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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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RESGATANDO JOGOS E BRINCADEIRAS COMO CULTURA

CORPORAL

Rosemeire Pinha Dalloso*

Melissa Antunes**

Resumo:

Esse artigo, que faz parte do projeto de pesquisa e implementação, desenvolvido no período de 2013e 2014, pretende que os alunos tenham contato com brincadeiras tradicionais, brincadas por seusavós e bisavós, pois, percebe-se que crianças do ensino fundamental fase II, hoje, não sabem brincarcom outras crianças. Elas passam o tempo de lazer em frente à TV, ao computador e celulares,jogando com coleguinhas virtuais, como afirma Bernardes (2006), com apoio dos pais que tem medoque seus filhos fiquem nas ruas, diminuindo as possibilidades de desenvolvimento motor dascrianças. Daí a importância do resgate às brincadeiras, para uma maior interação com outrascrianças, gerando o desenvolvimento social, emocional e mental do aluno, a imaginação, acriatividade e a integração por meio de jogos e brincadeiras, com possibilidades de intercâmbio dascrianças com gerações passadas.

Palavras-chave: Jogos; brincadeiras; resgate.

*Professora da Rede Estadual de Educação do Paraná; participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/ 2013.

**Doutoranda em Educação e Professora Universidade Estadual do Norte Pioneiro do Paraná – CCS (Orientadora PDE).

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INTRODUÇÃO

Percebe-se que as crianças do ensino fundamental fase II, hoje, não sabem

brincar com outras crianças. Elas passam o tempo de lazer em frente ao

computador, TV e celulares, jogando online com coleguinhas virtuais.

Em grande parte, já não vivenciam brincadeiras como em outras épocas,

devido ao aumento das tecnologias e da globalização, ficando cada vez mais dentro

de suas próprias casas.

Em aulas de Educação Física é observada que cada vez menos as crianças

desejam brincar interagindo com outras crianças, preferindo participar de jogos

virtuais (celulares, tablet’s, etc.) e outros querendo apenas participar de atividades

esportivas (futsal, voleibol, handebol), pois sentem dificuldades em realizar

atividades e movimentos simples, como pular cordas, ficando envergonhados por

sua falta de habilidades e então se isolam das brincadeiras.

Como as brincadeiras folclóricas podem contribuir para que essas crianças

tomem gosto por atividades práticas nas aulas de Educação Física?

Com esse questionamento, o tema escolhido, através de um resgate das

brincadeiras folclóricas, veio da necessidade de uma maior interação com outras

crianças, bem como fazer com que as crianças de hoje brinquem mais, tenham

prazer nas atividades físicas e que, quando adultas, saibam da importância de uma

atividade física como qualidade de vida.

Vivemos em uma sociedade,não podemos viver em um mundo isolado e os

jogos e brincadeiras podem promover o desenvolvimento social, emocional e mental

do aluno, a imaginação, a criatividade e a integração por meio de jogos e

brincadeiras, através da proposta de desenvolvimento do material didático, com

possibilidades de promoção da interação dos jovens com gerações passadas.

O objetivo desse trabalho foi analisar, através de pesquisas feitas pelos alunos aos

avós e pais, jogos e brincadeiras, possibilitar o desenvolvimento do aluno, fazendo-o

pesquisar, refletir e vivenciar os jogos e brincadeiras e elaborar, junto com os alunos,

novas regras para jogos e brincadeiras pesquisados.

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ORIGEM DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NO BRASIL

De acordo com autores, como CASCUDO (1984) e KISHIMOTO (1993), os

jogos e as brincadeiras tradicionais existem desde que o mundo é mundo, ou seja,

desde a origem da civilização, desempenhando papel importante na criação da

cultura popular, diferentes em cada região, e no desenvolvimento humano em sua

totalidade, expressando a produção espiritual de um povo em uma determinada

época histórica. São transmitidos oralmente, de forma anônima de geração para

geração.

