livro_fonética_e_fonologia

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7/31/2019 Livro_Fonética_e_Fonologia http://slidepdf.com/reader/full/livrofoneticaefonologia 1/152 Autora Adelaide H. P. Silva Língua Portuguesa I: Fonética e Fonologia 1.ª edição Livro_Fonética_e_Fonologia.indb - pg: 1 - QUARTA PROVA 09/11/2007 08:19:29

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7/31/2019 Livro_Fonética_e_Fonologia

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Autora

Adelaide H. P. Silva

Língua Portuguesa I:Fonética e Fonologia

1.ª edição

Livro_Fonética_e_Fonologia.indb - pg: 1 - QUARTA PROVA 09/11/2007 08:19:29

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© 2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

Todos os direitos reservados

IESDE Brasil S.A.

Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel

80730-200 • Curitiba • PR 

www.iesde.com.br 

S586 Silva, Adelaide Hercília Pescatori.

Língua Portuguesa I: fonética e fonologia./Adelaide Hercília

Pescatori Silva. — Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2007.

152 p.

ISBN: 978-85-7638-764-0

1. Língua portuguesa – Fonologia. 2. Língua portuguesa – 

Fonética. 3. Comunicação oral. I. Título.

CDD 469.15

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Sumário

Como a Lngüístca estda os sons da ala? | 7Do qe trata a onétca? | 7

O cclo de prodção da voz | 10

Fonétca artclatóra | 11

Artcladores do trato | 12

Dstngndo os sons da ala: consoantes | 17Dstngndo as consoantes entre s | 18

Dstngndo os sons da ala: vogas | 29Dstngndo as vogas entre s | 29

Nomeando as vogas | 33

Vogas redzdas | 33

Artclações qe se sobrepõem às vogas | 34

Uma notação para os sons da ala | 39Falta de correspondênca entre sons da ala e graemas | 39

Prosóda | 49A meloda dos sons da ala | 49

Análse acústcados sons da ala | 57

O qe é m som? | 57

Caracterzação acústca dos sons da ala | 67Caracterzação acústca das consoantes | 67

Caracterzação acústca das vogas | 71

Estdo dos sons com nção comncatva: onologa | 79Objeto de estdo da onologa | 79

Undades de análse onológca | 81

Análse onêmca | 84

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Identcando os onemas de ma línga | 91Pares mínmos | 93

Pares análogos | 94Pares sspetos | 94

Metodologa de análse onêmca | 96

Fonemas do Portgêsbraslero: consoantes | 101Dstrbção dos onemas | 102

Fonemas do Portgês braslero: vogas | 113Dstrbção das vogas no nteror da sílaba | 113

Inventáro das vogas em nção do acento | 115

O texto descrtvo | 125O qe é m texto? | 125

O qe é ma descrção? | 126

Tpos de descrção | 127

Gabarto | 141

Reerêncas | 147

Anotações | 151

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 Apresentação

Os sons da ala consttem o prmero aspecto qe chama a nossa

atenção qando nos deparamos com ma línga qalqer o com m

daleto de nossa própra línga, derente daqele qe alamos. Seja por

sons cja pronúnca vara, relatvamente à nossa própra pronúnca, seja

por sons “derentes” daqeles de nossa línga e qe exstem nma lín

ga estrangera qe nos propomos a aprender, seja anda por derenças

na prosóda, qe azem ma línga o m daleto parecerem mas omenos “cantados” do qe nossa línga o nosso daleto. Qem nnca

reparo no “s” chado de m caroca, o no “r” retroexo, anda nssten

te – mas napropradamente – chamado “capra”, de palstas, mneros,

paranaenses, ao pronncarem ma palavra como “porta”? Qem nnca

se deparo com o “th” do Inglês, e a dcldade ncal de pronncálo,

assm como com o “r” vbrante do Espanhol, em palavras como “rato”?

Pos bem, a Lngüístca – grosso modo denda como a “cênca da

lngagem” –, ao abordar se objeto de estdo, enoca partes dele sob o

argmento de qe a compreensão das partes pode levar à compreensão

do todo. Por sso, estabelece dscplnas váras, cada ma das qas volta

da para m aspecto especíco da lngagem.

O nível sonoro da lngagem, entretanto, é contemplado por das

dscplnas: a onétca e a onologa. O qe mda de ma para otra é o

recorte qe se az da metodologa qe se sege para abordálo. Este lvro

o então elaborado de modo a apresentar ao alno o objeto e a metodo

loga de análse, tanto da onétca como da onologa. Frsese qe ass

mmos em prncípo a dstnção entre as das dscplnas – herança anda

do estrtralsmo lngüístco qe se mantém no cenáro atal – por ma

qestão ddátca: consderamos qe, dessa manera, a exposção cara

mas acessível do qe se assmíssemos ma otra perspectva, mas re

cente, qe consdera não haver a dssocação entre onétca e onologa,

o qe mplca tratar todos os aspectos sonoros das língas nm mesmoe únco nível, o nível ônco.

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Para apresentar o objeto e a metodologa de análse da onétca,

recorremos ncalmente a ma onétca artclatóra mpressonístca,

o seja, qe envolve a conscentzação sobre os artcladores aconadospara prodzr m determnado som da ala. Em segda, apresentamos

a metodologa de análse da onétca acústca, qe se tem dnddo no

Brasl nas últmas décadas, e qe reqer essencalmente qe aprenda

mos a “ver” os sons. É esse aprendzado qe tentamos constrr, relaco

nando o tempo todo o dado acústco ao dado artclatóro, como ob

 jetva a Teora Acústca de Prodção da Fala (FANT, 1960), modelo qe

embasa nosso procedmento analítco.

Em segda, apresentamos a onologa, recorrendo especalmen

te à metodologa de análse onêmca para depreender os onemas de

ma línga e, ao mesmo tempo, dstnglos de ses eventas aloones.

Fazse, então, a apresentação dos onemas consonantas e vocálcos daLínga Portgesa, ao mesmo tempo em qe se apresentam as prnc

pas controvérsas relatvas ao estabelecmento de algns onemas. Não

exclímos, entretanto, ma otra perspectva, qe toma como prmtvo

de análse o traço dstntvo. Partmos do nventáro de Jakobson & Halle

(1956), qe é o conjnto de traços qe dá orgem nventáros posterores

de traços, como os dos modelos de orentação geratva.

Tendo organzado o lvro dessa manera, acredtamos poder

ornecer aos alnos ma ormação ntrodtóra tal qe lhes possblte

acompanhar letras na área e também, caso qeram, enveredar por

essa área, nm otro momento de sa ormação.

Bons estdos!

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Como a Lingüística

estuda os sons da ala?Adelaide H. P. Silva*

Do que trata a onética?Se recorrermos à etmologa da palavra “onétca”, veremos qe essa palavra vem do Grego  pho-

netikós1 e qer dzer “conhecmento do som”. É precso notar, entretanto, qe a onétca não se ocpado conhecmento de qalqer som: não lhe nteressa estdar os rídos prodzdos por camnhões qetraegam pela ra, o os rídos de aparelhos doméstcos. Interessalhe estdar os sons prodzdos pelosseres hmanos e, como conseqüênca desse objetvo mas geral, a onétca estabelece dálogos mtoproícos com derentes áreas. Assm, há ma grande nterace entre onétca e músca, qe permtenvestgar, por exemplo, semelhanças e derenças entre os sons prodzdos através da ala e aqelesprodzdos através do canto. Cabe adconar, nclsve, qe algns onetcstas renomados, como ossecos Björn Lndblom e Johan Sndberg são múscos de ormação.

Estabelecese, também, ma nterace crescente entre a onétca e a área médca – especalmenteno qe concerne a estdos de patologa de ala –, entre a onétca e a Pscologa – seja na nvestgação

da aqsção dos sons pelas cranças, seja na nvestgação do processamento da ala –, bem como entre a onétca e a Engenhara. Essa últma nterace, nclsve, ez srgr ma área qe se convenconochamar “cênca da ala” a qal tem, entre otros objetvos, elaborar sstemas de conversão textoala,sto é, sstemas de síntese de ala, além de sstemas de reconhecmento atomátco de ala. Temseanda aplcado a caracterzação onétca dos sons da ala para ns jrídcos, na dentcação de alantes,o qe constt ma área denomnada onétca orense.

* Dotora e mestre em Lngüístca pela Unversdade Estadal de Campnas (Uncamp), 2002. Bacharel e lcencada em Letras pela Uncamp,

1993.

1 Dconáro Eletrônco Hoass, versão 2001.

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8 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Como deve ter cado claro nesta breve exposção, a nterlocção da onétca com áreas dversasé grande, mas para a Lngüístca a onétca tem m objetvo bem especíco: o de nvestgar os sons da

ala e, em especal, os sons qe estrtram as váras língas do mndo.

Nesse sentdo, há ma ntersecção entre os objetvos da onétca e da onologa, ma otra áreaqe também estda os sons da ala, mas com m otro enoqe e qe abordaremos mas adante. Naverdade, é mpossível azer onologa sem onétca – e vceversa – e nsso têm nsstdo város atores,como John Ohala (1990) o Morrs Halle (2002). Este arma, já na ntrodção de se From Memory to

Speech and Back 

A tese central dos artgos [rendos no lvro] é a de qe os aspectos abertos da lngagem – as ações artclatóras eo snal acústco qe eles prodzem – não podem ser compreenddos satsatoramente sem reerênca aos aspectosencobertos da lngagem, sto é, ao conhecmento mplícto qe permte aos ndvídos alar e entender ma línga2.(HALLE, 2002, p.1)

Entretanto, nem sempre o assm: o estrtralsmo lngüístco se encarrego de estabelecer ma

rontera mto grande entre as das dscplnas, em grande parte por nspração de N. Trbetzkoy3, oemnente lngüsta rsso qe, em se clássco Princípios de Fonologia, arma qe

[...] o estdo dos sons pertencentes à ala e qe se ocpa de enômenos íscos concretos, deverá ter de sar métodosdas cêncas natras, enqanto o estdo dos sons qe pertencem a sstemas lngüístcos deverá tlzar apenas osmétodos lngüístcos, o das cêncas hmanas, o das cêncas socas, respectvamente. Desgnamos o estdo dossons da ala pelo termo “onétca’” e o estdo dos sons pertencentes a m sstema lngüístco pelo termo “onologa”4.(TRUBETZKOY, 1964, p. 4)

Essa vsão, adotada por mtos estrtralstas como Roman Jakobson o Kenneth Pke, pratcamente relego a onétca a m plano secndáro nos estdos lngüístcos – já qe presspnha m dstancamento da onétca relatvamente à Lngüístca, ao mesmo tempo em qe a aproxmava das cêncas dtas natras – e acabo trazendo, como conseqüênca, ma vsão acerca da manera como essa dscplna

deve abordar se objeto de estdo anda corrente em város manas ntrodtóros5: assm, a onétcapasso a ser concebda como a dscplna qe estda os sons da ala sob os aspectos artclatóro, acústcoe perceptal. Fqe claro qe a onétca az sso mesmo, mas não só sso: as caracterzações acústcas e artclatóras e as nvestgações relaconadas à manera como os ndvídos percebem os sons de sa línga,são o ponto de partda para responder a otras qestões, por exemplo:

qe sons consttem o nventáro ônco de ma determnada línga;::

qe característcas são comns a algns desses sons e, portanto, possbltam se agrpamento::

nma mesma classe;

2 Essa tradção, bem como todas as otras qe se segem, são todas de mnha atora. Elas serão sempre acompanhadas pela ctação orgnal,

esta em nota de rodapé. Temse, então, no orgnal: The basic thesis o the papers is that the overt aspects o language – the articulatory actions

and the acoustic signal they produce – cannot be properly understood without reerence to the covert aspect o language, that is, to the implicit 

knowledge that enables individuals to speak and understand a language.

3 Orgnalmente escrto em alemão, sob o títlo Grundzüge der Phonologie, cja prmera edção data de 1939, esse lvro tornose m clássco

na lngüístca e é o prmero – desde o srgmento da cênca lngüístca, em 1916, a expor objetvos e método da onologa.

4 Lêse, no orgnal: […] the study o sound pertaining to the act o speech, which is concerned with concrete physical phenomena, would have to

use the methods o the natural sciences, while the study o sound pertaining to the system o language would use only the methods o linguistics, or 

the humanities, or the social sciences respectively. We designate the study o sound per taining to the act o speech by the term “phonetics”, the study 

o sound pertaining to the system o language by the term “phonology” .

5 Vide, por exemplo, Slva (1999) o Soza e Santos (2003), cja denção para “onétca” va jstamente na dreção menconada no texto.

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9|Como a Lingüística estuda os sons da ala?

como e por qe algns sons de ma dada línga têm algmas de sas característcas alteradas::

em nção do ambente em qe ocorrem?

qas são os aspectos dos sons necessáros para se atrbr m sgncado ao qe está sendo::

dto?

A resposta a essas pergntas acaba estabelecendo – nevtavelmente – ma relação mto íntmaentre onétca e onologa, o qe nos az, por consegnte, voltar a rsar a vsão de onólogos como JohnOhala e Morrs Halle de qe é mpossível dssocar essas das dscplnas. Tal vsão encontra ma versãomas radcal em modelos teórcos recentes, como a onologia articulatória (BROWMAN; GOLDSTEIN,1992) e a onologia acústico-articulatória (ALBANO, 2001): nesses modelos, a tese central é a de qe adssocação entre onétca e onologa não exste, ma vez qe é possível dar conta dos atos ôncos6 dema línga através de m arcaboço baseado nma ndade de análse ao mesmo tempo smbólca enmérca, e qe, portanto, permte chegar, a m só tempo, tanto ao nível aberto da lngagem – ao qalHalle (2002) remete na ctação spractada – qanto ao nível encoberto dela.

Qer adotemos essa vsão mas recente qe assoca onétca e onologa, qer adotemos maotra vsão menos recente e qe dssoca as das dscplnas, o ponto de partda é exatamente o mesmo: precsamos entender como prodzmos os sons da ala.

Para tanto, é possível enocar a ala hmana sob três aspectos derentes: artclatóro, acústcoe perceptal (o adtvo). O estdo dos sons da ala sob o aspecto artclatóro vsa explcar, por exemplo, como as pessoas tlzam órgãos como boca, plmões o larnge para prodzr os sons. Vsa,também, explcar como os movmentos o posções da línga e otras partes da boca se derencamqando pronncamos derentes sons. A área da onétca qe se volta para esse aspecto é denomnadaonétca artclatóra.

Estdar os sons da ala sob o aspecto acústco reqer a observação dos atrbtos íscos

desses sons, como reqüênca, ntensdade e dração, atrbtos esses qe, ao mesmo tempo emqe caracterzam m determnado som da ala, o tornam dstnto dos demas. A onétca acústca éa área da onétca qe se volta para os aspectos íscos envolvdos na prodção dos sons.

A abordagem dos sons da ala consderando os aspectos perceptas, por sa vez, vsa explcarcomo se dão os processos pscológcos pelos qas as pessoas percebem a ala, o seja, como o cérebrotlza város traços e característcas de m “pedaço” de m som para reconstrr a magem ônca pretendda pelo alante. À onétca adtva cabe estdar os sons da ala sob o aspecto perceptal.

É mportante observar qe, apesar de cada ma das áreas menconadas acma se preocpar comm aspecto especíco envolvdo na prodção dos sons da ala, os aspectos artclatóros, acústco eadtvo estão ntrnsecamente relaconados. Anal, as mdanças de congração do trato acarretam,

em últma nstânca, ormas de onda com reqüêncas dstntas. E as derenças artclatóras e acústcas,por sa vez, ornecem derentes pstas para qe o ovnte perceba m som como [] e não como [a], porexemplo. Assm, ressaltese qe a dssocação entre os três aspectos, qe aremos nas seções segntes,obedece a ns estrtamente expostvos.

Mas, o prmero passo nos estdos de onétca é responder à qestão qe colocávamos anterormente: como prodzmos os sons da ala? Vamos a ela, então!

6 O termo “ônco” tem m caráter mas netro qe os termos “onétco” e “onológco” e acaba abarcando a ambos, nos modelos dnâmcos ctados.

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11|Como a Lingüística estuda os sons da ala?

É precso car claro qe a onação só é possívelgraças à grande elastcdade das pregas vocas, const

tídas de tecdo msclar e qe medem algns pocosmlímetros (em torno de 3mm): por conta dessa elastcdade, os movmentos de adção e abdção das pregas se repetem mtas vezes, perodcamente, azendoas pregas vbrarem. No momento em qe as pregas vbram, prodzse a voz, também denomnada tom larín-

geo. Inevtável, novamente, a analoga com a músca:como m som mscal, a voz é galmente prodzdapor vbrações peródcas8, e nsso ambos – som mscale voz – se dstngem do rído, qe é aperódco.

O resltado do processo de onação, o tom

laríngeo, é m só para todos os sons da ala qe têma larnge como únca onte sonora9. Isso qer dzerqe, no momento em qe a voz é prodzda, não hádstnção entre os sons da ala. Entretanto, sabemos dadversdade dos mesmos. Como, então, são prodzdos

os dversos sons da ala? Bascamente, pelas derentes congrações assmdas pelo trato vocal.Descrever as derentes congrações assmdas pelas váras estrtras do trato vocal, explcandocomo cada som é prodzdo, é tarea qe cabe à onética articulatória, área da qal começaremos atratar em segda. Você deve ter notado, alás, qe para abordarmos a prodção da voz, recorremos aconsderações de ordem artclatóra, bem como de ordem acústca. Daq em dante tentaremos – porrazões exclsvamente expostvas – separar tas consderações.

Fonética articulatória

O trato vocalChamamos de trato vocal a regão qe se estende dos lábos e os

sas nasas até a larnge e qe é consttída de váras estrtras ao longo

da cabeça e do pescoço. Temse a segr ma gra esqemátca dotrato vocal nas sas cavdades oral e nasal.

8 Vbrações qe se repetem reglarmente nm espaço de tempo.

9 Na verdade, algns sons, como [s], têm o rído como ma segnda onte sonora, qe se sobrepõe ao tom laríngeo.

Movmentos de adção e abdção das pregas vocas,qe resltam no cclo de prodção da voz.

    K    E    N    T ,    1

    9    9    9 ,   p

 .    1    2    5 .

Figura 2

    L    A    D    E    F    O    G    E    D ,    1

    9    7    5 ,   p .    2 .

Cavdades nasal e oral (bcal) dotrato vocal

Figura 3

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12 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

As prncpas estrtras constttvas do trato são asda gra 4, a saber:

Embora todas as estrtras do trato vocal hmanoapareçam também nos tratos vocas de otros prmatas, odesenho total e a dsposção delas, especalmente na porçãoposteror da garganta – corresponde à regão da arnge edo palato mole –, é consderavelmente derente nos hmanos, o qe pode ser ma razão para o ato de qe, dentre osprmatas, somente o ser hmano ale.

As estrtras empregadas para prodzr os sons da ala– todas as da gra 4, exceto a vértebra – são chamadas artcladores. Os artcladores da speríce neror da cavdade oraldo trato se movem de encontro àqeles da porção speror dacavdade oral. A segr, são descrtos algns deles (os qe seenvolvem dretamente na artclação dos sons da ala).

Articuladores do trato

LaringeAlém de ser o órgão onde se encontram as pregas vocas qe, como observado na seção anteror,

são responsáves pela prodção da voz, na larnge podem ser artclados algns sons – língas semítcas, como o Hebraco, contêm sons prodzdos aí. Localzada na porção speror da traqéa, a larngeé consttída prncpalmente de cartlagens e músclos e é o canal qe conecta o narz e a boca comos plmões. Em sa porção speror, encontramse as pregas vocas – das tras de músclos estcadastransversalmente em relação ao ar egresso dos plmões.

EpigloteOs órgãos tlzados na prodção dos sons da ala são os mesmos empregados na respração e na

degltção; porém, como sabemos, é mpossível alarmos e engolrmos ao mesmo tempo – engasgamosporqe ambos, o ar e a comda, passam acdentalmente, pela larnge e, por ma qestão de sobrevvênca, é precso azer com qe o bolo almentar retome se percrso pelo sstema dgestvo. Por sso, énecessáro haver algma estrtra para mpedr qe ága e comda entrem pela larnge enqanto alamos. Essa estrtra é a epglote, ma peqena cartlagem localzada logo acma da larnge e das pregasvocas e qe se echa à medda qe o ar passa pelo trato vocal. A epglote hmana não pode tocar o vépalatno, mas em otros mamíeros a epglote e a larnge ormam ma oclsão estreta com abertrapara a cavdade nasal. Isso possblta, a esses mamíeros, beber e resprar ao mesmo tempo porqe aága (o a comda) passa ao redor da larnge, no esôago, sem o rsco de car no condto do xo de ar.

Estrtras qe consttem o trato vocal

    L    A    D    E    F    O    G    E    D ,    1

    9    7    5

 ,   p .    3 .

Figura 4

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13|Como a Lingüística estuda os sons da ala?

Faringe

É o espaço aberto entre a úvla e a larnge. Um traço qe dstnge crcalmente essa cavdadenos hmanos é qe a parede rontal da arnge na cavdade oral é ormada pela porção posteror – oraz – da línga. Como já menconado, a línga é ma estrtra extremamente móvel, decorrendo desseato a possbldade de ma grande varação na orma e no tamanho da arnge.

Palato moleTambém denomnado vé palatno – o smplesmente vé – é a parte carnda do cé da boca. O vé

é ma estrtra msclar móvel qe pode ser levantado, exercendo pressão sobre a parede posteror daarnge e echando a cavdade nasal, o qe mpede a passagem do ar por aí. A obstrção do vé az com qe

o ar se dsspe apenas pela cavdade oral, e é esse movmento do vé, portanto, qe promove a derença entre sons oras e sons nasas. Na regão termnal do vé, em sa porção neror, exste m peqeno apêndcependrado, denomnado úvla – o, sando a nomenclatra poplar, “campanha” –, m otro artclador.

Palato duroTambém denomnado smplesmente “palato”, é a “abóbada do cé da boca” e se localza entre o

palato mole e os alvéolos. Embora não seja m artclador móvel, nele se prodzem sons como a vogal[] o a lateral palatal de palhaço, pela ação da línga qe se desloca em sa dreção.

AlvélolosÉ a regão qe se localza entre o palato dro e os dentes da arcada speror. Não é m artclador

móvel como o palato, é nessa regão – por conta da ação da línga, qe se move de encontro a ela – qese prodzem város sons consonantas do Portgês braslero.

DentesIgalmente artcladores nãomóves, os dentes partcpam da artclação de sons como

aqeles representados pelos graemas “th” da Línga Inglesa, devdo à ação da línga qe se movede encontro a eles.

LábiosArtcladores móves, os lábos podem se projetar para rente, aproxmandose, o qe lhes

casa m eeto de arredondamento. O arredondamento dos lábos é ma manobra artclatóra qepartcpa atvamente na dstnção de vogas em língas como o Francês o o Alemão. Além dsso, oslábos envolvemse na artclação de váras consoantes.

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14 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Mandíbula

A mandíbla é o osso qe constt o qexo e, como ela se lga através de dversos músclos àlínga, se movmento pode azer com qe a línga também se desloqe, especalmente no sentdovertcal. Esse deslocamento de mandíbla – e também de línga – constt a manobra artclatóraresponsável pela dstnção da abertra das vogas, sto é, pela dstnção entre [] e [o], por exemplo.

LínguaA línga é m dos artcladores mas mportantes do trato vocal, devdo à sa grande mobldade

e exbldade, qe a permtem tocar todas as otras estrtras do trato – desde os lábos até a porçãoposteror da arnge – e também assmr ma grande varedade de ormas trdmensonas. O ato de

a línga ser móvel o scente para tocar váras estrtras do trato, reslta na ormação de constrçõestípcas de mtas consoantes, e também na dstnção entre as vogas. A possbldade de assmr dversasormas, dada a sa exbldade, az com qe a línga determne derenças na qaldade das vogas.

É possível reconhecer na línga regões dstntas, conormenos mostra a gra. Cada ma dessas regões será responsável pelaartclação de conjntos dstntos de sons. Assm, a ponta da línga,sa regão mas anteror, partcpa da artclação de sons consonantas, como o som graado pela seqüênca th do Inglês. A coroa dalínga a regão medatamente segnte, é o artclador responsávelpela prodção de sons como [t, d, n, s, z]. O dorso da línga, regãode maor extensão desse órgão, é o prncpal responsável pela artc

lação dos sons vocálcos. Por m, a raz constt a parede rontal daarnge, como já menconado, e partcpa da artclação de sons posterores, como algmas consoantes.

Texto complementar

    L    A    D    E    F    O    G    E    D ,    1

    9    7    5 ,   p .    4

centro

dorsolâmna

lábo

trás

raz

LÍNGUA

ponta

Regões da línga

Figura 5

Cérebro primata dierencia área para “ala”Neurologia: Ressonância magnética mostra que primatas têm região

do cérebro com unção linguística similar a de humano

(GARCIA, 2001)

Uma dpla de centstas dos EUA annco hoje qe encontro no cérebro de macacos maregão semelhante à qe, em hmanos, opera nções mportantes de ala e lngagem.

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15|Como a Lingüística estuda os sons da ala?

Com magens de ressonânca magnétca, Clado Cantalpo e Wllam Hopkns, da Unvers

dade Emory, de Atlanta (EUA), mostraram qe gorlas, chmpanzés e bonobos possem m traçoestrtral do cérebro qe, até então, era tdo como exclsvo do Homo sapens: a área de Broca,lgada a nções motoras da lngagem – como os movmentos do aparelho onador – é maor nolado esqerdo qe no dreto.

Os anmas analsados pertencem ao grpo dos chamados prmatas sperores, mas próxmosdo homem na evolção.

Para os atores da descoberta, pblcada na revsta Natre <www.natre.com>, a crença deqe a complexdade da lngagem hmana resde ncamente em derenças anatômcas no cérebro sore m golpe com o novo estdo. “A vsão geral de qe a lngagem é prvatva dos hmanose poss ma únca anatoma no cérebro smplesmente está errada o é ma smplcação exagerada”, dsse Hopkns à Folha.

A semelhança entre estrtras cerebras hmanas e de macacos não o propramente masrpresa para os centstas, qe já havam mostrado concdêncas em otras regões. Uma delas éa área de Werncke, responsável por nções cogntvas da lngagem, entre as qas aqelas qepermtem ao ndvído relaconar m snal a m objeto.

Hopkns, porém, anda se mostra cateloso para trar conclsões dos resltados qe obteve.Para ele, pode ser qe a área de Broca, nos macacos, não seja sada para a ala. “Algmas pessoasargmentam qe a área de Broca poss ma nção geral para otras habldades cogntvas, qeltrapassam as nções de lngagem e ala. É possível qe a área de Broca em macacos srva masa ma dessas nções do qe ao mecansmo da ala”, dz.

Para Edardo Otton, especalsta em comportamento anmal do Insttto de Pscologa da USP,

a descoberta tera de medato das mplcações báscas. Por m lado, pode ser qe a assmetra naárea de Broca não seja o ator derencal da lngagem alada hmana. Por otro, a comncaçãosonora dos prmatas pode ser mas rca do qe se magna.

Grunhidos sutis

“Os chmpanzés não estão eqpados para azer os sons da ala hmana, mas já se v qe elestêm algma capacdade lngüístca”, dz Otton. Apesar de pesqsadores terem obtdo resltadospobres ao tentar ensnar lngagem alada a prmatas, o progresso com lngagem de gestos ogrande. Algns anmas chegam a domnar centenas de snas.

“Mas a comncação por sons, qe anda é poco conhecda, também exste e é mportante”,

dz Otton. Segndo ele, o problema para analsála é qe o própro cérebro hmano não é capazde derencar stlezas entre os dversos tpos de grnhdos emtdos pelos anmas, assm comomacacos não dstngem todas as derenças de padrão das sílabas da lngagem hmana. “Se vocêolha a representação gráca dos nossos sons, vê qe é tdo empastelado”, dz.

Otro desao para os centstas, é consegr dentcar o gra de complexdades desse tpode comncação sonora. Um exemplo de habldade vocal em prmatas é m estdo com macacosvervet do sl da Árca. “Eles têm grtos especícos para alertar sobre derentes tpos de predador:leopardo, cobra e ága”, arma Otton.

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16 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Não é por alta de otmsmo, porém, qe o mecansmo cerebral qe dá ao homem o dom da

ala contnará a ser m mstéro.“E acho qe a Pscologa e as nerocêncas, trabalhando em colaboração, podem ajdar a

elcdar os sstemas envolvdos no comportamento comncatvo de hmanos e macacos, possvelmente dentcando qas sstemas são úncos aos hmanos e qas não são”, dz Hopkns.

Atividades

  Retome o texto qe você acabo de ler para responder às segntes qestões:

1. O objeto de estdo da onétca:

a) conndese com o objeto de estdo de cêncas natras como a Medcna e, por sso, aonétca é ma dscplna secndára da Lngüístca.

b) consste nos dversos sons qe o ser hmano é capaz de prodzr, tanto os qe consttem aala, como assobos, tosses o rsos.

c) conndese com o objeto de estdo de cêncas como a Físca, porqe nteressa à onétcanvestgar qasqer sons, sejam hmanos, sejam rídos de máqnas.

d) consste nos sons da ala, apenas, mas pela manera como é abordado promove ma nterace

grande da onétca com otras áreas, nclsve externas à Lngüístca.

2. O cclo de prodção de voz (onação):

a) acontece drante a nspração, porqe o ndvído precsa do ar qe va para os plmões paraazer vbrar as pregas vocas.

b) acontece drante a expração, tlzando o ar egresso dos plmões e promove a vbração daspregas vocas.

c) estabelecese como conseqüênca de m mecansmo dnâmco de eqlíbro de pressão do arno trato vocal.

d) acontece tanto drante a nspração como drante a expração, porqe reslta do eqlíbroda pressão do ar ngresso e egresso dos plmões.

3. São artcladores do trato vocal:

a) palato mole, larnge e traqéa.

b) dentes, lábos e plmões.

c) palato, alvéolos e línga.

d) mandíbla, úvla e vértebras.

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Distinguindo os

sons da ala: consoantesSabemos qe a prodção da voz acontece drante o processo de onação, qando as pregas

vocas vbram, como conseqüênca dos ses movmentos alternados de abdção e adção. Sabemostambém qe o som prodzdo pela ação das vbrações das pregas, o tom laríngeo, é ndstnto, o seja,não é [a], [s] o [], por exemplo. Essa dstnção é dada pelos artcladores do trato vocal, qe é a estrtra anatômca qe se estende de larnge a lábos e compreende também a cavdade nasal. Al há dversas estrtras qe empregamos para prodzr os sons da ala, como vé palatno, palato, alvéolos qe,

como sabemos, chamamos de “artcladores”. Conhecendo os artcladores do trato vocal, podemoscomeçar a realzar ma das tareas do onetcsta, qe é a de descrever como as pessoas tlzam tasartcladores para prodzr os sons da ala.

Em lnhas geras, podemos observar qe os artcladores da porção neror do trato – como línga o lábo neror – geralmente se movem de encontro aos artcladores da porção speror – comoalvéolos, palato o lábo speror. Ao descrever tal movmento, os artcladores promovem o estretamento do trato, dmnndo a dmensão do canal pelo qal o ar se propaga. Esse estretamento orma“constrções”, cja presença o qase asênca determna ma dstnção básca entre os sons da ala, adstnção entre consoantes e vogas.

Tente pronncar ma palavra como papa, por exemplo. Observe qe, drante a prodção de[a], sa boca se encontra totalmente aberta, permtndo qe o ar se propage lvremente 1 através do

trato vocal. Em contrapartda, drante a prodção de [p], os lábos se aproxmam tanto qe chegam aobstrr totalmente a passagem do ar pelo trato. Assm, podemos constar qe a prodção das vogaspratcamente não envolve constrção, ato qe nos possblta, nclsve, sstentar a prodção dessessons por tanto tempo qanto o ôlego permtr. O som [p], por otro lado, devdo à constrção máxmaqe provoca obstrção à passagem do ar, não pode ser sstentado de manera algma.

1 Ressaltese qe armar qe as vogas são prodzdas pela propagação lvre do ar pelo trato, como azem algmas gramátcas escolares o como

o texto az, neste momento, é ma grande smplcação. Anal, as vogas envolvem constrção do trato, casada pelo deslocamento do dorso da

línga, para cma o para baxo, para rente o para trás, relatvamente à sa posção de reposo. Mas, comparatvamente com a constrção qe

se orma para a artclação de qalqer consoante, a das vogas é mínma.

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18 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Assm, em lnhas geras, os sons da ala  produzidos pela ação de uma constrição signicativa notrato vocal são as consoantes. Os sons que não envolvem constrição – o qase nenhma –, por sa vez,

são as vogais.

Com relação às consoantes, anda é precso rsar qe m dos parâmetros qe as dstngem é ogra de severdade com qe são realzadas: prodzr o som [s] nma palavra como sapo, por exemplo,reqer constrção menor qe a prodção do som [p] nessa mesma palavra. Apesar de a línga bloqearem grande parte a passagem do ar, anda assm o som de [s] pode ser sstentado, o qe comprova emprcamente qe, nesse caso, o bloqeo à passagem do ar é apenas parcal.

Distinguindo as consoantes entre siA presença o asênca de constrção no trato é scente para agrpar os sons da ala em das

grandes classes – consoantes e vogas. No entanto, sabemos qe há dversas vogas e dversas consoantes nas língas do mndo. Qas característcas artclatóras, então, promovem as dstnções entreos sons no nteror das sas classes maores? Descobrlas é a nossa próxma tarea.

O prmero ponto a ser notado, nessa nova eTapea de nosso estdo, é qe os parâmetros artclatóros empregados para dstngr as consoantes entre s não serão os mesmos tlzados na dstnçãodas vogas. Isso, por das razões:

a constrção qe a prodção de consoantes reqer é bem mas severa qe a constrção::

necessára para a prodção de vogas;

é possível prodzr consoantes em toda a extensão do trato, desde lábos até glote, mas as::

vogas tlzam, na sa prodção, ma área restrta do trato e qe se estende do palato até ové palatno.

Da prmera razão, decorre qe a ormação da constrção é a prncpal manobra artclatóra paraa prodção das consoantes.

Para dstngr as consoantes entre s, os onetcstas baseamse, então, em parâmetros qeremetem à manera como a constrção é eta – se mas o menos severa – (o modo de articulação) eao lgar do trato onde é eta (o  ponto de articulação). Também a ação de pregas é mportante para sedstngrem as consoantes e estabelece m tercero parâmetro, a sonordade.

Para se prodzrem vogas, por sa vez, é ndamental o movmento de dorso de línga, qe podese deslocar para cma o para baxo (dmensão vertcal), para rente o para trás (dmensão horzontal),

no trato, relatvamente à sa posção de reposo. Assm, os parâmetros tomados para a dstnção dasvogas relaconamse à dmensão anteroposteror do dorso da línga e à sa dmensão vertcal. Também a ação de lábos é mto mportante para se dstngrem as vogas: os lábos podem se nr e seprojetar para rente (protrsão labal), resltando daí o se arredondamento, qe possbltará dstngrvogas arredondadas das nãoarredondadas.

Passemos então, e prmeramente, aos parâmetros qe nos permtem dstngr as consoantes.

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19|Distinguindo os sons da ala: consoantes

Ponto de articulação

Como menconado acma, o ponto de artclação é oparâmetro classcatóro de consoantes concernente ao local dotrato onde dos artcladores se aproxmam, provocando aí maconstrção de modo a mpedr parcal o totalmente a passagemdo ar. Os pontos de artclação possíves estão lstrados na graao lado. Em segda, ornecemos a descrção de cada m deles.

Bilabial

É o prmero ponto do trato em qe podem ser prodzdos sons e qe envolve a aproxmação doslábos speror e neror. São prodzdos nesse ponto os prmeros sons de palavras como “pato” o “bola”.

Labiodental

É o ponto localzado logo depos dos lábos. As consoantes prodzdas nesse ponto – como os prmerossons de “ ácl” e “váco”, por exemplo – envolvem a aproxmação do lábo neror com os dentes sperores.

Dental

As consoantes prodzdas nesse ponto envolvem a aproxmação da ponta o da lâmna da línga comos dentes sperores rontas. São exemplos de sons prodzdos nesse ponto os prmeros sons de palavrasnglesas como “thie ” (ladrão) o “th y ” (vosso). Em Portgês, não exstem sons prodzdos nesse ponto.

Alveolar

Caracterza as consoantes prodzdas pela aproxmação o pelo toqe da ponta o da lâmna da línga nos alvéolos. São exemplos de sons prodzdos nesse ponto as consoantes ncas de “snto” o “znco”.

Pós-alveolar

Os sons prodzdos nessa regão envolvem a aproxmação da lâmna da línga com a regão posteror dos alvéolos. Eles estão presentes nos sons ncas de “chama” o “ jacaré”, por exemplo.

Retroexo

Como observam Ladeoged; Madddeson (1996, p.25)

dental

labodental

blabal

dentalretroreexo

glotal

velarpalatal

alveolarpósalveolar

vlar

    L    A    D    E    F    O    G    E    D   ;    M    A    D    D    I    E    S    O    N ,    1

    9    9    6 .

Pontos de artclação do trato vocal

Figura 1

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20 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

O termo “retroexo” é tlzado para desgnar váras artclações derentes, relaconadas pela orma qe a línga assme na prodção dessas artclações, assm como pela regão speror do trato. Uma artclação retroexa se carac

terza pelo movmento crvo da línga em algma extensão.2

Esse movmento da ponta da línga, crvandose sobre o dorso, pode ocorrer na altra dos alvéolos, o m poco mas para trás, na altra do palato3.

Sons retroexos ocorrem no Portgês como varantes de /r/, marcando o daleto qe se convencono denomnar “capra”. No geral, são encontrados em posção nal de sílaba o de palavra, comoem “carta” o “avor”. Em algns daletos – como no nteror do estado de São Palo – ele pode ser encontrado também em grpos consonantas, como em “prato”.

Palatal

Caracterza consoantes prodzdas pela aproxmação o toqe da porção anteror da línga e dopalato dro, como os sons das palavras “galnha” o “telha”.

Velar

Consoantes prodzdas nesse ponto – como os prmeros sons de “casa” e “gla” – envolvem aaproxmação do dorso da línga com o palato mole.

Uvular

Ponto qe caracterza consoantes prodzdas na regão da úvla, a exemplo do prmero som da

palavra rancesa “r ue” (ra). Esses sons não ocorrem em Portgês, salvo como recrso estlístco de narradores esportvos.

Faringal

Consoantes prodzdas nesse ponto envolvem a aproxmação da raz da línga com a arnge.São consoantes encontradas especalmente em língas aladas ao norte e a leste da Árca, como as língas pertencentes aos troncos semítco e cercassano. São também encontradas em língas das amílasWakashan e Salsh, aladas na provínca de British Columbia (Canadá). No Hebraco, qe é ma língasemítca ocorre, por exemplo, a rcatva arngal srda [ħ]. No Portgês, não ocorrem esses sons.

Glotal

Algmas vezes, as pregas vocas se aproxmam o scente para prodzr m som lgeramentesssrrado. Esse som é prodzdo no chamado ponto de artclação glotal e constt ma varante

2 The term “retrolex” has been used or a variety o dierent articulations, which are linked as much by the shape o the tongue involved as the

region on the upper surace o the mouth. A retrolex articulation is one in which the tip o the tongue is curled up to some extent.

3 Pela caracterzação dos sons retroexos, notase qe a retroexão se congra pratcamente como m modo de artclação, mas qe como

ponto. Essa é ma dscssão antga e controversa entre os onetcstas. Por motvos ddátcos, optose aq por smplcar essa dscssão e

adotar a vsão da Assocação Fonétca Internaconal, consderandose então retroexo m ponto de artclação.

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21|Distinguindo os sons da ala: consoantes

de /r/ no Portgês braslero, ocorrendo em palavras como “rato” – no caso de algns daletos, comoo caroca, em qe esse som é asprado. Cabe observar qe essa varante de /r/ tem se dssemnado no

Portgês braslero, azendose presente notros daletos, além do caroca, especalmente na ala depessoas de menor axa etára. É o qe se verca para os daletos do Sl do País, como o paranaense,por exemplo, e também para o daleto palsta. No daleto caroca, e também nos daletos de Norte eNordeste brasleros, além do daleto de algmas regões de Mnas Geras, essa varante ocorre tambémnotras posções, como nal de sílaba e/o palavra, como em “porta” e “mar”.

O mesmo som qe descrevemos para o Portgês braslero pode ser encontrado notras língas, no Inglês é o som ncal de palavras como “house” (casa).

Modos de articulaçãoComo observamos, m dos parâmetros qe os onetcstas tomam para dstngr as consoantes entre

s é o ponto de artclação, m parâmetro qe dz respeto ao lgar do trato onde os sons são prodzdos.Um segndo parâmetro tomado, o modo de artclação, basease no gra de obstrção à passagem do arqe a prodção dos sons consonantas oerece: há consoantes qe envolvem obstrção total à passagemdo ar no trato, devdo a ma constrção mto severa no nteror do trato – como é o caso de [p] – enqantootras consoantes envolvem ma obstrção parcal à passagem do ar, a exemplo de [s].

Passemos, então, à classcação das consoantes qanto ao modo de artclação.

Oclusivas (ou plosivas)

Prodzdas por oclsão completa e momentânea no trato vocal, de modo a mpedr totalmentea passagem do ar pelo trato.4 Além da oclsão total na cavdade oral, a prodção das oclsvas envolvetambém o levantamento do vé palatno, qe mpede a passagem do ar pela cavdade nasal.

São exemplos dessas consoantes os sons ncas das palavras “ pato” – “bola” – “tat” – “dado” –“casa” e “gato”. Observe qe, no prmero par, a oclsão se dá no ponto blabal; no segndo, a oclsãoacontece no ponto dentalalveolar e, no tercero, no ponto velar.

