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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA GEDSON THIAGO DO NASCIMENTO BORGES FORMAÇÃO DO CAPITAL TRANSNACIONAL E A DINÂMICA DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO NA AMAZÔNIA ORIENTAL Belém PA 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

GEDSON THIAGO DO NASCIMENTO BORGES

FORMAÇÃO DO CAPITAL TRANSNACIONAL E A DINÂMICA DO

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO NA AMAZÔNIA ORIENTAL

Belém – PA

2017

GEDSON THIAGO DO NASCIMENTO BORGES

FORMAÇÃO DO CAPITAL TRANSNACIONAL E A DINÂMICA DO

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO NA AMAZÔNIA ORIENTAL

Belém – PA

2017

Dissertação de mestrado apresentada à banca

examinadora do Programa de Pós-graduação em

Economia do Instituto de Ciências Sociais

Aplicadas da Universidade Federal do Pará como

requisito para obtenção de título de mestre em

economia.

Orientador: Profº Drº José Raimundo Barreto

Trindade.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

GEDSON THIAGO DO NASCIMENTO BORGES

FORMAÇÃO DO CAPITAL TRANSNACIONAL E A DINÂMICA DO

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO NA AMAZÔNIA ORIENTAL

Dissertação de mestrado apresentado à banca examinadora do Programa de Pós-graduação em

Economia, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Pará como

requisito para obtenção de título de mestre em economia.

Aprovado em:

Banca Examinadora

Profº Drº. José Raimundo Barreto Trindade

Orientador – PPGE/UFPA

Profº. Drº. Armando Lírio de Souza

Membro – PPGE/UFPA

Profª Drª. Jurandir Santos de Novaes

Membro – FACECON/UFPA

AGRADECIMENTOS

È bem difícil deixar registrado em poucas linhas o agradecimento à tantas pessoas

que contribuíram para a realização de mais uma conquista na minha vida, a obtenção do título

de mestre em economia pela Universidade Federal do Pará, assim em caso de deslize, desde já

agradeço a todos de coração.

Agradeço a Deus.

Em especial a minha esposa, eterna namorada Bruna Sanches.

Meus pais Gerson (in memorian) e Ruth, meus irmãos Clarissa, Suênia, Murilo,

sogro e sogra Manuel Sanches e Edilza Sanches.

Aos meus amigos dessa jornada acadêmica, Sidney Miranda, Pedro Henrique,

Marcílio Matos, Íris Solange, Mariana Oliveira, Paulo Felipe, Rodrigo que dentre muitas

experiências acadêmicas vivenciadas no decorre do curso, trabalhos, provas, seminários, fica

registrado na parede da memória as lembrança dos momentos de tensão e alegria que

cultivaram nossa amizade.

Aos meus professores do Programa de Pós-graduação em Economia PPGE/UFPA

pelo aprendizado e ensinamentos.

Ao Prof. Drº José Raimundo Trindade, pela amizade, ensinamentos, e orientação na

dissertação.

Dedico este trabalho primeiramente а Deus, autor e

consumador da vida, a minha esposa Bruna Sanches ao

meu pai Gerson Farias (in memorian), minha mãe Ruth

Borges, e ao meu sobrinho Arthur, o mais novo membro

da família.

“Não há um caminho real para a ciência e somente

aqueles que não temem subir suas trilhas escarpadas

poderão chegar aos seus cumes luminosos”.

(Karl Marx)

RESUMO

Este estudo teve por objetivo analisar a formação do capital transnacional concatenado com a

dinâmica do investimento estrangeiro direto, a partir de uma perspectiva introdutória, mais

ampla, dos fluxos dos investimentos estrangeiros na economia brasileira, no entanto o cerne

do trabalho consiste em avaliar os movimentos do capital transnacional, juntamente, com os

fluxos e estoques dos investimentos estrangeiros diretos na Amazônia oriental na década de

2000. Desse modo, busca-se problematizar o processo de internacionalização do capital, como

um aspecto que possibilita aduzir a dinâmica do investimento estrangeiro direto na Amazônia

oriental, aventando a hipótese, vinculada ao papel que o investimento estrangeiro direto,

juntamente, com a dinâmica do capital transnacional possam cumprir para o desenvolvimento

capitalista dependente na Amazônia. Nesse sentido, o desenvolvimento do trabalho está

embasado na perspectiva teórica da economia política de corte marxista, e assim, permite

aprofundar a analise dos movimentos de internacionalização do capital transnacional,

mediante, o estudo dos modelos de acumulação tratados por Marx na obra o capital. Sendo

assim, apreende-se, portanto, que os movimentos de acumulação de capital se ampliam, em

função da dinâmica do processo de concentração e centralização de capital, com destaque

para este ultimo, pois, associado aos componentes da concorrência intercapitalista e o sistema

de crédito, o movimentos de acumulação de capital tomam impulso para empreender a

dinâmica de internacionalização do capital transnacional. Nesse sentido, apreende-se que o

papel do capital transnacional na Amazônia oriental corrobora para manutenção da dinâmica

do investimento estrangeiro direto na região e, desse modo, consubstanciando o

desenvolvimento capitalista dependente na Amazônia.

Palavras-chave: Investimento Estrangeiro Direto; Capital transnacional; Amazônia Oriental;

Acumulação de capital; Concentração e Centralização; Internacionalização.

ABSTRACT

The purpose of this study was to analyze the formation of transnational capital linked to the

dynamics of foreign direct investment, starting from a broader introductory perspective of

foreign investment flows in the Brazilian economy. Transnational capital movements,

together with flows and stocks of foreign direct investment in the decade of 2000. In this way,

we seek to problematize the process of internationalization of capital as an aspect that makes

it possible to add the dynamics of foreign direct investment in the Eastern Amazon, proposing

the hypothesis, linked to the role that foreign direct investment, together with the dynamics of

capital Be able to fulfill for dependent capitalist development in the Amazon. In this sense,

the development of the work is based on the theoretical perspective of Marxist political

economy, and thus, allows to deepen the analysis of the transnational capital

internationalization movements, through the study of the models of accumulation treated by

Marx in the capital work. Therefore, it is understood that capital accumulation movements are

amplified, due to the dynamics of the concentration process and centralization of capital, with

emphasis on the latter, as it is associated with the components of inter-capitalist competition

and the system of capital accumulation. Credit, capital accumulation movements take the

impulse to undertake the internationalization dynamics of transnational capital. In this sense,

it is understood that the role of transnational capital in the eastern Amazon corroborates to

maintain the dynamics of foreign direct investment in the region and, thus, substantiating

dependent capitalist development in the Amazon.

Keywords: Foreign Direct Investment; Transnational capital; Eastern Amazonia;

Accumulation of capital; Concentration and Centralization; Internationalization

LISTA DE TABELAS

Tabela 01. Fluxo IED entrada, nas Américas de 1970 – 2015 ( em %) ........................... 68

Tabela 02. Fluxo IED entrada América do Sul de 1990 – 2015, em % ........................... 69

Tabela 03. Fluxo IED entrada Brasil e países selecionados, períodos 1990 – 2015, em %

..................................................................................................................................... 73

Tabela 04. Variação Fluxo IED entrada Brasil e países selecionados, períodos 1990 –

2015, em % e milhões de UU$ ...................................................................................... 74

Tabela 05. Fluxo IED saída Brasil e países selecionados, períodos 1990 – 2015, em % . 75

Tabela 06. Relação IED/FBKF Brasil e países selecionados, períodos 2000 – 2014 (em

%) ................................................................................................................................. 77

Tabela 07. Participação da extração mineral em % do PIB, 2002 a 2011 ....................... 89

Tabela 08. Amazônia oriental distribuição Valor adicionado Bruto em % e milhões R$

por setor de atividade econômica de 2002 a 2011 .......................................................... 90

Tabela 09. Participação da extração mineral em % do PIB Industrial 2002 a 2011......... 91

Tabela 10. Estoque IED por Região do Brasil, valor e % 2000 e 2005 ........................... 92

Tabela 11. Estoque IED por UF da Amazônia Oriental em % e valor 2000 e 2005 ........ 94

Tabela 12. Amazônia Oriental exportação e importação em % somente das empresas que

receberam IED 2000 e 2005 .......................................................................................... 95

Tabela 13. Amazônia Oriental participação do IED/PIB em R$ mil 2000 e 2005........... 97

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01. Evolução de IED fluxo entrada, por continente de 1970 – 2015, em UU$

bilhões .......................................................................................................................... 58

Gráfico 02. Evolução de IED fluxo entrada, nas Américas de 1970 – 2015, em UU$

bilhões .......................................................................................................................... 67

Gráfico 03. Brasil IED fluxo entrada 1990 – 2015, em UU$ bilhões.............................. 70

Gráfico 04. Brasil participação IED fluxo entrada, Países em desenvolvimento e Mundo

de 1990 – 2015 (em %) ................................................................................................. 71

Gráfico 05. Brasil FBKF de 1990 – 2014, em UU$ bilhões ........................................... 76

Gráfico 06. IED/ FBKF e taxa de investimento Brasil de 1990 – 2013 (em %) .............. 79

Gráfico 07. Fluxo IED* setor de atividade mineral em R$ milhões 2001 a 2009............ 98

LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Teoria do ciclo do produto de Vernon. ......................................................... 62

Figura 02. Principais Depósitos Minerais no Brasil ....................................................... 88

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral

EMN’s – Empresas Multinacionais

FBKF – Formação Bruta de Capital Fixo

GATT – Acordo Geral de tarifas e Comércio

IBDE – Investimento Brasileiro Direto o Exterior

IED – Investimento Estrangeiro Direto

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

OMC – Organização Mundial do Comércio

PED – Países em Desenvolvimento

PIB – Produto Interno Bruto

PPA – Plano Plurianual

TFAOM – Teoria das Formas de Atividades e Organização das Multinacionais

UNCTAD – Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13

2 ELEMENTOS TEÓRICOS DO PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO E

CENTRALIZAÇÃO DE CAPITAL E A FORMAÇÃO DO CAPITAL

TRANSNACIONAL .......................................................................................................... 16

2.1 Os Modelos de Acumulação e o Processo de Concentração de Capital .................. 17

2.2 A Dinâmica de Centralização: Concorrência Capitalista e Sistema de Crédito .... 32

3 O CAPITAL TRANSNACIONAL E A DINÂMICA DO INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO NO BRASIL .......................................................................... 48

3.1 – Economia Mundo Capitalista e o Capital Transnacional .................................... 51

3.2 – Empresas Transnacionais e o Padrão de Reprodução do Capital ....................... 56

4 INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO ASSOCIADO AO CAPITAL

TRANSNACIONAL NO SETOR DA MINERAÇÃO NA AMAZÔNIA ORIENTAL ... 81

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 101

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1 INTRODUÇÃO

O tema pertinente ao investimento estrangeiro direto perpassa na sua gênese, pela

analise estrutural do modo de produção capitalista, portanto, apreende-se que o processo de

valorização do capital em escala ampliada, nutre as condições de reprodução do capital,

enquanto, sistema social de produção dirigido pela lei do valor.

O desenvolvimento do processo de acumulação de capital aflora, cada vez mais, a

compreensão da necessidade do capital de aprofundar as relações sócias de produção e os

meios pelos quais, o capital procura manter os lucros, o mesmo é dizer a taxa de mais-valor

em patamares, suficientemente, elevados a fim de, conservar a sua reprodução, enquanto,

sistema capitalista de produção. Contudo, ainda assim, a dinâmica intrínseca do modo de

produção capitalista cria seus próprios fantasmas, as crises econômicas.

De maneira geral, as crises no capitalismo estão associadas aos limites impostos ao

processo de valorização do capital em escala ampliada, pois, entende-se a rigor, que o

processo de acumulação capitalista avança, fundamentado, no acirramento das contradições

endógenas ao seu desenvolvimento, nesse sentido, apreende-se que as formas de concentração

de capital prosseguem para uma etapa de centralização do capital, pois, o processo de

acumulação de capital, que “passa da forma circular para espiral é um procedimento

extremamente lento se comparado com a centralização” (MARX, 2013, p. 703), nesse sentido

a dinâmica de concorrência intercapitalista, potencializada, pelo sistema de crédito, atua como

uma resposta a superação dos limites ao processo de acumulação de capital.

Desse modo, a analise que se deseja fazer aqui é estudar o processo de expansão do

capital transnacional, justamente, como uma reação a superação dos limites impostos ao

processo de acumulação de capital.

Sendo assim, notabiliza-se que a formação do capital transnacional está associada,

em linhas gerais, a dinâmica de internacionalização do capital, e nesse sentido, destaca-se a

participação das empresas multinacionais como elemento concreto desse processo de

transnacionalização do capital, como assinala Souza “a partir da segunda guerra mundial

surgiu uma outra realidade que ascendeu ao altar de absolutos modernos, as corporações

multinacionais ou transnacionais” (SOUZA, 1985, p. 8).

Portanto, considerando esse contexto de formação do capital transnacional, assinala-

se uma característica relevante, de acordo com perspectiva da mobilidade do capital, pois,

nesse sentido, ressalta-se a dinâmica dos investimentos estrangeiros direto, que de certa

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forma, se materializa no processo de internacionalização do capital, possibilitando a

transferência não apenas das plantas industriais, mais também, reorientando a localização e o

papel do capital variável, enquadrado nesse momento, numa amplitude já instituída pelo

sistema do capital mundial, ou seja, o sistema capitalista busca vencer as barreiras à

acumulação de capital, a medida que, constitui um espaço maior e mais flexível, uma

economia mundial, para por em vigor a lei do valor, o mesmo é dizer configurar o espaço

apropriado para manter as taxas de lucros em níveis sustentáveis para a cumulação de capital.

A partir dessa analise, busca-se destacar aqui, a relevância da dinâmica do

investimento estrangeiro direto em escala internacional e nacional, porém, a ênfase do estudo

aqui desenvolvido recai, centralmente, na Amazônia oriental.

A dinâmica do investimento estrangeiro direto vem sendo analisado na dimensão

brasileira por autores, como Laplane e Sarti (1999), Gonçalves (1999), Carneiro (2002), Ipea

(2010), na perspectiva do impacto do investimento estrangeiro direto na economia do Brasil

como um todo, no entanto, sendo assim, esta pesquisa busca contribuir com o objetivo de

analisar a formação do capital transnacional e a dinâmica do investimento estrangeiro direto

na Amazônia oriental.

Desse modo, busca-se problematizar o processo de internacionalização do capital

como um aspecto que possibilita aduzir a dinâmica do investimento estrangeiro direto na

Amazônia oriental, aventando a hipótese vinculada ao papel que o investimento estrangeiro

direto, juntamente, com a dinâmica do capital transnacional, possam cumprir para o

desenvolvimento capitalista dependente na Amazônia.

A base teórica utilizada será as categorizações marxistas de concentração e

centralização de capital concatenada com os modelos de acumulação de capital, a fim de,

apreender a dinâmica de expansão do capital, na perspectiva centrada pela economia política,

tal como tratada por Marx. Desse modo, os dois fenômenos pertinente a essa dinâmica da

acumulação, estabelecem uma forma de expansão do capital, nesse sentido, os aspectos de

centralização de capital, superam os movimentos de concentração do capital, pois, como será,

apontado, os componentes referentes, ao sistema de crédito e a concorrência intercapitalista,

acentuam a dinâmica da acumulação, acelerando o processo de expansão do capital.

A base de dados utilizada foi a do Censo de Capitais Estrangeiros, dados coletados

pelo Banco Central do Brasil e que define a seguinte metodologia básica, investidores não

residentes que detivessem em 31/12, no mínimo, 10% das ações ou quotas com direito a voto,

ou 20% de participação direta ou indireta no capital total, e a partir de então, pode-se tratar os

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dados de investimento estrangeiro direto, e, desse modo, possibilita-se distinguir entre os dois

distintos aspectos do investimento estrangeiro direto, que são investimento participação no

capital e investimento em portfólio (especulativo).

Outra base de dado utilizada, relacionada ao investimento estrangeiro direto, foi a

base de dados de Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento

(UNCTAD), e nesse sentido, buscou-se tratar a dinâmica de expansão do capital internacional

e, especialmente, os mecanismos que estabelecem a presença do Investimento Estrangeiro

Direto IED no Brasil. Por fim, se utilizou a base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE), com a finalidade de relacionar os aspectos do investimento estrangeiro

direto com as características econômicas da Amazônia oriental.

Portanto, cabe sintetizar aqui, que essa pesquisa cientifica compreende o estudo do

investimento estrangeiro direto, caracterizado pelo tipo de investimento participação no

capital, pois, esse tipo de investimento está relacionado com as características do investimento

produtivo, e, por conseguinte, propicia-se verificar os aspectos de internacionalização do

capital.

Os dados tratados referentes, ao investimento estrangeiro direto pertinente ao Brasil e

países selecionados foram organizados, a partir da metodologia do Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (IPEA) que comparam a dinâmica de entrada e saída dos investimentos

estrangeiros, caracterizando o perfil do capitalismo dependente, dos países, de economias

periféricas.

Este trabalho de pesquisa se estrutura, além dessa introdução, num primeiro capítulo

de revisão teórica assentada em bases marxistas de análise da dinâmica de internacionalização

do capital e sua correspondente repercussão na dinâmica da formação do capital

transnacional, seguido do segundo capítulo que trata do capital transnacional e a conformação

do investimento estrangeiro direto ao nível nacional, o terceiro capítulo aduz os aspectos do

capital transnacional associado ao investimento estrangeiro direto no setor mineral da

Amazônia Oriental.

16

2 ELEMENTOS TEÓRICOS DO PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO E

CENTRALIZAÇÃO DE CAPITAL E A FORMAÇÃO DO CAPITAL

TRANSNACIONAL

O capitalismo é um modo de produção com intensivo grau de dinamismo e

inevitavelmente expansionista, algo já notado por Marx e Engels (2010) em seu famoso

opúsculo de 1848, e sendo assim, o capitalismo traz consigo alterações relevantes na forma

social de produção vis-à-vis o estabelecimento da lógica central no capitalismo, a busca pelo

lucro, o mesmo é dizer, lançar âncora e colocar em vigor o processo de acumulação de capital

e como já notavam os citados autores, o desenvolvimento capitalista se localiza desde sempre

na sua real esfera de expansão: o mercado mundial, fruto da grande indústria e da crescente

competição entre capitais e estados modernos.

Portanto, observa-se que o fio condutor que move o capitalismo se dá pelo processo

de acumulação de capital, dada a interação entre capital e trabalho e como consequência dessa

relação social de produção se obtém o mais-valor, por conseguinte, o mais-valor reconvertido

em capital fecha o circuito de acumulação ampliada de capital. De forma concreta, o processo

de acumulação de capital, não é mais do que a reprodução do capital em escala continua.

A produção ampliada de capital, ou seja, a acumulação assinala consideráveis

aspectos relevantes e pertinentes ao sistema capitalista, dentre eles, destaca-se os movimentos

de concentração e centralização de capital, como elementos importantes para verificar a

dinâmica de movimentação do capital na busca pelo lucro e seus impactos no mundo do

trabalho.

Marx (2013, p. 698-716) identificou dois fenômenos inerentes e integrados da

acumulação capitalista, o que ele denominou de concentração, refere-se ao mecanismo regular

de acumulação através da inversão de parcela da massa de lucro auferida a cada ciclo

reprodutivo do capital; por outro, paralelo e contíguo ao processo anterior viceja, através da

concorrência e do crédito, uma crescente expansão da capacidade reprodutiva do capital,

estimulando e movendo a própria concentração a limites superiores, a este segundo fenômeno

o autor denominou de centralização de capital.

Nesse sentido, busca-se apresentar aqui, a dinâmica dos movimentos de concentração

e centralização do capital, a partir da investigação do processo de produção e circulação

capitalista em escala ampliada, e, por conseguinte, depreender aspectos que impulsionam a

mobilidade do capital, na perspectiva de rompimento das fronteiras nacionais, a fim de,

apreender a dinâmica da formação do capital transnacional.

17

2.1 Os Modelos de Acumulação e o Processo de Concentração de Capital

Para tratar categoricamente a concentração e centralização do capital, faz-se mister

introduzir a análise dos elementos teóricos que constroem o processo de acumulação de

capital, a fim de estabelecer um ponto de partida para analise subsequente e, também, uma

contextualização inicial sobre o processo de reprodução e valorização do capital.

Nesse sentido, observando através da ótica da crítica da economia política elaborada

por Marx, pode-se apreender que, a forma social do processo de produção no capitalismo

deve, impreterivelmente, seguir de forma contínua ou periódica para instituir um fluxo

ininterrupto de produção e reprodução do capital, portanto, sobre esse aspecto do processo

social de produção no capitalismo Marx assinala que “todo processo social de produção é

simultaneamente processo de reprodução” (MARX, 2013, p. 641). Seguindo a trilha de

Marini (2013) e Osório (2012), podemos afirmar que as condições como o capital se reproduz

cria padrões históricos e geoterritoriais, sendo que a aproximação sucessiva das realidades

nacionais se adéqua, por um lado, às alterações no sistema mundial e na divisão internacional

do trabalho e, por outro, as alterações e contradições das dinâmicas nacionais de acumulação.

Sendo assim, é importante destacar o seguinte, qualquer sociedade que é movida

pelas leis que regem o capitalismo, não pode produzir e dar continuidade nesse processo sem

que haja uma continua reconversão de parte de sua produção em elementos ou meios de

produção para um novo ciclo de capital. Dentro desse contexto, faz-se referencia aos aspectos

ligados a reprodução simples1 do capital, ainda que, se caracterize como um momento em que

o mais-valor se transforma em renda apropriada pelo capitalista e seja consumida na mesma

periodicidade que é obtida, não deixando nada para acumulação, mesmo assim, importantes

apontamentos são extraídos para compreender a dinâmica do capital.

Os movimentos de acumulação do capital nas perspectivas da concentração e

centralização de capital se tornam evidentes, a partir do momento que se compreende a

dinâmica dos elementos que são responsáveis a dar vida ao capital, e seguindo esse propósito

a reprodução simples tem muito a dizer.

Portanto, ainda que o mais-valor se torne integralmente fundo de consumo

capitalista, a sua criação só é possível, porque a força de trabalho dentro do processo de

produção cria o próprio valor e simultaneamente o mais-valor em mercadorias. Porém, é

1 È oportuno assinalar aqui, que a reprodução simples, assim como, a reprodução ampliada de capital constituem

perspectivas teóricas, pertinente ao processo de valorização do capital em cada ciclo de produção capitalista. No entanto, no primeiro caso, o mais-valor é consumido integralmente como fundo de consumo capitalista, no

segundo caso, no mínimo uma parcela do mais-valor precisa compor o novo ciclo de produção do capital.

18

quando as mercadorias se realizam no mercado, ou seja, quando o capital-mercadoria toma a

forma dinheiro sobrevalorizado, é que o trabalhador ou a classe trabalhadora recebe em suas

mãos parte do produto na forma salário2.

Portanto, para avaliação posterior do processo de acumulação de capital em escala

ampliada, desde agora fica registrado que é a força de trabalho (classe trabalhadora), o mesmo

é dizer, capital variável que cria suas condições de pagamento, e que toma forma em salário, e

sendo assim, “se o fundo de trabalho só se aflui constantemente para ele sob a forma de meios

de pagamento por seu trabalho, é porque seu próprio produto se distancia constantemente dele

sob a forma de capital” (MARX, 2013, p. 643).

Outro aspecto importante que a reprodução simples permite depreender está

relacionado as notáveis mudanças no capital total. Considerando que o mais-valor torna-se

completamente fundo de consumo para o capitalista (classe capitalista) deduz-se, portanto,

que em determinado período de tempo o capital originalmente adiantado pelo capitalista foi

completamente consumido. Nesse sentido, é equivocado pensar que o capitalista consome o

mais-valor e mantém o capital original, como maquinas, edifícios, equipamentos, porque a

análise dessa circunstância recai sobre o valor do capital e não sobre seus componentes

materiais. Portanto, isso implica, em termos de valor, que o mais-valor ocupa o lugar do

capital original. Sendo assim, ocorre que todo capital necessariamente é resultante de mais-

valor capitalizado.

Não obstante, os aspectos extraídos sejam da reprodução simples, em que o capital

variável cria seus próprios meios de pagamentos e em dadas as circunstâncias o capital

acumulado não é mais do que mais-valor capitalizado, sendo assim, desse modo, compreende-

se que o exame desses elementos são condições sine qua non para entender a dinâmica do

modo de produção capitalista, como Marx defini “o processo de reprodução, produz não

apenas mercadorias, não apenas mais-valor, mas, produz e reproduz a própria relação

capitalista: de um lado o capitalista do outro, o trabalhador assalariado” (MARX, 2013, p.

653).

A relação desses aspectos acima destacados, principalmente sobre a condição de

assalariamento do trabalhador (classe trabalhadora), tem como confluência estabelecer as

bases para compreensão da dinâmica do processo de acumulação do capital em escala

2 “O trabalhador produz, portanto, o fundo de seu próprio pagamento, o capital variável, antes que este lhe

retorne sob a forma de salário, e ele só permanece ocupado enquanto o reproduz continuamente,..., o que reflui continuamente para o trabalhador na forma-salário é uma parte do produto reproduzido continuamente por ele

mesmo” (MARX, 2013, p. 642).

19

ampliada, na perspectiva da concentração e centralização do capital. Pois, o capitalismo só se

estabelece e se desenvolve porque consegue condicionar os trabalhadores (classe

trabalhadora) como uma parcela do capital dependente do salário.

Nesse sentido, entende-se que o processo de acumulação do capital resulta da

contratação e exploração da força de trabalho por parte do capital, pois, ainda nos Grundrisse

Marx observa que “a valorização [do capital] aparece dependente inteira e exclusivamente de

sua relação com o trabalho objetivado com o trabalho vivo, da relação do capital com o

trabalho assalariado” (MARX, 2011, p.328), pois, é exatamente no interior do processo de

produção que a valorização do capital se apresenta igualmente a produção de trabalho

excedente, ou seja, é nesse momento que se origina o mais-valor, o elemento essencial para

continuidade do processo de acumulação de capital.

O valor criado pela classe trabalhadora, na aplicação da força de trabalho dentro do

processo de produção, e reconvertido em capital, entendidos, tanto na dimensão particular de

um capital individual, ou na soma dos capitais de um dado ramo industrial, cria as devidas

condições do desenvolvimento dos aspectos de concentração de capital, pois, mantidas as

demais circunstâncias que proporcionam a valorização do capital, a cada ciclo de acumulação,

o mais-valor auferido requer uma quantidade absoluta maior de capital variável, mesmo que

historicamente em termos relativos seja decrescente, para movimentar o capital acrescido,

fortalecendo assim a concentração de capital em dado ramo de atividade econômica

desempenhada pelo capital.

A dinâmica do processo de acumulação do capital em escala ampliada se dá pela

reconversão do mais-valor em capital, e nessa perspectiva, isso ocorre e tem que ocorrer

continuamente. Sendo assim, uma parcela do capital compra meios de produção, a outra parte

compra força de trabalho, daí por diante, o mais-valor é oriundo do processo de produção e se

realiza na venda, nesse momento, tanto capital adiantado como mais-valor tomam a forma

dinheiro, o capital adiantado volta a sua forma inicial, ao contrário do mais-valor que esteve

como parte aprazada do produto bruto.

Portanto, para acumular é necessário transformar uma parte do mais-produto, ou ele

integralmente, em capital. Ocorre que, coeteris paribus, para movimentar este capital em

estágio ampliado, ou seja, para colocar em funcionamento seus componentes materiais o

capitalista (classe capitalista) precisa de uma quantidade de trabalho adicional. A priori, se a

quantidade de força de trabalho já presente no processo de produção não pode ser aumentada

20

extensivamente ou intensivamente, o capitalista (classe capitalista) se vê obrigado a comprar

mais força de trabalho, id est, empregar mais trabalhadores.

