o frade da gralla

4
O frade e a gralha Publicac;ao cultural • Primavera 2001 • Ano IV - 12 A LÍNGUA PORTUGUESA NA CULTURA ESTRADENSE CONTEMPORÁNEA(!) Na cultura estradense contemporanea observa-se urna clara e persisten_te tendencia para a reintegrac,::ao linguística Por outro lado, a trad19ao reintegracionista estradense é em grande medida autoctone, embora, viesse a confluir até certo ponto com outras correntes operantes na G.allza. Pretendemos aproximar-nos nas seguintes linhas aos aspectos !undamenta 1s da normalizac,::ao da língua portuguesa na cultura estradense contemporanea. Ao estudarmos a cultura galega actual , e específicamente a estradense, devemos tra<;;ar urna primeira lir,ha divisória entre 0 regime franquista, por urna parte, e, por outra .. o seu herde1ro_ monarqu1co (Tábua 1). Ambos os regimes coincidem, evidentemente, quanto ao de destru1i;:ao da .nossa língua e cultura e de obstaculizai;:ao do desenvolvimento em l1berdade da_ nai;:ao.galega, mas os melados utilizados diferem num e noutro caso. No primeiro, era a dura repressao o. proced 1mento , no ·· d · ·1 - deturpara-0 a corruprao e a compra de cons c1enc1as . Por exemplo, esta segun o, a ass1m1 ai;:ao , a .,. · .,. . . . . . · ·d d publicai;:ao, cuja edii;:ao e distribuii;:ao sao hoje. poss1ve1s, a111da que d1f1 cultosas, sena cons1 era a propaganda ilegal e, portanto, perseguida pelo reg1me do general Franco. E ETAPAS DA CULTURA ESTRADENSE CONTEMPORANEA _j v"a da erda \ "' . - . .. ...... - -- Ensaios associativos (1975-1979) lniciati - -- A.C . "A Estrada" (1979-?) Monarquía Consolidai;:ao Movimento de Reintegracionismo (1975-?) associativa reintegrai;:ao (1990- ?) (1979-?) linguistica Lusofonia (1990-?) (1993-?) Tabua 1 esqu (1975- !IJ90) Iniciativa - da direita O-?) (199 Estabelecida esta primeira segmentai;:ao entre franquismo ( 19?5) e monarquia (1975- 7 ), podemos determinar, do ponto de vista da cultura estradense .. urna nova d1v1 sao quanto ao segundo dos eríodos, que é 0 que aqui nos interessa. Assim, teriamos urna fase de ensa1os assoc1a t1vos i 1975-1979) e, a seguir, urna outra de relativa consolidai;:ao asso...:1at1va (1979-?). Da mesrna mane1ra , importa discernir, dentro da fase de consolidai;:áo, a etapa que decorre de 1979 a 1990, ass1nalada P':_la t - d A c "A Estrada" e a que se inicia nesse ultimo ano, em que o mov1mento de ac uai;:ao a . . · C "M · 1 v 1 d " p - ult imo linguistica se independiza organizativamente com a fundai;:ao da S. - arc1a • a.ª ares - º1 · ainda é possível segmentar a etapa a que acabamos de al .udir, a de. independencia do. mov1mento de reintegrai;:ao noutros dois periodos: 0 reintegracionista propnamente d1to_ (1990-?) e o lusofono (1993-?). É verificar, por outro lado, que no período 1975-1990 a 1n1c1aliva pertenceu na Estrada a esquerda, ao passo que, a partir da década de 90, a direita -o PP, desde a Mun1c1pal e aliado com certo "galeguismo" cultura li sta- está a exercer o controlo quase total _do .mov.niento cultural estradense. Naturalmente, toda esta periodizai;:ao apenas pretende servir de para o estudo da cultura estradense contemporanea, devendo ser relativizada, especialmente quanto as datas referidas (Tábua 1). Fím do franquismo e ensaios associativos _ -· __ . . Nos come9os do ano lectivo 1975-76, criaram-se pm estudantes do 11.ceu. da o unico existente naquela altura, urnas Comiss6es Cultura is que t1nham como naturalm.e nt .e, a or aniza<;;ao de actividades de tipo cultural mas também a direci;:§o da lula pol1t1ca .contra o autontansn_:io nog ensino e contra 0 regime fascista. Este período interessa-nos de mane1ra especial porque a 1nst1tu1i;:ao daquelas Comiss6es Culturais pode . ? de certa mane1ra , como 1111c10 da etapa contemporanea da cultura estradense (Tab ua 2, paginas , _-3) .

Upload: asociacion-cultural-vagalumes

Post on 10-Mar-2016

227 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: O frade da gralla

vencendo nas correspondentes eleii;:oes. Desta maneira foi como a A.C. "A Estrada" se converteu num projecto cultural galego e popular.

O seu novo carácter demonstrou-o com a sua atitude de defesa da nossa cultura, participando activamente na sol idariedade com um mestre do Colégio Público do Fojo , vítima da repressao espanhola por causa do uso nas au las da nossa língua. Assim, em 1980, ao lado doutras organizai;:6es culturais , sociais, sindicais e políticas da Galiza, organizou e convocou urna numerosa manifestai;:ao nacional na Estrada contra a repressao linguística.

No ambiente criado por estas experiencias, sente-se cada dia mais a urgencia de urna norma linguistica científica e culta, como também do ponto de vista nacional demonstrava a fundai;:ao , em 1981 , da Associai;:om Galega da Língua (AGAL). Nesse mesmo ano, o professor Carva lho Calero publica, em Lisboa, Problemas da Língua Galega, volume que reúne impo1iantes artigos sobre política linguistica e que seria utilizado nos debates da Comissao de Língua da A.C. "A Estrada". O aumento da actividade, com efeito, levara a criai;:ao de comissoes, entre as que sobressaem também as de cinema ou de investigai;:ao de tradit;:6es populares, mas, sobretudo, a de guinhol, pois a associai;:ao contou com um grupo de teatro-guinhol único no seu momento na Galiza, percorrendo o território nacional com os seus espectáculos. Conferencias, mostras do livro galego, exposii;:oes de arte, mostras de ceramica galega , cinema, teatro, recitais e concertos de música, cursos, excurs6es culturais , jogos populares (com a consolidai;:ao de um campeonato de chave) ou o 1 Simpósio de Literatura Galega Estradense (1987), sao bom exemplo do dinamismo da A.C. "A Estrada" durante a década de 80, quando a cu ltura nao só era desprezada pela Camara Municipal, mas combatida por perigosa para os interesses da direita e de Espenha_

