annette broadrick hunter's prey - visionvox

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Annette Broadrick Hunter's Prey "Kristi, preciso saber se fui o único homem da sua vida!" No silêncio do seu quarto, Kristi se desespera: Deus! O que devo fazer? Alta e elegante, a super modelo Kristi Cole tinha pouca semelhança com a adolescente que Jason McAlister havia conhecido. Mas por dentro era a mesma pessoa que tinha passado a vida apaixonada por ele. Jason era como um gato selvagem, movendo-se com a graça de um felino. Apesar dele ainda possuir o poder de fazer Kristi se esquecer de tudo, exceto dele, ela não se esquecera de que havia falhado como esposa. Após cinco anos separados, ela voltara para exigir o divórcio que ele teimosamente se recusou a dar. Mas Kristi não sabia que ela estava caindo na armadilha de Jason. Uma vez que ele a fez voltar, não tinha a intenção de deixá-la ir embora de novo.

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Annette Broadrick

Hunter's Prey

"Kristi, preciso saber se fui o único homem da sua

vida!" No silêncio do seu quarto, Kristi se desespera: Deus! O que devo fazer?

Alta e elegante, a super modelo Kristi Cole tinha pouca semelhança com a adolescente que Jason McAlister havia conhecido. Mas por dentro era a mesma pessoa que tinha passado a vida apaixonada por ele. Jason era como um gato selvagem, movendo-se com a graça de um felino. Apesar dele ainda possuir o poder de fazer Kristi se esquecer de tudo, exceto dele, ela não se esquecera de que havia falhado como esposa. Após cinco anos separados, ela voltara para exigir o divórcio que ele teimosamente se recusou a dar. Mas Kristi não sabia que ela estava caindo na armadilha de Jason. Uma vez que ele a fez voltar, não tinha a intenção de deixá-la ir embora de novo.

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Quando Kristine viu Jason McAlister atravessar o saguão do hotel, em direção ao bar, as botas batendo compassadamente contra o piso de mármore, seus olhos se arregalaram, incrédulos. "Não era possível", pensou. "Ele deveria estar a quilômetros de distância dali!"

Assustada, olhou para a garçonete que esperava pacientemente para conduzi-la à mesa que reservara e sorriu, se descul-pando. Depois, como um autômato, seguiu a moça através do restaurante, até o lugar indicado.

O hotel era uma contribuição do Holiday Inn para o crescimento da pequena cidade do sudoeste do Texas, próxima de onde nascera. Ele fora construído, recentemente, no trevo da rodovia interestadual que passava por Cielo. E não existia quando ela partira cinco anos atrás...

Jason McAlister, havia sido o motivo de sua fuga e o de sua volta também.

"Oh, Deus, o que vou fazer?", pensou, mordendo o lábio inferior.

Viera dirigindo o seu Triumph TR7 desde Nova York, sem pressa, apreciando o fato de estar por conta própria depois de anos de programas restritivos e prazos exigentes. Resolvera parar no hotel por um simples impulso. Uma noite de descanso, antes de percorrer os últimos setenta quilômetros até à fazenda do irmão, lhe parecera uma boa idéia. Mas agora, já não tinha tanta certeza disso...

Claro que, mais cedo ou mais tarde, acabaria se encontrando com Jason. Mas o fato é que não estava preparada para vê-lo tão de repente!

"Oh, Deus, o que vou fazer?", perguntou-se novamente.

O garçom aguardava pelo seu pedido.

— Uma salada mista, por favor — decidiu, sem consultar o cardápio.

O rosto inexpressivo do garçom demonstrou surpresa, enquanto olhava para a figura esguia dela.

"Está me achando magra?", Kristi pensou irritada. Claro que sou. Afinal, isso é normal nas mulheres que trabalham como modelo. Sorriu para o homem, como que se desculpando pelos seus pensamentos.

— Deseja mais alguma coisa, senhorita?

— Um copo de vinho branco, por favor. — Estava muito agitada e precisava se acalmar... Claro que não era obrigada a se

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encontrar com Jason naquela mesma noite. Podia manter o plano original de passar uns dias com seu irmão, Kyle, e a cunhada Francine, e depois telefonar para ele, marcando um encontro.

Percebeu o quanto estava nervosa, quando segurou o copo de vinho com as mãos trêmulas e, ao beber, deixou cair algu-mas gotas no seu vestido verde. Tentou limpá-las com o guardanapo, mas não obteve sucesso. Na verdade, o que menos a preocupava no momento era sua aparência.

Ninguém de sua família sabia explicar a origem de tanta beleza. Seus olhos cor de esmeralda e seus cabelos cor de fogo, possuíam brilhos próprios. Assim, quando os fotógrafos descobriram o quanto sua pele translúcida se iluminava pela ação dos poderosos reflexos, sua carreira de modelo começara. Agora, Kristi Cole aparecia em um sem-número de capas de revistas, tanto nos Estados Unidos como na Europa Ocidental. Ela só não era uma celebridade no sudoeste do Texas.

Será que Jason a acharia muito mudada? Quase já não havia mais semelhança entre a garotinha que preferia jeans e cavalos e a mulher sofisticada do momento. Entretanto, basicamente, ela era a mesma pessoa que o amara durante tanto tempo.

Fisicamente ele não mudara nada. Ainda a fazia lembrar o leão da montanha que vira há muitos anos, quando juntos exploravam as cavernas de areia às margens do Rio Grande. Jason movia-se com a mesma agilidade do felino, e até mesmo na cor se pareciam. Os cabelos loiros, queimados de sol, lembravam a pelagem dourada do animal.

Não havia mais razão para adiar o encontro, decidiu. Ele não tomara conhecimento de suas cartas, e se recusara a discutir os detalhes do divórcio com o seu advogado, fazendo com que ela voltasse ao Texas para enfrentá-lo.

Cinco anos tinham sido tempo suficiente para que superasse seus sentimentos de perda e inadequação. Havia falhado como esposa, mas vencera como profissional. Estava em paz com o passado, porém precisava cortar todas as amarras para poder se sentir livre novamente.

Após comer a salada, deixou o restaurante e cruzou o saguão, em direção ao bar. Na entrada, parou por um instante, tentando acostumar os olhos à penumbra que reinava no ambiente. As velas colocadas nos castiçais formavam pequenos oásis de claridade. Alguns homens que estavam sentados próximos à porta pararam de conversar e a analisaram cobiçosamente, enquanto ela olhava ao redor.

Acostumada à admiração masculina, Kristi os ignorou e entrou no bar, caminhando com desenvoltura. Correu os olhos pela sala, e não demorou muito para encontrar a pessoa que estava procurando. Aqueles cabelos dourados eram inconfundíveis, especialmente para ela que os conhecia tão bem!

Jason estava sozinho e, enquanto bebia seu uísque com água, notou a jovem esguia e elegante que se aproximava. Cerrou os dentes, sentindo uma dor antiga, quando ela passou sob um dos castiçais, e seus cabelos ruivos brilharam à luz da vela.

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"Por que toda ruiva alta me faz lembrar Kristi?", perguntou-se, com raiva.

Assim que ela se aproximou, examinou-a com um olhar cínico, acreditando que se tratava de uma mulher qualquer em busca de companhia. Porém, no estado de espírito em que estava, certamente não seria ele quem iria satisfazê-la. Quando o advogado de Kristi lhe telefonara para comunicar o pedido de divórcio, quase o mandara para o inferno. Quantas vezes mais teria de repetir que não iria concedê-lo? Aprendera, depois de muito sofrimento, a aceitar o fato de Kristi preferir uma carreira em Nova York, a morar com ele, e não tinha mais esperanças de que ela voltasse para casa. Acostumara-se com a solidão e com a dor de saber não ter sido capaz de lhe oferecer a vida que ela tanto desejava. Mas de uma coisa tinha certeza: jamais desistiria dela completamente, porque aquela mulher já fazia parte dele.

Kristi caminhou em direção a Jason e ele levantou a cabeça. Seus olhares se cruzaram por um breve instante, e ela parou, chocada com a expressão fria com que ele a fitava. Mesmo tendo consciência do quanto havia mudado, não pensara na possibilidade de ele não reconhecê-la, e isso a deixou confusa. Sem saber como agir, afundou-se numa poltrona forrada de couro que estava junto de uma mesa próxima.

Jason não a reconhecera mesmo, e agora ela enfrentava o dilema de lhe dizer quem era ou fingir que não o conhecia. Não havia razão para que não ficasse e tomasse um drinque, pensou, e a tensão diminuiu quando lembrou que não precisaria falar com ele...

Sob os cílios longos, seus olhos examinaram Jason atentamente, enquanto ele observava a própria bebida. O litro de uísque já quase vazio mostrava o quanto o estilo de vida dele mudara; pois o homem com quem havia se casado não tomaria mais do que uma cerveja gelada, num dia quente de verão. Uma garçonete loira, usando meias rendadas e uma saia mi-núscula, aproximou-se, perguntando-lhe de maneira arrogante:

— Gostaria de beber alguma coisa?

— Um copo de vinho branco, por favor.

A garota olhou-a irritada, e retirou-se bruscamente. Kristi podia adivinhar os pensamentos dela, como se ela estivesse falando. Ninguém por aqueles lados costumava tomar vinho. Isso era coisa de gente de Nova York ou de estrangeiros...

Levantou os olhos e viu que Jason a olhava intensamente. Seu coração começou a bater com violência dentro do peito, como se fosse uma tropa de cavalos correndo. "Minha voz deve tê-lo chamado a atenção", pensou.

Há anos Jason não falava com Kristi, porque recusava-se a torturar-se ainda mais. Aquela mulher na mesa ao lado, porém, possuía o mesmo tom suave, mas sem o sotaque sulino, tão característico da região. A luz intermitente das velas se derramava sobre as mãos delicadas de Kristi, pousadas sobre a mesa, realçando o brilho das suas unhas longas e bem pintadas. Ela podia sentir o olhar de Jason examinando-a atentamente. Mas, como estava resolvida a tomar seu drinque e

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sair, esforçou-se para não lhe retribuir o olhar.

— Gostaria de dançar?

Ela se assustou, olhando para o rapaz que estava ao seu lado.

— Não, muito obrigada — disse, sorrindo polidamente.

— Ora, o que é isso, moça? Não há razão para que não sejamos amigos...

— Você a ouviu dizer não, Herman. Suma! — A voz de Jason soou grave, um tanto arrastada, demonstrando o quanto já havia bebido.

"Talvez por isso, ele não me tivesse reconhecido", Kristi pensou. Jason ficou parado, em pé, ao lado de sua mesa.

— Ei, não fiz nada de mais; você sabe disso — Herman retrucou, contrariado.

— Claro que sei. Mas essa moça não conhece você, como eu...

Jason ficou observando Herman afastar-se e, quando olhou novamente para Kristi, ela lhe sorriu timidamente e agradeceu:

— Muito obrigada.

Por um momento, ele ficou parado, com uma expressão intensa no olhar, mas depois perguntou:

— Ainda que correndo o risco de parecer outro Herman, posso me sentar com você? Detesto beber sozinho.

O sorriso tímido dele mexeu com os nervos de Kristi. "Não posso ficar aqui sentada sem lhe dizer quem sou", pensou desesperada. Confusa, concordou com um gesto de cabeça. Jason então se voltou, apanhou o copo, a garrafa e o dinheiro que havia deixado na outra mesa e sentou-se em frente a ela.

Kristi olhou para as mãos dele e sentiu uma pontada de dor ao ver a marca deixada pela aliança. Lembrou-se de repente de como sempre se sentira em desvantagem durante os meses em que tinham sido casados, devido aos dez anos de diferença existente entre eles. Respirou fundo e tentou se acalmar, imaginando até quando conseguiria continuar fingindo.

— Você não mora por aqui — ele comentou, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa.

— Você está certo. Vim apenas para fazer uma visita.

A voz dela continuava a perturbá-lo. Se fechasse os olhos, juraria que era Kristi quem estava falando!

A garçonete trouxe o vinho, mas, antes que ela pudesse alcançar a bolsa, ele apanhou um par de notas daquelas que havia deixado sobre a mesa e pagou a bebida. Agradecendo com um sorriso, Kristi perguntou:

— Você vem sempre aqui?

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— De vez em quando. Por quê?

Ela sorriu e apontou a garçonete com a cabeça.

— Parece que a moça acha que você lhe pertence.

Jason deu de ombros, num gesto de quem pouco se importava.

— A maioria das pessoas aqui me conhece...

Enquanto ele tomava metade do conteúdo de seu copo, Kristi o examinou. O sol marcara mais a pele dele e as rugas ao redor de sua boca haviam se acentuado. Repentinamente, uma onda de ternura a invadiu, fazendo-a desejar afastar a mecha de cabelos loiros e macios que caía rebelde sobre a testa morena.

— De onde você é? — ele perguntou com interesse, os olhos brilhando sob a luz fraca das velas.

Desconfiada, Kristi tentou imaginar a espécie de jogo que ele estaria fazendo.

— Nova York — respondeu.

É claro que ele reagiria àquela informação, pensou. Afinal, quantas ruivas altas de Nova York costumavam passar por Cielo? No entanto, isso não aconteceu e no mesmo tom delicado ele indagou:

— E o que você veio fazer aqui, tão longe?

"Agora, seria a hora de responder: vim até aqui para ver você, Jason. Temos que chegar a um acordo sobre nossa separação!" Mas, em lugar disso, Kristi simplesmente falou:

— Estou de férias, e resolvi seguir por este caminho. — "Pelo menos, isso não é uma mentira", pensou, frustrada com a própria covardia.

A garçonete loira apareceu de repente ao lado deles e, com um sorriso provocante, falou baixinho, olhando diretamente para Jason:

— Tem um sr. Alvarez ao telefone, dizendo que quer lhe falar.

Surpreso com a interrupção inesperada, ele olhou para o relógio e, desculpando-se, foi atender ao chamado.

Seu modo de andar fez Kristi lembrar-se de que uma vez o "acusara" de ter sangue indígena nas veias, por causa de seu jeito silencioso de caminhar. Jason rira muito e brincara com ela sobre as ondas vermelhas dos seus cabelos, dizendo que a maioria das famílias que haviam passado tantos anos nas planícies do oeste do Texas deveriam ter tido algum descendente indígena também.

Sorriu ao recordar-se do quanto havia ficado nervosa e de como correra até em casa para perguntar ao irmão, Kyle, se eles também tinham sangue índio nas veias.

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Mas agora tinha certeza de que Jason não iria achar nada engraçado, quando descobrisse quem ela realmente era... "Mas será que ele não está apenas fazendo um jogo só para descobrir o que eu quero?", pensou.

Quando ele voltou à mesa, parecia zangado. Enquanto se servia da própria garrafa de uísque pediu à garçonete para trazer outro drinque a Kristi, que ficou espantada diante do esforço que ele fazia para se controlar.

— Aconteceu algo errado? — ela perguntou.

— A pessoa que deveria vir se encontrar comigo aqui não vai poder aparecer. Deixou para me avisar na última hora.

Kristi ficou surpresa, quando ele lhe tocou uma das mãos e delicadamente a convidou para dançar.

Notando a expressão de espanto no rosto dela, Jason também percebeu o quanto ficara surpreso com a própria atitude. Não estava realmente interessado naquela moça. A bem da verdade, a única coisa que o prendia ali era a espantosa semelhança dela com Kristi.

Mas não se importou muito com isso, porque sabia que depois daquela noite não a veria mais. Portanto, o que havia de errado em convidá-la para dançar? Queria esquecer Kristi, Alvarez e a solidão que ameaçava matá-lo.

Kristi levantou-se e começou a caminhar em direção à pequena pista de dança, onde dois casais dançavam ao som do último sucesso de Kenny Rogers. Quando se voltou para Jason, ele a enlaçou pela cintura com os dois braços, não lhe dando outra opção, senão a de apoiar os braços sobre os ombros largos dele, cruzando-os atrás da nuca forte e bem-feita.

Seus anos solitários se dissolveram magicamente assim que sentiu o perfume ácido da loção de barbear que ele sempre usara. Esse homem tinha um efeito arrasador sobre ela...

Quando partira de Cielo, enterrara as emoções de tal forma, que os homens, frustrados, a apelidaram de princesa de gelo. Nunca se ofendera com isso, porque era verdade, não queria ser tocada por ninguém! Mas assim que os braços de Jason a envolveram, o gelo derreteu e ela se aconchegou mais a ele.

Apertou um pouco mais a cintura fina de Kristi, envolvendo-a completamente... "Quando fora a última vez em que dançara?" Não se lembrava muito bem, mas sabia que havia sido com sua ex-esposa. Recordava-se de tê-la levado a algum lugar... Era uma infelicidade que esta mulher fosse tão parecida com Kristi, porque não precisava de mais lembranças amargas do que já possuía; ao menos por aquela noite.

Dançando macio, movendo-se devagar ao som da música romântica, Jason ia acariciando, sem perceber, as costas macias de Kristi. Ficaram na pista de danças até que os músicos pararam para uma folga e, então, voltaram à mesa em silêncio.

Kristi tomou um gole de vinho, tão grande, que quase se engasgou. Sua cabeça girava. Ficou imaginando se era assim que Jason passava os dias agora.

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Embora dizendo a si mesma que não tinha nada a ver com isso, o pensamento a chocou. Por que deveria se preocupar, se já tomara a decisão de separar-se dele há vários meses? Não havia futuro para eles. Freqüentemente, perguntava-se por que ele não dera um fim ao casamento deles antes, já que nunca fizera segredo do seu desejo de ter filhos.

Mais uma vez, o velho sentimento de impotência a perturbou. Olhou para Jason com tristeza... Ele não a reconhecera mesmo, senão a esta altura já teria dito alguma coisa. Voltou os olhos para a garrafa de uísque quase vazia, que estava sobre a mesa, e balançou a cabeça. Aquele não era o homem com quem havia se casado. O seu Jason jamais iria a um bar para beber e flertar com qualquer mulher que aparecesse. Sorriu para ele com delicadeza, antes de falar:

— Muito obrigada pela dança e pela bebida. Acho que agora vou para a cama. Tive um dia longo e cansativo.

Jason tirou o cigarro apagado da boca e a olhou divertido.

— Isso é um convite?

Kristi levou algum tempo para entender a ironia e a rápida mudança de atitude dele. Enrubesceu com o insulto, retrucando indignada:

— Não, não é!

Se o olhar frio com que o fitou não foi suficiente, o gelo de sua voz deveria ter sido. Mas Jason não compreendeu sua atitude e continuou no mesmo tom irônico.

— Talvez as pessoas sejam diferentes em Nova York, mas aqui os homens é que convidam as mulheres...

Agarrando a bolsa, Kristi levantou-se devagar, sufocando a raiva que sentia.

— Olhe aqui, seu vaqueiro bêbado e egoísta, se eu estivesse buscando companhia, certamente conseguiria coisa muito melhor do que você!

Deu-lhe as costas e se retirou do bar, parando só quando chegou ao saguão, onde respirou fundo para se acalmar.

Teria sido melhor não tê-lo encontrado naquela noite, pensou. Preferia as lembranças, à realidade. O homem que acabara de deixar tinha muito pouca semelhança com o Jason McAlister com quem se casara seis anos atrás. A decisão de se divorciar nunca lhe parecera tão acertada.

Dirigiu-se para o quarto, notando que o seu Triumph continuava estacionado em frente à porta principal do hall. Parou no corredor e colocou a chave na fechadura. Quando girou a maçaneta, alguém empurrou a porta e, com delicadeza, a condu-ziu para dentro do quarto.

Ao voltar-se quase tropeçou, surpresa, ao ver Jason ali, parado, esperando por sua reação. Uma vez mais, a maneira silen-ciosa de ele se movimentar fizera com que ela não percebesse sua presença. Só que, agora, isso já não a impressionava mais.

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Cerrando os dentes, falou, áspera.

— Saia do meu quarto.

Jason olhou ao redor, notando a mala aberta aos pés da cama de casal e a linda camisola de cetim jogada, com descuido, sobre os travesseiros. Virando-se, fechou a porta e a encarou.

Kristi só deixara acesa a luz do closet e, por isso, agora eles se fitavam na semi-obscuridade.

Jason caminhou até ela.

— Devo-lhe desculpas. Não deveria ter tirado conclusões precipitadas lá no bar. Sinto muito.

Ela correu o olhar, desde as botas até o chapéu Stetson. Então, olhou-o diretamente nos olhos e falou, o queixo erguido, em desafio:

— Você cometeu um engano, cowboy, mas eu também fiz o mesmo. Foi só um pequeno equívoco.

Jason colocou as duas mãos, com suavidade, na nuca de Kristi, acariciando-lhe as faces com os polegares, enquanto estu-dava atentamente o rosto delicado.

— É engraçado que você diga isso, porque pensei a mesma coisa a seu respeito. Qual é o seu nome?

Kristi sabia que ele deveria estar sentindo as batidas aceleradas de sua pulsação, que estavam assim desde que ele a tocara. Sua respiração estava presa na garganta, como um passarinho trancafiado numa gaiola, tentando escapar. Surpreendeu-se, ao ver que sua voz saíra tranqüila, quando disse:

— Isso não tem a menor importância.

Tudo o que ela queria, era vê-lo longe dali. No dia seguinte, providenciaria o fim legal do seu relacionamento. Esta noite, porém, tinha um sonho para enterrar!...

— Você está certa — ele murmurou. — Não tem importância mesmo.

Com rapidez, a boca de Jason pousou sobre a dela. E enquanto uma das mãos fortes a aprisionava contra o corpo forte, alto e enrijecido pelos anos de trabalho físico, a outra desmanchava-lhe o penteado bem-cuidado, fazendo com que os seus cabelos longos caíssem soltos pelas costas, numa cascata avermelhada e brilhante.

Kristi ficou surpresa com o movimento suave dos lábios dele de encontro aos seus, porque esperava que ele a atacasse de forma brutal. Em vez disso, Jason beijava-a com ternura, movendo a língua com delicadeza, na tentativa de romper a barreira dos seus dentes.

Maldição! Como ele ainda conseguia despertar-lhe o desejo dessa maneira? Pensara que o havia esquecido, mas estava en-ganada. Seus sentimentos pareciam confusos agora: amava-o e odiava-o ao mesmo tempo.

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"Puxa, como era bom estar nos braços dele novamente! Que mal poderia haver em entregar-se a ele pela última vez?", pen-sou agitada.

Todos os sentimentos que trancara dentro do coração se soltaram como que por encanto. Correspondeu ao beijo com paixão, enquanto que, com os dedos, massageava os cabelos dourados que sempre a tinham atraído tanto.

De repente, sentiu a beirada da cama contra as pernas e deixou-se cair, trazendo Jason junto. Ele continuava a explorar-lhe a boca, as mãos firmes acariciando-lhe os ombros macios. Encontrou o zíper oculto na gola em "V" do vestido e o abaixou alguns centímetros. Então, colocou o joelho por entre as coxas dela e pressionou-lhe ainda mais o corpo contra o seu.

Jason estava totalmente possuído pelo desejo. Puxou o zíper mais para baixo e abriu o fecho minúsculo do sutiã, a única barreira que faltava ser transposta pelas mãos que a exploravam com determinação.

Kristi arrepiou-se toda, assim que os lábios dele tocaram-lhe os seios. Rapidamente, começou a tirar-lhe a camisa também. Tinha pressa em senti-lo nu, contra o próprio corpo.

O vestido estava atrapalhando e Jason o retirou sem dificuldade, estremecendo de maneira quase imperceptível ao roçar as mãos na pele macia e suave.

Agora, ele se movia de forma controlada, passeando os lábios pelo rosto delicado, descendo lentamente pelo pescoço, até encontrar a curva dos seios firmes.

Kristi sentiu-se amolecer, quando, com as mãos, Jason acariciou-lhe a parte interna das coxas, massageando-lhe o sexo com delicadeza.

Então, viu-o afastar-se de repente e ficou indignada. Ele não poderia abandoná-la agora que seu corpo doía de desejo!

Aliviada, assistiu-o tirar as botas e o jeans, e deitar-se novamente sobre ela, fazendo-a sentir toda a força da paixão.

Estremeceu quando os lábios dele abandonaram os mamilos intumescidos dos seus seios, e seguiram em torno, traçando um caminho de fogo. Instintivamente, abriu as pernas, deixando que ele encontrasse, afinal, o que tanto procurava. Um gemido rouco escapou-lhe então dos lábios, e ela ficou sem saber como pudera sobreviver por tanto tempo sem esta paixão terna e intensa. Num apelo inconsciente, moveu os quadris num convite urgente, que não admitia recusa.

Compreendendo de imediato a mensagem, Jason atendeu ao apelo sem hesitar. Num gesto firme, mas gentil, penetrou-a, movimentando o corpo ritmadamente, controlando a necessidade poderosa que crescia dentro dela.

Kristi entrelaçou as pernas sobre os quadris estreitos, num aperto possessivo. Jason pertencia a ela, pelo menos naquele momento. Ele sempre soubera como levá-la ao auge do prazer.

Ainda agarrada ao corpo dele sentiu o orgasmo apoderar-se de todos os seus sentidos. Os cinco anos de separação

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perderam então todo o significado, enquanto moviam-se em perfeita sintonia.

Jason colou-se mais a ela e seus corpos se fundiram tornando-os um só. Exasperado, ele soltou um grito angustiado, antes de escorregar para o lado, mantendo-a presa em seus braços.

Kristi mergulhou no crepúsculo do prazer tempestuoso que haviam tido juntos, e só se recuperou quando percebeu o que ele havia dito em seu grito rouco. Fora o seu nome que chamara! Seria possível que Jason estivesse fazendo um jogo e soubesse o tempo todo quem era ela?

Afastou-se e viu que ele dormia um sono profundo.

Contemplando com carinho o rosto dele, ficou imaginando se Jason também a ouvira chamar por ele.

Mesmo dormindo, ele não a largava. Tentou livrar-se do abraço, mas ele a apertou ainda mais. Relaxou então, sabendo que não iria a lugar algum.

Depois de viajar tantos quilômetros, e de tantos anos solitários, ela agora retornava para aquele que a fizera sentir-se mulher!

Um brilhante raio de sol fez com que Jason acordasse assustado. Olhando confuso pelo quarto vazio, perguntou-se o que estaria fazendo ali. Olhou para o relógio, e ficou com raiva ao ver que já passava das nove horas.

Estava com uma ressaca enorme, a cabeça martelando e a boca com um gosto horrível. Desta vez, armara uma grande confusão, porque era esperado em sua fazenda horas atrás, para decidir as tarefas do dia.

Sabia que não deveria beber... Depois de alguns drinques, sempre via Kristi em qualquer lugar. O telefonema do advogado dela e depois o de Alvarez também não o ajudaram. Por isso, tudo aquilo acontecera.

Após todos esses anos, não resistira, por fim, ao charme de outra mulher. A estranha possuía as mesmas características físicas de Kristi, mas era só isso. A garota impetuosa que gostava de sexo, de que tanto se lembrava, talvez só existisse na sua memória. A Kristi de hoje era uma mulher fria, que lhe escrevia cartas objetivas e impessoais, pedindo sua colaboração para conseguir a liberdade...

Mas isso não importava, porque não havia a menor possibilidade de lhe conceder o divórcio. Se ela teimasse, teria que lutar abertamente, e ele não estava disposto a perder.

Ainda meio tonto, não conseguia lembrar-se claramente do que acontecera, para que tivesse procurado a mulher do bar. Quase não se recordava do que haviam conversado, mas lembrava-se muito bem do que a fizera se retirar. Por isso ele a seguiu, queria se desculpar. Não havia planejado fazer amor com ela, mesmo porque, desde que Kristi partira, nenhuma

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outra mulher o interessava...

— Ai, seu idiota, como você foi deixar isso acontecer... — murmurou com desgosto.

