nutricao mineral de plantas
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,CURSO DE PS-GRADUAO LATO SENSU (ESPECIALIZAO) A DISTNCIA
SOLOS E MEIO AMBIENTE
NUTRIO MINERAL DE PLANTAS
Valdemar Faquin
Universidade Federal de Lavras - UFLA Fundao de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extenso - FAEPE
Lavras MG
-
PARCERIA
Universidade Federal de Lavras - UFLA
Fundao de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extenso - FAEPE
REITOR
Antnio Nazareno G. Mendes
VICE-REITOR
Ricardo Pereira Reis
DIRETOR DA EDITORA
Marco Antnio Rezende Alvarenga
PR-REITOR DE PS-GRADUAO
Marcelo Silva de Oliveira
PR REITOR ADJUNTO DE PS-GRADUAO LATO SENSU
Joel Augusto Muniz
COORDENADOR DO CURSO
Jos Maria de Lima
PRESIDENTE DO CONSELHO DELIBERATIVO DA FAEPE
Edson Amplio Pozza
EDITORAO
Centro de Editorao/FAEPE
IMPRESSO
Grfica Universitria/UFLA
Ficha Catalogrfica preparada pela Diviso de Processos Tcnicos da
da Biblioteca Central da UFLA
Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzida,
por qualquer meio, sem a prvia autorizao.
Faquin, Valdemar Nutrio Mineral de Plantas / Valdemar Faquin. -- Lavras: UFLA / FAEPE, 2005.
p.: il. - Curso de Ps-Graduao Lato Sensu (Especializao) a Distncia: Solos e Meio Ambiente.
Bibliografia.
1. Planta. 2. Nutrio Mineral. 3. Exigncia nutricional. 4. Solo. 5. Fertilidade. 6.
Produo Agrcola. 7. Qualidade. I. Faquin V. II. Universidade Federal de Lavras. III. Fundao de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extenso. IV. Ttulo.
CDD 581.1335
631.81
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SUMRIO
1 INTRODUO .......................................................................................................... 5
1.1 COMPOSIO ELEMENTAR DA PLANTA ........................................................... 5
1.2 SISTEMA SOLO-PLANTA ..................................................................................... 6
1.3 OS ELEMENTOS ESSENCIAIS ............................................................................. 7
1.4 REAES ENTRE NUTRIO MINERAL, FERTILIDADE DO SOLO E
ADUBAO ........................................................................................................... 9
2 ABSORO, TRANSPORTE E REDISTRIBUIO .............................................. 13
2.1 ABSORO INICA RADICULAR ...................................................................... 13
2.1.1 Introduo ......................................................................................................... 13
2.1.2 O Contato do on com a raiz.............................................................................. 15
2.1.3 Mecanismos de absoro.................................................................................. 16
2.1.4 Cintica da absoro inica .............................................................................. 24
2.1.5 Papel do clcio .................................................................................................. 36
2.1.6 Fatores que afetam a absoro inica radicular................................................ 37
2.2 ABSORO INICA FOLIAR .............................................................................. 49
2.2.4 Velocidade de absoro e mobilidade dos nutrientes na floema...................... . 55
2.2.5 Fatores que afetam a absoro foliar ................................................................ 56
2.3 TRANSPORTE E REDISTRIBUIO .................................................................. 69
3 EXIGNCIAS NUTRICIONAIS E FUNES DOS NUTRIENTES ......................... 73
3.1 EXIGNCIAS NUTRICIONAIS ............................................................................. 73
3.2 FUNES DOS NUTRIENTES ........................................................................... 80
4 ELEMENTOS TEIS E ELEMENTOS TXICOS ................................................. 140
4.1 INTRODUO ................................................................................................... 140
4.2 ELEMENTOS TEIS .......................................................................................... 140
4.2.1 Sdio ............................................................................................................... 140
4.2.2 Silcio ............................................................................................................... 142
4.3 ELEMENTOS TXICOS .................................................................................... 143
-
4.3.1 Alumnio .......................................................................................................... 146
4.3.2 Cdmio ............................................................................................................ 148
4.3.3 Chumbo ........................................................................................................... 148
4.3.4 Bromo .............................................................................................................. 150
4.3.5 Iodo ................................................................................................................. 150
4.3.6 Flor ................................................................................................................ 151
4.3.7 Selnio ............................................................................................................ 151
4.3.8 Cromo ............................................................................................................. 152
5 NUTRIO MINERAL E QUALIDADE DOS PRODUTOS AGRCOLAS ............ 153
5.1 INTRODUO ................................................................................................... 153
5.2 EFEITO DOS NUTRIENTES NA QUALIDADE DOS PRODUTOS
AGRCOLAS ...................................................................................................... 157
5.2.1 Efeito sobre tubrculos, razes e produtoras de acar .................................. 157
5.2.2 Efeito sobre produtoras de gros (cereais e oleaginosas) .............................. 159
5.2.3 Efeito sobre as hortalias e frutas ................................................................... 165
5.3 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................... 173
LITERATURA CITADA .............................................................................................. 175
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1 INTRODUO
1.1 COMPOSIO ELEMENTAR DA PLANTA
A anlise elementar da matria seca da planta mostra que cerca de 90% do total
de elementos corresponde ao C, O e H; o restante, aos minerais. Este fato bem
ilustrado na Tabela 1.1, para a cultura da soja.
TABELA 1.1 Composio elementar de uma cultura de soja (31 de gros e 51 de restos, matria seca)
Elemento Kg/h Elemento g/ha
Carbono (C) 3.500 Boro (B) 100
Hidrognio 450 Cloro (Cl) 10.000
Oxignio (O) 3.300 Cobre (Cu) 100
Nitrognio (N) 320 Ferro (Fe) 1.700
Fsforo (P) 30 Mangans (Mn) 600
Potssio (K) 110 Molibdnio (Mo) 10
Clcio (Ca) 80 Zinco (Zn) 200
Magnsio (Mg) 35 Cobalto (Co) 5
Enxofre (S) 2 - -
Outros (*) 138 - -
(*) Alumnio (Al), Silcio (Sl), Sdio (Na), etc.
Fonte: MALAVOLTA (1980).
So trs os meios que contribuem com elementos qumicos para a composio
das plantas:
ar C (como CO2)
gua H e O
solo os demais = elementos minerais, aqui simbolizados como M.
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Do ponto de vista quantitativo, o solo o meio menos importante no fornecimento
de elementos s plantas; entretanto, o mais facilmente modificvel (torn-lo produtivo)
pelo homem, tanto no aspecto fsico (arao, gradagem, drenagem) quanto no qumico
(calagem e adubao). E a calagem e a adubao so a maneira mais rpida, mais
barata e maior de que se dispe para aumentar a produo de alimentos, fibras e
energia. Como o homem come planta ou planta transformada e a planta tem que se
alimentar, somente alimentando a planta adequadamente possvel alimentar o homem
e ainda fornecer-lhe energia alternativa e a vestimenta que necessita. E isto justifica por
que estudar Nutrio Mineral de Plantas.
Portanto, o estudo da Nutrio Mineral de Plantas tem muita relao com o da
Fertilidade do Solo e com o da Fertilidade do Solo com o de Adubos e Adubao.
1.2 SISTEMA SOLO-PLANTA
Como visto, o solo o meio que atua como reservatrio de minerais necessrios
s plantas. O esquema abaixo uma viso geral de compartimentos e vias de
comunicao ou de transferncia de um elemento (M), geralmente um nutriente de
planta. O sistema aberto em que os M so constantemente removidos de um lado, a
uma fase slida (reservatrio) e acumulados no outro, a planta:
M (adubo)
M (fase slida) M (soluo) M (raiz) M (parte area)
FASE SLIDA = RESERVATRIO
= matria orgnica + frao mineral Soluo = compartimento para a absoro radicular
Reaes de transferncia:
fase slida soluo = disponibilidade dessoro mineralizao da matria orgnica
soluo fase slida = adsoro fixao imobilizao
soluo raiz = absoro
raiz soluo = troca, excreo, vazamento
raiz parte area = transporte a longa distncia
parte area raiz = redistribuio
-
Introduo
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A soluo do solo o compartimento de onde a raiz retira ou absorve os
elementos essenciais. Quando a fase slida (matria orgnica + minerais) no
consegue transferir para a soluo do solo quantidades adequadas de um nutriente
qualquer (M), necessria sua aplicao mediante o emprego do fertilizante, M
(adubo), que contm o elemento em falta. Isto significa que a prtica da adubao,
consiste em cobrir a diferena entre a quantidade do nutriente exigida pela planta e o
fornecimento pelo solo, multiplicado por um fator K, cujo valor numrico sempre maior
que 1, para compensar as perdas do adubo.
1.3 OS ELEMENTOS ESSENCIAIS
Somente a anlise qumica da planta no suficiente para o estabelecimento da
essencialidade de um elemento. As plantas absorvem do solo, sem muita
discriminao, os elementos essenciais, os benficos e os txicos, podendo estes
ltimos, inclusive, lev-las morte. Todos os elementos essenciais devem estar
presentes nos tecidos das plantas, mas nem todos os elementos presentes so
essenciais. Segundo MALAVOLTA, 1980 (citando Arnon e Stout, 1939 e Ingen-Housz,
sculo XIX), um elemento considerado essencial quando satisfaz dois critrios de
essencialidade:
Direto - o elemento participa de algum composto ou de alguma reao, sem
o qual ou sem a qual a planta no vive;
Indireto - trata-se basicamente de um guia metodolgico:
na ausncia do elemento a planta no completa seu ciclo de vida;
o elemento no pode ser substitudo por nenhum outro;
o elemento deve ter um efeito direto na vida da planta e no exercer
apenas o papel de, com sua presena no meio, neutralizar efeitos
fsicos, qumicos ou biolgicos desfavorveis para a planta.
A Tabela 1.2, apresenta cronologicamente um breve histrico da descoberta e
demonstrao da essencialidade dos elementos. Alm do C, O e H (orgnicos), treze
elementos (minerais) so considerados essenciais para o desenvolvimento das plantas,
sendo estes divididos por aspectos puramente quantitativos em dois grupos:
Macronutrientes: N, P, K, Ca, Mg e S
Micronutrientes: B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo e Zn
Alguns elementos podem afetar o crescimento e desenvolvimento das plantas,
embora no se tenha determinado condies para caracteriz-los como essenciais.
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MARSCHNER (1986) inclui nesta categoria o sdio, silcio, cobalto, nquel, selnio e
alumnio. O Co essencial para a fixao biolgica do N2 em sistemas livres e
simbiticos (MARSCHNER,1986) e a essencialidade do Si (TAKAHASHI &
MIYAKE,1977) e do Ni (BROWN et al.,1987) tem sido proposta.