Até esse momento, dadas às circunstâncias, a acumulação do capital é concretamente

uma reprodução progressiva de mais-valor capitalizado, e os trabalhadores adicionais de que o

capital necessita para sua continua valorização estão a sua inteira disposição, pelo mecanismo

peculiar do capitalismo, o sistema de assalariamento, que torna o trabalhador (classe

trabalhadora) tanto dependente do salário, como também, assinalado por Marx, “isto é como

classe cujo salário habitual basta não somente para garantir sua conservação, mas também sua

multiplicação” (MARX, 2013, p. 657).

Os componentes teóricos do processo de acumulação de capital em escala ampliada,

na perspectiva pura e simplesmente do mais-valor reconvertido em capital, consubstanciam

inicialmente, os aspectos da concentração de capital, pois, considerando que a cada ciclo3 do

capital é gerado um mais-produto e, este por sua vez, é adicionado à massa de capital social,

que pode atuar, id est, tanto como capital que se valoriza dentro do próprio ramo de atividade

econômica em que atuou, ou, como também, esse mais-produto pode afluir para outro ramo

de atividade econômica, e ali se estabelecer e se valorizar, para tanto, é importante reforçar o

que Marx assinalou “no momento, tampouco, é relevante se os capitais adicionais se

incorporam ao capital adicional ou dele se separam para se valorizarem de modo

independente, se quem o explora é o mesmo capitalista que os acumulou ou se este os

transferem para outro” (MARX, 2013, p. 657).

Nesse sentido, e considerando o que já foi exposto, o processo de acumulação de

capital implica em demonstrar as condicionantes que fazem estabelecer a característica

expansionista do capital. O processo de concentração de capital é uma das formas de verificar

os aspectos de expansão do capital, pois, considerando a gênesis do processo de acumulação

de capital, ela se dá in loco, e, portanto, as condições para seu avanço e progresso exigem

determinada quantidade de força de trabalho e meios de produção, o que é encontrado

inicialmente numa determinada localidade e dependendo da proporção numa nação.

Sendo assim, enquanto as forças produtivas do capital expressa em seus

componentes materiais não encontrarem os limites para a acumulação de capital, o quantum

da força de trabalho e dos meios de produção continuaram, in loco, sendo exauridos.

3 A melhor forma de visualizar a dinâmica do ciclo de acumulação ampliada de capital está na alusão que Marx faz da expressão de Sismondi, em que o ciclo de reprodução ampliada é um espiral, aumentando em volume a

cada movimento.

21

Todavia, a partir do instante em que o capitalista entrou no mercado pela primeira

vez, a acumulação de capital é avidamente almejada, e continua sendo por todo sempre, pois a

sua própria condição de classe depende da acumulação de forma ininterrupta. No entanto,

quando os limites para a acumulação, batem a porta do capital, criando barreiras para sua

valorização e ampliação, novas formas de acumulação surgem, como a centralização de

capital.

Mantendo a perspectiva de análise do processo de acumulação de capital em escala

ampliada, alguns aspectos são inteiramente relevantes e merecem ser destacados,

principalmente, os aspectos destinados a verificar a determinação do volume da acumulação.

Não há dúvidas de que a reconversão do mais-valor dentro do processo de produção

é o elemento essencial para a acumulação, todavia, assinalar os fatores que determinam o

volume da acumulação, permite verificar com maior precisão detalhes da dinâmica da

acumulação de capital.

Primeiramente, abaliza-se o grau de exploração da força de trabalho como um fator

importante para determinar a dinâmica da acumulação sob um aspecto diferenciado, pois,

considerando em dado momento, que o valor da força de trabalho era ao menos igual ao

salário pago ao trabalhador (classe trabalhadora), e, desse modo, o processo de acumulação,

era alimentado pela exploração da força de trabalho em certa dimensão. Ocorre que, se há

uma redução forçosa dos salários abaixo do valor, anteriormente, pago ao trabalhador (classe

trabalhadora), a parcela do salário que pertencia a este ultimo, passa a ser fundo de

acumulação de capital.

Portanto, o grau de exploração da força de trabalho cria condições para uma

dinâmica de acumulação de capital cada vez maior. Observa-se, portanto, o que Marx trata a

esse respeito, “100 trabalhadores antigos trabalhem 12 horas em vez de 8; nesse caso, os

meios de trabalho serão suficientes ... desse modo, o trabalho adicional produzido por uma

maior distensão da força de trabalho pode aumentar o mais-produto... sem um aumento

proporcional do capital constante” (MARX, 2013, p. 678).

O capitalista, com vistas a elevar sua lucratividade lança mão, também, de

mecanismos de elevação da jornada de trabalho a fim de obter o mais-valor absoluto. Desse

aspecto deriva uma questão nada trivial, a duração da jornada de trabalho, sendo assim, por

parte da classe capitalista há uma pressão pela elevação da jornada de trabalho e os

trabalhadores, por sua vez, buscarão, mediante sua organização coletiva reduzi-la, o que gera,

ao lado da disputa pelos salários, os componentes estruturais das disputas de classes, como

22

pondera Harvey (2013, p. 138): “na esfera dos direitos econômicos não há como resolvê-los

sem tomar partido, ou a favor do capital, ou a favor do trabalho”.

Antes de tudo, é importante registrar que, de acordo com a dinâmica imanente do

processo de acumulação capitalista, o capital é valor em movimento, sendo esse aspecto tanto

endógeno, quanto peculiar a acumulação de capital. Assim, os componentes do capital (capital

constante e capital variável), precisam permanecer continuamente em movimento. No entanto,

se o capital constante (trabalho morto) ficar vinte e quatro horas ininterrupto operando, como

o capital variável poderá acompanhar e movimentar esse capital, dado sua limitação física e

social? A resposta para essa situação surge pelo sistema de turnos e revezamentos, muitos

comum em setores de atividade econômica de produção em grande escala.

Outro fator essencial que contribui para o processo de acumulação de capital é a

produtividade do trabalho social, que se caracteriza com a introdução de técnicas no processo

de produção, acelerando a fabricação de mercadorias.

O impacto da força produtiva do trabalho na dinâmica de acumulação do capital é

considerável, pois, quando se observa o movimento da mais-valia oriundo da produtividade

do trabalho destaca-se o seguinte, à medida que, o mais-valor se mantém constante, ou até

mesmo decresce, não obstante, nesse momento, a força produtiva do trabalho, siga em sentido

oposto, e aumente, isso repercute diretamente na crescente massa de mais-produto.

Conforme pode se notar, a força produtiva do trabalho social possibilita ao capital

variável, por em movimento mais meios de produção, ou seja, materiais de trabalho, materiais

auxiliares fornecendo assim, mais mercadorias, e, por conseguinte, após serem realizados no

mercado obtém um quantum maior de mais-produto. Nesse sentido, depreende-se que, com o

aumento da eficiência, do volume e do valor dos meios de produção, o mesmo é dizer, com o

expansão da acumulação alimentada pelas produtividade do trabalho, in est, pelo próprio

trabalho, perpetua a criação de mais-valor, fortalecendo a base da acumulação de capital.

Portanto, corroborando com esse aspecto Harvey assinala “a mudança tecnológica

existe como o principal avanço para aumentar a acumulação do capital mediante aumentos

perpétuos na produtividade do valor da força de trabalho” (HARVEY, 2013, p. 199).

Examinando o sistema fabril e o uso de máquinas, as invenções mecânicas que

possibilitaram ao capital variável por em movimento uma quantidade crescente de meios de

produção, verifica-se, contudo, que não se pode conceber que o aumento da produtividade do

trabalho, em grande medida pela inserção de tecnologia no processo de trabalho, teria como

resultado aliviar o fardo do trabalhador (classe trabalhadora), pelo contrário, o emprego de

23

tecnologias condicionou profundas transformações no processo de trabalho, e com isso,

acarretando o acirramento das relações de trabalho no interior do processo de produção, como

também fora dele. O objetivo da introdução da tecnologia está em reduzir o tempo de trabalho

necessário e, assim, elevar o tempo de trabalho excedente, os aspectos referentes as condições

de trabalho em si não são de preocupação do capital isolado e sim preocupações sociais,

referentes as organizações de trabalhadores e que pressionam os mecanismos de regulação

social, como o Estado e suas legislações.

As mudanças no capitalismo são intensas e contínuas, e isso é valido para as

constantes situações de necessidade do capital em intensificar a produtividade da força de

trabalho, pois, a dinâmica de acumulação de capital em escala ampliada atua relacionalmente

com as mudanças tecnológicas, o que implica em permanentes alterações na organização da

produção.

Entretanto, as alterações provocadas na organização da produção, ou seja, no mundo

do trabalho não podem ser analisada de forma divorciada das mudanças tecnológicas, porque,

a acirrada luta concorrencial entre capitalistas, para gerar mais-valor e a inevitável pressão por

parte do capital, a fim de, disciplinar o trabalho, em consonância com as leis da acumulação,

cria a base para os avanços tecnológicos.

Salientados acima os fatores que impulsionam, com uma nova roupagem, o aumento

do volume da acumulação, como visto pela dinâmica da maior intensidade da exploração da

força de trabalho, seguido, do aumento da força produtiva do trabalho, que ao fim e ao cabo

fortalecem a dinâmica da concentração de capital, haja vista que, o mais-produto gerado nesse

circuito de forma mais célere expande a acumulação de capital.

A concentração responde a um processo paulatino de expansão de uma massa de

capital sob controle dos capitalistas específicos, sendo componente do caráter geral do

capitalismo. A concentração se processa de forma gradual, investindo-se frações do mais-

valor, submetendo a escala de produção aos limites extensivos da acumulação, cada fração do

capital social alimenta sua massa de meios de produção, que comanda o trabalho vivo no

processo produtivo e de valorização, destinando uma parcela do mais-valor como taxa de

acumulação, alterando somente lentamente a composição orgânica e técnica do capital que

caracteriza o desenvolvimento capitalista, como se tratará abaixo. (MARX, 2013; FILHO,

2011; HARVEY, 2013).

24

No esforço teórico de Marx em desvendar as leis internas de movimento do capital,

foram elaborados três modelos4 teóricos de acumulação capitalista, a fim de, dar conta de

explicar os processos que ocorrem, tanto no momento da produção, como no estágio da

circulação do capital.

Nesse sentido, a dinâmica da acumulação de capital apresenta três modelos teóricos,

criado por Marx e aqui assinalado por Harvey, considerando que “esses modelos refletem a

maneira pela qual o objeto teórico é constituído em cada um dos três livros da obra”

(HARVEY, 2013, p. 225). Sendo assim, o primeiro modelos de acumulação procura revelar a

gêneses do lucro, a partir da elaboração da teoria do mais-valor, sob o amparo do processo de

produção social entre capital e trabalho, o segundo modelo teórico, se encontra no livro II do

O capital, e apresenta a dinâmica da acumulação, considerando as fases da circulação do

capital, por sua vez, o terceiro modelo de acumulação consiste em sintetizar o processo de

produção capitalista como um todo, ou seja, busca-se analisar o processo de acumulação de

capital, a partir, dos aspectos da produção e circulação de capital conjuntamente.

O objetivo aqui é apreender os aspectos da concentração e centralização de capital,

considerando primeiramente, o modelo de acumulação tratado no livro I do capital, e a

posteriori, apreender os mesmos aspectos nos próximos dois modelos de acumulação,

tratados, respectivamente, no livro II e III do capital.

No primeiro modelo de acumulação há uma dedicação em demonstrar a origem do

lucro, descortinando os elementos tácitos do processo de produção de mais-valor, por meio,

do relacionamento social entre capital e trabalho, e, para tanto, as mudanças tecnológicas

ocupam um lugar de destaque, no entanto, os aspectos de circulação do capital não são

mencionados, o que a segura, o pressuposto de que os capitalistas não encontram barreiras

para venda das mercadorias, implicando, a não ocorrência de subprodução, ou superprodução,

e muito menos, problema com a demanda efetiva.

4 Destaca-se também, outra abordagem para apreender a dinâmica da acumulação de capital, e desse

modo, os modelos de acumulação podem ser formalmente tratados como de mais-valia absoluta pura, mais-

valia relativa pura e a combinação dos dois (ma e mr) que, em termos concretos corresponde o que de fato se dá

na realidade, a depender de como se trata, pode-se pensar a composição orgânica do capital constante ou em

variação, dai decorrerá diferentes condições quanto a concentração, por sua vez, a centralização decorre dos

fatores de concorrência e crédito. Shaikh (1988, p.57) especifica concentração e centralização nos seguintes

termos: “o processo de crescente concentração através da acumulação, que Marx chama de concentração, e o

processo de crescente concentração através da concorrência e do crédito, que ele chama de centralização do

capital”.

25

A exigência dos pressupostos desse primeiro modelo de acumulação permite

verificar como a taxa de exploração do trabalho se comporta, vis-à-vis, a dinâmica das

mudanças tecnológicas em função da acumulação de capital.

Inicialmente, esse modelo de acumulação começa com um aparato conceitual que

assinala importantes considerações para análise da concentração de capital. Nesse sentido, a

“lei geral da acumulação capitalista” aborda três aspectos conceituais elaborados por Marx

referentes à composição do capital5, a fim de, apreender questões importantes sobre a

dinâmica da composição do capital em termos de valor, sendo assim, articulando uma

compreensão sobre os movimentos tácitos da acumulação, a partir da noção de composição

valor, orgânica e técnica do capital.

A composição valor do capital, expressa na razão do valor do capital constante, em

relação ao valor do capital variável, e, sendo assim, pode ser exarado pela “razão entre o valor

dos meios de produção consumidos e o valor do capital variável adiantado” (HARVEY, 2013,

p. 254). Portanto, a composição valor, denota um grau de valor, sem que este sofra a ação da

produtividade de trabalho, o que com todo certeza alteraria o grau de valor do capital.

Desse modo, todo processo inicial de acumulação, na perspectiva da concentração de

capital exige um determinado quantum de capital variável, movimentando um correspondente

quantum de capital constante, nesse sentido, a velocidade, assim como o volume da

acumulação estão limitados pelo grau da composição valor do capital.

Um segundo aspecto conceitual diz respeito a composição orgânica do capital que se

imbrica com a composição valor, pois, ambas são medidas de valor, sendo assim, a

composição orgânica do capital, também pode ser medida pela razão entre os meios de

produção e a força de trabalho. No entanto, há uma diferença em relação a composição valor,

dado que, o valor da composição orgânica provem de mudanças físicas na produtividade.

A inserção da tecnologia no processo de trabalho, certamente, amplia os limites da

acumulação, o que significa dizer, que a concentração de capital passa a ter um fôlego maior e

a “lei geral da acumulação capitalista” estabelece novas condições de expansão da

acumulação. A concentração de capital estimula taxas crescentes tanto setorialmente quanto

intersetorialmente, em termos gerais “novos métodos de produção implicam maiores escalas

5 De acordo com o dicionário do pensamento marxista, a “composição do capital pode, é claro, ser medida em

termos de valor, mas, o resultado não é um conceito simples, que aliais muitas vezes é mal compreendido. Se os

valores de usos fossem refletidos de forma não problemática pelos valores, quando a razão entre meios de

produção e o trabalho aumentasse, a razão em termos de valor entre capital constante e capital variável aumentaria pari passu” (BOTTOMORE, 2001, p. 69), porém, quando se introduz na análise a produtividade do

trabalho, os valores se reduzem e, então, a composição do capital se altera.

26

mínimas de investimento” (Shaikh, 1988, p. 57), porém ainda mantém-se certa lentidão no

processo de expansão da reprodução, pois, por mais que as taxas de acumulação sejam

elevadas há barreiras espaciais e temporais ao crescimento do capital.

Todavia, nem toda alteração no valor da composição orgânica do capital advém da

implantação de tecnologia no processo de trabalho, há pelo menos, dois aspectos que

expressam essa característica, posto que, alterações no valor da composição orgânica do

capital podem ser atribuídas, as mudanças que não estão relacionadas a produtividade do

trabalho.

Primeiramente, pode-se assinalar as “mudanças não tecnológicas [...] como dádiva da

natureza, economias de desperdícios ou redução do padrão de vida dos trabalhadores”

(HARVEY, 2013, p. 254), que implicam diretamente, em mudanças no valor do capital,

porém, não na perspectiva exigida pela composição orgânica, nesse sentido, as mudanças no

valor do capital ocorrem sem a ação da tecnologia.

Outro aspecto, diz respeito as alterações no capital constante e capital variável

indiretamente, pois, quando mudanças tecnológicas atingem setores da economia, produtores

de bens de primeira necessidade, isso implica na diminuição do valor da força de trabalho, e

consequentemente, atuando na diminuição do valor do capital variável, sendo assim,

depreende-se que o mercado pode influenciar a relação capital constante sobre capital variável

fora do alcance de ação da classe capitalista.

Ambos os aspectos, acima mencionados, apresentam formas diferentes de variação

no valor do capital, e ainda assim, se mantém as condições que favorecem o desenvolvimento

da acumulação, e, por conseguinte, a concentração de capital. Pois, em ambos os casos há um

acréscimo nos componentes do capital. No primeiro, verifica-se um aumento dos fatores

materiais do capital, no segundo, possibilita-se adicionar mais força de trabalho.

Por último, mas não menos importante, destaca-se o terceiro aspecto conceitual

tratado por Marx, a composição técnica do capital, e nesse sentido, se propõem verificar as

formas através das quais o capital expressa a sua relação material, entre certa quantidade de

meios de produção e força de trabalho, desse modo, a composição técnica do capital se refere

ao modo de funcionamento da produção capitalista, pois, “descreve simplesmente a

capacidade física de um trabalhador de transformar certa quantidade de valores de uso numa

mercadoria em dado período de tempo” (HARVEY, 2013, p. 254). Observa-se, portanto, que

a composição técnica do capital desempenha uma forma de medir a intensidade da força de

27

trabalho, e, nesse sentido, permite apontar em certa perspectiva, como se comporta o nível de

acumulação do capital, assim como, a dinâmica da concentração de capital.

Sobretudo, os fundamentos da “lei geral da acumulação” capitalista, se concentram

não em analisar os aspectos individuais da produção capitalista, e sim sua macro dinâmica,

portanto, busca-se avaliar, os aspectos da acumulação capitalista numa dimensão da produção

social total, segundo a definição de Marx, “a média total das composições médias de todos os

ramos da produção que dá a composição de um capital social de um país, e é essencialmente

apenas a essa última que nos referimos” (MARX, 2013, p. 689).

O primeiro modelo de acumulação apresenta duas versões. A primeira variante desse

modelo exclui as mudanças tecnológicas e trata a acumulação apenas considerando a

produtividade física da força de trabalho, e como se verá a acumulação nessas circunstancias

exigirá um desembolso crescente de capital variável, até o limite aceitável de não por em risco

o processo de acumulação.

Coeteris paribus, considerando a implicação do processo de acumulação6 de capital,

em certa massa de capital social total verifica-se que a parte variável do capital, ou seja,

aquele componente referente a força de trabalho tende a crescer. Assim, a cada ciclo de

produção capitalista obtém-se um volume de acumulação crescente, e, nessa circunstancia,

observa-se que, a mesma massa de força de trabalho, associado a determinado quantum de

capital constante, põe em movimento um volume de capital cada vez maior, portanto, fica

evidente, que o capital variável crescerá proporcionalmente ao crescimento da acumulação de

capital.

Sendo assim, se extrai dessa analise os elementos essenciais que estabelecem a

constituição do movimento de concentração de capital, pois, a medida que a acumulação

cresce, o quantum de mais-valor também cresce e determina um volume maior de capital,

pronto a percorrer, novamente, o processo de valorização de capital. No entanto, é quando o

processo de acumulação de capital encontra suas limitações, que o capital dá sinais de sua

necessidade de romper as fronteiras nacionais e internacionalizar-se.

Seguindo esse ritmo, observa-se que a reprodução ampliada do capital vai exigir uma

quantidade de força de trabalho acima do número disponível de trabalhadores, pois, “as

necessidades da acumulação de capital podem sobrepujar o crescimento da força de trabalho

6 Como declara Marx, “é a velha história, Abraão gerou Isaque, Isaque gerou Jacó etc” (MARX, 2013, p.657).

Recapitulando, o processo de produção capitalista segue, desse modo, um dado capital que se decompõem em

certa quantidade de meios de produção e força de trabalho gera um mais-valor, que sucessivamente, movidos pelo acicate do lucro, são reinvestidos no processo de produção capitalista, e assim, conservando este último, o

processo de produção e acumulação capitalista segue, perfazendo a forma de um espiral.

28

[...] e a demanda de trabalhadores pode sobrepujar a sua oferta, acarretando, com isso, o

aumento dos salários7” (MARX, 2013, p. 690).

Essa primeira versão do modelo de acumulação de capital assinala que, o processo de

produção de capital em escala ampliada requer, sucessivamente, uma quantidade adicional de

força de trabalho, a cada ciclo de produção.

E sendo assim, aduz-se que, de acordo com os pressupostos dessa primeira versão do

modelo de acumulação capitalista, depreende-se a condição sine qua non de valorização de

capital, a partir da exploração da força de trabalho, portanto, dito isso, evidencia-se que os

aspectos de mobilidade do capital estão associados, dentre outras circunstancias, a busca por

um menor custo com capital variável, e nesse sentido, há um fortalecimento dos movimentos

de transnacionalização de capital, para países de economia periférica, que tendem a dispor de

uma força de trabalho com baixos salários, dentre outros vantagens para capital.

Mantendo tudo mais constante, a acumulação de capital demanda uma quantidade

maior de força de trabalho, posto que, é a força de trabalho, a substância essencial, que

valoriza o capital. Desse modo, a acumulação de capital tem como fator inerente a

“multiplicação do proletariado” (MARX, 2013, p. 690).

No entanto, torna-se oportuno caracterizar dois aspectos relacionados ao aumento

dos salários proveniente da acumulação de capital. Primeiramente, o aumento do preço da

força de trabalho derivado da acumulação de capital, encontra-se nesta condição, devido,

sobretudo, ao aspecto de que o aumento do salário da classe trabalhadora não prejudica o

processo da acumulação, como apontado por Marx, “um grande capital, ainda que os lucros

sejam menores, crescem geralmente mais rapidamente do que um capital pequeno cujo lucro

seja grande” (MARX, 2013, p. 696).

Considerando esse aspecto, observa-se que o processo de concentração de capital se

desenvolve de forma mais intensa em capitais maiores, nesse sentido, aduz-se o

desenvolvimento da formação embrionária do capital transnacional, pois, a acentuação do

processo de concentração de capital, demonstra a necessidade do capital em encontrar lócus

que possibilitem a manutenção desse processo de acumulação de capital, desse modo,

7 Certo de que, nessa circunstancia, há uma parcela maior dos meios de pagamentos para classe trabalhadora, o

que reflui com ligeiras melhoras nas condições de vida da mesma, tais como, alimentação, vestuário, fundo de

reserva em dinheiro. Todavia, em nenhum momento a condição de assalariado muda. Dito de outra forma, a sua

dependência do capital ainda permanece inalterada, pois, “o aumento do preço do trabalho, que decorre da acumulação de capital, significa apenas que, na realidade, o tamanho e o peso dos grilhões de ouro que o

trabalhador forjou para si mesmo, permitem torná-las menos constringentes” (MARX, 2013, p. 695).

29

entende-se que a internacionalização de capital é uma via sem volta para sustentar a dinâmica

da acumulação.

O outro aspecto pertinente ao aumento dos salários, proveniente da acumulação de

capital, assinala que, se os salários subirem acima do valor da força de trabalho, de tal forma

que interfira no progresso da acumulação, isso implicará na redução dos salários.

Portanto, em dados níveis da interação entre, acumulação de capital e os movimentos

ascendentes dos salários, esta primeira, remove a causa de seu decréscimo, isso é, o aumento

do salário, e tudo volta à condição de exploração como antes, mantendo-se constantes as

devidas circunstancia.

Assim sendo, “são esses os movimentos absolutos na acumulação do capital que se

refletem como movimentos relativos na massa da força de trabalho explorável” (MARX,

2013, p. 696). Assim, aduz-se que o movimento de ascensão dos salários é sempre dependente

da dinâmica da acumulação de capital.

Entretanto, essa primeira versão do modelo de acumulação de capital, se enquadra

em um caso particular, todavia, apreende-se que o processo de concentração de capital, tem

como objetivo central a apropriação do lucro, e para tanto, não se mede esforços para alcançar

um patamar, cada vez mais, crescente para acumulação de capital, portanto, decorre dessa

perspectiva que, o aumento dos salários não passa de uma circunstancia acidental, pois, o alvo

da concentração de capital é sempre manter constante o processo de acumulação, ainda que

seja necessário transpor as fronteiras nacionais, garantindo em outros países a produção de

mais-valor.

Todavia, Marx constrói uma segunda versão do modelo de acumulação. As

suposições de que a produtividade física e o valor da força de trabalho conservam-se

constantes, agora são desabilitadas, e entre em cena as mudanças tecnológicas, que aceleram a

produtividade da força de trabalho. O processo de produção capitalista tem no

desenvolvimento da produtividade do trabalho social a força motriz da acumulação de capital,

pois, à medida que a produtividade do trabalho social aumenta observa-se que uma

quantidade menor de trabalho põem em movimento uma quantidade cada vez maior de

maquinas e matérias-primas.

Porém, torna-se importante explicar que a produtividade do trabalho social, não leva

em consideração perspectivas como fertilidade do solo, destreza de trabalhadores autônomos

que desenvolve capacidades de efetuar trabalho com extrema agilidade, em dado ramo de

atividade econômica, ou qualquer fator exógeno que auxilie o trabalhador na efetivação do

30

trabalho, porém, pode-se definir que “o grau social da produtividade do trabalho se expressa

no volume relativo do meio de produção que um trabalhador transforma em produto durante o

tempo dado com a mesma tensão de força de trabalho” (MARX, 2013, p. 698).

E nesse sentido, Marx destaca dois aspectos com relação aos meios de produção, em

que ora é consequência da produtividade do trabalho, ora é condição para essa produtividade.

Visto que, se uma massa maior de matéria-prima entra no processo de trabalho e é processada

no mesmo período de tempo que antes, tal fato é expresso como consequência da

produtividade do trabalho, pois, se um trabalhador consegue operacionalizar uma quantidade

maior de matéria-prima, em comparação a períodos anteriores, no mesmo espaço de tempo

que antes, denota-se que essa capacidade é uma ilação da produtividade do trabalho.

Outro aspecto pertinente aos meios de produção, diz respeito, as determinações que

possibilitam a produtividade do trabalho, portanto, colocado nessa ordem, são os meios de

produção que contribuem para condição de produtividade do trabalho, pois, o emprego, por

exemplo, de maquinas, tubulações de irrigação e drenagem, sistemas de computador no

processo de fabricação de mercadorias e outros instrumentos do gênero aceleram a execução

do trabalho, atuando como condição da produtividade do trabalho.

No entanto, quer seja o papel dos meios de produção uma consequência ou uma

condição da produtividade do trabalho observa-se que, o resultado proveniente dessa

dinâmica, em que cada vez mais, uma quantidade menor de trabalho põe em movimento uma

quantidade maior de meios de produção e matéria-prima, criará sem dúvida uma acumulação,

ou o mesmo é dizer, uma concentração de capital maior.

