história da igreja i: aula 7: desenvolvimento da igreja católica

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Desenvolvimento da Igreja Católica Pais pós-nicenos, monasticismo e progressos História Eclesiástica I Pr. André dos Santos Falcão Nascimento Blog: http://prfalcao.blogspot.com Email: [email protected] Seminário Teológico Shalom

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Curso desenvolvido para a ministração de aulas de História Eclesiástica I no Seminário Teológico Shalom. O curso envolve a exposição da história da igreja cristã, dos tempos de Jesus aos tempos atuais, passando pelo seu surgimento e desenvolvimento, domínio com a conversão de Constantino, ascensão papal, movimentos reformadores e avivalistas da era moderna, até os movimentos ecumenista e pentecostal do séc. XX. Esta aula apresenta a evolução da Igreja Católica ao formato moderno, com a teologia dos pais pós-nicenos, monasticismo, primazia do bispo de Roma, adoração de imagens, teologia dos sete sacramentos, veneração a Maria e santos.

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Page 1: História da Igreja I: Aula 7: Desenvolvimento da Igreja Católica

Desenvolvimento da Igreja CatólicaPais pós-nicenos, monasticismo e progressos

História Eclesiástica IPr. André dos Santos Falcão Nascimento

Blog: http://prfalcao.blogspot.comEmail: [email protected]ário Teológico Shalom

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Pais pós-nicenos do Oriente João Crisóstomo (c. 347-407) foi assim chamado por

sua eloquência (Crisóstomo – “boca de ouro”). Filho de uma viúva que não se casou para cuidar de sua educação, foi aluno do sofista Libânio, amigo do imperador Juliano. Foi instruído nos clássicos gregos e na retórica, base de sua oratória.

Exerceu o direito até 368, quando se batizou e se tornou monge. Passou a seguir um ascetismo rigoroso após a morte da mãe, em 374, até 380, quando, com saúde debilitada, deixou o regime rigoroso.

Ordenado em 386, pregou em Antioquia até 398, quando foi feito patriarca de Constantinopla, ali ficando até ser banido em 404 pela Imperatriz Eudóxia, denunciada por usar roupas extravagantes e por colocar uma estátua de prata de si mesma próxima à catedral de Santa Sofia, onde ele pregava. Acabou morrendo no exílio, em 407.

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Pais pós-nicenos do Oriente Sua vida simples de pureza foi, por si só,

censura aos seus paroquianos de Constantinopla, cujo padrão de vida era altíssimo.

Era educado, amigo e prestativo, mas nem sempre agia com moderação quando precisava exortar alguém.

Possivelmente sua qualidade oratória veio de alguns anos de estudo com Diodoro de Tarso.

Cerca de 640 homilias suas sobreviveram, na maioria exposições das Epístolas de Paulo. Não conhecia hebraico, motivo pelo qual não fazia uma investigação crítica do AT, mas sempre buscava o contexto e o sentido literal dado pelo autor, fazendo aplicações práticas e morais.

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Pais pós-nicenos do Oriente Teodoro de Mopsuéstia (c. 350-428) também estudou a

Bíblia com Diodoro de Tarso, conseguida por ser de família rica.

Ordenado presbítero em 383 e bispo da Mopsuéstia em 392.

Foi considerado o príncipe dos exegetas antigos, opondo-se ao sistema alegórico de interpretação e propondo uma compreensão gramatical e histórica do texto, buscando o sentido autoral.

Escreveu comentários sobre livros da Bíblia como Colossenses e Tessalonicenses, e tanto ele como Crisóstomo enriqueceram a interpretação da Bíblia no seu tempo, com obras que contrastavam com as interpretações forçadas da Bíblia geradas pelo método alegórico de interpretação.

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Pais pós-nicenos do OrienteEusébio de Cesareia (c. 260-340) é

um dos mais estudados pais da Igreja, por conta de sua História Eclesiástica.

