bartonella, ehrlichia e rickettsias do grupo da febre maculosa em

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA CLÍNICA E REPRODUÇÃO ANIMAL NAMIR SANTOS MOREIRA BARTONELLA, EHRLICHIA E RICKETTIAS DO GRUPO DA FEBRE MACULOSA EM CÃES E EM ARTRÓPODES:UM ESTUDO NA REGIÃO DO MÉDIO PARAÍBA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Niterói RJ 2011

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  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    FACULDADE DE VETERINRIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM MEDICINA VETERINRIA

    CLNICA E REPRODUO ANIMAL

    NAMIR SANTOS MOREIRA

    BARTONELLA, EHRLICHIA E RICKETTIAS DO GRUPO DA FEBRE

    MACULOSA EM CES E EM ARTRPODES:UM ESTUDO NA REGIO DO

    MDIO PARABA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

    Niteri RJ

    2011

  • 2

    NAMIR SANTOS MOREIRA

    BARTONELLA, EHRLICHIA E RICKETTIAS DO GRUPO DA FEBRE

    MACULOSA EM CES E EM ARTRPODES:UM ESTUDO NA REGIO DO

    MDIO PARABA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

    Tese apresentada ao Programa De Ps-

    Graduao em Medicina Veterinria

    (Clnica e Reproduo Animal)

    Universidade Federal Fluminense,

    como requisito parcial para a obteno

    do Grau de Doutor. rea de

    Concentrao: Clnica Veterinria.

    Orientadora: Prof. Dra. Ndia Regina Pereira Almosny.

    Co-orientadora: Prof. Dra. Elba Regina Sampaio de Lemos.

    Niteri RJ

    2011

  • 3

    NAMIR SANTOS MOREIRA

    BARTONELLA, EHRLICHIA E RICKETTIAS DO GRUPO DA FEBRE

    AMCULOSA EM CES E EM ARTRPODES:UM ESTUDO NA REGIO DO

    MDIO PARABA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

    Tese apresentada ao Programa De Ps-

    Graduao em Medicina Veterinria

    (Clnica e Reproduo Animal)

    Universidade Federal Fluminense,

    como requisito parcial para a obteno

    do Grau de Doutor. rea de

    Concentrao: Clnica Veterinria.

    Aprovada em de 2011.

    BANCA EXAMINADORA

    ...........................................................................................

    Prof Dr Ndia Regina Pereira Almosny - Orientadora

    Universidade Federal Fluminense

    . .............................................................................................

    Prof. Dr. Elba Regina Sampaio de |Lemos - co orientadora

    Fundao Oswaldo Cruz

    . ...........................................................................................

    Prof. Dr. Aloysio Melo de Figueiredo Cerqueira

    Universidade Federal Fluminense

    . ...........................................................................................

    Prof. Dr. Carlos Luiz Massard

    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

    ...............................................................................................

    Prof. Dr Adivaldo Henrique da Fonseca

    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

    ............................................................................................

    Prof. Dr Cludia Soares Santos Lessa

    UNIRIO

  • 4

    A Deus, que me deu fora para seguir em frente

    A meu marido William, sempre presente, apoiando e incentivando meu crescimento.

    Ao meu filho Bernardo, razo da minha vida.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    A minha me Vnia, que me socorre cuidando do Bernardo na minha ausncia, pelo

    seu amor e oraes.

    Ao meu pai, que no imaginava que eu chegaria at aqui.

    Dr Nadia Regina Pereira Almosny por mais uma vez me orientar e acreditar que eu

    seria capaz. Muito mais que uma orientadora, exemplo de pessoa e profissional a ser

    seguido.

    Dr Elba Regina Sampaio de Lemos, pelo carinho, orientao.

    A equipe do LHR, Alexsandra Favacho, Tatiana Rozental, Danielle de Almeida,

    Raphael Gomes, Alessandro Guterres, Renata de Oliveira, Cristiane Silva, Anglica

    Mares Guia, Endi, Jairo Dias Barreira, Grasiely, Adona Pessoa, sem vocs teria sido

    impossvel esse trabalho, meu muito obrigada de corao.

    Ao Dr Jairo Dias Barreira pela taxonomia dos ectoparasitos

    A amiga Aline Moreiras de Souza, pela amizade, apoio incondicional e ajuda na coleta

    das amostra.

    A professora Marcia de Souza Xavier, pela amizade, companheirismo e ajuda na coleta

    das amostras

    Ao amigo e mdico veterinrio Anderson Monteiro, pelo apoio, amizade, os cafs as

    quartas feiras e pela substituio nas interminveis aulas do primeiro perodo.

    Ao professor, Walker Nunes, coordenador na faculdade de Veterinria, UNIPLI, pelo

    apoio e incentivo.

    Ao aluno e amigo Jorlan, pela ajuda no desenvolvimnto do experimento. gratificante

    ver onde voc chegou.

    Aos Mdicos Veterinrios: Rafael de Azevedo, Letcia Maia, Camilla, Francisco Lima

    Jnior, Ananda Muller, Pedro Velho, Andrea , pela ajuda na coleta das amostras.

    Aos Mdicos Veterinrios e amigos de turma, Miguel, Tatiana Didonet, Flvia

    Liparisi, aprendi muito com vocs.

    Aos professores do Curso de ps graduao da UFF pela contribuio

    A todos que direta ou indiretamente contriburam para a realizao desse trabalho

  • 6

    SUMRIO

    Lista de Tabelas p.08

    Lista de Quadros p.09

    Lista de Figuras p.10

    Lista de abreviaturas, siglas e smbolos p.11

    Resumo p. 12

    Abstract p. 13

    I- Introduo p. 14

    II- Fundamentao Terica p.19

    2.1- Gnero Bartonella p.19

    2.1.1- Caractersticas e Taxonomia p.19

    2.1.3- Hospedeiros Vertebrados p.22

    2.1.4-Vetores p. 25

    2.1.5.- Patogenia e manifestaes clnicas p.29

    2.1.6. Diagnstico p. 30

    2.1.7- Preveno p. 31

    2.2 Gnero Rickettsia p. 32

    2.2.1- Caractersticas e Taxonomia p. 32

    2.2.2- Febre Maculosa p.34

    2.2.3- Transmisso p. 34

    2.2.4- Hospedeiros vertebrados p.35

    2.2.5- Vetores p.38

    2.2.6- Patogenia e manifestaes clnicas p.42

    2.2.7. Diagnstico p. 46

    2.2.8- Preveno p. 47

    III- Material e Mtodos p. 49

    3.1- rea de estudo p.50

    3.2- Desenho do estudo p.50

    3.3- Aspectos ticos p.51

    3.4 - Amostras p.52

    3.4.1- Sangue de ces p.52

    3.4.2- Ectoparasitos p.53

    3.5- Coleta e acondicionamento das amostras p.53

    3.5.1- Sangue de ces p. 53

    3.5.2- Ectoparasitos p. 54

    3.6- Anlise Laboratorial p. 54

    3.6.1- Anlise sorolgica Imunofluorescncia indireta p. 54

    3.6.2. Anlise Molecular p. 56

    3.6.2.1.Extrao de material genmico das amostras de sangue dos ces p. 56

    3.6.2.2- Extrao de material genmico das amostras de ectoparasitos p. 57

    3.6.2.2.1. Procedimento de lavagem p. 57

    3.6.2.2.2. Extrao de DNA p. 58

    3.6.2.3- Reao em Cadeia da Polimerase (PCR) p.59

    3.6.2.3.1- PCR Bartonella (DNA ces e DNA de ectoparasitos) p. 60

    a). DNA amostras de sangue dos ces p.60

    b) DNA amostra dos ectoparasitos p.60

  • 7

    3.6.2. 3.2.- Rickettsia (DNA ces e DNA ectoparasitos) p.61

    a) DNA das amostrasde sangue dos ces p. 61

    b) DNA das amostras de ectoparasitos p. 62

    3.6.2.3.3. Eletroforese p. 62

    3.6.2.3.4. Sequenciamento p. 63

    IV- Resultados e Discusso p.65

    4.1- Anlise das amostras de sangue dos ces p. 65

    4.1.1- Anlise sorolgica das amostras de sangue dos ces p. 65

    4.1.2- Anlise molecular( PCR) das amostras de sangue dos ces p.69

    4.2- Anlise dos ectoparasitos p.70

    4.2.1. Identificao Taxonmica p.70

    4.2.1- Anlise molecular (PCR) dos ectoparasitos p.72

    4.3. Sequenciamento das amostras de sangue e de ectoparasitos PCR positivo p.77

    4.4 Anlise conjunta dos resultados obtidos nas amsotras biolgicas dos ces e dos

    ectoparasitos p. 78

    V Concluses p.83

    VI- Perspectivas p.82

    VII- Referncia Bibliogrficas p.84

    VIII- Anexos p.101

  • 8

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Oligonucleotdeos utilizados para deteco de bactrias do gnero Rickettsia e

    Bartonella. p. 59

    Tabela 4.1: Ectoparasitos coletados em animais e em vegetao no Municpio de Pira,

    Rio de Janeiro (2006-2007) p 70

    Tabela 4.2. Frequncia de pools de DNA de ectoparasitas positivos para a presena

    dos gneros Bartonella e Rickettsia, por anlise molecular (PCR), segundo espcies de

    artrpodes coletados em ces no Municpio de Pira/RJ, em setembro de 2007 e 2008

    p 73

    Tabela 4.3. Anlise molecular dos ectoparasitas Bartonella PCR positivos coletados no

    Municpio de Pira (setembro 2007 e 2008), RJ e que foram submetidos ao

    seqenciamento. p77

    Tabela 4.4. Relao dos ces sorrreativos e de ectoparasitos PCR positivos para

    Bartonella e Rickettsia. p 78

    .

    .

  • 9

    LISTA DE QUADRO

    Quadro 1: Exemplos de espcies de Bartonella com potencial patognico ao homem,

    seus reservatrios primrio e hospedeiro acidental p 21

    Quadro 2: Vetores confirmados na transmisso de espcies do gnero Bartonella e suas

    respectivas referncias. p 25

    Quadro 3: Espcies de Bartonella presentes em Carrapatos vetores e suas respectivas

    origens e referncias. p27

    Quadro 4: Aspectos clnicos da infeco por Bartonella em ces p30

    Quadro 5: Exemplos de Rickettsias Patognicas do Grupo Febre Maculosa no Brasil e

    no Mundo. p 33

    Quadro 6: Exemplos de espcies de carrapatos e as doenas associadas nos ces p39

  • 10

    LISTA DE FIGURA

    Figura 1: Mecanismo de aderncia e infeco da Rickettsia nas clulas endoteliais

    (Walker 2007) p43

    Figura 2. Mapa do Estado do Rio de Janeiro, em detalhe regio do Mdio

    Paraba, local de coleta das amostras de sangue de ces e ectoparasitos.

