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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS PROPRIEDADES QUÍMICAS E FÍSICAS DO SOLO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO ECÓTONO CERRADO-AMAZÔNIA Matheus Bortolanza Soares Engenheiro Agrônomo 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CAMPUS UNIVERSITRIO DE SINOP

INSTITUTO DE CINCIAS AGRRIAS E AMBIENTAIS

PROPRIEDADES QUMICAS E FSICAS DO SOLO EM SISTEMAS DE

PRODUO NO ECTONO CERRADO-AMAZNIA

Matheus Bortolanza Soares

Engenheiro Agrnomo

2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CAMPUS UNIVERSITRIO DE SINOP

INSTITUTO DE CINCIAS AGRRIAS E AMBIENTAIS

PROPRIEDADES QUMICAS E FSICAS DO SOLO EM SISTEMAS DE

PRODUO NO ECTONO CERRADO-AMAZNIA

Matheus Bortolanza Soares

Orientador: Prof. Dr. On da Silva Freddi

Co-Orientador: Dr. Eduardo da Silva Matos

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Agronomia, como parte das exigncias para obteno do ttulo de Mestre em Agronomia. Linha de Pesquisa: Solos.

2018

DADOS CURRICULARES DO AUTOR

Matheus Bortolanza Soares, nascido em 29 de junho de 1993 em

Guarapuava, Paran. Cursou o ensino fundamental e mdio no colgio estadual Nilza

de Oliveira Pipino localizado em Sinop, Mato Grosso. Ainda durante o ensino mdio,

cursou o curso tcnico em Meio Ambiente, pela Secretria de Estado de Cincia e

Tecnologia Campus de Sinop. Em agosto de 2011 ingressou no curso de Agronomia

da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus universitrio de Sinop,

Mato Grosso, no qual permaneceu como monitor bolsista na disciplina de Introduo

Cincias do Solo, obtendo o ttulo de Engenheiro Agrnomo em janeiro de 2016. Em

maro de 2016 ingressou no curso de Mestrado em Agronomia na Universidade

Federal de Mato Grosso Instituto de Cincias Agrrias e Ambientais (UFMT/ICAA),

Sinop, MT, sob a orientao do Professor Dr. On da Silva Freddi. Em julho de 2016

comeou a lecionar as disciplinas de Gnese, Morfologia e Classificao dos Solos,

Fertilidade dos Solos e Adubao e Nutrio de Plantas na Faculdade Centro Mato-

Grossense (FACEM), no qual vem lecionando at o presente momento. Em dezembro

de 2017 foi aprovado para ingressar no curso de doutorado no Programa de Ps-

Graduao em Solos e Nutrio de Plantas da USP-ESALQ.

DEDICATRIA

Aos meus pais

Lorice Aparecida Bortolanza Soares e Zeno de Campos Soares

minha homenagem, por todo carinho, ateno e dedicao,

apoiando e dando suporte para a realizao dos meus sonhos.

Aos meus irmos

Lucas Bortolanza Soares e Letcia Carolina Bortolanza

Soares, minha homenagem e gratido.

minha namorada

Mrcia Inoue

pelo companheirismo e amor em todos os momentos

minha homenagem e gratido.

S h duas maneiras de viver a vida: a primeira viv-la como se os milagres no existissem. A segunda viv-la como se tudo fosse milagre

(Albert Einstein)

AGRADECIMENTOS

Deus, obrigado por me dar mais do que preciso e por me abenoar mais do que eu

mereo.

minha famlia por todo apoio, incentivo e educao, permitindo que fosse

possvel a realizao dos meus sonhos.

Ao professor Dr. On da Silva Freddi, alm de orientador, um grande amigo, por todos

os ensinamentos e oportunidades que me proporcionou no decorrer desses longos anos de

orientao, parte do que conquistei e sou hoje devo ao senhor, nunca terei palavras para

agradecer as oportunidades que o senhor me deu, minha eterna gratido.

Ao Programa de Ps-Graduao em Agronomia da Universidade Federal de Mato

Grosso (UFMT) e Fundao de Amparo Pesquisa de Mato Grosso (FAPEMAT), pela

oportunidade que me foi dada.

Aos professores do Mestrado e Graduao em Agronomia, pelo conhecimento

fornecido, o qual foi fundamental na minha vida.

toda EMBRAPA Agrossilvipastoril, em especial aos pesquisadores Flvio Jesus

Wruck e Eduardo da Silva Matos, que me abriram as portas da EMBRAPA e me

proporcionaram uma oportunidade nica de aprendizado, meu eterno obrigado.

Aos gestores do laboratrio de gua e carbono da EMBRAPA, Rodrigo Chelego,

Rogrio Bicudo e Bruno Rafael, obrigado por todos os ensinamentos e ajuda nas anlises.

Ao Sr. Neuri e famlia, proprietrios da Fazenda Certeza, sem o qual no seria possvel

a realizao deste experimento.

Aos meus amigos do curso de Agronomia e do Laboratrio de Solos da UFMT: Renan

Rimoldi Tavanti, Tauan Rimoldi Tavanti, Joaquim Pedro de Lima, Vinicius Marchioro, Adriel

Rigotti, Matheus Zulato, Rodrigo G. Trevisan, Marcos Euzbio, Leidimar Morais, Wellington

Magalhes, Guilherme Oliveira, Vincios Costa, Gean Rauch, Giulia Basso, Felipe Diel, e

muitos outros, pelo apoio, amizade e aprendizado.

Enfim, a todos, que contriburam de alguma formar para mais esta conquista, muito

obrigado!

vi

SUMRIO

Pgina

RESUMO ............................................................................................................................... vii

ABSTRACT ........................................................................................................................... viii

LISTA DE TABELAS. .............................................................................................................. ix

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... xi

CAPTULO 1 CONSIDERAES GERAIS

1. INTRODUO ...............................................................................................................1

2. REVISO DE LITERATURA ......................................................................................... 2

2.1. Sistemas integrados de produo ................................................................................ 2

2.2. Alteraes na qualidade qumica do solo em funo dos sistemas integrados de

produo ................................................................................................................................. 3

2.3. Uso de plantas de cobertura no Cerrado brasileiro e seu impacto nos atributos fsicos

do solo ..................................................................................................................................... 4

3. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS .................................................................................... 6

4. REFERNCIAS ............................................................................................................. 7

CAPTULO 2 SISTEMAS INTEGRADOS DE PRODUO: UMA ALTERNATIVA PARA

RECUPERAO DA QUALIDADE QUMICA DO SOLO NO ECTONO CERRADO-

AMAZONIA

RESUMO ............................................................................................................................... 10

1. INTRODUO ............................................................................................................ 11

2. MATERIAL E MTODOS ............................................................................................ 13

3. RESULTADOS ............................................................................................................ 16

4. DISCUSSO ............................................................................................................... 24

5. CONCLUSES........................................................................................................... 28

6. REFERNCIAS........................................................................................................... 28

CAPTULO 3 PLANTAS DE COBERTURA COMO ALTERNATIVA PARA MANUTENO

DA QUALIDADE DOS SOLOS NO ECTONO CERRADO-AMAZNIA

RESUMO ............................................................................................................................... 33

1. INTRODUO ........................................................................................................... 34

2. MATERIAL E MTODOS ........................................................................................... 35

2.1. Local do estudo ........................................................................................................... 35

2.2. Caracterizao dos tratamentos ................................................................................. 35

2.3. Amostragem e avaliao dos atributos do solo ........................................................... 36

2.4. Anlise estatstica ....................................................................................................... 39

3. RESULTADOS E DISCUSSES ................................................................................ 40

4. CONCLUSES.............................................................................................................59

5. REFERNCIAS .......................................................................................................... 60

vii

PROPRIEDADES QUMICAS E FSICAS DO SOLO EM SISTEMAS DE

PRODUO NO ECTONO CERRADO-AMAZNIA

RESUMO Em virtude de os sistemas de produo modificar os atributos qumicos e fsicos do solo e procurando alternativas para manter a qualidade do solo na regio de ectono Cerrado-Amaznia, o presente estudo teve por objetivo geral avaliar, em condies de campo, a qualidade fsica e qumica do solo em diferentes sistemas de produo. Para isso realizou-se dois experimentos, sendo o primeiro no muncipio de Querncia-MT no qual avaliou-se a qualidade qumica do solo submetido a seis diferentes sistemas integrados de produo e manejo com semeadura direta em sucesso soja/milho. O segundo experimento foi realizado durante trs anos no muncipio de Sinop-MT no qual avaliou-se a qualidade fsica e fraes de carbono do solo submetido a oito diferentes plantas de cobertura, em delineamento em blocos casualizados. Foram coletadas nos dois experimentos amostras deformadas e indeformadas nas camadas de 0-0,10 e 0,10-0,20 m para determinao dos atributos do solo. Os atributos determinados no experimento de Querncia foram: carbono orgnico total, carbono orgnico particulado, carbono orgnico associado ao mineral, nitrognio total, enxofre total, relao C/N, fsforo inorgnico lbil, fsforo orgnico lbil, fsforo total lbil, fsforo no lbil, fsforo total do solo, estoque de carbono orgnico, estoque de carbono orgnico particulado, estoque de carbono orgnico associado ao mineral e estoque de nitrognio. Os atributos determinados no experimento de Sinop foram: macroporosidade, microporosidade, densidade do solo, curva de reteno de gua, gua higroscpica, gua disponvel, gua gravitacional, ndice S, carbono orgnico total, carbono orgnico particulado, carbono orgnico associado ao mineral, densidade relativa, grau de compactao e intervalo hdrico timo. Tanto os sistemas integrados de produo quanto as diferentes plantas de cobertura proporcionam modificaes nas propriedades do solo em ambas as camadas avaliadas. O uso de Brachiaria ruziziensis com Stylosanthes spp. antecedendo o cultivo de milheto proporciona melhor qualidade qumica ao solo. Em sistemas integrados de produo com mais de 4,5 anos de pasto sendo estes com 2,5 anos consecutivos de pecuria aps agricultura, resulta em diminuio do carbono do solo. Dentre os sistemas avaliados, o manejo com semeadura direta em sucesso soja/milho teve menores estoques de carbono e nitrognio. O sistema integrado de produo que permaneceu 4 anos com agricultura e 3 anos e meio com pasto acumula maiores quantidades de carbono associado ao mineral. Os sistemas integrados que permaneceram os trs primeiros anos com agricultura consorciada, posteriormente dois anos com pasto e retornaram com a agricultura consorciada com pastagens proporcionam o sequestro de carbono, atravs do aumento de estoques de carbono no solo. O cultivo do solo, com a utilizao de culturas de cobertura, modificou a estrutura do solo na camada superficial e subsuperficial ao longo dos trs anos de avaliao. Entre as espcies de cobertura estudadas, a Cajanus cajan e a Urochloa ruziziensis, aumentaram no decorrer dos trs anos a macroporosidade e gua gravitacional na camada superficial do solo. O Intervalo hdrico timo do solo estudado foi limitado na parte superior pelo contedo de gua na capacidade de campo e na parte inferior pela resistncia mecnica do solo penetrao.

