biblos-4()1992-platao e o trabalho

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C DU 14 1 . 1 31 :33 1 PL T O E O TR B LHO JUS SEMAR WEI SS GONÇALVES** R  SU O N est a comunic açã o , pa rte de no ss a pesquis a sob re o trab a lh o n a A ntigüidade, o bse r v am os q ue Pl atã o , ape s ar de va l ori z ar as t ratamente o t rabalho , co m m od el o teó ri co, p ara pe n sar a p r á ti c a polí tic , não faz o me smo com o ar te o e se u mu ndo c o nc reto . E m P la tã o , o universo da l is é a presentado pelo menos e duas mane i ras d istintas: u m a e laborada p e lo s se u s interlocutores e outra próp r ia de P l atão . Apenas e sta s egunda visão s e rá aqui a bordada, a t ravés do estudo do univer s o s emântico do t rabalho c r i a d o p o r Platão em suas obras. Valorizando as técnicas , t ransformando o c riado r d o m un d o em artesão, Plat ã o n o s apresen t a uma visão particular d o mundo d o traba lh o , na q ua l existe um cont r a s te brutal e nt re o estatuto soc i a l dos a r tesãos e o estatuto meta f ór ic o d o a rt es an at o. É como se P l atão descarnasse , vampiri z a s s e o a rtesão de s eu saber , para ut l z á  to n ae l aboração de sua fi l osofia . Co n ceitos que e nvolvem o mu n d o dos artesãos assumem no v as conotações no universo semânt i co d e Platã o, Co me ç a r e mo s por techné, que rem o n t a a u m ve r bo muito ant i go, teuch à , c u j o sen t ido , e m Homero , é: fabricar , prod u z i r, construir. Pode também sign i f i car i nstrume n to p o r excelência. Podemos também ob s e rv ar a passagem desse sentido ao d e c au sa , e m ver b o s como f a zer , ser, tra z er à existê n cia , muitas vezes des l igados da i d é i a d e f ab r icaç ão materia l, mas n u nca da de ato apropr i ado e ef caz. O derivado tuk tos  q ue s ig n if i ca bem constr u ído, bem Iabricado. acaba por significar acabado, t erm i nado , c om pleto. Tektôn - no iníc i o , c arp in te i ro , como apa r ece em Homero , E squilo e S ó f o c le s , assume depois o si g nif ic a d o de t r aba lh a d or , artesão em geral , ou m estre em u ma ocupação dad a , e s pecífi c a, para fi na lmente assum i r o significado de b om c onstr u to r , p rodutor ou autor . Te c hn é, p ro d u ção o u fabricação , torna-se , l ogo , ap ro d ã o ou o fazer efi c az e adequ a do, em geral , a maneira de fazer c o r relati v a a u m a tal produçã o , e també m r efe r e-se à fa c uldade q u e perm i te a h abilidade p ro dutiva relativa a uma ocupação. A partir de Heró oto, Píndaro eo s tr ág i cos, t orna - se h ab il id a de em geral ( C as to ri a d is , 1987:237 ) .  * Tr abalho apr e s e ntado na V Re u nião An u al da So c i eda de B ra si le i ra de Estudos C lás si c os , realizad a e m Garib aldi no p eríodo d e 2 3a 27 d e j l ho de 19 9 0. P ra t. d o Dep . d e Biblioteco n omia e Hist ó ria . * BIBLOS, R i o Grande , 4 : 9 -14 , 19 9 2. 9

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7/21/2019 BIBLOS-4()1992-Platao e o Trabalho

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C DU 14 1 .1 31 :33 1

PL TÃ O E O TR B LHO

JUSSEMAR WEISS GONÇALVES**

R SU O

N est a comunic açã o , pa rte de no ss a pesquis a sob re o traba lh o na

A ntigüidade, obse rvam os q ue Pl atã o , ape sar de va lori zar abs tratamente o

trabalho , co m o m od el o teó ri co, p ara pe n sar a p rá ti ca polí tic a , não faz o

mesmo com o ar te sã o e se u mu ndo co nc reto .

