revista noize #39 - novembro de 2010

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Supergrass, Creedence, SWU, SoKo, Demo Sul, Green Day e muito mais...

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bruno doesn’t sleep, he paints. what do you do? converseallstar.com.br/linhapremium

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1. Pablo Etchepare_ Just One Fix. flickr.com/pabloetchepare2. Gaía Passarelli_ Jornalista, confunde-se com a própria história do rraurl.com, maior portal sobre cultura eletrônica do Brasil.3.Rayana Macêdo Coombes_ Enquanto não está ocupada defendendo sua tese de que Mexico é o melhor país do mundo pelas ruas de Oxford, Rayana trabalha como fotografa. twitter.com/rayana 4. Guilherme Santos_ Retratista praiano preocupado com a diferença entre Eficácia e Eficiência. flickr.com/guijornalismo5. Alex Correa_ Carioca, mas gosta mesmo é de São Paulo e acredita na genialidade do Kasabian até o fim.6. Marcelo Costa_ Editor do screamyell.com.br, trabalha na edição da capa do portal iG e escreve sobre cultura pop como conversa na mesa do bar.7. Marco Chaparro_ theblackeyeddog.tumblr.com 8. Manuela Martini Colla_ não se define como jornalista, e sim como setorista de tragédias gregas e comédias mexicanas. Logo, ama o blues.9. Ariel Martini_ ainda insiste em fazer fotos de show. flickr.com/arielmartini10. Neto Rodrigues_ Morador de Minas há incontáveis anos, quase foi um engenheiro. Hoje ronda a publicidade e torce pela volta do Oasis.11. Rafael Raffa Ramos_ Animal de hábitos noturnos e sede latente. Caminha sem rumo e sem impor sentido à vida. excrecoes.blogspot.com12. Eduardo Guspe_ Membro fundador do Núcleo Urbanóide, ultimamente se dedica a produzir DONUTS. facebook.com/eduardo.guspe 13. Liliane Callegari da Silva_ Fotógrafa e arquiteta. flickr.com/lilianecallegari.14. Lidy Araujo_ Jornalista, baixista frustrada e louca por Ramones e Red Hot Chili Peppers. Seu site é lidyaraujo.com.br15. Leonardo Bomfim_ Jornalista e diretor de cinema, edita o freakiumemeio.wordpress.com16. Diego De Carli_ Jornalista a serviço da publicidade. Já segurou a mão de Beth Gibbons e soltou lágrimas no Rio Danúbio. Hoje vive num quartinho de empregada.17. Nícolas Gambin_ é Jornalista freela. Aprecia tocar The Meters com amigos nas horas vagas.18. Gustavo Lacerda_ Estudante de jornalismo que enfim vai se formar, com um pé na literatura e o outro no ar.19. Ricardo Finocchiaro_ jornalista, trabalha com produção cultural. Rock and roller de sangue e alma, vive de música, 8 days a week. www.abstratti.com.br20. Fernando Schlaepfer_ Designer por formação, ilustrador por aptidão, D.J. por diversão e fotógrafo por paixão.21. Rafael Abreu_ Conhece o mundo aos poucos por sons deixados por outros. Membro do www.bloodypop.com22. Guilherme Dal Sasso_ Formando em jornalismo que não sabe ainda o que quer. Assim, bem clichê.

• EDITORIAL

A NOIZE #39 é a penúltima desse ano que foi atípico para os brasileiros. Nós que não estávamos acostuma-dos a tantas atrações internacionais agora temos até um Beatle a caminho. Vimos nomes de peso como Rage Against The Machine, Queens Of The Stone Age, Kings Of Leon, The Mars Volta, e outras tantas atrações naquele que começou chamado de Woodstock brasilero e para manter o padrão “gringo” acabou como Starts With You, um festival supostamente green e sustentável.

Mas o espírito verde chegou com força muito maior aqui na redação da NOIZE, com um Supergrass de cabo a rabo e exclusivíssimo. Conseguimos ter a primeira conversa com os caras após o fim da banda, tudo comandado por eles mesmos. As fotos e o rumo das conversas foi dado pelos próprios integrantes que abri-ram seus corações pra gente, num belo furo de reportagem. Para confirmar o mês mais verde da história da revista – sem contar a matéria do Planet Hemp na #35, é claro – fizemos um belíssimo ensaio com francesinha vegana e de imprevisível delicadeza Soko, que nos deu trabalho ao mesmo tempo em que passou toda sua doçura para as lentes.

Em um mês de discussões sobre sustentabilidade, a NOIZE é verde, é sustentável. Não jogue fora, passe adiante.

• EXPEDIENTE #39 // ANO 4 // NOVEMBRO ‘10_

DIREÇÃO: Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha

COMERCIAL: Pablo Rocha [email protected] Fuhrman [email protected]

EDIÇÃO: Bruno Felin (Interino)[email protected] Corrêa [email protected]

DIREÇÃO DE ARTE: Rafael Rocha [email protected]

DESIGN:Douglas Gomes [email protected]

ASSIST. DE CRIAÇÃO:Cristiano Teixeira [email protected]

REDAÇÃO: Ana Laura Malmaceda [email protected] Foster [email protected] Joana Avellar [email protected]

REVISÃO: João Fedele de [email protected] Fernanda [email protected]

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: Júlia [email protected]

DISTRIBUIÇÃO:Ricardo [email protected]

PROJETOS:Leandro Pinheiro [email protected]

SCREAM & YELL:Marcelo Costawww.screamyell.com.br

MOVE THAT JUKEBOX:Alex CorreaNeto Rodrigueswww.movethatjukebox.com

RRAURL:Gaía Passarelliwww.rraurl.com

FORA DO EIXO:Ney HugoCamila CortielhaMarco NalessoMichele Parronwww.foradoeixo.org

ANUNCIE NA NOIZE: [email protected]

ASSINE A NOIZE: [email protected]

AGENDA: shows, festas e eventos [email protected]

ASSESSORIA JURÍDICA: Zago & Martins Advogados

PONTOS:FaculdadesColégiosCursinhosEstúdios Lojas de InstrumentosLojas de CDsLojas de RoupasLojas AlternativasAgências de Viagens Escolas de MúsicaEscolas de Idiomas Bares e Casas de Show Shows, Festas e Feiras Festivais Independentes

TIRAGEM: 30.000 exemplares

CIRCULAÇÃO NACIONAL

• ARTE DE CAPA_

PABLO ETCHEPAREConfira mais trabalhos do artista em seu flickr pessoal.flickr.com/pabloetchepare

• BÉÉÉÉ_

Erramos o nome do diretor e a data da redescoberta de cinema da edição anterior. O filme é do Buster Keaton, de 1924. Mal aê...

Dicas, sugestões e reclamações:[email protected]

• COLABORADORES |NOIZE #39

DO UNDERGROUND AO MAINSTREAM

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Se Você Não

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• THIS IS NOIZE SUPERSTYLLIN’!

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“Música me cercou de jeito desde a infância, não con-segui escapar. Minha mãe tocando piano, meu tio gai-teiro que virou casaca pra pilantragem, meus vizinhos do samba funk e uma loja de discos conjugada com uma lanchonete (Hot Dogs & Rock’n’roll) trataram de me encaminhar para sem-pre. Os Gaudérios foi uma banda única na música regionalista gaúcha porque sempre se enxergou univer-sal. Jazz, rock progressivo (muito antes de ele existir) e experimentalismo sutil com forte raiz no cancionei-ro da terra fizeram desse disco um marco.”

NOME_Carlos Eduardo Miranda

PROFISSÃO_ Produtor musical, jornalista aposentado e jurado de calouros

UM DISCO_Os Gaudérios

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O Festival arte.mov é o maior e mais abrangente festival de arte em mídias móveis e locativas do Brasil. Pioneiro neste campo, integra o Programa Vivo arte.mov, que reúne diversas ações, projetos e eventos em torno da cultura da mobilidade. Em sua quinta edição, concretiza-se o movimento em que o Festival, originalmente criado em Belo Horizonte em 2006, transforma-se num Programa Cultural nacional, acontecendo em Belém, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte e São Paulo.A programação reúne nomes internacionais e locais e se diversi ca em cada cidade, dialogando com as particulari-dades de cada uma delas.

PROGRAMA VIVO ARTE.MOV.TUDO SOBRE A CULTURA DA MOBILIDADE.

PORTO ALEGREUSINA DO GASÔMETRO03 A 07/NOVEMBRO - 2010

SIMPÓSIOS/WORKSHOPSEXPOSIÇÕES/PERFORMANCESEVENTOS AUDIOVISUAISINTERVENÇÕES ARTÍSTICAS

FESTIVAL ARTE.MOV / 2010 - BELÉM / BELO HORIZONTE / PORTO ALEGRE / SALVADOR / SÃO PAULO / FESTIVAL ARTE.MOV / 20ALEG

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NOVAS CARTOGRAFIAS URBANAS:ARTE E TECNOLOGIA DESENHANDO UMA NOVA PAISAGEM.

ARTE.MOV2010ARTE EM MÍDIAS MÓVEIS

FESTIVAL

apresenta:

Saiba mais emwww.vivo.com.br/artemov

E participe de nossas redes sociais:twitter.com/artemov e facebook.com/festivalvivoartemov

Page 13: Revista NOIZE #39 - Novembro de 2010

O Festival arte.mov é o maior e mais abrangente festival de arte em mídias móveis e locativas do Brasil. Pioneiro neste campo, integra o Programa Vivo arte.mov, que reúne diversas ações, projetos e eventos em torno da cultura da mobilidade. Em sua quinta edição, concretiza-se o movimento em que o Festival, originalmente criado em Belo Horizonte em 2006, transforma-se num Programa Cultural nacional, acontecendo em Belém, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte e São Paulo.A programação reúne nomes internacionais e locais e se diversi ca em cada cidade, dialogando com as particulari-dades de cada uma delas.

PROGRAMA VIVO ARTE.MOV.TUDO SOBRE A CULTURA DA MOBILIDADE.

PORTO ALEGREUSINA DO GASÔMETRO03 A 07/NOVEMBRO - 2010

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Saiba mais emwww.vivo.com.br/artemov

E participe de nossas redes sociais:twitter.com/artemov e facebook.com/festivalvivoartemov

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“Você pode imaginar se a vida seguisse sem problemas e todos sempre concordassem com tudo? Nada iria acontecer. Não haveria blues” Keith Richards falando poeticamente dos conflitos com Mick Jagger.

“Estou me candidatando porque não posso ser Bruce

Springsteen.” barak Obama e o melhor slogan pra presidente.

“ME SINTO cOM 68 ANOS DA MESMA fORMA cOMO ME SENTIA qUANDO TINhA 28. É OUTRO ANIvERSáRIO. EU ADORO ANIvERSáRIOS. EU ADO-RO pRESENTES.” Ringo Starr | o melhor amigo do mundo.

“Quer romance? compra um li-vro. Quer fidelidade? compra um cachorro. Quer amor? volta pra casa da mamãe.” Mr.catra | no documentário 90 Dias com

Catra, que você confere na seção Lado A Lado B.

“A AbSOlUTA TRANSfOR-MAçãO DE TUDO qUE Já pENSAMOS SObRE MúSIcA chEGARá EM DEZ ANOS, E NADA SERá cApAZ DE pARá-lA. MúSIcA pOR SI Só vAI vIRAR ElETRIcIDADE OU áGUA cORRENTE.” David bowie

LEIA ISTO

“Estamos super orgulhosos da Fergie!!!” Black Keys | depois de terem o nome confundido por black Eyed peas pela MTv americana

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“Quero mostrar que rap é realmente poesia. Não é só um bando de caras juntando palavras que rimam.” Jay Z | falando sobre o

lançamento de seu livro, decoded

“Todo muNdo Tá jogaN-do um moNTE dE lixo aQui, isso Não EsTá sal-vaNdo o plaNETa!” bud Gaugh | do Sublime, sobre o SWU. você confere a reportagem especial nas próximas páginas.

_JAY Z, SUBLIME, SUPERGRASS, EMICIDA, MR. CATRA, BARACK OBAMA

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“QuaNdo Tudo EsTava dEsmoroNaNdo, lEmbro dE pEN-sar: sEria maravilhoso sE Todos pudEssEm sE livrar dEssEs grilhõEs E vEr o QuE somos capazEs dE FazEr. Eu acrEdiTo QuE Nós sabEmos do QuE somos capazEs E QuE éramos uma baNda boa E QuE TíNhamos uma parcEria maravilhosa, E Eu acrEdiTo QuE NiNguém sabE sE isso acoNTEcEria dE Novo.” Gaz coombes | Supergrass, nesta edição da NOIZE.

“nós não deixaríamos. e não é que eles te-nham pedido, por que eles não pediram, e agora definitivamente não vão. É um subs-tituto muito pobre para o original.” Damon Albarn | desmistificando os boatos de um episódio do musical Glee com as

músicas do Gorillaz.

“eu sou o folk do rap.”Emicida | rapper que acaba de lançar a mixtape Emicídio

noize.com.br 15

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Parece que o Brasil e a América Latina estão entrando definitivamente no circuito de shows internacionais. Cada vez mais bandas grandes resolvem botar os pés aqui na terrinha, e isso é ótimo. Talvez o momento delas é que não seja o melhor. Vimos reuniões de bandas que tinham acabado como o Sublime – que voltou com outro vocalista –, Rage Against The Machine, Pixies e Los Hermanos no Starts With You; veremos Smashing Pumpkins e Pavement no Planeta Terra, só para citar alguns nomes. Será que vale a o esforço?

Na maioria das vezes, sim. Noutras, nem tanto, principalmente quando se fala em festivais. Para o fã de Rage Against The Machine ou Pixies, por exemplo, custou uma ida a Itu, outras várias bandas de estilos variados no pacote, perren-gues e tudo que você verá na matéria das próximas páginas, além do ingresso com aquele preço que conhecemos.