Singular interesse tem para a normalizai;:ao linguistica na Estrada a edit;:ao, neste periodo , das revistas Matacán (1984-1985) e Vacilo de Coco·s (1986-1987), promovidas pela A.C . "A Estrada", pois todos os números contem trabalhos na norma reintegrada. Assim, em Matacán aparecem os seguintes: "Breve introdui;:om a gaita", por A. Carvalho (nº O, 1984); "Notas pacifistas", por J. A. Porto (nº 1, Janeiro, 1985); "Lembrani;:a de Marcial Valhadares", por Aurora Marco (nº 2, Abril, 1985), e "A i;:anfona, mil anos de história" , seguido de "A nossa música", por A. Carvalho (ibidem) . Quanto a Vacilo de Coco ·s, os traba lhos reintegracionistas publicados sao estes: "Contra-ocie ao primeiro governo da segunda legislatura" e "Parábola o fábula do leom e a vaca" (poemas) (nº O, 1986); "Da violencia" e "Perguntas de um operário letrado" (poemas), por Berto lt Brecht (nº 1, 1986) (estes textos, publicados a iniciativa de Xavier Castellanos, tem interesse especial pelo emprego do padrao portugues); "Umha olhada sobre o 'whist';;"', tradui;:ao de um texto do músico escoces Robin Williamson (nº 2, 1987), e "Eu queria ser filho dum cura" (poema) (nº 3, 1987).

Significativamente, várias foram as ocasi6es em que o professor Carvalho Calero participou em actos Ja A.C. "P, Estrada". Assim, em 14 de 3etembro Je 1987", foi eie que inaugurou o í Simposio de Literatura Galega Estradense com a conferencia "A literatura galega e a Estrada" (publicada na revista Contra!Tefranca, nº 14, 1994)

Contudo, conflitos internos derivados das diversas concepi;:oes do trabalho cultural fazem com que a associai;:ao pade9a algumas crises. No transcurso de urna delas, um grupo de membros funda "Rádio Zarabeto" (107 8) em 1988. Como exemplo da sua programai;:ao citemos a emissao de 21 de Julho cfesse ano, que inicia de manha o programa "Gente Maravilhosa", com urna entrevista que Gonzalo Constenla realiza ao artista Miguel Docampo; segue, de meio-dia a urna da tarde, "Agenda do Livro" , er-; que Pablo Porta fala do escritor Fermin Bouza Álvarez; a programai;:ao da tarde incluí , de 9 a 1 O, "Á Luz do Candil", um espa90 de Luis Torres dirigido ac- mundo rural; de 10 a 11, "O Vento de Kéltia" , a emissao de J . A. Porto dedicada ao mundo céltico, e de 11 a 12, "Paraíso Tropical". O financiamento da emissora realizava-se mediante diversas iniciativas económicas. No entanto, também no seu seío surgiram alguma ~> contradit;:6es de importancia, ao tempo que se agravavam as existentes na A.C. "A Estrada".

Oeste jeito, um membro da junta directiva da associai;:ao cultural, José André Porto, decide exprimir publicamente as suas críticas, censurando o desmantelamento de facto da sociedade e exigindo o seu fortalecimento (La Voz de Galicía, 5-12-89). Em Mari;:o de 1990, o mesmo directivo, ex-secretário da associa9ao, faz público o documento crítico "Aonde vai a Associai;:om Cultural 'A Estrada '?", red igido na norma da AGAL, em que analisa a história associativa, comos seus problemas (esquecimento do "conflito cultural em que estamos imersos") e possíveis solui;:6es ("urna redefinii;:ao do quefazer da Associai;:ao Cultural 'A Estrada' deveria passar pela recuperai;:ao e o est ímulo constante do seu aspecto reivindicativo"). O documento alertava acerca do esmorecimento da A.C . "A Estrada", coma perda mesmo da sua sede social, como na realidade, infelizmente, acabou acontecendo.

A mim tanto se me dá a Junta como a aguilhada,

onde houver um nh o ñ nao vale nada.

Redaci;:ao d ºO frade e a gralha

QUADRAS, por Luísa Pinheiro

Claro como um campo raso , puro como um céu azul, o leste é o nosso ocaso, o nosso norte é o sul.

O frade e a gralha - Apartado 24 36680 ESTRADA (Galiza) [email protected]

O frade e a gralha • Primavera 2001 • Nº 12 4

O frade e a gralha Publicac;ao cultural • Primavera 2001 • Ano IV - Nº 12

A LÍNGUA PORTUGUESA NA CULTURA ESTRADENSE CONTEMPORÁNEA(!) Na cultura estradense contemporanea observa-se urna clara e persisten_te

tendencia para a reintegrac,::ao linguística galeg~-portu~uesa. Por outro lado, a trad19ao reintegracionista estradense é em grande medida autoctone, embora , ev1denteme~te , viesse a confluir até certo ponto com outras correntes operantes na G.allza. Pretendemos aproximar-nos nas seguintes linhas aos aspectos !undamenta1s da normalizac,::ao da língua portuguesa na cultura estradense contemporanea .

Ao estudarmos a cu ltura galega actual , e específicamente a estradense , devemos tra<;;ar urna primeira lir,ha divisória entre 0 regime franquista, por urna parte, e, por outra .. o seu herde1ro_ monarqu1co (Tábua 1 ) . Ambos os regimes coincidem, evidentemente, quanto ao ob1ect1~0 de destru1i;:ao da .nossa língua e cultura e de obstaculizai;:ao do desenvolvimento em l1berdade da_ nai;:ao.galega , mas os melados utilizados diferem num e noutro caso. No primeiro, era a dura repressao o. ~nn_c1pal proced1mento , no

·· d · ·1 - deturpara-0 a corruprao e a compra de consc1enc1as . Por exemplo, esta segun o, a ass1m1 ai;:ao, a .,. · .,. . . . . . · ·d d publicai;:ao, cuja ed ii;:ao e distribuii;:ao sao hoje. poss1ve1s, a111da que d1f1cultosas, sena cons1 era a propaganda ilegal e, portanto, perseguida pelo reg1me do general Franco.

