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o

PLUTARCO . . R E V O L U C I O N Á R I O , ; na",parte Que conte*m

tu

V I D A S D E

MAD AMA BUONAPARTE, E O U T R O S D E S T A F A M Í L I A .

T R A D U Z I D O DO INGLEZ.

Reimpresso no Ilio de Janeiro na Impressão Regia.

i 8 i o .

Com licença de S. A. R.

Vende-se na Loja de Paulo Martin , Jilbo , • no

fim da Una da Quitanda N, 34. por 800 reis, onde se

acha a Verdadeira Fida de Bonaparte por 960 reinem Br.

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O P L U T A R C O

' R È V O L Ú C I O N A R I O .

' Madame Napoleone Buon.

JO S E P H IN A Ia Pagerie casou na idade de 22 annos com o Visconde Alexandre de Beauharnois, então segundo Major de hum

Kegimento de Infanteria, posto a que foi pro-movido , não pelos seus talentos militares, mas sim pela sua assiduidade em Versailles, e nas antecamaras dos Vallidos, e Ministros, e pela reputação que tinha enrre os Cortezáos de agradavel , e hábil dançarino. O casamento da rica Mademoiselle la Pagerie com o pobre Vis-conde de Beauharnois effeituou-se por amor e affeição de lmma parte , e pelo interesse, é necessidade da outra; porque Beauharnois es-tava endividado , e era alguns annos mais mo-Ço, que sua esposa. Ambos nascerão na M a r -tinica , e forão educados em França ; ambos descendiâo de famílias nobres, porém desco-nhecidas, on pobres, as quaes se tinhS'o trans-portado ás índias Occidenres, com o projecto

A ii

Pag. 3

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4 O Plutarco de fazerem fortuna nas Colonias, do que ellaí * não tinhâo idéa , nem esperanças na sua Pa-tria. •

A pezar de M r . , « Mad. de Beauharnois V i e r e m introduzidos na Corte logo depois d«»

seu casamento, e apresentados ao R e i ' e á Fa* milia R e a l , cora tudo a sua sociedade usual constava com especialidade de pessoas , que. . como elles, posuião alguns bens, não aspira-vão a maior elevação, mas que fortemente desfjavão unir ás riquezas a distineção, e va-limento. A s pessoas de ambos os sexos , que compunhão esta sociedade erão Cidadãos im-moraes , intrigantes, ambiciosos, e perigosos, e os principaes conspiradores, posto que indi-rectos , tanto contra o Thróno, como centra o A l t a r , privilégios da nobreza , e Clero „, da mesma sorte que contra a felicidade, e trart-quillidade dosFrancezes em geral. Ta l leyrand, Carlos, e Alexandre la Methe , Beaumetz , la T o u r , M a u b e u g e , S i l lery , e Flahaut erão as pessoas, que niais se visitavão com Madame

• Beauharnois, e seu marido ; personagens que tem figurado mais, ou menos com suas mulhe-res nos annaes da Revolução Franceza , e pre-parado por suas conversações, e escritos Atheis-l icos, e sediciosos a subversão do Governo Mo-nárquico , e a desgraça da França , e Europa. Erão conhecidos por frondeurs, como os cha-mavão os Francezes , o u , a que vem a ser o mesmo, partidistas contra o Govçruo , sem

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' Revolucionário. ft causa, ou razão, e sem v e r g o n h a , gratidão » d e v e r , ou policia. Entre estas sociedades da se' gunda classe, ou Nobreza in fe r io r , passeava o vicio' descaradamente ; e os sagrados laços do Matrimonio erão menos respeitados entre e l l a , do que na primeira classe , aliás aboca-nhada , ou antes calumniada , como a mais dissolutá, e immoral ; todovia em attenção aos seus proprios nomes, e ao conhecido, e virtuoso caracter de Luiz X V I . , muitos delles vião-se obrigados a salvar ao menos a apparen-cia da v i r tude , ou a serem resguardados em seus vícios, e evitarem todo o escandalo , e publicidade, por serem estes os únicos meios de^ conservarem a boa opinião , e valimento do"seu Principe. Não aconteceo assim com a companhia familiar de Mr . e M a d . deBeauhar-nois: ardendo em desejos de se fazerem , noto-r i o s , a sua constante, e criminosa emulação era a de obterem hum infame applauso, serem da moda na immoral Corte F r a n c e z a , e ga-r nharem f a m a , fazendo o público sabedor das suas reciprocas intrigas, mutuas infidelidades, e do igual refinamento em v i c i o , e deprava-ção. Conseguintemente os namorados de Mad. de Beauharnois erão t5o innumeraveis , como erão notorios , e conhecidos ; e sem dúvida l u a vaidade se l isonjeava, quando ouvia que seus amores erão 03 lugares communs das pa-lestras não só em Versai l les , como também em Par i s , nos T h e a t r o s , e cafés. E m Março

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6 • O Plutarco de 1 7 8 9 , no palacio da.Condessa de T . . . ( a amada de Ta l l eyrand) , Mad. de Beaiüi. disse

^ e m hum grande circulo de Senhor,as, e Cavai , lheiros , que alli se achavSo , e em presença de M r . de B e a u h . , que não podia accusar seu marido de a ter incommodado com. muitos fi-lhos , porque delle só fòra o primeiro , que ter-minou por hum: aborto. Esta indecente galan-taria foi ouv ida , ce lebrada, e invejada por todas as senhoras presentes; e no dia seguinte apregoada em Paris pelo< Cavalheiros, louva-da , e admirada por toda a parte. Poucos clias depois apparecendo Mad. de Beauh. no seu ca-marote na Opera , foi saudada com os repeti-dos applausos dos bons e virtuosos Parisienses, que estavão então preparando a regeneração moral da F r a n ç a , Europa , e do Mundo, ( x )

Mr . de Beauh. tinha a este tempo sido eleito pela Nobreza do districto de Blois D e -putado dos Estados Geraes. Alluciiiado com esta hoiiíra, e com as lisonja- de seus amigos a respeito dos encantos de sua mulher ; e os bons jantares , que preparava o seu cozinheiro ; e convencido de sua superioridade 11a dança, re-putou-se hum homem de consequência ; e para o provar determinou com lu;m gráo de impu-dência tão deshonroso , quão inefficaz , em pa-ga de todos os favores , que tinha recebido da

( 1 ) Chionique scandaleuse de Pan . 1 7 8 9 , chez Bar-r e e , à Par is—pag. 1 2 1 , e 122.

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' Revolucionário. ft

generosa bondade de Luiz X V I . , det lamar , e declarar a sua implacayel inimizade ã este S o -berano , e áFamí l i a Re^l. Porém subindo á T r i -Luna na A§sembléa dos Estados Geraes, cha-mada depois a Assembléa Nac iona l , leo os seus atraiçoados .discursos acom hum tom de osten-tação,, que se fí\zia ridículo pela sua voz desa-nimada, e falta de expressão; e o Orador tor-nou-se tao desprezível , quão detestável o trai-dor. Os seus complices la F a y e t e , e la Methe fizerão com tudo com que elle fosse elleito presidente desta Assembléa Nacional em Julho de 1 7 9 1 , apezar da sua falta de talentos , e como tal assignou a proclamação dirigida ao povo F r a n c e z , quando Luiz X V I . foi preso em.Varennes . E m Outubro do mesmo anno

,rtconçil iou-se com a C o r t e , e foi promovido ao posto de A j u d a n t e G e n e r a l , no qual sérvio debaixo das ordens do General Brion , quando as tropas Francezas forão derrotadas ao pé de Mons em A b r i 1 c l e I 7 9 a -

Beauh. foi amigo de la F a y e t e , em quan-to este gozou a affeição popular; mas depois juntou-se a Diimourier , in imigo, e successor do.primeiro em popularidade; e quando o ul-timo foi proscripto , começou a fazer a Corte a Custine , a quem , tocando-lhe a vez da pros-cripção , succedeo no commando do exercito do Rliin ; emprego que elle desejou renunciar contra vontade dos jacobinos, e que foi obri-gado a exercer até Agosto de 1 7 9 3 , época ,

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8 O Plutarco

em que os íepresentantes do povo o suspen-derão de todas as funcçóes, e o mandárão re-tirar vinte legoas das fronteiras. Logo depois

^ foi preso com sua mulher , como pessoas sus-p e i t a s s e a 2 3 de Julho de r794 mandado á guilhotina, por complice da imaginaria cons-piração das prisões. No dia anterior á sua ex-ecução escreveo huma externa carta * sua mu-: • rffommendando-lhe no verdadeiro esti-lo republicano os filhos delia; e em particular que nao se descuidasse de estabelecer a sua me-moria, e reputação, provando que toda a sua vida tinha sido consagrada a servir á liberda-de, e igualdade, ( r ) Esta hipocrisia revolu-cionaria de hum homem, que havia sido vin-te aonos certezâo, e somente 4 patriota, não parecera espantosa, quando considerarmos que neste tempo, liberdade , e igualdade ergo pa-lavras muito da moda na França Republicana c M r . de Beauh. sem dúvida intentava mor-rer do mesmo modo que tinha vivido • i h como homem da moda. Com tudo , diz-se' que quando elle subio ao cadafalso da guilho-tina exclamob : " Se eu tivesse servido ao meu Rei com o mesmo ?,ão , e fidelidade, com que tenho servido aos seus assassinos, elle me haveria premiado de hum modo bem diferente He huma consolação para a lealdade proscri-

nols. V e Í 1 " S e l e D i c c i o n , i r e biografique v.. at . Beauhat-

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' Revolucionário. ft p t a , e õpprimida, e hum exemplo , de que a Providencia nem sempre consente que* o crime bem succedido fique impune , o ver que a maior pa/te dos Nobres , que se revoltárão con-tra o seu legitimo Soberano , ou tem morrido ás mSos do seu povo Soberano , ou o que ain-da he p e i o r , e mais penoso , igualmente para os verdadeiros patriotas, e intrigantes patrio-tas , são obrigados a viver como abjectos escra-vos do mais v i l de todos os tyrannos, e a sof-frer debaixo de hum usurpador estrangeiro hu-ma escravidão tão affrontosa, quão oppressiva, depois de haverem sacrificado a verdadeira l i -berdade , que gozavão debaixo do melhor de todos os Reis Francezes. ( i )

Durante a carreira revolucionaria do Ge-neral Beauharnois, sua mulher perdeo muitos dos seus antigos amigos; já por causa da emi-gração , como os dois Irmãos la M e t h e ; já pe-la proscripção , como Tal leyrand , e la Fayet -te ; ou pela gui lhotina, como B a r n a v e , Sil le-r y , e FJahault. Foi por isso que ella perten-deo emigrar , quando esteve em Strasbourg em Julho de 1 7 9 3 ; o que seu marido impedio, mandando-a voltar para Par is , onde logo de-pois forão ambos presos, mas não na mesma prisão.

Disse-se , e passou geralmente por certo , que Mad. de Beauh. em 1 7 9 4 , para salvar á

( O Veja-se le Recueil d'Anecdotes pag. i g f .

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i« O Plutarco

v i d a , lançou-se nos braços de hum dos assasi-nos indirectos de seu ifiarido , e de seu R e i ; e que não lhe deixárãff outra alternativa, se-não os impuros abraços do. regicida Barrás , oíi* a morte da guilhotina républieaua. Soube-se muito bem em Par i s , e fioder-se-hia provar fa-cilmente em Londres , que não foi todavia p >r necessidade , mas sim por hum habitQ v i í i o s o , e escandalosa perversidade que ella principiou a introduzir-se com Barrás. O General Beauh. foi decapitado a 2,3 de Julho de 1 7 9 4 , cinco dias antes da morte de Robespierre , e seis dias antes que a guilhotina cessasse de matar em massa. No número 25 da lista impressa de Fou-qnier Thionville , ( contando do dia em que ella ficou viuva ) achava-se escrito o seu no-m e ; C O e se Robespierre não tivesse sido iflo*-to , ella certamente haveria subido ao cadafal-s o , e Barrás era o ultimo de todos os regici-das convencionaes, que a poderia salvar , por-

( 1 ) Depois da morte de Robespierre puzerão-se sêl-los em todos as papeis do Tr ibunal Revolucionário , os quaes forão entregues ao-Corniie-da Segurança'Pública. Entre estes papeis achavão-se 36 listas das pessoas , que estavão em prisão, ou erão suspeitas , c nos 36 dias seguintes estavão destinadas á guilhotina. O nome de Barrás achava-se na y L u t a ; e o de Mad. de Beatt-harnois na 25. Algumas destas I.istas continhão So no-mes outras 6 0 , 40 & c ; porém nenhuma menos de

nomes; todas estavão assignadasporFouquier Thion-ville , accusador públ ico , e f a r ã o impressas , durante o seu processo.

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' Revolucionário. ft

que elle mesmo se achava notado em huma lis-ta antèr ior , como hurfia das primeiras victi-5MS de Robespierre. Além disso quando Mad . de Beaulíarnois recobrou a liberdade , a 24 de ' Thermidor , ou 12 de. Agosto de 1 7 9 4 foi sol-ta não por Bar rás , mas sim pelo carniceiro Pa-risiense , e representante do Povo France/, o regicida l feGendre , o qualbenignamente a pro-teg to por algum tempo em sua casa , onde cila contrahio amizade com Mad. Tallien , e B a r -rás , que em Setembro do inesmo anno traliin-do sagazmente a le Gendre fez com que se ti-rassem os séllos á casa de Mad. de Beaulíarnois na rua das Victor ias ; e tocando-lhe a sua v e z de a proteger , foi para alli morar com ella em hum quarto , que em Outubro de 1 7 9 5 , elle trocou pelo Palacio de Luxembonrgo , e pro-curou-lhe em seu complice Napol. Buonaparte hum marido, que encobrisse o estado critico , a que ella se aciiava então reduzida, por can-sa da sua intimidade , e relações com o primei-ro em qualidade de amante. ( 1 )

Todas estas Senhoras de famílias nobres Francezas , cuja dissolação foi superior aos seus deveres no curso da Revolução ( e que para honra do sexo não são muitas ) tem feito de seus j-ertendidos perigos huma apologia aos seus verdadeiros crimes. O perigo foi a desculpa de Mad. de Fontenay p o r ter -casado com o reg i -

( 1 ) Veja-se la Sainte Famille pag.