Nasais

Se o ar é bloqeado na cavdade oral, mas o vé está abaxado, permtndo a propagação do arpela cavdade nasal, temos a prodção de consoantes nasas, como no caso dos sons ncas de “maçã”,

“nata” o “nhoqe”. No caso da consoante ncal da prmera palavra, o bloqeo à passagem do ar, ooclsão da cavdade oral, se dá no ponto blabal; para a segnda palavra, a oclsão ocorre no pontodental e, para a tercera, no ponto palatal.

Embora tanto os sons nasas como os oras descrtos no tem medatamente anteror possamser classcados como consoantes oclsvas, os onetcstas geralmente sam este últmo termo comoreerênca às oclsvas oras, sendo o termo “nasal” exclsvo para ndcar os sons prodzdos pelo

4 O echamento completo do trato vocal az com qe se estabeleça ma constrção mto severa, o qe mpossblta o ar egresso dos

plmões de se propagar no nteror do trato.

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22 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

abaxamento do vé. A gra abaxo, qe traz m trato vocal estlzado, lstra o mecansmo artclatóronecessáro para a prodção das consoantes nasas. Note qe é possível haver oclsão em qatro pontos

do trato: blabal, alveolar, palatal e velar.

Modelos do trato vocal para a prodção de consoantes evogas nasalzadas

Vogal: cavdades oral e nasal abertas.

Consoante: cavdade nasal aberta e obstrção blabal alveolar(A) o velar (V).

Narz

Lábos

VOGAL

Larnge

CONSOANTE

B A V

Figura 2

Vibrantes

As vbrantes ocorrem no Portgês braslero como varantes do som de /r/. Elas são caracterís

tcas de algns daletos – como os do Sl do País – e são prodzdas majortaramente por pessoas deaxa etára mas avançada. Além dsso, no geral, ocorrem em níco absolto de palavras, como em “rma”o “rápdo”. Ocorrem também no Francês, como na palavra “r ue” (ra) – mas note qe, nessa línga, oponto de artclação da vbrante é derente do se ponto de artclação no Portgês. Vercamseanda em língas como o OroEo, ma línga pertencente ao grpo war, da amíla Chapakra, aladapor índos qe habtam a regão do ro PacaásNovos, em Rondôna. No caso dessa línga, os artcladores envolvdos são os lábos, qe se jntam e se aastam rapdamente para prodzr a vbração.

A prodção desses sons envolve repetdas vbrações dos artcladores – seja da ponta da línga,como no caso da varante de /r/ do Portgês braslero, seja da úvla, como no caso do som do Francês.Essa manobra artclatóra promove a alternânca entre rápdos períodos de obstrção à passagem doar e rápdos períodos em qe o ar se propaga lvremente pelo trato. Daí a sensação adtva de vbração

qe dá nome a essa classe de sons.

Tapes (faps)

A prodção dos Tapes é mto semelhante à das vbrantes. A únca derença está no atode qe, nesse caso, há m únco período de obstrção à passagem do ar provocado pela batdada ponta da línga na regão speror do trato e no qal a voz pratcamente desaparece, segdode m período em qe a voz é retomada e o ar passa lvremente pelo trato. Em Portgês, o Tape ocorre em palavras como “ópera”, “carta”, “cantor”, “prato”.

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23|Distinguindo os sons da ala: consoantes

Fricativas

Um otro modo de nterromper a corrente de ar no trato vocal ocorre qando prodzmos asprmeras consoantes de palavras como “ ácl”, “váco”, “severo”, “cnema”, “zangão”, “xícara”, “chave”,“ jnho”. Nesses casos, não há oclsão total do trato, mas ma grande constrção, qe orma mpeqeno canal entre a línga e o cé da boca, como pode ser vsto na gra abaxo. O ar qepassa por esse canal se torna mto trblento e prodz o som sblante qe é característco dasconsoantes rcatvas. Note qe, ao contráro das oclsvas, a prodção das rcatvas pode ser sstentada, o qe snalza qe a oclsão do trato não é total.

Figura 3 – Ilustração da turbulência no trato vocal para a produção das consoantes ricativas

JatoTrbllh

1L

Constrção

Uma últma observação: há rcatvas mas agdas qe otras, como aqelas em “ severo”,“cnema”, “zangão”, “xícara”, “chave”, “ jnho”. Elas são chamadas, algmas vezes, “sblantes”, em oposçãoàs rcatvas “ nãosblantes”, presentes em “ ácl”, “váco”.

Laterais

A prodção das consoantes lateras envolve o bloqeo da corrente do ar nm ponto emtorno do centro do trato vocal, com ma oclsão ncompleta entre m o os dos lados da língae o cé da boca. Essa oclsão orma m canal lateral pelo qal o ar se propaga. São exemplos delateras no Portgês braslero sons como os de “ lata” o “placa”, o anda “palha”. Note qe, embora tlzemos esse mesmo graema em nal de sílaba, como em “alnete”, o som prodzdo nãoé propramente ma lateral – pos não há o toqe da ponta da línga no cé da boca e o dorso dalínga se poscona mas retraído qe para a prodção de ma lateral, o qe caracterza a prodçãode ma semvogal, o aproxmante. Frsese qe essa observação se aplca à maora dos daletosbrasleros, nos qas ocorre a vocalzação da lateral. Entretanto, no Ro Grande do Sl, especalmente na ala de pessoas de axa etára mas avançada, anda se encontra a lateral velarzada emtrava de sílaba, sto é, em nal de sílaba, como em “alnete” o “Brasl”. Para a prodção dessa lateralvelarzada, o dorso é posterorzado, e a ponta da línga toca lgeramente a porção rontal speror

do trato, ormando aí canas lateras, por onde o ar se propaga.

Aproximantes

Também denomnadas semvogas o glides (embora napropradamente, vide Ladeoged eMaddeson, 1996. 5 Os sons representados pelos graemas “” e “” em palavras como “caixa” o “pauta”

5 De acordo com esses atores (p. 322), a termnologa glide é empregada “com base na déa de qe os sons envolvem m rápdo movmento,

partndo da posção de ma vogal alta em dreção a ma vogal mas baxa”. No entanto, segndo eles, tas consoantes podem ser gemnadas

em algmas língas.

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24 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

e anda o som representado pelo graema “l” em “alnete”, são prodzdos pela aproxmação de martclador em dreção a otro, mas sem m estretamento do trato a ponto de ser prodzda ma

corrente de ar trblenta, como no caso das rcatvas.

Esses sons são ntermedáros a consoantes e vogas, no sentdo de qe, dentre as consoantes, sãoas qe exbem constrção em menor gra. Daí se assemelharem a vogas. Por otro lado, ocorrem sempre na margem das sílabas, sto é, em posção contíga ao núcleo slábco, ma característca nconalqe torna esses sons semelhantes a consoantes.

Aricadas

Exstem algns sons cja prodção envolve mas de m modo de artclação, por exemplo, ossons ncas de “títlo” e “dívda”, em daletos como o caroca o o crtbano, o de “church” (greja)e “ j ingle” (tndo), em Inglês. Neles, há m prmero momento em qe o toqe da ponta da línga naregão alveolar do trato promove obstrção total à passagem do ar. Em segda6, o contato é aroxado,resltando daí m momento em qe se orma m estretamento do trato, por onde o ar se propaga,trblento. Portanto, a prodção dessas consoantes, denomnadas arcadas, envolve m prmero momento de oclsão segdo de m momento típco das consoantes rcatvas.

Cruzando ponto e modo de articulaçãoDeve car claro qe as consoantes caracterzadas por m mesmo modo de artclação, por exem

plo, as rcatvas, podem ser prodzdas em város pontos ao longo do trato. Assm, enqanto a prmeraconsoante da palavra espanhola “vaca” é prodzda no ponto blabal, a prmera consoante da palavra

portgesa “vaca” é prodzda no ponto lábodental. A prmera consoante da palavra “sopa”, por savez, é prodzda no ponto alveolar.

Analogamente, consoantes prodzdas no mesmo ponto de artclação podem ser prodzdasde modos dstntos. Então: as prmeras consoantes de “teto”, “dúvda”, “nvem”, “sonho,“zmbdo” sãotodas prodzdas no ponto alveolar. Entretanto, nas das prmeras palavras, temos consoantes oclsvas; na tercera, ma nasal; e, nas das últmas, rcatvas.

O crzamento das normações a respeto de ponto e modo de artclação nos permte caracterzaras váras consoantes das língas do mndo, porém não ndvdalmente. Isso porqe, no caso dos sons de“teto” e “dúvda” o “sonho” e “zmbdo”, temos, respectvamente, oclsvas alveolares e rcatvas alveolares.Como, então, podemos derencar [t] de [d] o [s] de [z], já qe até aq, pelos parâmetros de ponto e modo

de artclação, eles são ndstntos? Para sso é necessáro m tercero parâmetro artclatóro, a sonoridade.

SonoridadeEsse parâmetro relaconase à vbração o nãovbração das pregas vocas drante a prodção

de m som: como já menconamos, o ar egresso dos plmões se propaga pela traqéa e, chegandoà larnge, deve passar pelas pregas vocas. Caso elas estejam aastadas, o ar passará por elas sem

6 É precso rsar qe esse “em segda” se dá em qestão de pocos mlssegndos, o seja, o relaxamento da oclsão e conseqüente ormação

da constrção se dá de modo mto rápdo.

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25|Distinguindo os sons da ala: consoantes

qe vbrem, sto é, sem qe o movmento qe o ar provoca nas pregas seja sgncatvo o scentepara caracterzar a vbração. No entanto, se as pregas estão dspostas de modo a haver somente ma

passagem estreta entre elas, a pressão da corrente de ar ará com qe vbrem. Os sons prodzdospela vbração das pregas são denomnados sonoros, em oposção aos sons surdos, prodzdos qandoas pregas estão aastadas.

Como derencar adtvamente sons srdos dos sonoros? Se você assstr a m vídeo, em câmeralenta, de algém alando selo e z elo, será dícl o até mpossível dstngr [s] de [z] sem o som, porqeos movmentos dos artcladores vsíves – como os lábos – para a prodção dessas consoantes sãodêntcos. Para evdencar a derença, encoste sa mão na garganta e prodza, drante algm tempo,m som qe alterne entre [s] e [z]. Você sentrá ma leve sensação de zmbdo nos ses dedos enqanto prodz [z], mas não sentrá ao prodzr [s], jstamente porqe a sensação de zmbdo é casada pelavbração das pregas vocas.

Exste ma otra manera de dstngr sons srdos dos sonoros – e qe é bem mas evdente qea adtva – qe é pela análse acústca dos sons da ala. Vsalmente, os espectrogramas nos permtemnotar a presença de ma barra de sonordade7 drante a prodção de sons sonoros, contraramenteaos sons srdos, qe não exbem a tal barra de sonordade. Isso cará mas claro qando abordarmos aanálse acústca dos sons da ala.

Por m, é precso ressaltar qe o contraste srdo/sonoro é bastante prodtvo nas língas domndo em geral, sendo mtas vezes o únco parâmetro artclatóro responsável pela dstnção entresons, como nos casos das consoantes ncas dos pares: “pco/bco”; “tela/dela”; “cato/gato”; “selo/zelo”;“chato/ jato”; “ aca/vaca”.

Crzando ponto, modo de artclação e sonordade chegamos à caracterzação ndvdal dossons consonantas. O passo segnte é chegar à caracterzação ndvdal dos sons vocálcos.

Texto complementar

7 A barra de sonordade é a energa de prodção localzada nma regão de reqüênca baxa do espectro, vsível no pé do espectograma como

ma “lnha horzontal” bem escra.

DislaliaNormalmente, até os 6 anos de dade, a maora dos sons da ala já está adqrda. A dslala o

transtorno especíco de artclação da ala ocorre qando a aqsção dos sons da ala pela crançaestá atrasada o desvada, levando a:

má artclação e conseqüente dcldade para qe os otros a entendam;::

omssões, dstorções o sbsttções dos sons da ala;::

nconsstênca na coocorrênca de sons (sto é, a crança pode prodzr onemas correta::

mente em algmas posções nas palavras, mas não em otras).

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26 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

A gravdade do dstúrbo artclatóro vara de poco o nenhm eeto sobre a ntelgbldade

da ala até ma ala completamente nntelgível, embora, mesmo nesses casos, as pessoas da amíla compreendam o qe a crança qer expressar.

Exstem város atores etológcos, além dos aspectos qe avorecem ndretamente a exstênca e mantenção da alteração, como:

permanênca de esqemas de artclação nants;::

déct na dscrmnação adtva;::

déct na orentação do ato motor da línga;::

Alterações na respração, nadeqação da mastgação e degltção, hábtos oras nadeqados(so prolongado da chpeta e mamadera, oncoaga e scção de dedo), podem casar prejízosanatômcos e nconas no sstema oroacal da crança, alterando os movmentos adeqados e

necessáros para a prodção correta dos onemas.

Dversas classcações são encontradas para o dstúrbo artclatóro, entretanto a classcaçãoabaxo é bastante esclarecedora:

Dislalias onológicas:: – os mecansmos de concetalzação dos sons e as relações entresgncantes e sgncados estão aetados, os sons não se organzam em sstemas e nãoexste ma orma aproprada de sálos em m contexto.

Dislalias onéticas:: – determnadas por processos sológcos, de realzação artclatóracom traços característcos de ncoordenação motora e/o nsensbldade orgânca.

Exstem alterações artclatóras nos casos de dsartras, entretanto estas são ocasonadas pordanos cerebras.

(Dsponível em: <www.plenamente.com.br/dagnostcos8.htm>. Acesso em: 21 ago. 2007.)

Atividades  É precso observar qe a tpologa dos pontos de artclação tem m caráter extremamente

estátco. Por conta dsso, ao ler os conteúdos abordados, podemos ter a mpressão de qe

para prodzr m som rcatvo lábodental srdo como [], os lábos nerores têm, obrgatoramente, de tocar os dentes rontas sperores. No entanto, técncas de análse artclatóra, baseadas em técncas como radograa do trato, eletropalatograa o ressonâncamagnétca, nos mostram qe é possível prodzrmos m [ ] típco sem qe os lábos toqemcompletamente os dentes. Portanto, os pontos de artclação menconados são consderados alvos a serem alcançados drante a prodção de m som, podendo o não os artcladores atngrem, completamente esse alvo. Isso acontece porqe a ala é m ato dnâmco e,conseqüentemente, se estdo reqer também m olhar dnâmco. Um olhar dscreto sobrea ala casa, atalmente, m redconsmo mprecso sobre esse ato. Essa observação – ressaltese – estendese também às vogas.

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27|Distinguindo os sons da ala: consoantes

  Com base no texto qe você acabo de ler, responda às qestões abaxo:

1. O ato artclatóro qe derenca consoantes de vogas é:

a) As consoantes são sons qe envolvem ma artclação bem mas complexa qe as vogas.

b) Consoantes são prodzdas por constrção sgncatva no nteror do trato, enqanto vogassão prodzdas por constrção mto peqena.

c) A artclação das consoantes acontece no trato vocal, pela ação da posção derente dosartcladores e as vogas são artcladas na larnge.

d) A artclação das consoantes ocorre com as pregas vocas aastadas e sem vbrar e as vogassão artcladas com vbração das pregas.

2. Para a caracterzação artclatóra das consoantes:a) levase em conta apenas o gra de constrção envolvdo na prodção desses sons.

b) consderase apenas a ação das pregas – se vbram o não – drante a prodção desses sons.

c) consderase exclsvamente o local do trato onde é realzada a constrção de cada som.

d) consderase o local do trato onde a constrção é eta, o gra dessa constrção e a ação daspregas.

3. A caracterzação artclatóra das consoantes, tal como é eta, tem natreza estátca. Daí decorre:

a) ma completa mprecsão relatvamente à manera como as consoantes são artcladas e ao

ponto do trato onde são prodzda.b) a ncerteza sobre a conabldade dos parâmetros tomados para a classcação das consoantes

e a necessdade de revêlos.

c) ma alsa mpressão de qe, para se prodzr m som, os artcladores devem estar posconados exatamente como descrto.

d) a possbldade de se determnar m modo e ponto certos e m modo e ponto errados deartclar os sons consonantas.

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Distinguindo os

sons da ala: vogaisHá das derenças crcas entre a prodção de vogas e a prodção

de consoantes:

as consoantes são prodzdas em toda a extensão do trato – há::

desde consoantes blabas, como [p, b], até consoantes glotas,como [h]; as vogas, em contrapartda, são prodzdas nmaregão do trato compreendda entre palato e vé palatno (vide gra 1);

as consoantes oerecem resstênca à passagem do ar em maor::

o menor gra; já as vogas oerecem qase nenhma resstêncaà passagem do ar no trato.1

Além dsso, as vogas são geralmente sonoras – o qe sgnca qea sonordade não é m bom parâmetro para dswtngr vogas – e mtasdelas são prodzdas com o arredondamento dos lábos sobreposto à saartclação, ma manobra qe pode, nclsve, derencar vogas entre s. Note qe, no caso das consoantes, o arredondamento dos lábos não é m parâmetro qe dstnge sons consonantas.

Distinguindo as vogais entre siDadas todas as derenças artclatóras entre consoantes e vogas, apontadas anterormente, já deve

ter cado clara para você a mpossbldade de caracterzar os sons vocálcos pelos mesmos crtéros artclatóros qe tomamos para a caracterzação das consoantes – ponto, modo de artclação e sonordade.

1 Descrções encontradas em lvros ddátcos de Línga Portgesa o gramátcas escolares geralmente caracterzam as vogas como sons

qe “dexam o ar passar lvremente pelo trato”. Entretanto, pareceme mas precso dzer qe o ar não passa tão lvremente no nteror do

trato drante a prodção das vogas, ma vez qe o movmento de dorso de línga promove algma constrção al, embora essa seja ma

constrção bem menor qe aqela qe se orma para a prodção dos sons consonantas, no geral.

palato vé palatno

Regão do trato vocal tlzada naprodção das vogas.

Figura 1

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30 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Assm, os parâmetros artclatóros tomados para descrever as dstnções artclatóras entre asvogas serão:

gra de abertra da mandíbla, qe se reete na altra da línga no trato;::

posção da línga no trato;::

arredondamento dos lábos.::

Abertura da mandíbulaO movmento vertcal da mandíbla – sa abertra – é crcal para qe se estabeleçam as deren

ças entre os gras de abertra das vogas. Assm, por exemplo, a derença ndamental entre [e] – nmapalavra como “ele”2 – e [ ] – nma palavra como “ela” – é o ato de qe [e] é prodzda com a mandíbla

mas echada, o mas alta, qe [ ]. A mesma observação vale para [] e [e] o para [] e [o], assm comopara [o] e [ ].

Veja qe a línga se lga à mandíbla através de dversos músclos. Por sso, qando a mandíblase abaxa o se levanta o dorso da línga acompanha esse movmento, abaxandose o levantandosetambém.

As vogas prodzdas com a mandíbla echada são dtas echadas o altas. A nomenclatra alta az alsão à posção do dorso da línga. São vogas echadas o altas [] e [ ], por exemplo, como em“ilha” o “uva”.

Se abrrmos m poco a mandíbla, o dorso de línga abaxará lgeramente, resltando dessamanobra as vogas semi-echadas, como [e] e [o]. Abrndo m poco mas a mandíbla e, conseqüente

mente, abaxando m poco mas o dorso, teremos as vogas meio-abertas, como [ ] [ ], como em “ela”o “pó”.

Fnalmente, se abrrmos anda mas m poco a mandíbla, chegaremos à sa abertra máxmae, conseqüentemente, ao abaxamento máxmo de dorso de línga. Dessa manobra resltam as vogas[a] e [ ]. Essa últma vogal ocorre no Inglês brtânco em palavras como “ ather ”.

Movimento do dorsoOtro parâmetro artclatóro qe caracterza a prodção das vogas é o movmento do dorso da

línga no sentdo sagtal do trato, sto é, da posção anteror (próxma aos lábos) à posção posteror

(próxma à glote). Lembrese, entretanto, qe qando nos reermos à prodção das vogas temos qeconsderar qe o ponto mas anterorzado qe o dorso consege alcançar corresponde ao ponto palatal; o ponto mas posterorzado qe o dorso consege alcançar, por sa vez, é o velar (vide gra 2).

Consderandose, então, o movmento do dorso nessa dmensão sagtal, podemos classcar asvogas em anteriores, o seja, aqelas prodzdas com o dorso maxmamente projetado para rente,portanto mas próxmo do ponto palatal, como [ ], [ ] o [ ].

2 Observe qe a vogal rsada nesse exemplo é aqela representada pela prmera ocorrênca da letra “e”, qe está negrtada. A segnda

ocorrênca não o snalzada porqe, como veremos mas adante, ela representa m som lgeramente derente de [e].

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31|Distinguindo os sons da ala: vogais

As vogas prodzdas com o dorso maxmamente retraído, portanto mas próxmo do ponto velar,são chamadas posteriores. É o caso de [ ], [ ] e [ ].

Há, anda, a possbldade de qe sejam prodzdas vogas ntermedáras a esses dos pontos extremos, sto é, nem anterorzadas, nem posterorzadas, mas centras. É o caso, por exemplo, da vogal [ ].

Vogais cardinais

Crzandose os dos parâmetros artclatóros abordados acma – abertra de mandíbla e movmento de dorso– é possível estabelecer as “vogas cardnas”, o “vogasbase”,a partr das qas se podem caracterzar as otras vogas encontradas nas língas do mndo. Observe a gra 2:

Nessa gra, vemos esqematzadas as posções máxmas qe o dorso da línga consege alcançar drante aprodção das vogas:

máxma projeção rontal, com máxmo levantamento,::

caracterzando a prodção de [] ;

máxma retração, com máxmo levantamento,::

caracterzando a prodção de [] ;

máxma projeção rontal, com máxmo abaxamento,::

caracterzando a prodção de [a] ;

máxma retração, com máxmo abaxamento,::

caracterzando a prodção de [ ] .

Qem prmero observo, através de dados expermentas3, qe o crzamento dos parâmetrosabertra de mandíbla e movmento de dorso estabeleca pontos extremos na artclação das vogaso o onetcsta nglês Danel Jones (1956). O qe zemos anterormente, portanto, o reprodzr, demanera bastante smplcada, o percrso de Jones para qe ele pdesse chegar à proposta das vogascardnas. Mas, anal, o qe são elas?

Além de vercar qe o crzamento dos movmentosde dorso e mandíbla reslta nas qatro vogas extremas[, , , a], Jones também observo, pelos mesmos dadosexpermentas, haver ma eqüdstânca entre as vogas noqe concerne ao gra de abertra de mandíbla. Assm, dspondo nm qadro as qatro vogas extremas e aqelas ntermedáras a elas qanto ao gra de abertra de mandíbla, Jones chego ao qe ele chamo “vogas cardnas”, qeoram dspostas no qadro 1.

No qadro, a eqüdstânca entre os gras de abertradas vogas é lstrada pelas lnhas também eqüdstantes.

Trato vocal com os pontos máxmos qe o dorsoda línga alcança para a prodção das vogas.

i

a

u

Figura 2

Qadro das vogas cardnas: observe aeqüdstânca entre elas

    D    i   s   p   o   n    í   v   e    l   e   m   :   <   w   w   w .   p

    h   o   n   e   t    i   c   s .   u   c    l   a .   e

    d   u    /

   c   o   u   r   s   e    /   c    h   a   p   t   e   r    9    /   c   a   r    d

    i   n   a    l    /   c   a   r    d    i   n   a    l .    h   t   m    l   >

Quadro 1

3 RaosX do trato vocal, no momento da prodção de cada m dos sons vocálcos.

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32 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Note qe tal observação permte nclr no qadro vogas ntermedáras a [] e [a], por m lado, e [] e [], por otro. À esqerda do qadro dspõemse, então, as vogas anterores e, à dreta, as vogas

posterores. Você já deve ter se dado conta de qe as vogas da sére anteror se nem por ma lnhanclnada, derentemente das vogas da sére posteror. Isso acontece porqe Jones também observoqe, na artclação das vogas anterores, à medda qe a mandíbla va se abrndo, há ma lgeraretração do dorso – da ordem de algns pocos mlímetros, apenas. É possível ver esse ato na gra1, qe traz esqematzada a artclação das vogas extremas. Na sére das vogas posterores, por otrolado, não há retração do dorso, daí as vogas serem ndas por ma lnha reta.

Veja qe o Portgês poss em se nventáro de sons qase todas as vogas cardnas – comexceção de [ ]. Note também qe você pode vercar a derença de abertra entre as vogas menconadas através de m exercíco mto smples: coloqe sa mão sob se qexo e, em segda, prodza,devagar, a sére das vogas anterores, por exemplo: à medda qe você va prodzndo a seqüênca [,e, , a] você consege vercar qe sa mão va abaxando. Por qe sso acontece? Porqe a mandíbla

va se abrndo e, conseqüentemente, emprrando sa mão para baxo. Você pode azer o mesmo testecom a sére das vogas posterores.

Cabe observar, para nalzar essa seção, qe além dessas, há otras vogas qe se adconam aoconjnto, mas não necessaramente estabelecendo entre s a mesma relação de eqüdstânca. Todo ogrpo das vogas qe os onetcstas consegram regstrar até hoje constt o qe se convenconochamar de “qadrlátero vocálco”.

Arredondamento dos lábiosApesar de estabelecer derença entre algmas vogas, o crzamento de abertra de mandíbla e

posção do dorso da línga não é scente para caracterzar e derencar todos os sons vocálcos. Atéporqe há língas, como o Francês, qe opõem vogas anterores altas como [] – em palavras como“ol ie4” (locra)– a vogas como [y] – em palavras como “r ue” (ra).

Como, então, derencar essas vogas? Através de m tercero parâmetro classcatóro, o arredondamento dos lábos. Tal parâmetro reslta de ma manobra de aproxmação e protrsão5 labal.Essa manobra artclatóra, qe ndepende da posção da línga no trato – o seja, é possível sobrepôlaa vogas anterores, centras e também a vogas posterores – é explorada por dversas língas em sessstemas vocálcos. O Francês é apenas m exemplo de línga qe explora essa manobra.

Língas como o Vetnamta,6 por exemplo, opõem vogas da sére posteror apenas através doarredondamento dos lábos. Assm, há palavras como [tw] “avante” e [t] “beber” têm como traço qe

as dstnge apenas o arredondamento dos lábos, presente na vogal da prmera palavra, mas não nada segnda. Ambas as vogas são posterores e echadas. As palavras [tγ] “seda” e [to] “prato de sopa”também se dstngem apenas pelo arredondamento dos lábos, presente na vogal da segnda palavrado par. Tanto esta como a vogal da prmera palavra do par são posterores semechadas. Por m, aspalavras [tŋ] “avor” e [tc] “largo” têm vogas posterores meoabertas, sendo a vogal da prmera palavranãoarredondada e a vogal da segnda, arredondada.

4 Estão negrtadas os dos graemas vocálcos, tanto desse exemplo como do segnte, pelo ato de ambos os graemas representarem o som

da vogal em qestão.

5 O seja, os lábos se projetam para rente.

6 Os dados são de Ladeoged e Maddeson, 1996, p. 293.

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33|Distinguindo os sons da ala: vogais

Nomeando as vogaisComo você já sabe, os três parâmetros qe ctamos acma – abertra da mandíbla, posção do

dorso da línga e arredondamento dos lábos – nos permtem chegar à caracterzação de m e apenasm som vocálco no nventáro de todas as vogas regstradas nas língas do mndo.

Para dar nome a ma determnada vogal, então, o caracterzála do ponto de vsta artclatóro,recorremos aos três parâmetros, na segnte ordem: prmero, menconamos a posção do dorso dalínga; em segda, a abertra da mandíbla e, nalmente, o movmento dos lábos. Assm, ma vogalcomo [] será ma vogal anteror alta nãoarredondada, contraramente a [y], aqela vogal qe, comovmos acma, ocorre no Francês, e qe é ma vogal anteror alta arredondada. A vogal [o], por sa vez, éposteror semechada arredondada, e assm por dante.

Frsese, mas ma vez, qe “alta” e “echada” são snônmos, assm como “baxa” e “aberta”.

Vogais reduzidasExstem, no nventáro dos sons vocálcos, vogas qe se realzam ntermedáras a das otras,

resltantes de m posconamento de dorso m poco mas retraído o m poco mas avançado ede abertra da mandíbla ntermedára a das vogasbase. São vogas como [I] o []. No caso daprmera, a abertra da mandíbla é ntermedára àqela qe caracterza as vogas [] e [e] e o dorso seretra lgeramente7, também relatvamente à posção qe o dorso assme para a prodção das dasvogas cardnas. Com relação a [], a abertra da mandíbla para sa prodção é ntermedára àqela

necessára para prodzr as vogas [] e [o], ao mesmo tempo em qe o dorso se adanta m poco,consderandose a posção qe ele assme para a prodção dessas das vogasbase.

Essas vogas, qe ocorrem em língas como o Inglês – em palavras como “shi  p”, (navo), porexemplo e em oposção a [], como em “shee p” (ovelha) – ocorrem também no portgês, mas nãode manera dstntva, como no Inglês. Tas vogas, dtas reduzidas, ocorrem no Portgês em posçãoátona, especalmente a átona nal. O seja, há mdanças na posção do dorso e na altra da mandíblacondconadas pelo padrão acental da palavra onde se encontram as vogas. Assm, [I] ocorre empalavras como “dele” – note qe o graema “e” também representa esse som, e era essa a lgera derençaa qal nos reeríamos anterormente, na nota 2, qando menconávamos qe, nma palavra como “ele”,o mesmo graema representava dos sons não exatamente gas.

A vogal [], por sa vez, ocorre em palavras como “povo”. Tente pronncar ma vogal [], como

a de “uva”, o tente pronncar a vogal nal como a vogal [o] da prmera sílaba da palavra em qestão.Você verá qe se trata de três sons derentes. Você anda pode colocar a mão sob se qexo e pronncar a mesma palavra “povo”. Poderá constatar qe sa mão “sobe” qando você prodz o nal dapalavra. E sso acontece porqe a sa mandíbla se echo lgeramente, relatvamente à posção qeocpava para a prodção de [o].

Além dessas vogas, ocorre também a vogal [a], na sílaba nal de palavras como “casa”. Recorra novamente àqele procedmento para vercar a altra da mandíbla na prodção das vogas e coloqe

7 Note, novamente, qe qando se mencona ma “lgera” retração de dorso o qe a abertra da mandíbla é “m poco” maor o menor

qe aqela qe esse artclador descreve drante a prodção de ma vogalbase estáse reerndo a derenças mlmétrcas, sempre.

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34 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

sa mão sob o qexo: você notará, ao prodzr a palavra “cas a”, qe sa mão sobe no momento emqe você prodz a segnda vogal. Isso porqe a mandíbla se echa para prodzr esse som. Também a

posção do dorso da línga não é a mesma qe aqela assmda para a prodção de [a]: no caso destavogal [a], o dorso se posterorza, relatvamente à posção qe ocpa para a prodção de [a]. Novamente, portanto, m mesmo graema, nesse caso, “a” representa dos sons dstntos.

Para nomear essas vogas, como se abordo para as demas na seção anteror, o procedmento éqase dêntco àqele, exceto pelo ato de qe devemos rsar qe se trata de vogas redzdas. Assm,[I], por exemplo, deverá será nomeada “vogal anteror alta nãoarredondada redzda”.

À gsa de nota: ma das derenças entre Portgês braslero e Portgês erope – alado emPortgal – é a ocorrênca de [a] em posção átona nal. Em Portgês erope ocorre, nessa mesmaposção, a vogal netra, o schwa [ ]. Assm, nma palavra como “casa”, os alantes de Portgês eroperealzam algo como [ ]. Essa vogal recebe o nome de “vogal netra” porqe, spostamente, o dorsonão se desloca de sa posção de reposo e a mandíbla se abre m poco, alcançando ma posçãontermedára àqela reqerda para vogas altas e à necessára para a prodção de vogas baxas.

Articulações que se sobrepõem às vogais

Vogais com ATR e vogais aringalizadasAs manobras artclatóras relatvas à posção do dorso da línga, à abertra da mandíbla e ao

arredondamento dos lábos prodzem as vogas qe abordamos nas seções qe antecedem esta. Mastas manobras podem anda ser sobrepostas por mas algma.

Assm, Ladeoged e Maddeson (1996), observam qe o movmento de raz da línga 8 pode derencar vogas em algns sstemas lngüístcos, como é o caso da Línga Akan, alada no Ganda e na Costa doMarm (Árca), o da Línga Igbo (alada na Ngéra). Nessas língas, sobrepõese à artclação das vogasma manobra de projeção da raz, qe se convencono chamar de ATR (sgla em Inglês para advanced 

tongue root , o “raz da línga avançada”9). Ladeoged e Maddeson (1996) menconam, com base em dados artclatóros – lâmnas de raosX – qe, nessas língas, a dstnção das vogas qanto a ATR são masóbvas para as vogas altas. De acordo com os dados expermentas, mantémse gal a altra das vogas– por exemplo [] e sa contraparte prodzda com avanço de raz de línga –, mas a prncpal derença éqe, na prmera vogal, a raz da línga é mas retraída qe na segnda.

É possível também qe o movmento antagônco à projeção da raz da línga se sobreponhaà artclação das vogas: nesse caso, temse a retração do dorso da línga qe, sobreposto aos sonsvocálcos, prodz as vogas arngalzadas. Ladeoged e Maddeson (1996) relatam qe tas vogas sãoencontradas na Línga Even, alada ao norte da Sbéra, e também nas língas cacasanas (aladas naRússa, Trqa e Jordâna) e nas língas khosan (aladas em regões próxmas ao deserto de Kalahar,como Angola, Botswana, Namíba e Árca do Sl). Na Línga Even, por exemplo, é possível encontrar asvogas [, , o] e sas contrapartes arngalzadas, como os atores mostram através de raosX.

8 Porção mas posteror da línga, qe constt a parede rontal da arnge.

9 Mantemos a sgla em Inglês por ser essa a denomnação corrente na lteratra para a manobra artclatóra qe descrevemos nessa seção.

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35|Distinguindo os sons da ala: vogais

Nasalização

Das manobras qe se podem sobrepor à artclação das vogas, a mas reqüente nas língas domndo10 e também a mas amlar para nós é a nasalzação, porqe o Portgês opõe vogas nasalzadas a vogas nãonasalzadas, o oras, como em “ata/ anta” o “cta/cnta”.

Como se prodzem as vogas nasalzadas? Bascamente,sobrepondose a cavdade nasal à cavdade oral. Consdere, então, qe toda aqela estrtra anatômca qe constt o tratovocal, e qe abordamos na nossa prmera ala de onétca, podeser esqematzada como na gra 3.

É nessa estrtra qe prodzmos vogas como [, a, ]. A manera como se az sso é abordada nas prmeras seções dessa ala.

Consdere, em segda, qe além dos movmentos de dorso, mandíbla e lábos qe realzamos para artclar cada madessas vogas, é possível abaxar o vé palatno. Dessa manobra reslta a possbldade de qe o ar egresso dos plmões sepropage também pela cavdade nasal – além, obvamente, dese propagar pela cavdade oral. Temos, então, o acoplamento dacavdade nasal à oral, como pode ser vsto na gra 4.

O eeto do acoplamento da cavdade nasal à oral, no casoespecíco do Portgês, é o segnte: desazse a dstnção entreas vogas médas [e, ] e [o, ], resltando daí as vogas [ , õ]. Avogal [a], ao ser realzada com nasaldade sobreposta, se eleva

– porqe a mandíbla echa lgeramente e o dorso da línga assme ma posção pratcamente ntermedára à sére anteror eà sére posteror – resltando daí o som [ ], como em “anta"11. Asvogas [, ] pratcamente não têm sa qualidade12 alterada, resltando então, sobreposção da nasaldade à sa artclação asvogas [i u]. Temos, então, na Línga Portgesa, m qadro decnco vogas nasalzadas: [i, , , õ, u], qe podemos reconhecerem palavras como “ímpeto”, “pente”, “panda”, “ponte”, “unta”. Repare qe, nesses exemplos todos, m únco som – a vogal nasalzada – é graada com das letras (o graemas).

Para nalzar: embora as vogas nasalzadas sejam mto

reqüentes nas língas do mndo – como menconávamos no níco dessa seção – elas não ocorrem, obrgatoramente, em todasas língas, anda qe algmas possam ser aparentadas. É o casodo Espanhol, qe não tem as vogas nasalzadas. Essa derença no sstema vocálco das das língascasa problemas tanto para alantes natvos de Portgês qe aprendem Espanhol, como para alantesnatvos de Espanhol qe aprendem Portgês. No prmero caso, a dcldade exste porqe os alantes

10 Maddeson (1984, apd Ladeoged; Maddeson, 1996, p. 298) nota, com base nm conjnto de dados pertencentes a mas de 300 língas

derentes, qe a nasalzação ocorre em mas de 20% dessas língas.

11 Perceba qe, nesse exemplo, dos graemas representam apenas m som – a vogal central nasalzada.

12 Dzse “qaldade da vogal” à mpressão adtva qe se tem dela e qe reslta dos movmentos de dorso, mandíbla e lábos.

Lábos

Pregas vocas

Desenho esqemátco do trato vocal

Figura 3

Cavdade nasal

Cavdade oral

Lábos

Pregas vocas

Desenho esqemátco do acoplamentoda cavdade nasal à cavdade oral para aprodção de vogas nasalzadas.

Figura 4

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de Portgês tendem a nasalzar vogas qe, no Espanhol, são realzadas como vogas oras segdasde consoantes nasas. No otro caso – o dos alantes natvos de Espanhol qe aprendem Portgês – a

dcldade exste porqe tendem a pronncar como ma vogal oral segda de consoante nasal mavogal qe, em Portgês, é nasalzada. Dcldades análogas para os alantes natvos de Portgês srgem, anda, qando aprendem Italano o Alemão, por exemplo, e pelas mesmas razões apontadas.

Para complementar a letra do texto deste capítlo, o alno poderá recorrer às segntes reerêncas:

CALLOU, D.; LEITE, Y. Introdução à Fonética e à Fonologia. Ro de Janero: Jorge Zahar, 1995.

Slva, T. C. Fonética e Fonologia do Português. São Palo: Contexto, 1999.

Nesses lvros, qe são manas ddátdos para o ensno de onétca e onologa, encontrase acaracterzação dos sons vocálcos.

Texto complementar

(SILVA, 2007)

Smlarmente ao qe se observa sobre a tpologa dos pontos de artclação para as consoantes,também os parâmetros adotados para a descrção das vogas têm caráter m tanto estátco, o qe podelevar à alsa déa de qe m [a], por exemplo, só se caracterza enqanto tal se prodzdo com a língaexatamente na mesma posção dsposta na gra 2. Mas ma vez, é precso notar qe exste m “espaçode varação” dentro do qal [a] pode ser prodzdo assmndo as sas característcas e não as de otrasvogas. Além dsso, o caráter estátco da classcação acma não capta algmas característcas envolvdasna prodção das vogas, como estas apontadas por Ladeoged (1975):

1) as vogas denomnadas “altas” não são prodzdas todas com o corpo da línga na mesma altra;

2) as vogas posterores varam consderavelmente no se gra de posterorzação;

3) o ormato qe a línga assme drante a prodção de vogas anterores é dstnto daqele qeassme para a prodção de vogas posterores;

4) a largra da arnge vara consderavelmente e de certa manera ndependente da altra da línga em derentes vogas.

Atividades  Com base no texto qe você acabo de ler, responda às qestões abaxo:

1. Qas são os parâmetros artclatóros tlzados para a caracterzação dos sons vocálcos?

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37|Distinguindo os sons da ala: vogais

2. Por qe os parâmetros tlzados na caracterzação das vogas são dstntos daqeles tlzados nacaracterzação das consoantes?

3. O qe são vogas cardnas? Qas são elas?

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Uma notação

para os sons da ala

Falta de correspondência entre sons da ala e graemasEnqanto cênca qe nvestga os sons da ala nas váras língas do mndo, a onétca necessta

de m sstema notaconal para representálos. A prncípo, pode parecer qe o sstema alabétco dêconta dessa tarea. No entanto, se pensarmos em exemplos do Portgês, logo notaremos qe maletra (graema) não corresponde necessaramente a m som, de modo qe mas de m som pode serrepresentado pela mesma letra o, ao contráro, m mesmo som pode ser representado por dversasletras, conorme lstra o qadro a segr:

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Quadro 1 – Exemplo da alta de correspondência entre graemas e sons da ala

Uma letra – vários sons Várias letras – um som

Letra Som Exemplo Letra Som Exemplo

[s] próxmo s sapo

x [z] exame ss [s] massa

[kIs] táx c cebola

[∫] enxada ç aço

z paz

c [k] k asa c [k] casa

[s] cebola q quejo

[e] telha g [g] gato

e [ε] teto g gueto

[I] pexe

x [∫] xícara

[o] povo ch chácara

o [ ] nova

[ ] povo g [ ] tgela

 j bern jela

A alta de correspondênca entre sons e graemas, qe reslta do ato de ser a escrta ma repre-

sentação da ala

1

, exste nas otras língas qe se tlzam de sstemas alabétcos. E acontece não só nonteror de ma línga, mas entre língas derentes. Basta consderar qe, na Línga Inglesa, a seqüênca ph graa o mesmo som representado, na Línga Portgesa, pela letra f .

Como azer, então, para representar os sons da ala sem ncorrer em ambgüdades como essaspara, assm, atngr objetvos como a descrção dos sstemas sonoros de ma línga o a comparaçãoentre sstemas sonoros de língas dstntas?

1 É precso lembrar qe qalqer representação prvlega algns aspectos do objeto a ser representado em detrmento de otros. Por sso,

sera mpossível qe m sstema alabétco consegsse contemplar todos os aspectos da línga alada.

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41|Uma notação para os sons da ala

O Alabeto Fonético Internacional (IPA)

Breve história do IPA

Consderando os problemas apontados anterormente, algns onetcstas se renram e consttíram, no nal do séclo XIX (mas especcamente em 1886) a Assocação Internaconal de Fonétca.Um dos objetvos dessa Assocação era crar m sstema qe pdesse ser tlzado na descrção dos sonsdas língas do mndo. Dos anos depos, em 1888, srge a prmera versão desse sstema, qe se convencono chamar Alabeto Fonético Internacional (IPA)2. Tal versão é pblcada por m dos membros daAssocação, o onetcsta rancês Pal Passy.

