historia e doutrina do martinismo

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  • 8/3/2019 Historia e Doutrina Do Martinismo

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    Histria e Doutrina

    Do Martinismo

    Compilao de Dados feita

    por Martinistas do Chile

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    NDICE

    CAPTULO HISTRICO PGINA

    I EXPLICAES GERAIS SOBRE O MARTINISMO 3A Ordem Templria 4A Ordem Rosa-Cruz 5A Ordem Manica 6Emmanuel Swedenborg 7Martinez de Pasqually 8Catecismo dos Aprendizes Cohens 9

    II ANLISE DO TRATADO DA REINTEGRAODOS SERES 11

    III OS PRINCIPAIS DISCPULOS DE MARTINEZ DEPASQUALLY 18

    Jean Baptiste Willermoz 18Louis Claude de Saint-Martin 20Extratos das Obras de Saint-Martin 24

    IV O MARTINISMO PAPUSIANO 27Henri Delaage 27Grard Encausse 27O Grupo Independente de Estudos Esotricos 29

    V O MARTINISMO NA RSSIA 34

    VI PHILIPPE NIZIER, O MESTRE ESPIRITUAL DE PAPUS 40

    VII O MARTINISMO POSTERIOR A PAPUS 52A Ordem Martinista Universal (de Lyon) 54

    VIII RITO DE MEMPHIS-MIZRAIM E OUTROS RAMOSMARTINISTAS 57Ordem Martinista e Sinrquica 62Ordem Martinista Tradicional 62Ordem Martinista Retificada 65

    IX UNIO DAS ORDENS MARTINISTAS 66

    X DISCURSO MARTINISTA 71Declarao dos Princpios da Ordem Martinista do Chile 78

    XI SIMBOLISMO MARTINISTA 78

    XII DA INICIAO MARTINISTA 83

    captulo i

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    EXPLICAES GERAIS SOBRE O MARTINISMO

    Qual a base da Iniciao Martinista? Um ritual da Ordem nos diz nos seguintes termos:

    Encerra a filosofia de nosso Venervel Mestre, baseada especialmente nas teorias dosEgpcios, sintetizadas por Pitgoras e sua Escola. Contm, em seu simbolismo, a Chave que abre o

    mundo dos Espritos e que no est cerrado; segredo inefvel, incomunicvel e unicamentecompreensvel ao verdadeiro Adepto. Este trabalho no profana a santidade do Vu de sis porimprudentes revelaes. Aquele que digno e est versado na Histria do Hermetismo, em suasdoutrinas e em seus ritos, em suas cerimnias e hierglifos, poder penetrar na secreta, porm real,significao do pequeno nmero de smbolos oferecidos meditao do Homem de Desejo.

    O Martinismo uma Escola de alto Hermetismo que se descobre a muito pouca gente,preferindo a qualidade quantidade, como qualquer associao que no deseja ter ao poltica eque, se pensa proceder socialmente, prefere elevar a multido seleo, no lugar de descer daseleo at a multido.

    A Iniciao Martinista o resultado de um ensinamento, porm h em seu desenvolvimentouma parte imensa de formao pessoal. A Iniciao gradual, conforme as capacidades daquele quedeve seguir as fases de seu ensinamento antes de chegar aos graus superiores. Este o sentimentoque podemos extrair do clebre discurso pronunciado por Stanislas de Guaita e que encontramos noUmbral do Mistrio:

    Fizemos-te iniciar: o papel dos iniciadores deve limitar-se aqui. Se chegares por ti mesmo inteligncia dos Arcanos merecers o ttulo de Adepto; mas, v bem; seria em vo que os mais sbiosMestres quisessem revelar-te as supremas frmulas da Cincia e do Poder mgico. A VerdadeOculta no poder ser transmitida em um discurso: cada um deve evoc-la, cri-la e desenvolv-laem si. s Inciciado: aquele que outros colocaram no caminho; esfora-te em chegar a Adepto,

    aquele que conquista a Cincia por si mesmo; em uma palavra: oFilho de suas obras.

    A Iniciao Martinista compreendida desta maneira, no pode transcorrer sem provas; pormestas no tem nada de comum com as de outras instituies iniciticas. O discurso de Stanislas deGuaita, que no podemos aqui transcrever inteiramente, merece estudo e reflexo. Ele desenvolveesta doutrina: A Iniciao , certamente, o resultado de um ensino, porm h em seu transcurso umaimensa parte de formao pessoal. Qualquer poder concedido pela Natureza ou pela Sociedade, paraser til, deve desenvolver e adaptar sua funo aquele que dever beneficiar-se com ele.

    Existe uma qualidade de alma que caracteriza essencialmente o verdadeiro Martinista: aafinidade entre espritos unidos por um mesmo grau em suas possibilidades de compreenso e de

    adaptao; unidos por um mesmo comportamento intelectual, pelas mesmas tendncias, do qual sesegue a constatao obrigatria de que o Martinismo est composto, exclusivamente, por seresisolados, solitrios, que meditam no silncio de seu gabinete, buscando sua prpria iluminao.

    Cada um destes seres tem a obrigao, uma vez adquirido o conhecimento das leis doequilbrio, de transmitir a compreenso alcanada, para aqueles que possam compreender e participardaquilo que ele cr constituir a verdade em sua vida espiritual. aqui, ento, que intervm aMissode Servio do Martinismo, somente neste sentido que esta corrente espiritual especial encontra seulugar na Tradio Ocidental.

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    Os assuntos de dinheiro so quase desconhecidos na Ordem; as quotas, o tronco da viva,os direitos pelos diplomas no existem e os graus so conferidos sempre ao mrito e no podemnunca ser objeto de trfico.

    Todo chefe de Loja o proprietrio de sua Loja e deve cobrir a maior parte de seus gastos e,em regra geral, todo membro da Ordem deve cobrir pessoalmente as despesas necessrias aoexerccio de seu cargo.

    A filiao Ordem Martinista buscada, sobretudo, pela instruo que leva bastante longe eque compreende o estudo aprofundado das cincias simblicas e hermticas.

    Por outro lado, a Ordem abre suas portas tanto aos homens como s mulheres; no exige deseus membros juramento nenhum de obedincia passiva, nem tampouco lhes impe nenhum dogma;acolhe sem distino a todos os que sentem em seus coraes o amor ao prximo e que desejemtrabalhar pelo bem comum.

    Dentro da Ordem de rigor possuir a maior tolerncia, ou melhor, o esprito decompreenso mais acentuado. No que diz respeito ajuda mtua, ela constitui tambm uma das

    caractersticas essenciais do Martinismo, cujos adeptos se esforam, segundo suas possibilidades, emajudar aos demais seres humanos, sejam ou no iniciados, pertenam ou no a nossa Ordem.

    A Ordem Martinista compreende trs graus: Associado, Iniciado e Superior Incgnito,conferidos de acordo com rituais que procuram dar a quem os recebe uma ajuda poderosa.

    J dissemos que o Martinismo uma cavalaria, ou por outra, uma tendncia ou correntecavalheiresca que persegue o aperfeioamento individual e coletivo. necessrio, portanto, que oMartinismo em todas as terras esteja formado por servidores perfeitos e sucessores dos verdadeirosMestres do movimento; os Superiores Incgnitos, dos quais um dos primeiros a ser conhecido pelomundo profano foi Louis Claude de Saint-Martin, que ainda pode ser conhecido como o Filsofo

    Desconhecido.

    Porm, qual a origem histrica da Ordem Martinista?

    Procuraremos responder brevemente dando uma resenha geral. No mundo nada ocorre porsi; da mesma maneira que as pessoas, as sociedades humanas tem tambm seus pais e seusantecessores, quer dizer, sua genealogia.

    Comearemos por descrever as etapas principais do desenvolvimento e as correntes maisimportantes do esoterismo ocidental. No nosso propsito ocupar-nos agora da histria dastradies (Escolas Esotricas), das quais falaremos em seu devido tempo. Agora, necessitamos de

    uma parte relativamente curta e esquemtica desta histria.

    A ORDEM TEMPLRIA

    Iniciaremos pelo aparecimento das Escolas Iniciticas na Europa. Isto foi em 1118, poca dafundao da Ordem dos Templrios, que trouxe da Arbia e Palestina, durante as Cruzadas, a Luzdo Ensinamento Gnstico. O ideal da Ordem era o estabelecimento do Reino de Deus sobre a terra,encarnado no estado perfeito e equilibrado, nos trs planos. Reino da Unidade e da Paz de todas asnaes, sem distines de raas e nem castas. Em tal estado, o Influxo Superior devia emanar daregio mstica, vivificar o poder astral e dirigir e instruir o poder realizador, criando por seuintermdio a prosperidade, a felicidade e a possibilidade do trabalho evolutivo.

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    A base da doutrina Templria foi o sistema sinttico dos trs planos da metafsica Egpcia,conhecido com o nome de Hermetismo; incorporado na corrente das interpretaes Crists-Gnsticas. O rito principal dos Templrios era o culto de Baphomet, palavra que resulta da leitura,da direita para a esquerda, da frase Templi Camium Hominum Pacis Abbas, o que significa: OSacerdote do Templo da Paz de Todos os Homens. Sobre este termo se tende o instrumentouniversal, de realizao, quer dizer, o torvelinho astral dos impulsos da Cadeia. A esttua deBaphomet representava o esquema simblico do torvelinho astral que na Cabala denomina-se

    Nahash.

    O poder mgico e as grandes riquezas da Ordem produziram temor e inveja por parte do reida Frana - Felipe o Belo, assim como despertaram idntica reao no Papa Clemente VI. OsCavaleiros Templrios foram vilmente caluniados e acusados de dedicarem-se prtica da magianegra e da heresia. Em 1307, parte dos Cavaleiros foram queimados vivos; e seu Gro-MestreJacques Borgundo de Molay ao perecer envolto pelas chamas, citou ao Papa e ao Rei no Juzo deDeus. Constatamos que ambos morreram antes de cumprir-se um ano da morte trgica do Gro-Mestre.

    A ORDEM ROSA CRUZ

    Depois de uns oitenta anos da destruio fsica da Ordem dos Cavaleiros do Templo, a almacoletiva Templria materializou na terra o movimento denominado Rosa-Crucismo primrio. A novaOrdem, segundo nos conta a lenda, foi fundada na Alemanha por Christian Rosencreutz (1378 a1484). Era composta por msticos que se reuniam no misterioso Templo do Esprito Santo. EsteTemplo suprafsico excitava a curiosidade dos profanos que em vo o buscavam em algum lugar daTerra. No se obrigado a crer nesta lenda, porm devemos admitir que a Ordem Rosa-Cruz aherdeira espiritual da Ordem Templria, digamos, sua reencarnao possuidora da SabedoriaGnstica, do Hermetismo e do Cristianismo Joanita dos primeiros sculos. O ideal da Ordem estexpresso pelo smbolo da Cruz com uma Rosa em seu centro, smbolo da f e do conhecimento, dareligio e da cincia.

    O Rosa-Crucismo primrio tinha pouqussimos adeptos porque as exigncias eram muitograndes e o regulamento da Ordem sumamente severo, sendo poucos os adeptos capazes de cumpri-lo.

    No sculo XV o Rosa-Crucismo primrio se transformou em secundrio. Agora se exigia dosmembros da Ordem to somente estarem dotados de capacidade para o pensamento cientfico,possuir interesses amplos e dedicados idia do bem. Tratava-se de naturezas altamente msticas,pantestas (1) e com tendncias prticas, porm, em todo caso, eram pessoas excepcionais pelodesenvolvimento de seu intelecto, erudio, vontade poderosa e com conceitos bem preciosos sobrea humanidade futura. Possuam mltiplos segredos da Cabala e procuravam adaptar os ditos

    segredos, tanto de modo especulativo como prtico. Tambm no eram alheios ao desejo deaumentar seu poder em todos os planos do universo, mediante o conhecimento adquirido.Consideravam-se em si mesmos o esprito da humanidade e a sua atividade como a manifestaomaterial desse esprito; do ponto de vista metafsico e filosfico tinham razo.

