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O conhecimento de estudantes da área da saúde a respeito do tema:
Glúten e caseína na alimentação do autista
Géssica Mirla Alves de Moura1, Ana Paula Veloso do Nascimento¹, Marlane da Silva Cardoso Ramos¹,
José Roberto da Cunha Lima professor orientador2 .
Faculdade Piauiense – FAP
[email protected]; [email protected]; [email protected],
[email protected], [email protected],
Resumo:
O autismo é um dos mais conhecidos, entre os Transtornos Invasivos do desenvolvimento, é
caracterizado pelo atraso no desenvolvimento das habilidades sociais, comunicativas e cognitivas. A
Literatura científica tem mostrado, com relação à alimentação, alterações de comportamento por
conta da ingestão de algumas proteínas. Alguns autores afirmam que o glúten e a caseína causam
hiperatividade, falta de concentração, irritabilidade, dificuldade na interação da comunicação e
sociabilidade. Este trabalho tem como objetivo, incentivar a reflexão sobre a alimentação do autista,
e verificar o conhecimento de estudantes da área da saúde sobre alimentação e autismo. A escolha
deste tema se caracteriza pela necessidade de uma transmissão de conhecimento e informações a
respeito do autismo, suas particularidades e a alimentação adequada e um melhor entendimento
sobre a influência do glúten e da caseína no comportamento e na interação social da criança autista.
Este estudo foi desenvolvido através de levantamento bibliográfico e aplicação de um questionário
aos estudantes.
.
Palavras chave: Autismo. Alimentação. Comportamento.
Abstract:
Autism is one of the best known among the Pervasive Development Disorders, is characterized by
delayed development of social skills, communicative and cognitive. The scientific literature has shown
with respect to nutrition, behavior changes due to the ingestion of some proteins. Some authors claim
that gluten and casein cause hyperactivity, lack of concentration, irritability, difficulty in
communication interaction and sociability. This work aims to encourage reflection on the power of the
autistic, and verify the knowledge of students in the area of health and nutrition on autism. The choice
of this theme is characterized by the need for a transmission of knowledge and information about
autism, its peculiarities and proper nutrition and a better understanding of the influence of gluten and
casein in behavior and social interaction of autistic children. This study was developed through a
literature review and a questionnaire to students.
Keywords: Autism. Food. Behavior.
1 FAP – Faculdade Piauiense. Graduandas do curso Bacharelado em Nutrição
2 FAP – Especialista em Docência de Ensino de Química. Professor do curso de Nutrição
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1. Introdução
Entende-se por autismo uma inadequação no desenvolvimento que se apresenta de
maneira grave durante toda a vida. Costuma aparecer nos três primeiros anos de vida e desde
já traz certa incapacidade para o indivíduo que a possui. É um distúrbio que acomete mais
homens que mulheres e até hoje não se tem causas específicas para seu aparecimento.
Seus sintomas são na maioria dos casos muito graves e se apresentam tal como:
gestos repetitivos, autodestruição, e às vezes até comportamentos agressivos, a fala e
linguagem podem se apresentar de formas atrasadas ou até ausentes, habilidades físicas
reduzidas e um relacionamento anormal frente a objetos, eventos ou pessoas (GAUDERER,
1985).
Nas palavras de Mello (2007, p.11), autismo é um distúrbio do desenvolvimento
humano que vem sendo estudado pela ciência há seis décadas, mas sobre o qual ainda
permanecem dentro do próprio âmbito da ciência, divergências e grandes questões por
responder.
De acordo com Amy (2001), o autismo foi objeto de hipóteses formuladas por
vários especialistas. No entanto, permanece como um mistério quanto a sua origem e sua
evolução. É sem dúvida difícil determinar se a oposição ao mundo que essas crianças
manifestam é ativa e voluntária, se lhes é imposta por deficiências biogenéticas cujas origens
ignoramos ou se “o inato e o adquirido” se articulam entre si para criar desordem e anarquia
no universo interno dessas crianças.
Ainda sem causa conhecida, esta desordem apresenta anormalidades no sistema
límbico e cerebelar, estruturas importantes no controle motor e emocional do ser humano.
Além desta anormalidade, observa-se também, alteração metabólica direcionada para a
importância de alguns nutrientes da alimentação do paciente autista. Isto se deve,
principalmente, à detecção de elevados níveis de algumas substâncias no sangue dos
pacientes, que são: gluteomorfina e caseomorfina, peptídeos derivados da proteína do glúten e
da caseína respectivamente. Estes peptídeos apresentam similaridade às substâncias opióides e
às suas ações no sistema nervoso central. Também promovem outros efeitos, tais como:
redução do número de células nervosas do sistema nervoso central e inibição de alguns
neurotransmissores.
