conjuntura econômica brasileira sob perspectiva histórica - dr. márcio pugliesi

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Conjuntura Econômica brasileira sob perspectiva histórica Os últimos 30 anos Situação de partida: As causas da hiperinflação no país costumam ser relacionadas ao aumento dos gastos públicos durante o governo militar e pela elevação do endividamento externo, agravado pela crise mundial derivada do aumento dos preços do petróleo e pela retração na taxa de expansão da economia. A política de substituição das importações que vinha desde o governo Juscelino Kubitschek fez crescer os gastos públicos, e o "milagre econômico" entre o final dos anos 1960 e o início da década de 1970 (quando a economia brasileira cresceu à média de 10% ao ano) foi financiado por empréstimos internacionais. A partir de 1973, quando a crise internacional do petróleo fez o custo do barril subir 400% em três meses, de US$ 2,90 para US$ 11,65, a economia brasileira passou a apresentar taxas de inflação crescentes. O PIB já não crescia tanto, e o Brasil entrou na década de 1980 com o pé esquerdo: inflação, dívida externa elevada e indústria defasada. 1985 Brasil Ruptura do sistema e eleição de Tancredo Neves pelo colégio eleitoral Tancredo é internado 15 de março – Posse do vice-presidente José Sarney Mundo Rússia perde Guerra Fria e Mikhail Gorbatchov começa a abertura política na Rússia 1986 Brasil Plano Cruzado – freia a inflação interna que chegava a 79, 66% ao ano.

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Conjuntura Econômica brasileira sob perspectiva histórica

Os últimos 30 anos

Situação de partida:

As causas da hiperinflação no país costumam ser relacionadas ao aumento dos gastos

públicos durante o governo militar e pela elevação do endividamento externo, agravado pela

crise mundial derivada do aumento dos preços do petróleo e pela retração na taxa de

expansão da economia.A política de substituição das importações – que vinha desde o

governo Juscelino Kubitschek – fez crescer os gastos públicos, e o "milagre econômico"

entre o final dos anos 1960 e o início da década de 1970 (quando a economia brasileira

cresceu à média de 10% ao ano) foi financiado por empréstimos internacionais.A partir de

1973, quando a crise internacional do petróleo fez o custo do barril subir 400% em três

meses, de US$ 2,90 para US$ 11,65, a economia brasileira passou a apresentar taxas de

inflação crescentes. O PIB já não crescia tanto, e o Brasil entrou na década de 1980 com o

pé esquerdo: inflação, dívida externa elevada e indústria defasada.

1985

Brasil

Ruptura do sistema e eleição de Tancredo Neves pelo colégio eleitoral

Tancredo é internado

15 de março – Posse do vice-presidente José Sarney

Mundo

Rússia perde Guerra Fria e Mikhail Gorbatchov começa a abertura política na Rússia

1986

Brasil

Plano Cruzado – freia a inflação interna que chegava a 79, 66% ao ano.

Principais medidas do Plano:

congelamento de preços de bens e serviços; congelamento da taxa de câmbio; reforma monetária, com alteração da unidade do sistema monetário, que passou a

denominar-se cruzado (Cz$), cujo valor correspondia a mil unidades de cruzeiro; substituição da Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional ORTN (título da dívida

pública instituído em 1964), pela Obrigação do Tesouro Nacional (OTN), cujo valor foi congelado por um ano;

congelamento dos salários pela média de seu valor dos últimos seis meses e do salário mínimo em Cz$ 804,00, que era igual a aproximadamente a US$ 67,00 de Salário Mínimo;

como a economia fora desindexada, institui-se uma tabela de conversão para transformar as dívidas contraídas numa economia com inflação muito alta em dívidas contraídas em uma economia de inflação praticamente nula;

criação de uma espécie de seguro-desemprego para aqueles que fossem dispensados sem justa causa ou em virtude do fechamento de empresas;

os reajustes salariais passaram a ser realizados por um dispositivo chamado gatilho salarial ou seguro-inflação, que estabelecia o reajuste automático dos salários sempre que a inflação alcançasse 20%

1987

Brasil

Preparativos para o texto da Constituição

Recuperação de investimentos de risco como aqueles com a Transamazônica.

Mundo

População mundial chega a 5 bilhões de pessoas.

1988

Promulgação da Constituição Federal

Inflação volta aos dois dígitos

Mundo

Por causa da Perestroika – Boris Yeltsin é destituído pelo Politburo.

Prisão do arcebispo Desmond Tutu por conta de manifestações antiapartheid na África do Sul.

Apresentação do ECU como moeda comunitária.

Gorbatchov torna-se chefe do governo na Rússia.

Eleição de George Bush nos EUA.

