIRAÇÃO PARA MATAR JESUS Mat. 26:1-5 Mc 14:12 Lc 22:1-6 Jo 11:45-53

1. E aconteceu que, quando Jesus terminou todos esses ensinos, disse a seusdiscípulos:

2. "Sabeis que com dois dias acontecerá a Páscoa e o Filho do Homem seráentregue para ser crucificado".

3. Então se reuniram os principais sacerdotes e anciãos do povo no palácio dosumo Sacerdote, chamado Caifás,

4. e resolveram apoderar-se de Jesus com engano e matá-lo.

5. Mas diziam: Não durante a festa, para que não surja tumulto no povo.

Marc. 14:1-2

1. Era, pois, a Páscoa e os ázimos dois dias depois. E procuravam os principaissacerdotes e os escribas como, prendendo-o com enganos, o matariam,

2. pois diziam: não na festa, para que não haja tumulto no povo.

Luc. 22:1-2

1. Aproximava-se, porém, a festa dos ázimos, a chamada Páscoa,

2. e procuravam os principais sacerdotes e os escribas como o matariam, poistemiam o povo.

Ao terminar a grande lição, o Mestre anuncia aos discípulos que a "páscoa" OU"festa dos ázimos" se celebrará daí a dois dias. Estamos, pois, na noite de terça ou namanhã de quarta-feira, já que essa festa era celebrada das 18 horas de quinta até as18 horas de sexta-feira.

Recordemos que o primitivo nome de "páscoa" era pesah hu'la YHWH (em gregopáscha estì kuríôi) ou seja a passagem de YHWH" (Êx. 12:11).

Diz mais, que nessa páscoa "o Filho do Homem será entregue para sercrucificado". A comunicação é feita com tranquila solenidade.

Logo a seguir o evangelista modifica o cenário, e sobre o palco aparece à reuniãodas autoridades, isto é, dos sacerdotes, escribas e anciãos. Mateus e Lucas citam osescribas, que Mateus omite, como em outros passos (cfr. 21:23; 26:47; 27:1, 3, 12, 20).

A reunião é realizada no "palácio" (aulê) do Sumo Sacerdote. O sentido de aulêpode ser o próprio "palácio" (como em Mat. 26:3, 38; Marc. 14:54 e 15:16; Luc. 11:21 eJoão 18:15) ou o "pátio do palácio", sobretudo quando acompanhado do adjetivo"exterior" (cfr. Mat. 26:69; Marc. 14:66 e Luc. 22:55).

A páscoa era comemorada rigorosamente a 14 de nisan, com a imolação docordeiro, enquanto a "festa dos ázimos" durava uma semana, durante a qual sópoderiam comer-se pães sem fermento e alimentos sem sal nem azeite, (cfr. Êx. 12:1-20 e 39).

A resolução era consumar-se o sacrifício às ocultas, e não durante a festa, a fim denão provocar tumulto entre o povo. Mas os desígnios espirituais nem sempre coincidemcom as intenções humanas.

Dada toda a parte teórica da lição, já está soando o momento de chegar-se à parteprática, vivendo-se tudo o que foi ensinado. Isso é anunciado com palavras bastantesclaras para todos.

A partir deste ponto da permanência de Jesus na Terra, em carne, torna-se decristalina evidência que todas as ocorrências e palavras assumem característicadúplice:

A) a parte externa, exotérica, para os profanos, que só percebem os fatos físicos,os gestos, as atitudes, os diálogos, numa palavra, o que ocorre com a personagem;

B) a parte interna, esotérica, que é representada simbolicamente pelas ocorrênciasexteriores, mas que se realiza em outro plano, em outra dimensão, relacionando-secom a individualidade, e que constitui em última análise, a verdadeira lição a aprender.

Jesus terminou "todos esses ensinos" teóricos (pántas tous lógous toútous) e faz arevelação que a exemplificação prática está para começar dentro de dois dias, duranteos quais será feita toda a preparação mística indispensável. Tratava-se da "passagem"de um grau iniciático a outro, a "travessia" da "porta estreita". Realmente, era esse osignificado atribuído à palavra "páscoa" por aqueles que "entendiam" do assunto. Tantoassim que a "páscoa" era chamada por Flávio Josefo (Ant. Jud. 2.14.6) hyperbasía, istoé, "passagem"; por Filon (1,174 e II, 292) era dita diabatêria, "travessia"; por GregorioNazianzeno (Patrol. Graeca, vol. 37 col. 213) heortê diabatêrios, "festa da travessia".

Para essa "travessia" o Filho do Homem "tinha que ser entregue (paradídotai) paraser crucificado (staurôthênai)".

Aqui começamos a tomar contato com os primeiros passos da grande cena que sedesenrolará (à imitação dos dramas sacros de Elêusis) em solene cerimônia iniciática,com a participação integral de todos os elementos indispensáveis a essa realizaçãosuprema.

Era o "sacerdote da Ordem de Melquisedec" que ia submeter-se ao sacrifíciomáximo para - se conseguisse vencê-lo vencendo-se - atingir o grau de "SumoSacerdote" da mesma Ordem, ou seja, o grau de Hierofante ou de "Rei" (1).

(1) Não é sem razão que o catolicismo considera Jesus "Rei": trata-se do graumáximo das Escolas Iniciáticas, inclusive da que Ele criou.

Para o ato, reuniu-se o alto poder espiritual de seu povo, o povo de Israel, nacidade-santa Jerusalém.

Embora as personagens que o compunham nem sequer desconfiassem do papelque estavam desempenhando na economia planetária pois só "viam dos tetos parabaixo" e só consideravam os corpos físicos visíveis - não obstante a Lei utiliza ascriaturas para execução de seus fins, mesmo sem nada revelar-lhes: os homens sãomarionetes pretensiosas que julgam agir de acordo com suas convicções inabaláveis esua plena liberdade de escolha ...

Sacerdotes, anciãos e escribas (o Sinédrio) RESOLVEM matá-lo, mas desejamfazê-lo às ocultas, sem que o povo perceba, a fim de evitar tumultos e possíveisrepresálias. Pretendem, pois, executá-lo DEPOIS da festa da páscoa. Mas os desígniosdos Espíritos Superiores são outros: há de ser exatamente na celebração solene daPASSAGEM ("páscoa"). E o meio de consegui-lo será posto em realização, conformepredições proféticas anteriores.

Vê-lo-emos a seguir.

A UNÇÃO EM BELÉM (BETÂNIA) Mat. 26:6-13 Mc 14:3-9 Jo 12:1-8

6. Estando, pois, Jesus em Betânia, em casa de Simão o leproso,

7. Aproximou-se dele uma mulher que tinha um (vaso de) alabastro de perfumecaríssimo e derramou por cima da cabeça dele, reclinado (à mesa).

8. Vendo isso, os discípulos aborreceram-se, dizendo: Para que esse desperdício?

9. “Pois podia isto ser vendido por muito e ser dado aos mendigos".

10. Sabendo-o, Jesus disse: Por que causais dissabor à mulher? pois realizou belaação para mim,

11. já que sempre tendes mendigos entre vós, mas a mim nem sempre tendes.

12. Lançando este perfume sobre meu corpo, ela fê-lo para preparar osepultamento.

13. “Em verdade vos digo: onde quer que seja pregada esta boa-nova, em todo omundo, será dito o que ela fez, para memória dela".

Marc. 14:3-9

3. Estando ele em Betânia, na casa de Simão o leproso, reclinado (à mesa), veiouma mulher trazendo um (vaso de) alabastro de perfume caríssimo de nardo autêntico;e quebrando o alabastro, derramou-o na cabeça dele.

4. Alguns estavam indignados, dizendo entre si: Para que se fez esse desperdíciode perfume?

5. “Pois podia esse perfume ser vendido por mais de trezentos denários e dado aosmendigos". E murmuravam contra ela.

6. Mas Jesus disse: Deixai-a; por que lhe causais dissabor? Bela ação realizou emmim,

7. pois sempre tendes mendigos entre vós, e todas as vezes que quiserdes, podeisbeneficiá-los; mas a mim nem sempre tendes.

8. Ela fez o que pode: ungiu por antecipação meu corpo para o sepultamento.

9. “Em verdade vos digo, onde quer que seja pregada esta boa-nova, em todo omundo, também o que ela fez será falado, para memória dela".

João, 12:1-8

1. Então, seis dias antes da páscoa, Jesus veio a Betânia, onde estava Lázaro, omorto que Jesus despertou dos mortos.

2. Fizeram-lhe, pois, uma ceia lá, e Marta servia, e Lázaro era um dos que sereclinavam (à mesa) junto com ele.

3. Então Maria, tomando uma libra de perfume de nardo autêntico caríssimo, ungiuos pés de Jesus e enxugou com os cabelos dela os pés dele. A casa ficou cheia doodor do perfume.

4. Disse Judas, o Iscariotes, um dos discípulos dele, o que iria entregá-lo:

5. "Por que esse perfume não foi vendido por trezentos denários e dado aosmendigos"?

6. (Disse isso, não porque se importasse com os pobres, mas porque era ladrão e,tendo a caixinha, levava o que (nela) se punha.

7. Disse então Jesus: Deixa-a, para que o conserve para o dia de meusepultamento,

8. pois os pobres sempre tendes entre vós, mas a mim nem sempre tendes".

Por João, sabemos que SEIS DIAS antes da festa da Páscoa, ou seja, sábado, dia1 de abril do ano 31, Jesus estava em Betânia, na casa de Simão, o leproso, tomandoparte numa ceia.

Quem era esse Simão? Supõem alguns que seja o mesmo Simão o fariseu queconvidou Jesus a jantar (Luc. 7:36). Mas seria muita coincidência que, na mesma casa,se repetisse a mesma cena, em duas ocasiões distintas, por duas mulheres diferentes,porque, evidentemente, o andamento do fato é totalmente diverso, e Maria de Betânianão era, positivamente, a "’pecadora". O epíteto "leproso" deve ter sido mantido comorecordação de prístina enfermidade curada por Jesus, tal como Mateus continua adenominar-se "coletor de impostos" mesmo após abandonar a profissão. Outrossugerem que Simão deve ser o pai de Lázaro, já que a família estava aí reunida: Martaservia à mesa, Lázaro estava presente e Maria urgiu-lhe o corpo. E o evangelistasublinha: "Lázaro, o morto (1) que Jesus despertou dos mortos".

Nardo:

Pode dizer-se muitas coisas da folha do nardo (Planta de cujo caule e raízes sepreparam um perfume muito caro), como principal nos perfumes. O legítimo se conhecepela leveza, pela cor ruça e pela suavidade do cheiro, agradável de sabor, masfortemente adstringente na boca.

“O preço da espiga é de cem denários por uma libra". Depois de industrializadoem perfume, o nardo devia custar três ou quatro vezes mais. No entanto, o mesmonaturalista avisa, logo adiante, que há falsificação do nardo: é o nardo sírio, o gaulês, océltico e o cretense, cujo valor é muito menor. O perfume era embalado em pequenasânforas de alabastro ou de ônix, artísticas, com gargalo fino e comprido, de muitaelegância.

Uma contradição forte, porém, deparamos. Mateus e Marcos asseveram que operfume foi derramado na cabeça, enquanto João diz que o foi nos pés, que Mariaenxugou com os cabelos dela. Como explicar o fato, já que João estava presente àceia, que descreve com pormenores silenciados pelos outros?

Terá havido confusão com a cena da "pecadora" (Luc. 7:39)? Pela distância entreos episódios e a época em que João escreveu seu Evangelho (cerca de meio séculodepois), pode realmente admitir-se uma confusão ou lapso de memória. Os outros doisevangelistas escreveram a menos distância no tempo. (Acredito que como Marcosrecebeu os informes de Pedro e Lucas de Paulo e João estava presente noacontecimento, descreveu com maior realidade. Acrescentei).

Pelas palavras de Jesus a posterióri, e por serem duas testemunhas a afirmar aunção na cabeça, aceitamos essa versão como verdadeira, embora a dúvida não possaser historicamente resolvida.

Em decorrência da quebra do precioso vaso de alabastro e do perfume queescorreu, recendendo pela casa toda, alguns dos discípulos (João limita o protesto aJudas) lamentaram o "desperdício", já que podia ter-se vendido aquela preciosidade,distribuindo o produto pelos mendigos. Trezentos denários eram o salário de umtrabalhador durante um ano!

Mas Jesus levanta Sua voz em defesa de Maria, como o fizera com a "pecadora"(Luc. 7:40). E diz que "mendigos sempre os tereis convosco". Já o testificara oDeuteronômio (15:11): "não faltarão pobres no meio do povo".

E o Mestre prossegue: "mas a mim nem sempre tereis". Era uma despedida.

Depois, vem à justificação do ato: "ela me ungiu o corpo (logo não foram apenas ospés) para o sepultamento (entaphiásmon). E a seguir a profecia: "onde quer que estaboa-nova seja difundida, no mundo inteiro, será narrado o que ela fez, em suamemória" (é o hebraico zikkârôn e o arameu dukerânâ, a comemoração de um fato oude uma pessoa). (Acredito que houve mutilação no Evangelho nesta tópico, e aquelesque estavam querendo influir na mentalidade, esqueceram de João).

Nessa defesa, Marcos registrou belíssima frase de Jesus: "Ela fez o que pode"!Mais tivesse podido, mais teria feito.

João acusa Judas, abertamente, de ladrão: carregava o dinheiro do grupo, porqueestava a seu encargo a guarda da caixinha (glôssóxomon, que exprimia primitivamenteuma caixeta, onde se guardavam as linguetas da flauta, cfr. 2.º Crôn. 24:8-10).

Unamos as frases dos três narradores: "Deixai-a. Por que lhe causais dissabor?Realizou em mim uma bela ação (érgon é a palavra específica do trabalho espiritual).Ela fez o que pode: ungiu meu corpo (temos a impressão de que o nardo escorreu dacabeça, por todo o corpo, até os pés, que então Maria enxugou com seus cabelos)preparando-o antecipadamente para o sepultamento".

Com efeito, o nardo era adstringente, da família das valerianas, e, portanto,anestésico ou analgésico.

E essa preparação foi antecipada, porque não houve tempo de ungi-lo após acrucificação. Tendo sido pregado na cruz às 15 horas, seu corpo foi retirado do madeiroantes das 18 horas, permanecendo, portanto pouco mais de duas horas na cruz. E logoa seguir, às pressas, para que não se ferisse o sábado que começava às dezoito horas,foi colocado no túmulo virgem de José de Arimatéia, sem tempo para qualquerpreparação próxima com unguentos.

A unção com nardo deu a Seu corpo uma vibração particular, fortalecendo ascélulas epidérmicas e mesmo penetrando no derma, auxiliando-o suportar as dores eferimentos que Lhe iam ser causados pelos maus tratos, flagelações e ferimentoscontuso-perfurantes que O atormentariam nos dias tristes que estavam por chegar.Nada sabemos, mas talvez essa unção com nardo autêntico é que tenha provocada, nosudário, que ainda hoje se conserva em Turim, a impressão, em negativo fotográfico,das marcas do corpo de Jesus, por inteiro.

Outra frase de Jesus, que merece atenção: "deixa-a, para que o conserve para odia de meu sepultamento".

Conservar o que? Parece que o corpo. Não pode compreender-se aí outro sentido.Havia mister que o corpo pudesse suportar tudo, resistindo a todas as feridas epancadas. Que sabemos nós das propriedades do nardo legitima? E da absorção queas células podem fazer dessa essência aromática, conservando-a em si durante setedias? De qualquer forma, o ritual é de suma beleza. E que se trata de um ritual, opróprio Jesus se encarregou de salientar, explicando a finalidade do ato de Maria.

E até hoje, dois mil anos depois, jamais falhou Sua profecia: onde quer que sepregue a Boa Nova, esse gesto de Maria é narrado para sua maior glória: tercolaborado no supremo sacrifício de Jesus, fazendo tudo o que podia para ajudá-Lo.

Permita-nos o Pai ter sabedoria suficiente para penetrar a fundo esses ensinos tãoelevados e sublimes!

OPAUPERISMO

(Enviada pelo Sr. Sabò, de Bordeaux)

Em vão os filantropos da Terra sonham com coisas que jamais verão realizar-se.

Lembrai-vos destas palavras do Cristo: “Sempre tereis pobres entre vós”, pois sabeis

que estas são palavras de verdade. Meu amigo, agora que conheceis o Espiritismo,

não achais justa e equitativa, essa desigualdade das condições, que fazia levantar

vossos corações, cheios de murmúrio contra esse Deus que não havia feito todos os

homens igualmente ricos e ditosos? Pois bem! Agora que sabeis que Deus agiu com

sabedoria em tudo quanto fez e que a pobreza é um castigo ou uma prova, buscai

amenizá-la, mas não lanceis mão de utopias para fazer os infelizes sonharem com uma

igualdade impossível. Certamente, por uma sábia organização social, é possível aliviar

muitos sofrimentos; é isto que se deve visar. Mas pretender que todos venham a

desaparecer da face da Terra é uma ideia quimérica. Sendo a Terra um lugar de

expiação, sempre haverá pobres que expiam nessa prova o abuso dos bens de que

Deus os fizera dispensadores, e que jamais experimentaram a satisfação de fazer o

bem aos seus irmãos; que entesouraram moeda por moeda para acumular riquezas

inúteis a si mesmos e aos outros; que espoliaram as viúvas e os órfãos para

enriquecer. Oh! Esses são muito culpados e seu egoísmo se voltará contra eles!

Guardai-vos, entretanto, de ver em todos os pobres culpados em punição. Se, para

alguns, a pobreza é uma expiação severa, para outros é uma provação que lhes deve

abrir mais rapidamente o santuário dos eleitos. Sim, sempre haverá pobres e ricos, a

fim de que uns tenham o mérito da resignação, e outros o da caridade e do

devotamento. Quer sejais ricos ou pobres, transitais sobre um terreno escorregadio,

que vos pode precipitar no abismo, na descida do qual só as vossas virtudes vos

podem reter.

Quando digo que haverá sempre pobres na Terra, quero dizer que enquanto

houver vícios, que dela façam um lugar de expiação para os Espíritos perversos, Deus

os enviará para nela se encarnarem, para seu próprio castigo e dos vivos. Merecei, por

vossas virtudes, que a vós Deus não envie senão Espíritos bons, e de um inferno fareis

um paraíso terrestre.

Adolfo, bispo de Argel

Revista Espírita Ano III 1861

JUDAS NEGOCIA A ENTREGA DE JESUS Mat. 26:14-16 Mc 14:10-11 Lc 23:3-6

14. Indo, então, um dos doze, o chamado Judas Iscariotes, aos principaissacerdotes,

15. disse: que quereis dar-me, e eu vo-lo entregarei; eles estabeleceram-lhe trintasiclos.