    Deve-se mencionar as caractersticas que assumiu a poltica da Ordem com respeito a suainfluncia sobre a sociedade. No princpio esta poltica foi de carter puramente tico, emborativesse tomado depois um forte carter realizador. Em todo caso, a ao do Rosa-Crucismosecundrio no mundo externo foi muito prudente porque esteve bastante viva a recordao do

    1 - Doutrina que concebe Deus como realidade primordial e o mundo como realidade emanada. O Pantesmo foidesenvolvido por Spinoza. (N. Rev.).

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    trgico fim da Ordem Templria e a alma coletiva da Cadeia de Jacques de Molay vibrava no sentidoda cautela. Como resultado desta vibrao nasceu a Ordem Manica.

    A ORDEM MANICA

    Existem muitas lendas acerca da genealogia Manica e resultaria muito extenso passarrevista a todas estas interpretaes. Por outra parte, no momento, nos interessa em maior grau o

    aparecimento daquelas correntes Manicas provocadas pela atividade do Iluminismo Cristo dosculo XVII. A Fraternidade Rosa-Cruz encarrega a alguns de seus membros, entre os quaissobressaem por sua atividade Ashmole, Fludd e Bacon, da criao desta Odem com as seguintesfinalidades:

    1 - Desenvolver e, se possvel, propagar na humanidade a confiana no ensino esotrico e em seusrepresentantes o respeito por seus smbolos e facilitar a preparao moral e espiritual, sem a qual impossvel assimilar as bases da Cabala.

    2 - Assegurar, em sua devida pureza, a transmisso dos elementos do simbolismo.

    3 - Criar um meio desenvolvido moral e espiritualmente, para us-lo como depsito de energia paraatuar sobre a sociedade e, em parte, para escolher entre seus membros, seus futuros adeptos.

    Seguindo o caminho dos movimentos iniciticos ocidentais e da nova Ordem, formada pelasassociaes de construtores que no sculo XVIII recebe a denominao de Manica, chegamos metade do sculo XVIII, perodo no qual nos deteremos para analisar as correntes do IluminismoCristo.

    Um esprito novo sopra sobre a humanidade: as antigas crenas se desmoronam e o risosarcstico de Voltaire faz retumbar os cantos da velha Europa. Naquela poca, como hoje em dia, ospovos bailavam sobre um vulco de sangue e lodo, que sacudiria o antigo continente na passagem do

    sculo e sepultaria sobre um monte de escombros o estado social carcomido e faria surgir em seulugar a espada refulgente de um dspota. A Alemanha estava cheia de sociedades secretas. Umasiluminadas, outras subversivas sob uma capa de iluminismo, como a de Adam Weishaupt. Asociedade deste ltimo quase consegue seus fins, de convulsionar a Europa inteira. Tudo estpronto, falta s acender a mecha, quando em Rastibona, um adepto, um sacerdote apstata chamadoLans, cai fulminado por um raio, na rua, ao lado do prprio Weishaupt. Levado casa de umparticular, encontrou-se em sua carteira o plano da revolta. Avisado a tempo, o Eleitor de Baviera (2)toma suas precaues, o movimento se esvai... no importa, vinte anos depois nada poderia deter aRevoluo Francesa...

    Ocultamente, os partidos se preparam para a luta. Uns personagens misteriosos cercam os

    povos. O enigmtico Conde de Saint-Germain o favorito da corte frvola de Luiz XV. Lascaris,mais enigmtico ainda, percorre o mundo pedindo esmolas e deixando atrs de si uma moeda deouro. Apesar de todas as investigaes no se descobriu, no entanto, o real papel quedesempenharam estes desconhecidos na histria secreta daquele tempo, assim como o do fantsticoConde de Gagliostro. Porm, quaisquer que tenham sido, evidente que conseguiram diminuir, em

    2 - Prncipe alemo que nomeava ou elegia o imperador. (N. Rev.).

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    parte, os efeitos do atesmo, que estava se espalhando de uma maneira alarmante em todas as escalassociais.

    EMANUEL SWEDENBORG (3)

    Mais conhecida a obra do famoso iluminado Swedenborg, fundador de uma nova escola.Era ele um sbio conhecido por Conselheiro da Corte da Sucia. Seus antecedentes, sua elevada

    situao social, no permitiram a seus contemporneos consider-lo como um charlato e umalienado, como sucedia e sucede, ainda, aos que se crem ou se dizem iluminados.

    Swedenborg teve, segundo parece, a misso de formar uma Ordem de Cavalaria Laica deCristo. Sua obra de realizao compreendia trs sees:

    1 - Seo de ensinamento, com estudo de seus livros.

    2 - Seo religiosa, com a aplicao ritualstica de seus ensinamentos.

    3 - Seo encarregada da tradio simblica e da tradio prtica. Estava constituda pelos Graus

    Iniciticos do Rito Swedenborgiano.

    esta seo que nos interessa agora. Ela estava subdividida em trs sees secundrias: aprimeira era elementar e Manica; a segunda elevava o candidato at o Iluminismo e a terceira eraativa. (4)

    A primeira seo compreendia os Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. A segundacompreendia os Graus de Aprendiz Cohen (ou Mestre Eleito), Companheiro Cohen e Mestre Cohen.A terceira era formada pelos seguintes Graus:

    1 - Aprendiz Rosa-Cruz.

    2 - Cavaleiro Rosa-Cruz, Comendador.3 - Rosa-Cruz Iluminado ou Kadosh (Mestre Grande Arquiteto).

    Entre os Iniciados de Swedenborg, houve um ao qual os poderes invisveis prestaram umaajuda constante e que era dotado de extraordinrias faculdades de realizao.

    3 - Emanuel Swedenborg e o Conde de Cagliostro, apesar de iniciados, so considerados pelos Mestres de nossaOrdem, posteriores a eles, como falsos profetas. So comparados aos fanticos precursores do Iluminismo Alemo,como o celerado Adam Weishaupt. So os chefes de um misticismo dissidente e subversivo. A respeito de Cagliostroencontramos passagens esclarecedoras no Templo de Sat de Stanislas de Guaita. De Swedenborg, Eliphas Levi dizque foi o mais honesto e o mais doce dos profetas de falso iluminismo, e que no era por isso menos perigoso queos outros. (Histria da Magia. So Paulo, Ed. Pensamento, s/d, pgina 310). (N. Rev.).4 - O temo Iluminao, que segundo Joseph de Maistre no deve ser confundido com o Iluminismo Alemo do termo

    de Weishaupt (Iluminados da Baviera) o coroamento da Iniciao. conseguido pela senda ativa, isto , pelotrabalho em todos os planos, pelo esforo individual, pela exaltao da Vontade e pela prtica da Caridade. (N.Rev.).

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    Este era Martinez de Pasqually, (5) do qual falaremos mais adiante. Emmanuel Swedenborgera um sbio, fsico, qumico e matemtico de grande valor. Como Pascal, foi bruscamente inspiradoe escreveu um certo nmero de obras entre as quais as mais clebres foram: Arcanos Celestes e aNova Jerusalm e sua doutrina celeste, onde desenvolve uma interpretao mstica dos livrossantos e do Apocalipse. Durante sua longa existncia, Swedenborg teve muitos discpulos. Nasceuem 1691 e morreu em londres em 1771.

    Devemos recordar que foi Emmanuel Swedenborg o primeiro que divulgou a chamada Leidas correspondncias, que se encontra na base de diversos ramos do ocultismo e que , tambm,perfeitamente vlida na psicologia objetivamente experimental dos fenmenos de sugesto, hipnose,sonambulismo, etc. Por correspondente, entendia Swedenborg algo mais, pois designava com essapalavra toda coisa que, no mundo fsico, existe conforme sua correspondente do mundo espiritual ecujo significado constitui o sinal da influncia do esprito sobre o fsico.

    Porm, Swedenborg no foi um ocultista puramente terico; com sua vista clarividente soubedo incndio de Estocolmo antes que chegassem as notcias desta catstrofe ao lugar onde seencontrava; da mesma maneira predisse a volta e o destino de amigos ausentes.

    MARTINEZ DE PASQUALLY

    Martinez de Pasqually recebeu em Londres a Iniciao do Mestre e foi encarregado depropag-la na Frana. assim que o ensinamento de Swedenborg se encontra inteiro no deMartinez. Porm, quem era Martinez de Pasqually? Ningum o sabe e nem jamais se soube. Durantemuito tempo foi geral a crena que Martinez foi um judeu-portugus, crena temerria que no temsrios fundamentos, j que seus mais caros discpulos, seus amigos mais ntimos no souberam nuncaonde havia nascido. No entanto, provvel que tenha sido espanhol porque assinava com o ttulo deDon e no Dom, como teria feito se fosse portugus.

    No obstante as lacunas que oferece a biografia de Martinez de Pasqually, sabemos por

    caractersticas suas que era homem de grande generosidade, de sentimentos honrados e deescrpulos quase puers, gostando de gozar a vida sem consumi-la com ambies e decepes. Osdocumentos da poca que se conservam, indicam claramente que foi ele quem instituiu a organizaodenominada Ordem Martinista, pelo menos na Europa. No entanto, vrios arquivos indicam quehouve um indivduo ou um grupo de indivduos ou Iniciados, que o precederam e que idealizaram econceberam a forma fsica da intituio, que se baseava nas atividades de uma sociedade muitoantiga sobre a qual falaremos mais adiante.

    Seja como for, Martinez chegou a Paris em 1750 e ali fundou a Ordem dos Elu Cohen,conhecida tambm sob o nome de Martinismo e qual se poderia denominar com mais propriedadeSwedenborgismo Adaptado, pois Martinez conservou todos os nomes dados nos Graus dos Seres

    Invisveis, os quais foram transmitidos por Swedenborg. Alm disso, tanto o rito deste como odaquele, seguiram o mesmo fim: a reintegrao do nefito em sua dignidade primitiva. Seguindo amoda que reinava na poca, a Ordem dos Elu Cohen em seu aspecto ritualista no apresentava seno

    5 - Documentos manuscritos pertencentes Ordem assinalam que Martiinez de Pasqually teria sido iniciado peloConde de Saint-Germain. Isso no impede, entretanto, que ele tenha tido um primeiro iniciador. possvel, ademais,que tenha recebido de Swedenborg o esboo do sistema inicitico Cohen e que o tenha aperfeioado. Sabemos hoje queo prprio sistema de Martinez, que foi um grande Mestre, precisava sofrer alteraes para ser adaptado poca. Issofoi realizado por Saint-Martin e Willermoz, seus principais discpulos. Eles buscaram na Alemanha a forma contidano Rito Escocs Retificado, precisou do Sopro Vivificador de outras formas de revelao para expressar-se com todo oseu explendor. Como aconteceu com Swedenborg, a obra de Martinez foi vivificada por seus principais discpulos.Uma vez mais o iniciado mata seu iniciador! Existe, ainda, uma lenda que diz que o pai de Martinez, um velho

    rabino versado em Cabala, vendo aproximar-se o dia de sua morte, o chamou Espanha para lhe conferir o ltimograu de seu sistema inicitico, bem como todos os manuscritos existentes em seu poder. (N. Revisor).

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    analogias com a Maonaria. Porm, sobre este particular, devemos citar o famoso historiadorManico Arthur Edward Waite, que expressa:

    No entanto existe a possibilidade que Martinez de Pasqually tivesse atuado sob a direo deuma Ordem anterior, digamos que dos Rosa-Cruzes com quem esteve filiado. Quando apareceu pelaprimeira vez em Paris, o fez em sua qualidade de membro dessa misteriosa irmandade.