Já na prmera ormlação do IPA, os onetcstas consderavam qe essa erramenta devera ornecer m snal para representar m, e apenas m, som da ala. Neste objetvo resde, portanto, a prnc

pal derença entre o Alabeto Fonétco e os sstemas de escrta alabétca. Além dsso, m otro pontode dstancamento entre o IPA e os sstemas de escrta é qe os onetcstas qe o elaboraram prevamqe essa erramenta osse nversal, sto é, qe m mesmo símbolo osse tlzado para representar mmesmo som entre as derentes língas. Como você deve ter percebdo, essas meddas vsavam jstamente desazer as ambgüdades dos sstemas de escrta a qe nos reeríamos anterormente.

Hava, na ormlação do IPA, m problema a ser contornado, porém: o número de graemas émto menor qe o de sons da ala. Como azer, então, para prover símbolos qe representassem ossons? Pal Passy e ses colegas da Assocação Fonétca Internaconal decdram qe saram tantasletras do alabeto romano qantas osse possível, devendo ser mínmo o emprego de novas letras.Assm, além de tlzar letras mnúsclas, o IPA tlza sas versões maúsclas. Por exemplo: [b] é aoclsva blabal sonora; [β], a vbrante blabal sonora. No entanto, essa medda não o scente

para se consegr representar todos os sons da ala docmentados até então. Assm, ncorporaramseao IPA algmas letras do alabeto grego e, qando todas as possbldades de se recorrer a sstemasalabétcos se esgoto, novas ontes oram cradas, sempre com a preocpação de qe elas lembrassem, de algma orma, as ontes já exstentes e qe representassem m som aparentado.

Observe qe essas orentações sbjacentes à elaboração do IPA contnam sendo segdas, mtoembora se tenha, hoje, ma versão derente para o IPA, relatvamente àqela prmera, de 1888. Issoporqe o IPA passa por constantes revsões, as qas vsam, especalmente, ntrodzr novos símbolospara a representação de sons qe até então não havam sdo docmentados o propor anda novossímbolos para sons já docmentados, mas cja notação é ambígüa, pela proxmdade gráca com anotação de m otro som. A modcação mas sbstancal pela qal o IPA passo ocorre em 1989, masa mas recente data de 1993. Depos dsso, hove atalzações do qadro de sons em 1996 e em 2005.

Na revsão de 1993, por exemplo, o acrescentado m símbolo para a vogal central meoaberta, arredondada, passando o símbolo qe a representava anterormente a anotar a vogal central meoaberta,nãoarredondada. Na revsão de 2005, hove a ntrodção do símbolo para o Tape labodental, m somencontrado em língas da Árca Central, majortaramente. Artclatoramente, realzase ncalmentecom o lábo neror tocando rapdamente os dentes sperores, como qe nma lgera batda. Parasso o lábo se coloca por dentro do trato. Nesse momento, há nterrpção da passagem do ar no trato.Imedatamente em segda, o lábo desaz essa constrção e a passagem do ar é lberada.

2 A sgla corresponde ao nome nglês para esse alabeto, International Phonetic Alphabet . Como ela é largamente tlzada – nclsve no Brasl–

optose por mantêla também aq neste texto.

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42 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

A tabela do IPA, então, em sa versão de 2005, é a segnte:

Quadro 2 – O Alabeto Fonético Internacional na versão de 2005

THE INTERNATIONAL PHONETIC ALPHABET (revised to 2005)

CONSONANTS (PULMONIC)

 ´

A Å

i y È Ë ¨ u

Pe e Ø o

E { ‰ ø O

a ӌ

I Y U

Front Central Back 

Close

Close-mid 

Open-mid 

Open

Where symbols appear in pairs, the oneto the right represents a rounded vowel.

œ     ò

Bilabial Labiodental Dental Alveolar Postalveolar Retroflex Palatal Velar Uvular Pharyngeal Glottal

Plosive p b t d Ê   c Ô k g q G / Nasal m µ n =   N –Trill r RTap or Flap   v |  «Fricative F B f v T D  s z S Z ß   ç J x V X Â © ? h HLateralfricative Ò LApproximant  ®  ’ j ˜Lateralapproximant l

 

   ¥ KWhere symbols appear in pairs, the one to the right represents a voiced consonant. Shaded areas denote articulations judged impossible.

CONSONANTS (NON-PULMONIC)

SUPRASEGMENTALS

VOWELS

OTHER SYMBOLS

Clicks Voiced implosives Ejectives

> Bilabial Bilabial ’ Examples:

Dental Î Dental/alveolar  p’ Bilabial

! (Post)alveolar  Palatal t’ Dental/alveolar 

¯ Palatoalveolar  ƒ Velar  k’ Velar 

Alveolar lateral  Ï  Uvular  s’ Alveolar fricative

 " Primary stress

Æ Secondary stress

ÆfoUn "́tIS´n… Long e…Ú Half-long eÚ   * Extra-short e* Minor (foot) group

Major (intonation) group

. Syllable break   ®i.œkt

Linking (absence of a break)

TONES AND WORD ACCENTSLEVEL CONTOUR  

e  _or â Extrahigh e

           ˆ

or  ä Rising

e! ê High e$ ë Falling

e@ î Mid  e  % ü Highrising

e~ ô Low e    ï Lowrising

e— û Extralow e  & ñ$ Rising-

falling

Õ Downstep ã Global rise

õ Upstep à Global fall

© 2005 IPA

DIACRITICS Diacritics may be placed above a symbol with a descender, e.g.N(9 Voiceless n9  d9 ª Breathy voiced  bª aª 1 Dental t  1 d13 Voiced  s3 t  3 0 Creaky voiced  b0 a0 ¡ Apical t  ¡ d¡

 Ó Aspirated  tÓ dÓ £ Linguolabial t  £  d£    4 Laminal t  4 d4

7 More rounded  O7 W Labialized  tW dW )  Nasalized  e)¶ Less rounded  O¶   Palatalized  t  d  ˆ  Nasal release dˆ™ Advanced  u™ Velarized  t d  ¬ Lateral release d¬2 Retracted  e2   Pharyngealized  t d  }  No audible release d}

    · Centralized  e· ù Velarized or pharyngealized  :+ Mid-centralized e+ 6 Raised  e6  ( ®6 = voiced alveolar fricative)

` Syllabic n` § Lowered  e§  ( B§ = voiced bilabial approximant)

8  Non-syllabic e8 5 Advanced Tongue Root e5± Rhoticity  ´± a±     Retracted Tongue Root e  

   Voiceless labial-velar fricative  Ç Û Alveolo-palatal fricatives

w   Voiced labial-velar approximant » Voiced alveolar lateral flap

Á  Voiced labial-palatal approximant Í Simultaneous S and  xÌ Voiceless epiglottal fricative

 ¿  Voiced epiglottal fricativeAffricates and double articulations

can be represented by two symbols

 ÷    Epiglottal plosivejoined by a tie bar if necessary.

kp ts     (        

               (

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43|Uma notação para os sons da ala

Notas sobre convenções do IPA

Comecemos com o qadro das consoantes (consonants) – o maor deles, na porção speror doqadro geral.

Devese observar, prmeramente, qe o qadro se organza em nção dos parâmetros artclatóros empregados na caracterzação das consoantes: ponto de artclação ( place o articulation),modo de artclação (manner o articulation) e sonordade (sonority ). Assm, os pontos de artclaçãoencontramse dspostos nas colnas e segem a ordem qe os artcladores ocpam no nteror dotrato vocal, desde os lábos até a glote. Sobre o ponto “retroexo” não há m lgar no trato especícopara sa realzação, o qe gera controvérsas sobre consderálo de ato como m ponto. Além dsso,o prncpal correlato artclatóro de m som retroexo é at posção da línga: no geral, a ponta dalínga crvase sobre o dorso. Tal ato coloca a qestão da pertnênca em se consderar retroexonão como ponto, mas como modo de artclação. Como essa é ma dscssão anda não resolvda,

optamos, aq, por consderar retroexo m ponto de artclação.Os modos de artclação estão dspostos nas lnhas, e vão desde o modo qe oerece total

obstrção à passagem do ar no trato – oclsvas (o plovsas) – até o modo de artclação qe oerecepoca resstênca à passagem do ar no trato (aproxmantes).

A sonordade, por sa vez, é dsposta de modo qe as consoantes sonoras ocpem a porçãodreta das céllas onde se encontram e, as srdas, a porção esqerda.

Portanto, crzandose lnha e colna, além da normação sobre sonordade, chegase à classcação de m e apenas m som consonantal. Assm, se crzarmos o ponto de artclação alveolar como modo de artclação rcatvo e ocalzarmos a porção esqerda do qadro chegamos ao som [ ],ma rcatva alveolar sonora. Frsese, alás, qe a manera de nomear ma consoante sonora é essa:menciona-se seu modo de articulação, em seguida seu ponto e, nalmente, sua sonoridade.

Você deve ter reparado também qe há algmas céllas em branco no qadro das consoantese, otras, sombreadas. O qe sgnca sso? As céllas em branco ndcam m som sologcamentepossível, consderandose o crzamento de ponto, modo de artclação e sonordade. As céllas sombreadas, por sa vez, ndcam sons cja prodção se consdera sologcamente mpossível. Assm, porexemplo, sera mpossível prodzr ma consoante oclsva glotal srda porqe para se artclar maoclsva glotal é necessáro qe as pregas vocas se nam, mpedndo qe o ar passe pela glote. Porotro lado, para prodzr m som srdo é necessáro qe as pregas estejam aastadas. A artclaçãodesse som, portanto, envolvera movmentos artclatóros completamente antagôncos, daí a prevsãode sa realzação ser mpossível.

Na tabela das vogas (vowels) qe ca no canto esqerdo do qadro 2, qadro logo abaxo do

qadro das consoantes, o movmento ânteroposteror do dorso da línga é expresso nas colnas,observandose al no qadro as séres das vogas anterores, centras e posterores. O movmento damandíbla é expresso nas lnhas, de modo a se consderar desde a posção “echada” até a “aberta”, passando pelas vogas médas, sto é, as meoechadas e meoabertas. O movmento dos lábos, por savez, é expresso da segnte manera: você deve ter reparado qe, se crzarmos a normação relatvaa posção de dorso e abertra de mandíbla, chegamos a dos símbolos. Assm, por exemplo, para aposção de dorso “anteror” e movmento da mandíbla “echado” temos o par [ ]. Nele, a vogal da esqerda é m som nãoarredondado, enqanto a da dreta é arredondada. A mesma convenção – vogalda esqerda, nãoarredondada, vogal da dreta, arredondada – vale para todo o qadro.

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44 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Você deve ter notado, anda, a presença de m peqeno qadro, no canto esqerdo, ntermedando o qadro das consoantes e o das vogas. Tratase do qadro das consoantes “nãoplmôncas”. Tas

consoantes opõemse às demas – presentes no qadro maor e denomnadas “plmôncas3” – pelo atode não tlzarem o ar egresso dos plmões para sa prodção, mas a corrente de ar qe se orma naglote (para ejetvas e mplosvas) o no vé (para os clicks). Assm, na prodção das ejetvas, a glote élevantada, concomtantemente à realzação de oclsão o constrção na cavdade oral.

Os clicks, por sa vez,

são oclsvas para cja prodção o componente essencal é a rareação do ar preso entre das oclsões ormadas nacavdade oral. A manera de se mover o ar na prodção dos clicks é denomnado mecansmo de corrente de ar vélco.É sempre ngressvo, e não pode ser sado por otros sons além de oclsvas e arcadas 4. (LADEFOGED; MADDIESON,1996, p. 246)

Essas consoantes encontramse majortaramente em língas arcanas. Na década de 1970, macantora arcana, Mram Makeba, torno amosa ma músca chamada The click song (“a canção do

clck”), na qal há ma sére de palavras da Línga Xhosa5 contendo clicks. Para você ter ma déaaproxmada de como os clicks soam, consdere qe eles se assemelham a estalos, como aqeles qe nósazemos qando qeremos mtar o som do trote de m cavalo.

Além dos qadros comentados acma, há também m qadro para os “otros símbolos” qecontempla sons nos qas há a sobreposção de algma manobra artclatóra às otras necessáraspara sa prodção. Por conta da sobreposção de ma otra manobra artclatóra, não é possívelcontemplar tas sons no qadro das consoantes, por exemplo. É o qe acontece com [w], a aproxmante lábovelar sonora, qe exste em dtongos do Portgês como em “meu”, o “algodão”. Nela,sobrepõese o movmento dos lábos à artclação da aproxmante velar.

Por m, os dacrítcos são símbolos qe se emprega para regstrar atos como qaldade de voz (por

exemplo, sssrrada) à realzação dos segmentos. O, anda, nances relaconadas à ação de algm artclador, como maor o menor arredondamento dos lábos, maor o menor retração do dorso da línga.

Como o IPA analisa a ala

Sbjacentes à conecção do qadro do IPA qe vmos, há ma sére de assnções teórcas sobrea análse da ala. De acordo com o Handbook o the International Phonetic Association (1995, p. 4) as assnções seram as segntes:

 algns aspectos da ala são lngüstcamente relevantes, enqanto otros não são. (admtndo::

se sso, a conseqüênca será qe o IPA nos possibilita representar muitos atos presentes na ala,

mas não todos. Assm, atos como qaldade de voz 6 o velocdade de ala são exclídos desse

sstema notaconal);

a ala pode ser em parte representada como ma seqüênca de sons dscretos, o “segmentos”::

(como conseqüênca, é mpossível anotar, através do IPA, atos coarticulatórios qe decorrem

3 As consoantes plmôncas dependem do ar egressvo – qe vem para ora – e se orgna dos plmões.

4 Clicks are stops in which the essencial component is the rareaction o the air enclosed between two articulatory closures ormed in the oral cavity,

so that a loud transient is produced when the more orward closure is released. The means o moving the air in the production o clicks is called the

velaric airstream mechanism. It is always ingressive, and cannot be used or sounds other than stops and aricates.

5 Línga bant, alada por aproxmadamente oto mlhões de pessoas, é ma das língas ocas da Árca do Sl.

6 Por “qaldade de voz” entendese a atvdade laríngea qe dá à voz característcas de sssrro, o de aspereza, por exemplo, como no caso

de algém alar com mta rava.

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45|Uma notação para os sons da ala

da nênca qe a artclação de m som exerce sobre ses vznhos e qe são atos absoltamente presentes na ala, dado qe não prodzmos os sons estanqes, mas encadeados);

os segmentos podem ser dvddos em das categoras maores, a das consoantes e a das vo::

gas (como decorrênca, propõemse tratamentos dstntos para ma categora e otra, embora tanto consoantes como vogas sejam prodzdas todas no mesmo lgar, através dos mesmos mecansmos);

 além dos segmentos, város aspectos prosódcos, como acento o tom, têm de ser representa::

dos ndependentemente dos segmentos.

Algmas das assnções teórcas qe embasam a elaboração do IPA, como a prmera qeelencamos nesse tem, azem com qe essa erramenta não consga contemplar toda a dnamcdadeda ala qe, como também menconado anterormente, não se realza como m ato estanqe, mascontíno. Por sso, é mto mportante qe consderemos o IPA ma erramenta qe representa os sons

da ala e, qe, por sso, não reproduz dedgnamente esses sons. Qalqer emprego qe se aça do IPA,portanto, trará representações acerca da realzação de ma determnada cadea sonora. Mas não traráa própra cadea sonora.

Possíveis empregos do IPA

Mas para qê, anal, tlzamos o IPA? Dentro da lngüístca, o IPA pode ser empregado para regstrar os dados de ma línga drante m trabalho de campo. Há língas qe anda não oram estdadas –total o parcalmente – como algmas língas ndígenas. Nesses casos, o prmero passo para se procederao estdo de tas língas é colher dados jnto a ses alantes natvos para dentcar, por exemplo, qassão os sons dessa línga, como a línga organza se sstema sonoro, sto é, qas as seqüêncas de sons

permtdas, qas as seqüêncas de sons evtadas, como os sons se organzam em ndades maores, comoas sílabas. O, anda, como é a estrtra prosódca da línga, se é ma línga acental, onde recaem osacentos, como se realzam segmentos tôncos em contraposção aos átonos, e assm por dante.

No caso de essas língas serem ágraas – sto é, não possírem m sstema de escrta – o IPA podeormar a base de m sstema de escrta para elas. Isso porqe o prmero passo para se propor qalqersstema de escrta de base onológca é saber qal é o nventáro de sons de ma línga e como eles seorganzam, conorme menconado no parágrao anteror.

Anda dentro da lngüístca, o IPA pode ser tlzado em trabalhos de daletologa, para descreveros derentes daletos de ma línga e, eventalmente, comparálos, bscando vercar semelhanças ederenças entre eles qanto ao nível sonoro.

O IPA pode ser tlzado, também, para ndcar a pronúnca das palavras nm dconáro. Dessaorma, os alantes nãonatvos de ma determnada línga podem ter normações sobre a pronúncade determnados sons daqela línga na varante eleta pelo lexcógrao ao elaborar o dconáro 7. Épossível, então, saber se ma determnada vogal é redzda o não, é longa o breve, é centralzada oanterorzada, por exemplo.

7 Deve car claro, alás, qe assm como o Portgês as língas estrangeras exbem varação daletal. Assm, o Inglês alado em Nova Iorqe

tem derenças relatvamente ao Inglês alado em Los Angeles. Da mesma manera qe o Francês alado em Pars dere do Francês alado em

Strasbrgo, por exemplo. Por sso, ao elaborar m dconáro e oerecer ma transcrção onétca para cada entrada, os lexcógraos precsam

azer ma escolha pelo daleto qe desejam retratar na transcrção. Essa escolha não sgnca qe m daleto seja melhor qe otro, em

absolto. A escolha pode se patar em crtéros completamente externos à lngüístca, como o maor prestígo de m daleto sobre otros.

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46 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Podese, anda, empregar o IPA para realzar prmeras anotações sobre os eventos presentes nacadea da ala drante ma nspeção ncal de dados, para qe o pesqsador possa ter ma noção dos

atos qe ocorrem al e, assm, elaborar ma metodologa qe o permta nvestgar tas atos.Mas não é só dentro da lngüístca qe o IPA encontra aplcação. Fonoadólogos tlzam o IPA

como m regstro da ala de pessoas qe os procram, com algma qexa onoadológca o algmapatologa de ala. A partr desse regstro, os onoadólogos podem vercar sobre qas aspectos daala há desvos, relatvamente à ala sem dstúrbos e, então, propor m procedmento terapêtco paratentar sanar a qexa de ses pacentes.

Também os múscos tlzam o IPA: aos cantores erdtos, nteressa saber como são pronncadosos sons de palavras de ma canção em línga estrangera, porqe m som pode corresponder a ma notamscal, o dos sons podem ser prodzdos no tempo de ma nota, por exemplo. Saber como se pronnca tas sons, portanto, é mprescndível para qe os cantores consgam reprodzr as canções sem ncorrerem mprecsões o até erros. Por sso, mtas vezes azse a transcrção onétca das canções.

Como se az a transcrição onética?

Agora qe já sabemos qe é precso haver ma notação especíca para regstrar os sons da ala –bscandose ma correspondênca bnívoca entre m símbolo e m som –, qe há toda ma concepção de como seja a ala orentando a conecção dessa notação e qas são os possíves empregos dessesstema notaconal, nós podemos nos pergntar como, anal, é eta a transcrção onétca?

O prmero passo, obvamente, é gravar a ala dos sjetos qe qeremos nvestgar. Tal gravação,rsese, deve ser necessaramente eta com o consentmento dos sjetos e, de preerênca, nm lgarslencoso, sem mto rído externo. Uma gravação mto sja pode comprometer a ntelgbldade daala e, conseqüentemente, o trabalho do pesqsador. O deal é colher dados de ala em cabne comtratamento acústco mas, como sso nem sempre é possível, é aconselhável bscar m ambente slencoso para realzar a tarea.

Tendo colhdo os dados, procedese, então, à transcrção. Para sso, ovmos repetdamente osdados coletados, procrando perceber os sons qe se scedem na cadea da ala e atentando para saartclação: em qe ponto do trato são prodzdos, de qe modo, se são srdos o sonoros – no casodas consoantes – o se são arredondados, anterorzados o posterorzados, no caso das vogas.

Identcado o som, nós o anotamos. Para sso, crzamos as normações relatvas à caracterzaçãoartclatóra desse som e procramos, na tabela do IPA, o símbolo correspondente a essa caracterzação.Então, m som rcatvo pósalveolar sonoro será anotado pelo símbolo [ ]. Um som vocálco, posterormeoechado, arredondado, por sa vez, será anotado pelo símbolo [o]. E assm por dante, até o últmo

som do enncado.Uma normação adconal: toda a transcrção onétca é anotada entre colchetes [ ], como acabamos

de azer, no parágrao acma, para anotar os dos sons qe nos servram de exemplo. Observe, porém, qeos colchetes são abertos no níco do regstro da ala de m sjeto e se echam qando o regstro de alatermna. Eles snalzam qe tdo o qe está dentro deles é som de ala e não regstro escrto.

Pronto! Já temos a transcrção! Mas deve car claro qe realzála não é o objetvo últmo da onétca. É, antes, m dos prmeros passos qe m onetcsta dá para nvestgar o nível sonoro de ma línga, porqe ela nos permte regstrar os sons da ala e sas varações. De qalqer orma, por ser base

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47|Uma notação para os sons da ala

de toda a nvestgação onétca, é mportante qe a transcrção seja acrada e cdadosa; eventasalhas nela podem ndzr a erros de análse.

Texto complementar

(SILVA, 2007)

Uma qestão a se reetr nesta ala é a grande dstrbção dos “rótcos” – nome genérco qeabarca todos os sons de /r/. Nas língas do mndo, eles são representados por m mesmo graema“r”, mas onetcamente podem ser realzados em pontos e de modos bastante dversos. Assm, elespodem ser Tapes, rcatvos, vbrantes; podem ser alveolares, retroexos, velares, glotas. Tal varabldade – note – não ocorre apenas entre língas: ela se verca nma mesma línga. Mas: os rótcospodem varar nm mesmo daleto e, anda, na ala de ma mesma pessoa! Assm, é possível encontrarndvídos qe alternem em sa ala vbrante alveolar [r] e rcatva glotal [h], prodzndo o som ncalde ma palavra como “rato” ora como ma varante, ora como otra. De ato, os rótcos são sons extremamente varáves, dnâmcos, e qe podem ter se modo de artclação alterado através de mamanobra artclatóra mto rápda: o Tape [ ] nal de “mar”, por exemplo, pode passar a aproxmantealveolar [. ] se a ponta da línga dexar de tocar os alvéolos. Essa aproxmante alveolar, por sa vez,pode ser realzada como ma aproxmante retroexa [. ] se hover retração do dorso da línga.

Sobre a aproxmante retroexa, nclsve, cabe ma otra observação. Esse som, chamado geralmente de “r capra”, acabo recebendo esse rótlo em decorrênca do estdo do lólogo AmadeAmaral: no níco do séclo XX (década de 1940), ele pblco m lvro nttlado O Dialeto Caipira

no qal descreve a ala de pessoas resdentes na zona rral de cdades do centro do estado de SãoPalo, como Praccaba, Ro Claro, Tetê. Um dos sons qe Amaral dentca como característco daala dessas pessoas é o “r retroexo”, regstrado por ele em posção nal de sílaba, como na palavra“porta”. A partr daí, as pessoas passaram a chamar o som de “r capra” e contnam a azer sso.

Há, entretanto, qe se consderar qe a aproxmante retroexa se dssemno por todo o estado de São Palo e não exste apenas lá: ocorre em Mnas Geras, no Paraná, Santa Catarna e RoGrande do Sl, pelo menos. E já não se restrnge à ala dos habtantes da zona rral: encontrasecorrqeramente na ala rbana. Isso nos é mostrado pelos trabalhos de varação lngüístca, comoo Atlas Lngüístco do Paraná (AGUILERA, 1994) o o Atlas LngüístcoEtnográco da Regão Sl(KOCH; KLASSMANN; ALTENHOFEN, 2002). Além dsso, a aproxmante retroexa, embora ocorramajortaramente na posção nal de sílaba/palavra, não se restrnge a essa posção, ocorrendo emgrpos e, até, posção ntervocálca. Chamar, portanto, a aproxmante retroexa de “r capra”, alémde mprecsão carrega também o preconceto das pessoas relatvamente a essa varante. Pessoasqe podem até chegar a prodzla na própra ala, mas qe seqer se dão conta dsso.

E, para os especladores qe dzem ser essa ma varante resltante do contato do Portgêsdos colonzadores com língas ndígenas exstentes no terrtóro braslero qando os portgesesaq chegaram, cabe observar qe essa varante é regstrada também para o galego, m daleto doEspanhol, alado na rontera com Portgal, conorme relata García (1996).

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48 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Atividades  Com base no texto qe você acabo de ler, responda às qestões abaxo:

1. Por qe o alabeto não é ma erramenta útl para representar cada som da ala, soladamente?

2. Como o Alabeto Fonétco Internaconal (IPA) vecla as normações acerca das característcasartclatóras de vogas e consoantes?

3. O IPA – e a transcrção onétca – são tlzados exclsvamente por lngüstas? Explqe.

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Prosódia

A melodia dos sons da alaImagne a ala de m robô – o pelo menos as mtações correntes qe se azem para ela, em

lmes, por exemplo. Qal é a prncpal derença entre ela e a ala de seres hmanos? Certamente vocêterá notado qe, por melhor qe o robô artcle cada m dos sons consttntes das cadeas de ala qeé capaz de prodzr, sa ala é monotônca, sto é, não é dotada de ma “meloda”, o qe a az ser percebda como m ato desprovdo de sentmentos e emoções.

O qe conere à ala dos seres hmanos sentmentos e emoções é m ato qe chamamos de“prosóda”, qe podemos dzer, grosso modo, qe se trata da “meloda da ala”.

Mas o qe é, exatamente, a prosóda?

Nm lvro de ntrodção aos estdos de prosóda, CoperKhlen (1986, p.1), observa qe:

O termo "prosóda" remonta aos gregos, qe savam a palavra “prosóda” para reerrse aos traços da ala qe não eramndcados pela ortograa, especcamente ao tom o ao acento melódco qe caracterzavam as palavras do Grego antgo. Mas tarde, os símbolos ortográcos qe reetam os acentos tonas oram ntrodzdos e eles também caram conhecdos como prosódas. As sílabas qe carregavam ma prosóda agda no Grego Antgo eram prodzdas nm tomalto, enqanto as sílabas com ma prosóda grave tnham tom baxo, e aqelas com ma crcnexa tnham m tom alto,segdo de m baxo. A prosóda o então assocada, desde cedo, aos traços melódcos da línga alada1.

Mas tarde, anda segndo a atora, o termo “prosóda” ganha m sentdo mas amplo, passando a

desgnar os traços qe não se expressam na scessão segmental de consoantes e vogas, como dração eacento, por exemplo, além dos tons qe o sstema ortográco do Grego Antgo já marcava. Com o desaparecmento dos tons no Grego Clássco e sa conseqüente sbsttção por acentos, o termo “prosóda”se estreta, passando a denotar dstnções de acento, o qe levara tal termo a relaconarse ntmamentecom a verscação, por volta do séclo XV, e dara orgem aos estdos em “prosóda métrca”.

1 A tradção deste excerto é mnha. No orgnal, lêse: The term prosody itsel can be traced back to the Greeks, who used the Word prosody to reer 

to eatures o speech, which were not indicated in orthography, specically to the tone or melodic accent which characterized ull words in ancient 

Greek. Later, orthographic symbols which refected the tonal accents were introduced and they too became known as prosodies. Syllables which bore

an acute prosody in ancient Greek were spoken on a high tone, syllables with a grave prosody were said on a low tone, and those with a circumfex 

were given rst a high, then a low tone. Prosody was thus associated rom the very beginning with the melodic eatures o spoken language.

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50 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Essa relação, porém, permanece esqecda e assm permanece, até qe Frth, m lngüsta brtânco, recpero os estdos em “prosóda métrca” nos anos 1940. Nma época em qe a ênase dos

estdos ôncos recaía sobre o nível segmental – sto é, sobre a scessão de sons na cadea da ala – Frth argmentava a avor de se nvestgar também os traços qe se sobrepnham a essa cadea de ala.Assm, de níco ao qe denomno “análse prosódca”, a qal se nsera nma teora mas ampla deonologa prosódca. Tal nvestgação abarcava mas qe “orça” (o ntensdade), dração e tom, atosaté então consderados pelos estdos em onologa prosódca. A análse prosódca proposta por Frthpassava a contemplar também atos como velocdade de ala, pasa, entoação2, acento e rtmo.

A lngüístca atalmente consdera todos os atos acma menconados nos estdos prosódcos, osprassegmentas. O qe mda, de Frth até nossos das, é bascamente o arcaboço teórco qe se tlza para abordar esses atos. Alás, a própra denomnação “sprassegmental” o “prosódca” carrega ems essa derença: o termo “sprassegmento” remonta aos estrtralstas e se reere a atos secndáros,qe se sobrepõem aos segmentos, nm nível à parte. O termo “prosóda” é mas corrente na ataldade,

como resltado do srgmento de modelos pósestrtralstas na lngüístca, como os modelos onológcos nãolneares, de herança geratvsta.

Nós nos deteremos aq a dos aspectos da prosóda, entoação e rtmo. O prmero aspecto dosestdos prosódcos ao qal nos voltaremos será a entoação, pelo ato de nos permtr expressar mtodo qe percebemos como os sentmentos da ala hmana.

EntoaçãoAdtvamente, a entoação se relacona à percepção do  pitch a qal, por sa vez, se relacona à

reqüênca de vbração das pregas vocas (o F0) drante o processo de onação. A entoação pode ser

estdada sob derentes pontos de vsta:

 Acústico:: – vercandose a scessão das crvas da reqüênca de vbração das pregas vocasno tempo;

Perceptual :: – vercandose a scessão das crvas de F0 qe são percebdas pelos alantes dema línga;3 

Mudanças de F0:: – são sgncatvas nma línga, no sentdo de qe tas mdanças podemcarregar derenças de sentdo na línga.

Em nosso caso, estaremos preocpados especalmente com as mdanças de F0 qe podem carregar derenças gramatcas e derenças de sentdo4 na línga e, por sso, recorremos nclsve à análseacústca5 para traçar as crvas entoaconas das qas trataremos anda neste texto.

2 Uso aq o termo “entoação” para desgnar os contornos de altra nas língas, embora também se encontrem na lteratra os termos

“entonação” e “ntonação”, como rsa Scarpa, 1999 p. 16. De qalqer modo, como regstrado por Bderman em se Dicionário Didático de

Português, “entoação” e “entonação” são varantes e ambas provêm do Latm “ntonare”, qe sgnca “proerr com orça”.

3 Esta dstnção se coloca ma vez qe não há ma relação dreta entre a reqüênca de vbração das pregas qe é prodzda e aqela qe é

percebda, o seja, nem sempre somos capazes de perceber mdanças no  pitch sempre qe há ma varação na reqüênca de vbração das

pregas vocas. Isso se deve às própras lmtações do ovdo hmano, qe não percebe qalqer axa de reqüênca.

4 Deve car claro, portanto, qe assmmos ma nteração da prosóda com otros níves para além do nível ônco. Nesse caso especíco,

prevemos a nteração da prosóda com os níves sntátco e semântco da lngagem, respectvamente.

5 A análse acústca será tratada de orma mas detda nm otro momento. Não é objeto desse texto.

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51|Prosódia

Função gramatical da entoação

O qe sgnca, então, dzer qe as crvas entoaconas – o crvas da reqüênca de vbração daspregas vocas – podem acarretar derenças gramatcas? Consdere a sentença abaxo:

() João come bscoto de polvlho

Assm, dessa manera como está graada, ela é completamente ambíga: pode veclar ma asserção, ma pergnta, madúvda, ma srpresa. Como sabemos, então, qal desses atos asentença ndca? Jstamente pela varação de F0, qe nos permtrátraçar ma crva entoaconal para a sentença e, a partr daí, desazera ambgüdade com qe nos deparamos de níco.

Consdere, portanto, qe temos a sentença prodzda com asegnte crva entoaconal6:

() João come bscoto de polvlho

A crva descendente ao nal do enncado sgnca qe o pitch – o a reqüênca de vbração das pregas vocas – decresce nonal do enncado, caracterzandoo, por consegnte, como menncado assertvo, o qal se assoca a ma ordem determnadade consttntes.

Vejamos, agora, a mesma sentença, com otra crva entoaconal sobreposta:

() João come bscoto de polvlho

Notase qe () tem ma crva entoaconal mto derentedaqela de () e tal derença, qe se estabelece especalmente nospcos ao níco e ao nal do enncado, mplca na dstnção entrem enncado assertvo – como no caso de (), – e m enncadonterrogatvo – como no caso de (). Para algmas língas, comoo Inglês, essa derença mplca também nma ordem derente deconsttntes no nteror de m enncado nterrogatvo relatvamente à ordem qe os consttntes desse mesmo enncado assmem nm enncado assertvo.

Observemos, em segda, ma otra possível crva entoaconal sobreposta ao mesmo enncado. Temos, então:

(v) João come bscoto de polvlho

O qe caracterza crvas entoaconas típcas de enncadosexclamatvos, como esta de (v), é o ato de qe, embora mtomas baxo qe nm enncado nterrogatvo, há m pco de  pitch ao nal do enncado, o qe, por sa vez, nexste nm enncadoassertvo (vide gra 1).

6 É precso rsar qe esta, bem como as segntes, em (), (v) e (v) são representações de crvas entoaconas. Uma análse acústca revelara

mtas otras varações além daqelas qe se consdera nos dagramas em qestão. Neles, gram apenas as varações perceptíves e qe, por

sso, acarretarão derentes sentdos qando sobrepostas à mesma cadea de sons.

Forma de onda (janela speror) e crvaentoaconal (janela neror) característcade asserção para a sentença “João comebscoto de polvlho”.

Figura 1

Figura 2

Forma de onda (janela speror) e crvaentoaconal (janela neror) característcade nterrogação para a sentença “Joãocome bscoto de polvlho”.

Forma de onda (janela speror) e crvaentoaconal (janela neror) característcade exclamação para a sentença “Joãocome bscoto de polvlho”.

Figura 3

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52 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Há, anda, ma otra possbldade. Vejamos:

(v) João come bscoto de polvlho

Aq, a nalzação descendente da crva traz como resltado ma “sspensão”, o seja, o enncado permanece em sspenso, como qe agardando sa contnação. É o eeto qese prodz ao enncarmos ma lsta. Poderíamos pensar, então,qe qem prodz m enncado como (v) está lstando tdo oqe João come – e qe não o apenas bscoto de polvlho.

Cada ma dessas crvas entoaconas, podese dzer, mantém ma relação mto próxma com o nível sntátco, como jámenconamos: é através delas qe o alante sabe se está dantede m enncado assertvo o nterrogatvo, por exemplo. Esse ato conere à entoação o qe os lngüs

tas nconalstas denomnaram “nção gramatcal” (vide COUPERKUHLEN, 1986, p.111).

Foco

É possível vercar também a nteração da prosóda com otros níves de análse, como o semântco,o qe conerra à prosóda – anda segndo a tpologa nconalsta – ma nção “normatva”. Observemos, então, o mesmo enncado qe tomamos nos exemplos anterores. É possível prodzr algm dosconsttntes desse enncado com oco, sto é, com ma ntensdade maor, decorrente de ma manobraartclatóra qe reqer a vbração mas rápda das pregas. O oco, dendo por Hallday (1967b, p. 204,apud COUPER-KUHLEN, 1986, p. 122) como m “ponto de proemnênca dentro da mensagem”,

(...) reete a decsão do alante sobre o local da sentença onde ca a normação prncpal. É m tpo de ênase qe o alan

te coloca sobre ma parte da sentença (o sobre toda ela) qe o alante qer qe seja nterpretada como normatva. 7

As sentenças qe se segem trazem oco sobre derentes consttntes. Assm, o(s) consttnte(s)sob oco será(ão) graado(s) em letras maúsclas:

(v) JOÃO come bscoto de polvlho.

(v) João COMEU bscoto de polvlho.

(v) João come BISCOITO de polvlho.

(v) João come bscoto DE POLVILHO.

(x) João come BISCOITO DE POLVILHO.

Prodzr o prmero consttnte, “João”, mas proemnente, sto é, com maor ntensdade, e portanto realzar oco sobre ele, como em (v) mplca em dexar claro ao me nterloctor qem come obscoto de polvlho, assegrandolhe qe qem come bscoto de polvlho não o Mara, Ana, José oCarlos, mas João.

Por otro lado, ocalzar o consttnte “come”, como em (v), mplca em assegrar ao me nterloctor ma precsão sobre a normação relatva ao ato qe João realzo, o seja, mplca em precsarqe João não asso, João não preparo, o João não compro os bscotos de polvlho, mas comeos.

7 Inormation ocus refects the speaker’s decision as to where the main burden o the message lies. It is… one kind o emphasis, that whereby the

speaker marks out a part (which may be the whole) o a message block as that which he wishes to be interpreted as inormative.

Figura 4

Forma de onda (janela speror) e crvaentoaconal (janela neror) característcade dúvda para a sentença “João comebscoto de polvlho”.

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53|Prosódia

A sentença (v) ntrodz normação sobre otro consttnte, de modo a esclarecer ao nterloctor qe o qe João come oram bscotos, e não rosqnhas de polvlho. (x), por sa vez, precsa o tpo

de bscoto qe João come: o oco sobre o consttnte “de polvlho” dexa claro qe oram bscotosprodzdos com esse ngredente, e não bscotos de nata o ága e sal, por exemplo.

Notese, então, qe as sentenças de (v) a (x) ocalzam m consttnte apenas e esse oco, dto“estreto”, tem a nção de ntrodzr ma normação nova ao nterloctor, sto é, ma normação qeele anda não detém, m ato qe ele anda desconhece, como a normação sobre qem se está alando o sobre o qe se está declarando de ma pessoa – no caso especíco desses exemplos – o andasobre o qe essa pessoa az.

Na sentença (x), embora o escopo do oco se alarge m poco, dado qe reca sobre [bscoto depolvlho] como m todo, o oco contna ntrodzndo ao nterloctor ma normação nova, concernente àqlo qe o sjeto tera comdo, precsando o tem em qestão relatvamente a otros possívesalmentos. Assm, assegrase qe o qe João come o “bscoto de polvlho”, e não torradas o qejoo anda bolo.

De qalqer modo, recaa o oco sobre consttntes maores o menores, em todos os exemplosele ntrodz ma normação nova, conorme já menconado. E essas derenças podem ser vstas, traçandose a trajetóra do pitch de cada sentença. Temse, então:

Ressaltese qe esta é apenas ma ntrodção aos atos da ala qe a prosóda ocalza. Ela podetambém voltarse para atos como acento, tom, dração rtmo. Mas alar sobre cada m desses aspectos

merecera ma ala para cada m, pelo menos. Como não é esse nosso objetvo, ndcamos nas reerêncas obras qe podem ntrodzlo a cada m desses tópcos.

De qalqer modo, como não há, em Línga Portgesa, m manal de prosóda como os deCoperKhlen (1986) o Crttenden (1986), as reerêncas de Scarpa (1999) o MassnCaglar (1992),ndcadas nas reerêncas báscas, podem lhe dar ma noção do qe seja a prosóda e de análses deaspectos prosódcos do Portgês braslero.

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54 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Texto complementar

O ponto e a vírgula (a entoação)José Saramago de 200 entrevstas para vender os 100 ml ensaos sobre a lcdez.

Na do Expresso, deste sábado (06/04/2004), dz sto:

E m da sentome a trabalhar e começo a escrever como qalqer otro lvro escrto, com todas as cosas nos ses lgares – a pontação, dálogos, snas de pontação, nterrogação, exclamação, retcêncas, tdo no se lgar. Drante23 o 24 págnas as cosas correram assm. De repente, sem pensar, começo a escrever como a partr daí se torno ome processo de narrar. (...) Se me pergntarem como é qe sso acontece, porqe é qe sso acontece, não tenhoresposta. Mas posso pensar qe a razão poda ser esta – o qe e estava a escrever ome contado por aqelas pes

soas e, no ndo, o lvro pretenda ser sso (...). E como você sabe, qando alamos não samos snas de pontação.(jornalsta) – Temos as pasas de respração.

Temos as pasas e, até, como e dgo nos mes lvros, os dos úncos snas de pontação, o ponto e a vírgla, nãosão snas de pontação, são ma pasa breve e ma pasa longa.

"É exactamente por sso qe na rádio também é assim!" Como dz Prado (p. 30), “o resto dossnas são qase desnecessáros na sa totaldade”.

Dsponível em: <http://lvrovrtal.weblog.com.pt/arqvo/voz/vozentoacao/ndex0>. Acesso em: 12 ago. 2007.

Atividades1. Em lnhas geras, qe aspectos da ala contempla a prosóda?

 

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55|Prosódia

2 O qe é entoação? Qal é a sa nção na línga?

3 O qe é oco? Como ele se manesta?

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Análise acústicados sons da ala

O que é um som?Certamente você já percebe qe vvemos nm mndo repleto de sons dversos: pessoas alan

do, músca, cantos de pássaros, latdos, motores de carros, bznas, aparelhos doméstcos, enm manndade de sons derentes.

Mas, anal, o qe é m som? Expermente pegar ma olha de papel. Agora movmente a olhapara cma e para baxo, rapdamente. O qe acontece? Sm, você prodz m som! Por qê? Porqevocê ez se braço vbrar, como decorrênca de movmentos rápdos para cma e para baxo e, com sso,desloco váras partíclas de ar qe estavam em reposo, ao redor da olha. Como o ar qe está à nossavolta está sempre sob tensão – tal qal ma corda estcada – em razão da pressão qe decorre do pesoda atmosera terrestre, o deslocamento de ma partícla é comncado a otra e assm scessvamente,propagandose nma determnada velocdade. O som é sso: a sensação adtva qe temos da propagação das partíclas de ar qe são postas em movmento por algma onte, sto é, por qalqer cosaqe promova se deslocamento.