16. E desde então procurava ensejo para entregá-lo.

Marc. 14:10-11

10. E Judas Iscarioteh, um dos doze, foi aos principais sacerdotes para que oentregasse a eles.

11. Ouvindo-o, eles alegraram-se e prometeram dar-lhe dinheiro. E procuravacomo o entregaria oportunamente.

Luc. 22:3-6

3. Mas o antagonista entrou em Judas, o chamado Iscariotes, que era do númerodos doze

4. e, indo, conversou com os principais sacerdotes e oficiais, como o entregaria aeles.

5. E alegraram-se, e combinaram dar-lhe dinheiro.

6. E consentiu, e procurava ensejo de entregá-lo a eles sem multidão.

Aparece aqui à figura de Judas, "O chamado Iscariotes". Mateus e Lucas escrevemIskariótês, enquanto Marcos só grafa Iskaríoth. Os comentaristas se inclinam paraconsiderar essa uma palavra composta de ISH ("homem") e KARIOTH ("de Cariot")que é uma localidade da Judéia, já citada em Josué (Hazor-Hadada, Queriote-Hezrom-que é Hazor Js 15:25). O hebraico QERIYOT significa "desfiladeiro", embora os LXXtenham traduzido como "cidades" (hai póleis), plural do QERIY AH, correspondente aoárabe QARAIYA.

O evangelista assinala que esse Judas "era um dos doze", portanto um dosdiscípulos da Escola, a par de tudo o que ocorria, e encarregado das finanças (João,12:6).

Apresentando-se aos "principais sacerdotes", ofereceu-se para "entregá-lo"(paradôsô). Mateus afirma que Judas propôs receber dinheiro; Marcos, que ossacerdotes prometeram pagar-lhe, sem que ele o pedisse; e Lucas que os sacerdotescombinaram pagar-lhe e ele consentiu. Marcos e Lucas anotam que os sacerdotes"alegraram-se" ao ver facilitada sua tarefa.

A quantia fixada foi de trinta siclos (não "denários") que era a moeda oficial doTemplo. Já no Êxodo (22:12) fora determinado que, em caso de morte acidentalcausada a um escravo, devia o senhor ser indenizado com trinta siclos de prata. O ciclovalia 120 denários; portanto 30 siclos somavam 3.600 denários.

Em Zacarias (11:12-13) lemos: "Eu lhe disse: se vos parecer bem, dai-me a minha

paga; e se não, deixai-vos disso. Pesaram, pois, por minha paga trinta moedas deprata. YHWH disse-me: arroja-as ao oleiro, esse belo preço por que fui apreçado poreles. Tomei as moedas de prata e arrojei-as ao oleiro na Casa de YHWH".

Inegável que há, na narrativa do sucedido com Judas, uma alusão a esse trecho deZacarias, tanto mais que o simbolismo prossegue, dizendo-se que as moedas foramrestituídas e "arremessadas do santuário" (Mat. 27:3-5) e "com elas foi comprado ocampo do oleiro" (Mat. 27:9).

Entramos numa parte, sujo comentário se torna ainda mais difícil. Vemos Judas,um dos doze, entregar o Mestre e não se importar de, por esse ato, receber dinheiro.João (12:6) diz claramente que "ele era ladrão".

Como interpretar esotericamente o comportamento de Judas?

Diante das personagens humanas, Judas é o protótipo do traidor sujo edesprezível, que atraiçoa a quem o beneficiou, em troca de miseráveis moedas,arrependendo-se depois, mas muito tarde. Já foram escritos muitos volumes decomentários desse "gesto infame", e apareceram muitas teorias a respeito dessecomportamento estranho.

No entanto, temos que considerar o outro lado do fato. Jesus afirma "que melhorfora que não houvera nascido" (Mat. 26:24 e Marc. 14:21) o que não deixa decomprovar a reencarnação como veremos a seu tempo.

Essa frase pode interpretar-se como terrível condenação da personagem. Tambémpodemos olhá-la como lamentação a respeito do tremendo choque de retorno que essapersonagem receberia, por ainda não achar-se à altura de perceber toda a magnitudecósmica de seu gesto e se desesperaria.

Interpretação - Judas

TRINTA é um número que aparece com frequência nas Escrituras judaicas, não sóporque constitui o limite de idade para início da vida pública (cfr. Gên. 41:46; Núm. 4:3,

35; 2.º Sam. 5:4; 1.º Crôn. 23:3; Luc. 3:23), como também na medida do mês (Núm.20:30; Judit, 3:15 e 15:13; Dan. 6:7,12) sendo uma das medidas da arca (Gên. 6:15) ede outras construções (1.º Reis, 7:2, Judit, 1:2) além de outros testemunhos.

Temos, nesse número, o símbolo de haver-se completado o desenvolvimento dapersonagem encarnada, ou seja, a multiplicação do TRÊS (que representa o Filho) peloDEZ (que é o ciclo terminado). (O Dez significa desunião, separação. Se contarmos 10x 3 negações de Pedro, vamos ter o trinta, que é a traição, e aquele que a recebe comperdão, representa superação. Acrescentei).

Neste caso temos, no TRINTA, o símbolo de que havia sido completado o ciclo daexistência da personagem encarnada de Jesus. Tanto assim que a tradição diz queviveu 33 anos, isto é, 30 mais os três da perfeição. Na realidade, já vimos que deve terpermanecido, nessa vida exotérica, cerca de 37 anos ou 38 anos.

Ademais, Judas, em todas as listas de Emissários, sempre foi colocado em 12.ºlugar (cfr. Mat. 10:2-4; Marc. 3:16-19; Luc. 6:14-16; At. 1:13). Ora, o arcano 12corresponde, no alfabeto hebraico, à letra lamech, cujo valor numérico é precisamente30.

Outras observações nesse setor: na correspondência dos doze emissários com asdoze tribos de Israel, Judas é comparado a DAN (1).

(1) Segundo Sábado Dinotos ("Dicionário Hebraico-Português", H. Koersen, 1962,pág. XXIII) a tribo de Dan povoou a Grécia ("danai") e o norte da Europa,permanecendo de seu nome um resquício em "DANemark", em DANúbio, etc.

De DAN, rezava a tradição talmúdica, surgiria o antimessias; e lemos no Gênesis(49:17) "Dan será uma serpente no caminho, uma víbora na Senda, que morde oscalcanhares ao cavalo, de modo que caia para trás seu cavaleiro"; interessanteobservar que, no Apocalipse (7:5-8), são enumeradas as doze tribos de Israel, mas ade Dan é substituída por Manassés, filho de José (do Egito). Da mesma forma Judasdesaparecerá da relação dos doze Emissários, sendo substituído por Matias (At. 1:26).O escorpião desaparecera, tendo-se tornado "águia".

OS PREPARATIVOS PARA A PÁSCOA Mat. 26:17-19 Mc 14:12-16 Lc 22:7-13

17. No primeiro dia dos ázimos, vieram os discípulos a Jesus, dizendo: ondequeres que te preparemos para comeres a Páscoa?

18. Ele disse: "Ide à cidade, a um tal, e dizei-lhe: o Mestre diz: está próximo meutempo; em tua casa farei a Páscoa com meus discípulos".

19. E os discípulos fizeram como lhes ordenara Jesus e prepararam a Páscoa.

Marc. 14:12-16

12. E no primeiro dia dos ázimos, quando sacrificavam a Páscoa, disseram-lheseus discípulos: onde queres que vamos preparar-te para que comas a Páscoa?

13. E enviou dois de seus discípulos e disse-lhes: Ide à cidade, e virá a vós umhomem carregando um cântaro de água; acompanhai-o;

14. e onde entrar, dizei ao dono da casa que o Mestre diz: Onde é meu aposento,em que comerei a Páscoa com meus discípulos?

15.” Ele vos mostrará um sobrado grande, mobiliado, pronto; e ai preparai-nos".

16. E saindo os discípulos e chegando à cidade, e encontrando como lhes dissera,prepararam a Páscoa.

Luc. 22:7-13

7. Veio, pois, o dia dos ázimos em que devia sacrificar a Páscoa.

8. E enviou Pedro e João, dizendo: "Indo, preparai-nos a Páscoa para comermos".

9. Eles disseram-lhe: Onde queres que (a) preparemos?

10. Disse-lhes ele: Eis que, indo vós à cidade, virá a vós um homem carregandoum cântaro de água; acompanhai-o até a casa em que entrar;

11. e direis ao dono da casa: O Mestre te diz: Onde é o aposento em que comereia Páscoa com meus discípulos?

12. “E ele vos mostrará um sobrado grande, mobiliado; ai preparai".

13. Indo, pois, encontraram como lhes dissera, e prepararam a Páscoa.

Anotam os narradores que "era o primeiro dia dos ázimos". Pelo que sabemos deFlávio Josefo (Ant. Jud. 2, 15, 1) a festa durava oito dias cheios, pois no dia daimolação do cordeiro, 14 de nisan, não devia encontrar-se na casa nenhum alimentofermentado, nenhum condimentado com sal, nenhum temperado com azeite. Paraevitar descuidos, desde a véspera, 13 de nisan, os donos da casa percorriam-na emtodos os recantos, catando qualquer migalha de fermento, para que fosse queimado atempo.

Era, assim, denominado "primeiro dia dos ázimos" o dia 13. No entanto, tambémera permitida uma antecipação da imolação do cordeiro.

PÁSCOA

A imolação do cordeiro pascal, seu cozimento e sua consumação eram realizadosao pôr do sol do dia 14 de nisan, e a FESTA DA PÁSCOA, propriamente, eracomemorada no dia 15. Ora, sabemos que Jesus foi crucificado "no dia em que deviacomer-se o cordeiro", isto é a 14 de nisan.

Então, forçosamente, o cordeiro foi imolado e comido, por Ele e por seusdiscípulos, no dia 13 (o primeiro dia dos ázimos). Essa antecipação podia realizar-se:

1.º - Quer porque o próprio Jesus tenha resolvido fazê-lo, para seguir a grandemassa popular, que recuava de um dia a imolação, quando o dia 15 caía num sábado,para que não violassem os preceitos do repouso depois das 18 horas da sexta-feira.Isso apesar de a Michna estabelecer: "a páscoa é superior ao sábado", não havendonecessidade dessa antecipação (cfr. Mechitta, 5, 1 e Gem. Pesachim 33, 1 e 66, 1).

2.º - Quer porque o Sinédrio, levado pela opinião dos sacerdotes da Casa deBoethus, que tinham grande influência, tivessem recuado oficialmente a cerimônia,para não ferir o repouso sabático.

Com esses dados, podemos estabelecer a data da crucificação de Jesus, já quesabemos que foi crucificado numa "sexta-feira 14 de nisan": com efeito, durante aprocuradoria de Pilatos na Palestina, só três vezes o 14 de nisan coincidiu com a sexta-feira: no ano 27 (a 11 de abril); no ano 30 (a 7 de abril ) e no ano 33 (a 3 de abril).Alguns autores, opinam que prôtos, "primeiro" dia dos ázimos, deveria ler-se pro, isto é"na véspera" do dia dos ázimos (1).

(1) Pelos dados mais recentemente descobertos, devemos trazer um acréscimo àcronologia, pois a crucificação só teria podido dar-se no ano 30 (dia 7 de abril), quandoentão teríamos que recuar de 28 para 27 o mergulho de João. Chgamos à conclusãode que o mergulho realizou-se no ano 29. Tendo Jesus nascido a 7 A.C., e tendocompletado seu primeiro ano de vida no ano 6 A.C., no ano 29 teria "cerca de 30 anos",ou mais precisamente 34 anos. Nesse passo, a crucificação não poderia ter ocorrido noano 30, em vista das numerosas atividades relatadas nos Evangelhos. Temos,portanto, que adiar para o ano 33 (dia 3 de abril) a crucificação. Ai, então,compreendemos o porquê da tradição unânime que vem de longa data, de que Jesus"morreu aos 33 anos". Deve-se ao erro do diácono Dionísio o Pequeno, queestabeleceu o nascimento no ano 1 de nossa era, pois se fixara no dito de Lucas (3:23)

de que Jesus tinha "cerca de 30 anos", e de que sua crucificação ocorrera no ano 33.

Contudo, tendo Jesus nascido a 7 A.C. ou seja, o ano 747 da fundação de Roma,sua crucificação ocorreu no ano 33 (785 de Roma), quando contava, quase, 38 anos,ou seja estava no 37.º ano de sua vida, embora não tivesse completado os 38.

Os discípulos tomam a iniciativa de perguntar ao Mestre onde quer que sejapreparada a Páscoa. Jesus encarrega Pedro e João de irem à cidade - o que denotaque estavam fora de Jerusalém - e lá prevê o que está para acontecer: ao entrar(logicamente pela Porta de Siloé, onde se localizava a Fonte) encontrariam um homema carregar água.

Observemos a originalidade: àquela época eram só as mulheres (escravas ou, nasfamílias pobres, as donas da casa) que exerciam esse mister: um homem, mesmoservo, a fazê-lo, constituía uma exceção.

Ao encontrá-lo, deviam segui-lo para ver aonde se dirigia e onde entrava: com isso,localizariam a casa de "um tal" (pròs tòn deína), maneira de evitar a citação nominal porparte dos narradores. As suposições foram várias ao longo dos séculos: era a casa deNicodemos, a de José de Arimatéia ou de qualquer outra personagem importante cujonome não devia ser citado para evitar perseguições, ou mesmo do pai de Marcos, queera casado com Maria, a irmã de Pedro, e que morava em Jerusalém (cfr. At. 12:12,17). Mas é inútil querer adivinhar! Ao encontrar o dono da casa, diriam: "o Mestrepergunta: onde é o meu aposento (tò katályma mou) para comer a páscoa com meusdiscípulos"? E Mateus acrescenta: "comerei a páscoa em tua casa" (pròs se,equivalente a parà soi, que o francês traduz otimamente: chez toi). A expressão tòkatályma designava o aposento de hóspedes (cfr. 1.º Reis, 1:5 e Ecli. 14:25). Tudo issodemonstra que havia realmente intimidade grande e confiança absoluta de parteaparte.

O anfitrião mostraria um "sobrado grande" (anágaion méga), o que revela casagrande de pessoas ricas.

Anotemos que essa palavra anágaion é um hápax neotestamentário, pois o termocomum para expressar o sobrado era hyperôon ("o andar de cima"). Ocupava,geralmente, todo o pavimento superior, abarcando todos os cômodos do térreo, e semantinha normalmente mobiliado com tapetes, almofadas e divãs, para condignamentereceber os hóspedes, permitindo-lhes comer e dormir.

Jesus regressa a Betânia com os discípulos, deixando Pedro e João encarregadosdos preparativos, naturalmente auxiliados pelos escravos e empregados da casa.

A refeição da ceia pascal consistia em pão sem fermento, em salsa ritual(haroseth), em chicórias amargas (merôrim), tudo cozido sem sal nem azeite (cfr. Êx.12:8 e Núm. 9:11).

Eis a primeira preparação para o início do Drama Sacro para a emancipação dohomem.

Aparece um sinal (sêmeion) que é mostrado (deíknymi) com clareza tão grande eevidência tão brilhante, que admira não ter sido comentado em todos os tons duranteesses quase dois mil anos, um sinal que anuncia a possibilidade e a época em que sepromoverá a libertação ou redenção para a humanidade terrena.

Hão de ocorrer todas as modificações preditas nos capítulos que anteriormentecomentamos - E "toda esta geração estará presente para vê-lo" – mas só se dará inícioà passagem (páscoa) no signo de AQUÁRIO: sim, encontrarão um homem a carregarum cântaro de água.

Isso representa, desde a mais remota antiguidade, o signo de aquário, que figurano zodíaco egípcio de Denderah com duas ânforas. Todas as tradições orientaisrelacionam esse arquétipo com o final de um ciclo que traz em si o germe de novoprincípio (ouróboros). Aquário é o princípio da dissolução e decomposição das formas,e da imediata proximidade da libertação, por meio da destruição do que é meramentefenomênico.

Mas o signo do aquário constitui simplesmente o sinal (sêmeion) reconhecedor daépoca. A realidade do ágape místico virá ao encontrarmos o" dono da casa"(oikodêspótês), que simboliza o Eu profundo, a Individualidade, que já mantém"mobiliado" o aposento de cada um. Notemos, de fato, que Jesus pergunta pelo "”MEUaposento", e embora não seja abertamente revelado, esse aposento está no "sobradoalto", no "primeiro andar" (anágaion).

O termo exprime literalmente "acima" (aná) "a terra" (gáios, de gês). Não é na partematerial, onde encontramos o aposento secreto do encontro e da passagem, aquele"aposento" (tameíon) onde já devemos estar habituados a "entrar e, fechada a porta,orar em secreto" (Mat. 6:6): é "acima da terra” (anágaion), acima do nível material.

Essa a razão por que Marcos e Lucas não usaram o termo vulgar e comumhyperôo, que exprimia o andar de cima reservado primitivamente às mulheres e, maistarde, aos escravos. Com uma palavra nova, altamente significativa, quiseram chamara atenção dos discípulos para o sentido oculto. E criaram o novo termo, dantesinexistente na língua grega. Por aí ficamos sabendo que as figurações alegóricas quese passam na terra (en tês gês), representadas na matéria densa, constituem mero epálido reflexo sombrio da realidade vivida "acima da terra".

Onde? Dizem alguns autores que a ação primordial foi realizada no plano astral.Outros admitem que o fosse mesmo ao físico denso, e que a humanidade e o planetaconseguiram deter sua descida evolutiva que já se avizinhava da destruição total da"alma" e iniciar o caminho do regresso, quando o sangue de Jesus (seu duplo etérico)penetrou na terra, infundindo-lhe novas energias divinas.

Quanto a nós - salvo erro - pensamos que a REALIDADE foi integralmente vividano plano espiritual-mental, enquanto o reflexo se fazia sentir no plano astral e,secundariamente, em repercussão inevitável, no plano físico, único testemunhadopelos discípulos diretos.

Exatamente por isso, aqueles que tinham capacidade e poder espiritual paraacompanhar o Grande Drama Místico no plano mental - ou plano REAL e ESSENCIAL- não tiveram necessidade de comparecer ao espelhismo do ocorrido no plano físico.Referimo-nos à ausência, que tanta estranheza causa, em todo o sacrifício do Gólgota,dos três grandes amigos íntimos de Jesus: Lázaro, Marta e Maria.

Deles não mais se fala na história do cristianismo de então. Não são citados noslivros escriturísticos, nem nos apócrifos, nem mesmo figuram nas tradições orais:desapareceram totalmente, como se jamais tivessem tido ligação com o Mestre. Nempor isso deduziremos que renegaram o Amigo: apenas O seguiram por outroscaminhos, em outros planos.

A tradição fala-nos de Maria Madalena, mas não da Maria de Betânia. Interessantefocalizar resumidamente o que se disse no passado das três Marias: a pecadora, aMadalena e a irmã de Marta.