Palavras-chave: sustentabilidade agrcola, plantas de cobertura, conservao do solo,

fracionamento fsico do carbono, curva de reteno de gua

viii

CHEMICAL AND PHYSICAL PROPERTIES OF THE SOIL IN SYSTEMS OF

PRODUCTION IN THE CLOSED-AMAZON ECOTTON

ABSTRACT Due to production systems, it modifies the physical and physical resources of the soil and seeks alternatives to maintain the quality of the soil in the Cerrado-Amazon

ecotone region, the general objective of this study was to evaluate, under field conditions, a

quality physics and soil chemistry in different production systems. What is what is what is what

is is what is is what is is what is what is what is what you want to say? The second experiment

was carried out for three years without Sinop-MT municipality without physical quality

evaluation and carbon fractions in soil submitted to eight different cover crops in a randomized

complete block design. In the two experiments, the samples were deformed and undisturbed

in the 0-0.10 and 0.10-0.20 m layers to determine the soil attributes. The attributes determined

without Querencia experiment were: total organic carbon, particulate organic carbon, organic

carbon associated with the mineral, total nitrogen, total sulfur, C / N ratio, labile inorganic

phosphorus, labile organic phosphorus, labile total phosphorus, non-labile phosphorus, total

soil phosphorus, organic carbon stock, organic carbon stock, organic carbon stock associated

with the mineral, and nitrogen stock. Nutrients, biodiversity, soil density, water retention curve,

mineral water, available water, gravitational water, S index, organic carbon, organic carbon,

organic carbon associated with the mineral, relative density, degree of compaction and optimal

water range. Both integrated production systems and different cover crops provide changes in

soil properties in both evaluated layers. The use of Brachiaria ruziziensis with Stylosanthes

spp. preceding the cultivation of millet provides better chemical quality to the soil. In integrated

systems of production with more than 4.5 years of pastime with these with 2.5 consecutive

years of livestock after agriculture, results in decrease of soil carbon. Among the operating

systems, management with direct seeding in soybean / corn succession had lower stocks of

carbon and nitrogen. The integrated production system that has been in agriculture for four

years and three and a half years with pasture has accumulated higher volumes of carbon

associated with the mineral. Integrated systems that maintain the first three years with

intercropped agriculture, plus two years of pasture and returned with pasture-intensive

agriculture provide for carbon sequestration through the increase of carbon stocks without soil.

Soil cultivation, using cover crops, modified a soil structure in the surface and subsurface layer

over the three years of evaluation. Among the cover species studied, Cajanus cajan and

Urochloa ruziziensis, increased during the three years, a macroporosity and gravitational water

in the surface layer of the soil. The optimum water interval of the studied soil was limited in the

upper part by the water content in the field capacity and in the lower part of the mechanical

resistance of the soil to the penetration.

Key-words: agricultural sustainability, cover plants, soil conservation, physical fractionation

of carbon, water retention curve

ix

LISTA DE TABELAS

CAPTULO 2 SISTEMAS INTEGRADOS DE PRODUO: UMA ALTERNATIVA PARA

RECUPERAO DA QUALIDADE QUMICA DO SOLO NO ECTONO CERRADO-

AMAZONIA

Tabela 1. Rotaes de culturas nos ltimos oito anos da estao experimental localizada na

Fazenda Certeza, Querncia, Mato Grosso. ........................................................................ 14

Tabela 2. Anlise descritiva inicial dos atributos qumicos de um Latossolo Vermelho-Amarelo

sob sistemas integrados de produo e cultivo convencional de soja/milho em semadura

direta...................................................................................................................................... 18

Tabela 3. Resultados da anlise de componentes principais aplicada s propriedades

qumicas do Latossolo Vermelho Amarelo sob integrao entre culturas e pecuria e cultivo

convencional de soja / milho em plantio direto.. ..................................................................... 18

Tabela 4. Parmetros dos semivariogramas dos principais componentes da anlise

multivariada dos atributos qumicos nas camadas 0-0.10 e 0,10 a 0,20 m de um Latossolo

Vermelho Amarelo sob integrao entre culturas e gado....................................................... 20

Tabela 5. Comparao de mdia dos atributos qumicos nas camadas 0-0,10 e 0,10 a 0,20 m

de um Latossolo Vermelho Amarelo sob sistemas integrados de produo, atravs do

intervalo de confiana de 95%................................................................................................ 23

CAPTULO 3 PLANTAS DE COBERTURA COMO ALTERNATIVA PARA MANUTENO

DA QUALIDADE DOS SOLOS NO ECTONO CERRADO-AMAZNIA

Tabela 1. Relao dos tratamentos, constitudos por diferentes plantas de cobertura sob

Latossolo Vermelho Amarelo, Sinop, Mato Grosso ................................................................ 36

Tabela 2. Parmetros empricos da curva de reteno de gua dos trs anos de avaliao das

diferentes plantas de cobertura sob Latossolo Amarelo..........................................................49

Tabela 3. Anlise de correlao de Spearman entre os atributos fsicos e ndice S da camada

superficial de um Latossolo Amarelo submetido a diferentes plantas de cobertura............... 54

Tabela 4. Anlise de correlao de Spearman entre os atributos fsicos e ndice S da camada

subsuperficial de um Latossolo Amarelo submetido a diferentes plantas de cobertura.......... 55

x

LISTA DE FIGURAS

CAPTULO 2 SISTEMAS INTEGRADOS DE PRODUO: UMA ALTERNATIVA PARA

RECUPERAO DA QUALIDADE QUMICA DO SOLO NO ECTONO CERRADO-

AMAZONIA

Figura 1. Localizao da rea experimental e ilustrao da malha de amostra retangular com

pontos georeferenciados. TFS e CLI systems: sistema tradicional de cultivo e sistemas

integrados de produo, respectivamente.............................................................................. 27

Figura 2. Mapas de Krigagem e coeficientes de correlao dos autovetores nos principais

componentes obtidos na anlise multivariada dos atributos qumicos do Latossolo Vermelho

Amarelo, nas camadas 0-0.10 e 0,10-0,20 m........................................................................ 21

Figura 3. Comparativo dos estoques de carbono orgnico dos sistemas integrados de

produo na camada de 0-0,20 m entre os anos de 2010 (FRANCHINI et al., 2010a; WRUCK

et al., 2010; FRANCHINI et al., 2010b) e 2014. Valores seguidos de * e sinal negativo

representam taxa anual de perda de carbono (Mg ha-1 ano-1), enquanto que valores seguidos

de * e sinal positivo representam taxa anual de incorporao de carbono no solo (Mg ha-1 ano-

1) ............................................................................................................................................ 24

CAPTULO 3 PLANTAS DE COBERTURA COMO ALTERNATIVA PARA MANUTENO

DA QUALIDADE DOS SOLOS NO ECTONO CERRADO-AMAZNIA

Figura 1. Localizao do experimento com diferentes plantas de cobertura sob um Latossolo

Vermelho Amarelo no muncipio de Sinop-MT........................................................................ 35

Figura 2. Comparao de mdias no ano de 2015 dos atributos fsicos de um Latossolo

Vermelho Amarelo sob diferentes plantas de cobertura, localizado em Sinop-MT, onde: T1:

Crotalaria espectabilis; T2: Cajanus cajan; T3: Mucuna aterrima; T4: Fagopyrum esculentum;

T5: Urochloa ruziziensis; T6: Urochloa brizantha; T7: Pennisetum glaucum; T8: Eleusine

coracana; MA: macroporosidade; MI: microporosidade; BD: densidade do solo e PR:

resistncia do solo penetrao............................................................................................ 40

Figura 3. Comparao de mdias no ano de 2016 dos atributos fsicos de um Latossolo

Vermelho Amarelo sob diferentes plantas de cobertura, localizado em Sinop-MT, onde: T1:

Crotalaria espectabilis; T2: Cajanus cajan; T3: Mucuna aterrima; T4: Fagopyrum esculentum;

T5: Urochloa ruziziensis; T6: Urochloa brizantha; T7: Pennisetum glaucum; T8: Eleusine

xi

coracana; MA: macroporosidade; MI: microporosidade; BD: densidade do solo e PR:

resistncia do solo penetrao............................................................................................ 41

Figura 4. Comparao de mdias no ano de 2017 dos atributos fsicos e fraes de carbono

de um Latossolo Vermelho Amarelo sob diferentes plantas de cobertura, localizado em Sinop-

MT, onde: T1: Crotalaria espectabilis; T2: Cajanus cajan; T3: Mucuna aterrima; T4:

Fagopyrum esculentum; T5: Urochloa ruziziensis; T6: Urochloa brizantha; T7: Pennisetum

glaucum; T8: Eleusine coracana; MA: macroporosidade; MI: microporosidade; BD: densidade

do solo; PR: resistncia do solo penetrao; Ocam: carbono orgnico associado ao mineral

e POC: carbono orgnico

particulado................................................................................................. 43