O movmento das partíclas de ar se dá de modo qe ma partícla se aproxma de otra, parada,qe é então posta em movmento. Tal aproxmação caracterza o qe se chama compressão das partíclasde ar. Em segda, a partícla qe pôs a otra em movmento aastase e volta à sa posção de reposo.Com sso ocorre a rareação das partíclas de ar. Temos, a segr, ma lstração esqemátca desse ato.

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58 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Figura 1

Compressão e rareação das partíclas de ar.

+++

pressão

––– – –

++

acúmulo

compressãorarefação

depressão

espaço

comprimento da onda

. .. .. . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. .. .. . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. .. .. . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. .. .. . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. .. .. . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. .. .. . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. .. .. . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. .. .. . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. .. .. . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . .. . . . . . . .. . . . .. .. .. . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . .. . . . . . . .. . . . .. .. .. . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . .. . . . . . . .. . . . .

    S    L    A    N    A ,    J .

    G .   e

    M    U    S    A    F    I    R ,    R .    E

    l   e   m   e   n   t   o   s    d   e   a   c    ú   s   t    i   c   a .    C

    i    ê   n   c    i   a    H   o    j   e   n   a    E   s   c   o    l   a

  –   v   e   r   e   o   u   v    i   r ,    R    i   o    d   e    J   a   n   e    i   r   o ,    1    9    9    8

Na gra, você observa ma scessão de momentos de compressão e rareação das partíclas doar, em nção do se deslocamento promovdo por ma onte qe vbra. Tal scessão descreve m mo-

vimento ondulatório qe pode ser representado gracamente pela senóide1 qe você verca na porçãoneror da mesma gra. Nela, os pcos correspondem aos momentos de compressão das partíclas dear, e os vales, aos momentos de rareação dessas partíclas. Os zeros, sto é, os pontos em qe a crva

crza o exo horzontal, representam os momentos em qe as partíclas atngem ma posção de reposo – nesse caso especíco sso sgnca dzer qe as partíclas de ar não estão comprmdas e nemrareetas.

Agora você já sabe o qe são os sons, como são prodzdos e também qe se propagam atravésde ondas. Cabenos, agora, vercar como podemos caracterzar as ondas sonoras.

Características das ondas sonorasHá algmas característcas das ondas sonoras para as qas devemos atentar e qe nós apresen

tamos em segda. São elas: reqüênca, ampltde e tmbre.

Freqüência

Podemos dzer, em lnhas geras, qe reqüênca é a repetção peródca de m determnado ato.Assm, por exemplo, a reqüênca de m alno dz respeto a qantas alas ele comparece nm determnado espaço de tempo – por exemplo, m bmestre.

1 Senóde é ma crva qe representa a nção seno nm sstema de coordenadas.

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59|Análise acústica dos sons da ala

E no caso das ondas sonoras? Como podemos observar e medr sa reqüênca? Nós observávamos acma qe qando ma partícla de ar é colocada em movmento ela se aproxma de otra (com

pressão), azendoa moverse e, em segda, volta à sa posção de reposo, aastandose da partíclaqe o colocada em movmento (rareação). Dzemos, então, qe a onda descreve m ciclo. O cclopode se repetr mtas vezes, do qe reslta a reqüênca desse cclo.

Na gra 1, observada anterormente, podemos reconhecer m cclo da senóde ncandoseno ponto zero – qando a partícla de ar é deslocada, portanto – e qe contém m pco (o qal ndcamáxma compressão das partíclas de ar) e m vale (qe ndca máxma rareação das partíclas de ar).O cclo termna logo em segda ao vale, qando a crva crza o ponto zero. Você deve ter observado,também na gra 1 qe há al mas de m cclo – na verdade, são cnco deles. Se consderarmos qe oexo horzontal do gráco representa o exo temporal e, se consderarmos anda, hpotetcamente, qetemos al ma janela temporal de m segndo, então poderemos dzer qe temos cnco cclos realzados em m segndo, o 5cps. Esta é a reqüência da nossa onda: cnco de ses cclos se repetem a cada

segndo. Daí dzermos qe tal onda tem ma reqüênca de 5cps o 5Hz2.

Amplitude

Nós observávamos qe, para qe m som seja prodzdo, é necessáro qe m corpo vbre, colocando em movmento as partíclas de ar próxmas a ele. Ao vbrar, o corpo prodz energa, qe podeser maor o menor. Se a energa do corpo qe vbra or grande, teremos sons de grande ampltde. Se,ao contráro, a energa or poca, teremos sons de baxa ampltde.

Como medmos a ampltde? Voltando à gra 1, vercamos na ordenada3 do gráco qe há mponto máxmo, tanto acma qanto abaxo do zero reerencal. Esses pontos, qe representam a máxmacompressão o a máxma rareação das partíclas, têm ma certa dstânca do exo horzontal. Medndoessa dstânca, chegamos à ampltde máxma da orma de onda. A ndade de medda da ampltde dema orma de onda é o bel (B) o o decbel4 (dB). Recebe esse nome em homenagem a Alexandre GrahamBell, ísco qe se dedco ao estdo do som e qe se torno amoso por ter nventado o teleone.

Qanto maor a ampltde de ma onda, maor a ntensdade qe percebemos do som qe sepropaga por essa onda. Assm, portanto, sons de grande ntensdade têm grande ampltde e, nversamente, sons de peqena ntensdade têm peqena ampltde.

Timbre

Você já ov ma músca tocada nm volno? E nm pano? Deve ter percebdo qe exste der

ença na qaldade do som, certo? Mas: você já se de conta de qe ma mesma nota tocada no volnoe no pano tem qaldades dstntas?

2 Cps é ndade de medda de reqüênca e sgnca jstamente “cclos por segndo”. Também se tlza a ndade Hertz (Hz) para medr a

reqüênca de ma onda. A denomnação “hertz” o dada à ndade de medda de reqüênca em homenagem ao ísco alemão Henrch Hertz,

notablzado pelos ses trabalhos em ondlatóra e acústca e qe cro m aparelho qe emta ondas de rádo. As ndades “cclos/segndo”

e “hertz” são snônmas e nós preerremos, aq, a segnda sempre qe zermos reerênca à reqüênca de ma onda sonora.

3 Exo “y”, vertcal, do gráco da gra 1.

4 Décma parte do bel. Sobre essas ndades de medda – B e dB – cabe observar qe, em razão do ato de a ntensdade absolta dos sons

varar nma escala mto grande, tas ndades se denem em termos de ma escala logarítmca.

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60 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Observe qe, no caso de ma nota mscal, comoa nota “lá”, por exemplo, ela terá a mesma reqüênca – de

440Hz – caso seja prodzda nm volno, nm pano onotro nstrmento mscal qalqer. Entretanto, nós aperceberemos derente. Por qê? Porqe as ondas sonoras prodzdas por m nstrmento e por otro têmormatos dstntos. Observe a gra 2, qe traz a ormade onda prodzda por m volno e por m pano.

V? É o ormato dstnto qe nos permte perceber derenças entre as notas e, conseqüentemente, perceber se tmbre.

Agora qe já conhecemos os parâmetros qe tlzamos para caracterzar as ondas sonoras, é precso consderar qe há tpos dstntos de onda. Vamos a eles, então.

Tipos de ondas

Ondas periódicas

Consdere ma pessoa segrando ma corda, nma das extremdades e qe tem sa otra extremdade presa a ma speríce. Se essa pessoa realza m movmento vertcal – de sobe e desce –com o braço, em ntervalos de tempos gas, teremos como resltado plsos qe se propagarão pela

corda em ntervalos de tempo gas, portanto peródcos. Veja a gra abaxo, qe traz a lstração doato qe acabamos de comentar:

Prodção de plsos peródcos

    D    i   s   p   o   n    í   v   e    l   e   m   :   <   w   w    2 .   u

   n    i   m   e .    i   t    /

   w   e    b    l   a    b    /   a   w   a   r    d   a   r   c    h    i   v    i   o    /   o   n    d   u    l   a   t   o   r    i   a    /

   o   n    d   a   s .    h   t   m    #    Q   u   a   n   t   o    %    2    0    à    %    2    0

   n   a   t   u   r   e   z   a   > .

Figura 3

As ondas peródcas são prodzdas dessa manera: são ondas nas qas os plsos (qereconhecemos na gra acma como o evento acústco qe engloba m pco e m vale completos) serepetem a ntervalos reglares de tempo.

    S    L    A    N    A   e    M    U    S    A    F    I    R ,

    1    9    9    8 .

pressão

pressão

VIOLINO

PIANO

 T

 T

tempo

tempo T = período

Forma da onda de m volno e de m pano

Figura 2

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61|Análise acústica dos sons da ala

Ondas aperiódicas

Ao contráro das ondas peródcas, as aperódcas são completamente rreglares, sendo sesplsos aleatóros e mprevsíves. As ondas aperódcas caracterzam o rído como o som do motor dem carro, por exemplo, o o rído qe esctamos ao tentar sntonzar m rádo.

Sobre os sons da ala, cabe ressaltar qe se propagam por ondas quase-periódicas, sto é, ondasnas qas os plsos não chegam a ser aleatóros, como nas aperódcas, mas qe também não se repetem a ntervalos de tempo exatamente gas, como no caso das ondas peródcas.

Ondas simples

Uma onda smples é aqela qe reslta de m movmento harmônco smples o qal, por sa vez,orgna m tom pro. Esse tom pro pode ser encontrado, por exemplo, na teleona: você já percebe

qe, qando dscamos os números de m teleone, esctamos m som depos de cada número? Essesom é consttído de m tom pro com reqüênca de 440Hz. Podemos representar essa onda por macrva senódal, como a qe temos no gráco da gra 1.

Ondas complexas

As ondas smples são menos reqüentes porqe os tons pros também são menos reqüentesem nosso daada. A maora dos sons qe ovmos se propagam através de ondas complexas, qeconsstem na somatóra de váras ondas smples, nclsve de ondas smples com derentes reqüêncase ampltdes.

Ondas longitudinais

As ondas podem ser caracterzadas também qanto à dreção em qe se propagam, relatvamenteà dreção em qe osclam os pontos do meo pelos qas a onda passa, o seja, à dreção em qe vbram.Se as vbrações da onda são perpendclaresà dreção em qe tal onda se propaga, temosma onda transversal, como no caso da ondanma corda, como a qe temos na gra 3.

Mas o qe nos nteressa aq são asondas em qe a dreção das vbrações concde com a dreção de propagação das ondas.Tas ondas, como as descrtas por ma mola(veja a gra 4) são chamadas de ondas lon-

gitudinais. Esse é o tpo de onda pela qal sepropagam as ondas sonoras.

    D    i   s   p   o   n    í   v   e    l   e   m   :   <   w   w    2 .   u

   n    i   m   e .    i   t    /

   w   e    b    l   a    b

    /   a   w   a   r    d   a   r   c    h    i   v    i   o    /   o   n    d   u    l   a   t   o   r    i   a    /

   o   n    d   a   s .    h   t   m    #    Q   u   a   n   t   o    %    2    0    à    %    2    0

    d    i   r   e

   ç    ã   o    %    2    0    d   e    %    2    0   p   r   o   p   a   g   a   ç    ã   o   > .

Movmento de ma mola, qe se caracterza por ondaslongtdnas. Observe qe a vbração das partíclas do ar(v) ocorre na mesma dreção do deslocamento da mola.

Figura 4

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62 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Ondas estacionárias

Os sons da ala, entretanto, propagamse não por ondas longtdnas, mas por ondas estaconáras. E é sso o qe nos nteressa mas de perto aq. As ondas estaconáras derem das longtdnas porqe, embora se propagem na mesma dreção da vbração das pregas vocas, há reexão dessasondas qando encontram m obstáclo qalqer, como ma parede, por exemplo. Como resltado dareexão, sperpõemse das ondas – a qe va até o obstáclo e a qe volta dele – de mesma reqüênca e mesma ampltde, mesmo comprmento e mesma dreção, mas sentdos opostos. Somandose asdas ondas, obtémse ma tercera, esta a onda longtdnal.

A onda estaconára tem ma ampltde varável, de ponto para ponto, o qe sgnca dzer qehá pontos dessas ondas – os nós – em qe a ampltde é zero5, e pontos em qe a ampltde é máxma,os “ventres”. Tas pontos estão snalzados por “N” e “V”, na gra 5, qe traz as das ondas longtdnas –a “ncdente” e a “reetda”, qe consttem a onda estaconára. Observe qe a porção neror da gra

lstra jstamente a somatóra das das ondas.

N

4 2 2

onda incidente

onda incidente

onda refletida

onda refletida

N N N N N

 V V V V V V

Onda estaconára resltante do movmento de ma corda

    D    i   s   p   o   n    í   v   e

    l   e   m   :   <   w   w    2 .   u

   n    i   m   e .    i   t    /   w

   e    b    l   a    b    /   a   w   a   r    d   a   r   c    h    i   v    i   o    /

   o   n    d   u    l   a   t   o   r    i   a    /   o   n    d   a   s .    h   t   m    #    Q   u   a   n   t   o    %    2    0    à    %    2    0    d    i   r   e   ç    ã   o    %    2    0

    d   e    %    2    0   p   r   o   p   a   g   a   ç    ã   o   > .

Figura 5

Sabemos agora qe os sons da ala se propagam por ondas estaconáras, qaseperódcas. Todaa breve ncrsão qe zemos nesse texto pelos domínos da acústca vsava permtr qe você entendesse m poco sobre o meo pelo qal os sons da ala se propagam e qe será nossa erramenta deestdo na onétca acústca. Em segda, veremos como caracterzar os sons da ala do ponto de vstaacústco e os parâmetros qe tomamos para esse m. Deve car claro qe, da mesma orma qe temos parâmetros qe caracterzam e dstngem os sons da ala nma análse artclatóra, também háparâmetros qe segmos para a análse acústca. Vamos a eles, então!

Parâmetros acústicos para a caracterização dos sons da alaNossa “matéraprma” para a tarea de caracterzar acstcamente os sons da ala são – como já

deve ser óbvo para você – as ondas sonoras qe consttem o snal de ala. Elas são obtdas através dagravação da ala de m ndvído.

5 Isso sgnca qe não hove, al, movmento da corda.

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63|Análise acústica dos sons da ala

Mas atenção! Sempre qe você or colher dados para ma análse acústca, é absoltamentenecessáro avsar os ndvídos qe você toma como sjetos de se estdo qe sa ala será gravada.

Não se pode, sob hpótese algma, gravar a ala de m ndvído sem sa cênca e permssão.

Pos bem: dspondo do snal de ala, você poderá obter os ormatos de onda presentes nesse snalpara, a partr daí, vercar a scessão temporal de eventos acústcos, bem como a reqüênca e a ampltde desses eventos.

Como azer sso? Você não precsa aplcar ma sére de cálclos para decompor as ondas em sescomponentes harmôncos6. Há programas de comptador qe realzam atomatcamente essa tarea eqe lhe permtem, a partr daí, analsar o snal acústco. Um deles chamase Praat e você pode baxálograttamente da nternet7. Desenvolvdo por Davd Weennk e Pal Boersma, do Insttto de CêncasFonétcas, da Unversdade de Amsterdã (Holanda), o Praat permte qe se aça ma análse acrada dosnal de ala, além de ornecer erramentas para otras naldades, como a síntese de ala8, por exemplo.Por essas razões, ele é largamente tlzado, atalmente, por onetcstas do mndo todo.

Temse, ao lado, a janela ncal do Praat, a qal se obtémsolctandose a edção do snal acústco.

Na porção speror dessa gra, vêse ma janela contendo a orma da onda da sentença “Nós vemos a ala”. Aí, temos a normação da ampltde da onda na ordenada (exovertcal) e do tempo na abscssa (exo horzontal). Podemos ver,portanto, como a ampltde desse snal se desenvolve no tempo de 1,5 segndo. Observamos qe há pontos do snal ondea ampltde é grande, contrapondose a otros pontos, nosqas a ampltde é baxa. Já podemos, neste ponto, ntrodzr

ma prmera psta para a análse dos sons da ala: os pontos demaor ampltde são, no geral, vogas, o sons aparentados avogas (como as consoantes aproxmantes, por exemplo).

Na porção neror da gra 6, temse o espectrograma correspondente à orma de onda da janelasperor e alnhado com ela. O espectrograma traz o snal acústco decomposto em sas váras reqüêncas (exo vertcal) em nção do tempo (exo horzontal). Assm, é possível observar a scessão temporalde cada evento acústco: já nm prmero momento, você pode observar qe há porções bem dendasno espectrograma, ao lado de otras qe se assemelham a “chvscos”. Essa é já ma prmera psta paradstngrmos vogas – o sons aparentados a elas – de consoantes como as rcatvas, caracterzadaspelo rído qe têm o aspecto desse “chvsco” qe acabamos de observar.

Também é possível obter normações sobre a ampltde do snal acústco no espectrograma: as

varações de ampltde são dadas pelas varações das tonaldades de cnza, de modo qe, qanto masescra essa tonaldade, maor a ampltde do snal e, nversamente, qanto mas clara a tonaldade decnza, menor a ampltde.

6 A decomposção da onda sonora em ses componentes harmôncos é o qe se chama de “análse de Forer”, denomnação dada em

homenagem ao matemátco rancês qe vve na época de Napoleão e qe desenvolve ma sére de cálclos para dervar os harmôncos de

ma onda sonora.

7 Para sso, acesse o site <www.praat.org>.

8 Em lnhas bem geras, a síntese de ala consste na conversão de m texto escrto em ala.

Forma da onda (em cma) e espectrograma(embaxo) da sentença “Nós vemos a ala”,prodzda por esta atora

Figura 6

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64 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Há anda o espectro, qe é m gráco qe nos dá normação da ampltde (exo vertcal) pela reqüênca (exo

horzontal). A gra 7 traz o espectro para a sentença “Nósvemos a ala”. Observe qe a ampltde decresce em nçãodo amento da reqüênca. Podemos dzer, portanto, qereqüênca e ampltde exbem, no snal de ala, ma relaçãonversamente proporconal.

Da observação das gras 6 e 7, deve ter cado claroqe podemos vercar os três parâmetros para a caracterzação, como reqüênca e ampltde, através de erramentasdstntas, mas complementares: enqanto o espectrogramarelacona reqüênca e tempo o espectro relacona reqüêncae ampltde.

Como aplcar esses parâmetros para a caracterzação dos sons da ala é matéra para a qal sevolta nm otro momento. Por ora, deve ter cado claro para você qe nós podemos azer onétcavendo a ala – e não apenas ovndoa, como se procede na análse artclatóra – como mencona anossa sentençaexemplo. Deve ter cado claro também o qe precsamos vercar no snal acústcopara analsar os sons da ala. Nm otro momento, você verá como azemos sso.

Para ma ntrodção bem geral das qestões de acústca de qe tratamos aq, você pode recorrer SLANA, J.G. e MUSAFIR, R. Elementos de acústca, in Cênca Hoje na Escola – ver e ovr. Ro deJanero: Cênca Hoje/SBPC, 1998, p. 4851. Esse artgo trata de orma breve, e com ma lngagemmto acessível, de concetos báscos de acústca como a caracterzação das ondas sonoras. Pode também recorrer ao site <www.nme.t/weblab/awardarchvo/ondlatora/acstca.htm#Qaldades%20do%20Som>. Al você encontra também ma ntrodção a concetos báscos de acústca.

Atividades1. Dga, em lnhas geras, o qe é m som.

Espectro (ampltde X reqüênca) de parte dasentença “Nós vemos a ala”

Figura 7

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2. Qas são as prncpas característcas das ondas sonoras? Denaas.

3. Como podemos observar a ampltde e a reqüênca dos sons da ala nm espectrograma?

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Caracterização

acústica dos sons da ala

Sabemos qe para analsar os sons da ala tlzamos parâmetros como reqüênca e ampltdedo snal acústco. O crzamento dessas normações, alado a aspectos vsas da scessão temporal doseventos acústcos, qe obtemos através dos espectrogramas1, dános a caracterzação acústca dos sonsda ala. É sso qe passaremos a abordar em segda.

Caracterização acústica das consoantesCada classe consonantal tem característcas peclares qe as denem. É para elas, portanto, qe

voltamos nossa atenção em segda.

OclusivasPara a caracterzação das oclsvas, observamos, em

prmero lgar, m aspecto descontíno no espectrograma.Veja a gra 1.

Temos, na janela speror, a orma de onda do snale, na neror, o espectrograma, alnhado à orma da onda.A consoante qe estamos observando está dsposta entrelnhas pontlhadas vertcas (sombreada na orma de onda).

1 Ferramenta tlzada para análse acústca.

2 Dados obtdos a partr da ala desta atora. Assm como os demas dados qe serão tlzados aq para remeter à caracterzação acústca

dos sons da ala, estes oram coletados em sala slencosa através do sotware Praat e dgtalzados a ma taxa de amostragem de 44kHz.

Forma de onda e espectrograma da palavra “apa”2

Figura 1

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Observe qe o aspecto descontíno a qe nos reermos: entre as vogas à esqerda e à dreta, há snalsem energa acústca – tanto qe vemos m espaço pratcamente em branco no espectrograma e, na

orma de onda, ma lnha reta horzontal. Em segda, mas vznha à vogal da dreta, há ma “explosãode energa”, caracterzada por orma de onda aperódca e por ma barra vertcal no espectrograma.

Os atos a qe nos reermos na gra 1 consttem o qe se chama “oclsão” e “burst ” na lteratraonétca. A oclsão – porção do snal qase sem energa de prodção, sto é, porção em branco no espectrograma – corresponde ao momento em qe dos artcladores encostam m no otro, casandoobstrção à passagem do ar no trato.

Em segda, temse a soltra desses artcladores e, em decorrênca desse movmento, a “explosão” qe caracterza adtvamente a classe das oclsvas3 e qe é vsta através da barra vertcal noespectrograma (burst ).

Um otro parâmetro acústco qe caracterza as oclsvas é o VOT4, o tempo do níco do voze

amento, sto é, o tempo decorrdo entre o nal do burst e o níco da atvdade de vbração das pregas.Para medr o VOT, portanto, samos a dração. Esta, por sa vez, se obtém no espectrograma através daobservação do exo horzontal qe traz o parâmetro “tempo”5.

Ressaltese qe todas as consoantes oclsvas se caracterzam pelos três parâmetros acústcosqe menconamos: oclsão, burst e VOT. O qe az derr [p] de [t], por exemplo, é a trajetóra dos ormantes6 das vogas na transção7 da oclsva para a vogal segnte.

FricativasPara a prodção das consoantes rcatvas, é necessá

ra a realzação de ma constrção severa em algm pontodo trato. Tal constrção casa estretamento do trato e, comoconseqüênca, para qe o ar egresso dos plmões consgapassar por esse ponto de estretamento é precso qe ele secomprma, levando à rcção de sas partíclas. Tal ato acaba casando a sensação adtva de rído qe caracterzaessa classe e qe podemos ver, nma análse acústca, dasegnte manera:

A rcção das partíclas de ar é dentcada, na janelasperor da gra 2, pela orma de onda aperódca, qe seencontra sombreada, entre as lnhas pontlhadas vertcas. Note qe essa orma de onda contrasta drastca

mente com a orma de onda à esqerda e à dreta da porção sombreada e qe caracterza sons vocálcos.

3 Lembrese qe a otra denomnação possível para a classe das oclsvas é “plosva”, ma reerênca dreta à mpressão adtva de ma

peqena “explosão” qe caracterza os sons dessa classe.

4 Sgla em Inglês para “voice onset time”. Note qe, na lteratra onétca, mtos termos ngleses não são tradzdos para a Línga Portgesa.

5 No programa Praat, podemos obter a dração de m evento acústco posconandoo entre os crsores – as lnhas vertcas pontlhadas.

O programa abre, então, atomatcamente ma janela qe traz a medda da dração de tal evento, sempre em segndos(s). Entretanto,

costmamos nos reerr à dração dos eventos acústcos da ala em mlssegndos (ms) porqe são mto breves.

6 Formantes são regões de reqüênca ressaltada em nção do ormato qe o trato vocal assme para a prodção de m o otro som vocálco.

7 Transção é o evento acústco qe capta o momento em qe m artclador está termnando de artclar m som e otro artclador começa

a artclar o som segnte na cadea da ala.

Forma da onda e espectrograma da palavra “assa”

Figura 2

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No espectrograma, a rcção das partíclas de ar é vsta como m “chvsco”, qe também se encontra entre as lnhas pontlhadas vertcas e decorre do caráter aperódco característco dessa classe de sons.

O qe derenca os sons rcatvos entre s – por exemplo [s] de [∫] – é a regão de reqüênca ondecomeça o rído rcatvo: enqanto para o prmero som a rcção começa por volta dos 5kHz, para osegndo ela começa em torno de 3kHz. Mas baxa, portanto. No caso de [], a energa de prodçãocomeça anda nma regão mas baxa e se espalha por todo o espectro.

Sonoridade

Nestas altras, você deve estar se pergntando: sabemos os parâmetros qe caracterzam oclsvas e rcatvas e qe, ao mesmo tempo, as dstngem mas das otras. Sabemos também em qasaspectos os sons rcatvos derem ns dos otros, assm como os oclsvos. Mas há ma derença paraa qal anda não atentamos: como dstngr [p] de [b], o [s] de [z], qer dzer, como dstngr maconsoante srda de otra, sonora?

A sonordade é vsível nos espectrogramas através de ma barra horzontal – a “barra de sonordade” – qe se localza nma regão de reqüênca baxa, ao pé do espectrograma, dgamos assm. Essabarra horzontal mostra a reqüênca de vbração das pregas – o reqüênca ndamental o anda F0.A vbração das pregas vocas, rsese, é a manobra artclatóra necessára para prodzr sons dtos “sonoros”. Portanto, a barra de sonordade nos permte ver a manobra artclatóra. Assm, as consoantessonoras exbem a barra de sonordade e as srdas, não. Veja na gra abaxo:

Figura 3

Espectrogramas de “aja”, na janela speror e “acha”, na neror. Note, na janela de cma, a presença de ma barrahorzontal ao pé do espectrograma. Esse evento acústco não exste na janela neror da gra.

NasaisComo decorrênca do ato de as consoantes nasas reqererem o acoplamento da cavdade nasal

à cavdade oral do trato vocal para serem realzadas, prodzse ma ressonânca na cavdade nasal, eessa ressonânca se sobrepõe às da cavdade oral. Por sso, os espectrogramas de consoantes nasastrazem sempre m ormante adconal, o ormante nasal .

Cabe ressaltar qe m ormante é ma regão de reqüênca determnada qe é ressaltada devdoao ormato qe o trato assme para a prodção de m som. Nós consegmos vsalzar os ormantes em

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sons vocálcos e consoantes como as nasas, líqdas e aproxmantes, mas não nas oclsvas. No caso das consoantes

nasas, o ormante qe nos nteressa se localza nma axade aproxmadamente 300Hz.

A gra 4 traz a orma de onda e o espectrogramade ma consoante nasal alveolar [n]. Observe qe, derentemente das oclsvas, as consoantes nasas têm maorma de onda e m aspecto vsal contínos. Isso se deveà atvdade da cavdade nasal porqe, como você deve selembrar, na cavdade oral, as nasas são prodzdas comoclsão em algm ponto. O seja, [n] é prodzda comoclsão alveolar e propagação do ar pela cavdade nasal.

Além dsso, derentemente das consoantes rcatvas, as nasas se caracterzam por ma orma deonda peródca (o qaseperódca), porqe não são prodzdas pela ação de rído. Observe:

LíquidasO nome “líqdas” engloba as consoantes lateras, v

brantes e Tapes – sons de e , portanto. Devese à mpressão adtva desses sons, qe lembravam aos onetcstas doséclo XIX o barlho de ága. Daí receberem, em Francês, adenomnação de sons “mouillés” (molhados).

Cabe pontar qe, embora rendos nma mesmaclasse – talvez por conta da mpressão adtva a qe remetíamos acma – as lateras (sons de ) e os rótcos (sonsde têm aspectos bastante dstntos, especalmente porqe as lateras são contínas e os rótcos – como vbrantese Tapes – não. Na gra abaxo, dspõemse, lado a lado, aorma de onda e o espectrograma de “ala” e “ara”.

Observe qe a lateral alveolar [l] tem orma de ondae aspecto vsal contínos, sem nterrpções. É possível,nclsve, vsalzar ma estrtra ormântca qe, comoveremos mas adante, é mto próxma de [ ]. O aspecto

contíno da lateral dclta sa segmentação – sto é, separação dos otros sons da cadea da ala – especalmenteqando [l] ocorre em posção ntervocálca. Para essa tarea de segmentação, a psta mas sgncatva é a ampltde da onda: repare qe a orma da onda de [ l] (na janelasperor do qadro à esqerda da gra 5) tem ampltdemenor qe a ampltde das vogas adjacentes.

Qanto ao Tape alveolar , cabe pontar qe tem orma de onda mto parecda com a de oclsvas, sto é, de ampltde mto peqena, devdo à baxa energa de prodção. Além dsso, a orma de

Forma de onda e espectrograma da palavra “ana”

Figura 4

Forma de onda e espectrograma de “ala”, à esqerda,e “ara”, à dreta. A lateral e o Tape encontramse entreas lnhas vertcas pontlhadas.

Figura 5

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onda é menos peródca qe a da lateral. Esses atos também são vsíves no espectrograma: veja qe alhá ma peqena nterrpção na cadea sonora.

É precso anda menconar, relatvamente aos rótcos, qe a vbrante alveolar [r] se consttde ma scessão de três a cnco momentos de qase nterrpção da corrente de ar no trato – o“echamentos”, segndo a denomnação da lteratra (RECASENS, 1991) – segdos da retomada daprodção de voz, o “abertra oral”. É como se osse ma scessão de Tapes, embora ma vbrantenão se constta de város Tapes (RECASENS, 1991).

AproximantesAs aproxmantes, também chamadas glides o semvo

gas, aproxmamse mto de vogas. Daí, portanto, se aspec

to contíno no espectrograma e sa orma de onda tambémcontína. Elas geralmente consttem dtongos nas língasem qe ocorrem, podendo grar à dreta o à esqerda davogal qe constt o núcleo slábco. A gra 6 traz dos desses sons qe ocorrem no Portgês braslero, em dtongos.

Repare qe todas as das se caracterzam por m movmento rápdo dos ormantes – os qas você pode reconhecercomo as “manchas” horzontas mas escras nas janelas nerores da gra. No caso da aproxmante palatal [ ], o prmeroormante tem trajetóra descendente e, portanto, oposta à tra jetóra ascendente do segndo ormante, no níco do segmen

to. No nal dele (sto é, próxmo à segnda lnha vertcal pontlhada), vêse o movmento contráro dos ormantes, de modoqe o segndo apresenta trajetóra descendente e o prmero,trajetóra ascendente. Verqe também qe a transção da vogal para a aproxmante e dessa para a vogal segnte é longa.

A aproxmante lábovelar [w], por sa vez, emboratambém se caracterze pelo movmento rápdo dos ormantes,exbe trajetóra descendente tanto para o prmero como parao segndo ormantes. Além dsso, o tercero ormante é anlado, o qe az com qe essa aproxmantetambém se pareça com a vogal [] – a derença entre ambas está jstamente na trajetóra rápda dosormantes drante as transções.

Caracterização acústica das vogaisAssm como as consoantes, também as vogas podem ser caracterzadas por algns parâmetros

acústcos. Nesse caso, como as vogas pratcamente não oerecem resstênca à passagem do ar no trato,terão m ormato de onda qaseperódca e aspecto vsal sempre contíno. Além dsso, como são

Forma de onda de espectrograma das seqüêncas“aa”, à esqerda, e “aa”, à dreta

Figura 6

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72 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

prodzdas, va de regra, com a vbração das pregas, as vogas são geralmente sonoras. Por essas razões,para a caracterzação acústca das vogas, nós nos baseamos notras pstas qe não a presença de rído

no snal o a qase asênca de energa de prodção no snal acústco, por exemplo.

Para a caracterzação acústca das vogas, nos basearemos nos valores das reqüêncas dos ormantes. Como menconamos acma, os ormantes são regões de reqüênca ressaltadas no espectro em decorrênca do ormato qe o trato vocal assme – especalmente pela ação do movmento de dorso da línga– para a prodção desses sons. Os ormantes são todos múltplos do prmero harmônco, 8 qe caracterzam som da ala e, embora teorcamente exstam nntos deles, nteressamnos para nossa tarea os trêso, no máxmo, qatro prmeros ormantes, aos qas chamaremos, respectvamente, F1, F2, F3, F4.

O ato de nos xarmos à observação desses ormantes decorre das prevsões da Teoria Acústica de

Produção da Fala (FANT, 1960). Nesse modelo, qe empregamos até hoje como base de todo o procedmento de caracterzação acústca dos sons da ala, o ísco seco Gnnar Fant preconza ma relaçãontrncada entre o dado artclatóro e o dado acústco, de modo qe é possível nerrmos o movmentodos artcladores através dos valores de ses ormantes. Tal nerênca é possível, no caso das vogas,porqe o correlato artclatóro de F1 é o movmento de abertra da mandíbla e o correlato artclatóro de F2 é o movmento ânteroposteror do dorso da línga. F3, segndo as prevsões de Fant, tendea acompanhar a trajetóra de F2.

A prevsão de Fant para a relação entre o dado acústco e o artclatóro é a segnte: vogas altas – sto é, prodzdas com a mandíbla elevada – têm F1 baxo; nversamente, as vogas baxas – stoé, prodzdas com a mandíbla abaxada – têm F1 alto. Qanto aosegndo ormante (F2), as vogas anterores –sto é, prodzdas como dorso da línga anterorzado – exbem valores altos; à medda,porém, qe o dorso va se retrando, os valores de F2 vão dmnndo. Por sso, vogas posterores – sto é, prodzdas com o dorso delínga retraído – exbem F2 baxo. A gra 7 traz os espectrogramasde [p], [pa] e [p], nessa seqüênca, a partr da prmera janela, decma para baxo.

Observe qe, na prmera janela, onde temos a seqüênca [p],a vogal [] encontrase entre lnhas vertcas pontlhadas e exbe mprmero ormante baxo (localzado nma axa méda de 300Hz).Você consege reconhecer F1 como o “borrão” horzontal mas escro, ao pé do espectrograma. Artclatoramente, sso sgnca qe []é prodzdo com a mandíbla elevada. A mesma observação cabepara a vogal [], na últma janela da gra 7: F1 também é baxo porqe, assm como [], [], é prodzda com a mandíbla elevada.

A localzação do F1 de [a], porém, é derente: veja, no espectrograma da janela do meo, qe o prmero “borrão” mas escro ocorremas alto. De ato, o F1 de [a] tem, em méda, 900Hz. A razão para oprmero ormante dessa vogal se localzar nessa axa de reqüêncaé o ato de ser prodzda com a mandíbla maxmamente aberta.

8 O prmero harmônco dos sons da ala é também a reqüênca ndamental, o F0, sto é, a reqüênca de vbração das pregas vocas. Como

conseqüênca dessa relação entre F0 e os demas ormantes, temos qe, qanto mas alto F0, mas altos também serão os demas ormantes

de ma vogal.

De cma para baxo: espectrogramas dasseqüêncas “p”, “pa”, “p”

Figura 7

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73|Caracterização acústica dos sons da ala

Se consderamos, agora, o segndo ormante (F2), vercamos ma dmnção gradatva de sesvalores, se partmos da vogal []: na prmera janela da gra 7, temos F2 alto e dstante de F1 (atente, de

novo, para os “borrões” horzontas). Já na janela do meo, F2 se encontra m poco acma de F1, nmaregão mas baxa de reqüênca do qe aqela qe ocpava drante a prodção de []. Isso sgncaqe, de [] para [a] ocorre posterorzação do dorso da línga. Tal posterorzação é maor anda no casode []: veja, na últma janela, qe F2 encontra F1 e, com ele, constt m “borrão” mas largo. Dzemosqe, na prodção da vogal [], F3 assme valores baxos, em decorrênca da maor posterorzação dodorso da línga qe, nessa vogal, atnge se máxmo.

Já o tercero ormante (F3) é alto para [] e []. No caso da vogal anteror alta [], F3 tem valorpróxmo de F2; no caso da vogal posteror alta, ses valores são dstantes de F2. No espectrograma davogal [a], o tercero ormante mede aproxmadamente 2 500Hz e está m poco dstante de F2 – nãotão dstante qanto estava na congração de ormantes de [], mas não tão próxmo qanto estava nacongração de ormantes de [].

É precso observar qe as demas vogas apresentam relações análogas entre F1 e F2: na sére dasvogas anterores [, e, , a], portanto, F1 é baxo e va crescendo à medda qe a mandíbla se abre; F2 éalto e decresce à medda qe o dorso va se retrando. Isso qer dzer qe [ ] terá F1 mas alto e F2 masbaxo do qe []. Na sére das vogas posterores, F1 também é baxo e cresce à medda qe a mandíblase abre; F2 é baxo e amenta à medda qe o dorso va dmnndo a retração. Dessa orma, [ ] terá F1mas alto e F2 também mas alto qe [].

À gsa de conclsão: cabe acrescentar, relatvamente à caracterzação acústca de consoantese vogas, qe pode haver derenças nos valores da reqüênca de m som em nção do sexo do ndvído qe prodz aqele som. Assm, por exemplo, ma vogal [] prodzda por homens e mlheresterá valores dstntos para ses ormantes: Kent e Read (1992, p. 95) reportam ma méda de 270Hz, 2300Hz, 3 000Hz para, respectvamente, F1, F2 e F3 em regstros de normantes masclnos, mas 300Hz,2 800Hz, 3 300Hz para, respectvamente, F1, F2 e F3 em regstros de normantes emnnos.

Qal é a razão dessa derença? Há dos atos, bascamente, qe contrbem para sso:

o tamanho das pregas;::

o tamanho do trato.::

Para homens, as pregas são m poco maores qe para mlheres, o qe az com qe elas vbremm poco mas lentamente, e o resltado dsso é ma voz com reqüênca ndamental (F0) mas baxa.Como os demas ormantes são múltplos de F0, conseqüentemente, eles apresentarão valores tambémmas baxos qe os ormantes encontrados para vozes emnnas qe têm em méda reqüênca ndamental (F0) mas alta qe vozes masclnas, como decorrênca de as pregas serem m poco menores para

mlheres e, assm, poderem vbrar mas rapdamente, prodzndo m F0 mas alto qe o de homens.Além dsso, o trato vocal masclno é m poco maor qe o emnno, o qe az com qe a “caxa

de ressonânca” dos homens seja maor qe a das mlheres. Isso az com qe as ondas pelas qas sepropagam os sons da ala no nteror do trato masclno terão comprmento maor – e, por sso, serãomas graves – qe as ondas pelas qas se propagam os sons da ala no nteror do trato emnno. Porterem comprmento menor, essas ondas têm F0 mas alto.

Como, então, percebemos a qaldade da vogal nalterada, apesar dessas derenças, qer dzer,como percebemos [], tanto na ala de homens como na de mlheres? Se atentarmos para os valoresmédos das reqüêncas de F1, F2 e F3 de [], ornecdos anterormente, consegremos notar qe a re

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lação entre os três ormantes se mantém, tanto na ala de homens como na de mlheres. O seja, F1 ébaxo e dstante de F2; por sa vez, F2 e F3 são altos e próxmos entre s. O mesmo racocíno se aplca a

todos os otros sons da ala.

Para termnar: nós tratamos aq da caracterzação acústca dos sons, mas é possível também aanálse acústca de atos qe se sobrepõem à cadea sonora, sto é, a atos prosódcos, como entoação,acento, tom.

O mesmo sotware qe tlzamos para a caracterzação acústca dos sons – o Praat – nos dá a possbldade de azermos a análse prosódca. Portanto, ca aí o convte para qe você acesse a págna doPraat <www.praat.org>, baxe o programa e comece a “brncar” com as possbldades qe o programaoerece. Como a análse prosódca não é o oco de nossos estdos, nós não trataremos dela aq.

Atenção: o comptador não az soznho a análse acústca. Para nterpretála e vercar o qe nosnteressa em termos lngüístcos, é precso entender o qe o programa de análse az e como ele nco

na. Por sso, é aconselhável qe você baxe, também, o manal do Praat.

Texto complementar

Enfm alguma coisa que se aprende durante o sonoCérebro de bebês adormecidos aprende distinção automática de sons da ala

(HERCULANO-HOUZEL, 2007)

Qe tal aprovetar o tempo em qe você dorme para aprender mas algma cosa? Um otrodoma, por exemplo? Métodos de aprendzado de língas drante o sono, daqeles de dormrcom ones de ovdo, andaram na moda nos anos 1980. E logo caíram em descrédto, porqe orído em ovdos adltos só az pertrbar o sono. Aprender novas palavras estrangeras, qe serabom, nada.

Mas, talvez, bebeznhos adormecdos de ato aprendam algma cosa com a conversa dosadltos ao redor. Um estdo nlandês pblcado na revsta Nature em everero de 2002 sgereqe o cérebro recémnascdo aprende a processar os sons da ala ovdos pelos bebês mesmodrante o sono.

"Sons ovdos drante o sono" não é apenas modo de dzer. Ao contráro do qe se armodrante mto tempo, os snas dos sentdos contnam sendo levados ao cérebro adormecdo, sm,e chegam a passar pelos prmeros níves de processamento, mas elementares, qe não reqeremconscênca o atenção. No caso da adção, persste m processamento bastante básco e atomátco: é smplesmente ma qestão de nerônos derentes responderem a onemas especícos.

E responder a onemas especícos da ala é algo qe o cérebro aprende a azer desde cedo.Alás, é ovndo os sons da ala qe o cérebro aprmora sas habldades onétcas mas elementares,

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como o mesmo grpo nlandês mostro algns anos atrás. Recémnascdos consegem dstngr

entre todos os sons possíves de todas as língas. Faz sentdo, já qe o cérebro não tem como advnhar qal será sa línga materna.

