lcsm e martinismo

59
Louis Claude de Saint Martin e o Martinismo Introdução ao estudo da vida, da Ordem e da Doutrina do FILÓSOFO DESCONHECIDO ADVERTÊNCIA Seguidamente confundem-se sob a denominação de Martinistas, os discípulos de Martinez de Pasqually e os de Louis Claude de Saint-Martin. Se bem que as teorias sejam as mesmas, uma diferença profunda separa as duas escolas. A de Martinez, restringiu-se ao plano da Maçonaria Superior, enquanto que a de Saint-Martin estendeu-se aos profanos; a segunda, ainda, recusou-se às prácticas e às cerimónias às quais a primeira dava uma importância muito acentuada. É exclusivamente no sentido da doutrina e dos discípulos de Saint-Martin que, as palavras Martinismo e Martinistas, serão empregues no transcorrer das páginas que se seguem. Assim se fala do Spinozismo de Spinoza, do Bergsonismo de Bergson. Em particular, a expressão "Ordem Martinista", que será lida uma ou duas vezes, não implica nenhuma referência à Ordem dos Elus-Cohen, fundada por Martinez e que se perpetua até os nossos dias; ela aplica-se ao "Círculo Íntimo" dos Amigos de Saint-Martin. Chamará atenção do leitor o grande número de citações de Saint-Martin apresentadas nesta obra. Talvez elas o surpreendam. Entretanto, acreditamos que não nos devemos desculpar por isso. Nosso único desejo é dar do Martinismo a ideia menos infiel possível. Pareceu-nos que os textos se impunham, cada vez que uma paráfrase tentava trair o pensamento do Filósofo Desconhecido. Algumas vezes, foi-nos necessário interpretar, deduzir certas consequências dos princípios estabelecidos. Disto não nos desculparemos mais, tentaremos justificar tal medida. A nossa ideia directriz, aquela doutrina viva, responde ao pensamento do filósofo. Mas o trabalho de desenvolvimento que se nos impõe, terá sido sempre conduzido no sentido em que Saint-Martin o teria levado? Disto não podemos vangloriarmo-nos. Para alcançar semelhante objectivo, teria sido necessário o próprio Ph Desc, ou, pelo menos algum iniciado adiantado, algum

Upload: ernesto-sousa

Post on 04-Oct-2015

251 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

LCSM e Martinismo

TRANSCRIPT

Simbologia

Louis Claude de Saint Martin

e o Martinismo

Introduo ao estudo da vida, da Ordem e da Doutrina

do FILSOFO DESCONHECIDO

ADVERTNCIA

Seguidamente confundem-se sob a denominao de Martinistas, os discpulos de Martinez de Pasqually e os de Louis Claude de Saint-Martin. Se bem que as teorias sejam as mesmas, uma diferena profunda separa as duas escolas. A de Martinez, restringiu-se ao plano da Maonaria Superior, enquanto que a de Saint-Martin estendeu-se aos profanos; a segunda, ainda, recusou-se s prcticas e s cerimnias s quais a primeira dava uma importncia muito acentuada. exclusivamente no sentido da doutrina e dos discpulos de Saint-Martin que, as palavras Martinismo e Martinistas, sero empregues no transcorrer das pginas que se seguem. Assim se fala do Spinozismo de Spinoza, do Bergsonismo de Bergson.

Em particular, a expresso "Ordem Martinista", que ser lida uma ou duas vezes, no implica nenhuma referncia Ordem dos Elus-Cohen, fundada por Martinez e que se perpetua at os nossos dias; ela aplica-se ao "Crculo ntimo" dos Amigos de Saint-Martin. Chamar ateno do leitor o grande nmero de citaes de Saint-Martin apresentadas nesta obra. Talvez elas o surpreendam. Entretanto, acreditamos que no nos devemos desculpar por isso. Nosso nico desejo dar do Martinismo a ideia menos infiel possvel. Pareceu-nos que os textos se impunham, cada vez que uma parfrase tentava trair o pensamento do Filsofo Desconhecido.

Algumas vezes, foi-nos necessrio interpretar, deduzir certas consequncias dos princpios estabelecidos. Disto no nos desculparemos mais, tentaremos justificar tal medida. A nossa ideia directriz, aquela doutrina viva, responde ao pensamento do filsofo. Mas o trabalho de desenvolvimento que se nos impe, ter sido sempre conduzido no sentido em que Saint-Martin o teria levado? Disto no podemos vangloriarmo-nos. Para alcanar semelhante objectivo, teria sido necessrio o prprio Ph Desc, ou, pelo menos algum iniciado adiantado, algum "homem de desejo" mais evoludo. E por esta traio involuntria, cuja multiplicao dos fragmentos de Saint-Martin nos pareceu limitar a importncia que ns devemos, em definitivo, pedir perdo ao leitor.

No curso do presente trabalho, as obras de Saint-Martin so citadas da seguinte maneira:

"Erreurs" designa os Erros e a Verdade (Des Erreurs et de la Verit) refere-se edio de Edimbourg 1782, 2 volumes, indicando o tomo e a pgina.

"Le Tableau Naturel", citado segundo a reedio da "Biblioteca da Ordem Martinista", Paris, Chamuel, 1900.

"Le Cimitire d'Amboise" e as "Stances sur l'origine et la destination de l'homme", so citadas segundo a reedio da "Petite collection d'auteurs mystiques", Paris, Chacornar 1913.

Para os outros escritos de Saint-Martin, utilizamos, salvo indicaes contrrias, o texto e a paginao da primeira edio.

Enfim, lembramos uma vez por todas que, as indicaes complementares sobre as outras de que citamos na Biblioteca de M. Chateaurhin ou no suplemento bibliogrfico, esto no final do presente estudo, na pgina 67.

O QUE O MARTINISMO

" preciso que um homem esteja oculto, escreveu Dostoiewsky, para que se possa am-lo. Desde que mostre o seu rosto, o amor desaparece". (1)

No certamente a Louis Claude de Saint-Martin, o "Filsofo Desconhecido", que estas palavras podem ser aplicadas. Ignorado, sem dvida, do grande pblico, Saint-Martin nunca enganou aqueles que se inclinaram sobre a sua to curiosa personalidade e se aprofundaram na sua doutrina espiritual. Mestre da vida espiritual, assim se apresenta aquele que as histrias da Filosofia rejeitam, s vezes, em notas de rodap. porque a sua obra se enderea aos homens de boa vontade, que em nossos dias como em todos os tempos procuram a verdade e a salvao, este modesto trabalho foi projectado. Poder-se-ia, se no tivssemos temor de ver sobrestimada sua importncia, intitul-lo: Iniciao ao Martinismo. Tal foi, exactamente, a razo destas linhas. E, como nossa inteno era de apresentar uma introduo ao estudo e prtica de uma doutrina, tentamos explicar a tarefa que se nos apresenta. Assim compreenderemos melhor e mais rapidamente, o que se pode entender por "Martinismo".Tratou-se, em sntese, de apresentar um esboo do pensamento do Ph... Desc... . Porm, mais que aos amadores de reconstituies histricas, ou aos curiosos de debates metafsicos, era preciso dirigir-se queles para os quais o Martinismo um fermento de vida espiritual, e, Saint-Martin, um Guia Fraternal, um Mestre e um Amigo. Fixar para os "homens de desejo e de boa vontade", os prprios ensinamentos dos quais eles se alimentam ou faz-los conhecer aqueles que se saciaro dos mesmos; oferecer um quadro vivo de uma doutrina viva: tal deve ser e tal foi nossa constante preocupao ao redigir este trabalho. No se encontrar aqui, propriamente falando, a exposio didctica da filosofia de Saint-Martin. O Tesofo de Amboise pode, certamente, reivindicar um honrado lugar entre os filsofos. Poder ser, sobre este particular, objecto de um trabalho detalhado.(2) A sua obra suporta a prova de um exame minucioso. Determinar precisamente as influncias que exerceram sobre Saint-Martin, seguindo os efeitos atravs das suas diferentes obras. Reconhecer em determinada pgina do Tableau Naturel, uma reminiscncia platnica, ou, em tal pargrafo do Ecce Homo, a lembrana de uma conversao com Madame de Boecklin; situar enfim, aps haver dissecado, o sistema que elaborou no sculo XVIII, um pensador denominado Louis Claude de Saint-Martin, so tantas tarefas teis, apaixonantes mesmo prprias para dar um novo brilho figura do Mestre. Mas no queremos reconstituir um esqueleto, nem queremos erguer uma esttua de pedra. As condies j enunciadas e nas quais este livro foi elaborado, nos justificaro, sem dvida, de ter abandonado todo o aparato de erudio. Somente figuraro as indicaes necessrias para compreender a doutrina definitiva, porque existe um aspecto perfeito no pensamento Martinista. Est alm das palavras, aquele que o entrev; permite perceber a coerncia e o fundamento das aplicaes que deles se tiram. O que se chama Martinismo , ao mesmo tempo, uma sociedade de homens continuando os estudos msticos do Mestre e, um sistema filosfico e metafsico que alguns denominam uma teologia. Mas tambm um mtodo que permite reconhecer, luz deste prprio ensinamento, o que em todos os domnios especialmente tradicional e inicitico. (3) Se uma especulao abstracta, o martinismo logo uma vivncia, um estado de esprito, um esprito. um conhecimento superficial, uma luz que d a sua cor aos objectos que envolve, e, que, misturando a sua nuance queles que lhes prprio, funde-os sem os confundir, numa doce harmonia. Pudessem estas pginas, escritas com simpatia e respeito, incitar aqueles que se uniram numa admirao comum por Saint-Martin, a partir da leitura, para encontrar o esprito. Talvez o maior dos filsofos da Unidade perseguisse, sem cessar, um esforo de sntese. " um excelente casamento para fazer, disse este, da nossa primeira escola com o nosso amigo Behme. para isso que eu trabalho".(4) Nesta inspirao consiste o verdadeiro ensinamento do Tesofo. A encontra-se expressa a grande ideia que norteou toda a sua vida. E no mostrar-se um fiel discpulo de Saint-Martin o buscar nos seus livros a ideia que os ditou? "Os livros que fiz, ele mesmo declarou, s tiveram por meta convencer os leitores a abandonar todos os livros sem respeitar os meus". (5) A prpria Bblia, o livro dos livros, no suficiente para fundamentar uma verdade. "Por mais avantajadas que sejam as descobertas que se possa fazer nos livros hebreus, elas no devem ser empregues como provas demonstrativas das verdades que dizem respeito natureza dos homens e sua correspondncia com o seu Princpio, porque estas verdades subsistem por si mesmas; o testemunho dos livros no deve jamais servir seno como confirmao". (6)

Por isso, convidamos todos os homens, nossos irmos, a recolher, independentemente das frmulas e das demonstraes, a exaltao mstica do Tesofo, e restabelecer o canon, segundo o qual ele julgava o homem e o Universo, e acima de todas as coisas, a reencontrar a espontaneidade do impulso que o levava a Deus.

Tal o convite que este pequeno livro pode lanar. O objectivo do autor ser plenamente alcanado, se graas a ele, s uma minoria compreender o apelo dos Mestres Passados, e reconhecer o verdadeiro Caminho da Reintegrao; a Rota Interior que lhe traou o Ph Desc , pela voz grave e amvel de Louis Claude de Saint-Martin.

Captulo I

LOUIS CLAUDE DE SAINT-MARTIN E O MARTINISMO

Alguns dados histricos

Uma nova exposio da vida de Saint-Martin, para apresentar algum interesse, dever apoiar-se em documentos inditos, elucidar certas dificuldades histricas que ainda oferece a existncia do Ph Desc. Mas esta delimitao precisa no tempo e no espao da personalidade de Saint-Martin, no , j se sabe, a finalidade desta obra. Parece intil apresentar, sob uma forma diferente, a bibliografia de Saint-Martin, tal como foi escrita por vrios autores. deles que nos socorremos e, em particular, aos estudos de Matter e de Papus, assim como os livros de Moreau, de Caro e as diversas notas das enciclopdias e dos jornais. (7) Entretanto, para bem captar a doutrina Martinista, talvez seja til possuir os elementos essenciais de sua formao. Tambm daremos um sumrio dos homens e dos livros cujo contacto influenciou Saint-Martin. Mas, antes, recapitularemos em um simples quadro, as grandes pocas da vida do Tesofo de Amboise, as datas essenciais sobre sua passagem pela terra, a menos que, para qualquer outro, parece que o destino e o pensamento de um homem de desejo, como o foi Saint-Martin, devem ter sofrido a influncia de circunstncias exteriores. Foi sublinhado o curioso contraste que existe entre as preocupaes msticas das quais testemunhou a correspondncia com Kirchberger e os trgicos episdios, que agitaram, ao mesmo tempo, a Frana no terror. Entretanto, est fora de dvida que a Revoluo Francesa e a corrente de ideias que a aureolou, ficaram longe de deixar indiferente o autor de l'Eclair sur l'association humaine. A sua atitude a respeito da Franco-Maonaria, explica-se sem dvida, por uma evoluo pessoal, mas tambm, pela degenerescncia da prpria Maonaria. E como compreender o sistema Martinista sem levar em conta as relaes com Martinez e a viagem a Strasbourg?