    Setembro de 2007 e 2008. p 49

    Figura 3.1 Regies do Estado do Rio de Janeiro, em roxo a regio do Mdio Paraba

    p50

    Figura3.2: Bairro Casa Amarela Pira RJ - Local de coleta das amostras de sangue

    dos ces e dos seus ectoparasitos. P 51

    Figura 3.3: Tcnica de arrasto de flanela utilizada para coleta de ectoparasitos no meio

    ambiente, no bairro Ribeiro das Lages- Pira. Agosto de 2007. P53

    Figura 4.1.Teste de imunofluorescncia indireta com antgeno de Bartonella henselae,

    aumento de 40X. Imagem A (controle negativo) , imagem B (amostra

    positiva) p66

    Figura 4.2 Teste de imunofluorescncia indireta com antgeno Rickettisa rickettsii,

    aumento de 40X. Imagem A (controle positivo), imagem B (amostra

    sororreativa) p 66

    Figura 4.3: Relao do nmero de amostras de ces sororreativas para Bartonella,

    Ehrlichia e Rickettsia p 67

    Figura 4.4 Fotodocumentao aps eletroforese em gel de agarose do produto da PCR

    para Rickettsia spp. de amostras de ectoparasitos coletados de ces em Pira-Estado do

    Rio de Janeiro Brasil. p 73

    Figura 4.5 Fotodocumentao aps eletroforese em gel de agarose do produto da PCR

    para Bartonela spp. de amostras de ectoparasitos coletados de ces em Pira-Estado do

    Rio de Janeiro Brasil. p 76

    Figura 4.6: Figura esquemtica com o sumrio dos resultados obtidos no estudo das

    amostras de sangue dos ces e dos carrapatos em relao infeco por Rickettsia no

    Municpio de Pira, RJ (2007-2008) p 80

  • 11

    Figura 4.7: Figura esquemtica com o sumrio dos resultados obtidos no estudo das

    amostras de sangue dos ces e dos carrapatos em relao infeco por Bartonella no

    Municpio de Pira, RJ (2007-2008) p 80

    Figura 4.8: Figura esquemtica com o sumrio dos resultados obtidos no estudo das

    amostras de sangue dos ces e dos carrapatos em relao infeco por Ehrlichia no

    Municpio de Pira, RJ (2007-2008) p 81

    Figura 4.9. Figura esquematica com um resumo dos ectoparasitas PCR positivos e sua

    correlao com os ces sororreativos p 81

    LISTA DE ABREVIAES

    A. Anaplasma

    A. cajennense Amblyomma cajennense

    A. ovale Amblyomma ovale

    A. aureolatum Amblyomma aureolatum

    B. Bartonella

    CDC Centers for Disease Control

    CID Coagulao intravascular disseminada

    CO2 Dixido de carbono

    DNA cido nucleico

    E. Ehrlichia

    EDTA cido etilenodiamino tetra-actico

    ELISA Enzyme Linked Immunosorbent Assay

    EUA Estados Unidos da Amrica

    FBM Febre Maculosa Brasileira

    FMMR Febre maculosa das Montanhas Rochosas

    I. Ixodes

    IFI Imunofluorescncia indireta

    LHR Laboratrio de Hantavirose e

    Rickettsiose

    MG Minas Gerais

    PCR Reao em cadeia da polimerase

    RJ Rio de Janeiro

    R. Rickettsia

    R. sanguineus Rhipicephalus sanguineus

    RGFM Rickettsias do grupo da febre maculosa

    SP So Paulo

    Subsp Subespcie

    UFF Universidade Federal Fluminense

  • 12

    RESUMO:

    Nas ltimas duas dcadas o nmero de publicaes sobre infeces causadas por

    rickettsias e bartonelas tem aumentado com identificao de novos agentes,

    conseqncia, entre outros fatores, de um maior contato humano com animais e

    artrpodes capazes de transmitir doena, do aumento do interesse da comunidade

    cientfica e de uma maior disponibilidade de novas tcnicas diagnsticas. Considerando

    a importncia dos animais domsticos de companhia na transmisso de rickettsias e

    bartonelas ao homem, objetivou-se nesse estudo, avaliar a circulao de rickettsias do

    grupo da febre maculosa (RGFM), Ehrlichia spp. e Bartonella spp. em ces

    domiciliados e clinicamente saudveis nos bairros Ribeiro das Lages, Casa Amarela e

    Santansia no Municpio de Pira, Rio de Janeiro. Aps assinatura do termo de

    consentimento livre e esclarecido pelo proprietrio, foram coletados sangue e

    ectoparasitas em 189 ces. Na anlise sorolgica foi utilizado o teste de

    imunofluorescncia indireta comercial (PANBIO) com um ponto de corte na titulao

    de 1:64 para a pesquisa de anticorpos anti-R. rickettsii, anti-Ehrlichia canis e anti-

    Bartonela henselae. A anlise molecular, pela reao de polimerase em cadeia (PCR),

    foi realizada para detectar o genoma de RGFM, E. canis e Bartonella tanto em amostras

    de sangue dos ces quanto em seus ectoparasitos. Dos 189 soros de ces analisados, 45

    (23,8%), 22 (5,82%) e 9 (4,76%) apresentaram reatividade respectivamente para E.

    canis, RGFM e Bartonella spp. Dos 186 ectoparasitas coletados dos ces includos no

    estudo, 128 (68,8%) eram Rhipicephalus sanguineus; 19 (10,2%), Amblyomma

    cajennense; 1 (0,53%), Anocentor nitens; 8 (4,3%), Ctenocephalides felis e 30 (16,1%),

    Ctenocephalides canis. A PCR foi detectada em 56,7% e 42,2% dos ectoparasitas

    analisados para o gnero Rickettsia (fragmento de 386 pares de base) e para Bartonella

    (fragmento de 414 pares de base), respectivamente. A anlise filogentica preliminar

    dos produtos amplificados confirmou a circulao de Bartonella henselae e Rickettsia

    spp. em carrapatos. Os dados obtidos neste estudo confirmam a importncia dos ces

    como animais sentinelas e amplificadores das doenas transmitidas por carrapatos e

    pulgas, assim como a circulao de bactrias do gnero rickettsias do grupo da febre

    maculosa e Bartonella na regio do Mdio Paraba.

  • 13

    ABSTRACT

    In the last two decades the number of publications about infections caused by Rickettsia

    and Bartonella has increased with the identification of new agents due, among other

    factors, increased human contact with animals and arthropods capable of transmitting

    disease, the increasing interest of the scientific community and the greater availability

    of new diagnostic techniques. Considering the importance of pets in the transmission of

    Rickettsia and Bartonella to humans, this study aimed to assess the movement of the

    spotted fever group rickettsia(SFGR), Ehrlichia spp. and Bartonella spp. in domestic

    dogs, clinically healthy on Ribeiro das Lages, Casa Amarela and Santansia

    neighborhoods from Pirai, Rio de Janeiro. After signing an informed consent by the

    owner, blood and ectoparasites were collected from 189 dogs. For serological analysis

    commercial indirect immunofluorescence assays (PANBIO) was performed, with a

    titration cutoff point of 1:64, to detect anti-R. rickettsii, anti-Ehrlichia canis and anti-

    Bartonella henselae. Molecular analysis by polymerase chain reaction (PCR) were

    performed to detect the genome of SFGR, E. canis and Bartonella from blood samples

    from dogs and theirs ectoparasites. From the 189 examined dogs sera, 45 (23.8%), 22

    (5.82%) and 9 (4.76%), respectively, were reactive to E. canis, SFGR and Bartonella

    spp. From the ectoparasites collected from 186 dogs included in this study, 128

    (68.8%), Rhipicephalus sanguineus, 19 (10.2%) Amblyomma cajennense, 1 (0.53%)

    Anocentor nitens, eight (4.3%) Ctenocephalides felis and 30 (16.1%), Ctenocephalides

    canis were identified. Through PCR amplification it was possible to detect the 386-bp

    fragment (genus Rickettsia) in 56.7% of the ectoparasites and the 414-bp fragment

    (genus Bartonella) in 42.2% of the ectoparasites. A preliminary phylogenetic analysis

    of the amplified product confirmed the movement of Bartonella henselae and Rickettsia

    spp. in ticks, allowing the understanding of the importance of dogs as sentinel animals

    and amplifiers of diseases transmitted by ticks and fleas as well as the movement of the

    spotted fever group rickettsia and Bartonella in the Medio Parba region.

  • 14

    I- INTRODUO:

    Com avano da rea urbana em direo a rea rural, o homem vem invadindo

    um territrio que anteriormente era habitado somente por animais, vetores de doenas,

    que at ento parasitavam espcies especificas de animais, e que comeam tambm a

    parasitar, mesmo que acidentalmente, animais domsticos e o prprio homem. Assim, o

    nmero de zoonoses transmitidas por artrpodes como caros, carrapatos, piolhos e

    pulgas tem aumentado, como o caso das rickettsioses (FEREITA et al., 2000;

    LABRUNA et al, 2007; CHOMEL et al.,2010).

    Rickettsioses so doenas infecciosas emergentes e re-emergentes transmitidas

    por artrpodes, causadas por rickettsias, bactrias intracelulares obrigatrias, de

    distribuio cosmopolita (PADDOCK et al., 2005; PAROLA et al., 2009).

    Embora as rickettsioses, sob o aspecto taxonmico, devam ser consideradas, na

    atualidade, como um grupo de doenas causadas restritamente por proteobactrias,

    Gram negativas subgrupo 1 pertencentes ordem Rickettsiales, Bartonella spp. e

    Coxiella burnetti, proteobactrias do subgrupo 2 e proteobactria grupo ,

    respectivamente, ainda permanecem sendo estudadas no campo da rickettsiologia

    (LEMOS, 2005).

    As doenas infecciosas transmitidas por artrpodes como carrapatos, pulgas,

    caros e piolhos apresentam disperso mundial. O seu maior reconhecimento, na

    atualidade, pode ser entre outros fatores, consequente o aumento real na incidncia

    destas infeces pelo maior contato da populao humana com a natureza ou a maior

    disponibilidade de tcnicas diagnsticas, tcnicas estas mais sensveis e especficas que

    tm permitido a identificao de zoonoses emergentes e re-emergentes, at ento

    desconhecidas. Ehrlichiose, febre maculosa e bartonelose so alguns exemplos destas

    doenas que, normalmente, encontradas em animais domsticos (ces, gatos e equinos)

    podem ser transmitidas acidentalmente ao homem. (LEMOS et al., 1997 a)

    Febre maculosa e ehrlichiose, zoonoses transmitidas por carrapatos (do termo

    ingls tick-borne diseases), esto associadas com doenas de elevada morbidade e

    letalidade, na ausncia de tratamento especfico, tanto em animais quanto em humanos.

  • 15

    Os achados clnicos, laboratoriais e patolgicos destas duas infeces vm

    sendo descritos tanto em casos experimentais quanto aos ocorridos de forma natural

    (GREENE et al, 1985; BREITSCHWERDT et al., 1988; TROY et al., 1990; GREENE

    et al., 1993; LABRUNA et al., 2005; PIRANDA et al., 2008).