Sem desmerecer os festivais, pelo contrário, foram eles que sempre trouxeram os grandes nomes (vide Rock In Rio e Hollywood Rock). Mas shows perfeitos e inesquecíveis são raros em grandes arenas, e sempre sai alguém insatis-feito. Ao mesmo tempo, atrações como Belle & Sebastian e Miike Snow precisaram de uma ação de crowdfunding para acontecer por aqui. O momento, sem dúvida, é bom, mas é impossível não pensar no lado caça-níquel dessas grandes atrações. E ainda nem falamos de Paul McCartney...

noize

aqui se faz, aqui se paga

Liliane Callegari

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_ouca agora´Devendra Banhart - Cripple Crow

Arcade Fire - FuneralMilton Nascimento - Minas

Sufjan Stevens - IllinoiseInstituto - Coleção Nacional

Encontramos Wander Wildner na Redenção, em Porto Alegre, e aproveitamos para bater um papo com o cara e descobrir que ele está louco para rodar a Amé-rica Latina com seu novo disco folk tiny.cc/wanderwildner

Entrevistamos os paulistas do Inverness para saber mais sobre a proposta de psicodelia da banda e entender por que eles definem o som como “Pop Estranho Espacial” tiny.cc/entrevistainverness

Se você já leu e voltou ou se vai ler em instantes nossa matéria sobre o SWU, confira também duas galerias de imagens feitas por nossos fotógrafos no festival em tiny.cc/galeriaswu1 e tiny.cc/galeriaswu2

O Soundcheck dessa edição com o Creedence Clearwater Revisited, que você verá nas próximas páginas, está na íntegra dentro do site da NOIZE, vale a pena ver o que os coroas têm a dizer em tiny.cc/creedence

direto ao ponto

__Hemp party | O Planet Hemp se reuniu para tocar na festa (fechada) de comemoração dos 20 anos da MTV e fez um show típico: clima de festa, bagunça, demora para arrumar os instrumentos, energia e tudo que dava pra esperar de uma volta da banda. BNegão chegou a comentar no palco que aquilo “parecia show do Sonic Youth”. Unidos com uma formação composta por Marcelo D2, BNegão, DJ Zé Gonzales, Pedrinho, Rafael Crespo e Formigão, passaram por “Legalize Já”, “Dig Dig Dig (hempa)”, “Stab” e até “Seus Amigos”. Resta saber se a volta foi só para essa festa ou se podemos esperar mais. Zegon deu uma pista no twitter: “Quem é fã do Planet Hemp e ainda tá reclamando que vamos tocar em festa fechada não tem noção, é só um pri-meiro passo, que com certeza não vai ficar só nisso”. Será mesmo? Veja os videos do show em tiny.cc/planethemp

__mixtape NOiZe | A edição #37 da NOIZE foi traçada só com o que acontece aqui em terras brasi-leiras: matérias sobre bandas que são, que já foram ou que ainda vão ser. Para fechar o ciclo de vida da edição, reunimos duas faixas de vários artistas novos (ou nem tanto) para você nacionalizar um pouco o seu mp3 player: Tulipa Ruiz, Filipe Catto, Pública, Tiê, Bruno Morais, Romulo Fróes, Cérebro Eletrônico, Guizado, Karina Buhr e Sugar Kane. A lógica da mixtape é a seguinte: a primeira é uma música conhecida, a segunda é algo exclusivo para a NOIZE, seja uma faixa inédita, acústica ou lado B. Acesse o tiny.cc/mixtapenoize para baixar ou ouvir em streaming e não hesite em dizer o que você acha sobre nossa curadoria, precisamos da sua opinião.

Daniela D

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__Os rObôs estãO de vOlta| Qualquer situa-ção fica melhor com uma aparição do Daft Punk. É como sentir o agito em estado bruto chegando. Foi no bis do show dos franceses com o disco mais escutado do ano passado, o Phoenix, que os criadores de Discovery (O disco de eletrônico dos anos 2000) aparece-ram com seus capacetes futuristas. Que volta, Daft Punk. A trilha sonora do novo filme em 3-D da Disney, Tron: Legacy, sai em novembro e um novo dis-co já é esperado. Notícia boa: os robôs voltaram.

__pelO fim dO WeeZer| Cansado de ver seus amigos sofrendo com os decepcionantes lançamentos do Weezer, o americano James Burns resolveu lançar uma pe-tição online pedindo o fim da banda. A campanha pretende arrecadar US$ 10 milhões para comprar a aposentadoria dos músi-cos. Em resposta, a banda resolveu aumentar o valor. De acordo com o baterista do grupo, Patrick Wilson, se US$ 20 milhões forem arrecadados o Weezer se compromete a fazer um encerramento “deluxe” de suas atividades. Participe em tiny.cc/fimdoweezer

__de balde| Com mais de meia década sem lançar material novo, era de se esperar que o Bidê ou Balde em 2010: (1) chegasse com mais pepitas pop, grudentas no verso e contagiantes no refrão; (2) movido pelo coração amolecido do recém-pai Carlinhos Carneiro, chegasse com um rock colorido; (3) carecesse de inspiração, di-luída em anos de atividade esparsa. Acertou quem creu na primeira possibilidade. “Me Deixa Desafinar”, “Tudo é Preza”, “Madonna” e mais duas faixas com nomes longos são os primeiros frutos dessa retomada que promete, para 2011, algo próximo de um disco, segundo falou Car-linhos ao Rock n Beats. Escute no bideoubalde.com.br.

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Page 20: Revista NOIZE #39 - Novembro de 2010

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_Imagem impregnada na memória de quem teve uma adolescência cheia de MTV das antiga, Thunderbird cozinha e canta no clipe de “Eu não gosto mais de você”.

Tags: thunderbird devotos não gosto mais

thunderbird & devotos dNsa | Eu Não Gosto Mais De Você

lado a LADO B

_shhh.fmO Shhh.fm é uma feliz reunião das mixtapes

temáticas feitas pelo sound-stylist Jackson Araujo. Música boa e entrevistas.

_woostercollective.comO blog mais antenado da arte urbana

mundial, referência para todo mundo que faz ou consome a criatividade da street art

contemporânea.

_Em clima de primavera, o Apanhador Só faz uma bela e aconchegante versão de “Um Rei e o Zé” no parque da Redenção, em Porto Alegre.

vimeo.com/16257807

apanhador só | Um Rei e o Zé

_Este piloto de uma série de TV que ainda não tem canal para exibição (por quê?) mostra um outro lado da vida de Mr. Carta, pai de, hmm, 23? 24 filhos? Ele sabe melhor. Veja com seus próprios olhos.

Tags: 90 dias com carta

90 dias com Catra

bit.ly/cz5mlF Post perfeito para você saber quem fez a foto da sua banda preferida que está pendurada

na parede. Ou para ver imagens super clássicas de grandes figuras da música.

bit.ly/btvMfoJohn Lennon completaria 70 anos no dia 9 de outubro, mas ele não desejaria nem ter

nascido caso ouvisse alguma dessas versões de suas músicas.

posts

SITIOS

planet hemp mtv 20 anos green day brasil wander wildner redencao battle of santiago rage against the machine kings of leon come around sundown

bad religion discografia streaming tron legacy daft punk starts with youpaul mccartney krist novoselic butch vig foo fighters trio mocoto dizzy gillespie

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Page 21: Revista NOIZE #39 - Novembro de 2010

follow upTUMBLIN’

_Qual foi o último clipe que realmente te sur-preendeu? Num tempo em que tudo é incrível, genial e inteligente, o significado dos adjetivos é confuso. Mas acredite: “Bombay”é tudo isso.

Tags: el guincho bombay

el Guincho | Bombay

_Dave chora, num clima dramático-programa--da-márcia, e fala de um processo milionário contra o Scissor Sisters, depois de ver coisas demais no show da banda.

Tags: scissor sisters dave grohl

scissor sisters News

_Um mês depois do lançamento do novo EP, in-titulado Pattern+Grid World, o Flying Lotus lança o clipe de “Kill Your Co-Workers” numa anima-ção muito doida dirigida por Mike Winkleman.

Tags: flying lotus kill your co-workers

flying lotus | Kill Your Co-Workers

audio

Bidê ou Balde | Me Deixa Desafinar Depois de seis anos, a Bidê voltou. E agora tem mais uma daquelas baladinhas inteligentes para não tirar do repeat.

Jamiroquai | All Good In the Hood Com uma linha de baixo para botar qualquer um para dançar, essa prévia do disco Rock Dust Light Star mostra que o jazz-funk do Jamiroquai vai voltar com tudo.

Digitalism | Blitz Depois do excelente Idealism, disco de estreia do duo alemão, o Digitalism lança “Blitz”, primeira faixa do novo trabalho da banda. Bom pra dançar e cheio de energia, como sempre.

O Parc Güell, em Barcelona, é um prato cheio para artistas insólitos, como este homem do passado-futuro, um guerreiro vestido de Pedrita e cantando Elvis do fundo da alma. Arrepiô!QUER OUVIR? NOIZE.COM.BR/nuncaouviu

twitter.com/50centDinheiro, money, grana, bufunfa e ódio, muito ódio. Vale a pena dar um checada no 50 centavos.

josoylobon.tumblr.com/Lobão junta um monte de referências e imagens doidas que ele deve encontrar quando está perdido na internet.

thisisnotasuit.tumblr.com/Blacktie, classe e fotos p&b. Não é um terno mesmo, é a cultura da alfaiataria.

Voce nunca ouviu ̀

o que voce viu e nao viu neste mes_`

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Tão estranho e familiar ao mesmo tempo: namorados, praia, inocência meio suja, churrasco de domingo, vinho de garrafa e fotos cafonas. Ouvir Best Coast é lembrar de tudo isso, da procrastinação da adolescência nos anos noventa. A californiana Bethany Consentino é uma musa lo-fi: ex-atriz mirim (participou de comerciais de bancos e da Pepsi), gravou suas pri-meiras demos com 15 anos. Recebeu propostas de grandes gravadoras para se tornar uma possível Miley Cyrus. Recusou todas. Com 23 anos, já com quadris largos, tatuagens e muitos gatos, Bethany começou a traçar o que se tornaria o Best Coast longe de casa, em Nova York. Com saudade das praias e do sol, Bethany encon-trava conforto nos Beach Boys e em

“California Dreamin’. A volta para casa coincidiu com a criação de um novo projeto: montar uma banda com esse sentimento. Com o som nostálgico da praia como objetivo, em 2009 a banda de Bethany virou a banda do instrumentista Bobb Brun também. Em falsa estatística, o Best Coast virou aposta para 2010 de nove entre dez blogs de música. É de pequenos prazeres da adoles-cência e surf rock que a sonoridade do Best Coast consiste. Próximos da melancolia nostálgica do Girls, eles se afastam no refúgio: um fala de Los An-geles, o outro, de São Franciso. Escute “Boyfriend”, “When I’m with you” e “Sun was high (so was I)”.Escute: myspace.com/bestcoastAna Malmaceda

bandas que vocenao conhece mas deveria conhecer_

David Black

best coast

Origem:Londres, Ing.

Som:Som de garagem, lo-fi e punk rock. O Male Bonding parece ter vindo

do final dos anos oitenta, mas só parece

Escute:myspace.com/malebonding

male bONdiNG

Origem:Londres, Ing.

Som:Meio Interpol,

meio Editors. O White Lies é mais

sombrio, menos britpop, mais pós-punk.

Escute:myspace.com/whitelies

WHite lies

Origem:Colorado, EUA

Som:Esposa ria do mari-do depois de saber que ele jogava tênis

na adolescência. As-sim começou a banda do casal americano.

Uma fofura.

Escute:myspace.com/tennisinc

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Depois de uma boa trajetória com o grupo de rap Pentágono, Rael da Rima enfrenta agora o primeiro desafio solo. O recém-lançado MP3 - Música Popular do Terceiro Mundo é uma mistu-ra nada coesa. assim como o povo da região. Mas não é necessário coesão quando a essência e característica maior é justamente essa diversidade. Rael da Rima representa bem isso as-sinando os arranjos e transbordando sua influência da música negra, seja ela brasileira, jamaicana ou americana. As composições do MC chamam a aten-ção pela característica melódica, que gruda sem que isso seja pejorativo, pelo contrário. Não é só reggae, não é só rap. É bom. No terreno perigoso dessa mistura, Rael faz com classe e como poucos conseguiram no Brasil.

O cara é quase um toaster jamaicano falando em português. A banda por trás e a característica orgânica do som são o ponto forte desse projeto, reforçando os temperos de samba, funk e reggae de raiz, sem perder a influência do rap com DJ Will, filho de Kl Jay, assinando os riscos. MP3 é um daqueles discos que dão a maior vontade de ver o show ao vivo pela energia e suingue envolvidos. “Traba-lhador” e “Mó Fya” são grandes sons. O reggae “Fui” conta ainda com parti-cipações de integrantes do coletivo de hip-hop Nomadic Massive e do grupo de reggae Inword, gravado numa de suas viagens ao Canadá. Não deixem os gringos descobri-lo antes da gente.Escute: myspace.com/raeldarimaBruno Felin

bandas que vocenao conhece mas deveria conhecer_

Divulgação

Origem:França

Som:Compositores como

Syd Matters apenas atestam a importân-cia de Syd Barrett (e do folk e do pop dos sweet 60s) para a músi-ca pop contemporânea. Como se precisasse.

Escute:myspace.com/sydmatters

syd matters

rael da rima

Origem:Brasília, DF

Som:Rockarimbó, carim-

beat, Funkarimbó ou índiostrial. É difícil classificar a Soatá,

banda promissora da mistura de baques. Da influência marcante das culturas do norte e

nordeste do Brasil.

Escute:myspace.com/soatatambor

sOatá

Origem:Curitiba, PR

Som:Eles dizem que são como uma

boa mercea-ria de cidade pequena onde se encontra de tudo. Concordamos, tem uma pitada bem

balanceada de frevo, funk, dub e samba.

