fernanda botta: portfólio: revista noize: 2008-2009

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O Black Crowes dificilmente igualará By your side, álbum lançado em 1999 logo após terem assinado com a Columbia Records. Nele esta-

vam algumas das melhores músicas da banda, como as eletrizantes “Ki-ckin’ my Heart Around” e “Go Faster”. Antes disso, já haviam composto canções do quilate de “Hard to Handle” e “Remedy”, entre outras, mas é inegável que Warpaint não é uma tentativa frustrada de reerguer um gigante adormecido. É, isto sim, uma afirmação de talento. A mistura de blues, hard rock e pop está afiada e em boa forma. Basta ouvir o refrão de “Evergreen” e a introdutória “Goodbye Daughters of Revolution” para termos certeza de que são os Crowes, e que eles não perderam o jeito. É um som que já conhecemos, mas não cansamos de gostar. Gustavo Corrêa

A suavização das percussões e os vocais mais melodiosos de Fome de Tudo afastam a Na-ção Zumbi do defasado rótulo de maracatu.

No entanto, não significam um disco menos brasileiro até o osso—a começar pela temática da fome. O tom de manifesto das canções é atenuado por um Jorge du Peixe de canto mais suave do que marcado, que ao fazer esse movimento, torna a música mais fresca. Fome de Tudo está ainda mais samba e rock do que o manguebeat genuíno de Chico Science. Mesmo assim, o experimentalismo que une cítaras, berimbaus e distorção em “Onde Tenho Que Ir” denunciam: por trás da roupagem em geral mais pop, pulsa a velha força motriz do seminal Da Lama ao Caos. Escute antes do almoço pra ficar pensando melhor. Fernando Corrêa

Tenho que admitir que não sou uma grande fã de discos ao vivo. Preferências à parte, tive que colocar Daft Punk Alive 2007 no hall das

exceções. O disco foi gravado na apoteótica apresentação de Guy-Ma-nuel e Thomas Bangalter em Paris, em meados de junho do ano passado. O disco é uma espécie de coletânea definitiva que celebra aquilo que todos já sabem - sim, Daft Punk é uma das melhores coisas já inventadas quando se fala em música eletrônica - e isso tudo acompanhado de al-gumas improvisações e um público muito empolgado . Uma das melho-res novidades é a mistura de músicas, como no caso da colagem genial de “Around the World” com “Harder Better Faster Stronger” em faixa única, entre outras fusões divertidas dos clássicos da dupla francesa. Refrescante e altamente recomendável. Gabriela Lorenzon

Desde 83 os fãs esperam pelo último suspiro dos mestres do pós punk. Pois bem, espera-vam. Go Away White é a despedida definitiva do

Bauhaus. Mais redondo do que os discos que marcaram a trajetória da banda, pode até decepcionar fãs mais exaltados. Decepção aceitável quando nos deparamos com um Bauhaus com ares de indie rock, com músicas que lembram uma mistura de Love and Rockets, banda formada posteriormente por Peter Murphy, e sonoridades de bandinhas moder-ninhas influenciadas pelo trio. O disco é razoável. Confirma o lugar dos britânicos como referência indiscutível na história da música, mas soa mais como uma saída pela porta dos fundos. Mesmo sendo mais nostál-gico que surpreendente, Go Away White pode sim ser uma boa forma de relembrar e dar adeus aos pais do gothic rock. Gabriela Lorenzon

São tempos turbulentos para o Nine Inch Nails—no bom sentido. Ghosts I – IV, lançado 5 meses após o rompimento da banda com a Interscope, teve um sucesso estrondoso. Disponibilizado através do site oficial (em uma série de formatos), vendeu US$1.619.420 só na primeira semana. Não poderia ser diferente: as suas 36 faixas, todas instrumentais, provavelmente não agradariam qualquer gravadora—o que não quer dizer que não tenham qualidade, em absoluto. A “trilha sonora para sonhos diurnos” de Trent Reznor, construída com guitarras e sintetizadores, é deliciosa. As melodias, marcadas volta e meia por pianos e pelo som industrial que caracteriza a banda, indicam uma nova—e ótima—fase. Fernanda Botta

NINE INCH NAILSGhosts I-IV

bLACk CROWESWarpaint

NAÇÃO ZUMbIFome de Tudo

DAFT PUNkAlive 2007

bAUHAUSGo Away White

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O Supergrass reinventa-se em Diamond Hoo Ha. Não que isso seja uma novidade; quem conhece a discografia deles sabe como

gostam de mudar de um álbum para outro. Depois da briga entre o vocalista Gaz Coombes e o baterista Danny Goffey, e do ataque de sonambulismo que fez o baixista Mick Quinn cair do primeiro andar, DHH traz o vigor de que alguns sentiram falta em Road to Rouen (que eu acho um álbum fantástico). Um disco com audíveis referências a Bowie, Dylan e T-Rex. Músicas como “Bad Blood”, “Ghost of Friend” e “Rebel in You” (poderia citar o album na íntegra) mostram que quem fala que o Grass deveria ter acabado há algum tempo, ou nunca gostou da banda ou não envelheceu tão bem quanto eles. Obra! João Augusto

