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III Racionalidade Argumentativa e Filosofia DO PROGRAMA: 1.Argumentação e Lógica Formal: 1.1.Distinção validade/verdade. 1.2.Formas de inferência válida. 1.3.Principais falácias. 2.Argumentação e Retórica: 2.1.O domínio do discurso argumentativo: a procura da adesão do auditório. 2.2.O discurso argumentativo: principais tipos de ar- gumentos e falácias informais. 3.Argumentação e Filosofia: 3.1.Filosofia, retórica e democracia. 3.2.Persuasão e manipulação ou os dois usos da retórica. 3.3.Argumentação, verdade e ser.

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III

Racionalidade Argumentativa

e

Filosofia

DO PROGRAMA:

1.Argumentação e Lógica Formal:

1.1.Distinção validade/verdade.

1.2.Formas de inferência válida.

1.3.Principais falácias.

2.Argumentação e Retórica:

2.1.O domínio do discurso argumentativo: a procura

da adesão do auditório.

2.2.O discurso argumentativo: principais tipos de ar-

gumentos e falácias informais.

3.Argumentação e Filosofia:

3.1.Filosofia, retórica e democracia.

3.2.Persuasão e manipulação ou os dois usos da

retórica.

3.3.Argumentação, verdade e ser.

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1.Argumentação e Lógica Formal 1.1.Noções Básicas de Lógica

1.1.0.Introdução

a) O homem, ser dotado de consciência e aberto ao mundo (ser-no-mundo/ser-para-o-mundo) encontra-se constantemente confrontado com a experiência vivida que lhe é dada.

Mas… exatamente porque é um ser dotado de consciência, o homem tende a produzir configurações interpretativas dessa mesma experiência vivida.

b) O caráter linguisticamente estruturado da consciência humana

A interpretação grega do homem: zoon logon. Zoon: animal

logos: razão; discurso.

O homem é: um animal racional (um animal que pensa); um animal que fala, o animal do discurso. O que é próprio do homem é o exercício discursivo do pensamento:

Há uma íntima relação entre o pensamento e o discurso, entre pensar e falar, entre pensamento e linguagem.

A linguagem: -estruturadora da consciência; -mediadora da relação entre o homem e o mundo.

-instrumento de comunicação; -instrumento de pensamento.

Deste modo, o pensamento (resultado da atividade da mente ou da razão) e o discurso (através do qual o pensamento se exprime e se torna comunicável) são inseparáveis.

Donde que a natureza própria do discurso afete a modo do pensamento.

c) As Três Dimensões do Discurso: Sintaxe, Semântica, Pragmática Foi Charles Peirce (1839-1914) quem pela primeira vez imaginou o projeto de uma teoria geral dos signos ou uma semiótica, uma ciência da linguagem (esta

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considerada como comportamento humano fundamental) entendida como sistema de signos. Para Peirce, a lógica não é senão um outro nome da semiótica. Charles Morris (1901-1979) e Rudolph Carnap (1891-1970), retomando a ideia de Peirce, concebem a semiótica como dividida em três partes: a sintaxe, a semântica e a pragmática. c.1) A sintaxe estuda as relações entre os signos (as relações que os signos estabelecem ou podem estabelecer uns com os outros), independentemente da sua significação.

A sintaxe é a teoria das leis formais de formação e de transformação das relações entre signos, no interior do sistema da língua, fixando os modos corretos de associação de signos no interior do discurso.

Se nos mantivermos ao nível das linguagens naturais, o estudo das relações entre signos pertence à sintaxe gramatical.

Deste ponto de vista, a sintaxe diz respeito à disposição e combinação dos signos nas frases (proposições) e das frases no discurso.

Fala-se de sintaxe lógica quando aquele estudo passa do domínio das linguagens naturais para o domínio mais restrito das linguagens formalizadas que visam pôr a claro o aspeto formal, sintático, das linguagens científicas.

A linguagem formal é concebida como conjunto de estruturas vazias (de conteúdos), independentemente das significações que as mesmas possam veicular. NOTA:

-a grande limitação das análises formalizantes, sintáticas, é a redução da riqueza expressiva das linguagens naturais; -a sua grande virtude reside na redução da ambiguidade característica do uso das linguagens naturais. -.rigor formal e expressividade significante variam em sentido inverso.

Deverá dizer-se que, se as linguagens formalizadas são excelentes instrumentos de sistematização lógica do pensamento, elas são contudo pobres em poder comunicação. Por sua vez, as linguagens naturais, ricas em poder de comunicação, são pobres em termos de sistematicidade lógica. c.2) A semântica diz respeito ao estudo das relações entre os signos e as significações.

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Assim, a semântica diz respeito ao estudo das significações das expressões linguísticas, enquanto estas designam ou denotam uma referência (objeto extralinguístico), dizendo alguma coisa (a frase, o discurso) acerca de alguma coisa (as coisas, o mundo).

Os signos e os conjuntos ordenados de signos (frases) remetem para as "coisas" (que são a sua referência ou denotação).

c.3) Finalmente, a pragmática diz respeito às relações entre os signos e os seus utilizadores, à relação entre os signos e os usos que deles fazemos em diferentes contextos. A análise pragmática do discurso chama a atenção para o facto de que o sentido das expressões linguísticas não deriva apenas das respetivas estruturas sintáticas e das suas relações semânticas, mas também do seu uso contextual, enraizado na esfera intersubjetiva, social, que é a da comunicação.

Mais radicalmente do que pelas suas dimensões sintática e semântica, a linguagem significa efetivamente enquanto é meio de comunicação de significações intersubjectivamente (quer dizer, socialmente) partilháveis, em contextos específicos, de algum modo comuns ao emissor e ao recetor.

A possibilidade de uma comunicação efetiva entre um emissor e um recetor exige, não apenas uma comunidade de código (signos, regras sintáticas, catálogo de significados), mas também a comparticipação do emissor e do recetor, do orador e do auditório, de um mesmo contexto de uso do discurso. É assim que a compreensão do discurso exige, para além da consideração dos seus aspetos sintático e semântico, uma competência pragmática, uma capacidade de usar eficazmente a linguagem "no interior de um universo de crenças comuns sobre a natureza das coisas, dentro do quadro de um sistema de instituições sociais" (N. Chomsky).

O contexto pragmático do discurso envolve assim: as convicções, as crenças, os pressupostos partilhados (ou não) pelos

interlo-cutores; as intenções e as expectativas de cada um deles; as relações que entre si estabelecem; as representações interiores que cada um dos interlocutores tem de

tudo isso.