Recebeu instrução de Panfilo em Cesareia, ajudando o amigo a organizar sua biblioteca. Ali, serviu-se de literatura tanto profana quanto sacra para seus estudos.De espírito refinado e cordato, detestava as querelas suscitadas pela controvérsia ariana. Formulou um credo que foi alterado e aceito em Niceia.

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Pais pós-nicenos do Oriente Sua maior obra é a História Eclesiástica,

panorama da história da Igreja dos tempos apostólicos a 324. Pretendia relatar as dificuldades passadas da Igreja, até seu período de prosperidade nascente.

Útil ainda hoje, por conta do acesso de Eusébio à biblioteca de Cesareia e aos registros imperiais, tentou ser objetivo e honesto no uso das fontes primárias de pesquisa. Autor também da Crônica, história universal dos tempos de Abraão até 323, e da Vida de Constantino, um apêndice à História que conta a vida do imperador de forma um tanto laudatória.

Sua obra foi continuada por dois sucessores, Sócrates e Sozômeno, com o primeiro continuando a história de Constantino de 305 a 439 e o segundo praticamente plagiando o primeiro, favorecendo o ascetismo.

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Pais pós-nicenos do Ocidente Jerônimo (c. 331-420), natural de Veneza, batizado em 360,

adotou a vida monástica em Antioquia na década seguinte, onde aprendeu hebraico.

Em 382, torna-se secretário de Dâmaso, bispo de Roma, que lhe sugere uma nova tradução da Bíblia. 4 anos depois, segue para a Palestina, onde, graças à generosidade de uma rica senhora romana a quem ensinou hebraico, vive em retiro monástico por 35 anos.

Sua grande obra foi a tradução latina da Bíblia, a Vulgata. Antes de 391 já havia revisado o NT latino, cotejado com o grego. Foi além do grego da Septuaginta, traduzindo o AT do hebraico, cotejando com os livros deuterocanônicos, concluindo seu trabalho em 385. Foi, até recentemente, a Bíblia oficial da Igreja Católica, desde o Concílio de Trento.

Também foi um exímio comentarista, escrevendo muitos trabalhos usados até hoje. Também escreveu uma obra, De Viris Illustribus, com breves resumos biográficos de importantes autores cristãos e suas obras.

Seu amor pela vida ascética fez dele um propagador do assunto.

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Pais pós-nicenos do Ocidente Ambrósio (c. 339-397), grande pregador e teólogo, obteve

educação jurídica graças à família procedente dos altos círculos imperiais de Roma.

Tornou-se governador imperial da região de Milão, tornando-se bispo após eleição unânime do povo da cidade. Aceitou o cargo de imediato, vendendo seus bens, dando-os aos pobres e começando a estudar intensamente a Bíblia e a teologia.

Mostrou-se hábil administrador eclesiástico, usado e capaz, levantando-se contra poderosas facções arianas e se opondo ao Imperador Teodósio, interditando seu acesso à Ceia do Senhor enquanto não se humilhasse e se arrependesse de um atentado contra a população de Tessalônica, exterminando-a após o governador da cidade ter sido assassinado.

Foi utilizador do método alegórico de interpretação bíblica, sendo um talentoso pregador em sua cidade. Ali em Milão, foi um instrumento para alcançar Agostinho, que seria conhecido como um dos maiores teólogos da igreja. Também foi quem introduziu o cântico de hinos e salmódia antifonal na Igreja Ocidental.

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Pais pós-nicenos do Ocidente Agostinho (c. 354-430): Filho de oficial romano da cidade de

Tagasta, no norte da África, foi educado por sua mãe, Mônica, que também se dedicou a introduzi-lo à fé cristã.

Estudou inicialmente na escola local, aprendendo latim à força de muitos açoites. Odiou tanto o grego que jamais o aprenderia de forma fluente. Foi enviado posteriormente para Madaura e depois para Cartago, para estudar retórica.

