jarry, alfred. ubu rei. trad. ferreira gular.pdf

88
Co leção TE AT RO HOJE Di r eção d e DIAS GOMES Série A utores Estrangei ros Volume 2 0 VO LUMES PUBLIC ADOS: Série Autores  Nacionais:  .. Oduv aldo  Viann a Filho e Ferreira G ullar - SE CoRRER o BICHO  PEGA, SE FICAR  o BICH O COME Flávio R a n g e l e Millôr Fe r nand s - LIB ER DADE , LIBER DADE ( 2 ~ ed i ção) J orge Andrade  - SENHOR A N A CA D O LIXO S é rie A uto1· es Estra ng e i r os : Bertolt B recht - SR. P U N T IL LA E S E U C RIA DO MATTI Sófocles - É D IPO RE I Sófocles - ANTÍ GONA Jean Ge net - O BALcÃo  Jo a h n S t r indbe rg - SENHORITA J ÚL I A e 0 PAI William S h a k espea re - M ACBETH . CCdnor Cruise O'Brien - ANJO S AssASSI N os Série Te o ri a Histó ria: Paolo C h iarini - BERTOLT  BRECHT Bertol t B re c h t  - TEA T RO DIALÉTICO Er w i n Pi.s cator ~  T E ATRO POLÍTICO Cons tantin S tanisla vski A PREP ARAÇÃo DO A TO R (2?- e dição) , Constan ti n Stanislavski - A CONSTRUÇ Ã O DA PERSO NAGEM J erzy G r o towsky- EM Bu sc A D E UM T EAT RO POBRE P róxim o Lançamento Cons tantin S tanis lavski A C R IAÇ Ã O D E UM  P APEL J  I I A l f r e d J a r r y U B U  R E I o u O S P O L O N E SE S Dr a m a e m cm co atos T radução  de . FERREIRA G U LLAR i c i vili zaçã o br a sileira C o l ã o  E u d i n y r Fraga

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Coleção

TEATRO HOJEDireção de DIAS GOMESSérie Autores Estrangeiros

Volume 20

VOLUMES PUBLICADOS:

Série Autores  Nacionais: 

..

Oduvaldo  Vianna Filho e Ferreira Gullar - SE CoRRERo BICHO  PEGA, SE FICAR  o BICH O COMEFlávio Rang e l e Millôr Fernande s - LIBERDADE, LIBERDADE ed ição)

J orge Andrade  - SENHORA NA BÔ CA DO LIXO

S érie A u to1 ·es Estrangeiros:

Bertolt Brecht - SR. P UNTIL LA E S EU CRIADO MATTISófocles - ÉDIPO RE ISófocles - ANTÍGONA

Jean Genet - O BALcÃo Jo ahn Strindberg - SENHORITA J ÚLIA e 0 PAI

William Shakespeare - MACBETH .CCdnor Cruise O'Brien - ANJOS AssASSINos

Série Teori a e História:

Paolo Chiarini - BERTOLT  BRECHTBertolt Bre ch t   - TEATRO DIALÉTICOErwin Pi.scator ~   TEATRO POLÍTICOConstantin Stanislavski - A PREPARAÇÃo DO ATO R(2?- edição) ,

Constan ti n Stanislavski - A CONSTRUÇÃO DA PERSO

NAGEMJ erzy G ro towsky - EM BuscA DE UM T EATRO POBRE

Próximo Lançamento:

Constantin Stanislavski A CRIAÇÃO DE UM  PAPEL

I

II

A lfr ed J arry

UBU  REIou

O S P O LONESES

Drama em cm co atos

Tradução   de .FERREIRA G ULLAR i

c ivili zação

brasileiraC oleção 

Eu dinyr Frag

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,

Título   do  original francês:UBU ROI  ou Les Polona isPub li cado   em  língua   portuguêsa medi an te acô rd o firmado com 

La Societé de s  Édit ions Grasse t  e  Fasque lle . 61, Rue des  Saints-Pêres , Paris, VIe  

Montagem   de  capa :DOUNÊ

Diagramação: ·LÉA CAULL IRAUX  

Direi tos  universais  para a  lín gua  portuguêsa  adqui ridos pela EDITORA  CIV IL IZA ÇÃ O  B R A SIL E IR A   S.  A.Rua  da Lapa, 12 0 - 12Q  andar  RIO DE JANEIRO, 

que  se   reserva  a  propr íedad·e des ta tr adução .

1972  

Impresso  no   BrasilPri nte d  in   Brazil  

.. . ..,·, ... ... 1 \..l r.- .t .... . ..._

' · 

I

i

I j 

J·íiII

i

!

ALFRED ]ARRY  na  época em   qu e escreve u   Ubu  Rei. 

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Happen ing Ubu

ÜT TO MARIA CARPEAux

Ü  DI A 10 de de zem bro de 1896 é um a grande da tapa   história do te atr o francês - com   algum exagêrodir-se-i a  qu e é mesmo um a data histórica . Lugné-Poe, o grande renovado r do teatro parisiense, já tinha surpre -

. en dido a gente com  representações de Pel léas et Mélisande,  de Maeter l inck , de  Rosmersholm, de Ibsen, daSalomé,  de Wilde, obras que passavam en tão po r exces

sos de modernidade. Naqu el e 10 de de ze mbro convidou a crítica hostil e o pú blico desconcertado para o Théâtr ede l'O eu vre , prometendo uma peça  inédi ta de autor des

conhec ido: Ubu -ROi, de um certo Alfred Jarry. O  título,lembrando vagamente o Oedipe-Roi, de Sófocl es , pareci a anunciar uma t ragédia c lássica . Rea lmente,  ao le

vantar-se o pano, os espectadores viram as co lu nas de

um templo grego, embora com a palavra École na ar-

ix

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um a peça bur le sca contra  instituições sagradas , defendi das po r todos os podêres? U m pensador alemão co nt emporâneo,  Gu en ther Ande rs , explica: ((Happenings 

são encenados por aquêles qu e não têm poder nenhum

e não poss u em ou ainda não  possuem fôrça para . mo-

dificar radicalmente ou abolir instituicões execráveis .

São  sucedâneos de ação verdadeira, às vê ze s atos de de

sespêro, embora parecend o  humoríst icos. O s que pos

suem ou r epresentam o poder nunca  en ce na m happe-

nings (embora suas  cerimônias, des files , proc is sões erecepções se  apres.entem tão ab su rd a s como happenings).

Não precisam. Mas tampouc o  po de m . Pois o ex ercíciodo po der torna tão lamentàvelmente sérios os podero

so s qu e ficam incapazes de   co mp re e n d e r o humor desta

co isa ou de qualquer co isa" - e, para citar outra vez

os versos de Racine: insistem  em   co me ter atos d e "im-

pr udência e ê rr o , precedentes  fu nestos da ca ída do s

re is" . A resposta de Jarr y só podia ser esta: " M erde!"

Ubu-..Roi é uma "coisa" humorística daquela ca te goria. Seu v a lo r literário po de se r discutido e at é contestado . Mas fica ac ima de qua lquer   dúvida a atuali-dade de UBu-Ro r.

xvili

I

I

J.

IUBU. REI

ou4I

I OS POLONESES

I1

1

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Retrat o fiel do Sr . Ubu.

I

lI

I.i

:./ .

Ce Livre=-

es t dé.di é

à

MARCEL SCHWOB

Adonc le Pére Ubu

hos ch a la poire, do ntfu t depuis   nommé par  le s Angloi s

Shakespeare, et avezde lui sous ce   nommaintes  belles tragoe-dies par esc r ipt.

* Reprodução em francês da dedic atória do autor

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J · '

Rep ro dução  da capa do lançamento de Ubu R ei.

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Outro retrato do Sr. Ubu .

r . 

Personagens 

PAI UBu

MÃ E UBu

CAPITÃO BORDADURA

REI VENCESLAu

RA INHA  ROSAMUNDABOLESLAU

LADISLAU

BUGRELAU

GENERA L 

LASCYSTA:NISLAU  SOBIESKIIMPERADOR ALEXISG TRÃoPILACOTICA

CONJURADOS E SOLDADOS Po vo

MIGUEL FEDEBOVITCH

NOBRES

MAGISTRADOS

C O N S E R E I ~ O S .FINANCISTAS

GUARDAS DE FINANÇAS CAMPONESES

EXÉRCITO Russo

EXÉRCITO POLONÊS

Os   GUARDAS DE MÃE UBU

UM CAPITÃO

7

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I

.,

8

UM URSO

0  CAVALO DE FINANÇAS

A MÁQ UINA DE DECAPITAR

A EQ UIPAGEM

0 COMANDANTE 

ALFRELJARRY  em 1

906. Desenhode

F.-A. Cazals.

9

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. h.

l

Primeiro Ato

Cena I

Pai Ubu , Mãe Ubu.

PAI UBU

Merdra!

MÃE UBu

Que coisa mais  engraçada , Pai Ubu. Tu   és um grosso!

PAI Usu 

Mãe U b u , Mãe Ubu, ainda te  mato de pancada!

MÃE UBu

Não  é a mim que deves matar, ma s a outra pessoa .

11:

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PAr UBu 

..Juro  pelos  meus  chifres*  que  nao  estou  enten

dendo! 

MÃE Usu 

Vais me dizer ,  ago ra , que te  consideras  um homem -realizado .

PAr Usu 

.Por  meus  ch i fres ,  merdra, madame,  claro  que me 

considero. Ou pe lo   1nenos,  poderia me  considerar: 

.capitão  de  D ragões,  of ic ia l   ele  confiança  do  re i 

Venceslau,  condecorado  com  a  Ordem  d a  Aguia 

Vermelha  da Polônia  e  antigo  rei de  Arag_ão,  que 

.queres mais? 

MÃE Usu 

- O  quê? 1 Depois  de  teres sido rei de Aragão,  te dás 

. :agora por  em passar em revista cinco de-

De  par  ma chandelle  ver te  é a expressão  de  Jarry,  intraduzivel, 

·referê ncia   a  uma  peça   escrita   por  ê le  quando  es tudan te .   E ssa  ex

·pressão  aparecerá  várias  vêzes  n a  p eça ,  como  uma  esp écie   de  id ios

sincrasia   de  Ubu.  Pode-Se  admitir  outras  in tenções  d e  Jarry, como 

re ferência a  tenir  la  clumde/le, agir  como  cômo  manso.

.1,2 

!

·'· 

zenas  de  lacaio s   armados  de  facão-de-cozinha? 

Isso quando p ode.ria s  pôr em cima  cyca,  depois 

d a  coroa  de  Aragã o, a  coroa  da  Polon1a! 

PAr  Usu 

Não  sei  aonde pretend es  chegar. 

MÃE Usu 

De  burro que  és! 

PAr Usu 

Mas  por meus  chifres,  M ã e  Ubu , o  rei Venceslau 

ainda está aí v iv inho   da silva!   E, mesmo que mor

r a ,  tem  fi lhos ,  urna  legiã o  d e  f i lh os . 

MÃE Usu 

E  quem  te  impede  d e  trucidar  tôda  a  família  e 

usurpar  o  trono? 

PAr U s u 

Escuta aqui, Mãe  Ubu:  mais um  insuito   dês ses  e 

te visto um pijama de madeira. 

MÃE U su 

Infeliz,  se  me vestes um pijama de madeira, quem 

é  que  vai  remendar  teus  fundilhos? 

13 

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PAr  UBu 

Ih , é mesmo ! Mas e daí? Minha  bunda  não  é me

lho r que  a  dos  outros. 

MÃE UBU 

Pois  se  essa  bunda fôsse minha, t ratar ia  de  se ntá

la   n um  t rono.  Poder ia s aumentar  in fdnita mente tu as posses,  comer li ngüiça   qu ando  te desse   von

tade e  passear  de  côche pelas  ruas . . .

PAr  UBu 

Se  eu fôs se  rei   de nôvo , mandaria   faze r  pra  mim  

uma  enorme  capelina  igual  àque la  que tinha em 

Aragão  e que os vigaristas dos espanhó is me  rou

ba ram descaradamente . 

MÃE UBU

P oderia s comprar um gua rda-chuva  e  uma japona 

comprida  at é  os  calcanhares. 

PAr  UBu 

Entrego  os  pontos, não  resisto  à  ten ta ção .  Aquêle 

velh aco :de merdra , merdra de ve lhaco , se o  pegasse so zin ho  num  bosque, ah, êle  passar ia um mau 

quart o de hora!  

14 

I(.

MÃE  UBU 

Isso  sim, Pa i Ubu , · agora fal as  como  um  homem: 

de verdade!

PAI UBU 

Não,  não dá pé!  Eu,  capitão  de  Dragões , matar  o 

re i da Polônia? Antes a  morte! 

MÃE UBU 

(A   parte.) Que  merdra!  (A lto.)   Dêsse jeito  vais  

continuar miserável  como  uni ra to .  

PAI UBU

Pela pança   de  Deus,  por meus chif re s, prefi ro   se r 

um  m is erável rato , magro mas bonz inho ,  do   que  

ser  ri co  como um rato  gordo  e  malvad o.  

MÃE  UBU 

E  a cap elin a, Pai Ubu?  e  o guarda-chuva? e a  ja

pona? 

PAI Usu

Ora, não  enche ,. Mãe   Ubu!  (Sai batendo a  porta .) 

MÃE UBU 

Vôtre, merdra, não está  fácil .dobrá-l o, merdra , mas

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tenho  certeza que  o conseguire i.  Graças  a Deus  e 

a  mim mesma, den tro   ta lv ez  de uns oito dia s,  se.r;ei rainha da Polônia .

16;

I .1

1,1

Cena   I1 

A c.ena  se  passa  numa  sa la da casa  de  Pai Ubu 

o nde  a  mesa  está   posta para um  banquete . 

Pai  Ubu, Mãe  Ubu. 

MÃE Usu  

Noss os convidados  estão  demorando  muito.

PA r Usu 

É  mesmo,  por meus chifres!  Morro  de fome. Estás

horr enda,  Mãe Ubu. Será  que  é por que vamos re-

ceber vis itas ho je ?  

MÃE Usu  

(D ando  de  ombros .)  Merdra! 

17  

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PAI  UBU

(Pegando  um fr ango assado.)  Pux a, que fome!  Vou 

dar uma denta da  nesse   bi cho .  Parec e frango.  Não

está m al.

M Ã E  UBu 

Que es tá s faz en do , de sg raç ado ?  Que é que os con-

v id ad o s  vã o comer? 