Cremos, pois, mantermo-nos fiel ao nosso assunto, que o estudo do Martinismo, lembrando, sucintamente, seus fundamentos histricos; por um lado, a pessoa de Saint-Martin, por outro, a sociedade que se apregoa, criada directamente por ele.

QUADRO CRONOLGICO DA VIDA E OS ESCRITOS DE

LOUIS CLAUDE DE SAINT-MARTIN

(Com os principais sincronismos literrios, polticos e Martinistas)

AnoVida de Saint-MartinSincronismos

MartinistasSincronismos

LiterriosSincronismos

Polticos

1730Lyon. Nascimento de Willer-moz.

1741Guerra da Su-

cesso na ustria.

174318 de Janeiro. Nascimento de Saint-Martin, em Amboise.

1748Montesquieu: "O Esprito das Leis".

1750Rousseau: "Dis-curso sobre as Cincias e as Artes". Palissot: "Os Filsofos".

1754Martinez de Pasqually funda em Montpellier os "Juizes Es-coceses". Viagens na Frana. Formao e Iniciados.

1758Helvetius: "Do Esprito".

1760Revs em Touluse. Em Foix, Pasqually inicia Grainville e funda um Templo.

1761M. de Pasqually em Bordeaux afilia-se Loja "La Franaise" que ele procura renovar. Rousseau: Do Contrato Social".

1762Rousseau: "L' Emile".

1764"La Franaise" se associa a um Captulo Cohen "La Franaise Elu Ecossaise". Voltaire: Dicionrio Filo-sfico.

1765Carta Patente de Oficial do Regimento de Foix.

1766Suspenso do Captulo Co-hen. M. de Pasqually em Paris. Instrui Bacon de la Chevalerie, Lusignan Grainville, du Guers, Willermoz. Iniciao de Willer-moz.

176721 de Maro, Equincio da Primavera. Constituio de um Captulo Cohen e do Tribunal Soberano, Bacon de la Chevalerie, substituto Uni-versal. Abril; M. de Pas-qually em Bordeaux, aps Amboise Blois, Tours, Poitiers. Casamento de Pas-qually. Ocupaes de Guers.

1768Agosto, Setembro. Saint-Martin iniciado Elu Co-hen por Grainville e Bal-zac. Saint-Martin re-encontra Martinez. 13 de Maro, Willermoz ordenado Rose-Croix. Ele encontra Saint-Martin pela primeira vez. 20 de Junho, nascimento do filho de Pasqually. Negcios em Guers. Boulanger: l' Antiquit d-voile.

1770D'Holbach: "Sistema da Natureza".

1771Saint-Martin abandona as armas para melhor seguir a espiritualidade. Saint-Martin, secretrio de Pasqually em Bordeaux. "Tratado da Reintegrao dos Seres Criados".

1772Primavera: Saint-Martin obtm "Passes" no transcurso da Operao do Equincio. 17 de Abril: ordenado Rose-Croix. Equincio da Primavera: Willermoz fracassa novamente. Sucesso de Saint-Martin e Deserre. 17 de Abril: ordenao Rose-Croix de Saint-Martin e Deserre. 5 de Maio: Pas-qually embarca para So Domingos. Termina a publicao da Enciclopdia.

1773Setembro: Saint-Martin em Lyon, junto com Willermoz.

1774Outubro: viagem a Itlia com o mdico Jacques Willermoz. 20 de Setembro: Morte de Pasqually em So Domingos. Caignet, Grande Soberano. Morte de Louis XV. Posse de Louis XVI.

1775"Dos Erros e da Verdade". Abril: Saint Martin em Pa-ris.

17769 de junho: Saint-Martin encontra-se com o abade Fourni em Bordeaux. 12 de Julho: Saint-Martin parte para Toulouse. Voltaire: A Bblia Explicada. 4 de Agosto: nascimento de Ballanche.

1777Incio: Saint-Martin em Pa-ris.

177825 de Novembro, Conven-to de Gaules em Lyon. J. de Maistre, Gran Professo por Willermoz. 30 de Maio: morte de Vol-taire. 3 de Ju-lho: morte de Rousseau. Guerra na

Amrica.

177919 de Dezembro: morte de Gainet de Lesterre. S. de Las Casas, Gran Soberano.

1780Novembro: Las Casas aconselha a dissoluo dos Cohen e a guarda dos arquivos aos Filaletes.

1782"Quadro Natural das Rela-es que existem entre Deus, o Homem e o Uni-verso". 16 de julho: Convento de Wilhemsbad.Rosseaux: "Confisses".

1783Mmoire l'Acadmie de Berlim.

1784Janeiro: Saint-Martin pres-ta juramento Sociedade de Mesmer. Recusa-se a participar no Convento dos Filaletes. 20 de Outubro: Cagliostro em Lyon.

178530 de junho. Partida para Lyon com sua Bblia He-braica. 24 de Agosto: embastilha-mento de Cagliostro (pro-cesso de Collier). Primave-ra: Manifestao do "A-gente Inconnu" em Lyon.

178612 de Janeiro: retorno a Paris com Zimovief.

178710 de Janeiro: Chegada a

Londres com Galitgin. Re-

encontro de Law e de Divo-

ne. Setembro: partindo para

a Itlia com Galitgin, se de-

tm em Lyon.

1788Fevereiro: retorno da It-lia, permanece em Lyon. Abril: em Paris (Amboise, Montbliard). 6 de Junho: Strasbourg. Reencontros: Turkheim, Madame de Boeklin e Salzmann lhe revelam Boheme. Swedenborg: Resumo em Francs de suas obras.

17895 de Maio: Es-tados Gerais em Versalhes.

1790"O Homem de Desejo". 4 de Julho: manda riscar seu nome dos registros ma-nicos desde 1785. Goethe: Fausto - 1 parte.

1791Julho: deixa Strasbourg por Amboise. Em Paris re-encontra a duquesa de Bourbon. Volney: Les Ruines.20/22. Fuga do Rei Varennes. 1 de Outubro: Legislativo.

1792"Ecco Homo". "O Novo Homem", escrito em Stras-bourg, 28 de maio: 1 carta de Liebisdorf a Saint-Mar-tin.

1793Janeiro: morte do pai de Saint-Martin. Abril: cha-mado presena das auto-ridades revolucionrias de Amboise. Agosto-Outubro: curta estada junto duque-sa de Bourbon em Petit- Bourg. Outubro: Amboise. L Behme e Law. Gleichen: "En-saios Teosfi-cos". 21 de Setem-bro: Proclama-o da Rep-blica.

1794Saint-Martin em Paris re-torna a Amboise. Fim do ano: chamado Escola Normal. 20 de Julho: morte de Na-dr-Marie Che-nier. 21 de Janeiro: morte de Luis XVI. 2 de Ju-nho: o Terror. 16 de Outubro: morte de Maria Antonieta.

179527 de Fevereiro: Contro-vrsia com Garat. Perma-nece em Paris, corrige l'-Eclair e escreve as "Reve-laes Naturais". 16 de Abril: um decreto, probe aos no-bres de deixar Paris. 27 de Ju-lho: queda de Robespierre.

Fim do Terror.

1796Memrias Academia so-bre os "Signes de la Pen-se". "Lettre un ami", ou "Considrations Philoso-phiques et religieuses sur la Rvolution Franaise". Maio, em Amboise. 27 de Outubro:

O Diretrio.

1797Junho: curta estada em Petit- Bourg em Champl-treaux. Julho/Setembro: Amboise. Eclair sur l'asso-ciation humaine. Rfletions d'un observateur sur la question propose par l'Institut, quelles sont les institutions les plus propes fonder la morale d'un peuple. En Sonbreuil en-contro com Gassicourt. Chateubriand: "Ensaios sobre a Revoluo".

1798"O Crocodilo" ou "A Gue-rra do Bem e do Mal", es-crito sobre o reinado de Louis XV. Condenao do livro: "Dos Erros e da Ver-dade" pela Inquisio da Espanha.

1799"De l'influence des Signes sur la pense", primeira-mente no "Crocodilo". Nascimento de Balzac.9 de Novem-bro: Bonaparte substitui os Di-retores.

1800"O Esprito das Coisas". Traduo da "Aurora Na-cente" de Jacob Boehme.

1801O Cemitrio d'Amboise. Ballanche: "Du Sentiment". Constituio do ano VIII. Bonaparte: 1 Cnsul.

1802"O Ministrio do Homem Esprito". Traduo: "Dos Trs Princpios da Essncia Divina", de Jacob Boehme. Chateaubriand: Gnio do Cris-tianismo.

1803Termina a traduo "Das 40 Questes sobre a alma" e "Da Trplice Via do Ho-mem" de Behme. Entre-vista com Chateaubriand no "la Valle aux Loups" (Janeiro). 13 de Outubro: em Aulnay na Casa de Le-noir-Laroche, morte de Saint-Martin.

180418 de Maio: Bonaparte im-perador

1806No Grande Convento dos Ritos do Grande Oriente, Bacon de La Chevalerie re-presenta os Elus Cohens.

1807"Obras Pstumas" - "40 Questes sobre a Alma" - "Da Trplice Via do Ho-mem".

18127 de Outubro: morte de Salz-mann.

1821Joseph de Ma-istre: Soires de Saint-Pe-tersbourg.

1824Lyon, 29 de Maio: morte de Willermoz.

1843"Os Nmeros", Litografia de Chauvin.

1862"Correspondncias inditas com o Baro de Liebisdorf.

Captulo II

LOUIS CLAUDE DE SAINT-MARTIN E seus Mestres

"Se eu no tivesse encontrado Deus,

jamais meu esprito teria podido fixar-se

em algo sobre a terra".

(Portrait n 290, pg. 37)

Se bem que o Martinismo possa definir-se como sendo a doutrina conforme o esprito e no somente letra de Saint-Martin, a personalidade e a obra do Filsofo Desconhecido, permaneceu, entretanto, como base desse ensinamento. Depois de t-lo situado na sua poca e no seu pas, vejamos que tipo de homem foi Saint-Martin e como se modelou o seu esprito. Ele deixou-nos sobre sua vida e sobre suas afeies, pginas deliciosas e profundas. Melhor que quaisquer comentrios, elas sabero delinear o seu rosto bondoso num sorriso enigmtico. O conhecimento "por simpatia" do Tesofo, permitir, talvez, perceber melhor a sua profunda elasticidade que , exactamente, a mesma do Martinismo.