(Eu coloco assim: A pecadora, aquela que foi pega em adultério. Acrescentei).

* * *

Principais Festas

Mateus 26:17

E, no primeiro dia dos pães ázimos, quando sacrificavam a páscoa, disseram-lheos discípulos: Aonde queres que vamos fazer os preparativos para comer a páscoa?

E enviou dois dos seus discípulos, e disse-lhes: Ide à cidade, e um homem, queleva um cântaro de água, vos encontrará; segui-o.

E, onde quer que entre, dizei ao senhor da casa: O Mestre diz: Onde está oaposento em que hei de comer a páscoa com os meus discípulos?

E ele vos mostrará um grande cenáculo mobilhado e preparado; preparai-a ali.

E, saindo os seus discípulos, foram à cidade, e acharam como lhes tinha dito, eprepararam a páscoa. E, chegada à tarde, foi com os doze.

A Pascoa ou Pêssach:

Antes da saída do cativeiro do Egito, Moisés recebe instruções para a realizaçãoda Páscoa, “Porque naquela noite vou passar pela terra do Egito e vou matar todos osfilhos mais velhos - tanto de homens como de animais”. Ex. 12:12 e “Este mês passa aser o mais importante para Israel. Será o primeiro mês do ano, no calendário hebraico.Ex. 12:2.

(As festas já estão em outros locais. O Haroldo Dutra dias, após o Levítico, vaifazer estudo mais aprofundado sobre elas. Mantenho as informações do autor abaixo.Acrescentei em set/2014).

Esse dia será lembrado através da história de Israel a cada ano. E será comemoradocom festa solene dedicada ao Senhor. Essa comemoração é Lei permanente, para sercumprida por todas as gerações israelitas. Ex. 12:14

É importante notar que Pessach significa a passagem, porém a passagem do anjo

da morte, e não a passagem dos hebreus pelo Mar Vermelho ou outra passagemqualquer, apesar do nome evocar vários simbolismos. (Passar a casa que estáidentificada com o sinal do sangue marcada nos batentes das portas dos Hebreus,pois, como viviam na mesma cidade, tanto os hebreus como os egípcios, era um sinalde identificação para que o “anjo da morte” pulasse a casa do hebreu e atingisse aegípcia. Acrescentei informações colhidas do Haroldo).

Instruções para a Celebração da Pascoa:

Um Cordeiro ou cabrito sem defeito físico para cada família. Se a família forpequena, junte-se a outra. O animal será guardado até dia 14 do mês e no fim da tarde,deverá ser morto e “E o seu sangue será colocado no alto e nos lados das portas dascasas onde comerem desses animais sacrificados”.

Terão de comer a carne assada no fogo, pães sem fermento, e verdura amarga. 9Que ninguém coma nada cru, nem cozido em água. Tanto a cabeça, como as pernas eos miúdos, terão de ser assados no fogo. 10 Comam tudo o que puderem durante anoite. O que sobrar na manhã seguinte, terá de ser queimado. (Ex 12:8-10)

Vestimenta:

11 Agora, atenção! Vejam de que jeito deverão estar enquanto comerem:vestidos, calçados e com o cajado na mão! E comam depressa! Assim vai ser,porque é a páscoa do Senhor. Ex. 12:11

Sinal do Sangue:

O sangue vai servir de sinal nas casas em que vocês estiverem. Quando Euenxergar sangue nas portas, passarei por alto, sem ferir ninguém ali. Assim, a pragade destruição com a qual vou ferir o Egito, não atingirá vocês. Ex. 12:13, "Peguem umfeixe de ramos de hissopo*. Molhem o hissopo no sangue que estiver na bacia usadapara sangrar o animal. Façam umas marcas com o sangue no alto e nos lados da

porta. E que ninguém saia de casa até o dia seguinte! "Porque o Senhor vai passarpara atacar os egípcios. Mas quando encontrar sangue no alto e nos dois lados daporta, o Senhor passará adiante, e não deixará o destruidor entrar nas suas casas.Assim vocês não serão atingidos.

Ex. 12:22-23

· Hissopo: Planta que, na, PURIFICAÇÃO, era usada para borrifar líquidos. Êx12.22; (pronuncia-se hissôpo).

Preparação:

Durante uma semana, comerão pães sem fermenta para lembrar que nesse diaEu tirei todo o povo de Israel do Egito

Quando os hebreus saíram do Egito, logo chegando eles no deserto o Eterno dá aMoisés a Arão, seu irmão, instruções precisas para que aquele povo continue sabendoque só Jeová é Deus. Assim o Eterno Deus de Israel estabelece entre todas as outrasinstruções três festas solenes, nas quais todo o povo deveria participar, e eram elas, asaber, em ordem cronológica: A Festa da Páscoa, a Festa das Primícias e a Festados Tabernáculos (Ex 23, Lv 23, Dt 16). Sobre elas vejamos alguma coisa importantepara o contexto dessa mensagem.

Em Memória:

Portanto, tratem de comemorar isto para sempre, como uma Lei permanente paravocês e para os seus descendentes. E quando estiverem morando na terra que oSenhor vai dar a vocês, como prometeu, continuem fazendo essa comemoração.Quando os seus filhos perguntarem: Que comemoração é esta? respondam: É osacrifício da páscoa do Senhor. Isto faz lembrar que o Senhor passou por cima dascasas dos israelitas no Egito. Foi quando Ele fez destruição nas casas dos egípcios,mas não tocou nas casas do nosso povo. Ex.12-24-27

Você recordará que quando saiu do Egito foi com tanta pressa que não houvetempo para esperar a massa do pão subir, por efeito do fermento. Deuteronômio

16:3

Em Deuteronômio a comemoração da Pascoa não é mais em casa, pois já tinhamsaído do Egito, e o sacrifício da Páscoa não pode, também, ser feito em casa - emnenhuma das cidades de Israel. Só pode ser feito no lugar que o Senhor nossoDeus tiver escolhido para santuário. E isto por ocasião do aniversário da saída doEgito, ao pôr-do-sol. 16:5-6

Definição:

Páscoa: Festa em que os israelitas comemoram a libertação dos seusantepassados da escravidão no Egito (Êx 12.1-20; Mc 14.12). Cai no dia 14 de NISÃ(ou Abibe - meados de março a meados de abril, mais ou menos 1 de abril). Emhebraico o nome dessa festa é Pêssach. A FESTA DOS PÃES ASMOS era umprolongamento da Páscoa (Dt 16.1-8).

A FESTA DAS PRIMÍCIAS OU PENTECOSTES – 50º dia

Primícias: Os primeiros resultados da colheita (Êx 23.19). Figuradamente: oprimeiro presente que Deus dá aos fiéis (Rm 8.23); o primeiro a crer (Rm 16.5); oprimeiro na ressurreição da vida (1Co 15.23); o primeiro lugar entre as criaturas (Tg1.18); os primeiros a serem apresentados a Deus (Ap 14.4).

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FESTA DAS PRIMÍCIAS ou PENTECOSTES (Nm 28.26): A palavra pentecostes égrega e quer dizer “quinquagésimo (dia)”, pois essa festa era comemorada cinquentadias depois da PÁSCOA

O termo primícias no Tanash ou Antigo Testamento era usado para descrever osprimeiros, quer sejam, dos frutos do campo, quer sejam dos rebanhos, que eramoferecidos em gratidão a Deus conforme vemos em (Dt 18.4; 26.2; Nm 10.35-37;28:26). Esta festa chamada de Festa das Primícias representava o início do plantio. Eembora fosse uma ocasião verdadeiramente importante, a festa deveria ser observada

somente em um único dia, pois era necessário que do céu viesse às primeiraschuvas para preparar a terra para receber a semente. A festa era comemorada 50dias após a Festa da Páscoa.

Este dia era o Pentecostes (que significa quinquagésimo dia) dos judeus que eraa comemoração da entrega da Lei no Sinai, bem como sinalizava para as bênçãosde Deus sobre a nação. Israel se reunia em assembleia solene neste período paracomemorar a paz e a prosperidade do Senhor. Neste período eram oferecidos osmelhores produtos do campo e do rebanho como expressão de agradecimento aoEterno Deus verdadeiro (Números 28:26).

Neste dia de descanso, se apresentavam comidas especiais e uma oferta de duaspeças de pão ao Senhor no Tabernáculo, significando com isso que o pão de cada diaera proporcionado pela graça e benevolência do Senhor (Lv 23.15-20). Nesta alegreocasião, simbolicamente a festa das Primícias apontava para a outorga doEspírito Santo a Igreja, o que de fato exatamente ocorreu neste dia festivoconforme (At 2:1). O apóstolo Paulo chamou o Espírito Santo de "primícias" (Rm8.23).

• TABERNÁCULOS

Tabernáculos: Grande barraca na qual eram realizados os atos de adoraçãodurante o tempo em que os israelitas andaram pelo deserto, depois da sua saída doEgito (Êx 25—27). O tabernáculo continuou a ser usado até que o TEMPLO foiconstruído, no tempo do rei Salomão.

FESTA DOS TABERNÁCULOS

Festa dos israelitas para lembrar o tempo em que os seus antepassados haviammorado em barracas na viagem pelo deserto, do Egito à TERRA PROMETIDA (Lv23.33-36). Começava no dia 15 do mês de ETANIM* e durava uma semana (mais oumenos a primeira semana de outubro).

· Sucot: [Tendas] 1) Lugar que ficava a leste do Jordão e onde Jacó levantouTENDAS (Gn 33.17; Js 13.27; Jz 8.5-16). 2) Primeiro acampamento do ÊXODO (Êx

12.37).

· Etanim: etanim ou tisri. 1Rs 8.2, setembro-outubro

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Sucot em hebraico, ou Festa das Tendas, Festa dos Tabernáculos, é umafesta judaica celebrada no dia 15 do mês de Tishrei, mês sétimo. A palavra emhebraico Sucot é o plural da “sucá", estande; tenda. A Festa Santa dura sete dias. Asucá é concebida como uma reminiscência do tipo de habitações frágeis em que osantigos israelitas habitaram durante seus 40 anos de peregrinação no deserto após edurante o Êxodo. Nos dias de Jesus eles deveriam construir tendas com ramos ao ladoou em cima de suas casas e habitar nestas “sucá” para lembrar os dias deperegrinação.

Esta festa coincidia justamente com o final das colheitas que era guardada emceleiros, após a colheita ninguém mais trabalhava e durante estes dias nada maisdeveriam fazer a não ser adorar o Eterno Deus, pela providência da vida no deserto,que com mãos fortes sustentou seu povo e os guardou da fome. A festa também éestatuto perpétuo por todas as gerações, como podemos comprovar através da palavradivina. É uma festa de grande alegria para o povo. É um tempo para celebrar diante deDeus por todas as bênçãos recebidas e pelos frutos colhidos.

Nos dias de Jesus, no último dia da festa ocorria um ajuntamento do povo que secolocava diante do altar onde o sacerdote com um vaso cheio de água do tanque deSiloé (enviado) e derramava atrás do altar iniciando um grande regozijo entre o povo.

POR QUE NA FESTA DA PÁSCOA?

Jesus não escolheu a festa das Primícias ou a Festa dos Tabernáculos paramarcar o fim de seu ministério, mas, sim justamente a Festa da Páscoa para nos deixaralgo que não sairia de nossas mentes e corações e também não fugiria ao costume dosjudeus. Jesus poderia sim escolher a Festa das Primícias e instituir uma festa queficasse marcada para sempre, para que todos soubessem que Ele é a chuva serôdia(Que vem tarde. Pv 16.15 ACF 2007), que desce do céu no início do plantio, pois Eleveio plantar uma igreja que não tem mancha, Ele veio plantar uma semente que lhedesse uma colheita de muitas almas.

Jesus também poderia ter escolhido a Festa dos Tabernáculos para marcar sua

despedida e deixar outro ensinamento para todas as gerações vindouras, e talvez hojeestivéssemos festejando o sacrifício de Jesus lembrando os dias terríveis que vivemosno cativeiro do pecado, ou agradecendo o final da colheita de bênçãos.

Mas Jesus escolheu a Festa da Páscoa para deixar escrito que ainda nãoterminou o que veio fazer, e que ao celebrarmos a Ceia do Senhor da maneira que Ele,Jesus nos ensinou estaríamos proclamando que Ele vai voltar para terminar o queainda não foi terminado, não por que Ele não pode ou foi impedido, mas sim por queEle decidiu para que outros se salvassem. Sim! Jesus escolheu a Festa da Páscoa ehoje eu sei o porquê de tudo e sei que outras coisas mais me serão reveladas. Maspara entendermos o que foi que Jesus fez, vejamos como tudo começou como o Eternoordenou que fosse e nos dias de Jesus como era feito, como a Páscoa era realizada.

A INSTITUIÇÃO DA PÁSCOA

Esta instituição está narrada no livro do Êxodo Cap.12, e tudo deveriam ser feito deacordo com as palavras de Deus para que não sofressem juntos com os Egípcios.“Disse o Senhor a Moisés e a Arão na terra do Egito...” (Êxodo, 12:01). No dia 10 domês de Abibe, o povo deveria escolher um cordeiro macho para cada família. Ocordeiro seria sem defeito e sem mancha e de um ano de idade, e deveriam guardá-loaté o décimo quarto dia, e duas pessoas de cada família deveriam imolar o cordeiro nocrepúsculo da tarde, ou seja, antes do pôr do sol. Eles deveriam assar o animal ecomê-lo, e o que sobrar deveria ser queimado no fogo, também deveriam tomar osangue do animal e aspergir nos umbrais da porta de cada casa, e na noite da saída,eles deveriam comer pães azimos e ervas amarga. Os pães sem fermento representama pressa que deveriam ter na saída do Egito, o fermento representa a podridão quehavia no Egito, e as ervas amargas para não se esquecerem da amargura ehumilhação da escravidão. Assim foi feito, pois Deus matou os primogênitos de tudoque havia no dentro da terra do Egito.

Durante muito tempo, desde a saída do primeiro cativeiro, assim foi feito pelo povo.Mais tarde veio o segundo cativeiro, a Babilônia. Passado cerca de 70 anos o povovolta junto com Esdras e Neemias, para reconstruírem tudo que foi destruído, eAlgumas coisas mudaram (Eliasibe, o sumo sacerdote, com os seus irmãos, ossacerdotes, e reedificaram a porta das ovelhas. Ne 3:1. Lembrado que Jesus afirmou:Eu sou a porta das ovelhas. Jo 10:7. Foi a primeira porta a ser reedificada e a menordelas). O mês de Abibe passa a se chamar Nisã, e um líquido salgado foi acrescentado

na cerimônia Judaica, como sendo as lágrimas derramadas pelo povo por estarem emterra estranha.

Mas como outrora já havia sido profetizado pelo profeta Isaías, viria o Messias, oSalvador de Israel que tiraria de cima dos lombos do povo, todo o sofrimento ehumilhação. Agora a Páscoa que ainda continuava a ser comemorada na mesma datatinha um sentido de também não deixar que eles se esquecessem do sofrimento nababilônia. Mas outro tempo vem e o profeta Malaquias, no cap. 4 envia mais umaprofecia dizendo que antes que viesse o Messias viria o profeta Elias, mas ele estavafalando o dia da segunda vinda do Messias, que virá em glória, mas os Judeus aindaesperam o seu messias, e Israel só será completamente restaurada quandoreconhecerem que o Messias já veio, e o seu nome é Yeshua, o nosso Senhor Jesus.(Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram. Mt 17:12)

Agora a mesa da Páscoa é montada de forma diferente, mas respeitando todo oordenamento de Deus, como data, hora, e tudo mais. Então vejamos como eramontada a mesa da Páscoa nos dias de Jesus.

A MESA DA CEIA.

A mesa era posta contendo em cima uma lâmpada acessa, abastecida comazeite, também havia uma botija de suco de uva e não vinho, pois nada fermentado erapermitido, também deveria ter na mesa pães sem fermento, simbolizando a pressa emque foram tirados do Egito, pois o fermento simboliza podridão (escravidão, prisão,amargura), devido à forma que era feito, e também devemos lembrar que Jesus eranazireu. Também teria na mesa ervas amargas simbolizando a amargura vivida noscativeiros debaixo dos açoites da escravidão, um prato contendo uma água salgada,que apontava para as lágrimas derramadas no exílio e um pedaço de cordeiro assadono fogo e sem tempero.

(Já sabemos que Jesus é o cordeiro. Quanto ao pão, Ele representou em seucorpo: “Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse:Tomai, comei, isto é o meu corpo. Mt 26:26)

Israelita, homem ou mulher, que fazia voto de dedicação ao serviço de Deus poralgum tempo ou por toda a vida (Numeros 6:1-21).

Porque eis que tu conceberás e terás um filho sobre cuja cabeça não passará

navalha; porquanto o menino será nazireu de Deus desde o ventre; e ele começará alivrar a Israel da mão dos filisteus. Juízes 13:5 (ACF2007)

No centro da mesa eram colocados três cálices contendo o suco da vide, com umpedaço do pão em cima de cada taça.

Sabemos que a Santa Ceia (Marcos 14:15 a 24), era e ainda é algo muitoimportante para os Judeus, e Jesus como um bom Judeu, Ele, durante sua vida, jáhavia participado de outros momentos como aquele desde sua infância, mas esta Ceiaera diferente, pois era a última em que Ele estaria presente.

Após tudo preparado, uma oração era feita e o mestre da cerimônia que naquelaocasião era Jesus. Ele, o mestre da cerimônia falava da importância daquele momentoe relembrava de tudo que Israel passou e de tudo que o Eterno havia feito no meio deseu povo. Todas a três taças deveriam ser cheias de vinho, com o pedaço de pão asmoem cima.

A primeira taça representava o Messias, o Mashiashi, o prometido, aquele quehaveria de vir como um rei e colocar Israel em evidência. A Segunda taça representavaEliahu Há-Navi, o profeta Elias, que virá antes do Messias conforme as palavras doprofeta Malaquias. E a terceira taça era a taça de Moshé Rabenu, Moisés.

Então o chefe da cerimônia, pegava o pão que estava em cima da taça deMoisés e dizia: Este pão é o pão da promessa comei todos vós, e comiam todosjuntos. Depois se pegava da taça e dizia: Este cálice é o cálice da lei de Deus, etodos compartilhavam e bebiam do cálice de Moisés.

Logo feito isso, o mestre da cerimônia pegava o pão que estava em cima docálice do profeta Elias e dizia: Este é o pão da profecia que nos foi dada pelo Eternopela boca dos profetas. Depois de feito isso o chefe da cerimônia pegava a taça deElias e se dirigia até a porta da casa, abria a porta e dizia: “Que venha o profetaElias”, pois escrito esta que Elias virá primeiro. Depois novamente o cálice de Elias eracompartilhado dizendo: Não vos esqueceis das profecias sobre o Messias, pois assimestá escrito. E todos bebiam da taça para nunca se esquecessem das profecias outroradeclaradas e escritas pelos profetas.