PA r UBu 

Sob ra rá bastante pra  êles.  Não to"carei em mais

nada. M ãe   Ubu,  dá  uma   espiada pela janela,  vê  

se  já  estão chegando.

MÃE  UBU 

(Chegando  à janela .) N em   sinal.  (Enquan to   is so, 

Pai  Ubu rouba um  pedaço de vitela.) 

MÃEUnu .  ·

Enfim, o capi tão  Bordadura* e seus

Que estás ·comendo aí, Pai Ubu? ·

* Bo rd adu ra , Bordu re . Tê rmo de H er á l<lica:  fa ix a estreita que c on -

to rna o escudo . · · ·

18

PAr UBu

Eu? Na da, um pedacinho de vi te la .

MÃE UBU

M eu Deu s, a v i te la ! a  vitela ! Êle co m eu a v it e la !  

Soc or ro!

PAr UBu

Ju ro por  meus  chüres, que vou · te   ar ranca r  os  · olho s!

(A bre -s e a  por ta.)  

19 

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Cena IH 

Pa i Ubu, Mãe  Ubu, Capitão  Bordad ura

e  seus compa nh eiros . 

MÃE Uau 

Bom dia , senhores,  já estávamos impàcientes. Sen -tem-se  por   favo r.  

BoRDADURA 

Bom dia, madame.  Mas  onde es tá   Pai Ubu? 

PA I. Uau

Aqui m esmo ,  meu  ca ro :  C re do  em  cruz, po r meus 

chif res, até  que  não  sou tão magro assim. 

20 

i.  

BoRDADURA

Bom dia , Pai  Ubu.  Sentem-se , rapazes . (Sentam-se 

todo s. ) 

PAr Uau 

Êta, um  pouco mais   e  a cadeira  se  desmanchava.

BORDADURA 

1\.fas,  Mãe Ubu,  o  que   é  que voc ê  tem de   bom  pra nós? 

MÃE Uau 

Ouçam  o menu. 

PAr Uau 

ôba,.  is so   me in  te ressa .

MÃE Uau 

Sopa  polonesa , costelas  de  ratrão*,  vitela, fra ngo, 

pâté de  cachorro , sobrecu  de  peru,  compota  russa . . .  

* C6tes   de  rastron.  Nossa traduç ão  é arb itrária   em  sua  re fer ênci a 

a ra to .  A  expr essã o  .de  Ja rry al ude   po ss ivelmen te a um  co leg a de

giná sio . 

21

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i.I

:!Ii

PA11JBU 

t , 11 te .  O u  ainda há máis?: . o ba5 "'

Suponho que seJa 

. lJÃE 1JBU 

tas carn eBomba, salada, fru  ', 1 merdra.

couve-flor a a

. PA I l]BU 

cozida, topinambor,

. · u .um paxá pra arcar com .  e eu so

·E · você pensa qu' ?

tamanha despesa·

tJBU

; :,.,pecil.A ,  urn .u•·Não liguem, ele e .

PAI tJ.su

f·ar rneus den tes nas tuas

, u vou  a lEsp era a1 que e .

canelas.

1vfÃE l].BU

. ,.rhu É a sopa.

· Pal u"   ·Coii?-e primeuo, .

PAI l].sU  ..

Ai, velhaca!  Que troço

22

; , . , IftlJJ.••·

• 

! ·

BORDADURA

·Realmente , não está bom.

MÃE UBu

Cambada de ju.d eus, que u ~ r e m mais?

PAr Usu

(Batendo na testa.) Te nho uma idéia. Volto já .(Sai.)  

M Ã E UB U

Senhores, vamos à vite la .

BORDADURA

Deliciosa, já terminei.

M Ã E UB U

Agora, aos sobrecus.

BORDADURA 

Um sabor requintado! Viva Mãe Ubu!

TODOS

Viva Mãe Ubu!

23

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PA r UBu

(De volta.) Daqui a pouco, estarão gritando viv a

Pa i Ubu. (T raz uma enorme vassoura que sa cod e

sôbre a mesa do banquete.)  

MÃ E  UBu

Que  estás fa zendo, m ise rável?

PAI UBU

Provem, provem. (Vários provam  e  caem envene-

nados.)

PAr UBu

Mãe Ubu, p a s s ~ as costele tas de ratrão, que eumesmo sirvo.

MÃE UB U

Tom a.

PAr Usu 

Pra fora,  todo mundo! Capi tão Bordadura, quero

falar  com você.

24  

• 

Os OUTROS 

Mas ainda não  c ome m os.

PAr UBu

C om o não comeram?! Pra fora todos!  Bordadura.você fica (Ninguém se move.) 

PAr Usu

Não vão em bora, é? Juro por meus chifres que vourebentá-lo s a golpes .de costele ta  de ratrão. (Co-

meça a jogar costeletas  nêles.)

Tonos ·

Pára  com isso! Socorro ! A judem-no s! Desgraça!Êle me mata!

PAr Usu

Merdra, merdra, merdra. R ua ! Estou no meu papel .

Tonos

Salve-se quem puder! Pa i Ubu miserá ve l ! t a rado !

traidor! tr atante!

. 25

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26

PA r  UBu

E nf im, se foram! Agora posso   respirar, mas comi

muito ma l . Vem cá , Bordadura. (Saem os dois comMãe Ubu.)

Cena IV

Pa i Ubu, M ãe Ubu, Capitão Bordadura.

PAI UBu .

E  entã.o, capitão,  comeu bem?

BoRDADURA

Sim, bem, menos a merdra. 

PAI  UBU

Ué, -até  que . a ..mer_dra .não . estava .r.uim.

BORDADURA 

.Gôsto não se discute.

' .

. . l

j. '

27

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PAr Uau 

Capitão Bordadura, estou dis posto a fazê-lo D u q u e

de Li tuânia.

BORDADU R A 

Mas como? Julgava que o senhor esti vesse na . . .merdra, Pai Ubu.

PA r Uau

Modéstia à parte, capitão, .d entro de alguns  d ias

reinarei sôbre a Polônia .

B ORDADURA

Vai matar Venceslau?

PA r Uau 

Até que êsse velhaco nã o  é de todo burro,  adivinh ou .

BORDADURA

Se se trata de  mata r. Venceslau, pode contar ·- co

migo. Sou seu inimigo mortal e respondo por meus homens. 

28

PAr Uau

(Jogando-se sôbre êle pa ra abraçá-lo.) Ah, comogosto de você, Bordadura!

BoRDADURA

Não, Pai Ubu, você fe de demais . Nossa m ã e ! Nun-ca toma banho?

PAr Uau

Raramente .

MÃ E Uau

Nunca.

PAr Ua u

Pi so te u pé , ouviu?

MÃE U au

Merdralhão!

PA r UBu

Bordadura, estamos  acertados. Pode ir . Ju ropor me us chifres , pela Mãe Ubu, qu e fa rei de vocêDuque .de Lituânia.

29

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MÃE U B U

Mas . . .

P A I U B U

Cala essa bôca, meu anjo . . .

30 . : ..  ' ,I

(Saem.) C ena V

Pa i Ubu, Mãe Ubu, um mensageiro.

PA I UBu

Que  deseja o senhor? Vá-se embora e nã o cha teie.

ME NSAGEIRO

Senhor, o  re i ~ d a chamá-lo.

( O mensageiro sai . )

PAI UBu  

Que  merdra! jarnicotonbleu* , po r meus chifres,

* Ja rnicotonhleu  - ja rni,  espécie de jurnme nt o  que os autores cô

micos fr anceses punham  na bôca   dos camponeses, co rruptela da expressão  je   rénie (eu renego) acrescida da pa lavra   ble u po r d ieu. H e n-

31 

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fu i descobert o , vou ser deca p itado, ai  m eu  Deus,coitado de mim!

MÃE Us u

Que homem  frouxo! e o  tempo urge .

PAI Us u

A h, já   sei: vou dizer que fo i coisa de  Mãe Ubu ede BOJ."dadura.

M Ã E Usu

A h, seu grande PU, se tu te atraveres . . .

PAr Us u 

Se me a t revo? E vou agora mesmo.

(Sai. ) 

M Ã E   Us u

(Correndo atrás dêle.) Pai U bu, Pai Ub u, vem cá!Te dou lingüiça, Pai Ubu .

(Ela sai.)

riqu.c IV tinha  a ma n i a de exclamar a todo momento jarnidieu (re

nego Deus). Seu confessor , o' Pa dr e Coton, mostrou-lhe a inconve

niência da expressão, pe dindo-lhe qu e passasse a exclamar jarnicoton.

(renego   C oton) . Jarry coloca ao final a p;ilavra  ble u - jar!licoton -

bleu - reafirmand o a  heresia que o pa dre Coton quis evitar e fazen do a lu são a Cordon Bleu, célebre ord em da Cavalaria.

32

PAr UBu

(Fora de cena.) Vai à merdra! Não vais mais botarbanca eomigo, .sua lingüiça!

33

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Cena VI

Palácio do Rei.

Rei V ences lau, rodeado de oficia is , Bordadura, os  filhos

do  rei: Boleslau, Ladislau e Bugrelau. Depois, Pa i Ubu.

\

PAI UB U

(Entrando.) Sabeis muito be m que não tenho nadaa ver com isso. Foi M ãe Ubu e Bordadura.

RE I  

Que  há contigo, Pai Ubu?

\

BoRDADURA

Bebeu demais.

34

IREI

Como eu, esta manhã.

PA I UBU

Ê, es tou um pouco tonto, ab usei do vinho francês.

REI

Pai Ubu, quero  recompensar-te pelos incontáveisserviços que prestaste como capitão de Dragões ,

fazendo-te hoje m esm o  condé de. Sendomi r .

PA r UB u

Majestad e, nao sei como agradecer-vos .

REI

N ada  tens qu e agradecer , Pai U bu , e este jas ama

nhã .de manhã na solenidad e de revista  às tropas.

PAI UB u

Lá estaTei, mas c e i t e , por favo r , esta flauti nha depresente .

(M ostra ao rei uma f lauta)

35

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REI 

Que  vou  fazer  com  uma  f lau ta ,   Pai  Ubu?  Darei 

a  Bugrelau.

JO VEM  BUGRELA U 

Êsse  Pai Ubu  é  um  boboca.

PAr  Ua.u

E  agora me arranco. . . (Cai,   ao   se  voltar.)  Ui,  ai! 

Socorro!  Por meus chifres!  Acho  que rompi os  in-

testinos  e  quebre i  a  bunda!

REI 

(Levantando-o.)  Estás m achucado ,  Pai Ubu? 

PAr Uau 

Creio  que  s im ,  majestade,  vou  morrer na  certa. 

Que vai ser de  Mãe Ubu? 

REI 

Não  se preocupe,  o  sustento  dela  estará  assegura-

do,  Pai Ubu.

36 

.. ) 

fi

PAI Uau 

Sois   a  bondade  em pessoa.  (Sai.)  É,  rei Venceslau, 

mas  n em  por   isso   escaparás da  n1orte. 

37  

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C ena VI l

Casa   de Pai Ubu .

Girão, Pila , Coti ca, Pai Ubu, Mãe   Ub u, conspiradores e 

soldados, cap itão Bor dadura.

PAr UBu 

C aro s am igos , já é tempo de es ta belecerm os o  pl a

no da conspiração. Cada um deve dar sua opinião. 

D are i  a minha prim eir o , se os  senhores   permiti

rem . 

BORDADURA  

Fale ,  Pa i Ubu.

PAr UBu

Pois bem , meus am ig os, sou de opin ião  que se deve

simplesmente  envenenar  o  rei, misturando-lhe  ar-

38 

• 

I....

sên ic o na com ida.   Quando  se   empan turrar , ca irá

m orto , e eu me tornarei  rei   da  Polônia. 

Tonos

Assim   também não,  é muita sor di dez!

PA I UBu

Ué, não gostaram? Então  que  opine o Bordadura.

BoRDADURA 

N a minha opinião, devem os matá-lo co m um golp e

de espada que o ab ra ao m eio , da cabeça à  cin tura . 

Tonos 

M uito bem ! Isso é ag ir com  nobreza  e bravura . 

PA I UBu

E ·se êle  ca ir de  pontapés em você s? ·Estou  melem

brando agora  que par a pass ar em  revista   as   tro

pas, êle   usa uns sapatos de fer ro   que podem fazer

estr ago  na canel a  dum .  Eu dev ia era denunciarvoc ês   todos para m e saf ar  .d êss e  ne góci o  su jo, e 

estou cer to  de  que  o re i ain da me  daria dinhei ro  

por isso .

39 

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MÃE  UBU 

Traidor, covarde ,  v ilão, sórdido  in te resseiro ! 

Tonos 

Vamos  cusp ir   nê le , pessoa:!! 

PAr UBu 

Ca lma, senhores , muit a calma,  se   não  querem   vi

sitar meu papo*. Está bem,  consinto  em me  expor 

a  to.dos  os  r iscos  por  vocês.  Sendo  assim ,  Borda

dura, tu  te   encarrega s  d e abrir o  r ei  ao  meio.

BORDADURA 

Não  seri a  m e lhar nos  jogarmos ·to dos  ao  mesmo tempo  em· cima  d êle-,  berrando   e  lhe  dando   .d en

tadas? Assim,  seria m a is   fácil  de  arr astar conosco 

a s  tropas. 

PAI UBU 

Está   bem.  Eu  me  encarrego  de  pisar  n o  pé   dêle.

Vai  achar ruim e  então · eu  lhe  r esponderei :  MER

DRA  - e ·essa   será  a  -senha para  que  vocês  ata

quem . . 

*  Traduzimos  m es poches  por   meu  papo,  que  é  uma  ac 7p ções'

pa lavra.  preciso  ter  sempre  em  mente  que  Pai Ubu   nao  e  prôpna

mente   um  hom em , m as  um  ser mons tr uoso , pré-humano (Ubu  vem 

40 

MÃE  UBu 

Sim,  e  logo  que  êle  es teja  morto,  pegarás  o  cetro 

e  a  coroa. 

BoRDADURA 

E  eu  então sairei  com meus  homens  em  pe rsegui

ção  à  fam ília   real. 

PAr UBu 

Certo ,  e  te  rec01nendo  especia lm en te  o  j ovem  Bu

grelau.

(Saetn.) 

PAr UBu 

(Correndo a trás  dêle s  e f azendo-os voltar . )  Senho

res ,   esquecemos  uma  cer imônia  ind ispensáve l. Te

mos  de  jurar  que  todo s   nós  lutaremos  com  des

prendimento. 