Tal como o Fall Out Boy em Infinity on High (2007), o Panic At The Disco demonstra em seu novo disco ambição e talento suficientes

para colocar-se um degrau acima da mesmice emorock atual (aquela das melodias previsíveis e da estética extrapolada). Sim, eles têm o visual de cartilha, mas o que realmente quero destacar—pois é o que mais importa aos ouvidos—é a música. Pretty Odd, como o próprio nome diz, não é um álbum convencional. Trata-se de uma grande mistura de estilos, vertentes e referências, que começam no emo, mas passam por folk, Beatles, jazz, desenhos animados… A facilidade para criar excelen-tes melodias, como comprovam “Nine in the Afternoon” e “That Green Gentleman”, persiste. Gustavo Corrêa

Para o grande público, The Raconteurs é o projeto paralelo de Jack White, e Brendan Benson, uma incógnita. Consolers of the Lonely

não deve mudar essa concepção. Sem desmerecer Benson, que tam-bém é frontman e assina as composições, o álbum transborda White. Ou seja, é mais rápido, intenso e frenético que o antecessor, Broken Boy Soldiers (2006). O primeiro single, “Salute Your Salution”, segue essa linha e tem tanto poder de fogo quanto “Steady as She Goes”. No en-tanto, as inovações param por aí. Afora isso e o lançamento apressado que, controvérsias a parte, pôs todo mundo para correr, Consolers, de maneira geral, só consolida o que a banda faz de melhor: o bom e velho rock, com raízes fincadas nos anos 60 e 70. Já está mais que bom. Fernanda Botta

Moby é conhecido por criar climas extrema-mente dançantes. Nesse sentido, Last Night deixou a desejar. Dá para perceber uma mu-

dança de percurso na carreira do cara desde Play (1999). Last Night parece uma longa e cansativa rave nova-iorquina, cheia de referências a hip-hop e disco music. O que sempre admirei no Moby é a capacidade de mixar as mais diferentes tendências e conseguir um ótimo resultado. Não que o experimentalismo tenha sido deixado de lado; pelo contrá-rio. Batidas eletrônicas pesadas, MCs, pianos e violinos são a base de todo o disco. O problema é que, mesmo com algumas músicas muito boas, como “Disco Lies”, não dá para passar da quarta faixa sem que algo soe muito repetitivo. Gabriela Lorenzon

O novo álbum da rainha do pop parece um pouco confuso em meio ao excesso de per-sonalidades escaladas para sua produção. Por outro lado, o álbum prima por conciliar a incursão ao hip-hop com um revival da música que celebrizou Madonna.Em “Candy Shop” e em “4 Minutes”, gemidos e batidas mirabolantes subtraem parte do potencial dançante das músicas. As ótimas “Heartbeat”, “Spanish Lessons” e “She’s Not Me” remetem ao que há de melhor e de mais empolgante em True Blue e em American Life. Destaque também para a faixa que fecha o disco, a profunda “Voice”.Mesmo com a falta de coesão, o disco agrada tanto a fãs que queriam algo de novo quanto aos que queriam de volta um pouco das antigas facetas da diva. Fernanda Grabauska

MADONNAHard Candy

SUPERGRASSDiamond Hoo Ha

PANIC AT THE DISCOPretty.Odd.

RACONTEURSConsolers of The Lonely

MObYLast Night

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Se não fez uma, quem já saiu da ado-lescência ao menos está familiarizado com o termo: fita demo. Um dos sím-bolos máximos da produção tradicional de música, a fita demo, em um passado recente, ainda era o sonho de muitos músicos.

Custeá-las nem sempre era possível, e o resultado, sempre incerto. Afinal, as fitas demo (demo tapes, do inglês demons-tration), amadoras ou feitas em estúdio, tinham como finalidade apenas demons-trar o som do artista para as gravadoras - como dita o nome -, que poderiam ou não se interessar pelo material. Firmado um contrato de gravação e de vendagem, a empresa podia ainda modificar da so-noridade ao visual do músico de acordo com as suas metas comerciais. Sua ditadura, vigente desde os tempos do vinil, segue, até hoje, com apenas al-gumas poucas modificações, como a di-minuição do seu custo de produção e a mudança do formato da fita cassete para o CD. No entanto, tudo indica que ela está prestes a cair - graças à internet, que revoluciona, de forma definitiva, o modo de produzir e de consumir música.

A idéia de demo já não é assimilada por muitas bandas, algumas das quais nem ao menos buscam contrato. O que se tem visto é a divulgação de não só um traba-lho, mas diversos. A versão física também tem funcionado mais como um cartão de visitas, pela arte principalmente.

É o caso da banda Apanhador Só, que produz a capa de seus discos à mão. “Hoje, com o download gratuito, apenas

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a capa se transforma, realmente, no cha-mativo do CD. A arte tem que ser bem feita, bem estudada”, afirma Rodrigo Pacote, baixista da banda. “A nossa idéia inicial era ter um encarte legal, que não tivesse um custo muito alto. Muitas pes-soas realmente acham que o encarte é impresso. Todos os feitos até hoje tive-ram nosso dedo. Acho que a parte mais interessante disso é que não se têm dois encartes iguais. Isso torna cada CD uma preciosidade, algo impossível de ser co-piado”, complementa.

Se a rede era uma dor de cabeça para as gravadoras já na época do Napster, pai dos programas p2p (do inglês peer to peer, que permitem a troca direta de arquivos entre os internautas), imagine-se em tempos de In Rainbows e Ghosts I - IV (primeiros discos independentes de Radiohead e Nine Inch Nails, respectiva-mente, lançados na internet).