Sem a influência familiar, entregou-se às paixões humanas unindo-se a uma concubina. Seu filho, Adeodato, nasceu desta união em 372. Um ano depois, buscando a verdade, aceitou os ensinos maniqueístas, mas considerou-os insuficientes, voltando-se à filosofia de Cícero e ao neoplatonismo. Após ensinar retórica em sua cidade natal e em Cartago, mudou-se para Milão em 384.

Dois anos depois, aconteceu sua crise de conversão. Meditando num jardim sobre sua situação espiritual, ouviu uma voz próxima à porta que dizia “Tome e leia”. Abrindo a Bíblia, encontrou Romanos 13.13,14, cuja leitura trouxe-lhe a luz que ainda não encontrara.

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Pais pós-nicenos do Ocidente Com sua conversão, resolveu mudar de vida, separando-

se de sua concubina e abandonando sua profissão na retórica. Sua mãe morreu pouco depois de seu batismo.

De volta a Cartago, foi ordenado sacerdote em 391 e, cinco anos depois, foi consagrado bispo de Hipona. Daí até sua morte, em 430, dedicou-se à administração episcopal, estudando e escrevendo. É considerado o maior pai da Igreja, com mais de 100 livros, 500 sermões e 200 cartas. Escreveu diversas obras de interesse da igreja. Entre elas estão:Confissões: Obra autobiográfica onde conta sua história de conversão.Retractaciones: Apresentação de suas obras em ordem cronológica.De Doctrina Christiana: Obra exegética e de orientação sobre

hermenêntica e ciência da interpretação da Bíblia.De Trinitate: Obra sobre a Trindade.Cidade de Deus: Obra apologética.

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Obras de Agostinho Confissões: Provavelmente uma das obras autobiográficas mais

conhecidas na história, descreve a vida de Agostinho antes de sua conversão (Livros I a VII), os eventos em torno de sua conversão (Livro VIII), os acontecimentos imediatamente posteriores (Livros IX e X) e comentários aos primeiros capítulos de Gênesis (Livros XI a XIII), com bastante uso do método alegórico.

Retractaciones: Apresentação de suas obras ao longo do tempo, em ordem cronológica, demonstrando a alteração de seu pensamento ao longo dos anos. Na obra, lamenta sua aproximação inicial com a filosofia pagã, a qual jamais pode levar o homem à verdade como o cristianismo. Elabora esta oposição melhor na obra Contra Acadêmicos.

De Doctrina Christiana: Breve manual exegético onde demonstra suas ideias sobre hermenêutica. Desenvolve o grande princípio da analogia da fé, onde diz que nenhum ensino contrário ao sentido geral da Bíblia pode ser extraído de uma passagem particular.

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Obras de Agostinho Cidade de Deus: Obra máxima de Agostinho, escrita entre 413 e 426,

foi motivada pelo saque de Roma por Alarico, em 410. Os romanos acreditavam que o desastre havia sido permitido por conta do abandono da velha religião clássica e adoção do cristianismo como religião oficial do Império (o que ocorreu em 391). A obra põe-se a responder esta acusação a pedido de seu amigo, Marcelino.

Os livros I a X constituem a parte apologética da obra. Livros I a V: A prosperidade do estado independe do velho culto politeísta,

pois os romanos já haviam sofrido catástrofes antes do advento do cristianismo. Também afirma que o sucesso que tiveram foi pela providência do Deus que ignoravam.

Livros VI a X: O culto aos deuses romanos não é necessário para se conseguir a bênção eterna, pois eles não ajudam seus devotos no âmbito temporal nem no espiritual, ao contrário do cristianismo, que pode dar e tem dado bênçãos espirituais a todos aqueles que o abraçam.

