as classes na teoria sociológica contemporânea

Upload: jailmaoliveira

Post on 13-Apr-2018

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    1/25

    As Ciasses na Teoria S ociolgica Contem pornea

    Edison Ricardo Emiliano Bertoncelo

    Introduo

    O conceito de classe reve um lugar central

    na teoria social durante muito tempo. Na tradio marxista, ele sempre foi um conceito chavepara a compreenso das sociedades capitalistas,de seus conflitos e transformaes. Na tradioweberiana, ele essencial para apreender umadas dimenses da distribuio de poder na sociedade. Essas tradies fundaram as premissasdas teorias de classe contemporneas.

    Do ponto de vista dos.estudos de classe,foco deste artigo, algumas perspectivas se sobressaem no contexto da sociologia contempornea. Duas delas propem construir es

    quemas de posies de classe de forma a captaras divises produzidas pelo mercado e peloprocesso produtivo e o impacto delas sobrefenmenos sociais diversos. Seus expoentes so

    Joh n Goldthorpe e Erik Olin 'Wright. Outratoma as classes como categorias analticas paraa investigao do processo de formao decoletividades sociais. A principal referncia aquiPierre Bourdieu. Tais perspectivas tm influenciado a maior parte da produo tericae emprica recentes sobre classes. Por outrolado., alguns estudos passaram a contestar seriamente a relevncia dos estudos de classe para

    a investigao da dinmica das sociedadescontemporneas.

    Meu objetivo aqui duplo, Em primeirolugar, examino as trs perspectivas identificadas acima. Em segundo lugar, tento responder questo de se as classes so teis teoria sociolgica e, se o forem, como podem s-lo.

    No Brasil, a anlise de classe tem uma tradio que acompanhou, mesmo que fora decompasso e com menor iitensidadei. emer

    gncia de novas perspectivas analticas. Valiosos balanos bibliogrficos j foram produzidos tentando captar dimenses distintas daproduo de classe. Destaco alguns deles. Guimares (1999) investiga a produo sociolgica sobre classes feira especificamente no Brasil,especialmente os estudos que dialogam com atradio sociolgica marxista. Silva (1999), porsua vez, discute maneiras distintas de opera-cionalizar os estratos sociais de forma a medir osmovimentos entre eles. Scalon (1999) abordao campo de anlise de classes comparando cri

    ticamente as perspectivas de Erik Olin Wrghtejohn Goldthorpe.Este artigo difere desses balanos ao consi

    derar o seguinte aspecto: de que o principaleixo que estrutura,o campo da anlise de classesatualmente um que ope, de um lado, asabordagens que enfocam a construo de esquemas de posies de classe com base em dimenses objetivas e, de outro, as abordagensque tomam as classes como (possveis) coletividades sociais, trazendo a centro da investigao as prticas de classificao dos atores sociais.

    A Perspectiva de Anlise de Classe

    no Programa de Nuffeld

    A partir d dcada de 1960, os estudos sobre estratificao social na Sociologia britnicativeram como base acadmica principal o Colgio de Nuffield, que abriga o Departamento

    BIB, S Paulo, n 67, Io semestre de 2009, pp. 25-49. 25

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    2/25

    de Sociologia na Universidade de Oxford e,em menor medida, a Universidade de Essex.Nuffield considerado o principal ncleo,de estudos sobre estratificao social na Gr--Bretnha desde meados da dcada de 1980,tendo coordenado e realizado pesquisas comparativas em escala internacional sobre estruturas de classe, mobilidade social e progressoeducacional.1

    A gnese e a dinmica desse conjunto deestudos baseados em Nuffield esto ligadas auma apropriao peculiar da teoria sociolgica

    clssica e aos embates com a teoria e pesquisasobre estratificao social levadas a cabo nosEstados Unidos.

    Nessa ltima, a estratificao das sociedades modernas concebida em termos de umsistema de papis sociais funcionalmente diferenciados e hierarquizados segundo sua importncia para funcionamento do ssstemasocial (Parsons, 1964). Sob essa perspectiva, aestratificao social pod ser entendida comum mecanismo de integrao social. A hierarquia de funes e os diferenciais de recompensas materiais e simblicas expressam valoresinstitucionalizados no sistema social e internalizados pelos atores sociais (Davis e More,[1945] 1996).

    Os estudos mais recentes sobre o tema nosEstados Unidos (especialmente aqueles de OtisBlau, Peter Duncan e DonaldTreiman) forambastante influenciados pea teoria funcionalis-ta. Em geral, tais estudos salientam que os processos aJocativOs no sistemasocial seriam crescentemente conformados pelos valores douniversalismo e do. desempenho (componentes dos dilemas de orientao parsonianos),

    sob o impacto dos imperativos funcionais associados aos processos de industrializao ediferenciao social. Em tais estudos, as ocupaes so distribudas em uma escala e hierarquizadas segundo variveis socioeconmicas (especialmente rendae qualificao educacional),pois se concebe que os diferenciais de renda e

    educao expressariam expectativas de recompensas materiais e simblicas conformadas pelos valores institucionalizados no sistema social(Blaue Duncan, 1967;TreIman, 1977).2

    Diferentemente, a teoria e pesquisa sobreestratificao social (mais especificamente, osestudos sobre classe) na Sociologia britnicaforam em grande parte infiuenciadas pela tradio sociolgica clssica, conformada pelas teorias marxista e weberiana. A influncia marxista direcionou o foco de muitos estudos paragrupos de trabalhadores manuais e para a

    possvel constituio deles como atores coletivos (Lockwood, [1960] 1996). Foi, no entanto, a teoria weberiana (e os modos como foiapropriada) que inspirou mais diretamente osmodelos tericos e os aparatos conceituais quederam fundamento s proposies e pesquisasnessa rea.

    Como aspecto mais geral da influnciaweberiana (Weber, 1982), a famosa distinoentre classe, statuse parddo foi apropriada comouma forma de diferenciar as diversas dimenses da estratificao social e de acentuar a possibilidade de conflitos cm torno das diferentesformas de distribuio de poder. Com base nisso, a perspectiva norte-americana sobre estratificao social foi criticada por reduzir a estrutura social a seus componentes normativos (status),marginalizando, dessa forma, os componentesmateriais (Scorr, 1996). Essa nfase sobre a dimenso normativa - que conforma as expectativas de recompensas materiais e simblicas impediria que se captasse o elemento do conflito gerado pela escassez (Crompton, 2003).

    Na perspectiva mais sinttica, baseada nateoria weberiana, a estratificao social conce

    bida como uma estrutura conformada por componentes materiais e normativos que se inter-conecram empiricamente. Com base nesseentendimento, a distino weberiana entre situao de classe e classe social foi apropriadacomo uma forma de invesdgar como as relaeseconmicas que estruturam diferentes situaes

    26

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    3/25

    de classe se conectam a relaes no-econmi-cas. O conceito de classe social permitiria, portanto, captar a imbricao emprica entre classeestatus:'

    A essa vertente de inteno sinttica, podemos contrapor outra que sublinhou as dimenses instrumental e coercitiva da vida socialcom base na obra weberiana. Destaco a obra deFrank Parkin (1975). Nela, a estrutura socialdas sociedades modernas conformada porduas estratgias antagnicas. Uma delas a estratgia de monopolizao, em que os indiv

    duos e grupos em posies sociais privilegiadasmobilizam mecanismos de fechamento socialpara restringir o acesso a essas posies e aosrecursos e recompensas associadas a elas, Poroutro lado, os indivduos e grupos excludosde posies sociais privilegiadas buscariam ampliar o acesso a recursos socialmente valorizados, atravs de estratgias de usurpao.

    Os estudos sobre estratificao social baseados em Nuffield foram conformados pelasdistintas formas de apropriao da obra weberiana na Sociologia britnica. Enfatizou-se adistino entre as formas de distribuio depoder e o componente do conflito entre os atores sociais por recursos e posies sociais valorizadas.4 Igualmente importante, nota-se, em taisestudos, uma oscilao entre as duas formasprincipais de apropriao da teoria weberiana,aquela mais sinttica e a outra que enfatiza asdimenses instrumentais e coercitivas da vidasocial. Ao longo do tempo, as preocupaessintticas deram lugar a uma teorizao unidimensional, baseada na teoria da ao racional.

    John Goldthorpe e. seus colaboradores tmproduzido os principais estudos de classe den

    tro daquilo que foi denominado de Programade Nuffield (Goldthorpe e Marshall, [1992]1997). Com exceo dos estudos sobre os trabalhadores afluentes (que enfocaram as tesessobre a diluio da fronteira entre trabalhomanual e no-manual Lockwood et a ,1969),seus estudos de classe enfocaram a construo

    de um esquema de posies, de classe que captasse as principais divises produzidas pelo funcionamento do mercado e sistema produtivo,de forma a investigar o impacto dessas divisessobre padres de mobilidade social e progressoeducacional. Por isso, esse esquema no temuma forma hierrquica claramente definida,diferentemente das escalas de prestgio ou destatussocioecon tn ico (Goldthorpe, Llewellyne Payne, 1987; Erikson e Goldthorpe, 19 92) ,

    Em uni de seiis primeiros estudos, Goldthorpe, Llewellyn e Payne (1987) construram

    um esquema de posies de classe pela agregao de 36 categorias ocupacionais em termosde situaes de mercado e de trabalho (Lockwood, [1958] 1989).

    Esse esquema foi parcialmente alterado emestudos posteriores. Neles, as posies de classedos empregadosso diferenciadas em termos derelaes de emprego.Estas tomam a forma decontratos empregatcios, que so utilizados pelos empregadores para lidar com dois tipos principais de problema que emergem nas relaescom os empregados: o monitoramento do trabalho e o grau de especificidade do capitalhumano. Duas formas tpicas de contrato em-pregatcio so diferenciadas com base nisso. Deum lado, os contratos de trabalho, que servempara estabelecer relaes de emprego em que omonitoramento do trabalho se d, em geral,por superviso direta e em que o capital humano no escasso - esses so contratos tpicosde trabalhadores manuais. Em consequnciadisso, estabelece-se uma relao de troca simples, relativamente de curta durao, entre esforo e pagamento. De outro lado, os contratosdeservios,que regulam as relaes de emprego

    em que o capital humano bastante especfico,dificultando o monitoramento do trabalho: Taiscontratos estabelecem relaes de emprego delongo prazo com maiores benefcios (comoescalas salariais, planos de penso, estabilidadena posio) e maior autonomia no trabalho,de forma a criar e sustentar um alinhamento de.