Escute:myspace.com/bandasupercolor

superCOlOr

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soundcheckD

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gaçã

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O que motivou vocês, depois de tanto tempo, a montarem o Cree-dence Clearwater Revisited? Doug Clifford: Bem, ninguém estava tocando a nossa música, por 25 anos. Nem Joe Fogerty. Eu e Stu (Cook) queríamos tocar novamente e as pessoas diziam que queriam ver o Creedence tocando ao vivo de novo. Foi o que fizemos. Achamos as pessoas certas e nos juntamos. Agora já esta-mos juntos há quase 16 anos fazendo turnês. Por exemplo, acabamos de vol-tar da China e Austrália. E temos seis shows marcados aí no Brasil.Ao montarem a banda a inten-ção era fazer shows pequenos. Hoje vocês se apresentam para multidões, como antigamente. O que você prefere?Stu Cook: Bem, os dois têm aspectos positivos. Em shows pequenos é muito mais íntimo. Você vê as reações na cara do público. E você pode ter contato visual, falar com eles. O que é ótimo. Claro, com públicos grandes você perde isso, mas a troca de energia é enorme. Os dois são bons da mesma maneira.Vocês dois tocam juntos desde o colegial. Quase que um casamen-to. Como é tocar tanto tempo com alguém? Stu Cook: É, é um pouco como um casamento mesmo. Mas um bom casamento (risos). É quase como se soubéssemos o que o outro vai fazer. Quando ele começa alguma coisa eu

25 anos de silêncio foi o que os fãs “ouvi-ram”, até que, em 1995, Doug Clifford e Stu Cook reuniram-se com Steve Gunner, Tal Morris e John Tristão, criaram o Creedence Clearwater Revisited e voltaram a se apre-sentar ao vivo. Depois de quatro anos, os ex integrantes do Revival vem para o Brasil em novembro e avisam: “Let’s make some noise!”

“O prOpósitO é só

tOcar músicas dO

creedence, aO vivO,

para Os fãs. nãO te-

nhO O tempO, nem O

interesse em sentar e

cOmpOr.”

CreedeNCe por Raffa Ramos

sei como vai terminar, então eu posso complementar. E vice-versa. É quase automático, estamos tocando há muito tempo juntos, uns 50 anos. Doug Clifford: De vez em quando eu gosto de surpreender ele, para ver se ele está prestando atenção. Vocês têm um disco gravado, Re-collection, com os maiores hits do Revival. Tem alguma música que ficou de fora, na sua opinião? Stu Cook: Só uma escapou, eu acho. “Good Golly Miss Molly”. Ficou de fora, de alguma forma. Vocês andam compondo? Os fãs podem esperar algo novo em breve?Stu Cook: Não, não, não. Nós não vamos fazer nada novo. O propósito é só tocar músicas do Creedence, ao vivo, para os fãs. Não tenho o tempo, nem o interesse em sentar e compor. Doug Clifford: Nós fazemos o que os fãs querem, e eles querem Cree-dence. Não queremos ficar num es-túdio, gravando músicas que o púbico não conhece. E quanto a um novo álbum com outras músicas da banda?Doug Clifford: Talvez ano que vem. “99 And A Half”, provavelmente. “Good Golly Miss Molly”… Por aí. Algum recado para os brasileiros que vão nos shows? Stu Cook: Preparem-se para uma noite de rock ’n’ roll.Doug Clifford: Let’s make some noise!

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Pela tag “SWU”, dá pra ler to-dos os nossos reviews, críticas e impressões gerais sobre o maior festival brasileiro do ano. http://bit.ly/bC9dxS

Rivers Cuomo mostra que não tem limites quanto à sua excen-tricidade e convida My Chemi-cal Romance para tocar com o Weezer. http://bit.ly/ciPWUe

Duas das mais promissoras bandas brasileiras juntas. Os ca-pixabas do Zémaria remixaram duas músicas do Wannabe Jalva: http://bit.ly/btfwNC

Fomos ao Festival Natura Nós, em São Paulo, e contamos tudo sobre os shows de Snow Patrol, Air e Jamiroquai: http://bit.ly/cqhwug

move that jukeboxBLOGS

__prOfetiZaNdO sObre 2011 | Já esta-mos em novembro: 2010 chegou e está indo em-bora mais rápido do que nosso poder de assimilar que, em um mesmo ano, pisaram no Brasil nomes como Paul McCartney, Rage Against The Machine e Smashing Pumpkins. A época também já pede as famigeradas listas de me-lhores do ano. Aliás, me-lhores, piores, decepções, etc. Afinal, nem só de The Suburbs viveram nossos iPods. E para 2011? O que você espera? A avalanche de shows gringos conti-nuará assaltando nossas carteiras e nos deixando

Felip

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com cara de fãs trouxas, porém satisfeitos? Espero que sim. O Rock In Rio já tá aí, prometendo apresentações inesquecíveis. Aos produtores, fica a sugestão de trazer bandas que não tocam em nossas terras há tempos, como Wilco e Arcade Fire. Atrações inéditas também são sempre muito bem-vindas, ainda mais se tiverem a qualidade e o carisma de um Black Keys, She & Him ou Los Campesinos!, por exemplo. Há também as bandas que lançaram bons débuts em 2010 e estão com suas agendas bombando, vide Two Door Cinema Club e Local Natives. O último ano antes do fim do mundo também promete grandes voltas—e com possíveis grandes discos. A lista já é quase infinita: Radiohead, Strokes, Red Hot Chili Peppers, U2, Cat Power, The Kooks, Juliette Lewis, R.E.M., Foo Fighters, City And Colour, Coldplay, Death Cab For Cutie… e vamos parar por aqui. Tem também

aqueles nomes sumidos, mas que podem aparecer a qualquer momento com discos arrebatadores. Ou você duvida da capacidade de Josh Homme e Jack White com seus Queens Of The Stone Age e The White Stripes, respecti-vamente? E ainda tem os projetos paralelos, que ficariam bem represen-tados com novidades de, pelo menos, Eagles Of Death Metal e Raconteurs. Mas poxa, tem também o Them Crooked Vultures e o Dead Weather. Quer saber? Que venha 2011!

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RRAURLBLOGS

__Em descrição simples, o festival South by Southwest é um grande evento com quase 10 dias de duração que mostra shows, filmes e promove discussões sobre mídia e tecnologia. Complicando, é um universo paralelo em Austin, Texas, onde o público fica imerso em variados assuntos en-quanto toma cerveja e conhece gente do mundo todo.O SXSW acontece desde 1989 e tem chamado a atenção nas últimas edições. Aqui no Brasil, em especial, deixou de ser o segredo bem guardado entre a turma muito cool para parar em páginas de grande circulação - culpa da par-ticipação de brasileiros como Garotas Suecas e Database.A edição 2011 acontece entre 11 e 20 de março e deve levar mais brasileiros ao Texas. Entre as expectativas está a exibição do documentário We.Music, produzido no Brasil para contar como é criar música em tempos digitais com participa-ção de Thiago Pethit e Chernobyl, entre (vários) outros.Garantir a ida exige planejamento: já estão à venda os bad-ges (music, interactive, film) que dão acesso a cada parte da programação do festival - eles ficam mais caros mais perto do evento. O mesmo vale para hotéis. Corra para sxsw.com e prepare a carteira.

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SxSw

__O diretor de arte paulista Ga-briel Dietrich fez ótimos vídeos que mostram bem “como é” o SXSW, com cenas de shows da Ladyhawke, Twelves, Boyz Noise e Sonics . Veja em vimeo.com/user1412615

__O documentário “We.Music: Como a Web Revoluciona a Musica” está online, na íntegra. Você pode ver no www.wemusic.com.br/

__Ainda dá tempo de tentar a participação da sua banda: as incrições vão até o começo de novembro. Procure no site do festival, existe uma taxa de apenas U$30. Corre!

__A revista XLR8R tem um aplicativo para celular (iPhone e Android) com dicas bacanas de onde ficar, onde comer, o que ver e o que ouvir. O Austin City Guide é atualizado com dicas especiais para quem vai ao SXSW. www.xlr8r.com/cityguide/

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__O mês de outubro viu o nascimento de mais um grande festival em terra brasilis: o SWU – Starts With You. É preciso comemorar. Vai longe o tempo que o Hollywood Rock (1988 a 1996) era o responsável por trazer anualmente ao Brasil gente como Nirvana, Duran Duran, Bob Dylan, Alice in Chains, Red Hot Chili Peppers e The Cure, entre outros. De 1985 a 2008, o Free Jazz (Tim Festival a partir de 2001) focou no

SCREAM & YELLBLOGS

SCREAM & YELL

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jazz (Miles Davis veio em 1988), mas também acenou para o rock com White Stripes, Sonic Youth, Wilco, Television, Arctic Monkeys, Beastie Boys e Patti Smith (a lista completa é reche-adíssima). As duas edições do Curitiba Rock Festival foram celebratórias, o Planeta Terra vem se firmando ano a ano e tive-mos, ainda, o Rock in Rio (1985/1991/2001 e, agora, 2011) com ótimos line-ups, mas edições espaçadas, distantes. O SWU, por sua vez, inspirado em modelos gringos, quer fazer da cida-

de de Itu uma arena anual de shows tal qual cidade-zinhas como Leuven, na Bélgica (que abriga o ma-ravilhoso Rock Werchter), Balado, na Escócia (local do grandioso T In The Park), Reading, na Inglaterra (casa do festival homônimo) e Indio, na Califórnia, uma cidade de 80 mil habitantes que abriga o festival de Coachella. É um desejo complicado, mas o público de 165 mil pessoas mostra que o sonho do SWU é possível. Em sua primeira edição, porém, o festival mostrou bons shows e

deficiência na produção. As críticas superam os elogios, por isso o produtor Eduar-do Fischer precisa baixar a bola do “sucesso”: fez um grande festival… repleto de problemas. Merece todas as cobranças, como também o benefício da melhoria—e há muito ain-da o que melhorar—, mas uma coisa é certa: o Brasil precisa de um festival anual deste porte. Seja bem-vin-do, SWU. E melhore, muito. Começa por você.

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FORA do eixoBLOGS

__O Festival Calango deste ano traz novo slogan (e uma nova proposta) - “em todos os lugares”. O que isso significa? Que estamos caminhando para ocupar mais espaços. Fisicamente, quer dizer que o Calango, que é apresentado pela Petrobras através do Programa Petro-bras Cultural com apoio da Lei de Inventivo à Cultura do Governo Federal, agora segue modelos de festivais internacionais como o South By Southwest, onde shows acontecerão em pontos diferentes da cidade simultane-amente, chegando a ter 3 temáticas diferentes por noite. Ele acontece de 26 a 28 de novembro, iniciando na Praça das Bandeiras e as vagas estão abertas para bandas na-cionais via Toque no Brasil. As bandas de Mato Grosso passam pela etapa de Prévias Seletivas.

_A Turnê Fora do Eixo, projeto do Circuito Fora do Eixo para circulação de artistas, põe na estrada nestes meses de outubro e novembro a banda argentina Falsos Conejos ao lado do grupo pernambucano A Banda de Joseph Tourton. Esta é a maior turnê independente produzida no Brasil, com 34 datas agendadas em um intervalo de 43 dias, passando por dez estados.O primeiro show da turnê acontece em Araraquara, São Paulo. Depois, as bandas seguem pelo interior paulista, com shows até o fim de outubro. No mês seguinte, passam por Minas Gerais e pelo Nordeste, se apresentando em quatro festivais importantes: 4º Contato em São Carlos (SP), Jam-bolada em Uberlândia (MG), DoSol em Natal (RN) e Festi-val Mundo em João Pessoa (PB).

O Festival Marreco de Cultura Independente, que acontece de 03 a 05/12, reúne músicas,debates,teatro,dança, audiovisual,esportes, programa-ção infantil e Feira Cultural. Saiba mais: coletivopeleja.com.br

Em outubro, rolou o III Congres-so Fora do Eixo, em Uberlândia, que reuniu quase 400 integran-tes do Circuito Fora do Eixo. Acompanhe tudo que rolou no site da Cobertura Colaborativa: tiny.cc/coberturacolaborativa

Fique ligado! As inscrições para produtores interessados em participar do maior festival em rede da América Latina serão abertas no site gritorock.com.br. Corra e se inscreva!

Criado em 2005, o Festival Vara-douro assumiu a posição de maior festival de música independente da Amazônia.Em 2010, o evento homenageará o músico acreano João Donato, que é referência nacional. toquenobrasil.com.br/eventos/varadouro

direto ao ponto

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A primeira frase que qualquer um diria ao chegar na Fazenda Maeda, em Itu, no primeiro dia do SWU é: “Isso aqui vai dar problema”. Era evidente. Foi disponibilizada uma estrada mais estreita que a largura de dois ônibus para o escoamento de quase 50 mil pessoas – que chegariam ali com carros, vans, bicicletas, ônibus ou a pé. Deu problema. Quando acabou no Palco Ar+1 o angustiante e histórico show do Rage Against the Machine, um mutirão comple-tamente destruído pelos ruídos da guitarra de Tom Morello teve que buscar energia no fundo d’alma para aguentar horas de completo colapso das vias de saída da fazenda. Se a organização do festival havia enfrentado problemas relativamente preocupantes quando os fãs da banda americana resolveram seguir os conselhos de Morello e invadir toda e qualquer área reservada a VIPs, agora era esse mesmo público que provava do contra-veneno. O cenário era, sem exageros, apavorante: milhares de pessoas amassadas umas nas outras, indo na contramão de ônibus com a luz alta ligada, pulando cercas inutilmente em busca

de espaço. O objetivo era chegar à estrada que unia Itu à capital São Paulo. Muita caminhada, muita espera, muita areia nos olhos e muito roqueiro xingando muito no Twitter+2.

No final do primeiro dia, os três únicos assuntos eram: 1. a apresentação do Rage Against the Machine; 2. a revoltante estrada de saída do festival e 3. o frio. Quanto ao primeiro, o clima já era de ner-vosismo há bastante tempo. “Algumas pessoas estão comprando ingressos comuns e planejando invadir a área vip quando o show começar. Só achei que deve-ria mencionar isso”, foi assim que Tom Morello come-çou tudo, incitando a invasão das áreas VIP para um público já ensandecido por natureza. Levando isso em conta, pode-se dizer que a participação da segurança do festival foi importante para manter tudo sob o mínimo de controle+3. Os dois momentos de silêncio presenciados no show conseguiram manter o público em banho maria. Enquanto Zack de la Rocha mexia os lábios e ninguém escutava, o furor e a ira do públi-co – que, logo no primeiro acorde quase fez o chão

Auto-intitulado Woodstock brasileiro e arquitetado todo com base na ideia da sustentabili-dade, o SWU Brasil – projeto do publicitário Eduardo Fischer – pode debitar praticamente toda a sua repercussão negativa da conta das promessas feitas durante a criação do even-

to. Houve espaço para discussões sobre meio-ambiente, houve bandas que abrangeram uma gama impressionante de público, houve opções de estadia, transporte, alimentação e

diversão. Mas o público esperava mais – pois mais havia sido prometido.

starts WitH You

[+1]As atrações principais eram divididas em dois grandes palcos, que ficavam lado a lado, nomeados Ar e Água.