De acordo com os dados observados, as substâncias opióides são derivadas de
algumas proteínas da alimentação comum, tais como: o glúten e a caseína. Assim a terapia
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nutricional específica voltada para o paciente autista torna-se um dos primeiros pontos a ser
discutido como tratamento (SANTOS, 2006).
As manifestações comportamentais que definem o autismo incluem déficits
qualitativos na interação social e na comunicação, padrões de comportamento repetitivos e
estereotipados e um repertório restrito de interesses e atividades.
Conforme Mello (2005),é comum o aparecimento em autistas de estereotipias, que
podem ser movimentos repetitivos com as mãos ou com o corpo, a fixação do olhar por
períodos longos e hábitos como o de morder-se, morder a roupa ou puxar os cabelos.
O autismo é um conjunto de características que podem ser encontradas em
pessoas afetadas dentro de uma gama de possibilidades que abrange desde distúrbios sociais
leves sem deficiência mental até a deficiência mental severa. Diante das falhas no seu
desenvolvimento, a criança autista vai se fechando cada vez mais em seu mundo interno,
estereotipado e ritualista, tornando-se assim cada vez mais isolada e incomunicável. Em
muitos casos, esta criança não desenvolve nenhuma linguagem.
Atualmente existem estudos relacionados à alimentação do autista, a fim de
conhecer a melhor alimentação para o transtorno.
O presente trabalho de investigação vem motivado pela série de questionamentos
sobre possíveis alterações de comportamento de crianças autistas relacionadas à ingestão de
alimentos que contém as proteínas glúten e caseína. E daí vem a necessidade de verificar se
estudantes da área da saúde, que futuramente podem deparar-se com pessoas que possuem
algum tipo de transtorno, inclusive o autismo, estão preparados e conhecem o autismo.
A escolha deste tema se caracteriza pela necessidade de uma transmissão de
conhecimento e informações a respeito do autismo, suas particularidades e a alimentação
adequada, a fim de auxiliar os pais e familiares em suas relações com as crianças autistas, e
um melhor entendimento sobre a influência do glúten e da caseína no comportamento e na
interação social da criança autista. Com benefício para a família, que terá uma melhor visão
dos alimentos que podem ocasionar possíveis alterações no comportamento das crianças
autistas, para o portador do transtorno, que receberá uma alimentação adequada que não tenha
malefício para sua saúde; para os profissionais e para a sociedade, que assim, terá melhor
conhecimento sobre o transtorno do desenvolvimento global e a relação deste com
alimentação.
Baseado nisso este estudo teve como objetivo verificar o conhecimento de
estudantes da área da saúde (nutrição, enfermagem e psicologia) de uma faculdade no
município de Parnaíba, a respeito do conceito de autismo, alimentação do autista e sobre
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influência do consumo de alimentos que contém glúten e caseína em possíveis alterações de
comportamento em crianças autistas.
METODOLOGIA
A organização deste artigo apresenta-se da seguinte forma: a seção dois (primeira
seção após a Introdução) oferece uma breve revisão sobre o histórico do autismo. A seção três
descreve os aspectos clínicos do transtorno. A seção quatro relata o conceito de glúten e
caseína especificando a relação destes com o autismo. A seção cinco demonstra os resultados
do estudo. A seção seis apresenta nossas considerações finais, resumindo os principais
resultados e sugerindo possíveis e desejáveis desdobramentos futuros.
2. Histórico
A expressão autismo foi utilizada pela primeira vez por Bleuler em 1911, para
designar a perda do contacto com a realidade, o que acarretava uma grande dificuldade ou
impossibilidade de comunicação.
Em 1942, o psiquiatra americano Leo Kanner que trabalhava em Baltimore,
Estados Unidos, descreveu, em uma publicação científica, onze casos clínicos de crianças
com “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo” e apresentou a primeira tentativa teórica de
explicar tal alteração. Caracterizou o quadro por autismo extremo, obsessividade e
estereopatias, relacionando esse conjunto de sinais com fenômenos da linha esquizofrênica.
Usou o termo autista para caracterizar a natureza do transtorno. Sugeriu que se tratava de uma
inabilidade inata para estabelecer contacto afetivo e interpessoal e que era um transtorno do
desenvolvimento global bastante raro, mas, provavelmente, mais frequente do que o esperado,
pelo pequeno número de casos diagnosticados (KANNER, 1943).