    27

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    4/25

    interesses entre o empregador e o empregado. de classe so diferenciadas (Erikson e Goldthor-Forms modificadas ou mistas de contrato so pe, 19 92 ; Goldthorpe, 2007a; Goldthorpe ereconhecidas e, com resultado, doze posies McKnight, 20 06 ) (ver Quadro 1).

    Quadro 1

    Esquema de Posies de Classe de Erikson e Goldthorpe

    Classe Regulao do emprego

    I Profissionais, administradores e gerentes de nvel alto Relao de servios

    II Profissionais, administradores e gerentes de nvei baixo Relao de servios

    Illa Empregados no-manuais de rotina (nvel alto) Mista

    Illb Empregados no-manuais de rotina (nvel baixo) geralmente mulheres

    Contrato de trabalho

    rva Pequenos empregadores. -IVb Pequenos proprietrios, conta prpria -IVc Pequenos empregadores rurais -V Tcnicos de nvel baixo e supervisores de trabalho manual Mista

    VI Trabalhadores manuais qualificados Contrato de trabalho

    Vila Trabalhadores manuais no -qualificados Contrato d trabalho

    VTIb Trabalhadores rurais Contrato de trabalho

    Fonte: Erikson c Goldthorpe (1992).

    Os estudos de mobilidade social so centrais nessa perspectiva analtica. Quando me

    didas em termos absolutos (fluxos empiricamente observveis de entrada e de sada dasposies de classe), as taxas de mobilidade socialpermitem revelar graus, vridos de associao,ao longo do tempo, entre indivduos e famlias, de um lado, e posies de classe, de outro.

    Graus elevados de associao demogrficapodem facilitar a emergncia de identidadesculturais e polticas comuns entre os indivduos em uma mesma posio de classe e comtrajetrias sociais similares. Quando medidasem termos relativos (que controlam os efeitos

    das variaes no tamanho das categorias de origem e destino), as taxas de mobilidade socialpermitem calcular as chances de indivduos dediferentes origens de classe alcanarem certo:sdestinos sociais. Nesse sentido, servem comoum indicador do grau de abertura ou fluidez de uma sociedade (Kurz e Muller. 1987;

    Goldthorpe, Llewellyn e Payne, 1987; Erikson e Goldthorpe, 1992, 2002).

    Talvez os resultados empricos mais importantes produzidos por essa perspectiva analtica se refiram s evidncias de regularidadesmacrossQciis, ou seja, a persistncia de diferenciais de progresso educacional e de chances de mobilidade social em termos de posiesde classe. Em outras palavras, isso quer dizerque, ao longo das dcadas (na Gr-Bretanha eem outras sociedades capitalistas avanadas), aschances de indivduos de diferences origenssociais alcanarem destinos sociais relativamenteprivilegiados e percorrerem as trajetrias edu

    cacionais que levam a qualificaes educacionais valorizadas permaneceram extremamente desiguais (Erikson e Goldthorpe, 1992). Porisso, nos ltimos anos, a produo terica nessaperspectiva tem-se voltado para a construode um modelo terico que permita explicar taisregularidades macrossociais. Para esses autores,

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    5/25

    o objeto da teoria sociolgica deve ser no amudana social, mas sim a explicao da estabilidade de classe, ou melhor, da poderosa resistncia a mudanas demonstrada pelas relaes de classe e chances de vida associadas a elas(Goldthorpe e Marshall, [1992] 199 7;Bre ene Rottman, 1995; Goldthorpe, 2007a). Argumenta-se, com base no individualismo metodolgico , que a explicao das regularidadesmacrosso ciais deve ser buscada na dimensomcrossocial, isto , aquelas devem set vistascomo o resultado de aes individuais.

    Uma verso da teoria da ao racioilal formulada para dar conta dos processos de deciso que ocorrem no nvel microssoeal e quesustentam as regularidades observadas no nvel macrossoeial. A verso proposta por Goldthorpe assume uma racionalidade de foraintermediria, quer dizer, postula uma racio-nalidadedo tipo subjetiva esituadonal. Os fmsda ao no so incorporados na teoria (portanto, so exgenos) e concebe-se que os indivduos agem com base em crenasderivadas deinformaes disponveis nos contextos de ao(que.so incompletas'), abandonando-se a

    proposio do conhecimento perfeito. Almdisso, assume-se que as situaes de ao soto complexas que a maximizao de interessesno possvel. Por isso, considera-se que os indivduos agem racionalmente quando satis

    fazem o critrio de eficincia luz das crenasconstrudas com base nas informaes disponveis em contextos de ao diversos. As principais proposies desse modelo terico afirmam que os indivduos tm objetivos, meiosalternativos para persegui-los e, ao escolherem entre cursos de ao, tendem a avaliar seuscustos e benefcios relativos (Goldthorpe,1996a, 2007a).

    A anlise de classe oferece para esse mo-deio terico os elementos para construo dambiente condicional em que o ator racionalage, ambiente esse conformado pela estruturade oportunidades e constrangimentos que

    confronta o ator externamente (os recursos potencialmente disponveis, a probabilidade desucesso ou fracasso em um dado curso de ao,os custos e benefcios provveis etc.) Uma vezconhecidos os contornos principais desse ambiente e dado o pressuposto de que a ao orienta-se pela norma da eficincia econmica, osfins da ao podem, ento, ser vistos como formas de adaptao eficientes presses condicionais. Nesse sentido, as escolhas ds indivduospodem ser entendidas como estratgias adap-tativasdiante da estrutura de oportunidadesque determina os custos e benefcios relativosde diferentes cursos de ao (Goldthorpe,1996a, 2007a).

    Assim, por exemplo, no caso dos filhos daclasse trabalhadora, deixara escola aps o perodo de estudos obrigatrios e optar por umcurso profissionalizante que leve a um ofciomanual seriam escolhas racionais (seno as maisracionais e eficientes) diante da estrutura deoportunidades que se impe sobre essa posiode classe: recursos escassos relativamente aoscustos provveis de perodos mais longos deestudo, rendimentos de trabalho decrescentes

    ao longo do tempo no seio familiar, especialmente no perodo em que os cstos da educao dos filhos se rornam potencialmente maiores (associados entrada no ensino superior),riscos relativamente maiores associados ao possvel fracasso do filho em trajetrias educacionais mais ambiciosas, pois isso impediria o ingresso em posies de classe superiores e tornariamenos provvel a obteno posterior de trabalho manual. Diferentemente, no caso daquelescom origens sociais em posies de classe maiselevadas (como a classe de servios), a escolhapor Trajetrias mais ambiciosas e prolongadas,redundando em qualificaes educacionais valorizadas, seria a escolha mais racional: a probabilidade de desemprego de longa durao menor, os rendimentos do trabalho s progressivos ao longo do tempo (portanto, os custosadicionais produzidos pelo prolongamento dos

    29

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    6/25

    estudos impactariam relativamente menos), osriscos de fracasso educacional podem ser compensados mais facilmente com a mobilizaode outros tipos de recursos (redes sociais, capital econmico), evitando, com isso, o risco demobilidade descendente.

    O Programa de Nuffield tem influenciado um conjunto de pesquisas sobre estratificao social e tambm tem sido alvo de diversascriticas. Enquanto alguns autores argumentamque o esquema de ciasses de Goldthorpe captaadequadamente as divises sociais resultantes

    das relaes de emprego nas sociedades capitalistas avanadas tomando este esquema comoo mais adequado para apreender os efeitos declasse sobre um conjunto de fenmenos sociais (Marshall etal., 1989; Evans, 1992; Breene Rottman, 1995) - , outros afirmam que esteno o caso. Scott (1996, 2000, 2002), Scotte Morris (1996) e Edgell (1993) criticam oesquema e, de forma mais geral, a perspectivade anlise de classe vista at aqui por no incorporar adequadamente as relaes de propriedade e o processo de formao da classe superior (formada por grandes proprietrios

    capitalistas e renristas). A literatura feminista,por sua vez, considera inadequada a estratgiametodolgica de considerar a famlia comounidade de anlise e derivar a posio dela daquela do chefe de famlia, alm de enfocar astrajetrias de homens adultos nos; estudos sobre mobilidade social. Esse tipo de viso impede que se capte como. a segmentao do mercado de trabalho em termos de gnero conformaa estrutura de-casses e os padres de mobilidade social (Witz, 1995; Crompton, 1995-1996, 2003).5

    Igualmente relevante tem sido o enormedebate em to rno da natureza e orientaes polticas da classe de servios. De um lado, Gold-thorpe utiliza este conceito para abarcar em umamesma posio de classe ocupaes gerenciais eprofissionais, com base no argumento de queOs indivduos nessas ocupaes teriam uma

    orientao essencialmente conservadora doponto de vista poltico, porque se orientariampara a manuteno de suas posies sociais privilegiadas (Goldthorpe, 1995). De outro lado,aiguns autores sustentam uma perspectiva analtica que diferencia fraes profissionais, gerenciais e empresariais em termos do controlede ativos produtivos. O ponto chave do argumento que, das diferentes propriedades relacionais desses ativos (em termos da capacidadede acumulao, grau de convertibilidade emobilidade espacial etc.) emergiriam diferen

    tes padres de mobilidade social e geogrfica,orientaes polticas, estilos de vida, entre outros (Savage, 1988; Savage etal., 1992; Butlere Savage, 1995).