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Obras de Agostinho Nos livros XI a XXII, Agostinho escreve uma filosofia da história:

Livros XI a XIV: A origem das duas cidadesCidade de Deus: Formada por todos os seres humanos e celestiais

unidos no amor a Deus e interessados somente na glória Dele.Cidade da Terra (ou dos homens): Composta pelos seres que, amando

apenas a si mesmos, procuram sua própria glória e seu próprio bem. Livros XV a XVIII: Crescimento e progresso das cidades ao longo da

história bíblica e secular. Livros XIX a XXII: Relato do destino das duas cidades. Os membros da

Cidade de Deus vivem em felicidade eterna e os da Cidade da Terra vivem em castigo e tormento eternos.

Para Agostinho, a era da Igreja é o milênio e o dualismo das duas cidades é apenas temporal e tolerado, cessando por um ato de Deus.

A obra não trabalha a questão do lugar dos judeus no futuro.

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Importância de Agostinho Formulação de uma interpretação cristã da história.

Deus é senhor da história e nada o limita.Tudo o que vem a ser é consequência de sua vontade.Antes mesmo da criação, Deus tinha um plano para ela.Tal plano é realizado parcialmente no tempo, na luta

entre as duas cidades na terra e depois completada fora da história, pelo poder sobrenatural de Deus.

A história é universal e unitária, onde todos os homens estão incluídos. O progresso tem contornos mais morais e espirituais e é resultado do conflito

com o mal, onde o homem pode contar com a graça de Deus ao seu lado. Teologia considerada precursora do protestantismo, por sua ênfase na

salvação do pecado original como resultado da graça de Deus que salva irresistivelmente os que elegeu.

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Questões sobre Agostinho Ênfase sobre a Igreja como instituição visível, com

credos, sacramentos e ministério verdadeiros, faz dele, na visão católica, o Pai da Eclesiologia romana, apesar de ter escrito para combater pelagianos e donatistas.

Contribuiu para a formulação da doutrina do purgatório. Enfatizou por demais o valor dos dois sacramentos, levando à visão da doutrina da regeneração batismal e da graça sacramental.

Sua interpretação do milênio, que ele via como o período entre a Encarnação e a Segunda Vinda de Cristo, em que a Igreja venceria o mundo, gerou o ensino romano sobre a Igreja de Roma como a Igreja universal destinada a agrupar todos dentro de seu aprisco, além da visão pós-milenista do fim dos tempos.

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Monasticismo Monasticismo é o nome que se dá à prática

de isolamento social por parte de alguns devotos, que desejam se aproximar mais de Deus afastando-se dos males do mundo e da degradação da sociedade que os envolve.

As pessoas que aderem a este estilo de vida geralmente buscam um espaço isolado das distrações do mundo para viver uma vida contemplativa e/ou de serviço à comunidade.

Envolve, em geral, um ascetismo (vida afastada do pecado, dos prazeres da carne e dos confortos do mundo) rigoroso, um afastamento para áreas remotas e de difícil acesso.

Possuiu algumas eras áureas, como no final do século VI, com a regra beneditina, sécs. X e XI com as reformas monásticas, séc. XIII com a era dos frades, e com o surgimento dos jesuítas na era da Contra-Reforma.

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Causas do monasticismo Doutrina dualista sobre carne e espírito,

característica do Oriente, levava os cristãos a considerarem a fuga do mundo como uma opção para crucificar a carne e desenvolver a vida espiritual pela meditação e pela ascese.

Apoio aparente de alguns textos bíblicos, como 1 Co. 7, levando pais da Igreja como Orígenes, Cipriano, Tertuliano e Jerônimo a ver o celibato como a interpretação correta do texto e algo a ser almejado.

Tendências psicológicas de fuga de condições adversas da vida, causadas por eras de desordem civil, como as crises no Império do final do séc. I ao final do séc. III. O desejo pelo martírio, após as perseguições, também podia ser satisfeito com uma mortificação da carne nos mosteiros.

Forma mais individualista de se aproximar de Deus, contrário à adoração coletiva e formal da época.

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Causas do monasticismo Invasões bárbaras e conversões em massa

destas populações levaram à entrada de práticas semipagãs para a Igreja, gerando a revolta de várias pessoas.

