entrevista de jorge batista e josé dionísio, jornal expresso

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Tiragem: 92120 País: Portugal Period.: Semanal Âmbito: Informação Geral Pág: 22 Cores: Cor Área: 28,20 x 34,80 cm² Corte: 1 de 2 ID: 63115536 13-02-2016 | Economia Primavera cresce 8% apesar da exposição a África Empresa tem €5 milhões retidos em Angola e já sente as dificuldades em Moçambique mas diz que a situação não afeta a sua rentabilidade operacional. Aposta nas participadas vai acelerar crescimento A Primavera é a principal em- presa portuguesa na área do software empresarial e tem tido, nos últimos anos, uma trajetória de crescimento que contrasta com o desempenho anémico da economia do país. O ano passado não foi exceção. A empresa fundada em 1994 por José Dionísio e Jorge Batista alcançou em 2015 um volume de negócios de €21 milhões, o que representa um crescimento 8% face a 2014, beneficiando do facto de 60% da faturação ser recorrente (resulta de contratos de manutenção). Porém, não há só boas notí- cias. Há €5 milhões da opera- ção angolana que tardam em ser transferidos para Portugal. Os dois copresidentes da em- presa não escondem que a cri- se angolana está a prejudicar a estratégia que tinham defini- do. “Não antevemos qualquer problema financeiro porque te- mos as necessárias almofadas — margem de negócio e acesso facilitado a vias de financiamen- to — mas este dinheiro parado faz-nos falta para pagar a atual estrutura e manter o ritmo de expansão através de pequenas aquisições”, admite Jorge Ba- tista. A margem operacional da empresa no ano passado terá ficado acima dos 18%, mas José Dionísio admite que os resulta- dos antes de impostos possam sofrer o impacto da forte des- valorização da divisa angolana (kwanza). “Desde novembro de 2014 que não conseguimos transferir dinheiro de Angola e não temos perspetiva de quando será possível fazê-lo”, acrescen- ta José Dionísio. A subsidiária angolana tem 60 pessoas e representa 32% do volume de negócios anual da Primavera, quando o negó- cio internacional representa 42% do total . Além de Angola, a empre- sa está presente em Moçam- bique (24 pessoas), país que também começa a apresentar dificuldades nas transferências financeiras para o estrangeiro, mas que até ao momento não as bloqueou. E também tem pequenas operações em Espa- nha, Cabo Verde e Dubai. “Espanha é um mercado muito difícil, mas já atingimos o break-even. Procurámos du- rante algum tempo crescer através de aquisições, mas já desistimos porque não encon- trámos alvos interessantes”, diz José Dionísio. Já o escritório do Dubai é uma aposta recente (2014) e ainda não deu origem a negócios sig- nificativos. Por não ter conse- guido os resultados pretendidos nestes mercados, a empresa adi- ou a meta de ter 50% do negócio no exterior já este ano. Nova geração de produtos “Concluímos que não vale a pena prosseguir a internacio- nalização apenas com as tec- nologias tradicionais”, defende José Dionísio. “Ir para o mer- cado externo com aplicações para o Windows não vale a pena porque já não temos nenhum fator de diferenciação. Fazer diferente é essencial para entrar em novos mercados”, acrescen- ta. Uma constatação que levou os fundadores da Primavera a apostar numa estratégia de desenvolvimento de aplicações verticais na nuvem com gran- de potencial de crescimento. Em vez de as manter no seio da empresa-mãe, a opção é fazer cisões (spin-offs). Uma das áreas a ganhar au- tonomia é a de gestão de ativos empresariais (EAM – Enterpri- se Asset Management) através da nova empresa Into the Cloud. “Este projeto deverá merecer a entrada de um investidor es- tratégico de modo a podermos acelerar a comercialização a nível internacional a partir de Londres”, revela José Dionísio. “A manutenção industrial é uma área universal e que está a crescer”, acrescenta. Também a oferta da empresa para o sector público vai justifi- car a criação de uma spin-off, a Primavera Public Services, que vai alugar software na nuvem para o mercado internacional. Outra empresa (onde a Prima- vera dispõe de 57% do capital) que vai entrar de forma autó- noma no primeiro semestre de 2016 é a Numbers Believe. Vai lançar no mercado a Omnia, uma plataforma ágil de desen- volvimento de software (uma tecnologia que permite acelerar a criação de aplicações face às linguagens tradicionais). Em paralelo, Jorge Batis- ta revela que a Primavera vai continuar a apostar com parti- cipações minoritárias em em- presas em fase de arranque que permitam “acelerar a entrega de soluções orientadas a am- bientes tecnológicos assentes na nuvem e na mobilidade”. Duas delas estão hospedadas na Startup Braga: a Waveform que desenvolve aplicações para smartphones e a Healthium que está a desenvolver uma aplica- ção móvel (Nutrium) para ligar nutricionistas aos pacientes. Um milhão de utilizadores A Primavera tem atualmente perto de 30 mil clientes, dos quais 3900 estão em mercados externos, em especial em Áfri- ca. Tendo como base este ativo, os fundadores pretendem criar uma espécie de rede social de utilizadores finais — o Elevation Space — que interagem, mesmo sem se aperceberem, com as soluções da empresa. “Estima- mos que possam ser atualmente perto de 1 milhão de pessoas que usam as nossas aplicações”, defende José Dionísio. “A partir desta espécie de Facebook as pessoas vão partilhar informa- ção e ligar-se”, prevê o mesmo fundador da Primavera. A ex- pansão do negócio nas diversas frentes — em 2016 a Primavera deverá crescer dois dígitos — poderá levar a que o número de utilizadores do Elevation Space cresça na mesma proporção. João Ramos e Pedro Lima [email protected] Jorge Batista e José Dionísio na nova sede da Primavera em Braga, junto a uma instalação artística que decora um dos pisos do edifício FOTO RUI DUARTE SILVA A Primavera vai continuar a autonomizar empresas especialistas em aplicações na nuvem e mobilidade RADIOGRAFIA 21 milhões de euros foi o o negócio da Primavera em 2015, mais 8% do que no ano anterior. Este ano deverá voltar aos dois dígitos 30 mil clientes empresariais têm software da Primavera, dos quais 3900 estrangeiros 700 mil euros foi o volume de negócios do serviço de aluguer de software na nuvem PARTICIPADAS ^ ^ ^Into the Cloud^vai^atuar^no^ mercado^mundial^de^ software^de^gestão^de^ativos^ empresariais.^Terá^um^ investidor^estrangeiro^e^ delegação^em^Londres ^ ^ ^Primavera Public Services^ vai^disponibilizar^software^ na^nuvem^para^serviços^ públicos ^ ^ ^Numbers Believe criou^ sistema^Omnia^para^o^ desenvolvimento^ágil^de^ aplicações^de^software.^ Primavera^tem^57% ^ ^ ^YET é^uma^plataforma^de^ transações^e^faturação^ eletrónica.^Detida^a^100%^ pela^Primavera ^ ^ ^Waveform é^especialista^no^ desenvolvimento^de^ aplicações^móveis.^Primavera^ detém^30% ^ ^ ^Healthium^está^a^ desenvolver^aplicações^ móveis^para^nutricionistas.^ Primavera^tem^35%