BoRDADURA 

Como vamos  fazer  o  juramento  se não há um pa-

dre  aqui? 

de  Ybex, morc êg o ,  e de  Hibou , môcho). A  palavra  poclte  (bô lso , 

papo)  guarda  na  língua  orig in a l su a  dupl a significação  já  que  Ubu  

rraz   sempre  seu   "bastão de  f ís ic a"   met ido  no  bôl so,  con fo rme   as  in

dicações  e  os desenhos   de  Ja rry.

41 

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PAI UB U

Mãe Ubu fará as   vêzes .do pa dr e.

Tonos

Bem , vá lá .

PAI U BU

Ju ram qu e matarão o  rei? .

Tonos

Juramos. Viva Pai Ubu!

4Z

Segundo A to

Cena  I

Palácio do Rei .

Vences lau , a rainha Rosamunda, La dt.slau e Bugrelau.

RE I

Senhor Bugr elau, fo i muit o  impertinent e a  ma

ne ira como vos  comportastes  es ta manhã co m o

Sr. Ubu, cavaieiro de minhas Ordens e conde de

Sendomir . Por essa  razão , proíbo-vos de compare

cer, hoje, à cerimônia de revista às tropas. 

RA.!NHA

Em compensação, Venceslau , nã o te r e i s lá bastante

gente  de vossa familia para vos defender.

.43

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REI 

Senhora,  jamais  volto  atrás  em  minha  palavra. 

Vossas  tolices  me  aborrecem . 

BUGRELAU 

Senhor meu  pai, submeto -m e  às  vossas  ordens. 

RAINHA 

Quer  dizer,  Senhor,  que  es ta is   mesmo  disposto  .a  

ir  a  essa  cerimônia? 

REI 

Por  que  não? 

RAINHA 

Não vos  con tei  o outro sonho que  tive em que  é re is  

trucidado e jogado  no Vístula?  E  que  uma  águia 

igual à  que  figura nas armas  da Polônia colocava 

a  ·co roa   na cabeça  dêle? · 

REI 

D êle  quem? 

RAINHA 

Pai Ubu. 

44 

REI 

Que loucura!   O  Sr. Ubu é um fidalgo muito  .digno 

· que ·obedéce · cegamente  às minhas  ordens. 

RAINHA  E  BUGRELAU 

Quanto  equívoco! 

REI 

Cala essa   bôca,  jovem porca lhão . Quanto à  senho-

ra, para vos  mostrar  quão   pouco  temo o  Sr.  Ubu, 

irei  à  revista das  tropas  como  estou  aqui,  sem   ar-

mas e sem  espada . 

RAINHA 

Fatal  imprudência , não  tornarei  a  vê-lo  vivo . 

REI 

Lad is lau ,  Boleslau,  v inde  comigo. 

(Saem.  A  rainha e Bugrelau vão até a  janela. ) 

RAINHA  E  BUGRELAU 

Que Deus  os   guarde  e  o  grande  São  Nicolau. 

45 

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RAINHA

Bugrelau , vem com ig o à capela . V am os rezar por

teu pai e teus i rmãos.

46

Cen a II  

Pátio de revistas.

Exército polonês, Rei , Bo leslau, Ladislau, Pai Ubu,

Capitão Bordadura e seus homens, Girão,

Pila, Cotica*.

RE I

Nob re   Pai Ubu, acompanhai-me com vossa comi-

t iva para i ngpec ionarm os as t ropas . 

PAr UBu(Aos seus. ) Atenção, vocês aí. (Ao 1·ei.) Vamos ,

majestade, vam os. (Os homens de Ubu  cercam o 

re i. )

* Giron, Pile, Cotice são têrmos de Heráldica.

47 

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REI .

Êste é o regimento de guardas mon t ados de Dan -zick. U m a tropa exem pla r , na minha opinião.

PAr Uau

O Senhor acha? Pois m e parecem m en digos. Olhe

aquêle ali. (Ao   soldado.) Seu tratan te, h á quanto

tempo não faz es a  barba?

REI

Mas êsse soldado está impecável . Que há com o senhor, Pai Ubu?

PA r Uau

I sto ! (Pisa-lhe  o pé . )  

REI

Miseráve l!

PA r UBu

MERDRA ! S o ldados, comigo!

BORDADURA

Hurrah! A vançar! (Todos atacam o .r ei , um Palha-,

din o* se exalta,. )

* Palotin. M ont age m jarr in iana da pa lava palati n (pa lad ino) compalot (boçal) .

48

•REI

Ai,  So corro! Santa   Virgem, es tou   m orrendo.

BOLESLAU

(A Ladislau. ) Que se passa? Lutemos.

PAI UBU

É minha, a coroa! Agora, os outros!

BORDADURA

Abaixo os traidore s ! (O s filhos fogem) todos os pe7·-seguem. )

49

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Cena III

A. rainha e Bugrelau.

RAINHA

Vejo qu e  meus temores  eram infundados.

BUGRELAU

Claro. A  senhora  não tinha  motivo algum  para

preocupar-se.

(Vem   de fora uma zoada assustadora.)

BUGRELAU

Veja! Pai  Ub u e seus ho men s perseguem meus dois

i rmão s. 

5()

RAINHA

D e u s do   C é u! Virgem Santa, vão alcançá-lo s !

BUGRELA U

O exército inteiro acompanha Pai U bu . O re i não

está mais  lá . Que .desgraça! Socorro!

RAINHA

Mataram Boleslau! Uma bala o atingiu.

BU GRELAU

Ladislau!  (Êle se vo lta.) C o r a g e m, defende-te!

RAINHA

Oh! Êle est á cercado.

BUGRELAU

Veja! Bordadur a acaba .de cortá-lo em dois feitouma salsicha.

RAIJ:ofHA

P o bre de mim! Os rebeldes invadem o palácio,  sob em as escadas.

(O tumulto aumenta .)

51

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..

RAINHA E BUGRELAU

Deus do céu, defendei-nos!  

BUGRELAU

Arre , Pa i Ubu! Se eu pegasse êsse m iseráve l . . .

·,

52

Cena · IV

Os mes mos. A porta é ar rombada. Pa i Ubu en tra

seguido dos sublevados.

PAr UBu

Bugrelau, que pretendes fazer a.gora?

- BUGRELAU

Juro que defenderei minha mãe até à  mor te ! O

primeiro que de r um passo à frente morrerá!

PA I UBu

Bordadura, Bordadura, estou com ~ ê d o ! Que ro  irem bora .

UM S O LD A D O

(Avança.) Entrega-te, Bugrelau!

53 "

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BuGREL AU

Toma, atrevido!  Ê o que mereces! (Pa rte-lhe o  crâ

nio.)

RA IN HA

Boa , Bugrelau, isso mesmo! 

VÁRIOS  AV ANÇ AM

Bugrelau, prometemos  poupar-te a v ida .

BUGRELA U

Ban didos, bebe rrões , mer cenário s  sórdidos !

( G ir a a  espada  em   tô rno, provocando um

massacre.)  

PAI Unu

N ossa  !Vou  me ar rancar daqui de  qualquer je i to.

BU GRELAU

Foge, m ·ãe, sa i pe la escada secreta .

RAINHA

E "tu, meu f i lho , e tu ?

54• ! .

BUGRELAU

Irei  já . 

PAI Unu 

Pe guem a rainha,  ela está  fug indo .  ·Quan to ·a ti , 

miserável!

(Avança para Bugrelau . )

BUGRELA U

D eus é  grande !  Agora  me vin go! (D escose-l he a

ba rr iga com  terrível golpe de espada.) Estou indo,

mãe!  (Desaparece pe la  escada secreta.)

55

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Cena V

Uma caverna na s montanhas.

Bugrelau  entra seguido da ra inha.

BU GRELAU 

Aqui estaremos segur os .

RAINHA

Creio que s im.  Bugrelau, ajuda-me. (Ela ca i na

neve.)

BUGRELAU

M ãe; ·estás· te sentindo mal?

56 .

t

I

RAINHA

Estou muito doente. N ão terei mais que duas horasde vida.

'

B U G R E L A U

Que  es tás sentindo ,  mãe? · Terá sido o fr io?

RA INHA 

Como queres qu e eu   re sist a  a. tantos golp es? O

re i assass inad o ,  nossa família destruída, e tu , re-presentante da mais nobre raça que já empunhou

uma espada, forçado a se esconder na s montanha scomo um  bancl ido.

BUGRELAU

E  por cu lpa de qu em , m eu Deus?  de quem?  Dêsse

abjeto Pai  Ubu, aventureiro saído não se sabe de

on de , crápula dos mais vi s , mísero vagabundo !

E quando   penso que meu  pa i o conde corou e f êz

dêle conde e que, no dia seguinte, êsse bandido não 

teve pe jo de erguer  o b raç o co ntra ê le:

RA INHA

Oh, Bugrelau! Quando   me lembro o  quanto éra

mos felize s antes da chegada de Pai U b u ! Ma s ago -ra , ai  de mim , tudo mudou !

,57

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BU GRELAU

C a lm a .  Tenhamos esperança e nao renuncie m os

jamais aos nossos di rei tos .

RAI NHA

É  o que deves fazer, meu caro filho, ma s para mimestá tudo terminado, não  .verei um   nô vo di a  d e

fel icidad e .

BUGRELAU 

M ãe, que tens? Ela empalidece, d e s m a ia , socor ro !

M a s estou num deserto! Oh , me u D eus, o coração

dela parou de bater. Est á mo rta   .Será poss ív e l?

Mais um a vítima de Pai  Ubu. ( Esconde  o rosto nas

mãos e cho ra.) Oh, Deus, como é terrível  se ve rsõz inh9 aos quatorze an os e tendo s·ô bre os ombros

o encargo  de um a terrível vingança! 

( Ca i em pr ofu nda prostração. Enquanto iss ·o,

as  alm as de V encesla-zl, Boles lau, Ladisla u e

Rosamunda, segu idas de seus ancestrais, e11r

t ram na caverna. O mais velho se aproxima de

Bug relau  e o chama docemente . )

BUGRELAU

Q u e v e jo ?  Minha família inteira, meus ances-

tra is. . . É um milagre!

58

• 

ll

'SOMBRA

B:zgre lau ,  quando vivo fui o Sr. Mathias de Ko-

rugsberg, o p r im eiro re i e o fundador de   no S6 a

C asa . Conf io - t e a missão de nos v ingar . (Entrega-

lhe U1 7'ta enor_me esp ada.) E que es ta espada que.

te en trego na o  ten ha repouso en quanto v iver  ()l  

usurpador.

(Todos desaparecem e Bugre lau fica só em ati-tude   de transe.)

59

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Cena  VI 

Palácio   do   Rei.   · 

P ai  Ubu, Mãe  Ubu  e 

Capitão Borda dura

PAI UBU 

.N ão , nem um tostã o! Queres m e arruin ar por cau

.sa dêsses   idiotas? 

BORDADURA 

Entenda, Pai Ubu,  o  povo espera   algo. de bom, um 

.ges to   generosó . 

MÃE UBU 

•Ou mandas  dar  carne  e  ouro   a o  povo, agora,  ou 

·es tar ás   deposto   em  menos  de  duas  horas .

.60

• 

l:,\.'I  

-i

PAr UBu 

Carne,  sim!  ouro não ! Abatam três cavalos velhos ,

e êsses berdas-merdras que  se  dêem por muito  sa-

t is fe it os . 

MÃE  UBu

O  principal   berda-mer.dra  aqu i  és  tu  mesmo. Co-

~ o   pode  exis ti r, meu Deus, semelhante bêsta? 

PAr  UBu 

Escutem mais uma vez: quero   ficar  ri co , entende-

ram?  N ão  so ltare i   um  vin tém .

MÃE UBU 

Isso   quando  temos  nas mãos  todos os tesouràs da 

Polônia. 

BORDADURA 

É  verdade .  'Sei  de  um  imenso  tesouro  que  há  na 

capela.  Vamos  dis tr ibuí- lo  ao povo.

PAr  UBu 

Ah,  m iseráve l, se  fizeres  isso! 

BORDADURA 

Mas,  Pai  Ubu, se não  dás nada  ao   povo, êle   não 

pagará  os iip.postos.

61 

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PAI UBU

I sso é  verdade?

MÃE UBU

Mas c laro! 

PAr  UBu

Neste caso , topo tudo . Tragam quatro :n ilhões er;n 

moeda cozinhem cento e c inqüenta  bors e carnel-' , .

ros. Quanto mais comida m elhor , sobrara pra m1m também.

(Saem .)

62

• 

Cena VII

Pátio do palácio cheio  de gente do

P âi Ubu coroado,  f'1ãe Ubu , Bordadura,criado s carregados de carne. 

Povo

Olha Iá o rei! Viva  o rei! V ivaaa ! 

PAr UBu

(Jogando ouro . Tomem, é pra todos. Não acho nenhuma graça em dar meu ouro a vocês mas, sa -

b em . como é, Mãe Ubu  quis dar. Prometam, pelo menos , .que pagarão os .impostos.

Tonos

Pagaremos! Paga remos! 

63 

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B O R D A D U R A  

Mãe  Ubu, veja como êles .disputam o ouro. É uma  verdadeira batalha.

MÃ E UBU

C oisa horrível . Veja aquêle lá co m o crânio p ar ti d o .

PA I UBU

Que espetáculo maravi lhoso! Tragam mais .caixas de ouro, t rag·am .

B O R D A D U RA

E se promovêssemos um a dispu a?

PA I UBU

Boa idéia. Uma  corrida.

(Ao povo. )

PAI UBU

Amigos, aq u i está uma .caixa cheia d e ouro. Ela

contémt rezentos mi l n o b res -d a - ro s a em  ouro, m oe

da polonesa de bom quilate. Os d es e j a rem pa r-ticipar  da di sputa  coloquem-se n  ofim do pát io .Quando eu der o sina l com o lenço, comecem acorrer, e quem ch egar  pr imei ro ganhar á a caixa

64

•ouro. Quanto aos demais, te rão como consola

çao esta outra caixa que será dividida entre todos.

TODOS 

Viva Pa i Ubu ! R ~ bo m está aí! No tempo Ven-

ces lau , a g en t e nao ganhava tanto dinh ei ro . ·

PAr  UBu

(A ~ ã e Ubu, entusias.mado.) Ouve  o .que êles d iz ~ m . (Todo o  povo va z se colocar no  fu ndo "do. pá -tw.)

PAr UBu 

U m , dois, três. Todos a postos?