Decadência moral da alta sociedade. Clima quente e seco do Egito favoreceu a opção pela vida

monástica primitiva, com as pessoas isolando-se da sociedade para viverem em cavernas ou regiões afastadas junto ao Nilo, onde poderiam ter acesso a alimentos.

Proximidade do cenário desolado e inóspito do deserto favorecia e estimulava a meditação.

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Evolução do monasticismo - Oriente Oriente: Antônio (c. 250-c.356): Geralmente visto como fundador do

monasticismo, aos vinte anos, vendeu seus bens, deu o dinheiro aos pobres e se retirou a uma caverna solitária no Egito, para meditação. Sua vida de santidade deu-lhe tamanha reputação que outros passaram a viver perto dele em outras cavernas. Não houve formação de comunidade, cada um praticava sua ascese dentro de sua própria caverna.

Nem todos os monges eremitas eram equilibrados como Antônio. Simeão Estilista (c. 390-459) viveu enterrado até o pescoço por vários meses, antes de tentar alcançar a santidade sentando-se numa estaca. Passou mais de 30 anos no topo de uma coluna de dezoito metros perto de Antioquia. Outros pastavam no campo como bois. Um certo Amom conseguiu certa fama de santidade por não se despir ou tomar banho após ter se tornado monge. Outro andou nu nas proximidades do Monte Sinai por 50 anos.

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Evolução do monasticismo - Oriente Pacômio (290-346) foi considerado o fundador do monasticismo

cenobítico, ou coletivo. Soldado desertor, depois de viver 12 anos como Eremita, organizou o primeiro mosteiro por volta de 320, em Tabennisi, na margem direita do Nilo. Logo, sete mil monges estavam sob sua liderança direta no Egito e na Síria. Os pontos-chave da organização eram simplicidade de vida, trabalho, devoção e obediência.

Basílio de Cesareia (c. 330-379) popularizou a organização monástica comunitária. Recebeu excelente educação em Atenas e Constantinopla. Aos 27 anos, trocou as conquistas do mundo pela vida ascética. Feito bispo de uma enorme região na Capadócia, em 370, permaneceu no posto até morrer. Tornou o espírito monástico mais útil e social, solicitando que os membros de sua ordem trabalhassem, orassem, lessem a Bíblia e praticassem boas obras. Desencorajou o ascetismo extremado. Seu movimento chegou a ter perto de 100 mosteiros na Europa, na época da ascensão de Justiniano ao trono do Império Oriental.

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Evolução do monasticismo - Ocidente O clima mais frio tornou a organização comunal inevitável para que os

monges pudessem ter abrigo e alimento com a chegada do inverno. Tomou também uma direção mais prática, rejeitando o ócio e deplorando atos meramente ascéticos. Trabalho e devoção eram enfatizados.

Atanásio provavelmente foi o responsável pela introdução do monasticismo no Ocidente. Publicou uma obra sobre a vida de Antônio e conheceu o movimento em um de seus exílios periódicos em Constantinopla.

O retorno de peregrinos que se dirigiam à Palestina e tiveram contato com o movimento em Constantinopla e na Síria também se interessaram pelo estilo de vida monástico.

Martinho de Tours, Jerônimo, Agostinho e Ambrósio escreveram em favor do monasticismo, popularizando-o no Império Romano. Os escritos de Jerônimo sobre o ascetismo foram considerados próximos em importância à Bíblia e à Regra de São Bento nas bibliotecas dos monges medievais.

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Evolução do monasticismo - Ocidente O líder do movimento na Igreja Ocidental foi Bento de

Núrsia (c. 480-543). Chocado com a vida pecaminosa em Roma, retirou-se

para viver como eremita em uma caverna nas montanhas orientais de Roma, por volta de 500.

Em 529, funda o mosteiro de Monte Cassino, que permaneceu em atividade até a Segunda Guerra Mundial

Criou uma regra de conduta para o mosteiro, baseado em organização, trabalho e culto, que orientou vários mosteiros sob sua liderança. Cada mosteiro era autossuficiente e autodirigido.