Os jogos e as brincadeiras estão ligados ao homem desde o início da

formação da sua cultura. Na Antiguidade os homens já jogavam e brincavam, alguns

registravam suas brincadeiras em forma de desenho nas cavernas, daí em diante, o

jogo acompanhou o homem na sua evolução histórica, estando presente em todas

as civilizações (COSMO, 2009).

No Brasil, as brincadeiras e jogos têm a influência da cultura dos povos que

colonizaram o país. Estudos indicam a influência de três raças nos primeiros séculos

de colonização: a raça branca, a raça vermelha e a raça negra, representadas pelos

portugueses, índios e africanos (KISHIMOTO, 1993). De influência portuguesa

vieram para o Brasil os versos, adivinhas, parlendas e grande parte dos jogos

tradicionais populares do mundo como o jogo de saquinhos (cinco Maria),

amarelinha, bolinha de gude, pião e outros.

O jogo de saquinhos, também chamado no Brasil de jogo de pedrinhas, Cinco

Maria, Três Maria, jogo do osso, onente, bato, arriós, telhos,chocos e nécara, tem

origem pré-histórica. Nas antigas civilizações, na Grécia principalmente, os jogos de

ossinhos ou de pedrinhas eram praticados tanto por rapazes como pelas moças,

mas eram as crianças que eram presenteadas com ossinhos quando tinham um

bom desempenho escolar. Na Grécia eram chamados de pentha litha e em Roma de

astragulus. Os reis também praticavam este jogo com pepitas de ouro, pedras

preciosas, marfim ou âmbar. Popular até hoje no Brasil, o jogo de cinco Maria

costuma ser jogado com pedrinhas, saquinhos cheio de areia, sementes ou caroço

de frutas (Kishimoto, 1993).

O jogo de bolinha de gude também trazido pelos portugueses no Brasil,

realizado com pedras preciosas nas civilizações egípcias e na Grécia antiga, onde

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as crianças jogavam com castanhas e azeitonas. O jogo era tão popular entre as

crianças de Roma que o imperador César Augusto chegava a parar na rua para

assistir alguns desafios. Gude era o nome dado as pedrinhas redondas e lisas

retiradas do leito dos rios. A partir do século XVIII as bolinhas tornaram-se redondas,

feitas de vidro. No Brasil é chamado de jogo de bolitas, jogo de bolinhas de gude e

inhaque. Ao longo do tempo, sofreu modificações e adaptações de acordo com o

contexto cultural de cada região, mas conserva a sua estrutura básica de jogo de

rua, apreciado muito pelos meninos, embora meninas também participem desse jogo

(COSMO, 2009).

Da influência indígena temos as brincadeiras de imitar animais, as

brincadeiras de arco e flecha e a peteca. Para a construção da peteca, os índios

utilizavam uma trouxa de folha cheia de pedras que eram amarradas numa espiga

de milho. Brincavam de jogar esta trouxa de um lado para outro, davam o nome de

Pe’teka, que em tupi significa “bater”.

Da origem africana foram introduzidas aqui as lendas do papão, o boitatá, os

negros velhos, o Saci-Pererê, entre outros. Algumas das brincadeiras como o jogo

de caça ao tesouro, pegador, cavalo- de- pau, são brincadeiras tradicionalmente

africanas. As crianças africanas também sofreram influências de Paris e Londres

pelo seu contato com o europeu.

No Brasil, as crianças negras na época da escravidão brincavam livremente,

caçavam passarinhos com bodoque (estilingues), nadavam nos rios, brincavam de

pega-pega com os outros. Algumas dessas crianças (filhos de escravos) eram

levadas para brincar com os filhos dos senhores de Engenho, reproduzindo as

relações de dominação, fazendo-os passarem por animal para ser montado (cavalos

de montaria, burros de liteira).