Ocorre que, a presença de tecnologia implica positivamente e diretamente na

produtividade do trabalho, no entanto, ainda que, do ponto de vista da concentração de

capital, isso seja favorável, o mesmo não pode ser declarado em relação ao capital variável,

pois, o aumento da produtividade do trabalho tem como consequência a elevação do capital

constante em detrimento ao capital variável, como definido por Marx, “a diminuição da massa

de trabalho proporcionalmente à massa dos meios de produção que ela movimenta, ou

diminuição do fator subjetivo de trabalho em comparação com o seu fator objetivo” (MARX,

2013, p. 699). Assim sendo, a produtividade do trabalho resulta numa mudança na

composição técnica do capital, facilmente percebida, quando constatado que o componente do

capital referente aos meios de produção está em quantidade maior que o componente referente

a força de trabalho, porém, ocorre que tal mudança na composição técnica do capital implica

também na mudança na composição valor do capital, pois, a medida que, o capital constante

31

aumenta, inevitavelmente, o capital variável diminui relativamente, por conta de que, a

produtividade do trabalho reflete diretamente no processo de produção do trabalho, e a

consequência não é outra, se não, o decréscimo relativo do capital variável, a medida que

aumenta o progresso da acumulação.

Depreende-se, portanto, que essa segunda versão do modelo de acumulação

capitalista, estabelecida a partir da inserção da tecnologia no processo de trabalho, cujo

resultado é aumentar a produtividade, apesar de que o efeito desse movimento seja de

diminuir a demanda por força de trabalho, isso repercute diretamente num processo que exige,

cada vez mais, que a acumulação seja sempre crescente para ocupar a mesma massa de

trabalhadores que antes.

Portanto, considerando processo de concentração de capital em diferentes lugares,

até mesmo em partes distintas do mundo, observa-se que o poder de influência do capital em

atrair força de trabalho é excessivamente considerável. Nesse sentido, processo de

concentração de capital assinala aspectos tanto de mobilidade8 do capital, como de trabalho,

sendo assim, Harvey assinala “a mobilidade de um exercito industrial de reserva,

particularmente na opção latente, depende da mobilidade social e geográfica do trabalho e do

capital” (HARVEY,2013, p. 236).

Inicialmente, sobre a concentração de capital destaca-se que cada ciclo de produção

estabelece novas condições para acumulação ampliada, possibilitando, por sua vez que “o

crescimento do capital social se consuma no crescimento de muitos capitais individuais”

(MARX, 2013, p. 701). Deste modo, “cada capital individual é uma concentração maior ou

menor de meios de produção e dotada de comando correspondente sobre um exercito maior

ou menor de trabalhadores” (MARX, 2013, p. 701). Portanto, seguindo a dinâmica do

capitalismo, a cada processo de acumulação ampliada do capital, cresce o numero de capitais

individuais, e com isso, cresce também, a concentração sobre os meios de produção e força de

trabalho, pois, os capitais que antes deram origem ao capital ampliado de agora, se deslocam a

passam a funcionar como novos capitais independentes.

Por conseguinte, infere-se que o aumento da acumulação tem como consequência um

crescimento no numero de capitalistas individuais, de forma que este tipo de concentração

8 “A história capitalista está repleta de exemplos de economias pré-capitalistas que foram destruídas e de suas

populações proletarizadas pelas forças do mercado ou por violência física. Isso aconteceu com os irlandeses em

meados do século XIX, mas podemos ver o mesmo processo em ação hoje, quando mexicanos e porto-riquenhos

são inseridos na força de trabalhos nos Estados Unidos, quando os algerianos se tornam parte do proletariado francês, quando iugoslavos, gregos e turcos se tornam parte da força de trabalho sueca” (HARVEY, 2013, p.

236).

32

denota dois aspectos. Primeiro, a concentração de capital é idêntica a acumulação, visto que,

esta última reflete a quantidade da riqueza social, e nesse sentido, pode-se entendê-la como

mais-produto social, que é gerada pelos meios sociais de produção, ou seja, pela combinação

de força de trabalho e meios de produção, ao mesmo tempo em que essa combinação expressa

o controle do capital sobre os meios de produção e a correspondente força de trabalho que o

movimenta, cujo o resultado também é a geração do mais-produto social.

Portanto, a concentração de capital no tocante ao produto gerado pelos meios sociais

de produção é idêntica a acumulação, pois, ambas representam uma medida, na mesma

proporção, do mais-produto social. Todavia, esse primeiro aspecto da concentração de capital

é limitado pelo grau de crescimento da riqueza social, de forma que, a concentração não pode

aumentar além da fronteira do mais-produto social, o qual determina o limite de meios de

produção e força de trabalho que são usados para criar a riqueza social.

O segundo aspecto da concentração de capital diz respeito a analisar o capital social

numa dimensão particular da produção, no qual o capital social é repartido em várias esferas

de um mesmo ramo de produção, dentre as quais atuam vários capitalistas individuais, sendo

assim, os capitalistas de cada esfera de produção se confrontam como produtores de

mercadorias autônomos e mutuamente concorrentes, desse modo, a acumulação em escala

ampliada, gerada no bojo de cada esfera particular da produção cria meios para formação de

novos capitais ou causa uma cisão em capitais antigos, criando mais capitas concorrentes.

Assim, o resultado desse aspecto da concentração de capital é a repulsão mútua entre muitos

capitais individuais.

Nessa perspectiva, a concentração de capital evidência as relações de concorrência

entre capitalistas, pois, a disputa por uma parcela maior de mercado e a constante busca para

realização da mercadoria acirra confronto dentro da classe capitalista. No entanto, ainda há de

se destacar que a repulsão entre capitais de uma mesma esfera de produção é contraposta por

sua atração, pois, essa repulsão entre capitais, em uma mesma esfera de produção, é superada

pelos movimentos de centralização de capital, que atua na atração de determinados capitais na

direção de um capital central.

2.2 A Dinâmica de Centralização: Concorrência Capitalista e Sistema de Crédito

A concentração de capital, como tratado, corresponde a uma conversão de mais-valia

em taxa de acumulação lenta, o que se reflete em uma dinâmica mais localizada da expansão

33

capitalista, seja setorial, seja territorialmente. As consequências do processo de concentração

é uma dupla alteração: por um lado, como já mostrado, observa-se uma crescente

concentração do capital em relação ao processo de trabalho; por outro, a propriedade do

capital se descentraliza, na medida em que a massa acumulada de riqueza tende a ser dividida

por um número maior de capitalistas. A concentração, portanto, não detém os elementos

dinamizadores do processo expansivo capitalista transnacionalizado, de outro modo, a

capacidade de expansão do capital para além das fronteiras locais, produzindo efeitos de

mundialização do capitalismo requer uma segunda forma de expansão concentrada da

acumulação: a centralização do capital.

A esse aspecto Marx declara “essa é a concentração de capital já constituída

supressão de sua independência individual, expropriação de capitalista por capitalista,

conversão de muitos capitais menores e poucos capitais maiores” (MARX, 2013, p. 701).

Sendo assim, a centralização9 de capital é um fenômeno que demonstra a atração de capital

pelo capital.

Portanto, a centralização de capital se distingue da concentração, pelo fato desta

primeira pressupor a repartição dos capitais já existentes e em funcionamento, considerando

que a sua dinâmica não está limitada pelo grau de crescimento da riqueza social, ou seja, a

centralização age com a interação e incorporação de um capital maior por vários outros

menores, pois, o mais-produto gerado pelos meios sociais de produção em cada esfera

particular da produção é direcionado para um capital maior. A centralização do capital está

condicionada por dois processos integrados: a concorrência intercapitalista e pela oferta de

capital de empréstimo (crédito). Diferentemente da teoria econômica convencional, na análise

marxista a concorrência é intensificada pelo duplo padrão de concentração e centralização do

capital, sendo que o sistema de crédito há muito estabelece uma maior elasticidade nas

condições de centralização, moldando a concentração da propriedade dos capitais e o formato

da disputa entre os mesmos.

9 As leis dessa centralização dos capitais ou da atração da capital pelo capital não podem ser desenvolvidas aqui.

Bastará uma breve indicação dos fatos. A luta concorrencial é travada pelo barateamento das mercadorias. O

baixo preço das mercadorias depende, coeteris paribus, da produtividade do trabalho, mas esta, por sua vez,

depende da escala da produção. Os capitais maiores derrotam, portanto, os menores, Recordemos, ademais, que

com o desenvolvimento do modo de produção capitalista cresce o volume mínimo de capitais individuais

requerido para conduzir um negocio sob condições normais. Os capitais menores buscam, por isso, as esferas da

produção das quais a grande industria se apoderou apenas esporádica ou incompletamente. A concorrência aflora

ali na proporção direta da quantidade e na proporção inversa dos tamanhos dos capitais rivais. Ela termina sempre com a ruína de muitos capitalistas menores, cujo os capitais em parte passam às mãos do vencedor, em

parte se perdem (MARX, 2013, p. 702).

34

Todavia, o processo de acumulação, como sinônimo da concentração de capital é um

procedimento extremamente lento se comparado com a centralização, pois, a lei da

concorrência capitalista determina o acirramento entre os capitais, que por sua vez, acionam

os movimentos da centralização de capital, e nesse sentido, determinado capital central só

precisa exercer sua capacidade de aglutinar os demais capitais menores que, orbitam ao seu

redor.

Considerando um dado setor de atividade econômica alude-se, portanto, que o

estágio último da centralização, se efetiva quando todos os capitais que anteriormente

formavam a estrutura daquele negocio, funde-se nas mãos de um único capital, ou uma grande

corporação. As dinâmicas de fusões e aquisições expressam bem os movimentos de

centralização de capital.

Não faz parte dos pressupostos dessa segunda versão do modelo de acumulação,

porém, o sistema de crédito10

exerce um poder de grande influência na dinâmica capitalista,

que não pode ser colocado num patamar secundário. Nesse sentido, assinala-se que a

concorrência entre as diferentes frações do capital social, assim como, a expansão do sistema

de crédito formam a mais poderosa alavanca do sistema capitalista, pois, a concorrência

favorece os investimentos de grande escala, à alcançarem os menores custos de produção, e

por conseguinte, uma apropriação por parte dos capitalistas individuais de crescentes parcelas

da mais-valia social, por sua vez, o sistema de crédito possibilita a disponibilidade de massas

volumosas de capitais, necessários a esses grandes investimentos, requeridos pelos processos

produtivos modernos.

Ambos os processos aceleram a concentração do processo produtivo (maior

composição orgânica de capital) e a centralização da propriedade capitalista. A centralização

aumenta a composição técnica e orgânica do capital, e, desse modo, faz aumentar a

produtividade do trabalho, aduzindo-se, portanto, o fortalecimento das consequências da “lei

geral da acumulação capitalista”.

Outro aspecto importante da centralização se refere a expansão espacial do capital. A

esse respeito, pode-se destacar a tarefa da teoria espacial, no contexto do capitalismo, que

consiste em elaborar representações dinâmicas, de como essa situação, a superação do espaço,

se manifesta por meio das transformações histórico-geográficas.

10 “Apesar de não poder introduzir o sistema de crédito, [pois] isso violaria o pressuposto inicial de que a divisão do mais-valor entre juros, renda e lucro sobre o capital comercial não tem importância” (HARVEY, 2013, p.

261), no entanto, o aspecto do crédito é muito importante para deixa-lo de lado.

35

Nestes termos Marx já tratava da necessária superação pelo capital dos limites

espaciais, sejam geográficos ou políticos, pela compressão temporal possibilitada tanto pelo

crédito, quanto pela dinamicidade tecnológica. Assim as formas centralizadas de capital,

munidas de elevada capacidade de controle creditício internacional e de tecnologias de

transporte e comunicação, estabelecem uma vasta rede de intervenção econômica global,

buscando, nos diversos territórios nacionais elementos de menor custo de produção e

rentabilidade crescentes, seja pelas maiores taxas de exploração, seja por aspectos de acesso

mercados mais dinâmicos, seja por interesses de controle sobre insumos estratégicos como,

minério, energia, matéria-prima agrícola.

A analise da circulação do capital divide a economia em dois setores. O “setor 1”

produz capital fixo11

e circulante, sendo responsável pela produção dos valores de uso

destinados ao consumo produtivo, que atua simultaneamente, com o “setor 2” que produz

valores de uso para consumo individual, tanto para classe capitalista, como para classe

trabalhadora.

A intenção de se construir uma modelo de acumulação engendrando apenas dois

setores é estabelecida para criar as condições de continuidade da acumulação para além do

“reino da produção”. Nesse sentido, esse segundo modelo de acumulação é formulado

considerando que haja uma interação proporcional entre a produção do setor 1 e do setor 2, e,

também, que haja uma taxa de crescimentos relativo em ambos os setores, para que seja

colocado em vigor um processo de acumulação de longo prazo e equilibrado.

Coeteris paribus, o processo de acumulação de capital se dá, requerendo no mínimo

parte do mais-valor de cada setor seja reinvestido, para comprar meios de produção e força de

trabalho adicionais. Portanto, para que a acumulação permaneça equilibrada, as relações de

proporcionalidades entre os setores tem que ser mantida, e isso exige que, a demanda total por

meios de produção do setor 2, deve corresponder invariavelmente, a demanda para bens de

consumo proveniente do setor 1.

A violação dos aspectos até aqui definidos, sobre a acumulação de capital resultará

numa crise de desproporcionalidades, quer seja na forma de superprodução ou sub produção,

na perspectiva, tanto dos meios de produção como dos bens de consumo.

11 Para cada setor o capital se decompõem em duas partes “capital variável, considerado de acordo com o valor, é

igual ao valor da força de trabalho emprega nesse ramo de produção, ou seja, é igual a soma de salários [...]

capital constante, isto é o valor de todos os meios de produção empregados para produção nesse ramo, tais meios

de produção se decompõem em, capital fixo (máquinas, ferramentas de trabalho, edifício, gado de trabalho) e em capital circulante (materiais de produção, como matérias-primas e materiais auxiliares, produtos

semielaborados)” (MARX, 2014, p. 499).

36

Uma implicação relevante desse segundo modelo de acumulação de capital aduz que,

as taxas de reinvestimentos relativas nos dois setores são fundamentais para preservar a

estabilidade do sistema. Todavia, ainda que as taxas de reinvestimentos relativas se

apresentem em proporções diferentes, e isso reflita na composição valor dos dois setores,

assinala-se a observação de Harvey a respeito, “em consequência disso, as taxas de expansão

relativas no emprego nos dois setores variam segundo as taxas de reinvestimento e as

composições de valor” (HARVEY, 2013, p. 240).

Nesse sentido, tanto o setor 1 quanto o setor 2 da economia, tem o seu nível de

concentração de capital determinado pelo grau das taxas relativas de investimento oriundas da

reconversão do mais-valor em capital, desse modo, o patamar de crescimento do capital social

total, ou seja, da riqueza social está determinado pela dinâmica de acumulação, na perspectiva

apenas da concentração de capital. Nessas circunstancias12

, os aspectos da centralização de

capital não podem ser derivados, pois, a tecnologia permanece constante e o sistema de

crédito não é inserido, sendo assim, os elementos que possibilitam essa dinâmica não estão

presentes.

De certo, os esquemas de reprodução elaborados por Marx, mensuram o valor do

capital, como um estoque de insumos disponível no inicio de um dado período de produção, e,

subdividido como se sabe, em capital constante e capital variável. A reconversão do valor

excedente, que se realiza na esfera da troca, tem como finalidade adquirir capital constante e

capital variável adicionais é condição sine qua nom da acumulação de capital.

Tomando-se como ponto de partida a dinâmica da acumulação de capital, tal como

exposta acima e propondo suposições e alterações nos referidos pressupostos apreendem-se

possíveis aspectos da dinâmica da acumulação de capital.

Nesse sentido, introduzindo, na dinâmica de acumulação desse segundo modelo, os

aspectos de mudanças tecnológicas e os reinvestimentos em medida desproporcionais, ou seja,

considerando que os mais-valor afluir do setor 1 para o setor 2 e vice-versa, pode-se

apreender que, se essas alterações tenderem mais para o lado do setor produtor de capital fixo

e capital circulante, a luta pelo mais-valor relativo ficará mais acirrada no setor 1 a

12 O modelo de acumulação de dois setores elaborado por Marx, limitada pelos seus pressupostos, assinala que a

acumulação pode continuar ininterrupta e isenta de problemas. Para explicar esse aspecto Harvey aduz “se o

capitalismo pode acumular eternamente então em que base os marxistas preveem o fim inevitável do capitalismo

ou mesmo a inevitabilidade da formação de crises? [...] o propósito de Marx não é difícil de adivinhar [...] ele quer, em suma, estudar o ‘processo de circulação’ do ‘capital social agregado’ em termos da relação de classe no

capitalismo” (HARVEY, 2013, p. 240).

37

concorrência13

entre os capitais desse setor tenderá a desencadear os processos de

centralização de capital. A quantidade de empresas, em número cada vez menor, atuando em

atividades econômicas intensivas em tecnologias e intensiva em capital expressam esse tipo

de dinâmica. As fusões, aquisições e joint venture são mais intensa em atividades econômicas

onde o valor do capital constante é muito elevado em comparação com o valor do capital

variável.

Se o setor 2 da economia drenar para si o maior volume dos investimentos, os bens

destinados a atender a classe capitalista aumentaram, e o bens destinados a classe trabalhadora

diminuirá até o limite estabelecido pela acumulação vigente. A inserção da tecnologia tende a

aumentar a produtividade do trabalho, e, por conseguinte, aumentar capital constante em

detrimento ao capital variável, sendo assim, uma parcela decrescente da força de trabalho

consome menos bens do setor 2. O consumo da classe trabalhadora não é trivial e tem

relevantes aspectos para manter o sistema em equilíbrio, pois, o salário tem que se

transformar em consumo.

Nesse segundo modelo de acumulação, Marx decompõem o processo de circulação

do capital em três ciclos analisados separadamente, todavia, conectados no seu conjunto.

Sendo assim, o capital monetário, capital produtivo e o capital mercadoria são fluxos

contínuos do processo de circulação do capital em diferentes momentos, no entanto, o

“metabolismo social do capital” possibilita a metamorfose adequada para a passagem de um

estágio do capital para outro.

No início, o capital monetário se apresenta como “capital adianto”, e nesses termos,

como dinheiro que tem a função de adquirir os elementos objetivos e subjetivos do capital,

como declara Harvey “os capitalistas costumam começar seu dia com dada quantia de

dinheiro. Vão ao mercado e compram meios de produção e força de trabalho” (HARVEY,

2014, p. 43), portanto, o dinheiro só é capital monetário e vice-versa, se ele cumprir o seu

papel de acordo com os movimentos de valorização do capital, associado aos demais ciclos da

circulação.

O segundo estágio da circulação do capital é o capital produtivo. Nessa parte do

circuito a força de trabalho e os meios de produção são consumidos dentro do processo de

trabalho, nesse sentido, a analise do livro I do capital, deu bastante ênfase a esse processo. O

cerne da questão em relação ao capital produtivo é demonstrar o processo de mais-valor,

13 As leis coercitivas da concorrência estabelecem um papel importante para dinâmica de acumulação de capital, portanto, já desde o Grundrisse Marx declarava “a concorrência é a maneira por excelência com que o capital faz

prevalecer o seu modo de produção” (MARX, 2011, p. 610).

38

como aponta Marx, “em seu funcionamento, o capital produtivo consome as suas próprias

partes constitutivas, a fim de convertê-las numa massa de produtos de valor maior” (MARX,

2014, p. 120).

No terceiro estágio do processo de circulação do capital, observa-se o capital na

forma mercadoria. Assim como os demais estágios do capital exerceram seus ofícios, o capital

mercadoria precisa exercer sua função como mercadoria que se realiza no mercado, e assim,

efetivando o mais-valor, apto a ser reinvestido, e, portanto, dando sequência ao processo de

circulação do capital. .

Para apreender os aspectos da concentração e centralização de capital, a partir da

perspectiva do processo de circulação do capital, pode-se destacar o seguinte. O segundo

modelo de acumulação cresce de forma constante, pois, nenhuma alteração há na

produtividade do trabalho, tão pouco o sistema de crédito se faz presente. Sendo assim, a

acumulação é idêntica a concentração de capital, ou seja, é limitada pelo crescimento do

capital social existente.

Todavia, se for introduzido na estrutura teórica do processo de circulação do capital,

os elementos de alavancagem da acumulação capitalista, como a concorrência entre diferentes

frações de capitais, coligado com a dinâmica do sistema de credito, a centralização do capital

volta à cena e ocupa posição importante, pois, o grau de eficiência do capital, oriundo da

concorrência e potencializado pelo crédito, favorece o desenvolvimento dos aspectos

pertinente a centralização de capital, e consequentemente, aumentam a velocidade de

transição de um estado do capital para outro.

Nesse sentido, passando a considerar a dinâmica da centralização de capital, dentro

do processo de circulação, não fica difícil vislumbrar a instabilidade do “capital industrial14

no processo completo da circulação, pois, a centralização de capital exerce poder de

influência sobre as várias frações de capitais, e, portanto, possibilitando a dinâmica da

centralização de capital em um dado estágio da circulação, onde as leis da concorrência se

fazem mais presentes, em detrimento de outro estágio da circulação.

O processo de centralização de capital é mais evidente, onde os aspectos da

concorrência intercapitalista são mais incidentais e potencializados pelo sistema de crédito.

14 Sobre a definição do capital industrial Marx declara “as duas formas que o valor do capital assume no interior

de seus estágios de circulação são a de capital monetário e capital mercadoria, a sua forma própria ao estágio da

produção é a de capital produtivo. O capital, que no percurso de seu ciclo total assume e abandona de novo essas formas, cumprindo em cada uma delas sua função correspondente é o capital industrial – industrial aqui, no

sentido de que ele abrange todo ramo de produção explorado de modo capitalista” (MARX, 2014, p. 131).

39

É importante consignar que essa diferenciação, do processo de circulação do capital,

apresentada a partir dos esquemas de reprodução, aduz relevantes implicações pertinentes a

mecanismos de mobilidades espaciais e geográficas do capital.

Sob a ótica da globalização, cada momento do processo de circulação expressa

perspectivas interessantes, pois, o capital monetário se apresenta como a forma mais móvel do

capital, seguido do capital mercadoria que é menos móvel e, por ultimo, mas não menos

importante, o capital produtivo cuja mobilidade é mais difícil, porém, não intransponível.

Desse modo, destaca-se aqui, a característica do capital como portador de mobilidade, que de

acordo com a dinâmica capitalista de valorização do capital, aduz-se os elementos que

viabilizam a formação do aspecto transnacional do capital.

O terceiro modelo de acumulação elaborado por Marx se propõem assinalar as

contradições internas no capitalismo, a partir de uma síntese dos dois modelos a priori

tratados até então, a fim de apreender os movimentos do capital como um todo e as suas

“manifestações no mundo da aparência”.

Os elementos de análise desse terceiro modelo de acumulação são constituídos sob a

perspectiva de demonstrar a “lei tendencial da taxa decrescente de lucro” e a esse respeito

Marx assesta nos Grundrisse “portanto, a taxa de lucro depende da relação entre a parte do

capital que é trocada por trabalho vivo e a parte que existe na forma de matéria-prima e meios

de produção. Por conseguinte, quanto menor se torna a porção trocada por trabalho vivo, tanto

menor se torna a taxa de lucro” (MARX, 2011, p. 624).

Apesar de, a economia clássica, desde antes, mencionar que a taxa de lucro tende a

diminuir ao ponto de chegar a um “estado estacionário”, ela não consegue avançar nas

explicações endógenas da queda da taxa de lucro, pertinente ao processo de acumulação

capitalista, e por isso, não consegue interpretar as leis de movimento do capitalismo.

O terceiro modelo de acumulação capitalista atua na direção de apreender as

consequências da relação social no capitalismo, proveniente do conjunto de mudanças

ocasionado pela produtividade social do trabalho, o que por fim, deságua na queda da taxa de

lucro15

.

Para que esse modelo de acumulação alcance seus objetivos Marx estabelece os

pressupostos da seguinte forma, considera apenas duas classes na sociedade, a saber,

capitalistas e trabalhadores, a economia é fechada e tudo que é produzido é consumido no

15 Cabe aqui destacar que a “lei decrescente da taxa de lucro” tem sido alvo de relevantes debates. Pois, quando a

referida lei é analisada na perspectiva teórica, histórica e empírica, afim de, revelar a lógica interna da dinâmica capitalista, observa-se que, as proposições do terceiro modelo de acumulação exigem cautela em tratar a lei

como um fundamento invariável na perspectiva histórica e empírica.

40

período de tempo padrão, o dinheiro funciona apenas como meio de troca, não podendo ser

entesourado, e por fim, a relação de produção e troca domina a vida cotidiana.

A partir desses aspectos, pode-se considerar que o fio da meada desse terceiro

modelo de acumulação, possibilita verificar que o efeito da “lei decrescente da taxa de lucro”

se expressa, precisamente, na diminuição da parcela referente ao capital variável em

comparação com a parcela referente ao capital constante, a medida que, as revoluções

tecnológicas avançam no decorrer do tempo.

As implicações empíricas e históricas da aplicabilidade da “lei decrescente da taxa de

lucro” no “mundo da aparência” tem seus questionamentos, no entanto, Harvey aponta para

algumas reflexione16

, caso se acrescente aos pressupostos desse terceiro modelo de

acumulação, determinadas mudanças tecnológicas no setor 1 da economia, aquele que produz

meios de produção, particularmente, alterações no capital fixo.

Se essa dinâmica se efetivar, então, a economia no seu agregado tenderá a ter uma

composição de valor do capital de forma estável, ou até mesmo, um declínio no valor da

composição orgânica do capital, pois, se as mudanças tecnológicas influírem um dinamismo

nas atividades econômicas produtoras de capital fixo, isso incorrerá, em certa medida, na

centralização de capital e em uma economia onde estará mais presente a produção de

máquinas por máquinas.

Consignando que a composição valor do capital decresce, coeteris paribus, à medida

que, a centralização do capital aumenta as mudanças tecnológicas no capitalismo, e, sendo

assim, estas são orientadas a economizar capital variável em contraste ao capital constante.

Nesse sentido, a centralização de capital assenta um determinado grau de seu movimento,

compatível com a acumulação sustentada.

Portanto, a busca do mais-valor relativo, pelos capitalistas individuais, implicam nas

mudanças tecnológicas, não obstante, isso resulta no crescimento da taxa de lucro a taxas

decrescentes, nesse sentido, o comportamento individual dos capitalistas repercute no

agregado econômico como uma atitude desestabilizadora do sistema econômico, viabilizando,

por conseguinte, as crises endêmicas no capitalismo.

Desse modo, ajustando os aspectos da concentração e centralização de capital

derivados dos três modelos de acumulação, até aqui apresentados, depreende-se, portanto, que

a concentração de capital estabelece um ritmo moderado de crescimento da acumulação,

quando comparado com as forças da centralização de capital.

16 Conferir Harvey (2013); Michio Morishima (1973).

41

A centralização de capital, por sua vez, acelera e amplia as forças da acumulação

reduzindo o tempo e o espaço entre a produção e a troca das mercadorias, nesse sentido, essa

aglutinação do capital, inerente as “leis do movimento do capital”, avançam em termos de

dimensão geográfica, ou seja, cada vez mais, o processo de acumulação se expande para

outros estados-nações que possibilitam provê recursos necessários à valorização do capital.

Como já destacado a centralização do capital está regulada por dois procedimentos

que interagem mutuamente, que são a concorrência intercapitalista e o sistema de crédito.

Desse modo, a inserção de ambos os elementos na análise da dinâmica econômica capitalista

são essenciais para apreender a formação do processo de internacionalização do capital, a

medida que, a centralização se expande.

Um aspecto tratado na análise da centralização do capital, refere-se a organização

empresarial capitalista no formato de sociedade anônima. Para tanto, assinala-se as

considerações de Hilferding que, analisa a dinâmica da sociedade anônima levando em conta

as implicações econômicas estabelecidas pelas grandes massas de capital, e, portanto,

depreende-se os aspectos iniciais que instituem o processo de formação do capital

transnacional.