    No incio a Grande Loja da Frana, em 1765, recusou reconhecer a este sistema e no foiseno mais tarde que o Grande Oriente, de acordo com sua poltica de absoro reconheceu-o comoRito Manico.

    Para expandir sua Ordem, Martinez viajou atravs de toda a Frana. No entanto, suas sedesprincipais foram em Bordeaux e em Paris. A Ordem dos Elu Cohen ou Sacerdotes Eleitos alcanougrande prosperidade entre os anos 1760 e 1775.

    At 1771 os arquivos dos Elu Cohen, foram depositados nos arquivos dos Philalthes(Iluminados), onde foram encontrados depois da revoluo.

    O Objetivo da Ordem dos Elu Cohen, como j disse, era conseguir a reintegrao dos sereshumanos em sua dignidade primitiva. Para conseguir este objetivo, seus membros esforavam-se emadquirir, pela pureza corporal e espiritual, aqueles poderes que permitem ao homem entrar emrelao consciente com os Seres Invisveis. Martinez conferia o grau mais elevado da Ordemsomente a quem conseguisse pr-se em contato com ditas entidades. Tratava de desenvolver cadamembro de sua Ordem por meio de seu trabalho pessoal, deixando-lhe toda liberdade e inteiraresponsabilidade por seus atos. Selecionava cuidadosamente cada membro e no conferia seus Grausseno a uma verdadeira aristocracia intelectual.

    Os Iniciados j treinados reuniam-se para ajudar-se mutuamente, bem como, aos dbeis e aosprincipiantes. Estas reunies tinham lugar em certas pocas astrolgicas determinadas.

    Do ponto de vista administrativo, a Ordem dos Elu Cohen seguiu exatamente os Graus deSwedenborg.

    Martinez no veio ensinar coisas novas, mas a renovar e a pr em prtica antiqussimosensinamentos, esquecidos e menosprezados, para detrimento da humanidade. No catecismo dosAprendizes Cohens, se l, com efeito, seguinte:

    Catecismo dos Aprendizes Cohens

    P. - Qual a origem da Ordem que professamos?

    R. - Sua origem vem do Criador e comea desde os primeiros tempos de Ado e de l at nossosdias.

    P. - Como pde perpetuar-se esta Ordem at ns?R. - Pela misericrdia do Grande Arquiteto do Universo, que enviou emissrios adequados paramanifestar esta Ordem entre os homens, para sua prpria glria e justia.

    P. - Que utilidade tinha esta Ordem para os homens dos primeiros tempos?R. - Servia-lhes de base e fundamento espiritual para executar as cerimnias do culto do Eterno e,tambm, para conservar a pureza de seus princpios primitivos e suas virtudes e poderes espirituais.

    P. - Que emissrios empregou o Grande Arquiteto para perpetuar esta Ordem entre ns?

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    R. - Desde Ado at No, desde No at Melquizedec, at Abraho, Moiss, Salomo, Zorobabel eo Cristo.

    Martinez proclama, desta maneira, sua ortodoxia e continua a obra social e cientfica queprincipiou quando apareceu o homem sobre a terra e que no concluir at que a raa humana venhaa se extinguir.

    certo que a Tradio no se perdeu nem pode perder-se, porm, quando os encarregadosde transmiti-la faltam a seu dever, os Guardies Invisveis da Verdade, mandam missionrios a quemconferem poderes especiais; afim de que as naes no sumam pr completo na noite espiritual.

    Martinez, no seio da Ordem dos Elu Cohen, praticava o que se denomina operaes mgicas.Conforme o prprio testemunho de Saint-Martin, o Mestre reunia seus discpulos em uma habitaoqualquer, sem dvida purificada por meio de uma operao preliminar. Martinez traava em seguidaum crculo no centro do quarto e escrevia nele, em lngua hebraica, o nome dos Anjos e outros decarter Divino que fossem necessrios.

    Tais preparativos assombravam aos principais e, possivelmente alguns teriam perguntado, no

    incio, porque eram necessrios tantos preparativos para comunicar-se com o Cu. Porm, estes emseguida davam-se conta que no havia razo para arrepender-se em empregar tais precaues, umavez que, desde o instante em que as conjuraes eram formuladas, as Influncias Superiorescomeavam a manifestar-se e a dar eloqentes provas da realidade de sua existncia no mundoinvisvel. Aqueles que assistiam a tais experincias tornavam-se iluminados, quer dizer, para eles aexistncia do mundo invisvel e a imortalidade da alma convertiam-se em realidade mais positiva quea existncia do mundo fsico. Desta maneira, estes iluminados chegavam a desprezar a morte eestavam sempre dispostos a tudo para propagar e defender as doutrinas que professavam.

    Nos ensinamentos de Martinez, em conseqncia, os Trabalhos prticos tinham um grandedestaque. Estes trabalhos consistiam na evocao do que Martinez chamava A Coisa; a que se

    manifestava por certas fases, quer dizer, por aparies fugitivas e luminosas. Esta entidade,posteriormente, firmou seus escritos com o pseudnimo deFilsofo Desconhecido, pseudnimo queLouis Claude de Saint-Martin adotou em seguida, pr ordem da prpria Coisa. Conformedeclarao prpria de Saint-Martin, escreveu uma parte de suas obras sob seu ditado. O FilsofoDesconhecido ditou 166 Livros de Instrues, dos quais Saint-Martin conseguiu copiar alguns.Destes livros, mais ou menos 80 foram destrudos em 1790 pelo prprio Filsofo Desconhecido, afim de que no cassem em mos de Robespierre, que havia mandado dois de seus sequazes paradeles se apoderarem.

    O ltimo grau dos Elu Cohen era o de Rau-Croix. Os historiadores, seguidamente,confundiam este grau com o de Rosa-Cruz. No entanto, este ltimo constitue o cume de uma larga

    Tradio esotrica, transmitida atravs dos sculos, enquanto que os Rau-Croix (PoderososSacerdotes) constituam a mais alta dignidade hierrquica do sistema ocultista de Martinez.Willermoz, em uma carta dirigida, em 20 de outubro de 1780 ao Prncipe de Hesse, escreveu:

    Admito os conhecimentos dos Rosa-Cruzes, mesmo que se baseiem em um fundamentotemporal em sua natureza, de maneira que no operem seno sobre a matria mista, ou seja, sobreuma mistura do material e do espiritual e obtenham, em conseqncia, resultados mais aparentes doque os Rau-Croix, que operam sobre o espiritual-temporal e cujos resultados se apresentam emforma de hierglifos.

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    A influncia das idias de Martinez foi enorme. A ele pode-se atribuir a vocao de Pernety,o fundador dosIluminados e dos quais derivaram osPhilalthes, a quem se pode considerar, por suadoutrina, os precursores da Revoluo Francesa.

    Martinez contou no nmero de seus mais ardorosos discpulos, alm de Saint-Martin eWillermoz, dos quais falaremos adiante com mais destaque, o Baro de Holbach, o clebre autor doSistema da Natureza; Duchantenau, a quem se devem os quadros msticos mais procurados pelos

    amantes deste gnero de pintura; Andreas Chenier; Gazotte; Mirabeau; etc.. Em 1772, Martinezembarcou para So Domingos, onde um parente seu lhe havia deixado uma herana muito grande.li morreu em 1774.

    Pode-se dar a denominao de Martinesismo corrente de pensamento e ao movimento aoqual deu origem Martinez de Pasqually. A Ordem dos Elu Cohen foi dissolvida em 1780,desaparecendo oficial e oficiosamente no Convento Manico de Wilhemsbad, no qual, entre outros,estiveram presentes os mais altos dignitrios das diversas Ordens Iniciticas daquela poca. Entreestes, deve-se mencionar Louis Claude de Saint-Martin, Willermoz e o Conde de Saint-Germain,como emissrio dos Grupos R+C mais secretos da Europa.

    Martinez de Pasqually exps suas doutrinas em seu livro intitulado Tratado daReintegrao dos Seres em suas primeiras propriedades, virtudes e poderes espirituais e Divinos(6). Nesta obra, Martinez expe sua teoria da Queda e da Reintegrao. O captulo II estardedicado a esta obra da qual transmitiremos uma sntese.

    CAPTULO II

    ANLISE DO TRATADO DA REINTEGRAO DOS SERES

    Como todos os esoterismos, a doutrina Martinista, tal como foi definida por Martinez dePasqually em seu Tratado da Reintegrao dos Seres, recorreu necessariamente ao exoterismo

    para expressar as verdades metafsicas, pouco compreensveis e difceis de expressar em razo de suanatureza. assim que a doutrina Martinista encontra-se relacionada de maneira integral com aTradio Ocidental e, muito especialmente, com a corrente Judaca-Crist.

    Com respeito ao problema da Causa Primeira (Deus), o Martinismo faz suas, as concluses aque haviam chegado os telogos cristos e os Cabalistas hebreus, pelo menos no que diz respeito aosprincpios sobre os quais esto de acordo e tem estado sempre as diversas escolas: ternrio Divino,pessoas Divinas, emanaes, etc.. Quanto ao resto, mais particularmente gnstica (ainda queapresentando esta tese sob uma forma diferente das escolas conhecidas com esta denominao), jque faz presente, em princpio, a necessidade igual de Conhecimento e de F e a circunstncia de quea Graa deve, para operar completamente, ser completada com ao, com a inteligncia e com a

    compreenso e a liberdade do Homem. Por estes diversos motivos que Martinez de Pasquallyapresentou o esoterismo de sua Escola sob o aspecto da tradio judaica-crist. Esta lenda, cujoautor certamente foi o Mestre, baseou-se em documetnos tradicionais, propriedade de sua famlia,depois que um de seus avs, membro do tribunal da inquisio, os havia colhido dos hereges rabese judeus, na Espanha. O conjunto destes documentos, era formado por manuscritos em latim, cpiasde originais rabes, derivados mesmo, de clavculas hebraicas.

    Seja como for, heis aqui um resumo do Tratado da Reintegrao dos Seres, obra to raracomo pouco clara para quem no esteja perfeitamente ao corrente das tradies gerais em que seinspirou:

    6 - Editada em portugus pela Edies 70 (Coleo Esfinge), em 1979. (N. Rev.).

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    O Mundo, considerado como um domnio material, submetido a nossos sentidos e asregies espirituais do Invisvel, no constituem a obra de Deus, considerado como o Absoluto. o prprio Evangelho de So Joo que nos assinala:

    No princpio (quer dizer, no comeo dos Tempos, ou seja, daqueles perodos em que semanifestam os seres relativos), era o Verbo (o Logos, a Palavra Divina).

    O Verbo estava com Deus ... (expresso literal mais apropriada).

    O Verbo era Deus ... (no Deus com maiscula. O texto grego no levava artigo. O Verbo pois, um dos Elohim, quer dizer: um dos filhos de Deus (7); esta palavra Elohim significa emhebreu Eles, os deuses assim tambm o assinala e sublima o Abade Loisy, em seu Quarto

    Evangelho).

    Todas as coisas foram feitas por ele; e sem ele nada do que foi feito se f". (So Joo 1,3).

    a este Logos que a Cabala denomina Adam Kadmon; (de acordo com todas as tradiesreligiosas da antigidade); ele cria os seres inferiores por meio de sua palavra, designando-os,

    nomeando-os, chamando-os (entende-se vida real e manifestada):

    E Ado colocou nome em todos os animais e aves dos Cus e em todos os animais docampo; mas para o Homem, no achou ajuda que fosse idnea para ele... (Gnesis: 2, 20).

    Estes animais dos campos, estas aves dos Cus no so os seres comuns queconhecemos com estes nomes. Com um sentido esotrico denomina-se, dessa maneira, s criaturasque so inferiores ao Homem-Arqutipo e que povoam os planos ou mundos doInvisvel, regiesespirituais s quais j fizemos aluses anteriormente.