TABELA 1.2 Descoberta e demonstrao da essencialidade dos elementos
Elemento Descobridor Ano Demonstrao da
Essencialidade Ano
C Xx Xx De Saussure 1804
H Cavendish 1766 De Saussure 1804
O Priestley 1774 De Saussure 1804
N Rutherford 1772 De Sassure 1804
P Brand 1772 Ville 1860
S Xx Xx Von Sachs, knop 1865
K Davy 1807 Von Sachs, knop 1860
Ca Dany 1807 Von Sachs, knop 1860
Mg Dany 1808 Von Sachs, knop 1860
Fe Xx Xx Von Sachs,knop 1860
Mn Scheele 1744 McHargue 1922
Cu Xx Xx Sommer 1931
Lipman & Mac Kinnon 1931
Zn Xx Xx Sommer & Lipman 1926
Mo Hzelm 1782 Arnon & Stout 1939
B Gay Lussac & Thenard 1808 Sommer & Lipman 1926
Cl Schell 1774 Broyer et al 1954
FONTE: GLASS (1989), EM BATAGLIA ET AL.,(1992).
Os macronutrientes tm, em geral, seus teores expressos em percentagem (%) e
os micronutrientes em partes por milho (ppm), todos na forma elementar. A nica
distino na classificao entre macro e micronutrientes a concentrao exigida pelas
plantas. Os macronutrientes ocorrem em concentraes de 10 a 5.000 vezes superior
dos micronutrientes. EPSTEIN (1975) apresentou as concentraes mdias dos
nutrientes minerais na matria seca, suficientes para um adequado desenvolvimento
das plantas (tabela 1.3); embora deve-se ter presente, porm, que muita variao existe
dependendo da planta e do rgo analisado.
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Introduo
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TABELA 1.3 Concentrao mdia dos nutrientes minerais na matria seca suficientes para um adequado desenvolvimento das plantas
Elementos Concentrao na matria seca Nmero relativo de tomos
moles/g Ppm
Mo 0,001 0,1 1
Cu 0,10 6 100
Zn 0,30 20 300
Mn 1,0 50 1000
F 2,0 100 2000
B 2,0 20 2000
Cl 3,0 100 3000
%
S 30 0,1 30000
P 60 0,2 60000
Mg 80 0,2 80000
Ca 126 0,5 125000
K 250 1,0 250000
N 1000 1,5 1000000
Fonte:EPSTEIN (1975).
Segundo MALAVOLTA (1980), s vezes os micronutrientes so referidos como
oligoelementos, elementos traos, elementos menores, ou microelementos; tais
expresses no devem ser utilizadas pelos seguintes motivos: oligo quer dizer raro e
os micronutrientes so comuns a todas as planta superiores: embora ocorram em
pequena proporo, o resultado pode ser quantificado os teores esto acima do que
se considere como traos; no so menores nas suas funes pois o crescimento e a
produo podero ser limitados (diminudos ou impedidos) tanto pela falta de Mo como
pela de N; microelemento qualquer elemento, nutriente ou no, que aparea em
proporo considerada como muito pequena. Do mesmo modo macroelemento no
sinnimo de macronutriente: o arroz e a cana-de-acar contm altas propores de Si
que no essencial.
1.4 REAES ENTRE NUTRIO MINERAL, FERTILIDADE DO SOLO E ADUBAO
A adubao pode ser definida como a adio de elementos (nutrientes) de que a
planta necessita para viver, com a finalidade de obter colheitas compensadoras de
produtos de boa qualidade nutritiva ou industrial, provocando-se o mnimo de
perturbao no ambiente. Em resumo, sempre que o fornecimento dos nutrientes pelo
solo (reservatrio) for menor que a exigncia da cultura, torna-se necessrio recorrer ao
uso de adubos.
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Segundo MALAVOLTA (1987), qualquer que seja a cultura, quaisquer que sejam
as condies de solo e de clima, na prtica da adubao procura-se responder a sete
perguntas:
1) qu? qual nutriente est deficiente; 2) quanto? quantidade necessria; 3) quando? poca em que deve ser fornecido; 4) como? maneira como tem que ser aplicado; 5) pagar? aspecto econmico; 6) efeito na qualidade do produto? 7) efeito na qualidade do ambiente?
A resposta a cada pergunta demanda experimentao e pesquisa nas reas de
nutrio mineral, fertilidade do solo e adubao. Os conhecimentos adquiridos sero
difundidos e aplicados pelo agricultor; novas indagaes estabelecero um mecanismo
de realimentao. A Figura 1.1 ilustra as relaes entre as reas, com o objetivo de
responder s questes formuladas, a saber:
FIGURA 1.1 As relaes entre nutrio de plantas, fertilidade do solo e adubao (MALAVOLTA, 1976).
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Introduo
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1) Determinao dos elementos limitantes
- sintomas de carncia: anormalidades visveis e especficas do elemento em
falta no solo;
- anlise do solo: avaliao quantitativa do elemento em falta;
- diagnose foliar: a composio da folha indica o elemento que falta no solo;
- ensaios de adubao: identificao do elemento em falta atravs da resposta
diferencial da planta aplicao de adubos.
2) Estabelecimento das quantidades necessrias
- exigncias quantitativas: a anlise mineral da planta d as quantidades dos
elementos exigidos;
- anlise do solo: calibradas com ensaios de adubao pode dar as quantidades
a aplicar;
- ensaios de adubao: determinao das doses necessrias por interpolao ou
extrapolao dos resultados obtidos em experimentos, nos quais se verificou a resposta
da planta adio de quantidades diferentes de fertilizante ou corretivo.
3) poca de aplicao
- anlise peridica da planta: determinao dos perodos de maior exigncia;
- ensaios de adubao: fornecimento dos elementos em pocas diversas,
seguido de observao do seu efeito na produo e na composio da planta.
4) Localizao
- distribuio do sistema radicular: determinao da distribuio das razes
absorventes por observao direta ou por medida da absoro do elemento colocado
em diferentes posies no solo;
- comportamento do elemento no solo: mecanismos que determinam o contacto
entre o elemento e a raiz, como preliminar obrigatria para sua absoro;
- ensaios de adubao: absoro do elemento colocado em posies diferentes
relativamente semente ou planta, medida pela colheita ou pela anlise da cultura.
5) Rentabilidade
- anlises da relao entre preo de adubo e lucro obtido: dados de ensaios
de adubao com doses crescentes do elemento.
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6) Efeito na qualidade do produto colhido
- anlises qumicas ou sensoriais: alteraes provocadas pelo adubo na
composio do produto ou na sua aceitao pelo consumidor.
7) Efeito na qualidade do ambiente
- observaes e anlises de solo, gua e ar: alteraes nos teores de
constituintes normais, aparecimento de produtos estranhos; seu efeito no homem e no
animal.
Considerando-se a adubao como um fim, verifica-se, pelo exposto, que para
ating-lo h necessidade de um esforo interdisciplinar e harmonioso entre nutrio de
plantas e fertilidade do solo.
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2 ABSORO, TRANSPORTE E
REDISTRIBUIO
2.1 ABSORO INICA RADICULAR
2.1.1 Introduo
Algumas definies so necessrias:
Absoro processo pelo qual o elemento M passa do substrato (solo, soluo
nutritiva) para uma parte qualquer da clula (parede, citoplasma, vacolo).
Transporte ou translocao a transferncia do elemento, em forma igual ou
diferente da absorvida, de um rgo ou regio de absoro para outro qualquer (p. ex. da
raz para a parte area).
Redistribuio a transferncia do elemento de um rgo ou regio de acmulo
para outro ou outra em forma igual ou diferente da absorvida (p. ex, de uma folha para um
fruto; de uma folha velha para uma nova).
Pensou-se durante muito tempo que os elementos contidos na soluo do solo
fossem absorvidos por simples difuso, caminhando a favor de um gradiente de
concentrao, indo de um local de maior (a soluo externa) para outra de menor (o suco
celular) concentrao. Quando, entretanto, comparam-se as anlises do suco celular com
a do meio em que viviam diferentes espcies, verificou-se que, de modo geral, a
concentrao interna dos elementos era muito maior daquela do meio externo e que havia
uma certa seletividade na absoro dos elementos. Isto o que mostra a Tabela 2.1.
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TABELA 2.1 Relao entre a concentrao de ons no suco celular e no meio
Nitella clavata Valonia macrophysa
on A. B. Relao A. B. Relao
gua doce Suco celular B/A gua do mar
Suco celular B/A
-------------- Mm -------------- -------------- Mm --------------
Potssio 0,05 54 1.080 12 500 42
Sdio 0,22 10 45 498 90 0,18
Clcio 0,78 10 13 12 2 0,17
Cloro 0,93 91 98 580 597 1
Fonte: Hoagland (1948), em MARSCHNER (1986).
Em plantas superiores, embora em menor intensidade, a seletividade tambm uma
caracterstica do processo de absoro inica (Tabela 2.2.). A concentrao de potssio,
fosfato e nitrato reduz marcantemente com o tempo, em relao ao sdio e sulfato. A taxa
de absoro, especialmente do K e do Ca, difere entre as espcies e a concentrao
inica interna geralmente maior que a do meio; isto mais evidente no caso do
potssio, fosfato e nitrato.
TABELA 2.2 Mudanas na concentrao de ons na soluo e a concentrao no suco celular das razes de milho e feijo
Concentrao externa Concentrao no
on Aps 4 dias Suco celular
Inicial Milho Feijo Milho Feijo
----------------------------------- mM -----------------------------------
Potssio 2,00 0,14 0,67 160 84
Clcio 1,00 0,94 0,59 3 10
Sdio 0,32 0,51 0,58 0,6 6
Fosfato 0,25 0,06 0,09 6 12
Nitrato 2,00 0,13 0,07 38 35
Sulfato 0,67 0,61 0,81 14 6
Fonte: MARSCHNER (1986).
Os resultados apresentados nas tabelas demonstram que a absoro inica
caracterizada por:
Seletividade certos elementos minerais so absorvidos preferencialmente;
Acumulao a concentrao dos elementos, de modo geral, muito maior no suco
celular do que na soluo externa;
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Absoro, Transporte e Redistribuio
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Gentipo existem diferenas entre espcies de plantas nas caractersticas de
absoro.
Assim, algumas questes podem ser formuladas: como a clula ou a planta regula a
absoro inica? Como os ons ultrapassam as membranas plasmticas (plasmalema e
tonoplasto) e contra um gradiente de concentrao? Estes aspectos sero discutidos
ainda neste captulo.
2.1.2. O Contato do on com a raiz
Para que o on seja absorvido necessrio que ocorra o estabelecimento do contato
on-raiz, que se faz atravs dos seguintes processos:
Intercepo radicular medida que a raiz se desenvolve, entra em contato com
ons da fase lquida e slida do solo. A contribuio deste processo muito pequena e a
quantidade proporcional relao existente entre a superfcie das razes e a superfcie
das partculas do solo.