Após um banho frio e relaxante, vestiu-se e saiu, notando que o carro esporte também havia partido. Isso era ótimo, porque esperava nunca mais encontrar aquela mulher.

Retirou a caminhonete do estacionamento, planejando parar no primeiro restaurante para tomar um café e uma aspirina.

"Maldito Alvarez! Eu havia pedido o uísque para ele, por que não apareceu?"

Jason dirigia com rapidez e habilidade, mas sua mente, teimosamente, retornava para uma mulher de pele cálida, brilhan-do na obscuridade; seios atrevidos com mamilos róseos, pedindo para serem tocados, beijados. Balançou a cabeça, e gemeu baixinho.

Meia hora mais tarde, parou o carro e desceu com cuidado, determinado a esquecer a noite anterior.

O sol morno do Texas iluminou os cabelos e os ombros de Kristi, quando entrou na estrada que a levaria à fazenda de seu irmão. Assim que terminara o café da manhã e saíra, já estava muito quente para que pudesse levantar a capota do carro.

Apesar de ainda ser abril, a primavera já começava a despontar nas copas das árvores. Flores silvestres apareciam aqui e ali, junto à beira da estrada. O inverno estava ficando para trás.

Desde o momento em que acordara, Kristi não conseguia parar de pensar na noite anterior. Continuava a ver os olhos de Jason, brilhando sob a luz das velas, o lampejo de seu sorriso no quarto escurecido, o corpo másculo e rijo pressionando o seu. Não havia como conciliar seu comportamento com a aproximação que planejara tão cuidadosamente. Tudo parecera muito claro, antes que o visse. Mas...

Ao menos, uma coisa a noite anterior provara: ela não merecia o apelido de "princesa do gelo". Chegara mesmo a se con-vencer do acerto dessa reputação, porque sentia aversão pela insistência dos avanços da maioria dos homens que achava ser este um direito inalienável deles. Teria se sentido incapaz de amar, se não fosse pelas lembranças de Jason. Porém, na noite anterior, vira que estivera equivocada mas, infelizmente, parecia que só reagia a Jason McAlister.

Não se recordava da primeira vez em que o vira, porque ele sempre fizera parte de sua vida. Certa vez, sua mãe lhe

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contara como o pequeno Jason, de dez anos de idade, ficara apaixonado pela irmãzinha de seu melhor amigo. Aos onze anos, Kyle tinha mais o que fazer do que perder tempo com a irmã de cabelos ruivos e brilhantes; mas Jason estava fascinado.

Quando ela começou a andar, tornou-se uma pequena sombra, que sempre acompanhava os dois. Lembrava-se de que sua mãe costumava brincar com Jason, dizendo que os três pareciam irmãos, mas ele nem se abalava. Ser filho único era algo muito solitário, e Jason passava a maior parte do tempo na fazenda dela.

Kyle e Francine estavam casados há poucos meses, quando seus pais, Jeremy e Carla Cole, morreram numa colisão múltipla perto de Dallas. Nessa época, ela tinha apenas nove anos, e Kyle, Francine e Jason a cercaram de amor e carinho, tentando preencher a falta imensa que os pais faziam na vida dela.

Um dia em particular permanecia vivo em sua memória: Kyle havia prometido levá-la junto quando ele e Jason fossem buscar o gado desgarrado, mas na última hora mudara de idéia.

Kristi bateu o pé, furiosa, pois não admitia a mudança nos seus planos, e tanto fez que Kyle não teve outra saída senão levá-la.

Lembrava-se de como Jason havia rido, enquanto a observava enfrentar o irmão, com apenas dez anos. Kyle ainda olhou para a casa, esperando que Francine viesse em seu socorro, mas não houve jeito. Partiram, afinal, com Kyle mais à frente, en-quanto ela emparelhava seu cavalo ao de Jason, conversando animadamente. Na sua inocência, contou a ele que Francine havia dado a maior bronca no irmão, na noite anterior.

Enquanto falava, balançava a cabeça com veemência, os cachos avermelhados refletindo ao sol, sob as abas do chapéu que usava. Kyle diminuíra a marcha para também ficar ao seu lado, e a olhava com orgulho, enquanto Jason sorria diante de sua tagarelice e exuberância.

Passaram-se muitos anos antes que Kristi pudesse compreender como aqueles tempos haviam sido difíceis para Kyle, que de uma hora para outra viu-se às voltas com uma esposa, uma irmã criança e uma fazenda enorme para cuidar.

— Olhe, Kyle, uma desgarrada lá longe!

A voz e o riso infantil ecoaram em seus ouvidos. Lembrava-se do passado como se ele tivesse acontecido ainda ontem, e ela tivesse apenas dez anos.

Talvez as lembranças daquele dia permanecessem tão vivas porque fora o último dia que haviam passado juntos, antes de uma separação de seis anos. Algumas semanas depois, Jason contara que iria se alistar no Exército. Kristi recordava-se clara-mente de que Kyle tentara de tudo para fazê-lo desistir da idéia, lembrando-lhe o quanto o seu trabalho era necessário na fazenda. Afinal, o pai dele estava doente, e ele era o único que poderia cuidar da propriedade dos McAlister.

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— Você não será aceito, Jason. Você é necessário em casa... do mesmo jeito que eu.

Kristi ainda podia sentir o tom de apelo na voz de Kyle. Mas Jason, na sua maneira de ser, nunca voltava atrás quando tomava uma decisão.

Ela cresceu enquanto ele estava longe e, aos dezesseis anos, já tinha a aparência de uma mulher, embora, no íntimo, ainda fosse a jovem que idolatrava o irmão e Jason.

Durante esses anos, ela deixara crescer o cabelo. Os cachos curtos foram substituídos por grandes ondas que chegavam até a cintura, quando estavam soltos. Mas quase sempre Kristi andava de trancas, apesar das brincadeiras das colegas por usar algo tão infantil.

Certa tarde, tinha acabado de tomar banho e estava tentando secar o cabelo, quando ouviu o grito de Kyle.

— Jason! Como vai você, homem?

Ouviu a resposta risonha, enquanto voava para a cozinha, onde entrou feito um furacão, atirando-se nos braços do homem alto e magro que estava em pé sob o batente da porta.

— Oh, Jason... você está de volta! Finalmente está em casa!

Ainda pendurada no pescoço dele, sentiu o corpo másculo de Jason enrijecer, enquanto a afastava com firmeza e a encarava intrigado. Confusa, ouviu Francine rir, enquanto Kyle perguntava, mal disfarçando o orgulho:

— Você já não consegue reconhecer Kristi, Jason?

— Kristi?!

Ele segurou o pequeno rosto entre as mãos, olhando-o abismado, ao mesmo tempo em que ela concordava com um gesto de cabeça, embaraçada por não ter sido reconhecida.

— Deus, Kristi, como você cresceu!

— Bem, e o que você esperava? — ela retrucou, olhando-o atentamente. — Você parece mais velho!

Com as mãos pousadas nos ombros dele, esticou-se e o beijou suavemente nos lábios, antes de murmurar:

— Mas, mesmo assim, ainda te amo...

Jason afastou-se com delicadeza, dando um passo atrás. Seu rosto mostrava o choque que levara com as mudanças que ela sofrerá.

— É? Bom, mas não vá deixar o seu namorado ouvi-la dizer isso, meu anjo. Você não vai querer que ele fique com ciúmes de um homem velho como eu... — Foi até a mesa onde Francine servira café e bolinhos de canela e sentou-se.

Ficaram conversando até a madrugada, tentando colocar em dia os seis anos de separação.

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O pai de Jason morrera há três anos e a fazenda fora dirigida pelo capataz que vivia lá desde que ele nasceu.

— Bem, de qualquer forma, Nate tomou conta daquilo melhor do que eu — ele disse a Kyle, a certa altura. — Ele e Molly fizeram um bom trabalho por lá.

Kristi percebeu que ele desviava o assunto toda vez que as perguntas se referiam ao Oriente e à guerra. Suas histórias se concentravam nas folgas que havia tido e nas dificuldades de comunicação entre povos tão diferentes. Ficou sentada, prestando a maior atenção ao rosto dele, no jeito sério de falar, no corpo magro.

A primeira vez em que cavalgou até a fazenda de Jason, notou a expressão sombria dos olhos dele, enquanto a via se aproximar, e a maneira fria com que a saudou.

— Que diabos você está fazendo aqui? — perguntou, quase sem olhá-la.

Sem compreender a razão daquela atitude, ela respondeu intrigada:

— Vim visitar você, Jason. Por quê? Há algo errado?

— Claro que há! Você não deveria vir aqui sozinha... O que há com Kyle, permitindo que venha aqui?

Kristi apoiou-se nos estribos, esticando o corpo.

— Para sua informação, Jason McAlister, já tenho quase dezessete anos. Não sou mais uma criança que precisa pedir per-missão a Kyle, para ir aonde quer que seja!

— Pois deixe-me lhe dizer uma coisa, mocinha: seu irmão pode achar que você já está crescida para tomar conta de si mesma, mas eu não acho! E não quero que venha mais aqui sozinha. Está claro?

Jason respirava com dificuldade e tinha uma aparência perigosa. Kristi não queria enfrentá-lo, por isso, mudando de tática, sorriu com doçura.

— Eu só quis ver você, Jason, o que há de errado nisso? — Ele balançou a cabeça, enquanto apanhava as rédeas e puxava o cavalo para a cocheira.

— Está bem, Kristi, você ganhou desta vez. Vamos entrar que Molly já deve estar me esperando para o almoço. Aliás, se não fosse por isso, você nunca teria me encontrado aqui.

Olhou-a saltar da sela, sem nenhuma expressão no rosto.

Kristi sentiu-se aliviada quando ele passou o braço por seus ombros, de maneira amigável, enquanto caminhavam pelo quintal em direção à casa imponente.

— Molly, espero que haja o bastante, porque temos companhia para o almoço.

— Você sabe que sempre faço o suficiente para alimentar um batalhão. — Sorriu, polida, antes de exclamar. — Kristi!

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Quase não a reconheci! Como vai, minha filha?

— Bem, Molly, obrigada.

— Deus! Você está uma beleza! Ela não ficou linda, Jason?

Os olhos dele se apertaram, enquanto as duas mulheres esperavam por seu comentário. Mas Jason apenas deu de ombros, como se não ligasse a mínima para Kristi e disse, apressadamente:

— Muito menos bonita do que aquela mesa repleta de comida caseira. Vamos comer. Ainda tenho muito trabalho para fazer, antes do fim do dia, e não posso perder tempo com bobagens.

As duas se entreolharam, intrigadas com a resposta. Kristi não se preocupava muito com a aparência, ou com o que Jason achava dela, mas não conseguia se acostumar com todas aquelas mudanças nele. Pelo jeito ainda levariam algum tempo para readquirir a intimidade.

Os meses seguintes ensinaram alguma coisa a Kristi sobre a imprevisibilidade do comportamento humano. Jason deixou claro que ela não era bem-vinda na fazenda, a não ser que estivesse acompanhada de seu irmão ou de Francine. Contudo, ele e Kyle pareciam estar mais íntimos do que nunca!

Jason ceava com eles pelo menos duas vezes por semana, e foram estas noites que a convenceram de que ele não estava interessado nela nem como amiga, nem como mulher.

Ele brincava com Kyle e Francine, mas continuava a manter uma distância enorme dela, ignorando-a de tal forma, que às vezes ela se perguntava até quando poderia agüentar tanta indiferença...

Na noite em que descobrira o quanto Jason estava atento a ela, Kristi mal pôde conter-se de alegria. Já tinha se passado mais de um ano desde que ele voltara e, como sempre, a ignorava cada vez mais.

Depois do jantar, os homens foram até a cocheira ver um novo potro, enquanto ela ficara para ajudar Francine com a louça. Ninguém sabia que tinha sido ela quem preparara o jantar, porque fizera a cunhada prometer que não contaria nada.

— Mas eu gostaria de saber a razão deste segredo. Afinal você se transformou numa grande cozinheira e acho que deveria sentir-se orgulhosa disso! — Francine protestou.

— Não! — Kristi retrucou. — Posso apreciar os elogios como se estivessem sendo dirigidos a mim. — Caminhou até à porta e olhou a noite lá fora. — Não quero que Jason pense que estou querendo impressioná-lo.

O silêncio de Francine fez com que ela se voltasse. Parada perto da pia, a cunhada a olhava com uma expressão de espanto. Quando seus olhos se encontraram, a outra indagou:

— Você o ama, não é verdade?

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— Eu sempre o amei.

Francine fez um gesto de enfado com a mão.

— Não estou falando de quando você era criança e o idolatrava como a um herói. Quero dizer que você o está amando de verdade!

Kristi não gostou do olhar de preocupação que a cunhada lhe dirigiu e deu de ombros.

— E daí? Ele nem sabe que eu existo. Não se preocupe, estou muito bem. E depois, quem precisa dele, afinal?

Francine sentou-se em uma das cadeiras.

— Oh, minha querida, me perdoe. Eu deveria ter percebido.

— Ah, Francine, pelo amor de Deus! Você está agindo como se eu tivesse apanhado uma doença incurável ou algo parecido. Vou sobreviver, fique tranqüila.

— Oh, mas eu não estou preocupada com a sua sobrevivência, querida. Estou mais preocupada com Jason!

Kristi atravessou a cozinha e se apoiou na mesa, encarando Francine.

— O que você quer dizer com isso?

— Acontece, meu bem, que eu acho que se você se decidir a enfeitiçar uma pessoa, ela não terá a menor chance. E isso inclui o pobre do Jason.

— Ainda não entendi o que você quer dizer...

— Estou falando da vida, Kristi, e do que você deseja dela — Francine apanhou uma xícara de café e continuou. — Minha mãe uma vez me disse para pensar muito bem no que eu iria querer da vida, porque poderia vir a consegui-lo. — Vendo a expressão intrigada de Kristi, ela sorriu. — Como você, também não entendi muito bem o que ela estava falando, mas agora eu sei! Suponho que o maior sonho de sua vida é se casar com Jason, ter filhos e ajudá-lo na fazenda, estou certa?

Kristi ficou embaraçada. Será que fora tão óbvia assim? Seria por isso que Jason continuava a ignorá-la? Que humilhação, nunca mais poderia encará-lo! Com a cabeça baixa, murmurou:

— Como é que você sabe, Francine?

— Ora, meu bem, porque esse foi o mesmo sonho que eu tive, no momento em que coloquei os olhos em Kyle.

Kristi sentiu-se mais aliviada. Afinal de contas, talvez Jason não soubesse do seu amor por ele.

— O que eu sinto por ele é tão visível assim, Francie? — Rindo, a cunhada a abraçou.

— Não, Kristi, não é. Na verdade, só percebi tudo esta noite, embora já devesse ter desconfiado, pela maneira como você se irrita com a indiferença dele. Me desculpe por ter demorado tanto!

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Agitada, Kristi saltou da cadeira e foi até o refrigerador apanhar um pouco de chá gelado.

— Sabe, Francie, não creio que possa esperar que ele me ame, ou algo assim. É só que antes de se alistar Jason parecia gostar de mim e não se importava que eu estivesse sempre por perto. — Tomou um gole de chá e quase engasgou. — Mas agora, ele mal suporta me ver...

— Escute, Kristi, você já se olhou no espelho, ultimamente?

— Ah, Francine, o que isso tem a ver com o que estamos falando?

— Muito! Quando Jason se foi, você era apenas uma criança. De repente ele volta e encontra uma linda mulher no lugar daquela criança. Você já imaginou como deve estar sendo difícil para ele se acostumar com essa mudança?

— De quanto tempo você acha que ele vai precisar para se acostumar? — Kristi gemeu.

— Não sei, meu bem, essas coisas não se apressam. Mas, no seu caso, espero que ele demore todo o tempo que for preciso...

— Esta noite, Francie, você parece estar falando por charadas. Não consigo compreender...

— Ouça, Kristi, o meu sonho de casar com Kyle estava certo para mim, porque era tudo o que eu poderia esperar da vida. Mas você, não! Olhe-se num espelho, pelo amor de Deus! Você é linda, simplesmente linda! — Fez uma pausa, quando viu Kristi balançar a cabeça com desgosto. — Estou sendo honesta, você tem um rosto que o pessoal da publicidade adoraria usar para vender qualquer produto conhecido no mercado. Você gostaria de jogar fora essa possibilidade para se tornar a esposa de um fazendeiro?

Kristi deu de ombros, e retrucou, cansada.

— Francine, você anda lendo romances demais. Como é que alguém como eu, vivendo neste fim de mundo, conseguiria fazer com que se interessassem por minha aparência, se não consigo nem mesmo entusiasmar Jason?!

Ela se levantou e caminhou em direção à porta.

— Quer saber, vou ver se encontro os rapazes — disse, saindo e encerrando a conversa.

Seus olhos ainda não haviam se acostumado à escuridão, quando viu o brilho de um cigarro e foi naquela direção.

— Kyle? Jason já foi?

Parou diante da sombra comprida de um homem encostado num mourão de cerca.

— Não, Jason não foi embora — respondeu uma voz grave.

— Oh, oi, Jason. Onde está Kyle? — perguntou, encostando-se na cerca, enquanto a lua começava a subir acima das colinas, iluminando aos poucos a paisagem.

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— Ele queria falar com os homens sobre o trabalho de amanhã. Disse que voltaria logo.

Jason deu uma última tragada no cigarro, e o jogou no chão, apagando-o com o salto da bota.

— Você não fumava antes de ir embora — Kristi comentou com certa hesitação, como se temesse ofendê-lo...

— Eu sei. Agora faço muitas coisas que antes não fazia. O tom amigável deu confiança a ela para prosseguir.

— E que coisas são essas?

Ele riu, fazendo com que ela sentisse um arrepio ria espinha. Era o riso mais sensual que jamais ouvira.

— Não são para os ouvidos de garotas inocentes como você.

— Acho difícil me imaginar uma "garota" com um metro e setenta de altura. Tente outra vez, Jason.

— Então, que tal uma "jovem inocente"? Está melhor assim? — Ele estava rindo dela e isso a deixou magoada. Por que Jason nunca a levava a sério? Surpreendeu-se ao ouvir a própria voz, dizendo:

— O que o faz pensar que eu seja tão inocente?

Ainda bem que estava bastante escuro para que ele não pudesse ver como ficou vermelha. Afinal, nunca se vira a sós antes com um homem, nem se interessara por ter experiências com o sexo oposto.

Kristi percebeu que Jason a levara a sério, quando a tomou nos braços e cobriu-lhe a boca com um beijo. O gesto a chocou, porque não tinha qualquer relação com os beijos amigáveis que costumavam trocar.

Então, de súbito, ele a largou.

— É isso que me faz pensar que você é inocente, Kristi. Você nem sabe beijar! — brincou.

A raiva superou o embaraço de Kristi. Antes que Jason pudesse se mover, colou os braços ao redor do pescoço dele e puxou-o mais para perto. Seus seios pequenos e firmes se apertaram contra o peito rijo, e ela sentiu o bater descompassado do coração dele. "ótimo", pensou. "Desta vez ele não vai ganhar tão fácil."

— Por que você não me ensina? — perguntou, roçando os lábios nos dele.

Kristi pôde sentir o corpo de Jason ficar tenso de encontro ao seu, a boca apertando-lhe os lábios, as mãos pressionando-lhe os braços, lutando para se libertar. Desesperada, passou a língua nos lábios dele devagar e insistentemente, tentando evitar que se afastasse. Jason ficou paralisado com a audácia daquele toque. Aproveitando o momento de surpresa dele, Kristi então tomou-lhe a boca e o beijou com paixão.

Jason envolveu-a num abraço apertado, correspondendo ao beijo sem reserva. Sem perceber, ele se entregava cada vez mais às carícias dela. Com a boca, buscava o rosto delicado e o pescoço delgado, e depois voltava a beijá-la tão profundamente, que Kristi mal conseguia raciocinar.

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Quando seu corpo começou a reagir ao dele, passou a imitar-lhe os movimentos, a língua se entrelaçando à de Jason, as mãos apertando as costas largas, enquanto chegava mais perto, colando-se a ele. Kristi sentia cada alteração no corpo dele, com prazer e volúpia.

"Ele sabe que tem uma mulher nos braços, mesmo que sua mente se recuse a admiti-lo", pensou.

Feliz com esse pensamento, esqueceu-se de todo o resto e deixou que seu próprio corpo se deliciasse com as novas sensações que o invadiam.

Completamente entregue, Kristi queria mais; queria descobrir tudo o que até aquele momento nem imaginava existir, mas que agora começava a sentir.

O ruído da batida da porta de tela, os assustou. Jason afastou-se rapidamente, e ela ficou parada, os olhos fechados, sentindo um frio súbito sem os lábios dele para aquecer.

— Desculpe, Kristi. Não sei o que deu em mim.

Ainda envolta naquelas sensações, sentindo o luar sobre seu rosto, Kristi abriu os olhos devagar e o fitou longamente.

— Jason? — Chamou numa voz sonhadora.

— É melhor você entrar agora Kristi. Eu tenho que ir. — A voz dele soou calma, como se não tivesse sido afetado pelo que acabara de acontecer.

Kristi sabia que ele não estava dizendo a verdade. Ainda podia sentir as batidas fortes do coração dele sob suas mãos, que estavam pousadas no peito largo.

— O que há de errado, Jason? Você não queria me beijar? — Estava confusa e magoada com a reação dele.

— Estou muito velho para ficar dando beijos no escuro, Kristi. — A voz de Jason soou áspera. — Por que você não faz o seu aprendizado com alguém da sua idade?

Ela deu um passo atrás, como se tivesse levado uma bofetada. Fizera papel de tola, jogando-se em cima dele daquele jeito. O orgulho veio em seu socorro. Furiosa, falou, irônica:

— Ah, me desculpe, Jason. Por que foi que não pensei nisso antes? Talvez eu o faça mesmo! Em todo o caso, muito obrigada pela lição. Ela foi bastante proveitosa. — Virou-se e caminhou devagar em direção a casa.

Nesta noite, não conseguiu dormir.

Kristi formou-se no colégio, duas semanas depois de ter completado dezoito anos. Se dependesse dela, jamais voltaria à escola, porque, se gostara de algumas matérias, como inglês, história, oratória e artes, odiara outras, como matemática, ciências e educação física. Tirara boas notas, mas sentia-se feliz ao ver que tudo tinha terminado.

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Quando falou com Kyle sobre assumir maiores responsabilidades na fazenda, ele foi vago, mas mesmo assim permitiu que passasse a maior parte do tempo com ele, como acontecia sempre nas férias de verão.

Francine achou que a cunhada poderia seguir a carreira de modelo, e decidiu levá-la para tirar algumas fotos com um fotógrafo profissional, o que fez com que se dirigissem até Dallas. Não disse a Kristi por que queria as fotos. Justificou-se, alegando que gostaria apenas de ter uma lembrança dela, nessa idade.

O fotógrafo levou horas com Kristi, fazendo-a mudar de roupa a toda hora. Porém, quando quis fotografá-la num minúsculo biquíni, ela protestou.

— De jeito nenhum! Ou minha cunhada se lembra de mim vestida, ou nada feito.

O profissional trocou olhares com Francine que deu um suspiro desanimado, sabendo que esta batalha estava perdida.

Kristi tinha seus próprios planos. Desde aquela noite de primavera, quando beijara Jason, ficara pensando em como agir para conquistá-lo. Agora sabia que ele não lhe era indiferente, mas não tinha certeza de como deveria usar essa informação. De uma coisa, porém, estava certa: no fim do verão, Jason McAlister iria vê-la como uma mulher!

Em primeiro lugar, precisava convencê-lo de que não era jovem demais para ele. Afinal, o que eram dez anos de diferença? Mas não o convenceria se, cada vez que o visse, dirigisse a ele um olhar apaixonado. Então, começou uma campanha sutil para demonstrar que o desejava apenas como amigo, e nada mais.

Uns dois meses depois, resolveu pôr em prática a segunda parte do seu plano.

Escolheu uma noite em que Jason foi jantar com sua família, e esperou o melhor momento para entrar em ação.

— Kyle, posso pegar a caminhonete emprestada para ir a Cielo? Estão exibindo um filme que faz séculos que quero ver e hoje é o último dia. — Seus olhos aparentavam a mais completa inocência, quando olhou primeiro para o irmão, depois para Francine e rapidamente para Jason, antes de voltar ao próprio prato. O jantar estava quase no fim.

Kyle franziu a testa.

— Kristi, não posso imaginar você querendo sair tão tarde para ir até a cidade. Quando a sessão terminar, já terá passado da meia-noite e você ainda vai ter que dirigir toda aquela distância de volta. — Olhou para Francine, pedindo apoio.

— Posso levá-la, Kristi, se você quiser — a voz de Jason soou casual e amiga, nada mais.

Kristi encarou-o, tentando aparentar surpresa.

— Oh, obrigada, Jason, mas não será necessário. Se Kyle não se importar, realmente eu gostaria de ir sozinha. — Terminou de comer o que restava no prato e olhou de novo para o irmão. — Ora, você sabe que não haverá problemas...

Kyle franziu a testa outra vez e limpou a garganta.

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— Kristi, não quero parecer teimoso, mas ficaria bem mais sossegado se você deixasse Jason levá-la. Você poderia ter problemas com a caminhonete, e eu ficaria muito preocupado. — Os olhos dele imploravam para que entendesse a situação.

Oh, como adorava o irmão! Quase lamentava tê-lo envolvido dessa forma em seus planos... Olhando para o prato vazio, e depois para Jason, sorriu.

— Desculpe, Jason. Não quis ser rude. Se você quiser ir comigo, eu agradeço.

O suspiro de alívio de Kyle ecoou pela cozinha. O programa de cinema era duplo. O primeiro filme foi um faroeste, bastante divertido, que os fizera rir muito. Mas o segundo, foi um filme de amor que levou Kristi às lágrimas no final, abalando também a Jason.

Quando saíram do cinema, a cidade estava vazia e eles caminharam em silêncio até o carro. Já na estrada, Jason percebeu que ela ainda estava muito emocionada com o filme e, para confortá-la, puxou-a para perto de si, passando o braço pelos om-bros delicados e dirigindo com uma só mão.

Kristi deitou a cabeça no ombro forte, com a mente ainda no filme. Aos poucos, começou a sentir o perfume da loção que Jason usava e os músculos firmes da coxa, onde repousara a mão com naturalidade. Os dedos dele brincavam em seu braço, desenhando linhas imaginárias, e ela, confiante, aconchegou-se mais a ele e murmurou:

— Sabe, esta é a primeira vez, em meses, que ficamos sozinhos — roçou os lábios de leve na orelha dele, fazendo-o estre-mecer involuntariamente.

Tirando no mesmo instante o braço de cima dos ombros dela, Jason apanhou um cigarro e o acendeu. Depois colocou as duas mãos no volante.

— Eu sei.

— Você ainda está zangado por causa daquela noite? — Kristi perguntou, vendo-o retrair-se. — A noite em que eu o beijei.

— Acho que fizemos um bom trabalho, beijando um ao outro. — A voz dele tinha um toque de humor.

Kristi riu.

— É, também acho. De qualquer maneira, lamento que meu comportamento tenha feito você se afastar de mim.

Ficou olhando para o perfil másculo, traçando mentalmente o nariz aquilino e os maxiliares, desejando ser uma artista para poder desenhá-lo.

— Não é por essa razão que tenho evitado você — ele falou em voz baixa.

O coração de Kristi disparou. Jason admitira que a indiferença para com ela fora intencional. Agora só precisava ter

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calma para fazer com que ele lhe confessasse o porquê...

— Oh, não? — Tentou parecer despreocupada. — Então, qual é o motivo?

Os olhos dele passaram rápidos pelo rosto delicado, mal iluminado pelas luzes do painel.