É interessante ressaltar que Kanner (COLL et al, 1995) utilizou o termo “autista”
da psiquiatria adulta:
[...] havia sido empregado por um psiquiatra, Beutler, para definir a tendência de
certos pacientes esquizofrênicos a centrarem, em si mesmos, todo seu mundo
imaginativo, encerrando-se em imagens auto-referidas. Kanner sugeria uma relação
(que foi questionada) entre o distúrbio profundo do desenvolvimento dos seus casos
e a esquizofrenia adulta, estimulando uma tendência perigosa a acreditar que nas
crianças autistas, também, existe um rico mundo imaginativo, auto-referido e no
qual se fecham. (p. 274).
Em 1956, Kanner continuou descrevendo o quadro como uma “psicose”, referindo
que os exames clínicos e laboratoriais não foram capazes de apresentar dados consistentes
associados com sua etiologia, considerando-o assim como uma verdadeira “psicose”.
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As primeiras mudanças dessa concepção surgem a partir de Ritvo et al. (1976),
que passou a considerar como uma síndrome, relacionando com déficit cognitivo e
desconsiderando como uma psicose, mas sim como um distúrbio do desenvolvimento.
Outros autores reforçam a ideia do déficit cognitivo, frisando que o autismo tem
sido, nos últimos anos, enfocado sob uma ótica desenvolvimentista, sendo relacionado à
deficiência mental.
A partir dos anos sessenta, as investigações sobre o autismo demonstraram uma
forte característica na deficiência no desenvolvimento dos mundos simbólico e imaginativo,
que em sua maioria é acompanhada de uma deficiência também mental. Neste momento,
partindo da ideia inicial de Kanner de “um bom potencial cognitivo”, o autismo começou a
ser compreendido não como uma psicose semelhante à esquizofrenia adulta, mas sim como
um “distúrbio profundo do desenvolvimento” (COLL et al, 1995).
O autismo não é uma doença única, apresenta-se como um distúrbio de
desenvolvimento complexo, definido de um ponto de vista comportamental, com etiologias
múltiplas e podendo apresentar graus variados de severidade. A apresentação fenotípica do
autismo pode ser influenciada por fatores associados que não necessariamente façam parte das
características principais que definem esse distúrbio. Um fator muito importante é a
habilidade cognitiva.
A consciência de que as manifestações comportamentais são heterogêneas e de
que há diferentes graus de acometimento e, provavelmente múltiplos fatores etiológicos, deu
origem ao termo Transtornos do Espectro do Autismo (KLIN, 2006).
O transtorno autista situa-se no quadro dos transtornos invasivos do
desenvolvimento (TID). De acordo com transtornos mentais e de comportamento os
indivíduos afetados por TID apresentam como características “anormalidades qualitativas nas
interações sociais recíprocas e em padrões de comunicação e apresenta um repertório de
interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Neste grupo dos TID, encontram-se
o autismo infantil, autismo atípico, síndrome de Rett, outros transtornos desintegrativos da
infância, transtorno de hiperatividades associado a retardo mental e movimentos
estereotipados, Síndrome de Asperger, outros TID e TIS não especificado (FÁVERO et al.,
2005).
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3. Aspectos Clínicos
Muitos estudiosos procuram explicações para as causas e consequências do
autismo.
O autismo é definido pela Organização Mundial de Saúde como um distúrbio do
desenvolvimento, sem cura e severamente incapacitante. Sua incidência é de cinco
casos em cada 10.000 nascimentos, caso se adote um critério de classificação
rigoroso, e três vezes maior se considerarmos casos correlatados, isto é, que
necessitem do mesmo tipo de atendimento (MANTOAN, 1997, p. 13).
A consciência de que as manifestações comportamentais são heterogêneas e de
que há diferentes graus de acometimento e, provavelmente múltiplos fatores etiológicos, deu
origem ao termo Transtornos do Espectro do Autismo (KLIN, 2006).
Conforme Marcelino (2010), o autismo é um distúrbio de origem 50% genético e
50% ambiental. E os fatores ambientais como toxinas, poluição, alimentação inadequada e
modificada são cada vez mais determinantes nas doenças multifatoriais, aumentando não
apenas os casos de autismo, mas de várias outras desordens não apenas fisiológicas (como
alergias, asma, câncer, obesidade) como também distúrbios comportamentais (como TDAH –
Transtorno do Déficit de Atenção-, dislexia e depressão).