1989

Brasil

Implantação do Plano Verão

O Plano Verão, instituído em 16 de Janeiro de 1989, foi um plano econômico lançado pelo governo do presidente brasileiro José Sarney, realizado pelo ministro Maílson Ferreira da Nóbrega, que havia assumido o lugar de Bresser Pereira. Devido à crise inflacionária da década de 1980, foi editada uma lei que modificava o índice de rendimento da caderneta, promovendo ainda o congelamento dos preços e salários, a criação de uma nova moeda, o Cruzado Novo, inicialmente atrelada em paridade com o Dólar e a extinção da OTN, importante fator de correção monetária. Assim como ocorreu no Plano Bresser, o Plano Verão também gerou grandes desajustes às cadernetas de poupança, em que as perdas chegaram a 20,37%. Nenhuma regra foi definida em relação a ajustes salariais.

Cruzado Novo: o dinheiro perdeu zeros, a taxa de juros subiu e o crédito desapareceu

Eleição direta de Fernando Collor de Melo.

Mundo

Queda do muro de Berlim.

EUA invade o Panamá.

Desmonte da URSS.

1990

Brasil

Plano Collor – confisco de 80% da poupança e dos ativos correntes em Banco.

Fim de aplicações em branco – torna-se necessário identificar o investidor.

Mundo

Lituânia manifesta intuito de separar-se da URSS. (janeiro)

O Soviete Supremo apresenta as modalidades de separação das repúblicas componentes da

URSS e aprova a lei correspondente (fevereiro).

O Partido Comunista Soviético renuncia ao seu monopólio na URSS (fevereiro).

Começam as obras de remoção do muro de Berlim (fevereiro).

Lituânia se separa da URSS (março).

Ucrânia se declara estado soberano (julho).

Armênia se separa da URSS (agosto).

Liechtenstein se une à ONU (setembro).

Em Pequim – XI jogos asiáticos (setembro).

Rússia aprova o livre mercado (setembro).

Dissolução da República Democrática Alemã (outubro)

Acordo Rússia & EUA de desarmamento convencional na Europa (outubro)

Margareth Thatcher encerra seu mandato de Primeira Ministra (novembro).

Primeiro experimento com sucesso da rede que se tornará a WWW (dezembro).

1991

Autorização ao presidente Bush para que tome medidas contra o Iraque. Início da \guerra do

Golfo. (Janeiro).

Fim do Partido Comunista Italiano (fevereiro).

Apresentação do navegador de Internet nos EUA (fevereiro) .

Fim da Guerra do Golfo (março).

Criação do Mercosul (tratado de Assunção) (março).

Dissolução do Pacto de Varsóvia (março).

Croácia se separa da Iugoslávia (maio).

Microsoft lança MS/DOS 5 (junho).

Boris Iéltsin eleito presidente da Rússia (julho).

Tim Berners-Lee, CNER, apresenta o primeiro servidor web (agosto).

Dissolução da União Soviética (agosto)

Primeira versão do Linux (setembro)

Constituição do Espaço Econômico Europeu congregando mais de 400 milhões de consumidores

contando com 19 países membros (outubro).

Conferência de Paz para o Oriente Próximo em Madri (outubro).

Assinatura do Protocolo do Tratado Antártico (outubro) por trinta países.

Fim oficial da KGB (novembro).

Dissolução oficial da URSS (dezembro).

Tratado de Maastricht – união política da União Europeia (dezembro).

Assinado o Tratado de Brest que encerra a URSS e cria a CEI – Comunidade de Estados

Independentes (dezembro).

1992

Mundo

Restabelecimento de relações diplomáticas entre Rússia e EUA (janeiro).

China e Israel estabelecem relações diplomáticas (janeiro).

A Bolívia obtém acesso ao Pacífico por via de Porto de Ilo no Peru (com direito a zona franca)

(janeiro).

Estabelecimento da União Europeia em Maastricht (fevereiro).

A Comunidade Econômica Europeia e a EFTA criam o Espaço Econômico Europeu (EEE), mercado

único e que corresponderá a metade do comércio mundial (maio).

Bill Clinton eleito presidente (novembro).

1993

Jiang Zemin presidente da República Popular Chinesa (março).

Decisão de que a www será gratuita (abril).

Microsoft apresenta o Windows NT (maio).

Conferência Internacional sobre Direitos Humanos – Viena (maio).

Aprovação do Nafta (North American Free Trade Agreement) nos EUA (dezembro).

Israel e o Vaticano estabelecem relações diplomáticas (dezembro).

1994

Passam a funcionar o Espaço Econômico Europeu e o Tratado de Livre Comércio – EUA, Canadá

e México. (janeiro)

Constituição da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (fevereiro).

Tratado de Livre Comércio entre México, Colômbia e Venezuela (junho).

1995

Criação da Sociedade de Informação em Bruxelas, pelo G7 (fevereiro).

Linguagem de programação Java (maio)

1996

Reeleição de Bill Clinton (novembro).

Acordo de Genebra para liberalização das telecomunicações (67 países subscritores) no âmbito

da Organização Mundial do Comércio.

1997

Liberação de Hong Kong (caducidade do Tratado de Nankin) (junho).

Entra em vigor o Protocolo de Quioto (dezembro).

1998

Patente do PageRank – algoritmos de base do Google.

Estatuto de Roma – cria Corte Penal Internacional (julho).