— Eu sabia que não conseguiria manter as mãos longe de você, Kristi, então me afastei.

— Mas agora descobriu que pode?

— O que acha? Não me comportei bem no cinema?

A respiração de Kristi começou a ficar ofegante, quando o viu sorrir.

— Você acha que minha paixão por você é embaraçosa, Jason?

— Paixão? Não sei do que você está falando — ele deu uma tragada longa no cigarro e o atirou para fora do carro.

— Claro que sabe! Todas as minhas fantasias sempre foram com você!

— Está tudo bem, querida, porque desde que voltei, só consigo pensar em você.

Jason sorriu, puxou-a de volta para perto de si e sussurrou:

— Eu teria sido atirado para fora do cinema se eles soubessem as fantasias que estava tendo com você.

Kristi começou a rir.

— Oh, Jason! Isso é uma loucura. Por que você nunca me disse nada?

— Estava esperando você crescer, gatinha, e com uma paciência que só eu sei.

Beijando-o de leve na orelha, Kristi retrucou, baixinho:

— Bom, eu já tenho dezoito anos, me formei no colégio e estou pronta para enfrentar o mundo. Isso é suficiente para você?

Jason diminuiu a marcha e saiu da rodovia, entrando na estrada de terra que levava às fazendas. Respondeu a ela com outra pergunta.

— O que você pretende fazer, agora que saiu da escola?

— Amar você, querido!

Ele levou um choque tão grande com a resposta calma e objetiva que lhe dera, que tirou o pé do acelerador, deixando o carro quase morrer.

Kristi voltou a repousar a cabeça no ombro largo, satisfeita consigo mesma, porque sabia que agora era só deixá-lo decidir o que fazer. Rodaram vários quilômetros em silêncio, até que ele falou.

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— O que você quer fazer agora, Kristi?

Ela levantou a cabeça, incerta se estava sonhando ou não. Jason parou e desligou o carro.

— A respeito do quê, Jason?

— A respeito de nós dois — ele disse, encostando-se na porta do carro, ficando de frente para ela.

Kristi nunca o ouvira falar tão sério em toda a sua vida. Sorriu, sentindo que vencera. Mas era preciso ter calma, pois ainda poderia colocar tudo a perder...

— O que você tem em mente?

O tom provocante fez com que ele respondesse rapidamente.

— Gostaria de levá-la a algum lugar para fazer amor com você — Jason falou entre os dentes, com o olhar malicioso.

De repente, Kristi percebeu que não podia mais voltar atrás. Amava aquele homem demais, e por nada nesse mundo iria se arriscar a perdê-lo. Sabia que agora era tudo ou nada, e apesar do pânico que ameaçava invadi-la respondeu com firmeza:

— Se você me deseja, Jason, eu o acompanharei até o inferno. Nós podemos sair no próximo fim de semana. Digo a Francine que vou ficar na casa de uma amiga, e ninguém vai se opor.

Jason ficou em silêncio por alguns minutos. Depois, num impulso incontrolável, puxou Kristi para junto de si e beijou-a com sofreguidão, como se num único beijo pudesse extravasar todo o desejo que havia reprimido por tanto tempo. Quando a soltou, seus olhos brilhavam estranhamente.

— Kristi — murmurou, segurando o rosto delicado entre as mãos. — Eu a quero mais do que qualquer coisa no mundo. Nunca se esqueça disso! Você falou sério? Sairá comigo no próximo fim de semana?

Ela ainda não havia recuperado o fôlego. O beijo que ele acabara de lhe dar ainda queimava em seus lábios. Mas não teve dúvidas em responder:

— Falei sim, Jason. Você sabe que sim.

Conforme havia previsto, quando disse a Francine que iria passar o fim de semana com uma amiga na cidade, ela não se opôs. Nunca havia mentido à família e a confiança que tinham nela era total. Nem mesmo Kyle suspeitou, quando Jason apareceu para dar a ela uma carona até a cidade.

Jason dirigia em silêncio, tinha os olhos fixos na estrada e o cenho franzido. Insegura com a atitude dele, Kristi perguntou:

— Para onde estamos indo?

— Nuevo Laredo.

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— México?

Percebendo o choque na voz dela, Jason olhou-a por um momento.

— Algo errado com o México?

— Oh, não sei... Acho que só fiquei surpresa.

— Onde é que você pensou que eu fosse levá-la? Para minha casa, para que Molly tomasse conta de nós?

A voz dele soou meio zangada, o que a deixou ainda mais confusa.

— Não estava pensando em lugar nenhum, Jason. Desde que eu esteja com você, qualquer um serve.

Continuaram a viagem em silêncio. Não era bem assim que Kristi havia imaginado o seu fim de semana. Seria bem mais fácil, se Jason se mostrasse mais tranqüilo e acessível. Depois, isso não era justo para com ela. Afinal, não estava acostumada a fazer esse tipo de coisa.

Sentiu-se triste ao pensar nas experiências que Jason deveria ter tido com outras mulheres. Sabia que não podia esperar que fosse diferente. Mas mesmo assim ficou magoada, e achou melhor não pensar mais no assunto.

Quando cruzaram a fronteira, em lugar de procurar por um hotel, Jason parou em frente a um edifício com aparência oficial.

Espantada, Kristi perguntou:

— Onde é que nós estamos?

Ele se voltou para ela, com uma expressão firme no olhar.

— Kristi, eu não seria capaz de levá-la para um hotel e depois devolvê-la a Kyle. Achei que poderia, mas não posso.

O coração de Kristi gelou. Deveria ter sabido desde o começo que ele não a achava atraente o bastante para ter um romance com ela. Lutando para controlar as lágrimas, ficou calada. Com a mesma voz determinada, Jason continuou:

— Nós vamos entrar, Kristi, e nos casarmos, eu te amo, o não há nada neste mundo que vá me deixar fazer amor com você, e depois abandoná-la. Vamos nos casar, e quando voltarmos direi a Kyle e a Francine o que fizemos. Eles vão ficar chateados, e eu lamento estar agindo desse jeito — fez uma pausa, passando a mão pelo rosto dela como se não pudesse evitar tocá-la —, mas já esperei demais por você, e não quero ficar aguardando um grande casamento.

— Oh, Jason! — Kristi atirou-se nos braços dele, sem se importar com os olhares curiosos dos passantes. Beijou-o no rosto, nos olhos, no nariz, na boca, e riu da expressão de espanto dele. — Nunca pensei que quisesse se casar comigo, Jason, e estava disposta a aceitar o que quer que você me oferecesse. É claro que quero me casar. Isso é tudo o que sempre desejei da vida.

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Enquanto entravam no edifício de mãos dadas, ele murmurou.

— Ainda me sinto um malandro.

— Isso é porque você é mesmo — ela brincou, fazendo com que ele passasse o braço ao redor de sua cintura. — Um ma-landro, roubando a irmãzinha do seu melhor amigo.

O sorriso de desculpa com que Jason a olhou quase a fez chorar.

— Não estou roubando, anjo, só levando emprestado...

Passaram o fim de semana num hotel mexicano luxuoso. Kristi não estava preparada para o sexo e, reconhecendo o seu nervosismo, Jason não a apressou. Em compensação, ela logo o deixou tranqüilo quanto às dúvidas que poderia ter sobre sua inexperiência. Sentia-se preparada para aprender tudo o que pudesse sobre amor e queria que fosse ele a ensiná-la. Sua paixão aumentava à medida que Jason, devagar e pacientemente, lhe mostrava como o sexo era lindo.

Haviam planejado voltar no domingo bem cedo, porque queriam conversar com Kyle e Francine com tranqüilidade. Mas, mesmo com a melhor das intenções, continuaram a se distrair enquanto tomavam banho, se vestiam e faziam as malas. Só chegaram à fazenda no meio da tarde.

Kristi estava um pouco nervosa, porque começara a pensar se estaria realmente preparada para enfrentar as responsabilidades inerentes ao casamento. Embora estivesse ansiosa para ir morar com Jason, não tinha muita certeza do que ele esperava dela como esposa.

Quando entraram na sala, Kyle estava estendido no sofá, vendo televisão, e Francine, grávida de três meses, fazendo crochê. Kristi foi a primeira a falar.

— Kyle, Francine... temos algo para lhes contar. — Fez uma pausa, enquanto Kyle se levantava para cumprimentar o amigo.

— Oi, Jason. Não sabia que estava aqui. Você foi até à cidade buscar Kristi?

— Não foi bem assim — Jason balbuciou. — Não a deixei lá, Kyle. Kristi e eu nos casamos na sexta-feira.

Kyle ficou paralisado, como numa projeção cinematográfica, o braço levantado para afastar uma mecha de cabelos da testa, um meio sorriso nos lábios.

— Oh, não! — Francine levantou-se de um salto, deixando o crochê cair no chão. — Oh, Kristi, você não fez isso!

Ela parecia chocada e Kristi sentiu uma ponta de remorso.

— Oh, Francine, lamento não ter dito nada, mas só decidimos na sexta-feira e aí não havia mais tempo para avisá-los. — Passou os braços em volta da cunhada. — Por favor, não chore, Francine. Você sabe que isso era o que eu mais desejava na

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vida.

De repente, Kyle recobrou os movimentos e endireitou-se. Ele era uns cinco centímetros mais alto do que Jason. Moveu-se em direção ao amigo, o rosto mostrando a luta entre a raiva e a dor.

— Houve alguma razão para que tudo tivesse que ser feito às pressas desse jeito, Jason? — Os olhos azuis penetrantes soltavam chispas, enquanto esperava pela resposta.

Kristi viu a cor sumir das faces de Jason, que não era homem de dar satisfações a ninguém. Mas com Kyle era diferente, porque não existiam dois homens mais amigos.

— Não, Kyle, você sabe que eu não seria capaz de traí-lo dessa forma...

— Não sei!... O Jason McAllister que conheço não iria sair escondido com minha irmã, sem me dizer uma palavra...

Desde que seus pais haviam morrido, Kristi nunca vira o irmão tão zangado. Deixou Francine e atirou-se nos braços dele.

— Por favor, não fique bravo, Kyle. Eu não agüentaria isso. Amo Jason, e você sempre soube disso. É verdade que nosso casamento foi uma decisão impulsiva, mas teria acontecido mais cedo ou mais tarde, porque Jason é tudo o que sempre quis. Eu estava apenas esperando que ele me notasse como uma mulher adulta.

— É, e pelo jeito ele notou — Kyle respondeu, tentando mudar de humor.

Após alguns segundos de hesitação, ele estendeu a mão para Jason.

— Acho que a esta altura, tudo o que me resta fazer é dar-lhe as boas-vindas, Jason. O que me parece um pouco estranho, já que você sempre fez parte da família.

Os dois apertaram-se as mãos e ficaram parados, se olhando.

— Oh, Kristi, eu tinha planos tão espetaculares para você — Francine gemeu, enquanto apanhava o crochê que estava no chão. — Mandei todas aquelas fotos para um agente em Nova York, na esperança de conseguir uma escola de modelos para você.

Jason e Kristi voltaram-se para ela, surpresos. Ele foi o primeiro a falar.

— Do que é que você está falando, Francine?

— Levei Kristi a Dallas e mandei fazer um álbum com fotos dela, várias semanas atrás. Qualquer um do ramo sabe que ela é perfeita. O tom de pele e a cor dos cabelos são verdadeiramente incomuns, isso para não mencionar os olhos. Estava es-perando que o homem se comunicasse comigo antes de dizer qualquer coisa a ela.

Os olhos de Jason se endureceram, quando se voltou e encarou Kristi.

— Não sabia que você queria ser modelo. Você nunca disse nada.

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Kristi ficou assustada ao ver um Jason frio e distante, no lugar onde, alguns minutos atrás, estava um marido carinhoso e apaixonado. Aproximou-se dele e o enlaçou pela cintura, olhando em seus olhos, tentando fazê-lo compreender.

— Não quero, Jason. Francine não me disse nada...

— Mas você posou para as fotos!

— Francine disse que queria ter algumas fotos minhas. Não tinha a menor idéia de que iria usá-las para outro fim!

— É verdade, Jason. Foi tudo idéia minha. Eu acho que Kristi tem um potencial enorme, e eu não queria vê-lo desperdi-çado numa fazenda. — Encarou o cunhado com coragem, decidida a não recuar.

Kristi quebrou a tensão do ambiente, encostando-se em Jason e dando-lhe um beijo no peito.

— Você é tudo o que eu quero, Jason. Não deixei isso bem claro neste fim de semana?

O corpo másculo reagiu à sua proximidade e Kristi ficou deliciada com a capacidade que tinha de perturbá-lo. Seu poder sobre Jason era novo e fascinante. Quando o olhou, reconheceu o desejo que lhe escurecia os olhos. Absorvidos um no outro, esqueceram-se de Kyle e Francine. Ele a envolveu num abraço possessivo, e falou baixinho:

— Tudo bem, Kristi. Você agora é minha esposa. Vamos esquecer tudo isso. — Beijando-a levemente nos lábios, continuou no mesmo tom. — Agora é melhor ir buscar suas coisas, precisamos ir para casa.

Nos dias que se seguiram, Kristi viu muito pouco Kyle e Francine, ocupada que estava em assumir sua nova posição de dona-de-casa. Embora fosse uma ótima cozinheira, implorou a Molly que ficasse, insistindo que tinha muito a aprender sobre como administrar um lar. Divertida, Molly concordou, e gentilmente ensinou-a tudo o que era preciso.

Pouco depois de uma semana em que estava morando na fazenda dos McAlister o telefone tocou.

— É Kristi Cole?

Esquecendo-se por um instante do seu nome de casada, ela respondeu.

— Sim.

— Kristi, aqui é Jonathan Segai. Acabei de falar com sua cunhada Francine, e ela me fez o favor de dar o seu telefone.

"Quem diabos seria Jonathan Segai?"

— Acho que não estou entendendo, sr. Segai. Por que o senhor deseja falar comigo?

— Bem, Kristi, a sra. Cole me explicou que foi ela quem enviou as fotos, embora isso não me interesse. E eu queria que você soubesse que, se vier a Nova York, acho que poderei colocar esse seu lindo corpo na capa de qualquer revista de circulação nacional — riu. — Com exceção, talvez, da Campos & Rios.

"Ele devia ser o agente que Francine mencionara", pensou.

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— Lamento que o senhor tenha desperdiçado o seu tempo, sr. Segai. Tenho certeza de que Francine lhe informou que estou casada e não tenho interesse numa carreira de modelo.

Houve um momento de silêncio, como se o que dissera estivesse sendo pesado e avaliado.

— Entendo, mas isso é uma pena, acredite. Você é uma das jovens mais fotogênicas que vi nos últimos tempos. Parece não ter nenhum ângulo ruim. Com a sua aparência e a minha experiência, poderia tornar-se, em poucos anos, a modelo mais bem remunerada do país.

Por um momento, fotos sensacionais de locais exóticos e salões brilhantes atravessaram a mente de Kristi. Será que o homem estava falando a verdade? Mas então o rosto de Jason sobrepôs-se a tudo o mais, e ela sorriu.

—Aprecio seu interesse por mim, sr. Segal, mas agora tenho outros compromissos.

O agente suspirou do outro lado da linha.

— Está bem. Mas se você algum dia mudar de idéia, por favor me telefone.

Kristi riu, e brincou com alegria.

— Farei isso, sr. Segai. Se um dia me decidir a ficar rica e famosa, o senhor será a primeira pessoa a ser informada, pode ter certeza disso.

— Neste momento, você está pensando que é brincadeira, mocinha, mas é precisamente o que posso fazer por você. Tenha isso em mente.

Com o passar dos meses, Kristi esqueceu-se completamente do telefonema. Viu-se cada vez mais envolvida com os problemas que surgiram em seu casamento. Jason passava longos períodos fora da fazenda, sem dar qualquer explicação, e isso a estava deixando nervosa e insegura.

Certa noite, ainda estava acordada, quando ele chegou e se deitou com toda a cautela. Eram quase duas horas da manhã e sua imaginação tinha estado torturando-a com visões de Jason nos braços de outra mulher; numa colisão; bebendo com os amigos... Será que ele já havia se cansado dela? Tinha decidido não o deixar perceber que estava acordada. Mas não se conteve, e perguntou:

— Onde é que você esteve?

Jason a envolveu num abraço, passando as mãos pela cintura dela, parecendo deliciado com o corpo feminino.

— Numa reunião. Demorou mais do que eu esperava e fiquei com receio de telefonar, pois pensei que já estivesse dormindo. — Começou a beijá-la na orelha, num ato que ele descobriu tomar toda a sua atenção.

— Você não mencionou que tinha algo planejado durante o jantar — ela murmurou, reconhecendo que, como sempre, as

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mãos e a boca dele a estavam seduzindo, fazendo com que esquecesse a tensão e a intranqüilidade do momento.

— Naquela hora eu não sabia, Kristi. Só fui chamado mais tarde.

— Que tipo de reunião foi esta, Jason? O que é tão importante assim, para que você largue tudo o que está fazendo, cada vez que recebe um telefonema, e saia correndo? — Virou a boca um pouco para o lado, evitando a dele, e o escutou suspirar.

— Desculpe, amor, mas não posso falar... Não deixe que isso interfira em nossa vida, por favor!

Kristi sentiu a ternura com que ele falava e se entregou, sabendo que não conseguiria resistir por muito mais tempo.

Entretanto, as reuniões secretas continuaram acontecendo. Nos meses que se seguiram, Jason começou a ficar fora por uma ou duas noites de cada vez, embora sempre a avisasse antes e pedisse a Nate e Molly que cuidassem dela. Kristi sentia-se cada vez mais frustrada. Por que Jason tinha que fazer tanto mistério? Por que continuava a tratá-la como a uma criança?

Certamente, com o tempo, ela teria superado suas inseguranças, e estaria ao lado de Jason, se não tivesse perdido o filho que esperava com tanta ansiedade.

Quando descobriu que estava grávida, passou a se considerar a mulher mais feliz do mundo. Francine dera à luz a Kevin, há apenas algumas semanas. E o fato de que as crianças teriam quase a mesma idade a empolgou ainda mais.

Jason passou a tratá-la como se fosse feita de porcelana e a vida começou a parecer que valia a pena. Mesmo assim, ele continuava a desaparecer sem dizer aonde ia e avisando-a sempre na última hora.

Estava na décima segunda semana de gravidez, quando, numa das noites em que Jason estava fora, acordou de repente, notando algo errado. Em pânico, acendeu a luz da cabeceira e telefonou para o irmão. Ele e Francine chegaram logo depois.

Kristi quase não se lembrava do que acontecera naquela noite. Mas recordava-se com clareza da manhã seguinte, quando o médico de cabelos brancos, lamentando, lhe dissera que perdera o bebê que ela e Jason tanto desejavam. Enquanto falava, o bondoso homem acariciava-lhe a mão, procurando explicar-lhe tudo o que havia acontecido.

— Houve complicações durante a cirurgia que tivemos de fazer, Kristi. Como você sabe, é difícil prever o que vai acon-tecer nesses casos. — O olhar dele tinha a tristeza de quem já viu muita coisa de ruim acontecer para poder esperar pelo me-lhor. — Há uma forte possibilidade de que você não possa mais ter filhos. Só o tempo dirá.

Ela o ouvia falando, mas sua mente se recusava a aceitar o que ele dizia.

— Não, não! Jason e eu planejamos ter muitos filhos. Ele odiava ser filho único, e, como eu já lhe disse, agora queremos uma família bem grande! — Apertou a mão do médico, como se quisesse forçá-lo a reconhecer que estava errado.

O doutor concordou com um gesto de cabeça.

— Eu sei, Kristi. Ainda há uma possibilidade. Só quis preveni-la, para o caso de as coisas não saírem como vocês plane-

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jaram.

Kristi não agüentou mais e chorou desesperadamente, tanto pelo filho perdido, como por aqueles que talvez nunca mais viesse a ter. E chorou mais ainda porque era o médico quem estava ali confortando-a, quando tudo o que queria era ter Jason ao seu lado.

Mas ele não estava ali, e só chegou muitas horas depois.

Ela havia esperado por ele o dia todo. Olhava, indiferente, para os reflexos das luzes noturnas, quando ouviu o ruído suave da porta do quarto se fechando. Ao voltar-se, deu com Jason parado ao seu lado. Ele a abraçou em silêncio e chorou baixinho, enquanto Kristi afagava os cabelos dourados, sem saber o que dizer para consolá-lo.

Quando conseguiu controlar-se, ele a beijou com suavidade, e murmurou com tristeza:

— Oh, Kristi, sinto muito...

— Eu sei, Jason. Eu sei. — Feliz por tê-lo de volta, ela se perguntou por quanto tempo ele ficaria ali, antes de desaparecer outra vez...

— O médico disse quanto tempo vai ter que ficar aqui, meu bem?

— Posso sair pela manhã. Ele só queria ter certeza de que não vou ter uma nova hemorragia.

Jason começou a falar, mas sua voz falhou. Tentou outra vez.

— Eu deveria ter estado aqui com você...

Kristi ficou em silêncio, não havia nada que pudesse dizer a respeito.

Nas semanas que se seguiram, encontrou cada vez menos o que dizer, enquanto se retraía na dor de ter perdido um filho e no comportamento confuso de Jason. Ele parecia amá-la, e seu desejo era evidente cada vez que estavam próximos, mas ela não conseguia compreender as complexidades da vida adulta.

Foi numa das ausências dele que se lembrou de Jonathan Segai. Quaisquer que fossem as razões dele, Jason já não parecia mais precisar de uma esposa, em particular de uma que não pudesse lhe dar filhos, como tanto queria. Se o deixasse, ele poderia se divorciar e casar de novo. Na sua depressão, Kristi achou que não tinha mais nada a lhe oferecer.

Jonathan Segai havia deixado claro que tinha tudo para vencer como modelo, e que ele faria todos os arranjos necessários para isso. Bastava dizer que estava pronta para ir, e quando chegaria.

Jason não discutiu quando ela disse que iria partir. Mas lembrava-se de que ele perdera a cor. No fundo, tinha esperanças de que lhe pedisse para ficar, embora não tivesse certeza de que o atenderia. Mas de qualquer forma, ele não pediu... Então, Kristi se foi.

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Ainda trancafiada em seu casulo de dor, mudou-se para Nova York e começou o treinamento de modelo. Enfrentou o desafio das dietas rigorosas, dos programas constantes e das exigências de sua energia, feliz por se distrair de suas lembranças amargas.

Para os fotógrafos, a tristeza que havia em seus olhos era mais uma qualidade para se aproveitar e Jonathan lembrou mui-to bem que qualquer um gostaria de ser o eleito para trazer felicidade a eles. Não demorou muito para que seu trabalho fosse notado. Passou a ser constantemente requisitada, e achava isso ótimo, porque enquanto estivesse ocupada não teria tempo para pensar.

Sua vida social era intensa, ainda que de maneira superficial. Aprendeu a se sentir à vontade nos círculos sofisticados que incluíam a maioria dos magnatas de petróleo. Estava imune a todas as propostas que lhe chegavam, porque todas as suas emoções tinham ficado no Texas.

Com o passar dos anos, saiu da prisão a que se impusera, e decidiu ter uma vida mais ativa. Não se lembrava com exatidão quando resolvera cortar as amarras e pedir o divórcio. Até então, não conseguia se ver voltando ao Texas, apesar das cartas de Francine, pedindo que viesse ver Kevin, que crescia depressa, e conhecer a irmã mais jovem, Kari. Entretanto, quando seu advogado lhe disse que Jason não queria cooperar de forma alguma e sugeriu que, talvez, eles devessem ter um encontro pessoal, resolveu que era tempo de enfrentá-lo.

Não conseguia entender por que ele se recusava a lhe dar a liberdade. Havia deixado bem claro que não queria nada dele, pois tudo o que desejava era viver sua própria vida.

Enquanto dirigia para a fazenda de seu irmão, naquela manhã de primavera, recordando-se da noite anterior com Jason, Kristi começou a se perguntar se algum dia conseguiria ser livre.

Kristi teve oportunidade de notar as mudanças ocorridas na fazenda, enquanto percorria a longa estrada particular que levava à casa de sua infância. Demorara para voltar e tudo parecia muito diferente...

Seus pensamentos voltaram novamente à noite anterior no hotel de Cielo. Relutante, admitiu que Jason ainda exercia grande influência sobre ela. Mas sabia que sua única proteção era não deixar que ele soubesse disso.

O carro nem bem havia parado quando a porta de tela se abriu e duas crianças apareceram. Por um instante, sentiu o co-

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ração se apertar, mas a dor logo passou e ela se viu de volta ao presente.

As crianças correram pela varanda e saltaram os degraus, parando de repente, tímidas, frente à tia que ainda não conheciam.

Imediatamente, Kristi reconheceu os traços da família. Kevin, alto, para quem ainda não tinha seis anos, era esguio como o pai. Ficou parado, olhando, como se esperasse que ela lhe pedisse para fazer alguma coisa. Kari, com quatro anos, era muito bonita. Ambos tinham os cabelos castanho-avermelhados do pai.

Ficaram observando, enquanto Kristi descia do carro.

— Vocês poderiam me ajudar com a bagagem?

Era o convite de que precisavam para correr em sua direção. Kevin apanhou as chaves e foi abrir o porta-malas, enquanto Kari, orgulhosa, pegava a frasqueira no banco dianteiro.

Francine se juntou a eles, abraçando a cunhada.

— Oh, Kristi, estou tão feliz que tenha vindo para casa — abraçou-a um pouco mais forte, enquanto segurava as lágrimas, — É tão bom ver você...

Kristi riu, uma risada solta e alegre, que sempre encantara a todos.

— Estou contente de estar em casa, Francine. — Abraçou a cunhada, com carinho. — Estou feliz em ver as crianças tam-bém. São muito mais vivos do que as fotos deixam transparecer.

— Pode ter certeza disso. Agora você pode entender como é difícil mantê-los parados para tirar uma fotografia.

Enquanto caminhavam para a casa, com as crianças logo atrás, Kristi perguntou rindo:

— Você lamenta ter seguido a sugestão de mamãe de pôr nomes nas crianças começando com a letra K?

— De jeito nenhum! Aliás, eu gosto muito dos nomes que escolhemos.

Entraram pela porta lateral que levava à cozinha.

— Oh, Francine, isto está lindo! Quando é que você fez?

Francine corou com orgulho.

— Na verdade, tinha acabado de pendurar as cortinas, quando ouvi o seu carro chegar.

— Imagino que Kyle esteja aí pela fazenda.

— Está sim, mas virá para o almoço, como sempre. Você foi tão vaga sobre seus planos ao telefone que não sabíamos quando esperá-la.

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— Eu sei. Não queria um programa rígido, porque uma das razões desta minha viagem é descansar e relaxar, algo de que eu quase já me esqueci como fazer. — Foi até o refrigerador enorme e procurou pela jarra de chá gelado que sabia estar lá e se serviu. — O que Kyle achou da minha vinda?

Francine colocou alguns bolinhos num prato e fez um gesto para que ela se sentasse à mesa.

— Creio que as palavras exatas dele foram alguma coisa como — abaixou a voz para imitar o balbucio áspero do marido — "Já não era sem tempo!"

Kristi sentou-se e apanhou um dos bolinhos fantásticos de Francine. Não percebera quanta falta sentia deles, até aquele momento. As palavras seguintes da cunhada a arrancaram, de súbito, da nostalgia.

— Jason vem cear conosco esta noite. — Fez uma pausa, observando a expressão de Kristi, antes de continuar: — A não ser que você queira que eu sugira que ele não venha.