Em P la tã o , o universo da pó lis é apresentado pelo menos de duas mane irasdistintas: uma elaborada p elos seus interlocutores e outra próp ria de P latão . Apenasesta segunda visão s erá aqui abordada, a través do estudo do univer so semânti co dotrabalho criado por Platão em suas obras. Valorizando as técnicas , transformando ocriado r do mundo em art esão, Plat ão nos apresen ta uma visão particular do mu ndodo traba lho, na qual existe um cont raste brutal e ntre o estatuto soc ial dos a rtesãose o estatu to meta f ór ic o d o a rt es an at o. É como se P latão descarnasse , vampiri zasse oartesão de seu saber , para ut l z á to na elaboração de sua fi losofia . Conceitos queenvolvem o mu ndo dos artesãos assumem no vas conotações no universo semânt icode Platão,

Co me çaremo s por techné, que rem onta a u m verbo muito ant igo, teuchà,cujo sen tido , em Homero , é: fabricar , prod uzir, construir. Pode também sign ificarinstrume nto por excelência. Podemos também ob servar a passagem desse sentido aode c au sa , em verbos como f azer , s er, t ra zer à existê ncia , mu itas vezes des ligados daidéia de fabricaç ão materia l, mas n unca da de ato apropr iado e eficaz. O derivadotuk tos que s ignifica bem constr uído, bem Iabricado. acaba por significar acabado,term inado , com pleto. Tektôn - no iníc io , c arp in te iro, como apa rece em Homero ,Esquilo e S ófocles, assume depois o si gnif icado de traba lhador, a rt esã o e m g era l , oumestre em uma ocup ação dad a, específi ca, para fi nalmente assum ir o significado debom constr utor, produtor ou autor . Techné, produção o u fabricação , torna-se ,logo , a produção ou o fazer efi caz e adequ ado, em geral , a maneira de fazercorrelati va a uma tal produçã o, e també m refe re-se à faculdade q ue perm ite ahabilidade produtiva relativa a uma ocupação. A partir de Heródoto, Píndaro e o strág icos, torna - se h ab il id ade em geral ( Castoriadis, 1987:237 ).

* Tr abalho apr e sentado na V Re união An u al da So c i eda de B ra si le i ra d e E st ud os C lás si co s,

realizad a em Garibaldi no p eríodo d e 2 3 a 27 d e jul ho de 19 90.

P ra t. d o Dep . de Biblioteco nomia e Hist ória .*

B IB LOS , R io Grande , 4 : 9 -14 ,19 9 2. 9

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As palavras technê e demiurgo nos colocam de um a forma clara essainventiva platônica, e nos possí bil i tam analisar as relações entre esses conceitos e aprática que e les encerram . P iat â o , no decorrer de sua obra, institui o artesão ou odemiurgo como exemp lo de um saber ou de um paradigma da política . Toda vezque Platâo po de se referir a uma ati vidade corretamente definida no seu objeto, é àativ id ad e ar tes an a l que e le se refere, direta o u indiretamente (Vidal-Naquet ,1981: 293) . Para o f ilósofo gre go, ex iste uma apreensão esp ecífi ca do conceitotechné onde a referência é o desl igamento das technai de seu u ni ver so emp ír ico(Vernant , 1973 :234-9). As technai representam n íveis de conhec imento (Político,258 b-d, 259 a-b ), modelos teóricos que se opõem às técnicas produtivas. O que

Platão faz é afastar-se do ponto de v ista do artesão, do produtor, associando atechné (modelo) à ciência , dissoc iando aquela da experiência [Jolv, 1979:218). Otrabalho artesanal aparece como trabalho manual (xeirotechnas-apologia, 22 c)desvin culado de qualquer conhec imento que não o necessá rio para o exe rcício daprofiss ão, p ois o artesão t em no quad ro de seu métier o limite de sua sabedoria.Outra pa lavra usada par a des ignar o artes ão n o s ent ido estrito é o adjetivo banausos(e o substantivo banausia) no qual o valor pejorativo é muito vivo. Platão empregaessa palavr a em concor rência a demiurgia. E m u ma pa ssa gem da República L VI,495 doe ), ele se ref ere aos que procur am a f iloso fia, vindos do mundo do trab alho, como se nd o n at ura l mente impróprio s, porque s eus corpo s foram deforma dos pelasartes e os ofícios , da mesma mane ira que su as a lma s foram degradadas e mutiladaspelas pro fissões artesan ais (banausos). A demiurgia funda o corpo , mas é a almaque é insultada quando s e é um banausos. No livro VII da República (522 a ), Platãoexclui da classif icação das ciênci as as technai, clas sificada s como banausos. Essa