TODOS

Sim, sim!

PAr UBu

Já (Partem un s tentando derrubar os ~ u t r o s . Gri -tos  e tumulto.)

BORDAúURA

Estão chegando!" Estão chegando!

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PA I UBU

Ei!   o primeiro está perdendo terreno.

MÃE UB U 

Nã o, ê le re age  agora .

BORDADURA

Ih , vai   perder, vai perder! Pron to,   venceu o  ou -tro! (O  que estava em segundo lu gar vence a  cor-

r id a.)   ·

ToDos 

Viv a M igue l Fe.deróvitch! V iv a Mig uel Federóvitch!

MIGU EL 

SenhoT, não sei co mo agradecer a Vossa  Majesta

de  . . .

PA I UBU

Ora  meu amigo, não tem de que . L eva tu a caixa

de pra casa , Miguel. ·E vocês,   dividam est a t ra ca da um   tira uma moeda de  ca da  ve z, ate 

' acabar.

TODOS 

Viva M iguel Fed er6vitch ! V iva Pai Ubu!

66 

• 

PA I  UB U 

E  agora , meus amigos, va m os com er! A bro-lhes asportas  do  palácio, façam  o  favor  de ocupar  seus lu gares à min ha mesa !

Povo

Entra, pes so al, entra !  V iv a Pai Ubu! Viva o ma isnobre   do s soberanos!

\

(E .n tram  em palácio. Ouve-se  o barulho  da 

·orgia que se  prolonga até o dia  seguin te. Cai 

o pano.)

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Terceiro  A to  

Cena I 

No  Palácio . 

Pai Ubu,  Mãe  Ubu . 

PAI UBU 

P elo  meus  chifres,  assim   como  me  vês,  sou  o  r e i 

d ês te país !  Já  me permiti uma  ind igestão   e  estou 

esperando chegar minha grande  capelina.  

MÃE  UBU 

De que mandaste  fazê -la?   N ão  é  p or  se rmos  reis, 

que vamos a g ora  esbanjar  din heiro.

PAI UBu 

Minha. carSt senhora, mandei fazer  a capel ina   em 

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PA I UBU

Ei! o p rime i ro  est á perdendo  te rreno.

MÃ É UBU

Não, êle re age agora. 

BORDADURA 

Ih , vai perder , va i pe rder ! Pr onto , venceu o outro! (O  qu e estava em  segundo lu gar  vence a  cor-

r ida.) ·Tonos

Viv a Mig uel Fede róvitch!  Viva Miguel Federóvit ch!

MI GUE L

Senhor, não se i como agradecer  a Vossa Majesta-

de . . .

PA I UB U 

Ora meu amigo , não te m de que. Leva tua caixade pr a casa, Miguel. E vocês, div idam es tatra ca da um  t ira um a moeda de   cada vez,  ate

'acabar.

Tonos 

Viva Mig uel Federóvitch! Viv a Pai Ubu!

66

PA r  UBu

E agora , meus amigos , vamos com er Abro-lhe s as porta s do  palácio, fa ça m o favor de ocupar seuslu gare s à  min ha mes a!

Povo

Entra , pessoa l, entra! Viv a Pai Ub u! Viv a o maisnobre  dos soberanos!

\

(Entram  em palácio. Ouve-se o barulho da

orgia que se p 1 ·olonga  até o dia seguin te . Caio pano.)

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couro d e carneiro   com presil ha e brid as em couro  

de cão. 

MÃE  UBU

D eve ficar  bon ito , m a s nada é  mais   bonito  do   qu ea  gente se r rei! 

P Ar  U su

Tin ha.s tôda  ra zão. Mãe  Ubu.

MÃE  U su  

Temos u ma .dívidà  de gra tidão para co m o Duquede Lit uânia .

P Ar U su  

Com que m ?

MÃE U su

Ué, com o capitão Bordadura . 

PAr U su

Por   Mãe Ubu, não me fa le s  dêsse   id iota . Já não  prec iso dê le pra  nada,  va i fica r  ch upando o

dedo, não  lhe dare i  ducado algum.  ·

70

\ \ 

MÃE  Usu 

Com etes um êr ro , Pai Ubu. Êle se v o lt ará cont ra ti . 

P Ar Usu

E eu  vou cho rar   por isso! Êsse  pobre dia bo mepre ocupa   tan to quanto  B ugrela u.

MÃE   UBU 

E pensas  que já liquidaste  B ugrela u?  

PAI Usu

Claro  que s im , espada-de-f inanças! Que  poderá 

fazer contr a mim  um  bostinha de  quator ze a nos?

MÃE UBU 

Ouve o  que t e digo . T rata de atr air Bug re lau parao teu la do.

PAr  U su

Dar mais  dinhe iro ainda? Ess a não. Bas tam os  v in -

te  e dois  milhões  que me  fizes te  esperd içar.  

MÃE U suBem, faz   o que  te der na veneta , mas êle acabaráte  jantando, P ai  Ubu.  

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PAr Usu

ótimo, estará s co mig o na mesma panela .

MÃE UBU

Escuta uma vez mais: estou convencida  de que

Bugrelau vai terminar ganhando a parada, poistem de seu lado o direito leg ítim o .

PAI UBU

Ah, vigaric e ! E o direito ileg í t im o não vale o legí

ti m o? Tu 1ne insultas, Mãe U bu , vou te fazer empedaços. (Mãe Ubu foge perseguida por Pai Ubu.)

72

II"I

Cena II

.. Salão do   palácio.

Pai   Ubu,  Mãe Ubu, of icia is e soldados, Girão, C o t i cnobres  algemados, financistas, magistrados, tabeliões.

PAr UBu

Tragam o  tambor-dos-nobres e o gancho-dos-no

bres e o cute lo-dos-nobres e o l ivro -dos-nobres!:;: .Em segu ida, façam entrar os nobres. 

MÃE UBu

M oderação, Pai Ubu, por favor.

* Uma da s "violências"  do universo verbal de Jarry é  ess a sarcás

t ica atr ibuição de especialidade a cada instrumento. As sim , se o tam

bor qu e anuncia os nobres é o tambor-dos-nobres, o gancho que Pa íUb u  usará para ar rastá-los até o alç apão é o gancho-dos-nobres e o

cutelo   qu e os decapitará é o  cutelo-dos-nobres . Adiante ter emos a

cspada..<Je-co rtar-merdra, a tcsour a -de-cortar-orrclbas, a faca-de-cortarcara, etc.

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PA I UB U

Tenho a honr a de vos an unciar que, para enrique

ce r  o reino, vou mandar l iqui.dar todos os no bre s

e confiscar-lhes os bens .

NO BRE S

Horror! Povo, soldados,  sub levemo-nos !

PA I UB U

Tragam o primeiro  nobre e me passem aqui o gan

cho-dos7nobres . O s qu e forem condenados à m orte

serão jo gados no aJçapão, ca i rão no subsolo do

Chucha-Porco e do Tribunal do s Vinténs, onde se  

lhes  rebentarão os m io los . (Ao nobre.) Quem és

tu , idiot ra ?

NOB RE

Co nde de Vitepsk.  

PA I .UBU

A quanto montam tua_  rendas?

NoBRE

T rês milhões de rixdales.

74

i

I!

I Ii

II 

PAr UBu

Condenado!

(Prende-o no gancho e puxa-o para o alçapão.)

MÃE U su

Que ferocidade bestial!

PA I UBU

Se gundo no bre, quem és tu ? (O nobre 11-ão  respon-

de.)  Nã o vais responder, id iot ra?  

NOBRE

Grão-Duque de Posen . 

PA I UB U

Excelep. te ! E x c e l ~ n t e ! Não percamos tempo . Alça

pão co m êle. Terc eiro nobre, quem és? Ten s umacara d eso nes ta .

NOBRE

Duque de Courlande, ·das  cidades de Riga, Revel

e Mitau . 

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PAI UBU

Muito bem ! muito  bem! Possuis m ais alguma.coisa? 

NOBRE

Nada.

PA I UBU

Para o alçapão, então. Quarto  nobre, quem és?

NOBRE 

Pr ínc ipe .de Podolia .

PA r UBu 

·Quais sã o tu as rendas?

NOBRE

Estou arruinado.

PA I UBU

Por caus a dessa frase desagradável i rás pa ra o a l-

•Çapão, vá! Quinto noqre, .quem  és tu?

NOBRE

Marg.rave de Tho rn , paladino de  Polock.

'76

I

PA I UBU

É muito pouc o. N ã o tens  mai s .n a da '?

NOBR E

Isso m e bastava.

PA I UBU

Claro, an tes pouco do  que nada. Alçapão!  Estás .querendo tirar uma casquinha, Mãe Ubu?

MÃE UBu

És cruel demais,  Pai Ubu.

PA r Usu

ôba!· E s tou rico. Vou  mandar le r a lista de Meus

be ns. Tabelião, a l is ta de  Meus bens .

TABELIÃO

Condado de Sen.domir.

PA I UBU

Comece pelos p r incipados , seu  estúpido!

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TAB ELIÃO

Principado de Podolia, grão-ducado de Posen, du-cado   de   C ourlande ,  condado de Sendomir, conda

do de Vite'psk, palatina.do  de Polock, margraviatode Thorn.

PAr UBu

E que m ais?

TAi3ELIÃO

Acabou.

PAI UB U

Como  acabou?! Bem, então, avancem  os   nobres, e com o não vo u mesmo parar de enriquecer, manda

re i executar todos os nobres , e assim ficarei co m

seus bens. Vam os, jo guem os nobres no alç apão.

( Os nobres são empilhados no alçapão.)

PAI UB U

Depressa, que eu   agora quero legislar.

VÂRIOS

Vamos ver· isso.

78 

• 

PAr UBu

Vou  primeiro reform ar a Just iça , após o que  cuidaremos  da s finanças.

VÁRIOS JUÍZES

Somos contra qu alquer modificação.

PAr UBu

Merdra. Primei ro   ponto: os juízes não   receberãomais nenhum provento.

JUÍZES '

E de que vam os viver? Somos pobres.

PAr  UBu

Recebereis as multas que impuserdes e  nerdareisos bens dos condenados à morte. 

UM Jurz  

.  Ignomínia!

SEGUNDO Jurz

Infâmia!

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TERCEIR O JU IZ

Escândalo!

QUARTO JUIZ

Indignidade !

Ton os

R ecu s am o-n os a julgar em   semelhantes condições.

PAI UBU

Joguem os ju ízes no alçapão . (Êles se debateminutilmente.)

MÃE UBU 

Que diabo estás fazendo, Pai Ubu? Quem vai ag oraministrar a justiça?

PAI UBU

Ora, quem! Eu. E verás como tudo caminharáb em .

MÃE UBU

Sim, co m isenção total!

80

.,

i

PA r UBu

Vamos, cala-te, idio tra . Agora , sen hores , tr atare-mos d as finanças.

FI NANCISTAS

Não há o que mudar.

PAr UBu

C o m o n ão há, se eu quero  mudar tudo? De saída,reservarei  para mim a metade dos impostos.

FI NA NCISTAS

Ora, não se acanhe!

PAr UBu 

S en h o res , es tabelece rem o s um im pôsto de dez por cento sôbre a propr ied ad e , outro sôbre o comércioum  t e r ~ e ~ r o sôbre os casamentos e  um quartobre os   ob1tos, de quinze francos ca da  um .

PRIM EIRO FI NANCISTA

Mas isso não faz sent ido , Pai Ubu .

SE GUNDO FI NANCISTA  

É um absurdo.

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TERCEIRO FI NANCISTA

Não tem pé  nem cabeça .

PA I UB U

Vo cês estão querendo me  gozar. Ao alçapão, todos

os f inanc is tas! (Agarramos 

financistas.)

M ÃE UB U

Afinal de contas, que espécie de rei és tu, P ai Ubu ,que só sabes matar  to do  mundo!

PA I UBV

A merd ra !

MÃE UB U

Quanto mai s ju s t iça , mais dinheiro.

PA I UB U 

Não te preocupes, meu anjo, que  eu me smo irei re.:.

colher os impostos, .de povoado em povoado. .. . .

8?,.

Cena III

Casa de camponeses nas ·ce rca nias de Varsóvia.  

Vários campof i:eses reunidos.

UM CA MPONÊS

Ouçam o que aconteceu.  O rei está morto , os du-ques tam b é m e o jovem  Bugrelau fugiu com a

mãe para as montanhas. Pai  Ubu se  apossou dotrono .

Ü UTRO CAMPONÊ S 

Tenho m ais notícias. Venho de Cracovia, onde . vi

tr ansportarem os .corpos de trezentos nobres e qui-nhento s juíZ€s _que foram · executados. P a rece que 

vão dobrar os im p.ostqs e que Pai Ubu virá recolhê-lo s pessoa lmente.

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Tonos

Deus do céu! que va i ser de nós? Pa i Ubu é  umcrápula e d izem qu e sua mulher é realm ent e abo

minável.

UM CA MPONÊS

Escu'tem: parece  qu e es tão ba tend o .

UMA Voz

(De fora.) Cornupapança! * Abram em nome d e

minha. merdra,  po r São João , São Pedro e São Ni

colau! A b r am , pela espada das finanças, côrnotu-tu venho  arrecadar os impos tos!   (A poTta é ar -

, -rombada, Ubu entTa seguiào de um a legiao de co -

letores de impostos.) 

* Corneg idouil/e, palavra cunhada por Jarry para expressar as três

partes  do poder de Ubu: cabeça, co ração e ventre, sendo que, nêle,

só o ventre n ão se encontra em   es tado emb rionário. Gidoui / le , deno -

minação   do ventre monstruoso de Ubu: "o po der ' dos ap eti tes in fe-

riores".

84

Cena  IV

PAr UBu

Qual  é o mais velho  de vocês? (Um  camponês se

apTesenta.) Com o te chamas?

CAMPONÊ S

Stanislau Lecz insk i.

PAr UBu

Pois b em , cornupapança,  pr est a atenção ao   quevou dizer , senão êstes senhores aq ui te co rtarãoas orrelhas. M as, afinal de contas , vais ou não vais

me escutar?

STA NISLAU

Mas Vossa Excelência ain da nã o disse na da .

85

,.

.,

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PA I UBU 

Como nã o  disse nada! fa lo há mais de uma hora.O u pensas que v im aq ui para pregar  no deserto?

STANISLAU

Longe de mim ta l pensamento.

PA I UBU .