Mas havia ainda o terceiro cálice que não era de ouro como os cálices de Moisése Elias, mas era de barro simbolizando os tijolos de barro feitos na escravidão doEgito. Em cima do terceiro cálice havia também um pedaço de pão conforme os outros,mas o chefe da cerimônia pegava o pão e mandava que todas as crianças saíssem dasala e partia e escondia os pedaços e depois mandava que as crianças procurassem,pois ele dizia que: Está escrito que só uma criança de coração puro pode comerdo pão do Messias.

Mas na taça do Messias ninguém podia tocar ou beber dela. Ninguém! Masnaquele dia tudo estava diferente, havia um ar de despedida naquela sala, e algosobrenatural iria acontece pela primeira vez.

Jesus fez tudo como se deveria, mas ao chegar ao pão que estava em cima docálice do Messias Ele pega o pão e parte ou esconde os pedaços, mas diz: Este pão éo meu corpo que será picado e dilacerado por amor de todos. Jesus dá um bocadopara seus discípulos e eles comem ainda assustados. E de repente os discípuloscomeçam a se assustarem, pois Jesus vai levando a mão em direção do cálice debarro e os olhos dos discípulos estão saltados e Jesus pega no cálice proibido, olevanta e diz: “Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que éderramado por muitos, para remissão dos pecados”. Lágrimas começam a rolar dosolhos de João, Pedro começa a engasgar com um nó na garganta, Tiago está emsoluços, e Jesus também chora, pois ele iria embora e não mais estaria com seusamigos. Mas ele vai voltar! Acredite!

CONCLUSÃO

Por que Ele, Jesus, ousou beber da taça e comer do pão proibido, hoje somos evivemos no tempo da graça, então agora temos acesso ao trono do Pai. Você é e valemuito mais do que você imagina, pois Jesus se entregou para que hoje eu e vocêestivéssemos aqui, livres para adorá-lo. A PAZ DO SENHOR ESTEMA COM TODOSOS AMADOS IRMÃOS.

Pr. Alexandre Augusto

Obs.: Acrescentei informações ao texto (Vide estudo atuais)

A ÚLTIMA CEIA PASCAL Mat. 26:20-29 Mc 14:17-25 Lc 22:14-23 Jo 13:21-30

20 Ao cair da tarde, Jesus se pôs à mesa, com os doze discípulos. 21 Enquantocomiam, Jesus disse: "Eu lhes garanto: um de vocês vai me trair."22 Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a lhe perguntar: "Senhor, seráque sou eu?"23 Jesus respondeu: "Quem vai me trair, é aquele que comigo põe a mão no prato. 24O Filho do Homem vai morrer, conforme a Escritura fala a respeito dele. Porém, aidaquele que trair o Filho do Homem. Seria melhor que nunca tivesse nascido!"25 Então Judas, o traidor, perguntou: "Mestre, será que sou eu?" Jesus lhe respondeu:"É como você acaba de dizer."26 Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo pronunciado a bênção, o partiu,distribuiu aos discípulos, e disse: "Tomem e comam, isto é o meu corpo." 27 Emseguida, tomou um cálice, agradeceu, e deu a eles dizendo: "Bebam dele todos, 28pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos,para remissão dos pecados. 29 Eu lhes digo: de hoje em diante não beberei desse frutoda videira, até o dia em que, com vocês, beberei o vinho novo no reino do meu Pai."

Marc. 14:17

17. E, vindo a tarde, chegou com os doze.

Luc. 22:14

14. E quando aconteceu a hora, reclinaram-se também às mesa os discípulos,junto com ele.

Aqui vemos que Jesus chegou com os doze, proveniente talvez de Betânia, depoisdo repouso vespertino, após o banho reconfortador, quando a tarde já vinha caindo:estávamos pois cerca das 18 horas de 13 Nisan (embora, para os judeus, fosse essa aprimeira hora de 14): era a hora legal para realizar-se a ceia pascal.

No original lemos sempre apenas o verbo "reclinados" (anakeiménoi) mas, para

boa compreensão, temos que acrescentar "à mesa".

Os judeus não usavam mais comer o cordeiro segundo a prescrição legal (Êx.12:11) isto é, de pé, com roupa de viagem (embora vejamos que Jesus despe o mantode viagem para o lava-pés e depois torna a vesti-lo), com o manto cingido e um bastãona mão. Haviam aderido ao costume "pagão": reclinados num tapete, com o braçoesquerdo apoiado numa almofada, deixando livre o braço direito para tomar osalimentos, que eram levados à boca com a mão, geralmente servindo-se diretamenteda travessa.

Numerosos estudos foram realizados, pela observação dos costumes da época,para saber a posição dos discípulos. A conclusão mais lógica aponta-nos que a mesatinha forma de U. Era dividida em três porções, donde o nome de triclinium (três leitos)com um leito no meio (lectus medius) de face para a entrada da sala; um à esquerda(lectus summus) e outro à direita (lectus imus). O lugar de honra era à esquerda (hyperautón) do chefe, que ficava um pouco de costas para seu convidado principal, e osegundo a direita (hyp'autón). Dessa forma, Jesus devia estar ao centro, com Pedro àsua esquerda e João à sua direita, o que lhe facilitou recostar a cabeça no peito deJesus para falar-lhe à voz baixa. Logo ao lado de João devia estar Judas, por ser oecônomo, encarregado de chefiar todo o serviço da refeição.

Os narradores falam apenas da presença dos discípulos na ceia: o próprio dono dacasa não tomou parte na cerimônia.

A primeira parte do drama é armada no sobrado, com a presença do candidato edos sacerdotes (lembremo-nos de que o termo "sacerdote" - de sacer, "sagrado" e dos,dotis, "parte, dote" - exprime essencialmente nos costumes antigos ,o "sacrificador",aquele que abate as vítimas do holocausto).

Cada um dos elementos principais terá sua tarefa específica, como iremos vendona continuação das narrativas, embora só três deles apareçam como realmenteatuantes: Pedro, João e Judas. Os outros nove perdem-se na multidão anônima, atédepois da ressurreição, onde alguns deles ainda são recordados.

Veremos a seguir o que ocorreu na chegada.

JUDAS É INDICADO

(Este estudo de Pastorino já foi atualizado pela Espiritualidade. Estou mantendo,devido alguns informes que ainda são atuais)

Mat. 26:21-25

21. E, comendo eles, disse: "Em verdade vos digo que um dentre vós meentregará".

22. E muito tristes começaram a dizer-lhe um a um: Acaso sou eu, Senhor?

23. Respondendo ele, disse: Quem comigo mete a mão no prato, esse meentregará.

24. O filho do homem vai, como está escrito sobre ele; mas coitado desse homempor quem o filho do homem é entregue: era-lhe melhor se não houvesse nascido essehomem".

25. Respondendo Judas, o que o entregaria, disse: Acaso sou eu, Rabbi? Disse-lhe: "Tu o disseste".

Marc. 14:18-21

18. E estando eles reclinados à mesa, Jesus disse: "Em verdade digo-vos que umdentre vós me entregará, um que come comigo".

19. Começaram a entristecer-se e a dizer-lhe um a um: Acaso serei eu?

20. Ele disse-lhes: Um dos doze, que se serve comigo no prato;

21. pois o filho do homem vai, como dele está escrito; mas coitado desse homempor quem o filho do homem vai ser entregue: bom lhe era se não tivesse nascido essehomem".

Luc.22:21-23

21. "Contudo, eis a mão de quem me entrega está comigo à mesa;

22. porque o filho do homem, segundo foi determinado, vai; mas coitado dessehomem por quem será entregue".

23. E eles começaram a perguntar entre si quem deles seria, que iria fazer isso.

João, 13:21-32

21. Tendo Jesus dito isso, agitou-se no espírito e testificou e disse: "Em verdade,em verdade vos digo, que um de vós me entregará".

22. Olhavam os discípulos uns para os outros, perquirindo a respeito de quem elefalara.

23. Estava reclinado à direita de Jesus um dos discípulos dele, o que Jesus amava.

24. A esse então, Simão Pedro acenou com a cabeça, inquirindo a respeito dequem ele falara.

25. Reclinando-se ele, assim, sobre o peito de Jesus, disse-lhe: "Senhor, quem é"?

26. Respondeu Jesus: "É aquele a quem eu der o pedaço de pão mergulhado (novinho).

Tendo mergulhado, então, o "pedaço de pão", pegou e deu a Judas, filho de Simão

Iscariotes.

27. E depois do pão, então, entrou nele o antagonista. Disse-lhe pois Jesus: "Oque fazes, faze-o depressa".

28. Nenhum "os que se reclinavam à mesa soube para que lhe dissera isso.

29. Pois eles julgavam, já que Judas tinha a bolsa, que Jesus lhe dissera: compra ode que precisamos para a festa, ou para que aos mendigos desse algo.

30. Tomando, então, o pedaço de pão, ele saiu logo; era noite.

31. Quando, pois, saiu, disse Jesus: "Agora o filho do homem é transubstanciado eDeus é transubstanciado nele;

32. se Deus é transubstanciado nele, também Deus o transubstanciará em si, e otransubstanciará imediatamente".

O estudo deste trecho é de importância capital para a compreensão plena dosensinos dados no Grande Drama do Calvário.

Estavam reunidos à mesa, ainda comendo (esthiontôn autôn), quando revela aosdemais discípulos que o drama tem início, pela entrega da vítima, que é Ele mesmo,nas mãos do clero organizado, para o sacrifício. E esse ato será realizado por umdentre os doze. O gesto está iminente, tanto que os verbos estão, o primeiro no futuroimediato (paradôsei, entregará), os outros no presente do indicativo (paradídotai, éentregue) e no presente do particípio (paradidoús, que temos que traduzir pelo futurodo pretérito, entregaria).

João, por estar mais próximo, salienta em sua narrativa que Jesus "agitou-se emespírito" (etaráchthê tôi pneúmati) e assegurou como testemunho da verdade (kaìemartirêsen) que um dos doze o entregaria.

A revelação brusca faz cair o mal-estar em todos, como o salientou Agostinho(Patrol. Lat. vol. 35, col. 1800 ): "cada um estava seguro de si, mas duvidava de todosos outros". Ergue-se um vozerio de todos os lados: "serei eu"? Dentre todas as vozesfaz-se ouvir a de Judas, que conhecia sua tarefa, mas não podia revelá-la. Tem queperguntar, para que seu silêncio não o denuncie (cfr. Jerônimo, Patrol. Lat. vol. 26, col.195). Jesus o confirma: "tu o disseste"!

Alguns comentadores assinalam que todos se dirigem a Jesus denominando-Odidáskale, e que Judas o diz Rabbi. Mas além da equivalência absoluta dos doistratamentos, há que lembrar que os galileus utilizavam muito mais o idioma grego, aopasso que os judeus preferiam o aramaico.

A resposta ao grupo foi apenas indicação de que ali estava presente aquele dequem falara: esse o sentido de "mete comigo a mão no prato", coisa que Marcos traduz"come comigo" e Lucas "está comigo à mesa". Expressões equivalentes.

Mas ninguém ouve a resposta de Jesus a Judas. Nem Pedro que, indócil, quersaber quem é, e acena com a cabeça (é o sentido do grego neúô) para João, que sedesigna com um circunlóquio: "o discípulo que Jesus amava". A pergunta é feita emvoz baixa. Jesus diz-lhe que vai dar um pedaço de pão (psomíon) mergulhado (bápsô,do verbo báptô) provavelmente no vinho: tão óbvio, que não era mister dizê-lo...

Molha o pão no vinho e passa-o a Judas, em deferência toda especial, pois aosoutros dá apenas o pão seco e faz passar a taça de vinho, na qual todos bebem. (A

última proposta, o último chamamento que Jesus propicia a Judas para voltar arealidade. Aila Pinheiro diz que é igual aos dias de hoje no aniversário, quando oaniversariante corta o bolo e oferece para aquele para que se tem mais apreço, maisconsideração. Acrescentei).

João assinala que, com o pão, "entrou nele o antagonista". Ao verificar que tudocorrera de acordo com o previsto, Jesus dá-lhe ordem de desencadear osacontecimentos: "o que fazes, faze-o depressa". Diz João que "ninguém entendeu".Revelada a trama, ninguém protestou! Comportamento estranho! Judas recebeu o pãoembebido em vinho, comeu-o e saiu. Já era noite fechada.

Nesse momento, Jesus anuncia a transubstanciação, que analisaremos nosegundo comentário.

Avançamos, cada vez mais, para a realização do Grande Drama. Após o exemplode humildade, é iniciada a refeição da ceia pascal anualmente celebrada.

A certa altura, sente o Mestre o aviso de Seu Eu profundo, que peremptório Lhe dizter chegado sua hora. Seu espírito se agita, pois os veículos mais densos terão quepassar por uma prova dura, difícil, quase sobre-humana, mas é NECESSÁRIO, e Jesusnão titubeia, não hesita. Resolve ordenar o início, dar a partida do Ato Sacro, e fazerSuas últimas recomendações, antes de ser coagido a desaparecer do cenário físico.

Começa dizendo que "está determinado que o Filho do Homem vá", e Ele irá; maslamenta profundamente o homem que tem a ingrata tarefa de entregá-Lo àsautoridades eclesiásticas para o sacrifício sangrento: esse homem sofrerá terríveisimpactos, mas terá que cumprir sua obrigação até o fim, terá que beber o cálice até asfezes.

Os discípulos ficam preocupados. Mas o Mestre acrescenta: "esse homem estácomendo conosco: é um dentre vós"! Maior preocupação os assalta e o peso da dúvidalhes penetra o ânimo. Embora soubessem o que estava para ocorrer, desconheciamqual o "escolhido" (o "clérigo") que deveria executar o gesto indispensável, tomando aposição de "antagonista" oficial de Jesus, para ser condenado durante milênios pelahumanidade. Era um gesto que requeria força e heroísmo sem limites: precisava-se deum voluntário disposto a sacrificar-se. Qual deles seria o escolhido?

Jesus aduz que "era melhor que esse homem não tivesse nascido", tal adificuldade quase insuperável a vencer. E, com essa frase, mais uma vez revelaabertamente a realidade da reencarnação, da qual já falara outras vezes, não insistindomais no assunto porque era convicção profunda e arraigada em todos eles de queassim ocorre com as criaturas. Mas convenhamos que para dizer que "melhor fora quenão tivesse nascido", era mister a certeza de que ele existia antes de nascer, e ter-lhe-ia sido muito melhor permanecer em estado de espírito, não se metendo numadificuldade tão grande, não se sujeitando a um sofrimento tão atroz. De fato, se oespírito fosse criado por Deus no momento do nascimento, como ensinam certas seitasreligiosas, a frase de Jesus constituiria uma blasfêmia contra Deus, pois isso seria umacrítica direta contra um ato divino! Jesus teria acusado Deus de ter criado um espírito,quando seria melhor que o não tivesse feito! Ora, não podemos admitir uma críticadesse teor, contra Deus, nos lábios de Jesus. A conclusão é que o espírito de Judaspreexistia à encarnação (ao nascimento) e, mais ainda, que aceitara a difícil missão.Conhecendo-lhe as asperezas, Jesus confessa-se penalizado pelo que sofrerá e dizque melhor fora se não tivesse aceito e reencarnado, pois teria evitado as atrocíssimasdores futuras.

Todos se entristecem preocupados, e querem saber qual deles terá a tristeincumbência. Judas, embora já o soubesse, também indaga, para ouvir a confirmação.A resposta de Jesus "tu o disseste", equivale a: "já o sabes, por que o perguntas?" Porisso não vemos aí o simples "sim".

Pedro, (a emoção) não resiste à curiosidade e acena com a cabeça para que Joãopergunte ao Mestre.

Jesus retruca-lhe que dará um pedaço de pão mergulhado no vinho, indicando oescolhido; recordemos que ainda hoje assim é dada a "comunhão" na igreja ortodoxa:um pedaço de pão mergulhado no vinho. Assim fortalecido, Judas sai.

Mas, para os profanos, a verdade tinha que ser encoberta pelo véu das coisasocultas. Por isso, o "discípulo que Jesus amava” fala que "o antagonista entrou nelejunto com o pão”. Realmente, neste ponto Judas inicia sua carreira de "antagonista":voluntária e espontaneamente se coloca no polo oposto, para começar a receber osimpactos de ódio e desprezo, a fim de que seu Mestre receba toda a onda de simpatiae de amor por parte da humanidade.

Mas que era uma coisa sabida e esperada, prova-o o fato de que nenhum dosdiscípulos protesta contra Judas. Ninguém o ataca. Ninguém o acusa. Ninguém serevolta. Ninguém o condena. Ninguém procura defender seu Mestre contra Judas.Todos aceitam passivamente calados o fato que, em quaisquer outras circunstâncias,forçosamente faria que todos se levantassem como um só homem para detê-lo de seuintento. Não. Nada disso ocorre: só o silêncio da aceitação.

Para justificar essa imóvel passividade dos discípulos, João escreve aquela fraseincompreensível a quem quer que raciocine: julgaram que Jesus o mandara fazercompras (mas àquela hora da noite!) ou distribuir esmolas (mas de noite?). Evidenteque se trata de uma desculpa na qual o narrador, em verdade, não foi muito feliz: bastaum pingo de reflexão, para verificar-se que ela não convence, em absoluto. Mas eranecessário dizer alguma coisa, para justificar a impassibilidade dos discípulos queassistiam à "acusação" e a aceitaram sem uma palavra de protesto. Nem otemperamental Pedro se rebelou! E, no entanto, ficou sabendo com segurança dequem se tratava... Por quê? Porque todos sabiam o que se passava.

Dado o passo inicial, Jesus anuncia que vai dar-se a transubstanciação.Analisemos as frases de João, cheias de sentido profundo.

"Agora o Filho do Homem é transubstanciado e Deus se transubstancia no Filho doHomem": o Cristo interno, a Divindade que em tudo habita a Essência última de todasas coisas, encontra campo para expandir-se e manifestar-se plenamente no Filho doHomem, por sua aceitação total do sacrifício para subir um degrau na evolução,demonstrando o caminho à humanidade. Deus o permeia, o penetra, o infinitiza. E "seDeus se transubstancia" pela unificação mística "no Filho do Homem, também Deustransubstanciará o Filho do Homem em Deus". Ou seja, se Deus se transmuda emhomem, o homem se transmuda em Deus; se Deus se expande no homem, o homemse expande em Deus; se Deus se torna homem, o homem se torna Deus.

E essa transubstanciação de Essência, de manifestação, de unificação total detudo no Todo, não é para depois, no "céu": é AGORA: imediatamente, neste instante,Deus transubstanciará o Filho do Homem em Deus.