Nas primeiras pginas de seu Portrait, entre esses esboos to delicadamente puros de estilo e de pensamento, o prprio Saint-Martin nos diz que tinha "pouco de astral", e acrescenta: "A Divindade me recusou um mximo de astral porque queria ser meu mvel, meu elemento e meu termo universal"(8). Sua alma sensvel e meditativa, seu prprio corpo do qual recebeu somente um "projecto", (9) predispunha Saint-Martin a seguir o caminho interior. Ele prprio no-lo afirma: "Na minha infncia no consegui persuadir-me de que os homens conhecedores das douras da razo e do esprito, pudessem ocupar-se, por um momento, das coisas da matria". (10) Acima de tudo Saint-Martin buscava Deus. Teria em si, incessantemente, esta sede do Bem, do Belo, do Verdadeiro que s Deus pode saciar. "Todos os homens podem ser-me teis, escreveria um dia, mas nenhum deles poderia jamais, satisfazer-me: Deus me basta". (11) A estes pendores naturais, juntaram-se, para os acentuar, a primeira educao e as primeiras leituras. Uma madrasta, inteligente e piedosa, substitui junto a Louis Claude, a me desaparecida muito cedo. Seu filho adoptivo, que ela concebeu segundo o esprito, dela falou, nestes termos gratos e ternos: "Eu tenho uma madrasta a quem devo, talvez, toda a minha felicidade, pois foi ela quem me deu os primeiros elementos de uma educao doce, atenta e piedosa que me fez amar Deus e os homens".(12) A influncia desta mulher sobre Saint-Martin, foi considervel. A religio ntima que lhe ensinou, permaneceu sempre gravada no corao do Filsofo Desconhecido. O exemplo e as palavras da primeira mulher que influenciou a vida de Saint-Martin, juntou-se escolha das leituras. Foi graas a ela, sem dvida, que Saint-Martin pde ler Abbadie. As obras de Jacques Abbadie, "ministro" protestante de Genebra, iluminaram as longas horas do Colgio de Pontlevoi. Elas endereavam-se ao homem, no somente ao intelecto - correspondia assim s aspiraes do jovem Louis Claude. A arte de conhecer-se a si mesmo, reforou em Saint-Martin, o gosto pelo estudo de si prprio, no da anlise, decepcionante e estril, mas da reflexo fecunda da marcha do caminho do Corao. Pela feliz inclinao que ajudou a despertar na sua alma, Abbadie bem merece ser chamado o "iniciador" de Saint-Martin. (13) Tambm Pascal exerceu uma influncia precoce sobre o Filosofo Desconhecido e, veremos que ele acentuou sua concordncia moral e metafsica.

Deste modo, se constitui e frutifica em Saint-Martin, o tesouro da verdade que permanecer sempre com ele e cujo valor, jamais deixar de conhecer. "Quando tinha 18 anos, disse-me, no meio das confisses filosficas que os livros me ofereciam: existe um Deus, eu tenho uma alma, no necessrio mais nada para ser sbio e, foi sobre essa base que se ergueu todo o meu edifcio". (14) Dir-se- que o vigrio Saboiano no falar de outro modo. Entretanto, nada seria mais falso que ver nesta frase a profisso de f de um desta.

"Dou mais valor a um idlatra do que a um desta, diz ainda Saint-Martin, porque este abjura e proscreve toda a comunicao entre Deus e o homem, enquanto o outro, apenas se engana sobre o rgo e a maneira da comunicao". (15)

Nessa poca, conformando-se com a vontade paterna que o destinou magistratura, estudou direito. Foi assim que tomou contacto com o meio filosfico e literrio da poca. Este contacto no se fez sem lhe deixar alguns traos. Leu os autores da moda que, segundo Matter (16) foram: Voltaire, Rousseau, Montesquieu, todos escritores pouco msticos. Entretanto, Saint-Martin tinha a capacidade de pensar por si mesmo. Sobretudo a Providncia velava sobre ele, por meio da Proteco ele reivindicava frequentemente, cuja Presena e cuja Virtude celebrava. Saint-Martin conheceu o Erro, mas sem aderir a ele. No cedeu seduo da "Encyclopdie" nem ao encanto irnico do "Dictionnaire Philosophique". Podia, sem remorso, lembrar-se dos tempos da sua juventude. Transpe a corrupo sem sofrer os seus golpes mortais. "Li, vi e escutei os filsofos da matria e os doutores que devastam o mundo com as suas instrues; nenhuma gota de seus venenos me penetrou -; nem mesmo as mordidas de uma s destas serpentes me prejudicaram". (17)

Certamente, Saint-Martin no compartilhava as ideias de Helvetius e de Condillac; permanecera sempre adversrio irreconcilivel deles. Assim, ele apreendeu a conhecer os seus inimigos, os "Filsofos". A sua familiaridade, mesmo enquanto no foi mais que um livresco, transparecia no seu propsito. O julgamento que fizeram deles traiu, talvez, uma certa indulgncia e, encerrou, em todo caso, uma justa compreenso da sua doutrina. "Se fosse possvel darmos conta dos primeiros passos que esta filosofia tinha feito..., talvez fosse preciso agradecer inteligncia humana por ter adquirido as altas verdades das trevas onde os instituidores as haviam reunido". (18) Saint-Martin, no condena, de modo algum, razo; ao contrrio, ele a exalta e o veremos atribuir-lhe a tarefa de conquistar a verdade. Mas ela deve admitir os seus limites e reconhecer aquilo que a ultrapassa.

Essa preocupao de um lugar certo para cada coisa, essa distino de planos, so constantes em Saint-Martin. Elas iluminaro sua vida e suas opinies. Veremos o Tesofo julgar Voltaire. Admitir-lhe o talento, a virtude intelectual, como tambm as fraquezas. Talvez seja mais difcil no se admirar Voltaire do que estim-lo ou am-lo, porque a subtileza do esprito no pode substituir o sentido moral. E o cuidado desse senso moral, dominou em Saint-Martin, uma vez que ele tocou, pelo filsofo, a prpria essncia do homem capaz de discernir o bem e o mal. Saint-Martin concluiu tambm de Voltaire: "Talvez um homem sensato fizesse melhor em recusar totalmente seu esprito, se com isso, fosse obrigado, ao mesmo tempo, a aceitar sua moral". (19)

No que diz respeito a Rousseau, Saint-Martin tinha com ele muitos pontos em comum, conforme ele os assinala: " leitura das Confisses de Jean-Jacques Rousseau, impressionei-me com a semelhana de meu pensamento com o dele, tanto pelas nossas maneiras tomadas s mulheres como pelas nossas tendncias, ao mesmo tempo racionais e infantis, na facilidade com a qual nos julgaram estpidos no mundo, quando no tnhamos uma liberdade plena em nosso desenvolvimento". (20) Algumas divergncias separam, portanto, os dois autores, acentuadas alis, pelo prprio Saint-Martin. (21).

bem certo que jamais concordou com Rousseau quanto inocncia do homem ao nascer, pois tinha sobre o pecado (original), um sentimento profundo. Quanto s ideias polticas do Contrato Social, estas foram equilibradas no esprito do jovem jurista pelo descobrimento de Montesquieu e, sobretudo, no de Burlamaqui: Sbio Burlamaqui, exclamar o Tesofo errante na sua obra Le Cimitre d'Amboise:

Sbio Burlamaqui, no ests longe destes lugares Que tu santificaste na aurora de minha vida,

Com fogo sagrado, saindo de tua profunda lida,

Perturbando todo meu corpo com santos estremecimentos,

Da justia assentou-se-me todos os fundamentos...(22)

Tais eram as disposies de Saint-Martin quando se deu um encontro que deveria marcar sua vocao: o encontro com Martinez de Pasqually, seu "primeiro mestre".

Ele no conheceu de imediato Martinez, mas entrou, primeiramente, na sua irradiao. Esta se manifestou num grupo de discpulos constitudos em corporao, da qual, Martinez era o Grande Soberano: "A Ordem dos Cavaleiros Maons Elus Cohen do Universo". Depois de "sorrir por muito tempo de tudo aquilo a que se referia a Ordem", (23) Saint-Martin foi iniciado no rito Elu Cohen em 1768.

Os "trs poderosos Mestres", Grainville e Balzac, tambm oficiais do regimento de Foix, procederam sua recepo no seio da fraternidade. Durante algum tempo, ele foi um partidrio zeloso, (24) e no seguinte, em Bordeaux, Saint-Martin apresentou-se a Martinez de Pasqually.

O que poderamos dizer desta estranha personalidade do "Taumaturgo" do sculo XVIII? Um "meteco", judeu espanhol, supem-se que alterava o francs nas suas cartas ou no seu Tratado; de carcter irritvel e inconstante, conservava, por seu encanto e suas promessas, os descendentes de algumas das grandes famlias da Frana. O que dizer deste cabalista cujas elucubraes teosficas encantavam um grupo de jovens mundanos e cultos? O que poderemos dizer, enfim, deste profeta, cujo Verbo tem at o poder de subjugar um negociante Lyons? Saint-Martin tambm foi envolvido pelo encanto emanante de Martinez. Sua afeio, nascida durante o dia de seu encontro, jamais deveria terminar. Suas relaes com a "Ordem dos Cohen" reflectiam uma evoluo interior que o afastava das operaes tergicas. Mas Saint-Martin, jamais abandonaria os princpios da Reintegrao dos Seres. No fim de sua vida, Saint-Martin prestou homenagem sua "primeira escola": "Martinez de Pasqually possua a chave activa... mas no acreditava que nos pudesse conduzir a essas altas verdades". (25)

Quando discute a respeito da Virgem com Liebisdorf, faz uma nova aluso ao Mestre da sua juventude: "Quanto Sofia e ao rei do mundo, ele (Dom Martinez) nada nos revelou... No queremos dizer com isso que ele nada soubesse do assunto e, estou convencido que, se dispusssemos de mais tempo, poderamos ter falado sobre isso".(26)

Convertido ao Martinesismo, Saint-Martin integrou-se plenamente. No somente a doutrina que permanecer a sua, ao menos em linhas gerais, mas ainda, as realizaes mgicas e tergicas, receberiam a adeso total do filsofo. Prisse du luc, lembrar-se- deste perodo, quando escrever a Willermoz, aps a leitura do Homem de Desejo: "Vi belas coisas, as mais obscuras e mstico - poticas (sic) que o autor, em outros tempos, detestava enormemente".(27) Entretanto, assim como Voltaire ou Diderot, no tinham tornado Saint-Martin incrdulo, a experimentao de Martinez no o fez perder de vista o verdadeiro caminho, que o interior. Enquanto seu companheiro, o abade Fourni, oscilava entre Swedenborg e Madame Guyon, Saint-Martin soube manter-se no caminho do meio. De vez que os nomes Swedenborg e Madame Guyon acabam de nos aparecer, como os smbolos de dois excessos, releiamos a apreciao que Saint-Martin nos faz deles: "Nunca vi Madame Guyon", declara ele em 1792 e aps ter estudado as suas obras: "Apreciei esta leitura, como a fraca inspirao feminina em relao masculina". (28) Quanto a Swedenborg, convm afastar para o domnio das lendas a pretensa formao que ele teria dado a Saint-Martin.

O papel do mstico sueco foi de pouca monta na carreira do Filsofo Desconhecido. Quando era teurgo - "a verdadeira meta dos teurgistas menos a cincia da alma do que a dos espritos".(29)

preciso no esquecer que o livro dos Erros e da Verdade no era, originalmente, destinado ao grande pblico, mas, somente seita dos Martinistas. - V. Rijnberk, I pg. 163 (em 1775 no se trata do Martinismo de Saint-Martin). A obra, alis, foi projectada, amadurecida, discutida e escrita em Lyon junto a Willermoz. (A. Joly: Un mystique Iyonnais, pg. 58) e, enfim, que exps, conferida pela brilhante inteligncia de Saint-Martin, a doutrina de Martinez. Portanto, pouca coisa tem para mudar, e estas mudanas, referem-se a meros detalhes por ter a expresso perfeita do pensamento de Saint-Martin.

Saint-Martin censurava Swedenborg de ter "mais do que se chama a cincia das almas do que a dos espritos". A frase cruel para o conquistador dos mundos anglicos, o confidente dos bons e dos maus gnios. Ela demonstra que ao menos, Saint-Martin no se deixava impressionar por toda a eloquncia, toda a imaginao e todo o esplendor Swedenborgiano: ele teria antes, subscrito o julgamento de V.E. Michelet: "Swedenborg no era um filsofo, mas um engenheiro de grande mrito".(30) Mesmo nesta cincia da alma, que iria, mais tarde, revestir-se de grande importncia, Saint-Martin apreciava pouco Swedenborg. "Sobre este aspecto, escreveu ele, ainda que no seja digno de ser comparado a J. Boehme pelos verdadeiros conhecimentos, possvel que convenha a um grande nmero de pessoas". (31) Isso no muito lisonjeiro. O Tesofo de Amboise percorreu, portanto, durante algum tempo, o caminho exterior e fecundo.(32) Ele o seguia com xito e, em poucos anos, colheu os elogios, pelos quais Willermoz esperou onze anos.