[+2]A tag #SWUfail foi trending topic durante boa parte do período em que o festival ocorria.

[+3]Segundo dados da organização, estiveram envolvidos no SWU 1600 profissionais responsáveis pela segu-rança. Durante os três dias, foram emitidos 94 boletins de ocorrência, a maioria por furto de celular e perda de documentos.

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da tranquila fazenda rachar – foram pouco a pouco se diluindo. Quando a panela começava a borbulhar, o silêncio punha tudo em fogo brando. Funcionou.Marcantes também foram as apresentações de Macaco Bong e Black Drawing Chalks nos palcos principais, mostrando a força que o rock brasileiro mantém. A volta dos Los Hermanos fez casais canta-rem abraçadinhos, olhando para a lua que começava a aparecer em Itu. O Mars Volta apresentou o que seria uma das maiores surpresas positivas do SWU: uma bateria esquizofrenicamente pesada, Cedric Bixler Zavala emulando um Robert Plant completamente afetado e a canhotinha maldosa de Omar Rodriguez--Lopez destruindo a guitarra resultaram numa obra-prima de rock n’ roll. Nos palcos alternativos, Superguidis e Mallu Magalhães, que se apresentaram no Palco Oi Novo Som, transpareceram maturidade de headliners e The Twelves, MSTRKRFT e Killer On The Dancefloor mostraram seu trabalho para o grande público que manteve o Heineken Greenspace – tenda dedicada à música eletrônica – permanente-mente lotado.

Se no dia anterior tudo havia sido um pouco confuso, no domingo as coisas foram se ajeitando. Programado com um line-up mais pop, não foi só no palco que houve mais calmaria. Chamou atenção a limpeza feita no local durante a madrugada – o even-to contava com a parceria da cooperativa Reciclei-ros+4, que executava, na própria fazenda, a primeira etapa da reciclagem de todos os materiais consu-midos. Pôde-se perceber também uma melhoria no processo de entrada e saída do evento. Nos palcos, o dia começaria com O Teatro Mágico, Capital Inicial

e Jota Quest, mas melhoraria no decorrer: Sublime With Rome mostrou seu novo vocalista e fez, com o público, uma espécie de celebração interna tendo como pano de fundo o por-do-sol. Regina Spektor encantou todos com a sutileza de seu piano, Joss Stone empolgou mulheres com seu soul branquelo e deixou homens boquiabertos com o vestido longo, e Dave Matthews Band mostrou a habilidade de seus músicos em um show que mais pareceu uma jam. Fizeram shows de acordo com os grandes artistas pop que são, enfim. Fechou a noite o Kings Of Leon. Quem esperava um show para o grande público, cheio de sucessos, alegre como uma banda indie deve ser, se decepcionou. Investindo em um novo estilo pesado, arrastado, cheio de ambiências e tímido, fizeram um show difícil para um público de 50 mil pessoas, mas, mesmo assim, ótimo.

No último dia de festival, as discussões chega-riam a um nível que era impossível ignorar, e a maioria dizia respeito à sustentabilidade, por óbvio. Vale trazer o conceito de sustentabilidade, cunhado na década de 80, que defende que “uma comunidade sustentável é aquela que satisfaz suas próprias necessidades sem re-duzir as oportunidades de gerações futuras”. Eduardo Fischer, o idealizador do projeto, interpreta o termo de outra maneira: “Sustentabilidade não significa não utilizar recursos naturais, mas, sim, utilizá-los da ma-neira menos agressiva possível”. E isso o SWU, de fato, pareceu tentar fazer. Porém, era válida a reclamação daqueles que foram de bicicleta – um dos símbolos da sustentabilidade – e não encontraram, na Fazenda Maeda, local para estacionar o veículo. Preocupante também era ver centenas de ônibus parados, emitindo

“ainda não conversamos com os proprietários, mas a ideia é seguir fazendo o festival na fazenda maeda em 2011.”

Eduardo fischer, confirmando o festival para o ano que vem.

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[+4]Em seu site, o grupo resume: “Desenvol-vemos projetos de

gestão ambiental e conscientização

com a aplicação de mecanismos sociais de

trabalho.”

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queima de combustível, esperando o trânsito caótico oferecer alternativas. O alento foi ouvir a mea culpa da organização. Fischer admitiu os erros, lembrou que foi a primeira edição do festival, que o local era comple-tamente ermo e isolado e que, no projeto, mais erros eram previstos. “No final, o copo está muito mais cheio do que vazio”, considerou.

Musicalmente, Queens Of The Stone Age, Pixies, Yo La Tengo e os irmãos Cavalera fecharam o feriado de forma fantástica. Enquanto brasileiros já consa-grados como Autoramas, BNegão, Mombojó e CSS compunham o melhor dia do palco paralelo destinado à música brasileira, os palcos Ar e Água tinham suas atrações mais pesadas. O Yo La Tengo sofreu com o som baixo dos alto-falantes, mas foi soberbo na execução de faixas que só não surpreenderam os fãs de Avenged Sevenfold, que confundiram ansiedade com desrespeito e não conseguiram apreciar nenhum outro show que não fosse o de seus ídolos. Depois, foi a vez de outro grupo de fãs incondicionais: os da família Cavalera. Tocando músicas do álbum Inflikted, composições novas e alguns sucessos indispensáveis do Sepultura, o Cavalera Conspiracy gerou rodas punk enormes até sob o ponto de vista de Itu e saiu do palco sob gritos de “volta pro Brasil!”.

Duas bandas fizeram shows exclusivos para seus fãs chatos: Avenged Sevenfold e Linkin Park. Agradaram quem estava lá somente para vê-los e deram ares de ban-dinha adolescente quando eram anunciados e parte do público gritava histérica. Entre as duas, três apresentações históricas. Queens of the Stone Age subiu no palco com um atraso inédito até então+5 mas compensou fazendo um dos três melhores shows do festival. Melodias extre-mamente bem tocadas, vocal perfeito, carisma, interação

e, puta que pariu, músicas pesadíssimas que fizeram todo mundo voltar pra casa ainda meio atordoado. Não há cóclea que resista à caixa de Joey Castillo.

Antes, o Incubus havia feito um belo show. Para um público de alma lavada, tocaram sucessos, souberam se portar frente ao público gigante e saíram do palco com a missão cumprida. Após o QOTSA, tocou um Pixies prejudicado pela escolha de horários. Tocassem antes da banda de Josh Homme, teriam encaixado perfeitamente com o clima do festival. Porém, depois de ouvir “A Song For The Dead”, ninguém consegue trocar o chip tão rápi-do a ponto de curtir tudo que “Where’s My Mind?” pode proporcionar. Mas, mesmo assim, é impossível não abrir o sorriso quando um Black Francis de capuz começa a cantar hits letais como “Debaser”.

Em três dias isolados numa fazenda na periferia de Itu, quem foi ao SWU pôde assistir shows de bandas históricas, teve a possibilidade de presenciar palestras sobre temas importantes para o futuro e com certeza se divertiu. Porém, esse mesmo público teve de pagar mais de R$ 500 para desfrutar de tais prazeres. Foi obrigado também a esperar horas para conseguir ir embora após os shows e, provavelmente, não deu a mínima para a tal de sustentabilidade.

A conclusão que se chega é que o SWU foi, sim, um excelente festival de música. Ótimas atrações, investimento importante em bandas brasileiras, palcos especiais para públicos distintos, organização e pontu-alidade exemplares. Entretanto, no que diz respeito ao ideal pregado desde o início – o do desenvolvimento sustentável – não foi apresentado o suficiente para convencer quem foi até a fazenda de que o mote não passava de ecobranqueamento+6. Eduardo Fischer falou mais do que devia e pagou por isso.

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[+5]Importante destacar a pontualidade exemplar do festival, que pôs praticamente todas as bandas no palco no horário previsto.

[+6]Termo do marketing que designa a prática de uma empresa que se preocupa mais em passar uma imagem de ecologicamente responsável e menos em tomar atitudes nesse sentido.

“todo mundo tá jogando um monte de lixo aqui, isso não está salvando o planeta!”

Bud gaugh, do sublime.

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GAZ COOMBES__Metade da sua vida se passou trabalhando com o Supergrass, e agora essa fase acabou. Como você tem se sentido?Eu me sinto um pouco como se eu tivesse fugido de casa, é uma sensação boa. Não há nada de terrível sobre como o Supergrass terminou, não há sentimentos ruins. Eu estou feliz porque, de alguma maneira, todo mundo ganhou uma oportunidade de se dedicar a coisas que nos interessam individualmente, e de nos expressar. Acho que nós fomos uma família incrível e eu posso dizer isso a maior parte do tempo, o que tínhamos era meio raro: três amigos e dois irmãos que cresceram juntos e que passaram a maior parte de suas vidas juntos. O Supergrass de uma certa maneira era como o clichê de uma banda: três amigos que amam música se divertindo...É, quase como uma mentalidade anos 60, e até ouso dizer, algo como os Monkees; morando todos na mesma casa, trabalhando juntos. Algumas coisas que fizemos eram meio clichê, mas nós éramos muito jovens e não éramos sábios o suficiente pra esculpir uma carreira tão cedo, era tudo feito na base do feeling, é meio estranho.

Mas eu me sinto muito bem – bons ventos virão.

Você se sente mais livre?Sim, totalmente! Na música, não há como evitar o senti-mento de que você está livre para explorar tudo da sua própria maneira. Isso era uma das coisas que eu estava sentindo quando decidimos nos separar. Se olhar para as nossas musicas, você pode achar exemplos disso, sei que já nos podamos. Eu ainda senti até o fim que nos éramos capazes de criar algo maravilhoso juntos. Mas essa não foi a causa da nossa separação, foi o clima entre a gente, e a maneira como trabalhar juntos mudou… e, de alguma maneira, há tantos outros fatores: quatro pessoas com suas vidas, todos os problemas que se acumulam em 17, 18 anos de convivência e nós estávamos ainda indo com tudo no Diamond Hoo Ha+1, mas...

Charly (irmão caçula de Gaz e Rob) interrompe e diz que Diamond Hoo Ha foi como o Abbey Road deles e que um novo álbum seria demais.

...Diamond Hoo Ha foi ótimo, eu me diverti bastante, estar em Berlim com um produtor pela primeira vez em cinco anos foi muito importante, porque nos deu tempo para

Em abril deste ano, o Supergrass soltou uma nota na imprensa anunciando que depois de 17 anos juntos, seis álbuns de estúdio e uma coletânea debaixo do braço; divergências musicais e a crise dos 17 anos eram demais para a banda de Oxford. Eles estavam encerrando seus trabalhos.Os olhos estão voltados para ver o que esses quatro músicos farão agora. Em sua primeira entre-vista detalhada desde a separação, Gaz, Mick, Danny e Rob falaram abertamente e honestamente

a NOIZE sobre planos futuros, novas bandas e o que deu errado.

supergrass eXclusiVo

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relaxar e aproveitar para tocar, e boa parte da ideia desse álbum foi tentar capturar como nós soamos ao vivo.É tão difícil saber o que aconteceu exatamente, pessoas mudam trabalhando no estúdio, e estar em um estúdio é algo tão estra-nho, é como um bizarro microcosmos sobre vida e sociedade e é tudo meio incluso e confinado. Eu acho que é meio difícil ver olho por olho nessa situação, e naturalmente você tem discussões, e acaba sendo muita coisa pra se lidar e você acaba pensando: foda-se! Nós estávamos tendo vários conflitos nos últimos meses antes da separação, e tivemos uma sessão nos es-túdios Battery e as coisas desmoronaram. Tinha muita discussão e, porra, essa foi a última sessão do Supergrass.

Se o Supergrass nunca tivesse existido, o que você acha que estaria fazendo agora? Não sei, eu estava muito envolvido em arte na escola, teria continuado com isso. Só me interessava música e arte... e tênis! Parece que o Seal+2 gostava de tênis e era um bom jogador!  Qual a diferença do Gaz de 16 anos para o de agora?Eu acho que mudei bastante, eu ainda vou onde a vida me leva. Pensando agora, eu vejo que fui assim dos 16 aos 27 anos, não acredito que fiz nenhuma decisão importante sobre minha vida; as coisas eram tão rápidas, mudando de casa, viajando, estúdios, estar em uma banda por tanto tempo e a transição para não estar mais nela e tomar suas decisões de uma maneira diferente, ainda sendo tão criativo e ambicioso como antes, mas sem o mesmo ritmo e a rede de segurança pra te pegar se você cair. Às vezes eu olho pra trás e percebo que nós fomos muito bem cuidados, todas as coisas que nós passamos são o suficiente pra escrever cinco livros!

noize.com.br

“Eu acredito que é muito importante poder persistir com algo muito ruim por meia hora e não ter ninguém com você pra dizer: Gaz, isso está uma merda, para! E eu posso jurar que no fim você tromba com algo ótimo no

meio de toda essa merda.” gaz coomBEs

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GAZ COOMBES

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Que bandas têm te inspirado recentemente? Eu gosto de fazer pesquisas aleatórias e ver o que bandas que eu gosto tem escutado. Ver o que inspira os Flaming Lips, e ver que bandas inspiram eles… e seguindo essa corrente, até achar uma banda no centro dos EUA que ninguém conhece. Tem uma banda bem estranha chamada The Residents, meio artística e bizarra, do começo dos anos 70; eles usavam loops e instrumentos estranhos, piano, tudo muito orgânico, mas bizarro, sem composições tradicionais – e de uma certa maneira eu gostei disso. Tem outra banda inglesa chamada This Heat, meio dos anos 70, vários elementos de rock alemão e, de novo, loops estranhos.Me inspira bastante escrever ouvindo coisas estranhas, é importante ter uma composição, mas também ter sons estranhos. Coisas como Brian Eno fez no Low+3 do David Bowie. Artistas como Jack White e Beck me inspiram porque são pioneiros mas ao mesmo tempo tradicionais, musicalmente experimentais; eles não fazem o que o público demanda deles, eles criam coisas novas do jeito deles; e como um artista você quer chegar até as pesso-as, mas do seu jeito, e isso é tão difícil de fazer.