Hilferding (1983, p. 111-112), aprofundando Marx na análise das formas do capital

centralizado, observa que a sociedade anônima industrial, “significa antes de tudo uma

alteração da função exercida pelo capitalista industrial, liberando o mesmo das suas funções

clássicas de empresário industrial”. A sociedade anônima permite o controle sobre uma

enorme massa de capital desconcentrada, pois a partir do desenvolvimento do sistema de

crédito e da transformação do capital em mercadoria-capital, pequenas frações de valores

monetários podem ser aplicados como cotas-partes (ações) que garantem um retorno líquido

(juros) sobre cada valor aplicado e que “pode ser recuperado através da venda dessas ações

em um mercado próprio, a Bolsa de Valores” (KON, 1999, p. 51-52).

A centralização aumenta a composição orgânica do capital, faz aumentar a

produtividade e é inerente a uma fase mais avançada de capitalismo. Uma grande sociedade

anônima, controlada por um consórcio de capitais financeiros investe cada vez mais na

composição técnica do capital, visando uma maior produtividade e elevação do ganho de

mercado. Isto acirra a concorrência, porém não mais entre pequenos capitalistas individuais

que lutam através do preço, mas sim entre conglomerados que disputam mercados e,

principalmente, vislumbram lucros extraordinários. À medida que, os processos de

concentração de capital, e principalmente, o processo de centralização de capital intensificam

42

as suas dinâmicas, as operações de produção e troca no capitalismo se expandem para

formação de um sistema do capital em escala mundial.

Uma forma de apreender os movimentos do capital em uma escala mundial está

relacionado, a observar a mobilidade do capital, a partir das “metamorfoses” do capital

mercadoria, capital monetário e capital produtivo.

A forma expansiva e ampliada do capital já era apontada por Marx nos Grundrisse,

pois, ele declara “a tendência de criar um mercado mundial está imediatamente dada no

próprio conceito de capital. Cada limite aparece como barreira a ser superada” (MARX, 2011,

p. 332), sendo assim, a integração espacial é um processo imanente ao sistema capitalista, e

ganha concretude, à medida que, os sistemas de transporte e comunicação passam a estar

conectados em prolongadas redes, que permitem concatenar um grande número de

informações e projetos, assim como, bens materiais e força de trabalho, resultando relativa

mobilidade.

A mobilidade do capital em relação a integração espacial compreendida pela

perspectiva dos ciclos de reprodução do capital, reforça a abrangência da teoria do valor e,

desse modo, determina o espaço como um atributo de todos os “valores de uso”, como

assinala Harvey “a produção de mercadoria converte os valores de uso em valores de uso

social. Então temos de considerar como os atributos espaciais materiais dos valores de uso a

localização em particular” (HARVEY, 2013, p. 479).

Nesse sentido, assim como a produção de mercadorias envolve a relação entre valor

de uso, valor de troca e valor, consequentemente, as configurações espaciais, na dimensão

social, também reflete essa mesma caracterização das três dimensões do valor.

Portanto, como a teoria do valor atribui características do processo de produção de

mercadorias a forma como o espaço é gerido pelo capital, aduz que, o caráter entre a

mobilidade do capital e a integração espacial contribui para compreensão do processo de

formação do capital transnacional. Para compreensão da dinâmica da formação do capital

transnacional assinala-se o processo do capital como mercadoria, como dinheiro e processo de

trabalho.

Na dimensão do capital mercadoria, o sistema de transporte e comunicação exerce

um relevante papel, pois, ele cria as vias pelos quais as mercadorias, na forma de capital,

acessam mercados locais e mercados distantes da origem de sua produção, desse modo, a

43

indústria de transporte e comunicação atua possibilitando ao capital mercadoria, a “mudança

de localização17

” e a ampliação dos horizontes para realização do mais-valor.

O aumento na produtividade da indústria de transporte tem implicações diretas na

estrutura de produção e circulação de mercadorias, pois, à medida que, a eficiência no sistema

de transporte se desenvolve, isso repercute em melhoras no manuseio e na necessidade de

estoques de mercadorias, tanto na forma de matéria-prima, como na forma de capital

mercadoria, ou seja, produtos acabados, isto consequentemente, potencializa o uso dessa

parcela do capital que hora estava ineficientemente empregado.

O avanço na estrutura de transporte e comunicação contribui intensamente para

diminuir o tempo de percurso do capital mercadoria e, portanto, aproximar distantes

mercados, o mesmo é dizer, “a aniquilação do espaço pelo tempo”.

Nessas condições, o desenvolvimento da indústria de transporte em relação ao ganho

de eficiência das estruturas de estoques e o encurtamento das distâncias entre os mercados,

oriundo da velocidade com que as mercadorias chegam aos seus destinos, depreendem-se

fatores importantes que possibilitam a transferência das plantas de produção para localidades

com maior vantagem para a valorização do capital.

O ciclo do capital produtivo foi amplamente tratado por Marx no livro I do capital, e

mostrou que a origem do mais-valor advém do processo de trabalho, ou seja, no momento que

a classe trabalhadora aplica sua capacidade de trabalho e movimentam determinados meios de

produção, e tudo isso, num tempo de trabalho socialmente necessário, e sendo assim, a

resultante desse processo é transformação de “material da natureza em produção de valores de

uso sociais”.

Toda produção capitalista acontece em um lugar específico, desse modo, toda

produção de mercadoria está vinculada a uma localização18

particular durante o processo de

17 Sobre a mobilidade do capital mercadoria Harvey exemplifica “alguns tipos de mercadorias são mais fáceis de

mover que outros, e a facilidade de movimento é relativa também a capacidade de transporte (o uso de

contêineres tornou possível o transporte de água engarrafada da França ou das Ilhas Fiji para o Estados Unidos)” (HARVEY, 2014, p. 46). 18 A teoria econômica convencional compreende os aspectos de localização da produção capitalista, como fatores

de localização empresarial, desse modo, a teoria da localização aduzida por Walter Isard assinala que a ocupação

do espaço geográfico é baseada pela dinâmica empresarial, e essa por sua vez, é baseada nas atividades do

individuo maximizador racional (homo economicus). Relativo a isso, a teoria econômica convencional,

inicialmente, realizou trabalho com relação à localização de empreendimentos agrícolas em que fazia uma

relação da renda da terra com a distância, isto é, quanto mais distante do centro de comercialização, o excedente

do produtor seria menor, dado pelo custo de transporte e gastos com a produção. Posteriormente, a analise dessa

perspectiva, se estendeu para a questão da localização industrial, teoria do lugar central e o uso da terra. A teoria

da localização é tratada nessa perspectiva por vários autores como Johann Heinrich Von Thuren, considerado o

precursor da referida teoria. Outros autores também tem desenvolvido o tema como, Alfred Weber, François Perroux, August Losch, e Walter Christaller. Todavia, na perspectiva marxista a localização da produção

responde as condições de geração de mais-valor.

44

trabalho, nesse sentido, o que se pretende destacar aqui são os determinantes que assentam as

circunstancias pertinente a localização da produção no capitalismo.

O que determina a mobilidade do capital produtivo não é uma situação trivial, pelo

contrário, as determinações da localização da produção capitalista requerem, em certa medida,

a conciliação de interesses diversos, entre o capitalista individual, a classe capitalista e a

classe trabalhadora.

Todavia, Harvey assinala alguns aspectos que são determinantes no processo de

mobilidade do capital produtivo como, “custo do capital constante e variável, transporte para

o mercado com demanda efetiva suficiente, custo do capital que rende juros, custo e

disponibilidade de uma ampla série de serviços de apoio e preço da terra” (HARVEY, 2013,

p. 495). Esses aspectos estão extremamente concatenados com a perspectiva do capitalista em

mudar a localização da produção, considerando, se esses aspectos estabelecem uma maior

vantagem na produção de mais-valor.

Portanto, os capitalistas são impelidos pelas “leis coercitivas da concorrência” a

buscar as vantagens que proporcionam um ganho com mais-valor relativo, desse modo, dois

aspectos criam as condições necessárias para que o capital alcance esse mais-valor relativo,

adotando “tecnologias superiores” ou “localizações superiores”.

Em consonância com a dinâmica da produção de mais-valor relativo destaca-se que,

a competição territorial assenta as condições de mobilidade geográfica da produção

capitalista, pois, decorre desse aspecto que, as condições de localização vantajosas para a

produção capitalista, o mesmo é dizer, a produção de mais-valor relativo, conduzem

determinada massa de capital produtivo de uma localidade para outra, e nesse sentido, criam-

se os meios pelos quais, os elementos que favorecem a formação de capital transnacional, se

consolidarem, a partir dessa dinâmica.

Nas condições modernas, a mobilidade do capital monetário é a mais fluida de todas

as formas do ciclo de capital, apresentadas nos esquemas de reprodução. E o desenvolvimento

das técnicas de transferências de informações é vital para eficiente mobilidade do capital

monetário. Esse tipo de capital, contém a característica de fluir por varias parte do mundo sem

encontrar grandes barreiras materiais que, o impeça de atuar como capital e de coordenar a

produção e a troca de mercadorias.

Entretanto, para que o capital monetário circule cada vez mais sem obstáculos, um

sistema de crédito deve ser estabelecido com mecanismos que possibilitem a diminuição das

45

barreiras que impede a livre19

circulação do capital monetário, pois, cada estado-nação possui

uma unidade monetária diferente, e levantando assim, barreiras internacionais para circulação

do capital monetário.

Para mediar essa situação, o sistema capitalista, cria acordos supranacionais, taxa de

câmbio para intermediar trocas de moedas nacionais e incentiva o aumento das reservas em

ouro, com a finalidade de fortalecer as reservas em dinheiro dos bancos centrais, e nesse

sentido, proporcionar uma base monetária robusta, que ampare o sistema de crédito.

À medida que, o sistema de crédito consegue construir caminhos que contornam os

obstáculos para a mobilidade do capital monetário, mais oportunidades para esse capital

surgem, a fim de, atuar como comprador de meios de produção e força de trabalho,

resultando, portanto, em circunstâncias nas quais o capital monetário se veste de investimento

e vai aos mercados nacionais e internacionais exercendo sua atividade produtiva aqui e ali,

possibilitando, dessa maneira, a formação de capital transnacional.

Carece aqui destacar que, assim como o capital mercadoria, o capital produtivo e o

capital monetário apresentam características de mobilidade, a força de trabalho também aduz

particularidades de mobilidade, pois, o capital variável segue o capital pelo elo de

dependência da condição de assalariamento.

A partir da analise apresentada, avalia-se que, a dinâmica da concentração e

centralização de capital, reforça a compreensão de que o processo de acumulação capitalista é

inerentemente expansionista, e que a as “leis coercitivas da concorrência” concatenada com a

dinâmica do sistema de crédito, criam os meios pelos quais, a acumulação capitalista, na

perspectiva da centralização do capital é evidenciada. Desse modo, a centralização de capital,

alcança o volume e a velocidade de valorização do capital necessária, para constituir as

condições fundamentais da formação do capital transnacional.

Observados isoladamente os movimentos do capital mercadoria, capital produtivo e

capital monetário atuam na perspectiva de valorização particular, porém, considerando a

unicidade do capital, assinala-se, que cada movimento particular do ciclo do capital aduz

condições para formação do capital transnacional. Portanto, o capital transnacional ascende a

condição de um desses “absolutos modernos” que cresce, à medida que, o capital se expande,

e o faz por que, os investimentos são cada vez mais volumosos, a mobilidade do capital via

19 O acordo de Bretton Woods em 1944 é um exemplo dessas combinações internacionais. 730 delegados de 44

países, o Brasil entre eles, encontraram-se na cidade de Bretton Woods, estado de New Hampshire, nos Estados Unidos, para a Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas. O objetivo era urgente: reconstruir o

capitalismo mundial, a partir de um sistema de regras que regulasse a política econômica internacional.

46

sistema de crédito aceleram os processos e o estado capitalista orquestra as condições

necessárias para a entrada e permanência da produção capitalista.

Analisando os dados da economia na virada do século XIX para o Século XX,

diversos autores como Lenin (2002), Bukarin (1984) e Hobson (1981) já percebem uma

elevada concentração de capital produtivo, decorrente da simbiose entre o capital financeiro e

o capital industrial. Essa concentração da produção, para Lênin (2002), está intimamente

ligada à nova etapa do capitalismo, onde ele alcança uma nova fase de desenvolvimento e que

Lênin irá chamar de Imperialismo. As sucessivas crises decorrentes do aumento da

contradição entre a esfera da produção (com crescimento da oferta devido aos ganhos de

escala) e a esfera da circulação (problema de realização por insuficiência de demanda) tornam

a produção ainda mais concentrada ao passo que dificulta aos capitais menores sua

manutenção, em função da incapacidade de concorrerem com produtos de custo produtivo

inferiores aos das empresas maiores, culminando possivelmente em falência e aquisição pelos

capitais maiores, num processo de centralização do capital.

Como se pode perceber, a formação do capital transnacional pode ser compreendida,

a partir das considerações engendradas pela dinâmica da centralização do capital, pois, os

componentes relacionados a tal perspectiva, como concorrência intercapitalista e o sistema de

crédito, associado com o processo endógeno do capitalismo, que vem a ser, a busca incessante

pelo lucro, o mesmo é dizer, pela apropriação de mais-valor, acionam os movimentos do

capital para manter o seu processo de valorização, a fim de, alcançar as melhores condições

para tal ampliação de capital.

Portanto, se extrai dessa análise que a formação do capital transnacional responde,

em última estância, as limitações imposta ao processo de valorização do capital, advinda do

custo crescente com capital variável, nos países centro do capitalismo, da busca de uma

posição estratégica no capitalismo mundial, afim de, obter capital circulante exclusivo, da

estruturação do mercado capitalista mundial, que possibilitaram filiais de empresas

multinacionais servirem seus mercados com bens produzidos nas economias periféricas do

capitalismo, e, desse modo, consubstanciando assim, a dinâmica da centralização do capital, a

medida que, tais aspectos são orquestradas por grandes capitais, os quais são investidos de

volumosos investimentos que atendem as necessidades de valorização do capital.

Nesse sentido, o papel dos investimentos internacionais assume uma participação

relevante, dentro da dinâmica da centralização de capital associado a formação do capital

transnacional, pois, os fluxos de investimentos, em particular, o investimento estrangeiro

47

direto constituem uma nova dinâmica econômica, que capacita o capital buscar as condições

de viabilizar o lucro, a partir da internacionalização da produção.

Tomando-se por base, a economia brasileira, pode-se destacar que a presença do

investimento estrangeiro direto foi marcada, em vários períodos, de forma diferente, pois, na

metade do século xx, tais investimentos atuaram no processo de substituição das importações,

nos anos de 1990 o investimento estrangeiro direto foi responsável, por parte considerável do

processo de privatizações, e, desse modo, busca-se fazer uma análise, subsequente,

verificando o desempenho do investimento estrangeiro direto na economia brasileira, no

inicio do século xxi, remontando, a influência do papel do capital transnacional.

48

3 O CAPITAL TRANSNACIONAL E A DINÂMICA DO INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO NO BRASIL

Compreender a participação do investimento estrangeiro direto na economia

brasileira requer observar a dinâmica do capitalismo mundial, sendo assim, os movimentos de

transnacionalização do capital, o mesmo é dizer, de internacionalização, estão associados a

interação de elementos como, formação de uma economia mundial, interligada por uma

divisão internacional do trabalho, que possa ser articulada por um tipo de Estado que exerça o

poder de confluir os diversos interesses particulares, de muitas economias nacionais, em um

interesse “geral e sistêmico” do capitalismo, assim também como, o papel da empresas

multinacionais, que embora já marcavam presença no fim do século XIX, no entanto, foi

principalmente, no pós segunda guerra, que as empresas multinacionais apresentam um

atuação relevante.

Não é difícil notar que o capitalismo se desenvolve, a medida que, encontra

elementos que corroboram para o estabelecimento da ampliação e propagação das relações

sociais de produção, depreende-se, portanto, que o aspecto expansionista do capitalismo é

inerente ao seu próprio desenvolvimento. Seguindo essa compreensão, torna-se evidente que,

as formas de integração econômica internacional, cada vez mais necessária à expansão do

capitalismo, reorganizam e ditam o ritmo e a orientação do fluxo de capitais no mundo.

A essa situação de expansão do capitalismo, expressa absolutamente, na necessidade

de mobilidade do capital, a fim de, manter seu processo de valorização e ampliação, como

condição de sua existência, evidencia que, no modo de produção capitalista o processo de

acumulação de capital requer uma economia capitalista mundial. Nesse sentido, fica claro que

para o desenvolvimento do capitalismo, torna-se essencial articular meios que possam

favorecer o desencadeamento de uma economia internacional, tratada não enquanto forma

resultante do agrupamento de economias nacionais, e sim, como uma economia mundo

capitalista (DOWBOR, 1982; DOS SANTOS, 1993). De modo geral, a dinâmica de

internacionalização do capital compreendem aspectos, pertinente a um processo de produção

em escala mundial, e para tanto, é fundamental destacar os elementos que possibilitam a

instituição de um sistema capitalista mundial.

Nesse sentido, reforça-se aqui, a concepção de que, por um lado a concentração de

capital exerce poder de comando sobre determinada quantidade de meios de produção e uma

correspondente fração de força de trabalho, capaz de gerar, segundo a lei do valor, um

quantum de trabalho excedente, apropriado sem um equivalente pelo capitalista, por outro

49

lado, a centralização de capital tem a capacidade de incorporar para si os capitais os pequenos

e médios portes que orbitam ao seu redor.

A centralização de capital põe em marcha o processo de acumulação de capital em

ritmo acelerado, pois, a concorrência intercapitalista e o crédito possibilitam ampliar a

magnitude do capital, a fim de, constituir condições para atuação do capital monopolista.

Diante desse aspecto, é importante salientar que as próprias leis concorrenciais imanente ao

sistema capitalista, associado a força do sistema de crédito permitem a centralização de

capital realizar grandes empreendimentos econômicos, de modo que, se acumulação de capital

dependesse apenas do progresso de concentração levar-se-ia, bastante, tempo para realização

dos mesmo empreendimentos.

De todo modo, a dinâmica da concorrência intercapitalista e o impulso orquestrado

pelo sistema de crédito possibilita aos capitalistas dinamizarem investimentos de grande

escala, e com isso, coordenar sua estrutura de custo, viabilizando, dessa forma, a possibilidade

de movimentar cada vez mais, os enormes volumes de capitais necessários aos processos

produtivos modernos.

Sob a égide do processo de concentração e centralização de capital, a concorrência

entre capitalistas tende a avançar da disputa entre pequenos capitais locais, para uma

concorrência mais ampla, realizada por meio de grandes capitais monopolistas cuja finalidade

é abarcar a maior parcela do mercado para auferirem lucros crescentes. Observa-se também

que, o processo de centralização aumenta a composição técnica e orgânica do capital, e nesse

sentido, resulta num aumento da produtividade, caracterizando uma fase mais avançada do

capitalismo.

A dinâmica capitalista associada de um lado, pelo processo de concentração e

centralização de capital e do outro lado, pela concorrência intercapitalista implicam,

substancialmente, no estabelecimento do capital monopolista, pois, a medida que, a

magnitude do capital cresce, as pressões concorrenciais, também, crescem, portanto, aduz-se

aqui, a compreensão de que a interação desse dois aspectos acima mencionados criam um tipo

de empresa global.

É importante notar que, a formação do capital monopolista está concatenada com a

dinâmica das sociedades anônimas tratadas por Hilferding (1983), no momento em que, se

evidencia a atuação do capital industrial coligado com o capital financeiro, Decorre dessa

perspectiva que, o capital monopolista passa a ter uma performance mais incisiva no campo

internacional, principalmente, via suas sucursais.

50

Todavia, no jogo de interesse do capital, ou seja, na busca pelas melhores condições

de geração de lucro, os interesses de agentes externos como governos e outras empresas, em

nenhum momento, aventa-se, qualquer que seja a situação, a expectativa de que as filiais

possam atuar desconexas com as decisões das suas matrizes, nesse sentido, o capital

monopolista busca emplacar sua dinâmica no mercado internacional.

No âmbito do mercado internacional o processo de internacionalização de capital,

pode ser observado por intermédio dos aspectos pertinente a globalização, tanto pela ótica da

globalização dos mercados como pela ótica da globalização da produção, sendo assim, a esse

respeito, Sarfati assinala que “contemporaneamente, o fenômeno da globalização tem

contribuído de forma decisiva para impulsionar o processo de internacionalização de

empresas” (SARFATI, 2009, p. 80).

Contudo, ainda que, a globalização exerça um potencial relevante no processo de

internacionalização do capital, Trindade assinala uma característica importante com relação a

dinâmica da globalização e o papel das empresas multinacionais ao declarar “que no quadro

de globalização caminha-se para uma forma superior de competição monopólica, sendo que as

empresas multinacionais, mesmo produzindo de forma desterritorializada, continuam

concentrando, em bases nacionais, seus ativos estratégicos” (TRINDADE, 2014, p. 6).

Portanto, fica evidente que a globalização não opera de forma à integrar processos

produtivos, desse modo, apreende-se que a transferência de tecnologia, e no mesmo sentido,

procedimentos organizacionais, são mantidos nas matrizes, a fim de que, se preserve a

condição de monopólio.

Outro elemento que contribui para o processo de internacionalização de capital foram

os avanços tecnológicos, e, desse modo, permitiu ao capital se inserir em vários outros

espaços geográfico, principalmente, nos países periféricos, com vistas, para áreas que

pudessem oferecer condições de um retorno lucrativo vantajoso.

Sem dúvida, as mudanças tecnológicas e organizacionais permitiram avanços

relevantes para ampliar a dinâmica do capital, nesse sentido, serviram como catalisadores para

intensificar o processo de internacionalização de empresas.

Conectado com os aspectos dos avanços tecnológicos e a dinâmica capitalista,

Trindade reforça a ideia de que “os capitalistas são obrigados a introduzir mudanças

tecnológicas para não deixar brechas à entrada de possíveis concorrentes, sendo uma

estratégia para manter preços e conquistar lucros extraordinários, de forma a manter o

controle da tecnologia na mão de poucas empresas” (TRINDADE, 2014, p. 6). Significa então

51

que, essa barreira a entrada é uma limitação imposta pelos grandes capitais para restringir o

acesso de outros capitais, gerando com isso, também um ganho adicional com a criação de

mais-valor relativo em função do aumento da produtividade, que por sua vez está depende dos

avanços tecnológicos.

A combinação de monopólios concatenados com o desenvolvimento das forças

produtivas apresenta uma expansão crescente da produção e anunciam também, o aumento

quantitativo de filiais que atuando no exterior em unidades, cada vez mais complexas.

Portanto, a analise que se aduz aqui, segue no sentido de demonstrar que os movimentos de

concentração e centralização de capital, relacionado com a dinâmica de acirramento da

concorrência intercapitalista, orienta o entendimento, a fim de, evidenciar como o capital forja

as condições relacionadas tanto a formação de monopólio, como a internacionalização de

capital via empresas multinacionais.

Destaca-se, portanto, a interpretação de que a partir dos aspectos teóricos abordados

de concentração e centralização do capital, a expansão capitalista passa a integrar relações de

produção em escala mundial, evidenciando a constituição de economia mundo capitalista. A

partir dessa perspectiva, os espaços geográficos, enquanto territórios de reprodução do capital

passam a desempenhar papel importante na compreensão da estrutura contemporânea do

capitalismo.

3.1 – Economia Mundo Capitalista e o Capital Transnacional

A dinâmica de internacionalização do capital está além das simples trocas

internacionais, pois, constituí os aspectos de formação de um sistema produtivo mundial, o

mesmo é dizer, uma economia mundial, caracterizada como uma forma especifica dessa nova

dimensão do capital mundial e não uma extensão de determinada economia nacional. Nessa

perspectiva, depreende-se que o estudo da dinâmica do “sistema do capital mundial” é por

assim dizer, o estudo da acumulação capitalista em escala mundial.

Não se tem a intenção de aprofundar o debate aqui, sobre as condições iniciais

pertinentes ao processo de acumulação de capital em escala mundial, porém, cabe citar que

essa temática da acumulação capitalista em níveis mundiais está associada aos aspectos do

moderno sistema mundial, que foi amplamente apresentado por Immanuel Wallerstein, em

que o referido autor aduz três tipos de sistemas, a saber, os minisistemas que assinalam

formações sociais que constituem uma unidade econômica, política e cultural situada em

52

determinada área geográfica limitada, com uma divisão do trabalho desorganizada que produz

com dificuldades um excedente econômico. Os impérios-mundo são formações sociais que

altercam determinada unidade política, associando uma divisão do trabalho e modos de

produção redistribuitivos garantindo um excedente econômico suficiente para manter o

desenvolvimento da sociedade, e se apropriando desse excedente via o aparato estatal de

forma coercitiva. O moderno sistema mundial que introduziram a configuração dos aspectos

modernos da economia-mundo, como incorporação de novas áreas geográficas impelidas a

produzir bens de gênero básico e metais para cunhagem de moedas, criação de uma divisão

internacional do trabalho sob o controle direto ou indireto dos capitais europeus. Associado a

esse aspecto de formação de uma economia mundial Arrighi (1996), acrescenta que o papel

das cidades Estados como forma embrionária dos Estados nações foram decisivo para a

constituição desse moderno sistema mundial.

Para que o processo de acumulação de capital alcance a dimensão mundial, e

estabeleça de fato uma economia mundial, é necessário coordenar os mais variados e distintos

interesses de nações diferentes, e também, criar as condições para organizar uma divisão

internacional do trabalho capaz de espraiar cadeias de produção de mercadoria e fluxo de

capitais entre Estados nacionais.

Para mediar essa conformação entre a necessidade crescente da expansão da

produção capitalista e os choques de interesses particulares dos Estados nacionais, o mesmo é

dizer, das economias nacionais, assinala-se que “é fundamental a existência de um Estado

hegemônico, mediante o exercício de um poder hegemônico [a fim de] condicionar os

diversos interesses particulares ao interesse geral e sistêmico” (MARTINS, 2011, p. 53), pois,

a partir dessas articulações é possível mediar às relações econômicas internacionais, que por

sua vez, permite a estruturação de uma economia com perspectivas mundiais, a medida que,

são definidas regras para o comércio internacional, regras de circulação de capitais, moeda

internacional e mediação entre conflitos por parte dos Estados nações, isso porém de forma

extremamente contraditória, já que permanece a disputa e a concorrência entre diferentes

frações do capital, inclusive sob o ponto de vista da origem dos seus componentes primários

de concentração e centralização.

O “Estado hegemônico” exerce uma relativa capacidade de influenciar, ainda que por

um breve período de tempo, a sua superioridade produtiva, comercial e financeira sobre as

demais. A atuação desse Estado hegemônico compreende os aspectos de institucionalização

de uma dinâmica econômica internacional, e nesse sentido, observa-se que as bases para uma

53

organização do processo de acumulação de capital em escala mundial estão postas, pois, a

estruturação do mercado e a expansão da reprodução do capital na forma de Economia

mundo, aliado a presença de um “Estado hegemônico” cria a institucionalidade que permite

seu desenvolvimento sistêmico. Portanto, a acumulação internacional de capital não se

assenta, somente, com a produção de mais-valor impelida pela concentração produtiva,

dimensionada apenas numa determinada nação. Para que haja uma acumulação internacional

de capital, faz-se mister, a apropriação de mais-valor em escala internacional, e, para tanto,

Martins observa que “a institucionalidade criada pela intervenção mundializante do ‘Estado

hegemônico’ que garante a operacionalidade da divisão internacional do trabalho e da

economia mundial” (MARTINS, 2011, p. 56), possibilita alcançar uma exploração da força de

trabalho em escala mundial, e consequentemente, uma apropriação de mais-valor

internacional, sendo assim, se estabelece as condições para uma acumulação de capital em

nível mundial.

É importante notar que o Estado desenvolve um papel relevante, mesmo que relativo,

no processo de conformação da acumulação de capital em estância internacional, sendo, um

agente que busca articular, ainda que de forma limitada, a interação e acesso entre muitos

capitais, em diferentes espaços geográficos.