Figura 5. Comparao de mdias da gua higroscpica, gua disponvel e gua gravitacional

do solo sob diferentes plantas de cobertura no ano de 2015, na camada (a) superficial e (b)

subsuperficial, onde: T1: Crotalaria espectabilis; T2: Cajanus cajan; T3: Mucuna aterrima; T4:

Fagopyrum esculentum; T5: Urochloa ruziziensis; T6: Urochloa brizantha; T7: Pennisetum

glaucum; T8: Eleusine coracana............................................................................................. 46

Figura 6. Comparao de mdias da gua higroscpica, gua disponvel e gua gravitacional

do solo sob diferentes plantas de cobertura no ano de 2016, na camada (a) superficial e (b)

subsuperficial, onde: T1: Crotalaria espectabilis; T2: Cajanus cajan; T3: Mucuna aterrima; T4:

Fagopyrum esculentum; T5: Urochloa ruziziensis; T6: Urochloa brizantha; T7: Pennisetum

glaucum; T8: Eleusine coracana............................................................................................ 47

Figura 7. Comparao de mdias da gua higroscpica, gua disponvel e gua gravitacional

do solo sob diferentes plantas de cobertura no ano de 2017, na camada (a) superficial e (b)

subsuperficial, onde: T1: Crotalaria espectabilis; T2: Cajanus cajan; T3: Mucuna aterrima; T4:

Fagopyrum esculentum; T5: Urochloa ruziziensis; T6: Urochloa brizantha; T7: Pennisetum

glaucum; T8: Eleusine coracana............................................................................................ 48

Figura 8. Curvas de reteno de gua de um Latossolo Amarelo sob diferentes plantas de

cobertura, nas camadas de 0-0,10 e 0,10-0,20 m no ano de 2015. T1: Crotalaria espectabilis;

T2: Cajanus cajan; T3: Mucuna aterrima; T4: Fagopyrum esculentum; T5: Urochloa

ruziziensis; T6: Urochloa brizantha; T7: Pennisetum glaucum; T8: Eleusine coracana.......... 50

Figura 9. Curvas de reteno de gua de um Latossolo Amarelo sob diferentes plantas de

cobertura, nas camadas de 0-0,10 e 0,10-0,20 m no ano de 2016. T1: Crotalaria espectabilis;

T2: Cajanus cajan; T3: Mucuna aterrima; T4: Fagopyrum esculentum; T5: Urochloa

ruziziensis; T6: Urochloa brizantha; T7: Pennisetum glaucum; T8: Eleusine coracana.......... 51

Figura 10. Curvas de reteno de gua de um Latossolo Amarelo sob diferentes plantas de

cobertura, nas camadas de 0-0,10 e 0,10-0,20 m no ano de 2017. T1: Crotalaria espectabilis;

xii

T2: Cajanus cajan; T3: Mucuna aterrima; T4: Fagopyrum esculentum; T5: Urochloa

ruziziensis; T6: Urochloa brizantha; T7: Pennisetum glaucum; T8: Eleusine coracana.......... 52

Figura 11. ndice S de um Latossolo Amarelo sob diferentes plantas de cobertura, nas

camadas de 0-0,10 e 0,10-0,20 m. Onde: T1: Crotalaria espectabilis; T2: Cajanus cajan; T3:

Mucuna aterrima; T4: Fagopyrum esculentum; T5: Urochloa ruziziensis; T6: Urochloa

brizantha; T7: Pennisetum glaucum; T8: Eleusine coracana.................................................. 53

Figura 12. Densidade de referncia determinada com o aparelho de Proctor na camada 0-

0,20 m de um Latossolo Amarelo no muncipio de Sinop-MT................................................. 56

Figura 13. Variao do contedo volumtrico de gua no solo em funo da densidade

aparente para os limites crticos de porosidade de aerao (AP), capacidade de campo

(FC), ponto de murcha permanente (PWP) e resistncia do solo penetrao 4.02 MPa

(PR 4.02 MPa) .................................................................................................................. 58

1

CAPTULO 1 - CONSIDERAES GERAIS

1. INTRODUO

O uso da sucesso soja/milho em semeadura direta amplamente praticado pelos

produtores, principalmente no Cerrado brasileiro, devido a curta janela de plantio e de estao

chuvosa bem definidas, o que dificulta a implantao de outras culturas entre as duas safras.

de consenso que o uso desse sistema de cultivo causa o decrscimo no teor de matria

orgnica dos solos, devido baixa quantidade e qualidade da palhada deixada por estas

culturas. Culminando em reduo da capacidade de troca catinica, infiltrao de gua,

porosidade e aumento da densidade do solo, favorecendo os processos erosivos, como

selamento superficial, escoamento superficial e baixa estabilidade de agregados, levando a

degradao do solo (STEFANOSKI et al., 2013).

Aliado ao aumento da demanda por alimentos e a busca pela preservao

ambiental, tm-se buscado alternativas de manejo que aumentem a rentabilidade sem

haver a necessidade da expanso de reas j ocupadas por lavouras e pastagens. Entre

as alternativas de manejo (BALBINO et al., 2011), pode se citar, como por exemplo o plantio

direto e os sistemas integrados de produo agropecuria, os quais foram reconhecidos

como alternativa para intensificao sustentvel (FAO, 2015).

Os sistemas de produo integrada so caracterizados por possuir na safrinha o

consrcio do milho com forrageiras e ter na terceira safra o componente animal, tendo

importncia no s na adio de matria orgnica no sistema (SALTON et al., 2008), mas

tambm no ponto de vista econmico, reduzindo o custo de produo (RYSCHAWY et al.,

2012).

De acordo com Bell e Moore (2012) os sistemas integrados de produo agropecuria

esto presentes em 25 milhes de km2, sendo responsveis por aproximadamente 50% da

produo de alimentos no mundo (HERRERO et al., 2010). Diante disso, se faz necessrio

priorizar sistemas de produo que favoream o contnuo crescimento de plantas, protegendo

a superfcie do solo contra os agentes erosivos. Fazendo com que a explorao do solo seja

de acordo com sua capacidade de uso, minimizando as perdas de nutriente no solo, a fim de

aumentar a eficincia desses nutrientes na agricultura e garantir a sustentabilidade dos

sistemas de produo.

No entanto, como no Cerrado brasileiro o uso das plantas de cobertura limitado ao

perodo de seca, o qual dificulta a formao de palhada, faz-se necessrio no s adiantar o

2

momento de espcies de cobertura (MACHADO e ASSIS, 2010) como escolher plantas

resistentes s intempries comuns no Cerrado (BORGES et al., 2015).

Tendo em vista que no est consolidado quais as plantas de cobertura que

proporcionam a melhoria na qualidade dos solos do Cerrado brasileiro, se faz necessrio

estudos com diferentes plantas de cobertura avaliando o impacto sobre os atributos fsicos e

qumicos do solo sob diferentes sistemas de produo no ectono Cerrado-Amaznia.

2. REVISO DE LITERATURA

2.1. Sistemas integrados de produo

A prtica de cultivo de pastagens anuais ou perenes, em alternncia com culturas

anuais, com intuito de produzir carne e gros caracterizado de acordo com Balbino et al.

(2011) como sistemas integrados de produo agropecuria.

De acordo com Kichel et al. (2014) esses sistemas tem o objetivo de maximizar a

utilizao dos ciclos biolgicos das plantas, animais, juntamente com seus respectivos

resduos. Estes sistemas visam tambm o maior aproveitamento e utilizao de

agroqumicos, melhorando as condies sociais no meio rural, reduzindo os riscos e

impactos ambientais, em funo do sinergismo do sistema solo-planta-animal-atmosfera

(CARVALHO e ANGHINONI, 2013).

Devido a esses benefcios e almejando alavancar o uso dos sistemas integrados de

produo (CLI) no Brasil, foi aprovada a Poltica Nacional de Sistemas Integrados,

posteriormente a isso, surgiu o Plano Agrcola de Baixo Carbono, comumente conhecido

como Plano ABC, tendo como diretrizes, de acordo com Amaral et al. (2011), facilitar a

capacitao, melhorar a assistncia tcnica e fornecer crdito especial aos agricultores que

adotarem prticas agrcolas de baixa emisso de carbono, estando inseridos dentro desse

contexto os CLI, visto ao seu potencial de recuperao de pastagens degradadas.

Devido a esses programas de incentivos, as projees so de aumentar o uso dos

sistemas integrados em 4 milhes de hectares, podendo reduzir a emisso de 18 a 22 milhes

de toneladas de dixido de carbono (MAPA, 2012).

No entanto, mesmo com incentivos por parte do governo, ainda existem barreiras a

serem quebradas para a adoo dos CLI. Como exemplo citado por Martha Jr. (2011), onde

no sistema de integrao lavoura-pecuria a alta demanda por capital inicial pode ser um

fator-chave na adoo por produtores. Assim, para o autor, em regies agrcolas a adoo

desses sistemas deve ser mais lenta frente as regies com pecuria extensiva, devido alta

3

exigncia de capital inicial na formao de pastagem e instalaes para pecuria, visto que a

tomada de deciso em relao ao sistema de integrados de produo no Brasil est em funo

dos preos de insumos e produtos.

Entretanto, mesmo com as dificuldades citadas, h necessidade de se desenvolve

alternativas para o reestabelecimento da capacidade produtiva do solo, tornando vivel a

sustentabilidade agropecuria, o que faz com que os CLI se tornem uma importante

alternativa, por terem de acordo com Kluthcouski et al. (2003) o carter de ser socialmente

justa, ecologicamente correta e economicamente vivel.

2.2. Alteraes na qualidade qumica do solo em funo dos sistemas

integrados de produo

O termo qualidade do solo tem sido bastante utilizado na cincia do solo, sendo

definido de acordo com Arshad e Martin (2002) como a capacidade de um tipo especfico de

solo, em funcionar dentro de sua capacidade e dentro dos limites dos ecossistemas naturais

ou manejados, sustentando a produtividade vegetal e animal, mantendo ou melhorando a

qualidade da gua e do ar, alm de dar suporte sade humana e habitao.