Pois muito que be m, estou aqui par a te dize r , te ordenar e t e  intimar a declarar e pagar imediamente  teu im pôsto de renda,  sob pena de sêres

trucidado . Va mos, senhores porcalh inos da s finan ça s, carrocem  para cá a carroça-das-f inanças.(Trazem  a carroça.)

ST ANISLAU

Sire, no ssa inscrição no registro .nos obriga a pagar apenas cento e cinqüenta e dois rixdales, que

já   pagamos faz sei s semanas em   Saint Mathieu.

PA r UBu 

É bém possív el, mas mudei o regime e avisei pelo

jornal qu e todos os  impostos se rão  pagos dua.s vê

zes, e tr ês vê zes a.quêles que assim determinarmosposteriormen te. Com · êsse si stema de arrecadação,ficare i rico ràpidam ente, mat arei em   seguida todo

mu ndo e  irei embora .

86 '

.

I•

CAMPÓNESE S

Senhor U bu , tenha piedade   de nós. Somos gentepobre.

PA r UBu

. E daí? P aguem.

CAMPONESES

Não temos com que pa.gar, P a i Ubu , já pa ga mos .

PA r U Bu

P a ~ u e m ! ou ponho vocês  no papo, depo is de to rtura-los , com  degolação do  pe scoço e da cabeça!

Cornupapança , parece qu e o rei aqui sou eu!

Tonos

Ah , assim? Às armas, pessoal! Viva  Bugrelau,pela   graça  de D eu s  rei da Polônia e da Lituân ia !

PA I UBU

Senhores das finanças , atacar, cumpri com o vos-.so . dever! (L utam  entTe s i, a ca sa é de struídd e o

velho Stanislau foge pelo campo. Ubu f ica a re-

colher o  dinheiro.) · 

87

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C ena   V 

Uma  casamata  das  fort ifica ções  de Thorn.

Bordadura   prêso,  Pai Ubu.

PAI UBU 

Patriota , eis o  que   é  um pat riota :  queria s que  eu 

te p ag asse o que  te  p ro m ete ra . Como não quis pa-

gar, te rev o ltas te,  conspiraste e  terminaste  enga io

lado . B em feito ,  cornuf inança, e deves .reconhecer

que   o golp e  que  te   dei  fo i de mest re.

B OR DA DU RA  

Toma cuidado, P a i U b u. És  re i há cinco dias  e já 

mata ste  mais  gente do  _ ue  seria  necessário par a condenar   ao  inferno  to dos os san to s  do p ara íso .  

O  sangue do rei  e dos nobres  clama por vingança 

e êsse clam or se rá   ouvi do. 

88 

PAI UBU 

Meu  bom rapaz,  até que és um  cara  bem   falante.  

Não tenho dúvida que se con segu es  escapar daqui

me criarás muit as dif icu ld ades. Mas n ã o sei de nin -

guém que tenha burlado a vig ilância  d as casama-

tas  d e   T h o rn . Por  is so ,  boa -n o ite , e  tr ata de dor-

mir o  melhor que  possas pois os ra to s fa zem aqui  

uma  saraband a in fernal   a  noit e  tôda . .

(Sai . Os guardas  vêm  trancar a  porta .)

89 

,.

"

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Cena VI

Palácio  de Mosc01J...

O Impercuior Alexis e sua côrte ;  Bordadura.

CZAR ALExrs 

Aventureiro in fam e , participaste  do massacre den o s s o primo V ences lau?

BORDADURA

Perdoai-me, S en h o r , Pai Ubu  m e arrastou a issoco ntra a minha vontade.

AL E XI S

És um  s ó rd i d o mentiroso ! Mas, af ina l de contas,que desejas?

Bo RDADURA

Pai Ub u mandou-me prender acusando-me de

90

conspiração. C o n segui fugir e, durante cinco dia s  cinco noites , co rri através das estepes  pa;ra vi.r

Implorar vossa graça miser icordiosa.

Ar.Exrs  

Qu e trazes como garantia de tu a lealdade?

BOR DADURA

Minha  es p ad a d e aventureiro  e um mapa da ci daqe  de Thorn .

ALEXIS  

Aceito a espad a mas, São queima êssen 1 ap a . Não quero dever minha vitória a uma trai

ção.

BORDADURA

Um filho de V en ces l au, o jovem Bugrelau, continua

_vivo, e  eu tudo farei para r eco n d uzi - lo ao t rono .

ALEXIS

Qual era  teu pôsto no Exérci to polonês?

BoRDADURA

Eu comandava  o 5. 0  Regimen to dos Dragõ es de

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.,

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Wilna e  uma  companhia  de   voluntários  a  serv iço 

de Pai Ubu. 

ALE XIS  

Muito bem   nomeio-te subtenente do 10.0  Regimen

to  de  e  ai  de  ti se  me  traíres.  Se  fores 

bravo,  serás  recompensado . 

BORDADURA 

Coragem   não  me  falta,  Senhor.

ALEXIS 

Está  bem,  some  de   minha  vista. 

(Sai Bordadura.) 

92 

Cena  ··vrr 

Sala   do Conselho  de  Ubu.

Pai Ubu, Mãe  Ubu,

Conselheiros  de  Fin anças. 

PAr UBu 

S enhor es,  está  aberta ·a  sessão.  Estejam  atento s

para .   o que   vou  dizer e  mantenham -se  tranqüilos.

Primeiro,  trataremos  do  capítu lo  das  finanças  e 

em  seguida  falaremos  dum  pequeno  sistema  que 

bole i  para  evitar  as  chuvas  e  preservar  o  bom 

tempo. 

UM  CONSELHEIRO 

Muito  bem,  Sr. 

93  

.,

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MÃE UBU

Que idiota! 

PAr UBu

Senhora merdra m i n h a ~ tome cuidado porque nãoto lerarei mais su as to l ices. Dizia eu , senhor.es, que

as finanças vã o mais ou menos. Um n s i d e r á v ~ ~número·de cães miseráveis se espalha tôda manhapelas ruas e os porcalhinhos fazem maravilhas. Por to dos  os lados há casas incendiadas e gente dobrando-se ao pêso de no ssos impostos.

CoNSELHEIRo

E  os novos impos to s , Sr . Ubu, estã o dando re sultado?

MÃ E UBU

Vão de mal a pior. O impôs to sôb re casamentos rendeu até agora apenas onze sou s, e assin: m e s moporque Pai U bu  persegue as pessoas por tod a parte para obrigá-las a se c a s a re m .

PA I UB U

Espada . das finanças, corn a  de  min ha pa nça , se nhora  financista eu  tenho or.relhas para falar e' . . - ,tu t ens  bôca  para escutar. (RtSos.) A ll a s, na o e

isso! Tu me atrapalhas  e me fazes parecer idiotra .

M as , côrno de  Ubu! (Entra um mensagei1·o.)   Bem ,va m os, que que r aquêle al i? Vai-te embora, porc alhão, ou te bato,  te degolo e te torço as pern as.

MÃE UBU

Bem, já se foi, ma s  deixou uma carta.

PAr UBu

Lê. Até parece que estou pe rde ndo o juízo ou quenão  se i le r. Vamos, id io tra, lê, deve se r de B o r d a ~dura.

MÃE UBu

É dê le m esmo. Diz que o czar o acolheu  muito be m,que vai invadir teus domínios para restaurar o

po det de Bugrelau  e qu e serás executado.

PAr UBu

Não! Tenh o mêdo! Tenho mêdo! A c ho que vou.morrer. Coitadinho de mim! Que vai me acontece r,meu  Deus? Êsse homem m a l va do  vai me matar.Santo Antônio e todos o s santos , p ro tegei -me , prometo dar esmolas e acender velas a todos vós. Senhor , o que me espera ainda? (Chora e 80luça.) 

MÃE UBU

Só há um caminho a seguir, Pai Ubu.

95

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PA I  UBu

Qual  é, meu   am or ? 

MÃE UBU

A  guerra !

Ton os

Graças a Deus!  Eis uma at itude d igna!

PAI UBU

É,  e quem vai levar novas es tocadas   sou eu.

PR IM EIR O  CO NSE LHEIRO

Apressemo-nos , vamos organizar o exércit o.

SE GUN Do CoN sE LHEI Ro

E  estocar vív eres.  

TE RCE IRO CONS ELH EIRO

E  prepa ra r a  art il hari a. e as   fort aleza s.  

QU ART O  CONSELHEIRO 

E  arranj ar diphe ir o para as tropas. 

96

PA I UB U

Ah,  isso é qu e  não! Eu te   mato!  Não vou darnheiro algum . Tom em de outro! A guerra já   es tápaga  e  ninguém   va i guerrear às  minhas custãs.Pe los   meus chi fres ,  façam a guerra mas porq uevocês es tã o   com ra iva . Nada de  gastar  dinheiro.

Viv a a guerra !

97  

11'

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C ena  V III 

C am po   d e ba talha, ex érci to de Varsóvia.  ·

SOLDADOS  E P ALHADINOS

Viva a  Polônia!  Viva  Pa i U bu!

PAI UBU

M ãe Ubu , me dá aqui  a couraça e meu bastão. :rou  

ficar tão pesado que não vai da r pra cor rer se eles 

me persegui rem.

MÃE U BU

Cov ard ão ! 

98 

P A I U BU  

O nde estão  a  espada-de-co r tar m er.dra  e o  gancho

das-fi nanças que  eu  não  acho?! Nunca  vou m e 

aprontar , e os russos   avançam  e  vão  me mata r. 

UM  SOLDADO 

Senhor Ubu, a  tesoura-de-cortar-orrelhas vai cair . 

P A I  UBU

T i mato  com o ganch o-de-puxar-merdra  e  a faca

de-co rtar-c ara .

M Ã E UBU 

Como êle está bon it o   de capacete e  coura .ça ,  parece uma  abóbora  bl indada .

PA r ·UBu 

Bem . agora  vou montar no  cavalo. Senhores,   tra

gam-m ·e  o cavalo-de-fina nças.

M Ã E  UBU

Pa i Ubu , êsse ca val o  n ã o tem fôrças  para  te agüen

tar,   faz cin co d ias que êle   não   co m e  nada,   está

quase morto .

99 

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PAI UBU

Que ótima bab á el a é! Então gasto doze sous  pordia com êsse   animal e êl e não tem fôrças para  mecarregar? Será  que te   enganaram, corna d'Ubu,ou  es tá s me roubando? (Mãe Ubu enrubesce  e 

baixa os olhos.) Me  tragam, então, outro cavalo. A pé_ que não vou , cornupapança! ·

(T razem-lhe  um enorme cavalo.)

PA I UB U

Vou montar nêle. Oh! Aliás, ac ho que vo u cair. (O ·cavalo anda.) Pára,  pára êsse bicho, meu D eus ,

• I 11 vou ca i r ,  vou morrer . .

MÃE U:Bu

É um imbec il, sem dúvida alguma. Ah, conseguiumontar. Mas já  caiu no chão.

PA I UB U

Cornofísico estou m eio morto! Mas não faz dife-.reriÇa, vou 'pra guerra  e  matarei todo mundo. Ai

de quem não marchar direito!   Será rebenta do depancada com torção do nariz e dos dentes e ex -tração da língua.

M Ã E UBU

Boa sor te , Sr . Uou.

·. .. .

PAI U B U

Esqueci de   te dizer que te confio o govêrn o. Ma slevo comigo o livro de Finanças. S e me roubarespagarás caro . O Pa lhadino Girão fica aqui _para te

ajudar. Ade us , Mã e Ubu. ·

MÃE UB u

A deus , Pa i Ubu. Não deixa  de máta r o Czar .

PAI UBU 

Não te preocupes. Torção do nariz e dos dentes ,extração da língua, e in trodução do bastão erre-lhas a dentro.

( O exército se afasta ao som das fanfarras. )

MÃE UBu

(Sàzinha.) Ago ra que êsse bonecão de engonço fo iembora, trate mos de nossos in terêsses: matar Bu-grelau e nos  apossar do te souro .

10'1

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', - ' -'

I c : ~ /  ' • 

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102

'

Quarto Ato

Cena  I

Cript a dos antigos reis da Polônia nacatedral de Varsóvia.

MÃE UBu

M as onde está o tesouro? Pelo som, nenhuma des-

sas lousas parece ôca. No entanto, contei treze

pedras a partir do  túmulo  ,de  Ladisla.u, o Grande,  

ao longo da parede , e na da . Devo te r me enganado. 

Não, aqui parece ôco. Mãos à obra, Mãe U b u . Co-

ragem, vamos arrancar esta pedra. Está muito prê-

sa. A ponta .do gancho-de-finanças cumprirá  sua

finalidade. Achei! A qui está o ouro misturad o ao s

ossos dos re is . Vamos, tudo dentro do   saco! . . . Q ueba rulho é êsse?  Quem po deria estar aqui, sob estas

velhas cúpulas? Não, nã o é ninguém , apressem o-

nos . Levemos tudo. Esta  riqueza tôda  é mais útil

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à lu z .do dia do que  en terrada no túmulo de ve

lhos prínc ipes. Recoloquemos a p edra. Ei, o  ba-rulho de nôvo. l!:sses lugares sempre me causa-

ra m pavor. Depois venho buscar 9 resto do ou ro , volto amanhã.

UMA Voz

(Saindo  do túmulo de J•oão Sig ismundo.) Jamais ,Mãe Ubu!

104

(Mãe Ubu foge apavorada ,  pela p01·ta secreta,

levando o ouro roubado. )

II

Cena l i

Praça de Varsóvia.

Bugrelau e seus guerrilheiros.Po vo e ·Soldados.

BU GRELAU

Para frente, amigos! Viva Venceslau e a Polônia!

O  patife do Pai  Ubu partiu. Só  f ic ou a bruxa  da

Mãe U bu com  o seu Palhadino . Estou d i spos to a

marchar à frente de voc ês e a re staura r no tr on oa es t i rpe de meus pais.

Tooos

V iva Bugrelau!

BUGRELAU

Derrubaremos t odos os imposto s decre tados pelo abomi ná ve l Pai Ubu .

105 

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TODOS

Bravos! Avante! Ataquemos o palácio e acabemoscom essa canalha!

BUGRELAU

Pessoal, Mãe Ubu está saindo com seus guardas

pela escadaria.

MÃE UBU

Que querem comigo? Oh, é Bugrelau.

(A multidão joga pedras.)

PRIMEIRO GUARDA

Todos os carros estão quebrados.

SEGUNDO GuARDA

Vão acabar comigo, meu São Jorge.