Google – setembro.

Iraque rompe com a ONU – (dezembro).

1998

Deutsche Bank anuncia a compra do Bankers Trust gerando a maior instituição financeira do

mundo. (novembro)

O Iraque formaliza sua ruptura com a Onu e exige fim do embargo petrolífero. (dezembro)

1999

Adoção do EURO (janeiro).

Crise brasileira sobressalta mercados mundiais (janeiro).

Fusão do Banco Central Hispano com o Banco Santander (janeiro).

Banco Paribas e Société General se fundem criando o SG Paribas – quarto banco mundial

(fevereiro).

Retirada do pessoal americano e britânico do Iraque – por decisão da ONU (fevereiro).

Reunião de paz de Kosovo (fevereiro).

Os quinze chefes de Estado e de GGoverno da União Europeia a Política Exterior e de

Segurança Comum (PESC) sob a tutela de Javier Solana (espanhol). (junho).

Fusão da Dow Chemical e da Union Carbide gerando o segundo grupo químico mundial

(agosto).

Abertura do mercado chinês tendo em vista o ingresso na Organização Mundial do Comércio

(novembro).

Os EUA entregam a administração do canal do Panamá ao Panamá (dzembro).

2000

Lançamento do Windows 2000 (fevereiro).

União das bolsas de Frankfurt e Londres para a criação da Bolsa Europeia cm movimento médio

de mais de 5 bilhões de euros (maio).

Acordo China- União Europeia para abertura de mercado.

2001

George W. Bush se elege presidente dos EUA (janeiro).

Bombardeio de Bagdá pela aviação americana (fevereiro).

Declaração de Doha (novembro)

Ingresso da China na OMC (dezembro).

2002

Euro se torna moeda única em 12 países.

Criação da União Africana em Adis Abeba (julho).

Criação da Corte Penal Internacional pelo Estatuto de Roma (julho).

Chipre, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia, República Checa, Eslováquia, e

Eslovênia aderem à União Europeia (dezembro).

2003

Tribunal Penal Internacional de Haia (março).

De 2004 até agora – uma visão de conjunto

A China em sua forte expansão no período ajudou o crescimento da economia brasileira,

em particular por sua demanda de ferro e soja, mas nem de longe isso explica a evolução

da economia brasileira. Basta lembrar que as exportações brasileiras para a China incluem

apenas 5% de produtos manufaturados , isto é a indústria brasileira — que cresceu no

período de 2004 a 2011, retraindo em 2012 — não teve a China como principal cliente.

Os setores de maquinário agrícola (para a colheita da soja), de maquinário pesado (para as

mineradoras) e de caminhões (para fazer o transporte da soja e do minério) se

beneficiaram do crescimento chinês, mas tais setores não são os únicos responsáveis pela

expansão da economia brasileira.

Houve aumento de renda das pessoas em um total de vinte por cento no período, shoppings

lotados e restaurantes com filas de espera, aeroportos abarrotados; aumento da classe

média; empregadas domésticas tendo aumentos salariais e podendo mandar filhos para a

escola; carros zero sendo vendidos em quantidades crescentes até 2011; boom imobiliário

e apartamentos sendo vendidos ainda na planta; empresas tendo seus estoques

prontamente vendidos; crescimento da indústria da construção civil com novos

empreendimentos sendo iniciados diariamente; trabalhadores encontrando empregos a

salários nominais cada vez maiores — todos esses fenômenos ocorreram por todo o país e

se tornaram corriqueiros no período 2004-2011, mas, certamente, não são explicados

apenas pelo comércio com a China. Ressalte-se, a participação das exportações na

economia brasileira é ínfima, não chegando nem a 12% do PIB.

As razões aparentes para isso incluem o fato de que, assim que Lula assumiu o poder em

janeiro de 2003, houve um ortodoxo e surpreendente, para as expectativas do mercado,

ajuste da economia corrigindo desequilíbrios decorrentes das expectativas causadas por sua

eleição em 2002, bem assim das falhas da gestão anterior.

O suposto rompimento com "tudo que aí está", a crença de que haveria a adoção de uma

economia socialista, a estatização dos meios de produção, o rompimento de contratos, a

reforma agrária, o calote das dívidas interna e externa, o poder ilimitado dos sindicatos,

as greves etc. — gerou um clima de total incerteza entre empresários e investidores

estrangeiros: a economia vivenciou uma crise gravíssima no final de 2002.

Basta lembrar que houve fuga de capitais, o câmbio disparou (dólar chegando a quase R$

4) e o IPCA fechou o ano em 12,5%.

A confiança – fator econômico fundamental (bastando considerar os últimos eventos por

efeito da operação Lava Jato e movimentos pro impeachment) - estava muito abalada, pois

o futuro governo não apenas era uma incógnita, como também iria assumir em meio a uma

situação econômica muito delicada.