Para o estabelecimento da qualidade do solo necessrio avaliar algumas de suas

propriedades que so tomadas como indicadores. Um bom indicador, de acordo com Doran

e Zeiss (2000), aquele que responde de forma sensvel ao manejo, correlacionando-se com

as funes desempenhadas no solo, sendo compreensvel e til para o agricultor e de

preferncia de fcil e barata mensurao.

Os atributos qumicos, fsicos e biolgicos do solo, normalmente, so os mais

utilizados na avaliao da qualidade, uma vez que estas caractersticas atendem s

premissas de um bom indicador e comandam a maioria dos processos ligados boa

produtividade e sustentabilidade do sistema (ANDRADE et al., 2012).

Diversos estudos tm demonstrado benefcios do emprego dos CLI nos atributos

qumicos do solo, sendo parte destes resultados atribudo a ciclagem de nutrientes e aporte

contnuo de matria orgnica no solo. De acordo Balbinot Junior et al. (2009) a presena do

componente animal no sistema acelera o processo de ciclagem de nutrientes, devido a

mineralizao via fezes e urina. De acordo com Moraes et al. (2014), a quantidade de potssio

reciclada est diretamente relacionada com a intensidade de pastejo, de modo que a maior

taxa de lotao animal resulta na maior taxa de ciclagem de potssio.

A combinao de pastagens com culturas anuais para produo de gros, torna

eficiente a manuteno da qualidade qumica do solo, visto que as espcies com sistemas

4

radiculares diferentes promovem maior ciclagem de nutrientes (SANTOS et al., 2001),

favorecendo de modo conjunto o aumento na quantidade e qualidade do material aportado ao

solo (SIGNOR et al., 2016).

Com o aumento do aporte de material orgnico na superfcie do solo, a adoo dos

sistemas integrados de produo aumentam os estoques de carbono no solo, principalmente

em regies tropicais e subtropicais (SALTON et al., 2005), na qual o clima um fator limitante

para o cultivo. Esse aumento dos estoques atribudo a qualidade das pastagens e da

superfcie do solo, garantindo mximo acmulo de matria seca, mesmo em condies de

pastejo.

Segundo Moraes et al. (2014) o aumento da matria orgnica deve-se ao pastejo

estimular a produo de perfilhos e razes por renovao de rebentos (MORAES et al., 2014),

resultando em maior acumulao de matria seca em reas pastoreadas.

Em seus estudos Kunrath (2011) observou que mesmo com a baixa altura da

pastagem, correspondendo a uma maior taxa de lotao, a quantidades totais de matria seca

so maiores nas reas de pastoreio (6,35 Mg ha-1) quando comparadas com reas no

pastoreadas (5 Mg ha-1). Souza et al. (2009) relata que essa quantidade de biomassa aportada

se d em funo da relao direta entre a altura do pasto e a massa de razes, no qual a altura

do pasto inversamente proporcional massa de raiz, favorecendo assim, a incorporao

em profundidade de carbono e nitrognio.

Outro fator de suma importncia em reas de pastagem em solos tropicais a

disponibilidade de fsforo, sendo de acordo com Novais et al. (2007) necessrio a utilizao

de sistemas de manejo que propiciam adio de material orgnico, acumulando formas

orgnicas lbeis de fsforo, favorecendo principalmente a agricultura de baixa ou nenhuma

utilizao de insumos.

2.3. Uso de plantas de cobertura no Cerrado brasileiro e seu impacto nos

atributos fsicos do solo

Nos ltimos anos, as plantas de cobertura tm recebido significativa ateno por parte

dos pesquisadores, por constiturem uma alternativa para manter a sustentabilidade dos

sistemas produtivos, principalmente no Cerrado brasileiro. As principais plantas de cobertura

utilizadas so o milheto e as braquirias, devido ambas possibilitarem de serem utilizadas em

sucesso a lavouras comerciais de soja e milho, viabilizando a explorao de pastagens na

entressafra de vero, em sistema de integrao lavoura-pecuria, e ainda produzir palhada

para o plantio direto (VERONESE et al., 2012).

5

Alm desses benefcios, a utilizao de plantas de cobertura contribui de maneira

eficiente para ciclagem de nutriente, fixao biolgica de nitrognio, melhoria na qualidade

da matria orgnica, proteo da superfcie do solo contra impacto da gota de chuva,

melhoria da aerao, aumenta da infiltrao e reteno de gua no solo sendo responsvel

de acordo com Carvalho et al. (2014) por aumentar a produtividade das culturas de forma

econmica e sustentvel, sendo em reas tropicais o impacto das gotas de chuva o principal

fator responsvel para incio do processo erosivo (CARDOSO, 2009).

De acordo com Power (2010) esses benefcios se do em funo do efeito combinado

da cobertura vegetal com o sistema radicular, favorecendo o aumento da estabilidade de

agregados e estrutura do solo, reduzindo o escoamento de gua, lixiviao de nitrato e eroso

do solo (KAUFMAN et al., 2013).

Em seu trabalho Mller et al. (2001) verificaram que a utilizao de espcies de plantas

de cobertura, sobretudo com a utilizao da rotao de culturas com espcies de diferentes

sistemas radiculares, proporcionam aumento da porosidade do solo, devido essas razes se

decomporem, deixando canais preferenciais no solo, que alm de aumentar a porosidade do

solo, favoreceram a infiltrao de gua e a difuso de gases no solo.

Alm dos benefcios proporcionados pelo sistema radicular, Braida et al. (2006)

relatam que o acmulo de matria orgnica no solo, proporcionado por diferentes formas de

manejo, aumenta a cobertura do solo, conferindo lhe maior resistncia a compactao,

dissipando at 30% da energia de compactao pelo qual o solo submetido durante o

manejo.

No entanto existem trabalhos relatando que a utilizao da cobertura de solo

extremamente influenciada pelos intempries intrnsecos de cada regio, em seu trabalho

Balbinot Junior et al. (2009) verificaram que as plantas de cobertura no afetaram a

densidade e a macroporosidade do solo, bem como desempenho da cultura do feijo, de

acordo com os autores, isso se deu em funo da interceptao de radiao solar e altura

de corte, sendo considerado importante para que o sistema de manejo tenha xito. Enquanto

que Carvalho et al. (2013) trabalhando com milheto, verificaram a baixa taxa de cobertura do

solo quando exposto a dficit hdrico.

Para Ferreira e Lamas (2000) pode se usar qualquer espcie vegetal como planta de

cobertura, no entanto, deve se levar em considerao algumas caractersticas na escolha da

planta de cobertura, como sistema radicular profundo, produo elevada de massa seca, alta

velocidade de crescimento e de cobertura do solo, sempre levando em considerao a

adaptabilidade para determinada regio em funo das intempries.

Devido a limitao das plantas de cobertura utilizada no Cerrado brasileiro e a baixa

adoo por parte dos produtores, se faz necessrio estudos com diferentes plantas de

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cobertura, com o intuito de verificar qual promover melhoria na qualidade fsica dos solos,

em especial solos pertencentes a regio de ectono Cerrado-Amaznia.

3. Justificativa e objetivos

Mesmo o estado de Mato Grosso possuindo cerca de 450 mil hectares com sistemas

integrados de produo, sendo 89% da rea com integrao lavoura-pecuria, 5% com

integrao pecuria-floresta e 1% com integrao lavoura-floresta (IMEA, 2014),

representando aproximadamente cerca de 25% do total de sistemas integrados do pas, ainda

existem poucas pesquisas que avaliam a longo prazo as alteraes impostas ao solo pelos

diferentes sistemas de produo.

Mais propriamente no ectono Cerrado-Amaznia, no existem estudos que permitam

estimar a real qualidade qumica e fsica do solo submetido a diferentes sistemas de produo.

Principalmente a respeito de qual a rotao de culturas que promover melhoria na qualidade

fsica e qumica dos solos do ectono Cerrado-Amaznia?; Qual melhor espcie a ser utilizada

como planta de cobertura visando melhorar a qualidade do solo?; Qual o impacto do tempo

de permanncia da pastagem e agricultura no sistema?

A hiptese deste estudo baseou-se que os diferentes sistemas de manejo promovem

alteraes na qualidade fsica e qumica dos solos do ectono Cerrado-Amaznia, sendo

necessrio verificar qual o melhor sistema de manejo. Diante disso, o presente estudo tem

como objetivo geral avaliar, em condies de campo, a qualidade fsica e qumica do solo

submetido a diferentes sistemas de manejo.

Com isso foram realizados dois experimentos. O primeiro foi realizado no municpio de

Querncia-MT com o objetivo de determinar a qualidade qumica do solo submetido ao cultivo

de soja/milho em semeadura direta e sistemas integrados de produo por meio do

fracionamento da matria orgnica e fsforo, estoque de carbono e nitrognio.

O segundo experimento foi instalado no muncipio de Sinop-MT com o objetivo de

avaliar o impacto na qualidade fsica e fraes de carbono do solo em funo de diferentes

plantas de cobertura.

A dissertao disposta em captulos, compondo, alm das consideraes gerais

apresentadas no captulo 1, os captulos 2 e 3. Desta forma, o objetivo (I) e (II) so atendidos

pelos captulos 2 e 3; respectivamente, sendo o capitulo 2 e 3 responsvel por responder o

objetivo geral do estudo.