Por que seu pulso tinha que se acelerar com a simples menção do nome dele? Lutou para superar o nervosismo repentino. Agora era uma mulher com quase vinte e cinco anos e não mais aquela garotinha de dezoito; sabia muito bem como manter o equilíbrio nas situações mais difíceis. Forçando-se a relaxar, sorriu e disse:

— Não me incomodo, Francine. Teríamos de nos encontrar mais cedo ou mais tarde. — Tentou tirar da cabeça os pensa-mentos sobre a noite anterior. — Claro que não sei como ele vai se sentir ao me ver outra vez...

— Jason nos contou que você lhe enviou os papéis do divórcio...

— Contou é? — Kristi retrucou, com voz neutra.

— Sim — Francine hesitou, insegura frente à nova mulher em que Kristi se transformara, e consciente dos erros passados. — Sabe, fiz um juramento quando você se foi de que me manteria fora dos seus assuntos. Já lhe causei problemas demais, quando decidi entrar em contato com Jonathan Segai...

Kristi a interrompeu.

— Você estava certa, sabia? Ficou provado que você estava certa e eu nem mesmo lhe agradeci por me ajudar a chegar aonde estou.

— Certa ou errada, nunca deveria ter me intrometido na sua vida como fiz. Durante esses últimos anos, fiquei de boca fechada, mas agora acho que devo lhe dizer algo que você precisa saber e que, com certeza, não vai ouvir de Kyle ou de Jason.

Kristi ficou rígida, sabendo que não iria gostar do que Francine diria em seguida, mas não havia mais nada que pudesse fazer.

— Vá em frente — disse.

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— Não sei e não quero saber por que você deixou Jason, Kristi. Sei que estava bastante magoada quando saiu do Texas e talvez tenha sido mesmo a melhor coisa que poderia ter feito: ir embora, aprender alguma coisa sobre o mundo, descobrir sua própria potencialidade. É óbvio que isso ajudou a curar suas mágoas. Mas alguma vez você pensou em Jason e na sua dor?

Kristi agarrou o copo, olhando para as pedras de gelo como se a resposta pudesse estar escrita nelas. Tomou um gole grande e colocou o copo de volta sobre a mesa, antes de responder.

— Estou certa de que ele ficou magoado porque o deixei, Francine. Mas também nunca ele sugeriu que eu ficasse.

Um lampejo de raiva passou pelos olhos de Francine.

— Você ainda não conhece Jason, não é, Kristi?

— O que você quer dizer com isso?

— Jason McAlister nunca foi capaz de lhe negar qualquer coisa a vida inteira. Por que deveria esperar que a impedisse, se você havia decidido se tornar uma modelo em Nova York?

— Mas poderia ter dito algo, se quisesse! Na verdade, Jason não tinha muito o que falar, desde que perdemos o bebê.

— Kristi, sei que você sofreu quando perdeu a criança, mas será que não vê? Jason também sofreu. E se sentiu culpado por não ter estado lá naquela noite, como se a sua presença pudesse ter evitado tudo. — Francine fez uma pausa, buscando as palavras. — E então, como se isso não bastasse, perde também a esposa que tanto adorava. Teve que ficar parado, vendo você sair da vida dele, porque, se era o que queria, ele não iria impedi-la.

Kristi levantou-se de súbito, precisando se livrar da tensão nervosa que crescia dentro dela. Foi até à janela, e olhou a pai-sagem familiar.

— Então, por que ele não me dá o divórcio que tanto quero? — retrucou de costas para a cunhada, recusando-se a encará-la.

— Talvez ele pense que você deva pedi-lo pessoalmente.

— É o que pretendo fazer. Esta é a principal razão para eu estar aqui, como tenho certeza que você imaginou isso.

Francine levantou-se devagar, como se suas juntas recusassem a se mover.

— Imaginei isso, sim. Não quero que você me responda a pergunta que vou lhe fazer agora, porque acho que só deve respondê-la para si mesma... Você acha que tem sido justa com Jason? Já examinou o problema sob esse aspecto? Porque se não o fez, acho que deveria. — Levou os copos para a pia, e continuou mais suave. — Pode ficar tranqüila que a minha atuação maternal pára por aqui. Quero que você aprecie sua estada por quanto tempo quiser. Também não tem que me dar

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nenhuma explicação, e na verdade não sei se ia querer escutá-la. Agora venha, deixe-me mostrar-lhe o seu quarto.

Kristi entrou primeiro e quase perdeu o fôlego. As paredes haviam sido pintadas de um amarelo suave que lembrava a primeira claridade da manhã, quando o sol se levantava. Cortinas de lacinhos cobriam as janelas que davam para o jardim florido, tão bem-cuidado por Francine. A mobília, em estilo provençal francês, com tons de ouro sobre branco, davam ao quarto uma aparência feminina.

— Francine, você poderia ter feito uma fortuna como decoradora! Este quarto é realmente especial.

Voltou-se e viu as faces da cunhada ficarem rubras de prazer com o elogio.

— Muito obrigada. Mas acho que só sei decorar essa casa, e, tenho certeza, não iria impressionar seus amigos de Nova York. De qualquer jeito, estou contente que tenha gostado, estava pensando em você quando o imaginei.

Kristi havia tirado os sapatos e estava esfregando os pés no tapete grosso. Não havia percebido o quanto estivera tensa... Só agora começava a relaxar.

— Se você não se importa, Francine, acho que vou descansar um pouco.

— Claro. Kyle deve chegar dentro de uma hora.

— Se eu cochilar não deixe de me chamar, quando ele chegar, está bem?!

Francine riu.

— Não se preocupe. Você vai pensar que está acontecendo um terremoto, assim que ele vir seu carro e souber que você está aqui. — Olhou para o jardim enquanto falava. — Por sinal, a senhora está dirigindo um carro espetacular!

Kristi esticou-se na cama, deliciada com a sensação de luxo, no colchão enorme e macio.

— Eu sei. Precisava de um carro para sair nos fins de semana; e esse aí foi o meu tapete mágico, levando-me para fora de Nova York, quando tinha uma chance de escapar.

— Vocês acham que é a "Cachinhos Dourados" que está dormindo na minha cama?

A voz de Kyle tirou Kristi de um sono profundo. Abrindo os olhos, viu o irmão ladeado por Kevin e Kari. Kari riu.

— Ela não é "Cachinhos Dourados", papai. "Cachinhos Dourados" tem os cabelos loiros!

— Hum... — Kyle cocou o queixo, como se estivesse intrigado. — Acho que você está certa, Kari. Então, quem será ela?

Com a voz mais adulta que conseguiu fazer, Kevin explicou:

— É tia Kristi, papai. Mamãe disse que ela estaria aqui.

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Kristi esforçou-se para sentar e sorriu.

— Você está certo, Kevin. Acho que seu pai está querendo apenas ser engraçado.

— Querendo ser engraçado — Kyle repetiu, fingindo-se de bravo. Sentou-se ao lado dela e, envolvendo-a num abraço apertado, acrescentou: — Bem-vinda ao lar, irmãzinha. Já era tempo!

Kristi abraçou-o também, enquanto retrucava emocionada:

— É bom estar em casa, Kyle, e você está certo, demorei demais.

— Está vendo? Sempre concordamos nas coisas importantes. — Levantou-se, puxando-a junto. — Venha, o almoço está pronto e estou faminto.

As duas crianças correram na frente e Kristi ficou parada um pouco mais, observando as mudanças em Kyle. No mínimo, ele estava mais simpático. Engordara um pouquinho, o que lhe caiu muito bem. As marcas ao redor da boca mostravam que os últimos anos haviam sido felizes. Abraçou-o.

— Você está ótimo, Kyle. Mais sensual do que nunca! Aposto que Francine tem que afastar suas admiradoras com um pedaço de pau, todas as vezes em que vocês saem.

Ele sorriu e a enlaçou pela cintura, levando-a pelo corredor.

— Não tanto que dê para notar. Mas você, apesar de linda, me parece muito magra...

— Ora, meu irmão, pois é bom você saber que esta é a última moda em Nova York. Tenho certeza de que você notou.

— Você pode parecer espetacular pelos padrões de Nova York, querida, mas eu diria que está sofrendo com alguma coisa. Tenho crias novas que parecem mais saudáveis do que você.

Kyle caiu na risada com a expressão ofendida da irmã, que desistiu de aparentar-se magoada e riu junto.

— Há anos que não vejo vocês dois trocarem insultos. Parecem ter praticado o dia todo — Francine comentou, enquanto se sentavam à mesa. — Nada muda, mesmo que o tempo passe...

Contudo, Kristi não pensava assim. Durante o almoço, adorou ver Francine e Kyle com seus filhos. O orgulho e o amor pelas crianças brilhavam em seus rostos. Kyle respondia às intermináveis perguntas de Kevin, sem demonstrar impaciência, e Francine atendia a todos com solicitude, sem deixar de prestar atenção ao prato de Kari.

— Francine, você telefonou ao Jason para avisar que Kristi está aqui? — Kyle perguntou à mulher, meio preocupado.

O coração de Kristi parou, enquanto esperava pela resposta da cunhada.

— Não, na verdade nem pensei nisso — ela franziu a testa de leve, olhando para o marido. — Você acha que eu deveria?

Kristi percebeu que eles estavam preocupados demais com Jason. Será que sempre estivera tão envolvida com sua dor,

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que nunca se preocupara com a dele? Manteve os olhos no prato, esperando pela resposta de Kyle.

— Talvez não seja necessário. Ele mandou dizer que talvez não aparecesse. Disse alguma coisa sobre estar atrasado e, se não estivesse aqui lá pelas seis, que não o esperássemos.

Kristi percebeu que o irmão a observava. Em silêncio, torceu para que não falassem sobre Jason naquele momento. Ficou contente quando o rumo da conversa mudou e se perguntou se seu irmão sabia o quanto Jason estava bebendo. Nas atuais circunstâncias, ela não poderia falar nisso. Será que o hábito de beber tinha algo a ver com ela?

De repente, sentiu necessidade de se assegurar de que sua ausência não havia sido responsável por isso. Jason era tão forte que nunca pensou que ele pudesse ter qualquer fraqueza. Seria possível que fosse tão vulnerável também? Tinha muito em que pensar, antes de estar preparada para conversar com ele.

Depois do almoço, Kyle selou um cavalo para Kristi e os dois passaram a tarde juntos. Ele lhe mostrou todas as mudanças e melhoramentos que havia feito, ou planejava fazer, na fazenda. Era óbvio que estava feliz com sua vida e sua família. Fez todo o tipo de perguntas sobre o trabalho dela, e quis saber se ela também estava feliz.

O assunto Jason tornou-se mais relevante ainda, por não haver sido mencionado. O que quer que sentisse sobre a separação deles, Kyle parecia disposto a não se intrometer.

Pararam os cavalos às margens de um pequeno lago e apearam.

Embora cavalgasse sempre que possível, Kristi sentia os músculos doloridos, reclamando por ter ido longe demais para um primeiro dia.

"Como meus músculos esqueceram fácil", pensou com tristeza, massageando-os.

— Quanto tempo você vai poder ficar? — Kyle perguntou, observando-a vagar pelo gramado, antes de se sentar.

— Não tenho nenhum compromisso até junho, mas acho que não fico até lá.

— E por que não?

— Você não acha que é muito tempo para uma visita? Estamos falando de dois meses ou mais.

Kyle sentou-se ao lado dela.

— Isso depende. Você acha que vai se aborrecer se ficar todo esse tempo aqui?

— Claro que não! Tenho mais medo de que vocês se cansem da minha presença.

Kyle olhou para ela, satisfeito por tê-la em casa e desejando poder resolver quaisquer problemas que Kristi tivesse, embora soubesse que isso não era possível. A vida era dela e também as decisões.

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Ficaram em silêncio por algum tempo, apreciando a paz da tarde, até que ele se levantou, apontando para as colinas a sua frente.

— Acho melhor voltarmos para casa. Creio que você vai sentir as conseqüências deste passeio por alguns dias.

— Essa é boa, e eu aqui pensando que você estava sendo muito delicado por não falar nisso — gemeu, se levantando.

Montaram e voltaram devagar, para não forçar os músculos desacostumados de Kristi, que só conseguia pensar em mergulhar num banho quente por muitas horas. "Bem-vinda ao lar, Kristi", pensou com humor ácido, "parece que vamos ter que endurecê-la."

Um Jason completamente esgotado chegou à casa dos Cole no fim daquela mesma tarde. Tudo dera errado para ele naquele dia. Encontrara uma cerca caída e perdera horas para trazer de volta o gado solto. Um dos homens machucara-se feio no arame farpado e, para completar, ele tivera que lutar a maior parte do tempo com uma ressaca monstruosa. E o pior de tudo, ficara recordando-se dos meses seguintes à partida de Kristi.

Lembrou-se das noites da insônia, quando tentava entender o que havia acontecido com o seu casamento. Na sua necessidade de proteger Kristi de qualquer coisa desagradável, recusara-se a explicar a ela o que fazia nas noites em que passava fora. E, quando percebeu o erro que havia cometido, já era tarde demais.

Então, descobriu que a bebida o ajudava a dormir e passou a embriagar-se todas as noites, até que um dia Kyle apareceu e foi ver, aos berros, o quanto estava tentando destruir sua vida.

Kyle gritou tanto, que Jason ficou tão zangado que quase o esmurrou.

Parou então de beber e aos poucos aprendeu a viver com seus fantasmas... até a noite passada.

Balançou a cabeça com desgosto, enquanto fazia a caminhonete dar a volta na casa da fazenda, brecando seco atrás de um Triumph com placa de Nova York.

— Oh, Deus! — exclamou, e ficou parado, olhando para o carro. — Não pode ser... Kristi!

Claro que fora ela! Algo dentro dele soubera que era Kristi, desde o primeiro momento. De outra forma, como explicar suas reações?

Seu plano dera certo! Conseguira atrai-la para o Texas, apesar de tudo.

Um sorriso lento atravessou o rosto cansado de Jason. Então, Kristi queria o divórcio? Nenhuma mulher reagiria a um homem como ela o fizera na noite anterior, sem sentir algo muito forte por ele.

Será que ela havia planejado tudo o que aconteceu? Não. Certamente que não! Senão, por que teria se mantido tão distante até começarem a dançar?

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Sentiu uma vez mais o corpo atraente dela contra o seu, movendo-se, lânguido, ao som da música. Agora que ela estava em casa de novo, partiria para a segunda fase do seu plano.

Descobrir que Kristi não conseguira superar a atração que sentia por ele dava-lhe uma vantagem com a qual não contava e, com certeza, iria usufruir disso muito bem. Aquela mulher sem dúvida lhe pertencia, desde que sua mãe a colocara, ainda bebê, em seus braços. E ele não iria perdê-la por nada nesse mundo.

Deitada na banheira de água quente, Kristi tentava relaxar. Seus músculos já doíam menos e sua mente estava bem alerta. Estivera recordando suas ações nos últimos cinco anos, tentava examiná-las através da visão de sua família e de Jason, e não gostara nada do que vira. Será que fora egoísta, ou só imatura? Descobrira que várias idéias que mantivera durante anos precisavam ser destruídas.

"E agora", pensou. "Aonde isso me leva?"

A única coisa que sabia com certeza era que, a despeito do que sentia por Jason, não havia jeito do seu casamento dar certo. Era outra pessoa e já não tinham mais nada em comum. De alguma forma, precisava convencê-lo disso.

"Se ao menos ele não tivesse tanto poder sobre minhas emoções", pensou desolada.

Estava acabando de se vestir para a ceia, quando ouviu a voz de Jason invadir o ambiente. Sem se intimidar, ficou escutando o que ele dizia:

— De quem é esse carro aí fora, Francine? Parece meio deslocado no meio de todas estas caminhonetes, você não acha? — A voz dele parecia alegre.

— Oh, oi, Jason — o tom de Francine revelava seu nervosismo.

Então, ele viera para a ceia, e ninguém se preocupara em avisá-lo que ela estava em casa. Lamentando por Francine, saiu do quarto. De qualquer maneira, estava em vantagem, porque Jason não tinha a menor idéia de que ela havia voltado, e muito menos de que fora a mulher com quem passara a noite anterior. O pensamento a divertiu, ao mesmo tempo em que notava um frio no seu estômago. Parou na porta da cozinha, saboreando a visão do homem que estava junto à mesa. As rugas de cansaço no rosto dele, e os círculos escuros sob os olhos, mostravam que não dormira muito na noite passada. Esta constatação a fez sorrir.

— Olá, Jason.

Ele se voltou e capturou-a com o olhar. O que ela viu naqueles olhos felinos fez com que entrasse em pânico. Ele sabia! De algum modo Jason sabia que ela estava ali e que passara a noite com ele. De repente, não teve mais tempo para pensar.

Atravessando com passos rápidos a cozinha, Jason a abraçou e, sem uma palavra, tomou-lhe a boca com paixão. O beijo

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era uma continuação dos que haviam trocado na noite anterior, falando de amor, da necessidade de estarem juntos de novo.

Ela agarrou-se a ele, sabendo que, se o soltasse, cairia a seus pés. O beijo era muito profundo.

Por fim, afrouxando o abraço e afastando os lábios, Jason murmurou-lhe ao ouvido:

— Bem-vinda ao lar, sra. McAlister!

— Jason?

Ele riu e sua risada soou livre e alegre. Apertando-a de encontro ao peito, disse baixinho:

— Ótimo. Ao menos você ainda me reconhece. É um começo...

Francine estava mais surpresa do que Kristi, porque jamais imaginara que Jason fosse reagir dessa forma ao rever a esposa. Os olhos dele brilhavam, quando se dirigiu à cunhada.

— Se vocês queriam me fazer uma surpresa, não poderiam ter encontrado um jeito melhor!

Continuou prendendo Kristi pela cintura, com firmeza, deixando claro que não tinha a menor intenção de libertá-la tão cedo.

— Bom, não foi bem isso, Jason — Francine balbuciou, tentando ordenar as idéias.

Nunca vira o cunhado assim antes. Será que estava imaginando que Kristi voltara para ele? Mas se fora ele mesmo que lhes contara sobre o divórcio... Então, o que estava acontecendo? Apressou-se em se justificar!

— Nós sabíamos que Kristi viria nos visitar, Jason. Mas ela não disse exatamente quando, só que seria por esses dias. Kyle falou que talvez você não pudesse vir hoje à noite para a ceia, então nem me preocupei em lhe telefonar.

Kristi podia sentir a tensão do corpo de Jason, tão intimamente colado ao seu. Sabia que ele se abalara com o beijo tanto quanto ela, mas não entendia por que ele não demonstrava qualquer animosidade ou ressentimento. Afinal de contas, usara de um truque rasteiro ao não se identificar na noite anterior. Ou será que ele sabia todo o tempo quem ela era?

Kyle entrou na cozinha.

— Estou contente que você tenha podido vir, Jason. Desculpe-me pelo atraso. Vou me lavar e já poderemos nos sentar à mesa.

Olhou para o braço possessivo de Jason em torno de Kristi e sorriu, voltando-se para Francine.

— Onde estão as crianças?

— Deixei que comessem antes. Há um programa especial na televisão que querem ver e achei que poderíamos conversar melhor sem eles.

Kristi aproveitou a pausa para tentar se afastar e ficou um pouco surpresa quando Jason permitiu, sem protestar.

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Cometera um erro ao subestimá-lo. Estivera sentindo pena dele e do que lhe fizera, mas o fato é que precisaria de toda sua inteligência para lidar com esse homem terrivelmente sensual, cujos olhos a estavam despindo. O olhar dele era um raio X e, para ser sincera, não poderia dizer que não a afetava.

O jantar foi muito agradável. Falaram de suas lembranças, recordando-se apenas dos momentos de felicidade que haviam tido juntos.

Rindo, enquanto levava o copo à boca, Kristi olhou para o rosto de Jason e gelou. Por um momento, ele deixou transpare-cer o amor e a necessidade imensa que sentia dela, baixando depois os olhos, deixando-a totalmente abalada.

Após o jantar, os quatro conversaram ainda por muito tempo.

Jason observava Kristi detalhadamente, e concluiu que, se ela tivesse rido na noite passada, ele a teria reconhecido... Ela não tivera muito do que rir durante o casamento, mas, se lhe desse outra chance, faria o possível para que a vida deles fosse mais feliz.

Sentindo-se confortável e sonolenta, Kristi não estava preparada para o convite de Jason, quando ele se levantou e disse:

— Por que você não vem comigo para casa esta noite, Kristi? Temos muitas coisas para conversar e certamente elas não vão interessar em nada a Kyle e Francine.

"Ele fizera isso de propósito!", Kristi pensou, irritada. Ficou vermelha, quando percebeu que Kyle não perdera o jeito e estava se divertindo. Levantou-se e disse, com frieza:

— Não, muito obrigada. Não acho que seja uma boa idéia nas atuais circunstâncias, Jason.

— Então, que tal me levar até o carro? — ele sugeriu, enquanto andava devagar até à porta.

Ela viu o olhar que Kyle e Francine trocaram e desejou dar um pontapé em Jason. Por que ele precisava falar como se não visse a hora de ficar a sós com ela?

— Está bem — concordou, determinada a fazê-lo saber o que realmente pensava do seu comportamento.

Foram calados até o carro dele. A luz fraca da varanda banhou o rosto de Jason com um brilho dourado, quando ele olhou para o pequeno carro vermelho e depois para ela.

— O que foi aquilo na noite passada, Kristi? É dessa maneira que cuidam de divórcios em Nova York?

Kristi sabia que ele iria falar sobre isso e tinha decidido que não o deixaria à vontade.

— Não pensei que você se lembraria de muita coisa da noite passada, Jason.

O chapéu que ele pusera ao sair estava empurrado para trás da cabeça.

— Muito engraçado. A única coisa que não está claro para mim é por que acordei no seu quarto de hotel.

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Kristi sorriu de um jeito travesso e respondeu:

— Vai ver que é porque foi lá que você caiu no sono ou desmaiou, não sei...

— Ah, Kristi, pare com isso. Afinal, que diabos você estava tentando conseguir?

— Você acreditaria se eu lhe dissesse que nada? Vi você entrar no bar e decidi lhe dizer que estava aqui. — Encostou-se no carro com uma pose falsa de tranqüilidade. — Mas, quando você não me reconheceu, fiquei sem saber o que dizer. Então, não disse nada.

Estava contente por ele não poder ouvir o ritmo alucinado de seu coração dentro do peito.

Com a palma da mão, Jason tocou-lhe o rosto suavemente, fazendo com que alarmes soassem por todo o seu corpo.

— E o que é que você estava fazendo lá? — A voz dele soou rouca. Ele parecia estar mais atento a ela do que à conversa.

— Decidi parar e dormir um pouco, antes de chegar à fazenda. Estava indo jantar, quando o vi.

Encostando-se nela, Jason começou a beijar-lhe levemente o rosto.

— Não vi você, Kristi.

— E nem poderia. Você atravessou o saguão como se tivesse um compromisso urgente, o que me deixou surpresa.

— Algo mais a surpreendeu? — Os braços dele rodearam-lhe a cintura delgada, forçando-a contra o corpo másculo, não deixando dúvida sobre o efeito que ela estava causando nele.

— O Jason McAlister que conheci nunca se sentaria num bar, bebendo sozinho por horas. Isso me surpreendeu!

Acariciando-a com suavidade, Jason olhou-a fixamente e perguntou baixinho:

— Você estaria interessada em ficar por aqui para me reabilitar? — Esperou que ela respondesse, mas como Kristi não disse nada continuou: — As pessoas mudam, querida. Você mudou... eu mudei... faz parte da vida. Mas uma coisa jamais vai mudar...

As mãos de Kristi estavam sobre o peito largo. Assim, ela pôde sentir o pulsar acelerado do coração de Jason.

— E o que é? — conseguiu perguntar.

— A maneira como reagimos um ao outro.

A boca máscula apoderou-se da dela num gesto tão intenso, que a fez parar de pensar. Abriu os lábios, num impulso, e suas línguas se entrelaçaram com volúpia. Sentiu o suspiro profundo no peito forte de Jason e seu corpo estremeceu, assim que ele a pressionou contra o carro. Com uma das mãos, desceu o zíper de seu blusão até a cintura e libertou-lhe os seios.

Kristi o abraçou, buscando livrar a camisa do jeans apertado acariciando-o com suavidade. Quantas vezes sonhara que o estava abraçando assim? Conhecia aquele corpo viril tão bem quanto o seu e logo o tateou com satisfação dos ombros

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musculosos à linha ereta da espinha.

Os lábios possessivos estavam realizando uma grande descoberta, descendo por seu pescoço, indo até o vale dos seios suaves e redondos. Podia sentir o perfume dele.

De repente, Jason afastou-se e, com as mãos trêmulas, subiu o zíper da blusa dela. Enterrou a cabeça nos seus cabelos ruivos, mantendo-a apertada contra os quadris estreitos.

— Venha para casa comigo, Kristi — murmurou. — Deixe-me fazer amor com você.

Kristi agarrou-se a ele, tentando fazer sua respiração voltar ao normal. Sentia-se como se estivesse estado em meio a um carnaval por muito tempo, a cabeça girando. "Não podia se entregar a uma mera atração física", pensou com tristeza.

— Não posso, Jason. Você não vê que não resolveria nada?

Ele sorriu, respirando fundo, como um corredor que atravessasse a linha de chegada.

— Posso pensar em um ou dois problemas que seriam resolvidos.

Ela se afastou, pois precisava da distância para controlar suas emoções. Então, olhou novamente para ele e respondeu:

— Você, com certeza, reconhece que não faço parte do Texas, Jason. Minha carreira está em Nova York. É lá que moro e quero viver. Deveríamos ter terminado nosso casamento há mais tempo. Por que você não assina os papéis de divórcio?

Ele ficou quieto, estudando-a como um caçador espreitando sua presa. Abriu a porta do carro e entrou, antes de responder:

— Recuso-me a discutir isso com você aqui. Podemos ir para casa e falar no assunto, se quiser.

— Esta noite não, Jason.

Aproximou-se do carro e ele, de súbito, a pegou pelo pulso, puxando-a para mais perto. Ela não resistiu, sentindo a força dos braços fortes, e se aproximou da janela.

— Está bem, esta noite não. Vou deixar que passe algum tempo com sua família, mas depois virei buscá-la. E é melhor que você aceite isso. — Com a mão livre, segurou-lhe a cabeça e beijou-a com ternura. — Nunca vou deixá-la partir, Kristi, e é melhor que você compreenda isto desde já! — murmurou, soltando-a.

Kristi ficou olhando Jason manobrar o carro e partir, enquanto que, com as pontas dos dedos, acariciava os lábios umedecidos pelo beijo que acabara de receber.

"O que fizera ao voltar?" perguntou-se, confusa.

Estava certa de que resistiria ao fascínio dele, mas fracassara logo ao primeiro encontro.

Muito pensativa, voltou para a sua casa e a sua família.

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Os dias que se seguiram passaram pela vida de Kristi como a brisa que sussurrava pelas paineiras. Ficou conhecendo melhor os sobrinhos e se reaproximou de Kyle e Francine. Mas, sem perceber, esperava pela volta de Jason.

Naquela tarde, ele a encontrou balançando na varanda, lendo um dos livros que trouxera. O barulho que o vento fazia nas folhas das árvores plantadas ali perto impediram-na de ouvir a chegada da caminhonete. Envolvida na leitura, levou um enorme susto quando ouviu a voz forte e alegre dele dizer:

— Deve ser uma leitura interessante!

Jason estava parado no degrau inferior, com a roupa empoeirada, mostrando o quanto havia estado ocupado. A cor de sua camisa quase se igualava ao castanho dos olhos que a encaravam através das pálpebras semicerradas.

Olhando para ele com ansiedade, Kristi percebeu como estivera esperando para vê-lo de novo. Ficou observando-o cami-nhar até ela, num passo calmo e silencioso.