Entretanto, Saint-Martin sentia renascer em si os impulsos da infncia, o desejo de expanso mstica. O cerimonial Cohen pareceu-lhe intil, os seus resultados falazes: "Mestre, disse ele um dia a Martinez, por que so necessrios tantas coisas para orar a Deus?". Esta tendncia tornou-se cada vez mais forte e o entusiasmo. Foi ento que aconteceu a revelao que transformou a sua vida: Saint-Martin descobriu Jacob Behme. Ele mesmo nos relatou a sua viagem a Strasbourg e as relaes que travou com Rodolphe de Salzmann. Este lhe confiar mais tarde, "a chave de Behme" (33) que ele possua. Mas foi por intermdio de Madame Charlotte de Boecklin que conheceu a obra do iluminado sapateiro alemo, enquanto recebia dela o apoio de uma alma compreensiva. "Eu tenho no mundo, escrever em seguida quando se separar, eu tenho no mundo uma amiga como ningum possui, s com ela minha alma podia expandir-se vontade e conversar sobre os grandes assuntos que me ocupavam, porque s ela consegue adaptar-se medida dos meus desejos, e ser-me extremamente til". (34)

Podemos perceber a ajuda preciosa que proporcionou a Saint-Martin, o amor "puro como o de Deus" de seu carssimo Behme. Quanto a Jacob Behme, impossvel descrever em frase melhor do que esta, a descoberta que ele representa para o Tesofo francs: "No so minhas obras que me fazem lamentar sobre a negligncia daqueles que lem sem compreender, so aquelas de um homem do qual no sou digno de desatar o cordo do sapato, meu carssimo Behme. preciso que o homem se tenha transformado inteiramente em pedra ou demnio para no tirar proveito deste tesouro enviado ao mundo h 180 anos". (35)

Estas entusisticas expresses so encontradas nas obras de Saint-Martin. Cada pgina da correspondncia com Kirchberger um grito de reconhecimento e de louvor glria de Jacob Behme.

No hesitemos neste captulo onde deixamos falar Saint-Martin, em rever o seu itinerrio filosfico, como ele mesmo resumiu: " devido obra de Abbadie intitulada l'Art de se connaitre que devo meu afastamento das coisas mundanas... a Burlamaqui que devo minha inclinao pelas bases naturais da razo e da justia dos homens. a Martinez de Pasqually que devo meu ingresso nas verdades superiores. a Jacob Behme que devo os passos mais importantes que dei nos caminhos da verdade". (36)

Da em diante, Saint-Martin encontrou o caminho interior. Entrada pela senda que entrevia, mas da qual, apenas galgara o limiar. Agora, dirigia-se para a Unidade por meio do Caminho do Esprito e do Corao. Descobriu o verdadeiro sentido das tradies Cohen. Conciliando, ao mesmo tempo seus dons congnitos, os ensinamentos de Martinez e Behme, to prximos do seu pensamento, Saint-Martin constitui o Martinismo. E essa doutrina filosfica e mstica, ele a viveu, no recolhido sobre si mesmo, mas no meio mundano. "Seduziu a alta sociedade parisiense, escreveu um historiador moderno, atravs da doura de seus costumes, a austeridade de sua vida e a gravidade de suas palavras". (37) Permaneceu no mundo e prosseguiu sua grande aventura espiritual. "O esprito mundano o aborrece, mas ele ama o mundo e a sociedade". (38) Segundo as maravilhosas palavras de So Paulo "Ele est no mundo, como se no estivesse".(39)

A divisa que um inspirado ancio lhe atribui, dirige sua conduta: "Terrena reliquit".(40)

Pela sabedoria que ensina e vive pela prpria existncia, Saint-Martin tende Suprema Unidade e s visa a Reintegrao Universal. A mscara de sua doura, de sua graa tmida e de sua benevolncia, no consegue dissimular o Mestre. "O mais elegante dos tesofos modernos", tambm o Filsofo Desconhecido. (41)

Em 1795, um correspondente do professor Krter, que se fizera amigo de Saint-Martin, o descreve assim: "Ele possui uma iluminao e um conhecimento, de tal maneira superior, que no teriam causado admirao, se no houvessem sido plantados num corao cheio de humildade e amor". (42)

No est a realizado em seu venerado Mestre, o Filsofo Desconhecido, todo o ideal do Martinismo?

Captulo III

Existncia Histrica da Ordem Martinista

"As Iniciaes individuais de Saint-Martin, so, verdadeiramente,

uma realidade".

1. Van Rijnberk:

Martinez de Pasqually, t. II, pg. 33.

"A existncia de uma "Ordem Martinista" fundada por Saint-Martin, negada por todos os autores srios". (43) Tal a concluso das pesquisas filosficas efectuadas pelo Sr. Van Rijnberk. No podemos taxar este autor de parcialidade, pois ele mesmo se declara "inclinado a admitir" o facto controverso. Mas, preciso reconhecer a ausncia de todo o estudo aprofundado da questo, devido talvez, falta de suficiente documentao.

O Sr. Van Rijnberk, preencheu esta lacuna e encerrou a discusso.

Com efeito, num segundo estudo, o Sr. Van Rijnberk, resume-se assim: "As iniciaes individuais de Saint-Martin, consideradas por muitos como simples lendas, so uma realidade patente".(44)

Enviaremos, para todas as discusses de documentos, as criticas de testemunhos, etc., os relatrios do Sr. Van Rijnberk, conduzido segundo o mais sadio mtodo histrico. Indicaremos textos aos quais ele se refere para provar a existncia de uma ordem Martinista, de uma ordem de Saint-Martin.

1) Entre os documentos que poderamos qualificar de exteriores, encontramos:

1 - Um texto das Memrias do Conde de Gleichen, o qual relata que Saint-Martin tinha estabelecido uma pequena escola em Paris. (45)

2 - Um artigo de Varnhagem von Ense, datado de 1821, onde se l: "Ele (Saint-Martin) decidiu ... fundar uma sociedade (comunho), cuja meta seria a espiritualidade mais pura, e pela qual comeou a elaborar sua maneira, as doutrinas de seu mestre Martinez". (46)

3 - Uma carta, cujo autor desconhecido e que foi endereada em 20 de Dezembro de 1794 ao professor Kster. Nela se fala de "Saint-Martin e dos membros de seu crculo ntimo". (47)

Trata-se, em termos apropriados, de uma "Sociedade de Saint-Martin" e de uma filial Strasburgiana desta mesma sociedade.

Anexemos a estes documentos, muitas vezes inexactos nos detalhes, mas, unanimes em afirmar a existncia de uma sociedade de Saint-Martin, a sucinta nota necrolgica do Journal des Dbats. Est assim redigida: "Paris 13 Brumrio... o Sr. de Saint-Martin, fundador na Alemanha de uma seita religiosa conhecida com o nome de Martinista, acaba de falecer em Aulnay prximo a Paris, na casa do senador Lenoir Laroche. Ele adquirira alguma notoriedade por suas exticas opinies, sua dedicao aos devaneios dos iluminados e seu livro ininteligvel "Dos Erros e da Verdade". (48) Notar-se- que se menciona uma seita religiosa e no manica. A Sociedade a qual o redactor do Journal des Dbats atribui a formao do Filsofo Desconhecido, no tem, pois, nada em comum com o pretenso rito manico de Saint-Martin. (49) Nenhum dos documentos indicados acima, sugere, alis, esta identificao.

Citemos, enfim, a curiosa estria do Cavaleiro d'Arson. Acha-se narrada na sua obra "Appel l'humanit". Preciosa para entender o esprito da Ordem Martinista, fornece, tambm, um documento histrico sobre a Sociedade de Saint-Martin em 1818. V-se, com efeito, nesta obra, que naquela poca, os discpulos do Tesofo liam as suas obras, aconselhando sua leitura e agiam em torno delas como verdadeiros Superiores Desconhecidos. (50)

2) Mas o Sr. Von Rijnberk, recebeu outras informaes do Sr. Augustin Chaboseau, at a poca inditas, sendo publicadas no tomo II de Martinez de Pasqually. Elas comprovam a existncia de uma iniciao transmitida por Saint-Martin, diferente da iniciao Cohen. A seguir, reproduzimos o quadro da filiao Martinista de Saint-Martin, at nossos dias:

Deste quadro resulta que a iniciao dos Martinistas actuais, iniciados pelo Sr. Augustin Chaboseau, , incontestvel, e alis, incontestada. A dos Martinistas de Papus, medida que se unam nica subdiviso de Chaptal-Delaage, e, na medida em que o prprio Papus se liga a esta nica subdiviso, est obscurecida por uma dvida. Chaptal, com efeito, morreu em 1832 e no pde iniciar Delaage, que nascido em 1825, tinha, ento, sete anos. O prprio Papus diz "que um dos alunos directos (de Saint-Martin), o Sr. de Chaptal, foi av de Delaage" (51), mas no indica com preciso que ele deveria tomar a posio paterna. (52)

De facto, a regularidade Martinista de Papus certa, porque ele no possua somente a hipottica filiao de Delaage. Augustin Chaboseau, assinalou num artigo indito este ponto na histria do Martinismo contemporneo. Ele relata que Grard Encausse e ele, trocaram as suas iniciaes, conferindo-se, reciprocamente, o que cada um deles havia recebido.(53) Pode-se, pois, dizer que se Papus era validamente detentor da iniciao da Saint-Martin, ele o devia a Augustin Chaboseau.

Certas tradies e outros factos, ligam Saint-Martin e a Ordem Martinista Companhia dos Filsofos Desconhecidos.(54) Saint-Martin, estaria unido pelo canal de uma iniciao cerimonial a Salzmann, a Boehme, a Sethon e a Khunrath. O que se poder pensar desta genealogia? No nossa tarefa fazer-lhe a crtica; trabalho para um historiador. De resto, a questo pouco nos importa. Se Saint-Martin criticou todas as peas da iniciao Martinistas, ningum poder discutir sobre o seu direito e o seu poder. Se a iniciao de Saint-Martin leva em si o influxo de Martinez ou do Cosmopolita, isto totalmente suprfluo. Porque a originalidade de Saint-Martin tal, e tal a fora da sua personalidade que ocultariam e removeriam as relaes anteriores. Saint-Martin pde ser visto de uma iniciao j praticada com os seus discpulos, como denominamos aqueles Superiores Desconhecidos, sem lhes dar nenhuma prerrogativa administrativa e honorfica, primitivamente ligadas a este ttulo. Mas a concepo que Saint-Martin tinha da iniciao e do Superior Desconhecido, eis o que o Tesofo transmitiu e o que essencial.

Qualquer que seja o veculo, a iniciao Martinista est totalmente penetrada pelo esprito de Saint-Martin. necessrio e suficiente que ela se refira, efectivamente a ele.

Tais so os factos mais seguros no que diz respeito questo to longamente debatida da Ordem Martinista. Resta depois da prova da sua existncia, pesquisar a sua natureza, a sua organizao, o seu esprito, numa palavra, as ligaes do Martinismo, como ns o definimos, e da Ordem Martinista, que pretende ser sua continuadora.

Captulo IV

O Esprito da Ordem Martinista

"Saint-Martin induzido a formar uma espcie de agrupamento,

essencialmente espiritualista, desligado das cerimnias

ritualsticas e das operaes mgicas".

J. Bricaud: Notice historique sur le Martinisme.

Nova Edio, 1934, pg. 7.

Saint-Martin foi Franco-Maon, foi Elu-Cohen e aderiu ao Mesmerismo; prestou-se, de boa mente, aos ritos e aos usos destas sociedades; conduziu-se como membro irrepreensvel de fraternidades iniciticas. Mas este comportamento representa uma poca da sua vida. Vimos como o temperamento de Saint-Martin e toda a sua formao o afastavam do caminho exterior. Podemos entender, tanto as operaes tergicas ou mgicas visando resultados sensveis, como as associaes manicas ou ocultistas, nos seios das quais elas so praticadas. Quando Saint-Martin solicitou a sua excluso dos registos da Franco-Maonaria, onde, somente figurava nominalmente, exprimiu o seu desejo e a sua convico de conservar os seus graus Cohen. Mas a ideia que at ento fazia dos Elus-Cohen, parece bem prxima de sua concepo pessoal da Ordem inicitica. O verdadeiro elo entre os irmos, um elo moral e espiritual.

Tambm vimos Saint-Martin repudiar a sociedade, desculpar-se de ter fundado uma: "Minha seita a Providncia; meus proslitos, sou eu, meu oculto a Justia".(55)

Mas, o Tesofo, sabia tambm que os seus profundos conhecimentos lhe impunham uma misso. Sabia auxiliar os homens que o cercavam, proporcionar-lhes conselhos, tentar insuflar-lhes o Esprito. Por possuir o "alimento espiritual", os "aspirantes" se lhe aproximavam.

Assim o crculo ntimo de Saint-Martin constituiu-se de discpulos escolhidos e de amigos fiis.