    Note-se, enfim, que a incorporao da an-Lise de classe dentro do modelo terico da teoriada ao racional teve consequncias paradoxais.Por um lado, tendo como funo especificarcomponentes do referido modelo terico, aanlise de classe ganhou um fundamento maisslido no campo neoweberiano (aquele constitudo pelo Programa de Nuffield) se comparado com outro baseado puramente na capaci

    dade de produo emprica da anlise de classe- correlaes significativas entre posies declasse e um conjunto de outros fenmenos sociais (Goldthorpe e Marshall, [1992] 1997).Por outro lado, dados os pressupostos especificados pelo modelo terico da ao racional, oescopo da anlise de classes reduzido reconstruo do ambiente condicionalque estrutura a ao e investigao de regularidadesmacrossociais. Enquanto os estudos iniciais tentaram construir uma perspectiva analtica sinttica, centrada na investigao dos processos

    de formao de coletividades de classe (Lock-wood et a i , 1969; Goldthorpe, Llewellyn ePayne, 1987), a teorizao recente no Programa de Nuffield tornou-se essencialmente unidimensional, enfatizando,:o modo dos estudos de Frank Parkin, a instrumentalidade daao social e a natureza coercitiva da ordem

    30

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    7/25

    social. Embora Goldthorpe sublinhe que ateoria da ao racional incorpora sistematicamente a capacidade de escolha dos atores sociais, o que se sobressai no modelo explicativoexposto anteriormente so atores sociais adap-tando-seaa ambiente externo. De fato. vemosatores sociais fazendo escolhas entre cursos deao que j esto predeterm inadas de antemo:as mais eficientes diante da estrutura de oportunidades que se impe a partir de fora. Maisdo que adaptao, a capacidade de agncia tema ver com os esforos dos atores sociais pormoldaremo ambiente externo de modo a materializarem, parcialmente, estruturas internalizadas (padres normativos).. Goldthorpe marginaliza esses elementos em sua anlise epressupe que a ao essencialmente racionale orienta-se para um ambiente externoque aestrutura atravs de um sistema de recompensas e punies, assim a voluntariedadeda aodesaparece. A ao corna-se mecnica,quer dizer, movida por farores puramente externos aosatores sociais.

    Os estudos de classe no campo

    neomarxistaDois desafios importantes atingiram o cam

    po terico marxista nas ltimas dcadas do sculo passado. Um deles decorreu da crescentecomplexidade da estrutura social nas sociedades capitalistas avanadas devido constituio e ampliao de uma camada gerencial eprofissional. Na tradio marxista, argumentou-se que o processo de reproduo capitalistatenderia a polarizar a estrutura social em tornodas posies de capitalistas e trabalhadores. Essadiviso estrutural tenderia a se materializar emuma polarizao poltica (e boa parte dos esforos de tericos marxistas voltou-se para aexplicao dos processos que medeiam essa passagem), que resultaria na superao revolucionria do. capitalismo (Marx e Engels, 1998).Ourro desafio dizia respeito emergncia denovos atores coletivos que no tinham base no

    proletariado e, mais do que isso, formas de aocoletiva que no pareciam expressar o conflitoentre capital e trabalho (Offe, 1985).

    Os tericos marxistas tentaram lidar comessas questes de maneiras diversas (Poulant-zas, 1979; Carchedi, 1977; C rompioneGub-bai, 1977), A estratgia de Erik Olin Wrighttenta superar o argumento da polarizao estrutural e poltica. A escolha por analisar mais detidamente os estudos de Wright baseia-se no fatode que este autor vem conduzindo o empreendimento, terico e emprico de maior flego nocampo neomarxista da anlise de classe.6

    A atual perspectiva analtica do autor foiconstruda com base na substituio do enfoque de seus estudos anteriores sobre relaes dedominao (Wright, [1976] 1996) por outroem que o conceito de explorao - que , paraele, a caracterstica distintiva de uma teoriamarxista de classe ( idem) tem lugar central.Tal perspectiva foi primeiramente apresentadaem Classes (1985) e seus fundamentos tmcomo base o esquema terico de Joh n Roemer(1982), um autor marxista que centou dar conta das relaes de explorao utilizando uma

    verso da ceoria dos jogos. Seguindo as linhasgerais dos argumentos de Roemer, Wright afirma que as relaes de explorao em qualquersociedade tm como base asrelaes de propr iedade d e ativos produtivos.As relaes de explorao so definidas com base no critrio daopresso econmica, segundo o qual o bem-estarmaterial da classe exploradora depende causal-mente da privao da classe explorada do controle de ativos produtivos, e com base no critrio da apropriao,segundo o qual o bem-estarmaterial da classe exploradora depende causal -mente do esforo da classe explorada (Wright,1985, 1997).

    As localizaes de classes so posiesdentro das relaes sociais de produo:...(Wright, 1989, p. 13). Um modo de produo definido com base nas relaes de propriedade do ativo produtivo socialmente relevante,

    31

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    8/25

    Em dada formao social, no entantp., h maisde um ativo que est desigualmente distribudo, definindo eixos diversos de explorao. Emoutros termos, em uma formao social articu-lam-s diferentes modos de produo e mecanismos de explorao. Essa distino entremodo de produo e formao social (Poulant-zas, 1979) permitiria dar conta da complexidade estrutural das sociedades capitalistas, Emformaes desse tipo, embora o mecanismo deexplorao capitalista seja dominante e definaa principal relao de classe, h dois outros

    mecanismos de explorao operando: um delesse baseia no controle de ativos de organizao eo outro no controle de ativos de qualificao(Wright, 1989, pp. 17-23).

    As relaes de propriedade desses ativosproduzem um conjunto de localizaes contraditrias na estrutura de classes das sociedadescapitalistas as novas classes mdis distintas das duas classes polarizadas com respeito srelaes d propriedade propriamente capitalistas (propriedade e controle sobre os meios deproduo). Tais localizaes so contraditrias

    com respeito s relaes de explorao. De umlado, seus membros detm ativos que permi

    tem a apropriao de uma parte do excedentesocialmente produzido (com base na explorao dos que esto privados dos ativos de organizao e qualificao). De outro, esto sujeitosao mecanismo de explorao tipicamente capitalista, pois tm parte do produto de seu trabalho apropriado pelos proprietrios dos meiosde produo. Em consequncia disso, tais localizaes geram orientaes polticas ambivalentes, devido aos interesses objetivos potencialmente contraditrios com respeito s formasde luta de classe em tais sociedades (Wright,

    1989 , pp. 25-7 ). Pelo fato de estarem na interseo de diferentes mecanismos de explorao,os membros das localizaes contraditrias podem defender os interesses da classe capitalista,aqueles da classe trabalhadora ou ainda os interesses especficos que derivam da posio queocupam dentro das relaes sociais de produo.

    O esquema resultante possui doze localizaes de classe em sua verso mais desagregada. Os proprietrios (controladores de ativosde capital) so diferenciados segundo a quantidade de empregados; os no-propretrios, em

    termos das relaes de propriedade dos ativosde qualificao e organizao (ver Quadro 2).8

    Quadro 2

    Esquema de Posies de Classes de Wright

    ReSao com os meios de produo

    Proprietrios Empregados

    -a0 ro

    O)QJ OC 1 2 I

    2-9

    0-1

    Capitalistas Gerentesespecializados

    Gerentesqualificados

    Gerentes no-qualificados

    Pequenos

    empregadores

    Supervisores

    especializados

    Supervisores

    qualificados

    Supervisores nao-

    qualificados

    Pequenaburguesia

    Especialistas Trabalhadoresqualificados

    Trabalhadores no-qualificados

    Especialistas Qualificados No-qualificados

    Relao com recursos escassos

    Gerentes

    Supervisores 2. o*

    S * 3

    No-gerentes

    Fonte: Wright (1989, p. 25).

    32

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    9/25

    As novas classes mdias ganharam umaposio estrutural peculiar nos trabalhos deWright, sendo definidas em funo de relaesde propriedadede ativos produtivos. Essacon-ceituao teve implicaes para o papel poltico das classes sociais. O proletariado no aparecemais como o nico ator coletivo revolucionriodas sociedades capitalistas e nem mesmo comoo ator coletivo central e, alm disso, o socialismo no concebido como o futuro provveldo capitalismo. Tendo como pressuposto deque os atores sociais se orientam para a amplia

    o dos retornos de seus ativos produtivos,Wright argumenta que os membros das localizaes contraditrias teriam interesse na supresso das relaes de explorao a que esto sujeitos em sociedades capitalistas, tornando-se aclasse dominante em outro tipo de formaosocial (Wright, 1989, pp. 23-31).

    Precisamente pelo flego emprico e terico dos trabalhos de Wright, crticas foram direcionadas a diversas dimenses de sua obra. Talvez a crtica mais frequente questione a conexoentre relaes de propriedade de ativos produtivos e relaes de explorao (Burris, 1989;Savage, Warde e Devine. 2005) Embora taisrelaes de propriedade possam gerar capacidades diferenciais de apropriao do exceden-re social, no fica claro se h, de fato, relaes deexplorao, especialmente quando consideramos o controle de ativos de qualificao e deativos organizacionais. As relaes de explorao implicam, como vimos, que os que controlam ativos produtivos no apenas mobilizamestratgias de fechamento social que buscamreproduzir a escassez relativa de seus ativos, mastambm se apropriam do trabalho daqueles

    excludos do controle desses ativos. Aqueles quecontrolam ativos de qualificao e organizacionais exploram, de fato, os que esto privadosdo controle desses ativos ou simplesmente esto em melhores condies de resistir explorao de seu trabalho ?A meu ver, Wright no consegue esclarecer essa questo satisfatoriamente.

    Em ltima anlise, a perspectiva analtica deWright no se diferencia muito da perspectivaneoweberiana que enfoca os mecanismos defechamento social (Parkin, 1995; Murphy,19SS).9

    Creio, no entanto, que o principal problema da perspectiva de Wright refere-se conexo entre classe e ao coletiva,, pela. centralida-de dessa questo para a teoria marxista. Wrighttnta conectar esses elementos construindo ummodelo terico complexo que distingue umnvel micro apreendido pelos conceitos de

    localizao de classe, conscincia de classe e prticas de classes e. um nvel macro, conformado pela estrutura de localizaes de classe(Wright, 1997, pp. 185-215). O problema que esse modelo especifica um pressupostomarxista tradicional de que os interesses queorientam a ao so estmmrados essencialmente pelo ambiente material conformado pelasrelaes de produo. Por isso, ele no vai muito alm da velha estratgia marxista de ligarclasse e ao coletiva pelo elo mediador da conscincia de classe (Lockwood, [1981] 1988).Como nos ensina Lockwood (1992), a imagemmarxista de uma sociedade dividida em duasclasses antagnicas e da formao de umaclasse como um sujeito histrico implica aexistncia de fortes elos de solidariedade moralunindo seus membros; porm, a teoria marxista em geral no consegue dar conta da formao desses elos, porque no incorpora sistematicamente os componentes normativos davida social.