Em 2010 você e o Danny Goffey, atendendo pelo nome de Hot Rats+4, gravaram um álbum de covers. Há planos de continuar esse projeto? Sim, eu e o Danny temos conversado sobre começar a gravar um disco logo, nas próximas semanas vamos fazer uma sessão, escrever algumas coisas, só musicas próprias. Nos vimos semanas atrás, tocamos juntos e já tivemos algumas ideias. Essa é a mesma maneira como fizemos o primeiro disco, gravando o que estávamos fazendo e nos reunindo com Nigel (Goldrich, produtor) para esculpir e transformar aquilo em algo diferente. No fórum do site do Supergrass, um fã estava questionando se você e o Danny são almas gê-meas musicais. Você concorda com isso? Eu acho que é verdade, em vários aspectos. Não importa o quanto tempo nós passamos afastados, nós sempre re-tomamos onde paramos. Nós não tínhamos trabalhado juntos nos últimos seis meses, e quando nos vimos foi maravilhoso, imediatamente nos entendemos. O Danny

toca diferente quando está comigo, e vice-versa, há algo ali! Quero fazer parte do que ele faz. Você está gravando um álbum solo, certo? Quan-do você acha que ele será lançado?Estou, na realidade metade já esta feita. Não sei exata-mente quando será lançado, seria ideal no próximo outo-no. Tem sido um processo meio rápido gravar minhas ideias no meu estúdio, tenho uma bateria lá, então me divirto bastante e toco praticamente tudo no álbum.

No Supergrass você tinha mais três pessoas para contribuir e opinar. Como você se sente agora fazendo isso sozinho?É diferente e provavelmente mais rápido. Eu acho que musicalmente eu estou muito feliz em só experimentar, e eu gosto muito de trabalhar sozinho, eu acredito que é muito importante poder persistir com algo muito ruim por meia hora e não ter ninguém com você pra dizer: Gaz, isso está uma merda, para! E eu posso jurar que no fim você tromba com algo ótimo no meio de toda essa merda. Eu quero ser espontâneo.

O que os fãs podem esperar desse álbum solo?Eu tenho trabalhado bastante com o som da bateria para tentar capturar um som bem real. Há alguns elementos de música clássica usadas no cinema em cima disso; quase como se John Carpenter entrasse em uma sala e começasse a tocar algo em cima de Queens of The Sto-ne Age acústico. Há varias estéticas simples que eu gosto muito, e é na maioria, acústico, piano e batidas diferentes. É um álbum bem pra cima, mais agitado do que doce, tem apenas umas duas musicas bem bonitas e delicadas. É, também, pesado e sombrio em alguns momentos. Eu me considero sortudo podendo gravar todas as minhas ideias, porque já destruí muitos neurônios pra lembrar disso tudo!

DAnny GOFFEy__O que você tem feito desde o fim da banda? Nada de mais, aproveitando minha rotina doméstica que consiste em passear com os cachorros e cozinhar. Musi-calmente falando, eu fiz uma turnê com o Babyshambles,

[+2] Cantor de hits como “Kiss from a

Rose”

[+3]

[+4] myspace.com/thehotrats

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MICK QUINN E A DB BAND

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DANNY GOFFEY

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planejando um novo disco com nossas próprias músicas para o Hot Rats.

Como você acha que os fãs do Supergrass vão reagir a isso? Favoravelmente, eu acho. Provavelmente eles estão esperando para ver o que é novo, o que vai acontecer. Eu acho que eles vão preferir nos ver fazendo algo individu-almente do que sem fazer nada pra sempre. Eu acho que as pessoas estarão interessadas em ouvir.

Eu perguntei isso ao Gaz, mas queremos saber se o sentimento é mutuo, você acha que vocês dois são almas gêmeas musicais? Sim, antes de tudo eu e Gaz somos grandes amigos, não há bloqueios em como conversamos, eu acho que ele é o amigo mais próximo que tenho. Quando nos conhecemos a gente tinha só 13 anos, e eu não acho que a gente tenha discutido gravemente uma vez sequer. Eu acredito que esse é o ponto sobre criar algo bom: é ter a sensação de que você está livre para se expressar completamente e fazer papel de bobo sem ter que se preocupar se alguém vai rir de você.

Você tem escutado algumas bandas atuais?Não muito, eu gosto de Richard Hawley, eu gosto bas-tante dos discos dele. Eu também gosto muito de Elliott Smith, não é exatamente moderno, mas eu posso escutar ele todo o tempo, ele tem uma voz tão melancólica; eu acho que ele é o único artista que me fez chorar ouvin-do suas musicas, ele era muito sentimental e suicida.O que esperar de você nos próximos dois anos?

o que foi meio louco: eu fiz mais por diversão, e no fim eu já estava empolgado com as musicas. É sempre interessante viajar com eles, porque eles são tão loucos que eu só me sento em volta e vejo toda a loucura acon-tecer – o que é uma mudança boa, porque geralmente eu causava isso.

Você se sente mais livre agora? Eu me sinto meio livre só trabalhando com o Gaz em al-gumas coisas diferentes, porque algumas coisas mudaram, é novo e empolgante – escrever músicas que não sejam Supergrass. Eu tenho bastante tempo livre em minhas mãos, então me sinto muito mais livre pessoalmente, te-nho passado muito mais tempo com as minhas crianças e coisas assim, o que é muito bom. E minha mulher, Pearl, tem trabalhado bastante, então eu virei dono-de-casa, e é maravilhoso! Eu até comprei um par de luvas de borracha novo, rosa com flores dentro!

Você trabalharia de novo com o Mick ou Rob?Sim, não há sentimentos ruins na nossa relação. Eu só não sei como, e se nós vamos algum dia fazer um show juntos com Supergrass de novo. Talvez no futuro nós teremos uma boa razão pra fazer isso, ou seria algo mui-to divertido de se fazer; eu acho que nós perdemos o elemento diversão perto do fim, então, pra ser honesto, é bom não estar no Supergrass agora, eu não quero soar horrível, mas eu estive nessa banda por tanto tempo que parei de aguardar ansiosamente nossas sessões e eu acho que isso é um sinal de que há algo errado.

Anos atrás, você tinha uma banda com sua mu-lher chamada Lodger, além do projeto solo Van Goffey+5. Você pretende retomar algum deles? Na verdade, não, eu não acho que tenho a quantidade de atenção necessária para começar uma banda sozinho, eu preciso de pessoas como o Gaz para ajudar. Talvez seja uma questão de confiança também. Van Goffey tinha bastante da minha personalidade, não sei se funcionaria com o Gaz. Eu preciso de alguém me guiando, uma mão para me assegurar, eu não sou muito confiante, na verdade, e também não tenho a melhor voz para cantar. Mas eu tenho escrito bastante com o Gaz, estamos

“É sempre interessante viajar com o Babyshambles, eles são tão loucos que eu só me sento em volta e vejo toda a lou-cura acontecer – o que é uma mudança boa, porque geralmente eu causava isso.”daNNY goffEY

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[+5] myspace.com./vangoffey

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Eu e o Gaz temos escrito musicas para outras pessoas, e isso é bem divertido, totalmente diferente. É como ter a oportunidade de trabalhar com seus guilty pleasures, poder escrever músicas pop; você não precisa promover ou falar sobre isso, então você pode escrever algo bem popular. Muitas coisas no começo do Supergrass eram assim, mas você tende a ficar mais profundo quando envelhece, entende? Mas é como ir pra escola e reviver essa simplicidade com a musica, o que é divertido. E também, se tudo correr como o esperado, vamos ter o novo disco dos Hot Rats ano que vem... e talvez uma turnê grande no Brasil? Nós não voltamos desde 2006! Talvez no ano que vem a gente faça mais shows com o Foo Fighters, o que é sempre bom! MICk QuInn__Quando o Supergrass acabou, que opções você viu no seu futuro? Pensou em tentar carreira solo, ou produzir outras bandas? Todas essas opções passaram pela minha cabeça. Eu até considerei desistir da musica completamente e fazer ou-tra coisa, mas música é o que eu faço desde os 14 anos e não consigo me imaginar fazendo algo diferente.

Tem alguma ideia de o que você poderia fazer? Bom, eu não sei, eu poderia trabalhar em algum arma-rinho! (risos) O que eu quero dizer é que você tem o mundo aos seus pés se você levar em consideração que a sua carreira com o Supergrass acabou e isso é uma oportunidade para fazer todas as coisas que você não podia antes. Eu cheguei a cogitar a ideia de voltar para a faculdade para estudar música. Não há muito dinheiro

na indústria musical e não é a opção mais lucrativa a se tomar, mas é algo que eu sempre acabo fazendo. Você tem uma banda nova agora – DB Band+6. Como isso começou?Todos nós estávamos cientes de que o Supergrass estava passando por dificuldades. No começo deste ano, estáva-mos a procura de algo novo, e eu também tinha musicas extras que eu estava tentando escrever para o Release The Drones (último e não lançado álbum do Supergrass). Eu estava tocando essas musicas em casa com as pessoas que estavam a minha volta como meu amigo de longa data Paul (baixista da DB Band), e a DB Band surgiu disso.

Você se sentiu nervoso ao montar uma banda nova? Te preocupou a reação dos fãs?Existe um elemento de preocupação e nervosismo, mas eu acho que isso desaparece com o fato de que você tem que ser corajoso com suas próprias escolhas, fazer o que tem que fazer. Eu acho que isso é uma batalha constante para um artista ou qualquer pessoa tentando criar musica: ter fé em você mesmo e no que você está fazendo, e provavelmente algumas pessoas vão se decepcionar, mas ao mesmo tempo há pessoas que vão gostar do que eu faço. Você não pode escrever pensando nos outros.

Você trabalharia com Gaz, Danny ou Rob de novo?Sim, certamente; mas eu acho que temos que passar um tempo fazendo nossas próprias coisas; é importante po-der se estabelecer e decidir o que você quer fazer. Mas eu creio que no futuro, se oportunidades aparecerem, nós podemos trabalhar juntos novamente, eu ia adorar, só que alguma coisa diferente de novo!

Como você descreve o som da DB Band?Spanish cowboy space rock! Inicialmente nós tínhamos mais elementos de blues. Essa era uma palavra “suja” no Supergrass, o que eu sempre achei meio triste; mas é um blues mais parecido com MC5 ou Stooges, baseado num rock mais sujo, primitivo. Esse é um elemento que eu sinto falta, nós tínhamos isso no começo do Supergrass,

“Letras são quase como uma barreira que você diminui para as pessoas, se é que

isso faz sentido. Eu acho muito mais fácil tocar uma musica que eu compus do que

mostrar para alguém letras que escrevi.” roB coomBEs

[+6] Os integrantes da DB Band sao: Mick Quinn, Miikey Dean-Smith e Paul Wilson.

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rock sujo e primitivo, músicas como “Lose it” e “Caught By the Fuzz”. Éramos mais diretos e é a direção que queremos tomar com a DB Band inicialmente.

Você mencionou anteriormente que as primei-ras musicas para a DB Band faziam parte do que você estava trabalhando naquele momento. Algumas dessas musicas eram destinadas para o Release The Drones? Inicialmente as primeiras musicas eram ideias que esta-vam frescas em nossas cabeças, nada tinha sido escrito

para Release.... Quando nós começamos a marcar shows, não tínhamos musicas suficientes, então duas musicas que eram possivelmente destinadas para o Release… saíram da gaveta e foram usadas.Mas nós estamos em um terceiro estágio agora, come-çando a escrever coisas que reúnem nossos talentos como um trio. As músicas ainda estão em um estágio embrionário, mas eu estou mais animado com isso do que qualquer outra coisa tenhamos feito até agora.

Falando sobre bandas e cantores, o que você

ROB COOMBES

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tem ouvido ultimamente? Seu gosto mudou bastante? Sim, vem em ondas, é algo completamente mutante. Eu ainda escuto coisas que eu escutava quando tinha 14 anos e eu percebo coisas diferentes agora, eu passo por fases diferentes. Quando eu era mais novo, os top 10 eram tão ruins que a maioria das pessoas pareciam estar mais voltadas para músicas e bandas dos anos 60 e 70 porque elas exalavam uma essência de que as bandas faziam aquilo por amor à música, e davam tudo de si. Eu ainda escuto Bob Dylan, Jimi Hendrix, varias coisas; mas todo o tempo bandas como Midlake, Arcade Fire e Jim Noir que surgiram nos últimos 5 ou 10 anos, são tão interessantes quanto outros artistas. Eu ainda fico chocado ao perceber que me animo com coisas novas da mesma maneira como me sentia quando era um adolescente. Tem música boa no mun-do, a qualidade cai às vezes, mas ainda há musica boa.

Quais são os planos para o futuro da DB Band?Uma parte de mim deseja dominar o mundo, ser tão grande quanto o Supergrass, mas eu não acho que isso é muito realista. Pra mim o que importa é melhorar aquilo que estamos fazendo. As músicas que tocamos no nosso começo eram interessantes, mas agora estamos com músicas novas, mais fortes, mais pessoais e melhor executadas também.  ROB COOMBES__Você entrou no Supergrass oficialmente em 2002, por que demorou tanto?Eu acho que demorei um pouco para entrar na banda oficialmente porque eu não estava na banda em todos

os momentos mais intensos antes disso. A primeira vez que eu compus com eles foi logo após começarmos a tocar ao vivo juntos; então, em 96, 97 eu meio que estava na banda. De certa maneira, não era a coisa certa a se fazer, eu não queria estar massivamente na mídia, então, a situação parecia boa do jeito que estava. Somente depois que as pessoas começaram a questionar: o Rob está na banda, ou não? Cansamos de responder isso e decidimos fazer a minha participação oficial.

Você falou sobre escrever músicas juntos, você colaborou bastante nas composições do Super-grass? Logo depois que entrei na banda eu participava muito mais na criação das musicas do que das letras, mas isso cresceu com os anos. Eu acho que, a partir da minha experiência pessoal, letras são quase como uma barreira que você diminui para as pessoas, se é que isso faz sen-tido. Eu acho muito mais fácil tocar uma musica que eu compus do que mostrar para alguém letras que escrevi. Mas no fim eu estava ajudando com tudo.