Somente o valor intelectual e o zelo pela busca da Verdade, permitiam ingressar nessa sociedade. Nem a idade, nem a posio social eram levadas em considerao, as mulheres eram convidadas a participar. "A alma feminina no sai da mesma fonte que aquela revestida de um corpo masculino? No tem ela a mesma tarefa a cumprir, o mesmo esprito a combater, os mesmos frutos a esperar?" (56) Entretanto, recomendava Saint-Martin, insisto na opinio de as mulheres devem ser em pequeno nmero e, acima de tudo, escrupulosamente examinadas". (57) Talvez seja necessrio procurar a, a razo deste aforismo de Portrait: "A mulher me parece ser melhor que o homem, mas, o homem me parece mais verdadeiro do que a mulher". (58) Finalmente, colhemos no que diz respeito s mulheres, uma delicada e graciosa observao de Saint-Martin. Ela ajudar tambm, a reconstituir a atmosfera do Martinismo, segundo a vontade de seu fundador. "As grandes verdades s se ensinam bem no silncio, enquanto que toda a necessidade das mulheres que se fale, e que elas falem; ento tudo se desorganiza como j o provei vrias vezes". (59)

A personalidade do Filsofo Desconhecido, tal como se manifesta nas suas obras e nos seus actos, impede atribuir sua sociedade um aspecto rgido, solidamente organizado e hierarquizado. Ningum cr mais na autenticidade do rito manico, dito de Saint-Martin. E a nica aco importante do Tesofo, no seio da Maonaria, foi tentar quebrar a armadura das Lojas regulares, dispersar os seus membros e arrast-los, na sua corrida para o Absoluto, para fora, dos quadros e dos agrupamentos.

Admitamos, pois, que os discpulos de Saint-Martin, formavam antes uma espcie de "clube", do que uma verdadeira sociedade inicitica. Admitamos que o elo que ligava esses discpulos ao Mestre e entre si, eram de natureza espiritual. Resta saber o que se fazia nessa escola e como se trabalhava nela; o que transmitia o Mestre e como se era admitido na cadeia. Estas duas ltimas frases nos parecem resumir a finalidade e o princpio da sociedade de Saint-Martin, nela instrua, mas tambm conferia uma iniciao, no sentido exacto do termo.

Sobre a maneira de Saint-Martin instruir, possumos um testemunho de primeira mo, so as explicaes dadas por Saint-Martin a um discpulo que o interpela. So as inestimveis cartas a Kirchberger, baro de Liebisdorf.

A primeira carta de Kirchberger, solicitava alguns esclarecimentos sobre o autor e o fundamento "Dos Erros e da Verdade". O Filsofo de Amboise respondeu-lhe cortezmente, e assim nasceu uma troca de ideias que durou quatro anos. Encontramos ao longo das pginas, um aprecivel nmero de concesses doutrinrias. A que descobertas convida a belssima parbola do jardineiro! E quais revelaes, Saint-Martin no hesita comunicar! O Filsofo Desconhecido, na sua primeira obra, esboara alegoricamente o estado do homem antes da queda. O homem original, nela se lia, tirava todo o seu poder da posse de uma lana maravilhosa, composta de quatro metais diferentes. Saint-Martin no oculta at que ponto importante descobrir a verdadeira natureza dessa lana simblica. E responde, assim, a Kirchberger, que lhe reclama o segredo: "A lana composta de quatro metais no outra coisa do que o grande nome de Deus, composto de quatro letras".(60) Pode-se exigir algo mais claro? Compreendemos a fecundidade das relaes do Mestre e dos discpulos, quando uma tal vontade de ensinar, anima aquele que sabe. A sequncia da revelao feita a Kirchberger sobre a significao metafsica da lana, mostrar ainda, Saint-Martin orientando aqueles que o solicitam. Liebisdorf, com efeito, tirou desse smbolo, concluses demasiado arbitrrias. Comparou, por exemplo, a liga dos quatro metais com os quatro evangelistas. (61) Saint-Martin taxou tais concluses de "convencionais" e, escreveu a Kirchberger "que os quatro evangelistas so, talvez, cinqenta".(62)

Assim se exerce o primeiro ministrio do Filsofo Desconhecido entre os membros de sua Ordem; repara e enriquece sua inteligncia. Ele lhes expe sua verdadeira doutrina. Acrescentemos, tambm, a essas demonstraes, as tcnicas msticas, as chaves cabalsticas de meditao, de respiraes que Saint-Martin ensinava a seu grupo. O baro de Turkhein, acreditava que vrias passagens dos "Erros e da Verdade", "eram tiradas literalmente" das Parthes, obra clssica dos Cabalistas. (63) No existe uma parte da Cabala que pode ser intitulada "o yoga do Ocidente"? Tais eram alguns ensinamentos transmitidos por Saint-Martin aos membros de sua Sociedade. O que dissemos da concepo Martinista da "Ordem inicitica", deixa bem entendido a possibilidade de ser Martinista, sem estar materialmente, socialmente, ligado a Saint-Martin. Certamente fcil mostrar-se Martinista, como esses homens superficiais que Mercier descreve no seu "Tableau de Paris" e que fazem do Filsofo Desconhecido, uma moda. No h nenhuma necessidade de ligar-se "Ordem Martinista". Pode-se ter aderido doutrina instaurada pelo Tesofo de Amboise, coloc-la em prctica, esforar-se em seguir o caminho que ele indica, sem ter recebido a iniciao por meio de outro iniciado. Ou por outra, extrapolemos a noo da Ordem Martinista. A religio crist julga salvos todos que se incorporam a ela pelo "baptismo do desejo". Ser preciso ver o Martinismo recusar a iniciao do Homem Esprito a todo "Homem de Desejo"? Reconheamos, todavia, que a iniciao ritual o meio mais comum e o mais fcil de ingressar na "Ordem Martinista". Ela proporciona a todo aquele que a recebe, uma poderosa ajuda. Um auxlio mstico, em primeiro lugar, dos Irmos passados ou presentes na comunho dos quais, nos permite entrar, mais facilmente. Ajuda moral e tambm material dos membros contemporneos. Auxlio intelectual pelo socorro que solicita no estudo da doutrina, seja por trabalhos em comum, seja pela voz dos adeptos mais adiantados, seja, principalmente, pelas tradies dos quais esses adeptos so o reflexo e que dormem no seio da Ordem, no esperando seno um Prncipe, cujo amor vir despert-los. Mas, a iniciao possui em si mesma um valor exacto. Saint-Martin instrua os membros de sua sociedade, dessa sociedade que a histria nos confirmou a sobrevivncia atravs dos sculos. Mas, o Filsofo Desconhecido dava-lhes tambm, um misterioso vitico, (64) uma chave mais estranha do que as clavculas: a iniciao. Extraordinrio encanto do influxo Divino que emana de suas mos, que faz o sacerdote ou o adepto, que d o poder ou a facilidade das cincias. Virtude mgica ao limite extremo do natural e do sobrenatural. Prodigioso e impalpvel auxiliar que se d sem dividir-se, que se transmite de homem a homem; guarda o seu efeito prprio e infalvel, mas no desenvolve inteiramente o seu poder, seno no esprito pronto a conserv-lo. Singular fascinao dessa corrente subtil, desse fludo vital que anima o membro do corpo mstico.

Saint-Martin soube discernir o papel da iniciao e entendeu que seu mecanismo no ultrapassava "as leis da natureza corporal". "Vs tendes razo, escrevia a Willermoz, de crer que a nossa sorte depende das nossas disposies pessoais, tendes ainda razo de crer que o grau... d ao iniciado um carcter, nada mais verdadeiro que a perfeita harmonia dessas duas coisas e no deve ter um efeito real que, sem dvida, aumenta com o tempo, pelas instrues e pelos cuidados que cada um pode acrescentar-lhe".(65)

Louis Claude de Saint-Martin transmitiu a seus discpulos o depsito da iniciao, a fim de que germine naquele que digno de receb-lo e que purifique aquele que ainda no o . "Se o poder da iniciao no opera sensivelmente pela viso, opera, no obstante, infalivelmente, como preservativo e prepara a forma daquele que se mantm puro, para receber instrues salutares quando o esprito o julga conveniente". (66)

Assim, sem aventais e sem fitas, sem vaidade e sem orgulho, a iniciao que Saint-Martin confere sua Ordem, ser a primeira etapa da nica iniciao, da iniciao ltima, "a santa aliana que s se pode contrair aps uma perfeita purificao". (67)

Captulo V

A DOUTRINA MARTINISTA - MTODO E DIALCTICA

"Os princpios naturais so os nicos que se devem, primeiramente, apresentar inteligncia humana e, as tradies que se seguem, por mais sublimes e profundas que sejam, jamais devem ser empregadas, seno como confirmaes, porque a existncia humana surgiu antes dos livros".Portrait n. 319 (Obras Pstumas

vol. I, pg. 40, 41).

O Martinismo uma maneira de viver, mas os seus princpios de aco esto subordinados a uma determinada maneira de pensar. A soberania da inteligncia e do senso moral deve ser respeitada. Nenhum vulgar oportunismo e nenhum utilitarismo poderiam ser admitidos. As verdades essenciais e exactas que os livros s podem confirmar, regem a nossa existncia e nossa actividade total. Qualquer que seja o plano sobre o qual o homem aja, a sua conduta decorre das suas certezas profundas, intelectuais, digamos a palavra: filosficas. porque sabe de onde vem e para onde vai que o homem poder orientar a sua aco poltica e dar-lhe um sentido.

A resposta ao problema capital do destino humano, contm a soluo de todas as questes que se apresentam ao homem. Antes de possuir a lgica desta deduo, antes de expor as consequncias morais ou polticas da doutrina Martinista, perguntemos, inicialmente, qual o seu fundamento. Quais so, no esprito de Saint-Martin, as verdades primeiras e como as adquiriremos?

" um espectculo bem aflitivo, quando se quer contemplar o homem e v-lo, ao mesmo tempo, atormentado pelo desejo de conhecer, no percebendo as razes de nada e, entretanto, tendo a audcia de querer d-las a tudo".(68)

Essas primeiras linhas da obra inicial de Saint-Martin, fornecem o ponto de partida e o plano de toda a doutrina Martinista.

"O homem a soma de todos os problemas. Ele prprio um problema, o enigma dos enigmas. A questo que ele coloca, a que a sua prpria natureza encerra, obriga-nos a solucion-la. Uma teoria que no visasse, em primeira instncia, o bem do homem, seria totalmente intil". (69)

E esse bem s pode resultar da resposta interrogao humana.

A existncia dessa interrogao ser a primeira certeza. Com efeito, uma constatao se impe: o estado do homem. Ora, este estado caracteriza-se pela angustia, o sentimento de limitao e de imperfeio. O facto de que o homem possa ignorar e assombrar-se por isso, um mistrio inicial que ocasiona, logicamente, a concluses sobre a origem e o destino do homem. Mas somente pelo estudo do homem, pelo aprofundamento do problema, pela reflexo sobre os termos do problema que encontraremos a soluo do mesmo. Tal o mtodo de Saint-Martin. Precisamos explicar "no o homem pelas coisas, mas as coisas pelo homem". (70)

"Aquele que possuir o conhecimento de si mesmo ter acesso cincia do mundo, dos outros seres. Mas o conhecimento de si, somente em si que convm buscar. no esprito do homem que devemos encontrar as leis que dirigiram a sua origem".(71)O homem que o enigma, tambm a chave do enigma. Dir-se- que temos a uma tautologia? E que no se poderia provar o valor do esprito ou a eminente natureza do homem por um mtodo que os pressupe? Mas no se trata de utilizar um mtodo para demonstrar a superioridade da faculdade intelectual. No se trata mesmo de uma ideia directriz apropriada para estabelecer as bases dessa faculdade. Diante de sua situao que tambm, seu enigma, o homem naturalmente levado a examinar-se. Ele quer julgar os elementos do enigma. Seu reflexo normal (se assim podemos afirmar) ser olhar para si mesmo, pois a reside o problema. Tambm uma infelicidade para o homem ter necessidade de provas estranhas sua pessoa "para conhecer-se e crer em sua prpria natureza, porque ela traz consigo, testemunhos bem mais evidentes que aqueles que podem concentrar nas observaes dos objectos sensveis e materiais". (72)

, somente aps ter-se reconhecido por aquilo que ele , que o homem convencido de sua Divindade e de sua situao central, decide tomar-se por medida das coisas, ou, ao menos, por princpio de explicao. Afirmar que da verdadeira natureza do homem deve resultar "o conhecimento das leis da natureza e dos outros seres" (73), no um postulado, uma certeza; a concluso de uma experincia. Se o Martinismo nos faz encontrar a explicao do Universo e a viso de Deus, porque ele tem a sua fonte na "arte de conhecer-se a si mesmo". Saint-Martin, mestre do Ocidente, reencontra-se aqui com a luz da sia. O Buda, pressionado pela urgncia do nosso estado, condenou energicamente as reflexes sem proveito. Elas nos desviam do nosso verdadeiro interesse. Com efeito, que loucura seria procurar, em primeiro lugar, saber se o princpio da vida se identifica com o corpo ou algo diferente!