    /4s classes como coletividades sociais

    As perspectivas analticas vistas anterior

    mente convergem em alguns aspectos importantes (Edgeil, 1993 ; Crompton, 20 03). De-fmem-se critrios semelhantes para captar asprincipais divises sociais geradas no mbitodo mercado e da produo. Como a estruturaocupacional usada comoproxy, as posies declasse se assemelham a agregados, ocupacionais

    33

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    10/25

    que no tm uma forma hierrquica claramente definida. Mais importante, em ambas as perspectivas, a anlise de classe utilizada para captara estrutura de oportunidades que se impediferencialmente sobre os atores sociais, emconsequncia estruturando de forma diferentesuas chances de vida e estratgias de ao.

    Diversamente, a perspectiva de classe queveremos a seguir enfoca o processo de formaode coletividades sociais e os modos como elasbalizam a sociabilidade cotidiana. H uma inteno fundamentalmente sinttica que se ex

    pressa na tentativa de incorporar os componentes objetivos que conformam a estratificaosocial e as. prticas de classificao dos atoressciais.

    A principal referncia aqui Pierre Bourdieu. Teoricmnte, este autor busca construiruma perspectiva que supere as antinomias clssicas da sociologia: estrutura e ao, material esimblico, objetivo e subjetivo, estratgico einterpretativo (Bourdieu, 2005a). Tal inteno sinttica explicitada na ruptura com trspostulados da tradio marxista:

    [...] ruptura com a tendncia para privilegiar as substncias em detrimento dasrelaes[...] ruptura com o economicismoque leva a reduzir o campo social, espaomultidimensional, ao campo econmico,s relaes de produo econmica constitudas assim em coordenadas do espaosocial; ruprura, por fim. com o objeti-vismo... que leva ignorar as lutas simblicas desenvolvidas nos diferentescampos e nas quais est em jogo a.prpriarepresentao do mundo social (Bourdieu,

    2005b, p. 133).

    Em seu principal trabalho sobre classessociais, Bourdieu (2002) investiga os determinantes sociais do gosto e, mais especificamente, conecta a capacidade de julgamentoesttico a posies no espao das classes so

    ciais.10 Para capt-los, o autor prope investigar a gnese do princpio gerador e unificadordas prticas sociais (o habitus)como produtoda incorporao de uma condio de classe ede seus condicionamentos sociais. Classeconsiste em um

    [...] conjunto de agentes que esto situados em condies de existncia homogneas Impondd condicionamentos homogneos e produzindo sistemas homogneosde disposies capazes de gerar prticas si

    milares e que possuem um conjunto dpropriedades comuns, propriedades objetivadas, por vezes.legalmente garantidas,(como posse de bens e poder) ou propriedades incorporadas como habitasde dasse(e, particularmente, sistemas de esquemasclassificatrlos)" (Bourdieu, 200 2, p. 101;traduo prpria).

    Nesse sentido, a perspectiva de classe deBourdieu distingue trs dimenses analticasque se interconectam empiricamente: a dimenso do espao social, a do habituse a do espao

    simblico.O espao social construdo segundo duas

    dimenses principais: volume e composio docapital (distinguido especialmente em termosde capital econmico e capital cultural), apreendidas sincronicae diacronicamerrte. O conceito de capital refere-se a recursos ou poderesque definem as probabilidades de ganho emum campo determinado (Bourdieu, 2005b,p. 134). O capital econmico pode srapren-dido em termos de nvel de renda, relao comos meios de produo e posses materiais. O ca

    pital cultural existe sob trs formas distintas,mas inrer-relacionadas. Sob a forma incorporada, o capital cultural refere-se ao conjunto dedisposies necessrias para apropriao dosobjetos da cultura legtima, adquiridas atravs da socializao no seio familiar e da educao formal. Como tais disposies so recursos

    34

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    11/25

    importantes em carreiras educacionais bem-su-cedidas, elas geralmente adquirem uma formainstitucionalizada (credenciais educacionais).Alm disso, essas disposies so objetivadasatravs de bens e prdcas consumidas em cam-ps sociais diversos.

    A dimenso diacrnica do espao soeial conformada pelas Traj etrias modais,que so astrajetrias percorridas com mais frequncia pelos agentes ligando origens e destinos particulares e que representam os modos tpicos deapropriao do capitai (Bourdieu, 2002, pp.346-51).

    So essas dimenses (volume e composio do capital, e trajetrias modais), segundoBourdieu, que diferenciam mais fortementeposies relativas no espao social por conformarem as principais linhas de diviso e conflitoem sociedades capitalistas avanadas.11 Em Dis-tinction,vemos que o espao social (que , naverdade, um mapa sociolgico da sociedadefrancesa dos anos de 1970) esrrururado pordois eixQsfprmando quatro quadrantes. O eixovertical corresponde ao volume de capital totale o eixo horizontal a duas espcies de capital:

    esquerda, o capital cultural, e. direita, o capital econmico. Bourdieu distingue trs grandes classes ao longo do primeiro eixo: classeburguesa (regio superior), pequena burguesia(regio intermediria) e ciasse trabalhadora (regio inferior). Ao longo do outro eixo, so diferenciadas fraes de classe segundo a composio do capital. De um lado ( direita), vemos asfraes cujo volume de capita! determinadoespecialmente pela posse de capital econmico. Do outro lado, esto as fraes distinguidasem termos da posse de capital cultura). Por sua

    vez, o eixo diacrnico diferencia regies do espao social em termos das trajetrias coletivasdas fraes de classe (de decadncia ou ascenso) e de seus padres tpicos de recrutamentoe composio.

    As posies no espao social diferenciam--se relacionalmente em termos de condiciona

    mentos sociais de diversos tipos (condio declasse), sendo o principal deles a distncia relativa necessidade material. A socializao emuma dada regio do espao social significa quea condio de classe que a diferencia relativamente de outras regies incorporada pelosagentes, conformando os habitus de classe,queso sistemas de disposies durveis e transpo-nveis que orientam as percepes, aes e classificaes dos agentes nos diversos campos sociais. Como um sistema de disposies, habitusno pode ser confundido com hbito, qu im

    plica uma mera repetio ou rotinizao deaes. Embora o habituscarregue as marcas dasestruturas ejtemas, ele delimita, ao mesmo tempo, um espao para a improvisao e a criatividade d.s agentes. As prticas sociais so resultado da interao dessa estrutura internalizadacom as estruturas externas, quer dizer, das disposies dos agentes com as lgicas operantes erelaes de poder nos diversos campos sociais.Portanto, o habitus, ao mesmo tempo, umae&ttutms, estmturada,por ser produto da incorporao das propriedades relacionais do espao social, e uma estrutura estruturdnte,por

    operar como princpios pr-reflexivos que orientam as percepes e classificaes dos agentes efixam probabilidades de ao.1

    Pela mediao do habituse de sua capacidade de gerar prticas classificveis e classificadoras, o espao social rransmuta-se em espao simblico e as prticas dos agentes se tomamsignos de distino. O espao simblico oespao dos estilos de vida, definidos como conjuntos sistemticos de preferncias distintivasque expressam, na lgica especfica a cada umdos campos (alimentao, vesturio, arte, lin

    guagem), uma mesma inteno expressiva(Bourdieu, 2002, p. 173). Essas retraduesexpressivas, que do certa homogeneidade sprticas dos agentes de uma mesma classe independentemente de qualquer intencionalidade, decorrem de uma propriedade particulardo habitus, qual seja, a transponibilidade. O

    35

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    12/25

    habitusproduz continuamente transposiessistemticas requeridas pelas condies particulares das prticas dos agentes. Essa unidadeexpressiva se mostra atravs dogosto de classe,afrmula geradora do estilo de vida, pois constitui a propenso e a capacidade para se apropriar (material e simbolicamente) de um dadoconjunto de objetos e prticas classificveis eclassificadoras (idem,pp. 173-5; traduo prpria). Nesse sentido, o habitustende a produzir uma homologia entre o espao simblico e oespao social, de forma que a hierarquia de esti

    los de vida se manifesta como uma retraduoexpressiva (embora no-reconhecida) das diferenas objetivas do espao social.

    As propriedades dos estilqs de vida soconstitudas relacionalmente,no interior dasdisputas em tprno da apropriao de prticas eobjetos disponveis na sociedade. Tais disputasso, ao mesmo tempo, instrumentais e expressivas, pois os agentes se orientam para os objetos e prticas de um campo social em termos deestratgias de maximizao do capital simblico conformadas no interior das expectativasestruturadas pelo habitus.A cristalizao doestado dessas lutas simblicas em distintos estilos de vida tende a demarcar fronteiras simblicas e sociais. Como salienta Bourdieu, o gosto o operador prtico da transmutao das coisas em signos distintos e distintivos, de distribuies contnuas em oposies descontnuas"{idem,pp. 174-5; traduq prpria).

    Como podemos ver, as disputas simblicas constituem a dimenso chave da luta declasses para Bourdieu. Estas so disputas essencialmente dassificatrias e envolvem a definio do contedo (objetos e prticas) da cul

    tura legtima, os modos legtimos de dele seapropriar e a hierarquizao dos diferentes estilos de vida. Embora as disputas simblicas sejam parcialmente condicionadas pelas propriedades objetivas do espao social, elas tambmimpactam sobre ele, delimitando fronteiras sociais (Wacquant, 1991). Por isso, a incorpo

    rao dessas propriedades atravs do habitus ,ao mesmo tempo, .uma incorporao das classificaes dominantes e, consequentemente,uma naturalizao do mundo. Precisamenteporque os agentes mobilizam os capitais acumulados nessas disputas simblicas, as fraesdominantes tendem a levar ampla vantagemsobre as demais fraes de ciasse, tendo maiorprobabilidade de impor seus padres de julgamento e classificao nos diversos campossociais. Embora ocupando lugar central nas teorias marxistas como sujeito histrico de supera

    o do capitalismo, as fraes trabalhadoras seencontram, na teoria de Bourdieu, em situaoextremamente desfavorvel nas disputas emtorno dos sistemas cassificatrios que sustentam as relaes de dominao de classe.