E ETAPAS DA CULTURA ESTRADENSE CONTEMPORANEA ~ ----------~~~~~~~F~r~a~n~q~u~is~m=o~1~1'.';i5:i:;;3~6-:::1~9~7¡:¡:"~)__:_:_:~.:..:..:....___::_:_________ _j v"a da erda

\ "' . - . .. ...... ---Ensaios associativos (1975-1979) lniciati

- --

A.C . "A Estrada" (1979-?) Monarquía Consolidai;:ao

Movimento de Reintegracionismo (1975-?) associativa

reintegrai;:ao (1990-?) (1979-?)

linguistica Lusofonia (1990-?) (1993-?) Tabua 1

esqu (1975- !IJ90)

Iniciativa -da direita O-?) (199

Estabelecida esta primeira segmentai;:ao entre franquismo ( 1936~ 19?5) e monarquia (1975-7 ),

podemos determinar, do ponto de vista da cultura estradense .. urna nova d1v1sao quanto ao segundo dos eríodos, que é 0 que aqui nos interessa. Assim , teriamos 1~1c1alme_nte. urna fase de ensa1os assoc1at1vos i1975-1979) e, a seguir , urna outra de relativa consolidai;:ao asso...:1at1va (1979-?). Da mesrna mane1ra ,

importa discernir, dentro da fase de consolidai;:áo, a etapa que decorre de 1979 a 1990, ass1nalada P':_la t - d A c "A Estrada" e a que se inicia nesse ultimo ano, em que o mov1mento de re111te~rai;:ao

ac uai;:ao a . . · C "M · 1 v 1 d " p - ultimo linguistica se independiza organizativamente com a fundai;:ao da S. - arc1a • a .ª ares - º1 · ainda é possível segmentar a etapa a que acabamos de al.udir, a de. independencia do. mov1mento de reintegrai;:ao noutros dois periodos: 0 reintegracionista propnamente d1to_ (1990-?) e o lusofono (1993-?). É significati~o verificar, por outro lado, que no período 1975-1990 a 1n1c1aliva cult~ra l pertenceu na Estrada a esquerda, ao passo que, a partir da década de 90, a direita -o PP, desde a Cam~r_a Mun1c1pal e aliado com certo "galeguismo" cultura lista- está a exercer o controlo quase total _do .mov.niento cultural estradense. Natura lmente, toda esta period izai;:ao apenas pretende servir de referenc1~ para o estudo da cultura estradense contemporanea, devendo ser relativizada, especialmente quanto as datas referidas (Tábua 1).

Fím do franquismo e ensaios associativos _ -· ___ . . Nos come9os do ano lectivo 1975-76, criaram-se pm estudantes do 11.ceu. da t:: ~t rad a, o unico

existente naquela altura , urnas Comiss6es Cultura is que t1nham como ~b1ect1vo , naturalm.ent.e, a or aniza<;;ao de actividades de tipo cultural mas também a direci;:§o da lula pol1t1ca .contra o autontansn_:io nog ensino e contra 0 regime fascista . Este período interessa-nos de mane1ra especial porque a 1nst1tu1i;:ao daquelas Comiss6es Culturais pode . considerar~se , ? de certa mane1ra , como 1111c10 da etapa contemporanea da cultura estradense (Tabua 2, paginas ,_-3) .

Page 2: O frade da gralla

1

Mas a actividade cultural no liceu tinha alguns precedentes, como a edic;:ao da revista do centro, a existencia de um dinámico e interessante grupo de teatro ou a actividade do Seminário de Literatura. O ano, e:í firn, comec;:ara com certa normalidade, mas ia ver-se determinado por dois factores relevantes: a existe11cia de um director abertamente fascista -Mauricio MaYssa-, com o aumento do autoritarismo no liceu, e a presenc;:a de organizac;:óes politicas revolucionárias entre a juventude estudante.

Nesse contexto produziu-se, sem demora, o levantamento e a greve de estudantes que caracterizou a vida do liceu estradense no referido ano lectivo, aquele, precisamente, em que morreu Franco. ,'\s Comissóes Culturais organizam as suas actividades, de que pode ser exemplo o debate sobre, e contra, a Lei Geral de Educac;:ao, e a assembleia de estudantes, que se reunia nas salas, em IGRÓVI ou no monte. elabora a sua plataforma reivindicativa, em •Jue se incluíam pontos como o fim do autoritarismo no ensino. com a demissao do director, ou a coeducac;:ao, e divulga a sua luta noutros liceus do país (de Composteld ou Vigo, por exemplo). O director, desde o comec;:o, facilita os nomes de "elementos perigosos" a Guarda Civil espanhola, com a qua! se chegam a produzir choques.

i'<Jaqueie ano, a revista do centro nao se pode editar. Nos primeiros meses de 1976, a redacc;:ao. composta por estudantes, pretendia publicar, entre outro material, a letra do Hino Galego, mas isto foi categoricamente proibido por Máissa, o que dá urna ideia bastante exacta tanto da situac;:ao como da personalidade do director. Curiosamente, um artigo acerca da obra literária de Méndez Ferrín, preparado por um aluno após ser-lhe sugerido pelo professor Xavier Carro, poderia passar, ainda que o director hesitasse porque, ~oegundo ele próprio disse, era pública a sua defrontac;:ao com "esse senhor". Mas pouco ficava íntegro depois da censura e a revista nao saiu. Deve salientar-se que nenhum dos que na actualidade integram a intelligentsia oficial estradense e que tinham já certa idade naquela altura se dignou sc:'idarizar-se com a publicac;:ao censurada, embora hoje possam cantar livremente o nosso hino.

Quanto ao grupo de teatro, dirigido pela professora Charo Bello!, os actores decidiram o dia da representac;:ao e perante o público que enchia a sala, suspender o acto em sinal de solidariedade com a Juta estudantil antifascita, o que provocou grandes aplausos entre o auditório.

O Seminário de Literatura, entretanto, deve lembrar-se como um espac;:o de certa liberdade e ar fresco. Na sua pequena biblioteca figurava, entre outros volumes, como as obras de Ferrín, a edic;:ao preparada por Rodrigues Lapa das Cantigas d 'escarnho e de mal dizer, que publicara a Galáxia. Nas horas vagas, a sua leitura, amiúde colectiva, era um autentico e úti l divertimento. A nossa lingt.a mostrava-se sem intermediários nem deturpadores. De facto, muitos dos panfletos que se distribuiam ;io liceu estavam escritos em algo bastante mais avanc;:ado do que depois se chamariam mínimos reintegracionistas, quer diz er, num "portugués com xis" .