A equipe econômica nomeada, tida como ortodoxa e conservadora, liderada por um

banqueiro de carreira internacional consagrada, Henrique Meirelles, e por um médico que

era visto como um entusiasta da ortodoxia econômica, Antonio Palocci e formada

exclusivamente por técnicos e envolvendo nomes como Joaquim Levy, Marcos Lisboa e

Murilo Portugal foram para o Ministério da Fazenda, e outros como Alexandre Schwartsman,

Ilan Goldfajn e Afonso Beviláqua foram para o Banco Central – indicando um rigor de

condução da política econômica absolutamente inesperado até então.

A política econômica adotada baseou-se no cumprimento de contratos, na liberdade de

preços, em uma política fiscal austera, na elevação do superávit primário para 4,25% do

PIB (hoje seria preciso muito esforço contábil para se chegar a 0,7%), e em uma política

monetária dura e restritiva, garantida por um Banco Central com total autonomia

operacional e isso, junto com a manutenção do investimento do governo, fez com essa

volátil moeda da confiança começasse a voltar ao mercado.

Em 2003, essa equipe econômica fez um ajuste brutal. Para conter a disparada do IPCA, a

taxa SELIC foi elevada para 26,50% - causando, entre outros efeitos a redução da dívida interna

– por efeito da elevação da dívida ativa dos contribuintes. O superávit primário foi de 4,3% do

PIB (acima da meta já alta de 4,25%).

Nos primeiros 6 meses de 2003 (período em que a SELIC permaneceu em seus valores mais

alto) o consumo doméstico chegou a cair 11% e o desemprego chegou a 13%. Esse ajuste

rigoroso causou, embora os efeitos danosos ao comércio interno, uma reação muito boa do

mercado, tanto de investidores e especuladores estrangeiros quanto de empresários e

consumidores.

E os sinais disso foram evidentes: a inflação de preços acumulada em 12 meses começou a

cair rapidamente, de 17% para 5,2% em um ano (o menor valor desde 1999); produção de

um cenário de estabilidade política e econômica gerando a confiança necessária para o

retorno dos investimentos e, por conseguinte, do crescimento econômico.

Investimentos tornam-se mais viáveis quando, além de um mínimo de estabilidade política,

a inflação de preços é baixa e as contas do governo estão sob controle, gerando

previsibilidade e confiança.

Um investimento de longo prazo — por exemplo, quando o empreendedor decide

implementar ou ampliar instalações de sua empresa, ou contratar mão-de-obra —, é

preciso que tenha um mínimo de certeza (no sentido de expectativa positiva) a respeito

do poder de compra da moeda no futuro, para efeito do retorno de seu investimento.

Se assim se dá na esfera do investimento, o mesmo se repete no consumo – em situação de

incerteza o consumidor tende a consumir apenas o essencial.

Na esfera do Governo – o controle das contas públicas e o equilíbrio orçamentário

prenunciam manutenção de política fiscal de longo prazo e de custos permitindo maior

investimento privado.

Esse ajuste feito em 2003 e a subsequente estabilização da economia facilitaram um

substancial aumento do investimento (4% do PIB no período 2003-2011), do crédito e da

quantidade de pessoas empregadas, com expansão do mercado de consumo interno e da

plataforma produtora de exportação.

Mesmo no agronegócio, a expansão na maior parte do período 2003-2011 foi baseada

em aumento de volumes, produtividade e área plantada. Isso também foi fruto da

estabilidade, da confiança e do aumento dos investimentos.

O fenômeno mais notável dessa estabilização econômica foi o aumento acentuado do

crédito, algo até então inédito na história do real, ajuste esse baseado no desemprego

estrutural e na contenção do crédito. Esse aumento do crédito decorreu, segundo parece,

do aumento de confiança, fazendo com que consumidores passassem a consumir mais e os

empresários, pelas tendências do aumento de consumo e da estabilidade da política

econômica, voltassem a investir mais. O gráfico da expansão do crédito, que começa em

1994, logo na criação do real, e vai até o final de 2011 – permite visualizar os efeitos dessa

peculiar maneira de conduzir a economia.

Gráfico 1: expansão do crédito no até o final de 2011

Em 2004 a expansão adquire um crescimento exponencial – isto é: a quantidade de dinheiro

que os bancos (privados e públicos) estão jogando na economia cresceu no período –

facilitando o bom desempenho econômico.

No nosso atual sistema monetário e bancário, o processo de expansão do crédito gera um

aumento da quantidade de dinheiro na economia, visto que, todo processo de expansão de

crédito nada mais é do que um mecanismo que aumenta a quantidade de dinheiro na

economia – por efeito da alavancagem bancária – que chega a emprestar até doze vezes

mais que as reservas de que dispõe.

Esse processo de expansão do crédito afeta os principais números da economia, como PIB,

emprego, renda e inflação de preços. Um aumento da quantidade de dinheiro na

economia, gerado pela criação de crédito bancário, faz com que, no primeiro

momento, enquanto os preços ainda não foram afetados, aumente o consumo, aumente a

demanda por mão-de-obra em todos os setores da economia, aumente o emprego (na

indústria, na construção civil, nos setores de serviço, varejista e comércio em geral),

aumentem os salários, aumente a renda nominal, e aumentem os investimentos.