Dia era dividido em períodos onde leitura, adoração e trabalho tinham papel importante. Era previsto pouca alimentação aos monges, mas permitia fartura de peixe, azeite, manteiga, pão, vegetais e frutas.

Três votos deveriam ser seguidos: Pobreza, castidade e obediência. Sua Ordem tornou-se padrão no Ocidente por volta do ano 1000.

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Avaliação do monasticismo Implantação e desenvolvimento de técnicas de agricultura, repassando a

tecnologia aos agricultores do entorno dos mosteiros. Os monges tinham por costume limpar florestas, drenar pântanos, abrir estradas e cultivas sementes e viveiros.

Mantiveram a erudição no Ocidente com o término da vida urbana entre 500 e 1000 com a tomada do Império Romano pelos bárbaros. Suas escolas proporcionavam educação de nível superior aos vizinhos. Ali também se copiavam manuscritos precisos, ajudando a preservá-los.

Elaboraram obras históricas que ajudaram a preservar os fatos que aconteceram no período.

Fontes de missionários da Igreja medieval (em especial na Bretanha), enviados para formar novos mosteiros para se tornar centros de propagação do evangelho a povos inalcançados. Columba e Aidano eram monges que trabalharam para a conversão dos escoceses e dos moradores do norte da Inglaterra, respectivamente.

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Avaliação do monasticismo Refúgio para os que se isolavam e precisavam de ajuda ou

hospitalidade. Peregrinos e viajantes podiam receber abrigo e alimento no albergue dos mosteiros.

Isolamento de grandes homens e mulheres do Império fizeram com que o mundo perdesse acesso a sua contribuição.

Criação de padrões de moralidade distintos para os monges (celibato) e para o homem comum.

Arrogância espiritual, com monges que se orgulhavam de seus atos ascéticos, realizados em benefício de suas próprias almas.

Acumulação de riquezas por parte dos mosteiros (devido a parcimônia comunitária e propriedade comum) geraram ócio, avareza e glutonaria em alguns mosteiros.

Hierarquização da igreja, com monges devendo obediência a seus superiores e, estes, ao papa.

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Desenvolvimentos eclesiásticos Predominância do bispo romano: Até 313, o bispo de Roma era

considerado apenas um dos muitos iguais entre si em posição, autoridade e função.

A partir desta época, até 590, começou-se a se reconhecer o bispo de Roma como o primeiro entre iguais.

Com a ascensão de Leão I ao trono episcopal em 440, porém, o bispo romano começou a reivindicar a supremacia sobre os demais bispos.

A motivação era supostamente melhorar a centralização do poder e a guarda da ortodoxia, porém muitos bispos da época eram homens jovens que desejavam o poder.

O fato de Roma ser o centro tradicional de autoridade para o mundo romano e a maior cidade do Ocidente ajudou tal visão.

A transferência da capital do Império para Constantinopla em 330 também facilitou, pois o centro de gravidade política migrou e deixou o bispo romano como a única figura forte na cidade.

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Predominância do bispo de Roma As circunstâncias que se seguiram ajudaram a fortalecer a imagem

do bispo de Roma:Saque de Roma em 410 por Alarico: A cidade foi poupada do incêndio

por conta da hábil diplomacia de Inocêncio I. Queda do Império do Ocidente em 476 levou o povo de Roma a aceitar o

bispo romano como seu líder político e espiritual. Associação de Paulo e Pedro a Roma em seu martírio ajudou na

propagação da importância da cidade.A teoria da supremacia petrina, baseada em Mateus 16.16-18, era

amplamente aceita em 590. Esta teoria afirmava que Pedro recebeu a primogenitura eclesiástica sobre seus companheiros, sendo que sua posição superior passou dele aos seus sucessores, os bispos de Roma, por sucessão apostólica. O primeiro a usar tais textos para requerer tal benefício foi Estêvão I, em 250.