    Embora no sem problemas,o modeloterico de Bourdieu permite construir umaperspectiva de anlise de classe que avana emrelao s demais em termos de sua capacidadede sintetizar dimenses da vida social. So distinguidos um espao de posies sociais e umespao de estilos de vida, cujas correspondncias so mediadas pelo espao das disposies.Nessa perspectiva,.que enfoca os processos deformao de coletividades sociais, as atividadessimblicas so vistas como retradues expressivas de condies d classe, ou seja, as diferenas de statiis expressam diferenas de classe(Weimnger, 2004; Sallum Jr., 2005).

    A apropriao da perspectiva analtica deBourdieu se deu em duas linhas opostas. NasCincias Sociais norte-americanas, a teoria declasses de Bourdieu foi apropriada sob o focoda relao entre capital cultural e reproduosocial. Seguindo um dos argumentos centrais

    de Distinction, buscou-se examinar em quemedida, na sociedade norte-americana, as prticas culturais tm efeitos cassificatrios quedemarcam fronteiras simblicas e sociais (La-mont e Molnr, 2002). Aos moldes de Bourdieu, concebe-se o capital cultural como disposies (esttica kantiana) para apreciar e

    36

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    13/25

    consumir alta cultura (as formas culturais abstratas), definida segundo variveis similaresquelas utilizadas por Bourdieu em sua pesquisasobre a sociedade francesa (arte, literatura, pera,msica clssica, teatro etc.). Em geral, as pesquisas norte-americanas no encontraram evidncias de padres distintos e distindvos de classe quanto ao consumo de alta cultura. Combase nesses resultados, Halle (1991)..argumen-ta que a alta cultura (no caso, o consumo daarte) no seria uma marca de classe importantena sociedade norte-americana. Lamont (1992),por sua vez, salienta que as fronteiras culturaisno seriam to relevantes quanto as fronteirasmorais ou econmicas na formao de divisessociais nessa sociedade.14

    Entre os tericos associados ap Programade Nuffield, os trabalhos de Bourdieu foramigualmente apropriados em torno da relaoentre cultura (educao) e reproduo social.Embora Goldthorpe e outros autores tambmsublinhem a persistncia de diferenciais de progresso educacional em termos de posies declasse (Goldthorpe, 1996a; Breen e Goldthorpe, 1997, 1999, 2001; Goldthorpe, 2007a,

    2007b) , eles argumentam que as teorias culru-ralistas (entre s quais se insere a teoria de Bourdieu) so inadequadas para apreender esse fenmeno. Se, de acordo com essas teorias, o progressoeducacional depende de capital cultural incorporado, que envolve longos investimentos geralmente iniciados no crculo familiar, entocomo poderamos explicar a enorme expansoeducacional das ltimas dcadas (do sculo XX)em sociedades capitalistas avanadas cujos principais beneficirios foram os indivduos de origem social relativamente menos privilegiada?

    Com base em um modelo explicativo derivadoda teoria da ao racional, argumenta-se que osdiferenciais de classe quanto ao progresso educacional seriam produtos de estratgias ad apta -tivas,racionalmente formuladas, diante de estruturas de oportunidades que constrangemdiferencialmente as posies de classe, estrat

    gias que buscam minimizar os riscos de mobilidade descendente (Goldthorpe, 2007a),

    Ainda nesta linha de apropriao da teoriade Bourdieu como terico da reproduo social,destacam-se tambm os trabalhos que criticamo retrato que o autor constri das fraes daclasse trabalhadora francesa. Por estarem submetidos mais fortemente do que qualquer outra classe s presses da necessidade material,Bourdieu insiste que os trabalhadores manuaisso apenas referenciais negativos nas disputassimblicas. Para alguns, esse retrato subestima

    a capacidade das fraes populares de se organizarem de forma relativamente autnoma emrelao aos centros de poder simblico, desenvolvendo padres prprios de gosto e julgamento (Alexander, 1995; Rupp, 1997; Devi-ne e Savage, 2005; Vester, 2005).

    Embora a reproduo social tenha um lugar central na teoria de classes de Bourdieu, elatambm foi apropriada para dar conta de processos de mudana social, especialmente da relao cambiante entre classee consumo no.con-texto da emergncia da sociedade de consumoe da expanso das formas culturais ps-mo-

    dernas (Lash, 1990; Featherstone, 1995;Warde, Martens e Olsen, 1999; Savage, 2000 ).Voltarei a este ponto adiante,15

    A Anlise de Classe ainda

    Relevante para as Cincias Sociais?

    Ns ltimos anos, o debate em torno darelevncia da anlise de classes centrou-se sobreas mudanas associadas a emergncia de novasformas de organizao das relaes sociais.

    Em uma vertente desse debate, argumen

    ta-se que, no contexto da transio para a sociedade ps-industrial, novas clivagens sociais (emtorno de padres de consumo, etnia, gneroetc.) tenderiam a emergir e a conformar maisfortemente a formao de identidades coletivas e preferncias polticas. Nesse contexto, asdivisesde classe se tomariam menos relevantes.,

    37

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    14/25

    havendo, com isso, um descolamento entreclasse evoco (Butler e Stokes, 1974; Crewe,Sarlvik e Alt, 1977; Clark, Lipset e Rempel,1993; Pakulski e Waters, 1996; Clark e Lipset,2001 ; Pakulski, 2001 , 20 04).

    Contrariamente, alguns estudos tentammostrar que as evidncias empricas que apoiamesse tipo d argumento so produzidas por perspectivas tericas e estratgias metodolgicasinadequadas. Em primeiro lugar, argumenta--se que os defensores da tese do descolamentoentre classe e voto tomam como interlocutoruma perspectiva marxista de anlise de classe,16

    cujas proposies mais ortodoxas foram abandonadas mesmo dentro do campo neomarxis-ta fWright, [1976] 1996) eque, ademais, noconstitui a nica opo dentro desse campoterico (Goldthorpe, 1996b).

    Em segundo lugar, a opo metodolgicaescolhida no permitiria captar adequadamente a relao classe-voto. Em geral, utiliza-se ondice de-Alford, cujo valor dado pelapor-centagem de trabalhadores manuais que votam em partidos de esquerda menos a porcentagem de trabalhadores no-manuals que

    votam nesses mesmos partidos. O problema que esse ndice baseia-s.e em esquemas dicotmicos de classe e partido, manual versusno-manuai, esquerda versusdireita. Entre outrascoisas, isso impede que se diferencie processosde desalinhamento, de um lido, de processosde realinhamento entre classe e voto, de outro.Estes ltimos podem resultar, por exemplo, doimpacto de mudanas nas situaes de trabalho e emprego sobte as preferncias polticas deindivduos em certas posies de classe ou demudanas nas estratgias dos partidos polticos(Goldthorpe, 1996b, 1999; Heath e Weak-

    liem, 1999; Weakliem, 2001). De fato, estudos comparativos internacionais que empregam uma opo metodolgica distinta,operaeionalizando: a relao classe-voto combase em esquemas de classe no-dicotmicos emodelos estatsticos Idg-lineares, no tm

    encontrado evidncias consistentes de atenuao do. impacto da classe sobre o voto (Heath,Joweli e Curtice, 1985; Hout, Brooks e Man-za, 1993; Heath e 'Weakliem, 1999; Goldthorpe, 1999).1

    Em. outra vertente desse debate, argumenta-se que as mudanas associadas transiopara a alta modernidadeou modernidade tardia(Beck, 1992; Lash e Urry, 1994; Giddens,2002) ou ps -m od er n idad e (Baudrillard,[1970] 1975; Jameson, 1994) teriam cindidoa relao entre classe e consumo e, maisprofundamente, atenuado (ou destrudo) a

    determinao das claSses. sobre os processossociais.

    A transio para a alta m odernidadeenvolveria mudanas profundas nas relaes entreestrutura e agncia. A libertao dos indivduosde contextos tradicionais de ao (entre elas, asclasses sociais) seria acompanhada pela emergncia de um novo regime de construo doeu: aquele baseado na reflexividade. Em umcontexto de forte ampliao das oportunidades de escolha (e dos riscos associados a elas),produzida pela emergncia de uma ordem so

    cial ps-tradicional, os atores sociais seriam crescentemente responsveis pela construo detrajetrias de vida em termos de uma biografiado eu. Segundo Giddens (2002, p. 79),

    [...] nas condies da alta modernidade,,no s seguimos estilos de vida, mas numimportante sentido somos obrigados a faz--lo no temos escolha seno esolher.Um estilo de vida pode ser definido comoum conjunto mais ou menos integrado.deprticas que um indivduo abraa [...] porque do forma material a uma narrativa

    particular da auto i dentidade.

    A reflexividade na alta modernidade estaria relacionada, portanto, com a ampliao doleque de escolhas em torno dos estilos de vida edo planejamento da vida.

    38

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    15/25

    Entre os tericos da ps-modemidade, afir-ma-se que a inflao e circulao rpida de bense signos (e a separao destes em relao aosreferentes), no contexto da emergncia de umregime de significao baseado na figurao(Lash, 1990),podem colocax em risco a legibilidade dos bens e prticas usados como marcadores sociais. Nas condies da ps-moder-nidade, os indivduos seriam livres pramanipular os signos da cultura de consumopor livre associao, o que permitiria um posicionamento social apenas precrio e instvel dosindivduos em termos de suas escolhas de consumo. A estabilizao do sentido dos objetosculturais e a estruturao deles em formas hierrquicas relativamente estveis, correlacionadas a divises sociais em termos de classe ououtra categoria qualquer, se tornariam problemticas. Isso implicaria uma imploso do espao social e dalgica da distino, um desaparecimento das velhas coordenadas do espaosocial.16

    Diferentemente, as formas culturais ps-modernas podem ser vistas como movimentosnovos dentro do espao social, associados

    emergncia de uma nova frao de classe (ados intermedirios ou especialistas culturais).Nesse sentido, a produo e expanso dessasformas culturais seriam o resultado de processos de longa durao que elevaram o nmerode especialistas culturais (especializados na produo de bens simblicos) nas sociedades capitalistas avanadas. Sendo marcada por um ha-bitusque valoriza uma atitude de aprendizagemperante a vida. de estetizao da vida cotidianae de relaxamento dos padres formais de comportamento, essa fiao de classe buscaria legi

    timar novos gostos e estilos de vida nas disputas simblicas com outras fraes de classe. Nocontexto dessas disputas, os especialistas culturais atuariam como intermedirios entre ocampo, cultural e o campo das classes sociais,ampliando o leque de bens culturais disponveis ao consumo e estimulando uma nova

    pedagogia e orientao em relao vida, quevalorizam a estetizao da vida, a exploraoemocional e a mistura de estilos e cdigos(Featherstone, 1995; Lash, 1990). Nesse sentido, as imagens de desordem cultural (e seusslogans,como "nada de regras, apenas escolhas),associadas s verses mais radicais do argumento ps-modernista, no implicariam exatamente a ausncia total de controles ou determina-es.Ao invs, tratar-se-ia d utii descntrolecontrolado, em que hedonismo e clculo instrumental se interpenetrariam:

    ;...] assim, possvel falar no hedonismocalculista, no clculo do efeito estilstico enuma economia das emoes, por um lado,e nuiiia estetizao da dimenso racionalinstrumental ou funcional, mediante a promoo de um distanciamento estetizante,Dor outro (Featherstone, 1995, p. 123).