    A importncia mdica e veterinria da infestao de carrapatos em animais est

    ligada transmisso de uma grande variedade de agentes infecciosos. As doenas

    infecciosas transmitidas por carrapatos esto dentre as infeces de maior interesse e de

    maior potencial devastador entre os seres humanos e podendo ser viral, bacteriano em

    geral ou rickettsial. (SHAW et al., 2000).

    Em relao s bartoneloses, um grupo de zoonoses causadas por diversas

    espcies de bactria do gnero Bartonella cuja perpetuao na natureza depende dos

    vetores como pulgas, carrapatos e flebotomneos. Desde incio do sculo XXI vm

    sendo descritas no Brasil no somente em pacientes imunocomprometidos, mas tambm

    em indivduos imunocompetentes, alm de felinos domiciliados e clinicamente sadios

    (LAMAS et al., 2006; SOUZA et al., 2009). Estudos recentes apontam para a

    importncia dos carrapatos (Amblyomma cajennense e Rhipicephalus sanguineus) na

    manuteno das bartonelas na natureza e como fonte de infeco para ces. (DINIZ et

    al., 2007; BILLETE et al., 2008; CHOMEL et al., 2009)

    Os gatos so os principais reservatrios de Bartonella henselae, agente da

    doena da arranhadura do gato, com relatos em diversos pases (CHOMEL e KASTEN,

    2010). A infeco por Bartonella considerada uma zoonose emergente, cuja

    ocorrncia pode ser proveniente de diversos fatores como alteraes ambientais e o

    estado do indivduo (BOLOUIS et al., 2005). Nos ces, embora faltem estudos mais

    completos sobre a interao entre o agente e o hospedeiro, casos de endocardite tm

    sido associados bartonelose (BREITSCHWERDT et al., 1995 e 1999; BILLETER et

    al., 2008; DINIZ et al., 2007)

    Rickettsioses do grupo da febre maculosa (RGFM) so doenas causadas por

    pequenas bactrias intracelulares obrigatrias, proteobactrias do subgrupo alfa 1, que

  • 16

    acometem tanto aos animais quanto ao homem e que so transmitidas por carrapatos

    (mais frequentemente), pulgas (Rickettsia felis) e caros (Rickettsia akari) (LEMOS,

    2005)

    No Brasil, a febre maculosa brasileira (FMB) a principal RGFM, uma

    rickettsiose de grande importncia na sade pblica podendo acometer tanto ao homem

    quanto ao co, tendo como agente etiolgico, a bactria Rickettsia rickettsii, um

    microorganismo gram-negativo intracelular obrigatrio encontrado no carrapato A.

    cajennense (Fabricius, 1787), vulgarmente conhecido como carrapato estrela, carrapato

    do cavalo e micuim. (MAGALHES, 1953, LEMOS et al., 1997; ESTRADA et al.,

    2006). Cunha e colaboradores, (2009) relataram a primeira deteco molecular de R.

    rickettsii em R.sanguineus naturalmente infectados em Resende, Estado do Rio de

    Janeiro.

    A espcie de carrapato A. cajennense encontrada em abundncia em todos os

    estados das regies Sudeste e Centro Oeste do Brasil. Nas reas rurais da regio

    Sudeste, os equinos so os principais hospedeiros urbanos para todos os estdios da

    espcie A. cajennense, muito embora outras diferentes espcies de mamferos e aves

    possam ter participao efetiva no ciclo do ixoddeo. A maior importncia dos equinos

    como hospedeiro primrio de A. cajennense decorre ao fato de serem animais

    domsticos, criados em reas cercadas com alta incidncia de animais e massa corprea

    capaz de albergar grandes infestaes de carrapatos (LABRUNA et al., 2000) e,

    tambm por poderem circular por uma grande regio, como os cavalos de carroceiro,

    dispersando estes vetores (FREITAS et al., 2010). Por outro lado, os animais silvestres,

    especialmente os de pequeno e mdio porte, dificilmente albergam uma carga to alta de

    carrapatos. Por esta razo, nos ambientes silvestres, com o mnimo de interveno

    humana, as populaes de carrapatos tendem a ser mais baixas. (ESTRADA et al.,

    2006)

    A transmisso transovariana e sobrevivncia natural transestadial verificada por

    R. rickettsii e seus vetores so fundamentais para perpetuao desses agentes na

    natureza, porm acredita-se que a presena de um hospedeiro amplificador, auxilia a

    manuteno da bactria. Sendo assim trabalhos sugeriram que o gamb (Didelphis

    aurita) e a capivara (Hydrochaeris hydrochaeris) so amplificadores, nas regies

    citadas como reas de FMB (HORTA et al., 2005; LABRUNA, 2007).

  • 17

    Em termos prticos, os hospedeiros primrios de A. cajennense so as antas, as

    capivaras e os eqinos. Em uma rea onde uma populao de A. cajennense est

    estabelecida, pelo menos uma destas trs espcies de hospedeiros dever estar presente.

    Uma vez que a populao de carrapatos cresce, ele passa a parasitar outros hospedeiros,

    chamados secundrios, o homem e o co, por exemplo. (ESTRADA et al., 2006).

    Outras espcies de Amblyomma so citadas na literatura como vetores da FMB: A.

    aureolatum que pode ser encontrado infestando ces e eqinos em So Paulo, foi

    descrito por Moraes-Filho e colaboradores (2009) como vetor da R.rickettsii na regio

    metropolitana de So Paulo. Silva e colaboradores, (2011) sinalizam A.ovale como

    sendo um vetor em potencial para Rickettsia spp. do grupo da febre maculosa em

    humanos, no Brasil.

    Estudos mostram que R. sanguineus pode transmitir R. rickettsii em condies

    experimentais bem como natural, tanto no Brasil, quanto em outros pases americanos

    (PIRANDA et al., 2008, CUNHA et al., 2009; ROZENTAL et al., 2008)

    Ces infectados experimentalmente por R. rickettsii podem desenvolver a doena e

    apresentar trombocitopenia, depresso, inapetncia, febre e leso ocular, sinais esses

    presentes na ehrlichiose. (PIRANDA et al., 2008; LABRUNA et al,2009). A ocorrncia

    de infeco natural por Rickettsia spp. nos animais conhecida desde o incio do sculo

    passado. Para um melhor entendimento do ciclo enzotico da doena fundamental o

    conhecimento da biologia dos hospedeiros, das espcies dos vetores e a interrelao

    entre o hospedeiro, vetor e o meio ambiente (HORTA et al., 2005; MORAES-FILHO et

    al., 2009). Burgdorfer e colaboradores (1975) relataram presena de R. rickettsii em 167

    (18,9%) de 884 exemplares de R. sanguineus nos Estados Unidos.

    Segundo Labruna (2005) trabalhos realizados desde a dcada de 30 tm levado a

    suspeitar das capivaras, gambs e coelhos como possveis hospedeiros amplificadores

    de R. rickettsii para A. cajennense. Horta et al., (2004) relatou estudos realizados em

    So Paulo que comprovaram a infeco natural por R. rickettsii em animais selvagens,

    domsticos (co) e no homem. No Rio de Janeiro, estudos indicaram presena de A.

    cajennense e R. sanguineus positivos para genes rickettsiais pela tcnica de reao em

    cadeia da polimerase (PCR) (GEHRKE et al., 2009; ROZENTAl et al.,2009; CUNHA

  • 18

    et al., 2009). WALKER (2006) sinalizou para a importncia de se estudar o carrapato

    vermelho do co, R. sanguineus como um possvel vetor para R.rickettsii.

    Quanto ao gnero Ehrlichia, um grupo de parasitos intracitoplasmticos de

    leuccitos e plaquetas do sangue circulante que infectam diversas espcies de

    mamferos, inclusive seres humanos, transmitido biologicamente por carrapato e as

    espcies Ehrlichia canis; Anaplasma platys; A. phagocytophilum; E.risticii e E. ewingii

    tm sido descritas causando infeco natural em ces como ehrlichiose canina simples

    ou como, co-infeco com outras rickettsioses no territrio brasileiro

    (BREITSCHWERDT et al., 1998; MACHADO, 2006).

    Considerando que a ehrlichiose canina uma doena muito bem conhecida pelos

    mdicos veterinrios e que muitos dos animais que apresentam sinais sugestivos de

    ehrlichiose, quando submetidos ao diagnstico laboratorial para E.canis so negativos, a

    possibilidade de infeco por R. rickettsii deve ser suspeitada visto que clinicamente a

    febre maculosa e a ehrlichiose so semelhantes e que, em ambos os casos, temos um

    carrapato como vetor (ALMOSNY, 2002; LABRUNA et al., 2009).

    Dessa forma e considerando que a relao homem animal vem se estreitando

    cada vez mais, com movimentos sempre crescentes da preservao e contato com a

    natureza, esperado que um nmero maior de indivduos possa adquirir infeces por

    rickettsias (PADDOCK, 2005). Diante do exposto, tornam-se necessrias pesquisas que

    busquem identificar os agentes nos animais domsticos e silvestres e em seus

    transmissores artrpodes com o objetivo de aumentar o conhecimento sobre este grupo

    de zoonoses transmitidas por carrapatos e colaborar com a vigilncia destes agravos,

    tanto em animais quanto na populao humana, que, na ausncia de tratamento

    antimicrobiano especfico, apresentam elevada letalidade.

    Com a hiptese de que os ces domiciliados na regio do Pira seriam animais

    sentinelas para diferentes agentes transmitidos por carrapato como FMB, ehrlichiose e

    bartonelose, um projeto com o objetivo de confirmar a circulao de Bartonella spp.,

    Ehrlichiaspp. e Rickettsia spp. em sangue de ces e em ectoparasitos no municpio de

    Pira, localizado na regio do Mdio Paraba Rio de Janeiro foi desenvolvido, aps

    relato de casos de rickettsioses ocorridos na referida regio

  • 19

    II- FUNDAMENTAO TERICA

    2.1 Gnero Bartonella

    2.1.1- Caractersticas e Taxonomia

    As bartoneloses so doenas mundialmente dispersas causadas por

    alfaproteobactrias, da ordem Rhizobiales, famlia Bartonellaceae, cujas espcies, at

    1993, consideradas pertencentes ao gnero Rochalimea, foram transferidas para o

    gnero Bartonella em decorrncia da remota relao filogentica com os membros da

    famlia Rickettsiaceae (BRENNER et al., 1993; LEMOS, 2005).

    Assim, at 1993, o gnero Bartonella era composto apenas pela espcie

    Bartonella bacilliformis, agente responsvel pela doena humana conhecida como

    doena de Carrion e verruga peruana. Com o avano tecnolgico no campo da biologia

    molecular e o cultivo celular, vrias espcies de Bartonella posteriormente foram

    includas, a partir da identificao de novas espcies e da transferncia dos gneros

    Rochalimea e Grahamella da famlia Rickettsiaceae para a famlia Bartonellaceae no

    gnero Bartonella que hoje, composto por um grupo de mais de 23 espcies e

    subespcies Bartonella (BRENNER et al., 1993, BLANCO et al., 2008, LAMAS et al.,

    2008).