Mas todo esse processo contínuo só dura enquanto os preços — tanto dos bens e serviços

quanto dos salários —se mantiverem relativamente sob controle. Caso eles subam

fortemente, e as injeções de crédito continuem, haverá um aumento ainda maior dos

preços e dos salários, podendo causar grande descontrole inflacionário.

O Banco Central — que trabalha com metas de inflação — atua para conter a escalada dos

preços mediante aumento dos juros para desacelerar a expansão do crédito e, tão

importante quanto, para alterar as expectativas inflacionárias das pessoas, fazendo com

que os formadores de preço — prestadores de serviço, indústrias e comércio — incorporem

essa expectativa de que a inflação será controlada e, consequentemente, parem de

reajustar seus preços baseando-se nessas expectativas.

O mecanismo perverso dos períodos inflacionários repousa, de novo, nas expectativas dos

atores econômicos – se acreditam que a inflação crescerá, numa profecia autorrealizável,

tendem a consumir mais (sob o ponto de vista do consumidor – comprar logo antes que

aumente) e, a elevar seus preços para fazer frente à inflação futura (na perspectiva dos

produtores) – e, assim, aumentando a inflação ( a chamada espiral inflacionária).

No período 2004-2011 o crédito disparou, a taxa básica de juros (SELIC) controlada pelo

Banco Central desabou (de 26,50% para 8,75%), e os preços se mantiveram relativamente

sob controle, com o IPCA acumulado em 12 meses chegando a bater em 2,97% no início de

2007, mesmo com a exponencial expansão do crédito mostrada no gráfico acima.

O gráfico abaixo mostra a flutuação do IPCA durante esse período e caso se traçasse um

outro da variação dos juros no período se poderia visualizar os efeitos da política de juros

sobre os preços.

Gráfico 2: evolução do IPCA acumulado em 12 meses, de 2003 a 2010

Foi a primeira vez na história do real que isso aconteceu — crédito se expandindo

exponencialmente e preços se desacelerando também fortemente. De fato, foi a primeira

vez desde 1914 que isso aconteceu. Como se explica a expansão exponencial do crédito,

salários crescentes e produtividade baixa e, de outro, inflação de preços decrescentes?

Lembremos que em março de 2003 o governo americano iniciou a invasão do Iraque para

derrubar Saddam Hussein e guerras são péssimas para a moeda dos países

envolvidos. Guerras geram enormes custos militares e extra orçamentários, cobertos

majoritariamente via endividamento do governo e inflação monetária.

Até 2002, o dólar vinha de duas décadas de inabalável robustez. Nesse ano, porém, ele

começa a perder força, muito provavelmente por causa do início do confronto no

Afeganistão, bem assim por efeito da participação crescente do euro, lançado em 1999 e

circulando a partir de 2002 (sob controle do Eurossistema), como moeda de comércio

internacional.

O gráfico abaixo — que mostra a evolução do dólar em relação a uma cesta formada pelas

principais moedas mundiais — dá indicações do que aconteceu.

Gráfico 3: evolução do valor do dólar perante uma cesta contendo as principais moedas

do mundo

Repare que é justamente no período 2003-2011 que o dólar segue em contínuo declínio,

chegando à sua mínima em meados de 2011, recuperando-se a partir de 2012, e fortemente

a partir de meados de 2014.

A evolução do preço do ouro em relação ao dólar conta a mesma história. Foi em 2003

que a coisa começou a degringolar. O gráfico a seguir mostra a evolução do preço de

uma onça (31,1 gramas) de ouro em dólares:

Gráfico 4: preço, em dólares, de uma onça (*28,95 go ou 31,1 g (oz troy)) de ouro

Nesse mesmo período, 2003 a 2011, o dólar se desvalorizou acentuadamente em relação

a todas as moedas do mundo..

E veja aqui a desvalorização do dólar em relação ao real.

Gráfico 5: evolução da taxa de câmbio real/dólar

Agora compare a evolução do câmbio acima com a evolução do IPCA abaixo, no mesmo

período.

Gráfico 6: IPCA acumulado em 12 meses, de 2000 a 2015

Nota-se que, de 2003 até 2010, a contínua valorização do real em relação ao dólar — ou,

dito de outra forma, a contínua desvalorização do dólar perante o real — ajudou, e muito,

a conter a pressão nos preços exercida pela expansão do crédito, pelo aumento da renda

e pela baixa produtividade.

Ou seja, de um lado, o crédito se expandia e isso fazia com que a renda, o emprego e o

consumo crescessem; de outro, como o preço do dólar caía continuamente, isso fazia com

que todos os produtos importados, bem como todos os produtos nacionais cuja produção

utilizasse insumos com componentes importados, não subissem de preço.