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I» O Plutarco c i d a , e setembrista T j l l i e i i ; da Dnqueza de F leury por se haver divorciado para casar com lium jogador ; da Marqueza de Bourdemon' por ter vivido em adultério com o' jacobino Barrás , pois que este era casado. Porém os cri-mes revolucionários das facções revolucionarias são summamente manifestos , públ icos , ,e nu-merosos para precisarem do augmento da liber-tinagem , a fim de disfarçar a corrupção parti-cular ; e se estas Senhoras áimmitação daPr in-ceza de M o n a c o , da Dnqueza de B i r o n , e da Marqueza de S. Luc houvessem perferido a morte á infarr.ia, merecerião a maior admira-ção : aquellas porém que se esquecerão de si mesmas, quando se vião rodeadas de exemplos de martyres da fidelidade , e da Religião ,< e dos cadafalsos contra a v i r t u d e , e innoceucia ; e que nesses terríveis dias soltárão as redeas ás suas vis pa ixões , merecem ser apontadas não só para sua propria ve rgonha , mas também pa-ra aviso de outras , a quem revoluções futuras poderáõ tentar a huma igual imitação , e de-gradação.

E m quanto Mad . de Beauharnois se con-solava por este modo na companhia de Barrás da perda de seu marido , Mad . Tallien , huma linda mulher , mas cujo caracter lie tão depra-vado , quão perfeito he o seu ex te r io r , era então o ídolo da moda para os alegres, corrom-pidos , e volúveis Parisienses. Estas duas ami-gas de Barrás tornárão-se logo rivaes nas Chro-

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Revolucionado. i j

nicas escandalosas, em que se celebravão os seus mutüos esforços para fazerem sombra l iu-á o u t r a ; para fazerem conquistas, e abando-narem os conquistados ; para mudarem de amantes , como mudavão de vestidos; e para m o s t r a r e i nos theatfos , ^passeios, e assenbléas públicas os seus novos,, e differentes namora-dos tão impudentemente, quanto ellas se apre-sentarão nuas mais de metade do corpo, ( i )

Nos annos de 1 7 9 5 » e 1 7 9 6 M a d . T a l -lien teve sempre a preferencia na popularida-de , e affeição Parisiense , e fo i o idolo mais da moda nesses tempos. Mad. Beauharnois não teve applauso, ou approvação , quando se di-vu lgou a noticia do seu segundo casamento. S u a escolha , Napol. Buonaparte , e i a a detes-t a ç ã o , e abominação de todo o P a r i s , onde e l le 'dois mezes antes havia feito tantas v iu^

( 1 ) He bem sabido em França que a moda do c o r p o nii foi inventada em 1794 em consequência dc cos-tumarem os algozes rasgar ás Senhoras os lenços , e parte dos seuí vestiilos, a fim de ficarem descobertas as espadoas, antes que fossem guilhotinadas. Mad . Na-pol. , c Mad. Tallien lbriio as primeiras, que depois da morte de Robespierre assim se apresentarão nuas ao pú-blico ; e inventarão os toucados, xáles, e lenços encar-nados a imitação das opas encarnadas, com que os sup-postos conspiradores contra a Republica dos regicidas J i ião vestidos para o cadafalso. He quasi impossível in-

• ventar moias tiradas de acontecimentos mais atrozes, ou cruéis. O penteado à la T i tus originou-se do corte do» cahêllos, que clavão os algozes aos condeaiiudos i gui-lhot i ia .

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14 O Plutarco v a s , e orFãos; e mesmo a sua br i lhante campa-" " nha de 1 7 9 6 11a Italia deo motivo a qne os Pa-risienses se horrorizassem mesmo do nome do v e n c e d o r B u o n a p a r t e , de quem elles sempre se I e m b r a v ã o , e para, fluem olhavão como hum assassino. •* "

Pe la paz de C a m p a F o r m i o , ou para m e -lhor d i z e r , pela revolução de F r u c t i d o r , ou 4 de Setembro de 1 7 9 7 , B u o n a p a r t e fez, calar os seus i n i m i g o s , sem com tudo se reconcil iar com elles. Os lisonjeiros da sua for tuna forão a causa de sua mulher participar deste t r i u n -f o , e obr igar M a d . T a l i i e a a renunc iar o Thro-no da moda , ou ao menos admitt ir nelle h u m a companheira , o qual por dois annos aquel la t inha occupado sem r i v a l ; e a inda que M a d . Napoleon Q n'outro tempo de B e a u h a r n o i s ) es-tava avançada em annos , e n u n c a t inha 's ido huma bel leza , com tudo a notre Dame de V i -c i o i r e , como a chamavão os mi l i ta res , occupa-Vu mais a palestra do d i a , do que a notre Da-me de S e t e m b r e , como os Realistas denomina-vão a M a d . Tal l ien , por causa do seu casa-mento com hum regicida,- que era além disso setembrista.

Quando Buonaparte partio para o E g y p t o em Maio de 1 7 9 8 , deixou sua mulher em maior abundancia , do que a rinha achado em 1 7 9 5 ; vendose naquelle tempo em miséria havia ca-> sacio com ella por causa dos seus b e n s , e não p o r inclinação á sua pessoa. A s maneiras ama-

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I Revolucionário. 16

Veis , e insinuantes de Madame Napoleon fize-rão todavia alguma impressão 110 espirito de hum homem insensível, c r u e l , e ambicioso, o qual sem dúvida tomava por amor, o que

' sómenteera vaidade,, M interesse ; e apartou-je de sua mulher com sehtimento , se merecem credito as suas próprias cartas; ou provavel-mente com o receio de que mais riquezas, mais 'notoriedade , e mais meios de attrahir a a t tençãodo público; fizessem ainda mais cri-minoso hum caracter já vão , e dissoluto. Buo-naparte não se enganou. Segundo o folheto , intitulado LaSainte Famille , recebeo em Mal-ta cartas de sua M â i com a noticia , de que " sua mulher no mesmo d i a , em que soube que elle tinha partido de Toulon , sahíra de Paris para Grobois, e alli ficara com o seu antiga protector B a r r i s , o qual havia motivado gran-de queixa , e escandalo aos outros Directores, por ter abandonado os sHus deveres , e o pala-cio de Luxemburgo para ir fartar-se de scenas de dissipação em Grobois , onde , além de ou-tras Cortezãs de nota , estavão Madame T al-lien , Mad. Napoleon Buonaparte , Mad. Kil-main , Mad. Guida l , Mad. G r a n d , o General Verdier , Talleyrand , & c . , &c. personagens, cujos exemplos sabia-se muito b e m , ique erão capazes de perverter a moral de huma Repu-blica ainda mais viciosa que a Franceza. ( i )

( i ) Veja-se la Salnte Famille pag. 37.

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16 O Plutarco

Foi em consequência deYca noticia maternal que Napoleon escreveo db Cairo , a 1 5 de Ju-lho de 1 7 9 S , huma c^rta a seu Irmão José , em que dizia: " Tenljo. muitas inquietações domesticas , e vexamfó de familia ; o véo es-tá inteiramente corr f i lo : ' só vós me restais no M u n d o ; vossa amizade pie lie mui cara: não he preciso mais para fazer-me hum completo misantropo, do que perder-vos , ou qi\e vós me sejais infiel. Tal he a minha mfclancolica situação! Eu tenho a maior ternura por essa mesma pessoa , ao mesmo tempo que outrem rei-na em. seu coração! Vós entendeis o que eu quero dizer. „ O enternecido humano , e não ambicioso Napol. , tornar-se hum misantrópo , porque sua digna consorte voltara para os bra-ços do mesmo regicida , com quem vivia em manifesto adultério, quando "com elle caMHi! Aquel le que a sangue frio , senão foi com pra-zer , havia comman^ado o assassínio, envene-nação , &c. de tantos milhares de indivíduos de ambos os sexos, e de todas as idades! Esta hypocrisia Córsega não podia illudir mesma a grande parcialidade de seu Irmão Corso. Hum homem á testa de 40000 salteadores armados, empregados em saquear o P a i z , e matar os vas-sallos de huma Potencia amiga , e alliada , de-ve com effeito ser hum bem novo, e curioso misantrópo!

Depois que se publicou em França o êxi-to da batalha de à b o u k i r , a politica de Bar-

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Revokicionarió. 17

rás fez-se superior a J s e u a m o r ; e seguindo o exemplo*, e procedimento dos outros Directo-res , já então se envergonhava de frequentar a companhia cie huma Senhora , cujo marido por

'sitas absurdos, e i m p r J k n t e s ordens ao Aim i-fante Francez , t inha srtto a causa da destrui-ção de mais dtimetade d r q u e restava da Ma-rinha Franceza ; perda Nacional tão grande , que excitou hum geral clamor , e desconten-tamento em toda a França. O mesmo filho do DiVector R e w b e l , que ha tanto tempo inerria de amores per Mademoiselle Francisca de Beau-harnois ( filha de Mad. Napol. durante o seu primeiro casamento) e a quem elfe estava pro-mettida, dissolveo huma a l l i a n f a , que a victo-ria de Lord Nelson havia tornado de máo agoi-ro. ( . 1) Para maior desgosto , e liumiliação de Mad. Buonaparte , a sua ant iga , e vencida ri-val Mad. 'I'allien tornou a usurpar, e arrogar o império da moda ; foi. novamente seguida em T i v o l i , Frescati , e em outros passeios, ou jardins públicos; foi outra vez admirada e x -clusivamente nas Assembler Directoriaes , e Ministeriaes, e applaudida novamente na Ope-r a , e no-Theatro de Feydeaux , novamente se

B

( 1 ) Nem M a d . , nem o seu Napol. podem esquecer, se daconducta de Barrás, e Rewbe- nesta cceasião: por isso nenhum destes antigos Reis da facção pederao j» mais ser admittidoj ao Senado Consular, a peiar de ser este ocommum receptáculo de tudo o que he ú l , vicio-so , corrupto, e delinquente.

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í8 ' O PlutCrco expuzerão ae público os|seus retrafos no Pa-lais Royal, e na rua St. fíonoré, e oiilra vez foi celebrada a sua beltèza 110 Boulevard, e no Theatro de Vaudevilles.^lad. Napol. para con-solar se de tantos i n f & W i o s , qne-se augmeti-tavão coin as imporíínas visitas dos seus crés. dores, e dos de seiAharfdo , reAunciou os pra-zeres , e os deliciosos momentos do seu boudoir pelas vistas lisonjeiras do ouro nas banc*as do ' jogo, e pequenas merendas dos jogadores, nas quaes o Bourgogne , e o .Champagne a fazião tantas vezes esquecer de B a r r á s , e Napol. , e dos cartuxcs de Luizes d'ouro , de que liuma sorte adversa* a tinha privado. Na Primavera cie 1 7 9 9 M - d . Napol. vio-se reduzida ata i mi-séria, que não'só os diamantes, e jóias, que o seu Napl. lhe tinha trazido de Italia , forão empenhados nas mãos dos usurários, como'tam-bem foi preciso hum soccorro pecuniário, en-tão anonymo, do General. Moreau para salvar-lhe a casa de liuma penhora. Se se deve dar credito á Chronica Escandalosa, e se forão .ver-dadeiros os boatos nos circulo:; de Luxembur-go , Mad. Napol. tentou ioda a qualidade de expediente para desemba, açar-se de semelhan-tes apertos ; a ponto de valer-se dos restos dos seus antigos encantos, e aUractivos, já então murchos, para remediar as suas actuaes preci-sões, e. extravagancias. f r )

(.1) Veja-se ia Sainte Famille pag. 40.

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I Revolucionário. 19 Mas apenas o mfmoso filli©- da fortuna ,

Napol. Bsonaparte , « rnou-se de hum infame desertor hum poderoso ^Primeiro Consul ; .e lo-go que a victoria^, fy, j a z de Luneville , e -Amiens respeitarão qs jrJçjectos de suas usur-pações , Mad. Napol*. 11Ú9 receou mais outra alguma rival na throop dè; moda , bem como seu marido no fyrono Republicano da França. Pelo que náo se' tratou mais das pequenas in-trigas amorosas , dos pequenos boudoirs , das pequenas cabala's, das pequenas bellezas da se-gunda ordem, taes , como Mad. Tall ica , Mad. Recamier , Mad. Marmont. O Primeiro Consul d e c r e t o u " que Mad. Napol. dev&rrfrepresen-tar de huma maneira decente t*ciQS os papeis de huma Rair.ka , —• no castellt^Bas"Rainhas, — nas camaras das Ra inhas , — com os thesouros das Rainhas-j -< e com os vieios, e vaidades .superiores aos de rocias as Rainhas. ,, Para co-meçar esta empreza devião-se pôr de parte to-dos os antigos conhecimentos famil iares , con-vencendo por isso ao mundo Republicano , que Mad. Napol. na idade de 46 annos tinha nas-cido para ser R a i n h a , para dar esplendor ao throno de huma Rainha , e para honrar a dig-nidade de huma Rainha. Con?egi'ir.temente Mad. Tallien recebeo ordem peio Prefeito do palacio Duroc para não apparecer mais no Cas-tello das — Thuilleries — , pois que Mad. Na-pol. já não podia soffrer a pre.cnça de huma mulher , que tivera dois filhos durante a au-

B íi

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ao O Plutarco sentia de sen marido ( ú ) ; ningnem mais se-não o Primeiro C o n s u l t , ™ havia sido enve-nenador , e setembrista sumgnte em Jaffa no . dia tolerar a f r a t e r n % d a %e seu ainieo Ta l -l i e n , que tinha s i d ^ n - reg ic ida , e setem-crista somente em |>arís

_ Todas as a n t i c s dividas ..perseguições de credores, todas as antigas p/rtenções á fami-liaridade , e todas as queixas -púbiicàs pela in-juria, aesprêzo , ou ingratidão , forào conclui-fUs particularmente no - Temple ~ pelo •Ci -dadão Fouclié,. ou nos Sertões de Cayenna pe-los satellites deste.