A verdade é que, se já representou um problema para os próprios músicos, em função dos downloads ilegais, a rede tornou-se aliada. Primeiramente, como ferramenta de divulgação: há algum tem-po, já é fundamental que o artista possua site próprio. Entretanto, foi com a cria-ção de sites como MySpace e Youtube que a internet assumiu este caráter de forma definitiva.

O MySpace, embora funcione essen-cialmente como uma rede de relacio-namentos, dispõe de uma ferramenta específica para divulgação de música, intitulada “Myspace music”. Utilizada até por gigantes da música, como Morrissey e Neil Young, também permite que músi-

cos iniciantes mostrem seu trabalho. Por meio da página, o artista possui canal di-reto com o público, além da liberdade de disponibilizar seu material como desejar - trecho ou download completo.

O serviço possui similar no Brasil, com algumas diferenças. Trata-se do site Tra-maVirtual, subproduto da gravadora Tra-ma que foi criado justamente pela im-possibilidade da empresa de dar conta do grande volume de demos recebidas. O foco é o músico iniciante, obviamen-te.

Apesar de não contar com a opção de audição de trecho, iniciou um serviço de download pago recentemente. Impensá-vel até pouco tempo, o serviço funciona da seguinte forma: empresas “amigas” da música independente fazem doações mensais. Ao final de cada mês, o total recebido é somado e dividido de acor-do com o número de downloads, assim definindo o seu preço. Para receber seu dinheiro, o artista deve acumular mais de R$50,00 na pontuação. Se a meta não é atingida até o final do mês corrente, os pontos ficam acumulados.

Em suma, uma iniciativa digna de nota. Sem gastar um centavo, a gravadora con-seguiu proporcionar alguma remunera-ção aos músicos, mesmo que simbólica. Para Rodrigo Pacote, esse é um ponto alto: “São duas vias de apresentar o tra-balho e ter um retorno. Não me chame de hipócrita, mas ser músico é um tra-balho”, ri.

Outro aspecto relevante do site é que, através dele, muitos artistas também

Em menos de uma década, a internet mudou, inteiramente, concepções tradicionais de produção e de consumo no mundo da música. Se, em um primeiro momento, foi mal vista, não só pelas gravadoras como por alguns artistas, em pouco tempo, tornou-se ferramenta essencial de divulgação. Por último, passou a criar seus próprios fenômenos, como as bandas Arctic Monkeys, CSS e Clap Your Hands Say Yeah!. A nova revolução, protagonizada por bandas como Nine Inch Nails, Radiohead e Ra-conteurs, sugere um futuro sem intermediários – gravadora ou mídia.

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têm retorno do o público que conquistam, e alimenta suas apresentações. Um exem-plo é a banda paulista Dance of Days, que vende os próprios discos e realiza turnês, sempre com o uso do TramaVirtual como ferramenta de divulgação.

FENÔMENOS PRÓPRIOSOs dois sites, ainda que muito diferentes entre si, partilham do mesmo conceito (divulgação de música, exclusivamente independente, no caso do TramaVirtual) e são responsáveis por dois fenômenos similares. O fenômeno do MySpace chama-se Arctic Monkeys. O disco de estréia da banda inglesa, Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, vendeu 363.735 cópias apenas na sua primeira semana, tornando-se o álbum mais vendido na primeira semana no Reino Unido. O sucesso “repentino” aconteceu, em muito, graças ao site e um intenso boca-a-boca promovido na rede, em blogs e em outros meios.

O TramaVirtual, por sua vez, impulsionou o sucesso da banda paulista Cansei de Ser Sexy. No topo de sua lista de “mais baixadas” por semanas, a CSS, como é mais conhecida, foi escalada para o TIM Festival e conseguiu atrair a atenção de produto-res de shows, jornalistas estrangeiros e até do selo norte-americano Sub Pop, que promoveu uma turnê da banda nos EUA. A faixa “Meeting Paris Hilton”, do álbum de estréia homônimo, rendeu um convite da socialite para conhecê-los pessoalmente.

Nos dois casos, bem como em outros mais recentes, como o da banda americana Clap Your Hands Say Yeah!, reconhecida por conseguir sua fama inicial e sucesso comercial pela internet, o público influiu diretamente no sucesso da banda: coube à gravadora apenas lançar seus discos e promover suas turnês e material de divulgação. Nada foi alterado para que o material se tornasse mais radiofônico ou o visual mais digerível, uma vez que o público já os havia aceitado.

Ou seja, além de ser ferramenta indispensável de divulgação, a internet também vem provocando a criação de uma nova forma de consumo, baseada em mercados de nicho - na qual quem manda é o público.

A NOVA REVOLUÇÃONo entanto, a cereja do bolo está na distribuição, como visto nos últimos lança-mentos do Radiohead, do Nine Inch Nails e, mais recentemente, do Raconteurs. Fiquemos aqui com os sites próprios, sem incluir outras formas de distribuição como a iTunes Store, loja da Apple que disponibiliza o download de faixa por um custo médio de US$ 0,99. A iTunes Store, bem como outros sites neste modelo, não só “fere nosso senso de justiça econômica”, como bem colocou Chris Anderson, editor da revista americana Wired, por não incluir gastos de arte ou prensagem, como é um caso a parte.