Daí em dante, a habldade de dstngr sons da línga materna se aprmora, enqanto a capacdade de dstngr entre sons de língas estrangeras se perde rapdamente – a não ser qe elescontnem a ser ovdos, por exemplo, se os pas alam língas derentes em casa. Aos ses meses dedade, bebês estonanos, peretamente amlarzados com sa línga materna, já não consegemmas dstngr entre sons bastante parecdos do Fnlandês, ma línga próxma. E assm japonesesadltos têm dcldade em separar /r/ e /l/, ranceses não derencam entre os nossos /ao/ e /ão/... ebrasleros se perdem entre os város sons parecdos com // do Inglês.

No estdo de 2002, os pesqsadores nlandeses testaram as habldades de 45 recémnascdosadormecdos para dstngr entre os sons /y/ e //. Os testes oram etos nma note, na manhã

segnte, e depos de 15 deles terem passado de três a cnco horas de sono ovndo város /y/s e //s segdos. A dstnção eta pelo cérebro pode ser detectada no eletroencealograma (EEG) se ospesqsadores se valerem de m trqe smples: o teste do elemento estranho.

Fncona assm: se város sons dêntcos orem ovdos em segda, como o tqetaqe dorelógo, o cérebro se habta ao padrão, e apenas ma onda mto peqena aparece no EEG emresposta a cada m deles. Se de repente m som destoar, como m tqe sbtamente mas grave, océrebro reage com ma resposta mto amentada. Essa detecção do elemento estranho é atomátca, ndepende de atenção (tanto qe contna até no cérebro adormecdo) – e também ncona seo elemento estranho or m // no meo de város /y/s.

Sem o "treno notrno", as respostas no EEG dos bebês aos //s estranhos eram semelhantes nasdas sessões de regstro. Já nos bebês "trenados" drante o sono, as respostas no EEG aos raros //sse tornaram bem maores na segnda sessão de regstro, após o treno, como se o cérebro tvessemelhorado sa capacdade de dscernr entre /y/s e //s. E mas: a dstnção acltada entre os dossons parece especíca para aqeles sons ovdos no "treno", já qe otros 15 bebês "trenados"drante o sono com /a/s e /e/s não mostraram derença a segr em sa capacdade de dstngratomatcamente, drante o sono, entre /y/s e //s. Além dsso, o eeto pode ser relatvamente dradoro, já qe anda era vsível nma tercera sessão de regstro, na note segnte.

Se bebês melhoram a dstnção onétca até dormndo, por qe então adltos não aprendemlíngas estrangeras drante o sono? Exstem ao menos das boas razões. A prmera é qe o cérebroadormecdo não consege azer o processamento necessáro com os sons da ala para agrpálosem palavras, assocarlhes sgncado e gardar tdo na memóra. Não consege e nem podera,caso contráro, como adormecer se o cérebro nsstr em encontrar sentdo em todos os sons? Amentar o vocabláro dormndo, portanto, é m sonho mpossível.

A segnda razão é qe o cérebro adlto pode até ovr e azer o processamento onétco masbásco drante o sono – mas a essa altra da vda, esperar aprender com sso já é qerer demas. Anânca, época em qe o cérebro estava mas apto a se ajstar aos sons da ala, materna o estrangera, já acabo. Qem aprende a ovr sons de otras língas drante a nânca aprende; qemnão aprende provavelmente terá dcldade com esses sons pelo resto da vda.

Qer dzer então qe recémnascdos consegem aprender drante o sono? Sm e não. As regões adtvas aprendem a responder aos sons e pelo jeto o azem até drante o sono, sm. Isso é

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ma grande vantagem para m cérebro qe está no age da sa capacdade de reorganzação em

nção dos estímlos qe recebe, sobretdo qando vozes amlares alando a línga materna estão sempre por perto. A evolção, anal, não preva qartos separados e absoltamente slencosospara bebês dormrem solados da ala hmana.

Só qe sso não sgnca "aprender", no sentdo sal da palavra. Tornarse capaz de dstngrsons da ala é mportante, mas está longe de ser a mesma cosa qe aprender o sgncado daspalavras, as declnações do alemão o a tabada de 1 a 100. Para o qe normalmente se chamaaprendzado é precso atenção, e para se prestar atenção é precso estar bem acordado.

O qe não qer dzer qe aqelas oto horas de sono notrno são nútes para os adltos. Mtopelo contráro; hoje se sabe qe elas são essencas para o aprendzado – mas exatamente, para qeo cérebro de ato xe o qe aprende ao longo do da. Você começa a aprender no crso de Inglês,e enqanto dorme se cérebro gnora a ta embaxo do travessero, talvez jstamente para poder

dar conta de revsar e passar a lmpo as "anotações" qe ez drante o da. Pensando bem... está debom tamanho, não?

Atividades  Baseandose no texto qe você acabo de ler, responda às segntes qestões:

1. Para a caracterzação acústca dos sons da ala, tlzamos os parâmetrosa) reqüênca e ampltde do snal e scessão temporal dos eventos.

b) abertra da mandíbla, posção do dorso e movmento dos lábos.

c) ponto de artclação, modo de artclação e sonordade.

d) rído, oclsão, reqüênca dos ormantes e dração.

2. Consoantes como oclsvas e rcatvas derencamse de vogas pela segnte psta acústca:

a) ormantes com reqüênca em geral mas alta para as consoantes qe para as vogas.

b) aspecto vsal descontíno o com rído para as consoantes, mas contíno para as vogas.

c) ampltde mas baxa para as vogas e mas alta para as consoantes, especalmente as rcatvas.

d) maor dração para as consoantes, qe são artclatoramente mas complexas qe vogas.

3. A Teora Acústca de Prodção da Fala (FANT, 1960) prevê ma relação entre o dado acústco e odado artclatóro, de modo qe:

a) o prmero ormante (F1) é o correlato acústco do movmento de dorso e o segndo ormante(F2) é o correlato acústco da abertra da mandíbla.

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77|Caracterização acústica dos sons da ala

b) o prmero ormante (F1) é o correlato acústco de arredondamento de lábos e o segndoormante (F2) é o correlato acústco da vbração das pregas vocas.

c) o prmero ormante (F1) é o correlato acústco da abertra da mandíbla e o segndo ormante(F2) é o correlato acústco do movmento de dorso.

d) o prmero ormante (F1) é correlato acústco da vbração das pregas vocas e o segndoormante (F2) é correlato acústco de arredondamento de lábos.

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Estudo dos sons com unção

comunicativa: onologia

Objeto de estudo da onologiaNa Lngüístca, há das dscplnas qe se ocpam do nível ônco – o nível dos sons – da lnga

gem: onétca e onologa.

A onétca, em lnhas geras, ocpase do estdo de qasqer sons de ma determnada línga,

o qe sgnca admtr qe ela se ocpa das dversas varantes de m mesmo som. Assm, por exemplo,podemos dzer qe, ao azermos onétca da Línga Portgesa, estaremos preocpados em estdarsons como o de /r/ olhando para varantes como a vbrante alveolar [r], o Tapee alveolar [ ], a rcatva velar [x] o a rcatva glotal [h]. Podemos, nclsve, apontar em qe daletos são encontradas, observandoqe no daleto caroca as varantes rcatvas ocorrem em nal de sílaba e/o palavra e o Tapee se restrnge à posção ntervocálca o grpos consonantas. Em contrapartda, podemos observar também qeno daleto paranaense é possível anda encontrar a vbrante alveolar em níco de palavra e – o qe étípco desse daleto, em especal do regstro alado ao sl do estado – o Tapee em níco de palavra (vide AGUILERA, 1994). Em nal de sílaba e/o palavra, o daleto paranaense exbe a aproxmante retroexa [.] coocorrendo com a aproxmante alveolar [. ] e o Tapee [ ] (AGUILERA, 1994). Derentemente do daletocaroca, no paranaense as varantes rcatvas ocorrem apenas em níco de sílaba/palavra, especalmen

te na ala de gerações mas jovens.A onologa, por sa vez, não se nteressa por todos os sons qe exstem nma determnada lín

ga – nclndo aí as varantes de m dado som.

Para a onologa nteressarão apenas os sons qe têm unção comunicativa nma determnadalínga. Mas o qe sgnca, anal, a tal unção comunicativa? Esse é m termo advndo do estrtralsmolngüístco e decorrente da preocpação de lngüstas como Roman Jakobson e Morrs Halle 1, concernente à vercação dos aspectos sonoros qe se tlzam para veclar ma determnada mensagem. Tal

1 Para maores detalhes acerca dessa preocpação, vide Jakobson, R., Fant, G. & Halle, (1952).

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perspectva relaconase com otra, a da Teora da Inormação, m modelo matemátco 2 e qe objetvava, em lnhas geras, vercar qas eram os aspectos consttntes mínmos de ma dada mensagem

scentes para qe, ma vez veclada, tal mensagem osse compreendda pelos ses receptores. Ternção comncatva sgnca, portanto, qe m som tem aspectos qe, derndo dos aspectos de otros sons, permte qe esse som vecle ma mensagem. Assm, na Línga Portgesa, dzemos qe /p/ tem nção comncatva porqe, o ato de ser sonoro o dstnge de /b/, de onde reslta qe mapalavra como “pato” vecla ma normação dstnta de ma palavra como “bato”. O ato de ser blabalaz com qe /p/ dra de /t/ e, por sso, ma palavra como “pato” vecla ma normação derente dapalavra “tato”.

A otros onólogos nteressarão as dversas varantes qe, semelhantes entre s em termosonétcos e ocorrendo mtas vezes condconadas pelo ambente adjacente, nma dstrbçãomtamente exclsva, consttem m mesmo nvarante, o onema. Essa é a perspectva adotadapor Kenneth Pke, onólogo norteamercano, ndador do Summer Institute o Linguistics (SIL3), qe na

década de 1940 desenvolve, com base no pressposto qe acabamos de menconar, ma metodologapara se reconhecer os onemas de ma línga e, a partr daí, propor sstemas de escrta para língaságraas. Essa metodologa, chamada onêmica, será abordada de manera mas detda logo adante.

De qalqer orma, seja qal or a perspectva qe se adote, a onologa se ocpara do aspectoabstrato do nível sonoro da lngagem, sto é, se ocpara da representação qe os alantes de madetermnada línga têm das ndades mínmas qe consttem esse nível. A onétca, por otro lado,se ocpara do aspecto concreto do nível sonoro da lngagem, sto é, se ocpara da realização dasmenores ndades consttntes do nível sonoro. Adotar essa perspectva – qe anda vgora na lngüístca, nclsve em modelos de análse onológca de herança geratva4 – mplca em admtr tambémqe onétca e onologa são das dscplnas atônomas, dstntas. Portanto, para se azer a ponte entreas das, o para “converter” o smbólco (abstrato/dscreto) no dnâmco (concreto), é necessáro prever,

por exemplo, m extenso conjnto de regras de reajste, mas m conjnto de artícos qe garantamse nconamento adeqado, como ará a onologia gerativa (CHOMSKY; HALLE, 1968).5

Esta vsão de qe onétca e onologa são dscplnas ndependentes, atônomas, vem sendoqestonada há tempos: nm artgo de 1990, OHALA deende, jstamente, qe consderar qe as dasdscplnas são pratcamente ma só pode levar a ma análse mas parcmonosa e mas adeqada donível sonoro da lngagem. Mas qem propõe de ato como azer a ntegração entre as das dscplnassão Catherne Browman e Los Goldsten, através de m modelo chamado onologia articulatória. Esse ém modelo dnâmco – no sentdo ísco mesmo do termo – de prodção da ala e parte do presspostode qe, para assmr a ntegração entre onétca e onologa é precso adotar m prmtvo de análsede natreza dnâmca, portanto derente de traço dstntvo o onema qe têm, ambos, natreza

2 Ver EPSTEIN (1988, p. 5), “A Teora da Inormação o Teora Matemátca da Comncação, denomnação de Shannon (1975), o ormlada

como ma teora matemátca destnada a axlar a solção de certos problemas de otmzação do csto da transmssão de snas. Sa

denção de qantdade de normação o redção de ncerteza é axomátca e eqaconada a partr de dos concetos também matemátcos:

a probabldade e a nção logar ítmca”.

3 Este é m nsttto presbterano, qe tlzava a onêmca para tradzr a bíbla para língas de povos ndígenas das Amércas, o para língas

asátcas e arcanas. Esses propóstos mssonáros, mascarados pela análse lngüístca, sempre oram alvo de dras crítcas dos lngüstas.

4 Modelos qe se nspram na onologa geratva padrão de CHOMSKY e HALLE (1968).

5 As regras não vêm soznhas: nesse modelo, para drblar se caráter excessvamente ormal, lançamse artícos como a Teora da Marca. Além

dsso, é precso prever, em mtos casos, qe haja a atação de mas de ma regra para azer a conversão do smbólco no dnâmco e qe essas

regras nteragem, de modo qe, não raro, é precso prever ma ordem de aplcação das regras para qe se obtenha o ato onétco tal como

ocorre nma determnada línga, sob o rsco de se gerar m ato nexstente.

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81|Estudo dos sons com unção comunicativa: onologia

dscreta6. Dessa orma, como argmentam Browman e Goldsten (1992), desazse a rontera entreas das dscplnas, tornandose possível pensar, agora, nm nível ônico da lngagem, qe congrega

tanto os aspectos smbólcos (abstratos) como os dnâmcos (concretos), sem a necessdade de preverregras qe açam a conversão de m no otro.

Apesar da possbldade de ntegrar onétca e onologa, nós anda contnaremos adotando a vsão qe dssoca ambas, por ma razão ddátca, exclsvamente. Assm, já sabedores do aspecto do nívelsonoro da lngagem qe a onologa selecona – portanto, se objeto de estdo – é precso vercar, agora, como a onologa az para abordar se objeto. Para tanto, o prmero passo é entender qal – o qas– a ndade de análse (o prmtvo teórco) na qal os modelos de análse onológca se baseam.

Unidades de análise onológica

O traço distintivoPreocpados em solar as ndades com nção comncatva na cadea da ala, os onólogos Ro

man Jakobson e Morrs Halle observaram, por exemplo, qe para m ndvído compreender ma palavra como bill (conta) nm teste de reconhecmento de palavras, especalmente se elas são ornecdassoladas, os sjetos desse expermento precsam chegar às “ndades relevantes para a dscrmnaçãodas amostras” (ver JAKOBSON; FANT; HALLE, 1952. p.1). Mas qas, anal, são essas ndades relevantes?Há, na Línga Inglesa, ma palavra como bull (toro), qe permte qe os sjetos do expermento ds

tngam as vogas entre s. Também há, nessa línga, a palavra  pull (pxar) qe permte qe os sjetosconrontem e dstngam as consoantes ncas nas seqüêncas bull e pull . Além dessa oposção, a palavrabill se opõe a pill (pílla) e a base dessa oposção é a mesma qe tínhamos para  pull  /bull .

A partr daí, e estendendo os exemplos a otras palavras qe derem mnmamente das tomadas de níco, os atores observam qe a tarea de compreensão da mensagem, em qalqer línga,coloca os ndvídos dante de ma stação de dpla escolha, a qal os obrga a escolher entre dasqaldades polares de das categoras: assm, para a compreensão de bill em oposção a  pill , é precso,dentro da categora “sonordade”, escolher entre as qaldades “srdo” o “sonoro”. Por qe é a categorasonordade, alás, a relevante neste caso? Repare qe as consoantes [p] e [b] compartlham ponto emodo de artclação, dado qe são ambas oclsvas e blabas. A derença entre elas está, jstamente,na sonordade. O mesmo racocíno se aplca ao par bull  / pull .

Já para a derencação das vogas [] e [], no par bill  /bull , a categora envolvda é otra, e poderíamos chamar de “ pitch7”: essas vogas derem pela posção do dorso no trato, qe az com qe [] sejaanteror e [], posteror. Mas ambas são prodzdas com a mandíbla elevada – são altas, portanto. Aderença na posção do dorso reetese nma derença da reqüênca do segndo ormante (F2), altopara [] e baxo para []. Como conseqüênca, [] é m som agdo e [], grave. A base da derencaçãoentre [] e [] é a mesma para o par  pill  / pull .

6 Para maores detalhes sobre os modelos dnâmcos de prodção de ala, vide Albano (2001).

7 Varação de reqüênca. E, nesse caso, não da reqüênca ndamental F0, como se consdera em estdos prosódcos.

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82 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

À escolha entre dos opostos, Jakobson; Fant e Halle (1952) denonmam traços distintivos, qe são jstamente as menores ndades dstntvas – o qe possem nção comncatva – nma línga e

não podem ser decompostos em ndades lngüístcas menores. Anda segndo esses atores, várostraços dstntvos combnamse nm eixe, consttndo m onema. Então, cada ma das palavras daLínga Inglesa qe tomamos anterormente como exemplos seram consttídas de três exes de traçosdstntvos, o três onemas. A derença entre cada ma das matrzes, relatvamente às demas, estaraapenas em m traço.

O objetvo segnte desses atores – os prmeros, ressaltese, a proporem os traços dstntvos como ndades de análse onológca – passa a ser, então, dentcar o conjnto de traçosdstntvos qe opera nas língas do mndo. Para atngr esse objetvo, os atores se baseam emdados de língas como o Inglês, o Alemão, o Francês, o Tcheco, o Polonês, o Coreano, língas doCácaso, como o Crcassano, língas arcanas, como o Ewe. A partr desses dados, os atores consegem chegar a m nventáro de doze traços qe, por denção, são universais, o seja, estabe

lecem relações de oposção em todas as língas do mndo. Isso não qer dzer qe todos os dozetraços estejam presentes em todas as língas do mndo: cada línga selecona m nventáro detraços e determna como se combnam entre s. Daí a varabldade entre as língas no qe concerne aos sstemas onológcos.

Assm, os doze traços prevstos por Jakobson; Fant e Halle (1952) são:

vocálco/nãovocálco;::

consonantal/nãoconsonantal;::

compacto/dso (:: compact  /diuse);

tenso/roxo (:: tense /lax );

sonoro/srdo (:: voiced  /voiceless);

nasal/oral;::

dscontíno/contíno (:: discontinuous /continuant );

estrdente/doce (:: strident  /mellow );

brsco/ente (:: checked  /unchecked );

grave/agdo;::

rebaxado/sstentado (:: fat  / plain);

ncsvo/raso (:: sharp / plain)8.

Desses doze traços, a Línga Portgesa seleconara de nove a dez traços. Otras língas podemseleconar mas o menos.

Sob essa perspectva, o trabalho do onólogo é, então, vercar qas são os traços dstntvos qeoperam nma determnada línga, como esses traços se combnam entre s e qas as ndades decorrentes dessa combnação.

8 As tradções para os traços dstntvos propostos por Jakobson; Fant e Halle (1952) são de Câmara Jr., em Jakobson (1967, p.124127). Você

pode recorrer a essa reerênca, nclsve, para se aprondar m poco mas nesta proposta: Joaqm Mattoso Câmara Jr., prmero lngüsta

braslero, reúne e tradz, nesta coletânea, textos ndamentas de Roman Jakobson.

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83|Estudo dos sons com unção comunicativa: onologia

O onema

Como menconamos anterormente, além de poder ser dendo como m conjnto de traços dstntvos, o m “exe” deles, o onema pode também ser ma entdade nvarante qe reúne varantes qetêm algmas característcas artclatóras comns e qe podem ocorrer condconadas pelo ambenteadjacente.

Essa noção de onema vgora drante o estrtralsmo lngüístco – corrente qe se nca em nção do srgmento da Lngüístca, em 1916, e qe se estende até o nal da prmera metade do séclo XX9.Mas é mportante rsar qe o conceto de onema já exsta antes mesmo do advento da Lngüístca.

Assm, o termo “onema” era empregado pelos neogramátcos o pelos lólogos, no séclo XIX,como snônmo de som da ala10. Os própros onetcstas, no nal do séclo XIX e níco do séclo XX empregavam o termo com essa acepção. Mas qem dá ma otra acepção ao termo – acepção adotada pelaonologa e, em segda, pela lngüístca, rsese – o Ncola Trbtezkoy, qe em ses Princípios de Fonolo-

gia dstnge onemas de ones e aloones11. Assm, podemos dzer qe, em lnhas geras, para Trbetzkoyos ones12 são os própros sons da ala – qasqer sons. Se estdo cabera à onétca. Os onemas, por savez, são os sons qe têm nção comncatva nma línga e, portanto, acabam se tornando entdadesabstratas e qe constttvas do nível onológco de ma línga. Os aloones, por sa vez, são varantesde m mesmo onema qe podem ocorrer devdo ao condconamento do ambente adjacente, sto é, oambente no qal se encontra m determnado onema pode exercer sobre esse onema ma nêncatal qe haja alterações de atos como sonordade, ponto de artclação o até modo, no caso de sonsconsonantas, o alterações de movmento dos lábos, do dorso de línga o da abertra da mandíbla,no caso das vogas.

Admtndo essa derencação de Trbetzkoy, colocase para nós, agora, ma otra qestão: comodentcar os onemas de ma línga, bem como os possíves aloones, especalmente se a línga emqestão or ma línga desconhecda para nós?

Qem propõe ma metodologa para realzar essa tarea é Kenneth Pke, qe já menconamosanterormente. Tal metodologa chamose onêmica e é para ela qe nos voltamos em segda.

9 O estrtralsmo é ma escola lngüístca qe srge em decorrênca do modelo de lngagem de Ferdnand de Sassre, pblcado em 1916no Curso de Lingüística Geral . Drante aproxmadamente meo séclo teve grande orça na lngüístca e nenco otras áreas das cêncas

hmanas, como a Antropologa o a Socologa, qe se nspraram em sa metodologa analítca – especalmente elaborada para dar conta de

atos onológcos – para estabelecerem a sa própra.

10 Esta acepção “nãolngüístca” do termo onema acaba sendo tlzada anda hoje: gramátcas escolares tomam sons da ala por onemas,

assm como onoadólogas qe reqüentemente remetem, por exemplo, às “trocas” de onemas pelas cranças qando elas aparentemente

sbsttem, em sa ala, sons sonoros por sons srdos. Não se dão conta, entretanto, de qe, se consderarmos a acepção lngüístca do termo,

crança algma sobre a ace da Terra troca onemas, já qe estas são ndades abstratas. O qe as cranças azem, nessas stações é trocar m

som por otro.

11 Para maores normações sobre o percrso hstórco e teórco do termo onema, vide Jones, D. (1973): The History and Meaning o the Term

Phoneme.

12 Veja qe, etmologcamente, o sgncado de “one” é, de ato, “som”.

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84 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Análise onêmicaA metodologa de análse onêmca é exposta por Pke nm lvro chamado Phonemics: a technique

or reducing languages to writing. Como o própro sbtítlo ndca, tratase de ma técnca qe possbltaornecer m sstema de escrta a língas ágraas. De qe manera tal metodologa cmpre esse objetvo?

Os sstemas de escrta alabétca, como o nosso, ornecem m símbolo (graema, letra) para cadandade dstntva da línga, o seja, para cada onema. Assm, ma palavra como [ ],por exemplo, para a qal você tem aí ma transcrção onétca aproxmada e baseada em me próprodaleto, é graada como “alabetzação”. Admtese, portanto, qe haja:

m onema lateral para o qal é proposto o graema “l”;::

m onema oclsvo alveolar srdo, qe pode se realzar como a arcada srda dante de [] e::

para o qal é ornecdo o graema “t”;

m onema vocálco, central, baxo, qe pode ser realzado como a vogal central meoaberta::

[ ] qando há nasalzação sobreposta.

Dado o caráter onológco do sstema alabétco, qe bscamos evdencar acma, deve car claroqe, para se chegar à graa de ma palavra, partndo de sa realzação onétca é necessáro realzarma análse onológca da línga em qestão: só assm saberemos qas são os onemas dessa línga eqas as possíves realzações para eles.

A análse onológca, na onêmca, toma por base qatro “premssas”, como o própro Pke denomna. Tas premssas chamam a atenção daqele qe analsa a línga para o ato de qe sons qeaparentemente são onemas podem, na verdade, não ser, porqe ocalzam a possbldade de varaçãosonora. Vamos a elas, então:

As premissas da onêmica

Primeira premissa

A prmera premssa dz qe: “Os sons tendem a ser modcados pelo ambente em qe ocorrem 13.”

Isso qer dzer qe m determnado som pode sorer nênca de otros sons, adjacentes a ele,o seja, os sons podem se coarticular . Como resltado, m som qe exbe certas característcas podeazer sso condconado pelo ambente onde se encontra, o qe o constt ma varante, e não m o

nema propramente.Cabe rsar qe se consdera “ambente onológco” tdo o qe ocorrer adjacente a m determna

do som. Assm, o ambente pode ser m otro som, mas também pode ser rontera de sílaba, moremao palavra o pode anda ser acento.

Assm, por exemplo, se voltarmos à palavra [ ], podemos pensar, por exemplo,em atrbr m agraema a [ ]. Entretanto, observando dados como [ ] (tea); [ ] (tela); [ ] (taba);[ ] (toca); [ ] (todo); [ ] (tdo), e comparandoos como a ocorrênca de [ em “alabetzação”,

13 Esta é a tradção da enncação das premssas qe se encontra em Pke (1947), p. 7487.

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85|Estudo dos sons com unção comunicativa: onologia

veremos qe [ ] só ocorre dante de [ ], nesse daleto. Isso sgnca qe [ ] não é m onema, mas resltada modcação qe a vogal [ ] exerce sobre a consoante oclsva alveolar srda [ ] qe a antecede.

Essa observação, ressaltese, cabe ao daleto em qestão. O seja: há daletos da Línga Portgesa em qe a arcada não ocorre e, portanto, a qestão qe levantávamos anterormente, acercado estatto onológco desse som, não se coloca. Assm, no nteror do estado de São Palo há regõesonde “alabetzação” sera prodzda como [ ], da mesma manera qe no daleto deFloranópols e em algns daletos da regão Nordeste.

É precso anda consderar qe a análse onológca se az para ma línga o m daleto: sso sgncaqe não se pode esperar o mesmo comportamento – e o mesmo estatto – de m som em língas dstntas.Observe, por exemplo, o Espanhol: nessa línga, a arcada [ ] é onema, ocorrendo em dversos ambentes.Há, nclsve, oposção qe se estabelece pela comtação (troca) da arcada pela oclsva, como em [ ],“chaco” (cerco) e [ ], “taco”. Também no Italano a arcada é onema dstnto da oclsva [ ].

Segunda premissa

De acordo com a segnda premssa: “Os sstemas sonoros tendem à smetra”.

Com sso, Pke prevê qe, se a análse onológca de ma dada línga revela qe tal línga exbe asconsoantes oclsvas /p, t, k, b, g/, é provável qe essa línga tenha também o onema consonantal /d/.Isso porqe as otras qatro oclsvas ocorram aos pares, tanto no caso do ponto blabal, para o qalse tem a srda /p/ e a sonora /b/ como no caso do ponto velar, para o qal também se tem a srda /k/ ea sonora /g/. A smetra, portanto, nesse caso hpotétco das consoantes oclsvas, mplca na presençadas contrapartes srdas e sonoras para m determnado ponto de artclação. Observe, porém, qe apremssa prevê ma tendência dos sstemas à smetra, o qe não qer dzer qe eles tenham qe ser

smétrcos. Isso qer dzer qe, embora seja necessáro atentar para a possbldade da smetra, ela nãoestá sempre presente nos sstemas. Alás, a alta de smetra é qe torna ma línga natral. De qalqermodo, a decsão sobre o caráter smétrco o não de m sstema só pode ser tomada, segndo a proposta de Pke, depos de ma análse da línga toda, qe leve em consderação todos os sons da língae ses contextos de ocorrênca.

Terceira premissa

A tercera premssa prevê qe: “Os sons tendem a tar”.

Com sso, admtese qe m som nnca é prodzdo das vezes de manera exatamente gal eqe ma varação observada pode ser resltado dessa tação e não consttr m onema dstnto.

Para lstrar essa premssa, tomemos como exemplo a nasaldade varável no Portgês braslero: encontramos, em algns daletos da línga, as prodções como as qe lstamos abaxo:

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86 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Note qe, na colna à esqerda, temos palavras prodzdas com a vogal pretônca14 oral. Na colna à dreta, entretanto, as vogas pretôncas são prodzdas nasalzadas.

Esse ato, qe pode ocorrer nclsve na ala de m mesmo ndvído, nos mostra a tação entre [ ] e [ ] qe, no caso especíco do exemplo tomado, pode se dever à nênca da consoante nasalsobre a vogal qe a antecede.

A tendênca à tação dos sons chama a atenção para o ato de qe embora dstntos no nívelonétco, dos sons podem não ser onemas dstntos na línga. Voltando ao nosso exemplo, sso qerdzer qe, embora [ ] e [ ] sejam sons dstntos, não só pela nasaldade, mas também pela derença naaltra da mandíbla – a segnda vogal é m poco mas echada qe a prmera – eles não são onemasdstntos, no caso dos exemplos tomados. Tanto assm qe [ ] e [ ] têm exatamente omesmo sgncado, embora tenham apenas m som qe as dstnge. Para serem onemas dstntos, aí,sera necessáro qe [ ] tvesse m sgncado dstnto de [ ]. Nesses exemplos, rsese,a nasaldade é só ma tação possível da vogal [ ]15.

Quarta premissa

A qarta e últma premssa dz qe: “Seqüêncas sonoras exercem pressão estrtral na nterpretação de segmentos o seqüêncas de segmentos sspetos”.

Para entendermos essa premssa, tomemos o exemplo qe o própro Pke (1947) ornece paraexplcála. Sponhamos, então, ma línga hpotétca com os segntes dados:

[ ] “Gato” [ ] “Folha”

[ ] “Correr” [ ] “La”

[ ] “Cé” [ ] “Dez”

Uma das tareas do onólogo, ao realzar a análse do nível sonoro da línga, é vercar a estrtraslábca dessa línga, sto é, se a línga apresenta sílabas do tpo CV (onde C é “consoante” e “V”, vogal),VC; CVC, e assm por dante. No caso da línga hpotétca de Pke, temos qe nos dados qe sgncam,respectvamente, “gato”, “correr”, “cé”, “olha”, as palavras são consttídas todas por ma sílaba do tpoCV. Mas e o dado [ ], qe sgnca “la”? Fonetcamente, [ ] é vogal, mas onologcamente, como devemos classcálo? Nesse caso, [ ] podera, em prncípo, ser nterpretado como vogal o consoante. Porsso, passa a ser consderado m som sspeto. Dremos, porém, qe se trata de ma consoante, onologcamente, porqe a pressão estrtral qe o sstema exerce sobre a nterpretação da natreza dessesegmento nos leva a sso. Anal, se em todos os otros dados qe observarmos antes as palavras são

consttídas de sílaba CV, [ ] também deverá ser nterpretada como ma palavra de sílaba CV.No caso do dado [ ], qe sgnca “dez”, a qestão é m poco derente: tratase, nesse caso, de

responder à pergnta sobre o número de consoantes qe há nessa palavra, o seja, [ ] é onema separado de [ ] o há m únco onema, [ ]? Mas ma vez, a resposta para a pergnta é dada em nção daanálse eta para os otros dados da línga e da pressão estrtral qe os sons exercem na nterpretação

14 Vogal pretônca é aqela qe precede a vogal tônca, acentada. Na transcrção onétca, o acento tônco se marca com o dacrítco'

colocado sempre antes da sílaba acentada.

15 Há daletos, como o baano e o pernambcano, em qe as vogas pretôncas são sempre nasalsadas em dados como os qe tomamos

como exemplo. Nesse caso, portanto, não há tação na realzação do som.

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87|Estudo dos sons com unção comunicativa: onologia

onêmca desta seqüênca: oral, se para todos os otros cnco dados do conjnto admtíamos qe sãoconsttídos de sílaba CV, a pressão estrtral nos leva a admtr qe também o dado [tsa] seja consttído

de ma sílaba CV. Por consegnte, admtese, necessaramente, qe [ts] é m segmento só, descartando apossível hpótese de qe [ ] e [ ] sejam onemas ndvdas qando ocorrem na seqüênca abordada.

Deve ter cado claro qe, para abordar se objeto de estdo – os sons qe têm nção comncatva nm sstema – a onologa precsa propor, em prmero lgar, qas serão as ndades qe tomarápara analsar os sstemas sonoros das dversas língas.

Nesse sentdo, abordamos, neste texto, das dessas ndades, o prmtvos teórcos: o traço dstntvo e o onema. O traço dstntvo, ma ndade menor qe o onema, denese como oposções baseadas em característcas mínmas dos sons, como sonoro/srdo o nasal/oral, por exemplo. Ressalteseqe o traço dstntvo é proposto ncalmente por modelos de análse onológca de cnho estrtralsta, mas contna sendo tlzado até hoje na onologa, mesmo pelos modelos de natreza geratva,embora tenha passado por ma revsão em sa denção.

O otro prmtvo de análse onológca, o onema, é ma ndade qe se propõe no estrtralsmo lngüístco e qe é abolda com o nal dessa corrente dos estdos lngüístcos. Não há ma dençãoúnca para o onema: ele pode ser concebdo como m exe de traços dstntvos, mas também podeser concebdo como ma espéce de ndade “nvarante” qe reúne em s dversas varações possívese aparentadas de m mesmo som.16

Para determnar como se chega ao nventáro de onemas de ma línga, dndse a metodologa onêmca qe, baseada em qatro premssas báscas, tenta orentar o trabalho do onólogochamando a atenção para possíves atos ôncos qe decorrem da relação de m determnado somcom o ambente onde ocorre e qe podem azer desse som ma varante possível de m onema, enão m onema de ato.

Texto complementar

16 A manera como se dene “onema” depende, essencalmente, do modelo teórco qe o toma como prmtvo e dos presspostos desse modelo.

MEC discute a volta do “vovô viu a uva”Governo vai rever processo de alabetização; debate opõe linha construtivista,

 predominante hoje no País, e o método ônico

(GOIS, 2006)

O Mnstéro da Edcação (MEC) va revsar o processo de alabetzação para as Séres Incas doEnsno Fndamental e abrr ma polêmca pedagógca.

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88 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

O ponto mas dsctdo desse debate dvde edcadores da lnha constrtvsta, predomnante

na maora das escolas públcas e prvadas do País, e deensores do método ônco, prorzado hojeem város países desenvolvdos.

A dscssão srge no preparo das novas Dretrzes Crrclares Naconas para as Séres Incasdo Ensno Fndamental, qe ganho m ano a mas nesta semana com a nova le qe ampla paranove anos o tempo mínmo desse nível de ensno.

O mnstro Fernando Haddad ped à Secretara de Edcação Básca qe nce a dscssão comedcadores de váras correntes.

“Na oportndade em qe estamos mdando a estrtra e o padrão de nancamento da edcação [com a aprovação do Fndeb], entendemos qe sera nteressante ncar m debate sobrealabetzação, tendo em vsta os altos índces de repetênca na prmera sére do Ensno Fndamental. O mnstéro não está tomando partdo de nenhma corrente, mas, se o mndo ntero ez essedebate, achamos qe é precso azêlo no Brasl também.”

As Dretrzes Crrclares Naconas são aprovadas pelo Conselho Naconal de Edcação e denem o qe se espera em cada dade qe ma crança aprenda em determnada sére.

A partr dessas dretrzes, o MEC prodz os PCN (Parâmetros Crrclares Naconas), nstrmento qe é dstrbído para proessores de todo o Brasl com o sentdo de orentar como trabalharos conteúdos em sala de ala.

Os PCN em vgor atalmente oram elaborados na gestão do mnstro Palo Renato Soza.

Neles, é evdente a nênca das teoras constrtvstas, qe descartam o so de textos ocartlhas elaborados com o objetvo de promover a decodcação do alabeto e qe levem a asso

cações entre onemas e letras.Para os constrtvstas, melhor é trabalhar com textos reas, o seja, aqeles qe já azem parte

do nverso nantl, como o de m lvro.

A prordade dada à assocação entre onemas e letras é o prncpal ponto qe dvde deensores do método ônco e os qe adotam propostas constrtvstas.

No método ônco, a ênase está em ensnar a crança a assocar rapdamente letras e onemas.O seja, a crança aprende rapdamente qe o códgo qe representa a letra “A” é assocado ao som“A”.

Para sso, o método ônco lança mão de materal ddátco com textos prodzdos para essem. “Vovô v a va”, por exemplo, pode ser sado para ensnar à crança qe aqele códgo da letra

“V” é assocado a m som.Entre os constrtvstas, há correntes qe varam entre os qe rejetam completamente o mé

todo ônco e aqeles qe acetam algns elementos da teora.

O ponto comm entre a maora dos constrtvstas, porém, é rejetar a prordade do processoônco e, prncpalmente, o so de m materal únco a ser aplcado em todos os alnos.

Por sso qe as escolas dessa lnha tendem a sar textos já escrtos por otros atores no processo de alabetzação.

Apesar da predomnânca das teoras constrtvstas nos atas parâmetros crrclares, os de

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89|Estudo dos sons com unção comunicativa: onologia

ensores do método ônco vêm ganhando vsbldade após algns países desenvolvdos terem

revsto a ênase dada no passado ao método global (whole language, em Inglês), sado por mtosconstrtvstas.

Os governos da França, Inglaterra e EUA, por exemplo, desaconselharam o so exclsvo do método global. Os EUA, por exemplo, não nancam programas de alabetzação qe descartem o método ônco.

Para os deensores do método ônco no Brasl, essas são evdêncas de qe o País está remando contra a maré dos países desenvolvdos.

Para boa parte dos constrtvstas, no entanto, os dos métodos podem ser combnados.

Educadores já iniciam debate sobre mudança

Entre os especalstas a serem consltados pelo MEC no debate pedagógco, dos já oram procrados pelo mnstro.

São o consltor João Batsta Araújo Olvera, qe elaboro m programa de alabetzação pelométodo ônco tlzado por dversas preetras no Brasl, e a edcadora Magda Soares, membro doCentro de Alabetzação, Letra e Escrta da Facldade de Edcação da UFMG.

Os dos dscordam ao nterpretar o movmento eto pelos países desenvolvdos. Para Soares, oqe está acontecendo em nações como EUA, França e Inglaterra é ma tentatva de eqlíbro.

Para Olvera, é ma snalzação clara de qe o método ônco é mas ecente.

“Tvemos m movmento pendlar em qe passamos de ma eTapeea em qe só se valorzava

essa relação entre onemas e graemas para o extremo oposto, qe menosprezava a aprendzagem desses códgos. O qe esses países estão dzendo hoje é qe não se pode desprezar o aprendzado dessescódgos e qe é precso nclr esse componente no processo de alabetzação. Mas eles não armamqe a alabetzação deva se resmr somente a sso”, arma a edcadora.

Olvera dscorda: “Esses países não estão dzendo qe a alabetzação se esgota no ensno dadecodcação, mas qe, para ensnar a decodcar, os proessores devem sar o método ônco. Issoé m ato, e não ma opnão. Basta ler as dretrzes desses países na nternet”.

Defnição de método melhora rendimento

Os mncípos de Itagaí (RJ) e Catas Altas (MG) zeram escolhas dstntas, mas não se arrependeram. As das redes mncpas não tnham ma proposta clara de alabetzação de cranças.

Itagaí, onde mtos proessores tlzam o método global, opto pelo método ônco e redz o analabetsmo entre cranças na prmera sére.

Catas Altas prorzo a proposta constrtvsta e redz a repetênca e a evasão.

Em Itagaí, a mdança ocorre no ano passado, qando o mncípo passo a adotar o programa Ala e Beto, elaborado pelo edcador João Batsta Olvera a partr do método ônco.

“Após prepararmos os proessores, o percental dos alnos qe não sabam ler nem escreverca de 70% para 16%”, arma a coordenadora do programa em Itagaí, Líva do Nascmento.

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Em Catas Altas, a hstóra de Itagaí se repet, mas na tendênca nversa.

O mncípo o benecado pelo programa Escola qe Vale, da Vale do Ro Doce, e teve apooda ONG Cedac (Centro de Edcação e Docmentação para Ação Comntára).

“Passamos a trabalhar somente na lnha constrtvsta e segndo as orentações dos PCN.Uma avalação externa mostro qe os alnos passaram a ter melhor rendmento”, dz a secretáramncpal de Edcação, Elane Adrana de Pala.

A proposta constrtvsta é a mas sada entre escolas partclares de classe méda no Ro de Janero e em São Palo. Uma das escolas qe são reerênca nessa lnha é a Escola da Vla, em São Palo.

Atividades1. O objeto de estdo da onologa são:

a) os sons da ala, mas apenas os qe têm nção comncatva nma determnada línga.

b) os sons da ala, o seja, os qe têm nção comncatva nma línga e também sasvarantes.

c) os sons da ala, mas apenas aqeles para os qas é possível azer ma descrção acústca eartclatóra.

d) os sons da ala, especalmente aqeles qe são percebdos por todos os alantes de ma línga.

2. O onema, ndade de análse onológca, é:

a) m som da ala qe reúne característcas de város sons derentes.

b) ma entdade abstrata qe reúne em s varantes sonoras aparentadas.

c) m som da ala qe podemos perceber com maor clareza na línga.

d) ma entdade abstrata qe tlzamos nos sstemas de escrta das língas.

3. A derença entre onétca e onologa é qe:

a)a onétca estda os sons qe samos para constrr os sstemas alabétcos das língas,enqanto a onologa estda qasqer sons da ala, em ses aspectos ísco e sológco.

b) a onétca estda os sons da ala, mas só os qe têm nção comncatva nma línga e a onologa estda qasqer sons, ndependente de terem o não nção comncatva nma línga.

c) a onétca estda todos os sons da ala, ndependente de terem nção comncatva nmalínga o não e a onologa ocalza os sons qe têm nção comncatva nma línga.

d) a onétca estda a evolção hstórca dos sons de ma dada línga, enqanto a onologaestda os sons de ma línga em se estado atal, ornecendolhes ma descrção acústca eartclatóra.