Realizada essa fase inicial da divinização do homem, pela humanização de Deus,

é lançado o grande símbolo que permitirá a perpetuação desse ato por toda ahumanidade nos séculos seguintes: o homem daí por diante poderá, quando o queira,transubstanciar-se também em Deus.

Vê-lo-emos no próximo capítulo.

TRANSUBSTANCIAÇÃO

26. Estando eles a comer , tomando Jesus um pão e tendo abençoado, partiu edeu aos discípulos, dizendo: "Tomai, comei, isto é o meu corpo".

27. E, tomando uma taça e tendo dado graças, deu-lhes, dizendo: Dela bebeitodos,

28. pois isto é meu sangue do testamento, derramado em relação a muitos paraabandono dos erros.

29. “Digo-vos, porém, que não beberei desde agora deste produto da videira, atéaquele dia quando o beberei convosco no reino de meu Pai".

Marc. 14:22-25

22. Estando eles a comer, tomando um pão e tendo abençoado, partiu e deu aeles, dizendo: "Tomai, isto é o meu corpo".

23. E tomando uma taça, tendo dado graças, deu a eles e todos beberam dela.

24. E disse-lhes: "Isto é o meu sangue do testamento derramado sobre muitos.

25. “Em verdade digo-vos que não mais beberei do produto da videira até aqueledia quando o beberei convosco no reino de Deus".

Luc. 22:15-20

15. E disse a eles: Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco, antes deeu sofrer,

16. pois vos digo que de modo algum a comerei até que se plenifique no reino deDeus".

17. E tendo apanhado uma taça e tendo dado graças, disse: Tomai isto e distribui avós mesmos,

18. pois vos digo que, desde agora, não beberei do produto da videira até que

venha o reino de Deus".

19. E tomando um pão, tendo dado graças, partiu e deu a eles, dizendo: "Isto é omeu corpo que é dado para vós: fazei isto para lembrar-vos de mim"

20. E do mesmo modo a taça, depois do jantar, dizendo: “Esta taça é o novotestamento no meu sangue, que é derramado por vós".

Vejamos o texto literal, estudando-o quanto aos termos.

A expressão "desejei ardentemente" corresponde ao grego: epíthymíaepethymêsa, literalmente: "desejei com grande desejo", tal como se lê em Gên. 31:30,versão dos LXX.

"Até que se plenifique" (héôs hótou plêrôthêí), ou seja, até que atinja sua plenitude,sua amplitude total.

"Tomando um pão" (labôn ártan) sem artigo, do mesmo modo que mais adiante"tomando uma taça" (labôn potêrion) , onde Lucas (vs. 17) usa "tendo apanhado"(dexámenas, de déchomai).

"Tendo abençoado" (em Mateus e Marcos, eulogêsas) ou "tendo dado graças"(eucharistêsas) nos três narradores. Na realidade são quase sinônimos, pois a bênçãoconsistia num agradecimento a Deus pelo alimento que ia ser ingerido, suplicando-seque fosse purificado pela Bênção divina (cfr. Êx. 23:25).

"Partiu o pão" (éklase tòn árton): era o hábito generalizado entre os judeus, quandoà mesa o anfitrião tirava pedaços de pão e os distribuía aos convivas em sinal deamizade e deferência.

"Tomai, comei" (lábete, phágete) sem copulativa "e" (kaì).

"Isto é o meu corpo" e "isto é o meu sangue" (toúto estin tò sômá mou e toúto estintò haímá mou). O pronome toúto é neutro e significa "isto". No entanto, surge a dúvida:não será neutro apenas para concordar com os substantivos sôma e haíma quetambém são neutros? Pela construção, mais adiante (João, 22:38) onde se lê: "este é ogrande mandamento", pode interpretar-se que o pronome venha em concordância comos substantivos. Deveria então preferir-se a tradução: "este é meu corpo" e "este é meu

sangue". Teologicamente, tanto "este" quanto "isto" exprime a mesma ideia, embora'isto' seja mais explícito para exprimir a transubstanciação.

"Sangue do testamento" (em Lucas: "do novo testamento") lembra Moisés (Êx.24:8) quando esparziu o sangue dos bois sobre o povo, em que fala do "sangue dotestamento" que muitos traduzem como "sangue da aliança". Lucas exprimiu a ideia deoutra forma: "esta taça é o novo testamento em meu sangue". A palavra grega diathêkêexprime literalmente as "disposições testamentárias", tanto no linguajar clássico quantono popular (koinê), como vemos nas inscrições funerárias e nos "grafitti" da época.

De qualquer forma, vemos, nessa frase, a abolição total dos sacrifícios sangrentos,pois as "disposições testamentárias" são feitas através do simbolismo do vinhotransubstanciado no sangue.

O sangue "que é derramado" (tò ekchynnómenon), no particípio presente; portanto,simbolismo do vinho na taça, representando o que seria mais tarde derramado quandoo sacrifício se realizasse no Calvário. O sangue que é derramado "em relação a muitos"(perì pollôn, Mat.) ou "sobre muitos" (hypèrpollôn, Marc.) ou "sobre vós" (hypèr hymõn,Luc). Também o pão, em Lucas, é dito "que é dado sobre vós" (tò hypèr hymõndidómenon).

A taça (potêrion) utilizada era a comum destinada ao vinho, e o uso de agradecer aDeus e fazê-la passar por todos os convivas, já é assinalado quanto à "taça doQiddoush" na Michna (Pesachim, 10).

A expressão "não mais beberei do produto da videira até o dia em que o bebereiconvosco no reino de Deus", se compreendêssemos como alguns fazem, o "reino deDeus" como sendo "o céu", nós teríamos irrespondivelmente um "céu" semelhante aodos maometanos, com bons vinhos (lógico, os vinhos do céu não poderiam jamais serruins!) e talvez até com as célebres "huris".

No entanto, Loisy ("Les Evangiles Synoptiques, 1907/8, vol. 29, pág. 522)reconhece que o sentido literal das palavras desse trecho justificam plenamente ocomportamento das igrejas cristãs desde os primeiros séculos.

Os teólogos muito se preocupam se Jesus também comeu e bebeu o pão e ovinho, que deu e fez passar entre os discípulos: querem saber se Ele comeu o próprio

corpo e bebeu o próprio sangue... Vejamos.

João Crisóstomo (Patr.Gr. vol. 58, cal. 739) diz que para evitar a repulsa dosdiscípulos em comer carne humana e beber sangue, ele mesmo comeu e bebeuprimeiro.

Mas os imperativos são por demais categóricos e está todos na segunda pessoado plural, o que exclui a participação da primeira.

Mateus e Marcos colocam a transubstanciação depois da saída de Judas.

Lucas, que confessa (1:3) ter tido todo o cuidado com a cronologia histórica dosfatos, coloca a transubstanciação antes da saída de Judas, versão que é aceita porJoão Crisóstomo (Patr. Gr. vol. 58, col. 737).

Ainda estavam comendo (esthióntôn autôn) quando Jesus lhes anuncia que"desejou ardentemente" comer com Seu colégio iniciático aquela refeição pascal, antesde sofrer (páthein), ou seja, antes de submeter-se experimentalmente aos transesdolorosos daquele grau iniciático.

Nesse "jantar pascal" Ele lhes deixará Suas "disposições testamentárias"(diathêkê), que consistem no ensino da transmutação da matéria ou transubstanciação;na ordem de realizar sempre as refeições em memória Dele; e nas últimas revelações eensinos, promessas e profecias para o futuro da humanidade.

A razão é que, depois desse jantar, o Filho do Homem não terá outra oportunidadeaté que se plenifique o "reino de Deus", atingindo seu sentido pleno e total. Já vimosque essa expressão "reino de Deus" ou "reino divino" ou "reino dos céus" ou "reinoceleste" é equivalente às outras que tanto empregamos: reino mineral (matériainorgânica), reino vegetal (matéria orgânica), reino animal (psiquismo), reino hominal(racionalismo), reino divino (Espírito). Então, o sentido exato das palavras pode ser: atéque o Espírito esteja plenamente vigorando nas criaturas, estando superadasdefinitivamente todos os outros reinos inferiores. Enquanto não tenha sido atingidoesse objetivo na Terra, não mais provará o Filho do Homem nem o jantar pascal, nem oproduto (genémata) da videira.

Após essas palavras, mais uma vez o Cristo passa a agir e a falar através deJesus, utilizando Seu instrumento humano visível, mas diretamente proferindo as

palavras. Não são as frases ditas pelo homem Jesus, mas são ditas pelo Cristo deDeus pela boca de Jesus.

Pega então um pão, um dos que estavam sobre a mesa, e abençoa-o, como sedeve fazer a qualquer alimento antes de ingeri-lo: agradecer ao Pai a graça de tê-loobtido, e sobre ele suplicar as bênçãos divinas.

De acordo com o uso judaico, o chefe da casa parte pedaços do pão e dá a cadaconviva um pedaço.

O essencial da lição, a novidade, portanto, é a frase: "ISTO É O MEU CORPO". Háum ensino magistral nesse gesto e nessas palavras: o pão é o corpo crístico que servede alimento à parte espiritual do homem, pois lhe sustenta os veículos inferioresdurante a romagem terrena. Representação perfeita, sem que se precise chegar aoexagero de dizer que o "pão eucarístico" é, de fato, "o corpo, o sangue, a alma e adivindade, e os ossos de Jesus".

Deu-se a confusão porque não houve suficiente compreensão da distinção entreJesus, o ser humano excepcionalmente evoluído, e o Cristo divino que Lhe era aessência última, como o é de todas as coisas criadas, visíveis e invisíveis. Assim comopodemos dizer que Jesus é "o corpo do Cristo", porque o Cristo está nele, assimtambém pode dizer-se do pão (como de qualquer outra substância) que se trata, emverdade do "corpo do Cristo". Não foi o fato de ser abençoado que assim o tornou (nãoé a "consagração" na missa que transubstancia o pão em alimento divino), masqualquer pedaço de pão, qualquer alimento, tem como essência última a EssênciaDivina, já que a Divindade É, enquanto tudo o mais EXISTE, ou seja, é a manifestaçãodessa mesma essência divina: tudo é a expressão exteriorizada dessa Divindade queestá em tudo, porque está em toda a parte sem exceção.

Por que terá o Cristo de Deus escolhido o pão? Mesmo não considerando que era(e é) o alimento mais difundido na humanidade, temos que procurar alcançar algo maisprofundo.

Nas Escolas iniciáticas egípcias e gregas, o simbolismo é ensinado sob a forma daESPIGA DE TRIGO; nas Escolas palestinenses dá-se um passo à frente,apresentando-se o PÃO, que constitui a transubstanciação do trigo, após ter sidomoído e cozido, símbolo já definido quando Melquisedec oferece pão ao Deus

Altíssimo (Gên. 14:18). Assim como o trigo, produto da natureza, criação do Verbo, étransmudado em pão pelo sofrimento de ser moído e cozido, assim o pão se transmudaem nosso corpo após o sofrimento de ser mastigado e digerido. Então o pão se torna,pelo metabolismo, corpo humano, da mesma maneira que o corpo humano, após seraçoitado e crucificado, se transmudará em Espírito.

Daí, pois, a expressão toúto estin tò sômá mou ter sido traduzida por nós em ISTOé o meu corpo, no sentido de ser aquilo que estava em Suas mãos não ser mais “pão”:não era mais este pão, mas "ISTO", pois sua substância fora transmudadasimbolicamente.

Logo a seguir temos que considerar o vinho. Apanhando de sobre a mesa umataça de vinho (no original sem artigo) novamente agradece ao Pai a preciosa dádiva, eafirma igualmente: "ISTO é meu sangue do Novo testamento". Tal como Moisés utilizouo sangue de bois como símbolo das disposições testamentárias de YHWH com o povoisraelita, assim o Cristo apresenta, por meio de Jesus; o vinho como símbolo dasdisposições testamentárias novas que são feitas pelo Pai à humanidade.

Assim como o pão, também o vinho está mais avançado que a uva, símboloutilizado nas Escolas iniciáticas egípcias e gregas. Ao invés do produto da videira (talcomo a espiga produto do trigo) representava a transubstanciação da terra-mãe, que setransmudava em alimento. Mas na Palestina, um passo à frente, empregava-se o vinho,símbolo da sabedoria obtido também, como o pão, através da dor: a uva é pisada nolagar e depois o líquido é decantado por meio da fermentação.

Quanto à oferenda do pão e do vinho, como substitutos dos holocaustossangrentos de vítimas animais, já a vemos executada como sublime ensinamento porMelquisedec, conforme lemos na Torah (Gên. 14:18): Melquisedec, rei de Salém,ofereceu pão e vinho, pois era sacerdote do Deus altíssimo".

Aí, pois, encontramos a origem dos símbolos escolhidos pelo Cristo, por meio deJesus, que era precisamente "sacerdote da Ordem de Melquisedec" (Hebr. 6:20) e que,com o passo iniciático que deu no Drama sacro do Calvário, se tornou "sumo sacerdote

da mesma ordem" (Hebr. 5:7-10). A indicação de uma Escola sacerdotal, portanto, émais que evidenciada: o sacerdócio do Deus Altíssimo (não de YHWH) é exercido porMelquisedec, Hierofante máximo da ordem que tem seu nome, da qual fazem parteJesus e outros grandes avatares. Essa Ordem de Melquisedec...

Então entendemos em grande parte qual a meta a que somos destinados: ondeestá o Pai, de onde Jesus proveio e para onde estava regressando (João, 13:1 e 3),pois o desejo maior de Jesus é que vamos para onde foi: "que onde eu estou, vósestejais também" (João, 17:24).

Essa interpretação explica a expressão: "não mais beberei o produto da videira" ou"comerei a páscoa", até quando convosco o faça no reino (na casa) do Pai:compreende-se, porque se trata da Terra, e não do "céu".

O sangue, foi dito em Mateus, é derramado em relação a muitos para "abandonodos erros". Inaceitável a tradução "remissão dos pecados", pois até hoje, quase doismil anos depois, continuam os "pecados" cada vez mais abundantes na humanidade.Que redenção é essa que nada redimiu?

Lucas tem uma frase de suma importância, que é repetição de Paulo (l.ª Cor.11:24 e 25), tanto em relação ao pão, quanto em relação ao vinho: "fazei isto emrecordação de mim, todas as vezes que o beberdes". Quem fala é O CRISTO. Daípodermos traduzir com pleno acerto: "fazei isto para lembrar-vos do EU" que, em últimaanálise, é o CRISTO INTERNO.

Nem o grego nem o latim podiam admitir a construção permitida nas línguasnovilatinas, que podem considerar o pronome pessoal como substantivo, antepondo-lheo artigo: o eu, do eu, para o eu; em virtude das flexões da declinação, eram forçados acolocar o pronome nos casos gramaticais requeridos pela regência. Daí as traduçõespossíveis nas línguas mais flexíveis: "em minha memória", ou "em memória de mim" oumesmo, em vista do conjunto do ensino crístico, "em memória DO EU". Confessamospreferir a última: "para lembrar-vos DO EU" que se refere ao Cristo Interno queindividua o ser. Sendo, porém o Cristo que falava nada impede que se traduza: emminha memória, ou "para lembrar-vos de mim".

Portanto, pão e vinho representam, simbolicamente, o corpo e o sangue do Euprofundo, do Cristo; a matéria de que Se reveste para a jornada evolutiva no planeta.

* * *

Há mais um ponto importante a focalizar: é quando diz: "fazei isto em memória demim, TODAS AS VEZES QUE O BEBERDES".

Então não se trata apenas de uma cerimônia religiosa com dia e hora marcados:mas todas as vezes que nos sentarmos a uma mesa, para tomar qualquer alimento,todas as vezes que comermos pão ou que bebermos vinho, devemos fazê-lo com acerteza de que a essência divina (que constitui a essência desse alimento sob asformas visíveis e tangíveis transitórias) penetra em nós para sustentar-nos,transubstanciando-nos em Sua própria essência, transformando nosso pequeno "eu"personativo em Seu Eu profundo, no Cristo interno que nos sustenta a vida.

Por isso devemos tornar instintivo em nós o hábito de orar todas as vezes que nossentarmos à mesa: uma prece de agradecimento (eucharistía), de tal forma quequalquer bocado deglutido se torne uma comunhão nossa com a Essência Divinacontida em todos os alimentos e em todas as bebidas, quaisquer que sejam, inclusiveno ar que respiramos, pois "em Deus vivemos, nos movemos e existimos" (At. 17:28).

Temos que considerar (e já foi objeto de estudos desde a mais alta antiguidade)que havia duas partes totalmente destacadas e distintas na prática dessa "ação degraças" em relação à comida e à bebida: uma era ensinada aos fiéis comuns, paraneles despertar o sentimento de fraternidade real; a outra era reservada aoscomponentes da Escola iniciática Assembleia do Caminho.

Tratemos inicialmente da primeira. Vejamos apenas alguns textos que confirmem oque afirmamos, para que o leitor forme um juízo. Quem desejar aprofundar-se, consultea obra de Joseph Turmel, "Histoire des Dogmes", Paris, 1936, páginas 203 a 525 (são322 páginas tratando deste assunto).

A cerimônia destinada aos fiéis em geral consistia num jantar (o termo gregodeípnon designava a refeição principal do dia, realizada geralmente à noite, tanto quemuitos traduzem como "banquete" e outros como "ceia"). Em diversos autoresencontramos referências a esse jantar, que Paulo denomina deípnon kyríakon ("jantardo Senhor").

Esse tipo de refeição em comum, de periodicidade semanal, já se tornara habitualentre os judeus devotos.

Iniciava-se com a passagem por todos os presentes da "Taça do Qiddoush", quecontinha o vinho da amizade pura. Era uma cerimônia de sociedades reservadas,mantenedoras das tradições orais (parádôsis) dos ensinos ocultos, de origem secular,que com suas transformações e modificações resultou naquilo que hoje tem o nome deMaçonaria. Nessa refeição comia-se e bebia-se à vontade, só sendo rituais a taça devinho inicial com sua fórmula secreta de bênção, o pão também abençoado e depoispartido e distribuído pelo que presidia, e a taça final de vinho; cada um desses rituaisera precedido e seguido de uma prece, de cujos termos exotéricos a Didachêconservou-nos um resquício "cristianizado" posteriormente. Mas a base é totalmentejudaica. A ordem desse cerimonial foi-nos conservada inclusive pelo evangelho deLucas (ver acima vers. 17, 19 e 20).

PAULO DE TARSO (l.ª Cor. 11:20-27) afirma que recebeu o ritual diretamente doSenhor. E neste ponto repete as palavras com a seguinte redação: "O Senhor Jesus,na noite em que foi entregue, tomou um pão e, tendo dado graças (eucharistêsas)partiu e disse: Isto é o meu corpo em vosso favor (toúto moú estin tò sôma tò hypèrhymôn); fazei isto em memória de mim. Igualmente também a taça depois do jantar,dizendo: Esta taça é o novo testamento no meu sangue; fazei isto todas as vezes quebeberdes, em memória de mim."