É através das crianças que se perpetuam as brincadeiras tradicionais, sendo

estas, preservadas e recriadas a cada nova geração. Portanto, valorizar a tradição

dos jogos e brincadeiras é uma maneira de preservar, potencializar, ressignificar e

ampliar a cultura infantil, além de interagir com outras gerações.

Assim, os jogos e brincadeiras tradicionais são compreendidos enquanto

fenômenos sociais historicamente produzidos e apropriados pelo homem,

constituindo-se bens culturais, fazendo parte do cotidiano de várias gerações de

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crianças. Porém, estão desaparecendo na atualidade devido às transformações do

ambiente urbano, da influência da televisão e dos jogos eletrônicos, cabendo aos

avós, pais e à escola o resgate dessas brincadeiras que estão se perdendo ao longo

do tempo.

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NA ESCOLA

Estudos afirmam a importância de jogos e brincadeiras para o

desenvolvimento intelectual, social e motor da criança, enfatizando que o brincar

está intimamente ligado ao desenvolvimento intelectual, bem como contribui para a

comunicação e o relacionamento da criança com as outras. A competição e o

interesse por vencer são afastados na brincadeira, que se dá sem tensões e

restrições.

Soler (2003) em seu livro jogos cooperativos para educação infantil descreve

algumas funções efetivas do jogo. O autor afirma que com o jogo a criança explora o

mundo ao seu redor, melhora relações interpessoais, emprega a fantasia trazendo o

mundo real para suas brincadeiras, experimenta novas sensações pelo meio dos

seus erros e acertos.

Os jogos e brincadeiras possibilitam à criança ampliação da percepção e a

interpretação da realidade, recriando situações do cotidiano, projetando suas

emoções e dificuldades levando o indivíduo a conhecer e respeitar liberdades e

limites, adquirindo elementos que contribuirão para a formação de sua

personalidade.

Como afirma Rosana Piccioni em seu artigo “a brincadeira constitui-se em um

momento de aprendizagem em que o aluno tem a possibilidade de viver papéis, de

elaborar conceitos e ao mesmo tempo exteriorizar o que pensa da realidade”

(PICCIONI, 2007). É através dos jogos e brincadeiras que a criança assimila

conceitos que fazem parte de sua realidade social, reflete, recria, expressa a

compreensão da realidade e o reconstrói,exercita suas fantasias, suas noções de

responsabilidade referentes à descoberta do eu, do outro e do grupo.

Por meio dos jogos e brincadeiras, a criança elabora novos conceitos através

da apropriação de novos conhecimentos, ampliando a sua forma de ver e sentir o

mundo de que faz parte, experimentando novas formas de ação, imaginando

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situações, sendo, para ela, a melhor forma de se comunicar, explicar e se relacionar

com outras crianças, aprendendo como se integrar a esse mundo que a cerca.

Segundo Kishimoto (1993 apud COSMO, 2008) a brincadeira tradicional

enquanto manifestação da cultura popular tem a função de perpetuar a cultura

infantil, desenvolver formas de convivência social e permitir o prazer de brincar

(COSMO, 2008).

Então, de acordo com as Diretrizes Curriculares, os trabalhos com os jogos e

as brincadeiras são de relevância para o desenvolvimento do ser humano, pois

atuam como maneiras de representação do real através de situações imaginárias,

cabendo, por um lado, aos pais e, por outro, à escola, fomentar e criar as condições

apropriadas para as brincadeiras e jogos.

Neste projeto, as ações foram desenvolvidas com aproximadamente 35

alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, no Colégio Estadual Barbosa Ferraz,

pertencente ao município de Andirá, Núcleo de Jacarezinho, onde as atividades do

projeto foram realizadas no 1º semestre do ano letivo de 2014, ocupando em torno

de 32 horas - aula. O objetivo desse projeto foi contribuir para a integração dos

alunos, proporcionando-lhes o conhecimento e a prática de jogos e brincadeiras

enquanto produtos de construção cultural, social e histórica.