    Com respeito a esta criao, Deus serve-se de um intermedirio. Isto nos confirma o Captulo

    1 do Gnesis (1, 2, 3), que nos diz:

    A Terra (a matria primordial, o Caos) era informe e vazia e o Esprito de Deus movia-sesobre as guas (o nous Egpcio, ou seja, o elemento mais sutil desta Matria). O Termo Espritode Deus est escrito com maiscula, designando-se dessa maneira um Esprito diferente de Deus;de nenhuma maneira se alude desta forma a Deus, o que constituiria um absurdo, pois, Deus necessariamente, em si mesmo, esprito. O Gnesis no nos diz que Deus se movia sobre as

    guas...

    por isso que, mais adiante, nos diz que Deus, o Eterno, tomou, pois, o Homem e ocolocou no Jardim do den, para que o cultivasse e o cuidasse... (Gnesis 2, 15).

    O dito Jardim um smbolo que significa o Conhecimento Divino, acessvel aos seresrelativos. Com efeito, a Cabala, ou tradio secreta, pode ser designada, com freqncia, como oJardim mstico. Em hebreu jardim ou campo se pronuncia guineth, palavra formada pelas trsletras seguintes: d, b, , (Gimel, Num, Tau ou Tav) e que constituem as iniciais das trs cinciassecundrias que so as chaves da Cabala: a Gematria, o Notaricon e a Temurah.

    O Homem Primitivo, referido pelo Gnesis em seu relato exclusivamente simblico, no umser de carne, semelhante em sua forma a ns, mas um esprito emanado de Deus, composto de umaforma ( qual o Gnesis chama Corpo porm, semelhante ao Corpo Glorioso que definiramos telogos, criado pelo Deus eterno, e composto, por outra parte, por uma centelha animadora, que

    7 - Para melhor compreenso do que seja o Verbo, veja Stanislas de Guaita, Le Problme du Mal. (N. Rev.).

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    integralmente Divina, j que o Gnesis nos dia que foi o Alento mesmo de Deus. Nosso Homem-Arqutipo, pois, semi-Divino. Por uma parte saiu da Matria Primordial (do Caos composto deTerra e de gua, para falar simbolicamente), no que diz respeito a sua forma; por outro lado, uma emanao de Deus, j que o alento Divino que o anima (o dito alento provm de Deusmesmo).

    Ado e o Verbo Criador so parecidos, uma vez que o Homem-Arqutipo continua, no

    simblico Jardim do den, a obra comeada pelo Esprito de Deus. Em conseqncia, este VerboCriador e o Verbo Redentor so diferentes.

    indiscutvel que o Cristo (a quem Martinez denomina O Reparador) Deus por sua origeme homem por sua encarnao. A teologia o demonstrou. Porm, assim como o menino de dez anos eo ancio sero mais tarde um s e mesmo ser (embora com caractersticas e aspectos diferentes) ...existe entre eles absoluta continuidade de conscincia, apesar de no existir semelhana no aspectoou em suas reaes inferiores.

    Da mesma maneira, a alma que animou um corpo humano em uma encarnao, ser idnticaa si mesma vinte sculos depois animando outro, embora sejam duas manifestaes diferentes. Essa

    identidade existe, mesmo que as manifestaes sejam diametralmente opostas, em razo damanifestao exilatria, conhecida pelo vocbulo Carma.

    Paralelamente a Adam Kadmon (o Homem Arqutipo ou Csmico), existiam outros seresgerados em sua criao anterior; diferentes por sua natureza e pelo plano em que habitavam, tinhamrelao com a que nos explica a tradio contida no Gnesis. Esta Criao anterior se denomina

    Anglica, qual tambm se referem outras Tradies e teologias. Trata-se de duas criaesdiferentes que esto subentendidas pelo Gnesis em seu primeiro versculo:

    No comeo, Deus criou o Cu e a Terra. Imediatamente o Gnesis deixa de lado aprimeira Criao (sobre a qual parece que Moiss no possua maiores conhecimentos) e passa a

    referir-se segunda:

    A Terra era informe e vazia, as Trevas cobriram a superfcie do abismo ... (Gnesis 1, 2).

    Outros elementos da Tradio Judaica-Crist nos ensinam que os seres desta criaoprimitiva (simboliza pelo Cu), quer dizer, os Anjos, dividiram-se em duas categorias, os Anjos fiise os Anjos rebeldes, depois de umaprova feita por Deus.

    Isto nem sempre foi bem compreendido. Deus, princpio de infinita perfeio, no poderiatentar os Anjos depois de sua emanao, nem afast-los depois de sua involuo. Muito pelocontrrio, certas entidades, uma vez chegadas ao fim da Misso para a qual Deus as havia emanado

    (quer dizer, uma vez liberadas, ou seja, dotadas de livre arbtrio, necessariamente) recusaramreintegrar-se no Absoluto, conforme correspondia com o plano Divino, fonte do SoberanoBem. Emconseqncia, preferiram o momentneo, perecvel e ilusrio em relao ao Ser Eterno, real eimperecvel. Preferiram viver fora de Deus antes que reabsorver-se Nele e beneficiar-se, destamaneira, com suas perfeies infinitas. Portanto so estas entidades as que se afastarammomentaneamente de Deus, em virtude de um ato livre, ainda que errado. No foi o Absoluto que asafastou injustamente, nem foi o Absoluto a causa de seu exlio. Disto se conclui que o retornoposterior e sua redeno so possveis quando essas entidades cadas quiseram voltar e seguir ocaminho da Divindade.

    Porm, enquanto no se realiza este retorno Luz, Verdade Imanente devido s suas

    atitudes egocntricas, esses seres permanecem: rebeldes (em relao oferta Divina primitiva e

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    permanente); extraviados (uma vez que saram do curso de seu legtimo destino); perversos (j quevivem fora do Soberano Bem) e, em conseqncia, atolados no mal.

    Toda coisa corrompida tende, por sua natureza, a corromper o que so. E isto ocorre commaior razo no domnio dos seres espirituais do que no reino dos corpos materiais, uma vez quenaqueles misturam-se a inveja (ou conscincia, apesar de tudo, de uma real inferioridade), o orgulho(ou vontade de dizer a ltima palavra) e a inteligncia (diminuda, porm operando em proporo

    mxima em seus erros).

    por isso que a Tradio nos ensina que o conjunto dos seres espirituais perversos (ouEgrgoras do Mal) simbolizado pela imagem da serpente, sentiu cimes do ser perfeito, o AdamKadmon, superior a eles e imagem de Deus, do qual pretendiam subtrair-se estas entidades cadas.

    Estas entidades atuaram, pois, (ou seja, exerceram uma influncia parecida com a Teleptica)sobre Adam Kadmon, incitando-o a passar para alm dos limites de suas possibilidades naturais.

    Ser mstico por sua natureza, meio espiritual e meio formal, andrgino no qual seinterpenetravam mutuamente Forma e Esprito, o Homem-Arqutipo devia conservar uma certa

    harmonia, um equilbrio necessrio no lugar onde Deus o havia colocado. Devia zelar pelamanuteno desta condio e trabalhar no sentido de continuar a empresa deste Esprito de Deus, doqual era reflexo, o dirigente, o celeste mestre-Jaques imediato ... O Adam Kadmon estava destinadoa desempenhar este papel de Arquiteto do Universo; embora fosse um Universo mais sutil do que onosso, tratava-se daqueleReino que no deste mundo e do qual falam os Evangelhos.

    Sob a influncia das Entidades metafsicas perversas, o Homem-Arqutipo transformou-seem um Demiurgo independente. Renovando sua falta, modificou e perturbou as leis que tinhaobrigao de conservar e observar. Pretendeu, de maneira rebelde, fazer-se por sua vez, criador eigualar-se por suas obras a Deus. Porm, seu nico xito foi modificar seu destino primitivo.

    Aqui nos deparamos com duas lendas paralelas e idnticas a deLucifer, o primeiro dos Anjose a de Adam, o primeiro dos Homens. Pode ser desta Tradio que derive o costume de consagraraos deuses ou a Deus as primcias de uma colheita ou o primeiro dos animais de um rebanho. indubitvel que na histria simblica da Humanidade, e conforme nos refere o Gnesis, todos osprimognitos: Caim, Cham, Israel, Esa, etc., esto misteriosamente marcados com um destinocontrrio.

    Enquanto Deus, em suas infinitas possibilidades pode conseguir qualquer coisa do Nada, oHomem, criatura limitada em suas possibilidades, o que pode fazer modificar o que j existe, sempoder extrair coisa alguma do Nada.

    O Homem-Arqutipo, desejando criar seres espirituais, da mesma maneira como Deus haviacriado os Anjos, no fez mais do que objetivar seus prprios conceitos. Desejoso de proporcionar-lhes corpo, no pode fazer outra coisa que integr-los na Matria mais densa e grosseira. Querendoanimar o Caos (as Trevas Exteriores), da mesma maneira como Deus havia animado o mundometafsico que primitivamente lhe havia confiado, nada mais fez do que afundar-se em areiamovedia.

    Com efeito, Deus sendo, no sentido mais absoluto da palavra (Sou o que sou, disse aMoiss sobre o Sinai, deve ser preexistente ao Nada. Para criar a matria primitiva, Deussimplesmente separou uma parte de suas infinitas perfeies de uma poro de sua essncia infinita.Esta retirada parcial da perfeio espiritual mais absoluta conduziu, inevitavelmente, reao

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    traduzida em uma imperfeio material e relativa. Isto explica porque a Criao, qualquer que seja,no pode jamais ser perfeio. necessariamente imperfeita pelo fato dela no ser de Deus.

    Imitando o Absoluto, Adam Kadmon pretendeu, pois, criar sua matria primordial. Portratar-se de um alquimista inexperiente, encontramos aqui a origem de sua Queda.

    O Homem-Arqutipo um ser andrgino. Nos diz o Gnesis (Cap. 1, 27 e 28): E criou;

    homem e mulher os criou. este elemento negativo, feminino, que Adam vai jogar fora de simesmo. o lado esquerdo, feminino, passivo, lunar, tenebroso, material o qual ao separar-se dolado direito, masculino, ativo, solar, luminoso, espiritual, dar nascimento Eva. A Mulher-Arqutipo foi, pois, extrada de um dos lados do Andrgino e no de uma de suas costelas ... (Todasas religies antigas conheceram um ser Divino, original, que era masculino e feminino).

    Assim nos expressa o Gnesis (Cap. 2, 23 e 24):

    E disse Adam: Isto agora osso dos meus ossos e carne de minha carne (ele conserva oEsprito, a alma), esta ser chamada Mulher - em hebraico Isha porque do homem foi tirada - emhebraicoIsh.

    nesta matria nova, na Eva do Gnesis, a mulher simblica, a quem Ado penetra paracriar a Vida. O Homem-Arqutipo degradou-se, pois ao tentar igualar-se a Deus. Seu novo mundoou domnio foi chamado Mundo Hylico pela Gnosis, nosso universo material, mundo cheio deimperfeies e de males. O pouco de bom que nele existe provm das antigas perfeies do Homem-Arqutipo. Uma vez que se dividiu em dois seres diferentes, a soma das ditas perfeies originaisno pode ser total em cada um deles ... da, pois a Queda. Aqui encontramos a razo pela qual osantigos cultos haviam deificado a Natureza, que a Me de tudo o que . Porm, com respeito atudo o que abaixo dos Cus ..., Isis, Eva, Demeter, Rhea, Cybeles, no so mais do quesmbolos da Natureza material emanada de Adam Kadmon, personificadas pelas Virgens Negras,smbolos da Matria Prima.

    A essncia superior de Adam Kadmon, integrada no seio da nova Matria, o Enxofre,expresso alqumica que designa a alma do mundo. A segunda essncia, o mediador plstico, aqueleque constitua a forma de Adam, seu duplo superior, sobreveio do Mercrio, outra expressoalqumica que designa o Astral dos ocultistas, o plano intermedirio. A Matria, sada do Caossegundo o Sal alqumico, o suporte, o receptculo, a priso.