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Identifcando os

onemas de uma língua

Sabemos qe os onemas são sons qe têm nção comncatva nma línga, sto é, qe elespodem carregar derenças de sentdo, se ntercambados com otros sons. Assm, por exemplo, naLínga Portgesa, dzemos qe /p/ e /b/ são onemas porqe dados como [ ]1 e [ ]; [ ]e [ ]; [ ] e [ ], nos mostram qe a troca de m por otro gera sentdos dstntos na línga:o seja, enqanto “pato” tem como sgncado ma ave aqátca, com bcos achatados, pescoço epernas crtas, “bato” é a exão do verbo “bater” no presente do ndcatvo, 1.a pessoa. O mesmo racocíno vale para os dos otros pares.

Mas sabemos também qe nem todos os sons de ma línga são onemas, porqe nem todostêm nção comncatva, nconando como ma varante de algm onema, sto é, como m aloone. Tomemos, novamente, algns exemplos da Línga Portgesa: [ ]/[ ]; [ ]/[ ]; [ ]/[ ]. Através desses dados, chegamos à observação de qe /t/ e /d/ têm estatto de onemas da línga. Note, nclsve, qe ambos ocorrem sob as mesmas condções: ocpam o mesmo lgar na palavra(níco) e o mesmo lgar relatvamente ao acento (tanto /t/ como /d/ ocorrem na sílaba tônca).

Se amentarmos, porém, o conjnto de dados, podemos ter pares como [ ]/[ ], mas também pares como [ ]/[ ]. Vemos, portanto, qe [ ] e [ ] concorrem na línga, assm como [d] e [ ].

Entretanto, não é possível dzer qe [ ] e [ ], por m lado, e [ ] e [ ], por otro, sejam onemas dstntos.Isso porqe a comtação de m pelo otro não altera o sgncado das palavras: tanto [ ] como [ ]remetem à rmã do me pa o à rmã da mnha mãe, assm como[ ] e [ ] remetem, ambos, a mandade de tempo consttída de 24 horas. Além dsso, [ ] e [ ] ocorrem nm únco ambente, precedente a []. Não há, na Línga Portgesa, dados como *[‘ . ]/[´ . ]; [‘ a. ]/[´ . ]/[‘ .k ]/[‘ .k ]2:nenhm alante natvo de Línga Portgesa reconhecera estes como palavras da línga. Esses atos

1 Na transcrção onétca, . marca rontera slábca e', o acento tônco.

2 O * marca qe os dados qe se segem a ele são agramatcas, sto é, são dados qe nenhm alante natvo da línga reconhece pertencerem

à sa línga.

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evdencam para nós qe a ocorrênca de [ ] e [ ] é condicionada pelo ambiente, de modo qe essesdos sons só se vercam, como já menconado, dante de []. É esse ato qe nos az armar qe [ ] e [ ]

são aloones de [t] e [d]. Tal percrso – o de determnar o estatto onológco de [t] e [d], além [ ] e[ ] – mostrose relatvamente ácl porqe somos alantes natvos de Portgês e consegmos, poressa razão, lembrar de otros város dados envolvendo os mesmos sons e qe segem os mesmos padrões dos dados dsctdos anterormente.

Mas como azemos para dentcar os onemas de ma línga se não conhecemos essa línga?Provavelmente essa terá sdo a mesma qestão qe se coloco Kenneth Pke, m onólogo norteamercano, qe na década de 1940 propôs ma metodologa analítca qe ele denomno “onêmica”,ma metodologa qe nos permte, através da observânca de qatro premssas báscas3, partr dos sonsde ma línga e chegar ao nventáro de onemas dessa línga. Como, então, aplcar os procedmentosda análse onêmca e chegar ao nventáro de onemas de ma dada línga? É sso qe passaremos aabordar a segr, mas não sem antes apresentarmos algns concetos4 com os qas a onologa lda e

qe serão de grande mportânca para a condção de nossas análses.

Para chegar ao nventáro de onemas de ma línga, partese dos sons dessa línga. Mas comose az para obter tas sons? No caso do Summer Institute o Linguistics (SIL), m nsttto presbteranonorteamercano ndado, entre otros, pelo própro Pke, a prátca era azer com qe os pesqsadoresvvessem algm tempo no meo das pessoas cja línga deveram nvestgar.5 Sendo conhecdos dacomndade, os pesqsadores poderam aprender a línga e poderam, também, se aproxmar dosmembros dessa comndade para colher os dados de ala.6

Colher os dados de ala mplca em gravar a ala de m ndvído qe se dsponha a ser o sjeto dapesqsa (vide observações da nota 6). Podese solctar ao sjeto, então, qe nomee cosas à sa volta,o podese pedr qe dga como se ala ma determnada palavra em sa línga o, anda, podese pedrqe o sjeto prodza ma seqüênca de palavras menores qe ma sentença o do tamanho de masentença.

A coleta dos dados, como estamos chamando, é sempre eta com m gravador, para qe o pesqsador possa realzar a tarea segnte, qe é a de transcrever onetcamente os dados. Essa tarea,acrescentese, é ma tarea demorada e qe reqer, não raro, qe o pesqsador escte a mesma palavra dversas vezes para qe consga determnar, com acdade7, a seqüênca de sons prodzda.

3 Estas premssas são: 1) os sons tendem a ser modcados pelo ambente em qe ocorrem; 2) os sstemas sonoros tendem à smetra; 3)

os sons tendem a tar; 4) os sons o seqüêncas sonoras exercem pressão estrtral sobre a nterpretação de otros sons o seqüêncas

sonoras sspetas.

4 Os concetos qe apresentaremos a segr vgoraram no estrtralsmo lngüístco e, por sso, são consderados por modelos qe se lam a

essa corrente. A onêmca é m deles.

5 Ressaltese qe o m últmo dos pesqsadores do SIL era aprender a línga de ma determnada comndade para, através de sa análse,proporlhe m sstema de escrta e, assm, converter os ntegrantes da comndade à sa relgão. Essa, claro, é ma prátca crtcada pelos lngüstas,

não só por razões antropológcas, mas também porqe tlzava a lngüístca para otros ns qe não o estdo das língas propramente.

6 Este é m ato mto mportante, porqe mtas pessoas só se dspõem a alar conhecendo o pesqsador. Há algmas trbos ndígenas,

nclsve, qe têm ma espéce de “portavoz”, como o pajé, por exemplo, qe dentre todos os habtantes da trbo sera o únco atorzado a

estabelecer contato com o pesqsador. Dessa orma, essa pessoa passa a ser o sjeto qe ornecerá os dados de ala ao pesqsador. Além

dsso, o ato de conhecerem o pesqsador, por conta da convvênca, az com qe os sjetos se sntam menos ntmdados dante da stação

de terem sa ala gravada.

7 É precso sempre consderar qe ma transcrção, por mas acrada qe seja, está sjeta aos lmtes da adção hmana e, como decorrênca,

pode dexar de regstrar atos presentes no snal de ala o, anda, regstrar atos qe não ocorrem nesse snal, por conta de ma mpressão

adtva. Por essas razões, apesar do trenamento rgoroso a qe são sbmetdos os pesqsadores do SIL, é bom consderar a transcrção

onétca como ma representação e não ma reprodção dos sons da ala.

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Dspondo da transcrção onétca, o pesqsador pode então proceder à análse onológca, atentando para atos como os qe passamos a expor.

Pares mínimosUm par de palavras é dto mínmo se, e apenas se, as das palavras8 do par derrem em apenas

m som. Se tal derença mplcar também ma derença de sgncado das palavras, então teremosqe os sons ntercambados no par são onemas da línga, pos têm nção comncatva. Assm, naLínga Portgesa, podemos dzer qe são mínmos os segntes pares:

() [‘pa.l ] / [‘ba.l ] (sapo/papo)

() [‘ma.t ] / [‘na.t ] (mata/nata)

() [‘se.l ] / [‘ze.l ] (selo/zelo)

(v) [‘ . ] / [‘ .l ] (ela/era)

(v) [‘ .h ] / [‘ . ] (erra/era)

(v) [‘pa.l ] / [‘pa. ] (pala/palha)

Observe qe nos exemplos (, , ) os sons qe derem entre s são os ncas de cada palavra dopar. Observe também qe, se trocarmos m pelo otro, obteremos onemas dstntos na línga – como /p, b/; /m,n/; /s,z/, respectvamente para os exemplos (), () e () – porqe essa operação de comutação mplca no estabelecmento de sgncados dstntos para as palavras do par. Isso qer dzer qe os sons

ncas desses três pares têm nção comncatva.O racocíno qe zemos para esses três pares é extensvo aos otros três, nos exemplos (v), (v) e

(v), mas note qe, aí, os onemas estão no meo das palavras.

E para ma línga qe não conhecemos, como é eta a análse?

Observe o qadro abaxo, com dados relatvos ao Kalaba – ma línga hpotétca nventada porPke para expor a metodologa de análse onêmca:

Quadro 1 – Dados do Kalaba, in Pike (1947, p.83)

[§nak] Coração [ka§l] Doer [÷ks] Prata

[÷ds] Bgorna [l§an] Qadro [mts] Feo[pa§n] Grar [sa÷p] Receoso [lsan] Tossr

[÷alap] Ave [paln] Pensar [ga§n] Roda

Veja qe, além dos dados da línga, transcrtos onetcamente, há ao lado de cada dado a satradção. A tradção é m apoo de qe dspomos para checar se, de ato, das palavras qe deremapenas por m som têm sgncados dstntos o não. Isso porqe pode acontecer de, nma línga, haver

8 Nos pares, os sons derentes estão em negrto.

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varantes de m onema. Para exemplcar o qe estamos dzendo, tomemos novamente o Portgêsbraslero: é possível encontrar, nm mesmo daleto, [‘ra.t ] e [‘ha.t ]. Nas das palavras, o som ncal é

derente, mas tal derença não mplca derença de sgncado, porqe ambas remetem ao anmal roedor.Nesse caso, dzemos qe [r] e [h] não são onemas dstntos, mas aloones de m mesmo onema.

Explcado, então, o papel da tradção qe acompanha os dados, voltemos ao Kalaba. No qadro1 podemos dentcar os segntes pares mínmos:

(v) [÷ds] / [÷ks]9 (bgorna /prata)

(v) [pa§n] / [ga§n] (grar/roda)

(x) [l§an] / [lsan] (qadro/tossr)

A partr dessa constatação, podemos dzer, com base nos dados apresentados, qe são onemasno Kalaba: /p, s, k, d, §, g/.

Os pares mínmos atam, portanto, como orte ndíco sobre o estatto de onemas de dos sons.

Pares análogosVoltando ao qadro 1, veremos qe há al pares nos qas mas de m som dere:

(x) [:: ÷idis] / [mitis] (bigorna / eio)

(xi) [pa:: §un] / [palin] (girar / pensar)

(xii) [:: ÷ikis] / [mitis] (bigorna / prata)

Nesses casos, não é possível dzer se os sons derentes de cada par são onemas o não. Issoporqe não se consege assegrar qe a derença de sgncado entre as palavras se deva a este o aaqele som: o sgncado de [÷ds] (bgorna) dere do sgncado de [mts] (eo) em razão da dstnção[÷] / [m] o em razão da dstnção [d] / [t]? Não se sabe.

Pares como (x), (x) e (x) são dtos análogos, porqe derem em mas de m som. Entretanto, nãosão scentes para armar o estatto onológco de dos sons, ma vez qe a derença de sgncadovercada entre as palavras do par pode se dever tanto a m como a otro som derente, o a ambos.Por sso, os pares análogos consttemse em axlares da análse onológca: eles levantam a possbldade de qe dos sons sejam onemas. Para vercar se de ato são é precso analsar mas dados.

Pares suspeitosOs pares sspetos são consttídos por dos sons oneticamente semelhantes. A noção de “sons o

netcamente semelhantes”, ressaltese, não está clara nem para o própro Pke. Entretanto, va de regra,o qe parece nr os sons onetcamente semelhantes entre s é o ato de compartlharem ao menos

9 Retrado do site da Lngst Lst <www.lngstlst.org>.

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das característcas artclatóras comns. Assm, [p] e [b] são onetcamente semelhantes porqe compartlham mesmo modo de artclação – são oclsvas – e mesmo ponto de artclação – são blabas.

Mas derem qanto à sonordade – [p] é srda e [b], sonora. [m] e [n], por sa vez, são onetcamentesemelhantes porqe compartlham mesmo modo de artclação – ambas são nasas – e sonordade –ambas são sonoras. Derem apenas qanto a ponto de artclação, já qe [m] é blabal e [n], alveolar. []e [e], por otro lado, consttem par de sons onetcamente semelhantes porqe são ambas anterorese nãoarredondadas. Entretanto, [] é echada e [e], meoechada.

Agora qe já sabemos mnmamente o qe são sons onetcamente semelhantes, sabemos, porconseqüênca, qe [p]/[b]; [m]/[n]; []/[e], qe tomamos como exemplos no parágrao anteror, consttem pares de sons sspetos. Sspetos de qê, anal? Sspetos de não serem onemas dstntos dema línga, mas varantes de m mesmo onema. Isso tem ma relação dreta com as premssas da onêmca: a prmera delas prevê qe os sons podem ser modcados pelo ambente em qe ocorrem. Issoqer dzer qe m onema pode ter mas de ma realzação: ma sonora em város ambentes e ma

ensrdecda em nal de palavra, por exemplo, como ocorre no alemão, em qe o onema /d/ é realzadocomo ma consoante ensrdecda [ ] em nal de palavra. O, anda, as nasas podem assmlar o pontode artclação das consoantes oclsvas adjacentes. Pode acontecer, por otro lado, qe ma consoanteoclsva se realze como rcatva entre vogas, como no Espanhol.

A tercera premssa onêmca prevê qe os sons tendem a tar. Pode decorrer dessa tendênca à tação, por exemplo, o ensrdecmento da oclsva em alemão ao qal nos reermos no parágrao anteror.

Por essas razões, m par sspeto deve chamar a atenção do pesqsador sobre o estatto onológco de dos sons: por compartlharem algmas característcas artclatóras, esses sons podem não ser onemas dstntos mas, sjetos às prevsões da onêmca, por consttíremse varantes de algm onema.

Para lstrar essa qestão, observemos os segntes dados, relatvos ao Georgano, ma línga

alada no Azerbajão, na Trqa, na Armêna, no Irã, na Ucrâna e na Rússa.Quadro 2 – Dados do Georgiano

    R    O    B    I    N    S    &    W    A    T    E    R    S    O    N ,

    1    9    5    2 ,     a     p     u       d

    K    E    N    S    T    O    W    I    C    Z    &

    K    I    S    S    E    B    E    R    T    H ,    1

    9    7    9 .

[ûamazad] Lndamente [zaral] Perda [xel] Mão

[leûo] Objetvo [kaûa] Caneca [xoûo] Entretanto

[saxû§] Em casa [pepeûa] Borboleta [chechxl] Fogo

[ûxena] Alegra [kleba] Redzr [vxlech] E derramo

[kbûs] Dente [erthxeû]10 Uma vez [chol] Esposa

A qestão qe se coloca sobre esses dados concerne especalmente ao estatto da lateral alveolar [l] e da lateral velarzada [û]. Ambas consttem m par sspeto porqe são sons onetcamentesemelhantes, dado qe compartlham mesmo modo – são lateras – e mesma sonordade – ambas sãosonoras –, porém derem qanto ao ponto de artclação: [l] é alveolar e [û], velar.

Como, então, saber se são onemas dstntos o não?

10 Nota sobre a transcrção onétca: dados, como este, qe contêm ma consoante segda de [h] sobrescrto anotam as consoantes aspradas

da línga. Neste dado, portanto, temos ma consoante oclsva alveolar srda asprada [th].

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96 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Metodologia de análise onêmicaO prmero passo para se saber se dos sons são onemas nma línga é vercar se há pares mín

mos envolvendo esses sons na línga. Observando os dados do qadro 2, veremos qe nexstem paresmínmos nos dados do Georgano11. Também nexstem pares análogos qe pdessem nos dar algmapsta sobre o estatto onológco das lateras.

Como proceder? Lembrase das prevsões das premssas da onêmca, em especal a prmera qearma a possbldade de varação dos sons em nção do ambente em qe se encontram? Pos bem,consderando tal prevsão, nossa tarea agora passa a ser observar os ambentes em qe cada m dossons lateras se dstrb. Por “ambente onológco” entendemos tdo o qe se encontra adjacente aossons analsados. Então, retomando os dados do qadro 2, podemos lstar os ambentes de ocorrênca de[l] e [û]. Vamos ncar nossa lstagem pelo ambente à esqerda de cada lateral:

Quadro 3 – Distribuição de [l] e [û] conorme ambiente onológico à esquerda das laterais

[l] [û]

#_ #_

a_ e_

k_ x_

e_ #_

x_ _

x_ a_

o_ e_

e_

o_

Antes de mas nada, algmas notas sobre esse qadro, extensvas ao próxmo: as lstas de ambente de ocorrênca de [l] e [û] oram conecconadas consderandose dado por dado, desde o prmero,qe sgnca “lndamente”, até o últmo (“esposa”). Obvamente, anotaramse apenas as ocorrêncas de[l], na prmera colna, e [û], na segnda. A convenção adotada para anotar os ambentes de ocorrêncadas lateras o a segnte: “_” ndca a lateral em qestão, portanto [l] na colna à esqerda e [û] na col

na à dreta; “#” ndca rontera de palavra. Portanto, ma anotação como “#_” sgnca qe a lateral emqestão ocorre scedendo rontera de palavra, o seja, em níco de palavra.

11 Cabe aq ma ressalva: não se deve car com a alsa mpressão de qe a análse onológca de ma línga, como m todo, se ndamenta

nm conjnto redzdo de dados, como o apresentado no qadro 2. Na verdade, m pesqsador se basea nm conjnto de dados mto

maor qe o apresentado aq para checar o estatto onológco dos sons. Fazse, aq, ma smplcação para ns ddátcos: o conjnto

redzdo de dados lstra os ambentes de ocorrênca de cada m dos sons em qestão e, por sso, nos permte azer ma generalzação acerca

de se comportamento na línga.

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97|Identifcando os onemas de uma língua

Passemos, então, à observação dos ambentes de ocorrênca: podemos notar qe tanto [l] como[û] ocorrem em níco de palavra e em segda a [e, a, o, x]. Há, conseqüentemente, ambentes comns

à dstrbção de ambos os sons. Por sso, não podemos dzer qe o ambente à esqerda condcona aocorrênca de [l] nem de [û]. Se assm osse, esperaríamos a ocorrênca de ma das lateras em ambentes onológcos derentes dos ambentes de dstrbção da otra.

Vejamos, agora, o ambente segnte a [l] e [û]:

Quadro 4 – Distribuição de [l] e [û] conorme ambiente onológico à direita das laterais

[l] [û]

_e _a

_ _o

_e _§_ _x

_ _s

_e _a

_ _a

_#

_o

Vercando os ambentes onológcos à dreta das lateras, é possível perceber qe [û] ocorremem ambentes onde [l] não ocorre, sto é, [û] ocorre antes das consoantes [§, x, s], antes das vogas [a, o]e em nal de palavra, precedendo #. [l], por sa vez, ocorre apenas dante de [, e]. Com sso, podemosdzer qe [l] e [û] estão em distribuição complementar , sto é, onde m som ocorre o otro não ocorre.

Percebemos também qe [û] ocorre nma varedade maor de ambentes qe [l]: [û] está presente antes de consoantes, antes de algmas vogas e em nal de palavra. A ocorrênca de [l], porém, se restrnge ao ambente antecedente às vogas [,e]. Por sso, podemos dzer qe essas vogas condicionam

a ocorrência de [l]. Elas estão modcando m onema de modo qe, dante delas, se realze como [l]. É jstamente o ato ao qal se reere a prmera premssa, portanto.

Há anda ma qestão a ser resolvda qanto aos dados do Georgano: qal é o onema lateral?Se consderamos – como az Pke – qe o onema é ma entdade nvarante qe reúne em s algmasvarantes onetcamente aparentadas, então dremos qe /û/ é onema e [l], se aloone. Podemos or

malzar essa observação da segnte manera:[l]/_ [,e]

 /û/

[û]/NDA

Lêse: o onema lateral velarzada /û/ se realza como o aloone [l] dante das vogas [] e [e] e como[û] “nos demas ambentes” (NDA). Note qe a barra ndca o ambente qe condcona ma o otrarealzação do onema.

 Atenção: a dstrbção complementar é m ato evdente da presença de aloona nma línga.

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98 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Transcrição onológica (onêmica)

A transcrção onétca – como você já sabe – é dsposta entre colchetes e anota todos os sons dema línga. Para a transcrição onológica, o onêmca (mas especcamente neste caso, já qe estamosabordando ma metodologa de análse onológca chamada “onêmca”), anotam-se apenas os one-

mas de uma língua. Isso sgnca qe não são qasqer sons da línga contemplados pela transcrçãoonológca, mas apenas os qe têm estatto de onemas. A transcrção onológca é dsposta entre barras nclnadas. Voltando ao Georgano, temos então:

Quadro 5 – Transcrição onológica dos dados do georgiano

Lndamente Perda Mão

Objetvo Caneca Entretanto

Em casa Borboleta Fogo

Alegra Redzr E derramo

Dente Uma vez Esposa

No qadro 5, os dados negrtados correspondem àqeles qe contnham a lateral alveolar natranscrção onétca e qe, por ser aloone de [û] não pode grar aí.

Atenção: as barras e os colchetes não são meros detalhes de transcrção. Antes, eles carregamma derença teórca, relatva ao estatto dos sons de ma línga, por sso a necessdade e mportâncade se observar essa convenção.

Você deve estar se pergntando, neste momento, sobre os otros sons do Georgano e qe nãocomentamos aq: os dados de qe dspomos não são scentes para vercarmos se estatto. Mas,como nenhma ressalva o eta, podemos, para ns da análse desses dados apenas, consderar todosos demas sons também onemas dessa línga. Daí a transcrção do qadro 5 ter sdo elaborada dessamanera. Eventalmente, se amentássemos o nventáro dos dados, poderíamos conclr qe algm (s)do(s) otro(s) som(s) são também varantes de otros onemas, o qe nos levara a renar a análse paracontemplar esses novos atos. Entretanto, este não é o caso aq.

O trabalho de análse onológca termna aq. Se ôssemos contnar segndo os propóstos daanálse onêmca, nosso passo segnte sera propor m sstema de escrta para o Georgano, tomando porbase o nventáro de onemas dessa línga. Mas essa é ma otra hstóra, qe oge aos nossos objetvos.

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99|Identifcando os onemas de uma língua

Texto complementar

Fonemas em Portugal e no Brasil

(FONSECA, 2007)

Nnca os conte [onemas do Portgês braslero e do Portgês erope], mas podemosalar de algns dados crosos. No Brasl, não há a vogal qe em Portgal se chama e mdo, assmchamada porqe mtíssmas vezes não se pronnca (caso contráro, tem m som mto echado,mas qe o â, exstente, com peqenas derenças, no Romeno, no Rsso e no Trco, por exemplo).

Em Portgês erope, a não ser dalectadamente, já não se sa o dtongo qe se ove em bem,pronncado à braslera (e, com tl no e), transormandose sempre em ãe, gal ao de mãe.A contagem vara de onetcsta para onetcsta, mas não dexa de ser nteressante qe as derenças de pronúnca, correspondentes à ortograa, das varantes lstana e braslera, no Portgêserope apresentam o dobro das complcações, no sentdo de as combnações alabétcas teremmto mas nmerosas eqvalêncas sóncas. O qe acma se dz pode ser vercado na obra do proessor síço Dr. Max Mangold Aussprachelehre der Bekannteren Fremdsprachen (Ensno da Pronúncadas Língas Estrangeras mas Conhecdas), Mannhem, 1964.

Atividades  Com base no texto qe você acabo de ler, responda às qestões segntes:

1. O objetvo da análse onêmca é:

a) ornecer m sstema de escrta para língas ágraas, através da análse onológca de dadosonétcos dessas língas.

b) ornecer m sstema de escrta alternatvo para língas qe já têm m, com base nas varantessonoras dessas língas.

c) vercar qas sons são onemas de ma dada línga para azer m levantamento dos traçosdstntvos qe operam nessa línga.

d) vercar qas são os sons de ma línga a partr da transcrção onológca e das varantes dosonemas.

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100 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

2. Consdere a segnte análse onológca para m daleto do Portgês braslero (por exemplo, odaleto alado no Ro de Janero):

[ ] /_[ ]

 /t/

[ ]/NDA

  Lêse:

a) Há dos onemas no daleto, , sendo a dstrbção de mas ampla qe a de .

b) O onema realzase como o aloone [ ] dante de [ ] e como [ ] nos demas ambentes.

c) O onema realzase como dos aloones, [ ] e [ ], cjas dstrbções são mprevsíves.

d) Não há onema no daleto, mas das varantes, [ ] e [ ], sendo a dstrbção de [ ] masrestrta.

3. O ato de a transcrção onétca ser anotada entre colchetes e a transcrção onológca entrebarras nclnadas retrata:

a) ma mera convenção, qe pode nclsve ser desconsderada pelo pesqsador.

b) qe os sons qe estão entre colchetes não varam, derente daqeles entre barras.

c) ma dstnção do estatto das ndades, tal qe os onemas estão entre colchetes.

d) ma convenção para a natreza da transcrção, sem mplcação para o estatto das ndades.

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Fonemas do Português

brasileiro: consoantesAq, daremos especal ênase aos onemas consonantas.

Se procedermos à análse onológca da línga, podemos chegar a m qadro como o reprodzdo a segr abaxo. De antemão, é precso notar qe nem todos os onemas apontados aí são consensas. Nesse caso, eles estão marcados com m astersco.

Quadro 1 – Fonemas consonantais do Português brasileiro

Bilabiais Lábio-dentais

Alveolares Pós-alveolares

Palatais Velares

Oclusivas

Nasais

Vibrantes

Tap

Fricativas

Laterais

Aproximantes

Note qe, no qadro – baseado na tabela do Alabeto Fonétco Internaconal (IPA) – não constam a aproxmante lábovelar e a lateral velarzada . Sobre esta, alás, há controvérsas qanto aconsderála onema na Línga Portgesa.

Estabelecdo o qadro de onemas consonantas, passemos a observar como se dstrbem cadam dos onemas lstados e como se comportam, além das controvérsas sbjacentes ao estatto dealgns deles.

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102 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Distribuição dos onemas

Fonemas oclusivosNa Línga Portgesa, os onemas /p, b, t, d, k, g/ podem ocorrer nas segntes posções:

 Iníco de sílaba e de palavra, como em::

 Iníco de sílaba, no meo de palavra, como em::

 Fnal de sílaba, no nteror da palavra, como em::

Cabe observar, sobre a dstrbção dos onemas oclsvos em nal de sílaba, qe a sa ocorrêncaem encontros consonantais heterossilábicos – sto é, encontros de consoantes pertencentes a sílabas d

erentes – se dá apenas no nível onológco. No nível onétco, vercase a presença de ma vogal epen-tética, qe pode ser [] o [e], entre as das consoantes em qestão. Assm é qe ovmos, com mtareqüênca, [ ] o [ ] (para “advogado); [ ] (para “pne”), [] (para “pscologa”). Assm é também qe a derença entre palavras como “apto” e “apto” está apenasna sílaba onde reca o acento da palavra. Temse, portanto, e respectvamente, [ ] (para “apto”) e [

] (para “apto”).

A razão para a ocorrênca da epêntese no nível onétco podera ser, conorme ponta Câmara Jr.(1969), o ato de qe os vocáblos onde ocorre teram ma orgem erdta e teram sdo “ntrodzdosatravés da línga escrta, a partr do séclo XV, como empréstmos ao Latm Clássco” (CAMARA JR.,1969, p.56). Note qe, ao dstngrmos o nível onológco do nível onétco, o qe qeremos dzer éqe os alantes têm ma representação abstrata das palavras de sa línga materna e da seqüênca de

segmentos, o onemas, qe as consttem. Entretanto, qando realzam, o qando prodzem essarepresentação, pode haver derenças devdas, por exemplo, à própra anatoma do trato vocal.

É precso ressaltar qe os encontros consonantas heterosslábcos são poco reqüentes na Línga Portgesa – talvez por decorrerem de empréstmos ao Latm Clássco, como mencona Câmara Jr.(1969). Nossa línga preere sílabas do tpo CV (onde C é consoante e V, vogal) e, no caso de sílabas CVC,aceta como consoante nal apenas mas pocas, como e 1.

Essa é a razão, nclsve, para qe empréstmos vndos de otras língas, como o Inglês, tenham avogal epentétca representada nclsve na orma ortográca: é o caso, por exemplo, de “pqenqe” o“pngeponge”, do Inglês “ picnic ” e “ ping-pong”, respectvamente. Ao realzálas, os alantes de Portgêscolocam ma vogal entre o encontro consonantal do nteror da palavra e após a consoante oclsva de

nal de palavra porqe em Portgês não se tem consoante oclsva ocorrendo nessa posção.Cabe menconar, anda, qe a epêntese é m dos atos qe os alantes de Portgês realzam ao

aprender ma línga estrangera como o Inglês e qe podem, nclsve, aetar a compreensão por partede m nterloctor alante natvo de Inglês. Por sso, a epêntese – sas casas e sas conseqüêncas paraa ntelgbldade do enncado – tem sdo objeto de város estdos nessa área de aqsção de segndalínga (vide BAPTISTA e WATKINS, 2007, p. 7390; 91104; 155170).

1 Há algns atores – dentre os qas o própro Camara Jr (1969) – qe dzem poder ocorrer nessa posção também a lateral velarzada e m

elemento nasal. Preermos, entretanto, consderar qe ocorrem em nal de sílaba apenas as das consoantes menconadas por razões qe

carão mas claras ao longo deste texto.

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103|Fonemas do Português brasileiro: consoantes

Fonemas nasais

As consoantes nasas assemelhamse às oclsvas – qanto à prodção – porqe reqerem também a obstrção total à passagem do ar em algm lgar do trato vocal. Por sso, sa dstrbção assemelhase à das consoantes oclsvas. Então, podemos encontrar as consoantes nasas /m, n, / em:

níco de sílaba e de palavra, como em:: (“mesa”); (“nata”); (“nhoqe”);

níco de sílaba, no meo de palavra, como em:: (“amanhã” – note aí, nclsve, a presença da nasal blabal e da nasal alveolar em posção medal) o em .

Sobre a consoante nasal palatal / /, é precso notar qe ela ocorre em posção ncal de palavra apenas em palavras qe emprestamos de otras língas, como o caso de nosso exemplo (nhoqe), qe emprestamos do Italano o como no caso de palavras de orgem ndígena, como por exemplo nhndaqara.2

Anda sobre a dstrbção das consoantes nasas, é precso notar qe elas não acontecem em nal

de sílabas o palavras. Na ortograa, temos os graemas “m” e “n” em nal de sílaba o palavras, comoem “ponto”, “garagem”, e assm por dante. Mas, nesses casos, o graema ndca a nasaldade da vogalantecedente, apenas. Ele não representa ma consoante nasal.

O ato de não termos consoantes nasas em nal de palavra no Portgês braslero, alás, também é m possível problema para aqeles qe aprendem língas como o Inglês, em qe há dstnçãoentre e em nal de palavra, como em “cam” (câmera) e “can” (caneca). A não realzação dessasconsoantes – os alantes de Portgês geralmente nasalzam a vogal precedente – acaba prejdcandoa ntelgbldade das palavras.

Fonemas ricativosOs onemas ocorrem nas segntes posções:

níco de sílaba/palavra – todos os ses onemas ocorrem aí – como em:: (ada);(vela); (sno); (zero), (xale), (jato);

níco de sílaba, no meo de palavra, como em:: (aeto); (avstar); (caça);(casa), (cacho); (hoje).

Nesse sentdo, a dstrbção dos onemas rcatvos espelha a dos oclsvos, em posção nal desílaba o palavra a sa dstrbção é derente. Focalzemos, ncalmente, os onemas /, v/: qe ocorre em nal de sílaba, no nteror de palavras como “ata”, ormando com a oclsva segnte m encontroconsonantal heterosslábco. Como no caso dos encontros com consoantes oclsvas, nestes os alantes

de Portgês também nserem ma vogal epentétca. O onema , por sa vez, não ocorre em nal desílaba, do mesmo modo qe nem nem ocorrem em nal de palavra.

Já os onemas /s, z/ exbem dstrbção m poco derente: /z/ só ocorre em níco de sílaba opalavra, acontece em níco e nal de sílaba o palavra. Observe os dados a segr:

2 Nome de m ro qe nasce na Serra da Farnha Seca e desága em Morretes, no estado do Paraná.

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104 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Quadro 2 – Transcrição onológica e ortográca de dados com e

Transcriçãoonológica

Transcriçãoortográfca

Transcriçãoonológica

Transcriçãoortográfca

Selo Arroz

Zelo Três

Caça Voz

Casa Mês

Vez

Veja qe nos pares de dados “selo/zelo” e “casa”/”caça” temos a oposção entre . São dados

como esses qe nos permtem armar qe são onemas na Línga Portgesa.

Entretanto, essa oposção se desaz em nal de palavra, posção em qe se verca , apenas.Dzemos, por sso, qe em nal de palavra há netralzação da oposção entre .

Verqemos, agora, o comportamento de em algmas seqüêncas:

Quadro 3 – Transcrição onética e ortográca ilustrando processo de assimilação

Transcrição onológica Transcrição onética** Transcrição ortográfca

Três tgres trstes

Três macacos alegres

Repare, na seqüênca 2, qe [ ] aparece em nal de palavra ( ), aparentemente contrarando qeacabamos de menconar sobre sa dstrbção. Como sto é possível? Consdere qe a prodção da alanão é estanqe e qe, derentemente dos espaços em branco qe tlzamos na escrta para segmentaras palavras, nós prodzmos as palavras em seqüêncas qando alamos. Você pode ver a lstração destecomentáro comparando as das colnas do qadro, qe trazem a transcrção onétca e a transcrçãoortográca. Consdere também qe a representação onológca3 nem e a realzação onétca são dstntas.Pos bem, consderando os dos pontos qe acabamos de rsar, ca ácl compreender porqê [ ] aparecena seqüênca 2, no nível onétco. Sa realzação decorre de m processo de assimilação. O seja, devdoao encadeamento dos sons da ala, a rcatva assmla a sonordade do som segnte a ela, tornandosetambém sonora. No caso da seqüênca 2, assmla a sonordade da nasal qe a sege.

Nessa mesma seqüênca, m poco mas adante, vemos qe também assmla a sonordadeda vogal, mas nesse caso há m otro ato, para além da assmlação. Compare as colnas qe trazema transcrção onológca e a transcrção onétca para a seqüênca 2. Na transcrção onológca temos

, portanto ma seqüênca de segmentos qe se organzam nma sílaba do tpo CVC e nma otra sílaba, V, segnte, consttída apenas de vogal. Fonetcamente, por otro lado, temos [ ]. Qer

3 Sobre a transcrção onológca cabe m comentáro mas pontal, qe aremos no nal deste tem.

* Esta transcrção é válda para daletos dtos “nãochantes”, como o palsta, o paranaense o o gaúcho, por exemplo. Mas não cabe para

daletos chantes, como o caroca, por razões qe abordaremos logo em segda.

** Faço aq ma transcrção onétca larga, sto é, ma transcrção qe não leva em conta algmas possíves aloonas. Isso é propostal,

porqe nos nteressa apenas o comportamento de /s, z/.

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105|Fonemas do Português brasileiro: consoantes

dzer, temos agora das sílabas do tpo CV (consoantevogal), portanto hove aí ma reorganzação daestrtra slábca da seqüênca. Isso acontece porqe, dante de segmentos vocálcos, a rcatva não só

assmla a sonordade desses sons, como também passa a consttr com eles nova sílaba, dexando parasso de ocpar a posção nal de sílaba – o coda, como denonma a lteratra – e passando a ocpar aposção ncal – o onset – da sílaba segnte. Esse procedmento caracterza o qe a lteratra onológca denomna ressilabicação e só acontece em junturas (o sândhs), tanto externas como nternas, stoé, a resslabcação só acontece na jnção de das sílabas no nteror da palavra o na jnção da sílabanal de ma palavra com a sílaba ncal da palavra segnte.

Os onemas dstrbemse na línga de manera smlar a . Isso qer dzer qe eles seopõem em posção ncal de sílaba/palavra, como em . Opõemse também em posção ncal de sílaba, no meo de palavra, como em . Eles podem também ocorrer emposção nal de palavra – novamente espelhando a dstrbção de – , mas não em todos os daletos do Portgês braslero. A ocorrênca das rcatvas pósalveolares em nal de palavra caracterza os

daletos “chantes”, como o caroca, para os qas as seqüêncas 1 e 2 do qadro 3 caram aproxmadamente como o dsposto no qadro 4:

Quadro 4 – Transcrição onética e ortográca ilustrando processo de assimilação em diale-

to chiante

Transcrição onológica Transcrição onética*** Transcrição ortográfca

Três tgres trstes

Três macacos alegres

Veja qe, assm como aconteca com os dados do qadro 3, estes também exbem a assimilação da

sonordade da rcatva: na seqüênca [’t e .ma.], do tem 2, vemos qe a rcatva nal de sílaba assmla asonordade da nasal qe nca a sílaba segnte. Essa assmlação acontece também na seqüênca [ko.za.]mas note qe, aí, ao nvés de se prodzr ma rcatva pósalveolar, como aconteca em [’t e .ma.], prodzse ma rcatva alveolar sonora [z]. Qal a razão dsso? Comentávamos anterormente qe em daletos dtoschantes as rcatvas pósalveolares acontecem em posção nal de sílaba. Entretanto, ao haver nestes dadoso mesmo processo de ressilabicação qe comentávamos a propósto dos dados do qadro 3, a rcatva denal de sílaba passa a ocpar posção ncal da sílaba segnte e consttr com a vogal dessa sílaba manova, com estrtra derente da anteror.

Voltemos agora à transcrção onológca: você deve ter notado, nos qadros 3 e 4, qe em nal depalavra samos o símbolo /S/. Por qê? Esse símbolo recpera ma noção do estrtralsmo lngüístco,a noção de arquionema. O arqonema, assm como o onema, é ma entdade abstrata, mas reúne em

s normação sobre algns onemas qe perdem sa oposção através do processo de netralzação. É jstamente o qe acontece nesses dados: /s, z/ perdem em posção nal a oposção qe exbem em nícoe meo de palavra. Mas: o arqonema reúne também as normações sobre eventas varantes dos onemas em qestão: sso permte qe a ndade /S/ reúna em s as qatro variantes posicionais [s, z, ∫, ]4.

4 Varantes posconas são aloones cja ocorrênca é condconada pela posção qe ocpam: assm, podemos dzer qe os qatro sons

menconados são varantes posconas porqe ocorrem em nal de sílaba o palavra.

*** Assm como na transcrção onétca do qadro 3, empregase aq também ma transcrção onétca larga. Por sso, atos como dtongação,

presentes recorrentemente no daleto caroca, não estão presentes aq.

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106 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Essa é a análse proposta para as rcatvas do Portgês por Câmara Jr. (1969) e adotada também porSlva (1999), qe também adotamos por parecer, dentro da perspectva teórca qe segmos nessa ntrod

ção, ma manera parcmonosa de tratar dos atos de aloona qe apresentamos nos qadros 3 e 4.

Note, de qalqer manera, qe o arqonema /S/ não é consderado onema do Portgês porqe, como /s, z, ∫, / se opõem entre s em posção ncal e medal de palavra, não se jstca propor qea entdade qe representa sa netralzação gre como onema da línga.

Fonemas vibrantes e taps

Os taps e vbrantes estão agrpados nma mesma seção porqe há ma relação mto próxmaentre eles e qe deverá car clara no decorrer da explanação.

Na Línga Portgesa, esses rótcos – sons de /r/ – podem ocorrer em níco, meo e nal de pala

vra, mas nem sempre ocorrem ambos nma mesma posção, o qe sgnca qe em algns ambentes /r/ e / / não se opõem, ato qe leva algns onólogos a postlarem a exstênca de apenas m onema.Então, temos a segnte dstrbção:

em níco de sílaba e palavra ocorre apenas:: , como em ;

em níco de sílaba, no nteror de palavra, ocorrem ambos, estabelecendo oposção onêmca::

entre s: . Observe qe as das prmeras e as das últmas palavras desses exemplos estabelecem pares mínmos;

em nal de sílaba, no nteror o no nal de palavra ocorre apenas o:: Tapee, como em;

em grpos tatosslábcos – encontros de consoantes nma mesma sílaba – ocorre apenas o::

tap, como em , e assm por dante.Dante dessa dstrbção, teríamos, então, m o dos onemas rótcos na línga? A prmera pro

posta qe tenta responder a essa pergnta é a de Camara Jr. (1953) e consste em sstentar qe haverana Línga Portgesa m únco onema rótco, a vbrante, qe ele denomna “r orte”. Isso porqe, segndo o ator, o Tap – o “r raco” – resltara de m processo hstórco de enraqecmento da vbrante:da mesma manera qe algmas consoantes oclsvas teram enraqecdo na evolção do Latm para oPortgês e se tornado rcatvas, também a vbrante podera ter enraqecdo azendo emergr o Tap.

Mas tarde, Camara Jr. (1969) observa qe essa proposta, por ser embasada nm ato dacrônco, nãosera adeqada, já qe a lngüístca devera assmr ma perspectva sncrônca5. Por sso, revê sa análse,passando a armar a exstênca de dos onemas rótcos – – qe se opõem apenas em posção ntervocálca (entre vogas), como nos pares , qe já menconamos acma.

Porém, Monaretto (1997), revê essas análses de Camara Jr. (1969) e propõe, com base na análsede Harrs (1983) para o Espanhol qe o Portgês tem m só onema rótco, mas esse onema é o Tap.Para a atora, a vbrante resltara de m processo de gemnação do Tapee. O seja, a vbrante seradecorrente da ocorrênca de dos Taps segdos, m no nal de ma sílaba e otro no níco da segnte.Tal proposta, baseada aparentemente em crtéros ortográcos e não onológcos, dexa de respondercomo o "r orte" emergera em posção ncal de palavra. Por essa razão, Slva (2002) volta a deender aexstênca de dos rótcos, os qas se opõem apenas em posção ntervocálca.