Optamos por este encaminhamento devido ao papel que a referida estratégia

atribui ao conteúdo, pois, assim, podemos desenvolver uma abordagem qualitativa,

onde entende- se que o pensamento individual do sujeito pode pertencer também a

outros indivíduos, manifestando uma verdade geral no contexto, ou não.

O projeto iniciou com um planejamento do professor PDE de acordo com

conteúdo curricular para a turma, por meio de atividades expositivas, pesquisas e

aulas práticas, tendo como objetivo proporcionar material de apoio para as aulas de

Educação Física, sugerindo a Técnica de Elaboração de Análise de Unidades de

Significado, identificando os valores presentes nas opiniões dos alunos em relação a

pratica de brincadeiras tradicionais conhecidas por eles e por seus familiares,

tornando as aulas de Educação Física mais participativas e agradáveis. Sua

intervenção na escola foi apresentada à comunidade escolar, durante a Semana

Pedagógica, sendo implementado no 1º semestre de 2014.

Iniciamos o trabalho apresentando aos alunos no data-show as imagens e

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figuras de jogos e brincadeiras citadas abaixo e solicitado que anotassem numa

folha o nome das que eles conheciam.

Imagem 1- figura ilustrando brincadeira de pião

http:/www.temmais.com/UpLoad/programa/Editor/brincadeirasantigaspiao.jpg

Imagem 2- figura ilustrando pular corda

http://sergiobastos.wordpress.com/2010/02/

Imagem 3- figura ilustrando brincadeira pega- pega

http//:meusjogosdemeninas.uol.com.br/blog/brincadeiras-de-criança

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Imagem 4-figura ilustrando brincadeira de pipa

http://www.brasilescola.com/upload/e/pipa(1). jpg

Imagem 5- figura ilustrando brincadeira de queimada

http://www.brasilescola.com/upload/queimada.jpg

imagem 6- figura ilustrando brincadeira pula- sela

http://www.qdivertido.com.br/pula.jpg

Imagem 7- figura ilustrando brincadeira de peteca

http://meuursinhoteddy.blogspot.com.br

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Imagem 8- figura ilustrando brincadeira amarelinha

http://www.idadecerta.com.br

Imagem 9- figura ilustrando cabo de guerra

http://wata-eh-legal.blogspot.com.br/2008_02_01_archive.html

Imagem 10 ilustrando brincadeira com bolinha de gude

http://www.qdivertido.com.br/gude.jpg

Durante a apresentação das imagens foi solicitado que anotassem, numa

folha do caderno, o nome das brincadeiras que eles conheciam. O público alvo

foram 34 alunos, cujos perfis são todos com idade entre 11 e 12 anos, sendo 19

meninas e 15 meninos.

Em seguida, abrimos espaço para que falassem as que anotaram e

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explicassem como as conheceram (através dos pais, avós, colegas, etc.), realizando

um levantamento das brincadeiras mais conhecidas por eles e o local de

conhecimento. Neste momento, os alunos puderam observar que as imagens

apresentadas eram, em sua maioria, conhecidas por elas, mas com nomes diversos.

Pudemos observar que a maioria das imagens era do conhecimento dos

alunos, que tiveram contato com as brincadeiras na escola, ficando evidente que as

crianças, hoje, brincam muito pouco em casa ou nas ruas.

A próxima etapa foi realizar uma pesquisa junto aos avós e bisavós das

crianças com as seguintes questões:

1- Me fale das suas brincadeiras de infância e qual era mais significativa para você.

2- Me conte como era jogada sua brincadeira de destaque.

Após, fizemos uma mesa redonda com os alunos relatando suas pesquisas e

fazendo uma análise das respostas, divididas nas seguintes categorias:

- brincadeiras mais citadas e comuns;

- brincadeiras citadas apenas uma vez;

- brincadeiras que já eram conhecidas pela sala.

Neste momento foi possível mostrar para as crianças que a maioria das

brincadeiras apresentadas nos slides, no início do projeto, foi citada nas pesquisas

que realizaram junto aos familiares.