No processo de expansão capitalista, a atuação do Estado tem sido importante no

caso das economias tardias e periféricas, cuja finalidade é fazer uma integração dessas

economias tardias, com dinâmica de acumulação internacional, no entanto, cabe ressaltar a

existência da limitação do papel do Estado, vis-à-vis, as condições de coordenação

internacional do capitalismo, que se faz sob bases muito frágeis.

Sendo assim, a participação do Estado na dinâmica do capital internacional, atua no

sentido de articular, ainda que inibidamente, as condições de superação das situações que

limitam o processo de acumulação internacional de capital, pois, se por um lado o capital tem

necessidades mundiais, por outro lado, o capital é limitado pelos interesses das economias

nacionais onde opera. Para avançar nessa situação, a fim de, ver o capital mundial coexistir

nas economias nacionais é necessário o fiat político de cada país.

Destaca-se que a dinâmica do capital mundial exige elementos que aduz uma nova

compreensão das funções do Estado, dentro das economias nacionais, concatenados com o

sistema global do capitalismo, nesse sentido, assinala-se novas formas de dominações

econômicas e políticas realizadas através dos Estados nacionais Ocorre, portanto, que o

Estado, com toda sua limitação, busca articular a imposição do sistema do capital mundial

54

coordenado pela fração burguesa corresponde a esse capital mundial. Outro elemento

fundamental, que deriva dessa análise é a disputa de classe entorno do poder do Estado.

Assim, o processo de acumulação de capital em escala mundial, reclama a atuação de um

Estado centralizado que seja ao mesmo tempo nacional, porém, internacionalizado, capaz de

assentar uma lógica interna, a partir de uma ordem internacional.

Nesse contexto, a participação do Estado, como agente de integração das relações

sociais de produção, busca criar a configuração econômica e política oportuna, para proceder

de forma convincente, nas ações relacionadas ao desenvolvimento de uma economia mundial,

portanto, a atuação do Estado associado com o processo de expansão capitalista, segue no

sentido de mediar os interesses particulares de economias nacionais, em “interesses gerais e

sistêmicos”, e desse modo, possibilitando a dinâmica de mobilidade do capital, o que

corresponde, a um importante aspecto de desencadeamento dos movimentos do capital

transnacional.

Por outro lado, vale observar que os movimentos de mobilidade do capital estão

associados com a presença do capital transnacional, o mesmo é dizer, das empresas

multinacionais20

que se tornou mais evidente a partir do fim da segunda guerra mundial, e a

semelhança, da relevância que o Estado desempenhou no processo de conformação da

dinâmica internacional de acumulação de capital, o capital transnacional também ascende ao

nível de importância no contexto do processo de acumulação de capital em estância mundial.

Considera-se neste estudo uma relativa interação entre o Estado nacional e a

dinâmica do capital transnacional, na perspectiva assinalada por Souza (1985, p. 9) que trata

da atuação de ambos os agentes ao observar que “estes dois absolutos estão associados,

Estado e corporações transnacionais, o que um determina no campo econômico, o outro

realiza necessariamente no campo da política através dos Estados nacionais” e a medida que,

a interação entre esses dois entes se aprofunda, fortalece a compreensão de que a economia

mundial tende a ser influenciada por “Estados nacionais transnacionalizados”.

Para que o capital transnacional se apresentasse no palco da economia mundial, foi

necessário constituir um sistema de produção em escala mundial, o que foi potencializado

20 “a internacionalização produtiva definida pela utilização tanto de capital dinheiro como de capital produtivo

em outros países, não é um fenômeno novo, comumente datado da década de 1950 quando as empresas

estadunidenses deslocaram para Europa grande parcela dos seus investimentos produtivos. Os primeiros

investimentos produtivos no exterior remontam os finais do século XIX, aproximadamente a parti dos anos de

1880, firmas estadunidenses, inglesas e de outros países europeus, tinham antes da Primeira Guerra Mundial,

centenas de filiais fora de seus países. Essa constatação serve de apoio à afirmação de que o fenômeno das

empresas multinacionais não ficou evidente na década de 1950, mas em finais do século XIX quando a Singer, Corn Products, Siemens, Nestlé, Schneirder, entre outras ascenderam a condição de multinacionais” (BERTIN,

1978 apud SPOSITO e SANTOS, 2012, p. 24).

55

pela utilização de tecnologia avançada, e com isso, possibilitou aumentar a capacidade de

produzir toda sorte de mercadorias e serviços, dos mais elementares aos mais sofisticados, e

tudo isso, em uma escala de massa capaz de atender uma demanda mundial, e desse modo, tal

característica estabelece um marco no capitalismo, que não era visto, de forma considerável,

até meados da segunda guerra mundial. Assim, o capital transnacional articula meios para

estabelecer uma produção, cada vez mais, constituída para explorar as condições locais de

acumulação, estabelecendo bases nacionais de reprodução dos capitais centralizados desde a

matriz, seja para atender demandas locais ou consumo internacional, sendo assim, o capital

transnacional precisa superar todos os empecilhos e limites nacionais à sua expansão, a fim de

seguir sua condição de reprodução em escala universal.

Sobre as condições para se colocar, efetivamente, em vigor uma produção em escala

mundial, o que também pode ser denotado como processo de internacionalização do capital, é

importante chamar atenção para a instituição de um “sistema do capital mundial” ou sistema

produtivo mundial, pois, essa dinâmica torna-se condição essencial para os movimentos de

internacionalização do capital, como foi definido por Souza (1985, p. 11) que o “sistema do

capital mundial se articula em escala mundial sob liderança das grandes corporações que

submetem ao seu processo milhares de unidades produtivas de tamanho médio e pequeno,

independentemente de sua localização geográfica, nacionalidade ou propriedade”.

Em relação a estrutura do mercado internacional e, especificamente a concorrência

intercapitalista, pode-se observar que no quadro de globalização caminha-se para uma forma

superior de competição, sendo que as empresas transnacionais, produzindo de forma

desconcentrada em distintos lugares, continuam concentrando, em bases nacionais, seus

recursos estratégicos. Essa afirmativa já muito colaborada por diversos autores21

reforça a

tônica que a globalização não integra estrategicamente as estruturas produtivas e sim mantém,

ou reforça os circuitos de subordinação ou dependência internacionais, porém integra numa

justaposição a capacidade de operação e gestão das empresas multinacionais ao nível global,

de tal forma que a elevada flexibilidade permitida pela gestão em tempo real em diversas

unidades operacionais espelhadas pelo planeta permite otimização de custos e ganhos de

escala.

Portanto, fica evidente que o grupo de empresas que produzem mercadorias

universalizadas e em escala mundial, constitui o que se define como sistema do capital

mundial. Isso significa dizer que a produção nacional não é mais o tipo de produção

21 Conferir, entre outros, Dupas (2005), Chesnais (1996), Serfati (1998).

56

dominante, pois, a produção em escala mundial dita as regras tanto em países desenvolvidos,

como em países atrasados. A dinâmica do capitalismo que se quer enfatizar aqui está em

assinalar as características particulares de um processo produtivo, cujo arranjo se dá em nível

mundial, e a expressão visível dessa dinâmica são as Empresas Multinacionais (EMN’s) que

manifestam de forma consistente os movimentos de transnacionalização do capital.

Cabe aqui uma referencia rápida à questão terminológica. Na literatura sobre

internacionalização do capital encontra-se vários nomes para designar o grande capital

transnacional, como empresa multinacional, corporação global, empresa internacional. Sem

aprofundar o debate, é importante assinalar que para fins desse trabalho as terminologias22

aqui utilizadas correspondem termos equivalentes.

3.2 – Empresas Transnacionais e o Padrão de Reprodução do Capital

O desenvolvimento do capitalismo se dá enquanto processo de reprodução, que se

expande do interior das economias nacionais, para além de suas fronteiras, configurando uma

nova dimensão do processo de produção capitalista, e nesse sentido, a dinâmica das EMN’s

correspondem a esta nova magnitude do capital, e desse modo, reforçando a compreensão de

que a produção capitalista se espraia em estâncias mundiais, sendo assim, caracteriza-se que

os espaços conjuntos das economias nacionais passam a ser o espaço continuo de realização

do padrão de reprodução do capital ao nível global, ou seja, a dinâmica de interação entre

capitais produtivos, capitais na forma monetária e capitais-mercadorias que ao atuarem

ciclicamente, como já exposto anteriormente (Capitulo 1), estabelecem desde um sistema de

propriedade transnacional a lógica mundializada do capitalismo do século XXI.

A Nova Divisão Internacional do Trabalho tem uma grande tônica no formato em

rede das empresas globais como mostra Chesnais (1996), sendo que cabe aos países centrais a

produção de partes e componentes de alto valor agregado e em pesquisa e desenvolvimento

para gerar os conhecimentos produtores de inovação tecnológica (MARTINS, 2011, p. 118),

por sua vez os países dependentes ou periféricos participam intensivamente do mercado

mundial dentro de uma combinação que se torna crescentemente integrada pelo planejamento

22 Sobre essa questão a respeito da terminologia do capital internacional, Souza assinala “de modo geral a

questão conceitual se liga ao problema da natureza nacional internacional, ou supranacional do próprio sistema

capitalista. Assim autores que veem o sistema mundial privilegiando o caráter dominante do capital americano

não usar o nome corporação multinacional, evitando que o adjetivo multinacional dilua o caráter dominante americano do capital, tais autores preferem usar o termo transnacional, empresa internacional” (SOUZA, 1985,

p. 22).

57

das empresas globais e, em função dessa funcionalidade, sujeitos a elevação de sua

vulnerabilidade externa, como se mostrará em item posterior.

Concebendo a noção de capital mundial, como a concepção do sistema produtivo

mundial notabiliza-se a relevância que as EMNs passam a exercer neste contexto, no entanto,

cabe destacar que, a atuação das EMNs, como forma organizativa fundamental dessa

dinâmica do sistema produtivo mundial, estudadas de forma isoladas ou no somatório de suas

atividades, não pode conferir, substancialmente, uma explicação total sobre a dinâmica do

sistema produtivo mundial. Procede deste entendimento que a dinâmica do capital mundial

poderá ser definida, somente, se considerar o processo global, por meio do qual, o capital

realiza o seu processo produtivo em escala mundial, através, da atuação e articulação do

conjunto das EMNs em nível internacional. A partir de então, evidencia-se, de que forma e

em que áreas do setor produtivo o capital mundial se realiza.

Uma primeira caracterização dos movimentos do capital mundial está associada aos

aspectos de monopolização23

e oligopolização, como ambientes onde o capital mundial se

realiza. Essa característica de surgimentos de monopólios e oligopólios é endógena no sistema

capitalista, todavia, somente, capitais com magnitude mundial tem a possibilidade de

participar de concorrências internacionais, sendo assim, estão excluídos os médios e pequenos

capitais nacionais, que tem suas atividades relegadas e circunscritas a um espaço produtivo

local.

Uma segunda caracterização, de acordo com as perspectivas da dinâmica do capital

mundial, reside no fato da articulação em nível mundial, de capitais de diferentes magnitudes,

porém, coordenado pela atuação do capital mundial, e desse modo, com vistas à realização do

sistema produtivo mundial, sendo assim, constitui-se dentro das economias nacionais uma

rede de produção nacional, que visa atender ao sistema produtivo mundial. Segue a

compreensão de que, o sistema produtivo nacional opera em função do sistema produtivo

mundial. Nesse sentido, a presença das EMN’s tendem a ser mais incisiva nos setores ligados

a produção de bens de capital, particularmente o de alta densidade tecnológica, setores ligados

a produção de bens de consumo duráveis e a setores ligados a exploração de recursos naturais

estratégicos a produção industrial em dimensão mundial.

23 Segundo as formulações de Marx e Lênin o processo de monopolização no capitalismo é caracterizado “pela

produção de mais-valia relativa, acompanhada da centralização do capital e do desenvolvimento das instituições

de crédito para facilitar essa centralização. Começou assim, a época conhecida como capitalismo monopolista,

em que a produção em escala cada vez maior (concentração) criou a tendência à monopolização em escala nacional e internacional. [Marx e a posteriori Lênin, destacam] que esse processo foi acompanhado pela

intensificação da concorrência” (TOM BOTTOMORE, 2012, p. 278).

58

O processo de transnacionalização do capital, observados em países de economias

atrasadas tem como parâmetro o assentamento da participação das EMNs, combinado com

fatores tecnológicos, que são resultantes da centralização dos capitais, dessa forma são

estabelecidos na matriz, o domínio tecnológico, a sua potencial transferência para outras

localidades, sendo assim, por sua vez, esses capitais de tecnologia já maturadas podem

continuar mantendo o processo de acumulação24

e, como assinala Souza (1985, p.71) “o nível

de desenvolvimento do modo de produção capitalista [da economia local] e a natureza e

magnitude dos recursos naturais, [assim como], condições sociais e políticas oferecidas ao

processo de internacionalização do capital”, constituem aspectos relevantes para

transnacionalização do capital.

Gráfico 01. Evolução de IED fluxo entrada, por continente de 1970 – 2015, em UU$ bilhões

Fonte: UNCTAD (1970 - 2015). Elaboração própria.

A América Latina25

, em particular, o Brasil apresentam essas características

assinaladas acima, e, por conseguinte, se tornaram alvos do processo de transnacionalização

do capital, e por isso, constituem ambientes de grande atuação das EMNs. Uma forma de

24 De Oliveira (1977) assinala que apesar do padrão de acumulação da economia brasileira, não conseguir

concretizar, o setor produtor de bens de capital, a participação das empresas multinacionais se fazem presente

desde meados do governo Kubitscheck, como, Volkswagen, Ford, General Motors, Nestlé, Sony.

25 Segundo estudos realizados por Sposito e Santos, destaca-se que em 1970 “na lista das 30 maiores empresas

multinacionais do terceiro mundo, por assim dizer de economias atrasadas, estavam presentes companhias do

Brasil e da Coréia do Sul, [...] cerca de 14 empresas possuíam sede na América Latina, ao passo que na Ásia estavam situadas 10 companhias” (SPOSITO e SANTOS, 2012, p. 40). Ressaltando assim, a participação da

América Latina no processo de transnacionalização do capital.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

1970 1980 1990 2000 2010 2015

Africa America Asia Europe Oceania

59

observar essa dinâmica se traduz no comportamento dos Investimentos Estrangeiros Diretos

(IED) no continente Americano, conforme demonstra o Gráfico 1. Do total de IED fluxo26

entrada para o continente americano, destaca-se o seguinte comportamento, em 1970 41,03%;

em 1980 55,86%; 59,06 em 1990; 71,70% em 2000; 78,62% em 2010 e 72,16% em 2015.

Assinala-se, portanto, que o Brasil tem desempenhado grande participação na atração de IED

para o continente americano.

Como já assinalado, a internacionalização do capital mundial requer certo nível de

desenvolvimento capitalista, nos país onde o capital mundial deseja se estabelecer, observa-

se, portanto, que a dinâmica de internacionalização do capital, buscam articular os sistemas

produtivos nacionais aos interesses e necessidades do capital mundial, desse modo, implica-se

dois aspectos importantes, tratados por Souza.

O primeiro aspecto diz respeito a “implantação de um sistema produtivo operado

diretamente pelo capital mundial em função de uma estratégia global [o segundo aspecto trata

da] articulação de capitais nacionais de diferentes magnitudes operando como unidades no

processo produtivo do capital mundial” (SOUZA, 1985, p. 74).

Sobre o primeiro aspecto, apreende-se que os movimentos de internacionalização do

capital se dão por meio de criação de empresas pelo capital mundial, ou seja, pela implantação

direta de EMNs , como também, pela compra de empresas nacionais, que atuam no setor de

interesse do capital mundial, id est, por meio de privatizações e processos de fusão e aquisição

de empresas.

A respeito do segundo aspecto, tomado como referencia a posição do processo

produtivo das economias nacionais, apreende-se também, que o capital mundial influencia,

determinantemente, o capital nacional, a ponto de estabelecer uma associação na condição de

subordinação do setor produtivo ao interesse da capital mundial, e em outros casos estabelece

de fato uma integração do setor produtivo do capital nacional as ordens do capital mundial.

Em ambos os aspectos, o foco central é expor o processo de apropriação e integração

do setor produtivo das economias nacionais por parte do capital mundial, desse modo, deriva-

se dessa análise a diminuição da autonomia econômica por parte dos países que passam a

integrar o processo produtivo do capital mundial, como tem sido, o caso da América Latina e

em particular o Brasil.

Em Relação a dinâmica entre capital internacional e o capitalismo brasileiro assinala-

se a consideração de Oliveira (2003, p. 74), “sobre o papel do capital estrangeiro no Brasil e

26 Dados de IED fluxo entrada, para América Latina foram extraídos da base de dados UNCTAD.

60

sobre as relações entre o capitalismo que se desenvolveu aqui e o capitalismo internacional,

[...] a expansão do capitalismo no Brasil27

é impensável autonomamente, isto é, não haveria

capitalismo aqui se não houvesse capitalismo mundial” (OLIVEIRA, 2003, p. 74).

Até aqui, tem se delineado os contornos dos movimentos de expansão do

capitalismo, medidos em termos da dinâmica do capital mundial, sendo assim, a expressão

visível da mobilidade do capital transnacional ganha forma nas ações das EMNs, como se tem

até então abordado. No entanto, a internacionalização do capital também é tradada,

teoricamente, a partir de outras facetas, cujo enfoque está centrado nas atividades das EMNs e

na globalização.

Algumas perspectivas teóricas compreendem a dinâmica de internacionalização do

capital, como resultante, apenas, do empreendedorismo das ações das EMNs, outros

arcabouços teóricos dão ênfase ao papel desempenhado pela globalização como elemento

explicativo relevante, para apreender os movimentos de mobilidade internacional do capital.

Desse modo, destacam-se três facetas teóricas que reclamam pra si à condição

elucidativa da internacionalização do capital, na perspectiva da relação entre o capital

transnacional e a dinâmica das EMNs.

Uma primeira abordagem teórica denominada Teoria das Formas de Atividades e

Organização das Multinacionais (TFAOM) dedica-se a descrever as nuanças da

operacionalização das EMNs, destacando aspectos de como elas se organizam, como operam,

onde opera. Considerando essa perspectiva, a TFAOM interpreta a atuação das EMNs,

tomadas individualmente, como capaz de compreender a essência do fenômeno de

internacionalização do capital.

A Teoria das Formas de Atividades e Organização das Multinacionais, também

conhecida como teoria descritiva apresentada por Souza estabelece que “o fenômeno das

EMNs é uma consequência das transformações organizativas operadas ao nível das empresas

individuais. A capacidade organizativa e a habilidade gerencial são vistas como elementos

27 Sobre a relação entre o capitalismo mundial e o capitalismo que se desenvolveu no Brasil, Oliveira aprofunda

a tese de que, não obstante, a expansão do capitalismo no Brasil seja um reflexo do capitalismo mundial,

contudo, destaca Oliveira “as transformações que ocorreram desde de 1930, a expansão do capitalismo no Brasil

foi muito mais resultado concreto do tipo e do estilo da luta de classes internas que um mero reflexo das

condições imperantes no capitalismo mundial. Em outras palavras, com a crise dos anos de 1930, o vácuo

produzido tanto poderia ser preenchido com estagnação – como ocorreu em muitos países da América Latina e

da outros continentes de capitalismo periférico – como com crescimento, este que se deu no Brasil, pôde se

concretizar porque do ponto de vista das relações fundamentais entre os atores básicos do processo existiam condições estruturais intrínsecas que poderiam alimentar tanto a acumulação como a formação do mercado

interno” (OLIVEIRA, 2003, p. 74).

61

determinantes para expansão do capital” (SOUZA, 1985, p. 88), desse modo, quando essa

característica é exercida em escala mundial resulta na concretização das EMNs.

De acordo com a teoria descritiva, as características organizativas desenvolvidas no

interior de determinadas empresas podem fazer com que elas venham a ascender a condição

de EMNs, daí em diante, a estrutura empresarial cria possibilidades de coordenar grandes

volumes de capital. Sendo assim, as formas organizativas exercidas pelas empresas são a

explicação final e causal para o fenômeno das EMNs, e, por conseguinte, essa teoria

descritiva se apresenta como uma explicação para o processo de internacionalização do

capital.

O processo moderno de produção que incorpora tecnologia e influencia na

reestruturação dos procedimentos organizacionais, associados chamada tecno-estruturas28

constituem elementos importantes para entender, de acordo com a teoria descritiva, o

processo de internacionalização do capital, cujos objetivos fundamentais são, proteger as

EMNs minimizando riscos que podem vir dos trabalhadores, consumidores e governo e

também, de afirmar o objetivo de crescimento e expansão da produção e da venda, de onde

resulta a aglomeração.

No entanto, cabe ressaltar que esse tipo de enfoque colabora para esconder pelo

menos dois aspectos sobre a transnacionalização do capital. Primeiro, o processo produtivo

em escala internacional é quem determina a dinâmica do capital mundial, sendo assim, o

sistema do capital mundial não é uma resultante da soma das EMNs. Segundo, a referida

teoria, a descritiva, obscurece a relação de classe entre capital e trabalho, o que impossibilita a

compreensão do funcionamento e expansão das EMNs.

Uma segunda faceta teórica que trata da internacionalização do capital, diz respeito,

ao modelo do ciclo do produto aduzido por Vernon29

, que consiste em apresentar a dinâmica

das EMNs, a partir dos estudos dos produtos individuais, considerando que, os produtos

comumente passam por um ciclo, de iniciação, crescimento vertiginoso, desaceleração e

declínio.

28 Como destaca Souza, “a tecno-estrutura se compõem dos execultivos das corporações, advogados, cientistas,

engenheiros, economistas, controladores, publicitários, e homens do marketing. Elas tem seus aliados e satélites

nas firmas de advocacia, agencias de publicidade, consultorias, empresas de contabilidade, escolas de economia

e engenharia e outros setores da universidade” (SOUZA, 1985, p. 90). 29 Sobre a teoria do ciclo do produto de Vernon, Sartfati contribui da seguinte forma, “os produtos passam por

um ciclo de desenvolvimento, no qual são desenvolvidos e inicialmente vendidos. Quando o produto atinge a

maturação ele é largamente consumido em seu mercado natal e exportado [...], dessa forma a empresa abre uma

plataforma de produção em um país (especialmente em desenvolvimento) cujo os custos de produção sejam mais

baixos do que em seu mercado de origem e passa a produzir tanto para seu mercado receptor, quanto para exportação para o país natal. Finalmente, [...], seu consumo passa a diminuir lentamente, primeiro no seu país

natal, e depois, no país receptor, até que a linha de produção é extinta” (SARFATI, 2009, p. 78).

62

Nesse sentido, a teoria do ciclo do produto, se apoia na combinação entre inovação e

exportação, a fim de, assinalar os mecanismos necessários, para que muitas empresas se

enquadrem na condição de produzir seus bens fora do seu território natal e, com isso,

passarem a servi seus mercados nacionais e internacionais, a partir do estrangeiro.

No tocante as atividades das EMNs, o modelo do ciclo do produto oferece uma

explicação para internacionalização do capital, baseado nos estímulos provocados pelo

mercado mundial à novos investimentos, concatenado com a ampliação dos ciclos do produto.

Portanto, a influência da dinâmica do mercado mundial, sobre novos investimentos, com

vistas, a um alargamento dos ciclos dos produtos é central para impulsionar os movimentos

das EMNs.

Percebe-se, então, a partir do modelo do ciclo do produto, que a internacionalização

do capital gerada através das EMNs reage vis-à-vis aos estímulos e problemas apresentados

pelo mercado mundial, desse modo, se as EMNs encontram vantagens no mercado mundial

como baixo custo do trabalho, de energia ou matérias-primas, logo, a disposição para produzir

no estrangeiro é tida como certa. Decorre dessa analise que, as EMNs tendem a se deslocar

das economias desenvolvidas para economias em desenvolvimento.

Figura 01: Teoria do ciclo do produto de Vernon.

Fonte: Adaptado de Sarfati (2009, p. 79)

Uma característica importante no modelo do ciclo do produto de Vernon, reside no

fato de ser elaborado com um ponto de referencia real, id est, o referido modelo de Vernon

63

está apoiado na análise do processo produtivo, todavia, declara de Sousa “a sua debilidade

reside no pressuposto de que os cinco estágios do ciclo são necessidades naturais do processo

produtivo, o que está longe de corresponder à comprovação histórica disponível” (SOUZA,

1985, p. 96).

A terceira concepção teórica que aduz o processo de internacionalização do capital

está associada ao processo de globalização, o qual, em consonância com essa perspectiva,

influencia a lógica de ação das corporações internacionais, isto é, das EMNs, nesse sentido, a

dinâmica da globalização dos mercados e da produção são elementos centrais para entender

esse processo.

Antes de avançar nesse ponto, cabe salientar que a globalização é um fenômeno

político, social e econômico que tem sido largamente estudado pelos variados ramos das

ciências sociais, pode-se apreender também, que a dimensão desse fenômeno se espraia,

consideravelmente, por todos os aspectos das relações humanas, pertinente à economia,

política, meio ambiente, educação, cultura, gastronomia, entre outros.

Dado seu caráter internacional a conceituação da globalização é encarada como um

processo que rompe com as barreiras entre países, consentido pelos avanços da tecnologia de

comunicação e de transportes, que possibilitou a intensificação de fluxos de bens, serviços,

recursos e pessoas.

A influência da globalização em quanto fenômeno de proporções mundiais exige

uma nova releitura de aspectos socioeconômicos, e desse modo, ela chega a por em discussão

conceitos como, poder do Estado, soberania, territorialidade, e nesse sentido, depreende-se

que a dinâmica da globalização faz uma nova reformulação das relações internacionais e,

portanto, cria tensões, principalmente, no que diz respeito, as mudanças de autoridades

nacionais para transnacionais.

Sobre a definição de globalização Sarfati apreende que “a internacionalização é

definida como o aumento da área geográfica para atividade econômica [...], a globalização

refere-se ao alto grau de internacionalização refletido no aumento do comércio, investimentos

e fluxos de capitais gerando laços cada vez maiores entre países” (SARFATI, 2009, p. 82). A

partir dessa perspectiva, depreende-se a dinâmica de internacionalização do capital orientada

pela globalização dos mercados e da produção.

A medida que, a globalização do mercado se intensifica, o processo de fusão dos

mercados domésticos em mercados mundiais ficam mais evidente, e diante desse integração

dos mercados a nível mundial, os Estados exerce um importante papel, pois, eles atenuam as

64

tensões econômicas entre diferentes países, por intermédio de, redução de barreiras tarifárias e

não tarifárias, através de acordos que podem ser bilaterais, quando envolve apenas duas

economias, mediante a situações que tendem a ser favoráveis para ambas, e acordos

multilaterais, comumente realizados na OMC30

(Organização Mundial do Comércio) como

GATT (Acordo Geral de tarifas e Comércio) para citar um exemplo, e entre blocos

econômicos como Nafta, Mercosul, BRICS, entre outros.

A globalização do mercado fortalece a ciranda da concorrência, porém, em níveis

globais, sendo assim, as empresas são forçadas, constantemente, a buscar meios para diminuir

custos e otimizar a produção. Nessas condições as EMNs tendem a padronizar seus produtos

criando uma demanda mundial por eles, pois, empresas como Coca-Cola, Sony, LG, HP,

Apple, empresas que atuam com commodities agrícolas ou minerais, empresas no setor de

informática, farmacêuticos e indústria da aviação tem produtos padronizados que contemplam

uma demanda mundial.

Juntamente com a globalização do mercado se tem a globalização da produção.

Como cada vez mais, as empresas competem em estâncias globais elas precisam reduzir ao

máximo seus custos de produção, a partir de então, as grandes corporações decidem se

internacionalizar para continuar no mercado, e seguros de que, independente de onde a

empresa produzirá, a globalização do mercado garantiu a demanda mundial.