5 Note qe, ao assmr essa perspectva, Camara Jr. (1969) demonstra claramente sa orentação estrtralsta.

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107|Fonemas do Português brasileiro: consoantes

Nos otros ambentes qe menconamos, a dstrbção dos rótcos seram mutuamente exclusiva,sto é, onde m deles ocorre o otro não acontece, e vceversa.

Cabe anda observar qe a varante vbrante tem caído em desso, sendo encontrada anda nosdaletos da regão Sl do País, especalmente. Notros daletos, como o palsta o o caroca, em posçãontervocálca opõemse ma rcatva posteror6 e o Tap. Em dados de aqsção de lngagem, nclsve,encontrase essa oposção e não mas a oposção “vbrante versus. Tap”. 7 Por sso, atores como Caglar(1997) preerem armar a exstênca de m onema rcatvo em sbsttção a vbrante. Teríamos, portanto, algo como em oposção a .

Fonemas lateraisQanto às lateras – sons de – há dos onemas na Línga Portgesa: a lateral alveolar e a

lateral palatal . Sa dstrbção se dá da segnte manera:

 em níco de sílaba e palavra, ocorrem tanto a lateral alveolar como a palatal, chegando ncl::

sve a se opor, em pares como /’la.ma/, /’ a.ma/ (“lhama”). Apesar dessa oposção, note qea lateral palatal é mto poco reqüente em níco absolto, ocorrendo especalmente emcasos de empréstmos, como esse (“lhama”), do Espanhol;

 em níco de sílaba, no nteror de palavra, ocorrem tanto a lateral alveolar como a palatal e elas::

se opõem nesse ambente, em pares como , o anda(orma exonada do verbo “molhar”);

 :: em grpos tatossílabcos – grpos consonantas nma mesma sílaba – ocorre apenas a lateral alveolar, como em .

Nenhma das das consoantes ocorre em posção nal de sílaba. Nesse sentdo, cabe observarqe o Portgês braslero já exb ma lateral velarzada /û/ em nal de sílaba, tanto no nteror comono nal de palavras, como /aû.’mo.so/ e /.’nû/. Mas essa varante ca em desso – sendo encontradaapenas na ala de gaúchos de axa etára avançada – e está sendo sbsttída pela aproxmante lábovelar /w/. Por sso, qestonase nclsve se a lateral velarzada sera anda m onema da línga. Os onólogos qe respondem armatvamente a essa qestão baseamse em atos moroonológcos, comoprocessos dervaconas através dos qas a lateral volta a emergr: é o caso de /pap w/ < /papelara/. Porotro lado, dados em qe há generalzação na exão de número, como /t o.’ w/ < /t o.’ s/ o / a.’p w/< / a.’p s/8 são ortes ndícos de qe os alantes já não mas derencam a seqüênca / û/, de “papel”,da seqüênca / w/ de “chapé”.

Fonemas aproximantesNo Portgês braslero temos dos onemas aproxmantes: o onema aproxmante palatal e

o onema aproxmante lábovelar . Ambos ocorrem em margem slábca, tanto à dreta como àesqerda do núcleo.9

6 Não se sabe ao certo o ponto dessa rcatva: algns armam qe ela sera velar o até glotal. Por sso preermos chamála apenas “posteror”.

7 Ressaltese qe os dados de aqsção de lngagem ornecem aos lngüstas mtas evdêncas sobre o conhecmento dos alantes sobre

sa línga materna no estado atal da línga.

8 Observe qe, sob ma perspectva lngüístca, esses dados não são consderados erros, mas hpóteses qe os alantes azem sobre a estrtra

e o nconamento de sa línga.

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108 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Temos, então:

:: (orma exonada do verbo car) versus. /’kaw/10.

É precso ressaltar qe, como menconamos na nota 9, as aproxmantes ocpam as margens slábcas e não o pco. Isso qer dzer qe ma seqüênca de das vogas segdas congra não m dtongo, mas m hato. Para haver m dtongo, é precso qe ocorra ma seqüênca de aproxmante + vogalo vogal + aproxmante. Observe:

:: (3.a pessoa do snglar do presente do verbo “car”) versus. /ka.’/ (1.a pessoa do snglardo pretérto pereto do verbo “car”).

Repare qe a dstnção morológca de exão de tempo e pessoa se dá pela dstnção onológcaentre dtongo e hato. Repare também qe no caso da orma temos apenas ma sílaba, derentemente da orma , para a qal vercamos das sílabas. As das sílabas aí decorrem da seqüênca dedas vogas qe, por ocparem o núcleo slábco, acabam estabelecendo das sílabas dstntas.

À gsa de conclsão: deve ter cado claro, na nossa apresentação dos onemas consonantas daLínga Portgesa, qe nem sempre há consenso sobre qal deva ser o onema. Isso não é m ato solado e acontece também para otras língas, devdo não só à derença nas perspectvas teórcas adotadas, mas também à possbldade de, adotandose ma mesma perspectva teórca, se propor mas dema análse. Essa plraldade decorre, em grande parte, da natreza do objeto de estdo da lngüístca,a línga, qe é extremamente vasto e complexo.

Deve car claro também qe nem sempre é possível ma análse onológca para ma língacomo m todo. Mtas vezes, propõese a análse para daletos especícos da línga, devdo aos derentes comportamentos qe os daletos podem exbr na organzação do se sstema onológco.

Texto complementar

9 A sílaba é consttída de núcleo e margens. À margem esqerda dáse o nome de onset e a margem dreta, coda. É possível encontrar

também descrções sobre a estrtra slábca qe armam qe a sílaba se constt de onset e rma qe esta, por sa vez, se desdobra em

núcleo e coda. As perspectvas teórcas qe baseam ma e otra descrção são dstntas, mas para nós, neste momento, nteressa saber

qe o núcleo, no caso do Portgês braslero, é ocpado apenas por vogas, enqanto a margem é ocpada por sons consonantas.

10 Note qe estamos assmndo a vsão de qe não se tem mas m onema lateral velarzado na línga, mas apenas o onema aproxmante

lábovelar.

O dialeto do interior paulistaConheça algumas características próprias da ala do paulista que mora nas cidades

do interior do estado

Um projeto da Unesp (Unversdade Estadal Palsta Júlo de Mesqta Flho) ncado em e

verero de 2004 e desenvolvdo pelo GPGF (Grpo de Pesqsa em Gramátca Fnconal) está coletando dados para montar m banco de dados sobre a línga alada no nteror palsta. Tratase dema ncatva nédta de consttr o prmero banco de dados organzado com amostras da língaalada no nteror do Estado de São Palo.

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109|Fonemas do Português brasileiro: consoantes

O projeto, após rgorosa coleta de dados, possbltará a descrção e caracterzação lngüístca

do Portgês alado na regão de São José do Ro Preto, abrangendo sete mncípos: Bady Basst,Cedral, Gapaç, Ipgá, Mrassol, Onda Verde e São José do Ro Preto.

Segndo o coordenador do projeto, Sebastão Carlos Lete Gonçalves, a prncpal característcaqe se nota na ala do nteror palsta é o “r” retroexo, estgmatzadamente chamado de “r” capra. A amosa “ porrrta aberrrta”. “Tem determnados enômenos qe são mas estgmatzados qeotros, porqe sso tem a ver com a classe socal qe sa aqela varante”, explca Gonçalves.

Além dsso, m otro enômeno lngüístco do nteror de São Palo é a redção do gerúndo.Por exemplo, “cantano” em vez de cantando. Isso dere bastante do daleto alado na captal. “Opalstano dá mas ma acentada na termnação do gerúndo, "cantaaando”, conta o proessor.

Mesmo entre os dversos mncípos do nteror palsta exstem derenças no daleto. SãoCarlos, Praccaba, Tatí, Bar, It. Todas essas cdades azem parte do nteror, porém, algmasmaneras de alar dstntas são sentdas. “Praccaba também é nteror palsta e lá, por exemplo,esse "r" retroexo é mto mas pxado. Na regão de São José do Ro Preto sase "r" retroexo emnal de sílaba, como em " porrrta". Agora, em Praccaba sso acontece no começo de sílaba. Elesdzem, por exemplo, "Pirrr-acicaba". Em Tatí as pessoas dzem ta, lete (deve-se ler "tía" e "leitê" ) qeé derente dos otros lgares”, aponta Gonçalves.

Por que as dierenças?

Talvez você esteja se pergntando porqe exstem tantas dstnções dentro de m mesmoestado. Os palstanos alam de ma manera, já o pessoal das cdades do nteror de otra qetambém derem entre s. Exstem algmas hpóteses por trás dsso. “Por exemplo, a presença do 'r'retroexo em cdades como Amercana e Praccaba é resltado da colonzação amercana. Porém,você vê qe o 'r' retroexo não é característca apenas dessas regões, também marca presença emGoás o em algns daletos da regão Sl, qe não tem nênca nenhma do amercano. Entãonão é ma hpótese qe se sstenta”, constata o proessor.

Já o daleto palstano tem ma orte nênca da colonzação eropéa, prncpalmentedos talanos. Isso podera explcar algmas característcas, como o prolongamento do gerúndo:'cantaaando'. “A gente (do nteror) redz o gerúndo e o pessoal da captal alonga. Teríamos qebscar as casas o motvações para essas derenças. Enm, com passar do tempo, a lngagemmda também, mesmo sem nênca dreta de m otro daleto, não podemos dexar dereconhecer”, explca.

Gonçalves esclarece qe o preconceto com o chamado “caprês” vem jnto com m jízo devalor qe é altamente dscrmnatóro. Cada pessoa leva em conta o daleto qe ala, acredtandosempre qe o se é o mas correto, por sso estgmatza a ala do otro. Tem toda ma avalaçãosocal colocada.

O banco de dados tem térmno prevsto para everero de 2006 e será dentcado com o nomede Iborna, palavra de orgem ndígena qe sgnca “Ro Preto”, ma alsão ao maor mncípoabrangdo pelo estdo. Fnalzada essa pesqsa, o GPGF pretende expandr tramente o espaçogeográco da amostra.

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110 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Região Sudeste

Vale lembrar qe os otros estados da regão Sdeste também têm característcas própras aoalar. Os mneros alam cantado e sam palavras como “trem” para denr qalqer cosa. Como nasrases: “Mas qe trem bom” o “Esse trem não está nconando”, qe podem ser algo como “Mas qebolo bom” o “Esse rádo não está nconando”. Já os carocas têm o amoso “s” chado, como em“escorregador” e “espnare” qe az o som de “excorregador” e “expnare”. E também o “r” pxado.

(Dsponível em: <www.nversa.com.br/matéra/matera.jsp?matera=8512>. Acesso em: 21 ago. 2007.)

Atividades  Com base no texto qe você acabo de ler, responda às segntes qestões:

1. A epêntese qe se verca no encontro de das consoantes oclsvas heterosslábcas:

a) é m ato onétco, decorrente da preerênca da Línga Portgesa por sílabas termnadas emvogal.

b) é m erro de pronúnca de algmas pessoas, qe anda não aprenderam a manera correta dealar.

c) é m ato onológco, qe nclsve estabelece a oposção entre ormas com e ormas semepêntese.

d) é evdênca de qe as pessoas qe a realzam são ncltas, porqe os encontros heterosslábcossão ormas cltas.

2. Armar qe algmas consoantes assmlam característcas de otras sgnca:

a) observar qe a prodção das consoantes é nstável, e sso pode aetar nclsve sarepresentação onológca.

b) observar qe, como decorrênca do encadeamento dos sons na ala, a prodção de nsnenca a de otros.

c) reconhecer qe os alantes qe prodzem no lgar de anda não compreenderam bemsa línga.

d) desconhecer qe os sons têm ma únca pronúnca correta, e qalqer derença na prodçãoreslta em erro.

3. A resslabcação é m processo ônco qe:

a) consste no amento do número de sílabas de ma palavra, porqe o alante nsere sons nacadea da ala.

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111|Fonemas do Português brasileiro: consoantes

b) snalza qe algns alantes não sabem alar sa línga corretamente, porqe trocam as sílabasno nteror das palavras.

c) decorre de otros processos ôncos, como a assmlação, e consste em reorganzar a estrtrade das sílabas vznhas.

d) explca por qe ma consoante rcatva assmla a sonordade da vogal qe nca a sílabasegnte a essa rcatva.

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Fonemas do Português

brasileiro: vogais

Sabendo o qe são e como se dentcam os onemas de ma línga, podemos aplcar mametodologa de análse onológca ao Portgês braslero, com a onêmca. Essa análse nos possbltaráchegar ao nventáro dos onemas vocálcos, para o qal voltamos nossa atenção neste texto.

Veremos, nos qadros dos onemas vocálcos, qe há ma nteração mto grande entre o acentoe o nventáro das vogas o qal, nclsve, pode sorer redção em nção da posção das vogas relat

vamente ao acento.

Distribuição das vogais no interior da sílabaMas antes de nos voltarmos à nteração entre acento e nventáro vocálco, cabe observar qe,

qalqer qe seja a posção da vogal relatvamente ao acento, ela sempre ocorre em núcleo, o pco, slábco. Para entender melhor essa armação, devemos consderar qe a lteratra onológca consderaa sílaba ma ndade ormada dos segntes consttntes:

σ1

onset  rma

núcleo coda

1 A letra grega sigma anota “sílaba”.

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114 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Desses consttntes, tanto onset como coda são opconas; núcleo, entretanto, é o únco consttnte obrgatóro. Além dsso, tanto onset como coda podem ser complexos, o ramcados, qer dzer,

mas de m onema pode ocorrer nessa posção. O núcleo, ao contráro, é m consttnte qe não seramca. A Línga Portgesa dstrb os onemas no nteror da sílaba de modo qe tenhamos os segntes padrões slábcos:

V :: – sílaba consttída apenas de ma vogal, como a prmera da palavra

VC :: – sílaba consttída de vogal, segda de consoante, como a palavra ;

CVC :: – sílaba com as três posções (onset , núcleo e coda preenchdas), como a qe constt apalavra ;

CV :: – sílaba dta nversal, porqe se verca em todas as língas do mndo, e qe é mtoreqüente no Portgês braslero. É consttída de consoante, segda de vogal, como na palavra ;

CCV :: – sílaba consttída de onset ramcado e núcleo de apenas ma vogal, como é o caso daprmera sílaba da palavra ;

CVCC :: – sílaba consttída de coda ramcada e núcleo de apenas ma vogal, como é o caso daprmera sílaba da palavra

Algns atores consderam anda otros padrões, consttídos de mas consoantes em coda, emnção de reconhecerem aí ma consoante nasal segnte à vogal do núcleo. Como esta não é a nossaperspectva – conorme deverá car claro na seção em qe abordamos as vogas nasas do Portgês –consderamos apenas os padrões slábcos acma expostos.

Anda ma últma consderação sobre os padrões slábcos da Línga Portgesa: decorre da prevsão de qe núcleo é o únco consttnte slábco qe não se ramca a mpossbldade de termosdas vogas nma mesma sílaba. Conseqüentemente, o encontro de das vogas contígas congram hato. Assm, na palavra

 /s a ‘ d e/

C V V C V

Temos três sílabas, dado qe o encontro VV estabelece das sílabas dstntas: a prmera, CV, e asegnda, V.

Os dtongos, por otro lado, são consttídos de vogal e aproxmante, sendo qe esta últma

pode ocpar a posção de onset o coda slábca, como em

 /s a w ‘d a d e/

C V C C V C V

Veja qe, nesse caso, a prmera sílaba tem padrão CVC, sendo travada2 pela aproxmante lábovelar, qe constt m dtongo com a vogal nclear.

2 Dzer qe ma sílaba é “travada”, por exemplo, por consoante, sgnca dzer qe a sílaba termna em consoante, o tem ma consoante em

posção de coda.

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115|Fonemas do Português brasileiro: vogais

Inventário das vogais em unção do acentoA partr desta seção, voltaremos nossa abordagem para a nteração entre o acento lexcal – qer

dzer, o acento prncpal das palavras de ma línga – e a congração do nventáro dos onemas vocálcos da Línga Portgesa.

Quadro de vogais tônicas do Português brasileiroEm prmero lgar, devese esclarecer qe a vogal tônca é aqela qe se percebe como a mas

proemnente, sto é, a mas ntensa, orte, no nteror de ma palavra. 3 Na Línga Portgesa, a vogaltônca pode estar na prmera sílaba da palavra – contandose a partr da dreta para a esqerda – comoem .4 Pode estar também na segnda sílaba, como em

. Pode se localzar anda na tercera sílaba, como em .Testes de comtação – sto é, de troca de m som por otro – levamnos a vercar a exstênca de

sete vogas oras no Portgês braslero, conorme dsposto no qadro abaxo:

Quadro 1- Fonemas vocálicos do português brasileiro em posição tônica

Anterior Central Posterior

Fechada

Meio-echada

Meio-aberta

Aberta a

Assm, por exemplo, se opõem em pares como . As vogas , por sa vez,opõemse em pares como (“têla”), . Já as vogas opõemse em pares como ,

. As vogas , por sa vez, opõemse em pares como /’ma.la/, /’m .la/. / /, /o/ opõemse empares como (“pôlo”). Por m, opõemse em pares como .

Acrescentese qe, nclsve, as palavras /’se.ko/ (antônmo de “molhado”), (orma exonada do verbo “secar”), (orma exonada do verbo “socar”), e evdencam a oposção entre ses dos sete onemas vocálco da línga.

Ao estabelecerse o nventáro dos onemas vocálcos do Portgês, notase qe essa línga az

so de todas as dstnções possíves qanto ao parâmetro “abertra de mandíbla”, o seja, dstngemse vogas abertas de echadas, echadas de meoechadas e estas de meoabertas, e assm por dante.Este não é m ato corrqero nas língas do mndo: o Portgês é ma das pocas língas qe organza se sstema vocálco com base na dstnção de abertra da mandíbla. E sso acaba ssctandoproblemas para a teora onológca – em especal para modelos de herança geratva – no qe concerneà proposta de representação dessas dstnções.

3 A mesma observação é válda para a sílaba tônca.

4 Veja qe a vogal tônca se encontra, obvamente, na sílaba tônca qe, na transcrção onológca, é snalzada pelo dacrítco'.

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116 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Anda é necessára ma últma observação sobre as oposções entre as vogas do Portgês: asoposções onológcas entre as vogas médas, sto é, entre e entre acabam estabelecendo

dstnções morossntátcas, porqe carregam normação sobre a classe gramatcal de ma determnada palavra. Assm, vem da oposção meoechada X meoaberta a normação de qe énome, enqanto orma exonada do verbo “apertar”, bem como a normação de qe

é orma exonada do verbo “portar” e é nome. Temse aí, portanto, ma nteração do nívelonológco com o nível morológco da línga.

Quadro de vogais pretônicas do Português brasileiroVogas pretôncas são aqelas qe ocorrem antes da tônca de ma determnada palavra. Assm,

nma palavra como temos ma vogal pretônca apenas, mas em há das.

Já Camara Jr. (1969) observava ma redção no nventáro vocálco na posção pretônca relatvamente à tônca. Podemos dzer, então, qe nessas posções temos:

Quadro 2- Fonemas vocálicos do português brasileiro em posição pretônica

Anterior Central Posterior

Fechada

Meio-echada e o

Aberta a

Isso qer dzer qe em posção pretônca há neutralização da oposição /e/: / / e /o/:/ /5 . Você deveestar se pergntando, então, neste momento: mas e nos daletos nordestnos, para os qas encontramos pronúncas como , para “coração” o , para “qerdo”? Não havera aí a oposção

e a oposção , já qe podemos encontrar nesses mesmos daletos também as vogas ?Lembrese de qe, para haver oposção, é precso haver dos tens lexcas (das palavras) qe exbamcontraste por apenas ma ndade. Portanto, para haver as oposções entre as vogas médas, seranecessáro ocorrer, nesses daletos, ma palavra como , ao lado da palavra [ ]. Masanda: cada palavra devera ter m sgncado dstnto. Esse ato é qe caracterzara a oposção. Isso,entretanto, não ocorre e, conseqüentemente, não podemos dzer qe haja oposção / /: /o/. Esse racocíno se estende a oposção e a m evental par como [ ] e [ ]. Note qe os pares ctícosqe ctamos aq a títlo de exemplo não ocorrem em nenhm daleto braslero, nem em daletos nordestnos. Essa é a evdênca, então, para armarmos a netralzação da oposção das vogas médas em

posção pretônca para quaisquer dialetos do Português brasileiro.Mas o qe anal acontece nos daletos nordestnos? Para aqeles qe exbem vogal meoaberta

em posção prétônca, dremos qe ocorre ma aloona aí e qe, portanto, nessa posção, [ ] e [ ] sãoaloones de . O seja, consttem m caso de aloonia posicional das vogas relatvamenteao acento nesses daletos qe estamos tomando como exemplos.

5 Os dos pontos sgncam “opõese a”.

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117|Fonemas do Português brasileiro: vogais

Harmonia vocálica

Ao abordarmos as vogas tôncas e pretôncas da Línga Portgesa, é precso menconar também m ato qe as envolve e qe se conhece, na lteratra onétcoonológca, por harmonia vocálica.Você já reparo qe podemos encontrar as segntes realzações:

[:: ] para ;

[:: ] para ;

:: ] para ;

[:: ] para , além de város otros exemplos análogos?

O qe acontece nesses dados? Veja qe a vogal tônca, neles todos, é ma vogal alta –concdentemente nos nossos exemplos. A vogal pretônca assmla a altra da tônca, elevandosede [ ] o de / / a [ ]. Esse ato, qe acontece nos dversos daletos do Portgês braslero – embora

mas nns qe notros – constt a chamada harmona vocálca.

Quadro de vogais postônicas do Português brasileiroSe dzíamos qe as vogas pretôncas são aqelas qe ocorrem precedendo a vogal tônca de

ma palavra, ca ácl agora nerr qe as vogas postôncas são aqelas qe scedem, qe ocorrem emsegda à vogal tônca de ma palavra.

Em Portgês braslero há das classes de vogas postôncas: aqelas qe ocorrem depos da tônca mas não estão no nal de palavra e aqelas qe ocorrem depos da tônca e em nal de palavra – aschamadas átonas nais. Neste momento, ocalzaremos a prmera classe de vogas postôncas, o seja,as qe ocorrem scedendo a tônca mas não estão em posção átona nal.

Smlarmente ao qe acabamos de observar para as pretôncas, também nesse caso há ma redção daqele nventáro de sete vogas e, também nesse caso, a redção do nventáro decorre danetralzação da oposção entre as vogas médas /e/ : / / e /o/: / /. O qadro das vogas postôncas é,então, dêntco ao qadro 2 da seção anteror. Veja:

Quadro 3- Fonemas vocálicos do Português brasileiro em posição postônica

Anterior Central Posterior

Fechada

Meio-echada e o

Aberta a

Temse, assm, palavras como o , nas qas a prmera vogal postônca éo , não havendo as vogas meoabertas.

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118 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Quadro de vogais postônicas átonas fnais do Português brasileiro

Em posção átona nal, o qadro vocálco se redz anda mas. Temos:Quadro 4 – Fonemas vocálicos do Português brasileiro em posição postônica átona nal

Anterior Central Posterior

Fechada

Aberta a

Veja qe, nessa posção, ocorrem apenas as vogas , em decorrênca de se perder a oposçãoentre vogas meoechadas e echadas qe tínhamos regstrada nos qadros 3 e 4, mantendose apenasa oposção entre vogas abertas e vogas echadas. Temos, então, palavras como ,

. Ressaltese qe a proposta da ocorrênca das vogas /, / em posção átona nal é de Camara Jr(1996)6 e, anda qe se postle m qadro com /e, a, o/, a observação sobre a redção do nventárode vogas em posção átona nal se mantém. Essas vogas, no nível onétco, serão realzadas como asvogas redzdas .

A controvérsia sobre as vogais nasaisAté agora nós abordamos as vogas oras, mas você talvez deva estar se pergntando como cam

as vogas nasas. Aqelas qe vercamos em palavras como /respectvamente “anta”, “pnta”, “penta”, “snga” e “ponte”.

Para começar, é precso dstngr essas de otras vogas como as de(“cama, “banana”, “caneta). Estas vogas são chamadas de vogas nasalzadas, porqe resltam de mprocesso de assimilação, sto é, o abaxamento do vé palatno, necessáro para a prodção da consoante /m/ de “cama”, por exemplo, começa antes da oclsão blabal dessa consoante, e anda drante aprodção da vogal . Mas esse processo de assmlação não é obrgatóro e, por sso, pode haver, nmmesmo daleto, alantes qe realzem tanto [ .’ne.ta], com a vogal nasalzada, como [ka.’ne.ta], com avogal oral. Pode acontecer, nclsve, qe m mesmo alante alterne as das ormas em sa prodção.Essa possível alternânca entre a prodção da vogal nasalsada o da vogal oral constt o qe a lteratra onológca chama de variação livre, sto é, a vogal nasalzada é ma varante (aloone) da vogal oral,mas não há absoltamente nada qe condcone sa ocorrênca. Por essa razão – a nexstênca de atosqe condconem a ocorrênca da vogal nasalzada – a onologa não se ocpa dessas vogas. Antes,volta sa atenção para as chamadas vogais nasais onêmicas.

Mas o qe são vogais nasais onêmicas, anal? Voltemos a algns dos nossos exemplos ncas:Podemos opor a eles as palavras . Fazendo

sso, vemos qe a ma vogal nasal opõese ma oral , e assm por dante.

A exstênca de pares mínmos consttídos por vogas oras e vogas nasas pode ser m argmento para sstentarmos a exstênca de vogas nasas no Portgês braslero. Nesse caso, o qadrodas vogas nasas é:

6 Aparentemente, tal proposta se basea em processos de “debordamento” vercados em posção pretônca, sto é, a elevação das vogas

meoechadas a echadas. Parece qe Camara Jr. (1969) presspõe a tendênca do sstema à smetra como m ato qe determna o trânglo

, mas não o trânglo .

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119|Fonemas do Português brasileiro: vogais

Quadro 5- Quadro das vogais nasais do Português brasileiro

Anterior Central Posterior

Fechada

Meio-echada

Aberta

Assmndose qe as vogas nasas sejam onemas, como azem onólogos como Caglar (1997),assmmos em conseqüênca qe o nventáro das vogas do Portgês braslero contém doze onemas: sete oras – qe podem ter o número redzdo, em nção da posção qe ocpam na palavra relatvamente ao acento – e cnco nasas. Notese qe, no caso das vogas nasas, também há netralzaçãoda oposção entre as vogas meoabertas e meoechadas, de onde reslta a não ocorrênca de vogas

meoabertas nasalzadas em nenhm daleto da línga.

A qestão é qe os onólogos são nânmes em armar qe há vogas nasas onêmcas. O própro Camara Jr. propõe qe haja apenas vogas oras na Línga Portgesa e qe as vogas nasas sejamonologcamente representadas como vogal segda de , sto é, de m arqonema nasal. A realzação onétca dessa seqüênca, por exemplo , pode ser o , a depender da posçãoem qe a seqüênca se encontra, no nteror de ma palavra. Assm, por exemplo, se a seqüênca ocorreem nal de palavra, como , a nasaldade do arqonema reca sobre a vogal, resltando então

. Se, por otro lado, a seqüênca se encontra no nteror de ma palavra, como em , oarqonema assmla o ponto de artclação da consoante segnte e, como conseqüênca, temos maorma ntermedára . Em segda, a vogal assmla a nasaldade da consoante, como no casodas vogas nasalzadas, qe comentávamos anterormente, resltando daí a orma [ ]. A mesma

observação é válda para ormas como “canto” e “canga”, por exemplo. Veja:

::  

::  

Recentemente, onólogos como Leda Bsol adotam a mesma perspectva –, a de qe não há vogasnerentemente nasas no Portgês braslero – embora dentro de ma otra perspectva teórca.

Tdo sso qer dzer qe temos, na lteratra onológca para o Portgês braslero, das possíves análses para as vogas nasas:

a de qe elas são nerentemente nasas, porqe há pares mínmos na línga envolvendoas e::

também vogas oras;

a de qe não há vogas nasas, mas vogas oras segdas de nasaldade (seja a tal nasaldade::nomeada “arqonema”, “traço”, o o qe qer qe seja). Essa é ma controvérsa qe,aparentemente, anda está longe de ser resolvda.

O papel distintivo do acentoNão é possível alar nos onemas do Portgês braslero sem menconar o papel dstntvo do

acento: você já reparo qe mtas pessoas conndem, na ortograa, a exão de pretérto com a exão

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de tro de algns verbos? O seja, escrevem “cantarão” para a tercera pessoa do plral do pretértopereto, no lgar de “cantaram”? Por qe sso acontece?

O qe ocorre nesses spostos “erros” é qe os alantes se dão conta de qe tanto a orma de 3. a pessoa do plral do pretérto como a orma de 3.a pessoa do plral do tro do ndcatvo são consttídas da mesma seqüênca de sons: . Talvez, porém, não se dêem conta de qe na orma da3.a pessoa do plral do pretérto o acento reca sobre a segnda sílaba , enqanto na ormada 3.a pessoa do plral do tro do ndcatvo o acento reca sobre a prmera sílaba . Podeser até qe os alantes se dêem conta dessa dstnção – o qe é bem mas provável – mas não assocema convenção ortográca “am” para a desnênca de 3.a pessoa do plral do pretérto e a convenção “ão”para a desnênca de 3.a pessoa do plral do tro.

De qalqer modo, esse exemplo, assm como dados análogos a ele, evdencam o caráter dstntvo do acento na línga, o qe levo onólogos como Camara Jr. (1969) a armar qe o acento éonema na Línga Portgesa.

No caso especíco do nosso exemplo, nclsve, o acento opera ma dstnção morológca nalínga, de modo qe se lgar na palavra determna o tempo verbal.

Não é só na nteração com o nível morológco da línga qe se verca o caráter dstntvo doacento: nomes como /’ka.k/ e /ka.’k/ o /’sa.b.a/ e /sa.b.’a/ também evdencam esse caráter dstntvoe reorçam o argmento de qe o acento é onema na línga.

Nota fnalVocê deve ter reparado qe, ao longo do texto, o recorrente a ctação ao trabalho de Camara Jr.

Não se deve car com a alsa mpressão de qe este é o únco onólogo braslero. Na verdade, há mtosdeles, mas hove ma opção, aq, por remeter aos trabalhos desse ator por algmas razões:

Joaqm Mattoso Câmara Jr. o o prmero lngüsta braslero e ses trabalhos, de clara base::

estrtralsta, contêm ma análse mto pertnente para atos onológcos, especalmente, daLínga Portgesa. Chegam a ser ctados nclsve por Roman Jakobson, m dos lngüstasestrtralstas mas nentes e mas respetados em sa época;

a acdade das análses de Câmara Jr. é tão grande qe algmas delas permanecem acetas::

até hoje;

apesar de haver modelos onológcos pósestrtralstas, preermos embasar nossa apresen::

tação na lteratra estrtralsta por ser este m materal ntrodtóro à onologa. Com esta

ntrodção acredtase qe o letor terá condções de acompanhar modelos onológcos segntes, no qe concerne aos ses presspostos teórcos, prncpalmente.

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Texto complementar

O caso das vogais estrangeiras

(GONZALEZ,2007)

Para ma avalação em ma das dscplnas da acldade tve de ler m texto do socólogorancês François Dubet . O nteressante não o o texto, mas o modo como m colega se reer aoator: D bet.

Isso não é o qe se esperara de m alante de Portgês braslero. Como já o dsctdo aqui ,

o som dessa vogal (a menos qe o nome do socólogo seja dossncrátco) devera ser pronncadocom ma vogal alta anteror arredondada. Com sso não esto dzendo qe me colega deveratlzarse de [y], mas qe as vogas esperadas seram o . Esperaríamos D bet o D bet.

Como bem sabemos, não possímos no nventáro de onemas do Portgês, portanto m alante natvo de Portgês encontra dcldade com tal vogal. Entretanto, reconhecemos nessa vogalparte de sas propredades onétcas artclatóras e, ao compararmos com o nventáro de onemasvocálcos do Portgês, encontramos as vogas alta anteror nãoarredondada, e a alta posterorarredondada, [] como vogas mas próxmas do ponto de vsta artclatóro a . Assm, temos matendênca a escolher ma das das para sbstítr a vogal estrangera na ala corrente em Portgês.

Tanto é assm qe encontre ma loja de móves sados qe venda móves para “brô”* (doFrancês bureau, [ Ro], escrtóro). Os “móves para brô” podem ser tlzados como argmentopara nossa dscssão ma vez qe eles mostram qe o alante de Portgês, ao se deparar com anecessdade de escrever essa palavra, escolhe a contraparte nãoarredondada de , o qe podenos permtr pensar qe essa seja a orma como o alante ala a palavra.

Otro argmento é trado de m lvro qe esto lendo – A Course in Phonology, de Iggy Rocca eWyn Johnson. Ao explcar a vogal , dão o exemplo de alantes de Inglês qe ao tentar pronncaressa vogal em palavras do Francês o Alemão azem m dtongo [j], típco de palavras do Inglêscomo cue ( , taco de snca). Esse alantes percebem qe se trata de ma vogal alta anterore arredondada, só qe têm dcldades em pronncar vogas anterores e arredondadas, pos onventáro onológco da sa línga não conhece tas vogas.

Voltemos ao caso de D bet. Se olharmos para como a palavra o pronncada, [ ],

veremos qe ela poss das vogas médas altas, típcas do Portgês. Já argmentamos qe o

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esperado na prmera sílaba era ma vogal alta, podendo ela ser tanto posteror qanto anteror. O

ato de termos ma vogal medal alta posteror, [ ], no lgar de [ ] nos dz qe a vogal é posterorpara o alante. Assm, poderíamos pensar qe a vogal na sbjacênca é e qe algma orça azela se tornar [ ].

Já apontamos qe ambas as vogas são médas altas. Analsemos sso. Em termos de traços, asvogas são ambas [alta; baxa]. A vogal , por sa vez, é caracterzada por [+alta; baxa]. Isso podenos azer pensar qe a vogal esprao se traço [alto] para a vogal e essa se torno m .Estamos, assm, magnando qe esse é m caso de harmona vocálca.

Inelzmente, nossa análse tem m problema: não consgo pensar em otros exemplos paraesse enômeno em Portgês. Consgo dzer qe m enômeno parecdo ocorre com palavras comomenno, qe é pronncado por algns alantes com todas as vogas altas, por exemplo [mnn].

Pesqse em dos dconáros e não encontre essa palavra, o qe não mpede ela de ser dconarzada por m dconáro maor o mas completo qe os mes. Se procrarmos por “brô”no Google, vamos encontrar em torno de 104 000 resltados. Não é mto, mas já é expressvo namnha opnão.

Atividades  Com base no texto qe você acabo de ler, responda às segntes qestões:

1. O nventáro dos onemas vocálcos do Portgês braslero:

a) redzse em nção da posção qe as vogas ocpam na palavra, relatvamente ao acento.

b) contempla consensalmente sete vogas oras e cnco vogas nasas, totalzando doze vogas.

c) é bastante amplo, porqe engloba vogas tôncas, pretôncas, postôncas, átonas nas enasas.

d) não é claramente dendo, porqe não há consenso sobre consderar pré e postôncas emnventáros separados das tôncas.

2. Sobre as vogas nasas do Portgês braslero podese dzer qe:a) elas são claramente onemas da línga, porqe ormam pares mínmos com vogas oras.

b) anda não há consenso sobre se estatto onológco, sto é, se são o não onemas dalínga.

c) elas obvamente não são onemas da línga, porqe a nasaldade se sobrepõe a vogas oras.

d) elas varam mto de daleto para daleto e, por sso, são varantes de otros onemas.

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3. O acento, na Línga Portgesa:

a) é apenas m snal ortográco qe tlzamos para marcar a sílaba mas ntensa da palavra.

b) é completamente varável, podendo ser realzado em derentes sílabas, conorme o daleto.

c) estabelece oposções de sgncados entre nomes da línga e até oposções morológcas.

d) carrega normação sobre a nasaldade da vogal, determnando se ela é o não onema nalínga.

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O texto descritivo

O que é um texto?O títlo sscta, logo nm prmero momento, das qestões: o qe é m texto? E o qe é ma

descrção?

Vamos, então, ncalmente, tentar responder à prmera delas: em lnhas geras, podemos dzerqe texto é qalqer tpo de prodção escrta: portanto, desde m blhete qe você escreve a se amgo até ma tese de dotorado – qe sstenta m argmento acerca da natreza de m determnado

ato, com base nm determnado arcaboço teórco – passando por cartas, recetas de bolos e artgosde jornas, todos são textos.

O qe os derenca ns dos otros, ao mesmo tempo em qe os caracterza, além de se ormatoé também o regstro de línga qe empregamos para escrevêlos: m blhete a m amgo reqer m regstro normal; ao contráro, ma tese reqer m regstro ormal, além do emprego de termos precsos.A tlzação do regstro nadeqado acaba por prejdcar a ntelgbldade do texto, além de tornálodesacredtado.

Para ns ddátcos, costmase agrpar toda a prodção escrta em três tpos de texto: descrtvo,narratvo e dssertatvo. Em lnhas geras, podese dzer qe o texto descritivo aponta as característcasqe consttem m objeto, ma pessoa, m lgar. Já o texto narrativo relata m ato qe ocorre nmdetermnado tempo e lgar e qe terá envolvdo algm – o algns – personagens. O texto dissertativo,por sa vez, expõe a opnão de se ator sobre m assnto qalqer, além de apresentar os argmentos qe embasam e sstentam essa opnão.

Cabe a ressalva de qe, embora se aça essa dstnção por ns ddátcos, m mesmo texto podeapresentar elementos narratvos e descrtvos, por exemplo. O seja, é possível encontrar, nm únco texto, elementos de tpos dstntos de texto. Assm, o qe caracterza, portanto, m texto como narratva odescrção, por exemplo, é a predomnânca de m dos aspectos qe menconamos no parágrao anteror.

Tendo responddo à nossa prmera qestão (o qe é m texto?), passemos agora à segnda (oqe é ma descrção?)

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126 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

O que é uma descrição?A lngagem verbal – escrta o alada – não

é m ato estanqe, solado. Ao contráro, mantémma relação próxma com otros tpos de lngagens, como a pntra, por exemplo.1 Por sso, antesde passar a expor os elementos de m texto descrtvo, qe nos permtem dentcálo como tal,açamos algmas consderações ncas e gerassobre a descrção. Para tanto, comecemos observando a reprodção de m qadro de Monet.

Esse qadro, O jardm em Argentel, o pntado pelo rancês Clade Monet, qe vve entre

1840 e 1926 e o m dos maores expoentes dem movmento artístco chamado Impressonsmo, o qal srg na segnda metade do sécloXIX e, além de revolconar a pntra, ntrodzndo elementos até então não explorados, de níco àstendêncas da pntra do séclo XX. Assm, o Impressonsmo basease no ato de qe os objetos adqrem tonaldades derentes ao reetrem a lz solar nm determnado momento porqe, a depender dancdênca da lz do sol, as cores da natreza se modcam.

Monet o mestre em explorar as nances de lmnosdade em sa pntra, tendo nclsvechegado a prodzr séres em qe retrata ma mesma pasagem, mas em momentos dstntos do da,reetndo com sas cores as nances da lmnosdade da pasagem.

O qadro, qe data de 1873 e cja reprodção você vê no níco deste texto, é m retrato o,podemos dzer, ma descrição de m jardm. Note qe podemos ver m jardm com ma casa ao ndo.Mas: vemos qe a casa é clara, assobradada, com os telhados escros, ma chamné e das janelas.Ao lado dela há ma árvore alta e, na sa rente, ma cerca baxa. Antes da cerca há m gramado e mlndo jardm ordo, ao lado, tendo as ores dversas nances de cores, qe vão do vermelho ao amarelopassando por tons ntermedáros. O da anda está claro, mas há mtas nvens no cé.

Monet consege retratar tdo sso através dos contrastes de sombras e cores qe sa para azero qadro, além das rápdas pnceladas e de contornos não tão nítdos.

Nós também podemos descrever pasagens, pessoas, atos. Mas como azer sso? Nosso pncelserá a caneta e nossas cores, as palavras. Combnálas, prodzndo nances, possbltará ao nosso letor“enxergar” o objeto de nossa descrção, tal como o qadro qe vemos acma.

Chegamos, então, à qestão central de nossa ala: como escrever ma descrção? Vamos a ela.

1 Essa relação, alás, não é à toa: basta consderar qe a escrta srge a partr de desenhos etos nas paredes das cavernas. Há, então, todo m

processo lento de abstração, qe az com qe os desenhos percam ses traços concretos e vão apenas remetendo a algns traços marcantes

do objeto representado. As letras são o prodto dessa grande abstração.

O jardim em Argenteuil , 1873, Monet.

    D    i   s   p   o   n    í   v   e    l   e   m   :   <   w   w   w .   c

    l   a   u    d   e  -   m   o   n   e   t .   o   r   g   > .

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127|O texto descritivo

Tipos de descriçãoComo m gênero textal, a descrção pode ser denda, em lnhas geras, como m retrato qe aze

mos, através de palavras, de ma pessoa, de m lgar, de m objeto, de m anmal, reprodzndoos dedgnamente. A descrção deve prodzr em qem a lê ma magem eqvalente àqela do qe se está retratando. Portanto, é como se zéssemos nosso letor “enxergar” através de palavras aqlo qe descrevemos.

Para consegr esse eeto, é precso consderar, de níco, qe há tpos dstntos de descrção e qereqerem, cada m, técncas dstntas para se azer o letor “enxergar” o qe “pntamos” com as palavras.

Descrição técnica ou científcaEm lnhas geras, podemos reconhecer dos tpos de descrção: a descrção técnica (o centíca)

e a descrção lterára.

A descrção técnca retrata m procedmento centíco qalqer, os materas tlzados para talprocedmento, a metodologa empregada e os resltados obtdos. Assm, por exemplo, é possível descrever m expermento qímco: para sso, é precso, em prmero lgar, menconar os objetvos do talexpermento. Em segda, devese menconar as sbstâncas qe se tlzaram no expermento, bemcomo sas concentrações, ses pesos o volmes. Devese anda menconar – caso o expermento reqera levar ao ogo as sbstâncas – qal a temperatra necessára para a eblção das sbstâncas, opara qe elas se mstrem, por exemplo. Menconamse também os materas tlzados no expermento, por exemplo, béqeres, ppetas, bretas, especcandose sa capacdade. Por m, menconase oresltado do expermento: qal o a sbstânca nal obtda através do amálgama das prmeras.