F e j t ó t o , ainda lhe restava instruir-se na etiqueta c > R a i n h a s , e das Cortes , porque

N a P ° l . L.nha estado somente quatro ve-zes em sua vida na Corte de Versailles , e quan-do muito huma hora de cada vez. O mesmo lNapol. tomou então lições regulares do actor J a lma para declamar, e fallar como R e i ; de

•Vestns para cumprimentar , e dançar como K e i ; de Benezetii para comer , e beber como

' Talleyrand para confer i r , e negociar como Rei ; e de Segur para sorrir-se , espirrar,

( i ) Quando Durpc dco esta mensàpem , Mad Tallien e!la tomoM-lhe: ( D b r i » W ) M ( w ; m,;, s e todo o Pmís sabe que tive do.» filhos durante a amencla dc Tal l in , „ 0

i g y p t o dc perto dc 4 :tnnos, o aberto delia durante a Jc *»í™l>nrte .so.Ticnrc dc l 6 t m z c s , t e i n s i d o a l I m i r n d o

ma' nn ' Í V - " " Í t i n u * l L l " " " " " em L U l u , h ' - vclna. ) la i„,,:te Fmi;;i, 44,

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•> Revo'icioriario.' a i

e olhar por cima jjfü lioinbro como Rei. A fim de instruir-se M?,d^N?p<íl. , depois de lmma longa conferencia co1^ íáad. Genlis , e Mad. Stael , puzerão-se em requisição todas as Se-nhoras da antigít Côr te , çué tinlião escapado á guilhotina Réaiblicana ; porém o Primeiro Consul', o,uvindcy nas ~ Thuilleries — a con-tinuação da. mwrfja lingoagem da rua das Vi-ctorias , pr~e&'ebe<| a logração , e vio que estas senhoras tinhão tonspirado para fazerem de sua eiposa huma Jidicula mulher erçi(tlugar de huma amável , t elegante Rainfó JtiOTendo ordenado , que estas coiupiradoi^fSDretirassera trinta legoas das — Thuilleiriei — , recorreo outra .vez ao, fiel executor de todo o trabalho Fonché , q u e r e l a actividade dos seus agentes da Politica, aliás espiões, descubrírão huma senhora, de cujo patriotismo em servir a cau-sa da Revolução , ou e que vem a ser o mes-mo , a causa de Buonaparte, não se podia du-vidar. Mad. Campan teve 110 principio da Re-volução o exercício de Dama camarista da de-funta Rainha de França , e qual perdera em Junho de 1 7 9 1 , por haver mais que suspeita, de que dava a la Fayete , e seus complices no-ticias das disposições de Luiz X V I . , e de Ma-ria Antoinera para a sua infeliz jornada a Va-rennes. Desde essa época Mad. Campan resi-dio em Versailles, estabeleceo hum Collegia Republicano de pensionistas, no qual o Domin-go dos Christãos era consagrado a década re-

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Sí O Plufvco voliicionari® ; e de b a i x o t e seu cuidado foi eciucada por a l g u m t f f c ^ l l e Francisca de

» Beauharnois. A s ^ I V f c d - Ca^pan pro-' 3 0 ! u i r » a d m i i v e l effeito sobre o durarto

gemo maneiras attract/os da duraz a N ? P ° ' - . a qual com v i f v e l satisfação de

seu maneio Consular, tornoi Je .em pouío tem-po In,ma Rainha tão c o m p O . . J a n t o elle lium completo Rei. (t) V "

Na Republica Franceza/da igualdade era

: * a í t l a h U , n 4 * ^ 0 , que ti-^ j t k n t a r - s e a e s w Rainha Républica-

na hum Maçado de que era admittido igual-mente a Corte tio seu mesmo Soberano, quan-to lhe era na Republica F r a n c e ^ da liberda-de o andar sempre provido de passaporte na algibeira , se queria evitar a prísfio , ou de-tenção nas estradas, ou nas ruas. Também não se exceptuava nisso o caracter, discrição e conceito dos Agentes diplomáticos estrangei-ros ; era necessário produzir passaportes'revis-tos e approvados na Secretaria de Talleyrand na Prefeitura do palácio , e d.a policia , p r i . ' nieiro que entrassem „ a grande sala de M a d iNapoí. liste regulamento era observado com tal severidade , que quando os Agentes das Ci-dades Impenaes Hamburgo, Bremen , L u b e c k , F rankfor t , e Nuremberg pedirão a honra de prõstrar-se d iante j fe Mad. Napol. , não forão

( I ) .Veja-se la Sainte Famille pag. 45.

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v. Revolucionário. a is<o S d m k t i d o s ^ e m que decorresse toda lm-

nVrula e.n J f f S u l t M , e de l iberações ; e x -1 a U • * K J * * a Versa i l les a chamar

% Í T L Í p W P - " » F r a n c e z a M a d . • P : X o c l - s c . a SessSo da Corte o j V f ,

C o a lho d u r a d o , e f » foi o b n g a d a a dar . « seauinte d \ i s S o por I s e n t o „ que so era afl ri)iss?vel a o s j f e p u t a d o s das Cidades Impenaes . » « c e o c á l * não apresentarem certifica os l c " r S n i f / w m ™adP>os s u b e r a n o s

Z o t í Z C&es, Reis , neni Rainhas. (O Foi d e p o l da paz d A m i e n s que B , o n a

m r t e pela pr i t ie i ra v e z c o n s t ^ ^ S e n a d o , Conselho c a t a d o , ^ T r i b u n o s , P r e f e i t o s , L e g j a d o . e s e toda a sua se a talha revolucionaria a elogiar a b e l e z a ,

. X L i ^ e v i i n i d e d e s u a e s p o s t a , ^ ^ to a sua h u m a n i d a d e , g randeza , e S e n e r o s l

1 L Com tudo íoi entre os preliminares e o T r a t a d o definitivo com I n g l a t e r r a . que ^ jiieíro Consul em seu prefeito juaft d e c r t o u ,

e sua mulher se dever ia apresentar a d o r n a j . magni f icamente , para acompanhá-lo na sua u * - ) n v K ás P r o v í n c i a s ; conseguintemente l e v o á - i / comsigo a Consulta I ta l iana de Leão-em ] a n ^ í o d ^ . S o a . - onde ella fo i « « . p n ^ j J - f formalidade , porém em outra v iagem a c o s t a ,

e T B ^

(O Vcji-se les Nouvellc. á la M a i n - Thermite an-no XI .N.U.rag . i s , e i j .

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24 O Plutarco "

c e r corno Cidadão, Xtó p r o c X 7 " f "

todo o sexo femenino

traja a ^ J Z % a J ™ f , o m o r a i ' em seu c o 7 $ K ; , ) ^ M c s ' e a ^tude

e v i . e c o Í S a R e l Í g Í 5 ° '

A ^ a o t r r r i r » ^

^ a t t M t u ^ o ^ aS°rade

' ^ 1 " ' M a ' i n e s , e JirusseJJes, & c . & c

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m , I Revolucionário. rt

gancia em modas Perdeo ultimamente em Biusselles em -çltoj jp^o jogo de cartas, e dado cincoenta çiil J i i z e s d'ouro , pagos de sug conta'pelo Ministre do Thesouro Nacional Marbois. Segundo o papel periodico Les Nou-

welles à la main Se Vendemiare, anno 1 2 , ou Outubrp de i 8 o j ^ Mad. Napol. já mais usa duas vezes 'de (JffÊquer vestido singello , e cos-tuma v e s t i r ^ ' " a o dia quatro , ou seis vezes. No Verão usa ae quatro dúzias de meias de seda , e tres de p|^es de luvas , e çapatos cada semana , e de Inverno tres duzias^|j i*^us fi-nas meias d'algudSo Inglesas , t J ^ d e meias de seda Francesas. Já mais calçsTmeias de seda lavadas, nem as mesmas luvas , e çapatos se-gundaArez. Xòdas as suas camizas são da mais fina cambraia guarnecidas de renda , que uís-tão cada huriíá dez Luizes d'ouro. Apromptão-se-llie todos os mezes seis dúzias de camizas com renda. Todos os tres mezes muda de dia-mantes, e jóias, ou os faz preparar de novo, segundo o rigor da moda. Quatro vezes no an-no ha mudança de baixella , louça , móvei^, tapeçarias, &c. segundo as estações. Tem da-do ordem que o seu tratamento regular todos os mezes deva constar de duas carruagens no-vas , e seis differentes parelhas; e que o seu Estribeiro mór possa dispor de doze cavallos , dos trinta e seis da sua cavalhariça particular, todas as trez décadas para serem substituídos por outros doze da côr da moda. Os criado» da

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26 o Plutarco l * •

sua casa recebem iodos os-mezes vest idos, ou l ibris novas. A s u a f f i L m / ^ u a r d a - r o n p a se re-parte todos os mezes pBas' suas Damas de Ho» nor. ' " .

Mad. Napol. tem,quatro guardaroupas se-paradas, differentes diamante^, &c. para q u a n - ^ do v i a j a , quando está nas - J l l i u i i l e r i e s — , em S . Cloud , e ein M a l m a i s o f l ^ e bem que ella não possa residir ao mesmo t ç n j ^ em diferen-tes _ lugares , ' c o m tudo manda que se façno sempre as quatro mudanças^ie móveis , &c. na m e s f l k t y ^ c a lios tres mencionados palacios. E m S. CWfc^augmentoti ella o gabinete do ba-nho da u l t i m j , e desgraçada Rainha com des-p e j a de 6000 Luizes d'ouro. Por meio de cer-tos registos lie servida dos perfumes , \ que o seu capricho deseja, para misturar 110 banho; os reservatórios estão sempre 'rifeiós dos mais delicados per fumes , e das melhores aguas de che i ro , 110 que despende 50 Luizes d'ouro. To-cando em outros registos faz apparecer dese-nhos , ou pinturas e legantes , ou voluptuosas; a l egres , e l ibert inas, segundo appetece a sua lanta ' ia . Quando lhe parece saliir do banho, dá sinal com huma campainha , e lie immedia-tamente levada dentro do mesmo vaso por hu-ma invenção mecanica para huma elegante ca-ma perfumada , e aquecida em hum gráo con-veniente , onde se enxuga em dois minutos , e dal li he outra vez suspendida, e conduzida pa-ra cima de hum esplendido, e elástico so fá , o

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• ^ Revolucionário. ' 27 q u a l , sem que ^ a sefcoova , he impellido por outra maquina p á t ^ o gübinete immediato do seu toucador , cn ja i iobi l ia , e ornato importa •em 100 milhões de francos. Sò no melhoramen-to dos outros, seus 'gabinetes de banho das Thuil leries , eMalmaison , acabados com bas-tante lujco , mas com menor despeza, gastou a Républica Çranceza 200 mil francos.

' Mad; 'Napol. para em tudo mostrar que pertencle igualar as Imperatrizes, e Rainhas, encommendou em Brusselles dois m a f f i k o s vestidos de renda , feitos pelo g i ^ n ó de lnim , com que os coherentes Belgices tinhgo presen-teado a Sua Magestade Consular , modelo do seu-exo . Hum delles era destinado para a Im-peratriz da Russia, e o outro para a Rainha da Prussia. -Diz-se que o primeiro fora rejeita-do com grande htimilmçk» de Mad. Buonapar-te ; com tudo os Republicanos Francezes não duvidão que o segundo fosse acceito, porque lembrão-se muito bem , que a Rainha da Prus-sia presenteou em Berlin de 1799 ao Emissari de Buonaparte Duroc com huma b a i l e d guardas Prussianas; e por conseguinte Sua Ma-gestade não podia deixar de acceitar hum ves-tido de honra, offerecido pela amável esposa do amo de Duroc.

Como não ha felicidade perfeita neste Mim. d o , Mad Napol.', ainda que igualmente ado-rada de seu marido , e da Républica Franceza, tem cpm tudo innuraeraveis, e sérios desgostos

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88 O Plutarco ' V . familiares, que a morHfcão. ,Sna s o g r a calnm-ma os i,inocentes m o i ^ o ^ u e ella tem para nao confessar-se regularmlnte; e seu cunhado Luciano a chama h/pocrifa , quando e'lla f d l a ' em confissão. Sua cunhada Mad. Murat he hu-wa rival perigosa em extravagencias, e nas modas do d ia : e a oiura cunhada a J>rinceza Borgheze, antigamente Mad. le S l e r c , he hu-ma intolerável arremedadora das suas ariaS, gestos vestidos juvenis , contrastados com as suas idosas rugas , corpo carnudo, e voz can-çada. A l g u m a s vezes o seu mesmo Buonapar-te em alguns âacessos de f renes i , causados pe-

d f s confiança de que não será Ião depressa proclamado Primeiro Consul fnglez , nackusa para com eíla das maneiras mais ternas. Porém Mad. Napol. em vez de imitar sua sogra eme nas afflicções chama o Confessor, e os exorcistas em seu soccorro , manda chamar o copeiro para que este lhe fortifique os nervos, e lhe' vigore o espirito com os seus milagrosos cor-

t e j e s , e deliciosos vinhos, e licores: e em V i a j i g huma Mad. Buonaparte roga auxilio ao Ceo em suas calamidades, a outra mais tímida mais modesta , e com olhos baixos procura e implora a consolação de sua copa, e adega C O

Dos filhos que Mad. Napol. teve , duran-te o sen primeiro casamento , só dois estão vi-

( 0 Veja-se les Nwvellts A la Mam - Frucüdor anno A 1 ' N. 3. pag. 5 , e i. ^

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Revolucionário. " »<)

vos ; Eugênio de Beanhornois, que he Coro-nel dos'guias da Guarda Consular ; e Francis-ca de Beauharnois , casada com Luiz Buona-parte , Irmão malSiíioBp de N a p o l . , e Coro-se l do regimento Cfnsul'ar de dragões. ( O

Eugênio de Beauharnch.

E i Ugenio de Beatiliornois he hum moço bru-ta l , insensível, e estragado, a quem )(<uem os brilhantes uniformes, a elevação de seíis Pais , nem as diligencias de seus aios, piidérSo já mais corr ig i r ; ou fazer com que perdesse o concei-to , £ como diz, Mad. de P. . . ) " cie hum ver-dadeiro - Sans culotte - com a mascara mal apropriada de hum cavalheiro , com as baixas maneiras da canalha soberana , pertendendo ser respeitado como hum homem de consequência. „ Lisongea-se modestamente na idade de 22 an-nos c!e ter tido não menos de seis concubinas. Huma delias Mad. Chameroy , actriz da Ope-ra , morreo o anno passado victima da br ida i* dade deste, achando-se em estado de prenheK Jacta-se que quando sua Mui recusa dar-lhe di-

( 1 ) Mad. Napol. fo i ultimamente rrnrsformada pelo I m p e r a d o r , que fiz R e i s , em Tmpratriz do Imperi» F r a i i c e z ! '..'