classifi ca çã o en qu ad ra primeiramente as technai referentes à metalur gia, mas, porextensão, no d ecorrer do sé culo V a.C. , devido à lai cização das technai, esten de-se atoda e qualq uer techné, Meta foricamente existe uma valorização das technai, massocialmente o desprez o a elas é cla ro, como co loca Platão nos diálog os: Górgias(5nc ), República L VII, 522 a-b), Alcebíades (131 b ), Banquete (203 a), Leis (I643 e - 644 a). T ambém é com um na obra d o filóso fo a existênc ia de oposiçõe sque autorizam , como em Górgias (450 dl. o a nt ag o nismo de logos a ergon,revelando uma cli vagem entre té cnicas, ou no Político (258), onde se cons trói umaoposição entre práxis e gnosis, permitind o es tabel ecer nesse texto as diferençasespecíficas que dividem o gênero ún ico e indiviso das c iências e das técnicas.

Um outro conceito u sado po r Platão em s ua obra é demiurgo, que as sumenão apenas o papel descrito p or Hom ero, que une a técnica e o mís tico masincorpora a ambigüid ade lingüística, muito c omum nos séculos V e IV a.C., queconsidera o demiurgo ora legislador, fabricante de cid adãos, ora artesão. Odemiurgo platônico é, certamente , um técnico: artesão , rapsodo, médi co, pintor,escultor . Todos esses personagen s têm em comum uma prática ligando -os aomundo. Mas esse demiurgo também é um criador (Vidal-Naque t, 1981 :267), umanimador que transmite uma dinamis (Timeu, 30 d , um construtor de almast imeu 34 b-c) . Platão chama sua di vindade suprema , aquela que toma a matériaem estado caótico e a molda à semelhança de um modelo ideal , de demiurgo. Sãoexpressõ es ligadas ao mundo do trabalho, como i nvenção , moldagem , demarca-ção , vazar em cadinh o , recortar e entrançar que conduzem a maior parte da

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narrativa no diálogo Timeu. Mas e ste Technites-Demiurgo não é um escravo dotrabalho. ~ um art ista, o u me lh o r, o que um art is t a teria que se r, na con cepção dearte de Plat ão . Não o invento r de um a nova forma, mas o impressor d e uma form apreexistente sobre uma matér ia sem . form a (V ,lastos , 1987: 27.). E~e é criado r,um ser que engendra o mundo ttikto atraves de modelos ideais , tendo corn oesquema as technai, seguindo um a hierarquia definid a pela comp lexidade de cadatechnê. Abst raída da empeiria, a demiurgia p la tô ni ca c arac teriza urn técnicapróp ria à episteme e à existência de um modelo exte rior e sup erior (Górgias, 503doe). Episteme, dinamis e techné formam um sistema de conceito s que se