    As bactrias do gnero Bartonella so Gram negativas, anaerbias, mveis,

    intracelulares facultativas, pertencentes classe das Proteobactrias (alfabactrias).

    (MAGGI e BREITSCHWERDT, 2005; BLANCO et al., 2008). Essas bactrias

    infectam eritrcitos, podendo invadir clulas endoteliais, clulas progenitoras CD34+e

    clulas dendrticas dos hospedeiros, levando a uma infeco persistente. (BOULOUIS

    et al., 2005; BILLETER, 2008).

  • 20

    Classificao da Bartonella: Reino Bacteria

    Filo Proteobacteria

    Classe Alphaproteobacteria

    Ordem: Rhizobiales

    Famlia: Bartonellaceae

    Genero Bartonella

    CHOMEL et al., (2010) descreve a existncia de 13 espcies ou subespcie

    suspeitas de serem patognicas para humanos.(Quadro1)

    Devido ao seu potencial zoontico e de sua elevada incidncia em diferentes

    regies do mundo, espcies do gnero Bartonella so consideradas patgenos

    emergentes, com habilidade em infectar mamferos reservatrios e hospedeiros, cuja

    transmisso est associada com inmeros vetores incluindo, carrapatos, pulgas e piolhos

    (MAGGI e BREITSCHWERDT, 2005; KAMRANI, 2008; CHOMEL, 2010).

    Vrias espcies de Bartonella foram identificadas com grande potencial de

    causar doenas: Bartonella henselae, Bartonella clarridgeiae, Bartonella alsatica,

    Bartonella elizabethae, Bartonella grahamii, Bartonella vinsonii subsp. arupensis,

    Bartonella vinsonii subsp. Berkhoffii, Bartonella washoensis e Bartonella rochalimae

    (BILLETER et al., 2008). Maggi & Breitschwerdt (2005), descreveram a existncia de

    17 espcies de Bartonella sendo oito espcies isoladas em humanos (Quadro 1): B.

    bacilliformis na doena de Carrion e verruga peruana; B. quintana na febre das

    trincheiras, B. elizabethae, B. henselae, B. quintana, B. vinsonii subsp arupensis, B.

    vinsonii subsp. berkhofii e B. washoensis nas endocardites, B. quintana e B. henselae na

    angiomatose bacilar em pacientes imunocompetentes e B. henselae e B. clarridgeiae na

    doena da ranhadura do gato.

    Outras espcies de Bartonella, incluindo B. alsatica, B. doshiae, B. grahamii,

    B. henselae, B. koehlerae, B. peromysci, B. talpae, B. taylorii, B. tribocorum e B. bovis

    foram isoladas em animais, incluindo ces, gatos, bovinos, veados e lees, sem relato de

  • 21

    patogenicidade para animais ou populao humana (CHOMEL et al. , 2001; MEXAS et

    al., 2002; CHOMEL et al., 2006).

    Quadro 1: Exemplos de espcies de Bartonella com potencial patognico ao homem,

    seus reservatrios primrio e hospedeiro acidental.

    Adaptao de Chomel & Kasten, 2010

    2.1.2- Transmisso

    Com tropismo eritrocitrio, os organismos do gnero Bartonella causam uma

    duradoura bacteremia em mamferos e so transmitidos ao homem atravs de mordida

    ou arranhadura do gato como tambm por diferentes vetores, incluindo, flebotomneos,

    pulgas, piolhos e potencialmente tambm, pelos carrapatos. (BREITSCHWERDT,

    1999;, PAROLA et al., 2002; HALLOS et al., 2004; MAC DONALD et al., 2004;

    MAGGI E BREITSCHWERDT et al., 2005;; BREITSCHWERDT et al., 2005;

    DUNCAN et al., 2007; BILLETER et al., 2008 ).

    Embora B. henselae tenha sido encontrada em pulgas assim como em carrapatos,

    at agora no h nenhuma evidncia de que uma mordida de uma pulga infectada possa

    levar ao desenvolvimento da doena da arranhadura do gato por B. henselae. Dessa

    forma, imprescindvel a realizao de projetos de pesquisa que verifiquem a presena

    Bartonella Reservatrio primrio Hospedeiro acidental

    B. bacilliformis

    B. clarridgeiae

    Homem

    Felis catus

    Sem registro

    B. elizabethae Ratus norvegicus(rato) Homem, co

    B. henselae Felis catus (gato) Homem, co, cavalo

    e animais marinhos

    B. quintana Homem Gato e co

    B. rochalimae Canideos Homem e co

    B.vinsonii berkhoffiis Coiote Homem e gato

  • 22

    da bactria em carrapatos e pulgas presentes no meio ambiente e em animais domsticos

    e selvagens (BREITSCHWERDT et al., 2005; BREITSCHWERDT et al., 2007)

    2.1.3- Hospedeiros Vertebrados

    Mamferos e roedores esto envolvidos no ciclo natural da bartonelas. Vrias

    espcies de Bartonella foram isoladas de pequenos roedores e co-infeco de espcies

    de Bartonella com Borrelia burgdorferi tm sido demonstradas em pequenos ratos

    selvagens capturados, frequentemente parasitados por larvas e ninfas de carrapatos.

    (CHOMEL et al., 2001; CHOMEL et al., 2004; BOLOUIS et al.,2005)

    Yoshikawa et al. (2009) descreveram alta prevalncia da infeco por Bartonella

    spp. em animais selvagens e domsticos na Europa, sia, Amrica do Sul e Amrica do

    Norte. Sendo esses animais considerados reservatrios e fonte de infeco para o

    homem.

    Coiotes e raposas foram descritas por Breitschwerdt et al., (2007) como

    reservatrios de Bartonella vinsonii subsp. berkhofii, a partir de relatos de que coiotes

    apresentavam alta bacteremia em regies com alto potencial de transmisso do

    carrapato vetor. Chomel & Kasten (2010), confirmaram o coiote como reservatrio de

    bartonella (quadro 1)

    Em relao aos felinos domsticos, estes so considerados reservatrios

    primrios de trs espcies de Bartonella - B. henselae, B. clarridgeiae e B. kohlerae,

    agentes bacterianos que causam manifestaes clnicas em pacientes humanos,

    principalmente imunossuprimidos. (CHOMNEL, 2003). Holden e colaboradores (2006)

    identificaram a prevalncia de 62% de B.henselae em gatos domsticos. Outro estudo

    realizado por Bolouis et al (2005) em gatos domsticos demonstraram uma prevalncia

    variada de 5 a 80% para B. henselae, confirmando assim as variaes nos ndices de

    prevalncia, levando em considerao a localizao geogrfica (Europa sia, Amricas)

    e o status da populao (gato domstico ou de rua). Os gatos jovens so mais propensos

    a ser infectados e transmitir a bactria para as pessoas com cerca de 40% dos gatos

    reativos para B. henselae em algum momento de suas vidas.

  • 23

    Na literatura, as infeces por Bartonella em ces, podem ocorrer, at o

    momento, por 5 espcies de bactrias: i) B. clarridgeiae e B. vinsonni subsp. berkhofftii,

    responsveis por endocardites em ces; ii) B. elizabethae, DNA detectado em ces com

    perda de peso e morte sbita; iii) B. henselae, DNA seqenciado em co com hepatite

    granulomatosa e iv) B. washoensis, isolada em material de paciente com endocardite da

    vlvula mitral. (BREITSCHWERDT et al., 1998; GUNDI et al., 2004; CHOMEL et al.,

    2006).

    Pappalardo e colaboradores (1997) demonstraram que dos ces soro reativos

    para Ehrlichia canis (Donatien & Letosquart), 3,6% eram concomitantemente soro

    reativos para B.vinsonii subsp. Berkhoffii. Breitschwerdt et al (1998) demonstraram que

    42% de 12 ces diagnosticados com ehrlichiose no NCSU Veterinary Teaching Hospital

    eram tambm B. vinsonii subsp. Berkhoffii sororreativos, concluindo que ces

    domiciliados ou livres, quando expostos a artrpode, devem ser considerados tambm

    como potenciais transmissores de diferentes espcies de Bartonella.

    Kordick e colaboradores (1999) aps estudarem um surto de ces doentes em um

    canil e seus proprietrios, relataram que dos 18 animais PCR positivos para Bartonella,

    17 tinham co-infeco para E.canis, E.chaffeensis, E. ewingii, Rickettsia spp. ou

    Babesia canis. Nesse estudo, foi possvel identificar que 25 dos 27 ces (93%) eram

    B.vinsonii subsp. berkhoffii sororreativos.

    Bolouis e colaboradores (2005) identificaram uma baixa incidncia de infeco

    por B.vinsonii subsp berkhoffii em ces (< 5%) embora estudos com ces de ruas em

    regies tropicais mostrem elevadas taxas de infeco por B. henselae como a de 19%,

    na Guiana Francesa, 63%, no sudeste dos Estados Unidos, 10,1% dos ces saudveis e

    27,2% de ces doentes. No mesmo ano, Henn e colaboradores relataram a prevalncia

    na Califrnia e os ces foram todos sororreativos para B. henselae. (HENN et al, 2005)

    Solano-Gallego et al (2006) em estudo sorolgico de ces doentes (n= 206) e

    ces saudveis (n= 260) expostos a artrpodes, na regio nordeste da Espanha,

    demonstraram uma prevalncia de 16,8% para B. henselae e de 56,4% para Rickettsia

    conorii. A soroprevalncia dos grupos estudados tanto para a infeco para Bartonella

  • 24

    quanto para R. conorii, foi similar tanto para os animais doentes quanto os controle:

    15,7% e 48,6% no grupo de ces saudveis e e 19,2% e 49,3% no grupo dos ces

    doentes apresentaram positividade para Bartonella e R. conorii respectivamente.

    Em outro estudo, o DNA de Bartonella foi detectado em amostras de sangue de

    tartarugas marinhas (Caretta careta Linnaeus), sugerindo a possibilidade da persistncia

    de infeco sangunea no somente em animais no mamferos, dado este que refora a

    complexidade do ciclo assim como a importncia de estudos sobre o assunto.

    (VALENTINE, 2007)

    No Brasil, estudos mais recentes realizados em gatos tm demonstrado

    prevalncias elevadas de Bartonella spp. (LAMAS et al., 2006; SOUZA et al., 2009;

    STAGGEMEIR, 2010). Assim, no Estado de So Paulo, 46% dos 102 gatos avaliados

    por Diniz e colaboradores (2007) apresentaram soro reatividade para B. henselae,

    enquanto no Rio de Janeiro a presena da infeco por Bartonella foi reportada por

    LAMAS et al., (2006) e SOUZA (2008). Pesquisa realizada por Souza (2008) revelou

    que 90% dos gatos sadios e domiciliados apresentaram sororreatividade para

    Bartonella, na regio de Vassouras, caracterizando a ampla circulao desse agente

    zoontico na rea. At o momento, com exceo dos estudos em gatos e ces, no

    existem, no Brasil, estudos sobre a presena de bartonelas em outros animais, em

    especial nos animais silvestres.