Fluxo de massa o movimento do on em uma fase aquosa mvel (= soluo do
solo), devido a um gradiente de tenso da gua adjacente (mais mida). Os elementos
dissolvidos so assim carregados pela gua para a superfcie radicular por de massa; a
quantidade de M que pode entrar em contato com a raiz por este processo :
Qfm = [M] x V
Onde:
[M] = concentrao do elemento na soluo do solo
V = volume de gua absorvido pela planta
Neste processo, os nutrientes so transportados no solo a maiores distncias.
Difuso o movimento do on em um fase aquosa estacionria a curtas distncias
e obedece a lei de Fick:
dx
dcDF
onde:
F = velocidade de difuso (quantidade difundida, em moles, por unidade de seco
na unidade de tempo)
dc/dx = gradiente de concentrao
c = concentrao (moles/l)
x = distncia (cm)
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D = coeficiente de difuso
Maiores detalhes do transporte de nutrientes no solo por estes processos so dados
no Mdulo 3 deste curso (Fertilidade do Solo: Dinmica e Disponibilidade de
Nutrientes).
A contribuio relativa dos trs processos no suprimento de nutrientes para o milho
dada na Tabela 2.3. O fluxo de massa importante para o N, Ca, Mg, S e
micronutrientes, e a difuso o principal processo de contato do P e K do solo com as
razes. Estes processos so alguns dos fatores que determinam a localizao do adubo
em relao semente ou planta. Os adubos contendo os elementos que se movem por
difuso, por exemplo, devem ser localizados de modo a garantir o maior contato com a
raiz, pois caso contrrio, devido ao pequeno movimento, as necessidades da planta
podero no ser satisfeitas.
TABELA 2.3 Contribuio relativa da intercepo radicular, do fluxo de massa e da difuso no fornecimento de nutrientes para as razes do milho num solo barro limoso
Quantidades fornecidas por
on Absoro Intercepo Fluxo de massa Difuso
---(Kg/ha)--- -------------------- (Kg/ha) --------------------
N(NO- 3 170 2 168 0
P(H2PO4) 35 0,9 1,8 36.3
K(K ) 175 3,8 35 136
Ca(Ca+ ) 35 66 175 0
Mg(Mg+ ) 40 16 105 0
S(SO4- ) 20 1 19 0
Na(Na+ ) 16 1,6 18 0
B(H3BO3) 0,20 0,2 0,70 0
Cu(Cu+ ) 0,16 0,01 0,35 0
Fe(Fe+ ) 1,90 0,22 0,53 0,17
Mn(Mn+ ) 0,23 0,11 0,05 0,08
Mo(HMO4) 0,01 0,001 0,02 0
Zn(Zn+ ) 0,30 0,11 0,53 0
Colheita total Parte area- 15.680 Kg/ha Gros-9.470 Kg/ha Fonte: Barber (1966), MALAVOLTA (1980).
2.1.3 Mecanismos de absoro
Quando se colocam razes destacadas para absorver ons de uma soluo em
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Absoro, Transporte e Redistribuio
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funo do tempo, encontra-se freqentemente os resultados representados na Figura 2.1,
onde se estudou a absoro de fsforo e clcio pelo arroz e feijoeiro (de 30 minutos at 4
horas).
FIGURA 2.1 Curva de absoro de clcio e fsforo radioativos por razes destacadas de arroz e de feijoeiro
(MALAVOLTA et al, 1989).
No caso dos dois elementos, particularmente no do clcio, verifica-se que as curvas
desdobram-se em dois segmentos: o primeiro deles corresponde a um perodo mais
rpido de absoro que vai at 30-60 minutos; o segundo, que dura at o fim do perodo
experimental, mais lento.
Os dois segmentos definem dois tipos de mecanismo de absoro:
Passivo corresponde ocupao do apoplasto radicular; o elemento entra sem
que a clula necessite gastar energia, deslocando-se de uma regio de maior
concentrao, a soluo externa, para outra de menor concentrao, a qual corresponde
parede celular, espaos intercelulares e superfcie externa do plasmalema; essas
regies delimitam o Espao Livre Aparente (ELA) e a quantidade de M nele contida
corresponde a uns 15% do total absorvido; essa entrada processa-se por fluxo de massa,
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EDITORA - UFLA/FAEPE - Nutrio Mineral de Plantas
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difuso, troca inica, equilbrio de Donnan; os mecanismos passivos rpidos e reversveis,
isto , o elemento M contido no ELA pode sair dele.
O ELA compreende o Espao Livre da gua, no qual os ons so livremente
acessveis e o Espao Livre de Donnan onde, devido presena de cargas negativas
originadas de radicais carboxlicos (R-COO-) dos componentes da parede celular, os
ctions podem acumular por troca inica e os nions so repelidos. A distribuio de ons
no Espao Livre de Donnan a mesma que ocorre na superfcie carregada
negativamente das partculas de argila no solo. Os ctions divalentes apresentam uma
troca preferencial nestes stios. As plantas diferem consideravelmente na capacidade de
troca de ctions (CTC) nas suas razes: 10-30 meg/100 g de raiz seca no caso das
monocotiledneas e 20-90 no caso das dicotiledneas.
Embora a CTC no seja um passo essencial na passagem dos ons atravs da
membrana plasmtica para o citoplasma, a mesma apresenta um efeito indireto que o
aumento da concentrao de ctions no apoplasto. Como resultado, uma correlao
positiva tem sido observada entre a CTC de razes e a absoro de Ca2+ e K+ em
diferentes espcies de plantas.
Ativo trata-se da ocupao do simplasto radicular e corresponde ao segundo
segmento na figura. Faz com que M atravesse a barreira lipdica (gordurosa) da
plasmalema, atingindo o citoplasma. Deste, o elemento pode chegar ao vacolo depois de
vencer a outra barreira representada pelo tonoplasto. Para isso, a clula tem que gastar
energia (ATP) fornecida pela respirao, uma vez que M caminha de uma regio de
menor concentrao (ELA) para outra de maior concentrao. O mecanismo ativo lento
e irreversvel; M s deixa o citoplasma ou o vacolo se as membranas forem danificadas.
Portanto, as membranas plasmticas so as responsveis pela seletividade na
absoro de ctions e nions e constituem-se numa efetiva barreira para a difuso de
ons para o citoplasma (influxo) ou no sentido contrrio, do citoplasma para o ELA
(efluxo). A figura 2.2, mostra esquematicamente uma clula vegetal o que facilita o
entendimento.
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Absoro, Transporte e Redistribuio
19
FIGURA 2.2 Representaco esquemtica dos componentes da clula vegetal
As membranas plasmticas so estruturas complexas intricadas de protenas,
lpdeos e, em menor proporo, de carboidratos, cujas molculas apresentam grupos
hidroflicos (grupos OH, NH2, fosfato, carboxlico) e regies hidrofbicas (cadeias de
hidrocarbonetos). Os componentes ligam-se por pontes de hidrognio, ligaes
eletrostticas e hidrofbicas. Em mdia a composio das membranas de
aproximadamente 55% de protenas (estrutural e enzimas de transporte), 40% de lipdeos
e 5% de carboidratos (MENGEL & KIRKBY, 1987).
As protenas no tm somente uma funo estrutural, mas freqentemente so
enzimas e, assim, responsveis por reaes bioqumicas. Aquelas que se estendem
atravs das membranas formam canais entre as duas faces (interna e externa), o que
pode ser importante para a passagem de partculas hidroflicas, como molculas de gua
e ons inorgnicos.
Os lipdeos tm a funo de impedir a difuso de solutos hidroflicos, p.ex., ons
inorgnicos, aminocidos e acares, atravs das membranas. Os lipdeos mais
importantes das membranas so os fosfolipdeos, glicolipdeos e esteris. O grupo fosfato
dos fosfolipdeos podem ligar-se eletrostaticamente ao grupo NH3+ das protenas, entre si
ou com grupos carboxlicos das protenas atravs das pontes de clcio. Assim, o CA
assume particular importncia na manuteno da estrutura e funcionamento das
membranas, como ser discutido no tem 2.1.5 deste captulo.
Resumindo, no processo ativo de absoro o on deve vencer as barreiras da
plasmalema e do tonoplasmo e d-se contra gradiente de concentrao; lento,
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irreversvel e necessita da introduo de energia. Recorda-se na Tabela 2.2, por exemplo,
que a concentrao de K no suco celular de razes de milho 80 vezes maior do que no
meio externo. Em contraste, a concentrao de sdio apresenta pouca diferena entre os
dois meios.
O mecanismo (ou mecanismos) para a absoro ativa, metablica, ainda no est
totalmente esclarecido. aceito que um on ou uma molcula para serem absorvidos
requerem uma ligao especfica com um carregador, e existe uma exigncia direta ou
indireta de energia para que o transporte seja realizado.
Atualmente aceito que a membrana biolgica contm molculas chamadas
ionforos, as quais tm um importante papel no transporte de ons atravs da membrana.
Os ionforos so molculas orgnicas com alto peso molecular, que so capazes de
formar complexos solveis com lipdeos e ctions. Nestes complexos o ction
aprisionado no interior da molcula orgnica por ligaes dipolares com tomos de
oxignio de grupos carbonil, carboxil, lcool e ter.
Na Figura 2.3. est apresentada a estrutura do ionforo valinomicina, produzido pela
espcie Streptomyces (MENGEL & KIRKBY,1987). A molcula consiste de trs
seqncias de lactato-valina-isohidroxivaleriato-valina.
FIGURA 2.3 Estrutura do complexo valinomicina-K+ (MENGEL & KIRKBY, 1987).
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Absoro, Transporte e Redistribuio
21
A ligao carregador-on, transporte e consumo de energia na forma de ATP, que
regenerado do ADP + Pi via respirao, esto apresentados na Figura 2.4, conforme
MARSCHNER (1986).
FIGURA 2.4 Modelo de um carregador de membrana transportador de ons
(A),associado ao gasto de energia (fosforilao oxidativa) e ao transporte inico (B) (MARSCHNER,1986).
Bomba Inica e ATPase
A bomba inica, um mecanismo associado atividade de ATPases de membranas,
tem sido proposto para avaliar a energia gasta e o transporte inico ativo atravs de
membranas (MENGEL & KIRKBY,1987).
As ATPases, localizadas nas membranas, e ativadas por ctions com diferentes
especificidades (uns mais, outros menos), so capazes de desdobrar o ATP em ADP
mais P-inorgnico, quando h liberao de energia para ser utilizada no transporte inico.
Pode-se indicar o desdobramento da seguinte maneira:
HPiADPATP ATPase
Um esquema hipottico mostrando os possveis mecanismos de ao de uma
ATPase est apresentado na Figura 2.5.