refo rcam e interagem mutuamente (Cambiano , 1971:91) . Ne st e s ent ido , odemi~rgo platônico abandona as práticas concretas do artesão , que, para ele , sãomeios na cons trução do mundo. O demiurgo, pai e criador (Timeu, 28 e 34 b),utiliz a todas as technai co nh eci da s n o mo me nt o , mas o fa z mediant e a utilização d euma h ierarquia na qual a complexidade de cada techné e st á l ig ad a à co ns tru ç ão deuma parte do corpo ou da alma . Neste sentido, a alma é engendrada através d ametalurgia (Timeu, 35 a) , e a construção do corpo é feita po r u ma a ti v idade meno scom plexa, como as técnicas do ceramista. Como explicar essa preponderância da stécn icas artesanais já reconhecidas por Platão como banausia e xeirotechnia? Com oexplicar que a agricultura, reconhecida por muitos autores gregos como fonte decidadãos sadios, seja ap enas responsável pela circulação de sangue? O qu e l ev a a e ssainversão quando a agricultura é sinal de civilização, como em Homero, na llíada, oumesmo em P la tão, no imeu onde a pa lavra que determina o universo material éexatament e aquela que designa o campo, o território cultivado , a XORA, emopos ição a GEA, a terra in culta , não cultivada - po r extensã o, não civilizada . Seráporque a agricultura não é vista como profissão, como ligada a uma techné? Amoral hesiódica, ligada à agricultura, preconiza um gênero de vida onde cada umdeve conta r apena s consigo. Nessa mora l, o progresso industrial quase não existe ,não havendo e spaços a não ser para a agricultura , que forja moralmente os homenspelo trabal ho penoso. Sem o concurso de especialistas , Hesíodo ensi na aoscam ponese s os meios pelos quais eles podem se fazer autônomos . TambémXenofon te, no século IV a.C., coloca uma visão semelhante à de Hes íodo, na qual otrabalho agrícola não é vi st o co mo p ro fi ssã o . O trabalho agrí cola produz uma aretêsemelhan te à da g uerra . No Econômico (VAI . a agricultura é vista como arte talqua l a gukrra, l onge de ser entendida como uma techné , como um método efica z,sab er ri goroso preconizado por P lat ão . Podemos também explicar esta in versãoatravés da oposição proposta por Vidal-Naquet em seu livro Le chesseur noir: Hádois sistemas de v alores que se afrontam no interior da obra platônica : um s istema ,de alguma for ma oficial, público, que é a afirmação do cidadão , ligado à cultura d a

terra, e que prioriza o georgós , ligado à cidade real na qual a agricultura adqu ireum v alor simbó lico que a dignifica, que a faz modelo e out ro s is tema dissimulado ,mas que emerge no Timeu, nas Leis e que faz da função artesanàl a de P rometeu, ade He faístos, o cent ro da at ivi dade humana ( Vidal-Naquet , 1981 :308) . ~ clara,também, a pr edominâ ncia do mundo artesanal na mitolog ia: a pluralidade d edivindades ligadas às técnicas , Atenas , Hefaístos , Prometeu e de heróis qu ereceberam o título de primeiro inventor, como Dédalo , Palamedes e Epeios, re velasobre o plano rel ig ioso uma verdadeira sacra lização da função técnica (Fronti si -Di -

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croux , 1975 :24) . Isso demonst ra que não apenas Platã o, mas toda a Ant igü idad eClássi ca t inh a consciência do pap el des empenhado pelo de senvolvimento técn ico·noprogresso c ultural da hum anidade. No entant o, essa idéia não se assemel ha à nossa. O s gregos da época clássica sabi am mu ito bem q ue sua civilização h avia partido d eorig ens mod estas e ti nha progress ivame nte se e levado a um nível superior. Porémesse progress o técnico , ou mesm o econômic o, era condi ção e não fim de umacivilização. Fora graça s à habil idade técni ca que o h omem pudera cria r aciviliza ção (Vidal-N aquet. 1986 :25). Plat ão reconhe ce essa importância , e noGórgias (50 3 d, 506 d) most ra como os a rt esãos a jus tam a s parte s da ob ra que ele sel abo ra ram e m um todo ordenado , conforme um plano , um esquema , um eidosdeterminad o. Tai s esquema s encon tr am· se no corp o humano , no discurso , nounivers o inte iro, como ates t a Timeu. O gest o do a rt esão , pouco valorizad o,deg radado na prátic a, adquir e em Platã o um sentido cósmic o inovador . Otrabalhador é portado r de um saber próprio que merece se r conhecido profunda -mente e sobr e o qual Plat ão lança um olhar , um novo recorte , criando noções par aas quais a linguagem corr ente não tem class ificação. Nada escapa ao i nteresse d ofilóso fo: nem o ob jeto, nem o m ét odo, nem a est rutur a da ma is s imples t écni ca .P lat ão l anç a seu olha r atento sobr e as grandes articulações e sobre detal he sconcretos da s technai. Dest a forma d á aos f il ósofos um exemplo que não fo i muitoseguido, poi s mesmo Aristóteles n ão parece t er dado a mes ma atenção às art es e ao sofícios . Essa visão acura da em relação à s estruturas das technai levou Maxim eSchuh l a dizer, referindo -se aos est udos e análi se das technai l igadas à produção e àaquisição , que Platã o rivaliza -se com os melhore s especialista s da atualidad e(Schuh l, 1953 :470). Plat ão observa a mai s simples das techns i buscando ve r não otrabalho dos homen s - ban ais mas a lgum parentesco com o método lóg ico, com