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Tiragem: 92120

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Informação Geral

Pág: 22

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Área: 28,20 x 34,80 cm²

Corte: 1 de 2ID: 63115536 13-02-2016 | Economia

Primavera cresce 8% apesar da exposição a África

Empresa tem €5 milhões retidos em Angola e já sente as dificuldades em Moçambique mas diz que a situação não afeta a sua rentabilidade operacional. Aposta nas participadas vai acelerar crescimento

A Primavera é a principal em-presa portuguesa na área do software empresarial e tem tido, nos últimos anos, uma trajetória de crescimento que contrasta com o desempenho anémico da economia do país. O ano passado não foi exceção. A empresa fundada em 1994 por José Dionísio e Jorge Batista alcançou em 2015 um volume de negócios de €21 milhões, o que representa um crescimento 8% face a 2014, beneficiando do facto de 60% da faturação ser recorrente (resulta de contratos de manutenção).

Porém, não há só boas notí-cias. Há €5 milhões da opera-ção angolana que tardam em ser transferidos para Portugal. Os dois copresidentes da em-presa não escondem que a cri-se angolana está a prejudicar a estratégia que tinham defini-do. “Não antevemos qualquer problema financeiro porque te-mos as necessárias almofadas — margem de negócio e acesso facilitado a vias de financiamen-to — mas este dinheiro parado faz-nos falta para pagar a atual estrutura e manter o ritmo de expansão através de pequenas aquisições”, admite Jorge Ba-tista. A margem operacional da empresa no ano passado terá ficado acima dos 18%, mas José

Dionísio admite que os resulta-dos antes de impostos possam sofrer o impacto da forte des-valorização da divisa angolana (kwanza). “Desde novembro de 2014 que não conseguimos transferir dinheiro de Angola e não temos perspetiva de quando será possível fazê-lo”, acrescen-ta José Dionísio.

A subsidiária angolana tem 60 pessoas e representa 32% do volume de negócios anual da Primavera, quando o negó-cio internacional representa 42% do total .

Além de Angola, a empre-sa está presente em Moçam-bique (24 pessoas), país que também começa a apresentar dificuldades nas transferências financeiras para o estrangeiro, mas que até ao momento não as bloqueou. E também tem pequenas operações em Espa-nha, Cabo Verde e Dubai.

“Espanha é um mercado muito difícil, mas já atingimos o break-even. Procurámos du-rante algum tempo crescer através de aquisições, mas já desistimos porque não encon-trámos alvos interessantes”, diz José Dionísio.