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Predominância do bispo de Roma As circunstâncias que se seguiram ajudaram a fortalecer a imagem do

bispo de Roma: Grandes teólogos como Cipriano, Tertuliano e Agostinho se destacaram no

Ocidente e estiveram sob a liderança do bispo de Roma. Isenção do Ocidente de grandes controvérsias teológicas, ao contrário do

Oriente. Dos cinco grandes líderes eclesiásticos metropolitanos, apenas o patriarca de

Constantinopla e o bispo de Roma viviam em cidades de importância mundial em 590. O bispo de Jerusalém perdera seu prestígio com a rebelião judaica do séc. II e Alexandria e Antioquia decaíram com o tempo, chegando ao extermínio com as invasões islâmicas do séc. VII.

Reconhecimento da primazia da sé romana em 381, no Concílio de Constantinopla, com o patriarca de Constantinopla recebendo primazia “logo depois” do bispo romano.

Reconhecimento da supremacia do bispo de Roma pelo Imperador Valentiniano III, em 445, tornando “lei para todos” o que ele estabelecesse.

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Predominância do bispo de Roma Os bispos que fomentaram tal visão foram:

Dâmaso I (366-384): Possivelmente primeiro bispo de Roma a descrever sua diocese como “sé apostólica”. Jerônimo, tradutor da Bíblia para o latim a pedido de Dâmaso, apoiou-o numa carta onde afirma categoricamente que a cadeira de Pedro é a rocha sobre a qual a Igreja foi construída.

Leão I (440-461): Chamado de “O Grande” por sua capacidade, usou muito o título papas, de onde vem o termo papa. Convenceu Átila, o Huno, a deixar Roma em 452, e Genserico e seus seguidores vândalos a pouparem a cidade do fogo e da pilhagem, fazendo ele ser visto como o salvador da cidade. Teve sua importância destacada ainda mais com o edito de Valentiniano III. Insistiu que as apelações das cortes eclesiásticas fossem enviadas para sua corte e que suas decisões seriam definitivas. Definiu a ortodoxia em seu Tome e escreveu contra a heresia maniqueísta e donatista.

Gelásio I (492-496): Disse que Deus dera ao papa e ao rei os poderes sacro e régio. Como o papa teria que prestar contas a Deus pelo rei no dia do julgamento, disse que o poder papal era mais importante que o régio.

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Progresso da liturgia Adoção de imagens: O afluxo de bárbaros à igreja, acostumados aos

cultos às imagens, fez com que muitos líderes eclesiásticos entendessem ser necessário materializar a liturgia para tornar Deus mais acessível. A veneração de anjos, santos, relíquias, imagens e estátuas foi a consequência lógica.

Hierarquia monárquica: Intimidade com o Império determinou uma mudança no culto, de uma forma democrática simples a outra mais aristocrática e colorida, gerando uma clara distinção entre clero e laicato.

Domingo: Dia principal do calendário eclesiástico, após Constantino estabelecer que seria um dia de culto cívico e religioso.

Natal: Festa com prática regular a partir de meados do séc. IV, adotando-se a data de dezembro originalmente usada pelos pagãos.

Festa da Epifania: Comemoração à visita dos magos a Cristo também entrou para o calendário litúrgico.

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Progresso da liturgia - sacramentos Expansão do calendário: Com acréscimos ao ano sacro judaico de

narrativas dos evangelhos e da vida dos mártires propiciou uma expansão constante do número de dias santos no calendário.

Aumento de cerimônias com funções sacramentais: Casamento: Apoiado por Agostinho. Penitência: Apoiada por Cipriano. Ordenação: Necessária por conta da separação clero-laicato. Confirmação e extrema-unção: Por volta de 400. Batismo: Função sacramental devida à teoria do pecado original de

Agostinho, aumenta a importância do batismo infantil. Tertuliano e Cipriano, porém, consideravam um fato aceito já no séc. III.