Enfim, embora Franco já estivesse morto, no ano seguinte (1976-77), a direcc;:ao do centro (o mesmo director e a chefa de estudos, integrante da Opus Dei) pretende represaliar dois alunas nao o~:

adm1tino;; :10 liceu por motivos políticos. A promoc;:áo profissional de MaYssa continuou , que paradoxo! \ t)U

seguramente nao), durante o actual regime, tao democrático, chegando a inspector de ensino da .!·:;;id autonómica.

CRONOLOGIA DA CULTURA ESTRADENSE CONTEMPORANEA ·--¡ Etap'-' Ano Alguns factos relevantes

1975 •Comissóes Culturais no liceu e levantamento estudantil antifascista (1975-76) i Ensai:;::

1976 •Continua o levantamento antifascista no liceu da Estrada. O director censura 1

associativos urna revista e proíbe a publicacao da letra do Hino Galeqo. 1977 ·Fundacao da A.C . "Marcial Valladares". -1 1978 •Fundacao da Associacao Juvenil da Estrada. 1979 •Fundacao da A.C. "A Estrada".

1980 •Conflito linguistica no Colégio Público do Fojo. Manifestac;:ao nacional na Estrada cont_~a a reEressao linguistica. •Nasce a Associac;:om Galega da Língua (AGAL) e Carvalho Calero publica, em

1981 Lisboa, Problemas da Língua Galega, obra utilizada nos debates da Comissao de Línqua da A.C. "A Estrada".

1982 ·Actividade da A.C . "A Estrada" . - ----1

1983 •Actividade da A.C. "A Estrada". (Publica-se no DOG o Decreto Filgueira e a i AGAL edita o Estudo Crítico.)

1984 •Nº O da revista Matacán (A.C. "A Estrada"), com um artigo na norma da AGAL

A.C . ("Breve introdui;:om a gaita", EOr A. Carvalho}. "A Estrada" 1985 ·Nos. 1 e 2 de Matacán, com artigas na norma da AGAL.

1986 •Nº O de Vacilo de Coco 's (A.C. "A Estrada") com poemas na norma da AGAL.

1

Nº 1 com poemas de B. Brecht em portuques padrao. •Nº 2 de Vacilo de Coco ·s com texto na norma da AGAL. Nº 3 corn poema na 1

1987 norma da AGAL. '

i ·Conferencia de Carvalho Calero "A literatura galega e a Estrada'', na A.C. "A . Estrada". 1

1988 •Conflito na A.C. "A Esirada". Rádio Zarabeto. · ·Continua o conflito na A.C. "A Estrada". A actuac;ao da Junta Directiva é

1989 criticada publicamente por um dos seus membros (La Voz de Galicia, 5 de Oezembro). - ·-

O frade e a ~yolha • Primavera 2001 • Nº 12 2

-----~-----~-----c--c--::--c,-,--=--:--=---:-----:----:c-:--------;--·--1

1

1

•Aonde vai a A.C. "A Estrada "?, documento crítico com a evolu9ao da

1

1

1

S.C . "Marcial Valadares"

Lu::;ofof1ia

1990

1991

1992

1993

1994 1995

1996

Associac;:ao Cultural. •Fundac;ao da S.C. "Marcial Valadares". Nº O do Boletim da S.C 1viarcial Va/a dares". •Estrada, Maio: Primeira Assembleía de Associac;oes Reintegracionistas (ARO, CRES, "Meendinho'', "M. Valadares"). f 1

•Participac;:ao da S.C. "Marcial Valadares" num Curso de Diri!!Jentes Associativos, no Mosteiro de Vairao, organizado pelo Instituto da Juventude de Portuqal !Novembro). •"A Estrada P. o Reintegracionismo": campanha da S.C. "Marcial Valadar ' s" por ocasiao das Letras Galegas. ·Assembleia de Associac;óes Reintegracionistas na Estrada (8 de Junho)¡ ·Participac;:ao da S.C. "Marcial Valadares" no Cruzeiro "Embarca-te pela lingua" (Ria de Arousa, Junho). •"O acordo de governo e a normalizac;om lingüística no Concelho da Estrada" 1

(comunicado da S.C. "Marcial Valadares") . •Participai;;ao da S.C. "Marcial Valadares" no 1 Encontro Internacional de Jovens JUV '91 , em Subportela (Viana do Castelo, Agosto). _ •A S.C. "Marcial Valadares" promove a publicac;ao de As Terras da Estrada na Obra de Fermín Bauza Brey (Guia Bibliográfico), de JA Porto e X. Paz Garc;a, por ocasiao do Oia das Letras Galegas. ·Participac;ao da S.C: "Marcial Valadares" na edi c;:ao da História da Língua em Banda Desenhada. •F. Bouc;a Brei: Castros da Comarca da Estrada . Edi<;:ao promovida pela S C "Marcial Valadares". •Quarto Crescente (Maio), primeira publicac;ao lusófona estradense. •Clube Fonético Galeao. •ldem. •ldem. •Manifestac;:ao na Estrada convocada pela organizac;:ao Estudantes Independentistas (El): "Polo ensino público. Contra a repressom" (4 de Dezembro).

1997 ·O Juar através dos altos ramos /separatas do Quarto Crescente). 1--~..::..:.._.¡_:::_:_::..::::~::...=..:...::..::...::.=-=--===-=-c...=.:..:..:...:._;~c__:--::----,..,.--'-.,-------'---·-·-~--~

.__ __ __.._·O frarle e a qra/ha Inº 1, Setembro; nº ?. Novembro) 1 1C398

1999

2000

. •O frade e- a g;alha (nº 3, Janeiro/Marc;o; nº 4, Abril/Junho;-nº 5~ Julho/Setembro; nº 6, Outono). •Fo/has de erva (Fumando e Activos), nº 00, publicac;ao editada pela Assembleia Anti-Proibicionisla THC, da Estrada (Abril). ·Nasce a Sociedade Astronómica da Estrada com a publicac;:ao, em portugués, de Eclipse, nº O (Julho) , boletim que desde o nº 1 se denominará Sarqas. •O frade e a gralha (nº 7 , Inverno; nº 8, Primavera; nº 9, Verao; nº 10, Outono). •10º aniversário da S.C. "Marcial Valadares", celebrado com um convív:o em 16

¡__ ___ ..J...::d:.:::e-=D=-e.::.cz=-e::..:m.:..=bc..:ro:...:.. ___ ____ ..... ------ ---------------i ·O frade e a gralha (nº 11 , Inverno).