    Nesse sentido, a expanso de formas culturais ps-modernas (marcadas pela misturade cdigos e estilos, pelo pasttche, pela subver-so de fronteiras simblicas tradicionais etc.)

    estaria associada a estratgias de reposicionamento social e emergncia de novos marcadores sociais com base em estilos de vida marcados pela estetizao da vida cotidiana, noimplicando, necessariamente a imploso do espao social e da conexo entre classe e consumo. De forma similar, a nfase sobre a reflexividadena teorizao sobre a modernidade tardiaou alta modernidade poderia expressar as orientaes de grupos sociais especficos (daquelesque, de fato, possuem as disposies e os recursos para fazer das trajetrias de vidaa materia

    lizao de projetos do eu reflexivamente construdos), e no uma condio geral de umnovo perodo histrico.19Em suma, talveznem todos possam se tornai'

    [...] os novos heris da cultura de consumo [que] transformam o estilo num projeto

    39

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    16/25

    de vida e manifestam sua individualidadee senso de estilo na especificidade do conjunto de bens, roupas, prticas, experincias, aparncias e disposies corporais destinadas a compor um estilo de vida '(Featherstone, 1995, p. 123).

    Pesquisas recentes tm chegado a concluses opostas quanto conexo entre classe econsumo. De um lado. um dos principais expoentes do Programa de Nuffield, Joh n Goldthorpe, produziu recentemente um conjuntode artigos, comTag Wing Chan. sublinhado a

    importncia da distino postulada por Weberentre classe estatus(Goldthorpe e Chan. 2005,2006, 2007a, 2007b). Contrariamente a Bour-dieu, os autores argumentam que statuse classeestruturam aspectos diferentes d ordem deestratificao social e impactam sobre as chances de vida individuais atravs de mecanismosdistintos. Enquanto a class constituiria principal fator a conformar as chances de vida nomercado (Goldthorpe eMcKnght, 200 6), sta-i se correlacionaria mais fortemente com padres de consumo cultural e diferenas no esti

    lo de vida (Goldthorpe e Chan, 2007b). Deoutro lado, alguns autores argumentam, aosmoldes de Bourdieu, que a classe um fatorimportante na estruturao das prticas de consumo e gostos culturais. Segundo eles, a relaoentre classe e consumo deve ser investigada emtermos de possveis homologias entre o espaosocial e o espao simblico. O uso dessas noes permitiria apreender o processo pelo qualas prticas de cnsum demarcam fronteirasmutveis nas relaes sociais, possivelmente reordenando as relaes de classe e os modos comoessas se expressam no plano simblico ao longo

    do tempo (Hoit, 1998; Savage et. a., 2005;Savage et a i,2007).

    A relevncia da anlise de classes tem sidosublinhada, nos ltimos anos, por inmerastentativas de reformul-la ou reconstru-la,como em McNall, Levine e Fantasia (1991),

    Grusky e Sorensen (1998), Sorensen (2000),Eder (2002) e Grusky e Galescu (2005), entre outros. No h espao para trat-las em detalhes aqui. Note-se, simplesmente, que foramfeitas importantes tentativas de sintetizar perspectivas tericas (Scott, 1996; Sallum Jr.,20 05). Nessa busca de sntese, a noo de coletividade social tem ganhado cada vez mais relevncia. Creio que h duas formas principaissob as quais essa noo aparece nos estudos declasse.

    Em uma delas, ela usada para dar contados padres regulares de ao que emergem

    das orientaes racionais de indivduos quecontrolam tipos e quantidades similares de recursos e enfrentam presses condicionais similares. Esse tipo de coletividade formado mecanicamente(Breen e Rottman, 1995).

    Dutra forma de conceber a formao decoletividades de classe busca incorporar osmodos como os indivduos se interpenetramem termos da internalizao de estruturas. Issopode ser observado em alguns esrudos de classeno campo neoweberiano. Neles, sublinha-seque os indivduos que ocupam uma posio

    de classe podem vir a compartilhar valores,orientaes normativas ou imagens de mundono contexto de processos de formao demogrfica e sociopoltica, dando origem a classessociais constitudas como coletividades (Lock-wood, [1960] 1996, [1966] 1996; Goldthorpe e Lockwood, [1963] 1996; Goldthorpe, Llewellyn e Payne, 1987; Scott, 1996).No caso da perspectiva de Bourdieu, vimoscomo os atores que ocupam uma mesma regiodo espao social, do ponto de vista sincrnico ediacrnico, tm alta probabilidade de compartilhar esquemas de ao e classificao de

    vido internalizao das propriedades relacionais do espao social. A meu ver, esta ltimaperspectiva terica que tem influenciado astentativas mais instigantes de investigar o processo de formao de coletividades de classeatualmente.10

    40

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    17/25

    Notas

    1 Destaco um conjunto de estudos comparativos, denominado Casmin (Comparatiue Analysiso f S ocialM obility in Indu stiial Soreties)e coordenado por John Goldthorpe e Walter Muller emmeados dos anos 1980. No Brasil, os trabalhos de Goldthorpe inspiraram diversos estudossobre classe e mobilidade, como od e Ribeiro e Scalon (2001), eitre outros.

    2 Para um contraponto, ver Goldthorpe e Hope (1974).

    3 Nesse sentido, Giddens (1975) cunhou o conceito de estruturao para dar conta dos processos pelos quais relaes tipicamente econmicas se transformam em sistemas estruturadosde relaes sociais baseados em classe. De forma semelhante, Lockwood ([1958] 1989) buscou captar os componentes materiais e simblicos que estruturam a estratificao social aopropor um esquema analtico diferenciando classes em termos de trs dimenses: econmica,relacional e normativa.

    4 Ver. entreoutrs, Goldthorpe,Llewellvn e Pvrie (1987).

    5 Para um cntrp ont, ver Goldthorpe ([1983] 1996).

    6 Sua obra tem influenciado um conjunto de estudos comparativos internacionais nas ltimasdcadas. No Brasil, o trabalho de Wright foi incorporado em um estudo de Santos (2002).

    7 Nesse sentido, diferem da velha classe mdia, cujos membros no so nem empregadosnemempregadores.

    8 As relaes de propriedade dos ativos organizacionais so operacionalizadas em termos deposies gerenciais e de superviso. As primeiras se distinguem em termos do poder decisriosobre o processo produtivo. As posies de superviso so definidas em termos do poder desuperviso sobre o trabalho alheio. A operacionalizao do conceito de ativo de qualificao mais complexa e depende de ttulos ocupadonais, credenciais educacionais e de uma medidade autonomia no. trabalho. Os especialistas: {expert) incluem todos os profissionais, e osgerentes (par ttulo ocupacional) e tcnicos, ambos, com ttulo universitrio. Os trabalhadoresqualificados (skilledworkers)incluem professores de escola, artesos, gerentes e tcnicos semttulo universitrio, e trabalhadores de escritrio e de vendas com ttulo universitrio e autonomia no trabalho (Wright, 1989,pp. 141-54, 303-17).

    9 Uma crtica semelhante poderia ser feita em relao aos trabalhos de Aage Sorensen (2000), emque explorao .definida como aapropriao de uma faria do excedente social maior o que oscustos associados produo e reproduo dos ativos produtivos. Essa sobrevalorizao ocorrecom base em estratgias de fechamento social que restringem o acesso a esses ativos produtivos.Para uma critica aos argumentos de Sornsen, ver Goldthorpe, 200.

    10 Para uma anlise da apropriao da tradio sociolgica clssica por Bourdieu, ver Brubaker(1985).

    1 1 Bourdieu utiliza ocupaes como indicadores das posies relativas no espao social, pois elasfrequentemente indicam - especialmente nas sociedades capitalistas a participao: relativados agentes na apropriao de capital cultural e econmico.

    4L

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    18/25

    12 A noo de disposies enfatiza o carter pr-reflexivo do princpio orientador das prticassociais. Essa noo de prtica segue uma tradio formada por filsofos como Heidegger,iMerleau-Ponty e Wittgenstein, que situaram o ator em suas prticas, em contraposio a utr aque o via fundamentalmente como um sujeito de representaes (Taylor, 1993).

    13 No h espao aqui para discutir em detalhes as principais crticas teoria de Bourdieu. Por isso,rmto o leitor aos seguintes textos, que abordam questes centrais dessa teoria. Emjenkms(1992) e Alexander (1995), argumenta-se que a teoria de Bourdieu falha em construir umateoriasintticaque supera as clssicas antinomias sociolgicas. Sallum Jr. (20 05) questiona aestreita conexo entre posio social e habitus, Bennett (2007) questiona a propriedade datransponibilidade do habitus.

    14 Para urri contraponto, ver Holt (19 98).

    15 De uma prspctiva distinta daquela de Bourdieu, Savge etal.(1992) constitui outra tentativa de conectar classe e prricas de consumo. Por sua vez, Thompson ([1968] 2004) faz umestudo que enfoca o processo de formao de classes do ponto de vista marxista.