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CAPTULO 2 - SISTEMAS INTEGRADOS DE PRODUO: UMA ALTERNATIVA

PARA RECUPERAO DA QUALIDADE QUMICA DO SOLO NO

ECTONO CERRADO-AMAZONIA

RESUMO - Uma alternativa para recuperao de pastagens degradadas no Cerrado brasileiro so os sistemas integrados de produo, devido ao aporte contnuo de matria orgnica e rotao de culturas. No entanto, se faz necessrio avaliar qual o impacto causado na qumica do solo em decorrncia do tempo de permanncia da agricultura e pastagem em sistemas integrados de produo, e quais rotaes de culturas resultaram em melhorias na qualidade qumica para solos do Cerrado brasileiro. Buscando esclarecer essas questes, o presente estudo teve por objetivo determinar a qualidade qumica do solo submetido ao cultivo de soja/milho em semeadura direta e sistemas integrados de produo por meio do fracionamento da matria orgnica e fsforo, estoque de carbono e nitrognio. O estudo foi desenvolvido em rea demonstrativa da Embrapa Agrossilvipastoril, localizada no municpio de Querncia, nordeste do Estado de Mato Grosso, sendo a regio pertencente ao ectono Cerrado-Amaznia. Os arranjos nos sistemas integrados de produo foram constitudos por rotaes de culturas anuais e forrageiras, dispostas em esquemas de consrcios e/ou isolados, para produo de gros e carne de 2007 at o ano de 2015. Para determinao dos atributos qumicos do solo foi distribudo 170 pontos entre os 6 tratamentos. Os maiores valores de carbono foram observados nos sistemas integrados de produo, esse fato se deve possivelmente ao maior aporte de resduos orgnicos. A alternncia de cultivos de plantas de famlias diferentes nessas reas, proporcionou melhor aproveitamento e explorao do solo, enquanto que os sistemas integrados de produo com mais tempo de pastagem e o sistema de semeadura direta em sucesso soja/milho apresentaram perda de carbono. Em reas com sistema integrado de produo a quantidade de carbono orgnico particulado foi semelhante a da rea com sucesso soja/milho. Os sistemas integrados que permaneceram os trs primeiros anos com agricultura consorciada, posteriormente dois anos com pasto e retornaram com a agricultura consorciada com pastagens proporcionaram sequestro de carbono, mediante o aumento de estoques de carbono no solo.

Palavras-chave: carbono particulado; estoque de carbono; estoque de nitrognio; fsforo

orgnico lbil; sustentabilidade agrcola

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1. INTRODUO

O Cerrado o segundo maior bioma brasileiro, ficando atrs apenas do bioma

Amaznico, totalizando cerca de 22% do territrio nacional (SANTOS et al., 2012). Todavia,

abriga a maior produo de gros do Pas, com aproximadamente 23,5 milhes de hectares

cultivados (FREDDI et al., 2017), possuindo o maior rebanho bovino, representando 35% do

abate nacional (ARAJO et al., 2012).

No entanto, mesmo sendo a regio que mais produz carne e gros, a regio do

Cerrado brasileiro apresenta 32 milhes de hectares de pastagens degradadas,

correspondendo a 60% de toda pastagem cultivada neste bioma (EMBRAPA, 2014). Isso se

deve a m formao e conduo destas pastagens, principalmente pela ausncia de

fertilizao, fator de produo decisivo para o sucesso no Cerrado. Os solos deste bioma

apresentam pH extremamente cido, elevado teor de alumnio e restrita disponibilidade de

fsforo, sendo uma das principais limitaes a fertilidade dos solos de clima tropical, devido

elevada fixao de fsforo pelos xidos da frao argila.

As pastagens degradadas alm de resultarem em baixa produtividade por animal por

rea, acabam favorecendo perda de matria orgnica em funo da reduo do aporte de

biomassa e da intensificao da atividade de microrganismos do solo, favorecendo assim a

gerao de maiores quantidades de gases de efeito estufa por quilo produzido de carne e/ou

leite (IPCC, 2007), deixando a pecuria brasileira numa posio negativa perante a opinio

pblica.

Outro sistema de produo muito utilizado nas reas de Cerrado a semeadura direta

de soja/milho, no entanto, este sistema de produo ineficiente para manter e incorporar

carbono no solo, devido pouca contribuio da palhada gerada pela cultura da soja e pela

lenta decomposio da palhada do milho em relao a outras gramneas (MENDONA et al.,

2013).

Diante disso, se faz necessrio a adotar sistemas de produo conservacionistas, que

mantenham o aporte contnuo de resduo vegetal ao solo, em funo da rotao de culturas,

favorecendo no s a quantidade de matria orgnica aportada, mas tambm a qualidade do

material aportado, podendo assim recuperar no s pastagens degradadas, mas tambm

reas de agricultura que utilizam a semeadura da soja em sucesso ao milho.

Uma alternativa a estes modelos de produo no Cerrado so os sistemas integrados

de produo, que so caracterizados pela prtica de cultivo de pastagens anuais ou perenes,

em alternncia de culturas anuais, com intuito de produzir carne e gros. Estes sistemas

permitem a utilizao de sistemas de explorao agropecuria em esquemas de rotao, os

13

quais se alternam anos ou perodos de pecuria com a produo de gros (MORAES et al.,

2011), alternando-se o uso da terra, no tempo e no espao, entre a lavoura e pecuria (VILELA

et al., 2011), o que favorece o aporte contnuo de matria orgnica no solo e auxiliando

tambm na ciclagem de nutrientes.

No entanto, ainda existem questes no esclarecidas a respeito dos sistemas

integrados de produo. Qual o efeito do tempo de permanncia da pastagem e agricultura

na qualidade qumica do solo em sistemas integrados de produo?; Qual rotao de culturas

que promover melhoria nas fraes de carbono e fsforo dos solos do ectono Cerrado-

Amaznia?

Buscando esclarecer essas questes realizou-se o presente estudo com o objetivo de

avaliar a qualidade qumica do solo submetido ao cultivo de soja/milho em semeadura direta

e sistemas integrados de produo por meio do fracionamento da matria orgnica e fsforo,

estoque de carbono e nitrognio, utilizando, de forma conjunta, as tcnicas de anlise de

componentes principais e geoestatstica.

2. MATERIAL E MTODOS

O estudo foi desenvolvido em rea demonstrativa da Embrapa Agrossilvipastoril,

localizada no municpio de Querncia, nordeste do estado de Mato Grosso, situada nas

coordenadas geogrficas 123548S e 5211'48W, com altitude mdia de 350 m, pertencente

ao ectono Cerrado-Amaznia.

O clima da regio, segundo a classificao de Kppen, do tipo Am (mono), com

duas estaes bem definidas, seca no inverno e chuvosa no vero. A temperatura mdia

anual de 24C e as precipitaes variam entre 1600 a 2200 mm nos meses de outubro a

abril, com maior acmulo de chuvas entre os meses de novembro e maro. O solo do local

classificado como Latossolo Vermelho Amarelo Distrfico (EMBRAPA, 2013) de textura argilo-

arenosa, com valores mdios de 404 g kg-1 de argila, 90 g kg-1 de silte e 506 g kg-1 de areia.

A rea de estudo foi desmatada no ano de 1997, em seguida foi cultivado a cultura do

arroz de terras altas (Oryza sativa L.) na primeira safra para adequao da fertilidade do solo.

Desde ento, a rea passou a ser cultivada anualmente com soja (Glycine max L.) como

cultura principal e milho de segunda safra (Zea mays L.). Em algumas ocasies especficas

optava-se pelo cultivo do milheto (Pennisetum glaucum L.) em pousio ao invs do milho. A

forma de preparo empregada ao solo at o ano de 2006 foi do tipo convencional, com uso de

grade de discos leve para incorporao de resduos e nivelamento do terreno.

No ano de 2007 foram instalados os sistemas integrados de produo agropecuria

14

e de semeadura direta em sucesso soja/milho. Desde o incio do experimento somente as

culturas soja, milho e arroz, tm recebido adubao equivalente a 60 kg ha-1 de P2O5 e

K2O; a 40 kg ha-1 N, 40 kg P2O5 e K2O; e 40 kg P2O5 e K2O, respectivamente. Portanto, as

pastagens no eram adubadas, sendo mantidas apenas com o residual da agricultura.

A rea experimental contemplou uma rea total de 132 ha, sendo dividida em 5

tratamentos de 23 ha cada e 1 tratamento de 17 ha. Para compor diferentes arranjos de

sistemas integrados de produo (CLI) e sistema tradicional de cultivo (TFS), no qual o

sistema tradicional consiste na semeadura direta de soja/milho. Os arranjos no CLI foram

constitudos por rotaes de culturas anuais e forrageiras, dispostas em esquemas de

consrcios e/ou isolados, para produo de gros e carne, de 2007 at o ano de 2015,

conforme apresentado na Tabela 1.

Os CLI foram planejados de forma que, na estao chuvosa 60% da rea

experimental fosse ocupada por agricultura e 40% por pecuria. Na segunda safra

empregou-se o consrcio de estilosantes, milho ou milheto com espcies forrageiras do

gnero Urochloa. Em seguida, as culturas forrageiras subsidiaram a pecuria durante o

perodo seco at o incio das chuvas. A taxa de lotao animal mdia foi de 6 UA ha-1

durante a estao chuvosa e 2 UA ha-1 durante a estao seca.

Tabela 1. Rotaes de cultura nos ltimos oito anos da rea demonstrativa da Embrapa Agrossilvipastoril localizada na Fazenda Certeza, Querncia, Mato Grosso.

Agric. Year

TFSb Crop-Livestock Integration Systems (CLI)

Integration Systems CLI 1 CLI 2 CLI 3 CLI 4 CLI 5

2007/08 Soy Soy Soy Soy Rice Bp + Stl

2008 Corn Sunflower Corn + Br Corn + Br Millet + Bp Bm + Stl

2008/09 Soy Rice Soy Soy Bp Bm

2009 Corn Millet + Bp Corn + Br Millet + Br Bp Bm

2009/10 Soy Bp Soy Rice Bp Bm

2010 Corn Bp Corn + Bp Millet + Br Bp Soy

2010/11 Soy Bp Bp Millet + Bp Soy Corn + Bp

2011 Corn Bp Bp Bp Millet + Br Rice

2011/12 Soy Soy Bp Bp Corn + Bp Soy

2012 Corn Corn + Br Bp Bp Bp Soy

2012/13 Soy Soy Soy Bp Bp Corn + Br

2013 Corn Corn + Br Br Corn + Bp Bp Br

2013/14 Soy Soy Soy Bp Bp Br

2014 Cor

n

Corn +Br Stl + Br Bp Bp Br

2014/15 Soy Millet Millet Millet Bp Br a Bp: Brachiaria brizantha cv. Piat; Bm: Brachiaria brizantha cv. Marandu; Br: Brachiaria ruziziensis; Stl:

Stylosanthes spp. b TFS: sistema tradicional de cultivo no Cerrado brasileiro.