2001 ·Realizam-se assembleias oara a orqanizai;:ao de urna associai;:ao cult0ral Tabua 2

Durante este período de ensaios associativos cumpre mencionar a fundac;:ao da A.C. "Marcial Valladares" (que nao deve confundir-se com a S.C. "Marcial Valadares") em 1977, S ': rn maior transcendencia. Mais importáncia teve a Associac;:ao Juvenil da Estrada, criada no ano seguinte, de vida um tanto breve mas relei;ante pela sua implantac;ao e nivel de actividade. Assim, esta associac;ao chegou a ter um total de cinqu2nta sócios (35) e sócias (15), que moravam na Estra a (29), em Parada (11), em Taveirós (2), em Vinseiro (2) , em Berres (1), ern Caihobre (1), em Curantes (1), em Lagartons (1), em Montilhom-Souto (1) e em Tras-Monte-Barbude (1 ). Finalmente, a sociedade abrangia urna faixa etária que ia dos 14 aos 29 anos. No grupo promotor figuravam dirigentes do movimento de 1975-76 e, significativamente, tanto o seu primeiro presidente, José André Porto, como o segundo, Manuel Rei Sanmartim, seriam fundadores, em 1990, da S.C. "Marcial Valadares".

A constituic;:ao da A.C. "A Estrada", em 1979, significa ja o inicio de urna nova etapa a da consolidac;:ao associativa. Neste período, a luta pela reintegrac;ao linguística, nao socializada até ao momento, vai fazer-se , por fim , patente dentro do movimento cultural estradense.

Etapa da A.C. "A Estrada" Ao contar com um novo e mais amplo centro social, o Recreo Cultural, quer dizer, 0 Casino da

Estrada, abandonou a sua tradicional sede (na actual µrai;;a da Galiza). Um grupo de pessoas, de direitas e ligadas a essa sociedade, decidiu entao aproveitar o antigo local fundando em 1979 a A.C . "A Estrada". Mas promoveram a admissao macic;:a de sócios e sócias com vistas a assembleia consti uinte e os partidos nacionalistas e de esquerdas chegaram a um acordo de candidatura para a junta directiva.

3 O frade e a gralha • Primavera 2001e Nº 12

Page 3: O frade da gralla

1

Mas a actividade cultural no liceu tinha alguns precedentes, como a edic;:ao da revista do centro, a existencia de um dinámico e interessante grupo de teatro ou a actividade do Seminário de Literatura. O ano, e:í firn, comec;:ara com certa normalidade, mas ia ver-se determinado por dois factores relevantes: a existe11cia de um director abertamente fascista -Mauricio MaYssa-, com o aumento do autoritarismo no liceu, e a presenc;:a de organizac;:óes politicas revolucionárias entre a juventude estudante.

Nesse contexto produziu-se, sem demora, o levantamento e a greve de estudantes que caracterizou a vida do liceu estradense no referido ano lectivo, aquele, precisamente, em que morreu Franco. ,'\s Comissóes Culturais organizam as suas actividades, de que pode ser exemplo o debate sobre, e contra, a Lei Geral de Educac;:ao, e a assembleia de estudantes, que se reunia nas salas, em IGRÓVI ou no monte. elabora a sua plataforma reivindicativa, em •Jue se incluíam pontos como o fim do autoritarismo no ensino. com a demissao do director, ou a coeducac;:ao, e divulga a sua luta noutros liceus do país (de Composteld ou Vigo, por exemplo). O director, desde o comec;:o, facilita os nomes de "elementos perigosos" a Guarda Civil espanhola, com a qua! se chegam a produzir choques.

i'<Jaqueie ano, a revista do centro nao se pode editar. Nos primeiros meses de 1976, a redacc;:ao. composta por estudantes, pretendia publicar, entre outro material, a letra do Hino Galego, mas isto foi categoricamente proibido por Máissa, o que dá urna ideia bastante exacta tanto da situac;:ao como da personalidade do director. Curiosamente, um artigo acerca da obra literária de Méndez Ferrín, preparado por um aluno após ser-lhe sugerido pelo professor Xavier Carro, poderia passar, ainda que o director hesitasse porque, ~oegundo ele próprio disse, era pública a sua defrontac;:ao com "esse senhor". Mas pouco ficava íntegro depois da censura e a revista nao saiu. Deve salientar-se que nenhum dos que na actualidade integram a intelligentsia oficial estradense e que tinham já certa idade naquela altura se dignou sc:'idarizar-se com a publicac;:ao censurada, embora hoje possam cantar livremente o nosso hino.

Quanto ao grupo de teatro, dirigido pela professora Charo Bello!, os actores decidiram o dia da representac;:ao e perante o público que enchia a sala, suspender o acto em sinal de solidariedade com a Juta estudantil antifascita, o que provocou grandes aplausos entre o auditório.

O Seminário de Literatura, entretanto, deve lembrar-se como um espac;:o de certa liberdade e ar fresco. Na sua pequena biblioteca figurava, entre outros volumes, como as obras de Ferrín, a edic;:ao preparada por Rodrigues Lapa das Cantigas d 'escarnho e de mal dizer, que publicara a Galáxia. Nas horas vagas, a sua leitura, amiúde colectiva, era um autentico e úti l divertimento. A nossa lingt.a mostrava-se sem intermediários nem deturpadores. De facto, muitos dos panfletos que se distribuiam ;io liceu estavam escritos em algo bastante mais avanc;:ado do que depois se chamariam mínimos reintegracionistas, quer diz er, num "portugués com xis" .

Enfim, embora Franco já estivesse morto, no ano seguinte (1976-77), a direcc;:ao do centro (o mesmo director e a chefa de estudos, integrante da Opus Dei) pretende represaliar dois alunas nao o~:

adm1tino;; :10 liceu por motivos políticos. A promoc;:áo profissional de MaYssa continuou , que paradoxo! \ t)U

seguramente nao), durante o actual regime, tao democrático, chegando a inspector de ensino da .!·:;;id autonómica.

CRONOLOGIA DA CULTURA ESTRADENSE CONTEMPORANEA ·--¡ Etap'-' Ano Alguns factos relevantes

1975 •Comissóes Culturais no liceu e levantamento estudantil antifascista (1975-76) i Ensai:;::

1976 •Continua o levantamento antifascista no liceu da Estrada. O director censura 1

associativos urna revista e proíbe a publicacao da letra do Hino Galeqo. 1977 ·Fundacao da A.C . "Marcial Valladares". -1 1978 •Fundacao da Associacao Juvenil da Estrada. 1979 •Fundacao da A.C. "A Estrada".