Você ainda quer continuar trabalhando com música? Talvez montar uma banda, ou se juntar a outra? Eu quero. Eu ainda escrevo, tenho escrito músicas desde o fim do Supergrass, a única diferença é que o que eu escrevo agora não está sendo gravado. Mas eu não vou parar de escrever músicas, eu sou razoavelmente confiante de que eu vou ter uma nova oportunidade de ser criativo em algum momento, e vai ser bom ter essas músicas para escolher quando isso acontecer.

“Eu acho que isso é uma batalha constante para um artista ou qualquer pes-soa tentando criar musica: ter fé em você mesmo e no que você está fazen-

do. Algumas pessoas vão se decepcionar, mas há pessoas que vão gostar do que eu faço. Você não pode escrever pensando nos outros.”

micK quiNN

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Quando essa oportunidade aparecer, o que vai ser exatamente? Vai ser algo como X Factor+2. É, eu tenho planejado participar do X Factor ano que vem, acho que tem uma categoria ‘acima de 35 anos’. E se o Simon (Cowell) gostar de mim, eu vou levar minhas musicas e mostrar para o mundo! Não, eu estou brincando, nesse momen-to eu não sei, pra falar a verdade. Uma banda estava interessada em mim vagamente, mas é difícil pra mim agora porque eu não posso doar todo o meu tempo para uma banda como eu fiz com o Supergrass, eu tenho outros compromissos.

Você procura escutar bandas novas ou só artis-tas de que você gosta?Eu não presto mais muita atenção em bandas novas. Eu sempre gostei de ficar de fora da cena atual, eu costu-mava me preocupar quando eu estava escrevendo que, inconscientemente, eu iria aparecer com coisas que tinham sido escritas por outras pessoas; então eu nunca escuto muita música quando estou escrevendo para ter certeza que o que faço é meu.A maioria das coisas que eu escuto também é influen-ciada pelas minhas crianças, o que não é a coisa mais cool para ouvir! Sabe, eu acabo assistindo programas que eles gostam como X Factor e coisas assim.

Você sempre teve vários outros interesses além de musica, por um tempo você manteve um blog, e você e formado em astrofísica. Você pre-tende se voltar pra isso em algum ponto? Eu adoraria, honestamente. Seria maravilhoso trabalhar mais no que eu estava fazendo na Universidade de Fí-sica e Astronomia, que era medir espectros de estrelas e descobrir o quão longe elas estão e o quão velhas elas são. Tudo o que as pessoas sabem sobre estrelas você pode aprender através de espectros, que são finas linhas de luz, e eu gostava muito disso, ser capaz de saber todas essas coisas maravilhosas, que estão tão longe e impossíveis de alcançar.Mas é difícil entrar e sair desse meio, eu acho que você tem que se envolver logo depois da faculdade se você quiser uma carreira com isso. Eu não me vejo

conseguindo financiamento para um projeto de pós graduação passados 15 anos; eu acho que eu estaria forçando a minha sorte! Bom, a gente nunca sabe!Talvez… Se alguma universidade estiver lendo isso e quiser me dar £50.000 para olhar para as estrelas, eu vou aceitar. Quem te inspira na área da astrofísica? Eu gosto do Brian Cox, ele é meio nerd, mas cool ao mesmo tempo. Ele fez uma serie de programas aqui e ele tem tanto entusiasmo com o que faz e explica tudo tão bem. É meio interessante na verdade, e esse é o meu lado nerd, se o Supergrass não tivesse existido eu adoraria ter virado alguém como Brian Cox. Se a banda nunca tivesse surgido, se eu pudesse voltar 15 anos no passado, para quando eu estava terminando minha faculdade e pensando: o que eu vou fazer com a minha vida? Eu adoraria saber que eu teria sido o próximo Brian Cox.

Lendo os fóruns no site do Supergrass, mui-tos fãs imaginam o que Gaz, Danny e Mick pretendem fazer. Mas você e tão misterioso, a maioria deles não tem ideia do que você vai fazer, então, o que eles podem esperar de você para o futuro?Sendo completamente honesto, eu sou guiado pela minha família, então quando parecia que o Supergrass ia terminar, antes de tudo eu quis ter certeza de que podia continuar sustentando a minha família, e outra oportunidade de ganhar dinheiro apareceu, um trabalho que eu gosto, então, por enquanto eu tenho aprendido sobre web design. Isso consume muito mais tempo do que eu imaginei. Estando do outro lado da moeda é difícil, porque eu já passei pelo stress de esperar meu site ficar pronto, mas eu nunca tinha estado nessa posição, tentando terminar um site para outra pessoa; eu me vejo dando as mesmas desculpas que eu ouvi pra explicar por que o site não está pronto. Então, vão com calma com os web designers! Sobre musica, eu acho que vai ter que ser esperar para ver.

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As cem toalhas brancas não existem só para Prince. “Totalmente selvagem, totalmente vegana, sempre imprevisível”, é o que está grafado no Myspace da cantora meio filhote de gato, meio tigre. Depois de guacamole e choro, a frase

virou síntese de duas horas com SoKo.

SOKO

Fotos e Direção de Arte:Marco Chaparro e Rafael RochaTexto e Produção de Moda:

Ana Laura Malmaceda Assistente de Produção

Alana Pereira

Agradecimentos: Eduarda Medeiros, Rita Zart, Michele Fatturi, Ana Garcia.

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Com um terraço lotado de seres blog-stre-etstyle-óculos-grandes, SoKo sai de trás do palco, segurando o chapéu sobre a cabeça, caminhando rápido em direção ao banheiro. “Preciso mijar”, diz a voz quase tão meiga quanto a de um filhote de gato. Volta e sobe ao palco, com o charme único das pessoas destrambelhadas. Não acha os cabos, se desespera, coloca a mão no rosto. Ri. Todos riem juntos, irresistível.

A primeira música começa. Dedilha me-lodias tão bonitinhas, ficam agridoce com versos tão mordazes. Parece falar de cupcakes, mas está relatando de forma visceral a tentativa de suicídio de um amigo, as contradições e tristezas de quando se é dois. Tem algo de Daniel Johnston – músico ame-ricano, rei da falta de técnica e do Lo-fi – em tudo, principalmente quando troca a guitarra pelo tambor.

O que foi visto difere muito dos vídeos bobinhos e das músicas amadoras do primeiro disco da cantora, Not SoKute+1. Depois de iniciar uma carreira postan-do apresentações na internet, aos vinte e seis anos SoKo prepara o seu primeiro “disco de verdade”, um álbum duplo que - promete - vai extinguir a imagem de fofura inevitável e amadorismo que seus 19 anos geraram.

Durante o show, algumas meninas pedem “aquela que tem no myspace”. Ela não canta, diz que não lembra, que foi há muito tempo. “Acho que só cantei essa duas vezes na vida”, explica. Acaba o show imitando um tigre. Depois de tirar foto com metade da plateia blog-streetstyle-óculos-grandes, a pro-dução da NOIZE espera fora do teatro, para fazer o ensaio fotográfico que você vê nas próximas páginas.

SoKo é vegana e não come glúten. No Bra-

sil, isso significa viver de frutas, verduras e luz. De-pois de ser vaiada em Recife e Salvador, durante o festival Coquetel Molotov, diz que dormiu apenas três horas e que passou vinte horas entre aero-portos. Está com febre, cansada e não foi avisa-da sobre uma sessão de fotos fora do teatro, acha que está indo para o hotel. Com insistência, a or-ganizadora a convence e ela vai para o estúdio.

A produção de moda mostra as roupas. “Eu só uso vintage.” Passa lavanda no corpo, toma homeopatia. Oferecemos aspirinas. “Não tomo remédios.” A comida demora. “Estou com muita fome, não quero comer sala-da, quero comida de verdade.” O jantar chega. “É isso o jantar? I mean, tomates picados e tortilhas?!” Chorando, continua: “Eu pensei que ia jantar aqui! Eu não quero estar com um monte de gente que não conheço, eu não quero estar aqui! Eu estou doente, não durmo há

muito tempo. Queria jantar com os meus amigos...”A repórter que digita os caracteres que você lê

agora olha-se no espelho do camarim. Encontra-se na seguinte situação: semiajoelhada, com um pote de gua-camole em mãos, parada ou paralisada (como preferir), assistindo o surto. Melhor levá-la para casa e acabar com os agoniantes 30 minutos dentro do camarim. “Não, não. Agora que já estamos aqui, vamos fazer. Só sejam rápidos”, decreta, recomposta. De repente, até entrevista quer fazer. “Não faço por e-mail”, enumera.

Durante a sessão de fotos, sorri, brinca com os colares. A produção sai do estúdio e ela abraça cada um, coloca o chapéu na cabeça do fotógrafo, ri. Nada aconteceu. O carro vai embora e a única certeza que sobra é a de que o mundo é estranho mesmo. “A lista com 100 toalhas brancas existe”, conclui a assistente de produção. Concordo, esboçando um sorriso.

parece falar de cupcakes, mas está relatando de forma visceral a tentativa de suicídio de um amigo, as contradições e tristezas de quando se é dois.

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_por lidy araújolidyaraujo.com.br

O Dinosaur Jr. passou pelo Brasil, con-cedeu entrevista à NOIZE e deixou uma lembrança. É a camisa oficial da banda, super anos 90, que o Coquetel Molotov está comercializando. Os primeiros com-pradores ainda levam um kit do festival.

Com fins revertidos para uma ONG eco-lógica, a banda Animal Collective lançou uma linha de tênis em parceria com a marca Keep. O modelo desenhado pelo vocalista Avey Tare está em pré-venda e vem com uma música deles inédita.

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Em seu aniversário de 60 anos, Snoopy ganhou uma edição especial de Moleski-nes. As ilustrações seguem por dentro do caderninho, que vem com adesivos, árvore genealógica e frases clássicas dos personagens da tira.

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Esta é uma dica quentíssima. Literalmen-te, pois é afrodisíaca. Chama-se Melada-dinha o drink preparado com mel, que é servido no Seu Boteco, em São Paulo. A receita é exclusiva do bar, que lembra aqueles botequins de antigamente.

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NOite QueNte_As guitarras e baterias Paper Jamz são feitas em material sensível ao toque e têm acordes reais. Vêm com três modos de funcionamento, hits do rock embu-tidos e podem até ser conectadas em amplis, igualmente de brinquedo.

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Especialista em criar objetos em parceria com artistas, a Poketo desenvolveu uma coleção para a Target. Entre os produtos, há uma linha de garrafinhas de água as-sinadas por artistas como a californiana Melissa Contreras.

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_E Aí, QuER VER SuA FOTO PuBLiCADA NESTA SEçãO? Mande um email com uma foto em alta resolução (300dpi) que represente a sua

visão da música para [email protected]

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Mais uma estrelinha no caderno do Bel-le & Sebastian. Melhores da sala, alunos que constroem melodias que parecem

ter nascido num take só. Os que definem música por peso podem achar insuportável o som inevitavelmente doce, mas apenas perdem. Leves e harmoniosos, os suecos mantêm uma sonoridade única, a aura Burt Bacharach de Stuart Murdoch e o claro esforço de bom aluno nas composições. O disco traz, felizmente, o B&S de sempre. Apenas uma diferença: nenhuma pretensão. Write about love não parece uma busca pela obra prima ou um tapa buraco.”Little Lou, Ugly Jack, Prophet John” com participação de Norah Jones é o que soa novo, um jazz confortável que destoa dos outros discos. “Write about love” pode ser facilmente um hit de verão. Ana Malmaceda

Se dá para aprender uma coisa com a carreira do Deerhunter, é que algumas bandas funcionam mais como “bandas”

do que como projetos individuais de um integrante. Ainda que em Halcyon Digest o vocalista Brad Cox seja ainda o centro das atenções, o disco mostra que a democracia de composições instaurada depois do segundo disco (Cryptograms, de 2007) fez muito bem à carreira do grupo. Como em Microcastle / Weird Era Cont. (2008), as canções são divididas ou feitas em parcerias pe-los quatro membros, sem que som do Deerhunter soe esquizo-frênico. Há belíssimas canções como “Helicopter”, de Cox (algo como Animal Collective produzido por Phil Spector) e “Desire Lines” do guitarrista Locket Pundt que se sobressaem, mas sem deixar o holofote iluminar um lado só da história. Livio Villela

Dá para dizer que o Cérebro Eletrônico começou de fato com o segundo disco, Pareço Moderno, de 2008. Até ali a banda

era praticamente desconhecida (o fraco e confuso primeiro disco contribuía com isso) e os que sabiam da existência to-mavam o grupo como “o outro projeto dos caras do Jumbo Elektro”. A grande mudança veio com as 11 belas canções daquele disco e continua com este. A sonoridade da banda não muda muito, com o quinteto experimentando misturar a pega-da tropicalista com o pop psicodélico americano dos anos 90. Funciona de novo, ainda que as guitarras e os teclados estejam mais aparecidos (como a dramática e linda “Cama” e a pop “Decência”) e que haja experimentalismos que lembram o pri-meiro disco (“Realejo Em Dó” e a faixa-título). Livio Villela

As primeiras turnês deixaram o Lucy and the Popsonics mais ambicioso. Em Fred Astaire, o amadorismo de A Fábula

(Ou a Farsa) de Dois Eletropandas foi pro saco. Finalmente, syn-ths e guitarra se encontram sem fazer o barulho de uma praça de alimentação. Os desabafos mal-humorados das letras fazem o português soar muito bem—o inglês só aparece em “Refuse/Resist”, cover electro-raivoso do Sepultura. O novo disco se gaba de uma produção mais afiada e é muito mais fácil se convencer pela bateria eletrônica (que agora é substituída nos palcos por Beto Cavani, de carne e osso). John Ulhoa tem seus créditos, mas os agradecimentos finais ficam para alguém bem maior: “Queríamos agradecer a Deus por ter criado o Vocoder, o Delay e o Cowbell.” Amém. Alex Correa