E esse impacto do dólar é muito maior do que se imagina. Os preços dos remédios (85% da

química fina é importada), do pão (o trigo é uma commodity precificada em dólar e é

majoritariamente importada), das passagens aéreas (querosene é derivado de petróleo, e

petróleo é cotado em dólar), das passagens de ônibus (diesel também é derivado de

petróleo), de todos os importados básicos (de eletroeletrônicos e utensílios domésticos a

roupas e mobiliários) e até mesmos os preços dos aluguéis e das tarifas de energia elétrica

(ambos são reajustados pelo IGP-M, índice esse que mensura commodities e matérias-

primas, ambas sensíveis ao dólar) são afetados pelo dólar.

Também os preços dos alimentos, especialmente as carnes bovina e suína, sofrem impacto

direto do dólar. O farelo de soja, por exemplo, é utilizado como ração para bovinos e

suínos, e a soja é uma commodity cotada em dólar. Se o dólar fica mais barato, os custos

dos pecuaristas para alimentar seus animais ficam mais contidos, o que diminuiu a pressão

por repasses de preços.

Ou seja, se o dólar fica continuamente mais barato, não há pressão de alta sobre todos

esses itens supracitados. Consequentemente, a expansão do crédito pode durar mais

tempo sem gerar carestia generalizada. A renda real das pessoas cresce em decorrência

do fato de a expansão do crédito estar gerando um aumento da renda nominal sem um

proporcional aumento dos preços.

Nesse cenário, apenas o setor de serviços — que não sofre concorrência externa e que

sofrerá um forte aumento de demanda justamente por causa da elevação da renda real

das pessoas — tem mais liberdade para aumentar preços.

O fato inconteste, no entanto, é que, quaisquer que tenham sido suas causas, a

desvalorização do dólar está por trás de todo o boom econômico vivenciado não só pelo

Brasil, mas por toda a América Latina na década de 2000. Em períodos normais — isto é,

quando o dólar está forte e estável —, expansões do crédito nos países periféricos tendem

a rapidamente gerar carestia, pois tais expansões, além de aumentarem a quantidade de

dinheiro na economia, também geram desvalorizações na taxa de câmbio, o que

rapidamente obriga os bancos centrais a subirem os juros e abortarem essa expansão do

crédito.

O custo de manutenção do american way of life – compartilhado pelo mundo inteiro por

força das estratégias financeiras do eixo New York – City of London pode ser evidenciado

pedla simples constatação de que se uma expansão do crédito interno for acompanhada de

uma desvalorização do dólar —, a carestia fica bem mais contida, permitindo assim que a

expansão do crédito dure mais tempo e eleve continuamente a renda, o emprego e o

consumo, e sem gerar grandes pressões nos preços.

Esse, aliás, é o melhor dos cenários: renda, emprego e consumo aumentam continuamente,

mas os preços ficam contidos, o que permite que tal ciclo dure muito mais tempo do que

duraria em "épocas normais".

A outro corolário: com uma contínua expansão do crédito, as receitas do governo também

aumentam. Como há mais dinheiro sendo criado, e os preços estão bem comportados por

causa do dólar, as pessoas consomem mais, os empresários investem mais e empregam

mais, e a renda de todos aumenta. Consequentemente, o governo arrecada mais impostos

(tanto sobre a renda quanto os indiretos) e pode se dar ao luxo de aumentar seus gastos,

inclusive o salário do funcionalismo público.

Há muita confusão a respeito do boom das commodities ocorrido na década passada. Sim,

a China influenciou bastante, mas o papel do dólar foi decisivo. O boom das commodities

está intimamente ligado ao dólar fraco. Todas as commodities (de minério de ferro a

petróleo) são precificadas em dólar. Sendo assim, sempre que o dólar está em baixa, os

preços das commodities estão em alta, e vice-versa.

O boom das commodities (principalmente minério e petróleo) na década de 2000 foi

"auxiliado" pelo enfraquecimento do dólar. E o atual "arrefecimento" das commodities

também está ligado ao fortalecimento do dólar. E como as receitas e as dívidas das

mineradoras são cotadas em dólar, elas sofrem diretamente esse ciclo econômico gerado

pela flutuação do valor do dólar: o enfraquecimento do dólar gera um aumento nos preços

do minério, e isso leva as mineradoras a expandirem seus investimentos. Tão logo o dólar

se fortalece, as commodities caem de preço e todos esses investimentos expansivos se

revelam errôneos. E então cortes de custos — demissões — são feitos.

Os efeitos desse aumento do dólar foram intensificados pelas políticas implantadas pela

"Nova Matriz Econômica", a qual surgiu ainda no final de 2008, mas que foi acentuada no

governo Dilma Rousseff e que consistiu em: expansão fiscal (estímulos), crédito abundante

a juros subsidiados, e taxa de câmbio controlada. Substituiu-se a responsabilidade fiscal

pela expansão fiscal. No lugar do sistema de metas de inflação, optou-se por uma tremenda

expansão de crédito público, a juros subsidiados, o que forçou a adoção de medidas

heterodoxas - controles diretos de preços (combustíveis e energia, por exemplo) e

desonerações tributárias - no combate à inflação. Por fim, a taxa de câmbio flutuante foi

substituída por um sem número de intervenções no mercado cambial, tentando gerar aquilo

que o governo chamou de taxa de câmbio competitiva (?!).