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FIGURA 2.5 Esquema hipottico de uma bomba de H+ (ATPase), bombeando 2 H+ por 1 ATP para fora da clula
As reaes admitidas podem ser apresentadas assim:
X- + JO- + 2H+ HX + JOH (1)
HX + JOH + ATP X-J + ADP + Pi (2)
X-J + H2O HX + JOH (3)
HX + JOH X- + JO- + 2H+ (4)
A enzima induz a um gradiente de pH atravs da membrana pelo bombeamento do
H+ para fora da clula. Por este processo, o lado interno (citoplasma) torna-se
relativamente mais negativo ou alcalino (-) que o externo (+). O potencial resultante
consiste de componentes eletroqumicos que podem ser descritos pela equao:
Pmf = pH +
onde: Pmf = fora motriz protmica ou gradiente eletroqumica do H+ Atravs da membrana.
pH = diferena na concentrao de H+ nos dois lados da membrana
= diferena no potencial eltrico atravs da membrana
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Absoro, Transporte e Redistribuio
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A fora motiva protnica (Pmf) a fora pela qual os prtons so transportados
contra um gradiente eletroqumico atravs da membrana. O processo de transporte tem
todas as caractersticas de transporte ativo. A energia necessria derivada do ATP e
tem-se mostrado que o potencial da bomba de H+ diretamente dependente do
suprimento de ATP. Supe-se que a expulso de 2 H+ consome uma molcula de ATP.
Basicamente, a bomba de prtons induz a um gradiente de pH atravs da membrana e o
mecanismo reverso produz ATP nos tilacides das membranas dos cloroplastos ou nas
membranas internas da mitocndria. O princpio da bomba de prtons, como mostrado no
esquema hipottico da Figura 2.5, est estreitamente relacionado com o processo de
fosforilao de MITCHELL (1966). No primeiro passo, carregadores X- e JO- da
membrana reagem com H+ do citoplasma (reao 1). Os produtos resultantes HX e JOH
induzem hidrlise do ATP (reao 2) para a formao do complexo X-J. Este complexo
hidrolisado (reao 3) em dois compostos HX e JOH, os quais so desprotonados do
outro lado da membrana (reao 4). Ocorre ento a formao novamente de X- e JO- e
inicia-se um novo ciclo. O resultado final desta sequncia de reaes a transferncia de
2 H+ atravs da membrana associada hidrlise de uma molcula de ATP. Por este
processo, um potencial eletroqumico construdo atravs da membrana, com o lado de
dentro da membrana tornando-se mais negativo em relao ao lado de fora. Ctions que
esto do lado de fora da membrana so, ento, trocados por H+, o que a despolariza. Este
tipo de absoro de ctions depende da permeabilidade da membrana, a qual difere
consideravelmente para os vrios tipos de ctions.
A absoro de nions no pode ser explicada como um processo a favor do
potencial eltrico, pois neste caso a carga negativa move-se em direo clula
carregada negativamente. Supe-se que nions do meio externo podem ser absorvidos e
trocados por OH- ou HCO3-. HODGES (1973) props um modelo hipottico levando em
considerao a absoro de ctions e de nions por clulas de plantas. O modelo
mostrado na Figura 2.6, representa uma ATPase e um carregador de nions. A ATPase
torna o citoplasma mais alcalino e o OH- citoplasmtico aciona o carregador de nions.
Hidroxilas so expulsas e nions so absorvidos pelas clulas. Se ATPases esto
diretamente envolvidas na absoro ativa de nions, no est ainda completamente
esclarecido.
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FIGURA 2.6 Modelo de uma ATPase como carregadora de ctions associada a um
carregador de nions (HODGES, 1973).
2.1.4 Cintica da absoro inica
A absoro de ons pelas plantas dependente de suas concentraes no meio.
Esta relao no linear, mas segue uma curva assinttica. A Figura 2.7 mostra uma
curva experimental de como varia a absoro de fsforo por razes de arroz e de feijoeiro
,quando aumenta a concentrao do mesmo na soluo externa: a absoro cresce
rapidamente a princpio (baixas concentraes) e depois tende a ficar mais ou menos
constante, em concentraes mais altas, tendendo assim para um valor mximo
assinttico. A curva muito semelhante que se obtm quando a velocidade de uma
reao enzimtica colocada em funo da concentrao do substrato. Esta analogia foi
vista claramente pela primeira vez por EPSTEIN & HAGEN (1952), que relacionaram o
processo de um carregador de ons atravs de membranas com a atividade enzimtica
em um substrato. A equao matemtica que define a relao entre as duas variveis
(velocidade e concentrao) e que preenche os requisitos de uma curva hiperblica
(Figura 2.7) a equao de Michaells-Menten. Aplicando-a absoro inica tem-se:
VVmax M
Km M
. [ ]
[ ]
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Absoro, Transporte e Redistribuio
25
Onde: V = velocidade de absoro = quantidade de M absorvido na unidade de tempo por unidade de peso de raiz Vmax = velocidade mxima de absoro = quantidade absorvida quanto todas as
molculas do carregador estiverem ocupadas transportando ons [M] = concentrao externa do elemento M Km = constante de Michaelis-Meten = concentrao do elemento no meio que garante
da Vmax = medida da afinidade do elemento pelo carregador.
FIGURA 2.7 Efeito da concentrao externa de fosfato na absoro por razes de
arroz (Km = 0,167 mols/l) e feijoeiro (Km = 0,229). (MALAVOLTA et al., 1989)
O valor do km calculado fazendo-se:
VVmax
2
Substituindo-se na equao, tem-se:
Vmax Vmax M
Km M
M
Km M2
1
2
. [ ]
[ ]
[ ]
[ ]
Km M M Km M [ ] [ ] [ ]2
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Assim, Km corresponde concentrao externa do elemento que garante metade da
velocidade mxima de absoro. Quanto menor o Km, maior a afinidade do M pelo seu
carregador. Neste sentido, os dados da Figura 2.7 sugerem que o carregador de fsforo
de raiz de arroz tenha maior afinidade, isto , seja mais eficiente que o do feijoeiro.
O Vmax e o Km so, portanto, os parmetros cinticos de absoro e caractersticas
da prpria planta que conferem mesma uma maior ou menor capacidade de absoro
do elemento a uma dada concentrao no meio.
Como as razes das plantas no esgotam complemente o nutriente M da soluo,
mas reduzem-no a uma concentrao mnima onde o influxo = efluxo (V=0), da a
introduo de um novo parmetro, tambm caracterstica da prpria planta, na equao
de Michaelis-Menten, a concentrao mnima (Cmin = [M]min):
VVmax M M min
Km M M min
. ([ ] [ ] )
([ ] [ ] )
A representao grfica da cintica de absoro de M levando em considerao a
Cmin encontra-se na Figura 2.8. Do ponto de vista prtico, interessam espcies e
variedades que apresentam Km e Cmin baixos, pois isto significa, pelo menos em
princpio, que as mesmas sero capazes de aproveitar-se de baixos nveis do elemento
no solo. A Tabela 2.4, mostra como podem variar os valores dos parmetros cinticos de
absoro em funo de elementos, espcies e mesmo entre variedades da mesma
espcie.
A determinao da eficincia de absoro de dada forma inica, por exemplo P
como H2PO4, feita essencialmente com base em Km e/ou Cmin, a seleo de espcies,
cultivares e gentipos de plantas quanto tolerncia a alumnio (Al) e a baixos nveis de P
no meio de crescimento; os estudos envolvendo a verificao e a avaliao dos efeitos de
condies de estresse hdrico sobre a absoro de ons, alm dos trabalhos relativos
interferncia de dado nutriente (on) sobre a absoro de outro antagonismos,
sinergismos, o efeito de micorrizas no processo de absoro de P, etc so alguns
exemplos nos quais a cintica de absoro inica constitui valioso instrumento
metodolgico, quando no essencial.
A determinao experimental (grfica ou matemtica) dos valores dos parmetros
cinticos da absoro inica, Vmax, Km e Cmin, pode ser vista no tem Determinao
dos parmetros cinticos de absoro (Vmax, Km e Cmin) inica radicular, pelo
mtodo da exausto, detalhada mais adiante.
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Absoro, Transporte e Redistribuio
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FIGURA 2.8 Cintica da absoro levando-se em considerao o Cmin (= influxo lquido)
TABELA 2.4 Parmetros cinticos de absoro de nutrientes de algumas espcies e cultivares
Parmetros Cinticos
Espcies Elemento Vmax Km Cmin
N mot/m2.s ------- mol/l -------
Arroz (sequeiro) K 13 25 2
Arroz (BR-IRGA-409) K 16 19 2,5
Arroz (EEA 406) K 13 5,5 1,8
Arroz (Bluebelle) K 11 - -
Coiza P 0,4 2 0,4
Milho NO3- 10 10 4
P 4 3 0,2
K 40 16 1
Soja P 0,8 2 0,1
Trigo P 5,1 6 3
Fonte: VOLKWEISS (1986).
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Se a faixa de variao na concentrao de M for suficientemente ampla (de baixas
para muito altas), quando se faz o grfico de Michaelis verifica-se o aparecimento de duas
isotermas, conforme se v na Figura 2.9, a qual define o chamado mecanismo duplo de
absoro:
O primeiro mecanismo (ou carregador) apresenta alta afinidade pelo K
(Km=0,021mM) e funciona na faixas concentraes;
O segundo mecanismo (ou carregador) mostra afinidade baixa pelo on (Km = 20
mM) e opera na faixa de altas concentraes.
possvel que o mecanismo 2 atue quando se faz adubaes potssicas pesadas
no sulco de plantio em solos com baixa capacidade de troca catinica, j que isso
aumenta muito a concentrao do elemento na soluo do solo.
FIGURA 2.9 Operao do mecanismo duplo para absoro de potssio por razes cevada (EPSTEIN, 1975).
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Absoro, Transporte e Redistribuio
29
Determinao dos parmetros cinticos de absoro (Vmax, Km e Cmin) inica radicular, pelo mtodo da exausto
Introduo
Esquematicamente, pode-se representar um ensaio de absoro inica radicular
como se segue:
Razes*
[ ] . ( ) [ ] .M sol inicialfuncaotempo
fatoresM Tecido M sol final
*Razes destacadas ou planta inteira
A quantidade absorvida:
M absorvido = [M] soluo inicial [M] soluo final, ou
M absorvido = (M -Tecido) anlise do material
Mtodos
Tradicional
Coloca-se plantas (razes) para absorver M em solues com concentraes
crescentes e em cada concentrao mede-se a velocidade (v) de absoro (= quantidade
de M abs/unidade de raiz x unidade tempo), obtendo-se a curva que relaciona: [M]
soluo = x, com a v = y. Esta curva, normalmente, uma hiprbole equiltera,
representada pela equao de Michaelis e Menten, como visto:
V = Vmax . [M]
KM + [M]
No clculo dos parmetros cinticos, ajustam-se os dados experimentais de [M] x v,
forma linear da equao de Michaelis e Menten, segundo as transformaes propostas
por LINEWEAVER & BURK (1934), HOFSTEE (1952) ou outra.