Embora o grupo de Jack White não tenha lançado seu último disco, Consolers of the Lonely, de forma independente, o fez após apenas uma semana depois de anunciá-lo, e o mais interessante: em vinil, em CD e em mp3, simultaneamente. Já In Rainbows (Radiohead), Ghosts I - IV e The Slip (ambos do Nine Inch Nails) foram produzidos e distribuídos pelos próprios artistas de forma variada. No caso de In Rainbows, a banda disponibilizou o disco no site oficial cobrando apenas o que o público estivesse dis-posto a pagar pelo download, mais edições físicas e especiais (estas com preço fixo). Trent Reznor, o homem por trás do Nine Inch Nails, também fez uso desse recurso com Ghosts I – IV, com sucesso (o pacote ultra deluxe contendo 4 belos vinis, pela

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bagatela de US$300, esgotou-se rapidamente). A diferença é que, ao invés de liberar o download, deixando a critério do público pagar ou não por ele (e quanto), Reznor disponibilizou apenas as primeiras faixas gratuitamente. Fixou o download completo em US$ 5,00. The Slip, lançado no mês passado, foi liberado de forma gratuita, com previsão de versões em CD e em vinil apenas para o mês de julho.

Formas de distribuição à parte, produção e distribuição independente pela internet, com ou sem selo próprio, parece ser a tendência – ao menos para os já consagra-dos. Tendência essa extremamente vantajosa para artista e para público, diga-se de passagem.

Para o artista, se não elimina o leaking, o vazamento do álbum antes do lançamento, ao menos ajuda a contorná-lo. Com material de qualidade superior ao que circula na rede distribuído de forma rápida e a preços convidativos, não poderia ser de outra forma. Além disso, como ficou comprovado no caso de Ghosts I – IV e em tantos outros, quem é fã compra o disco. E mais: compra material exclusivo, leia-se aí vinis e outros produtos diferenciados.

Outra vantagem substancial é o retorno financeiro. Sem precisar pagar qualquer porcentagem a terceiros, o artista lucra integralmente com sua obra. De acordo com a Rolling Stone argentina, que, na sua edição de maio, publicou uma matéria intitulada “Quem precisa das gravadoras?”, tanto Reznor quanto a banda de Thom Yorke ar-recadaram mais com seus últimos lançamentos independentes. Enquanto Year Zero (1997), do Nine Inch Nails, vendeu um total de US$ 960.000, Ghosts I – IV vendeu US$ 1.619.420 só na primeira semana. Enquanto Hail to the Thief (2003) rendeu US$ 2.000.000, In Rainbows rendeu cerca de US$ 5.000.000, com um custo médio de US$ 6,00 por unidade.

A matéria ainda menciona rendimentos superiores em outros tipos de negociação sem relação com gravadoras, como o caso da banda The Eagles que, ao fazer um acordo de venda exclusivo com a rede de supermercados Wal-Mart, saiu lucrando quase quatro vezes mais do que se tivesse um contrato típico da indústria fonográ-fica. De maneira geral, a regra parece ser um retorno rápido do investimento e uma certa, quando não completa, exclusão de intermediários.

Obviamente, também ganha o público. No caso do Raconteurs, ele parece ter sido a preocupação principal. Apesar da suspeita de muitos (principalmente da mídia) de que o lançamento tenha sido apressado por medo de que o álbum vazasse, White foi enfático em uma nota no site oficial: “O Raconteurs preferiu esse tipo de lançamento para VOCÊ ouvir o trabalho antes de alguém defini-lo por você”.

Na distribuição, o público ganha em exclusividade, em rapidez, em facilidade e em qualidade, como já foi mencionado. No fenômeno como um todo, ganha um papel ativo, determinando o que é sucesso, o que quer escutar. A definição não cabe mais à indústria fonográfica. Como a fita demo, um de seus símbolos, ela perde lugar.

Embora as previsões sejam pessimistas, ainda não se pode afirmar que as gravadoras não conseguirão reverter o quadro. De qualquer forma, não restam dúvidas de que, para tal, precisarão adaptar-se à rede e aos novos desafios a ela propostos. Se não o fizerem, serão varridas por essa nova forma de consumo com a qual, exceto elas, todos lucram. Ou ao menos a parcela mais importante, músico e público.

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NOIZE: Wander Wildner mor-reu. Com quem eu falo agora, com Gonzo ou com o Español Selvagem?Wander: Ah, quem falou isso foi o Marcelo Ferla, é um escritor fazendo uma matéria sobre um artista popular, e eu estou tirando sarro dessa história de rotular todo mundo. Eu nunca disse que era punk brega. Eu falei que o primeiro disco que eu fiz era punk brega. Do mes-mo jeito que eu falei que eu sou de Re-cife, para ver se as pessoas se dão conta que elas não têm que ficar julgando nada, elas têm só que produzir coisas.

NOIZE: Mas o que muda nessa nova fase?Wander: O disco novo vai além dos outros, tem muitas características que não tinham os discos anteriores. O Bala-das Sangrentas e o Pára-quedas do Cora-ção, produzidos pelo Tom Capone, têm uma característica. O Eu sou feio... Mas sou bonito e o Buenos Dias foram produ-zidos por mim, são discos mais simples. Este, La Canción Inesperada, é produzido pelo Kassin e pelo Berna. É outra época, as músicas são outras, são outros sons. Agora eles botaram cada música numa direção, é um outro trabalho.