Várias redes haviam decorado a varanda da fazenda através dos anos, mas nenhuma parecera tão pequena, quando Jason se sentou ao lado dela. O perfume da loção que ele usava se misturava ao cheiro característico do corpo forte e viril e Kristi teve de lutar contra a reação que isso lhe provocou.

— Onde está todo mundo? — ele perguntou, notando o silêncio da casa.

— Francine levou as crianças à cidade e eu decidi ficar e ler um pouco... Não sei onde Kyle está.

Ela usava os cabelos presos numa única trança, e ficou em pânico, quando Jason a pegou, aproximando-se ainda mais.

— O que você quer? — perguntou quase sem fôlego, tentando afastar-se.

No momento em que falou, sentiu que tinha feito a pergunta errada. Um sorriso lento iluminou o rosto de Jason, é ele respondeu num tom inocente, que a deixou surpresa:

— Estava imaginando se você não gostaria de sair comigo esta tarde. Você sempre gostou de cavalgar, e eu preciso verifi-car a área do rio...

Continuou a brincar com a trança dela, mas, enquanto falava, a mensagem que havia nos seus olhos era sobre outro assunto.

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A noite em que passaram juntos e que fora tão boa para os dois veio à mente de Kristi, que estremeceu levemente. Será que ele tinha consciência do efeito que produzia nela?

Ignorando seu silêncio, Jason continuou:

— Um dos homens contou que viu fumaça na parte sul da propriedade, há alguns dias. Preciso ir até lá para verificar. Já encontramos alguns jovens acampando por ali no ano passado. É muito fácil atravessar o rio e chegar à minha área.

Kristi sabia como o Rio Grande era estreito naquela região. Durante os meses de verão, havia ocasiões em que as águas dele baixavam tanto que se podia atravessá-lo a pé, sem dificuldade.

— Você está tendo problemas com imigrantes ilegais? — perguntou, numa tentativa de demonstrar o pouco efeito que ele lhe causava mas, sem ter certeza do resultado, porque Jason a conhecia muito bem.

— Acho que pode-se dizer que sim — ele concordou com um gesto de cabeça, enquanto massageava-lhe os ombros delicados, divertindo-se um pouco com a expressão séria que ela fazia.

— Kyle mencionou algo a respeito uma noite dessas. Mas disse também que não tem havido muita publicidade para não desencorajar os turistas que vão ao México... — comentou, tentando se afastar dele.

— Eu sei, mas não concordo com essa teoria, porque não creio que os turistas tenham algo a ver com isso.

— Mas, então, o que está acontecendo?

— A economia falida do México criou uma perturbação interna, que se tornou explosiva. O peso foi desvalorizado duas vezes nos últimos cinco anos. Aqueles que conseguem, fogem, atravessando o rio para encontrar trabalho. Não que eu os culpe, mas as autoridades ficam observando todos nós aqui da fronteira para se assegurarem de que não estamos empregando nenhum deles. Não posso permitir que acampem nas minhas terras.

— O que posso fazer, meu bem? Molly sempre diz o que pensa. E por falar nisso, o que você fez com aquelas curvas?

Rápido, ele evitou o tapa que ela estava prestes a desferir em seu ombro, segurando-a pelo pulso. Essa manobra a deixou ainda mais zangada, o que não o impediu de soltar uma gostosa gargalhada.

Molly foi até o refrigerador e pegou uma vasilha grande, colocando-a na bagagem.

— Oh, antes que me esqueça, Jason. O sr. Alvarez lhe telefonou. Acho que faz meia hora. Ele deixou um número de tele-fone... está sobre a sua mesa, no escritório.

Jason ficou parado por um momento, com a cabeça baixa, e então tomou uma decisão.

— Desculpe-me — sorriu para Kristi. — É melhor ver o que ele quer.

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Enquanto esperava, Kristi observava as mudanças que também haviam ocorrido por ali.

— Isto está lindo, Molly. Jason fez um bocado de melhorias por aqui, não? — Seu olhar se fixou no forno de microondas.

— É verdade. Alguma coisa fez com que ele começasse a agir assim de uns meses para cá. Trouxe até uma verdadeira equipe para reformar todo o lugar.

— Que tipo de reformas ele fez?

— Bem, derrubou uma parede lá em cima para aumentar o quarto e ficar com um banheiro privativo. Tudo de muito bom gosto e moderno. Fiquei surpresa, porque ele quase não fica em casa.

"De uns meses para cá", Kristi pensou. Foi quando encontrou o advogado para falar do divórcio. Será que as duas coisas estavam relacionadas? Quando se casaram, ela havia dito que gostaria de ter um banheiro privativo... Bom, casar de novo ele não estava pretendendo, pois, se fosse assim, teria assinado os papéis que ela havia mandado...

A voz de Jason, esbravejando lá do escritório, interrompeu seus pensamentos.

— Pare com isso, Alvarez! Esperei horas aquela noite, e você não apareceu. Droga, homem, eu preciso da sua ajuda. Não podemos perder mais tempo!

Molly e Kristi se entreolharam, embaraçadas por ouvir uma conversa particular. Quando se juntou a elas, Jason tinha uma aparência ameaçadora e Kristi desejou não ter que enfrentá-lo. Despediu-se de Molly, enquanto ele apanhava a bagagem e se dirigia para a porta, murmurando, com rispidez:

— Nos vemos mais tarde, Molly.

Quando chegaram aos cavalos, Jason começou a encher as sacolas laterais com comida. Embora tivesse noção de que não iriam se demorar tanto, sabia por experiência própria que Jason jamais se afastava da sede da fazenda sem estar prevenido, levando água e a velha garrafa térmica, cheia de café.

Cavalgando em direção às colinas do sul, Kristi se deliciou com o ar da primavera.

— Você já pensou em viver em outro lugar, Jason?

Ele estivera calado e a pergunta o tirou daquele silêncio constrangedor. Olhou a paisagem à sua frente e balançou a cabeça.

— O tempo que passei no exército me convenceu de que não seria feliz em nenhum outro lugar. Por quê?

— Estava só pensando. Não consigo imaginá-lo num lugar diferente.

Enquanto cavalgavam, Kristi observava o cenário ao redor, lembrando-se dos seus primeiros dias e noites em Nova York, quando sentia uma saudade quase insuportável de Cielo, mas, mesmo assim, se recusando a considerar a hipótese de voltar.

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Num determinado ponto, Jason parou o cavalo, saltou da sela e verificou o solo. Os restos de uma fogueira eram evi-dentes.

Tocando o cavalo para a frente, Kristi olhou em volta, admirando a beleza do lugar, e as águas do rio, que corriam rápidas.

Desmontou e foi até a margem, onde alguns chorões pareciam ganhar vida na água corrente. Olhando para o sul, ficou imaginando quantas pessoas haviam se aquecido naquela fogueira, em sua primeira noite na busca de uma vida nova.

Olhou por sobre o ombro e voltou-se para Jason, perguntando:

— O que você está fazendo?

— O que você acha? — ele retrucou, prosseguindo com a tarefa.

— Que você está tirando os arreios dos cavalos.

— Ora, devemos dar um prêmio à jovem senhora por ser tão boa observadora! — comentou com ironia, enquanto tirava as mantas de dormir enroladas na sela e as estendia perto da fogueira extinta. — Por que você não vai procurar lenha para que tenhamos calor e uma comida quente?

— Jason! Não podemos passar a noite aqui!

— E por que não? — ele perguntou, interrompendo o que estava fazendo, encarando-a com o olhar firme, as mãos sobre os quadris.

— Você sabe muito bem por quê. Francine e Kyle vão ficar preocupados.

— Não vão, não! Você deixou um bilhete dizendo que estaria comigo, lembra-se? — Jason começou a tirar os mantimentos das sacolas, colocando-os sobre as pedras.

— Mas eu não disse que ia passar a noite fora e você sabe disso muito bem. — Com impaciência, viu que ele continuava a arrumar as coisas e perguntou: — Afinal de contas, o que significa tudo isso?

— Fiquei pensando quanto tempo você levaria para me perguntar.

Jason acendeu um cigarro, e ficou olhando a fumaça esbranquiçada sem dizer nada.

Kristi já não era mais aquela garota de dezoito anos que aceitava tudo o que o marido dizia, sem grandes discussões. Ainda que tivesse de lutar contra os próprios sentimentos, aos vinte e quatro anos, enfrentaria a arrogância de Jason.

— Se eu soubesse que você tinha a intenção de fazer um joguinho, teria consultado o livro de regras — comentou irritada.

Jason notou o quanto aquela linda moça por quem havia se apaixonado tinha mudado. Quando se casara, ele levara para

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casa uma garotinha, mas agora tinha pela frente uma mulher. Seus olhos se apertaram ao ver o modo irritado com que ela o encarava. Mas logo sorriu, percebendo que seria melhor não enfrentá-la.

— Acalme-se, Kristi. Pensei que seria uma boa idéia sairmos um pouco para conversar. Você gostava de acampar e pensei que apreciaria isso de novo. — Fez uma pausa, dando outra tragada no cigarro. — Você acha mesmo que Kyle e Francine estão esperando que eu a leve de volta para casa hoje?

A chama de desejo que havia nos olhos dele eliminou o espaço que os separava. O sol projetava sombras ao redor e Kristi baixou os olhos, incapaz de continuar encarando-o.

Jason a havia desarmado. Sem saber o que fazer, lembrou-se da sugestão anterior dele e disse, olhando ao redor:

— Vou procurar lenha.

Ele ficou observando o jeito gracioso com que ela se movimentava. Resolveu segui-la, ao lembrar-se de todos os anos que passara longe de sua companhia.

Encontraram vários arbustos pequenos e alguns galhos quebrados. A busca tranqüila acalmou Kristi, fazendo-a lembrar-se de sua infância. Jason estava certo, ela sempre gostara de acampar, e os dois, mais Kyle e Francine, tinham feito isso durante toda uma semana, quando ela ainda era uma adolescente. Será que aqueles tempos tinham tanto significado para ele como tinham para ela?

Quando voltaram e acenderam a fogueira, já estava escuro. Os pacotes misteriosos de Jason continham comida típica e ela se sentiu realmente de volta ao Texas, enquanto esquentava o jantar.

As mantas de dormir estavam estiradas perto do fogo. Kristi deitou-se na sua, olhando o céu estrelado. Esquecera-se de como as estrelas brilhavam, longe da luminosidade das cidades. Podia sentir toda a sua tensão se esvair, enquanto se entregava à beleza do lugar. Ao menos desta vez poderia fazer de conta que nunca havia partido.

Virou a cabeça para ver Jason avivar a fogueira, adicionando mais lenha, enquanto colocava a vasilha de café no fogo.

Ele se sentou na outra manta com um suspiro de satisfação.

— Senti sua falta, Kristi.

— Também senti a sua, Jason.

— Então, por que não voltou para casa?

— Não pude. — Olhou para o fogo por um longo momento, e então continuou: — Não poderia enfrentá-lo, sabendo que tinha falhado como esposa. Precisava ganhar forças, olhar para frente, até ficar forte o suficiente para poder voltar atrás.

Os sons noturnos abafavam suas vozes. O crepitar ocasional da fogueira mandava fagulhas em direção as estrelas que

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cintilavam acima deles. O uivo longínquo de um coiote fez com que Kristi estremecesse. Quando Jason falou, sua voz era rouca e profunda.

— Nunca pensei que você imaginasse ter falhado como esposa. — Kristi podia sentir a dor nas palavras dele. — Gostaria de ter sabido disso antes, para poder lhe dar confiança. Lamento não ter compreendido você, Kristi. — Agora a expressão de dor era evidente no rosto dele. — Por que você acha que falhou?

Ela abraçou os joelhos e os apertou contra o peito, tentando controlar as emoções. A pergunta trouxera de volta lembranças dolorosas.

— Porque não pude lhe dar os filhos que queria... porque você passava muito tempo fora de casa... porque tinha uma vida que não queria partilhar comigo... — Forçou-se a encará-lo e sorriu. — Eu era inexperiente em muitas coisas. Não sabia o que esperava de mim e falhei na única coisa que poderia fazer com que você me quisesse.

O sofrimento de Kristi era tão evidente, que Jason se aproximou sem pensar, cobrindo-a com sua sombra, ao ficar entre ela e a fogueira.

Pela primeira vez, Kristi sentiu o frio da noite. Mas foi só por um momento, antes de ele a envolver em seus braços, como se pudesse apagar a angústia que ela sentia.

— Cale-se, Kristi, meu amor. Você não sabe o que está falando. Você é tudo que eu sempre desejei... Pensei que soubesse disso!

Kristi balançou a cabeça contra o ombro musculoso em silêncio, enquanto Jason a abraçava com mais força.

— Você nunca nos deu uma chance para que fôssemos pais depois daquilo, Kristi. O médico disse que deveríamos esperar alguns meses, antes de tentar novamente, lembra-se?

Ela concordou com um gesto de cabeça, mas não olhou para ele. Delicadamente, Jason deitou-a sobre a manta e estendeu-se ao seu lado, mantendo-a presa em seus braços. Como teria sido diferente, se tivesse compreendido as inseguranças dela!, pensou.

— Gostaria de ter sido sincero com você, sobre o que andei fazendo naquele tempo.

O comentário fez com que Kristi se afastasse um pouco e o encarasse. As saídas noturnas de Jason tinham feito parte de seus pesadelos, porém nunca lhe pedira uma explicação. Ficou se perguntando por que ele estava mencionando isso agora.

— Tive a idéia estúpida de que a estava protegendo das asperezas da vida. Em vez disso, provoquei outras que nem sequer eram necessárias — ele murmurou, acariciando-lhe o rosto.

Kristi olhou fascinada para as chamas que delineavam o perfil de Jason. "Como é que posso tirar este homem da minha

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vida se ele já faz parte dela?", pensou em desespero.

Jason ficou olhando o fogo, enquanto falava.

— Estive trabalhando para o serviço de informações secretas do exército. Depois fui dispensado, tentei apagar aquela passagem da minha vida. Mas as coisas nem sempre são como a gente espera. Algum tempo depois da minha volta, fui contratado pelo governo para ajudar numa investigação secreta, que pretendia acabar com o contrabando de heroína na fronteira. E como minha fazenda está bem próxima dela, ficaria fácil movimentar-me sem levantar suspeitas.

Ele a olhou e beijou-lhe os lábios com suavidade.

Ouvindo-o atentamente, Kristi perguntava-se se teria feito alguma diferença saber das atividades dele naquele tempo.

— Você ainda está envolvido com eles? — Seu tom revelava tranqüilidade.

— Agora não.

A mão de Jason parou no primeiro botão da blusa dela, hesitou um pouco, mas por fim o desabotoou.

— Seis meses depois que você partiu conseguimos provas suficientes para processar todos os traficantes.

A mão dele se moveu para o botão seguinte.

— Mas aí já era muito tarde para lhe explicar o que eu andara fazendo.

Após abrir o último botão, Jason desatou o fecho do sutiã.

— Você parecia estar feliz com sua nova vida.

— O que o fez pensar assim? — O coração de Kristi batia tão depressa que fazia todo o seu corpo tremer.

— Foi a impressão que você deu a Francine, sempre que conversou com ela.

— Por que você nunca me telefonou, Jason? — perguntou num sussurro, sem fôlego.

— Porque achei melhor não. Se escutasse sua voz apanharia o primeiro avião para Nova York e a arrastaria de volta para casa.

Kristi afagou a nuca de Jason, perdida nas sensações que a proximidade de seus corpos lhe despertava.

— Se você se sentia assim, por que então me deixou partir?

— Tive que enfrentar o fato de que você era muito jovem, quando nos casamos, para decidir o que queria da vida.

Acariciou um dos seios dela, massageando o mamilo rosado até que ele se enrijecesse e Kristi se movesse agitada, incapaz de controlar o desejo do próprio corpo.

— Lamento não ser homem bastante para permitir que você me abandone outra vez, Kristi...

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Jason tomou-lhe os lábios, passando sobre eles a língua úmida e quente, devagar e com delicadeza. Quando a apertou contra o corpo, num abraço apaixonado, Kristi enroscou a língua na dele, correspondendo ao beijo com sensualidade e prazer.

Ele endireitou o corpo, e tirou-lhe a blusa. A seguir, começou a explorar os contornos suaves de seu corpo e a pele acetinada das costas. Abriu-lhe o zíper da calça e, com as mãos, traçou o caminho de seus quadris, enquanto a despia por inteiro.

Se Jason tivesse dito alguma coisa, pedindo ou exigindo, talvez ela pudesse ter resistido. Em vez disso, ele buscava silenciosamente seus recantos mais secretos, fazendo com que ela perdesse qualquer vontade de lutar.

Kristi não percebeu em que momento as carícias lentas e exploradoras se tornaram mais ardentes e possessivas. Tudo que sabia era que seu corpo vibrava de desejo. Aproximou-se mais de Jason, as mãos procurando pelo corpo másculo. Então, tirou-lhe a camisa, e deixou que sua pele roçasse na dele.

Abraçou-o com força e sentiu seus seios pressionados contra o peito largo. Ouviu-o prender a respiração com o contato e ajudou-o a livrar-se do jeans, ansiosa por tocá-lo todo.

Quando Jason se deitou ao seu lado, suas pernas se entrelaçaram, e ela pôde sentir seu sexo rijo de encontro à coxa.

As mãos dele massageavam delicadamente o triângulo escuro de seu sexo, aproximando-se e afastando-se do centro sensível do prazer. Um fogo sensual apoderou-se dela que, sem poder mais se controlar, arqueou o corpo para entregar-se sem restrição.

— Oh, Jason! — gemeu, querendo que ele a possuísse.

— Estou aqui, querida.

— Entre em mim, Jason. Por favor.

A respiração ofegante em seu ouvido mostrava o quanto ele a desejava, mas parecia ter a intenção de provocá-la ainda mais, adiando a consumação tão ansiada.

Entendendo a intenção de Jason, Kristi tocou-lhe o sexo, sentindo-o arquear, quase sem controle. Acariciou-o por inteiro, fazendo-o gemer. Então, ele a trouxe para cima dele e a penetrou lentamente.

Por um momento, ficaram parados, experimentando o êxtase do encontro. Então começaram a se mover novamente, instintivamente. Kristi apertou as pernas ao redor dos quadris dele. O movimento fez com que Jason aumentasse o ritmo e ela atingiu o clímax do prazer com um grito abafado. Jason parou, abraçando-a apertado, até que ela parasse de tremer. Então, recomeçou o movimento.

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O corpo de Kristi tornava-se cada vez mais sensível, reagindo ao toque de Jason com ardor crescente. Aumentando o ritmo, ele se deixou levar, mergulhando na maciez do corpo sensual e feminino, que pulsava sem controle, no momento em que o prazer chegava para os dois, em ondas cada vez maiores.

Adormeceram abraçados, as pernas entrelaçadas, os corpos ainda estreitamente unidos.

A brisa fria da madrugada despertou Jason, que ficou acordado por um bom tempo, envolvendo Kristi em seus braços, enquanto olhava as estrelas cintilarem na noite escura, até adormecer outra vez.

Jason viu quando a luz do alvorecer delineou as colinas ao leste. Kristi ainda estava adormecida em seus braços, tranqüila, sorridente. Quantas noites sonhara em tê-la assim? Será que ela ainda o amava?

Ele a amara o suficiente para permitir que ela partisse uma vez, mas estava consciente de que não teria forças para fazê-lo novamente. Esta era uma luta que tinha de ganhar, para poder sobreviver.

Kristi sonhava que Jason a abraçava, acariciando-lhe o corpo suavemente. Aconchegou-se mais a ele, desejando sentir de novo o poder de sua posse, quando percebeu que não estava sonhando. Abriu os olhos, mas ele tomou-lhe os lábios num beijo ardente e apaixonado, fazendo com que se desmanchasse em seus braços.

Naquela manhã, Jason a possuiu exigente e agressivo, como se não conseguisse obter tudo o que queria dela. A luta que se travou dentro dele excitou-a com rapidez e Kristi correspondeu quase que com selvageria. A ternura cedera lugar à paixão e ela devolveu as carícias com o mesmo ardor. Esperou até que Jason gemesse de prazer para enfim entregar-se às sensações que tanto lutara para adiar.

Ficaram deitados, sem fôlego, úmidos, as cobertas jogadas ao longe. Colada a ele, sentiu o riso abafado dentro do peito másculo.

— Você é uma felina quando está excitada, hein, Kristi?

Ela pensou um pouco naquelas palavras, lembrando-se do apelido que ganhara: "princesa de gelo". Começou a sorrir, levantando-se para afastar os cabelos molhados da testa.

— Você teria preferido que eu ficasse com medo e fugisse? — Desta vez, foi Jason quem riu?

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— Pode ter certeza que teria que lutar muito para escapar de mim.

— Foi a conclusão a que cheguei... — ela retrucou, séria.

Confuso, Jason balançou a cabeça. Não conhecia mais a criatura que o enfeitiçava, que o provocava quando menos espe-rava. O amor que sentia por Kristi era tão vital quanto o ar que respirava! Mas, agora, a personalidade madura dela deixava-o inseguro.

Kristi permaneceu nos braços de Jason admitindo para ela mesma que se sentia como se tivesse voltado para casa. Todos os seus planos tranqüilos e racionais de voltar ao Texas para pegar a assinatura de Jason nos papéis de divórcio haviam se desvanecido magicamente na noite anterior.

Sentou-se, sem se importar com o frio da manhã e com a sua nudez.

— Jason, precisamos conversar.

Ele observou a claridade da manhã tocar a linha delicada dos seios firmes e mordiscou um deles, devagar.

— Sobre o quê?

— O divórcio.

Imediatamente ele ficou tenso e voltou-se para encará-la. Com a voz profunda e firme falou, rispidamente.

— Não haverá nenhum divórcio, Kristi.

O arrepio que ela sentiu não foi provocado apenas pela brisa fria da manhã. Jason não entendera e ela tentou explicar.

— O que quero dizer é que...

— Sei o que você quer dizer e estou lhe dizendo neste momento que não pretendo concordar com você!

Frustrada por ele se recusar a ouvi-la, levantou-se de um salto e procurou por suas roupas, que estavam espalhadas ali perto. Tentou mais uma vez.

— Você quer me ouvir por um instante? Sei como se sente, porque já deixou isso bem claro. Mas acontece que o meu emprego é em Nova York e...

— Sei onde é o seu emprego, droga! Há cinco longos anos que sei disso!

Jason agarrou as próprias roupas e vestiu-se. Depois, encheu uma vasilha com água para fazer café e a colocou de lado, enquanto reavivava o fogo.

— Depois de ontem, pensei que ao menos você estivesse considerando a hipótese de ficar. Já está claro que me enganei.

Determinada a não perder a calma, Kristi respirou fundo, antes de continuar:

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— Não é tão simples assim, Jason. Tenho compromissos...

— É evidente que tem. Assumiu um comigo, antes de decidir que ser modelo era a coisa mais importante da sua vida.

— Isso não é verdade, Jason, e você sabe. Nunca me disse o que queria. Não me pediu para ficar e nem nunca me telefo-nou ou escreveu, pedindo que eu voltasse...

O fogo acendeu e ele acrescentou uns pedaços de lenha levantando-se devagar.

— Você deveria saber, porque mantenho meus compromissos.

— É, eu sei. Até o fim... Mas acontece que eu não queria "continuar como sua esposa só porque você estava preso a mim. Você queria filhos, Jason. Nós dois sabemos disso...

— Ah, não, Kristi! Esse assunto outra vez? Sim, eu queria filhos, mas se você não pode tê-los, não os teremos. Você é muito importante para mim, para que eu a deixe apenas por isso...

— Sou? — A voz dela falhou, impedindo-a de continuar.

— Pode ter absoluta certeza disso, Kristi.

— Então, por que você nunca me disse nada?

Jason levantou as mãos, em desespero.

— Desisto. Eu desisto! — Virou-se e se afastou da fogueira.

Quase chorando, Kristi caminhou em direção ao rio, buscando um lugar solitário onde pudesse pensar. Será que esperara demais de Jason? Ele nunca falara sobre seus sentimentos, mas ela sabia que ele sempre estaria presente, se precisasse de sua ajuda. Talvez fosse isso. Se apoiara nele durante toda a sua vida, até que perdessem o filho e então começara a questionar tudo. Como ele não dera as respostas que queria, sentiu-se abandonada e...

"Oh, Deus", pensou angustiada, "o que fizera a ele?" Quando voltou para perto da fogueira, sentiu o cheiro forte de café e viu que Jason enchia duas canecas, colocando uma ao seu lado, enquanto bebia da outra. Apanhando a caneca, ela murmurou com suavidade:

— Obrigada.

Podia sentir o quanto ele estava tenso, mas não sabia o que dizer para aliviá-lo. Na exuberância de seus dezoito anos acreditara que bastava o amor para que um relacionamento fosse perfeito. Sofrera muito até aprender que, embora o amor fosse vital, não era o suficiente. Nenhum relacionamento poderia sobreviver, a menos que houvesse comunicação entre os dois e compreensão mútua dos sentimentos um do outro. Suspirou, frustrada.

— Quero cavalgar rio abaixo — Jason disse, indo até à sacola e voltando com alguns bolinhos de canela. — É melhor

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você comer alguma coisa. Molly fez estes ontem.

A boca de Kristi encheu-se de água. Pegou um bolinho e o mordeu, sentindo o delicioso sabor da canela. Olhando para cima, viu que Jason sorria divertido.

— O que há de engraçado? — perguntou.

Ele voltou a olhar para ela, vestida com as roupas amassadas, a trança desarrumada, as faces brilhantes, e explicou:

— Se seus amigos de Nova York pudessem vê-la agora!...

Kristi deu de ombros, indiferente. Nova York parecia estar a milhares de quilômetros de distância; um planeta longínquo que não a atraía.

Depois de encher as duas canecas com o que restava do café, Jason guardou as coisas e selou os cavalos, enquanto ela terminava de comer.

O dia prometia ser quente. Uma brisa leve agitava a copa das árvores de vez em quando, e Jason parecia preocupado, seguindo uma pista que Kristi não conseguia ver. Chegaram a uma pequena elevação e pararam. O Rio Grande fluía lento, com uma aparência barrenta e feia, longe do que se esperaria de um rio que fizesse a fronteira entre duas nações. Kristi comparou as duas margens e não viu diferença. Era difícil acreditar que bastaria atravessá-lo para encontrar outro país, outra língua, outro modo de vida.

Jason fez com que o seu cavalo se aproximasse da margem do rio e examinou o terreno atentamente. Às vezes se afastava da beirada, e o que quer que tivesse descoberto não o estava deixando nada satisfeito.

Cavalgaram em silêncio por muitos quilômetros e Kristi logo se perdeu em seus pensamentos. Jason deixara claro sua posição, mas aonde isso os levava? A carreira que escolhera exigia que morasse em Nova York. Mas será que queria mesmo voltar para aquele mundo trabalhoso e continuar o que vinha fazendo nos últimos anos?

Sentiu o rosto arder, ao lembrar-se da relação sexual que haviam tido pela manhã. Ele deixara claro o quanto a queria! Será que a força magnética que os impelia um para o outro seria uma base forte o suficiente para que o relacionamento deles desse certo?

Olhou para Jason, que examinava as moitas, parecendo não ter consciência da sua presença. "O que Jonathan faria, se eu lhe telefonasse para dizer que estou me demitindo?" Tentou imaginar se sentiria falta da atmosfera frenética, da excitação, das roupas, do dinheiro e da fama! Não sabia, nunca havia pensado nisso antes.

Jason decidira voltar, e estavam a uns dois quilômetros de casa, quando um vaqueiro, que galopava em direção a eles, começou a gritar assim que os viu:

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— Nate se machucou, Jason, e estamos com medo que seja sério. Não sabíamos onde você estava. — Parou de falar para tomar fôlego. — Molly fez com que o levássemos para dentro de casa e pediu que chamássemos o médico, mas o homem ainda não apareceu.