Mtodo de exausto do M da soluo (CLAASSEN & BARBER, 1974)
Consiste em colocar-se a planta absorver M em soluo de concentrao conhecida,
e medir a sua depleo em funo do tempo.
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Este mtodo, proposto por CLAASSEN & BARBER (1974, usado para
determinao dos parmetros cinticos de absoro inica em baixas concentraes de
M na soluo e para plantas inteiras.
Tem a vantagem de exigir um menor nmero de plantas (vasos), para a obteno da
curva de absoro, em relao ao mtodo tradicional, pois a prpria planta estabelece a
concentrao de M na soluo em funo do tempo de absoro. Este mtodo permite
ainda a determinao da concentrao mnima ([M]min = Cmin), concentrao esta onde
V = 0, pois, de acordo com esta metolodogia, as razes das plantas no esgotam
completamente o nutriente da soluo, mas reduzem-no a uma concentrao mnima
onde o influxo = efluxo (influxo lquido = 0).
Assim, para a determinao do influxo lquido de M, um novo termo deve ser
includo na equao de Michaelis e Menten, como visto:
V = Vmax . ([M] [M] min )
Km + ([M] [M] min)
As flutuaes dos valores de influxo de M, nos diferentes intervalos de amostragens,
indicam a necessidade de grande rigor quando se trabalha com este mtodo, porquanto
podem ocorrer variaes que so conseqncias prprias do manuseio da metodologia
analtica e do material gentico em estudo. Assim sendo, sugere-se trabalhar com o maior
nmero de repeties possveis e com duplicatas das alquotas em cada perodo de
amostragem.
O uso experimental deste mtodo exige a realizao de experimentos prvios, a fim
de se determinar a concentrao inicial de M na soluo, para se obter a curva
caracterstica de exausto de M, num perodo de 5-9 horas de absoro. Neste perodo,
fazendo-se amostragens da soluo em intervalos de 0,5 a 1,0 h, o nmero e pontos
experimentais sero suficientes para a determinao dos parmetros cinticos de
absoro (Vmax, Km e Cmin). O uso de perodos de absoro muito prolongados
desaconselhvel, devido ao crescimento do sistema radicular da planta neste perodo, o
que ir mascarar os resultados. Mesmo assim, alguns pesquisadores (p. ex.: CANAL &
MIELNICZUK, 1983; VILELA & ANGHINONI, 1984) deixam as plantas na soluo de
absoro por perodos maiores do que aquele necessrio para a obteno da curva de
exausto (5-9h), com finalidade de obter a Cmin aps 24 h de absoro.
A Tabela 2.5., mostra um exemplo do manuseio deste mtodo num experimento
(uma repetio) de absoro de P pela soja IAC-2 (CASTELLS, (1984).
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Absoro, Transporte e Redistribuio
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TABELA 2.5 Concentrao de fsforo na soluo determinada nos diferentes perodos de amostragens e valores calculados do influxo de fsforo para o Gentipo IAC-2
P P - 1 - - 2 -
Tempo Conc. Volume Quant. Q Q/t Influxo P Influxo P
H M Ml moles moles moles.h-1
moles.g-1
.h-1
moles.g-1
.h-1
0,0 21,15 1499,00 31,704 - - - -
0,5 19,192 1492,45 28,643 3,061 6,122 0,452 -
1,0 17,601 1484,90 26,136 2,507 5,104 0,370 0,411
1,5 15,581 1477,35 23,019 3,117 6,234 0,460 0,460
2,0 14,603 1469,60 21,462 1,557 3,114 0,230 -
2,5 12,216 1462,25 17,863 3,599 7,198 0,531 0,381
3,0 10,235 1454,70 14,889 2,974 5,948 0,439 0,439
4,0 6,410 1441,60 9,241 5,648 5,648 0,417 0,417
5,0 4,085 1428,50 5,835 3,406 3,406 0,251 0,251
6,0 2,027 1415,40 2,869 2,966 2,966 0,219 0,219
6,5 1,193 1407,85 1,679 1,190 2,380 0,176 0,176
7,0 0,834 1400,30 1,168 0,510 1,022 0,075 0,075
7,5 0,520 1392,75 0,724 0,440 0,888 0,066 0,066
8,0 0,551 1385,20 0,763 - - - -
8,5 0,344 1377,65 0,473 0,290 0,580 0,043 0,043
9,0 0,260 1370,10 0,356 0,117 0,234 0,017 0,017
Fonte: CASTELLS, 1984.
Observa-se:
A concentrao inicial de P na soluo foi de 21,15M determinada previamente
para obteno da curva de depleo do P no intervalo de 0,0 a 9,0 h (Figura 2.10);
As amostragens foram feitas de 0,5 em 0,5 h at a 3 h e aps a 6; e de hora em
hora da 3 a 6 h;
O volume inicial do vaso foi de 1,50 l;
O volume de soluo em cada tempo de amostragem foi estimado, deduzindo-se do
volume do tempo anterior a alquota amostrada + volume transpirado (este foi estimado
pesando-se o conjunto vaso + planta, no comeo e no final do ensaio);
Sucessivamente, foram determinados: quantidade de P = Q; Q; Q/t = Influxo P-
1e Influxo P-2;
O influxo-1 mostra as flutuaes de valores nos diferentes intervalos de
amostragem, o que normalmente ocorre; o influxo-2 trata-se de uma tentativa visando
amenizar estas variaes;
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Ressalta-se que com apenas uma repetio (1 vaso) obteve-se 16 valores de [P] e
seus respectivos influxos (=V); comparativamente ao mtodo tradicional este exigiria 15
vasos;
Relacionando-se os valores de [P] e de v (influxo), os parmetros cinticos so
determinados. Para isso, diferentes mtodos podem ser utilizados, citando-se:
Mtodo do duplo recproco (LINEWEAVER & BURK,1934)
Mtodo de HOFSTEE (1952)
Mtodo grfico (CANAL & MIELNICZUK, 1983)
Mtodo grfico-matemtico (RUIZ,1985)
Mtodo estatstico (WILKINSON,1961)
FIGURA 2.10 Exausto do P da soluo (dados da Tabela 2.5.)
Como exemplo de clculo dos parmetros cinticos (Vmax e Km), usando a
transformao linear da equao de Michaelis-Menten segundo LINEWEAVER & BURK
(1934), tem-se:
vVmax M
Km M
. [ ]
[ ] = equao de Michaelis-Menten
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Absoro, Transporte e Redistribuio
33
Tomando-se a recproca dos 2 termos:
][.max
][1
MV
KmM
v
1 1 1
v Vmax
Km
Vmax M .
[ ]
onde:
1
vy
1
Vmax a
Km
Vmaxb
1
[ ]Mx
Portanto:
1
Vmax ponto de interseco na ordenada;
Km
Vmax coeficiente angular da reta
No exemplo (Tabela 2.5.) tomando-se os valores dos inversos do influxo-2 (1/v = y) e
da concentrao de P (1/[P] =x) referentes aos tempos de 1,0 a 7,5 h, atravs da
regresso linear entre as duas variveis, obtm-se a seguinte equao:
11 62 7 402
1
v P , , .
[ ]
Como:
a 1
Vmaxe b
Km
Vmaxtemos; :
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Vmax moles P g raiz fresca h
Km MP
0 617
4 569
1 1, . .
,
Figura 2.11. mostra a representao grfica deste mtodo.
FIGURA 2.11 Transformao de LINEWEAVER & BURK (dados da Tabela 2.5 de 1,0 a 7,5h; onde 1/v = 1/influxo-2 e 1/[P]= 1/concentrao P)
A representao da cintica de absoro de P absoluta, utilizando a equao de
Michaelis-Menten mostrada na Figura 2.12, e a taxa de absoro lquida, considerando
na equao a Cmin que aparece na Figura 2.13, a qual ilustra bem os parmetros
cinticos discutidos (Vmax, Km e Cmin).
Baseado no mtodo grfico-matemtico (RUIZ, 1985) de determinao dos
parmetros cinticos de absoro inica RUIZ & FERNANDES F (1992) elaboraram um
Software para estimar as constantes Vmax e Km, o que facilita o pocesso e o torna mais
preciso.
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Absoro, Transporte e Redistribuio
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FIGURA 2.12 Representao da taxa de absoro de P absoluta.
FIGURA 2.13 Representao da taxa de absoro de P lquida
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2.1.5 Papel do Clcio
Admite-se que o clcio seja indispensvel para a manuteno da estrutura e o
funcionamento normal das membrana celulares. A permeabilidade das membranas a
compostos hidroflicos depende consideravelmente da concentrao de Ca2+ e de H+ no
meio. Trabalhos tm mostrado que sob condies de pH menores que 4,5, as membranas
tornam-se mais permeveis favorecendo o efluxo (vazamento) de ctions o K+ por
exemplo. Este efeito desfavorvel da acidez sobre a absoro de ons que
contrabalanceado pela presena de concentraes de Ca2+ tem sido considerado
suficiente para a manuteno da permeabilidade normal das membranas.
Este efeito do Ca2+ atribudo s pontes que o mesmo forma entre os radicais
aninicos dos componentes da membrana fosfato dos fosfolipdeos e carboxlicos das
protenas. Em meio cido o Ca2+ destas ligaes substitudo por H+, o que aumenta
drasticamente a permeabilidade das membranas pelo uso de agentes quelantes e
promove o mesmo efeito e o efluxo (vazamento) de ons e compostos orgnicos de baixo
peso molecular observado.
Este efeito do clcio sobre a absoro inica chamado de efeito Viets (VIETS,
1944), que observou que a absoro de outros ctions (K+, p. ex.) era estimulado pela
presena do Ca2+ em baixas concentraes no meio.
A Figura 2.1.4. ilustra bem o efeito do pH e do clcio na absoro de K+ por razes
de cevada. Em pH abaixo de 4.0, na ausncia de Ca2+ no meio, a membrana perde suas
caractersticas de transporte e de reteno de ons e o efluxo (vazamento) de K+
observado. Na sua presena, o efeito depressivo do H+ foi reduzido, observando-se uma
absoro lquida positiva (influxo) mesmo em valores de pH extremamente baixos.
Portanto, a manuteno de um nvel adequado de clcio no solo necessrio para
garantir, entre outras coisas, a absoro adequada de nutrientes.