    Paralelamente, podemos dizer que Adam o Enxofre, que Eva o Sal e que o Caim doGnesis o Mercrio desta trindade simblica, termos que a Alquimia tambm conhece com asdenominaes de Rei, da Rainha e do Servidor dos Sbios...

    possvel conceber, ento, porque em todos os seus graus a Matria Universal seja algovivo, como o admite a antiga e a moderna qumica e como, em suas manifestaes, pode ser mais oumenos consciente e inteligente.

    Atravs dos quatro mundos da Natureza: mineral, vegetal, animal, hominal (entre os quaisno existe nenhuma soluo de continuidade), est o Homem-Arqutipo, o Adam Kadmon, ainteligncia Demirgica primitiva, manifesta, dispersa, disseminada, aprisionada. Da aquelerevestimento de peles de animal que se refere o Gnesis: E Deus deu ao homem e sua mulhertnicas de pele e os revestiu... (3, 21).

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    Este novo universo Divino, igualmente o refgio das Entidades cadas, que se refugiaram nelepara esconderem-se ainda mais do Absoluto, na quimrica esperana de escapar das leis Eternas,presentes em tudo.

    Tais entidades cadas tm, pois, um interesse primordial em que o Homem, disperso, maspresente em todas as partes da Matria, que constitui o Universo visvel, continue organizando eanimando este domnio, que mais adiante ser de propriedade deles.

    Como a alma do Homem-Arqutipo ficou aprisionada na Matria Universal, tambm assim aalma do homem individual se encontra prisioneira de seu corpo material. E as mortes fsicas e asreencarnaes sucessivas so os meios pelos quais as Entidades cadas manifestam sua solicitudepelo ser humano. De acordo com isto, nos possvel compreender melhor as palavras do Redentor edos Profetas. Assim, Isaias quando nos disse:

    Oh! Morte, onde est tua vitria? Oh! Morte, onde est teu aguilho?

    Com o termo aguilho de alude ao aguilho dos sentidos, que incitam alma separada areencarnar-se em um corpo material.

    A Fora, a Sabedoria, a Beleza que se manifestam ainda neste mundo material, constituem osesforos do Homem-Arqutipo para voltar a ser o que era antes de sua Queda. As qualidadescontrrias constituem a manifestao das Entidades cadas, manifestaes destinadas a manter oclima que desejaram criar para subsistir, tal qual o quiseram, quando deliberadamente interromperamseu retorno at o Absoluto.

    Porm, o Homem-Arqutipo no voltar a tomar posse de seu primitivo Esplendor e de sualiberdade, seno separando-se da matria que o absorve por toda parte. Para ele, necessrio quetodas as clulas que o formam, quer dizer, os homens individualmente considerados, possam depoisde sua morte natural, reconstituir o Arqutipo, reintegrando-se definitivamente nele e escapando,

    desta maneira, ao ciclo das reencarnaes.

    Ento, os microcosmos faro o Macrocosmo, os Homens individuais, reflexos materiais doArqutipo, so pois, igualmente, reflexos Divinos (mesmo que inferiores alguns escales). Da mesmamaneira, o Arqutipo , tambm, o reflexo de Deus, do primitivo Verbo Criador ou Logos, doEsprito de Deus do qual fala o Gnesis.

    correto referir-se a ele, ento, como o Grande Arquiteto do Universo. Todo o culto deadorao dirigido a este ltimo , pois, um culto satnico, j que dirigido ao Homem e no aoAbsoluto. por isso que a Maonaria o invoca, porm, sem ador-lo.

    Para escapar ao ciclo das reencarnaes neste mundo infernal, (in-ferno: lugar inferior) necessrio que o Homem-individual se liberte de tudo que o atrai para a Matria e se desprenda,desta forma, de escravido a que submetido pelas sensaes materiais. Ainda assim, precisoelevar-se moralmente. Contra esta tendncia para a perfeio lutam as Entidades cadas, tentando-ode mil maneiras, com o propsito de atrai-lo ao seio de Mundo invisvel e manter oculta a influnciaque exercem sobre ele (8).

    contra elas que deve lutar o Homem-individual, desmascarando-as e expulsando-as daesfera de sua existncia. Isto se consegue, de uma parte, mediante a Iniciao que o une aoselementos do Arqutipo j reunidos e reintegrados, o que exotericamente se designa com o nome de

    8 - Essa mesma teoria encontramos no livro de Saint-Martin, LeCrocofile ou La Guerre du Bien et du Mal. (N.Rev.).

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    Comunho com os Santos; e, por outra parte, atravs do conhecimento libertador, que lhe ensina osmeios de apresentar a libertao pessoal definitiva e da Humanidade enceguecida, valendo-se dotrabalho pessoal.

    Referente a estas ltimas possibilidades, deve-se referir s grandes Operaes Equinoxiais,que tendem a purificar a Aura Terrestre, mediante exorcismos e conjuraes, de acordo com os ritosda Alta Magia, aos quais os Elu Cohen denominavam Os Trabalhos ou O Culto.

    Ento, quando houver esta libertao individual, dar-se- a grande libertao coletiva, aquelaque por si s permitir a reconstituio do Arqutipo e logo sua reintegrao no seio da Divindade,da qual emanou primitivamente.

    Abandonado por si mesmo por seu animador, o Mundo da matria dissolver-se-, ao ficarsem a vida, harmonia e direo do Arqutipo. Sob a presso naturalmente anrquica das Entidadescadas, esta desagregao das partes do Todo ir se acelerando. Ento, o Universo ter chegado aoseu fim; este ser o fim do mundo, anunciado pelas tradies universais.

    Da mesma maneira que um livro cuja leitura termina, terminaro o Cu e a Terra...

    A Essncia Divina recuperar, ento, gradualmente, o acesso quelas regies prprias de suaessncia e das quais se havia separado primitivamente. As iluses momentneas chamadas com osnomes de criaturas, seres, mundos, desaparecero. Porque Deus o Todo e o Todo est em Deus,ainda que o Todo no seja Deus! O Absoluto nada extraiu de um Nada ilusrio, que no poderiaexistir fora de Ele sem ser Ele prprio.

    S este desprendimento da essncia Divina que permitiu a Criao dos Mundos Anglicos,materiais, etc., assim como o desprendimento ou retratao desta mesma essncia que permitiu aemanao dos Seres espirituais.

    Desta maneira, realizar-se- a simblica Vitria do Bem sobre o Mal, da Luz sobre as Trevas,pelo simples retorno das coisas at o Divino, mediante uma reassimilao dos seres, purificados eregenerados.

    Tal o desenvolvimento esotrico da Grande Obra Universal.

    Martinez de Pasqually consignou suas teorias iluministas atravs de graus, em nmero denove, em sua Ordem dos Elu Cohen. Tais graus denominavam-se: Aprendiz, Companheiro, Mestre,Eleito, Aprendiz Cohen, Companheiro Cohen, Mestre Cohen, Grande Arquiteto e CavaleiroComendador.

    O sistema deste Rito, combina com as teorias expostas no Tratado da Reintegraoabrangendo a criao do primeiro homem, seu castigo e as penas do corpo, da alma e do espritodaquele que estava em prova. O propsito a que se prope a Iniciao regenerar o homem,reintegrando-o em sua essncia primitiva e nos direitos que perdeu por sua queda. Divide-se em duaspartes. Na primeira, o candidato no , aos olhos daquele que o inicia, mais que um composto debarro e lama e no recebe a vida seno com a condio de no provar do fruto da rvore da Cincia.O Nefito promete cumpri-lo, porm, sente-se seduzido, quebra sua palavra e por isso castigado elanado nas chamas. No entanto, se por meio de trabalhos teis e de uma vida exemplar e virtuosa,repara sua falta, renasce para uma vida nova.

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    Na segunda parte, o candidato se encontra animado de um sopro Divino, est apto paraconhecer os segredos mais ocultos da natureza, a Cabala, a adivinhao, a alta qumica e a Cinciados seres incorpreos lhe so muito familiares.

    Quando em 1767 Martinez de Pasqually se radicou em Bordeaux, contraiu matrimnio com asobrinha do senhor Colls, Major do Regimento de Foix, chamada Margarida Anglica Colls deSaint-Michel. Por motivo de seu matrimnio, Martinez conheceu muitos oficiais do Regimento de

    Foix, recrutando entre esses oficiais vrios membros para sua Ordem dos Elu Cohen.

    No ano seguinte, em 1768, sua mulher deu Luz a um filho a quem puseram o nome de JooJacob Felipe Joaquim Anselmo, sendo assistido em seu batizado por quatro cohens da Ordem, comopadrinhos.

    Durante todo este tempo trabalhou Martinez, em Bordeaux, na confeco dos rituais deIniciao dos diferentes graus, na propaganda e na fundao de novas Lojas, em trabalhos de Magiaprtica e em compartilhar seus ensinamentos, por correspondncia ou diretamente, a algunsdiscpulos escolhidos. Com freqncia recebia a visita dos discpulos que viajavam a Bordeaux, a fimde ficarem uma temporada em contato pessoal com o Mestre.

    Martinez de Pasqually vivia modestamente e, s vezes, chegou a passar por situaeseconmicas penosas, porm com dignidade.

    Em 1772 Martinez embarcou para So Domingos, onde um parente seu lhe havia deixadouma herana de importncia. Ali morreu em 1774.

    A ltima carta que Willermoz recebeu de Martinez de Pasqually, tem data de 03 de agosto de1774, do Porto Prncipe, de onde seguia dirigindo a Ordem. Nesta carta anuncia a remessa de rituaispara seis graus da Ordem, por um irmo que viajaria Europa. Falava de sua enfermidade enomeava o irmo Caignet de Lester seu sucessor espiritual na direo da Ordem.

    CAPTULO III

    OS PRINCIPAIS DISCPULOS DE MARTINEZ DE PASQUALLY

    Martinez de Pasqually faleceu em Porto Prncipe em 20 de setembro de 1774.

    Seu sucessor na Ordem dos Elu Cohen foi o Senhor de Gainet, Comissrio da MarinhaFrancesa, porm, sua atuao influiu muito pouco no desenvolvimento do rito; seus verdadeiroschefes foram Louis Claude de Saint-Martin e Jean Baptiste Willermoz.

    Jean Baptiste Willermoz

    A figura de Willermoz, a que j nos referimos, merece destaque por sua importncia.

    Willermoz nasceu em Lyon, em 1730 e morreu nesta mesma cidade em 1824. Foi iniciado naMaonaria em 1750 e em 1755 fundou, em Lyon, a Loja da Perfeita Amizade, da qual foi eleitoVenervel. Organizou a Maonaria em toda a regio Lyonessa; em 1762-1763, chegou a ser GroMestre da Loja Matriz.

    Em 1776 Willermoz teve conhecimento da existncia da Ordem dos Elu Cohen, sendo nelainiciado no mesmo ano por Martinez de Pasqually, em Versalhes. Em 13 de maro de 1768, Bacon

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    de la Chevalerie, em sua qualidade de substituto geral do rito dos Elu Cohen, deu a Willermoz oGrau de Rau-Croix (9).

    Em 1771, Willermoz recebeu instrues de Saint-Martin, no qual apreciava a ordem e omtodo.

    Willermoz foi um ocultista muito apegado organizao e s experincias, ainda que se

    sentindo constantemente decepcionado por seus insucessos. Saint-Martin tratou de faz-lo acessvel Voz Interior, porm Willermoz, que na vida comum era um comerciante sagaz e por isso,essencialmente prtico, no pode segu-lo (10).

    Willermoz necessitava provas para afirmar seu espiritualismo. Por outro lado, sentia-sefascinado pelo cerimonial e pelo ritualismo.