O autismo apresenta uma série de particularidades, como atraso na fala e
inadequação na linguagem, falta habilidade para iniciar ou manter uma conversa, dificuldade
de interagir com outras pessoas, principalmente que tenham a mesma idade, e em se tratando
de atividades, o autista tem comportamento repetitivo, como rituais e gestos com os
dedos/mãos ou movimentos com o corpo.
De acordo com Gonzaléz (2005), além das características mais marcantes
percebidas nos portadores do transtorno relacionadas, principalmente, ao falho
desenvolvimento da linguagem e interação social, ainda existem uma série de desordens
gastrointestinais que podem acometer os autistas, como diminuída produção de enzimas
digestivas, inflamações da parede intestinal, e a permeabilidade intestinal alterada, sendo que
todos estes fatores agravam os sintomas dos portadores da doença.
Segundo Gadia et al., (2004) as dificuldades na interação social em TID podem
manifestar-se como isolamento ou comportamento social impróprio; pobre contato visual;
dificuldade em participar de atividades em grupo; indiferença afetiva ou demonstrações
inapropriadas de afeto; falta de empatia social ou emocional. À medida que esses indivíduos
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entram na idade adulta, há, em geral, uma melhora do isolamento social, mas a pobre
habilidade social e a dificuldade em estabelecer amizades persistem.
4. As Proteínas: Glúten e Caseína
Conforme Cascardo (2011, p.2):
O Glúten é uma proteína ergástica amorfa que se encontra na semente de muitos
cereais (trigo, cevada, aveia, centeio, malte) combinada com o amido. Representa
80% das proteínas do trigo e é composta de gliadina e glutenina. O glúten é
responsável pela elasticidade da massa da farinha, o que permite sua fermentação,
assim como a consistência elástica esponjosa dos pães e bolos. O Glúten agride e
danifica as vilosidades do intestino delgado e prejudica a absorção dos alimentos.
A caseína é uma proteína do leite e derivados. Essa proteína é conjugada com
grupos fosfatos (resíduos de serina e treonina esterificados com grupos fosfatos), podendo ser
chamados de fosfopeptídeos (PHILIPPI, 2008).
Segundo Marcelino (2010), o glúten e a caseína são transformados em peptídeos
que são denominados gliadinomorfina (a quebra da proteína do glúten) e caseomorfina (a
quebra da proteína da caseína). Esses peptídeos são complexas cadeias longas de aminoácidos
e exigem um bom funcionamento da produção enzimática para serem devidamente quebrados
e absorvidos pelas funções orgânicas. Ambos os peptídeos agem como a morfina no corpo.
Isto é admitido acontecer quando substâncias são capazes de atravessar a barreira intestinal e
entrar na corrente sanguínea. Substâncias que não são completamente digeridas podem entrar
no fluxo sanguíneo e assim chegar ao cérebro.
Vários estudos médicos-científicos mostram que o autista, tanto tem sérias
deficiências de produção enzimática com pouca ou nenhuma produção da enzima DPP IV
responsável pela quebra desses peptídeos, quanto o desequilíbrio da flora intestinal,
provocando o intestino permeável e deixando que essas substâncias entrem na corrente
sanguínea e se liguem aos receptores opiáceos no cérebro.
A deficiência na sulfatação, também muito encontrada em autistas, é outro fator
que contribui para o intestino permeável. Os glicosaminoglucanos, polissacarídeos
responsáveis por manter a integridade celular da mucosa intestinal e da barreira
hematoencefálica, são dependentes de sulfatação. Sem sulfatação, os glicosaminoglucanos
não podem desempenhar o seu papel de manter a integridade celular. Isso provoca o intestino
permeável e ainda mais grave: enfraquece a barreira cerebral fazendo com que qualquer
material danoso que caia na corrente sanguínea (peptídeos opióides, metais pesados,
químicas) atinja o cérebro (MARCELINO, 2010).
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Conforme o mesmo autor, as proteínas caseína e o glúten podem induzir a uma
intolerância alimentar com produção de anticorpos, como na doença celíaca. Embora os
celíacos tenham sintomas variados, existe uma corrente de pensamento que as crianças
autistas podem estar experimentando sintomas parecidos. Isto pode incluir náuseas, gases,
distensão abdominal, diarréia, febre etc.
Na grande maioria dos autistas essa intolerância alimentar só pode ser percebida
no comportamento.