    Diniz et al., (2007) avaliaram, utilizando o teste imunofluorescncia indireta

    para a deteco de anticorpos anti-B. henselae e anti-B. vinsonni subsp. berkhofftii, 198

    amostras de soro de ces com histrico de infestao de carrapato e com manifestao

    clnica (epistaxis, melena, equimoses, sinais neurolgicos e leses oculares) ou com

    achados laboratoriais (leucopenia, trombocitopenia, hiperproteinemia) consistentes com

    doena de carrapato. Do total de amostras avaliadas, 2% (4/197) apresentaram

    reatividade para B. henselae e 1,5% (3/197) para B. vinsonii subsp . berkhofftii. Neste

    relato apenas em um co (1/197) apresentou amplificao do DNA de Bartonella (16S-

    23S rRNA). Seis dos sete ces com anticorpos anti-Bartonella foram tambm positivos

    para E. canis, confirmando uma co-infeco.

  • 25

    2.1.4- Vetores:

    Piolhos, flebotomneos caros, pulgas e carrapatos so considerados vetores em

    potencial de Bartonella (DINIZ et al., 2007b). (Quadro 2)

    No que diz respeito aos artrpodes convm ressaltar que h uma diferena

    significativa entre competncia vetorial comprovada e vetor potencial.

    Experimentalmente, estudos relatam que h confivel transmisso entre vetor e

    hospedeiro, caracterstica do vetor competente. O vetor competente aquele com

    capacidade real de transmisso do agente. Em muitos casos a deteco de Bartonella

    spp em artrpodes determinada por PCR ou cultura celular, no fornecendo, assim,

    provas definitivas da competncia vetorial e podendo, consequentemente, representar

    apenas a ingesto de sangue infectado por Bartonella durante uma bacteremia do

    hospedeiro. (BILLETER, 2008)

    Quadro 2: Vetores confirmados na transmisso de espcies do gnero Bartonella e suas

    respectivas referncias.

    Vetor Confirmado Bartonella Referncia

    Ctenocephalides felis B.clarridgeiae, B.quintana Rolain et a (l2003)

    B.koehlerae,

    B.henselae Ishhida et al,( 2001)

    Ctenocephalides nobilis nobilis B.grahamiii e B.taylorii Bown et al (2004)

    B.elizabethae Reeves et al (2003),

    Lutzomyia verrucarum B.baciliformis Battisti (1929, 1931)

    Pediculus humanus humanus B.quintana Swift (1920)

    Adaptao de Billeter et al. , (2008)

    Ctenocephalides canis (pulga do co) descrito como vetor suspeito na

    transmisso de B. henselae (Ishida et al, 2001) enquanto a espcie Ctenocephalides felis

  • 26

    o vetor confirmado da pela transmisso de B. quintana, B.clarridgeiae e B. koehlerae.

    (ROLAIN, 2003; BILLETER et al, 2008)

    A associao entre hospedeiro natural, vetores e Bartonella spp., geralmente

    determina o hospedeiro natural ou acidental assim como a provvel distribuio

    geogrfica da doena/infeco. Estudos realizados por Chul-Min-Kin et al., (2005) na

    Korea, relataram a presena de anticorpos especficos em humanos, fato que

    possibilitou a sugesto indireta de que a bactria Bartonella poderia estar circulando em

    uma populao de roedores e carrapatos hospedeiros- vetores envolvidos no ciclo

    natural da infeco. No mesmo ano Halos et al., (2005) a partir de seu estudos incluram

    os ruminantes como hospedeiros de Bartonella, com a suspeita de que o vetor seria

    uma espcie do carrapato do gnero Ixodes j descrito anteriormente na Europa e na

    Califrnia.

    Estudos sugerem que diversas espcies de carrapatos podem ser consideradas

    vetores em potencial de Bartonella spp. e apontam para a importncia dos carrapatos na

    transmisso de Bartonella spp. para os hospedeiros,(Quadro 3) (BILLETER et al ,

    2008).

    Quadro 3: Espcies de Bartonella presentes em Carrapatos vetores e suas respectivas

    origens e referncias.

    Carrapato Bartonella Pas Referncia

    Rhipicephalus saguineus B.henselae California, USA Wikswo (2007)

    Dermacentor variabilis Bartonella spp California, USA Chang et al., (2002)

    Dermacentor reticulates Bartonella spp California , USA Chang et al.,(202)

    Ixodes ricinus Bartonella henseale Italia Sanogo et al., (2003)

    Polonia Podsiadly et al., (2007)

    Bartonella spp Austria Schabereiter-Gurtner et al.,(2003)

    Ixodes pacificus B.henselae, B.quintana, California, USA Chang et al., (2001)

    B.vinsonii subsp. Berkhofii Chang et al., (2001)

    B.washoensis

    Sem identificao Bartonella spp. Peru Parola et al., (2002)

    Adaptao de Billeter et al., (2008)

  • 27

    A espcie de carrapato R. sanguineus, conhecido vetor de Babesia canis,

    suspeita de ser o vetor de B. vinsonii subsp. berkhoffii uma vez que co-infeco em ces

    indiretamente refora a importncia do carrapato como vetor em potencial para

    B.vinsonii subsp. berkhoffii e B. canis.

    Estudos realizados por La Scola et al., (2004); Halos et al., (2005); Estrada et al

    (2006); Billeter et al, (2008); Szab et al, (2009) confirmaram que a o estdio de vida do

    carrapato um fator que deve ser considerado tanto no diagnstico molecular do

    microorganismo como tambm na transmisso da doena

    Spitlsk e colaboradores (2008), detectaram, por meio de tcnicas de biologia

    molecular (PCR), a presena de Bartonella spp., Anaplasma phagocytophilum,

    Ehrlichia muris, Rickettsia helvetica em roedores e carrapatos coletados da vegetao.

    Halos et al, 2005 demonstraram a evidncia de Bartonella sp em formas adultas

    e ninfal de Ixodes ricinus na Frana e a co-infeco com Borrelia burgdorferi lato sensu

    e Babesia sp. O estudo foi realizado em 94 amostras de carrapatos da espcie Ixodes

    ricinus, sendo 76 ninfas e 18 adultos (9 machos e 9 fmeas), coletados da vegetao

    (pasto) durante a primavera na Frana, nove amostras (9,8%), sendo 3 ninfas e 6

    adultos, apresentam um fragmento amplificado no tamanho esperado para Bartonella.

    Uma amostra referente a um carrapato adulto apresentou 96% de identidade para o gene

    de Bartonella schoenbuschensiis.

    Outro estudo realizado nos Estados Unidos, em trs locais de Santa Clara, na

    Califrnia, 151 carrapatos adultos coletados da vegetao foram testados para

    Bartonella e desses, 29 (19,2%) amostras apresentaram PCR detectvel para Bartonella.

    Foi possvel a identificao da espcie de Bartonella em 18 carrapatos infectados,

    sendo, 3 B. quintana, 6 B. henselae, 3 Bartonella washoensis, 5 Bartonella strain

    cattle -1 e 1 Bartonella vinsonii subsp berkhoffii. (CHANG et al , 2001)

    Parola et al, (2002), descreveram a primeira evidncia molecular de uma nova

    espcie de Bartonella spp. em pulgas e carrapatos no Peru, em um trabalho de campo

    realizado em novembro de 1998, no subrbio de Santo Antnio, distrito de Wanchac,

  • 28

    cidade de Cusco, aps uma epidemia de bartonelose humana ocorrida entre 1988 -1999

    na rea rural da cidade. Um total de 83 pulgas foi coletado de crianas de 40 escolas

    (educao infantil) e de adultos que frequentavam escola alm da casa das crianas. Dez

    piolhos tambm foram obtidos de trs pessoas e cinco pulgas coletadas de dois ces,

    cinco carrapatos no total sendo, quatro em um co, e um em ovelha. Das 83 pulgas

    coletadas das pessoas, 30 pertenciam ao gnero Pulex e 53 ao Ctenocephalides. Os

    carrapatos no foram identificados, mas as pulgas dos ces pertenciam ao gnero

    Ctenocephalides e os piolhos eram Pediculis humanus corporis. O DNA de Bartonella

    por meio da PCR foi detectado em trs exemplares de Pulex coletadas de pessoas e em

    um carrapato. Essa Bartonella (gentipo BF 1782; 17541 e 17688) apresentava

    diferenas quando comparada com Bartonella bacilliformis, cujo vetor Lutzomyia

    verrucarum responsvel pelos surtos na regio. Sendo assim concluiu-se que se

    tratava de uma nova espcie de Bartonella detectada em pulgas e carrapatos no Peru e

    que apesar de humanos e flebotomneos (Lutzomyia verrucanum) serem largamente

    conhecidos como reservatrios e vetor respectivamente, neste pas latino americano, o

    papel dos roedores e dos artrpodes no ciclo da doena ainda est indefinido.

    .

    Mais recentemente Holden e colaboradores (2006), em um estudo realizado com

    168 amostras adultas de I.pacificus, utilizando tambm a tcnica de PCR, detectaram

    presena de B. henselae em 6,55% das amostras testadas.

    Por fim, no contexto de estudo experimental, merece citao o estudo de Chomel

    et al, (1996), que aps a coleta de pulgas de um gatil durante bacteremia, infestou, com

    estes exemplares, filhotes de gatos livres de patgenos (clinicamente saudveis). A

    avaliao dos animais, aps duas semanas demonstrou a bacteremia por Bartonella em

    4 dos 5 gatinhos estudados, confirmando assim, C. felis como um vetor competente na

    transmisso de B.henselae e tambm como vetor potencial na transmisso da B.

    clarridgeiae, B quintana, B. koehlerae. Breitschwerdt et al, 2007 citaram a

    possibilidade da Ctenocephalides felis manter a infeco de B. quintana e a transmisso

    do microorganismo entre gatos que podem posteriormente transmitir Bartonella ao

    homem por mordedura ou arranhadura.

  • 29

    2.1.5 Patogenia e Manifestaes Clnicas nos Hospedeiro

    Os ces com bartonelose apresentam quadro clnico caracterizado por epistaxis,

    melena, equimoses, sinais neurolgicos e processos inflamatrios oculares que incluem

    uvete, hifema e inflamao na retina. Febre pode estar presente, temperatura em torno

    de 39,4C. Os achados laboratoriais incluem trombocitopenia, hiperproteinemia, e

    leucopenia (BREITSCHWERDT et al., 2004; DINIZ et al., 2007).

    Endocardites tambm so descritas em ces com infeco natural por B.

    henselae. (BREITSCHWERDT, 1995; MEXAS et al., 2002; CHOMEL et al., 2006).