Sem a Nova Matriz Econômica, a grande expansão do crédito teria gerado "apenas"

endividamento das pessoas (por causa do crédito farto e barato) e investimentos errados

(os quais se revelariam superdimensionados tão logo a carestia se manifestasse, a renda

real estagnasse e ficasse comprovado que não havia demanda para tais investimentos).

Com a Nova Matriz Econômica, porém, os desarranjos foram amplificados. Além

do endividamento recorde e dos investimentos errôneos das indústrias, tivemos também

disparada nos preços dos combustíveis e da energia elétrica, grande queda na renda real das

pessoas, desarranjo nas contas do governo, perda do grau de investimento, e uma disparada

ainda mais intensa do dólar, o que está causando uma carestia generalizada.

Some-se a isto, os efeitos indiretos da chamada operação lava jato, o impeachment em

andamento, a elevação do preço do dólar – a redução da credibilidade da gestão econômica

e chega-se ao cenário contemporâneo.

E agora?

De um posto de vista ortodoxo: em um cenário de dólar em disparada e de descontrole

fiscal, não há como conter uma carestia sem ser por meio de recessão, desemprego e queda

na renda. Apenas essa conjunção de fatores pode impedir um grande repasse cambial aos

preços. As empresas e os empreendedores ficam asfixiados. Eles pagam cada vez mais caro

pelas importações, mas não podem repassar esses custos para os

preços. Consequentemente, eles vão se tornando cada vez mais descapitalizados, o que

afeta sua capacidade de investimento e de contratação de mão-de-obra.

Imagine a condição de quem está endividado e desempregado. Não por acaso o gráfico

abaixo indica a atual conjuntura

Ou seja, os investimentos embicaram para baixo e estão caindo de forma acelerada.

E isso se confirma no ambiente geral do empreendedorismo: o número de empresas sendo

abertas está diminuindo drasticamente – 13% a menos no primeiro semestre de 2014 em

relação a 2013. Mas a evolução parece melhor – principalmente por efeito das EIRELIs e

MEIs. Esses indicadores da Serasa Experian de nascimento de novas empresas parecem

indicar que os dois últimos anos reverteram a expectativa de agravamento do quadro

econômico por efeito de medidas de contenção fiscal e orçamentárias e de

financiamento dirigido da produção.

Contudo, a política de aumento das alíquotas de importação de praticamente todos os

produtos estrangeiros: automóveis, pneus, produtos têxteis, calçados, brinquedos,

lâmpadas, sapatos chineses, tijolos, vidros, vários tipos de máquinas e até mesmo

de produtos lácteos e a exigência de insumição fabricada no Brasil teve efeito reverso e os

quadros acima e abaixo ilustram essa circunstância para 2014.

Não apenas isso – no período de 2014, em que se pagou o preço tanto das escolhas

equivocadas, quanto do próprio Plano Real, decresceu o emprego de forma acentuada

conforme o quadro abaixo:

No entanto, a taxa oficial de desemprego seguiu baixa, em 5%, posto que o

desemprego sempre será baixo em uma economia fechada e protegida. Se a concorrência

externa é pequena ou nula, e se não se pode importar quase nada, a produção passa a ser

toda feita nacionalmente. Passa-se a viver em uma situação de autarquia. E isso gera

vários postos de trabalho artificiais.

Mesmo assim, nada menos que 20% da população em idade de trabalho não estuda, não

trabalha e nem procura emprego.

Veja o gráfico para efeito de 2012:

Observe a coluna em azul claro, especialmente os dois últimos gráficos da direita. Entre

a população que tem de 18 a 24 anos, 23% não quer saber nem de estudar nem de

trabalhar. E entre a população que tem de 25 a 29 anos, 21% não quer saber nem de estudar

e nem de trabalhar.

Além desses, há outra categoria de desempregados e que chegam a dezenas de milhar –

em particular nos grandes centros urbanos: os concurseiros

Nenhum desses compõe a estatística de desemprego.

O aumento da população inativa tem contribuído para manter a taxa de desemprego

em mínimas históricas

E o que leva as pessoas a deixarem de ser economicamente ativas? Há várias hipóteses. Há

aquelas que estão no Bolsa-Família, há aquelas que desistiram da vida porque não sabem

fazer nada, há aquelas que aprenderam a dar golpe no seguro-desemprego e há aquelas

que simplesmente são indolentes e arrumaram alguém que lhes sustente (alguns jovens de

classe média alta, inclusive).

Isso é um fenômeno lastimável porque o baixo crescimento da mão-de-obra só pode ser

compensado se houver um aumento na produtividade. Se houver um grande aumento na

produtividade, então esse fenômeno não é necessariamente ruim.

Sendo assim, esse baixo crescimento da mão-de-obra tende a reduzir o aumento da oferta

de bens e serviços – elevando artificialmente seu preço. Economia em recessão,

investimentos em queda, indústria em queda, inadimplência em alta, serviços estagnados,

produtividade em baixa, criação de empregos estagnada. Isso indica o fechamento do ciclo

econômico gestado pelo início do plano real e que corresponde a um ciclo econômico.