TERCEIRO . GUARDA

Cornão-bleu vou morrer *

* Cornebleu, palavra cunhada por Jarry partindo da exl?ressão ve!t-trebleu (ventredieu, ventre de deus). Come, c o ~ n e plzyszque, alusaoao "bastão de Física" do prof. Hébert; alude amda a Cordon Bleue a côrno. traído.

106

BUGRELAU

Pedra nêles, pessoal.

GmÃo

Ah, é assim!? (Desembainha a espada e avançaprovocando verdadeira ·carnificina.)

BUGRELAU

Deixem por minha conta. (A Girão. ) Defende-te,covarde!

(Lutam os dois.)

G rR Ã o

Vou morrer!

BUGRELAU

Vencemos, companheiros! Abaixo Mãe Ubu! Avante!

(Ouvem-se clarins.)

BUGRELAU

Estão chegando os nobres. Vamos, pessoal, agarremos essa maldita harpia!

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Tonos

A vez daquele velho bandido também chegará!

(Mãe Ub"u escapa perseguida por todos os po -loneses. Tiros de fuzi l e chuva de pedras.) .

108

Cena III

O exército polonês em marcha na Ucrtlnia.

PAI UBuCornão-bleu, vôte, cabeça de vaca! A sêde e o cansaço vão nos matar. Senhor soldado, tenha a gen

tileza de segurar nosso capacete-de-finanças e, tuaí , senhor lanceiTo, cuida da tesoura-de,..cortar-orrelhas e do bastão-de-física, pra me dar um pouco

de folga. Repito que estamos muito cansados. (Ossoldados obedecem.)

PILA

Ei, Senhore! É supriendente que os russos nãoapaireçam .

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PAI · UB U

Lamentável é que a situação financeira não nospermita possuir uma viatura digna de nós; commêdo de demolir nossa montaria, fizemos todo ocaminho a pé, puxando o cavalo pela brida. Masquando voltarmos à PolÇmia, inventaremos, graçasaos nossos conhecimentos de física. e às luzes de

nossos conselheiros, uma viatura movida a ventopara transportar todo o Exército.

COTICA

Nicolau Rensky acaba de chegar e parece aflito.

PAI UB U

Que é que tem êsse rapaz?

RENSKY

Está tudo perdido, Senhor, poloneses.se revolta-ram. Mataram Girão, e Mae Ubu fugiu para asmontanhas.

PAI UB U

Ave agoureira, coruja de polainas, donde" tirastantas asneiras? E ma:is essa agora! Quem fez tu-do isso? Aposto que fo i Bugrelau. Donde estásvindo?

110

RENSKY

De Varsóvia, senhor.

PAr U Bu

Rapazola de meTdra, se acredito no que dizes terei

de ordenar o retôrno de todo o Exército. Mas, se,..

nhor rapazola, como vejo que tens acima dos oro.,

bros mais plumas que miolos, creio qu e imaginastebobagens. Vai para a linha de frente, os russosestão perto e teremos de usar contra êles tôdas asnossas armas, tanto as de merdra, como as de fi-nanças e as de física.·

GENERAL LASCY

Pai Ubu, nã o estais vendo os russos na planície?

·PAI UBU

É verdade, os russos! Estou metido em boa. Se aomenos houvesse um jeito·de me arrancar, mas nãodá pé : e s ~ a m o s numa colina e ficaríamos expostosao fogo inimigo.

EXÉRCITO

Os russos! O inimigo!

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PAr UBu

Vamos, senhores, preparemo-nos para a batalha.

Ficaremos nesta colina e nã o cometeremos a bes

teira de descer daqui. Vou ficar no centro comol,lma cidadela viva e vocês à minha volta. Recomendo-lhes carregar os fuzis com o máximÓ debalas, pois oito balas podem matar oito russos e

s ~ : r ã o menos oito a me atacar. Mandaremos a in -fantaria lá .para baixo a fim de que recebam os

~ u s s o s e matem alguns dêles; a cavalá.ria ir á logoatrás para entrar na confusão e a artilharia ficará em tôrno do moinho aqui presente para atirarem cima. do bôlo. Quanto a nós, ficaremos dentrodo moinho .e atiraremos com a pistola-de-finanças

pela janela, colocaremos de través na porta o bas

tão-de-física, e se alguém tenta entrar, gancho-demerdra nêle!!!

OFICIAIS

Sr . Ubu, Vossas ordens serão executadas.

PAr UBu

ótimo. Tudo· corre bem, venceremos. Que horassão?

GENERAL LASCY

Onze horas da manhã:

112

IPAr U Bu

Vamos, então, almoçar porque os russos não ata

carão antes do meio-dia. General, diga aos soldados que façam suas necessidades e entoem a Canção das Finanças.

SOLDADO E P ALHADINOS

Viva Pai Ubu, nosso grande Financista! Ting, ting,ting; ting, t ing, ting; ting, ting, ting, tating !

PAi UBU

Ah, gente boa, adoro vocês todos. (Um petardo

russo atinge e quebra a pá do moinho.) Estou com

mêdo, senhor Deus, estou morrendo! Ah, nã o es

tou, não é nada.

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Cena IV

Os mesmos, um ca pitão.DepOis  o exército russo.

CAPITÃO

(Chegando.) Senhor Ubu , os russos at acam.

PAr UBu

E daí, qu e é  que vo cê quer  que eu faça? Não fuieu quem os mand ou a tacar . . M as, se nhores (dasFinanças,   preparemo-nos para  o combate.

GENERAL LASCY

Outro  p r ojétil.

114

PAI U BU

Nã o f ico mais aqui . Chove ch umb o e fer ro emcima da gente e podemos até pr ejudicar nossa pre

ciosa pessoa. D e s ç a mo s . (D escem todos correndo .A  ba talha começou. Êles desaparecem em meio à

fumaça ao pé da   colina.)

UM Russo

(A tacando.) Por  D eus e pelo C zar!

RENSKY

Ai, eu  morro

PA I U BU

Avante, cama radas! Ah , tu   me machucaste, vou

acab ar contigo, seu bêbado, con ti go e co m essa tuaespingarda que atira.

U.M  R usso

Ex perimenta isso! (Dá-lhe um ti ro de revólver.)

PAI UB U

Ai, ui ! Estou balead o , estou furado, perfurado,encomendado, enterrado. Oh, mas ainda ass im! 

V ou pegá- lo . T om a! Me provoca de nôvo !

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GENERAL LA SCY

Avance m os, to do vigor, pessoal , at ravessemos o fôsso.  A vitória é noss a!

PAr UBu 

A cha m esm o , general?  Até  o m om en to , sin to naf ron te mais "galos" que lauréis. 

C A V A LEIR O S Ru ss os

Afaste·m -se !. Abram passagem  para o Czar!

(Chega o Czar acompanhado  de Bordadura,disfarçado .)

U M PO LON ÊS 

Noss a  mãe! Chegou o C zar, salve-se  quem puder !

ÜUTR O  POLONÊS

D eus do céu !  Êle transpôs o fôsso.

TER CEIRO POL ONÊS

Pif ! Paf! O  velhaco do tenen te   já desancou qua-tro. 

BO RDADURA

Ah, ainda não ac abaram  com vo cês? ! Pois to ma o

116

que m ereces ,  Jean Sobiesky.  (Bordadura o abate.)A15ora, os  ou tros! (Mata uma po rção de o n e s

PA I UBU 

Avante , camaradas.  Peguem  êsse  bil tre!  Compo ta  

de m oscovita s! A vi tór ia é nossa. Viva  a águi a verm elh a!  .

Too os  

A vançar!  Hurra! C aspité! Peguemos o safadão!

BO RDADUR A 

Meu São Jorge, caí no chão.

PAr UBu

(Reconhecendo -o . )  Ah, és  tu, Bordadura!  Es tamosto do s  fel izes   de   te rever, meu  caro am ig o. Vou te cozinhar em fo go   le nto . Senhore s das Fi nan ças,acendam o fo go!   Oh! Ai! Ui!   Estou morto. D evo te r recebido  pelo   menos  um ti ro de  canhão. Oh ;meu D eus, perdoai meus pecados. É,   fo i mesmo um tir o de   ca nhã o.

BOR DADU RA

Foi um   tiro  de pistola com pólvora sê ca .

117.

PAI  UBU 

•. P Ar U su 

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Ah, e aind a me gozando !  Estás no papo! ( Joga- se  

sôbre ê le e o  à ilacera .)  

GENERAL   LASCY  

Pai Ubu, es tamos  avançando  em   tôda  a  linha·. 

PAr Usu 

Estou  ven do, não  agüento  mais ,  crivaram-me de  

pontap és. Gosta ria d e  me  sentar  um  pouco,  mes

mo no  chão.  E meu cantil ? 

GENERAL  LA SCY 

Toma  o  do  Czar, Pai  Ubu . 

P A I  U BU 

É pra  j á .  Vamos!   Sabre-de-cortar-merdra , cumpre 

tua  fun ção, e tu , gancho-de-finanças , não   fiques 

atrás . Que  o  bas tão-de- fí si ca  trabalhe  com  gene

rosa emulação  e divida com o bastãozinho a: h onra

de  massacrar, vara r e  rebenta r o  Imperador mos

covita.  1\.vante, senhor nosso  cavalo -de-finanças ! 

(Atira-se  sôbre  o Czar:)

U M OFICIAL  Russo 

Cuidado, Maje s tade! 

118

Toma! Oh! Ah! D eu  em nada . Ui, perdão, senhor,  

d e ixe-m e  em paz . Ai, inas n ão   fiz por quer er!  (Es-

capa, o  Czar o persegue. )

P AI  UBU

Santa Virg em ,  êsse   danado  lfle  persegue!  Que fizeu, meu Deus!   Felizmente, êle ainda tem de trans

por de vo lta   o  fôsso. Ih, s into -o  atrás  de mim  e

à  minha  frente  o  buraco.  Cora gem , fe chemos  os

olhos! 

CZAR 

Nossa! Caí no  fô ss o!  

POLONÊS 

ôba! O Czar caiu  lá  emba ixo! 

PAI UBU 

Nem ouso -olhar  p ra  trás!   :Êle está lá dentr o. ótimo, 

pau nêle!   Vamos  polonês, com  tôda fôrça,  êle  tem 

costas   largas,  o  J:l?.iserável!  ·Nem  quero  ver.  E  en quanto   isso  noss.a  predição  se  rea lizou   plenamen

te:  .o bastão-de-física  fê z maravilhas e  não  rest adúvida  alguma  de  que .eu  estall"ia  m.Orto  a  esta  

hora  se  um  inexplicável terror  não  tivesse  com -

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batido e anul ad o em nós os efeitos de nossa bra vura. Mas tivemos que, s u b i t ~ m e n t e , virar casaca, e .devemos nossa salvação à nossa habilidez decavaleiro assim como à solidez das pernas de nosso cavalo-de-finanças, cuja rapidez só se igualaàquela solidez e à su a já famosa ligerez assimcomo à profundez do fôsso qu e se abriu muitotês sob os passos do inimigo soez do aqui presente Mestre da s Finanças, como o veis. É, tudo issoé muito bonito 'mas ninguém me e s c u t a Vamos, aguerra continua!

(Os dragões russos dão uma carga e salvam oCzar.)

GENERAL LASCY

Desta vez é a debandada.

PA r UBu

Chegou a hora de baixar o cacête. Portanto, senhores poloneses, avançar, ou melhor, botar o ga lho dentro.

POLONESES

Salve-se quem puder!

PA r UBu

Vamos, em marcha! Que cambada, que fuga, qu e

120

multidão, como vou sair dêste lodaçal? (É empur-·rado.) Ah, mas és tu! Presta atenção se não queres experimentar o ardente valor do Mestre dasFinanças. Bem, foi-se embora, vamos nos arranca r daqui enquanto Lascy nã o está vendo: (Sai.Em seguida, vê-se passar o Czar com o exércitorusso perseguindo os poloneses.)

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Cena  V

Uma cav ern a na Neva.

Pai Ubu , PiLa, Cotwa. 

PAI UBU

Que tempo maldi to , faz um fr io rachar e  a pes

soa do   M es tre da s Finanças  es ta bas tante  estro-

piada. 

PILA

Como  é, Senhoire  Ubu,  já se recuperou  do m êdo e

da fuga?

PA I UBU

Claro! Do m êdo já , mas a  fuga continua.

( A  parte.) Porco!

122 

COTICA

PA r Usu

E i, Sr . Cotica, como vai sua orrelha?

COTICA

Vai tão b e m com o pode, indo   mal como vai. Em

conseqü ência de que o chumbo faz ela  pender para 

o chão e  não posso ex trai r a bala.

PAr UBu 

Bem  feito . Não es tavas a fim de bate r nos ou t ros?

D ei prova tota l de  bravura, e sem me  exp or ma-

te i quatro inimigos  com minha  pr ópri a m ão , sem 

contar to dos aquêles que  já estavam mortos e queacabamo s de matar .

COTICA

Pila, sabes qu e fim  l evou o pequeno Rensky?

P ILA ''

Recebeu uma bal a na cab eça .

PA r UBu

Assim  c o mo  a papoula e o  taraxaco, que à  flor d a

idad e são  ceifados pelo ferro e pelo êrro de arrado,

nosso pequeno Rerisky foi ce i fado  p e la guerra e 

12.'3

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assim foi-se, emborra tenha lutado bravamente.

Mas havia russos demais!

PILA E COTICA

Uh! Senhoire!

UM Eco

.Rhomrrr! ··

PILA

Que será isso? Nossos binóculos!

PA I UBU

Essa não! Aposto que são os russos outra vez! Já

é demais! e depois a coisa é simples, se êles mepegam, estarão no papo..

124

I

Cena VI

Os m esmos. Entra um urso.

COTICA

Ai, senhoire das Finanças!

PAI UBU

Ora veja, o totôzinho. Que gracinha!

PILA

Cuidado! Nossa, que urso enorme.' C "cartucheira? ade minha

PAI UB U

Um urso! Ui! qu e fe ra! p b dre e mim, vou ser co-

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mido. Deus que me proteja. Êle vem me pegar.

Não, vai pegar Cotica. Ainda bem! (O urso agar

ra Cotica. Pila ataca-o a golpes de punhal. Ubu!se refugia em cima de um a pedra.)

COTICA

Me ajuda, Pila! me ajuda! Socorro, Senhoire Ubul

PAI UB U

Aqui oh! Te safa, meu caro, agora estou rezando

o Padre Nosso. Cada um tem su a vez .de ser comido.

PILA

Peguei, está seguro!