    PAROLA et al, (2002), relataram que B. vinsonii subsp. berkhofii como responsvel

    pela bacteremia e endocardites em ces, como tambm tem implicao em endocardites

    humanas. Estudos realizados por Breitschwerdt et al., (2004), descreveram que ces

    com evidncia sorolgica para B. vinsoni subsp. berkhofii apresentavam reao

    imunomediada, anemia hemoltica, meningoencefalite, vasculite cutnea e uvetes. Nos

    ces que apresentavam alteraes hepticas (hepatopatia granulomatosa e hepatite

    linfoctica), foram detectados DNA de B. henselae (Quadro 4).

    Os gatos normalmente so assintomticos mesmo os que apresentam infeco

    por B. henselae (CDC, 2006).

    Nos homens as alteraes clnicas so diversas (endocardites a sepsis) e

    informaes mais completas podem ser obtidas em uma amplareviso sobre as

    bartoneloses com nfase no Brasil publicada por LAMAS e colaboradores em 2008e

    2010.

    Quadro 4: Aspectos clnicos da infeco por Bartonella em ces

    Bartonella spp. Sintomas em ces

    B.clarridgeiae, Endocardite e Hepatite linfoctica

    B. elizabethae Letargia, anemia e perda de peso

    B. henselae Hepatite granulomatosa e epistaxis

    B. grahamii No diagnosticada em co

  • 30

    B. koehlerae No diagnosticada em ces

    B.vinsonii subs. berkhoffii Endocardite, miocardite, arritmia, inflamao do

    coride, uvete , esplenomegalia, claudicao,

    poliartrite e epistaxis

    B. washoensis Endocardite

    B.quintana Endocardite

    Adaptao de Chomel et al, (2006)

    2.1.6- Diagnstico

    Em ces, o teste sorolgico de imunofluorescncia indireta tem sido usado para

    deteco de anticorpos, anti-B. henselae e antiB. v. berkhoffii com diluio inicial de

    1:16 e cut-off em 1:64 ( DINIZ et al., 2007a).

    Blanco et al, 2008, relataram que as tcnicas mais utilizadas pra diagnstico de

    Bartonella spp. so a imunofluorescncia indireta e ELISA, lembrando que reaes

    cruzadas podem ocorrer com outras espcies, como por exemplo, C.burnetii. Apesar do

    ponto de corte para se considerar uma amostra positiva possa variar de acordo com o

    autor, os autores sugerem neste trabalho que o ponto de corte para pacientes com

    doena da arranhadura do gato deveria ser de 1:64 e com endocardites, de 1:800.

    Quanto PCR, a amplificao do DNA bacteriano, utilizando primer 16S -23S

    tem sido amplamente utilizada nos estudos epidemiolgicos das bartoneloses,

    permitindo a diferenciao de diversas espcies de Bartonella spp. Considerada uma

    tcnica fcil e segura de ser realizada, se considerados os preceitos bsicos para evitar

    contaminao, estudos mostraram que a PCR em tempo real mais sensvel e

    especfica, sendo extremamente til em pacientes com endocardites por Bartonella spp,

    quando se tem apenas o soro para realizao do diagnstico (MAGGI et al., 2005;

    BLANCO et al., 2006; BREITSCHWERDT, 2007;).

    As bactrias do gnero Bartonella so consideradas microorganismos exigentes

    e fastidiosos (BLANCO et al., 2008) que podem ser cultivadas em um meio slido,

  • 31

    Agar com infuso de crebro e corao com chocolate (Agar chocolate - BHIA) ou em

    BAPGM, meio lquido de crescimento de Bartonella-alphabacteria, a temperatura de

    35C em atmosfera saturada a 5% de CO2 , por seis semanas. A exigncia de ambiente

    controlado (temperatura e atmosfera) um fator que dificulta muitas vezes o cultivo e

    desenvolvimento da bactria nos laboratrios (KAMRANI, 2008).

    2.1.7 Preveno

    Segundo o CDC os indivduos devem tomar cuidados quando estiverem

    brincando ou acariciando um gato, principalmente os filhotes, a fim de evitar arranhes

    e mordidas. No caso de mordidas e ou arranhes estas no podem ser lambidas pelos

    gatos e devem ser cuidadosamente higienizadas (com gua e sabo). No caso de

    infeco no local da leso e o paciente pode apresentar sinais como febre, dor de

    cabea, inchao dos gnglios linfticos e fadiga, deve procurar atendimento mdico

    especializado. O controle de pulgas do animal e do meio ambiente uma medida

    preventiva bastante importante na bartonelose.

    Medidas de higiene pessoal ao lidar com gatos, particularmente os jovens,

    evitando arranhaduras, mordidas e lambeduras, bem como a lavagem das mos ao lidar

    com esses animais devem ser implementadas (COURA , 2005).

    Segundo Boulouis et al (2005) cuidados na hora da adoo do filhote de gato,

    como por exemplo saber a procedncia se o animal apresenta infestao por pulgas e

    medidas de higiene com o animal e aps manipulao do mesmo diminuem o risco de

    uma infeco. Com relao aos ces, o uso de repelente, higienizao do animal aps

    passeio na rua e controle de pulgas que podem estar infectadas com B. henselae so

    medidas de controle eficazes.

    2.2- Gnero Rickettsia

    2.2.1 Caractersticas e Taxonomia da Rickettsias

  • 32

    As rickettsioses so doenas causadas por bactrias da famlia Rickettsiaceae,

    constituda pelos gneros Rickettsia, Orientia, Ehrlichia, Neorickettsia e Anaplasma

    (RAY et al.,2001). O gnero Rickettsia compreende bactrias da subdiviso alfa da

    classe Proteobacteria, as quais so coco-bacilos gram-negativos, em associao

    obrigatria com clulas endoteliais eucariotas, pertencentes ordem Rickettsiales,

    distribudos originalmente em trs famlias Rickettsiaceae, Bartonellaceae e

    Anaplasmataceae (WEISS E MOULDER, 1984; YU E WALKER, 2003).

    Rickettsia rickettsii, uma bactria gram negativa intracelular obrigatria, o gente

    etiolgico da febre maculosa das Montanhas Rochosas nos Estados Unidos e no Brasil

    da febre maculosa brasileira, patognica tanto para homens quanto para animais

    (LABRUNA et al., 2009). Encontrada em clulas intestinais e glndulas salivares de

    artrpodes, multiplica-se por diviso binria (RAOULT et al, 2005).

    O gnero Rickettsia composto por quatro grupos: 1) grupo do tifo (R. prowazekii

    (tifo epidmico), R.typhi (tifo murino ou tifo endmico) tendo como vetores o piolho do

    corpo (Pediculus humanus corporis) e pela inoculao de fezes de pulga (Xenopsulla

    cheopis) respectivamente; 2) grupo da febre maculosa 3) grupo transicional,

    representado pelas espcies R. akari, R. australis e R. felis e 4) grupo ancestral (R belli e

    R.canadensis) (LEMOS et al., 2002; HORTA et al, 2004; LEMOS, 2005 ; ESTRADA

    et al 2006; informao pessoal).

    Com grande nmero de diferentes espcies (quadro 5), o grupo da febre maculosa,

    atravs de R. rickettsii, o prottipo das rickettsias do grupo da febre maculosa, tem sido

    relatada nos Estados Unidos, Argentina, Brasil, Mxico, Costa Rica, Panam e

    Colmbia (WEISS & MOULDER, 1984, BEATI & RAOULT, 1998; GUEDES et al,

    2005; SANGIONE, 2003; PADDOCK et al, 2005; CARDOSO et al, 2006;

    BREITSCHWERDT, 2007) e em cada localidade a doena tem uma denominao:

    doenas das Montanhas Rochosas nos Estado Unidos, febre manchada no Mxico, febre

    de Tobia na Colmbia e febre maculosa brasileira (GUEDES et al , 2005).

  • 33

    Quadro 5: Exemplos de Rickettsias Patognicas do Grupo Febre Maculosa no Brasil e

    no Mundo.

    Espcie

    Doena

    Rickettsia rickettsii

    R. conorii

    R. africae

    R. australis

    R. honei

    R. sibirica

    R. japonica

    R. felis

    R. mongolotimonae

    R. slovaca

    R. helvtica

    R. akari

    Febre maculosa das Montanhas Rochosas, Febre Maculosa

    Brasileira

    Febre botonosa

    Febre da picada do carrapato

    Febre do carrapato de Queensland

    Tifo da ilha Flinders

    Tifo siberiano ou do norte da sia

    Febre maculosa oriental

    Tifo das pulgas californianas

    Rickettsiose europia

    Rickettsiose europia

    Rickettsiose europia

    Rickettsiose variceliforme ou vesicular

    Adaptao: Lemos et al, (1997 a, 2005); Beati e Raoult (1998); Sangioni (2003); Lamas et al (2008)

    2.2.2 Febre Maculosa

    A febre maculosa uma doena infecciosa descrita inicialmente em 1899 por

    Kenneth Marxy, na regio das Montanhas Rochosas do noroeste dos Estados Unidos,

    tendo sido definida como uma doena febril endmica (HARDEN et al 1990).

    Em 1916 a bactria foi nomeada de Rickettsia e em 1930 foi identificada no

    Brasil como tifo exantemtico de So Paulo, quando Jos Toledo Piza diferenciou a

    febre maculosa das demais enfermidades exantemticas (Weiss & Strauss, 1991). Desde

    ento a febre maculosa vem sendo relatada em diversos estados do Brasil, So Paulo,

    Minas Gerais, Esprito Santo e Rio de Janeiro (Lemos et al , 1996). Desde 2001, doena

    de notificao compulsria (DNC) ao Ministrio da Sade, regulamentada pela

    portaria n 2325/GM de dezembro de 2001.

  • 34

    O Brasil apresenta um histrico de doena rickettsial desde a dcada de 20,

    sendo a febre maculosa brasileira a mais grave das rickettsioses descritas, ocorrendo

    principalmente no sudeste do Pas. Em Minas Gerais tem sido registrada, desde a

    dcada de 1980, com uma maior ocorrncia de inmeros casos da doena em forma de

    epidemias em reas rurais e periurbanas, com predominncia nos vales do

    Jequitinhonha, do Mucuri e do Rio Doce (CARDOSO et al., 2006)

    2.2.3- Transmisso

    As rickettsias so transmitidas ao homem e animais por meio de picada de

    artrpodes hematfagos, tais como carrapatos, caros, pulgas e piolhos (hospedeiros

    invertebrados). Na natureza, a transmisso de R. rickettsii vertical, transestadial e

    transovariana no carrapato, e horizontal nos hospedeiros e homem. (EREMEEVA &

    DASH, 2009).

    A transmisso transovariana e a sobrevivncia natural transestadial verificada

    por R. rickettsii em seus vetores, so fundamentais para perpetuao desses agentes na

    natureza e de sua manuteno na populao de carrapatos, porm acredita-se que a

    presena de um hospedeiro amplificador, auxilia a manuteno da bactria (HORTA et

    al., 2005).