    Jean Baptiste Willermoz teve o imenso mrito de organizar o Convento Manico das Galias(11) em 1778 e o Convento de Wilhemsbad em 1782, na Alemanha, que foi presidido pelo Duque deBrunswick, neto de Frederico II.

    Saint-Martin, Willermoz e seus seguidores adotaram os mtodos da Ordem dos Elu Cohenat 1782, ano do Convento de Wilhemsbad, quando fizeram uma aliana com a Ordem da EstritaObservncia Templria. Willermoz recebeu a misso de organizar o chamado Rito Escocs

    Retificado, sendo designado Soberano Delegado Geral do Movimento para a regio de Lyon.

    Disse Roberto Ambelain, em um folheto que publicou em Maro de 1948, intitulado OMartinismo Contemporneo e suas verdadeiras origens (publicado em Os cadernos dos

    Destinos):

    Com efeito, temos estudado cuidadosamente os diversos rituais e instrues (do RitoEscocs Retificado), tanto de suas Lojas de So Joo como das Lojas de Santo Andr e de sua

    Ordem Interior. Tudo encontra-se marcado com o selo Martinista. Pode-se comparar as instruesdos diversos graus dos Elu-Cohen (Sacerdotes Eleitos), publicadas por Papus em sua obra sobreMartinez de Pasqually, com o Ritual das Lojas Escocesas Retificadas. Observa-se a a tendnciamarcante de perpetuar os ensinamentos tericos do Mestre. Isto indiscutvel. Esse fato no devenos assombrar se recordarmos que no Convento de Wilhemsbad estas instrues foram reimpressas,apresentadas e aprovadas por Willermoz e seus amigos ...

    Que o Martinismo terico seja ignorado pela maior parte dos Maons do Regime EscocsRetificado; que o Martinismo prtico (ou seja, tergico) igualmente o seja pelos altos dignitrios daOrdem Interior (Escudeiros ou Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa), igualmente indiscutvel.

    Em sntese, depois da morte de Martinez de Pasqually, Jean Baptiste Willermoz tratou deperpetuar seus ensinamentos no seio do Rito Escocs Retificado; dentro do qual a Ordem Interiordos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa vinha a ser o quartel general do Martinismo. Em outras

    9 - Bacon de la Chevalerie foi um dos fundadores do Grande Oriente da Frana. Marechal de campo do exrcitoFrancs, literato e autor da obra intitulada Estado do Grande Oriente da Frana. (N. Rev.).10 - Aps a partida de Martinez de Pasqually para So Domingos, Saint-Martin e Willermoz, assim como os demaisdiscpulos franceses do Mestre, ficaram desorientados. Eles ainda no estavam em condies de portar todas asverdades que Martinez poderia lhes transmitir. Por essa poca (1782), Saint-Martin tinha editado seu primeiro livroDos Erros e da Verdade e fazia muito sucesso entre os Iniciados da diferentes seitas e no mundo profano. Willermozpermenecia em Lyon organizando sua Maonaria a realizando os trabalhos Cohen com base no sistema de Martinez,em busca da Coisa. Um dia Saint-Martin chegou a Lyon e teve uma grata surpresa, vendo os resultados dostrabalhos de Willermoz. A partir desse dia penetrariam mais intensamente na senda interior a doutrina de Martinez de

    Pasqually e de Jacob Boehme. (N. Rev.).11 - Regio de Lyon, Frana. (N. Rev.).

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    palavras, Willermoz esforou-se em perpetuar a doutrina de Martinez por intermdio da Maonaria.Dentro do Rito Escocs Retificado, o Colgio dos Grandes Professos, Cavaleiros Benfeitores daCidade Santa, cuja existncia devia permanecer secreta, devia ser a instituio depositria econservadora da Maonaria esotrica. No conceito de Willermoz a Maonaria tinha por objetivo oestudo das Cincias Ocultas. Os Grandes Professos tiveram seu centro em Lyon. Porm, logocontaram com filiais em Turim, Npoles, Cambry, etc.. Por outro lado, pretendeu Willermoz unir oocultismo com o cristianismo, investigar o esoterismo do cristianismo e considerava a Cristo o

    Reparador. Cr em Cristo, porm renega decididamente a autoridade do Vaticano e do catolicismode Roma. No Rito Escocs Retificado seus princpios aparecem como Cristos, fundamentados nosEvangelhos, dos quais fazia um elogio entusiasta.

    Willermoz manteve correspondncia regular com o Duque de Brunswick, o Duque de Salm,Charles de Hesse, von Hund, Saint Germain, Cagliostro, Savalete de Lange e pretendeu introduzir naMaonaria uma reforma com o objetivo de elev-la mais pura iniciao tradicional.

    Quando eclodiu a Revoluo Francesa, Willermoz correu a uma casa retirada, onde sereuniam os iniciados e, em dois bas, colocou os arquivos e os trouxe para a cidade. No diaseguinte, aquela casa ficou reduzida a cinzas. Na casa onde se alojava em Lyon, caiu uma bomba

    sobre um dos bas e o desmanchou com todos os documentos. Willermoz fugiu levando o querestava dos arquivos. O resto enterrou ou colocou em mos seguras. Estes incidentes foramrelatados por ele mesmo em uma carta que escreveu em 1810 ao Prncipe Carlos de Hesse-Cassel.Poucos anos depois, antes de sua morte, confiou os arquivos a Profs, seu sobrinho, a quem haviainiciado. Quando este morreu, sua esposa confiou os papis a um amigo seguro e que compartilhavadas mesmas idias, Cavarnier. Este entusiasta do ocultismo dava-se conta da responsabilidade quesobre ele pesava e o depsito dos arquivos o preocupava. Enquanto isso, havia se constitudonovamente a Ordem Martinista na Frana, atravs da filiao de Louis Claude de Saint-Martin comsuas caractersticas peculiares, como veremos mais adiante, sob a direo Dr. Encausse (Papus), cujorepresentante em Lyon era o livreiro de irmo Elias Steel.

    Um dia em que Cavarnier passava diante da livraria de Steel, entrou e atravs de conversaque teve com o proprietrio, ficou sabendo que era um Iniciado da Ordem Martinista e contou aSteel a histria do depsito dos arquivos de Willermoz. Pouco depois fez a entrega deles OrdemMartinista reorganizada por Papus, Stanislas de Guaita e outros.

    Em suma, podemos dizer que Willermoz, uma vez passada a tormenta revolucionria, graasaos rituais que havia salvo, reorganizou a Maonaria Espiritualista. Aps sua morte, subsistiramLojas de seu sistema trabalhando com xito em toda a Frana, Alemanha e Itlia.

    Louis Claude de Saint-Martin

    Antes de seguir adiante, desejamos esclarecer que o Martinismo sobretudo um mtodo depensar. Se em certas ocasies apoiou-se em grupos Manicos, isto no foi seno uma tticanecessria em uma disciplina de conduta; porm, queremos insistir no seguinte postulado: AMaonaria e o Martinismo so organizaes completamente independentes uma da outra. verdadeque seguidamente os Martinistas provieram de filas Manicas, dentre os membros mais esclarecidosda Maonaria, porm necessrio esclarecer que no necessrio ser Maon para ser Martinista.

    O principal discpulo de Martinez de Pasqually foi Louis Claude de Saint-Martin. Nasceu emAmboise, provncia de Touraine, em 18 de janeiro de 1743. Seus pais eram muito piedosos e de boasituao social e econmica. Pouco tempo depois de seu nascimento morreu sua me eposteriormente, seu pai voltou a contrair matrimnio. Grande parte da formao espiritual de Saint-

    Martin deveu-se a sua madrasta, que ensinou ao menino, desde a sua mais tenra idade, a significao

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    dos mais altos princpios espirituais. Cumprindo o desejo paterno estudou advocacia na Escola deJurisprudncia de Orleans. No entanto, sua orientao espiritual no se coadunava com o exercciodessa profisso. Eis porque no estranho que tenha obtido a nomeao de tenente comissionado noRegimento de Foix, exercendo as funes na cidade de Bordeaux, posio que lhe deixava tempo esuficiente tranqilidade para perseverar em seus estudos filosficos. Conhecia a fundo todos osclssicos do sculo. Foi nesta cidade que conheceu Martinez de Pasqually, ficando impressionadocom sua sabedoria e com as faculdades espirituais que evidenciava e, sobretudo, por ser ele detentor

    de uma Teurgia... a arte de mandar nos Seres Invisveis e de faz-los aparecer e desaparecer duranteas sesses da Loja, quando sempre se preparava antecipadamente um assento para quem ia manifes-tar-se. (12) Saint-Martin iniciou-se na Ordem dos Elu-Cohen em 1768 e durante os ltimos anos queMartinez permaneceu na Europa foi seu Secretrio, renunciando carreira militar. a Saint-Martina quem se deve a idia do selo que se via e se v estampado em todos os documentos Martinistas.

    Toda a existncia de Saint-Martin, toda sua vida interior foi determinada por esta TeurgiaDivina, que o grande trabalho interno da Reintegrao. Para Saint-Martin j no se tratava de fazercom que se manifestassem as entidades secundrias, obra da magia elementar, mas de criar no centrodo ser humano, lenta e pacientemente, a Figura do Eu Celeste, do qual Jesus o smbolo. esta agrande obra do Alquimista Espiritual, do Mago, e do Iniciado. Toda a obra de Louis Claude de

    Saint-Martin centra-se no comentrio deste Princpio.

    Porm, sua Iniciao na Ordem dos Elu-Cohen foi sua nica filiao inicitica? No! poisMartinez de Pasqually iniciou-o, igualmente, na Sociedade dos Filsofos Desconhecidos cujasconstituies remontam a 1664 e seus Estatutos foram dados a conhecer em 1784 pelo Baro deTschoudy, em sua obra Estrela Flamejante. Alguns sustentam que esta Ordem era um ramo dosRosa-Cruzes da Boemia. Foi a esta Ordem ou Fraternidade mstica que pertenceram Khunrath,Gichtel, Salzmann, Behme. Foi a esta Ordem que se uniram os Irmos do Oriente e da qual umdos protetores foi o Imperador Alexis Cannone e que ainda mais antiga. Daqui derivaram ossmbolos fundamentais do Martinismo posterior, como os seis pontos misteriosos da Ordem e asletras que mencionam o terceiro grau da Ordem Martinista. Foi desta Fraternidade que Saint-Martin

    recebeu as chaves da Voz Interior, que depositou nas mos dos membros de sua Sociedade dosntimos.

    Saint-Martin foi iniciado, tambm, na Franco-Maonaria em 1785, fazendo parte dela at1790, quando solicitou sua excluso.

    Para evitar confuso deve-se esclarecer que Saint-Martin tambm continuou a obra de seuMestre Martinez de Pasqually, porm de forma diferente. Julgou mais til um trabalho individual,conforme a Tradio dos Superiores Incgnitos e independente da formao de Lojas, a fim devencer a oposio dos Maons franceses que, sob o pretexto de combater o clericalismo, iam caindono erro de afastar-se de toda idia elevada e espiritual em harmonia com a Iniciao Tradicional.

    Assim, pois, Saint-Martin continuou iniciando nas doutrinas e ensinamentos do Martinismo aquelesque julgou aptos para isso, dando sempre mais importncia qualidade do que quantidade, o que

    12 - Em seguida Saint-Martin veio a desaprovar essas manifestaes sensveis, como dizia. O objetivo era produzirf nos presentes. Mas para Saint-Martin aquele que no tem um desejo inato e tendncia para a Coisa no sesensibiliza com o fenmeno. Eu s procuro Homens de Desejo -- dizia - e para eles que escrevo. Por isso souobscuro. A f pode ser aumentada pelo bom exemplo e pelo verbo de um homem de vontade, mas ela dev emergir do

    interior de cada um. O maior resultado do fenmeno a profanao dos mistrios. Quem pratica um prodgio estabrindo os vus do santurio a um profano. (N. Rev.).