— É muito grave, Pete? O que aconteceu?

Enquanto galopavam velozes, Kristi ouviu a resposta de Pete.

— Aquele cavalo novo que você comprou o atirou da sela e, antes que pudéssemos chegar, o pisoteou. Ouvimos o som de ossos se quebrando, lá do curral! — Chegaram à fazenda e Jason saltou do cavalo. — Deve ter machucado também algumas costelas. Molly está com medo que ele tenha sofrido uma concussão. Nate não parece muito bem.

Jason soltou um palavrão, enquanto subia a escada da varanda aos pulos, e entrava na casa. Kristi apanhou as rédeas dos dois cavalos e os levou para a cocheira, sabendo que precisavam descansar.

— Deixe que eu cuido disso. — Pete falou, solícito. — A senhora pode querer entrar para consolar Molly...

Claro! Nate e Molly eram tão inseparáveis que pareciam mais uma instituição do que um casal. Correu para dentro da casa.

Quando passou pelo escritório, viu que Jason estava ao telefone dando instruções. Assim que ele desligou, parecia mais calmo e controlado. Entraram no quarto, e ele se aproximou da cama.

— Um helicóptero estará aqui em quinze minutos. Vão levá-lo para San Antone, Nate. Você ficará bom.

Parada na porta, Kristi viu Nate deitado, com o rosto tão cinzento quanto a sua cabeleira grisalha. Sentada ao lado da cama estava Molly, segurando a mão do marido. Ela parecia composta, mas o pânico era ardente em seus olhos.

Jason lutava para se controlar. "Por que diabos estas coisas tinham de acontecer?" Dirigindo-se a Molly, falou com suavi-dade:

— É melhor arrumar uma mala, Molly. Não sabemos quanto tempo vocês terão de ficar em San Antone.

— Não posso ir com ele, Jason. Amanhã chegam os homens extras para as vacinas e a marcação... — Olhou para o rosto pálido no travesseiro, tentando conter as lágrimas.

Sem consultar Kristi, Jason retrucou rápido:

— Seu lugar é junto de Nate, Molly. Não se preocupe. Kristi está aqui e poderá me ajudar com esta parte.

O espanto de Kristi ao ser convocada de maneira tão casual teria sido cômico, se a situação não fosse tão séria.

O rosto de Molly se iluminou num sorriso trêmulo, que teria clareado até um quarto escuro.

— Oh, Kristi, você faria isso por mim? — a voz da mulher soou trêmula e ela fez uma pausa, antes de informar: — Eles

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ficarão aqui só por três dias, mas terá de cozinhar para doze homens famintos!

— Molly, eu jamais poderia substituí-la, mas farei o que puder para que nenhum deles passe fome, fique tranqüila.

O barulho de pás gigantescas cortando o ar chegou até eles e Molly deu um salto.

— Oh, o helicóptero está chegando. Estarei pronta num minuto. — Saiu do quarto com uma rapidez que Kristi nunca vira antes.

Jason foi para perto de Nate e tomou-lhe a pulsação. Kristi ouviu um barulho na varanda e saiu em direção ao corredor. Viu quando dois enfermeiros, com uma maça e uma maleta, entraram apressados pela porta.

Uma intensa atividade acompanhou a remoção de Nate. O carro do médico chegou assim que o helicóptero levantou vôo e Jason foi ao encontro dele, com o rosto tenso. Não precisava mais fingir.

— Olá, dr. Johnson. Nate já foi para o hospital, mas é bom vê-lo outra vez.

Kristi juntou-se a eles, agitada pela recordação da manhã em que aquele homem de branco sentara ao seu lado, na cama do hospital, tentando consolá-la.

— Kristi! Não sabia que tinha voltado, minha filha. Que bom vê-la de novo. — Segurou-lhe a mão e a apertou com afeição, enquanto Jason os olhava em silêncio.

— O senhor tem tempo para uma bebida, doutor? — ela perguntou, contente por reencontrá-lo.

— Acho que vou arrumar tempo, Kristi. Só lamento não ter chegado antes para socorrer Nate. — Voltou-se para Jason e perguntou: — O que você acha, o ferimento era muito grave?

Jason suspirou cansado e fez um gesto para que fossem para a varanda.

— É difícil dizer, doutor. Baseados nos sinais vitais, os enfermeiros acharam que ele estava em muito boa forma. Mas temos que esperar Molly telefonar, para saber o resultado do raio X.

Kristi espantou-se ao perceber que já passava da uma da tarde, quando chegaram à cozinha. Verificou o que havia no refrigerador e sorriu, tendo certeza de que não iriam morrer de fome.

Foi fácil convencer o médico a almoçar com eles. Depois, Jason o levou até o carro, voltando em seguida para a cozinha, onde se serviu de mais uma xícara de café.

Kristi ficou observando o marido, lembrando-se de como era raro ele demonstrar seus sentimentos. Gostaria que ele não se esforçasse tanto para esconder sua preocupação com Nate!

— Se vou ficar aqui, preciso ir apanhar minhas roupas e explicar a Kyle e Francine o que aconteceu.

Os olhos de Jason seguiram seus movimentos, enquanto ela tirava a mesa. Falou, com voz grave:

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— E algum dia, você duvidou disso?

— Jason, vou ficar aqui porque eu quero e não porque você decidiu que eu deveria ficar...

— Oh! — ele se recostou na cadeira, divertido com a seriedade dela. — Então é assim?

— Exatamente. Quando tudo estiver bem por aqui, irei embora outra vez.

Os olhos de Jason se escureceram.

— Você pensou que eu tinha a intenção de trancá-la?

— Não, só queria deixar claro por que concordei em ficar aqui. — Odiava aquele ar divertido nos olhos de Jason e estava determinada a acabar com ele. — Pretendo dormir num dos quartos de hóspedes.

Jason não fez qualquer comentário, apenas a encarou com um brilho diferente nos olhos. Por fim, concordou com um gesto de cabeça.

— Para mim está bem. Faça como quiser. — Afastou-se da mesa. — Tenho de trabalhar agora. Pode usar a caminhonete para ir buscar suas coisas, e, se preferir, convide Kyle e Francine para o jantar. Sei que eles gostariam de passar todo o tempo que puderem junto de você.

Kristi percebeu que Jason a estava desafiando. Talvez achasse que ela não seria capaz de cozinhar para um batalhão, mas mostraria a ele...

— Ótima idéia — respondeu, altiva.

Ouviu o riso abafado dele, quando Jason saía pela varanda. "Que homem enervante!", pensou irritada.

Kristi esticou-se na cama com um suspiro. Aquele fora um dia cheio, desde que acordara na margem do rio, ao lado de Jason.

O jantar, entretanto, fora muito agradável. Kyle e Francine pareciam aprovar totalmente sua "reconciliação" com Jason. Ele a vira de modo provocativo, divertindo-se com seu comportamento indiferente. Mas não se importou, porque não estava disposta a se atirar nos braços dele toda vez que os abrisse. Jason era um homem arrogante e teimoso, e ainda não havia se convencido de que ela ficara por lá apenas para que Molly fosse tranqüila para junto do marido.

Ele não fez nenhum comentário, quando levou suas roupas para o quarto de hóspedes, concordando com um gesto de cabeça, assim que ela o avisou que ia deitar-se.

A cama era mesmo confortável, e Kristi não conseguia entender por que não pegava no sono. Ficou se revirando, agitada, até que ouviu os passos suaves de Jason subindo a escada. Naquele instante, soube que estivera esperando por ele.

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Prendeu a respiração, quando ele passou pela porta de seu quarto e não parou. Suspirou, admitindo com relutância, ter desejado que Jason a levasse para a cama dele.

Já estava quase dormindo, quando ouviu um pequeno rangido na porta. Abriu um pouco os olhos, e viu um vulto se aproximar da cama, levantar as cobertas e deitar ao seu lado.

— O que você está fazendo aqui? — murmurou.

Jason apertou-a contra o corpo másculo, aquecendo-a com o seu calor.

— Achei que você deveria descobrir como se sente um marido que tem uma mulher que precisa viajar constantemente — sussurrou-lhe ao ouvido.

Kristi começou a se excitar.

— Durma, querida. Cinco da madrugada é uma hora horrível para se acordar.

Ela se aconchegou nos braços fortes e adormeceu, sentindo as mãos de Jason acariciar-lhe o corpo suavemente.

O aroma suave da colônia masculina fez com que Kristi se excitasse em seu sono. Lábios firmes e possessivos tocaram os seus, numa carícia suave e ela piscou os olhos, abrindo-os. Jason estava ao seu lado na cama, já todo vestido, observando-a com carinho.

— É hora de levantar, querida — ele murmurou, enquanto a admirava.

As ondas revoltas dos seus cabelos emolduravam-lhe o rosto delicado. Kristi sorriu, ainda influenciada pelo sonho delicioso e o abraçou, beijando-o languidamente.

Jason se afastou, já meio sem fôlego, e falou sorrindo:

— Querida, se começarmos assim pela manhã, não vou conseguir trabalhar. — Levantou-se e a puxou para fora da cama. — Você também vai ter um dia cheio pela frente! Estaremos aqui para comer, dentro de meia hora. — Beijou-a levemente nos lábios, e saiu.

Espreguiçando-se devagar Kristi viu sua imagem refletida no espelho da cômoda. A camisola transparente não escondia nada e ela sorriu ao se lembrar da reação de Jason quando a puxara da cama.

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"Ele quer uma esposa de verdade? Muito bem, então vai ter uma", decidiu. Pegou suas roupas de baixo, e estava indo para o banheiro que servia aos quartos de cima, quando se lembrou do que Molly lhe dissera. Voltou-se e foi para o quarto de Jason. Ele era bem mais sofisticado do que o resto da casa e ela não pôde evitar de se perguntar o porquê. O espesso carpete marrom fazia um contraste dramático com o branco das paredes e o tecido suave das cortinas e do sofá. Descobriu, com surpresa, que ele não optara por uma decoração masculina. A poltrona de descanso, próxima da janela, sem dúvida pedia por uma mulher sensual.

Kristi entrou no banheiro, deu uma olhada e caiu na risada. Aquilo era demais! A banheira media pelo menos um metro e meio por dois e meio, e uma das paredes era toda espelhada. Até o chuveiro fora feito para dois!

"Está bem, Jason, entendi o recado!", pensou, divertida. Depois de uma chuveirada rápida, vestiu-se e foi para o corredor, os cabelos soltos em ondas pelos ombros, presos apenas por uma fita.

O café da manhã foi divertido, em meio àquela turma que ela não conhecia. Jason a apresentou orgulhoso, como sua espo-sa, e Kristi sorriu, feliz com a alegria dele.

Jason sempre fora algo especial em sua vida e havia podido contar com ele em todas as horas. Tinha esperanças de poder lhe retribuir um pouco daquele amor. Por que não pudera entender anos atrás que ele também precisava de apoio e de carinho?

Todos bateram palmas, elogiando sua comida. Jason foi até ela, acariciou-lhe os quadris e falou baixinho:

— Vamos ter que engordá-la um pouquinho. Mas, com esta comida, isso não será difícil!

Quando Kristi se voltou da pia para olhá-lo, um beijo delicioso a esperava. O carinho a perturbou, e Jason se afastou, sorrindo.

O primeiro dia estabeleceu o padrão dos muitos que se seguiram. As notícias de San Antone eram boas: Nate se recuperava depressa. Embora a concussão fosse leve, as partes quebradas precisavam ser submetidas a radiografias, e isto significava que ele e Molly ainda ficariam fora por semanas.

Para Kristi, a casa parecia diferente do que fora há cinco anos. Sem a presença de Molly, era ela quem administrava tudo. Já não se sentia oprimida e aceitou o desafio, iniciando a arrumação para a chegada da primavera e planejando o cardápio com prazer.

Jason encontrava inúmeras tarefas para fazer dentro e ao redor da casa, e estava sempre por perto. Chegava em silêncio, por trás, para roubar-lhe um beijo ou fazer-lhe um carinho terno, quando ela menos esperava. Ninguém que o visse poderia duvidar de sua felicidade em tê-la de volta.

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Finalmente, tudo estava pronto para receber Nate e Molly de volta. Não havia mais ninguém na casa, quando acabou de arrumar a cozinha e foi até o escritório onde Jason estava trabalhando. Feliz, parou na porta e ficou observando-o. Olhando por sobre os ombros dele, viu os últimos raios de sol tocando no canteiro que havia plantado com cravos silvestres, zínias e amores-perfeitos, todos cobertos de botões, prontos para desabrochar a qualquer dia. Tinha se esquecido do quanto gostava de jardinagem e ficou imaginando como pudera ter passado tanto tempo longe da terra.

Lembrou-se de seu apartamento em Nova York, no qual tinha pensado muito pouco, desde que voltara a Cielo. Raras vezes ficava lá, a não ser para dormir. Sua vida na grande cidade não fora de todo má... Divertira-se muito, ganhara bastante dinheiro, tornara-se famosa e conhecera muitas pessoas importantes.

Sentia saudades de Jonathan, e das várias modelos de quem se tornara amiga com o passar dos anos. Mas ninguém jamais poderia ocupar o lugar de Jason em sua vida.

Ele a viu parada na porta do escritório, com o olhar fixo na janela, e olhou-a com carinho. O jeans apertado trouxe-lhe à lembrança a adolescente que lutara para ignorar. Kristi já não estava tão magra, como quando chegara. A blusa amarela estava esgarçada nos botões e Jason sorriu ao recordar-se dos comentários zangados que ela fizera ao vestir-se naquela manhã.

Kristi percebeu que ele a olhava e entrou na sala, encostando-se na escrivaninha. Os raios de sol batiam nos cabelos loiros dele e o sorriso lento com que ele a recebeu aliviou seu coração. Lembrou-se do motivo por que fora até ali e perguntou:

— Quem é Alvarez?

Jason demorou para responder, recostando-se na poltrona de couro c soltando a caneta. Estivera ao telefone com Alvarez um pouco antes, e a pergunta não o surpreendeu.

— É um contato que preciso ter no México. Por quê?

— Não estou bem certa — ela admitiu, devagar. — Acho que quero saber por que ele provoca esse tipo de reação em você sempre que se falam.

O sorriso de Jason desapareceu e ele se endireitou na poltrona, perguntando, confuso.

— Por que você está falando isso?! — Kristi franziu a testa, buscando as palavras.

— Sempre que vocês se falam, sua voz fica gelada e distante. Para mim é óbvio que não gosta dele. Mas, se isso é verdade, por que conversam tanto?

Os olhos verdes dela buscaram os de Jason, com ansiedade, fazendo com que um ligeiro alarme disparasse na mente dele.

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"Cuidado, Jason, aqui está um teste para você." Advertiu-se mesmo. "Não vá estragar tudo."

Ele se levantou e caminhou até ela. Afagou com carinho o rosto macio, consciente do quanto aquela mulher podia deixá-lo vulnerável. A palavra "amor" não era suficiente para definir seus sentimentos para com ela.

Foi até uma poltrona larga que estava junto da lareira e puxou-a gentilmente pelas mãos. Sentou-se e a colocou no colo, abraçando-a como a uma criança,

"Ninguém mais tem o poder de me reduzir a essa massa vibrante de sensações", Kristi pensou com alegria. "Já nem me lembro mais o que havia perguntado."

Jason respirou fundo, e enquanto afagava os cabelos ruivos dela, começou a falar.

— Nunca lhe contei sobre o meu amigo Joe, não é? — Fez uma pausa e continuou: — Conheci Joe Guerrero durante o treinamento básico no Exército. Ele nasceu em El Paso, e é um pouco mais jovem do que eu. Gosta de correr atrás da vida, porque não tem paciência para esperar pelos acontecimentos. É sociável, exuberante e o melhor amigo que um homem pode querer. Acabamos juntos, no Oriente, e fomos escolhidos para diversas missões especiais. Não demorei muito para descobrir que não poderia ter um homem melhor para cobrir minha retaguarda — Jason sorriu. — Costumávamos brincar sobre quem salvara quem na última vez, mas isso não era uma piada — o sorriso dele desapareceu com as lembranças. — Nunca se esquece esse tipo de relacionamento. Pensando no passado, vejo que foi um milagre nenhum de nós ter morrido.

O silêncio se espalhou pela sala e Kristi não disse nada, esperando para ver o que aquela história tinha a ver com Alvarez.

— Joe voltou para os Estados Unidos muitos meses antes do que eu e, quando voltei, não o encontrei. — Jason fez uma pausa, como se estivesse pensando em algo não relacionado com a história. — Ele era um dos homens envolvidos na investigação do contrabando. Eu não sabia disso, até que descobri que trabalhava em segredo para o governo mexicano. Parte da família de Joe ainda mora no México, e o primo dele se envolveu com os traficantes. Quando quis se afastar, o mataram. Depois disso, Joe se ofereceu para ajudar o governo mexicano a acabar com eles. Tivemos cuidado para evitar que os traficantes soubessem que nos conhecíamos e, até onde sei, nenhuma relação entre nós jamais foi traçada. As prisões que resultaram de nosso trabalho foram feitas quando estávamos "convenientemente" longe.

Jason olhou para Kristi e beijou-a de leve nos lábios.

— Alvarez era um dos homens envolvidos naquele trabalho. Supõe-se que era amigo de Joe, embora eu duvide que ele saiba o significado verdadeiro da palavra. — Recostou a cabeça na poltrona e suspirou. — De qualquer forma, ele fez contato comigo um pouco antes de você chegar, para me dizer que Joe estava com problemas no México e que pedira para me avisar. Joe está sendo mantido preso lá, Kristi. E eu tenho que ir libertá-lo.

Lembranças horríveis do começo da vida de casada vieram à mente de Kristi; as noites em que Jason saía e ela não sabia

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onde ele estava. Com dificuldade, conseguiu perguntar:

— Quando?

Jason abraçou-a apertado, escondendo o rosto na massa de seus cabelos. Precisava ser honesto com ela. O relacionamento deles tinha que se basear na verdade e na confiança.

— Assim que Alvarez termine de fazer os arranjos. Estamos esperando que ele encontre um guarda necessitando de dinheiro, o que tornará as coisas bem mais fáceis.

— Por que Joe está preso?

— Ele deve ter esbarrado no policial errado. De acordo com Alvarez, algumas partes da operação de contrabando recomeçaram. — Franziu a testa. — As cadeias mexicanas não são conhecidas como lugares muito agradáveis.

— Ele não pode explicar que é um cidadão norte-americano?

— E você acha que alguém, numa vilinha sonolenta, vai se importar com isso? Fizeram acusações contra ele, inventadas, conforme alega Alvarez, que podem mantê-lo lá para sempre, sem sequer levá-lo a julgamento.

Kristi podia sentir a raiva crescer dentro dela.

— Mas isso é horrível! — exclamou.

— É por isso que pretendo fazer alguma coisa a respeito.

— Mas e se a gorjeta para o guarda não resolver? — ela perguntou, preocupada. — O que você fará então?

— Arrancarei Joe de lá de qualquer jeito.

— À força?

— Espero que não, mas se for preciso... Joe e eu conhecemos alguns truques que podem tirá-lo de lá, sem alertar toda a vila. Mas só quando chegar ao vilarejo, é que saberei o que fazer.

Ficaram em silêncio, por algum tempo, e de repente Kristi perguntou:

— Você estava bebendo por causa disso, naquela noite em que cheguei?

Jason olhou para ela, surpreso com a pergunta.

— Alvarez deveria estar lá para se encontrar comigo e eu havia pedido a garrafa para ele. — Sorrindo de soslaio, conti-nuou. — Pensei que você houvesse decidido que eu tinha um problema de bebida.

— Tinha mesmo. Você fez muito bem o papel de cowboy bêbado à procura de ação. Mas depois mudei de idéia. Desde que cheguei, não vi você beber nada mais forte do que café, nem mesmo quando Nate se acidentou. E depois, não acho que você

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poderia beber do jeito que pensei que fazia e manter uma forma física tão boa.

— Droga! E eu aqui esperando que você estivesse cuidando da minha reabilitação. — Rindo, ele a tirou do colo e se levantou.

Kristi o olhou, confusa.

— Você queria que eu pensasse que tinha problemas com o álcool?

— É claro que não! Mas gostei de ter você me observando com tanto carinho. — Ele sorriu e carregou-a nos braços.

— O que está fazendo? Jason, seu mentiroso, ponha-me no chão!

— De jeito nenhum.

O riso ecoou fundo no peito largo, onde Kristi repousava a cabeça.

Jason a levou para cima, subindo os degraus de dois em dois. Empurrou a porta do quarto e entrou, colocando-a sobre a cama. Desabotoou-lhe a blusa com rapidez e a tirou. Abriu o cinto do jeans que ela usava e o puxou pelos quadris, livrando-a dele e do que mais havia sobrado, em um minuto.

Deitada, Kristi observou-o tirar as botas e as roupas e sorriu feliz, quando ele se deitou ao seu lado, na cama. Amava demais aquele homem, e tudo o que sempre desejara era tê-lo em seus braços.

Ajoelhando-se ao lado de Kristi, Jason começou a beijá-la pelos pés, e enquanto subia lentamente os lábios por seu corpo, murmurou alguma coisa que ela não entendeu.

— O que foi, Jason?

Ele não respondeu, mas as mãos fortes começaram a acariciar a parte interna de suas coxas. Jason levantou a cabeça e olhou-a diretamente nos olhos.

— Sempre que estou pela fazenda durante o dia, só consigo pensar em você. Fico fantasiando sobre as coisas que vou fazer quando voltar...

Abaixou a cabeça e começou a passar a língua onde antes estiveram suas mãos.

Kristi podia sentir o desejo crescer dentro dela. Jason a acariciava de todas as formas: com as mãos, a boca e a língua, fazendo seu corpo todo tremer sem controle.

— Oh, Jason!

A respiração ofegante convenceu-a de que ele também estava perturbado com o que fazia. Instintivamente, moveu as pernas, facilitando a busca de Jason, quando uma sensação de fogo explodiu dentro do seu corpo.

— Jason! — gritou, arqueando os quadris. Ele se deitou sobre ela, e afastou-lhe as pernas, com carinho, enquanto

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observava a expressão sonhadora do seu rosto.

— Você não está acostumada com isto, Kristi? — A voz dela tremeu.

— Você deveria saber, já que nunca me fez isso antes.

De repente, sentiu o corpo másculo se enrijecer sobre o seu e abriu os olhos.

— Kristi? — Jason a chamou com espanto. — O que foi que você disse?

Ela piscou. "O que havia dito, mesmo?", indagou-se.

— Seus amantes em Nova York não adoravam seu corpo como eu adoro?

Confusa, ela retrucou:

— Que amantes? Do que você está falando, Jason?

— Kristi, você não se envolveu com mais ninguém, desde que saiu daqui?

— Claro que não, Jason! Pensei que você soubesse disso!

— Oh, Kristi — ele suspirou, abraçando-se a ela. — Eu não queria saber, tinha decidido nunca perguntar, mas não consegui me conter. — Beijou-a com paixão. — Não teria feito a menor diferença, sabe, mas estou feliz por ser o único homem da sua vida.

— Jason... Você sabia quem eu era naquela noite em que nos encontramos no bar do hotel?

Os olhos de Kristi brilhavam, enquanto fixavam o rosto de Jason com ansiedade.

— O que você acha?

— Não sei o que pensar. Você adquiriu o hábito de levar para a cama todas as mulheres que dançam com você?

— Kristi, não me aproximei de outra mulher, desde aquela noite em que você me beijou pela primeira vez.

— Isso faz muito tempo, Jason.

— Eu sei.

— Você deveria me amar de verdade naquele tempo. Gostaria que tivesse me dito isso.

— Querida, pensei que soubesse. Por que outra razão teria me casado com você? Você me deixou louco, eu a amava e a desejava com desespero... Pensei que se sentia do mesmo jeito!

— Sentia, Jason... e ainda sinto. Nunca pude amar mais ninguém.

Sua confissão fez com que Jason perdesse completamente o controle e a beijasse com grande paixão. Convidativa, moveu o corpo sob o dele e Jason a possuiu sem demora.

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Kristi imitava o ritmo frenético dele, lutando para possuí-lo da mesma forma, perdendo a noção de tudo, menos de Jason e do que sentia naquele momento. Juntos, atingiram o clímax.

Quando iniciaram o longo e vagaroso retorno, Kristi perdeu-se num mundo de sensações e emoções mal tendo forças para abraçá-lo.

Jason rolou para o lado, mantendo-a presa firmemente junto a ele. Sorriu ao ouvi-la respirar com calma e suavidade. Beijando-a gentilmente, continuou a abraçá-la, seguindo-a num sono reparador.

Assim que Molly e Nate chegaram, Jason decidiu que esta era uma boa razão para uma grande comemoração. Foi até o telefone e convidou a todos que conhecia, para uma festa de última hora, em homenagem ao casal.

Kristi estava parada perto da varanda, olhando as pessoas que se aglomeravam no gramado. Todos a quem Jason havia defendido estavam ali. Reconheceu várias colegas de escola, que, assim como ela, agora estavam casadas; algumas trouxeram os filhos.

Lanternas coloridas, penduradas num círculo largo, balançavam com a brisa morna e suave. Da churrasqueira, vinha um aroma delicioso de carne assada. Travessas grandes, cheias de salada, estavam dispostas sobre a mesa que fora montada pró-xima à varanda.

O som das risadas dos homens chegou-lhe aos ouvidos. Olhou para Jason que virava a carne numa grelha gigantesca, e constatou que os sinais de tensão haviam desaparecido por completo de suas faces.

Quando chegara, Molly comentara algo sobre as mudanças que percebera no patrão. Achava que ele estava mais parecido com o jovem despreocupado que um dia vira se transformar num adulto tranqüilo e responsável. Também não escondeu o prazer de saber que Kristi, uma vez mais, estava partilhando do quarto de Jason.

Francine a abraçou, assim que chegou com Kyle.

— Você tem certeza de que uma modelo se veste assim? — perguntou, erguendo uma das sobrancelhas.

Kristi examinou-se, olhando para a blusa de cetim enfiada na cintura estreita do jeans elegante.

— Na verdade, estou vestida mais como uma texana, exatamente do jeito que o pessoal do leste imagina que somos.

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As duas olharam ao redor e sorriram uma para a outra. Francine estava usando um vestido vaporoso, que valorizava sua figura miúda. Concordou, com um gesto de cabeça.

— Você tem razão, Kristi, quando é que nós nos imaginamos usando uma roupa tão ridícula?

— Por algum motivo, Jason quis que eu me vestisse assim e estou descobrindo o quanto fico feliz em satisfizê-lo — ela respondeu alegre, desarmando a cunhada.

O grito de Jason chamou a atenção de todos.

— A comida está pronta! Peguem um prato e sirvam-se à vontade.

Quase todos já estavam servidos, quando Kristi se aproximou da churrasqueira. Os olhos de Jason brilharam ao vê-la.

— Estava imaginando o que teria acontecido com você. Não está com fome?

— Faminta. Mas pensei que, se esperasse um pouco, talvez você tivesse tempo para comer comigo.

Viu o sorriso que iluminou o rosto dele e sentiu um súbito desejo de beijá-lo.

Jason olhou ao redor e, notando que todos pareciam ocupados em comer, concordou:

— Acho que você está certa. Quem quiser repetir que se sirva sozinho.

Depois de prepararem dois pratos com carne suculenta e salada, foram se sentar debaixo de um carvalho.

Já tinham comido quase tudo, quando Jason a olhou de soslaio.

— Você está se divertindo?

Surpresa com a pergunta, Kristi respondeu:

— Claro! Você pensou que não?

— Bom, você viveu tanto tempo longe daqui, que talvez achasse não ter mais nada em comum com essa gente. — Ges-ticulou em direção às pessoas ao redor.