    A transmisso de R. rickettsii ocorre atravs da salivao do carrapato infectado

    no momento do repasto sanguneo. Isto ocorre em um perodo de 4 a 6 horas aps se

    fixar no hospedeiro, quando o artrpode regurgita o contedo com a bactria, que

    penetra no hospedeiro atravs do stio de fixao. Outra maneira atravs da

    contaminao na pele do hospedeiro pelo esmagamento do carrapato, que pode ocorrer,

    caso o vetor seja retirado erroneamente (HARDEN, 1990; CAMARGO-NEVES et al,

    2004). O microorganismo ento carreado pela via linftica ou por pequenos vasos para

    a circulao, invadindo as clulas alvo (WALTER, 2007).

    2.2.4- Hospedeiros Vertebrados

  • 35

    Diversos animais auxiliam na manuteno do ciclo da doena, participando como

    hospedeiros primrios ou acidentais. Segundo Speilman & Hodgson (2000), para que

    um vertebrado seja considerado bom hospedeiro amplificador de R. rickettsii na

    natureza, este deve preencher alguns requisitos como: ser susceptvel infeco; manter

    a bactria circulante em nveis plasmticos suficientes para infectar vetores; ter alta taxa

    de renovao populacional; ser abundante na rea endmica e ser bom hospedeiro do

    carrapato vetor. Equinos e ces so considerados animais sentinela para febre maculosa

    brasileira (LEMOS et al., 1996), atuando tambm como amplificadores da populao de

    carrapatos, estes animais vivem no peridomiclio humano, tendo grande importncia na

    epidemiologia da doena (Speilman & Hodgson, 2000).

    Trabalhos conduzidos no Brasil tm sugerido que o gamb (Didelphis aurita) e

    a capivara (Hydrochaeris hydrochaeris) so amplificadores da populao de carrapatos,

    nas regies citadas como reas de FMB. (HORTA et al., 2005; LABRUNA et al.,

    2007).

    Em termos prticos o hospedeiro primrio de A. cajennense so os eqinos, as

    antas e capivaras e assim, em uma determinada rea onde uma populao de A.

    cajennense tenha se estabelecido, pelo menos uma destas trs espcies de hospedeiros

    dever estar presente. Uma vez que a populao de carrapatos cresce, ele passa a

    parasitar outros hospedeiros, chamados secundrios, o homem e o co, por exemplo.

    (SUCEN,2004). Este carrapato caracteriza-se por ter uma baixa especificidade de

    hospedeiro, principalmente em seus estdios imaturos (ARAGO & FONSECA, 1961)

    Considerando o grande nmero de estudos sobre a importncia do co na

    epidemiologia da febre maculosa, alguns resultados em diferentes regies do Mundo

    sero apresentados a seguir, mostrando a complexidade e a especificidade

    epidemiolgica da infeco em cada localidade.

    Nos anos de 1984 e 1997, utilizando o teste de imunofluorescncia indireta como

    mtodo de diagnostico, 30 ces foram identificados com febre maculosa das Montanhas

    Rochosas (FMMR) na Carolina do Norte, com ttulos sorolgicos, para R. rickettsii, de

    1:1024. Todos os 30 ces apresentavam idades variadas, sendo 50% idade superior a 7

  • 36

    anos, 43% idade entre 2 e 7 anos e 17% tinham histrico de exposio a carrapato.

    (GASSER et al., 2001).

    Estudo realizado em trs ces e duas pessoas que apresentavam sinais clnicos

    compatveis com FMMR, na Carolina do Norte, utilizando a tcnica de cultivo celular

    (Clulas VERO) para extrao de DNA com posterior tcnicas moleculares demonstrou

    100% de homologia para R. rickettsii, para o primer omp A nas amostras dos ces e

    dos humanos. Esse estudo sugeriu que os ces servem como sentinelas naturais para o

    microorganismo. (KIDD et al., 2006).

    No mesmo ano, ainda nos Estados Unidos, um estudo epidemiolgico em ces em

    uma rea com casos humanos confirmados de FMMR no Arizona, demonstrou alta

    sororreatividade para R rickettsii, com 5,1% de 329 ces com anticorpos sricos alm da

    presena de R. sanguineus como a espcie de carrapato associada com os casos

    humanos. Os resultados obtidos neste estudo confirmaram a circulao do agente

    infeccioso e de R. sanguineus na regio e com evidncias da participao do co como

    sentinela e hospedeiro primrio para o carrapato da espcie R. sanguineus.

    (NICHOLSON et al., 2006).

    Em outro estudo, Scorpio et al em 2009 descreveram que 21 ces, de rua, sem

    raa definida (SRD) que seriam utilizados em um estudos de alteraes cardacas,

    apresentaram, durante exames laboratoriais preliminares, algumas alteraes, como

    febre e depresso. Esses ces ento foram submetidos a testes de IFI para doenas

    relacionadas exposio de carrapatos e 2 (10%) dos 21 ces estudados apresentavam

    sintomas clnicos, 15 (71%) eram sororreativos para trs agentes transmitidos por

    carrapatos: Ehrlichia, Rickettsia e Borrelia, confirmando, assim. a premissa de que ces

    de rua, sem domiclio, so susceptveis a doenas pela maior exposio a carrapatos.

    Quanto presena de coinfeco, Kordick et al (1999), relatou a infeco de

    mltiplos patgenos de doenas transmitidas por carrapatos em ces de um canil na

    Carolina do Norte e de pessoas que freqentavam o local e que mantinham contato com

    os animais. No referido estudo 27 amostras de soros de ces e 23 de homens foram

    analisadas, os ces apresentaram reatividade para Ehrlichia spp. (26/27); Babesia canis

    (16/27); B. vinsonii (25/27) e R. rickettsii (22/27), enquanto as amostras humanas

  • 37

    apresentaram reatividade para B. henselae e E. chaffeensis. Segundo SCORPIO e

    colaboradores (2008) a infeco por Ehrlichia, Rickettisia e Borrelia nem sempre

    causam doena clnica evidente no co, no entanto a infeco por Ehrlichia e Borrelia

    pode persistir e causar, consequentemente, uma estimulao imune que poder afetar a

    fisiologia do animal, expondo-o a outros agentes infecciosos.

    J no continente asitico, estudos realizados no Japo tm confirmado a

    circulao de RGFM. Na cidade de Okinawa, 2,4 % de 340 amostras de sangue

    coletadas de ces apresentaram-se reativas para RGFM e 84 pool de 229 carrapatos

    capturados sobre os ces testados para a pesquisa de rickettsias por PCR, utilizando os

    primer 190 KDa e citrato sintase, apresentaram similaridade para R. japonica e R.

    aeschimanii os agentes da febre maculosa na regio (SATOH et al, 2002).

    Estudos na Europa tm demonstrado com freqncia crescente a circulao de

    agentes rickettsiais. Solano- Galego et al (2006) descreveram, na Espanha, alta

    prevalncia (56,4%) de ces infectados por RGFM, confirmando assim o papel do co

    como animal sentinela. No mesmo ano, Torina e Caracappa relataram prevalncia de

    21,7% na regio da Siclia.

    No Brasil, assim como nos EUA, a febre maculosa foi descrita inicialmente em seres

    humanos, em 1929, conhecida ento como tifo exantemtico de So Paulo (PIZA; MEYER;

    GOMES, 1932). Estudos realizados durante a dcada de 30 relacionando o tifo exantemtico e a

    febre maculosas das Montanhas Rochosas, verificaram que a doena que ocorria no Brasil era

    semelhante a dos Estados Unidos, sendo assim foi denominada de Febre Maculosa Brasileira.

    Nas ltimas trs dcadas estudos sobre rickettsia em ces tm sido realizados

    principalmente nos estados da regio sudeste. Estudos realizados por De Lemos e

    colaboradores nos anos de 1994, 1996, 1997, 2001 e 2002 relataram animais e

    indivduos infectados com R. rickettsia em Minas Gerais e So Paulo, reas endmicas

    para FMB. Galvo (1996), estudando o comportamento da febre maculosa brasileira no

    municpio de Caratinga, por meio de inqurito sorolgico, registrou uma

    soroprevalncia de 2% em humanos, 25% em ces e 53% em eqinos para R.rickettsii,

    por meio de imunofluorescncia indireta. Com a incluso da FMB como doena de

    notificao no Brasil, um maior nmero de estudos com ces e eqinos vem sendo

  • 38

    realizado, demonstrando a grande variao de prevalncia sorolgica, na dependncia

    da rea de estudo, da populao de animais includos no estudo, entre outras variveis.

    2.2.5- Vetores

    Dentre os grupos de artrpodes vetores/transmissores das rickettsioses, caros,

    carrapatos, piolhos e pulgas, os carrapatos so os mais importantes agentes

    transmissores de rickettsias, embora outros microorganismos patognicos, como

    protozorios, espiroquetas e vrus, sejam tambm transmitidos por carrapatos para

    diferentes espcies de animais domsticos (de produo e de companhia) e para

    populao humana. Os carrapatos podem causar, alm de doenas conhecidas como

    Tick borne-diseases, outros agravos associados com uma grave toxicidade

    determinando uma paralisia, alergia e irritao na pele. (JONGEJAN & UILENBERG,

    2004). Alm da elevada morbidade e mortalidade, as infeces transmitidas por

    carrapatos, em especial as rickettsioses e babesioses, para os animais de produo

    ligados pecuria nas regies topical e subtropical do mundo, tm causado grande

    impacto negativo sob o ponto de vista econmico (DELGADO, 1999).

    De acordo com a literatura 80% dos carrapatos presentes na fauna mundial so

    da famlia Ixodidae (carrapato duro), que possuem 683 espcies e 183 espcies da

    famlia Argasidae (carrapato mole). Os gneros mais importantes de carrapatos so:

    Amblyomma, Dermacentor, Haephysalis, Hyalomma, Ixodes, Rhipicephalus e

    Boophilus. (JONGEJAN & UILENBERG, 2004) (Quadro 6).

    Os chamados carrapatos duros, da famlia Ixodidae atuam como vetores,

    reservatrios ou amplificadores de rickettsias do grupo febre maculosa. Amblyomma

    cajennense e Amblyomma aureolatum, so descritos como principais vetores de R.

    rickettsii no Brasil, R. sanguineus no Mxico. Nos Estados Unidos, o gnero

    Dermacentor incriminado como principal vetor da FMMR. (DEMMA et al, 2005)

  • 39

    Quadro 6: Exemplos de espcies de carrapatos amplificadores e as doenas associadas

    no mundo.