Seria como se um homem, tendo sido ferido por uma flecha envenenada e, cujos amigos ou companheiros, chamassem um mdico para trat-lo, dissesse: "no quero que retirem esta flecha antes que eu saiba qual foi o homem que me feriu, se foi nosso prncipe, cidado ou escravo", ou, "qual o seu nome e a famlia a que pertence", ou, "se grande, pequeno ou mdio"... Certo que esse homem morreria antes de estar ciente de tudo isso. (74)

Nossa situao exige uma resposta exacta. Os outros problemas so acessrios. Mas, Saint-Martin, no os baniu, por isso, do campo da pesquisa humana. A investigao filosfica no foi proibida. Ele considera absurdo que o nosso esprito, sendo vido de conhecimento, no possa satisfazer tal sede. (75) Simplesmente estabelece esta curiosidade intelectual. Quando o homem reconheceu o Caminho que o leva Verdade, pode entregar-se meditao sobre os mistrios de Deus e do Universo. Mas no se podem combinar os jogos do esprito, ou mesmo os seus processos abstractos com a prioridade sobre a direco de nossa vida. Alis no existe desfasamento entre essas duas ordens de pesquisa, mas apenas, prioridade e dialctica entre uma e outra. digno de nota que, por conspirao universal, tudo esteja ligado, e que a soluo do primeiro enigma conduza, tambm, dos outros. Primeiramente necessrio tratar o ferimento e retirar a flecha. Mas, corresponde necessidade imperiosa de nos salvar, descobrirmos a natureza do ferimento, a qualidade do dardo e, por assim dizer, sua marca de fbrica.

A questo de sua origem e procedncia esclarecida de imediato, mas a cura ter que ser procurada e os remdios tero que ser receitados em primeiro lugar. O Humanismo de Saint-Martin (76) no coisa a priori, mas, procede da experincia mais exacta e imediata que o homem possa realizar: a experincia prpria da conscincia do seu estado.

Persistamos um pouco sobre o carcter a priori que acabamos de negar no Martinismo. Convm no deixar alguma dvida. a natureza ntima de Saint-Martin que aqui est em causa. Pode-se dizer que sua filosofia , a priori, porque explica o inferior pelo superior, o baixo pelo alto, os fatos por seu princpio. O materialismo seria, ento, a posteriori, porque explica a matria pela matria, explica o que parece transcender matria, reduzindo o homem prpria matria. Superando-a, encontraramos aqui a frmula de W. James: "O empirismo um hbito de explicar as partes pelo todo". Todo espiritualismo , pois, a priori - e o Martinismo mais do que qualquer outro sistema. O livro "Dos Erros e da Verdade", procura mostrar a fraqueza e a insuficincia de uma viso materialista do mundo. Essa oposio no , em nenhuma parte, mais sensvel do que na crtica do sensualismo perseguida por Saint-Martin durante toda a sua vida. (77)

Saint-Martin disse a um amigo que o qualificava de espiritualista: "No o suficiente para mim ser espiritualista - e se ele me conhecesse, longe de restringir-se a isso, ele chamar-me-ia desta: porque o meu verdadeiro nome". (78) O Martinismo espiritualista e o seu objectivo principal , portanto, um "a priori gigantesco", segundo a palavra de Henri Martin. (79) Mas que essa explicao, a priori, seja dada, a priori: que seja apresentada como um postulado, que se mostre inverificvel e que se possa julg-la o fruto de uma imaginao, eis a, o contrrio da essncia da filosofia de Saint-Martin. Porque essa filosofia est baseada totalmente numa sentena e numa dialctica que iremos examinar. Por no ser apoiada na matria ou no sensvel aos sentidos fsicos, ela no menos exacta. Diramos quase ao contrrio. Saint-Martin no proclamou e no somos instados a experimentar junto a ele, a acharmos em ns provas mais convincentes, que no encontraramos na Natureza inteira? (80) Essas breves reflexes sobre o mtodo Martinista no tm a pretenso de determinar a sua essncia. Esta, depreende-se da prpria exposio da doutrina de Saint-Martin. Aps fornecer algumas explicaes da doutrina, destacaremos algumas caractersticas principais da mesma. Entretanto, convinha explicar, nitidamente, a base da reflexo Martinista. "Saint-Martin deseja crer, escreveu Matter, (81) mas com inteligncia, apesar de ser um filsofo mstico". A teosofia de Saint-Martin no uma obra de imaginao, uma teia de afirmativas inverificveis, nem de devaneios msticos. Para atingir os pncaros da metafsica e da espiritualidade, o pensador de Amboise, no se estabelece no plano das especulaes abstractas, inacessvel ao vulgar. Ele nos alcana no nosso nvel - no nvel do homem. Da, nos reconduzir at Deus, do qual nos sentimos to cruelmente afastados.

O itinerrio desse percurso, eis o que precisamos, agora, determinar com exactido, Poderemos constatar assim, a coerncia do sistema Martinista. Em seguida, examinaremos, sucessivamente, as diferentes partes, que sem este trabalho preliminar, correriam o risco de parecer desprovidas de fundamento. Esbocemos, pois, o esquema de uma dialctica Martinista.

O homem, inicialmente, toma conscincia do seu estado. Entendemos pelo que foi dito supra, que o homem se conhece tanto em esprito como em corpo, ou, mais explicitamente, constata nele e fora dele, manifestaes variadas. Na medida em que estas manifestaes lhe pertencem ou lhe afectem - e como as conheceria sem ser por elas atingido - na proporo onde estas manifestaes o afectam, de alguma maneira, elas contribuem para constituir o seu estado.

"Ora, queles que no tivessem sentido a sua verdadeira natureza, s lhes pediria que se precavessem contra os desprezos. Porque no que eles chamam homem, no que denominamos moral, no que chamam cincia, enfim, no que se poderia chamar o caos e campo de batalha de suas diversas doutrinas, eles encontrariam tantas aces duplas e opostas, tantas foras que se degladiam e se destroiem, tantos agentes, nitidamente activos e tantos outros, nitidamente passivos e isto sem procurar fora de sua prpria individualizao, talvez, sem poder dizer, ainda, o que nos compe, concordariam que, seguramente, tudo em ns no semelhante e que no existimos seno numa perptua diferena, seja connosco, seja com tudo que nos circunda e tudo o que possamos atingir ou considerar. Apenas seria necessrio, em seguida, auxiliar com alguma cincia essas diferenas, para perceber o seu verdadeiro carcter e para colocar o homem no seu devido lugar". (82)

Saint-Martin convida, pois, o homem a considerar-se e a analisar, com cuidado, a realidade que houvera atingido. Assim o homem descobrir o seu verdadeiro lugar e, perceber a harmonia do mundo de acordo com o famoso adgio de Delfos: "Conhece-te a ti mesmo e conhecers o Universo e os Deuses". A convite de Saint-Martin, procedamos pois, fazendo o exame que ele preconiza, o exame do homem.

O simples exame de sua presente situao revela-lhe que esse estado assim se resume: a coexistncia de elementos aparentemente contraditrios, ambos, objecto de uma experincia, igualmente exacta.

I - O homem descobre em si um princpio superior. Observa o seu pensamento, a sua vontade, todos "estes actos de gnio e de inteligncia que o distinguem sempre por caractersticas impressionantes e indcios exclusivos". (83)

Porqu, pois, o homem se pode afastar da lei dos sentidos? (84) "Porque o homem dirigido por um maravilhoso senso de moral, infalvel no seu princpio? No seno porque essencialmente diferente devido ao seu Princpio intelectual (85) e o nico favorecido aqui em baixo por essa sublime vantagem... "(86)

A conscincia de si d ao homem uma certeza primordial. "Quando sentimos uma s vez a nossa alma, no podemos ter nenhuma dvida sobre as suas possibilidades". (87) Mas, o que lhe surge, antes de tudo, o sofrimento necessrio de sentir-se exilado, a nostalgia de uma morada ednica. "O homem, na verdade, na qualidade de Ser intelectual, leva sempre sobre os Seres corporais, a vantagem de sentir uma necessidade que lhe desconhecida". (88) O Filsofo reuniu ento essas mltiplas provas, esses testemunhos irrecusveis e o espectculo da sua alma inspira a Saint-Martin esta revelao: "Cidado imortal das regies celestes, meus dias so o vapor dos dias do Eterno". (89) No atribuamos, de momento, nenhuma importncia metafsica a este verso do Tesofo. Nele, no temos seno a afirmao de nossa grandeza, qual Saint-Martin, vai opor o espectculo da nossa misria.

II - Ao mesmo tempo, que, reconhece a transcendncia do seu esprito, o homem percebe o conjunto dos males e das desgraas dos quais est cercado. A realidade do sofrimento a nos impe, com efeito, da maneira mais trgica. Intil pintar o quadro das fraquezas e das desgraas dos homens. Nenhum, entre eles, os ignora porque ningum pode viver sem tomar parte nelas. "No existe uma pessoa de boa f, disse Saint-Martin, que no considere a vida corporal do homem uma privao e um sofrimento contnuo". (90) A aproximao entre essa evidncia e essa certeza anteriormente adquirida, se evidncia, ao mesmo tempo, inevitvel e surpreendente.

"Tanto verdade que o estudo do homem nos faz descobrir, em ns, relaes com o primeiro de todos os princpios e os vestgios de uma origem gloriosa, quanto o mesmo estudo nos deixa perceber uma horrvel degradao". (91) Saint-Martin explicou na sua belssima anlise da misria espiritual, como a unio destas duas concluses caracteriza o nosso estado. Para explicar uma passagem do Ecce Homo, o Filsofo, pe em questo a ambivalncia do homem, a dualidade de sua natureza.

"A misria espiritual, diz ele, o sentimento vivo da nossa privao Divina aqui na terra, operao que se combina: 1 com o desejo sincero de reencontrar nossa ptria; 2 com os reflexos interiores que o sol Divino nos irradia, algumas vezes, a graa de enviar-nos at o centro de nossa alma; 3 com a dor que experimentamos quando, aps ter sentido alguns desses Divinos reflexos to consoladores, recamos em nossa regio tenebrosa, para a, continuarmos nossa expiao". (92) Retomando outra frmula de Saint-Martin: "Existem seres que s so inteligentes; existem outros que s so sensveis; o homem ao mesmo tempo, um e outro, eis a a palavra do enigma". (93)

A contradio brota desse aspecto, desse duplo aspecto da existncia humana, como surge entre o desejo de saber e o fracasso frequente das tentativas para chegar at a. "O homem, um Deus! Verdade; no uma iluso? Como o homem, esse Deus, esse prodgio espantoso, definharia no oprbrio e na fraqueza! (94) O problema est apresentado. Os dados esto expressos. O encontro das duas experincias, a sua simultaneidade, eis o ponto de partida da dialctica Martinista. A tristeza do nosso destino no forneceria material para alguma reflexo se no houvesse, justamente a, o esprito para tomar conhecimento.

"O temor, disse Aristteles, o comeo da filosofia". Ele entendia que a ateno se dirigia assim para os problemas que o vulgo ignora. Mas, o temor , tambm, objecto de meditao. Por sua prpria existncia o temor ou a angstia, se quisermos, assinala uma oposio entre aquele que se espanta e aquilo do qual ele se espanta. a mais irretorquvel rplica ao materialismo. Ele impede de considerar o mundo material como nica realidade, auto-satisfazendo-se, existindo s, porque existe sempre o mundo e aquele que o julga. O mundo no pode ser uma mquina nocturna, porque encontrar o homem para observ-lo girar. Destarte, seu assombro, que indiscutvel e parece um n de contradies, faz parte da situao do homem. Misria humana, experincia de todo o momento. Grandeza do homem que se sabe infeliz. Grandeza e misria humana interpenetrando-se. A primeira permitindo a segunda e a segunda levando o esprito a elevar-se instruo da primeira.