COTICA

Agüenta, Pila, êle começa a me soltar.

PAr. U:Bu

Santificatur nomen tuum

CoTICA

Velhaco covarde!

126

PILA

Ai, êle está me mordendo! Meu Deus, salvai-me,vou morrer.

PAI UB U

Fiat voluntas tua !

COTICA

Consegui feri-lo.

PILA

Bravos! Êle está sangrando. (Em meio ao.s: gri tos

dos Palhadinos, o urso berra de dor e U'bu conti.._

nua aresmungar.)

COTICA

Agarra firme, enquanto pego me u sôco explosivo.

· pAI Usu .

Pahem nostrum quotidianum ·da nobi s hodie.

PILA

Conseguiste? Não posso segurá-lo mais.

127

PA I UB U•

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Sicut .et :nos: ,dimittimus debitoribus nostris.

COTICA

Consegui! (Uma explosão e o urso cai morto.)

PILA E COTICA

Vitória!

PA I UBU

. Sed libera nos a maio. Amen. Enfim, morreu mes

·mo?.· Já::posso descer daqui?

PILA

(Com desprêzo.) Quando. quiser.

PAI UBU

(Descendo.) Podem se orgulhar de que, se ainda

estão vivos e ainda pisam a neve da Lituânia, de

vem -isso à virtude magnânima do M-estre das

nanças, que se esforçou, largou a pele, se matou arecitar padres-nossos por vossa salvação, e com

tanta coragem empunhou a espada espiritual d é ~ -prece quanto vocês manejaram,o temporal sôco ex-

:1:28

I

plosivo do aqui presente Palhadino Cotica. Tã o

longe levamos nosso devotamento, que não hesi

tamos em subir numa pedra bem alta para qu e1nais depressa nossas preces chegassem ao céu.

PILA

Asno asqueroso!

PA r U Bu

Aqui está um enorme animal. Graças a mim vocêsterão o que comer. Que barriga tem o bicho, gente ! Os gregos aí teriam ficado be m mais à von ta,dedo que no ventre do cavalo de Tróia, e por pouco,caros amigos, íamos ter a oportunidade de veri

ficar pessoalmente a ·capacidade interior dessa

pança.

PILA

Morro de fome. Que .vamos comer?

COTICA

O urso!

PAr UBq

Mas, seus bobocas, como é que vão comê-lo cru?

Não temos com que acender uma fogueira.

i-29

PILA 

•I UB U 

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E as espolêtas?

PAI  UBU 

Isso  mesmo!  Parece que  há aqui por  perto· um, p e

queno bosque  o nde podem os achar alguns  galhos

secos. Vá buscá -los , Sr. C o tic a . (Co tica  se  afas tapela  neve .)

PILA

E, enqu anto   is so ,  S r.  U bu, vá  esfolando o  bicho.

PAI  UBU

Eu não !  Pode  ser que êle   ainda  não este ja   morto.

É  melhor te encarregares dis so ,  uma  vez   que já  

es tás  meio comido e  m ord ido   por êle. Eu fico   acen

dendo a  foguffira enquanto   Cotica vai busc ar a 

le nha.  (P i la   começa a · esfo lar o '!1-rso.)

PAI UBU 

ôi,   cu idado ! êle se m exeu.

PILA  

Mas, S r . Ubu, êl e  já   es tá ge lado .  

130 

PA

Is so é  ru im ,  seria  melhor quente .  O Mes

tre das   Finança s  vai te r · uma in d ig estão .

PILA 

(A  parte.)É

rev o ltan te . (Alt o.)Me 

ajude   um pou

co,  Sr. Ubu, não  pos so fazer tudo sozinho.

PAI  UBU 

Não , não quero fazer nada !  Estou muito   ca nsado !

COTI CA

(Voltando .) Que fr io , amigos, parece  at é  Cas tilha

ou o P ólo   Nor te. Com eça  a ano it ece r . Numa  ho raestará escuro.  V am os nos apr ess ar enquanto  ainda 

há  claridade.

PAI UBU

C orre to. Ouvis te, Pila, apressa-te. Andem  vocês

do is!   Metam o bic ho no espêto   e tr at em  de ass á

lo,   que  eu estou .com fo m e!

PI LA

Ah,  is so já é dem ais ! Vem   tr abalhar, guloso, do

con trário   não  vais comer coisa a1g um al · 

131 

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PAI ·usu .

Pra  mim dá na mesm a . Com o  cru.  Pior pra voc ês.Além do mais esto u  com muito sono !  ·

COTICA  

Que achas,  Pila?   Comem os tudo sozinhos. N ãó da-mos nada a  êle, tá ?  Ou lhe damos os ossos. 

PIL A 

C erto . O  fo go es tá acend endo. 

PAI  UB U 

Que  bom , já  começa a  esquentar.  Mas  ve jo rus-sos po r tôda  par te. Como  corre mos , meu  D eus ! Ah . . .(Adormece .) 

COTICA  

Gost ari a de sa ber se é verd ade o qu e dis se R ensk y ,se Mãe Ubu fo i de pos ta ·realmente . Não me parecedifícil.

PIL A 

Vamos term ina r  de  fazer a com ida .

C O TI CA  

Não, te m os  d e . fa lar de cois as  impor tantes. Ser ia 

132 

i ·

bom   que nos inte irássemos  da v erac id ad e dessas n o tíc ias . 

PIL A

Tens razão. D ev emos abandonar Pai Ubu o u  fi carcom  êle aqui '?

COT ICA

A  noite é boa   conselheira. Durmamos. Amanhã a geÍ'lte vê  o que se deve .fazer.

PIL A

Acho melhor aproveit ar a  noite pra  nos manda r-mos.

COTICA 

Vamos, entã o .:: .

(Partem :) :' : . · .

' .

133 

sov1a  pe rto  de  Vladislau, o  Grande, também  em 

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Cena VII 

PAI UBU 

(Fala do rm indo.)   Ah,  Senhor Dragão  russo, presta 

atenção, não venha pra  cá, tem  gente . Ah!  lá está  

Bordadura, êle  é  malvado, par ece  um  urs o. Bugre

lau  avança  contra mim !  O  ur so,   o  ur so !  Ai! Olha 

êle   lá ! Êle   é duro   de roer, meu   Deus!   Não  quero 

fazer nada, nada!  Vai   embora, Bugre la u !   Est ás

ouvindo, palhaço? Agora é Rensky  e o  Czar!   Oh! 

êles vão me  bate r. E  Donabu? Onde achaste  tanto 

ouro?  Ficas te com meu  ouro, mis eráve l, fôste re

mexer no : meu  túmulo  na  cat edral de  Varsqvia,p erto  da  Lua . Já  m orr i  faz mufto tempo, fo i Bu

grelau  quem   me matou   e  fu i  ente rrado   em  Var-

134

Cracovia  per to de Joã o Sigismundo, e  também em 

Thorn na ca samata com  Borda dura!   Ei-lo   de nôvo.

V ai- te  embora, urso   maldito! Tu te pareces com  

Bordadura.  Escu tou , demônio?   Não , êle   não  es

cu ta . Os  porcalhinos*  co rt ara m -lh e   a s  orrelhas.

Rebentais o  cé rebro , ma rai** , corta i as orrelhas,  

arrancai a finánça  e bebei até morre r, é  a  vida dos

porcalhinos , é a a legria   do  M estre  de Finanças .

(Cal a-se e dorme.)

* S alopi n   (sa lop, su jo), alu são a  pa lotin,  que  t ra du zim os por  pa

lhaditlo. 

*"' Tude r: palavra c unhada po ss iv e lmen te  co m a  m ont agem   d a ex

press ão  tud ieu - ex cl a mação   de  coméd ia   an tiga  """"7 e  teu r, m ata r.

135

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I  f

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J

136 l

Quinto  Ato 

Cena  II

Noite. Pa i Ubu   dorme.  Entr a Mãe Ubu .

A  escuridão  é to tal .

MÃE   UBU

Até que   enfim um re fúgio . Aqui  es ta re i sõziril;la, oqu e não é ma u, mas que corrida desenfreada: atravessar tôda a Po lônia  em qu atro  d ia s! Tôdas  asdesgraças caíra m sôb re  inim de uma só vez.  A ssimqu e aque la bê sta par tiu , fui à crip ta apa nh ax - o te sou ro . Logo ·depois, · Bu'grelau e seu  grupo en fu rec ido   quase  me mat am  a pedradas. P erco meu  cavale iro, o Palh

adino G ir ão , qu e era  tão fascinado por meus encantos qu e desmaiava só de  me ver e, segu nd o alguns, me-smo  sem  me  ver, o que é ocúm ulo da   te rnura. Por minh a  causa , seria   capaz  de se de ixa r cortax -- ao meio, o po bre rapaz.  A pro-

137 

va disso é que fo i cor tado em quatro por Bugrelau.

.,

Graças a Deus  entrevejo  

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.Pi f paf  pan! Puxa, pensei  que ia m orrer!   Em seguida , fugi perseguida pela multidão enfurecida.D eixo o palácio, chego ao Vístula, tôdas as  po ntesvigiadas. Atravesso o rio a nado, na esperanç a de.fazer meus perseguidores desistirem. D i s s i m ~ lentre polo neses dispostos a aca ba r comigo , ~ s t i v emil  vêzes a um passo da morte. Mas terminei es

capando-lhes à fúria, e depo is de quatro  dias decaminhadas pela neve do que fôra meu re ino, co n

.s igo me esconder aqui . Não   bebi nem com i na.da

.du rante t odos êsses dias. Bugrelau , no meu ra sto ,o te m po todo . . .   E nf i m , es tou salva. Ai, estou quase morta de frio  e de cansaço .  Mas gostaria de.saber que fim levo u meu gordo polichinelo, is to   é,

meu  respeitável espôso.  T om ei muito d inheiro dêle .

:Roube i - lhe  rixdales.  Enga ne i-o com mentiras. E

se u cavalo de finanças morreu de fome: não viacomida com muita freqüênc ia . A história de sem-'Pre! M as co itada de mim que perdi meu tesouro.Ficou em Varsóvia,  e quem se arriscaria a ir buscá- lo?

PA I UB U

( Começando a acordar. ) .Agarrem a Mãe   Ubu, cortem-lhe as orrelhas!

MÃE  UBU

De us do céu! Onde estou? Enlouqueço. Ah, na o,S e nhor!

138

Senhor Pai Ubu que dorme perto  de mim  

PAr .UBu

Mui t o mal! Êsse danado dêsse urso não é molefC om bate dos v:Ç>rácios càm os cur iá cios, mas os vorácio s comera m e  devoraram os  curiácios co mo

, 'veras a o amanhecer. Entendestes , nobres palha-dinos?

Quem é que  ê le   está gozando ass im? Ficou  maisi.diota do que era antes de partir . Q ue será qu e êletem? 

PAr UB u

Cot ica,  P ila , respondam, sacos de m erdra! Ond eestão vocês? Ai, tenho mêdo. Mas ouvi alguém  fa la r aí . Que f o!? O  u rso não pode se r. Merdra! MeusfósforoS, onde es tão? Ah, perdi-os na guerra.

MÃE UB U

(A parte.) A prove i temo s a  situação e a noite, si mulemos uma aparição sobrenatural e façamoscom que êle nos perdoe os furtos.

139  

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PAr UBu

Meu Santo Antônio, quem fa la aí ?  C ruz cr edo! Vã ome enforcar!

MÃE U ~ u

(Eng rossa ndo a voz.) Sim, S r. Ubu, alguém realn : t ~ falando aqui, e a tr ombeta do   ar canj oqu.e e rgue os  mor tos da. cinza e do pó final nã o fS:laria · çie outra maneira!  Escuta i esta voz grave.E  a voz de   São Gàbriel que só dá bons conse lh os .

PAr Usu:

Só fal tava essa!

MÃE  UB U 

Não me interromp ei, Pai Ub.u, ou eu  me ca lo e será  pior pa ra  você !

PAr UBt r

.Ai, minha _ n ç a ! ·Não .digo mais uma palav a. Continue, senhora aparição!

MÃE Usu

Dizían.ws, ·.·Sr:-Ubü, . que ·ére is . um  patet a. ta manh o fam íl ia ! , .. . : ·. ·. · • :···. :. · . ·· · · ·

140 

PAI Usu

Muito família,  não res ta dúvida.

MÃE  UBu 

Calai-v o s, por Deus!  

PA I  UBU  

Uai,  nu nca vi  anj o  se exalta r.

MÃE Usu

Merdra!  (Con tinuando.)  Sois   casado,  Sr. Ubu?

PA r UBu

Exato, com a últ im a das megeras.

MÃE UBU

Q uere is   d izer   com  uma mulher encantadora

PAi. Usu

Um  m onst ro . Tem  esp orõ es  pqr todp  o cor po , não  há por onde pegá -la .

141

MÃE UBU•

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Pela doçura, Sr. Ubu. Se fôrdes carinhoso, vereis 

que, na pior d as h ipó teses , e la é igual à Vênus d eCápua.

PAr UB u

Caspa? Quem tem caspa?

MÃE  UBU

Não me escutastes be m,  Sr . Ubu. Prestai melhor atenção. (A   pm·te.)  Tenh o  de me apressar po is já  

amanhece. (A lto.) Sr. Ubu, vos sa mulher é adorável e delic iosa , e la não tem  ·um só defeito. 

PAr UB u

Estais enganada, não há um só defei to que ela nãotenha.

:MÃE UBU

Silêncio ! V ossa mulher é fiel!

PAr UBu

Seria difícil aquela gralha me t ra ir . · Não ia achar com quem .

142

MÃE UBU

Ela não bebe!

PAr UBu

Sim, depois que lhe tomei a · chave da adega. An-

tigamente, sete da manhã já estava bêbeda, recendendo a cachaça.  Agora que se perfuma co mhel io t ropo , nã o  cheira  mal. Pra mi m  ta nto faz.Quem se  em bebeda agora sou eu .

MÃE UB u 

Homem tolo! Vossa mulher não toca em vosso ouro.

PAr U Bu

Não me   diga! Isso é  piada!

MÃE UBu

Ela nã o desvia um único centavo!

PAr U Bu

Q ue si rva de testemunha meu nobre e desgraçado 

cavalo-de-finanças que, ten do passado três meses

sem comer, teve  de fazer tô da a  campanha puxadopelas rédeas através da Ucrânia. Também f ize ram

tudo  para acabar com   êle , pobre animal!

143

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MÃE  UBU 

Tudo isso é ment ir a. Poss uis  um modê lo  de mulhe r

e  faz eis dela ·um monstro!