Ora, esse texto da carta aos coríntios é anterior, de dez a vinte anos, à redaçãoescrita de qualquer dos Evangelhos. E isso é de suma importância, pois foi Lucas quemescreveu essa epístola sob ditado de Paulo, que só grafou a saudação final (cfr. 1.ªCor. 16:21). Logo, aí se baseou ele na redação de seu Evangelho.

Nessa mesma carta Paulo avisa que, no jantar, devem esperar uns pelos outros,pois se trata de uma comemoração: quem tem fome, coma em casa (ib. 11:34) e nãocoma nem beba demais, como estava ocorrendo entre os destinatários da missiva, poisenquanto uns ficavam com fome, outros já estavam embriagados.

PEDRO (2.ª Pe. 2:13) ataca fortemente o desregramento e a devassidão dossensuais ao banquetear-se com os fiéis.

JUDAS, o irmão do Senhor (epist. 12), queixa-se dos que abusam dos jantarescristãos.

A DIDAQUÊ ("Doutrina dos Doze Apóstolos"), escrita no século I, fala no "jantar deação de graças"; diz como deve ser realizado, quais as preces que precedem e quaisas que devem ser recitadas "depois de fartos". No final desse capítulo, em que seregistra o texto da prece, há um acréscimo interessante: "aos profetas (médiuns) épermitido darem as graças como quiserem.

PLÍNIO O JOVEM, no ano 112, fala que os cristãos se reuniam "para tomaralimento coletivo, mas frugal" (Carta a Trajano, 10,97) .

TERTULIANO, no ano 197, escreve que os jantares cristãos têm o nome deagápê, que significa "amor" e jamais ferem a modéstia e a boa educação; e prossegue(Patr. Lat. vol. 1, col. 477): "Ninguém se põe à mesa antes de saborear-se uma oraçãoa Deus. Come-se quanto tomam os que têm fome; bebe-se quanto é útil a homenssóbrios. De tal forma se fartam, como quem se lembra de que deve adorar a Deusdurante a noite; conversam como quem sabe que o Senhor ouve. Depois da água paraas mãos e das lanternas, cada um é convidado a cantar a Deus no meio, ou tirando dasSantas Escrituras ou de seu próprio engenho; por aí se julga como tenha bebido.Igualmente uma oração encerra a refeição".

Aí temos, pois, claramente exposto o ágape cristão dos primeiros tempos,destinado aos fiéis que amigável e amorosamente se reuniam uma vez por semana, nodie solis, que passou a denominar-se dies domínica.

* * *

Outro sentido, entretanto, era dado à modesta ceia de pão e vinho, realizada pelosiniciados, que emprestavam significado todo especial ao rito que lhes era reservado.Vejamos alguns testemunhos.

JUSTINO MÁRTIR, no ano 160 (quarenta anos depois de Plínio e quarenta anosantes de Tertuliano) já escrevia ("De Conventu Eucharístico", 65, 2-5): allêlousphilêmati, etc., ou seja: "Saudamo-nos mutuamente com um beijo, quando terminamosde orar. Depois é trazido pão e vasilhas com vinho e com água ao que preside aosirmãos. Recebendo-os dá louvor e glória ao Pai de todas as coisas em nome do Filho edo Espírito Santo, e ação de graças (eucharistía) pelas dádivas Dele recebidas emabundância. Depois que quem preside fez preces e todo o povo aclamou (com o

Amén), aqueles que são chamados servidores (diáconoi) distribuem o pão e o vinho e aágua sobre os quais foram dadas graças, a todos os presentes, e os levam aosausentes.

E na 1.ª Apologia (66,1-4) escreve mais: kaì hê trophê hautê kaleítai par'hemín, etc.isto é: "E esse alimento é chamado entre nós ação de graças... Mas não tomamosessas coisas como um pão comum nem como bebida comum. Mas do mesmo modoque Jesus Cristo, nosso libertador, se fez carne (encarnou) pelo Lógos de Deus, e tevecarne e sangue para nossa libertação, assim também, pela oração do ensino dele,aprendemos que o alimento sobre o qual foram dadas graças, do qual se alimentamnosso sangue e nossa carne pelo metabolismo (katà metabolên), são a carne e osangue

daquele Jesus que se fez carne (encarnou). Pois os apóstolos, nas Memórias queescreveram, chamadas Evangelhos, transmitiram que assim lhes foi ordenado, quandoJesus, tomando o pão e tendo dado graças, disse: Fazei isto em memória de mim, istoé o meu corpo. E tomando a taça, igualmente dando graças, disse: Isto é o meusangue. E só a eles distribuiu. Certamente sabeis ou podeis informar-vos de que,tornando-se imitadores, os maus espíritos ensinaram (isso) nos mistérios de Mitra; poissão dados um pão e um copo de água aos iniciados do Forte (Mitra) com certasexplicações complementares". (Não percamos de vista que os mistérios de Mitraantecederam de seis séculos a instituição dos mistérios cristãos.)

No "Diálogo com Trifon o Judeu" (70,4) Justino escreveu: hóti mèn oún kaì légei,etc ., ou seja: "Ora, é evidente que também fala o profeta (Isaías, 33:13-19) nessaprofecia sobre o pão que nosso Cristo nos mandou comemorar, para lembrar suaencarnação por amor dos que lhe são fiéis, pelos quais também sofreu, e sobre a taça,que aparece em recordação de seu sangue, nos mandou render ação de graças".

Vemos, pois, a interpretação de algo mais profundo que o simples "jantar"; e isso émais explicitamente comentado por

IRINEU, no ano 180 ("De Sacrificio Eucharistiae", 4, 17, 5), onde escreve: "Mas,dando também a seus discípulos o conselho de oferecer a Deus as primícias de suascriaturas, não como a um indigente, mas para que eles mesmos não fossem infrutíferos

nem ingratos, tomou da criação aquele que é o pão, dizendo: Isto é o meu corpo. Eigualmente a taça que é daquela criatura que, segundo nós, confessou ser seu sangue,e ensinou a nova oblação do novo testamento; recebendo-a dos apóstolos, a igrejaoferece, no mundo inteiro, a Deus, àquele que nos fornece os alimentos, primícias desuas dádivas no novo testamento".

Aí, portanto, temos uma interpretação bastante ampla: o alimento ingerido comação de graças é um atestado vivo de gratidão a Deus, pelo sustento que Delerecebemos; os quais alimentos, sendo criações Suas, representam Seu corpo, isto é,são a manifestação externa de Sua essência que subestá em tudo.

Mas outro autor vai mais longe: CLEMENTE DE ALEXANDRIA, no ano 200,escreve (Strommateis, 5,10; Patr. Gr. vol. 9, col. 100/101): "Segundo os apóstolos, oleite é a nutrição das crianças, e o alimento sólido é a nutrição dos perfeitos (teleisthai,"iniciados"). Entendamos que o leite é a catequese, a primeira nutrição da alma, que anutrição sólida é a contemplação (epoptía) que vê os mistérios. A carne e o sangue doVerbo (sárkes autaì kaì haíma toú Lógou) é a compreensão do poder e da essênciadivina ...

Comer e beber (brôsis gàr kaì posis) o Verbo divino, é ter a gnose da essênciadivina (hê gnôsis estí tês theías ousías)".

Clemente de Alexandria compreendia bem os mistérios cristãos porque forainiciado em Elêusis antes de ingressar na Igreja. Por isso explica melhor, com ostermos típicos da Escola Eleusina.

Dele ainda temos (Pedagogia, 1, 6; Patr. Gr. vol. 8, col. 308): "O Cristo, que nosregenerou, nutre-nos com Seu próprio leite, que é o Verbo... A um renascimentoespiritual corresponde, para o homem, uma nutrição espiritual. Estamos unidos, emtudo, ao Cristo o Somos de sua família pelo sangue, por meio do qual nos libertou.Temos sua amizade pelo alimento derivado do Verbo (dià tên anatrôphên tên ek toùLógou)... O sangue e o leite do Senhor é o símbolo de sua paixão (páthein) e de seuensino".

E mais adiante (Pedag. 2, 2; Patr. Gr. vol. 8 col. 409): "O sangue do Senhor é

dúplice: há o sangue carnal com o qual nos libertou da corrupção; e há o sangueespiritual (tò dè pneumatikós) do qual recebemos a cristificação. Beber o sangue deJesus significa participar da imortalidade do Senhor".

Aí temos o pensamento e a interpretação desse episódio, cujo símbolo já fora dadotambém no protótipo de Noé, citado pelo próprio Jesus (cfr. vol. 6), quando o patriarcase inebriou com o vinho da sabedoria. Na ingestão do vinho oferecido em ação degraças, nosso Espírito se inebria na união crística, participando da "imortalidade doSenhor".

Trata-se, pois, da instituição de um símbolo profundo e altíssimo, que aqueles quedizem REVIVER O CRISTIANISMO PRIMITIVO não podem omitir em suas reuniões,sob pena de falharem num dos pontos básicos do ensino prático do Mestre: não épossível "reviver o cristianismo primitivo" sem realizar essa comemoração.Evidentemente não se trata de descambar para os rituais de Mitra, como ocorreuoutrora pela invigilância dos homens que "paganizaram" o cristianismo. Mas éfundamental que se realize aquilo que o Mestre Jesus ordenou fizéssemos: TODAS ASVEZES que comêssemos pão ou bebêssemos vinho, devemos fazê-lo em oração deação de graças, para lembrar-nos Dele e do Eu, do Cristo Interno que está em nós, queestá em todos, que está em todas as coisas visíveis e invisíveis; do Qual Cristo, o pãosimboliza o corpo, e o vinho simboliza o sangue, por serem os alimentos básicos dohomem: o pão plasmando seu corpo, o vinho plasmando seu sangue (1) .

(1) Esdrúxulo deduzir daí que o corpo de Jesus não era de carne. Contra isso já seerguera a voz autorizada de João o evangelista em seu Evangelho (1:14) e em suasepístolas (l.ª João, 4:2 e 2.ª João, 7) e todas as autoridades cristãs desde os primeirosséculos (cfr. Tertuliano, De Pudicicia, 9 e Adversus Marcionem, 4:40, onde escreve:"Tendo (o Cristo) tomado o pão e distribuído a seus discípulos, Ele fez seu corpo(corpus suum illum fecit) dizendo: Isto é o meu corpo, isto é a figura de meu corpo (hocest corpus meum dicendo, id est figura córporis mei). Ora, não haveria figura, se Cristonão tivesse um corpo verdadeiro. Um objeto vazio de realidade, como é um fantasma,não comportaria uma figura. Ou então, se Ele imaginasse fazer passar o pão comosendo seu corpo, porque não tinha corpo verdadeiro, teria devido entregar o pão paranos salvar: teria sido bom negócio, para a tese de Marcion, se tivessem crucificado umpão"!

PREDIÇÃO DA NEGAÇÃO DE PEDRO Mat. 26:30-35 Mc 14:26-31 Lc 22:31-34 Jo13:36-38

30 Depois de terem cantado salmos, foram para o monte das Oliveiras.

31 Então Jesus disse aos discípulos: "Esta noite vocês todos vão ficardesorientados por minha causa, porque a Escritura diz: 'Ferirei o pastor, e as ovelhasdo rebanho se dispersarão'. 32 Mas depois de ressuscitar, eu irei à frente de vocêspara a Galiléia." 33 Pedro disse a Jesus: "Ainda que todos fiquem desorientados portua causa, eu jamais ficarei."34 Jesus declarou: "Eu garanto a você: esta noite, antes que o galo cante, você menegará três vezes."35 Pedro respondeu: "Ainda que eu tenha de morrer contigo, mesmo assim não tenegarei." E todos os discípulos disseram a mesma coisa.

AVISO A PEDRO

Mat. 26:31-35

31. Então disse-lhes Jesus: "Todos vos escandalizareis de mim nesta noite, poisestá escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho serão dispersas.

32. mas depois que eu despertar, vos precederei na Galileia".

33. Respondendo, porém, Pedro disse-lhe: Se todos se escandalizarem de ti, demodo algum eu me escandalizarei.

34. Falou-lhe Jesus: "Em verdade digo-te que nesta noite, antes que o galo cante,três vezes

me negarás".

35. Disse-lhe Pedro: Se ainda devesse morrer contigo, de modo algum te negarei.Igualmente também disseram todos os discípulos.

Luc. 22:31-34

31. "Simão, Simão, eis que o antagonista vos reivindica para joeirar (-vos) como otrigo,

32. mas eu orei por ti, para que não fraquejasse tua fidelidade; e tu, quandotornares, apóia teus irmãos".

33. Ele disse-lhe: Senhor, estou preparado a ir contigo tanto para o cárcere, quantopara a morte!

34. Disse-lhe ele: "Digo-te, Pedro, não cantará hoje o galo até que três vezes metenhas negado conhecer".

Marc. 14:27-31

27. E disse-lhes Jesus: "Todos vos escandalizareis, porque está escrito: Ferirei opastor e as ovelhas serão dispersas;

28. mas depois de eu despertar , vos precederei na Galileia".

29. Mas Pedro disse-lhe: Que todos se escandalizem, mas eu não!

30. E disse-lhe Jesus: "Em verdade digo-te que tu, hoje, nesta noite, antes de ogalo cantar duas vezes, três vezes me negarás".

31. Mas repetindo, ele dizia: Se eu devesse morrer contigo, de modo algum tenegaria! Do mesmo modo diziam todos.

João, 13:36-38

36. Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, aonde vais? Respondeu-lhe Jesus: "Aondevou, não me podes agora seguir; mas seguirás mais tarde".

37. Disse-lhe Pedro: Senhor, por que não posso seguir-te agora? Sobre ti aplicareiminha alma!

38. Respondeu Jesus: "Aplicarás tua alma sobre mim? Em verdade, em verdade tedigo: não cantará o galo, até que três vezes me tenhas negado".

O verbo skandalízô, de uso apenas bíblico, tem o sentido de "colocar uma pedrapara fazer tropeçar", derivando-se do substantivo skándalon (tò). Mas a transliteraçãoportuguesa "escandalizar" reproduz razoavelmente o significado original, pois a pedra écolocada "moralmente", para provocar a queda espiritual dos fracos e desprevenidos.

"Ferirei o pastor" - é citação livre de Zacarias (13:7) que se referia ao rei Sedecias.

O testemunho dos quatro evangelistas deve ser lido como complementação mútua,dando a impressão de que se trata de uma conversa surgida à mesa, que cada umreproduziu à sua maneira: Pedro inicia perguntando aonde irá o Mestre, e Jesus explicaque ninguém poderá segui-Lo nesse momento: só mais tarde. Mas Pedro, que éhomem de “fazer já e não deixar para depois", retruca que "aplicou sua alma sobre ele",repetindo a expressão de Jesus quando falou do "Bom Pastor", que "aplica sua almasobre suas ovelhas (João, 10:11; vol. 59, págs. 118/119). Diz estar disposto a tudo.Jesus adianta que todos serão experimentados, pois uma vez que ele estiver ferido,todos os discípulos se dispersarão.

Pedro, inflamado, protesta que jamais o abandonará. Jesus novamente esclareceque orou por ele, para que, mesmo tendo fugido, sua fidelidade sintônica nãofraquejasse por degradação de vibrações. Todavia, uma vez que se recuperasse, deviasustentar os companheiros. Pedro afirma repetindo teimosa e entusiasticamente, queestá pronto a ser preso e morto com seu Rabbi. Então, para provar-lhe que "o Espírito(individualidade) está pronto, mas a carne (personagem) é fraca" (Mat. 26:41), Jesusdemonstra saber que, antes de o galo cantar pela segunda vez (de madrugada) Pedro,por três vezes, terá negado conhecê-Lo.

Pedro quer ir com o Mestre agora. Mas o antagonista (a personagem calculadora)reivindica seu direito de sacudir o homem violentamente (joeirar) como se faz ao trigopara separar o grão da palha.

As traduções vulgares trazem: "Satanás obteve permissão" (de Deus): é a famosa,embora falsa, concepção de um deus antropomorfo a conversar amigavelmente com oSenhor Diabo! Mas o verbo grego usado exêitêsato (de exaitéô, na voz média) significa"reclamar para si, reivindicar". E já sabemos que o antagonista do Espírito(individualidade) é a personagem, com seu intelecto discursivo, convencido de que neleapenas reside toda a realidade de seu ser, nada mais havendo além do corpo físicocom suas sensações, suas emoções e seu intelectualismo!

Na frase "quando tornares apóia teus irmãos" (traduzido vulgarmente: “quando tearrependeres, confirma teus irmãos") apoiou-se o Concílio Vaticano I (Const. DeEcclesia, cap. IV) para fundamentar a "infalibilidade papal". Estranha base, quequebrou e se reconstituiu, para afirmar-se que "não pode quebrar!"

Os comentadores falam muito na "temeridade" de Pedro. Mas Jerônimo (Patrol.Lat. vol. 26, col. 198) o defende: "não é temeridade nem mentira, mas a fé e o afetoardente do apóstolo Pedro para com o Senhor Salvador".

O "canto do galo" (veja atrás) assinalava a terceira vigília que, no princípio de abril,época em que se passam os fatos, terminava às cinco da madrugada. Não procede aobjeção de que era proibido criar galináceos em Jerusalém, pois diziam os fariseusque, ao ciscar, podiam fazer vir à superfície do solo vermes "imundos": sempre oshavia, embora não fossem criados soltos, conforme podemos verificar (cfr. Strack eBillerbeck, o. c. , t. 1, pág. 992-993). Além disso, cremos que se trate mais de umareferência à hora.

Os propósitos podem ser os mais ardorosos, mas a personagem se acovardadiante da dor. Embora neste caso de Pedro, como teremos a seu tempo, nada dissotenha ocorrido: ele queria apenas ludibriar os circundantes, para que pudesse alipermanecer a fim de ver aonde levariam e o que fariam com seu Jesus querido.

O "escândalo" a que se referia o Mestre era a crucificação, que faria fugir osdiscípulos, horrorizados com medo de terem a mesma sorte. No entanto, o aviso fora

bem claro: serei ferido, adormecerei, e despertarei do sono (egeírô); então vosprecederei na Galiléia: ainda chegaria lá antes deles!...

Então o escândalo seria o medo e a consequente dúvida, suscitadas pelo intelecto(antagonista) que veria tudo perdido, de acordo com o raciocínio rasteiro comum àpersonagem: arruinado o corpo - única coisa real, porque visível e palpável - tudo estáacabado! Tempo desperdiçado, aquele em que seguiram um Mestre que foivergonhosamente aniquilado! Perdida a batalha com o sacrifício do general, ossoldados dispersam-se desorientados.