Em seguida, realizamos um sorteio de 06 das brincadeiras pesquisadas

(carrinho de rolimã, bilboquê, bet’s, amarelinha, peteca e pião) e dividimos a sala em

seis grupos, cada grupo ficando com uma das brincadeiras e pesquisando a origem

e regras das mesmas, para serem apresentadas aos outros grupos, depois foram

confeccionados cartazes utilizando cartolinas, papel Paraná e manilha, lápis

coloridos, canetas piloto e figuras para ilustrar as brincadeiras e em seguida fomos a

pratica e brincamos de acordo com as regras pesquisadas.

Durante as aulas práticas apresentamos algumas brincadeiras que não

haviam sido citadas na pesquisa (gato e rato; um é pouco, dois é bom, três é

demais, caçador de animais, entre outras), intercalando com as pesquisadas e

apresentadas pelos alunos. Após as práticas das brincadeiras, os alunos relataram

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se gostaram, depois discutimos se queriam mudar alguma regra e brincamos

novamente de acordo com as sugestões deles.

Nas aulas práticas, realizadas na quadra ou pátio da escola, foram utilizados

materiais necessários à execução das brincadeiras que os alunos pesquisaram e

apresentaram.

Juntamente com a implementação do Projeto de Intervenção na Escola,

ocorreu o Grupo de Trabalho em Rede (GTR) via ambiente virtual de aprendizagem

Moodle, um dos requisitos do Programa de Desenvolvimento Educacional, onde foi

possível a apresentação do projeto, através da participação de professores docentes

da rede estadual de ensino do estado do Paraná.

Nas temáticas desenvolvidas pudemos observar que os participantes

concordaram com a aplicabilidade do projeto em suas escolas, pois o mesmo vem

de encontro com a possibilidade de socialização e interação com o conteúdo de

jogos e brincadeiras em nossa disciplina, sendo de suma importância resgatar

brincadeiras antigas. Os participantes relataram experiências sobre o mesmo tema

que foram realizadas em suas aulas muito enriquecedoras como a sugestão de

confecção de brinquedos com material reciclado, pois, além de serem brinquedos

sugeridos pelos avós (resgate cultural), propicia a integração social e a educação

ambiental, bem como campeonato de pipas e também a Gincana no Dia da Vovó.

Ficou claro que o projeto foi bastante aceito pelos participantes e que o mesmo

acrescentou novas vivências de aplicabilidade do tema na prática pedagógica, como

a pesquisa junto aos avós e a aplicação da brincadeira pesquisada pelos próprios

alunos na prática, fazendo que o interesse seja maior perante os colegas.

A Implementação do Projeto na Escola superou minhas expectativas, pois

todos os alunos participaram ativamente de todas as etapas, demonstrando

interesse e empenho nas atividades propostas, proporcionando momentos de

socialização e interação entre os colegas, além de expandir os conhecimentos das

brincadeiras e suas origens, bem como a conscientização da importância de

convívio com os colegas da sala de aula.

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RESULTADO E DISCUSSÃO

Após a apresentação dos slides aos alunos da sala, no levantamento das

brincadeiras conhecidas de onde e brincadas, pudemos observar que a maioria das

brincadeiras era do conhecimento dos alunos, mas que não eram brincadas por

todos, conforme mostra a tabela abaixo:

BRINCADEIRA: CONHECEM: ONDE BRINCAM:

Queimada 100% 100% na escola

Cabo- de- guerra 100% 100% na escola

Amarelinha 100% 44,11% na escola (apenas as

meninas)

Pião de madeira 26,47% Nenhum local

Pião com corda 73,52% 50% em casa e 23,52 em nenhum

Peteca 47,05% de TVS, livros,

revistas.