A voz de Kristi era quase inaudível, quando respondeu.

— Isso o preocupa, não é, Jason?

— Pode estar certa que sim. Não tenho a menor intenção de deixá-la partir, mas seria bom saber que você está feliz aqui.

O meio sorriso não escondeu a expressão séria dos olhos dele.

— Jason, não posso abandonar minha carreira de um dia para outro. Pensei que havia compreendido isso.

A mão de Jason parou no ar, segurando uma lata de cerveja, a meio caminho da boca. Com calma deliberada, ele a pousou sobre o joelho e indagou:

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— O que você quer dizer com isso?

Com carinho, Kristi tentou explicar:

— Tenho compromissos em Nova York, aos quais não posso faltar. Coisas que foram planejadas muitos meses atrás.

O coração dela se apertou ao ver a expressão fria com que ele a fitou.

— Tais como?

— Bem, tenho que estar em Nova York no primeiro dia de junho.

— Ainda faltam algumas semanas...

— Eu sei.

Jason tomou um gole de cerveja e depois sorriu, mas seus olhos permaneceram sérios. A voz estava rude, quando per-guntou:

— Você ainda está pensando em ir em frente com o divórcio?

— Não! Você sabe muito bem que não... Eu não seria capaz, Jason!

— Sei mesmo, Kristi? Então, você acha que sou capaz de adivinhar o que se passa em sua mente?

Ele olhou para os convidados, alguns dos quais já começavam a dançar, ao som da música de fita que saía dos alto-falantes instalados na varanda. Levantou-se, e estendeu a mão para ajudá-la.

— Bom, pelo menos vamos continuar casados... Suponho que isso seja uma espécie de vitória. — Sorriu lentamente, conduzindo-a de volta à festa.

Kristi entrou na casa e voltou com um bolo de chocolate e duas tortas de cereja, colocando-os sobre uma das mesas. Instintivamente, procurou por Jason e, quando o encontrou, seu coração disparou. Francine estava por perto, e aproximando-se dela perguntou, num tom casual.

— Quem é a mulher que está dançando com Jason?

— Aquela é Lucinda Reyes. Mora com o irmão, Ramon, que comprou a velha propriedade dos Stoddard há alguns anos. Vieram de Monterey. Devem ter acabado de chegar ou Jason já os teria apresentado. — Francine olhou para Kristi que examinava o casal dançando. — Há rumores de que Luci está ansiosa para tirar Jason da solidão destes últimos anos...

Kristi sentiu uma pontada de ciúme. Os sorrisos e olhares cálidos que eles trocavam mostravam o quanto eram amigos.

Achou estranho que ninguém lhe houvesse falado nada sobre Lucinda. Mas, pelos vários comentários que ouviu, pôde perceber a curiosidade de muitos dos convidados sobre qual seria a reação dela ao conhecer Kristi. Pois não disfarçava o interesse que tinha por Jason.

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Nunca Kristi se sentira tão vulnerável quanto agora, que os observava circular pelo gramado. Num dado momento, Jason inclinou-se para ouvir o que Lucinda dizia, e quando jogou a cabeça para trás, numa gargalhada solta, o ciúme tomou conta de Kristi.

Eles formavam um lindo par. Os cabelos dourados de Jason contrastavam com a pele morena e os cabelos negros de Lucinda, que caíam por suas costas como uma cascata de ébano. A mão forte de Jason apertou a cintura fina e Kristi forçou-se a desviar o olhar, recusando-se a sofrer.

— Acho que não nos conhecemos. — Uma voz profunda soou ao seu lado, fazendo-a saltar.

Voltou-se e viu um homem moreno, esguio, que sorria de maneira atraente para ela.

— Sou Ramon Reyes. Aquela que está dançando com seu marido é a minha irmã.

O sorriso dele era contagiante e Kristi sorriu de volta, desculpando-se.

— Foi o que disseram... — Seus olhos voltaram para Jason, a tempo de ver que ele apertava o corpo de Lucinda contra o seu, num rodopio.

— Não fique triste, sra. McAlister. Lucinda sempre soube que Jason amava a esposa.

— Está se vendo que ela se preocupa um bocado com ele.

— É verdade. Jason tem sido um bom amigo para nós. Nunca encorajou os sentimentos dela. — Fez uma pausa, os olhos escuros cheios de bondade. — Queria que soubesse disso.

A cabeça de Kristi começou a doer.

— Muito obrigada por me dizer. O senhor é muito gentil.

— E você é muito bonita. Gostaria de dançar?

Olhando para os outros convidados, decidiu não fraquejar.

— Gostaria sim. Muito obrigada — respondeu.

Dançou com Ramon e, depois disso, com vários outros homens que vieram tirá-la. A certa altura, um copo de ponche foi colocado em sua mão e, sedenta pelo desgaste físico, ela bebeu todo o seu conteúdo sem perceber que tinham adicionado alguma coisa diferente à bebida que ela mesma havia preparado.

Sua dor de cabeça desapareceu como que por encanto, ao som alegre das músicas. No momento em que um número lento começou, um braço forte a enlaçou pela cintura, apertando-a com força.

Era Jason e ela sorriu, quando ele a olhou dentro dos olhos verdes.

— Creio que é a minha vez, não? — ele sussurrou.

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Kristi tornou a rir, esquecida do ciúme que sentira. Olhando-o de modo provocante, murmurou.

— Você estava esperando que eu fosse tirá-lo para dançar? — Ele a abraçou mais apertado.

— E por que não?

Enquanto dançavam, Jason aumentava a pressão dos braços em torno de sua cintura, pressionando o sexo de encontro ao seu, provocando-lhe sensações maravilhosas.

— Querido, comporte-se!

— Estou me comportando, amor. Mas se esse pessoal não começar a ir embora logo, os anfitriões vão sumir escada acima.

O ciúme que sentira dele agora lhe parecia ridículo. Estava quase encostando a cabeça no ombro de Jason, quando um homem que ainda não havia visto chamou-lhe a atenção. Era magro, aparentava uns quarenta anos, e, enquanto o observava, levou um charuto fino à boca e o acendeu, provocando um brilho vermelho nas sombras. Estava todo vestido de preto e parecia que ninguém o havia notado, além dela mesma.

— Quem é aquele homem, Jason? — perguntou, aflita. Ele virou a cabeça e parou de repente. O estranho então fez uma espécie de sinal e voltou para as sombras.

— Alvarez — Jason respondeu. — Gostaria de saber o que ele está fazendo aqui.

A música parou e vários casais se dirigiram para onde estava o ponche. Kristi e Jason os seguiram também e quando sentiu o gosto da bebida caiu na gargalhada.

— O que há de errado? — Ela perguntou preocupada. Já havia devorado o conteúdo do seu copo e olhou-o assustada. — O gosto não está bom?

— Claro que está! Mas alguém está se divertindo muito por aqui. Você não notou os ingredientes extras?

Sentindo-se um pouco tola e muito tonta, agora que parara de se movimentar, Kristi balançou a cabeça e colocou a mão no rosto.

— Acho que esse último copo foi demais para mim. — Jason riu, enlaçando-a de novo pela cintura.

Conduziu Kristi para dentro de casa, e já tinha subido os primeiros degraus da escada, quando Alvarez apareceu de repente.

— Preciso falar com você o mais rápido possível. — A voz dele soou tão baixa que Kristi mal pôde ouvi-lo.

Jason concordou com um gesto de cabeça.

— Vou levar minha esposa para cima, e volto em seguida — disse.

Nenhum dos dois falou, enquanto subiam a escada. A dor de cabeça de Kristi voltara, e ela foi direto para o banheiro

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buscar uma aspirina. Jason seguiu-a até a porta, a preocupação estampada no rosto.

— Você está bem?

Sem voltar a cabeça, ela murmurou.

— Tão bem como seria de se esperar. Pelo que sei, a única coisa a fazer nesta altura é dormir.

Depois de engolir com cuidado a pílula, Kristi esboçou um sorriso.

— Não se preocupe comigo, querido. Vou para a cama. Lamento não ter podido me despedir dos convidados.

— Não ligue para isso. Volto assim que souber que novidades Alvarez tem para mim.

Só que Jason não voltou.

Kristi não conseguia dormir, tinha muito em que pensar: a reação de Jason a seus planos de voltar para Nova York; Lucinda; Alvarez... Cochilou.

Na agitação de um sono que a fazia reviver os acontecimentos do dia, especialmente aqueles que envolviam Lucinda, procurou por Jason. Mas ele não estava ao seu lado na cama.

Kristi abriu os olhos com relutância. A aspirina que tomara na noite anterior não fora de muita ajuda e sentia a cabeça pesada, como se estivesse com o dobro de tamanho. Virou-se com cuidado, olhando para o outro lado da cama. O travesseiro de Jason estava intacto.

O chuveiro ajudou. Deixou-se ficar sob a água morna, até sentir coragem para enfrentar o dia. Por que Jason não viera dormir? Que notícias Alvarez trouxera?

Eram quase onze horas, quando conseguiu descer. Encontrou Molly alegre e entusiasmada com o sucesso da festa.

— É uma pena que Jason tenha saído tão cedo esta manhã.

Depois de uma revigorante xícara de café, Kristi perguntou:

— O que você quer dizer?

— Ele saiu, dizendo que ficará fora por alguns dias. Encarregou um dos homens de todo o serviço da fazenda, e se foi.

— Ele não me disse nada sobre sair. Explicou alguma coisa a você ou a Nate?

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— Já faz alguns anos que Jason não nos diz aonde vai! Não costuma dar satisfações a ninguém...

Kristi corou.

— Também a mim ele não deve satisfações. Mas teria sido gentil se ao menos me tivesse dito.

— Talvez tenha deixado um bilhete ou algo assim.

Lembrando-se de que não se preocupara com nada, quando se levantara, Kristi concordou com um gesto de cabeça.

— É possível. Vou verificar lá em cima.

Ouviu Molly protestar, porque ela não acabara de comer. Subiu os degraus correndo e entrou no quarto. Em cima da cômoda estava um envelope com o nome "Kristi" escrito em letras garrafa is. Sentiu-se um pouco tola, enquanto o abria com rapidez.

"Kristi,

Parece que as coisas estão se arranjando no sul. Voltarei tão logo possa. Amo você. Jason"

Afundou-se na cama, ainda olhando para o papel que tinha nas mãos. "Amo você. Jason." Gostaria de mandar ampliar e fazer um pôster enorme daquelas palavras.

Sua mente retrocedeu para o tempo em que era uma menina insegura, que precisava desesperadamente de encorajamento, cada vez que ele desaparecia de súbito.

Jason disse não estar mais envolvido com atividades do governo, mas partira de novo para o que poderia ser uma missão perigosa.

Desceu a escada e entrou na cozinha, vendo que Molly colocara seu café da manhã no forno e o esquentara.

— Você estava certa. Ele deixou um bilhete, dizendo que estará de volta em alguns dias.

Comeu sem sentir o gosto de nada, pensando no longo dia que teria pela frente. Acabou o café e se levantou.

— Acho que vou fazer uma visita a Francine.

Telefonou, avisando que ia até lá. Precisava tirar da cabeça o que Jason estava fazendo e o porquê de ele insistir em se en-volver uma vez mais naquele tipo de vida.

Jason ficou fora por cinco dias.

Com isso, Kristi descobriu que não importava o quanto trabalhasse duro durante o dia, as noites eram intermináveis. Não conseguia descansar em paz. Ou não dormia, ou tinha um sono agitado, cheio de pesadelos.

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Começou a compreender como ele deveria ter se sentido com n sua ausência. Com ela, as coisas foram diferentes, pois se envolvera com outro tipo de vida, onde não dispunha de tempo para pensar.

Mas, agora, a situação era outra. Via Jason e ouvia a voz dele onde quer que estivesse. Sentia tanto a sua falta, que chegava a ficar trêmula de dor. Será que ele também se sentira assim? Se foi, como pudera resistir? E por que não lhe dissera nada?

Estremeceu ao lembrar-se da garota irresponsável que tinha sido, concentrada nos próprios problemas, indiferente ao sofrimento dos outros. A vida lhe ensinara muitas coisas. A falsidade e a crueldade do mundo da publicidade fizeram com que entendesse como havia sido feliz com Kyle e Jason, e depois Francine, mostrando-lhe o que era realmente importante. Os ensinamentos deles permitiram que superasse a confusão que sofrera, quando se tornara um sucesso. Seu amor por Jason a mantivera afastada de relações que poderiam tê-la destruído.

Embora se sentisse mais preparada para um relacionamento sério com Jason, sabia que isso seria impossível, se ele continuasse trabalhando para o governo. Só podia torcer para que ele tivesse sido sincero ao dizer que, depois de salvar Joe, tudo estaria acabado.

Foi para a cama, determinada a expor a Jason o que sentia, assim que ele voltasse. Um ligeiro ruído na parte inferior da casa, porém, fez com que ficasse alerta e se sentasse na cama. Não ouviu mais nada.

Saiu da cama, agarrou o roupão curto e calçou os chinelos. Abriu a porta e examinou o corredor. Estava vazio. Com o co-ração em disparada, foi até o topo da escada e olhou para baixo. Viu um fino feixe de luz que saía do escritório de Jason e sorriu, aliviada. Finalmente, ele estava em casa!

Desceu a escada correndo e entrou no escritório. Jason estava parado perto da janela, a camisa toda rasgada, a barba por fazer e uma bandagem toda ensangüentada enrolada na parte superior do tronco. Assim que entrou, ele se virou rapidamente, agarrando o revólver que estava sobre a mesa. Kristi ficou petrificada, a respiração presa na garganta.

— Você me assustou, querida. Pensei que estivesse dormindo — ele falou com voz cansada, recolocando a arma sobre a mesa.

— O que aconteceu? Você está ferido?

— Não é tão ruim quanto parece. É só um ferimento leve que fez sair muito sangue. Vou me lavar em um minuto. — Olhou para o roupão curto e transparente com aprovação. — Volte para a cama, amor, que daqui a pouco estarei lá.

Quando ele se despiu, Kristi pôde ver as costelas proeminentes e as linhas marcadas do rosto, como se ele não tivesse se alimentado desde que partira.

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Jason estava entrando no banheiro, quando perguntou, ansiosa:

— Conseguiu salvar Joe? — Jason parou e a olhou.

— Sim. — O rosto dele ficou ainda mais sério. — Ele está aí embaixo... falaremos sobre isso amanhã.

Enquanto Jason tomava banho, Kristi foi buscar o estojo de primeiros-socorros que mantinha na cozinha. Voltou rapidamente, colocando tudo sobre a mesinha perto da cama.

Jason saiu do banheiro, barbeado, com uma toalha enrolada nos quadris. Kristi estava preparada para ele.

— Deite-se, querido, para que eu possa cuidar desse ferimento. — Ordenou, num tom firme.

A expressão de surpresa dele era quase cômica, mas Kristi não estava com humor para rir. Havia mais do que um ligeiro arranhão, o talho era profundo e estava aberto. Como machucara o braço direito, ela perguntou como ele conseguira enrolar a bandagem.

— Joe conhecia uma família que nos ajudou — explicou em resposta.

Ele se encolheu instintivamente, assim que ela começou a desinfetar a ferida. Quem quer que a tivesse limpado antes, fizera um bom trabalho. Não havia nenhum sinal de infecção.

— Você colocou Joe no quarto de baixo? — perguntou em voz baixa, temendo que ele notasse o medo que ainda sentia ao perceber que ele podia ter morrido.

— Sim. Ele não está em condições de subir escada por enquanto.

— O que aconteceu? Atiraram nele também?

— Não. Ficou trancado por mais de seis meses sem fazer exercícios e com pouca comida. Ele está muito fraco.

Jason gemeu, quando ela começou a enrolar a gaze para manter a bandagem firme no lugar. Depois sorriu.

— Você fica feliz quando está no comando, não é, querida? — brincou.

Os sinais de cansaço começaram a desaparecer do rosto de Jason logo que se estendeu na cama, deixando a toalha de lado.

— Não muito. Acho que vocês se divertem com essas missões perigosas...

— Na verdade não foi tão ruim, porque tudo aconteceu de acordo com o planejado. Tenho de admitir que subestimei Alvarez. Ele preparou tudo com precisão. Trabalha para o governo mexicano e Joe era um de seus melhores agentes. Não poderia deixá-lo na prisão. Joe conseguiu informá-lo de que havíamos criado algumas técnicas efetivas para escapar há alguns anos e era por isso que Alvarez precisava de mim. Eu sabia o que Joe tinha em mente. — Moveu-se um pouco, puxando-a para mais perto. — Você acha que podemos continuar esta conversa amanhã? Não dormi muito desde que a vi

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pela última vez. — Beijou-a na testa. — É bom estar em casa com você, querida.

Kristi esticou-se e apagou a luz.

— É bom ter você em casa, mas ainda não o perdoei por partir sem me avisar. — Falou baixinho, abraçando-se a ele.

— Sei que saí como um covarde. É que percebi que não conseguiria me despedir de você. Já tivemos despedidas suficientes, amor, e foi mais fácil deixar um bilhete. Você sabia que eu ia voltar.

Kristi sentiu quando a respiração de Jason se aprofundou e caiu também num sono tranqüilo pela primeira vez, desde que ele se fora.

Jason já tinha se levantado, vestido e saído, no momento em que ela chegou à cozinha naquela manhã. Olhou para o relógio e viu que ainda não eram seis horas. Sabia que os homens só viriam comer às seis e meia e não se apressou.

Dispensara Molly para fazer companhia a Nate durante a semana, porque precisava de alguma coisa para se manter ocupada, e Molly compreendera. Nate não era um convalescente muito paciente e a presença da esposa certamente iria melhorar o seu humor.

Fazer o café da manhã já se tornara rotina e, enquanto o preparava, começou a pensar em Jason e Joe. Ficou imaginando quando ele iria lhe contar o que aconteceu. Era possível que nunca, ou talvez só o necessário para que ela desistisse do assunto.

Os homens chegaram e Kristi apressou-se em servi-los. Sabia que enquanto estivessem ali, não poderia conversar com Jason. No entanto, ficou desapontada ao ver que após terminar o café, ele também estava saindo sem lhe dizer nada.

— Jason? — Chamou, parada perto da mesa, lutando para manter-se calma.

Ele a olhou com impaciência.

— Agora não, Kristi. Tenho que fazer os homens começarem algumas tarefas que foram deixadas de lado na semana passada — disse. — Volto para casa assim que puder. Tente se manter fora de encrencas até eu chegar — acrescentou com um sorriso, fazendo Kristi ranger os dentes numa maneira bem pouco feminina, logo que ele saiu.

Depois de passar o aspirador de pó na parte de baixo da casa e colocar um assado no forno, estava pronta para outra xícara de café.

Tinha acabado de se servir, quando ouviu um barulho. Virou-se e viu um homem encostado no batente da porta, entre o corredor e a cozinha.

Os cabelos negros dele estavam em desalinho, caídos na testa e presos atrás das orelhas. As roupas se pareciam mais com

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um monte de trapos velhos; estavam folgadas, fazendo com que o corpo esquelético parecesse ainda menor. A pele morena tinha uma aparência amarelada e só os olhos negros mostravam algum sinal de vida.

Kristi teve de se esforçar para conseguir ouvir o que ele dizia:

— Onde está Jason?

Até falar parecia ser difícil para ele. Como teriam conseguido trazê-lo de tão longe se ele mal tinha forças para manter-se em pé?

Aproximou-se rapidamente e ofereceu-lhe o braço, respondendo com calma:

— Jason acabou de sair, mas deve voltar logo. Por que não toma um café comigo?

Enquanto falava, conduziu-o até a mesa, fazendo com que se sentasse. Eram quase da mesma altura, mas ele parecia mais um esqueleto do que um homem desenvolvido.

— Gostaria de comer alguma coisa? Sobraram alguns biscoitos e num instante posso lhe preparar uns ovos com bacon. — Observou-o, perguntando-se se ele deveria ter se levantado da cama.

O homem ergueu a cabeça e olhou-a como se não tivesse entendendo nada. Será que ele já não se lembrava de inglês? Ela esquecera o pouco que aprendera de espanhol. Oh, Deus! Onde estava Jason?

De repente, o homem respondeu, falando devagar e com um leve sotaque.

— Café da manhã, parece um sonho! Sim, eu gostaria muito, senhorita.

Kristi serviu-lhe uma xícara bem quente de café e a seguir foi para o fogão.

O homem já tinha comido quase tudo o que havia no prato e ainda estava bebendo café, quando Jason chegou.

— Joe! Que diabos você está fazendo fora da cama, homem? Não me meti naquela confusão toda, trazendo-o de volta, para vê-lo morrer agora.

— Ei, amigo, não estou tão mal assim. É preciso mais do que uma prisão mexicana nojenta para me derrubar.

O sorriso dele era doloroso e Kristi notou que, apesar da valentia, tremia tanto que mal podia segurar a xícara.

Jason olhou-o zangado, levantou-o, como se fosse uma boneca de pano e o levou pelo corredor, falando com energia:

— Droga, Joe! Você não tem que provar nada para mim. Agora vai ficar na cama, sem se levantar. Kristi fará sua comida e eu a trarei para você, por uns dias. Tudo que estou pedindo é que tenha paciência para se recuperar.

Ela os seguiu pelo corredor, mas hesitou em entrar no quarto, quando ouviu a voz fraca de Joe.

— Kristi? Ela é Kristi? Você nunca me disse que ela havia voltado, amigo. Estava com medo que eu a roubasse de você?

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A gargalhada de Jason soou alegre.

— Acertou. Nunca pude confiar em você longe da minha vista. E esta última trapalhada provou isso.

Baixou a voz e Kristi não ouviu nada mais do que um murmúrio. Começava a voltar para a cozinha, quando Jason a chamou.

— Kristi, venha aqui um minuto, quero que você conheça este personagem de maneira apropriada.

Ela entrou no quarto e percebeu a razão que Jason tivera para escolher aquele cômodo para o amigo. As enormes janelas ofereciam uma vista magnífica e tranqüila da fazenda. A prisão do México deixara Joe naquelas condições, e agora, precisava de toda paz e sossego que pudesse encontrar. Notou que Jason fizera-o vestir um paletó de pijama em lugar da camisa amarrotada que estivera usando.

— Kristi, este é Joe Guerrero, um amigo de muitos anos. — Fez uma pausa, com os olhos brilhando. — Joe, quero que co-nheça Kristi.

Joe olhou para o casal com satisfação.

— Estou feliz em conhecê-la, sra. McAlister. Você é ainda mais bonita do que o meu amigo aqui disse que era. Mas, tenho certeza, que isso foi intencional. — Tentou se endireitar na cama, mas caiu de volta contra os travesseiros, os olhos mostrando desgosto. — Nem sequer tenho forças para beijar a noiva, Jason!

— Está tudo bem — Jason disse, lacônico. — Nesse meio tempo, o melhor que você pode fazer é devorar a comida fantástica que Kristi faz, e engordar um pouco. — Foi para a porta, enlaçando possessivamente a cintura da esposa. — Agora descanse um pouco. Conversaremos mais tarde.

Enquanto subiam a escada, Kristi perguntou, carinhosa:

— Não é melhor que eu verifique o seu curativo, Jason?

— Com prazer. Estou mesmo precisando de um pouco de atenção e carinho...

Kristi se surpreendeu ao ver Jason tirar as botas, antes de sentar na beirada da cama. Quando ela se aproximou, ele a prendeu entre as coxas musculosas. Fingindo que não ligava, ela começou a desabotoar-lhe a camisa, descobrindo que ele estava fazendo a mesma coisa com os botões da sua blusa.

— O que está fazendo? — perguntou, espantada.

— Ajudando você. — O rosto dele permanecia inexpressivo, mas um brilho intenso apareceu em seus olhos, assim que deparou com o vale macio dos seus seios.

— Não preciso ficar sem blusa para trocar o seu curativo.

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— Eu sei, mas assim eu me distraio, enquanto você cuida do meu ferimento.

Tirou-lhe a blusa por cima dos ombros e soltou o fecho do sutiã.

— Jason!

— Hum? — As mãos subiram pelo corpo delicado de Kristi, envolvendo-lhe os seios com sensualidade. O toque fez com que tremesse toda por dentro. Porém tentou não ligar, removendo a gaze que mantinha o curativo de Jason no lugar. Viu que o ferimento estava cicatrizando depressa e colocou uma nova atadura.

Insistentes, as mãos de Jason continuavam a acariciá-la. Haviam desabotoado o jeans e puxado pelos quadris, fazendo com que caísse aos seus pés. Os dedos ágeis passeavam agora pelo elástico da calcinha, acariciando o triângulo escuro e macio de seu sexo.

Kristi ficou sem fôlego. Tentou dar um passo atrás, mas quase perdeu o equilíbrio, tropeçando no jeans que ainda estava em volta dos seus tornozelos. Jason riu e a puxou para a cama, fazendo com que ela caísse deitada ao seu lado.

— Jason, seu ferimento! — ela exclamou, tentando se levantar.

Sem responder, ele acabou de tirar-lhe o jeans e os sapatos, recomeçando, a seguir, a explorar-lhe a parte interna das coxas. Kristi desistiu de lutar, abraçou-o pelo pescoço e beijou-o longamente. Jason reagiu com ansiedade, apertando-a com paixão. Desesperada para sentir o corpo másculo contra o seu, Kristi desafivelou o cinto das calças dele, mas não conseguiu removê-la de todo, por causa do peso. Sentou-se e tentou de novo, dessa vez, com o auxílio dele. Satisfeita, começou então a beijar as pernas longas e fortes, enquanto removia a última peça de roupa que a impedia de continuar com aquele jogo sensual. Concentrada em sua exploração, ouviu Jason gemer, enquanto sua língua se movia rápida pelo corpo dele.

— Venha, querida. Deixe-me amá-la agora — ele murmurou, tentando alcançá-la.

Sentindo a tensão aumentar, Jason a fez deitar sobre seu corpo, forçando o sexo rijo para dentro dela. Ficaram imóveis por alguns minutos, Kristi experimentando o prazer de tê-lo em seu corpo, Jason sugando os mamilos róseos de seus seios.

Quando ele começou a se movimentar, Kristi viu-se transportada para um outro mundo. Seu último pensamento coerente foi o de que amava aquele homem mais do que tudo.

Jason continuou abraçado a Kristi, enquanto se acalmava. Sabia que devia continuar lutando contra a tentação de lhe pedir que ficasse. Amava-a demais para forçá-la, mas temia não ter forças para deixá-la ir embora outra vez.

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Embora o calendário indicasse que a primavera ainda não estava no fim, o verão já havia chegado ao sudoeste do Texas.

Os dias começavam quentes, com a claridade varando a névoa da manhã. Preocupada, Kristi começou a tratar suas flores com maior cuidado, regando-as várias vezes ao dia.

Joe reagia rapidamente ao tratamento propiciado pelos amigos e Kristi logo pôde ver por que Jason gostava tanto da companhia dele. Alegre e cheio de energia, Joe tinha um espírito indomável, contava muitas histórias, a maioria das quais, verdadeiras.

Kristi sabia que sentiria saudades dele, quando partisse. Certa vez, ouviu-o dizer a Jason, rindo, que não guardava rancores, que esquecia logo, e ela ficou se perguntando se ele viveria o bastante para se arrepender. Sentia que as viagens dele através da fronteira não iriam parar por causa da recente derrota que sofrera.

Jason tinha a intenção de levar Joe para casa, em El Paso, e antes que o fizesse, Kristi convidou o irmão e a cunhada para um jantar de despedida.

Todos riam, alegres, quando Joe fez um comentário que atingiu Kristi em cheio.

— Estou surpreso que você ainda não tenha filhos, Jason. Quando estávamos no Exército, era só no que você falava...