Essa concepção teórica de internacionalização do capital por via da globalização do

mercado e da produção, não observa que, sua característica mundializante não é sinônimo de

homogeneidade e nem equidade econômica, pois, em muitos aspectos a globalização

aprofunda os abismo entre riqueza de um lado e pobreza de outro. Deriva-se dessa analise que

a globalização é um elemento assessoria na interpretação da internacionalização do capital,

pois, o elemento central, no capitalismo, referente a mobilidade de capital está intrínseco na

sua dinâmica própria, o processo de acumulação de capital.

A partir desse ponto se aduz outra perspectiva de internacionalização do capital, que

está ligada diretamente as relações econômicas que as empresas estabelecem em outros

países, por meio de Investimento Estrangeiro Direto (IED), associação com firmas em outros

países mediante joint venture e nos fluxos de capitais financeiros.

30 Para se ter uma ideia da amplitude que os acordos comerciais exercem, a fim de, dinamizar as relações

comerciais internacionais menciona-se os estudos de Thorstensen que declara “de janeiro de 1995 a setembro de

2011 foram apresentados ao comitê de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS) [da OMC], 9.021 notificações

regulares, 1.345 notificações emergenciais e 2.980 adendos e correções à notificações regulares e emergenciais.

Os membros com maiores números de notificação regulares ao comitê são: Estados Unidos com 2.192 notificações, Brasil com 775, China com 592, Canadá com 567, Coréia com 338” (THORSTENSEN, 2012, p.

129).

65

Nesse contexto, observa-se que os tipos de investimentos se apresentam de formas

variadas, considerando o período, o momento histórico, os setores de atividades econômicas e

a localização. Pois, em meados do século XIX os principais investimentos estavam na forma

de portfólios, por meio de empréstimos entre governos e pelo financiamento de infraestrutura

de grandes projetos econômicos à países subdesenvolvidos. Porém, a partir dos anos de 1950,

com a intensificação das relações internacionais, as empresas sediadas nos Estados Unidos, na

Europa e no Japão fortaleceram a dinâmica do IED, e assim assume prevalência.

Concluindo essa síntese, desde anos de 1970, com as medidas de desregulamentações

econômicas e neoliberais, Sposito e Santos (2012, p. 24) afirmam que as novas formas de

investimentos tem se destacado “por meio de acordo de licença, de assistência técnica, de

franchising e da terceirização internacional”. Portanto, fica evidente que as formas e os tipos

de investimentos são resultado de um processo histórico peculiar ao desenvolvimento do

modo de produção capitalista.

No âmbito do processo de internacionalização do capital o desempenho das EMNs

configuram aspectos relevantes para entender os movimentos dos investimentos em instancia

internacional. Pois, nessa dimensão o acirramento da concorrência que vai da escala nacional

para mundial, acentua os movimentos de concentração e centralização de capital. No entanto,

quando o processo de acumulação de capital encontra limitações no âmbito nacional,

impedindo a acumulação ampliada, o capital, personificado nas EMNs, se vê na necessidade

de internacionalizar-se.

Após um intenso processo de concentração e centralização de capital, a empresa de

base nacional passa a transferir seu processo de produção para outros países, exercendo seu

poder de controle através de filiais, subsidiárias ou associadas.

Os movimentos de impulsos para internacionalização do capital, mediante a

dinâmica pertinente as atividades das empresas multinacionais, está associada no fato de que,

o processo de acumulação de capital exige condições necessárias e suficientes para manter seu

processo de valorização em escala ampliada, nesse sentido, assinala-se que as economias

periféricas31

contêm os impulsos apropriados para manter a acumulação de capital, nos países

31 Um aspecto curioso apontado por Sposito e Santos faz referência ao fato de que, no período pós-segunda

guerra, momento em que a multinacionalização mas se evidenciou, não se tem referencias de que as empresas

sediadas nas economias periféricas tenham se internacionalizado, sendo assim, extrai desse aspecto que a

multinacionalização é um fenômeno de economias maduras, que passaram por longos processos históricos de concentração e centralização de capital, movidos pela dinâmica da acumulação. Todavia, Sposito e Santos

(2012) salientam que no referido período as empresas argentinas já buscavam a internacionalização.

66

desenvolvidos, como matéria-prima abundante, salários baixos, proximidade com mercado

consumidor, ampliação do market share.

Essas mudanças pertinentes a transferência de plantas industriais de um país para

outro, manifesta situações relativamente novas, isto é, antes as empresas realizavam “valor”

por intermédio do comércio internacional, agora, com a presença de empresas atuando fora

das suas fronteiras nacionais, há a possibilidade de criação de “valor” em outros países, nesse

sentido, evidencia-se que os países para onde o capital se internacionalizou, ou seja, em

grande parte para países subdesenvolvidos, estabeleceu-se a condição de lócus de geração de

valor, uma vez que eram somente espaços para realização de “valor” por meio do comércio.

A internacionalização do capital observada pela acentuada dinâmica das EMNs,

também pode ser apreendida mediante a elaboração teórica dos ciclos do capital estabelecida

por Marx, assim denominadas ciclo do capital dinheiro, capital mercadoria e capital

produtivo.

A internacionalização do capital mercadoria é o primeiro momento de

internacionalização do capital, pois, a realização do valor se dá centralmente nas trocas

comerciais. No entanto, a partir de intensos processos de concentração e centralização de

capital, nas economias de países centrais, e seguido de crises à acumulação, dar-se inicio ao

estágio do capital dinheiro, que exporta capital para economias periféricas sob a forma de

investimento e empréstimos financeiros, a fim de superar as crises e manter o processo de

valorização de capital.

Um componente importante relacionado a mobilidade de capital para economias

periféricas, reside no fato de que, a economia desses países estavam passando por momentos

de industrialização, o que veio a favorecer a entrada das EMNs, pela dinâmica do capital

dinheiro, (SPOSITO e SANTOS, 2012). Sendo assim, a internacionalização não é apenas

comercial, mas também produtiva.

Nesse sentido, a mundialização do capital se traduz numa outra interface do

capitalismo, em que a superação da crise da acumulação de capital, instaurou nos países

centrais um forte processo de internacionalização do capital, cujo principal ator dessa

dinâmica foi a EMN. Assim, a reação das grandes corporações, frente às limitações da

acumulação de capital, em razão da diminuição da demanda doméstica e queda da

rentabilidade, contribuíram para o aumento do investimento estrangeiro direto,

principalmente, em direção as economias periféricas, como a economia da América Latina.

67

Portanto, o que se destaca aqui é a dinâmica do investimento estrangeiro associado a atuação

das EMNs, principalmente nas últimas décadas como se mostrará.

A importância dos movimentos de entrada de IED, tomando como referência a

América Central, América Caribe e América do Sul pode ser visto no Gráfico 2, do qual

depreende-se que a evolução de entrada do IED, ascendeu vertiginosamente nas últimas duas

décadas. Entretanto, com base ainda nos dados, alguns aspectos podem ser assinalados.

Gráfico 02. Evolução de IED fluxo entrada, nas Américas de 1970 – 2015, em UU$ bilhões

Fonte: UNCTAD (1970 - 2015). Elaboração própria.

Primeiro, no período pós-segunda guerra, o processo de internacionalização de

capital se acentuou e a presença de EMNs atuando em outros países, principalmente, de

economias periféricas cresceu, e consequentemente, gerou um afluxo de IED, segundo, a

liberalização financeira, desde o pós-guerra foi decisiva para aumentar os fluxos de IEDs ,

0

20

40

60

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160

180

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 Total IED fluxo entrada América Caribe América Central América do Sul

68

pois, nos últimos 20 anos o IED cresceu oito vezes, sendo que, a América do Sul foi o destino

de grande parcela do IED nas ultimas décadas.

Tabela 01. Fluxo IED entrada, nas Américas de 1970 – 2015 (em %)

IED entrada

Américas 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

América Caribe 21,19 9,89 4,39 1,33 5,12 2,90 2,66 3,62 1,78 2,83

América

Central 37,78 29,28 39,75 37,09 35,79 34,72 25,64 38,83 19,60 25,01

América do Sul 41,03 60,82 55,86 61,58 59,06 62,38 71,70 57,55 78,62 72,16

Fonte: UNCTAD (1970 - 2015). Elaboração própria.

Como pode ser observado na Tabela 01, a América do Sul tem se apresentado como

notável receptora de consideráveis afluxos de IDEs, pois, nas ultimas décadas, do total de

IEDs destinados ao referido continente americano, mais da metade foram apropriados pelas

economias sul-americanas. Em grande medida isso se deve, aos processos de industrialização

tardia que atraíram bastante IEDs mediante a presença das corporações multinacionais,

porém, mais recentemente, Carneiro destaca que, a dinâmica do IED é enfatizada por fatores

de atração como “reorientação da política de longo prazo na direção de sua liberalização e de

curto prazo, pela manutenção de elevados rendimentos, principalmente, pelos altos patamares

de juros” (CARNEIRO, 2002, p. 246).

Quando se observa a contundente dinâmica de IED na América do Sul (Tabela 02),

destaca-se que os movimentos de capitais estrangeiros, direcionados para essa região do globo

terrestre, não são, em nenhum momento, homogêneo, pois, as economias do Brasil, Chile,

Argentina, e em menor proporção a Colômbia, tem canalizado, conjuntamente, mais de 50%

dos IED, já desde, do inicio da década de 1990, (tabela 02).

Considerando os dados da Tabela 02, denota-se que a economia brasileira passou a

concentrar a maior parte dos investimentos estrangeiros direto, alcançando o pico nos anos

2000 e 2010, no entanto, a dinâmica acentuada de IED na América do Sul, traz a reflexão de

que o processo em curso, desde meados dos anos de 1990, era de integrar as economias

69

periféricas ao sistema do capital mundial, a fim de, em ultima instancia, diminuir as barreiras

para acumulação de capital.

Tabela 02. Fluxo IED entrada América do Sul de 1990 – 2015, em %

IED fluxo entrada 1990 1995 2000 2005 2010 2015

Argentina 36,41 30,12 18,24 11,95 8,63 9,64

Bolívia 1,33 2,01 1,29 -0,54 0,49 0,42

Brasil 19,61 23,65 57,40 34,18 63,74 53,46

Chile 13,11 15,87 8,51 16,10 12,62 16,68

Colômbia 9,92 5,20 4,27 23,22 4,89 10,01

Equador 2,50 2,43 -0,04 1,12 0,13 0,88

Falkland Islands (Malvinas) 0,00 0,07 0,08 0,00 0,00 0,00

Guiana 0,16 0,40 0,12 0,17 0,15 0,10

Paraguai 1,41 0,51 0,17 0,08 0,16 0,23

Peru 0,82 13,73 1,42 5,85 6,43 5,67

Suriname -1,52 -0,11 -0,17 0,06 -0,19 0,23

Uruguai 0,82 0,84 0,48 1,92 1,74 1,36

Venezuela 15,43 5,29 8,23 5,87 1,20 1,32

Total IED América do Sul 100 100 100 100 100 100

Fonte: UNCTAD (1990 - 2015). Elaboração própria.

A história econômica brasileira registra que a presença do capital internacional no

Brasil não foi algo trivial, pois, as relações econômicas brasileiras em níveis mundiais sempre

apresentaram uma acentuada relevância.

A partir de dados primários e secundários de fontes de pesquisas nacionais e

internacionais pode-se caracterizar o comportamento histórico dos ciclos de investimento32

estrangeiro direto na economia brasileira, até meados dos anos de 1990.

Lacerda e Oliveira (2009) mencionam que desde 1880, a economia brasileira já

registrava influxos de investimento estrangeiro direto, sendo, mais incisivos nas atividades de

calçados, fósforos, farinha de trigo e no setor de transporte.

O século XX registra consideráveis movimentos de investimentos estrangeiros

adentrando a economia brasileira, nesse sentido, Lacerda e Oliveira destacam que “a

participação dos investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira pode ser dividida

32 Para uma perspectiva histórica mais ampla sobre o investimento estrangeiro direto (IED), conferir Gonçalves

(2009).

70

em três ciclos” (LACERDA E OLIVEIRA, 2009, p. 3). Primeiro, no processo de substituição

de importação, pois, nesse momento, o processo de industrialização da economia do país

incentivou a entrada de investimentos estrangeiros33

. O período das décadas de 1960 e 1970 é

marcado por políticas públicas34

de incentivo a industrialização, muito embora, o processo de

substituição de importação já apresentava sinais de esgotamento, porém, ainda assim, esse é

um período que marca a presença de capital internacional.

A década de 1980 é considerada pouco dinâmica, na perspectiva do capital

estrangeiro, pois, a crise do déficit fiscal e a inflação deixaram o Brasil fora dos destinos dos

investimentos externos. Para fechar esse terceiro e sucinto ciclo da participação do

investimento estrangeiro direto na economia brasileira, assinala-se o processo de abertura

econômica dos anos de 1990 e a intensificação das privatizações.

Gráfico 03. Brasil IED fluxo entrada 1990 – 2015, em UU$ bilhões

Fonte: UNCTAD (1990 - 2015). Elaboração própria.

A economia brasileira deixou de ser alvo do IED no decorrer dos de 1980, no

entanto, passa a acumular vertiginoso crescimento de capital estrangeiro, especialmente

depois da implantação do Plano Real (1994). A diminuição da inflação, que configurava uma

barreira para os investidores externos no mercado brasileiro, veio afirmar o cenário receptivo

aos novos influxos de capitais estrangeiros, definido anteriormente pela abertura comercial,

pela redução das restrições de atuação setorial e pela renegociação da dívida externa.

33 Francisco de Oliveira registra em A economia da dependência imperfeita, que a presença de capital estrangeiro

é consideravelmente crescente no período de 1950 a 1955, (DE OLIVEIRA, 1977, p. 81). 34 O programa de ação econômica do governo (PAEG), concatenado com o regime militar, instaurado na época,

aprofundaram as características do modelo econômico dependente e associado ao capital estrangeiro.

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IED fluxo entrada preço corrente

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Gráfico 04. Brasil participação IED fluxo entrada, Países em desenvolvimento e Mundo de

1990 – 2015 (em %)

Fonte: UNCTAD (1990 - 2015). Elaboração própria.

Por intermédio do gráfico 03 e 04, algumas considerações importantes podem ser

inferidas, pois, claramente se observa duas ondas de fluxos do investimento estrangeiro, o que

se aduz, portanto, que o processo de abertura da economia brasileira nos anos 1990, expresso

nas dimensões da liberalização financeira, estabeleceu um marco para os fluxos de

investimentos estrangeiros. Como dimensão real dessa liberalização financeira, Carneiro,

assinala que “a conversibilidade da conta de capital, [foi uma medida relevante para

liberalização financeira, pois] o grau de conversibilidade da conta capital, traduz na facilidade

com que são permitidas as entradas e saídas de capitais de não residente e residente”

(CARNEIRO, 2002, p. 265).

Nesse sentido, a conversibilidade de capital, que pode ser definida como grau de

liberdade para os fluxos de entrada e saída de capital em um determinado país, desse modo,

adquire concretude na economia brasileira, mediante alterações na legislação, pois, os Fundos

de Investimentos Estrangeiros (FIE), que permite ao residente investir no exterior em títulos

da dívida soberana brasileira, associado, as regulamentações da carta circular n.535

(CC5),

deram a economia brasileira o caráter de liberalização financeira.

35 Atualmente o Banco Central do Brasil define as CC5 como, "Contas CC5" eram contas previstas na Carta

Circular nº 5, editada pelo Banco Central em 1969, que regulamentava as contas em moeda nacional mantidas no País, por residentes no exterior. Referida Carta circular foi revogada em 1996 e, portanto, a expressão “contas

CC5” não mais se aplica às atuais contas em moeda nacional tituladas por pessoas físicas e jurídicas residentes,

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2015

Brasil/Mundo Brasil/PED

72

Desse modo, destaca-se que o processo de entrada do fluxo de IED na economia

brasileira, a partir dos anos de 1990, toma fôlego em 1995 caracterizando uma ruptura na

tendência que hora era descendente, para uma dinâmica acentuadamente ascendente.

Os aspectos determinantes para convergência dos fluxos de IED na direção da

economia brasileira podem ser observados, através das considerações feitas por Gonçalves.

Primeiramente, a situação macroeconômica do Brasil favoreceu a dinâmica dos fluxos de

IED, principalmente, porque a segunda metade dos anos de 1990 é marcada pela estabilização

da inflação, pois, com o controle dos preços o clima para os investimentos encontra um

ambiente propicio para seu desenvolvimento. Outros aspectos determinantes para atração de

IED à economia brasileira foram os padrões de concorrência, reestruturação produtiva,

estratégias empresariais, privatizações e tamanho do mercado, Gonçalves (1999).

A participação do Brasil em relação aos fluxos de IED entrada, considerando as

economias do mundo tem ascendido (gráfico 04), todavia, o ponto que requer destaque aqui é

a participação do Brasil nos fluxos de IED entrada, entre as economias dos países em

desenvolvimento (PED), pois, se na primeira onda de IED dos anos de 1990 esses

investimentos atuaram centralmente nos processos de privatizações e fusão e aquisição de

empresas, implicando no processo de desnacionalização da economia brasileira, Gonçalves

(1999), nessa segunda onda de IED, as características do investimento estrangeiro no Brasil,

assume a forma de novos investimentos, como apontado pelos estudos do Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que declara “com o fim do processo de privatizações a

participação das fusões e aquisições reduziu, representando uma parcela cada vez menor do

total investido nos últimos anos, indicando que parte crescente do IDE tem sido direcionado

para novos projetos de investimento” (IPEA, 2010, p. 268).

Uma análise importante (gráfico 04) pode ser destacada, quando se observa que a

relação IED Brasil/mundo é relativamente menor, em meados da segunda metade dos anos de

1990, em comparação com os anos de 2010, no entanto, o caráter do IED nesses períodos

distintos, reforça a compreensão de que o IED nos últimos anos segue um perfil mais

greenfield, ou seja, um tipo de investimento de longo prazo destinado à orientar os recursos

para construção e instalação de novos projetos.

Cabe registra ainda, que, a participação do IED Brasil/PED foi mais acentuada no

período dos anos 1990 em comparação com os IED Brasil/PED dos anos 2000, e

relativamente maior do que os anos de 2010, nesse sentido, enfatiza-se que a economia

domiciliadas ou com sede no exterior. Hoje, as disposições sobre essas contas constam do Título VI da Circular

nº 3.691, de 16 de dezembro de 2013.

73

brasileira se mostra competitiva, em relação a atração de IED, vis-à-vis, as economias do

PED.

Tabela 03. Fluxo IED entrada Brasil e países selecionados, períodos 1990 – 2015, em %

IED Fluxo

entrada 1990 – 1994 1995 – 1999 2000 – 2004 2005 – 2009 2010 – 2015

Argentina 1,52 1,78 0,53 0,45 0,72

Brasil 0,76 3,07 2,59 2,01 5,00

China 8,04 7,06 6,57 6,23 8,37

Hong Kong 2,30 2,26 3,47 3,59 6,75

Taiwan 0,58 0,30 0,33 0,36 0,14

Índia 0,21 0,44 0,64 1,96 2,18

México 2,72 1,95 2,98 1,82 1,93

Rússia 0,31 0,52 0,82 3,03 2,14

Coreia do Sul 0,55 0,85 1,13 0,75 0,63

Mundo 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: UNCTAD (1990 - 2015). Elaboração própria.

Comparar o Brasil com os países selecionados na tabela 03 permite visualizar a

dinâmica da economia brasileira, no quesito grau de atração de IED, frente as demais

economias apontadas na referida tabela. Os países da tabela 03 se enquadram dentro do

espectro de países com economias em desenvolvimento, nesse sentido, depreende-se que, de

acordo com os períodos quinquenais, o Brasil, China, e mais recentemente, Hong Kong, tem

se caracterizado como importantes e atraentes destinos de IED, todavia, Sarti e Laplane,

enfatizam que o IED direcionado ao Brasil no inicio do segundo quinquênio da tabela 03,

desse modo, eles destacam “a analise da coposição do IED mostra que, no caso brasileiro,

assim como em outros países da América Latina, e diferentemente da China, parte

considerável foi destinada a compra de ativos já existentes” (SARTI e LAPLANE, p. 12).

O desempenho dos fluxos de IED entre os países selecionados, na Tabela 04

configura um aspecto de considerável oscilação, pois, no segundo quinquênio do período

apreende-se que, a variação negativa nos fluxos de IED nos países como Argentina, Brasil,

Hong Kong e Taiwan, evidencia certo esgotamento das suas respectivas economias, no

sentido, de atenuar os determinantes que por hora proporcionaram a dinâmica de fluxos de

74

IED, no entanto, seguindo na contra mão dessa perspectiva, a Rússia e a China alcançaram

variações positivas, acompanhando seu dinamismo econômico.

Tabela 04. Variação Fluxo IED entrada Brasil e países selecionados, períodos 1990 – 2015,

em % e milhões de UU$

IED Fluxo

entrada 1990 1995 Variação 2000 2005 Variação 2010 2015 Variação

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valor valor

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Argentina 1.836 5.609 205,52 10.418 5.265 -49,46 11.333 11.655 2,84

Brasil 989 4.405 345,50 32.779 15.066 -54,04 83.749 64.648 -22,81

China 3.487 37.521 975,98 40.715 72.406 77,84 114.734 135.610 18,20

Hong Kong 3.275 6.213 89,72 54.582 34.058 -37,60 72.319 174.892 141,83

Taiwan 1.330 1.559 17,22 4.928 1.625 -67,03 2.492 2.415 -3,09

Índia 237 2.151 808,78 3.588 7.622 112,42 27.417 44.208 61,24

México 2.633 9.526 261,77 18.315 25.971 41,80 26.431 30.285 14,58

Rússia 0 2.066 0,00 2.651 14.375 442,24 31.668 9.825 -68,98

Coreia do

Sul 1.046 2.487 137,86 11.509 13.643 18,54 9.497 5.042 -46,91

Fonte: UNCTAD (1990 - 2015). Elaboração própria.

No caso brasileiro a dinâmica do fluxo de IED saída não é uma característica central

da economia nacional os dois primeiros quinquênios, aduzido na Tabela 05 apreendem essa

perspectiva. Contudo, o terceiro e o quarto quinquênios apresentam um considerável

crescimento do fluxo de IED saída, sendo assim, destaca-se que, estudos do IPEA tem

75

diagnosticado que o Investimento Brasileiro Direto o Exterior (IBDE)36

vem se mantendo

numa tendência de crescimento, não obstante, as flutuações nas operações de fusão e

aquisição nesse período. No entanto, observa-se que a China e Hong Kong são

destacadamente, as economias do PED que mais atuam nessa forma de IED.

Tabela 05. Fluxo IED saída Brasil e países selecionados, períodos 1990 – 2015, em %

Fluxo de IED saída 1990-1994 1995-1999 2000-2004 2005-2009 2010-2015

Argentina 0,25 0,36 0,05 0,10 0,09

Brasil 0,25 0,21 0,34 0,67 0,38

China 1,04 0,37 0,51 2,37 7,05

Hong Kong 4,51 3,86 3,84 3,41 6,33

Taiwan 1,24 0,68 0,81 0,57 0,95

Índia 0,01 0,02 0,21 1,00 0,69

México 0,17 0,08 0,30 0,44 0,95

Russia 0,25 0,28 0,88 2,54 3,34

Coreia do Sul 0,70 0,72 0,63 1,12 2,06

Mundo 100 100 100 100 100

Fonte: UNCTAD (1990 - 2015). Elaboração própria

36

A dinâmica do IBDE se traduz nas operações de fusão e aquisição, e desse modo destaca-se “O salto no valor

de IBDE em 2004, de US$ 9,8 bilhões, deveu-se sobretudo à fusão da Companhia de Bebidas das Américas

(AMBEV) com o grupo belga Interbrew, que representou um investimento no exterior de US$ 4,5 bilhões. Em

2005, o IBDE reduziu-se para um patamar de US$ 2,5 bilhões, sendo que a maior operação foi a aquisição da

empresa argentina Loma Negra por US$ 1 bilhão por parte da construtora brasileira Camargo Correa. [...],As

empresas Petrobras, Votorantim, Vale e Marfrig também realizaram aquisições importantes em 2007. A mesma

tendência pode ser observada em 2008, com um número crescente de operações de menor valor, com o IBDE atingindo o expressivo patamar de US$ 20,4 bilhões. A maior aquisição foi do grupo Gerdau com a compra da

Gerdau Macsteel nos Estados Unidos no valor de US$ 1,45 bilhão”. (IPEA, 2010, p. 270).

76

Gráfico 05. Brasil FBKF de 1990 – 2014, em UU$ bilhões

Fonte: UNCTAD (1990 - 2014). Elaboração própria

A interação entre o investimento estrangeiro direto e a formação bruta de capital fixo

(FBKF), sendo esta ultima um indicador da capacidade de produção de bens de capital, pode

ser apreendida, comparativamente,, a partir dos dados extraídos da Conferencia das Nações

Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), e, dessa forma, busca-se assinalar

segundo, Sarti e Laplane “uma relação entre IED e FBKF que tem como objetivo estrito

estabelecer comparações entre países com relação ao grau de internacionalização” (SARTI e

LAPLANE, 2004, p. 16), assim, a tabela 06 apresenta o comportamento do grau de

internacionalização do Brasil e países selecionados.

A relação do IED/FBKF como um indicador de importância relativa do IED, ainda

que essas variáveis não sejam diretamente comparáveis, Sarti e Laplane (2004), no entanto,

esse indicador é útil para verificar o grau de internacionalização entre economias distintas no

bojo da economia mundial.

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FBKF

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Tabela 06. Relação IED/FBKF Brasil e países selecionados, períodos 2000 – 2014 (em %)

IED/FBKF 2000 2001 2002 2003 2004

Países em desenvolvimento 14,61 13,18 9,75 10,03 12,28

América do Sul 47,22 34,45 31,73 25,33 31,75

Argentina 21,79 5,47 16,96 8,11 13,54

Brasil 27,41 21,55 18,12 10,89 15,59

China 10,23 10,37 10,16 8,36 7,79

Hong Kong 119,95 66,49 9,68 51,02 79,01

Taiwan 5,65 6,21 2,19 0,66 2,22

India 3,15 4,51 4,40 2,72 2,59

Coreia do Sul 6,46 3,98 2,95 3,29 5,55

Mexico 12,13 19,87 15,84 12,39 15,27

Russian 5,85 4,74 5,45 9,71 13,89

Mundo 17,88 9,28 7,82 6,50 7,37

(continuação)

IED/FBKF 2005 2006 2007 2008 2009

Países em desenvolvimento 11,50 12,54 13,79 12,68 9,76

América do Sul 28,65 22,72 29,37 29,64 19,32

Argentina 12,90 10,56 9,65 12,03 6,02

Brasil 9,81 9,84 13,71 13,64 8,12

China 7,99 6,80 6,19 6,02 4,24

Hong Kong 87,66 96,33 133,87 129,45 127,98

Taiwan 1,79 7,88 7,96 5,62 3,36

Índia 2,79 6,37 5,96 10,43 7,65

Coreia do Sul 4,91 2,93 2,55 3,54 3,19

México 14,08 9,94 13,95 11,43 8,88

Rússia 10,43 20,08 20,13 20,49 10,32

Mundo 8,74 11,87 14,23 10,34 8,90

78

(continuação)

IED/FBKF 2010 2011 2012 2013 2014

Países em desenvolvimento 10,64 9,80 9,04 9,05 8,44

América do Sul 32,71 33,92 33,99 24,61 27,79

Argentina 13,57 10,44 14,68 9,28 5,41

Brasil 18,41 17,81 15,60 10,80 15,78

China 4,29 3,74 3,21 2,92 2,80

Hong Kong 145,24 164,49 106,20 112,07 165,76

Taiwan 2,36 -1,72 2,89 3,18 2,48

Índia 4,70 5,24 3,79 4,70 5,59

Coreia do Sul 2,84 2,68 2,62 3,34 2,25

México 11,90 9,29 7,71 17,22 9,51

Rússia 9,60 9,06 6,83 11,76 7,68

Mundo 9,56 9,51 8,93 8,49 7,23

Fonte: UNCTAD (2000 - 2014). Elaboração própria.