Que ambivalncia de nosso ser induz a dividir os seres e as coisas em duas classes que a crena em um princpio mau e poderoso, embora submetido ao Princpio do Bem, tenha surgido da mesma reflexo. Isto certo e confirma a importncia desta considerao. Aqui s examinamos as arestas da doutrina Martinista. Antes de tudo, destinada a instruir o homem sobre si prprio, poder, em seguida, ensinar-lhe a Cincia do Mundo e de Deus. Mas , primeiramente, o mtodo do seu prprio estudo. O homem, inicialmente, interessa-se por ele mesmo. Se o auto conhecimento permite abordar as pesquisas das leis que regem o Universo, se este conhecimento nos eleva at Deus, no tem menos por objecto a soluo do problema do homem.

deste problema que necessrio, em primeira instncia, ocupar-se, porque ele , em essncia, o nico.

Nunca o homem se aperceber demasiadamente disso.

Admitamos, pois, como base da doutrina Martinista, esta contradio, esta dualidade da pessoa humana. Ser ai que reside a originalidade de Saint-Martin? Absolutamente no. Numerosos foram os pensadores que descobriram na condio humana um tema rico em ensinamentos. Aristteles aps Plato, sabia bem que a essncia do homem, sua alma, era algo de Divino. De So Paulo a Pascal, a luta das duas leis a da carne e a da alma, constituram argumentos clssicos para a apologia crist. "Sinto nos meus membros, disse So Paulo, uma outra lei que se ope lei do Esprito e me aprisiona na lei do pecado que est nos meus membros".(95)

"A grandeza do homem grande na medida em que ele se reconhece miservel", lemos nos Pensamentos. (96) A descoberta pelo homem da sua queda e a conscincia de sua filiao Divina, para explicar o seu actual estado, exposto em vrias etapas da histria da filosofia. E, alis Saint-Martin no procura inovar em toda a sua doutrina. Ao contrrio, felicita-se por reencontrar, sem cessar, os ensinamentos tradicionais ou as descobertas dos filsofos. A tradio ocupa lugar muito importante para ele. E, se de bom grado, citamos Pascal, que a sua doutrina se mescla, s vezes, ao pensamento Martinista. O prprio Saint-Martin assinalou estes parentescos intelectuais: "Lede, nos diz num texto pouco conhecido, os Pensamentos de Pascal... Ele disse com termos prprios o que vos disse e o que publiquei: saber que o dogma do pecado original resolve melhor nossas dificuldades que todos os reaccionrios filosficos".(97) Com efeito, chegamos, tanto com Saint-Martin como com Pascal, a resolver o enigma que o homem traz consigo. Aps ter pintado o homem e, subtilmente t-lo analisado, competiu ao Tesofo, deduzir de acordo com seu mtodo, as consequncias dos factos que acabou de conhecer. Vemos manifestar aqui o seu esforo de sntese. Saint-Martin vai conciliar os elementos opostos que formam o homem, mostrar que eles podem ser resolvidos numa explicao. O mtodo ser sempre o aprofundamento destas contradies que constituem o homem.

III - "Pelo sentimento da nossa grandeza, conclumos que somos seno Pensamentos Deus, ao menos, Pensamentos de Deus". (98) Pelo sentimento doloroso da horrvel situao que a nossa, podemos formar uma ideia do estado feliz onde estivramos anteriormente". "Quem se acha infeliz por no ser rei, diz Pascal, seno um rei destronado".(99) E Saint-Martin: "Se o homem no tem nada porque tinha tudo". (100)

De uma parte, a certeza de nossa origem sublime, quer que ns tenhamos a intuio da nossa faculdade essencial ou quer que a deduzamos da nossa misria actual; de outra parte, essa prpria misria. S a queda pode explicar essa posio, essa passagem. S uma doutrina da queda explicar o facto do homem ter cado. Pois que, tanto o estado primordial de felicidade uma certeza que adquirimos e que a misria na qual nos debatemos uma realidade no menos evidente, preciso admitir uma transio de um estado para outro. Tal a queda.

Sugerimos uma anlise mais subtil do sublime estado que tornava o homem to grande e to feliz. Compreendemos como Saint-Martin, que ele podia nascer do conhecimento ntimo e da presena contnua do bom Princpio. Conseguiremos a terceira norma do que se pode chamar dialctica Martinista. Podemos ento resumir o desenvolvimento dessa dialctica utilizando as prprias palavras do Tesofo:

1. "O homem um Deus! Verdade".

1. "Como o homem esse Deus, esse prodgio espantoso, definharia no oprbrio e na fraqueza".

3. "Por que esse homem definharia, presentemente, na ignorncia, na fraqueza e na misria, se no porque est separado deste princpio que a nica luz e o nico apoio de todos os Seres?(101)

Tais so os princpios. Tal o caminho pelo qual o homem chega compreenso de seu estado. Pode-se construir sobre esse esquema a doutrina Martinista completa. Ele o fundamento psicolgico indispensvel das mltiplas explicaes que inspirar o pensamento do Filsofo Desconhecido. No est esclarecido da em diante o destino do homem? "Acorrentado sobre a terra como Prometeu", (102) exilado do seu verdadeiro reino, que meta poderia propor seno a de reconquistar e de reintegrar-se em sua ptria?

E o meio de reencontrar o paraso perdido, no o possumos tambm? Sabemos como o homem foi banido. Ora, a mera descrio desse den, mostrar-nos- que est disposto "com tanta sabedoria que, retornando sobre seus passos, pelos mesmos caminhos, esse homem deve estar seguro de recuperar o ponto central, no qual, apenas ele pode gozar de alguma fora e de algum repouso". (103) E a teoria da Reintegrao deve, necessariamente, girar em torno da figura central do Reparador. todo o Martinismo, magnificamente coerente e slido, que se desenvolve no entendimento, a partir das intuies fundamentais.

Vimos a dialctica de Saint-Martin e, descrito sob este termo, o percurso do homem na direco do conhecimento de sua origem e de seu destino. interessante notar que essa marcha do pensamento, reproduz a prpria marcha do ser. Comparemos, com efeito, a apreenso do homem por si mesmo com suas consequncias e a aventura humana que esta apreenso permite reconstituir.

1 - O Homem goza, inicialmente, da felicidade ednica. O menor toma conscincia de sua imperfeio actual e da aspirao de seu esprito, em uma palavra, a ideia da beatitude original. Ele se recorda disso em primeiro lugar.

2 - Depois medita sobre o sofrimento que seu quinho nesta vida. Descobre o estado aps a queda. Assim o Homem no seu priplo cai do Cu, para vir Terra.

3 - Enfim, o Homem miservel compreende o mistrio da passagem, a distncia que separa os dois estados. Assim, o Homem decado transpor novamente a distncia infinita, refar o trajecto que conduz Felicidade e obter sua Reintegrao.

Tese, anttese, sntese. Felicidade primordial, queda e reintegrao. O menor espiritual possui o traado de seu destino. Ele reconheceu, seguramente, atravs de um procedimento lgico baseado sobre sua curva ontolgica. Cada homem reencontra em seu esprito a eterna epopeia do Homem.

"Tenho por verdadeiro o que me dado por verdadeiro no fundo ntimo de minha alma". (104) Assim, Salzmann define a verdade. Sem dvida, Saint-Martin no teria negado essa profisso de f de um iluminado. Mas teria ele julgado suficiente para fundar uma doutrina, para presidir uma iniciao, isto , a um comeo? o que se pretendeu por vrias vezes. Alguns quiseram construir o conjunto do sistema Martinista sobre esse nico critrio subjectivo. E porque o quadro do qual tentamos traar as grandes linhas, parecer, talvez, muito intelectual, muito intelectualista. Censurar-nos-o, talvez, por termos insistido sobre o aspecto racional do Martinismo. Seria fcil responder que este aspecto o nico que se pode expor ou discutir e que alm de tudo, a pura mstica no se descreve nem se prega, que a exortao, pelo prprio facto de ser formulada, sofre o impacto da razo e, reconhece implicitamente o seu poder.

Dir-se- que Saint-Martin um mstico. A doutrina Martinista uma doutrina mstica. Certamente, mas seria trair a memria de Saint-Martin, apresent-lo como um puro discpulo de Madame Guyon.

Balzac critica violentamente certos escritos msticos: "So escritos sem mtodo, sem eloquncia e, sua fraseologia to bizarra que se pode ler mil pginas de Madame Guyon, de Swedenborg e, sobretudo de Jacob Behme sem nada depreender da. Vs ides saber porque, aos olhos destes crentes, tudo est demonstrado". (Prefcio do livre Mystique. Obras completas, Calmann Levy, XXII, 423). Se essas censuras podem, a rigor, aplicar-se a Jacob Behme, elas no atingem Saint-Martin. Os impulsos do Homem de Desejo repousam sobre as consideraes filosficas Dos Erros e da Verdade, ou do Tableau Naturel. (105)

preciso nos entendermos sobre a expresso mstica. A palavra mstica, como a hindu yoga, serve para designar duas ideias diferentes: por um lado, unio com Deus, a vida que os cristos chamam unitiva, de outra parte, um caminho, um mtodo, uma tcnica (s vezes, muito prxima do plano fsico como na Hatha Yoga) que conduzem a essa unio. De um lado a meta, de outro os meios para atingi-la. (106) Para retomar a terminologia Martinista, diferenciamos: a Reintegrao e o Caminho Interior que conduz a ela. No esboo do caminho para Deus, podem figurar aspectos racionais que no tero mais vez na existncia do homem reintegrado. Quanto ascese, quanto a essa preparao moral vida unitiva, ela ocupa lugar no quadro dos elementos racionais. Ainda melhor, apoia-se neles. Convm, pois, tratar dos mesmos em primeiro lugar.

Encontraremos em Saint-Martin, a ideia de Deus sensvel ao corao. Mas, esta relao, apenas constitui mais seguidamente, um ideal ou fruto do amor e seu coroamento. O conhecimento de Deus, corolrio do conhecimento do homem, pode tambm ser adquirido atravs do caminho intelectual. "No que se refere s duas portas, o Corao e o Esprito, creio, escreve o filsofo, que a primeira muito mais prefervel do que a outra, sobretudo, quando se tem a felicidade de participar dela. Mas ela no deve ser, absolutamente exclusiva, principalmente quando necessrio falar a pessoas que s possuem a porta do Esprito apenas entreaberta, e preciso ser muito escrupuloso sobre esse ensinamento, at que surja a luz". (107)

O mtodo , em ambos os casos, de inspirao idntica. no homem que encontramos Deus. Mas enquanto a descoberta mstica se revela estritamente pessoal e s vezes infrutfera, o procedimento racional reverte-se de um valor universal. O Tableau Naturel, por exemplo, mostrar que o exame do esprito, a formao das ideias, em uma palavra, que a psicologia supe Deus. (108) Descobrir-se-, assim, um novo elemento a integrar-se na dialctica Martinista e que justificar o emprstimo da senda interior.

Por mais inesperada que parea essa aproximao, o iluminismo de Saint-Martin se acha bem caracterizado pelas observaes de um Maurice Blondel. O que mstica? Interroga esta autor, e responde: "A mstica no nos conduz para o que obscuridade e iluminismo, para o que subliminal ou supraliminal, para um jogo de perspectiva subjectiva, mas para um modo determinado positivamente e metodicamente determinvel da vida espiritual e da luz interior, isto quer dizer que ela implica no emprego prvio e concomitante de disposies intelectuais e inteligentes, um querer muito consciente e muito pessoal, uma ascese moral segundo graduaes observveis e regulveis". (109)

Reprovamos, como Maurice Blondel, esse falso iluminismo. O prprio Saint-Martin, denunciou-o, vigorosamente em Ecce Homo. E ns o reprovamos porque ele est em contradio com o verdadeiro iluminismo, do qual, o Martinismo representa o tipo acabado. Uma palavra no deve lanar o descrdito sobre uma doutrina que ela no designa seno por confuso. "Em geral, olham-me como um iluminado, dizia Saint-Martin, sem que o mundo saiba, todavia, o que se deve entender por essa palavra". (110)

J. de Maistre observar, tambm, nos seus Soires de Saint-Petersbourg, (111) at que ponto esse nome foi desviado de seu verdadeiro significado.