Para determinao dos atributos do solo instalou-se, no comeo do ano de 2015,

15

uma malha de formato retangular no centro do experimento, com 1200 m de comprimento

e 100 m de largura, totalizando uma rea de 12 ha. A malha foi composta por 170 pontos

georreferenciados que foram distribudos de forma aleatria (Figura 1).

Figura 1. Localizao da rea experimental e ilustrao da malha de amostra retangular com pontos

georeferenciados. TFS e CLI systems: sistema tradicional de cultivo e sistemas integrados de

produo, respectivamente.

Em cada ponto da malha coletou-se amostras de estrutura indeformada e

deformada. As amostras indeformadas foram obtidas por meio de anis volumtricos com

dimenso de 0,05 m de altura por 0,05 m de dimetro, conforme a metodologia da Embrapa

(2011), sendo posteriormente determinado a densidade do solo pela relao massa de solo

seco e volume dos anis volumtricos. As amostras deformadas foram coletadas com

auxlio de um trado holands. Tanto as amostras deformadas quanto as indeformadas foram

coletadas no centro das camadas de 0- 0,10 e 0,10-0,20 m.

As amostras deformadas foram secas e maceradas. Posteriormente realizou-se o

fracionamento qumico do fsforo mediante o mtodo proposto por Bowman e Cole (1978)

modificado por Sharpley e Smith (1985) e Ivanoff et al. (1998), obtendo-se as seguintes

fraes: fsforo inorgnico lbil (LIP), fsforo orgnico lbil (LOP) e fsforo total lbil (LTP).

A determinao de fsforo total (TP) se deu atravs da digesto em meio sulfrico e

posteriormente a determinao por colorimetria conforme metodologia da EMBRAPA

(2011), por diferena entre o TP e LTP determinou se fsforo total no lbil (NLP).

O carbono orgnico total (TOC), nitrognio total (N) e enxofre total (S) foram

determinados via combusto seca atravs do analisador elementar CHNS (modelo Vario

MACRO cube CHNS, Elementar, Hanau/Alemanha) do laboratrio de Solos e gua da

TFS

CLI systems

16

Embrapa Agrossilvipastoril. Considerou-se carbono total como carbono orgnico total, devido

a no aplicao de carbonatos e calagem nos ltimos anos.

Para a determinao do fracionamento fsico granulomtrico da matria orgnica do

solo utilizou-se metodologia de Cambardella e Elliot (1992), no qual atravs de uma peneira

de 0.053 mm separou-se o carbono orgnico particulado (POC) do carbono orgnico

associado ao mineral (OCam), no qual somente o POC foi determinado via CHNS, enquanto

que o OCam foi obtido pela diferena entre TOC e POC.

Os estoques de carbono orgnico (SOC), carbono orgnico particulado (SPOC),

carbono associado ao mineral (SOCam), estoque de nitrognio (NS) foram calculados

conforme metodologia da EMBRAPA (2011), onde se multiplica os teores desses elementos

(g kg-1) pela densidade do solo (Mg m-3) e pela profundidade da camada (cm), atravs da

frmula 1:

E = (C x Ds x p)/10 (1)

em que E: estoque do elemento no solo (Mg ha-1); C: teor do elemento no solo (g kg-1); Ds:

densidade do solo (Mg m-3); e p: espessura da camada do solo (cm).

Para comparar os estoques entre massas iguais de solo, foram feitas correes pela

massa de solo equivalente (ELLERT e BETTANY, 1995), tomando como referncia a

densidade do solo na rea de mata nativa. O ajuste foi usado para os clculos dos estoques

corrigidos. De tal modo, que a profundidade corrigida (Prof. Corr.) (cm) foi obtida pela equao

2:

Prof. corr. = Dens.ref.

Dens.corr. x Prof. ref. (2)

onde: Dens. ref.: a densidade de referncia, no caso mata nativa adjacente a rea

experimental (Mg m-3); Dens. corr.: a densidade a ser corrigida (Mg m-3); e prof. ref.: a

profundidade de referncia a qual deseja-se equivaler as massas (cm).

Para cada varivel efetuou-se a anlise descritiva e teste de normalidade de Shapiro-

Wilk (p

17

varivel com alta dependncia espacial; e ADE > 80% varivel com dependncia espacial

muita alta (DALCHIAVON et al., 2012).

O critrio final de deciso do modelo de semivariograma e do nmero de vizinhos

usados na predio foi o melhor ajuste obtido pela validao cruzada, ou seja, ajustes com o

coeficiente angular mais prximos a 1 e coeficiente linear mais prximos a 0. Uma vez

ajustados os semivariogramas, realizou-se a krigagem ordinria dos dados e a composio

dos mapas.

As mdias dos tratamentos foram comparadas pela tcnica de bootstrap, com 1.000

reamostragens aleatrias com reposio, conforme o mtodo descrito por Christie (2004). A

partir do universo de 1.000 valores, tambm foi possvel estabelecer os limites superior e

inferior do intervalo de confiana da mdia, com 95% de probabilidade, tendo sido esse

procedimento til para a posterior comparao das mdias entre si (MELLO et al., 2015).

Assim, mdias com valores comuns dentro de seus intervalos de confiana, cujas as barras

de erro se encontram, no diferem entre si, ao passo que as ausncias de valores comuns

indicam diferena significativa (a 5% de probabilidade) entre elas.

3. RESULTADOS

Por meio da anlise descritiva (Tabela 2) observou-se elevada amplitude para quase

todas variveis, o que pode ser confirmado pelos elevados coeficientes de variao, com

exceo de C/N, LOP, LTP, que tiveram coeficientes inferiores a 10% nas duas camadas do

solo avaliadas. Destaca-se as elevadas amplitudes para o estoque de carbono do solo, que

variou entre 7,47 a 32,59 Mg ha-1; o estoque de carbono associado ao mineral, com amplitude

de 0,43 a 28,54 Mg ha-1; e estoque de carbono particulado, com valores entre 0,74 a 16,55

Mg ha-1. A mesma magnitude de variao pde ser observada no estoque de nitrognio, que

teve amplitude entre os tratamentos de 0,50 a 2,46 Mg ha-1.

O teor de fsforo total mdio encontrado no solo foi de 2028 mg dm-3, contudo, somente

34,31% deste fsforo total era lbil, ou seja, prontamente disponvel, sendo que desses

34,31% apenas 5,06% encontrava-se na forma inorgnica lbil. Logo, 65,69% do fsforo total

do solo se encontram em formas no prontamente disponveis as plantas, sendo encontrados

como fsforo complexado com alumnio, ferro, clcio ou ligados as cargas positivas de

minerais de argila, principalmente xidos, como j demonstrado por Silva e Van Raij (1999).

18

Tabela 2. Anlise descritiva inicial dos atributos qumicos de um Latossolo Vermelho Amarelo sob sistemas integrados de produo e cultivo tradicional de soja/milho em semeadura direta.

Variable(a)

Descriptive Statistics Measures

Value Coefficient(c) Prob.(d)

Mean Median Lowest Highest CV (%) Kurtosis Skew. Pr

19

indicando desvios da normalidade, considerou-se que estes dados apresentaram distribuio

tendendo a normalidade devido aos valores de curtose e assimetria prximos a zero e

similaridade entre a mdia e a mediana. Embora a normalidade no seja um requisito para as

anlises multivariadas e geoestatstica interessante que no exista valores discrepantes, os

chamados outliers, os quais foram retirados do conjunto de dados.

Aps a anlise descritiva dos dados realizou-se a anlise de componentes principais

(CPs), sendo considerados autovalores acima de 1, com isso foram definidos cinco

componentes para a camada de 0-0,10 m, e quatro para camada de 0,10-0,20 m, sendo que

estes componentes explicaram mais de 90% de toda a variabilidade dos dados nas duas

camadas (Tabela 3).

Tabela 3. Resultados da anlise dos componentes principais aplicada s propriedades qumicas do Latossolo Vermelho Amarelo sob diferentes sistemas de produo.

Principal component1 Auto-value Variance (%) Accumulated variance

(%)

0-0,10 m

Cp1a 5.83 41.70 41.70

Cp2a 2.34 16.75 58.45

Cp3a 1.96 14.06 72.51

Cp4a 1.81 12.93 85.44

Cp5a 1.07 7.65 93.09

0,10-0,20 m

Cp1b 6.13 47.19 47.19

Cp2b 2.46 18.98 66.17

Cp3b 1.80 13.89 80.06

Cp4b 1.74 13.44 93.50 1 Cp1a, Cp2a, Cp3a, Cp4a: primeiro, segundo, terceiro e quarto componentes principais, respectivamente, para o grupo de atributos/propriedades da camada superficial do solo; Cp1b, Cp2b, Cp3b, Cp4b, Cp5b: primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto componentes principais, respectivamente, para o grupo de propriedades do solo sub-superficial.

Esses CPs foram construdos pela combinao da correlao entre os atributos do

solo, sendo classificadas de acordo com Coelho (2003), na qual autovetores, que so valores

que representam o peso de cada atributo em cada componente (SILVA et al., 2015), com valor

absoluto 0,50 classificados como altamente significativos. Verificou-se que para o

componente principal da camada 0 0,10 m somente POC e SPOC tiveram autovetores com

peso menor a 0,50, enquanto que o componente principal da camada de 0,10-0,20 m apenas

o TOC2, OCam2, N2, C2/N2, SOC2, SOCam2 e NS2 apresentaram autovetores com peso

maior ou igual a 0,50.