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30 O Plutarco

nheiro para suas profusões, e dissolução , amea-ça-a com o delicado nome de v id le p.\ . ( p . . . Velha ) e tem immediatamente a somma, que pertende. Elie pres^i'teJ»i[ ultimamente Mad.

.Clotilde da Opera com mum relogio cravaclo de diamantes, avaliado em 30 mil f rancos , pa-ra passar o noite em su^ companhia, somente a fim de satisfazer a pueril vaidade de a fazer faltar a hum Principe Russo , que (segundo — les Nouvellcs à la Main , donde se tirou esta anecdota) tinha-lhe já pago 200 Luiz.es para a mesma noite. Em 1800 passou com a seu regi-mento por Besançon , e ao — Hotel — Nacio-nal ío> apanhado na cama da estalajadeira por seu marido, que depois de o fustigar com Int-uía rija chicotada , e receber delle hmna caixa de jó ias , como penhor de huma obrigação de soo Luizes d'ouro , deixou-o ir com o espinha-ço lòrro. No dia seguinte o Collector Nacio-nal , e Thesoureiro do Departamente pagou es-ta somma, e resgatou as jóias. Deste modo o

* governo economico claRépitblica Franceza em-prega o saque das Nações estrangeiras, e o di-

^ nheiro extorquido dos escravos , e miseráveis 'l;Ci£ladãos Francezes. ( 1 )

( i ) Veja-sc les Nouvelles à la Main , Bt'uinaire anno X l l , N, .], pa^. 9,

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Revotucionmò. 3 1

Francisca cie Beauharnois.

F i l a n c ' i s c a de Beaiiliarnois lie inteiramente o avesso de seus P a i s , «e Irmão : amavel , lha-na fiel, e liberal. Fo i a victima da vaidade de sua Miai , e da ambição de seu Padrasto quando casou com o estúpido libertino, e mal cre'ado Luiz Buonaparte. Tinha ella iumimera-veis pem-ndentes; porém o seu coiaçao estava promettido a Iram Chéfe dos Realistas, o ^ u a l , se ainda v i v e , soffre misérias nos sertões de C a y e n n a , como hum castigo Consular por es-ta preferencia. Ü mesmo Napol . , se foi algum dia c$pa? de amar huma mulher , foi a F r a n -cisca de Beauharnois; ou ao menos deo provas mais de huma vez , de que era sensível a sua beleza , ingenuidade , e innocencia; e por isso o escanclalo , tão incançavel ém França , como em toda a parte , atreveo-se não só a investi-gar , mas também a atacar a sua prudência. Ella he huma Realista por princípios, e tem tido a resolução c!e dizer muitas vezes a^jgu Padrasto , quão feliz, elle a fana , se chamassS a Luiz XVUl. , e o restabelecesse Rei de tran-ca , è de Navarra ; o feroz usurpador s o m a -se ao ouvir este arrojo , que teria occaíiona-dri' a qualquer outro huma morte instantunea. Napol. ainda hoje-a chama s u a - p e t i t e chouan•

I

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' 31 ' f r Plutarco ne — ; e não occulta, que intenta em seu tes-tamento declarar o filho desta por pírte de seu Irmão successor Consular do Throno Republi-cano. Em lugar der'desperdiçar em vestidos, regalos , ou jogos ,*as iifmensas sommas , com que o Primeiro Consul í p r e s e n t e a , clá pensões annuaes a muitas famílias miseráveis, arruina-das pela Revolução; e sustenta, e paga a edu- ' cação de infinidade de crianças desamparadas, que como ella , ficarão órfãs pela 'guilhotina Republicana.

Mad. de Beauharnois, ou como a chamão commumente , Mad. Luiz Buonaparte lie tão modista em seus vestidos, e lingoagem , quanto he bella em seu corpo , e perfeita em suas ma-neiras ; e tem tido a cotagem de conservar a sua pureza , e de não ter de que se envergo-nhe a respeito de sua virtude , ou lealdade hum Paiz vicioso , e corrompido , e em huma Corte ainda mais viciosa , e corrompida,

Consta do — Livre rouge - que Mad. Na-pol. , além do pagamento de todas as desptzas, guarda-ropa , &c. tem annualniente hum mi-lhão de francos para o seu bolsinho; e as suas

I jóias, &c. estão avaliadas somente em tres mi-*íüoès , ainda que lie bem sabido que vaiem

mais do dobro. Eugénio de Beauh. tem liunia renda an-

nual de 600 mil francos. Recebeo hum presen-te de 300 mil pelo casamento cie sua Irma-, e 600 mil para o seu futuro estabelecimento ; c

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Revolucionário'. 3 J pagárSo-sè as suai dividas, que importarão era hum milhão, e 200 mil francos.

Francisca de Beauh. recebeo pelo seu ca-samento $00 mil fancOi; pelo nascimento dc seu filho a mesma somiha, ;e deo-se-lhe outro tanto de renda annual,' além dos presentes do Primeiro Consul , avaliados pelo menos em hum milhão de francos por anno. ( 1 )

• ,ü

Luciano Buonaparte.

A voir la splendeur peü coolmune Dont uH f a f á n est revêtu Diroit on pas que la fortane Veut fzrire- emager la ve;tu Í

L EiSo os que se queixão das despezas da Monarquia, que fazem da economia hum argu-mento para a innovação, e aclassificão nos mo-tivos daRevolução; os que pertendem que não se acha liberdade senão nas Republicas, e nel-las a moralidade, e virtude hereditaria , leiã,o

( i ) Muitos particulares refêridos neste resumo da vidx de Mad. Napol . , seu filho , e filha achão-se no - Dic-cioaairé Biografique ; no Folheto — la Sainte Fámille ; nas — Nouvelle» á la Main ; c no — Livre rouge - por Burrienne , «'outro tempo Secretari» particular do Pri-meiro Consul.

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34 • O Plutarco pois a seguinte , e breve exposição da V i d a de hum Cidadão da moda em liuma Républica mo' d e r n a ; e depois digão o que tem ganhado a França com a rebellião ccrntra seu legitimo So* berano, e c o m a mudança dehuma arítigaJVlc,* íiarquia para huma tyrannia militar * debaixo do nome de Républica.

Luciano Buonaparte , e segundo Irmão mais moço de Napol. , em 1 7 9 0 -era caixeiro cie hum mercieiro por miúdo em Bastia , e sendo por este despedido por alguns pequenos f u r t o s , foi juntar-se ao Salteadores Marselhe-z e s , que a xo de Agosto de 1 7 9 2 tomarão , e saqueárão o Castello das-< Thuilleries , e as-sassinarão as guardas Suissas, depois que odes» graçado Luiz X V I . , e sua Familia se v i rão ,obr i -gados pelos traidores a abandonar a sua habita-1

ção , e a procurar refugio em lmma Assembles de rebeldes, e regicidas. ( 1 ) "V

E m premio destes feitos c iv icos , Luciano f o i admittido como membro dos — Clubs — dos jacobinos, e dos — cordeliers — ; e a 2 , 3 , e 4 de Setembro seguinte ajudou os pa-

«triotas de M a r a t , e Danton a purgar a terra Ha liberdade dos Aristocratas , que estaváo en-carcerados nas dijjerentes prisões de Paris. Bem que moço em i d a d e , era já tão velho no cri-m e , que a 21 de Janeiro de 1 7 9 3 foi hum

( 1 ) Veja-se la Sainte Famille pag. J 2 , e Recueil d 'A-needotes pag. 545.

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I Revolucionário. 36

dos escolhidos por Santerre para a g u a r d a d ° cadafalso' em que havia de ser assasinado o «eu Rei Não foi menos valido do successor de Santerre , Henrlot , que se havia distm-l i d o no roubo das, lojas dos mercieiros ans-fo ratas, em Março de i ? 9 3 . * depois alis-to -s entre os - sáns M e s - de Robes-Pierre , que violentarão a Convenção Nacio-nal no i . " de Junho do mesmo anno a decre-tar a prisão dos seus adversarios os rebeldes da facção de Brissot. ( O , . . .

Lo so que o virtuoso, o lea l , e o religio-so se achavãò encerrados nos cárceres dos re-gicidas, e Atheis tas , não podia haver para o vicioso posto mais interessante, que o^das sen-tinellas das prisões, e das que deviao acom-panüallos J o patíbulo. Por tanto Hennot íhz a Luciano Buonaporte hum dos gens d ar-mes q u e , durante o reinado de Robespierre , vigiàvão as victimas encarceradas, e destina-das á morte , e as escoltavão até á guilhotina , "d pds de h i m ridículo processo. Por este tem-po^casou Luciano com huma michela do cor-S o chamado das Farias da guilhotina; mulhe-res a quem pagavão 40 soldos por dia para frequentarem as galerias da Convenção do. Clubs, e dosTribunaes revolucionários, com o

. C ii -

( ! ) Veja-ie a mencionai» Obra, c - les Anna-

tes du Ttr ror iwie pag. 1 6 1 .

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37 • O Plutarco fim de applaudirem, assobiarem, ou a ™ M -r e m , quando assim lhes determinava Robes-P ' « r e , e seu bando de assassinos; e finalmen-te , para seguirem, escarnecerem, e insulta-rem as victimas mandadas todos os .dias em nassa da prisão Concie^rie para a carnice- ;

-na na Praça da Revolução. O que foi feiro dest» Madam, Lucien , he hum ^ e d o do mestiço dos Buonapartes. Alguns < L m que morrera na Salpêtnère (casa de correcção" )

0S.J a l n d a existe em prisão; e outros que ella devêra a sua morte prematura á Tr ' regularidades de seu estragado martdo! r i )

. D e P ° i s d a execução de Ropes pi erre L . Ciano temendo o bem merecido caítigo 'como hum de seus complices subalternos, f „ g i o de Paris para Nice , onde seu digno Irmão Naoo-k o „ estava debaixo de p r i l o por t ^ X

t i l e , * * ° a S S í , S , Í n o deT"nhn com o Setembrista de Paris , até que a am

—cnroes^revol' '3 . ^ o n v [ e n ^ 0 Nacional a todos os crimes revolucionários permittio que os dois Irmãos che os de esperança voltasse^ a P a Í

• o grande theatre revolucionário para a

R e v o l u ç ã o por diante, as amnistias

u Saüu feXV"^" m < m - V , j M e « *

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Revolucionário'. 37 animárlt) os crimes dando-lhes impunidade, e novos crimes fizerão necessarias repetidas v e -zes novas amnistias, não ha hum dos Senado-res Corsos, Tribunos, Conselheiros , e outros 1'ebeldes funccionarios", que não deva a suas vida a h u m a , ou otitra amnistia; que não tenha estado em prisão por delinquente , denun-ciado por^aqueador , pro-xripto por assassino, ou banido como conspirador por seus compli-ces victoriosos.

Quando Napol . , e Luciano forão a Paris na primavera de 1 7 9 5 , era tal a sua pobreza , que viráo-se obrigados a fazer a pé quasi toda a jornada de Nice a Par is , a qual he de 700 milhas; e então habitavão juntos n h u m a mise-rável .agua-furtada em Paris na rue de Moufe-tasde , de que pagavão citicoenta soldos por se-mana. Em tempos revolucionários, e em paizes

' revolucionários , ha muitas vezes a mesma dis-tancia de huma agua-furtada a hum thro no , a hum cadafalso, ( r )

Lu ciano pelas relações revolucionarias de Napol.- com Barras , Tal l ien, e Fréron, obteve o emprêgo de caixeiro de hum guarda d'arma-niazem de S. Maximin 110 sul da Fraça ; ' onde casou com a filha de hum estalajadeiro , con-tra a vontade de seus pais, e com huma fortu-na de cem Lui:;es d' oiro, (a )

( O Veja-se laSainte Famillc |)ag. 54. ( 1 ) Veja-se o mencionado f o l h e t o , e paginas.

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3? O Plutar ca Napol. por ter casado com a a m i g a d e

Barras , foi promovido por este ao posto de Ge-neral ; e pelo assassínio dos Parisienses, a 6 de Outubro de 1 7 9 5 , obteve o Commando do exercito do interior ; Luciano , foi então no-meado Commissario de «guerra para A n v e r s ; donde escreveo huma carta a outro Commissa-r io em Cleves , ( publicada como hujjia curiosi-dade na Gazeta do Baixo R h e n o , " e m M a i o , de 1 7 9 6 ) contendo amais ridícula narração da primeira victoria de Napol . , no Piemonte. Nes-ta estúpida Obra a linguagem he revoluciona-ria , os princípios jacobinos, e o sentido , escri-ta , e orthografia a -de hurn sans-culotte sem educação , e sem gênio. Seria inexplicável co-mo hum tal homem pôde ser e le i to , 4,9111101 depois membro do Instituso Nacional , se ,os Francezes Literatos, durante toda a Revolu-ção , não tivessem sido os primeiros em degra-dar a Literatura com a sua baixa conducts e em deshonrar as Sociedades Literarias, elegen-do por socios , rebeldes, traidores, regicidas, e ou.ros ignorantes, e criminosos sevandijas.