1980 •Conflito linguistica no Colégio Público do Fojo. Manifestac;:ao nacional na Estrada cont_~a a reEressao linguistica. •Nasce a Associac;:om Galega da Língua (AGAL) e Carvalho Calero publica, em

1981 Lisboa, Problemas da Língua Galega, obra utilizada nos debates da Comissao de Línqua da A.C. "A Estrada".

1982 ·Actividade da A.C . "A Estrada" . - ----1

1983 •Actividade da A.C. "A Estrada". (Publica-se no DOG o Decreto Filgueira e a i AGAL edita o Estudo Crítico.)

1984 •Nº O da revista Matacán (A.C. "A Estrada"), com um artigo na norma da AGAL

A.C . ("Breve introdui;:om a gaita", EOr A. Carvalho}. "A Estrada" 1985 ·Nos. 1 e 2 de Matacán, com artigas na norma da AGAL.

1986 •Nº O de Vacilo de Coco 's (A.C. "A Estrada") com poemas na norma da AGAL.

1

Nº 1 com poemas de B. Brecht em portuques padrao. •Nº 2 de Vacilo de Coco ·s com texto na norma da AGAL. Nº 3 corn poema na 1

1987 norma da AGAL. '

i ·Conferencia de Carvalho Calero "A literatura galega e a Estrada'', na A.C. "A . Estrada". 1

1988 •Conflito na A.C. "A Esirada". Rádio Zarabeto. · ·Continua o conflito na A.C. "A Estrada". A actuac;ao da Junta Directiva é

1989 criticada publicamente por um dos seus membros (La Voz de Galicia, 5 de Oezembro). - ·-

O frade e a ~yolha • Primavera 2001 • Nº 12 2

-----~-----~-----c--c--::--c,-,--=--:--=---:-----:----:c-:--------;--·--1

1

1

•Aonde vai a A.C. "A Estrada "?, documento crítico com a evolu9ao da

1

1

1

S.C . "Marcial Valadares"

Lu::;ofof1ia

1990

1991

1992

1993

1994 1995

1996

Associac;:ao Cultural. •Fundac;ao da S.C. "Marcial Valadares". Nº O do Boletim da S.C 1viarcial Va/a dares". •Estrada, Maio: Primeira Assembleía de Associac;oes Reintegracionistas (ARO, CRES, "Meendinho'', "M. Valadares"). f 1

•Participac;:ao da S.C. "Marcial Valadares" num Curso de Diri!!Jentes Associativos, no Mosteiro de Vairao, organizado pelo Instituto da Juventude de Portuqal !Novembro). •"A Estrada P. o Reintegracionismo": campanha da S.C. "Marcial Valadar ' s" por ocasiao das Letras Galegas. ·Assembleia de Associac;óes Reintegracionistas na Estrada (8 de Junho)¡ ·Participac;:ao da S.C. "Marcial Valadares" no Cruzeiro "Embarca-te pela lingua" (Ria de Arousa, Junho). •"O acordo de governo e a normalizac;om lingüística no Concelho da Estrada" 1

(comunicado da S.C. "Marcial Valadares") . •Participai;;ao da S.C. "Marcial Valadares" no 1 Encontro Internacional de Jovens JUV '91 , em Subportela (Viana do Castelo, Agosto). _ •A S.C. "Marcial Valadares" promove a publicac;ao de As Terras da Estrada na Obra de Fermín Bauza Brey (Guia Bibliográfico), de JA Porto e X. Paz Garc;a, por ocasiao do Oia das Letras Galegas. ·Participac;ao da S.C: "Marcial Valadares" na edi c;:ao da História da Língua em Banda Desenhada. •F. Bouc;a Brei: Castros da Comarca da Estrada . Edi<;:ao promovida pela S C "Marcial Valadares". •Quarto Crescente (Maio), primeira publicac;ao lusófona estradense. •Clube Fonético Galeao. •ldem. •ldem. •Manifestac;:ao na Estrada convocada pela organizac;:ao Estudantes Independentistas (El): "Polo ensino público. Contra a repressom" (4 de Dezembro).

1997 ·O Juar através dos altos ramos /separatas do Quarto Crescente). 1--~..::..:.._.¡_:::_:_::..::::~::...=..:...::..::...::.=-=--===-=-c...=.:..:..:...:._;~c__:--::----,..,.--'-.,-------'---·-·-~--~

.__ __ __.._·O frarle e a qra/ha Inº 1, Setembro; nº ?. Novembro) 1 1C398

1999

2000

. •O frade e- a g;alha (nº 3, Janeiro/Marc;o; nº 4, Abril/Junho;-nº 5~ Julho/Setembro; nº 6, Outono). •Fo/has de erva (Fumando e Activos), nº 00, publicac;ao editada pela Assembleia Anti-Proibicionisla THC, da Estrada (Abril). ·Nasce a Sociedade Astronómica da Estrada com a publicac;:ao, em portugués, de Eclipse, nº O (Julho) , boletim que desde o nº 1 se denominará Sarqas. •O frade e a gralha (nº 7 , Inverno; nº 8, Primavera; nº 9, Verao; nº 10, Outono). •10º aniversário da S.C. "Marcial Valadares", celebrado com um convív:o em 16

¡__ ___ ..J...::d:.:::e-=D=-e.::.cz=-e::..:m.:..=bc..:ro:...:.. ___ ____ ..... ------ ---------------i ·O frade e a gralha (nº 11 , Inverno).

2001 ·Realizam-se assembleias oara a orqanizai;:ao de urna associai;:ao cult0ral Tabua 2

Durante este período de ensaios associativos cumpre mencionar a fundac;:ao da A.C. "Marcial Valladares" (que nao deve confundir-se com a S.C. "Marcial Valadares") em 1977, S ': rn maior transcendencia. Mais importáncia teve a Associac;:ao Juvenil da Estrada, criada no ano seguinte, de vida um tanto breve mas relei;ante pela sua implantac;ao e nivel de actividade. Assim, esta associac;ao chegou a ter um total de cinqu2nta sócios (35) e sócias (15), que moravam na Estra a (29), em Parada (11), em Taveirós (2), em Vinseiro (2) , em Berres (1), ern Caihobre (1), em Curantes (1), em Lagartons (1), em Montilhom-Souto (1) e em Tras-Monte-Barbude (1 ). Finalmente, a sociedade abrangia urna faixa etária que ia dos 14 aos 29 anos. No grupo promotor figuravam dirigentes do movimento de 1975-76 e, significativamente, tanto o seu primeiro presidente, José André Porto, como o segundo, Manuel Rei Sanmartim, seriam fundadores, em 1990, da S.C. "Marcial Valadares".