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    no impediu que suas iniciaes fossem numerosas. Por outro lado, admitiu na Ordem as mulheres,em um plano de igualdade com os homens. Recordemos suas prprias palavras:

    Acaso a Alma feminina no provm da mesma fonte que aquela que reveste o corpomasculino? Acaso no tem que realizar a mesma obra, combater o mesmo esprito e esperar osmesmos frutos?.13

    Em harmonia com esta linha, Saint-Martin expressa, em sua carta de 04 de julho de 1790,que renunciou a toda organizao Manica, comeando a propagar seu sistema pessoal somente apartir de 1793. Sobre este particular interessante citar alguns pargrafos da cartas que seconservam, do prprio Saint-Martin, uma das quais, dirigida a Liebirsdorf (carta X), diz:

    Aquelas iniciaes pelas quais passei em minha primeira escola e que deixei depois demuitos anos para dedicar-me nica que verdadeira ao meu corao .... Posso assegurar-lhes querecebi da voz interior verdades e gozos mil vezes superiores aos que recebi do exterior. No existemaior Iniciao que a de Deus e de Seu Verbo Eterno, que mora em ns ...

    A nica Iniciao que prego e que busco com todo o ardor de minha alma aquela pela qual

    podemos entrar no Corao de Deus e fazer entrar o Corao de Deus em ns... No existe outromistrio para chegar a esta Santa Iniciao, do que mergulharmos cada vez mais nas profundidadesde nosso ser ...

    Uma passagem das Recordaes do Conde de Geichen nos d a conhecer que Saint-Martinhavia aberto em Paris uma pequena escola. Uma artigo de Varuhagem Von Euse, de 1821, diz:Saint-Martin decidiu fundar uma sociedade cujo fim seria a espiritualidade mais pura.

    Ragon anota em sua Ortodoxia Manica, a existncia de um Rito Martinista quecompreendia, inicialmente, dez graus e que, em seguida foram reduzidos a sete. improvvel queLouis Claude de Saint-Martin em alguma poca haja criado um Rito Martinista Manico(?).

    Ocorre que seguidamente h uma confuso entre o nome de Pasqually e o de Saint-Martin. Da onome de Martinismo dado, indiferentemente, Maonaria de Martinez de Pasqually e organizaocriada por Saint-Martin. inconcebvel que Saint-Martin, que havia se retirado da Franco-Maonaria haja criado um rito particular e que, sobretudo, lhe tenha dado o seu nome. Alm disso,como j dissemos, Saint-Martin incluiu em seu trabalho uma novidade para sua poca, a instituioda Iniciao Livre, que dava a possibilidade da transmisso dos trs elementos: mental, astral efsico, no sendo necessrias a existncia de Lojas.

    Durante a Revoluo Francesa, os Martinistas, que eram contrrios violncia, foramperseguidos encarniadamente pelos chefes revolucionrios, sendo guilhotinados mais de dois mil.Saint-Martin e Willermoz foram presos e quase subiram ao patbulo, quando a queda de Robespierre

    lhes devolveu a liberdade.

    Na Rssia, na pessoa de Novikov, o Martinismo deixou uma aura na educao pblica. Elefoi, no somente o primeiro Martinista, mas, tambm o primeiro mrtir de suas convices. A

    13 - Sem querer contrariar essas afirmaes, que julgamos corretas, pois a mulher como ser criado deve reintegrar-seigualmente na Unidade Divina, lembremos contudo que Saint-Martin tinha muito cuidado ao iniciar uma mulher. Emsua autobiografia afirma que elas so em pequeno nmero e escrupulosamente examinadas, o mal d e muitasmulheres no saber guardar o silncio. claro que muitos homens sofrem desse grande defeito, pois a fora do

    Iniciado est em calar. As grandes verdades s se ensinam bem no silncio. (Saint-Martin, Mon Portrait Historiqueet Philosophique, pag. 21. (N. Rev.).

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    imperatriz Catarina II, assustada com a Revoluo Francesa e com a enrgica atividade despendidapelos Martinistas, especialmente os de Moscou, encarcerou Novikov, em Shliserburg.

    O Martinismo dessa poca caracterizou-se por contar entre suas fileiras grandes idealistas,msticos desinteressados e inclinados a toda classe de obras filantrpicas. Sua fonte de inspirao namaioria dos casos, foi a filosofia espiritual de Louis Claude de Saint-Martin. O Ritual eragrandemente sensvel. Compunha-se de Orao e da Cerimnia de Iniciao. Aps a morte de Saint-

    Martin e at 1890 a Iniciao Martinista, seguindo a filiao do Fil Des, transmitiu-se a poucos.Aos nomes anteriores, deve-se agregar os de chaptal, Delaage, Eliphas Levi, Balzac, Cazotte, FabredOlivet, Joseph de Maistre, Saint-Yves de Alveidre, Papus, Stanislas de Guaita, etc..

    Passemos agora a estudar a obra escrita de Saint-Martin.

    Sua primeira obra, Dos Erros e da Verdade, ou os Homens chamados ao PrincpioUniversal das Cincias, foi publicada em 1775, com o seguinte ttulo: Obra na qual, fazendo notaraos observadores a incerteza de suas buscas e seus contnuos desprezos, se lhes indica a rota aseguir para adquirir a evidncia fsica sobre a origem do bem e do mal, sobre a justia civil ecriminal, sobre as Cincias, as lnguas e as artes. Por umFilsofo Desconhecido.

    Esta obra foi escrita por Saint-Martin quando estava radicado com Willermoz, em Lyon.Willermoz e o pequeno crculo de fiis tomavam conhecimento da obra medida que Saint-Martin arevista. Debatiam, ento, o que se podia dizer e o que e devia calar. No era muito fcil decidir emais de uma vez se abriram discusses. As melhores provas sobre a existncia do mundo imaterial eDivino eram justamente aquelas sobre as quais haviam jurado guardar um segredo inviolvel.

    Que grau de esclarecimento podia dar-se s noes sobre o por que e como das coisas cujoconhecimento est reservado, em todos os tempos, a um nmero reduzidssimo?

    Estavam todos de acordo em que no era necessrio expressar to preciosas verdades, seno

    de uma maneira simblica com o fim de salvaguardar as promessas sagradas que em todos os sculostem sido ordenadas rigorosamente aos Iniciados: O Silncio e o Incgnito.

    Isto explica as obscuridades e as reticncias que se encontram no livro.

    A segunda obra de Saint-Martin o Quadro Natural da relaes que existem entre Deus, oHomem e o Universo, publicado em 1792 (14); O Novo Homem, em 1792; Consideraes filosficase religiosas sobre a Revoluo Francesa, em 1796; O Crocodilo, ou a guerra do bem e do mal, em1798; O Homem de Desejo, em 1790;Ecce Homo, em 1792;Luz sobre a Associao Humana, em1797; O Mistrio do Homem-Esprito, em 1802, para citar apenas suas principais obras.

    Saint-Martin traduziu algumas obras de Jacob Behme, notadamente A Aurora Nascente oua Raiz da Filosofia, da Astrologia e da Teologia.

    Esta obra foi publicada em 1800 e fez-se uma reimpresso em idioma francs em Milo, em1927 e em 1976 (15).

    Estratos das Obras de Saint-Martin

    14 - Esta obra foi reimpressa em 1900 por Papus e reeditada em 1976. O livro tem 22 captulos, em analogia aos 22arcanos do Tarot. (N. Rev.).15 - Lembremos tambm que Saint-Martin traduziu de Behme: Da Trplice Vida do Homem (1793); Dos trsPrincpios da Essncia Divina, 2 vol. (1802). (N. Rev.).

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    Para dar uma compreenso da doutrina de Saint-Martin citaremos algumas passagens de suasobras, tiradas da recapitulao publicada por Andr Tauner, em 1946.

    Eis aqui um extrato sobre a Origem e o Fim do Homem contido no Quadro Natural. Sente-se nitidamente, nesta passagem, a influncia de Martinez de Pasqually e da doutrina da Reintegrao:Afastemos pois, de ns as idias criminosas e insensatas desse nada, qual homens cegosensinam que devemos nossa origem. No envileamos nosso ser, que feito de uma sublime

    diferena que constitui seu Princpio, pois segundo as leis fsicas, nada pode elevar-se seno aograu de onde desceu. No entanto, essas leis deixariam de ser verdadeiras ou universais se o

    princpio do homem fosse o nada. Tudo nos indica nossas relaes com o mesmo centro, produtorda universalidade material e da universalidade corporal, mesmo que todos nossos esforos tendamcontinuamente, a apropriar-nos de um ou de outro e a atrair as virtudes at ao redor de ns.

    Observemos, ainda, que est doutrina sobre a emanao do ser intelectual do homem,concorda com a que nos ensinaram, que todos nossos descobrimentos no so senoreminiscncias. Pode-se dizer, ainda, que estas duas doutrinas sustm-se mutuamente, pois sesomos emanados da fonte universal da verdade, nenhuma verdade deve parecer-nos nova e,reciprocamente, se alguma verdade nos parece nova, ela s aparente. No entanto, ns no

    percebemos seno a recordao e a representao do que estava escondido em nosso interior; emconseqncia, devemos ter tomado conhecimento dessas verdades, primitivamente, na fonteuniversal da verdade.

    Pode-se dizer que todos os seres criados e emanados na regio temporal, inclusive ohomem, trabalham na mesma obra: redescobrir sua identidade com o Princpio, isto , crer semcessar at chegar ao ponto de produzir seus frutos. Eis a porque o homem, tendo a recordao daluz e da verdade, prova que ele descende da morada da luz e da verdade.

    As seguintes consideraes sobre o tempo e o espao, so notoriamente metafsicas:

    O tempo no mais que um intervalo entre dois atos, no mais que uma contrao, umasuspenso nas faculdades de um ser. Tambm cada ano, cada hora, cada momento, o PrincpioSuperior tira e d poderes aos seres; esta alternativa que forma o tempo, que est submetida smesmas progresses do tempo, que faz com que o tempo e o espao, sejam progressivos.

    Enfim, consideremos o tempo e o espao contido entre duas linhas que formam um nguloou vrtice, tanto mais obrigados esto a dividir sua ao, para complet-la ou para percorrer oespao que fica entre uma linha e outra. Ao contrrio, quanto mais perto esto dessa ponta, tantomais se simplifica sua ao. Julguemos, pois, o que deve ser a simplificao de ao, no Ser

    Fundamental e Princpio de tudo, que a ponta do ngulo. Este Ser no tendo que recorrer seno unidade de sua prpria essncia para alcanar a plenitude de todos seus atos e de todos seus

    poderes, no reconhece seno a nulidade do tempo, o tempo absolutamente nulo para Ele ...

    Eis aqui uma passagem que no seria desaprovada por nossos fsicos modernos:

    inquestionvel que a matria no existe seno pelo movimento, pois vemos que, quandoos corpos encontram-se privados dele, dissolvem-se e desaparecem insensivelmente. tambmigualmente verdica a observao que o movimento o que d a vida aos corpos e que no lhes

    pertence, propriamente, uma vez que o vemos cessar neles, tendo deixado de ser sensveis a nossosolhos, e ns mesmos no podemos duvidar que eles esto completamente sob sua dependncia, umavez que ao parar este movimento, acontece o primeiro ato de sua destruio. Conclumos, pois, quese tudo desaparece medida que o movimento cessa, evidente que a existncia no existe seno

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    pelo movimento; bem diferente dizer que o movimento pertence existncia e que est naexistncia ... (Extratos deDos Erros e da Verdade).