^ Quando as victorias de Napol. o - f i ze ras p'der'oso, e a pilhagem da Itália o enriqueceo, elle gradualmente foi adiantando os diiferentes membros da sua obscura , desconhecida , e des-prezível família. No inverno de 1 7 9 6 , appare-ceo Luciano pela primeira vez em Par i s , em companhia diíferente dados sans-culottes; po-rém logo se fez notado por suas extravagan-

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I Revolucionário. 39

' cias e por lnima impudência Córsega , t a l , que era Conhecido por hum jogador , sem prin-cipies , e hum dissipador desprezível. Com tu-do era ' tão conhecida a sua ignorancia, que a p e j a r de toda a sua presumpção, e todos os l e r viços'de Napol. oEhrectorio e n » i 7 9 7 yio-se na neccessidade de negar-lhe o emprego de be- #

cretario da Embaixada Franceza no Congresso de Rastadi'. ( O ,

A Revolução de 4 de Setembro de 1797 f e z novamente poderosa a facção jacobina ; e por sua influencia foi eleito Luciano membro do Conselho cios Quinhentos em 1798. Duran, te a ausensia de Napol. no E g y p t o , Luciano associou-se somente aos jacobinos, profewm só-mente os seus pricipios, e obrou em tudo, e em iodas a orcasiões como hum de seus com-p l i e s . Publicou huma narração da sua vida re-

volucionar ia , que principiava por estas pala-**Tras • Et moi aussi je suis jacofon , et moi aussi

lai fais mes premes comme jacobin , comme ci-toyen sans-calotte. C O S l l a s f a , l a s a b s u r d a S ' mo Deputado , erão tão v iolentas , quanto era o vis os seus socios; e quando se instituio h u m . novo Club jacobino 110 verão de 1799^, toi es-

Cil -Recueil d'Anccdotes, pag. 5 4 f . , „ _ ( O F.ste Folheto - L a Vie Rcvolut.onaire cm C.toyen

Lucicn Buonap., publiée par l0imême , ch>«« " manfi anno -7., depois da usurpação de seu i r m ã o , foi còmprado pelos kgen.es da PoHca ou por elles apprehendido, quando o nao quenao render.

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<5° O Platarc»;

'dentes? ^ ^ d ° S S 6 U S P r i m e i r 0 s

r e P r P l f U g R d a d e N a p 0 L d o E S W ® ' e o'seu regresso a França , nem mudárão a linguagem de L u c u n o , nem o seu comportamento § p 0 r

tanto fo , nomeado Presidente do Concelho do Qutnhentos; e na Revolução de 1 8 d e B r u m a t r e , ou 9 de Novembro de i 7 9 9 , e l le accres-S V ^ aos outros seLs crime d e s a -tando dos jacobinos. He bem sabido a Z .

Z7a des'nnt0 de L»«<">° na quel d V l i ~ , que a coragem de Nap., e

?que se

1 1 0 n a o i l 0 l l v « s e exhortado aos granade ros que acompanha vão Napol . , , q u / r S Z T ^

C T 7 ° G e , w a l < o P«nhal d e l S : na ou hum Decreto de proscripção , t e r i f p o .

Buonaparte. z a ' e crimes da f a m i l i / d e

v e r n Í T ^ U S , , r P ° « " d e a s do go-v e r n o , nomeou o Luciano Ministro do Depar-tamento do interior , e c h a m o u a F o ° n ^ ' que havia sido condemdado a degredo em 1707 '

» L i S » n « I ' 6 P r o d a m a f ó e s eloquentes de •Luciano durante o seu Ministério.

L u u a n o vio-se então no seu elemento senhor dos meios de satisfazer toda, as ^ S ' fc

0 " cu e i s Não houve mulher, a quem'

O acaso apresentasse a seus olhos, ou 0 c S c h o , , a fantasia, e a quem o dinheiro , p 0 . d e r , violência, ou intriga pudessem conseguir

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' Revolucionário. ft que não fosse por elle seduzida, [deshonrada, e perdida.

Nem^âiiinocencia da mocidade, os infor-túnios dk bel leza , a santidade do matrimonio, nem o. sfcgradT da consanguinidade forão por élie respeitados. E ra "culpado de mais crimes em seis mezes , do que de quantos forão accu-sados em seis séculos todos os Príncipes da Ca-sa deBotujbon. E m hum baile em Abr i l de 1 8 0 0 no palacio de Richel ieu, onde se achavão mais cie duzentas Senhoras da moda , Qentre outras , duas das suas irmãs elle repetío varias vezes , e com jactani ia , 3 Aqui não está hurna so mu-lher , com quem eu não tenha tido meus parti-culares ! (O

Depois da batalha de Marengo , a ambi-ção v«nceo por algum tempo a dissolução: Lu-ciano imaginou que poderia facilmente casar eiji ajguma familia Imperial , ou R e a l , pois que seu irmão podia dictar leis aos Imperadores, e c r e a r R e i s ; e como sua mulher lhe servia de obstáculo, deo-lhe hum pocco de creme gela-do , que apenas ella o tomou, morreo: — Não

( 1 ) O General Murat sempre suspeitou a incestuosa depravação de seu Cunhado; e este he hum dos m o -tivos porque Napol. conserva a Murat na Italia. Murat tem batido, e ferido a Luciano eni dois duellos, Ve-ja-se les Nouvelles á la Messidor , anno 8 , , , N . 0 5, Fa8" i-

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4» O Plutarco. somente os parentes d e l i a , mas todo o Par i i c lamárão que fora envenenada. ( 1 } '

Dois dias depois da morte de . i a m u l h e r , cinco espiões de Luciano armados c o M u z í r ã o violentamente a sua casa de campo ? f tnda mu-lher de hum rico banque'iro ; esta ficou alli en-cerrada algnns dias para o consolar , não da perda de sua mulher , mas da repulsa de seu i r m ã o , em o casar com alguma Pr inceza A l e -mã. (2)

Luciano intrigou muito tempo a Fouché para o p e r d e r , e unir o ministério d.i policia ao Departamento do inter ior ; porém nisto en-controu hum i g u a l , quando não fosse superior i tanto em conspirações, como em delictos. Fou-ché informou a Napol. , não só da escandalosa conducta de L u c i a n o , e dos clamores públicos contra este ; de suas despezas e x t r a v a g a n t e s , e d e suas numerosas d i v i d a s ; como também lhe assegurou, que L u c i a n o havia fal lado delle ( N a -pol. ) com desprezo, e desdenhado do seu po-der , do qual dizia elle que Napol . lhe era devedor : as informações dos espiões de Fou-ché provarão a sua asserção , e Luciano foi pr ivado da presença de seu Irmão Consular e t e v e ordem de demittir o seu Ministér io ; não por seus v i e i o s , e c r i m e s , porque estes lhe

Cr) Veja-se let Nouvelles a Ia Main Vendimiaire . aano 9. N . 2 . pag. j>.

( 2 ) Veja-íe o m e i m e Folheto pag. 1 1 .

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e r ã j conlieíidos ha mui to , mas sim por haver sido indisafcto ; e além disso por causa de hum í o l l i e i o , | m i r c i i l á r a escrito de sua ordem por F o n t a n k , ttSjja patenteado alguns segredos famil iares^ entre outros a tençãOyanticipada que Napol. tinha de krrogar hum dia a Coroa Imperial dos Gaulezes. Pela mediação de sua M ã i , e conselhos de T a l l e y r a n d , tornou-se a sua d e s f a ç a em huma rendosa Embaixada á Hespanha com o fim de vender a T o s c a n a , e rou-bar Portugal. ( O , .

Luciano deixou Paris devendo tres mi», Hires de francos , que Napol. prometteo pa-car , e ainda não satisfez. A lguns de seus cre-dores depois de arruinados tem morrido. O -Terpple - , e C a y e n n a , tem posto silencio ás queixas dos outros. ( 2 )

E m Hespanha , e principalmente em Ma-drid continuou Luciano na sua viciosa , e dis-sipada vida. A sua prodigalidade alii admirava a todos. A sua irregularidade motivou escanda-J o ; e sua impudência desgosto. Tratava o R e i , e Familia R e a l , como seus iguaes , e os Minis-tros , e Grandes como seus criados; porem tal lie a desgraçada situação do Continente», o ab-jecto estado-de muitos dos seus Soberanos, e-a f r a q u e z a , ignoiancia , ou traição d e s e u s M t -ristros e Conselheiros, qne não sò soffriSo es-

< í ) L a Sainte Famillc pag 58. ( 1 ) O mesmo F o i h í t o pag S9-

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44 O Plutarco. te sâns-culotte revolucionário , coin» r a m i , presenteavão-no, e fazião-lhe X ^ mentos, e agrados. Luciano p e l a s j i L S ~ Ç.oes com Madrid e Porr .m. i Ó J r ^ o c l a '

£ E S C "

Orande Official da Legião d 'Honra, e a p r e s e i

S b t e T ? C O m h U m a t a l r a a n d r a d vida . S Z m d e r n T a r a Ç a ° - C O m 2 M a l q u e r Pr I f

' Rtórr ^ ^ A * ras aTnrll i 0 S e " S a b i n « e de p i n a -ra amda importa em mais ; e o s e u serralho e d R a ç õ e s de ambas esta, sommas ç 0 O s mi-hoe q u e trouxe d e H e s p a n h a , e Portuga es-

tao a consumidos , e a De7ar H* Z J ê ' , de hum milhãn » i P a r e n d a a n n l l a l

m i l l l a o ' e duzentos mil f rancos , que

pro(«\ Mad. d c « * Senhor, } " C Í m " : ^ n a c'e .4 annos pt " ' " u o ^ õ ^ t ò / 7 ^ '

rco em tres semanas v i r r ; ™ j , c o s- , A m e n ' n a mor-t e . a inftmia d suâ M ã foi b r u t a l c r » ^ des. ra motivada Lia C o I m S a consequência da mi s e , «aparte „ 0 C í Z r b Z V i e n t O U

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' Revolucionário. ft lhe dá seMmío , além do que recebe de seus lucra t ivowApregos , diz-se com tudo que está endi\*íâ|l<5JF»quatro milhões. ( t )

• LuííAio^, tão insolente, e despotico na sua presente elevação,quanto era v i i , e cruel n'outro tempo: -mesquinho, falto de generosi-dade , e insensível, trata as suas amadas como escravas ,eos seus amigos, como as suas ama-das ; he lJffm tyran 110 para cs seus domésticos;

i e o terror de tudo o que se lhe aproxima. O esplendor da abundancia poderá deslum-

brar ao insensato; e o renome da fortuna con-fundir ao fraco ; porém a grandeza de Lucia-no nem pôde encobrir a infamia do delicto, nem o delicto do infame; e a sua elevação não pôde occultar os v i s , e baixos sentimentos de liunj v i l , e baixo espirito.

( O N o ultimo Folheto traduzido do Alemão, inti-tulado (( Buonaparte , e o 1 'ovo Francez debaixo dó sen Consulado )) disse-sc, r a g . 7 1 que Luciano voltou de Hespanha, em 1801 com hum capital de i? milhões de

1 francos. Nas - N o u v e l l e s a la Main Ventose ar.no X I I . N . 17. pag. l á . , publicou-se que elle' possuia hum fot-tuna de +0 milhões de francos. Ultimamente foi des-terrado para Roma por Napol . , e ainda não he con-siderado como Alteza Imperial Revolucionaria , p o r ha-ver tido desavenças com seu Irmão mais velho.

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i« O Plutarco

Lui% Buonapartf*

Et 1' on voit des conimis mis

Comme des pr inces , Qui d'hier sont venus

llllS De leurs provinces.

C ^ U a n d o era 1 7 9 5 por entre hum a combina-ção de crimes bem succedidos, e de ac-

tos abominaveis , e. esquecidos, quiz a fortuna por capricho levantar Napol. da profunda-obs-curidade ; seu Irmão Luiz era hum pobre es-crevente de hum pobre Commíssario de policia de Marselha, P ie r re , com o falario d e ^ o fran-cos por anno ; este Pierre era hiun terrorista notorio casado com a filha de hum estalajadei-r o , e cunhado de Luciano; esendo este Minis-tro de Departamento do Interior, o promoveo ao rendoso emprego de Commissario Geral de policia de Bourdeaux. ( i ) N o Outono de 1 7 9 $ Luiz partio de Marselha para a I ta l ia , e co-meçou a sua carreira militar na idade de 1 8 annos no posto de Chéfe de Batalhão , e A j u -

( 1 ) Veja-se la Sainte Famil lepag. 1 Í 5 .

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Revoluciona tio. 47 dante cWMampo de seu Irmão Napol. Nesta graduaí|Mtt>nipanhou-o ao Egypto em 1 7 9 8 ; p o r é f M J ^ ^ t n d o na A f r i c a as consequência» ide sua é Ê ^ ^ k na E u r o p a , teve alli mui pou-cía demora , e voltou ^ França em Outubro do mesmo anno com despachos do "General Buona-parte para o Directotio*

De j^dos os Buonapartes (sem exceptuar José o Negociador , nem Napòl. o g u e r r e i r o ) Luiz lie o único, que sabe escrever correcta-mente a língua Franceza. Huma carta delle a seu Irmão José , datada de 6 de Julho de 1798 em A l e x a n d r i a , foi interceptada peles nossos Cruze i ros , e contém huma relação das opera-ções do exercito Francez 110 Or iente , e algu-mas seflexões sobre os habitantes do Egypto . FalJando dos Árabes Bedouins, diz el le: " H e hum povo invencível, que habita hum deserto abrazador, montado nos cavallos mais ligeiros do Mundo , è cheio de coragem. Nóa o temos tratado benignamente. V i v e com suas mulheres em campos volantes, que jamais fcão levan-tados duas noites successivas no mesmo lugar. São selvagens horríveis, e com tudo tem .algu-ma idéa do ouro, e prata! Huma pequena quan-tidade destes metaes serve para excitar-lhes a admiração. Sim , meu caro I r m ã o , elles amão O ouro , ( não mais que os Francezes ; ) passão a sua vida em extorquí-lo áquelles Eitropeos, iqivè cahem nas suas mãos: e para que ? Para continuarem no curso dé v i d a , que tenho des~

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48 O Plutarco " cr i to , e para o ensinarem a seus fljffos. Oh ! João Jaques, ( R o u s s e a u ) p o r q u ^ ^ B k i v e s f t J tu asorte dever homens*, aquerm^^Pte^Hio-mens da natureza ? „ T u te « ^ j ^ f c r i a s de vergonha , • tu pasmarias de horror aopensaf que os havias huma v e z admirado! „ Fallando da Cidade de Alexandria , cotinúa: " A q u i os objectos notáveis são a Columna de J o m p e o , os Obeliscos de Cleopatra , o lugar onqeexistião antigamente os seus banhos, huma quantidade de ruinas, hum Templo subterrâneo , algumas Catacumbas, Mesquitas, e Igrejas. Porém o que lie aindia mais notáve l , he o caracter, e manei-ras dos habitantes. São de hum sangue frio sum-mamente espantoso. Nada os agita ; e para el-les a morte he o mesmo que huma viagtm â America para os Ingleses. O seu exterior incul-ca respeito. A s fysionomias mais recommenda-veis entre nós são meros semblantes de crian-ças , comparadas com as delles. „ Concilie f i -nalmente a carta com huma observação, que mostra não só a difficuldade, conr.o a honra da conquista do E g y p t o pelo General Buona-parte , e das suas vangloriosas victorias. „ Os seus fortes , diz elle , e artilheria são as cousas mais ridículas do Mundo ; elles não tem huma fechadura , nem huma janella nas suas casas; em huma pa lavra , estão ainda envolvidos na cegueira dos mais remotos séculos, ,,

Luciano Buonaparte repete varias veiem-que seu Irmão Luiz est le seul bete de la famille

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I Revolucionário. 49 ( ounico^ asno da família; 3 porém como este 11a idafle da 22 annospôde fazer as observações re-feridas J | f a carta, tinha certamente bom sen-so , e ^ j A i n r t r u c ç ã o , e juizo erão maiores, do o ^ l ^ B ^ n e s m o Luciano, que não ha mui-to t e m u f l B p z j e n d o Ministro do Departamen-to do imM-ior , escreveo ao C i d a c % la Lande " que demorasse o eclfyse da Lua até á sua che-

•gada. ( 1 ) „ He verdade , que depoi» de 1798 , •'"•Jium excessivo uso de mercúrio tem diminuído

as falcucfctdes intellectuaes de Luiz , e embara-t çado o seu adiantamento ao posto de Genera l ,

e talvez ao deCondestavel de França; mas ain-da que libertino, bem como seus Irmãos, e i r -mãs , com tudo, não tem os crimes de Napol . , e Luciano, nem a traição de José , e por isso he menos detestado em França , do que qualquer delles.