Nesse sentido, o grau de internacionalização da economia brasileira nos períodos

2000-2004, 2005-2009 e 2010-2014, foram em média 18,17%, 11,02% e 15,68%, desse

modo, assinala-se que o perfil do IED que nos últimos anos entra na economia brasileira atua

mais na implementação de novos projetos, diferentemente, do tipo de IED dos anos de 1990,

que estavam centralmente envolvidos nos processos de privatizações e fusão e aquisição. Nos

anos 2000 o grau de internacionalização de economia brasileira estava em 27,41%.

Considerando os quinquênios da tabela 06, destaca-se que o grau de

internacionalização da economia brasileira não teve uma variação relativamente grande, de

um período para outro, e assim, assinalando no fim do ultimo período um indicador de do

grau de internacionalização da economia em torno de 15%, porém, quando comparado o grau

de internacionalização da economia brasileira com o grau de internacionalização de países

como, Argentina, China, Hong Kong, Taiwan, Índia, Coreia do Sul, México e Rússia,

observa-se que o grau de internacionalização da economia brasileira é o segundo maior, no

primeiro e terceiro período analisados, ficam atrás, somente, de Hong Kong respectivamente.

79

Gráfico 06. IED/ FBKF e taxa de investimento Brasil de 1990 – 2013 (em %)

Fonte: UNCTAD e IPEA (1990 - 2013). Elaboração própria.

De maneira geral, a relação entre IED e FBKF aduz, também, uma medida do nível

de investimento, nesse sentido, o gráfico 06 denota que a taxa IED/FBKF esteve em

patamares muito baixo até meados dos anos de 1994 – 1995, todavia, com a dinâmica das

privatizações via IED, os níveis de investimento cresceram, consideravelmente, alcançando

taxas acima de 25% nos períodos de 1999 – 200. A taxa de investimento (a preços correntes),

segue relativamente estável, no entanto, assinala-se que após o período de afluxo de IED na

perspectiva de conformar a dinâmicas de privatizações, a taxa de investimento relacionada ao

IED e FBKF seguiram uma tendência declinante, chegando ao fim do período em torno de

10%, e desse modo, se distanciando da taxa de investimento oito pontos percentuais.

A taxa média de crescimento da FBKF apreendida do Gráfico 05 apresenta um perfil,

bastante, diferenciado, pois, considerando os quinquênios 1990-1994, 1995-1999, 2000-2004,

2005-2009 e 2010-2014, observa-se que a taxa média de crescimento da FBKF foi,

respectivamente, em cada período de 29%, 130%, -20%, 7%, e -5%, portanto, o caráter

oscilante da referida taxa traduz o tipo de investimento estrangeiro, que adentra ao país. Não

obstante, Sarti e Laplane, apresentam outra interpretação ao fenômeno do IED relacionado

com FBKF, pois, embora a FBKF acompanha o crescimento do IED isso não

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IED/FBKF Brasil (%) Taxa Investimento - preços correntes (%PIB)

80

necessariamente, implica que a FBKF está crescendo, pois, o crescimento desta ultima, é na

melhor das hipóteses indireta, desse modo, para que o IED proporcione crescimento da

FBKF, é necessário que os investimentos estrangeiros façam investimentos adicionais na

modernização e ampliação da sua capacidade produtiva dos ativos adquirido. Diante disso,

destaca-se que a característica mais importante para economias em desenvolvimento, como é

o caso do Brasil, é atrair IED na forma de greenfield.

Diante da exposição sobre a dinâmica do investimento estrangeiro direto e as

implicações deste, na economia brasileira, destaca-se que a presença do capital transnacional

no Brasil está relacionada com os movimentos de inserção do IED, portanto, considerando

esse aspecto busca-se, a partir de então, analisar a dinâmica do IED no setor mineral na

Amazônia oriental.

81

4 INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO ASSOCIADO AO CAPITAL

TRANSNACIONAL NO SETOR DA MINERAÇÃO NA AMAZÔNIA ORIENTAL

O processo de internacionalização do capital, concatenado com a atuação de um

“Estado hegemônico” que institucionalizou uma economia mundial, associado aos aspectos da

globalização, e em consonância com as leis do valor, estabelecem as bases sobre qual se

assenta o “sistema do capital mundial”. Decorre dessa compreensão que o capital

transnacional fortalece sua dinâmica de mobilidade, principalmente, quando as empresas

multinacionais passam a aumentar seu grau de influencia na economia mundial, mediante a

atração e coordenação de vultosa quantidade de investimento estrangeiro.

Sendo assim, com intuito de, apreender a dinâmica do capital transnacional no setor

da mineração na Amazônia, busca-se apresentar qual o nível de relação entre este e o

investimento estrangeiro direto na Amazônia.

Inicialmente, vale novamente assinalar que a trajetória da história econômica do

Brasil é significativamente marcada pela relação como o capital internacional. A economia

brasileira, como tratado no Capítulo 3, desde seus primórdios se desenvolveu inserida no bojo

da dinâmica capitalista internacional, nesse sentido, uma rápida busca no perfil histórico da

economia brasileira pode-se depreender que a exploração colonial no Brasil centrava-se na

produção de gêneros que interessava ao mercado internacional.

É bem verdade que o período agroexportador é o mais longo da história econômica

brasileira, contemplando os ciclos econômicos da produção açucareira, até a expansão da

produção cafeeira, sujeitando a economia nacional a simples condição de produtora e

exportadora de bens primários. Contudo, ainda assim, a forte relação da economia brasileira

com o capital internacional não decresceu, pelo contrário, o período de industrialização

brasileira, fortemente marcado pela substituição de importações, aduz aspectos consistentes

da presença do capital internacional no país.

Desse modo, tomando como referência a economia brasileira imersa no contexto da

dinâmica capitalista mundial, o que se busca apresentar aqui é a concepção de que a economia

brasileira corresponde a periferia do sistema capitalista mundial, nesse sentido,

caracterizando-a como elemento que possibilita o processo de acumulação de capital em

escala internacional.

Trata-se, nesse sentido, de apreender o fato de que a Amazônia, por vezes, tem se

inserido, na dinâmica econômica internacional, sob o jugo da acumulação de capital, como

espaço que serve de acumulação primitiva de capital, concatenado com as regras da lei do

82

valor, a Amazônia é tida como uma fronteira recorrente, intermitente e permanente espaço

para acumulação de capital.

Tanto o Brasil quanto a Amazônia, em particular, tem sua história econômica

polarizada pela atuação do capital internacional. No caso da Amazônia as imensas riquezas

naturais tem sido para o capital uma reserva estratégica, intermitentemente, apropriada para

produção de lucros, seja pela exploração das terras, da agropecuária, ou dos minérios. Sendo

assim, mediante o avanço das “fronteiras” o capital internacional, cada vez mais, presente na

Amazônia se estabelece sob duas perspectivas, primeiro se apropria da Amazônia como um

componente de acumulação primitiva de capital37

, para em seguida programar seu processo de

valorização de capital.

A Amazônia como uma das ultimas “fronteiras38

” brasileiras tem uma perspectiva

diferente do ponto de vista da sua relação com o capital, pois, se as demais fronteiras

brasileiras foram ao longo do tempo consumidas e transformadas, efetivamente, em

instrumentos de acumulação do capital, a Amazônia39

mantém-se em grande medida como

depósito variado de valores de uso. A esse respeito de Paula assinala que “a Amazônia no

desenvolvimento capitalista no Brasil tem sido a última grande fronteira de possibilidades de

personificação da acumulação primitiva de capital, seja por seus vastos estoques de recursos

naturais, seja pela possibilidade de mobilizar formas de trabalho apropriando riqueza baseado

na “super-exploração de trabalho” (DE PAULA, 2008, p. 25).

O fato da Amazônia cumprir o papel de repositório de valores de uso do capital, ou

seja, como espaço inserido na dinâmica da acumulação de capital, com a finalidade de servi

ao capital com seus recursos naturais, configura uma situação em que a Amazônia é entenda,

literalmente, como fronteira recorrente e intermitente, a fim de, servi centralmente, aos

interesses do processo de acumulação de capital, principalmente, do capital monopolista

internacional.

37 Como assinala Aluísio Leal na Amazônia [colonial] “não foi encontrado ouro nem prata a expectativa medieval dos portugueses em relação a essa concepção de riqueza fê-los recair na exploração dos recursos da

natureza amazônica de modo bem mais rudimentar, iniciando desde aí, a sina extrativa da região” (LEAL, 2010,

p. 91). 38 A concepção de fronteira é tratada por Bertha Becker aludindo que “Kenneth Boulding denomina de economia

de fronteira, significando com isso que o crescimento econômico é visto como linear e infinito, e baseado na

contínua incorporação de terra e de recursos naturais, que são também percebidos como infinitos. Esse

paradigma da economia de fronteira realmente caracteriza toda a formação latino-americana” (BECKER, 2005,

p. 72). 39 Para uma visão mais abrangente da relação da Amazônia com o capital internacional, Aluísio Leal assinala a

história da Amazônia subdividindo em quatro grandes períodos, o primeiro que pode ser chamado de “período

exploratório”, seguido do “período colonial português”, terceiro período “vinculado às economias capitalistas hegemônicas”, e por fim, o quarto período que marcado pelo golpe militar, vigência da ditadura e a divisão

internacional do trabalho, Leal (2010).

83

Com base no que foi tratado no Capitulo 1 deste trabalho, que aduz sobre o processo

de acumulação de capital, ou seja, a valorização do capital mediante a apropriação de mais-

valor, certo de que, essa acumulação de capital está consubstanciada em dois movimentos,

assim, descritos como concentração e centralização de capital, nesse sentido, com o intuito

depreender os aspectos que estabelecem a dinâmica do capital transnacional na Amazônia,

busca-se apoiar nessa perspectiva teórica para avançar na compreensão da internacionalização

do capital.

Desse modo, a compreensão socioeconômica da Amazônia pode ser entendida

considerando os movimentos de concentração e centralização de capital, pois, tais

perspectivas apontam para as dinâmicas de monopolização do capital na Amazônia, como

pode ser apreendido estudando, por exemplo, o caso da mineração na Amazônia. Portanto,

daqui em diante, busca-se fazer uma analise da dinâmica econômica na Amazônia,

observando o comportamento dos fluxos de investimento estrangeiro no setor da mineração,

que por sua vez, apresenta relevante volume de capital, mais precisamente, na porção oriental

da Amazônia.

Nesse sentido, a Amazônia enquanto espaço econômico está colocada vis-à-vis a

atual configuração do capitalismo global, como uma área estratégica para perpetuação do

capital monopolista, desse modo, a Amazônia desempenha o papel de grande produtora de

recursos naturais , sendo assim, o perfil de inserção das grandes mineradoras na Amazônia

oriental tem atuado numa amplitude, cada vez mais, intensa e extensa na extração e

comercialização de minérios, o que constitui, “importantes agentes nos fluxos internacionais

de produção e transação das principais commodities minerais estratégicas40

” (TRINDADE,

2014, p. 56).

A apropriação da Amazônia oriental como grande produtora de mercadorias

energético-minerais, não é algo relativamente recente, pois, desde o golpe militar de 1964,

pesquisas geológicas, especialmente realizadas na parte oriental da Amazônia, podem ser

entendidas como as primeiras investidas, a fim de, encontrar jazidas minerais na região,

Marques (2012).

Portanto a década de 1960 é marcada por alguns acontecimentos que fazem desse

período, um importante momento, na instituição das atividades de mineração na Amazônia

40

Sobre esse aspecto Trindade destaca que “Considera-se minérios estratégicos à acumulação de capital as

commodities que apresentam as características de elevada rentabilidade e condições mercantis de crescimento, como o alumínio, cobre e minério de ferro que “correspondem a mercados considerados ‘alvo’ pelas empresas”

(Trinade, 2016, p. 56).

84

oriental, pois, além das descobertas41

de manganês em Marabá (1966) e ferro em Carajás

(1967), o governo militar realizou mudanças substanciais, no que diz respeito, a legislação

mineral, caracterizando esse período como um impulso para as atividades de mineração na

região.

A constituição de 1967 assim como o código de minas do mesmo ano desvinculou o

direito de propriedade das jazidas, minas e recursos hídricos separando-as do solo, desde que,

esse referidos recursos servissem a exploração e o aproveitamento industrial, desse modo, isso

significa que, aos recursos naturais da Amazônia ficaram livres para serem tratados pelo

capital monopolista internacional. Outros condicionantes, também, podem ser elencados

como fatores que corroboraram para definição da Amazônia como espaço provedor de capital

circulante, principalmente, de recursos minerais.

É notório que as legislações ambientais têm aumentado a pressão, quanto a poluição,

principalmente, nos países industrializados, no entanto, decorre, dessa análise que plantas

industriais extremamente poluente, em certa medida, viram nas legislações “fracas” de países

periféricos e de economias primarias, um incentivo a internacionalização do capital, sendo

assim, destaca-se o capital mineral na Amazônia, dentro dessa perspectiva.

A crise do petróleo e a recessão na economia mundial que daí decorreu, encareceram

os custos da geração de energia elétrica, sendo assim, tal situação, deflagrou uma corrida por

regiões com enormes potenciais energéticos e minerais, colocando a Amazônia, mais uma

vez, na direção dos grandes capitais internacionais monopolistas.

O setor mineral constitui historicamente segmento fortemente transnacionalizado,

especialmente nos segmentos de minério de ferro e alumínio (bauxita), isso parcialmente

decorrente de três aspectos que possibilitaram forte concentração e centralização de capital,

dois deles já elencados anteriormente: i) a capacidade monopolizável espacialmente limitada

de apropriação do potencial mineral; ii) a capacidade tecnológica de atuação, sobretudo na

indústria de transporte de longo curso e escala (logística de transporte ferroviário e navegação

oceânica) e; iii) a intricada relação entre os capitais do setor e as instituições estatais que

41 Sobre as descobertas de minério na Amazônia oriental Marques destaca que “em 1966, a Codim,

subsidiária da Union Carbide, descobriu reservas de manganês na serra do Sereno (Marabá) e, em 1967, a

United States Steel, através da sua subsidiária brasileira, a Companhia Meridional de Mineração, detectou

as reservas de ferro da serra Arqueada (Carajás, com 18 bilhões de toneladas) e de manganês em Buritama.

Desde 1968, a região de Carajás vinha sendo estudada pela CVRD (Companhia Vale do Rio Doce). Em

1970, os estudos passaram a ser efetuados pela Amza (Amazônia Mineração S/A), formada pela CVRD

(50,9% das ações) e pela United States Steel (com 49,1% das ações). Em 1969, foram descobertas as

reservas de bauxita (matéria-prima do alumínio) em Oriximiná, com 1,1 bilhão de toneladas” (MARQUES,

2012, p. 35).

85

definem a completa ou parcial apropriação da renda mineral pelos capitais privados. No caso

do minério de ferro três grandes empresas controlam o mercado transoceânico: a Companhia

Vale, a Companhia Rio Tinto e a BHP Billiton. O segmento do alumínio primário é

controlado pelas chamadas “seis irmãs”, com algumas modificações estruturais ocorridas nas

duas últimas décadas: Alcoa, Alcan, BHP Billiton, Norsk Hydro, Pechiney e Comalco, sendo

que as duas primeiras são produtoras integradas da matéria-prima (bauxita) a bens finais.

Vale observar que a formação de preços se dá de forma diferenciada nestes dois

segmentos, no caso do alumínio os preços são definidos pela bolsa de Londres (LME), sendo

que no caso da matéria-prima mineral (bauxita) os acordos entre controladores dos

empreendimentos mineradores definem os preços básicos a partir dos limites dados pelo preço

máximo do alumínio primário. No minério de ferro, as negociações de preços são anuais, de

janeiro a março, mas quase 100% das vendas são lastreadas em contratos de longo prazo

(cinco a dez anos) com as clientes, principalmente, acertos de preços com as gigantes do aço

asiáticas e europeias. Os novos reajustes, para cima ou para baixo, tradicionalmente são

fechados primeiro com Rio Tinto e BHP Billiton, que levam vantagens de terem minas na

Austrália e podem oferecer fretes mais competitivos para o Japão e China, a Vale, porém, tem

o minério de melhor qualidade do mundo, localizado nas minas amazônicas de Carajás. As

oscilações de preços no mercado mineral são intensos, influenciados em momentos de intensa

acumulação de capital pelas demandantes de minério, considerando que as mesmas são, em

grande medida, megaempresas do ramo siderúrgico ou metalúrgico que impõem nestes

períodos os contratos de negócios, que no caso do ferro chegaram a ser trianuais e no caso do

alumínio são definidos pelos movimentos da bolsa de comércio de Londres.

Carneiro (2012) ao analisar o atual ciclo de reprimarização das economias latino-

americanas, realiza excelente análise quanto a formação de preços das commodities e

oscilações dos mesmos. Convém frisar, em relação ao setor mineral, cinco aspectos apontados

pelo autor, sendo que o terceiro é de relevância ao presente estudo: i) não há uma tendência

secular dos preços, sendo de declínio, marcadamente durante a primeira metade do século

XX, elevação no período de guerras, forte estabilidade coincidente com o regime de Bretton

Woods, novo declínio nos anos 1980 e, finalmente, a grande expansão nos 2000; ii) o regime

de produção mineral é marcado por um maior grau de monopólio na oferta e por uma

demanda cíclica que segue o ritmo oscilante da acumulação internacional, o que a faz

dependente de um líder de acumulação; iii) os minerais têm grau de substituição por bens

sintéticos inferior aos agrícolas, acrescente-se que a renda mineral é mais rígida, no sentido de

86

que oferece maiores barreiras a mobilidade dos valores de uso minerários; iv) por mais que

não haja uma tendência secular de declínio, mas “os períodos de baixa de preço tem duração

bem mais acentuada do que os de alta, via de regra concentrados no tempo”; v) a

desregulamentação neoliberal predominante nas décadas de 1980 e 1990, determinou um

rápido processo de financeirização dos preços das commodities, entendido como uma certa

“aproximação” com a determinação dos preços de ativos financeiros.

Por fim, vale notar que a composição técnica do capital na produção mineral se dá

com elevada participação de capital constante com vistas a viabilizar escalas mínimas de

embarque mineral, o que torna a exploração mais intensiva dos recursos naturais uma

condição para encurtamento do tempo de rotação do capital fixo minerário (maquinário e

logística de transporte como ferrovias e caminhões fora de estrada) empregado, ao mesmo

tempo em que eleva a massa de mais-valor obtido e a taxa de lucro também via ganhos de

renda diferencial mineral.

Cabe citar que o processo de ocupação da Amazônia pelo grande capital

transnacional não se daria de forma tão exitosa se o Estado brasileiro não atuasse como

mediador da internacionalização das empresas multinacionais, de sorte que, o estado

brasileiro preparou o ambiente propicio para instalação do grande capital monopolista, nesse

sentido, destaca-se que a atuação falaciosa do estado brasileiro, através, da doutrina da

segurança nacional, buscou ocupar a Amazônia, disseminando a ideologia de que estavam

ocupando um “espaço vazio”. Portanto, em muitos sentidos o governo brasileiro agiu em

favor do interesse do capital monopolista, em detrimento dos benefícios nacional e social.

Por tudo isso, depreende-se que os investimentos nacionais e, principalmente, os

investimentos estrangeiros, orientado pelo estado brasileiro, nesse período, assegurou a

inserção do capital monopolista na região, e muito mais que isso, garantiu ao capital uma

acumulação em escala ampliada. Mas recentemente, pode-se destacar que, o papel do setor da

mineração na Amazônia, não regrediu, pelo contrário, a mineração na Amazônia ascende a

uma atuação de protagonismo considerando-se o volume das exportações e a sua participação

em relação ao Produto Interno Bruto (PIB42

) do estado do Pará, todavia, no que se refere a

42 Com relação ao desempenho do setor mineral e o PIB Castro assinala “o setor mineral era responsável por

26% do PIB do Estado do Pará. Se o garimpo, como forma mais rudimentar da exploração mineral, ainda resiste,

a produção atual é dominada por mineradoras que utilizam processo intensivo de tecnologia e robotização nas

exportações. Os próximos investimentos previstos até 2012 em novos projetos e na expansão dos atuais somam UU$ 17 milhões. Desse total 97% serão efetivados pela Vale, a maior parte deles na região sudeste do Pará, que

corresponde pela maior fatia 86%” (CASTRO, 2012, p. 57-58).

87

uma melhor distribuição da renda mineral43

para com a sociedade local, muito pouco se tem

contribuído.

Reforça-se aqui a tônica de que, o setor mineral, atualmente, continua criando

condições de incentivo aos fluxos de investimentos, e dentre eles, o investimento estrangeiros,

pois, a mineração na Amazônia tem alcançado status de importância para as ações do governo

federal, nesse sentido, Castro aduz a relevância do setor mineral quando assinala que “a

mineração foi reconhecida pelo governo federal como um dos três pilares de sustentação do

desenvolvimento do país (os outros são agricultura e turismo), pela diretriz do plano

Plurianual (PPA) 2004-2007 [...] documentos afirmam que o desempenho [...] apontam

resultados excepcionais” (CASTRO, 2012, p. 57), para indústria extrativa mineral.

A atividade econômica da indústria de extração mineral tem se consolidado no

Brasil, principalmente, no pós guerra, diante disso, registra-se que, atualmente, a atividade de

mineração tem posicionado o Brasil como um importante centro de exploração da atividade

econômica da mineração.

Desse modo, com a finalidade de situar a posição do Brasil frente as atividades de

extração mineral, em relação o mundo, o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM),

apresentou uma pesquisa (2015), com dados do Banco Mundial (BM), que consistiu em

demonstrar o perfil da atividade de mineração no mundo, caracterizando os países mais

propícios a desenvolver e fortalecer as atividades da mineração.

A referida pesquisa elencou os seguintes critérios, extensão territorial de capa país,

maior que três milhões de metros quadrados, e nesse sentido, aumenta a possibilidade para

diversidade de ocorrência de bens minerais, população superior a cento e quarenta milhões de

pessoas, apoiado na premissa de que isso configura um mercado madura em função do

tamanho da demanda e um Produto Interno Bruto superior a um trilhão. Portanto, a interação

dessas variáveis posicionou o Brasil e demais países como Rússia, Índia China, e Estados

unidos no epicentro dos impulsos para as atividades de mineração. Um aspecto curioso a ser

43 Trindade et al faz uma relevante análise da produção e reanda mineral, destacando as condições determinantes

para obtenção de um lucro suplementar pertinente ao desenvolvimento da mineração na Amazônia oriental,

sendo assim ele apreende que “a renda mineral se expressa nas três formas conectadas já tratadas, [a saber]: a

renda absoluta, derivada do próprio condicionante de apropriação privada da riqueza do subsolo, mesmo que

institucionalmente o Estado possa impor barreiras legais que bloqueiem a completa a apropriação dessas rendas

pelos capitalistas minerários. A renda diferencial 1, a partir dos diferentes padrões de produtividade, derivados

das diferenças de composição do minério, teores, forma, localização e escala produtiva. Por último, mas não

menos importância, pois representa papel chave nas disputas entre os diferentes capitais, a renda diferencial 2,

resultante de inversões tecnológicas ou nas infraestruturas que permitem expansão nos ganhos de produtividade

e maior redução dos custos de produção, sendo que somente são possíveis em função das características mineiras que possibilitaram a renda diferencial 1, sendo caracteristicamente relacionadas aos investimentos em logística

necessários a exploração das minas” (TRINDADE et al, 2016, p. 68).

88

destacado no resultado da pesquisa é a presença dos países de economia emergente, como os

BRICS, sendo grande maioria.

Figura 02. Principais Depósitos Minerais no Brasil

Fonte: Relatório IBRAM, 2015

O impacto das atividades econômicas da mineração não é algo trivial para o Brasil,

pois, a figura 02, demonstra que o setor mineral brasileiro está espraiado em todo o território

nacional, e, também, segundo registros do Departamento Nacional de Produção Mineral

(DNPM), existem 8.870 empresas mineradoras atuando no mercado brasileiro, dados de 2013,

no entanto, assinala-se que os dados levantados pelo (DNPM) apontam para formação do

mercado mineral brasileiro, marcado pela presença, predominante, de micro e pequenas

empresas, muito embora, as gigantes do ramo são que as produzem em maior escala.

Para demonstrar a relevância do setor mineral no Brasil destacam-se os níveis de

produção do minério de ferro dos ultimo anos, e para tanto, assinala-se os dados elaborados

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aduz os valores da produção

do minério de ferro, (deflacionado igp-di a preço de 2014) da seguinte forma, 43,112 bilhões

em 2010, seguido de 63,959 bilhões no ano seguinte, posteriormente, 62,569 bilhões em

89

2012, seguido de 72,727 bilhões em 2013 e 71,028 bilhões em 2014, no referido quinquênios

a produção de minério de ferro variou, positivamente, auferido um crescimento de 39,30%.

Tabela 07. Participação da extração mineral em % do PIB, 2002 a 2011

Brasil, Região, UF

- Ano 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Amazônia Oriental 2,37 2,52 3,05 3,12 2,97 2,48 5,10 3,48 8,53 9,49

Pará 5,80 6,08 7,07 7,24 6,52 5,50 12,12 8,46 20,17 22,17

Maranhão 0,26 1,12 1,75 1,77 1,52 1,19 2,49 1,86 2,12 2,22

Amapá 1,05 1,67 0,44 0,62 0,48 1,53 0,99 0,40 1,50 1,22

Tocantins 0,17 0,16 0,48 0,35 0,28 0,26 0,40 0,42 0,39 0,59

Mato Grosso 0,20 0,21 0,28 0,17 0,24 0,14 0,14 0,14 0,16 0,36

Norte 2,80 2,88 3,37 3,50 3,32 2,79 5,48 3,56 8,56 9,94

Brasil 1,37 1,47 1,63 2,09 2,44 1,97 2,68 1,53 2,47 3,29

Fonte: IBGE (2002 - 2011). Elaboração própria.

Considerando as cinco unidades federativas que compõem a Amazônia oriental

(tabela 07), observa-se que o estado do Pará apresenta uma evolução percentual relevante,

nesse sentido, do ponto de vista do PIB paraense as atividades do setor mineral chegam no

fim da década dos anos 2000 contribuindo com um quinto do PIB do Pará. Uma característica

do setor mineral paraense é a presença do grande capital multinacional, mediante, a presença

da Companhia Vale, cujo dinamismo do setor mineral no estado de Pará, em grande parte se

explica pelo processo de acumulação de capital que a Vale impõem nesta localidade.

Levando em conta o total do PIB da Amazônia oriental, apreende-se que a

participação da indústria extrativa mineral é inferior a 10%, ao longo da serie histórica

apresentada na tabela 07, sendo assim, pode-se notar que a evolução da participação do setor

mineral no total do PIB da Amazônia oriental é fortemente, polarizada pelo crescimento das

atividades de mineração no Pará e em menor medida pelo Maranhão.