Você já paro para pensar, nclsve, qe ma receta de bolo é a descrção de m “expermento” noqal se mstram certos ngredentes, em qantdades determnadas, para se obter como prodto nalm bolo? Veja também qe a descrção de pormenores, como as qantdades de cada ngredente e otempo necessáro para assar o bolo são ndamentas para qe se obtenha o prodto nal desejado. Umamá descrção das qantdades dos ngredentes pode levar nossa receta ao racasso.

Para além do nosso cotdano, podemos pensar na descrção aplcada ao nosso trabalho com alngagem. Isso porqe também aq é possível azer expermentos, embora de manera dstnta deexpermentos qímcos. Assm, podemos, por exemplo, rodar m expermento para avergar qasas realzações possíves para as vogas nasas nm determnado daleto. Para sso precsamos, antes demas nada, elaborar m conjnto de dados qe contenha as vogas em qestão e qe será ldo por mconjnto de sjetos. Fazendose a gravação dos dados e analsandose – por exemplo, em termos acús

tcos – as prodções de cada sjeto, temse o resltado do expermento.Para descrever, então, tal expermento, precsamos menconar o qe vamos analsar – sto é, nos

so “objeto” de análse e por qê. Uma razão para nosso expermento, tal como o delneamos no parágrao anteror, pode ser a bsca por ma representação onológca para as vogas nasas do Portgês.Em segda, precsamos menconar como montamos o conjnto de dados qe serão colhdos jnto aossjetos, sto é, o corpus do expermento. É necessáro, então, relatar qas são as palavras constantesdesse corpus, qal é a sa orma, qer dzer, qantas sílabas têm, qal é o se padrão acental, qal é olgar da vogal nasal no nteror da palavra em relação à sa posção na sílaba e com relação ao acento.2 

2 A lteratra onétca é plena em relatos acerca da nênca de acento sobre a realzação de m som da ala – o qe se chama “nteração

prosódasegmento” – , daí a mportânca de se consderar a posção da vogal relatvamente ao acento.

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128 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Devese também especcar se as palavras serão contextalzadas – sto é, nserdas em sentenças – odescontextalzadas, consttndo ma lsta. Em segda, menconase se as palavras serão ldas pelos

sjetos do expermento o se serão ovdas por eles e, logo em segda, repetdas.

O passo segnte é descrever os sjetos, apontandolhes algmas característcas qe podem,eventalmente, nencar a sa prodção e, portanto, os resltados do expermento: descrevemseos sjetos apontandolhes o sexo, a dade e a procedênca, especalmente.3 Eventalmente, característcas como nível socoeconômco e gra de escolardade podem também ser consderados. Feto sto,relatase o local onde a coleta de dados – gravação, no nosso caso – será eta: a casa de cada sjeto, mambente com mto rído o, ao contráro, ma sala slencosa o até com tratamento acústco, comom estúdo. Menconase, em segda, o materal tlzado para a coleta de dados: a marca e o tpo domcroone, por exemplo, bem como o programa de comptador qe se tlza para colher os dados.4 Esses são detalhes mportantes porqe derentes tpos de mcroone podem levar a resltados dstntos.

Em segda, menconase qantas vezes os sjetos prodzram cada palavra do corpus para,então, passarse a descrever a análse dos dados. No caso da análse acústca, é precso menconar oprograma tlzado para esse m, bem como a taxa de amostragem a qe o snal o dgtalzado – porexemplo, 22 o 44kHz. Todas essas normações são relevantes porqe podem alterar os resltados.Estes são, nalmente, apresentados na seqüênca.

Note qe a descrção do expermento é ndamental para qe se exponha de manera clara aoletor os resltados obtdos. Daí a necessdade de ocalzarmos tantos detalhes como os qe ctamos.

Descrição literária

A descrção lterára objetva “prodzr, pela orma do objeto descrto, a emoção estétca” (ANDRÉ,1989, p. 5). Ela se aproxma, então, da tarea do pntor à qal nos reermos no níco desse texto.

Nma descrção lterára, podemos tomar como oco seres anmados (por exemplo pessoas) onanmados (como m objeto o ma pasagem).

Descrição de seres animados

Para descrever seres anmados, como ma pessoa, é precso consderar sas característcas íscase sas característcas pscológcas (sso especalmente, no caso de descrção de pessoas, obvamente).As característcas íscas são consttídas de qasqer traços externos qe podemos perceber ao observar ma pessoa, como estatra, peso, cor da pele, dos cabelos e dos olhos, dade e até o modo de se

vestr. As característcas pscológcas de ma pessoa, por sa vez, remetem ao se comportamento, sapersonaldade, as cosas de qe gosta, aqelas de qe não gosta, a manera de agr dante de varadasstações – se calmo, se ntempestvo, angstado, por exemplo –, a manera de se relaconar com otraspessoas, e assm por dante.

3 Sabese qe essas característcas podem nencar a pronúnca dos sons de ma línga através da lteratra socolngüístca. Por sso, qalqer

expermento qe nvestge varabldade de pronúnca deve consderálas.

4 Esto presspondo qe já se colham os dados em mída dgtal, daí a necessdade de m programa de comptador para a coleta. Mas é

possível azer a gravação através de m gravador qalqer. Nesse caso, também é precso menconar sas característcas, como marca, modelo

e se é analógco o dgtal, pelo menos.

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129|O texto descritivo

Mas como organzar todas essas normações de modo a prodzr ma descrção coesa, ma descrção qe aça sentdo e não se transorme nma mscelânea de característcas desencontradas? Para

tanto, devese partr do mas geral para o mas partclar. Em prncípo, descrevese ma mpressãogeral qe a pessoa casa para, em segda, descreverlhe as qaldades íscas e as pscológcas. Pronto,sa descrção está eta!

Vejamos m exemplo:

Toda a gente tnha achado estranha a manera como o Cap. Rodrgo Cambará entrara na vda de Santa Fé. Um da chego a cavalo, vndo nngém saba de onde, com o chapé de barbcacho pxado para a nca, a bela cabeça de machoaltvamente ergda, e aqele se olhar de gavão qe rrtava e ao mesmo tempo ascnava as pessoas. Deva andar lápelo meo da casa dos trnta, montava m alazão, traza bombachas claras, botas com chlenas de prata e o bsto mscloso apertado nm dólmã mltar azl, com gola vermelha e botões de metal. Tnha m volão a tracolo; sa espada,apreslhada aos arreos, rebrlhava ao sol daqela tarde de otbro de 1828 e o lenço encarnado qe traza ao pescoçoesvoaçava no ar como ma bandera. (VERISSIMO, 1978, p. 172)

Note qe o ator nca sa descrção menconando a orgem desconhecda do orastero para,em segda, passar a descrevêlo. Passamos a “ver” m homem jovem, mscloso, montado a cavalo etrazendo m volão a tracolo; vestdo com bombachas claras, m dólmã azl e lenço vermelho amarrado ao pescoço. Essas são as característcas íscas do personagem de Erco Verssmo.

Qanto a sas característcas pscológcas, sabemos qe o personagem é altvo – sto é, arrogante, presnçoso5 – e qe provoca nas pessoas ao mesmo tempo reações de rrtação e ascíno, atravésdo olhar penetrante, “de gavão”.

E pronto: temos o retrato do Captão Rodrgo à nossa rente!

Descrição de seres inanimados

Podemos também descrever objetos o lgares. Para sso, a exemplo do qe acabamos de comentar sobre a descrção de pessoas, é precso atentar para os detalhes peclares daqlo qe nospropomos a descrever.

No caso de descrção de objetos, cabe menconar se ormato, sas dmensões, se tamanho, satextra, sa cor, se peso e, no caso de m objeto consttído de váras partes, devese menconar qaselas são e como são sas característcas – a exemplo do qe acabamos de comentar.

No caso da descrção de lgares, qem descreve deve agr qase como ma câmera cnematográca, movendose por dversos pontos do lgar descrto e pormenorzando, detalhando, as característcas desses lgares. Vejamos m exemplo:

Ah dabólca note de Crtba! Pesada cerração e m ro de ossos, de cemtéro, de cdade morta, de sombro esqe

cmento. Ah amontoado de ódos, de bíls, de rancores e rstrações neste alnhamento de prédos, casas, qntas,gardas, árvores secas, camnhos de expressos, lúgbres postes de lz mortça, prostttas roxas de mnssaas, travestsde narzes grandes e joelhos ossdos, motorstas de táxs sonolentos em ses caslos alaranjados.6

Aq está a praça do homem n7, este mastodonte morto com a cabeça envolta em névoa, ao lado o Grpo Tradentes,o se páto de cmento cheo de cranças azs e proessoras mbecs, al o Passeo Públco 8 e sa últma oresta, os

5 Essas, rsese, não são as úncas acepções do termo, mas são as qe mas se adeqam ao contexto.

6 Reerênca ao ato de, na cdade de Crtba, todos os táxs serem pntados na cor laranja.

7 Reerênca à Praça 19 de Dezembro, no centro de Crtba, entre as avendas Cânddo de Abre e João Galberto. A praça, nagrada por

ocasão do centenáro da emancpação do estado do Paraná, tem ma grande estáta em concreto de m homem n. A estáta, de atora de

Erbo Stenzel e Umberto Cozzo, pretenda retratar o homem paranaense tando o tro.

8 Parqe localzado no centro da cdade.

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130 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

últmos anmas, o ro verde, carpas e pedalns, toda a natreza e a alegra de vver preservadas em matéra plástcapara o lazer trste e angstado dos natvos, e aq sobe a João Galberto, com sas qatro pstas, semáoros, leras

amarelas de lzes a mercúro, m espetáclo marcano de rara beleza. Passo o Colégo Estadal, o prédoesnge, emcjos corredores, porões, pátos, andares e salas agonze me9 gnáso até a explsão, depos de meter a mão na carado proessor de Moral e Cívca, nma ala prátca.” (TEZZA, 1995, p. 60)

Lendo atentamente o excerto, você deve ter notado qe, assm como ma câmera cnematográca qe, nm prmero momento az ma tomada geral de m determnado lgar, para em segdapassar a ocalzar pontos especícos desse lgar, também a descrção do centro da cdade de Crtbase nca com a descrção de aspectos geras dessa cdade, nma note de nverno: da ntensa neblna àspessoas qe transtam pela note, passando pela cdade adormecda, sem movmento.

Em segda, passase à descrção de pontos especícos da pasagem do centro de Crtba: apraça do homem n, o Passeo Públco, e assm por dante, de modo qe nós, letores, podemos ormarma magem do centro dessa cdade e dos lgares al exstentes.

Repare qe o qe nos permte enxergar, como nm retrato, pessoas e lgares como os qe sãodescrtos nos excertos qe ctamos nesse texto é o emprego adeqado da lngagem escrta. É esse emprego adeqado da lngagem escrta qe az do texto m bom texto. O emprego nadeqado, porém,da lngagem, pode prejdcar a compreensão daqlo qe estamos pretendendo descrever e nos levarà prodção de m texto rm.

Adequação da linguagem escritaComo, então, alcançar ma boa adeqação da lngagem escrta? Um texto qalqer, para ser

compreenddo de modo adeqado, precsa ser coeso e coerente. O qe qer dzer sso? A coesão de m

texto élhe dada pelo relaconamento adeqado entre as sentenças e os consttntes das sentenças.Podemos dzer, por consegnte, qe a coesão de m texto se relacona ao se nível sntátco. A masentença como

“Bat ontem o carro do me pa, ma BMW cja anda nem tnha rodado 5 ml qlômetros.”

Falta coesão, porqe o pronome possessvo “cja” está empregado nadeqadamente, em sbsttção a m pronome relatvo. Anal, não se está declarando aí nada sobre algo qe pertença à BMW,ato qe reqerera o emprego de “cjo”. Ao contráro, estáse acrescentando ma característca partclar à BMW, a de ela ser nova, pos anda não hava rodado 5 ml qlômetros. Por sso, o mas adeqado,aí, é o emprego do pronome relatvo “qe” o “a qal”. Dessa orma, a sentença ganha a coesão qe nãotnha. Temos, então:

“Bat ontem o carro do me pa, ma BMW que anda nem tnha rodado 5 ml qlômetros.A coerênca de m texto relaconase ao se nível semântco e reqer, por exemplo, qe m pa

rágrao tenha o sentdo relaconado com o parágrao precedente e o segnte. Parágraos desconexos,sem relação de entre s, dexam o texto sem coerênca.

Para garantr, porém, a coesão e a coerênca de m texto, mtas vezes é necessáro tlzar adeqadamente a ortograa. Não se preconza, aq, a volta a ma prátca de ensno de prodção de textoqe prvlegava correção ortográca e sntátca em detrmento de m texto cratvo, orgnal. Sabemos,no entanto, qe, mtas vezes, m texto pereto, qe sege todas as determnações da gramátca nor

9 Qem az a descrção é o narradorpersonagem, Trapo, qe dá nome ao lvro.

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matva qanto à ortograa e à sntaxe pode não ser tão bom qanto m texto qe escorrega em concordâncas e regêncas, por exemplo, mas é mto mas cratvo.

O qe acontece é qe, não raro, o so nadeqado de snas de pontação, por exemplo, o deconcordâncas e regêncas acaba por comprometer a qaldade do texto, no sentdo de prejdcarlhe antelgbldade. É por essa razão qe nos voltamos, agora, para algmas consderações sobre ortograa,em especal o emprego dos snas de pontação.

Ortografa

A ortograa é ma convenção qe vsa “crstalzar na escrta as derentes maneras de alar dossáros de ma mesma línga” (MORAIS, 2000. p19). Como ma convenção, a ortograa é determnadasocalmente e, de tempos em tempos, passa por mdanças: assm é qe “nos textos do níco do séclo encontrávamos graas como ‘pharmáca’, ‘rhnoceronte’, ‘archeologa’, ‘thermômetro’, ‘commérco’ e‘encyclopéda’". (MORAIS, 2000, p.19) Essas ormas, cja graa retratava sa hstóra, sa orgem, orammodcadas por conta de mdanças nas normas.

Alás, é precso azer aq ma dstnção entre saber escrever e conhecer a norma ortográca:“Qando compreende a escrta alabétca e consege ler e escrever ses prmeros textos, a crança jáaprende o nconamento do sstema de escrta alabétca, mas anda desconhece a norma ortográca.” (MORAIS, 2000, p. 20) O seja, a crança, nesse momento, desconhece as convenções qe estabelecem ma orma “correta” para a graa de ma determnada palavra. As normas ortográcas do Portgês são xadas pela Academa Braslera de Letras, e oram modcadas pela últma vez na década de1960, devendo ser modcadas novamente em 2008, na bsca, especalmente, de ma ncação dagraa nos países lsóonos.

Da mesma manera qe as normas ortográcas mpõem certas ormas qe representam os sonsda ala, há normas para representar os aspectos prosódcos da ala, como pasas. Isso nos nteressa, neste momento, porqe o so nadeqado desses snas pode provocar m eeto de sentdo ndesejado am texto.

É especalmente para eles qe nos voltamos em segda.

Convenções ortográfcas: o uso da vírgula

Ao contráro do ponto, qe “assnala a pasa máxma da voz depos de m grpo ônco de nal descendente”10 (CUNHA; CINTRA, 1985, p. 632), a vírgla “marca ma pasa de peqena dração.Empregase não só para separar elementos de ma oração, mas também orações de m só período”.(CUNHA; CINTRA, 1985, p. 626)

No nteror de orações, a vírgla:

separa elementos de mesma nção sntátca, qando não estão ndos por conjnções como::

e, nem: “Coloqe no estojo os láps, o apontador, a réga e a caneta”. Veja qe, nesse exemplo,a vírgla separa os elementos qe consttem o objeto dreto da sentença;

separa elementos qe ocpam, nm determnado enncado, ma posção derente daqela::

qe salmente ocpam. É o caso, por exemplo, do adjnto adverbal qe se antecpa: “À note,todos os gatos são pardos”. Notese qe o adjnto adverbal é destacado na sentença. É como

10 O ponto, portanto, ndca o nal de ma oração assertva.

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se hovesse m oco sobre ele, qer dzer, é como se o emprego da vírgla snalzasse qe esseconsttnte da sentença o prodzdo, na ala, com maor ntensdade qe os demas;

sola o vocatvo do restante da sentença: “Mara, venha jantar!” Note qe o “vocatvo” aí, o seja,::

o consttnte cja nção é chamar algém, é “Mara”;

sola aposto o qalqer elemento de valor explcatvo: “O Brasl, m país tropcal, ca na Amé::

rca do Sl”. Nesse caso, o aposto é “m país tropcal”.

Entre orações, a vírgla:

separa orações coordenadas assndétcas (sto é, sem conjnção): “[Levanteme cedo], [z o::

caé da manhã], [tome m banho] [e para o trabalho]”. Das qatro orações coordenadasnesse período – todas segmentadas pelos colchetes – três não têm preposção e, por sso,separamse mas das otras pelas vírglas;

separa orações coordenadas sndétcas, exceto as qe são ntrodzdas pela conjnção e,:: como no caso da últma sentença do nosso exemplo anteror “[e para o trabalho];

sola orações ntercaladas: “Depos de amanhã, dsse a moça do tempo, teremos chva orte”.::

Observe qe a oração “dsse a moça do tempo” ntercala, corta a oração “Depos de amanhãteremos chva orte”;

sola orações sbordnadas adjetvas explcatvas: “A cdade de Brasíla, qe ca no Planalto::

Central, é a captal do Brasl”. Repare qe a oração “qe ca no Planalto Central” ntrodz maexplcação sobre Brasíla e, por sso, deve vr entre vírglas;

separa orações sbordnadas adverbas qando antepostas à prncpal, nvertendo, portanto,::

a ordem sal de consttntes na Línga Portgesa: “[Qando acorde,] a cdade toda andadorma”. Nesse caso, “a cdade toda anda dorma” é a oração prncpal qe é precedda pelaoração adverbal;

separa orações redzdas de nntvo, de gerúndo e de partcípo, qando orem eqvalen::

tes a orações adverbas: “[A contnar como está], nossa empresa poderá se expandr paraora do país no próxmo ano”. Aq, a oração [A contnar como está] eqvale a “caso contnecomo está”, portanto é ma oração redzda de nntvo e se separa por vírgla das otrasorações de m mesmo período.

À gsa de conclsão: não se deve car com a alsa mpressão de qe, para m texto ser bom,precsa estar completamente adeqado às normas – seja da gramátca, seja da ortograa. Os bons escrtores nem sempre as segem e, além dsso, a escrta lterára mtas vezes sbverte essas normas,bscando com sso algm eeto de sentdo partclar. Mas para se poder sbverter as normas, é precso

conhecêlas, antes de tdo. Caso contráro, corremos o rsco de prodzr verdaderos “rankenstens”,qer dzer, textos completamente sem sentdo porqe, como dssemos, o emprego nadeqado dossnas de pontação pode acabar prejdcando a coesão e até a coerênca de m texto.

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133|O texto descritivo

Texto complementar

Orthographia virou ortografa:Um panorama da evolução do registro escrito da Língua Portuguesa

(CARDOSO, 2 007)

Heróglos, deogramas o, smplesmente, letras? Seja qal or o snal gráco tlzado, regstrar aspalavras para atngr m nterloctor dstante no tempo e no espaço é o prncpal objetvo da escrta. Oso das letras (graemas), representando os sons da ala, constt a chamada escrta (graa) alabétca.

A ortograa, da combnação dos elementos de orgem grega orto (reto, dreto, correto, normal) e graa (representação escrta de ma palavra), é, segndo o dconáro Hoass, “o conjntode regras estabelecdas pela gramátca normatva qe ensna a graa correta das palavras”.

As pessoas qe escrevem errado e cometem os chamados erros de Portgês, tão crtcadaspor proessores de línga, na maora das vezes, são tdas como gnorantes. Trocar ch por x, g por

 j o s por z, na verdade, não são propramente erros de Portgês, são erros de ortograa. As consões ortográcas são, entretanto, totalmente compreensíves, ma vez qe nenhm sstema gráco é pereto – a escrta é ma tentatva de representação da ala e, por sso, nngém consegráescrever exatamente como ala.

A escrta é, portanto, artcal. Saber qal letra escolher na hora de escrever ma palavra é ma

tarea qe exge memorzação (prncpalmente a vsal) e treno. Qe atre a prmera pedra qem nnca se engano. Desconhecer ortograa não sgnca desconhecer gramátca. É smplesmente desconhecer ma smples convenção, m decreto qe tem o objetvo de sstematzar a orma das palavras.

Cabeças e sentenças

Mas nem sempre o assm. Já hove ma época em qe cada escrtor graava as palavras comoqera e, assm, para ma mesma palavra podam se encontrar númeras ormas. Escrever hoje semh, sera, hoje, algo nadmssível, porém, o prmero docmento escrto em terra braslera, a Carta deCamnha, ncase desta manera: “Datada deste porto segro davosa jlha da vera crz oje sesta eraprmero de mayo de 1500...” – anda bem qe as versões escolares da carta apresentam a ortograa

vgente, se não havera mto proessor de cabelo em pé, qerendo corrgr os erros do escrvão daarmada de Cabral.

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134 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Até o séclo XVI, hava ma tentatva de representar por meo da escrta os sons da ala, o seja,

o qe se percebe, nos docmentos mas antgos, é ma graa onétca. De qalqer manera, nãoexsta ma norma, ma padronzação. Hove, portanto, nesse período, mta nstabldade gráca.

O som de /i / poda ser representado gracamente por i o y. Além dsso, notase qe a pronúnca

das palavras vara de ndvído para ndvído e de regão para regão, o qe pode alterar ma graa

qe se basea na onétca. Em docmentos dos séclos XII ao XV, ma palavra tão comm como

greja aparece com dez graas derentes: ygreja, eygreya, eygleyga, egrea, eygrea, eygreyga, gleja,

grea, greja e ygrga.

No séclo XVI, com o Renascmento, o Latm volta a ter mto prestígo. Os latnsmos enrqecem

o léxco Portgês, e passam a ser valorzadas ormas grácas restaradas, com base no Latm – regno

por reno, rcto por rto.

O bonito complicado

Há nesse momento, segndo gramátcos como J. J. Nnes, m reco nos tempos. A ortograa

onétca era mto mas smples, mas, para azer com qe a Línga Portgesa ganhasse status de

línga de cltra e se aproxmasse do almejado padrão clássco, oram valorzados os grpos ch 

(com som de k), ph, rh, th. A palavra tpograa, por exemplo, era graada typographa. Essa ase da

ortograa, chamada de psedoetmológca, perdra até o níco de séclo XX. Psedoetmológca,

porqe, no aã do so do elegante y, ma palavra como líro – do Grego leírion por meo do Latm

lilìum – era graada lyro, o seja, o y não exsta na orma orgnal da palavra.

Essa vontade de escrever complcado para car bonto permanece até hoje. Em pleno sécloXXI, há qem prera graas qe chamem a atenção, prncpalmente para regstrar nomes própros:

Thays e Raphael são ormas tão comns qanto Taís e Raael.

Se, por m lado, no séclo XVI, a ortograa psedoetmológca agradava, por otro, gramátcos

tentavam a volta da smplcação. Em 1576, Darte Nnes de Leão pblco a sa Orthographia da Lin-

goa Portuguesa (a própra palavra ortograa era graada com th e ph), tentando melhorar a “scrptra”

qe, segndo o ator, andava “m depravada”. Em Ortographia ou Arte para Escrever Certo na Lingua

Portuguesa (1633), Álvaro Ferrera de Vera crtco o desrespeto à pronúnca na escrta.

No séclo XVIII, o a vez de Lz Antóno Verney r contra a escrta de base etmológca. Em

sa obra Verdadeiro Método de Estudar (1746), crtco o emprego das letras dobradas (qando não

pronncadas), o so do c antes do t, do ch por /k  /. Achava anda qe consoantes não pronncadascomo o g e o h deveram smplesmente desaparecer.

Simplifcação

No séclo XIX, Antono de Moraes Slva, no preáco de se Diccionario da Lingua Portugueza 

(7.ª edção, Lsboa, 1877), dz qe a alta de ma ortograa xa casava mtas osclações e traza,

sem dúvda, mtos problemas ao dconarsta. Escrtores como Garrett e Castlho brgavam pela

smplcação ortográca.

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135|O texto descritivo

Dessa orma, o séclo XX começo com a ortograa merglhada no mas pereto caos, o

melhor, chaos. Cada m escreva de acordo com sas própras déas, o seja, hava pratcamentema ortograa para cada escrtor.

Em 1904, Gonçalves Vana, onetcsta, lólogo e lexcólogo portgês, apresento em m volme nttlado Ortograa Nacional  ma proposta de smplcação ortográca. Ele própro sabaqe se tratava de m grande desao. Anal, valorzar aspectos da ala, aastandose do Latm, tornava a línga mas poplar. Isso desagradava, sem dúvda, aos dotos.

Gonçalves Vana não se abate dante das crítcas, ao contráro, enrentoas, dzendo qe aortograa etmológca “é ma sperstção herdada, m erro centíco, lho de m pedantsmo qe(...) assoberbo os deslmbrados adoradores da Antgüdade Clássca”. Para ele, o domíno da escrtadevera atngr o maor número possível de pessoas: qem sobesse ler, tera qe saber escrever.

Novos tempos

As regras apresentadas por Gonçalves Vana estão mto próxmas das qe vgoram hoje. Bascamente eram as segntes:

1) spressão de todos os símbolos da etmologa grega – th, ph, ch (= k), rh e y;

2) redção das consoantes dobradas, com exceção de rr e ss;

3) elmnação das consoantes nlas, qando não níssem na pronúnca da vogal anteror;

4) reglarzação da acentação gráca.

Se apenas em 1911 ma comssão de lólogos se ren em Portgal para ocalzar a novaortograa, em 1907 as nêncas de Gonçalves Vana já havam chegado ao Brasl. Nesse ano, oelaborado pela Academa Braslera de Letras (ABL), a partr de ma proposta de Mederos de Albqerqe, m projeto de reormlação ortográca. Em 12 regras, o Brasl se antecpava, modernzando a ortograa.

Em 1912, João Rbero redg a reglamentação desse projeto, aprovado em 1907, e, em 1915,a ABL aprovo o projeto de Slva Ramos, qe ajsto a reorma braslera aos padrões da reormaportgesa de 1911.

Porém, dando m passo para trás, em 1919, o Brasl, qe se hava antecpado em relação a Portgal, revoga, por ndcação do acadêmco Osóro Dqe Estrada, tdo qe tnha sdo estabelecdoem 1907. O seja, nada de reormas e nada de smplcações. Enqanto Portgal aplcava a nova

ortograa, o Brasl regreda três séclos.

Simplifcação

Em 1929, a Academa tento restarar o sstema ortográco smplcado, mas não hove acetação poplar. Em 30 de abrl de 1931, nalmente é assnado m acordo BraslPortgal. O Brasladota o projeto portgês de 1911.

O vavém ortográco, entretanto, não parava por aí. Depos de ocalzado em 1933, o acordode 1931 é derrbado pela Consttção Braslera de 1934, qe mandava voltar à ortograa da Cons

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136 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

ttção de 1891. Isso é verdaderamente ncrível! Em pleno séclo 20, depos de toda a revolção

modernsta, voltar ao ph! Não é precso dzer qe a revolta o geral. Proessores, escrtores, edtores, jrstas e até a própra ABL clamavam contra esse nelz decreto. Só em 1938 a paz ortográca érestabelecda com a volta do acordo de 1931.

Incose a partr daí m processo de normzação da ortograa braslera e portgesa, qeclmno no acordo de 1943. Nesse momento, os governos dos dos países assnaram a convenção“para a Undade, Ilstração e Deesa do Idoma Comm”. Fo nomeada ma comssão responsávelpela preparação do Peqeno Vocabláro Ortográco da Línga Portgesa. Em 1945, o acordotornose le em Portgal. O Brasl manteve a ortograa do vocabláro de 1943.

Em 1971, no governo Médc, m novo decreto é assnado. A ortograa de 1943 sore peqenas alterações. Essa o a últma reorma e perdra até hoje. Em Portgal, o decreto de 1945 não o alterado.

Sem fm

Mas, ao qe parece, o ponto nal dessa hstóra não chega nnca. Descontentes com a exstênca de das graas derentes e alegando qe sso pode trazer problemas não só lngüístcos, mastambém polítcos, os acadêmcos voltaram a nsstr em ma nova reorma. A partr de 1975, após andependênca das colônas portgesas arcanas (São Tomé e Príncpe, GnéBssa, Cabo Verde,Angola e Moçambqe), o problema se agravo, já qe passaram a ser sete os países envolvdosnma tentatva de normzação ortográca.

Em mao de 1986, no governo Sarney, hove ma prmera tentatva de se estabelecer macordo ortográco, envolvendo os sete países alantes de Línga Portgesa. Após m encontro

no Ro de Janero o elaborado m novo acordo. Por ser consderado mto radcal – o projetopropnha a spressão dos acentos nas proparoxítonas e paroxítonas – , acabo sendo rejetado,prncpalmente por Portgal, e condenado ao racasso.

Contdo, se a persstênca vence, em 1990 lá estavam os acadêmcos e representantes de governo novamente rendos – agora em Lsboa – , debatendo (e batendose por) ma ncaçãoortográca. Desse encontro, co decddo qe: os sgnatáros do acordo deveram transormáloem le; a Academa de Cêncas de Lsboa e a Academa Braslera de Letras seram responsáves pelapblcação de m vocabláro ortográco comm da Línga Portgesa.

Novo acordo

Esse novo texto, bem menos problemátco qe o de 1986, tnha dos grandes objetvos:

1) xar e delmtar as derenças entre os alantes da línga, e

2) crar ma comndade com ma ndade lngüístca expressva para amplar se prestígono âmbto nternaconal.

Pblcado por Antôno Hoass ( A Nova Ortograa da Língua Portuguesa, São Palo, Átca, 1991),o novo acordo devera entrar em vgor em 1994. Não o o qe acontece. Ratcado, em 1996,apenas por Portgal, Brasl e Cabo Verde – prevendose qe Tmor Leste também o acete, já qe,depos de sa ndependênca, tornose membro da Comndade dos Países de Línga Portgesa

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137|O texto descritivo

(CPLP) – , o acordo contna adormecdo. Qase dez anos se passaram e, até agora, a ortograa v

gente no Brasl é a do acordo lsobraslero de 1943 (sanconado pelo DecretoLe 2.623, de 21 deotbro de 1955, e smplcado pela Le 5.765, de 18 de dezembro de 1971).

Além das derenças em relação ao so do trema (em Portgal esse snal gráco não é sadoe no Brasl é obrgatóro nos grpos qe, q, ge, g, qando o or átono e pronncado), aoemprego do híen e prncpalmente à acentação (o Antôno braslero é o Antóno portgês), é otratamento dado às chamadas consoantes mdas o qe mas chama a atenção entre a ortograaeropéa e a braslera: acto, baptsmo, correcção e óptmo, em Portgal, correspondem a ato, batsmo, correção e ótmo no Brasl. O acordo de 1994 dava conta dessa qestão.

Difculdades atuais

Vse, até aq, o qanto é dícl chegar a m consenso em relação às regras ortográcas.Parece qe nnca se alcançará o deal. Por mas qe a ortograa se aproxme da onétca – e já coprovado qe é realmente o desejável – , a línga alada, além de apresentar varações geográcas,mda no tempo mto rapdamente e não há orma de escrta qe consga acompanhar todos essesmatzes e todas essas transormações.

É necessáro qe haja ma únca orma gráca, sem dúvda. O qe sera do Portgês braslerose para a palavra colégo o palsta graasse coléjo, o caroca clégo e o baano cólégo. Haverama retomada da consão medeval.

O por problema, entretanto, é o ato de m únco graema ser correspondente a város onemas (sons). O x corresponde a /  / – máxmo, / / – exame, / / – Xxa – além de ks (dos onemas)

– tóxco – , e a m únco onema corresponderem város graemas: o som / / pode ser escrto comc, ç, s, ss, sc, sç, x, xc, z.

Mtas vezes, o qe se percebe é qe o so atropela as regras, prncpalmente no qe dz respeto à graa das palavras de orgem estrangera. Dz a regra qe o x, deve ser sado em palavrasprovenentes de língas modernas. Daí a graa de shampoo devera ser xamp. Assm regstra odconáro. Não há, porém, nenhma marca de xamp dsponível nos spermercados brasleros.

O ç, por convenção, deve ser sado em palavras de orgem tp. É o qe devera ocorrer como sxo aç, por ter essa orgem. A cdade palsta de Prassnnga não sege a regra. Foz doIgaç, recentemente, qs ser Foz do Igass, alegando qe o ç não az parte do nverso on-line.A mdança não pego.

Já qe o assnto é ss, a velha e boa mssarela, aqela, da  pizza (e não pítça), smplesmentenão exste. O qe exste é a mçarela, sso mesmo, com ç, o anda a mozarela. Mozarela? Sm, dotalano mozzarella. Dá para engolr?

O séclo XX acabo, e a qestão ortográca não se resolve por completo. Há mto anda oqe dsctr sobre o so das letras, dos acentos e até do híen. Enqanto os problemas contnamatormentando acadêmcos e parece qe não terão m tão cedo, adolescentes do novo mlêno adotam em ses blogs ma nova ortograa. No chamado nternetês, o k sbstt o qu (ak = aq), o x vale por ss (axm = assm) e o h transormase em acento agdo (ateh = até). Sera o prenúnco daortograa vrtal? Só o tempo drá.

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138 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Els de Almeda Cardoso é dotora em Letras, proessora de Línga Portgesa na Unvers

dade de São Palo e atora do capítlo A Formação Hstórca do Léxco da Línga Portgesa ( ALíngua que Falamos: São Palo: Globo, 2005. org. Lz Antôno da Slva).

(Dsponível em: <http://revstalnga.ol.com.br/textos.asp?codgo=11184>.

Revista Língua. Acesso em: 20 ago. 2007.)

Atividades

  Com base no texto qe você acabo de ler, responda às segntes qestões:

1. Observe a oto ao lado:

  Forneça ma descrção para o anmal qe você vê nela.

    D    i   s   p   o   n    í   v   e    l   e   m   :   <    h   t   t   p   :    /    /    b    i   c    h   o   s .   u   o    l .   c   o   m .    b

   r    /   a    l    b   u   m    /

   z   o   o   z   o   m   m    3    4    2

_    2    4    0    8    2    0    0    7

_   a    l    b   u   m .    j    h

   t   m   > .    A

   c   e   s   s   o   e   m   :

    2    6    j   u    l .    2    0    0    7 .

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139|O texto descritivo

2. Em lnhas geras, o qe é m texto? Dê exemplos.

3. Por qe se pode dzer qe ma receta de bolo é m texto descrtvo?

4. Por qe não é possível armar qe exste m texto estrtamente descrtvo?

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Gabarito

Como a Lingüística estuda os sons da ala?

1. D

2. B

3. C

Distinguindo os sons da ala: consoantes1. B

2. D

3. C

Distinguindo os sons da ala: vogais

1. São o movmento da mandíbla, o movmento do dorso da línga e o arredondamento dos lábos.

2. Porqe a prodção de consoantes e vogas dere em algns aspectos, como o gra de severdadeda constrção (as consoantes envolvem constrção maor em sa prodção do qe as vogas, paraas qas a constrção é qase nla) e a área do trato tlzada para a prodção dos sons (as vogastlzam ma área restrta do trato em sa prodção, enqanto as consoantes são prodzdas emtodo o trato). Essas derenças, em prncípo, mpedem qe se empregem os mesmos parâmetrosna caracterzação dos dos grpos de sons.

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142 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

3. São vogas cja artclação estabelece qatro pontos extremos relatvamente à posção do dorsoda línga no nteror do trato e à altra qe a mandíbla assme para a prodção de m som.

Assm, a vogal prodzda com o dorso de línga maxmamente anterorzado e a mandíbla maxmamente echada – o elevada – é a vogal []; a vogal prodzda com o dorso de línga maxmamente posterorzado e a mandíbla maxmamente echada – o elevada – é a vogal []; a vogal prodzda com o dorso de línga maxmamente anterorzado e a mandíbla maxmamenteaberta – o abaxada – é a vogal [a]; a vogal prodzda com o dorso de línga maxmamente anterorzado e a mandíbla maxmamente aberta – o abaxada – é a vogal [ɑ]. As vogas cardnasservem de base para se caracterzar a artclação de todas as otras vogas.

Uma notação para os sons da ala

1. Porqe há menos letras no alabeto qe os sons da ala, do qe reslta ma alta de correspondênca entre ala e escrta, tal qe ma mesma letra pode representar mas de m som o, aocontráro, város sons dstntos podem ser representados por ma mesma letra.

2. No qadro das consoantes (plmôncas), o modo de artclação está dsposto nas lnhas e oponto, nas colnas. Além dsso, a sonordade é veclada de modo qe, nma célla, o símbolo àesqerda anota m som srdo e o da dreta, m som sonoro.

  No qadro das vogas, o movmento sagtal do dorso da línga está dsposto nas lnhas e omovmento de abertra de mandíbla está dsposto nas colnas. O movmento dos lábos é

normado de modo qe, nm par de símbolos para vogas, o da esqerda anota ma vogal nãoarredondada e o da dreta, ma vogal arredondada.

3. Não, o IPA tem empregos qe transcendem os lmtes da Lngüístca. Assm, múscos erdtos,por exemplo, tlzam a transcrção onétca para obter e veclar normações sobre a seqüêncade sons presentes nma determnada canção. Fonoadólogos, por sa vez, tlzam o IPA paraanotar as prodções de ses pacentes, com o objetvo de vercar qas são os desvos de tasprodções em relação a prodções de pessoas não portadoras de dstúrbos o patologas e,então, propor m procedmento terapêtco adeqado.

Prosódia1. A prosóda contempla atos qe se sobrepõem aos segmentos – o atos sprassegmentas –

no sentdo de qe eles não recaem apenas sobre m segmento dentro de m enncado, maspodem se espalhar por város segmentos desse mesmo enncado. Esses aspectos são: entoação,rtmo, acento, velocdade de ala, pasa, por exemplo.

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143|Gabarito

2. A entoação é a varação da reqüênca ndamental – reqüênca de vbração das pregas –no nteror de m enncado. Tal varação dá orgem às “crvas entoaconas”, qe marcam

derenças gramatcas entre os enncados enncados de ma línga, azendo derr sentençasnterrogatvas de sentenças assertvas o exclamatvas, por exemplo.

3. O oco é m ponto de m enncado prodzdo com maor ntensdade do qe o restantedesse enncado. Ele pode ntrodzr normações novas ao nterloctor o contrastar algmanormação no nteror de m enncado. Por sso, o oco tem nteração com o nível do sgncadoda lngagem, a semântca.

Análise acústica dos sons da ala

1. Um som é o ato resltante do movmento das partíclas de ar, promovdo pela ação da vbraçãode m corpo qalqer e qe se propaga através de ondas.

2. As prncpas característcas das ondas sonoras são reqüênca, ampltde e tmbre. A reqüêncaé o parâmetro qe nos dá o número de cclos (movmento completo do deslocamento) de mapartícla realzados nm determnado espaço de tempo, por exemplo, 1s (segndo). A ampltdeé o parâmetro qe nós dá a normação relatva ao máxmo deslocamento de ma partícla dear e o tmbre é o parâmetro qe nos permte derencar os sons entre s através da orma daonda desses sons. Assm, por exemplo, ma nota “lá” prodzda com gal reqüênca e ampltdeserá dentcada como dos sons dstntos por conta de sa qaldade (tmbre), qe decorre do

ormato das ondas qe a consttem.

3. O espectrograma é ma erramenta de análse acústca qe nos ornece a scessão temporal doseventos acústcos. Podemos obter as normações sobre a reqüênca dos sons da ala porqe essedado é dsposto no exo vertcal do espectrograma (o exo horzontal nos dá a janela de tempodentro da qal os sons vercados se realzam). A ampltde, por sa vez, é observável através dastonaldades de cnza do espectrograma: embora não possamos medr os valores da ampltde nessaerramenta, qanto mas escra or a tonaldade de cnza no snal acústco, maor a ampltde dessesnal. Inversamente, qanto mas clara a tonaldade, menor a ampltde do snal.

Caracterização acústica dos sons da ala1. A

2. B

3. C

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144 | Língua Portuguesa: Fonética e Fonologia

Estudo dos sons com unção comunicativa: onologia

1. A

2. B

3. C

Identifcando os onemas de uma língua

1. A

2. B

3. C

Fonemas do Português brasileiro: consoantes

1. A

2. B

3. C

Fonemas do Português brasileiro: vogais

1. A

2. B

3. C

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145|Gabarito

O texto descritivo

1. Um grande rso panda, de braços, pernas, patas, olhos, orelhas e ocnho pretos, contrastandocom o restante do corpo, branco, descança, pregçoso, sentado sobre ma pedra e com a cabeçaapoada sobre o tronco de ma árvore, qe cresce rente à pedra. A calma aparente da pasagemqe cerca o panda – com mtas árvores ao redor do rso – parecem nsprálo este momento dereposo.

  (Observação: essa é ma resposta aproxmada, obvamente. O mportante é qe a descrçãocontenha as característcas do anmal.)

2. É qalqer espéce de texto, como m blhete, ma carta, ma receta de bolo, m artgo de

 jornal, m romance.

3. Porqe nela se especcam qas são os ngredentes qe devem ser tlzados para azer obolo, bem como a qantdade de cada m e, eventalmente, até a seqüênca em qe devemser mstrados. As recetas ndcam, anda, por qanto tempo a mstra deve ser assada e antensdade do ogo qe deve assar a mstra.

4. Porqe a dstnção qe se az entre textos narratvos, descrtvos e argmentatvos (dssertatvos)tem ns ddátcos. Um texto acadaba apresentando elementos de mas de m tpo, emborapodendo predomnar m deles.

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152 Língua Por tugu esa I – Fonética e Fonologia