NOIZE: Na passagem de som notei novos elementos, a gaita... Essa é uma característica da nova fase?Wander: A gaita sempre teve. Mas acho que as características são os ins-trumentos que eles gravaram que eu não tinha antes. O disco tem um monte de instrumentos. E não é só isso, são as mu-sicas... Não é uma coisa só que define, é um somatório de coisas. Não é um disco punk, não é um disco de rock. O único rock que tem é diferente, também.

NOIZE: Não é romântico...Wander: Não é uma característica dele, os outros eram, esse é um disco de sonho. Tem umas histórias de amor, mas ele fala mais sobre a aventura da vida, sobre viagens. Sobre aventura mesmo, aventura em todos os sentidos.

NOIZE: Por falar em romantis-mo, o que tu achas do emo?Wander: Eu não estou ligado nisso, não. As pessoas estão participando do que a tevê está mandando participar. Eu não vejo isso assim. Não tenho uma posição, não conheço nenhum emo, não sei como é. Não ouço essas músicas, não passo próximo delas. Eu estou por ou-tros sons. Não é do meu universo.

NOIZE: Perguntado sobre como lidava com criticas negativas, o vocalista da Nx Zero respondeu que tu eras adorado pela critica, mas fazia show na Augusta para 25 pessoas no máximo.Wander: Eu não perco tempo com isso. Eu faço show para 25 pessoas, sou popular, sou amador, não quero compe-tir com ninguém. Não tenho gravadora que paga jabá na rádio. Não estou liga-do à máfia, não tenho as mãos sujas de sangue. Eu não sei o que ele disse, não leio essas coisas. Tu achas que não tinha crítica aos Replicantes? Os próprios amigos não falavam mal. Tu achas que a gente se preocupou com isso na época? Claro que não.

NOIZE: Porto Alegre e os Repli-cantes ficaram para trás? Wander: Eu voltei pros Replicantes de 2003 a 2006. Não consigo nem gos-to mais de cantar as minhas músicas rápidas. Já fiz isso muito. Eu gosto cada vez mais de balada. E a vida faz eu me

mudar de tempos em tempos. Moro há três anos e meio em São Paulo, e é uma cidade do caralho.

NOIZE: Como foi tocar no Abril Pro Rock?Wander: Ótimo! Recife é a minha cidade, eu sou de Recife. Tenho muitos amigos lá. Tocar lá é uma festa. Era esse som novo, o pessoal gostou.

NOIZE: Algumas pessoas pen-sam que tu és cheio por não gostar de dar autógrafos.Wander: As pessoas não sabem o que estão fazendo. Esse fanatismo não é saudável. As pessoas vêm falar comigo batendo nas costas, como se me conhe-cessem. Eu não faço isso com ninguém. Elas conhecem a minha música, só isso. A minha mãe me ensinou desde pequeno, “nunca fale com estranhos”. Então eu, se vou falar com um estranho, cumprimen-to, me apresento e aí converso com a pessoa. As pessoas não fazem isso. Pra mim é quase uma agressão.

NOIZE: Mas tu não achas gra-tificante teu reconhecimento pelo Brasil? Wander: Não é desse tamanho todo. Essa coisa de ser conhecido e famoso é pra quem é do show business, toca em todas as rádios. Eu não sou disso, sou bem reconhecido no circuito alternati-vo, basicamente, toco em alguns lugares pequenos e apareço na MTV por que me dou bem com eles. Estou com o alu-guel e o condomínio atrasados, só não toco na rua porque não é muita gente que toca, daí eu vou passar por doidão (risos).

Se Wander Wildner não morreu, ao menos mudou. É a impressão que fica com La Canción Ines-perada, disco lançado em Porto Alegre no último dia 18, no bar Opinião. Mais afastado do punk brega e do romantismo, o cantor chega a uma nova fase. Em entrevista à Noize, ele falou sobre isso, sobre o reconhecimento dos fãs, sobre a doença do fanatismo e um tanto mais.

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> nOIzE.COM.BR - Confira muito mais da entrevista em nosso site.

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Depois da incursão retrô de Riot City Blues, o Primal Scream volta a fazer o que sabe (e muito bem). Beautiful Future é um disco pop

energético, que, como bem ilustra o título, pouco trata do passado. Classificado pelo líder Bobby Gillespie como “balas envoltas em açú-car”, é, na verdade, isso mesmo: as letras afiadas tratam de temas diver-sos e, muitas vezes, pesados, enquanto o electro-rock convida a dançar. As únicas faixas mais lentas são “Beautiful Summer” e “Over & Over”. Em geral, as músicas são de pista, mesmo quando pesam nas guitarras – como na roqueira “Urban Guerrilla”. “I Love to Hurt (You Love to be Hurt)” ainda traz a participação mais adequada impossível de Love-foxxx. Mais um bom trabalho de uma banda que, reinventando-se ao longo de duas décadas, nunca se perde. Fernanda Botta

¿Cómo te Llama?, segundo álbum do Stroke Albert Hammond Jr, decepciona. Não por ser

material de má qualidade, mas por dar uma guinada (para baixo) muito grande, se comparado ao primeiro disco, Yours to Keep. Enquanto este oferecia uma sonoridade mais suave, com instrumental sofisticado, o novo álbum é mais do mesmo: é, praticamente, um CD dos Strokes, só que com vocais mais suaves. Mesmo assim, não deixam de haver pas-sagens surpreendentes: “Spooky Couch”, faixa instrumental com Sean Lennon no piano, é ótima, e “Feed me Jack or How I Learned to Stop Worriyng and Love Peter Sellers” (assista a “Dr. Fantástico” para enten-der o título alternativo) lembra “Cartoon Music for Superheroes”, do primeiro CD. Escute sem muita expectativa. Fernanda Grabauska