o modelo idea l, com uma ordem cósmica acima da prática e da degradação d ocoti diano.Platão con strói uma compreensão própria tanto da techn é quanto d a

demiurgia; no entant o, isto não signi fica uma valorizaçã o do trabalho . Nas Leis, osartesãos não res idem propriament e no centr o urbano, fican do sob a tute la do seqronomes, que jul gam e decidem quantos e quai s são necessá rios e em que lugarresidir. Isso visa à util ização do m eno r número possível de ar tes ãos . fazendo-os maisúteis aos cul ti vadores . Na cidade, eles estão a cargo dos nomes e são c olocados, emrelação a di reitos , em ident idade c om os metecos (Leis , 848 e - 849 a ).

Na cidad e real, o q ue podem os notar é o cresc iment o das atividadesartesanai s. Em At enas, com o fim das gu erras méd icas, cresce u m uito o pape l socia ldos a rt esãos, tendo como efei to no tável a div isão social do t raba lho c omo regraunivers al da vida econômica. Notemos que a p róp ria elaboraçã o singular qu e Platãoconstrói das technai diz respeito ao desenvolv imento da s prá ticas artesana is. M as , sepor um lado cresce sua impo rtânc ia em At enas e no mundo greg o, por out ro l adosua vida não serv e de mode lo ou exemplo a ni nguém. T rabalhando lado a lado comescra vos em l ugares lúgubre s, como di z Xenofonte, à bei ra do fogo e com o cor potorcido nada os digni fica. Seres considerados banais , mas que coloca ram sua s mãosem to das as grandes obras da civi lizaçã o grega, eram pouco ma is que escravo s, pois acondi ção de hom em livre é que este nã o viva na su jeição de ninguém. Presos a omundo do necessár io, l igados à vontade do usuá rio , o s a rt esãos fo ram, na Grécia

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dos séculos V e IV a .C., o elem ento fundamental n a cons trução da cidadedemocrát ica e de sua civili zação . Mas a ideologia dominante negou a suaimportância e seu lugar efetivo neste mun do. São eles os desqualificados, s apateiros,carpinteiros, conforme Platão, que parti cipavam da s decisões das assembl éias. Maspa rt ic ipavam não pela sua condição de a rt esãos , de tr abalhado res, mas s im, como

diz Protágoras, por serem portadores da mchné Politike.Os herde iros de Déda lo , que segundo Pausania s foi célebre no mundo

i ntei ro pelo seu talento e ao mesmo t empo p elas suas andanças e infortún ios (VII ,IV 5), herdaram a marca de serem afli tos e divididos. Na cid ade, eram cid adãos deum lado, artesãos de outro, sem que essa s realidades se contatassem , produzindouma lógica da ambigüidade . Para saí rem das sombras , os a rt esãos t ive ram qu e se

fazer heróis da intel igência (Frontisi -Ducroux, 1975: 193) . Essa visão metafó ricaplatônica não seria de alguma forma um tributo ao a rtesão? Não seria o t riunfo daimaginação filosófica sobre o arraigado p reconcei to existente na cidade? (Vlastos,

1987:27).

BIBLIOGR FI

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