Riu, enquanto terminava seu drinque, e então notou que a sala ficara em silêncio. Percebendo o constrangimento de todos, tentou desculpar-se, sinceramente arrependido.

Kristi não podia agüentar vê-lo numa posição desconfortável. Ele estava certo e todo mundo que conhecia Jason sabia o quanto ele desejava ter filhos. Sua família precisava entender que ela estava em paz com o passado.

— Está tudo bem, Joe. Você não poderia saber. — Apressou-se em dizer, para deixá-lo à vontade. — Não tive sorte numa gravidez há alguns anos. — Pegou a mão de Jason e apertou-a. Havia dor nos olhos dele. Será que ele ainda se sentia culpado, sobre algo que não podia ter evitado? Num tom casual, acrescentou: — O médico me assegurou que não há razão para que não possamos tentar de novo...

A frase final pegou todos de surpresa. Kyle olhou-a espantado e perguntou, rápido:

— Verdade? — Ouviu Francine exclamar entusiasmada.

— Esta é uma grande notícia!

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Ficou esperando a reação de Jason. Os olhos castanhos se iluminaram, e um sorriso lento tomou conta do seu rosto.

— Quando foi que soube, Kristi? Você não me disse nada...

— Ele só me disse hoje e eu não tive tempo de lhe contar. — Olhou ao redor, e um rubor tomou conta de suas faces. Era evidente que tinha planejado contar a ele, quando estivessem sozinhos...

Foi bem mais tarde, naquela noite, que Jason murmurou ao seu ouvido:

— Sua pequena terrível. Você com certeza sabe escolher o momento certo para dar as boas-novas.

Estavam deitados numa confusão de lençóis; um lembrete silencioso do que tinham estado fazendo. O sorriso dela refletia tranqüilidade e alegria.

— Naquela hora, tudo o que eu queria era salvar Joe daquela situação embaraçosa. Coitado, ele parecia tão infeliz quando percebeu que havia tocado em algo que não devia, que não pude me controlar.

Jason percorreu-lhe a espinha com a mão, sentindo a ligeira umidade que restara do exercício recente. Sorriu, lembrando-se do prazer com que ela se entregara dessa última vez.

— Kristi, e a sua carreira?

A mente sonhadora de Kristi voltou à realidade com um baque. Claro, sua carreira!

— Bem, vou telefonar a Jonathan e dizer que sou necessária aqui.

— Pode ter certeza de que é, amor, como sempre foi. — Jason segurou-a pelo ombro, beijando-a com paixão. — Então, você não pretende voltar a Nova York?

— Terei de voltar para pedir a Jonathan que me libere dos contratos. Depois, colocarei o meu apartamento à venda e pegarei minhas coisas. Mas não há pressa. — Aconchegou-se de novo nos braços dele e murmurou sonolenta: — Temo que você esteja preso a mim pelo resto da vida, querido.

— Desta vez, vou cuidar melhor de você — Jason falou baixinho, mas ela já havia adormecido.

Na manhã seguinte, Kristi estava a caminho da porta, para sair, quando o telefone tocou. Jason, que tinha ido levar Joe para El Paso, só voltaria para casa na manhã seguinte, e ela havia planejado fazer compras com Francine. Voltou e atendeu, impaciente.

— Alô?

— Kristi? — Levou um choque ao ouvir a voz de Jonathan.

— Sim, Jonathan. Como vai?

— Agora que consegui encontrá-la, muito bem. Tenho telefonado para todo o Texas atrás de você.

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— Desculpe, Jonathan, mas só os texanos têm permissão para inventar mentiras.

— Ora, ora, como estamos impertinentes hoje! Suas férias parecem ter-lhe feito muito bem.

— Oh, sim, fizeram. E por falar nisso, Jonathan...

— É por isso mesmo que estou lhe telefonando. Os programas foram modificados, vão começar a tirar suas fotos amanhã de manhã. Tentei encontrá-la nos últimos dias, quando encontrei o nome do seu irmão no meu fichário. — Deu uma risada. — Não conseguia me lembrar do seu nome de casada.

Kristi estava feliz por Jonathan ser tão falador, porque não sabia como dizer a ele que não iria voltar.

— Jonathan, não posso estar aí amanhã...

— Sinto muito, mas você vai ter que dar um jeito, minha cara. É muito tarde para encontrar uma substituta, e além do mais você assinou o contrato muitos meses atrás.

— Mas, amanhã?

— Não seja tola. Você sabe que o contrato declara que terá de estar disponível quando a equipe estiver pronta para foto-grafá-la. Bem, amanhã é o dia e é melhor que esteja aqui.

Seu cérebro parou de funcionar. Só conseguia pensar em Jason. O que iria dizer a ele? Então, se lembrou! Não poderia lhe dizer nada, porque ele só voltaria no dia seguinte. Olhou para o relógio e viu que teria que sair dentro de uma hora, se quisesse pegar qualquer conexão que a fizesse chegar a Nova York, antes da meia-noite.

— Está bem, Jonathan. Estarei aí. Mas nós vamos ter uma séria conversa.

— Ótimo. Senti sua falta. Podemos nos atualizar quando você chegar. Telefone de volta dando o horário do vôo, para que eu possa ir apanhá-la no aeroporto. — Sem entusiasmo, ela murmurou:

— Farei isso. Até logo, Jonathan!

Kristi subiu rapidamente para pegar suas coisas, tentando coordenar as idéias. Teria que deixar um bilhete para Jason, mas nem mesmo podia dizer quando voltaria. Jonathan estava certo. O contrato garantia sua disponibilidade até que a firma de publicidade tivesse terminado com o programa de fotos, assim como quaisquer fotos adicionais que fossem necessárias.

Quando chegou à fazenda do irmão estava chorando e Francine, que já a aguardava, correu para ela, perguntando aflita:

— O que aconteceu?

— Nada de trágico. Só estou muito desapontada. Acabo de receber um aviso de que tenho de estar em Nova York com duas semanas de antecedência.

— Oh, Deus, isso não vai deixar Jason muito feliz.

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— Eu sei. E o pior é que não tenho tempo para lhe dizer. Tenho que partir agora e ele só volta amanhã.

— Agora? Você quer dizer neste minuto?

— Bem, temos tempo para tomar um café, mas estou contando com você para me levar ao aeroporto. Também acho que terá que levar meu carro de volta para casa.

— Isso não é problema. — Francine ficou em silêncio por um momento. — Pobre Jason.

— Que tal pobre Kristi? Saiba que estou me sentindo muito mal com isso.

— Mas Jason vai achar que tudo está acontecendo outra vez... Mas já que não tem jeito... vou arrumar as crianças e partiremos. — Os olhos de Kristi encheram-se de lágrimas.

— O que eu faria sem você, Francine?

— Se você não sabe, dane-se. Não vou deixá-la descobrir. — Ambas riram e Francine foi apanhar os filhos.

O avião pousou em Nova York, alguns minutos após as onze horas. Kristi sentia-se como se tivesse ficado sem dormir por dias e sua cabeça latejava de dor. Mesmo a visão da figura elegante de Jonathan não a livrou da depressão. O barulho a bombardeava. Havia se esquecido de seus compromissos.

— Você está maravilhosa, querida, com essa cor saudável nas faces — Jonathan disse, apanhando sua mala pequena, a única bagagem que trouxera. — Ora, você viaja com bem pouca coisa, hoje em dia — falou, quando ela explicou que não havia mais nada para ser checado. — Tenho uma limusine nos esperando. Só o melhor para a nossa "princesa de gelo", como você sabe.

Kristi assustou-se ao ouvir aquele apelido. Como havia mudado nas últimas semanas! Depois de todos aqueles anos, estava irritada com o excesso de autoconfiança de Jonathan.

— Estou surpresa de estar corada, porque minha cabeça está explodindo — murmurou, enquanto se afundava no assento traseiro do carro luxuoso.

— Então, vamos levá-la direto para a cama. Lembre-se de que tem que estar preparada para o olho da câmera, que tudo vê, pela manhã.

— Sim, Jonathan. Estou ciente disso. De outra forma, não estaria aqui.

— Está nervosa, não é? Bem, você é aquela que não gosta de viajar. Lembro-me daquele verão em que fizemos cenas fabu-losas pelo Mediterrâneo. Você fez com que toda a viagem parecesse desagradável.

— E foi. Senti-me deslocada.

— O problema com você, querida, é que é uma contradição viva. Por fora, é uma mulher linda, sofisticada, cosmopolita.

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Mas por dentro é uma garota texana, que ainda prefere cavalos e grandes espaços abertos em lugar da adulação do mundo.

Ela piscou e voltou o olhar para ele.

— Você está certo, Jonathan. Mas, infelizmente, nunca pensei nisso dessa forma.

— Kristi, não se esqueça de que fui eu quem a ajudou a fabricar essa aparência glamourosa que exibe com tanta elegân-cia. Estou consciente do pouco que tudo isso tem a ver com você!

O resto da viagem foi feito em silêncio, como se ambos quisessem ordenar as idéias.

Jonathan insistiu em subir com ela ao apartamento. Mesmo quando ela o lembrou dos modernos sistemas de segurança que havia em seu prédio, ele a advertiu para o fato de que estivera fora por muito tempo e não faria mal ser cauteloso.

O apartamento parecia o mesmo. Até mesmo as plantas iam bem, graças à Vizinha do lado. Acostumada à casa enorme da fazenda, esquecera-se de como o apartamento era pequeno.

Depois de verificar todos os possíveis lugares suspeitos, Jonathan declarou que ela estaria em segurança. Kristi então livrou-se dele, jurando que iria para a cama tão logo ele saísse.

O despertador tocou logo cedo na manhã seguinte. Kristi gemeu, sabendo que não tinha outra escolha, a não ser ir tra-balhar.

Durante o almoço, Jonathan a advertiu para os quilos a mais que ostentava.

— Vai precisar perdê-los, Kristi.

— Mas eu não quero perdê-los, Jonathan. Sinto-me muito melhor assim, porque é provável que eu esteja no meu peso normal, e não quero andar por aí faminta, o tempo todo.

Olhou para a salada com desgosto. Será que tinha havido um tempo em que fora feliz, comendo como um coelho?

— Mas, querida, os fotógrafos é que mandam e eles acharam que você está com peso demais, não haverá outra escolha.

A expressão ansiosa de Jonathan a irritou. Por que tinha que parecer tão razoável?

— Está bem, sei disso, mas o que estou tentando dizer é que não quero continuar a trabalhar como modelo.

Pronto. Conseguira falar. Olhou-o, desafiadora. Jonathan endireitou-se na cadeira, mostrando toda sua aparência de homem de negócios, insensível e frio.

— Então, é essa a causa de todo o seu mau humor, não é?

— Não estou de mau humor, Jonathan, e você sabe disso. Nunca fui dada a crises de temperamento ou estrelismos idio-tas...

— Sempre há uma primeira vez, meu bem. Mas quando foi que você decidiu que não queria mais ser modelo?

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Ele estava aceitando tudo tão mal quanto Kristi imaginara que ele o faria. Nunca tentara desafiá-lo antes.

— Não tenho certeza se alguma vez quis realmente ser...

— Ah! Eu deveria ter adivinhado. Foram aqueles traficantes de escravas brancas, sórdidos, que a capturaram, e a forçaram a entrar num avião, fazendo com que você procurasse minha ajuda, há cinco anos.

Seus dedos longos e finos tamborilavam irritados sobre a mesa.

— Não seja sarcástico, Jonathan, porque isso não vai resolver nada.

Olhou ao redor, desejando nunca ter tocado no assunto. Teria que voltar ao estúdio em pouco mais de uma hora. Por que se decidira almoçar com ele e explicar que não queria ficar em Nova York?

— Claro que resolve, querida. Libera faíscas suficientes para que eu possa me sentar à mesa com você e conversar de maneira civilizada, quando a minha vontade é arrancá-la da cadeira e sacudi-la até você encontrar algum juízo dentro desta cabeça confusa.

Apanhou o copo e, com um controle admirável, bebeu o vinho.

— Você sabia que eu era casada, Jonathan.

— Disso eu sabia, embora me lembre muito bem de você me explicando que seu casamento tinha chegado ao fim, acabado. O que mudou?

— Descobri que ainda amo Jason.

— Que tocante.

— Não fale assim!

— Que diabos você esperava que eu dissesse, Kristi? Levei muito tempo, para não mencionar as enormes somas em dinheiro, tentando construir a imagem que está deslumbrando cada homem nesta sala e agora você vem me dizer que não quer continuar a carreira de modelo?

A mão dele se contraiu, enquanto continuava a encará-la. A reação de Jonathan fora pior do que Kristi imaginara. Disse, confusa:

— Talvez fosse melhor discutir isso mais tarde.

— É isso mesmo. Quero lembrá-la, minha cara, que, enquanto você estava brincando de casinha, trabalhei duro aqui, marcando muitos compromissos para você nos próximos meses. — Inclinou-se para ela, faiscando de raiva. — Não ouse deixar de comparecer a nenhum deles, está me ouvindo?

Em todos esses anos, Kristi jamais vira Jonathan tão nervoso, sempre fora obediente com ele, quase passiva, nunca se

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importando com o quanto tinha que trabalhar. Mas agora sentia que estava lutando por sua vida, por sua vida ao lado de Jason.

Jonathan levou-a de volta ao estúdio, controlando-se admiravelmente bem. Mas Kristi sabia que a guerra mal havia começado. Durante todo o dia, uma pergunta martelou sua cabeça: O quê é que vou fazer?

Os faróis do carro de Jason iluminaram a varanda da casa da fazenda quando ele chegou. Percebendo que o lugar estava às escuras, lembrou-se de não ter dito a que horas voltaria e achou que, provavelmente, Kristi estivesse dormindo. Sabia, porém, que ela acordaria assim que notasse sua chegada.

Parou o carro e viu que o de Kristi não estava no lugar de costume, embora já fosse quase meia-noite.

Intrigado, entrou rapidamente em casa, acendendo todas as luzes e subindo a escada, sem se importar com o barulho que fazia. Um medo súbito cresceu dentro dele, como se estivesse vivendo um pesadelo.

A porta do quarto estava aberta e, mesmo antes de entrar, já sabia que não iria encontrar ninguém ali. Viu um envelope sobre a cômoda, no mesmo lugar onde havia deixado o bilhete para ela, quando partira em busca de Joe, e lembrou-se da conversa que haviam tido na época e do que ela lhe dissera:

"Ainda não o perdoei por partir sem me dizer nada, Jason."

Ficou parado olhando para o envelope onde seu nome estava escrito em letras delicadas.

Sua cabeça doía, e algumas imagens se atropelavam em sua memória, fazendo-o recordar-se de Kristi em diversos lances de suas vidas. Viu-a ainda bebê, em seus braços de menino. Depois, quando voltara da guerra, e por ela se apaixonara. Lembrou-se de como ela o olhou ao atirar-se em seus braços, naquela tarde.

E por fim, recordou-se dela deitada, imóvel e pálida, no quarto frio do hospital.

— Deus! Não posso suportar isto outra vez, Kristi!

O eco de seu grito varou os cômodos vazios da casa. Apanhou a mensagem e sentou-se na beirada da cama; suas mãos tremiam tanto, que teve dificuldade para abrir o envelope e tirar a única folha, encolhendo-se enquanto lia.

"Jason, meu amor,

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Jonathan telefonou para dizer que meu programa foi modificado. Tenho de estar em Nova York ainda hoje, pois começarão a tirar as fotos amanhã logo cedo."

Viu, no topo da página, a data do dia anterior. Já fazia um dia que voltara para Nova York. Os olhos dele se voltaram para a nota ao pé do bilhete.

"Odeio ter que partir sem vê-lo, mas Jonathan me lembrou que não tenho outra escolha, já que assinei um contrato."

Não conseguiu continuar a ler, uma dor cruciante devastou-lhe o peito, fazendo-o dobrar-se, enquanto seus olhos enchiam-se de lágrimas.

Levantou-se com esforço, despiu-se e foi para o chuveiro, deixando que a água morna batesse em seu corpo, enquanto tentava fazer com que sua mente aceitasse o inevitável.

Kristi se fora. Querendo ou não, o fato era esse. O mundo da elegância e das luzes deslumbrantes era mais forte do que ele pudera imaginar...

Quando a água começou a esfriar, desligou o chuveiro e se enxugou, voltando ao quarto. Apanhou o bilhete, evitando olhar para a cama e saiu. Ao menos naquela noite, não conseguiria dormir ali. Entrou no escritório com uma garrafa de uísque na mão e se serviu de uma dose. Sentou-se e continuou a ler.

"Querido, volto para casa assim que puder. Já sinto muita falta de você. Vou escrever todos os dias e telefonarei sempre que puder. É provável que esteja tão ocupado, que nem perceba que parti."

"(Espero que você descubra que alguma coisa está faltando, quando for para a cama esta noite!) Nunca se esqueça do quanto eu o amo."

Sua Kristi

Com um gemido de dor, Jason deixou a cabeça cair para trás no encosto da cadeira, sabendo que aquela seria uma noite longa e fria.

O programa de Kristi tinha sido cansativo e ela chegou ao apartamento extenuada. Como conseguira manter esse ritmo antes? Não havia percebido o quanto se sacrificara em todos aqueles anos.

Suspirou com tristeza. Seu coração ficara com Jason, e a saudade era tanta, que mal conseguia respirar. Preparando-se para dormir, telefonou-lhe, mas ninguém atendeu. Se não estivesse com tanto sono, ficaria acordada para tentar outra vez

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mais tarde. Porém, sentia-se exausta e desistiu da idéia. Enrolou-se na cama, agarrou o outro travesseiro e o abraçou, pensando em Jason.

Sonhou que estava telefonando para ele, e que ninguém atendia. Continuou tocando e tocando e... então acordou, sentan-do-se na cama. Era o seu telefone que estava tocando. Ainda sonada, atendeu com voz sonolenta.

— Alô?

— Srta. Cole?

— Sim.

— Aqui é Malcolm Metcalf, srta. Cole. Sou um dos homens da segurança do seu prédio.

— Sim? — Kristi respondeu, intrigada.

— Desculpe-me incomodá-la tão tarde, srta. Cole. Mas sabe, há um homem aqui embaixo exigindo que o deixemos subir ao seu apartamento. — Limpou a garganta, nervoso. — Diz que é seu marido...

— Jason? — Kristi deu um pulo para fora da cama, a voz denotando espanto.

— Bem, a carteira de identidade dele diz que se chama Jason McAlister, mas ele insiste que é casado com a senhorita.

Kristi começou a rir. Jason aqui? Em Nova York?

— Posso deixá-lo subir? — perguntou o guarda.

— Oh! Oh, sim, é claro. Muitíssimo obrigada... Isto é, está tudo bem.

Acendeu a luz e vestiu o roupão. Jason estava em Nova York e subindo para vê-la!

Correu para a porta e com dedos trêmulos abriu as travas de segurança. Seus olhos se fixaram no elevador com ansiedade e, pela primeira vez, percebeu o quanto ele demorava para chegar ao andar onde morava.

A porta do elevador se abriu silenciosa e Jason saiu. Olhou ao redor e pela porta aberta do apartamento a viu parada. Com passos rápidos e olhar zangado, caminhou até ela.

— Jason! — ela gritou, atirando-se nos braços dele, quase o derrubando.

Ele a ergueu nos braços e entrou no apartamento, dando um chute na porta para que se fechasse.

— Por que diabos aquele guarda lá embaixo não sabia que você era casada? É algum segredo de estado, que você não pode partilhar com ninguém aqui no leste?

Jason estava parado no meio da sala, fazendo com que o apartamento parecesse menor do que era. Tentou olhar para Kristi, que agarrada a ele o beijava no rosto, no pescoço, na boca, não ouvindo o que ele dizia. Ainda abraçados, Jason afun-dou-se numa poltrona estofada.

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— Kristi, responda-me!

Afastando-se para olhá-lo, ela sorriu com alegria, e antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, inclinou-se e o beijou de novo, os lábios movimentando-se com suavidade e carinho. Quando Jason começou a falar, suas línguas se encontraram e ele não conseguiu mais ignorar o toque cálido e a sensação daquele corpo macio contra o seu. Só pararam depois de vários minutos, completamente sem fôlego.

— O que você perguntou, amor? — Kristi murmurou, enquanto o beijava na orelha.

— Por que o guarda não sabia que você era casada?

— Porque em Nova York ninguém sabe ou se importa com a vida dos outros, Jason. Não conheço o homem e nem ele a mim. — Começou a desabotoar a camisa dele. — O que você está fazendo aqui?

— Vim procurar a minha esposa, foi isso o que vim fazer aqui. — O jeito briguento dele a fez sorrir.

— Bem, cowboy, você já a encontrou. O que pretende fazer agora? — perguntou ainda sorrindo, enquanto acariciava o peito largo e forte com as mãos.

— Você e eu temos que ter uma conversa. — O tom ainda era bravo, e Kristi precisou se conter para não beijá-lo de novo.

— Conversar!? Você me tem em seus braços e a única coisa em que pode pensar é conversar?! Você está mais velho do que eu pensava! — Levantou-se, tentando parecer indignada.

— Você está querendo ação, é? Bem, se não quer conversar, vamos tentar outra coisa!

Jason a pegou no colo, e a levou para o quarto.

Aproximando-se da cama, fixou o olhar numa fotografia que estava sobre a mesa-de-cabeceira. Ela fora tirada por Francine, e mostrava Kyle e ele, encostados numa cerca. Comovido, deitou-a com carinho na cama e começou a afagar-lhe os cabelos vermelhos como o fogo, que caíam revoltos pelos ombros delicados. Kristi era tão linda e ele a amava tanto, que chegava a doer!

Kristi não cabia em si de tanta felicidade. Com os olhos brilhantes, fitava Jason com amor, mal conseguindo acreditar que estavam juntos. Tomou o rosto dele entre as mãos, trazendo-o devagar para perto de sua boca. O beijo que trocaram era a mais pura expressão do amor que sentiam um pelo outro. Era como se seus espíritos só pudessem se comunicar através daquele toque meigo e apaixonado.

— Por que você está aqui? — Kristi sussurrou, quando ele se afastou um pouquinho.

— Porque é onde você está, meu amor. Descobri que não posso viver longe de você. Portanto, vou ficar aqui.

— Jason! Isso é impossível... Você ficaria louco trancafiado num apartamento na cidade de Nova York — Kristi

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respondeu aflita, tentando se sentar.

— Vou ficar louco, se continuar no Texas sem você, amor. Já tentei do meu jeito uma vez e não deu certo. Por isso, prefiro ficar aqui com você, até que possa voltar comigo.

— E a fazenda?

— Nate está quase recuperado, ainda que não possa domar os cavalos novos por uns tempos. De qualquer maneira, não tenho muita utilidade lá, no momento. — Deu-lhe um sorriso forçado. — Então, é melhor que eu aprenda a apreciar a vida da cidade.

— Oh, Jason. Não sei o que dizer. Não posso pensar em nada mais maravilhoso do que tê-lo aqui, mas não daria certo. Você acabaria me odiando. — Kristi apoiou-se no cotovelo e o beijou. — E eu não suportaria isso.

— Mas você estava pronta a se divorciar de mim...

— É verdade. Eu achava que essa era a única maneira de conseguir um pouco de paz. Precisava tirá-lo da minha vida...

— Ah!... É por isso que aquela foto minha está ali? — perguntou com ar brincalhão.

— Mas é aí que está todo o problema. Você não é apenas o meu marido. É a minha infância, minha adolescência, meu primeiro e único amor. Não há jeito de tirá-lo da minha vida, porque você é parte dela.

— E quando foi que descobriu isso, anjo? — Jason perguntou, tirando-lhe o roupão.

— Quando você me seguiu até aquele quarto de hotel.

Jason puxou as alças estreitas da camisola de Kristi, fazendo com que escorregassem pelos ombros delicados, parecendo surpreso pelo que acabara de ouvir.

— Tão cedo? — O tom sugeria espanto. — Gostaria de ter sabido disso antes — murmurou.

Enquanto conversavam, Jason a despia, devagar.

— O que você quer dizer com isso?

— Que gostaria de saber que o meu plano tinha funcionado tão depressa!

— Que plano?

— O plano de levá-la de volta ao Texas.

Tirou as botas e se despiu rápido, ficando nu.

— Você não me levou ao Texas. Voltei para lá porque quis.

— Para me fazer assinar os papéis do divórcio — sorriu, abraçando-a, deixando cada parte do seu corpo sentindo o dela.

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— Oh, isso!

— É, isso. Percebi que se me recusasse a cooperar, mais cedo ou mais tarde teria que me procurar. Sabe, esse é um velho truque de caçador. Ficar parado e deixar que a presa venha ao seu encontro. Demorou para que você caísse na minha arma-dilha — explicou sério, tentando ignorar a expressão que via no rosto dela.

— Sabe que pensei que conseguiria viver sem você? Mas, quando o vi naquela noite, comecei a duvidar disso — sussurrou Kristi. — Acariciou o peito largo, fazendo-o estremecer. — Oh, Jason, eu te amo tanto.

— Até quando teremos que ficar aqui?

— Não sei. Meu agente está furioso comigo. Não que eu o culpe, depois de tudo o que ele fez por mim...

— Não acredite nisso, querida. Você fez o mesmo por ele, não deixe que ele a engane.

— Jonathan diz que marcou vários compromissos até o fim do ano e espera que eu os cumpra.

Kristi encostou a cabeça contra o peito de Jason. Sabia que não daria certo ele continuar em Nova York, mas não suportaria ficar longe dele. Sentindo-o estremecer, percebeu que ele também estava transtornado. Angustiado, tentou pensar numa saída, quando Jason começou a rir deixando-a mais confusa ainda.

— Jason! Não há nada de engraçado no que eu disse.

— Eu sei, querida. Estava só pensando na reação de Jonathan quando você explicar a ele que não vai poder cumprir esses compromissos. — Kristi sentou-se, espantada.

— Mas, Jason, o que você quer dizer com isso? Sou obrigada a cumpri-los. Não tenho outra escolha.

Estava surpresa por vê-lo tão tranqüilo. Não conseguia entender aquela reação inesperada.

— Esqueci de lhe dar um recado — ele disse, por fim, ainda sorrindo. — Dormi no escritório na noite em que descobri que você havia partido. O telefone me acordou pela manhã. — Fez uma pausa, buscando as palavras certas. — Você não mencionou que fizera testes, quando fora ao médico...

Os olhos de Kristi se arregalaram.

— Eles telefonaram? O que disseram? — O sorriso dele se alargou.

— Disseram que durante um pouco mais de seis meses os únicos modelos que você vai ver serão os de crianças, querida.

Jason observou com alegria a expressão que pouco a pouco foi tomando conta do rosto de Kristi. Fingindo seriedade, perguntou.

— Por que é que você não me contou sobre os testes antes?

— Tive medo de dizer, medo de ter imaginado os sintomas e que estivesse enganada. — Abraçou-o com força. — Conse-

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guimos! Oh, Jason, vamos ter o filho que tanto queríamos...

— Eu sei, querida. Você pode imaginar minha reação. Era tudo o que eu precisava para vir encontrá-la. — Puxou-a para mais perto. — Não creio que seu agente possa fazer algo para impedir a sua maternidade.

Ficaram abraçados por algum tempo, até que Kristi se inclinou para trás, o suficiente para olhar o rosto de Jason.

— Sabe, quando pensei pela primeira vez em ir ao Texas, fiquei fantasiando sobre ficar grávida, para que você me dese-jasse de volta como sua esposa. — Seus olhos brilharam de satisfação. — Acho que o meu plano funcionou tão bem quanto o seu.

Jason já tinha sido paciente demais. O beijo que trocaram fez com que ela soubesse que a conversa havia terminado. Mas um último pensamento atravessou a mente apaixonada de Kristi.

"Quem, exatamente, fora o caçador?"