-
Absoro, Transporte e Redistribuio
37
FIGURA 2.14 Absoro lquida de K+ nfluenciada pelo pH e presena/ausncia de Ca2+ na soluo externa. (Adaptado de MARSCHNER, 1986)
2.1.6 Fatores que afetam a absoro inica radicular
Uma srie de fatores externos (do meio) e internos (da planta) tm sido enumerados
como influentes no processo de absoro. CLARKSON (1985) enumera diversos
parmetros que so utilizados nos modelos matemticos para explicar a absoro de
nutrientes do solo, que so distribudos em vrios grupos (Figura 2.15). Um grupo de
fatores do solo, acrescido da taxa de transpirao da planta, define a taxa qual um dado
nutriente chegar superfcie da raiz, condio necessria, como visto, para que um
nutriente seja absorvido. Neste grupo tambm esto includos parmetros de distribuio
de razes. Um segundo grupo de parmetros define a taxa de crescimento da superfcie
de absoro, chamados de fatores morfolgicos, os quais condicionaro a rea ou
superfcie absorvida do sistema radicular. A grande influncia de fungos micorrzicos VA
na absoro de P devido ao aumento da rea de absoro. Um terceiro grupo (Vmax,
Km e Cmin). Portanto, fatores relacionados com a disponibilidade dos nutrientes no solo,
com as caractersticas morfolgicas do sistema radicular e com a capacidade de absoro
(parmetros cinticos) pelas razes, conferem planta o influxo de ons, capaz ou no
de atender suas exigncias nutricionais.
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FIGURA 2.15 Esquema dos parmetros que tm sido usados para elaborar modelos matemticos para explicar a absoro de nutrientes pelas razes no solo (CLARKSON, 1985).
Os principais fatores (externos e internos) e seus efeitos na absoro inica
radicular so apresentados a seguir:
FATORES EXTERNOS
a. Disponibilidade
A primeira condio para que o on M seja absorvido que o mesmo esteja na forma
disponvel e em contato com a superfcie da raiz. Portanto, todos os fatores que afetam a
disponibilidade, tambm afetam a absoro, citando-se como exemplos: o teor total do
elemento no solo; pH; aerao; umidade; matria orgnica; temperatura; presena de
outros ons. O aumento da disponibilidade aumenta a concentrao de ons na soluo e,
dentro de limites, a velocidade de absoro, como visto na Figura 2.7.
b. pH
O pH apresenta um efeito direto na absoro pela competio entre o H+ e os
outros ctions e do OH- com os outros nions. Como os valores de pH abaixo de 7,0
(cido) so mais comuns em solos, o efeito do H+ tem tomado maior importncia. Um
padro tpico da influncia do pH externo sobre a taxa de absoro de ctions foi
mostrado na Figura 2.14, para o K+. Com o aumento da concentrao de H+ (abaixamento
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Absoro, Transporte e Redistribuio
39
do pH), a absoro de K+ declina drasticamente, principalmente na ausncia de Ca2+,
onde em pH menor que 4,0 ocorre inclusive o efluxo (vazamento) do K+ interno (efeito j
discutido no item 2.1.5.).
Entre os valores de pH 4,0 a 7,0 ocorreria a competio entre o H+ e o K+ pelos
stios dos carregadores na membrana. Entretanto, bastante provvel que com o
abaixamento do pH, ou seja, aumento da concentrao de H+ no meio externo, a
eficincia da bomba inica ligada a ATPases de membrana (discutida no tem 2.1.3.)
decresce e a absoro passiva de H+ aumentada (MARSCHNER, 1986). Evidncias
para essa afirmao est na observao do decrscimo do eletropotencial de clulas
radiculares de 150 mV a pH 6,0 para 100 mV a pH 4,0; com isso a absoro de ctions
a pH baixo inibida.
Um outro efeito do pH na absoro denominado de efeito indireto; acredita-se
que nas condies de solo este seja o principal e est relacionado com a disponibilidade
dos elementos, nutrientes ou no. Pode-se dizer que maior disponibilidade maior
concentrao de M na soluo do solo e, portanto, maior absoro. A Figura 2.16 ilustra
como o pH influencia a disponibilidade dos elementos no solo. Explicao detalhada deste
comportamento apresentada no Mdulo 3 deste curso (Fertilidade do solo: Dinmica e
Disponibilidade de Nutrientes). A Figura mostra que, tal como acontece com o efeito direto
do pH, para o efeito indireto a faixa de pH 6,0-6,5 a mais favorvel para o crescimento
das plantas, visto que nesta faixa a disponibilidade de alguns nutrientes mxima (caso
dos macronutrientes) e no limitante para outros (micronutrientes). Aqui est uma das
razes para a importncia da calagem adequada de solos cidos.
FIGURA 2.16 Relao entre pH e disponibilidade de elementos no solo
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c. Aerao
Como visto no tem 2.1.3. a absoro ativa depende de energia metablica (ATP)
originada na respirao. A Figura 2.17 mostra a relao entre a tenso de O2 e a taxa de
absoro de P por razes de cevada. Conseqentemente, a deficincia nutricional um
dos fatores que limita o crescimento de plantas em solo (ou substrato) pobre em aerao.
As prticas que aumentam a aerao do solo como arao, gradagem, subsolagem
tendem a aumentar, pois, a absoro dos elementos do solo.
A aerao afeta tambm a disponibilidade dos nutrientes no solo como, por
exemplo, a atividade de microorganismos que transformam a matria orgnica, que
oxidam NH4+ a NO3
- e S2- a SO42-, formas absorvidas pelas plantas, necessitam de O2. A
aerao, por outro lado, pode diminuir a disponibilidade do ferro, que oxidado da forma
ferrosa para a frrica, menos disponvel; o contrrio acontece nas condies de menor
aerao onde o Fe2+ e Mn2+ podem ser acumulados a nveis txicos em solos inundados.
FIGURA 2.17 Efeito da tenso de O2 sobre a taxa de absoro de P por razes destacadas de cevada (Hopkins, 1956, em MENGEL & KIRKBY, 1987).
d. Temperatura
Na faixa de 0 a 30 C a absoro cresce de modo praticamente linear com a
elevao da temperatura. Isto se explica pelo fato de que dentro de limites h um
aumento da atividade metablica da planta, principalmente a intensidade respiratria; o
que bem ilustrado na Figura 2.18.
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Absoro, Transporte e Redistribuio
41
FIGURA 2.18 Efeito da temperatura sobre as taxas de respirao (), absoo de P
() e K () por segmentos de raiz de milho (Bravo e Uribe, 1981, em MARCHNER, 1986).
e. Umidade
No se pode falar em disponibilidade de qualquer elemento em condies de solo
seco. Para a mineralizao do N, S, P, B etc. da matria orgnica pela atividade
microbiana, a gua particularmente necessria. A gua tambm constitui-se no veculo
natural para o movimento dos ons no solo (fluxo de massa, difuso). Como exemplo,
considera-se o baixo teor de umidade no solo, como um fator preponderante para maiores
incidncias de podrido apical em frutos de tomate um sintoma tpico de deficincia de
clcio na cultura mesmo em solos considerados frteis neste nutriente. Nestas
condies, quantidades insuficientes de clcio atingem as razes por fluxo de massa,
induzindo anormalidade.
f. O prprio elemento
Os elementos so absorvidos com velocidades diferentes, em geral obedecendo
seguinte ordem decrescente:
nions NO3- > Cl- > SO4
2- > H2PO4-
ctions NH4+ > k+ > Na+ > Mg2+ > Ca2+
O on acompanhante, como conseqncia disso, tambm influencia a absoro do
seu par: assim, por exemplo, a absoro mxima do NH4+ ocorrer quando ele estiver
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acompanhado de No3-; a velocidade ser mnima se estiver junto com o H2PO4
-.
g. Interao entre ons
Como a soluo do solo apresenta uma gama altamente heterognea de ons
(Tabela 2.6), a presena de um pode modificar a velocidade de absoro de outro de
duas maneiras: inibio e sinergismo.
TABELA 2.6 Concentrao dos elementos na soluo do solo em micromoles/l
on Deficiente Crtica Mdia
NO3- 10 700 200 500 9.000
NH4+ 0,5 400 2 1.800 -
K+ 1 100 3 120 800
Ca2+
0,5 600 6 1.000 1.900
Mg2+
2 300 9 400 3.100
H2PO4- 0,1 12 0,2 90 < 1
SO42- - 4 1.200
Cu2+ (1)
0,001 0,002 0,01 0,6
Mn2+(1)
0,001 1 0,001 42 0,002 70
Zn2+(1)
0,001 0,005 0,005 0,2 0,003 3
(1) 28-99,8% da concentrao dada como complexos orgnicos.
Fonte: Asher & Edwards (1978) em MALAVOLTA et al., (1989).
Inibio consiste na diminuio da absoro de M devido presena de outro;
competitiva quando os dois elementos M e I (inibidor) se combinam com o mesmo stio
do carregador na membrana; no competitiva quando a ligao se faz com stios
diferentes. No primeiro caso, o efeito do I pode ser anulado aumentando-se a
concentrao do M; o que no acontece no segundo caso. Um exemplo tradicional de
inibio competitiva observado entre o Ca, Mg e K (Tabela 2.7). Portanto, a manuteno
de teores equilibrados destes ctions no solo atravs de calagem e de adubao
adequadas, um princpio bsico para se evitar a induo de deficincia de alguns deles
nas culturas por este processo.
TABELA 2.7. Efeito do K+ e do Ca2+ sobre a absoro do 28Mg2+ por plntulas de cevada (concentrao de cada ction = 0,25 meq/l)
Mg2+
absorvido (meq/10 g raiz fresca . 8 h)
Parte planta Mg Cl2 MgCl2 + CaSO4 MgCl2 + CaSO4 + KCl
Raiz 165 115 15
Parte area 88 25 6,5
Fonte: Schimansky (1981), em MARSCHNER (1986).
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Absoro, Transporte e Redistribuio
43
Ocorrendo inibio h mudanas na transformao de Lineweaver & Burk, que
passa a ser:
Competitiva:
1 1 11
v Vmax
Km
Vmax M
I
KI
[ ]
[ ]
onde:
[ I ] = concentrao do inibidor
Ki = constante para dissociao do complexo carregador inibidor
No competitiva:
1 11
v Vmax
Km
Vmax M
I
KI
. [ ]
[ ]
A representao grfica dada na Figura 2.19. Como se v, havendo inibio
competitiva o ponto de interseco da ordenada permanece o mesmo, mudando apenas
o coeficiente angular da reta. Neste caso, no h mudana no Vmax, pois aumentando a
concentrao do M o efeito do I anulado; mas h mudana no Km. Se houver inibio
no competitiva mudam tanto o ponto de interseco na ordenada quanto o coeficiente
angular da reta. Neste caso, h mudana no Vmax, pois aumentando a concentrao do
M o efeito do I anulado; mas no h mudana no Km.
