ossip mandelstam-a era

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poema de Ossip Mandelstam traduzido por Haroldo de Campos.

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Page 1: Ossip Mandelstam-A Era

A Era

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Minha era, minha fera, quem ousa,Olhando nos teus olhos, com sangue,Colar a coluna de tuas vértebras?Com cimento de sangue - dois séculos -Que jorra da garganta das coisas?Treme o parasita, espinha langue,Filipenso ao umbral de horas novas.

Todo ser enquanto a vida avançaDeve suportar esta cadeiaOculta de vértebras. Em tornoJubila uma onda. E a vida comoFrágil cartilagem de criançaParte seu ápex: morte da ovelha,A idade da terra em sua infância.

Junta as partes nodosas dos dias:Soa a flauta, e o mundo está liberto,Soa a flauta, e a vida se recria.Angústia! A onda do tempo oscilaBatida pelo vento do século.E a víbora na relva respiraO ouro da idade, áurea medida.

Vergônteas de nova primavera!Mas a espinha partiu-se da fera,Bela era lastimável. Era,Ex-pantera flexível, que volvePara trás, riso absurdo, e descobreDura e dócil, na meada dos rastros,As pegadas de seus próprios passos.

1923

(Tradução de Haroldo de Campos)

Page 2: Ossip Mandelstam-A Era

Óssip Mandelstam(1892-1938)

Nasceu em Varsóvia, numa família da pequena burguesia judai-ca. Passou a mocidade em Petersburgo e Pávlovsk. Uma estada emParis, em 1907, contribuiu para suscitar nele profundo interesse pelosimbolismo francês. Estudou depois Filologia e História na Universi-dade de Petersburgo. Sua estréia na poesia data de 1909. Durante aGuerra Civil, estabeleceu-se por algum tempo na Crirnêia, onde che-gou a ser preso pelos "brancos". Após 1940, divulgou-se no Ocidenteque o poeta fora vítima de um expurgo político. Na realidade, emseguida a um período de isolamento em relação aos agrupamentos lite-rários então existentes, foi preso em 1934 e, depois de uma 'segundaprisão, morreu na Sibêria, em 1938. Poeta estranho, rico, aliou o neo-classicismo dos acmeístas, tendência à qual trouxe importantes contri-buições, com resquícios simbolistas e uma visão singular, por vezesalucinatória, que o aproximava de certas correntes modernas, particu-larmente do surrealismo. Deixou obra poética pouco numerosa, alémde reminiscências e escritos teóricos. Nos últimos anos, apareceram naUnião Soviética diversos inéditos seus, bem como recordações de con-temporâneos e estudos críticos em que se tem frisado o valor de suacontribuição à poesia russa.

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Page 3: Ossip Mandelstam-A Era

Poesia russamodernaNova antologia

Traduções de

Augusto e Haroldo de Campos

com a revisão ou colaboração deBoris Schnaiderman

Prefácio, resumos biográficos e notas;Boris Schnaiderman

2~ edição revista e ampliada

jp.iij~.a1985

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