A personagem, antagonista-nata do Espírito, arroga-se o pretensioso direito desopesar e julgar, por meio do intelecto, as ações e decisões do Espírito. Passa-as pelocrivo do racionalismo, para saber se pode concordar ou discordar. E, atrasado comoainda é, quase sempre conclui a fator do lado errado, só considerando a matéria físicadensa. O Espírito está pronto a ser preso, martirizado, sacrificado, vendo morrer ocorpo, pois sabe que a vida continua; mas a personagem não concorda, em hipótesealguma, em desaparecer, e usa de todos os artifícios para fugir da destruição.

Aonde ia o Mestre, ninguém o podia seguir: a conquista de um grau iniciático éproblema estritamente pessoal, isolado, interno, que se passa no âmago mais recônditoda criatura, embora por vezes se exteriorize em cenas públicas, como no caso dacrucificação, "ressurreição" e "ascensão"; ou em fatos que a todos parecemcorriqueiros e naturais, mas que trazem no bojo a força irresistível de fazer o candidatodar um passo à frente: morte ou abandono de pessoa querida, uma calúnia violenta,um choque traumático, etc.

Ninguém se achava ali em condições de acompanhar o Mestre nesse passo.Mesmo João, que fisicamente o acompanhou, não podia ainda arrostar os degraus,demais elevados para sua capacidade.

O antagonista - a personagem - sempre reivindica e exige, como necessáriaprovação, o direito de "joeirar" ou sacudir violentamente na peneira o Espírito, a fim deexperimentá-lo. Mas os verdadeiros discípulos estão sustentados pela "Força Cósmica"e não fraquejam na fidelidade absoluta ao Cristo Interno; e desde que se mantenhamfiéis e sintonizem internamente, conservam a capacidade de servir de apoio aos

irmãos, ainda que a personagem esperneie. Não se confundam força e fidelidade doEspírito com os artifícios da personagem, que busca valer-se de todos os meios paraconseguir seus intentos, sobretudo quando ditados pelo amor. O fato é que as palavrasde Simão Pedro não foram proferidas pela personagem, mas foram o ditado de suaindividualidade enérgica e firme, através da boca da personagem frágil. Não foram"temeridade", mas "amor" levado ao grau máximo.

Oxalá possamos todos nós manter permanentemente nosso Espírito com asegurança e a firmeza de princípios de Pedro!

NO GETSÊMANO Mat. 26:26-46 Mc 14:32-42 Lc 22:39-46

36 Então Jesus foi com eles a um lugar chamado Getsêmani. E disse aosdiscípulos: "Sentem-se aqui, enquanto eu vou até ali para rezar."37 Jesus levou consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, e começou a ficar triste eangustiado. 38 Então disse a eles: "Minha alma está numa tristeza de morte. Fiquemaqui e vigiem comigo."39 Jesus foi um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto por terra, e rezou: "MeuPai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. Contudo, não seja feito como euquero, e sim como tu queres."40 Voltando para junto dos discípulos, Jesus encontrou-os dormindo. Disse a Pedro:"Como assim? Vocês não puderam vigiar nem sequer uma hora comigo? 41 Vigiem erezem, para não caírem na tentação, porque o espírito está pronto, mas a carne éfraca."42 Jesus afastou-se pela segunda vez, e rezou: "Meu Pai, se este cálice não podepassar sem que eu o beba, seja feita a tua vontade!"43 Ele voltou de novo, e encontrou os discípulos dormindo, porque seus olhos estavampesados de sono. 44 Deixando-os, Jesus afastou-se, e rezou pela terceira vez,repetindo as mesmas palavras.45 Então voltou para junto dos discípulos, e disse: "Agora vocês podem dormir edescansar. Olhem, a hora está chegando. Vejam: o Filho do Homem vai ser entregueao poder dos pecadores. 46 Levantem-se! Vamos! Aquele que vai me trair já estáchegando."

A PRISSÃO DE JESUS Mat. 26:47-56 Mc 14:43-52 Lc 22:47-53 Jo 18:1-11

47 Jesus ainda falava, quando chegou Judas, um dos Doze, com uma grandemultidão armada de espadas e paus. Iam da parte dos chefes dos sacerdotes e dosanciãos do povo.48 O traidor tinha combinado com eles um sinal, dizendo: "Jesus é aquele que eubeijar; prendam. 49 Judas logo se aproximou de Jesus, e disse: "Salve, Mestre." E obeijou. 50 Jesus lhe disse: "Amigo, faça logo o que tem a fazer." Então os outrosavançaram, lançaram as mãos sobre Jesus, e o prenderam.51 Nesse momento, um dos que estavam com Jesus estendeu a mão, puxou daespada, e feriu o empregado do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha.52 Jesus, porém, lhe disse: "Guarde a espada na bainha. Pois todos os que usam aespada, pela espada morrerão. 53 Ou você pensa que eu não poderia pedir socorro aomeu Pai? Ele me mandaria logo mais de doze legiões de anjos. 54 E, então, como secumpririam as Escrituras, que dizem que isso deve acontecer?"55 E nessa hora, Jesus disse às multidões: "Vocês saíram com espadas e paus parame prender, como se eu fosse um bandido. Todos os dias, no Templo, eu me sentavapara ensinar, e vocês não me prenderam." 56 Porém, tudo isso aconteceu para secumprir o que os profetas escreveram. Então todos os discípulos, abandonando aJesus, fugiram.

JESUS DIANTE DO SINÉDRIO Mat. 26:57-68 Mc 14:53-65 Lc 22:54, 63:71 Jo18:12-27

57 Aqueles que prenderam Jesus o levaram à casa do sumo sacerdote Caifás,onde os doutores da Lei e os anciãos estavam reunidos.58 Pedro seguiu Jesus de longe, até o pátio da casa do sumo sacerdote. Entrou, esentou-se com os guardas, para ver como terminaria tudo isso.59 Ora, os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum falsotestemunho contra Jesus, a fim de o condenarem à morte. 60 E nada encontraram,embora se apresentassem muitas falsas testemunhas. Por fim, se apresentaram duastestemunhas, 61 e afirmaram: "Esse homem declarou: 'Posso destruir o Templo deDeus, e construí-lo de novo em três dias.' "62 Então o sumo sacerdote levantou-se, e perguntou a Jesus: "Nada tens a responderao que esses testemunham contra ti?" 63 Mas Jesus continuou calado. E o sumosacerdote disse: "Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Messias, oFilho de Deus."64 Jesus respondeu: "É como você acabou de dizer. Além disso, eu lhes digo: de agoraem diante, vocês verão o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso, e vindosobre as nuvens do céu."65 Então o sumo sacerdote rasgou as próprias vestes, e disse: "Blasfemou! Quenecessidade temos ainda de testemunhas? Pois agora mesmo vocês ouviram ablasfêmia. 66 O que vocês acham?" Responderam: "É réu de morte!"67 Então cuspiram no rosto de Jesus, e o esbofetearam. Outros lhe deram bordoadas,68 dizendo: "Faze-nos uma profecia, Messias: quem foi que te bateu?"

AS TRÊS NEGAÇÕES DE PEDRO Mat. 26:69-75 Mc 14:66-72 Lc 22:54-62 Jo18:15-27

69 Pedro estava sentado fora, no pátio. Uma criada chegou perto dele, e disse:"Você também estava com Jesus, o galileu!" 70 Mas Pedro negou diante de todos:"Não sei o que você está dizendo." 71 E saiu para a entrada do pátio. Então outracriada viu Pedro, e disse aos que aí estavam: "Esse também estava com Jesus, oNazareno." 72 Pedro negou outra vez, jurando: "Nem conheço esse homem!" 73 Poucodepois, os que aí estavam aproximaram-se de Pedro, e disseram: "É claro que vocêtambém é um deles, pois o seu modo de falar o denuncia." 74 Então Pedro começou amaldizer e a jurar, dizendo: "Nem conheço esse homem!" Nesse instante, o galocantou.75 Pedro se lembrou então do que Jesus tinha dito: "Antes que o galo cante,você me negará três vezes." E, saindo, chorou amargamente.

CONDUÇÃO DE JESUS AO GOVERNADOR Mt. 27:1-2 Mc 15:1 Lc 23:1-5, 13:1-5Jo 18:28-19-26

1 De manhã cedo, todos os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povoconvocaram um conselho contra Jesus, para o condenarem à morte. 2 Eles oamarraram e o levaram, e o entregaram a Pilatos, o governador.

MORTE DE JUDAS Mt. 27:3-10

3 Então Judas, o traidor, ao ver que Jesus fora condenado, sentiu remorso, e foidevolver as trinta moedas de prata aos chefes dos sacerdotes e anciãos,4 dizendo:"Pequei, entregando à morte sangue inocente." Eles responderam: "E o que temos nóscom isso? O problema é seu." 5 Judas jogou as moedas no santuário, saiu, e foienforcar-se. 6 Recolhendo as moedas, os chefes dos sacerdotes disseram: "É contra aLei colocá-las no tesouro do Templo, porque é preço de sangue." 7 Então discutiramem conselho, e as deram em troca pelo Campo do Oleiro, para aí fazer o cemitério dosestrangeiros. 8 É por isso que esse campo até hoje é chamado de "Campo de Sangue."9 Assim se cumpriu o que tinha dito o profeta Jeremias: "Eles pegaram as trintamoedas de prata - preço com que os israelitas o avaliaram - 10 e as deram em trocapelo Campo do Oleiro, conforme o Senhor me ordenou."

JESUS DIANTE DE PILATOS Mt 27:11-26 Mc 15:1-15 Lc 23:1-25, 13:25 Jo 18:28-19:16

11 Jesus foi posto diante do governador, e este o interrogou: "Tu és o rei dosjudeus?" Jesus declarou: "É você que está dizendo isso."12 E nada respondeu quando foi acusado pelos chefes dos sacerdotes e anciãos. 13Então Pilatos perguntou: "Não estás ouvindo de quanta coisa eles te acusam?" 14 MasJesus não respondeu uma só palavra, e o governador ficou vivamente impressionado.15 Na festa da Páscoa, o governador costumava soltar o prisioneiro que a multidãoquisesse. 16 Nessa ocasião tinham um prisioneiro famoso, chamado Barrabás. 17Então Pilatos perguntou à multidão reunida: "Quem vocês querem que eu solte:Barrabás, ou Jesus, que chamam de Messias?" 18 De fato, Pilatos bem sabia que eleshaviam entregado Jesus por inveja.19 Enquanto Pilatos estava sentado no tribunal, sua mulher mandou dizer a ele: "Nãose envolva com esse justo, porque esta noite, em sonhos, sofri muito por causa dele."20 Porém os chefes dos sacerdotes e os anciãos convenceram as multidões para quepedissem Barrabás, e que fizessem Jesus morrer. 21 O governador tornou a perguntar:"Qual dos dois vocês querem que eu solte?" Eles gritaram: "Barrabás."22 Pilatos perguntou: "E o que vou fazer com Jesus, que chamam de Messias?" Todosgritaram: "Seja crucificado!"23 Pilatos falou: "Mas que mal fez ele?" Eles, porém, gritaram com mais força: "Sejacrucificado!"24 Pilatos viu que nada conseguia, e que poderia haver uma revolta. Então mandoutrazer água, lavou as mãos diante da multidão, e disse: "Eu não sou responsável pelosangue desse homem. É um problema de vocês."25 O povo todo respondeu: "Que o sangue dele caia sobre nós e sobre os nossosfilhos."26 Então Pilatos soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus, e o entregou para sercrucificado.

MINISTÉRIO E CRUCIFICAÇÃO Mat. 27:27-44

27 Em seguida, os soldados de Pilatos levaram Jesus ao palácio do governador, ereuniram toda a tropa em volta de Jesus. 28 Tiraram a roupa dele, e o vestiram com ummanto vermelho; 29 depois teceram uma coroa de espinhos, puseram a coroa em suacabeça, e uma vara em sua mão direita. Então se ajoelharam diante de Jesus ezombaram dele, dizendo: "Salve, rei dos judeus!" 30 Cuspiram nele e, pegando a vara,bateram na sua cabeça. 31 Depois de zombarem de Jesus, tiraram-lhe o mantovermelho, e o vestiram de novo com as próprias roupas dele; daí o levaram paracrucificar.

32 Quando saíram, encontraram um homem chamado Simão, da cidade de Cirene,e o obrigaram a carregar a cruz de Jesus.33 E chegaram a um lugar chamado Gólgota, que quer dizer "lugar da Caveira."34 Aí deram vinho misturado com fel para Jesus beber. Ele provou, mas não quisbeber.35 Depois de o crucificarem, fizeram um sorteio, repartindo entre si as roupas dele.36 E ficaram aí sentados, montando guarda. 37 Acima da cabeça de Jesus puseram omotivo da sua condenação: "Este é Jesus, o Rei dos Judeus."38 Com Jesus, crucificaram também dois ladrões, um à direita e outro à esquerda.39 As pessoas que passavam por aí, o insultavam, balançando a cabeça, 40 e dizendo:"Tu que ias destruir o Templo, e construí-lo em três dias, salve-te a ti mesmo! Se é oFilho de Deus, desce da cruz!" 41 Do mesmo modo, os chefes dos sacerdotes, juntocom os doutores da Lei e os anciãos, também zombavam de Jesus: 42 A outros elesalvou... A si mesmo não pode salvar! É Rei de Israel... Desça agora da cruz, eacreditaremos nele. 43 Confiou em Deus; que Deus o livre agora, se é que o ama! Poisele disse: Eu sou Filho de Deus."44 Do mesmo modo, também os dois bandidos que foram crucificados com Jesus oinsultavam.

SIMÃO CIRENEU

Citações bíblicas:

E, quando saíam, encontraram um homem cireneu, chamado Simão, a quemconstrangeram a levar a sua cruz. (Mateus 27:32)

E constrangeram um [certo] Simão, cireneu, pai de Alexandre e de Rufo, que [porali] passava, vindo do campo, a que levasse a cruz. (Marcos 15:21).

E quando o iam levando, tomaram um certo Simão, cireneu, que vinha do campo, epuseram-lhe a cruz às costas, para que a levasse após Jesus. (Lucas 23:26).

E levantaram-se alguns que [eram] da sinagoga chamada dos libertinos, e doscireneus e dos alexandrinos, e dos que eram da Cilícia e da Ásia, e disputavam comEstêvão.

(Atos dos Apóstolos 6:9).

E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, [a saber]:Barnabé e Simeão chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado comHerodes o tetrarca, e Saulo. (Atos dos Apóstolos 13:1).

Citações Espíritas:

316 – Aceitando Jesus o auxílio de Simão, o cireneu, desejava deixar um novoensinamento às criaturas?

-Essa passagem evangélica encerra o ensinamento do Cristo, concernente ànecessidade de cooperação fraternal entre os homens, em todos os trâmites da vida. (O Consolador, Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel)

O Cireneu que o socorreu, em decorrência do peso da cruz que carregava não acolocou no seu próprio ombro para transportá-la ao local da crucificação. Foi o próprioMestre quem o fez com extraordinário estoicismo.

(Atendimento Fraterno, Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Manoel Philomeno deMiranda)

A cruz do Cristo foi a mais bela do mundo, no entanto, o homem que o ajuda não ofaz por vontade própria, e, sim, atendendo a requisição irresistível. (Pão Nosso,Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel)

Ocorrência:

Da fortaleza Antônia, onde Jesus foi açoitado e saiu carregando a cruz existe umarua estreita e andando por ela existe uma esquina que converge para a direita e dápara uma das portas que leva para fora da cidade murada. Próximo a esta esquinaexiste uma pedra que tem em cima uma pequena inscrição, Shimom Cireneu, ou seja,foi neste lugar que um homem estranho foi constrangido a ajudar um condenadoinocente.

Ao virar nesta esquina se segue até um dos doze portões da cidade deJerusalém, que se chama O Portão de Damasco, e ao passar por este portão já se estáfora da cidade Santa e próximo ao lugar onde aconteceu a crucificação do SenhorJesus que em Hebraico é chamado de Gólgota.

O Cireneu:

Onde Jesus cai perto da pedra até a próxima estação da via dolorosa, éexatamente cinquenta passos de distância, que foi o espaço exato que Shimom ajudouo homem de Nazaré. Mas o que um homem da cidade de Cireneu estaria fazendo emJerusalém? O que teria levado este homem a fazer uma viagem de 1.600 km? Qualseria o objetivo de Simão ao chegar a Jerusalém no dia 14 de Abibe? Quem erarealmente este Simão Cireneu?

• Cirene: capital da Cirenaica, um distrito da LÍBIA (At 2.10).

• Líbia: País localizado no norte da África, a oeste do Egito (Na 3.9; At 2.10).

• Abibe (Êx 13.4) ou nisã (Ne 2.1), de meados de março a meados de abril.

Cireneu é a indicação de onde ele viria, e Cirene ficava na costa da África doNorte e tinha sido fundada por uma colônia grega. Essa comunidade Grega, mais tardefoi entregue à posse dos Romanos. A população judaica dessa província era tãosignificativa, que Jerusalém tinha orgulho de ter uma sinagoga dos libertos para osvisitantes de Cirene e para outros estados livres (Atos-6:9). Hoje é a Etiópia.

Então Simão o Cireneu era um africano que em hebraico é chamado de Shuaz,que significa negro e ele chega a Jerusalém no dia 14 de Abibe, o grande dia daPáscoa, uma das três datas mais importantes do calendário judaico da época. (Podeser negro ou não)

• Páscoa: cai no dia 14 de NISÃ (mais ou menos 1 de abril). Em hebraico o nomedessa festa é Pessach. A FESTA DOS PÃES ASMOS era um prolongamento daPáscoa (Dt 16.1-8).

Essa cidade ou este território antes de ser uma colônia grega era um reinochamado Sabá, e tinha uma rainha chamada e conhecida por “Rainha de Sabá”, quehá muitos anos atrás teria vindo visitar e conhecer o famoso rei (Salomão) e tido comele um relacionamento profundo (I Reis 10). Os historiadores Judeus acreditam queSimão era descendente desse relacionamento e a prova de que ele era um judeu é oseu nome, Shimom, que era também o nome do segundo filho de Jacó, uma das tribosde Israel. Sim, este homem era um judeu negro! Ele era um monoteísta, ele acreditavaem um único e verdadeiro Deus que reinava sobre toda a terra.

Simão em Jerusalém:

Mas por que ele estava em Israel? Havia um mandamento que dizia que todoJudeu uma vez na vida todo judeu deveria peregrinar até a cidade Santa a fim departicipar de uma das três grandes festas, ou seja, a festa dos Tabernáculos, a festa daPáscoa e a festa de Pentecostes. Então Simão o Cirineu estava em Jerusalém a fim de

participar da festa da páscoa.

· Tabernáculos: Grande barraca na qual eram realizados os atos de adoraçãodurante o tempo em que os israelitas andaram pelo deserto, depois da sua saída doEgito (Êx 25—27). O tabernáculo continuou a ser usado até que o TEMPLO foiconstruído, no tempo do rei Salomão.