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FIGURA 2.19 Transformaes de Lineweaver & Burk para inibio competitiva (A) e no competitiva (B)
Sinergismo a presena de um dado elemento aumenta a absoro de outro; o
Ca2+ em concentraes baixas aumenta a absoro de ctions e nions (Efeito Viets) por
seu papel na manuteno da integridade funcional das membranas, o que tem
conseqncia na prtica da adubao; o Mg2+ aumenta a absoro do fsforo.
Na Tabela 2.8. aparecem os casos mais comuns de efeitos de um on sobre a
absoro de outro.
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Absoro, Transporte e Redistribuio
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TABELA 2.8 Exemplos de efeitos interinicos
on Segundo on Presente Efeito do segundo sobre o primeiro
Mg2+
, Ca2+
K+
Inibio competitiva
H2PO4- Al
3+ Inibio no competitiva
K+, Ca
2 Al
3+ Inibio competitiva
H2BO3- NO3
-,NH4
+ Inibio no competitiva
K+ Ca
2+ (alta concentrao) Inibio competitiva
SO42- SeO4
2- Inibio competitiva
SO42- Cl
- Inibio competitiva
MoO42- SO4
2- Inibio competitiva
Zn2+
Mg2+
Inibio competitiva
Zn2+
Ca2+
Inibio competitiva
Zn2+
H2BO3- Inibio no competitiva
Fe2+
Mn2+
Inibio competitiva
Zn2+
H2PO4- Inibio competitiva
K+ Ca
2+ (baixa concentrao) Sinergismo
MoO4- H2PO4
2- Sinergismo
Cu2+
MoO42- Inibio no competitiva
Fonte: MALAVOLTA et al., (1989).
h. Micorrizas
Micorriza o termo que define a associao entre fungos do solo e razes de plantas
formando uma simbiose. Maiores detalhes sobre essa simbiose so apresentados no
Mdulo 4 deste curso Biologia do Solo (SIQUEIRA, 1993).
Os principais benefcios das micorrizas sobre o crescimento das plantas so devido
ao aumento da superfcie de absoro e maior explorao do volume do solo pelo sistema
radicular das plantas. Isto se reflete em maior absoro de nutrientes, principalmente
aqueles que se movem no solo por difuso, notadamente o P. Este efeito geralmente
ocorre em condies sub-timas de P no solo (teores baixos e mdios); em teores muito
baixos e altos pouco efeito observado.
Os resultados da Figura 2.20 mostram que para a mesma produo de gros (90%
da produo mxima), a micorrizao da soja reduziu em 43% e 23% a dose e o nvel
crtico de P no solo, respectivamente.
Poucos trabalhos tm estudado o efeito da micorriza nos parmetros cinticos de
absoro (CRESS et al., 1979; KARUNARATNE et al., 1986; FAQUIN et al. 1990 e
SLVEIRA, 1990) e embora os resultados sejam ainda discordantes, parece que devido ao
aumento da superfcie de absoro o Vmax maior e o Cmin menor nas plantas
micorrizadas, conferindo mesma maior capacidade de absoro a uma dada
concentrao de P na soluo. A Figura 2.21. mostra que tanto por unidade de peso
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fresco de raiz (A) quanto por planta (B) as plantas micorrizadas, a uma mesma
concentrao de P na soluo, apresentaram um influxo lquido mdio, respectivamente,
de 22 a 50% maior que as no micorrizadas.
FIGURA 2.20 Doses de fsforo necessrias para produo de 90% da produo mxima de gros pela soja micorrizada (M) e no micorrizada (NM) - *P disponvel pela resina. (FAQUIN, 1988)
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Absoro, Transporte e Redistribuio
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FIGURA 2.21 Influxo lquido de P: (A) por unidade de raiz fresca (gramas); (B) por planta, influenciado pela micorrizao (M-micorrizada; NM-no micorrizada), em plantas de soja cultivadas em condies sub-timas de P. (FAQUIN, 1990)
FATORES INTERNOS
Potencialidade gentica
Embora as razes das plantas absorvam todos os elementos (nutriente ou no) que
estiverem em forma disponvel na soluo do solo, o processo de absoro inica, como
quase tudo na vida da planta, est sob controle gentico. Como visto na introduo deste
captulo (Tabela 2.2), a absoro inica apresenta uma certa seletividade e existem
diferenas entre gentipos nas caractersticas de absoro. H diferenas na capacidade
ou na velocidade de absoro entre espcies e variedades. As diferenas manisfestam-se
de diversas maneiras, a saber:
nos valores dos parmetros cinticos Vmax, Km e Cmin (Tabela 2.4.);
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na capacidade de solubilizar elementos na rizosfera;
mediante excrees radiculares;
na mudana de valncia do ferro (Fe3+ para Fe2+), o que aumenta sua
solubilidade e absoro.
Estado inico interno
A relao entre a concentrao externa e a taxa de absoro de um dado on no
caracterizada por valores de Km ou Vmax. A relao varivel, dependendo em particular
da concentrao interna do elemento, isto , do estado nutricional da planta. Em geral,
quando a concentrao interna de um on aumenta, a taxa de absoro declina e vice-
versa. De acordo com MALAVOLTA et al. (1989) a capacidade que a raiz possui para
absorver M limitada: a clula no um saco sem fundo. Assim, justifica-se a tcnica
experimental de se omitir da soluo o elemento em estudo, por um perodo de 40 h antes
do ensaio de absoro, para a obteno do modelo cintico (ver FAQUIN et al., 1990).
Mas, em se tratando de ensaios com N-NO3- no , a princpio, recomendvel tal fome,
pois o N-NO3- tido por muitos como ativador (indutor) da redutase do nitrato, enzima que
tida por vrios autores embora haja grande polmica sobre o assunto como
carregador de N-NO3-. Tambm a excluso ou fome de clcio questionvel, dado o
papel do Ca sobre a integridade da membrana.
A Tabela 2.9 ilustra bem o efeito do estado inico interno sobre a taxa inicial de
absoro de SO42-. Os menores valores na taxa de absoro foram verificados, quando a
soluo de pr-tratamento das razes de trigo apresentavam maiores concentraes de
sulfato, visto o aumento na concentrao interna do nutriente.
TABELA 2.9 Absoro inicial de sulfato por razes de trigo pr-tratadas com solues de diferentes concentraes
Pr-tratamento (mM de SO42-
) Absoro subsequente (nmol SO42-
/g raiz . h)
0,50 32
0,25 40
0,05 92
0,0005 197
Fonte: Person (1969), em MARSCHNER (1986).
a. Nvel de carboidrato
Os carboidratos so os principais substratos respirveis como fonte de energia para
o processo de absoro. Dentro de limites, a velocidade de absoro ser tanto maior
quanto mais alto o nvel de carboidratos na raiz; o que ilustra a Tabela 2.10.
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Absoro, Transporte e Redistribuio
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TABELA 2.10 Contedo de carboidratos na raiz e a taxa de absoro de K por razes destacadas de cevada
Carboidrato (1)
Absoro de K
(mg glicose / g raiz fresca) (nmol / g raiz fresca . h)
3.0 49
1.9 36
1,5 18
1,3 9
(1) Carboidratos totais expressos em unidades de glicose.
Fonte: Mengel (1962), em MARSCHNER (1986).
b. Intensidade transpiratria
O efeito da transpirao indireto: a corrente transpiratria, que no xilema conduz M
para a parte area, pode aumentar a tenso puxador o elemento contido nos espaos
intercelulares e na parede celular da raiz. Alm disso, havendo maior transpirao
favorecido o gradientes de umidade no solos, o que aumenta o fluxo de massa para a
raiz.
c. Morfologia das razes
Como mostrado na Figura 2.15, os fatores morfolgicos taxa de crescimento da
raiz; raio mdio das razes; freqncia de plos absorventes; comprimento de plos
absorventes e (freqncia de micorrizas) so parmetros considerados no
estabelecimento de modelos matemticos para explicar a absoro de nutrientes no solo.
Portanto, as plantas que apresentam um sistema radicular mais desenvolvido, razes mais
finas, bem distribudas, com maior proporo de plos absorventes, apresentam uma
maior rea absortiva e melhor explorao do volume do solo e maior capacidade de
absoro. Especialmente elementos cujo contato com a raiz se faz por difuso.
2.2 ABSORO INICA FOLIAR
Introduo
As plantas de interesse agrcola, na sua maioria, apresentam-se divididas em trs
partes distintas, com adaptaes especficas que possibilitam as suas funes
caractersticas. As folhas, de aspecto laminar, tm por funo as trocas gasosas e
recepo de luz solar para a fotossntese e transpirao. O caule, de aspecto colunar e de
resistncia varivel tem por funo, na maioria das vezes, a sustentao da parte area,
bem como de ligao e transporte. As razes, alm da fixao do vegetal ao substrato,
tm como funo bsica a absoro de gua e dos nutrientes no solo.
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Esta diviso de funes entre as partes da planta deu-se com a sua adaptao ao
habitat terrestre. Embora as folhas tenham se especializado como rgo de sntese, elas
no perderam a habilidade de absorver gua e nutrientes, que era uma funo comum no
seu habitat original o oceano. E esta capacidade das folhas em absorver gua e
nutrientes constitui-se a base para a aplicao foliar de nutrientes pela prtica da
adubao foliar, bem como de outros produtos como herbicidas, hormnios etc.
A adubao foliar um processo em que a nutrio das plantas feita atravs das
partes areas, principalmente das folhas. Contudo, no deve ser encarada como
substitutiva da adubao radicular, principalmente para os macronutrientes, o que exigiria
um grande nmero de aplicaes para atender s exigncias das plantas.
Em seu breve resumo histrico, MALAVOLTA (1980) relata que as primeiras
informaes sobre a adubao foliar datam do sculo XIX e que, no Brasil, ao que parece,
os primeiros trabalhos sobre absoro foliar de nutrientes, tanto em condies
controladas como em condies de campo, surgiram no final da dcada de 1950 e incio
de 1960, realizados com o cafeeiro na ESALQ-USP, Piracicaba-SP e no IAC-Campinas.
O principal objetivo de se estudar a absoro foliar est no uso eficiente da
adubao foliar. Hoje, a adubao foliar utilizada no mundo inteiro em diferentes
culturas e tem como interesse prtico, dentre outros:
Corrigir deficincias eventuais dentro do ciclo da planta;
Fornecimento de micronutrientes, principalmente em culturas perenes, onde no solo
apresenta menor eficincia;
Aumentar a eficincia de aproveitamento dos adubos;
Fornecimento de nutrientes em cobertura, quando h impossibilidade de aplicao
mecnica no solo (Ex.: N em cana de acar com 4-6 meses por avio);
Fornecimento de clcio diretamente aos frutos, evitando desordens nutricionais (Ex.:
ma e tomate);
Distribuio mais uniforme dos adultos.