    Carrapato Doenas

    Ixodidae

    Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) Febre Maculosa Montanhas Rochosas (R.rickettsii)

    Dermacentor andersoni (Stiles, 1908) Febre Maculosa das Montanhas Rochosas (R.rickettsii)

    Anaplasmose bovina (A. margianle)

    Dermacentor nitens (Neumann, 1897) Babesiose eqina ( Babesia caballi)

    Dermacentor marginatus (Sulzer, 1776) Babesiose canina (Babesia canis), ricketsiose humana

    (R. slovaka), Febre Q (Coxiella burnetii)

    Dermacentor variabilis (Say, 1821) Febre das montanhas Rochosas em humanos

    (R.rickettsii), Anaplasmose bovina (A.marginale)

    Haemaphysalis flava ( Neumann, 1897) Rickettsia japnica

    Rhipicephalus sanguineus (Latreille, 1806) Ehrlichiose canina (Ehrlichia canis), babesiose canina

    (Babesia vageli);hepazoonozes canina (H.canis)

    Febre da picada do carrapato em humanos (R.conorii)

    Adaptao: Jongejan & Uilenber, (2004).

    Amblyomma cajennense, encontrado em abundncia em todos os estados das

    regies Sudeste e Centro-Oeste no Brasil (LEMOS et al, 1997; FIGUEIREDO et al ,

    1999; LABRUNA et al 2002; COURA, 2008 et al, 2009), porm com distribuio

    limitada nas demais regies, a principal espcie de carrapato encontrada parasitando

    seres humanos no centro-sul brasileiro e considerado o principal vetor/transmissor da

    febre maculosa (DE LEMOS, 1996; LEMOS et al, 1996; CARDOSO et al., 2006). Essa

    espcie de carrapato amplamente distribuda no Brasil e relatos indicam a infestao

    tanto em animais como no homem (LEMOS et al, 1996; LEMOS et al, 1997;

    LABRUNA et al., 2000; CARDOSO et al, 2006; LEMOS et al, 2008). Outras espcies

    tambm participam da transmisso, como A. aureolatum e A. ovale, entre outras

    espcies (LABRUNA et al., 2002; GEHRKE et al, 2009).

    Apesar de sua ampla distribuio no territrio brasileiro, estudos mostram que

    uma pequena percentagem de carrapatos do gnero Amblyomma se encontra infectados.

    No municpio de Santa Cruz de Escalvado, no estado de Minas Gerais, a anlise da

    hemolinfa em Amblyomma cajennense, coletados de humanos, animais e vegetao,

  • 40

    demonstrou que somente 1% dos carrapatos do gnero Amblyomma apresentavam

    reatividade na reao de imunofluorescncia indireta (IFI) (LEMOS et al., 1997).

    Rhipicephalus sanguineus, espcie endmica de carrapato na regio tropical e

    subtropical, amplamente distribudo nas Amricas, frica, sia e Austrlia, so

    predominantemente, na frica. parasitas de carnvoros, mas que podem infestar o

    homem e mais raramente o gado, embora o co seja considerado o seu hospedeiro

    natural. (BECHARA et al., 1995; BERNASCONI et al., 2002; GUEDES , 2005).

    Conhecido como vetor /transmissor da febre maculosa do Mediterrneo, rickettsiose

    causada R. conorii (PAROLA & RAOULT, 2001), R. sanguineus vem sendo

    identificado, nas ltimas dcadas, como um importante vetor/transmissor tambm de R.

    rickettsii no continente americano. No Mxico tem sido descrito como principal vetor

    de R. rickettsii desde a dcada de 1970 (BURGDORFER et al., 1975, DEMMA et al.,

    2005; WIKSWO et al., 2007;WALKER et al., 2008).

    Ainda em relao importncia da espcie R sanguineus na transmisso da

    febre maculosa no continente Americano, mais recentemente, aps estudos realizados

    durante um surto no Arizona com R.sanguineus foi possvel demonstrar a presena de

    R.rickettsii nessa espcie. (EREMEEVA, et al 2006).

    Embora no Brasil R. sanguineus raramente seja observado parasitando

    populao humana, seu papel como vetor da febre maculosa deve ser considerado, j

    que existem relatos de presena de R. sanguineus infectados por R. rickettsii, em ces de

    reas periurbanas onde no foram observados espcimes de A. cajennense. Assim, um

    estudo realizado no Brasil com ectoparasitas, 191 R. sanguineus, 61 C. felis coletados

    de 7 ces em uma rea periurbana, localizada no municpio de Barra Mansa, regio do

    Mdio Paraba, Estado do Rio de Janeiro, onde foi descrito um caso fatal de febre

    maculosa brasileira, foram processados afim de se determinar infeco por R.rickettsii.

    A amostra de sangue do co foi negativa tanto no teste de imunofluorescncia indireta

    (anti- Rickettsia rickettsii > 1:64) como pela PCR, j que no houve amplificao do

    gene glt A. Os ectoparasitos, 3,4% dos carrapatos (R. sanguineus) e 14,3% das pulgas

    (Ctenocephalides felis) apresentaram sequncia da anlise do gene gltA, de Rickettsia

    rickettsii. Esses resultados confirmam a importncia do co e do carrapato da espcie R

    sanguineus na epidemiologia das rickettsioses no local de estudo, onde no foram

  • 41

    coletados e identificados exemplares de Amblyomma cajennense na regio estudada

    (GEHRKE et al, 2009).

    Ainda no estado do Rio de Janeiro, Rozental e colaboradores (2002) realizaram

    um estudo no Municpio de Barra do Pira, em uma rea endmica para febre maculosa

    brasileira, onde foram coletados 578 carrapatos, com 103 A. cajennense, 209 R.

    sanguineus, 155 Amblyomma spp, 7 Amblyomma ovale ,dos 474 carrapatos coletados

    em ces e que foram submetidos identificao taxonmica. Das 163 amostras

    submetidas ao teste de hemolinfa e imunofluorescncia direta, a prevalncia de

    infeco de rickettsias do grupo da febre maculosa foi de 0,6% com a deteco de

    infeco confirmada uma ninfa de R. sanguineus, sugerindo, assim, R. sanguineus como

    provvel vetor da R. rickettsii no estado do Rio de Janeiro.

    Em 2009, dando continuidade aos estudos no estado do Rio de Janeiro, Rozental e

    colaboradores analisaram 1.233 carrapatos coletados de ces e de vegetao em 10

    diferentes localidades Barra do Pira e os resultados obtidos demonstraram que a

    maioria dos carrapatos coletados era da espcie R. sanguineus (1017/1233) e que em 36

    pools de carrapatos analisados foi detectado o genoma da rickettsia do grupo da febre

    maculosa a partir da PCR utilizando primers OmpB e 17KDa. Estes dados foram

    confirmados concomitantemente com o estudo de Cunha e colaboradores (2009),

    ratificando a participao de R. sanguineus como possvel vetor da febre maculosa

    brasileira e da importncia dos ces como amplificadores da infeco em uma rea

    endmica no Brasil.

    2.2.6- Patogenia e Manifestaes Clnicas nos hospedeiros

    O ciclo celular de rickettsia ocorre pela aderncia inicial da bactria na clula

    endotelial atravs dos receptores do colesterol. Rickettsias induzem sua prpria

    fagocitose ao penetrarem nas clulas endoteliais, e, uma vez dentro do citoplasma,

    escapam do fagossoma pela ao da fosfolipase na membrana fagossomal, e quando

  • 42

    livres no citoplasma replicam-se por fisso binria simples. O modo de sada da clula

    hospedeira depende da espcie. Rickettsia prowazekii promove lise da clula, enquanto

    R. rickettsii capaz de converter F-actina em actina e utiliz-la para promover sua

    propulso por filopodia ou exocitose. Ao sarem da clula, estas bactrias seguem

    infectando clulas vizinhas. Este processo produz focos de vasculite multissistmica

    podendo ocasionar, pneumonia intersticial, miopericardite, exantemas cutneos,

    meningite linfoctica, bem como afeces hepticas, renais e gastrintestinais (WALKER

    et al., 2007).

    O potencial patognico das rickettsias est relacionado s alteraes de protenas

    externas de membrana, promovido por mutaes gnicas (Weller et al., 1998). Algumas

    destas protenas so comuns tanto a rickettsias patognicas quanto a no patognicas, o

    que dificulta sua diferenciao pelos aspectos morfolgicos e bioqumicos (GREENE &

    BURGDORFER, 2006).

    A virulncia de R. rickettsii determinada por diversos fatores entre eles:

    habilidade em causar injria tecidual, variabilidade gentica. (EREMEEVA & DASH,

    2009).

    Walker (2007) descreveu o mecanismo de infeco causado pelas rickettsias na

    clula hospedeira. Rickettsias so bactrias intracelulares obrigatrias que atacam as

    clulas hospedeira pelo receptor de membrana Ku70 e a abundante protena de

    superfcie OmpB, alm da Omp A que uma adesina, especfica das rickettsias do

    grupo da febre maculosa.

    O mecanismo fisiopatolgico da infeco rickettsial o aumento da

    permeabilidade vascular atravs das junes gap entre as clulas endoteliais. As

    clulas endoteliais uma vez infectadas pelo agente da febre maculosa produzem uma

    oxireduo (peroxioxidao lipdica) causando danos clula (Figura 1) (WALKER

    2007). Existem evidncias que essa reao causa estresse na clula em animais

    experimentalmente infectado (VALBUENA & WALKER 2005; WALKER, 2007).

  • 43

    Figura 1: Mecanismo de aderncia e infeco da Rickettsia nas clulas endoteliais

    (Walker 2007)

    O mecanismo de imunidade do hospedeiro contra as rickettsias inclui o

    mecanismo imunomediado por citocinas, mediada pela ativao da clula endotelial

    bacteriana, outro fator a intrafagocitose. As clulas humanas endoteliais so ativadas

    por IFN -, TNF-, IL- 1 (VALBUENA &WALKER 2005).

    Rickettsia rickettsii tem como principal alvo o endotlio vascular, portanto as

    leses cutneas derivam de sua proliferao no endotlio de pequenos vasos seguido de

    formao de trombos, hemorragias, infiltrao perivascular e necroses focais.

    Distrbios hemostticos como trombocitopenia e aumento do tempo de coagulao

    esto relacionados com efeitos citopticos celulares e atividades de endotoxinas desta

    rickettsia (Davidson et al., 1990). A soluo de continuidade devido destruio das

    clulas endoteliais promove exposio do colgeno, que determinante para a

    agregao de plaquetas e formao do cogulo. Aps o perodo de rickettsemia os

    microorganismos so disseminados para outros tecidos pela via circulatria ou linftica.

    Caso a deposio de redes de fibrina se sobreponha a fibrinlise, haver deposio

    multissistmica desta na microcirculao o que pode culminar com a coagulao

    intravascular disseminada (CID) em casos graves (Greene & Burgdorfer, 2006).

    Segundo Eremeeva e colaboradores (2003) pouco se sabia a respeito da

    diversidade de patogenicidade das cepas de R. rickettsii oriundas dos Estados Unidos e

    da Amrica do Sul, at esta ocasio e isto se devia ao polimorfismo gentic