Em Dezembro de 1799 > depois que Napol. se proclamou Primeiro Consul da França , Luiz foi nomeado Coronel de hum Regimento de Dragões ; e em Outubro de 1800 foi encarre-gado de huma missão politica ás Cortes de Ber-lin , e S. Petresburg, Sua recepção na primeira foi brilhante, e teve a honra da condescen-dencia do R e i , e Rainha em frateniizarem-se com elle , como se fosse o Irmão de lmm'leei-

D ^

( 1 ) Veia-se les Noiivelles á la M a i n , Germinal , an-no I X , N . 3 , pag. 9.

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' 31 'fr Plutarco timo Rei de França ; efe tal sorte, q u e r á o só foi 2« liam escandaln real para huma infinidade, de * Estrangeiros honrados, que passa\M aquelle Inverno em Berlin , como lambem I S ^ a q i i e l -les Generaes Prussianos, P r i n c i p J ^ H f c m - t e -zãos , que liavião t e s t e m u n h a d o j M E e t a nas Cortes dos#antigos R e i s , e Rainhas! f ^ i m p e r - , tinente , e indecorosa familiaridade do mal trea-do Luiz Buonaparte só foi excedida pela tole-rância impolitica , mas paciente da Famíl ia , R e a l , (ie que este — Saris-culotte —•irmão de hum criminoso usurpador — Sansculotte — se aproveitou paia insultar, senão foi para degra-dar a Monarquia , com sua r id ícula , v u l g a r , e atrevida conversação á meza de hum Monar-ca , e com o seu procedimento demasiadamen-te famil iar , ou antes indecente na presença do público , estando na Opera em o camarote do Rei ; onde publica , e atrevidamente 'ousou conversar coin esta Rainha moça, e bella,"co-mo se estivesse com a velha , e caiada mulher do Primeiro Consul. Infinionado de huma mo-léstia infame , e conhecida, que o obrigou a não sahir do seu alojamento no -< Hòtel de Pa-ris — por algumas semanas, felizmente não pô-de repetir muitas vezes aquellas scenas, que tanta exütavão o espanto , reparo , e queixa das pessoas de nascimento, graduação, e leal-dade. Muitas pessoas são ainda da opinião , que liada poderá já mais indemnizar a Soberania legitima do' soifiimenio de tantas liuniiliaçÕes.

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m , I Revolucionário. rt

• 'k, # L " Í I : Í , K e S A d e Í X a r B e r l i n > e P a " i r ' p a -I ra ft f rofc l i ras da Russia, foi informado pelo

k r n T > a y | ^ | Russo , o Barão Krudner , que e l le nao G j j j K l i o atada ordens de sen Soberano p a r t ™ 3 f j ® r ° J r m ã o do Consul a ir a S. Pe-

» t ^ r s b u r ^ f J T j u p e r a d o r Paulo , ainda»que sedu-zido pelos intrigantes f r a n c e z e s , deslumbrado com as viítorias do primeiro Consul , escandali-

z a d o da Austria , i n t r i g a d o com a Inglater-ra , nao se»esqueceo do que devia a si mesmo

v a sua j e rarquia . família , ao Paiz , e vassallos. . <iue, a jornada, que Luiz Buonaparte pro-jectav» a Russia , terminou em Konigsberg nas

* fronteiras da Russia, donde elle expedio des-pachos, e enviou secretamente instruções aos Emissários de Napol. em S. Petersburg; e com grande satisfação de todas as pessoas leaes vol-tou pafa Ber l in , sem poder deshonrar aquelle outrti Soberano.

. P d » a d a s algumas semanas mais de residên-cia na .capital da Prussia, foi chamado a Fran-ça por Napol. , e mandado a Montpellier a lin-«na missão mercurial, Çe não politica , ou mili-t a r ; como dizia Luciano , para servir de pre-paratório ao recebimento da amavel Francisca cie oeauharnois. O seu casamento com esta "Se-nüora he huma prova convincente, de que el-le he mais valido do Primeiro Consul, que Lu-c i a n o , o qual era hum dos pertendentes desta períeita belleza. A promessa declarada d e N a -p o i . , que deixaria ao filho de Luiz o seu Con«

D ii

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53 • O Plutarco su lado , e a Soberania sobre a Republica Frani ceza descontentou a todos os ó u t ® w r r , e j A r ó $ da familia de Buonaparte ; e os síjreTuinirtne-raveis , e preciosos presentes , t í C T B ^ M a d . L u i z , como a seu marido , t e m . e x a E M ^ a in-ve ja de todos os parentes dcflCoSo|(^bs quaes conspirão para diminui* a grande consideração por este Irmão mais moço ,. ou mais «depressa, as repetidas dadivas a s iwfmulher . j

Rodeado de tudo quanto podg fazer ap-petecivel a existencia , L u i z está reduzido a l ium inválido na idade de 23 annos ; 'e coro huma saiide a r r u i n a d a , e constituição f r a c a não pôde gozar dos benef íc ios , que a P r o v i -dencia tão liberalmente lhe tem prodigal izado; conseguinteiiiente soffre no meio da prosperi-dade dores , e ancias desconhecidas aos mes-mos desgraçados, vendo-se acompanhado cia in-nocencia , e virtude. •

Segundo o Livre rouge , Lu iz Buonaparte recebto dois milhões cle francos para seu esta-belecimento , e tem huma pensão annual cie hum milhão e duzentos mil. Pagou-se por el-le dividas de liurn milhão em 1 8 0 0 , e 1 S 0 1 em Berlin , e na A l e m a n h a ; pelo seu ca*amen-to«Napol. presenteou-o com seiscentos rail fran-cos , e com a mesma somma pelo nascimento de . s e u filho. ( 1 )

( 1 ) Veja-se le T.ivre rouçe , — ia Sainte Famille , e — lej Njuveiles .1 la Main. A'cerca dos particulares da

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53 ' Revolucionário. ^ Jewntjmo Buonaparte. '

L -»I1 rire tie Ia prmsS|re ' ^ Une race tVafíreux brigands,

D' tsclavfs sans honneur, et de cruéis fjrans . Ilus medians que Robespierre.

H E desgraça para a França em par t icu lar , e para a Europa enf g e r a l , serem condemnadas a saber , que tão baxas , e insignificantes perso-nagens, como os d i f e r e n t e s , t miseráveis mem-bros d a miserável familia do Buonaparte exis-t e d effectivaniente; porem infelizmente lie ta! a presente , e degradada situação do M u n d o c viliz.tdo , que só se trata de indagar com hu-ma curiosidade indiscreta , e l e r comliuma avi-dez quasi repreliensivel tudo quanto respeita á raça do uíurpador Corso. Por tanto o fasti- . dioso trabalho de expòr a infamia originaria dos Buonapartes desde o mais velho até af> mais moço, deve ser empreliendido por hum* penna

sua resiJepcia em Berlin, o Author eslava então all i , e morava na mesma Hospedaria com elle em Dezembro tie lftoo

Luiz foi ultimamente saudado como Alteza Impe-rial pelos rebeldes , e regicidas du Senado Francez , e seu feroz Irmão Napol. o fez Condcstavel do Império Fran-ccz. Que Coiulçstaval! Que Império! E (jue Imperado!

r

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54

imparcial , para evitar que os d e s a f i a m o s , aproveitando-se do espirito de i n d a g j R ^ p r o -prio da moda, augmentem o i f f imeroF^Vutra$ noticias piJuco verdadeiras, rejstivas a muitos destes criminosos biltres, cn/T com à V b e l l i ã o Franceza se fizerão enormemente notorios." A

Jeronymo Buonaparte , Irmão mais novo do .Primeiro Consul , nasceo em 1785 . Quando os delictos de Napol. forão premiados em 1 7 9 5 coma elevação , o r iquezas, Jeronymo era hum moço de recados de huma pequena estalagem de Marselha, frequentada por carreiros; e era tal a pobreza de sua M ã i , e fami l ia , que ella não podia pagar-lhe a educação , de sorte que elle não sabia ler nem escrever na idade de to an-nos. Em 1 7 9 6 , logo que a fortuna coroou* as emprezas do numeroso exercito cornmandado por Buonaparte na Italia , este mandou a Jero-nymo .para huma escola pública emBasIe ásua custa , e debaixo do cuidado desua. I rmã, e Cu-nhado Bachiochi , então estabelecido naquella Cidade com huma pequena fabrica de tecidos d'algodão. C O

Napol. vendo-«e assentado no Throno dos Bourbons, e tendo feito a hum de seus Irmãos Negociador, a outro Ministro , e ao terceiro Coronel, determinou que Jeronymo fosse adian-tar-se na M a r i n h a , única repartição, em que nenhum.dos seus parentes tinha ainda perten-

O Plutarco "

(1) Veja-se la Saintc Fainiüe pag, 171.

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_T Revolucionário". .55 d i d ^ ^ i a r , 011 govema'r. Pelo que Jeronyu O f o i j ^ s t ^ e b a i ^ o do particular cuidado do'Al-

m i r a n t e Gantheauiue , que se considerou muito fionraclarfor's\u>romívido a a y o de hum joven é^gténdes espeSi^-as , e de tanta distingo.

^ J e r o n y m o acompanhou este Almirante em sua viagem de Brest a Toulon na Primavera de 1 80.1, e em outra no Verão do mesmo anno , quando este tentou desembarcar algumas tropas na Cos-ta d 'Af r ica emsoccorro do General Menou no E g y p t o . Gantheaume não podendo gloriar-se com successo algum nesta empreza , procurou á força de lisonjas para com hum Irmão , di-Ainuir a sua propria falta , ou infortúnio ; e aljiviar a afflicção Goiisular do outro. Em seus despachos o illustre pupillo ]eronymo Buona-parte foi mencionado " como hiur. novo Official de Marinha , que promettia ser o ornamento da profissão, e cujos grandes talentos, e intrépida coragem reflectirião grande honra á Marinha Franceza. „

Para vergonha deste CortezSo Republica-no , deve-se referir como hum facto 'sabido em 1 8 0 1 , ranto en Toulon, como em Marse-lha , que durante o cruzeiro de Gantheaume no Mediterrâneo nesse anno , Jeronymo Buo-naparte passou por huma operação que se tor-nou necessaria em virtude de huma infame mo-léstia , e que provavelmente impidirá q u e ' a sua progénie dê Primeiros Cônsules , ou A l m i -rantes á França. Na idade de 1 6 aunos Jerony-

«r

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56 O Plutarc». mo já estava tão submergido no v icú^Pfque deo ignominiosas provas da sti^ prenlftu£a de-pravação ; iff este ornamento Corso da sua pro-' fissão mostrou a sita intrépida 'j/rràgent^m estar bravamente de cama toda ^^iagem. „

Quando o Almirante Villaret-Joyeuse foi* , mandado com huma esquadra, e hum exerci-to a S. Domingos, depois que seassignárão os preliminares com a Inglaterra , Jeronymo acom-panhou-o como seu Ajudante de Campo no posto de Tenente. Este Almirante Républica no chegando a salvo ao seu destino , para ainda sobrepujar aGantheaume em baixeza, mandou os seus primeiros despachos de S. Domingos a França por este moço Jeronymo Buonapart,e , *' a cuja habilidade extraordinaria não só como Official da M a r i n h a , mas também como deter-i a , elle se referia com segurança a respeito de tudo, que o Governo ( N a p o l . ) julgasse acerta-do saber sobre a expedição de S. Domingos. „ Este Almirante com hum 1 tal estilo empolado, c absurdo , e com esta tão abjecta baixeza agra-dou tanto ao Primeiro Consul , que foi log no-meado Capitão General de Martinica.

j e ronymo, depois dehuinapequena demo-ra em França , foi promovido a Capitão com o cominando de huma Corveta , e voltou com despacho: particulares para seu Cunhado o Ge-neral leClerc no Cabo François. Teve então oc-casião de mostrar que era Irmão de hum Napol. , e de hum Luciano Buonaparte até na indole.