Já o escritório do Dubai é uma aposta recente (2014) e ainda não deu origem a negócios sig-nificativos. Por não ter conse-

guido os resultados pretendidos nestes mercados, a empresa adi-ou a meta de ter 50% do negócio no exterior já este ano.

Nova geração de produtos

“Concluímos que não vale a pena prosseguir a internacio-nalização apenas com as tec-nologias tradicionais”, defende José Dionísio. “Ir para o mer-cado externo com aplicações para o Windows não vale a pena porque já não temos nenhum fator de diferenciação. Fazer diferente é essencial para entrar em novos mercados”, acrescen-ta. Uma constatação que levou os fundadores da Primavera a apostar numa estratégia de desenvolvimento de aplicações verticais na nuvem com gran-de potencial de crescimento. Em vez de as manter no seio da empresa-mãe, a opção é fazer cisões (spin-offs).

Uma das áreas a ganhar au-tonomia é a de gestão de ativos empresariais (EAM – Enterpri-se Asset Management) através da nova empresa Into the Cloud. “Este projeto deverá merecer a entrada de um investidor es-tratégico de modo a podermos acelerar a comercialização a nível internacional a partir de Londres”, revela José Dionísio.

“A manutenção industrial é uma área universal e que está a crescer”, acrescenta.

Também a oferta da empresa para o sector público vai justifi-car a criação de uma spin-off, a Primavera Public Services, que vai alugar software na nuvem para o mercado internacional. Outra empresa (onde a Prima-vera dispõe de 57% do capital) que vai entrar de forma autó-noma no primeiro semestre de 2016 é a Numbers Believe. Vai lançar no mercado a Omnia, uma plataforma ágil de desen-volvimento de software (uma tecnologia que permite acelerar a criação de aplicações face às linguagens tradicionais).

Em paralelo, Jorge Batis-ta revela que a Primavera vai continuar a apostar com parti-cipações minoritárias em em-presas em fase de arranque que permitam “acelerar a entrega de soluções orientadas a am-bientes tecnológicos assentes

na nuvem e na mobilidade”. Duas delas estão hospedadas na Startup Braga: a Waveform que desenvolve aplicações para smartphones e a Healthium que está a desenvolver uma aplica-ção móvel (Nutrium) para ligar nutricionistas aos pacientes.

Um milhão de utilizadores

A Primavera tem atualmente perto de 30 mil clientes, dos quais 3900 estão em mercados externos, em especial em Áfri-ca. Tendo como base este ativo, os fundadores pretendem criar uma espécie de rede social de utilizadores finais — o Elevation Space — que interagem, mesmo sem se aperceberem, com as soluções da empresa. “Estima-mos que possam ser atualmente perto de 1 milhão de pessoas que usam as nossas aplicações”, defende José Dionísio. “A partir desta espécie de Facebook as pessoas vão partilhar informa-ção e ligar-se”, prevê o mesmo fundador da Primavera. A ex-pansão do negócio nas diversas frentes — em 2016 a Primavera deverá crescer dois dígitos — poderá levar a que o número de utilizadores do Elevation Space cresça na mesma proporção.

João Ramos e Pedro [email protected]

Jorge Batista e José Dionísio na nova sede da Primavera em Braga, junto a uma instalação artística que decora um dos pisos do edifício FOTO RUI DUARTE SILVA

A Primavera vai continuar a autonomizar empresas especialistas em aplicações na nuvem e mobilidade

RADIOGRAFIA

21milhões de euros foi o o negócio da Primavera em 2015, mais 8% do que no ano anterior. Este ano deverá voltar aos dois dígitos

30mil clientes empresariais têm software da Primavera, dos quais 3900 estrangeiros

700mil euros foi o volume de negócios do serviço de aluguer de software na nuvem

PARTICIPADAS

^^ ^Into the Cloud^vai^atuar^no^mercado^mundial^de^software^de^gestão^de^ativos^empresariais.^Terá^um^investidor^estrangeiro^e^delegação^em^Londres

^^ ^Primavera Public Services^vai^disponibilizar^software^na^nuvem^para^serviços^públicos

^^ ^Numbers Believe criou^sistema^Omnia^para^o^desenvolvimento^ágil^de^aplicações^de^software.^Primavera^tem^57%

^^ ^YET é^uma^plataforma^de^transações^e^faturação^eletrónica.^Detida^a^100%^pela^Primavera

^^ ^Waveform é^especialista^no^desenvolvimento^de^aplicações^móveis.^Primavera^detém^30%

^^ ^Healthium^está^a^desenvolver^aplicações^móveis^para^nutricionistas.^Primavera^tem^35%

Tiragem: 92120

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Informação Geral

Pág: 1

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Área: 5,34 x 3,16 cm²

Corte: 2 de 2ID: 63115536 13-02-2016 | Economia

Primavera com €5 milhões retidos em Angola E22