· FESTA DOS TABERNÁCULOS: Festa dos israelitas para lembrar o tempo emque os seus antepassados haviam morado em barracas na viagem pelo deserto, doEgito à TERRA PROMETIDA (Lv 23.33-36). Começava no dia 15 do mês de ETANIM edurava uma semana (mais ou menos a primeira semana de outubro).

· PÁSCOA: Festa em que os israelitas comemoram a libertação dos seusantepassados da escravidão no Egito (Êx 12.1-20; Mc 14.12). Cai no dia 14 de NISÃ(mais ou menos 1 de abril). Em hebraico o nome dessa festa é Pessach. A FESTADOS PÃES ASMOS era um prolongamento da Páscoa (Dt 16.1-8).

· Pentecostes: A palavra pentecostes é grega e quer dizer “quinquagésimo (dia)”,pois essa festa era comemorada cinquenta dias depois da PÁSCOA. (Colheita)

· FESTA DA COLHEITA: Festa dos israelitas comemorada cinquenta dias depoisda PÁSCOA, no dia 6 de SIVÃ (maio-junho). Também era chamada de Pentecostes(At 2.1; Lv 23.16) e de Festa das Semanas (Dt 16.9-12), das Primícias (Nm 28.26) eda Sega (Êx 23.16).

Ritual no Templo:

Um ritual acontecia todo ano no dia 14 de Abibe, no templo sagrado,pontualmente, onde uma multidão de homens se aglomerava para participar, vestidosde linho branco, era o sacrifício do cordeiro pascal. Na entrada o local ficava homensresponsáveis por inspecionar as vestes dos que desejavam entrar ali, sabendo que sehouvesse uma mancha ou qualquer sujeira na veste branca de linho, este não poderiaentrar no local sagrado da cerimônia.

Dentro do templo havia um altar grande e alto, com cerca de 2,80 metros dealtura todo feito em pedra inteira e sem corte ou trabalhada, após o Sacerdote cortar ajugular do cordeiro ele o pegava pelas pernas traseiras e com movimentos no sentidohorário girava sete vezes em torno do altar deixando que o sangue caísse eescorresse pelo altar, e quando todo o sangue já havia saído o sacerdote pegava

uma planta citada no Salmo 51:7, chamada hissopo, que é uma planta esponjosa,com forte poder de absorção, e com a planta encharcada, ele aspergia sobre oshomens que ali estavam para que recebessem ao menos uma gota do sangue docordeiro na veste de linho puro, e quando isso acontecia àquela veste passava a serum troféu para a vida do judeu. Imagine que os judeus viajavam milhares dequilômetros para receber ao menos uma gotinha do sangue do cordeiro.

· Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que aneve. Salmo 51-7

· Hissopo: Planta que, na, PURIFICAÇÃO, era usada para borrifar líquidos (Êx12.22; pronuncia-se hissôpo).

E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte pararemissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamadosrecebam a promessa da herança eterna. 16 Porque onde há testamento, é necessárioque intervenha a morte do testador. 17 Porque um testamento tem força onde houvemorte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive? 18 Por isso também o primeironão foi consagrado sem sangue; 19 Porque, havendo Moisés anunciado a todo opovo todos os mandamentos segundo a lei, tomou o sangue dos bezerros e dosbodes, com água, lã purpúrea e hissopo, e aspergiu tanto o mesmo livro comotodo o povo, 20 Dizendo: Este é o sangue do testamento que Deus vos temmandado. 21 E semelhantemente aspergiu com sangue o tabernáculo e todos os vasosdo ministério. 22 E quase todas [as coisas], segundo a lei, se purificam com sangue; esem derramamento de sangue não há remissão. (Hebreus 9:15-22)

· (Mesmo morrendo o testador o testamento é válido. Moisés fazia o testamentocom o sangue dos animais, com Jesus, Ele, o cordeiro foi imolado e o testamentopassa a ter validado, pois morre o testador).

Então quando Simão chega à cidade de Jerusalém após uma longa viagem,muito feliz, ele entra pela porta de Damasco e veste a sua roupa branca de linho puro ecaminha em direção ao local da cerimônia a fim de receber uma gotinha de sangue.Assim caminha Simão, mas quando ele dobra uma esquina ele depara com uma cenahorrenda, pois um condenado todo ensanguentado caminhava em sua direçãocarregando uma cruz e pendurado em seu pescoço uma tábua com inscrição em trêslínguas, Grego, Latim e Hebraico, que dizia: “Yeshua et Nazareth melec Yudim”, ou

seja, “Jesus de Nazaré rei dos judeus”.

Penso que Simão se assusta, pois nunca havia visto tal coisa. Simão procura seproteger a fim de que a multidão e o condenado passassem por ele para que pudesseseguir seu caminho, mas ao chegar a frente a Simão o condenado cai, e ossoldados olham para Simão e lhe obrigam a ajudar o condenado. Talvez Simão lábem dentro de seu coração ele se arrepende ter pegado aquele caminho, mas a ordemdos soldados romanos foi ameaçadora. Simão olha e naquele momento o condenadotambém levanta seus olhos e os olhares de Simão e Jesus se cruzam. Na verdadeSimão não foi constrangido pelos saldados romanos, mas sim pelo olhar manso esuave de Jesus.

Simão se abaixa e o condenado joga um dos braços em seu pescoço e Simão oabraça e pega a cruz lavada de sangue e joga nas costas e ajuda um homem quenunca tinha visto antes e o leva até adiante e depois o condenado segue sozinho.Simão olha para cima para ver a posição do sol a fim de saber se ainda há tempo paraparticipar da cerimônia sagrada, mas vê que o tempo passou e ele perdeu a gotinha dosangue do cordeiro. Simão olha para sua veste e vê que ela está toda encharcada desangue, e então procura saber quem era aquele condenado, e alguém lhe conta ahistória de Yeshua Ben-David, Jesus filho de Davi.

Agora que tudo passou, e Simão perdeu a cerimônia, ele tem que voltar paracasa, pois sua família o esperava para ver sua veste branca de linho puro salpicada degotinhas de sangue. Mais 1.600 km seriam percorridos com uma cena em sua mente.

De volta para casa:

Uma longa jornada de volta teria que ser feita pelo judeu negro, mas agora elecarrega dentro de seu coração a imagem da face machucada de um homem que erainocente, e dentro de sua bagagem vai uma roupa de linho branco encharcada desangue. Quando Simão chega a casa, seus filhos, sua família, seus amigos, queremver o troféu, então Simão tira a veste de linho e lhes conta a história de Yeshua Ben-David, e todos choram juntos e se convertem ao nome que está acima de todos osnomes. E talvez você pergunte como cheguei a esta conclusão, é só lermos o escritode em Romanos 16:13. (Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e a sua mãe e minha) Maistarde encontramos o Apóstolo Paulo se referir a um grande missionário da região deCorinto, na cidade Cencréia, que na verdade era um porto de Corinto. Segundo

historiadores este Rufo tinha um irmão também muito fervoroso e fiel à palavra, e seunome era Alexandre, ambos os filhos de Simão.

· Cencréia: Porto de Corinto. Ali havia uma igreja cristã (At 18.18).

Os 50 passos do local onde Simão ajudou a Jesus até a próxima estaçãosignificam os cinquenta dias que se deu após a morte de Jesus até o dia dopentecostes, a descida do maior presente dado ao homem, O Espírito Santo.

Conclusão:

Precisamos que nossos propósitos sejam confrontados com os propósitos doSenhor Jesus, pois de nada adianta buscarmos o pouco se Ele tem muito para nos dar,pois Simão buscava gotinhas de sangue e ganhou uma veste encharcada doverdadeiro sangue do verdadeiro cordeiro pascal.

Toda vez que a bíblia se referir a linho fino, ela esta se referindo à justiça, e assimSimão se veste da justiça da religião, do mundo, dos homens, e vai e entra emJerusalém, mas acaba por encontrar o sangue que purifica toda a justiça, o sangue deJesus. Sangue este que ainda está disponível a todos nós.

Baseado Pr. Alexandre Augusto

MORTE DE JESUS Mat. 27:45-56 Mc 15:33-41 Lc 23:44-49 Jo 19:28-37

45 Desde o meio-dia até às três horas da tarde houve escuridão sobre toda a terra.46 Pelas três horas da tarde Jesus deu um forte grito: "Eli, Eli, lamá sabactâni?", isto é:"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?"47 Alguns dos que aí estavam, ouvindo isso, disseram: "Ele está chamando Elias!" 48E logo um deles foi correndo pegar uma esponja, a ensopou em vinagre, colocou-a naponta de uma vara, e deu para Jesus beber. 49 Outros, porém, disseram: "Deixe,vamos ver se Elias vem salvá-lo!"50 Então Jesus deu outra vez um forte grito, e entregou o espírito.51 Imediatamente a cortina do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo; aterra tremeu, e as pedras se partiram. 52 Os túmulos se abriram e muitos santosfalecidos ressuscitaram. 53 Saindo dos túmulos depois da ressurreição de Jesus,apareceram na Cidade Santa, e foram vistos por muitas pessoas.54 O oficial e o soldados que estavam com ele guardando Jesus, ao notarem oterremoto e tudo o que havia acontecido, ficaram com muito medo, e disseram: "Defato, ele era mesmo Filho de Deus!"55 Grande número de mulheres estavam aí, olhando de longe. Elas haviamacompanhado Jesus desde a Galiléia, prestando-lhe serviços. 56 Entre elas estavamMaria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.

O SEPULTAMENTO Mat. 27:57-61 Mc 15:42-47 Lc 23:50-56 Jo 19:38-42

57 Ao entardecer, chegou um homem rico de Arimatéia, chamado José, quetambém se tornara discípulo de Jesus. 58 Ele foi procurar Pilatos, e pediu o corpo deJesus. Então Pilatos deu ordem para que o cadáver fosse entregue a José.59 José, tomando o corpo, o envolveu num lençol limpo, 60 e o colocou num túmulonovo, que ele mesmo havia mandado escavar na rocha. Em seguida, rolou uma grandepedra para fechar a entrada do túmulo, e retirou-se.61Maria Madalena e a outra Maria estavam aí sentadas, em frente ao sepulcro.

A GUARDA DO TÚMULO Mat. 27:62-66

62 No dia seguinte, um dia depois da Preparação, os chefes dos sacerdotes e osfariseus foram ter com Pilatos, 63 e disseram: "Senhor, nós lembramos que aqueleimpostor, quando ainda estava vivo, falou: 'Depois de três dias eu ressuscitarei'. 64Portanto, mande guardar o sepulcro até o terceiro dia, para não acontecer que os

discípulos venham roubar o corpo, e digam ao povo: 'Ele ressuscitou dos mortos!'Então essa última mentira seria pior do que a primeira."65 Pilatos respondeu: "Vocês têm uma guarda: vão e guardem o sepulcro o melhor quepuderem." 66 Então eles foram manter o sepulcro em segurança: lacraram a pedra, emontaram guarda.

A RESSURRREIÇÃO Mat. 28:1-10

1 Depois do sábado, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Maria Madalena ea outra Maria foram ver a sepultura.2 De repente houve um grande tremor de terra: o anjo do Senhor desceu do céu e,aproximando-se, retirou a pedra, e sentou-se nela. 3 Sua aparência era como a de umrelâmpago, e suas vestes eram brancas como a neve. 4 Os guardas tremeram demedo diante do anjo, e ficaram como mortos.5 Então o anjo disse às mulheres: "Não tenham medo. Eu sei que vocês estãoprocurando Jesus, que foi crucificado.6 Ele não está aqui. Ressuscitou, como haviadito! Venham ver o lugar onde ele estava.7 E vão depressa contar aos discípulos queele ressuscitou dos mortos, e que vai à frente de vocês para a Galileia. Lá vocês overão. É o que tenho a lhes dizer."8 As mulheres saíram depressa do túmulo; estavam com medo, mas correram commuita alegria para dar a notícia aos discípulos.9 De repente, Jesus foi ao encontro delas, e disse: "Alegrem-se!" As mulheres seaproximaram, e se ajoelharam diante de Jesus, abraçando seus pés.10 Então Jesus disse a elas: "Não tenham medo. Vão anunciar aos meus irmãos quese dirijam para a Galiléia. Lá eles me verão."

O SUBORNO DOS SOLDADOS Mat. 28:11-15

11 Quando as mulheres partiram, alguns guardas do túmulo foram à cidade, ecomunicaram aos chefes dos sacerdotes tudo o que havia acontecido. 12 Os chefesdos sacerdotes se reuniram com os anciãos, e deram uma grande soma de dinheiroaos soldados, 13 dizendo-lhes: "Digam que os discípulos dele foram durante a noite, eroubaram o corpo, enquanto vocês dormiam. 14 Se o governador ficar sabendo disso,nós o convenceremos, e vocês não precisam ficar preocupados." 15 Os soldadospegaram o dinheiro, e agiram de acordo com as instruções recebidas. E assim, talboato espalhou-se entre os judeus, até o dia de hoje.

APARIÇÃO DE JESUS NA GALILEIA (SEMEADORES GALILEUS) Mat. 28:16-20Mc 16:9-20 Lc 24:13-53 Jo 20:11-23 At 1:6-11

16 Os onze discípulos foram para a Galiléia, ao monte que Jesus lhes tinhaindicado. 17 Quando viram Jesus, ajoelharam-se diante dele. Ainda assim, algunsduvidaram.18 Então Jesus se aproximou, e falou: "Toda a autoridade foi dada a mim no céu esobre a terra. 19 Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meusdiscípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, 20 eensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês. Eis que eu estarei com vocêstodos os dias, até o fim do mundo."

Os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado.Quando viram Jesus, ajoelharam-se diante dele. Ainda assim, alguns duvidaram. EntãoJesus se aproximou, e falou: "Toda a autoridade foi dada a mim no céu e sobre a terra.Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo oque ordenei a vocês. Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo."

Numa pausa para melhor reflexão, o discípulo silenciou e todos os peitos, agoraopressos, respiraram com dificuldade.

Ao lado, um pouco mais acima do solo atapetado pela relva, de costas para o discosolar em sangue e ouro, o Amigo apareceu, nimbado de incomparável beleza.

Houve um estremecimento generalizado, um frêmito que percorreu todos ospresentes.

As lágrimas saltaram dos olhos desmesuradamente abertos. Os lábios da multidãose entreabriram mudos, pela inusitada emoção.

Sim, era Jesus!

As vestes pareciam flutuar incendiadas. O rosto adornado pela basta cabeleiraflutuando no ar carreado, era do Amado, conquanto mais belo mais diáfano...

— Eis-me que estou entre vós. Começou por dizer com a mesma entonação deoutrora —. Paz seja convosco! (*)

As palavras sem queixas nem reprimendas bordavam-Lhe os lábios e caíam comogotas divinas sobre os corações, penetrando-os.

— Agora ao vosso lado outra vez e, logo mais, com meu Pai. Nunca, porém, meapartarei de vós, nem vos deixarei.

"Sois a terra generosa e eu sou a semente da vida”. Se não morre o grão, não seenriquece a mesa de pão. Sem o solo a semente não sobrevive porque não se renovanem se multiplica e sem o grão a terra crestada é morta...

"Sois a minha paixão, a minha longa dor, o amor da minha vida”. Eu sou a vossaesperança, o alento da vossa felicidade. Sem mim caminhareis em inquietaçãocrescente. Sem vós sofrerei soledade.

"Vinde, novamente a mim, e deixai-me demorar em vós."

As ansiedades generalizadas selaram com silêncio suas agonias.

Ele contemplou a multidão e viu o futuro: campos juncados de cadáveres e rios desangue; paixões desenfreadas em carros de guerra e os abutres das pestes dizimando;os monstros do egoísmo e da insensatez dirigindo os corcéis do desespero e as doressuperlativas vencendo... Muito ao longe, no futuro, porém, desenhava-se a Era doConsolador, o período de paz...

— "Amai-vos sempre, eu vos peço”. Seja o vosso sinal o amor. Só o amor liberta ohomem. Por muito amardes, sereis perdoados, amados, felizes!

"Amai a fonte, o solo, o animal, a vida em qualquer expressão, amai-vos uns aosoutros”... como eu vos tenho amado!

"Eu vos convido a descer aos homens e amá-los para subirdes aos Céus,amados”. Todo aquele que desce para ajudar, eleva-se ajudado pelo auxíliodispensado.

"Por enquanto não sereis compreendidos nem amados”... Ao contrário, sereisodiados e perseguidos. Vossos suores, lágrimas e sangue lavarão vossas culpas eprepararão vosso amanhã.

"Sereis tidos por endemoninhados e loucos, ultrajados nos mais caros anseios eesperanças por minha causa. Lembrai-vos de mim .Recordai: Eu venci o mundo! Nãopodereis vencer no mundo das ilusões e dos triunfos entre os homens de paixões.

"Vossos ideais, em nome do meu Nome, serão violados e confundidos, e vosso

nome por amor ao meu, mil vezes pisoteado”... Tende bom ânimo!

"Tudo passa: menos o amor”.

"Na hora aziaga e nobre do testemunho, dizei: isto também passa”. E alegrai-vos.

"Sois minhas ovelhas amadas e eu vos mando na direção dos lobos rapaces.

"Ide, semeadores, e não temais!

"Que medo podem fazer os que matam o corpo e nada mais conseguem, eles, quelogo mais o perderão também?

"Não vos enganeis”! Porfiai, mesmo quando aparentemente tudo estiver contravós, prossegui. Estarei convosco até o fim dos séculos.

"Ignorados por todos, eu vos conhecerei; abandonados pela multidão, estareiconvosco; perseguidos pelo mundo, e eu ao vosso lado.

"E quando chegar o vosso momento de retornar, tomar-vos-ei em minhas mãos evos direi baixinho: entrai na vida, vós que fostes fieis até o fim, e alegrai-vos”!

"Agora, ide, pregai e vivei o amor. Eu me vou, mas ficarei convosco!"

O céu estava engastado de estrelas preciosas no manto da noite e a lua em pratavestia a paisagem, confraternizando com o último ouro do poente no cabeço dosmontes muito ao longe.

Lentamente viram-No ascender e perder-se no infinito das constelações como sefora uma gema a mais fulgindo no seu rastro luminoso, que ficara como ponte de luz daterra na direção do céu.

No imenso silêncio todos desceram o monte da Galiléia bordado de loendros eciprestes e refugiaram-se nas roupas da Humanidade dos tempos, desde então atéhoje nos dias do Consolador, aqueles que O ouviram e seguirão marchando fiéis atéamanhã, na direção da Era da paz e da felicidade por Ele prometida.

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(*) Mateus 28: 16 a 20

Nota da Autora espiritual.

Luz do Mundo - Divaldo Pereira Franco pelo Espírito Amélia Rodrigues