Faz algum tempo que Beck se afastou do hip hop lo-fi familiar para os fãs, especialmente em Odleay, que para alguns continua sendo o seu

melhor trabalho. A partir do Midnite Vultures, de 1999, o cantor entrou num clima influenciado por groove e pelos bons ritmos das pistas de dança, além de apresentar alguma intimidade com o folk e com músicas orquestradas. Agora, ele volta a trabalhar a versatilidade da sua voz com a energia que faltava. Modern Guilt surpreende pelo senso de unidade. Foi produzindo pelo DJ Danger Mouse, que também produziu trabalhos do Gorillaz e de Jay-Z. Destaque para a delicadeza dos vocais de Cat Power, convidada para participar na faixa “Orphans” e para a vibração sessentista da faixa-título. Gabriela Lorenzon

Os Rascals são uma banda mediana. Logo, lançaram um disco de estréia mediano. Ras-calize não foge ao estilo dos padrinhos Arctic

Monkeys - apenas soa um pouco mais sinistro. O álbum começa bem com a faixa-título, que remete a Magical Mistery Tour, clássico dos Be-atles (“All on board for the adventure”, canta o vocalista Miles Kane). Pontos marcantes são as faixas “Bond Girl” e “I’ll Give You Simpathy”. De maneira geral, é um álbum sólido e bem construído. No entanto, falta algo. À exceção dessas canções, a maioria passa batida. Apesar dos bons riffs, que têm lá o seu mérito, os Rascals parecem não conseguir produzir nenhuma música que vá ficar na cabeça por tempo maior que o de sua execução. Se não fugirem desse padrão, correm o risco de cair logo no esquecimento. Fernanda Botta

É difícil falar mal de Donkey, mesmo para quem já começou a ouvir meio de birra. Não é possível lamentar a falta de tosquices porque o CD está redondinho de tão bem produzido. A grande quantidade de hits em potencial mostra que o maior triunfo criativo da banda está em, dentro de um cenário cheio de semi-plágios e remixes, encontrar novas melodias. Não existem chances para sentir saudades da voz esganiçada de Lovefoxxx, já que a versão doce e superafinada mostra tanto amadurecimento quanto cativa. Tudo indica que esse trabalho, além de agradar (ao menos o suficiente) os fãs antigos, vai dar para o “Ciécess” uma legião de novos admiradores (que, infelizmente, vão achar que se trata de uma banda inglesa). Maria Joana Avellar

CSSDonkey

PRIMAL SCREAMBeautiful Future

ALBERT HAMMOND JR.Como Te Llama?

BECKModern Guilt

THE RASCALSRascalize

ARTISTA NO TERRA SONORA ARTISTA NO TERRA SONORA

ARTISTA NO TERRA SONORA

ARTISTA NO TERRA SONORA

ARTISTA NO TERRA SONORA

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O nome Melodia foi baseado em uma loja

de música que aparece no filme Laranja Me-cânica. Lamentavelmente, o som do Vines não acompanha a criatividade e a ousadia que mar-caram o clássico de Stanley Kubrick. A receita apresentada no debut Highly Evolved se repete em todos os outros discos, e não foi diferente dessa vez. O Vines é ótimo fazendo hits, mas ainda decepciona na hora de compor um ál-bum coeso e equilibrado. O som respeita a influência garageira da banda, como em “He’s a Rocker” e “Hey”. Para quem curte um re-peteco, Melodia está disponível na integra em myspace.com/thevines. Gabriela Lorenzon

Mesmo com quatro álbuns bem sucedi-

dos na bagagem, Ashanti é mais conhecida, no Brasil, por parcerias com nomes inegavelmen-te maiores. Em um momento no qual o R&B norte-americano encontra-se abarrotado de artistas quase iguais, The Declaration fica aquém da maioria dos trabalhos em voga, soa como um noventista que tenta parecer moderno. Mesmo com o notável aumento do potencial vocal, Ashanti continua uma compositora me-díocre. Ironicamente, as parcerias com Robin Thicke, com Nelly e com Akon salvam o CD. Uma estrela de merecimento, outra de conso-lação. Maria Joana Avellar

À primeira ouvida, parece um som mui-

to sujo, embolado e dificil de entender. Porém, assim que se começa a decifrar a proposta deste EP, percebe-se a genialidade desta dupla. Zack de la Rocha, vocalista do Rage Against the Machine, e Jon Theodore, ex-baterista do The Mars Volta, entram em sintonia neste pro-jeto de conteúdo e de certa simplicidade, no melhor sentido do termo. Zack toca teclados e impõe seu característico estilo de rimar, enquanto Jon mostra sua pegada forte em contratempos nervosos. “Last Letter” definiti-vamente é a faixa que mais se destaca. Reserve 20 minutos para este disco. Bruno Felin

O Nine Inch Nails – ou me-lhor, o homem por trás dele, Trent Reznor – foi, em grande

parte, responsável pela popularização do gênero industrial. Com instinto pop e le-tras afiadas, levou às massas um estilo que se propõe a ser essencialmente mecânico. Pretty Hate Machine (1989), o primeiro ál-bum, marca o início da trajetória. Embora tenha sido praticamente ignorado em seu lançamento, não tardou a conquistar públi-co e crítica. A persona e a voz de Reznor, que gritava sua auto-obsessão e desilusão, logo encontraram eco nos adolescentes. O som frenético dos sintetizadores e das guitarras distorcidas atraiu fãs do rock al-ternativo, acometidos pelo tédio do hard rock e do grunge. Os principais singles foram “Down in It”, “Head Like a Hole” e “Sin”. “Terrible Lie” e “Something I Can Never Have” também chegaram às rádios. As faixas, na sua maioria, pertenciam a fita demo Purest Feeling.