Nenhum local

Pular cordas 100% 100% na escola

Pega- pega 100% 100% na escola

Pipa 100% 50% com os pais/avós

Pula-sela 52,94% 52,94% na escola

Bolinha de gude 100% 41,17% com avós

Cabo- de- guerra 100% 100% na escola

Na próxima atividade desenvolvida, que foi a pesquisa junto aos avós,

bisavós ou pais, após a apresentação e a divisão pelas categorias observamos que

apenas algumas brincadeiras não eram conhecidas pela maioria, como o bilboquê e

o carrinho de rolimã, que se perderam no cotidiano das crianças de hoje. Aqui ficou

evidenciado que muitas das brincadeiras são vivenciadas por eles na escola apenas.

Com a análise das respostas, divididas nas categorias explicadas acima,

concluiu-se:

- brincadeiras mais citadas e comuns: queimada, pular cordas, cabo de guerra,

golzinho, bolinha de gude, pião, bet’s, peteca, roda, boneca de pano e carrinho de

rolimã.

- brincadeiras menos citadas: bilboquê e carrinho de rolimã.

- brincadeiras que já eram conhecidas pela sala: pular cordas, cabo- de- guerra,

queimada, golzinho, roda, boneca de pano, pipa, bet’s e amarelinha.

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As brincadeiras carrinho de rolimã, pião, bilboquê, boneca de pano, peteca,

pular cordas, roda e bolinha de gude foram citadas pelos bisavós das crianças e

eram brincadas nas ruas, sítios, quintais e praças.

As demais foram apresentadas pelos pais e brincadas em clubes e escolas,

repetindo apenas as brincadeiras da pipa, que também era conhecida por alguns

como papagaio, a amarelinha e pular cordas.

Devido às transformações sociais que influenciam as famílias e a escola,

rodeadas de tecnologias para interação e distração das crianças, o lúdico, através

de jogos e brincadeiras tradicionais, pode suscitar características e aspectos

relevantes no desenvolvimento da criança e de como é possível resgatar as relações

humanas, a construção de sentimentos e valores importantes que são adquiridos e

desenvolvidos na troca de experiências proporcionadas pelos jogos e brincadeiras.

Segundo Kishimoto (1993):

Prevalece a ideia de que o jogo é fundamental para a educação e odesenvolvimento infantil. Quer se trate do jogo tradicional infantil, reduto delivre iniciativa da criança, marcado pela transmissão oral, ou do jogoeducativo, que introduz conteúdos escolares e habilidades a seremadquiridas por meio da ação lúdica. O jogo e a criança caminham juntosdesde o momento em que se fixa a imagem da criança como um ser quebrinca. Portadora de uma especificidade que se expressa pelo ato lúdico, ainfância carrega consigo as brincadeiras que se perpetuam e se renovam acada geração. (KISHIMOTO, 1993, p. 11)

De acordo com os dados coletados junto aos alunos e à pesquisa realizada

junto aos pais, avós e bisavós dos alunos, ficou evidenciado que, no momento

anterior a intervenção, os mesmos possuem conhecimento sobre o assunto de

maneira limitada, sem experiências significativas. Reconhecem as brincadeiras

apresentadas, mas desconhecem as regras, origem e importância delas em seu

cotidiano.

Aqui, percebemos que os jogos tradicionais sofreram algumas mudanças.

Para Friedmann (1996), uma das razões mais significativas desses jogos terem

mudado é a redução do espaço temporal, tanto na escola quanto na família, devido

ao fato da mulher sair de casa para trabalhar fora e ao fato da TV ocupar um grande

espaço do cotidiano infantil e, assim, as crianças não têm estímulo pelo jogo além

daquele vivenciado no computador. A criança não consegue vivenciar e agregar

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valores como respeito e companheirismo, jogando de frente de um computador ou

vídeo- game.

O trabalho de pesquisa das origens e regras das brincadeiras foi muito

gratificante, pois neste momento os alunos puderam perceber de onde vieram essas

brincadeiras, como elas são antigas e passadas de geração para geração e também

aprenderam que a mesma brincadeira tem nomes e regras diferentes, conforme a

região.