Come Around Sundown é um paradoxo. O álbum confirma que os Kings colocaram os dois pés no arena rock, mas deixa transparecer um descontentamento com o rumo que as coisas tomaram. Frases como “nossos novos fãs não são cool” e “fizemos essas músi-cas como uma piada” (sobre os hits do último álbum) confirmam o dilema dos irmãos Followill. Esse conflito se faz presente na sonoridade do disco: está repleto de melodias fáceis e grudentas, como em “Immortals” e “The End”, típicas da fase recente da banda, mas nota-se o esforço em recuperar suas raízes, seja com o violino caipira de “Back Down South”, seja expressando o desejo desse retorno em “The Face”: “If you give up New York, I’ll give you Tennessee, the only place to be”. No fim, o trunfo do álbum é que, no meio dessa encruzilhada, não toca “Use Somebody”. Guilherme Dal Sasso

KiNGs Of leONCome Around Sundown

belle & sebastiaN

deerHuNter

CÉrebrO eletrôNiCO

luCy & tHe pOpsONiCs

Write about love

Halcyon Digest

Deus e o Diabo no Liquidificador

Fred Astaire

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GisH | Foi o ascendente movimento grunge do início dos anos 90 que trouxe o Smashing Pumpkins às rádios, apesar dos protestos de Billy Corgan contra o rótulo. Inspirados no pop e no heavy metal, flertando vez ou outra com a psicodelia, a banda lançou o primeiro álbum, Gish, em 1991, colocando no walkman dos grunges os riffs pesados de Siva e a leveza da baladinha “Rhinoceros”. A estreia da banda não teve sucesso comercial proporcional ao empenho e à megalomania de Corgan, que chegou a editar a participação de outros membros em Gish, regravando, por exemplo, o baixo de D’arcy Wretzky—não surpreende Billy ser, hoje, o único integrante original da banda.

mellON COllie aNd tHe iNfiNite sadNess | A constante depressão de Billy Corgan e o vício em drogas de Jimmy Chamberlim, baterista, foram as inspirações para a composição do maior álbum (em todos os sentidos) do Smashing Pumpkins. Entre as mais de duas horas separadas em 28 músicas estão “1979”, hit que faz muito marmanjo suspirar de saudades por uma década que nem viveu, e “Tonight, Tonight”, a excelente música de auto-ajuda com um dos clipes mais veiculados pela MTV até hoje. À doçura destas faixas é somada também a “intoxicação pela loucura e paixão pela solidão” de Zero, e o desespero em voz esganiçada, marca registrada de Corgan, em “Bullet With Butterfly Wings”, primeiro single de Mellon Collie.

ZeitGeist | Depois do anunciado fim eterno dos Smashing Pumpkins, seguido pela formação passageira de outra banda, Zwan, e a frustrada tentativa a solo, Corgan reviu a sua definição de “para sempre” e voltou com os abóboras. Zeitgeist é o álbum lançado depois de um hiato de 7 anos que seguiu o rompimento oficial de 2000. Nada aqui lembra a banda dos tempos de 1979: voltaram os riffs pesados e a veia metálica dos primórdios, sumiram as letras que pareciam ter sido escritas em um consultório psicológico. Teorias da conspiração, fim dos tempos e outras fontes de inspiração fácil preenchem Zeitgeist, que é o álbum mais vazio da banda e o melhor para bater cabeça.

por Diego De Carli

DiscografiaBásica smashinG pUmpKins

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São raras as bandas que podemos ouvir qualquer CD de sua discografia. O Bad Religion é uma dessas bandas e, mesmo

que o punk/hardcore não embale seu dia-a-dia, apenas bastando você gostar de boa música, com certeza irá apreciar este novo álbum, que também está saindo em edição limitadíssima em vinil. Com belas linhas vocais, guitarras pegadas e ótimos riffs, destaque para “The Resistance Stance”, “Where the Fun is”, “Cyanide”—que possui uma levada muito anos 80—e a melhor de todas, “Ad Hominem” que, com certeza, irá figurar nos próximos set lists de shows do grupo—que já anunciou turnê pela América do Sul em 2011 (incluindo Brasil), para nos apresentar ao vivo essas novas pérolas do punk californiano. Ricardo Finocchiaro

Na trilha dos álbuns experimentais, dessa vez Neil Young aposta na mística de um cara munido somente de suas

guitarras em meio a texturas saturadas e efeitos marcantes—tarimbados pelo renomado produtor Daniel Lanois. A ausência de banda e de overdubs deixa claro que Young mata a bola no peito e vai para o jogo amparado na sinceridade avassaladora de suas canções. Mesmo carente de novidades melódicas, Neil não deixa de inovar quando mescla seu habitual bom som às habilidades sônicas de Lanois. As melhores composições são “Walk with Me”, “Hitchhiker” e “Peacefull Vally Blvd”. Os fãs ficarão em cima do muro, sem saber se esse é um ponto de partida, uma abrupta chegada, ou apenas um pequeno atalho no meio do caminho. Daniel Rosemberg

bad reliGiON Neil yOuNGThe Dissent of Man Le Noise

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Até hoje, Renato & Seus Blue Caps são lembrados pelas versões em português dos Beatles. Mas não dá pra ignorar sua incrível faceta autoral. O disco lançado em 1971, o primeiro sem nenhuma versão, reforça que a Jovem Guarda era repleta de composi-tores de mão cheia. Todas as canções são acima da média. Entre os destaques, as ba-

ladas matadoras “Esta Noite Não Sonhei Com Você” e “O Brinque-do Se Quebrou” e a piscadinha malandra para George Harrison em “Agora é Tarde”. O disco também marca o retorno de Paulo Cesar Barros. Se ele somente tivesse gravado a assombrosa linha de baixo de “Sou Amor Pra Te Entregar”, já deveria ter seu nome cravado no hall dos grandes instrumentistas do país. Leonardo Bomfim

redescoberta

.: 2011_Foo Fighters | Ainda sem nome“Este será nosso álbum mais pesado até agora”, contou Dave Grohl sobre o trabalho que sucede Echoes, Silence, Patience and Grace (2007). Falou-se bastante sobre o disco ter estado em composição, pré-produção e gravação nos últimos tempos. Agora, o que se sabe é que o álbum será produzido pelo mesmo Butch Vig de Nevermind, e terá participação de Krist Novoselic. Embora sem previsão de lançamento, sabe-se que as gravações já estão na metade, feitas de maneira old school, sem maquiagens digitais.

Eric ClaptonClapton___Clapton volta relaxado, deslizan-do os dedos (me-nos o minguinho) pelas pentatônicas da vida. Dessa vez ele revisita compositores importantes para sua formação musical. Soa natural, como se apenas brincasse. E quando Clapton brinca, a gente se diverte.

Jimmy Eat WorldInvented___De trajetória influente que ultrapassa limites de estilos mer-cadologicamente estabelecidos, o Jimmy Eat World vem falar da própria invenção, na mescla de vertentes do punk rock com um talento destacável para dialogar com o pop e uma cozi-nha de primeira.

Avenged SevenfoldNightmare___Em tributo a Jimmy “The Rev”, o baterista que faleceu, o Avenged Sevenfold lançou um dos melhores registros da car-reira com Mr. Sha-dows em grande fase e muito peso no instrumental, que contou com Mike Portnoy (ex--Dream Theater) na bateria.

confira

ta por vir

reNatO e seus blue CapsRENATO E SEUS BLUE CAPS (1971)

Entre superfície e profundeza, o Inver-ness procura um lugar maior. Somewhere I Can Hear My Heart Beating difere do

que é feito no Brasil atualmente. Isso porque ninguém parece ter dado atenção à nova psicodelia aqui, gênero que já é unifor-me nos EUA. No segundo disco, o Inverness parece passar por um processo de osmose que não segue o protocolo-cópia da maioria: é possível ver influência e assinatura simultaneamente. Há algo de Caetano na fase 70 em “Cloud Liquor”, e Animal Col-lective em “Watermelon Fog” e “Sunday Evening Moonlight”. O disco dá espaço para a imagem de um lugar inexistente. Deite na cama, ponha os fones e pense no seu. Ana Malmaceda

iNverNessSomewhere I Can Hear My Heart Beating

É a crise de meia-idade do som do Sufjan. Só que, em vez de deixar cres-cer um bigode ridículo nas melodias

orquestradas de “Illinois” ou arranjar uma amante novinha e desmiolada pros glitches esquisitos de “Enjoy Your Rabbit”, o cara resolveu pegar todo o turbilhão que uma crise acarreta pra organizar as coisas e se erguer em reconstrução. O resulta-do é um disco que funciona como uma reflexão de tudo que o artista fez até agora, ruidoso por incerteza e acertado por se-gurança. Daí “The Age of Adz” ser uma batalha épica entre rock progressivo apocalíptico e folk de coração rasgado e “Impossi-ble Soul” ser exuberante pela soma de seus 25 minutos à voz autotunada do rapaz. Som de quem já era maduro alavancado por ambição de gente grande. Rafael Abreu

sufJaN steveNsThe Age of Adz

syd barrett

Se Barrett parece estar a caminho do reconhecimento póstumo, esta coletâ-nea é um indício. As remasterizações

digitais fizeram pouco pelas músicas do Pink Floyd e de Syd solo – não se brincava em Abbey Road. Os cinco remixes, porém, são interessantes atualizações do que não se pode esquecer no passado. Fica-se entre preferir as originais e encantar-se com os instrumentos e vocais mais definidos. “Here I Go” está mais pop--palatável na gravidade crooner adquirida pela voz de Syd, mas perdeu a languidez que faz da versão original um dos melhores exemplos de como a genialidade errante pode ser encantadora. A singular “Dominoes” perdeu a imperfeição da versão original, sem perder a perfeição. Syd ganhou uma revisão merecida – à sua altura, nunca. Fernando Corrêa

An Introduction to Syd Barrett

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Ao centrar o primeiro Tropa de Elite no ponto de vista truculento de um personagem sendo lentamente sugado para a insanidade da rotina violenta, o diretor José Padilha levantava diversas questões sobre as relações da socie-dade com o tráfico, sem apresentar respostas. A ambiguidade entre o que era o discurso do personagem e o discurso do filme fez com que alguns chamassem o filme de fascista, ao criar uma discussão quando muitos preferiam que nada se discutisse.Agora o capitão Nascimento (Wag-ner Moura, em atuação colossal) está de volta, não mais como coronel do BOPE, mas como subsecretário de segurança do Rio de Janeiro. Nas-cimento está separado da mulher e

tem uma relação difícil com o filho, devido ao padrasto deste ser seu ri-val e maior crítico, o deputado Fraga (Santos), um idealista defensor dos direitos humanos. É no contraste entre os dois que as ambiguidades do primeiro filme se desfazem, e a diferença entre o discurso do filme e o ponto de vista de seu narrador se acentuam. Nascimento não percebe que, ao combater o tráfico, acaba dando forças à um inimigo ainda mais entranhado no sistema: as milí-cias mantidas por PMs e políticos. Como diz o subtítulo do filme, o inimigo agora é outro, e Tropa de Elite 2 faz uma das críticas mais con-tundentes ao cenário político atual. Samir Machado

trOpa de elite 2

cinema

pessoa”, no qual os personagens utilizam câmeras para documentar os eventos que presenciam, vêm recontando histórias clássicas do gênero. Nesse formato vimos bruxas (A Bruxa de Blair), zumbis (o espanhol [REC]), monstros (Cloverfield) e agora assombrações, com os dois Atividade Paranormal. São filmes de baixo custo vendidos como “realidade”, um tipo de terror em geral mais inteligente do que a média, que mostra menos e confia mais no olhar e na imaginação do espectador, ao invés do uso banal de ferramentas batidas, como trilha sonora que dá sustos, sound design e efeitos especiais exagerados.Dirigido por Tod Williams (Provoca-ção), Atividade Paranormal 2 surge

como uma espécie de atualização de Poltergeist - O Fenômeno para o século XXI. A trama, que lembra a do filme produzido por Spielberg, se passa paralelamente aos acontecimentos narrados no filme anterior, agora focando na família da irmã de Katie, protagonista do primeiro. As duas histórias se complementam muito bem, mas se antes tínhamos um filme que construía suspense lentamente e conseguia assustar de verdade, no novo temos uma experiência um pouco inferior, com um filme que se utiliza de alguns clichês do gênero para dar sustos bobos. Frederico Cabral

atividade paraNOrmal 2

Diretor_ José PadilhaElenco_ Wagner Mou-

ra, Irandhir Santos, André Ramiro, Milhem CortazLançamento_ 2010

Diretor_ Tod WilliamsElenco_ Katie Fea-

therston, Brian Boland, Molly Ephraim

Lançamento_ 2010

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O humor ácido de Banksy ganha um novo suporte. Desta vez o artista mais famoso da street art atual usou o ci-nema para criticar o consumo de arte e ainda aprontar uma no seu melhor estilo. O título Exit Trough The Gift Shop explica tudo. Fala de como consumi-mos exposições bem divulgadas, sem originalidade, muitas vezes uma mera cópia de outros artistas. Pelo menos é o caso de Mr. Brainwash, um ex--documentarista e novo artista que toma uma bola nas costas do inglês no filme. Incrível o sarcasmo e o poder de nos fazer pensar que possui esse gra-fiteiro. Além de tudo isso, tem imagens de Invader e Shepard Fairey feitas pelo tal Mr. Brainwash. Uma imperdível for-ma de ver que cinema bom é cinema inteligente, independente da estética. Bruno Felin

Blues, dirigido por João Moreira Salles, foi co-produzido com a TV Manchete em 1990 e tem tem um traço que se tornaria característica marcante do trabalho dele como diretor: o foco no detalhe, frames mostrando ape-nas as mãos, os olhos, as rugas dos entrevistados. É visão dele sobre a América negra e a música que surgiu nas plantações de algodão para uma geração que só relaciona o blues com B.B. King. Além de entrevistas, o filme traz interpretações vigorosas de mú-sicos que relembram suas histórias pessoais e ajudam a definir o Blues – tudo registrado na trilha sonora, Blues - Pain created to heal pain. Um poema dedicado a James Son Thomas, bluesman que brilha no documentário, define tudo: “eles têm o rio dentro deles, e tudo o que podem fazer é cantar”. Manuela Colla

bluesde João Moreira Salles (1990)

exit tHrOuGH tHe Gift sHOp de Banksy (2010)

NOites urbaNasde Daniel Piza (2010)