"Chamam de iluminados a delinquentes que ousaram, hoje, conceber e mesmo organizar na Alemanha a mais criminosa associao, medonho projecto de extinguir o Cristianismo e a Monarquia na Europa. (112) D-se esse mesmo nome ao discpulo virtuoso de Saint-Martin, que no professa somente o Cristianismo, mas que trabalha para elevar-se s mais sublimes alturas dessa lei Divina".O iluminismo , em resumo, o sistema, a maneira de agir do esprito, que oferece a salvao na iluminao. Mas que o iluminismo pressupe essa iluminao, nada de menos seguro. Sem dvida, Deus poder manifestar-se, precocemente e sem preparao. A certeza ser manifestada, e mais do que a certeza de uma doutrina, a meta ser alcanada. Mas, Saint-Martin possui a mais fiel e a mais exacta imagem do homem. Ns o vimos extrair dessa percepo aguda da essncia humana seus mais fortes argumentos. A busca de Deus, o caminho para a reintegrao; ele admite que ns possumos a sua chave para uma revelao imediata. preciso procur-la, pedi-la, solicit-la. por meio dessa finalidade, para responder a essa necessidade racional que erguer-se- hostil seno a satisfizermos, que o Martinismo usa uma dialctica. Saint-Martin declara que o maior erro do homem seria desinteressar-se pela verdade, e tambm de julg-la inacessvel.

"Tu no me buscars se tu j no me tiveres encontrado", disse Pascal. E Santo Agostinho, demonstrava que base do pedido de graa havia j uma graa que permitia formular a orao. Mas qualquer que seja a gratuitidade da salvao, da Reintegrao, no permanece menos, no incio, um movimento voluntrio. O Martinismo no desconhece a vontade mesmo quando ela procura identificar-se com a vontade de Deus. Porque l que encontra sua plena expanso. No primeiro passo que conduz ao Caminho, o Homem deve contribuir com o seu esforo. E como no age sem razo e sem motivao, cabe dialctica Martinista, indicar-lhe a estrela que o conduzir at Deus, seu Princpio.

Feliz daquele que ver a iluminao esclarecer a concluso racional com os raios da certeza. Estar prximo da meta. A dialctica ter conduzido mstica, pois ter revelado o homem a si mesmo.

"Nosso ser, sendo central, deve encontrar no centro onde esto todos os socorros necessrios sua existncia". (113) Que ele a se encontre com o segredo de seu destino e da sua origem, com os meios de realizar um, retornando outra. Tal o grande ensinamento do Martinismo.

NOTA BIBLIOGRFICA

O leitor desejoso de conhecer a produo literria relativa ao Martinismo, poder dirigir-se s notas crticas do Sr. Van Rijnberk, no seu estudo sobre Martinez de Pasqually (114) e, sobretudo, bibliografia publicada pelo Sr. de Chateaurhin.(115)

Esta ltima obra fornece a lista das principais edies de Martinez e de Saint-Martin, assim como os livros dedicados, total ou parcialmente ao Martinismo. Sem denunciar, aqui, algumas lacunas inevitveis, num trabalho desse teor, ns nos limitaremos a lembrar a existncia dos seguintes ttulos que trazem uma contribuio interessante histria ou doutrina Martinista e que no figuram na relao do Sr. Chateaurhin:

AMNEKIN (R.). . . .. . . .Le Martinisme, Paris, 1946.

ANGELUS (J.) . . . . . . .Angelus, Silesius und Saint-Martin, Berlin, 1849.

ARSON (Chevalier P.J.) . . . . . . . .Appel l'humanit, Paris, 1818.

BERTAUT (Philippe) . . . . . . . . . .Balzac et la religion, Paris, 1942 - Um indito de Balzac: Trait de la prire, Paris, 1942.

BARBEY D'AUREVILLY. . . . . Les Oeuvres et les hommes, 1 parte, pg. 92, Pariss, 1860.

BIDA (Constantin). . . . . . . . . . . . La croyance la magie au XVIII sicle, pg. 124, Paris,1925.

BIGRAPHIE DIDOT. . . . . . . . . . Tomo 43, col. 62 e ss.

BIOGRAPHIE UNIVERSELLE. . (Michaud, 1825), t. 50, pg. 19 (Reproduo resumida da informao de Gence).

BRIEU (J.). . . . . . . . . . . . . . . . . . Artigos em Mercure de France entre 1890 e 1919.

BUCHE (Joseph). . . . . . . . . . . . . L'cole mystique de Lyon, 1776, 1847. Paris, 1935.

CANTU (Csar). . . . . . . . . . . . . . Les hrtiques d'Italie. Paris, 1870 (tomo 5).

CATALOGUE . . . . . . . . . . . . . . . Des livres rares ou prcieux du cabinet de feu M. de Saint-Martin, Paris, 1806 (B.N., D. 349380).

CAZOTTE (J.). . . . . . . . . . . . . . . .Oeuvres badines et morales, historiques et philosophiques. Paris, 1817. T. 1, pp. 14 a 20.

CHARPENTIER (John). . . . . . . . .Le Mitre du Secret. Paris, s.d.

CUSTINE (Marqus de). . . . . . . . Cartas inditas ao Marqus de la Grange, publicadas por Comte de luppe. Paris, 1925.

CZERNY (Sigmund). . . . . . . . . . .L'Esthtique de L. C. de Saint-Martin. Leopol (Polnia),1920.

DAMIRON (Ph.). . . . . . . . . . . . . .Histoire de La Philosophie en France au XIX sicle. Paris, (vol. 1, pg. 342).

DELEUZB. . . . . . . . . . . . . . . . . . Histoire critique du Magntisme animal (um captulo consagrado doutrina dos "Tesofos").

DERMENGHEM (Emile). . . . . . . Joseph de Maistre mystique. Paris, 1923.

FAVRE (Franois). . . . . . . . . . . . .Documentos manicos. Paris, 1866 (apndice sobre Saint-Martin, p. 426).

FERRAZ (M.). . . . . . . . . . . . . . . .Histoire de La Philosophie pendant la Rvolution. Paris, 1889, (conf. III parte, ch. 2, pg. 332 a 5).

FRANCK (Ad.). . . . . . . . . . . . . . .Notice sur Martinez de Pasqually, pg. 1045. Notice sur Saint-Martin, p. 1809, no Dictionnaire des sciences philosophiques. Paris 1875. Artigos no Journal de Savants 1880, pg. 246/269.

GRANDO. . . . . . . . . . . . . . . . . .Uma conversa com Saint-Martin sobre os espectculos (nos Archives Littraires de L'Europe, 1804, t 1, pg. 337. O artigo est assinado J. M. D.. Segundo Gence. Informao, pg. 14, o autor no outro seno o filsofo Gerando).

GOYAU (Georges). . . . . . . . . . . . La pense religieuse de J. de Maistre. Paris (conf. pg. 51 a 71).

GRGOIRE (anc. v. Blois). . . . . Histoire des sectes religieuses. 2 vols. Paris 1810 (conf. Vol. 1, pg. 400, o captulo intitulado: Ilumins Martinistes).

GRILLOT DE GIVRY. . . . . . . . . Anthologie de l'occultisme. Paris, 1929. Extractos comentados de Saint-Martin, p. 369.

GROSCLAUDE (Pierre). . . . . . . .La vie intelectuelle Lyon dans le deuxime moiti du XVIII sicle.

GUTTINGUER (Uhirich). . . . . . . Philosophie religieuse ler. vol. Saint-Martin. Paris 1835 (Extractos favoravelmente comentados pelo autor que era catlico).

JOUBERT (Joseph). . . . . . . . . . . .Penses (conf. n788 da V ed. Giraud.).

LAVISSE (Ernest). . . . . . . . . . . . Histoire de France. Tomo IX, 1 parte, pg. 299.

LE FRANC (Franois). . . . . . . . . .Conjuration contre la religion catholique et le souverain, Paris, 1792 (annimo). Conf. captulo VIII: Des Martinistes, pg.329.

LUCHET (M. de ). . . . . . . . . . . . .Essai sur la secte des Ilumins. Paris, 1789 (citado somente a ttulo de contra indicao.

MAGASIN PITTORESQUE. . . . .Artigos sobre pensamentos de Saint-Martin em fascculos esparsos de X a XVI.

MARGERIE. . . . . . . . . . . . . . . . . Le Comte Joseph de Maistre (sobre Saint-Martin conf. pg. 429 a 442).

MATTER (M.). . . . . . . . . . . . . . . Artigos sobre Mme. de Boecklin na "Revue d'Alsace", nov. 1860 e abril 1861 (reproduo no "Des Nombres", ed. Schauer, 1861.

MERCURE DE FRANCE. . . . . . .Conf. n 408 de 18 de maro de 1809, pg. 499 e ss. (Saint-Martin morre sem querer receber um padre catlico). Ver. s.v. "Brieu" no presente suplemento.

MIRABEAU (H.G.Cte. de). . . . . ..De la monarchie prussienne sours Frderic le Grand. Paris 1788

(Conf. tomo V: Les Societs Secrtes en Allemagne).

MOUNIER (J.J.). . . . . . . . . . . . . ..De l'influence attribue aux philosophes aux francs-maons et aux illumines sur la Revolution franaise. Tubinguen, 1801, pg. 151: le Martinisme.

NUOVA ENCICLOPEDIA ITALIANA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Vol. XIX, pg. 1040.

NOUVELLE ENCYCLOPDIE DU XIX SICLE. . . . . . . . . . . . . .Conf. S.V. "Martinisme" e "Erreurs (des.)".

OBERKIRCH (H.-L.Waldner Freudstein, Baro de). . . . . . . . . . Mmories publis par le Comte de Montbrisson, Paris, 1853, (Conf. t. II, pg. 102 ss.).

OBSERVATIONS sur la Franc-Maonnerie, le Martinisme. . . . . . .Avignon, 1786 (annimo).

ORLIAC (Jeanne d'). . . . . . . . . . . Pequeno artigo na Revue Hebdomadaire. Plon, ed.

PAILLETTE (Clment de ) . . . . . .Livres d'hier et d'autrefois. Paris, 1896 (principalmente pg. 269, 284, etc.).

REAL ENCYKLOPAEDIE fur Protestant Theologie. . . . . . . . . . . Tomo 13 pg. 259.

PENNY (E.B.). . . . . . . . . . . . . . . The Ministry of the Man Spirit. London, 1864. Correspondncia Seleta. London 1863.

PEZZANI (Andr). . . . . . . . . . . . .La pluralit des existences de l'me. Paris, 1863.

RENEVILLE (A.Rolland de) . . . . A propos du Martinisme (na Revista La Nef, abril, 1945, n 5, pg. 140).

REVIRE (Jacqueline). . . . . . . . . J. de Maistre et le Philosophe Inconnu (artigo aparecido na Les Veilles de Chaumieres).

ROBINSON (John). . . . . . . . . . . .Preuves de conspiration contre toutes les religions et tous les gouvernements de l'Europe. Londres, 1798-1799. (Martinisme, vol. I. pg. 59 e ss).

SAINT-REN-TRAILLANDIER. Charles de Hesse et les Illumins (na Revue des Deux-Moundes, 15 fev. 1866, pg. 891 e ss).

SALLERON (Paul). . . . . . . . . . . . Louis Claude de Saint-Martin, le Philosophe Inconnu - (na Chronique de Paris, n 9 Julho de 1944.

SWETCHINE (Mme). . . . . . . . . . Cartas - assim mas principalmente t.I, pg. 172; t. III pg. 97.

TOURLET. . . . . . . . . . . . . . . . . . Notice historique sur les principaux ouvrages du Philosophe Inconnu et sur leur auteur L.Cl. de Saint-Martin. Paris, s.d. (1807).

WIRTH (Oswald). . . . . . . . . . . . . Le livre de l'apprenti. Paris 1908 (sem o nome do autor). Conf. pg. 56: Saint-Martin, autor da divisa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade.

WOLF (Maurice). . . . . . . . . . . . . .L'occultisme l'Acadmie (no "Le Figaro" n 12 de Fevereiro de 1927).

notas:

1 - Les Frres Karamazov. Traduo Mongault (Edio Gallimard N.R.F.) Tomo II, pg. 250.

2 - GALHAUT: Cadernos da Fraternidade Polar, 9 de abril de 1933, pg. 22.

3 - Conforme o estudo de Franck, onde a teoria Martinista da linguagem e dos smbolos exposta como o seria a de Condillac ou de Darwin.

4 - Carta a Kirchberger, 11 de julho de 1796, Matter, pg. 272.

5 - Porter, n