Ceia do Senhor: Cipriano entendia que o sacerdote agia no lugar de Cristo na Ceia e oferecia “um sacrifício verdadeiro e pleno a Deus, o Pai”. O Cânone da Missa, alterado profundamente por Gregório I, destacava a natureza sacrificial do culto da Comunhão.

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Progresso da liturgia – Veneração a Maria Veneração a Maria: Desenvolve-se rapidamente por volta de 590,

levando à adoção das doutrinas de sua imaculada conceição, em 1854, e de sua assunção miraculosa aos céus, em 1950. A aceitação dela como “Mãe de Deus” por conta da controvérsia nestoriana e outras a partir do séc. IV deram a ela um lugar de honra especial na liturgia.

Virgindade eterna de Maria: Teoria adotada por Clemente, Jerônimo e Tertuliano. Agostinho entendia que a mãe do Cristo sem pecado jamais cometera pecado. O monasticismo, com sua ênfase à virgindade, acentuou seu valor. A posição elevada de Maria na liturgia como mãe de Cristo transformou-se em crença em seus poderes intercessórios, por se pensar que o Filho ficaria alegre por ouvir os pedidos de sua mãe.

Oração de Efraim Sírio (antes de 400): Primeira invocação formal a Maria. Em meados do séc. V, foi colocada como a principal de todos os santos. Festas ligadas ao seu nome brotaram no séc. V. No séc. VI, Justiniano pediu a ela em favor de seu império.

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Progresso da liturgia – veneração aos santos

Veneração aos santos: Surgiu do desejo natural da Igreja em honrar os que tinham sido mártires na época da perseguição estatal. Além disso, os pagãos estavam acostumados à veneração de seus heróis. Com sua entrada na igreja, pareceu natural substituir seus heróis pelos santos e lhes dar honras de semidivindades.

Até 300, a celebração em túmulos era apenas orações pelo descanso da alma do santo. Em 590, a oração por eles havia se tornado oração a Deus por intermédio deles. Igrejas e capelas foram construídas sobre esses túmulos e festas foram organizadas em sua honra. O comércio de relíquias, como cadáveres, dentes, cabelos ou ossos, tornou-se um problema tão grave que foi proibido em 381.

O uso de imagens e esculturas no culto rapidamente se propagou conforme mais bárbaros entraram na Igreja. Tinham função educativa e decorativa. Os Pais da Igreja tentaram distinguir a devoção a tais imagens, parte da liturgia, e o culto a Deus, mas não se sabe se o fiel comum pescou tal diferença.

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Progresso da liturgia Ações de graças e procissões de penitência: Parte do culto a partir de 313. Peregrinações, primeiro a Palestina e depois a tumbas de santos famosos,

também se tornam comuns. Helena, mãe de Constantino, chegou a afirmar ter encontrado a verdadeira cruz em uma visita à Palestina, em 326.

Construção de templos: Com a ajuda do governo e liberdade de culto, os cristãos usaram a arquitetura das basílicas romanas. As basílicas são construções grandes retangulares em forma de cruz, com um pórtico na parte ocidental para os não-batizados, uma nave para os batizados e uma capela na parte oriental onde o coro, os sacerdotes e o bispo participavam do culto. Essa capela geralmente era separada da nave por um biombo de ferro.

O cântico na igreja era regido por um líder a quem o povo respondia. O cântico antifonal, onde dois coros separados cantam alternadamente, desenvolveu-se em Antioquia. Ambrósio usou tal prática em Milão, rapidamente espalhando-a pela Igreja Ocidental.

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FontesTexto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos:

uma história da igreja cristã. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar Kroker. São Paulo: Vida Nova, 2008.

Textos auxiliares:DREHER, Martin N. Coleção História da Igreja, 4 vols. 4 ed. São

Leopoldo: Sinodal, 1996.GONZALEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo. 10 vols.

São Paulo: Vida Nova, 1983