90

Tabela 08. Amazônia oriental distribuição Valor adicionado Bruto em % e milhões R$ por

setor de atividade econômica de 2002 a 2011

Variáveis

2002 2004 2006 2002 -

2004

2004 -

2006

2006 -

2002

Valor

milhões

Valor

milhões

Valor

milhões

Variação

(%)

Variação

(%)

Taxa

Média a.a

Cresc (%)

Agropecuária 11.893 20.069 17.558 68,74 -12,51 8,10

Extração mineral 1.661 3.165 3.575 90,61 12,93 16,57

Transformação 5.733 9.807 11.226 71,06 14,46 14,38

Construção 4.473 6.439 7.353 43,94 14,21 10,45

Siup* 2.230 3.674 4.311 64,75 17,34 14,09

Comércio 6.377 11.917 13.386 86,88 12,33 15,99

Transporte 2.743 4.164 5.093 51,81 22,33 13,18

Serviço informação 1.376 2.048 2.410 48,85 17,65 11,86

Financeiro 2.173 2.454 3.601 12,96 46,71 10,63

Aluguel 7.018 8.538 10.015 21,67 17,29 7,37

APU 12.460 16.066 21.050 28,94 31,03 11,06

Outros serviços 5.967 7.817 10.498 31,01 34,30 11,96

Continuação

Variáveis

2007 2009 2011 2007 -

2009

2009 -

2011

2011 -

2007

Valor

milhões

Valor

milhões

Valor

milhões

Variação

(%)

Variação

(%)

Taxa

Média

Cresc (%)

Agropecuária 21.770 27.501 31.650 26,33 15,09 7,77

Extração mineral 3.389 6.142 23.514 81,22 282,86 47,31

Transformação 11.374 10.668 13.556 -6,21 27,07 3,57

Construção 8.196 11.189 14.104 36,52 26,06 11,47

Siup* 5.094 5.198 7.455 2,03 43,42 7,91

Comércio 16.320 23.358 28.361 43,12 21,42 11,69

Transporte 5.700 7.338 10.339 28,74 40,89 12,65

Serviço informação 2.621 2.725 3.527 3,96 29,42 6,11

Financeiro 4.191 4.835 6.364 15,37 31,63 8,71

Aluguel 11.389 14.069 16.098 23,54 14,42 7,17

APU 24.433 32.561 42.325 33,26 29,99 11,62

Outros serviços 11.914 14.496 19.125 21,66 31,94 9,93

Fonte: IBGE (2017). Elaboração própria. *Produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza

urbana.

91

Os dados da Tabela 08 tratam da distribuição do valor adicionado bruto em

porcentagem dos setores de atividades econômicas, nesse sentido, destaca-se que os referidos

dados também estão divididos em dois quinquênios, a fim de, aduzir com maior clareza as

características do setor mineral vis-à-vis os demais setores de atividades econômicas.

Desse modo, depreendem-se as seguintes informações do primeiro quinquênio.

Dentre os setores elencados pela tabela 08, as atividades de extração mineral alcançaram a

maior taxa média de crescimento de referido período, registrando um crescimento, de 16,57%.

Tal característica é corroborada pela variação extremante positiva, registrada no período de

2002 a 2004, a qual mensura uma variação em torno de 90%, porém, no período seguinte,

2004 a 2006, a performance não se estendeu, alcançando variação modesta de 12%.

Dois componentes corroboram para a dinâmica positiva do setor de extração mineral,

um de caráter econômico e outro de caráter técnico, pois, nesse período, destaca-se que as

exportações internacionais44

têm contribuído fundamentalmente para manter as Taxas de

crescimento do setor de mineração, sendo que, a China é um importante demandante desse

minério amazônico. O segundo componente de caráter técnico, diz respeito a alta qualidade

do minério da Amazônia, permitindo assim, assegurar relativamente a demanda internacional.

Tabela 09. Participação da extração mineral em % do PIB Industrial 2002 a 2011

Brasil, Região, UF

- Ano 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Amazônia Oriental 12,68 14,15 15,66 16,94 15,00 13,98 26,40 21,49 38,06 40,58

Pará 25,08 26,60 27,17 29,05 26,38 23,88 43,40 41,02 62,26 63,18

Maranhão 1,54 6,09 11,21 12,15 7,11 7,38 15,51 12,52 14,24 13,94

Amapá 10,37 14,71 4,66 7,07 6,47 18,66 10,32 5,97 21,14 14,33

Tocantins 1,05 1,18 2,84 2,13 1,85 1,57 2,43 2,65 2,07 3,38

Mato Grosso 1,29 1,54 1,70 1,11 1,68 1,02 1,09 1,05 0,91 2,28

Norte 11,52 12,08 13,09 14,02 12,97 11,64 21,82 16,07 30,21 33,55

Brasil 6,10 6,37 6,72 8,65 10,38 8,53 11,63 7,00 10,60 14,24

Fonte: IBGE (1002 - 2011). Elaboração própria.

44 Sobre as exportações do Brasil, Trindade aduz sobre a perspectiva que a economia brasileira tem adentrado num “padrão de especialização primário exportador” nas ultimas décadas (TRINDADE e OLIVEIRA, 2014, p.

59).

92

De maneira geral, observa-se que a participação da indústria extrativa mineral na

composição do PIB industrial tem aumentado em todas as regiões apresentada na tabela 09.

Contudo, a principal ênfase de crescimento recai sobra a contribuição ascendente que a

indústria extrativa mineral realiza na economia do estado da Pará, pois, verifica-se que, a taxa

de crescimento médio do período que vai de 2002 a 2011, registra um crescimento de 30%.

Os dados da tabela 09, também registram a forte contribuição da indústria extrativa

mineral no PIB industrial da Amazônia oriental, pois, no fim do período verifica-se que a

participação da indústria extrativa abarca mais de um terço do total do PIB industrial da

referida região.

Sendo assim, daqui em diante, busca-se avaliar a dimensão da dinâmica econômica

do setor mineral, concatenado pelos aspectos de influência dos investimentos estrangeiros na

região, porém, cabe aqui destacar, primeiramente, a distribuição do investimento estrangeiro

direto por região do Brasil, e desse modo, levando-se em consideração a divisão das unidades

federativas, a partir da organização dos estados que compõem a Amazônia Oriental45

.

Tabela 10. Estoque IED por Região do Brasil, valor e % 2000 e 2005

IED Regiões Brasil

2000 2005 2000 -

2005

2005 -

2000

valor R$ mil % valor R$ mil % Variação

(%)

Taxa

Média

Cresc a.a

(%)

Amazônia Oriental 2.971.447 1,48 3.878.063 1,02 30,51 4,54

Amazônia Ocidental 1.974.498 0,98 4.015.966 1,05 103,39 12,56

Nordeste 6.270.446 3,11 18.819.082 4,94 200,12 20,10

Centro Oeste 2.624.183 1,30 6.203.561 1,63 136,40 15,42

Sudeste 171.415.956 85,10 315.019.797 82,66 83,78 10,67

Sul 15.975.013 7,93 32.570.831 8,55 103,89 12,61

Exterior* 203.028 0,10 575.686 0,15 183,55 18,97

Total 201.434.571 100 381.082.987 100 89,18 11,21

Fonte: Bacen (2000, 2005). Elaboração própria. * O item Exterior, ajuste da Consolidação é a dedução para

minimizar risco de dupla contagem na consolidação. investimentos estrangeiros indiretos de primeiro grau no

País (Bacen).

45 Amazônia oriental inclui PA, AP, MA, TO e MT. Sendo assim, nordeste sem MA e centro-oeste sem MT.

93

A distribuição do investimento estrangeiro direto por região do Brasil, conforme

apresentado na tabela 10, construída a partir dos dados do censo de capitais estrangeiros do

Banco Central do Brasil (Bacen), aduzem que os estoques de IED na economia brasileira, são

concentrados, essencialmente, no sudeste, pois, como pode ser notado, nos dois períodos de

análise, o sudeste obteve uma concentração de IED de 85% e 82% em 2000 e 2005,

respectivamente.

Desse modo, observa-se que a expressiva quantidade de estoque de IED para região

sudeste está, fortemente, polarizada pelas atividades econômicas do estado de São Paulo,

caracterizando, assim, o centro de atração dos investimentos estrangeiros direto. Portanto, no

ranking de distribuição do IED por região do Brasil, evidencia-se que, a região sudeste e sul,

indiscutivelmente, assumem as primeiras colocações, em ambos os períodos de analise (tabela

10), seguido de disputa pela posição intermediaria entre nordeste, Amazônia oriental e centro-

oeste, no anos de 2000, todavia, a principal diferença nos estoques de IED nos anos de 2005

foi a posição da Amazônia oriental, que registrou os menores níveis de estoque de IED.

Na comparação entra a Amazônia oriental e a Amazônia ocidental, é relevante

destacar o comportamento do IED entre ambas, pois, a participação na composição total do

IED não se alterou, substancialmente, no entanto, a Amazônia ocidental, apresentou um

desempenho na dinâmica de estoque de IED, mais acentuada que a Amazônia oriental, como

pode ser notado pela variação positiva do estoque de IED, que dobrou, e também, pelo nível

alcançado da taxa média de crescimento de 12,56% ao ano, superando a taxa de média de

crescimento do estoque de Amazônia oriental em 8,02% a.a. Um aspecto elucidativo para

apreender os níveis de crescimento dos estoques de IED na Amazônia ocidental em

detrimento dos níveis de estoque na Amazônia oriental, reside no fato concatenado a presença

forte da dinâmica econômica pautada pela Zona Franca de Manaus, que acabam por

incentivar a atração de IED para referida região.

Como pode ser constatado, o volume de IED para a Amazônia oriental não

compreende grande quantidade de recursos, se comparado com a região sudeste, porém, de

todo modo, os recursos que adentram a Amazônia oriental impactam as atividades

econômicas regionais, portanto, os dados da Tabela 05, descrevem a dinâmica do IED,

especificamente, na Amazônia oriental.

Desse modo, nota-se que a distribuição do estoque do IED realiza-se, centralmente,

entre os estados do Pará, Maranhão e Mato Grosso, sendo que, nos dados referente ao ano de

2000, o Pará registrou maior estoque de IED, concentrando 43,16% do total de IED da

94

Amazônia oriental, no ano de 2005, o estado do Mato Grosso concentra o maior volume de

IED com 39,57%. Sendo assim, de acordo com os dados pesquisados constata-se que o

estoque de IED na Amazônia oriental reside, essencialmente, na tríade Pará, Maranhão e

Mato Grosso que juntos concentraram 99% do estoque de IED em 2000 e 80,30% em 2005.

Nesse sentido, infere-se que a presença do grande capital multinacional e nacional, como a

Companhia Vale no Pará, Alumar no Maranhão e as empresas produtoras de soja no Mato

Grosso tem fortalecido essa dinâmica. Desrtaca-se também, como uma repercussão da

dinâmica do IED, a intensificação das atividades econômicas do Pará e do Mato Grosso, que

se sobre saem, em termos de relevantes exportadores da Amazônia, no entanto, Trindade e

Oliveira assinalam as condições econômicas de exportações desses estados que pode ser

caracterizada da seguinte forma “Amazônia [principalmente, Pará e Mato Grosso] tem

relevância no cenário nacional como região exportadora de produtos primários, com destaque

para produtos da extração mineral (minério de ferro, principalmente), boi vivo e, na zona

fronteiriça com o Centro-Oeste, especialmente a área de contiguidade entre o Mato Grosso e o

Pará, ganha relevância a produção de soja.” (TRINDADE, OLIVEIRA, 2011, p. 285). Desse

modo, pode-se caracterizar esses referidos estados como economias polarizadas pela produção

de commodities e/ou produtos primários.

Tabela 11. Estoque IED por UF da Amazônia Oriental em % e valor 2000 e 2005

IED Amazônia Oriental

2000 2005 2000 -

2005

2005 -

2000

valor R$

mil %

valor R$

mil %

Variação

(%)

Taxa

Média

Cresc

(%)

Amapá 14.129 0,48 446.066 11,50 3057,10 77,78

Maranhão 1.111.660 37,41 744.751 19,20 -33,01 -6,46

Mato Grosso 560.208 18,85 1.534.611 39,57 173,94 18,29

Pará 1.282.375 43,16 834.649 21,52 -34,91 -6,91

Tocantins 3.075 0,10 317.985 8,20 10240,98 116,65

Total 2.971.447 100,00 3.878.063 100,00 30,51 4,54

Fonte: Bacen (2000, 2005). Elaboração própria.

95

Os dados referente a Tabela 11, apresentam uma perspectiva da evolução do IED na

Amazônia Oriental, desse modo, observa-se que no quinquênio 2000 e 2005 o volume de IED

para região em análise variou positivamente em 30%, inferindo, portanto, que a dinâmica

econômica , principalmente, acentuada pela produção de commodities tem influenciado nos

movimentos de expansão de IED para região, sendo assim, corrobora com esse aspecto, a taxa

média de crescimento anual do investimento estrangeiro na Amazônia Oriental, que

apresentou um desempenho de,aproximadamente, 5%

Tratando ainda, sobre o estoque de IED nos estado que compõem a Amazônia

Oriental, segundo a tabela 11, destaca-se a variação negativa em mais de 30% no estoque de

IED do Pará e do Maranhão, seguido também, de uma taxa média de crescimento anual

negativa, e desse modo, permiti deduzir que, os referidos investimento passaram a ser mais

direcionados as atividade econômicas do Mato Grosso, com ênfase para produção de soja.

Tabela 12. Amazônia Oriental exportação e importação em % somente das empresas que

receberam IED 2000 e 2005

IED Amazônia Oriental Amapá Maranhão Mato

Grosso Pará Tocantins Total

Exportação 2000 2,23 21,11 25,27 51,38 0,002 100

Importação 2000 0,25 27,92 30,31 41,42 0,09 100

Exportação 2005 1,66 17,05 63,22 16,45 1,62 100

Importação 2005 1,11 34,52 52,39 10,33 1,66 100

Fonte: Bacen, (2000, 2005). Elaboração própria

Com base no censo de capitais estrangeiros elaborado pelo BACEN, foi possível

elencar, somente, as empresas que receberam IED, no período tratado na tabela 12, e dessa

forma, pode-se fazer uma correspondência entra as exportações e importações que essas

respectivas empresas realizaram. Sendo assim, observa-se que as empresas que concentram

IED no Pará, foram as empresas que mais dinamizaram suas exportações no ano de 2000, e

não por acaso, no mesmo ano o Pará foi o estado que mais entronizou IED na sua economia.

Nesse sentido, uma análise semelhante se faz para o Mato Grosso, pois, no ano de

2005, observa-se que as suas respectivas exportações, registram 63,22% do total das

exportações da Amazônia oriental, realizada pelas empresas que receberam IED no referido

96

período, desse modo, reforçando assim, a relevância do IED na economia do estado do Mato

Grosso. De maneira geral, aduz-se que as empresas receptoras de IED na Amazônia oriental

aumentaram suas exportações, de 2.013 milhões em 2000, para 3.353 milhões em 2005.

Contudo, um aspecto importante pode ser apreendido com relação as exportações e a

dinâmica do IED na amazônia oriental, pois, nesse sentido, depreende-se que a atração de IED

é fortemente, polarizada pela presença do grande capital nacional, e muito mais ainda pelo

capital multinacional, e desse modo, observa-se que o grande capital instalado na Amazônia

oriental se personifica no capital que atua, principalmente, nas atividade de exploração de

commodities, configurando assim, um fortalecimento da dinâmica agroindustrial e mineral na

região, e com isso, implicando na estruturação de uma “reprimarização da pauta de

exportação brasileira”, Trindade (2014).

Sob o aspecto da produção, a economia da Amazônia oriental é marcada pelas

atividades agroindústrias de monoculturas e pelas atividades econômicas da mineração, nesse

sentido, tais dinâmicas econômicas acabam por influencias na conformação socioeconômica

da região, como também, no desempenho do PIB.

Sendo assim, apoiado na perspectiva de que o capital transnacional, cuja presença é

marcante nas referidas atividades econômicas da Amazônia oriental, é um importante

componente de atração de IED para região, aduz-se, portanto, aqui, a noção de que o IED

impacta, relativamente mais, nas economias da região, que tem maior presença do capital

transnacional atuando nos seus respectivos setores econômicos.

Os dados da tabela 13 mostram a participação do IED em relação ao PIB de cada

estado da Amazônia oriental, então, destaca-se que, o IED do ano 2000 foi relevante,

principalmente, para o Maranhão, correspondendo a um índice de acima de 10%, para o

mesmo período, Pará e Mato Grosso, registram um indicador em torno de 5%.

No ano de 2005 o Amapá apresentou um índice superior aos demais estados da

Amazônia oriental, alcançando um indicador de 10%, portanto, a esse respeito, apreende-se

que as atividades de produção de celulose, orientada pelo capital multinacional, grupo Orsa,

tenha influenciado esse dinâmica.

No que diz respeito a Amazônia oriental a relação IED/PIB, também, se caracteriza

com aspecto positivo, alcançando um indicador 6,46 e 3,47 nos anos de 2000 e 2005,

respectivamente, no entanto, apreende-se que a participação do IED foi mais contundente no

inicio da década de 2000.

97

Tabela 13. Amazônia Oriental participação do IED/PIB em R$ mil 2000 e 2005

IED Amazônia Oriental

2000 2000 2005 2005

IED IED/PIB IED IED/PIB

Amapá 14.129 0,72 446.066 10,36

Maranhão 1.111.660 12,07 744.751 2,97

Mato Grosso 560.208 4,17 1.534.611 4,48

Pará 1.282.375 6,78 834.649 2,06

Tocantins 3.075 0,13 317.985 4,13

Total 2.971.447 6,46 3.878.063 3,47

Fonte:Bacen, (2000, 2005). Elaboração própria

Por fim, assinala-se que os fluxos de investimento estrangeiro direto para a economia

brasileira, na década de 2000, tem uma trajetória oscilante, cheio de altos e baixos, desse

modo, o gráfico 07 apreende o comportamento dos fluxos de investimento estrangeiro direto

no Brasil, para o setor de atividade mineral no período de 2001 a 2009.

Portanto, destaca-se que os ciclos de IED para o setor de atividade mineral,

direcionados à economia brasileira começam a ter uma característica mais lancinante, a partir

do ano de 2003, seguido do biênio 2004 e 2005, dado que, nesse período os afluxos de

investimentos estrangeiros adentram a economia do país, concatenados com o aumento da

produção mineral, nesse sentido, evidencia-se a relevância do IED para o setor de atividade

mineral na economia brasileira, deduzindo, portanto, sua contribuição na dinâmica do setor

mineral na Amazônia oriental.

Nos anos subsequentes, apresentado no gráfico 07, assinala-se o impacto na

diminuição dos fluxos de IED em função da crise econômica internacional, dado que a

atividade mineral no Brasil é fortemente influenciada pelo mercado internacional, e como, se

sabe, a formação do preço das commodities se origina também, nas trocas internacionais.

98

Gráfico 07. Fluxo IED* setor de atividade mineral em R$ milhões 2001 a 2009

Fonte: Bacen. *valores convertidos de dólar dos EUA para real do Brasil e deflacionados pelo IGP-DI. Valores

da conversão à cada ano: 2001 - 1 dólar dos Eua = 2,3196 Real Brasil (31/12/2001); 2002 - 1 dólar dos Eua =

3,5325 Real Brasil (31/12/2002); 2003 - 1 dólar dos Eua = 2,8884 Real Brasil (31/12/2003); 2004 - 1 dólar dos

Eua = 2,6536 Real Brasil (31/12/2004); 2005 - 1 dólar dos Eua = 2,3399 Real Brasil (30/12/2005); 2006 - 1 dólar

dos Eua = 2,1372 Real Brasil (29/12/2006); 2007 - 1 dólar dos Eua = 1,7705 Real Brasil (31/12/2007); 2008 –

1dolar dos Eua = 2,3362 Real Brasil (31/12/2008); 2009 - 1 dólar dos Eua = 1,7404 Real Brasil (31/12/2009).

Diante disso, assinala-se que a dinâmica do investimento estrangeiro direto tem

aumentado sua participação nas atividades econômicas da Amazônia oriental, com

considerável destaque para o setor da mineração, nesse sentido, alguns aspectos, até aqui

tratados, corroboram para depreender essa perspectiva.

Em síntese, destacam-se os aspectos que justificam esse diagnóstico. Portanto,

apreende-se inicialmente, o caráter intrínseco do capitalismo, na medida em que a economia

mundial estabelece um processo de internacionalização do capital em nível mundial, e desse

modo, a Amazônia como um todo, e a Amazônia oriental em particular tem sido alvo

intermitente e recorrente da acumulação de capital em escala mundial.

O fato de a Amazônia conter características abrangentes de vastos recursos naturais,

o mesmo é dizer de capital circulante, favoreceram a criação de atividades de produção de

commodities, nesse sentido, enquadram-se nessas características as atividade de mineração,

fortemente, desenvolvida na Amazônia oriental. Desse modo, a associação entre os aspectos

de movimentos de valorização e acumulação de capital em escala mundial, colocou a

Amazônia no endereço de destino das grandes empresas multinacionais.

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Fluxo IED setor atividade mineral

99

Sendo assim, destaca-se que uma das formas de internacionalização do capital se

traduz na dinâmica dos investimentos estrangeiros diretos, portanto, evidencia-se que as

atividades econômicas na Amazônia oriental são influenciadas pela dinâmica do IED. Desse

modo, aduz-se que, o crescente volume de IED presente na economia da Amazônia oriental,

com destaque, para economia do setor mineral, tem dinamizado as respectivas atividades

econômicas nessa região.

No que se refere o impacto do IED no setor mineral da Amazônia oriental, assinala-

se o seguinte, aumento na participação das atividades do setor mineral no PIB, crescente

contribuição no valor adicionado bruto da região, com taxa média de crescimento de 16,57%

no período de 2002 a 2006 e acima de 40% no período de 2007 a 2011, destaca-s também,

uma maior participação na formação do PIB industrial, e também, maior participação nas

exportações das empresas que receberam IED Amazônia oriental, e por fim, destaca-se que a

relação do IED/PIB apresentou em média, um índice de participação de 4,96%, em meados da

década de 2000.

Adensando a analise da participação do capital estrangeiro na região Amazônica,

assinala-se a atuação da presença do financiamento internacional aos projetos de extração

mineral na Amazônia já desde a década de 1950 estabeleceu a estreita interação entre o

controle da produção mineral, por grandes grupos industriais e financeiros internacionais, e a

complexa condição de um dinamismo econômico, somente centrado no extrativismo com

baixa capacidade de irradiamento de desenvolvimento a outros setores da economia local,

cumprindo, basicamente, a função de expropriação de grandes massas líquidas de valores

materiais e sua transferência ao circuito reprodutivo do capital forâneo, sendo que as minas

amazônicas de ferro, manganês e bauxita (alumínio) garantem as grandes empresas do setor

mineral expressiva rentabilidade. Os exemplos do alumínio e do ferro são ilustrativos desta

interação entre o desenvolvimento amazônico contemporâneo e a presença do capital

transnacional e o IED.

Portanto, se extrai desse analise que, a instalação em solo amazônico do complexo

minero-metalúrgico, estabelecendo as diversas etapas necessárias à produção do alumínio

primário, se deu como parte deste movimento internacional de relocalização espacial da

indústria metalúrgica. A ação do Estado nacional foi fundamental na promoção da

implantação destes empreendimentos, sendo que este setor recebe grande prioridade no II

Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND - 1974/1978). Como demonstraram diversos

autores (Leal, 1988; Lobo, 1996), o Estado agiu no sentido de facilitar a associação de

100

empresas nacionais (públicas ou privadas) com grandes corporações transnacionais,

garantindo significativos subsídios e facilidades institucionais e financeiras. Deste processo

resultou a instalação na Amazônia oriental de duas redutoras de alumínio, com os seus

respectivos estágios de transformação de bauxita em alumínio: a ALBRAS/ALUNORTE,

localizadas no município de Barcarena, nas proximidades de Belém e a ALUMAR (Alumínio

do Maranhão), localizada em São Luiz.

Do mesmo modo, a exploração ferrífera de Carajás. A antiga Companhia Vale do

Rio Doce (CVRD), hoje Vale, é a maior empresa privada brasileira, sendo que o

estabelecimento do chamado “Sistema Norte” em meados da década de 1980, centrado na

exploração de ferro em Carajás no Pará, definiu uma forte alteração nas estratégias de

concorrência e expansão da mineradora46. No Projeto Ferro-Carajás (1980) houve três tipos de

financiamento: recursos próprios da ordem de 46,2% (algo em torno de 2,35 bilhões de

dólares); financiamento no mercado financeiro interno (basicamente instituições públicas:

BNDES, BNH e FINAME), cerca de 21,7% (1,105 bilhões de dólares) e financiamento

internacional, em torno de 32,3% (1,638 bilhões de dólares) (FILHO, 1995; SILVA, 2004).

Deve-se denotar que com a privatização da CVRD, os serviços e amortizações dessa divida

permaneceram estatais, enquanto o patrimônio e os ativos financeiros foram privatizados,

velha máxima mendeviliana: “ônus públicos, benefícios privados”.

46 Quanto as condições estratégicas e alterações na trajetória da empresa CVRD/Vale antes e pós privatização

ver a dissertação de mestrado de Santos (2011). Observar que o referido estudo, mesmo sendo pouco critico, destaca que a grande inflexão na trajetória da empresa se deu na década de 1980 e, precisa o autor, com o

estabelecimento do Sistema Norte de exploração mineral em Carajás (SANTOS, 2011, p. 156-175 ).

101

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O modo de produção capitalista desenvolve características expansionistas e

internacionais, como condição sine qua non para manter o processo de acumulação de capital

em escala ampliada, nesse sentido, a formação do capital transnacional, responde em última

estância aos movimentos pertinentes a dinâmica endógena de valorização do capital, a fim de,

encontrar as condições propicias para por em vigor a lei do valor, nesse sentido, as economias

periféricas ao centro dinâmico do capitalismo mundial, passaram a ser alvo de interesse para

realização do processo de internacionalização do capital.

Sendo assim, economias periféricas como o Brasil são integradas pelo sistema do

capital mundial, e passam a responder economicamente, dentro de uma lógica estabelecida

pelos grandes capitais multinacionais, que configuram, teoricamente, como um nível mais

elevado de centralização de capital.

Desse modo, a medida que, o capital transnacional dita as regras de acumulação de

capital em escala mundial, os espaços econômicos de produção e realização do valor são

disputados vis-à-vis o acirramento da concorrência intercapitalista, e nesse sentido,

depreende-se que o locus econômicos constitui um componente importante à ser subsumido

pelo capital, em defesa da manutenção do processo de acumulação de capital em escala

internacional. Nesse sentido, a analise que se ensejou aqui, buscou tratar a amazônia oriental

dentro dessa dinâmica de internacionalização do capital.

Pode ser obervado, historicamente, que a Amazônia, em particular a Amazônia

Oriental, tem cumprido o papel de fornecedora de recursos naturais, principalmente, de

recursos, minerais, energéticos e alimentares in natura, como por exemplo, boi vivo e soja,

desse modo, ressalta-se a característica de que, a Amazônia tem desempenhado o papel de

espaço recorrente e intermitente, para dinâmica do processo de acumulação de capital.

Portanto, com o estudo da formação do capital transnacional e dinâmica do

investimento estrangeiro direto na Amazônia oriental pode-se depreender que, embora, o

volume de IED para economia da referida região não é absurdamente grande, pois, as regiões

sudeste e sul concentram a maior parte, no entanto, a hipótese sobre o desempenho do

investimento estrangeiro direto, associado, a dinâmica do capital transnacional, na Amazônia

Oriental, corroboram os aspectos de fortalecimento do capitalismo dependente na referida

região.

102

Nesse sentido, quando se observa a atuação do investimento estrangeiro direto

revigorando, a atuação do capital transnacional, a partir, do adensamento das atividades

econômicas de produção de commodities, conclui-se, portanto, que a dinâmica econômica

desenvolvida na Amazônia Oriental não rompeu com o padrão de dependência econômica, a

muito tempo, estabelecida aqui na região. Nesse sentido, a tônica, da economia amazônica se

perpetua, na configuração de um espaço recorrente e intermitente para manutenção do

processo de valorização e acumulação de capital.

103

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