É o segundo álbum completo do Nine Inch Nails (depois do EP Broken, de 1992) e o primeiro a ser lançado pelo selo independen-te Nothing Records. Embora ligado à gravadora Interscope, o selo próprio deu a Reznor maior liberdade. O resultado foi um disco que, bem ou mal, é o que pode se chamar de surto criativo. Repleto de hits como “March of the Pigs”, “Closer” e “Hurt” (que mais tarde

ganharia uma versão de Johnny Cash), é um momento de inspiração. Consolida o estilo que seria tão copiado mais tarde, com a presença marcante do que lá fora costuma se chamar de soundscape – ou imagens sonoras, com texturas de todo tipo. Menos focado nas letras que o primeiro álbum, mas musicalmente perfeito, o álbum é um registro do ápice do frontman como compositor. Só encontra equiparação em The Fragile (1999), seu sucessor.

Em hiatus desde The Fragile (lançou apenas um álbum ao vivo pos-teriormente, And All That Could Have Been, de 2002), afundado no álcool e nas drogas, Trent Reznor deu lugar a um grande número de imitadores. Lançado em 2005, With Teeth marca o seu retorno. Ainda que com algum ressentimento pelo seu declínio comercial (notável na faixa All the Love in the World), ele apresenta um belo

trabalho. Foca-se mais em canções no sentido clássico do que nas chamadas soundscapes. Embora, para alguns, isso pareça mais uma jogada comercial, funciona. Com a participação de Dave Grohl na bateria, Reznor oferece um retorno equilibrado. Como sabe dosar industrial e pop, também neste álbum ele dosa potencial para tocar nas rádios com as texturas que são sua marca registrada. O seu principal single foi The Hand That Feeds.

por Fernanda BottaDiscografiaBásica NINE INCh NAIlS

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Pretty HateMachine

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Os tablóides e as revistas de fofocas, dentro do que é conhecido como im-prensa amarela (e marrom, no Brasil), não são novidade. Na verdade, o termo imprensa amarela remete ainda às bata-lhas entre jornais sensacionalistas no fim do século XIX (veja o box). O que pare-ce ser uma forte febre de decadência na realidade ganhou mais força com a sua cobertura no ritmo frenético da inter-net. Hoje esse tipo de conteúdo é divul-gado através da rede, em diversos sites de notícias. Alguns deles especializados em celebridades, como o Ego. Os blogs também têm um papel impor-tante. No Brasil, o destaque fica com o falecido Papel Pobre (criado como uma sátira do blog Papel Pop, do jornalista Phelipe Cruz, foi retirado do ar pelos au-tores depois da revelação de suas iden-tidades) e o recente sucesso Te Dou um Dado?. A proposta do TDUD? é quase a mesma que a de seu antecessor, salvo algumas diferenças: comentar, com um humor afiado, a vida de celebridades (ou subcelebridades). Como a travesti Katy-lene Beezmarcky, personagem do Papel Pobre, que destilava veneno sobre as notícias do showbizz em um pajubá di-vertidíssimo, os amigos Polly, Didi (agora VJ da MTV) e Lele abusam da ironia para comentar e rir da vida das celebridades - e dos escândalos.

Campeã de NotíciasEm um breve levantamento de quantas vezes Amy Winehouse aparece nos sites de notícia, mais especificamente quantas delas por mau-comportamento, os nú-meros são espantosos. No Folha Online, cerca de 50 registros cobrem os desdo-bramentos de sua fase conturbada. No Ego, são mais de 200 ocorrências.

Para o produtor musical Carlos Eduardo Miranda, “Amy é uma vítima de si mes-ma e a imprensa só está fazendo o seu trabalho”. Mas ainda resta a questão: até que ponto os excessos e a exposição afetaram a carreira da cantora? Só no ano passado: teve uma overdose, seguida por uma temporada em uma clínica de reabilitação, o que a levou a cancelar sua turnê americana. Não conseguiu a tempo o visto para entrar no país e receber os cinco Grammys que ganhou. Suspendeu 17 apresentações na Inglaterra por mo-tivos de saúde. Os produtores do novo filme de James Bond, 007 - Quantum of Solace, dispensaram-na. Amy compunha a música-tema com o seu produtor, Mark Ronson. Em seu lugar, foram chamados Jack White e Alicia Keys. Um princípio de enfisema pulmonar também dá indí-cios sobre seu estado de saúde - e pode muito bem acabar com sua voz.