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Revolucionário. ^ l i i ^ chegada ao Cabo as ordens diarias

erão tormentos^, e execuções dos desgraçados negros ; achou_ tanto deleite na invenção do ge-sdo i n f e r i r á a e ' f e i p Official Republicano, Gre-nier,,,p£;;á dilatar-lfícs os tormentos, que o pre-s.^iteou com hum annel avaliado em 12UC00 francos; mandando ao mesmo tempo prender outro Official , que se havia esquecido de o cha-mar huma manhã, emqueforão meios queima-dos, e depois esquartejados 262 negros. Logo de-pois da sua chegada , asuayzV/uosalrmãMad. le Clerc fez-lhe presente de huina formosa mu-lata para sua amante , a 'fim de o conservar so-cegado , segundo ella dizia; esta rapariga des-cendia de pais respeitáveis, e havia tido melhor educação, da que se. costumava em S. Domin-gos depois da Revolução. Em hum accesso de t i ú m e , Jeronyrrio mandou-a expòr pela meia noite a cães de fila esfaimados para a devora-

r e m v i v a , e tomou isto por entretenimento , presenciando a execução dus suas atrozes or-dens ! ! ! Este facto abominavel espantou a mes-ma Mad. le Clerc , que em castigo não aárnit-tio seu Irmão á merfi rio dia seguinte. Hum Ir-mão desta infeliz rapariga, Tenente no servi-ço Republicano , sendo-lhe negada asatisfação, que elle pedia por semelhante crime, deses-perado desertou para os pretos; mas sendo ou-tra vez apanhado, o General le Clerc conde-mnou-o a morrer de hiim tiro áe canhão. ]ero-«ymo extorquia para seu uso tudo quanto o

S 7

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58 O Plutarco " capricho , on paixão lhe inspiravão. N l f l i a se-gnirire ao açsassioio de huma sua contubina mandou oxidem á filha de hum Colono Y r a n o o para que viesse occnpar olucqfiA iV'.v-porém el-Ja preferio o veneno ás «Vic ias de^-nin tal monstro; e malogrando-llfe a vil paixão , rçp.rj-vou a morte de seu P a i , e a rii inakde sua f a -mília; sendo o primeiro espingardeado em con-sequência de huma denuncia dada por Jero-n y m o , que oaccusou de correspondência com os negros ; e confiscados os seus bens em bene-ficio da Republica , ou antes , da familia de Buonaparte . N ' outra occasião vendo elle hum Negociante Americano em hum elegante Phae-tonte I n g l e z , tirado por quatro cavaflos Tn-g lezes , mandou-o apear e como este recusou, quatro dos guias do General le Clerc arras! tarão-no para -fóra de carruagem , que ]e-ronymo depois apropriou a seu uso. Depois da guerra coin a Ing laterra , época em que Jero-nymo bravamente desertou para o Continente da A m e r i c a , este Negociante citou-o perante os Tribunaes Amer icanos , para que lhe pagas-se a propriedade que lhe havia roubado, ( i )

( O Alguns particalares da.coducta de Jeronymo em S. Domingos , o Author soube-os de hum respei-tável Cavalheiro Americano jquc foi testemunha ocu-lar de tudo o que se tem refer ido, o qual disse que já o h a v i a o publicado nos papeis Americanos.

. Sobre a primeira t d a u f á , dc Jeronymo, ve>a-se la Sainte t a m i l l e ; e a respeito das suas expedições na-•»aes - Lcs Nouvclles á la Main s e o Monitor.

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Revolucionário. za Jl;iónymo»Buonaparte reside presentemen-

te emfBáltimore com hum Americano , chama-do Ju*u'ua Barne^ , que pela pirataria, e rou-^ bo debaixo,., í u rommando do famoío Santho-n a x , a,ocumulou bastantes milhões de francos. E ^ V l i e o mesmo Bai*ney, que commandava na

^-ultima gusfcra hum navio Amer icano, deno-minado o Sampson, 110 qual andava como ar-mador , sem permissão a lguma, e pelo que foi processado , e omdemnado , na Jamaica , coma pirata . á forca , de que escapou fugindo. Foi feito depois Chefe deEsquadra no serviço Frán-cez , e teve por amante em Paris huma prima de Mad. Buonap, de quem teve dois filhos, e a qtiefh deixou depois em miséria , pelo que foi flespedidó da Marinha Franceza. Por tanto he quasi impossível, que Jeronymo Buonaparte pudesse achar huma companhia mais analoga, que a do Cidadão Barney . .

O Monitor Official publicou ultimamente a verdade Republicana Official, que o Cidadão Jeronymo na sua rettrada á America mettèra a pique hum navio Inglez de forças superiores. Muitos pensão excessiva modéstia da parte do editor em não dizer , que este nobre mancebo metteo 110 fundo toda huma Esquadra Ingleza no Moni tor , o que teria dado occasião ao Pri-meiro Consul de nomear de hum salto a seu digno Irmão Lord Hygh Admirai ( grande Al -mirante ) da Répulica Franceza.

Consta do Livre rouge, que Jeronymo tem

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6o 0 Plutarco huma pensão annual de 6ooUo®o fraijfcbs até , < que case ; que se lhe arbitrou -milhão t meio de francos para hum pakicicr, e duas cjiimta? em França* para seu futuro estr&U?qmento , e depositou-se huni milhão noirbancos exírangei-rr.s para as suas despezasí Poder-se-ha in! t? j r do valor dos presentes, que receber-de. seu "Ir-mão o Primeiro Consu l , pela sabida aneedota de haver elle mostrado a hum Official Inglez na Jamaica hum relogio cravado de pedras, que elle coin o verdadeiro descaramento Corso lhe dis-se havia custado somente abagr.tella de i o o ü o o o Luiz.es d' ouro. ( i )

Madama Bachiochi, ou Eaciochf.

l i Sea Irmã mais velha do Primeiro Consul casou em 1 7 8 8 com seu patrício Bachiochi , que tinha estabelecido em Basle huma fábrica cie tecidos d'algodao com hum capital de 1 2U000 francos. Este'"casamento na quelle tempo foi

( 1 ) Jeronymo ror ter casado em huma respeitável famíl ia Americana tem a honra de estar na des t ra ,» de sen i r m ã o Napol . ; c por isso ainda não toi re-conhecido por A l t c i a lmper ia l Revolucionaria. Com tildo h u m Senatus-Consultus facilmente poderá decretar, se elle se mostrar ainda d igno de seu irmão Nopol. Buo-naparte , repudiando sua mulher Republicana.

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,-y- •Revolucionário. 61

. considerado no Paiz como brilhante psra a mi, e t , e pobre família do Buonaparte. Antes

d è 9 M K a z i a todo oserviço de moça dequeijei-ra íii^im pequeno casal arrendado por seusPaia pertqade Ajacio na Córsega, ( i )

Monsieur B jc l i iochi lie hum bom , e hon-rado homern, mais proprío para ejstar á testa de huma fábnca de manufacturas , do que pa-ra brilhar em hunra fabrica revolucionaria ,

. governada por Napol. Buonaparte ; e como nào tem cbnímettido até aqui crime algum para adquirir celebridade, he desprezado por todos os Buonapartes , sem mesmo se exceptuar sua mulher ; e toda a F r a n ç a se admira , que huma dóse da mesma preparação, que fez a Luciano viuvo em 1 8 0 0 , nào tenha ainda feito v i u v a , e Princeza a Mad. Bachiochi.

P caracter de Mad. Bachiochi tem muita semelhança com o de sua M á i , eila lie igual-mente supersticiosa , e devota ; igualmente l i-cenciosa , e religiosa ; namora , e confessa-se; mistura os cabelos de seus amantes com as relí-quias dos Santos; ajoelha diante do painel de

. S Francisco, e volve languidamente os olhos ao retrato do amante , que traz pendente ao collo ; todos os seus rendezvous são nas Igre-j a s , onde, adorando o Creador olha com pas-m o , e sovriso para o seu namorado. As suas cartas d" amores sao a palestra comnmm de Pa-

( 1 ) Veja-se Ia Sniute Famille pag. 19J.

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62 ' O Plutarco -f-^ ris ; porque faz nellas pregações ao peccadot . quando pertende linsonjear o amaifte.-

Antes que a sua cabeça se t r a i f f l f W H e com a fo r tuna , e grandeza de N a p o l > * r a a melhor das Irmãs, filhas, esposas, e % i s ; e

ainda preenche estas deveres ^melhor, d i q n c

qualquer das outras Irmãs; e 'he respeitada na Córsega como a mais virtuosa "cie todas ellas porque , ásemelhança desuàlVIai , teve sóhmn

filho antes de casar. w

Sabe-se pelo Livre rouge , qu/ell'd rece-beo do Primeiro Consul hum milhão de f r a n -cos para seu estabelecimento , jóias , &c. que importão em óooUooo ; 200U000 em rendas annuaes para vários parentes de seu marido..; e além disso goza de huma pensão annual dè de 600U000 francos. ( 1 }

Princesa S. Cruce.

Q u a n d o em 1 7 9 6 0 exercito de Buonapar- «r-te na Italia foi victorioso , a Princeza Santa Cruce era huma das costureiras de Mad: Ram-b a u d , modista de Marselha; f d e quem tinha sido aprendiz seis a n n o s ; } e ao mesmo tempo

(1) Veja-se Ia Saintc Famille , e Le s Nouvelles ala M a m , e o Livre rouge.

/

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Revolucionário. " »<)

^vrvia com hum fabric in te de sabão , homem igsado naquella Cidade, chamado J i l l len, de qnej^XMf. dois filhos. Era 1797 ella , e a actual M a & T M u r a t acompanharão seu Irmão Joseph a RomaÉs para onde e^te rinha sido nomeado peío tfirecrorio , Embaixador da Republica Ftanceza. As , irresistíveis armas de Napol, con-vencerão ao Patriota Principe Rom&n'o Santa Cruce dos attractivos poderosíssimos, e invenci-v ^ r d e sua I rmã ; ehtim anno depois de haver

""sido moi j i s t<fez-se Princeza , governando em hum elegante palaclo , pouco tempo depois que tinha deixado de servir em hurna loja. ( 1 )

O Príncipe Santa Cruce , vendo-se casado n ^ t a familia revolucionaria, tentou fazer-se l itm heróe revolucionário: e logo que as cons-pirações , e intrigas de Joseph Buonaparte effei-tuarão a Revolução de Roma em 1798 , foi no-meado l íeneral Romano, e Commandante das

^ Guafdas Nanionaes Romanas, porém baterido-se contra as tropas Napolitanas, commandadas pelo General Mack em 1799 , perdeo huma perna. Este Principe f raco , e rebelde lie tão ignorante , quanto desleal, e a pezar de sen

'"'Tlome , r iquezas, sua testa coroada , sua perna d e p á o , sua dignidade , e patriotismo, com tu-do lie o contínuo objecto da mofa dos Corte-zãos Consulares, dos epigrammas dos espíritos

( i ) Veja-se la Sainte Famille pag. 197.

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64 O Plutarco Republicanos, e tão desprezado, quanto he real--mente desprezível.

Mad. Santa Cruce., quando está d e l u d e , mofa da devoção de sua M ã i , porém "a^ítfénor syniptoma de moléstia manda chamar . liais de-pressa o Confessor de sua M ã i , do que o M e -dico de seu Marido. 1

Estando desande sua conversação he blas-fema ; e edificante se está doente : a prospe-ridade a faz atheista, a desgraça provavelmen-te a tornaria Christã , ou talvez Sárrva. Sua Mãi diz varias vezes , que a Princeza Santa Cruce não se salvará senão morrer em hum hos-pital. ( t ) .

Bunienne no Livre rouge diz que Mad. Santa Cruce teve de seu Irmão Napol. ljiirn estabelecimento de hum milhão de francos; em presentes, e jóias 600 mil ; 100 mil de rendas annuaes para dois parentes de seu ma.ido , e além disso tem huma pensão annual de 100 mil írancus.

(1) O mesmo Folheto , e pag.

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' Revolucionário. ft

.'/ Madame Murai.

C ^ _ U a n d o Joseph Buonaparte , o homem de bem da famil'a Corseja , em Dezembro de 1797 •íéve toda a inteireza, e fidelidade para fazer com qtie"oGeneral Duphot fosse assassinado, a íim de dar lmm pretexto á pilhagem de Ro-ma , e á destruição do Governo Pontifício , sua I r m ã , a actual Mad. M u r a l , estava prometti-

•cla a este Genera l , hum dos mais í reneikos Jacobinos, e o amigo confidente de Napol.

Mad. Murai: foi aprandiz de Mad. Kain-b a u d , modista de Marselha , de quem também o tinha sido a Princeza Santa Cruce ; porém em 1 7 9 4 sahio desta Cidade em companhia do Actor de Paris Baptiste , o qual não tendo meios suficientes de a manter, recommendou-a a hu-ma modista na rua de Montmartre. .Teve des-te dois filhos, dos quaes hum ainda existe , ten-do sido educado pelo Pai , intimo amigo de Napol. n'outro tempo. ( 1 )

E m 1800 o Primeiro Consul piesenteou ao virtuoso general Murat com a mão desta sua modéstia Irmã , o qual o tinha acompanhado ao Egypto , de lá desertado com el le ; e o ha-

E

( 1 ) Veja-se la Sainte FaiaiUe pag , tpIS,

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66 O Plutarco via ajudado a dethonizar os Dictores-i .^eus bf mfeitores , e commandado a guarda Con-sular. .1; '

. Durante a campanha cie Buonapartí no E g y p t o a chronica escandalosa de Paris dizia , que Mad. M u r a t cohabitava com seu Irmão L u c i a n o ; e que delle tivera hum filho; e como o depravado Luciano se haVia jactado publica-mente desta intuiu i a , fóra desafiado ?re? vezes peio General Mui a t , e por este duas vezes fe-rido , sem com tudo n e g a r , ou defender o seu crime.

Mad. Murat lie apropr ia vaidade, e a fec-tação. Todos os rebeldes cle todos os Paizes são os seus heroes, de dia deseja huma Republica, e de noite sonha com ella. A liberdade existe em sua bôça , a igualdade em seu coração!', e a ira leni id. ide nas suas ligas. O seu palacio eütá ornado coin hum barrete da liberdade ; e o p a -teo com a arvore da liberdade. Na sala princi-pal estão os bustos de Giacho , B r u t o , ' C a t ã o , Brissot, Martit , e Robespierre ; na sua camará OsdeMachnive l , Cromwel , e Napol. Com tudo he huma déspota em sua casa , ao mesmo tem-po que falia de liberdade , e igualdade, he ar-rogante com as suas amigas, e insolente com as pessoas , que a acompanhão , e tyranna com os seus amantes; lie huma aristocrata no seu modo de t ra jar , maneira, e pertençóes; e mui-tas vezes huma rival bem succedida cie sua cu-nhada Mad . Napol.