Conforme Shattock (1991), em 1990, identificou-se a presença de alguns
peptídeos (pequenas cadeias de aminoácidos) anormais na urina de 80% das 1.100 pessoas
autistas analisadas. Esses peptídeos são derivados do metabolismo incompleto do glúten e da
caseína. Parte desses compostos pode ser direcionada ao cérebro, provocando interferências
na atividade dos neurotransmissores, devido sua ação neuro-regulatória e possível estimulação
pré-sináptica. Os peptídeos anormais detectados foram nomeados de gluteomorfina ou
gliadiomorfina proveniente do metabolismo do glúten e a caseomorfina proveniente do
metabolismo da proteína caseína.
Segundo o mesmo autor, diversos outros efeitos são observados quando os
peptídeos opióides se elevam na corrente sanguínea, entre eles estão, a alteração do nível de
acidez estomacal, alteração da motilidade intestinal e redução do número de células nervosas
do sistema nervoso central e consequente alteração na neurotransmissão.
O excesso de atividade dos peptídeos opióides no sistema nervoso central também
pode resultar em um grande número de interferências neurais por elevadas alterações
funcionais de atividade nervosa, o que afeta diretamente a percepção, a emoção, o humor e o
comportamento do autista, entre outros sintomas (OZNOFF, S. et al. 1994).
4.1 Dieta Sem Glúten e Sem Caseína
De acordo com MELLO (2005), a partir de estudos iniciados na década de 80,
alguns pesquisadores indicaram a existência de uma possível correlação entre alguns
comportamentos característicos de pessoas com autismo e a presença de glúten e caseína na
alimentação.
Alguns pais oferecem para suas crianças autistas uma dieta sem glúten e caseína,
entretanto, alguns pesquisadores aconselham o suplemento da dieta com vitamina B6 e
magnésio.
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Whiteley et al., (2010), relata que em estudos desenvolvidos na Dinamarca, com
crianças autistas que foram alimentadas com dieta restrita em glúten e caseína, foram obtidas
melhoras consideráveis no comportamento destas crianças após 8 a 12 meses de dieta.
Não é fácil compor uma dieta livre de glúten e caseína, porque nem sempre é
possível a identificação de sua presença em determinados alimentos. A mudança na
alimentação da criança autista deve ser lenta e gradual, para que se possa ter maior sucesso
em sua aquisição.
Atualmente, grande parte dos produtos alimentícios traz em seu rótulo a
identificação da presença ou não de glúten, mas também acontece de haver utilização de
farinhas (que contêm glúten) em produtos que não informam isto no rótulo, como remédios,
vitaminas ou temperos.
Nas palavras de Marcelino (2010, p. 61): “Quando retiramos da alimentação os
alimentos e os produtos que os prejudicam e aumentamos a oferta de nutrientes, damos a
oportunidade de o corpo trabalhar adequadamente e de os outros tratamentos serem mais bem
aproveitados”.
Para eliminar a caseína da dieta devem ser retirados o leite e seus derivados, como
sorvetes, iogurtes, queijos e etc. Deve-se substituir o leite animal por leite vegetal, tanto
quando consumido puro como em receitas que necessitam da utilização de leite.
Para retirar o glúten, a prática mais comum é a utilização de farinhas de milho ou
arroz. Este tipo de dieta não pode ser feito sem o acompanhamento de um especialista, pois
requer algumas medidas como encontrar um alimento que substitua o cálcio que está deixando
de ser ingerido ao retirar-se o leite da dieta.
Ao iniciar a dieta, o ideal é que primeiramente se retire o leite e todos os seus
derivados, e após três semanas ou um mês dessa retirada, continua-se com a retirada do
glúten, de forma gradual até que se possa retirá-lo por completo.
Com a adoção da dieta Sem Glúten e Sem Caseína (SGSC), o que se nota é uma
diminuição de sintomas, e não uma extinção destes. O que acontece é um aumento de atenção,
disposição e participação do autista que facilitam o trabalho em geral e convivência. Em
alguns casos, as melhoras podem quase imperceptíveis, e os pais só conseguem notar que
houve mudanças quando acontece algum deslize na dieta e a criança volta a apresentar
sintomas que a muito tempo não eram vistos.