A anlise geoestatstica foi realizada com o intuito de mapear as condies qumicas do

solo aps as culturas de cobertura no CLI e o sistema tradicional de semeadura direta. Apenas

20

os CPs 1, 3 e 5 da camada de 0-0,10 m (CP1a, CP3a e CP5a, respectivamente) e o primeiro

componente da camada de 0,10-0,20 m (CP1b) apresentaram dependncia espacial (Tabela

4), ajustando-se aos modelos esfricos (CP1a e CP1b) e gaussiano (CP3a e CP5a). Os

demais CPs apresentaram efeito pepita puro, ou seja, uma distribuio aleatria e

independncia espacial. O LIP no entrou nos componentes devido ao alto coeficiente de

variao dentro do tratamento, resultando na ausncia de dependncia espacial.

Tabela 4. Parmetros dos semivariogramas dos componentes principais da anlise multivariada dos atributos qumicos nas camadas 0-0,10 e 0,10 a 0,20 m de Latossolo Vermelho Amarelo sob diferentes sistemas de produo.

Variable

Adjustment parameters2

Model1 Co Co+C Ao (m)

r2 SQR ADE3 Cross Validation

% Classe a b r

(h) Simple ACPa

CP1a Spherical 0.129 1.289 451.0 0.62 0.64 0.90 MA 0.00 0.92 0.75

CP2a Epp 1.001 1.001 - - - - - - - -

CP3a Gaussian 0.502 0.830 55.4 0.39 0.03 0.40 BD -0.02 0.85 0.30

CP4a Epp 1.016 1.016 - - - - - - - -

CP5a Gaussian 0.493 1.377 313.5 0.88 0.12 0.64 AL -0.01 0.98 0.63

(h) simple ACPb

CP1b Spherical 0.351 1.226 468.0 0.77 0.17 0.72 AL 0.00 1.00 0.72

CP2b Epp 0.909 0.909 - - - - - - - -

CP3b Epp 0.951 0.951 - - - - - - - -

CP4b Epp 1.001 1.001 1 epp: efeito pepita puro. 2 C0, C0 + C e Ao so respectivamente: efeito pepita, patamar e alcance; SQR: soma dos quadrados dos resduos. 3 ADE: avaliador de dependncia espacial, MA: dependncia espacial alta, BD: depndencia espacial baixa e AL: alta dependncia espacial.

A semivarincia estabiliza-se quando o patamar atingido definindo assim o alcance,

que para os CP1a, CP3a, CP5a e CP1b foram de 451,0; 55,4; 313,5 e 468,0 m,

respectivamente.

Observa-se que o CP1b, que representa TOC2, Ocam, N, C/N, SOC, SOCam e NS da

camada de 0,10-0,20 m do solo, apresentou maior alcance, indicando uma maior continuidade

dos atributos no espao, ou seja, uma menor variabilidade que devido as menores

alteraes nesta camada pelo cultivo das culturas. O avaliador de dependncia espacial

21

(ADE) foi classificado como muito alto para o CP1a, mdia para CP3a e alta para os CP5a e

CP1b.

O CP1b foi o componente que obteve o melhor ajuste, que pode ser confirmado pela

validao cruzada, na qual este CP apresentou coeficiente de regresso igual a 1. Para os

CP1a, CP3a e CP5a os ajustes foram satisfatrios com coeficientes de regresso igual ou

acima de 0,85.

Com base nos modelos de semivarincia e levando-se em considerao os parmetros

ajustados, os dados dos componentes principais foram interpolados por meio da krigagem

ordinria (Figura 2). Pelo mapa do CP1a, o qual representa o TOC, OCam, N, SOC, SOCam

e NS da camada de 0-0,10 m do solo, verifica-se que nos tratamentos CLI 1 e CLI 2 ocorreram

os maiores valores para CP1. Isto significa que estes tratamentos apresentam os maiores

valores de TOC, N, SOC, SOCam e NS.

NSSPOC

SOCamSOC

TPNLP

LTPLOPC/NS

NPOC

OCa

m

TOC

-1 -0.5 0 0.5 1

Correlation

NS

SPOC

SOCa

m

SOCTP

NLPLTP

LOPC/N

SN

POCOCam

TOC

-1 -0.5 0 0.5 1

Correlation

NSSPOC

SOCam

SOCTPNLP

LTPLOP

C/NS

NPOC

OCa

m

TOC

-1 -0.5 0 0.5 1

Correlation

CP1a

CP3a

CP5a

TFS

CLI 1 CLI 2

CLI 3

CLI 4 CLI 5

TFS

CLI 1 CLI 2

CLI 3

CLI 4 CLI 5

TFS

CLI 1 CLI 2

CLI 3

CLI 4 CLI 5

22

Figura 2. Mapas de Krigagem e coeficientes de correlao dos autovetores dos componentes principais obtidos em anlise multivariada dos atributos qumicos do Latossolo Vermelho Amarelo, nas camadas 0-0.10 e 0,10-0,20 m.

O mapa do CP3a, o qual representa o LOP, LTP, NLP e TP da camada de 0-0,10 m

do solo, apresentou distribuio aleatria na rea, com formao de maior nmero de zonas,

havendo a transio abrupta de locais com valores altos e baixos em curtas distncias, isso

se justifica devido ao pequeno alcance.

Com relao ao mapa CP5a, ficou evidente que os tratamentos que apresentaram

maiores valores de enxofre total e relao C/N foram o sistema tradicional de cultivo e CLI 3,

enquanto que o CLI 1 foi o que apresentou menor valor de S e C/N.

Observando o mapa do CP1b, possvel identificar que os tratamentos que tiveram

maiores relao C/N (CLI 1 e CLI 2) apresentaram os menores valores de TOC, Ocam, N,

SOC, SOCam, NS na profundidade de 0,10-0,20 m, diferente do que se observa nos

tratamentos (CLI 3, CLI 4 e CLI 5) que estiveram por um maior tempo com pastagem.

Comparando as mdias dos atributos do solo atravs do intervalo de confiana de 95%

de probabilidade (Tabela 5), no CP1a apenas os atributos TOC, OCam, N, SOC, SOCam e

NS apresentaram diferena entre os tratamentos. Sendo o CLI 2 o sistema que obteve os

maiores mdias para estes atributos do solo, enquanto o TFS, CLI 4 e CLI 5 os menores.

No CP3a houve diferena entre os tratamentos apenas para os atributos LOP e LTP.

O tratamento TFS apresentou maiores mdias de LOP, enquanto que o CLI 1 apresentou as

menores mdias. Para LTP as maiores mdias foram para TFS, CLI 2, CLI 3 e CLI 5, enquanto

que os tratamentos CLI 1 e CLI 4 resultaram nas menores mdias.

Para o CP5a apenas S e C/N obtiveram diferena entre os tratamentos, o CLI 3

apresentou a maior mdia de enxofre total (694 mg kg-1), em segundo o TFS e CLI 4, com

valores mdios de 402.90 e 313.87 mg kg-1, respectivamente. Na sequncia, a segunda maior

mdia foi do CLI 2 que apresentou valor de 141.77 mg kg-1, enquanto o CLI 1 no diferiu

estatisticamente do tratamento CLI 2 e CLI 5, com valor mdio de 104.31 mg kg-1. O

tratamento que apresentou a menor mdia de enxofre total foi o CLI 5, com 68.47 mg kg-1.

NS

SPO

C

SOCa

m

SOCTP

NLPLPTLOP

C/NN

POC

OCa

m

TOC

-1 -0.5 0 0.5 1

Correlation

CP1b

TFS

CLI 1 CLI 2

CLI 3

CLI 4 CLI 5

23

Tabela 5. Comparao de mdias dos atributos qumicos nas camadas 0-0,10 e 0,10 a 0,20 m de um Latossolo Vermelho-Amarelo sob diferentes sistemas de cultivo , atravs do intervalo de confiana de 95%.