Para as outras, a situação parece melho-rar. Lindsay Lohan está envolvida em duas produções, Labor Pains e Dare to Love Me (que conta a história de Carlos Gar-del), depois de um pequeno hiato desde o fracassado Eu Sei Quem me Matou, de 2007. Ainda foi recentemente elogiada pela produção de Labor Pains, surpresa pelo seu profissionalismo. Lindsay tem fama de ser mimada e anti-profissional (com as costumeiras saídas noturnas, não raro atrasa as filmagens - durante a produção de Ela é a Poderosa, chegou a faltar dois dias inteiros, causando um prejuízo enorme que rendeu uma carta da produtora Morgan Creek).

Apesar disso, uma temporada em uma clínica de reabilitação lhe custou um pa-pel em um filme de Shirley MacLaine. A atriz também cancelou sua participação

no longa Manson Girls. Apesar da alega-ção de problemas de agenda, os rumores são de que ninguém quer trabalhar com ela. Britney Spears, apesar de ter perdi-do a guarda dos filhos e protagonizado uma cena vergonhosa no VMA de 2007, voltou a forma física e neste ano con-corre novamente a premiação da MTV com “Piece of Me” em três categorias, entre elas a de Vídeo do Ano.

Paris Hilton e Nicole Richie parecem ser as únicas que ganham efetivamente com toda essa exposição. Sem carreira defini-da (embora Paris tenha arriscado lançar um disco, sem sucesso), elas vivem mais dos escândalos do que qualquer outra coisa. Mantendo-se na mídia, conseguem chamar a atenção para o que estiverem fazendo. Paris recentemente lançou uma linha de megahair. Nicole aproveita os frutos da maternidade para divulgar a recente fundação Richie-Madden, que visa ajudar mães carentes, e sua linha de roupas para gestantes. Para as duas, a ex-posição parece rentável.

No entanto, a situação para a maioria é de perda. No mínimo curioso é que, com tudo isso, e com todas as reclama-ções, as celebridades ainda alimentam os paparazzi. No caso de Amy Winehouse, de forma literal. Ela já ofereceu chá e bis-coitos para os que ficam na porta de sua casa. De acordo com uma matéria publi-cada na Rolling Stone americana, em fe-vereiro deste ano, intitulada “Acordada a Noite Inteira com Amy Winehouse”, Amy é amiga dos paparazzi - até mes-mo pede que saiam para lhe comprar cerveja.

Britney Spears chegou ao ponto de ter um caso com um fotógrafo que a per-

“They tried to make me go to rehab, but I said no, no, no”. O hit de Amy Winehouse, lançado ainda em outubro de 2006, ilustra bem um fenômeno relativamente recente entre algumas celebrida-des. Como exemplos notáveis, a própria Amy, Britney Spears, Lindsay Lohan e as patricinhas Paris Hilton e Nicole Richie. Elas encabeçam um grupo conhecido por aparecer na mídia envolvido em escândalos, de bebedeiras e abuso de drogas a clínicas de reabilitação.

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A hISTÓRIA DA IMPRENSA AMARElA

O termo impren-sa amarela surgiu no final do sécu-lo XIX, durante a

batalha entre os barões da imprensa Joseph Pulitzer e William Randolph Hearst, donos dos jornais rivais New York World e New York Journal. Na bus-ca incessante por leitores, eles abusa-ram do sensacionalismo, distorcendo fatos e inventando tantos outros. O termo ganhou vida na disputa pela tira Hogan’s Alley. O principal personagem, Yellow Kid, era um garoto cujas falas eram escritas em sua chamativa cami-sola amarela. Quando Hearst fundou o Journal, levou boa parte da equipe do World - inclusive o desenhista Ri-chard Felton Outcault, autor da HQ. Pulitzer seguiu publicando o perso-nagem assim mesmo, desenhado por

outro artista. As duas publicações uti-lizavam a imagem da tira em cartazes de divulgação, o que gerou a referên-cia em um artigo de Ervin Wardman, do jornal Press. Ele criou o termo para designar essa imprensa sensacionalista, com adesão imediata.

No Brasil, ganhou o termo imprensa marrom. Conta-se que sua criação se deu em 1960, no carioca Diário da Noi-te, em sua cruzada contra publicações baseadas na chantagem e no escânda-lo. O jornal decidiu publicar a notícia de um aprendiz de cineasta que co-metera suicídio em função das chan-tagens de um desses títulos. Ao ver o título ‘imprensa amarela leva cineasta ao suicídio’, o chefe de reportagem teria gritado: “Na minha terra, amarelo é cor bonita. Põe marrom, é cor de merda”.

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ioseguia. Se ainda resta dúvida se, para os famosos, a exposição também tem seu lado positivo, seus familiares certamente fazem uso dela.

É o caso do pai de Amy, que recente-mente foi convidado a participar de um filme. A irmã de Britney, Jamie Lynn, teve sua gravidez altamente noticiada. Pela exclusividade das primeiras fotos, a re-vista Ok! pagou nada menos que um milhão de dólares. A mãe e a irmã de Lindsay Lohan também não ficam atrás. Recentemente estrelaram um reality show chamado Lohan Living.

Visto isso, ainda fica a dúvida de até que ponto a exposição é indesejada. Parece haver um outro lado da moeda, no qual o que conta é a velha expressão “falem mal, mas falem de mim”. Se não é o caso, a resposta para todas elas parece ser um “sim, sim, sim” para a reabilitação e uma boa assessoria de imprensa. Os papara-zzi seguirão fazendo seu trabalho.

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