Nas aulas em que os alunos apresentaram suas brincadeiras, como são

crianças de 11 e 12 anos eles tiveram um pouco de dificuldade em explicitar as

regras, necessitando da nossa intervenção para que os colegas compreendessem

como jogar. Também precisamos intervir com algumas ideias no momento em que

foi solicitada alguma sugestão para alterar, criar novas regras para aquelas

brincadeiras, onde os alunos ficaram um pouco receosos e indecisos em propor

mudanças.Também foi detectado uma recusa por parte dos meninos em

brincadeiras que eles achavam “de meninas” como a amarelinha e a corda.

Portanto, o projeto propiciou um conhecimento sobre as brincadeiras e jogos,

sua evolução e alterações que sofreram na sociedade, bem como é importante

saber interagir com o colega e com o meio, respeitar e discutir as regras e seus

significados presentes em nossos dias e na sociedade que vivemos hoje, tão

diferente da vivida pela geração passada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a realização da revisão bibliográfica, Implementação do Projeto de

Intervenção na Escola e análise dos resultados, percebemos que os alunos tinham

um conhecimento prévio sobre as brincadeiras tradicionais, através dos familiares ou

ambiente escolar, mas sem conhecimento do jogo ou brincadeira como fator

importante no desenvolvimento psicomotor e social do indivíduo.

A socialização e contextualização dos jogos e brincadeiras contribuíram para

aprimorar e aumentar o conhecimento de forma significativa sobre a atividade física

e a quão prazerosa ela pode ser.

Esse trabalho propiciou uma interação das crianças com seus familiares,

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aumentando o vínculo entre ambos,possibilitou que crianças de gêneros diferentes

brincassem juntas, diminuindo o conflito e favorecendo o contato entre eles.

Os jogos e brincadeiras nas aulas de Educação Física podem ser um amplo e

rico material para o desenvolvimento motor, bem como uma fonte inesgotável de

cultura, onde possibilitam inúmeras possibilidades de aprendizagem.

Finalizando, concluiu-se que existe um grande envolvimento e aceitação por

parte dos alunos em relação aos Jogos e Brincadeiras, revivendo e preservando o

significado dos jogos tradicionais, fazendo adaptações às condições

contemporâneas. Faz-se necessário que nós, professores de Educação Física, nos

comprometamos com a elaboração de atividades construídas com objetivos

pedagógicos, vivências que possibilitem o desenvolvimento psicomotor, social e

cognitivo dos nossos alunos, através de jogos e brincadeiras que propiciem essa

interação e socialização, pois, somente na escola as crianças estão tendo essa

oportunidade.

REFERÊNCIAS:

BERNARDES, Elizabeth Lannes. Jogos e brincadeiras: ontem e hoje. Cadernos de História da Educação - nº. 4 - jan./dez. 2005 45

CASCUDO, Camera. Literatura oral no brasil. 3ª São Paulo: Itatiaia, 1984.

COSMO, Vitória. Brincadeiras: é preciso eternizar. Artigo apresentado ao

Programa de Desenvolvimento educacional. Disponível em:

www.diaadiaeducacao.pr.gov.br Acesso em: 14 de maio. 2013.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar, crescer e aprender- O resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna, 1996.

KISHIMOTO, Tizuko M. Jogos infantis: o jogo, a criança e a educação. 6ª

Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.

LARA, Larissa M. O sentido ético-estético do corpo na cultura corporal. 2004.226 f. Tese (Doutorado) - Curso de Faculdade de Educação, Unicamp, Campinas, 2004.

PARANÁ, Secretaria De Educação Do. Diretrizes Curriculares do Estado

do Paraná. Curitiba: Seed, 2008.

PICCIONI, Rosana Gomes L. Rebrincar- Resgate de jogos e brincadeiras

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tradicionais. Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento

Educacional. Disponível em: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br.Acesso em: 14 de maio. 2013