    16 Entre outros, ver Pakulski e Waters (1996).

    17 Para uma viso gerai desses debates, ver o conjunto de estudos em Evans (19 99) e Clark eLipset (2001).

    18 Para diferentes verses desse argumento, ver Baudrillard ([1970] 1975) e Pakulski e Waters(1996).

    19 Para argumentos semelhantes, ver Savage (2000) e Skeggs (2004).

    20 Entre outros, ver Savage et. a. (2005); Savage et al. (2007) e Bennett et a i , 2 00 9 .0 gasto

    federal em saneamento inclui o gasto direto da Unio e suas transferncias aos estados, municpios e distrito federal, alm do FGTS. Informaes sobre o FGTS em 2006 no estodisponveis nesta fonce. Para maiores Informaes sobre a metodologia de clculo, ver a ficha dequalificao e o anexo IV referente ao captulo denominado 'recursos do ID B Brasil 2007 ,disponvel em: .

    Bibliografia

    ALE XAN DER, j. (1995), The reality of reduction: the failed synthesis of Pierre Bourdieu", in_____, Fin de slide.Relativism, reductionism and the problem o f reason, Londres, Verso.

    BAUDRILLARD, J. ([1970] 1975), Sociedade de consumo.Lisboa. Edies 70.

    BECK, U. ( 1992), Risk society.Londres, Sage.BE NN ET T, T, (2007), Habitus cliv: aesthetics and politics in the work of Pierre Bourdieu .

    Literary History, 38: 201-28.

    BENN ETT, T. etal, (2009), Culture, class, distinction.Nova Iorque, Routledge.

    BLAU, P M.; DUNCAN, O. R. (1967), TheA merican occupational structure.Nova York, Wiley.

    42

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    19/25

    BOURDIEU, Pierre (2002), Distinction.A social critique of the judgment of taste. Cambridge,Harvard University Press.

    _____. (2005a) Razes prticas.Sobre a teoria da ao. Campinas, Papirus,

    ______. (2005b) O pod er simblico.Rio de Janeiro, Bertrand Brasil.

    BRE EN, R.; GO LD TH OR PE, J. (1997), Explaining educational differentials: towards a formalrational action theory". Rationality an d Society,9: 2/5-305.

    _____. (1999), Class i nequality and meritocracy: a critique of Saunders and an alternative analysis. British Journ al ofsociology,50: 1-27.

    _____. (2001), Class, mobility and merit: the experience of two British cohorts. EuropeanJou rn al o fSociology,17: 81-100,

    BREEN, R.; ROTTMAN, D, (1995), Class stratification: a com parative perspective. Londres,Harvester Wheatsheaf,

    BRUBAKER, R. (1985), Rethinkingclassical theory: the sociological vision ofPierre Bourdieu.Theory a?id Society,14: 745-75.

    BU RR IS, Val (19 89), ''New directions in class analysis,, in E. 0 . Wright, The debate on classes,Londres,Verso.

    BULLER, David; STOKES, Donald (1974), Political change in Britain: the evolution o f theelectoralctmke.2. ed.. Londres, MacMillan.

    BUTLER , Tim; SAVAGE, Mike (orgs.) (1995), Social change and the m iddle classes.Londres, UCLPress.

    CARCHEDI, G. (1977), On the economic identification o f soc ial classes.Londres, Routledge; Boston, Kegan Paul.

    CLARK, T.; LIPSET, S. M.; R EMPEL, M. (1993), The declining significance of class. Internation al Sociology,8: 293-31 6.

    CLARK, T.; LIPSET, S. (orgs.) (2001), The breakdown ofclasspoliticsa debate on postindu strialstratification.Washington, D .C., Woodrow Wilson Center Press.

    CR EW E, L; SARLVIK, B.; ALT, J. (1977), Partisan dealignment in Britain 196 4-1 974. BritishJou rn al o f Political Science,7 :129-90.

    CRO MPT ON, Rosemary (1995), Womens employment and the middle class, in'l.Butler; M.

    Savage (orgs.), Social change an dthe middle closes,Londres/Nova York, Roudedge._____ . (199 6) , Gender and class analysis1', inD. Lee; B. Turner (orgs.), Conflicts about class,

    Londres, Longman Group.

    _____ . (2003), Class an d stratification.An introduction to current debates. 2. ed. Cambridge,Poliry Press.

    43

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    20/25

    CRO MPTON , Rosemary; GUBBAI, Jon (1977), Economy an d class structure.Londres, MacMillan.

    DAVIS, K.; MOO RE, W ([1945] 1996), Some principles of stratification, /John Scott (org.),Class.Critical concepts, vol. II, Londres/NovaYork, Routledge.

    DEVIN E, E; SAVAGE, M. (2005), The cultural turn, sociology and class analysis,in E Devine;M. Savage; J. Scott; R. Crompton (orgs.), Rethinking class.Culture, identities and lifestyle,Hampshire, Nova York, Palgrave, Macmillan,

    EDER, Klaus (2002),A nova poltica de classes.Sp Paulo, Edusc.

    EDGELL, Stephen (1993), Class.Key ideas. Londres/NovaYork, Routledge.

    ERIKSON, Robert; GOLD THO RPE, John (1992), The constantflu x.Oxford, Clarendon Press.

    _____

    . (2002), Intergenerational inequality: a sociological perspective, Thejournal o fEconomicPerspectives, 16:31-44.

    EVANS, G. (1992), "Testing the validity of the Goldthorpe class schema. European S ociologicalReview,8:211-32,

    EVANS, G. (org.), (1999), The end o fclass po litics : Class voting hi com parative context. Oxford,Oxford University Press.

    FEATHERSTONE, M. (1995), Cultura de consumo eps-modemismo.Trad. Julio Assis Simes. So

    Paulo, Studio Nobel,

    GIDD ENS, Anthony (1975), Estrutura de classes das sociedades avanadas.Rio de Janeiro, Zahar.

    _____. (2002),M odern idade e iden tidade.Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor.

    GOLDTHORPE, John ([1983] 1996), Women and class analysis: in defense of conventionalview, inj. Scott (org.), Class.Critical concepts, vol. II, Londres/NovaYork, Roudedge.

    _____ . (1995) , The service class revisited, inT. Butler; A4. Savage (orgs.), Social change and the-middle classes, Londres/Nova York Routledge.

    _____ . (1996a), Class analysis and the reorientation o f class theory: the case of persisting differentials in educational attainment. British Journal o fSociology,45: 481-505.

    _____ . (1996b), Class and politics in advanced industrial societies, inD. Lee; B. Turner (orgs.),Conflicts about class,Londres, Longman.

    _____ , (1999), Modelling the pattern of class voting in British elections, 1964-1992, mG.

    Evans, (org.), The end of class po litics'Class voting in comparative context, Oxford, OxfordUniversity Press.

    _____ , (20 00), Rent, class conflict, and class structure: a commentary on Sorensen .Am ericanJou rn al o fSociology, 105;: 1572-82.

    _____, (2007a), On Sociology.2 . ed. Stanford, Stanford University Press. 2 veils.

    44

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    21/25

    _____

    . (2007b), Cultural capital: some critical observations. Sociologica, 2: 1-23.

    GO LDTH OR PE , J.; CHAN .T. W. (2005), The social stratification of theatre, dance and cinemaattendance". Cultural Trends, 55: 193-212.

    _____ . (2 006), Social stratification and cultural consumption: music in England. EuropeanSociological Review, 2 3 :1-19.

    _____ . (2007a), "Social stratification and cultural consumption: the visual arts in England.Poetics,35: 168-90.

    _____. (2007b), Class and status: the conceptual distinction and its empirical relevance.Am erican Sociological Review,72: 512-32.

    GOLDTHORPE, John H.: HOPE, Keith (1974), The socialgrading o foccupations: a new approach a nd scale.Oxford, Claredon Press.

    GO LD TH OR PE, John H.; LLEWELLYN, Catriona; PAYNE, Clive (1987), Social mobility an dclass structure in modem Britain.Oxford, Claredon Press.

    GO LD TH OR PE, John: LO CK W OO D, David ([1963] 1996), Affluence and the British classstructure', / John Scotr (org.), Class.Critical concepts, vol. II, Londres/Nova York, Routled-

    ge-

    GO LD TH OR PE , John; MARSHALL, Gordon ([1992] 1997), The promising future of classanalysis, inG. Marshall, Repositioning class.Social inequality in industrial societies, Londres,Sage.

    GO LD TH OR PE, John; McKNIGHT, Abigail (2006), The Economics Basis of Social Class, inS. L. Morgan et al. (orgs.),M obility an d inequality.Frontiers of research in sociology andeconomics, Stanford, Stanford University Press.

    GR US KY D.; G ALESCU , G. (2005). Is Durkheim a class analyst?, in j . Alexander; P. Smith(orgs.), The Cam bridge Companion to Durkheim , Cambridge, Cambridge University Press.

    GRUSKY, D.; SORENSEN, J. (1998), Can class analysis be salvaged?. American Jou rn al o fSociology, 103: 1187-234.

    GUIMARES, A. S. (1999), Classes socials, inS. Miceh (org.), O que ler nas Cincias Sociaisbrasileiras (1970-1995), 2.ed, So Paulo, Editora Sumar/Anpoos; Braslia, Capes.

    HALLE, David (1991), Bringing materialism back in: art in the houses of the working andmiddle classes . inS. McNall; R. Levine; R. Fantasia (orgs.), Bringing class back in.Contempo

    rary and historical perspective, Oxford, Boulder; San Francisco,.Westview Press.

    HEATH, A.; JOW ELL, R.; CU RTIC E, J. (1985), How Britain votes.Oxford, Pergamon.

    HEATH, A.; WE AK LIEM , D. (1999), The secret life of class voting: Britain, France, and theUSA since the 1930s' , inG, Evans (org.), The end of class politics?Class voting in comparativecontext, Oxford, Oxford University Press.

    45

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    22/25

    HOLT, Douglas (199 8), Does cultural capital structure Am erican consumption?.Journ al o fConsumer Research,25:1-25.

    HOUT, M.; BROOKS, C.; MANZA, J. (1993), The persistence of classes in post-industrial

    societies. Internationa l Sociology,8: 259-77.

    JAMESON, Fredric (199 4) , Ps-modernismo\a lgica cultural do capitalismo tardio. Sio Paulo,tica.

    JENKINS, Peter (19 92 ), Pierre Bourdieu.Londres, Nova York, Routledge.

    KURZ, Karin; MU LLER, W alter (1987 ), Class mob ility in the industrial world.Annual Reviewo f Sociology,13; 417-4 2.