Conforme Marcelino (2010), os resultados positivos da aquisição da dieta SGSC
são: a melhora do nível de concentração, melhora do contato ocular, diminuição do
comportamento auto e heteroagressivo, diminuição das estereotipias motoras e verbais,
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impulso positivo na afetividade, melhora na linguagem verbal e não verbal, resolução dos
problemas gastrintestinais, melhora do sono;
Ainda de acordo com o mesmo autor, no geral, observa-se um comportamento
melhor em 70% das crianças que estejam sob correta aplicação da dieta.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Este estudo se desenvolveu a partir do objetivo de incentivar a reflexão sobre a
alimentação do autista, e verificar o conhecimento de estudantes da área da saúde sobre
alimentação e autismo. Buscando especificamente despertar a atenção desses profissionais
para o reconhecimento da importância sobre o tema, orientando e esclarecendo os
profissionais sobre o que é o autismo e desenvolvendo um conhecimento sobre o mesmo.
Gráfico 01: conhecimento sobre a intolerância e a definição do glúten e da caseína
68,75%62,50%
43,75%
31,25%
0
25,00%
6,25%
31,20%
6,25%
50,00%
37,50%
0
2
4
6
8
10
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14
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Intolerância aoglúten
Intolerancia acaseína
o que é glúten o que é caseína
Nº
de
pe
sso
a e
ntr
evi
stad
as
Sim
Não
Já ouvi falar
Gráfico gerado do Office Excel
Através da análise dos resultados (gráfico 01) quanto à indagação sobre o
conhecimento de intolerância ao glúten e à caseína, percebemos que a maior parte dos
entrevistados (68,75%) sabe o que é este tipo de intolerância. Mas, em contrapartida, apenas
43,75% afirmaram saber o que é glúten e 31,25% afirmaram saber o que é caseína.
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Gráfico 02: relação do glúten e da caseína na dieta autista
Gráfico gerado do Office Excel
Percebemos que a maioria dos entrevistados (93,75%) afirmou saber o que é o
autismo, mas 75% não sabem a relação do glúten e da caseína e a influencia (81,25%) dessas
proteínas no comportamento do autista. O mesmo acontece quanto à indagação da relação
desta dieta com o autismo onde 81,25% responderam que não sabem, reforçando a
importância de uma busca por esse conhecimento para um melhor gerenciamento,
planejamento e estratégia que possibilitem aos profissionais da área da saúde a avaliar,
conhecer e diagnosticar o quadro em que se encontra o portador deste distúrbio.
Gráfico 03: Quanto à relação da dieta SGSC com o autismo
Gráfico gerado do Office Excel
0; 0%
11; 69%
5; 31%
Conhece a Relação da dieta SGSC com o autismo
Sim
Não
Já ouvi falar
12
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Neste gráfico percebemos a relevância deste estudo, pois, apenas 5,31% dos
entrevistados responderam já ter ouvido falar sobre a relação da dieta SGSC com o autismo,
revelando a falta de informação a respeito deste tipo de dieta tão importante no tratamento de
pessoas com autismo. Lembramos também que a dieta não cura a pessoa no espectro autista
ou mudará seu comportamento de repente. A dieta facilita a vida da pessoa afastando coisas
que lhes fazem mal e, acrescentando alimentos e nutrientes que ajudam o organismo e o
cérebro a desempenhar o seu papel que é desenvolver e adquirir novas habilidades.
Quando retiramos da alimentação os alimentos e produtos que prejudicam o
organismo, aumentamos a oferta de nutrientes, damos a oportunidade de o corpo trabalhar
adequadamente e de os outros tratamentos terapêuticos serem mais bem aproveitados.
5. Conclusão
Mediante o encontrado no referencial teórico citado no presente artigo, observa-se
que o autismo é uma síndrome que compromete o desenvolvimento humano, mais
especificamente no sexo masculino e se detecta entre os 2 aos 3 anos de idade. E por ser uma
doença pouco conhecida e pouco divulgada se torna uma questão de grandes ícones com
muitas perguntas e poucas respostas.
Este estudo buscou evidenciar a importância desse processo de conhecimento e domínio do
conteúdo como um instrumento facilitador que possibilita aos profissionais da área da saúde a
avaliar, conhecer e diagnosticar o quadro em que se encontra o portador deste distúrbio.
Voltando ao objetivo proposto que é incentivar a reflexão sobre a alimentação do
autista, e verificar o conhecimento de estudantes da área da saúde sobre alimentação e
autismo, conclui-se que a partir do conhecimento adquirido através de estudos e pesquisas, os
futuros profissionais poderão prestar uma assistência na saúde com resultando de melhor
qualidade e possibilitar o desenvolvimento de um trabalho mais humanizado e integrado.
Confirmando assim a necessidade da importância de se ter uma complexidade científica e
prática para tornar esta assistência um mediador de informação com a finalidade de trazer
orientações e conhecimentos.
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Referências
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