    Para Saint-Martin, o candidato Iniciao espiritual denomina-seHomem de Desejo. Eis aquialgumas linhas do Ministrio doHomem-Esprito, que esclarecero esta denominao:

    Por um lado, a magnificncia do destino natural do homem, consiste em poder, real e

    radicalmente, querer por seu desejo, somente a coisa que pode, real e radicalmente, possuir. Estacoisa s o desejo de Deus; todas as outras coisas que arrastam o homem, este no as deseja emabsoluto, sendo to somente escravo ou joguete delas. Por outro lado, a magnificncia de seumistrio consiste em no poder, radical e realmente, atuar seno de acordo com a ordem positiva,

    pronunciada a todo instante, como por um professor ao seu redor, e isto por aquela autoridade ques eqitativa, boa, conseqente, eficaz e conforme o desejo eterno.

    O Martinismo Cristo, porm no catlico

    J se disse, com razo, que o Martinismo essencialmente cristo. Cristo porque serelaciona com o fundo da religio crist, independente de toda forma ou culto, porm no catlico

    romano (16). Para convencermo-nos basta recorrer a certas crticas de Saint-Martin contra ocatolicismo romano e recordar que, em seus ltimos instantes de vida, repeliu a ajuda de umsacerdote catlico, conforme nos relata Joseph de Maistre. Porm, leiamos a respeito, suas prpriasfrases:

    O Catolicismo, ao qual pertence o ttulo de religio, o caminho das provas e dostrabalhos para elevar o Cristianismo. O Cristianismo a regio da emancipao e da liberdade; ocatolicismo no mais que um seminrio do Cristianismo, a regio das regras e da disciplina donefito.

    O Cristianismo banha toda a terra tal como o esprito de Deus. O catolicismo no banha

    seno uma parte do globo, ainda que o ttulo que leva, apresente-o como universal.

    O Cristianismo leva nossa f at a regio luminosa da eterna palavra Divina; ocatolicismo limita esta f palavra escrita ou tradio.

    O Cristianismo dilata e estende o uso de nossas faculdades intelectuais; o Catolicismoencerra e circunda o exerccio dessas mesmas faculdades. O Cristianismo mostra Deus descoberto,no seio de nosso ser, sem o auxlio de frmulas; o Catolicismo nos deixa a ss para encontrar a

    Deus, sob um ritual e cerimnias. O Cristianismo no faz nem monges nem anacoretas, porque nopode afastar-se da luz do sol; o Cristianismo expandiu por todas as partes seu esplendor. ocatolicismo que provou os desertos de solitrios e as cidades de comunidades religiosas, uniu-os

    para conseguir de uns sua salvao particular e de outros para oferecer ao mundo corrompidoalgumas imagens de virtude e de piedade, que o despertassem de sua letargia.

    O Cristianismo no tem nenhuma seita, uma vez que abraa a unidade sendo s, no podeser subdividida. O Catolicismo viu nascer em seu seio, multides de sistemas, seitas e cismas queaumentaram mais o reino da diviso do que o da concrdia; e neste Catolicismo, no qual se crno mais perfeito estado de pureza, que encontramos apenas dois de seus membros nos quais acrena seja uniforme. O Cristianismo criou guerra apenas contra o pecado, porm o catolicismo,criou-a contra os homens.

    16 - Catlico significa Universal; o termo Catlico Romano uma limitao daquele. (N. Rev.).

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    A seguinte citao do Quadro Natural, demonstra claramente que Saint-Martin acreditavaque o Esprito do Homem s e verdadeiramente o Templo particular:

    O homem, ao descobrir a cincia de sua prpria grandeza, aprende que apoiando-sesobre uma base universal, seu ser intelectual chega a ser o verdadeiro Templo, que as tochas quedevem ilumin-lo so as luzes do pensamento que o rodeiam e o seguem por toda parte, que oSacrificador a confiana na necessria existncia do Princpio da ordem e da vida; esta

    persuaso, ardente e fecunda, que faz desaparecer a morte e as trevas e com a qual os perfumes eas ofertas traduzem-se na orao, no desejo, o cime pelo reino da unidade exclusiva; que o altar esta convico eterna, fundada sobre sua prpria emanao e qual Deus e o homem vmrender-se para encontrar ali, um sua glria, outro sua felicidade. Em uma palavra, que o fogodestinado consumao dos holocaustos, esse fogo que jamais deve extinguir-se, o da centelha

    Divina que anima o homem e que, se houvesse sido fiel sua primitiva lei, a teria mantido semprecomo uma lmpada refulgente, situada no crio do Trono do Eterno, a fim de clarear os passos dosque caminhavam afastados; porque, enfim, o homem j no deve duvidar de que recebeu aexistncia somente pelo sentido vivo da luz e da Divindade.

    A verdade alumia cada fenmeno do Universo. O conhecimento ntimo e profundo

    acessvel a cada um, se sabe meditar e compreender. Tal o exrdio que faz Louis Claude de Saint-Martin no Quadro Natural, comparando o Universo com um livro:

    A Causa Primeira o escritor ou a Natureza Naturante. A Natureza o livro escrito. OHomem o leitor. Porm, este leitor no compreende (ou muitas vezes compreende mal) o sentidoexato das pginas do livro; necessrio, para isto, ter a inteligncia de pacientes meditaes.

    Saint-Martin distingue duas naturezas no homem: o ser sensvel e o ser intelectual. Oprimeiro manifesta-se no impulso dos sentidos e o segundo na deliberao do esprito.

    O Pensamento Criador superior e anterior ao objeto criado pelo homem, que dispe de

    sua mquina pensante antes que chegue a mecanizar seu pensamento. Porm, de quem ou de que ohomem tira sua faculdade de pensar? De quem ou de que tira seu ser fsico?

    impossvel pensar que s o acaso tenha produzido o mundo. Diante de uma mquinaqualquer, construda por um homem, ao ser examinada pode-se conhecer o inventor, seu ser fsico,suas faculdades espirituais. No entanto, os materialistas, ao tentarem explicar o mundo, constatamque a mquina est feita para funcionar; examinando atentamente todo o mecanismo, maravilham-se com o jogo exato e preciso de todos os rgos, porm assombram-se quando se admite um

    possvel inventor, independentemente da mquina.

    Nossos descobrimentos, em todos os domnios, no fazem mais que deixar claro a relao

    que existe entre nossa prpria luz e as coisas. Esta dependncia do homem d idia de uma fora ede uma sabedoria suprema e nica.

    Todas as doutrinas filosficas e religiosas tendem para a Unidade. O Martinismo inteiramente a doutrina da Unidade. Nenhuma religio, nenhuma filosofia respeita tanto oindividualismo dos que participam delas, como o Martinismo. Esta doutrina eleva o homem,espiritual e interiormente, porque verdadeiramente esotrica.

    Para os espritos piedosos, que suspiravam doloridos ante a difuso aterradora daincredulidade e a impiedade de Voltaire e da Enciclopdia, Saint-Martin era um profeta, que faziarenascerem as fontes das crenas antigas, uma vez que havia elaborado um novo Cristianismo

    transcendental, oposto ao Cristianismo exotrico que uma religio feita para o vulgo, e se elevava

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    de grau em grau s verdades sublimes, tais como as que possuam os primeiros cristos, que eram osverdadeiros iniciados nos mistrios.

    No prximo captulo trataremos do Martinismo moderno e sua linha de sucesso ou defiliao inicitica, at chegarmos Gerard Encausse (Papus) e a Agustin Chaboseau.

    captulo IV

    O MARTINISMO PAPUSIANO

    HENRI DELAAGE

    Papus foi Iniciado no Martinismo em 1882 por Henri Delaage, poucos meses antes de suamorte. Imps-lhe as mos e o consagrou S. I. , conforme a Tradio. a esta Iniciao que se referePapus, sem nome-la, em seu interessante folheto Martinesismo, Willermosismo, Martinismo e

    Franco-Maonaria, quando escreve:

    Alguns meses antes de sua morte, Dellage quis transmitir a outro a semente que lhe haviasido confiada e da qual j no pensava obter nenhum fruto. Humilde depsito, construdo por duasletras e alguns pontos que renem a doutrina da iniciao e da trindade, que havia iluminadotodas as obras de Delaage. Porm, ali estava presente o Invisvel, que encarregou-se de vincularas obras sua origem real e de permitir a Delaage lanar a semente em uma terra na qual podiadesenvolver-se.

    Delaage nasceu em 1825 e morreu em 1882.

    A Iniciao de Papus, em conseqncia, remonta a esta poca. Henri Delaage foi o autor deum certo nmero de obras, entre as quais podemos citar: Iniciao nos Mistrios do Magnetismo(1874); Aperfeioamento Fsico da Raa Humana (1850); Doutrinas das Sociedades Secretas(1852); O Mundo Proftico (1853); A Eternidade Revelada (1854); O Mundo Oculto (1856); ACincia do Verdadeiro (1882).

    No possumos maiores informaes sobre Henri Delaage.

    GERARD ENCAUSSE

    Nasceu em 13 de julho de 1865 em La Corun, Espanha. Foi filho do mdico Francs LouisEncausse e de me espanhola, originria de Valladolid, Espanha. Formou-se em medicina em 1894.Conforme expressou-se em uma de suas obras, foi a leitura das trs obras de Louis Lucas: A NovaQumica (1854); O Romance Alqumico (1857) eA Nova Medicina, que o encaminhou ao estudo doocultismo.

    Desde logo, travou amizade com F. K. Gaboriau, que dirigia a revista Le Lotus Rouge daSociedade Teosfica; com Barlet (seu verdadeiro nome Albert Faucheaux), que foi um dos maissbios ocultistas da poca. Porm, foi somente a partir de 1887 que o Dr. Gerard Encausse comeoua ocupar-se ativamente do ocultismo.

    Em outubro de 1887, entrou como membro do Ramo Francs da Sociedade Teosfica (17).No seio da Sociedade Teosfica deu numerosas conferncias e colaborou em Le Lotus Rouge. O

    17 - Porm na ficou muito tempo, por discordar do sistema preconizado pela Sociedade Teosfica. Segundo Papus, os

    mtodos adotados no Oriente no podem ser aplicados no Ocidente, onde os costumes so bastante diferentes. (N.Rev.).

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  • 8/3/2019 Historia e Doutrina Do Martinismo

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    Lotus era uma revista de altos estudos teosficos, tendentes a favorecer a aproximao do Orientecom o Ocidente, sob a inspirao de H.P. Blavatsky.

    Em O Ocultismo Contemporneo Papus se referiu a Mme. Blavatsky com os seguintestermos: Iniciada no Oriente, caluniada por todos os lugares, Secretaria da Sociedade Teosfica eescritora muito distinguida, autora de uma obra admirvel sobre o Ocultismo, intitulada Isis semVu. um dos poucos autores, que, segundo nosso conhecimento, une a prtica teoria ...

    Quando ocorreu o falecimento de Mme. Blavatsky, o Dr. Encausse rendeu uma novahomenagem sua personalidade, consagrando-lhe, na revistaA Iniciao, as seguintes palavras:

    O chefe intelectual da Sociedade Teosfica deixou de existir. Mesmo que tenham sidodiferentes nossos caminhos de realizao, a morte cobre com um vu sagrado as personalidades,somente as obras subsistem.

    A obra de realizao de Mme. Blavatsky considervel. Foi a primeira que quebrou oshbitos das Sociedades Esotricas; foi a primeira a chamar as multides para participarem dosensinamentos, at ento conservados secretos, do hermetismo; forou as Sociedades Ocidentais a

    sarem de suas reservas e organizar a difuso dos dados elementares da Cincia Oculta.

    A imprensa fez justia personalidade de Mme. Blavatsky. Subscrevemos de todo ocorao estes elogios merecidos por uma vida de luta, dura, tenaz e sem piedade ... O porvir

    pertence agora aos pesquisadores independentes. Oxal no esqueam a grande realizadora quefoi Mme. Blavatsky.

    Papus foi co-fundador, em Outubro de 1888, do Ramo Hermes da Sociedade Teosfica, comsede em Paris. Porm em seguida, compreendendo que a Sociedade Teosfica - escreve MarcHav