A constituic;:ao da A.C. "A Estrada", em 1979, significa ja o inicio de urna nova etapa a da consolidac;:ao associativa. Neste período, a luta pela reintegrac;ao linguística, nao socializada até ao momento, vai fazer-se , por fim , patente dentro do movimento cultural estradense.

Etapa da A.C. "A Estrada" Ao contar com um novo e mais amplo centro social, o Recreo Cultural, quer dizer, 0 Casino da

Estrada, abandonou a sua tradicional sede (na actual µrai;;a da Galiza). Um grupo de pessoas, de direitas e ligadas a essa sociedade, decidiu entao aproveitar o antigo local fundando em 1979 a A.C . "A Estrada". Mas promoveram a admissao macic;:a de sócios e sócias com vistas a assembleia consti uinte e os partidos nacionalistas e de esquerdas chegaram a um acordo de candidatura para a junta directiva.

3 O frade e a gralha • Primavera 2001e Nº 12

Page 4: O frade da gralla

vencendo nas correspondentes eleii;:oes. Desta maneira foi como a A.C. "A Estrada" se converteu num projecto cultural galego e popular.

O seu novo carácter demonstrou-o com a sua atitude de defesa da nossa cultura, participando activamente na sol idariedade com um mestre do Colégio Público do Fojo , vítima da repressao espanhola por causa do uso nas au las da nossa língua. Assim, em 1980, ao lado doutras organizai;:6es culturais , sociais, sindicais e políticas da Galiza, organizou e convocou urna numerosa manifestai;:ao nacional na Estrada contra a repressao linguística.

No ambiente criado por estas experiencias, sente-se cada dia mais a urgencia de urna norma linguistica científica e culta, como também do ponto de vista nacional demonstrava a fundai;:ao , em 1981 , da Associai;:om Galega da Língua (AGAL). Nesse mesmo ano, o professor Carva lho Calero publica, em Lisboa, Problemas da Língua Galega, volume que reúne impo1iantes artigos sobre política linguistica e que seria utilizado nos debates da Comissao de Língua da A.C. "A Estrada". O aumento da actividade, com efeito, levara a criai;:ao de comissoes, entre as que sobressaem também as de cinema ou de investigai;:ao de tradit;:6es populares, mas, sobretudo, a de guinhol, pois a associai;:ao contou com um grupo de teatro-guinhol único no seu momento na Galiza, percorrendo o território nacional com os seus espectáculos. Conferencias, mostras do livro galego, exposii;:oes de arte, mostras de ceramica galega , cinema, teatro, recitais e concertos de música, cursos, excurs6es culturais , jogos populares (com a consolidai;:ao de um campeonato de chave) ou o 1 Simpósio de Literatura Galega Estradense (1987), sao bom exemplo do dinamismo da A.C. "A Estrada" durante a década de 80, quando a cu ltura nao só era desprezada pela Camara Municipal, mas combatida por perigosa para os interesses da direita e de Espenha_

Singular interesse tem para a normalizai;:ao linguistica na Estrada a edit;:ao, neste periodo , das revistas Matacán (1984-1985) e Vacilo de Coco·s (1986-1987), promovidas pela A.C . "A Estrada", pois todos os números contem trabalhos na norma reintegrada. Assim, em Matacán aparecem os seguintes: "Breve introdui;:om a gaita", por A. Carvalho (nº O, 1984); "Notas pacifistas", por J. A. Porto (nº 1, Janeiro, 1985); "Lembrani;:a de Marcial Valhadares", por Aurora Marco (nº 2, Abril, 1985), e "A i;:anfona, mil anos de história" , seguido de "A nossa música", por A. Carvalho (ibidem) . Quanto a Vacilo de Coco ·s, os traba lhos reintegracionistas publicados sao estes: "Contra-ocie ao primeiro governo da segunda legislatura" e "Parábola o fábula do leom e a vaca" (poemas) (nº O, 1986); "Da violencia" e "Perguntas de um operário letrado" (poemas), por Berto lt Brecht (nº 1, 1986) (estes textos, publicados a iniciativa de Xavier Castellanos, tem interesse especial pelo emprego do padrao portugues); "Umha olhada sobre o 'whist';;"', tradui;:ao de um texto do músico escoces Robin Williamson (nº 2, 1987), e "Eu queria ser filho dum cura" (poema) (nº 3, 1987).

Significativamente, várias foram as ocasi6es em que o professor Carvalho Calero participou em actos Ja A.C. "P, Estrada". Assim, em 14 de 3etembro Je 1987", foi eie que inaugurou o í Simposio de Literatura Galega Estradense com a conferencia "A literatura galega e a Estrada" (publicada na revista Contra!Tefranca, nº 14, 1994)

Contudo, conflitos internos derivados das diversas concepi;:oes do trabalho cultural fazem com que a associai;:ao pade9a algumas crises. No transcurso de urna delas, um grupo de membros funda "Rádio Zarabeto" (107 8) em 1988. Como exemplo da sua programai;:ao citemos a emissao de 21 de Julho cfesse ano, que inicia de manha o programa "Gente Maravilhosa", com urna entrevista que Gonzalo Constenla realiza ao artista Miguel Docampo; segue, de meio-dia a urna da tarde, "Agenda do Livro" , er-; que Pablo Porta fala do escritor Fermin Bouza Álvarez; a programai;:ao da tarde incluí , de 9 a 1 O, "Á Luz do Candil", um espa90 de Luis Torres dirigido ac- mundo rural; de 10 a 11, "O Vento de Kéltia" , a emissao de J . A. Porto dedicada ao mundo céltico, e de 11 a 12, "Paraíso Tropical". O financiamento da emissora realizava-se mediante diversas iniciativas económicas. No entanto, também no seu seío surgiram alguma ~> contradit;:6es de importancia, ao tempo que se agravavam as existentes na A.C. "A Estrada".