O primeiro fenômeno a ser considerado ao analisar o ciclo de uma economia é o nível de

confiança de empreendedores e de consumidores no presente e no futuro da economia. Se

o governo sinaliza claramente qual é e qual será a política econômica adotada, se o governo

é previsível, se o governo adota regras claras, se o governo mantém a inflação de preços

sob controle e no centro da meta, e se o governo é comprometido com um orçamento

equilibrado, então ele consegue gerar o mínimo de confiança necessário para manter a

economia nos trilhos.

Assim, por exemplo vários governos europeus que não forneceram uma indicação clara do

que fariam (Grã-Bretanha é um caso claro) tiveram problemas econômicos relevantes.

Outros, como Suíça e Alemanha indicaram – expressamente - o que fariam e suas economias

deslancharam. Outros exemplos de êxito: Austrália, Canadá, Hong Kong, Nova Zelândia.

Todos estes governos, conseguiram fornecer previsibilidade para empreendedores e

consumidores. E esses países são justamente os que têm as economias mais robustas hoje

no mundo.

O outro fenômeno a considerar é a expansão do crédito.

Expansão do crédito, como o próprio nome diz, são os empréstimos concedidos pelos

bancos. No nosso atual sistema monetário e bancário, quando uma pessoa ou uma empresa

vai a um banco e consegue um empréstimo, o banco cria dinheiro, por assim dizer, do

nada. Gera moeda nova a partir de seus ativos e os dez principais bancos brasileiros,

elencados pelo valor de seus ativos, são: Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, BNDES, Caixa

Econômica Federal, Santander, HSBC, Votorantim, Safra e BTG Pactual – são responsáveis

por quase todo mercado de concessão de crédito (juntos, BB, Itaú, Bradesco, CEF e

Santander detêm 74% dos ativos de todo o sistema bancário).

Logo, se, por exemplo, o Itaú emprestar dinheiro para alguém, o dinheiro deste

empréstimo muito provavelmente acabará sendo depositado ou em uma agência do BB, ou

em uma do Bradesco, ou em uma da CEF, ou em uma do próprio Itaú. Com uma menor

probabilidade, este dinheiro pode ir para o Santander. E com muito menos probabilidade,

ele pode ir para qualquer outro banco.

Isto é: o sistema bancário brasileiro é extremamente concentrado. Fazendo uma

simplificação relativamente realista, não é exagero dizer que temos apenas 5 bancos: BB,

Itaú, Bradesco, CEF e Santander. Com boa vontade, podemos incluir o HSBC, cujos ativos

são quase nove vezes menores que os do BB. Isto significa que, sempre que BB, Itaú,

Bradesco ou CEF fizerem um empréstimo, a chance de uma fatia deste dinheiro voltar para

eles próprios é bem alta. Mais especificamente, sempre que o BB, por exemplo, faz um

empréstimo vultoso, pode-se dizer que 20% (um quinto) deste dinheiro volta para ele.

Todo o processo de expansão de crédito nada mais é do que um mecanismo que aumenta

a quantidade de dinheiro na economia. E é esse processo de aumento da quantidade de

dinheiro na economia o que de fato governa os principais números da economia, como PIB,

emprego, renda e inflação de preços. Dado que o dinheiro é a variável que está presente

em todas as transações econômicas em uma economia de mercado, qualquer alteração

nessa variável irá afetar toda a economia.

Um aumento da quantidade de dinheiro na economia, gerado pela criação de crédito

bancário, faz com que, no primeiro momento, haja uma grande sensação de

prosperidade. Aumenta o consumo, aumenta a demanda por mão-de-obra em todos os

setores da economia, aumenta o emprego (na indústria, na construção civil, nos setores de

serviço, varejista e comércio em geral), aumentam os salários, aumenta a renda nominal,

aumentam os investimentos.

No primeiro momento, há uma grande sensação de prosperidade. A renda nominal

aumenta, os investimentos aumentam, o consumo aumenta e o desemprego cai.

E isso, de início, estimula os números do PIB, do emprego e da renda. Enfim, a expansão

do crédito gera distorções, mas gera uma prosperidade artificial que faz a alegria de

muitos. Só que, mais tarde, as duas principais consequências de toda essa expansão do

crédito serão o endividamento e a inflação de preços.

Se assim é, o que fazer? No quadro de um enfrentamento ortodoxo da crise – as medidas

mais comuns são as seguintes:

Impostos progressivos para elevar a propensão a consumir

Investimento público e controle público do investimento privado para compensar e reduzir

a envergadura das flutuações da eficácia marginal do investimento privado

Autoridade monetária forte para regular a oferta de dinheiro e reduzir a taxa de juros

progressivamente

Itens que compõem – de partida – as propostas da equipe econômica do atual Governo para

facear a crise. Mas os efeitos a produzir farão parte da história.