Aspectos Anatmicos
A Figura 2.22. ilustra a anatomia foliar: (A) corte transversal da lmina e (B) detalhe
da cutcula no revestimento externo da folha. Observa-se (A) que, tanto a superfcie
superior quanto a inferior, so revestidas externamente por uma camada cerosa,
hidrorrepelente, a cutcula que apresenta na sua composio a cutina, pectina,
hemicelulose, cidos graxos e ceras. A cutcula, em geral, mais espessa na face adaxial
que na abaxial. Nesta face, predominantemente, aparecem os estmatos, tambm
revestidos internamente pela cutcula. Os estmatos aumentam sobremaneira a superfcie
para o contato com a soluo.
Assim, a cutcula constitui-se na primeira barreira penetrao de solues
provenientes de aplicaes foliares, devendo estas solues atravessar a cutcula,
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Absoro, Transporte e Redistribuio
51
penetrando no apoplasto e, posteriormente, atravessar a plasmalema, que a segunda
barreira, para ento atingir o simplasto e serem utilizadas ou transportadas para outras
clulas ou rgos. As clulas so interligadas formando o simplasto, atravs dos
plasmodesmas (B). Os ectodesmas so importantes vias de acesso dos nutrientes
absorvidos atravs da cutcula. Os tricomas (plos) interferem na molhabilidade da
superfcie foliar.
Ao contrrio do que se pensava, a cutcula no uma camada contnua; ela
apresenta microcanais e rupturas que permitem a passagem de solues.
FIGURA 2.22 Aspectos da anatomia foliar: (A) corte transversal da lmina; (B) detalhe da cutcula revestindo a epiderme
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52
Vias e Mecanismos da Absoro Foliar
Com a introduo dos radioistopos nos estudos da nutrio mineral das plantas foi
possvel esclarecer vrios aspectos da absoro foliar dos nutrientes.
A absoro foliar obrigatoriamente cutcular, devido ao revestimento da superfcie
foliar, inclusive a cmara sub-estomtica, pela cutcula. Estudos efetuados com a cutcula
foliar isolada enzimaticamente mostraram que a mesma permevel difuso de ctions
e nions, mais no sentido de fora para dentro (influxo) do que o contrrio (efluxo).
Observou-se tambm, que a passagem da uria atravs da cutcula algumas vezes
mais rpida que a dos outros elementos (Rb+, Ca2, Cl-, SO42) e que aumentou com a
concentrao, mas no proporcionalmente; o que sugere que a passagem da uria pela
cutcula no seja por difuso simples, mas por difuso facilitada. MALAVOLTA (1980)
explica admitindo-se que a uria possa romper ligaes qumicas entre os componentes
da cutcula, tornando-a mais permevel. Parece que a uria tambm aumenta a
permeabilidade da prpria membrana celular (plasmalema e tonoplasto).
Assim, esta caracterstica torna a uria muito importante na prtica da adubao
foliar, pois alm de aumentar a sua prpria absoro, aumenta tambm a dos outros ons
presentes na soluo, como mostra a Figura 2.23.; nas concentraes de uria utilizadas,
h um efeito linear na absoro do fsforo das duas fontes.
Em geral, se aceita que a absoro foliar de nutrientes, tal como acontece com a
radicular, se processa em duas etapas:
Passiva consiste num processo no metablico, onde o nutriente aplicado na
superfcie foliar atravessa a cutcula ocupando o ELA (Espao Livre Aparente), formado
pela parede celular, espaos intercelulares e superfcie externa do plasmalema (ver
Figura 2.22.B). Seria a ocupao do apoplasto foliar.
Ativa constitui-se num processo metablico lento; d-se contra um gradiente de
concentrao e exige o fornecimento de energia (ATP) para vencer as membranas
plasmticas. Seria a ocupao do simplasto foliar.
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Absoro, Transporte e Redistribuio
53
FIGURA 2.23 Efeito da uria na absoro foliar de fosfatos de amnio pelo feijoeiro. (MALAVOLTA, 1980)
Est bem demonstrado que duas so as fontes possveis de energia (ATP) para a
absoro ativa a fosforilao oxidativa (respirao) das mitocndrias e a fotofosforilao
ou fosforilao fotossinttica (ciclca e no cclica), que ocorre nos cloroplastos
iluminados. A participao da primeira foi demonstrada com a utilizao de inibidores
respiratrios e da segunda sugerida pela diminuio na absoro quando as folhas
permanecem no escuro.
Tal como ocorre na absoro radicular (item 2.1.3), a participao de carregadores
no processo ativo da absoro foliar sugerida. Resultados experimentais de aplicao
da cintica enzimtica conduziram a grficos como o da Figura 2.24, com a obteno dos
mesmos valores de Km e Vmax para a absoro de K+ tanto para razes de cevada
quanto para folha de milho.
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FIGURA 2.24 Velocidade de absoro de K por razes de cevada e folha do milho. A curva um grfico da equao de Michaelis-Menten (Km = 0,022 mM; Vmax = 12 moles/g tecido fresco . h) (EPSTEIN, 1975).
Contrariamente ao que ocorre nas razes, o elemento absorvido pelas folhas pode
atingir o floema tanto pelo apoplasto por difuso pelas paredes e espaos intercelulares
quanto pelo simplasto, atravs das comunicaes citoplasmticas, os plasmodesmas. O
transporte a longa distncia para outros rgos, quando ocorre, tem lugar principalmente
pelo floema, o processo exigindo energia. A Figura 2.25 resume bem os possveis
caminhos que os solutos percorrem no processo de absoro foliar at o transporte a
longa distncia, quando ocorre.
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Absoro, Transporte e Redistribuio
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FIGURA 2.25 Possveis caminhos dos solutos atravs da folha. (Modificado de HANES & GOH, 1977, Sci. Hort., Z(4):291-302).
2.2.4 Velocidade de absoro e mobilidade dos nutrientes na floema
A velocidade de absoro foliar varia de nutriente para nutriente e de planta para
planta, considerando todos os outros fatores em igualdade de condies. A Tabela 2.11
mostra as velocidades de absoro foliar de nutrientes, baseadas no tempo necessrio
para a absoro de 50% do total aplicado s folhas, dados reunidos por Wittwer (1964).
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TABELA 2.11 Velocidade de absoro de nutrientes aplicados s folhas
Nutriente Tempo para 50% de absoro (*)
Nitrognio (uria) - 36 horas
Fsforo 01 15 dias
Potssio 01 04 dias
Clcio 10 96 horas
Magnsio 10 - 24 horas
Enxofre 05 10 dias
Cloro 01 04 dias
Ferro 10 20 dias
Mangans 01 02 dias
Molibdnio 10 20 dias
Zinco 01 02 dias
(*) em funo da planta considerada.
A mobilidade, ou seja, o transporte dos nutrientes das folhas para outros rgos pelo
floema, tambm varia de elemento para elemento, sendo os mesmos classificados desde
altamente mveis at imveis, como o Ca e B (Tabela 2.12.); nestes casos a aplicao
foliar do elemento no d resultados to satisfatrios quanto a aplicao no solo. De
acordo com MALAVOLTA (1980), da velocidade de absoro e da mobilidade depende,
em grande parte, a possibilidade do fornecimento foliar de nutrientes planta na prtica
da adubao foliar.
TABELA 2.12 Mobilidade comparada dos nutrientes aplicados nas folhas. Em cada grupo os elementos aparecem em ordem decrescente
Altamente Mveis Parcialmente Imveis
Mveis Imveis
Nitrognio Fsforo Zinco Boro
Potssio Cloro Cobre Clcio
Sdio Enxofre Ferro
Molibdnio
Fonte: MALAVOLTA (1980).
2.2.5 Fatores que afetam a absoro foliar
A absoro foliar influenciada por uma srie de fatores, alguns externos, ligados
ao meio, e outros internos, ligados prpria planta, que afetam, portanto, a eficincia da
adubao foliar.
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Absoro, Transporte e Redistribuio
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FATORES EXTERNOS
a. Molhabilidade da superfcie foliar
Para que a penetrao do nutriente acontea necessrio que a superfcie foliar
seja molhada. A capacidade da soluo molhar a superfcie funo do ngulo de
contato entre ambas, o que depende da tenso superficial da gota e da natureza da
superfcie, a qual, devido prpria composio da cutcula, apresenta caractersticas
hidrorrepelentes. O advento dos agentes molhantes ou adesivos (surfactantes) foi um
grande avano na prtica da aplicao de produtos via foliar. Estes produtos tm como
objetivo principal, romper a tenso superficial da gotcula e da cutcula, promovendo o
molhamento da superfcie foliar; reduzem a evaporao da gua da soluo e apresentam
um grande poder de penetrao, principalmente na cmara sub-estomtica, favorecendo
sobremaneira a absoro de nutrientes e reguladores vegetais pelo uso destes produtos.
b. Temperatura e umidade relativa do ar
A gua da soluo o veculo para a penetrao dos nutrientes na folha. A
temperatura e a umidade relativa do ar afetam a velocidade de secamento da soluo
aplicada e, portanto, a possibilidade de estabelecimento de uma pelcula lquida na
superfcie da folha. A combinao destas duas variveis, contribuindo para a diminuio
do gradiente entre as presses de vapor na folha e no ar ambiente favorece a absoro.
Portanto, umidade relativa alta e temperaturas amenas favorecem a absoro foliar,
devido a uma menor evaporao da gua da soluo, mantendo a cutcula sempre
hidratada; deve-se ter presente, porm, que a prpria transpirao favorece a
manuteno da umidade de cutcula, aspecto to importante quanto a gua da prpria
soluo. Na prtica, portanto, as condies mais favorveis para a aplicao foliar de
elementos seria pela manh e no final da tarde. Nas horas mais quentes, a absoro seria
menor, no s pelo secamento da soluo, mas tambm pelo murchamento das folhas, o
que leva ao fechamento dos estmatos, importante via de acesso dos nutrientes no
processo.
c. Composio da soluo
Como se viu na Tabela 2.11., os diferentes nutrientes apresentam velocidade
tambm diferentes de absoro. Por outro lado, a absoro de um dado elemento pode
ser afetada (aumentada ou diminuda) por outros fatores da prpria soluo: a velocidade
de absoro de N varia em funo da sua forma o N-amdico (uria) > N-NO3- > N-NH4
+.
A alta velocidade de absoro da uria pode provocar toxidez planta, devido liberao
de altas concentraes de amnia (NH3) pela atividade da urease da folha.
3222 2( NHCOOHNHCOurease
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A tolerncia das culturas uria varia muito, como se v na Tabela 2.13. Verificou-
se que o dano causado pela uria em folhas de tomateiro foi reduzido pela presena de
MgSO4 na soluo, provavelmente, devido a