    LAMONTj Michele (1992), Money, morals and manners The culture of th e French and the Ameri

    can middle class.Chicago, The University of Chicago Press.

    LAMO NT, M ichele; M OLN R, Virg (2002), The study of boundaries in social sciences".

    Annua l Rev iew ofSoc io lo gy 2 8 :167-9 5.

    LASH, S. (1990), The sociology o fpostmodern ism .Londres, Roudedge.

    LASH, S.; URRY J. (1994),Economies o f sign a nd space.Londres, Sage.

    LOCKWOOD, David ([1958] 1989), The blackcoa ted worker.A stu dy in class consciousness. 2.ed., Oxford, Clarendon.

    _____, ([I9 60 ] 1996 ), The new working class, inJohn Scott (org ,), Class. Cri tical concepts.Vol. IV, Londres/Nova York, Routledge ,

    _____

    . ([1966 ] 1996 ), Sources ofvaria tion of working class images ofsociety, inJ . Scott (org .),Class.Critical concepts. Londres/Nova York, Routledge.

    ___. ([1981] 1988), The weakest link in the chain?, inD. Rose, Social stratification and

    economicchng, Londres, Unwin Hyman.

    _____. (1992), Solidarity an d Schism.Oxford, Clarendon Press.

    LOCKW OOD, David e t a i (1969), The affluent worker in the class structure.Cambridge, Cam

    bridge University Press.

    MARSHALL, Gordon etal.(1989), Social class in m odern Britain.Londres, Routledge.

    _____. (1997), Repositioning classsoc ial ine quality in industrial societies.Londres, Sage.

    MARX , Karl; ENGELS, Friedrich (199 8), OM anifesto do Partido Comunista.150 anos depois.So Paulo, Fundao. Perseu Abramo.

    McNALL , S.; LEVINE, R ; FANTASIA, R. (orgs.) (1991), Br ingin g class back in.Contemporaryand historical perspective. Oxford, Boulder; San Francisco, Westview Press.

    MURPHY , R. (1988), Socia l closure.The theory of monopolization and exclusion. Oxford, Cla rendon Press.

    46

  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    23/25

    OFFE, Klaus (1985), New social movements: challenging the boundaries of institutional politics". Social Research,52: 817-68.

    PAKULSK LJ. (2001 ), Class paradigms and politics,inT.Clark; S. Lipset (orgs.), The breakdowno f class politic sa debate on po stndustrialstratificalion,Washington, D.C ., Woodrow WilsonCenter Press.

    _____. (2004), Foundations or a post-class analysis. Disponvel em: .

    PAKULSKI, J.; WATERS, M . (1 996), The re shaping and dissolution o f social class in advancedsociety. Theory a nd Society,25: 667-91.

    PARKIN, Frank (1975), Class inequality a ndpo li ti ca l order, social stratification in capitalist and

    communist societies. Londres, Paladin.PARSONS, T. (1964),Essays in sociological theory. Nova York, Free Press; Londres, Collier-Macmiilan.

    POLTAN TZAS, Nicos (1979), Class in contem pora ry capitalism.Londres, New Left Books.

    RIBEIRO, Carlos Antonio C.; SCALO N, Ma ria Celi (20 01), Mobilidade de classe no Brasil emperspectiva comparada". Dados,44: 53-96.

    ROEMER, J ohn (1982),A ge nera l theory o f exploitation a nd class.Cambridge, H arvard UniversityPress.

    RUPP, J. (19 97 ), lLRethinking cu ltural and econom ic capita l, in]. H all (org.), Reworking class,Nova York, Cornell University Press.

    SALLUM jr., Brasilio (2005), Classes, cultura e ao coletiva.Lua Nova,

    65 :11-42.

    SANT OS, Jos A. F. (200 2),Estrutura depo si es de classes no Brasil.R io de Janeiro, Iuperj/Ucam.

    SAVAGE, Mike (19S8), "The m issing linkiT he relationship between spatial m obility and socialmobility. British Journal o f Sociology,39: 554-77.

    _____. (2000), Class analysis an d socia l transformation. B uckingham, Open U niversity Press.

    SAVAGE, Mike etal. (1992), Property, bureaucracy an d culture.Middle-class formation in contemporary B ritain. Londres; Nova York, Routledge .

    SAVAGE, Mike ; WARDE, Alan; DEVINE, Fiona (2 005 ), Cap itals, assets, and resources: somecritical issues. The BirtishJo urn al o fSociology,56: 31-47,

    SAVAGE, Mike et al. (200 5), Cultural capital in the UK: a preliminary report using correspon

    dence analysis, CRE SC W orking Paper,.4. D isponvel em: .

    SAVAGE, Mike etal.(2 007), Class and cultural division in the UK. CRESC Working Paper,40.Disponvel m: .

    SCALON, M, C. (1999),Mobilid ad e so cial no Brasil:padres e tendncias. Rio de Janeiro, Revan/Iuperj.

    47

    http://www.ssc.wisc.edu/http://www.ssc.wisc.edu/
  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    24/25

    SCOTT, John (1996), Stratificatio7i andpow er. structures of class, status and comm and. C am bridge, Polity Press.

    _____ . (20 00 ), If class is dead , wh y wo nt it lie dow n?. D ispon vel em: -http://privatewww.essex.:ac.uk/''iscottj/papersIist.htm>.

    _____. (2002), Social class and stratification in late modernity.Acta Soc iol og ica ,45:23-35.

    SCOT T, John; M ORRIS, Lydia (1996), The attenuation of class analysis: some comments on G.Marshall, S. Roberts and C. Burgoyne, Social class and the underclass in Britain in the USA .

    The British Journal o f Sociology,47: 45-55.

    SILVA, Nelson (1 999 ), Mo bilidade social, inS. Miceli (org.), O que ler nas Cincias Sociaisbrasileiras (1970-1995),2. ed. So Pau lo, Editora Sumar/Anpocs; Braslia, Capes.

    SKEGGS, B. (2004), Class, se lf culture,Londres, Roudedge.

    SORENSE N, Aage (2 000), Towards a sounder basis for class analysis. The American Journal o fSociology, 105: 1523-58.

    TAYLOR, Charles (199 3) , To follow a ru le . . in C. Calhoun: E. LIpuma; M. Postone (orgs.),

    Bourdieu. C ritical perspectives, Cambridge, Polity Press.

    THOM PSO N, E. P. ( [1 9683 2004),A fo rm a o da cla sse ope rria ingl esa .Rio de Janeiro, Paz e

    Terra.

    TR EIMA N, David (197 7) , Occupationalpr es tige in com pa rativ epersp ect ive .Nova York, Academ ic

    Press.

    VESTER, M. (2005) , Class culture in G ermany, inE Devine; M. Savage; J. Scott; R. Crompton(orgs.), Rethink ing class.C ulture, identities and lifestyle, H ampshire; Nova York, Palgrave

    Macmillan.

    WAC QU AN T, Lo ic (1991 ), M ak ing class: the midd le class(es) in the social t he or y an d socia lstructure, inS. McN all; R. Levine; R, Fantasia (orgs.), Br ingin g class back in.Contemporaryand historical perspective, Oxford. Boulder; S an Francisco, Wesrview Press.

    WAR DE , A.; MART EN S, L.; OLSEN, W. (1 99 9) , Co nsum ption and the p rob lem of var iety:cultural omnivorousness, social distinction and dining out. Sociology,33: 105-27.

    WEAKLIEM, D. (2 00 1), Soc ial class and voting: the case aga inst decline, inT. Clark; S. Lipset(orgs.), The breakdown o f class politic s- a debate on postindustrial stratification, W ashington,

    D. C., Woodrow W ilson Center Press.

    WE BER, Max (198 2) ,Ensaios de Sociologia .Rio de Janeiro, Guanabara Koogan.

    WEININ GER , El lio t (2 004) , Foundations of Bo urdieu s class analy sis . Disponve l em:

    .

    W IT Z, A. (199 5) , Gender and social class form ation, m l . Butler: M. Savage (orgs.), Socialchange a nd the m iddle closes,Londres/NoVa York, Roudedge.

    http://www.ssc.wisc.edu/%20-wriglit./http://www.ssc.wisc.edu/%20-wriglit./
  • 7/23/2019 As Classes Na Teoria Sociolgica Contempornea

    25/25

    WRIGH T, Erik O. ([1976 ] 19 96 ), "Class boundaries in advanced capitalist societies , in].Scott(org,), Class.Critical concepts, vol. II, Lndrs/Nova York, Routledge.

    _____. ( 1985 ), Classes.Londres, Verso.

    _____. [1989), The deba te on classes,Londres, Verso.

    _____ (199 6), "The co ntinuing relevance of class analysis, Theoiy & Society,28 : 693-71 6,

    _____( 1997 ), Class counts.Comparative studies in class analysis. Nova York, Cambridge University Press.

    Artigo recebido em abril/2007Aprov ada em janeiro/2009

    Resumo

    As Classes na Teoria C ont empornea

    O presenre artigo investiga as principais perspectivas de anlise de classe que tm influenciado a pesquisasociolgica contempornea. Aps o exame dos mais importantes estudos produzidos nos ltimos anos,busca avanar na anlise que enfatize a concepo de classe como coletividades sociais,

    Palavras-chave: Classe social: Coletividade social; Estilo de vida; Cultura ; Economia; Prticas classificatrias;Ao coletiv a.

    Abstract

    Classes in th e Contemporary Theory

    Th e pre sent art icle investi gates the main perspectives of class ana lyse s that have inf lue nced the conte mporary sociological research. After examining the most relevant studies produced in the past years, we

    aim at advancing in the analysis that emphasizes the conception of class as social collectivities.

    Keywords: Social class; Social collectivity; Lifestyle; Culture; Economy; Classificatory practices; Col

    lective action.

    Resum

    Ls Classes dans la Thorie Contemporaine

    Le. prsent article consiste en une recherche des principales perspectives danalyse de classe qui ontinfluenc la recherche sociologique contemporaine. Aprs un examen des tudes les plus importantesproduites au cours des dernires annes, nous avanons sur lanaivse qui met laccent sur la conception declasse en tant que collectivits sociales.

    Mo ts-cls: Classe sociale; Collectiv it sociale; Style de vie; Cultu re; Economie; Pratiques classificatoires;

    Act ion collective.