Variable

Production Systems

TFS CLI 1 CLI 2 CLI 3 CLI 4 CLI 5

CP1a

TOC

(g kg-1) 11.86 1.57

+1.61 c 19.24 1.37+1.33 b 22.85 1.22

+1.38 a 17.40 1.57+1.61 b 12.47 1.22

+1.22 c 13.37 1.50+1.74 c

OCam

(g kg-1) 8.211 1.46

+1.30 c 14.29 1.14+1.09 b 19.34 1.24

+1.30 a 12.15 1.67+1.67 b 7.542 1.24

+1.40 c 8.266 1.67+2.09 c

N

(g kg-1) 0.803 0.08

+0.09 c 1.390 0.10+0.10 b 1.596 0.08

+0.09 a 1.190 0.12+0.12 b 0.872 0.08

+0.08 c 0.907 0.10+0.09 c

SOC

(Mg ha-1) 11.82 1.14

+1.17 c 19.17 1.36+1.32 b 22.76 1.22

+1.37 a 17.33 1.56+1.60 b 12.43 1.22

+1.22 c 13.32 1.49+1.73 c

SOCam

(Mg ha-1) 8.181 1.45

+1.30 c 14.24 1.14+1.09 b 19.27 1.24

+1.29 a 12.10 1.67+1.66 b 7.514 1.24

+1.39 c 8.236 1.67+2.08 c

NS

(Mg ha-1) 0.800 0.08

+0.09 c 1.385 0.10+0.10 b 1.590 0.08

+0.09 a 1.180 0.11+0.12 b 0.862 0.08

+0.08 c 0.907 0.09+0.10 c

CP3a

LOP

(mg dm-3) 683.1 16.28

+15.68 a 651.6 14.58+14.29 b 649.8 19.87

+21.24 ab 655.5 22.31+21.67 ab 647 26.26

+25.28 ab 672 19.23+17.82 ab

LTP

(mg dm-3) 723.2 16.66

+16.98 a 689.9 13.66+14.58 b 692.9 20.70

+22.45 a 687.0 21.14+21.56 a 680.8 24.41

+22.35 b 705.6 19.84+20.50 a

NLP

(mg dm-3) 1362 148.0

+136,8 a 1425 77.56+77.38 a 1323 105.1

+106.7 a 1293 141.7+137.6 a 1227 167.0

+162.5 a 1360 151.1+142.3 a

TP

(mg dm-3) 2085 142.6

+135.1 a 2115 88.99+82.94 a 2016 112.9

+112.2 a 1980 147.5+144.1 a 1908 157.7

+151.6 a 2065 149.7+149.9 a

CP5a

S

(mg dm-3) 402 100.9

+92.47 b 104 18.77+20.98 cd 141 36.65

+41.86 c 694 27.19+30.68 a 313 105.8

+117.6 b 68.47 19.24+20.62 d

C/N 14.81 0.39+0.44 a 13.87 0.25

+0.30 b 14.32 0.22+0.23 ab 14.74 0.39

+0.39 a 14.29 0.25+0.26 ab 14.65 0.33

+0.30 a

CP1b

TOC

(g kg-1) 20.98 2.63

+2.64 a 10.80 0.89+1.00 b 11.35 1.19

+1.64 b 18.69 1.67+1.87 a 18.58 1.43

+1.55 a 18.71 0.33+0.30 a

OCam

(g kg-1) 16.17 2.44

+2.65 a 7.61 0.82+0.81 b 7.26 1.50

+1.95 b 14.41 2.19+2.51 a 14.79 1.70

+1.76 a 14.52 1.32+1.23 a

N

(g kg-1) 1.571 0.21

+0.19 a 0.742 0.06+0.07 b 0.760 0.08

+0.11 b 1.351 0.14+0.16 a 1.349 0.09

+0.10 a 1.373 0.08+0.08 a

C/N 13.37 0.50+0.52 b 14.61 0.32

+0.29 ab 15.02 0.38+0.37 a 14.01 0.54

+0.50 b 13.75 0.21+0.22 b 13.64 0.23

+0.21 b

SOC

(Mg ha-1) 22.40 2.94

+2.91 a 11.58 0.95+1.07 b 12.17 1.27

+1.76 b 20.03 1.79+2.00 a 19.91 1.54

+1.66 a 20.05 1.32+1.32 a

SOCam

(Mg ha-1) 17.27 2.66

+2.90 a 8.15 0.88+0.86 b 7.79 1.61

+2.09 b 15.44 2.35+2.69 a 15.85 1.82

+1.88 a 15.56 1.42+1.32 a

NS

(Mg ha-1) 1.67 0.23

+0.21 a 0.79 0.68+0.85 b 0.81 0.09

+0.12 b 1.44 0.15+0.17 a 1.44 0.10

+0.10 a 1.47 0.09+0.09 a

Mdias seguidas de letras iguais no se diferem entre si pelo intervalo de confiana com 95% de probabilidade obtido atravs do teste de bootstrap.

Para a relao C/N, obteve-se os maiores valores no TFS CLI 3 e CLI 5, com valores

mdios de 14.81, 14.74 e 14.65, respectivamente. J o CLI 2 e CLI 4 apresentaram valores

24

de 14.32 e 14.29, respectivamente, no diferindo dos tratamentos TFS, CLI 3, CLI 5 e CLI 1.

O tratamento CLI 1 foi o que apresentou menor relao C/N de 13.873.

No CP1b apenas os atributos TOC, OCam, N, C/N, SOC, SOCam e NS apresentaram

diferena entre os tratamentos na camada de 0,10-0,20 m. Os tratamentos TFS, CLI 3, CLI 4,

CLI 5 foram os tratamentos que apresentaram maior teor de TOC, OCam e N.

Comparando-se a relao C/N, observa-se que no houve diferena entre os

tratamentos TFS, CLI 3, CLI 4 e CLI 5. O tratamento que apresentou maior relao C/N foi o

CLI 2, enquanto que o CLI 1 no se diferenciou do CLI 2 e do restante dos tratamentos.

O TFS, CLI 3, CLI 4 e CLI 5 foram os que apresentaram os maiores valores de SOC, SOCam

e NS, enquanto o CLI 1 e CLI 2 foram os que apresentaram as menores mdias.

Na figura 3 apresentado o comparativo dos estoques de carbono no ano de 2010 e

2014 entre os sistemas de produo integrada.

Figura 3. Comparativo dos estoques de carbono orgnico dos sistemas integrados de produo na camada de 0-

0,20 m entre os anos de 2010 (FRANCHINI et al., 2010a; WRUCK et al., 2010; FRANCHINI et al., 2010b)

e 2014. Valores seguidos de * e sinal negativo representam taxa anual de perda de carbono (Mg ha-1 ano-

1), enquanto que valores seguidos de * e sinal positivo representam taxa anual de incorporao de

carbono no solo (Mg ha-1 ano-1).

Observa-se que de 2010 a 2014 apenas os CLI 2 e CLI 3 obtiveram sequestro de

carbono com taxa anual de sequestro de 0.608 e 0.590 Mg ha-1, enquanto que os CLI 1, CLI

4 e CLI 5 obtiveram perda de carbono, resultando na emisso de carbono por ano para

atmosfera de 0.088, 1.290 e 1.458 Mg ha-1. No ano de 2010 os CLI 4 e CLI 5 foram os

tratamentos com maior quantidade de carbono no solo, enquanto que o restante dos sistemas

eram ocupados com pecuria e apresentaram menores valores.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

CLI 1 CLI 2 CLI 3 CLI 4 CLI 5

2010 2014

-0.088* 0.608*

0.590* -1.290* -1.458*

SO

C (

Mg

ha

-1)

25

4. DISCUSSO

Os sistemas de manejo modificaram a qualidade qumica do solo. De acordo com Silva

et al. (2011) o fato de os sistemas integrados de produo apresentarem elevada quantidade

de carbono, decorre do maior aporte e diversidade de resduos orgnicos. A alternncia de

cultivos de plantas de famlias diferentes nessas reas, proporciona melhor aproveitamento e

explorao do solo. Assim, as gramneas, mostraram-se eficientes no acmulo de carbono,

pelo seu sistema radicular abundante e volumoso, que apresenta contnua renovao do

sistema radicular e elevado efeito rizosfrico, resultando no aumento da atividade e a

modificao da comunidade microbiana na rizosfera (DANDRA et al., 2004).

O CLI 2 na camada de 0-0,10 m apresentou maiores valores de nitrognio em relao

aos demais tratamentos, devido a utilizao de Stylosanthes spp. em consrcio com

Brachiaria ruziziensis, o que favoreceu o aumento de nitrognio no solo. De acordo com Dick

et al. (2008) o cultivo de leguminosa em rotao ou consrcio tem a capacidade de adicionar

N ao solo, por meio da fixao biolgica de nitrognio, constituindo importante contribuio

deste nutriente ao sistema de rotao.

De acordo com Grinhut et al. (2007), a combinao de diferentes espcies forrageiras,

principalmente leguminosas com gramneas, ampliam o potencial de reteno de carbono

atmosfrico nas formas mais recalcitrantes, sendo um ponto positivo para o sistema, pois o

sucesso no sequestro de carbono depende da capacidade de acumular carbono na frao

hmica.

Resultado semelhante foi encontrado por Conceio et al. (2013), os quais concluram

que o maior teor de carbono orgnico total foi observado no sistema plantio direto, e que a

maior parte do carbono estava na forma de carbono orgnico associado ao mineral. Isso

mostra a importncia desta frao na promoo do aumento dos teores de carbono em solos

tropicais e subtropicais.

O aumento do SOC na camada de 0-0,10 m no CLI 2 em relao aos demais

tratamentos est relacionado maior presena de carbono associado ao mineral (Ocam), est

frao da matria orgnica do solo apresenta insolubilidade e resistncia biodegradao,

favorecida pela formao de complexos argilo-hmicos estveis. Esses complexos so

formados devido a composio mineralgica do solo, compostos de xidos e hidrxidos de

Fe e Al, favorecendo a interao organo-minerais, aumentando a proteo de grupos

funcionais da frao hmica e elevando o estoque de carbono a mdio e longo prazo (DICK

et al., 2008).

26

Alm da formao de complexos argilo-hmicos estveis, os sistemas integrados de

produo podem ser considerados eficientes devido ao aporte contnuo de material orgnico

no solo, conseguindo reduzir o efeito priming promovido por microrganismos, cuja a

manuteno contnua de alimento mantem em equilbrio a populao de estrategistas r e

estrategistas k, fazendo com que no ocorra a decomposio das fraes recalcitrantes da

matria orgnica (FONTAINE et al., 2003).

O TFS, CLI 4 e CLI 5 exibiram reduo das fraes e estoques de carbono na camada

de 0-0,10 m em comparao aos demais tratamentos. O TFS apresenta reduo devido ao

sistema de plantio em sucesso soja/milho desfavorecer o aporte e manuteno de material

orgnico para o solo, promovendo desequilbrio na populao de microrganismos fazendo

com que a falta de alimento promova a decomposio das fraes mais estveis da matria

orgnica, reduzindo o estoque de carbono. Provavelmente com a perda de carbono associado

a fraes mais recalcitrantes, pode considerar que houve reduo da CTC potencial destes

tratamentos.

Os sistemas que permaneceram por mais de 2 anos e meio sob pastagem (CLI 4 e

CLI 5) resultaram em perda das fraes de carbono e seus estoques. Isso se deve ausncia

de adubao e a elevada taxa de lotao animal, que possivelmente causaram a reduo do

aporte de biomassa vegetal para o solo, favorecendo a decomposio das fraes mais

recalcitrantes da matria orgnica do solo.

Os valores de LOP na camada de 0-0,10 m podem estar associados ao maior aporte

de material vegetal presente nas reas de CLI, devido as plantas de cobertura, ambas

gramneas, serem mais eficientes no aproveitamento do P (BEZERRA et al., 2013).

Estudos de Rheinheimer et al., (2008) e Zamuner et al. (2008), observaram que

sistemas com aporte contnuo de material vegetal influenciam a disponibilidade de fsforo,

devido a ligaes da matria orgnica com os xidos da frao arg