Morto em setembro, Claude Chabrol deixou uma lista generosa de obras-primas. Para muitos, a melhor fase de sua trajetória foram os thrillers da virada dos anos 1970. Emol-durado de sutilezas e com uma Stéphane Audran exuberante, A Mulher Infiel é um estan-darte desse período. “Não me interesso em desvendar quebra-cabeças, mas em estudar o comportamento humano”, dizia o cineasta. Apesar do título, quem conduz a obra é o marido. Chabrol conhecia o ser humano, sabia que a infidelidade de uma mulher só é percebida através das neuras do homem traído. Na cama com o amante, teríamos uma mulher em pleno prazer, nunca infiel. Gênio.. Leonardo Bomfim

a mulHer iNfiel (Claude CHabrOl, 1969)

Redescoberta

Noites urbanas é composto por ima-gens que destampam paradoxos da urbe num país emergente, como a água marrom escoando a céu aberto que representa a passagem do tempo. Em seu primeiro livro de ficção, o jornalista Daniel Piza apresenta um espelho estilhaçado de São Paulo, fragmentado em 28 contos protagonizados por di-ferentes personagens da cidade, como a nipônica de “Saquê” e o motoboy de “O acidente”. O autor acerta quando desenvolve narrativas de maior fôlego. Nestas, as entrelinhas do texto se expandem e o leitor encontra margem para se projetar. O subjetivo—tão bem trabalhado por Tchekhov, uma das influências de Piza—fica muitas vezes reprimido em uma prosa muito contada e pouco mostrada. O destaque vai para “Circuito interno”, “O último monólogo do grande ator”, sobre o dia em que um velho ator sai de cena, dedicado a Paulo Autran, e o diálogo tensionado de “Jogo da verdade”. Gustavo Lacerda

cinema livros //073

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O Green Day provou que sabe construir uma base de fãs. Não só por ter reunido todas as faixas etárias no Gigantinho, mas por sua incrível capacidade de trazer o público para si e assim conquistar novos seguidores. Quinze (pré) adolescentes em especial tiveram o dia de suas vidas. Billy Joe chamou-os ao palco, incentivou o mosh certamente inesquecível de um menino de mais ou menos 13 anos, deu uma guitarra a uma menina que can-tou “Longview” inteira e até lascou um beijo em outro. Não se cansou de dizer que amava o Brasil e mais tarde twittou que foi um dos 3 melhores shows da carreira da banda. A pirotecnia constante tornava tudo um espetá-culo, bem diferente de suas origens no velho punk rock. Mas quando o vocalista empunha sua Blue, a primeira guitarra, hits saem em sequência infinita. “She”, “Baske-tcase”, “Burnout” e até a inesperada “Brain Stew”, uma pedra lá de 1995. O começo do show foi recheado das novas composições como “Jesus of Suburbia” e “Know Your Enemy”, todas perfeitamente ensaiadas e levadas com maestria pela banda ao longo do show. Tré Cool mostrava estriquinação constante entre as músicas. A banda maior dá um novo ar ao Green Day, a tradicional empunhadura e palhetada de Joe na Fender azul cedem lugar para um guita base e um tecladista, que o liberam para fazer suas peripécias. A banda toda se mostrou es-pecialmente em forma, mantendo-se por três horas com uma energia inigualável atualmente. Bruno Felin

O terceiro e último dia de Perc Pan contou com um line up para não deixar ninguém parado: Bloco Cru, Hypnotic Brass Ensemble (USA) e Buraka Som Sistema (Portugal). Entre as apresentações, quem agitou o público foi o casal Laima Leyton e Iggor Cavalera do Mixhell. O Hypnotic Brass Ensemble surpreendeu: não faz uso de nenhum aparelho eletrônico, buscando sempre um som orgânico em suas composições – um mix de jazz, brass e hip-hop. O Buraka é um grupo português-angolano que tornou o Kuduro (música das periferias de Luanda) muito conhe-cido mundo afora. Buraka Som Sistema vem da junção de Buraca, bairro na cidade de Amadora que fica nos arredo-res de Lisboa, com o conceito jamaicano de sound system. Lil John, Conductor, Riot e Kalaf juntaram influências de suas culturas com hip hop, eletrônico, reggae, entre outros. O show começou animado e com projeções bem baca-nas. Ao som de “DDDJAY” surgiu a bailarina e cantora Blaya com sua dança, “uma mistura de kuduro angolano e próprios passos” (como a artista define). “Os burakas” usam bases de artistas como Rage Against the Machine, Diplo e M.I.A., misturadas com seu kuduro eletrônico. A língua portuguesa em comum entre o público e os músicos é um ponto a mais para a apresentação, porque os aproxima. O show termina com Kalaf e Conductor convidando várias meninas da plateia a subir e animar o palco com Blaya ao som de “Kalemba (Wegue Wegue)”.Vanessa Marçolla

fotos: 1 | Guilherme Santos 2 | Fernando Schlaepfer 3 | Guilherme Santos

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SHOWs

Porto Alegre, Gigantinho, 13/10 Rio de Janeiro, Teatro Oi Casa Grande, 13/10

GreeN day buraKa sOm sistema | perC paN

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Londrina já pode ficar orgulhosa. Pelo menos, quanto ao seu representante no cenário dos festivais de música in-dependente. Foi a impressão que ficou após o término da edição comemorativa de 10 anos do Festival Demo Sul. Ao contrário das outras edições, realizadas em três dias, esta teve um caráter experimental de uma semana de evento, e se propôs a trazer ao público não só shows de qualidade, mas também reflexão e informação a respeito do mercado e da cadeia produtiva da música através de oficinas e workshops. Durante os quatro primeiros dias do festival, passaram pelos palcos bandas já conhecidas nacionalmente, como Pata de Elefante (RS), Sugar Kane (PR) e Mombojó (PE). Uma das novidades desta edição foi a presença de duas bandas gringas, a polonesa Mitch & Mitch, transitando entre o jazz e o rock, e a húngara The Silver Shine, trio com influências punks no vocal rouco e slap abusado no baixo-acústico. Mas foi no final de sema-na de encerramento que resguardou os shows mais espe-rados: Tom Zé, Jupiter Maçã e Pato Fu. Nesse dia, o even-to se transfere para o Grêmio Londrinense, sede oficial das últimas edições. A estrutura montada era de encher os olhos. O palco principal, sob a luz da lua cheia do fim de semana, era rodeado por três grandes piscinas. Logo no primeiro show de sexta-feira, o Nevilton entusiasmou o público que chegava cedo, com um rock de qualidade e pulos enérgicos do vocalista cujo nome dá título a banda. Em seguida, a brasiliense Soatá. Ao meu ver, a grande re-

festival demO sulLondrina, 22 e 23/10

velação do festival, com influências musicais que passeiam entre o carimbó, rock, manguebeat e os mais variados ritmos da cultura brasileira do Norte e Nordeste. O próximo foi Júpiter Maçã, que fez o público cantar junto por cerca de uma hora, mesmo sob insistente chuva fina. Mas o show mais aguardado era mesmo o de Tom Zé. Em função da coletânea de músicas do último álbum, Pirulito da Ciência, o público pode conferir canções de todas as épocas, como “Jimmy, Renda-se”, “Vai(Menina, amanhã de manhã)”, “Augusta, Angélica e Consolação” e “Compa-nheiro Bush”. Com um filho casado com uma londrinense, o mestre fez merecida homenagem, cantada em coro: “se eu soubesse que londrina tinha tanta menina pra casar, em vez de um filho eu fazia uma dúzia e mandava para cá”. A última noite do festival ainda reservaria ótimos shows, como a londrinense de ska erradicada em São Paulo, 220Skabar. Destaque também para o folk-rock psicodélico da MonkBerry, a sorocabana indicada a Aposta VMB 2010 The Name e a Trilöbit, repleta de samplers eletrônicos em um show performático com máscaras de macaco, hóquei e cia. Para fechar o festival em grande estilo, a também muito aguardada Pato Fu. Quem esperava Fernanda Takai com instrumentos infantis ressoando notas amplificadas do último disco, Música de Brinquedo, se frustrou ao saber que o álbum não seria tocado. Mas a breve decepção logo foi deixada de lado com o início dos grandes hits, acom-panhados em coro pela multidão. Guilherme Santos

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fotos: 4 | T4F/Divulgação 5 | Gérson SilvaSHOWs

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O Rush voltou ao Brasil e levou 38 mil pessoas para uma viagem no tempo. O mote central desta vez foi comemo-rar os 30 anos do lendário Moving Pictures. As 3h de show passaram rápido e o trio não ficou só no passado, ainda apresentou duas músicas do próximo disco, Clockwork An-gels, previsto para 2011. Depois de muita estrada, o Rush não apenas transborda a técnica de sempre, mas um espí-rito de diversão único. No bis, “La Villa Strangiato” surgiu em ritmo de polka seguida por “Working Man” também com começo diferente, uma reggatta de blanc com jeito de jam. Tudo isso entremeado por vídeos onde a banda ri de si mesmo para reforçar sua trajetória.Depois de tocar “Subdivisions”, a música que melhor mostra quem são eles, a banda pede para parar “porque está velha” e minutos depois surge um relógio no telão. Quando ele chega até 1980, recomeça a jornada e pare-ce que alguém pegou o velho vinil e colocou pra tocar, porque toda a energia ainda está presente. Impressiona como a banda dá sinais de idade na face, mas isso não atingiu a música. Nada como manter o prazer por tocar entre amigos há 36 anos. Este espírito não aparece ape-nas em Geddy Lee, mas sobretudo em Alex Lifeson, que sabe a hora de puxar uma viola. O ritmo era quebrado e recompensado com uma riqueza musical única, como em “Working them Angels” ou a clássica “Closer to the Heart”.Nada de naftalina depois do show, mas a certeza de que a banda ainda tem muito a render. André Pase

Chuva, lama e distorção. Ao pé do Morro Ferrabraz, cena contrastante: à esquerda da rodovia, pasta um sereno rebanho, ao fundo de uma pequena propriedade rural. De outro lado, se aglomeram cabeludos que vestem preto e urram ansiosos para adentrar o Bar do Morro – sede do festival há quatro anos. A Bandinha Di Dá Dó, em performance carismática e circense, abriu a noite de sábado. O grupo, que teve apresentação adiada devido a atrasos, embalou o público com mesclas de ritmos étni-cos. Após, show da Vera Loca – interrompido por queda de luz. E, restabelecida a energia, erros técnicos continu-aram a prejudicar as demais bandas. Músicos desciam do palco irritados com produtores. Porém, o clima era de confraternização e intercâmbio entre as formações, que revezaram exímios instrumentistas, como Márcio Petrac-co (guitarra, lap steel), Luciano Albo (baixo) e Alexandre Papel (bateria). Celebração ao “rock gaúcho”, no sentido caricatural, clichê. Novos (Efervescentes, Identidade e Locomotores) e antigos conhecidos (Jimi Joe, Mutuca e Tenente Cascavel) se alternaram nas apresentações se-guintes. Às 5h, Pata de Elefante – principal atração – fez final apoteótico e, num rajar incessante de riffs certeiros e solos hipnóticos, levou a plateia ao delírio. Ao fim, cabe considerar a heroica missão de manter o festival independente, à base de escassos recursos. Mas o que, infelizmente, refletiu em baixa qualidade técnica e sonora. Nícolas Gambin

rusH mOrrOstOCKSapiranga, Bar do Morro, 23/10São Paulo, Estádio do Morumbi, 08/10

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__para falar erradO, preCisa saber falar CertO|Dentre suas inú-meras faces, podemos se-parar o samba em dois sen-tidos dominantes: o lugar do prazer, da celebração, do ócio; e aquele onde a vida é suspensa, o lugar dos sambas tristes, para trás. É comum associar Adoniran Barbosa ao primeiro senti-do aqui descrito, mas o vejo como um ponto cego entre esses dois lugares. Lembrado mais por suas letras bem-humoradas, suas canções carregam uma melancolia disfarçada. Comicidade e tragédia se misturam em uma mesma canção. Faz graça para fugir do ressentimento de ter sido posto de lado com

Qualquer coisa

rOmULO fróesFALA SOBRE...

o surgimento da Jovem Guarda, “(...) e eu que já fui uma brasa, se assoprarem posso acender de novo”. Faz soarem engraçadas, histórias trágicas ditas com seu linguajar “erra-do”, aprendido nas ruas do Brás e do Bexiga, onde, como ele mesmo dizia, “o crioulo e o italiano falam igualzinho”. E alertava: “para falar errado, precisa falar certo”. Vem daí o sorriso no rosto de quem canta, por exemplo, uma história triste como a que narra “Saudosa Maloca”.Percorria toda a cidade com sua música. Era um andarilho, como Nelson Cavaquinho. Mas diferente deste, tinha auto-nomia sobre seu percurso. Conhecia suas ruas, vilas, favelas, bares, seus personagens e suas estórias. Tudo que via, ouvia, transformava em canções. O “Trem das Onze”, o “Viaduto Santa Ifigênia”, o “Torresmo à Milanesa”, a “Saudosa Malo-ca”. Se comportava como um documentarista. Como Noel Rosa, de quem tomou emprestado “Filosofia”, samba com o qual foi premiado em um concurso de intérpretes e que finalmente lhe abriu as portas do rádio.Adoniran se tornou dentro do samba uma das figuras mais singulares. Muitos motivos devem ter contribuído para a construção de seu gênio, mas acho determinante o fato de ter nascido em São Paulo. A cidade, de extrema importân-cia para a música brasileira no que se refere ao seu adensa-mento, onde desde sempre os movimentos tomam forma e se propagam para o resto do país, tem em Adoniran um

dos raros casos de artistas que poderiam representar uma espécie de escola paulista. O fato de até hoje (menos ainda em sua épo-ca) não termos criado uma clara tradição em música popular, pode tê-lo liberado das normas tão rígidas do gênero. Sem ter a quem dar satisfação, sentiu-se livre para suas invenções.Se o samba é carioca e baiano, São Paulo, acusada tantas vezes por sua falta de ginga, gerou um dos mais originais compositores da música popular brasileira. Adoniran era paulista. E só podia ter sido. No fim de sua vida, reclamava que não encontrava mais São Paulo. “O Brás, cadê o Brás? E o Bexiga, cadê? Mandaram-me procurar a Sé. Não achei. Só vejo carros e cimento armado”. Teria reencontra-do se tivesse procurado em suas próprias canções.

Rafael R

ocha

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