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_T Revolucionário". .67 Napol. , para impedir , as consequências

provavelmente fataes do cinme de Murar con-tra seu c i í ihado L u c i a n o , mandou a Mad. M u -ra t , que iosse residir coin seu Marido para M i -

>' '15o , onde a pezar das grandes honras , que lhe fazem os Italianos , ella chorava por P a r i s ,

^ e coasiderava-se , degradada na Cayenna Euro-pea , como es t 'xpl icava escrevendo ao Primei-ro C o n s u l ; e por isso atormentava-o com car-tas , até que elle a tornou a chamar para o seu caro , e mui caro Paris. Como o Genera l M n r a t j í não espreita t a n t o , como ant iga -mente , a conducta de sua mulher , pensão mui-tos que a indifferença succedeo ao ciúme , e q u e elle a avalia segundo merecem os seus honrados

J » sentimentos. Os seus amantes são agora i n n u -meraveis .. e entre elles o mais ridículo de t o -

l ^ t l o s , lie o v e l h o , e estragado Senador Roede-rer , o q u a l , segundo les Nouvetles a la Main. susp i ra , e r i a l ternat ivamente , c a n t a , e b e r r a ; escreve cartas de amores , e imprime veisos ter-nos , ou lisonjeiros. ( 1 }

E m seu jornal cie Paris de Outubro passa-do ( d e 1 8 0 3 ) Rusderer desesperado escreves a seguinte quadrinha dirigida ao marido.

( 1 E ii

(O I-es Nouvelles à la Main, Brumaire anno XII . Num. 4 pag. 4.

O.

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68 • O Plutarco

Vers adressés aa General Mu,rat.

Adore Carol ine, ( i ) et re"iw sur son ece ' . - . I," Amour avec orgueil peuf dire la vicloire. , Í

y u ' i i sut fiire pour ton bonheat Auiai it qu'clle tit pour ta glol ie.

Além de iooo Ltiizes d'oiro ,, que lhe 'dá o Marido por mez, para o seu bolsinho , ou pa-ra melhor dizer , a Képubiica Italiana , tem re-cebido , segundo o Livre rouge hum milhão de francos para o seu estabelecimento ; ^em pre-sentes , jóias, &c. Ó03 mil ; aoo mil de rendas annuaes para cinco parentes de seu marido; e goza mais de huma pensão annual tde 600 mil ( 2 ) ' , ,

( 1 ) Corolina lie o nome de Mad. M i n a i . C d I.a Si inle F a m i l l e , Les Nuuíe l les á la M a i n j-

e o Livre range.

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' * ' Revolucionário.

ft

A ^ J P R I N C E Z A B H O R G U E S E /

N'outro tempo Mad. le Clerc.

Raisonner est I'emploi de totite leur maison, E*le raisonnoajeist'eii bannit la raison.

il Mier:

E U preciso tanto d e D e o s , quanto elle de mim. ,, Estas blasfémias ouvem-se repetidas ve-zes da engraçada boca da actual Pr inceza Bhor-guese , I rmã mais moça do Primeiro Consul. E m vez de c ínfessar com gratidão a desmerecida bondadi? da Providencia , que de hum a prosti-

' tuta a f e z Princeza , e no pináculo do Templo da F o r t u n a ; e lembrar-se com arrependimento , e vergonha da miséria das baiucas subterrâ-neas igualmente viciosa , í m p i a , escandalosa nu pospendade , e na desgraça , desafia o po-der de seu C r e a d o r , e insulta a esperança do religioso , semelhantemente que a consolação do moralista, e augmenta as afflicções da inno-cencia opprimida , animando ou diminuindo a infamia do crime _acompanhado de ventu-ras. A hypocrisia de qualquer genero he m á , mas a do -atheismo cle Napol. lie monstruo-sa ,* porque accrescenta a cobardia ao deli-

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70 0 Plutarco.' ' cto. Com tudo he difíicil de decidir qual h.e mais perigoso em huma Naçãc corrompida , se hum atheista em hum T h r o n o usurpado pre-gando chr i s tandade ; ou huma mulher . s r . i ave l , p o p u l a r , e da moda espal lwudo as ma1::)/:;;? as-soladoras , e perigosas do atheismo, pan'icular-laente , quando consta que ella he a sua irmã valida.

A Pr inceza Bhorguese e n r ã ^ P a u l i n a Duo'* «apar te , na idade de 1 4 ' a n n o s f u g i o da casa de sua M ã i , com hum cabo de e s q u a d r a , e de-sertor Sardo chamado C e r v o n i ; e os seus pa-rentes não souberão absolutamente delia até ao tempo da usurpação de N'apol. em 1 7 0 9 , quan-do ( s t gi indo laSainie Famille ) fo i achada co-berta (le trapos , e mazelas em huma casa in fame na rua St. Honoré. ( i " ) N a p o í . para recompen-sar os serviços patrioi icos de hum complice em T o u l o n , I t a l i a , e Jaf fa consentio que o noto-rio terrorista o G e n e r a l le Ce . tc , filho de hum moleiro , despojasse esta digna Princesa de seu sang ne. Le C lerc , além das somai as usuaes , arbitradas a cada huma das i rmãs do C o n s u l , recebeo em dote pr imeiramente o commando do exerc i ro contra Portuga! , e o saque daquel-le R e i n o , e depois o commando da expedição de S. Do-.ningoi , e a p i l h a g e m , c a t i v e i r o , e destruição de huma colonia.

(O V r j a - s e la Sainte F a m i l l e pag. 109,

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' Revolucionário. ft Em Dezembro de 1 8 0 1 , Mac!, le Clerc par-

tio com sen marido para S. Domingos , e teste-munhou iodai as atrocidades daquelle Proccn-suL^épublicano, Posto que tinha huma exrra-'ofdinaria influencia sobre este feitiz homem, nem por isso evitou a sua t ia içáccontra o des-graçado Toutsaint , . n e m os excessivos tormen-tos , e c £ £ f i g o s , que elle infligia'aos pretos, a quem a conducta deste havia exasperado ; ao contrario, se dermos credito ao referido folhe-to , ella muitas vezes gozou , e a té mesmo or-denou çomo hum divertimento , o o odioso es-pectáculo de mutilar os pretos , assá-los v i v o s , ou iazêlos assim devorar pelos cães de fila Hes-panhoes , fieis companheiros de seu marido. Além,disso sua única occupação era a j u n t a r , e ^montoar novos thesouros peias extorsões, requisições, e confiscações praticadas por seu marido rodos os dias , senão erão a todas as horas ; e depois da morte deste, voltou para a França com estas riquezas tão indignamente adquiridas. Durante a sua v i a g e m , dignon-se de acceitar a h u m Coronel a consolação da per-da de hum G e n e r a l , e permittio a continuação dos galanteios de hum dos antigos Ajudantes de Campo de le Clerc ; os quaes obrigarão na a demorar quasi 6 mezes as suas núpcias com, o Raniano , epatriotico Principe Bhorguese; que sem duvida obtevje do Primeiro Consul Buona-parte esta casta ' mão em França como huma indemnização dos hens , que a familia Bhorgue-

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1% o piutcrcc.

se hnvia"perdido pelo saque cio General Buo-naparte em Italia,

Ainda que os Príncipes Alemães -são mais numerosos , menos ricos, e tão interesseiro^ co-pio os Italianos , com tudo a sita vaidade pode' vencer o seu egoísmo e casando com as dissolu-tas Irmãs de hum infame usurpador , ou fazen-(io-llies a Corte não deshonravão por• is.?o a sua dignidade. O Principe Bhorgnese , So' mesmo modo que seu patrício o Príncipe SantaCruce , D-,o tinha razão para ser ião melindroso ; pois «(tie havia proclamado asna patriótica t r e i n o , antes que se publicassem os espoiüaes do seu ca-samento Sans~cv'fít>:. Em r 7 9 , r 1799 foi hum CidadSo activo debaixo do Governo da Repu-blica Romana de curta duração; e para provar os seiis princípios de igualdade comiescendeo com o Pwncipe Colona , o Duque de Monte-liberto , e outros nobres Romanes " em servir como simples soldado em hum corpo , cujo Ca-pitão era hum homem , que vendia tripas , e 'comida de cães jvlas ruas ." Em 1798 foi mem-bro de hum Club jacobino , que os Francezes t-mierirao aos Romanos em compensação da perda de Mia liberdade , Religião . e proprieda-des, Este Ciiih e-nafceRcéo-íe nopalacio do Du-que de Altemps , onde do mesmo modo que em França , os filhos denunciavão os Pais , re-commendavão se as nwjades ( 1 ) , proscrtvião-se

""(i) No;-»'cs .proptiaí para afo-gar as vimimas <io republicanismo,

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' * Revolucionário1 7 3

os P a d r e s , 'e estabeleceo-se a proposição de-

principiar a regeneração de R o m a , matando to-dos os que tivessem mais de 6o annos de idade por j f capazes de renunciar os seus antigos pre-utirfél obstinados «pela velhice- „ ' ' Pessoas, que assistirão ás núpcias cio Frinci-c e Rhorguese , e M a d . le Clerc , a f i r m ã o , que foi tal a ceremonia religiosa ao layçar as ben-CHOi m i t r # ó n i a e s oCardea l Caprara , que obri-gou '1 envergonhar-se este m e m o mercenário de Napol. , a pezar de estar tão íamiliartzado , o m as antigas scenas h y p o c r i t a s , e sacrílegas do Primeiro C o n s u l , desde que o tinha princi-piado a ajudar na organização de l iuma lehgiao revolucionaria na Republica Franceza .

Nas JUouvelles à la Main d e B r u m a i r e , an-no X f l . , disse-se , que o Primeiro Consul decla-tM em publico, que attendendo ao estado do Tiiesoúro Republicano , elle não podia lazer o one deseiava á mafc amada de suas I r m ã s ; a quem , e a cuio marido offerecia então presen-tes de p o u c o ' v a l o r , achando-se rodeacm ae Cortezáos na grande sala ; mas em particular , e entre os da famíl ia , os noivos receberão deíie em letras sobre Hespanha , e P o r t u g a l , em jó ias , &c. a sonima de quatro milhões de f ran-cos', além de hum a ca ixa de jóias , que lhe cie o

' M a d . Napol . , avaliada n 'hum mi lhão , c qu i -nhentos mil francos. Os bens , que o Genera l J e C l e r c deixou á s u a m u l h e r . calculárão-;e em seis milhões pelo \i ieues; de maneira que esta íi-

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74 O Plutarco

lha de hum Sanüulottc t rouxe ao Principe seu maneio huma fortuna de Pr inceza.

' Pelo .seu primeiro casamento , segundo o Livre rouge, a actual Pr iceza Bhorguese *teve hum milhão de francos para & viagem a d o -mingos , trezentos mil f rancos de rendas annu-aes para í l j u n s parentes de seu marido ; seis-centos mil GR, presentes ,- jóias & c . e desfruta huma pensão a n n u a l , e vital ícia d í i f e ^ a som-ma. ( i )

F I M DO PRIMEIRO VOLUME.

( O V e j a - s e h Sa intc F a m i l i e s l e s . - C r i m e s des R é n u . t o u « r ' 1 C S N o v c U c s a l a | M a i n , e o Livre

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C A T Á L O G O dos Folhetos impressos á custa de Paulo Mart in

filho, que seachão na sua Loja na Rua da

4 . Quitanda N. ° 34 ,

\T

' Erdadeira Vida de Buonaparte 8 . 960. •Os Pereiros Livres , eosIUundnados , que mais

propriamente se deverião denominar os Tene-brosos por 480.

Ode Oferecida á S. A. R. por hum Madeiren-se. 160.

Vozes do Patriotismo , falia feita aos Portugue-ses per Jose de Goes. 320. A' Fidelíssima Lusitania livre ja de tirania dos

.'pérfidos Franceses. 240.

•Exame das Caudas que allegou o Gabinete das Thuilherias por mandar contra Portugal os Exércitos. PonFrancisco Soares Franco. 480.

Galatea Egloga por Antonio Joaquim de Car-valho. 3 2 0 .

O Despertador dos Soberanos e dos Povos por José Aairsio das Neves. 800.

Discurso relativo ao estado presente de Porta-gal. 480.

Ode á Restauração de Portugal. 160. Manifesto da Rey/io contra a usurpaeôes Fran-

cesas ror josé Acursio das Neves por 640, Ode d Restauração da Cidade do Porto por An-

tonio S.oürh de Azevedo. 1 6 0 ,

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UUyaea Libertada Drama Heróica composto por Miguel Antonio de Barros. 480.

Ode Oferecida ao Principe Regente N. S. pela gloriosa Restauração de Portugal. 160.

O Verdadeiro valor Militar. 160. £ Protecção á Funceça por José Daniel Rod. da

tosta. 3so, Embarque dos Apaixonados dos Franceses , ou

Segunda parte da Protecção ú Frameju hi esmo. 4r;o. ' 3

Catecismo-Civil ou Breve compendio das Obriga-ções do Hespanhol. 160.

Sonho de Napoleão, j f io. Improvisos de Bocage. 320. Exposição dos factos e 'Maquinações com que se

preparou a usurpação da Coroa de Hespanha por Pedro Cevalhos 2 volumes 1fbo.

A Segunda parle se vende separadamente. 800. Reflexões sobre a Invasão dos Franceses em Por-

tugal por 800. Obras completas de Jose Acúrcio das Neves os

jolhetos. 3600.

Estão noPre'o as Seguintes obras mie com brevidade sahiraÕ á L u z /

Manha de Dt/rceo por Gonzaga 3 volumes. Memoria^ em mie se examina qua^ seria o es-

tado de Portugal, se por desgraça os France-

(

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qes o chegassem a dominar , por Francisco

Soares Franco. _ Chalaça de Napoleão, ou proteção universal of-

4 ferecida qps Apaixonados dos Franceses. _ A Protecção'dos Ingleses-: versoaJe José Joaquim

Lisboa.