Oeste jeito, um membro da junta directiva da associai;:ao cultural, José André Porto, decide exprimir publicamente as suas críticas, censurando o desmantelamento de facto da sociedade e exigindo o seu fortalecimento (La Voz de Galicía, 5-12-89). Em Mari;:o de 1990, o mesmo directivo, ex-secretário da associa9ao, faz público o documento crítico "Aonde vai a Associai;:om Cultural 'A Estrada '?", red igido na norma da AGAL, em que analisa a história associativa, comos seus problemas (esquecimento do "conflito cultural em que estamos imersos") e possíveis solui;:6es ("urna redefinii;:ao do quefazer da Associai;:ao Cultural 'A Estrada' deveria passar pela recuperai;:ao e o est ímulo constante do seu aspecto reivindicativo"). O documento alertava acerca do esmorecimento da A.C . "A Estrada", coma perda mesmo da sua sede social, como na realidade, infelizmente, acabou acontecendo.

A mim tanto se me dá a Junta como a aguilhada,

onde houver um nh o ñ nao vale nada.

Redaci;:ao d ºO frade e a gralha

QUADRAS, por Luísa Pinheiro

Claro como um campo raso , puro como um céu azul, o leste é o nosso ocaso, o nosso norte é o sul.

O frade e a gralha - Apartado 24 36680 ESTRADA (Galiza) [email protected]

O frade e a gralha • Primavera 2001 • Nº 12 4

O frade e a gralha Publicac;ao cultural • Primavera 2001 • Ano IV - Nº 12

A LÍNGUA PORTUGUESA NA CULTURA ESTRADENSE CONTEMPORÁNEA(!) Na cultura estradense contemporanea observa-se urna clara e persisten_te

tendencia para a reintegrac,::ao linguística galeg~-portu~uesa. Por outro lado, a trad19ao reintegracionista estradense é em grande medida autoctone, embora , ev1denteme~te , viesse a confluir até certo ponto com outras correntes operantes na G.allza. Pretendemos aproximar-nos nas seguintes linhas aos aspectos !undamenta1s da normalizac,::ao da língua portuguesa na cultura estradense contemporanea .

Ao estudarmos a cu ltura galega actual , e específicamente a estradense , devemos tra<;;ar urna primeira lir,ha divisória entre 0 regime franquista, por urna parte, e, por outra .. o seu herde1ro_ monarqu1co (Tábua 1 ) . Ambos os regimes coincidem, evidentemente, quanto ao ob1ect1~0 de destru1i;:ao da .nossa língua e cultura e de obstaculizai;:ao do desenvolvimento em l1berdade da_ nai;:ao.galega , mas os melados utilizados diferem num e noutro caso. No primeiro, era a dura repressao o. ~nn_c1pal proced1mento , no

·· d · ·1 - deturpara-0 a corruprao e a compra de consc1enc1as . Por exemplo, esta segun o, a ass1m1 ai;:ao, a .,. · .,. . . . . . · ·d d publicai;:ao, cuja ed ii;:ao e distribuii;:ao sao hoje. poss1ve1s, a111da que d1f1cultosas, sena cons1 era a propaganda ilegal e, portanto, perseguida pelo reg1me do general Franco.

E ETAPAS DA CULTURA ESTRADENSE CONTEMPORANEA ~ ----------~~~~~~~F~r~a~n~q~u~is~m=o~1~1'.';i5:i:;;3~6-:::1~9~7¡:¡:"~)__:_:_:~.:..:..:....___::_:_________ _j v"a da erda

\ "' . - . .. ...... ---Ensaios associativos (1975-1979) lniciati

- --

A.C . "A Estrada" (1979-?) Monarquía Consolidai;:ao

Movimento de Reintegracionismo (1975-?) associativa

reintegrai;:ao (1990-?) (1979-?)

linguistica Lusofonia (1990-?) (1993-?) Tabua 1

esqu (1975- !IJ90)

Iniciativa -da direita O-?) (199

Estabelecida esta primeira segmentai;:ao entre franquismo ( 1936~ 19?5) e monarquia (1975-7 ),

podemos determinar, do ponto de vista da cultura estradense .. urna nova d1v1sao quanto ao segundo dos eríodos, que é 0 que aqui nos interessa. Assim , teriamos 1~1c1alme_nte. urna fase de ensa1os assoc1at1vos i1975-1979) e, a seguir , urna outra de relativa consolidai;:ao asso...:1at1va (1979-?). Da mesrna mane1ra ,

importa discernir, dentro da fase de consolidai;:áo, a etapa que decorre de 1979 a 1990, ass1nalada P':_la t - d A c "A Estrada" e a que se inicia nesse ultimo ano, em que o mov1mento de re111te~rai;:ao

ac uai;:ao a . . · C "M · 1 v 1 d " p - ultimo linguistica se independiza organizativamente com a fundai;:ao da S. - arc1a • a .ª ares - º1 · ainda é possível segmentar a etapa a que acabamos de al.udir, a de. independencia do. mov1mento de reintegrai;:ao noutros dois periodos: 0 reintegracionista propnamente d1to_ (1990-?) e o lusofono (1993-?). É significati~o verificar, por outro lado, que no período 1975-1990 a 1n1c1aliva cult~ra l pertenceu na Estrada a esquerda, ao passo que, a partir da década de 90, a direita -o PP, desde a Cam~r_a Mun1c1pal e aliado com certo "galeguismo" cultura lista- está a exercer o controlo quase total _do .mov.niento cultural estradense. Natura lmente, toda esta period izai;:ao apenas pretende servir de referenc1~ para o estudo da cultura estradense contemporanea, devendo ser relativizada, especialmente quanto as datas referidas (Tábua 1).

Fím do franquismo e ensaios associativos _ -· ___ . . Nos come9os do ano lectivo 1975-76, criaram-se pm estudantes do 11.ceu. da t:: ~t rad a, o unico

existente naquela altura , urnas Comiss6es Cultura is que t1nham como ~b1ect1vo , naturalm.ent.e, a or aniza<;;ao de actividades de tipo cultural mas também a direci;:§o da lula pol1t1ca .contra o autontansn_:io nog ensino e contra 0 regime fascista . Este período interessa-nos de mane1ra especial porque a 1nst1tu1i;:ao daquelas Comiss6es Culturais pode . considerar~se , ? de certa mane1ra , como 1111c10 da etapa contemporanea da cultura estradense (Tabua 2, paginas ,_-3) .