PAI  UBU 

Tudo isso é verdade.  Minha mulher é uma libertina e  fa las como se  ela  fôsse atr aente  feito  uma  lin-güiça! -

MÃE   UBU 

Cuid ado,  Pai  Ubu.

PAI UBU

Ah, sim, esqueci com quem  estou falando . Não, não 

quis   diz er  isso!  

MÃE  U ~ u  Mataste  Venceslau. 

PAr UBu 

A  culpa não  fo i minha,  podeis   crer . Foi idé ia  de

Mãe  Ubu.

~ U B U  Mataste  Bulelau   e  Ladis la u . 

144 . )

PAI UBU  

Azar  dêles! Queriam me  bater .

MÃE UBU 

Não cumpriste a  promessa ;fe it a a Bordadura e mais  

tarde  ainda o assassina$ te . 

PAr  UBu 

Prefi ro que se ja  eu  e não êl e o  rei da  Lituânia. A tu-. não é nenhum de nós dois.   I sso  prova que

não fui  eu quem o mato u .

MÃE   UBU 

Só há .um meio de conseguirdes  perdão para vossas  fa ltas .  

PAr UBu

Qual  é?  Estou  d is posto a me  to rnar um san to  ho

mem, quero   ser padre e ver meu nome como  santo  

do dia na fo lh inha .

MÃE  UBu 

Terás  de perdoa r os  pequenos fur to s de Mãe  Ubu: 

145 

• PAr UBu• 

. PAI UBU 

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Essa não!  Perdôo   depo is que ela me devolver tudo 

o  que roubou , depois   de ser  açoi tada e  depois que 

re ssusc ita r meu  cavalo-de-f inanças. 

MÃE  UBU 

Essa  do  cavalo fi cou -lhe na garganta.   Já  amanhece, estou perdida! 

PAI UBU 

No fi na l  de  tudo ,   estou muito  sa tis fei to por  ter

agora   a  certeza  de que minha  querida  espôsa me 

roubava  dinheiro. Agora   eu o  sei de  fonte   limpa.

Omnis a  D e o  sc ien  ia. O  que   quer   dizer: Omnt;:;, 

tô da;  a  Deo  sc ie n t ia ,  ciênc ia   vem  de  Deus. Tô.da ciência  vem   de  Deus. Eis  a  exp licação   do  fenôme

no. Mas Dona Apar ição parou d e falar.  Que é que  

f:lU  posso fazer para el á se. animar de nôvo? Até que

falava  coisas   engraç adas. Ih, já   está amanhecen

do . . . Nossa Mãe, por meu  cavalo-de -fin a nças,   er a

Mãe Ubu! 

MÃE UBu 

(Descaradamente.)   Não  é  verdade,  vou te excomungar.

146 

Ah, carn iça!

MÃE  UBU 

Que sac rilégio! 

PAr UBu

Essa não! Sei muito   bem  que er a você,  su a rabugenta ! Que dia bo fazes .aqu i?

MÃE  UBU 

Ma  ·a irão e  os poloneses me expu lsaram. 

PAr 

UBu

Quanto   a  mim,   fo ram os  russos que me  expulsa

ram: duas boas almas se encon tram.

MÃE  UBU 

Nest e   caso, eu  dir ia que  uma  boa  alm l?,  encontr a

um asno!  

PA r UBu 

É  assim? P ois  a  boa alma vai encontrar agora um 

palmípede. (Joga o urso em .cima dela.)  

.  147 

M ÃE  UBU • 

MÃE  UBU 

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(Caindo  sob   o  pêso  do  urso.)  Que  horror,  m eu 

Deus!  Vou  morrer!  Estou sufoca .da!   Êle me morde, 

me engole, me digert;

PAI U au 

O  bicho está  morto, escandalosa. Ui,  mas quem sa-be?  pode se r que não!  Nossa  Mãe!  Êle ··n ão morreu, 

fu jam os.  (Subindo na pedra.)  Pa.ter Noster  qui es .. 

M ÃE   Ul3U 

(Se  li vrando.)  Essa não!  Onde se  meteu êle? 

PAI  UBU 

Ah, meu Deus,  ela de nôvo!  Mulher estúpida, será 

que não h á  um jeito de me livrar dela? O urso está morto?  -

MÃE  UBu 

Está, meu  asno,  já  está até  frio .  Como êsse  bicho 

veio  parar  aqui? 

:f>J).r -UBU 

Sei lá . Ah,  sei sim .  J!:le  quis  comer Pila e ·Cotica  e 

eu o matei com . um .golpe  de Pater Noste r. 

148 

• .  

P ila , C otica , Pater Noster.  Que signif ica isso?  Pelas 

minhas finanças,  ê le  endoidou de vez! 

PAr UBu 

Disse  exatamente . o  que  houve. Tu  é  que  és  uma 

id io ta , minha bonstr a *. · M ÃE   UBU 

Pai Ubu,  me  conta como  foi  a  guerra. 

PAI  UBU 

Oh, não ,   é  cansativo. Tudo o ·q,_ue  sei é  que,  apesar 

de  minha  incontestável bravura,  todo  mundo  me 

bateu. 

MÃE  UBU 

Não me diga, a té  os poloneses?  

PAr  UBu 

Ê les  berravam:  Viva Venceslau  e  Bugrelau. Pense i 

que  iam  me  esquartejar,  indisciplinados.· 

E depois mataram Rensky. 

*  Tradução  arbi trár ia   de  giborgne , palavra  cunhada  por  Jarry e  que 

pode  conota r inúmeros sen tidos: gibbeux (corcunda),  bor gne  (lô brego,. 

zarolho),   gibeme  (trazeiro),  gibb on (orangotango).

149 

MÃE  UBU•

ass im  consiga extrair ta mbém  os  espinhos   de  seu  

ga nata -

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E  eu   com  is so?!   Sa bes que Bugrelau   m a tou  o  P a -

lhadino  Girão! 

PAr UBu  

E  eu  com isso ?! E  depois matar am o Lascy. 

MÃE UBU 

E eu  com  iss o?! 

PAr UBu  

Sim , mas de qualquer je ito,   chega  pra cá! 

Ajoelha-t e aos pés de  te u senhor   (Agarra- a e a põe

de  joelhos. )  Vais so fre r  o  derra dei ro   suplício . 

MÃE  UBu 

Oh! oh!  Sr. Ubu!

PAr UBu  

. Oh, oh , oh! Já acabaste? Agora começ o  eu : torção

de  nar iz, .ar rancam en to  de  ca.be los, in troj eção do 

bastonete ' de madeí·ra, éx tra ção · do cérebro   pelo s ca lcanhare s ,  di laceração  do posterior , supressão 

par c ia l ou mesmo  tota l  do  espinhaço  (talvez que

150 

caráte r) , sem esquecer a  ab ertura  da b exitória e finalmente a  grande decapitaçã o  renovada  

de S. Joã o  Bati sta,   tud o  de  acôrdo   com  as Santís

simas   Esc rituras ,  tanto  do  Antigo   como  do   Nôvo 

Testamento , organizado, corrigido  e  aperfeiçoado

pelo  aqui presente Mestre das Finanças!   De ac ôrd o,

lingüiça? 

(Ê le a rasga . ) 

MÃ E UBU 

Piedade , Sr. Ubu!

(Ala rido na entr ada da cave rna .)

151 

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Cena II

Os mesmos, Bugrelau.(Invadindo a caverna com seus soldados.)

BUGRELAU

Avante, camaradas! Viva a Polônia!

PAr UBu

Espere um pouco, senhor polonês. Deixe-me aca-bar aqui com minha cara metade.

BUGRELAU

(Espancando-o.) Toma, covarde, p ~ c a r o , sacripan-ta , incréu, muçulmano!

PAI UBu'(Revidando.) Toma, idiota, janota, lorota, carlota,capota, calota, borrabotas, bosta!

152

I!/II

1,I

·l

!

I1

BUGRELAU

Toma, capão, ladrão, beberrão, bufão, paspalhão,

cafetão! (Os soldados arremetem contra os Ubuque se defendem como podem.)

PAr UBu

Deuses! Quantos r e f o r ç ~ s !

~ E U B UTambém temos pés, senhores poloneses.

PAr UBu

Po r meus chifres, quando é ql,le isso vai acabar?Outro ainda! Ah, se eu tivesse aqui meu cavalo-de-finanças!

BUGRELAU

Batam, batam se m parar!

VOZES LÁ FORA

Viva Pai Ubu, nosso grande financista!

PA.r UBuôba! São êles! Viva! São os Pais Ubus. Venham,

153

... cheguem, precisamos de vocês, senhores da s Finan•

JEAN SoBIESKr

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ças.

(Entram os Palhadinos que se jogam na con

tusão.)

Poloneses, caiam fora!

PILA

Hon! turnamos a nos veire, senhoire das Finanças.Vamos, force a passagem, trate de chegar à portae, um a vez lá fora, só há uma coisa a fazer: darno pé.

PAr UsU

Nisso eu sou bom. Ai, êle bate com fôrça!

BUGRELAU

Meu Deus, estou ferido!

STANISLAU LE:CZINSKI

Não foi nada, senhor.

BUGRELAU

É, só fiquei um pouco tonto.

154

Ijl

I!

1

t

Batam, batam pra valer, êles fogem pela porta, osmiseráveis.

COTICA

Estamos perto, siga os outros. Em conseqüência ·

do qu e, estou vendo o céu. -

PILA

· Coragem, Sr. Ubu!

PAI UBU

Sim já fiz na s calças. Vamos, cornopapança! Mat r e ~ ,sangrem,. esfolem, matem, côrno de Ubu! Asituação melhora!

COTICA

Só há dois guardando a saída.

PA I UBU

(Espancando-os a golpe de urso.) Dou-lhe uma,

.dou-lhe duas! Uf! consegui sair. Fujamos! Sigamos outros.

155

,

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Cena III

A cena representa a província de Livônia cobertade neve.

Os Ubus e seu séquito em fuga.

PAr UBu

Uf, creio que êles desistiram de nos pegar.

MÃE UBu

É, Bugrelau foi assumir o trono.

PAr UBu

Não tenho nenhuma inveja da coroa dêle.

156

1

MÃE UB u

Tens tôda a razão, Pai Ubu.

(Desaparecem na distância.);

157

PAI UBU

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Cena IV  

Convés de um na vio navega ndo à bolina no Báltico.No  convés ,  Pai Ubu e se u bando.

COMANDANTE 

Sop ra ót imo vento. 

PAI UBU

D'e fato, navegamos com prod igio sa   rapidez. Devem os  esta r  fazendo  no mínimo um milhão de nóspor hora, e êsses nós têm a  vantagem de que, umavez feitos,  não se desfazem m ais . Bem, é  ve rda deque  temos  muito vento no  traseiro . 

PILA 

É  UII} pobre im be cil .

(Uma raj ada faz o nav io  adernar.)

158

U ai! Meu Deus!  V am os afundar.  ~ . l e está indo todotorto , va i v irar, o .ba rco va i v ir ar!

COMANDANTE

To .do mundo a so ta-vento,  amarrem o m ezena!  

PAI UBU 

Essa não! N ão  fiquem todos do mesmo lado ! É umaimprudência. E se o  vento mudar de   d ireção ?   Iremos  todos ao fundo  e os peixes nos com em .

COMANDANTE

Devagar, amainar  as vela s. 

PA I UBU 

Devagar, o quê! Nada disso!  Tenho pressa, ouviu? A culpa é tua, cap itão de merdra, se não chegarmos,   a  cu lpa é tua. Já devíam os te r chegado, pô!Àssumo o com ando! Evit ar de virar, fé   em Deus ee pé  na tábua1  Ancorar,  virar de   vento  em  pôpa, virar .d e ven to -em proa! Icem as ve las , arreiem asvelas , leme a bar raven to,   lem e a sota-vento, le m e

de18 . 

do. .

. Estamos  indo bem ? Nã o?  Então, cortar a onda pelo m eio , e  pron to , tudo  es t ará perfeito.

( Todos  se ri em , o ven to sopra mai s fo rte. ) 

159 

CoMANDANTE 

• 

f MÃE  UBu 

reve r everemos nos

7/28/2019 JARRY, Alfred. Ubu Rei. Trad. Ferreira Gular.pdf

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Afrouxar os  rizes, desviar o colhã o  e 'abrir a burda

PAr UBu 

Isso  até . que   não  é mau. Está  escutando,  senh9ra 

Tripulação?  Afrouxar  os  risos,  desviar  o cu lhão   e 

abrir  a  bunda!  

(Alguns morrem de rir. Uma onda varre o con

vés.) 

PA:r  Unu 

Que dilúvio!  É  conseqüência  das  manobras que  or

denamos. 

1\tl:ÃE  UBU 

Co isa  aprazível, a navegação!  

(Outra  onda  in vade  o  barco .)  

PILA 

(Encharcado.) Desconfie  do Demônio e de  suas  ten

tações .  

PAr UBu 

Senhor garçom,  traga-nos bebida. 

(Sentando-se para beber.)  

160 

Ah  como é bom saber que  em b

sa doce  França,  os  velhos  amigos  e  nosso . castelo 

de Maudragão. 

PAr UBu 

É, não vai  demorar!  Estamos passando pelo 

lo de Elsenor. PILA 

Fico  contente  só  de  pensar em . rever  minha  que

rida Espanha. 

CoTICA 

Eu  também ,  e  vamos deslumbrar  os  compatriotas 

com  a  história de nossas maravilhosas aventuras. 

PAr UBu 

Oh  sem  dúvida!  Quanto  a  mim,  se re i   nom eado  ' 

mestre das Finanças  em Paris. 

MÃE  UBu 

Iss o  mesmo!  Ui,  que· houve? 

CoTICA 

Não  é  nada,  é  que acabamos de   dobrar a  ponta  de 

Elsenor.

161 

PILA

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7/28/2019 JARRY, Alfred. Ubu Rei. Trad. Ferreira Gular.pdf

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E  agora cortamos velozmente as escuras ond as  doMar do No te .

PAr UBu

Mar feroz e hostil qu e banha o país por  nome Gér-mânia, ass im cha mado   porque os  seus  hab itantes.?ão primos germ ãos.

M ÃE  UBU  

É a isso que eu  chamo erudição. Diziam que é um a be leza  de país.

PA I UBU

Sim , mas , por mai s belo que se ja , não

à Polônia . Se não houvesse  a  Po lô n ia , nao ha venapolon eses . 

F IM  

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